Silva et al 2012 VI Simposium Nacional de Olivicultura
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Silva et al 2012 VI Simposium Nacional de Olivicultura
Efeito da intensificação cultural na diversidade de Araneae no solo dos olivais da região Alentejo Andreína Silva1, Jacinto Benhadi-Marín2, Sónia A. P. Santos3, José A. Pereira3, Albino Bento3, Cláudia Gonçalves1 & Maria Isabel Patanita1 1Instituto Politécnico de Beja, Escola Superior Agrária, Departamento de Biociências, R. Pedro Soares, 7800-295 Beja, Portugal. [email protected] 2Departamento de Biodiversidad y Gestion Ambiental. Area de Zoologia, Universidad de León, Campus de Vegazana, 24071 León, España. 3Centro de Investigação de Montanha, Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Sta Apolónia, Apt 1172, 5301-855 Bragança, Portugal. Introdução Nos últimos 40 anos, nos países mais desenvolvidos tem-se experimentado uma revolução agrícola. O impacto dessa transformação foi tal, que as prioridades da sociedade para a agricultura e uso da terra mudaram substancialmente (Lafferty & Walsh, 1999). Estas mudanças dramáticas no uso do solo incluem a conversão de ecossistemas naturais complexos para ecossistemas simplificados e geridos com uma intensificação da utilização dos recursos, incluindo a aplicação de pesticidas. Não só a biodiversidade de habitats naturais e tradicionais, mas também a biodiversidade de agro-ecossistemas intensamente utilizados tem sido muito reduzida nas últimas décadas (Tscharntke et al., 2005). Nos agro-ecossistemas, as aranhas fazem parte de comunidades ricas em espécies herbívoras, detritívoras e carnívoras. Em resposta a um acréscimo de alternativa nutritiva, o efeito de uma espécie numa população de pragas pode ser aumentado, se a população de aranhas aumentar drasticamente (Jeffries & Lawton, 1984, Axelsen et al., 1997 in Sunderland, 1999). O principal objectivo deste trabalho é conhecer o impacto que têm os diferentes sistemas de condução do olival sobre as populações de aranhas presentes neste: como é afectada a sua abundância e diversidade. Material e métodos Em 4 olivais da região do Alentejo constituíram-se 5 blocos com 5 árvores cada um, debaixo das quais foram colocadas armadilhas do tipo pitfall. A colocação das armadilhas consistiu na inserção de recipientes de plástico de 6 cm de diâmetro e capacidade aproximada de 100 ml com a abertura do recipiente ao nível do solo. As armadilhas foram preenchidas até metade da sua capacidade com uma mistura de água e detergente. Os artrópodes foram levados para o laboratório, triados e identificados recorrendo às chaves de identificação de aranhas (Nentwig, 2010, Roberts, 1985, 1987, 1996, Simon, et al., 1914-1937). Na análise dos dados aplicou-se um tipo de análise multivariada (PCA) e o software Estimates versão 8.2 (Colwell, 2009) foi utilizado para o cálculo das curvas de acumulação de espécies. As curvas foram modeladas para os meses de maior riqueza, usando o programa Statistica versão 7 (StatSoft, 2008) e ajustadas ao modelo de Clench (Jiménez-Valverde e Hortal, 2003; Soberón e Llorent, 1993) de acordo com a Figura 1- Colocação das armadilhas de queda. equação Sn= a×n/(1+bn). Resultados Composição da comunidade de aranhas do solo Os períodos de amostragem (Fig. 2) que apresentaram maior riqueza de aranhas, foram Junho e Outubro de 2010. A Figura 2- Riqueza de famílias durante o período de estudo de 2010. B Tabela 1- Riqueza de famílias durante o período de estudo de 2010 Famílias Agelenidae Clubionidae Corinnidae Dictynidae Eresidae Erigonidae Gnaphosidae Linyphiidae Lycosidae Miturgidae Nemesiidae Oxyopidae Philodromidae Pholcidae Prodidomidae Salticidae Sicariidae Sparassidae Titanoacidae Theridiidae Thomisidae Zodariidae Zoridae Total Biológico N f %O 22 16 9.14 1 1 0.57 1 1 0.57 16 4 32 14 4 27 8.00 2.28 15.42 1 2 1 2 0.57 1.14 1 1 1 0.57 2 1.14 N 15 2 2 10 2 Sebe f %O 13 7.42 2 2 9 2 1.14 1.14 5.14 1.14 Intensivo N f %O 36 23 13.14 Tradicional N f %O 17 11 6.28 1 1 1 1 0.57 0.57 1 1 1 1 0.57 0.57 1 8 14 4 2 1 8 10 3 2 0.57 4.57 5.71 1.71 1.14 9 2 11 7 2 10 4.00 1.14 5.71 1 1 0.57 1 1 0.57 1 1 1 1 1 1 0.57 0.57 0.57 3 3 6 3 3 4 1.71 1.71 2.28 1 1 0.57 1 1 0.57 9 12 3 3 15 1 124 14 1 3 3 8.00 0.57 1.71 1.71 16 1 3 3 14 1 3 3 8.00 0.57 1.71 1.71 54 2 8 80 2 8 1.14 4.57 C D 57 N – Valor absoluto. f – frequência relativa. %O – percentagem de ocorrência. Figura 3- Análise de componentes principais para as aranhas do solo no ano de 2010. As famílias que apresentaram maior frequência (Tabela 1) e ocorrência foram Agelenidae, Gnaphosidae, Lycosidae e Zodariidae verificando-se em 63, 31, 49 e 18 amostras em respectivamente. O diagrama da ACP (Fig. 3) para as aranhas capturadas no solo mostra que as famílias Lycosidae, Gnaphosidae e Zodariidae estão associadas ao olival biológico. Relativamente ao olival em sebe é a família Titanoecidae que o caracteriza. A família Agelenidae surge com abundância nos quatros olivais estudados. Nas curvas de acumulação (Fig. 4) constata-se que a riqueza estimada (a/b) é maior no olival biológico, com 14 famílias, na sebe com 13, no tradicional com 12 e no intensivo com apenas 6 famílias. Quanto à proporção de fauna registada é de 84% no olival intensivo, 64% no biológico, 59% no tradicional e 45% na sebe. Figura 4- Curvas de acumulação de famílias de aranhas do solo dos distintos tipos de olival: biológico (A), em sebe (B), intensivo (C) e tradicional (D) na data de maior riqueza. Conclusão Foram identificadas 23 famílias no solo do olival. As famílias mais abundantes no olival tradicional foram Agelenidae e Lycosidae, Agelenidae e Linyphiidae no olival intensivo em modo de produção biológica, Lycosidae e Gnaphosidae no intensivo em modo de produção integrada e Titanoecidae e Agelenidae no olival em sebe. Os períodos de amostragem devem concentrar-se nos meses de Junho e Outubro dado que que são os meses onde se pode encontrar uma maior riqueza na maioria dos olivais. Mediante os resultados obtidos, entre 35 e 37 amostras serão suficientes para alcançar um inventário de qualidade para o solo. A percentagem de araneofauna registada foi de 84% no intensivo, 64% no biológico, 59% no tradicional e 45% na sebe. Referências bibliográficas Colwell, R. K. (2009). EstimateS, Statistical Estimation of Species Richness and Shared Species from Samples (Software and User´s Guide), Versão 8.2.0. Freeware for Windows and Mac OS. - http://viceroy.eeb.uconn.edu/EstimateS (3 de Setembro de 2011) Jiménez-Valverde, A. & Hortal, J. 2003. Las curvas de acumulación de especies y la necesidad de evaluar la calidad de los inventarios biológicos. Revista Ibérica de Aracnología, 8: 151-161. Lafferty, S., Commins, P. & Walsh, J.A. 1999. Irish Agriculture in Transition: A Census Atlas of Agriculture in the Republic of Ireland. Teagasc, Dublin. Nentwig W., Blick T., Gloor D., Hänggi A. e Kropf C. (2010). Spiders of Europe. Disponível em: www.araneae.unibe.ch. Versão: 10.2010. [Consultado 16/03/2011] Roberts, M. 1985. The Spiders of Great Britain and Ireland. Atypidae to Theridosomatidae. Vol. 1. Harley Books, Colchester, Essex. 229 pp. Roberts, M. J. 1987. The Spiders of Great Britain and Ireland. Linyphiidae. Vol. 2. Harley Books, Colchester, Essex. 204 pp. Roberts, M. J. 1996. Spiders of Britain & Northern Europe. Collins Field Guide. Harper Collins Publishers. London. 383 pp. Simon, E. 1914-1937. Les Arachnides de France. Sinopsis generale et catalogue des espèces françaises de l´ordre Araneae. Tomo VI. Editions Encyclopédie Roret-Mulot. Paris. 1298 pp. Statsoft, INC. (2007). STATISTICA (Data Analysis Software System), Versão: 8.0. www.statsoft.com. Soberón J e Llorente J. (1993). The use of species accumulation functions for the prediction of species richness. Conservation Biology 7: 480–488. Sunderland, Keith 1999. Mechanisms underlying the effects of spiders on pest populations. The Journal of Aracnology 27:308-316. Tscharntke, Teja, Klein, M. Alexandra, Kruess, Andreas, Steffan-Dewenter, Ingolf & Thies, Carsten 2005. Landscape perspectives on agricultural intensification and biodiversity-ecosystem service management. Ecology Letters 8:857-874. Agradecimentos Este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia através do projeto PTDC/AGR - PRO/ 111123 /2009: A utilização de indicadores biológicos como ferramentas para avaliar o impacto de práticas agrícolas na sustentabilidade do olival e ainda pelo projecto PRODER – REMDA-Olival: Rede para a monitorização e divulgação das melhores práticas agroambientais para o olival.
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