AGRICULTURA URBANA E SOBERANIA ALIMENTAR
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AGRICULTURA URBANA E SOBERANIA ALIMENTAR
Primeira edição fevereiro 2003 No. 8 ORIENTAÇÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS MUNICIPAIS PARA A AGRICULTURA URBANA Apenas 2% dos resíduos produzidos nas cidades da região são tratados adequadamente. Milhares de metros cúbicos de águas residuais são desperdiçados ou tratados a um custo muito elevado. Todavia podem transformar-se em excelentes fontes de adubo, água para irrigação e também complemento alimentício animal. Emprego de baixo custo e geração de renda A Agricultura Urbana (AU) gera empregos cujo custo de investimento é muito baixo em relação a custos estimados para outros setores produtivos. Criar emprego em AU custa menos de 500 dólares, e seu investimento pode ser recuperado com microcréditos. Estes beneficios nas áreas de alimentação, saúde, ambiente e criação de empresas explicam porque cada vez mais municipios querem desenvolver e modernizar seu agricultura urbana. Geralmente, as políticas de estímulo à produção agrícola e soberania alimentar se encontram dispersas em diversas estruturas administrativas (saúde, educação, assistência social, agricultura, segurança alimentar, etc.) em diferentes níveis de governo (local, federal, nacional). Sem prescindir das ações em nível federal e/ou nacional; é em nível municipal que podem ser obtidas políticas inovadoras para garantir a produção e a equidade no aceso à alimentação, atendendo a especificidades locais na produção, distribuição e consumo. As políticas municipais de soberania alimentar podem facilitar ações e iniciativas que promovam a igualdade e inclusão social. “As pessoas devem ter o direito de definir suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação, com base na pequena e média produção, respeitando suas próprias culturas e a diversidade…, e nas quais a mulher desempenha um papel fundamental”. ea A série atual dá orientações é o fruto dos últimos avanços científico-tecnológicos e das práticas inovadoras experimentadas pelas cidades da Região, quais constituem a inspiração a qual os convidamos a compartilhar e enriquecer. se Os resíduos e águas tratadas em prol da saúde alimentar Muitos municípios aspiram alcançar sua soberania alimentar, desenvolvendo sua gu ra n capacidade para produzir e– do o nt z a al i alimentos básicos para o povo, r im en Ho tação familiar, Belo assegurando o acesso a uma alimentação segura e saudável com qualidade e quantidade suficiente para a população de baixos recursos, respeitando a diversidade produtiva e cultural. As O povo gasta de 40% a 60% de seus baixos ganhos com alimentação e quase 15% com saúde e remédios. A produção de plantas medicinais e derivados como infusões, extratos e essências facilitam o acesso a saúde dos mais pobres e excluídos. ad Boas colheitas urbanas! Y.C. l Medicina natural ao alcance de todos A população de um número cada vez maior de municípios da Região da América Latina e Caribe padece de fome e desnutrição. asi Na América Latina, em menos de 30 anos, o número de pessoas que vão dormir com fome teve um aumento de 20% , perfazendo um total de 60 milhões de pessoas. Alimentar toda a população é uma meta que todas as cidades tem o dever de alcançar. Br A fome aumenta Desafios o n s u m o , R o s a ri o Quatro bons motivos que destacam a importância da Agricultura Urbana en a rg –A Cub utoc ã o d a A U, Cie nf u – egos a m oç tin Pro AGRICULTURA URBANA E SOBERANIA ALIMENTAR Pro gra m Declaração do Fórum Mundial sobre Soberania Alimentar. Havana, Cuba. 2001. CINCO ORIENTAÇÕES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS A partir do enfoque da AU e sua contribuição à soberania alimentar – B r a s il 1. Definir a localização da soberania alimentar no organograma municipal Em Belo Horizonte (Brasil), em 1993, foi criada a Secretaria Municipal de Abastecimento (SMAB), diretamente ligada ao gabinete do Prefeito, com o objetivo de centralizar o planejamento, coordenação e execução de políticas de abastecimento e segurança alimentar. A SMAB coordena 19 programas que contemplam aspectos de produção, comercialização e consumo. Seus recursos provem do Governo Federal através de seu Programa de Alimentação Escolar (40%) e do orçamento municipal (60%). in a is, Mo nte vid é u – U ru g u ai s, Be lo H o ri z onte É importante definir a posição hierárquica de um programa ou unidade alimentar dentro da estrutura administrativa municipal. Unidades diretamente subordinadas i ve á r e a Prefeitura, com um orçamento e infrauln os v p u estrutura própria (como um departamento ou r g A li m e n t a n d o a secretaria municipal) indicam um compromisso maior do município com uma política que realmente incorpore a soberania alimentar. Complementarmente, os projetos e programas de soberania alimentar devem articular-se a outras políticas setoriais, como por exemplo, a gestão do ambiente, o manejo dos mercados ou o desenvolvimento socioeconômico. O vínculo com iniciativas não governamentais e/ou privadas é um aspecto sumamente relevante que deve levar-se em conta no momento de desenvolver políticas públicas, para evitar duplicar esforços, esbanjar recursos e potencializar ações conjuntas. H ort os d me ic 2. Promover e regular a produção local de alimentos A estabilidade alimentar de uma família melhora com sua habilidade de produzir e/ou transferir de forma contínua uma oferta adequada de alimentos para a mesma. Mais além do autoconsumo e poupança, a venda dos excedentes da produção reforçam o poder de compra das pessoas envolvidas. Os governos locais e atores da sociedade civil têm um papel importante na promoção da produção local individual e/ou comunitária, oferecendo assistência técnica, facilitando o acesso a insumos, microcréditos e espaços para cultivar. (Ver delineamentos 3 e 4). É necessário dar atenção especial aos aspectos de diversidade produtiva, de cultura, nutrição e saúde. Produção ecológica e de espécies tradicionais O Governo Provincial de Havana (Cuba), promove a AU orgânica, proibindo o uso de agrotóxicos e facilitando a formação de uma consciência agro-ecológica de conservação do ambiente. Por ex. em bairros populares da cidade, promove-se o cultivo do Sagú (Maranta arundinacea L.), uma espécie de grande tradição na dieta cubana que deixou de ser cultivada nas zonas rurais. Esta espécie é empregada como primeiro alimento das crianças e de pessoas de idade avançada ou com transtornos intestinais, devido a sua fácil digestão. Produção de plantas medicinais O Município de Rosario (Argentina) promove o cultivo de plantas medicinais nos lares que realizam alguma prática de AU. São um reforço ao conhecimento tradicional e são usados na preparação de infusões, azeites etc. e permitem diminuir o gasto de saúde geralmente sofrido pelas famílias mais pobres. 3. Facilitar e melhorar o acesso à alimentação Também, é necessário regular o mercado agroalimentar, intervindo direta ou indiretamente nos seguintes aspectos: Controle de preços utilizados nos mercados Em Belo Horizonte (Brasil), a SMAB implementa dois programas “ABasteCer” e “O Comboio do Trabalhador”, como instrumento regulador dos preços de produtos alimentícios, principalmente hortaliças, frutas, carnes e derivados. Pequenos comerciantes compram os produtos na Central de Abastecimento Estadual e se comprometem a vendê-los respeitando os preços máximos determinados pela SMAB. Mensalmente, são beneficiadas 138.000 famílias que dão assistência a 34 pontos de venda. rc de AU 5. Promover o consumo diversificado nutritivo Uma alimentação insuficiente e desequilibrada nem sempre é resultado de uma escassez de alimentos. Também pode associar-se com o desconhecimento dos princípios de uma boa alimentação e nutrição. È tão importante conhecer o valor nutritivo dos alimentos, sua preparação e as combinações mais nutritivas, como seu manuseio higiênico e distribuição adequada entre os membros da família, com atenção especial à alimentação das crianças e mulheres grávidas. Melhorar os hábitos alimentares Pode-se fazer, por exemplo, através de disseminação de material e capacitação de alternativas alimentícias, valores nutritivos e dietas. Em Teresina (Brasil), a Prefeitura apóia o Programa de Hortas Comunitárias, destinados fundamentalmente a famílias numerosas e de baixa renda. O programa promove a incorporação de hortaliças, frutas e animais menores (proteína) na produção e na dieta, distribuindo folhetos com informação e oferecendo capacitação. ína a ni m al c om em pl Conexão direta entre produtores/as e consumidores/as Do produtor ao consumidor: é necessário estabelecer mecanismos de conexão direta que facilitem a comercialização de produtos sadios, de alta qualidade e a bom preço. io A prote Em Camilo Aldao (Argentina), a Intendência Municipal promoveu a adesão ao programa nacional de crédito para autoconsumo denominado “Programa Agropecuário Social”, através do qual os microcréditos devem ser devolvidos em espécie (hortaliças, doces, fruta, etc.) para abastecer escolas e centros de saúde locais. mé Apoio aos/as mais necessitados/as O governo local ou outras organizações devem facilitar suplementos alimentícios, preferivelmente produtos de AU, aos grupos mais vulneráveis e instituições sociais (escolas, centros de saúde). o co Junto aos sistemas de comercialização formal, diversas cidades da Região desenvolveram alternativas inovadoras de mercado solidário. Entre eles se encontram: e espaços para 4. Fortalecer espaços de economia solidária ção d Criação de espaços comerciais para produtos de AU Abrir novos espaços, canais ou circuitos de comercialização que permitam aos produtores de AU, de forma individual ou coletiva, ter acesso direto a um mercado urbano (sem intermediários) para oferecer seus produtos a um melhor preço e com melhores condições de comercialização. (Ver delineamento 9). Formação de Clubes de Troca Em Fortaleza (Brasil), se criou a Feiras de Produtores do Banco Palmas que permite aos produtores de AU expor semanalmente seus produtos. A moeda social de intercambio se denomina “Palmas” e facilita o intercambio ou troca dos produtos, promovendo um consumo solidário que reforça os circuitos locais. C ria Aumento da oferta e qualidade de serviços É necessário estabelecer regras de funcionamento que contemplem os aspectos sanitários, como a existência de banheiros sanitários, gestão de resíduos, higiene pessoal, atenção aos consumidores/as e aprovisionamento de equipamento, insumos e produtos. Em Quito (Equador), a Tribuna Equatoriana de Consumidores e Usuários (ONG de consumidores), conseguiram juntar diversos grupos de consumidores que buscam um consumo responsável, justo e sustentável. Desta forma, os consumidores se vinculam diretamente com produtores orgânicos para obter seus produtos. en ta ad ieta , Li m a – Perú , Cu enca – Equador “A conexão entre o abastecimento e a produção agropecuária local deve ser mais valorizada nos pequenos e médios municípios. Várias iniciativas municipais podem estimular programas como a Feira do Produtor, a entrega em domicilio de produtos frescos, cursos de capacitação para a produção de hortos, cessão de terrenos baldios para seu uso produtivo, e o uso de quotas diferenciadas de impostos prediais para terrenos de baixa produção”. Projeto “Fome Zero”, uma proposta de política de segurança alimentar para o Brasil. Governo de Luiz Inácio Lula da Silva “. Bibliografia seletiva: Argenti, Olivio. “Alimentos para as cidades: políticas de abastecimento e distribuição de alimentos para reduzir a insegurança alimentar”. Em: Cadernos de Trabalho 77. FAO, IPES, PGU-ALC/UNHABITAT. Quito, 1999. (www.pgualc.org) González, Mario. Institucionalização da agricultura urbana na Cidade de Havana. Ministerio de Agricultura. Havana, 2000. (www.pgualc.org) Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento, Prefeitura Municipal de Teresina. Políticas públicas e suas intervenções a nível municipal em agricultura urbana na cidade de Teresina. Teresina, 2000. (www.pgualc.org) RUAF, RED AGUILA y PGU-ALC. Revista Agricultura Urbana. No 6. “Transição para uma agricultura urbana ecológica: um desafio”. Lima, 2003. (www.ipes.org/aguila) Contatos dos casos mencionados: Eugenio Fuster. Representante de Ministro da Agricultura para a Cidadde de Havana, Cuba. Tel: (53 7) 454287 / (53 7) 451646. E-mail: [email protected] Pre fei tur a in Moisés Machado. Consultor da Secretaria Municipal de Abastecimento. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Brasil. E-mail: [email protected] No. 8 O presente documento foi elaborado a partir de um Texto Base redigido por Moisés Machado (Consultor da Secretaria Municipal de Abastecimento de Belo Horizonte) e Altivo Almeida Cunha (Consultor) Editado por: Marielle Dubbeling e Alain Santandreu (IPES/PGU-ALC) Revisão de texto: Nancy Sánchez e Mónica Rhon D. Assessora em comunicação e desenho: Roberto Valencia (Zonacuario) Este Documento Político faz parte de uma serie de 9 orientações que resumen diferentes temas relacionados com a Agricultura Urbana (AU): 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. AU: motor para o desenvolvimento municipal sustentável AU e participação cidadã AU: gestão territorial e planejamento físico Microcrédito e investimento para a AU Aproveitamento de resíduos orgânicos em AU Tratamento e uso de águas residuais em AU AU: uma oportunidade para a equidade entre mulheres e homens 8. AU e soberania alimentar 9. Transformação e comercialização da AU Toda a série se encontra disponível na página Web do Programa de Gestão Urbana: www.pgualc.org O trabalho foi coordenado e financiado pelo Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (CIIDCanadá), o Programa de Gestão Urbana para América Latina e Caribe (PGU-ALC/UN-HABITAT, Equador) e IPES, Promoção do Desenvolvimento Sustentável (Perú) au Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento 250 Albert St, PO Box 8500 Ottawa, ON, Canada K1G 3H9 Tel.: (613) 236-6163, ext. 2310 Email: [email protected] www.idrc.ca/cfp e ir a d e pro duto s, S. d o s C Promoção do Desenvolvimento Sustentável Calle Audiencia Nº 194, San Isidro Apartado Postal 41-0200 Tel.: (51 1) 440-6099/ 421-6684. Email: [email protected] aba ller os Isabel Muñoz. Assessora técnica em segurança alimentar. Tribuna Equatoriana de Consumidores e Usuários, Quito, Equador. Tel: (593 2) 2509510/520. Correo: [email protected] gur af Sandra Magalhaes. AGORA XXI / Banco Palmas. Tel: (55 85) 2 196 100 (AGORA XXI), (55 85) 2 693 800 (Banco Palmas). E-mail: [email protected] (AGORA XXI), [email protected] (Banco Palmas) AGRICULTURA URBANA E SOBERANIA ALIMENTAR –R ep úbl ic a Domi nic a n a Teresa Sunde. Coordenadora do Programa de Agricultura Urbana. Intendencia Municipal de Camilo Aldao, Córdoba, Argentina.Tel: (54 3468) 461 260 / 461 649. E-mail: [email protected] /[email protected] Paulo Okamotto, Presidente Instituto Cidadania. Ipiranga-SP, Brasil. Tel: (55 11) 69157022. Correo: [email protected] Programa de Gestão Urbana Escritório Regional para América Latina e Caribe García Moreno 751 entre Sucre y Bolívar Fax: 593-258 39 61 / 228 23 61 Email: [email protected] www.pgualc.org
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