O contexto organizativo do trabalho autónomo e o desenvolvimento
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O contexto organizativo do trabalho autónomo e o desenvolvimento
REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 52 O contexto organizativo do trabalho autónomo e o desenvolvimento da produção escrita em Inglês Júlio Pires* 1. Introdução ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 H 52 á vários anos que observava, em comunicações a que assisti nos congressos do Movimento da Escola Moderna (MEM), que vários colegas professores de Língua Estrangeira (Francês), com turmas de iniciação (7.º ano), conseguiam dos seus alunos uma produção escrita, em quantidade e em qualidade, muito superior à dos meus alunos ao longo do 5.º e do 6.º ano. Fui-me questionando. Se estes colegas conseguiam isso dos seus alunos, por que razão não o conseguia dos meus? O que me estava a faltar? O que teria eu de mudar no trabalho com os alunos para que tal fosse possível, isto é, para que também os meus alunos conseguissem esses níveis de escrita em Inglês? A partir de algumas conversas que fui tendo com esses colegas e dos relatos que (me) foram fazendo de práticas suas, comecei progressivamente a introduzir, nesse sentido, algumas mudanças nas minhas práticas. Os resultados, embora ainda escassos, foram sendo animadores. Com o lançamento pelo MEM do Seminário de Investigação-Formação entendi que essa era a oportunidade de o fazer de forma mais consistente, mais sólida e sistemática. Inscrevime e defini, no meu projecto de trabalho de investigação e formação, o desenvolvimento da * 2.º Ciclo do Ensino Básico. escrita dos alunos como objectivo principal, procurando compreender como fazê-lo no âmbito do modelo pedagógico do Movimento da Escola Moderna. 2. O ponto de partida 2.1 Caracterização das turmas Decidi fazer este trabalho com as minhas duas turmas (Inglês, 6.º ano), com as quais tinha também Estudo Acompanhado. Já no ano lectivo anterior trabalhara com estas mesmas turmas no 5.º ano, sendo que eram muito diferentes uma da outra. O 6.º A era uma turma grande (28 alunos), com um nível de aprendizagem médio, embora se notassem potencialidades de melhoria. Já o 6.º F era uma turma de efectivo reduzido (23 alunos), com um conjunto significativo de alunos com problemáticas várias (das quais decorriam diversas adaptações curriculares), quer de natureza cognitiva, quer de natureza comportamental. A origem social dos alunos das duas turmas era também bastante diferente, sendo os alunos do 6.º A maioritariamente oriundos da classe média, enquanto que a maioria dos alunos do 6.º F eram oriundos de meios sociais desfavorecidos, muitos deles subsidiados pelo SASE. 08/07/10 12:31 Page 53 2.2. O início do ano lectivo, os primeiros instrumentos de organização e regulação do trabalho de aprendizagem e o teste diagnóstico do grupo de Inglês No início do ano lectivo apresentei o programa aos alunos (ver anexo 1) e, tendo em conta o programa apresentado, clarificámos critérios de avaliação. Estes critérios de avaliação eram de natureza geral, pelo que, ao longo do ano lectivo, fomos elaborando, em cada uma das turmas, critérios de avaliação de natureza mais específica, visando aspectos particulares das actividades de aprendizagem. Fizemo-lo em Conselho de Cooperação Educativa, como sempre fazíamos para falarmos das questões da vida da turma e tomarmos as decisões adequadas. Na sintaxe do modelo do Movimento da Escola Moderna o Conselho de Cooperação Educativa é o elemento central, em torno do qual todo o modelo se desenvolve. Nas palavras de Sérgio Niza (2003), “é o centro e o motor do sistema de trabalho de aprendizagem” (p. 3). Filomena Serralha (2007), na sua tese de doutoramento, refere-se ao Conselho como “uma estrutura organizativa da vida escolar dos alunos em toda a sua plenitude” (p. 179), caracterizando-o como “o espaço público de encontro [periódico] do grupo/turma (alunos e professor), para em conjunto gerirem, colegialmente, tudo o que à comunidade respeita, ou seja, as aprendizagens e as relações sociais que decorrem tanto da sua construção colectiva como da vida em comum” (idem). Acrescenta que daqui emergem diversas funções, nomeadamente “de regulação dos percursos de aprendizagem dos alunos, centrando-se para o efeito quer na avaliação do PIT e dos Projectos desenvolvidos quer na sua programação” (idem) ou a função de “gestão cooperada de conflitos, feita a partir da leitura e análise crítica das ocorrências negativas registadas no Diário de Turma” (idem). Noutros trabalhos eu próprio tenho abordado o Conselho de Cooperação Educativa nesta última vertente que refere Filomena Ser- ralha. Não é o caso no presente artigo, em que me circunscrevo à primeira das funções por ela referidas, a de organização e regulação, colectiva e colegial, do trabalho e das aprendizagens na turma, da programação e avaliação de todo o trabalho de aprendizagem, individual e colectivo, de cada um dos ciclos de trabalho instituídos. Tal como referi num trabalho académico de 1995, entendo, porém que a turma reúne em Conselho de Cooperação Educativa sempre que se junta (alunos e professor) para discutir e deliberar colegialmente e em cooperação sobre todo e qualquer assunto da vida da turma. Isto significa que, sendo fundamental a reunião formal do Conselho, com uma periodicidade préestabelecida e que pontua os ciclos de trabalho na turma (no caso que aqui relato, com uma periodicidade tendencialmente mensal), poderá haver também outros momentos de reunião da turma em Conselho, no decurso de qualquer destes ciclos de trabalho, sempre que tal se justifique – e com estes alunos fizemo-lo várias vezes. Como diz Sérgio Niza (2003) referindo-se ao Conselho, “não é um tempo fixo: ocorre quando dele precisamos ou quando está aprazado” (p. 3). O Programa, como atrás referi, foi apresentado aos alunos e a todos distribuído em fotocópia (que guardaram para consulta nos respectivos cadernos) e foi igualmente afixado na sala de aula. Ao longo do ano lectivo foi servindo para nos orientarmos: assinalávamos o que já tinha sido trabalhado na turma e seleccionávamos o que iríamos trabalhar em colectivo no ciclo temporal seguinte. Servia, é claro, para que os alunos facilmente identificassem o que já deveriam ter aprendido. Os diversos aspectos do Programa apresentado foram, no entanto, desdobrados em listas de verificação mais detalhadas (ver exemplo no anexo 2), organizadas em função das unidades do manual em vigor na escola e transformadas em escalas. Em cada uma procurou-se incluir, para a matéria em causa na respectiva ‘unidade’, itens relacionados com as diversas competências da ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 53 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 54 08/07/10 12:31 Page 54 Língua Estrangeira presentes no Currículo, entre elas as de escrita. Estas ‘listas de verificação’, que iam sendo distribuídas a todos os alunos à medida que as respectivas matérias iam sendo trabalhadas na turma em colectivo, foram utilizadas de forma aberta e variável. Ajudavam a esclarecer as aprendizagens que era suposto que cada aluno realizasse, e, por outro lado, ajudavam a tomar consciência do que cada aluno já tinha aprendido e do que ainda não tinha aprendido ou em que manifestava dificuldades. Eram utilizadas em diversos momentos. Após a realização de testes e a partir dos resultados dos alunos, eu próprio dava indicações a cada um sobre as aprendizagens que esse teste mostrava que ele já realizara e aquelas que ainda não estavam conseguidas, remetendo para actividades a realizar em tempo de estudo autónomo. Mas cada aluno poderia utilizá-las, sempre que entendesse, mais ou menos informalmente, para regular os seus percursos de aprendizagem, por vezes com a minha ajuda. Esta utilização informal foi a que ocorreu com mais frequência. O Grupo de professores de Inglês da escola decidira, a anteceder o início do ano lectivo, elaborar um teste de Inglês para ser aplicado em todas as turmas de cada ano. A proposta inicial de teste diagnóstico para o 6.º ano (em cuja construção eu participara) não foi aprovada, tendo em alternativa as respectivas questões sido transformadas em itens de escolha múltipla. Isto é, embora com a minha discordância, não seria avaliada, no diagnóstico, a escrita dos alunos. Os resultados obtidos pelas minhas duas turmas foram, como seria de esperar, bastante díspares. No 6.º F cerca de 40% dos alunos obtiveram resultados negativos (alguns deles muito baixos), enquanto que no 5.º A foram apenas cerca de 10%. As positivas no 5.º F eram, de um modo geral, fracas, não tendo qualquer aluno alcançado o nível Bom (nem o Muito Bom); já no 5.º A mais de 20% dos alunos obtiveram o nível Bom e 25% obtiveram mesmo o nível Muito Bom). Isto é, mais de 45% obtiveram Bom ou Muito Bom. Na turma melhor da escola mais de metade dos alunos obtiveram, no entanto, Muito Bom. Pela natureza do próprio teste, no entanto, não era possível extrair conclusões sobre o tipo de dificuldades dos alunos nem diagnosticar as suas competências de escrita. Foi nesse sentido que resolvi elaborar um novo teste, algumas semanas depois, que me permitisse fazer esse diagnóstico mais fino e, com esses resultados, dar indicações concretas aos alunos no sentido de ultrapassarem dificuldades e melhorarem o seu desempenho. 3. O segundo teste diagnóstico e a implementação de estratégias de diferenciação pedagógica Com este 2.º teste diagnóstico foi manifesta, em muitos alunos, a ausência de uma estratégia de construção frásica na resposta a perguntas; de igual modo, eram muitos os alunos que manifestavam bastantes dificuldades na produção escrita mais livre. Havia, pois, que trabalhar, no campo da escrita, nestas duas frentes. A partir das respostas dos alunos, procedi a uma categorização de erros na escrita (ver exemplos no anexo 3). Já no ano lectivo anterior fazia, com estes alunos, um trabalho desta natureza sempre que os alunos realizavam algum teste (bem como outros trabalhos de escrita). Fazia-o, no entanto, em termos individuais, isto é, entregava individualmente a cada aluno a categorização de erros de escrita que fizera com base no seu próprio teste e, na maioria dos casos, tinha uma pequena ‘entrevista’ com esse aluno em que lhe explicava essa categorização de erros e lhe indicava actividades e estratégias para que esse aluno ultrapassasse esses erros. Desta vez, porém, organizei esta categorização em termos colectivos. Isto é, identifiquei, para cada uma das perguntas, os erros cometidos (ou não) pelos diversos alunos, procedendo a uma categorização de erros pergunta a pergunta. 08/07/10 12:31 Page 55 Quando retomei as aulas (estive ausente durante algumas semanas devido a baixa médica) confrontei o conjunto da turma com as respostas dadas nos testes, escrevendo-as no quadro, uma a uma, e pedindo sempre aos alunos que indicassem a razão das incorrecções. Em interacção em colectivo, os alunos iam tomando consciência da natureza dos erros, explicitando as regras de escrita que tinham sido desrespeitadas, num constante esforço de metacognição. A utilização sistemática desta estratégia, a partir daí e sempre a seguir a cada teste, ajudou sem dúvida a melhorar a qualidade formal da escrita. Durante as referidas semanas em que estive de baixa médica tive a oportunidade de elaborar um conjunto de fichas e propostas de trabalho (na maioria, fichas autocorrectivas), a partir dos erros e dificuldades de escrita detectadas no teste diagnóstico. Organizei-as em pastinhas que a seguir pus à disposição dos alunos em tempo de trabalho autónomo, tendo remetido cada aluno para as fichas adequadas à superação das dificuldades manifestadas. Alguns conjuntos de fichas centravamse em determinadas matérias vocabulares, outros conjuntos em aspectos específicos desta ou daquela matéria de gramática, outras eram propostas de produção escrita, sendo algumas mais orientadas e outras progressivamente mais livres (ver anexo 4). Várias destas propostas de escrita foram elaboradas já no decurso deste processo, a partir de interesses manifestados pelos alunos, cruzando-os com as matérias de Inglês em estudo. Este conjunto de materiais, construídos na sequência e a partir do teste diagnóstico, constituíram o embrião, por um lado, da instituição na turma de estratégias e dispositivos de diferenciação pedagógica (de modo mais consistente do que estávamos a fazer até aí), por outro lado, da produção por mim próprio de um conjunto de ficheiros (com a maioria das fichas autocorrectivas) que suportassem e alimentassem o trabalho diferenciado em tempo de trabalho autónomo, o qual constitui uma das grandes componentes da sintaxe do modelo do Movimento da Escola Moderna. Sendo ‘diferenciar’, nas palavras de Perrenoud (1992), “organizar as interacções e as actividades de maneira a que cada aluno seja constantemente ou pelo menos frequentemente confrontado com as situações didácticas mais fecundas para si próprio”, tal pressupõe que os materiais, enquanto “mediadores do acesso aos saberes” (Bouysse, 1994, p. 35), assumam um papel de relevo neste processo. Lembra-nos Sérgio Niza (2009) num dos últimos Editoriais da revista Escola Moderna que: todo o trabalho de estudo autónomo terá de se apoiar num conjunto vasto de recursos, devidamente classificados para permitirem uma fácil identificação e utilização. Entre a documentação de apoio lembramos a necessidade de se disponibilizar conjuntos variados de ficheiros, roteiros de actividades e testes que deverão dispor de guiões de autocorrecção em separado para facilitar a sua utilização em trabalho autónomo (p. 4). Para que os alunos dispusessem dos recursos necessários ao desenvolvimento das suas actividades de aprendizagem em tempo de trabalho autónomo, e fosse possível, consequentemente, que eu ficasse liberto não só para apoiar os alunos que mais necessitavam como também para trabalhar com muitos deles os seus textos, num processo de revisão textual que sabia inevitável, senti que era fundamental e premente não só recolher e organizar como também, e sobretudo, produzir muitos desses materiais. Assim, fui construindo, ao longo do ano lectivo, um conjunto de 12 ficheiros, sendo 8 temáticos (Personal Identification; Expressing Ability; Describing Places; Telling the Time; Likes and Dislikes; Daily Routine; Actions Now), um de Vocabulário, um de Gramática e outro de Verbos, bem como um outro com propostas de Escrita. Do projecto inicial não cheguei a produzir os ficheiros temáticos Identifying Objects, Expressing Possession, Narrating, Expressing Intention, Making Comparisons e Suggesting and Inviting. Cada um dos ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 55 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 56 ficheiros produzidos contém um conjunto de fichas que oscila entre as 40 e as 240. A produção destes materiais, de forma intensiva e quase obsessiva (ao longo do todo o ano, repito), foi fundamental para a viabilidade deste projecto de investigação-formação centrado no desenvolvimento da escrita. É que, além de serem um bom apoio no estudo e treino pelos alunos das diversas matérias que tinham que dominar, permitiam-me a mim, professor, remeter para eles frequentemente perante as diferentes e múltiplas dificuldades particulares de cada aluno e, consequentemente, libertar-me para um trabalho constante e persistente sobre a produção escrita dos alunos e o seu aperfeiçoamento em tempo de trabalho autónomo, como adiante indicarei. ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 4. O Planeamento e a regulação do trabalho de aprendizagem 56 As ‘pastinhas’ com conjuntos de fichas que produzi na sequência e a partir dos erros e dificuldades detectadas no teste diagnóstico, foram como atrás referi, utilizadas em tempo de trabalho autónomo (as aulas de Estudo Acompanhado foram, para este efeito, importantíssimas). Cada aluno escolhia os materiais adequados às suas necessidades, tendo para isso, num primeiro momento, sido orientados por mim e, posteriormente, ganho progressiva autonomia. Continuámos, nesta primeira fase, a usar um instrumento de registo que já vínhamos usando anteriormente, em que o trabalho de cada aluno era planeado no início de cada aula e avaliado no final da mesma. Trata-se de uma folha organizada em 5 colunas: Data; O que vou fazer; O que fiz; Comentário do aluno; Comentário do professor. Há, assim, um planeamento e uma avaliação diários. No fim de cada mês é feito um balanço mensal do trabalho realizado, mas o planeamento foi sendo feito sempre aula a aula. Tal como as ‘pastinhas’ foram o embrião dos ficheiros que produzi, também este instru- mento de registo seria apenas o embrião do Plano Individual de Trabalho, que passámos a usar em Janeiro (embora fosse intenção introduzi-lo bem mais cedo, os problemas pessoais a que atrás aludi não mo permitiram). O nosso planeamento passou efectivamente, a partir de Janeiro, a organizar-se em ciclos de trabalho tendencialmente mensais (digo tendencialmente, pois havia ajustamentos desses ciclos de trabalho ao calendário escolar). Em Conselho de Cooperação Educativa elaborávamos o Plano Mensal, colectivo, em que estabelecíamos o que nesse mês irámos fazer em cada uma das aulas (inicialmente, a partir quase exclusivamente de propostas minhas e progressivamente com alguma participação dos alunos na elaboração do Plano). Aí eram fixadas quais as aulas que seriam reservadas para trabalho autónomo, quer aulas de Inglês quer as aulas de Estudo Acompanhado de que cada aluno poderia dispor para esse efeito, após acordo com o outro professor de Estudo Acompanhado. Cientes do tempo de que dispunham para o trabalho autónomo (nas aulas de Inglês e nas aulas de Estudo Acompanhado, bem como nas horas em que frequentassem a Sala de Línguas ou mesmo em casa), cada um dos alunos passava agora a organizar o seu trabalho autónomo já não aula a aula, mas em função de um Plano Individual de Trabalho (PIT) mensal. Tal como escreveu Sérgio Niza (2009), entendemos no Movimento da Escola Moderna que o trabalho necessário à escolaridade deverá realizar-se prioritariamente na escola. Os alunos, porém, para além do trabalho realizado em sala de aula, poderão trabalhar onde melhor entenderem, a partir do que se propuseram fazer no plano como trabalho autónomo, no respectivo ciclo de trabalho (p. 3). Na primeira grelha de PIT que lhes apresentei (ver anexo 5) introduzi alterações relativamente a outras que usara com outros alunos em anos anteriores. Por exemplo – e por influência do Grupo Cooperativo em que parti- 08/07/10 12:31 Page 57 cipei e a que me referirei mais adiante – a anteceder as propostas de actividades os alunos teriam que preencher um espaço indicando o que precisavam mais de trabalhar. Com esta solicitação pretendia que cada aluno, em vez de se propor fazer apenas as actividades que lhes desse mais prazer, reflectisse sobre as suas necessidades e planeasse o seu trabalho autónomo em função dessas necessidades, embora cruzando-as com os seus interesses. Nas propostas de actividades a realizar optei por, intencionalmente, colocar à cabeça algumas actividades de escrita. Voltemos ao acima citado texto de Sérgio Niza (2009): No tempo de estudo autónomo a turma está envolvida individualmente nas suas actividades, previamente planeadas num menu com múltiplas escolhas. Por vezes, segundo as necessidades, algum aluno poderá ajudar outro quando for previamente acordado antes da sessão se iniciar (p. 3). Intencionalmente, algumas das actividades propostas na grelha do PIT diziam respeito a situações de cooperação e interajuda (ver anexos 5 e 6). No primeiro PIT a Andreia, no espaço “O que preciso mais de fazer”, escreveu (transcrevo tal qual ela escreveu, sem corrigir): “Eu preciso de melhorar a fazer os textos e as divisões da casa; can you ride a horse?” Isto é, identificou três aspectos a trabalhar com o PIT. Em primeiro lugar a produção escrita. De facto, esta aluna manifestava dificuldade em escrever textos e precisava bastante de treinar e aperfeiçoar a escrita. Identifica ainda a necessidade de estudar uma determinada área vocabular (divisões da casa) e de trabalhar a formulação de perguntas e respostas no âmbito da matéria ‘Expressing Ability’. Mostra alguma consciência das suas necessidades mais prementes. A Bruna escreveu: “Preciso de trabalhar os numerais ordinais (vocabulário)”, mostrando também consciência de uma das suas necessidades. Já a Ana Filipa teve mais dificuldade em hierarquizar prioridades, de entre as suas necessidades: “Preciso de trabalhar como perguntar quem é uma dada pessoa. E determinantes, sobre os meus dias preferidos, responder a perguntas com ‘Why’. E numerar diversos países de vários continentes.” Apesar de a sua escrita não ser muito clara, é possível perceber-se que ela foi às listas de verificação ver onde estava a cometer erros e transpôs para o PIT alguns desses itens, mas sem conseguir estabelecer prioridades. Daí que eu a seguir tenha ido trabalhar com ela nesse sentido. O Francisco, pelo contrário, deixou esse espaço do seu PIT em branco e optou por escolher as actividades que mais lhe agradavam. O João foi bastante preciso, escrevendo: “Estudar melhor os objectos, os desportos e treinar o caso possessivo.” Isto é, as suas prioridades situavam-se no estudo de vocabulário e treino de gramática. No entanto, isso não se reflectiu nas actividades planeadas. De facto, das 24 actividades que planeou realizar, apenas uma era de vocabulário e outra de gramática, sendo que nem sequer chegou a realizar nenhuma de gramática. No balanço que fez no final do mês, o João mostra que tomou consciência de que as actividades que realizou ficaram muito aquém das que planeara (11 de 24). E refere que sentiu dificuldades “quando me apercebi que era difícil ultrapassar o número de actividades”. Indica que “podia ter trabalhado muito melhor” e, para melhorar, propõe-se “planificar melhor o meu trabalho”. No comentário que lhe faço mostro concordância com ele, mas não deixo de lhe chamar a atenção para a discrepância entre as prioridades que registou e as actividades que planeou: “E diz-me lá: achas que deste ou não prioridade ao que precisavas mais de trabalhar?” As dificuldades que o João revelou de apropriação do sentido e das potencialidades do Plano Individual de Trabalho, nesta primeira abordagem, foram comuns a outros alunos. Vejamos outro exemplo. Nas suas prioridades, a Ana Beatriz escre- ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 57 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 58 veu: “Preciso de trabalhar os determinantes possessivos e pronomes pessoais. Nomear vários países da União Europeia.” Isto é, situava-se no âmbito da gramática e do vocabulário. Das 41 actividades que planeou apenas 2 eram de gramática e outras 2 de vocabulário. Apenas realizou actividades de vocabulário (7), em total desrespeito por aquilo que planeara. Isto é, fez bastante mais actividades de vocabulário do que planeara, mas não realizou nenhuma actividade de qualquer outra área. Se ultrapassou, em termos das actividades de vocabulário, o total de 7 actividades que realizou ficou muito aquém das 41 que planeara. No balanço que fez do cumprimento do seu plano de trabalho, ainda registou que ultrapassara, embora escrevesse que achava que devia ter trabalhado mais e se comprometesse a esforçar-se mais. Foi o seguinte o comentário que lhe fiz: ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 “Também acho. Mas o problema não foi só esse. Repara: 1) Se o que precisavas mais de trabalhar eram os determinantes possessivos e pronomes pessoais e o vocabulário dos países, porque não planeaste mais actividades nestas matérias em vez de outras? 2) Deste prioridade ao que precisavas mais de trabalhar ou não? 3) O que é que ultrapassaste? Planeaste fazer 41 actividades e só fizeste 7. Como podes dizer que ultrapassaste? Não devias explicar isto?” 58 Já a Inês Reis escreveu em “O que preciso mais de trabalhar”: “O vocabulário relativo à família; os determinantes possessivos; pronomes pessoais; o verbo to be; datas; numerais ordinais; perguntas e respostas sobre o aniversário; preposições on e in; produzir textos”. Isto é todo um mundo. Achei que a Inês se iria perder no meio disto tudo, pois eram demasiados os aspectos a que dava prioridade, sem qualquer hierarquização. Chamei-lhe a atenção para isso, tal como fiz com vários outros alunos, sugerindo-lhes que começassem por dar prioridade apenas a 3 ou 4 aspectos de cada vez. A Inês não acatou essa sugestão, achando que poderia dar prioridade a todos esses elementos em simultâneo. Planeou realizar 74 actividades, sendo a maioria de escrita, de vocabulário e de gramática, tal como indicara nas suas prioridades. Surpreendentemente para mim, a Inês conseguiu realizar a maioria das actividades de planeara. Escreveu 11 textos, aperfeiçoou 9 e processou 10 no computador. Realizou 10 fichas de gramática e 8 de vocabulário. Apenas não concretizou algumas das actividades que dependiam de outras pessoas. No balanço que fez no final do mês escreveu que achava que tinha trabalhado bem, apesar de não ter cumprido tudo o que planeara fazer e que sentira dificuldades em escrever textos, mas que conseguira ultrapassá-las pedindo ajuda ao professor. O meu comentário, naturalmente, foi: “Eu estou muito contente com o modo como te aplicaste e com o trabalho que realizaste. Parabéns!” Os aspectos que acabo de relatar dão conta de diferentes modos como alunos de uma mesma turma se apropriaram – uns mais ou melhor que outros, naturalmente – do Plano Individual de Trabalho, nesta primeira fase. Foi um passo decisivo na promoção da autonomia dos alunos. A pouco e pouco (uns mais rapidamente que outros, como seria de esperar), foram ganhando consciência das suas necessidades, das suas dificuldades ou avanços na aprendizagem, do que poderiam fazer para melhorarem o seu desempenho em Inglês, a quem poderiam recorrer na aula quando precisavam, como deveriam gerir o tempo não o desaproveitando. Os balanços sistemáticos constituíram factores cruciais na regulação e promoção das aprendizagens. Com base nas realizações dos alunos com o primeiro Plano Individual de Trabalho elaborei gráficos globais de cada uma das turmas, que apresentei a seguir na aula. Nesta primeira fase, cada um dos gráficos registava, em termos de quantidades, as actividades planeadas e as realizadas por cada aluno. Os alunos, com a minha ajuda, fizeram nessa aula uma leitura dos dados representados no gráfico, discutiram 08/07/10 12:31 Page 59 o trabalho realizado e o empenho que tinham tido ou não nesse mês, se o que tinham concretizado era ou não o que precisavam de fazer, se o que tinham feito tinha sido útil para melhorarem as aprendizagens, bem como as razões porque tinham realizado mais do que o planeado ou menos do que o planeado. Seguidamente estabelecemos, a meu pedido, o que considerávamos que seria razoável fixar como mínimos de referência, em termos de quantidade de actividades a realizar. Assim, estabelecemos que, em cada mês, cada aluno deveria escrever pelo menos 3 textos e ler um livro, num total de pelo menos 15 actividades, sendo que cada aluno deveria trabalhar mais naquilo que mais precisasse. É minha convicção que esta discussão foi bastante útil para a apropriação, pelos alunos, do sentido da utilização do Plano Individual de Trabalho, bem como no estímulo ao empenho e concentração no trabalho, sem desperdícios de tempo aquando do trabalho autónomo. A partir daí, subiu bastante a quantidade de actividades concretizadas pela maioria dos alunos, nomeadamente a produção de textos, embora nem todos, sendo que alguns alunos só se apropriaram deste instrumento de organização e regulação do trabalho autónomo de aprendizagem de uma forma lenta ao longo dos meses que se seguiram. 5. O papel do Grupo Cooperativo O Grupo Cooperativo do Ensino por Disciplinas que constituímos em Lisboa viria a ter um papel fundamental neste meu trabalho. Trata-se de um grupo alargado de professores, de diversas disciplinas, dos 2.º e 3.º Ciclos e do Secundário, que se reunia com regularidade em Lisboa para partilharmos, reflectirmos, fundamentarmos e estimularmos o desenvolvimento dos projectos que tínhamos em curso com os nossos alunos. A partilha das nossas práticas e materiais utilizados, bem como a reflexão cooperada que íamos fazendo a partir dessa partilha e os contributos teóricos dos textos que íamos lendo e discutindo, deramme os estímulos quando eles me eram necessários, ajudaram-me a corrigir e a aperfeiçoar práticas, deram-me as pistas e sugestões que me iam permitindo evoluir no meu projecto de investigação-formação, isto é, no meu desenvolvimento profissional. Sem a minha participação no Grupo Cooperativo dificilmente teria conseguido realizar este projecto. Em quase todas as reuniões havia uma ou outra ideia que me ajudava a aperfeiçoar este ou aquele aspecto do trabalho com os alunos. Assim, por exemplo, a alteração que propus aos alunos na grelha do 2.º PIT (o de Fevereiro) decorreu de uma reflexão que fizéramos no Grupo Cooperativo. Tratou-se da inclusão de um espaço próprio para os projectos desenvolvidos pelos alunos, a partir do que diversos alunos começaram a produzir ‘livrinhos’ em Inglês, o que nunca até aí acontecera nas minhas aulas. 6. Os primeiros textos dos alunos Os primeiros textos produzidos pelos alunos eram, a meu ver, bastante pobres. Começo por abordar essas primeiras produções dos alunos da turma com mais dificuldades. Vejamos alguns exemplos (transcrevo-os como foram apresentados, ainda sem as correcções posteriormente introduzidas): “Hi! My name is Henrique, this is my brother, his name is Francisco. This is my mother, her name is Cristina. This is my Father, his name is Sérgio. This is my cat, his name is André... Bye!” (Henrique) Trata-se, como podemos verificar, de um texto muito elementar, construído a partir de outros que os alunos tinham à disposição e que de algum modo serviram de modelos. O Henrique, adaptando-os a si próprio, utilizou des- ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 59 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 60 ses modelos apenas alguns elementos mais simples, com estruturas frásicas que usa de forma repetitiva, se bem que com poucos erros. No texto que se segue, a Ágata utiliza igualmente modelos que tinha à disposição, no caso cartas ou emails. Mas, ao contrário do Henrique, cria uma personagem, que assina a carta. Descuida, porém, a correcção ortográfica e a pontuação, além de cometer erros também de construção frásica. “Hello! My name is Andre and I’m 10 years old. I’m from Lisboa in Portugal. My favorite colores are Black and blue My favorite animal is Panda. My favorite fruit is apple Bey! Se you son Andre Lopes”. A Ágata constrói diversos outros textos muito semelhantes, com pequenas variações: ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 “My name is Margarida. I’m from London. My father is José and my mother Julia. My favorite colour is grey My favourite animal ar cheetas. My favourite fruit is melon My best friend is Susana She’s very cool. Bye!” 60 Pouco a pouco, começa a construir outros tipos de textos. Vejamos um dos primeiros diálogos que construiu: “Susana: Hello! Bruno: Hello! Susana: How are you? Bruno: I’m fine, thank’s Susana: How old are you? Bruno: I’m eleven year old and you? Susana: I’m theerty years old. Bruno: OK! Bye! Susana: Bye!”. Tal como os seus outros textos anteriores, também este é muito elementar e pobre, que se esperaria de um aluno de 5.º ano numa fase inicial (1.º Período lectivo) e não de um aluno de 6.º ano. Volta a cometer muitos erros, necessitando de um trabalho de correcção / aperfeiçoamento com o professor ou com outro/a colega, como adiante referirei. Há já, no entanto, a tentativa de construir autonomamente um texto criado por si própria, sem ter que seguir um modelo. O texto que se segue, da mesma aluna, tem por base uma das propostas de escrita que eu incluíra nas ‘pastinhas’ – uma grelha com dados biográficos de um futebolista. “Cristiano ronaldo Santos Oliveira He’s 24 years old. He’s birthday is on februery 5th. He’s nationality is Portuguese. Her mother is Maria Dolores. 2 sisters is Filipa Aveiro and Katia Aveiro, 1 brother is Hugo Aveiro. Hes favourite monthe is February it is birthday”. Mais uma vez, trata-se de um texto pobre e cheio de erros. Quando o texto foi lido à turma (mais adiante falarei dos circuitos de comunicação que instituímos) foi facilmente compreendido pelos colegas, apesar dos erros. Aquando do trabalho de correcção e aperfeiçoamento que se seguiu, foi possível trabalhar com a Ágata diversos problemas de ortografia, de gramática e de vocabulário. Por exemplo, a distinção entre os pronomes pessoais e os determinantes possessivos, a formação do plural dos nomes, a concordância entre sujeito e verbo, entre outros. Remeti a Ágata para o estudo e treino destas matérias, através das fichas respectivas, nos ficheiros que eu organizara. Pouco a pouco, a Ágata foi tomando consciência de algumas regras do Inglês, treinando com as fichas autocorrectivas e melhorando a qualidade das suas produções escritas. A Vitalina começa por escrever textos muito elementares e sem cuidar da pontuação ou do uso de maiúsculas: “Amy: Hi! Toby How are you Toby: Hi! I’m fine thank you Amy: What time is it? Toby: It’s six o’clock. 08/07/10 12:31 Page 61 Amy: bye toby Toby: bye” A mesma forma descuidada pode verificar-se noutros textos da Vitalina nesta fase, com problemas a nível da construção frásica, da ortografia, uso de maiúsculas, etc., de que é exemplo o seguinte, construído a partir de uma proposta de escrita das ‘pastinhas’. “Sissy is giraffe. She is 8 years old. She is foom Kenya in Africa. the capital of Kenya is Nairobi. Kenya’s flag is black, red, green and white. Two million pepple live in Nairobi”. Este tema dos animais selvagens foi, nesta fase, frequente na escrita de muitos alunos, fazendo-o principalmente a partir das propostas de escrita existentes nas ‘pastinhas’. Mas se sobre a girafa e alguns outros animais selvagens havia propostas desencadeadoras de escrita, com informações sistematizadas em tabelas, já o mesmo não acontecia com outros animais, como por exemplo a chita, o animal preferido da Ana Beatriz. Ela própria recolheu informações sobre este animal e, a partir dos modelos que eu fornecera para outros casos, escreveu o seguinte texto, expandindo o modelo que eu fornecera. Apesar de alguns erros ortográficos (repare-se, por exemplo, nas variações com que escreve a palavra central do seu texto, ‘cheetah’), omissões sintácticas e outros erros de construção frásica, consegue já produzir, um texto compreensível, coerente e com informação variada, inteiramente de sua autoria. “My favorite wild animal My favorite wild animals are Cheetaes. Cheetaes are yellow and black. They live in Africa. They have short legs and big teeth. They eat meat. They drink water. They don’t plants. They can run very fast too. Cheetaes can’t swim. They sleep at day and hunt at night, just female hunt at evening. Cheetahs live for twenty years. I like cheetaes because can run fast and cheetaes are beautiful”. Mas voltemos à escrita da Vitalina. Sem seguir um modelo dado por mim, mas com base em elementos muito simples e elementares que surgiam ao longo do manual adoptado, produziu este texto, que revela já alguns progressos na escrita, apesar dos erros que ainda persistem. “Me and My Family My name is Vitalina Carvalho and I’m 11 years old. My mother is Anabela and my father is Vitor Manuel. My sister is Ana Carolina she is 14 years old and my brother is Vítor Alexandre hi is 4 years old. I’m Portuguese and my Family too”. No texto que se segue glosa o mesmo tema, introduzindo diversas transformações e acrescentando novos elementos. “My name is Vitalina. I’m 11 years old. I live in Outeiro de Polima. They are 5 people in my family: my parentes, my brother and my sister. My friend is Andreia and my best friends are Agata and Darelene. They are very very cool. My favourite colour is orange. My favourite hobbie is Dance. I love the sky The sky is Blue I love my love My Love is you” Trabalhei este texto com a Vitalina. Era frequente, em tempos de trabalho autónomo diferenciado, sentar-me com os alunos, individualmente ou em pares, para trabalharmos e aperfeiçoarmos os seus textos. Sérgio Niza (2009), a este respeito, diz-nos o seguinte: O professor ocupa o tempo de estudo autónomo da turma para apoiar os alunos em quem diagnosticou dificuldades. O apoio deverá ser individual ou em circunstâncias como a da revisão de texto, por exemplo, poderá fazer-se com um par, mas sempre na modalidade dialogada de ensino interactivo (p. 3). ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 61 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 62 Era exactamente isto que acontecia nestas aulas. Para além do apoio, aos alunos em dificuldades, devidamente programado, eu circulava pelos alunos para, com cada um ou com um par, os ajudar a fazer a revisão dos seus textos. Desta vez com a Vitalina, uma vez mais, começámos por trabalhar aspectos de correcção ortográfica e sintáctica. Porque o texto terminava com um poema, perguntei-lhe se fora ela que o escrevera. Não era o caso, nem sabia onde o tinha encontrado ou quem era o seu autor, mas disse que gostava muito dele. Sugerilhe que escrevesse isso mesmo no seu texto e, a seu pedido, ajudei-a a escrever. O texto, depois de trabalhado, ficou assim: ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 “My name is Vitalina and I’m 11 years old. I live in Outeiro de Polima. There are 5 people in my family: my parents, my brother and my sister. Andreia is my friend at school, but my best friends are Ágata and Darelene. They are very very cool. My favourite colour is orange. My favourite hobby is dancing. I love this poem: ‘I love the sky The sky is blue I love my love My love is you.’ I don’t know who its author is”. 62 Vítor Manuel and my mother is Anabela. My sister is Ana Carolina and my brother is Vítor Alexandre. He is very intelligent. My favourite month is September, because it is my birthday. My favourite singer is Alicia Keys and is very very beautiful. Bye! Write back soon. Vitalina”. No primeiro exemplo escreve uma carta seguindo como modelo um texto existente no manual e que tínhamos trabalhado, adaptando-o a si própria, imaginando-se na situação e referindo uma colega da turma, sua amiga. O segundo texto já é bem melhor conseguido – já não é tão mecanicista, já tem alguma respiração; trata-se de um primeiro esboço de resposta à carta que recebera de uma aluna de uma escola do Cacém, no âmbito do projecto de correspondência escolar em Inglês que estávamos a iniciar. Utiliza os elementos que já vimos em textos anteriores e acrescentalhes outros, decorrentes de diversas matérias que tínhamos vindo a trabalhar nas aulas em colectivo. Note-se também que neste texto já praticamente não comete erros de ortografia, pontuação ou sintaxe (exceptua-se a omissão do sujeito numa frase). Como é evidente, começava a notar-se alguma melhoria na escrita da Vitalina. Vejamos dois outros exemplos. Tal como a Vitalina, também outros alunos escreviam frequentemente textos que eram, no fundo, variações de outros que já antes tinham escrito. Vejamos dois da Ana Beatriz: “Dear Mum and Dad, The adventure camp is very cool. The teachers are very friendly. Now I can ride a horse and read a map, but I can’t play the guitar and make an omelette. My best friend here is Ágata and she is 13 years old. See you soon. Love, Vitalina”. “Hi! My name is Beatriz. I’m eleven years old. My favourite colours are pink, orange and yellow. My favourite fruit is mango. My best friends in my class are Andreia, Ágata, Filipa, Inês Reis, Inês Esteves and Vitalina. Bye! Beatriz”. “Hello Telma! My name is Vitalina Carvalho and I am 11 years old. I am from Lisbon and I am Portuguese. My birthday is on September 2nd. My father is “Hello!! My name is Beatriz and my surname is Andrade. I am 11 years old. I am from Ribeira da Lage in Oeiras. My favourite fruits are mango and strawberry. My best friends are Andreia, Filipa, Inês Reis, Inês Esteves and Vitalina. 08/07/10 12:31 Page 63 BYE!! Beatriz Andrade”. Nesta fase os temas eram muito repetitivos, quase todos os alunos desta turma escreviam sobre os mesmos temas e nas mesmas modalidades. O projecto de correspondência deu origem a uma multiplicidade de cartas imaginárias, paralelas que muitos alunos iam escrevendo. Foi também o caso da Catarina, que escreveu esta carta dirigida ao Toby, uma personagem do manual: “Dear Toby, My name is Catarina Alvorado. I’m twelve years old and I’m from Portugal. I’ve got long dark hair and dark brown eyes. What colour hair and eyes have you got? Who’s your favourite film star? My favourite film star is Will Smith. He’s got short black curly hair and dark brown eyes. Please write soon. Best wishes. Catarina”. Repare-se, no entanto, que no plano formal é uma carta mais cuidada e mais conseguida que as anteriores, sem erros de escrita significativos. Também o seguinte diálogo, escrito igualmente pela Catarina, revela uma qualidade superior à de diálogos que atrás transcrevi. Enquanto que esses eram mecanicistas, pouco comunicativos, nestes já há subjacente a criação de uma situação comunicativa, uma cena mais realista: “A – Hi, Francesca! B – Hi, Mary! A – What’s this? B – It’s a poster! She’s my favourite singer. A – Nelly Furtado? B – Yes, she’s very cool. A – Ah, O.K. See you later! B – Bye”. No diálogo seguinte, a mesma Catarina cria uma situação de sala de aula, recriando um possível diálogo entre professor e alunos, à se- melhança de muitas situações de aula dirigidas por mim. Apesar de se ter esquecido de indicar devidamente as personagens em cada uma das falas (indica só A e B, apesar de serem 3 as personagens em diálogo), não é difícil entendermos perfeitamente que falas correspondem a cada uma das três personagens. “A – Good morning! B – Good morning, teacher! A – Ok. Marian… B – Yes. A – Can you play the piano or the guitar? B – I can play the piano but I can’t play the guitar. A – O.K. Mark… B – Yes. A – Can you sail a boat or play chess? B – I can’t play chess but I can sail a boat. A – OK. Bye. B – Bye, teacher”. É, no entanto, quando os alunos começam a escrever textos a meias (modalidade de escrita que, lembremos, estava prevista nas actividades do PIT, mas a que os alunos só começaram a aderir após insistência minha), que se nota um salto qualitativo nas suas produções escritas. Vejamos exemplos, a começar por um texto a meias da Catarina e da Inês Vicente, em que falam sobre as colegas da turma. “The friends of my school My school is Conde de Oeiras School. In my school there are good friends. Their names are marina, Ágata, Rita, Filipa, Vitalina, Bruna, etc. Filipa is very very cool. She’s twelve years old and she’s from Covilhã. Her birthday is on 14th December. Vitalina is a good good friend. She’s twelve years old. She likes riding a horse. Ágata is rebel and excellent. She’s thirteen years old. Her favourite sport is volleyball. Rita’s quiet. She’s thirteen years old. She likes blue. Bruna is talkative. She’s twelve years old. She likes singing and dancing. Marina is the opposite of Bruna. She rarely talks. She’s fifteen years old. She likes reading books. These are my friends in my school”. ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 63 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 64 Vejamos outro caso. A Inês Reis escreveu o seguinte texto individualmente: cuja dificuldade não conseguia resolver apenas com o dicionário. “PANDAS My favourite animals are pandas. Pandas are white and black. They are big. They live in the jungle. They eat plants and fruit. At night they sleep close to trees. They don’t run fast. They walk, or climb trees and plants looking for food. I like pandas because they are beautiful”. “Her name is Cintya. She is 5 years old. She is from S. Marcos, in Portugal. She is short and her hair is black and very long. Her eyes are light brown. She is beautiful. Her favourite fruit is strawberry and her favourite animal is the butterfly. Cintya can wash the dishes, but not very well. She can tidy her bedroom up. She can’t swim under water. But she likes walking her dog and she loves playing with her dolls. Her parents are Vera and Filipe. Her brother is Christian Clan. He was born in Ireland. He is two years old. Cintya is very intelligent. And she is a sweetheart!” E mais ou menos na mesma altura escreveu este texto a meias com a Inês Esteves: ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 “Dear Sophia, My name is Maria Tereza. I am Italian. I live in Rome with my parents. My mother is called Constanza and my father is called Jose. I love Rome, it’s fantastic. I don’t like school, but I’m a good student. My teacher is called Josepha. My school is red. My favourite food is lasagne. My favourite animal is the Cat. I don’t like Dogs, they are horrible!! My favourite colours are green and yellow. I have got dark short hair and blue eyes. My favourite month is January because it’s my birthday. My favourite fruit is Banana because it’s yellow and yellow is my favourite colour. My house is small: one kitchen, two bedrooms, one bathroom and one dining room. My favourite sport is sailing a boat. My favourite clothes are jeans and tops. Write back soon Best Wishes Maria Tereza”. 64 O texto escrito a meias é não só mais extenso, como também revela maior autonomia de escrita, pois, ao contrário do primeiro, não se limita a seguir um modelo fornecido. É como se, ao contrário do primeiro, em que joga pelo seguro, neste começassem a experimentar começar a voar. Vejamos um novo texto da Vitalina, que contou desta vez com alguma ajuda também da Inês Esteves. Trata-se de um texto sobre uma familiar sua e a Vitalina sabia bem o que nele queria dizer. Perante dificuldades que sentiu, não se deteve: pesquisou no dicionário palavras que não sabia em Inglês e pediu ajuda em frases ou expressões Não resta dúvida de que, apesar de nesta altura ter passado ainda pouco tempo após a introdução do Plano Individual de Trabalho e deste investimento na produção escrita dos alunos, a evolução da escrita da Vitalina, a partir dos primeiros textos que atrás transcrevi, era já considerável. Desenvolvimentos semelhantes ocorreram na escrita de outros alunos, como por exemplo no caso do Francisco quando começou a escrever a meias: “Our friend Isabel Her name is Isabel Santos and she’s eleven. She is a very funny person, she’s very pretty and intelligent. Her favourite classmate is Japanese. Her favourite sport is tennis but she hates football. She loves eating lasagne and her favourite drink is water. She can do lot of things: she can ride a horse, sail a boat and swim. Her favourite film is ‘King Kong’ and her favourite singer is Madonna”. (Francisco e João) O João, por esta altura, tinha já desenvolvido um nível apreciável na escrita. Vejamos o que ele escreveu a partir de duas imagens (um prédio de apartamentos e uma vivenda): 08/07/10 12:31 Page 65 “HOUSES I’m Harry and I’m eleven years old. I’m American and this is my house. It’s a flat in London. It’s small but I like it. In my home there are a sitting room, two bedrooms, a kitchen and a bathroom. I love my bedroom. In my bedroom there are a bed, two wardrobes, a desk, a TV and a computer. After school I go to my bedroom and I stay there a lot of time. My parents’ room is big and with more stuff. In my sitting room there are two big sofas, a table with chairs and a TV”. “I’m Isabella, I’m fourteen and this is my house. It’s very big. In my house there are a sitting room, a dining room, a kitchen and a bathroom. Upstairs there are 5 bedrooms: to me, to my brother and my sisters and to my parents. This is not fair: I’ve got the small bedroom. My baby sister has got a bedroom with a bathroom. In the garden there are a lot of plants and a swimming pool”. Repare-se que o João utiliza, nestes dois pequenos textos, matérias linguísticas que ainda não tínhamos trabalhado nas aulas. Mas era isto que ele queria comunicar e procurou como se diria isso mesmo em Inglês para poder escrever nestes textos exactamente o que pretendia. 7. Os circuitos de comunicação Se num primeiro momento os alunos escreviam sobretudo para o professor, rapidamente evoluíram, à medida que íamos implementando circuitos de comunicação. Tentei sempre passar-lhes a ideia de que a escrita servia para comunicarmos com os outros e procurei criar processos e dispositivos coerentes com esta ideia. “Uma das perspectivas culturais da nossa acção pedagógica é a socialização dos produtos escolares. Assumimo-lo desde logo quando afirmamos a importância de orientarmos o trabalho de aprendizagem para produções culturais integradas em circuitos de comunicação”, escreveu Sérgio Niza num editorial da revista ‘Escola Moderna’ em 2001. Continua, mais à frente, afirmando: (...) esta nossa determinação de orientarmos o nosso trabalho e o dos nossos alunos para produtos sócio-culturais [que] perderiam a sua significação se não pudessem circular na turma, na escola e na comunidade como objectos de partilha, de solidariedade e de coesão comunitária. Esse valor de circulação e de interacção comunicativa assegura, em última análise, a validação social dessas produções culturais no interior de uma comunidade de aprendizagem (Niza, 2001, p. 3). No Plano Individual de Trabalho inscrevi, logo desde início, propostas de actividades nesse sentido. É o caso, por exemplo, das actividades “Ler textos à turma”, “Ler textos de colegas”, “Escrever cartas para os correspondentes”, entre outras. Instituímos, desde logo, em Conselho de Cooperação, que os primeiros minutos de cada aula, imediatamente após as rotinas da abertura da lição e afins, eram dedicados à leitura de textos à turma, à apresentação de livros em Inglês que tivessem lido ou à apresentação de outros trabalhos de Inglês. Organizámos, no início de cada mês (aquando do planeamento), uma escala de leituras à turma, na qual os alunos se inscreviam para a aula em que pretendessem fazê-lo. Eram sempre mais os pedidos de inscrição para leituras do que as vagas disponíveis, pois havia que dar oportunidade a todos os alunos, numa forma tendencialmente rotativa. Cada aluno podia ler textos seus, de outros colegas (com autorização, claro), do manual ou de outros livros. No entanto, para esta rotina de leituras à turma escolheram quase sempre textos escritos por si próprios ou, raramente, textos escritos por colegas da turma. Muitas vezes o autor convidava um(a) colega, sobretudo quando o texto incluía diálogos, para ir consigo lê-lo à turma, em leitura dialogada. Os alunos rapidamente assumiram esta rotina de leituras como uma forma de divulgar os seus próprios textos. Seguia-se, quase sempre, um breve tempinho de comentários aos textos lidos e ao próprio acto de leitura, em que vários alunos referiam os aspectos de que mais tinham gostado e davam su- ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 65 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 66 08/07/10 12:31 Page 66 gestões de melhoria. Esta divulgação dos textos através de leituras à turma viria a revelar-se extremamente estimulante para a produção escrita e muito potenciadora de desenvolvimentos na qualidade das produções, como adiante referirei. Procurei, no fundo, que cada turma funcionasse como “uma fratria ou comunidade que constrói em cooperação democrática por meio das produções curriculares que partilha, com o envolvimento discreto, atento e afectuosamente estruturante do professor” (Niza, 2003). Para que todos tivessem acesso fácil às diversas produções de todos, organizámos também um dossiê, a que chamámos “Our Texts” e que estava a cargo de dois alunos (à semelhança de diversas outras tarefas ou cargos, distribuídos pelos vários alunos da turma), no qual eram arquivados os textos que os vários alunos iam produzindo, depois de corrigidos ou aperfeiçoados e de os passarem a limpo. Este dossiê-arquivo de textos dos alunos podia ser consultado livremente no tempo de trabalho autónomo, pondo assim à disposição de todos, os meios para a actividade do PIT “Ler textos de colegas”. A certa altura acrescentei no PIT, nesta actividade, um parêntesis com a indicação: (do dossiê “Our Texts”). É que muitos textos eram lidos por muitos colegas antes ainda de iram para o dossiê “Our Texts”, isto é, muitos textos, mal eram escritos, começavam imediatamente a circular pela turma antes de estarem passados a limpo. A actividade de leitura de textos de colegas tornou-se muito rapidamente a mais popular de entre as actividades do PIT. Numa primeira fase eu não percebi bem a importância do que estava a acontecer e tentei pôr travão a que os textos circulassem antes de estarem prontos para o dossiê. Mais tarde apercebi-me de que estávamos a vivenciar aquilo a que podemos chamar uma comunidade de aprendizagem, uma comunidade de escrita. Eram muitas as interacções que se verificavam na turma, espontaneamente, inclusivamente no próprio acto de escrita dos textos. Um dos circuitos comunicativos de que dispusemos foi-nos proporcionado pelo projecto de correspondência, em Inglês, com turmas de outra escola, de que adiante falarei. Frequentemente enviámos também textos dos alunos para serem publicados no Jornal de Escola. Foram muitos e muito variados os textos que enviámos. Infelizmente, no entanto, – e apesar de muitas vezes nos terem sido solicitados trabalhos para publicação – poucos foram publicados. 8. O projecto de correspondência O projecto de correspondência deu um contributo significativo para o desenvolvimento da escrita dos alunos destas duas turmas. Já nos anos anteriores, espicaçado pela colega Elsa Marques, eu e ela tínhamos desenvolvido pequenos projectos de correspondência em Inglês entre alunos das nossas turmas. Essas pequenas experiências deram-me a segurança e a confiança para apostar agora num projecto mais ambicioso. Desta vez, não sendo possível com os alunos da Elsa, contactei com uma colega de uma escola do Cacém (a Anabela Bataglia), que se dispôs a desenvolver este projecto com os seus alunos de duas turmas. Os meus alunos começaram por enviar, a cada uma das suas turmas, uma carta colectiva em Inglês em que nós os desafiávamos para este projecto. Algum tempo depois, recebíamos não uma carta colectiva mas sim um conjunto de cartas individuais, dando assim início à correspondência escolar individual. Apresento seguidamente alguns aspectos destes percursos de escrita entre correspondentes, centrando-me na turma 6.º F (aquela em que os alunos tinham mais dificuldades). O Luís recebeu de uma aluna da escola do Cacém a seguinte carta: “Dear Friend! My name is Madalena. My surname is Reis. I am eleven years old. 08/07/10 12:31 Page 67 My sister is Beatriz. My brother is Afonso. My father is António. My mother is Maria. My favourite colour is blue. My favourite subject is Science. My best friends are Catarina and Telma. Write soon... Madalena!” Como se pode constatar trata-se de uma carta sem erros formais de ortografia ou na construção das frases, mas é ainda pouco mais que uma justaposição de frases, sem uma gramática de texto subjacente. Ora o Luís, que tinha muitas dificuldades, ao responder, fez exactamente a mesma coisa, defendendo-se. Aliás, limitou-se a copiar as frases da carta da Madalena, substituindo as palavras que a identificavam a ela por palavras equivalentes que o identificavam a ele e eliminando as frases que não se lhe aplicavam (o Luís não tem irmãos). Sem acrescentar nada. Foi mesmo ao ponto de copiar rigorosamente a pontuação, o uso de maiúsculas e a disposição gráfica de cada frase no espaço da folha de papel. Passo a transcrever: “Dear Madalena! My name is Luís. My surname is Correia. I am thirteenth years old. My father is José. My mother is Maria. My favourite colour is blue. My favourite subject is Portuguese. My best friends are Gonçalo Góis and Gonçalo Monterde. Write soon... Luís!” Entendi que a sua carta não deveria seguir assim e propus-lhe que eu e ele a trabalhássemos para a melhorar. Sentei-me com ele e comecei a propor-lhe algumas pequenas alterações formais, de superfície, explicando-lhe o porquê dessas minhas propostas – e ele aceitou. Juntámos as duas primeiras frases numa só, que ficou “My name is Luís Correia.” Corri- gimos a ortografia da palavra ‘thirteen’. Acrescentámos, a seguir à frase sobre os melhores amigos uma nova frase: ‘They are in my class.’ Isto foi apenas o começo das transformações na carta do Luís. Pedi-lhe depois que fosse procurar no manual exemplos de cartas, para ver qual era o seu aspecto formal e fazermos então novas melhorias na sua. Sugeri-lhe que pensasse no que gostaria de saber sobre aquela rapariga que ela ainda não lhe tivesse dito e que lhe fizesse perguntas, que escrevesse perguntas. E que lhe dissesse mais alguma coisa sobre si próprio. Em aulas posteriores voltei a trabalhar com o Luís no aperfeiçoamento da sua carta. A versão definitiva, que seguiu para a Madalena, foi a seguinte: “Oeiras, March 23rd 2009 Dear Madalena, My name is Luís Correia and I am thirteen years old. My father is José, he is 45 years old. My mother is Maria; she is 41 years old. I haven’t got any brothers or sisters. And you? Have you got any brothers or sisters? That’s funny: my favourite colour is blue too. But my favourite school subject isn’t Science, it’s Portuguese. My best friends are Gonçalo Góis and Gonçalo Monterde. They are in my class. Are your best friends in your class too? My favourite hobbies are playing computer games and playing football. What is your favourite hobby? Write soon... Luís Correia” É certo que houve ali uma distracção em relação aos irmãos da Madalena, mas não há dúvida de que a versão definitiva já é uma carta e não uma mera justaposição de frases. Agora, nesta versão, já está a comunicar com a colega, já não é uma escrita mecânica, artificial, sem função real de comunicação. Os efeitos foram também visíveis na carta seguinte que a Madalena enviou ao Luís, quer ao nível da forma, quer ao nível da comunicação. A correspondência começava a fazer sentido para este dois alunos que, sendo de esco- ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 67 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 68 las diferentes, não se conheciam ainda. A comunicação entre eles estava estabelecida. Eis a nova carta da Madalena: ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 “Dear Luís, Hi! How are you? I’m fine. In this letter I’ll answer your questions. I have got one sister, Beatriz. She is 15 years old. And one brother, Afonso, he’s 16 years old. And yes, my best friend is Catarina Monteiro. She is in my class, too. My favourite hobbies are watching TV. Talking and walking with my friends. Write soon… Madalena” 68 A carta da Rita foi sendo escrita ao longo de várias semanas. A Rita era uma aluna com necessidades especiais de educação, com muitas dificuldades cognitivas, que dificilmente conseguia acompanhar as aulas se não tivesse alguém junto a ela a ajudá-la. Neste ano, porém, tinham-lhe sido retirados os apoios na sala de aula para serem canalizados para outros alunos (que por sinal tinham menos necessidade que a Rita, mas cujos familiares tinham maior poder reivindicativo). Para escrever a carta de resposta ao seu correspondente, foi preciso que eu a ajudasse. Fazíamo-lo na aula, em manuscrito, e depois a Rita ia ao Centro de Recursos passá-la no computador, com quem pudesse ajudá-la. Quando nos sentávamos para a ajudar de novo a escrever a carta, a Rita dizia-me o que pretendia dizer ao seu correspondente e eu ia tentando que ela dissesse em Inglês aquilo que já sabia, ajudando-a a pôr em Inglês o que ela não soubesse. Por sugestão minha, a Rita aproveitou diversos dos seus textos anteriores, adaptando-os para esta carta. Mas tinha também que responder ao que o correspondente, o Alexandre, lhe dizia na carta que recebera, nomeadamente sobre o seu cão Farrusco. A certa altura, a carta da Rita tinha ficado assim: “Dear Alexandre, Thank you for your letter. So we both like pop music. I hope Farrusco is OK. Do you like wild animals? My favourite wild animal is the lion. What is your favourite wild animal? What do you do everyday? I get up at half past six. Then I get dressed and I have breakfast. After breakfast I brush my teeth and I go to school. School starts at quarter past eight. I have classes all morning. At ten past one I have lunch. On Thursday I have no classes in the afternoon. I ride my bike, I watch TV and I play computer. I have dinner at half past eight. After dinner I play computer with my sister or watch TV. I go to bed at nine o’clock. What do you like doing after dinner? Write back soon. Rita” O parágrafo maior desta carta não foi escrito inicialmente para esta carta da Rita, era sim um texto que a Rita, com ajuda, tinha escrito anteriormente, a partir de um modelo, e que agora transcreveu. Mas o que é facto é que esse texto podia ser aqui incorporado sem grandes incoerências. A Rita, porém, insistiu em incorporar na carta também um outro texto que ela, a partir de outro modelo e com a minha ajuda (e utilizando também o dicionário) escrevera sobre o seu animal preferido, o leão. Assim, a seguir à frase “My favourite wild animal is the lion”, a Rita incorporou o seguinte texto: “Lions are yellow and brown. They live in Africa and in Asia. The male lion has got a mane. They eat meat. The lionesses hunt in the day. They hunt in groups. Lions live for about 10-14 years in the wild, while in captivity they can live over 20 years”. A Catarina era uma aluna razoável, com bastante mais capacidades do que a Rita. A carta inicial que escreveu, no entanto, era muito pobre e algo descuidada: “Dear friend, My name is Catarina Alvorado and I’m 11 years old. My hair is long dark brown hair and I’ve got brown eyes. My birthday in on 30th March. 08/07/10 12:31 Page 69 My father’s name is José. My mother’s name is Ana Cristina. My sister’s name is Margarida. See you son Catarina” Achei que esta carta não poderia ficar assim, tão impessoal, tão pouco comunicativa, em que, tal como o Luís fizera, se limitava a escrever frases semelhantes às da carta que recebera, sem acrescentar nada, isto é, no fundo, sem comunicar. Propus-lhe uma série de correcções, algumas mais formais, de natureza ortográfica ou de construção frásica, mas sobretudo apresentei-lhe propostas de acrescentamentos em que ela interagisse mais com o seu correspondente. Por escrito, fiz-lhe o comentário “A tua carta é muito pobre! Tens que a enriquecer!”, expliquei-lhe o porquê de algumas correcções de estrutura frásica e apresentei-lhe um modelo para ela poder enriquecer a carta, em substituição de algumas frases mecânicas e soltas que escrevera: “I live in ____ with my family: my parents and my sister. My father’s name is José. He is ______years old and he is a ______ (profissão). My mother’s name is Ana Cristina. She is ______years old and she is a ______ (profissão). My sister’s name is Margarida and she’s ______ years old. We live in a flat / house. In our house / flat there are _____ rooms: ____ bedrooms, ____ bathrooms, a _____, a ______ and a ______. The sitting room is ______, the _______ is ________, the ________ is ________. My favourite room in the house is ______. In (my bedroom) there are ______ ... My favourite colour is .... My favourite school subject is ... E FAZER PERGUNTAS!!” A carta que a Catarina enviou depois ao seu correspondente ficou assim: “Oeiras, 18th March 2009 Dear Rodrigo, My name is Catarina Alvorado and I am 11 years old too!! I’ve got long dark hair and I’ve got brown eyes. And you? What colour hair and eyes have you got? My birthday is on 30th March. I live in Sassoeiros with my family: my parents and my sister. My father’s name is José. He is 43 years old and he is a graphic designer. My mother’s name is Ana Cristina. She is 40 years old and she is a fashion designer. My sister’s name is Margarida and she is 8 years old. We live in a flat. In our flat there are 8 rooms: 3 bedrooms, 2 bathrooms, a kitchen, 1 sitting room and 1 dining room. The sitting room is very comfortable. In my bedroom are 1 bed, four pillows, 1 desk, 1 chair, 1 computer and three puffs. My favourite room in the house is my bedroom. What is your favourite room in your house? And my favourite subject is History. What is your favourite colour? My favourite colour is blue. I and my club are the national Champions of artistic roller-skating. Do you like roller-skating? Write back soon, Catarina” Como podemos verificar, a Catarina não se limitou a seguir cegamente o modelo que eu lhe apresentei, embora o tivesse utilizado: alterou a ordem de alguns elementos e, sobretudo, acrescentou novos elementos – no caso, informou o seu correspondente que pratica patinagem artística e que a sua equipa até é campeã nacional. Isto é, a Catarina entendeu que afinal podia, através da carta, comunicar sobre si e a sua vida. Na resposta do correspondente do Cacém, o Rodrigo respondeu-lhe, a certa altura da carta, do seguinte modo: “I also answer if I like roller-skating. I’ve never tried and I don’t know what it is. Can you send me some pictures the next time you write to me?” Ao que a Catarina respondeu enviando-lhe, na carta seguinte, uma fotografia dela praticando patinagem artística e escrevendo: “Here is a photo of me roller-skating. I am the one with a pink dress.” Isto é, tinha prevalecido a função de comunicação. Com toda a naturalidade e com muito mais desenvoltura no domínio da escrita, se ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 69 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 70 compararmos com a timidez e pobreza da versão inicial da carta anterior que a Catarina me apresentara. ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 Voltemos à Vitalina. Lembremos que vários dos primeiros textos da Vitalina estão acima transcritos e eram bastante elementares e discursivamente muito pobres. Um dos seus textos que vimos era mesmo o seu primeiro esboço de resposta à carta que recebera da aluna sua correspondente, a Telma. A Vitalina continuou a aperfeiçoar a sua carta-resposta, com a minha ajuda e com a ajuda de algumas colegas na aula e, depois de alguma perseverança no treino e aperfeiçoamento da escrita, conseguiu chegar a este resultado, a versão final da carta que enviou para a aluna do Cacém: 70 “Oeiras, 17th March 2009 Dear Telma, My name is Vitalina Carvalho and I’m your new pen friend. I’m 11 years old too. But my birthday is not in May, it’s on 2nd September. I’ve got curly brown hair and brown eyes. And you? I live in S. Domingos de Rana with my family. There are 5 people in my family: my parents, my sister, my brother and me. My father is Vítor Manuel and my mother is Anabela. My sister is Ana Carolina, she’s 15 and she’s boring. My brother is Vítor Alexandre and he is 4 years old. My friend at school is Andreia, but my best friend is Darlene. She is not in my school. I like blue too, but my favourite colour is orange. Do you like orange too? My favourite singer is Alicia Keys. Who is your favourite singer? I am an actress and a model. I played ‘Jessica’ in the series ‘A Outra’ in TVI. May be you saw me on TVI. Did you? Write back soon. Bye, Vitalina”. Repare-se que a qualidade da escrita da Vitalina evoluiu imenso, mesmo não tendo decorrido muito tempo. É certo que a Vitalina contou com a minha ajuda e de colegas, tendonos solicitado quando entendeu que precisava. Mas o que aqui escreveu foi aquilo que ela própria quis comunicar, não era já um exercício académico e artificial como eram alguns dos seus primeiros textos. Devo no entanto referir que foi por sugestão minha que a Vitalina, que por esta altura tinha acabado de participar no elenco de uma telenovela em fim de transmissão em horário nobre numa estação de televisão (e era o rosto de campanhas publicitárias de entidades oficiais na área da emigração), concluiu a sua carta com uma referência a esta sua actividade. A correspondente da Vitalina no Cacém, a Telma, relatou isto mesmo às colegas da sua turma. Mas foi a correspondente da Bruna, uma outra aluna da turma, que na carta seguinte que lhe escreveu quis saber se isto era mesmo verdade e lhe perguntou: “My class says that Vitalina, of your class, is an actress and a model and they also say that she has participated in the novel ‘a outra’. I would like to see if that’s true”. Ao que a Bruma respondeu na carta seguinte: “Yes, that’s true. Vitalina is an actress and a model. She participated in the novel ‘A Outra’ ”. A comunicação estava em pleno funcionamento. E quando a escrita deixa de ser um mero exercício académico e passa a ser um veículo de comunicação, tudo passa a ganhar sentido e, mesmo que haja dificuldades, procura-se a forma de as ultrapassar e dizer o que efectivamente se pretende dizer. As potencialidades destes processos no desenvolvimento da escrita são enormes. Vejamos outro exemplo. Na carta que o João recebeu, era-lhe dito a certa altura: “And in my free times I like reading a book, or playing football, but in the Winter I don’t play football because it’s raining and it’s cold. I like playing videogames too. When I play with my father, he loses almost all the games.” 08/07/10 12:31 Page 71 Na resposta do João, ele não deixa escapar esta deixa. Foi esta a carta que o João enviou ao Miguel: “Oeiras, 19th March 2009 Dear Miguel, Hi! I’m João Pedro de Oliveira Afonso and I’m eleven. I’m your new pen friend. I’m in year six too. My birthday is on 2nd December. I have got short straight brown hair and brown eyes. Have you got short, medium length or long hair? What style is your hair? I live in Oeiras, near Lisbon, with my mother, Maria da Conceição de Oliveira Afonso, and with my brother, Frederico de Oliveira Afonso. My father lives in Paris, France. Paris and Lisbon are the capitals of France and Portugal. My favourite hobbies are swimming, playing tennis, reading a book and other things. What music do you like? I like U2, Kiss... rock bands. I play the bass and the piano. Do you practise any instrument? I like videogames too, I like ‘guitar hero’, and I usually win the games. My favourite film star is Uma Thurman, she’s American. She’s got long straight hair and greenish brown eyes, like Nicole Kidman. She plays the films ‘Kill Bill’, ‘Pulp Fiction’, ‘My super-ex’, ... Who’s your favourite film star? Write back soon. Best wishes, João Pedro” Note-se a desenvoltura já evidente na escrita desta carta. Note-se também como, após as primeiras frases, um pouco mais formais, o João, a partir das dicas da carta que recebeu, escreve sobre si e aquilo de que gosta, aquilo que tem para comunicar com o colega correspondente, procurando afinidades e questionando sobre coisas em comum. Não se limita a fazer algumas perguntas soltas, mais ou menos fáticas; as suas perguntas estão harmoniosamente inseridas no seu discurso e continua a falar de si, já que ainda se trata de uma primeira carta para um novo correspondente, logo, uma carta ainda de apresentação. Na nova carta que o João recebe do seu correspondente, este alimenta também a comuni- cação, focando-se nos interesses comuns, como se vê neste excerto: “I like music but I don’t have any favourite band. I like to play tennis like you, and my favourite players are Andy Murray and Serena Williams. I play the piano too. One day we’ll make a concert. In the internet I play the game pt.managerzone.com. I have a team and I am the coach! Do you play any browser game?” E a resposta do João: “Oeiras, May 29th 2009 Hi Miguel, How are you? I’m anxious for the end of the school year; the classes are boring because the weather is hot. When I read your letter I liked it, especially the part about the concert. How are your school days? And your weekends? In the school days I wake up very early, I get up at half past six and then I have a shower. After that I have my breakfast. For breakfast I have two toasts and a cup of milk with coffee or orange juice. School finishes at twenty to five in the afternoon. After school I do my homework and, at seven o’clock I watch TV. My favourite programmes are ‘The Simpsons’, ‘Family Guy’, ‘American Dad’, ‘Everybody Hates Chris’, ‘Dragon Ball’ and ‘Naruto’. What are your favourite programmes? I sometimes watch horror films at seven o’clock. I love horror films, especially the films in the ‘Saw’ serial. At the weekends I usually go to the cinema. At a weekend (16/17-05-09) I saw the movie ‘X-men Wolverine: Origins’ and I liked it a lot. Answering your question: Yes, I play browser games and I play in the site www.y8.com. In y8 site my favourite game is ‘The Governor of Poker’, it’s a game of poker and I love poker. If you probably think that I’m a great talkative you’re wrong. When I meet people I’m very shy but then, when I know them better, I usually talk with more facility but I don’t talk a lot. Write back soon. João Afonso” Apesar de algumas construções frásicas menos conseguidas, o João centra-se no que quer comunicar e consegue fazê-lo, sem dúvida. ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 71 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 72 O Inglês, aqui, já é para ele, claramente, um instrumento ao serviço da comunicação. E já não hesita em escrever textos longos. O que tenho vindo a relatar converge com a tese de Inácia Santana (2003) quando defende: O “saber escrever” adquire-se na acção intencional, através dos processos complexos de resolução dos problemas concretos da textualização, na organização de encadeado do discurso, com todos os avanços e recuos que decorrem da interacção com processos de revisão e de planificação inerentes ao permanente ajustamento entre o texto escrito e o que se quer escrever, tendo em conta o que se quer e a quem se quer comunicar (p. 24). Invocando estudos de Applebee, de Stein & Glenn e de Gundlach, Santana acrescenta: Efectivamente, ao produzir um discurso escrito para outro, o indivíduo mergulha num processo complexo, marcado pelo diálogo interior com a representação que tem da audiência, onde tem de resolver um conjunto de problemas de legibilidade, que, por sua vez, serão mobilizados na compreensão da leitura de textos de outros autores (idem). ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 Voltaremos a esta questão mais adiante. Na carta que a correspondente da Bruna lhe escreveu no início de Maio, informava-a: 72 “Your teacher and mine are arranging a meeting between both of our classes in June.” Assim foi. O projecto de correspondência deu origem a um projecto de intercâmbio, envolvendo outras disciplinas e em Junho realizámos o encontro de correspondentes. Finalmente os vários alunos conheceram os colegas com quem se tinham correspondido ao longo daqueles meses, conviveram animadamente, apresentaram momentos musicais e as danças que cada turma tinha preparado para os colegas. Foi um momento empolgante para os alunos das duas escolas. 9. A produção de “livrinhos” Numa das reuniões do Grupo Cooperativo, em Janeiro, surgiu a ideia de propor aos alunos a produção de pequenos livrinhos em Inglês, à semelhança dos livros que existiam na biblioteca da escola e que eles liam (duas das actividades do PIT eram “Ler livros em Inglês” e “Fazer fichas de leitura sobre livros lidos em Inglês”). Nesse sentido, propus-lhes introduzirmos no PIT um espaço específico para Projectos (ver anexo 6). Acordámos que cada aluno deveria fazer pelo menos um em cada mês. Foram muitos os que os alunos concretizaram a partir daí. À semelhança dos modelos de que dispunham na biblioteca da escola, muitos tinham apenas imagens legendadas (ver anexo), à maneira de um dicionário ilustrado, apenas com vocabulário ou pequenas frases, outros tinham bastante mais texto eram álbuns com muito texto e muitas ilustrações, por vezes até com mais páginas e mais texto do que os livros da biblioteca que lhes serviram de inspiração. Este trabalho ficou no entanto, da minha parte, numa fase inicial, pois não consegui que estes alunos, sobretudo aqueles que escreviam já histórias inventadas por si, transformassem essas histórias em livrinhos. Só presentemente, como novos alunos (novas turmas) consegui avançar um pouco mais neste sentido. 10. A escrita no 6.º A Até aqui abordei quase em exclusivo a escrita dos alunos do 6.º F, aquela turma em que os alunos tinham mais dificuldades (e como tal reconhecida na escola). Foi possível mostrar como evoluiu a escrita destes alunos e os grandes progressos que se verificaram. Já o 6.º A era uma turma em que os alunos revelavam, de um modo geral, capacidades médias, dentro do que é normal nestas idades. Os primeiros escritos dos alunos do 6.º A não foram muito diferentes dos primeiros es- 08/07/10 12:31 Page 73 critos do 6.º F, quer em termos de temáticas quer de qualidade da escrita. Mas houve alunos que desde cedo se destacaram, que mostravam um desenvolvimento de capacidades de escrita mais elevado. Vejamos, como exemplo, dois textos escritos pela Alina: “Dear Mum and Dad, The adventure camp is great. I can do lots of new things now. I can ride a horse and play table tennis. I can’t ride a bike or read a map very well, but that’s OK. The teachers here are very nice and the children are friendly but the food’s horrible! My friends are Catarina and Constança. They are both 11 years old! See you soon. Love, Alina” “GIRAFFES Giraffes are brown and yellow. They’ve got long legs and neck. They use their long necks and tonique to reach the leafs of the high trees. Giraffes live in the savannah in Africa and they live about 25 to 30 years. They eat plants and fruit but they don’t eat meat. Giraffes eat 30 kg a day. They don’t drink water every day but they drink about 38 litres once. Giraffes sleep only one hour at night. Giraffes are about 5 m and weight about 900 kg. Giraffes are very funny animals. When I was in Lisbon’s ZOO I was lucky and touched a giraffe’s muzzle.” O primeiro texto tem a temática e segue o mesmo modelo que muitos outros textos do 6.º F, alguns dos quais já vimos acima. Mas repare-se que, ao contrário do que se passava com muitos dos primeiros textos do 6.º F, este texto da Alina, mesmo na sua primeira versão, quase não tem erros. O segundo texto segue também uma proposta de escrita que muitos alunos do 6.º F usaram, mas repare-se que, apesar de conter uma série de incorrecções (vocabulário, construção frásica, etc.), não se limita aos elementos presentes na proposta de escrita: a Alina foi fazer pesquisa sobre as girafas e incorporou no seu texto as informações recolhidas com essa pesquisa. E repare-se ainda no toque pessoal com que a Alina termina o seu texto, referindo uma experiência pessoal com este animal no zoo de Lisboa (ao que juntava uma foto atestando esse momento). Este toque pessoal raramente se verificava nos primeiros textos dos alunos do 6.º F, mas era frequente nos dos alunos do 6.º A, que mais rapidamente se apropriaram da escrita com intencionalidade comunicativa. Acresce que muitos dos textos dos alunos do 6.º A eram acompanhados de ilustrações, algumas recolhidas na net, mas muitas desenhadas pelos próprios alunos, com muita imaginação, cor e mesmo com um assinalável sentido estético para estas idades. Vejamos ainda um outro exemplo, neste caso um texto bastante simples do Gonçalo. Repare-se que, embora parta da mesma proposta de escrita que muitos alunos do 6.º F que vimos antes, as frases do Gonçalo são bastante mais elaboradas (revelando um maior domínio tanto da escrita como do Inglês) e também ele, à semelhança da Alina, não se limita à informação presente na proposta de escrita de onde partiu. Refira-se ainda que também ele revela cuidado com a apresentação gráfica e a ilustração. “White tigers My favourite animals are white tigers! White tigers are white, black and sometimes brown. They’ve got big teeth! They live in Asia and they eat some wild pigs. They eat normal meat. They don’t eat plants or fruits. All the tigers sleep at day because at night they hunt animals to eat. They run very fast and are beautiful because I like them!” Se numa primeira fase os alunos desta turma, tal como os da anterior, partiram para a escrita com base nos modelos que eu lhes forneci (bem como do manual, claro), logo deram sinais de não se circunscreverem a esses modelos, antes introduzindo modificações e inovações, adaptações às suas vivências e àquilo que efectivamente queriam expressar. Num segundo momento, assim que começaram a sentir alguma confiança, os seus escritos deram largas à sua criatividade, quer em termos de ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 73 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 74 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 forma quer em termos de conteúdos ou de temáticas. Foram muitos os textos surgidos sobre animais, sobre actores, sobre cantoras, sobre desportistas, sobre filmes, sobre todos os membros da família, desde os mais próximos aos mais afastados, sobre as rosas do jardim e as suas diferentes características e singularidades, sobre cidades e países visitados, sobre aventuras vividas ou imaginárias, inquietações de pré-adolescentes, etc. Muitos destes textos implicaram que fossem feitas muitas pesquisas na internet, livros e revistas, enciclopédias, etc. Foi o caso, por exemplo, de toda uma série de textos de carácter ‘científico’ apresentados pelo Gonçalo (eu tinha lançado à turma o repto de escreverem sobre animais em extinção), de que o seguinte é um exemplo (e repare-se no muito que a sua escrita já tinha evoluído relativamente ao texto acima transcrito). 74 “DOLPHINS Dolphins are marine mammals that are closely related to whales and porpoises. There are almost forty species of dolphins in seventeen genera. They are found worldwide, mostly in the shallower seas of the continental shelves. Dolphins are carnivores, eating mostly fish and squids. They also eat plankton and seafood. Their enemies are the pollution, the sharks, the killer whale and the manta-ray. The dolphins are cute, beautiful, sweet, intelligent, smart and very friendly. They live in the oceans, the seas and the reefs. The family Delphinidae is the largest in Cetacea and it is relatively recent: dolphins evolved about ten million years ago, during the Miocene. Dolphins are considered to be amongst the most intelligent animals and their friendly appearance and playful attitude have made them popular in human culture.” Numa primeira versão este texto tinha, como é natural, alguns erros – de construção das frases (por vezes a estrutura era a do Português e não a do Inglês) e de morfologia (confusão entre “their” e “they’re”), por exemplo – mas, apesar de ter pedido ajuda à mãe em algumas frases (como me referiu quando eu lhe perguntei se alguém o tinha ajudado), revela um grau de complexidade na escrita do Gonçalo que eu vinha notando progressivamente. Tal como o Gonçalo, também a Filipa recorria com frequência à internet para obter as informações que pretendia para os seus textos. A certa altura surpreendeu-me com o seu processo de escrita de um texto sobre o lince ibérico: com base na informação que recolheu, escreveu um texto inteiramente em Português; a seguir pôs-se a passar para Inglês o que antes escrevera em Português e veio pedir-me ajuda naquelas partes que sentia que não estava a conseguir. É este o texto: “Animals in Danger Iberian Lynx The Lynx Pardinus, known as Iberian Lynx, has a brown and yellow coat with black spots; its tail is short and it has claws. The Iberian Lynx lives in the Iberian Peninsula in woods and forests. It lives for about 13 years old and it is the most endangered cat. The Iberian Lynx can have between 1 and 4 cubs and their average weight is 10 to 13 kg. The Iberian Lynx is a nocturnal animal and it is a carnivore”. Alguns textos marcaram de forma particular a escrita dos alunos na turma. Foi o caso do texto da Bárbara, que a seguir transcrevo (a Bárbara já no ano lectivo anterior iniciara este processo de desenvolvimento da escrita, pois frequentou comigo a Sala de Línguas, onde procurámos desenvolver, entre outras coisas, a escrita criativa). Neste texto a Bárbara conta uma aventura imaginária, em que as personagens são alunas da própria turma, conseguindo ‘apanhar’ bem algumas características psicológicas destas colegas. “The Adventure Barbara and Alina meet at the park. B – Hi, Alina. A – Hi, Bárbara! How are you? B – Fine, thanks. And you? A – I’m fine, too. Catarina and Rita meet with them. Ca – Hi, Alina! 08/07/10 12:31 Page 75 A – Hi, Catarina! R – Hi, Barbara! B – Hi, Rita! Let’s go and play football! All – Ok! Alina, Catarina, Bárbara and Rita were in the park playing football. Then, Constança showed up and started playing football with them. Rita was going to pass the ball to Alina but the ball went to the wrong place. It went to the dark forest. A – Go and get the ball, Rita! R – I’m scared. Come with me, please. A – Ok. We all go with you. Rita, Bárbara, Alina, Catarina and Constança went to the dark forest. B – Where’s the ball? Can you see it? Co –No, I can’t see it. A – Neither can I. They didn’t know that many hours passed while they were looking for the ball. Ca – Look at the time! It’s almost time for dinner! We have to go home! R – Where are we? Co – I don’t know. B – We´re lost! Why?!! Why me?!! Ca – Hey! Stop that. We are going to find the way back home. Don’t worry. Co – Be happy! Don’t worry, be happy! B – What are you doing? Co – I’m just singing. B – There is no time to sing! A – Let’s find the way home. They didn’t know that something was going to happen. A – Does someone have a map? R – I have! A – Give me the map! Ca – Can you read a map? A – Of course I can! Well, if we are here, the way must be......... When Alina was reading the map a bear came out of nowhere. They started to scream. Ca – Ahhhhhhhhhhhhhhhhh! A and R – Ahhhhhhhhhhhhhhhhh! B – Don’t scream, just run for your life! Follow me!!! They started to run. They appeared in the park again and they were safe there. R – We’ve made it!!! B – I’m still alive!! A – Hooray! The bear appeared at the park and... It wasn’t a real bear, it was Barbara’s brother dressed like a bear joking with them!!! Ah! Ah!” A leitura deste texto à turma provocou, verdadeiramente, aquilo que Pierre Clanché (1988) chama de “efeito iogurte”. Foram bastantes os alunos que quiseram escrever textos inspirados nesse. A Alina pediu à Bárbara que escrevesse com ela um ‘texto a meias’, desse tipo. Escreveram o seguinte: “Space adventure with Alina and Barbara Our names are Barbara and Alina. We are eleven years old. B – Hello! Do you want to go to the space with me? A – Good idea! Let’s go to Mercury! B – I don’t know. Mercury is too near the sun. Let’s go to Venus! A – I don’t know. Venus is too near the Earth. Let’s go to Jupiter! B – I don’t know. Jupiter is too big! Let’s go to the moon of Jupiter! A – Ok! The moon of Jupiter can be small, but I am sure it can exist life there! B – Let’s build a ship to go there! A – Let’s go to the garbage to look for the pieces to build our ship. B – Look! I found one of the pieces that we have to find. 7 days later A – Where are we? B – In Jupiter’s moon. Duh!? A – I know, but... I think... B – Look! It’s an Alien! A – Where? B – Here! On my head! Ah! A – It’s not an Alien. It’s a spider from my collection. B – It’s a spider from your collection!? It’s an Alien! Spiders don’t have six eyes and this ‘spider’ is too big to be a spider! Alien – CRIKIDAKCRAKIDAK! A – What!? B – He wants to say something. A – This is an Alien! I know how to speak the language of the aliens! CRUKRAKICALIM. Alien – RUKICAKAMIKON. B – What did you say? What did he say? A – I said: ‘Hello, Alien! What do you need?’ And he said: ‘Hello! I lost my baby spider Alien!’ B – Is it a baby?! It’s a big baby! A – And this baby is on your head! B – You are right! Here it is! A – CRIKITAKNTACIA! ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 75 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 76 08/07/10 12:31 Page 76 Alien – KIKITALITMINATIK! A – I said: ‘Here it is!’ And he answered: ‘Thank you very much!’ B – Well, well. Do you think that he will give us something to our memory? A – I don’t know. Let’s ask him. B – Ok! Do it. A – CRICUSIKAPIKACI! Alien – KUCICULABILIARECUKA. B – What did he say? A – He said… ‘Yes’! B – But what? A – He said he was going to give us a spider for our collection. B – Ok! A – Let’s go home. B- No! A – Why? B – I want to play basketball! A – What? B – Let’s go! Alien – CRICUCACRIUAKA! B – What did he say? A – He said that he wanted to play with us. Oh man! B – Ok. Let’s play. Two hours later A – Basketball is boring. B – No, it’s not, it’s funny! A – It’s boring! B – It’s funny! A – Boring! B – Funny! A – Boring! B – Funny! A – Let’s go home!! B – Ok! Near home B – Well, I am going home. A – Me too. B – Goodbye! A – Bye! The End” Nesta sequência, o Dominique e o Duarte escreveram a seguinte história: “A GOOD AFTERNOON ‘TOC! TOC!’ – Yes? Hi! It’s me! Oh, hello. Come in! Thanks. What do you want to do? I don’t know... I know, let’s play a game! I pretend I am a famous person and you must guess. Ok. I think that’s funny. Ok, who starts? I start. Ok. Hmmm… I am a football player, I play in AC Milan and I am Brazilian. Hmmm… Oh, I know! You’re Ronaldinho! Yes, I am. Now it’s your turn. Ok, I am ugly, I can dance very well, and I am a pop star. Let me think… Are you Michael Jackson? Yes, I am. Oh, I’m hungry! Yes, me too. Let’s have a snack. I’ve got cheerios, sandwiches and fruit. Hmmm… I want a sandwich with ham. And you? May be… I want cheerios. Fine. Here is your sandwich. Thanks. One hour later… “DRING! DRING! Oh, sorry. It’s my cell phone. Hello, 0277 Who was it? It was my mother. I have to go home. Bye Ok, bye. It was a very funny afternoon…” O Duarte fez questão de todos os meses, entre outros tipos de textos, escrever e ler à turma alguns poemas. Vejamos alguns deles. “You are so small, But you seem so strong. When I see you I say ‘well’ And your time is long. Tell me how you can, How you can do it, Now I’m a man And you can’t read. Come with me, Look at your life, She is your honey And my honey is my wife. You’ll be in your life And in my life will stay my wife. 08/07/10 12:31 Page 77 If you are my baby, I will love you. Come and tell me What is new.” Outro poema: “Who am I? Am I a boy or a girl? Am I a child or a man? Am I ugly or beautiful? Or am I your best friend? I’m cool, I’m funny, I’m normal, Or am I a honey? I am sweet, I’m the ‘end’, Do you know Who I am?” Frequentemente, os textos que tinham mais sucesso quando eram lidos aos colegas eram aqueles que tinham algum sentido de humor. Por vezes surgiam alguns com um sentido de humor, mais fino, mas também mais difícil de compreender. Foi o caso deste texto da Bárbara. Repare-se sobretudo na última frase. “– Hi! What’s your name? – My name is Joanna. And yours? – I’m Vanessa. How old are you? I’m twelve. And you? I’m twelve, too. What’s your favourite fruit? My favourite fruit are apples. And yours? My favourite fruit are bananas. Hum... sweet, sweet bananas. Well, I have to go. Bye! Bye! See you soon. Hum… sweet, sweet bananas.” Foi o registo humorístico que esteve na base de uma grande alteração na escrita do Simão e em toda a sua aprendizagem. O Simão era um aluno médio, que nós professores sentíamos que tinha capacidades que ele não aproveitava devidamente, por alguma falta de empenho. Os seus escritos não eram particularmente interessantes. Vejamos um exemplo. “My PlayStation I have got a PS2. I have got a grey PS2. I have got a grey PS2 with 2 controllers. In my PS2 I play games. In my PS2 I have got about 100 games. In my PS2 I have got 4 favourite games. In my PS2 one of these favourite games is ‘The Shield’. In my PS2 another favourite game is Gta San Andreas. In my PS2 another favourite game is Canis Canem Edit. In my PS2 another favourite game is Dog’s Life. In my PS2 I have got a Memory Card with 8 MB. I like my PS2.” A certa altura, começa a escrever textos em que uma nota de humor era dada pelo exagero. “My animals I love animals! I have got 1229 dogs! And I have 34 turtles! As you can see, I love animals. I have got 22 cats! And 48 parrots, and 35 lizards, and 45 pigs, and 34 rabbits. I have got 37 pelicans and 88 toucans! I have got 70 dolphins and 92 sharks! They’re very cool! All the animals are very cool and funny. I have got 34 zebras, 48 lions, 56 elephants, 103 monkeys and 56 snakes. I have got a palace, a very big palace, to all these animals. I am a biologist!” De início, este texto parece continuar a forma extremamente repetitiva do anterior. Mas, neste segundo caso, há uma diferença substancial: o estilo anafórico e hiperbólico ajuda a criar um clima de excesso, que vai sendo alimentado até á última frase. E nesta temos o desfecho de tudo o que atrás nos parecia excessivo e repetitivo. Há aqui um efeito de humor, que foi reforçado pela forma como o Simão leu este texto à turma. Quase todos adoraram este texto. Com esta reacção da ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 77 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 78 turma o Simão sentiu-se estimulado a escrever outros textos com este estilo. “My palace I have a big palace, it’s very cool living in a palace! In the hall there are 5612 plants. In the sitting room there are 24444 plasmas. In the kitchen there are 12356 refrigerators and 3455 freezers. In my parents’ room there are 8955 clocks, 4354 windows, a big bed and a big door. In my bedroom there are 7752 windows, 1 big door and 1 big bed. In the bathroom there are 4235 jacuzzis. In the garage there are 2324 cars. And in the garden there are 43444324 dogs. I love dogs, I love animals. And this is my palace!” ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 A turma continuava a adorar estes textos do Simão e a dificuldade que representava, quando lidos á turma, ler aqueles números loucos. E o Simão, entusiasmado e galvanizado, continuava a escrever, escrevia cada vez mais. Outros alunos seguiam-lhe o exemplo. O Simão aventurava-se por outros registos, embora sempre jogando com o ‘nonsense’ do exagero. 78 “– Hello! – Hi! What’s your name? – My name is Frankenstein. And yours? – My name is Michael Jackson! How old are you? – I’m 556 years old. And you? – I’m 223 years old. – What is your favourite hobby? – My favourite hobby is swimming in my pool. And yours? – Mine is walking in the beach to scare people. It is very cool! – Oh, that’s cool!! – Yeah! Have you got a girlfriend? – No, I haven’t. And you? – I haven’t either. I’m very ugly! – I’m very scary! – Oh! I have to go! Nice to meet you! – Nice to meet you too! Bye! – Bye!” Esta associação de Michael Jackson a Frankenstein e a continuação da utilização do exa- gero para obter um efeito cómico fizeram, de novo, as delícias da turma. O Simão desatou a escrever. Tornou-se o aluno que mais escrevia na turma e quase todos adoravam ler ou ouvir ler os seus textos. Partilhava os seus textos com colegas, que lhe davam achegas e sugestões de aperfeiçoamento. Eu próprio, tal como fazia com todos os restantes alunos, muitas vezes sentava-me com o Simão para aperfeiçoarmos textos seus. O Simão escrevia cada vez melhor. Escrevia sobre os mais diversos temas e já não apenas jogando com o exagero. Com base em pesquisas realizadas na internet escreveu muitas biografias de personagens famosas, do mundo da história da música, da política, do cinema, da ciência, etc. Curiosamente, e em paralelo com este seu interesse pela escrita, o Simão começou a melhorar progressivamente os seus resultados nos testes de avaliação. Se ao longo de todo o 5.º ano e no início do 6.º ano os seus resultados nos testes oscilavam entre o Satisfaz e o Bom, agora passou a ter sempre Muito Bom. Acertava sempre, por exemplo, todas as perguntas específicas de gramática. Nos testes dos últimos meses, foram dele os melhores resultados na turma. No fim do ano houve na escola um concurso de leitura, devendo cada turma fazer-se representar por dois alunos. O Simão não aceitou representar a turma nesse concurso, mas era seu o texto que foi escolhido pela turma para ser lido nesse concurso. Mantém algumas marcas do estilo do Simão e julgo que a qualidade do texto fala por si: “My first voyage to the Moon On January 31st 1732 it was my birthday. I was 10 years old that day and I went to the Moon in the space shuttle Apollo 113. When I landed I felt weightless. I walked a few meters thinking about the best place to plant the flag of my favourite football team: Sporting Club of Benfica. Then I looked around and saw the planet earth. It was so beautiful that it looked just like a picture. I called my friends to see the view. I also saw many stars; among them were the Polar star and the Orion star. 08/07/10 12:31 Page 79 I took my technology binoculars and managed to see North America with its Statue of Liberty. I could also see Portugal, Palmeiras Shopping Centre and even my colleagues in the playground of Conde de Oeiras School. Some of them were playing football, others were playing marbles and some others were playing hide-and-seek. Unfortunately I had to return, I would like to stay longer to see so many planets and stars and that magnificent view. When I entered the shuttle, I sat down my seat. I was very happy to be the first child to be on the Moon. I loved my expedition!” (Nota: o Centro Comercial das Palmeiras fica junto à nossa escola.) É ainda Sérgio Niza (2005) que nos diz: O trabalho cultural na escola pode e deve ter sempre uma dimensão lúdica, como no esforçado trabalho do escritor, do pintor, ou do investigador. A natureza criadora desse trabalho assegura-lhe um estatuto desalienador enquanto expressão humana de emancipação e desenvolvimento. (…) os professores poderão finalmente alcançar o exaltante desafio partilhado com os aprendizes, na construção mediada da cultura. É assim que o desejo (ou o prazer) se incorpora no trabalho intelectual, tornando-o numa aventura espiritual, num trânsito do trabalho do saber para a serena fruição do conhecimento como sabedoria (p. 3). 11. Dois movimentos de sentido inverso: o movimento ‘da aula do professor para a escrita’ e o movimento ‘da escrita para a aula do professor’ Este processo da escrita dos alunos provocou, a partir de certa altura, uma alteração significativa no que à planificação diz respeito. Se num primeiro momento os temas e conteúdos dos textos dos alunos decorriam das matérias abordadas nas aulas do professor, rapidamente romperam essas fronteiras e começaram a escrever sobre aquilo que pretendiam, mesmo que tivessem que ir procurar novo vo- cabulário ou ainda não dominassem as estruturas linguísticas de que precisavam para dizer aquilo que pretendiam. Quando me sentava com os alunos para aperfeiçoarmos os seus textos, frequentemente surgia a necessidade de, para que os alunos pudessem dizer aquilo que efectivamente pretendiam dizer, serem utilizadas estruturas linguísticas que ainda não tínhamos abordado mas que estava previsto, na planificação do Departamento de Línguas Estrangeiras / Grupo de Inglês, que fossem abordadas mais tarde. Por vezes eu próprio os ajudava a escrever essas frases, explicando-lhes como se fazia e porquê. Muitas vezes, porém, se eu entendesse que isso não prejudicaria naquele momento o processo de escrita em que estávamos a tratar, remetia para a consulta e estudo das unidades do manual em que essas matérias eram tratadas. Sempre que a recorrência de determinados erros remetia para a necessidade de abordar uma dada matéria, fazíamo-lo nas aulas seguintes, sem esperar pela altura que tal estava previsto na planificação do Departamento (isto mesmo foi comunicado por mim em reunião de Departamento, explicando como tal decorria das necessidades criadas com o projecto de correspondência). Concretizemos. Se no início muitos alunos começaram por escrever textos informativos e diálogos, rapidamente muitos também passaram a escrever histórias em Inglês. Se é possível contar uma história utilizando os verbos no presente (e era este o caso dos diversos livros de histórias que os alunos tinham à sua disposição e que liam com frequência), é normal que ao contarmos uma história sintamos necessidade de usar os verbos nos tempos gramaticais do passado. Ora, essa matéria (‘narrating’) estava planeada apenas para o 3.º período. Vejamos um texto da Bárbara e as soluções intermédias que ela encontrou. “Magic Lily Once upon a time there was a beautiful girl. She never haved friends. Her name was Lily. She was thirteen years old. Her parents died when she was five. ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 79 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 80 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 She was the only daughter. She lived with her aunt, her name was Lucifer. When Lily was seven, she discovered that she haved magical powers. She could throw fire and water, control the wind, fly, stop the time and read minds... But no one knowed about her secret, because no one was her friend. One day, when she was in a store, a robber camed in. Lily used her powers and stopd the robber to kill a woman that was there. Lily used the power of the wind. Everyone looked at Lily and they started to applaud her. She was a hero.” 80 Embora ainda não tivéssemos trabalhado nas aulas o passado de nenhum verbo em Inglês, a Bárbara, através do contacto informal com a língua inglesa, nomeadamente através dos filmes na televisão ou de livros que ia lendo, já se tinha apercebido de que a generalidade dos verbos em Inglês forma o passado com a terminação em –d ou –ed. As palavras que sublinhei no seu texto acima transcrito mostram isso mesmo, mas mostram também que a Bárbara ainda não dominava a formação do passado de muitos dos verbos irregulares, fazendo uma generalização abusiva da regra de formação do passado dos verbos regulares. Por esta razão, ao trabalhar este texto com ela, remeti-a para as unidades do manual em que se aborda a função ‘narrating’ e a formação do passado quer dos verbos regulares quer dos verbos irregulares, orientando-a nesse estudo. Porque esta necessidade era comum a diversos outros alunos, a Bárbara, eu e o Dominique abordámos formalmente esta matéria nas aulas seguintes para toda a turma. A certa altura era já este o movimento que prevalecia. Em vez de seguirmos formalmente a ordem pela qual estava previsto – pelos professores de Inglês, na planificação comum, do Departamento – serem tratadas as diversas matérias, estas eram tratadas pela ordem que decorria das necessidades da escrita dos alunos em cada turma. 12. Algumas conclusões A evolução da escrita destes alunos ficou patente, a meu ver, ao longo desta minha ex- posição. As mudanças, tanto em termos de quantidade como de qualidade, são enormes. Eu nunca conseguira, até este momento, promover tamanho desenvolvimento na produção escrita dos meus alunos. Tal deveu-se, certamente, à aposta nos processos de ‘construção social das aprendizagens’, intrínsecos ao modelo do Movimento da Escola Moderna, que procurei utilizar e aqui relato. Lembremos ainda as palavras de Inácia Santana (2003): Numa perspectiva sócio-construtivista da aprendizagem, mais importante do que ensinar modelos, é criar condições ecológicas na escola para que as crianças deles se apropriem, no contexto das interacções desenvolvidas em torno da resolução dos problemas concretos da sua escrita, aprendendo a gerir, desde muito cedo, toda a complexidade dos processos (p. 27). Não tive o cuidado, ao longo do ano lectivo, de registar as quantidades de textos produzidos pelos alunos. No final do ano lectivo, no entanto, contei os textos que cada aluno tinha arquivados no seu portefólio. Sabendo embora que nem todos os textos que os alunos escreveram lá estavam, podemos ter uma ideia da produção de textos desde que iniciámos este processo. Contei um total de 1008 textos escritos pelos alunos, sendo 728 de alunos do 6.º A (média de 26 textos por aluno) e 280 textos de alunos do 6.º F (média de cerca de 15 textos por aluno). A reflexão que fiz a posteriori, e em conjugação com a experiência com duas novas turmas no ano lectivo seguinte, permitiram-me identificar um conjunto de factores determinantes no desenvolvimento da produção escrita destes alunos: • A criação de um ambiente e um contexto organizacional de diferenciação pedagógica, com os indispensáveis materiais, instrumentos e dispositivos organizativos, tempos e reguladores sociais; 08/07/10 12:31 Page 81 • A utilização de um Plano Individual de Trabalho (em conjugação com o Plano Colectivo Mensal), permitindo um planeamento da produção escrita (i. e., um comprometimento) e seu aperfeiçoamento, interacções sociais e regulação de todo o trabalho; • A aposta persistente na revisão e aperfeiçoamento dos textos escritos, quer com o professor quer com outros colegas; • Os circuitos de comunicação instituídos e o efeito iogurte que proporcionaram – a leitura de textos à turma no início de cada aula – a “leitura de textos dos colegas” inscrita no PIT e a sua insistente valorização – o dossier “Our texts” – a correspondência com alunos de outra escola – o envio de textos para o jornal de escola (apesar da sua recorrente não publicação) • A perspectiva e a prática de escrever para comunicar (o sentido social da escrita enquanto instrumento de comunicação autêntica – só possível devido aos circuitos de comunicação instituídos); • As constantes interacções com colegas na produção escrita (por exemplo, escrita a meias) e desta com a leitura; • O balanço / avaliação mensal do Plano Individual de Trabalho em colectivo, a sistemática regulação da produção escrita e o estímulo persistente à produção e desenvolvimento da escrita aí realizado. Ficou ainda levantada uma pista, que não foi possível aprofundar, mas que poderá constituir uma hipótese a ser objecto de investigação no futuro: Será que os alunos que mais investem na produção escrita e revisão / aperfeiçoamento de textos são os que melhores resultados obtêm em testes, nomeadamente em perguntas específicas de gramática? No plano do meu próprio desenvolvimento profissional, uma palavra final para acrescentar que tenho plena consciência de que, para além da minha vontade determinada, foi decisivo o papel desempenhado pelo Grupo Cooperativo. Este funcionou como uma comunidade onde cada um se assume como formador e formando e se obriga a pensar e a reflectir criticamente os seus percursos pela consciencialização partilhada na resolução dos problemas de profissão, na transformação dos conhecimentos e na revisão das práticas (Niza, 2006, p. 3). No fundo, uma comunidade de aprendizagem, à semelhança das comunidades de aprendizagem que procuramos criar com os nossos alunos na escola. Termino com as palavras de Rogoff et al. (2000): Em uma comunidade de aprendizes, todos os participantes são ativos; ninguém tem toda a responsabilidade e ninguém é passivo. As crianças assumem um papel ativo na administração da sua própria aprendizagem, coordenando-se com os adultos que também estão contribuindo para a direção da atividade, enquanto oferecem orientação às crianças (e as crianças ocasionalmente fazem o mesmo com os adultos). Os adultos apoiam a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças através da atenção ao que essas estão preparadas para fazer e àquilo por que se interessam enquanto se engajam em atividades compartilhadas nas quais todos contribuem. Em uma comunidade de aprendizes, adultos e crianças, juntos, são ativos na estruturação dos estudos, embora geralmente com assimetria de papéis. Crianças e adultos colaboram nos esforços para a aprendizagem; os adultos frequentemente são responsáveis pela orientação do processo e as crianças também aprendem a participar na administração de sua própria aprendizagem. (…) Embora um modelo de comunidade de aprendizes não implique um formato de instrução, ele presume um sistema cooperativo, no qual qualquer um que tenha a responsabilidade pela liderança ainda auxilia e está em cuidadosa coordenação com os outros em um esforço compartilhado (pp. 329 e 330). ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 81 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 Bouysse, V. (1994). Nécessaire mais difficile différenciation. Cahiers pédagogiques, n.º 321-322. Clanché, P. (1988). L’enfant écrivain. Paris : Editions du Centurion. Perrenoud. P. (1992). Différentiation de l’enseignement: résistances, deuils et paradoxes. Cahiers pédagogiques, n.º 306. Niza, S. (2001). Editorial. 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Porto Alegre: Artmed. 08/07/10 12:31 Page 83 Anexo 1 Apresentação do programa ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 83 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 84 08/07/10 12:31 Page 84 08/07/10 12:31 Page 85 Anexo 2 Exemplo de lista de verificação ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 85 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 86 Anexo 3 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 Exemplo de categorização dos erros dos alunos no teste diagnóstico 86 08/07/10 12:31 Page 87 Anexo 3B (Exemplo de categorização dos erros dos alunos no teste diagnóstico) ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 87 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 88 Anexo 4 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 Exemplos de propostas de escrita 88 08/07/10 12:31 Page 89 Anexo 5 1.ª grelha do Plano Individual de Trabalho ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 89 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 90 08/07/10 12:31 Page 90 08/07/10 12:31 Page 91 Anexo 6 3.ª grelha do Plano Individual de Trabalho ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 REVISTA N.º 36 91 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 92 Anexo 7 ESCOLA MODERNA Nº 36•5ª série•2010 Alguns dos “livrinhos” produzidos pelos alunos 92 REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 93 Instruções para apresentação de artigos 1. Dada a natureza da nossa revista, os artigos deverão, de preferência, relatar uma actividade ou sequência de acções, integradas em qualquer dos módulos que fazem parte da sintaxe do Modelo Pedagógico, tal como se costuma proceder com os relatos de práticas apresentados nos congressos do MEM. O relato deverá ser antecedido de um enquadramento teórico correspondente ao tema curricular tratado, onde serão mobilizados e sujeitos a reflexão alguns textos ou referências que esclareçam o trabalho realizado e a ele se articulem. O fecho do artigo poderá proporcionar algumas ideias para aperfeiçoar o nosso trabalho no MEM e nas escolas ou integrará reflexões pedagógicas e orientações para aprofundar culturalmente a auto-formação cooperada. Reservaremos um número, por ano, a ensaios de carácter científico-pedagógico. Os documentos e informações complementares considerados importantes para a ilustração do artigo devem integrar-se em anexos. As citações e a lista das referências bibliográficas seguirão as normas da American Psygological Association (APA) em www.Apastyle.org. 2. Os originais deverão ser apresentados em documentos de processamento de texto, de preferência em formato Word e entregues em formato digital ou enviados por e-mail. Os textos deverão ser processados no tipo de letra Arial, tamanho 11, com espaçamento de 1,5, num total máximo de 35 linhas por página e formatado à esquerda. A primeira página deve conter o título do artigo, no tipo de letra Arial, tamanho 12, a negrito e o nome do autor, com a letra Arial, tamanho 11, normal. No corpo do texto, no local onde se quiser colocar uma figura, deve-se escrever “inserir figura n.º” e a respectiva legenda, exemplo: inserir figura n.º 4 – Mapa de produções e realizações. As figuras a utilizar devem ser as originais ou digitalizações com a melhor qualidade possível e enviadas em anexo, em JPEG, TIFF ou EPS. As notas devem aparecer numeradas sequencialmente no fim do texto. No corpo do texto serão indicadas de modo idêntico ao das figuras, exemplo: inserir nota n.º 14. 3. Referências bibliográficas. As referências bibliográficas serão integradas no texto, de acordo com o sistema de normas da APA. Apenas se devem incluir as referências de publicações ou obras referidas ao longo do artigo. A lista de referências bibliográficas a incluir no final do texto deverá ser organizada por ordem alfabética e cronológica. Alguns exemplos: Charmeux, E. (2006). Nouveau bouc émissaire à chatier, selon G. de Robien : la grammaire. Cahiers pèdagogiques. Consultado em 15 de Janeiro de 2008 através de http://www.cahiers-pedagogiques.com Niza, S. & Formosinho, J. (2009). Contextos associativos e aprendizagem profissional. A formação no Movimento da Escola Moderna. In J. Formosinho (Coord.), Formação de Professores: A aprendizagem profissional e acção docente (pp. 345-362). Porto: Porto Editora. Santomé, J. T. (2006). A desmotivação dos professores. Mangualde: Edições Pedago. Soares, J. (2008). Reflexões acerca da aprendizagem e do ensino da gramática no 1.º CEB. Escola Moderna, 32 (5), 9-17. REVISTA N.º 36 08/07/10 12:31 Page 94 Caro Leitor, caro sócio, Como sabe, a revista constitui um direito dos sócios do MEM, mas pode ser adquirida e lida por todos. Deste modo, abaixo disponibilizamos a informação que consideramos útil para a respectiva assinatura. 1. Ficha de assinatura Os não sócios preenchem a ficha de assinatura (nesta mesma página) da revista Escola Moderna. 2. Proposta de sócio Se quiser associar-se ao Movimento, preencha a ficha de proposta de sócio a partir da página www.movimentoescolamoderna.pt Envie-a para o MEM, acompanhada de um cheque com o valor da jóia e da primeira anuidade (6€ + 46€). Será depois contactado para concluir o processo administrativo e regularizar a quotização. 3. Actualização de dados de sócio Alguns sócios mudaram de casa, mudaram de código postal, de núcleo ou de local de trabalho e não nos avisaram. Agradecemos que nos informem, actualizando os dados, logo que ocorram alterações. Solicitamos-lhe que envie toda a correspondência para: Movimento da Escola Moderna – Centro de Formação – Rua do Açúcar 22-B – 1950-008 LISBOA Podem contactar-nos no Centro de Recursos, telefone: 218 680 359, fax: 218 620 024, e-mail: [email protected] Assinatura da Revista “Escola Moderna” A. Dados Pessoais 1. Apelido: ____________________________________________________________ 2. Nome completo: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. Morada: ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. 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