Roselle adega
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Roselle adega
Perfil: O Judiciário reconstrói a trajetória do desembargador Francisco May Filho ESMESC realiza seminário sobre propriedade intelectual e alta tecnologia Página 11 Páginas 8 e 9 TJ/SC amplia estrutura da Justiça de SC Campanha da AMC quer tornar mais ágil tramitação processual Bruna Correa/Assessoria de Imprensa do TJSC Expansão Ana Paula Gonçalves JORNAL MENSAL DA ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS CATARINENSES • ANO V - Nº 50 - JULHO DE 2010 • WWW.AMC.ORG.BR Páginas 2 e 13 ANIVERSÁRIO Escola da Magistratura completa 24 anos Página 10 ENCONTRO Jantar reúne magistratura em Chapecó Página 6 EVENTO AMC promove Festa Junina na Capital Página 12 Volume de processos que dão entrada na Justiça preocupa magistrados, que reivindicam a modernização dos instrumentos do Poder Judiciário A Diretoria de Projetos Especiais da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) lançará, em breve, a “Campanha de Modernização dos Instrumentos do Poder Judiciário”. A iniciativa visa pro- mover debates com os magistrados sobre os novos códigos de processo (Civil e Penal) e abordar três aspectos que estão intimamente ligados com o emperramento do trabalho no Poder Judiciário: a ausên- cia de modulação de conduta das decisões judiciais, a burocracia judiciária e a falta de estabilidade jurídica. Os seminários, que serão realizados nas coordenadorias da AMC, têm como objetivo co- lher propostas e sugestões, as quais serão apresentadas e debatidas posteriormente em congresso que reunirá membros da classe. Página 4 2 Opinião JULHO DE 2010 O JUDICIÁRIO Editorial Justiça de SC: expansão com responsabilidade Cartas levam em conta a média anual de processos iniciados por vara e entrância, a população, a taxa de urbanização e aspectos relacionados ao desenvolvimento local - quantitativo de veículos e licenças para construir -, foi identificada a necessidade de implantação de 43 novas varas, a serem instaladas prioritariamente em, no máximo, quatro anos. Tem razão o desembargador Lédio Rosa ao classificar o momento como “histórico, em que se trata do futuro do Judiciário com profissionalismo, a partir de um planejamento estratégico, sem espaço para decisões de caráter pessoal”. O trabalho foi calcado em estudos de cenários, os quais expressam períodos pretéritos (1997-2006, em um primeiro levantamento; 2004-2008, no apanhado seguinte) e apresen- “O Tribunal de Justiça busca ajustar sua estrutura aos anseios e à procura da própria sociedade, esta que, doravante, passará a orientar o tamanho e a disponibilidade de julgadores em cada uma das 111 comarcas instaladas” tam projeções da demanda judicial até 2018. Com esta medida, justifica o presidente do TJ, desembargador Trindade dos Santos, “o Tribunal de Justiça busca ajustar sua estrutura aos anseios e à procura da própria sociedade, esta que, doravante, passará a orientar o tamanho e a disponibilidade de julgadores em cada uma das 111 comarcas instaladas”. As propostas já haviam sido aprovadas anteriormente pelo Conselho de Gestão, Modernização Judiciária, de Políticas Públicas e Institucionais e pela Comissão Permanente de Divisão e Organização Judiciárias. Elas agora seguirão para análise da Assembléia Legislativa. Evidentemente, tal implemento necessitou de uma readequação do índice de repasse do duodécimo ao Judiciário, o qual, todavia, já foi encaminhado pelo Executivo Estadual. Diante de tão alvissareira notícia, a Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) vem a público para externar a sua satisfação e cumprimentar todos os integrantes da mais alta Corte de Justiça do nosso Estado por esse grandioso gesto em prol da cidadania catarinense. Tanto quanto a própria sociedade, o Poder Judiciário precisa evoluir. Há demanda demais para juízes e servidores de menos. Por essa razão, a Justiça precisa ampliar suas estruturas. Quer nos parecer que o Tribunal de Justiça catarinense compreendeu as urgências do mundo contemporâneo e agiu em alto estilo: promoveu a sua própria expansão com inteligência, profissionalismo, planejamento e, acima de tudo, com responsabilidade. Memória Arquivo AMC O Judiciário catarinense acaba de dar mais um importante passo para agilizar a prestação jurisdicional em nosso Estado. Notícia postada no site do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ/SC) informa que, no dia 30 de junho, o Pleno do TJ, em sessão extraordinária, aprovou, por maioria de votos, o plano de expansão do Poder Judiciário de Santa Catarina, que prevê – com base em um inédito estudo elaborado por sua Assessoria de Planejamento (Asplan) – a instalação de 43 novas varas e a criação de mais 10 cargos de desembargador e seis cargos de juiz de Direito de 2º Grau. As mudanças levam em consideração minuciosa análise de cenários desenvolvida por técnicos da instituição. Com critérios técnicos, que As cartas devem ser enviadas para o endereço eletrônico: [email protected] Fica o registro da felicidade que tive ao ser contemplado com duas entrevistas (sucessivas, salvo engano) com dois dos magistrados que participaram da história da Comarca de Taió e que nos brindaram com suas presença na sessão de comemoração dos 50 anos da comarca no ano passado. O DR. VLADIMIR D’IVANENKO e a DRA. ANA MARIA LEAL MENDES, aquele o primeiro Juiz da Comarca de Taió e esta a primeira magistrada catarinense. • Renato Guilherme Gomes Cunha, Comarca de Taió Registro de cerimônia durante o II Seminário de Processo Civil e Penal, realizado nos dias 28 e 29 de março de 1996, na cidade de Blumenau Diretoria Executiva Rua dos Bambus, 116 - Itacorubi, Florianópolis/SC. CEP: 88034-570 Telefone: (48) 3231.3006 www.amc.org.br | [email protected] Presidente - juiz Paulo Ricardo Bruschi 1º vice-pres. - juiz Sérgio Luiz Junkes 2º vice-pres. - juiz Irio Grolli Ano V, nº 50 - Julho/2010 Tiragem: 3 mil exemplares Impressão: Gráfica Rio Sul Distribuição Gratuita Tesoureiro - des. José Antônio Torres Marques 1º Tes. - juiz Luiz Antonio Zanini Fornerolli Jornalista responsável Fabrício Severino/ SC01061-JP Sec. Geral - juiz Jefferson Zanini 1º sec. - des. subst. Túlio José Moura Pinheiro Coordenação Editorial Desembargador Edson Nelson Ubaldo Produção e Edição Fabrício Severino e Ana Paula Gonçalves Colaboração Assessoria de imprensa do TJ/SC, AMB e Conjur Projeto gráfico Amanda Mariano Diagramação Ana Paula Gonçalves Artigos O JUDICIÁRIO JULHO DE 2010 3 Marcílio, um autêntico varão de Plutarco João Alfredo Medeiros Vieira * N esta “caliginosa noite ética”, a qual – como afirmava Pietro Prini – “encobre a humanidade”, o fulgor, ao longe, do grande candelabro, tocava e deslumbrava a alma. No ano de 1964, já com 35 anos e pós-graduado em Filosofia, ao subir, primeira vez, os degraus da vetusta Faculdade de Direito da Rua Esteves Júnior, para me submeter ao Vestibular, conheci o professor Marcílio Medeiros. Com ele tive breve diálogo enquanto caminhávamos e quando me perguntou, com aquele ar amável, austero e bondoso “João Alfredo, filho do Professor Alfredo Xavier Vieira, não é? Você sabe que ele foi meu professor no Catarinense? Lá por 1925...” “ – Sim, senhor. Papai sempre falava, mencionando o seu nome, o do Ministro Luís Gallotti, o Dr. Aderbal Ramos da Silva, o do Dr. Ivo Silveira, enfim, de muitos ex-alunos...” – Ele sorriu, bateu no meu ombro e disse: “Eu me lembro que vocês moravam ali na Almirante Lamego...” – Interrompi-o: “É sim senhor Desembargador Marcílio, eu nasci naquela rua, em 1929...” – Ah, é?” – sorriu de novo, amável. Tão austero e correto era o Professor Marcílio, quando lecionava “Introdução à Ciência do Direito”, que jamais concedia marca de frequência ao aluno que não estivesse presente na sala de aula. Aliás, um ou outro professor, por tolerância ou be- nevolência, fazia-o, para gáudio coletivo. E ninguém ousava pedilo ao respeitável mestre. Exigia pontualidade. Como eu, casado havia dez anos, e à época simples professor da Escola da Marinha e do meu modesto Curso Vieira de Preparatórios, auferindo parcos vencimentos, morando no Continente, estivesse arrostando enorme dificuldade ante a doença da minha saudosa primeira esposa, tendo de conciliar as aulas de Direito inicialmente no período matutino – depois mudado –, com o meu magistério secundário, via-me tendo faltas que me impediam de passar do 1º para o 2º ano. Após refletir muito, ora hesitante, ora resoluto, fui procurar o eminente ProfessorDesembargador, por sinal no Tribunal de Justiça, então situado na esquina na Praça Pereira Oliveira, ao lado da Assembléia Legislativa. Achava-se togado, num intervalo de sessão na Câmara Criminal, andando, pausadamente, a ler um texto dos autos, no grande corredor do centro. Interrompi-o, audacioso, atrevido, eis que ninguém ousaria fazê-lo senão em caso extremo... Olhou-me primeiro sério, formal, distante, quiçá estarrecido, ou aborrecido. Enganei-me, as pernas tremendo... Logo depois, disse: “Oh, você, João Alfredo?” “Como vai?”... Certamente pálido, voz rouquenha e abafada, expliquei-lhe tudo, com simplicidade e franqueza, sobretudo no tangente à enfermidade de minha consorte e os contratempos mencionados. Pedi-lhe que abonasse as faltas. Sem titubear, sério e firme, respondeu-me: “Bem, você é um rapaz estudioso, correto, eu soube das suas dificuldades familiares. Diante disso, vou abrir uma exceção para você, ouviu? Mas procure não faltar mais.” E assim ele me concedeu as marcas de frequência faltantes, se não me falha a memória, três, a fim de que pudesse passar de ano... Em 1971 era ele Presidente do Tribunal de Justiça do Estado quando me inscrevi para o concurso de Juiz Substituto. No meu livro MEMORIAL DE CINQUENTA E SESSENTA, lançado recentemente, (33ª obra minha) relato aquela fase: “O ‘exame psicotécnico’, naquele tempo, era realizado pelos psicólogos Lydio Martinho Callado (meu ex-colega na UDESC, exdiretor da Faculdade de Educação) e Roberto Caetano Castiglia, então Coronel do Exército, natural de Porto Alegre, aqui residente, e já renomado profissional de sua classe, a de psicólogo.” “Tendo em conta que em 1968, quando me submeti a concurso para Professor de Filosofia e Psicologia da ESAG (UDESC), havia concorrido comigo o Dr. Castiglia, bem assim o brilhante mestre Tito Lívio de Bem Menezes, sendo eu o primeiro classificado, e sabendo que o mesmo Castiglia se insurgira, recorrendo da decisão da Banca Examinadora , assim como rebatendo, criticando, tal resultado, resolvi, impetrar, junto ao Tribunal de Justiça, então presidido pelo desembar- gador Marcílio Medeiros, uma ‘Exceção de Suspeição’ contra a designação de Castiglia para presidente da banca de psicólogos. O desembargador Marcílio me convocou a seu gabinete e perguntou-me se conhecia algum outro. Respondi-lhe que só conhecia o Prof. Lydio Martinho Callado. Deu provimento à minha ‘Exceção de Suspeição’ e nomeou o Prof Lydio Callado. No final de 1971.” “Foi quando me submeti e fui aprovado – consta que em primeiro lugar – para o cargo de juiz substituto.” Após mais de uma década judicando em várias comarcas – Joaçaba, Campos Novos, Capinzal, Tangará, Tijucas, São João Batista – na qualidade de substituto, fui promovido por merecimento em 1978 para Imaruí, e posteriormente Itaiópolis, Ibirama e Videira, aposentando-me, por razões de falta de saúde (cardiopatia e diabetes), em 1982. Antes de requerer aposentadoria fui visitar o desembargador Marcílio, o qual, após ouvir-me, perguntou: “Você já refletiu bem sobre esse pedido? Se a sua saúde melhorar, você pode até pensar...” – fez uma pausa, olhou-me fixamente e prosseguiu: “... pode até pensar em maior avanço na carreira!” Parecia referir-se à instância superior, o próprio Tribunal de Justiça, no qual é hoje presidido dignamente por um colega do meu tempo de concurso, José Trindade dos Santos. Após a visita ao saudoso desembargador Marcílio, fui, por igual, aos gabinetes da desembargadora Teresa Grisólia Tang e do desembargador Eugênio Trompowsky Taulois Filho, pois ambos votavam na minha modesta pessoa constantemente, para promoções, e além disso eram amigos de meus irmãos José (falecido) e Francisco Xavier, que, por sinal, viria a ser, mais tarde presidente da Colenda Corte. Houve época, anos setenta/ oitenta, em que era unânime a opinião segundo a qual ninguém melhor do nosso Estado representá-lo-ia no então Tribunal Federal de Recursos, atualmente Superior Tribunal de Justiça. E quando venho a saber, agora, que um sobrinho meu, o desembargador Paulo Vieira Sanseverino, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, foi o mais votado (unânimes 27 votos) para a vaga aberta naquele alto Pretório brasileiro, o STJ, fico a meditar sobre alguém, jovem ainda, que não destoaria, no sodalício brasiliense, do padrão de conduta ética e de cultura jurídica do insuplantado e notável criminalista da Justiça catarinense, Marcílio Medeiros!... Marcílio João da Silva Medeiros – que dizia ser aparentado – parece que primo, ou primo 2º – com minha inesquecível mãe, Cidolina Medeiros Vieira (“Dona Nenen”), foi real, indubitável e inquestionavelmente, na terra catarinense, verdadeiro “Varão de Plutarco”. reito, ou em causa própria. Nessa última condição, levei o pau faz um tempo, quando dava à defesa que propus contra um executivo fiscal, proposto pela Prefeitura Municipal, de uma dívida que não era minha, mas de um parente que ocupara um imóvel meu, que deixou de pagar o débito fiscal, como caso liquidado. Escudara-me em dispositivo claro de lei, que me tranqüilizava quanto ao amparo que me dava do direito pretendido pelo Poder Público municipal. Oferecera em penhora um valor dez vezes maior que o débito, que era ínfimo na ocasião da propositura da ação, de cem reais. O oficial de justiça, depois de oferecido o bem à penhora, penhorou meu carro. Protestei ao juízo, não adiantou de nada. Não conto desdobramentos do fato quando fui alienar o carro. Não me lembrara que estava penhorado, e, por isso, tive de andar de Herodes a Pilatos, a bem de livrá-lo do ônus que lhe pesava. Feita a defesa, não me preocupei mais com o executivo, sabendo-me garantido pela lei, que previa que, depois de cinco anos do débito fiscal, não sendo o devedor citado ou notificado do crédito, este extingue-se. Ou prescreve. Continuei alimentando essa ilusão, embora escorado na lei, quando sou inadvertidamente informado de que fora julgada procedente a ação. A dívida a essa altura não era mais de cem reais, mas subira a mais de mil reais. Quando fui recorrer, conversei com a advogada da Prefeitura, que me desaconselhou a fazê-lo, aludindo a uma jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que passara a entender, contra o entendimento da lei, que, quando a ação ingressa em juízo, antes do prazo prescritivo, e que o devedor, por falta de iniciativa do juízo, não foi citado ou não tomou conhecimento da ação em curso, por outra qualquer forma, não se opera esse efeito. Recorrendo, ensejaria que aumentasse ainda mais meu débito, que de cem passara a mil, com o risco de, julgado o recurso pelo não conhecimento ou pelo desprovimento, estaria eu, provavelmente, envolvido com uma dívida bem maior. Convencido de minhas razões, aludi que a lei me dava sustentação. O débito fiscal, não cobrado em cinco anos ou não dado conhecimento ao devedor de sua existência, prescreve. - Não é mais esse entendimento o dominante. - disse ela. A jurisprudência, no afã de proteger o débito fiscal, mudara o entendimento da lei. - Então a lei não vale mais nada? – retruquei-lhe. - Não vale mais. – disse sorrindo. Desfecho dessa história. Liquidei o débito fiscal, temente de que, desprovido o recurso, tivesse que pagar não mais mil reais, mas quem sabe lá quanto? A jurisprudência defendeu o credor. O devedor que se danasse. *Juiz de Direito aposentado, professor e escritor Os descaminhos da jurisprudência Hamilton Alves * B em recentemente vivi um problema seríssimo como advogado, profissão que exerço só esporadicamente, quando me solicitam para exercê-la, como vem de ocorrer há pouco com um amigo, que me pediu para defendê-lo numa causa civil, sob a alegação de que advogara num outro feito ligado a ela e que ninguém melhor do que eu conhecia tão bem a questão. Repiquei-lhe que lhe seria mais útil como testemunha do que como advogado. Mas mesmo com esse argumento insistiu que o defendesse. Fazer o que? Advogo ainda em favor de uma pessoa pobre, sem condições de contratar um profissional do di- * JUIZ APOSENTADO 4 Associativas JULHO DE 2010 O JUDICIÁRIO AMC lança campanha para agilizar Justiça Ana Paula Gonçalves Lançamento de livro Idéia é realizar seminários em todas as coordenadorias regionais da AMC, para colher sugestões que serão debatidas no Congresso Estadual da classe Justiça em números Dados extraídos do Sistema de Automação Judiciária – SAJ –, software utilizado em Santa Catarina, para gerenciamento de processos e programas de pesquisa jurisprudencial, revelam a necessidade de novos instrumentos ou ferramentas para servidores e magistrados. A colheita dos números ateve-se a instituições bancárias, operadoras de te- lefonia e executivos fiscais, áreas onde existem os maiores volumes de demandas. Santa Catarina tem atualmente 1.971.998 (um milhão, novecentos e setenta e um mil e novecentos e noventa e oito) processos, sendo 675.930 (seiscentos e setenta e cinco mil e novecentos e trinta) executivos fiscais, 112.548 (cento e doze mil e quinhentos e quarenta e oito) processos contra bancos e 51.695 (cinquenta e um mil e seiscentos e noventa e cinco) processos contra operadoras de telefonia. Somente nos últimos três anos 254.323 (duzentos e cinquenta e quatro mil e trezentos e vinte e três) processos foram movidos contra instituições financeiras e empresas de telefonia. “Isso, sem dúvida, indica que as decisões não estão servindo para mudar a conduta daquelas pessoas jurídicas, pois, milhares de clientes continuam a ser obrigados a socorrerem-se do Judiciário para concretizarem seus direitos. Numa sociedade que tenta viver em paz, era de se esperar que tais empresas, ao longo dos anos e pelo elevado número de demandas, fizessem ajustes necessários respeitando uma ética mínima de procedimento, não, simplesmente, continuar atuando ao arrepio da lei e das reiteradas decisões judiciais”, destaca o juiz Amaral e Silva. As sugestões já podem ser enviadas para o email esas6581@ tjsc.jus.br e em breve serão disponibilizadas para os associados. Excesso de processos tem prejudicado o bom andamento dos trabalhos no Poder Judiciário em todo país O lançamento do livro Juizados Especiais da Fazenda Pública - Comentários à Lei 12.153, de 22/12/2009, de autoria do desembargador Joel Dias Figueira Júnior, foi realizado na sede da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), no dia 30 de junho. Cerca de 150 convidados, entre membros do Tribunal de Justiça, amigos e familiares compareceram ao evento para prestigiar o magistrado. Os representantes da Editora Revista dos Tribunais estiveram presentes para comercializar a obra, que receberia o autógrafo do desembargador. Eduardo Nascimento/Assessoria de Imprensa do TJSC O juiz Emanuel Schenkel do Amaral e Silva, coordenador de projetos especiais da AMC, considera que a magistratura não só tem legitimidade como também possui a obrigação de participar dos debates que envolvem mudanças na legislação do país. “A nossa prática diária autoriza demostrar o que é necessário ou não. É a nossa ferramenta do diaa-dia e, ao que parece, estamos alijados de uma discussão efetiva sobre as propostas de mudança. Não podemos aceitar passivamente propostas de outros segmentos que não atendam aos interesses da justiça e da efeti- vidade. Isso deve ficar bem claro para os nossos representantes na Câmara Federal”, destaca o magistrado. Segundo Emanuel, já se identifica nos textos legislativos alguns avanços e outros possíveis retrocessos. Entre os exemplos de situações positivas estão a unificação dos prazos, a possibilidade de intimação por advogado, entre outras. “Por outro lado, extingue-se o julgamento de improcedência liminar e não existe referência, por ora, a problemas como a necessidade de arquivamento de processos sem importância histórica. Já o Código de Processo Penal, em princípio, parte de uma visão extremamente garantista, que no nosso modesto entendimento, não teria razão de ser, já que na prática, apenas burocratiza ainda mais os procedimentos, engessando o juiz no seu trabalho diário. Deste modo, seremos os mais afetados caso novos instrumentos processuais não sejam criados e outros extintos”, comenta. Divulgação A Diretoria de Projetos Especiais da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) lançará, em breve, a “Campanha de Modernização dos Instrumentos do Poder Judiciário”. A iniciativa visa promover debates com os magistrados sobre os novos códigos de processo (Civil e Penal) e abordar três aspectos que estão intimamente ligados com o emperramento do trabalho no Poder Judiciário: a ausência de modulação de conduta das decisões judiciais, a burocracia judiciária e a falta de estabilidade jurídica. Os seminários, que serão realizados nas coordenadorias da AMC, têm como objetivo colher propostas e sugestões, as quais serão apresentadas e debatidas posteriormente em congresso que reunirá membros da classe. Objetivo do grupo é arrecadar fundos para novos projetos sociais Grupo FORMA reúne-se para planejar ações do segundo semestre de 2010 O Grupo de Atenção, Formação e Apoio ao Adolescente Institucionalizado (Forma) reuniu-se, no dia 16 de junho nas dependências da Corregedoria-Geral da Justiça (CGJ), em Florianópolis, para traçar as metas para o segundo semestre de 2010. O grupo planeja a realização de uma feijoada beneficente, no dia 31 de julho, na Sede Balneária da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), a fim de levantar fundos para suas atividades. Segundo a presidente do Forma, Cristina Lacerda Prazeres, nesses quatro anos de existência os trabalhos vêm dando ótimos resultados. Recentemente, um dos adolescentes acompanhados pelo grupo foi adotado por uma família da região. Por ter completado 18 anos, ele teria que deixar o abrigo onde residia. “Não tinha para onde ir, agora certamente terá um bom rumo na vida”, manifestou Cristina. Para ser assistido pelo Forma é preciso demonstrar interesse, dedicação e aptidão. Uma jovem acompanhada demostrou esses requisitos e obteve um grande auxílio: está na 6ª fase do curso de Medicina, e tem seus estudos universitários pagos pelo grupo. Criado em 2006 por voluntárias, em parceria com a Comissão Estadual Judiciária de Adoção, da CGJ, o órgão atua com o objetivo de orientar crianças e adolescentes abrigados sem possibilidades de retorno familiar ou adoção. Formaturas JULHO DE 2010 Entre as autoridades que prestigiaram o evento, em São Miguel do Oeste, estavam os presidentes da AMC e do TJ Extremo oeste forma nova turma da ESMESC Ao todo, 30 alunos receberam o certificado de conclusão do Módulo I A Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina (ESMESC) formou mais uma turma do Módulo I do Curso de Preparação à Magistratura – Extensão de São Miguel do Oeste. A solenidade de entrega dos certificados, para 30 alunos, foi realizada no dia 18 de junho, no auditório da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), em São Miguel do Oeste. Estiveram presentes, para prestigiar o evento, o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, desembargador José Trindade dos Santos, o presidente da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), juiz Paulo Ricardo Bruschi, o diretor geral da Esmesc, juiz Silvio José Fran- co, do pró-reitor da Unoesc, professor Nelson Santos Machado, a diretora de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão, Professora Ieda Margarete Oro, além dos magistrados que coordenaram o Curso, juiz Marcelo Elias Naschenweng e juiz Laudenir Fernando Petroncini. “O Curso de Preparação à magistratura direcionou os estudos e será decisivo para o êxito da conquista do concurso. Parabenizo os alunos por mais essa conquista”, destacou o juiz Silvio José Franco, falando sobre a importância da continuidade dos estudos para o sucesso profissional de cada um. Ele também agradeceu os juízes coordenadores da Extensão e os colaboradores da Universidade pela dedicação que foi decisiva no sucesso do Curso em São Mi- guel do Oeste. Já o Professor Nelson Santos Machado, falou que a ESMESC representa excelência na formação e na preparação para a Magistratura, destacando que “a formatura reuniu inúmeras personalidades da área do Direito, destacando São Miguel do Oeste no cenário jurídico catarinense”. “Unoesc e ESMESC representam qualidade, essa é a minha segunda pós-graduação. Fiz esse curso com o objetivo de me aprimorar profissionalmente e, apesar da ESMESC direcionar os conteúdos para quem pretende prestar concursos, a preparação não deixa de ser uma forma de aprofundar os conhecimentos, aproveitando-os no meu dia a dia na advocacia”, disse a advogada Jalusa Roselle Giusti, que discursou representando a turma. 5 Alunos concluem Módulo I da Escola na extensão localizada em Canoinhas O Curso de Preparação para a Magistratura da Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina (ESMESC), extensão de Canoinhas, formou mais uma turma do Módulo I. A solenidade de entrega dos certificados foi realizada, dia no dia 11 de junho, na Câmara dos Vereadores de Canoinhas. Estiveram presentes os coordenadores da Universidade do Contestado (UnC-Canoinhas), professora Célia Pereira Gomes, pró-reitora, prof. Luiz Cezar Sakr, coordenador acadêmico, Valdecir Roberto Bechel, coordenador administrativo e de planejamento, diretor geral da ESMESC, juiz Sil- vio José Franco, presidente da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), juiz Paulo Ricardo Bruschi, e juiz Celso Henrique de Castro Baptista Vallin, diretor do foro da comarca de Canoinhas que também prestigiou o evento, além de alunos e seus familiares. O diretor da ESMESC, juiz Silvio Franco, parabenizou os coordenadores da UnC-Canoinhas pelo sucesso da parceria entre as instituições que permite levar o curso ao interior do Estado. As autoridades presentes afirmaram a valiosa contribuição da ESMESC, não só no preparo daqueles que desejam candidatar-se à magistratura catarinense, bem como para o exercício de outras profissões jurídicas. Familiares prestigiam cerimônia de entrega de certificados Divulgação Divulgação O JUDICIÁRIO 6 JULHO DE 2010 Associativas O JUDICIÁRIO Cerca de 120 convidados estiveram presentes no jantar dançante, realizado pela 6ª Coordenadoria da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), na Cabana dos Oficiais, em Chapecó, no dia 19 de junho. A festa registrou, ainda, as presenças dos presidentes do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ/SC), de- sembargador Trindade dos Santos, e da AMC, juiz Paulo Bruschi, acompanhados de suas esposas. Durante o evento foram sorteados dois pacotes de hospedagem. Um para Maceió-AL e outro para Fortaleza-CE. Além das cortesias para hotéis no Nordeste foi sorteada também uma caixa com seis garrafas de vinhos de uma seleção especial. Ao som da banda The Old Jets, que tem como integrante o juiz Renato Basso, os participantes dançaram e se descontraíram com um vasto repertório de músicas dos anos 60. Fotos Fátima Damasceno Jantar movimenta juízes do Oeste de SC Associativas O JUDICIÁRIO Divulgação Assessoria de Imprensa TJ/SC Posse O presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, desembargador José Trindade dos Santos, comandou, no dia 2 de julho, a cerimônia de posse do desembargador Jânio de Souza Machado, realizada no auditório do Tribunal Pleno. O presidente do TJ entregou a medalha e o diploma do Mérito Catarinense ao novo colega, que pode então ocupar seu assento no Pleno. Com a plenária completa novamente – o novo desembargador assumiu a vaga aberta com a aposentadoria compulsória do desembargador Volnei Carlin -, o desembargador José Carlos Carstens Köhler, colega antigo do recém-empossado, recordou momentos que compartilharam na trajetória da magistratura. “Sinto-me orgulhoso em acompanhá-lo em mais um momento de glória, em que chega ao cume da magistratura catarinense”, afirmou. Obras de reforma e melhoria na churrasqueira da Sede Balneária um deck, que permitirá aumentar a área de ocupação. Segundo o pedreiro responsável, a obra estará concluída até a segunda semana do mês de julho. Trabalhos devem ser concluídos até o final do mês de julho Ana Paula Gonçalves A Sede Balneária da Associação dos Magistrados Catarinense (AMC) está passando por reformas e melhorias. A obra na churrasqueira teve início no dia 12 de maio e inclui a troca do piso e a construção de JULHO DE 2010 COLUNA DE BACO O - DECANTAÇÃO DO VINHO - verbo decantar exprime a operação de colocar-se um líquido em determinado recipiente e deixá-lo repousar por certo tempo, a fim de que as partículas sólidas, mais pesadas, sejam depositadas na parte inferior por efeito da gravidade. Em geral, esse é o método utilizado pelos grandes depósitos que captam a água distribuida através da rede de tubos, para que ela chegue mais limpa às nossas casas. A decantação do vinho, porém, tem significado mais amplo, pois além de servir para acumular no fundo do decantador ou decanter, como é mais conhecido, os sólidos contidos na garrafa, a chamada borra , destina-se também a ensejar a evaporação de elementos voláteis nela acumulados ao longo dos anos, muitas vezes desagradáveis ao odor e ao paladar. Esse processo, também chamado de oxigenação, tem por finalidade purificar o vinho por sua exposição ao ar, bem como dar-lhe a oportunidade de se abrir, isto é, de revelar todas as suas qualidades, até então concentradas em meio quase anaeróbico. Qualquer vasilha maior que uma garrafa, de boca larga, de vidro ou cristal – jarras, por exemplo – servem para essa operação. Contudo, os especialistas desenvolveram o decanter, sempre em cristal, que é um recipiente de bojo circular alargado, gargalo alto e boca de bordas voltadas para fora, considerado ideal. Como tudo em relação ao vinho é motivo de polêmicas intermináveis, com a decantação não é diferente. As regras não são fixas, até porque variam de vinho para vinho. Alinhemos algumas, com seus prós e contras: 1. Vinhos tintos de guarda não filtrados. São aqueles que, por sua estrutura, necessitam repousar na garrafa durante alguns anos para evoluir, ama- ciar os taninos e revelar todas as suas qualidades. A formação de depósitos sólidos é inevitável e decantá-los é imperioso. Ao retirar a garrafa de seu nicho na adega, deve-se mantêla e abri-la na posição em que está, pois a borra concentra-se em toda a extensão da superfície inferior. Existe um aparelho muito prático, eficiente e simples, dotado de um suporte no alto, onde se põe a garrafa deitada. Abaixo há uma rosca sem fim, acionada por manivela, que faz a garrafa baixar e verter o líquido no decanter. Quando a borra chegar ao gargalo é hora de parar. O vinho estará livre dela, que fica isolada na garrafa, com perda de apenas algumas gotas. Quem não dispuser desse aparato, poderá fazer a operação manualmente, com o mesmo resultado. Ao ser passado para o decanter o vinho sofre a primeira oxigenação, mas convém deixá-lo repousar neste recipiente por mais tempo. Quanto ? Não há unanimidade. Alguns opinam por até 24 horas, outros pensam que duas serão suficientes. Alinho-me a esta última corrente. Vinhos idosos são sensíveis e, se expostos ao ar por muito tempo, podem perder aromas e sabores preciosos. 2. Vinhos tintos de guarda filtrados. A moderna tecnologia desenvolveu poderosos filtros para reter o máximo de partículas sólidas e manter a transparência, o brilho e a inalterabilidade da cor por mais tempo. Acontece que essa prática retira do vinho elementos preciosos, que mais tarde lhe farão falta. Mesmo assim haverá formação de depósitos, ainda que mínimos. A decantação, nesses casos, continua aconselhável, para efeitos de boa oxigenação. Uma ou duas horas antes de servir é tempo suficiente. 3. – Vinhos tintos jovens e leves. Elaborados com uvas de menor estrutura (Beaujo- Edson Nelson Ubaldo• lais e Gamay, p.ex.), para serem bebidos no máximo em 3 anos, estes vinhos raramente formam depósitos e não precisam ser decantados. A garrafa deve ser desarrolhada à mesa, sem maiores cerimônias, pois em poucos minutos o vinho se abrirá na própria taça – se houver tempo para isso, o que é raro. 4. – Vinhos brancos. Com poucas exceções, os brancos secos devem ser bebidos muito jovens (um a dois anos), para que não percam os aromas, a acidez e o frescor. Dispensam o decanter e devem ser servidos diretamente da garrafa, já depositada no balde com gelo. Os brancos doces, tipo Sauternes, Tokaji Aszú, Auslese e assemelhados, com o passar do tempo formam depósitos. mas nem por isso precisam ser decantados, pois deixando-se a garrafa em pé por poucas horas, os sólidos, que em geral são da mesma cor e não turvam o vinho, depositam-se no fundo. O mesmo vale para os rosés. 5. – Sacar a rolha para o vinho “respirar”. Trata-se de método de pouco resultado. O vinho não irá respirar se continuar na garrafa sem a rolha, ainda que por várias horas. No máximo poderá expirar, jamais inspirar. Os elementos voláteis se soltarão, mas o ar, por ser mais leve que o líquido, não irá penetrar no vinho, limitandose a atingir a superfície, cuja área não é maior que uma moeda de dez centavos. Portanto, não haverá oxigenação. Daí a pouca utilidade desse processo. Ao invés disso, será mais elegante abrir a garrafa na presença dos convivas e esperar que eles, caso entendam do riscado, aguardem o vinho oxigenar-se e abrir-se no próprio copo. Aliás, não é por outro motivo que as taças só devem ser abastecidas, a cada vez, até um terço de sua capacidade. • Desembargador do TJ/SC Dica: Manchas de vinho tinto na roupa ou nas toalhas desaparecem em poucos minutos se o tecido for imediatamente esfregado com um guardanapo embebido de vinho branco. 7 8 Perfil JULHO DE 2010 O JUDICIÁRIO O tempo e a vida de Francisco May Filho D De início, ele relutou. Não lhe agradava a idéia de conceder uma entrevista para falar do que fez ou deixou de fazer ao longo da carreira como magistrado. Considerava aquilo uma espécie de auto-bajulação, com o que não concordava. Depois de alguma insistência, ele cedeu e, ao que parecia, mais para não me desanimar do que propriamente para satisfazer o próprio ego. O encontro foi marcado: segunda-feira, dia 21 de junho, 14h, em seu escritório de advocacia. Numa das salas do sexto andar de um imponente edifício, bem no centro de Florianópolis, eu espero pelo desembargador aposentado, hoje advogado. Ele está atrasado em quase uma hora. Alimentado pela expectativa ofertada por sua secretária e por um advogado que também atua naquele escritório – ambos querendo a todo tempo fazer crer que eu teria uma bela história nas mãos –, cresce em mim a ansiedade para conhecer um pouco da história da pessoa, do magistrado que foi Francisco May Filho. Ele, finalmente, chega. Atende rapidamente uma cliente e, ato contínuo, me convida para entrar em sua sala. E, do início da conversa que tivemos até a despedida, forjou-se uma única certeza: eu nada perdi por esperar ... 7 Francisco May Filho nasceu em Lages, no dia 18 de junho de 1924. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Santa Catarina, ingressa na magistratura catarinense no ano de 1951, como juiz substituto, na comarca de Chapecó. As dificuldades eram enormes. As viagens demoravam alguns dias. Primeiro passava-se um dia viajando até Lages. Outro dia para se chegar até Joaçaba. E, finalmente, no terceiro dia, concluía-se o itinerário até Chapecó. Isso se não chovesse, claro... A família sempre o acompanhava e de igual forma sofria com as adversidades. “Eram duas crianças de colo. As viagens eram feitas de ônibus. Então a gente se dividia na atenção aos filhos e com as refeições. E tinha que ficar atento, porque o motorista não esperava”, lembra. Quando chovia, os contratempos eram ainda maiores. O risco de ficar atolado no meio do caminho era grande. Tanto que alguns moradores das regiões por onde passavam já ficavam esperando na estrada com alguns bois para puxar o ônibus dos barrancos. Os passageiros já viajavam com uma reserva em dinheiro para pagar esses homens que ajudavam. Ou pagavam pelo serviço ou do contrário a viagem atrasava ainda mais. Independente das condições do tempo, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina não podia esperar pelo juiz. Precavido, May Filho já saia com cinco dias de antecedência do compromisso na comarca, já que três dias eram só na estrada. “Naquela época, década de 50, o sujeito ser mandado para Chapecó era considerado um deserdado. Era a comarca mais afastada. Quando o governo queria punir algum servidor, por não ter apoiado na eleição, por exemplo, mandava para Chapecó. Hoje é um paraíso perto do que era. Uma cidade muito bem administrada, muito bonita, um pólo que se desenvolveu muito. A Chapecó do meu tempo era uma vila. Hoje é, sem dúvida, uma grande cidade”, diz. A extensão territorial de Chapecó era considerável, indo até a fronteira com a Argentina, o que dificultava a realização de audiências com as partes que moravam distante da sede do fórum. Os planos de Francisco May Filho eram de permanecer por seis meses. Porém, passou um ano na comarca como juiz substituto. Cumprida a missão no Oeste catarinense, era hora de seguir para o Meio Oeste, com a remoção para Joaçaba. Foi um período com menos traumas rodoviários. A existência de uma estrada de ferro facilitava o acesso, o que tornava a comarca um pouco mais atraente ... 7 De Joaçaba, Francisco May Filho vai, como juiz de primeira entrância, para a comarca de Concórdia, a qual considerou a melhor comarca em que trabalhou. “Povo muito honesto, trabalhador. Eu não tinha muitos problemas. As ações não acumulavam porque todos cumpriam com seu papel. Dificilmente acontecia algum homicídio, furto ou roubo. Era muito diferente de Chapecó”, ressalta. Depois de Concórdia, o destino foi Curitibanos. “O prefeito da cidade, que era muito meu amigo, chegou para mim e disse o seguinte: Doutor, aqui em Curitibanos o senhor vai ter que aprender a fazer júri. A média de assassinatos é de sete por semana. Era impressionante”, lembra. Naquele tempo, andar armado fazia parte da cultura dos moradores da região. Sem arma, o serrano se sentia nu. Por essa razão, os índices de assassinatos eram altíssimos, já que qualquer discussão quase sempre era resolvida “na bala”. “As pessoas da cidade achavam a situação muito natural. Até as mulheres andavam armadas, levavam dentro da bolsa. Era o seguinte: quem puxava a arma primeiro tinha mais chance de sobreviver. Numa conversa com o prefeito, eu comentei que a semana tinha sido melhor, pois tivemos cinco mortes e não sete como de costume. O prefeito disse: o senhor fica tranqüilo que logo vem a festa de São Cristovão e a gente completa a cota...”, conta. Diante de tanta violência, Francisco May decidiu agir. Passou a cobrar da própria Polícia uma fiscalização mais firme. Houve colaboração e se iniciou ali uma espécie de campanha pelo desarmamento. Era ano de eleições, ocasião em que foi possível apreender mais de 100 armas. “O cidadão chegava para votar e os policiais tomavam o revólver. Depois eram devolvidos. Mas, no dia da eleição, a cidade ficou mais tranqüila. As armas apreendidas durante a votação eram levadas para Lages. Quem quisesse de volta tinha que viajar um dia inteiro para buscar. O batalhão devolvia, mas havia critérios”, sublinha. No dia da eleição, aliás, o então juiz Francisco May acordou cedo, às 5h da madrugada, para verificar se tudo estava em ordem. Ele lembra que, para algumas localidades, as urnas eram transportadas a cavalo. “A pessoa encarregada de levar a urna saía na noite anterior, para garantir a eleição”, recorda. 7 Depois de Curitibanos, Francisco May foi removido para Criciúma. Nesta comarca, predominavam processos trabalhistas, por causa das minas de carvão. Eram cerca de 600 processos, há muito sem solução. Francisco May decidiu resolver aquela situação. Primeiramente, estudou com afinco o Direito do Trabalho. Para limpar a pauta, ele teve que contar com o apoio dos advogados e das partes, uma vez que as audiências tinham que começar bem cedo, por volta das 7h, seguindo por todo o dia. Em um ano, 300 ações foram julgadas. Eram 20 processos em pauta e só encerrava o expediente quando todos estivessem julgados. “Os advogados reclamaram no início. Mas depois compreenderam que aquela era a única forma agilizar o andamento daqueles processos”, relembra. No segundo ano de trabalho, todos os processos estavam resolvidos. E aí veio um dos grandes dissabores de Francisco May em sua carreira como magistrado. Ele conta que certa vez um desembargador, já falecido, questionou em tom irônico sobre o destino dos processos. Francisco May, inconformado com o descaso do desembargador depois de tanto esforço, não se conteve e respondeu: “Comi doutor. Eu trabalhei dois anos sem parar e o senhor vem me perguntar o que eu fiz com os processos? E o senhor ainda fica revoltado com a minha resposta?”. O tal desembargador nunca o perdoou pela forma como foi respondida a pergunta. O preço pela ousadia foi alto, uma vez que Francisco May só conseguiu chegar ao Tribunal de Justiça como desembargador pelo critério de antiguidade, apesar de ter dado mostras suficientes de que poderia subir na carreira pelo critério de merecimento. Francisco May conta que o sucesso das audiências trabalhistas estava em saber efetuar corretamente o cálculo da indenização. “O trabalhador queria respeito aos seus direitos. Era feito o cálculo corretamente e logo era resolvido mais um processo. Tive sorte de ter uma grande auxiliar nessa fase de muito trabalho, uma escrivã do fórum que era muito competente. Rapidamente ela datilografava o que era necessário e não levantava enquanto a pauta do dia não terminasse”, conta. Os dias se passavam a base de cafezinho e muitas vezes eles almoçavam maçãs, tudo para acabar rapidamente com a fila de processos. Perfil JULHO DE 2010 Fabrício Severino O JUDICIÁRIO Aos 86 anos, o desembargador aposentado Francisco May dedica-se à advocacia, munido de farta bibliografia Do Sul do Estado, Francisco May Filho segue para Florianópolis, indo parar na Vara de Menores, da Capital, onde também lhe aguardavam outra pilha com mais de 600 processos, a maioria relacionada a pequenos delitos. Era a primeira vez que Francisco May lidava com menores infratores. “Lá nós tínhamos processos que já estavam parados há mais de três anos. Percebi que isso acontecia muitas vezes por desinteresse das partes. Cerca de 200 processos foram arquivados. E apenas três foram retirados do arquivo para serem julgados”, comenta. Depois de passar pela Vara de Menores, Francisco May Filho finalmente chega ao Tribunal de Justiça catarinense. Ele faz questão de frisar que chegou por antiguidade e que dificilmente chegaria por merecimento, em razão do episódio de Criciúma, no qual reagiu um tanto ríspido a uma pergunta de um desembargador. No Tribunal, ele também alçou vôos maiores, chegando à presidência da Corte, em 1982. No comando da Justiça catarinense, May Filho tinha fama de ser duro demais. Há quem diga que sua firmeza na verdade era tão somente a exteriorização do seu espírito republicano, ou seja, de absoluto respeito à coisa pública. Ele conta que numa ocasião, recebeu a ligação de um desembargador pedindo que liberasse um carro do Tribunal, com motorista e tanque cheio de combustível, para que pudesse fazer uma viagem até Minas Gerais para visitar a família da esposa. O então presidente do TJ disse calmamente que os carros do Tribunal eram para uso em serviço e não para passeios... O desembargador, apesar da negativa do chefe, disse que iria mesmo assim. May Filho não piscou e telefonou imediatamente para o coronel da Polícia Militar, ordenando a apreensão de qualquer veículo do TJ com chapa branca que passasse pela ponte. A ameaça, como se viu depois, não passou de um blefe... O número excessivo de processos também era uma preocupação de May Filho. Na presidência da Corte, ele também percorreu o Estado, conclamando os seus pares a envidarem esforços para diminuir as pilhas de processos. A magistratura de primeiro grau colaborou adotando uma medida simples: iniciar o expediente mais cedo. Em vez de começarem às 10h, os juízes passaram a fazer audiências a partir das 8h. O trabalho aumentou, foi um período extenuante, mas que deu certo, havendo significativa redução no número de processos. “A magistratura catarinense é de alto nível. A Justiça de Santa Catarina é operosa. A maioria dos juízes tem pós-graduação, busca o aperfeiçoamento constante, muitas boas idéias saem daqui e são aplicadas em tribunais de todo país. E isso faz com que sejamos respeitados em todo Brasil”, declara May Filho. 7 A carreira da magistratura é algo bastante peculiar. Exige de quem a ela se dedica, entre outros atributos, muito esforço, concentração, ponderação, desprendimento, estudo e, sobretudo, sensibilidade. Para May Filho, a importância da magistratura para o cidadão reside justamente no fato de que, muitas vezes, a decisão do juiz é a última esperança de quem sai em busca de seus direitos. “O juiz procura assegurar os direitos dos cidadãos, o cumprimento da lei, e não o apadrinhamento. Doa a quem doer. Não importa se o sujeito é branco, preto, amarelo, azul, listrado. Não importa a política, religião, nem nada. Para o juiz, o que interessa é a aplicação da lei e pronto”, destaca. Na opinião do desembargador May Filho, a arte de julgar exige pesquisa constante. É por essa razão que ele conserva uma ampla biblioteca em seu escritório de advocacia. “Muitas interpretações já existem, por isso a importância de se ter uma boa biblioteca. Às vezes o maior trabalho não é presidir uma audiência, mas sim pesquisar as leis, jurisprudências, para poder julgar. Muitas vezes a gente não concorda com a interpretação que encontra, não acha a mais adequada, só que é difícil convencer os outros que a tua interpretação é melhor do que aquela que já existe. Daí a importância da pesquisa, para poder fundamentar bem”, ensina. O desembargador May Filho tece algumas considerações acerca dos magistrados que procuram estar à frente do seu tempo, que acompanham a evolução das interpretações em relação aos fatos jurídicos que surgem diuturnamente. Para ele, agindo assim, embora seja louvável, o magistrado assume um papel que não lhe cabe, mas sim ao legislador. “O juiz é um escravo da lei. Porém, muitas vezes, a lei não acompanha o desenvolvimento da sociedade. O que era ruim tempos atrás hoje não é mais, assim como o que era bom agora também não é mais. Por isso, o juiz acaba tendo a função de legislar, e não apenas de aplicar a lei, o que não deveria acontecer. O juiz é um homem do seu tempo. Tem que haver uma adaptação da lei dependendo da ação e isso é função do legislador, não deveria ser do juiz. A sociedade muda todo dia e a lei não acompanha. Se o juiz acompanha a evolução e faz uma interpretação diferente, acompanhando o fato, ele é um juiz evoluído, porém está cumprindo um papel que deveria ser do legislador. E se ele simplesmente aplica a lei, está sendo muito legalista. É um dilema muito difícil de ser resolvido. Mas, particularmente, acho que o juiz deve acompanhar a evolução da sociedade”, discorre. 7 Hoje, aos 86 anos, o desembargador May Filho continua produzindo. Não há limitações, seja de ordem física ou mental. Sua lucidez impressiona. Quando completou 70 anos e teve que deixar o serviço público de forma compulsória, decidiu montar um escritório de advocacia, aproveitando da melhor forma sua invejável biblioteca. Sua rotina não é tão leve quanto se imagina, em razão da idade. “Já perdi diversas noites lendo artigos e estudando, só para estar sempre atualizado”, comenta. Não raro, May Filho fica horas e horas no escritório, até concluir um trabalho que requer urgência. Porque a Justiça é assim, esse implacável paradoxo: sempre morosa, sempre devagar com quem tem pressa... sempre rápida demais com os que precisam de tempo, de calma para ser o mais justo possível em seus julgamentos... Francisco May Filho sabe muito bem disso... por isso, não perde tempo... Fabrício Severino 9 10 JULHO DE 2010 Des. Tycho Brahe Fernandes Neto (Primeiro Diretor 1986/01) “A realidade superou todos os sonhos e esperanças. Parabéns à Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina, que tanto contribuiu para a formação da magistratura catarinense nesses 24 anos”. Des. Alberto Luiz da Costa (1996/01 - 1999/02) “Os magistrados catarinenses comemoram intensamente os 24 anos de existência da sua preciosa jóia, a Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina (ESMESC), exitosamente dedicados à formação, ao aperfeiçoamento e a especialização dos magistrados, e a atualização cultural e jurídica dos bacharéis em geral, firme na manutenção de valioso vínculo com as escolas do Ministério Público e da Advocacia. Parabéns ESMESC/AMC”. Juiz Getúlio Corrêa (2001/01 - 2003/02) “Tive a honra de ser Diretor da ESMESC e da Escola Nacional da Magistratura da AMB e essas experiências permitem-me destacar a interiorização dos cursos como um instrumento de inegável avanço na democratização do ensino jurídico, proporcionando não só uma preparação adequada aos que desejam ingressar na carreira da magistratura, mas também estendendo a formação a todos os rincões do estado catarinense”. Esmesc ESMESC comemora 24 anos de fundação Atual diretoria da entidade investe cada vez mais para fortalecer aproximação entre magistrados catarinenses, alunos e Escola Em 28 de julho de 1986, a Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina iniciou suas atividades, voltadas, prioritariamente, para a preparação dos bacharéis em Direito ao Concurso da Magistratura no Estado. Neste ano, a entidade completará 24 anos de serviços prestados ao ensino e à comunidade catarinense como um todo, com importantes inovações realizadas em diversas frentes. Hoje, além de consolidar-se como pioneira e única instituição de preparação para aqueles que desejam ingressar na magistratura, a ESMESC esforça-se diuturnamente para se transformar num grande centro de debates dos mais relevantes temas do mundo jurídico contemporâneo. Extensões nas cidades de Blumenau, Canoinhas, Curitibanos, Criciúma e Joinville. Com o compromisso de promover o constante aprimoramento não só dos alunos, mas também dos servidores e da magistratura do Estado, a ESMESC tem investido firme na realização de cursos e palestras. Prova disso são os Cursos Avançados, que em 2010 oportunizaram qualificação aos participantes ao trabalhar com os seguintes temas: “O Novo Acordo Ortográfico e Redação Jurídica”, “Magistratura e Internet”, “Infância e Juventude” e “As Novas Reformas Processuais Penais”. “Com a realização dos Cursos Avançados, a ESMESC conseguiu chegar aos juízes e operadores do Direito que trabalham no interior de Santa Catarina de forma simples Juiz Silvio Franco, e objetiva”, destaca o diretor (Diretor desde março 2009) O dinamismo das ações se geral da ESMESC, juiz Silvio mostra nos inúmeros eventos Franco. Outro importante pas“A Escola Superior da técnico/científicos que vêm so no processo de aproximação Magistratura do Estado sendo realizados periodicaentre a entidade e os magistrade Santa Catarina - Esmente; nos cursos de prepados foi a criação do “Portal dos mesc, em seus 24 anos de existência, em muito ração para o concurso da maMagistrados”. Um espaço que contribuiu e vem congistratura e para outros que tem como objetivo compartitribuindo para a formação envolvam conteúdo ligado ao lhar conhecimento através do e aperfeiçoamento de nossa Direito; nos convênios que esServiço de Pesquisa, do Banco magistratura e de outros tão sendo assinados com instide Sentenças, da Publicação de operadores do Direto, restuições parceiras, permitindo Artigos e do cadastro do curríplandecendo na dedicação que a Escola possa chegar até culo dos magistrados que quede seus ex-diretores, proo interior do Estado; na criação rem ser docentes da ESMESC. fessores, servidores e ex de ferramentas tecnológicas Além dos cursos no interior e atuais alunos o sucesso dessa empreitada. É moque facilitem a interação entre e dos serviços no portal da Esmento de comemoração, a direção, colaboradores, corcola, os seminários realizados brindando essa história pos discente e docente; entre nas dependências da AMC/ de êxito, mas também é outros. ESMESC mostram-se de granmomento de continuarmos Dos cerca de 400 magistrade relevância, uma vez que investindo no futuro da dos que estão na ativa hoje em tratam de assuntos latentes, instituição, projetando Santa Catarina, 228 deles já envolvendo discussões sobre seus passos seguintes, com passaram pela ESMESC. Desa relação entre o Direito e cia mesma força e arrojo que de a criação da Escola, mais dadania, bem como sobre as sempre foram marcas da Esmesc” de 3.200 alunos concluíram o questões tecnológicas que esCurso de Preparação para Matão transformando a sociedagistratura. No ano de 1992, a de atual. “Penso que estamos ESMESC passou a atender tamconseguindo atingir os nossos bém o público do interior do Estado através principais objetivos. E entre eles eu destadas Extensões. Os cursos são realizados caria a aproximação maior entre a ESMESC por meio de convênios firmados entre a e os colegas magistrados, num processo diESMESC e instituições de ensino superior nâmico de interação em que também estão localizadas nas principais regiões de Santa incluídos os nossos alunos e professores”, Catarina. Atualmente, a entidade conta com destaca o diretor Sílvio Franco. Juíza Mônica Elias de Lucca Pasold (2006 - 2007/01) “A ESMESC é referência de qualidade na preparação ao Concurso da Magistratura. A cada ano aprimora-se a concorrência e ter a ESMESC no curriculum é o diferencial do candidato. Considero um privilégio e uma honra ‘fazer parte dessa história’, como Aluna, como Professora e, depois, como Diretora. No 24º aniversário, a nossa Escola está em plena maturidade, fazendo o seu reconhecido trabalho de excelência. Parabéns à toda a Equipe ESMESC/AMC”. O JUDICIÁRIO Juiz Júlio César M. Ferreira de Melo (2008/02) “Dirigi a ESMESC em duas oportunidades. Leciono na instituição desde 1993, além de ter coordenado cursos de extensão em Araranguá. Ainda como aluno, a ESMESC exerceu papel fundamental para que pudesse ter êxito na aprovação no concurso para a magistratura. Hoje, a ESMESC desempenha papel fundamental não apenas para quem deseja integrar os quadros da magistratura mas, também, para juízes e funcionários que frequentam os cursos oferecidos pela instituição. Parabenizo a nova diretoria e desejo sucesso na empreitada”. Juiz Paulo Bruschi, (2007/02- 2008/01) “A Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina (ESMESC) já faz parte de aproximadamente 70% dos Magistrados Catarinenses. Nosso objetivo sempre foi e será o de alcançarmos a quase totalidade dos futuros integrantes do Poder Judiciário Barriga Verde, municiando-os com conhecimento e experiência, vez que nos sentimos plenamente responsáveis pela Magistratura que pretendemos e buscamos”. Juiz Francisco José R. de Oliveira Neto (2005/01 - 2005/02) “Ao longo desses anos, a ESMESC tem ocupado um espaço importantíssimo não só na formação dos juízes, mas também na formação de novos juízes. Assim tem sido através dos cursos de aperfeiçoamento e do curso de preparação para o concurso da magistratura estadual realizado em Santa Catarina, que tem como marca fundamental a adequada associação entre a teoria e a prática”. Esmesc JULHO DE 2010 11 Fotos Ana Paula Gonçalves O JUDICIÁRIO Pela manhã, painelistas discutiram questões ligadas ao direito autoral e internet, bem como as perspectivas que envolvem, no cenário atual, a questão da propriedade intelectual Propriedade Intelectual em debate Com a presença de autoridades internacionais, evento reuniu no auditório da AMC/ESMESC, na Capital, mais de 150 participantes O 1º Seminário Internacional sobre Propriedade Intelectual e Alta Tecnologia, realizado pela Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina (ESMESC) e Associação Antipirataria Cinema e Música (APMC), reuniu cerca de 150 participantes no auditório da AMC/ESMESC, em Florianópolis, no dia 1º de julho. preservar a cultura, além do criador da obra. “Quem cria tem todo envolvimento e investimento na sociedade. Atualmente não estão valorizando o direito do autor”, acrescentou. Já a professora Heloísa Medeiros, que é uma das pesquisadoras do Grupo de Estudos de Direitos Autorais e Sociedade da Informação (GEDAI), falou sobre o debate e o recolhimento de sugestões para acrescentar melhorias às revisões da Lei do Direito Autoral. “Queremos reunir contribuições e acrescentar nossa voz na consulta pública sobre a Lei”, concluiu. O professor da Universidade Federal do Paraná, Carlos Eduardo Hapner, o doutor em Direito Marcos Wachowicz e o juiz Cláudio Régis de Figueiredo e Silva apresentaram, durante o primeiro encontro da tarde, painel falando sobre as redes P2P, ou Peer-to-peer, que são as ferramentas utilizadas na internet para o compartilhamento de dados. “Os autores sofrem com o desequilíbrio, já que material como música e livros são amplamente compartilhados, por isso eles contam com a Justiça para requerer seus direitos. A única coisa que os lesados pelo Direito de Autoria desejam é que sua obra pare de ser distribuída indiscriminadamente”, pontuou Hapner. O doutor Wachowicz disse que a tecnologia utilizada nas redes P2P é a própria alma da internet. “A tecnologia é um bem organizacional e comportamental. A tecnologia não tem que ser extinguida e sim a distribuição de material de propriedade intelectual”, complementou. O juiz Figueiredo e Silva acredita que a informação ao alcance de todos, sem custos, é um dos maiores paradoxos do século. “Hoje em, dia a inteligência está sendo utilizada para distribuir conteúdo sob demanda na velocidade de um download”, concluiu. O professor da UFSC, Luiz Otávio Pimentel, proferiu a segunda palestra da tarde, na qual abordou o tema “Propriedade Intelectual e Desenvolvimento”. Para ele, há pouco conhecimento e aplicação do direito de propriedade intelectual nas relações econômicas que envolvem criatividade e conhecimento. Pimentel destacou ainda que para alavancar ainda mais o processo de interação é necessário fortalecer a interação entre universidades, empresas e governos. “Para termos crescimento econômico, são muitos os desafios, mas o principal deles para nós juristas e operadores do Direito é conhecer mais e melhor a ordem jurídica econômica e seus regimes jurídicos, entre eles a propriedade intelectual”, destacou. Após a palestra, os magistrados Giangiacomo Pilia, Joel Dias Figueira Júnior e Altamiro de Oliveira e o próprio Luiz Pimentel formaram uma mesa, oportunidade em que explanaram os seus respectivos pontos de vista sobre o assunto. O Acordo TRIPS (Tratado Internacional relacionado a aspectos do Direito da Propriedade Intelectual relacionados com o comércio) na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no Brasil foi o tema do último painel do 1º Seminário Internacional sobre Propriedade Intelectual e Alta Tecnologia, do qual participaram como palestrantes os advogados Lauro Locks e Rodrigo Afonso de Ouro Preto Santos. O primeiro a falar foi Lauro Locks que, como membro da divisão de assuntos jurídicos da OMC, procurou fazer uma explanação sobre o surgimento e funcionamento da entidade. Entre os objetivos da OMC, Locks destacou a proteção aos direitos de quem detém a propriedade intelectual, bem como manter a segurança para e previsibilidade para o sistema multilateral de comércio. Já o advogado Rodrigo Santos procurou analisar a questão da propriedade intelectual no âmbito nacional, destacando, também a evolução da legislação no mundo todo no que tange à proteção à propriedade intelectual. Fabrício Severino O diretor da ESMESC, juiz Silvio Franco, fez uso da palavra na abertura do evento e ressaltou o esforço conjunto de todos os envolvidos na realização do seminário. “A disseminação do conhecimento é a alma da ESMESC e a magistratura catarinense só tem a ganhar com as experiências que serão trocadas aqui hoje com o seleto corpo de palestrantes reunidos”, disse. O juiz Paulo Bruschi, presidente da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), dirigiu sua mensagem aos presentes falando da importância do direito autoral. “A propriedade intelectual e seus desdobramentos são assuntos que atingem a vida de milhares de cidadãos. Sem a devida proteção ao processo criativo, a humanidade corre o risco de não observar avanços nas mais diversas áreas que vão da saúde as artes em geral”, falou. Para tratar sobre a proteção ao direito de autoral, e outros assuntos recorrentes da era globalizada, foram apresentadas, pela manhã, palestras do magistrado italiano Giangiacomo Pilia e do advogado de empresas da indústria fonográfica, João Carlos Muller. O diretor executivo da APMC, Antônio Borges Filho e a professora da Universidade Federal de Santa Catarina, Heloísa Medeiros, também contribuíram para o debate sobre o tema. O palestrante italiano falou sobre a disponibilização abusiva ao público de obras protegidas pelo Direito Autoral, “com fins lucrativos“, feita através de inserção em sistema de redes. “O elemento subjetivo necessário para a integração desse crime no sistema penal é representado pelo caráter de fins lucrativos”, o magistrado falou ainda sobre os procedimentos de identificação dos computadores que armazenam as obras e como a justiça italiana identifica o crime. João Carlos Muller ressaltou que o direito do autor é frágil e que por isso deve ser protegido. “A digitalização acabou com a originalidade das obras. A facilidade da transferência de arquivos fragilizou ainda mais o direito do autor. As únicas armas que o autor tem são os seus direitos e a crença na Justiça”, afirmou. Antônio Borges Filho lembrou que o direito autoral serve para Debates prosseguiram por toda tarde, enfatizando, entre outros assuntos, os cuidados a serem observados pelas empresas e o tratamento dado ao tema por organismos internacionais 12 JULHO DE 2010 Associativas O JUDICIÁRIO Festa Junina supera expectativas Num clima de muita descontração entre os convidados, foram servidos pratos típicos das festividades juninas como pinhão, pipoca, paçoca, bolos e também uma canja que aqueceu a todos. Mais de 100 litros de quentão foram consumidos durante o evento. A banda Mandacarú, que toca músicas do estilo forro pé de serra, animou a festa. E para completar a comemoração, alguns “jecas” dançaram quadrilha e divertiram os presentes. Fotos Fátima Damasceno Com a presença de 300 participantes, a tradicional Festa Junina da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC) foi realizada no dia 26 de junho, sábado, na Sede Balneária, em Florianópolis. Agenda O JUDICIÁRIO JULHO DE 2010 Agenda do presidente Junho AMC e AMB unem-se para defender benefício de magistrados O presidente da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), juiz Paulo Bruschi, acompanhado pelo 1º vice-presidente, juiz Sérgio Junkes, e pelo presidente interino da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), juiz Francisco José Rodrigues de Oliveira Neto, participou, no dia 14 de junho, da sessão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que retirou da pauta o Procedimento de Controle Administrativo (PCA) nº 2008.30.00.000002-4, que trata do auxílio-moradia pago aos magistrados catarinenses. O presidente do CNJ, ministro Cezar Peluso, retirou da pauta por entender que a matéria envolve questão judicial. Tanto o relator, conselheiro Milton Nobre, quanto os outros conselheiros, concordaram em transferir o julgamento para uma nova data. 7 Divulgação 14 Confira alguns dos compromissos da agenda do presidente da Associação dos Magistrados Catarinenses (AMC), juiz Paulo Bruschi, no mês de junho. Dirigentes das entidades acompanham sessão no CNJ Des.Trindade entrega ao presidente da Alesc projeto de expansão da Justiça de SC Bruna Correa/Assessoria de Imprensa do TJSC Julho Juiz Paulo Bruschi (1º à dir.) também esteve na Assembléia O presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina ()TJ/SC), desembargador José Trindade dos Santos, encontrou-se no dia 5 de julho com o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Gelson Merísio, oportunidade em que fez a entrega dos projetos recentemente aprovados pelo Pleno do TJ, que prevêem a criação de mais 10 cargos de desembargador e seis cargos de juiz de Direito de 2º Grau, assim como das respectivas estruturas de gabinete. O presidente do TJ, em sua visita à Alesc, estava acompanhado do assessor especial, juiz Luiz Felipe Siegert Schuch, do presidente da Associação dos Magistrados Ca- tarinenses (AMC), juiz Paulo Bruschi, e da chefe de gabinete, Riza Quaresma Buter. O secretário de Coordenação e Articulação do governo estadual, Erivaldo Nunes Caetano Júnior, que se juntou à comitiva do Poder Judiciário, promoveu no mesmo momento a entrega de emenda modificativa/ aditiva ao projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO-2011), já com a alteração, para os próximos dois anos, nos índices de repasse do duodécimo aos poderes. O Poder Judiciário, pela emenda, receberá 7,7% em vez de 7,4% em 2011, e, no ano seguinte, 7,85% da receita líquida disponível do Estado. “Registro o recebimento e garanto que, na maior brevidade possível, as matérias serão analisadas”, garantiu o presidente da Assembléia Legislativa. 13 14 Decisões Judiciais JULHO DE 2010 O JUDICIÁRIO Divulgação Juiz restringe bimbalhar de sinos na cidade A 3ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça manteve sentença da Comarca de Joinville, que condenou G. S/A Transporte e Turismo ao pagamento de indenização por danos morais e materiais no valor de R$ 32,3 mil, mais R$ 289 pelos gastos com medicamentos e documentos necessários à instrução dos autos, em benefício de O. do A.T., que teve sua residência parcialmente destruída por um ônibus da empresa. Apesar dos ruídos, igreja defende-se dizendo que a tradição já perdura mais de meio século O juiz Marcelo Volpato de Souza, titular da 2ª Vara da Comarca de Porto União, julgou parcialmente procedente ação civil pública proposta pelo Ministério Público, para condenar a C. E. L. de Porto União e União da Vitória a proceder à devida adequação dos ruídos dos sinos de sua igreja, naquela cidade, aos limites previstos em instrução normativa da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Enquanto a igreja não se adequar aos patamares definidos (de segunda a sexta, 65 decibéis no período diurno e 60 decibéis no período noturno; aos sábados, domingos e feriados, 60 decibéis nos períodos diurno e noturno), estará proibida de bimbalhar seus sinos na cidade, sob pena de multa de R$ 5 mil. Após o trânsito em julgado, determinou o juiz, a Comunidade Luterana terá 30 dias para apresentar laudo técnico de aferição de ruídos, com a comprovação da adequação exigida. A multa diária por atraso no cumprimento da medida será de R$ 1 mil. A ação proposta pelo MP surgiu da constatação de que o dobrar dos sinos da igreja causa poluição sonora – eles soam diariamente às 7, 12 e 18 horas, e estão em desacordo com os níveis máximos de ruídos tolerados pelos homens. A igreja contestou o fato, e disse tratar-se de prática de mais de meio século, respeitada pelas mais diversas religiões e prezada pelas pessoas religiosas. O trabalho pericial, contudo, assinalou que o ruído alcança de 83 a 89 decibéis – bem além do limite legal. “O fato de o soar dos sinos fazer parte da tradição e cultura da igreja (…) não lhe dá o direito de usufruir desse bem imaterial de maneira ilimitada”, anotou o juiz Volpato de Souza. Segundo ele, muitos são os exemplos que desmistificam esse pensamento: a discutida “farra do boi” e a tradição islâmica de mutilação da genitália feminina, entre outros. O magistrado admitiu, contudo, que a igreja, até o trânsito em julgado, pode badalar seus sinos diariamente entre 12 e 22 horas e, aos domingos, das 9 às 10 horas, apenas para marcar o início e o fim de seus cultos (Autos n. 052.08.000807-2). Hotel pagará por dano moral Uma informação equivocada prestada pelo J. P. Hotel à Receita Federal, que culminou no ajuizamento de uma execução fiscal contra seu ex-empregado, o garçom A. B., resultou na condenação do estabelecimento ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 10 mil. A sentença da Comarca da Capital foi confirmada pela 2ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça. B., que trabalhou na empresa de 1982 a 1986, descobriu em 1997 que uma ação de execução fiscal lhe foi movida pela Receita, com base em informações errôneas prestadas por seu empregador, referentes aos seus vencimentos naquele período – os valores so- mavam mais de 10 vezes o que ele havia efetivamente recebido. O hotel, na apelação em que buscou livrar-se da condenação, negou a culpa e apontou o ex-funcionário como responsável pelo episódio. “Apesar da omissão quanto à apresentação das declarações de imposto de renda de 1985 a 1989, o fato gerador do dano derivado da formação do crédito tributário indevido, que levou à propositura de execução fiscal e culminou na inscrição do nome do autor em Dívida Ativa da União, é da empregadora, que incluiu informação incorreta na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) no ano de 1986”, confirmou o desembargador Nelson Schaefer Martins, relator da matéria. (Ap. Cív. n. 2007.061804-2) Ônibus de turismo causa prejuízos em acidente no Norte Barulho produzido pelos sinos está acima do que é permitido pela ABNT Cliente que teve nome “esquecido” no SPC receberá indenização de R$ 5 mil A A. C. Ltda. terá de pagar R$ 5 mil em indenização, a título de danos morais, a sua cliente R. L. F., por mantê-la no Sistema de Proteção ao Crédito, mesmo após quitação de dívida. A decisão da 1ª Câmara de Direito Civil do TJ confirmou sentença da Comarca de Jaraguá do Sul. Em sua apelação, a empresa alegou que o fato não pode ser considerado ato ilícito, já que R. teve seu nome incluído no SPC porque possuía débitos não quitados. O relator da matéria, desembargador Joel Dias Figueira Júnior, explicou que, quando havia a inadimplência, a empresa de cosméticos tinha todo o direito de realizar o cadastro no órgão. Agora, com o pagamento efetuado, era seu dever desfazer a operação, o que não ocorreu. “Portanto, a manutenção do nome da demandante nos cadastros do SPC, não obstante o efetivo pagamento da dívida, comprova a negligência da ré, tendo como consequência o abalo moral causado à autora. Sendo assim, o nexo de causalidade entre o dano e o ato ilícito foi devidamente comprovado, donde decorre a obrigação de compensar a vítima pecuniariamente”, completou o magistrado. A decisão foi unânime. (Ap. Cív. n. 2007.026137-9) De acordo com um dos passageiros, o ônibus passou pelo semáforo enquanto este sinalizava verde e, em seguida, foi atingido por uma carreta que o arremessou em direção à casa do autor. A empresa, em contestação, requereu preliminarmente a denunciação da lide à I. S. S/A, e a inclusão no pólo passivo da demanda de terceiros responsáveis pelo acidente - no caso, T. E. Ltda., proprietária do caminhão, e N. F., condutor. No mérito, argumentou que a culpa pelo sinistro foi de terceiro, o qual teria “furado” o sinal, invadido a preferencial e colidido com o ônibus, que foi arremessado contra o imóvel de O.. “Subsiste o dever de indenizar da ré, devendo a respeitável sentença ser mantida nos seus exatos termos neste ponto”, concluiu o relator da matéria, desembargador Marcus Túlio Sartorato. A I. S. S/A também foi condenada, e terá que ressarcir a empresa pelos valores que esta foi obrigada a desembolsar para cumprir a obrigação que lhe foi imposta. A votação foi unânime. (Ap. Cív. n. 2010.026917-9) Médico condenado por erro cirúrgico O Tribunal de Justiça reformou, por unanimidade, sentença da Comarca de Criciúma, e condenou o médico W. S. M. ao pagamento de indenização a sua ex-paciente Z. M. M. F., por erro em procedimento cirúrgico. Ela receberá R$ 50 mil reais a título de danos morais, e R$ 1,9 mil de ressarcimento material. A paciente submeteu-se a cirurgia plástica nos seios e abdômen, no dia 17 de março de 2005. Meses depois, as incisões e suturas ainda permaneciam à mostra, o que lhe causava muitas dores. Após procurar outro profissional, soube que os pro- blemas sofridos em sua mama não poderiam ser corrigidos. Então, em virtude dos traumas e abalos sofridos, decidiu entrar na Justiça. Inconformada com a negativa em 1º Grau, apelou para o TJ. Além dos danos morais, postulou indenização por danos materiais. Reeditou os argumentos e trouxe aos autos, também, fotos das regiões operadas. No entendimento da 1ª Câmara de Direito Civil, não se pode esperar do médico um resultado milagroso, ou culpá-lo por eventuais descuidos do paciente no tratamento pós-operatório. No entanto, é dever do profissional alertar os pacien- tes sobre os possíveis riscos e consequências da intervenção cirúrgica. Neste caso, houve negligência médica quanto a esse quesito. “Não se tem notícias nos autos de que a apelante tenha sido previamente cientificada acerca dos riscos intrínsecos ao procedimento cirúrgico, das possíveis consequências estéticas ou até mesmo de ter firmado termo de responsabilidade, motivo pelo qual só cabe a presunção de não ter o apelado cumprido com este dever”, anotou o desembargador Edson Nelson Ubaldo, relator da apelação, que acolheu o pleito de Zélia. (Ap. Cív. n. 2008.037988-2) Coluna O JUDICIÁRIO ALMA FEMININA JULHO DE 2010 15 Cuide da alimentação no Inverno Apesar da fome aumentada nesse período ser uma reação do corpo por mais energia, usada para controlar a temperatura, é bom não abusar. Especialistas apontam que os excessos podem provocar doenças como hipertensão, obesidade, aumentar as chances de problemas cardiovasculares. Por isso é interessante reavaliar a alimentação na estação mais fria do ano. Fotos Divulgação Nesta época é comum os pratos se tornarem mais calóricos. A temperatura cai e com isso muitas vezes bate aquela vontade de comer uma fondue ou tomar um chocolate quente. A explicação disso é que no inverno o gasto energético é maior, o organismo se esforça mais para manter a temperatura corporal. Segundo a nutricionista Gláucia Midori, pós-graduada pelo Ganep Nutrição Humana, é importante não cair em tentação e manter uma dieta saudável nesse período. O ideal é preparar sobremesas à base de frutas, como banana e maçã ao forno, e pode-se adicionar canela para realçar o sabor sem aumentar o teor calórico. Outras boas opções são as sopas de legumes, que além de serem saborosas e nos esquentar, são nutritivas. Um dos pratos típicos do inverno que devemos tomar cuidado é o fondue, preparado à base de queijo, que vai acompanhado de pequenos pedaços de pão, batatas de cenouras. O fondue é muito calórico, pois em sua composição há leite, queijo e noz moscada, alimentos ricos em gorduras. Neste caso, é prudente não exagerar no consumo e buscar substituir alguns componentes, como, por exemplo, o leite integral por desnatado, o queijo amarelo pelo branco e os pães por legumes. Dessa forma, o prato acaba ficando mais leve e saudável. Para manter a boa forma • Chocolate quente: Use leite desnatado e achocolatado diet. • Queijos: Prefira os brancos e lights. • Chás: Ótimas opções para aumentar a temperatura do corpo. • Sopas: Dê preferência àquelas preparadas com legumes batidos, para engrossá-la adicione farelo de trigo. • Abuse das frutas típicas da estação, como laranja e maracujá. • Evite massas, pois são muito calóricas. Ainda mais quando forem preparadas com molhos brancos e outros ingredientes com alto teor energético. • Reduza o consumo de derivados do leite, como creme de leite, queijos amarelos e manteiga. • Chocolate, nozes, castanhas e avelãs são nutritivos, contêm boa gordura, mas são muito calóricos. Tome cuidado! • O indicado é optar por legumes, verduras, carnes magras e peito de frango nas refeições principais. Fonte: Brasil Escola (http://www.brasilescola.com/saude) Apesar da preferência por pratos quentes, mesmo no inverno não devemos deixar de comer saladas, elas são muito importantes para o bom funcionamento do nosso organismo, são fontes importantes de minerais e vitaminas que não podem ser abandonadas, sendo especialmente importantes para manter a imunidade do nosso organismo nessa época em que estamos tão sujeitos a gripe e outras viroses comuns ao frio. O importante é não deixar de lado as atividades físicas, nem os alimentos saudáveis, procurando balancear adequadamente nossa alimentação e beber bastante água. Com esses cuidados não é preciso abrir mão de nenhum dos prazeres do inverno. 16 JULHO DE 2010 JOÃO BAPTISTA hERKENHOFF* D iferenças de concepções religiosas, ideologias, raças não devem impedir a fraterna convivência humana. Cada um pode ter sua Fé, sua visão política, sua receita para os problemas sociais, sua maneira de decifrar os mistérios da vida, sem que essas divergências impeçam o diálogo e a busca de eventuais identidades. No âmbito da Igreja Católica, tenho especial admiração pelo Papa João XXIII, justamente porque esse Papa sacudiu os alicerces de Roma, com sua generosa abertura às mais diversas correntes de pensamento, às mais diversas crenças e filosofias. Acho que a Humanidade avança se, no campo da Fé, prevalece uma visão ecumênica e se, no campo da ação concreta, unem-se todos aqueles que desejam um mundo mais justo, mais igualitário, mais humano. Daí que, no centenário de Chico Xavier, eu, um católico, celebro a herança que ele nos deixou Artigo O JUDICIÁRIO Convivência dos diferentes e desejo juntar minha palavra às milhares ou milhões de palavras que estão sendo expressadas neste momento de saudade. Vamos agora falar de Cuba. Reconheça-se a grandeza desse pais, pequeno no tamanho, porém imenso na dignidade. Respeitem-se as opções adotadas naquela ilha. Tenha nossa reprovação tudo que se fez no passado, ou que se faça hoje, para dificultar os caminhos da Revolução Cubana. Enquanto Fidel Castro ainda é vivo, proclame-se a injustiça das proscrições, a falsidade dos argumentos que pretenderam negar o óbvio, qual seja, por exemplo, o sucesso do regime cubano nas áreas da saúde e da educação. Que coisa linda este troféu que, com orgulho, Cuba exibe: “A cada ano, oitenta mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana. Cada noite duzentos milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana”. Cuba mantém médicos e professores atuando em mais de cem países, incluído o Brasil. Promove, em toda a América La- tina, a Operação Milagros, para curar gratuitamente enfermidades dos olhos, e a campanha de alfabetização Yo sí puedo (Sim, eu sou capaz), com resultados auspiciosos. “Cada um pode ter sua Fé, sua visão política, sua receita para os problemas sociais, sua maneira de decifrar os mistérios da vida, sem que essas divergências impeçam o diálogo e a busca de eventuais identidades” O bloqueio norte-americano sofrido por Cuba durante décadas é inaceitável. A base militar de Guantánamo não é apenas uma agressão à soberania cubana. É um acinte ao mundo. Reflitamos agora sobre árabes e judeus. Descendentes de árabes e descendentes de judeus no Brasil travam a pugna do bem. Desdobram-se na prestação de serviços à comunidade para demonstrar, cada um do seu lado, a capacidade que têm de construir obras beneméritas. Nesse esforço extraordinário demonstram também a gratidão que alimentam, no fundo da alma, pela acolhida que eles, seus pais e seus avós tiveram no Brasil. Em São Paulo, essa sadia rivalidade efetiva-se através da edificação de duas instituições primorosas: o Hospital Sírio-Libanês e o Hospital Albert Einstein. Quisera que, em plano mundial, árabes e judeus travassem uma competição para o bem, em vez de ficar jogando bombas uns nos outros. Tenho simpatia pelo Estado de Israel e tenho simpatia pelo Estado da Palestina. Não consigo compreender porque não possam conviver, lado a lado, o Estado judeu e o Estado palestino. Da mesma forma que os judeus têm direito a um território, o mesmo direito assiste a palestinos e a todas as nações. Nenhum povo da Terra pode ser privado de chão. Não é de forma alguma impossível que se efetive esse direito. Através dos canais diplomáticos, através da ONU, através da ação dos que lutam pela Justiça e pela Paz, judeus e palestinos podem conviver, no respeito recíproco, trocando o fuzil pelo abraço, trocando a exclusão pela partilha, trocando a incompreensão pela tolerância. É nesse sentido que deve atuar a diplomacia brasileira. Em nosso país, judeus e árabes convivem muito bem. Se dependesse da colônia árabe brasileira e da colônia judaica brasileira não haveria guerra no Oriente Médio. * Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo, professor, pesquisador e magistrado aposentado
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