caf_2002_10868_cod_3.. - Superintendência do Desenvolvimento
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MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL-MI AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SECRETARIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS UNIDADE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE ADA OEA Ministério do Meio Ambiente – MMA Secretaria de Coordenação da Amazônia – SCA Programa de Ações Estratégicas para a Amazônia Brasileira PRODEAM Viabilidade Binacional de Desenvolvimento da Pesca e Aqüicultura: abordagem socioambiental na área fronteiriça Brasil/Bolívia Miguel Petrere Jr. BELÉM 2002 C. 2002 AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA - ADA AV. ALMIRANTE BARROSO, 426 BELÉM – PARÁ – BRASIL CEP: 66.090-900 HOME PAGE: www.ada.gov.br ADA.PRODEAM; SINCHI; OEA. Relatório de viabilidade binacional da pesca e aqüicultura: abordagem sócioambiental na área fronteiriça Brasil – Bolívia / Miguel Petrere Jr. Consultor; ADA.PRODEAM ; SINCH I ; OEA Belém: ADA.PRODEAM, 2002. 97 p. ilust. 1. Pesca -Brasil. 2.Aqüicultura-Brasil.3.Pesca– Colômbia. 4. Aqüicultura-Colômbia. I. Petrere Jr., Miguel. II. Instituto Amazônico de Inveatigaciones Cientificas. III. OEA. IV. Título. CDU 639.2 (81) (86) MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL JOSÉ LUCIANO BARBOSA DA SILVA - MINISTRO AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA - ADA TERESA LUSIA MÁRTIRES COELHO CATIVO ROSA - DIRETORA-GERAL ONILDO ELIAS DE CASTRO LIMA - DIRETOR PEDRO CALMON PEPEU GARCIA VIEIRA SANTANA - DIRETOR SAMIR DE CASTRO HATEM - DIRETOR COORDENAÇÃO NACIONAL DO PRODEAM ELIANA FRANÇA DOS SANTOS ZACCA - COORDENADORA APRESENTAÇÃO No âmbito do Tratado de Cooperação Amazônica – TCA foram assinados pelo Governo brasileiro Acordos Bilaterais com a Bolívia, Colômbia e Peru, objetivando a cooperação binacional para a execução de Programa de Desenvolvimento Integrado de Comunidades Fronteiriças, com o propósito de melhorar a qualidade de vida das populações nelas assentadas, de promover o desenvolvimento sustentável da região e de integrar as áreas fronteiriças entre si e com os respectivos territórios nacionais. Dentro desse contexto, circunscreve-se o Projeto de Desenvolvimento da Pesca e Aqüacultura, cujo passo inicial compreendeu a realização do estudo que ora se divulga, objeto de parceria estabelecida entre a Organização dos Estados Americanos – OEA, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM, o Instituto Amazonico de Investigaciones Científicas – SINCHI, da Colômbia e o Vice Ministério das Relações Econômicas Internacionais e Integração, da Bolívia. O presente documento contém a consolidação dos diagnósticos elaborados para a pesca e aqüacultura continental, no Brasil e na Bolívia, identificando-se os principais problemas e dificuldades que essas atividades têm enfrentado nesses países e suas possibilidades de desenvolvimento, a partir de um planejamento da atividade. Particularmente com relação à aqüacultura, em que pese os entraves detectados, considerase que, se bem conduzida, pode vir a ser uma atividade bastante atrativa para a região, ante a dotação de fatores existentes como a disponibilidade de áreas, naturais e artificiais, e o número de espécies nativas e exóticas já adaptadas, favorecendo a geração de emprego e renda, bem como a produção de alimento de alto valor nutritivo. Sob essa ótica, propõe-se um conjunto de recomendações para o desenvolvimento da atividade, de forma conjunta, nos dois países, que tem por base o conceito de desenvolvimento sustentável (CNUMAD, 1992) e os objetivos e princípios gerais do Código de Conduta da FAO (1994), por se entender que representam uma orientação fundamental para a construção dos processos de planejamento do desenvolvimento sustentável dos setores pesqueiro e aquícola. Tais recomendações foram discutidas em reuniões técnicas, de forma a também incorporar as idéias, os anseios e as propostas das entidades envolvidas com essas atividades. Para tanto, foram entrevistados pescadores, intermediários, empresários de pesca e piscicultura e técnicos pertencentes a várias instituições, consultando-se, ainda, trabalhos técnico-científicos afins. Os diagnósticos das atividades pesqueiras e aqüícolas, realizados in loco constam do ANEXO A, que contém as transcrições das entrevistas, o levantamento da problemática local e as sugestões para possíveis soluções (feitas para cada localidade visitada, sempre que possível). As recomendações de caráter genérico, para toda a região Amazônica, referentes à pesca, estão distribuídas ao longo do texto e para a piscicultura estão destacados num item próprio. Vale enfatizar que análises sobre o cenário futuro e as tendências das atividades pesqueiras não puderam ser realizadas pela falta de dados contínuos. Porém, com o objetivo de suprir essa deficiência, sugere-se a montagem de um banco de dados inicial, para auxiliar nas análises pertinentes e otimizar as ações de planejamento setorial pesqueiro para a região. No decorrer do trabalho, percebeu-se que o mercado exerce um papel fundamental na atividade pesqueira, interferindo diretamente na demanda e escolha de espécies com melhores preços ou comércio favorecido. Assim, a rede de comércio e a demanda por pescado in natura e derivados são pontos que devem ser elucidados. Com esta finalidade, propõe-se um outro projeto de pesquisa (ANEXO B), visando a uma primeira abordagem econômica da pesca e seus custos. O estudo dos principais mercados (cidades de Santa Cruz de La Sierra e La Paz) deve ser conduzido numa segunda etapa, exigindo delineamento próprio a ser realizado após o conhecimento de resultados do estudo preliminar mencionado. Outro aspecto a ser considerado, quando se trata da Amazônia Continental e suas relações internacionais, refere-se à legislação, que desponta, em muitos casos, como um primeiro entrave à gestão dos recursos transnacionais. No Brasil, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA realizou, durante a década de 90, um importante trabalho de compatibilização das legislações estaduais por bacia, inclusive contemplando os Estados que integram a bacia Amazônica. Esse trabalho foi desenvolvido em etapas, e contou com a participação de lideranças locais, pescadores e sociedade civil organizada. No nível internacional, a única recomendação que se pode fazer, sem interferir nos aspectos de soberania dos países envolvidos, é que a gestão de recursos transfronteiriços, migradores ou de acesso comum a populações (e empreendedores) de mais de um país, não deve ser divergente nas medidas de controle. Todas as decisões devem ser tomadas em conjunto, obedecendo a um planejamento comum para todos os interessados. SUMÁRIO P. LISTA DE TABELAS ..................................................................................... 7 1 CONCEITOS BÁSICOS........................................................................... 1.1 Pesca e desenvolvimento sustentável........................................................ 1.2 Aqüacultura responsável.......................................................................... 8 8 8 2 AS PESCARIAS AMAZÔNICAS E SEU MANEJO.......................... 2.1 Introdução................................................................................................. 2.2 A pesca em águas continentais................................................................. 2.3 A ictiofauna da bacia amazônica.............................................................. 2.4 As pescarias amazônicas........................................................................... 2.4.1 A pesca na Amazônia Boliviana................................................................... 2.5 Classificação dos pescadores..................................................................... 2.6 O sistema de comercialização.................................................................... 2.7 Importância socioeconômica e cultural da pesca...................................... 2.8 Estratégias tradicionais de manejo........................................................... 2.9 Considerações sobre o sistema de manejo comunitário de recursos pesqueiros.................................................................................................. 8 8 11 12 14 17 17 18 19 21 3 3.1 3.2 3.3 3.4 A AQÜACULTURA................................................................................. Introdução................................................................................................. Aqüacultura continental........................................................................... Piscicultura na Amazônia......................................................................... Recomendações ( PETRERE et al., 1997)................................................ 28 28 29 35 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 43 ANEXO A – Relatório de viagem..................................................................... 50 ANEXO B – Sugestão para Projeto de Pesquisa.............................................. 80 ANEXO C – Segundo Encuentro de Integracion y desarrollo fronterizo Bolívia-Brasil............................................................................... 90 25 6 LISTA DE TABELAS P. 1 PRODUÇÃO PESQUEIRA MUNDIAL PARA OS DOIS PAÍSES.......... 9 2 PRODUÇÃO E APROVEITAMENTO DA PESCA NO MUNDO........... 11 3 LISTA DE ESPÉCIES DE PESCADOS MAIS IMPORTANTES DO ALTO SOLIMÕES (PREPARADA COM A AJUDA DO PROF.EDWIN AGUDELO CÓRDOBA DO SINCHI) E NA AMAZÔNIA BOLIVIANA 12 4 ANÁLISE DO CUSTO/BENEFÍCIO DE MONOCULTIVO E POLICULTIVO DE TAMBAQUI NO ESTADO DO AMAZONAS, PRÓXIMO A MANAUS. CÁLCULOS BASEADOS NOS VALORES DOS INSUMOS EM 1995. ND – NÃO DISPONÍVEL (MODIFICADO DE LIMA E GOULDING, 1998.................................................................. 36 7 1 1.1 CONCEITOS BÁSICOS Pesca e desenvolvimento sustentável A conceituação oficial de Desenvolvimento Sustentável elaborada pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente afirma: "Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades". Este modelo de desenvolvimento envolve dois conceitos chaves: o de "necessidades" (sobretudo dos mais pobres) e o de "limitações" (que o estágio de tecnologia e de organização social impõe sobre o meio ambiente e que este impõe sobre a capacidade de atender às demandas da sociedade). No caso das águas continentais, a exploração e a conservação dos recursos pesqueiros estão fortemente condicionadas aos usos e ocupação das bacias de drenagem promovidos pelos diversos setores de governo e da sociedade civil. Assim, o desenvolvimento sustentável do setor pesqueiro reflete o desenvolvimento sustentável de todos os agentes de desenvolvimento econômico da bacia. Esta constatação demonstra que o compromisso de governo com a pesca sustentável confunde-se com o próprio compromisso de governo para com a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Assim deve-se evitar atuar unicamente pela análise da sustentabilidade biológica dos estoques explorados. A ausência de uma série histórica mínima de dados básicos sobre captura e esforço de pesca nas diferentes bacias hidrográficas, aliada às dificuldades inerentes ao próprio conceito de Rendimento Máximo Sustentável (Maximum Sustainable Yield, MSY) excluiriam a possibilidade de sua utilização como único critério. 1.2 Aqüacultura responsável As diretrizes para o desenvolvimento da aqüacultura responsável que se encontram em FAO (1994) têm como objetivo facilitar a identificação das responsabilidades, deveres e obrigações dos governos, das autoridades e das pessoas envolvidas com a atividade de aqüacultura, e são essenciais para apoiar e garantir a contribuição sustentável desta atividade para a segurança alimentar, a mitigação da pobreza e o bem estar socioeconômico das gerações atuais e futuras . 2 AS PESCARIAS AMAZÔNICAS E SEU MANEJO 2.1 Introdução Tradicionalmente, a maioria dos processos de povoamento, traduzidos na ocupação da terra para a instalação do homem, em diferentes regiões do mundo, se deu próximo dos rios. Assim, desde as antigas civilizações estes desempenham importante papel como fonte de água e alimento, meio de transporte, além de vias naturais de penetração em territórios desconhecidos. Nesse contexto, podemos destacar o rio Nilo, em torno do qual floresceu a civilização egípcia; o 8 rio Eufrates, em cujo vale os sumerianos se desenvolveram, o rio Tigre, berço da civilização dos babilônios e assírios; e o rio Amarelo, em torno do qual teve origem a civilização chinesa e cuja expansão deveu-se ao rio Yangtse (PAIVA, 1982). Na Amazônia (FIGURA 1), com sua dendrítica rede hidrográfica, quando os espanhóis e portugueses iniciaram sua exploração, a várzea dos rios era ocupada por muitas etnias indígenas. Os peixes são os últimos animais explorados na natureza, em grande escala, pelo homem moderno. Em 1996 o desembarque mundial de pescado foi 94.625.400t, das quais 7.552.800t provieram de água doce. Para se ter uma idéia mais concreta do que esse total mundial representa, suponhamos uma carreta de 40t, com 20m de comprimento. Teríamos então, uma frota de 2.365.635 caminhões que dariam 1,2 voltas à Terra pelo Equador, com uma carga valendo ao redor de U$200 bilhões (U$ 4/kg), equivalente ao PIB da Dinamarca, sendo renovada a cada ano, sem nenhum custo de fabricação à sociedade, apenas com o aproveitamento da energia do sol e ciclagem dos nutrientes dos mares e rios. Bonetto e Castello (1985) publicaram a primeira monografia sobre a pesca e a piscicultura na América Latina e nela teceram várias considerações baseados na literatura de então. Porém, nos últimos 15 anos, houve uma explosão dos estudos sobre esses dois assuntos na região, notadamente na pesca. FIGURA 1. LOCALIZAÇÃO DA BACIA AMAZÔNICA NA AMÉRICA DO SUL. No que se refere aos países objeto deste estudo, a TABELA 1 mostra os dados das pescarias de captura (não incluem pescado oriundo de piscicultura) de 1990 a 1996 em toneladas métricas (mt). 9 TABELA 1 PRODUÇÃO PESQUEIRA MUNDIAL E PARA OS DOIS PAÍSES (FAO, 1996) Total Mundial Peixes de água doce Captura Nominal Total: Bolívia Brasil Pesca continental por países Bolívia Brasil 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 Mt Mt mt mt Mt mt mt 85880200 85088400 86208800 87278800 92682900 93001100 94625400 6588000 6382400 6253300 660700 6908200 7379400 75528000 6909 782450F 5167 776690 F 4905 760290 F 5518 749740 F 5353 789235 F 5692 770780 F 5988 798719 F 6909 191115 F 5167 193240 F 4905 182540 F 5518 186990 F 5353 191485 F 5692 183180 F 5988 178000 F Obs.: F = Estimativa realizada pela FAO através de fontes disponíveis de informação. Nota-se que as ordens de magnitude das pescarias continentais nos dois países são muito diferentes, destacando as baixas capturas na Bolívia. As pescarias artesanais, na Amazônia, são espalhadas e daí difíceis de serem monitoradas. São pescarias multiespecíficas (capturando muitas espécies de pescado), empregando vários aparelhos simples. Sua relação com o mercado é caracterizada pela presença do intermediário. Os pescadores trabalham individualmente ou em grupos de dois a seis indivíduos em canoas a remo ou a motor, ou em pequenos barcos geleira. Pescam sob forte pressão do mercado, que governa sua estratégia de captura. A atividade, em geral, passa de pai para filho, com anos de aprendizado, para entender o comportamento dos peixes e assim capturálos na época e no lugar certo. O atual modelo econômico globalizado está acentuando o abandono por que passa a pesca artesanal. Esta desempenha um papel fundamental na produção pesqueira dos dois países. Para que essas pescarias persistam é necessário manejá-las, isto é, manter o estoque pesqueiro dentro de uma faixa de tamanho para que o pescado nunca falte. Assim, a determinação da influência da pesca sobre a abundância dos estoques, em conjunto com o controle do esforço de pesca e da captura e a preservação do meio ambiente, são fatores importantes em qualquer programa de manejo. Além de cuidar dos peixes, é necessário manter o ambiente em seu estado natural, evitando desmatar a beira dos rios e lagos, não interferir no curso do rio, através da construção de barragens e aterros, não poluir, etc. As medidas realistas de manejo devem se basear em estudos bem fundamentados sobre a ecologia das principais espécies comerciais, englobando seu crescimento, alimentação e reprodução. Também são importantes os estudos de como os peixes influenciam uns aos outros e de como são influenciados por outros organismos, pois, em geral, todos estão em delicado equilíbrio na natureza, que não deve ser rompido, o que prejudicaria a pesca. Na Amazônia, as pescarias artesanais exploram uma grande variedade de espécies comerciais, de médio e grande portes e, principalmente, migradoras, tais como o filhote, o tambaqui, a dourada, o jaú. Espécies como o tucunaré e a pescada, tendem a habitar águas paradas, como os lagos de várzea, e quando o rio é represado podem se tornar muito abundantes, como ocorre no reservatório de Tucuruí, no rio Tocantins. 10 Devido à grande abundância de pescado nesta região, seu consumo é altíssimo, alcançando em algumas áreas ribeirinhas cerca de 500g de pescado por pessoa por dia, a mais alta do mundo. Assim, quem viaja pelo interior da Amazônia, muito dificilmente irá observar pessoas subnutridas, devido à falta de proteína, como é comum em regiões semi-áridas, onde o consumo de pescado per capita é muito menor. Welcomme (l995) sugere que as prioridades para o manejo futuro dos recursos pesqueiros e correlatos dependem das demandas de estratégias de proteção, reabilitação, mitigação e intensificação dos recursos e das prioridades socioeconômicas regionais. De modo geral, os esforços em regiões tropicais enfocam a manutenção da biodiversidade e o uso sustentado da produtividade biológica pelas populações ribeirinhas (BAYLEY, 1995). As estratégias de manejo pesqueiro e aqüícola que obtiveram sucesso reconheceram as características culturais das comunidades de pescadores e produtores rurais (PETRERE, 1992). Nesse contexto, as agências ambientais internacionais e nacionais estão desenvolvendo esforços para ordenar, manejar e reabilitar ecossistemas aquáticos, como os Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente - UNEP, os Projetos IARA/IBAMA e Várzea/PPG7, a Sociedade Civil Mamirauá, etc. O crédito financeiro é concedido basicamente através dos Governos federais e estaduais (Departamentais na Colômbia). Já o crédito informal, via aviamento, é a maneira tradicional de financiamento dessa atividade extrativista pela economia privada regional. Há a necessidade de reestruturação e reciclagem dos operadores das linhas de crédito formal para a atividade pesqueira, com maior ênfase nos estudos de viabilidade regional, incluindo a capilaridade dos recursos financeiros entre os beneficiados e a gestão participativa dos projetos. 2.2 A pesca em águas continentais A pesca e a aqüacultura são atividades importantes na produção de proteína para a população humana em crescimento, que já atinge cerca de 6 bilhões de pessoas. A importância dessas atividades em águas continentais pode ser demonstrada pelos dados de desembarque mundial de pescado (TABELA 2) onde se nota que a produção de pescado via aqüacultura continental praticamente dobrou, no período de 1990 a 1997 enquanto as pescarias de captura mantiveram-se quase constantes. 11 TABELA 2 PRODUÇÃO E APROVEITAMENTO DA PESCA NO MUNDO (CF. HTTP://WWW.FAO.ORG) PRODUCCIÓN CONTINENTAL Acuicultura Captura Total pesca continental MARINA Acuicultura Captura Total pesca marina Total acuicultura Total captura Total producción pesquera 1990 1992 1994 1995 (millones de toneladas) 8,17 6,59 14,76 9,39 6,25 15,64 12,11 6,91 19,02 4,96 79,29 84,25 13,13 85,88 99,01 6,13 79,95 86,08 15,52 86,21 101,73 8,67 85,77 94,44 20,77 92,68 113,46 1996 1997 13,86 7,38 21,24 15,61 7,55 23,16 17,13 7,70 24,83 10,42 85,62 96,04 24,28 93,00 117,28 10,78 87,07 97,85 26,38 94,63 121,01 11,14 86,03 97,17 28,27 93,73 122,00 Em relação à atividade pesqueira, observa-se que, embora as pescarias marítimas, predominantemente industriais, estejam se tornando cada vez mais importantes no Brasil, a pesca continental (embora já menor que a aquicultura), predominantemente artesanal, ainda continua significante, aqui incluindo-se a Bolívia. Um amplo espectro de aparelhos e métodos de pesca são utilizados nas pescarias em águas continentais, incluindo a rede de espera, a rede de arrasto de praia, a rede de cerco, arco e flecha, arpão, covos, anzóis, armadilhas com galhos secos, Dentre outros. Os implementos modernos que incluem a lanterna de mão para detectar o peixe à noite, o sonar portátil, etc., são usados apenas esporadicamente. Os pescadores trabalham individualmente, em pares, ou em pequenos grupos de 4 a 6 indivíduos e, às vezes, em pescarias comunitárias, envolvendo um número maior de pessoas. Poucas canoas são equipadas com motor. Para minimizar os conflitos entre pescadores de subsistência, amadores e profissionais que, na maioria das vezes, pescam na mesma área, os aspectos sociais e antropológicos das comunidades de pescadores têm sido considerados durante a implementação de medidas de manejo das pescarias. Com o adensamento da população, principalmente na Amazônia brasileira, esses conflitos estão atingindo níveis críticos. Embora os principais recursos pesqueiros da América do Sul, em geral, sejam constituídos por espécies reofílicas − principalmente detritívoros da família Prochilodontidae − com a construção de represas tem se observado uma mudança na comunidade em direção às espécies não-migradoras das famílias Cichlidae, Curimatidae etc., devido à diminuição dos estoques das espécies preferenciais, como é o caso do tambaqui na Amazônia Central, fazendo com que espécies antes não consumidas já possuam mercado. 2.3 A Ictiofauna da bacia amazônica Vários autores (por exemplo, DARLINGTON, 1957) consideram que a fauna de água doce da América do Sul teve seu centro de origem na bacia amazônica, e que a fauna das outras 12 bacias é um reflexo do conjunto das espécies amazônicas. Este conceito, no entanto, está sendo contestado, porque a bacia amazônica tem uma história geológica mais recente do que as bacias localizadas nos planaltos do Brasil e das Guianas (WEITZMAN ; WEITZMAN, 1982). Segundo Roberts (1972), até 1967, o Zoological Records listava aproximadamente 1.300 espécies de peixes para a bacia amazônica. Böhlke et al. (1978) consideram que pelo menos 30% das espécies ainda não estão descritas. Vari e Malabarba (1998) estimam em 8.000 o total de espécies para a ictiofauna de água doce das Américas Central e do Sul, representando 25% da riqueza mundial de peixes, tanto marinhos como de água doce. Em relação ao conhecimento sobre as espécies de águas continentais, vale ressaltar que, a partir de uma revisão do status sistemático da fauna de peixes da América do Sul, os trabalhos pioneiros não atentaram para a grande complexidade da fauna de peixes e se limitaram a uma simples descrição taxonômica das espécies comerciais de maior porte. Existem coleções razoáveis de peixes sul-americanos espalhadas em museus da América do Norte e Europa e, nos últimos 20 anos, o número de sistematas dedicados a estudá-las aumentou muito, o que avançou a formulação de testes de hipóteses das relações filogenéticas, conforme atestado por Vari e Malabarba (1998). Na bacia amazônica, 85% das espécies pertencem à Super Ordem Ostariophysi, das quais 43% são Characiformes, 39% Siluriformes (peixes de couro ou lisos) e 3% Gimnotiformes (peixes elétricos). Os nomes científicos das principais espécies comerciais da Amazônia podem ser encontrados em Petrere (1978), Bayley e Petrere (1989), Lowe-McConnel (1984, 1987) e Santos et al. (1984), Ferreira et al. (1998). Vale ressaltar que alguns grupos ainda não foram descritos (FINK; FINK, 1979), outros precisam ser completamente revistos e, em alguns casos, os holotipos desapareceram, o que tem dificultado os estudos filogenéticos sobre os peixes amazônicos. Uma lista das principais espécies comerciais das águas continentais, indicando nome vulgar é mostrada na TABELA 3. TABELA 3 LISTA DE ESPÉCIES DE PESCADOS MAIS IMPORTANTES DO ALTO SOLIMÕES (PREPARADA COM A AJUDA DO PROF. EDWIN AGUDELO CÓRDOBA DO SINCHI) E NA AMAZÔNIA BOLIVIANA Nome popular no Brasil Dourada Piraíba/filhote Pirarara Cara de gato, Coroatá Barba-chata Babão, melão ou flemoso Flamengo ou zebra Dourada zebra Surubim Caparari Piracatinga Jau ou pacamon Peixe-lenha Piramutaba Tambaqui Matrinchã Pirapitinga Curimatá Nome popular na Bolívia Dorado ou saltador Piraíba General Blanquillo Surubi Chuncuína Blanquillo Muturu Paleta Pacu Jatuarana Tambaqui Sábalo Nome científico Brachyplatystoma flavicans Brachyplatystoma filamentosum Phractocephalus hemiliopterus Platynematichthys notatus Pinirampus pirinampu Goslinia platynema Brachyplatystoma juruense, Merodontotus tigrinus Pseudoplatystoma fasciatum Pseudoplatystoma tigrinum Calophysus macropterus Paulicea lutkeni Sorubimichthys planiceps Brachyplatystoma vaillantii Colossoma macropomum Brycon sp Piaractus brachypomus Prochilodus nigricans 13 Lauzanne et al. (s.d.) listam 385 espécies para a Amazônia boliviana, 173 caracoídeos (44.9%) e 152 silurídeos (39.5%). Dos quatro formadores do rio Madeira a saber Madre de Dios, Beni, Mamoré e Itenez (Guaporé) parece haver mais semelhança ictiofaunística entre o Mamoré e o Itenez, do que entre o Beni e o Madre de Dios. A fauna melhor conhecida é a do Mamoré. Lauzanne e Loubens (1985) apresentam uma utilíssima chave para 86 espécies do rio Mamoré das 280 na coleção do Laboratório de Ictiologia da Universidad Técnica del Beni, em Trinidad. Lauzanne e Loubens (1988) listam 324 espécies para a bacia do Mamoré e apresentam interessantes dados de captura e esforço (kg/100m2 de rede/24h), onde os maiores valores (máximo de 55,9kg/100m2/24h) foram para a malha de 60 mm na enchente (O-N-D) e os menores (mínimo 1,6kg/100m2/24h) foram para a malha de 80 mm na cheia (J-F-M). Jiménez (1996) capturou 168 espécies de peixes na bacia do rio Itenez (Guaporé) e afirma que no Departamento de Beni foram listadas 396 espécies de peixes. O Prof. Luis Torres Velasco da Universidad Técnica del Beni, em Trinidad, Bolívia, me informou que no rio Mamoré foram listados 326 espécies, no Madre de Dios 190, no Beni 210 e no San Martin cerca de 120. 2.4 As pescarias amazônicas Petrere (1978) listou 32 grupos de espécies desembarcados no mercado de Manaus. Nas capturas de 1978, 72% foram representadas por apenas três espécies: tambaqui Colossoma macropomum, jaraqui Semaprochilodus sp. e curimatã Prochilodus nigricans. Além dessas, várias outras espécies têm importância comercial na Amazônia, entre elas o pirarucu Arapaima gigas, os tucunarés Cichla spp., a piramutaba Brachyplatystoma vaillanti e a dourada B. flavicans. Por causa do by catch da rede de espera, existe um mercado clandestino de pescado em Manaus, principalmente para o comércio de exemplares abaixo do tamanho mínimo permitido. A pesca na Amazônia é relativamente bem estudada em comparação a outras regiões da América do Sul (BARTHEM et al., 1995). É uma atividade que utiliza vários aparelhos de pesca, capturando muitas espécies. Petrere (1978) listou para a Amazônia central 13 aparelhos principais de captura: a) arrastadeira, arrastão de praia ou rede grande, responsável por 9,3% das capturas, e utilizada principalmente na pesca do jaraqui (64% da captura deste tipo de rede em 1976); b) malhadeira ou rede de espera, responsável por 34% das pescarias em 1978, e geralmente empregada nos lagos, capturando principalmente o tambaqui (95% das capturas); c) arrastão, redinha ou rede de cerco, o aparelho de pesca mais utilizado na região − capturou 49% do total em 1978 − principalmete no leito dos rios e em lagos. A curimatã Prochilodus nigricans foi a espécie mais capturada com esse aparelho, seguida pelo jaraqui e tambaqui. Em ordem de importância, entre os petrechos de pesca também se encontram a tarrafa, linha-de-mão, arpão, zagaia, caniço, currico ou colher, arco e flecha, pinauaca (anzol com um pedaço de pano vermelho ou pena de arara utilizado para a captura do tucunaré), curumim (linha com um único anzol, presa num arbusto) e estiradeira ou espinhel. Bayley e Petrere (1989) revisaram o status corrente das pescarias na Amazônia e identificaram dois tipos de pescarias: difusas e comercial de larga escala. As pescarias difusas são praticadas por populações rurais ou por habitantes de vilas e comunidades, localizadas à beira de rios e lagos, vivendo em terra firme ou em palafitas. Muitos desses ribeirinhos são pescadores de tempo parcial ou às vezes trabalham como pescadores embarcados, praticando na época da vazante a agricultura de várzea. O pescado de baixo valor comercial é consumido e as espécies mais 14 valiosas, como tambaqui, tucunarés e pescadas Plagioscion sp., são vendidas ou trocadas por gêneros de primeira necessidade. O consumo de pescado deste segmento social é comparativamente alto: 194g de pescado fresco por dia (SMITH, 1979). Tendo como base o ano de 1980, Bayley e Petrere (1989) estimaram em 110.130 t a captura proveniente dessas pescarias, 73% do total estimado (151.505 t), demonstrando a importância das pescarias difusas para a região. As pescarias comerciais estão centralizadas nas maiores cidades. Essas pescarias são mais orientadas para o mercado atacadista e compreendem os 27% restantes. O desembarque em Manaus, em 1980, foi estimado por Bayley e Petrere (1989) em 24.750 t. O total desembarcado em Belém ainda é ignorado, mas no caso da piramutaba o desembarque médio anual, de 1972 a 1984 ,foi 18.136 t. Em 1978, 52% das capturas realizadas pela frota pesqueira de Manaus foram executadas na calha e na várzea do rio Amazonas, e 17% no rio Purús. A maioria das pescarias da Amazônia Central é realizada nos lagos de várzea. Até 1978, cerca de 61% da captura total/anual (22.432 t) ocorria em um raio de 500km de Manaus. Dentro desse raio, as pescarias são menos especializadas e os barcos de menor tonelagem. Na época, o jaraqui representou 35% da produção total e o tambaqui 24% das espécies capturadas. Além do raio de 500km, o tambaqui foi responsável por 57% das capturas e o jaraqui por 18%, invertendo a característica anterior, e denotando uma pescaria mais voltada para as espécies nobres. Dentro dos 500km, a captura média foi 3,2 t/viagem e fora deste raio, 9,3 t/viagem (PETRERE, 1978). Atualmente a frota pesqueira de Manaus percorre distâncias de até 3.500km, subindo o rio Juruá, bem acima do município de Cruzeiro do Sul, no Acre. Além da classificação mais simples de Bayley e Petrere (1989), Barthem et al. (1992) acreditam que a classificação das pescarias amazônicas abrange um conjunto de fatores interligados, que se resume na dimensão do barco e no tipo de aparelho de pesca preferencialmente empregado. Em relação aos barcos de pesca, existem duas categorias bem distintas que atuam nas águas amazônicas, a pesca industrial e a artesanal. De acordo com Barthem et al. (1992), pesca artesanal na Amazônia é toda aquela que não é classificada como industrial. Suas características são bastante diversificadas, tanto em relação aos hábitats onde atua quanto aos estoques que explora. Basicamente, pode-se classificá-la em comercial e difusa. A pesca artesanal comercial é realizada por pescadores citadinos ou interiorinos, que possuem uma embarcação com caixa de gelo, apropriada para resfriar e conservar o pescado por várias semanas. As embarcações são utilizadas como base para a pesca propriamente dita ou como câmaras de resfriamento para estocar o pescado comprado dos pescadores que atuam em outras embarcações. As embarcações da pesca artesanal podem ser classificadas em três categorias: a) barco pescador - essa categoria investe em aparelhos de pesca apropriados a uma pesca mais específica, como arrastadeiras e arrastão; mantém um grupo de pescadores altamente treinados para operar estes aparelhos; e, explora um número reduzido de espécies. A produtividade do barco pescador ao longo do ano é baseada na eficiência da captura e na abundância do estoque explorado. Exemplos dessas embarcações são aquelas usadas na pesca do jaraqui no rio Negro, do mapará Hypophthalmus marginatus no rio Tocantins e de peixes estuarinos na foz amazônica, onde são utilizadas grandes redes a deriva de mais de 2km de comprimento; 15 b) barco pescador/comprador - nesse caso, o investimento em aparelhos de pesca é mais moderado, pois estes são utilizados principalmente quando a época de pesca é mais favorável. Nos períodos menos favoráveis, evita-se pescar e o retorno econômico é obtido da compra da produção de outros pescadores, que não têm como transportar seu produto até o mercado consumidor; c) barco comprador - os proprietários desse tipo de embarcação não investem na compra de artes de pesca e nem transportam pescadores, pois não assumem os riscos de uma pescaria. São comerciantes especializados que têm retorno econômico ao comprar grandes quantidades de pescado e vendê-las rapidamente nos grandes centros urbanos, dentro ou fora da Amazônia. O pescado pode ser comprado de outros pescadores, de barcos pescadores ou de frigoríficos. Esses barcos podem levar petrechos de pesca para os pescadores, que pagam com a venda do pescado. Conforme o tipo de investimento e a quantidade de aparelhos de pesca, a pesca artesanal comercial também pode ser classificada em : a) artesanal comercial de larga escala - nessas pescarias são utilizados barcos que possuem autonomia para percorrer longas distâncias e/ou para longos períodos de pescaria (1 a 3 meses). Em geral, possuem caixas de gelo com capacidade igual ou acima de 10 t e podem ser dos três tipos anteriormente descritos. Não têm restrição quanto ao tipo de petrecho utilizado. Em 1987, existiam 83 embarcações desse tipo operando no estado do Amazonas, mas, segundo Magnavita e Flores (1989) esse número deve ser visto com cautela, porque não considera os barcos que atuam clandestinamente no setor; b) artesanal comercial de pequena escala - a autonomia desses barcos é apropriada apenas para distâncias pequenas e médias, a capacidade de carga das caixas de gelo é inferior a 10 t e os barcos são do tipo pescador e em menor grau, pescador/comprador. Também não têm restrição quanto aos aparelhos utilizados. Em 1987, existiam 770 dessas embarcações no estado do Amazonas. Esses barcos são mais lucrativos, pois o custo de operação é 50% menor (MAGNAVITA; FLORES, 1989). Os barcos da frota pesqueira da Amazônia são construídos de modo empírico, seguindo antiga tradição portuguesa, mas são bem feitos, aproveitando madeira da região e empregando mão-de-obra local. Por causa desse empirismo, a maioria deles tem problemas de dimensionamento tanto para a pesca quanto para o transporte de pescado (Prof. Dr. Flávio W. Lara, Centro Tecnológico, UFPA, comunicação pessoal). A excessiva potência do motor acarreta aumento desnecessário de consumo de combustível e o isolamento térmico das caixas de gelo é insatisfatório. As caixas são muito altas, o que provoca o esmagamento do pescado. Neste sentido, as caixas poderiam ser menores e com prateleiras, evitando que o peso se concentrasse totalmente sobre o fundo, prejudicando o pescado armazenado neste nível. A mesma observação pode ser feita em relação aos motores, que poderiam ser menores (mais baratos e mais econômicos). Nas pescarias artesanais destaca-se o Estado de Rondônia com a atuação das Colônias de Pescadores de Porto Velho, Guajará Mirim e Costa Marques. Goulding (1979) estimou o desembarque pesqueiro no rio Madeira entre 200 a 350 t de grandes bagres e 600 a 1.500 t de peixes de escama (Characideos). Enquanto que os rios Mamoré e Guaporé somente 16 contribuíram 31 t de pescado no mercado de Porto Velho. Em 1995, a produção pesqueira no Estado foi estimada em cerca de 2.000 t, onde as principais espécies são o tambaquí Colossoma macropomum (578 t), curimatã Pochilodus lineatus (346 t), matrinchã Brycon sp. (l98 t), tucunaré Cichla spp, (176 t), entre outras (BRASIL, 1997). No Estado do Acre, a produção pesqueira em 1995 foi estimada em 3.800 t, com 23 espécies de pescado. As principais capturas são a branquinha (Curimatidae; 1.006 t), o mandi (Pimelodidae; 518 t), curimatã Prochilodus nigricans (422 t), entre outras (BRASIL, 1997). Em Cruzeiro do Sul (AC) no rio Juruá as pescarias são praticadas por aproximadamente 400 pescadores, com embarcações de médio a pequeno porte e produção em torno de 18 t/mês na safra. A dificuldade de acesso ao município dificulta o escoamento da produção de pescado. Por outro lado, o mercado local tem condições de absorver toda a produção. No período de safra, devido a falta de condições de conservação e processamento, ocorrem desperdícios e falta pescado no mercado durante a entressafra. A Colônia possui fábrica de gelo com capacidade de produção de 8 t/dia e caminhão para transporte de pescado e gelo (SUDAM ; OEA, 2000). 2.4.1 A pesca na Amazônia Boliviana A Amazônia boliviana cobre mais da metade do país: 746.000 km2, (1.100.000 km2). Ela é drenada por quatro grandes rios de caudal semelhante: o Madre de Dios, o Beni, o Mamoré e o Guaporé (Itenez), que se unem para formar o rio Madeira. A Amazônia boliviana é uma região muito diversa, por duas razões principais: sua situação latitudinal de 10º a 19º S e a variedade do relevo e dos solos. Se pode distinguir uma zona de selva periférica mais ou menos densa e uma planície central de pastos e arbustos com matas de galeria. Esta zona central também tem clima quente caracterizada por uma estação seca de maio a setembro e uma chuvosa de outubro a abril, com pluviosidade anual média compreendida entre 1600 – 1800mm. A característica mais importante é sua área inundada pelo rio Mamoré de 100.000 km2 durante 5 a 6 meses por ano, pequena população (1.5 habitante/km2) e praticamente inexplorada pela pesca, que até agora não foi estudada como no restante da região (LAUZANNE ; LOUBENS, 1988). Lauzanne et al. (1990) relatam que as maiores pescarias ocorrem na região de Trinidad, Riberalta e Guayaramerin, com um mercado muito seletivo, baseado em poucas espécies, onde se destacam o tambaqui (na Bolívia denominado pacu), o curimatá (sábalo), a pirapitinga, o surubi e a chuncuína, representando 97% do total. A produção de Puerto Grether e Puerto Villarroel é comercializada para Santa Cruz e Cochabamba. O pescado proveniente de Riberalta, Cachuela Esperanza e Gayaramerin é enviada para o Brasil. No caso de Trinidad a produção é comercializada localmente ou exportada para Santa Cruz, principalmente o pacu, tambaqui surubi e chuncuína. Os espécimes são de grande porte. Lauzanne et al. (1990) estimam em 4.040 t/ano a produção da bacia para um potencial pesqueiro de 250.000 t/ano, evidenciando que os estoques estão subexplotadaos, principalmente devido a baixa densidade demográfica, falta de demanda e tradição pesqueira devido dedicação à pecuária, além da comunicação precária por estradas e dificuldades de armazenamento do pescado. Os aparelhos de captura usados na região de Trinidad são corriqueiros como anzóis, redes de espera e tarrafa. 2.5 Classificação dos pescadores 17 Barthem et al. (1992) definiram cinco categorias de pescadores na Amazônia: citadino, interiorino, indígena, esportivo e ornamental. Desses, somente os três primeiros têm importância para a pesca que abastece a população local. a) O pescador citadino é aquele que vive na cidade e já perdeu sua ligação com a terra ou com qualquer outra forma de obtenção de renda ou de recursos da mesma. Nesse grupo são incluídos os pescadores que trabalham nas frotas pesqueiras de Manaus e Belém e que abastecem outros centros urbanos da região. Correspondem, assim, ao conjunto de pescadores mais especializados, que vivem embarcados quase o ano todo; b) O pescador interiorino vive na zona rural e ainda tem alguma relação com a terra. A pesca é responsável por parte de sua renda, podendo ser a principal fonte de renda ou complementar à renda de outras atividades relacionadas ao trabalho no campo, como a roça, extração de madeira ou criação de gado. O pescador interiorino pesca basicamente para a subsistência e pode vender o excedente ; c) O pescador indígena é muito semelhante ao interiorino, tem fortes laços com a terra e pesca basicamente para a subsistência. Difere do anterior pela forma de distribuição dos bens obtidos pela pesca, que é estabelecida pela cultura de cada tribo ; d) O pescador esportivo vive na cidade, investe na compra de material de pesca sem nenhum interesse econômico, e sua presença nas áreas de pesca depende da infraestrutura turística da região ; e) O pescador ornamental está mais relacionado com o mercado de exportação. O investimento relacionado com essa pescaria, altamente especializada, é decorrente do preço do mercado externo e é alheio à região. Na Bolívia a maioria dos pescadores é de subsistência, que vendem o excedente. Alguns são citadinos, vivendo em povoados à beira dos rios, outros são mais profissionalizados, como aqueles de Trinidad, que pescam no rio Mamoré. 2.6 O sistema de comercialização No Brasil, Magnavita e Flores (1989) fizeram minucioso levantamento dos processos de comercialização para os estados do Amazonas e Pará, que são bastante semelhantes e podem ser estendidos para o restante da bacia, com ligeiras modificações locais. A lenta comercialização é um fator limitante para o melhor aproveitamento do pescado, principalmente em Manaus, onde, na época da safra, um barco pode demorar até 12 dias para vender sua carga, pois a cidade não possui um moderno entreposto pesqueiro para estocar o pescado. O governo do Estado do Amazonas em Manaus tem capacidade para estocar 2.000 t de pescado para manter o preço durante a entressafra, mas essa capacidade é insuficiente. Os despachantes (intermediários) mais antigos estimam uma perda de 30% do pescado na época da safra, pois o pescado já vem mal congelado da pescaria e, com a lenta comercialização, parte se deteriora. Nas pequenas cidades, grande parte da produção pesqueira é comercializada fresca. Os centros urbanos maiores possuem um pequeno depósito frigorífico no mercado local, em geral subdimensionado, para armazenar o pescado. O preço do pescado é ditado pelo mercado e em menor grau pelo despachante, que faz com que o dono da embarcação receba seu dinheiro à vista, cobrando dele uma taxa de 10% por 18 seus serviços. Quando o despachante compra a alimentação e o diesel para as viagens, esta taxa sobe para 15% da receita bruta da embarcação. Em dezembro de 1989, no final da época de safra, Magnavita e Flores (1989) observaram que o preço médio das espécies de primeira categoria (tucunaré, pescada, acará-açu Astronotus ocellatus) pago para o dono do barco era de US$ 0,90/kg, chegando ao consumidor por US$ 2,00/kg, uma flutuação de preço que pode variar de 100% a 300% do preço pago ao armador. Os canais de comercialização do pescado variam de acordo com o mercado a ser abastecido, isto é, comercialização local, interestadual e internacional, e segundo o tipo de pescado desembarcado, isto é, fresco-inteiro, salgado, eviscerado e eviscerado-resfriado. Em termos de intermediação, a comercialização local, onde a produção é comprada dos pescadores pelos retalhistas, que a repassam na forma fresca-inteira aos consumidores, envolve 1 a 2 níveis de transação comercial, enquanto a interestadual envolve 3 a 4 níveis. Em geral, observa-se um aumento de até 500% entre o preço pago ao pescador e o preço final, principalmente no caso do jaraqui em Manaus, que na safra é vendido em lotes de 100 unidades e no varejo, por unidade ou lotes de 3 a 5 unidades. No caso da Amazônia Boliviana, devido a sua baixa densidade demográfica e o baixo volume de captura, entre outros fatores, não foi observado sistema de aviamento no processo de comercialização. Os pescadores mostraram-se bastante independentes dos intermediários, embora eventualmente possam receber deles alguma ajuda. Também não foram detectados conflitos entre os pescadores e entre os tipos depescarias, artesanais e esportivas. 2.7 Importância sócioeconômica e cultural da pesca O potencial pesqueiro da bacia amazônica situa-se em torno de 425 mil a 1,5 milhões de toneladas/ano (PETRERE, 1992) e no estuário em torno de 385 a 475 mil toneladas/ano (DIAS NETO ;MESQUITA, 1988). Até o século passado, a pesca era realizada com petrechos desenvolvidos pelos ameríndios, utilizando canoas de madeira (VERÍSSIMO, 1985). No decorrer do século 20, novos petrechos de pesca foram sendo incorporados à atividade, como a malhadeira, a arrastadeira (arrastão de praia) e a redinha (rede de cerco); e os barcos pesqueiros foram equipados com caixas e urnas de gelo (RIBEIRO ; PETRERE, 1990). As velhas práticas de salgar e defumar o pescado se tornaram secundárias nos mercados, que passaram a manter um abastecimento regular de pescado conservado em gelo (MESCHKAT, 1958). Estes fatos propiciaram o desenvolvimento de uma classe de pescadores semi-artesanais, que recentemente se profissionalizou ao regularizar o abastecimento dos mercados de peixe das principais cidades da região, principalmente das capitais (BARTHEM et al., 1992). A introdução de novas tecnologias relacionadas à pesca e à conservação do pescado, a profissionalização do pescador e o aumento da demanda de pescado pelos centros urbanos em crescimento foram fatores que induziram o aumento do esforço de pesca sobre os estoques pesqueiros já explorados e os ainda subexplorados da bacia amazônica. O governo federal iniciou no final da década de 60 uma política oficial voltada para estimular a pesca como atividade econômica expressiva na Amazônia. A intervenção federal acelerou o desenvolvimento da pesca na região que, por meio de subsídios do estado, aumentou sua frota e adotou novas técnicas pesqueiras. A partir de 1968, empresas frigoríficas começaram a se instalar na Amazônia com o objetivo de comprar, beneficiar e estocar pescado para o comércio nacional e internacional (PENNER, 1980). 19 Com a exportação de pescado, a pesca passou a ser uma atividade bastante lucrativa, ocupando, em 1980, o nono item na lista de produtos de exportação do estado do Pará, cerca de US$ 13 milhões (BANCO DO BRASIL..CACEX , 1980). Estima-se que a piramutaba respondia por 90% dessas exportações, que, em 1986 e 1987, foram inferiores apenas às exportações de atum inteiro ou descabeçado e do pargo em postas. Se considerarmos que a captura de pescado na Amazônia situa-se ao redor de 200 mil t/ano e o preço do pescado em torno de US$ 2,00/kg, a pesca artesanal movimenta anualmente cerca de US$ 400 milhões. A população que habita as margens dos grandes rios amazônicos, principalmente do Solimões-Amazonas, consome mais pescado que a média geral de outras regiões do Brasil ou do mundo. Em Manaus, o consumo de pescado é aproximadamente sete vezes maior que o consumo dos países do primeiro mundo (SHRIMPTON ; GIULIANO,1979). Como já mencionado, o rápido desenvolvimento da pesca ao longo do rio Amazonas gerou uma série de conflitos entre diferentes classes de pescadores (PENNER; MELLO; LOUREIRO; HARTMANN;1980,1985,1985, 1989). Atualmente, os principais problemas relacionados com o manejo da pesca na Amazônia podem ser resumidos nos seguintes ítens: a) produção pesqueira ignorada - O sistema de coleta de desembarque comercial para a Amazônia central foi descontinuado no início da década de 80, e só agora com o trabalho da Fundação Universidade de Manaus, do Projeto IARA em Santarém e do Museu Goeldi, em Belém e Tefé, novos dados de captura e esforço, estarão disponíveis na literatura, permitindo comparações com o passado, para buscar tendências em relação à abundância dos estoques na região. A Produção pesqueira da Amazônia boliviana é apenas estimada, sem um serviço contínuo de coleta de dados de desembarque; b) população e tipo de economia sustentadas pela pesca bastante heterogêneas (densidade populacional e desenvolvimento econômico); c) pesca distribuída em uma área muito ampla e com diferenças fundamentais em relação ao tipo de ambiente e à produtividade pesqueira ; d) grande diversidade de tipos de pescadores e aparelhos de pesca, que exploram outra grande diversidade de espécies de peixes (pesca de multiaparelhos e multiespecífica). A perspectiva para o futuro próximo é a de um contínuo crescimento da demanda de pescado pela população local e para exportação. A população continua crescendo, há grande migração humana para a região e o número de câmaras frigoríficas está aumentando, estimulado pelo preço atual do pescado e pela disponibilidade de energia elétrica a custo mais baixo, após a inauguração da hidrelétrica de Tucuruí. Com isso, a pressão sobre os estoques já explorados, como peixes de couro, tambaqui e pirarucu, e dos mais explorados, como a piramutaba, deve se manter. A exportação da piramutaba, por exemplo, caiu de US$ 13 milhões (1980) para um pouco mais de US$ 3 milhões (1986), o que representou uma queda na produção da pesca industrial de 22.486 t (1977) para 10.684 t (1990). Por outro lado, um aumento do esforço de pesca sobre várias espécies de potencial ainda desconhecido, principalmente do estuário amazônico, como a dourada e a piramutaba (BARTHEM et al., 1992), também é esperado. O declínio do estoque explorado é o "pecado capital" da administração pesqueira, pois reflete a falência da política adotada (PAULY, 1983). Nas condições atuais da pesca na Amazônia, em que não existem registros estatísticos sobre esta atividade para toda a bacia, teme-se que o futuro de uma das principais fontes protéicas e de garantia de emprego para a sociedade regional 20 esteja ameaçado. O declínio de alguns estoques, como da piramutaba, do tambaqui e do pirarucu, reflete esta preocupação, pois pode ser atribuído à chamada tragédia dos comuns, ou seja, o fracasso da administração de um bem de acesso aberto à toda a sociedade (HARDIN; CHAPMAN; 1968, 1989). Porém, para se estabelecer uma estratégia de manejo para a pesca na região amazônica, que é complexa, necessita-se a priori de uma definição do objetivo a ser alcançado e das categorias de pescadores, pescarias e estoques pesqueiros que deverão ser incluídos no programa de manejo (BARTHEM et al., 1992). 2.8 Estratégias tradicionais de manejo Até recentemente, as pescarias artesanais eram manejadas apenas através de portarias governamentais sem ouvir os interesses das comunidades tradicionais de pescadores. O centro das atenções era o próprio estoque, manejado através de proibições de uso de aparelhos, restrições ao tamanho da malha, época de desova, etc. Atualmente essa situação mudou para um aspecto mais sociológico denominado manejo comunitário. Visando apenas o estoque, no início da década de 80 foram discutidas quatro medidas de manejo pesqueiro para a Amazônia: a) Proibição permanente da pesca comercial: é uma opção claramente injusta e irreal, já que negaria o acesso da população a uma fonte de proteína barata. No entanto, poderia ser possível o fechamento temporário de áreas selecionadas, tais como um sistema fluvial ou uma planície alagada ou uma represa. Um fechamento mínimo de três anos permitiria a maior parte das espécies se reproduzirem e reconstituírem seus estoques. Essa opção contribuiria para a conservação dos estoques das espécies não migradoras. Também poderia servir como ponto de referência para o sucesso ou o fracasso de estratégias de manejo aplicadas em outras partes da bacia ; b) Manutenção da diversidade de captura atual: manejar a pesca para preservar a diversidade atual das espécies é, talvez, o mais difícil de ser realizado, devido a deterioração geral das comunidades de peixes sob pressões demográficas e econômicas. Com o passar do tempo, há o predomínio de espécies cada vez menores e de baixo valor comercial. Na bacia amazônica ainda existem áreas inexploradas, nas quais os pescadores podem capturar espécies tradicionais de maior porte, mesmo que essas viagens sejam progressivamente mais longas. Isso é, de certa forma, uma tentativa de adaptar essa estratégia, mas não é sustentável, já que a diminuição dos estoques terminará por esgotar a capacidade da comunidade como um todo ; c) Tentativa de regulamentar uma produção sempre máxima: a procura de uma rodução máxima é difícil, à medida que há freqüentes conflitos entre o rendimento máximo sustentável por peso e o rendimento máximo econômico. A tendência das pescarias de muitas espécies de manter um nível constante de rendimento por peso, mediante uma lenta degradação no tamanho e valor do pescado, complica ainda mais o problema. No entanto, em algumas áreas, principalmente próximas das grandes cidades, onde os estoques das espécies maiores e preferenciais já estão esgotados, as pescarias ainda são suficientemente diversas e espécies de 21 menor valor comercial podem ser capturados com pequeno investimento e, portanto, render lucro suficiente aos pescadores ; d) Não fazer nada: é freqüentemente aquela adotada, ou intencionalmente ou por falha administrativa. Deve ser evitada porque leva inevitavelmente à progressiva redução do recurso, conhecido como “Tragédia dos Comuns”. Uma vez que o estoque pesqueiro é um recurso aberto (de livre acesso), os pescadores que chegam primeiro tendem a explorá-lo sem deixar nada para os que vêm depois, na tentativa de obter o maior lucro possível. Também não haveria limite ao acesso, de modo que a pesca tenderia a absorver o excesso de mão de obra, levando a exagerada pressão sobre o estoque. A melhor estratégia de manejo talvez seja uma mistura das opções acima, combinadas de diferentes maneiras, segundo as circunstâncias locais. O manejo de espécies migradoras necessita de um cuidado especial, dada a extrema complexidade de seus deslocamentos. As considerações a seguir são baseadas nas propostas de especialistas reconhecidos na área: a) Acesso limitado: O acesso irrestrito é a causa principal de muitos problemas de manejo de pesca e o maior obstáculo à sua solução. Portanto, as autoridades competentes devem procurar medidas para limitar tal acesso. Este processo geralmente introduz um dilema moral, já que uma injustiça é sempre inerente à reserva de um recurso anteriormente comum a um grupo limitado de usuários. No entanto, experiências mundiais já demonstraram que o acesso aberto a recursos naturais inevitavelmente leva à sua degradação e perda para a sociedade. A maioria dos sistemas tradicionais de manejo se relacionam com a determinação do direito de acesso à pesca e, onde esses já estão em vigor, devem ser reforçados com a legislação. Fora das comunidades tradicionais, os sistemas para limitar o acesso na Amazônia devem se basear no comportamento da pesca. O número de pescadores por estação tende a flutuar espontaneamente, de acordo com o lucro da estação passada. Reforçar e racionalizar esta tendência, por meio da restrição do número de barcos, utilizando um sistema de licenças, pode ser uma solução parcial, apesar de poder criar problemas durante períodos de menor abundância, quando os barcos tendem a penetrar em sistemas frágeis, como o rio Negro, para preencher seus porões. Além disto, com densidades de apenas 0,04 pescadores/km2 o número de pescadores é um problema menor do que seu poder de pesca individual; b) Restrição às artes de pesca: existem tentativas freqüentes de restringir o uso de certas artes de pesca na Amazônia. Em Manaus, as autoridades tentam impedir o uso de arrastadeiras, que podem ter 600m de comprimento e 13m de profundidade, na pesca do jaraqui. No entanto, 85% do jaraqui do rio Negro é capturado com este petrecho, e uma simples proibição pode redundar em um decréscimo da oferta de proteína para a porção mais pobre da população de Manaus, que depende dessa espécie durante as cheias, quando ela contribui com 40% da captura; c) Controle do tamanho da malha: costuma-se pensar que aumentar o tamanho da malha é uma maneira simples de proteger o estoque pesqueiro e regulamentações a esse respeito são comumente aplicadas sem critério em rios latino-americanos. A 22 situação é mais complicada como pode ser demonstrado pelos arrastos de praia e redes de cerco usadas na Amazônia central. Estas possuem malhas pequenas (que não emalham peixes pequenos, possibilitando a soltura dos exemplares ainda vivos após a despesca) e não são consideradas seletivas para as espécies migradoras, que constituem a base do desembarque pesqueiro de toda a bacia. Os jaraquis menores são geralmente liberados pelos pescadores durante a despesca, para que prossigam sua migração rio acima. Se a malha fosse aumentada, esses jaraquis, ficariam emalhados e sua mortalidade aumentaria. A regulamentação brasileira atual (IBAMA. Portaria Nº 47) proíbe a captura de jaraquis menores que 15cm ; d) Proibições sazonais: às vezes torna-se necessário proibir a pesca por um certo período durante a seca, para proteger os cardumes de espécies migradoras que ficam muito concentrados e bastante vulneráveis. Atualmente existem nos dois países Portarias de defeso (veda) para as espécies na época da reprodução ; e) Reservas: áreas de particular importância ecológica ou biológica devem ser reservadas apenas para a pesca da população local. Normalmente, em tais ambientes, verificam-se conflitos entre os pescadores comerciais mais eficientes e a pesca de subsistência local. Além das estratégias de manejo apresentadas anteriormente, foram estabelecidas algumas diretrizes adicionais para o manejo pesqueiro na região. As sugestões aqui apresentadas estão direcionadas de acordo com a revisão da legislação da pesca amazônica. Considerando a interação entre as diferentes categorias de pescarias, pescador e espécie de peixe, as combinações das restrições para o manejo da pesca sobre os diferentes estoques podem ser agrupadas em três categorias: a) Manejo para espécies migradoras: o caso mais evidente da pesca sobre espécies que realizam extensas migrações é o da piramutaba. A principal frota que a captura é a da pesca industrial, que também é a principal responsável pelo risco de sobrepesca (pescar mais que o ideal) que ameaça o estoque no momento. Como esta frota está centralizada no estuário e é administrada por um número reduzido de empresas, a sua pesca apresenta características propícias para um manejo clássico de controle de esforço de pesca e limitação do tamanho de malha. A captura da piramutaba pela pesca artesanal é de menor relevância e, ainda assim, é realizada por aparelhos que dificilmente irão sobrepescar o estoque. Como já foi mencionado, a dourada é outra espécie que parece realizar extensas migrações e é capturada por grande diversidade de categorias de pescadores e de pescarias. A elaboração de uma estratégia de manejo para esse estoque deverá abordar uma complexa combinação de restrições. Porém, não há indícios, até o momento, que este estoque esteja sobrepescado, embora o esforço pesqueiro em cardumes rio acima esteja aumentando muito devido aos frigoríficos que estão comprando esse pescado preferencialmente, o que justifica a adoção de alguma forma de manejo para a espécie (RUFFINO ; BARTHEM, 1996), enquanto mais informações sobre a sua biologia e captura vão sendo obtidas ; b) Manejo para espécies sedentárias: os lagos e as áreas sazonalmente alagadas abrigam uma comunidade de peixes que pode ser considerada sedentária (migram pouco ou não migram) e cujas espécies são representadas pelo tucunaré, pescada, 23 acarás, acaris e cascudos, tamoatá, aruanã, pirarucu etc. Os problemas da pesca desses estoques estão relacionados à diminuição da captura nas áreas densamente povoadas, o que gera conflitos entre pescadores comerciais e artesanais; entre pescadores moradores nos lagos e seus vizinhos; e, até mesmo, entre diferentes grupos de uma mesma comunidade ou vila. Nessa condição, a estratégia de manejo abordaria a área delimitada pelo conflito entre pescadores, e as espécies que seriam beneficiadas por este manejo seriam aquelas de comportamento mais sedentário. O manejo de lagos ou de áreas alagadas deve ser feito com o apoio de todos os segmentos da sociedade envolvidos na questão, que seriam as vilas e cidades, Prefeituras, Colônias de Pescadores etc. Tendo em vista que os lagos de várzea, que margeiam o eixo Solimões-Amazonas, apresentam variações quanto à sua exploração e ao conflito entre os pescadores que os exploram, sugere-se que se tenha como base para adoção de qualquer restrição da pesca nesta áreas um levantamento que estabeleça: (1) o zoneamento de conflitos entre pescadores e suas graduações; (2) o mapeamento dos lagos onde já foram estabelecidas as reservas por parte das comunidades, de modo espontâneo ou já oficializado pelo IBAMA; e, (3) o mapeamento das áreas mais produtivas, onde há uma exploração constante pela pesca comercial. Com base nisso, os métodos de manejo devem abordar medidas do tipo: programa de educação ambiental para os pescadores que têm acesso à área manejada; proteção dos lagos em diferentes períodos ou rodízio de lagos (pulse fishing); e reserva de lagos para pescadores de subsistência (reserva extrativista) ; c) Manejo para espécies migradoras que utilizam a várzea durante parte de seu cicio anual ou vital: as espécies que vivem sazonalmente em áreas alagadas e utilizam o canal como via migratória são capturadas em ambos os ambientes por diferentes tipos de pescadores e de categorias de pescarias. Essas espécies são representadas pelo tambaqui, curimatã, pacu, aracu, etc. O canal é uma via natural de navegação, de forma que é impossível evitar o trânsito dos barcos pesqueiros no período em que as espécies estão migrando. Além disso, a introdução de qualquer tipo de policiamento ao longo desse canal é cara e ineficiente, o que torna bastante difícil a adoção de qualquer forma de restrição à pesca nesse ambiente, como ocorre no rio Mississipi-Missouri. No entanto, durante sua fase jovem ou quando estão nas várzeas, os peixes podem ser protegidos nos lagos ao se adotar as medidas restritivas já mencionadas. Isto permitiria evitar a captura de jovens, que fazem desse ambiente sua área de criação e evitaria a sobrepesca por crescimento, que pode ser um importante fator no declínio do estoque de algumas espécies de valor comercial, como parece ser o caso do tambaqui. Além disso, a reserva de lagos contribuiria para a diminuição do esforço de pesca sobre os estoques em geral. Como essas espécies migram todo o ano, a manutenção dessas reservas criaria um refúgio ou uma área de crescimento temporário para os cardumes migradores, que, ao se dispersarem na próxima estação, repovoariam as áreas alagadas ou lagos que são explorados normalmente pela pesca comercial. Além da preservação dos lagos, deve-se definir também as rotas migratórias a fim de proteger os cardumes migradores durante a sua saída dos lagos. Neste momento, os cardumes encontram-se mais vulneráveis às redes, por estarem em um estreito canal. Caso seja permitida a pesca nessas situações, toda proteção realizada dentro do lago pode ficar comprometida. 24 É urgente e necessário fortalecer e ampliar os sistemas de coleta de desembarque em andamento, como por exemplo os estudos sob a responsabilidade da FUA em Manaus, do Projeto Mamirauá em Tefé e do Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém, através do CEPNORTE/IBAMA, via convênios ou projetos conjuntos. Nos Estados do Acre e Rondônia as estatísticas de desembarque são inexistentes. Na Amazônia boliviana as séries são descontínuas. Estudos para melhorar o armazenamento de pescado são necessários para reduzir o desperdício, concomitantes com a construção de modernos entrepostos para desembarque e estocagem do produto, que forçosamente irão contribuir para a diminuição da influência dos intermediários – que ditam o preço do dia do pescado – acarretando seu barateamento. Com o aumento da capacidade de armazenamento, os preços na entressafra e na época de maior procura na Semana Santa, não iriam flutuar tanto, pois haveria estoques reguladores. Porém, os dois governos devem apenas construir e alugar as instalações dos entrepostos para particulares, a fim de evitar a corrupção do sistema. Alem disso é necessário incentivar mini empresas para fabricação de fishburgers de espécies de menor valor comercial. Castelo (1992) fez uma série de experimentos com pescado barato, com espinhas na carne e concluiu que a fabricação de fishburger na região amazônica é viável. A formulação pesquisada teve boa aceitação quanto ao paladar, fica estável quando congelada em freezer até 3 meses, sem alterar suas características sensoriais. A aceitação por 93% das crianças de 4 a 6 anos de idade, permite sua inclusão no cardápio da merenda escolar. O crédito para compra de barcos e petrechos de pesca mais sofisticados – ao qual o pequeno pescador dificilmente tem acesso – deve ser facilitado pelos bancos oficiais da região, através das Colônias de Pescadores, para transformá-lo em proprietário de seu meio de produção, com conseqüente aumento de sua produtividade. Finalmente, é necessário se estabelecer uma política de pesca para a Amazônia em nível institucional (internacional, federal, estadual e municipal), com o fortalecimento do IBAMA no Brasil e do CIDAB na Bolívia, que vêm realizando notável trabalho na região, ao consultar a comunidade científica – que está estudando os estoques pesqueiros – os pescadores e os empresários, reformulando a legislação. Visando uma abordagem mais moderna e realista, vamos discutir alguns aspectos do manejo comunitário, que é muito desenvolvido em países industriais, principalmente no Japão, onde os sistemas comunitários de conservação e ordenação da pesca estão institucionalizados e têm vigência. Nesses sistemas os pescadores, ou as cooperativas que os agregam, desempenham uma função de primeira ordem no processo de adoção de decisões. Em geral essa prática garante a sustentabilidade e a eficiência econômica da pesca (FAO, 1995). 2.9 Considerações sobre o sistema de manejo comunitário de recursos pesqueiros O manejo comunitário está inserido no sistema de gestão participativa, que é entendido como o contínuo entre dois extremos, o manejo governamental e o comunitário, existindo diferentes níveis escalonados administrativamente. No Estado, dividem-se os níveis federal e estadual (provincial ou departamental). Na sociedade civil, a ação é desenvolvida por organizações não-governamentais, compreendidas as colônias de pescadores profissionais, as associações e cooperativas, entre outras. O mecanismo de gestão participativa articula a interface Estado/Sociedade Civil Organizada. A função da sociedade é exercida, primeiramente, em nível local, através de 25 mecanismos particulares de tomada de decisão em conjunto, caracterizando o manejo comunitário. A finalidade principal do manejo de estoques pesqueiros é viabilizar a atividade de pesca em níveis sustentáveis e permitir a sobrevivência dos núcleos familiares e das comunidades, evitando a ocorrência de fatores que possam conduzir à “Tragédia dos Comuns”, entendida como a falência dos inputs provenientes do recurso natural comum pela incapacidade comunitária de manejar a explotação, o que, em último caso, levaria a depleção dos estoques (HARDIN, 1968). Neste mesmo contexto Muth (1996) menciona que os principais objetivos do manejo comunitário são: i) subsistência dos núcleos familiares e da comunidade, ii) o comércio. Há uma particularidade visível: a sazonalidade da atividade comercial e a necessidade contínua de alimentação para a subsistência. O manejo comunitário deve contemplar esta sazonalidade, direcionando as vias de escoamento da produção nos períodos desfavoráveis, facilitando o controle, a coleta de dados de desembarque e racionalizando a explotação dos estoques. Berkes (1985) menciona que o controle comunitário sobre o esforço de pesca parece difícil de ser alcançado nas pescarias comerciais em geral. Se um estoque não é sobre-explotado, isto se deve, provavelmente, à insuficiente demanda de mercado ao invés do controle comunitário (BÉNÉ, 1996). Através das relações externas da comunidade, influenciadas pela demanda de mercado, pode-se perceber conseqüências na estratégia de pesca, entendida como a probabilidade de escolha entre uma dada combinação de equipamentos, espécies alvo e localização geográfica. Também pode ser considerado estratégia de pesca, o conjunto de critérios de tomada de decisões que ligam um dado comportamento de pesca com os objetivos e adversidades que têm influenciado tal comportamento. Sob este ponto de vista, a estratégia de pesca é vista como um processo interno de tomada de decisões, usado pelo pescador, com respeito às suas limitações e objetivos e o comportamento do pescador como reflexão observável desta estratégia (BÉNÉ, 1996). As adversidades e limitações inseridas neste último conceito são impostas pelo sistema de incentivos econômicos na forma de ganhos (sistema de remuneração), percebidos pelos pescadores, que são incentivados pela demanda de mercado, a procurarem sempre os maiores exemplares da espécie alvo, independentemente da localização mais provável dos cardumes. Tal comportamento explica a inexistência de relação entre as variações sazonais da biomassa do estoque e a dinâmica da frota pesqueira (BÉNÉ, 1996). De acordo com Berkes (1985), a atividade pesqueira de subsistência proporciona um forte princípio de auto-limitação: enquanto na pesca marinha há grande mobilidade da frota à procura de estoques pesqueiros que ainda não tenham sofrido depleção, na pesca continental de pequena escala esta mobilidade não é possível; o pescador pode, voluntariamente, limitar sua captura em peso. A crença de que as sociedades pré-industriais são incapazes de sobre-explotar um recurso por causa de limitações tecnológicas, não pode ser descartada e que, de forma geral, os mecanismos de autogestão (regulamentação), presentes nos sistemas de manejo comunitário de estoques, são vulneráveis a estresses e, incluem: i) a perda do controle comunitário; ii) sobreexplotação; iii) rápido crescimento da comunidade; e iv) mudanças tecnológicas. Observa-se que, em muitos países industrializados, o controle sobre o esforço pesqueiro tem sido exercido pelos governos centrais de forma genérica para uma grande amplitude de espécies, se não para a sua totalidade. Tal política é fundamentada principalmente no conceito da propriedade comum (ACHESON ; WILSON, 1996). No Brasil os mesmos 26 autores mencionam que as três estratégias adotadas são: i) definição de áreas de pesca; ii) controle da tecnologia empregada; iii) proteção aos indivíduos mais jovens, que não se reproduziram, fixando tamanhos mínimos de exemplares. Os resultados imediatos das decisões comunitárias são vistos atualmente nos “Acordos Comunitários de Pesca”, relativamente comuns em açudes do nordeste (HARTMANN,1997 ; BARBOSA ; HARTMANN ,1997), assim como nos grandes lagos da Amazônia. O IBAMA tem considerado ilegal qualquer decisão que imponha limitações de acesso aos estoques, conforme visto em Fischer e Mitlewski, 1997, mas é importante lembrar que o controle de acesso aos estoques isoladamente, não impede a sobrepesca, apenas facilita o manejo (HANNESSON ; KURIEN, 1988). Os acordos comunitários podem ser transformados em Portarias dos órgãos competentes, aproveitando-se o que for legal (FISCHER ; MITLEWSKI, 1997). Existe a possibilidade legal das licenças de pesca esportivas e profissionais serem válidas em áreas determinadas e não em todo o território nacional. A territorialidade é um pré-requisito para qualquer forma de manejo comunitário, pois as regras estabelecidas só teriam validade numa área dominada por aquela comunidade, onde a mesma teria força para fazer valer seus acordos. Estas áreas, normalmente pequenas, são determinadas, em muitos casos, por laços de amizade e parentesco (PiIERSON ; BEGOSSI ; 1972 , 1996). As regras de manejo pesqueiro são constituídas da combinação entre a cultura local e a estrutura social. As regras comunitárias regulam como a pesca deve ser feita, dizendo os locais, o tempo, estádio de vida das espécies alvo ou tecnologia (ACHESON ; WILSON, 1996). O ordenamento pesqueiro não é obstáculo à execução de medidas restritivas de acesso aos recursos; o principal entrave está na lei civil e constitucional, quando tratam das formas de propriedade. Os recursos pesqueiros são bens de domínio público, uso comum e livre acesso, sendo inviável pensar em privatização dos recursos, ou mesmo, medidas de controle de acesso. A privatização é inviável juridicamente, pois a Constituição Federal, o Código Civil Brasileiro e o próprio Dec. Lei 221/67, a proíbem. Outra alternativa de manejo pesqueiro é a valoração econômica do estoque virtual não explotado, conforme descrito por Gavaris (1996) para a pesca no Atlântico canadense. Neste modelo é inserida a noção de previsibilidade de captura, estabilizando os manejos intra e inter comunitários. O treinamento de comunitários como “Agentes Colaboradores”, realizado por agentes do Estado, pode representar um incentivo à organização comunitária. A utilização de pescadores profissionais filiados às colônias de pescadores, associações e cooperativas é uma etapa no processo de participação e tomada de decisões, podendo ser instrumento de educação ambiental. Em síntese, de acordo com a literatura, o manejo comunitário de estoques pesqueiros funciona melhor em sistemas fechados, respeitando-se o contexto social e a cultura das comunidades, levando-se sempre em consideração a demanda de mercado para o pescado, pois as relações externas da comunidade podem incentivar a sobrepesca. O sucesso do manejo pesqueiro depende da adequação entre os conhecimentos científicos que o embasam, seus efeitos nos estoques pesqueiros, nas comunidades que os explotam e como as regras de manejo são seguidas e impostas aos usuários (MCCAY, 1996). Existem hoje, na Amazônia brasileira , pelo menos duas iniciativas de grande porte para aprimorar as técnicas de manejo de recursos pesqueiros, com bases teóricas fundamentadas 27 no sistema de manejo comunitário: Administração dos Recursos Pesqueiros na Região do Médio Amazonas, Estados do Pará e Amazonas (IARA), sediado no município de Santarém, (PA) e o Projeto Mamirauá na foz do rio Japurá (Caquetá). O Projeto Mamirauá elaborou um termo de compromisso com os pescadores da reserva no setor Jarauá, envolvendo 70 pescadores moradores, para a pesca em rodízio de lagos, principalmente do pirarucu que é muito valorizado, uma experiência de manejo muito interessante e que parece já estar dando resultado (VIANA ; DAMASCENO, 1999). No Estado do Pará o “Projeto IARA”, implantado em 1991, está ainda em andamento. Este Projeto é executado pelo IBAMA, GTZ-GOPA e MMA, contando com a colaboração de outras instituições, tais como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP), Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), Prefeituras Municipais da Região, Colônias de Pescadores e Comunidades Ribeirinhas (IBAMA, 1995). O objetivo geral do Projeto IARA consiste em “subsidiar as ações de ordenamento e uso dos recursos pesqueiros no médio Amazonas, visando seu aproveitamento sustentável, compatibilizando os interesses/necessidades das populações locais, bem como da sociedade e da economia reional e nacional” (IBAMA, 1995). Especificamente, os objetivos finais do Projeto IARA são: (i) a produção de conhecimentos técnicos e científicos nas áreas de biologia, ecologia de pesca, sócio-economia, tecnologia de pesca, educação ambiental, buscando o embasamento do processo de administração pesqueira; (ii) implantação de um sistema de administração pesqueira que contemple a participação efetiva da comunidade de usuários em todas as etapas do projeto (IBAMA, 1995). A Reserva de Desenvolvimento Sustentado Mamirauá (localizada 600 km a oeste de Manaus, pelo rio Solimões, em sua confluência com o rio Japurá e o Auati-Paranã em uma área focal de 260.000ha, inserida numa gleba total de 1.124.000ha), é a primeira reserva em ambiente de várzea no país, com o objetivo de assegurar a biodiversidade na área, bem como garantir a manutenção das populações humanas ali residentes. São desenvolvidos vários projetos de educação ambiental, entre eles o manejo sustentável dos recursos pesqueiros. É um laboratório vivo para se testar políticas e ações para a ocupação racional da várzea amazônica (MAMIRAUÁ, 1996). 3 A AQUACULTURA 3.1 Introdução Diariamente são produzidos no mundo um quilograma de cereais por pessoa, o que corresponde teoricamente a 3000 calorias, sem contar a produção de carne, verduras e legumes, o que demonstra que há oferta suficiente de comida para a humanidade, implicando que o problema da fome está na distribuição desigual do alimento. A pesca de captura representa menos de 3% da produção mundial de alimentos, e a aqüacultura produz uma parte ainda menor, o que significa que essa atividade nunca será o método isolado para resolver o problema da fome no mundo. Entretanto, a mesma poderá desempenhar no futuro a busca de novas soluções para 28 problemas regionais de nutrição, gerando empregos, ajudando na conservação dos recursos naturais e em alguns casos como fonte de divisas para os países (WEDLER, 1998). Nos últimos anos a produção da aqüacultura tem aumentado num ritmo tão elevado que a produção de pescado de água doce supera aquela obtida da pesca de captura. A produção do salmão está próxima daquela do salmão silvestre e o cultivo de camarão já alcança metade da quantidade capturada (FAO, 1995) As projeções da FAO (1993) indicavam que para manter o nível atual per capita de consumo de pescado em 13 kg/ano, no ano de 2010 (considerando-se a projeção de que a população humana irá atingir 7032 milhões) seriam necessárias 91 milhões de toneladas para consumo humano. Este volume supõe um incremento de 19 milhões de toneladas de pescado comparado ao volume de 73.3 milhões de toneladas de 1993. FAO (1995) considera que este aumento será factível se nos próximos 10 anos a produção da aqüacultura se duplicar e se melhorar a conservação e ordenação das pescarias de captura. Além disso, será necessária a aplicação de tecnologia de alimentos, para melhorar a utilização das capturas acidentais e os rendimentos dos peixes pelágicos pequenos, como a anchoveta Engraulis ringens de forma que sejam consumidos diretamente ao invés de serem transformados em farinha de pescado como componente de ração para animais de engorda, cães e gatos. 3.2 Aqüacultura continental A aqüacultura é um ramo da Ecologia Aplicada enfocando o cultivo de seres que têm na água seu principal ou mais freqüente ambiente de vida, entendendo-se por cultivo a utilização de insumos, mão-de-obra e energia, com o objetivo de aumentar a produção dos organismos úteis por meio da manipulação genética deliberada de suas taxas de crescimento, mortalidade e reprodução em um ecossistema artificial. Nas regiões tropicais e subtropicais do mundo existem as melhores perspectivas para o desenvolvimento futuro da atividade. As temperaturas elevadas, a radiação solar intensa e seu efeito sobre a produção primária e as reservas de água ainda não poluídas (principalmente na Amazônia) oferecem um alto potencial para desenvolvê-la de forma muito superior às regiões temperadas (WEDLER, 1998). Uma das vantagens que a aqüacultura oferece, tanto para o produtor quanto para o consumidor, é a segurança da oferta no espaço e no tempo, pois a pescaria comercial está sujeita a variações de abundância, às portarias normativas que impedem as pescarias mais lucrativas na época da desova, as avarias dos barcos e aparelhos, o que torna a atividade intermitente e sujeita ao acaso. Para que o aqüacultor tenha bom lucro com sua atividade a taxa de crescimento do organismo deve ser alta, produzindo o máximo de carne com um fornecimento mínimo de alimento. Assim, a mortalidade deve ser mantida a mais baixa possível, por meio de medidas de sanidade e erradicação dos predadores de larvas e alevinos. Numa aqüacultura intensiva esses objetivos são conseguidos a partir de: (i) uso de rações balanceadas, em geral produzidas industrialmente, cuja composição pode variar segundo a espécie cultivada; (ii) desova induzida, com matrizes geneticamente selecionadas, se o peixe for reofílico; (iii) medidas que visam controlar os predadores, tais como, utilização de armadilhas, telas protetoras e uso de agentes químicos; (iv) adoção de medidas profiláticas para controlar doenças, etc. Enquanto nos países desenvolvidos a aqüacultura tem caráter quase que exclusivamente empresarial, em muitos países em desenvolvimento, a aqüacultura pode ser parte 29 da economia de subsistência. Nesse caso, boa parte do pescado é para consumo próprio, ou é produzido pelo Estado em benefício das camadas mais pobres da população, como é o caso dos açudes do Nordeste brasileiro, onde o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) realiza peixamento para que os pescadores artesanais deles retirem seu sustento. A aqüacultura extensiva caracteriza-se pelo simples povoamento por uma nova espécie ou adensamento de uma espécie pré-existente em baixa densidade, de um corpo d'água qualquer sem que sejam adotadas medidas de controle das características físico-químicas e biológicas, de tal forma que os organismos sob cultivo dependem exclusivamente do alimento natural disponível. Nesse sistema a produtividade é comparativamente baixa. A aqüacultura semi-intensiva é aquela na qual a produtividade natural é estimulada pela adubação, mas, em virtude da maior densidade de estocagem, há necessidade de fornecer alimentação complementar, como grãos, farelos, tortas, farinhas etc., que pode ser oferecida isoladamente ou em misturas. A aqüacultura intensiva é mais sofisticada. Neste caso, administra-se rações balanceadas na alimentação dos organismos, em virtude das densidades de estocagem bastante altas. A produtividade pode ainda ser incrementada por meio de fertilização. Estes dois termos correspondem a dois extremos na escala de tecnologia. Nos países temperados predomina a monocultura, como por exemplo de truta ou salmão, e nos trópicos é mais comum (e mais aconselhável) a policultura, em que mais de uma espécie é cultivada em consórcio, para que o aproveitamento dos recursos alimentares do corpo d'água seja otimizado. Tanto a aqüacultura semi-intensiva quanto a intensiva podem ser realizadas em tanques, viveiros e demais reservatórios nos quais se tenha controle total sobre a entrada e saída d'água. A implantação de infra-estrutura necessária envolve a construção e preparação das instalações, estocagem de peixes, fornecimento de alimentação, controle de predadores e parasitas, acompanhamento do crescimento, despesca e manutenção das instalações. A rentabilidade depende fundamentalmente da freqüência-qualidade-preço do produto oferecido. Em termos de desenvolvimento sustentável é fundamental que essas classificações também envolvam as pessoas relacionadas à atividade (produtores, intermediários, varejistas e consumidores). A aqüacultura socialmente orientada deveria considerar critérios técnicos e socioeconômicos. Em muitos casos é melhor nos referirmos à “aqüacultura rural” dentro do contexto geral de desenvolvimento agrícola. Assim, a aqüacultura rural pode ser praticada a nível de subsistência ou em sistema semi-intensivo, com vários graus de orientação ao lucro (MARTINEZ-ESPINOSA ; BARG, 1993). Um dos aspectos negativos da aqüacultura rural deriva das numerosas falhas dos projetos implementados, no sentido de contribuir para uma melhora no padrão de vida dos agricultores de pequena escala nos países em desenvolvimento. A aqüacultura rural deve ser somente mais uma atividade do agricultor e a análise dos projetos mostra que a assistência internacional não produziu os resultados esperados de acordo com Martinez-Spinosa e Barg (1993). Esforços especiais devem ser realizados na identificação de grupos-alvo em potencial, bem como na avaliação de suas características socioeconômicas. A formulação de projetos baseados nas suposições errôneas acerca dos fatores sociais, econômicos e políticos são a principal causa do fracasso desses empreendimentos. A principal razão para as altas taxas de deserção tem sido a falta de motivação dos fazendeiros devido a baixos lucros ou de no fim da empreitada não ter o que comercializar. É necessário se entender o dia a dia do candidato à empreitada e seu modo de pensar, em busca das suposições 30 corretas. Assim é necessário que cientistas sociais e antropólogos rurais trabalhem junto com biólogos, zootecnistas, agrônomos e extensionistas. Esses grupos interdisciplinares deveriam ser treinados a priori, antes de se estabelecer um projeto numa dada área. A análise do agroecossistema à qual a aqüacultura rural deve fazer parte exige a integração de lavouras, animais, peixes e recursos florestais. Porém essas comodidades normalmente estão separadas em departamentos diferentes, ministérios e institutos de pesquisa a níveis nacional e internacional, inibindo o desenvolvimento da experiência, do fluxo de fundos e créditos a serem buscados (MARTINEZ-ESPINOSA ; BARG, 1993). Embora a aqüacultura seja uma atividade de baixo impacto ambiental, pois o emprego de produtos químicos pode ser bastante reduzido, deve-se tomar alguns cuidados para não provocar danos ao meio ambiente, ficando atento basicamente para três fatores: a) qualidade da água, que deve ser monitorada, principalmente se ela for drenada para as cabeceiras de algum curso d'água. Um dos aspectos negativos da aqüacultura sobre a qualidade de água é o processo de eutrofização dos ambientes de cultivo pela elevação dos níveis de fósforo e compostos nitrogenados, provenientes de restos de alimentos, dos adubos adicionados e das excretas dos organismos cultivados; b) introdução de espécies alóctones, que deve ser evitada pelo aqüacultor, observando-se as portarias restritivas para algumas delas. Se houver um extravasamento do tanque, como ocorreu no Peru com o pirarucu que agora está colonizando rapidamente os rios Tauamani e Manuripe, espécies alóctones podem atingir o ambiente natural. Se as larvas passarem pelo dreno do tanque, as espécies também poderão se estabelecer, competindo e, eventualmente, levando à extinção algumas espécies da fauna local. Em alguns casos, é possível cultivar espécies alóctones por meio da hibridização ou poliploidia (em que as espécies têm número anômalo de cromossomos), produzindo indivíduos não-férteis, ou por meio da sexagem, criando exemplares do mesmo sexo, como pode ser feito com a tilápia. Também podem ser criados animais que, pelo menos em um estágio da vida, necessitam de água do mar - o que impediria sua reprodução no tanque, como ocorre com o camarão da Malásia Macrobrachium rosenbergii; e, c) contaminação de espécies locais por parasitas de espécies introduzidas. Esta é uma preocupação sempre constante, e medidas rigorosas de controle sanitário devem ser reforçadas. Um exemplo é o copépodo parasita Lemaea cyprinacea, trazido ao Brasil provavelmente em 1986 ou 1987, em lotes de carpas importadas. Até então, a América do Sul era um dos poucos continentes livres dessa praga. A partir dai, foi encontrada infestando o tambaqui, o pacu, a traíra e o lambari em tanques de piscicultura. Porém, o mais grave é que ela também pode infestar populações naturais (BOEGER ; SANTOS NETO, 1993). Segundo Castagnolli (1992), atualmente na Amazônia, a maior parte das espécies nativas próprias para a piscicultura pertencem às famílias Characidae como o tambaqui Colossoma macropomum e a pirapitinga Piaractus brachypomus, matrinchão Brycon sp., Prochilodontidae (curimatã Prochilodus nigricans e jaraqui Semaprochilodus insignia e P. taeniatus), Anostomidae (os piaus e aracus em geral) e Arapaimidae (pirarucu Arapaima gigas). As principais espécies exóticas próprias para a piscicultura pertencem às famílias Cyprinidae (carpa Cyprinus carpio), Ictaluridae (bagre-de-canal Ictalurus punctatus), 31 Salmonidae (truta arco-iris Onchorhynchus mikyss), Cichlidae (as tilápias Oreochomis sp.), Centrarchidae (black-bass Micropterus salmoides) e Claridae (Clarias gariepinus). No Brasil, o Governo Federal, através do Ministério da Agricultura e Abastecimento, tem incentivado e fomentado a atividade aqüícola com criação dos Pólos de Aqüacultura Regionais. Os Estados e municípios também estão implementando ações de fomento e assistência técnica através das Secretarias de Agricultura e/ou de Produção. No entanto, a aqüacultura na Amazônia encontra-se ainda numa fase embrionária devido às seguintes razões (SUDAM ;OEA, 2000): ! desconhecimento da história natural e das necessidades básicas de algumas espécies com potencial para a produção aqüícola. Esse fato dificulta a difusão de cultivos de espécies nativas da bacia, bem como não permite que sejam criadas as condições mínimas para se estabelecer sistemas que possam oferecer relações similares com o ambiente natural e realizar melhoramento genético para selecionar e adaptar os organismos a condições artificiais; ! deficiência tecnológica, visto que os pacotes oferecidos não condizem com a realidade, com baixa adaptação, não satisfazendo as condições ambientais da região. As espécies com maior potencial para a aqüacultura são migradoras, gerando dificuldades com a técnica de desova induzida, dificuldade crônica sobre alimentação na fase larval, pós-larval e dos alevinos das espécies; e ! desvantagem na relação custo/benefício econômico, visto as necessidades de investimento em infra-estrutura, na alimentação, na qualidade da água, no controle de parasitas e doenças, etc., e posterior retorno do capital investido mais a lucratividade. Além disso, a produção de grãos na região é insignificante, não existindo matéria prima suficiente para produção de ração, o que inviabiliza a produção aqüícola local, visto que a importação de ração balanceada provoca a elevação do preço do produto, em função dos custos de transporte. Nesse sentido, a aqüacultura torna-se desvantajosa em relação a pescarias na região, com produtividade elevada, sem nenhum custo de investimento (SANTOS ; FERREIRA, l999). Por outro lado, o interesse pela atividade entre os produtores rurais é crescente e principalmente nos Estados do Acre e Rondônia e se apresenta como uma alternativa viável para a produção de proteína na região. Os açudes ou tanques de propriedades rurais podem ser bastante produtivos e rentáveis, desde que alguns aspectos técnicos sejam respeitados. Assim, a aqüacultura necessita de um bom planejamento para obter os resultados esperados. A escolha do local para a instalação é muito importante para o sucesso do empreendimento, devido a fatores como: latitude e altitude geográficas, a influência da temperatura ambiental, a fauna e flora da região e as características socioeconômicas dos produtores rurais. A localização do empreendimento próximo a um centro consumidor, com energia elétrica e água abundante e de boa qualidade, solo argilo-arenoso e de topografia levemente inclinada para a construção dos tanques, são condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Os tanques e açudes também necessitam de boas condições para a despesca, a limpeza e a manutenção do viveiro, garantindo a sanidade do ambiente aquático durante o próximo cultivo. A calagem dos tanques tem a finalidade da correção da acidez e melhoria das condições físicas do fundo, o que proporciona um aproveitamento mais eficiente dos nutrientes solúveis na água. A adubação orgânica dos tanques tem um efeito favorável sobre a atividade 32 aqüícola, pois favorece a multiplicação de bactérias em suspensão na água, propiciando o desenvolvimento do plâncton. No entanto, quando aplicado em doses excessivas, pode provocar um déficit de oxigênio, e conseqüentemente, a morte dos peixes por asfixia ou por doenças parasitárias (CASTAGNOLLI ; CYRINO, 1986). Outra modalidade de criação confinada é a de tanques-rede, implantados em ambientes represados. Os problemas operacionais nesse tipo de cultivo são: as oscilações e variações sazonais de níveis d'água no reservatório fortes ventos que danificam as estruturas do tanque, o domínio tecnológico sobre o cultivo de espécies nativas e problemas com introdução de espécies exóticas e impactos ambientais, como deterioração da qualidade da água (JURAS ; PETRERE , 1999). A procedência dos alevinos, a qualidade e o tamanho dos mesmos são fundamentais para o sucesso da produção aqüícola. A qualidade deve obedecer dois critérios: a performance genética, visto que o crescimento e a resistência a doenças são conseqüências da qualidade do plantel de reprodutores, e o tamanho dos alevinos, pois quanto maior for, conseqüentemente maior será sua capacidade de se alimentar e evitar predadores. É tecnicamente recomendável a utilização de alevinos com mais de 8cm. O conhecimento da corte etária das sementes é muito pertinente, visto que existem peixes que atingem a maturidade sexual precocemente, sem relação com o porte. Assim, o aumento reprodutivo pode causar danos pela superpopulação nos tanques, o que impede o aumento da produção (TAMASSAIA, 1989). Outra variável bastante importante na produção é a alimentação dos peixes, visto que diferentes espécies possuem hábitos e comportamentos alimentares distintos. Castagnolli e Cyrino (l986) citam que além do hábito alimentar, é importante conhecer o comportamento alimentar, isto é, quando, onde e como os peixes se alimentam. Assim, a alimentação varia em função do tipo de dieta e do sistema de cultivo. No cultivo extensivo, a alimentação natural do ambiente aquático tem maior importância, podendo ser fornecida alguma dieta complementar. Já na aqüacultura intensiva, o alimento artificial deve ser completo para a nutrição dos peixes. As rações industrializadas estão disponíveis nas formas granuladas secas, trituradas ou fareladas. Também podem ser distribuídas mecanicamente por alimentadores automáticos. A alimentação manual é mais dispendiosa e pode acarretar perdas de alimento e da produtividade, visto que o tratador pode sub ou superalimentar os peixes (CASTAGNOLLI ; CYRINO, 1986). Neste contexto, a aqüacultura deve estabelecer meios à exploração sustentada na região visto o grande potencial hídrico da Amazônia, aliado às possibilidades de consorcio com outras atividades agropecuárias. Assim, ela será uma importante alternativa para a complementação da renda do produtor rural, visto os baixos custos de investimento e de produção, com a utilização de resíduos da agropecuária que proporcionam aumentos sensíveis na produtividade e com o preço altamente competitivo no mercado, se comparado com outras fontes protéicas de origem animal, representam uma atividade com grandes perspectivas de expansão na região Amazônica, durante os próximos anos. Assim, torna-se necessário e fundamental realizar trabalhos, e estudos que permitam incrementar o desenvolvimento da atividade na região, visto que o nível tecnológico dos produtores é na maioria extensivo e as criações semi-intensivas são ainda reduzidas. No Estado de Rondônia existem atualmente 646 piscicultores, com produção de 1.412 t/ano numa área de 400ha de lâmina da água e com produtividade de 3,5t/ha. A piscicultura extensiva tem uma produtividade de 750 a 1000kg/ha/ano e as criações semiintensivas chegam a produzir de 3000 a 4000kg/ha/ano. A produção de alevinos no Estado é de 33 cerca de 3.000.000/ano. Se destacam os municípios de Pimenta Bueno, Rolim de Moura, Cacoal, Presidente Médici, Ji-Paraná, Ouro Preto, Ariquemes e Porto Velho (IBAMA/RO, comunicação pessoal). Segundo o Governo do Estado, os pontos de estrangulamento da atividade são a falta de difusão de tecnologia, o sistema de produção é inadequado à região com alto custo de produção e baixa produtividade, falta organização da cadeia produtiva e crédito agrícola (SUDAM ; OEA, 2000). A aqüacultura no Estado do Acre, iniciou na década de 80, com empreendimentos no município de Rio Branco. Atualmente, estima-se que existam aproximadamente 2000 produtores rurais dedicando-se integral e/ou parcialmente à atividade aqüícola. O IBAMA/AC informa que somente 50 produtores estão regularizados na atividade, pois a falta de assistência técnica dificulta sua concretização na produção aqüícola. Estima-se ainda que em 1998 foram produzidas 800 t de pescado, na sua maioria comercializada localmente. A Estação de Piscicultura do Estado encontra-se em dificuldades, com queda na produção de alevinos, que atualmente está limitada a 400.000 alevinos/ano. Por outro lado, quatro iniciativas privadas fazem com que o Estado tornese auto-suficiente na produção de alevinos, com exportação para os Estados de Roraima e Amazonas. A assistência técnica é realizada pela EMATER, de maneira deficitária, dada a falta de técnicos especializadas no setor e a falta de crédito. Outro problema enfrentado pelos produtores é a falta de ração apropriada, razão pela qual utilizam resíduos e subprodutos na alimentação dos peixes, sem nenhuma orientação especializada, ocasionando uma perda que pode chegar a 80% dos alevinos. Mesmo com todos esses problemas, a aqüacultura é uma atividade crescente no Estado e o Governo está apresentando projetos de extensão junto ao Ministério da Agricultura e Abastecimento. Com relação à pesquisa, existe um pequeno quadro de profissionais com projetos em conjunto, envolvendo instituições como a EMBRAPA, UFAC, IBAMA e IMAC (SUDAM ; OEA, 2000). Embora a Bolívia tenham tecnologia muito apropriada para a produção de alguns peixes amazônicos em cativeiro, a atividade é praticamente inexistente na fronteira com o Brasil, devido a falta de extensão, crédito e excedentes agrícolas. Uma questão complexa em aqüacultura são os mecanismos econômicos que determinam os custos do pescado produzido em cativeiro. O conhecimento desses mecanismos é importante para que o moderno aqüacultor elabore uma planilha de custos a fim de saber com precisão por quanto deve vender o seu pescado, sem prejuízo. Na literatura brasileira existem poucas publicações sobre o assunto, podendo-se destacar o trabalho de Rissato (1993). Estudando o sistema de produção dos piscicultores - ligados à Associação dos Aqüacultores do Oeste do Paraná-AQUIOPAR, com 123 associados, que cultivam tilápia, carpa, pacu, bagre africano Clarias gariepinus, etc., numa área total de 700ha - constatou que, em média, 95% dos associados praticam o cultivo semi-intensivo, e que essa forma de cultivo é inviável, apresentando custos de produção superiores à receita proveniente do cultivo. Porém, como esses criadores não computam o custo alternativo da terra, o custo da mão-de-obra familiar, a depreciação dos bens, etc., parece que a atividade é ainda rentável. O cultivo intensivo, porém, é viável, com lucro líquido positivo, e o piscicultor deve cultivar pelo menos 2.016kg de pescado por ano, vendendo o pescado por pelo menos US$ 0.60/kg. Martin e Scorvo (1994) calcularam os custos de produção de várias espécies de pescado para o Estado de São Paulo, mostrando que os custos de cultivo intensivo são consistentemente mais baixos que os do extensivo (na ordem de 42% a 79%). Leboute et al. (1994) fizeram análise de custos para a produção de tilápia do Nilo, em gaiolas flutuantes, na região da Campanha-RS. Oro (1994) também realizou um diagnóstico 34 minucioso da piscicultura em Toledo-PR, uma proposta pioneira do BANCO DO BRASIL, e concluiu que a margem bruta de lucro do sistema semi-intensivo, por hectare de lâmina d’água, num período de 6 meses é de R$ 1.596,70 e para o sistema intensivo é de R$ 6.146,20 (na época 1U$ = 1R$), levando em consideração todos os fatores econômicos mais importantes na atividade (PETRERE et al., 1997) No Relatório Parcial foi feita uma planilha empírica com o produtor Sr. Mauri Jairo Petter e computamos um lucro de R$ 17.300,00/ha, na região de Brasiléia no Estado do Acre. É evidente que as flutuações de preços dos produtos de origem animal são decorrentes da sazonalidade da safra e entressafra do próprio produto, dos produtos substitutos e da estabilidade da produção de insumos. Dessa forma, esse é um dos aspectos mercadológicos mais importantes a ser considerado na análise comparativa de preços destas fontes de proteína. Deve-se considerar, também, que a oscilação sazonal das épocas efetivas de captura também impõe uma forte característica de sazonalidade no comportamento dos preços, que irá influir no preço do pescado produzido em cativeiro. Chabalin et al. (1988) observaram que a redução da oferta de pescado em geral no Mercado de Peixes de Cuiabá, de 15 t para 5 t, provocou variações até 100% no preço do pacu, no período de tempo de uma semana. Nesse sentido, muitos aqüacultores procuram programar sua produção na época da entressafra para beneficiarem-se do melhor preço do mercado devido à escassez. A necessidade do produtor examinar o comportamento do mercado, leva-o à certeza de que a aqüacultura pode produzir orientada ao mercado, ao contrário da pesca em que o mercado é orientado pela produção (CHABALIN , 1992; FAO, 1976; 1984). Dentre os fatores básicos que devem ser considerados para os estudos de mercado, destacam-se (CHABALIN, 1992): i. produto, que deve ter as melhores características para agradar ao consumidor. A escolha das espécies a serem criadas deve considerar aspectos relativos ao tamanho, forma de apresentação e freqüência de consumo do pescado pelo consumidor local; ii. o preço, que deve atender o conhecimento da oferta e da demanda; iii. a promoção, que é o mecanismo utilizado para ampliar a demanda efetiva do produto. O consumo de pescado não se distribui regularmente pelos países. O consumo recomendado pela FAO é de 13,1 kg/habitante/ano. A média mundial em 1996 foi de 15,7 kg/habitante/ano. No Brasil em 1984 esse consumo foi de 6,8kg/habitante/ano (ALZUGUIR, 1984). Na Bolívia em 1994 esse consumo foi apenas de 1,09 kg/habitante/ano (MINISTÉRIO DE DESARROLLO ECONÔMICO, 1995); iv. a distribuição, que envolve o conhecimento e a escolha dos canais de comercialização (CHABALIN, 1992). Para isso o aqüacultor já deve ter um bom conhecimento das preferências do consumidor. Na distribuição do pescado, o produtor pode utilizar-se de despescas parciais dos viveiros. Atualmente no Brasil, a produção decorrente da aqüacultura continental é de aproximadamente 30.000t, o que representa 0,002% da produção total mundial. A aqüacultura continental na Bolívia em 1993/1994, foi de apenas 617t (MINISTERIO DE DESARROLLO ECONOMICO, 1995). 3.3 Piscicultura na Amazônia 35 A aqüacultura não é uma atividade tradicional na Amazônia, talvez por três motivos principais: i. a região tem uma densidade populacional ainda relativamente baixa; ii. os estoques pesqueiros ainda são relativamente abundantes, principalmente daquelas espécies consideradas de baixo valor comercial, como as branquinhas; e, iii. no Brasil até a década de 60, a região estava isolada do centro-sul, não havendo, então, estímulo para a produção de pescado para exportação. Na Bolívia a Amazônia ainda está isolada do restante do país. Assim, a aqüacultura na região ainda é incipiente e concentra-se na piscicultura, em grande parte empírica, com pequena transferência de tecnologia dos centros de pesquisas mais avançados. Nesse contexto, considerando o baixo padrão de vida das populações da Amazônia e a situação sócio geográfica especial na área da fronteira, a piscicultura só será bem sucedida se for baseada em métodos simples e com espécies adaptadas a condições limnológicas extremas que às vezes podem prevalecer nos tanques. É importante que as espécies escolhidas sejam capazes de se alimentar de matéria vegetal, incluindo quando houver, excedentes agrícolas. Devem também ter a capacidade de produzir alevinos em número adequado. O tambaqui preenche todas essas exigências. Lima (1994) produziu um trabalho bastante completo sobre a situação atual da piscicultura na Amazônia central. Segundo esse autor existiam em 1991, na região próxima a Manaus, 59 produtores cadastrados na EMATER, desenvolvendo cultivos semi-intensivos e intensivos de espécies locais. Alguns destes produtores já estavam vendendo pescado no mercado local. O autor comenta sobre o atual nível de conhecimento para a produção de tambaqui, pirarucu, curimatá, jaraqui, matrinchã e surubim. Lima (1994) também discute a difícil questão do crédito para a piscicultura através do Banco do Estado do Amazonas e do Banco da Amazônia S.A. Não há estimativas de custos e de investimentos para a produção de pescado. Segundo Lima (1994), as espécies mais bem estudadas até o momento, que têm tecnologia de cultivo são as seguintes: TAMBAQUI COLOSSOMA MACROPOMUM É a espécie melhor estudada, sendo cultivada em quase toda a América Latina (HERNANDEZ, 1989). A produção das larvas em quantidade, 11 meses por ano, é uma das principais vantagens do cultivo do tambaqui, embora na Amazônia só haja oferta no inicio do ano. O preço da larva (unidade) varia de US$ 0.03-0.05 em fornecedores do Centro e do Leste. Os juvenis com menos de 4 kg são onívoros e preferem uma dieta baseada em frutos, sementes e zôoplâncton. Os adultos são exclusivamente frugívoros, mostrando preferência pelo fruto da Hevea brasiliensis (GOULDING, 1980; GOULDING;CARVALHO,1982; LIMA; GOULDING, 1998). Devido à falta de excedentes vegetais para a fabricação de ração balanceada, Lima e Goulding (1998) sugerem a plantação de pomares para peixes, baseados nos frutos de suas dietas, de preferência com cultivares que frutifiquem em diferentes épocas do ano. Assim, numa propriedade, próximo aos tanques poderiam ser plantadas a seringa Hevea brasiliensis, a seringa barriguda H. spruceana, a piranheira Piranha trifoliata, Alchornea sp., etc. Uma lista mais 36 extensa é fornecida no livro de Lima e Goulding (1998). A pupunha por ser rica em fibras e vitamina A, também é uma excelente candidata para o pomar de peixes. Lima e Goulding (1998) mostram que o lucro proveniente do cultivo do tambaqui é muito dependente do preço da ração, que em alguns casos chega a atingir 75% dos custos. A TABELA 4 mostra a variação do lucro sob diferentes modos de criação em cativeiro: TABELA 4 ANÁLISE DE CUSTO/BENEFÍCIO DE MONOCULTIVO E POLICULTIVO DE TAMBAQUI NO ESTADO DO AMAZONAS, PRÓXIMO A MANAUS. CÁLCULOS BASEADOS NOS VALORES DOS INSUMOS EM 1995. ND – NÃO DISPONÍVEL. (MODIFICADO DE LIMA ; GOULDING, 1998) Variáveis e índices Número de tambaquis Número de curimatás Número de porcos Preço do tambaqui Preço do curimatá Preço do porco Produção de tambaquis Produção de curimatãs Produção de porcos Produção total Índice de conversão alimentar Ciclo de produção Receita Custos (2ha) Lucro total Lucro anual Razão lucro/custo Preço de custo Produção mínima sustentável Investimentos Prazo de amortização Unidad e indiv. indiv. indiv. US$/kg US$/kg US$/kg kg kg kg kg Monocultura Viveiro Viveiro c/ intensivo suplemento 10.000 10.000 0 0 0 0 2,6 2,6 nd Nd nd Nd 34.500 34.500 0 0 0 0 34.500 34.500 4 8 Gaiola 10.000 0 0 2,6 nd nd 30.680 0 0 30.680 4 Policultura Viveiro Viveiro semiintensivo intensivo 10.000 10.000 10.000 10.000 0 3.000 2,6 2,6 0,7 0,7 Nd 3 34.500 32.700 3.000 3.000 240.000 37.500 275.700 4 4 anos US$ US$ US$ US$ % US$ kg 2 89.700 76.195 13.504 6.752 18% 2,2 29.306 2 89.700 58.209 31.490 15.745 54% 1,69 22.388 2 79.768 72.610 7.157 3.578,5 10% 2,4 27.927 2 91.800 76.309 15.491 7.745,5 20% 2 23.123 2 567.120 501.628 65.491 32.745,5 13% 1,81 US$ anos 23.597 3,8 26.457 1,7 11.245 4,7 23.597 3,4 33.023 1,3 37 Segundo Saint-Paul (1986) o conteúdo ótimo de proteína na dieta do tambaqui está ao redor de 23% e os melhores resultados de seu crescimento são alcançados com proteína de origem vegetal, o que é uma grande vantagem para a piscicultura na Amazônia, onde restos de proteína animal (de vísceras, ossos e sangue de gado e vísceras, cabeças e nadadeiras de pescado) são difíceis de recolher. A estocagem em cativeiro variou de 1189 a 10.000peixes/ha. A produção máxima atingida foi 9,2t/ha ( SIILVA et al., 1978 apud SAINT-PAULl, 1986), mas nesse experimento a mortalidade foi muito alta. Segundo Saint-Paul (1986) bons resultados são obtidos com 5.000peixes/ha. A produção variou de 4,3-6,8t/ha, com taxa de crescimento variando de1,54,0g/dia (SILVA et al.; LOVSHIN, 1984, 1980). Essas taxas de produção e crescimento variam muito, visto que num açude do Nordeste do Brasil, o tambaqui cresceu entre 15-19kg em 4 anos, correspondendo a 10,3-13,0g/dia, se alimentando principalmente de caramujos (Planorbirius sp., Planorbidae) e algas verdes Spirogyra sp. As TABELAS 2 e 3 de Saint-Pail (1986) São uma excelente fonte para comparação do crescimento do tambaqui sob diferentes condições de cultivo. A publicação de Hernandez (1989) tem boas referências sobre o cultivo de tambaqui em cativeiro, com uma excelente lista de bibliografia em anexo, até 1989 para o gênero Colossoma que na época ainda englobava Piaractus mesopotamicus. Na Amazônia, ainda são necessárias pesquisas para se descobrir a melhor dieta, com custo mais baixo. Além dos piscicultores usarem ração inadequada, a freqüência de alimentação não é controlada. O preço e o tamanho do tambaqui são fatores importantes no mercado. Uma análise de preço demonstrou que há boa aceitação de indivíduos ao redor de 2kg (2 anos de idade), e que seu preço é equivalente àquele dos adultos, US$ 3,00/kg, o que representa um bom lucro. O principal fator limitante para uma avaliação mais rigorosa do custo de produção é a falta de tradição e infra-estrutura de pesquisa para a piscicultura na região, e também pessoal habilitado. PIRARUCU ARAPAIMA GIGAS Esse peixe pode crescer até 10kg/ano (US$ 3.00/kg), produzindo até 10t/ha. É uma espécie relativamente bem estudada nos açudes nordestinos, mas sua piscicultura intensiva é pouco conhecida. Um dos problemas para sua criação intensiva é a produção de um peixe forrageiro que lhe sirva de alimento. Atualmente está sendo utilizada a tilápia, que se alimenta do plâncton do açude, estrume de gado e esgoto de pocilgas. O escape da tilápia para o ambiente natural deve ser evitado. O pirarucu pode atingir até 200kg de peso e de 2-3m de comprimento total. Exige ar para sua respiração. Sua reprodução em açudes tem sido observada, o pai cuida da prole. O animal se torna maduro no quarto ou quinto ano de vida, atingindo 1,70m (40-45 kg). Uma fêmea de 2,45m produziu 636.000 ovos (SAINT-PAUL, 1986). Num cultivo intensivo o peixe cresceu de 19-2.560g em 10 meses, num conjunto de experimentos e de 15g-4kg no primeiro ano e até 15kg em 26 meses em outro experimento. A alimentação constou primeiro de peixes vivos e depois pescado moído e alimentação artificial (SAINT-PAUL, 1986). CURIMATÁ PROCHILODUS NIGRICANS 38 Devido ao seu hábito detritívoro os curimatás (há várias espécies na América do Sul) não são convenientes para monocultivo em tanques. É difícil fornecer quantidade suficiente de alimento, principalmente para indivíduos grandes. Em açudes o Prochilodus lineatus cresceu de 6,5-97,6g em 9 meses, correspondendo a uma taxa de crescimento de 0,3g/dia, estocado a uma densidade de 10.000ind/ha. Numa densidade de estocagem de 20.000ind/ha levou a um peso médio final de 104,8g. Em outro experimento P. lineatus cresceu em 374 dias sob densidade de estocagem de 10.000ind/ha num tanque fertilizado de 10,4-40,6g, correspondendo a um crescimento de 0,08g/dia. A alimentação adicional aumentou o peso final para 158,8 (0,4 g/dia). Sob condições de policultivo Prochilodus reticulatus magdalenae cresceu, junto com a tilápia a um peso médio de 100,9g correspondendo a uma produção de 531kg/ha/ano. Em outro experimento em policultivo chegou a alcançar 1242 kg/ha/ano (SAINT-PAUL, 1986). Não há muita perspectiva de piscicultura de curimatá na Amazônia porque ele não é uma espécie preferencial, tem preço muito baixo, principalmente na safra. MATRINCHÃO, SÁBALO, SÁBALO COLA ROJA (PERU) BRYCON SP. A taxonomia do gênero é muito confusa e necessita de cuidadosa revisão. Há poucos trabalhos sobre Briconinae. São onívoros, e como o tambaqui pode sobreviver a períodos de baixa concentração de O2. Sua reprodução induzida em diferentes espécies tem sido relatada em diferentes partes da América do Sul. O melhor crescimento foi observado com ração de 35% de proteína, crescendo cerca de 1,0g/dia, com conversão alimentar de 1,4. Um outro experimento interessante mostrou ótimo crescimento com ração com 34% de proteína bruta misturada com a macrófita aquática aguapé Eicchornia crassipes. Os peixes ganharam 97g em 116 dias, correspondendo a uma taxa de 0,8 g/dia (SAINT-PAUL, 1986). A produção dessas espécies em cativeiro é bem menos conhecida, o preço de mercado é baixo e, em geral, são utilizadas em piscicultura consorciada. No Sul-Sudeste, a piscicultura de outras espécies de curimatá é melhor conhecida. A reprodução também precisa ser induzida. A produção de alevinos de matrinchão é complexa, as larvas têm comportamento agressivo e exibem canibalismo. Lima (1994) sugere a piscicultura extensiva de tambaqui e pirarucu em lagos de várzea usando os ribeirinhos como produtores. Essa alternativa é interessante, e vem sendo realizada num projeto conjunto BIRD/ODA/PNUD no rio Ganges em Bangladesh com relativo sucesso (PETRERE, 1994). O problema é que é uma alternativa muito trabalhosa, a logística de semear alevinos é bastante complexa, a mortalidade no transporte é desconhecida, e a comunidade teria de pagar toda a operação, que teria de ter uma taxa de retorno maior que 12% (PETRERE, 1994). A alternativa de coletar as larvas in natura para semear os lagos pode não ser ecológica, e pode ser ineficiente lenta além de se tomar precauções para não poluir o estoque genético selvagem com matrizes homogêneas. A produção de peixes ornamentais em cativeiro pode ser uma atividade muito rentável. Na Amazônia, há muitas espécies com grande potencial para piscicultura que precisam ser melhor estudadas e a tecnologia de produção dominada. Essa área conta com muito pouco recurso humano na região. A Bolívia tem um ambicioso plano de desenvolvimento para a pesca e aquicultura ADEPESCA (1999), para o período 2000-2004. com o apoio da Comunidade Européia, onde 39 para a bacia amazônica pretendem aumentar as capturas de modo sustentado e incrementar a piscicultura. 3.4 Recomendações (PETRERE et al., 1997) a) Políticas Públicas • Divulgar a Aqüacultura Responsável como atividade zootécnica competitiva e apoiada pela Política Nacional de Meio Ambiente. • Definir uma política setorial regionalizada, com a participação de órgãos federais, estaduais, municipais, iniciativa privada e instituições não-governamentais, enfocando os aspectos políticos, institucionais, legais, econômicos, sociais, culturais e ambientais, com o objetivo de orientar e priorizar linhas de apoio fundamentais ao desenvolvimento da aqüacultura. • Promover a revisão e adequação da Legislação Ambiental nos dois países, considerando as particularidades de cada região, redefinindo as competências dos órgãos normativos, de controle e de fiscalização dos recursos naturais em cada estado, de forma a simplificar e agilizar a implantação de projetos aqüícolas. • Estabelecer instrumentos legais que normatizem a aqüacultura no dois países de forma a fazer com que o setor se desenvolva harmonicamente, compatibilizando o uso dos recursos naturais com as demandas da sociedade. • Promover e desenvolver ações que possibilitem o fortalecimento do associativismo de aqüacultores em nível municipal, regional e nacional, buscando a participação efetiva dos produtores de forma a assegurar sua contribuição ao desenvolvimento do Setor Pesqueiro. • Apoiar a realização de um zoneamento das áreas propícias à atividade, de acordo com suas características ambientais, para que os projetos de aqüacultura sejam instalados de modo mais eficiente, levando à criação de Pólos de Desenvolvimento de Aqüacultura como foi descrito no Relatório Parcial, na fronteira Brasil/Bolívia. • Criar um Comitê Consultivo de Aqüacultura por bacia hidrográfica, constituído por órgãos federais, estaduais, municipais, associações, ONG'S, etc. b) Pesquisa e Geração de Tecnologia • Os Centros de Pesquisa em aqüacultura devem dar ênfase às pesquisas de demanda atual sem inviabilizar as pesquisas de demanda potencial, as quais devem ser desenvolvidas em parceria com as universidades. • Definir um núcleo coordenador responsável pela avaliação e acompanhamento dos programas de pesquisa em aqüacultura, visando direcionar os esforços para a solução dos problemas prioritários. • Fortalecer os Centros de Pesquisa nos dois países com o objetivo de: " gerar, adaptar e testar tecnologias de criação de peixes, considerando aspectos relacionados ao manejo, produtividade, custos e impactos ambientais; " coletar, analisar e distribuir informações relevantes ao desenvolvimento da aqüacultura, atuando como difusor de tecnologia e de consulta permanente de produtores rurais; 40 " planejar, programar, coordenar e ministrar treinamento técnico em aqüacultura, promovendo a reciclagem de conhecimentos de técnicos de entidades públicas e privadas. • Propor o desenvolvimento de linhas de pesquisa de interesse comum dentre os dois países, com caráter institucional e multidisciplinar, evitando-se a dualidade de ação. • Promover e apoiar a execução de pesquisas sobre a ação impactante dos diferentes sistemas de cultivo. • Propor que as pesquisas sobre reprodução priorizem as espécies nativas de potencial econômico. • Estabelecer um programa de geração de tecnologia para criação e comercialização de peixes ornamentais. • Estimular o sistema de intercâmbio tecnológico com os principais Centros de Pesquisa e de produção nacionais e internacionais. c) Extensão e Assistência Técnica • • " " " " " • • Estimular e viabilizar a parceria interinstitucional entre os órgãos de pesquisa, extensão e fomento, e o setor privado, visando discutir, encaminhar e buscar soluções relativas aos problemas pertinentes à aqüacultura. Isso significa que as entidades envolvidas com a extensão devem atuar efetivamente, de modo a repassarem a tecnologia desenvolvida nos Centros de Pesquisa aos produtores e que os resultados da aplicação dessas tecnologias retornem aos centros de pesquisas para reavaliações e possíveis redirecionamentos. Priorizar o desenvolvimento de uma assistência técnica aos pequenos e médios produtores envolvendo orientação e apoio à (o): definição e implantação dos empreendimentos; programa operacional do empreendimento; seleção de espécies a serem cultivadas; sistemas de cultivo e manejo das espécies produtivas; comercialização da produção. Elaborar normas regulamentando a produção e comercialização de alevinos, a fim de assegurar a origem e a qualidade dos mesmos. Implantar um programa de coleta de dados, visando o estabelecimento de um sistema de estatística na atividade de aqüacultura, com a finalidade de estimar a produção decorrente da atividade e avaliar a eficiência dos peixamentos. d) Comercialização e Marketing • Realizar pesquisa de mercado, tanto em nível local quanto de exportação, para se saber o que deve ser produzido, quanto e a que custo, visando estabelecer margens de lucro aceitáveis. • Promover e apoiar programas de comercialização e marketing que visem o aumento do consumo de pescado proveniente da aqüacultura. 41 e) Política de Crédito • Definir uma política de crédito, específica para a aqüacultura, com atenção especial ao pequeno e médio produtor, e com base na equivalência - produto e seguro. • Propor incentivos fiscais às empresas que dão suporte ao desenvolvimento da aqüacultura. • Propor a isenção de impostos e taxas, por prazo determinado, nas operações referentes à aquisição de insumos e à importação de equipamentos – não disponíveis no mercado nacional – para modernização da aqüacultura. f) Planos e Programas para a Aqüacultura Responsável • O SINCHI e a SUDAM devem providenciar junto aos ministérios dos dois países, o levantamento de todas as oportunidades de integração da aqüacultura àquelas políticas, planos e programas. " Providenciar o levantamento de todos os projetos executados pelos outros setores, os quais envolvem a atividade de aqüacultura. " Identificar os projetos dos outros setores que potencialmente poderiam incorporar a atividade de aqüacultura e desenvolver mecanismos apropriados de integração da aqüacultura àqueles projetos. • Os órgãos oficiais dos dois países devem realizar gestões junto às unidades de aqüacultura que vendem alevinos ou que realizam peixamento para efetuarem monitoramento do empreendimentos de aqüacultura, visando avaliar a produção e a eficiência do empreendimento. • Os órgãos oficiais dos dois países devem providenciar junto aos agentes financiadores de pesquisas produção, prioridade de financiamento para projetos de aqüacultura considerados relevantes para o desenvolvimento da atividade. • Os pólos de desenvolvimento da aqüacultura devem ser baseados em Brasiléia/Cobija, Guajará Mirim/Guayaramerim conforme sugerido no Relatório Parcial. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHESON, J.M. ; Wilson,J.A. Order out of chaos: the case for parametric fisheries management. 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As poucas informações obtidas foram pontuais, e sendo assim, não dão uma idéia das tendências a longo prazo, que é o modo pelo qual se revelam as pescarias. As iniciativas em piscicultura são escassas e empíricas. Não se nota a presença dos governos sob a forma de extensão e créditos, embora a atividade seja bastante promissora em Guayaramerin/Guajará-Mirim e Cobija/Brasiléia, devido à existência de excedentes vegetais, facilidade de alevinos e estradas asfaltadas do lado brasileiro para se escoar a produção. 2 ROTEIRO DA VIAGEM Data 08/10 11/10 12/10 13/10 17/10 02/12 03/12 04/12 05/12 07/12 08/12 10/12 11/12 14/12 17/12 Origem São Paulo Guajará-Mirim Porto Velho Rio Branco Brasiléia/Cobija São Paulo Cochabamba Trinidad Magdalena San Ramón San Joaquim Costa Marques San Joaquim Trinidad La Paz Destino Guajará-Mirim/Guayaramerin (Bolívia) Porto Velho Rio Branco Brasiléia/Cobija (Bolívia) Rio Branco – Manaus Cochabamba (Bolívia) Trinidad (Bolívia) Magdalena (Bolívia) San Ramón (Bolívia) San Joaquim (Bolívia) Costa Marques (Brasil) San Joaquim Trinidad La Paz São Paulo 51 3 LISTA DE ESPÉCIES TABELA 1: Lista de espécies de pescados mais importantes do Alto Solimões (preparada com a ajuda do Prof. Edwin Agudelo Córdoba do SINCHI) e na Amazônia Boliviana: Nome popular no Brasil Nome popular na Bolívia Nome científico Dourada Dorado ou saltador Brachyplatystoma flavicans Piraíba/filhote Piraíba Brachyplatystoma filamentosum Pirarara General Phractocephalus hemiliopterus Cara de gato, coroatá Platynematichthys notatus Barba-chata Blanquillo Pinirampus pirinampu Babão, melao ou flemoso Goslinia platynema Flamengo ou zebra Brachyplatystoma juruense, Dourada zebra Merodontotus tigrinus Surubim Surubi Pseudoplatystoma fasciatum Caparari Chuncuína Pseudoplatystoma tigrinum Piracatinga Blanquillo Calophysus macropterus Jaú ou pacamon Muturu Paulicea lutkeni Peixe-lenha Paleta Sorubimichthys planiceps Piramutaba Brachyplatystoma vaillantii Tambaqui Pacu Colossoma macropomum Matrinchã Jatuarana Brycon sp Pirapitinga Tambaqui Piaractus brachypomus Curimatá Sábalo Prochilodus nigricans 4 GUAJARÁ-MIRIM (RO) – 09/10/00 4.1 Descrição da pesca na microregião ENTREVISTADA: Sra. Gerônima Melo da Costa – Presidenta da Colônia Z-2 de GuajaráMirim Relato: Organização social: a Colônia de Pescadores Z-2 possui sede própria com mercado de pescado e fábrica de gelo a ser montada objetivando produzir 5 t/dia. Embarcações: há cerca de 20 barcos-motor com 35 HP (+/- 1000 kg) e cerca de 50 canoas com rabeta. Número de pescadores por barco: em geral 2 pescadores. Os maiores levam de 5 a 6 pescadores. Pescado: não havia jaraqui Semaprochilodus spp nem pirarucu na região. Agora ocorrem devido a introdução de jaraqui e a 1 tanque de piscicultura que estourou e liberou o pirarucu. Petrechos: malhadeira de lance (60-100m), malhadeira usada em baías (água parada) e em lagos, medindo 50m, com malha de 12 cm entre nós opostos. Tempo de pesca: barcos grandes, cerca de 30 dias e barcos menores de 5 a 7 dias. Conservação do pescado: caixas isotérmicas feitas com isopor, zinco e madeira. Não há empresas de beneficiamento de pescado na cidade. A conservação se dá através de freezer. Há 52 dois tipos de barra de gelo: de 25 kg que é produzida em Guajará-Mirim e vendida a R$ 3,00; de 50 kg que vem de Porto Velho e é vendida a R$ 5,00 (preço que o atravessador vende ao pescador). Os empresários preferem trazer o gelo de Porto Velho (335 km), pois levam o pescado para vender e trazem o gelo enrolado em lona e papelão nos caminhões. Desembarque: é controlado pela Colônia. O local possui uma rampa de concreto. A média é de 60 t/mês. De junho a outubro a produção é de cerca de 80 t/mês. Na entressafra, de março a maio, a produção é de cerca de 30 t/mês, quando ocorre venda de pescado produzido em cativeiro. Comercialização: 50% mercado interno e 50% exportado para Porto Velho, Rio Branco e sudeste do Brasil. Intermediários: há duas empresas de pescado: a do Sr. Valeriano Gomes de Oliveira e a do Sr. Carlos Chaves Montesis, que juntos compram cerca de 90 t/mês, empregando pescadores com barcos de 3 a 4 t. Não comercializam pescado com a Bolívia. O dono do barco fica com metade da produção e a outra metade é dividida entre os outros pescadores em partes iguais. Condições gerais: não existe linha de crédito, orientação técnica para a atividade pesqueira e nem assistência social aos familiares. Cento e cinquenta pescadores recebem seguro desemprego na época do defeso. Oitenta por cento do tempo dos pescadores é destinado à pesca, recorrendo a pequenos serviços sazonalmente. A renda familiar é menor que 1 salário mínimo e a maioria é alfabetizada. Problemas/soluções: • Há uma proibição total de venda de pescado boliviano no Brasil. O que é vendido é contrabandeado. Assim, a Sra. Gerônima gostaria que voltasse a ter livre comércio como antes. • Gostaria que o pescador fosse ensinado a criar pescado em tanques rede, nos remansos dos rios. • Cursos para processar o pescado, para dar emprego a seus filhos. • É pessimista em relação à créditos oficiais. • Reclama dos pescadores esportivos da cidade que são descuidados e que têm bons equipamentos fazendo bateção e arrastão, provocando depleção local nos pesqueiros, prejudicando temporariamente a atividade do pescador profissional. • A Prefeitura de Guajará-Mirim vai instalar uma câmara fria com capacidade de 2 t, numa sala já existente. ENTREVISTADO: Sr. Jesus Mejia Pereira – Tesoureiro da Colônia Z-2 de Guajará-Mirim Relato: Número de pescadores colonizados: 320. Valor pago à colônia: R$ 3,00/mês. Número de pescadores na região: cerca de 500. Locais de pesca: a pesca se dá mais acima de Guajará-Mirim porque abaixo há muitas cachoeiras. Além disso, há muitas áreas proibidas devido às reservas indígenas, localizadas 4 h rio acima de barco. Pescados: curimatá, tucunaré, tambaqui, pintado, dourada, filhote, piraíba. TABELA 2: Preço de compra e venda do pescado (R$) em Guajará-Mirim em outubro de 2000. 53 Pescado Curimatá Tucunaré Tambaqui Pintado Dourada Filhote Piraíba Compra 1,00 1,50 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 Venda 2,00 2,00 3,00 3,00 3,00 3,00 3,00 Obs: * Os preços não variam muito durante o ano. * Os tambaquis são grandes, há 10 anos atrás chegavam a 60 kg. Petrechos: o principal aparelho de captura é a malhadeira de 12 cm (nós opostos) e rede de lance (redinha). Os bagres são capturados principalmente através de linhada com anzóis grandes, iscados com pescado (principalmente curimatá). Barcos: motor de rabeta de 6HP. Desembarque: ocorre do dia todo no mercado de pescado da Colônia “in natura”. Exportação: boa parte do pescado é enviado por caminhão para Porto Velho e Rio Branco. Intermediários: cerca de 6, quase todos os pescadores vendem seu produto para intermediários. Problemas: • excesso de fiscalização devido às reservas indígenas; • polícia boliviana não deixa pescar em seu território. 4.2 Descrição da aqüicultura na microregião ENTREVISTADO: Sr. Mario Pivaro Filho – Gerente da EMATER Relato: Número de produtores cadastrados: 2 com produção incipiente e são resistentes à tecnologia Características dos produtores: pecuaristas, com nível primário Pescado cultivado: tambaqui (preço de vendo do produtor: R$ 2,50/kg e preço de vendo ao consumidor: R$ 3,00/kg) Tanque: 2000 a 3000 m2 Qualidade da água: boa, mas exige calagem e adubação Procedência dos alevinos: Porto Velho e Rolim de Moura, transportados por caminhonete, ao custo de R$ 60,00/milheiro Local de comercialização: Porto Velho Ração: balanceada para galinha, comprada a R$1,00/kg Orientação técnica: EMATER Conservação do pescado: “in natura” com gelo Problemas: alto custo de produção e falta de tradição Crédito: BASA/FNO ENTREVISTADO: Sr. Antônio Nogueira – Piscicultor 54 Relato: Número atual de tanques: dois tanques de 30x80m. Projeto de tanques: três de 30x100m. Ração: produz sua própria ração composta por: farinha de carne e osso, farelo de soja, farelo de trigo, cuim (pó) de arroz e milho moído. Peletiza em máquina manual de moer carne. Problemas: • Nenhum piscicultor até agora teve sucesso. • Os pescados produzidos em cativeiro são vendidos no mercado de Guajará-Mirim, vêm de criadouros situados à beira da estrada BR 364, antes de Porto Velho. 4.3 Comerciantes atacadistas e varejistas de pescado ENTREVISTADO: Sr. Valeriano Gomes de Oliveira – Atravessador de pescado Relato: Estimativa de produção: 15 – 20 t/ano (obs.: na minha opinião não é verdade, deve ser muito mais) Petrechos: rede de espera, rede de lance, tarrafa e espinhel Embarcações: possui 6 barcos e compra de quem oferece. Pescado: Curimatá (80%), tambaqui, tucunaré e pacú Conservação: por gelo, em barra. Gostaria de industrializar o pescado mas não tem dinheiro para investimento. Comercialização: 30% no mercado interno e 70% exportado para Porto Velho e Rio Branco. Transporta o pescado em caminhão. Quando sobra pescado no mercado local, exporta. Financiamento: obteve do Banco do Brasil, emprestando R$ 25.000,00 Suporte técnico para pesca: não existe Observações: • Sugere que se diminuam as reservas proibidas à pesca, o que tem levado a conflitos entre pescadores de cidades diferentes; • Melhoria das condições de conservação e agregação de valor do pescado vendido em postas, filetado, etc. • Como o pescado proveniente da Bolívia é contrabandeado, não paga imposto e isto atrapalha seu negócio que é legalizado. ENTREVISTADO: Sra. Roxana Juarez – Atravessadora de pescado Relato: Negou-se a falar com o pesquisador. Exporta pescado sob a forma de filé de GuajaráMirim para um comprador de São Paulo, legalmente. 4.4 Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura ENTREVISTADO: Sr. José de Souza Barros – representante do IBAMA de Guajará-Mirim Relato: O pescado mais importante na região é o tambaqui. A maioria do pescado é exportada para Porto Velho e Rio Branco, conservado em gelo. O transporte é feito através de caminhão. Como ocorre sobra de pescado na região, deve-se industrializar o pescado para controlar o mercado, melhorando o aproveitamento. Deve-se fomentar a produção de ração. Não existe limitação do 55 esforço de pesca, apenas a proibição para tamanho mínimo e proibição de aparelhos (arpão, pistola – arpão com mola). Acredita que é necessária a identificação das embarcações brasileiras e bolivianas, especificando a função de cada uma para evitar apreensões desnecessárias. Há exportação livre de pescado para a Bolívia, mas controlada pelo IBAMA e Colônia de Pescadores. A colônia Z-2 de Guajará-Mirim tem um pequeno mercado de pescado, com 4 vendedores, que o comercializam “in natura”. O pescado é de excelente qualidade. Não parece ser costume por parte dos vendedores das bancas limpar o pescado antes de vender. Época de defeso: 01/11 – 28/02, para todas as espécies com poucas exceções como a piraíba. 5 GUAYARAMERIN (BOLÍVIA) – 10/10/00 5.1 Descrição da pesca na microregião ENTREVISTADO: Sr. Carmelo de La Barra – Diretor da Unidade de Pesca – Centro Pesqueiro de Guayaramerim Relato: Piscicultura: inexistente no Município Pescadores: há 15 pescadores cadastrados pagando 0,20 centavos de Bs/kg de pescado desembarcado. Existem 5 pescadores sem legalização. O tempo dedicado à pesca é integral. Existe parceria com compradores brasileiros, onde 50% da produção fica com o dono do barco e o restante é dividido em partes iguais entre os pescadores. A renda familiar é cerca de 2000 Bs/mês. O nível de escolaridade é apenas de leitura. Pesca: viagens com duração em média de 15 dias com capturas de 1000kg/pescador/viagem onde os principais equipamentos utilizados são a rede de espera, a tarrafa e o espinhel. Existem 15 embarcações onde 5 são canoas com rabeta e barcos a diesel com motor de 18 HP. As redes são menores que 100 m (70-80 m) com malhas de 16 cm (nós opostos). Conservação do pescado: gelo em barra de 20kg que custa 10 Bs, o gelo comprado no Brasil é mais barato. A produção de gelo é local e de iniciativa privada. Há pequena exportação de pescado salgado para as minas. O pescado é vendido salgado devido a dificuldade de transporte. Desembarque: o desembarque ocorre em rampa de cimento em boas condições de conservação. Pescado: pirarucu, tambaqui e surubim Beneficiamento: existe uma empresa que realiza o filetamento do pescado, a da Sra. Roxana Juarez, que o exporta para o Brasil. Comercialização: 60% do pescado é exportado para o Brasil e 40% se destina ao mercado interno. Existem 5 comerciantes atacadistas e 1 que atua no mercado externo. Os pescadores vendem para o mercado local de Guajará-Mirim para os senhores Valeriano, Carlito e Jesus. Todo o trâmite é feito legalmente pelo lado boliviano. Observações: o período de defeso vai de novembro a fevereiro. Durante esta época só se pode pescar para consumo próprio. Os pescadores bolivianos não recebem nenhuma ajuda do governo. Não há defeso para o pirarucu no Beni e Madre de Dios. No Mamoré não há pirarucu. O Sr. Carmelo tem interesse em organizar um pequeno mercado de pescado, com câmara fria e talvez uma fileteadora para agregar valor ao pescado. 56 Nas TABELAS 2, 3 e 4 estão mostrados os desembarques por espécie para os anos de 1997/98. Note que a maioria do pescado desembarcado é de escama. Parece não haver consumo de peixe de couro em Guayaramerin. 57 Pescado Pacu (Tambaqui) Surubim Pirapitinga Sábalo (Curimatá) Corvina Jatuarana Piranha Total jan 0 0 0 330 0 0 100 430 TABELA 3: Desembarque de pescado (kg) na Província de Mamoré em Gayaramerin no ano de 1997. fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez total 600 2100 6650 19600 11000 4100 3100 3500 1950 1300 500 54400 0 0 350 2550 300 400 0 0 200 0 0 3800 0 0 500 1500 3700 1600 0 0 0 0 0 7300 100 0 0 0 0 0 0 0 0 200 0 630 0 0 0 0 0 200 0 0 0 0 0 200 0 0 0 0 0 0 0 0 100 0 0 100 100 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 200 800 2100 7500 23650 15000 6300 3100 3500 2250 1500 500 66630 TABELA 4: Destino do pescado (kg) na Província de Mamoré em Guayaramerin no ano de 1997. pescado local exportação total Pacu (Tambaqui) 7250 47150 54400 Surubim 0 3800 3800 Pirapitinga 100 7200 7300 Sábalo (Curimatá) 430 200 630 Corvina (Pescada) 200 0 200 Jatuarana 0 100 100 Piranha 200 0 200 Total 8180 58450 66630 pescado Pacu (Tambaqui) Surubim Pirapitinga Sábalo (Curimatá) Tucunaré Piranha Paleta Piraíba Outros Total TABELA 5: Desembarque de pescado (kg) na Província de Mamoré em Guayaramerin no ano de 1998. jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez 1800 1950 8500 6000 6450 4590 5850 2350 2800 6000 1950 2190 0 300 0 300 0 50 300 300 190 150 100 0 0 0 0 700 1000 1000 500 0 0 150 0 0 0 0 200 2100 0 0 1800 1500 1300 2000 300 0 0 0 200 0 0 800 0 0 0 0 0 0 0 0 700 0 0 400 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 200 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 150 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 250 0 0 1800 2250 9600 9100 7450 6840 8650 4150 4440 8550 2350 2190 total 50430 1690 3350 9200 1000 1100 200 150 250 67370 58 6 BRASILÉIA (AC) – 13 a 17/10/00 6.1 Descrição da aqüicultura na microregião ENTREVISTADO: Sr. Francisco Alves Pereira – ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e Epitaciolândia. Relato: Projetos de piscicultura: as primeiras experiências se inicaram em 1996, através do PDA (Projetos Demonstrativos para a Amazônia – PPG7 – Banco Mundial). Quantidade de tanques: 16 tanques, espalhados em diferentes localidades do Município de Brasiléia e Epitaciolândia. Tamanho: área varia de 0,5 a 2 ha. Procedência dos alevinos, larvas e ração: Rio Branco. Alevinos com mortalidade de 30 a 50% no transporte, porque a estrada não era asfaltada, na época. Larvas têm mortalidade de 100%, assim, não são mais compradas. Compram ração própria para pescado, porém, o veículo, uma Toyota era insuficiente para atender a todos os cooperados. Condições nos tanques: mortalidade alta com baixa produção pesqueira. Na época das chuvas os tanques de alevinos arrebentaram ocasionando grande prejuízo. Pescado: curimatá, tambaqui e tilápia. Custo: R$ 40,00 o milheiro de larvas e R$ 80,00 de alevinos. Resultados: a maioria dos tanques produziu pescado para venda. Comercialização: o pescado foi vendido no mercado local e em Rio Branco, para onde foram levados de caminhão e vendidos “in natura”. Suporte técnico: foi dado pelo CTA. Observações: o entrevistado considera a iniciativa promissora, pois é uma boa opção levando-se em conta a proibição do desmatamento. ENTREVISTADO: Francisco Coelho do Nascimento – Técnico agrícola do EMATER. Relato: Projeto de piscicultura: nenhum projeto pelo EMATER implantado. Situação atual: fase de planejamento. Pescado: tambaqui e curimatá. Financiamento: BASA. ENTREVISTADO: Mauri Jairo Petter – Coordenador da CAPEB. Relato: Associados: 730. Tanques: cerca de 70 – 100 propriedades, totalizando 35 a 50 ha, em tanques pequenos de 0,5 ha. Piscicultura: cerca de 20% estão produzindo pescado e tendo lucro. Suporte técnico: IBAMA, porém precário. Alevinos: procedentes de Rio Branco, com alta mortalidade. Por isso, os produtores querem organizar produção local. Ração: maioria faz sua própria ração usando restos vegetais, milho, etc. Condições ambientais: não falta água no verão, porém, não se tem idéia sobre sua qualidade. O senhor Mauri tem alguns tanques: Produtividade: em média 7,5 t/ha/ano (o dobro de seus colegas). 59 Considerações: o consultor junto com o Sr. Mauri fizeram a simulação de uma planilha de custos, baseada em sua experiência Planilha simplificada de custos: sem considerar o custo da construção do tanque: Item Valor estimado (R$) 1. 8000 alevinos 500,00 2. Ração inicial para alevinos 400,00 3. 100 sacos de milho 1.100,00 4. Restos de castanha do Pará 700,00 5. Farinha, feijão, etc. 400,00 6. Manutenção 1.000,00 7. Salário do empregado (1/2 salário mínimo mais 5% da 900,00 venda do pescado) Total de investimento inicial 5.000,00 Supondo-se uma produção de 8.000 kg com um valor de R$ 3,00/kg Item 1. Rendimento bruto 2. Transporte 3. Tratador (5%) 4. Investimento inicial Lucro (por ha) Valor estimado (R$) 24.000,00 - 500,00 - 1.200,00 - 5.000,00 R$ 17.300,00 Esse lucro na região seria de grande impacto social na vida dos pequenos agricultores, mostrando o potencial da piscicultura em Brasiléia. 6.2 Comerciantes atacadistas e varejistas de pescado ENTREVISTADO: Sr. João Santiago Barbosa – atravessador de pescado. Relato: Condições do rio Acre: pobre em peixes. Motivos: o rio é raso, vaza muito rápido e é encaixado, não tem lagos na região. Pescados: jundiá (jaú), curimatá e mandi, afirma que no rio Acre nunca teve tambaqui. Tempo de serviço: 14 anos. Comércio: compra pescado da Bolívia, principalmente capturados no rio Tauamani. Vende cerca de 500 kg/mês. Também compra e vende pescado proveniente de piscicultura, principalmente curimatá e tambaqui, que têm boa aceitação no mercado. Pescado proveniente da Bolívia: jundiá (jaú), curimatá, pirapitinga, tambaqui, pacu, matrinchã, jatuarana. 60 TABELA 6: Preço de compra e venda do pescado (R$) pelo Sr. João em Brasiléia em outubro de 2000. Pescado Compra Venda Curimatá 2,30 3,00 Jundiá (jaú) 2,30 3,00 Tambaqui 2,30 3,50 Pirapitinga 2,30 3,50 Matrinchã 2,30 3,50 Condições: o pescado vem conservado em gelo, é armazenado no freezer e comercializado acondicionado em gelo através de um carrinho de mão. Fábrica de gelo: há uma pequena fábrica de gelo em Brasiléia. Preço: R$ 2,00 a barra de 10 kg. Na Bolívia é mais caro, são R$ 3,00 a barra de 10 kg. Consumo de pescado: há 14 anos os bolivianos não consumiam tanto pescado como atualmente, principalmente em Cobija. Impostos: o Brasil cobra 13% de imposto sobre a venda, o que estimula a sonegação e o contrabando. A aduana brasileira, mesmo com a fiscalização de veterinários brasileiros, está deixando passar pescado para o Brasil. 6.3 Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura ENTREVISTADO: Sr. Antônio Rodrigues Kador – Chefe do Posto do IBAMA de Brasiléia. Relato: Condições do rio: pobre em peixes devido ao uso de redes que tapam o rio em Boca do Acre (AM). Pescadores: não há pescadores profissionais (não há Colônia de Pescadores), apenas pescadores de subsistência que vendem o excedente. Cardumes: cardumes de mandis. Conservação do pescado: uma fábrica de gelo abastece os pescadores esportivos. Procedência do pescado: pescado proveniente da Bolívia passa por Epitaciolândia e vai para Rio Branco. Fiscalização: os pescadores eventuais não têm registro no IBAMA. Na época da piracema o IBAMA faz um trabalho de fiscalização para coibir a pesca de cardumes. A fiscalização, portanto, é mais de conscientização. ENTREVISTADO: Sr. Alberto Maia – Posto do IBAMA de Brasiléia. Relato: Condições do rio: confirma que é pobre em peixes devido ao uso de redes que tapam o rio Acre em Boca do Acre (AM), também considera importante a ausência de lagos de várzea. Obs.: Brasiléia fica a cerca de 400 km das cabeceiras do rio Acre. Pescadores: cerca de 25 a 30 pescadores eventuais em Brasiléia, poucos pescadores pescam para comercialização, pescam mais nos feriados e final de semana (pesca esportiva). Petrechos: tarrafa e linhada para pescar bagres. Pescado: jundiá (jaú) amarelo, surubim e caparari. Poucos peixes de escama como curimatá, piau, peixe cachorro, matrinchã e pacu. Embarcação: canoas de madeira com rabeta. ENTREVISTADO: Paulo Roberto Lacerda Grain – inspetor da Receita Federal de Brasiléia. 61 Relato: Importação de pescado: o Ministério da Agricultura vistoria o pescado e se estiver em boas condições emite a Declaração de Importação (DI). Impostos: não existe a cobrança de nenhum imposto sobre o pescado ou alevino exportado ou importado. ENTREVISTADO: Aldeson dos Reis – Gerente Geral do BASA. Relato: Projetos de piscicultura: nunca financiou pois nunca foi apresentado nenhum projeto oficialmente, embora a linha de crédito exista. 7. COBIJA (BOLÍVIA) – 16 e 17/10/00 7.1 Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura ENTREVISTADO: Mauricio Elias Ali – consultor em meio ambiente da Prefeitura de Cobija. Relato: Pesca no rio Acre: confirma a não ocorrência de pesca nas cercanias de Cobija, pois o rio está muito batido. Procedência do pescado: rio Tauamani. Projetos de piscicultura: não há, embora haja de 7 a 10 técnicos capacitados a fornecer suporte técnico. Necessidade: financiamento. ENTREVISTADO: Fernando Castillo – sub-administrador da Aduana da fronteira de Cobija. Relato: Exportação de pescado: é necessário preencher uma “Declaracion Aduanera de Exportacion”, uma guia prévia de sanidade e obter uma autorização tanto para a pesca como para a exportação. Impostos: Valor Taxa Até U$ 10.000,00 2% Maior que U$ 10.000,00 1% ENTREVISTADO: Ronant Natush R. - Gerente Regional da Cooperativa Jesus de Nazareno de Cobija. Relato: Financiamento: não há linha específica de crédito para piscicultura e pesca. Condições para financiamento: se um proprietário de terra apresentar um projeto viável o crédito poderá ser concedido. Porém, eles não tem um “staff” competente e treinado para julgálo. Condições de financiamento: a taxa de juros seria comercial, com fundo do governo e os juros seriam mais baixos. Observações: a sede da Cooperativa é em Santa Cruz e na Bolívia não há bancos estatais. 62 8 MAGDALENA (2000 habitantes) 04/12/00 ENTREVISTADO: Sr. Rubens Maurizio Jimenez (Gaúcho) Relato: Este senhor tem uma pequena fábrica de gelo produzindo 10 barras (de 12 kg) por dia, cada uma vendida a 12 Bs (1U$ = 6,35 Bs). Todo o gelo é vendido apenas na cidade para consumo doméstico pois não há pescadores nem tanques de piscicultura no Município. O rio Itonomas é de água preta e segundo ele, acima de Magdalena há muitos lagos para se pescar; os mais conhecidos são o lago São Paulo e São Luís. Diz que o Município não tem tradição pesqueira devido à pecuária, principalmente de corte. Na região não há excedentes vegetais e pouca agricultura de subsistência. Os pescados que conhece são o tambaqui, localmente conhecido como pacu, Colossoma macropomum, a pirapitinga, localmente conhecida como tambaqui Piaractus brachypomum, a traíra ou benton Hoplias malabaricus ENTREVISTADO: Sra. Deliflor Soares de Chavez – Presidente de la Honorable Consejo Municipal de Magdalena Relato: No Município não há nenhum extensionista, nem de pesca ou de aquicultura. Mesmo não existindo pescadores no Município, (Por mais estranho que pareça!) a pesca está proibida de outubro a janeiro, com o propósito de proteger a desova. A renda do Município provém da criação de gado, agricultura e empregos públicos. Na época da safra em Bella Vista, distrito de Magdalena, há pescadores que enviam pescado para ser vendido em Magdalena. Em Bella Vista a pesca é praticada com muitas restrições, não se permitindo a entrada de pescadores forasteiros. A região tem forte vocação para criação de gado. Quando vim de avião de Trinidad observei poucos riachos, o solo é pobre, a drenagem não é boa, tudo se encharca na época das chuvas. As estradas são péssimas, intransitáveis, mesmo por motocicleta. Depois de entrevistar a Sra. Deliflor, ainda tentei localizar pescadores mas não encontrei nenhum. Não consegui transporte para Bella Vista, pois não há serviço regular de ônibus na região e além disso estava chovendo muito. 9 SAN RAMÓN (BOLÍVIA - 2000 habitantes) - 06/12/00 Fui de Magdalena à San Ramón de motocicleta sob muita chuva. Levamos cerca de 7 horas para percorrer 100 km. Só chegamos devido à experiência do piloto que conhecia alguns atalhos alternativos nos trechos piores. Em alguns momentos tivemos que caminhar empurrando a motocicleta que afundava na lama sob nosso peso. ENTREVISTADO: Sr. Henry Wunder Roman – Pescador profissional Relato: Há dez anos é pescador profissional, praticando a pesca nos rios Machupo (que passa pelo Município), Branco e San Martin. De acordo com ele, há apenas três pescadores profissionais em San Ramón. Ele pesca com rede de espera estacionária ou de deriva. Tem um total de 420 m de rede, que ele mesmo confecciona. Suas alturas variam de 3 a 4,5 m com malhas entre nós opostos (rombo) de 18,20 e 22 cm para capturar o surubim Pseudoplatystoma fasciatum, o pacu Colossoma macropomum 63 (que atinge até 13 kg), o general (Pirarara) Phractocephalus hemiliopterus. A rede de deriva é usada principalemente na pesca do pacu. Quase não usa linha e anzol, porque não há tempo, pois tem que cuidar das redes continuamente. Não há dourada no rio Machuco. Em San Ramón não tem fábrica de gelo, usa gelo fabricado em seu freezer, que tem duração máxima de três dias. Os melhores meses para pesca são os do período da desova (dezembro a fevereiro), quando a água sobe e os cardumes procuram o leito do rio principal. Segundo ele, o rio mais piscoso é o San Martin, onde é possível capturar até 800 kg de pescado numa única noite. Ele pesca escondido porque nos rios San Martin e Branco a pesca profissional é permanentemente proibida e por isso há poucos pescadores.No rio Machupo não há restrições. As principais espécies que ocorrem nos rio Machupo, San Martin e Branco são o pacu, o surubim a dourada (que, segundo ele, não ocorre no rio Machupo), a piraíba, o tucunaré, a corvina Plagioscion squamosissimus e a palometa (piranha) Serrasalmus spp. Todas as espécies são vendidas por 6 bolivianos/kg. Em San Ramón não há intermediários, a venda é direta ao consumidor. Embora não haja tradição pesqueira na região tudo que captura vende. No momento sua captura é de 80 kg/pescaria, baseada em pacu e surubim. Só pesca no máximo 2 dias por falta de gelo. Quando a água do rio está muito baixa vai de moto, carro de boi (importante meio de transporte na região), pescar em lagos. O excedente do pescado que porventura não consegue vender no mercado local, envia em caixas isotérmicas de 50 kg para Trinidad (paga 1,50 bolivianos/kg de frete). Sua sogra vai buscar a encomenda no aeroporto de Trinidad, onde o preço é o dobro de San Ramón. Relata que nos três rios há muita piranha e que atacam preferencialmente o surubim quando emalhado. Antes de ser pescador, como os outros dois colegas, era bioadeiro e aprendeu a pescar com um brasileiro. O rio Machupo é de água preta, mas na época da seca (agosto a outubro) sua água fica turva. ENTREVISTADO: Sra. Vânia Leire – Prefeita de San Ramón Relato: Ela informou que não há nenhum criador de peixe no Município. Porém, há um projeto chamado “Apoyo à la Produción Piscicola – PDCR 2 – Proyeto de Inversion Rural Participativa” a ser financiado pelo “Fundo de Desarollo Campesino” da Provincia de Beni. Diz que há dez pessoas interessadas, mas até agora não receberam nenhuma extensão. ENTREVISTADO: Sr. Eimar (Dick) Chavez – Pescador profissional Relato: Pescador há 15 anos, utiliza rede de espera, sem chumbo, em remansos dos rios. Prefere pescar em riachos do rio Machupo que não secam no verão, principalmente no arroyo de San Antônio. Captura pacu, surubim, piranha, pirapitinga. Não pesca bagres porque o mercado local não os consome. Afirmou que há poucos pescadores devido à falta de tradição e também porque as redes custam muito caro, embora afirme que dá para se sobreviver pescando apenas com linha e anzol. Para ele, os melhores meses para pescar são fevereiro e março quando as águas estão baixando. Diz que o pescado é muito abundante na região, principalmente o pacu que no rio Machupo atinge de 10-12 kg. Relatou que no lago Yualay, de água branca, há tambaquis até de 40 kg. 64 O preço de todos os pescados em San Ramón é de 6 bolivianos/kg. Na época da seca quando as estradas estão transitáveis, encomenda gelo por caminhão, de Trinidad, para conservar o pescado, pois não há mercado local para o pescado conservado em freezer. Pretende comprar uma caminhonete com caixa de gelo para levar o pescado até Santa Cruz onde o quilo de surubim atinge até 19 bolivianos. Se houvesse aviões direto de San Ramón para Santa Cruz enviaria toda a sua produção para lá. Pretende também comprar uma motor de 2 – 4 HP (U$ 600). Tem suas próprias redes cujas malhas variam de 18 – 22 cm. Ao contrário do Sr. Henry, afirmou que há dourada no rio Machupo. Também há piraíba e pirarara, porém em pequena quantidade. Não conhece jau Paulicea luetkni, peixe-lenha Surubimichthys planiceps, douradazebra Merodontodus tigrinus, coroatá Platynematichthys notatus, zebra Brachyplatystoma juruense quando lhe mostrei as fotos desses peixes. Embora não possa pescar muito pela falta de gelo, pode capturar até 70 pacus numa única noite. Quase não pesca em lagos, porque a pesca no rio é suficiente. Calcula que há dez pescadores em San Ramón, e não há associação. 10 SAN JOAQUIM (BOLÍVIA - 2000 habitantes) – 07 e 08/12/00 ENTREVISTADO: Sr. Adolfo von Boeck – Pescador aposentado Relato: Segundo seu relato, aqui quase não se pesca no rio Machupo (que também passa por San Joaquim); a pesca se dá nos vários lagos da região. Nos rio pescam dourada com malhadeiras de malha de 18 cm para exportar para Costa Marques, no Brasil. Dos bagres que lhe mostrei as fotos conhece a dourada, o barba-chata (conhecido localmente como Blanquillo grande), a piraíba, o surubim, o caparari (pintado), o babão Goslinia platynema (muito raro), o peixe-lenha, a pirarara (coronel ou general) e o jaú. Não reconheceu a zebra, o coroatá e a dourada-zebra. Também há pescaria com anzóis para capturar surubim usando sardinha como isca. Estranhamente, afirma que nos rios há mais peixes que nos lagos. Como sempre ocorre, os pescadores consomem os pescados menores e vendem os maiores. Aqui o pescado é mais barato que em San Ramón, em torno de 4 – 5 bolivianos/kg. A pesca é mais intensa na época da seca quando a estrada é transitável; vêm intermediários de Trinidad com gelo e levam pescado, deixando parte do gelo. O senhor Adolfo estima que há cerca de 10 pescadores em San Joaquim, alegando que há poucos compradores e a pesca é muito abundante. Cerca cardumes inteiros de pacus, usando rede de espera emendadas umas às outras. Essas redes têm comprimento variável de 20/80 m, com 2 m de altura com malhas de 22 cm. Às vezes, fazem pesca de bateção. Boa parte do pescado é consumido localmente. Parte do pescado capturado também é mandado por rio para Trinidad e Guayaramerin. As pescarias mais abundantes se dão na época em que a água está baixando ao redor de setembro, que é o pico da seca. O pico da cheia se dá em fevereiro. Confirma que os bolivianos do Beni não consomem bagres, preferindo pescado de escama. Nas cidades maiores como Santa Cruz há consumo de bagres, com preferência dos exemplares maiores. Informa que não pesca muito no rio Machupo, preferindo a pesca em lagos (da bacia do Mamoré) e no rio Mamoré (distante cerca de 50 km) porque lá, a pesca é mais abundante e os exemplares são maiores. Lá a pesca se dá mais na subida e na baixada das águas. O pescado mais abundante é o pacu, seguido da pirapitinga (batuquero ou pacu colorado) e surubim. 65 ENTREVISTADO: Sr. Wilfredo Soleto – Pescador profissional e comerciante Relato: É proprietário de um pequeno açougue administrado por sua esposa. Possui um freezer para conservar o pescado. O sr. Wilfredo sempre foi pescador profissional. Prefere pescar só nos lagos do rio Mamoré, onde afirmou haver mais peixes. Não pesca no rio Machupo, porque acha que é muito explorado. Captura pacu, pirapitinga, surubim, piranha, etc... usando redes. Tudo que pesca, consegue vender. Nesta época devido ao defeso, só abastece o mercado local, não exportando pescado para Trinidad. Usa malhadeiras com malhas de 16 e 20 cm. Todos os pescados são vendidos a 5 bolivianos/kg. Só pesca durante dois dias devido a escassez de gelo, que é fabricado em freezer. Calcula que há apenas 6 pescadores em San Joaquim. ENTREVISTADO: Sr. Francisco Guimarães – Pescador e lavrador Relato: Brasileiro, nascido em Santarém, vive na Bolívia há 8 anos e desde então pesca com malhadeiras, principalmente no lago Oceano, que é muito grande drenando para o Mamoré e é muito piscoso. Não pesca no rio Mamoré porque lá há muitos pescadores que capturam muitos bagres. Afirma que os maiores pacus ocorrem no rio Mamoré e Itenez (Guaporé) atingindo até 40 kg. Os pacus dos lagos são menores de 10-15 kg. Afirma que há muitos lagos e poucos pescadores. Na última pescaria, em um único dia, juntamente com 3 colegas, capturou 400 kg de pirapitinga. Usaram malhadeira de 70 m de comprimento cada uma, altura de 5 m, malha de 18 cm. Esta pescaria ocorreu no lago Oceano. Diz que os bolivianos não gostam de tucunaré e curimatá, assim, ninguém os captura. Diz que na região não há pirarucu, jaraqui nem piramutaba. Imagina que isso se deve às inúmeras cachoeiras do rio Madeira. Confirma que as melhores épocas para se pescar são na subida (dezembro) e descida (maio) das águas. O pescado com mais aceitação é a piranha caju e branca. A piranha preta é rara. Observação Pelo relato desses dois pescadores pode ser notado, que os últimos tambaquis grandes da Amazônia estão na região do Beni, devido a quase ausência de pesca, por falta de tradição pesqueira e baixíssima densidade demográfica. 11 COSTA MARQUES (RO) - 09/12/00 ENTREVISTADO: Sr. Júlio Freitas – Presidente da Colônia de Pescadores Z-4 de Costa Marques Relato: A Colônia tem sede própria e está construindo um terminal pesqueiro com uma câmara fria de 40t. Possui uma fábrica de gelo em escama produzindo 1 t/ dia. O gelo é vendido em caixas de 22 kg/R$ 2,00. Na beira do rio a Colônia possui um pequeno mercado onde os próprios pescadores vendem seu pescado. No momento a Colônia possui apenas 80 associados, e ainda assim menos de 20 pagam a mensalidade de R$ 2,00/mês. Além disso, há cerca de 20 pescadores clandestinos totalizando, portanto, 100 pescadores ativos, no Município de cerca de 16.000 habitantes. 66 O consumo local de pescado é alto e boa parte da população vai até o rio pescar, que segundo o Sr. Júlio é muito abundante. Ainda assim, há importação livre de imposto, de pescado da Bolívia. O excedente é exportado para o interior do Estado de Rondônia pela BR-429, que não é asfaltada. O pescado mais importante é o tambaqui, seguida da priapitinga e do tucunaré. Os bagres não são consumidos localmente, são todos exportados. O peso do tambaqui (pacu para os bolivianos) varia de 5 – 20 kg. Atualmente há o defeso para proteger a desova de 1º de dezembro a 28 de fevereiro, embora cada pescador possa pescar até 5 kg para consumo próprio, conforme pode ser visto na Minuta da Portaria de Defeso – IBAMA/RO, reproduzida a seguir: “MINUTA DA PORTARIA DE DEFESO” Fixar o período do DEFESO de reprodução de 01 de dezembro de 2000 a 28 de fevereiro do ano 2.001, em todo o Estado de Rondônia. Art. 2º É permitida a pesca de subsistência, nos limites de 05 (cinco quilogramas) para cada pescador, utilizando os seguintes apetrechos ou artes de pesca: linha de mão; caniço simples; vara com molinete, carretilha. Parágrafo único: Serão observados dispositivos do Art. 3º desta Portaria. Art. 3º Proibir a pesca de todas espécies ictiícas do Estado de Rondônia, exceto as abaixo especificadas: Curimbata/Curimba Phochilodus sp Jaraqui Pseudoprochilodus sp Tucunaré Ciclia Ocelatus Acari-Bodó Plecostomus spp Barba Chata Pinirampus pininampu Branquinha Potamorhina latior Cubiú Tetragonopterus argenteus Dourada BrachvplatLstoma flavicans Jaú Paulíciea lutkeni Mandi Pimelodus sp Piranha Pygocentrus nattereri; Serrasalmus sp Pirarara Paractocephalus nemiliopterus Piraíba Brachyplatystoma filamentosum Piramutaba Brachyplatystoma vaillanti Sardinha Triportheus elongatus Traíra Hoplias malabaricus Art. 1º Proibir a pesca profissional em todos os rios do Estado de Rondônia, afluentes dos rios Mamoré, Guaporé e Madeira, exceto na calha do rio Mamoré e Madeira. Parágrafo único: Será permitido a pesca profissional somente das espécies constantes no Art. 3º, observando o descrito no Art. 4º. Art. 5º Excluir das proibições desta Portaria a pesca científica devidamente autorizada. Art. 6º Proibir a importação, comercialização, transporte, beneficiamento e industrialização de quaisquer espécies aquáticas nativas, durante o período do defeso, exceto as que tenham procedência da aquicultura ou com prévia autorização do IBAMA/DFA Art. 4º 67 Obrigam-se os proprietários de comércios, frigoríficos e de indústrias pesqueiras a apresentarem ao IBAMA a declaração de estoque pesqueiro existente, até 48 horas após a publicação da presente Portaria. Art. 8º Permitir o transporte e a comercialização interna de produtos pesqueiros oriundos da aquicultura, devidamente registrados no DFA, acompanhados das Guias de Trânsito. Art. 9º Os infratores da presente portaria, serão aplicadas as penalidades previstas no Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, Lei nº 7.6769, de 23 de novembro de 1988, Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, Decreto nº 3.179 de 21 de setembro de 1999, e demais legislação complementar.” Quase todos os peixes de escama são capturados por malhadeira de 12 cm (para tucunaré e curimatá) e 22 cm (para tambaqui, pirapitinga, pintado, dourada, pirarara, etc...). Os bagres barba-chata, dourada, pirarara, filhote, também são capturados com anzol iscado com peixe. No mercado da Colônia há um fiscal pago por ela, que pesa o pescado trazido pelos pescadores e cobra 2,5% da venda de Imposto. O desembarque médio mensal é de cerca de 30 t (aproximadamente 10 kg/pescador/dia), conforme pode ser visto nas Tabelas 24,25 e 26. Há muitos intermediários que compram gelo da Colônia Z-4 ou de outra fábrica existente na cidade, de propriedade particular, que produz gelo em barra de 10kg/R$1,50. Na época da safra o pescado chega a se estragar por falta de comprador. Os melhores meses para se pescar no rio Guaporé (Itenez) são de junho a agosto, na baixada das águas. Na Semana Santa a água está alta e há falta de pescado. Segundo o Sr. Júlio o jaraqui, que não existia acima de Porto Velho, foi introduzido há cerca de 15 anos, por curiosidade, por um senhor chamado Osvaldo Ibañez, e agora é muito abundante. Principais problemas por ele apontados 1. Há falta de financiamento ao pescador artesanal para compra de equipamento; 2. O defeso é muito rigoroso e além disso, os pescadores têm tido muita dificuldade em receber o seguro desemprego ao qual têm direito. Como na cidade não há empregos, a situação dos pescadores está muito difícil; 3. A pesca do tambaqui estará proibida por três anos consecutivos em Costa Marques, Pimenteiras e Guajará-Mirim. Ele acha que esta proibição é extrema e desnecessária e foi conseqüência da pressão dos grandes fazendeiros da BR-364 (que liga Cuiabá a Porto Velho), que o produzem em cativeiro e querem reservar o mercado para si, pois o tambaqui produzido em cativeiro é comercializado em tamanho menor e não consegue competir com o da natureza que é maior e mais saboroso. Assim, o tambaqui vendido em Costa Marques irá provir da Bolívia. Art. 7º 68 69 TABELA 7: Desembarque de pescado em Costa Marques durante os meses de maio a junho de 2.000. Fonte: Colônia de Pescadores Z-4 de Costa Marques. Procedência Destino Discriminação Espécies Pesca local Compra De: Consumo Venda exportado Para: Total da Preço/kg (kg) importado (kg) local (kg) (kg) produção (kg) (R$) Tambaqui 12.300 3.000 Bolívia 5.300 10.000 Estado 15.300 2,00 Surubim 2.000 500 Bolívia 500 2.500 Estado 2.500 2,50 Pintado 2.800 800 Bolívia 800 2.800 Estado 2.800 2,50 Pirarara 6.000 1.400 Bolívia 400 7.000 Estado 7.400 1,20 Curimbatá 6.000 1.000 5.000 Estado 6.000 0,50 Tucunaré 6.000 3.000 6.000 Estado 6.000 1,00 TABELA 8: Desembarque de pescado em Costa Marques durante os meses de agosto e setembro de 2.000. Fonte: Colônia de Pescadores Z-4 de Costa Marques. Procedência Destino Discriminação Espécies Pesca local Compra De: Consumo Venda exportado Para: Total da Preço/kg (kg) importado (kg) local (kg) (kg) produção (kg) (R$) Tambaqui 15.000 10.000 Bolívia 15.000 10.000 Estado 25.000 2,00 Surubim 10.000 10.000 Bolívia 1.000 19.000 Estado 20.000 2,50 Pintado 15.000 10.000 Bolívia 1.000 24.000 Estado 25.000 2,00 Pirarara 15.000 1.000 14.000 Estado 15.000 1,20 Curimbatá 20.000 20.000 Estado 20.000 0,50 Tucunaré 25.000 1.000 24.000 Estado 25.000 1,20 70 TABELA 9: Desembarque de pescado em Costa Marques durante os meses de outubro e novembro de 2.000. Fonte: Colônia de Pescadores Z-4 de Costa Marques. Procedência Destino Discriminação Espécies Pesca local Compra De: Consumo Venda exportado Para: Total da Preço/kg: (kg) importado (kg) local (kg) (kg) produção pescador/varejo (kg) (R$) Tambaqui 6.000 6.800 Bolívia 800 12.000 Estado 12.800 2,00 / 2,50 Caparari 10.000 5.500 Bolívia 500 15.500 Estado 15.500 2,00 / 2,50 Pirapitinga 3.000 1.000 Bolívia 3.000 1.000 Estado 4.000 1,50 / 2,00 Tucunaré 30.000 5.000 25.000 Estado 30.000 1,00 / 1,50 Pirarara 20.000 500 Bolívia 500 20.000 Estado 20.500 1,20 / 1,50 Filhote 6.000 500 5.500 Estado 6.000 2,00 / 2,50 Dourada 8.000 500 7.500 Estado 8.000 2,00 / 2,50 Barbachata 10.000 1.000 9.000 Estado 10.000 1,00 / 1,50 Jaraqui 3.000 1.000 2.000 Estado 3.000 0,70 / 1,00 Curimbatá 30.000 500 29.500 Estado 30.000 0,50 / 1,00 71 ENTREVISTADO: Profª MSc. Maria de Fátima de Souza Soares – IBAMA de Costa Marques Relato: A maioria dos projetos de piscicultura se encontram ao longo da BR-364, principalmente próximo de Porto Velho. Aqui em Costa Marques só há um fazendeiro o sr. Arno Frank, que está iniciando uma piscicultura que irá trazer alevinos de Pimenta Bueno. Ela não está ao par da situação da pesca porque seu trabalho está mais relacionado com a preservação de quelônios. ENTREVISTADO: Sr. Arno Frank – Fazendeiro Relato: Possui uma fazenda de 700 ha, com reflorestamento de pinus, teca, pupunha, açaí, frejó, bandarra (outro tipo de pinus). Está iniciando uma piscicultura de tambaqui em tanques totalizando 2 ha. A água que sai dos tanques está irrigando uma plantação de pupunha. Comprou 40.000 alevinos de tambaqui, pagou R$50/milheiro. Durante o transporte houve 30% de mortalidade. Inicialmente está alimentando os alevinos com ração balanceada, depois vai produzir a própria ração, o que é ideal. Está sendo orientado por um extensionista particular. Acha que a atividade é viável na região de Costa Marques porque há excedentes vegetais. Encara sua iniciativa como um ensaio, não tem idéia da dimensão do mercado, de seus custos, da distribuição. Afirma que na sua propriedade os igarapés não secam no verão mas em outros locais isto ocorre. É aberto a novas tecnologias. Quando lhe falei da possibilidade de plantar um pomar para alimentar os peixes com seus frutos, o que é uma visão integrada e sustentável da piscicultura, demonstrou grande interesse. 12 TRINIDAD (BOLÍVIA) - 12/12/00 ENTREVISTADO: Prof. Luis Torres Velasco – Professor de Piscicultura e Director del Centro de Investigación de Recursos Acuáticos – Univesrsidad Tecnica del Beni “Mariscal Jose Balivan” Relato: O Prof. Luis trabalha na área há mais de 15 anos, tem um laboratório de ictiologia, uma pequena estação experimental e organizou um excelente Museu de Ictiologia na Universidade. Embora seu maior interesse profissional seja em aquicultura, ele tem interesse em pesca e biologia pesqueira, tendo executado vários trabalhos de pesquisa e levantamento da ictiofauna da região do Beni. Segundo ele, não há muitos pescadores profissionais no Beni, porque não há infraestrutura apropriada para comercialização do pescado, há falta de gelo e de material de pesca. Além disso, a cultura do homem do lugar está voltada para a pecuária e não para a pesca. 72 Ele relatou que em Guayaramerin há dois projetos de piscicultura de pacu com cerca de 2.000 m2, produzindo 2t/ano. Em Cobija há 6 projetos, ainda menores, produzindo pacu, piau e tilápia. Ele é o consultor desses projetos. Os alevinos vêm de Porto Velho e Rio Branco, respectivamente. Na região de Trinidad há 7 projetos produzindo 1 t/ano cada um deles em tanques de 25 x 50 m, onde os pacus são alimentados com ração de frango. Em Trinidad há bastante pescadores profissionais, o que mais se captura é a pirapitinga Piaractus brachypomum, o pacu Colossoma macropomum, o surubim Pseudoplatystoma fasciatum e a chuncuína P. tigrinum. Embora os grandes bagres migradores: dourada, piraíba, general, paleta (jaú) sejam abundantes a captura é pequena. O curimatá (sábalo) também não é capturado, embora o consultor o tenha visto no Mercado de Trinidad. Na Universidad de Trinidad há 4 cientistas pesqueiros, 2 alunos em estágio avançado e esporadicamente vêm 4 pesquisadores da ORSTOM que atuam na região há cerca de 20 anos, assim como a Missão Britânica, até recentemente. Há 1 estudante japonês voluntário. O Prof. Luis informou que no rio Mamoré foram listados 326 espécies, no Madre de Dios 190, no Beni 210 e no San Martin cerca de 120. Confirmou que nos rios Tauamani e Manuripe, o pirarucu que não ocorria, e está colonizando-os rapidamente, depois que um tanque de piscicultura extravasou no Peru. Visita à Unidad de Pesca e Desarollo Pesquero del Beni (UPD) – 13/12 Fui levado a este órgão pelo Prof. Luis. Não havia nenhum técnico, fui atendido por duas secretárias muito atenciosas que tentaram me dar algumas informações. No Município de Trinidad há 176 pescadores registrados, 84 inativos, totalizando 400. Não foram capazes de informar qual é o desembarque total de pescado. A UDP tem as fichas dos dados de coleta de desembarque mas ninguém as analisa. Fui informado que o cargo de chefia é político e que a UDP está abandonada e assim cogitam transferi-la para a Universidade para ficar sob a responsabilidade de Prof. Luis. Informaram que as espécies mais importantes são o pacu, o surubim, a curvina, o general e o sábalo. Na Tabela 26 abaixo estão os preços. TABELA 10: Preço de venda do pescado (Bs) em Trinidad em dezembro de 2000. Espécie Preço pescador (Bs) Preço intermediário (Bs) Pacu, surubim e general 8 – 10 bol/kg 14 - 16 bol/kg Curvina e sábalo 3 bol/kg 5 – 6 bol/kg Os pescadores pagam à UDP uma taxa progressiva de impostos: Quantidade (kg) Até 200 kg 201 – 400 kg 401 – 600 kg Etc ..... Imposto (Bs) 110 bolivianos 220 bolivianos 330 bolivianos A maioria do pescado é exportado para Santa Cruz. Só há restrições à pesca no rio Mamoré; nos outros não. A seguir há alguns folhetos que explicam outros impostos cobrados pela certificação do pescado. 73 DESCRIPCIÓN P.UNIT. Autoirización de pesca. Lic. De Funcionamiento Instalaciones Acuícolas 15 300 Lic. De Instalaciones Acuícolas Cédula de Pescador Cédula de comercializador mayorista Cédula de comercializador minorista Cédula de Transportista Cédula de comeraializador Industrial Guía única de desembarque y transporte de Ptos. Registros de Embarcaciones Pesqueras Registro de Embarcaciones Grandes Autorización de peces ornamentales 300 30 60 40 40 80 0,20/kg. 30 80 não há CERTIFICADOS ICTIOSANITARIOS (KG. - A ESCALA) No. 1. 2. 3. 4. 5. 6. Descripción en Kg. De 1 a De 100 a De 200 a De 301 a De 401 a De 501 Más Valor en Bs. 10,20,30,40,50,50,- 100 200 300 400 500 CONCESIONES PESQUERAS Permiso para pescar durante todo el año que consiste en lo siguiente: Escala de concesiones de pesca anual: Descripción en Kg. No.1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. De De De De 1 101 201 401 Hasta a a a De De De De De 601 801 1001 1501 3001 a a a a a Valor en Bs. 100 200 400 600 800 1.000 1.500 3.000 5.000 55,110,220,330,440,660,880,1.100,1.650,- 74 PREFECTURA Y COMANDANCIA GENERAL DEL BENI SERVICIO DEPARTAMENTAL AGROPECUARIO CUENCAS DEL AMAZONAS UNIDAD DE DESARROLLO PESQUERO TRINIDAD AUTORIZACION DE PESCA Nº 001839 BS. En cumplimicnto a disposiciones contenidas en el Reglamcnto Nacional de Pesca y Agricultura. LA UNIDAD DE DESARROLLO PESQUERO autoriza a: La embarcación : De propiedad de: Comandante del barco: Bajo Matrícula Naval No. y Registro U.D.P. Pescar en la región desde: Hasta: Fecha de salida: Fecha de desembarque: Cantidad autorizada de pescado extraido: Trinidad..............de...........................................de ............... NOTA a.- La presente autorización tiene validez para uno sola faena de pesca. Sin este documento no se otorgará el derecho de Zarpe por las Capitanias de Puerto. b.- Las capturas por especies quedan autorizadas con un minimo del tamaño siguiente con cabeza, Cabeza Surubí Tamaño mínimo: 080 Cms. Pacú Tamaño mínimo: 055 Cms. Otros: Existiendo muchas especies, calculece que ha alcanzado el pez el tamaño para reproducirse. Señor Pescador: Proteja los peces de su desaparición, pues así protegerá su fuente de trabajo. CARGO: INSPECTORES DE PESCA Y BIODIVERSIDAD A: Autoridad de la que depende: Dependen del área de Acuicultura B: Autoridad Lineal y funcional: Depende en forma lineal y funcional del Jefe de la U.D.P. C: Objetivo y responsabilidades: 75 Controlar la correcta extracción de pescado, así como Ia comercialización y transporte legal del mismo.D: Funciones especificas: I. Verificar que las embarcaciones y los responsables de la misma, cuenten con certificados que los acreditem para tal efecto expedido por alguna oficina regional de la Unidad de Desarrollo Pesquero, autorización de pesca, Carnet de Pescador o Comercializador, Concesión Pesquera, Registro de su embarcación en la región de su jurisdicción. 2. Solicitar a los pescadores deportivos, su acreditación legal ante la Oficina de Pesca y Acuicultura con pena de decomiso a los que infrinjam la disposición. 3. Verificar que para las faenas de pesca solo se utilicen medios legales establecidos, y no así explosivos, productos químicos o brebajes caseros. 4. Verificar que el tamaflo del pescado extraído tenga las medidas legales por ley (Coh cabeza a la punta de la cola). Pacú 55 cm. Mínimo Surubí 80 cm. Mínimo 5. verificar el tamaño de los rombos de las mallas: Pescado Grande.- Como ser: Pacú, Surubí, Chucuina, Tambaqui y Paraiba de 20 cm. De rombos. Pescado chico.- Como ser: Sábalo, Dorado, Tucunaré, etc. De 16 cm. De rombos. 6. Verificar el tamaho correcto de las mallas. 7. Verificar que las embarcaciones pesqueras no arrojen desperdícios de la pesca en los ríos, como son viseras, cabezas o pescado en mal estado. 8. Decomisar los peces en caso de que los pescadores no cuenten con la documentación respectiva otorgada por Ia U.D.P. 9. Presentar informe mensuales al Jefe de la U.D.P. 10. Verificar que los Kg. de pescado autorizados por U.D.P. sean los correctamente transportado por el comercializador, o los autorizados para el pescador. 76 13 LA PAZ - 15/12/00 ENTREVISTADO: Eng. Ms. Freddy Arteaga Hayashida – Director Ejecutivo do CIDAB – Centro de Investigación y Desarollo Aciúcola Boliviano Relato: O eng. Freddy estava muito ocupado, só pode me receber por poucos minutos, porém, forneceu alguns documentos oficiais, que serão úteis para o Relatório Final. Afirma que em toda a Amazônia boliviana a pesca está por se organizar, que a piscicultura é inexistente. Porém, o governo tem planos para apoiá-la, embora tradicionalmente, tenha maior interesse em desenvolver a piscicultura da truta arco-íris Oncorhynchus mykiss, no Altiplano, visando sua exportação. Informou que em Cochabamba há um excelente centro de piscicultura, denominado Piraíba, onde dominam a tecnologia de produção em cativeiro de algumas espécies amazônicas. Em sua opinião os maiores entraves à piscicultura na região da fronteira com o Brasil é a falta de excedentes vegetais para ração e a baixa densidade demográfica. Se alguma piscicultura for desenvolvida deve ser voltada à exportação para o Brasil Afirma que Riberalta tem mais potencial do que Guayaramerin porque lá a água é mais abundante e que a Universidade local, que é privada, na pessoa de seu reitor pretende montar um curso de capacitação à piscicultura. O endereço é o seguinte: Prof. Said Zeiton Lopez Rector de la Universidad Amazonica Boliviana Casilla nº 99 Riberalta Tel 0852-2705 A seguir há um documento recente escrito pelo sr. Freddy que ele me autorizou a transcrever neste relatório “CONSIDERACIONES SOBRE LA SITUACION PESQUERA Y ACUICOLAIng. Freddy Arteaga Hayashida (*)1. Las condiciones de vida en BoliviaCifras de la pobreza:Se estima que en general el 37% de los hogares latinoamericanos vive en condiciones de pobreza, mientras que el 17% lo hace en la indigência. Se considera que el aliado principal de la desnutrición, es el estado de pobreza generalizada en que vive una gran parte de la población Boliviana. Esta situación de empobrecimiento se ha hecho mucho más grave en los últimos 10 años, en Bolivia, debido al incremento de la desocupación, los procesos inflacionarios y la disminución de salarios reales. Consumo y desnutrición: Se observa que los índices de estancamiento de la ingesta promedio y los cambios ocurridos en los patrones de consumo que se derivan hacia alimentos de alto contenido calórico (carbohidratos), son una muestra clara del deterioro de los niveles de consumo y mal nutrición en los estratos más pobres de la población boliviana. El consumo de pescado en Bolivia es uno de los más bajos de América Latina, no llega a 1 Kg. por persona al año, a pesar de lo recomendado por organismos internacionales como la FAO y OMS de 11 Kg. per capita al año (CDP, 1993), tal como se observa en el cuadro siguiente. 77 CUADRO 1.- CONSUMO DE PESCADO POR HABITANTE EN AMÉRICA LATINA (Kilogramo/persona/año) PAIS Argentina Bolivia Chile Colombia Cuba EI Salvador Honduras México Nicaragua Panamá Paraguay Perú República Dominicana Uruguay Venezuela PERÍODO 1984 - 1987 4.40 0.85 9.50 3.40 20.90 2.10 1.80 10.00 0.70 14.80 2.30 17.60 6.90 8.40 11.50 Fuente: FAO-AQUILA,1989(*) Director Ejecutivo, CIDPA Efectos de la desnutrición:En prácticamente todos los países de América Latina, se rdgistra incrementos alarmantes de mortalidad infantil por causas atribuibles a factores nutricionales. En Bolivia, se observa un alarmante déficit alimentaria nutricional con más de 400.000 afectados por desnutrición en la población infantil y en adultos alcanza al 70% de la población economicamente activa y al 70% de las mujeres embarazadas y nodrizas que padecen anemias y otras dolencias por esta causa (CDP, 1992). 2. El poder alimentício del pescadoUno de los elementos nutricionales más importantes para la alimentación humana son las proteínas, constituyéndose la carne de pescado en una excelente fuente, con un contenido proteínico que varia entre el 15 y el 25% de este elemento. Las grasas del pescado, están constituídas por ácidos grasos esenciales necesarios para un crecimiento normal. Se considera a los ácidos grasos poliinsaturados como los responsables de evitar el incremento del colesterol y de triglicéridos en el suero sanguíneo y la aglutinación de la sangre que produce la trombosis cerebral, que puede evitarse disminuyendo el consumo de sal y consumiendo abundante pescado. Se sabe que en los esquimales de Groenlandia la presencia de arteriosclerosis o de trombosis es sumamente baja, debido a que su principal alimento son los productos pesqueros. La carne de pescado contlene una gran cantidad de vitaminas, siendo las más importantes las del complejo B, indispensables para el buen funcionamiento del organismo humano. También el pescado es rico en sales minerales como el yodo, fósforo, hierro, cobalto, magnesio, calcio, cobre, zinc, etc., tal como se puede observar en la tabla comparativa siguiente. CUADRO 2.- VALOR NUTRITIVO PROMEDIO DEL PESCADO Y OTRAS CARNES(100 gramos de parte comestible) Alimentos Calorías Proteínas Grasa Gr gr Pescado 94 19.2 1.3 Carnes Rojas 238 17.5 18.1 Aves 170 18.2 10.2 Fuente: OLDEPESCA, Noviembre 1991 Calcio mg 32 5 14 Fósforo Mg 26.5 200.0 200.0 Hierro Mg 0.9 2.4 1.5 78 3. Contribución de la pesquería a la seguridad alimentaria Según estadísticas de la FAO, la región latinoamericana tiene un déficit de proteínas de dos millones de toneladas cada año. Para suplir esta deficiência es imperioso aplicar políticas de incremento del abastecimento alimentaria, sobre todo en sectores que cuentan con mayor potencial de producción, como es el caso de la pesca y la acuicultura (cultivo de organismos acuáticos). Tanto la pesca como la acuicultura están en condiciones de contribuir de manera efectiva a la seguridad alimentaria del país, para lo cual es de urgente necesidad poner en práctica medidas de políticas de desarrollo pesquero y acuícola, con el propósito de lograr: • Una reorientación progresiva del manejo y aprovechamiento sostenible de nuestros recursos acuícolas y de las capturas destinadas al consumo humano directo. • Un incremento sostenido de la producción acuícola y de productos procesados, rescatando la función promotora del estado de apoyo al sector productivo. • La introducción de mejoras tecnológicas en el manipuleo del pescado para consumo hwnano directo con miras a elevar los rendimientos y beneficies a Ias comunidades de pescadores, acuicultores y a la población. • Un agresivo desarrollo institucional y de recursos humanos de apoyo a la investigación, a la transferência tecnológica, a la formaclón, capacitación, asistencia técnica y a los servicios en el sector pesquero y acuícola nacional, mediante procesos de autogestión técnica y administrativa. 4. Potencial del sector pesquero y acuícola en Bolivia • • • En el marco de la Política y Estrategia de Desarrollo Agropecuario y Rural se halla irunersa la política de desarrollo pesquero y acuícola, en la que se contempla un programa de inversión futura mediante la cooperación extema y de apoyo al sector productivo con miras a incrementar la producción y el consumo nacional de pescado y de consolidar mercados extemos de exportación. Lo anterior, basado en que la pesca extractiva apenas alcanzó a un 7% en 1995 (5.691 TM) en relación al potencial pesquero sostenible en las tres cuencas hidrográficas (del Plata, Amazônica y Altiplánica), estimado en aproximadamente 81.000 TM anuales de una biomasa global estimada en 200.000 TM anuales. Se promoverá un relanzamiento vigoroso del sector pesquero y acuícola, actualmente marginado de los beneficies del desarrollo nacional, estimándose que la producción por captura podrá incrementarse hasta el año 2010 en aproximadamente 20.000 TM de pescado y de acuicultura en 10.000 TM, lo cual permitirá un aumento substancial en el consumo per cápita año de l Kg. (actual) a 3-4 Kg. como mínimo y la generación de empleo productivo directo de 2.500 personas anuales e indirecto en alrededor de 5.000 personas por año. 5. Producción Pesquera En Bolivia, la producción pesquera y acuícola es sumamente baja. No obstante el enonne potencial de recursos hídricos que albergan las tres cuencas hidrográficas: Amazônica, del Plata y Altiplánica, el pescado y los productos pesqueros aún no ocupan un lugar importante en el consumo nacional de proteínas. 79 CUADRO 3.- PRODUCCION PESQUERA Y ACUÍCOLA EN BOLIVIA 1990/1994 1995 TM TM 6,244.00 5,691.00 393.00 617.00 6,637.00 6,308.00 1996 (*) 1997 (*) 1998 (*) 1999 (*) TM TM TM TM 5,988.00 6,038.00 6,055.00 6.052,00 570.00 581.00 527.00 544,00 6,558.00 6,619.00 6,582.00 6.596,00 Pesca Extractiva Acuicultura TOTALES (*) Estimación FUENTE: ADEPESCA, Octubre 1998; CIDPA, Junio 2000 La Paz, Junio de 2000” 80 14 IMPRESSÃO GERAL DO CONSULTOR SOBRE A REGIÃO VISITADA Não há agricultura comercial intensa que forneça excedentes vegetais para ração. Não há disponibilidade de alevinos. É uma região de tradição pecuária, não há frigoríficos onde poderia se recolher sangue e ossos como fonte de proteína, pois o gado é transportado in vivo para os grandes centros consumidores onde estão os frigoríficos. Na época das chuvas, devido as estradas serem de terra, elas se tornam intransitáveis tornando muito difícil se escoar a produção. Na região do triângulo formado por Magdalena, San Ramón e San Joaquim há pesca abundante na Semana Santa nos anos em que a enchente atrasa. Assim, a piscicultura ainda teria que competir em desvantagem com o pescado capturado na natureza. A vocação da região é o turismo e a pesca esportiva, pois o ambiente praticamente está intocado, os rios estão limpos com suas margens ainda florestadas. A vida selvagem é conspícua. Inclusive entre Magdalena e San Ramón há um mini-pantanal onde se vê tuius, jacarés, capivaras, cabeça seca, etc... Já há tímidas iniciativas particulares turísticas com pequenos hotéis, e um hotel fazenda. A região conta com boa infraestrutura de aeroportos para pequenos aviões que vêm e vão diariamente a Trinidad. Deve-se incrementar a rede hoteleira e as companhias de turismo para transporte terrestre, melhorando as estradas. A densidade demográfica é baixa, a pesca profissional é rara, assim, os conflitos com os pescadores esportivos seriam quase inexistentes. Há inicativas particulares isoladas em desenvolver o “pesque e solte” (catch and release). Fui informado que houve um seminário sobre o tema em Trinidad, onde empresários e fazendeiros interessados o frequentaram. Assim, somente a região de Guayaramerin (Riberalta?) e Cobija, devido a oferta de excedentes vegetais (principalmente do lado brasileiro), estradas asfaltadas no Brasil e facilidade de obtenção de alevinos têm mais potencial para a piscicultura intensiva para consumo local e exportação para o Brasil. É necessário a organização de um sistema contínuo de coleta de dados de captura, esforço e preço de pescado onde a pesca é mais intensa e concentrada como é o caso de Guayramerin/Guajará-Mirim e Costa Marques, com a ajuda das Colônias de Pescadores. 81 ANEXO B Sugestão para Projeto de Pesquisa 82 TÍTULO: "Um modelo bioeconômico para a produção do tambaqui Colossoma macropomum Cuvier 1818 em piscicultura intensiva." 1 INTRODUÇÃO Segundo Pillay e Dill (1979) na abertura da Conferência Internacional sobre Aquacultura organizada pela F.A.O. em 1976, na cidade de Kyoto, afirmou-se que a produção da aquacultura mundial na época situava-se ao redor dos 5 milhões de toneladas anuais sendo esperado, para o início do século 21, algo em torno dos 25 milhões. A produção mundial de pescado contribuia com 1% do total de alimentos produzidos pelo homem, representando 10% da proteína animal consumida. Larkin (1992) menciona que as recentes estatísticas sobre o crescimento da população humana na Terra e o aumento da produção de pescado (mar e água doce) para a alimentação destacam a importância dos ambientes dulcícolas nas próximas décadas. A projeção para o ano 2.025 é de que a população humana esteja próxima dos 8 bilhões de pessoas. Se o pescado mantiver a atual proporção na contribuição em proteína na dieta humana, sua produção terá que aumentar de 100 para 160 milhões de toneladas anuais. A F.A.O., em suas estatísticas, relata a existência de poucos estoques pesqueiros ainda inexplorados nos oceanos e denuncia que a grande maioria destes está sofrendo sobrepesca. A perspectiva de ampliação da produção pesqueira mundial fica restrita a aquacultura. Hjul (1988), comentando sobre as perspectivas de crescimento da produção da aquacultura em todo o mundo, menciona o aumento da produção de carne de pescado de espécies marinhas nobres e destaca a grande contribuição que deverá advir da criação intensiva de espécies dulcícolas em sistemas fechados com recirculação de água. Embora o Brasil, a Colômbia e a Bolívia possuam grande diversidade de espécies de peixe com elevado potencial para a aquacultura e uma das maiores redes hidrográficas do planeta, ainda se mostram defasados no cenário da aquacultura mundial, predominando entre nós, sistemas extensivos e semi-intensivos. A pesquisa visa a quantificação de alguns parâmetros decisivos relacionados com a produção intensiva do tambaqui, colaborando para o desenvolvimento de uma tecnologia adequada às nossas condições. 2 O TAMBAQUI O tambaqui Colossoma macropomuni Cuvier, 1818 é o maior caracídeo da América do Sul, podendo atingir mais de 1 metro de comprimento total e 30kg, embora Miguel Petrere em 1989, tenha observado um espécimen com 45kg no Rio Guaporé, município de Costa Marques (RO). Atualmente é difícil encontrar indivíduos acima de 85cm (20kg) nos mercados de peixe da Amazônia Central (ARAUJO-LIMA ; GOULDING, 1997). Seu habitat preferido são os rios de águas brancas das bacias do Orinoco e do Amazonas. Eventualmente migra para águas claras e pretas para se alimentar em regiões de florestas alagadas, como descrito para o Rio Madeira (GOULDING 1979, 1980, 1981; GOULDING ; CARVALHO, 1982 ; ARAÚJO-LIMA ; GOULDING, 1997). Quando jovem, vive restrito às áreas alagáveis, por aproximadamente 5 a 6 anos, e quando adulto, apesar de se alimentar periodicamente na floresta inundada, raramente permanece nos lagos de várzea durante a perda de conexão com o rio, na época da seca (COSTA, 1998) 83 Segundo Villacorta Correa e Saint-Paul (l999), o tambaqui alcança a maturidade sexual com 61 cm de comprimento padrão e aproximadamente 5 anos de idade, e o período reprodutivo da espécie é de setembro a fevereiro numa desova total sincrônica com o nível da água. Os indivíduos de jovens a pré-adultos, apresentam uma forma que varia de ovóide a romboidal (GOULDING ; CARVALHO, 1982), sendo que os adultos são mais alongados caracterizando-se pela forma oval e lateralmente comprimida do corpo (SAINT-PAUL, 1985). Dependendo do tipo da água, a coloração varia, sendo mais escura em rios de águas pretas e mais clara em águas brancas (ARAÚJO-LIMA ; GOULDING, 1997). Em geral os indivíduos se apresentam com manchas escuras ventralmente e uma coloração que varia do amarelo para verde-oliva no dorso (SAINT-PAUL, 1985). O tambaqui apresenta uma combinação única de dentes molariformes, adaptados para quebrar sementes duras, e numerosos rastros branquiais alongados utilizados para a retenção de zooplâncton (GOULDING ; CARVALHO, 1982). Os juvenis (comprimento < 60cm), em geral são onívoros, alimentando-se de frutas, sementes e zooplâncton (HONDA, 1974; GOULDING, 1979, 1980; GOULDING ; CARVALHO, 1982 ; VILLACORTA-CORREA, 1997). Os jovens podem filtrar fitoplâncton através de aparelho branquial especial com rastros longas e finas, e os adultos alimentam-se exclusivamente de frutas e sementes, como frutos de palmeira Jauarí (Astrocaryum january) e sementes de seringueira (Hevea spruceana lhevea brasilíensis) (AraujoLIMA ; GOULDING, 1997). Devido à preferência da população por sua carne e a captura no rio quando migrando, e nas florestas alagadas, quando está se alimentando, os pescadores a tem uma das espécies alvo de suas atividades (GOULDING, 1979 ; COSTA, 1998). Petrere (l978), descreve detalhadamente os aparelhos de pesca utilizados pela frota pesqueira de Manaus, bem como as quantidades de pescado obtidas através de cada um deles. Para o tambaqui, no período de Janeiro a Dezembro de 1976, a malhadeira respondeu por 72,9% da captura total da espécie. Na região do médio Solimões, Costa (l998) analisou a utilização de 6 tipos de aparelhos de pesca, constatando que a malhadeira teve importância ainda maior do que os outros, respondendo sozinha por 95% das capturas. Dos desembarques de pescado em Manaus no final da década de 70, o tambaqui foi o pescado mais importante, contribuindo com aproximadamente 40% do total (PETRERE, 1978, 1983). Apesar de Petrere (l983) não ter evidenciado indícios de sobrepesca de crescimento para o tambaqui no final da década de 70, Merona e Bittencourt (l988) mostraram que a produção estava começando a cair em meados da década de 80, sugerindo que estaria havendo uma sobrepesca para a espécie. Na região do médio Solimões, estão sendo capturados indivíduos jovens que ainda não desovaram e adultos que estão desovando. A fim de regulamentar a sua pesca, o IBAMA estabeleceu o tamanho mínimo para captura da espécie através da Portaria nº 1534/89 e, através da Portaria nº 004/94, baseada no Decreto Lei nº 7679/88, definiu um período de defeso para o Estado do Amazonas de 90 dias (Dezembro a Fevereiro). Apesar desta regulamentação, os tambaquis jovens, que vivem nos lagos e que não migram no canal do rio, estão sendo explotados pelos pescadores artesanais durante o período de defeso em toda a Amazônia (COSTA, 1998). 3 MATERIAL E MÉTODOS Será testado o desempenho de crescimento dos peixes submetidos a diferentes densidades de estocagem, as quais vêm a ser os tratamentos (j = 1, ..., 4): 10, 20, 30 e 40 peixes/m3, com oferta de alimento ad libitum observando-se a ingestão e anotando-se as 84 quantidades diárias consumidas que, certamente irão variar com a temperatura da água e com o crescimento dos peixes. Os tanques serão subdivididos em 4 partes iguais, empregando-se uma tela plástica com malha de 20mm, possibilitando a instalação de 4 repetições para cada tratamento. O delineamento experimental será com medidas repetidas, pois muitos dos exemplares poderão ter suas medidas repetidas nas amostragens, procedidas seqüencialmente a intervalos regulares de 28 dias. Serão colhidos os dados de peso total (W = g), comprimento total (LT = mm) e altura (H = mm), com o emprego de um ictiômetro e balança com precisão de 0,1g no início do desenvolvimento e de 1,0g na terminação. Em cada tanque será instalado um termômetro de máximas e mínimas para o controle da amplitude de oscilação diária da temperatura. Serão determinados em intervalos convenients os teores de alcalinidade e dureza total, O2D e CO2D, pH, condutividade, amônia, nitrito e nitrato. Estas determinações poderão ser realizadas com um espectrofotômetro, excessão ao O2D que será pelo método de Winkler modificado, o pH através de leitura direta em potenciômetro digital, alcalinidade total pelo método de titulação (Swingle, 1966), o CO2D pelo métodp gráfico (THÉOUX, 1943) e a condutividade por leitura direta em condutômetro. Será empregado o modelo de crescimento de von Bertalanffy e os parâmetros serão determinados ao final do experimento, inicialmente previsto para 12 meses de cultivo (T = 365 dias): Lt = Linf . (1 - e-K . (t - t0)) 1 Onde: Lt = comprimento do peixe no instante t; Linf = comprimento máximo teórico da espécie; K = constante de crescimento; t = tempo; t0 = instante inicial da engorda. Pode-se ainda acompanhar o crescimento dos peixes com base no peso total. Para tanto deve-se considerar a equação que define a constante alométrica (a) e assumir o valor 3 como expoente do comprimento. a = W/L3 2 Assim, substituindo-se 2 em 1 teremos: Lt = (Winf/a)1/3 . (1 - e-K . (t - t0)) (Wt/a)1/3 = (Winf/a)1/3 . (1 - e-K . (t - t0)) Wt = [Winf1/3 . (1 - e-K . (t - t0))]3 Wt = [Winf1/3 . (1 - e-K . t) + W01/3 . e-K . t]3 Onde: Wt = peso do peixe no instante t; Winf = peso máximo teórico da espécie. 3 85 A mortalidade e a sobrevivência dos peixes submetidos a este sistema de engorda serão estimadas ao final do experimento (no instante T). Sendo: NT = N0 . e-ZT 4 Vem: NT/N0 = e-ZT = ST Daí: 5 ZT = -ln (NT/N0) 6 Onde: N0 = número total de peixes no início da engorda; NT = número total de peixes ao final da engorda, no tempo terminal (T), onde o experimento será suspenso; ZT = taxa de mortalidade ao final da engorda, no tempo terminal (T); ST = taxa de sobrevivência até o tempo terminal (T), em geral expressa em porcentagem (%). A produção total (Yt) de cada tratamento, ao final do experimento será estimada por: YT = WT(médio) . NT 7 Substituindo-se 4, vem: YT = WT(médio) . N0 . e-ZT 8 Onde: WT(médio) = peso médio dos peixes no tempo terminal (T). Para a avaliação econômica da criação intensiva do tambaqui faz-se necessária a caracterização de alguns dos ítens relevantes. Assim: CUSTOS FIXOS TOTAIS (CFT): não variam com a quantidade produzida e a durabilidade excede a um ciclo de produção. Os ítens que o compõem são os seguintes: ✓ - remuneração à terra; ✓ - elaboração do projeto; ✓ - materiais de construção; ✓ - mão-de-obra para a construção; ✓ - remuneração ao capital (juros sobre o capital); ✓ - depreciação; ✓ - conservação. 86 O cálculo dos juros (j) segue a equação abaixo: j = Ci/2 . r 9 Onde: Ci = capital inicial (= CFT exceto conservação e depreciação); r = taxa real de juros = 1% ao mês ou 12% ao ano. Substituindo-se a taxa real de juros (r) na equação 9, obtem-se: j = Ci/2 . 0,12 j = 0,06 . Ci 10 A depreciação linear (d) é determinada através da divisão do capital inicial (Ci) pelo número de ciclos produtivos (n) no qual as instalações atuarão: d = Ci/n 11 Para este estudo considerar-se-á um horizonte de 10 anos (n = 10), no qual deve ser pago o investimento inicial (Ci). Desta forma a equação 11 pode ser reescrita da seguinte maneira: d = Ci/10 12 A conservação (c) é um fundo de reserva que se faz para a manutenção das instalações em operação. Para seu cálculo toma-se por base um índice percentual, arbitrário, que situa-se ao redor dos 5% para construções em alvenaria: c = Ci . 0,05 13 CUSTOS VARIÁVEIS TOTAIS (CVT): variam de acordo com o nível de produção e, são consumidos em um só ciclo produtivo. Os ítens que o compõe são os seguintes: ✓ - alevinos; ✓ - ração; ✓ - mão-de-obra; ✓ - monitoramento da qualidade da água; ✓ - juros sobre o capital circulante. CUSTOS TOTAIS (CT): somatório dos custos que concorrem para a produção, exclusive a remuneração do empresário, que em última instância pode ser entendida como o uso alternativo da capacidade empresarial, ou seja, corresponderia a um "salário" que poderia ser recebido se estivesse "trabalhando" para terceiros. CT = CFT + CVT 14 87 CUSTO TOTAL MÉDIO (CTMe): obtido dividindo-se o custo total (CT*) pela produção total (YT). CTMe = CT/YT 15 Substituindo-se 14 em 15, vem: CTMe = (CFT + CVT)/YT 16 A renda bruta (RB) é obtida multiplicando-se a produção total (YT), expressa em kg, pelo preço unitário do pescado (Pp): RB = Pp . YT 17 Ou, em função da produção total (YT), temos a determinação do rendimento médio (RMe): RB/YT = RMe 18 O que também equivale dizer ser o rendimento médio igual ao mínimo preço do pescado para este sistema de produção: Pp = RMe A renda líquida (RL), neste caso, será igual à remuneração ao empresário (RE), determinada através da subtração dos custos totais (CT) da renda bruta (RB): RL = RE = RB - CT 19 Ainda na avaliação econômica deste ensaio, o produto físico marginal (PFMa) será calculado através de uma relação entre a variação da produção (YT) em função da variação na duração da engorda dos peixes (t). Então tem-se: PFMa = ∆YT/∆t 20 Aplicando-se a derivada, vem: PFMa = dYT/dt 21 Para finalizar a avaliação econômica, há que se considerar a receita marginal (RMa) que exprime o nível mínimo de operação para este sistema, no qual os investimentos iniciais (Ci) estariam pagos nos primeiros 10 anos de utilização. Neste sistema de criação, a receita marginal (RMa) representa a variação dos rendimentos brutos (RB) causada pela variação da duração do período de engorda (t). Isto pode ser melhor compreendido através da seguinte relação: RMa = ∆RB/∆t 22 88 Substituindo-se 17 em 22, vem: RMa = ∆(Pp . YT)/∆t Aplicando-se a derivada, temos: RMa = d(Pp . YT)/dt 23 Adotando-se o preço do pescado (Pp) como constante para cada época de despesca, próximo à Semana Santa, pode-se escrever a equação 23 da seguinte maneira: RMa = Pp . dYT/dt 24 Substituindo-se 21 em 24 obtem-se: RMa = Pp . PFMa 25 Quando as variações no tempo de duração da engorda não mais alterarem positivamente a produção (YT), a máxima carga biológica que o sistema pode sustentar (biomassa máxima) foi então atingida. Desta forma o produto físico marginal tende a zero (PFMa → 0), ou seja, não haverá incremento à receita total, ou de outra forma, a receita total seria máxima e a equação 25 fica: RMa = 0 26 A análise desses dados ainda propicia a obtenção do tempo ótimo biológico (T) para a colheita , que ocorrerá quando a produção de pescado (Yt) é máxima no sistema e a taxa de crescimento da produção iguala-se a zero (dYt/dt = 0). De 3, 4 e 8 temos: Yt = [Winf1/3 . (1 - e-K . t) + W01/3 . e-K . t]3 . N0 . e -Z . t 27 Derivando Yt com relação a t, vem: dYt/dt = 3 . [Winf1/3 . (1 - e-K . t) + W01/3 . e-K . t]2 . (K . Winf1/3 . e-K . t - K . W01/3 . e-K . t). N0 . e-Z . t + [Winf1/3 . (1 - e-K . t) + W01/3 . e-K . t]3 . (-N0 . Z . e-Z . t) dYt/dt = 3 . N0 . K . e-K . t . e-Z . t . [Winf1/3 . (1 - e-K . t)+ W01/3 . . e-K . t]2 . (Winf1/3 - W01/3) - N0 . Z . e-Z . t . [Winf1/3 . (1 - e-K . t) + W01/3 . e-K . t]3 28 Considerando t = tβ e fazendo dYtβ/dtβ = 0 temos, para cada tratamento (j = 1, ...,4): 89 3 . N0j . K . e-K . tβ . e-Z . tβ . [Winf1/3 . (1 - e-K . tβ) + W0j 1/3 . e-K . tβ]2 . . (Winf1/3 - W0j 1/3) = N0j . Z . e-Z . tβ . [Winf1/3 . (1 - e-K . tβ) + + W0j 1/3 . e-K . tβ]3 Portanto: 3 . K . e-K . tβ . (Winf1/3 - W0j 1/3) = Z . [Winf1/3 . (1 - e-K . tβ) + + W0j 1/3 . e-K . tβ] 3 . K . e-K . tβ . (Winf1/3 - W0j 1/3) = Z . (Winf1/3 - Winf1/3 . e-K . tβ + + W0j 1/3 . e-K . tβ) 3 . K . e-K . tβ . (Winf1/3 - W0j 1/3) = Z . [-e-K . tβ . (Winf1/3 - W0j 1/3) + Winf1/3] 3 . K . e-K . tβ . (Winf1/3 - W0j 1/3) + Z . e-K . tβ . (Winf1/3 - W0j 1/3) = Z . Winf1/3 e-K . tβ . (Winf1/3 - W0j 1/3) . (3 . K + Z) = Z . Winf1/3 e-K . tβ = (Z . Winf1/3)/[(Winf1/3 - W0j 1/3) . (3 . K + Z)] Aplicando-se o logarítimo natural, vem: -K . tβ = ln {(Z . Winf1/3)/[(Winf1/3 - W0j 1/3) . (3 . K +Z)]} Portanto, a equação 29 fica: tβ = - 1/K . ln {(Z . Winf1/3)/[(Winf1/3 - W0j 1/3) . (3 . K + Z)]} 29 De maneira similar o tempo ótimo econômico (t?) para a colheita, ou também chamado ponto de ótimo econômico (POE), ocorrerá quando o rendimento marginal (RMa) se igualar ao custo variável total, onde então a produção incremental de pescado (PFMa) multiplicada pelo preço do pescado (Pp) igualar-se ao custo do fator variável (CVT): RMa = CVT PFMa . Pp = CVT Substituindo-se 21 em 30, observa-se: (dYt/dt) . Pp = CVT 30 90 Onde: dYt/dt = CVT/Pp Com base na derivação da produção total (Yt) em função do tempo (t), definida anteriormente, obteve-se a equação 28 a qual, se substituída na fórmula acima e, tomado o tempo t como sendo o tempo ótimo econômico (t = tε), observar-se-á para cada tratamento (j = 1, ..., 4): 3 . N0j . K . e-K . tε . e-Z . tε . [Winf1/3 . (1 - e-K . tε) + W0j 1/3 . e-K . tε]2 . . (Winf1/3 - W0j 1/3) - N0j . Z . e-Z . tε . [Winf1/3 . (1 - e-K . tε) + + W0j 1/3 . e-K . tε]3 = CVT/Pp 3 . N0j . K . e-K . tε . e-Z . tε . [Winf1/3 . (1 - e-K . tε) + W0j 1/3 . e-K . tε]2 . (Winf1/3 - W0j 1/3) - N0j . Z . e-Z . tε . [Winf1/3 . (1 - e-K . tε) + W0j 1/3 . . e-K . tε]3 - (CVT/Pp) = 0 31 A determinação do tempo ótimo econômico não é possível através de métodos lineares mas, como visualizado acima, será realizada com base em uma solução iterativa. 91 ANEXO C Segundo Encuentro de Integracion y Desarrollo fronteriza Bolívia / Brasil 92 SEGUNDO ENCUENTRO DE INTEGRACION Y DESARROLLO FRONTERIZO - BOLIVIABRASIL EXPLOTACION PESQUERA EN EL AREA FRONTERIZA Este documento foi escrito pelo Ign. Freddy Areteaga Hayashida (Director Ejecutivo del CIDAB – Centro de Investigación y Desarrollo Aquicola, La Paz, Bolívia) que gentilmente me autorizou a reproduzi-lo aqui em sua íntegra. REPUBLICA DE BOLIVIA SECRETARIA NACIONAL DE AGRICULTURA Y GANADERIA SEGUNDO ENCUENTRO DE INTEGRACION Y DESARROLLO FRONTERIZO - BOLIVIABRASIL EXPLOTACION PESQUERA EN EL AREA FRONTERIZA Ing. Freddy Arteaga Hayashida 1 RECURSOS PESQUEROS DE LA CUENCA AMAZONICA BOLIVIANA La Cuenca Amazónica en territorio boliviano, ocupa una superfície de 723.000 km2 (66%). Los recursos pesqueros de esta cuenca, se hallan comprendidos dentro el sístema hidrográfico de las subcuencas de los ríos Beni, Acre-Abuná, Madre de Dios, Mamoré, Itenez y Madera. Según estudios de FAO (Roma, 1980) en esta cuenca se contaron 145 ríos y 37 lagos o grupos de lagos grandes y permanentes en la región Norte y Noroeste. " El Instituto Francês d'e Investigaciones Científicas (ORSTOM, 1981-1986), logró cuantificar 280 especies de peces sólo en el río Mamoré, dentro el área de influencia de Trinidad-Beni. A su vez, se han inventariado en los llanos y parte del Noroeste de la Amazonía, un total de 202 lagunas (I. Montes de Oca, 1989). Estudios sobre el potencial pesquero de esta cuenca, señalan que esta puede alcanzar a 115.000 TM. anuales, cuyo potencial de capturas sostenibles según expertos de la Misión Británica (l982) es de 53.000 TM. anuales, siendo la explotación actual de aproximadamente 2.200 TM brutas; habiéndose identificado más de 100 especies de peces ornamentales, con fines de aprovechamiento comercial (exportación). La acuicultura en esta cuenca se halla poco desarrollada, existiendo algunos centros piscícolas en Santa Cruz y Cochabamba, mayormente con carácter experimental y de difusión en pequeña escala de semilla (alevines) de Carpa (Cyprinus carpio), Tilapía (Oreochromis niloticus) y Pacú (Colossoma macropomun). 93 2 ASPECTOS SOCIOECONOMICOS La baja densidad de población de la región ilorte y Noroeste de la Amazonía así como especialmente las limitaciones o ausencia de crédito de fomento y asistencia técnica en general, han restringido la mayor inversión en infraestructura de desembarco, acopio, procesamiento, conservación y coiuercíalización del pescado, que se agrava por dificultades en las vias de acceso y comunicación, aspectos que a su vez son determinantes para un mayor aprovechamiento y uso racional, de los recursos ictícolas de la región y de su oferta a los mercados de consuno en el interior del país y la exportación. En síntesis, la cuenca amazónica boliviana cuenta con una diversidad sistemas fluviales y lacustres donde se dispone de una gran variedad de especies ícticas. Sin embargo, el conocimiento biológico pesquero de un alto número de esas especies, así como su manejo y posible cultivo, es aún reducido. De otra parte, se reconoce la importancia que representa para zonas de menores ingresos, la utilización de dichas espécies en el desarrollo sostenido de la pesca y acuicultura, por su bajo costo en inversores y alto beneficio para vastos sectores de la población. El consumo de pescado en Bolivia, es reducido (inferior a l/kg/persona/año) representando un 23% del consumo total de alimentos. Asimismo, en su generalidad el precio del pescado es menor que de la carne roja, situación que posibilita incrementar el consumo nacional de pescado en la medida que exista una oferta regular de este producto durante el año, cuya proyección podría darse memorando los sistemas de pesca, acopio, procesamiento, conservación y transporte, especialmente en los centros productores de Riberalta, Cachuela Esperanza, Guayaramerín y Puerto Villarroel (Chapare-Cochabamba) de la región amazónica. 3 3.1 ACTIVIDAD PESQUERA EN AREAS INFLUENCIADAS POR LA REGION FRONTERIZA AMAZONICA La actividad de pesca Debido a la magnitud de la Cuenca, aún no se ha realizado una prospección y evaluación completa de las actividades pesqueras y del impacto sobre los recursos vivos acuáticos como resultado de usos y/o explotaciones diferentes (explotación minera, aurífera, represas, etc). Sin embargo, e los últimos cinco años se ha intensificado la actividad minera del oro mediante el dragado de los ríos en la región del Noroeste de Bolivia limítrofes con la República del Brasil. Esto probablemente ha incrementado el uso de embarcaciones de diferentes características y tamaño intensificando el uso del recurso agua además de una mayor concentracíón de pesca con fines de abastecimiento a las nueva poblaciones de mineros. Aspecto que debe investigarse a fondo, por cuanto en esta actividad (minera) se está haciendo uso de concentrados de mercurio, 94 lo cual genera efectos contaminantes muy graves, según denuncia tanto en el territorio boliviano como de Brasíl. En general, es posible la existência de un incremento en el uso de recurso pesquero, con fines familiares como para fines de un comercio con destino al consumo local (interno) y exportaciones al Brasil, en volúmenes que tienden a incrementarse. Una estimación de los sitios donde se concentra la pesca de la Cuenca Amazónica Boliviana, se da a continuación: NOMBRE DEL RIO Mamoré Beni Madre de Dios Orthon Itenez Itonamas Chapare Ichilo Grande NO. SITIOS DE PESCA 274 118 43 51 73 10 84 73 24 750 NO. POBLADOS 43 14 6 11 18 10 3 4 109 Fuente: Proyecto Recursos Hidrobiológicos, La Paz, Bolivia, 1989. 3.2 Características de las pesquerías comerciales Las pesquerías comerciales más prominentes se realizan en regiones influenciadas por Trinidad, Guayaramerín, Riberalta y Puerto Villarroel (Chapare). En Trinidad (Beni), las pesquerias tienen un desarrollo significativo por acciones que emprenden instituciones locales como el Centro de Desarrollo Pesquero, la Universidad Técnica del Beni, Misión ORSTOM-Bolivia (l981-86), la Corporación de Desarrollo Regional del Beni (CORDEBENI), la Misión Británica, Empresa Privada y Asociación de Pescadores de Trinidad. En esta jurisdicción se promueve un sistema de pesca más organizado, ya que las capturas se han íncrementado con las nuevas técnicas incorporadas y la participacíón del Proyecto de Desarrollo Pesquero Amazónico que ha culminado con la formación de la Empresa de Fomento Pesquero de CORDEBENI (EMFOPESCOR), que promueve el mejoramíento de la pesca extractiva, mediante la dotación de barcos pesqueros (6 TM), servicios de conservación del pescado, el suministro de hielo y la comercialización de pescado con destino basicamente al consumo interno. En la región influenciada por Trinidad, la extracción de pescado alcanzó un volumen de 608.2 TM. en 1990 (Surubí, Chuncuina, Sábalo y Pacú). Las artes más utilizadas, son redes agalleras con dimensiones que varian de 50 a 100 metros de largo y de 2 a 3 metros de profundidad y cocos de tamaño de 18 a 24 centímetros de malla. 95 Las pesquerías en la región de Guayaramerín, población fronteriza con Brasil (Guajará-Mirim), tiene características suigéneris por el uso de embarcaciones grandes denominadas pontones de doble cubíerta de hasta 20 metros de longitud, con capacidad de almacenamiento de 5-10 TM. de pescado con hielo (2/1). Existen cerca de 23 unidades de pesca las que realizan sus actividades en las riberas de los rios fronterizos con Brasil (Itenez) e interior del país, en los ríos Mamoré, Mamorecillo y lagunas que se inundan por estos ríos. Se estima que los volúmenes de pesca llegan a 350-550 TM. con destino al Brasil (90%); siendo la disponibilidad de hielo, redes agalleras, hilo, motores y avituallamientos, los factores que limitan la actividad, ya que su abastecimiento depende totalmente de proveedores brasileños, que a su vez imponen los precios del pescado en condiciones desventajosas para el pescador boliviano, que a pesar de estar organizados en la Cooperativa Pesquera "Nicolás Suárez Ltda", aún no han logrado superar esta limitante. La única institución de apoyo es el Centro de Desarrollo Pesquero (CDP), que se ve limitada por la escasa disponibilidad de recursos humanos y econômicos. En la región Noroeste, las áreas influenciadas por Riberalta y Cachuela Esperanza (Beni) recientemente están cobrando importancia, por la instalación de la Sub-Dirección Regional del C.D.P. (l990). El sistema de pesca está limitado por el tipo de embarcaciones pesqueras de poco calado o canoas, cuya producción desembarcada en Riberalta, llega a 180 TM/año (l990) de especies como el Pacú, Dorado, Surubí, Sábalo y otras menores, tanto para el consumo local (30%) y Brasil (70%), lo cual se cumple cuando los precios externos son favorables para el pescador boliviano. En su mayoría la pesca es artesanal, utilizándose poco hielo y cajas de conservación. Es un factor que limita el incremento de la actividad. En la región del Chapare, la localidad de Puerto Villarroel (Cochabamba), se constituye en el principal centro de distribución y transporte de pescado hacia los mercados de consumo de Cochabamba, Santa Cruz y el Altiplano. La pesca se realiza en el río Ichilo y hacia la confluência con el río Grande; también en el río Chimoré y río Chapare. La captura se concentra en las especies como el Surubí, la Chuncuina y el Pacú, existiendo otras de menor tamaño; estas capturas han diminuido durante 1989-1990, debido a la sequía que afectó al país en estos años, llegando en 1990 a 100 TM. y en 1992 a 79 TM. En la actualidad existen sólo 4 grupos con un total de 20 pescadores, trabajando en embarcaciones pequeñas a medianas y 10 en canoas (Subsistencia); existiendo tres comerciantes mayoristas y cuatro de pequeha escala. El tamaão de las redes oscila entre 20 a 100 metros de longítud, con malla de 18 a 24 cm. El hielo utilizado en la pesca, proviene de la ciudad de Cochabamba. El acondicionamiento del pescado no es muy apropiado en las cajas de transporte y la conservación es irregular. A su vez, la disponibilidad de hielo, el transporte a larga distancia y su costo constituyen una limitante para el desarrollo de la actividad pesquera. 3.3 Normas de regulación y preservación de los recursos pesqueros y actividades de pesca. En la amazonía, la pesca es una actividad extractiva que necesita ser tecnicamente orientada a fin de no poner en riesgo la población piscícola, debido a la pesca excesiva o depredatoria. A su vez, debe considerarse la gran perdida de pescado amazónico debido a la falta de hielo, ausencia de infraestructura de frio, al desconocimiento de técnicas de manejo de pescado y al descarte de 96 especies de calidad inferior, dando preferência a las especíes comerciales de mayor demanda en los mercados (interno y externo) como el Pacú, Surubí, Chuncuína y Tambaquí. En Bolivia, las actividades de pesca y acuicultura se hallan normadas por el reglamento aprobado mediante D.S. No.22581 de 14 de agosto de 1990. Sin embargo, es importante señalar que debido a la deficiente fiscalización de la actividad pesquera en la amazonía boliviana y especialmente en la región fronteriza, por lo general, las normas que reglamentan los periodos de veda, tamaños mínimos de los peces y mallas de redes, etc., no son cumplidas a plenitud o no se cumplen, lo que puede llegar a comprometer seriamente la sostenibilidad del recurso pesquero, en el futuro. De otra parte, es patético el abandono de la vigilancia de nuestras zonas fronterizas, ocasionando la incursión de barcos pesqueros de nacionalídad extranjera y el riesgo de conflictos con las comunidades indígenas, que por este hecho es permanente el reclamo de prohibirse la pesca comercial en estas áreas en perjuicio de los pescadores y consumidores de nuestro país.En este sentido, se considera que es de suma importancia compatibilizar critérios conjuntos con Brasil, a fin de que los recursos pesqueros en el ejercicio de la actividad extractiva, estén sujetos a un limite de explotación, observadas simultaneamente las normas que posibiliten la correcta administración de los mismos, entre ambos paises, con la mayor responsabilidad posible, en razón de la fragilidad de los ecosistemas de la cuenca amazónica y de las agresiones que sufre el recurso pesquero como efetto de las tendências a una ocupación intensiva y desordenada que viene aconteciendo en esta cuenca. Frente a este panorama y para lograr un aumento sostenible de la producción pesquera de la amazonía, en volúmenes significativamente mayores a los actuales, implicará una ampliacíón de la frontera de producción acuícola (acuicultura) como factor decisivo, en base a la disponibilidad de recursos humanos y financieros que son indispensables para la realización de estudios e investigaciones y apoyo a los servicios de fomento, extensión, asistencia crediticia y transferência de tecnología a los productores. En consecuencia, habiendo tales recursos, ese límite de producción pasará a ser tecnicamente ilimitado, a través de la práctica de la acuicultura (peces, quelonios, saurios, etc) para la siembra o repoblamiento de áreas agotadas y/o de reserva, cuya importancia económica y social será relevante para los dos Daises, en el contexto de la mayor reserva hídrica de agua dulce del mundo. En este ámbito, se considera de suma importancia la complementación de una cooperación de desarrollo fronterizo entre Brasil y Bolivia, a fin de formular y ejecutar programas y acciones conjuntas que permitan el desarrollo de la acuicultura en la región fronteriza y su área de influencia, cuyas posibilidades son altamente promisorias para contribuir a la expansión de la producción y en la reposición de los stocks de peces en peligro de agotamiento. En este sentido, se destacan los trabajos que se realizan con Tambaquí, Pirarucú (A. gigas), Tucunaré y otras especies en Brasil (Rondonia, Acre, Amazonas) y en Bolivia (Santa Cruz-Cochabamba). En consecuencia, se debe definir una política conjunta dentro de la realidad en la que se desenvuelve la actividad pesquera de la cuenca amazónica y en su contexto mas específico dentro de la realidad económica y social de ambos paises, los objetivos fundamentales a ser previstos y priorizados, determinando las funciones de los órganos estatales competentes para la implementación de estos propósitos, lo cual exige una visión y experiência acumulada en la planificación y ejecución de acciones. 97 Por las características y dimensión geográfica de la región así como de acuerdo a las actuales condiciones de explotación de los recursos pesqueros y las restricciones econômicas de ambos paises, se requiere necesariamente del apoyo de la cooperación internacional a fin de loqrar una adecuada organización técnica y administración de los recursos pesqueros fortaleciendo los planes de acción a corto, mediano y largo plazo, para lo cual será necesario identificar las prioridades y maxímizar los efectos positivos de los recursos asignados en el sector que sin duda, será una tarea que demandará instrumentos y estratégias que planteadas de forma racional permitirán alcanzar los objetivos propuestos. 4 RELACIONES DE INTERCAMBIO COMERCIAL Es importante destacar que en la zona fronteriza entre Guayaramerín (Bolivia) y Guajará Mirim (Brasil) existe una estrecha relación de intercambio comercial pesquero, que se traduce en: - - Suministro de Brasil a pescadores bolivianos de insumos y materiales de operación, tales como: hielo, víveres, combustibles, dotación de motores y embarcaciones con cajas térmicas y material de pesca. Éxportación de pescado a Brasil, via Guajará Mirim, lo cual permite dinamizar el flujo monetarío y comercial entre ambas poblaciones fronterizas. Sin embargo, las actividades de pesca con fines de exportación al Brasil de la amazonía boliviana, no guardan relación con el producto y/o resultados de este intercambio comercial, en virtud a que los precios de compra del pescado boliviano, son fijados en niveles tradicionalmente bajos por los comerciantes brasileños, razón por la cual ha sido necesario establecer medidas de protección al productor boliviano y de preservación del recurso pesquero de la región, evitando la pesca indiscriminada, que se realiza con el desmedido afán de exportar nuestros recursos pesqueros sin cumplir con las políticas de conservación y aprovechamiento racional que establecen las normas tecnológicas de producción sostenible, con el riesgo de un inminente agotamiento de este recurso natural. Las medidas y acciones de orden, control, proteccíón y desarrollo de los recursos piscícolas de la amazonía boliviana, han sido asignadas al Centro de Desarrollo Pesquero, a través de la Subsecretaría de Desarrollo Forestal, Recolección y Pesca, en base a sus específicas funciones y disposiciones legales vigentes, en coordinación con el Ministerio de Desarrollo Sostenible y Medio Ambiente, autoridades locales y población en general. 5 PRODUCCION Y EXPORTACION La producción de pescado de los principales centros productores de la amazonía boliviana, se presenta en el siguiente cuadro, para el año 1993 (En TM). Centro Productor Riberalta Guayaramerín Trinidad Puerto Villarroel TOTAL: Produción Bruta Pérdidas 67.4 611.7 240.0 57.0 976.1 8.8 54.7 60.0 14.0 137.5 Produción Neta 58.6 557.0 180.0 43.0 838.6 98 En general, la producción pesquera de los principales centros productores de la amazonía boliviana, ha sufrido un descenso respecto a 1990, por diversos factores adversos como la aparicíón de la enfermedad del cólera en 1991 (febrero) y climático ambientales. La exportación de pescado al Brasil, se realiza en un volumen de 567.0 TM (l993), mediante la producción que generan los centros pesqueros de Riberalta y Guayaramerín, de acuerdo al siguiente detalle (estimación): Riberalta: 10.0 TM Guayaramerín: TOTAL: 557.0 TM 567.0 TM 6 PRINCIPALES ESPECIES COMERCIALES DE LA CUENCA AMAZONICA BOLIVIANA Surubí Pseudoplatystoma fasciatum (consumo interno-Exportación) Pacú Colossoma macropomun (consumo interno - exportación) Corvina Plagioscion squamosissimus TambaquíColossoma brachypomun (consumo interno - exportación) Dorado (de escama) Pellona flavipinnis Dorado (de piel) Brachyplatystoma flavicans Paleta Surubimichthys planiceps General Phractocephalus hemilipterus Blanquillo Callophysus macropterus (*) Pínirampus pirinampu (*) Pimelodina flavipinnis (*) Sábalo Prochilodus nigricans (*) Boca de sapo Ageneiosus spp (*) Piraíba Brachyplatystoma filamentosum (exportación) Boga Leporinus spp (*) Palometa Serrasalmus spp (*) Muturu Paulicea lutkeni (*) Benton Hoplias malabaricus (*) Bagre pintado Leiarius marmoratus (*) Pírarucú Arapaima gigas (exportación) (*) consumo interno (5% - 10% ) y/o descarte - Debe ampliarse el consumo de estas especies y reducir la pesca selectiva. La Paz, 26 de abril de 1994 99