Entrevista: Thaís Guedes | VI Congresso Brasileiro de Herpetologia

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Entrevista: Thaís Guedes | VI Congresso Brasileiro de Herpetologia
Entrevista: Thaís Guedes | VI Congresso Brasileiro de Herpetologia
24/11/13 19:05
VI Congresso Brasileiro de
Herpetologia
2013 – Salvador, Bahia, Brasil
Entrevista: Thaís Guedes
Posted on July 26, 2013
Em entrevista à Agência de Notícias, a pesquisadora Thaís Guedes, pesquisadora da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), trata da importância da análise de padrões de distribuição de espécies
de anfíbios e répteis. Além disto, explica o que é a Biogeografia Integrativa e como ela pode contribuir
para a conservação da herpetofauna. Guedes foi uma das ministrantes do simpósio “Biogeografia e
Conservação Aplicadas à Herpetofauna”, realizado no dia 22 de julho, durante o VI Congresso Brasileiro
de Herpetologia, no Hotel Fiesta, em Salvador.
http://cbh2013.wordpress.com/2013/07/26/entrevista-thais-guedes-2/
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POR EDVAN LESSA*
Ciência e Cultura – Quais são os eventos que mais impactam a fauna de anfíbios e répteis no Brasil?
Thaís Guedes – Podemos listar vários eventos que causam impacto à herpetofauna brasileira. A perda e
destruição de habitats é tratada pela IUCN (International Union for Conservation of Nature) como a principal causa
de perda da biodiversidade no mundo, e no Brasil não é diferente. Nossas paisagens naturais vêm sendo
destruídas e substituídas por lavouras, em sua maioria, de soja e cana-de-açúcar e áreas de pastagem extensiva.
Muitas espécies não sobrevivem em ambiente alterado e tais atividades antrópicas resultam na extinção de
espécies cuja sobrevivência depende da heterogeneidade e peculiaridades do ambiente natural.
Ciência e Cultura – A biogeografia seria a principal saída para proteger a biodiversidade? Como ela pode ajudar na
conservação da herpetofauna?
Thaís Guedes - A ciência da conservação da biodiversidade deve ser integrativa e utilizar diversas informações
como ferramentas para promover a conservação das espécies e suas áreas naturais. A biogeografia pode ser mais
uma dessas ferramentas. Análises de padrões de distribuição das espécies são fundamentais para planejamentos
de conservação, como a escolha de locais para localização das reservas e ações de conservação que devem, pelo
menos, representar os padrões de biodiversidade atual.
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Ciência e Cultura – E do que se trata a biogeografia integrativa?
Thaís Guedes - É objetivo da biogeografia descrever os padrões de distribuição dos organismos do planeta e
explicar a história que teria conduzido a tais configurações espaciais. Tal compreensão só é possível à luz da
biogeografia integrativa, que busca unir informações a respeito dos organismos, suas relações filogenéticas,
padrões de distribuição geográfica e ecologia sob um cenário de eventos geológicos e históricos. Certamente, é
um sistema complexo a decifrar e que necessita da integração de diversas áreas como a ecologia, geografia,
sistemática, geologia, entre outras, para efetivamente alcançar seu objetivo.
Ciência e Cultura – Os anfíbios e répteis da América do Sul despertam bastante interesse dos
herpetólogos do País. Existe alguma particularidade desses animais em relação aos de outros lugares
do mundo?
Thaís Guedes – Despertam bastante interesse dos pesquisadores do Brasil e do mundo. Acredito que o interesse
dos pesquisadores segue a ordem de grandeza de sermos um país megabiodiverso e do fato de que há muito o
que investigar aqui. Temos lacunas importantes no conhecimento básico que devem ser preenchidas:
provavelmente há muitas espécies por descrever, ainda não conhecemos a distribuição geográfica e atributos
ecológicos de muitas espécies formalmente descritas e também não temos informações filogenéticas suficientes.
Essas informações são fundamentais para nortear estudos mais complexos que envolvem os padrões e processos
geradores da biodiversidade e que abastecem varias áreas das ciências biológicas.
Foto: Arquivo pessoal.
Ciência e Cultura – Como ocorre a distribuição geográfica desses animais aqui? Existem padrões?
Thaís Guedes - A biogeografia é a ciência interessada em compreender os padrões de distribuição da diversidade
no globo. Postula que as espécies não estão distribuídas ao acaso, e sim agrupadas em determinadas áreas, ou
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seja, existe uma regionalização da biota. Para a herpetofauna brasileira, os estudos biogeográficos ainda são
incipientes, contudo, existem publicações recentes usando métodos biogeográficos e que detectam padrões de
distribuição de répteisSquamata do Cerrado e anfíbios da Caatinga, por exemplo. Alguns outros trabalhos nesta
linha estão em vias de publicação e também detectam áreas de endemismo para serpentes da Mata Atlântica e da
Caatinga. Apesar da complexidade da distribuição da herpetofauna, existem sim padrões e estes estão sendo
detectados graças ao emprego de vários métodos da biogeografia.
Ciência e Cultura – Durante o doutorado você trabalhou a diversidade e biogeografia de serpentes da
Caatinga. Quais são as contribuições deste trabalho para o campo da Herpetologia?
Thaís Guedes – As contribuições deste trabalho são diversas. É um amplo estudo sobre riqueza, história natural,
distribuição geográfica e biogeografia das espécies de serpentes na região da Caatinga, reunindo informações
obtidas a partir da análise de cerca de 7,5 mil espécimes tombados em coleções científicas. Os resultados obtidos
revelam que a Caatinga mostra elevada riqueza de espécies e abriga um número considerável de endemismos. O
estudo também traz informações detalhadas sobre história natural e distribuição de todas as espécies, que são
dados básicos para estudos biogeográficos e para o delineamento de estratégias de conservação nesta região.
Revela também que a Caatinga não é homogênea, mas sim regionalizada, pois os padrões de distribuição das
serpentes na área estão relacionados a eventos de vicariância. Oito áreas de importância biogeográfica foram
detectadas na Caatinga e estas corroboram as maiores divisões topográficas, pedológicas e vegetacionais
conhecidas para a região. Os resultados obtidos correspondem a subsídios importantes para a conservação das
serpentes e da Caatinga.
Ciência e Cultura – Há alguma descoberta recente acerca da ordem Squamata que ocorre nas
formações de vegetação aberta da América Meridional?
Thaís Guedes – No que diz respeito às formações abertas sul-americanas, a descoberta envolve um novo olhar
sobre estas áreas: Caatinga, Cerrado, Pantanal e Pampas. Outrora consideradas pobres em relação ao número de
espécies e endemismos, sem uma fauna própria e, portanto, de baixa prioridade para conservação, agora passam
a ser vistas como áreas que abrigam uma fauna complexa com elevada riqueza e endemismo de espécies e
regionalizada, ou seja não-homogênea. Trabalhos de descrição de novas espécies, ecologia, biogeografia e
filogeografia vêm ressaltando a importância destas áreas e sua fauna nos complexos processos de diversificação
da biota Neotropical.
Ciência e Cultura – Além do que discutimos aqui, poderia explicar um pouco o que foi abordado durante
do VI Congresso Brasileiro de Herpetologia?
Thaís Guedes – Participei do congresso de duas formas: como coordenadora do minicurso “Biogeografia e
conservação aplicadas à herpetofauna” e como palestrante do simpósio “Biogeografia de serpentes neotropicais:
integrando evolução e conservação”. No minicurso abordamos a filosofia da biogeografia, métodos utilizados para
responder as principais perguntas biogeográficas e discutimos trabalhos científicos relevantes na área. Ao longo do
minicurso colocamos a “mão na massa”, pois contaremos com aulas práticas de alguns métodos utilizados em
biogeografia. No simpósio, foi abordada a biogeografia baseada em padrões, usando como modelo dados de
distribuição e hipóteses filogenéticas de serpentes, cujo objetivo é reconhecer relações entre as biotas
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neotropicais.
*Edvan Lessa é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.
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