Anlise da ENSAN - Ryerson University
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Anlise da ENSAN - Ryerson University
1 CENTRO DE REFERÊNCIA EM SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CERESAN/UFRRJ Análise da ENSAN ESTRATÉGIA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL REPÚBLICA DE ANGOLA Márcio Carneiro dos Reis ACÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE ADRA – ANGOLA AGOSTO DE 2008 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 03 RESUMO..................................................................................................................................04 MARCO ANALÍTICO PARA AVALIAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE SAN..................07 OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE A ENSAN...................................................................17 ANÁLISE DAS POLÍTICAS E PROGRAMAS DO PNSAN.............................................19 3 INTRODUÇÃO Este documento contém uma análise da Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – ENSAN – e seu correspondente Plano de Acção – PNSAN –, resultado de uma formulação conjunta, envolvendo diversos Ministérios do Governo Central da República de Angola, com a contribuição da Food and Agriculture Organization – FAO-Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Seu objetivo é, conforme solicitação, contribuir para a participação, no processo de Consulta Pública em torno da ENSAN, a ser promovido pelo Governo de Angola, da Acção para o Desenvolvimento e Meio Ambiente – ADRA-AO. A ADRA é parceira angolana do Projeto “Construindo Capacidades em Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil e Angola 2004-2010”, implementado pelo Centre for Studies in Food Security, da Universidade de Ryerson, no Canadá e o Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – CERESAN/UFRRJ – e financiado pela Canadian International Development Agency – CIDA. O desafio de analisar uma estratégia nacional de promoção da SAN, como é o caso da ENSAN, exige, antes, a definição do marco analítico através do qual tal estratégia será analisada. Isto é importante pela consideração de que há uma profunda discussão em torno não apenas do conceito de SAN e das estratégias no sentido de alcançá-la, mas também pela necessidade de se explicitar o enfoque de SAN a ser adotado. Sendo assim, o presente documento contém, no tópico seguinte, a explicitação do enfoque de SAN adotado por esta análise, incluindo os principais princípios ordenadores de políticas de SAN e uma descrição dos subsistemas de SAN. É importante dizer que o enfoque sistêmico da SAN, em contraposição ao enfoque analítico, permite não só uma análise das estratégias, como também contribuições a esta estratégia, possibilitando um olhar diferenciado acerca do ordenamento das políticas e ações. Em seguida, o documento será analisado no seu conjunto, isto é, na sua estrutura para, posteriormente, ser realizada uma análise das políticas e programas propostos. Antes, contudo, será apresentado um resumo das principais observações realizadas. 4 RESUMO Me parece que uma das principais tarefas que estão colocadas para vocês é é analisar mais detidamente cada uma das políticas e programas propostos, reordená-los em dois sentidos: a) eles estão se superpondo bastante; e b) procurar encaixá-los dentro dos programas que já vêm sendo desenvolvidos. Eu comecei a fazer isto e vocês irão ver no arquivo em anexo que as po'líticas e programas propostos estão marcados com 4 cores diferentes. Isto ocorre porque eu os ordenei segundo os quatro subsistemas de SAN, assim definidos: - - - - O subsistema de produção agroalimentar (VERDE) Este subsistema tem como base as condições ambientais, vale dizer, os fluxos inerentes aos meios físicos e bióticos, pressupostos da produção e transformação local e regional de alimentos. Além do meio ambiente circundante, ele é composto pelo setor agropecuário, pelo extrativismo vegetal e animal, pela agroindústria e pela indústria de transformação de alimentos, incluindo as relações sociais prevalecentes, a infraestrutura necessária e os métodos de produção e transformação agroalimentar, além das regras formais e informais que lhe dão sustentação. O subsistema de abastecimento agroalimentar (AZUL) Consiste no sistema de distribuição, capaz de tornar disponível a produção agroalimentar para o consumo. Ele é composto pela estrutura de transporte, comunicações e armazenamento, pelas redes de comercialização agroalimentar e pelos mercados de oferta e demanda de alimentos, incluindo as principais características de funcionamento dos mercados, métodos de distribuição e conservação e seus marcos regulatórios, formais e informais. O subsistema de consumo alimentar (AMARELO) Consiste na capacidade das famílias e grupos sociais de acessar, conservar e preparar os alimentos, segundo os hábitos alimentares cultivados por eles. Ele tem como ponto de partida as condições nutricionais, de saúde e nível educacional das famílias e seus condicionantes e é composto pelos determinantes do acesso aos alimentos – condições de acesso aos recursos naturais e aos mercados; à infraestrutura e às políticas públicas; à assistência técnica e ao crédito – e pelos sistemas culturais subjacentes. O subsistema de promoção da SAN através de políticas públicas: (ROXO) Consiste nos espaços institucionais onde os marcos regulatórios de todo o sistema agroalimentar são concebidos, bem como as políticas que interferem no funcionamento dos três subsistemas acima. Ele é composto pelo quadro político-institucional de referência: o Setor Público, a sociedade civil organizada, o setor privado e pelos espaços políticos de concertação, além de seus respectivos marcos regulatórios. Desta forma, penso que será uma boa contribuição e uma forma, caso vocês concordem, de melhor equacionar algumas questões que o Documento nos traz, conforme as observações a seguir. 5 1) Os temas da diversidade cultural e sustentabilidade ambiental, embora mencionados no enfoque de SAN utilizado, não constituem parte da ENSAN e tampouco do PNSAN. 2) Em meio à estratégia como um todo, há uma clara predominância da dimensão "disponibilidade dos alimentos", em detrimento das condições de acesso e de consumo alimentar, embora estes três, juntamente com a estabilidade da oferta, façam parte das chamadas "dimensões da SAN". 3) Isto provoca um desequilíbrio claro na ENSAN em termos de políticas e programas. Na planilha em anexo, este desequilíbrio pode ser observado: 86% dos recursos aplicados estão direcionados à promoção do abastecimento alimentar, enquanto os outros 14% encontram-se divididos entre programas que procuram promover a produção agroalimentar (4%), o consumo e o acesso aos alimentos (10%). A dimensão "acesso aos alimentos" está fortemente relacionada, no Documento, à ajuda alimentar a famílias carentes. 4) Este fato me dá a idéia de que a estratégia aponta para um caminho único: aumento da produção e fortalecimento das redes mercantis de troca, com homogeneização do consumo e das formas de produzir e o fortalecimento da ação assistencialista do Estado, por meio de políticas compensatórias. 5) Isto é, embora entremeadas por programas de saúde, educação e assistência social, considerando a produção para o autoconsumo e todo um leque de ações que vão desde a amamentação maternoinfantil e das condições sanitárias nas escolas, até o associativismo, o cooperativismo, a assistência técnica e o crédito agrícola, passando por questões relacionadas à infraestrutura de abastecimento, etc., me pareceu clara a estratégia: direcionar as famílias e os produtores com alguma capacidade para sua inserção nos mercados, apoiando-os com infraestrutura de comercialização, enquanto os demais serão apoiados por meio de políticas de cunho social. 7) Sendo assim, a ENSAN corre o risco de se desdobrar em conflitos culturais, gerar problemas ambientais, dificuldades na implementação de políticas e programas e no seu enfraquecimento como um todo. 5) Concorre para isto: a) o fato de que a ENSAN dá pouca importância para a conformação do quadro político-institucional e legal que subsidiará sua implementação: b) alguns dos princípios a seguir, em face do objetivo geral («assegurar o acesso permanente da população a uma alimentação suficiente, saudável e nutritiva, sem prejuízo para a satisfação de outras necessidades básicas») assim me parece, estão comprometidos, como o da universalidade, da equidade e da participação. • Universalidade, equidade e integralidade; • Promoção da dignidade da pessoa, • Participação, transparência e prestação de contas • Transversalidade e multisectorialidade c) Não se trata, em nenhum momento, da necessidade de formação de pessoal técnico para a implementaçào das ações, como por exemplo, a extensão rural. d) as ações referentes ao fomento da pesquisa devem estar conectadas com o desenvolvimento de estudos técnicos e a formatação de projetos exeqüíveis, inclusive com fontes de recursos, etc. 6 6) O foco no abastecimeto alimentar não é necessariamente ruim, desde de que estratégias neste sentido sirvam para promover: a) a produçào agroalimentar em bases sócio-ambientais, culturais, econômicas e políticoinstitucionais sustentáveis b) as condições de acesso aos alimentos por parte do conjunto das famílias, urbanas e rurais (acesso aos recursos naturais e aos merdcados; à infraestrutura e às políticas públicas; ao crédito e à assistência técnica) e c) as condições em que o consumo dos alimentos se dá (saúde e educação, vigilância sanitária, educação alimentar, etc). 7) Falta ao Diagnóstico no qual a ENSAN se sustenta uma leitura dos quadros político-institucionais vigentes regional e localmente e, mais exatamente, uma análise das relações entre entre meio ambiente – manifestações culturais – formas predominantes de reprodução material e social das famílias – quadros político-institucionais locais e regionais. Esta análise certamente facilitaria a formulação e a implementação da ENSAN, na medida em que possibilitaria uma melhor organização das políticas de cunho estrutural, de nível específico e de nível local, com a conseqüente melhor distribuição dos recursos. 8) Os eixos estratégicos me parecem bons, mas tenho a impressão de que eles precisam ser fortalecidos em alguns pontos e acrescidos de outros. Acho que a proposta dos subsistemas, acima, pode fornecer um sentido mais integral a estes eixos. 9) Se por um lado não é suficiente garantir a participação social na concepção e formulação de políticas, já que o poder em relação à implementação dessas políticas deve estar garantido numa estrutura político-institucional descentralizada, segundo as competências territoriais distintas; por outro o processo de descentralização e a criação da estrutura político-institucional correspondente não se constitui tarefa nem simples, nem de menor importância. 10) A desconsideração deste fato aumenta o risco das políticas de SAN se tornarem apenas um conjunto de boas intenções. O arranjo institucional derivado, como sugestão, deverá ser aquele que, ao mesmo tempo, descentraliza o poder de decisão quanto à implementação e garante a participação social na avaliação e monitoramento dessas políticas, mas mantém os processos de coordenação das políticas e programas mais gerais junto às instâncias centrais de poder, como no CONSAN e na RNSAN propostas. República de Angola: recursos aplicados em programas relacionados à SAN levados por diversos ministérios, segundo o subsistema de SAN, 2008. Subsistemas de SAN Valores (Em Kz$) Produção Agroalimentar 11.686.600.165,00 Abastecimento Alimentar 245.150.300.250,00 Consumo e Acesso aos Alimentos 29.480.014.015,00 Total 286.316.914.430,00 Fonte: ENSAN - Governo de Angola Em % 4 86 10 100 7 MARCO ANALÍTICO PARA AVALIAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE SAN SAN, DHAA e Soberania Alimentar A análise a seguir se pautará pela concepção de que a segurança alimentar e nutricional – SAN – constitui-se num Direito Fundamental da Pessoa Humana, consoante com a Declaração de Roma e seu respectivo Plano de Ação: “La Declaración de Roma sobre la seguridad alimentaria mundial y el Plan de Acción de la Cumbre Mundial sobre la Alimentación establecen las bases de diversas trayectorias hacia un objetivo común: la seguridad alimentaria a nivel individual, familiar, nacional, regional y mundial. [Nesse sentido,] existe seguridad alimentaria cuando todas las personas tienen en todo momento acceso físico y económico a suficientes alimentos inocuos y nutritivos para satisfacer sus necesidades alimenticias y sus preferencias en cuanto a los alimentos a fin de llevar una vida activa y sana. (Plano de Ação da Cúpula Mundial de da Alimentação http://www.fao.org/documents/show_cdr.asp?url_file=/docrep/003/w3613p/w3613p00.htm Os detentores do Direito Humano à Alimentação Adequada – DHAA – são todas as pessoas e é obrigação do Estado resguardar esse Direito e garantir seu comprimento. Isto é, as obrigações do Estado em relação ao DHA podem ser postas da seguinte forma: 1) Um Estado que respeita o direito à alimentação das pessoas que moram em seu território deveria assegurar que todo indivíduo tenha acesso permanente em todos os momentos à alimentação suficiente e adequada, e deveria abster-se de tomar medidas sujeitas a impedir alguém a tal acesso. 2) A segunda obrigação que os Estados devem ter é proteger o direito à alimentação. Sob esta obrigação, eles devem assegurar que indivíduos e empresas não privem as pessoas de acesso permanente a alimentação adequada e suficiente. 3) A terceira obrigação do Estado é “satisfazer” o direito à alimentação. http://www.dhnet.org.br/direitos/livros_dh/desc_ziegler/i_definicaohistoria.htm O objetivo da promoção da SAN encontra-se intimamente ligado à promoção do desenvolvimento, sendo, antes, uma das principais condições para que qualquer processo de desenvolvimento se efetive num determinado território. Mas, quando se consideram os países – territórios nacionais –, a insegurança alimentar pode se manifestar na dificuldade de acesso aos alimentos por falta de trabalho ou baixo nível de renda, na indisponibilidade de bens e na insustentabilidade dos modos pelos quais esses bens são produzidos. A análise de tais aspectos, entretanto, não pode deixar de considerar que tais dificuldades estão também relacionadas ao modo de organização do sistema internacional. Este modo de organização é pautado pela assimetria de poder presente nas relações entre nações e, não raro, pela conexão de interesses dos grupos nacionais mais abastados com seus semelhantes no plano internacional, sem que, daquela assimetria e dessa conexão, necessariamente, derive ações e políticas estatais que venham de encontro aos objetivos da SAN e às necessidades da maior parte das populações nacionais. Evoca-se, então, o princípio da Soberania Alimentar. Este princípio sustenta o direito dos povos definirem suas estratégias de produção e consumo dos alimentos que necessitam. O Fórum Mundial sobre Soberania Alimentar, realizado em Havana (Cuba), em 2001, definiu soberania alimentar como “o direito dos povos definirem suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o 8 direito à alimentação para toda a população, com base na pequena e média produção, respeitando suas próprias culturas e a diversidade dos modos camponeses, pesqueiros e indígenas de produção agropecuária, de comercialização e gestão dos espaços rurais, nos quais a mulher desempenha um papel fundamental [...] A soberania alimentar é a vía para erradicar a fome e a desnutrição e garantir a segurança alimentar duradoura e sustentável para todos os povos”. A evocação de tal princípio caminha no sentido de prevenir a ingerência de interesses internacionais distintos daqueles relacionados à SAN das populações nacionais, como também a apropriação dos espaços nacionais de formulação de políticas públicas por classes sociais específicas, mais ligadas a interesses estranhos àqueles do Estado Nacional. Além disto, o exercício soberano de políticas de SAN se sobrepõe à lógica mercantil estrita. Não se trata de aceitar o falso dilema entre buscar a auto-suficiência absoluta (produzir internamente todo o alimento necessário) versus ser eficiente nas trocas com o exterior (especializar-se nos produtos em que se é mais competitivo e importar o restante). O ponto principal é reconhecer, de um lado, que o comércio internacional não é fonte confiável de SAN, enquanto que, por outro lado, a produção doméstica (nacional) de alimentos tem condição estratégica para todos os países do mundo, principalmente, em grandes países como Angola. Princípios norteadores das Políticas de SAN O estabelecimento de princípios na construção de estratégias e políticas de SAN é importante porque eles funcionam como coordenadores das estratégias e das políticas. Enquanto estas ligam o diagnóstico de uma determinada realidade àquilo no que se pretende que essa realidade se transforme, os princípios organizam a sua formulação, implementação e avaliação, fazendo com que aumente sua eficácia no cumprimento dos objetivos pretendidos. Se a definição de SAN da qual se vale a ENSAN norteia, a realidade que se pretende construir em Angola, os princípios norteiam a elaboração da estratégia e das políticas para que o objetivo da SAN seja efetivamente alcançado. Os princípios que serão considerados a seguir são cinco: intersetorialidade, equidade, participação social, sustentabilidade e descentralização. A seguir. Cada um deles será caracterizado, em consonância com os objetivos da SAN. - Intersetorialidade SAN, portanto, constitui-se na materialização do DHAA e no princípio da Soberania Alimentar, o que implica um conjunto de objetivos e a formulação de estratégias, políticas, planos, programas e ações com vistas a alcançá-los. Estes objetivos e tais formulações relacionam diversos setores e dimensões da vida social e político-institucional, que ocorre em determinado território. A SAN, desta forma, envolve diversas dimensões da vida das pessoas, comunidades, grupos sociais e países, além de poder ser analisada em termos globais. Decorre disto que a SAN é um tema transversal e as políticas, com o objetivo de sua promoção, devam ser, por princípio, intersetoriais. Isto é, as políticas de SAN, para garantirem sua efetividade, devem ser formuladas tendo em conta a integração dos diversos setores, sejam eles de governo (educação, saúde, desenvolvimento econômico, agricultura, indústria e comércio, etc.); entre governos (local, municipal, provincial, nacional); sejam ainda entre setores da sociedade (Sociedade Civil, setores produtivos e setor público). 9 - Equidade Além do princípio da intersetorialidade, as políticas de SAN devem levar em conta outros quatro princípios: equidade, participação social, sustentabilidade e descentralização. O princípio da equidade encontra-se relacionado ao fato de que três fatores principais concorrem para diferenciar as manifestações de insegurança alimentar. São eles: classe social ou nível de renda; condição de gênero e geracional; raízes étnicas ou raciais. Quer dizer, os mais pobres estão mais expostos à insegurança alimentar. Mulheres, crianças e idosos enfrentam carências específicas em relação aos homens e aos mais jovens. Negros e índios compõem parte significativa dos segmentos sujeitos à fome e à desnutrição. Em muito, a razão para estes fatores atuarem como sintomas da insegurança alimentar encontra-se na desigualdade de acesso às políticas públicas. Desta forma, as políticas de SAN devem ser permeadas pelo princípio da equidade no acesso a estas políticas, como forma de combater uma das principais causas das manifestações de insegurança alimentar. Implícito está, contudo, na desigualdade de acesso às políticas públicas, a falta de participação social na sua concepção, formulação, implementação, avaliação e monitoramento. - Participação Social No âmbito, por exemplo, da Cúpula Mundial da Alimentação, a Declaração de Roma, tão logo define Segurança Alimentar, estabelece, no seu Plano de Ação, que: “Cada país deberá adoptar una estrategia en consonancia con sus recursos y capacidades para alcanzar sus objetivos propios y, al mismo tiempo, cooperar en el plano regional e internacional para dar soluciones colectivas a los problemas mundiales de la seguridad alimentaria. En un mundo de instituciones, sociedades y economías cada vez más entrelazadas, es imprescindible coordinar los esfuerzos y compartir las responsabilidades. (Plano de Ação da Cúpula Mundial de da Alimentação http://www.fao.org/documents/show_cdr.asp?url_file=/docrep/003/w3613p.) Perceba-se, no entanto, que se fala de responsabilidades compartidas, não apenas entre Estados, mas também entre os setores que compõem toda a sociedade. Valente (2001), por exemplo, coloca em evidência o conceito de governabilidade. Para esse autor, a governabilidade, no contexto dos direitos humanos, é considerada como sendo de responsabilidade de todos os setores da sociedade: governo, sociedade civil organizada, setores produtivo e comercial, comunidade acadêmica, etc.” No que concerne à SAN, o respeito aos Direitos Humanos, no conjunto, devem provocar: - Redução dos riscos inerentes à SAN. - Equidade social, entendida como o acesso aos meios políticos, sociais, econômicos e culturais. - O incremento da própria governabilidade, com conseqüências sobre a sustentabilidade política, social, econômica, institucional e cultural. - Sustentabilidade O conceito de sustentabilidade assume importância também fundamental. A idéia de sustentabilidade, numa primeira aproximação, coloca em evidência as relações entre as sociedades humanas e o meio ambiente. Ela coloca em questão as condições de existência das gerações futuras em relação ao uso que se faz no presente dos recursos naturais. Isto é, “A noção de sustentabilidade 10 está intrinsecamente ligada à noção de alimentação adequada e segurança alimentar, implicando que a alimentação seja acessível tanto agora como para as gerações futuras”.(DHNET, 2000). Já a idéia de sustentabilidade alimentar incorpora conceitos ligados à preservação do meio ambiente e à não utilização de agrotóxicos e de produção extensiva em monoculturas (BRASIL/FOMEZERO, 2003). Nesse sentido, a questão que se coloca é a articulação entre os conceitos de sustentabilidade e segurança alimentar. O encontro de objetivos da sustentabilidade e da segurança alimentar também se define no campo ideológico, pela afirmação da supremacia do direito à alimentação e aos recursos naturais enquanto bens públicos que devem ser assegurados a todos. E pela identificação de que a desigualdade é a causa principal da incapacidade de acesso aos alimentos, bem como elemento desencadeador de práticas de apropriação de bens naturais, que perdem seu caráter público para assumirem o papel privado de instrumento para a acumulação do capital.(Maluf & Menezes. 2000:32 e sgts.) Assim, ambos os conceitos, de acordo com Maluf & Menezes (2000), são objeto de disputa e a tentativa de articulação entre eles acaba por refletir a forma como se entende a agricultura sustentável. O centro da discussão está na amplitude que se dá ao tema da sustentabilidade. Isto é, esse tema estaria restrito à produção agroalimentar, incluindo aí preocupações específicas em relação ao aspecto ambiental? Ou esse tema deve ser abordado de forma ampliada, de modo a considerar as dimensões social, econômica, ambiental e política da sustentabilidade? A primeira perspectiva se desdobra na intensificação da produção com diversificação, implicando especialização produtiva e dependência crescente dos agricultores em relação aos insumos industriais. Segundo os autores, “o melhor caminho na busca de um sistema alimentar sustentável parece ser o fortalecimento da agricultura familiar ou camponesa, enquanto formação social mais adequada para garantir a segurança alimentar em condições sustentáveis. Isto devido às próprias características que lhes são inerentes”. Dessa forma, a sustentabilidade alimentar passa a estar relacionada à aplicação da idéia de sustentabilidade às dimensões cultural, política e econômica, além da ambiental. Do ponto de vista cultural, deve-se também evocar o princípio da Soberania Alimentar, isto é, o respeito aos hábitos alimentares regionalmente, etnicamente, ou ainda familiarmente consagrados pelos próprios signatários do DHAA, de modo a preservar-lhes as suas próprias culturas alimentares. Em suma, o respeito à diversidade. Na expressão de Valente (Apud Brasil/MS, s/d): Ao comer, portanto, não só buscamos satisfazer nossa fome e nossas necessidades nutricionais. Ao nos alimentarmos a nós mesmos e uns aos outros, familiares, amigos e mesmo estranhos, nós nos refazemos, nos construímos e nos potencializamos uns aos outros como seres humanos em nossas dimensões orgânicas, intelectuais, psicológicas e espirituais. Nós reafirmamos nossa identidade e diversidade cultural, no contexto da universalidade de sermos humanos. Não é sem razão que todas as festividades familiares e comunitárias, e muitos rituais espirituais, envolvem atos de preparo e comunhão de alimentos. Do ponto de vista político, a sustentabilidade alimentar passa, primeiro, pela relação acima estabelecida entre SAN e desenvolvimento. Segundo, pelo fato de que está implícito na idéia de desenvolvimento a ação, ou um conjunto de ações no sentido de sua promoção. Terceiro, que essas ações devem envolver todos os setores da sociedade. E quarto, que esse envolvimento deve se dar em um fórum específico que possibilite processos decisórios democráticos, que dêem legitimidade 11 às políticas, programas, ações dali derivadas, seja no âmbito local, regional, nacional ou ainda internacional. Do ponto de vista sócio-econômico, a sustentabilidade alimentar está relacionada à busca da equidade social. Entretanto, acumulação de capital não rima com equidade social, assevera Burlandy (2003:17). A acumulação de capital é o motor da expansão do capitalismo no espaço. E, de acordo com essa autora, a luta pela igualdade de condições, de resultados, de oportunidades, no contexto onde prevalece a ordem regulada pela acumulação de capital, “constitui o domínio em torno do qual os conflitos políticos e sociais ocorrem.” Decorre disto que promover a SAN, promovendo a equidade social, é também qualificar esses conflitos. A idéia de sustentabilidade sócio-econômica é, portanto, derivada da sustentabilidade política, porquanto são as instituições que regem a produção e a distribuição da riqueza social que acabam por determinar o lugar social dos grupos, classes, famílias. São elas que, em última instância, dificultam ou facilitam as condições em relação ao acesso, à disponibilidade, à diversidade alimentar. Ela nos remete, dessa forma, às políticas de crescimento econômico com distribuição de renda; às políticas sociais compensatórias; às políticas de saúde e nutrição, de desenvolvimento rural e de apoio à agricultura familiar, etc, como forma de criar alternativas de promoção da SAN. Essa análise também desdobra a SAN em vários de seus determinantes. Isto é, a condição de SAN prevalecerá se o acesso aos alimentos por parte das pessoas, famílias, grupos sociais, ocorrer de forma digna, em quantidade e qualidade, sem constrangimentos. Da mesma forma, os alimentos disponíveis têm que ser suficientes, adequados segundo as boas práticas alimentares e as culturas locais e regionais, sem restrições à diversidade no que tange às possibilidades de escolha e no que tange à integração cultural. Por fim, a produção, a distribuição, a comercialização e o consumo de alimentos devem se pautar pelo parâmetro da sustentabilidade, de modo que a produção, distribuição, comercialização e o consumo alimentar devam ser sustentáveis dos pontos de vista ambiental, cultural, político e econômico. - Descentralização Intersetorialidade, Equidade, Participação Social e Sustentabilidade são, portanto requisitos para a efetividade das políticas de SAN. O enfoque da SAN encontra-se assentado na compreensão de que a problemática alimentar abrange várias dimensões que interagem entre si, assim como sua principal implicação de política pública que é o requisito de ser supra-setorial. Vale dizer, as políticas de SAN demandam coordenação de ações num contexto de fragmentação, desarticulação e mesmo conflito entre setores de governo e, não raro, no âmbito da sociedade civil. Esses desafios são acentuados pela tendência à descentralização das ações entre as esferas de governo e pela ampliação da participação social na própria formulação das políticas. Assim a base para o entendimento da importância do princípio da descentralização na formulação de estratégias de SAN é a compreensão de que tal enfoque contribui no enfrentamento dos muitos desafios que estão colocados para políticas intersetoriais, que envolvem participação social, que buscam ser eqüitativas e que sejam sustentáveis, como visto acima. O ponto fundamental é a instituição e funcionamento de espaços institucionais de articulação, que favoreçam a formulação de ações e políticas públicas integradas, garantindo sua eficácia. A estratégia de descentralização significa uma tentativa de transformar as unidades subnacionais em unidades gestoras de fato, além de uma tentativa de aproximar a identificação e a busca de soluções 12 dos problemas relacionados à insegurança alimentar para perto dos lugares onde eles acontecem. A descentralização sugere também que a proximidade dos gestores pode facilitar a identificação das reais necessidades de SAN da população, que participará da definição de prioridades nesta área. Os desafios a serem enfrentados, contudo, não devem ser minimizados. Tais desafios podem ser divididos em três tipos: desafios de ordem conceitual; de ordem política; e de ordem administrativa. Em meio a estes desafios encontram-se recursos financeiros e humanos insuficientes; falta ou insuficiência de instalações, equipamentos e pessoal nas áreas de saúde e educação, interferência negativa por parte dos políticos locais e falta de apoio por parte dos governos nas suas três esferas. Em outras palavras, a eficácia das políticas não estará garantida caso os processos de concepção, formulação, implementação, avaliação e monitoramento das políticas seja centralizado. A centralização do poder favorece a corrupção e a apropriação dos meios públicos de intervenção sobre a realidade por pequenas parcelas das populações, sendo geradora de injustiças e um importante determinante da desigualdade social e da concentração de renda e riqueza. Assim, se por um lado não é suficiente garantir a participação social na concepção e formulação de políticas, já que o poder em relação à implementação dessas políticas deve estar garantido numa estrutura político-institucional descentralizada, segundo as competências territoriais distintas; por outro o processo de descentralização e a criação da estrutura político-institucional correspondente não se constitui tarefa nem simples, nem de menor importância. A desconsideração deste fato aumenta o risco das políticas de SAN se tornarem apenas um conjunto de boas intenções. O arranjo institucional derivado deverá ser aquele que, ao mesmo tempo, descentraliza o poder de decisão quanto à implementação e garante a participação social na avaliação e monitoramento dessas políticas, mas mantém os processos de coordenação das políticas e programas mais gerais junto às instâncias centrais de poder, como no CONSAN e na RNSAN propostas. SISTEMAS E SUBSISTEMAS DE SAN Embora seja um tema cujo interesse vem aumentando a cada dia, não se pode dizer que existem marcos teóricos específicos que tratam da SAN. O fato de esse ser também um tema transversal e multidisciplinar dificulta a sua abordagem a partir de um marco teórico específico. A abordagem sistêmica, nesse contexto, tem se colocado como uma das principais opções metodológicas e teóricas. A perspectiva sistêmica na promoção da SAN requer que sejam criadas as condições políticoinstitucionais para que as ações adotem essa perspectiva. Vale dizer, a realidade tem natureza sistêmica, cabendo-nos identificar os componentes que se pretende promover por meio da institucionalização e aprofundamento das relações sistêmicas entre eles, de modo a potencializar os ganhos sinérgicos por tais relações. Assim, nossa perspectiva será a caracterização e promoção de sistemas de SAN. A abordagem sistêmica e sua aplicação nas Ciências Sociais têm sofrido avanços significativos nos últimos anos, com conseqüências ainda modestas em termos práticos, porém, prenha do estabelecimento de uma nova visão do mundo não dualista (Santos, 2001) 1 . Para os nossos 1 Santos, B. S (2001): Crítica à Razão Indolente: contra o desperdício da experiência. S. Paulo, Cortez. 13 propósitos, no entanto, interessa colocar em evidência as seguintes características da perspectiva sistêmica: - os sistemas só podem ser percebidos de maneira integrada, interna e externamente e há sempre um princípio de coordenação que possibilita essa integração; - os sistemas se mantêm, se reproduzem e se transformam. Há vários enfoques sistêmicos com distintas conceituações e graus de complexidade. A seguir, são apresentados alguns elementos visando iniciar a utilização desse enfoque como base para um sistema de formulação, implementação e monitoramento de ações e políticas públicas de SAN 2 . Para caracterizar um sistema requer-se a presença de, pelo menos, dois elementos: a) Fluxos de interdependência entre as partes que o compõem; b) Mecanismos de coordenação entre os componentes do sistema em questão. Acima foi colocado que os sistemas se mantêm, se reproduzem e se transformam. O desafio, então, é conceber sistemas nacionais de abastecimento e consumo alimentar (SINAs) e contrapô-los a sistemas nacionais de segurança alimentar e nutricional (SINSANs). O objetivo geral é fazer com que os primeiros deixem de se manter e se reproduzir da forma que lhes é característica, reproduzindo a insegurança alimentar nas suas diversas formas de manifestação e caminhar no processo de transformação de SINAs em SINSANs. Dois pontos aqui são importantes: primeiro, quais são os princípios de coordenação dos sistemas agroalimentares? Segundo, quais são os subsistemas que compõem os sistemas agroalimentares? Quando falamos de sistemas agroalimentares, estamos falando de produção, distribuição e consumo alimentar. Mas também estamos falando de parte significativa da produção social, proporcionalmente tanto maior quanto mais pobres forem essas sociedades (Maluf & Menezes, 2000). Posta a questão dessa forma, podemos dizer que os princípios de coordenação dos sistemas agroalimentares são os mesmos que coordenam a produção e a distribuição da riqueza social. Em Polanyi (2000) encontramos uma análise desses princípios, os quais o quadro abaixo sintetiza. QUADRO I PRINCÍPIOS DE COMPORTAMENTO E PADRÕES INSTITUCIONAIS PRINCÍPIOS DE PADRÕES COMPORTAMEN INSTITUCIONAI TO S 2 RECIPROCIDADE SIMETRIA REDISTRIBUIÇÃO CENTRALIDADE CARACTERÍSTICAS O que domina o comportamento social é a propensão à reciprocidade. “O que se dá hoje é o que se toma amanhã”. O resultado do produto do trabalho é partilhado em comunidade. O resultado da produção, partilhada comunitariamente, é COMENTÁRIOS Característico de sociedades democráticas e as motivações predominantes são de cunho não econômico. A redistribuição acontece a partir de Essa parte baseia-se em documento preparado por Maluf (2004) para o CONSEA, valendo-se das contribuições do projeto “Construção e promoção de sistemas locais de segurança alimentar e nutricional: aspectos produtivos, de consumo, nutricional e de políticas públicas”. 14 redistribuído através da figura do “chefe” ou outro membro do grupo, que age como intermediário. DOMESTICIDADE AUTARQUIA TROCA MERCADO festas, festivais, etc., fundados em uma motivação não econômica. Característico, por Produção para autoconsumo, seja exemplo, das redes que no que respeita à família conformam as patriarcal, às aldeias, ou aos organizações familiares feudos. de produção rural. O que domina o comportamento Essa interpretação se social é a propensão individual à tornou hegemônica com permuta, à barganha e à troca. o liberalismo clássico, o Elas dependem do padrão do que fez com que a mercado para sua efetivação. Não realidade fosse trocada é a economia que passa a estar pelo que dela se pensa. embutida nas relações sociais, Nesse caso, vícios mas essas que passam a estar privados implicam embutidas no sistema econômico. benefícios públicos. Percebendo esses princípios de comportamento e padrões institucionais do ponto de vista dos sistemas agroalimentares, podemos dizer que a atuação dos atores no contexto dos subsistemas que os conformam é coordenada por quatro princípios, que não se excluem mutuamente: - - - - Pela busca de sucesso nas redes de troca mercantis. o Essa busca é característica de todos aqueles que, de acordo com Braudel (1987), habitam a “camada do mercado”. Faz-se aqui referência aos que necessitam de se especializar para vender seu trabalho no mercado de trabalho, constituir micro, pequenas ou médias empresas, ou ainda oferecer seus serviços nos mercados para profissionais liberais, como costureiras, jardineiros, diaristas, além dos conhecidos médicos, advogados, dentistas, etc. Pela produção para autoconsumo. o O maior expoente dessa forma de produção que conhecemos é certamente a Agricultura Familiar. Mas aqui estão também incluídas a produção comunitária realizada por grupos indígenas e quilombolas e as redes de proteção social que os cerca, além das hortas domiciliares e comunitárias, por exemplo. Pela existência de redes de troca com objetivos não econômicos. o Trata-se aqui do que vem se convencionando chamar de “o espírito da dádiva” e “economia solidária” (Godbout, 1999 e Singer, 2004). De acordo com o primeiro desses autores, também formas de atuação do Estado também fazem sentido aqui, como o gerenciamento de bancos de sangue, por exemplo. Pela existência de sistemas de redistribuição seja da capacidade de acessar alimentos, seja dos próprios alimentos. o De acordo com Singer (2004), esse também é o caso das políticas sociais redistributivas ou compensatórias que, no contexto da SAN, possuem implicações significativas no que diz respeito ao acesso e à disponibilidade alimentar para grande parte das populações, no Brasil e no mundo. Manifestações de “economia solidária” e do “espírito da dádiva” podem aqui também ser encontradas. Posto isto, os quatro subsistemas que compõem um sistema de SAN são os seguintes: - O subsistema de produção agroalimentar 15 - - - - Este subsistema tem como base as condições ambientais, vale dizer, os fluxos inerentes aos meios físicos e bióticos, pressupostos da produção e transformação local e regional de alimentos. Além do meio ambiente circundante, ele é composto pelo setor agropecuário, pelo extrativismo vegetal e animal, pela agroindústria e pela indústria de transformação de alimentos, incluindo as relações sociais prevalecentes, a infraestrutura necessária e os métodos de produção e transformação agroalimentar, além das regras formais e informais que lhe dão sustentação. O subsistema de abastecimento agroalimentar Consiste no sistema de distribuição, capaz de tornar disponível a produção agroalimentar para o consumo. Ele é composto pela estrutura de transporte, comunicações e armazenamento, pelas redes de comercialização agroalimentar e pelos mercados de oferta e demanda de alimentos, incluindo as principais características de funcionamento dos mercados, métodos de distribuição e conservação e seus marcos regulatórios, formais e informais. O subsistema de consumo alimentar Consiste na capacidade das famílias e grupos sociais de acessar, conservar e preparar os alimentos, segundo os hábitos alimentares cultivados por eles. Ele tem como ponto de partida as condições nutricionais, de saúde e nível educacional das famílias e seus condicionantes e é composto pelos determinantes do acesso aos alimentos – condições de acesso aos recursos naturais e aos mercados; à infraestrutura e às políticas públicas; à assistência técnica e ao crédito – e pelos sistemas culturais subjacentes. O subsistema de promoção da SAN através de políticas públicas: Consiste nos espaços institucionais onde os marcos regulatórios de todo o sistema agroalimentar são concebidos, bem como as políticas que interferem no funcionamento dos três subsistemas acima. Ele é composto pelo quadro político-institucional de referência: o Setor Público, a sociedade civil organizada, o setor privado e pelos espaços políticos de concertação, além de seus respectivos marcos regulatórios. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANÁLISE ENSAN BIAN, G. & DEUPEUCH, F & MARIE, B. (2002): Alimentação, nutrição e políticas públicas. Cadernos de Proposições para o Século XXI – Nutrição. São Paulo, Instituto Polis. BRASIL/FOMEZERO (2003): Políticas Estruturais: segurança e qualidade dos alimentos. Disponível em http://www.fomezero.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=64&sid=23. Acessado em 31/01/2005. BRASIL/MS (s/d): Direitos humanos e a promoção da alimentação e modos de vida saudáveis: realizando o direito humano à alimentação e nutrição adequadas. Disponível em http://portalweb01.saude.gov.br/alimentacao/dh.cfm. Acessado em 31/01/2005. BRAUDEL, F. (1987): A Dinâmica do Capitalismo. São Paulo, Ed. Rocco. BURLANDY. L. comunidade solidária: Engenharia institucional, focalização e parcerias no combate à fome, à pobreza e à desnutrição. Tese doutorado, Fundação Oswaldo Cruz, 2003. BYÉ, Pascal (1999): As tecnologias genéricas levam ao desaparecimento das técnicas agroalimentares de origem? In MALUF, R. & WILKINSON, J. (Org.): Reestruturação do Sistema Agroalimentar: questões metodológicas e de Pesquisa. Rio de Janeiro, Ed. Mauad; UFRRJ/CPDA. 16 DHNET (2000): Definição e História do Direito à Alimentação. Disponível em http://www.dhnet.org.br/direitos/livros_dh/desc_ziegler/i_definicaohistoria.htm. Acessado em 31/01/2005 GODBOUT, Jacques T. (1999): O Espírito da Dádiva. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas. MALUF, R.S. & MENEZES, F. (2000): Caderno “Segurança Alimentar”. Disponível em http://www.forumsocialmundial.org.br/download/tconferencias_Maluf_Menezes_2000_por.pdf. Acessado em 31/01/2005. MALUF, R.S. & MENEZES, F. (2000): Caderno “Segurança Alimentar”. Disponível em http://www.forumsocialmundial.org.br/download/tconferencias_Maluf_Menezes_2000_por.pdf. Acessado em 31/01/2005. MALUF, R.S. (et.al, 2006): Construção e promoção de sistemas locais de segurança alimentar e nutricional: aspectos produtivos, de consumo, nutricional e de políticas públicas” (Projeto CNPq/COAGR 503.656/2003-8). Relatório Final de Pesquisa. Brasília, outubro de 2006. MALUF, R.S. & REIS, M.C. (2005): Sistemas locais de Segurança Alimentar Nutricional. Projeto Construindo Cvapacidades em SAN no Brasil e Angola. Curso Conceitos e Princípios em SAN. CERESAN/UFRRJ; Centre for Studies in Food Security/Ryerson University; Redcapa. MENDOZA, M R. (2002): Cumbre mundial sobre la alimentación Liberalización del comercio y seguridad alimentaria. WTO. Capturado de http://www.wto.org/spanish/news_s/news02_s/speech_rodriguez_mendoza_11june02 _s.htm em 23/01/2005. PAULA, Margarete (2008): Gestão da política de saúde no município de Teixeira de Freitas-BA. Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte, FEAD-MINAS, POLANYI, K.: A Grande Transformação. R.J., Campus, 1999. REIS, Márcio Carneiro dos (2004): Do Espaço do Sujeito ao Espaço Mundial: uma nova maneira de apreender a realidade. In Revista Sociedade e Estado. Brasília, V. 17, n. 2, p. 397-428, jul-dez. 2002. REIS, Márcio Carneiro dos (2006): Desenvolvimento local e espaços sociais ampliados. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro, CPDA/UFRRJ. SANTOS, B.S.(2001):Crítica à Razão Indolente: contra o desperdício da experiência. SP Cortez. SINGER, Paul (2004): Prefácio: Um olhar diferente sobre a economia solidária. In FRANÇA FILHO, Genauto Carvalho & LAVILLE, Jean-Louis (2004): Economia Solidária: uma abordagem internacional. Porto Alegre, Ed. UFRGS. VALENTE, Flávio (2001): Direitos humanos à segurança alimentar no Brasil: lições aprendidas. In MALUF, Renato Sérgio e COSTA, Christiane: Diretrizes para uma política municipal de segurança alimentar e nutricional. São Paulo, Instituto Polis (Publicações Polias, número 38). VASCONCELOS, M. J. E. (2002): Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas, Papirus. 17 OBSERVAÇÕES GERAIS SOBRE A ENSAN - - - - A ENSAN consiste numa estratégia que procura combater a fome e a pobreza por meio da promoção do crescimento econômico e do desenvolvimento social. A SAN, então, é um meio para combater a fome e a pobreza, por um lado, e promover o crescimento econômico e o desenvolvimento social, por outro. o Mas a história mostra que fome e pobreza convivem perfeitamente com elevadas taxas de crescimento econômico e desenvolvimento social SEM EQUIDADE. O problema da diversidade cultural, implícito no conceito de SAN e sua articulação com o DHAA e a Soberania Alimentar, contudo, não é contemplado no Documento. O Documento se refere à necessidade de se ter “atenção [aos] aspectos de índole cultural, remetendo o leitor ao ANEXO I, mas nada ou quase na se encontra lá sobre esta questão. o Evidenciar este problema é trazer à luz uma questão fundamental, que é a legitimação do Estado Angolano e seus correspondentes: Território Nacional e Povo Angolano. Penso que esta legitimação está praticamente completa no plano internacional. O mesmo não pode ser dito no que respeita ao plano interno. Este aspecto deve ser objeto de reflexão por dois motivos: Porque, se por um lado a promoção da SAN requer o respeito à diversidade cultural, por outro a história da consolidação dos territórios nacionais é também a história da injustiça e da violência. Porque a efetividade das políticas de SAN depende da construção de um arranjo institucional que envolve intersetorialidade entre diferentes níveis de governo e entre diferentes setores da sociedade, o que inclui as comunidades; envolve descentralização administrativa e financeira; e envolve participação social. E a realização de um diagnóstico deficitário nestas duas áreas – cultura e meio ambiente e seus desdobramentos em termos da construção de uma leitura dos quadros político-institucionais vigentes regional e localmente – associada à proposição de uma estratégia que aponta para um caminho único: aumento da produção e fortalecimento das redes mercantis de troca, embora entremeadas por programas de saúde, educação e assistência social, muito provavelmente se desdobrará em conflitos culturais, dificuldades na implementação de políticas e programas e no enfraquecimento da estratégia como um todo. Falta ao Diagnóstico uma análise da relação entre meio ambiente – manifestações culturais – formas predominantes de reprodução material e social das famílias – quadros político-institucionais particulares. O problema da sustentabilidade ambiental é também pouco tratado no Documento, a não ser de forma pontual, como no caso do setor de pescas. o Se não há dúvidas com relação aos objetivos concernentes ao aumento da produção agropecuária e pesqueira, Estes fatores colocam interrogações não desprezíveis em relação à eficácia da própria estratégia, correndo-se o sério risco dela se tornar não mais que uma carta de boas intenções, já que: o O diagnóstico contido no documento, em nenhum momento, faz menção à estrutura político-administrativa angolana e seu respectivo quadro político-institucional. o A análise deste quadro é fundamental não apenas no que respeita à concepção e formulação de estratégias, como a ENSAN, mas também por conta da 18 implementação, avaliação e monitoramento dessas estratégias, bem como de suas políticas e programas. - Embora haja a submissão dos objetivos de uma estratégia de SAN às diferentes dimensões para as quais estes objetivos apontam (disponibilidade, acesso, consumo e utilização dos alimentos e estabilidade na oferta), a análise do Documento aponta para o fato de que a dimensão da disponibilidade dos alimentos é claramente predominante em meio às demais dimensões. - As conseqüências disto são que a garantia dos aspectos culturais e ambientais relacionados com os objetivos da SAN quase não são percebidos em meio à estratégia concebida, colocando em risco a diversidade cultural e a sustentabilidade ambiental dos ecossistemas angolanos. - O Documento ressalta o compromisso do Estado angolano no cumprimento de suas obrigações no que respeita ao DHAA, tendo em conta a Soberania Alimentar como um de seus princípios. o Opta-se por perseguir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), tendo suas metas como parâmetro para o alcance dos objetivos da SAN. o Dadas as necessidades nacionais, estas metas parecem um tanto quanto modestas e em desacordo com o objetivo geral da estratégia: “Garantir que todos os angolanos tenham a todo o momento, disponibilidade de alimentos com qualidade e variedade adequada, acesso físico e económico aos alimentos necessários, fundamentalmente através da produção interna e que as pessoas possam ser capazes de utilizar os alimentos, de modo a assegurar que cada membro receba e absorva os nutrientes adequados às suas necessidades, para que tenha uma vida activa e saudável, que lhe permita contribuir para o desenvolvimento humano, económico e social de Angola”. - O controle da inflação e o monitoramento das contas externas, em consonância com as exigências das agências internacionais (Banco Mundial, OMC), dá o tom, por assim dizer, do leque de políticas públicas emanadas do Estado Nacional. - Leva em conta a natureza “pluridisciplinar” da SAN como objetivo de política pública, o que implica a intersetorialidade como princípio norteador das políticas de SAN. - A intersetorialidade que permeia do Documento leva em conta os setores de governo no nível central (na concepção, formulação e implementação da estratégia). o Os setores envolvidos são: i) Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural; ii) Ministério da Assistência e Reinserção Social; ii) Ministério do Comércio; iv) Ministério da Educação; v) Ministério da Família e Promoção da Mulher; vi) Ministério das Pescas; vii) Ministério do Planeamento, viii) Ministério da Saúde e ix) Ministério Das Finanças e x) Ministério do Urbanismo e Ambiente. - A ENSAN prevê também a integração de ações entre diferentes níveis de governo – comunal, municipal e nacional, mas: o Não considera o nível provincial o Não diz como esta integração ocorrerá - Não fica claro também como se dará a integração entre setores da sociedade: Estado, sociedade civil organizada (ONGs e comunidades) e setor produtivo. Está previsto a constituição do CONSAN e da RNSAN com objetivos gerais e funções estabelecidas. O como se dará tal constituição está ainda em aberto. 19 ANÁLISE DAS POLÍTICAS E PROGRAMAS DO PNSAN - - - - A ENSAN, que possui “5 anos de vigência”, se vale da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC) de 1966 e da Cimeira Mundial da Alimentação (CMA), realizada em Roma em Novembro de 1996, tomando o conceito de SAN ali consagrado, tornando-o objetivo de políticas públicas. Neste sentido, a ENSAN evoca o DHAA e o princípio da Soberania Alimentar como fundamentais na sua construção. A ENSAN também percebe a SAN como tema “pluridisciplinar”, considerando quatro dimensões: o “disponibilidade de alimentos”: a disponibilidade de alimentos de boa qualidade sanitária e nutricional o “acesso aos alimentos”: acessibilidade para as populações, incluindo os mais vulneráveis o “consumo e utilização dos alimentos”: utilização e consumo óptimo dos alimentos pelos indivíduos o “estabilidade”: estabilidade do aprovisionamento no espaço e no tempo Seu objetivo geral é «assegurar o acesso permanente da população a uma alimentação suficiente, saudável e nutritiva, sem prejuízo para a satisfação de outras necessidades básicas» Seus objetivos específicos e desdobramentos em termos de políticas propostas, segundo nível de intervenção 3 são, considerando o período 2009-2013: Objetivos Nível Estrutural Específicos Aumentar e Facilitar concessões de terra arável diversificar a e cultivável à famílias camponeses; produção agro- Diversificação das culturas pecuária e alimentares, aposta na agricultura de regadio, mecanização e fomento pesqueira da tracção animal nas actividades de lavoura; Produção, multiplicação e disseminação de sementes de variedades melhoradas; Melhoramento da assistência técnica aos produtores; Extensão do repovoamento e fomento pecuário no país 3 Nível Específico Nível Local Incentivar a produção e o processamento de mel Reforço no controle da actividade pesqueira; Reforçar o programa nacional de iodização do sal; Fomento da produção avícola; Recuperação dos recursos pesqueiros degradados; Reactivação dos estaleiros; Incentivar a produção dos semi-preparados e semicozinhados; Incentivar a agricultura periurbana e/ou hortas familiares; Construção de Centros Integrados para a pesca artesanal em todo o litoral; Politicas de âmbito estrutural extensivas a todo território nacional; Politicas de âmbito específico, direccionadas para se proceder a um melhor aproveitamento dos recursos regionais e sectoriais com vista a diversificação de actividades produtivas e prever inclusivamente, a dinamização de acções com carácter de emergência, para em situações de crise, resolver problemas pontuais de fome e desnutrição; Politicas de âmbito local, com carácter restrito para melhorar a auto sustentabilidade das populações dentro dos municípios e comunas e integra-las num sistema nacional de segurança alimentar e nutricional, direccionadas para salvaguardar o acesso, utilização, consumo, educação alimentar e o bom estado nutricional das populações, tendo em atenção aspectos de índole cultural. 20 Criação de reservas alimentares e estabilização de preços de compra e venda; Escoamento e valorização da produção agrícola e pesqueira; Reactivação da agro-indústria (moagens, silos, matadouros, aviários, armazéns, sistemas de frio e electricidade); Recuperação e modernização do sector produtivo marinho; Reforçar as condições para a conservação do produto da pesca nas embarcações; Reforço da adesão ao movimento associativo e cooperativo; Facilidade de acesso ao crédito bancário e escoamento da produção; Criação e expansão da rede comercial; Reactivação da indústria pesqueira (docas, sistemas de frio, electricidade e armazéns); Gerir melhor o uso dos recursos e diversificar as técnicas e métodos de produção (aquicultura, espécies exóticas e biotecnologia Reabilitação das redes viárias secundária e terciária degradadas e/ou construção de novas estradas; Ampliação da rede comercial retalhista e grossista; Relançamento de feiras agropecuárias em todo o país Reabilitação e/ou construção de laboratórios, centros de documentação (campos de experimentação, logística e serviços de apoio) dos Institutos de Investigação (Agronómica, Veterinária, Pescas); Reforço e formação de pessoal técnico e científico por especialidades Contribuir para a melhoria do bemestar das populações, no que respeita a redução dos níveis de sub nutrição/fome; Valorizar o capital humano e a capacitação dos serviços de unidades pesqueiras produtivas; Reforçar o sistema de gestão Fabrico/arranjo das artes de pesca; Desenvolvimento e consolidação da aquicultura em moldes sustentabilidade; Desenvolvimento ao acesso fácil a alevins e juvenis saudáveis e de qualidade em condições de preços razoáveis, destinados ao crescimento e engorda; Reforço para o desenvolvimento da aquicultura comunal com características artesanais; Melhoramento dos sistemas tradicionais de conservação de pescado assim como as boas práticas no manuseamento e processamento das capturas Fornecimento de insumos e instrumentos de trabalho, incluindo juntas de bois; Fortalecimento e expansão de programas de colecção de germoplasma de grãos, tubérculos, frutos, hortícolas e espécies nativas ameaçadas; Concentração nos estudos epidemiológicos, na experimentação de tecnologias adaptáveis e no controlo da qualidade e fiscalização dos alimentos de origem animal e vegetal 21 integrado das zonas costeiras para definição das regras a que se deve sujeitar a ocupação litoral (urbanização, turismo, actividades de lazer, redes viárias, circulação marítima costeira), incluindo uma Carta de Riscos; Plano de Gestão e tratamento de Resíduos agroquímicos e agrotóxicos; Incentivar a investigação científica através da construção de laboratórios, campos de experimentação, logística e serviços de apoio aos institutos Garantir a disponibilidade e estabilidade da oferta de produtos alimentares Melhorar condições acesso alimentos Fomento de culturas não Criação de Centrais de Criação de feiras do tradicionais nas diversas regiões Distribuição de Produtos Produtor e mercados locais agro-ecológicas; Agrícolas Melhorar a circulação de pessoas e bens e a maior interacção entre a cidade e o campo as Promover o desenvolvimento de económico e humano através do aos encorajamento ao investimento e à Construir, apetrechar e alargar as redes de instituições de atendimento a grupos vulneráveis formação Promover a implementação de projectos específicos de educação e formação profissional para os grupos vulneráveis Diminuir os níveis Promover campanhas de educação Sensibilizar as comunidades Promover campanhas de sobre hábitos e práticas educação dirigidas as de desnutrição da dirigidas as famílias Promover um sistema financeiro alimentares saudáveis famílias ao nível local população que apóia as famílias pobres Criar implementar e Criação de um dispositivo de seguimento da vulnerabilidade e insegurança alimentar; Apoiar e expandir o programa de apoio social e em especial o da merenda escolar Elaboração de directrizes nacionais sobre a alimentação de bebés e crianças e para as pessoas vivendo com VIH/SIDA Suplementação com micro nutrientes e fortificação de alimentos Realização de acções de vigilância nutricional no seio das comunidades Melhorar o ambiente escolar em termos de condições higiénicas e sanitárias Revitalização dos sistemas de saúde municipais Apoiar as comunidades para a construção de latrinas melhoradas 22 sistemas nacionais e locais de alerta rápido e sistemas de monitorização da SAN Garantir a segurança sanitária e a qualidade dos alimentos e da água para consumo Criação de um Sistema Nacional de Alerta Rápido para a Segurança Alimentar e de Vigilância Nutricional; Reforço da capacidade interventiva das associações de defesa do consumidor; Proporcionar saneamento básico Criação da capacidade técnica material e científica para a elaboração das normas alimentares Implementação do sistema HACCP Reforço da capacidade interventiva dos órgãos de inspecção e fiscalização Criação de bancos regionais de alimentos; Mapeamento das zonas de risco Promover campanhas de informação aos consumidores sobre a utilização e consumo de alimentos Distribuir água potável as famílias Implementação das normas higio-sanitária dos produtos da pesca nos barcos e estabelecimentos; Distribuir água potável as famílias em nível local Reforçar os sistemas de perfuração para a captação da água no meio rural e periferia Quadro institucional-legal Coordenação CONSAN RNSAN Legislação Lei de terras órgão máximo, de natureza consultiva, em matéria de segurança alimentar, e instância de concertação e negociação política, ao qual competirá, no âmbito da implementação do ENSAN, apreciar o Plano de Acção Anual, mobilizar financiamento, acompanhar os progressos realizados, assim como, o funcionamento da rede de RNSAN; funcionará como uma estrutura de concertação e articulação da execução do PASAN nos níveis comunal, municipal e nacional, com vista a assessorar o CONSAN no processo de planeamento, execução, seguimento e avaliação do Plano de acção, e contribuir para a melhoria da eficiência e eficácia do mesmo junto das populações alvo, através da coordenação, articulação, seguimento e avaliação das actividades nos diferentes níveis de execução. Estabelece mecanismos que permitirão a segurança da posse e uso da terra, com destaque para o sector familiar Estabelece mecanismos para protecção do consumidor Lei da Defesa do Consumidor Lei das sementes Estabelece o controlo e fiscalização da produção, importação e exportação e mudas em todo o país Lei de Recursos Assegurar o uso racional e sustentável dos recursos biológicos aquáticos, do ambiente costeiro e ribeirinho Biológicos Aquáticos Promoção do uso sustentável das águas Lei das águas Ministério do Planejamento. Redução em 50% da proporção da população com menos Estratégia de de 1 dólar/dia, até 2015. Combate à Pobreza Ministério do Comércio. Age sobre a estrutura dos preços relativos, volume das Politica importações e das exportações de bens e serviços e sobre a actividade comercial em comercial geral 23 Politica Nacional de Saúde Politica de desminagem dirigida Ministério da Saúde. Visa assegurar uma vida saudável para todos os angolanos Ministério da Assistência Social. Age de forma a facilitar o assentamento das populações e a circulação de pessoas e bens para reduzir a vulnerabilidade social e gerar a sua auto sustentabilidade Quadro 5 – Politicas que contribuem para a implementação da SAN em Angola POLITICAS ORGANISMO RESPONSÁVEL OBJECTIVO Estratégia de Combate à Pobreza Ministério do Planeamento Redução em 50% da proporção da população com menos de 1 dólar/dia, até 2015. Politica comercial Ministério do Comércio Politica Nacional de Saúde Ministério da Saúde Age sobre a estrutura dos preços relativos, volume das importações e das exportações de bens e serviços e sobre a actividade comercial em geral Visa assegurar uma vida saudável para todos os angolanos Politica de desminagem dirigida Ministério da Assistência e Reinserção Social De forma a facilitar a o assentamento das populações e a circulação de pessoas e bens para reduzir a vulnerabilidade social e gerar a sua auto sustentabilidade Fonte: Quadro legislativo e institucional Quadro 6 – Instrumentos que concorrem para a implementação da SAN em Angola Lei de terras Estabelece mecanismos que permitirão a segurança da posse e uso da terra, com destaque para o sector familiar Lei da Defesa do Consumidor Estabelece mecanismos para protecção do consumidor Estabelece o controlo e fiscalização da produção, importação e exportação e mudas em todo o país Lei de Recursos Biológicos Assegurar o uso racional e sustentável dos recursos biológicos aquáticos, do ambiente costeiro e ribeirinho Aquáticos Promoção do uso sustentável das águas Lei das águas Fonte: Quadro legislativo e institucional Lei das sementes Princípios As linhas de orientação da ENSAN, terão como princípios fundamentais, as políticas previstas, objectivo geral e específicos, os eixos estratégicos e o plano de acção, regendo-se ainda pelos seguintes princípios básicos: • Universalidade, equidade e integralidade; • Promoção da dignidade da pessoa, • Participação, transparência e prestação de contas • Transversalidade e multisectorialidade 24