Rugby: símbolo do Apartheid e da Nova África do

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Rugby: símbolo do Apartheid e da Nova África do
Rugby:símbolo do Apartheid,e,da Nova África do Sul
Guilherme Faria Martins
Em maio de 1994,quando Nelson Mandela assumiu a presidência da África do
Sul,encontrava um país a beira de uma guerra civil,por um lado os brancos temerosos
com uma retaliação dos negros,onde grupos que apoiavam o Apartheid se organizavam
para uma tentativa de uma reestruturação do antigo sistema de governo,mesmo que
fosse necessário utilizar da violência.Por outro lado os negros vendo num governo de
um presidente negro,a oportunidade de vingarem os anos sofridos pela segregação
imposta pelo governo do Apartheid.
Então o que Mandela podia fazer para contornar essa crise?Ele utilizou-se de um
artifício que seria impensável naquele momento.Trazer a Copa do Mundo de Rugby
para a África do Sul,tal atitude foi como,dar o maior presente que podia para os
africâners,pais do Apartheid.O que foi visto como mal gosto pelos negros.
Mandela tentar utilizar como principal artifíco,para fazer que negros e brancos se
vissem como uma nação,um dos principais símbolos da política repressora dos brancos
sobre os negros,seria algo de enorme dificuldade.Como fazer os negros torcerem para o
Springboks,seleção de Rugby da África do Sul,se eles passaram a vida inteira odiandoos?
Então Mandela ecoando por toda a África do sul o grito de : UM TIME,UMA
NAÇÃO,começou sua articulação de unir os povos entorno de um bem comum.O
primeiro foco,foram os africâners,em especial a seleção de Rugby da África do
Sul.Todos os jogadores passaram a conhecer a vida de Mandela,visitaram sua cela,onde
passara quase 30 anos de sua vida.O Springboks visitou diversos bairros
negros,passando a conhecer a vida e o que passaram durante aqueles anos de
segregação,passaram a se aproximar mais deles com a introdução do Rugby e sua
filosofia.Um grande marco dessa aproximação,foi a mudança do hino nacional,onde os
africâners do Springboks cantavam antes de suas partidas,que passou contém dialetos de
povos negros,uma mudança de fundamental importância para essa reaproximação.
Mas isso não foi suficiente para convencer os negros a apoiarem o Springboks.Então o
que os fariam?A campanha do Springboks naquele mundial seria o marco decisivo,sua
garra nos jogos,suas vitórias em cima de grandes seleções e sua luta fora de
campo,durante a competição iria mostrar que não só na teoria,mas que na prática eles
estavam mudando,e o tempo também,como todas as pessoas da África do Sul também.
Apartir daí o esporte começa a mostrar sua força sobre a sociedade,o Rugby foi esse
elemento,a cada jogo que a Áfica do Sul ganhava,a cada fase da competição que
avançava,mais negros apoiavam a seleção,mais eles viam que aquele era seu
time,e,mais brancos brandiam as bandeiras da nova África do Sul,deixando de lado a
antiga bandeira do Apartheid.
O momento sublime dessa luta foi visto durante a partida final, o estádio Ellis
Park,praticamente tomado pela nova bandeira da África do Sul e brancos e negros sem
distinção de lugares e entradas,naquele momento podia-se dizer que ali estavam
sulafricanos e não mais brancos e negros.E tal “luta” foi coroada,quando seu
mentor,Nelson Mandela,entrou em campo com a camisa e boné do Springboks e o
estádio inteiro gritou seu nome.Mandela vestido com o antigo símbolo dos opressores,e,
os africâners saudando o antigo símbolo da luta contra seu governo.
Quando Mandela entregou a taça de campeão para o capitão do Springboks François
Pienaar.Mandela disse à Pienaar:”Muito obrigado pelo o que fez pela África do
Sul’.Pienaar refuta Mandela dizendo:”Madiba está enganado.Obrigado pelo o que
você fez pela África do Sul”.
No entanto essa pode ser uma versão romantizada do fato.Diminuindo a complexidade
que o mesmo teve.
Por isso que um estudo mais detalhado das particularidades do esporte,neste caso o
Rugby,com elementos centrais tanto da época do regime do Apartheid,como da era pósApartheid.Podem trazer informações mais precisas e esclarecedoras dos
fatos.Mostrando assim a grandeza que o fato possuí na história.
Segundo H.L.Wesseling em sua obra Dividir Para Dominar:A partilha da África.Ao
tratar da origem dos africâners afirmou que os mesmo “Constituíam uma sociedade de
indivíduos unidos pela palavra de Deus e pela luta contra os negros”(P.292).
Sendo comprovada tal afirmação em 1948,quando o Partido Nacional vence as
eleições,e,começa a instituir os mecanismos do regime do Apartheid,cujo o significado
da palavra de origem africâner é segregação.Ocorrendo total separação em todos os
planos entre a minoria africâner,de origem principalmente holandesa,e,a maioria
negra,dividida entre etnias como Zulus,Xhosas,Tswanas e Sothos.Surgindo assim em
1961 a República Sul-Africana(RSA),moldura geopolítca do sistema do
Apartheid.Como afirma Demétrio Magnoli em África do Sul:Capitalismo e Apartheid.
Os
africâners,desde
a
sua
formação
desmonstraram-se
rígidos
e
segregacionistas.Deixaram de lado sua origem européia e criaram uma nova nação,não
eram mais holandeses vindos através de interesses econômicos,ou pequenos grupos de
portestantes vindos da França, Alemanha e países escandinávos.Agora eram
fazendeiros,Boers em sua língua,que exploravam a terra e a mão-de-obra negra,algo que
os ingleses classificavam como escravidão.
Já os negros divididos em tribos distintas,viviam em um sitema diferente dos
britânicos e africâners,para a sociedade européia contemporânea,um sistema
classificado como rústico.O que foi compensado pela quantidade numérica.Por mais
que as tribos negras,os africâners e os britânicos ocupassem e lutassem pelo mesmo
espaço geográfico,cada etnia vivia em mundos completamente distintos.
As tribos negras expalhadas pelo território,mantendo a rivalidade ente si,e,as tradições
tribais,vistas como atrasadas.Os africâners,destituídos de qualquer laço com sua matriz
européia,tornaram-se fazendeiros que pregavam sua fé em Deus e suas concepções
racistas na exploração da mão-de-obra negra e sua relação com os mesmos.Já os
britânicos viam o território sul-africano como mais um de seu vasto Império global.O
que não seria diferente,sua relação com os outros povos que habitavam a
região.Impondo seus traços culturais e políticos aos outros povos que ali se
encontravam também.
Trazendo a frase de Wesseling a um contexto mais próximo do século XX,a fé em
Deus agora passa a dar lugar na fé ao Rugby.
John Carling em Conquistando O Inimigo:Nelson Mandela e o Jogo que Uniu a
África do Sul explicita bem essa relação de fé entre os africâners e o Rugby “Eles
seguiam um Cristianismo do Velho Testamento,conhecido como Igreja Reformada
Holandesa,e tinham sua religião secular,o rúgbi(...)E quanto mais direitistas fossem os
africâners quanto mais fundamentalista fosse sua fé em Deus,mais fanático era seu
apego ao esporte”(P.52)
O Rugby vai surgir na Inglaterra em meados do século XIX, no ano de 1823 na cidade
de Rugby.Surgindo através do meio universitário,o esporte pela sua característica
disciplinar e bruta,logo vai ser disseminado nas forças armadas inglesas.Que passam a
difundir o esporte nas colônias britânicas expalhadas pelo mundo.E a África do Sul
possuía um grupo étnico que correspondia muito bem as características do esporte,os
africâners.
O Rugby vai se fundir com a identidade do africâner no final do século XIX,como
meio de reforçar o caráter disciplinar e belicoso do mesmo.E também como forma de
vingança pela presença imperialista britânica na região,sendo descontada na prática
esportiva.
Mas como os africâners iriam ter o Rugby como sua grande paixão,se tinham aversão
a presença inglesa?Como citado anteriormente.O estilo de vida africâner,irá
proporcionar tal relação,fazendeiros que desde criança são expostos a uma disciplina
familiar e as adversidades do espaço que vivem.Formando assim um homem bastante
acostumado a situação de violência.Fundindo assim sua identidade com a pratica do
Rugby,que também era um forma de descontar as imposições feitas pelo governo
britânico na região.Dessa forma o Rugby funde com a cultura africâner,expressando a
vida extremista que os mesmos possuíam nos aspectos culturais,religiosos,políticos e
econômicos.
Essa fusão fez com que ao longo do século XX os jogadores africâners fossem
considerados os jogadores mais agressivos do mundo.O Springboks passa então a
funcionar muito bem como uma metáfora da brutalidade do Apartheid.Sendo
constituído principalmente por africâners,que reproduziam a rigidez à que foram
expostos na infância dentro e fora de campo.E com uma outra exceção aqueles que
chamavam de “ingleses”,brancos de origem não africâner,que apesar da cor da pele,não
deixavam de sofrer retaliações dentro “meio social” do Rugby sulafricano.Já os
mestiços só jogariam Rugby,em time formados por mestiços,mais conhecidos como
coloureds.
Em 1992 um jornalista britânico escrevendo sobre o fim do boicote esportivo imposto
à África do Sul no final da década de 1970.Disse que o Rugby era o combustível da
arrogância dos africâners.O que perdurará até os dias atuais,sendo uma marca do estilo
da seleção da África do Sul.
Os embargos políticos,econômicos e militares impostos pelas nações e órgãos
internacionais contrários ao Apartheid.A desobediência civil junto as sabotagens e
ataques de grupos opositores dentro da própria África do Sul foram alguns meios de
atingirem o regime.Só que no aspecto econômico,tal boicote não durou por muito
tempo,devido a concorrência do mercado internacional pelas grandes jazidas de ouro e
pedras preciosas da África do Sul.Restando ao crescimento e fortalecimento de grupos
contra-apartheid dentro do país,os mais conhecidos eram o CNA(Congresso Nacional
Africano) e PAC(Congresso Pan-Africano).CNA tinha como um dos seus principais
líderes,Nelson Mandela,que acabou virando símbolo da luta contra o Apartheid,tanto
pela luta armada com a ala radical do CNA e pela sua política feita dentro da prisão
durante seus quase 30 anos de confinamento.
Diferente do PAC,que era mais radical e que defendia a separação entre negros e
brancos.O CNA possuía uma postura de defender a mistura étnica na África do Sul,o
que influenciará bastante nas decisões de Nelson Mandela durante seus anos na prisão e
ao assumir a presidência do país.
Porém com o enfraquecimento do boicote imposto pelas grandes empresas mundiais.A
luta armada dos grupos de resistência negra,e,consequentemente o aumento da
repressão do governo.Levou ao fim da década de 1970,grupos e oposição ao apartheid
dentro e fora da África do Sul,à utilização do boicote esportivo como meio de aumentar
o isolamento do governo sulafricano e forçá-lo a abandonar a política segregacionista e
repressora.
Dentro dessa importância de utilizar o boicote esportivo como meio de forçar o fim do
Apartheid.Que utilizando o Rugby como instrumento ideológico,agora não mais a favor
de fomentar a ideologia do Apartheid,dão ao esporte um caráter mais político.Antes os
jogadores que não se preocupavam com a realidade do país,pois cresciam com aquela
concepção de distinção étnica,passam a sentir na pele o que realmente estava ocorrendo
no país.
No meio da década de 1980,a seleção sulafricana de Rugby já sentia esse isolamento
dentro do mundo rugbístico,as antigas turnês ou giras pela grã-
bretanha,Irlanda,Austrália e Nova Zelândia não existiam
ocorriam,sofriam forte oposição dos torcedores das outras nações.
mais,ou
quando
Passeatas nas ruas de Dublin,na Irlanda onde manifestantes mostravam cartazes de
repúdio a presença da seleção sulafricana de rugby em seu país,e,ao regime de o
apartheid.A não permissão de pouso do avião que levava o springboks,por
manisfestantes anti-apartheid,para realizar alguns jogos na Austrália.E a associação do
esporte ao apartheid na África do Sul,com mensagens de que quem jogasse Rugby no
país,estava apoiando o regime segregacionista,foram alguns dos protestos que a seleção
sulafricana sofreram ao longo do período em que o boicote fora imposto.
Um grande exemplo destes casos foram os fortes protestos ocorridos na Nova
Zelândia,durante uma turnê do Springboks,onde torcedores e a comunidade Maori,os
nativos neozelandeses que foram proibidos de jogarem pela sua seleção durante jogos
realizados na África do Sul devido a cor escura da sua pele.Impediram a realização dos
jogos através da invasão de campo e até mesmo através do uso de bombas.Houve
embates entre torcedores e policiais,jogadores saiam de campo para se protegerem das
fumaças e gases vindos das bombas lançadas das arquibancadas.
A Nova Zelândia,o país onde a paixão pelo Rugby é maior do que na África do Sul,se
mobilizou para protestar contra o regime do Apartheid,e,as autoridades políticas do país
por permitirem a presença de um time que simbolizava tal regime.
Coincidentemente é nesse período que começa uma articulação política entre o até
então presidente P.W.Botha,e posteriormente seu sucessor F.W. De Klerk,com Nelson
Mandela,o antigo líder da ala radical do CNA(Congresso Nacional Africano) principal
grupo de oposição ao Apartheid,e,naquele momento um dos prisoneiros mais
conhecidos do mundo.
Mandela fez um profundo trabalho de compreensão da cultura e história
africâner,estudou sua língua,sobre os grandes líderes da Guerra dos Boeres ou Guerra de
Libertação.Enfim Mandela podia-se considerar em pé de igualdade ao conversar com os
africâners sobre os mesmos.Apartir daí que ele percebe que retaliações,mudanças
radicais em cargos políticos não o fariam atingir seu objetivo.Que era de instigar a
consciência dos sulafricanos que todos,independente da cor da pele,eram pertencentes a
mesma nação.Quando Mandela fora solto da prisão e ganhara juntamente com De Klerk
o prêmio Nobel da Paz,pela articulação que ambos fizeram para por fim ao regime do
apartheid e realizar eleições multiétnicas e democráticas na África do Sul,o mesmo
preparava-se para mais um estágio para a realização de seu objetivo.Nelson Mandela
candidata-se a presidência,e,ganha podendo assim colocar em prática seus planos de
uma nova África do Sul.
Porém os povos que constituíam a África do Sul desde sua origem vivam em
separação.Pode-se considerar que constituíam nações distintas.Por tanto,como Mandela
irá despertar uma percepção de nação forte,para estes distintos grupos,que se
encontravam à beira de uma guerra civil?
Mandela sabia perfeitamente da história dos povos que constituíam a África do
Sul.Sabia e entendia o motivo do ódio de cada lado.Por isso que institui símbolos para
essa nova nação.
Inicialmente fora a bandeira,que deixa de ser a antiga bandeira Azul,Branco e Laranja
do Apartheid e passa a ser multicolorida simbolizando a mistura étnica,juntamente a
isso o hino deixa de ser exclusivo da língua africâner e passa conter o idioma de
algumas etnias negras.Mas foi em algo que sempre esteve representando o antigo
governo repressor,que Nelson Mandela procurou como uma das principais formas de
despertar o sentido de uma nação única e forte entre os povos sulafricanos.Então,ele
recorre ao Rugby para tal tarefa.
E o primeiro passo foi trazer o Mundial de Rugby de 1995 para a África do
Sul.Conseguindo,o foco seria transformar o Springboks em simbolo de união da
Nação.John Carlin explicíta bem em sua obra,esse desejo de Mandela,ao transcrever
uma parte da conversa que Mandela afirma à François Pienaar,capitão do
Springboks,seu objetivo de unir o país “Vamos usar o esporte para construir uma nação
e promover todas as ideias que acreditamos que vão conduzir à paz e à estabilidade em
nosso país”(P.175).
Então juntamente com dirigentes da Confederação Sulafricana de Rugby,Mandela cria
o slogan que vira o símbolo da África do Sul durante todo o mundial “Um time,Uma
Nação”.
Os jogadores passam a cantar o novo hino nacional,passam a ter mais contato com os
negros.Visitam as Townships,áreas destinadas aos negros por leis do regime
segregacionista,sentem na pele um pouco do que a luta pela distinção étnica
proporcionou à aqueles povos.Nesse momento o Springboks conta com um jogador que
passa a ter sua imagem em todos meios de divulgação e de transporte ligados à
seleção,imagem que simbolizava essa nova consciência do povo sulafricano.O jogador
era Chester Williams,o único negro da seleção sulafricana de Rugby.Durante todo
período de preparação pré-mundial e durante a competição.O Springboks foi o simbolo
da África do Sul,todos os sulafricanos os viam como sua seleção,e,todos os envolvidos
em realizar tal articulação sabiam que quanto mais o time avançasse na
competição,mais perto de realizar o objetivo eles ficavam.
O resultado de toda essa articulação,pode ser visto em livros,documentários e
filmes.Mandela e todos aqueles que desejavam o mesmo objetivo,conseguiram através
do esporte,o Rugby,pelo menos naquele período em que se realizou a Copa do Mundo
de Rugby na África do Sul.Com que povos que desde a criação da África do Sul,não
possuíam uma ideia de identidade comum. Rompessem os séculos de divisão entre
eles,e,passaram a vê-los como uma mesma nação.
Quando o Springboks ganhou a final do mundial,estavam consolidando algo,muito
maior do que um simples campeonato esportivo,estavam levando o esporte á um
patamar,além daquilo que lhe é atribuído.O Rugby foi o elemento que Mandela utilizou
para construir essa nova nação,essa nova África do Sul.
Esse tema é posto um pouco de lado,é mais tratado como curiosidade,escassa
produção acadêmica,onde a maioria é voltado como o esporte sendo uma atividade
física,desenvolvido e direcionado para o público de educadores físicos.Mas essa
abordagem de esporte como conhecimento da história do homem,fica voltado para os
núcleo específicos de cada modalidade,sendo realizados fora do meio acadêmico,na
maioria das vezes realizado por particantes afins sem possuir um teor científico.
Na Europa e Estatos Unidos é mais fácil se achar uma vasta produção acadêmica
sobre o esporte na história.Um estudioso que tem importância no assunto é o professor
PHD John Nauright,que produziu inúmeros estudos históricos e sociológicos sobre o
esporte e Rugby.Na sua obra Sport, Cultures and Identities in South Africa Nauright
retrata a mistura étnica que é África do Sul e como o esporte,neste caso, é utilizado para
criar uma identidade para a nação.O autor ressalta muito que o esporte é utilizado para
unir e dividir uma nação.E O Rugby teve esse papel controvérsio,seja no período
Apartheid como símbolo do regime de segregação racial e pós Apartheid como meio de
unificação dos povos sulafricanos.
No século XIX a sociologia começa a produzir inúmeras obras sobre a temática.Então
passa-se a tratar de questões sobre sua origem,sua relação com a sociedade e a
cultura.Porém os estudiosos não davam validade aos estudos que faziam relação
esporte e vida.Isso demonstra que por longo tempo o esporte não foi observado pelos
sociólogos como fenômeno social, da mesma forma que a sociologia do esporte também
não era reconhecida como disciplina específica da sociologia. O esporte encontrava
espaço somente em outras disciplinas e teorias sociológicas, como a sociologia da
cultura ou do lazer, as teorias do conflito, de grupos etc.
“Como ciência ou disciplina autônoma da sociologia, a sociologia do esporte
desenvolveu-se de fato apenas na segunda metade dos anos 70. E característico que ela
tenha nascido, por um lado, de interesses especificamente sociológicos e, por outro, a
partir de um processo de diferenciação dos interesses no próprio esporte. Esse processo
continha tanto lima base prática no esporte institucional quanto uma base teórica na
então nascente ciência do esporte como ciência aplicada (RIGAUER, 1982: 14). Dessa
forma, a sociologia do esporte encontra- se no cruzamento dos interesses do esporte, da
ciência do esporte e da sociologia “(RIGAUER, 1982).
Como entender a formação da identidade nacional através do esporte?Nada mais do
que procurar compreender a formação étnica de cada povo e sua relação com o
esporte,através de sua história.Mostrar como surgiram os Africaners e porque o Rugby
pode ser considerado como uma religião para eles. Com certeza essa relação molda a
característica de um povo,a seleção sulafricana cria-se um estilo que condiz com a
história do povo africaners.Um estilo agressivo,de jogadores fortes que dentro de campo
parecem resgatar o espirito bélico de seus ancestrais que lutaram na Guerra dos Bôers.
Por isso nada mais comum quando a população negra,se revolta contra o esporte
Rugby e principalmente a seleção sulafricana,os Springboks,onde os negros não os viam
como a seleção nacional,mas como o time do inimigo,jogando o esporte do inimigo.
“O esporte não é um sistema à parte, mas de diversas formas interligado com o
desenvolvimento social (...). Embora constitua um espaço específico de ação social, o
esporte permanece em interdependência com a totalidade do processo social, que o
impregna com suas marcas fundamentais: disciplina, autoridade, competição,
rendimento, racionalidade instrumental, organização administrativa, burocratização,
apenas para citar alguns elementos. Na sociedade industrial, formas específicas de
trabalho e produção tornaram-se tão dominantes como modelo, que até o chamado
tempo livre influenciaram normativamente (...)”, (RIGAUER,1969 p.7).
O esporte é um fenômeno heterogêneo e em constante transformação, transmitindo
valores de acordo com suas formas de manifestação, o que indica a necessidade de
adequação do seu sentido ao ambiente social em que se insere.O Rugby vai se mesclar
com a história da sociedade africaners na África do Sul tornando-se uma das formas de
expressão do regime do Apartheid.Por isso do fato de Nelson Mandela,pode se dizer
através de um estudo hermenêutico sobre o povo africaner,estudar a fio o esporte que
tanto despertava paixão para seus opressores.Por tanto,nada mais comum,utilizar do
Rugby como um meio de atingir seu objetivos de pacificar e unir os povos
sulafricanos,pois Mandela estudioso da história africâner e com conhecimento da
importância que o Rugby possui para os mesmo,saberia que a possibilidade de
conseguir seu objetivo seria muito grande.Como ocorreu,através do Mundial de Rugby
realizado na África do Sul em 1995.
Segundo Bracht (2002), o esporte se coloca em nossa sociedade sob duas formas de
manifestação quanto ao sentido: alto rendimento ou atividade de lazer.Nessa forma de,
atividade de lazer,é que entra a relação com a cultura de uma sociedade.Onde através da
atividade recreativa ,a cultura e a experiência de vida do indivíduo vai ser expressada,o
mesmo fato que ocorre na África do Sul com os africâners e o Rugby.António da Silva
Costa defende bem,essa ideia em sua obra Deporto e análise social .Onde podemos
analisar muito bem uma sociedade através dos esportes que ela pratica.
Na África do Sul da época do Apartheid,a divisão racial também era nítida no
esporte.O Rugby sendo o esporte exclusivo dos africâners ,e, o futebol o esporte
marjoritário dos negros.Passando a ser o símbolo de cada etnía.Era frequente deparar-se
com a cena em abrigos de doações para pessoas carantes,jovens negros repudiando
roupas com o símbolo da seleção sulafricana de Rugby,o Springboks.E no caso do
futebol,somente brancos estrangeiros faziam coberturas sobre os acontecimentos do
esporte no país,os africaners só tratavam do assunto futebol,por questão de
profissionalismo,pois como reflexo da segregação somentes os altos cargos em
empresas,eram ocupados pelos africâners.
Sempre coube a história como disciplina escolar contruir a memória da nação e
fornecer os marcos de referência para se pensar o passado,o presente e o futuro do
país.Por isso as várias discussões e novidades no que se diz respeito ao ensino de
história.No início da década de 30,na França surge uma nova percepção de lhe dar com
a história,não voltada mais para o político,assim evitando uma história mais
centrada,mais etnocentrica.Passou-se a dar mais enfase para o cotidiano,para a cultura
do indivíduo.Assim a importância histórica do esporte na sociedade passa e ter seu
espaço no ensino de história.Passa-se a produzir sobre as atividades esportivas
praticadas pelos reis até as mais baixas camadas da sociedade.Finalmente o esporte
passa a ter seu papel dentro da história,não mais como um acessório,e,sim como algo de
importância e peso para a sociedade.
Quando os sulafricanos vão tratar de Rugby,sempre virá a mente de cada um,o papel
que o esporte teve na sociedade e na história da nação.Quando comenta sobre eventos
esportivos realizados no país,vem sempre a lembrança do regime de
segregação,e,sempre utiliza-se o esporte como exemplo.Ao mostar os negros na seleção
de rugby nacional,a enfase não é mostrar a habilidade de cada jogador e sim,lembrar
que alguns anos aquilo era incomum.Quando a seleção de Rugby foi em jogos da
seleção de futebol,no mundial de futebol realizado na África do Sul.Não foram porque
se interessam pelo esporte,foram sabiam do peso que eles tinham,sabiam que
mostrassem que estavam apoiando o esporte que tantos anos fora destinado somente aos
negros,estavam pondo fim a uma desconfiança que perdurou por anos.Mas acima de
tudo eles estavam mudando a imagem que a história retratou,estavam criando uma nova
história na África do Sul,como fizeram em 1995,no mundial de Rugby,onde o país em
meio a uma guerra civil e desconfianças sobre o destino da nação.Brancos e
negros,passaram a torcer pelo mesmo lado,passaram a ter consciência de que estava do
mesmo lado.
Isso pode ser visto,apartir do momento em que cada um entrou em contato com
história de cada,passou a ter noção do porque cada um fazia aquilo,passou a ver que
todos tinham uma história,e,que estavam compartilhando dessa mesma história.
Concluo tal artigo,reforçando a ideia de António da Silva Costa.Que para conhecer
uma sociedade,devemos reconhecer a importância dos esportes que ela pratica.Ao
fazermos isso entraremos em contato com a cultura desta sociedade,observaremos como
ela coloca suas particularidades na prática de determinados esportes,como sua
identidade aparece,criando assim um estilo próprio,podendo ser visto também nas
demais sociedades.Podemos ver como o esporte se mistura com sua história.Mandela
soube enxergar isso,por isso que no mundial de Rugby de 1995,ele conseguiu criar uma
nação.
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