o efeito da linguagem subliminar no design das motocicletas
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O EFEITO DA LINGUAGEM SUBLIMINAR NO DESIGN DAS MOTOCICLETAS Msc. Luiz Vicente Figueira de Mello Filho1, Dr. Luiz Vicente Figueira de Mello2. 1 2 Engenheiro Mecânico e Professor da Escola de Engenharia Universidade Presbiteriana Mackenzie Médico Psiquiatra Assistente e Pesquisador do Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo E-mail: [email protected] [email protected] ABSTRACT This study has as main aim to show the link of primitive sensations interpreted by our brain in relation to the motorcycles design which is based on its intense subliminal language connection between to the customer and product. The concepts of minimalism, man-machine unit, elementalism, functional biomechanics, beauty of texture and shape dynamics are supported by subliminal language. This paper concludes that the success achieved by those vehicles is due to the nature of its forms and eliciting their devices to make it attractive, the image being interpreted by the brain is either innate and unconscious. Evolutionary since reptiles to human primates. The sensations of touch, smell, ergonomics, engine vibration and the unique sound that each model produces aim to elicit the human feelings, making them exciting and inducing stakeholders to think of motorcycles as objects of desire and endowed with animosity. Key-words: Motorcycle. Design. Subliminal Language. RESUMO Este estudo tem como principal objetivo demonstrar o elo entre as sensações primitivas interpretadas pelo nosso cérebro e o design das motocicletas, utilizando-se como base a linguagem subliminar, que visa uma conexão intensa entre o cliente e o produto. Os conceitos de minimalismo, unidade homem-máquina, elementalismo, biomecânica funcional, beleza da textura e forma dinâmica são as premissas utilizadas para a sustentação da linguagem subliminar no design das motocicletas. Este trabalho conclui que o sucesso obtido por estes veículos deve-se ao caráter eliciador de suas formas e aos seus artifícios em torná-la atraente, sendo a imagem interpretada pelo cérebro de forma inata e não consciente. Evolucionária, desde os répteis até os primatas humanos. As sensações de tato, olfato, ergonomia, vibração do motor e o som único que cada modelo produz têm como objetivo eliciar as sensações humanas, tornando-as excitantes e induzindo os interessados a pensar nas motocicletas como objetos do desejo e dotadas de animosidade. Palavras-chave: Motocicleta. Design. Linguagem Subliminar. 2 1. INTRODUÇÃO O novo conceito de design nas motocicletas iniciou-se especificamente com os modelos da marca Yamaha em conjunto com a empresa GK Dynamics, responsável pelo design dessas motocicletas desde a primeira da marca até os dias atuais (ISHIYAMA1,1989). As primeiras motocicletas de tecnologia confiável surgiram entre 1901 e 1902. No final de 1903, a companhia Belga FN, La Fabrique Nationale d’Armes de Guerre, foi a empresa mais bem sucedida da época (WALKER, 1997). Depois deste período, houve definitivamente um rompimento entre as primitivas bicicletas motorizadas e a motocicleta, que entrou definitivamente no mercado internacional, surgindo as marcas Indian, Scott e a Harley-Davidson. Após a crise econômica de 1929 muitos fabricantes vieram a fechar. As empresas tiveram que focar a viabilidade comercial no produto, produzindo motocicletas menos arrojadas e mais acessíveis. Mas ao mesmo tempo, foi nesta década que a posição agachada na motocicleta começou a ser colocada em prática nas competições (ISHIYAMA1,1989). Durante a Segunda Guerra Mundial, marcas que antes produziam motocicletas com estilo e alto desempenho, focaram os esforços em veículos mais apropriados para o combate. Como consequência dessa mudança na fabricação de motocicletas, as empresas dispunham em suas linhas de montagem uma maior preocupação com a durabilidade e a qualidade dos modelos que produziam. Porém, neste período, as motocicletas passavam por um problema de identidade. Muito do fascínio do motociclismo que era inerente ao desejo de voar, era substituído pelo aperfeiçoamento e sofisticação dos motores, que estava mais em evidência na indústria americana e europeia (ISHIYAMA1,1989). No momento em que todos os modelos fabricados tinham desempenhos semelhantes e os consumidores potenciais passavam a preferir o conforto dos automóveis, projetistas e designers japoneses reconheceram que faltava o ingrediente da excitação. Por esta razão, confrontaram os modelos de motocicletas ocidentais, criando modelos exóticos, cada vez mais ao estilo das competições, para uso do piloto convencional nas ruas (ISHIYAMA1, 1989). Na década de 1960 foi conhecido como o renascimento das motocicletas. A indústria japonesa foi claramente responsável por boa parte desta conquista e influenciaria toda a massa de motocicletas que seriam construídas a partir dos anos 70 (WALKER, 1997). O sucesso das motocicletas japonesas obrigou as marcas europeias e americanas a aprimorarem os seus produtos. Com o renascimento do modelo Custom promovido pelos modelos japoneses, a Harley-Davidson, com suporte do governo americano, voltou com força ao mercado na década de 1970. Nas corridas, embora a Honda fosse o modelo mais popular, foi a Yamaha a primeira indústria japonesa a conseguir um título mundial de motociclismo em 1975. Em seguida, a Suzuki também o conquistou, colocando a indústria japonesa no mapa mundial de motociclismo até os dias atuais. 3 2. A EVOLUÇÃO DO CÉREBRO DOS RÉPTEIS AOS PRIMATAS HUMANOS Nosso cérebro é mais antigo do que comumente imaginamos e o seu desenvolvimento precede nosso aparecimento no planeta. As estruturas anatômicas que o compõem desde o início da vida na terra há 3,4 bilhões de anos, é o arcabouço genético de nossas sensações mais primitivas. Há trezentos e cinquenta milhões de anos os animais marinhos vieram a constituir os anfíbios e os répteis primitivos. Ao saírem dos oceanos as necessidades de adaptação ao solo terrestre exigiram grandes mudanças funcionais e anatômicas e o olfato passou a ser a primeira modalidade sensorial de percepção do mundo externo. Concomitantemente desenvolveram-se as estruturas: hipocampo, amígdala e hipotálamo constituindo o que ora denominamos sistema límbico (HEIMER, 1995). O ato terrestre de copular aparece pela primeira vez na evolução dos répteis, intrinsicamente relacionado às estruturas límbicas, o provável início da sexualidade. Há duzentos e trinta milhões de anos houve o aparecimento das estruturas que vieram a constituir o neocórtex que requereu o desenvolvimento de uma região receptora e integradora de todos os estímulos sensitivos aferentes ou recebidos do meio ambiente exterior ou interior, interoceptivas e exteroceptivas, o Tálamo, desenvolvido na base de cada hemisfério cerebral (KANDEL et al, 1991). A África foi o berço dos antropóides, primatas sem rabo. Mudanças climáticas conectaram e isolaram a África da Eurásia, permitindo que eles se distribuíssem pelo velho mundo, leste da Europa e parte da atual Ásia, enquanto alguns primatas sem rabo permaneceram nas florestas e deram origem aos atuais Gorilas, Chimpanzés e Orangotangos (BEGUN et al, 1977). Quando há treze milhões de anos nossos antepassados antropóides foram forçados pelas grandes estiagens a descer das árvores para buscar alimentos, uma vez que as florestas africanas onde residiam em bando estavam sendo dizimadas, viram-se obrigados pela sobrevivência a modificar suas sensações, mecanismos de defesa e comportamento grupal (ALLMAN, 2004). Foi quando, o bipedalismo, o caminhar sobre dois membros, se iniciou, obrigando o aparecimento da velocidade, muito importante na caça ou na fuga de predadores, cinestesia, como também a mudança do posicionamento e alinhamento das órbitas oculares ampliando a visualização, as áreas cerebrais occiptais e a interpretação da visão tridimensional (RIBAS, 2006). A visão em cores dos primatas não humanos e primatas humanos, nós, é diferenciada dos outros mamíferos. Aos nossos olhos o meio externo apresenta-se num mosaico infinito de cores. No entanto, quaisquer de nós enxergamos através da mistura de apenas três comprimentos de ondas luminosas, propriedade denominada Tricomacia. Isto acontece porque a retina utiliza-se de apenas três tipos de pigmento para a visão em cores que é comum entre os primatas, mas não é universal no reino animal. Uma das consequências da Tricomacia pode ser observada nos monitores e televisores, quando misturamos pixels vermelhos, verdes e azuis para produzirmos um amplo espectro de 4 cores. No caso da visão em cores dos primatas, acredita-se que a Tricomacia tenha conferido em alguns ambientes uma vantagem seletiva. As cores mais vivas, como nas frutas maduras, contrastam significativamente com a vegetação circundante diferentemente dos Dicromatas por estes terem uma menor amplitude na diferenciação das cores vermelha, amarela e verde do espectro visual. Uma capacidade mais diferenciada e adaptativa para identificar alimentos ajudou a sobrevivência dos indivíduos portadores dessa propriedade visual (NATHAN, 1996). E em relação ao desenvolvimento do encéfalo, nos últimos seis milhões de anos ele aumentou de três a quatro vezes o seu tamanho comparando-se ao cérebro dos demais primatas (ALLMAN, 2004). O aumento do tamanho do encéfalo deveu-se, principalmente, ao incremento das ligações interneuronais: axônios, sinapses, tratos, vias de comunicação e integração, diferenciando-se de outros animais que também têm cérebros mais avolumados. Este desenvolvimento do encéfalo é demonstrado na imagem 1. A linguagem foi um fator primordial na comunicação humana, acredita-se que tenha se iniciado há 60 ou 40 mil anos atrás. No entanto, as comunicações pré-linguísticas iniciaram-se há alguns milhões de anos observando-se ainda hoje em alguns primatas. Evolução do cérebro: Peixe Réptil Coelho Homem Imagem 1: a história evolucionária do cérebro vertebrado (LEAKEY,1977). 2.1 O Pensamento simbólico como forma de comunicação Quando nos referimos a processos simbólicos de comunicação da mente, estamos buscando explicar a nossa habilidade de abstrair elementos de nossas experiências e representá-los com símbolos mentais individuais. Outras espécies provavelmente possuem de alguma forma interpretações cognitivas, ainda não conscientes, presume-se que para a maioria delas o ambiente pareça algo como um “continnum”. Ao distinguir os outros elementos do “self”, o homo sapiens sapiens consegue construir e manipular; combinar e recombinar símbolos mentais correspondentes aos objetos que percebemos dentro e fora de nós. No entanto, nosso raciocínio intuitivo ainda permanece forte e não consciente, eliciado pela complexidade de estímulos que recebemos continuadamente. A importância da relação intuitiva entre objetos e ideias é tão forte que influencia a tecnologia, a arte como também a ciência (BICKERTON,1992). O córtex parietal, que abriga parte da área de associação terciária, integradora de estímulos referentes às imagens, sons e fala, tem por função avaliar as informações obtidas e organizar as respostas, em associação com o lobo pré-frontal. Nos primatas humanos a expansão dos 5 lobos parietais e temporais obrigou ao aumento da associação ao lobo occiptal, responsável pela recepção dos estímulos visuais (LEAKEY, 1977). A linguagem falada e escrita é a função mental simbólica que concebe de forma precisa o pensamento humano, pois as palavras são unidades que transmitidas em forma de fonemas codificam a comunicação. A realidade do mundo exterior depende da qualidade de informação coletada pelo nosso cérebro da maneira como ela pode ser processada e integrada. As imagens sejam visuais ou auditivas são geradas e automaticamente mantidas para a comparação com experiências passadas. Um salto vital para a evolução da capacidade cognitiva foi a aptidão para formar conceitos e conceber objetos pertencentes a classes distintas. As pinturas rupestres encontradas nas cavernas datadas de 40 mil anos demonstram a importância da imagem simbólica ainda mesmo nos povos primitivos. Um dos objetos não utilitários descobertos mais antigos foi encontrado em Pech L´Azé, na França, datado de 300 mil anos. Uma costela de boi entalhada numa série de arcos duplos, interligados e ornamentados, provavelmente um símbolo ritual (LEAKEY,1977). Atualmente acredita-se que é possível comunicar-se apenas por meio de gestos, como demonstra a linguagem dos surdos, por meio de sinais. E está confirmado que os chimpanzés podem conseguir domínio da linguagem por sinais. As imagens sensitivas estão no cerne da análise cognitiva do mundo exterior e da comunicação. O aperfeiçoamento da imagem mental que cada um de nós tem sobre o mundo, não só aumenta a autoconsciência (“self”), mas também torna a partilhada imprimindo o laço social. À medida que as comunidades ancestrais desenvolviam um “tecido” cultural cada vez mais rico, ornamentado com rituais sociais, sexuais e comportamentais, a linguagem tornava-se cada vez mais importante (LEAKEY, 1977). A imagem 2 evidencia a importância do órgão reprodutor em pinturas rupestres encontradas nas rochas. Imagem 2: Pinturas em rochas desempenham um papel importante na vida social e mística do Aborígine Australiano (LEAKEY, 1977). 6 Nos últimos trezentos anos, fomos alcançados pela revolução industrial que modificou comportamentos e ampliou a oferta de estímulos externos, interferindo nos hábitos, processos de aquisição e na realização de desejos simbólicos. 2.2 Mecanismos neurofisiológicos intrínsecos envolvidos aos objetos do desejo A partir dos estímulos externos; visuais, tácteis e olfativos que acessam nossas vias neurofisiológicas, procuramos, estimulados por estruturas que estão abaixo de nossa consciência, reflexos e interesses não conscientes, desencadeiam processos automáticos, que respondem de forma rápida, mas não desprovida de direção, aos desejos e comportamentos inatos. Estruturados e selecionados durante nossa evolução, ativamos vários sistemas compostos por células nervosas, neurônios e suas interligações, axônios e sinapses. As vias de contato entre as várias áreas cerebrais envolvidas percorrem um trajeto que há milhões de anos vem sendo construído para preservar os interesses de sobrevivência da espécie. As vias ou “tractos” foram se organizando também em centrais de associação e núcleos, centrais de integração. Todas estas estruturas são processadas por substâncias químicas mediadoras moleculares; estimuladoras ou inibidoras de ações em uma maquinaria complexa, com espantosa plasticidade em sua formação e individualidade. Os sistemas neuroquímicos mais estudados atualmente são os serotonérgicos, gabaérgicos, noradrenérgicos e dopaminérgicos. Atuando como mediadores nas ligações entre os neurônios conduzem ou inibem os reflexos que estimularão as áreas envolvidas em nossos interesses conscientes, subconscientes e não conscientes. Nas respostas ou ações imediatas lançamos mão de todo esse mecanismo antigo e ao mesmo tempo contemporâneo, mas sempre integrado. O sistema denominado dopaminérgico está ligado ao prazer que sentimos após uma aquisição desejada ou conquista após esforço psíquico ou mesmo físico. É ativado em busca da recompensa e quando ativado excessivamente leva-nos aos atos compulsivos ou à compulsividade patológica, compulsão a compras ou ao jogo patológico. Ao mesmo tempo o excesso de estímulos repetitivos pode nos levar à dessensibilização desses sistemas com a habituação e o consequente desinteresse tornando os estímulos pouco sensibilizadores, mudando nossa atenção para outros; dessensibilização sistemática, ou a banalização do objeto do desejo. O que entendemos como funcionamento adaptado, é o equilíbrio entre os desejos e a saciedade, modulados e intermitentes, imprimindo a busca pela sobrevivência e a satisfação que essa busca nos dá, quando obtemos a conquista de um objeto ou situação. 2.3 Eliciadores modernos de comportamentos primitivos Quando dispomos imagens, sons ou cheiros, estamos eliciando, tirando nossos potenciais primitivos inatos do fundo de nossa evolução, arquivados em nossa memória evolucionária 7 como também associando-os à nossa bagagem cultural com os valores que recebemos após o nascimento, construídos ao longo de nossa vida dentro de um contexto ao qual fomos formados, somados aos valores, vivências e tendências do momento. O poder do design e da textura, da sensualidade e da potencia dos motores, funcionam como eliciadores de sensações primitivas não conscientes, porque estão aquém da formação do simbolismo consciente ao longo de nossa evolução e também subconscientes, memórias acumuladas a partir de nosso nascimento, resultantes do contexto cultural ao qual estamos inseridos. 3. O DESIGN DAS MOTOCICLETAS A motocicleta se conduz na posição montada, com uma roda na dianteira, outra na traseira e um motor como fonte de energia. A estrutura é extremamente simples como mostra a imagem 3, mas o significado e a forma de condução passaram por grandes transformações no decorrer dos tempos. Imagem 3: MT-01 2012 (YAMAHA, 2012). O significado e a forma de condução se relacionam ao mercado em que a motocicleta é comercializada. Culturas locais refletem diretamente no projeto. Características como a topografia, clima e a cultura local são levadas em consideração (AOSHIMA et al, 2007). As de baixa cilindrada, de até 250cc (centímetros cúbicos), são consideradas como meio de transporte para as pessoas. Na China o conforto na condução prevalece à esportividade. Na Índia e no Brasil há uma cultura machista no projeto. Enquanto que na Índia simboliza virilidade, na América Latina, favorece a sensação de volume escultural da motocicleta (AOSHIMA et al, 2007). É um meio de locomoção que pode ser uma fonte de prazer quando o ser humano une o corpo macio e orgânico com uma motocicleta sexy (ISHIYAMA2, 2005). O tipo Naked (sem carenagem) é a base de todos os protótipos. Os componentes e as peças independentes se harmonizam na criação de uma composição de beleza (AOSHIMA et al, 2007). Este conceito é declarado pela empresa GK Dynamics aos modelos Evemachine, Morpho, Morpho II, Otodama e MT-01 Kodo, sendo o último, o modelo do tipo Naked referenciado para a análise da linguagem subliminar. 8 A MT-01 é uma motocicleta agradável mesmo em baixas velocidades, uma vez que o pulso do motor e torque transmite uma grande sensação, mesmo em pequenas acelerações de um sinal de trânsito para o outro (NISHIMURA, 2012). O projeto inicia-se por uma abordagem emocional. Enquanto outras marcas japonesas priorizam a parte técnica e a funcionalidade, a Yamaha prioriza o sentimento de excitação, mesmo que o investimento no desenvolvimento sejam maiores (SASANAMI, 2005). 3.1 O Design Dinâmico A teoria do design dinâmico resume-se em seis conceitos básicos: Minimalismo, Unidade do Homem-Máquina, Elementalismo, Biomecânica funcional, Beleza da Textura e Forma Dinâmica. 3.1.1 Minimalismo Os mínimos valores de massa, forma e função chegam aos máximos valores de desempenho. O conceito básico do design da motocicleta tem sido o mínimo peso, dimensão e material. A tecnologia em forma de vida inicia-se com a mínima energia e maior compactação da motocicleta projetada com o máximo desempenho. A potência, o poder da velocidade e do mecanismo, a leveza e a sensibilidade são os elementos necessários para um corpo vivo (ISHIYAMA1, 1989). O design deve focar na criação de um objeto simples, de forma compacta, estrutura leve, sem adição de componentes conforme exemplificado na imagem 4. Pequeno, mas poderoso, de pura alta potência nascida do conceito do minimalismo, que movimenta muitas emoções de vida dos seres humanos. Imagem 4: Modelo MT-01 – exemplo do conceito de minimalismo (YAMAHA, 2012). 3.1.2 Unidade do Homem-Máquina O conceito mais notável é a integração homem-máquina que considera o veículo como a interação de um apelo emocional entre o piloto e a máquina (AOSHIMA et al, 2007). A motocicleta sozinha é uma ferramenta imperfeita. Somente quando a máquina inorgânica completa-se com o desejo de montar por um corpo humano orgânico, cria-se a unidade de homem-máquina, iniciando a verdadeira essência da perfeição da máquina (ISHIYAMA1, 1989). 9 A sensualidade das linhas arredondadas e a superfície entalhada do corpo da máquina elicia a sexualidade no ser humano. Os punhos no guidão, o acelerador, os interruptores, o formato do assento e tanque, assim como o pedal de mudança, são as conexões homem-máquina que induzem a excitação do controle do corpo humano. A imagem 5 demonstra a execução para se chegar nas formas arredondadas. Imagem 5: Modelamento do tanque (TEZUKA, 2007) O acionamento da motocicleta, iniciando ao girar a chave de ignição, que automaticamente ativa o painel de instrumentos e as luzes de sinais, seguido pela partida e pelo som do escapamento, são funções captadas externamente, que ativam a sensibilidade não consciente humana configurando um “continnum” vital. A imagem 6 não distingue onde termina o corpo humano e onde inicia a motocicleta. Imagem 6: “Unidade Homem-Máquina” (YAMAHA, 2005). O cérebro comanda os músculos para resultar em movimentos. Quando a motocicleta se movimenta, o piloto apresenta várias sensações interoceptivas, que se estendem pelas extremidades do corpo e finalmente criam um perfeito ciclo centralizado, sendo a motocicleta parte do corpo humano (YORO, 1989). Os estímulos não conscientes iniciados nas áreas mais centrais e antigas do cérebro humano desencadeiam uma atividade integrada, muscular e emocional modulada pelo neocortex, que denotam uma sensação de animosidade integral homem-máquina. 3.1.3 Elementalismo As maiores características são expressas pelo mecanismo do chassi e do motor conforme demonstrado na imagem 7. 10 Imagem 7: Componentes da motocicleta MT-01 (YAMAHA, 2005). O design, a funcionalidade, as cores e a beleza são manifestados em cada um dos elementos da expressão formal. Em relação ao corpo humano, o esqueleto, os órgãos internos, a circulação, a contração dos músculos, respiração e a pulsação formam um corpo vivo. Essa mobilidade e correlação orgânica são expressas na unidade do material metal. Elementalismo é o conceito da forma do corpo vivo segundo Ishiyama (1989). O elementalismo especificado no design da motocicleta expressa a individualidade dos elementos que compõem todo o conjunto. Utiliza-se este estilo de design para levar a beleza de um conjunto de elementos diferentes. Expressa a beleza funcional criado pelo mecanismo exposto da motocicleta (AOSHIMA et al, 2007). A imagem 8 mostra a comparação entre um instrumento musical e o escapamento de uma motocicleta de estilo custom. Imagem 8: Som e design do escapamento comparado ao saxofone (ISHIYAMA1, 1989). 3.1.4 Biomecânica funcional A estrutura do organismo vivo adapta se a severas condições da natureza, particularmente no formato e mecanismo de insetos que inspiraram o design das motocicletas (ISHIYAMA1, 1989). A estrutura do corpo do inseto é uma analogia do design e gráficos no qual se dá o nascimento da função e estrutura da motocicleta como o sistema de informações, que incluem o guidão, o painel de instrumentos e os faróis; o sistema de movimento, que inclui o motor e a suspensão; e o sistema fisiológico que inclui o tanque de combustível e a carenagem. Ecologia, natureza e formas se aprendem por meio de elementos de várias estruturas de animais, plantas e corpos humanos da natureza (AOSHIMA et al, 2007). A mesma analogia aos insetos se dá na funcionalidade. As informações da cabeça processadas pelas antenas, como o tentáculo composto pelos olhos; a secção do tronco que processa as 11 funções de movimento como as asas e pernas; a secção do tórax que contém os órgãos vitais que controlam a fisiologia. Cada um desses elementos tem suas próprias responsabilidades de funções básicas e controlam o corpo por completo (ISHIYAMA1, 1989). A imagem 9 associa a motocicleta com as referências encontradas na natureza. Imagem 9: Biomecânica funcional (YAMAHA, 2005). 3.1.5 Beleza da Textura A beleza é um ponto importante no projeto dos elementos emocionais. A arte na criação do design sensual expressa o sentimento de pilotagem unida à máquina (AOSHIMA et al, 2007). A motocicleta é uma máquina do prazer, representa uma das duas partes emocionais no movimento do corpo formado pela unidade do homem e máquina. Dessa maneira, a motocicleta deve ser essencialmente sensual (ISHIYAMA1, 1989). Na área do design, os aspectos de textura são sempre mais importantes que o aspecto visual na percepção da imagem recebida e estão expressos em cada uma das funções que controlam o “organismo vivo” (ISHIYAMA1, 1989). Na imagem 10, considerando para análise a vista superior, os braços representam o guidão, a cabeça o painel de instrumentos, o tanque de combustível as costas e as silhuetas da mulher com a carenagem, que compara com a motocicleta parcialmente mostrada no canto direito da mesma imagem. Imagem 10: Representação da beleza da textura (ISHIYAMA1, 1989). 12 3.1.6 Forma Dinâmica O dinamismo e a velocidade exigidos e desenvolvidos pelo predador quando procura abater a sua presa imprime uma sensação de arranque denotando uma emoção compatível com a natureza inata da conquista e sobrevivência. O preparo para a ação tenciona a musculatura corporal preparando-a para um salto inicial, extravasando a energia antes concentrada. O design procura traduzir de uma forma dinâmica a excitação. O design dinâmico não pertence a um produto específico. Qualquer que seja a meta referente ao design, elicia sensações dinâmicas e prazer entre as pessoas por expressar poder, dinamismo, vitalidade e porte físico (AOSHIMA, 2007). Imagem 11: Símbolos da forma dinâmica (YAMAHA, 2005). Na imagem 11, o motor pode ser comparado ao nosso coração que circula o sangue com seu batimento permitindo a transferência de oxigênio por meio da respiração e estimulando a atividade dos órgãos internos (ISHIYAMA2, 2005). 4. EVIDÊNCIAS ENCONTRADAS NO EFEITO DA LIGUAGEM SUBLIMINAR A motocicleta é excitante, ao invés de uma imagem cortês, a motocicleta evoca a imagem áspera de um cavaleiro, em seu cavalo de guerra, ou um atirador do velho oeste em seu cavalo (YAMAGUCHI, 1989). A imagem 12 exemplifica esta afirmação. Imagem 12: Filme Easy Rider (1969). 13 O primeiro relato do design associado à interação homem máquina ocorreu no final da década de 70, que foi abertamente declarado após uma pergunta provocativa ao idealizador japonês deste design do porque que as motocicletas não eram simplesmente cópias das europeias e americanas, explicando que o significado para o ser humano foi originalmente descoberto. O design da motocicleta denota também um órgão sexual. A motocicleta é um organismo vivo que o ser humano monta e anda, ampliando a sensibilidade e tornando uma fonte de energia que ativa o espírito (EKUAN, 1989). As imagens 13 e 14 mostram as características em trazer um organismo vivo para a motocicleta. Imagem 13: Motocicleta “Eve Machina” (ISHIYAMA1). Imagem 14: Motocicleta “Eve Machina” (ISHIYAMA1). No mesmo período, de acordo com a imagem 15, a marca Ducati associava nas propagandas a motocicleta ao lado de uma mulher em posição e trajes sensuais. Imagem 15: Propaganda Ducati (DUCATI, 1973). 14 A marca Suzuki contribui neste conceito associando a mulher de forma ponderada, como explicita nesta interação, como mostra a imagem 16. Imagem 16: Propaganda Suzuki (SUZUKI, 1974). A imagem 17 fala por si mesma. Imagem 17: Propaganda Suzuki (SUZUKI, 1974). Valentino Rossi, personalidade e ícone na categoria principal de competição em motocicletas, demonstra este afeto antes e depois das corridas, sendo registradas inúmeras vezes essa proximidade homem-máquina como mostra a imagem 18. Imagem 18: Despedida da escuderia Yamaha (2010) e início na Ducati (2011). 15 A motocicleta na imagem 19 contém uma forte sensualidade visual e emocional. As cores vivas e a combinação de sombras com uma beleza solitária associa a silhueta da motocicleta em relação à mulher. Imagem 19: Arte na motocicleta Ducati (RAAB, 2012). 5. CONCLUSÕES Levando-se em conta a complexidade de nossa evolução, podemos dizer que sem percebermos, somos eliciados por vários estímulos externos, exteroceptivos, e internos, interoceptivos; muitas vezes subliminares. Ao caminharmos nas ruas dos grandes centros urbanos são despertados nossa atenção aquilo que é mais “chamativo”. Um ruído forte, cores mais vivas, corpos diferenciados, vestimentas excêntricas, uma situação inesperada ou de maior risco. Não percebemos também que esses vários estímulos ativam toda uma construção selecionada durante a longa caminhada no tempo a que fomos submetidos em nosso planeta, em parte não conscientes ou subconscientes. O caminhar sobre dois membros trouxe a liberdade de correr pelas savanas africanas e a necessidade da velocidade do arranque e do equilíbrio para a caça e para a fuga. As emoções similares à fuga ou ataque eliciam sensações de risco e desafio que paralelamente são vivenciadas por todos nós. Somos também estimulados pela caça sexual à procura de uma fêmea com um “design” mais apropriado para o acasalamento ou continuidade da sobrevivência de nossa espécie. Muitas vezes aceleramos os passos, desviamos rapidamente de obstáculos para atingir nossos objetivos com destreza, gostamos da velocidade e o poder de direção que preserva a liberdade e a dirigibilidade. A essência de tornar a motocicleta sexy como apresentado em vários pontos do artigo indica um design que elicia os fenômenos da linguagem subliminar sexual. Na motocicleta, não só a imagem é interpretada, mas as sensações de tato, a posição de montar, a vibração e o som único que cada modelo produz para encantar ao extremo o ser humano que a conduz. Acreditamos que o sucesso obtido pelas motocicletas que utilizam este conceito, deve-se ao caráter subliminar de suas formas e aos seus artifícios capazes de criar sensações de prazer, que induzem os homens a pensar nas motocicletas e agir como se elas fossem mulheres. 16 Atualmente as empresas Yamaha Motor e GK Dynamics definem a palavra de origem japonesa como Kodo, que significa a batida da excitação. Batida e pulsação do coração, relacionadas também à sensualidade humana. Dessa maneira, podemos compreender a excitação que o motociclista tem na condução de sua motocicleta, de forma não consciente. Porque as sensações e as respostas a todos esses estímulos são em grande parte, respostas a estímulos subliminares. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLMAN, M. Evolving Brains. New York: Scientific American Library; pág. 224, 2000. AOSHIMA, N. World of Dynamic Design, GK Report nº16, 2007. AOSHIMA, N., ICHIJO A., UEMURA K., SAKAI, T. 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