COMENTÁRIO O Sistema OLGA para estadiamento de Gastrite
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COMENTÁRIO O Sistema OLGA para estadiamento de Gastrite
COMENTÁRIO O Sistema OLGA para estadiamento de Gastrite Siderley de Souza Carneiro Patologista Já está bem estabelecida a relação entre o carcinoma gástrico e a infecção pelo H. pylori. O grande volume de informações disponíveis indica que a presença de atrofia é o indicador independente mais importante do risco de se desenvolver o adenocarcinoma de tipo intestinal. O sistema OLGA (Operative Link for Gastritis Assessment) de estadiamento de gastrite propõe estadiar os diferentes fenótipos da gastrite crônica de forma a estabelecer graus crescentes de risco para o desenvolvimento de câncer. Assim, da mesma forma que na biópsia hepática a fibrose prediz a evolução para cirrose, a atrofia é relacionada ao risco de desenvolvimento de câncer. Assim como no Sistema Sydney, é necessário um protocolo de representação da mucosa gástrica para que o estadiamento possa ser adequadamente realizado. O estadiamento combina o grau de atrofia presente em cada fragmento de biópsia com a topografia. Assim como no Sistema Sydney, as informações sobre a provável etiologia devem também ser fornecidas (ex. H. pylori, auto-imune, etc.). A informação assim obtida permite definir aqueles quadros puramente inflamatórios e reversíveis (geralmente limitados ao antro), daqueles mais avançados com atrofia que compromete antro e corpo e que são associados a maior risco de evolução para carcinoma. A atrofia na mucosa gástrica pode ser definida como a perda das glândulas habituais . Isso pode ocorrer em duas situações: perda das glândulas e substituição por fibrose; metaplasia, que pode ser intestinal ou pseudopilórica. Eventualmente, a inflamação acentuada impede a avaliação da atrofia, o que justifica um diagnóstico provisório de indefinido para atrofia. Escore de atrofia A atrofia é estadiada para cada fragmento de biópsia individualmente, de acordo com a percentagem de glândulas atróficas (0 = sem atrofia; 1 = atrofia leve 1 a 30%; 2 = atrofia moderada 31 a 60%; 3 = atrofia severa > 60%). A atrofia é graduada por compartimento, ou seja, antro e corpo. Assim, é feita a média do grau de atrofia dos 3 fragmentos do antro e a média do grau de atrofia dos 2 fragmentos do corpo e o resultado é jogado em um quadro que permite o estadiamento. Antro Escore de atrofia Corpo Ausente Escore 0 Atrofia leve Escore 1 Atrofia severa Escore 3 estádio I Atrofia moderada Escore 2 estádio II Ausente = 0 estádio 0 Atrofia leve = 1 Atrofia moderada = 2 Atrofia severa = 3 estádio I estádio II estádio III estádio I estádio II estádio III estádio II estádio III estádio IV estádio III estádio IV estádio IV estádio II Estádio 0 Ausência de atrofia. Estádio I Atrofia, geralmente detectada em apenas alguns fragmentos. A presença ou não de H. pylori deve sempre ser relatada, porém naqueles casos que usaram inibidores de bomba de próton pode ser bastante difícil a sua identificação. Nesses casos a coexistência de folículos linfóides e plasmócitos pode ser indicativa da etiologia pelo H. pylori e um comentário a respeito deve ser acrescentado no laudo. Estádio II Na maioria dos casos a atrofia é encontrada na mucosa antral. A presença ou não de H. pylori também deve ser referida. Estádio III Atrofia moderada nesse caso, é observada em pelo menos 1 dos compartimentos (antro ou corpo). A incisura angular é quase sempre comprometida. Quando é observada atrofia moderada no corpo e o antro é preservado, a etiologia autoimune deve ser suspeitada. O estádio 3 pode coexistir com displasia gástrica ou mesmo com carcinoma. Estádio IV Significa atrofia comprometendo tanto o antro como o corpo. A metaplasia intestinal extensa pode interferir com a avaliação do status de infecção por H. pylori. Estudos preliminares revelam forte associação com os estádios III e IV do sistema OLGA com carcinoma, de forma que programas de vigilância endoscópica devem priorizar os pacientes com esses estádio. Importante: Vale lembrar que só é possível a avaliação dos parâmetros necessários para o estadiamento, se a representação da mucosa gástrica for feita conforme o preconizado, com 5 fragmentos (3 do antro e 2 do corpo), conforme a figura acima. Portanto, é necessário que os fragmentos venham identificados individualmente quanto ao local de obtenção, pois não é possível para o patologista definir o local de obtenção ao microscópio, justamente nos casos onde a avaliação é mais importante, ou seja, naqueles em que a atrofia e/ou a metaplasia estão presentes. Referências: 1. 2. 3. 4. Satoh, K., et al., Assessment of atrophic gastritis using the OLGA system. Helicobacter, 2008. 13(3): p. 225-9. Rugge, M., et al., OLGA staging for gastritis: A tutorial. Dig Liver Dis, 2008. Rugge, M., et al., OLGA Gastritis Staging in Young Adults and Country-Specific Gastric Cancer Risk. Int J Surg Pathol, 2008. 16(2): p. 150-154. Rugge, M., et al., Gastritis staging in clinical practice: the OLGA staging system. Gut, 2007. 56(5): p. 631-6.