o boticário: uma forma inovadora de gerenciar o processo de

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o boticário: uma forma inovadora de gerenciar o processo de
CF1004
O Boticário: uma forma inovadora de gerenciar o processo
de inovação
Carlos Arruda, Anderson Rossi, Erika Penido, Paulo Savaget
“Hoje a inovação é uma das estratégias principais do
Boticário. O Brasil é um mercado dinâmico e maduro e a
necessidade de lançamentos é a regra de mercado”
Israel Feferman,
diretor de Pesquisa e Inovação do Grupo Boticário.
B
oticário nasceu em março de 1977 como uma farmácia
de manipulação, no centro de Curitiba. Durante seus 32 anos,
evoluiu por diferentes cenários e estratégias inovadoras,
obtendo resultados que a colocam hoje entre as maiores do
setor de perfumaria e cosmética.
Desde o início das suas atividades, a empresa aloca uma
atenção especial aos seus clientes, buscando um relacionamento
diferenciado com os consumidores dos seus produtos. Esse
relacionamento, aliado à criatividade do fundador da empresa,
Miguel Krigsner, permitiu que a empresa expandisse os seus
negócios, explorando oportunidades identificadas para melhor
atendimento dos consumidores.
O histórico de desenvolvimento do Boticário é caracterizado
por marcos de ousadia empresarial. A passagem da pequena
farmácia de manipulação para a indústria, por exemplo, contou
com um fator decisivo e incomum na época: a abertura de uma
loja no aeroporto de São José dos Pinhais, no Paraná (sul do
Brasil), em 1979. Essa loja tornou-se uma importante vitrine
da marca, pois funcionários de empresas aéreas e pessoas
que viajavam passaram a agir inconscientemente como
disseminadores dos produtos. Uma comercialização informal
teve lugar de forma crescente. Em pouco tempo, começaram
a surgir pessoas interessadas em abrir lojas para revender os
produtos em suas cidades de origem.
Outro marco de ousadia da empresa ocorreu em 1980, quando
a empresa inaugurou sua primeira loja franqueada em Brasília.
Com essa iniciativa, inédita no Brasil, O Boticário passou a
desenvolver um sistema de franquias para a distribuição dos
seus produtos, tornando-se, em 2010, a maior rede de franquias
de perfumaria e cosméticos do mundo.
Esse desenvolvimento contou com uma decisão difícil e
estratégica para a empresa: a de manter apenas lojas exclusivas
da marca desde 1985.
“O empreendedor tomou a decisão de reduzir o tamanho da
empresa, dado que muitos não quiseram vender exclusivamente
a marca O Boticário, para melhor se estruturar”, explica Israel
Feferman.
Além de inovar em termos de produtos, haja vista o sucesso
das ânforas Acqua Fresca e Thaty, comercializados por mais
de 25 anos com volume significativo de vendas, a empresa se
destaca também por suas inovações em termos de processos
durante o seu histórico de desenvolvimento.
Por exemplo, em 1998, a empresa criou a Loja Interativa, um
modelo de lojas baseado no autoatendimento assistido, que
permite a exposição de todos os seus produtos. Ao mesmo
tempo, adotou uma nova forma de distribuição dos produtos,
caracterizada pelo fim dos franqueados master, que eram
responsáveis pela distribuição dos produtos em cada região
do país. As lojas passaram a ser abastecidas a partir da matriz
de O Boticário, na cidade de São José dos Pinhais, Região
Metropolitana de Curitiba.
Em 2005, uma inovação marcou o processo de comunicação
da empresa, com a implantação do projeto batizado de VSAT,
que possibilitou a interligação via satélite da fábrica em São
José dos Pinhais (PR) a todas as lojas da empresa em todo
território brasileiro. O projeto, que possibilita a transmissão de
dados, imagem e voz, proporcionou integração, interatividade
e instantaneidade aos processos de comunicação e negócio
do Boticário.
Assim, durante a expansão dos negócios do Boticário, a
busca constante da inovação, característica inerente aos seus
fundadores, foi moldando a cultura da empresa.
O processo de P&I no Boticário inclui a análise de
macrotendências, dos marcos tecnológicos e dos conhecimentos
essenciais relacionados aos marcos tecnológicos do mercado
de higiene, perfumaria e cosméticos. Essa análise é realizada
pelos profissionais da área de P&I. Por exemplo, especialistas
em nanotecnologia e em biodiversidade compõem a equipe
de P&I do Boticário e acompanham as pesquisas realizadas
sobre esses assuntos. Consultores são contratados para análises
específicas, quando necessário.
Gestão das atividades de
Pesquisa & Inovação (P&I)
Considerando os conhecimentos essenciais identificados para o
Boticário (por exemplo, o processo de envelhecimento da pele),
a empresa define, então, em quais tecnologias investirá.
Estrutura
Os investimentos nos silos de tecnologia visam à atualização
de tecnologias já existentes, assim como o desenvolvimento
de novas tecnologias no curto, no médio e no longo prazo.
Essas tecnologias são necessárias para a viabilização do
desenvolvimento de diversos produtos. (Anexo 1)
Em 2002, O Boticário deu uma guinada rumo à busca de novas
tecnologias, com a criação de uma diretoria de pesquisa e
inovação. Anteriormente à criação dessa área, as atividades
de P&I eram subordinadas à área de qualidade.
Qualidade deixou de ser um diferencial no nosso mercado
e passou a ser uma exigência do consumidor. A criação
da diretoria de P&I refletiu a impor tância estratégica de
organizar o processo de inovação na empresa, buscando o
fortalecimento da marca O Boticário através de inovações
– explica Israel Feferman.
O modelo de gestão dos processos de P&I no Boticário é
baseado nos denominados “silos de tecnologia” e não no
tradicional “funil de inovação”. No processo de gestão através
do funil, uma grande quantidade de candidatos a produtos é
testada e abandonada ao longo do caminho que levaria a um
lançamento. O planejamento de novas tecnologias, utilizando
a gestão através dos silos para as tecnologias com potencial
de aplicação em diversos produtos, inclui o momento atual
(tecnologias já homologadas e disponibilizadas para aplicação no
desenvolvimento de produtos), o curto, o médio e o longo prazo.
No Boticário, a adoção do funil de inovação é restrita à área de
marketing, na seleção de novos produtos a serem lançados.
No momento em que a área de P&I foi criada, o faturamento
da empresa era inferior ao de seus principais concorrentes e,
mesmo investindo percentual semelhante do seu faturamento
em Pesquisa e Desenvolvimento, os recursos eram
significativamente inferiores. Cada empresa investia de 2,5% a
3% do seu faturamento em P&D, utilizando o processo do funil
de inovação para o desenvolvimento de novos produtos.
De acordo com a literatura especializada, cerca de
35% dos recursos são perdidos no processo do funil de
inovação. Dada a situação competitiva do nosso mercado,
não podíamos nos dar ao luxo de perder esse volume de
recursos. Por isso, preferimos desenvolver e adotar os silos
de tecnologia na gestão da tecnologia de produtos – explica
Israel Feferman.
Segundo o diretor, enquanto no funil de inovação o foco está
nos produtos, no modelo de silos de tecnologia o foco está nas
ideias e tecnologias.
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Figura 1 – Silo de Tecnologias.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Nesse modelo de gestão de tecnologias de produtos O Boticário
tem flexibilidade para aumentar ou diminuir os investimentos
em cada tecnologia no caso de identificação de mudanças de
tendência ou uma nova oportunidade.
Nossos investimentos não são perdidos se decidimos
focar em uma nova. Se reduzirmos os esforços em uma
determinada tecnologia em detrimento de outra por
questões de oportunidade de mercado, podemos retornar
a ela a qualquer momento, exatamente do ponto onde
paramos, sem perda de recursos ou conhecimento já gerado
– explica Israel Feferman.
O processo de seleção e priorização das tecnologias que serão
desenvolvidas é essencial para o sucesso desse modelo de
gestão. “O conhecimento adquirido é sempre um ganho, pois
os silos somente alocam tecnologias consideradas essenciais
para a empresa.”, destaca o diretor de Pesquisa e Inovação do
Grupo Boticário.
A priorização das tecnologias é feita pelo comitê de tecnologia
da empresa. Composto por profissionais das áreas de P&I
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(Tecnologia, LABIM e ICT - Inteligência Competitiva
Tecnológica) e de Operações (Desenvolvimento, DE Desenvolvimento de Embalagens, e Avaliação) do Boticário,
esse comitê define e homologa um plano de pesquisa. Todas
as tecnologias desenvolvidas pela área de P&I são testadas em
produtos cosmeticamente viáveis nos denominados “silos de
produtos”, para a homologação das tecnologias pelo comitê
de tecnologia. Além disso, cabe à área de Tecnologia dar o
suporte necessário para que a implantação das tecnologias nos
projetos de produtos seja bem-sucedida.
Segundo Israel Feferman, “o processo é participativo para
reduzir a resistência para a execução”. Após a disponibilização
das tecnologias já testadas em produtos cosmeticamente
viáveis, a área de operações realiza as etapas posteriores de
desenvolvimento dos produtos, como o processo detalhado
de fabricação, embalagem e registro do produto. “A área que
aplica o Processo de Desenvolvimento de Produtos e Serviços
(PDPS) nos produtos gerados nos silos já foi envolvida na
homologação”, completa Israel Feferman.
Figura 2 – Comitê de tecnologia. Fonte: Elaborado pelos autores.
Os produtos desenvolvidos nos silos de produtos são
apresentados para a área de marketing, responsável pela grade
de lançamento de novos produtos da empresa. Essa grade inclui
os produtos desenvolvidos pela área de P&I, assim como outros
produtos desenvolvidos pela área de marketing com as novas
tecnologias disponibilizadas.
Cada participante do grupo de P&I se envolve nos diferentes
projetos de acordo com o grau de dificuldade do estudo e com sua
competência pessoal. Além disso, as equipes às vezes envolvem
pessoas de outros departamentos e até de outras instituições.
Open Innovation
Considerando a grande diversidade de conhecimentos
necessários para as tecnologias em cosméticos, O Boticário
optou por buscar a inovação aberta de forma ativa. Assim,
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desenvolveu uma rede nacional e internacional de parceiros
(universidades, consultores, Institutos de Pesquisa e
Tecnologias), que contribuem com a empresa em suas
necessidades tecnológicas identificadas, de forma a viabilizar
os seus planos. Por exemplo, um dos componentes da fórmula
do Comucel, presente na linha Active, foi desenvolvido em
parceria com uma empresa italiana.
Outra iniciativa da empresa nesse sentido é o Labim,
laboratório de biologia molecular do Boticário em parceria
com a Universidade Positivo. Esse laboratório, que recebeu
investimentos de R$ 4 milhões, é destinado a pesquisas
da marca e do meio acadêmico com foco no estudo dos
fenômenos bioquímicos envolvidos no envelhecimento da pele
e no aproveitamento de insumos naturais da biodiversidade
brasileira. O foco do Labim está em pesquisas aplicadas,
visando ao alcance de benefícios diferenciados para os
consumidores. Entretanto, o laboratório desenvolve algumas
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pesquisas puras consideradas necessárias para pesquisas
aplicadas.
Optando por abrir a participação de pesquisadores também de
outras instituições de pesquisa e ensino no Labim, O Boticário
tem o objetivo de transformar o Labim em um centro de
referência em biologia molecular.
O Labim nos permite desenvolver profissionais que podem
ser aproveitados futuramente pelo Boticário e pelo país,
propiciando a formação de profissionais qualificados
nesta área da ciência com excepcional potencial de futuro
– destaca Israel Feferman. Às vezes, sugerimos alterações
nos planos de pesquisa realizados no Labim para utilização
pelo Boticário. Nesses casos, os projetos tornam-se
confidenciais – completa o diretor.
Alinhamento com o planejamento
estratégico
Uma das principais características do processo de inovação
do Boticário consiste no alinhamento da estratégia de negócio
da empresa com o seu planejamento estratégico tecnológico.
A área de P&I do Boticário analisa os marcos tecnológicos
do setor de cosméticos a cada dois anos e acompanha
constantemente os conhecimentos considerados essenciais para
o desenvolvimento dos negócios da empresa. O planejamento
dos silos de tecnologia é realizado de forma flexível e está
diretamente relacionado à disponibilização de produtos que
aplicam cada tecnologia.
Workshops de inovação são realizados anualmente para a
divulgação das diretrizes tecnológicas do Boticário. Nesses
workshops são discutidos temas relevantes para a empresa,
como a sua proposta de valor e tendências tecnológicas.
Frequentemente, profissionais de fora da empresa, como
antropólogos, sociólogos e fornecedores, são convidados para
participar desses eventos para discutir tendências relacionadas
ao negócio do Boticário.
Trazemos informações ligadas a temas importantes para
o negócio, de forma homogênea para os colaboradores
da empresa nos workshops de inovação, para que eles
possam utilizá-las para o planejamento estratégico das
diversas categorias de produtos da empresa – explica Israel
Feferman.
Os workshops de inovação também são uma oportunidade para
a apresentação dos produtos gerados nos silos de produtos, de
modo que a área de marketing possa explorá-los na grade de
lançamentos da empresa.
Figura 3 – Gestão estratégica no Boticário.
Fonte: Elaborado pelos autores.
O planejamento estratégico de tecnologias do Boticário está
interconectado à visão, às estratégias e às metas da empresa e
suas unidades de negócio. Por um lado, através das atividades
de Inteligência Competitiva Tecnológica e dos silos de
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tecnologia, a área de P&I fornece inputs para a elaboração
da estratégia da empresa. Por outro lado, a priorização, a
implementação e a avaliação das tecnologias são realizadas
com base na estratégia de negócio da empresa.
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Figura 4 – Alinhamento com o negócio.
Fonte: Elaborado pelos autores.
As atividades de P&I do Boticário possuem interface
com diversos processos da empresa, como planejamento
mercadológico e de investimentos e implantação do
desenvolvimento de produtos e serviços.
Dentro da diretoria de operações do Boticário está inserido
um “escritório de projetos”, formado por uma equipe de
PMOs (Project Management Offices) que acompanha todos os
projetos de lançamento de produtos da empresa. Essa equipe
possui o papel de garantir que o processo de desenvolvimento
de produtos e serviços seja respeitado, acompanhando os
projetos liderados pela área de marketing e executados através
de times de projetos compostos por profissionais representantes
de diversas áreas da empresa.
Todas as principais atividades relacionadas à inovação fazem
par te da agenda corporativa e têm prioridade sobre outras
atividades. Dentre os fóruns relacionados à inovação existentes
na empresa estão o comitê de tecnologia, o comitê de inovação,
o comitê de produtos e o comitê de investimentos.
Programa de captação de ideias
O Programa de Captação de Ideias do Boticário foi criado em
2007, com o objetivo de valorizar contribuições que trazem
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melhorias e resultados efetivos em áreas e processos, mesmo
não sendo, necessariamente, grandes ou revolucionárias.
Sentíamos a necessidade de ter um canal onde qualquer
colaborador pudesse colocar suas contribuições e novas
ideias e que elas fossem avaliadas sem parar em instâncias
intermediárias. O objetivo é envolver toda a organização em
um processo descentralizado – diz Israel Feferman, diretor de
Pesquisa e Inovação.
A coordenação do programa é feita pelo comitê de inovação,
que possui as funções de fazer a interface com as áreas
envolvidas na avaliação das ideias, esclarecer os pontos que
impedem a implantação das ideias sem potencial e aprovar
aquelas com potencial. As sugestões são levadas a reuniões
trimestrais do Comitê de Inovação, nas quais são analisadas as
justificativas e melhorias sugeridas pelos gestores bem como
o plano proposto para a implantação da ideia.
Fazem parte do comitê de inovação o presidente do Grupo
Boticário, os diretores da empresa (sendo o quórum mínimo
para as reuniões do comitê os diretores de Pesquisa e Inovação,
Marketing e Vendas, Financeiro e de Desenvolvimento e
Transformação Organizacional) e uma analista responsável
por selecionar as ideias apresentadas para a reunião do comitê
e garantir os prazos para a avaliação das sugestões. Essa
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analista também orienta sobre o uso do Portal, onde as ideias
são inseridas, e recebe sugestões de melhoria para o programa.
“O objetivo é integrar todas as áreas envolvidas na avaliação
da ideia, valorizando o aprendizado e as pessoas”, destaca
Vanessa Tavares, analista da área de Pesquisa e Inovação do
Boticário.
Nesse programa, que ocorre de forma constante na empresa,
os gestores têm o papel fundamental de estimular a difusão
das ideias e de contribuir com sua experiência para a melhoria
das mesmas.
Quando as ideias são para uma área diferente da área do
proponente, esse deve compor uma equipe com outros dois
colegas, que podem ser ou não da mesma área que ele. O
objetivo é aperfeiçoar a sugestão, com novas visões e propostas.
Ela segue então para o gestor direto do proponente, e, em
seguida, para o gerente da área. Ambos devem avaliar e propor
melhorias. Mesmo que eles não achem a ideia aplicável, devem
repassá-la às próximas fases. O próximo a receber a ideia é
o gerente da área a ser beneficiada, que, a exemplo de seu
colega anterior, também fará uma avaliação e dará os principais
pareceres sobre a aplicabilidade ou não da mesma. Finalmente,
a ideia chega ao Comitê de Inovação, que se reúne a cada três
meses e realiza uma avaliação final de todas as justificativas
anteriores. Se o comitê considerar que é aplicável, analisará
um plano de implementação desenvolvido pelo gestor da área
beneficiada, que aprovará a composição de uma equipe (da
qual participa pelo menos um dos proponentes da sugestão
original) e os recursos financeiros necessários.
Quando a ideia proposta é para a própria área do proponente,
o processo é simplificado, pois basta sugerir ao gestor direto
e seguir o processo normal de alçada de aprovação das
respectivas áreas. Entretanto, o programa estimula que as ideias
mais criativas e com melhores resultados sejam cadastradas no
Portal da Inovação, de modo que possam ser conhecidas, servir
de inspiração a todos e receber reconhecimento.
Todos os gestores da empresa são responsáveis pela realização
de atividades criativas. Precisam, por exemplo, realizar pelo
menos uma reunião por ano com sua equipe para a geração de
ideias, aplicáveis em sua área ou não. A área de P&I fornece
dinâmicas que podem ser utilizadas pelos gestores durante
essas atividades.
Segundo Israel Feferman, o reconhecimento é essencial e o
processo de avaliação das ideias é simples. No fechamento
do ciclo anual do programa, cada colaborador indica ao seu
gestor as suas principais ideias implantadas com sucesso que
geraram valor. O diretor da área do colaborador, então, avalia
essas ideias e escolhe, segundo os critérios mais adequados,
até duas ideias que mereçam reconhecimento. Cada diretor
defenderá até duas ideias na reunião de fechamento do ciclo
do Comitê de Inovação, e até três melhores ideias de toda a
organização poderão ser premiadas. Os responsáveis por essas
ideias recebem prêmios de $1000, $2000 e $3000 reais.
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Além disso, cada ideia viável recebe $350 reais e pontos para
trocar por produtos da empresa. Ideias implantadas recebem
mais pontos do que as não implantadas. As ideias também
são classificadas em quatro categorias: derivadas do atual,
transformacional, radical ou incremental. Ideias classificadas
como radicais ou transformacionais rendem mais prêmios aos
seus idealizadores.
Dentre os projetos reconhecidos no Programa de Captação
de Ideias do Boticário está a implantação de um sistema
complementar de comunicação à rede VSAT (por satélite) via
celular 3G. Esse projeto permitiu que os franqueados de maior
movimento e faturamento pudessem continuar as suas vendas
e transações com cartões mesmo no caso de indisponibilidade
da rede VSAT, impedindo perdas de vendas nas franquias, além
de contribuir para a satisfação dos clientes.
Medição dos resultados
Há uma constante medição dos resultados das iniciativas da
área de Pesquisa e Inovação do Boticário. Medidas diversas são
utilizadas com o propósito de avaliar a eficácia e a eficiência
da área, tais como:
•• a participação da inovação nos resultados totais
da empresa, medida pela porcentagem das receitas
provenientes de produtos com até dois anos de vida, desde
que foram lançados;
•• o retorno sobre o investimento (ROI) em tecnologias,
calculado como o investimento feito em tecnologia em
relação à receita obtida com os produtos que utilizam a
referida tecnologia;
•• o índice de aplicabilidade das tecnologias, medido
como o número de tecnologias disponibilizadas
dividido pelo número de produtos com base tecnológica
comercializados;
•• o tempo total de aplicação das tecnologias até o
mercado;
•• o número de patentes depositadas em relação à meta
estabelecida;
•• o número de trabalhos científicos publicados em revistas
representativas e o número de apresentações em eventos
técnicos, que são metas específicas do LABIM.
Segundo Israel Feferman, “o próximo passo será medir
os esforços organizacionais para o lançamento de cada
produto”.
Inovações recentes
Os esforços da área de Pesquisa e Inovação do Boticário,
com 25 colaboradores em 2010, resultaram na colocação no
mercado de novidades como a linha de cuidados da pele Active,
a primeira com a utilização de nanotecnologia aplicada.
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As p e s q u i s a s e d e s e n v o l v i m e n t o d a l i n h a Ac t i v e c
o n s u m i r a m t r ê s a n o s d e e s t u d o s e R$ 14 milhões. Só
com consumidores foram 50 pesquisas. Um dos 19 itens da
linha é o primeiro de skin care no Brasil desenvolvido com
fórmula nanoestruturada, tecnologia exclusiva da empresa,
que já requereu patente da fórmula e do processo de fabricação
do produto.
Rotineiramente, seriam realizadas diversas campanhas
facilitadas por uma empresa de consultoria escolhida para
apoiar o projeto e propor dinâmicas de forma a gerar ideias
e conceitos bem embasados. Esses conceitos e ideias seriam
colocados sob avaliação com grupos de consumidores e, se
reconhecidos como diferenciados e inovadores, seguiriam para
a criação de planos de implantação.
O grande diferencial da Linha Active é atuar diretamente nos
processos de envelhecimento da pele e reagir de forma próativa às mudanças ambientais, dando à pele aspecto luminoso,
vitalidade, firmeza e elasticidade. Segundo Israel Feferman,
“os benefícios da utilização de nanotecnologia são tão grandes
que a tendência é que, aos poucos, O Boticário aplique-a em
todos os seus produtos de skin care”. Vários produtos da linha
corporal e todos os da linha de tratamento avançado contam
com complexos exclusivos do Boticário: Comucel e Priox-in.
Eles agem de forma complementar para atingir o equilíbrio
da pele (homeostase).
Ao refletir sobre os próximos passos em termos de Pesquisa
e Inovação do Grupo Boticário, Israel Feferman identificava
alguns desafios. Um deles referia-se à utilização de financiamento
externo para a inovação, algo ainda não explorado pela
empresa. “Nossa equipe não tem experiência específica para
lidar com editais para a obtenção de financiamento externo.
Talvez possamos contratar uma consultoria para nos ajudar
nisso.”, destaca Israel Feferman.
Outras inovações recentes do Boticário são os perfumes Malbec
e Lily Essence. O Malbec é o primeiro perfume no mundo
fabricado com o álcool vínico, obtido através da maceração
e envelhecimento do álcool vínico em barris de carvalho.
Ao longo dos anos, o perfume masculino Malbec se tornou
campeão de vendas do Boticário, levando a empresa a expandir
essa tecnologia e conceito para outras fragrâncias, como o
Malbec Gran Reserva e o Barolo.
Já o Lily Essence resgatou uma técnica centenária de enfleurage
para a extração de óleos essenciais de flores 100% puros e
naturais. Em parceria com a Unicamp, O Boticário investiu na
modernização da técnica e instalou um espaço exclusivo em seu
parque industrial, destinado exclusivamente à obtenção do óleo
essencial, a exemplo do que faziam os antigos perfumistas. Essa
inovação marcou o posicionamento do Boticário no mercado
de fragrâncias de luxo.
Seguindo em frente
Em 2010, em busca do aperfeiçoamento contínuo das suas
atividades, a área de P&I do Boticário se dedicava a novas
iniciativas. Uma delas consistia no investimento em um Time
de Alta Performance em Inovação, formado por colaboradores
de várias áreas, que atuavam na geração de novas ideias em
atendimento ao processo de Inovação Corporativa.
O time foi formado em 2009. As diretorias indicaram 70
colaboradores com competências que deveriam se encaixar no
perfil desejado de criatividade e inovação, e 30 nomes foram
selecionados. Desses, 15 ficaram como membros efetivos, e os
outros 15 como suplentes, participando esporadicamente – diz
Denis Moreno, consultor de Gestão de Pessoas da Diretoria
de Pesquisa e Inovação. Este é um trabalho dinâmico, que não
fica restrito a uma diretoria. As ideias geradas aqui valem para
todo o Grupo Boticário – explica.
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Ao mesmo tempo, o aquecimento do mercado brasileiro de
perfumaria e cosméticos, caracterizado por um crescimento
anual acima de 15%, chamava a atenção de concorrentes
internacionais, ansiosos por entrar em um novo mercado
lucrativo. “O Boticário precisa estar preparado para lidar com
essa nova dinâmica de mercado”, refletia Israel Feferman. A
busca constante do equilíbrio entre recursos necessários e
velocidade de aproveitamento das oportunidades pela área de
P&I exerceria papel crucial para a competitividade futura do
Grupo Boticário.
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