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Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett. Mario Cesar Santos de Carvalho1 Angêla Beatriz Busato Scheffer2 Francielle Molon da Silva3 RESUMO: Mudanças ocorrem a todo o momento na vida das pessoas e o consumo acompanha esse processo de alterações econômicas e sociais. O sistema capitalista implantou no subconsciente das pessoas a obrigação de trabalhar para consumir mais e de forma supérflua. Zygmunt Bauman e Richard Sennett são autores que dão suporte a discussões referentes à temática da efemeridade do consumo na sociedade atual. É com base em suas contribuições que o presente trabalho apresenta, como objetivo geral, analisar, sob a ótica desses dois autores, que significados o consumo admite na modernidade líquida. Para tanto, utilizou-se uma pesquisa exploratório-descritiva, onde foram analisadas peças de mídia impressa dos cartões MasterCard e Visa. Os dados provenientes foram submetidos à análise de conteúdo. Como principais resultados do estudo, pode-se apontar que: as campanhas publicitárias favorecem a busca por determinadas imagens e estilos de vida na qual o consumo é garantia de felicidade frente aos mais diversos problemas; há ênfase no curto prazo, onde a vida é uma sucessão de reinícios; percebe-se uma referência forte ao prazer imediato, “porque a vida é agora”, sendo que há pequenos prazeres que “não tem preço”, mas que só são possíveis de alcançar via consumo, que é facilitado pelo uso do cartão em qualquer tempo e lugar. 1 Graduado em Administração pela UFPA (2003), especialista em Marketing pela UNAMA (2006), especialista em Educação a Distância pelo SENAC-RS (2009) e mestre em Administração, com ênfase em recursos humanos, pelo PPGA/UFRGS (2009). É pesquisador do grupo de pesquisa NAVi (Núcleo de Aprendizagem Virtual). Coordenador da empresa Júnior da FCAT (Faculdade de Castanhal), onde também atua como professor no curso de Bacharelado em Administração. 2 Possui graduação em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992), graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1989), mestrado em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993) e doutorado em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). Atualmente é professora adjunto na Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Gestão de Pessoas (GP), atuando principalmente nos seguintes temas: resposta da GP aos desafios competitivos das organizações, responsabilidade social corporativa, terceiro setor e trabalho voluntário. 3 Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Pelotas (2005), Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Católica de Pelotas (2006), Mestre em Administração, com ênfase em Recursos Humanos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2008) e Doutoranda em Recursos Humanos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora do Curso de Tecnologia em Processos Gerenciais e da Faculdade de Administração e Turismo da UFPel. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 99 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett Palavras- Chave: Consumo, Modernidade Liquida, Mídia, Felicidade. ABSTRACT: Changes happen all the time in people's lives and consumption accompanies this process of economic and social changes. The capitalist system implanted in the subconscious of people required to work to consume more and superfluous. Zygmunt Bauman and Richard Sennett are authors who support discussions related to the theme of transience consumption in today's society. It is based on their contributions to the present work, the general objective, analyze, from the perspective of these two authors, who admits meanings consumption in liquid modernity. For this, we used a descriptive exploratory study, where they were analyzed pieces of printed media cards MasterCard and Visa. Data were analyzed from content. The main results of the study, we can point out that: ad campaigns favoring the search for specific images and lifestyles in which the consumer is guaranteed happiness ahead to several problems, there is an emphasis on the short term, where life is a succession of restarts; perceives a strong reference to the immediate pleasure, "because life is now," and there are small pleasures that is "priceless," but that is only achievable through consumption, which is facilitated by the use of card at any time and place. Keywords: Consumption, Liquid Modernity, Media, Happiness 1. INTRODUÇÃO Mudanças ocorrem a todo o momento na vida das pessoas. Em termos do consumo, esta é uma realidade bem próxima de todos os indivíduos que vivem em nações onde é predominante o modo capitalista de produção, ou seja, em quase a totalidade dos países. A partir de fatos históricos do final do século XX, como a queda do muro de Berlim e a derrocada do bloco socialista, as alterações no modo de produzir as coisas – mais flexível, interligado, participativo – e do desenvolvimento acelerado, um modelo de economia neoliberal se torna predominante, contribuindo hoje para práticas de consumo alienado de produtos dentro de um capitalismo globalizado, fluido e fugaz. O sistema capitalista implantou no subconsciente das pessoas a obrigação de trabalhar para consumir cada vez mais e de forma supérflua. A grande mídia veicula propagandas sedutoras, que prometem o alcance inevitável de felicidade, saúde, paz, bemestar, poder, sucesso, prestígio, à medida que se consomem determinados produtos ou Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 100 CARVALHO, Mario C. S. et al. serviços. Falsas promessas impulsionam os indivíduos a um consumismo desenfreado. Para as grandes corporações, os indivíduos precisam ser transformados em consumidores inconscientes de produtos que não desejavam. Por isso, essas empresas procuram desenvolver desejos e o lema dessa sociedade passa a ser: “Consumir é a forma de ser feliz; consumir é vencer na vida”. Zygmunt Bauman e Richard Sennett são dois autores que dão suporte a discussões referentes à temática da efemeridade do consumo na sociedade atual. Bauman reflete sobre as conseqüências da modernização e especialmente sobre a cruel e impiedosa lógica do consumo, denominando estes tempos de modernidade líquida. Sennett, por sua vez, analisa como as mudanças econômicas estão moldando os valores pessoais e sociais, incorporando discussões referentes às transformações radicais nos hábitos de consumo dentro da cultura do novo capitalismo. Ele descreve e detalha a passagem do capitalismo industrial para o capitalismo global, configurado em um ambiente turbinado e mutante, no qual as mudanças fazem parte do cotidiano e, assim, exigem adaptações rápidas aos processos, desprezando experiências e o passado. É com base nessas reflexões que o presente trabalho se estrutura em termos de objetivo geral, apresentando a intenção de analisar, sob a ótica de Bauman e Sennett, que significados o consumo admite na modernidade líquida. Tendo as peças publicitárias de mídia impressa de duas operadoras de cartão de crédito – MasterCard e Visa – como principais fontes de pesquisa, busca-se compreender o que desejam comunicar e quais os significados que conferem às propagandas. Como procedimento metodológico, utilizou-se uma pesquisa exploratóriodescritiva, onde foram pesquisadas peças de mídia impressa dos cartões MasterCard e Visa. Os dados provenientes foram submetidos à análise de conteúdo a fim de se atingir o objetivo proposto. A opção por analisar a forma com que estas empresas se comunicam com os consumidores partiu da premissa de que o cartão de crédito é uma forma de pagamento genuinamente capitalista, que concede inúmeras possibilidades para o consumo. Os cartões de crédito são ferramentas adequadas para a realização dos desejos dentro da fluidez da sociedade, que transmitem a noção de aproveitar ao máximo o tempo e ter acesso ilimitado na busca de satisfazer prazeres momentâneos, os quais se apresentam ultrapassados, no momento em que são alcançados. Nesse sentido é que se apresenta a seguir uma abordagem referente a “Nova Ordem” e “A Sociedade de Consumo”, buscando compreender qual é o tipo de sociedade na Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 101 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett qual as pessoas estão vivendo, a que tipos de impulsos os indivíduos são submetidos, bem como a compreensão do modo como os sujeitos estão realmente vivenciando questões de consumo e aceitação. Na seqüência, apresenta-se uma descrição do método utilizado no estudo, apresentação e discussão dos resultados e as considerações finais acerca das questões propostas. 2. UMA NOVA ORDEM Autores como Bauman e Sennett, em suas diversas obras, expõem a idéia de que se vive em um mundo regido sob uma nova ordem, instável e fugaz. No entanto, a palavra ordem remete a questões de regularidade, de disciplina e de uma estável e apropriada combinação de meios. Em ambientes ordenados, as probabilidades dos acontecimentos não estão distribuídas ao acaso, mas organizadas em hierarquia estrita, de modo que certos acontecimentos sejam altamente prováveis, outros menos possíveis, alguns virtualmente impossíveis. Mas, ao contrário, se lida com enorme imprevisibilidade, que faz as pessoas estarem imersas em um contexto de mudança constante, flexibilidade aos processos e às relações pessoais e profissionais (BAUMAN, 1998a; SENNETT, 2001). Este universo repleto de incertezas e desordem em que o ser humano viverá no século XXI é chamado de modernidade líquida. O termo líquido é utilizado para caracterizar que a sociedade é incapaz de manter a sua forma, pois tudo nela muda muito rápido. O mais importante é a velocidade e não a duração. Tudo nesse mundo líquido é definido como temporário. As mudanças se tornam imprescindíveis, em um intervalo de tempo mais curto do que aquele necessário para que estas possam ser consolidadas. Todos precisam mudar, não apenas as organizações, mas especialmente os indivíduos, que acabam constantemente se avaliando, se cobrando e cada vez se tornam mais insatisfeitos consigo mesmo (BAUMAN, 2007a). Dentro dessa sociedade, os laços que unirão pessoas são e serão cada vez mais frágeis e elas saberão cada vez menos o que esperar dos relacionamentos, seja qual for sua natureza. A fidelidade, o compromisso com outra pessoa ou com outras pessoas, em particular o incondicional, e certamente aquele do tipo “até que a morte nos separe”, na alegria e na tristeza, na riqueza ou na pobreza, parece cada vez mais uma armadilha que se deve evitar a todo custo. Os relacionamentos, assumidos como paixões não duradouras, oscilam entre o Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 102 CARVALHO, Mario C. S. et al. sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro (BAUMAN, 2004; SENNETT, 2001). Até mesmo dentro de suas próprias residências os indivíduos se encontram dispersos, isolados, por vezes incomunicáveis. Os lares se tornaram centros de lazer multiuso em que os membros da família podem viver, por assim dizer, separadamente lado a lado. Os laços fracos que, precariamente, unem familiares são exemplos da atual sociedade do capitalismo, onde é a dimensão do tempo que está no centro do debate, interferindo em suas vidas. Valores como lealdade e companheirismo ficam prejudicados em um mundo repleto de relações cada vez mais superficiais, rápidas, líquidas. As casas se tornaram locais de escaramuças territoriais, ilhas de intimidade, onde se constroem bunkers fortificados. Hoje se utiliza a privacidade como um traje pressurizado, corremos para nossos quartos e trancamos as portas. No mundo líquido, as pessoas têm preferido a proximidade virtual e esta tem sido praticada de forma mais espontânea do qualquer outra forma de contigüidade. Muitas vezes os indivíduos chegam em casa, mal saúdam as pessoas nos ambientes comuns e já se dirigem ao refúgio da tela de um computador pessoal. Fisicamente limitado, mas que pode nos levar ao alcance de dezenas de pessoas simultaneamente. Contatos superficiais, sim, mas em quantidade incomensurável, satisfazendo o desejo se tornar presente e identificável (SENNETT, 2001; BAUMAN, 2004). Os sujeitos estão virtualmente próximos. Não importa onde estejam, permanecem conectados. A diferença entre um lugar e outro, entre um e outro grupo de pessoas ao alcance de sua visão e de seu toque, foi suprimida, tornou-se nula e vazia. Você é o único ponto estável num universo de objetos em movimento graças às suas conexões. Todos os recursos tecnológicos de que se dispõem nos dias de hoje se encarregam de reduzir todas essas distâncias. Porém, a realização mais importante da proximidade virtual parece ser a separação entre comunicação e relacionamento. Diferentemente da antiquada proximidade topográfica, ela não exige laços estabelecidos de antemão nem resulta necessariamente em seu estabelecimento. A capacidade de desprender-se dos próprios valores, do passado e a confiança para aceitar a fragmentação são traços que aparecem no novo capitalismo, na nova ordem. Exibe-se, então, a indiferença onde quer que se esteja. Com os fones de ouvido devidamente ajustados, ligados no celular, por exemplo, os sujeitos se desligam da vida. A proximidade física não se choca mais com a distância espiritual. Nessa época líquido-moderna, em que o indivíduo livremente flutuante, Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 103 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett desimpedido, é o herói popular, „estar fixo‟ é algo cada vez mais malvisto (SENNETT, 2001; BAUMAN, 2004; BAUMAN, 2005). Imersos na fluidez, não parece tão importante tentar crescer pessoal e profissionalmente e ao mesmo tempo semear e solidificar valores como a família, as amizades, o respeito e o amor. Só se pensa no individual, na identidade, a palavra do dia e o jogo mais comum da cidade. Identidade significa ser diferente e, por essa diferença, singular – e assim a procura da identidade não pode deixar de dividir e separar. A construção da identidade assumiu a forma de uma experimentação infindável. Os experimentos jamais terminam. Você assume uma identidade num momento, mas muitas outras, ainda não testadas, estão na esquina esperando que você as escolha. Nesse mundo fluido, comprometer-se com uma única identidade para toda a vida, ou até menos do que a vida toda, mas por um longo tempo à frente, é um negócio arriscado. As identidades são para usar e exibir, não para armazenar e manter. É nisso que os habitantes do mundo líquidomoderno são diferentes. Buscam-se, constroem-se e se mantêm as referências comunais das identidades em movimento – lutando para união aos grupos igualmente móveis e velozes que são procurados e construídos na tentativa de manter os sujeitos vivos por um momento, mas não por muito tempo. Cada vez mais há a tendência em se afastar da comunidade. As pessoas que dela se aproximam são vistas como inseguras, desorientadas, confusas e assustadas pela instabilidade e transitoriedade do mundo que habitam (BAUMAN, 2003; BAUMAN, 2005). Pode-se concluir, pois, que fugimos da vida em comunidades. Acima de tudo, a bolha em que a elite cosmopolita global dos negócios e da indústria cultural passa a maior parte de sua vida é uma zona livre de comunidade. Esta elite quer que todos nós sigamos os modelos dessa sociedade sem raízes. No admirável mundo novo das oportunidades fugazes e das seguranças frágeis, as identidades ao estilo antigo, rígidas e inegociáveis, simplesmente não funcionam (BAUMAN, 2003; BAUMAN, 2005). É neste contexto de fluidez, de velocidade, de relações mais superficiais que muitas vezes não chegam a se consolidar, de relações de curto prazo, entre outras características, que o consumo se mostra como central, fato que será explorado a seguir. 3. A SOCIEDADE DE CONSUMO A conjuntura atual pode ser definida como uma sociedade de consumo. Percebese algo mais que a observação trivial de que todos os membros dessa sociedade consomem. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 104 CARVALHO, Mario C. S. et al. Todos os seres humanos, ou melhor, todas as criaturas vivas consomem desde tempos imemoriais. Mas o consumidor em uma sociedade de consumo é uma criatura acentuadamente diferente de quaisquer outras sociedades até aqui. Atualmente tudo é muito acolchoado, maleável e informe da elite global dos negócios e da indústria cultural. Tudo pode ser feito e refeito e nada vira sólido. Não há lugar para realidades obstinadas e duras como a pobreza, nem para a indignidade de ser der deixado para trás, nem tampouco para a humilhação que representa a incapacidade de participar do jogo do consumo (BAUMAN, 1998b; BAUMAN, 2003). Sobre os excluídos deste jogo, ressalta-se que: Pobres daqueles que, em razão da escassez de recursos, são condenados a continuar usando bens que não mais contêm a promessa de sensações novas e inéditas. Pobres daqueles que, pela mesma razão, permanecem presos a um único bem, em vez de flanar entre um sortimento amplo e aparentemente inesgotável. Tais pessoas são os excluídos na sociedade de consumo, os consumidores falhos, os inadequados e os incompetentes, os fracassados – famintos definhando em meio à opulência do banquete consumista (BAUMAN, 2004, p. 68). A sedução do mercado é, simultaneamente, a grande igualadora e a grande divisora. O consumo abundante é-lhes dito e mostrado como a marca do sucesso e a estrada que conduz diretamente ao aplauso público e à fama. Eles também aprendem que possuir e consumir determinados objetos, e adotar certos estilos de vida é condição necessária para a felicidade, talvez até para a dignidade humana. Para os consumidores da sociedade de consumo, estar em movimento, ou seja, procurar, buscar, não encontrar ou, mais precisamente, não encontrar ainda, não é sinônimo de mal-estar, mas promessa de bemaventurança, talvez a própria bem-aventurança. Seu tipo de viagem esperançosa faz da chegada uma maldição (BAUMAN, 1998a; BAUMAN, 1998b). Os próprios shoppings centers são construídos de forma a manter as pessoas em circulação, olhando ao redor, divertindo-se e se entretendo sem parar, com inúmeras atrações, mas de forma alguma por muito tempo. Não há interesse de fazê-las parar, se olhar e conversar, a pensar em analisar e discutir alguma coisa além dos objetos em exposição. O alienamento dos consumidores dentro desse mundo faz parte do jogo da fluidez. As mega corporações exercem uma atração aos sujeitos pelo fato de encontrarem em um mesmo lugar todas as suas necessidades, tudo aquilo que procuram. E essa centralização do controle coloca tudo, de forma instantânea a sua disposição, nos corredores de supermercados e grandes lojas de departamentos. Não se quer clientes esclarecidos, lúcidos, reflexivos, que possam entender o invólucro no qual estão sendo envolvidos. O objetivo é que as pessoas sejam cada vez mais Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 105 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett vulneráveis, suscetíveis ao consumo da forma que lhes é apresentado (BAUMAN, 1998b; SENNETT, 2006). Além disso, o consumidor desempenha um papel passivo na sociedade, pois fica à mercê de propagandas que os envolvem e criam necessidades cada vez mais prioritárias, por exemplo. A obsolescência planejada de Sennett (2006) diz respeito justamente a isso: fabricar itens para não durar, com o propósito de que as pessoas sintam necessidade e desejo de consumir coisas novas. Ainda segundo este autor, na modernidade líquida cada vez mais os cidadãos desconhecem o processo de produção dos objetos. Eles são apresentados aos consumidores e comercializados, enfatizando-se não sua utilidade, mas a valorização das marcas que tentam fazer com que um produto básico, vendido em todos os lugares do mundo, fique parecendo único. As propagandas têm influência importante no momento da compra, ao despertar estímulos no consumidor, de forma que ele possa melhor diferenciar produtos cada vez mais homogeneizados. Tal estímulo está presente na questão do processo da mobilidade e imaginação. Dentro da liquefação da realidade, os movimentos físicos e imaginários não possuem limites. O modo consumista requer que a satisfação precise ser, deva ser, seja de qualquer forma instantânea. O valor exclusivo, a única utilidade dos objetos é a sua capacidade de proporcionar satisfação. É essa sensação de que ao serem utilizadas as coisas, elas já são consumidas. É uma paixão consumptiva. É o sentimento de que, ao ser satisfeito o desejo de consumo de algo que muito se desejava, após alguns dias, aquele entusiasmo já não se configura mais. Torna-se cada vez mais antiquado entulhar a casa com objetos que não atendem a esse objetivo. Não existe reconhecimento por valores como fidelidade, amizades duradouras e comprometimento, seja com marcas, empresas e muito menos com as pessoas (SENNETT, 2006; BAUMAN, 2007a). A paixão autoconsumptiva incorpora a intemperança e o desperdício. Uma relação só dura enquanto permanece a satisfação que traz a ambos os parceiros, e nem um minuto a mais. No caso dos relacionamentos, você deseja que a “permissão de entrar” venha acompanhada da “permissão de sair”, no momento em que não veja mais razão para ficar. Substituem-se os poucos relacionamentos profundos por uma profusão de contatos pouco consistentes e superficiais (BAUMAN, 2005; SENNETT, 2006). Ao falar da efemeridade e superficialidade dos laços que unem os habitantes da modernidade líquida, Bauman (2005, p. 72) faz uma analogia dos relacionamentos que os jovens têm com seus animais de estimação e com os humanos. Ele diz que três meses é mais Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 106 CARVALHO, Mario C. S. et al. ou menos o tempo máximo durante o qual jovens trainees da sociedade de consumo são capazes de aproveitar e depois tolerar a companhia de seus animais de estimação. É provável que eles levem esse hábito adquirido tão cedo para a vida adulta, em que os cães são substituídos por seres humanos como objetos do amor. Em um mundo tão fluido, não há espaço para paixões tão duradouras nem fidelidade a qualquer marca ou rótulo que seja. Não se pode ser fã incondicional de cantores, atores, artistas em geral, jogadores de futebol ou políticos. Segundo Bauman (2003, p. 65), para que sirvam a seu propósito, os ídolos devem ser brilhantes a ponto de ofuscar os espectadores e formidáveis a ponto de ocupar inteiramente o palco; mas devem ser também voláteis e móveis – de maneira a poderem desaparecer rapidamente da memória deixando a cena para a multidão dos ídolos à espera da vez. Não deve haver tempo para a sedimentação de laços duradouros entre os ídolos e seus fãs, e nenhum ídolo em particular deve ter uma presença duradoura. As pessoas têm se questionado se terão filhos ou não. O futuro reservaria mais tempo com a família, para lazer, atividades esportivas e, com certeza, menos tempo dedicado ao trabalho. Mas, ao contrário, os avanços tecnológicos e a voracidade cada vez maior do modo de produção capitalista, fizeram com que os indivíduos se perguntassem se ser pai ou mãe é ou não um bom “investimento”. Bauman (2004), de maneira bastante interessante, diz que os filhos estão entre as aquisições mais caras que o consumidor médio pode fazer ao longo de toda sua vida. Em termos puramente monetários, eles custam mais caro que um carro luxuoso do ano, uma volta ao mundo em um cruzeiro ou até mesmo uma mansão. Pior ainda, o custo total tende a crescer com o tempo, e seu volume não pode ser fixado de antemão nem estimado algum grau de certeza. E completa ainda com um dilema da fluidez de nosso tempo: “Tê-los ou não é comprovadamente a decisão com maiores conseqüências e de maior alcance que existe e, portanto, também a mais angustiante e estressante”. Ademais, nem todos os custos são monetários, e os que não o são jamais poderão ser medidos e calculados. Ter filhos pode significar a necessidade de diminuir as ambições pessoais e até sacrificar uma carreira. Contribuindo com essa discussão, Sennett (2001) traz importantes questionamentos: Esse conflito entre família e trabalho impõe algumas questões sobre a própria experiência adulta. Como se podem buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Como se podem manter relações sociais duráveis? Como pode um ser humano desenvolver uma narrativa de identidade e história de vida numa sociedade composta de episódios e fragmentos? (SENNETT, 2001, p. 27). Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 107 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett Esses são alguns dos dilemas que permeiam nossa vida e a discussão do presente trabalho, considerando-se, ainda que toda essa questão do consumo se coloca em função também do padrão de acumulação atual, o da especialização flexível, que tenta “pôr, cada vez mais rápido, produtos mais variados no mercado” (SENNETT, 2001, p. 59). Assim, a instantaneidade em conjunto com a flexibilidade, tanto da organização quanto do sujeito, integram a nossa sociedade e se tornam importantes para a compreensão do consumo e do consumismo nos dias de hoje. 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente trabalho se caracteriza como um estudo exploratório-descritivo, pois foram analisadas campanhas publicitárias, veiculadas na mídia impressa, de duas marcas de cartões de crédito: Visa e MasterCard. As peças analisadas estão disponíveis em seus sites (www.visa.com.br e www.mastercard.com.br). Parte-se do pressuposto de que a mídia tem um papel relevante no incentivo ao consumo e que, no contexto da modernidade líquida, utiliza elementos para transmitir mensagens capazes de mobilizar desejos, identificações e atos de compra em pessoas que estão constantemente em movimento, inquietas em busca de satisfação. A escolha por marcas de cartões de crédito se deu em função desta forma de pagamento representar possibilidades de consumo facilitado, nos dias de hoje. Não há nada mais fluido e imediato que pagar despesas sem o desembolso de dinheiro em espécie. Não se tem a sensação de perda de uma quantia em moeda corrente. Pelo contrário, ao utilizar o cartão, o consumidor, em geral, sente-se bem. É uma questão de status e também de certa tranqüilidade, pois ele sabe que haverá um intervalo entre o momento de consumo e o pagamento resultante da aquisição. Dentro da área de mídia impressa da Visa, em sua página na Internet, são encontradas sete peças disponíveis para a consulta. Cinco delas falam sobre lugares – Caribe, Veneza, Nova Iorque, Santa Mônica e Porto de Galinhas – e outras duas de elementos da natureza – pêssegos e tulipas. Analisou-se uma a uma, exceto a que tem uma imagem de Nova Iorque, pois apresenta um erro quando se tenta abri-la. As campanhas de mídia impressa da MasterCard estão disponíveis em maior número, se comparadas as da Visa, totalizando quatorze campanhas, distribuídas com Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 108 CARVALHO, Mario C. S. et al. seguintes nomes: Artesanato, figurinhas, Small Business, Viajante MasterCard, Aceitação em Estádios, Ano Novo, Vida Nova, Aeroportos, Black Golf, Débito 2005, Futebol 2005, Gol de Placa, Platinum, Restaurantes e Viagens. Para fins de análise, estipulou-se como recorte as campanhas que trabalhassem com a relação entre valores monetários e concluídas com a frase “[...] não tem preço”. Sendo assim, foram selecionadas seis campanhas principais: Artesanato; Débito 2005; Futebol 2005; Platinum; Restaurantes; e Viagens. Os textos das campanhas impressas sofreram análise de conteúdo, tendo em vista que foi realizado um estudo minucioso do conteúdo do material bruto, das palavras e frases que o compõem, procurando o sentido do conteúdo, comparando, avaliando, descartando o acessório, reconhecendo o essencial e selecionando-o em torno das idéias principais, isto é, desmontando as estruturas e os elementos desse conteúdo para esclarecer suas diferentes características e extrair sua significação (LAVILLE e DIONE, 1999). A análise do conteúdo baseou-se em referencial teórico pertinente, conforme indicações de Minayo (1994), que conceitua a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise que visam obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que possibilitam uma interpretação crítica dos dados obtidos. Para fins de melhor compreensão, a estrutura de discussão e análise dos resultados foi embasada em duas categorias principais, que emergiram de uma primeira análise do material: Consumo no Sentido de Aproveitar o Tempo e Consumo como Meio de Bem-Estar. A partir desta classificação, foi possível realizar uma análise mais aprofundada do teor das mensagens publicitárias das duas operadoras de cartões de crédito investigadas, sendo possível antecipar que cada uma delas trabalha com apelos diferentes. A Visa apresenta como principal mote: saber aproveitar bem o tempo. Já as campanhas da MasterCard têm uma temática mais diversificada, tratando questões como a aceitação de seu cartão em todos os lugares e a possibilidade de acesso a bens de consumo que satisfazem os prazeres da vida que “não tem preço”, ambas com objetivo de induzir que através do consumo o indivíduo se obtenha a sensação de bem-estar. 5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS No contexto descrito e analisado por Bauman e Sennett, tem-se o consumo como central. A sociedade do consumo passou a ser uma das mais marcantes características do Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 109 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett mundo em que vivemos, o que tem trazido discussões e reflexões na busca dos seus significados e dos significados que assume na sociedade atual. Como referido por Jameson (2001), vive-se um período onde as pessoas são pesadamente “bombardeadas” por imagens, sugerindo mudanças no que diz respeito à relação que estes indivíduos têm com espaço, tempo e consumo, sendo que a mídia é um dos elementos propagadores destas imagens. A análise de campanhas publicitárias se torna um rico objeto de estudo para discussão e entendimento de certos conteúdos e conceitos, permitindo uma reflexão inclusive sobre o que é oferecido para ser consumido no mundo líquido. Para tanto, cabe inicialmente, uma breve apresentação sobre o perfil das empresas de cartão de crédito investigadas, para então serem apresentados os resultados obtidos a partir de suas campanhas publicitárias, em relação ao tema “consumo e implicações dessa prática”. 5.1. Perfil Visa Todas as informações a respeito do perfil da Visa foram obtidas a partir de consultas em seu site. A história da Visa inicia em 1958 quando o Bank of América lança o BankAmericard em Fresno, Califórnia, com uma característica inovadora de crédito rotativo. Em 1973, lança o primeiro sistema eletrônico de autorização e em 1974, The International Bankcard Company (IBANCO) é formado para administrar o programa BankAmericard internacionalmente. Em 1976, BankAmericard passa a se chamar Visa e começa a ser reconhecida no mundo pela sua bandeira azul e branca. Em 1995, incorpora algumas questões de segurança como os chips nos cartões e se preocupa em fazer funcionar. Em 2007 Visa anuncia a conclusão da reestruturação corporativa da empresa, criando uma nova empresa global chamada Visa Inc. A marca Visa é aceita em mais de 170 países. A Visanet apóia as transações globais e fornece serviços de informação de rede em termos mundiais, apresentando quatro marcas principais Visa, Visa Electron, Plus e Interlink. 5.2. Perfil MasterCard Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 110 CARVALHO, Mario C. S. et al. As informações que constam a respeito do perfil da MasterCard são provenientes de consultas no próprio site da empresa. Ela inicia suas atividades no final da década de 1940, numa época em que diversos bancos norte-americanos começaram a fornecer a seus clientes um papel que poderia ser utilizado como dinheiro vivo para compras em lojas locais. Em 1951, o Franklin National Bank, de Nova York, formalizou essa prática ao oferecer para o mercado o primeiro cartão de crédito real. Durante a década de 1960, alguns estabelecimentos já aceitavam cartões como forma de pagamento e trabalhavam com um único banco. Em 16 de agosto de 1966, uma dessas franquias formou o Interbank Card Association (ICA), que mais tarde passou a se chamar MasterCard International. Diferente de outras organizações, a ICA não era controlada por um único banco. A MasterCard, atualmente, institui uma nova estrutura acionária e de governança corporativa. Ela presta serviços em mais de 210 países e territórios. Por trás das famosas bandeiras de cartão de pagamento MasterCard existe um modelo de negócio único de três níveis: Franqueadora, por intermédio dos milhares de instituições financeiras clientes da MasterCard, a empresa comercializa carteira sólida de bandeiras e produtos no mundo todo, inclusive MasterCard, Maestro®, Cirrus® e MasterCard® PayPass™, contando com uma rede de mais de 24 milhões de locais ao redor do mundo; processadora, abordagem simples e inteligente da MasterCard com relação a processamento possibilita operações comerciais eficientes em escala global; consultora: a MasterCard proporciona insight e soluções líderes no setor que promovem o comércio ao tornar o processo de pagamento mais rápido, mais integrado, mais seguro e mais vantajoso a todos os participantes. 5.3. Consumo no Sentido de Aproveitar o Tempo “Porque a vida é agora”. A partir da leitura do slogan presente em todas as peças publicitárias do cartão Visa, conclui-se que sua temática principal está relacionada com maneiras de melhor aproveitar o tempo que se tem. A partir do material selecionado para este estudo e apresentado na figura 1, verifica-se que as peças mostram diferentes inspirações de desejo: as ondas em Santa Mônica (Estados Unidos), a cidade de Veneza (Itália), o mar do Caribe, a praia de Porto de Galinhas (Pernambuco, Brasil), um buquê de tulipas e um pêssego (sendo comido por uma criança). As campanhas, de maneira geral, trabalham com imagens coloridas, atrativas, que remetem ao real e ao imaginário. As imagens ajudam a reorganizar o nosso imaginário, Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 111 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett trazendo consigo uma ou mais visões de mundo, hoje trazidas por um mercado global de estilos, lugares e imagens, disseminadas pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados. Trazem consigo mensagens que envolvem a identidade dos indivíduos, quem são, quem querem ser, a que grupo querem pertencer nas diferentes passagens por esse universo líquido. Tudo isso é favorecido pelo sentimento de angústia, proporcionado pelo fato de o indivíduo defrontar-se com um verdadeiro supermercado de identidades, que varia continuamente seus modelos (BAUMAN, 1991). Os textos contidos nas imagens induzem os leitores a parar o que estão fazendo, seja estudar ou trabalhar, e aproveitar o que as flores, os frutos e esses lugares repletos de atrativos têm a oferecer, enquanto há tempo para isso. Está implícita a idéia de mudança, de perda, de efemeridade. Deve-se consumir enquanto é possível, pois dentro de pouco tempo, seja em poucas horas, dias, semanas, meses ou anos, estes lugares e elementos da natureza podem não existir da forma como agora se apresentam, tudo muda e nem sempre para melhor. Desse modo, a noção de perecibilidade está a cada dia mais presente na vida das pessoas dentro do universo líquido. O cartão de crédito é apresentado como um meio para a realização de desejos e para aproveitar todos os instantes possíveis. Com o Visa, o consumidor teria acesso rápido e simples a viagens aos destinos ilustrados nas peças, para descansar, fugir do cotidiano e do ritmo acelerado da vida líquida. A idéia de aproveitar as coisas antes que acabem leva a uma reflexão importante sobre como o tempo se tornou um bem tão precioso no contexto fluido e fugaz da sociedade atual. A indústria capitalista busca induzir os indivíduos a ter o máximo possível de tempo livre de modo que eles possam estar suscetíveis e disponíveis às inúmeras possibilidades e formas de consumo. Na figura 1, em todas as peças, a operadora busca levar os leitores a parar o que se está fazendo para investir em seu tempo livre, ou seja, consumindo, o sujeito, de fato, aproveita seu tempo e não deixa de aproveitar o que a vida tem de melhor a oferecer. As campanhas trabalham com mensagens diretamente vinculadas à noção de tempo, como por exemplo, na figura 1, a peça que ilustra os pés de um homem nas águas transparentes do mar do Caribe: “O Mar do Caribe está a 28°, mas apenas essa semana”. O apelo é que o indivíduo aproveite o precioso tempo em que o mar está numa temperatura agradável. Na peça que ilustra a piscina natural que se forma na maré baixa em Porto de galinha, também é transmitida uma mensagem muito semelhante. É possível relacionar estes textos com a obsolescência planejada de Sennett (2006), que diz respeito à fabricação de itens para não durar, com o propósito de que as pessoas sintam necessidade e desejo de consumir Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 112 CARVALHO, Mario C. S. et al. coisas novas. É despertada no consumidor a necessidade de ir o mais rápido possível àquele destino e, ao retornar, ele já deve estar pronto para consumir novamente outra localidade onde ele possa aproveitar melhor seu tempo. Assim, para aproveitar esse tempo tão precioso, conduz os indivíduos à noção de facilidade de adquirir e a um consumo aliado ao prazer, a momentos de satisfação que também são passageiros e que “se movimentam”, são “líquidos” no sentido trazido por Bauman. “Hoje, em Santa Mônica, as ondas atingem 4 metros. Amanhã pode ser que não”. “Veneza desaparece 1cm por ano. Isto significa 1cm a menos de Veneza a cada 365 dias”. “Em Porto de Galinhas, a maré baixa forma uma piscina natural. Depois de algumas “O mar do Caribe está a 26ºC. Mas horas, a maré volta a subir”. apenas esta semana”. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 113 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett “Neste mês, você encontra tulipas nas floriculturas. No mês que vem, talvez não”. “Hoje, os pêssegos estão perfeitos. Na próxima semana, talvez não”. Figura 1: Peças de mídia impressa da Visa Fonte: http://www.visa.com.br/conteudo.asp?pg=584 Fugir da rotina é um caminho sugerido pelas peças publicitárias de mídia impressa da Visa. Trabalhando todos dias, com atividades e relacionamentos estáveis, imerso em um modo de vida regrado e consciente, o sujeito não está vulnerável às tentações do mercado capitalista. Sennett (2001) e Bauman (2004; 2005) afirmam que a capacidade de desprenderse dos próprios valores, do passado e a confiança para aceitar a fragmentação são traços que aparecem no novo capitalismo, na nova ordem. Nessa época líquido-moderna, em que o indivíduo livremente flutuante, desimpedido, é o herói popular, „estar fixo‟ é algo cada vez mais malvisto. Considerando as sensações provocadas pelas peças publicitárias, podemos dizer ainda que remetem a reflexão acerca dos pequenos momentos, que são possíveis, de satisfação que os bens não-duráveis podem trazer, como é o caso das tulipas, remetendo as noções de beleza e os pêssegos a saciedade. E o acesso ao belo, ao que é passageiro, mas que é vendido como fundamental, porque “a vida é agora”, só é possível mediante o consumo facilitado pelo cartão de crédito, aquele que credita possibilidades inúmeras. Em todos os textos o apelo em consumir está implícito. Assim como aproveitar bem os recursos, lugares e bens é outro mote extremamente presente e notável. É justamente pela liquidez dos acontecimentos, pela dinâmica desnorteante do capitalismo, que o indivíduo Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 114 CARVALHO, Mario C. S. et al. necessita de um cartão de crédito, para que ela possa economizar tempo e poder experimentar cada vez mais as incontáveis tentações que estão a sua disposição. Nesse sentido, traz a noção de que o consumo propicia um prazer instantâneo, coerente com a noção de que na atual vida líquida tudo muda, tanto as organizações como os sujeitos e suas relações. Remete a um sujeito que precisa mudar, e que nesta busca está sempre insatisfeito consigo mesmo, sendo que esta insatisfação pode ser instantaneamente e constantemente minimizada pelo aproveitamento do tempo, “porque a vida é agora”, que o consumo é que capaz de propiciar. 5.4. Consumo como Meio de Bem-Estar “Existem coisas que não tem preço, para todas as outras existe MasterCard”. As campanhas de mídia impressa da MasterCard, se comparadas à primeira operadora analisada neste estudo, possuem temática bem mais diversificada. Em linhas gerais, as peças que estão dispostas na Figura 2 tratam de itens que possuem valor definido e em seguida é destacada uma situação, uma sensação, um fato que não tem preço. A peça que se refere à campanha “artesanato”, mostrada na figura 2, destaca um texto com rima, que lembra literatura de cordel, expressão típica do folclore nordestino. É apresentada uma situação em que um homem vende água do mar ao preço de quinze reais com o cartão MasterCard, mas no segundo momento, finalizando o texto, está escrito que “tanta água no sertão, meu amigo, não tem preço”. É apresentado o consumo como forma de abrir possibilidades: é possível até adquirir-se água do mar no sertão, sendo o cartão o facilitador, que abre as portas. Além disso, é evidenciada a noção de que é possível ter um pouco do mar no sertão. E porque não pensar em ter “tanta água no sertão”, trazendo aquilo que é raro, mas desejado. A situação que não tem preço é a água em abundância, uma água doce e/ou potável, que atenderia às necessidades de pessoas que vivem em regiões com escassez de água. Pode-se inferir, desta forma, a intenção de mostrar que não há limites para o consumo. Através do cartão de crédito, pode-se até mesmo levar uma grande quantidade de água para o sertão. Ainda nesta campanha, de modo bastante interessante, e nesse sentido até contrapondo Bauman (2003; 2005) e Sennett (2006) a respeito dos laços fluidos, dos relacionamentos instáveis, frágeis e fugazes, é apresentada uma caricatura do modo de viver do sertanejo. Um povo solidário, cordial, receptivo e, acima de tudo, fiel às suas raízes, mas Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 115 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett que também pode ter acesso ao que é global via cartão de crédito e as possibilidades que ele abre. A realidade do nordestino que vive no sertão é muito distinta e distante do modo de vida que Sennett (2001) e Bauman (2004) descrevem, quando ilustram que as casas se tornaram locais de escaramuças territoriais, ilhas de intimidade, onde se constroem bunkers fortificados. Para eles, no mundo líquido, as pessoas têm preferido a proximidade virtual e esta tem sido praticada de forma mais espontânea do qualquer outra forma de contigüidade. Observa-se, então, que o sertão é retratado como um lugar onde ainda não se percebem tais conseqüências, sendo assim, até este modo de vida, diferente das grandes cidades, pode se transformar em objeto de desejo. “Andando pelo sertão / vi um homem “Aparelho de videogame: R$ 800,00. de visão / que vendia água do mar / R$ 15,00 com Televisão 20”: R$ 490,00. CD com joguinho de MasterCard. Coisa igual eu nunca vi / juro que futebol: R$ 90,00. Futebol de verdade: não tem desconheço / tanta água no sertão / meu amigo, não preço”. tem preço”. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 116 CARVALHO, Mario C. S. et al. “Pôr o cinema em dia: R$ 7,00. Ficar horas sem pensar em nada: não tem preço”. “São Paulo/Bora Bora 1ª classe: R$ 15.000,00. Bangalô 5 estrelas sobre as águas: R$ 2.600,00. Tour de barco pelas ilhas: R$ 850,00. Ser paparicado como uma estrela de cinema: não tem preço”. “Piña Colada U$ 12,00. Conhecer lugares muito descolados: não tem preço”. “Fettuccine com mexilhão: R$ 32,00. Dieta? Que dieta?: não tem preço”. Figura 2 – Peças de mídia impressa da MasterCard Fonte: http://www.MasterCard.com/br/sobre_nos/pt/campanha_impressa.html Percebe-se também a mensagem que a operadora busca passar aos consumidores é de que, mesmo nos lugares mais remotos do território nacional, é possível utilizar o cartão MasterCard. Na peça que mostra uma chuteira e uma bola de futebol, pertencente à campanha Futebol 2005, a frase “futebol de verdade, não tem preço” conclui um texto que apresenta uma seqüência de itens, com preços expressos, que podem ser adquiridos para se jogar futebol virtualmente. A intenção é destacar a sensação de bem-estar, de felicidade, que se pode obter com a experiência real de se jogar futebol, mostrando que, em nossa sociedade de consumo, sabemos o preço de tudo que nos cerca, podemos facilmente adquirir diversos bens mediante Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 117 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett o cartão de crédito, mas o que é mais importante é o valor de algumas coisas, remetendo as pessoas a anseios mais profundos. É trabalhada a questão das necessidades permanentes, em uma sociedade em que se está cada vez mais carente de referências sólidas. Como discutem os autores anteriormente referenciados, a busca de valores permanentes, os valores que “não têm preço”, são deixadas de lado no universo líquido. O novo capitalismo promete a busca constante, sem fim, mas de valores passageiros, transitórios. Há, entretanto, uma mensagem implícita de que é o cartão de crédito, ou melhor, a posse dele, que pode facilitar as realizações desejadas. Não está em jogo o que se compra, mas o que representa possuir um cartão e a abertura de possibilidades ilimitadas. Nas campanhas estudadas o ato de consumir é caracterizado pela emoção e pelo prazer, utilizando estímulos a valores e desejos interiorizados. É possível interpretar que o foco das peças publicitárias é despertar a vontade de experimentar. Bauman (2003; 2005) destaca que através da experimentação, do consumo diversificado, é construída a identidade na sociedade fluida. Em um dado momento, o indivíduo sabe quem ele é, mas há muitas outras identidades ainda não testadas. Na modernidade líquida comprometer-se com uma única identidade é um negócio arriscado. As identidades são para usar e exibir, não para armazenar e manter. É nisso que os habitantes do mundo líquido-moderno são diferentes. A peça que contém a mensagem que “conhecer lugares muito descolados: não tem preço” – pertencente à campanha Mundo 2005 –, valoriza a experiência, a bagagem cultural que se pode adquirir indo a lugares interessantes, trazendo a possibilidade de acesso a valores almejados, “que não tem preço”. De certa forma, interpreta-se que o mote da peça é tornar o consumo isolado de uma bebida alcoólica, como a Piña Colada, uma experiência sem muito sentido, de pouca significação. No entanto, com o MasterCard é possível viajar aos lugares classificados como descolados e, envolvido na atmosfera de lugares como esses, o ato de beber uma piña colada pode tornar-se prazeroso, único. As demais peças da MasterCard ilustradas na Figura 2, tratam de questões de bem-estar. Ficar horas sem pensar em nada, esquecer das preocupações, disciplina e rigores de uma dieta, ou até ser paparicado como uma estrela de cinema, são privilégios que um sujeito que possui um cartão de crédito pode usufruir. É acima de tudo uma sugestão para que se deixe de lado uma série de privações e que se aproveite o que a vida tem de bom a oferecer. É um convite a se sentir bem através do consumo. Tal consumo não deve ter limites. Corroborando o pensamento de Bauman (1998a; 1998b) e de Sennett (2006), a sedução do mercado é, simultaneamente, a grande igualadora e a grande divisora. O consumo abundante Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 118 CARVALHO, Mario C. S. et al. mostrado como a marca do sucesso é a estrada que conduz diretamente ao aplauso público e à fama. Possuir e consumir determinados objetos e adotar certos estilos de vida é condição necessária para a felicidade, talvez até para a dignidade humana. O objetivo é que as pessoas sejam cada vez mais vulneráveis, suscetíveis ao consumo da forma que lhes é apresentado. Principalmente na peça que descreve a viagem de São Paulo a Bora Bora, que pertence à campanha Platinum, direcionada a um público com elevado poder aquisitivo, as possibilidades de consumo são infindáveis. De maneira geral, pode-se dizer que as campanhas da MasterCard remetem à inexistência de limites para o alcance de sensações como felicidade, prazer e bem-estar. Com cartão de crédito é possível experimentar tais sentimentos, porém de forma momentânea, pontual. Há, sim, experiências, sentimentos, fatos que não têm preço, mas o cartão de crédito proporciona acesso a elementos essenciais que compõem a atmosfera de momentos marcantes. 6. Considerações Finais Ao término das análises, pôde-se observar como o mundo líquido, descrito por Bauman e Sennett, e suas características permitem entender como a sociedade se coloca enquanto sociedade de consumo. Percebe-se um mundo em que a velocidade e a necessidade de mudanças, a fluidez, a enorme imprevisibilidade, entre outras características, levam a relações tão superficiais, que muitas vezes não chegam a se consolidar. Conduzem também a uma constante insatisfação consigo mesmo e a busca de identidades transitórias. Nesta sociedade fluida o consumo está aliado às possibilidades de prazer instantâneo, imediato, e não apenas a satisfação de necessidades básicas. Assim, consumir de forma abundante é uma prática associada à marca do sucesso e às possibilidades que se abrem. Como colocou Bauman (1998b), possuir e consumir determinados objetos, bem como adotar certos estilos de vida, é condição necessária para a felicidade, talvez até para a dignidade humana, sendo que para os consumidores desta sociedade estar em movimento, ou seja, procurar, buscar, não encontrar ou, mais precisamente, não encontrar ainda, não é sinônimo de mal-estar, mas promessa de bemaventurança. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 119 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett As campanhas publicitárias favorecem a busca por determinadas imagens e estilos de vida, que remetem ao real e ao imaginário, e que amenizam a angústia originada pela crise de identidade e provocada pelas conseqüências da vida líquida. No intuito de rapidamente chegar ao que pretendem ser, as pessoas aderem a representações prontas, associadas a produtos ou marcas. No caso estudado, tais representações reforçam que é possível se ter um mundo ideal, mundo este que é produzido por um mercado global de estilos, lugares e imagens. Entretanto, é fundamental estar disposto a pagar por ele, sendo o cartão de crédito o instrumento que dá acesso a tais possibilidades. A idéia expressa nas campanhas analisadas é de que o consumo é a garantia de felicidade, bem como um ato que dá o tiro de partida para a constante busca pela satisfação de desejos. Na campanha da Visa, após a análise de suas peças publicitárias de mídia impressa, percebeu-se que comprar pode, então, ser visto como uma forma de o sujeito amenizar o seu sentimento de vazio, de crise de valores e de instituições, de solidão e de angústia. Na busca da solução de seus problemas, o tempo se tornou um elemento central. A mensagem do cartão de crédito, de que “a vida é agora”, leva ao consumidor aquilo que é passageiro, fugaz, mas que é vendido como fundamental. Assim, para aproveitar este tempo tão precioso, as campanhas da primeira empresa analisada tentam transmitir aos indivíduos como é fácil adquirir produtos e serviços que lhe proporcionam prazer, momentos de satisfação, que, apesar de efêmeros, trazem alegria, contentamento, sentido para os habitantes do mundo em movimento, da realidade líquida, no sentido trazido por Bauman. Percebe-se também a ênfase no curto prazo: com a rapidez dos acontecimentos, não há mais tempo para que as coisas aconteçam de forma gradual, com crescimento, amadurecimento, usufruto. A vida é uma sucessão de reinícios, com finais rápidos e indolores, onde o mais importante é romper as coisas, é mudar constantemente. No segundo caso estudado, nas campanhas de mídia impressa da operadora de cartão de crédito MasterCard, objetos de consumo de valor material foram inseridos e postos como essenciais para compor cenários de situações sem preço, intangíveis. São exploradas necessidades intangíveis, valores que “não têm preço”, em uma sociedade em que se está cada vez mais carente de referências sólidas, como discutido pelos autores que teoricamente sustentaram a discussão deste estudo. Nas campanhas examinadas, observou-se a utilização de representações que suscitam o desejo ao material e ao simbólico, construindo uma visão de um mundo desejado, sendo o consumo condição necessária para pertencer a este mundo. As peças de mídia Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 120 CARVALHO, Mario C. S. et al. impressa continham uma concepção maior ao consumo, na medida em que associam a ele a possibilidade de acesso ao “ter” e a valores. Na sociedade contemporânea, é onipresente o discurso de que é preciso, mudar, de que é preciso adquirir o novo, e este novo está sendo continuamente apresentado em função dos avanços tecnológicos. Assim, nas campanhas examinadas, percebe-se referência ao prazer imediato, “porque a vida é agora”, sendo que há pequenos prazeres que “não tem preço”, mas que só são possíveis de alcançar via consumo, que é facilitado pelo uso do cartão em qualquer época e lugar. Este estudo se limitou a analisar as campanhas de mídia impressa contidas nas páginas da Internet de duas das maiores bandeiras de cartão de crédito do mundo, tendo como fundamentação teórica as contribuições de Zygmunt Bauman e Richard Sennett sobre diversos aspectos do consumo na modernidade líquida. Colocam-se como possibilidades a ampliação deste estudo: a análise de outros tipos de peças publicitárias das empresas pesquisadas; a ampliação do escopo do estudo para outras unidades de análise, dado que a temática do consumo na sociedade atual envolve inúmeros aspectos relevantes para as organizações; e podem ser incluídas em novas pesquisas abordagens de outros autores que discutem a sociedade contemporânea. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1991. _________. Amor Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004. _________. Comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. _________. Globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998b. _________. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998a. _________. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007b. _________. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007a. JAMESON, Fredric. A cultura do dinheiro: Ensaios sobre a globalização. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 121 Reflexões sobre Consumo na Modernidade Líquida a partir de Bauman e Sennett LAVILLE, Chistian; DIONE, Jean. A Construção do Saber: Manual de Metodologia da Pesquisa em Ciências Humanas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. MINAYO, Maria C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 3 Ed. Petrópolis: Vozes, 1994. MASTERCARD. Campanhas MasterCard: Mídia Impressa. Disponível em: http://www.mastercard.com/br/sobre_nos/pt/campanha_impressa.html. Acesso em: 16 de abril de 2008. SENNETT, Richard. A Corrosão do Caráter. Rio de Janeiro: Record, 2001. ______. Richard. A Cultura do Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2006. VISA. Informações sobre a Visa: Mundo Visa: Campanhas Visa: Mídia Impressa. Disponível em: http://www.visa.com.br/conteudo.asp?pg=584. Acesso em: 16 abril 2008. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 1., n.1, p. 99-122, jul./dez., 2012 | 122
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