ufba - Universidade Federal da Bahia
Transcrição
ufba - Universidade Federal da Bahia
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA CARLOS ALBERTO CAETANO A LÓGICA HEGEMÔNICA DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO NA ESCALA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE SALVADOR – BAHIA Salvador 2007 CARLOS ALBERTO CAETANO A LÓGICA HEGEMÔNICA DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO NA ESCALA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE SALVADOR – BAHIA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, do Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como pré-requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Antonio Puentes Torres Salvador 2007 C128 Caetano, Carlos Alberto, A lógica hegemônica da produção do espaço na escala da Bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, Salvador – Bahia / Carlos Alberto Caetano. _Salvador, 2007. 210 f.: il. Orientador: Prof. Dr. Antonio Puentes Torres Dissertação (Mestrado) – Pós-Graduação em Geografia. Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, 2007. 1. Geografia 2. Jaguaribe, Rio, Bacia (Salvador, BA) – Segregação socioeconômica espacial 3. Jaguaribe, Rio, Bacia (Salvador, BA) – Expansão territorial – Segregação socioeconômica espacial I. Título CDU: 911 (813.8) (043) À minha mãe Maria Aparecida Galdino D. Nina pelos seus 80 anos! AGRADECIMENTOS Aos meus ancestrais e aos orixás que me protegem e abrem meus caminhos: Adupé-ô! À CAPES pelas duas bolsas de estudo, sem as quais o trabalho de construir esta dissertação teria sido mais difícil, senão impossível. Ao INPE pela cessão das imagens de satélite usadas no trabalho. Ao meu orientador pela paciência, liberdade e estímulo permanentes. Aos professores que aceitaram integrar minha banca examinadora, profa. Neyde Maria Santos Gonçalves e prof. Antônio Fernando de Souza Queiroz, pela confiança que me passaram durante todo o processo. E também pela paciência. Ao Coordenador do Mestrado, prof. Ângelo Serpa, pelas críticas, sinalizações de caminhos e, em especial, pela contribuição no que diz respeito à teorização e à metodologia em Geografia. A todos os professores que suportaram e esclareceram minhas dúvidas durante dois anos. À profa. Bárbara-Christine N. Silva um agradecimento especial pelos ensinamentos em relação ao uso da quantificação em Geografia, inclusive após a conclusão da disciplina, em caráter particular. Aos colegas da turma, sempre solidários. À Dirce, secretária do Mestrado, pela eficiência permanente. A todos e todas que de alguma forma me ajudaram a conquistar esta vitória. O trabalho foi feito por um pesquisador, mas o conhecimento é propriedade coletiva. Todos os direitos estão liberados para utilização, sendo obrigatória a citação da fonte. O Ser Estético veicula sublimações Formays que se materializam à Cadência Erotyca, estimulante às teorias produtoras. O Ritmo rompe a Harmonia – ou a dilata num tempo que é cortado quanto saturado. A montagem nasce desta relação contraditória entre o Tempo ErotyKo e o Espaço Ideológico. Há Cineastas que suturam seus planos, costuram, colam, emendam, amarram – raros montam e excepcionais desmontam. Tudo que o plano revela é profano na sacralização da montagem: o Espaço permite o tempo Proibydo. FLUXO-AUDIOVISUAL produzido na Uzina In-Konsciente, neutronizado por Eros, convertendo toda matéria sensível em Energia Sexual (Energia Nuclear). A Obra: Stravinsky ou Pound revisitando Homero, Sosígenes Costa e Wally Sailormoon, Gramiro de Matos e João Ubaldo Ribeiro, Caco kaetano e Caetano Veloso, Xyko Buarque, Augustoarold de los Campos – teatro, romance, poesya, filosozophya, musika, kynema – todas as artes são representações do In-Konscyente, o interesse estético nascendo da sensação diante da originalidade. A dimensão primária da arte é o Realismo. O IRealismo Sociológico temporal cede campo ao Espaço Real do Autor e tudo que se Vê e Ouve é Real. Improcede a Idéia de que a Fantasia é abstrata, como se o visto-ouvido&cheirável fosse I-rreal. Glauber Rocha Fonte: ROCHA, Glauber. Revolução do Cinema Novo. São Paulo: Cosac Naify, 2004. p. 450;451 RESUMO Esta dissertação de mestrado buscou como objetivo estudar a relação entre a sociedade e a natureza sob a ótica da lógica hegemônica da produção do espaço para identificar a ocorrência de segregação socioeconômica espacial na escala de uma bacia hidrográfica. A bacia hidrográfica do rio Jaguaribe está totalmente localizada no perímetro urbano de Salvador, Bahia, em área definida a partir dos anos 1970 como vetor de crescimento e expansão da capital baiana com a da abertura da Av. Paralela, elo de ligação entre os eixos Estação Rodoviária/Aeroporto Internacional. O trabalho se iniciou a partir da interpretação de mapas históricos do período colonial chegando até os dias atuais com a utilização do Sensoriamento Remoto (SeRe) com imagens de diferentes satélites obtidas no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no período compreendido entre os anos 1980 e 2005. Para a análise destas imagens foi adotado o paradigma dos Geossistemas como referência teórica, com base em BERTRAND, G. (1971); SOTCHAVA, V. B. (1977) e MONTEIRO, C.A. de F., (1978; 2001), sendo definidas então as unidades internas do Geossistema como o alto curso, o médio curso e o baixo curso do rio, analisados como Geofácies; também foi adotado o materialismo histórico dialético como método de abordagem, tendo como referências QUAINI, M. (1979); MARX, K. (1986); CASTELLS, M. (2000); HARVEY, D. (2005); entre outros. A contradição central identificada no desenvolvimento do trabalho foi a relação entre a cobertura vegetal e a expansão urbana, de cuja oposição evidenciou-se a existência de um processo de segregação socioeconômica espacial identificada a partir da análise de dados estatísticos obtidos através do Censo 2000 (IBGE). Foram projetados no espaço geográfico os resultados destas análises, sendo gerados mapas temáticos quantitativos e um mapa/síntese qualitativo. Foram analisados ainda aspectos relativos à existência nas nascentes dos tributários do rio de diversas lagoas de tratamento e decantação de esgotos, implantadas em vales e planícies de inundação que não garantem resultados significativos em termos de qualidade ambiental ao Geossistema, em especial nos momentos de ocorrência de maior precipitação pluviométrica, sendo apresentada então uma recomendação de manejo natural destas lagoas, com geração de trabalho e renda para a população que habita o seu entorno. Palavras chaves: Geografia. Jaguaribe, Rio, Bacia (Salvador. BA) Segregação socioeconômica espacial. Jaguaribe, Rio, Bacia (Salvador. BA) – Expansão Territorial – Segregação socioeconômica espacial. ABSTRACT This master’s degree dissertation of searched as objective to study the relation between the society and the nature under the optics of the hegemonic logic of the production of the space to identify the occurrence of space socioeconomic segregation in the scale of a hydrographical basin. The hydrographical basin of the Jaguaribe river, that total is located in the urban perimeter of Salvador, Bahia, in area defined from years 1970 as vector of growth and expansion of the Bahia’s seat of government, with the opening of the Av. Parallel, connector link between the axles Road Station/International Airport. The work was initiated from the interpretation of historical maps of the colonial period arriving until the current days with the use of the Remote Sensoryment (SeRe) with images of different satellites gotten in the Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), in the period understood between years 1980 and 2005. For the analysis of these images, the paradigm of the Geossistem was adopted as theoretical reference, on the basis of BERTRAND, G. (1971); HUNTER, C.A. of F., (1978; 2001) e SOTCHAVA, V. B. (1977), being defined then the internal units of the Geossistem as the high course, the average course and the low course, analyzed as Geofácies; also the dialéctic historical materialism was adopted as boarding method, having as references CASTELLS, M. (2000); HARVEY, D. (2005); MARX, K. (1986); QUAINI, M. (1979); among others. The identified central contradiction in the development of the work was the relation between the vegetal covering and the urban expansion, whose opposition proved it existence of a process of identified space socioeconomic segregation from the analysis of gotten statistical data through Censo 2000 (IBGE). The results of these analyses, being generated quantitative thematic maps had been projected in the geographic space and a qualitative map/synthesis that had allowed to conclude for the existence of space socioeconomic segregation in the area in study. Relative aspects to the existence in the springs of the tributaries of the river of diverse lagoons of treatment and decantation of sewers, implanted in valleys and plains of flooding that do not guarantee resulted significant in terms of ambient quality to the Geossistem, in special at the moments of pluviometric precipitation occurrence bigger, being presented then a recommendation of natural handling of these lagoons, with work generation and income for the population had been analyzed still that inhabits its amer cool. Words keys: Geography. Jaguaribe, River, Hydrographical basin ( Salvador. BA). Space socioeconomic segregation. Jaguaribe, River, Hydrographical basin (Salvador. BA). Territorial expansion - space socioeconomic segregation LISTA DE FIGURAS 1 Remanescentes da pecuária de gado leiteiro nas margens do rio ........ 22 2 As principais bacias hidrográficas de Salvador ..................................... 26 3 Imagem mostrando independência da bacia do rio Passa Vaca ........... 28 4 A MDT mostra rio Trobogy como o último afluente ............................... 29 5 Imagem de satélite mostra o encontro dos rios na planície costeira ..... 320 6 Detalhe do MDT com curvas de nível com 5 m comprova separação .. 31 7 Aglomerado urbano localizado nas encostas do médio curso ............... 45 8 Carta onde rio Vermelho e a Pedra de “Tapoan” ficam próximos ......... 52 9 O primeiro registro encontrado sobre o rio Jaguaribe ........................... 53 10 Mapa onde muitas bacias hidrográficas já eram conhecidas ................ 54 11 Ocupação dispersa nos anos 1970 ....................................................... 56 12 População tende a aumentar a partir dos anos 1980 ............................ 57 13 Nos anos 1990, médio-baixo curso apresenta áreas sem habitantes ... 58 14 A expansão urbana compromete a cobertura vegetal ........................... 59 15 Correção geométrica usando base cartográfica de Salvador ................ 71 16 Roteiro Metodológico ............................................................................. 88 17 Imagem Landsat 2 adquirida em 29/07/1981, sensor MSS [...] ............. 92 18 Imagem Cbers 2 adquirida em 21/12/2005, sensor CCD 1x [...] ........... 93 19 Em 1981 a dispersão da população preserva cobertura vegetal ........... 94 20 Em 2005 a concentração da ocupação e supressão da cobertura ........ 95 21 Altimetria P&B com resolução espacial de 30 m ................................... 96 22 Altimetria Color com resolução espacial de 30 m .................................. 97 23 A existência de falhas geológicas na bacia ........................................... 99 24 MDT com curvas de nível de 5 m reforça a hipótese das falhas ........... 99 25 Cobertura vegetal identificada em 2005: canais R(1),G(2) e B(3) ......... 100 26 Imagem mostra situação real em 2005: 8 bits, [...] ................................ 102 27 Bairros contidos em cada área de ponderação ..................................... 103 28 Distribuição da população nas áreas de ponderação ............................ 133 29 A quantificação dos resíduos em desvio padrão ................................... 136 30 A violência em Itapuã na manchete do principal jornal ......................... 141 31 População que estuda em escolas particulares .................................... 142 32 População que estuda em escolas públicas .......................................... 143 33 População que não estuda mas já estudou ........................................... 144 34 População que nunca estudou .............................................................. 145 35 Análise qualitativa dos resíduos ............................................................ 151 36 Lagoas de decantação localizadas no alto curso .................................. 156 37 Aterro de Canabrava e as lagoas de decantação do médio curso ........ 157 38 Satélite permitiu localizar lagoas de decantação do alto curso ............. 158 39 As três lagoas de decantação João de Barros do rio Águas Claras ...... 159 40 As duas lagoas de decantação de Fazenda Grande VII ....................... 159 41 A proximidade entre o braço do rio canalizado e a lagoa ...................... 160- 42 Detalhe das três lagoas do sistema do rio Cambunas .......................... 161 43 Outro detalhe da maior lagoa de decantação do rio Cambunas ........... 161 44 Mais uma lagoa de decantação do rio Cambunas ................................ 162 45 A proximidade entre as casas na encosta e a lagoa de decantação ..... 162 46 As casas na encosta e a lagoa no vale do rio Cambunas ..................... 163 47 Uma das lagoas do sistema Cambunas se encontra desativada .......... 163 48 No médio curso do rio o que sobrou do Aterro de Canabrava .............. 164 49 Lagoa de decantação de Jaguaribe II, ao lado co curso do rio ............. 165 50 No médio curso a lagoa de Mata Atlântica desativada e seca .............. 165 51 Verde previsto para 2015 no zoneamento proposto pelo PDDU ........... 166 52 Localização da av. 29 de março e do Projeto Tecnovia ........................ 168 53 Impacto de Alphaville I visto por satélite e imagem aérea ..................... 169 54 2005: cobertura vegetal menor que área usada para outros fins .......... 170 55 Mata Atlântica sofrerá grande impacto com projetos previstos ............. 171 56 Ilustração utilizada na apresentação do Projeto Tecnovia .................... 172 57 Condomínios são implantados na planície de Inundação do rio ........... 173 58 A ocupação “irregular” do Bairro da Paz e a “regular” de classe A ....... 174 LISTA DE QUADROS 1 Autores e conceitos usados no sensoriamento remoto ......................... 63 2 Imagens obtidas com os satélites Landsat ............................................ 65 3 Principais usos que as bandas do satélite Landsat permitem ............... 65 4 Imagens obtidas com o satélite Cbers 2 ................................................ 66 5 Banco de Dados sobre a Bacia do rio Jaguaribe .................................. 69 6 Base usada para georreferenciar as imagens de satélite ...................... 70 7 Rol das Áreas de Ponderação selecionadas ......................................... 77 8 Pessoas de ambos os sexos residentes na bacia ................................. 104 9 Rol de pessoas residentes na bacia ...................................................... 105 10 População residente nas áreas de ponderação .................................... 107 11 Áreas de ponderação selecionadas para a análise ............................... 109 12 Domicílios particulares independente da condição de ocupação .......... 111 13 Densidade de moradores por cômodo .................................................. 113 14 Configuração dos bairros por desvio padrão ......................................... 138 LISTA DE GRÁFICOS 1 Diagrama de dispersão e reta de previsão de correlação ..................... 83 2 População residente .............................................................................. 108 3 Pessoas de ambos os sexos residentes em domicílios particulares ..... 110 4 Domicílios permanentes próprios, alugados e/ou cedidos .................... 112 5 Renda média per capita ........................................................................ 115 6 Renda média domiciliar ......................................................................... 116 7 Renda mediana per capita .................................................................... 117 8 Renda mediana domiciliar ..................................................................... 119 9 População sem instrução ...................................................................... 120 10 População com 15 anos ou mais de estudo .......................................... 122 11 População que se declara parda ........................................................... 124 12 População que se declara de cor preta ................................................. 125 13 Soma dos que se declaram pretos e pardos ......................................... 127 14 População que se declara de cor branca .............................................. 130 LISTA DE TABELAS 1 Equivalência de numeração das áreas de ponderação ......................... 76 2 População residente nas áreas de ponderação .................................... 78 3 Porcentagem de residentes por área em relação à população total da bacia ...................................................................................................... 80 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APs Áreas de Ponderação CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior CBERS China Brazil Earth Resources Satellite CCD Charge Coupled Device CONDER Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais MDT Modelo Digital do Terreno MSS Multispectral Scanner Subsystem PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano PDI Processamento Digital de Imagens PMS Prefeitura Municipal de Salvador RGB Cores Red, Green, Blue SEPLAM Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente de Salvador – Ba SEI Superintendência de Estudos Econômicos do Estado da Bahia SESC Serviço Social do Comércio SeRe Sensoriamento Remoto SHP Formato “shape” do ArcMap SIG Sistema de Informações Geográficas SPOT Systeme Proboitoire de Observation de la Terre SMA Superintendência do Meio Ambiente da SEPLAM SRTM Shuttle Radar Topographic Mission ZI Zona de informação SUMÁRIO 1 1.1 1.2 1.3 1.3.1 1.3.2 1.4 INTRODUÇÃO ................................................................................. JUSTIFICATIVA ............................................................................... PROBLEMA ..................................................................................... OBJETIVOS ..................................................................................... Objetivo Geral ................................................................................. Objetivos Específicos .................................................................... CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO ................................. 15 17 19 20 20 20 21 2 2.1 2.1.1 2.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................... OS ESPAÇOS URBANOS COMO CATIVEIROS ............................ Uma questão histórica ................................................................... METODOLOGIA ............................................................................... 34 44 50 63 3 3.1 3.1.1 3.1.2 O ESPAÇO VISTO DO ESPAÇO .................................................... AS VARIÁVEIS NATURAIS E SOCIAIS ........................................... As variáveis naturais - O sensoriamento remoto ........................ As variáveis sociais – O Censo Demográfico .............................. 89 89 90 102 4 4.1 4.1.1 4.2 4.2.1 4.3 4.3.1 ANÁLISE GEOSSISTÊMICA ........................................................... AS UNIDADES INTERNAS DO GEOSSISTEMA ............................. O alto, o médio e o baixo curso .................................................... O SALTO QUALITATIVO ................................................................. Quando a quantidade vira qualidade ............................................ RECURSOS, USOS E PROBLEMAS .............................................. As lagoas de decantação de esgotos ........................................... 131 131 131 1249 150 152 153 5 ATUAIS E FUTURAS INTERVENÇÕES ......................................... 166 6 6.1 6.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. RECOMENDAÇÕES ........................................................................ 176 176 179 REFERÊNCIAS ................................................................................ 181 ANEXO ............................................................................................ 187 15 CAPÍTULO 1 1 INTRODUÇÃO A expressão ‘lógica hegemônica’ pode ser considerada controversa quando se refere ao espaço geográfico, mas seu uso tem se tornado cada vez mais freqüente em trabalhos recentes de Geografia, em decorrência do fato de que as características do chamado ‘modo de produção capitalista’ se tornam bastante evidentes quando são espacializadas. Nos estudos sobre o espaço urbano, ao se falar em ‘lógica hegemônica’, está se falando, como sugere Harvey (2005), da dependência que a vida cotidiana tem de mercadorias produzidas mediante o sistema de circulação do capital, que tem a busca do lucro como seu objetivo direto e socialmente aceito. A lógica hegemônica, portanto, é a lógica do lucro obtido através da moeda usada para adquirir mercadorias, sejam estas mercadorias a força de trabalho e meios de produção, ou qualquer tipo de matéria, inclusive o espaço propriamente dito, ou as matérias utilizadas para o acesso à formação escolar, ainda que neste último caso o apelo ao estímulo ao lucro ganhe contornos que procuram dissolvê-lo no caldeirão das chamadas infra-estruturas sociais. Estas, ainda segundo Harvey (2005), apenas sustentam a circulação do capital. Sustentam a obtenção do lucro. Sustentam a lógica hegemônica. Nessa ótica, a utilização da expressão ‘produção do espaço’ implica em falar no que Castells (2000), afirma ser algo denominado pelos sociólogos como ‘cultura urbana’, um sistema de valores, atitudes e comportamentos, bem como da concentração espacial de uma população, a partir de certos limites de dimensão e 16 densidade. Produção aqui entendida como uma atividade humana destinada em primeiro lugar à assegurar a própria sobrevivência. Trata-se, portanto, como prefere definir Castells (2000), da produção social das formas espaciais caracterizada por relações de dependência, que são relações hegemônicas. Ao se fazer referência aos limites de dimensão e densidade da concentração espacial a intenção é se reportar à necessidade de adoção de uma ‘escala’. Que fique claro que se está utilizando a palavra “escala” tanto no sentido que ela é empregada por Santos (2002), como área de ocorrência que é dada pela extensão dos eventos, ou seja, uma escala que varia com o tempo mas, também, no sentido das variáveis envolvidas na produção do evento, as chamadas forças operantes. Para Whitehead (The Concept of Nature, 1920, 1971, p.34), “a passagem dos eventos e a extensão de uns eventos sobre os outros são as qualidades de que se originam, como abstrações, o tempo e o espaço” e “a teoria reclama que sejamos conscientes dessas duas relações fundamentais, a ordem temporal dos instantes e a relação entre os instantes do tempo e os estados da natureza que acontecem nesses instantes” (SANTOS, 2002, p. 155). Whitehead, ainda segundo Santos (2002), esclarece a função de relação que o evento assume quando opera a fusão de ocasiões atuais que se inter-relacionam numa determinada maneira e numa determinada extensão, possibilitando que se fundam as noções de escala do acontecer e de escala geográfica. É possível admitir que cada combinação de eventos ao mesmo tempo cria um fenômeno unitário, unitariamente dotado de extensão e se impõe sobre uma área, necessária à sua ação solidária. Vem daí o papel central que a noção de evento pode representar na contribuição da geografia à formulação de uma teoria social. É através do evento que podemos rever a constituição atual de cada lugar e a evolução conjunta dos diversos, (SIC) lugares, um resultado da mudança paralela da sociedade e do espaço (SANTOS, 2002, p.155). 17 É nesse sentido que este trabalho adotou a escala de uma bacia hidrográfica urbana, a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, Salvador, Bahia, como um evento atual, absoluto, individualizado e finito, em processo de inter-relação com outros eventos, alguns de origem social, e criou com todos eles uma continuidade do mundo vivente e em movimento (Leslie Paul, 1961, apud Santos, 2002). O próprio Santos (2002), chama esse fenômeno de continuidade temporal e coerência espacial, ao afirmar que “é assim que as situações geográficas se criam e se recriam”, ou seja, no caso deste estudo, é assim que o espaço dessa bacia hidrográfica é produzido e reproduzido. Uma questão importante a ser destacada diz respeito à localização dessa bacia hidrográfica em Salvador, hoje uma metrópole global. Salvador é uma cidademetrópole perfeitamente enquadrada no modo de produção neoliberal que caracteriza a atual fase da globalização, o que causa reflexos na produção e reprodução do espaço urbano, e que se refletem, por sua vez, nos rios que cortam a cidade. 1.1 JUSTIFICATIVA Os rios de Salvador passaram a apresentar, ao longo do século XX, sinais de degradação, característica de um modo de produção e de uma forma de se relacionar da sociedade com o ambiente, o que justifica plenamente a realização desta pesquisa com o enfoque que ela propõe. 18 A existência de uma Dissertação de Mestrado sobre a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, defendida no ano de 1998, cuja pesquisa envolveu dados de há quase dez anos, portanto, escrita por Abreu (1998), foi uma referência obrigatória e um facilitador do trabalho. Tal dissertação apresenta uma completa caracterização física da área em estudo naquele momento, final do século XX, e traz alguns dados. Faz a análise de alguns aspectos sociais da área e utiliza como base a divisão da cidade em Regiões Administrativas, adotada pela Prefeitura Municipal de Salvador, além de dados relativos aos Distritos Sanitários e Zonas de Informação, ZI. A atualização do estudo anteriormente realizado sobre a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe é bastante relevante do ponto de vista acadêmico, uma vez que se trata de uma bacia totalmente localizada no perímetro urbano e a cidade do Salvador mudou muito nos últimos dez anos. A área onde está localizada a bacia hidrográfica em questão se tornou um dos principais vetores de crescimento da cidade, com forte impacto sobre a cobertura vegetal, entre outros aspectos, que caracterizam a ação humana na produção e reprodução do espaço. Além disso, a possibilidade de se utilizar hoje a ferramenta do sensoriamento remoto (SeRe), no monitoramento da área em estudo, com imagens de diferentes satélites, que não eram tão acessíveis há dez anos, se tornou um elemento importante na construção deste trabalho. As imagens de satélites têm se tornado um elemento importante nas pesquisas atuais sobre o espaço urbano, pelas inúmeras possibilidades que disponibilizam para o pesquisador. 19 Some-se a esse fato uma outra referência, ainda mais importante no que diz respeito ao estudo das populações, o recurso aos dados estatísticos do Censo 2000, realizado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, que não estavam disponíveis quando o trabalho de Abreu (1998) foi concluído. Esses dados estatísticos se mostraram fundamentais na estruturação da interpretação que se realizou. 1.2 PROBLEMA Uma bacia hidrográfica totalmente localizada em uma área urbana coloca em evidência as relações que se estabelecem dentro dela e à sua volta, mas não se tratam apenas de relações homem/natureza, nem de relações homem/homem. Porque o “funcionamento” de uma bacia hidrográfica, numa determinada área de uma cidade, explicita que não pode haver polarização entre homem/natureza porque ambos vivem uma permanente relação de in put e out put e o desequilíbrio de um implica, inevitavelmente, no desequilíbrio do outro, devendo esse relacionamento caminhar na direção de uma simbiose. A produção do espaço na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe pode ser caracterizada até o final dos anos 80 do século passado como tendo uma característica de dispersão, que fica bastante evidenciada nas imagens de satélite da época. A partir do final do século XX e no início do XXI, vê-se, também, nas imagens de satélite, que essa produção do espaço passa a ter uma forte característica de concentração, com grande impacto sobre a cobertura vegetal a partir do uso e ocupação do solo urbano. 20 O problema que este trabalho pesquisou diz respeito à compreensão desse processo histórico, onde se evidenciam mudanças na relação entre a sociedade e a natureza, ou seja, na relação de produção e reprodução do espaço. 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral • Problematizar, do ponto de vista da Geografia como ciência, aspectos relativos ao processo de segregação socioeconômica espacial, característico da lógica hegemônica da produção do espaço, no contexto de uma bacia hidrográfica localizada em uma cidade global. 1.3.2 Objetivos específicos • Analisar variáveis sobre a população residente na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, tais como, número de residentes; concentração de domicílios; moradores por domicílio; renda média e mediana per capita e domiciliar e grau de instrução. • Definir as variáveis que permitam caracterizar a ocorrência de segregação socioeconômica espacial na área em estudo. • Mensurar a relação de correlação possível entre as variáveis “ser alfabetizado” (independente) e “ser economicamente ativo” (dependente), como indicadoras de segregação socioeconômica espacial através da análise de seus resíduos. 21 • Projetar no espaço em estudo aspectos relativos à segregação socioeconômica espacial da população que habita a área. • Questionar a relação entre os projetos previstos para serem implantados na área e a sua gestão sócio-ambiental. 1.4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO Definida como zona rural de Salvador até o século XIX, a área onde está localizada a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe foi se urbanizando a partir da transformação em avenidas de antigas estradas que saiam do perímetro urbano em direção à então zona rural. Um exemplo é a estrada que ligava o bairro de Amaralina à Itapuã, pela orla marítima (até o início do século XX), ou a estrada que ligava a BR-324 à Base Aérea de Ipitanga, hoje Aeroporto Internacional de Salvador, conhecida como Estrada Velha do Aeroporto. Essa transformação da zona rural de Salvador em urbana se acentuou posteriormente com a abertura da Avenida Paralela, nos anos 1970, culminando com a completa extinção da zona rural de Salvador, no final do século XX. Ainda se encontrou no trabalho de campo – em abril de 2005 remanescentes de antigas fazendas de criação de gado próximos à orla marítima de Piatã, como se vê na figura 1, nas margens do rio Jaguaribe, no trecho próximo à Avenida Orlando Gomes. 22 Figura 1. Remanescentes da pecuária de gado leiteiro nas margens do rio Jaguaribe, Salvador – BA. (Foto: CAETANO, Carlos Alberto 2005). A dificuldade em definir os limites entre o rural e o urbano no caso da expansão das cidades, no Brasil, é um fenômeno recente, porque as cidades foram inchando e transformando fazendas em loteamentos, com conseqüências inevitáveis sobre o uso do solo, o espaço e o meio ambiente. Mas, não se pode esquecer de que também os moradores dessas fazendas, assim como os imigrantes das zonas rurais de outras cidades, foram sendo incorporados nessa expansão urbana que foi, assim, criando e expandindo suas periferias. O fascínio que os grandes centros urbanos exercem sobre as populações de cidades menores e mesmo sobre a população rural, do ponto de vista da cidade como centro de atividades e inovações, explica em grande parte o inchaço que as cidades brasileiras sofreram na segunda metade do século XX, fato que também aconteceu em Salvador, com grande impacto da expansão urbana sobre o meio natural. 23 Este trabalho considerou três vias de circulação como as referências que caracterizam a área em estudo, em termos de circulação de pessoas e veículos: a Br-324, estrada federal que liga Salvador a Feira de Santana; a Avenida Paralela, que liga o eixo Shopping Iguatemi/Rodoviária ao Aeroporto Internacional de Salvador e a Estrada Velha do Aeroporto, que corta transversalmente a área da bacia. Abreu (1998), descreve a Geologia da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe como apresentando três unidades diferenciadas cronologicamente: o embasamento cristalino pré-cambriano, a Formação Barreiras e os depósitos quaternários. Segundo esse autor, o embasamento cristalino pode ser observado associado às outras duas unidades ou, de forma menos representativa, exposto em superfície, no alto e médio curso do rio. A Formação Barreiras é o aspecto mais visível que aparece nos topos planos do alto e médio curso, sendo pouco representativa no baixo curso. Apresenta um modelado de espigões alongados e morros convexos e ocupa cotas entre 100 e 40m. Foi observado em campo, de forma generalizada, um conglomerado basal ou “alinhamento de pedras”, que separa esta unidade do manto alterado precambriano subjacente [...] em que a espessura dos sedimentos Barreiras decresce, acompanhando o declínio topográfico em direção à planície costeira (ABREU, 1998, f.30). Além dessas unidades, segundo Abreu (1998), os depósitos quaternários encontrados na área da bacia em estudo são formados por terraços marinhos, cordões arenosos, praias atuais e depósitos flúvio-marinhos de manguezais, sempre no baixo curso. O autor registra ainda a ocorrência de arenitos de praia de forma mais representativa na região de Piatã. 24 Em relação aos principais tipos de solos encontrados, Abreu (1998), descreve os Latossolos amarelos; os Podzólicos Vermelho-Amarelos; os Podzóis e Areias Quartzosas. Destaca ainda características particulares dos Podzóis, das Areias Quartzosas, dos solos Hidromórficos Indiferenciados, das Areias Quartzosas Marinhas e dos “Solos/Sedimentos de Manguezais”1. Todos esses aspectos relativos à formação geológica da área em estudo foram bastante desenvolvidos por Abreu (1998), que apresenta também a evolução geomorfológica do sítio de Salvador e análise geomorfológica da área em estudo, traçando um perfil esquemático entre a nascente e a foz. No trabalho de laboratório com imagens de satélite na construção desta Dissertação foi possível observar o que pode ser uma lacuna no trabalho supra citado, em relação à existência de duas falhas geológicas na área da bacia: uma no médio curso e outra no baixo curso, fato que será melhor desenvolvido em outro capítulo, inclusive como sugestão para aprofundamento da pesquisa na área da Geologia. Abreu (1998), divide o curso do rio em três segmentos: o alto curso, das nascentes até a confluência dos rios Cambunas e Águas Claras; o médio curso, que se inicia após essa confluência e se estende até o cruzamento com a Avenida Paralela, e o baixo curso, que se prolonga desde o cruzamento com a avenida Paralela até a foz no Oceano Atlântico. Essa divisão é inquestionavelmente correta e foi adotada nesta pesquisa. Em praticamente toda a extensão da bacia, originalmente, eram encontradas extensas áreas remanescentes da floresta ombrófila em diferentes estágios, caracterizando um ambiente típico de Mata Atlântica que recobria e estabilizava o 1 Com relação a essa terminologia é importante que se destaque que os processos evolutivos relacionados a esses termos têm conduzido a uma nova nomenclatura, ainda em discussão, onde mais apropriadamente deve ser utilizado “solos/sedimentos de manguezais” (QUEIROZ, 2007, informação verbal). 25 solo. Esta mata constituída por diferentes espécies arbóreas, sempre verde e apresentando grande diversidade biológica, foi bastante reduzida com a ocupação da área, consolidada no final da primeira metade do século XX, de forma bastante acentuada a partir dos anos 1970, com a abertura da Avenida Paralela. Abreu (1998) refere-se, ainda, à existência de formações de vegetação pioneira, como as de restinga, na planície costeira; a vegetação higrófila e hidrófila, respectivamente ao redor de áreas úmidas e na superfície d’água e a vegetação de manguezal. Salvador possui uma característica especial do ponto de vista administrativo: a cidade é dividida em Regiões Administrativas. O fato de a cidade não possuir uma divisão em bairros faz com que cada pesquisador adote a divisão que lhe parece mais adequada ao seu projeto. No caso deste trabalho foi adotada a divisão em Áreas de Ponderação, feita pelo IBGE a partir do Censo 2000, e se questionou a divisão em Bacias Hidrográficas feita pela Prefeitura através da SEPLAM (PDDU/2004), que apresenta o rio Passa Vaca como o último afluente do rio Jaguaribe, constituindo-se, portanto, numa sub-bacia do mesmo, do ponto de vista oficial. Este trabalho considerou como último afluente do rio Jaguaribe o rio Trobogy, tributário do mesmo na altura do SESC, em Piatã. O rio Passa Vaca foi definido como uma pequena bacia, porém totalmente independente do rio Jaguaribe, como se vê na figura 2. 26 Figura 2. As principais bacias hidrográficas de Salvador. (FONTE: PMS/SEPLAM/PDDU/2004). Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 27 É importante fazer a ressalva que algumas cartas apresentadas nesta pesquisa, por fazerem parte de trabalhos de outros pesquisadores, como é o caso de Brito (2005), ou por terem sido construídas anteriormente a esta constatação com material indisponível para um reordenamento atualizado, estão apresentadas com a definição de área da bacia que está sendo questionada, ou seja, com a definição oficial feita pela PMS. No desenvolvimento deste trabalho foram encontradas informações que permitiram adotar, sem qualquer receio, esta nova definição da área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, diferente da oficial utilizada pela PMS através da SEPLAM. Esta nova definição ocorreu a partir de trabalhos de campo e de laboratório, com a utilização de imagens de satélite através do processo de sensoriamento remoto (SeRe), e apresenta uma modificação na configuração das bacias hidrográficas de Salvador, sendo portanto uma contribuição desta dissertação para uma nova compreensão sobre como funcionam os processos hidrológicos na orla Leste da cidade. É possível perceber na imagem de satélite da figura 3, que o rio Passa Vaca constitui uma bacia hidrográfica totalmente independente do rio Jaguaribe. Uma bacia que tem um relevo próprio, um sistema hidrológico próprio e que, em momento algum, se comunica com o rio Jaguaribe, a não ser quando se encontram já na praia, ao chegarem juntos ao Oceano Atlântico. 28 Figura 3. Imagem do satélite SPOT 4, com resolução espacial de 10m, mostrando a “independência” da bacia do rio Passa Vaca – Litoral de Salvador – Bahia. Fonte: SPOT 4 / INPE Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). A imagem do satélite SRTM da figura 4, utilizada para construir o mapa de altimetria a partir do Modelo Digital do Terreno (MDT), explicita que as duas bacias não se comunicam, a não ser no estuário, já na praia. É importante esclarecer que a descoberta e formulação da nova proposta de área da bacia foi resultado dos trabalhos do curso “Gestão Ambiental de Áreas Degradadas”, ministrado como requisito para uma bolsa CAPES do Programa PROCES, sob a coordenação do Prof. Dr. Antonio Puentes Torres, Orientador desta pesquisa. A bolsa foi obtida através do Programa de Pós-Graduação ao qual a dissertação está vinculada. 29 Figura 4. O Modelo Digital do Terreno, a partir de imagem do satélite SRTM, mostra o rio Trobogy como último afluente do rio Jaguaribe. Fonte: SRTM / INPE Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). Utilizando-se as curvas de nível do trabalho de Brito (2005), também é possível perceber que trata-se de um equívoco considerar o rio Passa Vaca como um afluente do rio Jaguaribe. O rio Passa Vaca, como se vê na figura 5, passa sob a chamada Terceira Ponte, da avenida Otávio Mangabeira, após formar o manguezal do rio Passa Vaca, e já na planície oceânica, se encontra com o Jaguaribe, que corre entre as duas pistas da avenida Otávio Mangabeira. 30 Figura 5. Imagem do satélite Quick Bird mostrando o encontro dos rios Jaguaribe e Passa Vaca na planície costeira, Orla Marítima de Salvador-Bahia. Fonte: Quick Bird/2005 Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). É um caso típico de rios que deságuam no mesmo trecho do oceano, sem que, contudo, estabeleçam qualquer relação de “pertencimento” um ao outro. As curvas de nível usadas para construir o detalhe do MDT do estuário não deixam qualquer dúvida a este respeito, como se pode ver pela figura 6. 31 Figura 6 - Detalhe do MDT com curvas de nível de 5 m comprova a separação entre as bacias do rio Jaguaribe e do rio Passa Vaca. Fonte: BRITO (2005) Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). A presente pesquisa foi desenvolvida em seis capítulos, com um total de 220 folhas, tendo como uma de suas preocupações o fato de que, neste começo de século XXI, o grande desafio da ciência, ou das ciências, é buscar o caminho do conhecimento complexo através da interdisciplinaridade. A Geografia tem, ao mesmo tempo, a facilidade de trilhar o caminho interdisciplinar e a dificuldade de abandonar antigas convicções ou vícios cartesianos. O desafio, portanto, foi organizar a pesquisa envolvendo em condições de igualdade – ou não seria interdisciplinar – os conhecimentos de Geografia, Geologia, Estatística, Sensoriamento Remoto, Sociologia, entre outros, utilizando o espaço como plataforma transversal onde sociedade e natureza se mutualizam. No primeiro capítulo são apresentadas a justificativa, o problema de pesquisa e seus objetivos, além da caracterização da área em estudo, onde se coloca o 32 primeiro diferencial desta pesquisa: ela não é porta voz da oficialidade, e questiona a definição oficial de área da bacia hidrográfica em estudo adotada pela PMS. No segundo capítulo são apresentadas as referências teóricas que serviram de embasamento para a interpretação. É bom que se esclareça que este trabalho não se propôs a construir uma verdade, mas uma Interpretação da realidade. Interpretação esta que não é definitiva nem a única possível. Foi utilizado o paradigma dos Geossistemas, com base nos ensinamentos de Bertand (1978), Sotchava (1979) e Monteiro (2001), recorrendo também ao materialismo histórico dialético, melhor seria dizer materialismo histórico geográfico dialético, como método de abordagem, tendo como principal referência autoral Harvey (2005). Houve uma busca incessante de construir a interpretação a partir do estabelecimento de uma tese, uma antítese e uma síntese. No terceiro capítulo foram estabelecidas as variáveis naturais e sociais que orientaram a pesquisa. As variáveis naturais foram construídas a partir da utilização do sensoriamento remoto, com imagens de diversos satélites, recorrendo-se, assim à uma série histórica de 24 anos, entre 1981 e 2005, período no qual a bacia hidrográfica em estudo sofreu modificações substanciais, com a supressão de praticamente metade da sua cobertura vegetal. As variáveis sociais tiveram como base o Censo Demográfico de 2000. Trazem algumas revelações escondidas nas entrelinhas dos números e que puderam ser reveladas graças à utilização da quantificação, da análise de dados estatísticos com cálculos de regressão linear e correlação, em busca de identificar as áreas onde ocorre maior segregação socioeconômica espacial na bacia pesquisada. 33 Destaque-se aqui que a segregação, a face mais cruel da lógica hegemônica da obtenção de lucros a qualquer custo, não tem um único perfil e pode ser identificada a partir dos mais diversificados olhares. A pesquisa escolheu um caminho e percorreu-o: a correlação entre ser alfabetizado e ser economicamente ativo, e projetou o resultado dessa interpretação no espaço geográfico. No quarto capítulo foi feita a análise geossistêmica propriamente dita, sem que o paradigma do geossistema se tornasse uma prisão, uma referência que engessasse a interpretação. Foram definidos como geofácies o alto, o médio e o baixo curso do rio e, cada um desses geofácies recebeu outra divisão, esta de caráter socioeconômico, as áreas de ponderação usadas pelo IBGE no Censo 2000, com dados obtidos através da SEI-BA, disponíveis no Anexo A. Ainda no quarto capítulo ocorreu o grande momento da pesquisa que utiliza o materialismo dialético como método de abordagem, que é o salto qualitativo, quando os dados obtidos com a quantificação se transformaram em qualidade, atendendo a uma das leis da dialética de Marx (1986) e Engels (1991). Foram analisadas as lagoas de decantação de esgoto existentes na área em estudo, sob gestão da Embasa, um foco de problemas socioambientais. O quinto capítulo traz a análise de alguns projetos em implantação ou previstos para serem implantados na área em estudo. Dois desses projetos mereceram uma análise mais detalhada: a proposta da Tecnovia e o projeto da Av. 29 de março, que já se encontrava em fase de execução. Finalmente, o sexto capítulo apresenta algumas conclusões e indicações, sempre tendo em vista que o objetivo da ciência interdisciplinar é construir uma visão critica da realidade. 34 CAPITULO 2 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para problematizar a produção e reprodução do espaço em estudo adotou-se como ponto de partida um debate sobre o conceito de totalidade. Para esse fim foram colocadas algumas perguntas: afinal, o que é totalidade? O objeto de estudo deste trabalho é uma totalidade? Em que nível? Ou ele faz parte de uma totalidade? A forma atual da economia mundial está baseada nas redes globais. Uma vertente – qualquer que seja –, da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, ou de qualquer outro rio, em qualquer lugar do planeta, está “integrada”, portanto, a um sistema socioeconômico global. Esse sistema que desmaterializou o dinheiro transformando-o em “moeda virtual” que corre o mundo em fração de segundos, chama-se globalização. Ela é uma totalidade e há autores que preferem denominá-la de mundialização, discussão que não cabe neste trabalho. A noção de totalidade se impôs ao longo dos tempos como um fato histórico. A totalidade está sempre em movimento, num incessante processo de totalização, nos diz Sartre. Assim, toda totalidade é incompleta, porque está sempre buscando totalizar-se. Não é isso mesmo o que vemos na cidade no campo ou em qualquer outro recorte geográfico? Tal evolução retrata o movimento permanente que interessa à análise geográfica: a totalização já perfeita, representada pela paisagem e pela configuração territorial e a totalização que se está fazendo, significada pelo que chamamos de espaço (SANTOS, 2002, p. 119). Não se pode separar a idéia de totalidade da idéia de poder, aqui compreendido com o sentido que Santos (2002), o emprega, atribuíndo-o a Taylor & Thrift, a capacidade de uma organização para controlar os recursos necessários ao funcionamento de uma outra organização. 35 Assim, é importante compreender que a totalidade, no caso deste estudo, como propõe Santos (2002), deverá ser vista no que pode ser chamado de seu terceiro nível, ou terceira totalidade, o nível do lugar, considerando o mundo como primeira totalidade; o território, o país, o Estado, como segunda. O lugar é a terceira totalidade, onde fragmentos da rede ganham uma dimensão única e socialmente concreta, graças à ocorrência, na contigüidade, de fenômenos sociais agregados, baseados num acontecimento solidário, que é fruto da diversidade e num ocorrer repetitivo, que não exclui a surpresa (SANTOS, 2002, p.270). Ao se utilizar a palavra lugar, é importante rever o que Harvey (2004), propõe como sendo as principais qualidades de um lugar. Para o autor citado, as qualidades do lugar (o que, segundo ele, se poderia chamar de “em-localização” [placefulness]) são importantes, e envolvem a evocação da, e a atenção meticulosa à, forma espacial entendida como continente de processos sociais (grifo do autor) e expressão de alguma ordem moral. O autor supracitado fala ainda sobre a questão da produção de escalas espaciais ao comentar sobre os lares, as nações, os continentes e a vida planetária. Os seres humanos costumam produzir uma hierarquia acomodada de escalas espaciais com que organizar suas atividades e compreender seu mundo. Lares, comunidades e nações são exemplos óbvios de formas organizacionais contemporâneas existentes em diferentes escalas. Intuímos de imediato no mundo de hoje que o caráter das coisas se afigura distinto quando analisado na escala global, continental, nacional, regional, local ou do lar/pessoal. O que parece relevante ou faz sentido numa dessas escalas não se manifesta automaticamente em outra (HARVEY, 2004, p.108). Santos (2002), define os lugares como espaços do acontecer solidário. Exatamente como Harvey (2004), propõe, ao afirmar que o espaço contém o processo social. O espaço, portanto, contém a sociedade e a natureza, ele é resultado da ação do homem. Santos (2002), faz questão de frisar que o espaço não depende exclusivamente da estrutura econômica, mas que os movimentos da sociedade 36 atribuindo novas funções às formas geográficas, transformam a organização do espaço, criam novas situações de equilíbrio e ao mesmo tempo novos pontos de partida para um novo movimento. Por adquirirem uma vida, sempre renovada pelo movimento social, as formas – tornadas assim formas-conteúdo – podem participar de uma dialética com a própria sociedade e assim fazer parte da própria evolução do espaço (SANTOS, 2002, p. 106). Para o autor, não é correto se subordinar o espaço à dimensão econômica, uma vez que a questão a colocar é a da própria natureza do espaço. Quando se pretende subordinar o espacial ao econômico, a primeira pergunta que acode é a seguinte: pode a economia funcionar sem uma base geográfica? A resposta naturalmente é não, mesmo se a a palavra geográfico é tomada na sua acepção mais equivocada, como um sinônimo de condição natural (SANTOS, 2002, p. 182). Assim o espaço para Santos (2002) deve ser visto, por um lado, como resultado material acumulado das ações humanas e, de outro, pelas ações atuais que hoje lhe atribuem dinamismo e uma funcionalidade. Neste sentido, ao analisar a produção de um determinado espaço, não se deve negligenciar o contexto dessa produção, que ocorre num sistema capitalista, numa economia global. Ao analisar como as forças produtivas do capitalismo operam em nível da produção do espaço Harvey (2005), assegura que no campo do espaço, o impulso para revolucionar as forças produtivas é tão grande quanto em qualquer outro. O capitalismo se esforça para criar uma paisagem social e física da sua própria imagem, e requisito para as suas próprias necessidades em um instante específico do tempo, apenas para solapar, despedaçar e inclusive destruir essa paisagem num instante posterior do tempo. As contradições internas do capitalismo se expressam mediante a formação e reformação incessantes das paisagens geográficas. Essa é a música pela qual a geografia histórica do capitalismo deve dançar sem cessar (HARVEY, 2005, p. 150). 37 Totalmente localizada no perímetro urbano, em área definida como de expansão urbana, a bacia hidrográfica em estudo tem na sua cobertura vegetal o foco principal da contradição expressa por Harvey (2004),entre a formação e a reformação da relação entre a sociedade e a natureza na produção e reprodução desse espaço. Também é na supressão da cobertura vegetal onde se manifesta, de forma mais explícita, a lógica da obtenção de lucros com a expansão urbana. Por isto, a cobertura vegetal foi escolhida para “retratar” a problematização proposta. Ao escolher a cobertura vegetal da área da bacia hidrográfica como principal “retrato” para análise e interpretação, se levou em conta que ela expressa uma síntese das interfaces do tripé proposto por Bertrand (1971): potencial ecológico; exploração biológica e ação antrópica. Monteiro (2001, p.30), comenta sobre a proposta de Bertrand, explicando que se trata de uma noção compósita, integrada ao geossistema, assegurando que ela é aceitável, embora o tríptico potencial ecológico, explotação biológica e ação antrópica, além de pouco esclarecer a conjunção, não difere muito daquele outro de abiótico, biótico e antrópico. O autor fala, ainda, sobre a origem da palavra geossistema, conforme posição assumida por Bertrand em artigo publicado em 1978. Seria esclarecido ali, segundo Monteiro (2001, p.47), que Sotchava, ao usar o termo “geossistema” em obra publicada em 1960, merece a palma de “pioneiro”. As diferenças entre as posturas de Bertrand e Sotchava, ainda segundo Monteiro (2001), começam pelo fato de Bertrand ter procurado amarrar a sua tipologia às ordens taxonômicas do “relevo”, e continuam com a iniciativa de Sotchava, que vai se ligar às formações biogeográficas. 38 Portanto, para a Geografia, o geossistema funciona como uma idéia unificadora da Geografia Física com a Geografia Humana e, mais que isso, para Monteiro (2001, p.50), caracteriza a busca por uma Geografia mais integrada e conjuntiva. Essa visão unificadora, para Monteiro (2001), se acentua quando o pesquisador busca construir uma modelização, apontando como requisito básico para a modelização dos geossistemas a montagem de um sistema singular e complexo, onde os elementos socioeconômicos não sejam vistos como um outro sistema, mas incluídos no próprio sistema. A observação de Monteiro (2001, ps. 53, 54), foi importante na construção da análise feita nesta pesquisa no que diz respeito à busca por uma integração das análises quantitativas às análises qualitativas, como vai ser evidenciado nos próximos capítulos. Ao se problematizar no desenvolvimento deste trabalho sobre a definição dos limites do geossistema em estudo, no que diz respeito à proposta de redefinir os limites da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, levou-se em conta não apenas a definição das curvas de nível do relevo mas, como sugere Monteiro (2001), considerou-se que o geossistema é uma integração de vários elementos, não parece lógico que os seus limites sejam conduzidos por uma curva de nível (relevo), por uma isoieta (clima) pelo limite (borda) de uma formação vegetal, etc, etc. Embora considerando que estas variações ou atributos possam indicar ou sugerir, com maior peso, uma configuração espacial dos elementos do geossistema, desde que esse “emane” de uma integração, não é de esperar-se que isto seja uma regra (MONTEIRO, 2001, p.58). 39 Assim, o fato de não haver qualquer tipo de integração entre as bacias hidrográficas dos rios Passa Vaca e Jaguaribe, foi fundamental para que se optasse pela compreensão que a primeira não é uma sub-bacia da segunda, mas uma bacia que tem existência independente. Bertrand (1971), caracteriza o geossistema como “unidade dimensional compreendida entre alguns quilômetros quadrados e algumas centenas de quilômetros quadrados”. É nessa escala, explica ele, que se situa a maior parte dos fenômenos de interferência entre os elementos da paisagem e que evoluem as combinações dialéticas as mais interessantes para o geógrafo. O autor sentencia que o geossistema é uma boa escala para os estudos de organização do espaço, porque ele é compatível com a escala humana. A abordagem geossistêmica dos sistemas ambientais físicos revela, portanto, uma organização espacial complexa e individualizada, segundo os variados elementos componentes da natureza. De acordo com Sotchava (1977), os geossistemas possuem formações naturais que atuam na esfera terrestre de um sistema em que os valores sociais e econômicos estão vinculados ao geossistema em nível planetário. Por outro lado, a concepção de Bertrand (1971), apresenta o elemento antrópico mais vinculado aos geossistemas do que a definição de Sotchava. Segundo Bertrand (1971), o geossistema pode ainda ser considerado uma estrutura tripartite, uma superestrutura composta em sua infra-estrutura de geofácies e geótopos. 40 Na análise de Monteiro (2001), a abordagem do geossistema é um meio para o diagnóstico de um dado espaço, [...] é a base da qual se possa atingir uma avaliação econômica [...] e, assim, uma projeção mais adequada a uma razoável prognose. Na Geografia, uma das aplicações mais usuais do paradigma do geossistema ocorre, exatamente, no estudo das bacias hidrográficas. Quando se aplica tal paradigma ao estudo de uma bacia hidrográfica é importante levar em conta que, caracterizada como um geossistema, a bacia deve ter definidas suas unidades internas. No caso desta pesquisa optou-se por adotar os cursos do rio (alto, médio e baixo), como unidades internas do geossistema, assim definidos como geofácies. Os geofácies, segundo Bertrand (1971), correspondem a um setor fisionomicamente homogêneo onde se desenvolve uma mesma fase de evolução geral do geossistema. Diz o autor que em relação à superfície coberta, algumas centenas de metros quadrados em média, podendo-se distinguir para cada geofácies um potencial ecológico e uma exploração biológica. O geofácies representa assim uma pequena malha na cadeia das paisagens que se sucedem no tempo e no espaço no interior de um mesmo geossistema. Pode-se falar de cadeias progressivas e de cadeias regressivas de geofácies, como também de um “geofácies-climax”, que constitui um estágio final da evolução natural do geossistema. Na superfície de um geossistema, os geofácies desenham um mosaico mutante cuja estrutura e dinâmica traduzem fielmente os detalhes ecológicos e as pulsações de ordem biológica. O estudo dos geofácies deve sempre ser recolocado nessa perspectiva dinâmica (BERTRAND, 1971, p. 16). Recorreu-se ainda no desenvolvimento deste trabalho ao método de abordagem do materialismo dialético, particularmente ao que se convencionou chamar de novo marxismo, isto é, ao materialismo dialético de Marx (1986) e Engels 41 (1975) a partir numa visão atual, contemporânea e desengessada, tendo como referência a leitura de teóricos como Castels e David Harvey. Para Harvey (2004), Marx, que em muitos aspectos era filho do pensamento iluminista, buscou transformar o pensamento utópico – a luta para os seres humanos realizarem sua “natureza específica”, como ele dizia em suas primeiras obras – numa ciência materialista ao mostrar que a emancipação humana universal poderia emergir da lógica classista e evidentemente repressiva, embora contraditória, do desenvolvimento capitalista (HARVEY, 2004, p.24; 25). Um dos temas do debate atual sobre o uso do materialismo dialético como método de abordagem diz respeito às categorias e aos conceitos que podem ser considerados contextualizados numa interpretação marxista. Para o materialismo dialético, a história não é linear: tem conflitos, contradições, antagonismos. Kosik (1976), diz que a transformação da sociedade é produtora e produto da história e a história é produtora e produto da sociedade. Além disso, se pode afirmar que o objetivo do recurso ao materialismo dialético como método de abordagem neste trabalho, foi distinguir a aparência, enquanto forma de manifestação, da essência. Nesse sentido, do ponto de vista do materialismo dialético, as categorias de análise devem nascer não de um idealismo, mas da expressão teórica da práxis social: elas não precisam ser operacionais, mas têm que ser essenciais. Elas constituem a própria realidade e derivam desta realidade. Esta pesquisa adotou como única categoria de análise a formação econômico-social, que foi considerada aqui como uma totalidade. A preocupação inicial foi compreender a evolução da formação econômico-social da área em 42 estudo, ou seja, uma bacia hidrográfica urbana e sua “ocupação” pela sociedade. Uma sociedade que se estabelece historicamente como colonial e produz e reproduz o espaço em função da obtenção de rendas monopolistas. Para a lógica dialética, tudo se relaciona no real de forma diferenciada pela intensidade e qualidade. O real é visto em movimento onde operam contradições como forma de ser. Mas um ser que não se restringe à sua forma, no caso desta pesquisa, a forma de uma bacia hidrográfica. Esta aparência do fenômeno estudado possibilitou a compreensão da sua essência, do seu conteúdo e do seu movimento, que são sociais e históricos e, por serem sociais e históricos, são geográficos. O que se buscou foi desnudar a bacia hidrográfica em busca da compreensão, ao mesmo tempo, dos seus elementos mais universais e mais singulares, sempre levando em conta que a realidade não pode e não deve ser mutilada. Ela possui identidade própria e manifesta esta identidade no seu específico. Esse específico é, em si, um todo, um sistema, ou seja, nesse caso um geossistema. Uma totalidade. Uma terceira totalidade. A totalidade em nível do lugar. Definida a formação econômico-social como a categoria de análise a que se recorreu, os seus conteúdos, ou seja, os seus conceitos, foram definidos como sendo o espaço e o tempo, dois conceitos centrais para a Geografia. Espaço aqui entendido ao mesmo tempo como a natureza em si e como produção, apropriação e transformação da materialidade orgânica e inorgânica pelo homem, gerando uma materialidade social. Com base no fato de que o materialismo dialético como método só pode ser compreendido na sua prática, utilizou-se como ponto de partida a elaboração de uma série histórica sobre o objeto de estudo e, a partir dessa série histórica, foi 43 construída uma afirmação, uma posição claramente definida que, como pressupõe o método, “atraiu” a sua negação. A afirmação diz respeito à imagem que caracteriza o início da série histórica construída para a análise. Foi considerado que, nos anos 1980, ainda havia no objeto de estudo uma dispersão na sua produção e ocupação, e que essa dispersão se refletia claramente na cobertura vegetal existente, bastante evidenciada pela imagem do satélite Landsat utilizada, datada de 1981. Apesar de a abertura da Avenida Paralela, nos anos 1970, indicar um vetor de expansão urbana cortando a área da bacia hidrográfica, até o início dos anos 1980, essa expansão ainda estava rarefeita, ocorrendo de forma mais intensa fora da área da bacia, particularmente na região do Shopping Iguatemi. Essa afirmação (a dispersão), foi considerada uma tese e atraiu a sua negação, que é a concentração, que se tornou bastante visível na produção do espaço, analisada no final da série histórica, a partir das imagens do satélite CBERS de 2005. Essa concentração também é evidenciada pela supressão da cobertura vegetal. Assim, dispersão e concentração são consideradas neste trabalho como tese e antítese e vice-versa. 2.1 OS ESPAÇOS URBANOS COMO CATIVEIROS O verbo cativar, segundo Ferreira (1999), é originário do latim tardio, captivare, sendo ao mesmo tempo, transitivo direto e indireto. Como transitivo direto pode significar tornar cativo, capturar, ou querer dizer ganhar a simpatia, a estima, 44 seduzir. Como transitivo direto e indireto significa prender, ligar, sujeitar (física ou afetivamente). Assim, cativeiro é o substantivo (masculino) que define a qualidade, o caráter ou o estado de cativo, ao mesmo tempo em que identifica uma relação de escravidão, servidão, e no sentido figurado, quer dizer opressão, tirania, domínio. O adjetivo urbano, ainda segundo Ferreira (1999), também é uma palavra de origem latina, urbanu , mas trata-se de um adjetivo relativo à cidade, e que se refere a tudo que tem características de cidade. Para problematizar a partir das palavras cativeiro e urbano, se adotou inicialmente o conceito de cidade apresentado por Castells (2000). A cidade – considerada, ao mesmo tempo, como expressão complexa de sua organização social e como meio determinado por restrições técnicas bastante rígidas – torna-se, alternadamente, centro de criação e local de opressão pelas forças técnico-naturais suscitadas (CASTELLS, 2000, p. 138). O foco deste trabalho, ao abordar a lógica hegemônica, portanto, foi o de observar as relações de opressão e de dominação social estabelecidas em um recorte específico da cidade de Salvador, definido a partir da delimitação da área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Relações de opressão e de dominação estas que foram analisadas de um ponto de vista específico, como um aspecto da luta de classes projetada sobre o espaço urbano. Por isso se adotou como estratégia de desenvolvimento a compreensão dos processos sociais que estão contidos na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Ao longo do processo de construção desta pesquisa se questionou sobre “ser” ou “não ser” correto chamar de cativeiros urbanos os aglomerados localizados em algumas áreas da bacia, a exemplo daquele situado nas margens do rio Cambunas, um dos formadores do Jaguaribe, como se pode ver na figura 7. 45 Figura 7. Aglomerado urbano nas encostas do médio curso do rio Jaguaribe, Salvador – Bahia. (Foto: Luiz Henrique Souza, 2006). A resposta que se construiu foi sim, porque a expressão ‘cativeiros urbanos’ reporta-se à consideração (ou tratamento) da área de pesquisa como espaço de produção e reprodução da opressão do proletariado pelas forças do capitalismo internacional. Capitalismo que se encontra em seu atual estágio avançado, definido como o momento da globalização e de supremacia do capital financeiro, com o estabelecimento de uma sociedade pós-moderna, entendida como a conceitua Harvey (1992). Começo com o que parece ser o fato mais espantoso sobre o pósmodernismo: sua total aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico que formavam uma metade do conceito baudelairiano de modernidade. Mas o pós-modernismo responde a isso de uma maneira bem particular; ele não tenta transcendê-lo, opor-se a ele e sequer definir os elementos “eternos e imutáveis” que poderiam estar contidos nele. O pós-modernismo nada, e até se esponja, nas fragmentárias e caóticas correntes da mudança, como se isso fosse tudo o que existisse (HARVEY, 1992, p. 49). 46 Esse caráter fragmentário da sociedade globalizada atual tem um rebatimento nas cidades metrópoles como Salvador, onde o crescimento da população nos bairros mais pobres dá saltos geométricos enquanto a renda per capita diminui com o aumento do desemprego, uma das características dessa globalização. Segundo Ribeiro (2004. p. 22), as metrópoles brasileiras concentram hoje, portanto, a questão social nacional e expressam o aprofundamento do divórcio entre a sociedade, a economia e o Estado. Divórcio este que foi tratado nesta pesquisa como sinônimo de fragmentação. Ao analisar o descompasso entre o crescimento econômico, o crescimento urbano, o provimento de moradias e infra-estrutura básica, Carlos (2003), registra as condições de vida das populações pobres, condições que se repetem nas diversas metrópoles brasileiras, como Salvador. Como conseqüência temos um processo de produção espacial onde a reprodução da vida nem sempre apresenta as condições mínimas de subsistência, isto porque há ou inexistência ou deficiência de rede de água, esgoto, asfalto, escolas, hospitais ou mesmo iluminação e transportes. As favelas e os cortiços, por exemplo, com áreas ínfimas, onde se acotovelam famílias numerosas numa promiscuidade que lembra-nos as descrições de Engels sobre a situação de moradia dos operários na Londres do século XIX (CARLOS, 2003, p. 195). Por isso, se acredita que é pertinente caracterizar como cativeiros urbanos os aglomerados sociais localizados ao longo da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Foi analisado que esta conceituação pode ser considerada sistemática, aplicável, portanto, a diferentes realidades homogeneizadas e ao mesmo tempo fragmentadas pela globalização. Aplicada pelo fato de a população viver no espaço urbano, cativa do sistema econômico que explora o espaço urbano. 47 Essa situação, decorrência da contradição entre a produção socializada do espaço e sua apropriação privada, é a forma mais acabada daquilo que Lefèvre chamou da vitória do valor de uso sobre o valor de troca e que a meu ver esclarece a natureza da fragmentação do espaço. Essa vitória expressa-se também através das formas de dominação que se estabelecem em todos os níveis da vida do homem englobando o conjunto das relações sociais que se processam no nível do cotidiano onde a supremacia do valor de troca se impõe sobre o valor de uso por meio das “reduções correspondentes do ser humano à passividade e a vida social e política ao espetáculo e ao mise em scène do consumo, dito de outro modo o triunfo espetacular da mercadoria” (CARLOS, 2003, p. 195). Vale a pena destacar, ainda, que este quadro da transformação dos aglomerados sociais de Salvador em cativeiros urbanos ocorre simultaneamente ao que Harvey (2005), chama de construção do capital simbólico coletivo, dentro da lógica da acumulação do capital e da categoria renda monopolista ligada – entre outras atividades - ao funcionamento do turismo contemporâneo, que também é praticado na capital baiana. A categoria “renda monopolista” é uma abstração advinda da linguagem da economia política. Para os mais interessados em questões de cultura, estética, valores afetivos, vida social e coração, esse termo talvez seja muito técnico e árido para suportar o peso dos assuntos humanos, além dos possíveis cálculos dos financistas, dos incorporadores, dos especuladores imobiliários e dos locadores. No entanto, espero mostrar que o termo possui um poder multiplicador muito maior: se elaborado adequadamente, pode propiciar interpretações valiosas sobre muitos dilemas práticos e pessoais resultantes do nexo entre globalização capitalista, desenvolvimentos político-econômicos locais e evolução dos sentidos culturais e dos valores estéticos (HARVEY, 2005, p. 221). Salvador, enquanto metrópole da área de serviços, especialmente os ligados à atividade turística, procura acumular o que Harvey (2005) chama de capital simbólico coletivo, ou seja, o poder dos marcos especiais de distinção vinculados a um determinado lugar, dotado de um poder de atração importante em relação aos fluxos de capital de modo mais geral. Harvey traz, assim, para o debate sobre o espaço urbano, termos como capital simbólico coletivo e marcos especiais de distinção. 48 Bordieu, a quem devemos o uso genérico desses termos, infelizmente os restringe aos indivíduos (quase como átomos flutuando num mar de juízos estéticos estruturados), quando para mim parece que as formas coletivas (e a relação dos indivíduos com essas formas coletivas) talvez fossem de interesse maior. O capital simbólico coletivo vinculado a nomes e lugares como Paris, Atenas, Nova York, Rio de Janeiro, Berlim e Roma é de grande importância, conferindo a tais lugares grandes vantagens econômicas em relação a, por exemplo, Baltimore, Liverpool, Essen, Lille e Glasgow. O problema para esses lugares citados em segundo lugar é elevar seu quociente de capital simbólico e aumentar seus marcos de distinção, para melhor basear suas alegações relativas à singularidade geradora da renda monopolista. Dada a perda de outros poderes monopolistas por causa do transporte e comunicação mais fáceis, e a redução de outras barreiras para o comércio, a luta pelo capital simbólico coletivo se tornou ainda mais importante como base para as rendas monopolistas (HARVEY, 2005, p. 233). A não inclusão por Harvey (2005), de Salvador como lugar, no Brasil, onde o capital simbólico coletivo tem uma forte vinculação com o turismo internacional, e a inclusão do Rio de Janeiro, talvez se deva ao fato de que a capital carioca ainda é a principal porta de entrada do país para o turismo internacional. Mas, nem por isso, o papel da capital baiana em relação à construção de um tipo específico de capital simbólico coletivo deve ser menosprezado. Para se compreender melhor esse fato é importante conhecer a descrição que Harvey (2005), faz sobre o caso de Barcelona, cidade que ele também não cita especificamente no texto acima, a exemplo de Salvador. A ascensão de Barcelona à proeminência do sistema europeu de cidades, para considerar outro exemplo, deu-se, em parte, com base na sua firme acumulação de capital simbólico como de marcos de distinção. Nesse caso, enfatizou-se a prospecção da história e da tradição caracteristicamente catalã, o marketing a respeito de suas importantes realizações artísticas e heranças arquitetônicas (Gaudí, é claro), e seus marcos distintivos de estilo de vida e tradições literárias, com o apoio de uma avalanche de publicações, exibições e eventos culturais celebrantes da distinção (HARVEY, 2005, p. 233). 49 A descrição de Barcelona feita acima apresenta similaridade com a história recente de Salvador. Ambos os lugares foram transformados em moda para o turismo, e estar na moda, ser a moda como destino turístico, é uma das maneiras das cidades construírem seu capital simbólico coletivo. Os capitalistas estão bem cônscios disso, e devem, portanto, engajar-se nas guerras culturais, assim como nas moitas do multiculturalismo, da moda e da estética, pois é precisamente por esses meios que as rendas monopolistas podem ser conquistadas, pelo menos por um tempo. Se, como afirmo, a renda monopolista sempre é um objeto do desejo capitalista, os meios de obtê-la através de intervenções no campo da cultura, história, patrimônio, estética e significados deve necessariamente ser de grande importância para os capitalistas de todos os tipos (HARVEY, 2005, p.237). Assim, a caracterização de Salvador - proposta por este trabalho - como metrópole onde existem cativeiros urbanos, em que a população vive “cativa” da globalização e produz uma cultura que revela as características de sua vida em favelas e cortiços, em condições absolutamente insalubres, sem ter acesso à educação formal e ao emprego formal, revela as dificuldades dessa população de se tornar economicamente ativa “ocupada”, entre outros itens considerados mínimos para uma boa qualidade de vida. Esse fato não ocorre isoladamente, faz parte de um projeto de construção do capital simbólico coletivo. Nesse caso, esse capital simbólico coletivo pode ser denominado de “baianidade”, e está ligado à acumulação do capital e ao cruzamento de diversas formas de obtenção de rendas monopolistas capitalistas, escondidas muitas vezes nas moitas do multiculturalismo, da moda e da estética, como disse Harvey (2005). Esse autor se refere às rendas monopolistas dos proprietários privados do espaço urbano; às rendas monopolistas dos integrantes da chamada indústria hoteleira ou da indústria em geral; às rendas monopolistas dos empresários ligados à produção cultural, aos transportes, entre outras atividades. 50 Para a obtenção de tais rendas monopolistas todas essas atividades contam, sempre, com a participação do coadjuvante governo local, que estabelece uma forma de governança urbana onde se combinam os poderes municipal, estadual e nacional, numa forma denominada por Harvey (2005) de empreendedorismo urbano. O papel desse empreendedorismo urbano em relação à forma neoliberal de globalização também foi analisado em detalhe, mais (sic) geralmente sob a rubrica das relações local-global e da assim chamada “dialética espaçolugar”. A maior parte dos geógrafos que examinaram o problema concluiu corretamente que é um erro categórico considerar a globalização uma força causal com respeito ao desenvolvimento local. Nesse caso, o que está em jogo, afirmam eles acertadamente, é um relacionamento mais complicado através das escalas, em que as iniciativas locais podem alcançar uma escala global e vice-versa, ao mesmo tempo que certos processos, dentro de uma definição específica de escala – competição interurbana e interregional sendo os exemplos mais evidentes –, podem reelaborar as configurações local-regional da globalização. Portanto, não se deve ver a globalização como uma unidade indiferenciada, mas sim como uma padronização geograficamente articulada das atividades e das relações capitalistas globais (HARVEY, 2005, p.230; 231). Este trabalho utiliza, portanto, os conceitos de totalidade, espaço e lugar para caracterizar os aglomerados urbanos da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe como cativeiros urbanos. 2.1.1 Uma questão histórica Em uma pesquisa no arquivo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro foram encontradas três cartas antigas de Salvador, bastante representativas do processo de produção do espaço dessa cidade baiana, a partir do período colonial. Uma delas, a carta 61625 de van de Aller Heiligem, registra com o nome de rio Vermelho, um rio desenhado muito próximo ao que a carta chama de Pedra de Tapoan. 51 Não foi possível precisar a data da sua confecção mas, suspeita-se da hipótese de que, por se tratar de um autor com nome de origem holandesa, possa ter sido produzida durante a ocupação holandesa na Bahia. A confusão com o nome do rio Vermelho e a Pedra de Itapuã pode indicar um erro do cartógrafo ou que se tratava, na verdade, do largo da Mariquita, cujo recife era conhecido pelo naufrágio de Caramuru. Porém, também se pode suspeitar que, em decorrência das expedições para o Castelo de Garcia D’Ávila, na Praia do Forte, seja a primeira indicação de existência do rio Jaguaribe, que fica bem mais próximo da Pedra de Itapuã do que o rio Vermelho, havendo apenas uma troca de nomes pelo cartógrafo. Independente da versão que se adote, as três cartas registram uma parte do processo histórico de expansão da cidade do Salvador, com a ocupação de sucessivos trechos da orla marítima no sentido Sul/Leste, tendo como referência as bacias hidrográficas existentes entre o centro da administração da colônia e sua maior fortificação/empreendimento mercantil, a Torre de Garcia d’Ávila, localizada no litoral Norte do Estado. Estas cartas, portanto, evidenciam e registram a evolução da ocupação/produção do espaço no período colonial. A análise da figura 8 evidencia que as distâncias colocadas pelo cartógrafo não eram exatamente proporcionais à distância real, o que pode ter induzido ao erro. É necessário compreender também que, embora a base da construção do sistema colonial tenha sido a navegação, não havia ainda condições de produzir uma cartografia tão precisa. 52 Figura 8. Carta de Van der Aller Heiliegen (sd), onde pode ser verificado que o rio Vermelho e a Pedra de “Tapoan” (indicada pela seta vermelha) ficavam próximos. (Fonte: Biblioteca Nacional/2007). A carta 542736, vista na Figura 9, mostra que já eram conhecidos os rios Jaguaribe e rio das Pedras, sendo aquele denominado equivocadamente Jaguaripe. Vale a pena destacar, ainda, uma terceira carta registrada na Biblioteca Nacional, essa de número 525818, também de autoria não identificada, denominada Mapa da Comarca da Bahia de Todos os Santos, com descrição desde o rio Jequiriçá até o Rio Real. 53 Figura 9 - Carta 542736, Demonstração da Bahia, (sd) com o primeiro registro encontrado sobre o rio Jaguaribe assinalado pela seta vermelha. (Fonte: Biblioteca Nacional) Nessa carta 525818, mostrada na figura 10, pode-se perceber as estradas que deram origem às vias de deslocamento que servem hoje como referência para este estudo. Da então Comarca de Brotas partem duas vias de acesso: a primeira do em direção à orla, sai de Brotas e chega até Armação; a segunda, que pode ser a que deu origem à BR-324, sai da altura de Brotas e segue por Campinas, Pirajá, Santo Antônio, etc. 54 Figura 10. Carta 525818, Mapa da Comarca da Bahia de Todos os Santos, (sd) onde muitos rios já eram conhecidos, inclusive o Jaguaribe assinalado com legenda em vermelho. Fonte: Biblioteca Nacional. A carta registra, ainda, o rio das Pedras, rio Jaguaripe, a Pedra de São Roque, Pedra de Itapuã, Itapuã, Santo Amaro, Vila da Abrantes, Monte Gordo e Torre D’Ávila. Essa análise das cartas de registros históricos sobre a produção do espaço na capital baiana a partir do período colonial, permite uma visão da relação simbiótica entre ocupação do espaço (no sentido da produção) e conhecimento dos rios, que prevaleceu no período colonial. 55 Num primeiro momento, talvez porque esses rios significavam as “veias” de penetração no território a ser ocupado. Posteriormente, eles tiveram suas margens (planícies de inundação) transformadas em estradas, vias e, finalmente, avenidas, já na transição do século XIX para o século XX. Assim, a possibilidade de crescimento do uso e da ocupação do solo teve uma ligação íntima com o conhecimento dos rios, que no caso da área em estudo, se adensou a partir da metade do século XX. Em recente trabalho de Dissertação de Mestrado defendida na UFBA, Brito (2005), apresenta uma seqüência de cartas temáticas sobre a densidade populacional da área da bacia do rio Jaguaribe, as quais permitem uma visão histórica atual, a partir de 1970, do processo de produção do espaço tendo como base a densificação da população. A partir dos anos 1970, definida como área de expansão urbana da cidade, inclusive com a implantação de conjuntos habitacionais de grande porte, a bacia do rio Jaquaribe é submetida a um processo de adensamento populacional. Inicialmente, como se pode perceber na figura 11, a ocupação era bastante rarefeita, até a abertura da avenida Paralela. 56 Figura 11. 1970: ocupação dispersa na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, Salvador–Bahia. Fonte: BRITO (2005), adaptação CAETANO, Carlos Alberto (2007). 57 O tipo de planejamento urbano utilizado pelo poder público, em Salvador, nos anos 1980, permitiu o surgimento de ocupações regulares e irregulares de forma mais concentrada no alto curso do rio, como mostra a figura 12, porém com significativas ocorrências na região do médio-baixo curso. É desse período a consolidação dos conjuntos habitacionais de Cajazeiras, que irão produzir grande impacto na cobertura vegetal da bacia, como será visto adiante. Figura 12. 1980: População aumenta na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, Salvador-BA. Fonte: BRITO (2005), adaptação CAETANO, Carlos Alberto (2007). 58 A partir do início dos anos 1990, como mostra a figura 13, a região em estudo concentrou sua densidade populacional nos dois extremos, ficando uma área contínua como uma “reserva” de mercado para futuros investimentos imobiliários. Figura 13. 1991: médio curso do rio Jaguaribe, Salvador-BA, mantém áreas sem habitantes. Fonte: BRITO (2005), adaptação CAETANO, Carlos Alberto (2007). 59 Essa “reserva de mercado”, conhecida como ‘vazios urbanos’ ou ‘terrenos de engorda’ na gíria imobiliária, como se vê na figura 14, faz com que a cobertura vegetal da área se mantenha em parte, até que surjam os novos empreendimentos no médio-baixo curso do rio, que de acordo com a classificação socioeconômica de populações utilizada pelo IBGE, destinam-se às classes A e B. São condomínios fechados do do tipo Alphaville Salvador I e II, localizados no eixo da Avenida Paralela, lançados a partir do ano 2000. Figura 14 - 2000: diminui cobertura vegetal da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, Salvador –BA Fonte: BRITO (2005), adaptação CAETANO, Carlos Alberto (2007). 60 2.2 METODOLOGIA Como ponto de partida se buscou inserir a bacia hidrográfica em estudo no sistema urbano de Salvador, tendo como referência o paradigma dos geossistemas. Utilizando imagens de satélite e o sensoriamento remoto (SeRe), com base na estruturação um banco de dados, essas imagens foram projetadas e transformadas em cartas temáticas, com informações que permitiram interpretar aspectos do espaço geográfico. Foram utilizada também informações socioeconômicas do Censo 2000, com o objetivo de caracterizar a população que habita a área da bacia, para que se pudesse proceder a uma integração do aspecto natural com o aspecto social do geossistema. Foi considerada, portanto, a necessidade de se estabelecer uma visão da cidade de Salvador como um sistema. A cidade do Salvador, vista assim como um sistema, pode ser dividida (como todo sistema) em subsistemas. Os sistema de alta energia, como as cidades, requerem uma abundante sustentação de vida pela natureza. Se não forem preservadas grandes áreas de ambiente natural de forma a fornecer a entrada necessária da natureza, a qualidade de vida na cidade diminuirá, e a cidade não poderá mais competir economicamente com outras, ou que possuem tais sistemas à disposição, ou viver à custa da diminuição do suprimentos de outras cidades, como já ocorre (DIAS, 2002, p. ). Foi adotado o subsistema das bacias hidrográficas como referência para análise e interpretação. Este subsistema, por sua vez, foi dividido em outros subsistemas – o subsistema de cada bacia – e assim se tomou a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe como uma totalidade de terceira ordem e como recorte específico e 61 objeto de estudo. Um espaço geográfico analisado, portanto, com base no paradigma dos Geossistemas, optando-se pela análise dos cursos do rio – alto, médio e baixo, como geofácies, sendo estes geofácies analisados, então, como novos subsistemas ou unidades internas do sistema. Recorrendo ao uso do sensoriamento remoto (SeRe), e de imagens de satélite cedidas pelo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais com o objetivo de construir um banco de dados específico, com base nas imagens SeRe. O uso do sensoriamento remoto (SeRe) no estudo de uma bacia hidrográfica, do ponto de vista da aplicação da teoria dos geossistemas, trouxe uma série de contribuições que serão explicitadas ao longo da análise, particularmente no que diz respeito à possibilidade de perceber e interpretar a bacia hidrográfica como uma totalidade ao longo de um processo histórico. O sensoriamento remoto é muito utilizado como instrumento de planejamento e controle pelas diversas instâncias de governo, em nível internacional e nacional e também como ferramenta de pesquisa por centros de tecnologias de informação avançados, como é o caso do INPE, em São José dos Campos, além de Universidades. Muitas vezes serve mais para orientar a melhor forma de se apropriar do espaço geográfico para obtenção de lucros. Trata-se, portanto, nesses casos, de um uso do ponto de vista da lógica hegemônica. Em outros casos é caracterizado como um instrumento da “pesquisa científica”, cabendo o destaque que não existe ciência neutra. 62 O SeRe, possibilitou a construção de uma interpretação crítica da lógica hegemônica e de seus resultados mostrados numa projeção espacial específica, a partir de uma série histórica de imagens de satélite. O resultado obtido permitiu uma visão critica da segregação socioeconômica espacial que caracteriza o atual estágio de desenvolvimento do capitalismo, no que diz respeito à produção e reprodução dos espaços urbanos. Foram utilizados para isso dois computadores sendo um notebook Itautec, com sistema operacional Windows XP e um powerbook da Apple, com sistema operacional OS 10.4.10 rodando os programas Arc View / Arc Map 9.2, Spring 4.3.2, Corel Draw 11, Photoshop CS2 e Word 2003. Como primeiro passo se buscou a imagem georreferenciada do objeto de estudo, disponibilizada pela Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), através da Superintendência de Meio Ambiente (SMA), da Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente (SEPLAM), com uma imagem de Salvador com todas as suas bacias hidrográficas. A imagem de Salvador dividida em bacias hidrográficas foi fornecida pela SMA no formato shp, shape, próprio para utilização no Arc View / Arc Map 9.2, estando a mesma georreferenciada, o que facilitou em muito o trabalho de geoprocessamento e georreferenciamento das imagens obtidas a partir dai. A área total do município de Salvador é de 30.956,35 ha e a área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe é de aproximadamente 58 quilômetros quadrados. A bacia hidrográfica do rio Jaguaribe está entre as maiores de Salvador e sua localização entre o chamado “miolo” do município e sua orla Leste, a tornam particularmente interessante no contexto ambiental urbano da capital baiana. 63 64 As principais coordenadas geográficas da bacia são, 12º 55’ 00” W e 38º 25’ 00” S. No seu interior é possível espacializar informações sobre populações com rendas bastante diversificadas, desde as parcelas mais ricas até os setores bem mais pobres da população, o que possibilita a realização de diversas análises que tenham como base a condição de classe social e renda dessas mesmas populações. O passo seguinte da pesquisa foi obter imagens de satélite de Salvador junto ao INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que disponibiliza o acesso a tais imagens gratuitamente em seu site www.inpe.br. Com base nesta pesquisa encontrou-se uma série histórica de imagens apresentadas a seguir com os respectivos satélites utilizados na sua obtenção. Este trabalho não vai aprofundar a caracterização de cada um desses satélites, o que já está feito amplamente em toda a literatura especializada existente a respeito. O objetivo da busca pelas imagens com diferentes datas, como mostra o Quadro 2, foi construir uma base de dados com um período histórico. No uso das imagens de satélite, cada banda da imagem permite uma interpretação diferente ao pesquisador, como se vê no Quadro 3. Além da série de imagens Landsat foram obtidas outras imagens para superar as dificuldades encontradas em decorrência da tecnologia usada na época por esta série de satélites Landsat, apresentada no Quadro 3. 65 66 Foram usadas imagens obtidas através do Cbers 2, como se vê no quadro 4, geradas através da Divisão de Geração de Imagens do INPE, utilizando sensor CCD com 3 canais RGB (vermelho, verde e azul) na escala 1:100.000. Tais imagens apresentavam problemas semelhantes às imagens Landsat., apenas uma pode ser usada. Em decorrência disso buscou-se imagens mais atuais, onde não houvesse interferência da cobertura de nuvens sobre o espaço geográfico. • IMAGEM OBTIDA COM O SATÉLITE SPOT 4 O Programa SPOT – System Proboitoire de Observation de la Terre - começou a ser desenvolvido pelo CNES (Centre National d’Etudes Spatiales) na França, em 1977 com a colaboração da Bélgica e da Suécia. O SPOT 4 foi lançado 67 em 24 de março de 1998 e utiliza os sensores imagecolor HRVIR (Haute Résolution Visible et Infrarouge) e o VGT-1 (Vegetation-1) que apresentam as seguintes resoluções espaciais: 10m, 20 m e de 1 km cobrindo uma área de 2.250 km de largura a cada 24 horas. Encontra-se a uma altitude de 832 km e apresenta uma órbita polar síncrona com a do Sol, mantendo uma inclinação de 98º7’ em relação ao plano equatorial (NOVO, 1989 apud Ana Rodrigues). No caso da imagem utilizada neste trabalho, ela possui resolução espacial de 10 metros. • IMAGEM OBTIDA COM O SRTM O SRTM – Shuttle Radar Topographic Mission (Missão Topográfica Por Radar Interferométrico), é um projeto cooperativo entre a NASA (National Aeronautics and Space Administration), NGA (National Geospatial-Intelligency Agency), DLR (German Aerospace Center) e ASI (Italian Space Agency) que tem o objetivo de gerar um Modelo Digital de Elevação (MDE) da Terra. A imagem utilizada foi capturada no período de realização da missão, entre 11 e 22 de fevereiro de 2000 e foi obtida gratuitamente através da USGS (United States Geological Survey), com resolução espacial de 30 metros na grade retangular original do SRTM da América do Sul, no site http://seamless.usgs.gov . • IMAGEM OBTIDA COM O SATÉLITE QUICK BIRD O satélite Quick Bird tem a capacidade de dar uma volta em torno da terra em pouco mais de uma hora e meia, exatos 93,4 minutos. Possui uma varredura de 16,5 km e seu sistema sensor opera em 5 faixas. Foi lançado em outubro de 2001, gira numa órbita quase polar com inclinação de 98º e é síncrono com o Sol. A imagem usada foi obtida em abril de 2005. 68 A partir da escolha das imagens de satélite foi montada uma base de dados (banco de dados) com informações espaciais provenientes de diversas fontes e adotada a técnica do PDI – Processamento Digital de Imagens, que se subdivide em pré-processamento e processamento. O pré-processamento prepara a imagem, adequando-a do ponto de vista geométrico com base em uma carta prégeorreferenciada. Nesse momento o objetivo do trabalho em laboratório foi permitir a inserção e integração em uma base de dados de todas as informações coletadas, para tornar possível usar tais imagens de forma que houvesse entre elas as seguintes características comuns a um SIG – Sistema de Informações Geográficas: - interface; - entrada e integração de dados; - funções de consulta e análise espacial; - visualização e plotagem e - banco de dados geográficos. As informações inseridas e integradas nessa base de dados foram as que aparecem no Quadro 5: Montada a base de dados, como se vê no quadro 5, o primeiro passo foi proceder à correção geométrica das imagens de satélite. A correção geométrica tem o objetivo de eliminar distorções e conferir maior precisão cartográfica às imagens, para que elas possam ser integradas georreferenciadas a partir da base de dados. 69 Para realizar este processo de correção geométrica foi escolhida uma base cartográfica de Salvador 1: 100.000, IBGE (1970) para servir como fundo e referência para a figura de Salvador com suas bacias hidrográficas, reproduzida no Quadro 6. A correção ou retificação geométrica teve como referência a base mostrada no Quadro 6, e o registro tem por objetivo eliminar eventuais distorções que podem ocorrer com as imagens obtidas no processo de SeRe, uma vez que os satélites estão em movimento e a Terra possui uma curvatura. Os dados de SeRe assim passam por um processo de transformação e adquirem as características de uma determinada escala e projeção próprias de mapas. 70 Foram adotadas como referências para esta correção as vias BR-324, Estrada Velha do Aeroporto e Avenida Paralela, uma vez que elas se apresentavam bastante visíveis em todas as imagens de satélite escolhidas para esta Dissertação. 71 Figura 15. Exemplo de correção geométrica usando as bases cartográficas do IBGE e das bacias hidrográficas de Salvador . Fonte: IBGE, 1970; PMS, 2005. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 72 A seguir se buscou as informações sócio-econômicas com o objetivo de caracterizar a população que habita a área da bacia, para se proceder à análise do aspecto social do geossistema. O que se buscou foi a análise da oposição entre concentração de população e dispersão da cobertura vegetal, adotadas nesta pesquisa como tese e antítese, respectivamente. Optou-se por trabalhar com as informações do Censo 2000 do IBGE relativas às Áreas de Ponderação e não aos Setores Censitários. A indicação nesse sentido foi dada pelo próprio chefe da Supervisão de Documentação e Disseminação de Informações – SDDI - da Unidade Estadual do IBGE na Bahia, Joilson Rodrigues de Souza. Segundo ele, as Áreas de Ponderação permitem acessar os dados da amostra, favorecendo a análise de temas não disponíveis nos dados do universo, obtidos diretamente através dos Setores Censitários. Para a criação das Áreas de Ponderação, o IBGE utiliza como critério a agregação dos Setores Censitários que representem áreas homogêneas e contínuas, mutuamente excludentes, além de contar com uma população mínima de 400 questionários da amostra, ou seja, equivalente ao universo de, aproximadamente, 4.000 domicílios particulares permanentes. Para um trabalho que tem como meta espacializar as informações estatísticas este aspecto mostrou-se bastante pertinente, uma vez que cada Área de Ponderação forma um espaço maior do que cada Setor Censitário, o que facilita a visualização do fenômeno ou do evento que está sendo estudado e “desenhado” no espaço. 73 Além disso, se considerou que as Áreas de Ponderação criam uma rotina interna para a expansão dos dados da amostra enquanto os Setores Censitários possuem limitações por serem dados do universo. Assim, os dados relativos às Áreas de Ponderação ampliam a capacidade de análise, uma vez que eles são disponibilizados a partir de um agrupamento mínimo de 400 questionários selecionados na Amostra. Foi levado em conta, também, que enquanto os dados dos Setores Censitários trazem informações relativas a sexo, idade, saber ler e escrever, e dados relativos ao responsável pelo domicílio como renda e instrução. Já os dados das Áreas de Ponderação trazem informações relativas a temas como: cor ou raça, fecundidade, religiosidade, nupcialidade, deficiência física, instrução, trabalho, rendimento e acesso a bens duráveis. Nesse sentido, evidenciou-se que a utilização das Áreas de Ponderação iria favorecer um aspecto fundamental na metodologia deste trabalho e que diz respeito a uma das leis do materialismo dialético: a necessidade de, num determinado momento, se proceder ao que é chamado de salto qualitativo, quando a quantidade se transforma em qualidade. Acreditou-se que a utilização dos temas das Áreas de Ponderação (uma informação qualitativa) estariam abrindo um caminho para que esse salto ocorresse. Por orientação da Supervisão de Documentação e Disseminação de Informações – SDDI - da Unidade Estadual do IBGE na Bahia, a SEI, órgão do Governo do Estado da Bahia, foi indicada como fonte confiável para fornecer os microdados da amostra, que permitiriam fazer as interpretações desejadas. A montagem desses microdados envolveria um processo tão complexo quanto desnecessário, uma vez que ele já havia sido organizado pela SEI. As informações 74 solicitadas foram disponibilizadas pela SEI com a seguinte informação de sua fonte: CEPAL/CELADE Redatam+ SP 10/04/07. Base de dados - C:\Arquivos de programas\Redatam\Base2000\Bahia\R29_fxid2.dic. Área Geográfica - C:\Arquivos de programas\Redatam\Work2000\Salvad.slw. Crosstab. As informações, em sua íntegra, estão disponíveis no Anexo. Segundo o IBGE, os microdados da amostra consistem no menor nível de desagregação dos dados de uma pesquisa, retratando, na forma de códigos numéricos, o conteúdo dos questionários, preservado o sigilo das informações. Os microdados possibilitam aos usuários, com conhecimento de linguagens de programação ou softwares de cálculo, criar suas próprias tabelas de dados numéricos. Acompanham os arquivos de microdados uma documentação que fornece nomes e respectivos códigos das variáveis e suas categorias, adicionada, quando necessário, dos elementos para o cálculo dos erros amostrais Em relação a população, são divulgados dados sobre idade, sexo, religião, instrução, fecundidade, mortalidade, nupcialidade, migração e mão-de-obra. Os dados sobre os domicílios referem-se à sua situação e localização, disponibilidade de serviços (água, esgotamento sanitário, eletricidade), existência de bens duráveis, além de desagregações relativas a características do chefe do domicílio. Para as famílias, destacam-se informações sobre o seu tamanho (número de componentes), composição e desagregações referentes a características do chefe da família (IBGE, 2000). Após uma análise inicial dos microdados fornecidos pela SEI, foi feita uma opção por se trabalhar com a construção de gráficos de freqüência e, seguindo uma orientação de caráter técnico encontrada em diversas publicações, foram selecionadas 15 áreas de ponderação para a construção dos gráficos de freqüência, passando cada área de ponderação a ser considerada uma classe. Para elaborar uma tabela de distribuição de freqüência, deve-se proceder conforme os estágios de construção a seguir: Passo 1: Organiza-se um rol a partir dos dados brutos coletados. Passo 2: Determina-se a amplitude total por meio da subtração do valor máximo do valor mínimo do conjunto de dados. Passo 3: Divide-se a amplitude total pelo intervalo de classes (de preferência, as classes devem possuir o mesmo intervalo). E, a partir desse cálculo, obtém-se o número total de classes. É desejável dispor-se de no mínimo cinco e no máximo 15 classes. 75 Um pequeno número de classes pode significar uma perda de reconhecimento da informação; em contrapartida com um número muito grande de classes, perde-se a razão de buscar-se o resumo dos dados. Passo 4. Faz-se a contagem das ocorrências pertencentes a cada classe ( as freqüências) (KIRSTEN; RABAHY, 2006, p. 15;16). As autoras Gerardi; Silva (1981), também fazem restrições quanto à utilização de um número excessivo de classes. Segundo essas autoras, A construção de um número excessivamente pequeno de classes reduziria tanto a informação que acarretaria muita perda de detalhe. Por outro lado, um número excessivamente grande de classes, embora guardasse muito detalhe, não atingiria o objetivo da classificação que é tornar o conjunto de dados supervisionável. Torna-se, então, necessário procurar determinar um número razoável de classes, o que pode ser feito de várias maneiras (GERARDI; SILVA, 1981, p.34). Assim, optou-se por trabalhar, inicialmente, com a construção de gráficos de freqüência com 15 classes, ou seja, com 15 áreas de ponderação, que permitissem ter um visão da bacia hidrográfica como um todo, tanto no alto curso, no médio curso e no baixo curso. As 15 áreas de ponderação selecionadas irão aparecer nos gráficos de freqüência, não com sua numeração oficial no IBGE, mas com uma numeração própria que as mesmas receberam na organização desta Dissertação, de um a 15, organizadas posteriormente de acordo com o curso do rio, entre Cajazeira e Patamares . Não se utilizou na construção do rol para elaboração dos gráficos de freqüência qualquer referência à densidade demográfica, o quantitativo de população foi interpretado enquanto número absoluto de pessoas residentes em cada área de ponderação. 76 77 A organização do rol evidenciou os dois extremos de ocupação assinalados em amarelo, ou seja, as APs com maior e menor população. As menos habitadas são: (6) Stella Maris, Aeroporto; (75) Dom Avelar, Porto-Seco Pirajá e (83) Nogueira e Cajazeiras III. As mais habitadas são: (77) Vila Canária, Sete de Abril e Jardim Nova Esperança (33) e (79) São Marcos, Canabrava, Recanto das Ilhas, Colinas de Pituaçu, Vivenda dos Pássaros, Vivenda dos Campos, Nova Cidade, Jardim das Limeiras, Paralela Park e Lagoa Verde. 78 79 Um dos critérios utilizados na seleção das 15 áreas foi escolher as três APs mais populosas e, entre as três menos populosas, as localizadas no alto curso do rio. Nas 15 áreas de ponderação selecionadas estão exatos 60,06% da população residente, distribuídos 21,68% no alto curso; 19,17% no médio curso e 19,21% no baixo curso. A necessidade de organização desse rol é fator elementar na análise de dados estatísticos. O rol corresponde apenas à disposição dos dados em uma determinada ordem, que nesse caso foi escolhida como ordem crescente. Desse rol podem-se obter várias informações, inclusive a amplitude total ou range, a diferença entre o maior e o menor valor, mas que no caso em estudo não tinha relevância. Porém, há uma questão que precisa ser explicitada e que diz respeito à escala de mensuração em que esses dados se encontravam. Os dados de população que foram levantados precisaram ser transformados em dados na escala de razão, para que se pudesse deles extrair não só maior número de conhecimentos, mas, principalmente, o tipo de informação que se buscava. Silva; Souza (1987) explicam que a escala de razão é, entre as escalas de mensuração a mais poderosa uma vez que ela não somente discrimina, hierarquiza e mensura, como tem a propriedade de manter a razão entre valores de um atributo. Gerardi; Silva (1981), definem a escala de razão como a mais complexa entre os níveis de mensuração. É importante definir os níveis de mensuração para as variáveis com que o pesquisador vai trabalhar, porque as técnicas de análise estatística que podem ser aplicadas para os dados dependem da escala de mensuração. Esta mensuração do nível deve ser feita pelo pesquisador que, em seguida, define se uma determinada técnica é apropriada para seus dados. A propósito devemos lembrar que o computador não conhece o nível de mensuração dos dados e processa assim, qualquer dado ( GERARDI; SILVA, 1981, p. 22). 80 Segundo essas autoras, na escala de razão os números são verdadeiros, com um zero verdadeiro ou real, o que permite todas as operações possíveis com os números. Assim, a freqüência de população residente em cada área de ponderação foi transformada em porcentagem da população total da bacia que reside naquela área de ponderação, tornando-se assim um dado mensurado na escala de razão. 81 Excluídos os extremos de quantitativos populacionais – marcados em amarelo no rol - a porcentagem de população residente nas demais áreas de ponderação varia de 3,09% até 5,15% do total de habitantes em residências particulares próprias ou não na área da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe. A partir dessa visão da distribuição da população no espaço em estudo se buscou definir os tipos de cálculos estatísticos que deveriam ser feitos para integrarem a interpretação que se pretendia construir, optando-se pelos cálculos de regressão e correlação, uma vez que se estava buscando estabelecer análises de relacionamentos entre variáveis. A investigação ambiental, como qualquer atividade humana, depende de estabelecimento de relações. Torna-se necessário, para caracterizar cientificamente as correlações ambientais investigadas, que haja critérios e técnicas, definidos nas suas determinações (SOUZA; SILV A, 1987, p.92). Considera-se que características ambientais apresentam-se nitidamente correlacionadas e a correlação e a regressão são esquemas de análises que formalizam, em estatística, esse relacionamento de concomitância. A correlação e a regressão podem ser simples ou múltiplas. No caso, como foram escolhidas duas variáveis, são simples. Os valores de cada variável são lançados num sistema de coordenadas retangulares. Esse conjunto de pontos obtidos com o lançamento dos valores de cada variável é denominado de Diagrama de Dispersão, onde pode-se perceber a tendência da associação das variáveis ali representadas. A determinação específica do grau de correção entre estas duas variáveis é feita através do cálculo de r, coeficiente de correlação simples [...]. Esse coeficiente de correlação, denominado “coeficiente de Pearson” [...] é uma medida de associação entre variáveis que não têm dimensão determinada (isto é, não se mede em unidades tais como o metro, o litro, tonelada, etc.). É adimensional e varia entre -1 e 1 (SOUZA; SILVA, 1987, p. 93; 94). 82 É importante se destacar que, para se efetuar os cálculos de correlação e regressão, foram feitas experiências com diversas variáveis, uma vez que existe um critério estabelecido pela própria Estatística, enquanto ciência, de que é mais aconselhável que sejam considerados os casos em que o coeficiente de relação (r) for superior a 0,7 - que indica uma base mínima considerada de “boa correlação” entre as variáveis escolhidas. Como exemplo se pode citar a correlação entre a “Porcentagem de alfabetizados por porcentagem de economicamente ativos [...]”, as duas variáveis selecionadas como referência para análise nesta Dissertação, a correlação obtida nos cálculos entre ser economicamente ativo e ser alfabetizado tem um r = 0,746, o que é considerado, portanto, uma boa correlação. Para a Estatística o valor de r varia entre 0 (zero), que é considerado um fraco ajuste e 1 (um), que é considerado o ajuste perfeito. Se r é igual a 1, há uma correlação linear positiva perfeita; se r é igual a -1, há uma correlação linear negativa perfeita; se r é igual a 0 (zero) não existe correlação linear. Se 0< r < 1, há uma correlação linear positiva e se -1 < r < 0, há uma correlação linear negativa. Este valor é o resíduo, que também é chamado de erro. 83 PORCENTAGEM DE ALFABETIZADOS POR PORCENTAGEM DE ECONOMICAMENTE ATIVOS COM 10 ANOS OU MAIS RESIDENTES NAS APs DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE - SSA/BA (FONTE:IBGE/2000 - MICRODADOS - SEI/BA) 60 LINEAR y = 0,4362x + 17,146 50 ECONOMICAMENTE ATIVOS 2 R = 0,5569 R= 0,74625732827 40 30 20 10 0 0 20 40 60 ALFABETIZADOS 80 100 Gráfico 1. Diagrama de dispersão e reta de previsão de correlação. Fonte: IBGE 2000/Microdados da amostra/SEI-B A/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). O cálculo de r, bem como o de r quadrado, no caso desta dissertação, foi feito utilizando-se o software Excel. Um problema freqüente em estatística consiste em investigar questões como estas: há relação entre duas grandezas? As variações em uma das grandezas acarretam variações na outra? Por exemplo, as variações nas taxas de juros afetam a procura por casas? Em outras situações interessanos saber se é possível usar uma das variáveis para predizer o valor de a outra. [...] (DOWNING, D.; CLARK, J., 2 . Ed., p.228, 2002). As variáveis escolhidas para serem utilizadas, “porcentagem da população alfabetizada” e “porcentagem da população economicamente ativa”, foram cruzadas num cálculo estatístico de regressão linear simples, tendo como variável 84 independente a “porcentagem de população alfabetizada” de cada área de ponderação, e como variável dependente a “porcentagem de população economicamente ativa”, com o objetivo de traçar uma correlação entre as duas variáveis. Para o IBGE, o indivíduo ser economicamente ativo significa que a pessoa faz parte da População Economicamente Ativa – PEA – que é composta por indivíduos com mais de 10 anos que oferecem a sua força de trabalho no mercado e que o rendimento que possuem é aferido através do trabalho. Pode ser “PEA ocupada” ou “PEA desocupada”, ou seja, a pessoa pode ser economicamente ativa e não ter rendimento aferido com o trabalho por estar desocupada. Do mesmo modo, para o IBGE, o indivíduo não ser economicamente ativo significa que ele faz parte da População Não Economicamente Ativa - PNEA – que é composta por indivíduos com mais de 10 anos e que não oferecem a sua força de trabalho no mercado e que seus rendimentos, portanto, não são provenientes do trabalho. Para que fosse possível atribuir uma relação de causa e efeito entre as variáveis, foi utilizada a regressão simples. Neste caso, fica atribuído pelo pesquisador o papel de efeito a uma das variáveis (y) e o papel de causa à outra variável (x). No exemplo citado, ser economicamente ativo é considerado o efeito e ser alfabetizado, a causa, ou seja, podemos concluir que com os dados relativos à população que habita a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, pessoas alfabetizadas têm mais probabilidade de serem economicamente ativas, do que as que não são alfabetizadas. 85 O cálculo de regressão simples pode ser usado toda vez que se pretende, através de uma variável predizer outra. Depois de lançados os pontos é traçada uma linha reta que deve ter a característica de ser a melhor reta de ajustamento, que pode ser obtida através da seguinte fórmula : y = a + bx . A distância em que cada um dos pontos está colocado em relação à reta é o desvio que, se localizado abaixo da reta é negativo, e acima positivo. A distância que cada ponto está em relação à reta calculada é o seu resíduo. [...] na Geografia, os valores são muitas vezes relacionados à áreas, é interessante mapear os resíduos e destacar assim as áreas com valores reais acima da predição ou abaixo da predição. Pequenos resíduos indicam que existe uma grande correspondência entre o valor predito e o valor observado. Se temos uma correlação perfeita, não temos resíduos. A carta mostraria claramente onde temos valores reais acima da predição, abaixo ou onde a predição corresponde à realidade. O pesquisador deve tentar explicar este fenômeno e tentar encontrar possíveis outras variáveis desconhecidas que influenciam a variável dependente (GERARDI; SILVA, 1981, p. 96). Foram produzidas, com base nos cálculos de resíduos, duas cartas temáticas sendo uma de análise quantitativa e outra de análise qualitativa. O mapa de resíduos, no que diz respeito à posição de cada área de ponderação em relação à reta de previsão estabelecida pelo cálculo de regressão, pode ser considerado como um dos resultados mais importantes da cartografia deste trabalho. O mapa é qualitativo e retrata, na interpretação que se considerou a mais adequada, a segregação socioeconômica espacial que ocorre na área em estudo, evidenciando, inclusive, que esta segregação não ocorre somente alto curso do rio. Assim, após a análise de um conjunto de variáveis pré-selecionadas se optou por utilizar como referência as variáveis que dizem respeito à parcela da população que é alfabetizada e à parcela que é economicamente ativa, consideradas inicialmente como variáveis que possuem uma boa correlação. A variável ‘ser 86 alfabetizado’ foi considerada a variável independente e a variável ‘ser economicamente ativo’ foi considerada a variável dependente. Ou seja, ser economicamente ativo depende de ser alfabetizado, do ponto de vista da interpretação proposta. Essa escolha foi baseada na convicção de que a partir da análise desses dados seria possível retratar a existência de segregação socioeconômica espacial na área em estudo. Ou seja, identificar a localização de parcelas da população que, mesmo sendo alfabetizada tem dificuldade de ser economicamente ativa. Os dados estatísticos, obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e à Superintendência de Estudos Econômicos (SEI), do Governo do Estado da Bahia, com base no Censo 2000, utilizando-se os microdados da amostra organizados em áreas de ponderação. Aplicados cálculos de regressão linear, foi feita inicialmente uma análise quantitativa e se procedeu, posteriormente, à transformação da quantidade em qualidade, o que possibilitou o chamado salto qualitativo com a conseqüente construção de uma síntese: a regressão indicou a existência de uma reta de previsão da correlação entre ser alfabetizado e ser economicamente ativo. Os resíduos encontrados, positivos e negativos, foram interpretados como pontos de desequilíbrio na correlação e indicadores da ocorrência de segregação socioeconômica espacial. Em Salvador a segregação pode ser vista como um problema de classe social ou de grupo sócioeconômico, mas precisa ser analisada também do ponto de vista do acesso à educação e de a população ser ou não ser economicamente ativa. Estas são as variáveis chaves usadas neste trabalho para compreender a segregação no contexto da bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe. 87 A análise construída a partir daí abordou outros aspectos do que se convencionou chamar de acesso à educação que não apenas o dado inicial de “ser alfabetizado” ou “não ser alfabetizado”, aprofundando a interpretação das contradições evidenciadas sobre o próprio “acesso” ou “não acesso” ao estudo, como os dados relativos à freqüência à escola da rede pública ou da rede privada de educação e a interrupção ou a continuidade dos estudos. Não se descuidou, também, da questão étnica, bastante importante no caso de Salvador, a partir da declaração de cor dos entrevistados pelo IBGE. Mesmo com todas as críticas que são feitas às interpretações a partir da declaração de cor dos entrevistados, os dados analisados aqui revelaram algumas surpresas: ora na direção já conhecida de que a segregação sócio-econômica tem uma base na discriminação étnica, ora na direção contrária. A projeção desses dados quantitativos e qualitativos sobre o espaço geográfico em estudo, tratado como um geossistema, permitiu uma interpretação particular sobre os aspectos socioeconômicos do geossistema, a partir da utilização do banco de dados construído, tendo como resultado a confecção de cartas temáticas elaboradas especificamente para este estudo. 88 Figura 16 - Esboço de roteiro metodológico Fonte: MONTEIRO, C. A. de F. (2001), p. 68. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 89 CAPÍTULO 3 3 O ESPAÇO VISTO DO ESPAÇO 3.1. AS VARIÁVEIS NATURAIS E SOCIAIS Ao se estruturar a montagem das variáveis naturais e sociais para a análise do geossistema levou-se em conta a proposta de Monteiro (2001). Esse autor, ao problematizar a questão relativa à montagem de modelos diferenciados para as análises do que é natural e do que é social no geossistema, referiu-se à opinião de alguns críticos quanto à existência de um certo confronto entre os dois modelos, explicando que esse [...] confronto de dois modelos paralelos para o natural e o social não sugere separação na análise mas, ao contrário, visa dar flexibilidade de articulação e de entrosamento aos mesmos (MONTEIRO, 2001,p.56). Tais colocações evidenciam que o geossistema como um paradigma não deve nunca engessar a análise do pesquisador. Além disso, Monteiro (2001), defende que, no caso da aplicação do paradigma em trabalhos realizados no Brasil, se considerasse a ocorrência de seqüências temporais nem sempre regulares mas que poderiam ser aproveitadas. Tais como: a)levantamento aerofotográficos de uma dada região em diferentes épocas; b)dados censitários – demográficos, econômicos e outros, nos intervalos convencionais de cada dez anos; c)estudos de variadas origens sobre a área em foco e arroladas na bibliografia;[...] (MONTEIRO, 2001, p.58;59). 90 E foi assim que se procedeu na construção desta pesquisa. Foram feitos levantamentos aerofotogramétricos e de sensoriamento remoto (SeRe) sobre a área da bacia; dados censitários, demográficos, econômicos e outros tendo como resultado uma quantidade de dados que permitiu de uma base de dados utilizada na interpretação e na construção das cartas para posterior interpretação. 3.1.1 As variáveis naturais – O sensoriamento remoto (SeRe) Após a análise das três cartas históricas que retratam o início da implantação de um sistema de produção do espaço a partir do período colonial na Bahia, complementada com uma visão do processo de densificação populacional a partir dos anos 1970 (com a abertura da avenida Paralela), se optou por utilizar o que há de mais atual em termos de tecnologia para obtenção de imagens terrestres, através de satélites espaciais. Essa proposta teve como objetivo mapear com as imagens de Sensoriamento Remoto - SeRe - a relação entre a densificação populacional, vista entre os anos 1970 e 2000, com a supressão da cobertura vegetal, ou seja, como a produção e reprodução do espaço urbano na escala da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, teve como resultado um processo de concentração de população e dispersão da cobertura vegetal ao longo de quase 30 anos. Tratando-se de uma Dissertação sobre a lógica hegemônica da produção do espaço na escala de uma bacia hidrográfica, o sensoriamento remoto (SeRe) foi utilizado como uma das ferramentas do Geoprocessamento, que pode ser entendido como um conjunto de ferramentas que integram a coleta e processamento de dados espaciais e não espaciais a cerca da Terra. 91 A imagem de satélite mais antiga tomada como referência na construção do banco de dados desta Dissertação foi obtida através do satélite Landsat 2, com resolução espacial de 30 metros, utilizando sistema sensor MSS, um dos primeiros a serem colocados em órbita a uma altitude de 920 km. Hoje, a resolução espacial de 30 metros é considerada completamente ultrapassada, uma vez que os novos sensores trabalham com resolução inferior a um metro. Apesar disso a imagem obtida com o Landsat 2 permitiu uma avaliação qualitativa sobre a área em estudo. A imagem da figura 17 foi escolhida como a imagem inicial da construção da série histórica sobre a bacia do rio Jaguaribe pelo fato de ser a imagem em que a área da bacia tem pouca cobertura de nuvens, fato que sempre atrapalhou o uso de imagens mais antigas, obtidas com os primeiros sistemas sensores, como é o caso do MSS. Portanto, se trata de uma imagem da área em estudo obtida há 26 anos, o que passou a ser um fato determinante na construção deste trabalho, ou seja, que seria criada uma série histórica de 24 anos, entre 1981 e 2005, uma vez que a imagem mais atual utilizada data de 2005. A análise quantitativa foi feita apenas com as imagens atuais, uma vez que sua resolução permite interpretação mais precisa, além do fato de que essas imagens não têm o problema da cobertura de nuvens. Destaque-se que a construção da carta apresentada na figura 17 é anterior à redefinição da área da bacia, portanto inclui o rio Passa Vaca como afluente do rio Jaguaribe, definição que só foi revista a partir da construção da cartografia desta dissertação. 92 Figura 17. Imagem Landsat 2, adquirida em 29/09/1981, sensor MSS, órbita B4567, ponto 231_069, canais 1(R), 2(G), 3(B). Fonte - INPE, 1981. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007. Utilizando-se os canais RGB da imagem, num procedimento denominado de falsa cor, a área com cobertura vegetal aparece na cor vermelha e as áreas com outros usos aparecem em tons variados entre o amarelo e o marrom. A interpretação qualitativa que a imagem permite é a de que em 1981 a área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe ainda possuía uma grande concentração de cobertura vegetal e uma dispersão da ocupação para usos diversos. Para que a interpretação qualitativa pudesse ser feita com uma imagem mais atual, buscou-se uma imagem do satélite CBERS -2, de 2005. O CBERS é um satélite sino-brasileiro, Chine-Brasil Earth Resources Satellite. O CBERS 2 usa sensores CCD, uma evolução em relação aos sensores MSS e permite a obtenção de imagens com resolução de 20 metros. 93 Não se deve comparar quantitativamente imagens com resoluções espaciais de 30 e de 20 metros. Mas, mantendo a interpretação qualitativa e, apesar da presença de algumas nuvens, a imagem pode ser usada na interpretação da produção e reprodução do espaço na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Figura 18 - Imagem Cbers 2, adquirida em 21/12/2005, sensor CCD 1xs, órbita B234, ponto 148_114, canais 3 (R), 1 (G) e 2 (B). Fonte:INPE, 2005. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007. A opção por escolher uma imagem do satélite CBERS 2 de 21/12/2005, como mostra a figura 18, para integrar a série histórica de 24 anos iniciada com a imagem do satélite Landsat 2, de 1981, foi baseada no fato de ser possível visualizar o tamanho das áreas com remanescentes de vegetação e áreas com outro tipo de 94 uso. Em 1981 havia uma dispersão da ocupação, com preservação da cobertura vegetal. Em 2005 se tem uma concentração da ocupação, com a supressão e dispersão da cobertura vegetal. A partir das duas imagens foram construídas duas cartas temáticas recorrendo à metodologia de classificação MAXVER, máxima verossimelhança, como mostram as figuras 19 e 20. Figura 19 - Em 1981 a dispersão da ocupação preservava a cobertura vegetal na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Fonte: INPE – 1981. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007. 95 Figura 20 - Em 2005 a concentração da ocupação e supressão da cobertura vegetal caracteriza a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe Fonte: INPE-2005. Elaboração : CAETANO, Carlos Alberto, 2007. Entre a imagem Landsat 2 (1981), e a imagem CBERS 2 (2005), foi utilizada uma imagem do satélite SRTM, de 2000, como mostra a figura 21, abaixo, para a construção do modelo digital do terrreno da bacia em estudo. A imagem obtida com o satélite SRTM ou Shuttle Radar Topographic Mission (Missão Topográfica por Radar Interferométrico) adquirida entre 11 e 22 de fevereiro de 2000. 96 Figura 21. Altimetria em P&B com resolução espacial de 30 m. Fonte: SRTM. Elaboração : CAETANO, Carlos Alberto, 2007. A partir da construção da carta da figura 21, foi possível perceber que não existia nenhuma relação entre o rio Passa Vaca e o rio Jaguaribe, isto é, constatouse que o rio Passa Vaca não era um afluente do rio Jabuaribe. A partir dessa constatação, que ia de encontro à definição adotada oficialmente pela Prefeitura Municipal de Salvador, optou-se pela construção de uma carta de altimetria em cor, figura 22, que deixa explícito que esses dois rios apenas se encontram no estuário comum e que o último afluente do rio Jaguaribe é o rio Trobogy e não o rio Passa Vaca. 97 Figura 22. Altimetria Color com resolução espacial 30 m. Fonte: SRTM. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007 A análise das figuras 21 e 22, permite ver como o rio Jaguaribe é formado por dois tributários principais que se encontram em seu alto curso e que, já bastante próximo da sua foz, ele recebe seu último afluente, o rio Trobogy, em Piatã, na altura da localização do SESC. Estas imagens do satélite SRTM ajudam a perceber a possibilidade da existência das falhas geológicas, já apontadas anteriormente. Na imagem em preto e branco vê-se a existência praticamente de uma linha reta na transição do branco para o cinza, além de alguns tons acinzentados margeando a linha da praia. Na imagem colorida a elevação do terreno que impede que o Jaguaribe saia direto para o mar, ao invés de fazer uma curva para o Sul, também estão evidenciadas. 98 No baixo curso percebe-se pelas imagens das cartas de altimetria, figuras 21 e 22, que o relevo no baixo curso não é muito acidentado, o que facilitou a implantação nessas áreas de uma ocupação por população de classe mais elevada, que prefere ocupar os terrenos mais planos. Essa característica do relevo também explica a ocorrência de transbordamento do rio para a planície de inundação no baixo curso, onde estão estabelecidos alguns condomínios, quando há uma coincidência de ocorrência de grande precipitação pluviométrica com o fenômeno da maré alta. A ocorrência desses transbordamentos tem levado essas populações a reivindicarem da Prefeitura Municipal de Salvador um constante serviço de dragagem do leito do rio Jaguaribe, nas proximidades de sua foz, o que tem causado grande impacto ambiental nesse trecho do rio. Em nenhum desses episódios a Prefeitura discutiu se a dragagem do leito do rio era a melhor alternativa, junto a técnicos e especialistas. Sabe-se que, ambientalmente, a dragagem é uma condenação antecipada do rio à morte, uma vez que é removido seu processo natural de construção da própria calha. A análise destas imagens sugeriu ainda que a construção de um modelo digital com base nas curvas de nível seria útil para se visualizar melhor o que aparentou ser a existência das duas falha geológicas na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe: como já foi dito, uma acima do limite entre o médio e o baixo curso do rio e outra no baixo curso, onde o rio - ao chegar à planície litorânea -, não sai diretamente para o mar, fazendo uma curva. Ambas as ocorrência estão sinalizadas nas figuras 23 e 24 , com setas amarelas. Nessa fase do trabalho de construção desta Dissertação, adotou-se como definitiva a decisão de excluir a bacia hidrográfica do rio Passa Vaca da área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, tendo sido construídas as primeiras cartas com a nova área da bacia em estudo, como mostram as figuras 23 e 24. 99 Figura 23 - A existência de falhas geológicas na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Fonte: SRTM Elaboração: CAETAN0, Carlos Alberto, 2007. Figura 24 - MDT com curvas de nível de 5 m, comprova a existência das falhas geológicas na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Fonte: BRITO, 2005. Elaboração; CAETANO, Carlos Alberto , 2007. 100 Para possibilitar a análise da cobertura vegetal atual da área da bacia buscouse ainda uma imagem do satélite SPOT 4. Lançado em 24 de março de 1998. O SPOT 4 oferece imagens que podem ser ampliadas sem perda de foco, além de terem uma resolução espacial de 10 metros. A imagem analisada foi obtida em 2005, como se vê na figura 25, abaixo, mesmo período da imagem analisada anteriormente, obtida com o CBERS – 2 (figura 20), com uma resolução espacial de 20 metros. Quando a carta da figura 25 foi construída, ainda não havia sido feita a constatação da necessidade de redefinir a área da bacia em estudo, razão pela qual ela utiliza a área oficial, fornecida pela PMS. Figura 25 - Cobertura vegetal identificada em 2005: canais R(1), G(2) e B(3). Fonte: SPOT 4/2005 Elaboração: CAETANO, Carlos .Alberto, 2007. 101 Com essa imagem, somada à da figura 24, com as curvas de nível utilizadas na construção do MDT, foi possível verificar o que existia em 2005 da cobertura vegetal da área em estudo, como pode ser ver na figura 25, com a cobertura vegetal na cor vermelha. Existia uma concentração da cobertura vegetal mais representativa em dois trechos da área em estudo, isolados pela Avenida Paralela: um deles no médio curso e outro no baixo curso. E havia, consequentemente, uma dispersão da ocupação humana ao longo de toda a área. A última imagem de satélite utilizada para a caracterização do geossistema da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, uma imagem de alta resolução, obtida através do satélite Quick Bird. Trata-se de uma imagem obtida também em 2005 mas que possui uma resolução espacial bem melhor do que a das imagens utilizadas anteriormente, como pode ser visto na figura 26. Ela permite identificar um pequeno remanescente de cobertura vegetal na região de Cajazeiras, que não estava totalmente identificado nas figuras anteriores, mas confirma a existência de uma concentração da cobertura vegetal no médio baixo curso do rio. 102 Figura 26. Imagem de satélite mostra situação real da ocupação da área em estudo em 2005: Fonte: Quick Bird Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007. 3.1.2 As variáveis sociais – O Censo Demográfico A bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe contém 21 áreas de ponderação. Tratase, evidentemente, de uma forma específica de organizar a projeção de dados socioeconômicos sobre o espaço geográfico. Não foi encontrada na revisão de literatura nenhuma outra pesquisa que utilizasse essa base de dados em relação à área em estudo. As áreas de ponderação foram utilizadas como recurso para se projetar no espaço os dados levantados pelo Censo 2000, e que serviram de base para a interpretação proposta por esta pesquisa. 103 Figura 27. Bairros contidos em cada área de ponderação que integra a bacia hidrográfica do rio Jaguaribe – SSA/BA. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). A figura 27 apresenta os nomes dos bairros contidos em cada área de ponderação, bem como o número oficial que cada área recebeu no Censo 2000/IBGE. A divisão do rio Jaguaribe em alto, médio e baixo curso foi feita adotando-se como critério manter no Alto Curso os rios Cambonas e Águas Claras, até sua junção formando propriamente o Jaguaribe. O Médio Curso foi considerado desse ponto até a interceptação pela Avenida Paralela. O Baixo Curso foi tomado como sendo o trecho a partir desse “corte” feito pela Paralela até a foz. 104 A seguir foi organizado o Quadro 8 com as informações obtidas no Censo 2000, referentes à população de ambos os sexos residente em domicílios particulares em todas as áreas de ponderação, organizada pela numeração oficial dessas áreas. QUADRO 8 – Pessoas de ambos os sexos residentes em domicílios particulares permanentes por área de ponderação na Bacia Hidrográfica do rio Jaguaribe – SSA/BA. Numeração das áreas de Ponderação pelo IBGE / Bairros que as integram 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Abaeté / Nova Brasília de Itapuã) (Patamares / Piatã) (Pq. Exposição / Alto do Coqueirinho / Km 17/ ExCombatentes) (Bairro da Paz) (Itapuã / Nova Conquista) (Stella Maris / Aeroporto) (Mussurunga) (São Cristovão) (Pirajá) (Calabetão / Granjas Pres. Vargas / Jardim Santo Inácio (Dom Avelar / Porto Seco – Pirajá) (Castelo Branco / Cajazeiras II e IV) (V. Canária / 7 de Abril / Jd. Nova Esperança) (São Marcos/Canabrava/Rec. Ilhas/Col. Pituaçu/ Viv. Pássaros/Viv. Campos/ Nova Cidade/ Jd das Limeiras/ Paralela Park/Lagoa Verde (Estrada do Mocambo/Projeto ASA/Aldeia das Pedras/Flamboyants/Trobogy/Nova Brasília/Cj Jaguaribe (Valéria) (Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata/ Águas Claras) (Nogueira/Cajazeiras III) (Cajazeiras V, VI e VII) (Cajazeiras VIII) (Cajazeiras X e XI) Residentes / Sexo Masc. 9.364 13.196 Fem. 10.305 14.325 Total 19.669 27.521 12.188 13.218 25.406 8.589 8.162 6.521 17.405 14.086 13.474 8.817 9.366 7.148 18.761 14.724 14.598 17.406 17.528 13.669 36.166 28.810 28.072 9.288 9.924 19.212 7.235 12.980 16.490 7.664 14.309 17.668 14.899 27.289 34.158 26.448 29.697 56.145 9.889 10.664 20.552 11.156 11.594 22.750 13.572 14.065 27.637 7.475 9.907 9.113 8.201 7.892 10.978 9.859 9.071 15.367 20.885 18.972 17.272 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). As informações contidas no Quadro 8, posteriormente foram organizadas no formado de um rol em ordem crescente de acordo com a quantidade de população residente, como mostra o Quadro 9. Ao organizar esse rol o objetivo buscado foi o 105 de desenhar os extremos de residentes ao longo da bacia hidrográfica, ou seja, quais as áreas de ponderação com maior e menor população residente, para que posteriormente esses dados fossem organizados em relação ao curso do rio em estudo. QUADRO 9 - Rol de pessoas residentes nas áreas de ponderação que compõem a bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe, SSA – BA. Áreas de Ponderação pela numeração oficial do IBGE/ bairros que as integram 06 75 83 86 04 – 05 85 – Stella Maris / Aeroporto D. Avelar /Porto Seco-Pirajá Nogueira /Cajazeiras III Cajazeiras X / XI Bairro da Paz Itapuã / Nova Conquista Cajazeiras VII 72 - Calabetão /Granjas Pres. Vargas / Jd.Sto. Inácio Quantitativo de residentes em ordem crescente 13.669 14.899 15.367 17.272 17.406 17.528 18.972 19.212 01 – Abaeté/ Nova Brasília de Itapuã 80 – Mocambo / ASA / Aldeia Pedras / Flamboyants Trobogy / Nova Brasília/Cj. Jaguaribe 84 – Cajazeiras V / Cajazeiras VI / Cajazeiras VII 81 – Valéria 19.669 03 – Pq. Expo / Coqueirinho / Km 17 / Ex-Combatentes 25.406 20.552 20.885 22.750 76 – Castelo Branco / Cajazeiras II / Cajazeiras IV 27.289 02 – Patamares / Piatã 82 – Cajazeira / Bico Doce / Palestina / Boca da Mata / Águas Claras 27.521 70 – Pirajá 28.072 34 – São Cristóvão 28.810 77 – Vila Canária / Sete de Abril / Jd. Nova Esperança 34.158 33 – Mussurunga 36.166 27.637 79 – São Marcos / Canabrava / Recanto das Ilhas / Colinas de Pituaçu / Vivenda dos Pássaros / Vivenda dos Campos / 56.145 Nova Cidade / Jd. Das Limeiras / Paralela Park / Lagoa Verde Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). No Quadro 9 se pode ver onde ocorre a maior presença de residentes localizada em apenas uma área de ponderação, com grande concentração em São Marcos e adjacências (79), seguido por Mussurunga (33) e Vila Canária, Sete de 106 Abril e Jardim Nova Esperança (77). Além desses extremos onde os residentes estão mais concentrados, o Quadro 9 mostra também que Stella Maris/ Aeroporto (06), Dom Avelar / Porto Seco-Pirajá e Nogueira / Cajazeiras III são as áreas com menor número de residentes. Tais ocorrências podem ser explicadas pelo fato de as áreas de Stella Maris/Aeroporto serem ocupações mais recentes, com população de maior renda e , no caso de Porto Seco-Pirajá (não envolve o bairro de Pirajá), a explicação pode ser dada pelo fato de existir no local uma grande área de uso comercial, sem grande número de residentes. No caso das áreas com maior população, tratam-se de bairros proletários que sofreram um processo de verticalização com a construção de verdadeiros “paredões” habitacionais com vários andares. Para facilitar a interpretação da relação entre a produção do espaço como residência pela população e a área da bacia hidrográfica propriamente dita, uma vez que pelo senso comum ninguém reside em um bacia hidrográfica, foi montado o Quadro 10, com as áreas de ponderação agrupadas dessa vez seguindo o curso do rio, ou seja, juntou-se aquelas áreas de ponderação que estão localizadas ano alto curso em um bloco; as que estão no médio curso em outro e, finalmente, as que estão no baixo curso em outro. A necessidade de construção desse quadro seguindo o curso do rio, embora pudesse parecer evidente desde o início da pesquisa, tornou-se mais clara quando foi elaborado o Quadro 9, que mostrou a existência de extremos quantitativos (maior população residente/menor população residente) ocorrendo simultaneamente no baixo, médio e alto curso. 107 Como exemplo se pode observar que Stella Maris/Aeroporto e Nogueira/Cajazeira, que aparecem com menor população, estão respectivamente no baixo e alto curso do rio. Vila Canária, Sete de Abril e Jardim Nova Esperança , que localizam-se no Alto Curso, aparecem entre as áreas com maior quantitativo populacional, embora a maior parte das áreas de ponderação com população elevada está localizada no Médio Curso. QUADRO 10 – População residente nas áreas de ponderação da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe, SSA – BA, segundo o curso do rio. A = ALTO CURSO Quantitativo de M = MÉDIO CURSO residentes B= BAIXO CURSO A – 70 – Pirajá 28.072 A – 81 – Valéria 22.750 A – 75 – Dom Avelar / Porto Seco-Pirajá 14.899 A – 83 – Nogueira / Cajazeira III 15.367 A – 82 – Cajazeira / Bico Doce / Palestina / Boca da Mata 27.637 A – 77 – Vila Canária / Sete de Abril / Jardim. Nova Esperança 34.158 A – 76 – Castelo Branco / Cajazeiras II e IV 27.289 A - 84 – Cajazeiras V, Cajazeiras VI e Cajazeiras VII 20.885 A - 86 – M – 72 M – 79 – Cajazeiras X e Cajazeiras XI Calabetão / Granjas P. Vargas / Jd. Sto. Inácio São Marcos / Canabrava / Recanto das Ilhas /Colinas de Pituaçu / Vivenda dos Pássaros /Vivendas do Campo / Nova Cidade / Jardim das Limeiras / Paralela Park / Lagoa Verde Estrada do Mucambo / Projeto ASA / Aldeia das Pedras / Flamboyants / Trobogy / Nova Brasília / Conjunto Jaguaribe 17.272 19.212 M – 80 – 56.145 20.552 M – 85 – Cajazeiras VIII 18.972 M – 33 – Mussurunga 36.166 M – 34 – São Cristóvão 28.810 B – 06 – Stella Maris / Aeroporto 13.669 B – 03 – Pq Exposição / Coqueirinho / Km 17 / Ex-Combatentes 25.406 B – 01 – Abaeté / Nova Brasília de Itapuã 19.669 B – 05 – Itapuã / Nova Conquista 17.528 B – 04 – Bairro da Paz 17.406 B – 02 – Piatã / Patamares 27.521 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 108 Para facilitar a interpretação desses dados do Quadro 10, optou-se pela construção de gráficos de barras e, num primeiro momento, as 21 áreas de ponderação e seus respectivos dados foram colocados no Gráfico 2, cuja compreensão foi considerada prejudicada devido ao excesso de informação. Apesar disso, o Gráfico 1 evidencia a concentração de áreas de ponderação com maior contingente populacional no médio curso do rio; que o alto curso do rio apresenta a população mais dispersa entre as diversas áreas de ponderação, embora exista uma variação significativa entre os quantitativos das diversas áreas. Já o baixo curso apresenta a menor concentração populacional, estando inclusive aí localizada a área com a menor população residente. DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NAS 21 ÁREAS DE PONDERAÇÃO QUE COMPÕEM A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JAGUARIBE, SSA-BA Gráfico 2. No médio curso do rio encontram-se as áreas com maior população. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 109 Diante do excesso de informação evidenciado no Gráfico 2 e da necessidade de se construir diversos outros com as demais informações obtidas no banco de Microdados da Amostra do Censo de 2000, optou-se por selecionar 15 áreas de ponderação e numerá-las em ordem crescente, de acordo com o curso do rio para facilitar a construção e a interpretação dos gráficos. A seleção foi feita e resultou no Quadro 11. Um questionamento feito: o fato de que as informações estavam, do ponto de vista estatístico, na escala de freqüência e não na escala de razão. Isso significa que na escala de freqüência não havia um valor “zero” e, para o cálculo dos resíduos, que foi feito posteriormente, era necessário que os dados estivessem na escala de razão. O problema foi solucionado com a transformação dos dados relativos à cada área de ponderação em percentagem da população total residente na área da bacia, resultando num rol onde as informações sobre a população residente em cada área estavam na escala de razão. QUADRO 11 – As Áreas de ponderação da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe, SSA – BA, selecionadas para a análise. A = ALTO CURSO M = MÉDIO CURSO B= BAIXO CURSO O número que se segue às letras A; M e B corresponde à numeração de cada área de ponderação dada oficialmente pelo IBGE. Residentes % do TOTAL DA BACIA 1 - ( A 82) - Cajazeira / Bico Doce/ Palestina / Boca da Mata 27.637 4,94 2 – (A 84) – Cajazeiras V, Cajazeiras VI e Cajazeiras VII 20.885 3,73 3 – (A 76) – 4 – (A 86 )– 5 – (A 75 )– Castelo Branco / Cajazeiras II e IV Cajazeiras X e Cajazeiras XI Dom Avelar / Porto Seco-Pirajá 27.289 17.272 14.899 4,88 3,09 2,66 6 – (A 83) – Nogueira / Cajazeira III 15.367 2,75 7 – ( A 81) - Valéria 22.750 4,06 8- (M 79 ) – São Marcos / Canabrava / Recanto das Ilhas / Colinas de Pituaçu / Vivenda dos Pássaros / Vivendas do Campo / Nova Cidade / Jardim das Limeiras / Paralela Park / Lagoa Verde Estrada do Mocambo / Projeto ASA / Aldeia das Pedras / Flamboyants / Trobogy / Nova Brasília / Conjunto Jaguaribe 9 – (M 80) – 56.145 20.552 10,04 3,67 10 – (M 33) – Mussurunga 36.166 6,46 11 – (B 04) – Bairro da Paz 17.406 3,11 12 – (B 03) – Pq Exposição / Coqueirinho / Km 17 / Ex-Combatentes 25.406 4,54 13 – (B 01) – Abaeté / Nova Brasília de Itapuã 19.669 3,51 14 – (B 05) – Itapuã / Nova Conquista 17.528 3,13 15 – (B 02) – Piatã / Patamares 27.521 4,92 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 110 Destaque-se que a numeração das áreas de ponderação no Gráfico 3 não corresponde à numeração das mesmas pelo IBGE, uma vez que se refere à numeração de 1 a 15 dada às áreas que foram escolhidas para formar um “desenho” da população residente segundo o do curso do rio, conforme apresentado no Quadro 4. Gráfico 3 - Concentração de residentes é maior em áreas do médio curso do rio Jaguaribe, SSA-BA. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). Pode-se observar, analisando o Gráfico 3, que o alto curso do rio tem, entre as áreas escolhidas, a maior população residente e que, o médio curso do rio, tem a maior concentração de residentes em uma única área, com uma população 111 significativamente maior na área de ponderação de São Marcos e entorno, que aparece com o número 8 no Gráfico 3. Na área de São Marcos e entorno ocorre uma verticalização das moradias, formando verdadeiros paredões de residências de três ou quatro andares, sem nenhuma área livre, com acessos internos por escadas. No trabalho de campo se evidenciou que nenhuma destas construções possui elevador e condições mínimas de prevenção em relação à incêndio, por exemplo, como saídas de emergência. QUADRO 12 - Domicílios particulares independente da condição de próprios, permanentes, cedidos e-ou alugados na Bacia Hidrográfica do Rio Jaguaribe, SSA-BA. Áreas de Ponderação Total de domicílios selecionadas para a análise 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 7.232 5.500 7.038 4.506 3.866 3.967 5.799 16.061 5.566 9.284 4.559 6.724 5.139 4.707 7.085 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007) A partir do Quadro 12 foi elaborado o Gráfico 4, onde se percebe a concentração de domicílios existente na área 8, que corresponde a São Marcos e entorno, comprovando que se trata da área com tendência a apresentar mais problemas de diversas características em relação à concentração de grande número de domicílios num pequeno espaço. 112 Gráfico 4 - São Marcos e entorno (8) têm a maior concentração de domicílios em toda a bacia hidrográgica do rio Jaguaribe, Salvador, BA. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). O Gráfico 4 também mostra que, entre as áreas escolhidas, existem mais domicílios no alto curso do rio distribuídos nas diversas áreas, diferentemente do médio curso onde os mesmos estão concentrados. A proximidade dessas áreas do médio curso com a avenida Paralela e o próprio Centro Administrativo da Bahia, onde estão os órgãos do Governo do Estado, localizado na margem dessa avenida, explicam em parte a concentração dessa parcela da população de classe mais baixa numa área de ocupação irregular, diferentemente do alto curso, onde a ocupação se deu através da implantação dos conjuntos habitacionais de Cajazeiras, ocorrida a partir de 1980. 113 A análise dos dados referentes à população que habita a área possibilita, ainda, uma interpretação sobre a relação que se estabelece entre a quantidade de moradores e a quantidade de domicílios, evidenciando que em toda a área em estudo não são famílias numerosas residindo em poucos domicílios, ao contrário, a maior parte das famílias têm, no máximo dois moradores por cômodo, conforme se vê no Quadro 13. QUADRO 13 - Densidade dos moradores por cômodo dos domicílios particulares permanentes Áreas de Ponderação Selecionadas para análise Até 0,5 Mais de 0,5 a 1,0 Mais de Mais de 1,0 a 1,5 1,5 a 2,0 Mais de 2,0 a 3,0 Mais de Mais de 4,0 3,0 a 4,0 1 1.746 3.495 1.067 561 233 89 41 7.232 2 1.675 2.767 628 286 124 8 12 5.500 3 2.055 3.517 782 375 214 51 46 7.038 4 1.372 2.474 436 162 50 12 - 4.506 5 1.239 2.105 346 105 72 - - 3.866 6 1.090 2.092 409 271 73 16 17 3.967 7 1.325 2.725 862 486 264 55 82 5.799 8 5.910 7.881 1.180 532 306 123 129 16.061 9 1.812 2.456 600 345 251 68 34 5.566 10 2.979 4.499 1.037 390 225 77 78 9.284 11 776 1.759 848 590 345 344 152 90 4.559 12 2.511 3.008 685 134 10 31 6.724 54 35 22 5.139 Total 292 13 1.758 2.389 590 14 2.402 1.765 329 164 26 9 12 4.707 15 3.850 2.378 357 241 208 32 18 7.085 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). No alto curso do rio estão as duas áreas que não possuem mais de quatro moradores por cômodo, as de número quatro e cinco, respectivamente Cajazeiras X 114 / XI e Dom Avelar / Porto Seco – Pirajá. Pode-se interpretar essa ocorrência pelo fato dessa última ser tanto de uso residencial quanto comercial e, no caso da primeira, por se tratar de prédios de conjuntos habitacionais de dois quartos. Ainda no alto curso, Valéria, a de número 7, é a que aparece com maior número de domicílios com mais de quatro moradores por cômodo. Trata-se de um bairro de classe mais baixa, de moradias térreas, localizado após o corte que a BR-324 faz na área da bacia. No médio curso do rio, a área de número 8 (São Marcos e entorno) aparece novamente com maior número de domicílios com mais moradores por cômodo. Merece destaque também a ocorrência na área de número 11 (Bairro da Paz), já localizada no baixo curso do rio. Uma área de ocupação irregular recente que enfrenta diversos problemas sociais relacionados inclusive com o tráfico de drogas e que se apresenta com um alto índice de domicílios com mais de quatro moradores por cômodo. Em relação à renda da população, a análise das áreas de ponderação selecionadas evidencia que existe uma variação mais ou menos regular no alto curso do rio, como mostra o gráfico 5, o que permite inferir que se trata de uma área mais ou menos homogênea socioeconomicamente, habitada majoritariamente por integrantes de uma mesma classe social. No médio baixo curso do rio existe uma área de ponderação que foge desse padrão de homogeneidade socioeconômica evidenciada no alto curso: São Marcos e seu entorno (8), que apresentam uma renda mais alta. Cabe a ressalva de que esses dados relativos a São Marcos e seu entorno podem estar relacionados com o fato já registrado anteriormente de haver uma grande concentração populacional em uma área relativamente pequena. 115 Gráfico 5- O Bairro da Paz aparece com a menor renda média per capita e Patamares com a maior. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). Já o Bairro da Paz (11) , se apresenta praticamente como um “gueto”, com a renda mais baixa de toda a área da bacia. A renda média individual era menor do que R$ 100,00 na época do Censo 2000. Trata-se de uma área de ocupação ‘irregular’ que se consolidou a partir dos anos 80, sendo habitada por segmentos mais pobres da população. O local não possui infra-estrutura adequada, em especial saneamento básico, pavimentação, etc., e é palco de diversas práticas de violência ligadas à ação marginal, incluindo o tráfico de drogas e atuação de grupos de extermínio. 116 Há ainda a evidência de concentração de população com renda mais alta no baixo curso, particularmente nas áreas 14 (Itapuã/Nova Conquista) e 15 (Piatã/Patamares), sendo a última bastante superior a todas as demais, como mostra o Gráfico 6. Gráfico 6 - O Bairro da Paz (área 11) aparece com a mais baixa renda média domiciliar na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, SSA- BA. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). É importante destacar que as duas ocorrências, o Bairro da Paz (11) que aparece com os menores índices de renda média domiciliar e Patamares (15) com os mais altos, estão localizados no baixo curso do rio. Pode-se perceber pelo gráfico que a renda domiciliar média no alto curso do rio gira em torno de aproximadamente R$ 500,00 e no Bairro da Paz fica bastante abaixo disso. 117 Para diversificar essa interpretação se buscou analisar a renda mediana também no que diz respeito tanto à renda domiciliar como em relação à renda per capita. O objetivo da análise da renda mediana foi evitar que ocorressem distorções comuns quando uma parte da população tem uma renda muito alta e outra parte uma renda muito baixa, dando como resultado uma renda média elevada. A renda mediana mostra o valor que está no meio, o que ajuda a interpretar melhor a questão da renda quando ocorrem casos de valores extremos elevados ou baixos. O resultado encontrado foi o que se vê nos gráficos 7 e 8. Gráfico 7 - A mediana mantém o Bairro da Paz no índice mais baixo. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 118 Em quatro áreas de ponderação encontramos rendas medianas individuais abaixo de R$ 100,00: Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata/Águas Claras (área 1); D. Avelar/Porto-Seco Pirajá (área 5); Valéria(área 7) e Bairro da Paz (área 11), sendo que a mais baixa delas é a do Bairro da Paz (11). Esse dado confirma que o Bairro da Paz é a maior concentração de extrema pobreza em toda a área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe e que em nenhuma outra área do alto curso, esse problema se apresenta de forma tão evidente. As rendas medianas domiciliares confirmam que Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata (área 1); Dom Avelar/Porto Seco – Pirajá (área 5); Valéria (área 7) e Bairro da Paz (área 11) como as de rendas mais baixas. Em todas as simulações Itapuã (área 14) aparece como a segunda melhor renda entre as áreas da bacia, em algumas simulações aproximando-se de Patamares (15) – a maior renda – quando se calcula, por exemplo, tanto a renda mediana per capita como a mediana domiciliar, como se vê no Gráfico 8. 119 Gráfico 8 – A mediana não traz alterações significativas à análise. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). A renda mediana per capita não esconde o elemento principal que se buscou na análise desses dados estatísticos: comprovar que o que diferencia a população que habita as diferentes áreas de ponderação da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe é a renda. Ou seja, que é a condição de classe social dessa população que faz a diferença. Analisou-se, em seguida, um aspecto importante da caracterização dessa população: qual a porcentagem dela que teve ou que não teve acesso ao estudo, para se estabelecer a existência ou não de uma relação entre a parcela da população sem instrução e sua renda e condição de classe social. 120 Gráfico 9 - A população sem instrução aparece no alto, no médio e no baixo curso do rio. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). A análise dos dados referentes à população sem instrução mostra que ela se concentra mais no médio curso do rio, havendo alguns aspectos importantes de serem observados pontualmente tanto no alto curso como no baixo curso do rio. Em primeiro lugar destaque-se que a área com menor índice de população sem instrução está no alto curso, Cajazeiras X e XI, que aparece como a área 4 no Gráfico 9. Isolando-se os dados relativos à área 8, São Marcos e entorno, onde há o maior número de habitantes, maior número de residências, etc, aparecem três ocorrências com similaridade: no alto curso, Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata que aparece como área 1; no médio curso, Estrada do Mocambo e entorno, 121 que aparece como área 9 e no baixo curso o Bairro da Paz, que aparece como área 11. Os três casos referem-se a áreas com grande número de invasões e ocupações irregulares onde os moradores não têm acesso à educação, praticamente não existem escolas ou, quando existem, não dão conta da demanda. Essas áreas também aparecem nos gráficos sobre a renda da população com índices de bastante baixos, as menores rendas no alto, médio e baixo curso, o que permite que se faça uma primeira constatação da relação entre a renda e a instrução. Quanto menor a renda, maior a população sem instrução. Não há uma grande diferença no que diz respeito à população sem instrução em pelo menos quatro das áreas de ponderação analisadas: no alto curso do rio as áreas 5 – D. Avelar/ Porto-Seco/Pirajá – e 6 – Nogueira e Cajazeiras III; no baixo curso do rio as áreas 14 – Itapuã e Nova Conquista e 15 – Patamares/ Pituaçu. Analisando-se a renda dessas populações vemos que elas não estão entre as menores rendas medianas per capita ou mediana domiciliar no caso do alto curso e estão entre as mais altas rendas nos dois casos do baixo curso. A área 5 é também a que tem menor densidade de moradores por cômodo no alto curso, o que é indicativo de uma forma de organização familiar que não é compatível com a forma de vida de pessoas de renda mais baixa e a área 6 não aparece entre as com renda mais baixa nos gráficos de análise de renda. Mas uma vez a premissa da relação entre renda baixa e baixa escolaridade se configura. Em relação ao quesito analisado no Gráfico 10, ter estudado no mínimo 15 anos, compreende-se esse período como um mínimo de 02 anos nas séries iniciais (creche ou pré-escola); os 04 anos do ensino fundamental; os 07 anos do ensino médio e o início do ensino superior. 122 Gráfico 10 - A descontinuidade nos estudos foi uma das grandes contradições encontradas. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). Vale destacar que a área de número 11 (Bairro da Paz) nem pontua nesse índice, o que significa que não existem ali pessoas com 15 anos ou mais de estudo, o que indica uma forma de segregação que estabelece uma relação direta entre pobreza e educação, uma vez que já se viu que ali residem as pessoas mais pobres de toda a área da bacia. Os índices relacionados às áreas de ponderação do alto curso também são muito baixos. Pode-se afirmar que em todo o alto curso do rio poucos moradores estudaram mais de 15 anos. No médio curso, São Marco (área 8) aparece numa 123 posição melhor do que Itapuã e Nova Conquista (área 14) mas esse fato também pode ser influenciado pelo maior número de moradores na área de São Marcos. Destaque no acesso à educação deve ser feito apenas para Patamares (área 15). Onde mora a população com maior renda, também está a população que tem maior acesso à educação. A análise do Gráfico 10 traz, mais uma vez e de forma bastante evidenciada, a existência de segregação socioeconômica espacial na área em estudo. A partir da interpretação de que os microdados do Censo 2000 permitem inferir a existência de segregação socioeconômica espacial nas áreas de ponderação da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, optou-se por analisar a declaração de cor ou raça dessa mesma população. Os resultados obtidos apresentam uma contribuição para a discussão da relação entre segregação socioeconômica e discriminação de origem étnica em Salvador. Trata-se, sem dúvida, de uma questão polêmica, por se tratar da Bahia e particularmente da cidade de Salvador, onde a maioria da população é considerada afrodescendente. Cabem, em primeiro lugar, algumas ressalvas: não interessou a este trabalho discutir o que significa ser ou não ser afrodescendente, uma vez que isso foge ao objetivo proposto. Segundo, a declaração espontânea de “cor da pele” do entrevistado ao IBGE, pode esconder uma série de preconceitos do próprio entrevistado, o que é impossível aferir numa interpretação de dados como a que este estudo propõe. Mas esses dados contribuem transversalmente com o mosaico construído no contexto desta dissertação de mestrado. O fato é que tais dados obtidos com a auto-declaração de cor da pele estimulam uma especulação sobre origem racial dessa população mas requerem 124 uma pesquisa mais aprofundada do que a que foi feita pelo Censo 2000. Com o objetivo de estimular a discussão sobre o tema o resultado obtido traz algumas contribuições. Gráfico 11 - População que se declara de cor parda. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). A parcela da população que se declara de cor parda, conforme se vê no Gráfico 11, é bastante significativa no médio curso do rio. É importante que se compreenda que em gráficos de freqüência, quando se tem um maior número de pessoas morando em uma área, todos os índices aí poderão ser maiores, por isso é preciso ler ‘nas entrelinhas’ destas colunas e não se afirmar simplesmente que na área de ponderação com o numero 8 há um maior de pessoas pardas. O mesmo vale para as outras interpretações feitas anteriormente nas quais foi feita essa mesma ressalva. 125 Há ainda a evidência de que no baixo curso o número de pessoas que se declaram de cor parda atinge índices menores do que no alto curso. E que o índice mais baixo de pessoas que se declaram de cor parda em toda a bacia está na área de ponderação numerada como 14, que corresponde a Itapuã e Nova Conquista. O número de pessoas que se declaram de cor parda é muito mais significativo do que o número de pessoas que se declaram de cor preta, conforme o Gráfico 12, (mais do que o dobro), se olharmos as quantificações na coluna vertical dos dois gráficos. Os que se declaram pardos chegam a mais de 30 mil na área 8, de maior ocorrência, enquanto os que se declaram pretos chegam a 12 mil na maior ocorrência, que também é a área 8. Gráfico 12 - No médio curso, onde há mais população, há maior número de pretos. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 126 No alto curso do rio o número dos que se declaram pretos está acima da média, quase o dobro, na área 3, Castelo Branco/Cajazeira II e IV. Também aparece acima da média na áreas 1 (Cajazeira/Bico Doce/ Palestina/Boca da Mata/Águas Claras). No baixo curso do rio tanto a área 12 (Alto do Coqueirinho/KM 17/Parque de Exposições/Vila dos Ex-Combatentes) como a área 13 (Abaeté/Nova Brasília) aparecem com os índices mais altos daqueles que se declaram de cor preta. Estas áreas de ponderação podem ser consideradas como “quilombos urbanos”, áreas habitadas majoritariamente por pessoas de origem negra, que se declaram negras e que integram, inclusive, movimentos culturais como os promovidos pelo Bloco Afro Malê de Balê, localizado na área da Lagoa do Abaeté. Vale o destaque de que na área 11 (Bairro da Paz), tanto os que se declaram pardos como os que se declaram pretos estão dentro do que podemos considerar a média da mostra. Somando-se os que se declaram pretos e os que se declaram pardos, para se chegar ao que seria o número de pessoas que podem ser consideradas negras aos quais se poderia atribuir de forma mais efetiva o genérico afrodescendentes, tem-se como resultado o Gráfico 13. 127 Gráfico 13 - Somados pretos e pardos, resultando nos que podem ser considerados negros. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). O gráfico 13 indica que a presença do maior número de pessoas que podem ser consideradas negras está, significativamente, entre as áreas localizadas no médio curso, ‘descontando-se’ a eventual distorção que possa causar o maior contingente populacional presente na área 8. A presença de negros também é muito significativa no alto curso do rio, particularmente na área 1 (Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata); área 3 (Castelo Branco/Cajazeiras II e IV) e área 7 (Valéria). No baixo curso do rio a área 12 (Parque de Exposição/Coqueirinho/Km 17/ExCombatentes) aparece com um índice elevado e o mesmo ocorre na área 15 (Piatã/Patamares). 128 Fazendo o cruzamento das informações obtidas com a análise da declaração de cor da população com o gráfico de renda dessa mesma população, se pode observar que a área 1(Cajazeira/Bico Doce/Palestina/Boca da Mata), a área 5 (Dom Avelar/Porto Seco-Pirajá), a área 7 (Valéria), no alto curso do rio, e a área 11(Bairro da Paz), no baixo curso do rio, aparecem com as menores rendas. Quanto à declaração de cor, as áreas (1) e (7) aparecem como as mais habitadas por pessoas que se declaram pardas e pretas, ou seja, negras, na área em estudo. Vale o registro de que também na área 3 (Castelo Branco/Cajazeiras II e IV) o número dos que se declaram pretos e pardos é alto mas na análise da renda essa área de ponderação não aparece entre as que têm população com renda mais baixa, estando localizada na faixa que pode ser considerada como de renda média. Portanto, os microdados do Censo 2000 permitem interpretar com segurança que, como algumas nascentes dos tributários que formam o rio Jaguaribe estão localizadas exatamente nas áreas de Cajazeiras, Bico Doce, Palestina, Boca da Mata, Águas Claras, Valeria e Castelo Branco e entorno, essas áreas são habitadas pela maioria da população de renda mais baixa e que se declara de cor parda ou preta, ou seja, os chamados afrodescendentes. Outro dado que merece destaque diz respeito à área 14 (Itapuã/Nova Conquista) e à área 15 (Piatã/Patamares), que aparecem nos gráficos de renda como aquelas com maior número de residências de pessoas com renda mais alta, sendo os valores atribuídos a Itapuã mais baixos que os atribuídos a Patamares. Em relação à declaração de cor, tanto os que se declaram pardos ou pretos em Itapuã, 129 aparecem com o índice mais baixo do que Patamares, considerada área de maior renda em toda a bacia. Este dado requer/indica a necessidade de um trabalho de campo específico para comprovação desses fatos, o que foge ao objeto desta dissertação. Como a área 14 (Itapuã/Nova Conquista) tem um número mais baixo de pessoas que se declaram pardas e pretas, isso se reflete no baixo número de pessoas consideradas negras que é um somatório das duas primeiras opções. Pela própria história de Itapuã, uma antiga colônia de pescadores negros e mestiços, tais fatos requerem uma apuração mais atenta. Não se pode desconhecer, no entanto, que a antiga colônia de pescadores se transformou num balneário de classe média no final do século passado. Vale o destaque de que, os que se consideram brancos em Itapuã, também são o dobro dos que se consideram pretos e pardos. Na análise do gráfico 14, relativo aos entrevistados que se declaram brancos, se repete o fato de que onde tem maior população tem maior número de brancos, mais uma vez aparecendo a área 8 (São Marcos e entorno) com maior número de habitantes nessa condição. Excluído esse fato, a área 15 (Piatã/Patamares) aparece bastante acima das demais e a área 11 (Bairro da Paz) evidencia que, além de ser aquela que tem a menor renda, também é a que tem o menor número de pessoas que se declaram brancas. 130 Gráfico 14 - A população que se declara branca está concentrada no médio-baixo curso do rio. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra – SEI – 2007. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). Vale destacar o fato de que no baixo curso do rio a área 13 (Abaeté/Nova Brasília) aparece no mesmo patamar das áreas do alto curso no que diz respeito à declaração de ser branco, o que indica que esses não são lugares preferidos para moradia por pessoas que se consideram, de fato, brancas. Para complementar a análise desses gráficos de freqüência se optou por escolher as variáveis ‘ser alfabetizado’ e ‘ser economicamente ativo’ para aprofundar a interpretação sobre as unidade internas do geossistema em estudo, com a construção de mapas temáticos onde são diferenciados o alto, o médio e o baixo curso, e que estão apresentados no próximo capitulo com o objetivo de se construír uma análise qualitativa a partir dos dados quantitativos, como pede o método de abordagem utilizado nesta dissertação. 131 CAPÍTULO 4 4 ANÁLISE GEOSSISTÊMICA 4.1 AS UNIDADES INTERNAS DO GEOSSISTEMA 4.1..1 O alto, o médio e o baixo curso como geofácies A opção pela da divisão do rio em alto, médio e baixo curso como unidades internas do geossistema, consideradas como já foi dito como geofácies, obedeceu a uma preocupação de caráter metodológico, no sentido da construção de um modelo para análise, uma preocupação comum aos pesquisadores que trabalham com esse paradigma. Exemplo dessa preocupação pode ser visto no trabalho de Monteiro (2001), onde o autor afirma que, ao falar sobre a montagem de um modelo, sobre o problema da “modelização” acentuei ali a necessidade de modelos múltiplos, sobretudo considerando as peculiaridades geográficas de tamanho (continental), grau de desenvolvimento econômico e capacidade científica e tecnológica. Apontava ali como requisitos básicos à modelização dos “geossistemas” – veículo de compreensão das alterações naturais e derivações antropogênicas […] MONTEIRO (2001, p.53;54). No caso deste trabalho, (o paradigma do geossistema foi aplicado em uma área de proporções bem menores do que as de tamanho continental citadas pelo autor), a bacia hidrográfica em estudo foi considerada como um geossistema. Adotou-se, então, a divisão comum aos estudos da Geografia sobre as bacias hidrográficas, ou seja, a segmentação do rio em alto, médio e baixo curso, sendo cada um desses segmentos do rio considerado como um geofácie. 132 Entre os requisitos básicos apontados por Monteiro (2001), para a modelização dos geossisstemas, considerou-se que os aspectos socioeconômicos, analisados divididos nas Áreas de Ponderação adotadas pelo IBGE no Censo 2000, cumpriam a função proposta pelo autor. O próprio Monteiro (2001) fala sobre a importância da integração dos elementos socioeconômicos. Segundo ele, é importante que se considere a montagem (do modelo) sob perspectiva de um Sistema Singular Complexo onde os elementos socioeconômicos não sejam vistos como um outro sistema, oponente e antogônico, mas sim incluído no próprio sistema […] MONTEIRO (2001, p. 54) A divisão em alto, médio e baixo curso como unidades internas do geossistema, e a divisão de cada uma dessas unidades em Áreas de Ponderação, cumpre o papel de manter uma sincronia entre os dados trabalhados. Monteiro (2001, p.54), afirma ainda que os outros requisitos básicos são, exatamente, a capacidade de manter (assumir) um jogo de relações sincrônicas; a representação de uma inteireza diacrônica; simultaneidade e intimidade de correlação na análise temporal; a necessidade de base de observação empírica; a proposição de modelos (mais aperfeiçoados) a posterior e conjunção de análises quantitativas e qualitativas. Todos estes requisitos foram levados em conta na construção dos mapas temáticos que fundamentaram a análise. A construção dos mapas temáticos teve como base principal a análise de dados estatísticos e sua posterior projeção no espaço. Para facilitar a localização de cada área de ponderação foi construída a figura 27, do Capítulo 3 desta dissertação, que apresenta as áreas de ponderação e os bairros que compõem a bacia hidrográfica em estudo. 133 O mapa temático apresentado na figura 28 mostra a distribuição da população nas áreas em estudo, a partir do rol de porcentagem de população residente em cada área, em relação à população total da bacia em termos absolutos. Figura 28. Distribuição da população nas áreas de ponderação da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe – SSA/BA. Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). O mapa evidencia três áreas que, proporcionalmente à população total residente, estão submetidas a uma “maior pressão” populacional em termos absolutos, ou seja, áreas que possuem maior porcentagem de população residente em termos quantitativos absolutos, em relação à população total da bacia. São elas as que aparecem com a cor laranja mais claro na Figura 28, com índice acima de 6,1%. 134 - Vila Canária / Sete de Abril / Jardim Esperança; - Mussurunga. - São Marcos / Canabrava / Recanto das Ilhas / Colinas de Pituaçu / Vivenda dos Pássaros / Vivendas do Campo / Nova Cidade / Jardim das Limeiras / Vale dos Lagos / Paralela Park / Lagoa Verde; É importante destacar que esta “pressão populacional” ocorre menos no alto e no baixo curso e mais no médio curso do rio, sendo que nesse último caso podese interpretar como sendo a influência direta da implantação da Avenida Paralela, que passou a funcionar como um dos agentes da concentração da população. No médio curso foram implantados inúmeros conjuntos habitacionais de diversas características, desde Mussurunga, com casas individuais térreas que foram se verticalizando, até conjuntos de prédios como em Colinas de Pituaçu, chegando a São Marcos e adjacências, o trecho mais populoso da bacia, com ocupação popular bastante desordenada. Próximo aos conjuntos habitacionais, implantados nos topos planos dos morros, surgiram as ocupações irregulares nas encostas. Este modelo de ocupação pode ser observado em toda a extensão do alto-médio curso do rio. Ao mesmo tempo, o mapa da distribuição da população residente mostra que existem três áreas de ponderação que possuem, proporcionalmente ao número total de moradores, uma menor “pressão populacional”, em termos quantitativos absolutos. São elas as que aparecem com a cor mais clara da escala da Figura 28, com até 3% de índice. 135 - Stella Maris / Aeroporto; - Dom Avelar / Porto Seco -Pirajá; - Nogueira / Cajazeiras III. Esses exemplos podem ser interpretados como reflexos da distância como fator de dispersão, mas é importante destacar algumas outras características das áreas com menor porcentagem de população. As do alto curso, envolvendo Nogueira / Cajazeiras III e Dom Avelar / Porto Seco-Pirajá, que estão localizadas às margens da BR-324, são áreas que possuem uso não apenas residencial, mas também comercial e industrial, o que provavelmente explique a pequena porcentagem de moradores. Esta baixa porcentagem de moradores em relação à população total da bacia, portanto, não significa, necessariamente, que sejam áreas menos ocupadas, mas que o uso do solo não é majoritariamente, ou prioritariamente, habitacional/ residencial. No caso de Stella Maris / Aeroporto, no baixo curso, ao contrário, se trata de ocupação residencial e comercial de classe social mais elevada, com loteamentos e arruamentos mais rarefeitos, implantados muitas vezes em áreas de dunas protegidas por legislação ambiental específica. Nesse caso a baixa porcentagem de população é explicada, de fato, por uma ocupação menos densificada. Com a construção da Figura 29 foi feita a interpretação dos resíduos encontrados no cálculo de Regressão Linear e Correlação, a partir do Desvio Padrão da Reta de Previsão, (R), a partir de uma escala que varia de + 2,1 a -2,1, desde aqueles que estão muito acima de R previsto até aqueles que estão muito abaixo de R previsto. 136 Figura 29 - A quantificação dos resíduos em desvio padrão da reta de previsão. Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos .Alberto (2007). Ou seja, as pessoas encontram dificuldades para estarem inseridas no sistema produtivo que lhes garanta uma renda mensal aferida com o trabalho assalariado, conforme a previsão calculada para as variáveis ser alfabetizado e ser economicamente ativo. E os que estão localizados entre 0 e + 2,1 aparecem muito acima da previsão. Pode-se inferir que são os segmentos da população que sofrem mais com a segregação sócio-econômica espacial, uma vez que as variáveis analisadas são ‘ser alfabetizado’ e ‘ser economicamente ativo’. 137 Em relação ao mapa de quantificação dos resíduos, apresentado na figura 29, um mapa temático quantitativo, é importante localizar nele algumas referências que ajudam na interpretação: a cor mais clara indica aquelas áreas de ponderação que estão mais próximas da reta de previsão, com seus valores variando entre + 1,0 e 1,0 (uma vez que considera-se que estar na reta significa ter valor igual a zero); os dois tons alaranjados significam: o mais escuro, estar entre -1,0 e – 2,0 e o mais claro estar acima de -2,1, ou seja, são as áreas onde evidencia-se a existência de maior distância da previsão. Com esses dados foi organizado o Quadro 14, com a “Configuração dos Bairros e das Áreas de Ponderação [...]”, onde aparecem dois vazios, um na parte mais alta, à esquerda do Quadro 14, e outro na parte mais baixa, a direita do Quadro. Itapuã ocupa um espaço nesse vazio na parte baixa do quadro. No alto curso do rio não existe nenhuma ocorrência entre +2,1 e + 1,1, ou seja, não ocorrem casos de pessoas que estejam muito acima do previsto. Ao contrario, ocorrem muitos casos de áreas com pessoas abaixo do previto e três casos isolados de áreas com pessoas próximas da previsão. No médio curso ocorre exatamente o contrario. Não existem grupos de pessoas localizadas entre -1,1 e -2,1 e, a maior parte das pessoas encontram-se localizadas acima de + 2,1, ou entre + 1,1 e 2. 138 Quadro 14 - Os vazios (brancos) sem registro de áreas de ponderação da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, no alto curso e no médio-baixo curso. Fonte: IBGE 2000 – SEI/BA/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto, 2007. 139 Analisando os dados relativos ao baixo curso se pode ver que Itapuã aparece isolada como área entre -1,0 e -2,0, no mesmo padrão em que aparecem, no alto curso do rio Pirajá, Nogueira, Cajazeiras III, V, VII, X e XI. E, a grande maioria das áreas do baixo curso aparecem acima de + 2,1, incluindo-se aí, significativamente, o Bairro da Paz. O que o Quadro 14 relativo ao agrupamento das áreas de ponderação a partir do cálculo dos resíduos mostra é que, em plena orla marítima de Salvador, os bairros de Itapuã e Nova Conquista constituem espaços isolados no que diz respeito à correlação entre as variáveis ser alfabetizado e ser economicamente ativo. A semelhança de sua posição no agrupamento com a das áreas do alto curso do rio, de habitação de população proletária, é indicativa da transformação de Itapuã, um antigo bairro de veraneio, com a presença marcante de colônias de pescadores, em um bairro popular de características proletárias, com a ocorrência de favelas que se transformam em guetos de exclusão social, bastante diversos da imagem de uma Itapuã encantadora, cantada pelos poetas e pela publicidade. Á partir dessa interpretação é possível inferir-se que nessas áreas se manifestam evidências de segregação socioeconômica e espacial. Outro aspecto importante e que merece ser destacado, diz respeito ao Bairro da Paz, que aparece no mesmo patamar que Stella Maris, sendo a primeira uma área de ocupação proletária e a segunda de ocupação de classe mais elevada. A partir desses dados foi feito um trabalho de observação em cada uma dessas áreas e, o que essa observação evidenciou é que os residentes são alfabetizados e estão, em muitos casos, desempregados, mas nem por isso deixam de ser considerados economicamente ativos. Aparece, portanto, como indicativo a 140 possibilidade de que o problema do desemprego seja mais evidente nessas áreas do que no alto curso do rio, onde a implantação dos conjuntos habitacionais, muitas vezes, foi destinada ao funcionalismo público estadual. Outro caminho percorrido para interpretar essas ocorrências foi o de comparar essas informações com as que foram obtidas através da construção dos gráficos de freqüência. Antes, é importante que se faça uma diferenciação em relação à análise possível a partir da construção de gráficos de freqüência da análise que é possível fazer utilizando os cálculos de regressão linear e correlação. Por ter uma renda média e mediana elevada, como se viu nos gráficos de freqüência, Itapuã não seria considerada uma área onde a segregação socioeconômica e espacial estivesse explicitada. Mas, diante dos cálculos de regressão, a área de Itapuã e Nova Conquista aparecem abaixo da reta de previsão, distantes entre – 1,1 e - 2,0 da mesma, numa situação similar à Nogueira e Cajazeiras III, no alto curso do rio. Portanto, se trata de uma população que tem dificuldade para ser economicamente ativa ocupada, ou seja, estar integrada ao sistema de produção através de um emprego, existindo um número elevado de pessoas que não aferem renda do trabalho assalariado. Essa informalidade, caracterizada pelo fato de a população ser economicamente ativa desocupada, transforma-se em uma dificuldade que gera exclusão e produz conseqüências graves do ponto de vista social, tornando o bairro de Itapuã um local onde se acumulam ocorrências violentas, como se pode constatar pela capa do jornal A Tarde, de Salvador, reproduzida na figura 30. 141 Figura 30 - Violência em Itapuã sai na manchete do principal jornal do Estado da Bahia. Fonte: Jornal A Tarde. A tendência é que essas áreas se transformem em palco de vários tipos de violência e de ação de grupos de pessoas marginalizadas pelo sistema econômico, e elas de fato estão à margem, já que não conseguem se inserir ou serem inseridas no sistema produtivo e aferir renda através do trabalho assalariado. Para se traçar um perfil com dados mais diversificados das populações que habitam essas áreas de ponderação, se levou em conta que na construção dos gráficos de freqüência percebeu-se que a segregação socioeconômica espacial apareceu bastante evidenciada no gráfico sobre a parcela da população que teve condições de ter 15 anos ou mais de estudo. 142 Foi por isso que se adotou como critério, usar a variável freqüência à escola para construir mapas temáticos relativos a esse aspecto: buscou-se representar no espaço os dados referentes à parcela da população que freqüenta escolas particulares; que freqüenta escolas públicas; que não estuda mas já estudou e que nunca estudou. Foram produzidos quatro mapas referentes à como a população freqüenta a escola ou não freqüenta: mapa da população que freqüenta escola pública; mapa da população que freqüenta escola particular; mapa da população que nunca estudou e mapa da população que já estudou mas parou de estudar. Figura 31 - População que estuda em escolas particulares é maior no baixo curso do rio Jaguaribe. Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 143 No baixo curso do rio está a maioria da população que freqüenta escolas particulares, como pode ser visto na Figura 31, com índice acima de 15%, com exceção para o Bairro da Paz e Lagoa do Abaeté que aparecem com índices mais baixos. No alto curso do rio está a maioria que não freqüenta escola particular, com exceção de Cajazeiras X e XI que aparecem numa situação intermediária. Pode-se inferir, portanto, que a população do alto curso do rio, em sua maioria, depende do acesso à educação pública e gratuita para estudar. No médio curso do rio tem-se o caso de São Marcos que aparece na mesma faixa intermediária de Cajazeiras X e XI. Mas a grande maioria aparece com índice baixo de pessoas que estudam em escolas particulares e tem-se ainda o caso de São Cristóvão em situação similar às taxas mais baixas do alto curso. Figura 32 População que estuda em escolas públicas concentra-se no alto-médio curso do rio Jaguaribe. Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 144 A situação se inverte quando é analisada a situação da parcela da população que estuda em escolas públicas, como mostra a Figura 32. Os mais baixos índices estão no baixo curso, com exceção do Bairro da Paz que aparece com os índices mais altos. No médio curso, São Cristóvão e Mussurunga aparecem numa situação entre o intermediário e o mais alto e todo o restante aparece com um índice baixo (o segundo mais baixo) de população que estuda em escola pública. No alto curso se tem, praticamente, todas as áreas de ponderação com seus moradores em idade escolar dependendo totalmente da escola pública, com índices sempre acima dos 25%, com exceção de Dom Avelar/ Porto Seco-Pirajá que aparece com um índice um pouco mais alto. Figura 33 - População que não estuda, mas já estudou é mais distribuída nas três unidades da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 145 A análise da população que não estuda mas já estudou, mostrada na Figura 33, apresenta uma situação mais bem distribuída. É provável que este fato seja atribuído a fatores como a pessoa já ter se formado - por exemplo no ensino médio, ou no ensino superior, mas os dados da pesquisa não foram cruzados neste sentido, pelo fato de esta questão não foi considerada prioridade no tipo de interpretação que estava sendo feita. Vale o destaque de que no alto curso aparecem os índices mais baixos de pessoas que não estudam mas já estudaram. No médio curso só aparecem com índices baixos São Cristóvão e Calabetão, Granjas Presidente Vargas e Jardim Santo Inácio. No baixo curso apenas o Bairro da Paz aparece com baixo índice. Figura 34 - População que nunca estudou aparece mais no alto-médio curso do rio Jaguaribe. Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 146 A análise da população que nunca estudou, como mostra a figura 34, desenha uma situação bem peculiar. No baixo curso aparecem os mais baixos índices de pessoas que nunca estudaram, com exceção da área de ponderação do Abaeté e Nova Brasília, que aparece com os mais altos índices da bacia, acima de 17%, quase o dobro do Bairro da Paz, que está entre 9 e 11%. No médio curso, São Marcos e Mussurunga aparecem com o mesmo índice do Bairro da Paz, mas está no Calabetão, Granja Presidente Vargas e Jardim Santo Inácio, o índice mais alto do médio curso. No alto curso, com índice mais baixo aparecem apenas Cajazeiras X e XI, podendo ser agrupadas as outras áreas entre um índice mais alto, de 15 a 17% (Valeria; Bico Doce, Águas Claras, Castelo Branco) e mais baixo, de 12 a 14% (Nogueira e Cajazeiras III). A área de ponderação de Stella Maris / Aeroporto aparece nos mapas sobre freqüência à escola com a seguinte característica: ela está entre as que possuem mais alta taxa de moradores com 10 anos ou mais que freqüentam escolas particulares (20% ou mais) e baixa porcentagem de residentes em idade escolar que freqüentam escolas públicas (até 20 %). Tal área possui, ainda, baixa porcentagem de população que nunca estudou, 8% e alta porcentagem entre aqueles que já estudaram e não estudam mais, acima de 54%, o que indica como correta a interpretação de que este dado diz respeito a pessoas que são formadas. A área de Stella Maris / Aeroporto localiza-se acima da reta de previsão dentro da classe mais alta, acima de + 2.1 de desvio padrão. Os números evidenciam ainda que os moradores do Bairro da Paz, no que diz respeito a “ser alfabetizado” e “ser economicamente ativo”, ocupam uma posição similar à dos moradores de Stella Maris / Aeroporto. 147 Nesse sentido, se torna importante analisar outros aspectos que podem ser encontrados no Bairro da Paz para buscar uma melhor compreensão dessa “contradição”. Vale destacar que, metodologicamente, a análise das contradições é um dos aspectos mais destacados do materialismo dialético. O Bairro da Paz aparece no mapa de população na segunda classe de porcentagem com entre 3 e 4% da população total da bacia. Não é uma porcentagem alta, portanto. A área de ponderação possui, no entanto, a mais alta porcentagem de população em idade escolar que estuda em escolas públicas, acima de 31%. Em relação ao item “nunca estudou”, possui uma porcentagem baixa, na segunda classe da escala, com entre 9 e 11%, numa posição bastante “melhor” do que áreas como Abaeté e Nova Brasília, por exemplo, que está na quinta e última classe, acima de 17% e São Cristovão, de 15 a 17%, para falar de dois de seus vizinhos mais próximos. Ao mesmo tempo, o Bairro da Paz está na classe mais baixa no que diz respeito a quem “não estuda, mas já estudou”, com até 48%, o que significa que muitos dos seus moradores ainda estudam e, provavelmente, poucos são formados. E, pode parecer óbvio, mas está entre as áreas que possuem a menor porcentagem de residentes em idade escolar que freqüentam escolas particulares, até 8%. Isto significa que o Bairro da Paz também merece uma política pública própria, por se tratar de uma população que é economicamente ativa, que estuda, mas absolutamente não recebe o mesmo tratamento – em termos de direito à cidade, direito à educação – que a população residente numa área como a de Stella Maris / Aeroporto, para se comparar dois extremos. 148 Sobre o Bairro da Paz é importante apresentar alguns outros dados obtidos na análise do Censo 2000 : a diferença real de renda entre os moradores do Bairro da Paz e de algumas localidades do alto curso do rio (Cajazeiras, Bico Doce, Palestina, Boca da Mata e Águas Claras), entre outros, não é significativa. Também foram analisadas outras áreas da bacia que possuem menor porcentagem de população, em termos absolutos, para que fosse possível fazer um paralelismo com as áreas citadas acima. Algumas destas áreas estão localizadas no alto curso do rio e aparecem no mapa de resíduos abaixo da reta de previsão, o que as diferencia bastante do Bairro da Paz e de Stella Maris / Aeroporto. A área de ponderação de D. Avelar / Porto Seco Pirajá é a que aparece abaixo da reta de previsão com a distância equivalente a que o Bairro da Paz e Stella Maris / Aeroporto aparecem acima: D. Avelar / Porto Seco-Pirajá estão a – 2,1 da reta. É importante destacar, ainda, o caso de Nogueira e Cajazeira III, que aparecem com entre -1,1 e -2,0 da reta de previsão. Portanto, áreas ocupadas por parcela de população que pode ser considerada das mais segregadas entre as que ocupam a área da bacia. Vale, também, o destaque de que entre as Cajazeiras, se deve analisar especificamente o caso Cajazeiras XI, uma vez que se encontra no gráfico de freqüência a informação de que essa área possui o menor índice de pessoas sem instrução. Sob este aspecto, Cajazeiras XI pode ser comparada com Itapuã, independente de que uma esteja localizada no alto curso do rio e outra no baixo curso. 149 Comparando estas Informações com a análise feita a partir dos gráficos de freqüência, no Gráfico 9, sobre população com 15 anos de estudo ou mais, D. Avelar / Porto Seco-Pirajá aparecem, entre os menores índices obtidos em segundo lugar, antecedido pelo Bairro da Paz, que aparece em primeiro com o menor índice, praticamente sem pontuar. No Bairro da Paz, poucas pessoas tiveram oportunidade de estudar 15 anos ou mais. Mas, é importante se perceber que, no Gráfico 8, sobre população sem instrução, não é no Bairro da Paz que está a maior parcela sem instrução: a maior parcela da população sem instrução que habita a bacia reside em São Marcos. É prudente que se tenha o cuidado de analisar esse dado do ponto de vista de que São Marcos possui, também, a maior população em termos absolutos dentro da bacia, o que pode causar, de alguma forma, uma certa distorção. 4.2 O SALTO QUALITATIVO Ao se utilizar o método de abordagem do materialismo dialético, além da estruturação da interpretação a partir da construção de uma afirmação e uma negação, para se chegar à negação da negação, num tripé de tese, antítese e síntese, é fundamental que se proceda a um salto qualitativo, ou seja, que os dados quantitativos apresentados sejam transformados em qualidade, obedecendo assim as leis da dialética. Por isso a interpretação dos dados estatísticos foi pontual, no sentido de construir uma imagem da área em estudo com o objetivo de se focar o olhar qualitativo sobre a área em estudo. 150 4.2.1 Quando a quantidade vira qualidade Para complementar a interpretação optou-se inserir a construção de um mapa qualitativo qualitativo a partir dos cálculos de resíduos, realizando assim o procedimento da metodologia que diz respeito à lei da dialética explicitada anteriormente. A quantidade de resíduos obtidos no cálculo de regressão, que dizem respeito ao desvio padrão, ao invés de ser tomada em sua quantificação, (quantidade de desvio padrão que distancia a área de ponderação da reta de previsão), foi tomada como Informação qualitativa, no sentido de a área de ponderação estar abaixo da reta de previsão; estar próximo ou sobre a própria reta de previsão; ou estar acima dela. O resultado foi o mapa apresentado na figura 35, onde, a partir de uma reta estimada ou ajustada, foram definidas essas qualificações para as áreas de ponderação. 151 Figura 35. Representação qualitativa dos resíduos entre ser alfabetizado e ser economicamente ativo na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe. Fonte: Salvador/PDDU/2004/IBGE/2000 – SEI/BA/2000. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). Do ponto de vista do mapa da representação qualitativa dos resíduos entre ‘ser alfabetizado’ e ‘ser economicamente ativo’, na bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, a partir do estabelecimento de uma reta estimada ou ajustada, com os cálculos de correlação e regressão linear simples, apenas uma área, a do Bairro da Paz, aparece exatamente sobre a reta de previsão, ou seja, nessa área, a correlação entre ser economicamente ativo e ser alfabetizado está exatamente como o previsto pelo cálculo da regressão linear simples. Na Figura 35, essa área aparece com a cor mais clara, de forma diferenciada de todas as outras áreas de ponderação que compõem a bacia. 152 Trata-se, de fato, de uma área com características bastante específicas, que já foram analisadas anteriormente. Itapuã surge como a única área no baixo curso que tem uma mesma qualificação que as áreas do alto curso. Fora Itapuã e o Bairro da Paz, todo o restante do médio-baixo curso aparece com uma mesma qualificação do ponto de vista de ser alfabetizado e ser economicamente ativo. Qual o motivo dessa “identidade” entre Itapuã e as áreas de ponderação localizadas no alto curso do rio? Mais uma vez aponta-se para a interpretação da mudança que Itapuã sofreu nos últimos 30 anos, particularmente a partir do Projeto Orla, realizado na década de 1980. O que era um bairro de veraneio, uma aprazível colônia de pescadores, tornou-se um bairro proletário, com inúmeras invasões irregulares. Itapuã passou a ser um a espécie de bairro dormitório, moradia de trabalhadores de classes sociais diversas, todos integrantes da população economicamente ativa, ocupada ou desocupada. Os perfis da população de Itapuã também já foram analisados anteriormente, ao mesmo tempo que se analisou os dados relativos ao Bairro da Paz. 4.3 RECURSOS, USOS E PROBLEMAS A visão dos rios como destinatários de esgotos domésticos prevaleceu durante o século XX e ainda prevalece em grande parte do curso do Rio Jaguaribe. O programa Bahia Azul, do Governo do Estado, em relação à bacia em estudo, foi executado apenas no médio-baixo curso e, em muitos aspectos, não cumpriu suas propostas relativas ao saneamento básico da área. 153 Desde os anos 1970, com a execução do projeto de implantação da avenida Paralela e a consolidação do seu entorno como principal eixo de expansão da cidade de Salvador, diversos projetos habitacionais foram desenvolvidos no chamado “miolo” da capital baiana, onde estão localizadas as principais nascentes que alimentam o rio Jaguaribe. Com a implantação destes projetos habitacionais nas cumeadas do morros, as encostas foram deixadas inicialmente com sua cobertura vegetal original, sendo ocupadas entre os anos 1980 e 2000 por invasões promovidas por população de classe mais baixa. Nos vales do rios foram construídas diversas lagoas de decantação de esgoto para realizar o “tratamento” dos efluentes oriundos dos conjuntos habitacionais, implantados nos topos planos dos morros. 4.3.1 As lagoas de decantação de esgoto Intervenção encontrada na bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe de grande impacto ambiental, a implantação de diversas lagoas de decantação de esgoto doméstico no alto e no médio curso do rio, embora tenham um acompanhamento da Embasa, órgão oficial do Governo do Estado que cuida do abastecimento de água e do saneamento básico, têm um funcionamento que deixa muito a desejar, do ponto de vista da qualidade ambiental. Essas lagoas de decantação interferem no equilíbrio do geossistema como um todo, embora sejam de pequenas dimensões, alguns metros quadrados. A preocupação com essas lagoas de decantação na construção do trabalho de campo desta pesquisa, surgiu em reuniões com integrantes da ONG Cajaverde, que atua sócio-ambientalmente na área de Águas Claras / Cajazeiras / Nogueira / Dinurb / 154 D.Avelar / V. Canária / Castelo Branco e Sete de Abril, entre outros bairros, ou seja, basicamente no alto curso do rio Jaguaribe. Os moradores chamam tais lagoas de “pinicões”, o que dá uma visão do que elas representam do ponto de vista do senso comum. Essas lagoas de decantação existentes no alto-médio curso do rio Jaguaribe foram implantadas e são administradas pela Embasa, Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A., através de seu órgão denominado OMET – Operação Metropolitana de Esgoto e Tratamento . Segundo Chagas Neto (1995), responsável pela Operação Metropolitana de Esgoto e Tratamento (OMET), da Embasa, as lagoas de decantação identificadas no alto-médio curso do rio, fazem parte dos chamados Sistemas Biológicos de Tratamento e são do tipo lagoas aeradas facultativas em série. Lagoas de estabilização são reservatórios escavados na terra, geralmente com profundidade rasas, podendo ser constituídas por um ou vários reatores em série. Em geral têm uma execução fácil, manutenção e operação de baixo custo e uma aquisição de terreno relativamente baixa em zonas não densamente povoadas. Entretanto, sua eficiência e a capacidade de absorver grandes choques hidráulicos e orgânicos fazem das lagoas de estabilização uma alternativa bastante atrativa para uso amplo em todo o mundo (Silva, 1982); (Arthur, 1983); (Mara, 1986) e (Oliveira, 1990), apud CHAGAS NETO, 1995, p.13. O funcionamento dessas lagoas tem por referência um processo absolutamente natural, com base na atividade de microorganismos da sua biota, particularmente algas e bactérias, que utilizam C02 resultante do metabolismo bacteriano e liberam 02 resultante da fotossíntese. As lagoas são sistemas altamente eficiente para eliminar organismos patogênicos, sendo apontadas como o mais eficiente entre os sistemas de tratamento convencionais. Enquanto os demais processos só alcançam valores entre 90% e 98%, nas lagoas estes resultados alcançam valores de 99,9% a 99,999% (Mara, 1976); (Silva, 1982) e (Oliveira, 1990), apud CHAGAS NETO, 1995, p. 14). 155 O responsável pela OMET assegura que o resultado do processo de tratamento que sai das lagoas tem melhores condições ambientais que o próprio rio que chega até ali (ao ponto onde recebe o resultado do processo de tratamento), uma vez que o rio continua recebendo esgotos através de ligações diretas feitas pela população. Não cabe aqui discutir o “por que” de a população lançar esgoto diretamente no rio, mas o funcionamento das lagoas em si. Na verdade, muitas delas transbordam durante os períodos de chuvas intensas ou são invadidas pelo transbordamento dos riacho, uma vez que as lagoas de decantação estão sempre localizadas nas planícies de inundação de algum deles. Entre a população da área do alto curso da bacia que, como já foi dito, chama essas lagoas de pinicões, é muito comum nos dias de chuva intensa, surgir a informação de que “o pinicão da VII transbordou”, o que significa que a Lagoa de Decantação de Fazenda Grande VII foi invadida pelo rio Águas Claras, em decorrência do entupimento do canal do rio, que passa sob a pista localizada ao lado da lagoa. A OMET diz que a responsabilidade do entupimento do canal do rio Águas Claras é da Prefeitura Municipal de Salvador, que deveria fazer a manutenção e limpeza do canal do mesmo e não faz. Aqui não importa estabelecer de quem é a responsabilidade pelos fatos apresentados. Na seqüência de figuras de 36 a 47 estão registradas todas as lagoas de decantação existentes no alto e no médio curso do rio Jaguaribe, resultado de um trabalho de identificação realizado em campo, em laboratório e numa pesquisa no banco de dados da OMET/Embasa. 156 Figura 36 - Lagoas de decantação localizadas no alto curso do rio. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 157 Figura 37 - O Aterro de Canabrava e as lagoas de decantação do médio curso. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 158 Figura 38 - Imagem de satélite Quick Bird (2005) permitiu localizar as lagoas de decantação no alto curso. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 159 Figura 39. As três lagoas de decantação João de Barros, do rio Águas Claras. Fonte: Quick Bird (2005). Figura 40 . As duas lagoas de decantação de Fazenda Grande VII. Fonte: Quick Bird (2005) Essas lagoas de decantação carecem de um trabalho específico de gestão que envolva as comunidades localizadas no seu entorno. A grande “reclamação” feita pelo gestor da OMET/Embasa é de que setores da população roubam e depredam as instalações das Estações de Tratamento. 160 Figura 41. A proximidade entre o braço do rio canalizado e a lagoa de decantação. Foto: Luiz Henrique Souza, 2006. Quando ocorrem chuvas intensas em um curto período de tempo, o Rio Águas Claras é represado pelo lixo na altura em que o mesmo é canalizado sob a pista, ao lado da lagoa de decantação de Fazenda Grande VII. O rio transborda, sai para a planície de inundação, invade a lagoa e volta para o leito após a canalização, levando o esgoto e o lodo que estavam depositados no fundo da lagoa de decantação. 161 Figura 42 . Detalhe das três lagoas do sistema do rio Cambunas. Fonte: Quick Bird, 2005. Elaboração; CAETANO,Carlos Alberto, 2007. Figura 43. Outro detalhe da maior lagoa de decantação do rio Cambunas. Foto: Luiz Henrique Souza, 2006. 162 Figura 44. Lagoa de decantação do rio Cambunas e as encostas ocupadas irregularmente. Foto: Luiz Henrique Souza, 2006. Figura 45. A proximidade entre as casas na encosta e a lagoa de decantação de Cambunas. Foto: Luiz Henrique Souza, 2006. 163 Figura 46 . As casas na encosta e a lagoa de decantação no vale do rio Cambunas. Foto: Luiz Henrique Souza, 2006. Figura 47. Uma das lagoas do sistema Cambunas encontra-se desativada e aparece aterrada no centro da figura. Fonte: Quick Bird, 2005. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 164 Figura 48. No médio curso do rio, o que sobrou do Aterro de Canabrava. Fonte: Quick Bird, 2005. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). O Aterro de Canabrava foi desativado e transformado em Parque Ambiental e tem recebido uma série de cuidados para diminuir ou “administrar” o impacto da sua presença. Existe um estudo específico sobre o aterro, realizado em nível de dissertação de mestrado, trabalho de pesquisa indicado com a referência Brito (2005). 165 Figura 49. Lagoa de decantação de Jaguaribe II, ao lado do curso do rio. Fonte: Quick Bird, 2005. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). Figura 50. No médio curso a lagoa de Mata Atlântica desativada e seca. Fonte: Quick Bird, 2005. Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 166 CAPÍTULO 5 5 ATUAIS E FUTURAS INTERVENÇÕES O PDDU - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador – elaborado e proposto pelo governo do município em 2002, apresentou algumas intervenções previstas na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, com previsão de supressão da cobertura vegetal na área,como se vê na figura 51. . Figura 51. VERDE previsto para 2015 no zoneamento proposto pelo PDDU. Fonte: A Tarde, Salvador: 29 março 2005. Diário. Elaboração: CAETANO, Caarlos.Alberto (2007). No que diz respeito à cobertura vegetal proposta pelo zoneamento para a área em estudo, é possível ver na figura 51 que, com base no PDDU, está prevista a supressão dessa cobertura vegetal em grande parte da bacia, restando uma 167 pequena mancha de vegetação no bairro do Pau da Lima (Horto Florestal / Mata dos Oitis) e outra pequena mancha no entorno da Lagoa do Abaeté, em Itapuã. Quatro grandes projetos foram planejados e alguns já se encontram em fase de implantação nessa área da bacia: o Alphaville Salvador 1 (de um lado da avenida Paralela, no sentido Centro/Aeroporto); o Alphaville Salvador 2 (do outro lado da avenida Paralela, no sentido Aeroporto/Centro, após o Wet’n Wind); a construção da Av. 29 de março nas margens do próprio rio Jaguaribe, ligando a avenida Paralela à BR-324 e a implantação do Parque Tecnológico de Salvador – o Projeto Tecnovia - , num terreno que inicialmente era de 580 mil metros quadrados na área de articulação entre as avenidas Paralela e a “futura” Av. 29 de março, também próxima do atual Wet’n Wild. O Projeto Tecnovia prevê que o mesmo poderá ser ampliado para um milhão de metros quadrados e o Ministério Público colocou em questionamento a licença ambiental para a construção da chamada Avenida Marginal, que ligaria o Alphaville 2 à avenida Paralela, deixando prevista sua futura conexão com a Av. 29 de Março. Além do Projeto Tecnovia e da Avenida 29 de março, também é discutido nos bastidores dos governos municipal e estadual a hipótese de que uma área seja cedida para a construção da nova sede do Esporte Clube Vitória, como se vê na figura 52. 168 Figura 52. Localização da Av. 29 de março; do Projeto Tecnovia e da sede do E. C. Vitória. Fonte: SARAYBA PATRIMONIAL (2006) Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). Todos esses projetos desenvolvidos para serem implantados na área em estudo puderam ser monitorados pelas imagens de satélite levantadas por este trabalho de pesquisa, como o caso de Alphaville 1, que pode ser visto na figura 53. 169 Figura 53. Detalhe do impacto de Alphaville 1 visto por satélite e imagem aérea. Fonte: SPOT 4/comp. col. (Verde/Vermelho/Infravermelho prox. – res. 10m (2005). FOTO/Divulgação Alphaville (2005). ELABORAÇÃO: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 170 Diante dessas informações optou-se por construir a carta temática da cobertura vegetal existente em 2005, como se vê na figura 54, que mostra a cobertura vegetal menor que as áreas com outros usos. Ressalva-se que a área da bacia usada como referência é anterior à exclusão da área da bacia hidrográfica do rio Passa Vaca. Figura 54. Em 2005 a cobertura vegetal era menor do que a área usada para outros fins. Fonte. Satélite SPOT 4 (2005). Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007). 171 Combinando a carta temática apresentada na figura 54 com a própria imagem do satélite e, lançando sobre ela o traçado do eixo principal da Av. 29 de março e do Projeto Tecnovia, é possível visualizar o impacto que ocorrerá sobre o sistema de drenagem da bacia hidrográfica e sobre a cobertura vegetal da área. Figura 55. Remanescente de Mata Atlântica sofrerá grande impacto com projetos. Fonte: SPOT 4; BRITO (2005). Elaboração: CAETANO, Carlos Alberto (2007) 172 Como se pode ver na figura 55, independente de que sejam cumpridos todos parâmetros e os licenciamentos ambientais exigidos por lei, há uma questão que deve ser colocada e que diz respeito à bacia hidrográfica do rio Jaguaribe como uma totalidade, como um geossistema: existe uma degradação “estrutural” e sistemática da bacia, que está relacionada com a perda de qualidade ambiental dos espaços urbanos. Do ponto de vista da cobertura vegetal, trata-se de algo como a crônica de uma morte anunciada. Isso evidencia a importância da análise desse rio como um geossistema e o planejamento de qualquer intervenção ao longo da bacia como uma intervenção que diz respeito à estrutura do seu funcionamento como totalidade. Figura 56. Ilustração da apresentação do Projeto Tecnovia, com a av. Paralela à direita. Fonte: Secretaria de Inovação e Tecnologia do Estado da Bahia/ 2005. Os projetos apresentados para a Tecnovia, para a Av. 29 de março e para uma eventual nova sede do Esporte Clube Vitória, seguem uma lógica comum: a apropriação do espaço urbano pelo capital, como forma de obtenção de renda monopolista, demonstrando a existência de um elemento de causa circular e 173 cumulativa em funcionamento na dinâmica dos investimentos nessa área de Salvador, transformada em uma verdadeira máquina de crescimento urbano, onde existe o que Harvey (2005) chama de orquestração da dinâmica do processo de investimento capitalista. A implantação do Projeto Tecnovia , conforme mostra a figura 56, segundo o órgão responsável pela sua implantação, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, do governo do Estado da Bahia, será feita em diversas fases, sendo a primeira delas prevista para ocorrer a partir do primeiro semestre de 2008. Muitos condomínios residenciais foram construídos dentro da lógica do investimento capitalista nas margens do rio Jaguaribe, alguns deles nas chamadas planícies de inundação, como os que se vê na figura 57, na Avenida Orlando Gomes, esperando os novos moradores que virão com o novo “boom” imobiliário. Figuras 57. Condomínios implantados na planície de inundação do rio na avenida Orlando Gomes. Foto: CAETANO, Carlos Alberto (2005). 174 Alguns destes novos condomínios implantados na Avenida Orlando Gomes, às margens do rio Jaguaribe, já estão habitados, aumentando a pressão sobre o equilíbrio ambiental do rio e oferecendo “isolamento” aos seus moradores, em relação às graves questões sociais existentes na área. Figura 58. A ocupação “irregular” do bairro da Paz (fundo) e a ocupação “regular” de um condomínio. Foto: CAETANO, Carlos Alberto (2005). Nesse isolamento em busca de segurança e no desejo de se estabelecer longe da população mais pobre, a elite local não percebe que também está cativa do capital internacional, o capital global. Que o isolamento que ela busca também é uma forma de trancar-se em um cativeiro. Ainda que um ‘cativeiro especial’, como são chamadas as celas dos presídios para aqueles que possuem educação de nível superior. Por outro lado, o capital global se preocupa sempre em não destruir totalmente a singularidade da área onde está obtendo lucro, essa singularidade é uma das bases para a apropriação das rendas monopolistas. Assim, ainda segundo Harvey (2005), para o capital global é importante manter alguns aspectos da singularidade, maquiar a nova realidade com cores de uma falsa autenticidade. 175 Essa singularidade se manifesta muitas vezes no caso de Salvador no apelo a um certo tipo de ‘baianidade’; no estímulo ao orgulho de ser baiano; no caráter afrodescendente da população; nas manifestações culturais ligadas àss chamada matrizes africanas. Todos estes discursos têm um caráter exclusivamente ideológico, no sentido de esconder a verdadeira realidade que é a busca desenfreada pela obtenção do lucro. O discurso ideológico assumido atualmente pelos responsáveis pelos investimentos na área da bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe, está associado à construção de centros de alta tecnologia e inovação, como é o caso da Tecnovia, com a ‘promessa’ de geração de emprego e renda para a população local. Essa tecnologia, na verdade, está sendo usada como um instrumento da lógica hegemônica para obter lucros na apropriação do espaço urbano. Enquanto isso a população de classe mais baixa estabelecida ao longo da bacia encontra cada vez mais dificuldade para deixar de ser economicamente ativa desocupada e passar a ser economicamente ativa ocupada, fato que se estende para fora dos limites da bacia hidrográfica e caracteriza, na verdade, a cidade ou metrópole global em que Salvador se transformou, com grande prejuízo para a relação entre a sociedade e o ambiente, ou seja, para a produção e reprodução do espaço. 176 CAPÍTULO 6 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 6.1 CONSIDEDRAÇÕES FINAIS A interpretação proposta nesta dissertação, uma análise da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, Salvador – BA, do ponto de vista da lógica hegemônica da produção e reprodução do espaço, a partir do par de opostos concentração e dispersão, tendo como referências a cobertura vegetal e as ações antrópicas, mostrou-se adequada, uma vez que se comprovou que a cobertura vegetal está sendo eliminada na área, na medida em que o capital usa a posse da terra para aferir lucros. Além disso, analisou-se neste trabalho a relação que esse par de opostos estabelece com a segregação socioeconômica espacial, constatando-se que há uma relação direta entre a supressão da cobertura vegetal e o aumento da segregação socioeconômica espacial. Por outro lado, olhando a bacia do ponto de vista da obtenção de ganhos de capital, isto é, do ângulo da obtenção de rendas com a posse da terra, se vê uma movimentação dos empresários do setor no sentido de ocupar o remanescente de Mata Atlântica existente em torno do empreendimento denominado Wet’n Wild, na avenida Paralela, com projetos apresentados a pretexto de estimular o desenvolvimento sustentável da área bem como a geração de emprego e renda para a população soteropolitana. 177 É possível observar, portanto, que a lógica da obtenção do lucro com a produção e reprodução do espaço urbano está atuando na área de forma orquestrada, a partir dos interesses dos proprietários dos terrenos. Eles querem apenas obter rendas monopolistas com a posse da terra, em que pese a completa supressão da cobertura vegetal de remanescente de Mata Atlântica. E os governos do município e do Estado alegam que são terrenos particulares, que a lei não pode impedir esse processo, desde que sejam respeitados alguns parâmetros de licenciamento ambiental. Assim, considera-se que: • A utilização de uma bacia hidrográfica mostrou-se compatível como marco físico para uma análise socioeconômica ambiental; • O geossistema, como paradigma, possibilitou a quebra da dicotomia existente entre a Geografia Física e a Geografia Humana, estimulando uma análise mais integrada e a construção de um conhecimento mais complexo; • O geossistema, enquanto totalidade, foi utilizado na análise da bacia hidrográfica, menos como forma de manifestação da aparência e mais como essência do evento; • O geossistema evidenciou também ser compatível com a projeção de dados estatísticos socioeconômicos nas suas unidades internas; • As unidades internas do Geossistema, os Geofácies, definidas originalmente por um viés físico, operacionalizaram a projeção no espaço geográfico dos dados estatísticos, permitindo ainda a aplicação da Lei da Dialética do salto qualitativo; 178 • Os geofácies, definidos pelos cursos do rio, mostraram-se dinâmicos ao retratar a relação entre a cobertura vegetal e a expansão urbana; • As variáveis utilizadas foram corretas e apresentaram como resultado o reflexo da práxis social projetada no espaço; • As variáveis que melhor estamparam a segregação socioeconômica espacial, como resultado da lógica hegemônica foram “ser alfabetizado” – variável independente – , e “ser economicamente ativo” – variável dependente; • A estatística pode possibilitar interpretações qualitativas, como as estabelecidas pelos cálculos de regressão linear e correlação efetuados; • A correlação entre as variáveis “ser alfabetizado” e “ser economicamente ativo” possibilitou uma análise específica da segregação socioeconômica espacial, pouco usual nos estudos a respeito desse evento; • A pesquisa evidenciou o que caracteriza como a perda quase total da cobertura vegetal de uma bacia hidrográfica urbana, em função da obtenção de rendas monopolistas pelos especuladores imobiliários; • Comprovou-se a evidência de que os projetos ditos de urbanização e desenvolvimento urbano não levam em conta os aspectos sociais e muito menos os ambientais; • Tais empreendimentos não ajudam a resolver a grave situação de segregação socioeconômica espacial e ainda agravam o equilíbrio ambiental. 179 6.2 RECOMENDACOES • Redefinição em caráter oficial da área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe; • Exclusão da área da bacia hidrográfica do rio Passa Vaca da área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe; • Estabelecimento do rio Trobogy como último afluente do rio Jaguaribe; • Realização de estudos específicos de Geologia relativos às evidências das falhas geológicas localizadas; • Utilização das lagoas de decantação de esgotos para produção de lodo de esgoto, seguindo resolução do CONAMA a respeito; • Reaproveitamento agrícola desse logo de esgoto gerando trabalho e renda; • Implantação de programa educacional específico sobre a função ambiental do rio Jaguaribe nas escolas do ensino fundamental e médio localizadas na área da bacia. • São Marcos, Canabrava, Rec. Ilhas, Colinas de Pituaçu, Viv. Dos Campos, Viv. Dos Pássaros, Nova Cidade, Jd. Limeiras, Vale Lagos, Paralela Park e Lagoa Verde têm maior população da bacia, gerando maior impacto na relação entre sociedade e natureza. • Utilização das lagoas de decantação implantadas no alto-médio curso do rio para implantação de um programa de gestão e manejo envolvendo as populações vizinhas, gerando trabalho e renda. • Estabelecimento de uma política pública específica para a gestão socioeconômica e ambiental da bacia, com o envolvimento das populações que habitam a área, com destaques para os seguintes aspectos: 180 • A área de ponderação de Itapuã e Nova Conquista, no baixo curso, está caracterizada como local de ocorrência de segregação socioeconômica espacial idêntica a que ocorre nas áreas do alto curso do rio; • A área de ponderação de Nogueira e Cajazeira III, no alto curso, carece urgentemente do desenvolvimento de uma estratégia de inclusão social de seus moradores; • A área de ponderação do Bairro da Paz apresenta uma grande carência de escolas públicas, inclusive destinadas a pessoas jovens e adultas, que não tiveram oportunidade de ter acesso à continuidade de seus estudos; • As áreas de ponderação da Lagoa do Abaeté e Nova Brasília; Alto do Coqueirinho, Km 17, Parque de Exposições e Vila dos Ex-Combatentes aparecem com os mais altos percentuais de população que pode ser considera negra no baixo curso e praticamente na bacia, podendo ser objeto de uma política pública específica. • As áreas de ponderação Cajazeira, Bico Doce, Palestina, Boca da Mata e Águas Claras e Castelo Branco, Cajazeira II e Cajazeira IV, aparecem com os mais altos percentuais de população que pode ser considera negra no alto curso e praticamente na bacia, podendo ser objeto de uma política pública específica. • A área de Ponderação de São Marcos, Canabrava, Recanto das Ilhas, Colinas de Pituaçu, Vivendas dos Pássaros, Vivenda dos Campos, Nova Cidade, Jardim das Limeiras, Vale dos Lagos, Paralela Park e Lagoa Verde, de forma impacto sobre o rio Trobogy por ser a mais populosa da bacia, necessita de uma política pública específica e de um estudo de reengenharia urbana. REFERÊNCIAS 181 ABREU, R.M., Qualidade e gestão ambiental da Bacia do Jaguaribe – BA. Dissertação de Mestrado em Geografia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1998, BA. ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. ALMEIDA, Josimar Ribeiro, org. Ciências Ambientais. Rio de Janeiro: Thex Ed, 2002. ALMEIDA, Josimar Ribeiro et al. Planejamento Ambiental: caminho para a participação popular e gestão ambiental para o nosso futuro comum: uma necessidade, um desafio. 2. ed. rev. at. Rio de Janeiro: Thex Ed. Biblioteca Estácio de Sá, 1999. ALVA, Eduardo Neira. Metrópoles (in) sustentáveis. Tradução de Marta Rosas. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1977. ARAUJO, James Amorim. A inserção espacial do comércio eletrônico na reprodução sócio-espacial domiciliar de Salvador. in Coleção de Idéias. Santo Antonio de Jesus-BA: Vol. 02. p. 42, 2004. BAHIA. Secretaria de Planejamento e Estatística. Microdados da Amostra. Censo 2000/ IBGE. SEI. 2000. BERTALANFFY. L.von. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis, RJ: Vozes, 1973. BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global. Esboço Metodológico. São Paulo: USP, 1971. BEZERRA, Paulo. Novas Luzes sobre a obra de Caio Prado Jr. São Paulo: Jornal da Tarde, 2000. 182 BRITO, Francisco J. de O. Mudanças Geoquímicas no substrato inconsolidado da área do Lixão Canabrava e suas implicações ambientais. Dissertação de Mestrado. Salvador: UFBA, 2005. CAETANO, Carlos Alberto. Manguezal do Rio Passa Vaca: uma proposta de ecodesenvolvimento, ecoturismo e desenvolvimento sustentável em Salvador , Bahia. Salvador: Ed. Do autor, 2003. ______. Proposta de ordenamento territorial para o bairro de Patamares, Salvador, Bahia. in Planejamento Territorial, disciplina do Mestrado em Geografia da UFBa/ 2002.2. CARLOS, ANA FANI A., LEMOS, Amália Inês G. org. Dilemas Urbanos: novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003. CASTELLS, Manuel. A questão urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000, 1ª. reimp. CASTRO, Iná Elias de et al. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand: 1995. CAVALCANTI, C. (org). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. 4a. ed. São Paulo: Cortez; Recife, PE: Fundação Joaquim Nabuco, 2003. ______. Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. 4a. ed. São Paulo: Cortez; Recife, PE: Fundação Joaquim Nabuco, 2002. CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1998. CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1997. 183 CHAGAS NETO, V. B. Caracterização do esgoto bruto e avaliação da eficiência da redução de matéria orgânica e de bactérias entéricas, em diferentes processos de tratamento de esgotos domésticos, empregados na cidade de Salvador – Bahia. Campina Grande: UFPB, 1995, 99p. CHRISTOFOLETTI, A. A geografia física no estudo das mudanças ambientais in Geografia e Meio Ambiente no Brasil, BECKER, B. et al, org., 2a. ed. São Paulo: Hucitec – 1998. ______. Modelagem de sistemas ambientais. 2a. reimpressão, São Paulo: Ed. Edgard Blucher, 2002. CURRY-LINDAHL, Kai. Ecologia: conservar para sobreviver. Tradução Luiz Edmundo de Magalhães. São Paulo: Cultrix,1975. DIAS, G.F. Pegada ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia, 2002. DOLLFUS, Olivier, O espaço geográfico. São Paulo: Difusão Européia, 1972. DOWNING, D.; CLARK, J. Estatística aplicada. 2ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2002. DUARTE, Rodrigo A . P. Marx e a natureza em O Capital. São Paulo: Loyola, 1980. ENGELS, Friedrich. A dialética da natureza. 5ª. ed. , Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. ______. O anti-Duhring. Lisboa, PT, Minerva: v. 1. 1975. FERNANDES, Rosali B. Processos recentes de urbanização em Salvador: O Miolo, região popular e estratégica da cidade. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. IX, nº 523, julio, 2004. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. FOLKE, Steen. Porqué una Geografía radical debe ser marxista. UNIVERSIDAD DE BARCELONA, 1976, tradução Carlos Alberto Caetano. 184 GERARDI, L. H. de O.; SILVA, B. C. M. N. Quantificação em Geografia. São Paulo: Difel, 1981. GOMES, Paulo César da Costa. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand. 1995. GÓMEZ OREA, D. Ordenación del territorio: una aproximación desde el médio físico. 1a. Edición, 240 p. Madri: Editorial Agrícola Espanõla, 1994. ______. Evaluación de impacto ambiental. 4a. Edición, 264 páginas Madri: Editorial Agrícola Española, 1998. HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo, Loyola, 1992. ______. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005. ______. Espaços de Esperança. São Paulo: Loyola, 2004. ______. Teoría Revolucionaria Y Contrarrevolucionaria En Geografía Y El Problema De La Formación Del Ghetto. Universidad De Barcelona, Año I. Número: 4 , Julio, 1976 HENRIQUE, Wendel, Pela Continuidade Da Geografía Crítica, Revista Bibliográfica De Geografía Y Ciencias Sociales; Universidad de Barcelona, Vol.VII, nº 400, Septiembre, 2002 FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, IBGE. Censo Brasileiro de 2000. KINKER, Sonia. Ecoturismo e conservação da natureza em parques nacionais. Campinas, SP: Papirus, 2002. KIRSTEN, J. T.; RABAHY, W. A. Estatística aplicada às ciências humanas e ao turismo. São Paulo: Saraiva, 2006. KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. 185 LACOSTE, Yves. A geografia: isso serve em primeiro lugar para fazer a guerra. São Paulo: Papirus, 3ª. ed. 1993. LEFEBVRE, Henri. A cidade do capital. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. ______. A revolução urbana. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999. ______. O direito à cidade. São Paulo: Moraes, 1991. LEFF, H. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. MARX. Karl. Formações econômicas pré-capitalistas. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. MENEZES, Claudino Luiz. Desenvolvimento urbano e meio ambiente: a experiência de Curitiba. Campinas, SP: Papirus, 1996. MÈSZAROS, Istvan. O poder da ideologia. São Paulo: Ensaio, 1996. ______. Para além do capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002, 1104 p. MONTEIRO, Carlos .Augusto de Figueiredo. Derivações Antropogênicas dos Geossistemas Terrestres no Brasil e Alterações Climáticas – IGEO/USP – in Anais do Simpósio sobre a Comunidade Vegetal como Unidade Biológica, Turística e Econômica – São Paulo: Sec. Da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978. ______. Geossistema, a história de uma procura. São Paulo, Contexto, 2001. MORAES, Antonio C. R. Meio Ambiente e ciências humanas. São Paulo: Hucitec, 1993. MOTA, J. A. O valor da natureza: economia e política dos recursos naturais. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. PELOGGIA, Alex Ubiratan G. Sobre a dialética e as particularidades das ciências da natureza e da sociedade. São Paulo: USP, sd. 186 PEREIRA, Raquel M. Fontes do A. A gênese da formação social brasileira. Texto apresentado no seminário O mundo que o português criou. SP: USP, sd. QUAINI, Máximo. Marxismo e geografia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. RIBEIRO, Luiz Cesar de Q. org. Metrópoles: entre a coesão e a fragmentação, a cooperação e o conflito. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo; Rio de Janeiro: Fase, 2004. SACHS, I. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel; FUNDAP; 1993. SÁNCHEZ, Juan Eugenio. Poder Y Espacio. Universidade de Barcelona, 1979. SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Editora da USP, 2002. ______. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1992, 3ª. ed. ______. O país distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania. São Paulo: Publifolha, 2002. ______. Por uma nova geografia: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo: Edusp, 2002. SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A.; SILVERIA, Maria Laura, org. Território, Globalização e Fragmentação. 5a. ed. São Paulo: Hucitec, 2002. SILVA, J. X. da; SOUZA, M.J.L. Análise Ambiental. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987. SOTCHAVA, V. B. O estudo dos geossistemas. São Paulo: USP, 1977. TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, M. Cristina Motta; FAIRCHILD; Thomas Rich; TAIOLI, Fábio, org. Decifrando a terra. São Paulo: USP – Oficina de Textos. s.d. TRICART, J. Ecodinâmica, São Paulo: IBGE/Supren – 1977. VARGAS, Milton. Engels e a dialética da natureza. In: Coggiola, O. org. Marx e Engels na História. São Paulo: Humanitas, 1996. ANEXO 187 ANEXO A - Microdados da Amostra em 18 variáveis, selecionadas pelo pesquisador e elaborados pela SEI – BA. FONTE: IBGE/2000 – Microdados da amostra. Variáveis 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Alfabetização / sabe ler e escrever anos de estudo - categoria caminhar horas trabalhadas condição de atividade condição de ocupação cor e raça curso que frequenta frequenta escola cheche particular e pública faixa de renda ocupação por grupo posição na ocupação domicílio condição esgoto lixo terreno densidade dormitório densidade 188 OBS: solicitadas BA Numeração seqüencial na informação obtida junto à SEI-BA Nº. das Áreas de Ponderação/IBGE 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 Foram à SEI- 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 informações sobre 18 Áreas de Ponderação para posterior definição das que estavam incluídas na área da bacia hidrográfica do rio Jaguaribe – Salvador - Ba. 189 VARIÁVEL 1 : por Sabe ler e escrever Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Área de Ponderação Sabe ler e escrever Sim Não Total 1 15.020 1.117 16.137 2 22.746 688 23.434 3 19.369 1.341 20.710 4 10.546 2.076 12.622 5 14.645 429 15.074 6 11.592 117 11.709 33 27.946 1.613 29.559 34 20.301 2.228 22.529 70 21.238 1.353 22.591 72 13.760 1.212 14.972 74 36.069 3.259 39.328 75 11.952 528 12.480 76 20.457 1.494 21.951 77 25.161 2.330 27.491 79 42.891 2.774 45.665 80 14.737 1.461 16.198 81 15.665 1.662 17.327 82 19.073 2.081 21.154 83 11.448 864 12.313 84 16.232 890 17.122 85 13.779 960 14.738 86 13.949 411 14.359 Total 418.577 30.887 449.464 1.903.800 111.908 2.015.708 Salvador Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2000 Microdados Amostra Variável 2 - por Anos de Estudo – categorizada Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por anos de estudo de Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Anos de Estudo 15 anos ou mais Não determinad os Total 3.058 240 124 16.137 6.730 3.921 187 23.434 3.637 4.701 203 20.710 5.106 1.121 463 706 0 294 12.622 1.232 3.776 2.728 5.024 1.490 143 15.074 571 1.960 1.733 4.676 2.532 71 11.709 1.498 3.959 9.551 5.522 7.972 512 545 29.559 34 1.969 4.802 8.609 3.771 2.872 186 320 22.529 70 1.270 3.947 8.485 4.490 4.128 107 165 22.591 72 1.204 3.253 5.930 2.213 2.151 175 46 14.972 74 3.011 7.746 14.467 6.438 6.456 915 295 39.328 75 526 1.850 4.192 2.537 3.106 157 113 12.480 76 1.303 3.929 7.449 4.201 4.528 272 268 21.951 77 2.212 5.300 9.705 5.478 4.408 123 265 27.491 79 2.294 6.477 12.693 7.920 14.040 1.785 455 45.665 80 1.215 3.501 4.738 2.340 3.650 590 163 16.198 81 1.399 4.200 6.930 2.565 1.963 43 227 17.327 82 1.756 4.559 8.323 3.671 2.500 99 246 21.154 83 729 2.404 4.410 2.569 1.813 70 318 12.313 84 924 2.492 5.229 3.522 4.584 182 189 17.122 85 637 2.724 5.765 2.724 2.695 51 143 14.738 86 451 1.974 5.027 3.233 3.485 118 71 14.359 27.967 77.400 150.752 79.213 95.003 14.276 4.853 449.464 105.022 285.849 624.975 360.893 500.323 121.223 17.422 2.015.708 Área de Ponderação Sem instrução e menos de 1 ano 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos 1 991 2.764 5.679 3.281 2 728 2.608 5.741 3.519 3 1.066 3.409 6.987 4 1.940 3.698 5 680 6 166 33 Total Salvador da 190 VARIÁVEL 3 - por Capacidade de caminhar / subir escadas Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes segundo a capacidade de caminhar Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Capacidade de caminhar / subir escadas Incapaz Grande dificuldade permanente Alguma dificuldade permanente Nenhuma dificuldade 1 5 302 787 15.077 2 65 78 395 23.002 3 41 246 635 19.851 4 44 132 372 5 55 196 6 25 33 Área de Ponderação Ignorado 0 Total 16.171 56 0 23.596 12.083 19 12.650 831 13.994 18 15.095 19 249 11.457 129 11.880 59 323 1.193 28.107 55 29.738 34 25 262 1.029 21.199 56 22.571 70 141 200 1.102 21.131 103 22.677 72 39 138 319 14.514 29 15.039 74 38 473 1.864 38.657 126 41.158 75 27 68 404 11.963 18 12.480 76 54 197 1.182 20.846 65 22.343 77 44 538 1.538 25.411 69 27.600 79 85 348 1.444 43.988 63 45.929 80 7 151 617 15.398 58 16.230 81 58 192 523 16.632 37 17.442 82 29 172 675 20.472 52 21.400 83 20 138 452 11.776 8 12.394 84 25 158 464 16.495 21 17.163 85 18 150 375 14.605 49 15.198 86 20 120 684 13.589 56 14.468 Total 923 4.602 17.134 430.247 1.088 453.995 5.286 23.512 84.001 1.911.097 4.481 2.028.377 191 Salvador Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra 20.773 VARIÁVEL 4: por Faixas de horas trabalhadas na semana Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, ocupadas por horas trabalhadas Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Faixas de horas trabalhadas na semana Área de Ponderação Até 14 15 a 29 30 a 39 40 a 44 45 a 49 Mais de 49 Total 1 334 763 736 1.892 1.354 2.662 7.740 2 307 1.097 1.391 4.856 1.726 3.244 12.622 3 245 784 923 2.596 1.659 3.113 9.321 4 229 460 374 1.853 1.472 1.495 5.883 5 247 863 725 2.669 967 1.774 7.245 6 349 516 674 2.792 739 1.733 6.804 33 197 1.278 1.606 4.660 2.321 3.862 13.924 34 145 706 746 2.187 2.356 3.310 9.450 70 262 564 883 2.515 2.541 2.979 9.744 72 241 435 695 1.934 1.517 2.064 6.886 74 606 1.384 1.589 4.747 4.040 5.095 17.461 75 164 399 682 1.407 1.049 1.694 5.395 76 400 822 877 2.817 1.423 2.867 9.207 77 429 840 1.199 2.356 2.557 3.947 11.329 79 583 1.993 2.649 7.959 4.162 5.969 23.315 80 249 502 729 1.926 1.394 2.626 7.427 81 250 447 449 2.272 1.720 2.176 7.313 82 129 459 832 2.060 2.020 3.281 8.780 83 113 314 398 1.452 1.233 1.762 5.272 84 286 565 797 2.344 1.374 2.195 7.560 85 206 537 838 1.983 1.445 2.132 7.142 86 152 477 668 1.780 1.172 1.581 5.829 Total 6.124 16.206 20.459 61.056 40.240 61.562 205.648 Salvador 30.950 79.785 105.020 296.617 164.023 253.663 930.057 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra 192 VARIÁVEL 5 - por Condição de Atividade na semana de referência Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por condição de atividade Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Área de Ponderação 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Total Salvador Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra Condição de Atividade na semana de referência Não economicamente ativa 10.524 5.613 15.091 8.343 12.725 7.986 7.988 4.634 9.137 5.937 7.685 4.024 18.869 10.690 14.011 8.518 13.727 8.864 9.740 5.232 24.708 14.620 7.436 5.044 8.535 13.416 15.835 11.656 30.056 15.609 6.120 10.078 9.850 7.477 9.062 12.092 7.388 4.925 6.812 10.310 9.751 4.987 8.810 5.549 170239 279.225 1.236.170 779.539 Economicamente ativa Total 16.137 23.434 20.710 12.622 15.074 11.709 29.559 22.529 22.591 14.972 39.328 12.480 21.951 27.491 45.665 16.198 17.327 21.154 12.313 17.122 14.738 14.359 449.464 2.015.708 193 VARIÁVEL 6 - por Condição de ocupação na semana de referência Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por condição de ocupação Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Condição de ocupação na semana de referência Área de Ponderação Ocupado Não ocupado Total 1 7.740 8.397 16.137 2 12.622 10.812 23.434 3 9.321 11.390 20.710 4 5.883 6.739 12.622 5 7.245 7.829 15.074 6 6.804 4.905 11.709 33 13.924 15.635 29.559 34 9.450 13.079 22.529 70 9.744 12.847 22.591 72 6.886 8.087 14.972 74 17.461 21.867 39.328 75 5.395 7.085 12.480 76 9.207 12.744 21.951 77 11.329 16.162 27.491 79 23.315 22.350 45.665 80 7.427 8.770 16.198 81 7.313 10.014 17.327 82 8.780 12.374 21.154 83 5.272 7.041 12.313 84 7.560 9.562 17.122 85 7.142 7.597 14.738 5.829 205.648 8.530 243816 14.359 449.464 930.057 1.085.651 2.015.708 86 Total Salvador Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra 194 VARIÁVEL 7 por Cor ou Raça Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Cor ou Raça Área de Ponderação Preta Branca Amarela Parda Indígena Ignorada Total 1 2.761 4.751 13 8.337 245 64 16.171 2 9.048 2.993 39 11.232 179 105 23.596 3 4.495 4.459 42 11.507 253 17 20.773 4 1.493 2.974 41 7.963 116 64 12.650 5 4.604 2.904 18 7.351 75 142 15.095 72 4.477 139 57 11.880 16.449 404 144 29.738 12.700 117 117 22.571 22.677 6 6.355 780 33 6.115 6.626 34 3.151 6.403 83 70 2.858 4.816 28 14.735 65 175 72 2.199 4.150 292 8.134 227 37 15.039 5.829 10.116 333 24.188 361 330 41.158 75 2.565 2.173 9 7.561 76 94 12.480 76 3.576 5.422 22 13.018 137 169 22.343 77 4.289 7.402 217 15.033 387 273 27.600 79 9.439 10.336 190 25.260 566 138 45.929 80 3.397 3.873 8.575 155 230 16.230 81 2.028 3.383 70 11.707 158 97 17.442 82 2.547 4.226 70 14.200 136 220 21.400 83 1.863 2.890 4 7.412 158 67 12.394 84 2.730 3.242 13 11.039 95 45 17.163 85 2.112 3.441 33 9.445 73 94 15.198 86 1.986 3.515 42 8.690 125 110 14.468 85.441 100.874 1.629 259.015 4.246 2.789 453.995 472.288 430.987 5.895 1.090.027 16.571 12.609 2.028.377 74 Total Salvador - - Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra 195 VARIÁVEL 8 por Curso que freqüenta Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por curso que frequenta Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Curso que freqüenta Área de Ponderação 1 Branco Creche Préescolar Classe de Alfabetização Alfabetiz ação de adultos Fundamental ou 1ro grau - Regular seriado Fundamental ou 1ro grau Regular não seriado Supletivo (Fundamen tal ou 1ro grau) Médio ou 2do grau - Regular seriado Médio ou 2do grau Regular não seriado Supletivo (Médio ou 2do grau) Prévestibular Superior graduação Superior mestrado ou doutorado Total 1 12.983 99 719 347 7 3.631 108 313 1.174 56 51 58 104 18 19.669 2 17.204 228 725 373 30 4.613 142 258 1.798 39 85 229 1.677 119 27.521 3 15.875 228 912 459 35 5.455 84 410 1.362 9 162 10.847 154 739 400 137 4.157 265 299 388 9 338 - 30 - 25.406 4 49 - 5 11.431 55 519 281 44 2.895 114 164 955 95 73 146 723 31 17.528 6 8.531 123 495 199 10 2.033 97 127 813 68 58 152 891 71 13.669 33 22.921 369 1.443 741 61 6.571 313 579 2.080 117 124 268 569 36.166 34 18.349 165 1.241 551 140 6.045 249 394 1.338 63 58 39 179 11 - 12 70 17.948 228 986 450 43 6.171 78 168 1.673 32 45 140 108 72 12.583 171 492 257 54 4.609 64 67 758 38 29 11 79 74 31.368 305 1.792 842 190 10.664 574 602 2.408 235 19 169 427 75 9.964 104 418 162 10 2.686 189 121 986 31 15 68 145 76 17.550 203 840 589 73 5.642 197 239 1.508 91 94 67 77 21.758 175 1.025 646 130 7.352 356 313 2.034 87 97 41 79 35.835 465 1.946 1.092 165 10.652 670 398 3.249 176 137 80 13.364 55 518 477 46 4.006 380 227 908 60 81 15.027 119 828 290 47 4.546 475 206 1.078 82 17.849 200 1.029 607 34 6.000 251 189 1.298 83 9.545 42 446 293 27 3.404 144 189 84 13.209 91 706 550 56 4.043 287 157 15 27.289 132 11 34.158 328 1.012 20 56.145 40 82 368 20.552 56 12 17 48 22 - 80 60 16 23 1.132 41 18 8 78 1.421 67 47 156 95 173 542 316 38 3.718 118 108 923 85 43 38 69 10.477 35 4.157 126 99 1.331 31 11 45 44 357.418 617 18.977 247 Total 51 3.805 10.172 1.413 113.049 5.282 5.625 30.617 1.565 1.166 2.251 7.292 75.150 42.863 5.264 459.484 17.342 17.629 19.212 182 12.800 14.843 28.072 49.606 86 1.560.329 - 28.810 10 - 85 Salvador - 17.406 145.780 7.709 6.014 15.989 56.690 53.799 3.400 14.899 22.750 27.637 15.367 20.885 18.972 17.272 107.598 2.428.487 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra 196 VARIÁVEL 9 por Freqüenta escola ou creche particular e pública Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por frequencia a escola ou creche Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Freqüenta escola ou creche Área de Ponderação Sim, rede particular Sim, rede pública Não, já freqüentou Nunca freqüentou Total 1 2.087 4.599 10.707 2.276 19.669 2 5.318 4.998 15.077 2.127 27.521 3 3.599 5.932 13.352 2.523 25.406 4 818 5.742 7.485 3.362 17.406 5 3.424 2.673 10.124 1.308 17.528 6 4.085 1.053 7.946 586 13.669 33 4.382 8.863 19.619 3.302 36.166 34 2.243 8.218 14.310 4.039 28.810 70 2.738 7.386 14.874 3.074 28.072 72 1.123 5.506 9.644 2.939 19.212 74 4.032 14.206 24.512 6.857 49.606 75 1.358 3.577 8.557 1.407 14.899 76 2.342 7.397 14.564 2.986 27.289 77 2.847 9.553 17.336 4.422 34.158 79 7.801 12.509 30.206 5.629 56.145 80 2.278 4.911 10.407 2.957 20.552 81 1.348 6.375 11.327 3.700 22.750 82 1.862 7.926 13.213 4.636 27.637 83 1.155 4.668 7.635 1.910 15.367 20.885 84 2.383 5.293 11.190 2.018 85 1.861 4.310 10.206 2.595 86 2.201 4.595 9.031 1.446 17.272 Total 61.283 140290 291.321 66.098 558.991 304.058 564.099 1.321.624 238.705 2.428.487 Salvador 18.972 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra 197 VARIÁVEL 10 por Faixas de rendimento total pessoal Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, por faixa de renda Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Faixas de rendimento total pessoal Mais de Mais de Mais de Mais Mais Área de Ponderação Sem Até 1/2 Mais de 1/2 a 1 1a2 2 a 5 de 5 a de 10 a Rendimento SM 20 SM SM SM SM 10 SM 20 SM 1 5.657 87 1.465 2.178 1.024 229 178 2 8.526 458 2.126 2.462 1.943 699 246 119 3 6.913 352 2.008 2.339 1.562 356 214 4 3.901 407 978 1.704 605 165 28 5 5.649 640 1.055 2.081 828 73 53 27 6 3.953 176 1.337 2.026 330 33 9 11 33 10.689 809 1.580 4.296 2.301 380 123 31 34 7.394 520 1.800 3.561 805 94 30 70 8.706 8 605 2.421 3.894 1.392 512 211 72 5.790 37 507 1.693 1.905 644 189 137 74 14.390 25 551 3.118 5.161 2.706 2.288 2.485 75 4.286 61 370 1.671 1.923 384 208 170 76 7.933 40 367 1.824 2.193 1.516 1.657 2.414 77 10.436 48 766 2.574 3.567 1.437 946 1.158 79 18.213 42 835 3.091 6.222 3.029 1.927 634 80 6.286 14 307 970 2.669 793 309 64 81 6.484 542 1.063 2.228 855 110 21 11 82 7.520 852 1.348 2.521 1.319 256 73 9 83 4.445 281 704 1.850 550 105 4 14 84 6.107 480 972 2.096 1.464 126 71 21 85 5.652 825 1.555 1.517 478 57 30 14 86 5.172 334 1.016 1.895 1.432 358 149 39 Total 164.104 7.038 23.315 50.117 43.032 14.942 9.266 7.571 Salvador 748.637 26.881 107.209 219.189 197.421 Nota: Salário mínimo utilizado: R$ 151,00. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da amostra 56.427 26.598 15.630 Sem declaraçã o 5.318 6.856 6.967 4.834 4.666 3.833 9.349 8.325 4.842 4.070 8.604 3.406 4.006 6.559 11.671 4.785 6.012 7.255 4.360 5.784 4.611 3.964 130.080 16.137 23.434 20.710 12.622 15.074 11.709 29.559 22.529 22.591 14.972 39.328 12.480 21.951 27.491 45.665 16.198 17.327 21.154 12.313 17.122 14.738 14.359 449.464 617.717 2.015.708 Total 198 Salvador 47.753 80.792 102.617 123.228 359.317 4.896 169.045 20.202 12.952 9.254 Membros das forças armadas, policiais e bombeiros militares Ocupações mal especificadas 930.057 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra VARIÁVEL 11 por Grandes grupos de ocupação no trabalho principal Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, ocupadas, por posição na grupos de ocupação Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Autoridades públicas, dirigentes e gerentes Profissionais das ciências e artes 1 195 364 Grandes grupos de ocupação no trabalho principal Trabalhador Trabalhador Trabalhado es res de Trabalhador es da Trabalhadores agropecuári produção de reparação Técnicos de es dos de serviços os, bens e e serviços e nível médio administrativos florestais, manutençã vendedores serviços de caça e industriais o pesca 3.977 57 510 860 1.486 138 2 1.472 2.261 1.726 1.444 3 394 409 1.051 904 4 31 42 243 132 3.380 5 512 936 1.075 1.092 2.262 Área de Ponderação Total 3.920 4.275 Total 88 65 7.740 40 1.467 102 103 86 12.622 42 1.850 225 58 111 9.321 36 1.837 140 11 32 5.883 41 925 100 206 96 7.245 6.804 6 1.078 1.346 1.194 848 1.704 10 419 50 50 106 33 283 604 1.778 2.019 5.262 30 3.143 363 251 191 13.924 34 135 219 570 785 4.911 13 2.323 404 45 45 9.450 70 141 354 874 1.271 4.022 - 2.615 239 126 101 9.744 72 109 111 612 742 3.179 37 1.743 257 45 51 6.886 74 441 729 1.346 1.703 8.133 9 4.154 394 383 170 17.461 75 188 133 661 631 1.846 20 1.633 142 86 53 5.395 76 130 277 1.000 1.051 4.164 26 2.158 226 104 71 9.207 77 154 144 872 1.276 5.238 52 3.183 225 128 58 11.329 79 1.359 1.480 3.435 4.148 8.031 88 3.696 413 457 207 23.315 80 233 418 939 945 2.994 23 1.593 132 124 25 7.427 81 119 115 432 727 3.162 64 2.323 280 27 64 7.313 82 75 180 528 597 3.878 65 2.988 334 55 80 8.780 83 114 110 459 559 1.987 24 1.566 269 106 77 5.272 84 193 259 855 1.347 3.077 36 1.369 167 200 56 7.560 85 58 170 474 764 3.451 43 1.872 156 96 58 7.142 86 150 209 625 954 2.476 10 1.149 59 121 77 5.829 7.565 10.866 21.262 24.799 85.329 769 45.493 4.814 2.870 1.881 199 Salvador 33.903 55.752 418.048 193.086 29.872 184.297 6.233 7.629 Pessoas residentes em domicílios particulares permanentes com 10 anos e mais de idade, ocupadas, por posição na ocupação Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra VARIÁVEL 12 por Posição na ocupação Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 1.239 930.057 Posição na ocupação Área de Ponderação 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Total Doméstico com carteira assinada Doméstico sem carteira assinada 250 664 380 393 288 340 336 436 312 226 870 132 389 559 564 235 217 363 101 178 180 150 7.562 587 884 795 805 385 316 761 916 464 707 1.429 159 787 838 1.237 719 603 572 291 273 532 281 14.341 Empregado com carteira assinada 2.940 5.202 3.591 1.723 3.306 2.804 6.688 3.847 4.564 2.688 7.688 2.549 4.405 5.308 12.122 3.256 3.142 3.756 2.494 3.756 3.291 3.117 92.237 Empregado sem carteira assinada Empregad or 1.696 2.192 1.893 1.516 1.373 1.235 2.862 2.019 2.334 1.428 4.020 1.188 1.771 2.245 4.804 1.719 1.700 2.053 1.294 1.751 1.381 1.291 43.764 152 1.857 2.448 290 2.214 1.302 359 1.436 802 1.204 150 2.893 41 2.100 127 1.780 52 1.567 220 3.080 147 1.133 59 1.651 92 2.170 399 3.854 158 1.269 75 1.512 47 1.922 88 908 105 1.309 33 1.586 34 881 4.490 40.076 1.060 Contaprópria Trabalh ador na Aprendi Não z ou produç remunerado ão para estagiári em ajuda a o sem o membro do remuner próprio domicílio ação consum o 144 85 29 141 21 9 21 137 65 79 36 62 49 54 106 119 10 19 71 55 107 10 174 34 46 108 7 80 33 69 44 39 68 9 145 166 23 26 38 9 21 37 7 34 23 10 45 50 39 97 52 99 41 48 18 10 1.228 1.704 247 Total 7.740 12.622 9.321 5.883 7.245 6.804 13.924 9.450 9.744 6.886 17.461 5.395 9.207 11.329 23.315 7.427 7.313 8.780 5.272 7.560 7.142 5.829 205.648 200 VARIÁVEL 13 por Condição no Domicílio Domicílios particulares permanentes segundo a condição Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Área de Ponderação 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Total Salvador Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 Microdados da amostra Cedido Próprio - Próprio - Alugad Já pago Pagando o Empreg ador 38 4.066 47 825 5.177 801 920 85 30 5.422 77 961 4.213 212 3.400 177 741 265 1.890 1.458 507 73 5.219 2.354 634 31 5.897 75 1.106 44 4.893 1.237 764 22 4.027 394 279 52 9.646 1.928 1.107 27 3.055 41 552 36 3.901 1.723 390 31 7.300 242 922 27 8.283 5.627 1.759 53 3.561 1.083 670 4.348 573 506 83 5.481 1.080 428 18 2.950 315 528 23 2.179 2.540 293 1.866 2.174 318 9 726 3.517 114 97.501 27.464 14.534 948 458.068 72.171 92.018 3.075 Cedido Outra Forma Outra condição 127 102 181 125 107 110 569 244 245 296 247 141 180 204 227 112 159 141 121 154 212 55 4.063 17.659 37 53 9 17 16 476 106 47 129 25 40 812 53 111 140 129 84 30 333 703 94 3.445 8.018 Total 5.139 7.085 6.724 4.559 4.707 4.055 9.284 7.472 7.209 5.177 12.979 3.866 7.038 8.748 16.061 5.566 5.799 7.232 3.967 5.500 5.282 4.506 147.955 651.008 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 Microdados da Amostra 201 VARIÁVEL 14 por Esgotamento sanitário Domicílios particulares permanentes segundo a condição esgotamanto sanitário Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Esgotamento sanitário Área de Ponderação 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Total Salvador Rede Geral Fossa Fossa Rio, Lago Esgoto ou Vala Séptica Rudimentar ou Mar Pluvial 593 94 61 2.891 734 749 155 4.035 2.092 396 407 670 1.323 104 3.336 807 453 856 186 480 2.107 231 683 39 3.188 1.105 218 92 56 32 751 3.016 245 11 242 4.615 1.572 1.718 459 535 223 3.548 1.490 469 1.027 348 132 4.535 757 971 396 340 178 2.984 907 279 241 480 304 8.369 1.547 1.405 340 958 14 2.356 353 406 435 290 140 5.674 724 248 96 124 162 4.067 1.190 2.214 676 345 443 11.609 1.841 1.115 566 331 108 2.884 682 1.448 291 117 441 826 1.356 2.162 803 158 286 3.359 1.560 1.227 262 487 88 1.453 417 987 513 467 26 5.017 172 74 168 27 537 2.711 407 1.210 251 37 36 4.118 127 113 93 8 4.606 82.512 23.339 20.211 8.202 7.626 13.573 491.665 55.105 40.842 23.696 21.520 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra Branco Outro Escoadouro 17 31 16 9 143 368 79 108 55 13 32 95 156 37 51 51 42 16 129 12 1.459 4.608 Total 5.139 7.085 6.724 4.559 4.707 4.055 9.284 7.472 7.209 5.177 12.979 3.866 7.038 8.748 16.061 5.566 5.799 7.232 3.967 5.500 5.282 4.506 147.955 651.008 202 VARIÁVEL 15 por Lixo, destino Domicílios particulares permanentes segundo destino do lixo Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Área de Ponderação 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Total Salvador Jogado Ter.Baldio Rio, Lago ou Queimado Enterrado Mar ou Logradouro - 16 4.885 227 5.952 1.042 26 65 10 24 6.144 505 12 27 625 2.483 239 38 917 256 4.528 133 8 28 10 4.040 8 7 4.835 3.829 110 10 413 70 5.514 1.742 38 151 26 3.799 2.715 36 12 468 152 2.178 2.848 106 35 7.371 3.942 139 18 1.290 62 2.926 834 29 15 53 1.887 4.591 22 484 20 3.531 4.106 194 11 833 64 7.939 7.355 112 20 478 83 2.926 2.062 157 19 350 41 2.803 1.173 696 43 1.070 2.668 3.313 303 19 855 66 2.458 1.204 78 188 39 3.522 1.901 6 41 13 1.899 2.788 282 14 283 16 1.516 2.748 34 209 83.945 51.543 2.529 213 8.293 1.034 438.428 170.656 5.808 572 29.417 4.802 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra Serviço de Limpeza Caçamba de Serv.Limpeza Outro Destino 11 17 27 10 158 8 34 9 75 11 13 9 17 398 1.326 Total 5.139 7.085 6.724 4.559 4.707 4.055 9.284 7.472 7.209 5.177 12.979 3.866 7.038 8.748 16.061 5.566 5.799 7.232 3.967 5.500 5.282 4.506 147.955 651.008 203 VARIÁVEL 16 por Condição do Terreno Domicílios particulares permanentes segundo a condição do terreno Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Condição do Terreno Área de Ponderação Branco Próprio Cedido Outra Condição 1.026 1.108 1.225 346 1.130 707 1.711 1.500 1.078 756 1.405 770 1.413 1.206 2.151 922 877 671 702 781 1.243 263 3.942 5.469 5.212 3.754 3.331 3.284 6.078 5.706 5.658 3.758 11.081 3.069 4.975 6.783 12.340 4.503 4.719 6.397 2.838 3.681 3.380 3.759 66 63 225 351 116 25 184 183 140 75 115 27 233 615 710 119 191 62 249 148 279 37 105 446 62 108 130 38 1.311 83 333 587 377 416 144 861 22 11 103 178 889 380 447 5.139 7.085 6.724 4.559 4.707 4.055 9.284 7.472 7.209 5.177 12.979 3.866 7.038 8.748 16.061 5.566 5.799 7.232 3.967 5.500 5.282 4.506 Total 22.990 113.717 4.217 7.031 147.955 Salvador Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 Microdados da amostra 120.769 483.980 12.609 33.651 651.008 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 Microdados da Amostra 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Total 204 VARIÁVEL 17 por Densidade de moradores por Cômodo categorizada Densidade dos moradores por cômodo dos domicílios particuares permanentes Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Densidade de moradores por Cômodo Área de Mais de 0,5 Mais de 1,0 Mais de 1,5 Mais de 2,0 Mais de 3,0 Ponderação Até 0,5 a 1,0 a 1,5 a 2,0 a 3,0 a 4,0 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Total Salvador 35 32 10 152 9 77 46 39 104 119 51 37 123 68 55 89 16 8 132 12 1.214 3.684 22 18 31 90 12 78 58 54 15 46 27 129 34 82 41 17 12 78 843 2.733 Total 5.139 7.085 6.724 4.559 4.707 4.055 9.284 7.472 7.209 5.177 12.979 3.866 7.038 8.748 16.061 5.566 5.799 7.232 3.967 5.500 5.282 4.506 147.955 651.008 205 292 54 1.758 2.389 590 3.850 2.378 357 241 208 345 134 2.511 3.008 685 776 1.759 848 590 344 2.402 1.765 329 164 26 3.033 951 48 24 2.979 4.499 1.037 390 225 2.098 3.625 898 491 256 2.159 3.565 1.008 308 129 1.280 2.514 744 352 130 3.989 6.141 1.571 825 318 1.239 2.105 346 105 72 2.055 3.517 782 375 214 2.384 4.486 1.080 604 130 5.910 7.881 1.180 532 306 1.812 2.456 600 345 251 1.325 2.725 862 486 264 1.746 3.495 1.067 561 233 1.090 2.092 409 271 73 1.675 2.767 628 286 124 1.228 2.654 606 295 291 1.372 2.474 436 162 50 48.670 69.244 16.112 8.018 3.855 251.616 291.128 60.900 28.081 12.867 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra Mais de 4,0 VARIÁVEL 18 por Densidade de moradores por Dormitório - categorizada Densidade dos moradores por dormitório dos domicílios particuares permanentes Salvador, Áreas de Ponderação selecionadas, 2000 Área de Ponderação 1 2 3 4 5 6 33 34 70 72 74 75 76 77 79 80 81 82 83 84 85 86 Total Salvador Densidade de moradores por Dormitório Mais de Mais de Mais de Mais de Mais de 1. 1 1,0 a 1,5 1,5 a 2,0 Mais de 2,0 a 2,5 2,5 a 3,0 3,0 a 4,0 4,0 1.053 1.004 910 1.510 425 236 1.724 1.780 1.954 978 396 254 1.285 1.392 1.311 1.978 406 353 801 352 1.045 1.134 694 534 1.449 1.175 1.126 566 206 185 1.460 1.063 1.129 361 30 12 1.831 1.837 2.572 1.972 624 447 1.391 1.033 1.911 1.891 822 425 1.325 1.294 2.145 1.526 533 387 914 729 1.447 1.315 529 244 2.825 2.215 3.294 2.637 1.184 823 614 820 1.291 773 272 96 1.216 1.242 2.166 1.519 411 485 1.624 1.414 2.424 2.094 725 468 3.978 3.349 4.560 2.771 823 582 1.296 765 1.399 1.118 487 501 941 911 1.388 1.430 605 524 1.287 968 1.758 1.764 824 630 695 658 1.260 906 293 154 1.093 1.177 1.395 1.127 436 272 947 701 1.407 1.279 477 470 847 891 1.372 948 309 141 30.653 26.595 40.530 30.446 11.510 8.220 148.958 128.237 183.182 119.903 42.202 28.526 Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 - Microdados da Amostra Total 5.139 7.085 6.724 4.559 4.707 4.055 9.284 7.472 7.209 5.177 12.979 3.866 7.038 8.748 16.061 5.566 5.799 7.232 3.967 5.500 5.282 4.506 147.955 651.008 206