A Medicina em História
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A Medicina em História
Leituras A Medicina em História A Medicina Árabe (2) O Apogeu dos enciclopedistas árabes (2) 58 Ao lado dos caminhos, por vezes originais, atribuídos a ar-Razi, a obra de 'Ali ibn al-'Abbas al-Magusi, conhecido no Ocidente por Haly Abbas, leva ao seu apogeu o movimento de codificação do saber médico greco-árabe. Apesar da importância da sua enciclopédia, o seu nome foi eclipsado pela forte concorrência anterior de ar-Razi e posterior de Ibn Sina (Avicena, como é conhecido no Ocidente). Uma das razões para que isso tivesse acontecido pode dever-se ao facto de não existirem muitos dados sobre a sua vida e a sua pessoa. Pelo seu nome (al-Magusi significa o Mago), ele está ligado a uma família persa de clérigos zoroástricos. Tendo dedicado a sua grande obra a 'Adub ad-Dawla, um célebre emir do séc. X, que protegia com zelo os trabalho intelectuais, alguns autores sugerem que alMagusi terá seguido o seu protector desde Siraz até Bagdad e terá trabalhado no famoso hospital fundado pelo emir nas margens do Tigre. Terá vivido até aos últimos anos do séx. X, mas a data precisa da sua morte não é conhecida. Legou-nos uma só obra: al-Kitab al-Malaki (o "Livro Real") ou também conhecido por Kitab Kamil as-sina'at at-tibbiyya (o "Livro Completo sobre a Arte Médica"). Estas designações devem-se à natureza das intenções do autor: real, em relação à pessoa que o autor queria honrar e completo, pela sua ambição de juntar todos os elementos da ciência médica, antigos e modernos, numa vasta síntese, claramente ordenada. Na introdução a essa obra enciclopédica, o autor passa em revista os médicos, antigos e modernos, que tentaram antes dele o género da enciclopédia médica, sublinhando os seus defeitos para justificar a sua própria tentativa. Considera, no prefácio, que não "encontrou em nenhum médico, antigo ou moderno, um livro completo que contivesse tudo o que é necessário para se obter um conhecimento largo e aprofundado desta arte". Critica Hipócrates pela sua concisão que torna muitas das noções obscuras; critica Galeno, que considera o maior VOLUME IV Nº4 JULHO/AGOSTO 2002 na arte médica, pela sua profundidade que acabou por retirar a amplitude que al-Magusi persegue; critica Oribase e Paul de Egine, pela superficialidade das suas obras. Dos modernos critica Ahrun, pela sua concisão e ausência de explicação; Yuhanna ibn Sarafiyun, porque deixou de lado uma parte importante da arte médica _ a cirurgia _ para além de não tratar de um grande número de afecções; Masih al-Hakam pela má ordenação da exposição; finalmente critica ar-Razi, não sem antes ter elogiado o seu trabalho, apontando-lhe sobre tudo os defeitos de concisão e de brevidade. Após essas imensas críticas, acaba por se comprometer a escrever num livro tudo o que é necessário para a conservação da saúde e para o tratamento das doenças e das afecções, nomeadamente a natureza e as causas das doenças, os sintomas que são sinais dessas mesmas causas. De facto, a obra de al-Magusi é, sem dúvida, a melhor síntese sobre a ciência médica, organizada sobre um plano claro: uma primeira parte consagrada à teoria e uma segunda à prática. Esta organização baseava-se na concepção aristotélica e assumida por todos os sábio do Islão, segundo a qual os fundamentos especulativos de uma ciência fornecem os princípios necessários para o desenvolvimento de uma actividade concreta. Depois de uma extensa exposição, o autor, preocupado com a prática, recomenda ao aprendiz de médico que complete a sua formação com visitas frequentes ao Hospital. Se a obra de ar-Razi Kitab al-Hawi brilhava pela sua riqueza e pelas suas qualidades clínicas e o Canon de Ibn Sina se impunha pela sua amplitude e consistência teórica, o Kitab al-Malaki de al-Magusi é um autêntico sucesso, pelas suas proporções razoáveis e pelo seu equilíbrio entre princípios e práticas da arte médica. Teve uma certa divulgação, tendo sido traduzido em latim e conservando-se ainda hoje uma centena de manuscritos por esse mundo fora. JMT