MEDIUNIDADE e DOUTRINA
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MEDIUNIDADE e DOUTRINA
CARLOS A. BACCELLI MEDIUNIDADE e DOUTRINA Odilon Fernandes (Espírito) INSTITUTO DE DIFUSÃO ESPÍRITA Av. Otto Barreto, 1067 - Caixa Postal 110 CEP 13602-970 - Araras - SP - Brasil Fone (19) 3541 -0077 - Fax (19) 3541 -0966 C.G.C. (MF) 44.220.101/0001-43 Inscrição Estadual 182.010.405.118 IDE EDITORA E APENAS UM NOME FANTASIA UTILIZADO PELO INSTITUTO DE DIFUSÃO ESPÍRITA, O QUAL DETÉM OS DIREITOS AUTORAIS DESTA OBRA. www.ide.org.br [email protected] [email protected] ÍNDICE Mediunidade e Doutrina - Emmanuel Mediunidade e Nós - Odilon Fernandes I - Mediunidade II - Estudo III - Fé raciocinada IV - Espiritismo aplicado V - Evolução VI - Mediunidade inconsciente VII - Incredulidade VIII - O crivo da razão IX - A finalidade da comunicação X - Sintonia XI - Espíritos e médiuns XII - Proselitismo XIII - Todos somos médiuns XIV - Vozes dos Espíritos XV - O grupo mediúnico XVI - O médium como instrumento XVII - Aptidão mediúnica XVIII - Os médiuns principiantes XIX - Psicografia XX - Mediunidade e missão Dr. Odilon Fernandes MEDIUNIDADE E DOUTRINA Leitor amigo, A mediunidade, desde o século passado, tem sido perquirição e tema para eminentes cientistas e escritores. Estudada, aprovada, combatida, escalpelada, incompreendida, caluniada, acolhida, rechaçada, defendida, maltratada, abençoada ou esclarecida por dignas autoridades científicas e filosóficas, desde Allan Kardec que a descortinou na condição de qualidade inerente à constituição de todas as criaturas, tem sido a via de comunicação entre o Plano Físico e o Mundo Espiritual, já que existe nas sendas humanas, desde tempos imemoriais, de maneira primitiva ou descontrolada, apresenta neste livro a face real que lhe compõe as características. Odilon Fernandes, o legítimo expositor das realidades espirituais, valendo-se das faculdades mediúnicas do companheiro Carlos Antônio Baccelli, enfileira nestas páginas ensinamentos e informações corretos e completos, sobre essa oficina de conhecimento e paz, esclarecimento e luz, que vem estabelecer um novo clima para a mediunidade e para os médiuns de todos os graus e procedências, traçando-lhes o caminho ideal, pavimentado no Evangelho de Jesus, para quantos se dispõem caminhar na estrada do serviço ao Bem, entre os Espíritos encarnados, que se dedicam ao ideal da Imortalidade para a sustentação e elevação das criaturas humanas. Estudemos juntos, leitor amigo, este volume que nos expõe a verdade sobre as lides e realizações mediúnicas, tais quais são, e estaremos buscando a frente, sem as soberbas ilusões do cientificismo, não só palmilhando as veredas de nosso aperfeiçoamento íntimo, mas também integrando-nos, cada vez mais nos ensinamentos de Jesus e nos desígnios de Deus. Emmanuel Uberaba, 20 de novembro de 1989. (Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier) MEDIUNIDADE E NÓS Apresentando estas páginas aos nossos amigos, não tenho outra intenção que não seja a de estudarmos juntos os variados temas da mediunidade. Quando encarnado, militando na seara espírita, a mediunidade sempre mereceume observações continuadas e, desde muito, alimentava o propósito de alinhavar algumas notas em torno do assunto, a título de colaboração despretensiosa. Durante anos, participei das inesquecíveis reuniões mediúnicas da "Casa do Cinza", em Uberaba, Minas Gerais, e tive oportunidade de contatar com inúmeros médiuns, quase todos eles em tremenda luta consigo mesmos para perseverarem na tarefa encetada. Muitos me procuravam, atormentados por suas dúvidas; então, de imediato os convidava ao estudo de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec; aí, ouvia-os responder-me que o tempo se lhes fazia escasso... Quantos passaram pela "Casa do Cinza" em busca de orientação, eu não saberia dizer... Sei apenas que vi muitas mediunidades e médiuns promissores perderemse no vazio das horas inúteis. Quando a desencarnação chegou, trouxe comigo para a Nova Vida o anseio de, quando possível, através de um médium amigo, fazer como Espírito o que não pudera fazer como homem comum, ou seja, condensar num pequeno volume algumas considerações práticas, especialmente dedicadas aos médiuns iniciantes. E é justamente por isto que aqui estou, ao mesmo tempo rogando desculpas aos confrades, se não consegui expressar melhor os meus pensamentos. Talvez as minhas palavras se choquem com as opiniões de muitos; todavia, não compareço aqui como o dono da verdade e sou o primeiro a reconhecer as limitações deste trabalho. Que outros companheiros venham a campo para o diálogo que se faz necessário. O que não podemos é cruzar os braços e silenciar, deixando os nossos irmãos médiuns ao desamparo e tratando a mediunidade como se fosse um assunto tabu. Sempre fui e continuo sendo, com a graça de Deus, aberto ao diálogo fraterno a que, aliás, a própria Doutrina nos incentiva. A Codificação Kardeciana estruturou-se através de perguntas e respostas, e os próprios Espíritos Superiores não tiveram a pretensão da última palavra. Tenho plena consciência de que os companheiros que me conheceram não terão qualquer dificuldade em identificar-me nestas páginas. Esforcei-me ao máximo para sintetizar o resultado de meus estudos, os quais prosseguem na Vida Espiritual, na tentativa de resolver o problema da verdadeira crise da "falta de tempo" que vem acometendo os homens, mormente neste final de milênio. Sei, repito, que as ideias aqui apresentadas são passíveis de desenvolvimento, mas não desejo ser prolixo e, ao mesmo tempo, sintetizando, convido a todos para que não me deixem falando, ou melhor, pensando sozinho... Agradeço ao Senhor pela oportunidade de servir e deixo-lhes o meu abraço cordial. Odilon Fernandes Uberaba, 25 de outubro de 1989. I- MEDIUNIDADE "Por que o Espírito livre não poderia se comunicar com o Espírito cativo, como o homem livre com o que está aprisionado?" (O Livro dos Médiuns - Allan Kardec - IDE - Primeira Parte -Cap. I) Com a Codificação Espírita, efetuada por Allan Kardec, a mediunidade passou a ser mais bem compreendida. Antes, os próprios médiuns não tinham esclarecimentos sobre o fenómeno em que se observavam envolvidos. Agiam como meros instrumentos, não raro tornando-se joguetes de Espíritos infelizes. A partir dos estudos de Kardec, a compreensão da mediunidade tornou-se possível a todos os homens. Os médiuns passaram a atuar com conhecimento de causa. As barreiras existentes entre os mundos visível e invisível transformaramse em pontes, interligando os dois planos da vida. Os Espíritos contavam agora com a parceria consciente dos sensitivos, superando enormes dificuldades no intercâmbio. Com esse trabalho conjunto, o Espiritismo pôde expandir-se e houve, por assim dizer, uma maior integração entre a Terra e o Mundo Espiritual. Hoje, a mediunidade difundiu-se a tal ponto, que é impossível ao homem de bom-senso duvidar da sobrevivência da alma após a morte. Ser médium não é privilégio dos espíritas, de vez que esse sentido psíquico é inerente a todos e encontramos a mediunidade na base de tudo. A Bíblia é um repositório de fatos mediúnicos incontestes. Os génios da Humanidade foram, antes de tudo, grandes medianeiros. Todavia, a consciência espírita dota o médium de recursos mais amplos para o trabalho que lhe compete desenvolver para o bem comum. Eis a diferença fundamental entre um médium espírita e outro que não o seja. O médium espírita aprende a sintonizar com os Espíritos esclarecidos, evitando a problemática da obsessão, ao passo que o médium fora do conhecimento espírita atua sem o discernimento necessário, podendo tornar-se num foco de perturbação, conforme exemplos inumeráveis que a história registra . O médium espírita sabe que deve esforçar-se pela renovação íntima, e a mediunidade lhe é prestimosa auxiliar na senda do progresso espiritual. O médium espírita sabe, ainda, que a mediunidade se desenvolve a cada dia com o desenvolvimento do Espírito e, por isso mesmo, procura cultivar a humildade e a disciplina no clima da oração e do trabalho, do estudo e da vigilância. Herdeiro da Fé Raciocinada, o médium espírita procura ser fiel à Verdade, trazendo sempre direcionado para a Luz o espelho dos próprios sentimentos, através do qual os pensamentos divinos se refletirão em benefício de todos, iluminando os que se demoram nas sombras do fanatismo e da violência! A tendência da mediunidade é a de generalizar-se ainda mais, no entanto, a tarefa de evangelização das almas está apenas começando. Um grande caminho está para ser percorrido. Que os médiuns presentemente a serviço na Doutrina Espírita não se distraiam, deixando-se empolgar pelas novidades parapsicológicas deste final de século, mas aprendendo, também na mediunidade, a "separar o joio do trigo". Não que nos posicionemos contra a Parapsicologia, ciência a cujo estudo procurei igualmente dedicar-me na Terra, mas porque o Espiritismo nos oferece um campo de trabalho vinculado ao Cristo, que nos recomenda "dar de graça o que de graça recebemos". II- ESTUDO "A explicação dos fatos admitidos pelo Espiritismo, suas causas e suas consequências morais, constituem toda uma ciência e toda uma filosofia, que requerem um estudo sério, perseverante e aprofundado." - (O Livro dos Médiuns -Primeira Parte - Cap. II) Mediunidade sem estudo pode ser comparável a uma locomotiva correndo fora dos trilhos. O primeiro e mais importante dever do médium é, sem dúvida, o de estudar. Não basta ser médium para deter o conhecimento espírita, assim como não basta ser espírito liberto da matéria para possuir toda a sabedoria acerca do Mundo Espiritual. Existem Espíritos tão ou mais ignorantes do que os médiuns dos quais se servem. Afora a necessidade de tomar parte nas reuniões de estudos do Centro Espírita a que esteja vinculado, o médium deve estudar por conta própria, procurando ampliar os seus conhecimentos, permutando ideias com os companheiros mais experientes da jornada humana. Mediunidade é intercâmbio, e o intermediário deve aprimorar-se quanto possível, para não deturpar a mensagem de que deseje fazer-se o estafeta. Não raro, o que pertence ao Espírito comunicante são a ideia e a emoção; ao medianeiro cabe materializá-las através de seus recursos intelectuais. Quanto mais consciente o médium, maior a sua participação na mensagem e, consequentemente, maior a sua responsabilidade. Os médiuns chamados mecânicos, ou inconscientes, são difíceis de encontrar. No caso deles, os Espíritos têm que, praticamente, fazer todo o trabalho; por isso, preferem trabalhar com os médiuns que, conscientemente, lhes secundem os esforços. O exemplo que podemos citar nesse sentido é o do próprio Cristo, que foi o Médium Consciente de Deus. Ele representa a Mediunidade no que ela tem de mais sublime. A sua identificação com o Pai era de tal ordem, que disse: "Eu e o Pai somos um." Sendo um sentido psíquico, a mediunidade está sujeita à evolução, assim como os demais sentidos do homem. À medida que evolui, ela caminha para o campo da intuição pura, que é o seu ápice. Por isso, não vemos motivo para que os médiuns desejem operar na inconsciência, como se isso lhes fosse garantia contra o animismo ou problemas semelhantes. Quando se trata do bem genuíno, não existe animismo e nem tampouco mistificação, no sentido literal da palavra. Quando enfatizamos a necessidade de estudo do médium, não estamos nos referindo apenas ao estudo de caráter doutrinário. Quanto mais o médium se forma e se informa, maior será a sua colaboração ao Espírito comunicante. Sim, porque muitos Espíritos precisam do médium, não apenas como uma ponte de que se servem para atravessar o abismo dimensional que os separa da Terra, mas, igualmente, para suprir-lhes a falta de recursos intelectuais e a sua total inabilidade para lidarem com o intercâmbio em si. Portanto julgamos de bom alvitre que o médium se dispa de seus escrúpulos excessivos e procure estudar e estudar sempre. A mente mediúnica assemelha-se a um computador que precisa estar devidamente programado, para funcionar a contento. O exercício da mediunidade não se compadece com a ignorância do instrumento. Aliás, a rigor, não há um só médium que não coloque algo de si mesmo na mensagem que transmite. Se assim é, que o médium participe positivamente e não negativamente. Que o médium seja sincero e bem intencionado e obterá o aval dos Espíritos Superiores; caso contrário, precipitar-se-á, mais cedo ou mais tarde, na vala escura do desequilíbrio. III- FÉ RACIOCINADA "Os meios de convicção variam extremamente segundo os indivíduos; o que persuade alguns, não produz nada nos outros; tal é convencido por certas manifestações materiais, tal outro por comunicações inteligentes, a maioria pelo raciocínio." (O Livro do Médiuns - Primeira Parte - Cap. III) Equivocam-se quantos acreditam que o fenômeno possa convencer mais do que o raciocínio. O fenómeno é um meio e não um fim em si mesmo. Os que se convencem pelo fenómeno poderão vir a reconsiderar a própria crença, ao passo que nada conseguirá abalar a convicção dos que se fundamentam nos alicerces inamovíveis da razão. ()s fenômenos ditos mediúnicos são de todos os tempos. Manifestações de Espíritos sempre ocorreram e nunca lograram mais do que convencer momentaneamente as pessoas. Passado o primeiro entusiasmo, a dúvida volta com todo o seu rigor. Por isso o Espiritismo dirige a sua mensagem aqueles que, antes de crer, desejam compreender. Embora as manifestações de caráter ostensivo continuem tendo o seu lugar, hoje vivemos a fase das comunicações inteligentes, mesmo porque, em seu dinamismo natural, a Doutrina carece de estar acompanhando a marcha do progresso da Humanidade. O médium espírita não deve preocupar-se em ser um instrumento de convicção para quem quer que seja. A fé é fruto que amadurece na época certa; acontece de dentro para fora e não de fora para dentro. Os médiuns que desejam fazer proselitismo acabam prestando um desserviço ao Espiritismo. No fundo, é preciso que o médium pergunte a si mesmo qual e a sua verdadeira intenção na mediunidade, porque muitos desejam simplesmente autopromover-se. Os médiuns levianos pululam na atualidade e, de certa forma, chegam a comprometer o trabalho dos médiuns sérios, fornecendo uma imagem distorcida da Doutrina para aqueles que ainda não possuem o desejável discernimento. Hoje, infelizmente, há uma preocupação muito grande com a quantidade de adeptos e não com a qualidade. Mas perguntaríamos: todos os que são atraídos pelo fenómeno se tornarão espíritas? Todos os que recebem passes ou são beneficiados, de algum modo, no Centro Espírita de elevada frequência estarão sendo esclarecidos quanto aos reais objetivos da Terceira Revelação? Pode-se questionar o fenômeno, e até o próprio médium, o que ocorre até com certa frequência, mas a grandeza cristalina da filosofia espírita é inquestionável. Ao longo de mais de um século, médiuns têm sido flagrados na má-fé, no entanto, o Espiritismo continua a sua trajetória, porque nem mesmo os espíritas invigilantes conseguem impedir o seu avanço, assim como os adulteradores do Evangelho não conseguiram obstruir a mensagem cristã! Que os médiuns cumpram, silenciosamente, o seu dever, recordando-se das palavras de Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios: "Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus." IV- ESPIRITISMO APLICADO "Que o homem utilize o Espiritismo para o seu adiantamento moral, é o essencial; o resto não é senão curiosidade estéril e, frequentemente, orgulhosa, cuja satisfação não lhe fará dar nenhum passo à frente; o único meio de avançar é o de tornar-se melhor." - (O Livro dos Médiuns -Primeira Parte - Cap. IV) A finalidade precípua do Espiritismo é melhorar o homem. Todos os seus esforços devem concentrar-se neste sentido. Aquele que deseje desenvolver as suas pontencialidades medianímicas, canalizando-as para o bem, deve aprimorar-se interiormente, aplicando o Espiritismo à sua própria vida. Mediunidade sem Doutrina é uma luz que deslumbra. Muitos ambicionam incursões pelo mundo da mediunidade, aspirando a revelações para as quais não se encontram preparados. A Revelação Espírita é gradativa e acompanha o progresso da Humanidade. Todavia existem Espíritos que, servindo-se de médiuns invigilantes, intentam anexar ao corpo doutrinário teorias esdrúxulas e absolutamente pessoais. Exercendo certo fascínio sobre os instrumentos que controlam, esses Espíritos pseudo-sábios não integram a Falange do Espírito Verdade e como que desejam fragmentar opiniões, criando sistemas paralelos e semeando a discórdia entre os homens. Espelhemo-nos no que aconteceu com o Cristianismo e busquemos zelar pela Codificação, imitando o bom-senso do Codificador, o qual cumpriu com fidelidade a missão que lhe foi confiada diretamente pelo Senhor. Os espíritas têm, presentemente, material de reflexão para muito tempo. Considerar ultrapassadas e obsoletas as obras que mal saíram do prelo é, no mínimo, falta de discernimento. A Verdade será sempre a Verdade, em qualquer tempo e lugar. Muitos se têm embrenhado pelos atalhos da curiosidade estéril, comprometendose significativamente. É preciso ainda que o homem considere o seu próprio carma. Sem que se liberte do passado, pelas oportunidades do presente, caminhará atabalhoadamente para o futuro... Nenhuma construção sólida se ergue em terreno arenoso. A estrada da evolução deve ser percorrida passo a passo. Passados vinte séculos, o Evangelho continua sendo a grande "novidade" para o homem que não lhe vivência os preceitos divinos. Os exemplos dos primitivos cristãos parecem cada vez mais distantes da civilização atual. Mas a dor se encarregará de fazer com que o homem retorne às suas origens, compreendendo que de "nada lhe vale ganhar o mundo e perder a alma"... O Espiritismo caminha com segurança, porque o Evangelho lhe tutela a marcha. Que os médiuns combatam o personalismo e não queiram forçar as portas da revelação espiritual. Recordemo-nos da palavra do Mestre: "Procurai, pois, primeiramente o reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo." O melhoramento moral é tarefa inadiável e intransferível. À medida do merecimento, receberemos. Reconhecer as próprias limitações é sabedoria. Aquele que cogita de desenvolver a mediunidade e servir dentro do esquema traçado pelo Senhor de nossas vidas deve despojar-se de ambições pessoais e, qual João Batista, o Precursor da Boa-Nova, repetir de si para consigo mesmo: "E necessário que Ele cresça e que eu diminua." V- EVOLUÇÃO "(...) se negligenciaram as mesas girantes, foi para ocuparem-se das consequências muito mais importantes em seus resultados: trocaram o alfabeto pela ciência (...)" - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. II) No princípio, os Espíritos se sujeitaram ao fenômeno das "mesas girantes", porque se fazia mister chamar a atenção dos homens para a realidade espiritual. Recordemo-nos de que o Senhor iniciou a sua divina missão no mundo transformando a água em vinho, nas Bodas de Caná. Ainda hoje, esporadicamente, ocorrem manifestações físicas, no intuito de manter acesa a crença de que existe algo além do túmulo, subtraindo a mente humana das ocupações materiais em que vive excessivamente mergulhada. De quando em quando, despontam medianeiros realizando - digamos verdadeiros prodígios, no caso das cirurgias psíquicas, com ou sem uso de instrumentos cortantes, e mobilizando a opinião pública. Esses companheiros, muitos deles autênticos mártires da mediunidade, trabalham num campo difícil e, quase sempre, quando não se valem do apoio da Doutrina, terminam os seus dias em situação lastimável! Mas compreendemos que a comprovação científica da sobrevivência não é tarefa específica do Espiritismo. Caberá à ciência materialista proclamar a veracidade das teses espíritas. Novos Williams Crookes haverão de surgir. Já não vemos, nos próprios países da "cortina de ferro", médiuns não-espíritas estudados exaustivamente nos laboratórios, como se fossem autênticas cobaias humanas? Os médiuns do Espiritismo são chamados a atuar num campo mais elevado, de vez que lhes cabe, junto aos Espíritos Superiores, prosseguir na obra de construção do imenso edifício doutrinário. Em vão, esperar-se-ão nos Centros Espíritas reuniões espetaculares quais as do século passado, nos salões de Paris. Se o homem não estiver preparado para receber mais do Alto, ao invés de beneficiar-se, ele se comprometerá. Aqui, evocamos a imagem forte da palavra atribuída ao Senhor: "Não atireis pérolas aos porcos..." Porventura, não se exercitam, na atualidade, os poderes da mente para fins belicistas? Se o homem, de uma maneira geral, ainda não crê ser ele mesmo um Espírito, atribuindo a sua inteligência a "uma espécie de secreção das células do cérebro", como acreditar que os outros o possuam? Todo o esforço da Espiritualidade Superior resume-se em orientar o homem para o autoconhecimento, ensinando-o a crescer interiormente a fim de que ele encontre dentro de si as verdades que anseia por descobrir. No Espiritismo, o tempo do Pentecostes já passou... Já não há necessidade de ver para crer. Por outro lado, Espíritos preocupados com o atraso moral da Humanidade Espíritos comprometidos com outras faixas do pensamento religioso - têm-se feito manifestar, ostensivamente, neste final de milênio, valendo-se da mediunidade latente dos profitentes das religiões de massa, numa tentativa de arrancá-los do marasmo mental em que vivem, despertando-os da hipnose secular a que foram submetidos. E muitos dos Espíritos que lhes "aparecem", tomando a forma de figuras veneráveis por todo o mundo cristão, são os mesmos que, no passado, se responsabilizaram por tal estado de coisas. Compreendamos tudo e sigamos adiante. Saibamos manter-nos em equilíbrio no degrau da escada da evolução em que nos encontramos, até o momento de dar o próximo passo acima... VI- MEDIUNIDADE INCONSCIENTE "O Espírito pode agir sem o concurso de um médium? - Pode agir com desconhecimento do médium; quer dizer que muitas pessoas servem de auxiliares dos Espíritos para certos fenômenos, sem disso desconfiarem. O Espírito toma delas, como de uma fonte, o fluido animalizado de que tem necessidade; é assim que o concurso de um médium, tal como entendeis, não é necessário, e é o que tem lugar, sobretudo, nos fenómenos espontâneos." - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. IV) Para manifestar-se aos homens, o Espírito não pode agir sem o concurso do médium, o qual lhe é imprescindível. Sejam manifestações físicas ou intelectuais, em suas variadas formas. Na maioria dos casos, há participação consciente do médium. A mediunidade inconsciente - repetimos - é rara, e preciso é que haja uma grande afinidade do médium com o Espírito, afinidade conquistada na convivência estreita, em vidas anteriores. Na mediunidade inconsciente, há como que uma acoplagem de mentes entre o Espírito comunicante e o médium. Referimo-nos às comunicações intelectuais, porque, nas físicas ou materiais, há apenas uma junção definidos, para a produção do fenómeno. Verdadeiramente, porém, entendemos por mediunidade inconsciente a sintonia natural estabelecida entre os homens e os Espíritos no cotidiano da vida. Explicamo-nos. Quantos agem no mundo impulsionados pelos pensamentos dos Espíritos, sem o saberem? Quantos chegam a repetir frases inteiras que lhes são como que "sussurradas" pelos desencarnados, sem que disso se dêem conta? Esse tipo de mediunidade inconsciente está bem próximo da intuição. Quantos não registram ideias que lhes "brotam" aparentemente do nada, abrindolhes novas perspectivas? De onde fluiriam esses pensamentos? Do inconsciente? Mas, às vezes, as pessoas que os têm precisam valer-se de outras para as auxiliarem na decodificação da mensagem que recebem. E, não raro, têm que consultar livros que nunca manusearam. O que se chama "presença de espírito", ante esta ou aquela situação embaraçosa, pode ser a presença de um Espírito Amigo agindo com presteza. Muitos querem a mediunidade inconsciente, mas não pensam nela por esse prisma que apresentamos. O curioso é que desejam estar conscientes da própria inconsciência no ato do fenómeno. Não estamos fazendo jogo de palavras. Neste instante, o médium de que me sirvo para grafar estas linhas atua de maneira consciente, todavia posso registrar-lhe a surpresa crescente à medida que vamos escrevendo. A ideia, originariamente, flui do meu cérebro para o dele, mas acompanho-lhe o cuidado em escolher as palavras que as represente no papel com a maior fidelidade possível. E anoto-lhe a frustração, quando não consegue. E lamento quando precisamos parar, a fim de que o dicionário seja consultado, porque a mente mediúnica muitas vezes se me mostra refratária, principalmente quando desejo empregar termos que lhe fogem ao domínio. Que os médiuns se conscientizem e estudem. Assim, grande parte dos obstáculos que nos separam serão removidos e os nossos caminhos aplainados, de modo que a nossa mensagem não chegue à Terra tão entrecortada e "cheia de ruídos", à semelhança da comunicação telefónica de longa distância, efetuada sob tempestade. Nota do Autor Espiritual - Como exemplo de mediunidade absolutamente inconsciente, temos os casos de obsessão, em que a "vítima", em avançado grau de fascinação ou, então, já subjugada, age sem nenhum controle sobre si mesma, sem reter, quando consegue tornar à realidade, nenhuma lembrança do que lhe ocorreu, ou se se recorda de alguma cousa, essa recordação, fixando-se em seu consciente, são "sequelas obsessivas" que somente o tempo poderá afastar em definitivo. VII- INCREDULIDADE "Os ateus e os materialistas não são, a cada instante, testemunhas dos efeitos do poder de Deus e do pensamento? Isso não os impede de negar a Deus e a alma. Os milagres de Jesus converteram todos os seus contemporâneos?"-(O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. V) Muitos se aproximam do Espiritismo, pedindo provas. Querem tocar a realidade, como Tomé pediu para tocar as chagas do Cristo. Esquecem-se, no entanto, de que a convicção também é uma conquista. Os próprios médiuns, às vezes, oscilam entre a crença e a descrença. Atribuem o que produzem mediunicamente a si mesmos. Isto acontece quando o medianeiro é pouco dado à reflexão e ao estudo. Se todo médium estudasse um pouco mais e refletisse sobre a vida, procurando orar para fugir à influência perniciosa daqueles Espíritos que desejam vê-lo estacionar, não se transformaria ele mesmo num obstáculo para os Espíritos que estimariam vê-lo progredir. O Evangelho nos conta o caso do pai de um menino lunático a quem implacável obsessor perseguia. Nem os apóstolos puderam curá-lo. O pai, aflito, suplicava: "Senhor, eu creio; ajuda a minha incredulidade"... Dizem os evangelistas que, indo a Nazaré, cidade onde fora criado, Jesus "não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles." Não encontramos uma só passagem em todo o Novo Testamento, onde o Mestre se tenha preocupado em convencer alguém pelo fenómeno, e o fariseus viviam pedindo-lhe "um sinal do Céu"... . Já em Cafarnaum, vemos o Senhor exaltando a fé do centurião que lhe rogava a cura de seu servo, dizendo pela boca dos amigos que ele enviara à divina presença: "Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres em minha casa. "Por isso eu mesmo não me julguei digno de ir ter contigo; porém manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado. "Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz." A incredulidade é uma prova que cada um deve superar sozinho. O Espiritismo não se dirige aos olhos do corpo, mas aos da alma. Os que crerem nele o farão pelo raciocínio, de vez que o fenómeno em si estará sempre sujeito a questionamentos de toda ordem. Porventura, os soviéticos não criaram a chamada Parapsicologia sem Alma para explicar fenômenos que a escola norte-americana começa a admitir como sendo provocados por uma força extracorpórea? A Psicologia não atribui tudo à própria alma encarnada? Vejamos que, por muito tempo ainda, o homem lutará contra o cepticismo. É que a incredulidade, estando na raiz de todos os males que assolam a Humanidade, interessa sobremodo às inteligências encarnadas e desencarnadas que pelejam por mantê-lo encarcerado à ignorância. Quando o homem vencer a barreira da incredulidade, nada mais o deterá na senda do progresso espiritual. A sua mente se abrirá para o Universo e ele resplandecerá à feição de um sol imenso, brilhando na escuridão. O espírita, pois, pode ser comparado a alguém que se esforça diuturnamente para romper os últimos grilhões que o prendem ao jugo da matéria. O espírita verdadeiro não apenas crê: sabe; não apenas acredita: tem certeza. A razão é o invencível argumento. E o médium, quando sincero, tem, no mínimo, ao seu alcance, dois motivos para que a incredulidade não lhe embarace os passos: primeiro, porque é espírita; segundo, porque é médium. VIII- O CRIVO DA RAZÃO "Recordai, espíritas, que se é absurdo repelir sistematicamente todos os fenómenos de além-túmulo, não é prudente aceitá-los cegamente." -(O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. V) O próprio médium deve submeter toda comunicação que receba ao crivo da razão, e isto porque ele precisa ser o principal interessado na autenticidade do fenómeno, evitando comprometer a Causa e expor-se ao ridículo. O médium que crê na sua infalibilidade ou na dos Espíritos torna-se presa fácil da obsessão. Cabe ao espírita zelar pelo patrimônio da Dou-nina, não aceitando a priori tudo que os Espíritos dizem, seja através deste ou daquele médium, por mais idôneo lhe pareça. A mediunidade é exercida no dia-a-dia e, quando menos espera, o médium pode tropeçar na invigilância. Para confiar-se no médium, deve-se confiar em sua vida. Diríamos: tal o homem, tal o médium. Muitos médiuns, assim como muitos Espíritos, gostam de impor-se pela cultura que possuem, quando lhes escasseia o que seja talvez o bem mais precioso da mediunidade: o discernimento. E comum, nos dias atuais, encontrarem-se médiuns que se julgam aptos a resolver todo e qualquer tipo de problema para que são procurados. Com uma facilidade incrível, dispõem-se a revelar as vidas passadas de seus consulentes, descendo a espantosos detalhes! Outro fato corriqueiro, no capítulo que estudamos, é o dos médiuns que afirmam ver Espíritos ao redor de todas as pessoas, cometendo, assim, os maiores disparates e desacreditando a mediunidade! Vejamos o que nos diz o profeta Jeremias, no texto que Allan Kardec transcreveu no capítulo XXI de O Evangelho Segundo o Espiritismo: "Eu não enviava esses profetas e eles corriam por si mesmos; eu não lhes falava e eles profetizavam de sua cabeça. Eu ouvi o que disseram esses profetas que profetizaram a mentira em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei. Até quando essa imaginação estará no coração dos profetas que profetizam a mentira e cujas profecias não passam de seduções de seu corações?" O médium que merece credibilidade é simples e discreto. Não gosta de falar de si mesmo e age sem nenhum interesse pessoal, por menor que seja. Uma técnica que os Espíritos infelizes gostam de empregar, para conquistar a simpatia e a confiança dos que desejam manipular, é a lisonja, o elogio fácil, incensando as pessoas, através dos médiuns que lhes servem aos inferiores propósitos, com o que lhes anulam a capacidade de discernir, tornando-se-lhes defensores incondicionais. O Espiritismo é uma doutrina livre. Não há cerceios ao pensamento e ao trabalho de nenhum médium, todavia nada nos impede, na condição de espírita, de discordar deste ou daquele Espírito, deste ou daquele médium. Allan Kardec deixou isto bem claro nas obras da Codificação. Existem Espíritos que, em conluio com os médiuns que lhes são afins, dominam a comunidade do Centro Espírita, não permitindo que se faça nada sem que sejam consultados. Quando contrariados em seus pontos de vista, eis que então se revelam com toda a arbitrariedade que os caracteriza, chegando até ameaçar os que ousam enfrentá-los! Sintetizando, em louvor do fenómeno genuíno, devemos submeter todos os comunicados de além-túmulo ao crivo da razão, sem, no entanto, exigir perfeição do Espírito ou do médium, de vez que tanto eles quanto nós somos Espíritos carregados de mazelas e estamos muito longe da Verdade Integral, que pertence a Deus. IX- A FINALIDADE DA COMUNICAÇÃO "Qual é o objetivo dos Espíritos que vêm com uma boa intenção? Consolar as pessoas que os lamentam; provar que existem e que estão perto de vós; dar conselhos e, algumas vezes, reclamar assistência para eles mesmos." (O Livro dos Médiuns -Segunda Parte - Cap. VI) Os Espíritos formam a Humanidade desencarnada e habitam o mundo que lhes é próprio. Homens e mulheres desencarnados, eles não se desvinculam, pela morte, daqueles que deixaram na Terra. Embora continuem vivendo em outra dimensão, a maioria sabe que deverá tornar ao corpo de carne, porque, segundo a afirmativa evangélica, "tudo que ligarem na Terra será ligado no Céu e tudo que desligarem na Terra será desligado no Céu." A reencarnação é, portanto, indispensável ao progresso dos Espíritos. Em contato com a matéria densa é que se lhes desenvolvem as potencialidades latentes, porque o corpo está para o Espírito como a terra está para a semente... Colaborar com os homens é, para nós, os desencarnados, muito mais que uma tarefa de amor. E investir em nosso próprio futuro. Tanto a Terra quanto o Mundo Espiritual são, ao mesmo tempo, um campo de causas e efeitos. O que semeamos, na condição de desencarnados, é o que colheremos, quando reencarnarmos, e vice-versa. Trabalhar por um mundo melhor hoje é criar condições mais favoráveis para o nosso retorno ao berço, amanhã. Como evoluímos em grupo, herdamos de nós mesmos e daqueles que se nos constituem a parentela corporal, de vez que nos responsabilizamos pelo tipo de educação que transmitimos aos nossos descendentes. Assim é que um Espírito pode vir a ser avô... de si mesmo, sendo filho de seu próprio filho. E, conforme a orientação que tiver dado ao filho, assim será orientado. Muitos Espíritos trabalham anos e anos, reaproximando desafetos a quem devem auxiliar na reconciliação, renascendo no meio deles. A finalidade da comunicação dos Espíritos que os antecederam na Grande Viagem não é apenas, portanto, de consolação, embora seja o que habitualmente acontece, devido, principalmente, à incompreensão dos homens sobre o fenômeno da morte. Além de desejarem provar-lhes que estão vivos e dar-lhes bons conselhos, como na parábola do mendigo leproso Lázaro e o mau rico, os Espíritos que nos comunicamos, logrando atravessar o abismo que nos separa, aspiramos transmitir-lhes a nossa experiência, agora que a nossa visão de vida se encontra ampliada. Por exemplo, não fosse a iniciativa dos Espíritos Superiores, em cumprimento às promessas de Jesus com referência ao Consolador, os homens não conheceriam o Espiritismo! A Doutrina Espírita é fruto da comunicação dos Espíritos com os homens. Enquanto o Cristianismo contou com os seus médiuns, a doutrina cristã permaneceu inalterável, mas, assim que as portas do intercâmbio mediúnico foram cerradas, os Espíritos tiveram que silenciar, limitando-se a contatos esporádicos, mesmo porque os médiuns que lhes escutavam as vozes eram condenados às fogueiras! De quando em quando, chegam até nós rumores de que certa facção de espíritas se mostra contrária aos nossos comunicados e já se falou, inclusive, em extinção dos trabalhos mediúnicos dedicados à enfermagem espiritual... Fossem os homens abandonados à própria sorte, teríamos na Terra de agora um retorno à Idade Média, quando os Espíritos infelizes, agindo a seu bel prazer, mergulhavam o mundo em completa escuridão. E chegamos a imaginar se não será o que desejam novamente... Se as reuniões de desobsessão nos Centros Espíritas fossem extintas, ter-se-ia que aumentar a capacidade dos sanatórios e o número de celas nas penitenciárias! Se fôssemos descrever a complexidade do trabalho dos Espíritos junto aos homens, seríamos igualmente acusados de criar obras de ficção. E, se os homens soubessem o que ocorre no Mundo Espiritual no momento do repouso físico, quando a nossa população se vê consideravelmente aumentada, talvez que não desejassem abandonar o corpo. No que afirmamos, se baseia o medo inconsciente que muitos têm da morte, porque receiam o encontro consigo mesmos. X- SINTONIA "O melhor meio de afastar os maus Espíritos é atrair os bons." - (O Livro dos Médiuns -Segunda Parte - Cap. IX) Em mediunidade, a sintonia é tudo. O melhor médium é aquele que está em permanente contato com os Espíritos bons. Mas, para isto acontecer, ele precisa elevar o seu padrão vibratório, disciplinando o pensamento. A diferença entre mediunidade e obsessão é apenas uma questão de vida mental. Todo obsediado é um médium em potencial, mas nem todo médium é assediado pelos Espíritos obsessores. A obsessão é um estado doentio da mediunidade. O obsediado pode tornar-se um médium equilibrado e a mediunidade, quando exercida de forma irresponsável, pode degenerar em obsessão. Para que o médium sintonize com os bons Espíritos, ele deve vivenciar o bem, pois a prática do bem repele, naturalmente, a presença dos Espíritos infelizes. Os Espíritos votados ao mal tudo fazem para atrapalhar o medianeiro bem intencionado. Criam dificuldades, armam ciladas, preparam obstáculos, interferem na sua vida profissional, favorecem situações embaraçosas... Há uma necessidade muito grande de vigilância diária. Mesmo o Cristo, antes de iniciar o seu ministério entre os homens, foi tentado pelos Espíritos que se sentiam importunados com a sua presença no mundo. Herodes chegou a sonhar com Ele - o Rei que viria destroná-lo, e mandou eliminar todas as crianças de até dois anos de idade que fossem encontradas na Palestina. O médium que deseje servir na seara espírita deve fazer da oração o seu alimento diário, porque, quanto mais importante a tarefa que esteja executando, maior será o assédio que experimentará. A prece nascida do fundo d'alma, como que lhe será uma luz acesa dentro da noite, facilitando o auxílio dos Espíritos que o assistem. Existem médiuns que nem sempre estão bem assistidos espiritualmente. Quando eles reconhecem esta verdade, já estarão criando as suas próprias defesas, aprendendo a combater por si mesmos a influência dos Espíritos infelizes. Mas, normalmente, quando o médium está debaixo de uma influência negativa, ele não consegue detectá-la de imediato, a não ser que tenha bastante experiência e humildade. Sem querer julgar ninguém, apenas a título de aprendizado, quantos médiuns, em todo o mundo, já receberam obras similares àquela que conhecemos sob o título de A Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo?... Retomando a questão da sintonia mediúnica, vejamos o caso de Maria de Magdala, a qual, segundo a narrativa evangélica, "era possuída por sete génios das sombras"... A partir do momento em que ela decidiu mudar de vida, elegeu outros Espíritos para companhia e transformou-se num dos maiores exemplos de renovação interior da História! Vivemos mergulhados num oceano de ideias e emoções. Influenciamos e somos influenciados, mas "semelhante atrai semelhante." A vida exterior de cada um é o resultado de sua vida mental. O pensamento é um ímã. Se o bem ocupar a vida mental do médium, o mal não encontrará espaço para aí proliferar. Disciplinar a mente é também disciplinar os olhos, os ouvidos, a língua... Que o médium comece a fazer uma triagem nos assuntos que comenta ou que são comentados à sua volta, e estará caminhando a passos largos na conquista da serenidade mental, que o imunizará contra a obsessão, garantindo-lhe o exercício saudável da mediunidade. XI- ESPÍRITOS E MÉDIUNS "Os Espíritos sérios não são todos igualmente esclarecidos; há muitas coisas que ignoram e sobre as quais podem se enganar de boa-fé; é por isso que os Espíritos verdadeiramente superiores nos recomendam, sem cessar, submeter todas as comunicações ao controle da razão e da mais severa lógica." - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. X) O Espírito, quando bem intencionado, não luta para que o seu ponto de vista prevaleça sobre os demais. Isto também vale para os médiuns. O Espírito esclarecido não deseja impor a sua opinião, pois sabe que não detém a última palavra, com referência ao assunto ventilado. Os Espíritos Superiores que ditaram a Codificação orientaram Allan Kardec a que submetesse os seus próprios comunicados "ao controle da razão e da mais severa lógica". Existem médiuns que se melindram, quando os comunicados que recebem são colocados em dúvida... Se um médium age com sinceridade, não deve temer a crítica, porque o tempo se encarregará de defendê-lo. Os Espíritos de uma evolução mediana falam do que sabem, mas, quando possuem bom-senso, fazem questão de dizer que seus conhecimentos são limitados. Assim, igualmente, deve agir o médium. Somente os Espíritos de uma faixa superior têm opiniões mais ou menos estáveis, mas, mesmo assim, não gostam de ditar normas de conduta. Eles têm um respeito muito grande pelo livre-arbítrio de cada um. Neste sentido, Kardec foi admirável, ao escrever que o Espiritismo, em face do avanço da Ciência, estaria pronto a rever-se, se tal ou qual princípio lhe fosse ultrapassado. No atual estágio evolutivo do homem, a Verdade possui um dinamismo extraordinário. O que hoje se compreende de uma forma, amanhã se compreenderá de outra. As ideias vão-se aperfeiçoando. A única Verdade Imutável é Deus. Tanto os médiuns quanto os Espíritos têm a obrigação de estudar sempre! Aqui, no Mundo Espiritual, o nosso estudo é muito mais intenso do que na Terra; as nossas lições abrangem a Vida Universal. Aprendemos que todos os assuntos estão relacionados uns com os outros e procuramos entender a vida como um todo, porque tudo está contido em tudo. Um átomo é um universo em miniatura e o homem é um deus em gestação. O Mundo Espiritual possui dimensões que mesmo nós, os desencarnados, estamos longe de conhecer. Precisamos manter a mente receptiva à Excelsa Luz que se derrama das Alturas. Os "donos da verdade" são os que mais sofrem quando retornam ao Além, porque constituem um tipo de "ignorantes intelectualizados", com os quais é difícil, também para nós, sustentar qualquer diálogo. Não raro, precisam reencarnar de imediato, para que, no período da infância, se tornem receptivos a novas ideias. É triste observar os Espíritos que têm ideias fixas. Enclausurados em si mesmos, julgam-se superiores aos outros e carecem ser tratados como doentes mentais, pois que realmente o são. Que os médiuns não se julguem investidos de altos mandatos, mas vacinem-se contra o orgulho e a vaidade! Que também, não se considerem incapazes de servir, a pretexto de inferioridade, porque diz a lógica que quem não caminha não chega ao objetivo a que se propõe alcançar! XII- PROSELITISMO "Se nossa fé se consolidou dia a dia, foi porque compreendemos; fazei, pois, compreender, se quereis arregimentar prosélitos sérios." -(O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. XII) O Espiritismo, ao contrário de outras religiões, não faz proselitismo de arrastamento, e os médiuns, que se lhe dedicam às fileiras, devem adotar idêntico comportamento. Os Centros Espíritas estão de portas abertas para os que desejem procurá-los e as lições ali ministradas são acessíveis a todos. Os que estiverem aptos para assimilarem a Doutrina, espontaneamente a procurarão. Muitos dos que, após o seu primeiro contato com a filosofia espírita, dela se distanciaram, é porque se sentiram "incomodados", a nível de consciência, de vez que, justamente por não exigir nada de ninguém, sentem-se na obrigação de corresponder-lhe de alguma forma. O comodismo é responsável pelo atraso espiritual de um sem-número de pessoas e, infelizmente, existem religiões que fomentam esse estado de coisas, já que lhes interessa a ingenuidade de seus profitentes. Habitualmente, diz-se que os espíritas trabalham muito. E que, ansiando por recuperar o tempo perdido, eles compreendem o significado das palavras do Mestre Nazareno: "Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá..." No Espiritismo não há lugar para a ociosidade. Compreende-se a brevidade da vida física e procura-se fazer o que se pode. O espírita tem sede de progresso, e os Espíritos-espíritas (se é que nos podemos rotular assim) também a temos. É por não fazer proselitismo que a Doutrina tem chamado a atenção de muita gente. Mas o espírita não faz proselitismo porque não deseja que as pessoas sejam espíritas... Evidentemente que deseja colocar a luz sobre o candeeiro e compartilhá-la com todos, mas sabe que não pode e não deve obrigar ninguém a contemplá-la. Paulo, que ansiava por espalhar a Boa-Nova, foi rejeitado exatamente pelo povo mais culto da época - o grego -, que, inclusive, no Areópago de Atenas, rendia culto ao Deus Desconhecido! O médium não deve prevalecer-se de sua mediunidade para fazer proselitismo. Quando o fruto amadurece, ele despenca da árvore, se bem que o vendaval das provas pode arremessá-lo ao chão, obrigando-o à maturação. O exemplo é o discurso mais convincente. A altercação religiosa deve ser evitada, a todo custo, pelos espíritas idóneos. Dialogar, sim; polemizar, não. Se o próprio Cristo não polemizou sobre a Verdade, com Pilatos, por que haveríamos de nos arvorar em seus intransigentes defensores? A discussão religiosa aumenta a distância entre Deus e os homens. Divulgar a Doutrina, através de todos os recursos lícitos, é dever básico do espírita, desde que não haja imposição. Que as sementes sejam lançadas e que germinem as que caírem em terreno fértil. Lembremo-nos de que, dos dez leprosos curados pelo Mestre, apenas um voltou para agradecer-lhe... Silenciando, ainda, ante Pilatos, Jesus não o estaria convidando a descobrir por si mesmo a resposta, como a dizer-nos que o conhecimento da Verdade é uma tarefa pessoal?!... XIII- TODOS SOMOS MÉDIUNS "Toda pessoa que sente, em um grau qualquer, a influência dos Espíritos, por isso mesmo, é médium." (O Livro dos Médiuns Segunda Parte Cap. XIV) Todos são médiuns - uns mais, outros menos. Mas nem todos renascem para uma tarefa específica na mediunidade. A mediunidade é exercitada no dia-a-dia, das mais variadas formas. Como o tato e a visão, que foram desenvolvendo-se no curso dos milénios, a mediunidade vem-se desenvolvendo na criatura, desde tempos remotos. Em algumas pessoas, a mediunidade, de quando em quando, dá sinal de sua presença, através de pressentimentos, visões, sonhos reveladores. Outras podem atravessar a experiência física, sem perceberem em si nenhuma manifestação medinanímica digna de nota. A telepatia entre os homens, ou a chamada "telegrafia humana", é uma das nuances da mediunidade. Atentassem os encarnados para o referido fenómeno, e a mediunidade se lhes desenvolveria de forma mais completa. Existem pessoas que, seja pelo seu débito cármico, seja pelo seu merecimento, trazem a mediunidade "à flor da pele"... Elas tiveram no passado um tipo de vida que lhes possibilitou o progresso nesse sentido. Aprenderam a exercitar a mente, viveram de forma solitária, foram vampirizados por entidades espirituais que lhes "precipitaram" as forças de natureza psíquica. Esses irmãos a que nos referimos - pelo menos a grande maioria - são os que trabalham como médiuns nos Centros Espíritas, no exercício da caridade legítima. Às vezes, enfrentam dificuldades no que tange à disciplina e à perseverança, já que a mediunidade, embora seja uma conquista, não significa, em si mesma, atestado de evolução moral. Raros medianeiros reencarnaram investidos de mandato mediúnico, ou seja, raros têm uma missão especial a desempenhar na mediunidade. Ter mediunidade a desenvolver não significa que a pessoa esteja preparada para ser médium na atual encarnação. O dirigente espírita, ou o responsável pela orientação mediúnica no Centro Espírita, deve abster-se de dizer a qualquer um que precisa desenvolver a mediunidade, nos termos pelos quais a maioria entende esse desenvolvimento. E preciso que ele tenha um conhecimento razoável da Doutrina e esteja sintonizado com os bons Espíritos, para que, através da intuição, possa promover uma espécie de triagem nos inúmeros candidatos que se apresentam para sentarem-se ao redor de uma mesa. É necessário explicar-se que nem todos os médiuns têm a obrigação de "receber Espíritos". Poderão trabalhar no passe, na visita aos enfermos, nas diferentes áreas de serviço de assistência, na oratória... Afirmou Paulo de Tarso que há diversidade de dons espirituais e, parafraseandoo, diríamos que há infinitas maneiras de exercer-se a mediunidade. Pode acontecer que seja mais médium quem não recebe Espíritos do que quem recebe. Quantos não são convidados para uma reunião mediúnica e desistem, logo nos primeiros dias? Quantos não pensam que a mediunidade lhes substituirá o esforço que cada um deve fazer por si mesmo para progredir? Quantos não são atraídos pelo maravilhoso, pelo sobrenatural, achando que a mediunidade seja um parque de diversões?!... Convidamos os companheiros espíritas a refletirmos juntos sobre o assunto, já que observamos muitos amigos que, mal batendo às portas do Centro Espírita, vão logo escutando: - "Você tem que desenvolver a mediunidade..." E a pessoa fica desnorteada ou traumatizada, quando não incrédula. XIV- VOZES DOS ESPÍRITOS "Eles ouvem a voz dos Espíritos; como dissemos, falando da pneumatofonia, algumas vezes é uma voz íntima que se faz ouvir no foro interior; de outras vezes é uma voz exterior, clara e distinta como a de uma pessoa viva." - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. XIV) Raros são os médiuns auditivos que escutam a voz dos Espíritos, de forma "clara e distinta como a de uma pessoa viva." Esse fenómeno, quando acontece, assemelha-se ao da voz direta e, portanto, quase estaria nos domínios das manifestações físicas, embora a voz do Espírito seja modulada, para que apenas o médium a registre. Explica-se por que a sensibilidade auditiva desses médiuns é maior do que nas demais pessoas. Dificilmente se encontrará alguém que ainda não captou uma voz como que "saída do nada", mormente quando se desperta no meio de um sonho. Por vezes, têm-se a nítida impressão de estar-se ouvindo conversar no quarto de dormir, ao lado da cama. De outras vezes, andando-se nas ruas, ouve-se ser chamado pelo nome e não se sabe por quem, ou batidas insólitas na porta da casa em que se mora, a qual, uma vez descerrada, não revela nenhuma presença física... Encontraremos, porém, um maior contingente de médiuns auditivos que registram, intimamente, as vozes dos Espíritos. Esses medianeiros, habitualmente, julgam ouvir a voz da consciência. O fenómeno é tão sutil, que passa despercebido. Para que as pessoas portadoras desse género de mediunidade possam ouvir a voz dos Espíritos, devem aprender a distingui-la de seus próprios pensamentos, o que se consegue com o tempo. A tentação, por exemplo, pode manifestar-se pela audição de forma sub-reptícia. É comum o homem ouvir como que uma voz imperiosa ordenando-lhe cometer certos desatinos. Os internos dos hospitais psiquiátricos chegam a tapar os ouvidos com as mãos (ou os olhos, no caso da obsessão visual), mas isso seria como que tentar agarrar uma sombra... Quantos não são induzidos ao suicídio dessa maneira? Para distinguir os seus pensamentos dos pensamentos dos Espíritos, o médium precisa calar-se interiormente, aprender a silenciar. Para melhor entendimento, poderíamos figurar o pensamento dos Espíritos como sendo uma ideia que, paulatinamente, viesse à tona do cérebro do médium, emergindo de seus próprios pensamentos, semelhante ao nadador que se impulsiona para a superfície da água, procurando oxigénio puro, depois de demorado mergulho... Sócrates ouvia dentro de si mesmo uma voz que ele atribuía ao seu génio, ou seja, ao Espírito que os gregos acreditavam guiar os passos do seu protegido na Terra. Joana d'Arc foi condenada à fogueira por testemunhar as vozes dos Espíritos que nunca a abandonaram. O rei Saul, das páginas do Antigo Testamento, era atormentado por vozes que apenas se calavam quando Davi fazia soar a harpa. Os Espíritos conversam com os homens mais do que os homens com os próprios homens, mas a verdade é que os homens, de maneira geral, não estão preparados para ouvi-los. Para o pensamento, não existem fronteiras. Se a Ciência já admite a telepatia entre os encarnados, por que ela não seria possível entre os homens e os Espíritos, desde que se creia na sobrevivência da alma? O barulho interior, mais do que o barulho exterior, é que impede as pessoas de ouvir as vozes de além-túmulo... XV- O GRUPO MEDIÚNICO "A prece e o recolhimento são condições essenciais; por isso, pode-se esperar como impossível a obtenção de alguma coisa em uma reunião de pessoas pouco sérias, ou que não estejam animadas de sentimentos simpáticos e benevolentes." - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. XIV) O dirigente espírita deve utilizar-se da maior circunspecção possível na formação do grupo mediúnico. Sabemos o quanto a influência do meio pode interferir nas comunicações mediúnicas. Os componentes do grupo mediúnico devem estar animados de sentimentos simpáticos e benévolos, conforme os Espíritos Superiores disseram a Allan Kardec. A princípio, as reuniões mediúnicas eram realizadas publicamente. Elas tiveram a sua razão de ser. Agora, porém, que existe um esclarecimento mais amplo sobre a Doutrina, é de bom alvitre que essas reuniões tenham um caráter de intimidade, notadamente as consagradas ao socorro espiritual. Não nos referimos aqui àquelas reuniões em que, durante a sua realização ou sempre ao final, os médiuns recebem mensagens doutrinárias de interesse geral. Os companheiros do grupo mediúnico devem ser pessoas integradas no Centro Espírita, afeitas ao estudo e ao trabalho. Como todos ainda lidamos com a imperfeição, não se deve exigir perfeição de ninguém, mas não se pode olvidar a colocação de Kardec: "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que empreende para domar as suas más inclinações." Os integrantes do grupo devem cultivar a disciplina e não faltar às reuniões, a não ser por motivo reconhecidamente justo. Os médiuns psicofônicos, ou de incorporação, devem ter em mente que os Espíritos os aguardam necessitados que se encontram de se expressarem, e constitui uma grande frustração para eles quando isso não se faz possível, pela ausência do irmão que lhes serviria de intérprete. Aos médiuns doutrinadores cabe a elevada função, junto aos Espíritos comunicantes, da terapia espiritual pela palavra e carecem, portanto, de dosar a verdade em amor. Nunca devem perder a simplicidade ou exaltar-se na argumentação, por mais provocados que sejam. Os médiuns ditos de sustentação são aqueles que se especializam no sentido de manterem o bom padrão vibratório da reunião, através da prece silenciosa e dos pensamentos fraternos que emitem em auxílio aos companheiros encarnados e desencarnados. Têm uma importância muito maior do que comumente se pensa. Sendo cada Espírito um mundo por si, a doutrinação deve ser conduzida naturalmente, não excedendo do prazo de dez minutos, para não cansar o médium e tomar o lugar de outra entidade que precise externar-se. O médium doutrinador não deve esperar que o Espírito modifique o seu modo de pensar num diálogo rápido. A sua função básica é fornecer a ele um novo acervo de ideias para as suas conclusões pessoais. Jamais se esqueça que o Espírito é apenas uma pessoa desencarnada. Evidentemente, cada reunião mediúnica tem a sua característica própria. Grupos existem que se comprometeram, por exemplo, a trabalhar com "Espíritos suicidas". Encontramos médiuns que têm maior facilidade de sintonizarem-se com Espíritos endurecidos, do ponto de vista religioso. O assunto da mediunidade é tão vasto quanto complexo, mas, quando se tem discernimento, tudo fica mais fácil, porque o que ainda não se sabe, pode-se intuir... A indisciplina e a falta de sinceridade são dos maiores entraves à sobrevivência do grupo mediúnico. O médium deve procurar compreender que ele é uma peça importante na engrenagem, mas não a mais importante e nem imprescindível. O vedetismo mediúnico arrasa com qualquer médium e com qualquer grupo. A reunião mediúnica dispensa qualquer aparato e formalismo, que não tem lugar dentro do Espiritismo, mas, a título de espontaneidade, não se deve faltar com o respeito que as coisas sérias reclamam. XVI- O MÉDIUM COMO INSTRUMENTO "Para que uma comunicação seja boa, é necessário que emane de um Espírito bom; para que esse Espírito bom POSSA transmiti-la, lhe é necessário um bom instrumento; para que QUEI¬RA transmiti-la, é preciso que o objetivo lhe convenha." - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. XVI) O bom médium é aquele que procura aprimorar-se sempre, sendo um verdadeiro coadjuvante dos Espíritos que se manifestam por seu intermédio. Não raro, cabe também ao médium suprir nos Espíritos a falta de recursos intelectuais, para que a comunicação se efetue. Em muitos deles, inclusive, há total desconhecimento sobre o intercâmbio mediúnico. Grande parcela dos Espíritos que se comunicam nos Centros Espíritas, consolando os familiares, são substituídos, no ato da mensagem, por Espíritos esclarecidos que lhes tomam o lugar, já que, por si mesmos, não estariam em condições de fazê-lo. A caridade cristã impõe-se aos que desejam ser úteis e, entre os Espíritos, não existe preconceito de identidade. Desde que a mensagem chegue ao destinatário, refletindo a essência do pensamento do Espírito que deseja transmiti-la, não importa quem se lhe faça o intérprete. Entre os Espíritos existem também os que são médiuns e se especializam nesse setor. O bom médium conhece esse mecanismo e não se sente mistificado ou mistificando; age com a discrição possível, reconhecendo que nem todas as pessoas conseguem penetrar os meandros da mediunidade. Por agora, as dificuldades do intercâmbio entre os dois planos da vida são imensas. Dificilmente se encontra um médium disposto a colaborar e que não queira ser apenas um instrumento passivo nas mãos dos Espíritos. Por mais exímio seja o violinista, ele pouco poderá fazer com um violino desafinado. É preciso que o médium esteja afinado com os propósitos dos Espíritos e lhes estenda as mãos para a travessia do abismo a que se convencionou chamar "morte". Todavia, repetimos, o médium, além de boa vontade, precisa possuir discernimento, a fim de não cair no ridículo e comprometer a ideia espírita. O médium idóneo em hipótese alguma aceita ser idolatrado. Conhece as suas limitações, sabe de suas inferioridades, e a sua única recompensa é a alegria que nasce do dever retamente cumprido! O médium que é espírita convicto coloca o ideal acima de tudo e é justamente isto que lhe garante a credibilidade. Se o médium não é sincero, os bons Espíritos o abandonam e ele se torna presa fácil de entidades obsessoras. Muitos médiuns só acreditam que são médiuns quando caem na obsessão e percebem que nada são sem o amparo dos bons Espíritos. Talvez muitos estranhem estas nossas colocações, mas convidamos a todos para que meditem conosco. O bom médium não "inventa" mensagem, no entanto, sentindo a presença de desencarnados que anseiam em comunicar-se por seu intermédio, vê-se na obrigação de desempenhar o seu papel da melhor forma possível, indo ao seu encontro e auxiliando essas mesmas entidades no que deve ser feito. XVII- APTIDÃO MEDIÚNICA "Concebe-se que deve ser bastante raro que a faculdade de um médium seja rigorosamente circunscrita a um só género; o mesmo médium pode, sem dúvida, ter aptidões, mas há sempre uma que domina e é a que deve se interessar em cultivar, se for útil." - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. XVI) É comum ouvir-se a pergunta: "Que tipo de mediunidade tenho?" A mediunidade define-se por si mesma. O companheiro mais experiente nas lides da Doutrina poderá orientar o candidato ao exercício da mediunidade, abstendose, porém, de conclusões precipitadas. De fato, todos têm um género de mediunidade que se destaca mais. Em alguns, é a psicografia, noutros é a psicofonia e assim, sucessivamente. Quase sempre, o desenvolvimento de um tipo de mediunidade acarreta o desenvolvimento simultâneo de outro. Encontramos médiuns que são psicofônicos e videntes ou psicógrafos e clariaudientes. Todas as mediunidades têm a mesma origem. Naturalmente, todas as pessoas são médiuns passistas em potencial. Em algumas, isto é mais patente, de vez que chegam a sentir certas manifestações físicas, como a sensação de filamentos fluídicos saindo-lhes das pontas dos dedos e das palmas das mãos. Todas as pessoas, quando se predispõem, podem doar de si mesmas às outras. Qualquer um que elevar o pensamento a Deus e estender as mãos em nome da caridade, será auxiliado pelos Espíritos amigos. Mas a mediunidade, com o passar do tempo, começa a definir sua área de atuação. Aqui se faz necessário o bom-senso do médium. Atuar em todas as áreas da mediunidade é contraproducente. Possuir todos os géneros de mediunidade não significa, por si só, elevação espiritual. O homem levou milénios para aprender a utilizar todos os seus sentidos físicos, sincronizadamente. No que tange aos sentidos psíquicos, não será diferente. O médium, através do estudo, do trabalho e da meditação, contando sempre com a inspiração dos Benfeitores Espirituais, deve observar qual o tipo de mediunidade que nele predomina e em que setor conseguirá ser mais útil aos semelhantes. Existem notáveis médiuns psicofônicos que, por desejarem ser também médiuns psicógrafos, não conseguem ser uma coisa nem outra. Acabam se perdendo. O género de mediunidade que convive bem com as demais é, sem dúvida, o passista. Pelo seu exercício é que os médiuns novatos devem começar, a fim de lograrem o equilíbrio das forças mediúnicas que estão apenas despertando. Pela transmissão simples do passe aos necessitados, o médium vai conseguindo a simpatia dos bons Espíritos, os quais passarão a assessorá-lo em seu desenvolvimento, agindo sobre o seu psiquismo. A cabine de passes deve ser o estágio inicial de quantos aspiram ao desenvolvimento de suas faculdades noutro setor, porque aquele que não conseguir dar de si aos outros, no ato do passe, dificilmente conseguirá dar-se aos Espíritos para um trabalho que, por vezes, lhe exigirá maior desprendimento e cooperação. Definido o género de mediunidade, o médium deve esforçar-se para cultivá-lo e obter os melhores resultados. Todos os médiuns estão em constante desenvolvimento. Os Espíritos exercitam o médium; o médium deve exercitar a mediunidade de que se reconhece portador. Ser médium não significa estar apto para a mediunidade. A aptidão mediúnica é fruto do esforço, do estudo e da perseverança do médium! XVIII- OS MÉDIUNS PRINCIPIANTES "A fé no médium novato não é uma condição rigorosa; sem contradita, ela secunda os esforços mas não é indispensável: a pureza de intenção, o desejo e a boa vontade bastam." - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte - Cap. XVII) No início do seu desenvolvimento, os médiuns enfrentam muitos conflitos. As vezes, não têm o menor conhecimento da Doutrina e nunca sequer transpuseram as portas de um Centro. Depois de tentarem solucionar os seus problemas pelos métodos convencionais (porque os sintomas da mediunidade podem camuflar-se, levando a pessoa a imaginar que esteja doente), eis que recorrem, em última instância, ao Espiritismo. Quando acontece assim, esses irmãos chegam completamente desnorteados à casa espírita, ainda sob o guante dos preconceitos religiosos que alimentaram por muito tempo. Devidamente orientados para um tratamento espiritual através de passes e reuniões de estudos evangélicos, revelam-se incrédulos, exigindo que o Espiritismo lhes resolva as dificuldades de um instante para outro! Perguntam por um Centro que seja mais "forte"... Dizem não acreditar na influência dos Espíritos... Afirmam que não querem ser médiuns... É natural que seja assim, porque se encontram em desequilíbrio psicológico. O dirigente espírita, ou aquele a quem couber a tarefa, necessita ter paciência e conquistar-lhes a confiança. Não é de bom alvitre exigir-lhes muitos esforços, no princípio, mas deve-se solicitar a colaboração dos familiares interessados no sentido de não os deixarem faltar às reuniões a que possam comparecer. A pouco e pouco, eles irão afinizando-se com a instituição espírita e com os seus frequentadores, ampliando as suas relações de amizade. Assim fica mais fácil. Vencidos os primeiros obstáculos, os médiuns principiantes, numa segunda etapa, duvidarão de si mesmos, atribuindo tudo a um produto da mente. Começa outra luta, assaz mais difícil que a primeira. E necessário, então, se lhes esclareça que a fé é uma conquista individual, lenta, difícil, mas não impossível. É importante dizer-lhes que na mediunidade, a fé não é uma "condição rigorosa", conforme afirma Allan Kardec; que ela se lhes desenvolverá naturalmente, à medida que perseverarem; e que eles próprios, com o correr do tempo, terão oportunidade de testemunhar a independência de seus pensamentos sobre os pensamentos dos Espíritos que vierem a comunicar-se por seu intermédio. Outro recurso de grande valia para os médiuns iniciantes é conhecer os casos dos médiuns mais antigos que lutaram com as mesmas dificuldades e hoje são figuras de respeito no movimento espírita. Os médiuns principiantes assemelham-se a frágeis sementes que não dispensam o carinho do jardineiro para florescerem. Todavia é preciso auxiliá-los de tal forma que, mais tarde, possam caminhar com os próprios pés, evitando uma dependência psicológica nociva em todos os sentidos. Os que aparecem no Centro Espírita com sintomas de mediunidade, não devem ser convidados, de imediato, para essa ou aquela reunião mediúnica. Primeiro, faz-se indispensável certo período preparatório, cuja duração dependerá de inúmeros fatores, mas, basicamente, do próprio aproveitamento do interessado. XIX- PSICOGRAFIA "Se não é dado ao médium ser exclusivamente mecânico, todas as tentativas para obter esse resultado serão infrutíferas, e estaria errado em se crer deserdado por isso; se não está dotado senão da mediunidade intuitiva, é preciso que com ela se contente, e não deixará de propiciar-lhe grandes serviços, se sabe aproveitá-la, e se não a repele." - (O Livro dos Médiuns - Segunda Parte Cap. XVII) A mediunidade mecânica, ou inconsciente, é rara. De maneira geral, os médiuns de psicografia têm consciência do que escrevem. A mediunidade consciente confunde-se com a intuição. A falta de compreensão da mediunidade leva muita gente a desistir do seu exercício. Não vamos, aqui, alongar-nos em considerações que já tivemos oportunidade de tecer nos capítulos precedentes, mas repetimos com Kardec que "não deve o médium hesitar em escrever o primeiro pensamento que lhe for sugerido, sem se importar se lhe vem dele próprio ou de uma fonte estranha..." A orientação acima é válida também para os médiuns de psicofonia. Um exemplo patente de mediunidade consciente, no campo da psicografia, é o dos poetas, mesmo quando eles se mostram agnósticos, o que vem provar que "a fé do médium novato não é uma condição rigorosa..." Um dos mais célebres poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa, era claramente médium. Ele próprio acreditava nisto, embora não tenha assumido a mediunidade e considerasse as entidades comunicantes como simples heterônimos seus, isto é, diferentes nomes seus... Ser médium não exclui o valor pessoal de ninguém que seja médium. Não tivesse Fernando Pessoa a bagagem literária que possuía, os Espíritos buscariam inspirálo em vão. Aliás, ser médium, é até mais difícil do que ser Espírito mensageiro... Quase sempre, o médium tem que ser um instrumento maleável para os mais diferentes tipos de comunicados. Não existem os que recebem os músicos, os pintores, os filósofos, os poetas? O médium que questiona em excesso a autenticidade da mensagem acaba por anular-se. Se as ideias que grafa no papel são elevadas, deve seguir em frente. Todo o Bem verte, originariamente, de Deus. Nós próprios, os Espíritos comunicantes, por nossa vez, assimilamos as correntes de pensamento daquelas entidades que habitam planos superiores aos nossos. Se pudéssemos colocar a mediunidade numa equação matemática, teríamos: Pensamento do Espírito manifestante + Pensamento do médium = Mensagem. Evidentemente que tanto no pensamento do Espírito manifestante, quanto no pensamento do médium, existem um sem-número de outros pensamentos interferindo. Um livro ou um autor que o médium tenha lido pode interferir no contexto da mensagem que recebe. Um diálogo que tenha tido, uma conversa familiar, uma preocupação com determinado assunto e assim por diante. Esperar do médium que ele se subtraia totalmente do meio em que vive é esperar o impossível! O médium psicógrafo consciente, ou semiconsciente não deve permitir que a dúvida lhe prejudique o trabalho. Decida entre querer ser médium ou não ser. É desnecessário que se atormente a vida inteira, como existem médiuns que vivem mergulhados numa eterna luta contra si mesmos. Se não confiam na própria mediunidade, podem trabalhar noutro campo; a seara é imensa e podem dar-se ao luxo de escolher... Agora, o médium disciplinado precisa ter controle sobre as comunicações que recebe. Pior do que descrer é acreditar cegamente em tudo! Falar, no caso da psicofonia, ou escrever, no caso da psicografia, o primeiro pensamento que aparece, mesmo por mais absurdo e incoerente que seja, é colaborar com a obsessão. Não se tome a palavra de Kardec no sentido literal. Por isso o médium que se preza deve estudar a Doutrina, para aprender a discernir. XX- MEDIUNIDADE E MISSÃO "Com qual finalidade a Providência dotou certos indivíduos da mediunidade de uma maneira especial? E uma missão da qual estão encarregados e que os tornam felizes; são os intérpretes entre o Espíritos e os homens." - (O Livro dos Médiuns -Segunda Parte - Cap. XVII) Todos os médiuns têm uma missão a cumprir e toda missão é importante. A missão do médium, seja qual for o seu grau de mediunidade, é a de ser intérprete dos Espíritos, mantendo acesa a chama da fé na Imortalidade. Ninguém se habilita a uma tarefa - digamos - maior, se não desempenha com dedicação os encargos considerados menores. Os médiuns investidos de missão especial, geralmente não têm consciência definida sobre o trabalho que lhes cumpre desempenhar. Os que se crêem médiuns missionários estão fascinados. E uma tática que os Espíritos obsessores costumam empregar para arrasarem com muitas mediunidades promissoras. Os verdadeiros missionários fogem ao elogio e reconhecem a sua pequenez ante a magnitude da causa a que servem. Quando se tem o exemplo de Jesus Cristo lavando os pés dos discípulos, cingindo-se com uma toalha à maneira dos antigos escravos e esclarecendo que o Filho do Homem não viera para ser servido, mas para servir, qualquer tipo de pretensão à superioridade é loucura. O homem sabe tão pouco da vida e de si mesmo!... Os médiuns devem limitar-se a cumprir o seu papel, empenhando nisso o melhor de seus esforços, conscientes de que estarão sendo os maiores beneficiados, consoante a máxima evangélica: "É mais bem-aventurado dar que receber." Ninguém se queixe de suas lutas. A mediunidade é um caminho para os Cimos, mas não é o único. Outros companheiros, noutros setores das atividades humanas, estão fazendo mais e melhor, sem serem médiuns... O que destaca a mediunidade é a direção que se lhe dá. Os alicerces de uma casa, embora estejam enterrados, é que lhe garantem as estruturas. Médiuns existem que passam pela Terra quase que em completo anonimato, mas ante os olhos de Deus são verdadeiros missionários do Bem. Outros estão sempre em evidência, todavia assemelham-se, infelizmente, às flores artificiais: são belas, enfeitam o ambiente, mas não têm perfume... DR. ODILON FERNANDES Dr. Odilon Fernandes, cirurgião-dentista, professor universitário, comerciante, nascido a 10 de outubro de 1907, em S. João de Capivari, Estado de S. Paulo, e falecido em 13 de janeiro de 1973, em Guarulhos, Estado de S. Paulo, era o segundo filho do Dr. Ludovice José Fernandes, também cirurgião-dentista, na cidade de Uberaba e de Felicidade Fernandes. Casado com D. Dalva Guido Fernandes em 1934, deixou quatro filhos. Professor da Faculdade de Odontologia do Triângulo Mineiro desde sua fundação, lecionou Clínica Odontológica e, mais tarde, Dentística Operatória. Aposentado, após um profícuo magistério, dedicou-se às pesquisas sobre Hipnodontia, isto é, as aplicações da hipnose e das técnicas de condicionamento mental no alívio das dores do paciente na rotina do trabalho odontológico. Presidente da Subsecção da A. B. O. em Uberaba, recebeu honrarias variadas em sua profissão, bem como o reconhecimento dos seus alunos, em títulos honoríficos das suas agremiações académicas. No caminho do serviço à comunidade, recebeu a presidência da Associação de Cegos da cidade, em 1946, e transformou-a no Instituto dos Cegos do Brasil Central, no ano de 1947, permanecendo nesse cargo até sua morte, em 1973. Construiu, para essa agremiação, a sede própria dando-lhe características de escola para a recuperação de deficientes visuais e não mais apenas as de abrigo de incapacitados. Durante suas gestões, foi fundado, anexo ao I.C.B.C., o Hospital Oftalmológico para atendimento aos cegos da região. Foi um dos fundadores e incentivadores do Banco de Sangue, ligado ao Hospital da Criança, de cuja construção participou em campanhas e trabalhos pessoais. Criou a primeira Guarda Mirim de Uberaba, que teve duração aproximadamente de quatro anos. Para isto, inspirou-se em experiência anterior, quando criara e tentara manter, durante algum tempo, um grupo de escoteiros. Também de duração efémera foi a Sociedade dos Amigos da Cidade de Uberaba, por ele fundada, juntamente com pessoas gradas da mesma comunidade. Espírito aberto, nunca se negou a proteger, amparar, socorrer os necessitados ou quem quer que fosse. Orador brilhante, sempre procurou abraçar as causas justas, lutando pelo desenvolvimento da sua terra de adoção, trazendo o seu concurso a dezenas de agremiações sociais, esportivas e culturais. Espírita por religião e pesquisador por convicção, aprofundou-se nas diversas áreas do conhecimento da mente humana, interessando-se pela Parapsicologia, Psicologia Experimental e Vida Extracorpórea. Para tanto, fundou e presidiu, até à morte, a "Casa do Cinza", templo espírita-cristão. "Casa", porque representaria um lar para aqueles que precisassem de religião, e "do Cinza", por ser este o apelido de seu pai, Dr. Ludovice Fernandes, também espírita, a cuja memória a casa foi organizada. Sua vida se resumiu, em poucas palavras, no amor ao próximo, na persistência do trabalho útil, na fidelidade aos seus princípios, na dedicação completa à comunidade em que viveu. Por estas razões, a Câmara Municipal de Uberaba houve por bem chamar Dr. Odilon Fernandes, à avenida onde um dia ele havia projetado construir a sede própria grandiosa do Hospital Oftalmológico. (Extraído do livro Espiritismo em Uberaba)