Áreas Marinhas Protegidas e Serviços Ambientais no Brasil
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Áreas Marinhas Protegidas e Serviços Ambientais no Brasil
III - Conservação Sustentável de Áreas Aquáticas Protegidas ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS E SERVIÇOS AMBIENTAIS NO BRASIL Ana Paula Leite Prates1; Roberto Ribas Gallucci1 1 (Ministério do Meio Ambiente) 41 A IUCN define uma Área Marinha Protegida como “Qualquer área em terrenos imersos ou entremarés, juntamente com suas águas, fauna e flora, aspectos culturais e históricos associados, que estão reservados por lei ou outros meios efetivos para proteger parte ou todo um ambiente determinado.” No Brasil, representadas especialmente por meio de unidades de conservação e por áreas de exclusão de pesca, essas áreas têm revelado um papel de alta importância na preservação e manutenção de bens e serviços socioambientais relacionados a diversos setores. das espécies e interações ecológicas, benefícios com o turismo subaquático. Ainda, é de grande potencial o uso e ampliação dessa ferramenta de gestão para aumento da segurança alimentar, e garantia de renda e trabalho para inúmeras comunidade costeiras de pescadores que vivem e dependem da pesca Figura 1 – Número de reservas nas quais foi medida uma característica particular. Variação média (barras) em peixes, invertebrados e algas dentro de reservas marinhas em distintas partes do mundo. Embora as mudanças tenham variado de acordo com as reservas (pontos), a maioria teve mudanças positivas. Fonte: PISCO, 2008. No Brasil, o estabelecimento de espaços territoriais especialmente protegidos em todas as unidades da federação é atribuição constitucional do Poder Público. Para tanto foi instituído um Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, pela Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000, que reuniu todos os instrumentos e normas existentes sobre o assunto, constituindo-se um marco para a criação, implantação, consolidação e gestão dessas unidades. O SNUC divide as unidades de conservação em dois grandes grupos de categorias: - Proteção Integral, onde apenas é permitido o uso indireto dos recursos naturais, como turismo, educação ambiental e pesquisas, como as Reservas Biológicas, Estações Ecológicas, os Parques Nacionais, Monumentos Naturais e Refúgios da Vida Silvestre; - Uso Sustentável, que permitem o uso sustentável de parte dos seus recursos naturais como as Áreas de Proteção Ambiental (APAs), as Reservas Extrativistas (RESEXs), Florestas Nacionais, Áreas de Relevante Interesse Ecológico, Reservas de Fauna, Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Figura 2 - Média e abundância de peixes por 100 m em áreas fechadas (no-take areas). Dados do Programa Nacional de Monitoramento dos Recifes de Coral, 2002-2008. As recentes avaliações do status das pescarias mundiais e dos impactos ambientais causados pela pesca tem intensificado o debate sobre a potencialidade de se utilizar as áreas marinhas protegidas no ordenamento pesqueiro. Vários autores apontam para essa medida como uma solução simples para manejar a complexidade da situação pesqueira, principalmente em áreas com pescarias multiespecíficas – como os mares tropicais. O estabelecimento de áreas marinhas protegidas tem demonstrado ajudar na recuperação de estoques considerados ameaçados, servindo como berçários e fonte de exportação de indivíduos maduros para as áreas adjacentes – áreas de exclusão de pesca. Outros benefícios identificados são a proteção da área de desova dos estoques; a recomposição de recrutas para os estoques das áreas de pesca; necessidade de menos informações biológicas; possibilidade de fiscalização compartilhada; proteção da diversidade genética das espécies e manutenção de populações mais naturais e da estrutura da comunidade. Traz ainda como pontos positivos a proteção de outros organismos (corais, algas, esponjas, cnidários, crustáceos, moluscos etc), a proteção de habitats, a conservação No início de 2010, o Ministério do Meio Ambiente lançou o vídeo “Áreas Aquáticas Protegidas como Instrumento de Gestão Pesqueira” para divulgar o tema entre diferentes públicos, de forma que 42 usuários de recursos pesqueiros possam conhecer casos brasileiros e os benefícios trazidos pelas áreas protegidas. O vídeo apresenta três experiências exitosas, contidas no livro de mesmo nome, publicado em 2007 pela SBF. Duas experiências são em águas marinhas: Área de Proteção Ambiental da Costa dos Corais, situada entre os estados de Pernambuco e Alagoas, e Reserva Extrativista de Corumbau, no estado da Bahia – e uma terceira, em região de água doce: Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, no estado do Amazonas. O conteúdo é apresentado em três formatos: um spot de um minuto chamando a atenção para o tema; um segundo spot com sete minutos, que discorre sobre o tema e apenas cita as experiências brasileiras, e uma versão com 24 minutos, onde os três estudos de caso são apresentados com mais detalhes. Disponível no Youtube (http://www.youtube.com/user/MMAGBA) em três partes, o vídeo foi selecionado para comemorar o Ano Internacional da Biodiversidade, no tema “Histórias de sucesso” da Convenção de Diversidade Biológica - CDB. Figura 3 – Representação hipotética de uma rede de áreas protegidas marinhas e zonas de exclusão de pesca (Fonte: Prates, 2007. Ministério do Meio Ambiente, Série Áreas Protegidas n. 4). Além de garantir a produção pesqueira, os ecossistemas costeiros e marinhos proporcionam bens e serviços essenciais relacionados com alimentos e biotecnologia, manutenção do clima, purificação da água, controle das inundações e proteção costeira, bem como o turismo e lazer. O relatório “A Economia de Ecossistemas e da Biodiversidade” (TEEB, em inglês) estima que tais subsídios podem gerar um valor de cerca de US$ 14 bilhões de dólares anualmente. O cálculo envolve o valor potencial de produtos comercializados, como o pescado, além do valor adicional de serviços ainda não-comercializados, incluindo o sequestro de carbono e a proteção da linha de costa. Um reforço aos compromissos de se aumentar os percentuais de áreas protegidas foi dado pela Resolução 03/2006 do CONABIO – Comissão Nacional de Biodiversidade, que aprovou como metas nacionais para se conter a perda de biodiversidade até 2012 a necessidade de se aumentar para 10% as áreas marinhas e costeiras e 10% de unidades de proteção integral e/ou áreas de exclusão de pesca. Em 2010, durante a 10ª reunião das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica em Nagoya, Japão, esse compromisso foi reafirmado e estendido até 2020 com a meta de 10 % de áreas protegidas na zona costeira e marinha conservadas em unidades de conservação. De acordo com o Panorama da Conservação dos Ecossistemas Costeiros e Marinhos do Brasil lançado pelo MMA em 2010, apenas 1,57% da zona marinha está protegida, representando uma grande lacuna em termos de áreas protegidas no Brasil. A ampliação dessas áreas deve ser otimizada e desenhada como um sistema contendo a integração entre unidades de conservação de uso sustentável, de proteção integral, áreas de exclusão de pesca, iniciativas de ordenamento costeiro e de gestão de bacias hidrográficas, em forma de rede. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERREIRA, B. P.; PRATES, A. P. L.; LEÃO, Z. Iniciativas e perspectivas brasileiras para a conservação dos recifes de coral no Brasil. In: WILKINSON, C. Sumário Executivo do Status dos Recifes de Coral no Mundo 2008. Brasília: MMA, 2009. (Versão em português). MMA. Panorama da Conservação dos Ecossistemas Costeiros e Marinhos no Brasil. Secretaria de Biodiversidade e Florestas/Gerência de Biodiversidade Aquática e recursos Pesqueiros. Brasília: MMA/SBF/GBA, 2010. 148 p. PARTNERSHIP FOR INTERDISCIPLINARY STUDIES OF COASTAL OCEANS (PISCO). La Ciencia de las Reservas Marinas. 2.ed. 2008. 22 p. Disponível em: <www.piscoweb. org>. (Versión para Latinoamérica y El Caribe). PRATES, A. P. P. Plano Nacional de Áreas Protegidas: o contexto das áreas costeiras e marinhas. In: MMA. Áreas Aquáticas Protegidas como Instrumento de Gestão Pesqueira. Brasília: MMA, 2007. 17-23 p. (Série Áreas Protegidas n. 4). THE ECONOMICS OF ECOSYSTEMS AND BIODIVERSITY (TEEB). Climate Issues Update. September 2009. 43