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Edição 04 - Jun/2016 Bilhete do Editor Bem, parece que a Edição #03 fez sucesso. A repercussão foi muito boa. Isso, de certa forma, prova que temos carência de boa literatura especializada em lingua portuguesa, o que isola muita gente de um conhecimento que sempre será bem-vindo, seja qual for a modalidade de nosso hobby que se pratique. E isso nos desperta para todos aqueles artigos técnicos que, em lingua estrangeira, repousavam em algum armário ou gaveta, mantidos apenas para nosso conhecimento, não beneficiando outros. Então é hora de despertá-los. Aeromodelistas por Paixão! Se for em inglês ou espanhol, eu dou conta. Se for alemão, o povo de Blumenau pode ajudar. E assim teremos, com certeza, traduções vindas do japonês, italiano, latim, egípcio arcaico e... caramba, vocês entenderam a idéia. Vamos nos tecnificar com leituras de nível, alto nível. Portanto, rapazes, e meninas, desenterrem aqueles artigos supimpas e vamos pô-los a reviver, para a delícia da torcida. E nessa edição temos a estréia de “Aeronaves da Edição” (não confundir com os “Aviões da Edição” que são máquinas biológicas avançadíssimas - os chamados “bicho bão”). O curador da página das aeronaves é nada mais ou menos que o mais que famoso Gilberto Aeromodelista. Bem-vindo Grande Gilberto. gpLeitner RC SCALE AIRCRAFT MODELS FOR EVERYDAY FLYING No capitulo anterior, ou edição anterior, elegemos como nosso herói o autor britânico Gordon Whitehead que em princípios de 1980 escreveu uma quase-bíblia da escala-esporte, com algumas incursões na escala de ponta. Agora continuamos com a deliciosa tradução e leitura daquela obra, e iremos agregando também contribuições que nos chegarem de outras fontes. Como já dito, a idéia é ir formando uma biblioteca de material de primeira linha que possa interessar a um amplo espectro de praticantes de nosso hobby. Queremos nos distanciar do texto básico de aeromodelismo pois este já está muito bem coberto pela literatura produzida aqui no Brasil. Então vamos lá, vamos seguir com nosso trabalho que, confesso, também me dá grande satisfação de rever e traduzir. CONSIDERAÇÕES AERODINÂMICAS Autor: Gordon Whitehead [continuação da edição anterior] REQUISITOS BÁSICOS DE ESTABILIDADE C om os ângulos de asa e estabilizador decididos, o próximo tópico em termos de aerodinâmica é aquele da estabilidade. Não carece exigir de nossos modelos rc que voem tão estavelmente como um modelo de voo livre, mas algum grau de estabilidade inerente é sempre bem-vindo, de forma que se possa deixar o modelo voar um tanto por si próprio enquanto o piloto se põe a admirar sua belezura voadora. A menos que nosso modelo não conte com ailerons, não há por que mudar os ângulos de diedro, uma vez que raramente obtemos instabilidade no eixo de rolagem*2 decorrente de diedro ou sua ausência (o fenômeno de instabilidade denominado “estol de ponta de asa” normalmente é um problema de CG e velocidade, embora a ocorrência de washin*3 acidental nas pontas de asa contribua um bocado para agravar o problema). Nossa principal consideração é nos assegurar da estabilidade de arfagem (no sentido longitudinal - veja referência *2). Os fatores que determinam quão estável nosso modelo será com relação à arfagem são: a proporção da área do estabilizador para a área da asa (normalmente expresso como percentagem da área de asa); o braço de momento do estabi1 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 lizador (em termos amplos, a distância entre o estabilizador e a asa) e a posição do CG. ÁREA DE EMPENAGEM E ESTABILIDADE P egando essas variáveis uma a uma, descobriremos que uma empenagem maior dará mais estabilidade longitudinal. Uma empenagem ampla amortecerá o movimento de arfagem mais rapidamente do que uma empenagem mais comedida, além do que é capaz de providenciar um efeito de restauração do ângulo de ataque da asa mais rapidamente. O resultado será também uma menor sensibilidade a rajadas de vento - útil quando se trata de pousos - e menor maneabilidade (NE: aqui entendida como capacidade de manobra) no plano de looping (dificilmente notável em um aeromodelo). Por outro lado se nosso objeto de modelagem tem a maneabilidade como requisito primordial, então terá de ser equipado com uma menor empenagem. Por exemplo, treinadores básicos, bombardeiros e aviões de reconhecimento tem empenagens de um tamanho bastante respeitável, entre 20 a 25% da área de asa. Com tais aviões a maneabilidade não é um grande requisito. Todavia em aeronaves de caça a empenagem é sensivelmente menor, usualmente menos de 10% da área de asa, o que produz um grau bem menor de estabilidade inerente e permite ao piloto mudar a linha de voo muito rapidamente. pura conveniência. RELAÇÃO ENTRE ÁREA DE EMPENAGEM E CG A partir do fato de que empenagens menores geram comportamento mais instável que empenagens maiores, segue-se que, para uma estabilidade equivalente, um avião com pequena empenagem demandará que seu CG seja empurrado para a frente em comparação com aquele com uma empenagem maior. Para ilustrar essa afirmação com números práticos, foi determinado que se um protótipo tiver uma área de empenagem de 10% da área de asa, então o CG do modelo deverá estar a cerca de 1/4 da corda (25%). Se a empenagem do protótipo tiver de 20 a 25% da área de asa o CG do modelo estará posicionado em 30 a 35% da corda. Podemos calcular o CG de maneira bem fácil, como veremos no capítulo “Alcançando o balanço correto (CG)”. CG E ESTABILIDADE Focando agora a questão do CG, vere- mos que quanto mais à frente ele estiver, mais estável será a aeronave, e vice-versa. Seguese que a instabilidade longitudinal de um aeroplano (“nervosismo”) pode ser atenuada ao se acrescentar lastro de forma a mover o CG mais à frente. Quanto mais lastro acrescentado o avião se tornará mais e mais insensível ao profundor ao ponto de tornar-se preguiçoso na arfagem - logo existe um limite à frente até onde pode-se levar o CG. Mas também existe um limite atrás, no ponto onde o CG deixará o avião tão nervoso, tão sensível ao profundor, que minutos de deflexão deste poderão provocar mudanças bruscas de direção. E m modelos , a posição do CG é corretamente definida como uma percentagem da corda média da asa, medida essa contada a partir do bordo de ataque e na mesma posição desta corda média (Fig. #11). Em kits e plantas, todavia, o CG é usualmente medido a partir do bordo de ataque na raiz da asa, por MOMENTO DE EMPENAGEM E ESTABILIDADE S e o braço de momento (ou braço de alavanca) for longo, a empenagem exercerá uma grande alavancagem, então produzindo um maior efeito de estabilização. Segue-se que aeroplanos com longos braços de momento podem se haver com empenagens de pequena área. Muitos planadores reais tem empenagens com somente 5% da área de asa, mas seus braços de momento são bem mais longos em comparação com outros aviões. ESTABILIDADE DIRECIONAL E mbora áreas de empenagem horizontal sejam sempre um tópico “caliente” entre aeromodelistas quando se trata da estabilidade de modelos, raramente se escuta alguém mencionar o efeito dos tamanhos de área de empenagens verticais nessa mesma estabilidade. Em verdade os modelos raramente apresentam instabilidade de guinadas como resultado, digamos, da insuficiência de áreas no estabilizador vertical e leme. Por instabilida2 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 de entendo a tendência do modelo de sair de lado e seguir em modo próprio, à revelia do piloto, da mesma forma que um CG recuado pode promover tendências a “corcoveios” longitudinais. A lguns modelos escala apresentam comportamentos em curvas que podem ser bem embaraçosos, mas o problema, todavia, é causado por uma combinação de efeitos. Em verdade o termo deveria ser refraseado para “comportamentos inaceitáveis” no lugar de instabilidade, uma vez que ocorre quando os ailerons são defletidos para iniciar uma curva e a ação corretiva é direta e predizível. Eu me refiro, claro, ao que se chama “guinada adversa de aileron” (ou “giro adverso de aileron”). GUINADA ADVERSA DE AILERON (GAA) Com um modelo de voo lento, particularmente um modelo de biplano antigo, quando você inicia uma curva somente com ailerons você notará que a fuselagem terá a tendência de apontar para o lado oposto da curva. Por exemplo, injetando aileron a direita levará o avião a se inclinar para esquerda, como se você tivesse aplicado leme a esquerda. Com alguns modelos, como o Tiger Moth, essa inclinação pode ser apenas momentânea, e a deriva (estabilizador vertical) logo assumirá a correção automática do modelo na direção apropriada de voo. Com outros, como o Avro 504K, essa inclinação à esquerda se fará permanente, o que levará o modelo a girar à direita com sua cauda caida para o mesmo lado, como mostrado na Fig. #12. descendente aumentar a sustentação de sua asa respectiva, o arrasto tende a retardar essa mesma asa. O aileron ascendente, por sua vez, reduz a sustentação de sua asa mas acaba causando um arrasto de menor valor (em verdade trata-se da questão da asa interna à curva percorrer um distância menor, no mesmo intervalo de tempo, portanto a uma velocidade menor, daí o arrasto menor). Esse efeito secundário da deflexão dos ailerons, portanto, é guinar a aeronave no sentido do aileron descendente, fazendo com que o nariz tenda a apontar para o lado externo da curva, como mostrado na Fig. #13. Esse efeito só é comum em aviões de voo lento, uma vez que o pouco fluxo de ar sobre as superfícies aéreas exige deflexões dos ailerons com uma magnitude ampliada de sorte a se obter o ângulo apropriado para a guinada. Aviões rápidos raramente exibem esse efeito, embora máquinas aerobáticas possam vez por outra apresentá-lo. Quando um modelo aerobático voa em um padrão semelhante ao Aresti*4 com certeza estará voando a maior parte do tempo em regime de quase estol, é evidente que as pronunciadas deflexões de aileron tenderão a criar o efeito da GAA, mas nada que um piloto experiente não saiba compensar aplicando instintivamente a correta deflexão de leme. A S empre se pode reagir preventivamente e eliminar esse efeito pela aplicação antecipada de um toque de leme a direita, em movimento coordenado com os ailerons enquanto durar o giro. Notarse-á, entretanto, que em nossos modelos esse efeito é bem menos marcante quando girando-se à esquerda, provavelmente pela assistência do torque do motor, que no caso se revela um benefício. pesar da maioria dos modelos escala não sofrerem com GAA, pode-se prever, com quase toda a certeza, que modelos vintage apresentarão este efeito, razão por nele nos O efeito da GAA aparece porque, apesar do aileron 3 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 termos debruçado. A primeira ação, todavia, é completar o modelo e pô-lo a voar para verificar o comportamento. Se a GAA não se manifestar, oba! estamos com sorte. Se, porém, ela se mostrar, então teremos de praticar curvas com a assistência coordenada do leme para ajudar os ailerons. Para a maioria dos modelos essa curva coordenada resolverá o problema. ailerons (NE: incluo imagem extra em seguida - não constante do original). É necessário afir- O casionalmente poder-se-á encontrar modelos rebeldes a um tal remédio, o que fica evidente pela necessidade de se aplicar leme demais de tal sorte que o modelo parece “bufar” de tanto esforço. Isso aconteceu com um de meus próprios aeromodelos, o Avro 504k com 48” de envergadura. Conversei com outros que também tinham construido este modelo que me afirmaram que os ailerons eram inúteis para fazer curvas, a tal ponto que reverteram suas práticas de forma a voar apenas com leme e profundor. Mas como tal situação limita a “voabilidade” do modelo (sem rolls, sem glissadas, nenhuma descida em folha morta), eu perseverei com as quatro funções de controle e descobri que aumentando a área da empenagem vertical produzia-se bons resultados, reduzindo a GAA a níveis aceitáveis. Meu Avro precisou quase dobrar a área do leme original para tal efeito. Após umas tantas saídas, eu já nem percebia o leme sobredimensionado, e quase ninguém também o percebeu. Daí, então, conclui que uma maneira de resolver a GAA é empregar superfícies verticais ampliadas mesmo que fora de escala. A inda no departamento de meu Avro, vivi uma experiência interessante que foi mantê -lo em voo estável e retilíneo e aí, lentamente, elevar o aileron direito, o que fez o modelo escorregar amplamente para a esquerda - em um dia calmo até se conseguia fazer uma volta completa à esquerda. Após a correção da empenagem vertical esse fenômeno absurdo deixou de ocorrer. P rojetistas de aeronaves full-size combatem a GAA seja pela adoção de controle diferencial dos ailerons (mais deslocamento para cima do que para baixo) ou o sistema Frise de mar, outrossim, que nenhum destes métodos tem grande impacto em nossos modelos. De qualquer forma eu os mencionei uma vez que no capítulo “Superfícies de Controle” eles se apresentarão como itens de escala que merecerão ser modelados. WASHOUT DE ASA C onstatou-se que asas acentuadamente trapezoidais (tapered) são altamente viciadas em estolar, rapidamente “derrubando” uma asa e por vezes girando a um voo invertido à moda de um clássico estol de ponta de asa. Em estol é desejável que a porção central da asa estole primeiro do que as pontas, desse modo as pontas continuarão a suportar a asa em voo nivelado enquanto o nariz desce. Uma maneira de se obter um retardo de estol nas pontas de asa é embutir no desenho da asa um washout progressivo. Isso significa estabelecer um ângulo de incidência negativo nas pontas em relação à incidência nas demais porções da asa (Fig. #14). Agora, mais washout do que é necessário acaba atrapalhando e causa um roll inadvertido no topo de loops e relutância em voar invertido manifestando tendência a desvirar. Via de regra, um NÃO ESPERE A BOA VONTADE DOS OUTROS: RECEBA SEU EXEMPLAR EM PRIMEIRA MÃO! Basta solicitar sua inclusão no mailing-list da publicação e você a receberá tão logo cada edição esteja pronta. Para tanto escreva um email informando: 1) seu nome completo; 2) endereço físico completo; 3) idade; 4) clube associado (se houver). É grátis e ela assim será mantida . Divulgue para todos que você conheça: vamos aumentar a circulação, abrangência e tamanho desta nossa newsletter. Escreva para: [email protected] 4 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 os estais e montantes de tal forma a dar uma certa torção na asa esquerda cujo resultado era acrescentar um grau ou pouco mais na incidência dessa asa. Tal refinamento não se faz necessário em nossos modelos bastandonos trimar um pouco os ailerons para obter o efeito desejado, se o desalinhamento intencional do motor não for suficiente. O método inicialmente mencionado fazia por aumentar a sustentação da asa esquerda, girando o avião no sentido contra-rotatório do motor, giro esse que também poderia ser compensado com módicos ajustes do leme para a obtenção de um voo retilíneo e estável. Esse tipo de ajuste não fica confinado apenas a biplanos já que os projetistas de monoplanos reais usavam liguetas, referidas como linguetas de aileron, para obter o efeito desejado. D valor aplicável universalmente para washouts definiu-se como 20 em quase todos os candidatos, como caças, pylon etc. Na verdade washout é um ítem comum em quase todas as aeronaves reais. O Spitfire full-size tinha 2.50, com 20 de incidência na raiz e -0,50 nas pontas. Em aeromodelos é desnecessário aplicar washout em asas retangulares. Ainda, pensando no washout e seus benefícios, é bom lembrar que ele não irá curar uma alta velocidade de estol causada pelo abuso de peso na construção do aeromodelo. A maior parte dos aviões alemães da WWI empregavam um washout de ponta de asa usualmente na forma de uma torção no aileron e, sob o ponto de vista da aparência e facilidade de construção, é uma boa idéia fazer o mesmo em nossos modelos. Todavia, a maioria dos biplanos dispensam qualquer necessidade de washout, pois parece que enquanto uma asa começa a estolar, portanto perdendo sustentação, a outra continua voando um pouco mais (com decalagem ou não!). Isso faz com que a descida do nariz se faça de modo suave, desde que, claro, o estol se dê numa atitude razoavelmente horizontal e não com um zoom de nariz colocando-o a 450 espetado no ar. COMPENSANDO O TORQUE E ra comum em aviões antigos providenciar uma torção na asa para auxiliar na compensação do torque do motor. Com uma rotação da hélice no mesmo sentido daquelas de nossos modelos, os construtores ajustavam e maneira a deixar bem óbvia a necessidade de usar leme para compensar a guinada adversa, a maioria dos modelistas compensa o torque levantando um pouco o aileron direito. Qualquer arrasto ou guinada são bem menos sentidos e apenas contra o aileron levantado. Uma deflexão de meros 1.5 ou 2 mm no aileron ajustado desta forma é o bastante para a maioria dos modelos. SLOTS DE ASA E SEUS BENEFÍCIOS M uitos aviões que são foco obsessivo de aeromodelistas em verdade tem uma construção bem mais complicada do que a maioria de nós aceitaria encarar. Um destes complicadores são os slots (fendas aerodinâmicas) - NE: slot já é um termo tão em uso corriqueiro na aviação que não cabe tradução. Todavia, uma vez que os princípios básico dos slots sejam compreendidos, não há qualquer razão válida para deixá-los de lado. Um slot de asa é formado pela inclusão de um aerofólio adicional chamado slat que é instalado paralelo e muito próximo do bordo de ataque da asa. A finalidade deste slat é eliminar a instabilidade no fluxo de ar sobre o extradorso da asa que ocorre com grandes ângulos de ataque. O aerofólio adicional funciona como uma pequena asa que fica em um pequeno ângulo de ataque quando a asa toda estiver em grandes ângulos de ataque e assim tem um fluxo de ar não turbulento sobre sua superfície. Adicionalmente o slat deflete o fluxo de ar tornando-o não turbulento sobre toda a superfície da asa, turbulência que ocorreria normalmente nos grandes ângulos de ataque. Isso é mostrado graficamente na Fig. #15. O slat permite um aumento da sustentação mesmo quando o ângulo de ataque aumenta além da faixa onde o estol ocorreria, e por conseguinte diminui a velocidade de estol e a velo5 Edição 04 - Jun/2016 cidade onde parafusos teriam começo. O efeito de fixar slats ao longo de todo o bordo de ataque da asa é obter um coeficiente de sustentação ampliado, ou seja, melhorar a “sustentabilidade” da asa. Todavia esse efeito na sustentação somente pode ser conseguido quando se aumenta significativamente o ângulo de ataque na asa. Isso, por sua vez, demandará uma rotação muito pronunciada da fuselagem e daí, desde que se procure obter o máximo de característica STOL (veja glossário), por decorrência ter-se-á que recorrer ao emprego de trens de pouso bastante mais altos. Não é por outra razão que o Fieseler Storch e o Westland Lysander usam tais trens de pouso, digamos “pernaltas”. Para que não tenhamos de usar trens de pouso tão altos em nossos modelos, um remédio que se usa é é fixar slats apenas nas pontas de asa, fazendo com a sua porção interna seja apenas um slat falso, sem função aerodinâmica, e por consequência sem o correspondente slot. Com isso obtem-se também estabilidade lateral perto da velocidade de estol sem a necessidade de uso de washout. Como empregado nos dois aviões men- Aeromodelistas por Paixão! cionados, o slat é um dispositivo que gera elevada sustentação e que permite decolagens com grande inclinação vertical e aproximações de pouso também bastante inclinadas, reduzindo a distância percorrida em solo seja na decolagem ou no pouso (Fig.16). Outras aeronaves tem bordos de ataque providos de slats automáticos que saltam abertos em posição quando a asa está próxima a estol, por exemplo numa curva de alto “g”, com que pode-se então obter curvas mais fechadas. No Messerschimitt Bf 109 os seus slats automáticos estavam também conectados a seus flaps de sorte que eles emergiam quando os flaps eram baixados para pouso. Slats automáticos também eram usados nos Me 110, Me 262, no 6 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 Lavochkim La5, enquanto no caça a foguete Me 163 Komet estes eram fixos, assim como no ultra-leve Druine Turbulent. E nquanto slats reduzem o arrasto em grandes ângulos de ataque, ele causa um aumento de arrasto em ângulos de ataque menores, razão porque caças, jatos, mesmo jatos comerciais e até o Tiger Moth tem slats retráteis para fecharem o slot (como curiosidade, os slats do Tiger Moth real produz uma redução da velocidade de estol de apenas 3 mph, ou aproximadamente 5 Km/h). APLICAÇÃO DE SLATS EM MODELOS A o incorporar slats nos modelos a fresta de saída do slot deve ser menor que a fresta de entrada. Se forem de mesmo tamanho, ou ainda pior, se for o reverso, uma perda significativa de sustentação e estabilidade ocorrerão com certeza. O Fieseler Storch de um amigo meu demonstrou isso à exaustão com um voo molenga e com baixa resposta de aileron até seu derradeiro e amargo fim! Com um avião do tipo do Turbulent, o slat embutido pode seguir o contorno do aerofolio. Ja em slats “aditivos” (posteriormente instalados por sobre o bordo de ataque da asa) demandam que estes sejam construidos como autênticos aerofólios (como se pequenas asas fossem) e são montados de tal forma que o bordo de ataque do slat fique igeiramente abaixo do bordo de ataque da asa. A Fig. #17 mostra vários destes arranjos. esses são universalmente suspeitos por não serem fiéis. Dimensões claramente especificadas deverão ser usadas se estas estiverem disponíveis. Faltando tais dimensões, uma fresta de entrada na proporção de três vezes a fresta de saída é o padrão, usando-se uma fresta de 1/8” na saída para uma corda de asa de 9”, ou proporção equivalente. Isso sempre oferece uma solução muito satisfatória. Esses parâmetros tem sido usados em inúmeros modelos escala bem sucedidos, e mesmo modelos não escala, e, grosseiramente, são parâmetros que correspondem àqueles usados em aeronaves reais. Note-se que se estivermos planejando slats retráteis (certo! estamos lidando com escala-esporte, mas isso não impedirá alguém de tentá-lo, até porque não estará competinndo) teremos de providenciar uma linkagem me mova o slat para frente e para baixo de tal modo a manter a fresta de entrada maior que a de saida. Os parâmetros dados aqui devem permitir ao leitor projetar, construir e voar com exito seu modelo na primeira tentativa. FLAPS A função dos flaps, quando baixados, é aumentar a sustentação das asas e portanto decolar em uma distância mais curta, assim S e o modelo proposto comportar slats, a melhor prática é não usar a escala retratada ns desenhos de três vistas padrão, uma vez que 7 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 como adotar um planeio com mais inclinação vertical do que seria possível sem seu auxílio. Sendo acionados para o pouso, os flaps também aumentam o arrasto, reduzindo a velocidade de aproximação e aumentando o ângulo de ataque efetivo das asas de tal forma que aeronave não precisará adotar uma atitude de nariz por demais elevado como seria necessário com o uso apenas de slats - veja a Fig. #18. E mais: a maior parte das aeronaves que interessam para modelagem, utilizam ples (ver os tipos de flaps, Fig. #19) em decolagem, uma pequena deflexão, entre 150 e 300, é o padrão, enquanto em pousos 600 é bastante normal. É, porém, muito difícil recomendar quanto de deflexão deve-se usar, até porque aqueles já famosos desenhos de três vistas nada nos esclarecem, talvez sendo uma razão porque vemos tão poucos modelos equipados com flaps nas pistas em que voamos. EXEMPLOS DE DEFLEXÕES DE FLAPS REAIS A qui estão alguns exemplos: • o Spitfire tinha um flap ventral no bordo de fuga para o pouso, com duas posições: fechado ou 900; • assim era também o Gloster Gladiator, com flaps nas quatro asas; • o Me 109, tinha um flap de fenda e usava 200 para decolagem e 400 para pouso em conjunto com slats e 110 de deflexão para baixo em ambos os ailerons; • o Chipmunk também tinha flaps de fenda e usava 150 e 450 respectivamente; • o Westland Whirlwind, com slats retráteis tinha um flap Fowler usava 120 de deflexão E flaps apenas na parte central das asas (junto à fuselagem). Quando tais flaps são baixados, apesar da parte central da asa assumir uma atitude de maior ângulo efetivo de incidência, as pontas manterão a incidência padrão. Isso tem o efeito de introduzir um efeito de washout extra, utilíssimo nos pousos. E m ângulos de depressão pequenos, os flaps introduzem um acréscimo de sustentação sem muito acréscimo de arrasto induzido. Todavia, se o ângulo de depressão dos flaps aumenta, o arrasto aumenta consequentemnte, até o flap passar a funcionar como um efetivo freio aerodinâmico, enquanto mantém uma elevada sustentação. Usando flap sim- m conclusão, e considerando-se que a instalação de flaps não é tão mais complicada que a instalação de ailerons, eu faço uma forte recomendação para que você equipe pelo menos um modelo seu com flaps, daí fazendo uso deles para se divertir e adquirir experiência. (NE: uma alternativa menos custosa, mas não tão plena, é o uso de mix flaperon, ou seja usando deflexões iguais - e de mesmo sentido, claro! - em ambos os ailerons, sem lhes tirar o movimento típico de funcionamento). Um único requisito vital na instalação de flaps clássicos: uma linkagem livre de “barrigas”, de tal sorte que se assegure a descida absolutamente simétrica dos flaps nos pares de asas. Também seria bastante recomendável que o percurso destes flaps fosse o mais amplo possível, de forma que você pudesse sentir-lhes, nas várias deflexões, seus efeitos distintos de sustentação e de freio aerodinâmico. PLOTAGEM DE AEROFÓLIOS NE: mais uma vez vou lembrar que o livro que deu origem a estas edições de Aeromodelistas por Paixão, foi escrito em 1980 - a era do PC mal despontava. Portanto recursos de informática acessíveis ao aeromodelista para o desenho/projeto técnico eram absolutamente desconhecidos. Não foi por outra razão que o autor se deu ao trabalho de narrar o método de plotagem de aerofólios em coordenadas cartesianas, coisa que me dispenso aqui de incluir, até porque óbvio demais. Esse processo que antes era feito em prancheta, com auxílio das chamadas “curvas francesas” (que no caso não tinham nenhuma conotação eróti8 Edição 04 - Jun/2016 Aeromodelistas por Paixão! ca) hoje são facilmente obtidas pelos software de CAD, como o Autocad, o Solid Works e também vários outros programas gratuitos que o aeromodelista pode encontrar na internet bastando pesquisar no Google. Acrescente-se que com tais recursos de informática para desenhar os aerofólios, e mesmo a nervura da asa em sua forma final, e com o advento do corte por laser, essa tarefa de plotagem, corte e ajuste de nervuras desapareceu. Benefícios do progresso tecnológico. Fica também a dica para uma busca no U-Tube, que está prenhe de vídeos dando conta dos vários métodos infor matizados para o desenho não só dos aerofólios e nervuras mas como de todo o aeromodelo. E - viva a internet! - há um site fantástico que te permite gerar os aerofólios em escala real, usando o plotter do site. Como saída ele te permite gerar um PDF em escala real. Ele tem cerca de “apenas” 1636 aerofólios plotáveis. O endereço do site é http://airfoiltools.com. Na Fig. #20-A a página de plotagem mesmo (http://airfoiltools.com/plotter/index). Como exemplo especifiquei um aerofólio Clark Y com uma corda de 180mm e gerei a imagem PDF (Fig. #20-B). 9 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 AVI Õ E S DA E DIÇÃO No grupo Aeromodelistas por Paixão do Facebook, começamos a publicar as fotos dos “aviões do Dia” sob a hash tag #aerodinamicamente. Segue-se mais uma seleção de quatro aviões que lá apareceram, povoando os Sonhos de Voo de muito marmanjo. 10 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 A ERO NAVE S DA E DI Ç ÃO ( by G ilbe rt o Ae ro mo de list a) O LEGENDÁRIO CURTISS P-40 Gilberto Branco (Gilberto Aeromodelista), 63 anos, suboficial da Força Aérea Brasileira reformado, especialista em manutenção de aeronaves e motores, plastimodelista e aeromodelista desde 1963 (coincidência de mesmo ano de inícios desse humilde editor) 11 Aeromodelistas por Paixão! Edição 04 - Jun/2016 CARTA DO LEITOR Logo depois da publicação da Edição #03, recebi a mensagem abaixo de Luiz Roberto M. Abrantes. Este espaço está aberto a quem quiser se manifestar. Tribuna livre. Usem-no. gpLeitner Amigo Leitner, Lí seu artigo e fico feliz que ainda possamos ler algo e ter como poder dialogar. Gostaria de colocar algumas observações sobre o tema de aeromodelismo que eu mais gosto: a escala. Pois bem, sou de um pensamento que afirma uma situação meio parecida com o que você escreveu, quando temos de escolher um modelo escala, sempre devemos observar bem alguns detalhes, as informações existentes sobre o modelo e outras coisinhas O que eu mais procuro nas minhas escolhas de modelos, é fazer os menos procurados e conhecidos, para que eu possa realmente utilizar o pouco conhecimento que possuo em construção. Pesquisando, explorando este nosso universo da internet a busca de detalhes, de imagens, etc... Pela “regra geral” de escala mais conhecida, qualquer parte de nosso modelo pode ser alterada até 20% para mais ou menos, do que o modelo original. Isso já nos dá uma gama de alterações muito valiosas sem comprometimento direto da estética e design de nossos modelos. Agora se formos avaliar a parte de vôo, mesmo que você faça um escala de um avião específicamente acrobático, em um aeromodelo ele não poderá ter as mesmas características, devido a regra dos 20%, ou seja, nós nunca conseguiremos fazer ou construir um motor que possa alcançar a força, o torque e/ou os giros do motor real, sendo assim, ele não alcançará as manobras com a mesma destreza. A beleza da escala não é a meu ver, que o modelo faça um looping ou um dorso, e até um wingover, isso se eu for fiscal de provas em campeonato de escala, me levaria a tirar pontos cruciais do modelo na parte de vôo, pois com certeza as características de escala não estão sendo respeitadas em sua plenitude. Devemos atentar que também em um conceito geral, não existe o conhecido semi-escala realmente, pois regulamento oficial é uma coisa rara neste sentido, sendo os existentes criados por clubes específicos e com isso, não existe uma padronização do mesmo. Sempre comentei e apoiei que todos e quaisquer modelos que tenham o perfil de um avião real e que possuam pelo menos alguns detalhes do mesmo, podem ser chamados de semi-escala, desde que, como eu disse antes, respeitem um número mínimo de detalhes de um modelo real, com isso, um perfilado, um semi-cavernado ou até um kit padrão, poderia ser encaixado nesta perspectiva simples de escala. Quando você chega em um clube de aeromodelismo, a única categoria que é apresentada como a “mais fácil de dominar” é a de acrobacias, dificilmente você encontra em clubes pessoas que apresentem a corrida, o vôo a vela, a escala, etc. Já conversei muito com o meu próprio pessoal daqui e falei sobre isso, mas parece que não interessa ter outras modalidades funcionais. Veja que até os maiores fabricantes de kits, não possuem modelos escala, ditados dentro das regras acima, apenas modelos que podemos até chamar de semi-escalas, muito bonitos com bastantes detalhes e tals, mas que não podem ser chamados de escala. Alguns dizem que o aeromodelismo deixou de ser o que era devido aos modelos ARF, mas eu acredito que ele deixou de ser o que era pelo simples fato de que não temos muitas opções nas pistas, as coisas costumam sempre a tender para os modelos de acrobacia por serem mais fáceis de encontrar, por serem “mais fáceis de montar e voar”. Espero que possa ter sido compreendido em minhas palavras. Abraços Beto Escala 12 Edição 04 - Jun/2016 Aeromodelistas por Paixão! GLOSSÁRIO (incremental) BA ou B.A.: bordo de ataque Braço de momento da empenagem: o comprimento de giro em alavanca entre o centro aerodiâmico da empenagem e o centro aerodinâmico da asa BF ou B.F.: bordo de fuga CG ou C.G.: centro de gravidade Corda: refere-se a linha reta imaginária que liga o BA ao BF de um aerofólio. Comprimento de corda é a medida linear da corda na escala 1:1 do aerofólio Cu. in. (cubic inches): polegadas cúbicas, medida inglesa para capacidade volumétrica do motor Datum Line: linha base (linha de base) Engine offset: compensação do motor; desalinhamento intencional do motor, na vertical ou lateral, para compensar tendências de voo inerentes ao avião Esporte-escalistas: aeromodelistas projetistas/construtores de modelos escala-esporte Estol, estolar (stall): momento da perda de sustentação de um aerofólio como decorrência de ângulo de ataque pronunciado e/ou velocidade de escoamento de ar muito baixa Estol de ponta de asa: fenômeno que ocorre quando em voo de baixa velocidade e o avião executando leve curva ou arredondamento. Nesse caso o avião perde sustentação na ponta da asa do lado interno da curva e inicia uma rolagem muitas vezes fora de controle. FAI (Fédération Aéronautique Internationale): Federação Aeronáutica Internacional GAA: Guinada Adversa de Aileron (abreviação usada apenas para simplificar o texto) Loop, looping: manobra em que o avião faz um giro completo em espaço 3D, num plano vertical perpendicular ao solo, baseado principalmente no comando único de profundor Pylon: modalidade de competição aérea onde as aeronaves, e os modelos, disputam corrida em um percurso oval balizado por dois pilões verticais (daí o nome). Corrida de velocidade em circuito oval . Razão de aspecto: a razão entre a largura e o comprimento de uma peça retangular ou aproximadamente retangular. Roll: comportamento do avião, comandado ou incontrolado, que se resume a um giro em torno do eixo longitudinal da aeronave. Em português: rolagem. Slot: é uma fendas na asa, próxima ao bordo de ataque e que corre ao longo do comprimento desta. Slat: Sport-scale: escala-esporte STOL (não confundir com estol!): acrônimo para Short Take Off and Landing (pouso e decolagem em custa distância) Superfícies de controle: ailerons, leme, profundor Tapered Wings: asas trapezoidais. Trim, trimer, trimar: ajustes finos, permanentes até contra-ajustes, nas superfícies de controle Vintage: aviões históricos (1903 a 1920) e modelos que os reproduzem ou se assemelham WWI: I Guerra Mundial (World War I) WWII: II Guerra Mundial (World War II) 13 Edição 04 - Jun/2016 Aeromodelistas por Paixão! REFERÊNCIAS (incremental) *1(física): momento de uma força = é o esforço de rotação que esssa força exerce em torno de um ponto de referência (ponto de giro, ou pivot) e resulta no que também se chama torque. Mf = |F|xd, onde |F| é o módulo vetorial da força e d a distância do vetor ao ponto de giro. *2: eixos do avião *3 Washout: refere-se à característica de desenho de uma asa para deliberadamente reduzir a distribuição de sustentação ao longo de seu comprimento. A asa é então projetada de tal forma que o ângulo de incidência desta é maior na sua raiz e vai diminuindo em direção à ponta. Essa característica tenta assegurar que, à velocidade de estol, a asa estole inicialmente na sua raiz, o estol ocorrendo por último nas pontas de asa, garantindo assim algum controle de ailerons. Washin: é o reverso do washout, ou seja, maior incidência na ponta de asa e menor na raiz. Esse desenho pode ser encontrado em alguns aviões mas é bem menos comum. *4 Aresti: sequência de manobras criadas pelo piloto espanhol J. L. Aresti e cujo sistema de pontuação e simbologia foi adotada pela FAI em 1970 consagrando-o como um dos maiores e emblemáticos pilotos de acrobacia aérea. 14
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