Carta Mensal nº 85 - Colégio Brasileiro de Genealogia
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Carta Mensal nº 85 - Colégio Brasileiro de Genealogia
CARTA MENSAL Colégio Brasileiro de Genealogia Ano XX - Nº 85 - Junho 2007 - Edição Especial Posse de Titulares e Prêmio CBG 2004 No dia 28 de maio, aconteceu a cerimônia de posse de quatro novos Sócios Titulares e a entrega do Prêmio Colégio Brasileiro de Genealogia 2004. O evento realizou-se na Sala Pedro Calmon, 12º andar da Av. Augusto Severo 8, Rio de Janeiro, endereço que o CBG partilha com o IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Eleitos em Assembléias Gerais diversas, assumiram as novas Cadeiras: Jorge Douglas Alves Fazolatto, Laís Ottoni Barbosa Ferreira, Eliana Quintella de Linhares e Regina Lúcia Cascão Viana que, na presença de diretores, sócios, familiares e amigos, foram saudados por Carlos Eduardo Barata. Após a alocução dos empossados, ocorreu a entrega do Prêmio Colégio Brasileiro de Genealogia 2004 a Eliana Quintella de Linhares. Na cerimônia, a mesa foi composta pelo Presidente Carlos Eduardo de Almeida Barata, pela Sra. Gilda de Azevedo Becker von Sothen, fundadora do Colégio, e Giancarlo Marques Zeni, presidente da Sociedade Genealógica Italiana do Brasil. Como registro do evento, temos a satisfação de apresentar aos associados esta Carta Mensal, em edição extra, com a transcrição dos discursos proferidos naquela solenidade. A Diretoria Lais Ottoni, Jorge Fazolatto, Eliana Quintella e Regina Cascão Gilda Becker, Carlos Barata e Giancarlo Zeni Saudação do Presidente Carlos Eduardo de Almeida Barata Não posso deixar de dizer que, embora considere uma tarefa difícil apresentar um amigo quando do seu ingresso a uma instituição de cultura, seja ela qual for, fica para sempre, na memória e no meu coração, a honra que me foi deferida. Assim, no campo da genealogia, que é o caso de hoje, trago, no sangue, a história de meus antepassados; porém, no coração, um universo de histórias que não me pertencem pelo sangue, mas, sim, aos amigos que me confiaram suas memórias familiares. Hoje, no entanto, deparo-me com uma situação bastante diferente das que estou acostumado a enfrentar, e mais honrosa ainda do que as de costume, além de mais difícil, pois cabe-me apresentar quatro amigos simultaneamente. Multiplica-se por quatro a honra, porém, também, por quatro se amplia a minha responsabilidade em traçar a trajetória dos quatro titulares. Numa primeira olhada, percebo que parte do Brasil se descortina à nossa frente, e cerca de 475 anos de história estão presentes, hoje, neste salão, ascendendo ao patamar de Titulares do Colégio Brasileiro de Genealogia. Teremos hoje, um grandioso encontro entre o passado e o presente, e uma inesquecível aula sobre a história dos genealogistas brasileiros, após o discurso de posse dos quatro titulares, saudando seus patronos, ou seja: Douglas x Brotero; Eliana x Menezes Drummond; D. Lais x Borges da Fonseca; e Regina x Orlando Cavalcanti. São quatro “monstros sagrados” da genealogia brasileira, nas mãos de quatro titulares... Dois de Minas Gerais o que de imediato, por seus ancestrais mineiros, passando pelo Sêrro, Juiz de Fora e Barbacena, nos remete ao final do século XVII, levando em consideração a construção dos primeiros templos que culminaram com a criação da Vila de Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão do Carmo, aproximadamente em 1704, hoje Cidade de Mariana, a primeira capital das Minas. Uma carioca de raiz - que nos conduz ao ano de 1565, quando a esta cidade do Rio de Janeiro chegou o valoroso Capitão Estácio de Sá, munido de uma carta régia, que lhe dava a função de fundar uma cidade há 442 anos, portanto. E outra carioca, mas de raiz pernambucana - que nos remete ao ano de 1535, quando Duarte Coelho fundou uma vila a que deu o nome de Olinda, pela bela vista que lhe apresentou. Acrescenta-se que, no decorrer dos quatro costados, dos quatro titulares, chegamos àqueles 475 anos de história, que mencionei há pouco, com a fundação de São Vicente, no longínquo ano de 1532. Continua... CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 01 São representantes diretos de uma boa parte da história do povoamento do Brasil. Seus antepassados, juntos, se misturam em milhares de galhos genealógicos que, das sedes das antigas capitanias, espalharam-se pelo interior, formando, com seus áureos ramos, uma vetusta copa, por onde correm as histórias de São Vicente, Rio de Janeiro, Olinda, Recife, Gameleira, Vila do Príncipe, Teófilo Ottoni, Bicas, Juiz de Fora, Barbacena e Murici. Em seguida, novamente convergem a vigoroso tronco que, fincado em solo pátrio, os conduz a raízes centenárias, recheadas de histórias, acontecimentos, fatos, “causos” e intrigas; raízes estas cujas extremidades são quase que infinitas e perdidas no tempo. Douglas Fazolatto, Lais Ottoni, Eliana Quintella e Regina Cascão nos conduzirão hoje, cada um ao seu modo, a esta longa e bela viagem pelas raízes que ajudaram a formar a história da família brasileira. JORGE DOUGLAS ALVES FAZOLATTO, Uma g ra nde a m i z a de formada há pouco mais de vinte anos. O interesse pelos estudos genealógicos nos aproximou e, desde então, trocamos informações em um universo que ultrapassa a história de nossas famílias. F a z o l a t t o é da q u e l e s genealogistas completos, um apaixonado que não se contenta com os estudos dos Fazolattos, dos Tostes, dos Nunes de Campos, dos Barbosa de Matos, entre outros, todos seus antepassados. Seus levantamentos ultrapassam as fronteiras da cidade de Juiz de Fora, avançando por grande parte da Zona da Mata, com incursões para as bandas da velha Borda do Campolide, onde, numa chapada, no alto e em meio de um campo livre de pensão e foro, vizinho da fazenda da Caveira, ergueu-se a Igreja Matriz, em 1726, dando origem à, hoje, cidade de Barbacena e, finalmente, chegando no Rio de Janeiro quinhentista. Meticuloso e rigoroso na busca das fontes; suave na pena, ao escrever o resultado dos seus levantamentos — certamente uma experiência adquirida na profissão de jornalista —, reconhecido entre os seus pares, pelo mesmo rigor incondicional na busca das suas fontes e pela produção eclética de seus artigos. Não me espanta o fato de escrever para mais de dois jornais simultaneamente (conheço a sua competência), porém me impressiona o fato de ser titular de uma coluna diária, de assuntos diversos. Ora, eu sei o quanto me foi difícil escrever este discurso de saudação aos meus confrades, já o disse, e fico imaginando o que será escrever todos os dias para milhares de leitores ávidos por notícias. Conheço bem esta sua produção; comprovei-a, algumas vezes, quando estive em Juiz de Fora ou nas conversas que trocávamos, num lanche no Parque Halfeld, ou em sua residência, quando me deparava com dezenas de livros e centenas de papéis, alguns seculares, sobre a mesa da sala, testemunhos da busca incessante e incansável do ilustre historiador. Sim, historiador, além de jornalista e genealogista. Autor do livro “Juiz de Fora: Imagens do Passado”, impresso em 2001, com 108 páginas dedicadas à história e ao levantamento iconográfico da sua cidade natal. Tenho o meu exemplar, e até o trouxe, com bela dedicatória feita no mesmo ano de 2001. Mas, para não ficarmos no plano do pessoal, onde os desavisados poderão considerar que tais palavras são fruto do carinho, amizade e admiração que este orador tem por Douglas Fazolatto, deixo que o próprio reconhecimento do Poder Público diga, por si só, o seu valor, e registro que Fazolatto é um dos 30 integrantes do Conselho de Amigos do renomado Museu Mariano Procópio; que a União Brasileira de Escritores o agraciou, no ano de 2001, com o título de Personalidade Cultural; que o Governo de Minas Gerais lhe concedeu a Medalha Santos Dumont no grau prata; e, finalmente, que a Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, merecidamente, o distinguiu com a Medalha Pedro Nava. Douglas, seja mais do que bem-vindo! LAIS OTTONI BARBOSA FERREIRA, Ou D. Lais Ottoni, como me acostumei a chamá-la nos últimos dez anos. Uma amiga que aprendi a respeitar, não só pela obra, mas também pela firmeza do olhar, pela personalidade nas suas argumentações, e pelas intervenções democráticas nas inúmeras reuniões de que juntos participamos. Decidida. Assim como sua obra, decidida a solucionar todas as pendências que possam existir na história de seus antepassados, não deixando margem que possa gerar dúvidas, no quem é quem entre os Ottoni. No gosto dos velhos tratados históricos, principalmente os do século XVIII, como os do genealogista Dom Antonio Caetano de Souza, em sua obra “História Genealógica da Casa Real Portuguesa”, de 1735, D. Lais Ottoni, após a introdução do seu livro, Os Ottoni, seguida das origens históricas, tanto na Itália, quanto Portugal e Brasil, e das cadeias genealógicas, passa a relacionar a documentação pesquisada, referente a um dos seus antepassados, com a íntegra dos seus registros de batismos, matrimônios e óbitos e, por vezes, com trechos tirados dos seus inventários. Foi o que D. Antonio Caetano de Souza, naquela sua monumental obra, já citada, de 26 volumes, denominou de PROVAS DA HISTÓRIA GENEALÓGICA, a fim de atestar tudo que foi dito na primeira parte de seus estudos, não deixando margem para os mal intencionados críticos. Pelo volume de transcrições, pela exigência da autora no apuro das fontes primárias, não se pode negar que por trás da obra Os Ottoni Descendentes e Colaterais, lançada no ano 2000, há uma investigação árdua, profunda, exigente e meticulosa. Eu chegaria mesmo a dizer peço permissão à amiga D. Lais Ottoni que a pesquisa não teve começo alguns anos antes de 2000, mas, sim, foi traçada, passo a passo, desde 1708, quando seu patriarca Manuel Ottoni se casou com Maria Thereza Bisi, em Gênova... É como se a autora fosse testemunha, in loco, de todos os acontecimentos ocorridos com seus antepassados, desde 1708, não permitindo que uma agulha se perca no palheiro. Presa à linha do tempo, conseguiu costurar todos os panos de boca do teatro de uma existência, revelando-nos uma peça mais do que encenada, e totalmente real: a história de uma vida familiar. Tenho meu exemplar, e também o trouxe comigo... Continua... 02 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial A formação profissional - Assistente Social e Psicóloga, especializada em Reabilitação Profissional, certamente a ajudou a desvendar os mistérios escondidos ou escamoteados pelas histórias de famílias, que, por vezes, tentam nos conduzir para caminhos diversos, até alcançarmos um fim de linha, que se perpetua na espera da sua agulha. Já o disse, e repito: D. Lais Ottoni tem esta agulha, e, no estudo do perfil de cada integrante de sua família, não descansaria enquanto não colocasse um a um sentado no divã da História, a fim de subtrair deles a verdadeira história familiar dos Ottoni, não deixando chance para o surgimento dos tão desesperados fins de linhas. Em função do acordo cultural Brasil-Espanha, foi enviada a Madri, e, certamente, lá realizou pesquisas, porém não abandonou seus estudos profissionais. Sua tese sobre legislação previdenciária comparada foi publicada na Revista da Organização Ibero-Americana de Seguro Social (OISS) em 1971, recebendo, também na Espanha, uma bolsa “ad honorem”. Já casada, viveu cinco anos em Barcelona e dez anos em Londres, onde começou a se interessar pela genealogia. A escola inglesa está entre as mais antigas, ao lado da francesa e da alemã, tanto nos estudos genealógicos, quanto heráldicos. Não poderia ter tido melhor influência. Retornando ao Brasil, inscreveu-se no Colégio Brasileiro de Genealogia, onde sempre esteve presente em nossas reuniões, assembléias, e nos encontros genealógicos que tínhamos em Copacabana, no Hotel Luxor e, depois, já há alguns anos, no Colégio Rio de Janeiro, na Gávea, onde ainda acontecem. Viajando por Minas Gerais, dedicou-se à investigação das suas raízes mineiras, na antiga Vila do Príncipe, berço dos ramos Ottoni, após curta passagem pelo Rio de Janeiro. Os primeiros povoadores da Vila do Príncipe datam de 1703 e a instituição episcopal da freguesia data de 1724. Pouco mais de vinte anos depois, nascia nesta mesma Vila, a matriarca dos Ottoni, Ana Felizarda do Prado Leme, oriunda das tradicionais famílias de São Paulo, e ali casada com Manuel Vieira Ottoni. Enfim, D. Lais Ottoni estuda a história de uma família, que se confunde com a própria história das cidades por onde passaram seus integrantes, a ponto de, até mesmo, batizarem uma delas, como é o caso do Município de Teófilo Ottoni. Em 2004, foi eleita Sócia Titular do Colégio Brasileiro de Genealogia. No mesmo ano, completou o trabalho Povoadores do Vale do Mucuri, que estuda os primeiros tempos do povoamento. Finalmente, em 2005, lançou seu novo livro Raízes Mineiras, que trata de um estudo genealógico das famílias Costa Pinto e Ferreira da Cunha. Tais trabalhos deixam claro que D. Lais Ottoni também se vem distanciando dos estudos restritos aos seus antepassados Ottoni e, tornando-se uma genealogista eclética, avança por caminhos mais distantes em terras mineiras. E não pára por aí... Recentemente, há poucos meses, recebeu das mãos do Governador de Minas Gerais, Aécio Neves da Cunha, na festa da Inconfidência Mineira, a Medalha de Honra da Inconfidência, como escritora, e, como representante da família, agraciada com a Grande Medalha da Inconfidência, em memória do Senador Teófilo Ottoni, pelos 200 anos do seu nascimento. O Colégio Brasileiro de Genealogia fica honrado com o seu nome em seu quadro de titulares. ELIANA QUINTELLA DE LINHARES, Outra amiga, mais recente, e carioca como eu. Traz em seu sangue, e faz questão de frisar, e eu também o faria, a importância da história de sua família na formação da cidade do Rio de Janeiro. Suas pesquisas ultrapassam a velha metodologia de se apresentar um estudo genealógico, apenas como uma cadeia de sucessões de nomes, perpassando séculos, desprovidos de suas roupagens culturais. Far-me-ei explicar. Por muitos anos, na busca de maiores informações sobre nossos antepassados, acabamo-nos defrontando com os grandes clássicos da literatura genealógica, principalmente em Portugal, tais como as obras de Alão de Morais, no século XVII; Manso de Lima, no século XVIII; e Felgueiras Gayo, no século XIX, entre outras. No entanto, uns em menor grau e outros na quase totalidade de suas obras não apresentam informações histórico-biográficas, assim como datas, em seus estudos genealógicos. Há capítulos, onde somos obrigados a recuar quase que dez gerações, para encontrar uma data de referência à cadeia genealógica apresentada. É difícil, sei; extremamente difícil, repito. Com o passar dos anos, muitas das antigas paróquias, tanto em Portugal, como no Brasil, perderam seus livros de registros, pela voracidade dos incêndios, tão comuns naqueles tempos, nas primitivas capelas de taipa-de-pilão, algumas cobertas pelas grandes folhas de urupema; e outras, já telhadas, com suas grandiosas tesouras de sustentação, de madeira, portas à mercê dos devoradores cupins ou das centenas de velas que iluminavam os templos, numa época não muito distante, onde a eletricidade certamente era uma idéia inconcebível. Também não posso deixar de registrar, me desculpem, o próprio descuido dos Párocos que, em suas pregações religiosas, afastavam seus fiéis do estigma de pagãos, mostrando-lhes a salvação pelo sacramento do batismo e, em contrapartida, descuidavam-se da guarda dos livros de registros paroquiais, ora jogados às traças, ora jogados nas fogueiras por tornarem-se inúteis. No entanto, nem só de livros paroquiais, embora fundamentais, se traça a história de uma família. A história de uma região, seus desbravadores, seus povoadores, suas instalações, primeiros armazéns, primeiras boticas, primeiros logradouros, tudo nos ajuda na elaboração de uma obra genealógica. E assim é Eliana Quintella. Não esmorece na falta dos registros paroquiais: sua obra nasceu premiada. Não nasceu genealógica, mas sim de raízes históricas. Seu primeiro livro, que também trago em minhas mãos “O Comendador Guilherme Telles Ribeiro” escrito em parceria com seu primo, o Ministro Paulo Fernando Telles Ribeiro, foi premiado pelo Colégio Brasileiro de Genealogia, como livro mais representativo do triênio de 2001-2003. Ele é históricogenealógico. É o resgate da história de uma cidade, inserido no contexto genealógico. Eliana diz que, desde 1992, se dedica aos estudos genealógicos, Continua... CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 03 principalmente depois dos filhos criados. Mas suas pesquisas, permitam-me avançar sobre a sua humildade, não datam de 1992... Nasceram com ela, no seio de uma família que tinha consciência da sua história, cujos registros da sua trajetória não dependem apenas dos assentos paroquiais, mas de um emaranhado novelo de fontes diversas, daqueles que dá prazer desfiar, nem que leve uma vida inteira, pois, certamente, trará um belo resultado. A passagem da infância de Eliana é testemunha da sua frondosa árvore genealógica, pois residiu, por alguns anos, na Rua Álvaro Ramos, logradouro aberto outrora na chácara número 18 da rua da Passagem, em Botafogo, que pertenceu a seus antepassados. Loteada a partir de 1859, deu origem à Rua D. Marciana, uma homenagem à bisavó paterna de Eliana, que não teve oportunidade de alcançar esta homenagem, pois, no ano de 1921, a Prefeitura alterou a sua denominação para Rua Álvaro Ramos, nome que ainda perdura. Recentemente, nos brindou com outro livro, dedicado à história da família Norton Murat, ramo de seu pai: - “Descendência de Luis Queriol Murat e de Maria José Tavares de Rezende Norton”. Finalmente, como era de se esperar daqueles que se dedicam, de forma séria e, sobretudo, apaixonada às investigações genealógicas, Eliana Quintella, felizmente para nós, perdoemme o egoísmo, foi atingida pelo vírus da genealogia e, ultrapassando os limites do seu âmbito familiar, também se tornou uma genealogista eclética. Recentemente, ainda na semana passada, ela nos brindou com um volumoso catálogo sobre os obituários do Rio de Janeiro, parte de uma pesquisa que sabemos ser bem maior. Não tem volta.., o Colégio Brasileiro de Genealogia só tem a ganhar. Muitíssimo obrigado por estar ao nosso lado. REGINA LÚCIA CASCÃO VIANA Mais uma grande amiga, de cinco anos. No entanto, a única que não conheci por via dos estudos genealógicos, matéria a que tanto nos dedicamos. No ano de 1998, com um grupo de amigos portugueses, fundamos um clube literário, na Barra da Tijuca, para discutirmos as publicações dos grandes clássicos da literatura portuguesa e brasileira, e apresentarmos nossas próprias produções: poemas, prosa e contos. Passados alguns anos, por volta de 2002, quando cheguei a mais uma das nossas reuniões semanais, percebi que havia uma nova convidada, que me foi apresentada pelo nome de Regina Cascão. Em poucos segundos, esquecendo da minha condição de portador de um sobrenome que não escapa às gozações, fui logo, com um sorriso no canto dos lábios, gozando a nova amiga: Cascão? E passei a dedicar-lhe um discurso sobre o que é ser Cascão. Em poucos minutos, eu me recolhia à minha pequenina insignificância, e veio da nova associada uma baita resposta, repleta de humor, com inteligência, que realmente me colocou na condição de barata. Nascia daí uma grande amizade, a despeito de, no decorrer de um ano, nunca me ter sido revelada a sua paixão pela Genealogia. Certo dia, em uma das reuniões do ano de 2003, surgindo uma 04 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial discussão sobre a origem de um sobrenome, nosso amigo Chico Amaral foi à estante e trouxe o Dicionário das Famílias Brasileiras para resolver aquela peleja antroponímica. Mal chegou à mesa, Regina foi logo dizendo: ihhhh, neste Dicionário não tem Cascão. Eu, de imediato, não acreditei que pudesse ser possível, até mesmo pelo fato de conhecer bem o sobrenome Cascão, pois, na minha infância, uma das gozações preferidas dos meus algozes, permitam-me repeti-la, era chamar-me de “barata cascuda”. Fui logo pegando o Dicionário e, no Tomo I, na Letra C, arrastando o polegar da mão direita à margem da página, li: Cascaes, Cascalho, e Cascudo. Estou, até hoje, em dívida com a grande amiga carioca e pernambucana. Carioca, não só pelo nascimento, mas pelo conhecimento adiantado que tem da história da cidade do Rio de Janeiro, paixão que a levou a se formar em Guia de Turismo Regional. Aprofundamos, mais ainda, nossas paixões comuns que, da poesia à genealogia, passavam pela história do Rio de Janeiro. No entanto, já havia percebido, nas reuniões literárias, que algo a deixava bem à frente, e me fazia dependente dos seus conhecimentos: a sua formação profissional. Formou-se Professora de Curso Primário pelo Instituto de Educação. Trabalhou no magistério oficial do Município, onde foi regente de turma, Secretária de Escola, Subdiretora / Diretora-Adjunta, Auxiliar de Chefia de Distrito Educacional e funcionária do Gabinete Diretor do Instituto de Nutrição Annes Dias. É formada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e em Teologia pela Universidade Santa Úrsula. Diante de tal currículo, por pouco não fiquei receoso de parecer um interessado... Mas nossa amizade, sincera, leal e duradoura, me libertava de tal receio, pois passei a perturbar a grande amiga, com telefonemas constantes, para rever algumas frases de textos que considerava mais expressivas. Hoje, neste discurso, sendo ela uma das titulares a ser saudada, tive que seguir sozinho nesta empreitada... A Genealogia tornou-se um dos seus temas prediletos, e o seu avanço neste campo, tal qual os demais titulares hoje aqui louvados, também ultrapassou o seu âmbito familiar. Não bastando a dedicação aos estudos de seus antepassados, produzindo dois importantes livros genealógicos, tornou-se responsável pela página GenealBR, fundada em 17 de Junho de 2002, dedicada aos estudos da história da família brasileira, de qualquer parte do Brasil, estando à frente, no comando de 244 genealogistas, na discussão não só do resgate de suas famílias, como na condução do futuro da genealogia brasileira. Tais atributos levaram-na a ser membro da Associação dos Pesquisadores de História e Genealogia (ASBRAP); do Instituto Genealógico da Bahia; do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco e do Colégio Brasileiro de Genealogia onde, mesmo antes de alçar à condição de Titular, fez parte de duas Diretorias, exercendo, hoje, a função de Diretora 1.ª Secretária para o biênio de 2006-2007. Por fim, não podia deixar de trazer também os meus exemplares das suas obras: “Genealogia da Família Cascão” (2002), e “Pereira Lima, uma família pernambucana” (2006), onde a autora acumula todos os seus conhecimentos, e faz, deste seu último trabalho, um estudo da família pernambucana, um estudo da história pernambucana e um guia dos importantes bens do patrimônio histórico de Pernambuco, repleto de imagens das antigas e seculares Igrejas pernambucanas por onde passaram seus ilustres antepassados. Regina, amiga e irmã, a minha felicidade em tê-la no Colégio foi o que me levou a aceitar a Presidência. Obrigado, obrigado e obrigado, por estar entre nós. O Colégio Brasileiro de Genealogia só tem a ganhar e crescer com a investidura de vocês no Quadro de Sócios Titulares. Muito Obrigado! Jorge Douglas Alves Fazolatto Cadeira nº 03 Patrono: Ocupantes anteriores: Frederico de Barros Brotero Carlos Grandmasson Rheingantz, Edgardo Pires Ferreira e Luiz Carlos Sampaio de Mendonça São Paulo, anos antes do meu nascimento. Filho do desembargador Frederico Dabney de Avelar Brotero e neto paterno do Conselheiro José Maria de Avelar Brotero, que exerceu o cargo de secretário e lente da Faculdade de Direito de São Paulo, onde estudaram diversos parentes meus. Advogado por formação, foi promotor público, deputado estadual e conselheiro da Caixa Econômica Federal. Mas, profissionalmente, dedicou-se mesmo ao comércio do café. Além de sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, foi sócio correspondente do Colégio Brasileiro de Genealogia. São suas obras, dentre outras, que nos servem de referências seguras, eis que foram redigidas e impressas com impecável correção metodológica e elegantes descrições biográficas: 1234- Hoje, quando sou recebido como Sócio Titular do Colégio Brasileiro de Genealogia - a Casa de Carlos Rheingantz - me vem à memória a grata recordação de uma etapa importante da jornada de minha vida, quando, ainda na infância, tive o privilégio de ser um dos ouvintes dos costumeiros serões de minha família materna, que eram conduzidos por minha bisavó, dona Rita Tostes Dutra de Paula. Nascida na Fazenda Barra Mansa, na antiga Santa Bárbara do Rio Novo, atual distrito de Carlos Alves, no município de São João Nepomuceno, Rita Tostes Dutra de Paula foi uma das guardiãs das memórias e tradições de seus parentes e das famílias com elas entrelaçadas. Vejo hoje que ela está, naturalmente por direito e verdade, incluída na extensa galeria das matriarcas e antigas senhoras mineiras, que foram, em grande parte, as responsáveis pela preservação da história oral do elemento povoador da velha capitania das Minas Gerais. Porque foi a partir destes relatos de fatos, conversas, confidências, causos, lembrados e contados ao longo de infindáveis noites, nas mesas das salas-de-jantar dos grandes casarões, ou mesmo em volta do calor dos fogões das antigas fazendas da província mineira, que chegaram até hoje as histórias e memórias recolhidas e publicadas pelo Visconde Nogueira da Gama, subsidiando obras como as memórias de Francisco de Paula Ferreira de Rezende e as do meu conterrâneo Pedro Nava, considerado o maior memorialista brasileiro. "A Família Monteiro de Barros". "A Família Jordão e seus afins". "A Família Junqueira" "Tribunal de Relação e Tribunal de Justiça de São Paulo - Sob o ponto de vista genealógico" O nome de Brotero como patrono desta cadeira, foi uma escolha do primeiro ocupante dela, o fundador desta casa, o genealogista e engenheiro Carlos Grandmasson Rheingantz, o que nos traz uma certeza do enorme reconhecimento do valor da obra, da capacidade e da correção do homenageado, por um dos mais exigentes e crítico dos genealogistas brasileiros. Carlos Rheingantz nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, no seio de uma rica família de empresários do ramo têxtil gaúcho e da iluminação residencial carioca. Formou-se em engenharia, carreira que abandonou para se dedicar ao ramo de seguros. Era meticuloso pesquisador e tomou a si notáveis empreitadas, como as que resultaram na formação do fichário do Colégio Brasileiro de Genealogia, onde estão preservados os informes dos assentos paroquiais da cidade do Rio de Janeiro. Dotado de notável memória e saber, teve lugar proeminente nos estudos genealógicos brasileiros e europeus, tendo, por isso, figurado como bolsista da Fundação Gulbenkian, em Portugal, onde completou os levantamentos iniciados no Rio de Janeiro. Foi delegado brasileiro em congressos internacionais de genealogia. Sua contribuição está preservada, em parte, nas suas obras publicadas, destacando-se entre elas as Primeiras Famílias do Rio de Janeiro, -“Uma Família de Marinheiros descendência da Família de Lamare, A família Faro - Ascendência e Descendência e Achegas Genealógicas à Ascendência Brasileira de Luiz Alves de Lima e Silva - Duque de Caxias - em colaboração com Carlos Sayão Dantas. Além de fundador desta Casa e duas vezes seu presidente, posteriormente, foi aclamado presidente vitalício. Teve, ainda em vida, o reconhecimento de ser indicado patrono da cadeira número 20, ocasião em que estava presente, e tentou recusar a homenagem. Mas como essa escolha é, por praxe acadêmica, uma prerrogativa do primeiro ocupante de uma cadeira, mesmo contrariado, Rheingantz viu a assembléia ratificar a rara escolha, feita por nosso confrade Roberto Menezes de Moraes, de indicar um patrono acadêmico vivo. Pouco tempo depois desse fato, faleceu em Petrópolis, onde morou nos últimos anos de sua vida, dedicado às pesquisas dos colonos daquela cidade. Era em muitos desses relatos dos velhos serões familiares, que apareciam os nomes e os vultos dos nossos antepassados, integrantes, em grande parte, de uma das bases da formação do povo mineiro, em cuja gênese vamos encontrar a epopéia dos bandeirantes e demais paulistas, que, entrando pelas montanhas de minha província natal em busca da riqueza do ouro farto e das pedras preciosas, ali fincaram fecundas raízes e formaram, ao longo dos tempos, suas extensas famílias, como registraram Pedro Taques e Luiz Gonzaga da Silva Leme, autores consagrados da genealogia brasileira, e que tiveram seus escritos e obras estudadas, e parcialmente ampliadas e atualizadas na extensa bibliografia de Frederico de Barros Brotero, o patrono desta cadeira, que fui honrosamente chamado a ocupar pelos meus pares. Foi, então, muito justamente sucedido por Edgardo Pires Ferreira, sociólogo que nasceu no Rio de Janeiro, e presentemente vive na cidade de São Paulo, e que é o autor da premiada obra: A Mística do Parentesco. Frederico de Barros Brotero era natural de Itu. Ele faleceu em Genealogia é o encadeamento de gerações, é o estudo da Continua... CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 05 continuidade dos laços familiares, dos laços de sangue, dos laços das afinidades, e assim também como das ligações afetivas, onde os sentimentos são recuperados, registrados e preservados. Desta forma, foi natural em nossa instituição que, quando Carlos Rheingantz faleceu, o então confrade Luiz Carlos Sampaio de Mendonça, depois de Pires Ferreira eleito, tenha solicitado, por motivos sentimentais, e obtido o aceite da Direção do Colégio - por amável cortesia de Edgardo - para a mudança da cadeira onde estava para esta, cujo patrono é Frederico de Barros Brotero, por ter sido este, seu mestre, seu parente, seu amigo e seu padrinho de casamento. Luiz Carlos Sampaio de Mendonça nasceu em Santos... Interessado pela genealogia desde criança, era também um sabedor apaixonado dos velhos e tradicionais troncos paulistas. Ligado por laços de sangue e afeto aos Almeida Prado, de Jaú, e aos Arrudas Botelho, de São Carlos de Pinhal, famílias que tiveram distinção aristocrática durante o século XIX, nada mais natural que Sampaio de Mendonça fosse ardoroso monarquista, tendo sido um dos esteios da causa na cidade de Santos, onde presidiu com dedicação o Circulo Monárquico. Foram suas publicações: A Família materna do Monsenhor Pizarro, Os Andradas - Ascendentes e Colaterais e Troncos Povoadores do Rio de Janeiro - A Família Hayden. Faleceu em 2001, deixando ainda muitas pesquisas inéditas. Cheguei ao Colégio Brasileiro de Genealogia, conduzido pelas mãos amigas e acolhedoras dos confrades Carlos Eduardo Barata e Roberto Menezes de Moraes. Pelos demais titulares, fui eleito para esta cadeira de antecessores ilustres na genealogia brasileira. É uma grande honra, à qual acrescento à obrigação e sentida expectativa de quem espera estar sempre à altura de corresponder o chamado, a confiança e o reconhecimento. Muito obrigado. ****** Laís Ottoni Barbosa Ferreira Cadeira nº7 Patrono: Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca Ocupante Anterior: Paulo Carneiro da Cunha ligam à história do Pernambuco na época colonial, e é um indicador expressivo do notável fôlego genealógico do autor. O Dr. Paulo Carneiro da Cunha, último ocupante da Cadeira nº 7, pertencia a uma das mais tradicionais famílias de Pernambuco, e nasceu em 15 de abril de 1921 no Rio de Janeiro, onde também faleceu em 25 de janeiro de 2004, quando exercia a Presidência do Colégio Brasileiro de Genealogia. Formado pela Escola de Engenharia, associou-se ao CBG em 1952, e foi eleito seu vice-presidente em 1989, depois presidente em 1990, sendo reconduzido à função mais três vezes. Foi autor de diversos trabalhos, entre eles a Galeria dos Presidentes da Republica, XIV José Linhares, Brasil Genealógico IV, No.1, em colaboração com Carlos Rheingantz. Exmo. Sr. Presidente do Colégio Brasileiro de Genealogia, Prezados Colegas, Senhoras e Senhores Em primeiro lugar, meus agradecimentos ao Colégio Brasileiro de Genealogia, pela honra que me foi concedida de ocupar, como membro titular, a Cadeira nº 7, cujo patrono é o grande genealogista Antonio Vitorino Borges da Fonseca, e o último ocupante, o Dr. Paulo Carneiro da Cunha de saudosa memória. Estamos certamente cientes da elevada responsabilidade que assumimos, em função do grande legado deixado por ambos. Antonio Vitorino Borges da Fonseca, nasceu em 25 de fevereiro de 1718, no Recife Pernambuco, faleceu em Olinda no dia 9 de abril de 1786, e está sepultado no Mosteiro de São Bento em Olinda. Foi autor de diversas obras importantes, sendo a mais conhecida a famosa Nobiliarquia Pernambucana, publicada em 1883, abrangendo numerosas famílias portuguesas, que se 06 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial Alem da profunda pesquisa sobre os Carneiro da Cunha, deixou também importantes trabalhos de pesquisa genealógica, meticulosamente registrados à mão, com sua firme e clara letra, e, post-mortem, foi publicada sua obra referente a genealogia dos Prefeitos do Rio de Janeiro, em conjunto com Carlos Rheingantz. Tivemos a honra de conviver com ele durante muitos anos, apreciando de perto sua principal característica, a generosidade, sempre pronto a partilhar seus elevados conhecimentos com aqueles que deles necessitavam. Sobretudo, não é somente a excepcional qualidade de seus trabalhos genealógicos que desejamos ressaltar, mas também sua gentileza e modéstia, que infundiam em todos nós um sentimento de respeito e admiração. Sua morte foi uma perda irreparável, mas sua memória é um legado precioso que permanece entre nós. “Porque os mortos já não comandam, mas iluminam os caminhos” Muito obrigada. Eliana Quintella de Linhares Cadeira nº 10 Patrono: Antonio Augusto de Meneses Drummond Ocupantes anteriores: José Tavares Drummond e José Francisco de Assunção Santos Ilustríssimo Senhor, presidente do Colégio Brasileiro de Genealogia Sr. Carlos Eduardo de Almeida Barata. Ilustríssimos senhores da Diretoria. Ilustríssimos senhores sócios titulares, sócios adjuntos e colaboradores. Senhoras e senhores. Quando fui convidada para disputar a Cadeira número 10 deste Colégio Brasileiro de Genealogia, fiquei muitíssimo honrada por me julgarem capaz de ocupá-la, mas também temerosa pela enorme responsabilidade que seria suceder dois ilustres senhores como os doutores José Francisco de Assumpção Santos e José Tavares Drummond. Ambos engenheiros e com uma coleção de obras bastante significativa. Dr. José Francisco de Assumpção Santos, membro de inúmeras instituições culturais, que nos legou uma extensa obra. Para citar apenas duas delas: Uma linhagem sul-riograndense: os Antunes Maciel, editada em 1958 e Genealogia recente do presidente da República Dr. João Belchior Marques Goulart, editada em 1977. Dr. José Tavares Drummond, um apaixonado pela genealogia, membro atuante aqui no Colégio Brasileiro de Genealogia, onde exerceu diversas funções, publicou “A Família Drummond no Brasil - ramo mineiro”, números 1, 2 e 3 - 1970: obras de grande importância para a bibliografia genealógica e histórica do Brasil. Ainda o fato de vir a ocupar justamente esta Cadeira nº 10, cujo patrono é o Dr. Antonio Augusto de Meneses Drummond, advogado, um dos fundadores do Instituto de Estudos Genealógicos e membro de diversos outros Institutos Históricos e Genealógicos, tem, para mim, um significado especial. Sendo um Drummond, muito provavelmente, compartilhamos os mesmos ancestrais. Os Drummond estão nas raízes da genealogia de minha mãe e se unem, por casamento, com membros da família de meu pai. Coincidências, como esta, são uma das mais interessantes características da genealogia. Além de uma ciência, é uma viagem de descobrimentos. Dá-nos a oportunidade de conhecer nossos ancestrais, como viveram, que lutas travaram, seus sucessos e até seus fracassos. Citando Loren Corey Eiseley, antropólogo e poeta americano que viveu no século XX, diríamos que: “entramos no mundo sem saber direito o que aconteceu no passado, quais as conseqüências que isso nos trouxe e o que pode nos reservar o futuro. Procuraremos viajar o mais longe que pudermos. Mas, olhando a paisagem à nossa volta, sabemos que não será possível conhecer e aprender tudo. Então, nos resta lembrar tudo sobre a nossa viagem, para que possamos contar histórias. Valorizar o fato de estarmos aqui e tudo o que conseguimos e deixar para nossos filhos e netos relatos das maravilhas que vimos e, principalmente, notícias daqueles que foram as sementes de nossa árvore para que possam, mais tarde, transmitir para seus descendentes.” Não tenho a pretensão de querer me igualar aos meus antecessores. Pretendo, se possível, dentro de minhas possibilidades de insaciável pesquisadora, contribuir para o enriquecimento da pesquisa genealógica, primeiramente através do aprofundamento e ampliação das genealogias dos diversos ramos de minha família e também de alguns outros trabalhos que possam ser úteis aos pesquisadores. Agradeço, pois, aos ilustres diretores e sócios titulares, que escolheram meu nome. Farei o possível para corresponder integralmente à expectativa que depuseram em mim e, de nenhum modo, decepcioná-los. ****** Regina Lúcia Cascão Viana Cadeira nº 28 Patrono: Ocupante anterior: Orlando Cavalcânti Olavo de Medeiros Filho Obs: Regina declarou ter tido dificuldades para fazer um discurso para a posse. O dia se aproximava e ela, nervosa, nada tinha escrito ainda. Uns três dias antes da cerimônia, ao acordar, encontrou algumas folhas de papel sobre a cama: era uma “carta” de seu bisavô. E foi esta “carta” que leu. Minha cara bisneta Desde que você começou a cascavilhar sua história familiar, você chama aos que já se foram de defuntinhos. Você criou uma tal familiaridade com todos e cada um que, certamente não se espantará se um deles estiver neste momento dirigindo-lhe algumas palavras... Portanto, receba com o mesmo carinho que lhe mando, esta carta de seu bisavô. Sei que você está preocupada e ansiosa por causa da cerimônia de posse no próximo dia 28 e então eu tratei de fazer alguma coisa para ajudar você. Quando você era uma criança, o sobrenome Cascão a fazia infeliz, porque você era alvo, na escola, de muitas brincadeiras. Em Continua... CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 07 Portugal, onde nasceu o primeiro Cascão de nosso ramo, ser “cascão” significa ser teimoso, turrão, um “casca grossa” impávido e decidido. Mas não no Brasil. Ou achavam você pouco asseada ou lhe perguntavam pela goiabada, não é? E você se encolhia e quis muitas vezes ter nascido no seio de outra família, de nome mais comum que pudesse passar despercebido. Isso me deixava meio triste, porque afinal meu avô e seus dois irmãos foram os primeiros deste apelido a chegarem ao Brasil, pelos primeiros anos do século 19. Vieram antes mesmo dos representantes de outros ramos que sei que você identificou e acompanha, de longe. Você achou mais sete ramos Cascão em terras brasileiras, mas fui eu o primeiro Cascão a nascer no Brasil, este “pódio” ninguém me tira! Você cresceu e os coleguinhas se acostumaram com seu sobrenome, e você também... até que percebeu que ele poderia ser a sua marca. Porque seu prenome pode não ser lembrado, mas o Cascão ninguém esquece... Foi assim que a jovem que você se tornou passou a enfrentar as brincadeiras de outra maneira. Se perguntavam se tomava banho, você respondia que sim, mas só aos sábados. E quando as pessoas sorriam, você depressa sempre acrescentava: “mas só os de Aleluia!” Você passou a ser para todos a Regina Cascão, e fiquei eu bem contente e satisfeito. Segui acompanhando você, e comemorei com farinha e mel de engenho quando você casou e nem tirou o apelido! Era meu Pernambuco ainda vivo na sua assinatura, ad aeternum, imutável, sólido, sagrado. Mas a alegria maior mesmo se deu quando você se aposentou e, libertada dos compromissos rotineiros, escutou o que soprei no seu ouvido e passou a querer buscar suas origens. Há uma coisa que você fala muito a toda gente: o tal modo mexicano de dizer da morte. “No México existe a crença de que cada pessoa morre três vezes. A primeira é no momento em que suas funções vitais cessam. A segunda é quando o seu corpo é colocado na tumba. A terceira acontece em algum momento no futuro, no qual o nome do falecido é pronunciado pela última vez. Aí então a pessoa realmente morre”. Quando você deixou para trás compromissos de vida, o desejo de preencher um tempo subitamente livre levou você a encontrar uma tarefa a mais no seu caminho: evitar a nossa terceira morte. E, no meio dos Cascões do lado de cá, felicidade e gratidão floresceram porque você se decidiu a não permitir que fôssemos esquecidos. Essa sua teimosia tão “cascão” a fez perseguir incansavelmente seus objetivos. Com uma tenacidade que chegava muitas vezes a me espantar, você fez exatamente como foi escrito na “orelha” do seu primeiro livro: buscou suas origens, apaixonou-se por Pernambuco e remontou a Portugal. Descobriu ancestrais e contemporâneos, e assim tem sido feliz - e nos feito felizes também. Um belo dia, você visitou o Colégio Brasileiro de Genealogia que fica na Lapa, mas que dizem ser na Glória... o Attila Augusto diria que a região se afidalgou... Foram você e sua amiga também Regina Lúcia, e foi memorável a confusão do porteiro para anotar as carteiras de identidade: ele anotou uma e na vez da outra, pensou que era mesma... Já nesse dia da visita, vocês foram informadas da palestra que ia haver no play-ground da casa de um dos diretores do Colégio, o Nelson Pamplona. Um parênteses: se você tiver chance, diga a ele que os Wernecks estão ansiosos pelo livro que ele está montando. Diga também que o Klörs e o Belisário não têm o mínimo ciúme, que esses sentimentos são deixados por aí. Já os Roubaud que a sua xará busca estão meio desolados, mas garanta a ela que mesmo assim eles entendem a roda-vida em que ela anda. Tudo tem seu tempo, tudo tem seu tempo... Pois bem, foi nesse dia da palestra que as duas Reginas se filiaram ao Colégio e aí você não parou mais. Com os pesquisadores que conheceu, você aprendeu o caminho das pedras e foi cascavilhando, cascavilhando e tornando-se mais um desses ratos de arquivo, de cartório e de igreja que os amigos aprenderam a entender, para quem os conhecidos franzem o sobrolho e por quem os do lado de cá torcemos tanto.. Veio seu primeiro livro. Nós, os Cascões, registrados no papel! Confesso a você, agora, que muitas vezes fomos ao Colégio acariciar a estante que acolheu o seu livro, na segurança de que nossa terceira e definitiva morte estava descartada. Depois, livro editado, você pôde candidatar-se a Sócia Adjunta. Pouco tempo mais, torna-se Diretora 1ª Secretária em 2004 e retorna em 2006 na mesma função. Veio o livro Pereira Lima, com o ramo de mamãe. Cascões, Pereiras Lima, Moura Mattos e Gonçalves Ferreira fizeram festa aqui, como se ainda estivéssemos na Rua da Aurora, na quermesse da Boa Vista ou no baile ao Imperador no Recife de 1859. Pensamos até em lhe fazer chegar explicações sobre o sobrenome ter sido composto assim. Não foi para adular meu padrinho, o poderoso Marquês - mas preferimos deixar de lado, mistério sempre encantou os leitores... Agora, você toma posse na Cadeira 28, que tem por Patrono e primeiro ocupante dois nordestinos. Nem lhe conto de nossa animação: no dia 28, depois da sua fala, vai haver forró de comemoração, e certamente surgirá no ar o doce olor do melaço de cana. Para ajudar você, fui eu ter com Olavo Medeiros, o primeiro Titular desta sua Cadeira. Tive que interromper uma conversa comprida que ele mantinha com a conterrânea Nísia Floresta. Posso garantir que ela não se incomodou, porque desde a sua eleição ela está de olho em você também — você sabe como se unem os nordestinos. Dele eu soube algumas coisas para dar suporte ao que você tem que falar no nobre dia. Pois conte que o nome completo de Olavo é OLAVO DE MEDEIROS FILHO. Neto materno de Julieta Amélia de Medeiros e Joel Adonias Dantas, os dois nascidos em Caicó, RN, onde ele foi Prefeito. Neto paterno de Francisco Leandro de Medeiros e Maria Marieta da Silva, ela pernambucana, criada na Paraíba. Uma bela salada nordestina... Os pais de Olavo são Severina Dantas de Medeiros e Olavo Silva de Medeiros, casados em maio de 33. Olavo pai exerceu a Medicina primeiro em Caicó, e depois em Natal, para onde se mudou com a família em 1940. Do casamento houve 5 filhos, dos quais o nosso Olavo foi o primogênito. Suas três irmãs, nascidas entre ele e o caçula Márcio, fazem a alegria dos poetas com seus nomes: Maria Marieta, Silvia Julieta e Dione Violeta. Olavo não me disse muito mais sobre ele, porque sempre foi modesto. Na verdade eu não sei bem se ele tem consciência de sua importância no registro da história de sua terra, em especial da região do Seridó. Fui obrigado a buscar informações entre os parentes, e então, querida bisneta, conte a todos que Olavo de Medeiros Filho nasceu na mesma Caicó de seus avós em 13 de fevereiro de 1934, tendo ido morar na capital do estado aos seis anos de idade. Foi, como você, funcionário do Banco do Brasil, onde ingressou em 1952 e aposentou-se trinta anos depois. Não havia instituição cultural do Nordeste que não quisesse Olavo de Medeiros Filho entre seus pares, tal seu conceito como historiador, pesquisador e genealogista. Além do Colégio Brasileiro de Genealogia, pertenceu à Academia Norte-riograndense de Letras; ao Instituto Histórico e Continua... 08 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial Geográfico do Rio Grande do Norte, onde foi Diretor; à Sociedade Brasileira de Estudos do Século XVIII, de Brasília; à Academia de História do Amazonas; à Associação de Pesquisadores de História e Genealogia, de São Paulo foi sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; dos Institutos Históricos do Ceará, de Pernambuco, do Espírito Santo, de Sorocaba, de Campina Grande, além de academias de letras e diversas sociedades e institutos culturais. Foi um custo conseguir que Olavo confirmasse tudo isto, ele não gosta muito de falar de si, ele se empolga mesmo é quando fala de sua terra e sua gente, que ele tão bem retratou, registrou e louvou nos inúmeros artigos, livros e trabalhos, além de seminários e conferências. Pela gráfica do Senado Federal, em Brasília, ele lançou 4 obras entre 1981 e 1988: Velhos Inventários do Seridó, Indios do Açu e do Seridó: Caicó Cem Anos Atrás e o clássico Velhas Famílias do Seridó; É autor também, entre outros, de Naufrágios do Litoral Potiguar; No Rastro dos Flamengos; Terra Natalense; O Engenho Cunhaú à Luz de um Inventário; Aconteceu na Capitania do Rio Grande do Norte; Os Holandeses na Capitania do Rio Grande do Norte; Gênese Natalense; Cronologia Seridoense. Seu último trabalho é de 2005: Os Barões do Ceará-Mirim e Mipibu. Olavo sempre foi um apaixonado pelo Nordeste e pela sua região natal, o Seridó. Foi colaborador assíduo dos jornais de Natal e do interior. Seus livros são leitura imprescindível ao estudo da formação histórica e social da região. Casou-se a 29 de setembro de 1952, assim que passou no concurso para o Banco do Brasil, com Maria Iria Nóbrega, também caicoense, e foram pais de cinco filhos: Olavo de Medeiros Neto e Ângela, George, Jader e Suzana - Nóbrega de Medeiros. Faleceu de infarto em 2 de julho de 2005, deixando vazia a Cadeira 28 de Titular no Colégio. Foi seu primeiro ocupante. E mais não consegui arrancar dele, que me despachou para meu afazer seguinte, que era ir à busca de Orlando, Patrono dele e agora seu. E foi isto que eu fiz, minha bisneta. Foi mais fácil encontrar Orlando, afinal nós, os pernambucanos, sempre tão ufanos de nossa terra, nunca estamos sós. Seja à volta de Gilberto Freyre, seja escutando Nabuco ou recordando os Vassourinhas com Nelson, Capiba e Gonzagão. Pois logo, logo, dei com Orlando e ele já sabia o que eu pretendia... desde que você se animou a concorrer à Titularidade por conta dele, que está todo contente e orgulhoso. Está numa felicidade só também porque acompanhou de perto a digitalização de seus papéis, feita pelos Mórmons lá no Instituto Pernambucano em outubro. Agora sabe que seus arquivos vão atingir um maior número de interessados. Orlando não se fez de rogado. Ele se chama ORLANDO MARQUES CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, nasceu no Recife em 15 de outubro de 1919 e faleceu em Olinda, berço de seus antepassados Cavalcanti de Albuquerque, em 12 de outubro der 1984. Filho de Alfredo Marques Cavalcanti, misto de fazendeiro, senhor de engenho e alto comerciante, e de Noeme Carneiro da Cunha Carneiro Leão. Bacharel em Direito, advogado, promotor, juiz. Foi professor universitário e pesquisador do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Casou-se com Risalva Tenório de Albuquerque, com geração. Como Juiz de Direito, o exercício da função levou-o a várias comarcas do estado, e então ele pôde investigar a documentação de cada região por onde passou, Diz ele que tudo começou em 1939, com o objetivo de compor uma “Genealogia Pernambucana” que ampliasse a obra de Borges da Fonseca. Mas em livro mesmo, deixou apenas “Retrospecto”, de 1975, no qual trata a família Carneiro Leão, seu lado materno. Deixou inédito trabalho pronto sobre a genealogia de Bento Leite de Oliveira e Ascensa da Silva Cavalcanti, casal tronco do qual descende. E mais não disse, porque estava mesmo ansioso para voltar às suas conversas com outros pernambucanos. Então sabe quem eu procurei para saber mais sobre Orlando? O José Antonio Gonsalves de Mello e a Zilda Fonseca, que chamei à parte e com quem conversei por bastante tempo.Eles tinham muito a contar, eu só anotando. Você sabe que Reinaldo Carneiro Leão, sócio do Colégio e atual Secretário do Instituto Pernambucano, a quem você tanto admira e que, com Teresa, lhe ofereceu maravilhoso jantar em outubro passado, no Recife, é primo de Orlando, não sabe? Pois Gonsalves de Mello e Zilda sugeriram que você pergunte a ele sobre o primo, e ele lhe dirá que Orlando, além de grande historiador, como não é preciso repetir, era um aristocrata: nas atitudes, nos gestos comedidos, e na maneira de falar, num Português escorreito. Era um grande contador de casos, e as histórias que trazia de seus muitos anos vivendo no interior eram relatadas em extraordinárias verve e graça. Apurei muita coisa sobre Orlando que a simplicidade dele não deixou transparecer. Fiquei sabendo e é bom que você conte no dia da posse, quão importantes foram as dezenas de artigos publicados no Diário de Pernambuco, aos domingos, sob o título “Genealogia e História”. Estes artigos, depois que ele partiu, foram editados pela Universidade Federal de nossa terra em 3 volumes, chamados Gente de Pernambuco, título sugerido por nosso conterrâneo Leonardo Dantas. E mais: Orlando escreveu 35 artigos no Anuário Genealógico Brasileiro, 11 no Anuário Genealógico Latino, 2 na Revista Genealógica Brasileira e 7 na Revista Genealógica Latina. Foi um dos mais profícuos genealogistas brasileiros do século XX, talvez o maior. Por mais de 40 anos dedicou-se com afinco à pesquisa em Cartórios, arquivos eclesiásticos e públicos, deixando uma das mais extensas obras genealógicas do Nordeste, espalhada em numerosos cadernos, cadernetas e pastas. Depois de sua morte, Gonsalves de Mello, que dirigia o Instituto Arqueológico, ofereceu uma sala para abrigar seu arquivo e a biblioteca. Amigos e admiradores possibilitaram a aquisição dos livros, e a mulher e as filhas de Orlando, graças a Deus, em gesto de grande desprendimento, doaram os arquivos, que hoje lá estão à disposição de estudiosos credenciados. Foi nesses arquivos que você também pesquisou nossa família, não foi? Disse Zilda que se você perguntar ao Yony Sampaio, no Recife, ele vai lhe dizer que o cerne do trabalho de Orlando é a busca incessante da genealogia dos seus ancestrais. Na trilha de suas origens, Orlando esquadrinhou os arquivos do Agreste pernambucano em busca dos Brito Cavalcanti. Passou a Penedo e a arquivos de Sergipe atrás dos Leite de Oliveira. Foi à Vila de Cachoeira e aos arquivos baianos para descobrir os Marques de Souza. E vasculhou o sertão atrás dos ascendentes de sua trisavó Gomes de Sá. Com isso, Orlando Cavalcanti mapeou uma imensa área que vai do Agreste Meridional ao Sertão do São Francisco, a zona de Penedo e Cachoeira, no recôncavo baiano. Em Olinda e Recife examinou as relações de irmãos das confrarias dos terceiros do Carmo e de São Francisco, e dos membros da Santa Casa de Misericórdia, das quais extraiu preciosos índices de livros de registros de patentes do século XVIII e do início do século XIX, nos livros de sesmarias. São milhares as anotações nos cadernos e cadernetas... Mas a precisão dos escritos de Orlando Cavalcanti vem da busca incessante de comprovação. Nada escrevia sem ter um documento em mãos. Gonsalves de Mello ainda ressaltou que Yony divide a pesquisa de Continua... CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 09 Orlando em três estudos distintos. O primeiro, a genealogia de sua ascendência e colaterais, do qual publicou os artigos de jornal. O segundo, a genealogia das famílias das áreas em que pesquisou - uma pequena parte divulgada em artigos e outra parte maior esboçada em suas cadernetas e pastas. O terceiro, a genealogia de titulares do Império e outras personalidades nordestinas, quase toda publicada nos Anuários e Revistas genealógicas Brasileira e Latina, do grande Salvador de Moya.. Foram quase cinqüenta anos de sua vida consagrados ao estudo da genealogia pernambucana, conseqüentemente nordestina. Reinaldo Carneiro Leão ainda pode lhe dizer que Orlando Cavalcanti tinha verdadeira argúcia em descobrir os melhores e mais importantes processos, inventários, testamentos, habilitações matrimoniais — enfim, valiosos documentos existentes nos cartórios e igrejas da capital e do interior de Pernambuco. Os colecionadores, na sua compulsão, juntam selos, prataria, mobiliário, louças... Orlando Cavalcanti divertiase em colecionar velhos papéis, o que foi importantíssimo para a história, salvando-os das térmitas, do mofo e mesmo do desprezo dos homens. Todos aqueles com quem conversei sobre Orlando Cavalcanti ou que sobre ele escreveram, o descrevem, além de genealogista e pesquisador incansável, como um grande homem. O mesmo ouvi a respeito de Olavo de Medeiros Filho. Por isso, compreendo sua preocupação com a responsabilidade que assumiu ao se candidatar a essa Cadeira 28, até então tão nordestina. O que apenas eu gostaria de lembrar-lhe é que, em razão do sangue que levei até você, podemos considerar que o Nordeste volta a ocupá-la. E se o nordestino é, antes de tudo um forte, a origem que lhe dei não a fará esmorecer na missão de honrar seu Patrono e bem suceder quem a precedeu, na busca da preservação da história da Família Brasileira. Daqui, nós, pernambucanos, olhamos por você: Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Frei Caneca, Capiba, Carlos Paes Barreto, Arthur de Siqueira Cavalcanti Jr., Dantas Barreto, Nelson Ferreira, Antonio Maria, Francisco Julião, Pereira da Costa, Henrique Dias, Mestre Vitalino, Paulo Freire, Olegário Mariano, Mauro Motta, e muitos outros, além de mim e seu avô Henrique. Receba todo o carinho de Orlando Cavalcanti, Olavo de Medeiros e de seu bisavô Pedro Gonçalves Pereira Cascão. ****** Jorge Douglas Alves Fazolatto Laís Ottoni Barbosa Ferreira Eliana Quintella de Linhares Regina Lúcia Cascão Viana 10 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial Prêmio Colégio Brasileiro de Genealogia 2004 Depois da investidura dos novos Sócios Titulares, o Presidente Carlos Barata anunciou a entrega do diploma e da medalha “Prêmio Colégio Brasileiro de Genealogia 2004”. O prêmio foi instituído em 2004, a ser concedido a cada três anos, para registrar a obra genealógica de destaque no período. O prêmio entregue na cerimônia de posse referia-se ao livro considerado mais representativo do período 2001 a 2003. Participaram do certame os livros e seus respectivos autores: “O Começo do Protestantismo no Brasil”, autor: Armindo Laudário Miller - Nova Friburgo, RJ; “Comendador Guilherme Telles Ribeiro, Ascendência e Descendência”, autores: Paulo Fernando Telles Ribeiro e Eliana Quintella de Linhares - Rio de Janeiro, RJ; “Família Santos Lessa”, autor: Francisco de Andrade Barroso Fortaleza, CE; “História da Família Bordignon”, autor: Euclides Bordignon - Passo Fundo, RS; “Genealogia da Família Luz”, autor: Francisco Teotônio da Luz Neto - Brasília, DF; “Pedro José Muniz: História, Genealogia e Memória”, autora: Eneiva Gláucia de Souza Franco - Campestre, MG. Depois de examinados por uma Comissão instituída exclusivamente para o pleito, foi considerada vencedora a obra COMENDADOR GUILHERME TELLES RIBEIRO - ASCENDÊNCIA E DESCENDÊNCIA. Assim, no evento de posse dos novos Sócios Titulares CBG, a Sócia Titular e Fundadora Sra. Gilda de Azevedo Becker Von Sothen entregou medalha e diploma à nova Titular Eliana Linhares, co-autora da obra premiada, que pronunciou as seguintes palavras: Eliana Quintella de Linhares “Em meu nome e em nome de meu primo, o Ministro Paulo Fernando Telles Ribeiro, ausente do país a serviço do governo brasileiro, agradeço muitíssimo aos senhores Attila Augusto da Cruz Machado, Carlos Eduardo de Almeida Barata, Gustavo Almeida Magalhães Lemos, Roberto Menezes de Moraes e Victorino Coutinho Chermont de Miranda a distinção de terem escolhido nosso trabalho como vencedor do prêmio Colégio Brasileiro de Genealogia 2004. Foram dez anos de pesquisas e muito trabalho que, para nossa felicidade, vemos coroados com este prêmio. Sentimo-nos muito honrados com isso. Queremos agradecer, especialmente, ao Sr. Roberto Menezes de Moraes, primeiro por sua orientação, quando comecei a engatinhar no mundo da genealogia e, mais tarde, por sua ajuda nos cedendo livros e fotos que muito nos ajudaram a produzir este livro. Nossa obra é também fruto da colaboração de muitos, que tanto contribuíram para seu coroamento com o magnífico prêmio que ora nos é concedido. Muito obrigada”. Quando fechávamos a edição desta Carta Mensal, chegou-nos correspondência do Embaixador Telles Ribeiro, co-autor do livro premiado. Assim, o CBG achou por bem publicá-la, para conhecimento de todos, uma vez que representa o pronunciamento que o autor poderia ter feito se estivesse presente à solenidade de posse. Paulo Fernando Telles Ribeiro Brookline, MA, USA Em 5 de junho de 2007 “Prezado Doutor Barata Há poucos dias tive o prazer de receber de minha prima, Eliana Quintella de Linhares, a notícia de sua posse, em 28 de maio passado, como sócia titular do Colégio Brasileiro de Genealogia. Na ocasião, foi-lhe entregue o prêmio, outorgado por esse egrégio Colégio à nossa obra “Comendador Guilherme TelIes Ribeiro, Ascendência e Descendência, Açores-Brasil”, considerado o livro mais representativo do triênio de 2001-2003. Dada a impossibilidade de meu comparecimento à cerimônia, pedi a Eliana que lhe transmitisse, e aos demais membros da comissão julgadora, meus agradecimentos pessoais pela honraria com que fomos agraciados. Ademais das palavras de Eliana, gostaria de assinalar-lhe a especial satisfação que tive ao receber este prêmio. Faz bem à alma ver o reconhecimento de nosso trabalho, sobretudo porque feito com critério, destemor, desprendimento e voltado para o ideal de revelar aos amigos, e público em geral, informações de interesse para quantos se dedicam à pesquisa genealógica. Lamento que a carreira diplomática, que me é gratificante sob tantos aspectos, me mantenha no exterior por longo tempo e, conseqüentemente, me afaste do convívio, no Brasil, com amigos e companheiros, com quem comparto o pleno interesse pela genealogia. Vivesse eu na minha cidade natal, o Rio de Janeiro, certamente não me furtaria a uma presença constante nas reuniões do Colégio Brasileiro de Genealogia, e ao rico intercâmbio de conhecimentos e dados que propicia. Pedir-lhe-ia assim, Doutor Barata, aceitar meus renovados agradecimentos pelo prêmio com que esse Colégio honrou o livro de co-autoria minha e de Eliana Quintella de Linhares, agradecimentos que me alegra poder estender aos demais membros da comissão julgadora, os Senhores Attila Augusto da Cruz Machado, Gustavo Almeida Magalhães de Lemos, Roberto Menezes de Moraes e Victorino Coutinho Chermont de Miranda. Na expectativa de poder cumprimentá-lo pessoalmente numa próxima oportunidade, Atenciosamente saudações, Com o abraço cordial do Paulo Fernando Telles Ribeiro ” CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 11 Armas do Colégio Como grande parte das instituições, o CBG também tem suas armas: escudo primitivo, campo de goles, flanqueado em arco de arminho nos dois lados, carregado de uma abelha de ouro no centro do campo. Envolvendo o escudo, dois ramos de carvalho floridos, com uma faixa à base, com o dístico “Aeterna non caducat”, em letras de ouro, sobre faixa branca debruada em negro. O projeto, aprovado em Assembléia Geral Extraordinária em 07.10.1952, é de autoria de Orlando Guerreiro de Castro, e a divisa foi sugerida pelo Monsenhor Francisco da Gama e Costa MacDowell. Os elementos constantes do brasão foram assim definidos por Ruy Vieira da Cunha, em artigo publicado na revista Brasil Genealógico nº 2: EXPEDIENTE Boletim Informativo COLÉGIO BRASILEIRO DE GENEALOGIA www.cbg.org.br Av. Augusto Severo, 8 - 12º andar - Glória 20021-040 - Rio de Janeiro - RJ Tel.: (21) 2224-9856 Dias e horários de funcionamento: 2ª e 4ª feira de 13 às 17 horas - o escudo, em forma primitiva, para significar a antiguidade da própria genealogia; - o campo de goles, que é o interior do escudo em vermelho, para significar o sangue comum de todos os homens, “vermelhamente plebeu”, para o qual se volta a pesquisa genealógica; - os arminhos que ladeiam o campo de goles representam os títulos e dignidades às vezes recebidos; - a abelha é símbolo do trabalho e da inteligência, significa a atividade de estudo e investigação; - os ramos floridos mostram a vitalidade do carvalho, árvore sabidamente forte e longeva; Diretoria: Presidente Vice-Presidente 1º Secretário 2º Secretário 1º Tesoureiro 2º Tesoureiro Publicações e Eventos Informática Carlos Eduardo de Almeida Barata Attila Augusto Cruz Machado Regina L. Cascão Viana Eliane Brandão de Carvalho Carlos Alberto de Paiva Hugo Forain Jr. Leila Ossola João Simões Lopes Filho Conselho Fiscal: Fernando Antonio Ielpo Jannuzzi Jr. Roni Fontoura de Vasconcelos Santos Victorino C. Chermont de Miranda - o dístico “O eterno não envelhece” lembra a perenidade da genealogia. O brasão do CBG fala por si só da proposta do Colégio: o estudo da genealogia não como investigação de foros nobiliárquicos, reais ou presumidos, mas da sucessão da geração no tempo; da continuidade de cada família ao longo da história, sejam quais forem suas origens, raça ou cor. Adaptado de texto publicado na Carta Mensal nº 2 de setembro de 1988. 12 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial Página www.cbg.org.br Email [email protected] Diagramação: ESCALE INFORMÁTICA www.escale.com.br Impressão: Fábrica de Livros- SENAI RJ
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