AAI - Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do Rio
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AAI - Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do Rio
AAI - Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do Rio Xingu São Paulo Março, 2009 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu Índice 1. Aspectos Metodológicos ........................................................................................................................1 2. Caracterização dos Empreendimentos .................................................................................................1 3. Diagnóstico Socioambiental da Bacia do Rio Xingu ...........................................................................3 4. Avaliação Ambiental Distribuída ...........................................................................................................5 4.1. Compartimentação da Bacia Hidrográfica do rio Xingu ........................................................................5 4.2. Avaliação de Impactos por compartimento .........................................................................................15 Impactos sobre o Meio Físico e Ecossistemas ...........................................................................................17 Impactos sobre os Recursos Hídricos e Ecossistemas Aquáticos .............................................................18 Impactos Sobre a Socioeconomia...............................................................................................................20 Impactos sobre populações indígenas........................................................................................................21 4.3. Avaliação da Cumulatividade de Impactos .........................................................................................22 5. Participação Social e Identificação de conflitos ................................................................................25 5.1. Conflitos Associados às Usinas Hidrelétricas já Implantadas.............................................................25 5.2. Potenciais Conflitos Decorrentes da Implantação de Novos Aproveitamentos Hidrelétricos.............26 Conflitos associados aos Impactos Provocados pela Implantação dos Aproveitamentos Hidrelétricos ....26 Conflitos com os demais Planos, Programas e Projetos previstos para a região ..............................27 6. Cenários .................................................................................................................................................29 6.1. População............................................................................................................................................29 6.2. Valor Adicionado .................................................................................................................................31 6.3. Desflorestamento na Bacia do Xingu: uma Configuração Descritiva e sua Cenarização Tendencial33 7. Avaliação Ambiental Integrada ............................................................................................................35 7.1. Ecossistemas Terrestres .....................................................................................................................35 7.2. Ecossistemas Aquáticos......................................................................................................................35 7.3. Socioeconomia ....................................................................................................................................36 8. Recomendações Gerais e Diretrizes ao Setor Elétrico .....................................................................37 8.1. Diretrizes para o Setor Elétrico ...........................................................................................................37 9. Referências ............................................................................................................................................39 ARCADIS Tetraplan i Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu Apresentação O instrumento Avaliação Ambiental Integrada (AAI) dá prosseguimento à Atualização dos Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio Xingu finalizada em 2007, e objetiva antever e analisar de que modo os principais processos socioambientais prevalecentes no território da Bacia serão alterados em decorrência da implantação de novos aproveitamentos hidrelétricos (AHEs). Considerou que algumas das repercussões antevistas estão em sinergia entre si e com o próprio padrão de evolução da bacia, e que, entre essas alterações podem ocorrer situações em que se intensificarão conflitos já existentes ou latentes, principalmente aqueles relacionados ao uso da água do rio Xingu. A resultante do Inventário, no caso da bacia hidrográfica do Rio Xingu, reconheceu apenas um aproveitamento, o de Belo Monte (AHE Belo Monte), como aquele capaz de atender aos critérios energéticos, econômicos e socioambientais estabelecidos. Em adição, foram identificados outros oito aproveitamentos, pequenas centrais elétricas (PCHs), que estão implantados ou em construção na porção sul, no alto curso do rio Xingu e na sub-bacia do rio Iriri, no médio curso. Tem-se assim um único aproveitamento de grande porte em conjunto com oito PCHs identificadas, sendo, pois o objeto deste estudo, avaliar como esses aproveitamentos serão internalizados no médio e longo prazo na complexa ambiência desta bacia hidrográfica, considerando-se os processos socioeconômicos e ambientais prevalecentes e os novos que serão desencadeados. Nessas circunstâncias, a aplicação do instrumento Avaliação Ambiental Integrada a esta bacia hidrográfica foi de fato um desafio que necessitou que se desenvolvessem procedimentos e soluções metodológicas para dar conta desses contrastes e especificidades. Nesse quadro, formalmente, a aplicação do instrumento AAI consiste na identificação dos principais efeitos socioambientais da inserção de tais aproveitamentos hidrelétricos no âmbito territorial da bacia. Esta identificação é feita por meio de procedimentos sistemáticos que possam avaliar a natureza e a intensidade destas alterações, bem como possíveis cumulatividades e sinergias entre estas manifestações no território da bacia hidrográfica. Considerando esse objetivo e escopo da AAI, importa ressaltar desde logo o quanto se diferencia do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), uma vez que este tem por objetivo a avaliação de impactos de um único empreendimento em suas áreas de influencias, realizado no âmbito do licenciamento ambiental. Objetiva-se assim com a AAI contribuir para o processo de planejamento e de suporte à tomada de decisão e atuação do setor elétrico na bacia em estudo, considerando-se a existência desses empreendimentos hidrelétricos, para que se alcance as melhores condições de sustentabilidade, à medida que o estudo reúne, evidencia e oferece um espaço de análise e discussão sobre a evolução da bacia hidrográfica. 1. Aspectos Metodológicos O estudo inicia-se com a caracterização dos AHEs a partir do levantamento das informações disponíveis, foi possível obter dados sobre a potência instalada, localização, área do reservatório, situação em que se encontra em relação ao licenciamento e entrada em operação, formando um quadro básico de informações. Analogamente, buscou-se conhecer as principais características socioambientais da bacia hidrográfica, suas condições físicas, bióticas e socioeconômicas foram analisadas por meio de um conjunto de dados secundários pertinentes e visitas a campo em dois longos trechos da bacia hidrográfica. Elaborou-se assim um diagnóstico focado, uma síntese dos principais aspectos socioambientais, que inclusive foi organizado de forma regionalizada, mediante critérios de homogeneidade do território, ou graus de semelhança. Essa regionalização ou compartimentação da bacia atende a necessidade de se poder avaliar os impactos que os aproveitamentos terão sobre tais região na medida em que tendam a interagir e acomodar de forma semelhante os efeitos provocados pela implantação dos aproveitamentos hidrelétricos. Portanto, a seqüência do trabalho consistiu na avaliação dos impactos dos aproveitamentos sobre os compartimentos em que estão ou serão implantados. E, a partir das avaliações dos impactos por empreendimento, pode-se considerar a possibilidade de um mesmo impacto provindo de vários aproveitamentos localizadas num mesmo compartimento poderem se acumular. E também, verificou-se a possibilidade da ocorrência de sinergia entre impactos distintos, ou se existem mecanismos de causa e efeito entre eles que possam provocar tais interações. Esse trabalho denomina-se “Avaliação Ambiental Distribuída (AAD)”, ou seja, procura-se entender o processo de transformação nos compartimentos, considerando-se os efeitos que os empreendimentos irão provocar à medida que forem acumulados ou criarem sinergias. Para tanto, foram selecionados indicadores de impactos representativos de processos mais amplos, passíveis de avaliação nessa fase de estudos e que podem ser cumulativos ou apresentar sinergias. Por cumulatividade, entende-se a possibilidade de um mesmo impacto provindo de vários AHEs localizadas num mesmo compartimento poderem se acumular, ou se intensificarem. Por sinergia, entende-se a possibilidade de impactos de distintas natureza interagirem, o que exige a verificação se existem mecanismos de causa e efeito entre eles que possam provocar sinergias. Ainda no âmbito da AAD, são identificados os atores sociais intervenientes na bacia hidrográfica e os conflitos existentes e potenciais, relativos à implantação de novos empreendimentos hidrelétricos e também a planos e programas previstos nesse território. Na seqüência, tendo em conta a apreciação dos efeitos da implantação dos aproveitamentos sobre a ambiência da bacia hidrográfica, reúnem-se elementos para, por meio da técnica de cenários, visualizar prováveis comportamentos de variáveis no horizonte de planejamento deste trabalho (20 anos) população, valor adicionado e desmatamento - que expressam e sintetizam o fenômeno da antropizacão e sua evolução. Deste ponto em diante tem-se condições de avançar para a “Avaliação Ambiental Integrada da bacia do rio Xingu”, denominação homônima ao estudo, momento em que são examinados como os compartimentos alterados pelos impactos se relacionam, conjugando processos socioambientais, que ARCADIS Tetraplan 1 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu podem transformar a dinâmica socioambiental da bacia como um todo. Têm-se dois tipos de situação: i. Os processos identificados em um compartimento com aproveitamentos que impactam compartimentos sem empreendimentos e; ii. Compartimentos com aproveitamentos em interação com outro compartimento com aproveitamentos, que poderão ter intensificada a magnitude de seus impactos socioambientais, do mesmo modo que vimos no interior de um compartimento. O conhecimento obtido e organizado desde a fase da Caracterização dos empreendimentos, dá suporte à elaboração de um conjunto de conclusões, sob forma de diretrizes voltada à atuação do setor elétrico na bacia no que se refere principalmente à ampliação das unidades geradoras. Os resultados obtidos são apresentados e discutidos em reunião técnica com os principais entes institucionais envolvidos nesse processo, onde o trabalho é apresentado, com destaque para as diretrizes, buscando obter retornos substantivos que irão integrar o relatório final do trabalho. ARCADIS Tetraplan 2 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu 2. Caracterização dos Empreendimentos Aproveitamento Hidrelétrico (AHE) Belo Monte Localização Volta Grande do rio Xingu, Estado do Pará, municípios de Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo Barragem Barragem principal (localizada no sítio Pimentel, 40 km a jusante da cidade de Altamira), de terra homogênea e de enrocamento, possui 6.200 m de comprimento total e altura máxima de 36 m) Reservatório Terá área total do espelho d’água 516 km², e nível máximo normal de operação na cota 97 m, sem capacidade de acumulação, abrange duas partes distintas: Usinas hidrelétricas Calha do rio Xingu, compreende a área de inundação do rio Xingu na cota 97 m Reservatório dos canais, compreende terrenos da margem esquerda, área que será inundada pelas vazões desviadas do rio através dos canais de derivação Usina principal de Belo Monte – localizada no sítio Belo Monte, terá potência instalada de 11.000 MW (20 unidades geradoras tipo Francis com eixo vertical, de 550 MW cada). Foi projetada para uma geração a fio d’água, ou seja, o número de turbinas acionadas depende essencialmente das vazões naturais afluentes a casa de força. Usina complementar – situada na barragem principal, na margem esquerda do rio Xingu, terá potencia instalada de 231,1 MW (nove turbinas tipo bulbo, com 25,9 MW cada) Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na sub-bacia do rio Iriri (PA) Salto Buriti Localização Salto Curuá Três de Maio Curuá Municípios Novo Progresso Fase Construção Potencia Instalada (MW) 10 Reservatório (km2) 2,9 ARS Salto Três de Maio Porção oeste da bacia do rio Xingu, sub-bacia do Rio Iriri, Estado do Pará Rio Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) nas cabaceiras do rio Xingu (MT) Culuene Ronuro Porção sul da bacia do rio Xingu, cabeceiras do Rio Xingu, Estado do Mato Grosso Rio Von Den Steinen Nova Ubiratã 0,3 Paranatinga II Localização Municípios 30 Paranatinga I Culuene Campinápolis e Paranatinga Ronuro Primavera do Leste e Paranatiga Paranatinga 15 Fase Construção Operação 0,16 Potencia Instalada (MW) 6,66 22,3 29,02 1,794 1,04 Reservatório (km2) 1,64 4,24 7,83 0,39 * * dado não disponibilizado PCH Salto Buriti vista aérea PCH Paranatinga II Vista Aérea PCH Salto Curuá Vista aérea PCH Vista Aérea Paranatinga II Fonte:port.pravda.ru - junho 2006 ARCADIS Tetraplan 1 56°W 54°W 52°W 50°W Prainha Rio Amazonas Rio Amazonas AM Legenda Melgaço Portel 2°S 2°S Gurupá Porto de Moz Rio Tapajós Capital Estadual Senador José Porfírio Vitória do Xingu Sedes Municipais Limite Estadual Belo Monte Brasil Altamira Novo Limites Municipais Rio Xingu Medicilândia UHE Belo Monte PCHs Rio Xingu Massa D'Água Anapu Bacia do Xingu Uruará 4°S 4°S Placas Rurópolis Itaituba Terras Indígenas Unidade de Conservação de Proteção Integral Novo Repartimento Unidades de Conservação de Uso Sustentável Rio Iriri Trairão 6°S Rio Xingu Parauapebas São Félix do Xingu Rio Curuá Tucumã Ourilândia do Norte Água Azul do Norte Novo Progresso 8°S 8°S Rio Maria Bannach Pau Cumaru D'Arco do Norte Redenção Salto Três de Maio 6°S PA Salto Buriti Salto Curuá Santana do Araguaia Vila Rica 12°S Sinop Santa Carmem Vera 0° 15°S Feliz Natal Sorriso MT Querência Rio Xingu Nova ARS Ubiratã 45°W São Félix do Araguaia Rio das Mortes Rio Xingu 60°W 0° Alto Boa Vista 15°S TO União do Sul 30°S Cláudia 45°W 30°S Marcelândia 60°W Santa Terezinha Confresa Porto Alegre do Norte Canabrava do Norte São José do Xingu Itaúba Localização Rio Araguaia 12°S 10°S Guarantã do Norte Matupá Peixoto de Azevedo 10°S Rio Xingu Ribeirão Cascalheira Gaúcha do Norte 1:4.250.000 Canarana 0 50 100 200 km 300 Paranatinga II Água Boa Paranatinga Culuene Planalto da Serra 56°W Sistema de Coordenadas Geográficas Datum horizontal: SAD 69 Localização da área de estudo Campinápolis Nova Xavantina Nova Brasilândia CUIABÁ 14°S 14°S Paranatinga I Ronuro GO Primavera do Leste 54°W 52°W 50°W Fontes: Base Cartográfica Digital do Brasil ao Milionésimo (IBGE, 2005) IBGE, Malha Municipal Digital do Brasil. 2005 Elaboração: ARCADIS Tetraplan, 2009 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu 3. Diagnóstico Socioambiental da Bacia do Rio Xingu A presente análise da bacia hidrográfica do Xingu é focada no uso do potencial hidrelétrico do rio Xingu, sob a perspectiva de sua utilização ambientalmente sustentável, reunindo aqueles aspectos considerados estruturantes, apresentados em detalhe no Produto Caracterização da Bacia do Rio Xingu. Nessas circunstâncias, importa compreender as características socioambientais, quais sejam, os ecossistemas que constituem e organizam a paisagem e provêem recursos naturais e serviços ambientais, bem como a dinâmica socioeconômica que determina as várias formas de apropriação desses recursos e serviços. A partir desse quadro, pode-se inferir sobre quais processos poderão se estabelecer nesse espaço territorial com a implantação dos aproveitamentos pretendidos pelo setor elétrico e, em que medida as dinâmicas socioeconômicas prevalecentes na bacia poderão ser alteradas, se serão intensificados processos no campo produtivo e de antropização já em curso e/ou surgirão novas realidades; o mesmo em relação aos conflitos e contradições atualmente observados ou, ainda, emergirão novos conflitos, notadamente relacionados aos usos das águas. A bacia hidrográfica do rio Xingu tem área total aproximada de 509.000 km2 e se desenvolve no sentido sul-norte, desde a Região Centro-Oeste, aproximadamente no paralelo 15º S, até o paralelo 3º S, na Região Norte. Está limitada, pela bacia hidrográfica do rio Tapajós, a oeste e, a leste, pela bacia dos rios Araguaia – Tocantins. As cabeceiras dos formadores do rio Xingu e seus principais afluentes encontram-se no setor norte do Estado de Mato Grosso, nos terrenos mais elevados situados ao sul dos divisores da Chapada dos Parecis. O clima, fortemente estacional, condiciona a vegetação savânica, característica do bioma Cerrado onde se insere esse trecho superior da bacia hidrográfica. Nesse trecho inicial da bacia hidrográfica predominam formações de transição entre as savanas, que caracterizam as áreas das nascentes, e as extensas florestas ombrófilas presentes no médio e no baixo curso. Essa situação ecotonal traduz-se pela presença de extensas formações de contato Floresta Ombrófila/Floresta Estacional, esta última característica do limite entre os biomas Amazônia e Cerrado. É nesse setor da bacia hidrográfica que a agropecuária, principalmente as culturas cíclicas tecnificadas, têm maior expressão, notadamente no sul/sudoeste da bacia, próximo à BR163, polarizada por Sinop e por Cuiabá, quando considerado um raio maior. Os vetores de ocupação se expandem às áreas de nascentes e aos altos cursos dos formadores do rio Xingu. Avançam sobre as formações de contato Floresta Ombrófila/Floresta Estacional, em direção as Terras Indígenas aí presentes, em um processo de crescente utilização da base de recursos naturais e dos serviços ambientais decorrentes principalmente da exploração da madeira, do consumo de nutrientes e de água para produção de grãos e para a pecuária. De ocupação relativamente recente, esse trecho da bacia hidrográfica apresenta um processo de alteração da paisagem em curso, onde se evidencia o confronto de modos de vida e formas opostas de ocupação: uso dos produtos da floresta, pesca e cultivo de pequenas roças, presente notadamente nas Terras Indígenas, e a agricultura tecnificada. Desenvolvendo-se em direção norte, o rio Xingu apresenta, em seu trecho médio, canal com ilhas e pedrais que formam rápidos e cachoeiras. As planícies fluviais são estreitas e descontinuas com canais abandonados, lagoas e alagadiços. Esse padrão ocorre na maior parte do canal principal do Rio Xingu, entre a Cachoeira de Von Martius e Belo Monte, incluindo a região da Volta Grande, grande parte do Rio Iriri e de seu afluente Rio Curuá. Todo esse trecho da bacia, correspondente ao médio curso, situase na Depressão da Amazônia Meridional, recoberta por florestas ombrófilas, onde encraves de savanas ou contatos savana/floresta ombrófila se destacam em correspondência aos planaltos residuais aí existentes. Caracterizado pelo contínuo florestal e ocupado em grande parte por terras Indígenas e Unidades de Conservação, este amplo espaço geográfico encontra-se fragmentado na altura da cidade de São Félix do Xingu devido à ocupação antrópica, onde se destaca a pecuária extensiva. A BR–158, que se desenvolve longitudinalmente a leste da bacia hidrográfica, corresponde ao principal vetor da ocupação, polarizada por Marabá no que se refere ao escoamento bovino de maior escala. A pressão antrópica e os conflitos de uso se traduzem por extensos desflorestamentos em meio à floresta ombrófila e em derrubadas menores, porém gradativas, em Terras Indígenas e nas Unidades de Conservação, algumas recentemente criadas. Evidenciam-se nessa área, denominada “Terra do Meio”, conflitos fundiários e um processo de exploração não sustentável dos produtos da floresta e dos recursos hídricos, que se reflete em desflorestamentos irregulares e na ausência de boas práticas ambientais. No curso médio inferior, o rio Xingu recebe seu principal afluente, o rio Iriri e, nas imediações da cidade de Altamira, sofre uma acentuada deflexão formando a chamada Volta Grande, de grandes corredeiras, com um desnível de 85 m em 160 km. No fim desse trecho, à altura da localidade de Belo Monte, o rio se alarga consideravelmente, apresentando baixa declividade até a sua foz e sofrendo, inclusive, efeitos de remanso provocados pelo rio Amazonas (CNEC, 1988). Nesse trecho, as extensas formações florestais sofrem solução de continuidade, em decorrência da presença a rodovia Transamazônica, implantada na década de 1970. Transversal à bacia, esta via de acesso trouxe como resultado uma ocupação em núcleos de colonização associados à rodovia e às estradas vicinais, onde o desflorestamento se intensificou, determinando um padrão de fragmentação da floresta correspondente à geometria dessa rede viária. Ao norte desse trecho intensamente ocupado e alterado desenvolvem-se novamente extensas florestas, em grande parte abarcadas por unidade de conservação de uso sustentável, que se estendem até as várzeas do rio Amazonas. Assim, à parte as áreas legalmente protegidas, vetores de ocupação se evidenciam em localidades bem definidas da bacia: (i) ao sul, no alto curso do rio Xingu, na região das savanas e no contato destas com as formações florestais amazônicas (ii) a leste, notadamente na região de São Félix do Xingu e a sul/sudeste desta e; (iii) ao norte, em correspondência à Rodovia Transamazônica. ARCADIS Tetraplan 3 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu Embora relativamente recente e circunscrita a determinados setores da bacia hidrográfica, a dinâmica ditada pelas intervenções antrópicas altera a dinâmica original e passa a ter grande importância, definindo espaços organizados pela lógica da atividade produtiva predominante. Conforme evidenciado, fatores indutores externos à bacia ditam essas ocupações. Em grande parte estão relacionadas ao modelo voltado à ocupação induzida, por meio de um planejamento centralizado, adotado entre as décadas de 1960 a 80, que privilegiava uma visão externa ao território e em que a infraestrutura precedia a ocupação. Este modelo determinou uma nova geometria de ocupação do espaço amazônico, contrapondo-se ao modelo histórico de ocupação ao longo dos cursos d´água, por onde se dava a circulação e a rede de comunicação (Becker, 2001). A última configuração do modelo de ocupação, que privilegia o crescimento e a autonomia local, baseado em áreas relativamente isoladas, dependentes da produção local, também está circunscrito no caso da bacia do rio Xingu, a setores definidos. Incipiente, entretanto, esse é o modelo pretendido para grande parte desse território, como atesta a criação das várias e extensas Unidades de Conservação de Uso Sustentável. Em termos do uso dos recursos hídricos hoje identificados na bacia hidrográfica do Xingu, não se antevêem conflitos de natureza consuntiva. Aponta-se, no entanto, que o uso pecuário na bacia aliada à expansão do cultivo de soja pode acarretar o aporte de nutrientes minerais e induzir eventuais conflitos de natureza qualitativa no alto curso, principalmente. É a partir desse quadro que se realiza a análise dos possíveis processos que podem se estabelecer com a implantação de aproveitamento para geração de energia elétrica. A análise dos efeitos sinérgicos que podem emergir implica a elaboração de um estudo dirigido à integração dos diversos temas abordados no diagnóstico, buscando evidenciar fenômenos relevantes, que determinam, em grande medida, a dinâmica atual desse espaço e, portanto, que poderão recrudescer ou se alterar em cenários futuros com os empreendimentos que se pretende implantar. São apresentados, em anexo, mapas com informações relativas a terrenos, cobertura vegetal e uso do solo, processo de desflorestamento, Terras Indígenas, hierarquia funcional, IDH da bacia hidrográfica do Xingu que, juntamente com outros dados e informações, formam a base para a compartimentação apresentada mais adiante, no item 4.1. do capítulo Avaliação Ambiental Distribuída. ARCADIS Tetraplan 4 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu 4. Avaliação Ambiental Distribuída A caracterização dos compartimentos socioambientais é a primeira etapa da avaliação ambiental distribuída, onde se dispõe de uma base territorial regionalizada para identificar e avaliar os impactos, utilizando indicadores socioambientais que permitem sua quantificação ou qualificação. Esse procedimento de espacialização faz parte da etapa de avaliação dos impactos e, ao mesmo tempo, representa uma etapa de organização das informações com vistas à elaboração do mapa-síntese da bacia hidrográfica, base para a seleção de indicadores e cenarizações. Procede-se então a avaliação dos impactos de cada um dos aproveitamentos nos compartimentos onde estão situados. Uma vez circunscritos nos respectivos compartimentos, os processos impactantes podem ser analisados quanto à sua cumulatividade para, a partir dessa análise, avaliar possíveis sinergias que propiciem processos de transformação da bacia hidrográfica, sinalizando outros fenômenos. uma dada atividade econômica (caso da produção de soja e/ou pecuária bovina) e outros que onde o elemento definidor pode ser a infra-estrutura (a rodovia Transamazônica, que incitou um processo de ocupação), ou ainda a presença de áreas institucionalmente protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas). Compartimento 1 Continuum de Áreas Legalmente Protegidas Compartimento 5 Formações do Cachimbo Área sob influência da BR-163 Compartimento 2 Várzeas do Rio Xingu Compartimento 6 Alto Xingu Oeste - Área sob Influência da BR-163 Compartimento 3 Corredor Transamazônico Compartimento 7 Alto Xingu Leste - Área sob Influência da BR – 316 Compartimento 4 Médio Xingu Pecuária Compartimento 8 Xingu Meridional A Análise dos Conflitos tem como principal propósito identificar os conflitos potenciais e/ou reais que se relacionam com os empreendimentos hidrelétricos. 4.1. Compartimentação da Bacia Hidrográfica do rio Xingu O macro entendimento da bacia hidrográfica do Xingu, com seus processos determinantes de apropriação dos recursos naturais, deve, na seqüência, ser aprofundado, considerando-se subespaços com dinâmicas próprias, cujas características de ambiência guardam traços de comportamento semelhantes em termos de seus atributos. Assim, devem reagir de forma semelhante quando submetidos à entrada de novos aproveitamentos hidrelétricos, considerando-se quando for o caso, a presença de usinas já implantadas no passado. Trata-se da chamada compartimentação da bacia hidrográfica do rio Xingu que, teve como base a análise e resultados dos Componentes-síntese, utilizando o seguinte sequenciamento dos mapeamentos para a construção do compartimento final. Sobreposições dos mapeamentos e Compartimento Final Sistemas de terrenos + Cobertura vegetal e uso do solo Ecossistemas Terrestres Ecossistemas Sistemas de Terrenos + Hierarquia Ecossistemas Aquáticos Compartimentos Fluvial (Dinâmica Atual da Paisagem) Modos de Vida Tipologias Municipais Organização Territorial Compartimentação Socioconômica Base Econômica A delimitação dos compartimentos tomou por base elementos que mais dão identidade a um determinado espaço, diferenciando-o dos demais. Há compartimentos que têm presença marcante de ARCADIS Tetraplan 5 55°0'0"W 50°0'0"W Porto de Moz Prainha AM Melgaço Portel Senador José Porfírio Vitória do Xingu Brasil Altamira Novo Medicilândia Belo Monte Anapu Uruará Placas Rurópolis Novo Repartimento Itaituba 5°0'0"S 5°0'0"S Trairão MA MARABÁ PA Parauapebas São Félix do Xingu Água Azul Tucumã do Norte Ourilândia do Norte Novo Progresso Bannach Rio Maria Pau D'Arco Cumaru do Norte Redenção Salto Buriti Salto Três de Maio Salto Curuá Santa Maria das Legenda Barreiras Santana do Araguaia UHE Belo Monte PI PCHs Cláudia Sedes Municipais Santa Terezinha União do Sul Alto Boa Vista Bacia do Xingu TO Limite Estadual Confresa São José Porto do Xingu Alegre do Norte Canabrava do Norte Marcelândia Itaúba Capital Estadual Vila Rica 10°0'0"S 10°0'0"S Guarantã do Norte Peixoto de Azevedo Matupá Limites Municipais Terras Indígenas São Félix do Araguaia UCs Proteção Integral UCs Uso Sustentável Sinop Santa Carmem Massa D'Água Vera Feliz Natal MT Querência Continuum de Áreas Legalmente Protegidas Ribeirão Cascalheira Nova Ubiratã ARS Várzeas do Rio Xingu Gaúcha do Norte Corredor Transamazônico Canarana Paranatinga II Paranatinga I Médio Xingu Pecuária Formações do Cachimbo sob Influência da BR 163 GO Água Boa Ronuro Alto Xingu Oeste - Área sob Influência da BR 163 Paranatinga Planalto da Serra BA Compartimentação Sorriso Culuene Campinápolis Alto Xingu Leste - Área Sob Influência da Belém-Brasilia Nova Xavantina Xingu Meridional Savânico MG 55°0'0"W 50°0'0"W Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu Caracterização Socioambiental dos Compartimentos Apresentada na forma de quadros reúne os elementos definidores ou sua combinação, assim como seus principais atributos. Saliente-se que cada compartimento recebeu uma dada denominação em função de seu elemento definidor. COMPARTIMENTO 1 Continuum de Áreas Legalmente Protegidas Elementos de definição Contiguidade e continuidade territorial de áreas sob proteção legal. Determinação institucional / Presença de UCs e TIs. Apresenta dinâmica diferenciada. Municípios integrantes Altamira, Vitória do Xingu, São Félix do Xingu, Ourilândia do Norte, Cumaru do Norte, Anapu, Bannach, Brasil Novo, Medicilândia, Senador José Porfírio, Tucumã, Canarana, Feliz Natal, Gaúcha do Norte, Guarantã do Norte, Marcelândia, Matupá, Nova Ubiratã, Peixoto de Azevedo, Querência, Santa Cruz do Xingu, São Félix do Araguaia, São José do Xingu, União do Sul. Clima Am. Quente e úmido com baixa amplitude térmica anual com precipitação média anual variando de 2.000 a 2.500 mm no baixo curso do rio Xingu e 1.800 mm no eixo da Transamazônica; Sazonal com precipitação média anual de 1.800 a 2.200 mm e estiagem entre junho a setembro na região central desse Compartimento. Na região do Parque Nacional do Xingu predomina o clima Am3 (segundo classificação de Köppen), sazonal com precipitação média anual de 2000m. Média de temperaturas de 24ºC. Cobertura vegetal Prevalecem Formações Ombrófilas às quais se associam encraves de contato Savana/Floresta Ombrófila. Fauna Inúmeros táxons apresentam limite de distribuição geográfica determinado pelo Rio Xingu tanto na margem dureita quanto na esquerda, gerando endemismos Rede Hidrográfica Presença do rio Xingu e trechos de seus principais afluentes: rio Bacajá e rio Iriri. Características das águas Variações nas características das águas dos rio da margem direita, que apresentam condutividade alta; carga de sedimentos elevada. No rio Xingu e seus afluentes da margem esquerda apresentam águas claras, ligeiramente ácidas, bem oxigenadas, relativamente pobres em nutrientes, condutividade crescente ao longo do curso do rio. Ictiofauna Pouco conhecida Desflorestamentos Insipientes, mas com vetores expressivos a partir de São Félix do Xingu para noroeste e para oeste. A sul, nas cabeceiras dos formadores em direção as Terras Indígenas Processo de ocupação Não se aplica Atividades econômicas predominantes Não se aplica Polarização Não se aplica Acessibilidade Não se aplica Dinâmica populacional Não se aplica Condicionantes e Restrições Não se aplica de ocupação Magnitude do PIB Não se aplica Finanças Públicas Não se aplica Conflitos existentes Associados à insegurança causada pela possibilidade de implantação de aproveitamentos hidrelétricos e outras formas de apropriação dos recursos da paisagem, bem como à alteração na qualidade da água; uso e posse da terra das populações indígenas e alteração no uso e ocupação do solo (madeireiros, ribeirinhos e agricultores familiares), podendo levar a disputas com madeireiras e grileiros por terras. Criação recente de RESEXs, ESECs e TIs na bacia, inibindo usos predatórios por madeireiras e grandes fazendas. Desflorestamentos devido a pressões externas à bacia e ao compartimento. Construção e pavimentação da BR-230/PA - Transamazônica. Ainda aqueles associados a interferências nas relações socioculturais (ao comprometimento de bens constituintes e alteração ou perda de manifestações culturais) de populações indígenas e de outras populações tradicionais. Afluxo populacional e desestruturação fundiária. ARCADIS Tetraplan 7 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu COMPARTIMENTO 2 Várzeas do Rio Xingu Elementos de definição Isolamento dos municípios com relação ao restante da bacia. Presença de várzeas Municípios integrantes Prainha - PA e Gurupá – PA Clima Am. Quente e úmido (precipitação média anual de 2.200 a 2.500 mm) com baixa amplitude térmica anual Cobertura vegetal Formações Pioneiras de Influência Fluvial (campos de várzea). Fauna Unidade Zoogeográfica: Várzea do Rio Amazonas. Alguns táxons ocorrem exclusivamente nas áreas de várzea da região Amazônica. Rede Hidrográfica Não hierarquizada, com canais múltiplos, com ilhas, paranás, furos, lagos, diques aluviais, cordões fluviais do tipo slikke e schorre, praias, canais anastomosados, meandros abandonados, além de feições mais comumente associadas com o período das enchentes como os igapós, que correspondem a trechos de florestas que ficam inundadas durante as enchentes Características das águas Sem informações Ictiofauna Similar à do rio Amazonas. Presença de peixes de valor comercial, entre elas Anchovia surinamensis Desflorestamentos Não significativos. Processo de ocupação A ocupação do território que engloba os municípios desta subárea remonta aos séculos XVIII e XIX, com origem nas missões jesuítas.. Atividades econômicas predominantes Os municípios deste compartimento apresentam atividades econômicas de pouca expressão, com predominância das atividades extrativistas vegetais. No município de Prainha se observa um ligeiro crescimento da agricultura no período recente, mas os produtos cultivados são basicamente aqueles típicos de subsistência. Polarização Prainha é polarizado por Santarém e Gurupá por Vitória do Jarí, ambos às margens do Rio Amazonas Acessibilidade Malha viária incipiente, com poucas rodovias não pavimentadas, sem nenhuma proximidade da malha viária regional. É o único trecho em que o Rio Xingu é navegável, facilitando o deslocamento hidroviário Dinâmica populacional Baixo dinamismo demográfico Municípios com média taxa de urbanização Presença de áreas protegidas e de destinação específica Área de Preservação Permanente (APP) do rio Amazonas Condicionantes e Restrições de ocupação Alto potencial para pastagens naturais e Áreas de Preservação Permanentes; Terras com aptidão restrita para agricultura, necessitando de cuidados complexos devido ao relevo; Susceptibilidade a erosão hídrica ou quando da remoção do solo superficial; Solos de fertilidade média com impedimentos físicos ao desenvolvimento de raízes e uso de máquinas Magnitude do PIB Ambos os municípios, dados inúmeros fatores restritivos, apresentam um porte econômico muito reduzido. A renda per capita reflete a incipiente produção local. Finanças Públicas A magnitude do PIB verificada indica uma forte dependência dos municípios pelos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) da União e dado que a pequena base econômica não induz a um nível de arrecadação própria significativa, o mesmo valendo para a transferência estadual da quota parte municipal do ICMS. Conflitos Existentes Associados a interferências do ambiente ribeirinho e nas relações socioculturais (ao comprometimento de bens constituintes e alteração ou perda de manifestações culturais) de populações tradicionais. ARCADIS Tetraplan 8 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu COMPARTIMENTO 3 Corredor Transamazônico Elementos de definição Presença da Rodovia Transamazônica, atravessando a sede dos municípios e polarizando a região. Matriz antrópica. Municípios integrantes Porção norte do município de Altamira, Medicilândia, Brasil Novo, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Anapu e Porto de Moz, todos no Estado do Pará. Clima Am. Quente e úmido com baixa amplitude térmica anual com precipitação média anual variando de 2.000 a 2.500 mm no baixo curso do rio Xingu e 1.800 mm no eixo da Transamazônica Cobertura vegetal Na margem direita, no baixo curso do rio Xingu, predomina Floresta Ombrófila Densa e Floresta Ombrófila Aluvial. No eixo propriamente dito prevalecem remanescentes de Florestas Ombrófilas e fragmentos em diferentes estágios sucessionais em meio a extensas áreas de uso antrópico. Fauna Na margem direita, no baixo curso, inúmeros táxons apresentam limite leste da distribuição geográfica determinado pelo Rio Xingu (unidade zoogeográfica Pará 1), gerando endemismos. No eixo propriamente dito, prevalece fauna de ambientes antropizados. Populações de espécies estritamente florestais podem remanescer em fragmentos. Cavernas propiciam presença de fauna especializada. Rede Hidrográfica Presença da ria do Xingu, canal largo e profundo, com margens altas, sendo afetado por variações do nível d’água decorrentes das marés. Afluentes da margem direita do baixo curso do Rio Xingu, incluindo o Majari. Compreende também as nascentes dos formadores do Rio Jarauçu e tributários da margem esquerda do baixo curso dos rios Iriri e Xingu. Região da Volta Grande. Características das águas Na Volta Grande, apresenta águas claras, ligeiramente ácidas, bem oxigenadas, relativamente pobres em nutrientes, condutividade crescente ao longo do curso do rio; influência antrópica nas proximidades de Altamira. Ictiofauna Na ria, similar a do Rio Amazonas. Presença comprovada de espécies raras (Lycengraulis batesii) e ornamentais (Pimelodus altipinnis). Bem documentada na região da Volta Grande. Presença de espécies de valor comercial, endêmicas, ornamentais e não descritas. Hábitats específicos na Volta Grande (canais e pedrais). Área de endemismos. Desflorestamentos Desflorestamentos pretéritos em padrão de "espinha de peixe" na área de influência da Transamazônica. Desflorestamentos recentes expressivos apenas a sul, nas proximidades da foz do Rio Iriri. No baixo curso, desflorestamentos recentes a partir da Transamazônica e do rio Xingu. Processo de ocupação Projetos de colonização financiados pelo governo federal nos anos 70, executados de forma dirigida, assentando lavradores sem-terra Atividades econômicas predominantes A agropecuária é a atividade produtiva mais importante do compartimento, cabendo destaque para o extrativismo vegetal e a pecuária. Os municípios Brasil Novo e Vitória do Xingu possuem uma pecuária consolidada, em outros a atividade apresenta crescimento típico de uma fase anterior, rumo à consolidação. Em Anapu este processo já se encontra em estágio avançado, seguido pelos municípios de Senador José Porfírio e Porto de Moz. O município de Altamira apresenta perfil produtivo diversificado, caracterizando-se como um pólo regional da Transamazônica e Medicilândia apresenta-se como um entreposto comercial da região. Polarização O município que polariza os demais da região é Altamira Acessibilidade Principal eixo rodoviário - Rodovia Transamazônica, que atravessa as sedes dos municípios; Presença de aeroportos locais; Rio Xingu não navegável na região Dinâmica populacional Baixa dinâmica populacional, com apenas um município com taxas crescentes; Municípios com média taxa de urbanização, exceção feita a Altamira Presença de áreas protegidas e de destinação específica Todos os municípios possuem parte de seus territórios ocupado por UCs ou TIs ou ambos; Destaque para Altamira e Anapu, com 75% e 43%, respectivamente Condicionantes e Restrições de ocupação Terras aptas para a agricultura e pastagens, mas que necessitam de práticas complementares de melhoramento e adubação; Sem restrições para a mecanização; Susceptibilidade a erosão devido à aração, terraplenagens ou drenagens; Solos de baixa fertilidade e problemas de toxidez. Magnitude do PIB Compartimento com maior base econômica no contexto paraense da bacia e, portanto, com volume de produto e renda mais elevados. Finanças Públicas Embora estes municípios tenham indicadores econômicos melhores, são da mesma maneira dependentes da transferência federal advinda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), sendo que a transferência estadual da quota parte municipal do ICMS assume maior relevância em função da base econômica mais expressiva. Conflitos existentes Associados à atração de contingentes populacionais com pressão sobre os equipamentos sociais. Afluxo de trabalhadores, quando do anúncio do AHE Belo Monte, disputando terras até então destinadas à pecuária. Desflorestamento acima dos limites legais; Linha de Transmissão (PAC). A área de influência de Belo Monte, segundo definição dos estudos, envolve comunidades indígenas. ARCADIS Tetraplan 9 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu COMPARTIMENTO 4 Médio Xingu Pecuária Elementos de definição Predominância da pecuária. Grandes áreas desflorestadas. Indução de antropização para outros compartimentos. Municípios integrantes São Félix do Xingu (porção nordeste e sudeste à direita do rio Xingu), Tucumã, Ourilândia do Norte (pequena porção nordeste), Bannach, Cumaru do Norte, todos no Estado do Pará. Clima Sazonal com precipitação média anual de 1.800 a 2.200 mm. Estiagem entre junho a setembro Cobertura vegetal Remanescentes de Floresta Ombrófila e contatos Florestas Ombrófila/Estacional e Floresta Ombrófila/Savana em meio a extensas áreas de pastagem. Fauna Área de endemismo Pará 2, entretanto com predomínio de fauna heliófila e de borda. Rede Hidrográfica Rios com canais em rocha, baixa sinuosidade, erosão das margens e do fundo; alta carga iônica e de sedimentos Características das águas Condutividade alta; carga de sedimentos elevada. Ictiofauna Não há informações. Desflorestamentos Desflorestamentos antigos na região de influência de São Félix do Xingu e em Bannach, Ourilândia e Cumaru do Norte, a partir de vetores externos. Desflorestamentos recentes em direção oeste. Taxas de desflorestamentos evidenciando situação grave em São Félix do Xingu e Cumaru. Muito grave e crítica em Bannach e Tucumã. Áreas de desflorestamentos recentes por vizinhança, a partir das áreas de pecuária. Processo de ocupação Projetos de colonização financiados pelo governo federal nos anos 70, de forma espontânea, por grandes empresas pecuaristas e agricultores basicamente nordestinos Atividades econômicas predominantes A economia destes municípios é completamente centrada nas atividades pecuárias. Os produtos agrícolas cultivados ocupam apenas uma pequena área destes municípios e são basicamente aqueles de subsistência, ou seja, não se destinam ao agronegócio como o gado bovino. O extrativismo vegetal é pequeno na região, com alguma expressão apenas em São Felix do Xingu. Polarização Os municípios da região são polarizados por São Félix do Xingu e por Redenção e Novo Repartimento, ambos fora dos limites da bacia Acessibilidade Malha viária incipiente, com poucas rodovias pavimentadas, com proximidade da rodovia pavimentada PA 150, nos limites da bacia. Acesso feito por rodovias locais e aeroportos locais. Dinâmica populacional Baixo dinamismo demográfico; Municípios com média ou baixa taxa de urbanização Presença de áreas protegidas e de destinação específica Todos os municípios possuem parte de seus territórios ocupada por UCs ou TIs ou ambos, com exceção de Tucumã e Bannach; Destaque para Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu, com 88% e 59%, respectivamente Condicionantes e Restrições de ocupação (i) Susceptibilidade alta a erosão laminar e em sulcos quando obras ou intervenções provocam concentração de escoamento superficial e assoreamento de talvegues. Deficiência de nutrientes (ii) Susceptibilidade média a alta a erosão laminar, em sulcos, rastejo e a movimentos de massa nos relevos de morrotes, morros e serras intensificados com a remoção da cobertura vegetal natural. Declividades altas, solos rasos e afloramentos rochosos. Magnitude do PIB Compartimento apresenta um porte econômico médio no contexto da porção paraense da bacia. Finanças Públicas Analogamente ao compartimento 3, os municípios componentes são dependentes da transferência federal advinda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), sendo que a transferência estadual da quota parte municipal do ICMS assume maior relevância em função da base econômica. Conflitos existentes Associados à alteração no uso e ocupação do solo, devido à forte pressão de desflorestamento para pecuária em áreas florestais do entorno; alteração na qualidade da água; uso e posse da terra; desenvolvimento econômico não sustentável ambientalmente; área de conflitos agrários e ocorrência de trabalho escravo. ARCADIS Tetraplan 10 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu COMPARTIMENTO 5 Formações do Cachimbo - Área sob influência da BR-163 Elementos de definição Influência da rodovia BR-163. Ecossistemas relacionados com formações do Cachimbo. Municípios integrantes Novo Progresso – PA Clima Am3. Precipitação média anual de 2000 a 2500mm e 100 a 200mm de déficit hídrico Cobertura vegetal Campinaranas, Floresta Estacional, Contato Campinarana/Floresta Ombrófila, Refúgio. Fauna Fauna relacionada zoogeograficamente com as formações da Serra do Cachimbo e a florestas estacionais, diferenciando-se da fauna do restante da bacia do rio Xingu. Presença de cavernas propicia presença de fauna especializada nesses ambientes Rede Hidrográfica Nascentes de formadores do rio Curuá, afluente do rio Iriri. Características das águas Não há informações. Ictiofauna Ictiofauna de nascentes Desflorestamentos Principalmente na Floresta Estacional e nas formações de contato (Campinarana /Floresta Estacional). Taxas de desflorestamentos dentro do limite legal, com significativas áreas contínuas. Processo de ocupação Projetos de colonização financiados pelo governo federal nos anos 70, de forma espontânea, por grandes empresas pecuaristas e agricultores basicamente nordestinos. Atividades econômicas predominantes Predomina o extrativismo vegetal, com recente chegada de indústrias mineradoras (minérios da Formação Cachimbo). Também há relativa presença de pecuária de corte, embora menos significante se comparado à atividade das madeireiras. Polarização Quase não há polarização com o município de Alto Progresso, único neste compartimento, e que centraliza a maior parte dos serviços. As sedes municipais mais próximas estão há cerca de 400 km da sede de Novo Progresso. Acessibilidade Grande potencial de acessibilidade, com malha viária em processo de consolidação, com a existência de algumas rodovias não pavimentadas e da BR 163. Dinâmica populacional Baixo dinamismo demográfico, com baixa taxa de urbanização. Presença de áreas protegidas e de destinação específica Não há unidades de conservação neste trecho da bacia hidrográfica, embora ocorram UCs e TIs no entorno, no município de Altamira. Condicionantes e Restrições de ocupação Suscetibilidade a erosão em sulcos, rastejo e a movimentos de massa quando da remoção da cobertura vegetal. Solos rasos, com baixa fertilidade, problemas de toxidez por alumínio, baixa capacidade de retenção de umidade e alta suscetibilidade a erosão hídrica e a movimentos de massa. Magnitude do PIB A despeito da vigorosidade das atividades madeireiras e da mineração recente, este compartimento apresenta um porte econômico relativamente incipiente se comparado a outros compartimentos. Finanças Públicas Composto por municípios dependentes das transferências federais (destaque para o FPM0 e estaduais. Conflitos Existentes Associados a desflorestamentos nas proximidades de TI e UC, devido à alteração do uso e ocupação do solo. O projeto de construção e pavimentação BR-163 atravessa a região oeste da bacia (PCHs Salto do Buriti, Salto do Curuá e Santo Três de Maio), podendo intensificar os conflitos já existentes relacionados a BR-163. ARCADIS Tetraplan 11 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu COMPARTIMENTO 6 Alto Xingu Oeste - Área sob Influência da BR-163 Elementos de definição Influência da rodovia BR-163. Atividade agropecuária consolidada ou em fase de consolidação. Municípios integrantes Claudia, Feliz Natal, Guarantã do Norte, Itaúba, Marcelândia, Matupá, Nova Santa Helena, Nova Ubiratã, Peixoto de Azevedo, Santa Carmem, Sinop, Sorriso, União do Sul, Vera, todos no Estado de Mato Grosso. Clima Predomina o clima Am3 (segundo classificação de Köppen), sazonal com precipitação média anual de 2000m. Média de temperaturas de 24ºC. Cobertura vegetal Contato Floresta Ombrófila / Floresta Estacional (Formações florestais do Parecis). Formações Pioneiras nos afluentes e no rio Xingu. Limite com as Savanas meridionais. Fauna Unidade Zoogeográfica: Transição Fl Ombrófila - Estacional da margem esquerda do Rio Xingu. Fauna caracterizada pela presença de parte das espécies da Fl Ombrófila da margem esquerda e de espécies cuja distribuição restringe-se à periferia amazônica. Note-se, ainda, a presença de forte elemento associado às formações palustres das planícies de inundação. Presença também de fauna associada a ambientes periféricos da Amazônia. Rede Hidrográfica Rios com amplas planícies de inundação nos baixos cursos, afluentes do rio Xingu da margem esquerda: Culuene, Tamitatoala, Ronuro, Arraias, Jarininha. Características das águas Condutividade baixa, variação sazonal significativa; valores altos de nutrientes em algumas determinações. Ictiofauna Espécies de pequeno porte nas cabeceiras; espécies que exploram os recursos da várzea sazonal. Presença comprovada de espécies raras e ornamentais. Desflorestamentos Intensos e crescentes, verificando-se a retomada recente de desflorestamentos, a norte do compartimento, expandindo-se a partir de áreas de cultura de grãos. Prevalecem situações de desflorestamentos graves e críticas nos municípios de Sinop, Nova Santa Helena, Sta. Carmem, Claudia, Itaúba. Grandes manchas remanescentes florestais, em meio a grandes extensões de pastagens e de agrossistemas. Limites abruptos e geométricos. Aparentemente, desmatamentos isolados e coalescentes, com substituição da matriz florestal original para agropecuária. Área de avanço da fronteira agrícola - desmatamentos versus extensas áreas bem conservadas; expansão de culturas cíclicas sobre as florestas. Áreas de ocupação recente (degradação a paisagem em curso). Processo de ocupação Anos 70 - programas de colonização baseados três grandes empresas privadas do Sul e Sudeste do País (Colíder, Sinop e Indeco), que adquiriram terras que foram então loteadas e oferecidas a pequenos agricultores capitalizados das regiões Sul e Sudeste. Atividades econômicas predominantes Os municípios deste compartimento apresentam padrão típico da ocupação do Estado do Mato Grosso, qual seja, inicialmente extrativismo vegetal, seguido pela pecuária e posteriormente agricultura, especialmente a soja. Neste compartimento observam-se três grupos de municípios de acordo com o grau de avanço que se encontram neste processo. Os municípios mais ao sul do compartimento – Nova Ubiratã, Sorriso, Vera, Sinop e Santa Carmem – encontram-se em estágio avançado desta transformação, e neles se observa grandes plantações de soja. No centro do compartimento se encontram os municípios que estão na fase de transição– Feliz Natal, União do Sul, Cláudia, Itaúba e Marcelândia –, onde se observa a pecuária, mas já se verificam avanços dos grãos. No norte do compartimento estão os municípios menos avançados neste processo, onde a pecuária ainda é a atividade dominante. Este é o caso de Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte, Matupá e Nova Santa Helena. Polarização Todos os municípios são polarizados por Sinop, cuja sede encontra-se fora dos limites da bacia; Alguns também são polarizados por Cuiabá. Acessibilidade Trata-se da região da bacia com maior potencial de acessibilidade, com malha viária em processo de consolidação, com a existência de algumas rodovias não pavimentadas, com a BR 163 passando por municípios na borda da bacia. Dinâmica populacional Área com alto dinamismo populacional; Municípios com média ou baixa taxa de urbanização, com exceção de Sinop, Sorriso e Vera. Presença de áreas protegidas e de destinação específica A maioria dos municípios não possui terras ocupadas por UCs ou TIs. Feliz Natal e Peixoto de Azevedo têm cerca de 40% de seu território ocupado Condicionantes e Restrições de ocupação Terras aptas para a agricultura e pastagens, mas que necessitam de práticas complementares de melhoramento e adubação; Sem restrições para a mecanização; Susceptibilidade baixa a erosão quando da remoção do solo superficial; Solos de baixa fertilidade e problemas de toxidez. Magnitude do PIB Compartimento com maior porte econômico da bacia. Finanças Públicas A consolidação econômica dos municípios deste compartimento permitiu a eles uma expressiva autonomia financeira, dependem menos das transferências federais e estaduais. Conflitos Existentes Área de avanço da fronteira agrícola - desmatamentos versus extensas áreas bem conservadas. Desflorestamentos dentro de TIs e de UCs; desflorestamentos acima dos limites legais. Degradação de recursos hídricos e pesqueiros, interferindo nos modos de vida indígenas, ribeirinhos e de pescadores; redução local da diversidade biológica; grande aporte de insumos. BR-242-MT (PAC). ARCADIS Tetraplan 12 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu COMPARTIMENTO 7 Alto Xingu Leste - Área sob Influência da BR – 316 Elementos de definição Influência da BR-316. Municípios integrantes Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia, Canabrava do Norte, Canarana, Confessa, Gaúcha do Norte, Porto Alegre do Norte, Querência, Ribeirão Cascalheira, Santa Cruz do Xingu, São Félix do Araguaia, São José do Xingu, Vila Rica, todos no Estado do Mato Grosso. Clima Transição entre climas Am3 e Aw (segundo classificação de Köppen), sazonal com precipitação média anual de 2000m. Média de temperaturas de 24ºC. Cobertura vegetal Contato Floresta Ombrófila / Floresta Estacional (Formações florestais do Parecis) e Savanas/Floresta Estacional. Ecótono Floresta Ombrófila e Savanas. Fauna Unidade Zoogeográfica: Transição Fl Ombrófila - Estacional da margem direita do Rio Xingu. Fauna caracterizada pela presença de parte das espécies da Fl Ombrófila da margem direita e, ainda, de espécies cuja distribuição restringe-se à periferia amazônica. Note-se, ainda, a presença de forte elemento associado às formações palustres das planícies de inundação. Rede Hidrográfica Compreende sub-bacias de rios com planícies fluviais amplas, afluentes da margem direita do alto curso do rio Xingu: rio Paturi, Auaiá-Miçu e afluentes da margem direita do rio Suiá-Miçu. Nascentes e grande parte do rio Comandante Fontoura, que deságua no trecho superior do Médio rio Xingu. Características das águas Condutividade baixa, variação sazonal significativa; valores altos de nutrientes em algumas determinações Ictiofauna Espécies endêmicas de pequeno porte nas cabeceiras; espécies que exploram os recursos da várzea sazonal. Área de endemismos. Desflorestamentos Extensas áreas desflorestadas em décadas passadas. Desflorestamentos recentes intensos e localizados a sul desta unidade e mais acentuados a norte (Confresa e Vila Rica). Situação crítica em Alto Boa Vista, muito grave em S. José do Xingu e Vila Rica, grave em Canabrava do Norte e um pouco acima do limite legal nos demais municípios. Matriz de pastagens. Processo de ocupação Porção norte: Colonização, nos anos 1970, em parcerias com associações de produtores e cooperativas Porção sul: Ocupação recente, marcada pelas primeiras experiências de plantação de soja no estado do Mato Grosso, realizadas por colonos gaúchos atraídos para o norte pelos Projetos de Colonização, no início dos 1980 Atividades econômicas predominantes Assim como os municípios localizados no lado oeste do Alto Xingu, os municípios deste compartimento apresentam economia em transformação. No entanto, se encontram em um estágio anterior, ocorre uma expansão da produção de grão com destaque para a soja, mas tal atividade não se consolidou. Os municípios mais ao norte do compartimento – Vila Rica, Confresa, São José do Xingu, Porto Alegre do Norte, Canabrava do Norte e Alto Boa Vista – apresentam forte atividade pecuária. No centro do compartimento os municípios apresentam atividade pecuária e transitam para a agricultura. Neste caso aparecem os municípios de São Felix do Araguaia, Santa Cruz do Xingu, Bom Jesus do Araguaia, Gaúcha do Norte e Ribeirão Cascalheira. No centro-sul aparecem os municípios que estão mais avançados na transição da pecuária para a agricultura, onde a pecuária ainda aparece com certa importância, mas compartilhada com a agricultura. Estes municípios são Querência e Canarana. Polarização Os municípios da porção ao norte do compartimento são polarizados por São Félix do Araguaia, cuja sede encontra-se fora dos limites da bacia; Os municípios da porção mais ao sul são polarizados por Barra do Garças Acessibilidade Malha viária em transição, com a existência de algumas rodovias não pavimentadas, com alguma proximidade da malha viária regional; Acesso feito por rodovias locais e aeroportos locais Dinâmica populacional Porção norte: Baixo dinamismo demográfico; Municípios com média ou baixa taxa de urbanização Porção sul: Demografia relativamente dinâmica, com altas taxas de crescimento em Primavera do Leste e Querência Presença de áreas protegidas e de destinação específica Alguns municípios possuem Uc´s ou TI´s em seus territórios, porém com baixo percentual, com destaque para Alto Boa Vista, com 51% ocupado por TI´s, Gaúcha do Norte e Querência com percentual de ocupação de cerca de 40% Condicionantes e Restrições de ocupação Terras aptas para a agricultura e pastagens, mas que necessitam de práticas complementares de melhoramento e adubação; Sem restrições para a mecanização; Susceptibilidade baixa a erosão quando da remoção do solo superficial; Solos de baixa fertilidade e problemas de toxidez por alumínio Magnitude do PIB Ainda que a consolidação econômica deste compartimento esteja um estágio anterior ao Compartimento 6, já apresentam uma base econômica significativa. Finanças Públicas O avanço econômico enseja a esses municípios conquistarem cada vez maior autonomia econômica e financeira. Mas ainda assim, na maior parte dos casos os repasses do FPM ainda representam parcela importante das receitas municipais. Conflitos Existentes Desmatamentos em TI ; uso agropecuário em TI; pressões sobre Parque Nacional do Xingu; degradação de recursos hídricos e pesqueiros, interferindo nos modos de vida indígenas, ribeirinhos e pescadores; taxas de desmatamentos elevadas em remanescentes redução local da diversidade biológica. Construção da BR158/MT (PAC), podendo trazer à região aumento populacional e alterações na economia, mas não tendendo a criar situações de conflito direto com relação às PCHs situadas a montante da rodovia. BR-242/MT, em área de desenvolvimento agrícola. ARCADIS Tetraplan 13 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do rio Xingu COMPARTIMENTO 8 Xingu Meridional Elementos de definição Bioma Cerrado ou Savana. Nascentes de formadores do rio Xingu. Municípios Água Boa, Campinápolis, Nova Brasilândia, Nova Xavantina, Paranatinga, Planalto da Serra, Primavera do Leste, Santo Antônio do Leste, todos no Estado do Mato Grosso. Clima Sazonal. Segundo classificação de Köppen, Aw.Precipitação média anual de 2000mm, inverno seco e pluviosidade máxima no verão.Temperatura média anual de 22ºC. Cobertura vegetal Savanas Parque e Gramíneo Lenhosa; Arborizada e Florestada; Contato Savana / Floresta Estacional Fauna Unidade Zoogeográfica: Cerrado ou Savana. Presença de endemismos de Cerrado com registros na região. Presença de cavernas propicia ocorrência de fauna cavernícola especializada. Rede Hidrográfica Nascentes de formadores do rio Xingu (Culuene e Sete de Setembro); águas emendadas na cabeceira do Rio Sete de Setembro (Depressão do Alto Araguaia / Tocantins); cabeceiras do Von Den Steinen, Ronuro, Tamitatoaba, Cuvisevo e Suiá-miçu Características das águas Sem informação Ictiofauna Espécies reofílicas de pequeno porte. Embora pouco estudada, é comprovada a presença de espécies ornamentais e raras. Desflorestamentos Intensos. Grandes manchas remanescentes de savanas, em meio a grandes extensões fortemente antropizadas e agrossistemas. Fragmentação a partir do sul, aparentemente por vizinhança e pelos interflúvios, mais intensa nos altos cursos. Mais expressiva a oeste, nas rampas pouco dissecadas no reverso das escarpas, já no Planalto dos Parecis / Alto Xingu Processo de ocupação Com ocupação que data da década de 70, foi alvo de processos de colonização encabeçados pelo governo ditatorial para garantir a soberania na região. No entanto, se por um lado tais projetos visavam a colonização por pequenos agricultores, em pouco tempo a pressão agrícola latifundiária transformou a região deste compartimento. Inicialmente a pecuária em grandes latifúndios chegou trazida por colonos gaúchos, dando logo espaço à soja, que hoje domina a região, trazendo forte pressão latifundiária e ambiental. Predomina a agricultura de grão, baseada na soja; há municípios onde a pecuária aparece com forte expressão, e outros onde se verifica uma transição do extrativismo vegetal para a agricultura (soja). No primeiro grupo, com agricultura consolidada, aparecem Primavera do Leste, Santo Antônio do Leste e Água Atividades econômicas predominantes Boa. O grupo cuja atividade principal é a pecuária é formado por Nova Brasilândia, Planalto da Serra, Campinápolis e Nova Xavantina. Na fase de transição do extrativismo para a agricultura se encontra o município de Paranatinga. Polarização Os municípios deste compartimento apresentam polarização com Primavera do Leste, cuja sede municipal está a sul da bacia do rio Xingu, já fora de seus limites, e também com Água Boa, a sudeste da bacia. Uma influência significativa é verificada com os municípios de Sorriso e Sinop, ambos no Compartimento 6, a oeste da bacia, mas é a proximidade de Cuiabá que faz com que seja a capital mato-grossense a grande influência da região. Acessibilidade A região é bem atendida em termos de estradas, tendo fácil acesso tanto para a capital Cuiabá, pouco mais de 200 km ao sudoeste desta região. Também há boa ligação com os municípios a noroeste, tais como Sinop, Sorriso e Feliz Natal. Dinâmica populacional Região apresenta alto dinamismo populacional, com altas taxas de crescimento demográfico e altos índices de urbanização. Condicionantes e Restrições de ocupação Solos suscetíveis à erosão laminar e em sulcos. Magnitude do PIB Essa região tem um porte econômico não tão expressivo, mas em expansão. Finanças Públicas As finanças aqui são um pouco mais dependentes do FPM. Nova Xavantina e Nova Brasilândia, por exemplo, conta com um terço de seu orçamento proveniente do repasse da União. O restante, em média, tem o FPM representando cerca de 20% das receitas municipais. Conflitos Área de influência das PCHs, interferindo em TIs ņ diversas etnias do Parque Indígena do Xingu (PIX) e aldeias do povo Xavante. Proximidade com UC. Antropização nas nascentes do rio Sete de Setembro; desmatamento elevado, também em TIs; redução das savanas; redução local da diversidade biológica. Interferências nos cursos d´água causando insegurança alimentar e da saúde e perturbação do cotidiano das populações tradicionais do entorno. ARCADIS Tetraplan 14 Aumento da geração de empregos, envolvidos nos trabalhos de construção e população associada, além de empregos necessários para atender este novo contingente populacional. Aumento da oportunidade de negócios para micro e pequenos empresários Alteração/ruptura na rede de relações econômicas/sociais das quais os grupos sociais dependem e dispõem para garantir sua sobrevivência. Alterações no quadro de saúde, devido à introdução e disseminação de doenças de veiculação hídrica e outras Fortalecimento da Matriz Institucional, devido à maior presença de entes públicos e não governamentais. Os principais efeitos adversos antevistos em decorrência da implantação de empreendimentos hidrelétricos, identificados para o AHE Belo Monte e que poderão resultar dos demais empreendimentos na bacia do rio Xingu, são: Alteração na hierarquia funcional dos núcleos municipais, com fortalecimento de alguns pólos. Pressão adicional sobre a infra-estrutura urbana e serviços, devido à chegada de trabalhadores e população associada. Sobrelevação do nível d´água e formação do reservatório. Aumento da População Aumento de processos erosivos a jusante, devido ao aumento do poder erosivo da água. Incremento do Valor Adicionado Fiscal Municipal Aumento da receita municipal devido ao aumento da quota parte municipal Interferência em área urbanizada Compensação Financeira Incremento do Valor Adicionado (PIB) Direito à compensação financeira em função de área alagada, aplicado apenas no caso da AHE Belo Monte 4.2. Avaliação de Impactos por compartimento Os principais impactos ambientais antevistos em decorrência da implantação de empreendimentos hidrelétricos na bacia do rio Xingu são indicados, selecionando-se na sequência, alguns impactos mais significativos, correspondentes àqueles que sinalizem efeitos importantes, seja em razão de um possível processo cumulativo, seja por eventuais sinergias que possam gerar para avaliação por meio de indicadores. A opção adotada foi a seleção de um impacto síntese para cada fenômeno, avaliado quanto à intensidade dos efeitos impactantes, em quatro níveis de magnitude: muito alto/alto, médio, baixo e muito baixo. Perdas de potencial mineral, devido à inundação. Perda de hábitats de transição (matas de igarapés, ilhas, pedrais, barrancos), ambientes que comportam comunidades biológicas adaptadas às condições de cheia e vazante, resultando na perda dessas comunidades. Interferências em áreas de interesse conservacionista, devido a formação de reservatórios e ao aumento de pressão antrópica sobre Unidades de Conservação (UC) ou Áreas Prioritárias à Conservação da Biodiversidade (APCB). Reconhecendo-se estas alterações como previstas, para a avaliação de impactos da AAI alguns foram selecionados por representem efeitos importantes, e que, ao mesmo tempo, sejam passíveis de avaliação para o conjunto dos empreendimentos propostos por meio de variáveis e indicadores disponíveis. Perda de cobertura vegetal de terra firme por sobrelevação do nível d´água com perdas de populações e de hábitats, efeito que pode ser cumulativo devido sucessão de barramentos e processos de antropização associados. Aumento de pressão antrópica no entorno, devido ao alagamento de áreas produtivas e abertura ou melhoria de vias de acesso, refletem em aumento de desflorestamentos. Ecossistemas Alterações das comunidades aquáticas a montante do barramento, devido às alterações do regime hídrico do rio, com conseqüentes alterações na composição e abundância das populações aquáticas. Alteração na dinâmica hidráulica dos rios e alteração da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos Fragmentação do ambiente do rio, constituindo muitas vezes sub-populações com contato diminuído ou impedido entre elas. Alterações das comunidades aquáticas a jusante do barramento devido às alterações do regime hídrico do rio, reduzindo variações sazonais. Alterações nas características da água do rio, devido ao tempo de residência da água, dimensão e forma do reservatório e, indiretamente, pelo aumento na pressão pelo uso das águas (abastecimento e efluentes). Formação de ambientes propícios à proliferação de macrófitas e de invertebrados de interesse médicosanitário, principalmente nos remansos dos igarapés. Perda de áreas de uso agropecuário devido ao alagamento de áreas. Geração de empregos na cadeia da produção de energia. Perdas de potencial mineral Perda e fragmentação de habitats terrestres Depreciação da Ictiofauna Nativa Desflorestamento Socioeconomia Incremento do Valor Adicionado Fiscal Municipal Aumento da receita municipal devido ao aumento da quota parte municipal Interferência sobre populações Para classificação dos impactos dos aproveitamentos hidrelétricos foi feita a relação por meio dos seguintes critérios: muito alto/alto, médio, baixo e muito baixo com respectivamente os valores numéricos 16, 4, 2, 1 cuja amplitude entre dois números seqüenciais varia com o objetivo de sensibilizar suas diferentes magnitudes quando inseridos na matriz de sensibilização de impactos, conforme explicitada a seguir. A classificação dos reservatórios, segundo sua dimensão é apresentada na tabela subseqüente. ARCADIS Tetraplan 15 Classificação do Impacto Valor Numérico Alto e Muito Alto 16 Médio 4 Baixo 2 Muito Baixo 1 Indicador: Tamanho do Reservatório Tamanho do Reservatório Maior que 500 km² De 3 a 13 km² Menor que 3 km² Sem informação Classificação Aproveitamentos Hidrelétricos Muito Grande AHE Belo Monte Pequeno PCH Paranatinga I PCH Paranatinga II Muito Pequeno PCH Salto Buriti PCH Salto Curuá PCH Três de Maio PCH ARS PCH Culuene PCH Ronuro A evolução da população, o aumento do valor adicionado fiscal e a evolução do desflorestamento são variáveis tratadas nos cenários, que também permitem análises comparativas das situações futuras, auxiliando na avaliação de impacto. ARCADIS Tetraplan 16 Impactos sobre o Meio Físico e Ecossistemas Perda e fragmentação de habitats terrestres, Pressão sobre habitats e sobre áreas de Interesse Conservacionista Perdas de potencial mineral A implantação de empreendimentos hidrelétricos determina alterações nas características e na dinâmica do meio físico, dentre as quais a perda de potencial mineral. A magnitude dos impactos gerados é função das características dos empreendimentos, notadamente o tamanho do reservatório, e da inundação de áreas de potencial elevado, conforme informações obtidas nos Mapas Geológicos da CPRM de 2004. O grau de significância do impacto, indicativo da probabilidade de ocorrência de interferências nas atividades de exploração mineral, é apresentado no Quadro a seguir, no qual é possível verificar que, para todas as PCH’s implantadas e em implantação na Bacia do Xingu, os efeitos sobre os recursos minerais não são significativos. Apenas no AHE Belo Monte o impacto pode ser avaliado como de baixa magnitude, pois a formação do reservatório deverá afetar algumas jazidas de argila e areia. Resultados Tipo de empreendimento PCH UHE Tamanho do Avaliação do Impacto Reservatório Qualitativo Numérico Salto Buriti Muito Pequeno Muito baixo 1 Salto Curuá Muito Pequeno Muito baixo 1 Salto Três de Maio Muito Pequeno Muito baixo 1 ARS Muito Pequeno Muito baixo 1 Parantinga I Pequeno Muito baixo 1 Parantinga II Pequeno Muito baixo 1 Culuene Muito Pequeno Muito baixo 1 Ronuro Sem dados - - Nome Belo Monte Muito Grande Baixo 1 O AHE Belo Monte insere-se na Depressão da Amazônia Meridional, que é a unidade de relevo que apresenta maior número de pontos com registro de existência de recursos minerais segundo os mapas geológicos do CPRM (2004). A maior parte das mineralizações refere-se a garimpos, depósitos ou ocorrências de ouro, encontrados em veios de quartzo ou aluviões. Na região da Volta Grande do Xingu os depósitos de ouro nos aluviões do rio e nos terrenos adjacentes, foram pesquisados e lavrados com significativa produção no passado Na área do reservatório do AHE Belo Monte não se registra nenhuma ocorrência mineral para ouro e outros minerais. Registra-se apenas a ocorrência de depósitos de areia/cascalho e argila no leito do rio no trecho a ser inundado para a formação do reservatório, Próximo a Altamira. . A construção de empreendimentos hidrelétricos promove interferências nos ecossistemas terrestres decorrentes tanto da fragmentação e perda de habitats, como da perda de espécimes de flora e de fauna. Quando muito intensos, a perda e fragmentação de habitats terrestres podem ocasionar depleções populacionais da fauna e da flora, com possibilidade de extinção local de espécies, inclusive daquelas consideradas raras, endêmicas e/ou ameaçadas de extinção. Fenômenos de perdas de diversidade e de variabilidade genética podem ser esperados, com intensidades variáveis. Os efeitos da submersão de habitats terrestres incluem também impactos indiretos, como a alteração e empobrecimento das comunidades biológicas decorrentes de efeito de borda. As variáveis consideradas importantes para avaliação deste impacto foram: (a) o tamanho do reservatório, pois quando maior a área inundada, maior o potencial de impacto; (b) o nível de fragmentação da paisagem, pois áreas muito fragmentadas já apresentam perturbações ambientais significativas e alterações em sua composição de espécies, tendo menor importância como depositárias da diversidade biológica original; e, (c) a presença de áreas de interesse conservacionista Unidades de Conservação e Áreas Prioritárias para a Conservação da Natureza (APCBs), oficialmente reconhecidas por sua importância biológica (Portaria nº 9 de 23 de janeiro de 2007). Considerando-se que a intensidade do impacto está associada às características do ambiente sob intervenção bem como às características do empreendimento, a leitura deste, ou seja, da perda/pressão de um empreendimento hidrelétrico sobre os habitats terrestres e áreas de interesse conservacionista é resultante da sobreposição da área do reservatório e o resultado de leitura dessa ambiência. A partir da avaliação destes indicadores, foram obtidos os seguintes resultados. Resultados Tipo de empreendimento PCH UHE Nome APCB Fragmentação Avaliação do Impacto Qualitativo Salto Buriti Muito Alta Muito Alta importância Médio Salto Curuá Muito Alta Muito Alta importância Médio Salto Três de Maio Média Muito Alta importância Médio ARS Média Muito Alta importância Médio Parantinga I Média Baixa importância Baixo Parantinga II Média Baixa importância Baixo Culuene Média Média importância Baixo Ronuro Média - - Alta Média importância Alto Belo Monte ARCADIS Tetraplan 17 Impactos sobre os Recursos Hídricos e Ecossistemas Aquáticos Alteração na dinâmica hidráulica dos rios e alteração da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos A implantação de reservatórios com a finalidade de geração de energia impõe, pela própria natureza do empreendimento, profundas alterações nos ecossistemas aquáticos originais. A magnitude dos impactos gerados é função das características da região (clima), da bacia hidrográfica (área de drenagem, geologia, geomorfologia, pedologia, uso do solo), do rio (fisiografia, diversidade de habitats, sazonalidade do regime hidrológico) e do empreendimento (área alagada, tempo de residência, profundidade e morfometria do reservatório, regras de operação). Para efeito da avaliação dos impactos dos empreendimentos hidrelétricos nos compartimentos da bacia – alteração na dinâmica hidrológica e na qualidade da água/ecossistemas aquáticos, optou-se pela utilização de indicadores relacionados às características dos reservatórios e ao uso do solo na bacia: (a) área alagada pelos reservatórios, permitindo o cálculo do tempo de residência médio, pois reflete a magnitude da transformação de um sistema lótico num sistema lótico-lêntico e a alteração em relação ao ecossistema original, com a formação de novos habitats e a possibilidade de compartimentação do sistema; (b) o potencial de aporte de fósforo nos reservatórios, nutriente essencial para a produção primária aquática e freqüentemente é o principal fator limitante à eutrofização de reservatórios; (c) a extensão de rio com redução de vazão a jusante do represamento, impacto associado a Belo Monte, foi também considerado um indicador pela importância desse efeito, embora num único empreendimento, na alteração do ecossistema aquático. Resultados Empreendimento Dinâmica Hidrológica Alteração da Qualidade da água/ ecossistemas Síntese do Impacto MB MB Muito baixa Muito baixa Muito baixa MB MB MB Muito baixa Muito baixa Muito baixa MB MB MB Muito baixa Muito baixa Muito baixa MB B MB Muito baixa Muito baixa Muito baixa MB M MB Muito baixa Baixa Baixa Aporte de P km² Salto Buriti MB B Salto Curuá MB Salto Três de Maio MB ARS Parantinga I Nome Parantinga II Culuene Avaliação do Impacto Trecho de vazão reduzida a jusante (km) Área Alagada Tempo Reservância Médio (dias) Tipo PCH Avaliação dos Indicadores (ton/ana) B B M MB Baixa Baixa Baixa MB MB MB MB Muito baixa Muito baixa Muito baixa MA B MA MA Alta Muito alta Muito Alta Ronuro UHE Belo Monte Depreciação da Ictiofauna Nativa A ictiofauna constitui um dos grupos mais afetados pela implantação de empreendimentos hidrelétricos sendo os impactos decorrentes de três fenômenos principais: i) a fragmentação do ecossistema aquático; ii) perda de habitat a montante, devido à formação do reservatório e iii) a perda de habitat a jusante, devido principalmente à diminuição da amplitude de flutuação no nível da água pelo controle da vazão. A fragmentação afeta principalmente as espécies migradoras, que dependem de grandes trechos lóticos livres e de habitats diferenciados para completar o ciclo de vida. A localização do empreendimento pode ser um indicador da presença de espécies migradoras, considerando que quanto mais a montante, maiores as chances de preservar eventuais rotas migratórias. Da mesma forma, a presença de barreiras naturais pode ser utilizada para essa avaliação. especial importância, sendo uma avaliação da intensidade do impacto. variável adequada à Para avaliação do grau de importância da implantação de empreendimentos utilizou-se dados de espécies migratórias, endêmicas, e presença de planícies de inundação para compor o indicador. O grau de significância do impacto é resultante da superposição dessas variáveis com a área do reservatório. À exceção do AHE Belo Monte, situado no limite do médio com o baixo curso do rio Xingu, os demais empreendimentos situamse nos trechos superiores dos rios. Por outro lado, a presença de endemismos e de espécies raras, contribui para elevar a criticidade dos impactos tanto no AHE Belo Monte, como naquelas situadas no rio Culuene. A perda de habitat a montante deve-se à transformação de um ambiente lótico em um ambiente lêntico, afetando diretamente as comunidades. Devido à escassez de espécies nativas evolutivamente adaptadas às novas condições, poucas espécies permanecem em reservatórios e há maiores chances de expansão de espécies exóticas, que muitas vezes causam danos às populações nativas ainda existentes. A presença de espécies endêmicas e raras, nessas circunstâncias, assume ARCADIS Tetraplan 18 Grau de Significância do Impacto / Resultados Empreendimento Tipo PCH Nome Significância dos Indicadores Avaliação do Impacto Rota Composição Qualitativo Salto Buriti Baixa Média Média Salto Curuá Baixa Média Média Salto Três de Maio Baixa Média Média ARS Baixa Média Média Parantinga I Média Alta Muito Alta Parantinga II Média Alta Muito Alta Culuene Baixa Alta Alta Alta Alta Muito Alta Ronuro UHE Belo Monte ARCADIS Tetraplan 19 Impactos Sobre a Socioeconomia Interferência Sobre Populações Dentre as ações necessárias à implantação de um empreendimento hidrelétrico, o enchimento do reservatório, que ocorre ao final da etapa de obras, é aquele com maior potencial de causar impactos permanentes, implicando: Interferências físicas e funcionais no território, a partir da interrupção de acessos e, respectivamente, de fluxos de mercadorias e pessoas; demolição de infraestruturas, estruturas e edificações, o que demanda realocações e novas construções, seja no próprio núcleo remanescente e/ou em áreas anteriormente ocupadas por outros usos; Transtornos à população, tanto para aquela diretamente afetada, em função do deslocamento compulsório, quanto para aquela remanescente, que poderá ter suas atividades associadas à produção econômica e à vida social alteradas. Em síntese, a existência de habitações e atividades produtivas na área do reservatório e entorno torna as populações (urbanas ou rurais) mais suscetíveis a possíveis interferências, seja do ponto de vista físico, seja do ponto de vista funcional e de relações sociais. A atribuição do grau de significância dessas interferências se deu a partir da conjugação de dois critérios: o tamanho do reservatório e a distância das áreas urbanizadas ao eixo do barramento, local onde se concentra a maior parte das obras civis. serviços, no seu território, deduzido o valor das mercadorias entradas, em cada ano civil. Este conceito vincula-se à obrigatoriedade constitucional de transferência de parcela do ICMS arrecadado pelo Estado aos municípios. Assim, esta variável é utilizada para o cálculo dos índices de participação dos municípios (IPM) na quota-parte municipal do ICMS (QPM), impacto tratado no item a seguir. A variação esperada do Valor adicionado (ǻ Valor Adicionado) decorrente da instalação dos aproveitamentos é apresentada a seguir. O procedimento adotado para a estimativa simulou a mesma sistemática utilizada pelas Secretarias da Fazenda Estadual para o calculo do IPM. Assim, partiu-se da existência dos aproveitamentos nos município operando desde o ano de 2006 e simulou o que seria o novo valor para o ano de 2009. Ressalte-se que a estimativa de valor adicionado da AHE Belo Monte é de R$5,4 bilhões e foi dividido em partes iguais entre os três municípios que conterão partes do projeto, Altamira, Brasil Novo e Vitoria do Xingu. Esse procedimento foi adotado por ser o critério mais simples, sendo que os mecanismos legais de distribuição resultarão em parcelas distintas, que, no caso de Brasil Novo serão bem menores. IMPACTO SOBRE O VALOR ADICIONADO FISCAL (milhões de R$) Valor Valor Adicionado Adicionado Nominal ǻ Valor Nominal Médio Médio Adicionado (estimado com (estimado os AHEs) sem os AHEs) Município Resultados Tipo de empreendimento PCH UHE Nome Área do Reservatório (km²) / Tamanho Ocorrência do Impacto / Grau de Significância Salto Buriti 2,9 / Muito Pequeno Não ocorre Salto Curuá 0,3 / Muito Pequeno Não ocorre Salto Três de Maio 0,16 / Muito Pequeno Não ocorre ARS 1,64 / Muito Pequeno Não ocorre Parantinga I 4,24 / Pequeno Não ocorre Parantinga II 7,83 / Pequeno Não ocorre Culuene 0,39 / Muito Pequeno Não ocorre Ronuro sem dados Não ocorre Belo Monte 516,00 / Muito Grande 2006/2007 2006/2007 2009 Altamira 381,9 2.180,6 1.798,7 Brasil Novo 40,1 1.838,8 1.798,7 Vitória do Xingu 54,6 1.853,4 1.798,7 Novo Progresso 146,6 200,6 53,9 Nova Ubiratã 162,7 169,6 6,8 Campinápolis 39,4 50,2 10,7 Paranatinga 192,0 202,8 10,7 Com base nesses incrementos quantitativos, procedeu-se a classificação dos impactos, seguindo a metodologia adotada. Grau de Significância do Impacto / Resultados Empreendimento Tipo Muito Alta PCH Nome Muito Baixa Salto Curuá Baixa Salto Três de Maio Muito baixa ARS Muito Baixa Paranatinga II As hidrelétricas, enquanto empreendimentos produtivos geradores de energia, aumentam o PIB municipal e incrementam as receitas públicas municipais. Como indicador da magnitude deste impacto, avalia-se a variação do Valor adicionado fiscal como indicador (variável “proxy”) da variação do PIB. Para melhor entendimento do seu significado, o Valor Adicionado Fiscal, descrito na Lei Complementar nº 63 de 11/01/1990, corresponde, para cada Município, ao valor das mercadorias saídas, acrescido do valor das prestações de UHE Quantitativa Salto Buriti Paranatinga I Incremento do valor adicionado fiscal municipal Avaliação do Impacto Baixa Baixa Culuene Muito baixa Ronuro Muito Baixa Belo Monte Muito Alta Finanças municipais – aumento da receita devido ao aumento da quota-parte municipal No que se refere às receitas municipais, é fundamental avaliar a capacidade que os municípios possuem de gerar recursos a ARCADIS Tetraplan 20 partir de suas capacidades de arrecadação considerando-se os impostos e taxas de sua competência. Na composição da receita municipal, a participação das transferências federal e estadual tem grande relevância e pode alcançar no caso dos municípios com pequena base econômica da bacia e baixa capacidade de arrecadar mais de 90% do total. Entre as receitas de transferências, tem importante papel a quota parte municipal do ICMS. O ICMS é um imposto estadual, cuja parcela de 25% do total arrecadado é distribuída aos municípios com base em um índice, denominado, índice de participação dos municípios na quota parte municipal – IPM/ICMS, conforme apontado acima. O IPM é determinado em grande medida pelo valor adicionado fiscal do município (entram na sua formula com uma ponderação de no mínimo de 75%). Portanto, as variações ocorridas com o valor adicionado fiscal avaliadas no impacto anterior repercutem em variações na quota parte municipais auferidas pelos municípios. Assim, novamente, a estimativa de cálculo simulou os procedimentos efetuados pelas Secretarias da Fazenda dos Estados do Para e Mato Grosso, incorporando a presença dos aproveitamentos nos territórios municipais e recalculou para o ano de 2009 qual seria o novo valor da quota parte municipal a ser transferida aos municípios caso os empreendimentos estivessem operando desde 2006. QPM-ICMS (transferência estimada sem os AHEs) QPM-ICMS (transferência simulada com os AHEs) ǻQPMICMS 2009 2009 2009 Altamira 18,1 62,4 44,3 Brasil Novo 2,6 44,9 42,3 Vitória do Xingu Novo Progresso 2,6 6,4 45,0 7,2 42,3 0,78 Nova Ubiratã 6,9 7,1 0,22 Campinápolis 4,0 4,4 0,36 Paranatinga 8.,6 9,0 0,36 Município Essas alterações quantitativas são transformadas de acordo com as suas magnitudes na avaliação de impacto apresentadas na tabela, seguindo a metodologia adotada. Grau de Significância do Impacto / Resultados Empreendimento Tipo Nome Salto Buriti Salto Curuá PCH Quantitativo Muito baixa baixo Salto Três de Maio Muito baixa ARS Muito Baixa Parantinga I Parantinga II UHE Avaliação do Impacto Baixa Baixa Culuene Muito Baixa Ronuro Muito Baixa Belo Monte Muito Alta Impactos sobre populações indígenas Os impactos da implantação do AHE Belo Monte e das PCHs sobre as Terras Indígenas são identificados e descritos a seguir, tendo-se optado pela sua descrição ao invés de avaliação quali-quantitativa utilizada nos demais temas, dada a dificuldade de estabelecer indicadores comparáveis e que permitam abarcar a complexidade do tema. Geração de sentimento de insegurança A implantação de um empreendimento hidrelétrico implica formação de reservatório e, em alguns casos, redução de vazão de um trecho do rio, a jusante. Alteram-se, dessa forma, os referenciais de paisagem, o que se reflete no imaginário das comunidades indígenas, devido ao grau de pertencimento destas populações frente ao território, gerando sentimentos de insegurança. Note-se que, mesmo antes da concretização de sua construção, esses sentimentos são exacerbados, o que se deve às especulações sobre o possível alagamento da terras e alterações na dinâmica local. Este impacto terá significativa intensidade no compartimento Corredor Transamazônico, devido à implantação do AHE Belo Monte nas proximidades de Terras Indígenas: TIs Paquiçamba e Arara da Volta Grande, principalmente, além de outras situadas na região de influência como Trincheira Bacajá, Koatinemo, Kararaô, Arara, Cachoeira Seca. No que se refere às PCHs do compartimento 6 - Formações do Cachimbo, a presença de uma unidade de conservação de proteção integral, qual seja, a Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, situada entre o local dos empreendimentos e as Terras Indígenas Panará, Menkragnoti e Baú, funciona como zona de amortecimento, reduzindo a intensidade do impacto. Já a implantação das PCHs situadas no Alto Xingu, notadamente as que se situam no compartimento 8 - Xingu Meridional, representam um fator importante de geração de sentimentos de insegurança nas comunidades indígenas, Esse fato está relacionado com a proximidade com as TIs Parabubure, Chão Preto, Marechal Rondon e, embora mais distantes, com o Parque Nacional do Xingu, localizado a jusante. Comprometimento de recursos pesqueiros devido à alteração do ambiente aquático Duas grandes alterações merecem destaque aqui. A primeira delas refere-se à mudança do regime hídrico do rio no trecho do reservatório, que de lótico passará para lêntico. Com isso, esperam-se alterações na composição das espécies de peixes, principalmente naquelas que são normalmente mais apreciadas e utilizadas na alimentação. Este é sempre motivo de preocupação para as comunidades indígenas com a construção de barramentos. Outra grande interferência diz respeito à redução da vazão de jusante. Embora uma vazão mínima seja garantida, suas implicações nos recursos pesqueiros podem ser significativos devido às modificações ambientais decorrentes dessa alteração. Esses impactos serão de grande intensidade no compartimento Corredor Transamazônico devido à formação do reservatório do AHE Belo Monte e, principalmente, pela redução de vazão em um trecho de cerca de 100km, onde estão situadas duas TIs, Paquiçamba e Arara da Volta Grande. ARCADIS Tetraplan 21 No caso das PCHs, os reservatórios formados têm pequenas extensões, o que determina que as alterações no ambiente lótico sejam pouco significativas. Entretanto, o barramento determina a fragmentação do rio e pode representar barreira para a movimentação de parte das espécies de peixes. No caso das PCHs do compartimento Formações do Cachimbo, por estarem situadas no alto curso, próximo às nascentes, essa ruptura é de baixo impacto. O mesmo ocorre com as PCHs situadas nos altos cursos no compartimento Xingu Meridional, ressaltando-se, entretanto que as PCHs Paranatinga I e Paranatinga II situam-se já no médio curso do rio Culuene, ambas próximas entre si, o que intensifica as possíveis alterações nas comunidades ícticas, conforme avaliação de impacto nos Ecossistemas Aquáticos. Entretanto, não são esperadas alterações significativas nas comunidades ictiológicas no alto Xingu, uma vez que a maior parte do sistema hídrico encontra-se preservado (conforme discutido no item referente a cumulatividade, uma série de sub bacias do compartimento Xingu Meridional, não sofrem interferências decorrentes de implantação de aproveitamentos hidrelétricos). Isolamento de comunidades indígenas comprometimento de vias de acesso devido ao A formação de reservatórios e a manutenção de trechos de vazão reduzida podem implicar alteração na acessibilidade. Esse impacto é observado no compartimento Corredor Transamazônico, pois a implantação do AHE Belo Monte deixará a população da TI Paquiçamba ilhada na margem esquerda do Xingu devido à implantação de canais e do reservatório. Por outro lado, o hidrograma ecológico foi pensado para garantir a navegação da população da Volta Grande, reduzindo a intensidade desse impacto. Os Xikrin Kayapó da TI Trincheira Bacajá terão reduzida a acessibilidade pelo rio Bacajá devido à redução do nível d´água do rio Xingu no trecho de vazão reduzida na Volta Grande do Xingu, o que diminui, por consequência o nível d´água do rio Bacajá no período chuvoso (fenômeno atualmente observado revido ao refluxo das águas do rio Xingu no rio Bacajá no período de chuvas). Este rio é utilizado pelas comunidades da TI como alternativa para acessar Altamira, inclusive para o escoamento da castanha, que é comercializada neste município. Aumento do uso e ocupação do entorno e internamente às TIs e aumento da pressão sobre ambientes e recursos naturais de pressão antrópica na área de influência de um determinado empreendimento. Quando TIs estão presentes, essa pressão antrópica pode ocorrer no entorno dessas terras, pressionando recursos naturais dos quais as populações indígenas dependem. Esse impacto será importante no Corredor Transamazônico, onde será instalado o AHE Belo Monte. A comparação entre o número de operários no segundo ano da obra, previsto em 15.419, sem considerar a população atraída pelo empreendimento, e a soma da população das três TIs situadas nas proximidades do sítio desse empreendimento (TIs Paquiçamba, Arara da Volta Grande e Juruna do Km 17), em torno de 200 pessoas, dá uma idéia de magnitude do impacto. Estas três TIs, como as demais, estão sofrendo forte pressão ambiental, que pode ser incrementada num primeiro momento pelas expectativas geradas pelo início das obras do AHE Belo Monte, maximizadas pelas transformações econômicas que Corredor Transamazônico irá sofrer com o empreendimento Belo Monte. Note-se ainda que a presença dos canteiros de obras, assim como a cidade são fatores de atração de indígenas, notadamente os jovens, aumentando o contato com não índios. Já as PCHs requerem menor contingente de trabalhadores para sua construção e têm efeito menor sobre a atração de população. Ao contrário, sua implantação pode ser considerada resultante do processo anterior de ocupação e, nesse sentido, têm pouco efeito como indutoras dessa ocupação. Possibilidade de interferência em sítios de importância para as culturas indígenas Ao longo dos rios Xingu, Iriri, Curuá e seus afluentes, na região do baixo Xingu, podem ser encontrados dezenas de sítios arqueológicos (cerâmicos, de produção de líticos e sítios com inscrições rupestres) pouco estudados, cujo potencial para a compreensão do processo de ocupação humana anterior à colonização da Amazônia é inestimável e que podem ter importância para as culturas indígenas atuais. Serão afetados trechos do rio Xingu no Corredor Transamazônico e trechos de rios e cachoeiras no rio Curuá e Três de Maio presentes no compartimento Formações do Cachimbo, bem como trechos de rios dos compartimentos Alto Xingu Oeste e Xingu Meridional. Neste último, vários trechos do rio Culuene são afetados o que gerou, inclusive, conflitos com populações indígenas, devido ao significado de cachoeiras desse rio para essas populações. A chegada de trabalhadores e de população atraída pela obra determina aumento populacional e, por conseqüência, aumento 4.3. Avaliação da Cumulatividade de Impactos Esse procedimento tem importância fundamental, pois é a base para a proposição das recomendações e diretrizes da Avaliação Ambiental Integrada da bacia do rio Xingu. A avaliação da cumulatividade dos impactos partiu da análise do conjunto de impactos ambientais, devidamente qualificados de acordo com sua magnitude e importância, considerando-se a implantação dos aproveitamentos e seus efeitos acumulados no âmbito das sub-bacias e compartimentos ambientais. Resumidamente, a metodologia adotada consistiu em uma agregação do conjunto de impactos específicos, resultando em um valor para ecossistemas e outro valor para meio socioeconômico, refletindo a intensidade dos impactos da implantação de um ou mais de um aproveitamento em uma determinada sub-bacia ou compartimento, refletindo assim o efeito cumulativo, que normalmente não é perceptível nos Estudos de Impacto Ambiental, que são individualizados. Dessa forma, é possível identificar o grau de importância que assumem quando em conjunto. ARCADIS Tetraplan 22 Ecossistemas Síntese da avaliação de impactos nos Ecossistemas Perda de Potencial Mineral Perda de Fragmen-tação de habitats Terrestres Deprecia-ção da Ictiofauna Alterações nos Ecossistemas Aquáticos Belo Monte 1 16 16 16 Salto Buriti 1 16 4 1 Salto Curuá 1 16 4 1 Salto Três de Maio 1 4 4 1 ARS 1 4 4 1 Culuene 1 2 16 1 Paranatinga I 1 2 16 2 Paranatinga II 1 2 16 2 AHE Intensidade de Impacto nos Ecossistemas (impactos negativos) Agregado por Compartimento Agregado por Sub Bacia Hidrográfica Perda de potencial mineral Perda e Fragmentação Depreciação de Hábitats da ictiofauna Terrestres Alteração na qualidade da água Intensidade dos impactos nos ecossistemas 3 Corredor Transamazônico SB Baixo Xingu -0,75 -16 -16 -16 -48,75 5 Formações do Cachimbo Área sob influência da BR163 SB Rio Curuá -0,75 -3 -3 -0,75 -7,5 7 Alto Xingu Leste - Área sob Influência da BR – 316 SB Von Den Steinen -0,25 -1 -1 -0,25 -2,5 SB Rio Culuene -0,75 -1,5 -12 -1,25 -15,5 SB Rio Ronuro sem informação sem informação sem informação sem informação -2,5 -21,5 -32 -18,25 8 Xingu Meridional Total -74,25 Analisando o conjunto de empreendimentos, verifica-se que a intensidade dos impactos é maior em decorrência da implantação do AHE Belo Monte, dado que, à exceção de perda de potencial mineral, todos os demais impactos são avaliados como de alta importância, resultantes em grande medida da extensão da área alagada associada à importância da ambiência a ser afetada, tanto no que se refere à perda e fragmentação de habitats terrestres, quanto à depreciação da ictiofauna. Ressalta-se, ainda, a redução de vazão de jusante como um dos efeitos adversos de maior importância. considerável da sub-bacia do rio Curuá, estando os dois aproveitamentos situados em área limítrofe a essa área legalmente protegida. Em relação à ictiofauna, há espécies características de cabeceiras e espécies de valor comercial. Em relação ao potencial mineral a ser afetado, sua importância é de média intensidade visto a possibilidade de afetar apenas depósitos de areia/cascalho e argila, localizados nos aluviões e nas fácies de planícies da Volta Grande do Xingu. Para os impactos relativos a perdas de potencial mineral e alterações na dinâmica hidráulica e na qualidade da água, estes são avaliados como baixos, à exceção do AHE Belo Monte. Ao se analisar por sub-bacia, verificam-se maiores intensidades dos impactos relacionados à depreciação da ictiofauna, sendo mais importantes na sub-bacia do Baixo Xingu, em função da implantação do AHE Belo Monte, seguido da sub-bacia do Rio Culuene, onde três empreendimentos estão presentes. Ainda que sejam aproveitamentos de pequeno porte, o barramento do rio em diferentes trechos determina a cumulatividade desse impacto, podendo-se considerar este fenômeno mais intenso no trecho médio do rio Culuene, onde dois aproveitamentos estão próximos (PCHs Paranatinga I e II). No que se refere aos impactos de PCHs, os efeitos mais adversos decorrem da implantação das PCHs Salto Buriti e Salto Curuá. Concorre para esse resultado principalmente a importância dos habitats terrestres, parte das Formações do Cachimbo, caracterizados pela presença de formações incomuns na bacia do rio Xingu (Campinaranas e Florestas Estacionais), atualmente sob pressão de desflorestamento. Estes aspectos determinaram a criação de unidade de conservação de proteção integral abarcando trecho Em termos de intensidade de impactos, as PCHs Paranatinga I e Paranatinga II, onde a presença de endemismos entre peixes, além da presença de espécies características de cabeceiras, raras e de valor comercial, determina importante depreciação de ictiofauna. Como fator amenizador, tem-se extensões significativas de trechos de rio livres de barramentos, o que permite a manutenção de habitats originais e a movimentação da ictiofauna, seja ao longo do canal principal, seja no que se refere a migrações laterais. Note-se que, nesse sentido, as alterações nas características das águas também assumem importância. Estes fenômenos podem determinar, localmente, ARCADIS Tetraplan 23 sinergias que por sua vez, podem ampliar as alterações na composição de peixes. Segue em intensidade, decorrente da cumulatividade de impactos, a sub-bacia do Rio Curuá, onde três empreendimentos estão presentes. Assim, ainda que isoladamente, estes aproveitamentos não sejam significativos no que se refere aos efeitos adversos nas comunidades de peixes, em conjunto passam a representar fator importante de depreciação da ictiofauna. Novamente, as alterações nos recursos hídricos em seus aspectos qualitativos e quantitativos podem contribuir para intensificar esses fenômenos. Embora a maior intensidade de impacto de perda e fragmentação de habitats esteja associada à implantação do AHE Belo Monte, na sub-bacia do Rio Curuá este também é significativo e assume intensidade elevada em decorrência da cumulatividade. Note-se que três empreendimentos estão em construção em uma mesma sub-bacia que tem como característica ecossistemas terrestres diferenciados e relativamente bem conservados, e ainda pressões importantes de desflorestamento evidentes. Seguem-se os impactos cumulativos na sub-bacia do rio Culuene, onde também três empreendimentos encontram-se implantados ou em implantação. Socioeconomia Intensidade de Impacto na Socioeconomia impacto negativo impactos positivos Agregado por Compartimento Agregado por Sub Bacia Hidrográfica Incremento do Valor Adicionado Fiscal Aumento da receita devido ao aumento da quota-parte municipal Intensidade dos impactos (sinergias) SE Interferências em áreas urbanas 3 Corredor Transamazonico SB Baixo Xingu 16 16 48 -16 5 Formações Caximbo SB Curuá 4 4 8 0 6 Alto Xingu Oeste SB Von Den Steinen 1 1 2 0 8 Xingu meridional SB Culuene 10 10 20 0 SB Ronuro 0 0 0 0 31 31 78 0 Total Observa-se, com relação ao impacto da variação do valor adicionado das PCHs existentes ou pretendidas no Xingu Meridional, a magnitude “9”, que reflete a cumulatividade. No “Corredor Transamazônico“ em função de apenas um empreendimento, a ser implantado, o AHE Belo Monte, haverá o maior incremento. Neste caso, não há acumulação de impactos evidentemente. Em relação ao impacto referente à variação da quota parte municipal do ICMS, novamente o Corredor Transamazônico é o que terá o maior impacto, vindo o Xingu Meridional na seqüência, e, as Formações do Cachimbo também terão impacto acumulado de magnitude 4. No caso do Direito à compensação financeira, os municípios que serão beneficiados estão todos no compartimento Corredor Transamazônico. A compreensão do somatório da coluna, por exemplo, “26” no que se refere à variação do Valor Adicionado reflete também a magnitude deste impacto, de modo acumulado para o conjunto da bacia, embora nem todos os municípios tenham contigüidade espacial. Outra forma de se avaliar essa matriz é a verificação das magnitudes dos impactos para um mesmo compartimento (somas dos valores das linhas). A compreensão da soma de impactos de diferentes naturezas fornece uma indicação da intensidade de impactos que o compartimento estará sujeito e também aponta para uma sinalização do grau de sinergia entre eles, na medida em que possam interagir. Assim, fica demonstrado que o Corredor Transamazônico é o compartimento que se beneficiará da maior intensidade de impactos socioeconômicos de natureza positiva. São impactos que mantém entre si elevado grau de sinergia e convergem para uma mesma direção, a de incrementar de modo extremamente significativo a dinâmica socioeconômica do compartimento. Os municípios de Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo terão seus valores adicionados (VA) elevados pelo volume de investimento em seus territórios e volume de emprego durante a construção e operação e, em adição o aumento do investimento produtivo privado e demais impactos. Esse processo construtivo e operativo do AHE Belo Monte gerará um fluxo de receita pública municipal elevado e significativo para esses municípios. Cabe acentuar, com igual importância, que no que se refere à quota parte municipal do ICMS, o aumento será relevante para todos os municípios do Estado do Pará, por conta do mecanismo de distribuição da quota parte municipal do ICMS. Sendo que numa magnitude muito menor, os mesmos argumentos se aplicam ao compartimento Xingu Meridional no estado do Mato Grosso. ARCADIS Tetraplan 24 5. Participação Social e Identificação de conflitos 5.1. controle necessárias, podem ser fatores que contribuam para a manutenção do mesmo padrão de ocupação, com respectivos impactos e conflitos associados. Conflitos Associados às Usinas Hidrelétricas já Implantadas A região da bacia do rio Xingu caracteriza-se por um histórico de conflitos ligados à posse e propriedade da terra, desflorestamentos ilegais, utilização de trabalho escravo e condições insalubres de trabalho, principalmente nos segmentos da madeira e pecuária. Destaque-se que uma característica marcante dos conflitos de terra atuais levantada pela Comissão Pastoral da Terra – CPT, refere-se a ao caráter socioambiental e étnico que passa a ganhar espaço e força na questão agrária brasileira, e da mesma forma se dá na bacia do rio Xingu, envolvendo os conflitos de terras tradicionalmente ocupadas. Esses conflitos associam-se ao modelo de desenvolvimento econômico e o processo de ocupação desse território, que dentre outros aspectos caracterizam-se por atração desordenada de contingentes populacionais, com pressão sobre os equipamentos sociais, relocação populacional, interferência nas relações socioculturais de populações tradicionais, notadamente indígenas, e por questões ligadas ao As pressões sofridas pelas comunidades tradicionais são decorrentes em grande parte pela(s) mineradoras, indústria de papel e celulose, madeireiras, pecuária, soja e empresas de energia elétrica. O Quadro a seguir revela os conflitos identificados e os principais atores sociais envolvidos. patrimônio arqueológico e cultural. Isso implica que as intervenções previstas, se não resguardadas por medidas de Quadro: Conflitos Existentes na Bacia do rio Xingu por Compartimento Compartimentos Conflito Síntese do conflito (1); (2); (4); 6; (8) (3); (4) (1) (5) (1); (5); 6; ( 7 ) ; (8) Restrição ou Negação de Uso da Água Uso e Posse da Terra – Alteração no uso e ocupação do solo Uso e Posse da Terra Populações Indígenas A alteração da dinâmica hidráulica, resultante da formação do reservatório, desencadeia uma série de impactos que podem criar situações de conflitos Os métodos construtivos utilizados nas obras de UHEs e PCHs interferem diretamente na qualidade das águas, resultam em alta mortandade de peixes e perturbação do cotidiano das populações tradicionais do entorno. Afluxo de trabalhadores do NE, quando do anúncio da Usina BM pelo governo, em busca de emprego em disputa por terras até então destinadas à pecuária Disputas de ribeirinhos, extrativistas e agricultores familiares com madeireiras e grileiros por terras. Criação recente de RESEXs, ESECs e TIs na bacia, inibindo usos predatórios por madeireiras e grandes fazendas. Desflorestamentos em ecossistemas incomuns na bacia, devido a pressões externas à bacia e ao compartimento. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) inclui ainda vários povos Kaiapó na região e mais de mil índios que vivem em Altamira. Posicionam-se contrários à implantação do empreendimento, alegando risco de desalojamento 13 grupos indígenas à sua revelia e suas conseqüências, e criticam a falta de diálogo. Área de influência das PCHs, interferindo em TIs, inclusive em solo sagrado ņ diversas etnias do Parque Indígena do Xingu (PIX) e aldeias do povo Xavante ņ, e estando a 2 km da Reserva Ecológica Estadual do rio Culuene Desflorestamentos nas TIs Parabubure e Pimentel Barbosa e na USEC Rio Ronuro. Desflorestamentos na TI Maralwat Sede e usos agropecuários em TIs. Atores Sociais associados Empreendedores do Setor Elétrico Lideranças indígenas. Empreendedores do Setor Elétrico Órgãos Públicos relacionados ao tema Lideranças indígenas de diversas etnias Organizações Sociais relacionadas com a população indígena e ribeirinhos Órgãos Públicos responsáveis pelo tema Empreendedores do Setor Elétrico Outros usuários de recursos hídricos Organizações Sociais relacionadas com a preservação do meio ambiente e com os grupos sociais afetados Organizações Sociais relacionadas com a questão da reforma agrária Fazendeiros, grileiros Fonte: Publicação CPT - Conflitos no Campo – Brasil, 2006; Instituto Socioambiental, 2007; SEPLAN, PA.; CIMI-MT (em entrevista); MPF-MT (idem); CPT-Araguaia (idem) Compartimentos: (1) Continuum de Áreas Legalmente Protegidas; (2) Várzea do rio Xingu; (3) Corredor Transamazônico; (4) Médio Xingu Pecuária; (5) Formações do Cachimbo-Área sob influência da BR-163; (6) Alto Xingu Oeste - Área sob influência da BR-163; (7) Alto Xingu Leste - Área sob influência da BR-316; (8) Xingu Meridional. ARCADIS Tetraplan 25 5.2. Potenciais Conflitos Decorrentes da Implantação de Novos Aproveitamentos Hidrelétricos Os potenciais conflitos decorrentes da implantação dos aproveitamentos hidrelétricos foram identificados como sendo especialmente de duas naturezas, ou seja, aqueles decorrentes dos impactos gerados pela implantação dos aproveitamentos hidrelétricos e aqueles decorrentes da interferência com outros planos, programas e projetos previstos para a região. Conflitos associados aos Impactos Provocados pela Implantação dos Aproveitamentos Hidrelétricos Em relação aos recursos hídricos e ecossistemas aquáticos, pode-se prever que os impactos relativos à alteração da dinâmica hidráulica e alteração na qualidade da água gerem conflitos na bacia, decorrentes dos diversos usuários dos recursos hídricos atualmente existentes. Em relação ao meio físico e ecossistemas terrestres, podese vislumbrar potenciais conflitos associados à Perda, Fragmentação e isolamento de habitats terrestres e à Pressão sobre ambientes de interesse conservacionista. Por fim, em termos da socioeconomia pode-se avaliar que os impactos decorrentes da atração de contingentes populacionais com pressão sobre os equipamentos sociais, relocação populacional, interferência nas relações socioculturais de populações indígenas e aqueles ligados ao patrimônio arqueológico e cultural, podem gerar potenciais conflitos na bacia do rio Xingu. Quadro: Potenciais Conflitos associados aos Impactos Provocados pela Implantação das Usinas Hidrelétricas por compartimento Compartimentos* (1); (3); (4); (8) Conflito (1); (3); (4); (8) (1); (2); (3); (6); (7); (8) (3); (8) (1); (2); (8) Associado à Alteração da Dinâmica Hidráulica Associado à Alteração na Qualidade da Água Associado à Perda de Áreas de Interesse para Conservação e Fragmentação Ecológica Atração de Contingentes Populacionais com pressão sobre os equipamentos sociais Síntese do Conflito A alteração da dinâmica hidráulica é um fator desencadeador de conflitos socioeconômicos ambientais. A interferência nas praias fluviais, que constituem forte elemento de referência cultural. Apesar das futuras represas eventualmente poderem ser utilizadas nas práticas de turismo e lazer, isso se choca contra o contexto histórico e natural em torno do rio. A construção de barragens afeta o deslocamento de peixes, causando insegurança alimentar em ribeirinhos, pescadores e indígenas, principalmente. A alteração na qualidade da água poderá aumentar a concentração de algas, inclusive de cianobactérias potencialmente tóxicas e de macrófitas aquáticas, podendo interferir nos usos múltiplos dos reservatórios, como abastecimento público, lazer, etc. Setores da sociedade civil organizada tendem a deflagrar discussões em relação à piora da qualidade da água versus a conservação do ambiente e dos ecossistemas terrestres, eventualmente resultando em conflitos. Pescadores ou populações ribeirinhas podem ver sua atividade de subsistência prejudicada em decorrência da piora da qualidade da água. O reservatório pode aumentar o risco de doenças de veiculação hídrica, como a malária, entre outras. Essas ocorrências se agravam devido ao frágil sistema de saúde e de saneamento básico de grande parte da região estudada. A perda de habitats terrestres e interferência sobre as áreas de interesse conservacionista contribui para a redução, fragmentação e isolamento dos habitats terrestres, assim como perda de populações e desestruturação de comunidades bióticas terrestres. Degradação de recursos hídricos e pesqueiros, interferindo nos modos de vida indígenas, ribeirinhos e pescadores. Perda de biodiversidade sem contabilização por parte de empreendedores e do Estado, diluindo a relevância da questão e enfraquecendo os argumentos dos atingidos, pode levar a confrontos. A atração de contingentes populacionais resultante da criação de novas oportunidades de emprego na construção das UHE pressionará a infraestrutura social e urbana, podendo impulsionar conflitos de uso entre as comunidades originais e os novos habitantes. O aumento demográfico restringirá o acesso a terra e à água, podendo causar situações de conflito. O alagamento de áreas provenientes do enchimento do reservatório pode afetar terras com ocupação populacional. Esse fato pode criar situações de conflito em diferentes graus, dependendo das características de cada população e sua relação com o meio em que vivem. Serão afetadas populações rurais (na maior parte dos casos), populações urbanas e comunidades tradicionais. Relocação de População A falta de informações sobre os empreendimentos e a ausência da participação da comunidade envolvida, em especial as populações indígenas, no planejamento de obras hidrelétricas pode acentuar os conflitos. Atores Sociais Associados Empreendedores do Setor Elétrico. Outros usuários de recursos hídricos e Organizações Sociais, incluindo as não governamentais, envolvidas com a questão ambiental e relacionadas aos grupos sociais envolvidos. Lideranças indígenas de várias etnias Órgãos Públicos e Conselhos de Recursos Hídricos. Empreendedores do Setor Elétrico. Outros usuários de recursos hídricos e Organizações Sociais, incluindo as não governamentais, envolvidas com a questão ambiental e relacionadas aos grupos sociais envolvidos. Lideranças indígenas. Empreendedores do Setor Elétrico Organizações Sociais envolvidos com a população afetada Prefeitura/ Órgãos Municipais e Estaduais de Competentes Empreendedores do Setor Elétrico Organizações Sociais envolvidos com a população afetada Lideranças indígenas. Órgãos Públicos e demais Conselhos. Prefeitura/ Órgãos Municipais e Estaduais de Competentes ARCADIS Tetraplan 26 Compartimentos* Conflito Síntese do Conflito Atores Sociais Associados Inundação constante, hoje sazonal, dos igarapés Altamira e Ambé (somente em (1); (2); (8) Restrição ou Negação de Uso da Água Altamira, como ilustração), que cortam a cidade de Altamira e parte da área rural de Vitória do Xingu; redução da vazão da água a jusante do barramento do rio na Volta Grande do Xingu e interrupção do transporte fluvial até o Rio Bacajá, principal acesso para comunidades ribeirinhas e indígenas. Remanejamento de milhares de famílias ao longo da área de influência da usina, produtores familiares, ribeirinhos, pescadores e indígenas. Alteração do regime do rio sobre os meios biótico e socioeconômico, com redução do fluxo da água. Afluxo populacional e desestruturação fundiária; perda de qualidade de vida das Empreendedores do Setor Elétrico Outros usuários de recursos hídricos Organizações Sociais relacionadas com a preservação do meio ambiente e com os grupos sociais afetados pessoas remanejadas; desestruturação das áreas de pesca e do modo de vida de caboclos e indígenas; alteração na acessibilidade e na dinâmica das aldeias e comunidades de beira-rio. Alterações na reprodução das espécies de peixes que praticam a piracema, causando a diminuição na quantidade de peixes e afetando a pesca e a segurança alimentar das populações indígenas. Além disso, já estaria sendo identificado o assoreamento do Culuene, alterando o fluxo e a correnteza do rio e dificultando a navegação na região. Lideranças indígenas Esses empreendimentos acarretam mudanças socioeconômicas e ambientais na região onde se instalam, que afetam direta e indiretamente a vida da população indígena. A falta de diálogo sobre a implantação dos empreendimentos em terras indígenas ou próximo a elas, que não consideram no planejamento as opiniões das populações indígenas afetadas, deixando-as à parte do processo, é apresentado por lideranças como grave fator gerador de conflito. Associado à Interferência nas Relações Socioculturais de Populações Indígenas e de outras populações tradicionais (1); (2); (8) (1); (2); (8) Associado ao comprometimento de bens constituintes e à alteração ou perda de manifestações culturais de etnias indígenas e de outras comunidades tradicionais Alteração na gestão dos recursos ambientais em decorrência de mudanças nas Empreendedores do Setor Elétrico. Organizações Sociais relacionadas com a população indígena. Lideranças indígenas. Órgãos Públicos responsáveis pelo tema. Empreendedores do Setor Elétrico. relações socioculturais em comunidades diversas e entre comunidades. O conjunto de PCHs projetado para a bacia do Xingu, no estado de Mato Grosso, poderá causar impactos sobre 14 povos indígenas do Parque Indígena do Xingu. Há controvérsias que indicam que essas barragens possam estar instaladas em sítios sagrados e podem diminuir a quantidade de peixes dos quais se alimentam e através dos quais desenvolvem seus rituais. O conflito já existente tendendo a se agravar. Os indígenas opõem-se à construção da barragem desde 2004, quando ficaram sabendo do projeto. De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), os povos Waurá, Kuikuru, Yawalapiti, Kamayurá, Nafuquá, Aweti, Kalapalo, Mehinako, Matipu, Trumai, Ikpeng, Kayabi, Juruna, Beiço de Pau, Suyá, Kayapó, e Xavante solicitam apoio de toda a sociedade para impedir a construção da barragem. Sindicatos e associações representantes de outras comunidades tradicionais Em relação ao patrimônio indígena, as situações de conflito podem ser geradas pela insegurança causada pela perda de identidade ou cultura comunitária, assim como com outras comunidades tradicionais da região. As manifestações culturais na área não são geograficamente específicas ou limitadas, mas estão associadas intrinsecamente à biodiversidade ou ao ecossistema local. Deste modo, a modificação no ambiente interfere no ritual, que pode até se tornar inexistente. Organizações voltadas às comunidades tradicionais. Lideranças indígenas. A falta de incorporação das queixas, principalmente dos povos indígenas, mas também de outras populações tradicionais, nas decisões de empreendedores e representantes do Estado, podem levar a confrontos. Órgãos Públicos responsáveis pelos temas. Sindicatos e associações representantes de outras comunidades tradicionais Fonte: Publicação CPT - Conflitos no Campo – Brasil, 2006; Instituto Socioambiental, 2007; SEPLAN, PA.; CIMI-MT (em entrevista); MPF-MT (idem); CPT-Araguaia (idem) Compartimentos: (1) Continuum de Áreas Legalmente Protegidas; (2) Várzea do rio Xingu; (3) Corredor Transamazônico; (4) Médio Xingu Pecuária; (5) Formações do Cachimbo-Área sob influência da BR-163; (6) Alto Xingu Oeste - Área sob influência da BR-163; (7) Alto Xingu Leste - Área sob influência da BR-316; (8) Xingu Meridional. Conflitos com os demais Planos, Programas e Projetos previstos para a região Em relação aos potenciais conflitos com os demais planos, programas e projetos, a análise baseou-se na avaliação espacial e sua interface com as UHE Belo Monte e demais PCHs em processo de licenciamento ou em operação. Para tanto, em virtude da dificuldade de espacialização dos dados contidos nos Planos Plurianuais nas três esferas governamentais, destacou-se o Plano da Amazônia Sustentável – PAS, que não se caracteriza como um plano operacional, mas, sim, estratégico contendo as diretrizes gerais e as recomendações para sua implementação. As ações operacionais são planos sub-regionais, alguns já elaborados ou em processo de elaboração, como o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável para a Área de Influência da Rodovia BR-63 (CuiabáSantarém), o Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do Xingu, entre outros. De forma simplificada, pode se afirmar que aqui se colocam os embates que opõem desenvolvimento econômico e sustentabilidade socioambiental. Os movimentos sociais apontam que as estradas como a Transamazônica, a BR-163 (Cuiabá-Santarém); a BR-153 (Belém-Brasília) foram construídas gerando grande degradação ambiental, tanto na destruição dos ecossistemas de cerrado e das florestas de transição, como com impactos negativos dessa inserção econômica no âmbito social e cultural em comunidades tradicionais da área de influência dessas rodovias. Governos e outros setores da sociedade civil apresentam a necessidade de investimento em infra-estrutura na área de transporte como parte fundamental para composição de redes de transporte multimodal (rodovias, hidrovias, ferrovias), com objetivo de favorecer o escoamento da produção, barateamento das exportações e a melhorar a competitividade internacional do Brasil no mercado mundial. ARCADIS Tetraplan 27 Quadro: Potenciais conflitos com os demais Planos, Programas e Projetos previstos para a região por Compartimento Compartimento Conflito (1); (3); (8) (7); (8) (1); (5); (6) (6); (7) – e PAC - BR-158 / MT Construção A obra refere-se à pavimentação de 835 km e construção de diversas pontes, integrando a BR-163/PA, a Ferrovia Carajás e a Hidrovia do Xingu, é tema controverso entre os atores sociais envolvidos A Transamazônica está inserida no contexto da década de 70, quando o Estado brasileiro incentivava a ocupação da Amazônia por meio de concessões de terras principalmente para colonos do Nordeste e Sul, tendo o desmatamento como condição para o acesso ao crédito e à terra. A pavimentação é apontada por parte dos movimentos sociais, como fator capaz de exacerbar a tendência à pecuária extensiva ou agricultura mecanizada, o que prejudicaria os pequenos proprietários. Por outro lado, há movimentos que consideram o empreendimento poderia ajudar a consolidar os atuais assentamentos. A obra refere-se à construção de 423 km de rodovia em pista simples na direção da rota precária existente, de Ribeirão Cascalheira à divisa MT/PA. O trecho atualmente existe como estrada de terra. O projeto atravessa região do Alto Xingu Leste, região atualmente já impactada pela agricultura. A construção da BR-158 poderá trazer à região aumento populacional e alterações na economia, mas não criará situações de conflito direto com relação às PCHs situadas a montante da rodovia. A obra refere-se à construção e pavimentação de 1.024 Km da Guarantá do Norte (MT) – Ruropolis (PA) – Santarém (PA) O projeto de construção e pavimentação desse trecho da BR-163 atravessa a região oeste da Bacia, onde se localizam as PCHs Salto do Buriti, Salto do Curuá e Santo Três de Maio, podendo trazer conflitos para a região e também aos empreendimentos. O asfaltamento da estrada ainda não foi concluído, mas tornou-se, nos últimos anos, reivindicação de vários setores econômicos regionais, os quais alegam que a obra poderia facilitar e baratear o escoamento da produção agropecuária do norte do Mato Grosso, um dos pólos mais dinâmicos do País no cultivo de grãos, em direção ao rio Amazonas. Além disso, segundo empresários e políticos, a pavimentação da rodovia também poderia encurtar o transporte dos produtos eletro-eletrônicos produzidos na Zona Franca de Manaus até os grandes centros da região sul. Por outro lado, agricultores familiares reivindicam políticas e ações que se antecipem à obra para garantir os benefícios que ela promete. PAC - BR-163 - MTPA - Pavimentação Atores Sociais Associados Empreendedores do Setor Movimentos sociais, com destaque para o Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX), ONGs, Instituições de pesquisa, Sindicatos Organizações da sociedade civil. Prefeitura/ Órgãos Municipais Estaduais Competentes população afetada Prefeitura/ Órgãos Municipais Estaduais de Competentes Fórum dos Movimentos Sociais da BR163. Inicialmente formado por quatro organizações da sociedade civil (IPAM, FVPP, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Baixo-AmazonasFetagri e Prelazia de Itaituba), ONGs, Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad) e o Instituto Centro de Vida (ICV) Instituições de pesquisa, Sindicatos Organizações da sociedade civil. A obra refere-se à construção e pavimentação em área de grande desenvolvimento agrícola, conectando a BR-163/MT com a BR- 242 de Ribeirão Cascalheira - Sorriso – MT Empreendedores do Setor PAC - BR-242 - MT: A BR-242 atravessa região de grande desenvolvimento agrícola e a obra prevista unirá de leste a oeste o estado do MT e, por sua vez, a BR-158 e a BR-163, a jusante das PCHs Paranatinga I e II, Culene, Runuro e ARS. Não há potencial de conflitos com relação a esses empreendimentos, porém há em relação aos grupos indígenas existentes na região Movimentos sociais Empreendedores do Setor A obra refere-se à Interligação: Tucuruí - Manaus - Macapá: em estudo – Tucuruí - PA a Manaus-AM e Tucuruí -PA a Macapá-AP O projeto de LT está localizado a jusante do AHE Belo Monte e não tem potencialidade de desenvolver conflitos em relação ao empreendimento citado. e Empreendedores do Setor Movimentos sociais, notadamente, o Desde 2002 vem ocorrendo uma série de encontros e movimentações relativas ao tema, em destaque o “Encontro BR-163 Sustentável” (nov/2003, Sinop/MT) com proposições, como a recuperação das matas ciliares, em especial aquelas localizadas fora dos limites do Parque Indígena do Xingu, nas cabeceiras dos rios formadores da Bacia do rio Xingu; a criação de Unidades de Conservação (UCs) como compensação de passivos ambientais de assentamentos que não possuem Reservas Legais (RLs); a implementação efetiva das UCs já criadas na região PAC – LT (Energia Elétrica Transmissão) e Empreendedores do Setor Organizações Sociais envolvidos com a Pavimentação (1); (8) (2); (3) PAC Transamazônica BR-230 / PA Construção Pavimentação Síntese do Conflito Organizações Sociais envolvidos com a população afetada ONGs Prefeitura/ Órgãos Municipais Estaduais de Competentes Prefeitura/ Órgãos Municipais Estaduais de Competentes e e Compartimentos: (1) Continuum de Áreas Legalmente Protegidas; (2) Várzea do rio Xingu; (3) Corredor Transamazônico; (4) Médio Xingu Pecuária; (5) Formações do Cachimbo-Área sob influência da BR-163; (6) Alto Xingu Oeste - Área sob influência da BR-163; (7) Alto Xingu Leste - Área sob influência da BR-316; (8) Xingu Meridional. ARCADIS Tetraplan 28 6. Cenários Introdução Importa circunscrever, logo de início, o entendimento do conceito e alcance do que se pretende com a utilização da técnica de cenários. Cenário prospectivo é a "configuração de imagens de futuro com base em jogos coerentes de hipóteses em relação às variáveis centrais do objeto de análise e de seu ambiente e das estratégias e alianças dos atores1.” · Logo, enquanto futuro, a realidade objetiva deverá se concretizar em um horizonte aberto a múltiplas alternativas, já que está constitui-se em uma construção social, articulada com atores e pesos transformadores diversos numa multiplicidade de circunstâncias e fatos portadores de futuro. Os cenários devem, pois, ser entendidos como previsões condicionadas a um conjunto de hipóteses e premissas adotadas, onde a incerteza impera como regra. Trata-se, pois de organizar a incerteza em um número limitado de alternativas que possam em alguma medida servir de apoio e base para vislumbrar opções estratégicas de intervenção. A exploração hidrelétrica dos recursos hídricos da bacia do rio Xingu se dará preponderantemente pelo aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte, posto que os aproveitamentos de pequeno porte identificados, representados pelas oito pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) estão em fase de implantação (cinco) ou já operam (três). Verificou-se assim que em função do reduzido número de PCHs, e, por definição as suas reduzidas escalas de geração, um dos pressupostos adotados é que a implantação das cinco restantes não terão condições de sensibilizar de modo substantivo as estimativas de evolução das variáveis cenarizadas no escopo do modelo adotado. Do que decorrre que a construção do cenário prospectivo foi feita apenas tendo em conta os impactos do AHE Belo Monte A partir desta constatação, impõe-se simular sumariamente as condições que cercam sua construção e principalmente a sua fase de operação nos marcos temporais futuros adotados para a construção dos cenários. Para esse exercício prospectivo são montados dois cenários: O primeiro cenário de natureza referencial/tendencial trata da evolução da bacia seguindo as tendências de evolução social e ambiental sem a implantação do UHE Belo Monte; e, O segundo cenário prospectivo acrescenta a essa dinâmica antevista a entrada do AHE Belo Monte, como um capital produtivo provedor de energia elétrica e mobilizador do setor de insumos energéticos e da economia regional; e, também como uma infraestrutura a ser construída e que operarará durante sua vida útil desencadeando uma série de impactos socioambientais negativos e positivos. Formalmente, ambas as construções se apóiam em pressupostos de âmbito nacional/estadual e regional, entendidos como fatos que portam a configuração do quadro futuro da região de interesse. Esses pressupostos, por sua vez, dão os contornos das hipóteses sobre o comportamento de algumas variáveis referenciais básicas selecionadas (PIB, População e Desmatamento, neste caso), que funcionam também como forma de controle dos processos antevistos, permitindo avaliar a consistência de seus movimentos. Nesse sentido, a metodologia utilizada na cenarização é comumente conhecida como taxa de contribuição ao crescimento (“shift-share”), assim, por exemplo, verifica-se quanto tem sido no passado recente a contribuição dos municípios da bacia do rio Xingu ao crescimento da 1 BUARQUE, Sérgio C, "Metodologia e técnica de cenários para o planejamento estratégico" memo., s/data população brasileira, ou seja, trata-se sempre da variação da parte (Bacia do rio Xingu) sobre o todo (Brasil) em um determinado período. A partir deste padrão identificado são feitas variações nessas taxas de contribuição a partir de determinadas hipóteses, que são conjecturas quantitativas sobre o comportamento dessas taxas. Tanto os pressupostos como as hipóteses são derivados do conhecimento sobre a bacia, explicitado nos itens antecedentes, a caracterização socioambiental consubstanciada segundo os compartimentos delineados. A combinação ordenada de Pressupostos para os cenários referencial e prospectivo, adotados como estruturadores, com Hipóteses –, adotadas como uma base quantitativa, permite configurar os cenários, e assim oferecer à AAI elementos conclusivos para se entender a dinâmica futura da Bacia do rio Xingu, de forma comparativa com e sem o empreendimento. Os dados são apresentados para os anos de 2015 e 2025, a preços de 2003, segundo disposição apresentada nas planilhas de resultados, que se baseia em dados de 2003 e 2005. 6.1. População Conhecidas as diversas situações pertinentes à construção e operação do AHE Belo Monte, entendeu-se como conveniente elaborar cenários para dois cortes temporais: anos 2015 e 2025. No primeiro, abrangendo parte do período da construção da usina; no segundo, a fase de operação. Como o AHE Belo Monte é de grande porte, uma das maiores do Brasil (11.000 MW), com certeza implicará impactos diversos. Do ponto de vista populacional, considerando-se experiências passadas na construção de grandes hidrelétricas, é de se esperar um grande fluxo imigratório para os municípios da região da Bacia do Xingu refletindo-se em dinamização da área, em particular para Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu, municípios que concentram e representam assim, o compartimento Corredor Transamazônico. Outras implicações, além das diretamente ligadas ao crescimento populacional, ocorrerão na demanda e oferta de serviços variados, de produtos de consumo, na ocupação de áreas, no aumento do valor adicionado, no aumento de receitas municipais, refluxo após a construção da usina, etc. Restringindo-se neste primeiro momento aos impactos sobre o crescimento populacional na Bacia do Xingu, entende-se que estes serão proporcionais às bases existentes à época do movimento migratório. Nesse sentido, convém destacar desde já o tamanho populacional e a dinâmica do comportamento demográfico dos municípios mais diretamente afetados: Conforme dados de 2005 (IBGE), Altamira contava com 84.398 habitantes, Brasil Novo, 20.747; e Vitória do Xingu, 10.349, considerando-se apenas o primeiro como de porte mais relevante, ocupando já por diversos anos a segunda posição entre os municípios da Bacia do Xingu, tendo à sua frente entre os 50 considerados os municípios de Sinop. Do ponto de vista do comportamento dos municípios em face do crescimento da população da Bacia do Xingu no período 2002/2005, todos os três municípios mostram uma estabilidade na sua dinâmica, participando no crescimento da bacia em torno de 2,66%, 1,36% e -3,00%, respectivamente Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu. Como os dois últimos são municípios de porte não significativos, esses números praticamente retratam praticamente a manutenção do tamanho da população. No caso de Vitória do Xingu, por exemplo, não obstante tenha decrescido no período, sua população mantevese em torno de 10 mil habitantes. ARCADIS Tetraplan 29 superiores aos demais municípios da bacia. Lembrando que as bases desses municípios, em especial o de Brasil Novo e Vitória do Xingu, são diminutas, as taxas parecem factíveis com o evento usina. Isso posto, e considerando-se as características socioeconômicas da Bacia do Xingu, é factível supor, na ausência de uma intervenção do tipo “construção da usina”, a manutenção desse comportamento ao longo do período de cenarização, ou seja, crescer mantendo-se próximo da participação relativa observada. x Cenário 2015 - Pressupostos x x A não construção da UHE Belo Monte manterá ao longo do período de cenarização a reprodução dos padrões observados do comportamento populacional. A construção da UHE Belo Monte alterará estruturalmente o comportamento da dinâmica do crescimento populacional dos municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu. x O crescimento propiciado à região pela construção da UHE Belo Monte será um fator de retenção de parte da população migrante após a sua conclusão. x Considera-se que os municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu aumentem significativamente sua participação relativa na distribuição da população da Bacia do Xingu. Cenário 2025 - Pressupostos: x A não construção da UHE Belo Monte manterá ao longo do período de cenarização a reprodução dos padrões observados do comportamento populacional. x A construção da UHE Belo Monte alterará estruturalmente o comportamento da dinâmica do crescimento populacional dos municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu. x O crescimento propiciado à região pela construção da UHE Belo Monte será um fator de retenção de parte da população migrante após a sua conclusão. x O término da construção e a operação plena da UHE Belo Monte afetará a dinâmica populacional com o refluxo do processo migratório, não obstante a possibilidade de retenção de parte da população atraída. x O maior ou menor nível de dispersão dessa população estará associado ao grau de associação que a UHE Belo Monte representará na política governamental de crescimento e desenvolvimento regionais. Assumem-se como hipóteses na cenarização para o ano de 2015: x Admite-se que a população brasileira crescerá no período 20052015 a taxa anual de 0,92% (calculada a partir das projeções do IBGE). x A participação relativa da Bacia do Xingu na distribuição da população do Brasil aumenta, com a construção da usina, em 5%, ou seja, de 0,50% em 2005 para 0,55% em 2015. x A combinação do crescimento de 0,92% da população brasileira com o aumento da participação relativa da Bacia do Xingu na distribuição implicará em uma taxa anual de crescimento para esta da ordem de 1,88%. x A participação de Altamira na população da bacia crescerá, com a construção da usina, de 9,21% para 12,99%; a de Brasil Novo, de 2,26% para 5,99% e a de Vitória do Xingu,de 1,13% para 3,98% como decorrência das hipóteses consideradas. Assumem-se como hipóteses na cenarização para 2025: x A Bacia do Xingu aumenta a sua participação na população brasileira de 0,55% para 0,56%, acarretando um crescimento populacional da ordem de 0,75% a.a., superior à nacional. x Assume-se a hipótese de manutenção da participação relativa dos municípios na distribuição da população da bacia, o que significa implica acompanhar a taxa de crescimento do agregado. x O término da construção da usina e sua entrada em operação implicam em recompor em muitas medidas o comportamento demográfico anterior, mais propriamente a estabilidade da manutenção do “status quo”, mas já tendo os municípios alcançado um grau mais significativo de população. Pontos Notáveis: x x x x O conjunto dos municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu sofrerão um incremento populacional da ordem de 138.025 habitantes, estando embutidos o incremento de 11.021 pessoas decorrente do crescimento inercial, aquele decorrente do comportamento demográfico anterior ao empreendimento. Em outros termos, a construção da usina implicará em um incremento adicional da ordem de 127.004 habitantes para o conjunto desses três municípios. A Bacia do Xingu, no seu conjunto, sofrerá um acréscimo populacional de 187.845 habitantes. Sem a UHE Belo Monte, acompanhando o crescimento brasileiro, o incremento seria da ordem de 85.451 habitantes. A dinâmica da distribuição do crescimento populacional da Bacia do Xingu será impactada de modo a redirecionar grande parte do fluxo migratório para os municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu. Sem a usina, como já se afirmou, o incremento inercial para esses três municípios seria da ordem de apenas 11.021 pessoas. A configuração do Cenário 2015 exigirá taxas médias anuais de crescimento populacional da ordem de 5,45% para Altamira, 12,29% para Brasil Novo e 15,57% para Vitória do Xingu, bem Altamira passa a ser o primeiro município em tamanho populacional, passando Sinop, o primeiro anteriormente. Pontos Notáveis: Altamira mantém a posição alcançada já em 2015, ou seja, o primeiro em tamanho populacional. Com os incrementos de população da ordem de 11.064 para Altamira; 5.100 para Brasil Novo; e 3.392 para Vitória do Xingu, esses municípios alcançam, respectivamente, um nível populacional de 154.500, 71.212 e 47.363 habitantes. Para maior facilidade de percepção dos efeitos simulados da construção e operação da AHE Belo Monte sobre o tamanho da população dos municípios na Bacia do Xingu, apresenta-se uma síntese dos resultados na tabela a seguir. Considerou-se que Compartimento Continuum de Áreas Protegidas não participa desse processo em função de suas características espeficicas. ARCADIS Tetraplan 30 Tabela - Cenarização do Crescimento e Distribuição Espacial da População da Bacia do Xingu Unidade Territorial População Total Cenários População Ano Sem UHE Belo Monte 2005 2015 2025 2015 2025 Bacia do Xingu 916.488 1.003.939 1.061.654 1.104.333 1.189.518 Brasil-Bacia do Xingu 182.466.728 199.877.746 211.368.395 199.777.352 211.240.531 Brasil 183.383.216 200.881.685 212.430.049 200.881.685 212.430.049 Compartimentos População Total Cenários População Ano Sem UHE Belo Monte Cenários População Ano - Com UHE Belo Monte Cenários População Ano - Com UHE Belo Monte 2005 2015 2025 2.015 0 0 0 0 0 2 Várzeas do Rio Xingu 55.845 61.174 64.691 59.318 63.894 3 Corredor Transamazônico 184.850 202.488 214.129 327.189 352.427 4 Médio Xingu Pecuária 91.775 100.532 106.312 97.483 105.003 5 Formações do Cachimbo sob Influência da BR 163 37.067 40.604 42.938 39.373 42.410 6 Alto Xingu Oeste - Área sob Influência da BR 163 Alto Xingu Leste - Área Sob Influência da Belém7 Brasilia 289.210 316.806 335.019 307.198 330.895 130.048 142.457 150.647 138.137 148.792 8 Xingu Meridional Savânico 127.693 139.877 147.919 135.635 146.098 916.488 1.003.939 1.061.654 1.104.333 1.189.518 1 Continuum de Áreas Legalmente Protegidas Total da Bacia do Xingu 2025 6.2. Valor Adicionado Considerando que o objetivo das cenarizações é estabelecer referências quantitativas para delinear os efeitos do AHE Belo Monte na economia dos municípios integrantes da Bacia do Xingu, é importante ressaltar que as hipóteses de diferenciações de crescimento incorporadas nas simulações foram estabelecidas com magnitude suficiente para sinalizar a grandeza dos impactos que se espera de um empreendimento como o AHE Belo Monte na economia regional, em particular os direcionados para os municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu. Pressupostos Cenário 2015 As pressupostos assumidas na formulação do Cenário População são integralmente incorporadas na operacionalização do Cenário Valor Adicionado para o ano 2015. Admite-se, para o período 2005-2015, como hipótese conservadora a taxa média de crescimento para a economia brasileira de 4,00% anuais, para o que se considerou os números iniciais e conhecidos dos anos 2006 e 2007; a estimativa para o ano de 2008; e o rebaixamento das expectativas de crescimento em relação aos anos vindouros. Admitiu-se, além do mais, para uma avaliação de como se supõe possa evoluir o valor adicionado bruto da Bacia do Xingu sem o empreendimento, a manutenção das participações relativas dos valores adicionados setoriais (agropecuária, indústria e serviços) na formação do valor adicionado bruto total. Admitiu-se, também, que a participação da Bacia do Xingu na economia nacional permaneça constante, assim como a dos municípios em relação ao total da bacia. Sob esse quadro de hipóteses, todos os municípios e setores deverão acompanhar a taxa de crescimento de 4% a.a. As informações seguintes contribuem para esse entendimento. Os principais produtores da Bacia do Xingu são os municípios de Primavera do Leste e Sorriso, ambos com valor adicionado nominal acima de R$ 350 milhões. Seguem-lhe em importância os municípios de Santo Antônio do Leste, São Félix do Xingu e Sinop, com valores acima de R$ 100 milhões. Altamira, nesse contexto, ocupa a 24ª posição com R$ 47,8 milhões (1,28% do total). Brasil Novo e Vitória do Xingu ocupam posição secundária com valores adicionados de cerca de R$ 20 milhões (0,65% do total). Assumem-se como hipóteses na cenarização para o ano de 2015 Explicitam-se as hipóteses assumidas sobre a relação Bacia do Xingu e economia nacional, acomodadas às restrições observadas: a economia brasileira cresce a taxa anual de 4,00%; o valor adicionado total da Bacia do Xingu aumenta sua participação de 0,77% para 1,35% na economia brasileira; o valor adicionado da agropecuária da Bacia do Xingu aumenta sua participação de 3,55% para 7,00% no valor adicionado agropecuário nacional; o valor adicionado da indústria da Bacia do Xingu aumenta sua participação de 0,73%% para 1,24% no valor adicionado da indústria nacional; e o valor adicionado de serviços da Bacia do Xingu aumenta sua participação de 0,55% para 0,88% no valor adicionado de serviços nacional. As hipóteses se apóiam na premissa de que a construção do AHE Belo Monte, com investimentos vultosos e longo período de dispêndio, implicará em manutenção de efeitos ARCADIS Tetraplan 31 multiplicadores amplos e com possibilidade de internalização gradativa de renda. Além do mais, dada a localização do empreendimento concentrada basicamente em Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo devem se constituir no local preferencial de muitos projetos ligados direta ou indiretamente à construção e operação da usina. Alguns números daí decorrentes podem ser observados, restritos aos municípios de interesse mais imediato que representam a dinâmica geral do Compartimento Corredor Transamazônico. Pontos Notáveis: O valor adicionado bruto da economia brasileira seria incrementado em R$ 884,7 bilhões, elevando-o de uma situação inicial em torno de R$ 1,84 trilhão para R$ 2,73 trilhões. R$ 5,49 bilhões, com um incremento de R$ 5,43 bilhões, aumentando a sua participação de 0,38% no valor adicionado total da Bacia do Xingu para 12,64%. Cenário 2025 – Pressupostos para cenarização A observação anterior pode ser aqui assimilada. Em se mantendo a estrutura de distribuição da produção na Bacia do Xingu, os municípios de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu continuarão com participações pouco expressivas. No período de 2015 a 2025 o AHE Belo Monte estará funcionando a plena carga, o delineamento dos impactos transita da construção para os decorrentes da sua operação. Nesse contexto, foram assumidas as seguintes hipóteses: o valor adicionado total nacional passa a crescer a taxas de 4,5% a.a.; A Bacia do Xingu, com o aumento de participação, incrementaria o seu valor adicionado em R$ 22,2 bilhões, alcançando a cifra de R$ 36,4 bilhões contra os 14,3 bilhões de 2005. todas as posições relativas de participação alcançadas na agropecuária e serviços são mantidas ao longo do período, ou seja, volta-se a se considerar a acomodação da situação, porém em nível superior; e Altamira, nesse mesmo processo e com hipóteses adicionais, teria o seu valor adicionado incrementado em R$ 7,4 bilhões, passando de R$338,4 para R$ 7,7 bilhões, aumentando a sua participação de 2,37% no valor adicionado total da Bacia do Xingu para 18,61%. Brasil Novo aumentaria o seu valor adicionado de R$ 57,4 para R$ 116,2 milhões, com incremento de R$ 108,8 milhões, aumentando sua participação de 0,40% no valor adicionado total da Bacia do Xingu para 0,52%. admite-se que Altamira e Vitória do Xingu, com a operação da usina, serão beneficiados com acréscimos do seu valor adicionado correspondente à geração anual de energia elétrica, cujas cifras devem alcançar valores em torno de R$ 5 bilhões, razão pela qual elevam sua participação no setor industrial e, por extensão, no valor adicionado total. Por essa razão, crescem a taxas superiores em relação aos demais municípios, já que o benefício é bem direcionado. Vitória do Xingu, partindo de um valor adicionado de R$ 54,8 milhões em 2005, alcança em 2015 Tabela - Cenarização do Crescimento e Distribuição Espacial do Valor Adicionado da Bacia do Xingu Compartimento Continuum de Áreas Legalmente Protegidas Várzeas do Rio Xingu Valor adicionado 2005 - Valor adicionado 2015 - Valor adicionado 2025 - 168.653,48 264.502,76 414.666,54 Corredor Transamazônico 1.530.804,74 14.968.871,01 28.805.566,61 Médio Xingu Pecuária 5.867.063,76 9.861.727,48 16.034.622,52 Formações do Cachimbo sob Influência da BR 163 - - - Alto Xingu Oeste - Área sob Influência da BR 163 3.383.599,30 5.550.601,58 8.769.756,97 Alto Xingu Leste - Área Sob Influência da Belém-Brasilia 1.174.633,09 2.108.452,36 3.299.725,73 Xingu Meridional Savânico 1.997.366,51 3.425.026,77 5.362.339,45 14.261.781,32 36.179.181,97 62.686.677,82 Total da Bacia A evolução dos resultados apresentados no quadro permite evidenciar a intensa expansão do valor adicionado no contexto da presença da AHE Belo Monte. Sem dúvida alguma, do ponto de vista econômico-regional, a construção e operação da usina alterarão a estrutura de distribuição econômica regional, alterando as trajetórias de evolução da população e do produto e renda dos municípios do compartimento Corredor Transamazônico. ARCADIS Tetraplan 32 6.3. Desflorestamento na Bacia do Xingu: uma Configuração Descritiva e sua Cenarização Tendencial A abordagem da configuração descritiva tem por objetivo sinalizar os números relativos ao desflorestamento na Bacia do Xingu, com o que se pretende contribuir na corroboração de muitas análises e estudos sobre o próprio processo de desflorestamento. Pontos notáveis: Ano 2008 Área Desmatada 79.947 As áreas de conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs) ocupam cerca de 57,8% do total da área da bacia, com destaque para os municípios de Altamira com 92,1% ocupados por essas unidades; São Félix do Xingu (72,7%); Porto de Moz (72,6%); Senador José Porfírio (71,5%); Ourilândia do Norte (88,1%); Alto Boa Vista (51,8%), Campinópolis (55,4%) e Peixoto de Azevedo (50,9%) apenas com menção aos municípios com percentuais acima de 50%. 2002 2003 2009 2010 2011 2004 2005 2006 2007 61.744 65.887 70.309 75.027 2012 2013 2014 2015 85.189 90.776 96.728 103.071 109.830 117.031 124.706 Gráfico II.1 - Evolução da Área Desmatada na Bacia do Xingu 2000/2015 140.000 Apresentou, no período 2000/2007, um incremento no desflorestamento da ordem 27.410 Km2, partindo de 47.617 Km2 em 2000 para 75.027 Km2 em 2007. Esse acréscimo representou cerca de 5,4% do total da área da bacia, 6,7% de taxa anual de desflorestamento e 19,6% da área líquida disponível. 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 Em se mantendo a velocidade de desmatamento observada no período 2000/2007, é de se esperar que a disponibilidade líquida de áreas dos municípios existente em 2007 seja exaurida em datas diversas, considerando-se a situação específica de cada um deles. Enquadrados nessa perspectiva, mencionam-se como destaque para a exaustão nos próximos seis anos: São Felix do Xingu, Porto de Moz, Altamira, Brasil Novo, Vila Rica e Vitória do Xingu. O caso de Altamira merece um comentário adicional. Embora seja o maior município da Bacia do Xingu, com uma enorme extensão de terras, cerca de 92% das mesmas são constituídas por áreas de conservação e terras indígenas. Feitas as advertências sobre o alcance das análises, e restringindo aos municípios de interesse mais imediato por conta da implantação de empreendimentos hidrelétricos, entende-se que Vitória do Xingu e Brasil Novo merecem uma atenção especial, exigindo-se em ambos os casos reduções nas velocidades de desflorestamento observadas no período 2000/2007, sob pena de exaustão no curto prazo (6 a 7 anos). Convém, ainda, destacar o fato de São Félix do Xingu apresentar uma taxa expressiva de desflorestamento, contribuindo isoladamente com cerca de 14% do total da área suprimida. 6.3.1.1. Cenarização A taxa efetiva de crescimento da área desmatada é de 6,55%. O incremento da área desflorestada é de 74.355 km2. Em 2015, a área desmatada passa para 124.706 Km2, evoluindo de um valor inicial em 2007 de 75.027 Km2. Quantidade expressiva de municípios encontra-se, nesse cenário, com o estoque de áreas florestadas exaurido, como os de Vera, Tucumã, Vila Rica, Vitória do Xingu e Bannach, entre outros. Em se considerando 20% de área florestada como o mínimo a ser preservado, esses municípios já não se enquadram nessa situação, pois já ultrapassaram o limite de 80% de ocupação. É de se esperar que durante as obras do AHE Belo Monte, por conta do aumento da demanda por produtos da agropecuária e outros efeitos indiretos do empreendimento, haja algumas inflexões e/ou um deslocamento (maior declividade e/ou maior intercepto) ascendente na curva de desmatamento, significando maior pressão pela ocupação das terras como Vitório do Xingu. O quanto e quando só o início da construção da UHE Belo Monte propiciará elementos mais específicos para tanto, pois envolvem uma complexidade de inter-relações de fatores, inclusive possíveis “trade off” entre atividades e/ou aumento de produtividade com preservação em algum grau do estoque de áreas. Enquanto uma sucessão e cumulatividade de movimentos, o Cenário Tendencial 2025 deverá incorporar e refletir parte dessa situação. É o que se procura apresentar em seguida. Cenários Tendenciais 2025 Pontos notáveis a serem destacados nos Cenários Tendencial 2025: A taxa efetiva de crescimento da área desflorestada é de 3,38%, ao invés dos 6,56% preliminarmente assumida, devido à redução de estoques florestais e do possível aumento de fiscalização. O incremento da área desflorestada é de 49.153 km2. Em 2025, a área desmatada passa para 173.859 km2, evoluindo de um valor de referência em 2015 da ordem de 124.706 km2. Os principais contribuintes ao incremento do desflorestamento serão municípios como Porto de Moz, Peixoto de Azevedo, Nova Ubiratã, Gaúcha do Norte, Querência, Feliz Natal, Medicilândia, Cumaru do Norte, Altamira, São Félix do Araguaia, entre outros, sinalizando, mais uma vez, o direcionamento dos incrementos da ocupação. São Félix do Xingu e outros municípios que aparecem com grande contribuição ao desmatamento do período 2007/2015 deixam ARCADIS Tetraplan 33 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 Ano Cenários Tendenciais 2015 Processando-se as informações disponibilizadas para o período 2000/2007, sumarizam-se alguns pontos notáveis da projeção 2007/2015, o Cenário Tendencial 2015: 2003 0 Somente o município de São Félix do Xingu explicou cerca de 23,0% do desmatamento da bacia; Altamira, 10,5%; e Cumaru do Norte, 8,1%, entre os de maior destaque. 2001 Área Desmatada 47.617,29 50.813 54.223 57.861 2002 2000 2001 Ano 2000 A Bacia do Xingu tem concentrada grande parte de sua área em poucos municípios: seis deles representam 51,08% da sua área; 10, 60,84%; e 15, 70,68%, com destaque para Altamira (23,9%), São Félix do Xingu (12,6%). Quadro Área Desflorestada (km2) Área Desmatada (Km2) Apresentam-se as projeções anuais de desflorestamento, bem como o gráfico a seguir, sobre a evolução da área desflorestada na Bacia do Xingu, período 2000/2015, seguindo a tendência observada. de fazer presença devido à severa redução de estoques florestais. O Quadro a seguir sumariza o total das áreas desflorestadas segundo os pressupostos adotados para o período 2015/2025 e, no gráfico, visualizase a evolução dos eventos ao longo dos anos. Quadro Área Desflorestada (km2) - Período 2015/2025 Ano 2016 2017 2018 2019 2019 2020 Desmatada 124.706 128.919 133.275 137.778 142.433 147.245 Ano 2021 2022 2023 2024 2025 152.220 157.364 162.680 168.177 173.859 Área Área Desmatada Gráfico II.2 - Evolução da Área Desmatada da Bacia do Xingu Período 2000/2025 200.000 Área Desmatada (Km2) 180.000 160.000 140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 2025 2024 2023 2022 2021 2020 2019 2018 2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 0 Ano O Cenário de desflorestamento afigura-se preocupante, principalmente para os municípios do Corredor Transamazônico, considerando-se as possíveis inflexões derivadas da inserção intuitiva e qualitativa dos impactos da construção, da desmobilização e da operação do AHE Belo Monte. É importante enfatizar, contudo, que a dinâmica que impulsiona a atual motivação do desflorestamento, cujo padrão procurou-se estabelecer em alguma medida, relaciona-se a outras demandas de ordem socioeconômica, sem querer afirmar com isso a exclusão total de possíveis efeitos que a expectativa da construção de empreendimento hidrelétrico do porte do AHE Belo Monte deve estar gerando nesse processo. Como se depreende a manutenção de taxas de crescimento de 6,55% em, posteriormente, de3,38% ao ano do Cenário Tendencial, deve levar a exaustão dos estoques de florestas em mais de uma dezena de municípios. ARCADIS Tetraplan 34 7. Avaliação Ambiental Integrada Após reconhecer as interferências socioambientais decorrentes da implantação de cada aproveitamento hidrelétrico e os impactos cumulativos daqueles situados em um mesmo compartimento, são analisadas as possíveis sinergias entre processos existentes nos compartimentos com aproveitamentos hidrelétricos previstos ou em construção. A matriz a seguir relaciona os compartimentos e indica essas relações. Ela deve ser interpretada no sentido das linhas para as colunas, sendo que o número 1 significa a existência de relação e o numero zero, a relação ausente ou não significativa. Quando dois compartimentos que apresentam empreendimentos hidrelétricos tem processos que se relacionam, essa interação pode promover sinergia de impactos (quadro a seguir). No caso em análise o que se verifica, no entanto, é a intensificação de processos em curso, criando sinergias entre compartimentos, mesmo naqueles em que não se prevê aproveitamentos hidrelétricos. Outros compartimentos, situados ao sul, podem sofrer algum aumento de pressão de desflorestamento devido à migração de população atraída pelas obras do AHE Belo Monte, porém em menor escala, uma vez que estão sob uma dinâmica socioeconômica polarizada por Cuiabá e Sinop, assim como sob influência da BR–316 e do arco de desflorestamento. No que se refere à implantação das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), cita-se interferência em Unidade de Conservação de proteção integral (Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo), dada a proximidade das PCHs Salto Curuá e Salto Buriti. Em síntese, a implantação dos aproveitamentos hidrelétricos não cria sinergias de impactos relacionados com os efeitos dos empreendimentos, mas se relaciona com a dinâmica de ocupação existente e com os processos de desflorestamento em curso. A presença de PCHs, dada a distância em que se encontram do AHE Belo Monte e sua pequena expressão em termos de território afetado, não induz, per se, processos de transformação da paisagem considerando-se o médio e longo prazo e a escala regional e, portanto, não se relacionam com a dinâmica da porção central e norte da bacia hidrográfica. Matriz de relação entre compartimentos 1 2 3 4 5 6 7 8 1 Continuum de Áreas Protegidas 2 Várzeas do Rio Xingu x 3 Corredor Transamazônico 4 Médio Xingu Pecuária 5 Formações do Cachimbo - Área sob influência da BR163 1 1 x 1 x 1 1 1 0 1 0 0 0 x 0 0 0 0 0 x 0 1 x 1 0 x 6 Alto Xingu Oeste - Área sob Influência da BR-163 7 Alto Xingu Leste - Área sob Influência da BR – 316 8 Xingu Meridional x 1 1 0 0 0 0 0 0 em azul: compartimentos com empreendimentos hidrelétricos O objetivo deste item é avaliar em que medida poderão ocorrer sinergias no âmbito das transformações socioambientais em curso em cada um destes. Tal quadro de interações é examinado a seguir no contexto de cada tema socioambiental tratado no estudo, considerando as possibilidades de sinergia. 7.1. Ecossistemas Terrestres Em termos de meio físico, a perda de potencial mineral foi considerada insignificante, no caso das PCHs, pois a possibilidade de atingir alguma reserva mineral seria realmente extrema. No caso de Belo Monte foi considerada de média significância, pela inundação de jazidas de areia/cascalho e argila. Como se tratam de perdas localizadas elas não ocasionarão impactos sinérgicos entre um e outro empreendimento. No que se refere aos aspectos bióticos terrestres, o processo de desflorestamento, recrudescido pelo afluxo populacional que se espera com a implantação do AHE Belo Monte, pela dinamização dos municípios que compõem o Corredor Transamazônico e pela dispersão de população atraída para o compartimento Médio Xingu Pecuária, poderá criar sinergias com o processo de desflorestamento observado atualmente a partir deste compartimento em direção oeste (para o rio Iriri) e em direção norte (sentido Transiriri), no Continuum de áreas Protegidas. Dessa sinergia pode resultar a solução de continuidade do compartimento Continuum de Áreas Protegidas, cuja principal característica, à parte a de ordem institucional (proteção legal do território), corresponde justamente à continuidade territorial, que tem garantido sua integridade até o momento. 7.2. Ecossistemas Aquáticos As grandes distâncias que separam as PCHs, situadas a montante da bacia, do compartimento Corredor Transamazônico, onde está projetada o AHE Belo Monte (superiores à 900 km) e as dimensões reduzidas de seus reservatórios fazem com que não existam interferências entre compartimentos e entre os efeitos dos empreendimentos, do ponto de vista do regime hidrológico e dos aspectos limnológicos e qualidade da água. No entanto, a intensificação das atividades antrópicas às quais a implantação desses empreendimentos está ligada, pode significar alguma influência nas condições limnológicas dos rios, pelo aporte de sedimentos, nutrientes ou contaminantes, com possibilidade de interferências nos compartimentos a jusante, no Continuum de Áreas Protegidas. O mesmo pode ser dito das PCHs no compartimento Formações do Cachimbo, sendo que nesse caso as interferências nas áreas protegidas podem ser maiores, pela proximidade. A interferência em relação ao aporte e transporte de sedimentos é insignificante, considerando (i) a baixa concentração destes no rio Xingu; (ii) as dimensões dos empreendimentos, de ordens de magnitude totalmente distintas; (iii) a grande distância entre os compartimentos com empreendimentos hidrelétricos; (iv) a presença de soleira rochosa no alto curso, representada pela cachoeira von Martius, que determina a retenção de sedimentos arenosos na parte alta da bacia, formando planícies aluviais. No que se refere à ictiofauna, a fisiografia do rio Xingu determina ambientes distintos nos compartimentos da bacia, o que se reflete na organização das comunidades de peixes. O alto curso funciona como um sistema de certa forma independente para a maior parte das espécies que, provavelmente realizam movimentações dentro desse sistema fluvial. Isto se deve ao: (i) predomínio, nos rios de cabeceiras, de espécies dependentes da matéria orgânica alóctone, resultando em assembléias de espécies de pequeno porte e restritas a esses ambientes e; (ii) presença de ambientes favoráveis à diversificação da ictiofauna nas planícies aluviais, que fornecem condições adequadas à reprodução e alimentação de muitas espécies. ARCADIS Tetraplan 35 O médio Xingu e o rio Iriri, até a foz deste, em sua maior parte contidos no Continuum de Áreas Protegidas, caracterizam-se por apresentar canais predominantemente em rochas, com planícies fluviais estreitas e descontínuas, grande quantidade de pedrais, rápidos e cachoeiras, prevalecendo espécies adaptadas a rápidos e corredeiras. Todo esse trecho permanecerá em condições naturais, permitindo rotas alternativas para os peixes migradores e corredores para migrações laterais. Por fim, o compartimento Xingu Meridional, com várias PCHs, tem interações com os compartimentos contíguos, particularmente com o Continuum de Áreas Protegidas, considerando os conflitos já manifestados. Novamente, justapõem-se realidades distintas e, nesse sentido, novos empreendimentos que venham a se implantados podem intensificar esses conflitos. Essas características se mantêm na região da Volta Grande, no Corredor Transamazônico e onde está projetada o AHE Belo Monte. Este trecho apresenta, ainda, uma forte inflexão de seu curso e apresenta-se rico em endemismos. Já o baixo Xingu, situado no trecho de jusante da Volta Grande até a foz no rio Amazonas, caracteriza-se pela ria, cujas condições ecológicas diferenciadas do restante do rio Xingu propiciam ictiofauna similar à do rio Amazonas, distinta da que ocorre rio acima. Essas características reduzem as possibilidades de sinergias entre compartimentos, notadamente os situados nas cabeceiras, onde estão as PCHs, e o compartimento Corredor Transamazônico, onde está projetada o AHE Belo Monte, na a região da Volta Grande. Tendo em vista o porte das PCHs, a distância destas até o AHE Belo Monte e as particularidades dos diversos trechos da bacia, conclui-se que os impactos ambientais decorrentes da implantação dos empreendimentos serão importantes, e no caso das PCHs terão efeitos cumulativos e sinérgicos localizados, não existindo, entretanto, possibilidade de sinergia entre os efeitos das PCHs e do AHE Belo Monte. 7.3. Socioeconomia No campo da socioeconomia, as possibilidades de interação entre regiões são determinadas pela acessibilidade física considerando suas distâncias e polarização prevalecente, a infra-estrutura de transporte existente e a disponibilidade de rede de telecomunicações e energia. Posto isso, os principais impactos que o compartimento Corredor Transamazônico terá sintetizam-se numa extrema alteração de trajetória das principais dimensões socioeconômicas: demográfica, econômica, infra-estrutural (transporte, energia, telecomunicações), e na capacidade de os municípios desempenharem suas funções, com destaque para Altamira. Estes aspectos remetem a melhores condições de prover educação, saúde, saneamento e outras funções próprias da municipalidade. Em decorrência, a organização territorial da bacia será alterada, de modo que Altamira adquirirá uma importância regional substancialmente maior daquela que já possui como pólo regional. Sua proximidade ao compartimento Continuum de Áreas Protegidas poderá assumir aspectos críticos considerando as características deste compartimento, que pressupõe sua conservação, justapondose.realidades distintas: forte dinamismo de um lado, necessidades conservacionistas próprias das áreas legalmente protegidas, de outro. Assim, poderá haver uma pressão para a antropização em trechos do compartimento Continuum de Áreas Protegidas, com impactos físicos bióticos conforme já tratado, mas também social, considerando a presença de populações tradicionais, notadamente as sociedades indígenas próximas ao corredor Transamazônico. São também grandes as possibilidades de haver deslocamento de populações para o compartimento Médio Xingu Pecuária, onde já ocorre um intenso processo de antropização baseado principalmente na pecuária bovina e na extração de madeira. O mesmo pode ser dito em relação ao compartimento Alto Xingu Leste, embora em escala menor. ARCADIS Tetraplan 36 8. Recomendações Gerais e Diretrizes ao Setor Elétrico A dinâmica de ocupação da bacia do rio Xingu é caracterizada por diversos vetores de ocupação que se expandem tanto no sentido de Norte para Sul, a partir do compartimento Corredor Transamazônico, como no sentido de Sul para Norte, a partir dos compartimentos situados no extremo sul da bacia. Associam-se a estes vetores, outros, exógenos à bacia, quais sejam, a partir do arco do desflorestamento, que se dirige de leste para oeste, e a partir da BR-163, no sentido contrário. Em conjunto, esses vetores pressionam as áreas limítrofes ao Continuum de Áreas Protegidas. É fundamental, portanto, que sejam implementadas medidas para ordenar esse processo de ocupação e reduzir velocidade com que ocorre, notadamente considerando a dinamização do processo de desflorestamento antevista. Em outras palavras, é preciso estabelecer uma forma a ocupação, seja com pecuária, culturas cíclicas, exploração de potencial hidrelétrico, ou urbana, de maneira a reduzir as fragilidades nos compartimentos limítrofes ao Continuum de Áreas Protegidas e, dessa maneira, efetivamente contribuir para a redução de pressão sobre as Terras Indígenas e as Unidades de Conservação Nesse sentido, uma recomendação importante é de que sejam implementadas políticas que façam valer o mosaico de TIs e UCs que compõe o compartimento Continuum de Áreas Protegidas da bacia do rio Xingu, principalmente das unidades de conservação, que bordejam esse continuum. Reafirma-se que essa dinâmica de ocupação da bacia do rio Xingu está intrinsecamente associada ao modelo de desenvolvimento assumido pelo país e as fragilidades de gestão dos governos, nas suas varias esferas, entre outros aspectos. Por isso, a seguir, encontram-se endereçadas algumas recomendações que extrapolam a governabilidade e âmbito de atuação do setor elétrico e se inscrevem no espectro das políticas públicas, com a intenção de apresentar um leque de “necessidades” que permita uma análise ampliada, ao mesmo tempo em que possa sinalizar para ações prioritárias em outras esferas de governo. Desse modo endereça-se, a outras esferas de governo, e também a representações da sociedade civil que tenham atuação estratégica as seguintes recomendações: Apoiar os Estados na efetivação de mecanismos de controle do uso e ocupação do solo, tendo-se por base os Zoneamentos Ecológicoeconômicos (ZEEs) O projeto de lei que instituiu o ZEE no Brasil pretende consolidar o ordenamento territorial rumo ao desenvolvimento sustentável, sendo que diferentes iniciativas vêm sendo elaboradas, a maioria no nível macrolocacional, cuja consolidação depende de mecanismos participativos. Impõe-se assim acelerar a efetivação dos mecanismos de controle do uso do solo e da implementação das unidades de conservação. Cabe também uniformizar os mecanismos de participação social e temas abordados de forma a garantir critérios semelhantes na formulação do instrumento. Investimentos em projetos de tecnificação e uso sustentável da Floresta Amazônica - Implementação de projetos de arranjos produtivos locais Investimento em ciência, tecnologia e inovação no uso sustentável da floresta e nas áreas já degradadas. Uso mais eficiente dos vários produtos da floresta. Há que se estabelecer arranjos produtivos que construam pontes mais amplas, incluam empresas privadas com capacidade de fazer frente à competitividade estabelecida no mercado global. Fortalecimento Institucional com enfoque matricial, envolvendo múltiplos entes com reforço da Governança Apoio aos diversos entes institucionais que tratam da biodiversidade dos vários biomas, contribuindo para implantar medidas preventivas e de repressão contra danos ou ameaças à biodiversidade das Unidades de Conservação existentes. Trata-se da continuidade de apoio ao fortalecimento institucional dos órgãos ambientais, tanto no nível federal, Ministério do Meio Ambiente e IBAMA, quanto na esfera dos Estados e municípios, todos reconhecidamente com grandes dificuldades de gestão. Apoio à formação dos Conselhos Municipais e Estaduais de Meio Ambiente e Conselhos Gestores de Bacias e apoio ao fortalecimento e/ou recuperação das prestadoras e companhias estaduais de serviços de saneamento, que se encontram em condições precárias. Promover a criação de Comitês de sub bacias e da bacia do rio Xingu, no contexto do Plano Nacional de Recursos Hídricos, garantindo sua efetiva atuação e representatividade. Além do fortalecimento das estruturas institucionais, impõe-se a capacitação técnica e gerencial dos gestores públicos e privados no cumprimento de suas atribuições relativas ao tema ambiental, entre outras iniciativas em andamento, como , por exemplo, o apoio ao Programa Nacional de Capacitação de Gestores. Efetivar a homologação de terras Indígenas e a elaboração e implantação de Planos de Manejos das Unidades de Conservação Tendo em vista o fortalecimento do compartimento Continuum de Áreas Protegidas, o processo de homologação de Terras Indígenas e a efetiva implantação das unidades de conservação deve ser priorizada, de maneira a que se garanta a integridade do mosaico de áreas legalmente protegidas. 8.1. Diretrizes para o Setor Elétrico A seguir, no âmbito de governabilidade do setor elétrico, são apresentadas diretrizes para o setor, de ordem geral e específica e por compartimento, quando pertinente. 1- Quanto ao aproveitamento hidrelétrico do rio Xingu - resultados do Inventário hidrelétrico Compartimento 3 – Corredor Transamazônico (i) Reforçar a decisão do Inventário Hidrelétrico atualmente vigente e referendada pela Resolução do CNPE nº 06/08 de não construir novos aproveitamento hidrelétricos no rio Xingu, além do AHE Belo Monte, considerando as peculiaridades da bacia hidrográfica, depositária de grande diversidade socioambiental. Justifica-se essa diretriz devido aos resultados do Estudo de Atualização de Inventário do rio Xingu, que apontou como econômica e ambientalmente viável a alternativa que considera apenas o AHE Belo Monte. As demais alternativas estudadas foram descartadas devido aos impactos gerados pelo conjunto de aproveitamentos, considerados, na última revisão, muito elevados, notadamente no que se refere às interferências em comunidades indígenas e aos ecossistemas aquáticos. (ii) No caso do AHE Belo Monte, tendo em vista o regime de operação da usina e suas implicações sobre os aspectos socioambientais, efetivar mecanismos de acompanhamento público das regras operativas, notadamente no que se refere ao hidrograma ecológico proposto pelos estudos de impacto ambiental no processo de licenciamento ambiental. ARCADIS Tetraplan 37 (iii) integrar a implantação do AHE Belo Monte e de seus programas e ações socioambientais a um plano de desenvolvimento regional. 2- Quanto ao aproveitamento hidrelétrico dos demais cursos d água da bacia do rio Xingu Compartimento 1 - Continuum de Áreas Protegidas (i) Limitar a prospecção de potenciais aproveitamentos de pequeno porte (pequenas centrais hidrelétricas ou mini hidrelétricas), privilegiando-se somente aqueles para auto consumo. Compartimentos 4 - Médio Xingu Pecuária, 6 - Alto Xingu Leste, 7 Alto Xingu Oeste e 8 - Xingu Meridional (i) Realizar estudos de Inventário para aproveitamentos hidrelétricos de pequeno porte considerando-se impactos socioambientais. A realização de inventários em sub bacias para implantação de pequenos aproveitamentos hidrelétricos permite o planejamento da inserção destes de maneira ambientalmente sustentável, bem como a avaliação prévia de impactos cumulativos e eventuais sinergias; hídricos dos Estados do Pará e Mato Grosso e órgãos federais de mesma natureza, com apoio de universidades e outras entidades interessadas na bacia, com o objetivo de acompanhar e avaliar as alterações ocasionadas pelos barramentos dos rios, juntamente com o aporte de sedimentos e de potenciais cargas poluidoras. Importante implantar uma rede integrada de monitoramento para alimentar a efetiva gestão dos recursos hídricos, estabelecendo uma base de dados para apoio a ações de planejamento e de intervenções na bacia; (iii) Incentivar a criação de Comitês de sub bacias e da bacia do rio Xingu, no contexto do Plano Nacional de Recursos Hídricos, contribuindo nas diversas etapas do processo. Uma vez criado, garantir a representatividade do setor elétrico e dos empreendedores atuantes na bacia. (ii) Respeitar a manutenção de trecho mínimo de rio entre aproveitamentos. Esse trecho mínimo deve ser definido de maneira a que pelo menos um grande afluente em cada margem permaneça livre de barramentos, permitindo a movimentação de peixes. Essa diretriz deve ser observada no Inventário Hidrelétrico, tendo em vista a manutenção da diversidade de peixes e a sustentabilidade dos recursos pesqueiros; (iii) Realizar estudos da ictiofauna e de ovos e larvas, contemplado amostragens ao longo de um ciclo hidrológico completo como parte do Inventário Hidrelétrico de PCHs para subsidiar formas de mitigação de impactos sobre a fauna de peixes; (iv) Estabelecer um protocolo de procedimentos em conjunto com FUNAI para tratamento da questão indígena quando do licenciamento de PCH’s da bacia do rio Xingu. Esse protocolo deve incluir a possibilidade de reuniões para negociação com cada etnia e aldeia afetada, de modo a tornar os indígenas visíveis e participantes no processo de determinação das características de cada empreendimento. O mesmo se aplica às demais comunidades tradicionais. (vi) Estimular a articulação entre os agentes e empreendedores do setor elétrico no sentido de garantir a gestão integrada dos programas ambientais relacionados aos aproveitamentos hidrelétricos de pequeno porte que venham a ser instalados na mesma sub bacia. Justifica-se essa diretriz uma vez que a implantação de sucessivos aproveitamentos implica desenvolvimento de estudos e implementação de programas ambientais similares em vários trechos desse espaço territorial. O planejamento dessas ações e a padronização de procedimentos propiciarão a organização de banco de dados, a otimização de recursos e a comparabilidade dos dados gerados; Dessa forma, devem-se definir procedimentos metodológicos, padrões e critérios uniformes para o desenvolvimento de estudos de licenciamento ambiental, programas de monitoramento, etc, tendo em vista garantir sua comparabilidade. Geral para a bacia hidrográfica (i) Considerando-se a insuficiência de dados, apoiar a elaboração de macro estudo referencial sobre ictiofauna, de longo prazo, contemplando vários ciclos hidrológicos, com apoio de universidades, sobre a dinâmica das comunidades de peixes da bacia hidrográfica, mapeamento das rotas migratórias e de áreas de endemismos, tendo em vista obter uma visão abrangente e propor medidas voltadas à sustentabilidade da ictiofauna da bacia hidrográfica, visando a manutenção da diversidade das espécies de peixes e dos estoques pesqueiros; (ii) Considerando também a insuficiência de dados, apoiar a implantação de um plano de monitoramento da qualidade da água da bacia envolvendo os órgãos ambientais e de gerenciamento de recursos ARCADIS Tetraplan 38 9. Referências AYRES, J.M.C.; CLUTTON-BROCK, T.H. River boundaries and species range size in Amazonian primates. Am. Nat. 140. p.531537. 1992. CAMARGO, M.; GIARRIZZO, T.; ISAAC, V. 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