50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação
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50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação
50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação 1 OUTUBRO / 2009 WWW.UNE.ORG.BR 2 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação UNE UBES Presidente Augusto Chagas Presidente Ismael Cardoso VicePresidente Tiago Ventura Primeiro VicePresidente Sandino Patriota Segundo VicePresidente Bruno da Mata Terceiro VicePresidente Tassio Brito Tesouraria Geral Harlen Oliveira Primeiro Tesoureiro Gabriel Pinto Cruz Secretaria Geral Antonio da Silva Diretor de Comunicação Andre Vitral Primeiro Diretor de Comunicação Vicente Siluzio Diretor de Relações Internacionais Daniel Iliescu Primeiro Diretor de Relações Internacionais Lucelio de Moura Segundo Diretor de Relações Internacionais Renan Alencar Diretor de Relações Institucionais Marcela Rodrigues Diretor de Políticas Educacionais Wallison Brandão Primeiro Diretor de Políticas Educacionais Lais Gouveia Diretor de Movimentos Sociais Vitor Lucena Diretor de Escolas Particulares Joanna Parolli Diretor de Cultura Fellipe Redó Diretor Jurídico Luis Felipe Maciel Diretor de Desporto Universitário Emival Dalat VicePresidente Ana Letícia Primeiro VicePresidente Gregório Gould Segunda VicePresidente Camila Moreno TesoureiroGeral Elton Gutemberg Primeiro Tesoureiro Guilherme Silva SecretárioGeral Pedro Moura Primeiro Secretário André Monteiro Lopes Diretora Comunicação Aline Lopes Diretor de Relações Internacionais Osvaldo Lemos Diretora de Esportes Thiara Milhomen Diretor de Grêmios Samuel Martins Diretora de Políticas Educacionais Ana Paula ANPG Presidente Hugo Valadares Siqueira Vicepresidente Bruno Toribio de Lima Xavier Tesoureiro Geral Elisangela Lizardo de Oliveira Secretário Geral Camila Castanhato Diretora de Comunicação Luisa Barbosa Pereira EXPEDIENTE: Presidente da UNE: Augusto Chagas Diretor de Comunicação: André Vitral Coordenação editorial: Rafael Minoro e Artênius Daniel Produção de textos: Bruno Moreno, Gustavo Machala e Rafael Minoro Fotos: Arquivo UNE Projeto Gráfico: W3 Comunicação www.w3ol.com.br 3 APRESENTAÇÃO PARA MUDAR A CARA DO BRASIL Nossa geração vive momento de disputa de opiniões dentro da sociedade ao discutir as questões que envolvem o modelo de exploração do petróleo encontrado na camada Pré-sal e qual deve ser o destino dos recursos provenientes dessa imensa riqueza que repousa sob o território nacional. Um debate que desperta paixões e delimita campos, uma vez que se trata de assunto que traz embutido em sua espinha dorsal tema relevante para a estrutura política, econômica e social do Brasil: o papel do Estado como ente indutor de políticas e de desenvolvimento. Muitos se referem à descoberta do Pré-sal como a possibilidade de uma segunda independência do Brasil, tamanho o impacto social que esses recursos podem trazer para o país. Outros, de olhos vidrados nos cifrões, querem apenas garantir espaço cativo para garantir os seus lucros e repetir a fatídica história de exploração do nosso povo. Guardadas as suas particularidades, vivemos hoje o mesmo debate que mobilizou o país na década de 50 e polarizou dois campos distintos: um afirmava os interesses nacionais e defendia o monopólio estatal sob o Petróleo; outro queria entregar a exploração do recurso às petroleiras internacionais. Os estudantes, naquele momento protagonista na defesa do patrimônio brasileiro durante a campanha “O Petróleo é Nosso!”, que culminou na criação da Petrobras, posicionam-se agora novamente de forma contundente, mantendo em perspectiva o alcance do mesmo objetivo de construir uma nação soberana, desenvolvida, livre do analfabetismo, da miséria e das desigualdades. Esses objetivos podem ser alcançados, ou não, a depender da reflexão e engajamento dos mais variados setores para definir qual o melhor caminho a seguir e quais decisões tomar sobre o Pré-sal, que pode triplicar as reservas de petróleo do país. Para a UNE, a UBES e a ANPG estão colocadas duas questões estratégicas, quem vai explorar os recursos e para onde vai esse dinheiro. 4 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação Defendemos que o controle da exploração do petróleo na camada Pré-sal seja do Estado brasileiro, mediada pela Petrobras como operadora destes campos. Que outra empresa nacional teria condições de assumir esse papel? Como a resposta é óbvia, a alternativa seria permitir que empresas estrangeiras ocupassem essa função. Para a juventude, esta não é uma opção para o Brasil, porque abriria as portas para a desnacionalização desse setor, causaria o enfraquecimento da indústria nacional e colocaria por terra a transformação social que queremos. Sobre a destinação dos recursos, temos reafirmado nossa posição de que é preciso constituir um Fundo Social com parte dos dividendos provenientes do Pré-sal e que 50% desse dinheiro deva ser investido em Educação. As carências educacionais são apontadas como um dos principais gargalos ao desenvolvimento nacional. Sem maciços investimentos nessa área não teremos capital humano para ampliar o parque científico e tecnológico nacional, incrementar a indústria e colocar o Brasil em pé de competitividade internacional. Nada mais sensato que saudar uma dívida social do país com o seu povo. A UNE,a UBES e a ANPG têm convicção de suas posições e não vão se furtar em travar esse importante debate que pode transformar as feições do nosso país. O material a seguir foi elaborado com o intuito de fazer um resgate histórico sobre a questão das riquezas brasileiras e como a não distribuição com o seu povo provocou uma fratura social das mais desiguais do mundo. Mostramos ainda um raio x da educação no país para elucidarmos o quão urgente e necessário são os investimentos nessa área para que o Brasil se transforme em uma grande nação desenvolvida. Ressaltamos, também, que o petróleo é importante, como também é fundamental explorar outras potencialidades de nossa nação, exemplo da farta fonte de bioenergia (solar, biocombustíveis, eólica) e, também, construir caminhos para que todo esse desenvolvimento seja realizado de forma sustentável, olhando para o futuro. Boa leitura a todos. Saudações estudantis, Augusto Chagas Presidente da União Nacional dos Estudantes – UNE 5 ÍNDICE DA IDADE ANTIGA À ONIPRESENÇA CONTEMPORÂNEA 7 DO PAU-BRASIL AO PRÉ-SAL 14 PRÉ-SAL É ‘FINO’ 17 RAIO X DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 20 RECURSOS NOVOS PARA VELHOS PROBLEMAS 24 UNE, UBES E ANPG EM DEFESA DO PATRIMÔNIO BRASILEIRO 28 50% DO FUNDO SOCIAL DO PRÉ SAL PARA A EDUCAÇÃO! 6 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação Da idade antiga a onipresença contemporanea De remédio a motivador de guerras, petróleo é marca da sociedade capitalista contemporânea É inegável que o petróleo é um dos principais recursos minerais utilizados em nossa sociedade. Motivador, impulsionador e produto de diversas atividades industriais, além de fonte energética básica para a maior parte da frota de veículos em circulação no mundo (que já passa de 1 bilhão), o petróleo pode ser en- contrado em quase todos os objetos que nos cercam. A palavra que talvez melhor defina o papel do petróleo na sociedade capitalista contemporânea é onipresença. Utilizado desde tempos remotos, como no Egito e na Mesopotâmia milênios antes de Cristo, há menções ao petróleo na própria Bíblia (o petróleo foi usado como impermeabilizante da Arca de Noé). Seus principais usos na Idade Antiga relacionavam-se com a pavimentação de estradas e a impermeabilização de paredes de casas. Na guerra, era utilizado em dardos e flechas incendiários e, na medicina, em remédios para curar feridas. É seu caráter de fonte de energia, entretanto, que, a partir do século XIX, passa a atrair governos para seu controle e produção. Petróleo e Focos De Tensão É fácil correlacionar o petróleo e os principais focos de tensão no mundo. Dentre os cinco detentores das maiores reservas de petróleo (Arábia Saudita, Iraque, Abu Dhabi, Kwait e Irã), se não todos, a maioria está ou já esteve envolvida em algum conflito no qual o petróleo e sua distribuição fossem um dos 7 motivadores principais. Oriente Médio e Ásia Central, principais reservatórios mundiais, são focos dos maiores conflitos e tensões nas relações internacionais contemporâneas, como é exemplo a Guerra do Golfo, de 1990. Somados, Oriente Médio e Eurásia possuem 63% das reservas mundiais de petróleo. É esse “ouro negro” estocado debaixo de terra e mar ao redor do mundo que impulsiona grande parte dos esforços militares dos países centrais, entre eles os Estados Unidos, que, mesmo com a entrada do democrata Obama, mantém sua política de controle direto de áreas estratégicas em recursos minerais. Não é por menos que os EUA têm dedicado bilhões de dólares para o envio e manutenção de tropas nessas regiões, mantendo, assim, a altos custos, sua política imperialista. Só em 2006, os EUA compraram mais de 500 bilhões de dólares em armas. Para o relatório produzido pelo Instituto de Pesquisa em Paz Internacional Estocolmo, também em 2006, o aumento dos gastos militares americanos se deveu à sua atuação no Iraque e no Afeganistão, países centrais, somando-se Israel, para a manutenção da política americana de controle militar e econômico no Oriente Médio. do governo brasileiro (consideradas sóbrias e cautelosas), as reservas podem chegar a 50 bilhões de barris, o que colocaria o país entre os 10 maiores detentores de reservas petrolíferas no mundo. Este aumento pode, ainda, colocar o país no centro da geopolítica mundial, exigindo controle estratégico e inteligente das reservas, o que só pode ser feito por meio da gestão nacional dos recursos, via empresa estatal. A descoberta do Pré-Sal coloca o Brasil no mapa estratégico dos países dependentes de petróleo, pois, de acordo com as estimativas Monteiro Lobato: A Primeira Defesa do Petróleo Brasileiro “Denuncio as manobras da Standard Oil para senhorear-se das nossas melhores terras potencialmente petrolíferas, confissão feita em carta pelo próprio diretor dos serviços geológicos da Standard Oil of Argentina, que é o tentáculo do polvo que manipula o Brasil”, informava Monteiro Lobato em carta confidencial, datada de 20 de janeiro de 1935, ao presidente Getúlio Vargas. Monteiro Lobato pode ser considerado o pai 8 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação da luta pelo petróleo no Brasil. Após viver um período como adido comercial brasileiro nos Estados Unidos, na década de 1920, Lobato passou a defender veementemente a industrialização e a modernização brasileira, que, na sua opinião deveriam estar ancoradas no petróleo, nas estradas e no ferro. O impulso de Monteiro Lobato foi fundamental para que se criasse uma consciência nacional da importância de se investir e controlar recursos importantes como o petróleo. Por ironia da história, o primeiro poço de petróleo brasileiro foi econtrado numa cidade de nome “Lobato”, na Bahia. Fundador da Companhia Petróleos do Brasil (e diversas outras empresas relacionadas à exploração de petróleo), Lobato combateu a difundida ideia de que o Brasil não possuía petróleo. Sua grande denúncia era de que o governo não estava interessado em “perfurar” e não permitia que outros perfurassem em busca de petróleo. Seu famoso livro “O Escândalo do Petróleo”, publicado em 1936, esgotou-se em menos de um mês. Nacionalistas X Entreguistas Criada a consciência nacional de que era necessário lutar pelo petróleo - como apontava Lobato -, o povo brasileiro precisou enfrentar tanto as elites nacionais, interessadas em expropriar as riquezas do país, quanto o capital estrangeiro, ávido por lucros fáceis em terras brasileiras. A polarização em torno do petróleo e de outros importantes temas da vida nacional nos anos 1950 pode ser resumida na conhecida diferenciação entre “nacionalistas” e “entreguistas”. A grande ousadia de Lobato incomodava as elites brasileiras e, acusado de subversivo, foi condenado a seis meses de prisão em 1941. Por pressão de intelectuais e amigos que apelaram ao presidente, teve sua pena reduzida para três meses, que foram cumpridos no presídio Tiradentes. Os nacionalistas eram a favor da criação de um sistema econômico autônomo, baseado na industrialização. Essa perspectiva legava ao Estado um papel forte como investidor e agente em áreas estratégicas (comunicações, 9 siderurgia, petróleo etc.), além de garantir seu papel como regulador da economia. Era uma perspectiva fortemente ancorada nas posições da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e catalisada, no Brasil, pelo Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). favoráveis a um alinhamento irrestrito às posições americanas e à sua agenda de segurança com relação à Guerra Fria, ou seja, assumiam uma posição submissa aos interesses hegemônicos dos norte americanos. Essa polarização era pano de fundo para todas as discussões sobre o marco regulatório da exploração do petróleo no Brasil e foi o principal motor das discussões e debates no período, seja nas ruas, na imprensa ou no Congresso Nacional. Já os opositores do nacionalismo queriam a participação mínima do Estado na economia, sustentavam que o desenvolvimento deveria se basear na entrada de capitais estrangeiros e não priorizavam a industrialização. Suas ideias se apoiavam no aparato teórico da Escola Superior de Guerra (ESG) e no liberalismo econômico. A oposição “nacionalistas x entreguistas”, constante durante o segundo governo de Getúlio Vargas, permaneceria, contudo, mesmo após a morte do presidente: “Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma”, escreveria o presidente em sua No âmbito das relações exteriores, essa polarização distinguia-se pelo fato de os nacionalistas serem favoráveis a uma autonomia com relação aos Estados Unidos e os entreguistas 10 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação carta-testamento. o Brasil já vira em sua história. De fato, como explica o historiador Wladimir Coelho, em seu artigo “O monopólio estatal do petróleo no Brasil: a criação da Petrobrás”, a oposição não se encerrou com a aprovação da lei que criava a Petrobras: “A disputa entre nacionalistas e defensores da abertura ao capital externo para a exploração petrolífera no Brasil (...) não encontrou na promulgação da Lei 2004 o seu encerramento. Após 1953, a defesa e consolidação da Petrobras, como empresa nacional e responsável pela concretização do projeto de auto-suficiência, transforma-se na principal bandeira de luta dos setores nacionalistas.” “A Petrobras é o grito do Brasil contra o colonialismo. Ela é a primeira empresa brasileira que rompe com a terrível tradição colonialista brasileira, ou seja, a tradição do ‘tirar’ inconsequentemente, do mandar embora”, explica o professor Wladimir Coelho, coordenador do Núcleo de Políticas Econômicas do Petróleo da Fundação Brasileira de Direito Econômico. A forte mobilização popular - que teve participação fundamental dos estudantes - é a característica mais marcante do período de criação da Petrobras. Para José Murilo de Carvalho, em seu livro “Cidadania no Brasil”, “nenhum outro tema tinha até então apaixonado tanto a opinião pública”. A Campanha “O Petróleo é Nosso!”: Une na Vaguarda A UNE já nasceu como uma das principais frentes de combate ao avanço das idéias nazi-fascistas no país durante a Segunda Guerra Mundial. Os estudantes organizados também promoveram, em 1947, um dos mais importantes movimentos de opinião pública da história brasileira: a campanha “O Petróleo é nosso”, série de manifestações de cunho nacionalista em defesa do patrimônio territorial e econômico do país, que resultou na criação da Petrobras. Movida pela força de suas convicções, com espírito jovem e defensor dos interesses nacionais, somado pelo impulso das Uniões Estaduais de Estudantes –sua base de atuação–, a entidade participou ativamente da campanha. A UNE, como núcleo central da atuação estudantil, foi uma das criadoras da campanha “O Petróleo é nosso”, tendo participado da direção do movimento em favor da nacionalização e do monopólio estatal do petróleo. “A participação dos estudantes foi muito importante, pois era a mobilização da juventude. É a UNE que mobiliza os comícios, que mobiliza a opinião pública”, lembra Coelho. As discussões envolveram eventos públicos, manifestações e debates bastante virulentos, nos quais se destacou a bravura e a determinação dos estudantes já organizados e fortalecidos em torno da UNE. O escritor Arthur Poerner, em seu livro “O poder jovem”, lembra que o próprio estatuto de fundação da UNE “direcionava as suas direções a lutarem pelo nacionalismo e contra o entreguismo”. Criado por um professor do Colégio Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, o mote “O petróleo é nosso” ressoou nas vozes de milhões de brasileiros. Embalados pela campanha promovida pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, criado em 1948, estudantes, militares, jornalistas, operários, políticos e intelectuais envolveram-se na mais genuína, polêmica e, dizem muitos, apaixonante mobilização popular que Genival Barbosa Guimarães, presidente da UNE em 1948, lembra bem do início da campanha: “Então o Centro foi fundado na sede da UNE, quando era presidente Roberto Gusmão e como tal a UNE ficou como vice-presidente do Conselho. Como a UNE tinha as uniões estaduais espalhadas por todo o Brasil, a campanha se serviu disso e vários Centros regionais foram fundados. (...) Mais tarde a UNE foi eleita, 11 e eu fui o primeiro presidente de honra desse Centro e (...) nesse mesmo ano foi aprovado por unanimidade que a UNE era pioneira dessa campanha...” dos passaram a ser atribuições estatais, desempenhadas pela Petróleo Brasileiro S.A., que foi criada através do mesmo decreto. A partir de sua criação, a Petrobras empreendeu esforços no sentido de implementar um aumento constante das reservas petrolíferas brasileiras. Para isso, a Companhia intensificou a exploração e trabalhou na formação e qualificação de seu corpo técnico. Como sintetiza Maria Paula Araújo no livro “Memórias Estudantis”: “No caso do petróleo, portanto, a posição da maioria dos estudantes, expressa nas Uniões Estaduais, forçou a UNE a assumir a posição nacionalista de defesa do monopólio estatal, considerado como patrimônio do país”. A postura combativa e nacionalista da base do movimento estudantil, e a clareza da direção a seguir - impressa nos estatutos da UNE e viva nas bases do movimento estudantil - garantiram sua participação fundamental na criação da Petrobras. “A função da Petrobras, quando de sua criação, não era tornar o Brasil um grande exportador de petróleo, mas, sim, um país auto-suficiente”, explica Coelho. Tal objetivo foi concluído em 2006, quando a Petrobras declarou a auto-suficiência do Brasil na produção de petróleo, após o início da produção da plataforma P-50, no Campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos. Petrobrás Construída com base em uma determinação da nação de ser a possuidora de suas riquezas naturais, a Petrobras realizava, com a auto-suficiência, o sonho encampado por Vargas quando propôs a criação de uma empresa estatal para gerenciar nossos recursos petrolíferos. Com um lucro líquido de mais de 30 milhões de reais e investimentos que superam os 50 bilhões de reais, a Petrobras é uma das maiores empresas no ramo do petróleo no mundo. E o melhor, é brasileira de nascença: “A Petrobras nasce de uma vontade do povo brasileiro. Não é uma empresa que veio de cima para baixo. Havia já uma consciência de diferentes setores do Brasil, entre eles estudantes e empresários”, informa o professor de história Wladimir Coelho. De fato, a aprovação do projeto de lei que criou a Petrobras foi o cume de uma grande mobilização popular que tomou conta do país. A auto-suficiência garante ao Brasil estabilidade e independência, retirando o país da dependência a recurso energético tão necessário para o funcionamento da indústria como o petróleo. Ser auto-suficiente em petróleo significa que o Brasil não estará preso às oscilações do mercado internacional do produto, podendo administrar os preços de forma a não prejudicar a economia nacional - como é o caso nas altas extraordinárias do insumo. Mas vale ressaltar que o Brasil produz petróleo pesado, necessitando ainda de comprar petróleo leve, pois não tem ainda um parque de refino suficiente para processar todo o petróleo pesado extraído no país. Quando a Petrobras foi criada, a produção brasileira de petróleo não atingia nem 2% do consumo interno. A forma de se acabar com essa dependência estrutural foi um dos principais debates políticos que dividiu a nação nos anos 1950. De um lado estavam os que defendiam o monopólio e, do outro, os que preferiam a entrada do capital estrangeiro. O monopólio foi a opção consolidada no texto da Lei 2004, aprovada em 1953. Com a lei, a pesquisa, lavra, refino e transporte do petróleo e seus deriva- Se a auto-suficiência foi um grande passo, há outros pontos em que a Petrobras avançou 12 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação muito. Hoje, a empresa está presente em 27 países e é a 7ª maior petroleira no mundo com ações negociadas em bolsa. Sua produção diária de petróleo ultrapassa os 2 milhões de barris e suas reservas chegam a 12 bilhões de barris, o que a coloca entre os 20 maiores produtores de petróleo no mundo. Além de atuar na extração do petróleo, a Petrobrás atua no refino (possui 16 refinarias) e na produção de fertilizantes (3 fábricas). Evolução da legislação relativa à exploração dos recursos minerais no Brasil de 1934, que as autorizações e concessões poderiam ser conferidas a brasileiros ou a sociedades organizadas no país, o que permitia uma brecha para o capital estrangeiro. Era, também, assegurado ao proprietário do solo a preferência para a exploração. Constituição de 1891 Concedia o subsolo ao proprietário do solo, não fazendo distinção entre solo e subsolo. Não havia legislação regulamentando a atuação de empresas estrangeiras no setor mineral. Constituição de 1967 e 1969 Extinguiu-se a preferência de que gozavam os proprietarios do solo pela Constituição de 1946, mas se lhes assegurou a participação nos resultados econômicos. A possibilidade de exploração de recursos minerais por “sociedades organizadas no país” foi mantida. A Constituição de 1969 não propôs alterações na exploração dos recursos minerais. Constituição de 1934 Concede ao Estado a propriedade do subsolo. Cria-se o Código de Minas, que diferencia a propriedade do solo da propriedade do subsolo. Getúlio Vargas tentava dificultar a atuação das empresas estrangeiras, mas a Constituição previa que autorizações e concessões poderiam ser conferidas a “brasileiros ou sociedades organizadas no Brasi”, o que permitia a entrada do capital estrangeiro. Constituição de 1937 Acaba com a brecha à atuação estrangeira ao prever que as autorizações e concessões só poderiam ser concedidas a brasileiros ou “empresas constituídas por acionistas brasileiros”. Constituição de 1988 Estabelecia, incialmente, em seu artigo 176, parágrafo 1º, que apenas a brasileiros ou a empresa brasileira de capital nacional seriam conferidos as autorizações ou concessões para pesquisa e exploração dos recursos mineirais. Emenda Constitucional nº 6 de 1995 O artigo foi alterado pela Emenda Constitucional nº 6 de 1995, que garantia autorizações e concessões para brasileiros ou “empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no país”, o que, na prática, eliminou as restrições para que as empresas de capital estrangeiro atuem na pesquisa e exploração dos recursos minerais. cessões para brasileiros ou “empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no país”, o que, na prática, eliminou as restrições para que as empresas de capital estrangeiro atuem na pesquisa e exploração dos recursos minerais. Decreto Legislativo de 1941 O decreto, que estabelecia o regime legal para as jazidas de petróleo e gases naturais, de rochas betuminosas e piro-betuminosas, previa, em seu artigo 1º, que “as jazidas de petróleo e gases naturais existentes no território nacional pertencem à União, a título de domínio privado imprescritível”. Constituição de 1946 Contrariando a perspectiva adotada pela Constituição de 1937 e o DL de 1941, a Constituição de 1946 estabelecia, como a Constituição 13 DO PAU-BRASIL AO PRÉ-SAL Os Ciclos de Desenvolvimento e a Concentração de Renda no Brasil De todas as riquezas encontradas no território brasileiro, nenhuma foi repartida por toda a nação, promovendo efetivamente o desenvolvimento social e econômico. Pelo contrário, elas foram utilizadas para reforçar a dominação da elite financeira sobre o povo. Assim, o desenvolvimento do Brasil ficou, literalmente, nas mãos de poucos, ao mesmo tempo que a rédea do capital internacional impedia avanços no país. Passados 509 anos da chegada dos portugueses nesta parte da América do Sul, o Brasil tem a chance de reparar esse erro histórico. A possibilidade única de inverter essa lógica de acumulação capitalista nas mãos de poucos é a exploração de petróleo e gás armazenados na camada do Pré-sal na área territorial litorânea brasileira. secular de acumulação de riquezas. “O Brasil foi tradicionalmente formado por uma elite que concentrou renda. O processo de acumulação de renda é antigo, apesar de ter piorado nas ditaduras e nos períodos de alta inflação”, avalia. Primeiro, veio a exploração do Pau-Brasil, depois a cana-de-açúcar, a pecuária, o cacau, a mineração superficial, a borracha, a mineração subterrânea, o café, a tardia industrialização e o petróleo (ainda incipiente), já na Era de Vargas e, mais tarde, o atual agronegócio mecanizado e a economia diversificada. Para o professor associado do Departamento de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG, Frederico Gonzaga Jayme Junior, especialista em Macroeconomia e Desenvolvimento Econômico, o processo de exploração e divisão dos frutos do Pré-sal por toda a sociedade brasileira é a esperança da mudança de uma prática Tudo começa com o Pau-Brasil .... Para reverter essa situação, o professor aponta como fundamental a atenção dos brasileiros no debate sobre os destinos dos frutos do Présal. “É uma luta constante da não-elite. Tem que ficar de olho aberto e não pode ser apenas durante as eleições. Por isso, a sociedade tem que se apoderar do Pré-sal. Ele só vai ser repartido entre todos se houver uma discussão democrática. A sociedade tem que debater”, enfatiza. Quando os portugueses chegaram à parte da América do Sul hoje conhecida como Brasil, em 1500, estavam em busca de metais preciosos. Entretanto, num primeiro momento, como não conseguiram encontrar o ouro em grande quantidade, optaram por outra forma de exploração. “A extração da madeira (em especial o Pau-brasil) se torna importante do início do século XVI (anos 1500) até, no máximo a sua segunda metade”, explica Eduardo França, coordenador do 14 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação Presidente da UNE discursa em Brasília núcleo de História da Universidade Federal de Minas Gerais. Apesar disso, o professor acrescenta que, ao mesmo tempo, a economia na região já começa a se diversificar. “Em paralelo, desde o século XVI há uma economia para abastecimento interno, com a agricultura e pecuária. Foi uma economia que se diversificou desde o início”, salienta. Já a partir da segunda metade do século XVI os engenhos de cana-de-açúcar são implantados onde hoje é o Nordeste brasileiro. Baseada em grandes latifúndios, oriundo das Capitanias Hereditárias, essa economia vivia em função da exportação para a Europa. “O açúcar era chamado de ‘ouro branco’ e suplanta a exportação da madeira”, destaca França. Nesse momento, os portugueses e os colonizadores optam por mudar a base da economia local principalmente por que o preço do PauBrasil no mercado europeu, muito usado para tingir tecidos, cai vertiginosamente, com a entrada das tintas para tecido. Começa, assim, um intenso tráfico negreiro para trabalho forçado nos canaviais e uma nova parcela excluída da sociedade brasileira começa a se formar. A economia baseada no açúcar segue dominante até o final do século XVII, quando se instala uma crise no setor. Na mesma época, bandeirantes paulistas e baianos rumam em direção do sertão do país, principalmente no que hoje é Minas Gerais, e descobrem ouro, diamante e outras pedras preciosas, como turmalina e topázio imperial. 15 .... e continua seguindo a lógica da exploração Essas riquezas minerais, mais uma vez, seguem a lógica de acumulação das elites, naquela época, a Coroa Portuguesa, que vendeu à Inglaterra e Holanda praticamente todo o ouro que carregou daqui, e, com isso, o povo não teve acesso aos frutos da terra. Ainda mais que é nessa época que começa a se consolidar uma sociedade nessa região do país, em contraposição à ocupação litorânea. Ato da UNE em Brasília fundamental destacar que essa borracha, vendida a “preço de banana”, serviu para a produção de pneus de carros que estavam sendo comercializados na América do Norte. Carros esses movidos a gasolina, um derivado do Petróleo. Essa primeira fase de exploração das riquezas minerais foi consolidada com trabalhos manuais, a céu aberto, na beira de rios, debaixo de um sol escaldante. Os escravos trabalhavam acorrentados, em estruturas semelhantes a baias de currais, de bateia na mão, em busca de ouro e diamantes. Só no século XIX, com a chegada de capital privado inglês, é que se inicia a exploração de minas subterrâneas, em busca de ouro e os escravos, outra vez, se arriscam nas minas inseguras, sem receber nada a mais por isso. Nesse momento, além de realizar a independência de suas metrópoles, muitas colônias já realizavam a reforma agrária que, no Brasil se arrasta até os dias de hoje. Assim, os trabalhadores, a imensa maioria escravos, ou alforriados, só conseguiam sobreviver se vendessem sua barata mão-de-obra. Apesar de todas essas riquezas exploradas no Brasil, a estrutura social de dominação de uma elite financeira não se modificou. Em 1888, o trabalho escravo é extinto, oficialmente, mas como não houve um plano de insersão dos ex-escravos na economia, muitos continuaram a vender sua mão-de-obra a um custo irrisório. É nessa época que o café começa a ser produzido em grandes fazendas em São Paulo, escoado por trilhos, instalados com capital inglês. Ao mesmo tempo, Minas Gerais, que já não tinha mais tantas riquezas minerais, se consolida como imenso produtor de leite. “Há uma mudança completa no padrão de acumulação de riquezas a partir de 1850. A terra passa a ser o eixo central da economia. Tem como fundo as práticas de acumulação capitalista”, destaca França. Assim, é crucial que o Pré-sal, como a maior descoberta dos últimos tempos, seja utilizado como instrumento de transformação social, contra o capital privado e privatista. Com a mudança de viés e os frutos do Pré-sal, o Estado brasileiro pode se reforçar ainda mais para dar garantias ao povo de um futuro próspero, com justiça social, desenvolvimento econômico para todos e reparação de erros históricos. Ainda dá tempo de mudar e urge a necessidade de apagar essa herança perversa dos militares e de FHC, ambas concentradoras de renda. Já o Norte vive o surto de exploração da borracha, seiva das seringueiras, nas últimas décadas do século XIX e primeira do século XX. É O Pré-sal é nosso!! 16 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação PRÉ-SAL É “FINO” Pioneiro no mundo na exploração de petróleo em águas profundas, o Brasil encontrou no Pré-sal sua maior riqueza desde a independência da Coroa Portuguesa - que surrupiou todo o ouro e minerais encontrados em nosso território no período colonial. Ainda não se sabe exatamente quanto há guardado nesse reservatório, mas o certo é que se trata de um alto valor para o país e para o seu povo. Já se falou em 100 bilhões de barris de petróleo, mas as últimas previsões da Agência Nacional de Petróleo (ANP) dão conta de que é possível termos lá cerca de 50 bilhões de barris. Isso quer dizer, na pior das hipóteses, que o Brasil pode saltar da 14ª colocação no ranking mundial de países com reservas de petróleo para a décima. Com isso, não só o Brasil terá mais recursos para dividir entre sua população, mas também um poder de barganha internacional muito mais forte, nas políticas de segurança, por exemplo. 2.000 m 3.000 m 5.000 m A estimativa é que o país aumente significativamente sua produção de hidrocarboneto. Em março de 2009, a Petrobras bateu seu último recorde de produção, com a entrada em operação de três novas plataformas na Bacia de Campos (RJ), quando produziu 2.012.654 barris de óleo/dia. Em 2020, quando os campos do Pré-sal estiverem estabelecidos, mas não 100% ainda, a projeção é que essa exploração seja de quase 4 milhões barris de óleo/dia. 7.000 m Mas a descoberta das mega-reservas de óleo e gás no litoral brasileiro, pela Petrobras, não 17 promete ser uma revolução social e econômica apenas pela quantidade encontrada, mas também pela qualidade. De acordo com o professor de Geologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, Alexandre Uhlein, o que já foi encontrado é diferente do que atualmente é extraído no Brasil. imensa camada de sal, entre 5.000 metros e 7.000 metros abaixo do nível do mar. Essa gigantesca camada vai desde Santa Catarina, no centro da Região Sul do país, até o Espírito Santo, já na parte mais ao norte da Região Sudeste. No total, são 800 quilômetros de extensão e até 149 mil quilômetros quadrados de área. “O petróleo do Pré-sal, de rochas mais antigas, é semelhante aos outros, mas tem características diferentes que o conferem um alto valor agregado. Ele é mais leve e tem mais recursos energéticos, assim, rende uma maior quantidade de derivados. É importante ressaltar que essa descoberta veio a partir dos trabalhos de uma empresa nacional”, observou. O petróleo encontrado no Pré-sal tem esse nome porque está localizado abaixo de uma 18 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação Características O petróleo encontrado nesses poços tem uma densidade de até 28,5º API, baixa acidez e baixo teor de enxofre. Essas são características de um petróleo de alta qualidade e maior valor de mercado. Volume AnoEstimativa de produção (Mil Barris Dia) No total, se estima em 50 bilhões de barris de petróleo, mas pode ser até 100 bilhões de barris de petróleo. Se confirmado, o Brasil sairá da 14ª posição mundial em reservas de petróleo para a décima. 2013 2017 2020 219 1.336 1.815 Quando foi descoberto Em 2004, na Bacia de Santos, foram perfurados os primeiros poços e havia indicativos, na camada pós-sal, de que existiria petróleo na camada pré-sal. Em 2006 a perfuração alcançou 7.600 metros de profundidade a partir do nível do mar e foram encontradas imensas acumulações de gás e reservatórios de condensado de petróleo, um componente leve do petróleo. No mesmo ano, em outra perfuração na Bacia de Santos, a pouco mais de 5 mil metros de profundidade, a partir da superfície do mar, foram encontrados indícios de óleo abaixo da camada de sal. Outros sete poços foram perfurados em todos se encontrou pe- Projeção da extração de petróleo no Brasil tróleo. Esse campo foi batizado de Tupi.Quais Ano Estimativa de produção (Mil Barris Dia) 2009 2013 2020 2.050 2.680 3.920 Investimentos projetados para o Pré-sal (em milhões de Dólares) são os poços? Período Tupi é o primeiro e um dos maiores dos blocos. Há ainda os campos de Bem-te-vi, Caramba, Azulão, Parati, Carioca, Guará, Iara e, Júpiter. 2009-2013 Petrobras no Pré-sal Projeção da extração de petróleo no Pré-sal (Desenvolvimento da Produção) 28,9 111,4 Pré-sal Bacia de Santos 18,6 98,8 10,3 12,6 Pré-sal Espírito Santo (inclui os campos do Pós-sal) Fonte: Petrobrás 19 2009-2020 Raio X da educação brasileira A educação brasileira, ao longo de seu desenvolvimento histórico e social, acumulou enormes déficits com diversos segmentos sociais quanto ao direito de acesso à cultura, educação, ciência, e também com a qualidade da formação dos estudantes. Estes déficits, dada a dimensão continental do Brasil, exigem a efetiva construção de um sistema nacional de educação, com articulação entre os diferentes sistemas e níveis de ensino. É evidente a necessidade de que o debate integre análises e propostas vinculadas ao Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Superior e Ensino de Pós-Graduação. As dificuldades em superar os problemas instituem uma verdadeira fratura social em nosso país. Promover a educação como bem público social é uma das maiores contribuições do Estado para enfrentar a desigualdade. A soberania de um país passa por diversos fatores, mas um deles, sem dúvida, é a capacidade da nação em educar o seu povo e, dessa forma, contribuir, de maneira estratégica, para o desenvolvimento nacional. Números melhoram, mas é preciso avançar Os números sobre a educação básica apresentam avanço. Mas, apesar da virtual universalização da educação fundamental, parece difícil assegurar a expansão com qualidade, ao mesmo tempo em que reverter as persistentes desigualdades sociais e regionais para a democratização do acesso ao conhecimento. Em suas diferentes etapas e modalidades de ensino (creche, pré escola, ensino fundamental e ensino médio), as matrículas abrangem 52 milhões de estudantes, quase a totalidade das crianças e jovens entre 6 a 14 anos (97,5%). Quanto ao ensino médio, 84,1% dos alunos de 15 a 17 anos estão cursando alguma escola (15,9% deles ainda estão fora da escola). Já a taxa de conclusão do ensino fundamental alcançou, em 2007, 61%. Em relação ao ensino médio a taxa foi de 44%. Um déficit estrutural, no entanto, está na educação superior. Somente cerca de 13,9% da faixa universitária 20 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação freqüentam curso superior no Brasil. Apesar do Governo Federal ter dobrado as vagas públicas das instituições federais de educação superior no período de 2002 a 2009, e hoje registrar um número de 2.281 Instituições de Ensino Superior (IES), incremento de 11 instituições em relação a 2006, segundo o Censo da Educação Superior de 2007, os esforços ainda parecem insuficientes para atingir a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) de matricular 30% da população entre 18 e 24 anos na ES até 2011. Nos países mais adiantados há mais de 60% dos jovens nessa faixa etária cursando universidade. Isso acontece nos EUA e Canadá e alguns países da Europa. O número total de vagas ofertadas por processos seletivos na graduação presencial em 2007 foi de 2.823.942 em todo o Brasil, um aumento de 194.344 (7,4%) em relação ao ano anterior. No entanto, são as instituições privadas as responsáveis pelo maior número de vagas oferecidas, 8,5% em relação ao ano anterior. As instituições públicas da rede federal registraram aumento de 10.595 novas vagas em relação a 2006, equivalente a 7,3%. Um outro indicador mostra o gargalho de que a educação brasileira precisa se desvencilhar. Trata-se do baixíssimo tempo que o brasileiro em idade adulta (maior de 18) passa na escola: em média, apenas 7,4 anos ao longo de toda a vida. Não é o suficiente para concluir o ensino fundamental de 8 anos, nem para chegar ao fim do ensino médio, que exige 11 anos de estudo. No caso da população com mais de 25 anos, esse número cai para meros 7 anos na escola. De acordo com dados do Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas (Ipea), de cada 100 brasileiros que entra no ensino fundamental, 13 largam os estudos na 4º série. Dividido por regiões, apenas a região Sudeste ultrapassou, em termos médios, uma escolarização de oito anos. Mais investimentos Os investimentos em educação no Brasil não Os investimentos em educação no Brasil não chegam a 5% do PIB, quando o Plano Nacional de Educação aprovado pela sociedade civil em 2001 aponta a necessidade de 7%. Para mudar o quadro da educação no Brasil é necessário, além de aumentar a oferta de vagas, também uma urgente valorização da rede pública de ensino, com mais investimentos de recursos e qualificação do quadro de professores. Isso porque, segundo o Plano Nacional de Amostra de Domicílio (Pnad-2008), do total de estudantes do País –com 4 anos ou mais de idade– cerca de 79,2% são atendidos em escolas públicas. Dos estudantes do ensino fundamental e médio, 88% e 86,5%, respectivamente, estão neste setor. Mas, novamente, o quadro muda quando se fala em ensino superior. Neste caso, as matrículas têm se concentrado na rede particular, o que deve ser olhado com cautela e cuidado, já que muitas das instituições adotam 21 Infra-estrutura uma lógica mercadológica em detrimento de uma educação de qualidade baseada no tripé ensino-pesquisa-extensão. Deve ser objetivo do Estado buscar esses estudantes para as instituições públicas, pólos de excelência do ensino e centros do conhecimento. Cerca de 79% dos estudantes de nível superior no Brasil, segundo o Censo Escolar de 2008, estavam no ensino privado. A distribuição de IES também mostra uma grande disparidade, com 89% de instituições privadas e 11% de instituições públicas, divididas entre federais (4,6%), estaduais (3,6%) e municipais (2,7%). Afora os problemas de universalizar o ensino, é preciso ainda que o país esteja atento aos investimentos na infra-estrutura. Dados do Censo Escolar 2006 mostram que 73% das escolas de ensino fundamental no país não têm bibliotecas e apenas 28% têm quadra poliesportiva. Segundo estudo da ONG Ação Educativa, o Brasil gasta menos de 60% do que a estrutura básica para o ensino médio exigiria. O padrão de salário do professor no Brasil é 22 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação baixíssimo, sendo que o rendimento médio de um professor de 1ª a 4ª série nas redes estaduais não chega a R$ 1.300,00. Segundo o estudo “Professores do Brasil: impasses e desafios”, patrocinado pela Unesco, metade dos mais de 2,8 milhões de professores ganham menos de R$ 720. No nordeste, a realidade é ainda pior. Metade dos professores ganham menos de R$ 450. Outro estudo, “Uma Visão dentro de Escolas ‘Primárias’”, também patrocinado pela Unesco, e realizado entre 2005 e 2007, revela que o Brasil investe pouco nas séries iniciais do Ensino Fundamental. De acordo com o trabalho, no país são investidos 1.159 dólares por alu- no/ano, enquanto no Chile, por exemplo, esse valor chega a 2.120 dólares. Na comparação entre países sobre a carga horária nos quatros anos iniciais do Ensino Fundamental, o estudo afirma que no Chile os alunos têm 1.200 horas /aula por ano, já no Brasil esse número é de 800 horas/aula por ano. Além disso, a pesquisa alerta para a precariedade e falta de infra-estrutura, sobretudo nas escolas rurais. A pesquisa aponta que metade dos alunos de pequenos povoados ou áreas rurais e mais de 25% dos estudantes da área urbana assistem aulas em prédios considerados em más condições. Um dado alarmante é que no Brasil mais de 10% dos alunos estudam em escolas que não dispõem de água potável. Analfabetismo Embora desde 1992 a taxa de analfabetismo no Brasil venha caindo 0,45 pontos percentuais ao ano, segundo o Ipea, o país ainda enfrenta o grave problema de ter 14,2 milhões de brasileiros acima dos 15 anos incapazes de escrever um bilhete simples. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-2008) e representam 10% da população total do país, uma fatia imensa dos 160 milhões de brasileiros que vivem figurando à margem da sociedade. O Pnad-2008 também constatou o analfabetismo entre as crianças em idade escolar, de 10 a 14 anos. Dos 17, 5 milhões nessa faixa etária, 2,8% ainda não aprenderam a ler ou a escrever. A região Nordeste apresenta o maior patamar de analfabetismo, com um índice o dobro da média brasileira, ao passo que os mais pobres têm taxa de analfabetismo dez vezes superior (19%) à faixa mais rica da população (1,9%). A Unesco considera que um país está pronto para solicitar o título de erradicação do analfabetismo em escala internacional quando sua população analfabeta não supera 3,9% do total de habitantes. A projeção do Ipea é que o Brasil precise de 20 anos para eliminar o seu problema. Desigualdade Analisados em conjunto, estes e outros dados mostram que o Brasil possui, em todos os níveis de ensino, assimetrias internas profundas que o tornam, contraditoriamente, o maior sistema de pós-graduação da América Latina, formando cerca de 10 mil doutores/ ano (Capes/2008), ao mesmo tempo, um dos países de maior desigualdade e exclusão social em todo o mundo. Do mesmo modo, ainda que se observe aumento de desempenho dos estudantes nas avaliações nacionais (Sistema de Avaliação da Educação Básica/SAEB e Exame Nacional do Ensino Médio/ ENEM), os resultados do Brasil em avaliações internacionais, como no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA - sigla em inglês), indicam que estes são pouco significativos. 23 RECURSOS NOVOS PARA VELHOS PROBLEMAS Preservação ambiental, fortalecimento da indústria e inovação tecnológica pautam debates sobre o pré-sal O Brasil possui dívidas históricas com sua população. Desde a educação básica até a alimentação adequada, os desafios que precisam ser enfrentados para melhorar as condições de vida do brasileiro são enormes. O uso adequado dos recursos do Pré-Sal pode ser um passo importante na superação desses velhos problemas que emperram a transformação do país em uma grande nação desenvolvida. rem que a matriz energética brasileira é principalmente limpa (com grande uso da energia hidráulica), no ano de 2006, 56% da oferta interna de energia veio de fontes não renováveis como petróleo, gás natural e carvão mineral. Apenas 15% da energia consumida naquele ano correspondeu à fonte hidrelétrica. Não que o Brasil não tenha uma matriz energética muito mais diversificada que muitos outros países, mas é fato que o investimento em energias limpas e renováveis, como a solar e a eólica, ainda é bastante incipiente no país. A descoberta do Pré-sal abre um novo período do desenvolvimento brasileiro, pois é a oportunidade de se constituir uma indústria nacional forte. Por isso, é necessário investir em todo ciclo produtivo do petróleo, que passa pela extração, transporte e refino e outras áreas. A produção de plataformas, navios e a construção de refinarias em nosso país representará ainda uma forte retomada da indústria do ciclo petrolífero, sem contar a criação de milhões de empregos diretos e indiretos. Espera-se, ainda, que o Pré-sal contribua para colocar o Brasil na ponta da elaboração de energias renováveis. De acordo com dados do Instituto Socioambiental (ISA), a última experiência de grande escala, no Brasil, visando incluir fontes renováveis de energia no nosso sistema elétrico foi com o programa Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), implementado de 2003 a 2004. No programa, foi contratada a eletricidade de pequenos produtores (pequenas centrais hidrelétricas, plantas industriais produtoras de açúcar e álcool, e turbinas de geração eólica). No campo dos combustíveis, nas últimas qua- Apesar de grande parte das pessoas acredita24 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação tro décadas, diminuiu, proporcionalmente, a participação dos recursos renováveis em relação aos fósseis e não renováveis. Em termos absolutos, o aumento do consumo de derivados do petróleo foi muito maior do que o de produtos da cana-de-açúcar. Em termos proporcionais, no entanto, o consumo dos produtos da cana-de-açúcar foi muito maior que o dos derivados de petróleo: 736% no caso dos derivados da cana e 234% para os derivados de petróleo, de acordo com dados do ISA. Os principais combustíveis renováveis brasileiros são o álcool hidratado e o álcool anidro, o bagaço de cana, a lenha e o carvão vegetal. O investimento nesses recursos são essenciais para que o Brasil aprimore sua matriz energética e contribua positivamente contra o aquecimento global. A exploração desses recursos, contudo, é mais cara do que a de combustíveis fósseis, o que faz aumentar ainda mais a necessidade de investirmos em tecnologias e pesquisas que tornem capaz o uso mais econômico, em termos de custos, desses recursos. Outro ponto que precisa ser aprimorado pelo Brasil é sua capacidade de refinar o petróleo bruto que extrai. No mercado internacional, o petróleo refinado é muito mais valorizado que o petróleo bruto. Como o Brasil ainda não é auto-suficiente no abastecimento de petróleo refinado, é obrigado a comprar petróleo mais caro no mercado internacional. É essencial, portanto, que o país invista em tecnologia de refino e na construção de refinarias (atualmente, o Brasil possui 16 refinarias). Refinar o petróleo é agregar valor ao óleo produzido pelo Brasil e é garantir que o país não terá problemas de abastecimento em caso de um aumento repentino de preços no mercado internacional. No entanto, para se consolidar como uma potência no novo milênio, o Brasil precisará investir em tecnologia limpa e renovável. Com os recursos do Pré-Sal, não faltarão condições para isso. Falta de investimento em ciência e tecnologia diminui competitividade Apesar de entrar na corrida industrial com bastante atraso, o Brasil é um dos países em desenvolvimento que mais cresceu e investiu em industrialização nos últimos 100 anos. No entanto, como grande parte da competitividade brasileira continua baseada no uso intensivo de recursos naturais e na baixa remuneração da mão-de-obra, estamos em grande desvantagem na criação de produtos e tecnologias inovadoras. O Brasil (com base em dados de 2004) investiu 25 movimento estudantil oorganizado no 51 congresso da une apenas 0,83% de seu Produto Interno Bruto em pesquisa e desenvolvimento. A China, que também é um país emergente no atual cenário internacional, investiu 2,64%. Pode parecer uma pequena diferença percentual, mas no longo prazo ela é definidora. E não é só o governo que investe pouco nessa área no Brasil. Apenas 40% do investimento total em ciência e tecnologia fica a cargo de empresas (e 35% deste valor é investido por estatais). avançar: Dos quatro mil pedidos de patentes na área de biotecnologia recebidos pelo Brasil entre 1995 e 1999, somente 3% foram apresentados por brasileiros. E mais: O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento coloca o Brasil em 43º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Tecnológico (que conta com apenas 72 países). No Brasil, há apenas duas patentes por milhões de habitantes. É por isso que o dinheiro do Pré-Sal tem que ter destinação certa. O Brasil não pode se dar ao luxo de deixar passar mais uma oportunidade para investir pesado em pesquisa, em ciência e em tecnologia. Se os recursos retirados do petróleo do Pré-Sal (descobertos com tecnologia brasileira) não forem aplicados no Para que o Brasil avance na direção do desenvolvimento sustentável e da competitividade no setor de tecnologia será preciso investir grandes somas de dinheiro em educação, pesquisa e tecnologia. A titularidade de patentes é um exemplo claro de quanto o Brasil precisa 26 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação desenvolvimento e avanço da tecnologia brasileira, nos veremos obrigados, nos próximos anos, a comprar tecnologias que poderíamos ter desenvolvido e de países que se preocuparam em melhorar sua matriz energética. Meio Ambiente Os grandes desafios com relação ao meio ambiente hoje, no Brasil, são a redução do desmatamento, a consecução de um modelo de desenvolvimento sustentável –englobando maior uso de recursos renováveis, uso reduzido de recursos não-renováveis e limitação da produção de rejeitos–, e o combate ao aquecimento global. A grande expectativa dos movimentos ligados à questão ambiental é enquadrar a economia a parâmetros aceitáveis de equilíbrio, de modo a poder reverter e contornar os problemas relativos ao uso indiscriminado dos recursos naturais e à grande exclusão social vigente no país. O desmatamento, no Brasil, corresponde a 75% de nossas emissões de gases de efeito estufa; no mundo, ele é causa de cerca de 30% das emissões anuais. O grande motivador do desmatamento no Brasil é a expansão da área agrícola, principalmente na Amazônia, considerada a grande fronteira agrícola brasileira. Reduzir o desmatamento, contudo, custa caro. É necessário orientar, fiscalizar, criar redes de proteção, entre outras atividades. Um exemplo de ação que vem sendo desenvolvida no Brasil para combater o desmatamento é o “Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal”, que criou cerca de 20 milhões de hectares em unidades de conservação e combateu a corrupção nos órgãos públicos. Com certeza, o uso dos recursos do Pré-Sal, que serão repassados para o Fundo Social, pode ser um grande aliado no combate ao desmatamento. Para se ter ideia do tanto que se pode avançar, um artigo produzido por um grupo de pesquisadores, em 2007, provou que preservar as florestas do mundo (e grande parte delas está no Brasi) pode reduzir em até 12% as emissões globais de gases de efeito estufa, contribuindo assim para a diminuição do aquecimento global. O século XXI será o século das energias limpas e renováveis. O Brasil precisará utilizar de todo a sua diversidade natural com respeito à matriz energética e o seu potencial para inovar nos recursos energéticos (como é um exemplo claro o programa Pró-Álcool) para poder se alçar ao posto de país desenvolvido. O Brasil é hoje o quarto maior emissor mundial de gases de efeito estufa, considerando-se o carbono liberado pelo desmatamento. É urgente que o país implemente medidas severas de controle do desmatamento, de desenvolvimento de novas tecnologias no campo das “energias verdes” e de adaptação e mitigação às mudanças climáticas. Mais uma vez, o petróleo do Pré-Sal e seus recursos, se bem utilizados, podem ser a porta de entrada para que o Brasil se torne uma potência verde, capaz de ascender ao nível de industrialização dos países mais desenvolvidos, mas sem poluir como poluem hoje esses países. A geografia e o clima do Brasil permitem e favorecem o uso de energias renováveis e limpas que, se bem utilizadas, possibilitarão a descentralização da geração de energia e a universalização do acesso à energia elétrica, permitindo que milhões de brasileiros sejam incluídos no nosso sistema elétrico. 27 UNE, UBES E ANPG em defesa do patrimonio brasileiro 50% Do fundo social do pré-sal para a educação! O país já havia atingido a auto-suficiência em petróleo, mas, agora, com os campos descobertos da camada pré-sal, poderemos entrar para o seleto grupo dos dez países com maiores reservas petrolíferas do mundo. Muitos ainda se questionam e perguntam o que, na verdade, move os jovens em sua luta política. O fato é que, de tempos em tempos, são colocados desafios para o movimento estudantil brasileiro. Move, a construção de um país livre. Move, alcançar a justiça social. Move, garantir ao povo os direitos de acesso à educação, saúde, cultura. Para quem não foge à luta, tudo isso são passos que os fazem caminhar rumo à construção de um país diferente, soberano, com desenvolvimento sustentável e distribuição de renda. Move, a vontade de mudar. Com o anúncio das riquezas descobertas em águas profundas da costa brasileira, a juventude estudantil brasileira, organizada e fortalecida em torno de suas entidades máximas de representação, UNE, UBES e ANPG, passou a lutar por mais uma bandeira: a criação do Fundo Social do Pré Sal e a defesa de que 50% dos seus recursos seja investido na Educação. Quando a UNE se engajou, há mais de 50 anos, na defesa do petróleo brasileiro, exigindo o seu monopólio estatal e a criação de uma empresa nacional para gerir tamanha riqueza, ela afrontou os setores conservadores da sociedade e os entreguistas de plantão, reafirmando o seu estatuto de fundação, sendo coerente com a defesa dos interesses do país. A UNE e o povo brasileiro saíram vitoriosos desta campanha com a criação, no dia 3 de outubro de 1953, da Petrobras, com um rígido monopólio estatal sobre o petróleo. Pela primeira vez o Brasil se vê diante da possibilidade de garantir, de forma democrática, a divisão entre o seu povo do patrimônio advindo da exploração do Petróleo em solo nacional. Desde que os recursos encontrados em solo brasileiro começaram a ser explorados comercialmente, com a chegada dos portugueses, em 1500, nunca houve a preocupação de distribuir as riquezas. Sabe-se que os recursos do Pré-sal são finitos. Irão se esgotar ao longo dos tempos. Por isso, está colocada a seriedade desta pungente luta para que os seus benefícios e investimentos sejam direcionados a diversas áreas sociais es- Desta luta fazem parte todos. Valeu a pena? Hoje, tanto na perspectiva de matrizes energéticas “limpas”, como o etanol e o biodiesel, quanto em relação à descoberta de novos campos de petróleo, o Brasil está na dianteira. 28 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação tratégicas, principalmente, a Educação, que é, sem dúvida, a política pública mais eficaz para superarmos anos de opressão e conquistarmos a justiça social plena. É papel dos estudantes, protagonistas dos principais acontecimentos que mudaram a cara do Brasil, sensibilizar a sociedade para a importância do Pré-Sal no projeto de desenvolvimento nacional. É preciso destacar o caráter de defesa da soberania nacional contido nesta nova campanha do movimento estudantil, com a exigência de um novo marco regulatório para o setor energético, que resgate o controle estatal do sistema nacional de petróleo. e para o pleno desenvolvimento da nação. Em defesa do país e do seu povo, a juventude exige também a retomada do exercício do monopólio estatal sobre a exploração do Petróleo, com controle estratégico sobre o ritmo da produção, dos estudos geológicos dos campos e a propriedade do óleo. Esta é a proposta das UNE, UBES e ANPG. Esta é a luta que vai tomar corpo por todo o território nacional a partir da mobilização do movimento estudantil. Campanha “O Petróleo tem que ser Nosso!” Na “Era Fernando Henrique Cardoso” (19952002), o mote neoliberal determinou a privatização de muitas empresas de setores estratégicos para o Estado Brasileiro, como mineração, siderurgia, telefonia, geração de energia elétrica, bancos estaduais, transportes, dentre outros. O modelo exploratório do Petróleo, entreguista e neoliberal determinado por FHC, com a lei federal 9.478/97, que mudou as regras para a exploração e entregou os recursos da nação para o capital privado, já não tem mais vez. O povo clama por um modelo em que suas demandas sejam atendidas, e não as das empresas transnacionais. É fundamental lembrarmos que a participação da União na Petrobras foi diminuída para apenas 39% das ações da empresa. Por uma nova lei do petróleo, retomada do monopólio e em defesa da Petrobrás pública e com compromisso social, os estudantes também estão em conjunto com os movimentos sociais brasileiros, levando às ruas a campanha “O Petróleo tem que ser Nosso!, em defesa de um recurso natural estratégico, que deve ficar sob controle público e sua renda revertida em investimentos sociais. Dessa forma, é imperativo que o Estado retome o capital acionário da Petrobrás, saindo da condição vergonhosa em que se encontra, na qual praticamente 60% de suas ações estão nas mãos da iniciativa privada, em especial do capital estrangeiro. Deve também constar desta mudança da lei do petróleo uma nova divisão da rendas advindas dos royalties e participação especial, garantindo, desta forma, uma redistribuição para todo o país que contribua para a diminuição das desigualdades regionais 29 FUNDO SOCIAL Uma vez aprovado o Fundo Social do Pré-Sal e o percentual de 50% para educação, o Brasil poderá vivenciar verdadeira revolução educacional, podendo alcançar a sua universalização em todos os níveis, com ensino público, gratuito e de qualidade. Este instrumento, além de garantir o investimento em áreas estratégicas, impedirá o dispêndio desta riqueza com o pagamento da dívida pública. Para o presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Ismael Cardoso, o Brasil precisa consolidar os avanços sociais como políticas de Estado e, também, ampliálos. “Os recursos do Pré-Sal devem servir para emancipar nosso povo. Para isso, o fator mais importante e estratégico é a educação. Este recurso deve estar, antes de tudo, garantido em lei e vinculado diretamente ao Ministério da Educação. Devemos investir fortemente no ensino médio e superior. Na universidade, o desafio é ampliar massivamente as vagas mantendo um bom padrão de investimento por aluno e, por último, este recurso devem servir para aumentar o salário dos professores”, defende. O presidente da Associação Nacional dos PósGraduandos, Hugo Valadares, explica que uma parte seja aplicada em ciência e tecnologia para inovação, formação de recursos humanos nas áreas estratégicas, além de uma distribuição que leve ao desenvolvimento de regiões afastadas, como o Norte e o centrooeste. “Entendemos que Ciência,Tecnologia e Informação são imprescindíveis para que o País se desenvolva e que isto se torne fator de melhoria da vida de seus habitantes. Vale lembrar que enquanto entidade de pós-graduandos, também lutamos para que a bolsa possa ser valorizada e que o número delas seja 30 ampliado ainda mais. Defendemos também que a pós-graduação seja um direito para os professores e que eles sejam devidamente valorizados quando optam por continuar sua formação, em todos os níveis e ensino”, explica. OS OUTROS PROJETOS DE LEI Além do Fundo Social, o Governo encaminhou ao Congresso Nacional outros três projetos. O primeiro (Projeto de Lei nº 2.502/07 e apensados PL´s 4.290/08, 4.565/08, 5.333/09, 5.334/09, 5.430/09, 5.621/09 e 5.938/09), estabelece que o modelo a ser utilizado na exploração do petróleo e gás será de partilha, e não de concessões, como estabeleceu FHC. Com isso, a União não apenas terá direito a mais recursos, como também poderá controlar com mais firmeza a exploração essas riquezas no país. Em seguida vem o Projeto de Lei nº 5.939/2009, que cria a empresa pública que ficará encarregada da gestão dos contratos de partilha de produção, chamada de PetroSal. Essa empresa ficará responsável por gerenciar o Pré-sal. Não deve ter mais de 150 funcionários, e fará a articulação entre as empresas privadas e a Petrobras, nos contratos de exploração por regime de partilha. Por último, o Projeto de Lei nº 5.941/2009 determina a cessão onerosa à Petrobras do exercício das atividades de pesquisa e lavra do petróleo e gás natural, assim como a capitalização da empresa estatal. Os recursos levantados serão utilizados na exploração do pré-sal. Esse PL é importante porque mantém nas mãos da Petrobras a possibilidade de outras descobertas na região do Pré-sal, ao invés de entregar essa “caça ao ouro negro” ao capital internacional. 50% do Fundo do Pré-Sal para a Educação 31 32