Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de
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Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de
Relatório Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Um Relatório da WaterAid Março, 2011 Elaborado por: Shamila Jansz Foto da capa: WaterAid/Richard Carter Este documento deve ser citado como Jansz S (2011) Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique, WaterAid. Este documento encontra-se na secção das publicações no website da WaterAid – www.wateraid.org/publications. Running head Conteúdo Sumário executivo ........................................................ 4 Secção 1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.1 Antecedentes e finalidade do estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.2 Análise bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.3 O sector da água de Moçambique no seu contexto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.4 WaterAid em Moçambique . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Secção 2 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.1 Metodologia do estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.2 A recolha de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.3 Problemas com as constatações do relatório . . . . . . 19 Secção 3 Constatações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3.1 Os desafios da gestão comunitária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3.2 Finanças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.3 Apoio externo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.4 Implementação da política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.5 Conclusão das constatações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Secção 4 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 4.1 A Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4.1.1 A Divulgação da Política da Água . . . . . . . . . . . . 31 4.1.2 Implementar os princípios de uma Abordagem de Resposta à Procura . . . . . . . . 31 4.1.3 Coordenação do Sector . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4.1.4 Uma planificação efectiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4.1.5 Definição dos custos de capital . . . . . . . . . . . . . . 33 4.1.6 A disponibilidade das peças sobressalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 1 Contents 2 4.2 Capacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.2.1 Melhor capacidade do governo nos níveis adequados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.2.2 Melhor capacidade dos parceiros (ONGs locais) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.2.3 Melhor capacidade do sector . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.2.4 Melhor trabalho do PEC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.3 Modelo de gestão comunitária incluindo comités da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.3.1 A capacidade dos comités da água . . . . . . . . 40 4.3.2 A formação e perfile dos comités da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.4 O apoio externo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.4.1 Constante apoio externo ao software. . . . . . 41 4.4.2 Constante apoio técnico externo . . . . . . . . . . . . 41 4.4.3 A importância do apoio externo ao software tanto como ao hardware . . . . . . . . . . 42 Secção 5 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 5.1 Recomendações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 5.2.1 A Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 5.2.2 A disponibilidade de peças sobressalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 5.2.3 Apoio externo ao hardware (técnico) . . . . . . 47 5.2.4 As Parcerias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 5.2.5 A Capacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 5.2.6 O PEC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 5.2.7 Reflectir e avaliar o trabalho da WaterAid Moçambique em relação à sustentabilidade do abastecimento de água rural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Anexo 1 Temas e subtemas usados como motivação durante as entrevistas semi-estruturadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Anexo 2 Calendário do trabalho de campo e lista dos entrevistados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Anexo 3 Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Contents Abreviações OCB Organização Comunitária de Base DSDPI Director dos Serviços Distritais de Planeamento e Infraestruturas DNA Direcção Nacional de Águas DPOPH Direcção Provincial de Obras Públicas e Habitação GAS Grupo de Água e Saneamento ONGIs Organizações Não Governamentais Internacionais ODMs Objectivos de Desenvolvimento do Milénio MIPAR Manual de Implementação de Projectos de Abastecimento de Água Rural (Moçambique) MoU Memorando de Entendimento MOPH Ministério de Obras Públicas e Habitação ONG Organização Não Governamental PA Política da Água (2007, Moçambique) PEC Programa de Educação Comunitária PMA Planificação, Monitoramento e Avaliação PNA Política Nacional da Água (1995, Moçambique) PRONASAR Programa Nacional de Saneamento e Água Rural (Moçambique) RWSN Rede de Abastecimento de Água Rural SDPI Serviços Distritais de Planeamento e Infraestruturas PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento VLOM Operação e Manutenção a nível da Aldeia Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 3 Contents Sumário executivo A visão da WaterAid é um mundo em que todas as pessoas tenham acesso a água segura e saneamento. A visão ecoa o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio 7 (MDG 7) cujo alvo é ‘reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável a água segura e saneamento básico até 2015’. O progresso registado em relação a este alvo está na direcção certa, porém as áreas rurais nos países em desenvolvimento no mundo inteiro continuam extremamente desfavorecidas, com oito pessoas em cada dez sem acesso a um abastecimento de água melhorado. O desafio colocado pela sustentabilidade do abastecimento de água rural é vastamente reconhecido, contudo ele está a prejudicar a realização deste alvo dos ODM e da missão da WaterAid. Por exemplo, apenas duas de três bombas manuais instaladas nos países em desenvolvimento estão a funcionar a qualquer dado momento (RWSN, 2010). Reconhecendo tais desafios e desejando assegurar que as instalações se mantenham a funcionar com o passar do tempo, a WaterAid Moçambique levou a cabo um estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique, em Agosto de 2010. A Província do Niassa foi escolhida como foco devido aos 15 anos de experiência da WaterAid na provisão de serviços de abastecimento de água rural na área. A sustentabilidade do abastecimento de água rural relaciona-se com o facto de estes serviços se manterem ou não com o passar do tempo (Carter, 2010) e é afectada por numerosos factores que vão desde a disponibilidade de peças sobressalentes aos modelos de gestão comunitária efectiva, às finanças para a operação e manutenção e ao apoio externo. Estes factores foram comparados com a Política Nacional da Água de Moçambique (2007) para se compreender como a questão da sustentabilidade se enquadra na política de água rural do país. A análise da literatura indica forte sobreposição e correspondência entre a política e os factores chave da sustentabilidade, o que por um lado realça a eficácia teórica da política, mas por outro questiona até que ponto ela foi posta em práctica. Para este estudo foi escolhida uma metodologia qualitativa de entrevistas semi-estruturadas com os interessados principais. Foram recolhidos dois tipos de informação com vista a obter uma imagem completa do suster dos serviços com o passar do tempo: as entrevistas realizadas com as comunidades e seus comités da água tiveram como objectivo compreender a realidade da manutenção das instalações na práctica; as entrevistas realizadas com os representantes do governo nos Departamentos Distritais dos Serviços de Planeamento e Infraestrutura, com os coordenadores das ONGs locais e pessoal da WaterAid a trabalhar na Província, tiveram em vista explorar os factores por eles considerados importantes para se atingir a sustentabilidade, baseado nas suas experiências de campo. Ao analisaremse estas duas correntes de informação em conjunto, ficaram evidentes os factores chave que influenciam a sustentabilidade do abastecimento de água rural na área. Os factores chave das constatações podem ser divididos em quatro áreas principais: política, capacidade, modelos de gestão comunitária e apoio externo. O caso do melhoramento da implementação da Política Nacional da Água é uma questão importante pois, apesar da sua natureza forte e efectiva, ficou claro que não tem sido aplicada de forma consistente. Outros factores importantes incluem a disseminação da política, a implementação de uma Abordagem de Resposta à Procura, a planificação eficaz, a coordenação do sector, a disponibilidade de peças sobressalentes e a claridade 4 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Sumário executivo sobre a definição dos custos de capital. Contudo, para que todos estes factores sejam implementados de forma eficaz, argumentaram, eles devem ser combinados com a forte e efectiva capacidade de todos os interessados envolvidos na provisão dos serviços de abastecimento de água rural. A capacidade dos parceiros (ONGs locais e governo local), definida como conhecimentos, competências, prácticas, recursos físicos e um melhor trabalho de educação comunitária (PEC), tem que ser melhorada. A implementação efectiva da política e a forte capacidade terão impacto nos modelos de gestão comunitários, incluindo a melhoria da capacidade e perfile dos comités de água. Estas constatações sublinham também que estes desenvolvimentos devem ser acompanhados por constante apoio externo de ‘harware’ e ‘software’, se se pretender que os serviços durem com o passar do tempo. Este estudo de investigação defende que todos estes factores aqui apresentados devem ser considerados em conjunto, como a soma das partes de uma solução para a sustentabilidade do abastecimento de água rural. A necessidade de se melhorar um factor em relação a outro irá variar segundo o contexto, porém, para se vencerem as dificuldades, nenhum dos factores deverá ser tratado isoladamente –todos eles deverão ser abordados colectivamente para se garantir que os serviços durem com o passar do tempo. Estas constatações são apresentadas num quadro conceptual que poderá ser utilizado por outros no sector WASH, como ponto de entrada para investigarem como superar os desafios da sustentabilidade do abastecimento de água rural nos seus respectivos programas e projectos. Para que os serviços continuem a servir os mais pobres do mundo com o passar do tempo, é fundamental que as abordagens seguidas e as medidas adoptadas para a provisão dos serviços de abastecimento de água rural sejam sustentáveis. Agradecimentos Esta pesquisa não teria sido possível sem a prioridade e a exigência da WaterAid Moçambique de compreender a razão porque os pontos de abastecimento de água falham no seu país. A subsequente decisão tomada por Rosária Mabica, Representante no País, e Artur Macavele de destacar Shamila Jansz da Unidade de Eficácia de Programas da WaterAid Londres, e o apoio e encorajamento de Jerry Adams (Chefe da Unidade de Eficácia de Programas) e John Kandulu (Chefe de Região da África Austral), são motivo de sincero agradecimento e particular reconhecimento por parte da investigadora. Esta pesquisa não teria sido possível sem o grande trabalho e apoio de Sandia Abuxahama, Oficial de Projectos da WaterAid Moçambique, PMA, cujos pontos de vista e percepção muito contribuíram para a definição deste projecto de pesquisa. Foi muito apreciado também o apoio e contribuição do pessoal da WaterAid no Niassa (Xavier Sitoe, Lázaro Cumbe, Samuel Sengou e Benício Baulo) e espero que esta pesquisa sirva de apoio para o melhoramento da sustentabilidade do abastecimento de água rural nos seus projectos. Sinceros agradecimentos às organizações parceiras da WaterAid, bem como aos representantes do governo a nível distrital e provincial, e obviamente às comunidades, por partilharem as suas experiências e valiosas ideias. Agradecimentos ainda a todo o pessoal da WaterAid em Moçambique pelas suas incomparáveis contribuições e apoio no decorrer deste projecto. Finalmente um grande obrigado a todo o pessoal de Londres, particularmente Richard Carter (Chefe da Unidade de Apoio Técnico), que ofereceu valiosos comentários e apoio desde o primeiro dia e até ao fim deste projecto de pesquisa. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 5 Executive summary Secção 1 Introdução 1.1 Antecedentes e finalidade do estudo Segundo o Relatório da Cimeira de 2010 sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), o progresso registado em relação ao alvo ODM 7, ‘reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável a água segura e saneamento básico até 2015’, está presentemente na direcção certa. Apesar disso, as áreas rurais em todo o mundo continuam a ser desfavorecidas, com oito pessoas em cada dez sem acesso a um abastecimento de água melhorado. Na África a sul do Saara, apenas 47% da população rural tem acesso a uma fonte de água melhorada. A missão da WaterAid é ultrapassar este fosso, para realizar a sua visão de um mundo em que todos tenham acesso a água segura e a saneamento. O desafio colocado pela sustentabilidade porém está a prejudicar o progresso do abastecimento de água rural. Calcula-se que apenas duas em três bombas manuais instaladas nos países em desenvolvimento estejam a funcionar a qualquer dado momento (Rural Water Supply Network, RWSN, 2010). Sem serviços que providenciem um abastecimento sustentável de água, o número de pessoas com acesso a um abastecimento de água melhorado diminuirá, e o sucesso do ODM 7 estará comprometido. A sustentabilidade do abastecimento de água rural diz respeito ao facto de estes serviços se manterem ou não com o passar do tempo (Carter, 2010), e depende de vários factores que vão desde a disponibilidade de peças sobressalentes a modelos eficazes de gestão comunitária, a finanças para operação e manutenção e a apoio externo. A sustentabilidade está comprometida quando um ou mais destes factores deixa de funcionar eficazmente, ou quando eles deixam até de existir. O reconhecer destes desafios, e a necessidade de os resolver para se realizar a missão da WaterAid, levaram a WaterAid Moçambique a decidir levar a cabo este estudo. De acordo com os dados oficiais de 20081, mais de metade da população rural de Moçambique ainda não tem acesso a água segura. A WaterAid tem mais de 15 anos de experiência na provisão de água rural em Moçambique e, dada esta riqueza de conhecimento, deu prioridade à questão da sustentabilidade na sua Estratégia para o País para garantir que os serviços prestados continuem a funcionar com o passar do tempo, o que continua a ser um desafio, dado que o número de pontos de abastecimento de água sem funcionar no país ronda os 20%. Tal compromete os esforços do governo e das agências de apoio para aumentar a cobertura através do aumento dos investimentos no sector, como o ilustra o gráfico que se segue. 6 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 1 – Introdução Nº total de pontos de abastecimento de água 2003-08 Gráfico 1: Funcionalidade dos pontos de abastecimento de água rural, 2003-2008 20,000 18,000 Total de pontos de abast. de água 16,000 14,000 Pontos de abast. de água sem funcionar 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000, 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Ano A finalidade deste estudo é portanto considerar os desafios acima mencionados e investigar os factores chave que afectam a sustentabilidade do abastecimento de água rural em Moçambique. Usando uma metodologia qualitativa para explorar a situação no campo em termos da experiência da comunidade de manter serviços, e ainda falando com os interessados envolvidos na provisão dos serviços (incluindo o governo, parceiros e pessoal da WaterAid), este estudo irá investigar os componentes necessários para resolver os desafios da sustentabilidade do abastecimento de água rural. Embora o estudo se concentre apenas nos projectos de abastecimento de água rural da WaterAid na província do Niassa, Moçambique, esperamos que as constatações contribuam para debates e discussões tanto dentro da WaterAid Moçambique, como da WaterAid em geral e, de forma mais vasta, no sector de água mundial. 1.2 Análise bibliográfica A sustentabilidade é um conceito ‘complexo e contestado’ (Pretty, 1995) e dela não se encontra uma só definição aceite na área do desenvolvimento. Contudo, a nível da WaterAid, foi adoptada a seguinte definição de Richard Carter (2011, p6) que parte da definição de Len Abrams (2000): ‘Sustentabilidade é se as instalações de água e saneamento e as boas práticas de higiene continuam a funcionar com o passar do tempo ou não. Não há prazos limite marcados para esses serviços contínuos nem para as mudanças de comportamento que os deve acompanhar. Por outras palavras, a sustentabilidade é a mudança benéfica permanente nos serviços de água e saneamento e nas práticas de higiene.’ Esta é a definição usada neste estudo, isto é, o sucesso da sustentabilidade envolve a mudança benéfica e duradoura nos serviços de água rural. A questão da sustentabilidade é assim alargada para além dos limites de um debate sobre funcionamento técnico, o termo ‘benéfico’ dá ênfase ao impacto na vida das pessoas e refere-se aos serviços, e não à tecnologia. Esta definição chama a atenção para a importância dos papéis e responsabilidades de todos os interessados envolvidos na provisão dos serviços. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 7 Secção 1 – Introdução Com o intuito de se compreender sustentabilidade, têm sido desenvolvidos numerosos quadros conceptuais. Uma importante conceptualização dividiu-a em cinco dimensões chave (Parry Jones et al, 2001 citando Well, 1998; Abrams, 1998; Mukherjee, 1998): institucional (organizacional), social, ambiental, técnica, financeira/económica. Estas dimensões são interdependentes e específicas ao contexto. Por isso é difícil conceptualizála, e talvez por isso haja tão poucos bons exemplos de sustentabilidade na prática (Carter et al, 2006). É cada vez mais reconhecido que o sucesso de serviços de água duradouros e sustentáveis está dependente da interligação de um número de factores, focados num sistema de operação e manutenção baseado na comunidade e apoiado externamente. Este sistema está representado no diagrama abaixo. Figura 1 Um quadro conceptual para os serviços de água sustentáveis (Carter, 2010) 3 Tecnologia serve a finalidade e foi escolhida por utentes 4 Utentes fazem contribuição para capital. 10 Sistemas de gestão e monitoramento 9 Sistema O&M baseado na comunidade, apoiado externamente a funcionar. • CA a funcionar • Receitas recolhidas e registadas • Tarefas de 5 Implementação de alta qualidade 6 Estrutura tarifária apropriada 7 Aspectos ambientais devidamente tratados 8 Sistema de monitoramento a funcionar 11 Assistência técnica ao CA e utentes conservação e manutenção são realizadas 12 Constante partilha de custos • Existem fortes ligações entre comunidade utente e organização de apoio • Monitoramento 13 Apoio a cadeias de fornecimento e provedores de serviços APOIO EXTERNO 1 Estabelecer a necessidade, a procura e o nível de serviços relevantes DESIGN & IMPLEMENTAÇÃO 2 Completa participação dos utentes ambiental 14 Em relação a questões externas Os 14 factores mencionados na lista acima são vitais para se conseguir uma gestão de serviços de água sustentável baseada na comunidade e apoiada externamente (Carter, 2011). Sem uma verdadeira manifestação de procura, a sustentabilidade dos serviços poderá estar comprometida (Carter, 2011). Segundo Parry-Jones et al (2001), se uma comunidade estiver satisfeita com a sua actual fonte de água, ela poderá não compreender a necessidade de ter outro ponto de abastecimento de água e, consequentemente, não contribuir o suficiente para a manutenção do serviço. Os utentes não darão prioridade e valor a um sistema que não satisfaça as suas necessidades. Esta pré-construção da mobilização e formação da comunidade (RWSN, 2009) nem sempre se realiza ou é muitas vezes de fraca qualidade. Envolver ou não os utentes nos projectos e programas irá afectar a sustentabilidade dos serviços de água. 8 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 1 – Introdução As finanças são o factor chave seguinte que afecta os serviços de água sustentáveis, custos de capital e os níveis tarifários adequados. Os custos de capital são essenciais para a participação comunitária, pois constituem um indicador do compromisso da comunidade com o projecto (Breslin, 2003). A par com este, devem ser estabelecidas as tarifas da água a nível adequado, baseadas na capacidade da comunidade de financiar a operação e manutenção. É muito frequente recolherem-se quantias insuficientes, o que reduz a esperança de vida das bombas manuais (Bauman, 2006). Todos estes aspectos usam a participação como meio de criar um sentimento de propriedade na comunidade (Parry-Jones et al, 2001) e manter um serviço de água com o passar do tempo. Estes aspectos de ‘software’, transmitidos através do trabalho de educação da comunidade (PEC) são imperativos para se assegurar que as comunidades compreendam os seus papéis e responsabilidades. No entanto, eles devem ser levados a cabo em conjunto e tão de perto quanto possível com os aspectos de ‘hardware’ (Parry-Jones et al, 2001), e ambos devem ser de alta qualidade. Para além disso, devem ter-se em conta questões de concepção (design) e implementação, tais como a qualidade da água, para garantir que as instalações tenham sustentabilidade ambiental. Subjacente a todos estes factores, deve fazer-se o monitoramento e a avaliação do próprio serviço, de modo a fornecer aos utentes e aos interessados que o apoiam a informação necessária para garantir a sustentabilidade dos serviços (Parry-Jones et al, 2001). O sector da água tem usado, e continua a usar, modelos de gestão comunitária como abordagem nos projectos de abastecimento de água rural. O modelo original – Operação e Manutenção ao Nível da Aldeia (VLOM) – foi o centro das intervenções de desenvolvimento nos anos 80 (Parry-Jones et al, 2001). De acordo com esta abordagem, as comunidades podem contribuir para a instalação da tecnologia, recolher tarifas para financiar a operação e manutenção, e gerir trabalhos de reparação (Harvey, 2004). A WaterAid ainda usa a VLOM em muitos dos seus programas de água rural, e aparece também no Manual de Implementação de Projectos de Água Rural (MIPAR, 2001). O manual afirma que os comités da água devem ser eleitos pelas comunidades e, por ex., recolher contribuições para a criação de um fundo para operação, manutenção, reparação e substituição, bem como organizar a sua gestão. Este modelo de gestão comunitária torna a comunidade responsável única da operação e manutenção. Ele não conseguiu, no entanto, atingir as taxas de sustentabilidade que se esperava (Harvey, 2005). Actualmente está a tornar-se cada vez mais aceite a necessidade de apoio externo às comunidades para operarem, manterem e susterem serviços duradouros permanentemente. A Rede de Abastecimento da Água Rural (RWSN, 2010) afirma que a crença que ‘as comunidades são sempre capazes de gerir as suas instalações por si próprias’ é um mito. A sustentabilidade deve levar as pessoas da ‘independência’ do uso de fontes de água contaminada para a ‘interdependência’ em que têm fontes melhoradas, mas necessitam colaborar com alguma forma de apoio externo (Carter, 2006). Uma condição crucial para a operação e manutenção efectiva das instalações de água é uma organização de apoio pró-activa e receptiva, capaz de oferecer apoio técnico e ‘software’ (Carter, 2009). Da mesma maneira, a RWSN (2009) afirma que a evidência mostra que os comités da água necessitam de apoio externo uma vez estabelecidos, de forma a mantê-los motivados, a reciclá-los e oferecer-lhes apoio técnico para as reparações, etc. Este apoio pode ser prestado de forma sensível e equilibrada por agências implementadoras, como ONGs locais, ao governo local. A Política da Água de Moçambique (2007) reconhece a necessidade deste apoio externo, por ex., ao declarar que os sistemas de operação, manutenção e gestão do abastecimento de água rural podem ser providenciados por agências separadas ou entidades privadas sob contracto. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 9 Secção 1 – Introdução Este apoio ao ‘hardware’ deve ser acompanhado por uma cadeia de peças sobressalentes que funcione bem, para que as comunidades possam executar as suas reparações (RWSN, 2009). As questões relacionadas com a disponibilidade de peças sobressalentes e respectivas cadeias de fornecimento são demasiadamente bem conhecidas através da literatura sobre sustentabilidade e são um dos principais desafios enfrentados (Harvey and Reed, 2004). Todos estes factores são vitais para se atingir a sustentabilidade nas instalações de abastecimento de água rural, mas é a interligação entre eles que poderá garantir que as instalações continuem a operar com o passar do tempo. Há três áreas principais de ligação que são fundamentais (Parry-Jones et al, 2001): Formação e capacitação de todos os interessados para desempenharem as suas tarefas tão efectivamente quanto possível. PEC: fluxo de informação através de, e entre os interessados, de forma a tomarem decisões informadas e agirem adequadamente para garantir a sustentabilidade. Cadeias de abastecimento: o fluxo dos recursos físicos tem que ser livre e flexível para satisfazer as necessidades de todos os interessados em qualquer momento. Este equilíbrio delicado de factores interligados requer o envolvimento de um número de interessados que trabalhem em conjunto. Das comunidades às organizações não governamentais internacionais (INGOs), organizações não governamentais locais (NGOs), governo a níveis diferentes e o sector privado, a sustentabilidade só será conseguida se todos os interessados tiverem capacidade e incentivo suficiente para desempenharem o seu papel (Harvey and Reed, 2004). Harvey and Reed (2004) sugerem também que, para que as instalações se tornem sustentáveis, as instituições do governo local e nacional são os mais importantes dos interessados, com um papel central na coordenação, e necessitam ter capacidade suficiente a todos os níveis para prestarem serviços. A literatura sobre sustentabilidade do abastecimento de água rural em Moçambique é limitada, porém, um documento importante, escrito por um anterior Representante de País da WaterAid em 2003, debateu a Abordagem da Resposta à Procura da Política Nacional de Água (1995) de Moçambique. Ele conclui que a WaterAid necessita investir no Estado para aplicar a política na prática, por a política oferecer vantagens consideráveis em relação às anteriores abordagens guiadas pela oferta. Embora ela afirme que pode resultar em serviços mais sustentáveis, é longe de perfeita, tanto a nível teórico como prático (Breslin, 2003). O apoio externo foi também apontado como essencial, dizendo que o governo deveria reconhecer que as comunidades não podem gerir sozinhas (Breslin, 2003). Isto era também evidente de uma parte de um programa na Província de Sofala, Moçambique (Fodge, 2001), onde foi documentado um modelo bem sucedido de apoio técnico externo. A gestão das bombas manuais foi delegada para mecânicos do distrito que eram formalmente regulamentados pelo governo local, chamando a atenção para a necessidade de o governo gerir tal apoio. Continuou a ser reforçada a necessidade de apoio e manutenção pós-construção, tendo a Unicef desenvolvido um modelo bem sucedido no Distrito do Guro, na Província de Manica, Moçambique (Godfrey, 2010). A questão das peças sobressalentes, no entanto, foi também mencionada pela Unicef, numa tentativa separada de desenvolver uma ferramenta para o monitoramento da sustentabilidade das instalações (Godfrey et al, 2009). A questão para o presente estudo é, qual dos factores e ligações acima mencionados são cruciais para resolver os desafios da sustentabilidade do abastecimento de água rural no campo em Moçambique. 10 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 1 – Introdução 1.3 O sector da água de Moçambique no seu contexto Moçambique está actualmente classificado em posição 172 entre 182 países, no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). De acordo com o Censo da População e Habitação (2007), a população é presentemente cerca de 22 milhões, e quase metade vive abaixo da linha da pobreza. O país está dividido em dez províncias, que estão por sua vez sub-divididas em distritos. O trabalho de campo para este estudo foi realizado na Província do Niassa, que fica localizada no noroeste do país e tem a densidade populacional mais baixa. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, a sua população em 2007 era 1,213,398 de pessoas, e é caracterizada por falta de infraestrutura, uma fraca economia agrícola baseada no dinheiro e por ser isolada, política e socialmente (Breslin, 2003). Em Moçambique, o Ministério das Obras Públicas e Habitação (MOPH) é o órgão do governo responsável pela gestão dos recursos hídricos. O desenvolvimento da política compete à Direcção Nacional de Águas (DNA) dentro do MOPH. A nível provincial, as Direcções Provinciais de Obras Públicas e Habitação (DPOPH) têm a responsabilidade das tarefas do sector de água, saneamento e higiene. Abaixo destas, a nível de distrito, ele é representado na Administração do Distrito pelos Serviços Distritais de Planeamento e Infraestruturas (SDPI) e pelo seu Director (DSDPI). A Política da Água moçambicana foi revista em 2007, devido à necessidade de cumprir com os ODMs e por se reconhecerem as insuficiências da anterior Política Nacional de Água (NB: é chamada a ‘Política da Água’ para a diferenciar da original ‘Política Nacional da Água’, elaborada em 1995, porém detém o mesmo estatuto político de uma política nacional). Nela está contido o Programa Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento Rural (PRONASAR, 2009) que reflecte a necessidade de melhorar a provisão dos serviços de água rurais: ‘Moçambique regista um atraso na realização dos ODMs em termos de abastecimento de água e saneamento rural e necessita de um esforço rápido e coordenado por parte do Governo, parceiros de desenvolvimento, ONGs e sector privado para ultrapassar esse atraso.’ A Política da água também incorpora o Manual de implementação de projectos de abastecimento de água rural (MIPAR, 2001). Este manual fornece orientações sobre os papéis e responsabilidades de todos os interessados envolvidos na implementação dos projectos de água rural, desde as comunidades aos órgãos centrais. A política e os seus respectivos regulamentos visam aumentar o acesso ao abastecimento de água sustentável para pelo menos 70% da população rural até ao ano 2015, em linha com as metas dos ODM. A sustentabilidade é claramente uma alta prioridade em todos estes documentos, tal como se pode ver na sua visão (Water Policy, 2007): ‘O futuro ambicionado em relação à água, é aquele em que a água esteja disponível em quantidade e qualidade adequada para as gerações presente e futura, servindo um desenvolvimento sustentável.’ Mais ainda, a intenção do PRONASAR é aumentar a sustentabilidade da cobertura do abastecimento de água e saneamento, e aumentar a qualidade dos serviços. Em todos estes documentos, é claro que a política nacional dá prioridade e reconhece os desafios de se manter os serviços de abastecimento de água rural, salientando factores que vão desde a falta de apoio pós-construção aos encarregados, à ausência de uma cadeia de fornecimento de peças sobressalentes eficaz (PRONASAR, 2009). Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 11 Secção 1 – Introdução O actual nível mínimo de serviço no abastecimento de água rural (NPRWSSP, 2009) é um poço ou furo equipado com uma bomba manual ‘Afridev’. Outros tipos de serviço incluem sistemas de recolha de água da chuva, protecção de nascentes de água, bombas de corda e pequenos sistemas reticulados de abastecimento de água. Em princípio, a Política da Água e seus respectivos regulamentos parecem ser altamente eficazes para se alcançar a sustentabilidade do abastecimento de água rural. Isto porque os principais componentes descritos como fundamentais no quadro conceptual acima (Figura 1, Carter 2011) estão obviamente nela contidos. Na Tabela abaixo, cada componente do quadro de Carter (2011) é apresentado a par com a sua correspondente referência na Política da Água e seus respectivos regulamentos. Tabela 1 Evidência de factores-chave identificados a partir do quadro conceptual de Carter (2011) no conteúdo da Política de Água de Moçambique e seus respectivos regulamentos Os principais componentes identificados no Quadro conceptual (Carter, 2011) Evidência de componentes na política nacional Referência Demanda • Governo continua a desenvolver sistemas para o Política da Água, 2007 abastecimento de água rural segundo o princípio da procura. • Implementação de uma Abordagem de Resposta à Procura através da participação dos utentes finais no processo de tomada de decisões. Completa participação dos utentes • Os beneficiários devem participar em todas as fases do • Governo reconhece o papel importante das mulheres na provisão do abastecimento de água, encorajando a sua participação activa em todas as fases do ciclo do projecto. 12 MIPAR, 2001 projecto de abastecimento de água como forma de garantir a sustentabilidade das infraestruturas. Tecnologia adequada à finalidade e escolhida pelos utentes • O tipo e o nível de serviço serão seleccionados de acordo Contribuição dos utentes • Os utentes devidamente organizados, contribuem para a Política da Água, 2007 MIPAR, 2001 com as condições naturais da área e de acordo com a capacidade dos beneficiários de pagar, gerir e manter o serviço. construção e reabilitação das fontes de água e garantem a cobrança de taxas que sejam suficientes, pelo menos, para cobrir os custos operacionais e manutenção. • As comunidades têm a competência para decidir sobre as modalidades das contribuições e formas de recolher essas contribuições. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Política da Água, 2007 MIPAR, 2001 Secção 1 – Introdução Os principais componentes identificados no Quadro conceptual (Carter, 2011) Evidência de componentes na política nacional Referência Implementação de alta qualidade • Uma vez concluídas as obras de construção e testada MIPAR, 2001 Estrutura tarifária adequada • A comunidade tem o direito de determinar os mecanismos MIPAR, 2001 a fonte de água pelo fiscal, a obra será entregue à comunidade na presença de representantes do distrito e da DPOPH. de cobrança da tarifa e decidir quem deve ser isento de pagamento, por ser incapaz de contribuir (órfãos, idosos e deficientes, etc) • A política tarifária da água será guiada pelos princípios de utilizador é que paga, poluidor paga, sustentabilidade, equidade, eficiência do uso da água, conservação ambiental, descentralização e gestão participativa. As taxas em áreas rurais e a sua recuperação, serão decididas de forma apropriada e adaptada às condições locais. Aspectos ambientais devidamente resolvidos • O objectivo principal é assegurar que o desenvolvimento Sistema de monitoramento em vigor • O registo dos sistemas de infraestrutura para Política da Água, 2007 Política da Água, 2007 e gestão dos recursos hídricos tenham completamente em conta a necessidade de preservação do meio ambiente com um abastecimento de água adequado, tanto em quantidade como qualidade, à sustentabilidade ambiental abastecimento de água rural é uma ferramenta essencial para a planificação e gestão e deve ser devidamente organizado e actualizado regularmente Política da Água, 2007 • As ferramentas de gestão do abastecimento de água rural MIPAR, 2001 incluirão os planos de actividade, relatórios do progresso, avaliações e sistemas de gestão de informação. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 13 Secção 1 – Introdução Os principais componentes identificados no Quadro conceptual (Carter, 2011) Evidência de componentes na política nacional Referência Sistema comunitário de operação e manutenção com apoio externo em vigor: comité de água a funcionar, as receitas recolhidas e registadas, tarefas de manutenção e reparos realizadas, fortes laços entre a comunidade de utentes e organizações de apoio no local, monitoramento ambiental • O órgão de gestão ao nível da comunidade é o comité MIPAR, 2001 Apoio externo: gestão e sistemas de monitoramento • A participação da comunidade pode ser incentivada Apoio externo: assistência técnica aos comités de água • A operação, manutenção e sistemas de gestão do da água, com as seguintes atribuições: Organizar a comunidade. Recolher e gerir os fundos a serem utilizados na operação e manutenção, reparo e substituição. Promover a limpeza da fonte de água. Executar manutenção de rotina da fonte de água. Reparar a bomba manual. Assegurar o uso correcto da fonte de água. Manter as autoridades distritais regularmente informadas da situação do abastecimento de água. abastecimento de água rural podem ser prestados por agências distintas, ou entidades privadas sob contrato, deixando às comunidades garantir o seu monitoramento. • Se os grupos de manutenção, por qualquer razão, não forem capazes de fazer reparações, a comunidade pode recorrer a mecânicos de bombas manuais para fazer o trabalho, contra o pagamento dos serviços. Quando as avarias forem complexas e não fôr possível encontrar soluções dentro dos recursos da comunidade, o comité da água deverá informar a administração do distrito sobre a situação. 14 MIPAR, 2001 através de conselhos técnicos prestados por empresas que trabalhem na área social e que, utilizando metodologias participativas, ajudem a comunidade na identificação dos problemas relacionados com o seu abastecimento de água, com o objetivo de solicitar fundos para os melhorar. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Política da Água, 2007 MIPAR, 2001 Secção 1 – Introdução Os principais componentes identificados no Quadro conceptual (Carter, 2011) Evidência de componentes na política nacional Referência Apoio externo: partilha de custos • Os custos de operação, manutenção, reparação MIPAR, 2001 Apoio às cadeias de fornecimento e prestadores de serviços • A DPOPH tem as seguintes atribuições: promover e substituição das infraestruturas serão totalmente pagos pela comunidade através das tarifas. MIPAR, 2001 e garantir a disponibilidade de bombas manuais, peças sobressalentes, etc. Encorajar o envolvimento do sector privado na preparação e apoio às comunidades, concepção, construção, inspecção, apoio à manutenção, fornecimento de peças sobressalentes, pesquisa e equipamento para a produção. Onde o sector privado não estiver interessado em envolver-se, deverão encontrar-se outras soluções adaptadas a cada região. • O fornecimento de bombas manuais e peças sobressalentes nas áreas rurais deve ser feito com o envolvimento de iniciativas locais, incluindo os comerciantes do sector privado e as organizações comunitárias. Política da Água, 2007 • O Governo encoraja a rede comercial de bombas e suas peças sobressalentes a nível provincial, distrital e local. Em relação a factores externos • Apesar da incerteza em volta da questão das mudanças climáticas, o quadro que emerge a partir da análise científica é que a mudança climática irá resultar no aumento da frequência e gravidade das inundações e secas, exigindo que Moçambique faça um plano compreensivo, para estar devidamente preparado para lidar com esses eventos extremos. Política da Água, 2007 As referências da Política da Água e respectiva regulamentação acima apresentadas não são exaustivas das semelhanças com o modelo conceptual apresentado na Figura um. No entanto, elas foram seleccionadas para demonstrar os fortes paralelos entre ambos. A partir daí, é evidente que a política é, teoricamente, eficaz para se alcançar a sustentabilidade do abastecimento de água rural, porém deve ser examinado até que ponto ela está sendo posta em prática. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 15 Secção 1 – Introdução 1.4 WaterAid em Moçambique WaterAid começou a trabalhar em Moçambique em 1995/6, na Província do Niassa, em resposta a um pedido do Departamento Nacional de Água Rural de apoiar os esforços do governo na província. Inicialmente, trabalhou em poços com o Departamento Provincial de Água e Saneamento (DAS) e empreiteiros do sector privado, e mais tarde com a sociedade civil, à medida que esta se desenvolveu. Actualmente, a WaterAid tem um escritório em Lichinga, a capital da Província do Niassa, com uma pequena equipa que inclui dois oficiais do projecto baseados no campo, e de onde gere projectos de abastecimento de água rural em sete distritos. A WaterAid opera através de uma relação tripartida com os governos locais a nível distrital, isto é, administrações distritais, que trabalham através dos seus respectivos SDPI para implementar aspectos de hardware através da contratação de serviços do sector privado e de ONG locais parceiras, que são responsáveis por aspectos de software, tais como o PEC, na maioria dos distritos da Província do Niassa. Apenas no Distrito de Sanga, onde não existem ONGs locais para trabalhar em software, o governo local assume esse papel, através de “activistas” ou voluntários de educação comunitária, recrutados localmente. Usam-se diferentes métodos para o PEC, incluindo, por exemplo, palestras, reuniões comunitárias, debates, ferramentas e técnicas participativas, mas não existe um manual de orientação geral para todos. A WaterAid Moçambique tem Memorandos de Entendimento (MoU) separados para o governo local e parceiros, mas não há MoUs entre eles. Isso pode complicar as funções e responsabilidades, pois o governo tem como mandato acompanhar o trabalho das ONGs locais baseado na Política da Água. Estes MoUs têm como finalidade definir os diferentes papéis e responsabilidades dos parceiros da WaterAid nos seus programas de trabalho, incluindo o governo local e os parceiros locais. Durante os 15 anos de experiência de serviço de abastecimento de água rural, o sucesso da WaterAid em Moçambique pode ser atribuído a uma série de factores. Por exemplo, as estreitas e eficazes relações de trabalho com o governo local a nível provincial, distrital e nacional têm conduzido, ao longo do tempo, a apoio às ONGs parceiras, para se desenvolverem como organizações parceiras fortes e capazes. A WaterAid Moçambique percebeu não só a importância de assegurar que estes factores chave continuem a existir, como está agora a pôr maior ênfase em garantir que esses serviços sejam sustentáveis com o passar do tempo. 16 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Section 2 – Methodology Secção 2 Metodologia 2.1 Metodologia do estudo Para este estudo, foi escolhida uma abordagem investigativa e qualitativa, devido à natureza complexa da sustentabilidade e ao desejo de explorar a experiência e as opiniões dos principais interessados envolvidos na provisão de serviços de água rural. Decidiu-se que seriam necessários dois tipos de dados. O primeiro seria sobre a realidade no terreno: a experiência da comunidade em suster as instalações de água rural com o passar do tempo. O segundo envolveria ideias das partes interessadas sobre os factores chave para a resolução dos desafios. As partes interessadas foram escolhidas incluindo o governo local, ONGs parceiras (local), e pessoal da WaterAid por causa de seu importante papel na provisão de serviços de abastecimento de água rural no país. O valor do presente estudo para a WaterAid Moçambique, dados os seus anos de experiência na provisão de serviços de abastecimento de água rural, juntamente com o princípio da WaterAid de ‘aprender sempre’, impeliu a um trabalho preparatório significativo. Isto incluiu uma visita de campo preliminar a projectos no Niassa, análise da planificação, monitoramento e relatórios de avaliação e workshops com o pessoal para garantir que o estudo se baseava em conhecimentos e experiências existentes, sem duplicar esforços. A partir daí, escolheuse uma metodologia de entrevistas semi-estruturadas para dar espaço suficiente a investigar a complexidade da sustentabilidade da água rural, indo bem a fundo sobre os principais factores que a afectam. Devido à natureza ampla da matéria, e com base na metodologia da WaterAid Madagáscar (2010), foram desenvolvidos seis temas e subtemas para servirem de motivação durante as entrevistas. Foram criados diferentes subtemas para cada parte interessada, com base nas suas diferentes funções e responsabilidades (ver Anexo um). Foi escolhida uma estratégia de amostragem orientada para acompanhar a metodologia qualitativa. Foram escolhidas amostras dos distritos onde a WaterAid trabalha, na Província do Niassa, por elas conterem as mais antigas intervenções da WaterAid. Supôs-se que estes projectos de abastecimento de água rural mais antigos teriam maior probabilidade de ter experiências de avarias, e seriam mais úteis ao projecto de pesquisa, pois reflectiriam a realidade da gestão de um ponto de água ao longo do tempo. Foi decidido visitar duas comunidades por distrito – uma com um ponto de abastecimento de água em funcionamento e outra sem – para obter uma compreensão clara da realidade no terreno e como oportunidade para aprender com experiências diferentes. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 17 Secção 2 – Metodologia 2.2 A recolha de dados A recolha de dados foi feita entre 20 de Outubro e 2 de Novembro de 2010, na Província do Niassa. Em cada um dos distritos fizeram-se entrevistas semi-estruturadas com: Duas comunidades (incluindo membros da comunidade; homens e mulheres e representantes dos comités da água). O Director dos Serviços de Planeamento e Infraestruturas a nível do distrito (DSDPI). O Coordenador da organização parceira local (ONG local). Pessoal da WaterAid a trabalhar na Província. O itinerário completo e os nomes dos entrevistados encontram-se no Anexo dois. As tecnologias principais encontradas nas comunidades foram a bomba manual Afridev com um furo ou poço (baseado no padrão nacional da Política da Água) e várias bombas de corda. As comunidades visitadas, bem como os pormenores das suas respectivas tecnologias, encontram-se na seguinte Tabela: Tabela 2 Comunidades visitadas e informação sobre os seus pontos de abastecimento de água 18 Distrito Comunidade Maua Mora Paulo Maua Ano de construção Tipo de tecnologia A funcionar ou sem funcionar 2001 Bomba de corda A funcionar Bairro 2 2001 Afridev A funcionar Nipepe Tamica 2007 Afridev A funcionar Nipepe Muichi 2007 Afridev Sem funcionar Metarica Mahassa 2008 Afridev A funcionar Metarica Cuvir 2008 Afridev Sem funcionar Mecanhelas Nampamtamanja 2008 Afridev A funcionar Mecanhelas Maunda 2009 Afridev A funcionar Mandimba Mepapa 2006 Afridev A funcionar Mandimba Mpuina 2004 Bomba de corda Sem funcionar Sanga Nangenhege 2007 Afridev e bomba de corda Sem funcionar (ambas) Sanga Impresa Agricola 2007 Afridev A funcionar Lichinga Mapaco 2009 Afridev A funcionar Lichinga Kulongo 2005 Afridev Sem funcionar Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 2 – Metodologia 2.3 Problemas com as constatações do relatório Apesar de terem sido feitos todos os esforços para garantir que a pesquisa fosse realizada da forma mais eficaz possível, enfrentaram-se as seguintes dificuldades: As intervenções não eram tão antigas quanto se esperava devido a reabilitações feitas pelo governo. No entanto, como isso reflecte a realidade no terreno, os resultados ainda são válidos na medida em que reflectem a verdade da manutenção das instalações rurais. A limitação do tempo disponível para a pesquisa fez com que as entrevistas com as comunidades se realizassem com membros da comunidade e comités de água simultaneamente. Um claro desafio anotado no Niassa foi a dificuldade de conseguir que as mulheres expressassem as suas ideias e opiniões na presença dos homens. Isto devese a questões culturais que determinam que as mulheres não têm permissão para falar com pessoas de fora da comunidade na ausência de homens. Se tivesse havido mais tempo disponível, homens e mulheres poderiam ter sido entrevistados separadamente para superar esse problema. Por razões práticas, não foi possível entrevistar o DPOPH no Distrito de Mecanhelas nem o Coordenador da Estamos em Lichinga. No entanto, como todas as outras entrevistas foram realizadas com êxito, considerou-se que os resultados não seriam influenciados pela omissão destas duas pessoas. As alianças políticas e o relacionamento entre doadores e parceiros da WaterAid, incluindo o governo local, podem ter tido impacto sobre o que foi dito durante as entrevistas. A abordagem qualitativa e a metodologia de entrevista semi-estruturada tiveram em vista superar este desafio, oferecendo espaço suficiente para os entrevistados se sentirem à vontade e responderem livremente. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 19 Section 3 – Findings Secção 3 Constatações A partir da evidência obtida nas narrativas das comunidades sobre a sustentação dos seus abastecimentos de água, juntamente com as discussões com o governo, parceiros e pessoal da WaterAid (entrevistados), foram identificados os seguintes factores, como a chave para superar os desafios da sustentabilidade do abastecimento de água rural, nas quatro principais áreas de gestão comunitária, financiamento, apoio externo e implementação da política. 3.1 Os desafios da gestão comunitária Todas as comunidades visitadas tinham comités de água. Contudo, e apesar de terem conhecimento das suas responsabilidades, a forma como estas eram postas em prática era muito variada, devido a inconsistências na capacidade e habilidade. Vários dos comités trabalhavam bem, graças a grande motivação para garantir que o serviço se mantivesse constantemente a funcionar. Isto devia-se ao reconhecimento e à prioridade dados aos benefícios para a saúde resultantes de uma fonte de água melhorada. Por exemplo, um dos comités tinha angariado fundos e reparado o ponto de abastecimento de água ele próprio, por terem a capacidade técnica suficiente. No entanto, em muitos outros comités, o único membro que havia sido treinado tecnicamente havia partido, e os outros não tinham poupanças mensais para a operação e manutenção. Estas inconsistências eram ainda exacerbadas pela falta de confiança e de comunicação entre os comités da água e as comunidades, especialmente em questões de finanças. Quando se perguntava sobre a existência de poupanças ou sobre a frequência com que contribuíam, a maioria dos entrevistados nas comunidades entravam em longos e agitados debates com os seus respectivos comités da água. Noutros casos, as comunidades lamentavam-se de os seus comités da água recolherem dinheiro para a compra de peças sobressalentes, porém não os informarem de quanto haviam gasto na realidade. Para além disso, vários dos pontos de abastecimento de água tinham poças de água estagnada nos seus canais de drenagem, o que indicava que os comités de água não estavam a cumprir a sua tarefa de os limparem. De tudo isto ficou claro que as competências e práticas dos comités de água para manterem as instalações com o passar do tempo eram inconsistentes nas comunidades visitadas. Esta evidência põe em causa até que ponto os comités da água têm as competências certas para efectivamente levarem a cabo as suas funções e responsabilidades. Os entrevistados sugeriram que uma maneira de ajudar seria melhorar a capacidade dos comités de água. Outras ideias incluíram garantir que os conceitos e princípios da sustentabilidade fossem detalhadamente explicados aos comités da água, por ex., através do PEC, bem como as suas funções e responsabilidades para manter as instalações com o passar do tempo. 20 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 3 – Dado que a evidência indica que os comités de água não estão necessariamente a aplicar as lições ensinadas pelas organizações parceiras através do seu PEC, ela questiona a capacidade e abordagens dos parceiros para educarem eficazmente as comunidades. Os entrevistados sublinharam também a necessidade de melhorar a capacidade dos parceiros – referindo-se às ONGs locais. As questões levantadas referiram-se inicialmente à capacidade física das organizações parceiras, isto é, se têm um número suficiente de Activistas para apoiarem o corrente PEC em todas as comunidades? Em segundo lugar, os entrevistados questionaram o próprio conhecimento, entendimento e competência das organizações parceiras – se de facto têm capacidade suficiente e eficaz para levarem a cabo as suas funções e responsabilidade e assegurarem que as comunidades sejam educadas para manterem as instalações com o passar do tempo? Em terceiro lugar, os parceiros necessitam de usar uma abordagem mais flexível no seu trabalho com as comunidades. Isto é importante dadas as diferenças nos modelos de gestão encontrados nas comunidades, por ex., onde o membro da comunidade que é tecnicamente capaz partiu e não foi substituído, e onde outros conseguem com sucesso recolher os fundos para adquirirem as peças sobressalentes e repararem os pontos de abastecimento de água. Por fim, os entrevistados questionaram o futuro das organizações parceiras. Se a WaterAid partir, como sabemos que eles continuarão a existir? Ao resolver estes aspectos e melhorar a capacidade dos parceiros, resolver-se-ia também a necessidade de melhorar o seu PEC. Os entrevistados declararam que a própria visão da educação da comunidade precisa ser adaptada e desenvolvida para incorporar os princípios e mensagens da sustentabilidade. Isto para garantir que as comunidades e os seus respectivos comités da água compreendam e implementem completamente as suas funções e responsabilidades numa visão de longo prazo, que é manter os seus pontos de abastecimento de água com o passar do tempo. Aliado a isto, e para assegurar a sustentabilidade do conhecimento, competências e práticas da comunidade, a educação comunitária deveria ter um padrão mínimo de supervisão comunitária. Foi sugerido que se usasse uma abordagem semelhante à da testagem da qualidade da água, por exemplo, que é feita duas vezes por ano, e assim as experiências e capacidade das comunidades seriam monitoradas quase permanentemente através da educação comunitária. Estes aspectos todos em conjunto iriam melhorar a capacidade dos comités da água, isto é, o modelo da gestão comunitária. Ao compreenderem profundamente o seu papel em relação à sustentabilidade, iriam perceber a importância das suas funções para a manutenção das instalações com o passar do tempo. Para além disso, os comités da água poderiam ser educados sobre as vantagens e desvantagens de trabalharem de uma certa maneira para atingirem a sustentabilidade. Os entrevistados também sentiam que, a par com a compreensão das razões porque necessitam recolher fundos para operação e manutenção, as suas capacidades técnicas necessitavam ser reforçadas. Sobre a motivação para manter o ponto de abastecimento de água “Se houver um problema com o ponto de abastecimento de água, nós resolvemo-lo. Se houver um problema, nós sabemos que precisamos de dinheiro para o reparar, porque não queremos estar na posição de não o poder reparar.” (Membro da comunidade, Bairro 2, Distrito de Maúa) “Estou muito preocupado com o nível de compreensão da comunidade do que devem fazer para manterem o seu ponto de abastecimento de água. As comunidades não compreendem o conceito de sustentabilidade.” (representante do Governo) Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 21 Secção 3 – Sobre as questões de confiança e comunicação entre as comunidades e os comités da água “Nós escolhemos o comité da água com a Adecco (organização parceira) no início, então escolhemos seis pessoas. Mas agora não confiamos que o comité da água tem o coração das pessoas.” (Membro da comunidade de Mahassa, Metarica) “Nós não aceitamos a mensagem do comité da água para contribuir porque pensamos que o dinheiro que contribuímos para os custos capitais foi usado por uma mulher do comité da água para comprar capulanas.” (Membro da comunidade, Mahassa, Metarica) “É difícil contribuir quando o ponto de abastecimento de água está avariado, devido à desconfiança entre as comunidades e será mais fácil contribuir quando estiver avariado.” (Membro da comunidade, Mepapa, Mandimba) “Nós havíamos de contribuir se o comité da água pedisse, mas o comité da água nunca veio a nossa casa pedir dinheiro, mas se viesse, nós havíamos de contribuir.” (Membro da comunidade, Mpuina, Mandimba) Sobre as abordagens para trabalhar com os comités da água “Precisamos de repensar as mensagens dos comités da água, não só para a limpeza, como muitas comunidades disseram. Eles estão lá para mobilizar as pessoas, eles não são os criados da comunidade.” (Pessoal da WaterAid) “Os comités da água têm que existir, mas o problema é como é que eles são formados , isto é, como é que são criados? Eles precisam compreender muito bem o seu papel. A maneira como o comité da água é escolhido antes de ser treinado é muito importante, devemos explicar o papel do comité à comunidade, isto é sem salário, para que os membros da comunidade se possam voluntariar, e não serem escolhidos por outros membros da comunidade ou chefes, por exemplo. Assim o comité trabalhará pelo seu próprio desejo de trabalhar. Temos que os ajudar a compreender a sustentabilidade e o papel deles nessa sustentabilidade.” (Pessoal do parceiro) “Talvez tenhamos que mudar a nossa abordagem em relação aos comités da água, não deixar apenas que a comunidade escolha – temos que os ajudar a pensar e escolher as pessoas mais efectivas, mostrar-lhes experiências de sucessos e fracassos.” (Pessoal do parceiro) “As mulheres têm um maior papel em termos de água, são as mulheres que usam o ponto de abastecimento de água, mas há uma contradição, os homens controlam o dinheiro e as mulheres ficam para trás. As mulheres têm maior compreensão do ponto de abastecimento de água, mas de momento os homens têm mais controle, as mulheres poderiam ser mais transparentes e trabalhar melhor.” (Pessoal do parceiro) Sobre a necessidade de melhorar o trabalho de educação comunitária 22 “É um erro pensar que podemos simplesmente instalar um ponto de abastecimento de água e que a comunidade irá tomar conta dele.” (Pessoal do parceiro) “A WaterAid e seus parceiros devem examinar constantemente o contexto em que trabalham.” (Pessoal da WaterAid) Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 3 – Sobre as ideias para melhorar o trabalho de educação comunitária “Precisamos ter um nível mínimo de fiscalização das comunidades. A WaterAid realiza testagem da qualidade da água duas vezes por ano – monitorando a qualidade da água – portanto os parceiros poderiam fazer isso – os parceiros têm que dar assistência aos comités da água e comunidades durante dois anos pelo menos.” (Pessoal da WaterAid) “A educação da comunidade não pode ser uma actividade ou resposta de emergência, mas tem que mudar o comportamento das pessoas. Temos que investir o nosso dinheiro na educação da comunidade continuamente.” (Pessoal da WaterAid) “Precisamos envolver as comunidades no processo completo do projecto. Por exemplo, eles deveriam escolher as tecnologias. A educação da comunidade deveria ser quase permanente. O problema é quando um projecto termina ou quando uma ONG parte e tudo pára. Não devemos assumir que se instalamos pontos de abastecimento de água e trabalhamos com as comunidades isso é suficiente.” (Pessoal do parceiro) “Precisamos melhorar a educação da comunidade para ter uma visão maior, que inclua a sustentabilidade.” (Representante do Governo) Sobre o trabalho das organizações parceiras “Os activistas têm que estar muito claros sobre os seus papéis nas comunidades – dar apoio e mostrar às comunidades o que elas devem fazer e verificar com o comité da água e as comunidades que tudo esteja bem e a funcionar.” (Pessoal da WaterAid) “A WaterAid não tem a função de implementar, por isso temos que definir uma estratégia clara de criação de capacidade nos parceiros para assim assegurar a sustentabilidade das fontes.” (Pessoal da WaterAid) “Temos que encontrar soluções e mecanismos que tornem estas organizações independentes e sustentáveis quando a WaterAid partir.” (Representante do Governo) 3.2 Finanças Em todas as comunidades visitadas era evidente que a questão dos fundos compromete a sustentabilidade do abastecimento de água rural. A maioria das comunidades não tinha quaisquer poupanças, nem recolhia contribuições mensais para operação e manutenção. Quase todas viviam de financiamento reactivo (Harvey and Reed, 2004), em que só contribuíam quando o ponto de abastecimento de água se avariava. Todas as comunidades que tinham tido avarias no serviço tinham conseguido angariar fundos suficientes para reparar o ponto de abastecimento de água. Os entrevistados porém questionaram se este método de financiamento seria capaz de manter um ponto de abastecimento de água com o passar do tempo. A falta de poupança mensal estava muitas vezes relacionada com a falta de confiança entre as comunidades e os comités de água e ainda com a falta de prioridade em ter uma fonte de água melhorada versus outras necessidades da família. Apenas um pequeno número de comunidades havia recolhido as contribuições regularmente, e isto era anual e não mensalmente, e porque estavam notavelmente mais motivados para assegurar que o serviço funcionasse de forma constante. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 23 Secção 3 – Esta falta de fundos para operação e manutenção tornou-se ainda mais complicada devido à confusão sobre a definição e finalidade dos custos capitais. Algumas comunidades sentiram que, como tinham pago estes custos, não deveriam ter que pagar mais pela operação e manutenção, pois não perceberam a diferença. Noutros casos, os parceiros tinham levado os fundos sem qualquer explicação, ou o governo local tinha os usado para pagar o sector privado pelos serviços de construção. Em várias comunidades deu-se a invulgar situação de um indivíduo ter pago todos os custos capitais ocorridos, e as comunidades terem que os pagar de volta sem saberem exactamente quanto estavam a dever. Todas estas experiências confundiram a vontade da comunidade de contribuir regularmente, isto é, numa base mensal, para a operação e manutenção dos pontos de abastecimento de água. Para se ultrapassar esta questão, foi proposto que se definisse com clareza e transparência o que são os custos capitais e a sua finalidade. A questão dos fundos em si não foi levantada pelos entrevistados como factor chave afectando a sustentabilidade do abastecimento de água rural, mas fica aqui mencionado pois era claramente importante, porque embora as comunidades tenham sido capazes de pagar pelas reparações quando necessário, vários dos entrevistados questionaram se isto poderia manter um ponto de abastecimento de água com o passar do tempo. Mais ainda, os entrevistados declararam também que as comunidades têm de facto dinheiro; o desafio é que elas nem sempre dão prioridade a terem um abastecimento de água melhorado. Tal poderia ser resolvido melhorando o PEC e pela capacidade dos parceiros de melhorarem a compreensão que a comunidade tem do seu papel e responsabilidades na manutenção das instalações com o passar do tempo, bem como da importância de um abastecimento de água melhorado. Sobre os desafios nas comunidades em relação ao financiamento “Nós não queremos poupar dinheiro mensalmente porque, se o dermos a uma pessoa ele poderá gastá-lo em bebida” (Membro da comunidade, Tamica, Nipepe) “Nós não compreendemos a contribuição mensal, mas se o ponto de abastecimento de água se avariar, nós conseguimos contribuir. Temos dinheiro disponível.” (Membro da comunidade, Tamica, Nipepe) “O comité da água nunca nos disse quando dinheiro nós temos, eles só guardam o dinheiro.” (Membro da comunidade, Bairro 2, Maúa) “Eu tenho uma lista das pessoas que contribuíram e eu escrevo os nomes das pessoas quando elas contribuem. Não há nenhuma contribuição regular, as pessoas só dão o que podem.” (Membro do comité da água, Mapaco, Lichinga) Sobre a confusão do uso e da finalidade dos custos de capital 24 “Nós pagámos 1000 meticais para custos de capital, portanto isto deveria cobrir os custos de reparar o ponto de abastecimento de água.” (Membro da comunidade, Cuvir, Metarica) “Os custos de capital têm a ver com o chefe da comunidade e este dinheiro é para manutenção.” (Membro da comunidade, Maunda, Mecanhelas) “Os custos de capital são para garantir a sustentabilidade dum ponto de abastecimento de água mas temos que esclarecer a definição e assegurar que todos vão aderir a eles.” (Representante do Governo) “Parceiros ou governos deveriam recolher este dinheiro (custos de capital) das comunidades, pois ele dá-lhes valor e sentimento de propriedade, e depois uma associação poderia usar este dinheiro para comprar peças sobressalentes e vendê-las de volta.” (Pessoal da WaterAid) Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 3 – 3.3 Apoio externo A necessidade de apoio técnico externo às comunidades, incluindo peças sobressalentes, foi sugerida na discussão e é evidente a partir das experiências das comunidades. A capacidade técnica das comunidades variava significativamente. Nalgumas comunidades, eles tinham sido incapazes de reparar os seus pontos de abastecimento de água porque, por exemplo, as pessoas com capacidade técnica haviam deixado a comunidade, ou estavam à espera de apoio técnico do governo ou de ONGs parceiras locais para fazer as reparações mais complicadas. Noutras comunidades, certos comités de água tinham reparado com êxito os pontos de abastecimento de água usando a sua própria capacidade técnica. Em vários casos, estas dificuldades foram agravadas pela falta de peças sobressalentes para executar as reparações. Uma comunidade muito perto da sede do distrito tinha conseguido obter peças dos SDPI. Outros usaram peças sobressalentes do kit inicial recebido após a construção de um ponto de abastecimento de água. Embora a maioria das comunidades soubesse onde as comprar, por exemplo, nas principais cidades da província de Niassa, como Lichinga e Cuamba, não há peças sobressalentes imediatamente disponíveis em cada distrito. Mesmo aqueles que tinham conseguido obter peças sublinharam as dificuldades com as grandes distâncias no Niassa, afectando a procura e compra de peças sobressalentes. Por exemplo, são 548 km do distrito de Nipepe a Lichinga, a capital do Niassa, o local mais próximo para obter peças sobressalentes (Breslin, 2003). Devido a estas distâncias, eles precisam também de dinheiro para alimentação e hospedagem por uma noite. Apenas uma comunidade conhecia o custo das peças de sobressalentes, porque tinham uma lista de preços. Para se resolverem estas questões, chamou-se a atenção para dois factores. O primeiro foi a necessidade de apoio técnico (hardware) externo através de um distrito ou mecânico local. Houve porém questões a respeito do nível desse mecânico, isto é, se seria do nível distrital para trabalhar junto com o governo distrital, ou se teria a sua base nas actuais estruturas políticas locais. Esses mecânicos seriam responsáveis por prestar apoio às comunidades com reparações que elas não fossem capazes de fazer e as comunidades por sua vez, pagarlhes-iam. Eles iriam trabalhar em estreita colaboração com os comités de água para garantir o sentimento de propriedade do ponto de abastecimento de água por parte da comunidade e, através dos comités de água, as comunidades poderiam gerar fundos suficientes para pagar as reparações necessárias. Dependendo do seu nível de responsabilidade, o mecânico poderia trabalhar em estreita colaboração com o governo local e ser monitorado por eles. O segundo factor importante foi a necessidade de acesso a peças sobressalentes. Tem que existir uma cadeia de fornecimento externa para garantir a disponibilidade de peças sobressalentes em todo o país e, finalmente, para se obter um serviço duradouro. Alguns dos entrevistados propuseram a ideia de uma Organização Comunitária de Base (OCB) ou de um indivíduo contratado pelo governo venderem peças sobressalentes, e uma organização parceira afirmou ainda que eles poderiam vender peças sobressalentes. No entanto, quase todos se queixaram que já foram tentadas tantas abordagens diferentes e fracassaram, por ex., o sector privado, e que o governo deve agora tomar iniciativa e assumir a responsabilidade. Relacionado com isto, foram levantadas questões a respeito de quem iria distribuir, e quem tem a responsabilidade de distribuir peças sobressalentes? Quase todos os representantes do governo disseram que não têm financiamento para peças sobressalentes, mas que poderiam experimentar uma abordagem se a WaterAid disponibilizasse o financiamento. Foi sugerida a necessidade de aprender com os métodos de distribuição de outros sectores, como o sector da saúde e a sua distribuição de medicamentos. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 25 Secção 3 – Sobre ideias para apoio técnico externo “Não é possível nem realístico esperar que a comunidade sozinha seja capaz de manter o ponto de abastecimento de água. Temos que pensar modelos novos.” (Pessoal da WaterAid) “Poderíamos dar-lhes (representantes nas localidades a nível das comunidades) a responsabilidade de monitorar a situação da água em conjunto com o seu monitoramento mensal. Eles não teriam que ser pagos, uma vez que já recebem um salário. Talvez pudessem receber uma motorizada e a gasolina como apoio, e davam às comunidades o apoio técnico e orientavam-nas para saberem onde encontrar sobressalentes.” (Local Representante do Governo) Evidência a favor do mecânico de nível distrital No Distrito de Sanga havia um mecânico distrital que trabalhou em estreita colaboração com o governo local a nível distrital, isto é, com o Director dos Serviços Distritais de Planificação e Infraestruturas (DSDPI). O director do SDPI treinou-o tecnicamente e trabalharam juntos durante mais de cinco anos, fornecendo apoio técnico às comunidades, executando reparações; ele também treina e dá apoio a comités da água. Como resultado do seu trabalho, eles têm muito poucos problemas com o abastecimento de água rural em termos de desafios técnicos. As comunidades conhecem-no bem e contactam-no directamente para ajuda, ou através do SDPI, e sabem que têm que pagar o seu transporte e o custo das peças sobressalentes. Ele tem bom contacto com as comunidades e é bem respeitado. Ele tem muito boa relação de trabalho com o governo e por isso o governo monitora o seu trabalho. O problema, que ele mesmo declarou, foi que o seu trabalho é voluntário e não recebe um salário, e por isso não tinha a certeza quanto tempo iria continuar a fazê-lo. Para garantir a sustentabilidade de seu próprio trabalho, ele gostaria de se registar como associação, para poder receber um salário e continuar a trabalhar no futuro. Sobre o desafio da disponibilidade das peças sobressalentes e da responsabilidade do governo 26 “Nós temos uma lista dos preços das peças sobressalentes e então quando há avarias, nós, o comité, olhamos a lista e pedimos o dinheiro à comunidade, depois arranjarmos a peça e mostramos o recibo à comunidade.” (Mepapa, Mandimba) “Não há peças sobressalentes e não há nenhum lugar para as comprar. É muito caro para a comunidade ir daqui (Distrito de Sanga) a Lichinga para comprar peças, por ser longe e o transporte ser caro. Não há solução, já pedimos peças sobressalentes muitas vezes ao governo (Direcção Nacional de Água) e eles não querem dar-nos orçamento nenhum, porque dizem que não têm dinheiro.” (Representante do Governo) “A responsabilidade das peças sobressalentes é do governo. O governo devia poupar o dinheiro desperdiçado em reparar pontos de abastecimento de água para melhorar a situação das peças sobressalentes. Se o sector privado não vender peças sobressalentes, a WaterAid deve pôr pressão no governo. O papel da WaterAid: advogar pela situação no campo, encontrar a solução para as peças sobressalentes e pressionar o governo para encontrar soluções.” (Representante do Governo) “A WaterAid podia trabalhar com o governo num distrito para financiar um projecto piloto de peças sobressalentes, em vez de um furo no próximo ano. O dinheiro reservado podia ser usado para financiar um indivíduo que trabalhasse junto com o governo distrital, para obter uma quantidade de peças para começar, e as vender às comunidades, e usar o lucro para comprar mais. A pessoa teria que aceitar que não vai trabalhar para o lucro e teria que ser monitorada pelo governo.” (Pessoal da WaterAid) Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 3 – 3.4 “Nós tentámos tantas abordagens diferentes – a questão chave é de quem é a responsabilidade? Comprimidos e remédios são tão fáceis de obter. O sector precisa de avançar e pensar seriamente sobre as peças sobressalentes, e ser mais parecido com outros sectores, por ex., a saúde e a distribuição de medicamentos, etc – o que podemos aprender de outros sectores?” (Representante do Governo) Implementação da política O factor crucial para melhorar a sustentabilidade, mencionado por todos os entrevistados (governo, parceiros e pessoal da WaterAid), foi a necessidade de a WaterAid, através da advocacia e criação da capacidade, melhorar a capacidade operacional e a implementação da Política da Água e seus respectivos regulamentos. Os entrevistados afirmaram que, na teoria, ela é uma política muito boa, que incorpora os princípios chave necessários para se conseguir uma sustentabilidade efectiva do abastecimento de água rural. No entanto, não está a ser respeitada e implementada em todas as áreas do governo. Vários entrevistados do governo admitiram não saber os actuais níveis de efectividade nos seus distritos, e muito menos o número total de pontos de abastecimento de água. Isto sugere que o necessário monitoramento do abastecimento de água rural não está sendo feito de forma a garantir a sustentabilidade através da reparação e reabilitação. Além disso, muitos questionaram se o governo tem as necessárias competências, conhecimentos e entendimento a todos os níveis para pôr a política em prática. Também foram levantadas questões sobre a coordenação do sector e a falta de planificação conjunta. A WaterAid já tem uma boa e estreita relação de trabalho com o governo distrital e provincial no Niassa, bem como a nível nacional. Foi sugerido que a WaterAid deveria aproveitar isso e reflectir sobre a sua própria experiência de sucesso no trabalho com o governo nos últimos 15 anos, para o encorajar a aderir à Política da Água e seus respectivos regulamentos. Por exemplo, para garantir que o seu plano seja baseado na necessidade, isto é, uma planificação guiada pela procura, e também para melhorar a compreensão do governo das questões em torno da sustentabilidade do abastecimento de água rural. Tudo isso poderia ser possível, foi sugerido, pela WaterAid se desenvolvesse uma estratégia clara e simples para trabalhar com o governo a diferentes níveis e localidades em Moçambique. Sobre o conhecimento, a compreensão, a prática e a capacidade do governo “Nós temos uma política nacional muito boa, o problema é que não tem sido disseminada como deve ser, por isso as pessoas nos diferentes níveis não conhecem as suas funções e responsabilidades.” (Representante do Governo) “O desafio é que, quando os SDPI iniciam um novo projecto, eles não consideram a água como uma infraestrutura diferente das outras, eles tratam a água da mesma maneira que construir uma estrada. Eles não compreendem a água tão profundamente como compreendem a construção de estradas. O desafio do trabalho com os projectos de água é que eles demoram muito tempo, e o governo não tem tempo, então como se pode garantir a sustentabilidade dos projectos?” (Pessoal do parceiro) Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 27 Secção 3 – “Os SDPI às vezes não sabem o número exacto de pontos de abastecimento de água a funcionar, sem funcionar, que existem, ou avariados. Isto é um problema que afecta a planificação. O Governo tem que se responsabilizar por saber quantos pontos de abastecimento de água estão nos seus distritos, quais estão a funcionar, quais precisam reabilitação e desta maneira eles poderiam até poupar dinheiro. Eles têm que fazer isto e incorporar isto na sua planificação e a WaterAid podia apoiá-lo no início. No entanto, para assegurar a sustentabilidade, eles precisam de pegar nisto eles próprios.” (Pessoal da WaterAid) “Temos que pensar na capacidade, e quem está nos SDPI? A WaterAid devia estar preocupada com os Recursos Humanos e a capacidade nos distritos, ver quais são os problemas a nível distrital e trabalhar com eles.” (Representante do Governo) Sobre a coordenação do sector “Há muitas maneiras diferentes de um ponto de abastecimento de água aparecer numa comunidade: governo, WaterAid, outro programa, etc, por isso, nalguns casos ninguém é responsável por tomar conta do ponto de abastecimento de água e desafios, uma vez avariado, falta o sentimento de propriedade e procura.” (Pessoal do parceiro) “Às vezes, quando há uma campanha política, pode haver um desafio em que o governo irá pôr um ponto de abastecimento de água e a comunidade pergunta quanto e os políticos dizem que é de graça, ou têm que pagar uma pequena quantia, por isso nalguns casos as comunidades não contribuem, o que pode resultar em falta de sentimento de propriedade e de motivação para tomar conta do ponto de abastecimento de água.” (Pessoal do parceiro) “Há um desafio com pessoas diferentes a trabalhar nos projectos num distrito, que usam princípios diferentes, e que não sabem que há outros que já estão lá a trabalhar. O governo tem a responsabilidade de coordenar o sector para evitar estes problemas. Mas o desafio é que eles não estão a cumprir o seu papel e há falta de coordenação.” (Pessoal do parceiro) “Temos que definir claramente o papel de cada interessado (governo, WaterAid, OCBs, comunidades) porque muitas vezes o governo só vê os projectos de água em termos de ONGs.” (Pessoal da WaterAid) 3.5 Conclusão das constatações Todos os entrevistados afirmaram que, para melhorar a sustentabilidade do abastecimento de água rural, todos os factores acima devem ser tratadas com igual importância e têm que ser tratados simultaneamente. Trabalhar num factor isolado não irá resultar em serviços sustentáveis. As inconsistências e variações observadas dentro das comunidades, as questões levantadas nas discussões e as dúvidas sobre a capacidade dos interessados provam a necessidade de trabalhar em todos os componentes. Dada ainda a complexidade da sustentabilidade, tão evidente na análise da literatura, somente através da interligação de todos esses factores, e de os pôr em prática em conjunto, será possível ultrapassar os desafios da sustentabilidade do abastecimento de água rural. A discussão que se segue define como e porque esses factores devem ser implementadas num esforço conjunto para atingir serviços duradouros com o passar do tempo. 28 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Section 4 – Discussion Secção 4 Discussão A partir de discussões com as partes interessadas, ficou muito claro que a sustentabilidade dos serviços de água rural só será alcançada através da implementação e interligação de todos os factores acima mencionados. Não há um factor único em particular que possa superar os desafios, será necessário trabalhar em todas as áreas identificadas nas constatações. A questão é, como e porque devem esses componentes encaixar-se em conjunto, para melhorar a sustentabilidade do abastecimento de água rural? Isso está representado no diagrama abaixo e é explorado nesta discussão. Figura 2 Modelo conceitual para mostrar como os vários factores chave identificados no estudo se encaixam para ultrapassar os desafios da sustentabilidade do abastecimento de água rural Política Capacidade Modelo de Gestão da Comunidade Apoio Externo Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 29 Secção 4 – Discussão Como foi discutido anteriormente, os factores chave apresentados nas constatações podem ser divididos em quatro áreas principais: Política Capacidade Modelos de gestão comunitária incluindo os comités da água Apoio externo O modelo conceptual acima representa a forma como essas quatro áreas se encaixam para alcançar a sustentabilidade do abastecimento de água rural. A Implementação da Política e a capacidade operacional situam-se no círculo externo do modelo, pois criam o enquadramento para a sustentabilidade do abastecimento de água rural num país. Isto é possível através dos quadros institucionais, leis, orçamentos e quadros regulamentares. A sua importância foi sublinhada pelos entrevistados neste estudo (governo local, parceiros – ONGs locais, pessoal da WaterAid). Dentro desta área da política, são abordados outros factores chave, incluindo a divulgação da política e de todos os seus regulamentos, a implementação de uma Abordagem de Resposta à Procura, a coordenação do sector, a planificação eficaz, peças sobressalentes e definição dos custos de capital. A Capacidade forma o primeiro círculo interior do modelo, pois a sustentabilidade do abastecimento de água rural exige uma capacidade efectiva de todas as partes interessadas envolvidas na prestação de serviços . A Política define as necessárias funções e responsabilidades de todas as partes interessadas envolvidas. Por sua vez, eficazmente implementada, a política e a capacidade operacional adaptam e informam a necessária capacidade das partes interessadas, incluindo o governo, os parceiros e ONGs em todo o sector, para a implementação de uma melhor sustentabilidade do abastecimento de água rural. A capacidade trata questões de conhecimento, entendimento e competências do governo, a capacidade dos parceiros e a eficácia do PEC. Quando combinadas, estas áreas de política e capacidade eficazes irão estruturar, formar e possibilitar fortes modelos de gestão comunitária, tais como comités de água, que estão localizados no centro do modelo, e abrangem a capacidade dos comités de água. No entanto, a julgar das constatações e evidência na análise da literatura, esses modelos de gestão comunitária precisam de apoio externo constante. Isso é representado no centro do modelo também, porque, com o passar do tempo, ele será exigido pela eficácia do modelo de gestão da comunidade, e será possibilitado pelas obrigações estabelecidas na política e pela capacidade das partes interessadas. Estas inter-ligações explicam como e porque estes componentes chaves devem trabalhar juntos para se atingir um abastecimento de água rural sustentável, e são discutidos em maior detalhe abaixo. 4.1 A Política A partir das constatações, é evidente que a melhor aplicação da Política da Água e dos seus respectivos regulamentos é um aspecto central para a resolução das questões de sustentabilidade do abastecimento de água rural. Como política fundamental que molda e possibilita a provisão duradoura de água rural em Moçambique, baseada nas suas leis e obrigações, ela situa-se no círculo exterior no modelo conceptual (Figura dois). Só quando ela estiver clara e eficazmente em operação, e incorporada na prática de todos os interessados, é que será alcançada a sustentabilidade das instalações de água rural. Os entrevistados neste estudo questionaram até que ponto ela foi posta em prática até ao momento. Até agora, devido a variações nas abordagens e da capacidade do governo, a Política da Água não tem sido aplicada efectivamente, como é evidente das entrevistas. Em certos casos, o governo carece de uma profunda compreensão das complexidades de manter um 30 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 4 – Discussão fornecimento de água rural, conforme se viu na sua comparação entre a água rural e as estradas, por exemplo (ver secção 3.4). Breslin (2003) sugeriu que a anterior Política Nacional da Água de Moçambique estava longe de ser perfeita, tanto a nível prático como teórico. Esta inadequação foi resolvida pelo governo nacional e resultou na nova Política da Água em 2007. Contudo, a nova política continua a salientar questões tais como a capacidade do sector que precisa ser expandida para melhorar os serviços que presta. A nova Estratégia para o País da WaterAid Moçambique (2010) também determina a necessidade da melhoria contínua da capacidade geral da administração do distrito em planificação, implementação e monitoramento das actividades de água e saneamento. Tais críticas em conjunto reforçam a questão da capacidade institucional e das abordagens que afectam a implementação eficaz da política e, consequentemente, a sustentabilidade do abastecimento de água rural. 4.1.1 A Divulgação da Política da Água Com base nas discussões, um primeiro passo proposto seria a WaterAid apoiar o governo na ampla disseminação da Política da Água e respectivos regulamentos para todos os interessados envolvidos em projectos de abastecimento de água rural. Isso envolveria todos os níveis do governo, desde os administradores distritais às localidades, às comunidade e todos os outros interessados envolvidos. Tornar a Política da Água operacional, facilitaria isto, pois como afirma o MIPAR (2001), a administração do distrito tem a responsabilidade de disseminar a política no distrito e nas comunidades. Sem o conhecimento das directrizes e regras nacionais, as partes interessadas que trabalham no abastecimento de água rural não têm conhecimento das suas obrigações, o que pode significar que o seu trabalho não assegure a sustentabilidade dos serviços. A WaterAid deve advogar para que o governo divulgue amplamente a política junto das partes interessadas e, devido à actual forma de trabalhar em Moçambique, com ênfase no nível distrital. 4.1.2 Implementar os princípios de uma Abordagem de Resposta à Procura O princípio da procura é uma abordagem chave na Política da Água. Isto significa que as comunidades devem exigir a sua vontade de terem serviços de água e que o governo deve responder. No entanto, os entrevistados declararam que esta era uma área chave em que a Política da Água nem sempre foi posta em prática. Por exemplo, os entrevistados disseram que, durante as campanhas políticas, os políticos podem construir instalações gratuitas, sem o necessário trabalho comunitário e educativo, de modo que as comunidades não estão equipadas para manter os serviços, e ainda menos sustentá-los. Nas comunidades visitadas havia variações claras em termos de procura real dos serviços. Várias pessoas afirmaram que o ponto de abastecimento de água pertencia ao governo, e por isso eles deveriam repará-lo. Noutras, as pessoas eram muito motivados para manter o seu ponto de abastecimento de água e tinham de facto eles próprios exigido o serviço do governo. Um factor chave que afecta a sustentabilidade dos pontos de abastecimento de Água é a maneira como eles aparecem numa comunidade. Para que se trate de verdadeira procura de um melhor do serviço, a participação dos beneficiários é fundamental na obtenção do ponto de abastecimento de água, para ultrapassarem os desafios de gestão no futuro (Carter, 2011). Como se pode ver na Tabela um, a Política da Água dá grande ênfase a esta questão e declara, por exemplo, que o envolvimento das comunidades em todo o processo de fornecimento e abastecimento de água rural determina a sustentabilidade das infraestruturas (MIPAR, 2001). Uma outra questão levantada por um entrevistado foi que as comunidades podem não conhecer o seu direito de exigir, e nesse caso o governo tem a responsabilidade de assegurar, criar e fortalecer a procura. Aliado a isso, é importante notar que, em certos casos, o governo não espera que haja procura para executar serviços, por exemplo, onde as comunidades tenham uma elevada prevalência de diarreia e cólera. No entanto, a importância da procura na sustentabilidade do abastecimento de água rural reforça a necessidade de melhorar a aplicação de uma abordagem de resposta à procura. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 31 Secção 4 – Discussão A WaterAid tem que trabalhar em estreita colaboração com o governo para que ele compreenda a importância da procura para manter projectos, como especifica a Política da Água. A WaterAid poderia usar exemplos de gestão comunitária de sucesso com base na procura por parte da comunidade, para demonstrar e trabalhar com o governo e garantir que eles estejam criando e reforçando a procura por parte dos utentes, de abastecimentos de água que estejam perto, sejam fiáveis e de alta qualidade, (Carter, 2009). 4.1.3 Coordenação do Sector A coordenação do sector também foi considerada um componente chave para a operacionalidade da Política da Água. Foram citados casos em que diferentes ONGs tinham trabalhado com as mesmas comunidades, usando diferentes princípios nos seus projectos. Num dos casos, uma ONG exigia uma contribuição pelo serviço, mas outras não. Como resultado, a sustentabilidade do projecto original sofreu, porque as comunidades já não queriam contribuir, apesar de o terem feito anteriormente durante anos. Mesmo no governo a nível distrital, foi dado um exemplo em que os administradores tinham concordado com um projecto para fornecer serviços de água, sem informar os SDPI. Como resultado, o projecto sofreu sem o necessário PEC. O governo tem a responsabilidade de facilitar e coordenar as actividades entre os interessados nas suas respectivas áreas, bem como comunicar entre si e os seus próprios departamentos. Parry-Jones et al (2001) sugerem que a limitada cooperação e confiança entre as diferentes camadas do governo afectam não só a prestação de serviços dos diferentes interessados e o apoio à manutenção, como também a sustentabilidade das instalações a longo prazo. Através de actividades de advocacia, a WaterAid pode apoiar o governo para conseguir um sector coordenado. Existem vários fóruns com o objectivo de melhorar a coordenação do sector de água em Moçambique. Por exemplo, o Grupo de Trabalho de Água e Saneamento (GAS), criado pelo governo e doadores para harmonizar a implementação e melhorar a coordenação das iniciativas. Um método útil na prática, em algumas partes de Moçambique e outros programas de país da WaterAid, é a Abordagem Sectorial para melhorar a a coordenação entre os actores nos projectos de água. Usando fóruns existentes, tais como estes e outros nos distritos e a outros níveis relevantes do governo em que a WaterAid já participe, a WaterAid poderia encorajar um maior ênfase no reforço da coordenação do sector sobre o tema da sustentabilidade do abastecimento de água rural. 4.1.4 Uma planificação efectiva Como mencionado acima, os entrevistados salientaram que o governo nem sempre planifica com base na procura por parte da comunidade. Pelo contrário, eles são motivados pela necessidade de gastar os orçamentos, e assim implementam sem que exista um sentido de procura real. Além disso, vários representantes do Governo (DSDPI) admitiram que não sabiam quantos ponto de abastecimento de água existiam em total nas suas localidades e quais estavam em funcionamento. Isto tem impacto na prestação de um serviço duradouro de água rural; os pontos de abastecimento de água não podem ser instalados e reparados se o governo não souber o número total de pontos de abastecimento de água, a sua localização e quantos deles estão avariados. A Política da Água afirma que o registo dos sistemas de infraestrutura para o abastecimento de água rural é uma ferramenta essencial para a planificação e gestão e deve ser devidamente organizado e actualizado regularmente. O monitoramento e necessário acompanhamento dos pontos de abastecimento de água por meio de tais sistemas é fundamental para garantir a sua sustentabilidade, pois somente através de controle é que as pessoas responsáveis pela reparação dos pontos de abastecimento de água sabem que precisam tomar medidas para reparação das instalações. 32 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 4 – Discussão O trabalho de mapeamento da WaterAid em Moçambique tem aqui relevância. A WaterAid foi solicitada pelo Governo Provincial do Niassa (DPOPH) para apoiar um exercício piloto de mapeamento no Distrito de Sanga, em 2004. Este estudo teve como objectivo fazer um levantamento das infraestruturas existentes para melhorar as taxas de cobertura e a planificação através da criação de um modelo de base de dados para planificar, monitorar e avaliar as instalações a nível de distrito e, posteriormente, a nível provincial. Na continuação deste estudo piloto foram mapeados os outros seis distritos onde a WaterAid trabalha, e ainda outros dois na Província da Zambézia. O sucesso desta actividade contribuiu para a criação do Sistema Nacional de Gestão da Informação do Sector da Água (SINAS) em 2006, com o objectivo de harmonizar os dados nacionais. Porém, a evidência aqui encontrada, de falta de conhecimento por parte do governo do número total de pontos de abastecimento de água, põe em causa se esses mapas ou ferramentas de monitoramento estão sendo utilizados e são actualizados regularmente. A falha em o fazer pode ser atribuída à falta de capacidade dos funcionários do governo ou à complexidade da tecnologia. A WaterAid terá que trabalhar mais estreitamente com o governo para resolver estas questões, e usar a experiência que tem, tanto de mapeamento como de advocacia, para apoiar o uso desses sistemas e melhorar a planificação e o monitoramento. A planificação conjunta e a harmonização de dados irão melhorar a sustentabilidade. 4.1.5 Definição dos custos de capital A falta de clareza e transparência sobre os custos de capital é outra razão pela qual a Política da Água deve ser efectivamente implementada. A julgar das constatações deste relatório, as comunidades não sabem claramente a finalidade dos custos de capital. O Governo e os parceiros também usavam os custos de capital de maneiras diferentes. Esta confusão significa que certas comunidades não estiveram dispostas a contribuir com fundos para reparar os pontos de abastecimento de água, em certos casos deixando-os num estado de abandono, assim afectando a sua sustentabilidade. Os custos de capital estão definidos no MIPAR (2001), bem como na Política da Água, da seguinte maneira: ‘Os utentes, devidamente organizados, contribuem para a construção e reabilitação de fontes de água e garantem a cobrança de taxas que sejam suficientes pelo menos para cobrir os custos operacionais e de manutenção. O valor da contribuição inicial da comunidade para o financiamento da construção de novos poços e furos, será fixado no mínimo de 2% e máximo de 5% do custo médio do ponto de abastecimento de água. No caso da reabilitação, os valores serão de 2% e 10% respectivamente.’ Esta definição deve ser respeitada e claramente explicada às comunidades pelos interessados, para que elas compreendam porque estão contribuindo. O Governo tem a responsabilidade de assegurar que todos os interessados estejam a cumprir o padrão nacional. A finalidade dos custos de capital, de acordo com Deverill et al (2002, em Harvey e Reed, 2004), é dar um sentimento de propriedade, mostrar a procura e demonstrar a capacidade das comunidades para organizar e recolher os pagamentos, sem os quais a sustentabilidade das instalações rurais será afectada. Por isso a WaterAid deve apoiar a implementação efectiva da Política da Água, a fim de evitar confusão no seio das comunidades, e as mensagens contraditórias. A study into rural water supply sustainability in Niassa province, Mozambique (August, 2010) 33 Secção 4 – Discussão 4.1.6 A disponibilidade das peças sobressalentes O desafio da disponibilidade de peças sobressalentes foi mencionado por todos os entrevistados. É outro bom exemplo de que a Política da Água não foi posta em prática de forma eficaz. A evidência nas comunidades revelou que as peças sobressalentes não estavam facilmente disponíveis a nível distrital, apesar de as comunidades saberem onde as comprar. Poucas comunidades as tinham obtido com êxito, e queixaram-se sobre os desafios de viajar longas distâncias (por ex., 500 km) para as obter e sobre as despesas incorridas com o alojamento para a noite e a alimentação, bem como o custo das peças, se as conseguirem encontrar. A questão das peças sobressalentes é bem conhecida em toda a literatura da sustentabilidade. Como observado na análise da literatura, a qualidade, disponibilidade e distribuição de peças sobressalentes não é devidamente tratada no contexto dos quadros dos projectos (Parry-Jones et al, 2001). A Política da Água também reconhece este desafio e afirma que o governo incentiva a criação de uma rede de comercialização de bombas e suas peças sobressalentes a nível distrital, provincial e local. A nível de distrito, por ex., a administração do distrito deve fazer um censo do estoque e da utilização de peças sobressalentes para garantir a operação e a manutenção dos pontos de abastecimento de água existentes (MIPAR, 2001). O desafio da disponibilidade de peças sobressalentes deveria ser resolvido através da efectiva implementação e operação da Política da Água, porém a evidência, como se mostra acima, põe em causa até que ponto essa está realmente a acontecer. A WaterAid deveria usar a sua actual forma de trabalhar no Niassa, através de administrações municipais, para trabalhar com o governo, incluindo o SDPI, sobre a questão das peças sobressalentes. É preciso dar o exemplo através de projectos piloto e, com base na sua estreita relação de trabalho com o governo do distrito e a sua experiência piloto, desenvolver modelos inovadores e adequados para que as peças sobressalentes se tornem disponíveis a nível distrital. No entanto, todos os Representantes do Governo entrevistados declararam não disporem de fundos suficientes para explorar novas abordagens e resolver o dilema das peças sobressalentes. Uma rápida vitória para convencer o governo dessa necessidade seria um modelo que mostrasse que as peças sobressalentes lhes poderiam poupar o dinheiro das caras reabilitações. A implementação da Política da Água poderia ser usada como ponto de entrada para trabalhar com o governo e incentivá-lo a encontrar modelos rentáveis, e portanto reduzir o número de pontos de abastecimento de água sem funcionar, por as peças sobressalentes se terem tornado fácil e prontamente disponíveis nos distritos. Para abordar esta complexa questão, muitos dos entrevistados sublinharam a necessidade de aprender com os sucessos de distribuição de outros sectores. O sector da saúde foi destacado, por os medicamentos estarem tão facilmente disponíveis em todo o país. O que pode o sector de água rural aprender com os seus métodos de distribuição, para os aplicar às peças de reposição? Os comprovados benefícios para a saúde de um melhor abastecimento de água (Carter et al, 2010) tornam ainda mais lógico trabalhar mais estreitamente com o sector de saúde. A WaterAid poderia aproveitar as suas boas ligações com departamentos governamentais como a Direcção Nacional de Águas (DNA) para colocar isso em prática. Desenvolvendo esta ideia, a WaterAid poderia trabalhar em estreita colaboração com os departamentos governamentais relevantes e pilotar a ligação entre a disponibilidade de peças sobressalentes com a distribuição de medicamentos, por exemplo, partilhando cadeias de distribuição. 34 A study into rural water supply sustainability in Niassa province, Mozambique (August, 2010) Secção 4 – Discussão 4.2 Capacidade Para que a Política da Água se torne operacional é imperativo que todos os interessados trabalhando em programas de abastecimento de água rural tenham capacidade suficiente para dar o seu melhor. Baseado nas discussões apresentadas neste estudo e no quadro de sustentabilidade da WaterAid (2011), capacidade refere-se a capacidade física, recursos materiais, a par com conhecimento, entendimento e competências. Esta capacidade deveria possibilitar aos interessados exercer na prática as suas variadas funções e responsabilidades, tal como especifica a Política da Água (2007), para permitir que os modelos de gestão comunitários funcionem eficazmente. Só então, quando todos os serviços cumprirem os mesmos princípios e obrigações, com uma capacidade eficaz, será possível atingir a sustentabilidade. Esta é a razão porque, no modelo conceptual apresentado anteriormente (Figura dois), a capacidade aparece dentro da política. A Política decide o que os interessados devem fazer, e dessa forma molda a capacidade dos interessados, tais como o governo e os parceiros. Dependendo da suas diferentes experiências, os seus respectivos papéis, responsabilidades e capacidade irão variar e requerer diferente tipo de apoio da WaterAid. 4.2.1 Melhor capacidade do governo nos níveis adequados Nas constatações do relatório, o conhecimento, o entendimento e a prática do governo foram todos eles apontados como críticos para melhorar a capacidade do governo para alcançar a sustentabilidade. Também foi evidente a necessidade de desafiar a percepção e entendimento dos governos sobre água rural e sustentabilidade. Os entrevistados explicaram que houvera mal-entendidos comuns em termos da complexidade da manutenção do abastecimento de água rural a nível de governo. Por exemplo, o abastecimento de água rural foi frequentemente equacionado com a construção de estradas; instalação sem consulta à comunidade, e manutenção conforme necessário. Para maior complicação, os SDPI tem falta de tempo para fazer o seu trabalho em todas as infraestruturas públicas, incluindo a água. No entanto, certos Representantes do Governo, com considerável experiência de trabalho em projectos de água rural, demonstraram um conhecimento e compreensão altamente eficaz sobre sustentabilidade. A própria Política da Água reconhece essas inconsistências e afirma que a capacidade do sector precisa ser aumentada para melhorar e ampliar o âmbito dos serviços que presta. Parry-Jones et al (2001) afirmam que na maioria dos países Africanos, os responsáveis pela prestação de serviços e apoio à manutenção têm poucos recursos e demonstram falta de capacidade. Para desenvolver capacidade em qualquer destas áreas, a WaterAid terá que usar uma abordagem flexível e tomar em conta as diferenças de entendimento e prática que existem entre os representantes do Governo. Dado que a WaterAid trabalha actualmente como parceira do governo local a nível de distrito, o ênfase poderá ser aí colocado. A WaterAid tem um papel na educação dos representantes do Governo a todos os níveis, desde a administração local a ministros nacionais, com vista a compreenderem o conceito de sustentabilidade do abastecimento de água rural. A WaterAid pode aproveitar a actual relação de trabalho com o governo para analisar uma variedade de áreas, incluindo: Melhorar a compreensão geral dos princípios da sustentabilidade do abastecimento de água. Recursos humanos: apoiar o governo para empregar pessoas com conhecimentos suficientes e experiência de trabalho com água rural, por exemplo, nas respectivas posições. Possivelmente até destacar pessoal experiente da WaterAid? Esforço de criação de capacidade para o governo em áreas específicas, tais como, planificação, incluindo, por ex., tecnologia de mapeamento e gestão financeira. A study into rural water supply sustainability in Niassa province, Mozambique (August, 2010) 35 Secção 4 – Discussão Esforço de criação de capacidade sobre como reforçar a Abordagem de Resposta à Procura e cumprir os seus princípios, isto é, a importância de envolver os utentes na tomada de decisões sobre escolhas em assuntos como tecnologia. Implementar a Abordagem Sectorial defendida na Política da Água, para trabalhar em todo um distrito, coordenando todos os interessados e assegurando que todos estejam a cumprir os princípios e obrigações da política, e dando as mesmas mensagens às suas respectivas comunidades. Facilitar a troca de experiências entre os interessados no sector WASH, incluindo ONGIs, ONGs locais, sociedade civil e comunidades, para aprenderem uns com os outros e partilharem competências para desenvolver capacidade através dos fóruns existentes e, quando relevante, desenvolver novas oportunidades. 4.2.2 Melhor capacidade dos parceiros (ONGs locais) Para além do governo, um factor chave sublinhado pelos entrevistados foi a necessidade de reforçar a capacidade das organizações parceiras, isto é, as ONGs locais. A evidência das comunidades e seus respectivos comités de água mostrou que nem todos têm suficiente competência, conhecimento e capacidade para manter as instalações ao longo do tempo. Nem todos os comités de água desempenhavam necessariamente as suas funções e responsabilidades, e isso põe em causa a eficácia do trabalho dos parceiros, pois eles são responsáveis, através do trabalho do PEC, por desenvolver a capacidade da comunidade para manter os serviços. Os entrevistados consideraram que a WaterAid precisa de desenvolver as capacidades dos parceiros de duas maneiras – a sua capacidade física, e os seus conhecimentos, competências e práticas – para garantir que eles possam funcionar eficazmente. Foi questionada a capacidade física dos parceiros, tanto em recursos humanos como financeiros. Por exemplo, um dos parceiros tinha apenas quatro activistas para trabalhar com 22 comunidades. O facto de um trabalho efectivo do PEC exigir bastante tempo, faz questionar até que ponto eles teriam sido realisticamente capazes de desenvolver a capacidade de todas as comunidades no período de tempo que tinham. Somado a isso estão as dificuldades geográficas no Niassa. A dispersão das comunidades significa que, para as visitar, podem ter que viajar pelo menos 30 quilómetros da sede do distrito, em más estradas. Em termos de conhecimentos, competências e práticas dos parceiros para realizarem um PEC eficaz, é fundamental seguir-se as orientações claras do MIPAR (2001) sobre os papéis e responsabilidades dos parceiros. Este indica que as ONGs locais devem utilizar metodologias participativas para preparar e organizar as comunidades para garantir a sua participação em todas as fases do ciclo do projecto. A WaterAid deverá apoiar os parceiros e, onde seja relevante, trabalhar com o governo (SDPI e administrações dos distritos) com o fim de desenvolver as suas experiências existentes, conhecimentos e competências na prática e cumprir a Política da Água. O esforço da WaterAid no apoio à divulgação da Política da Água a todos os interessados contribuirá para este processo. Os entrevistados afirmaram que os parceiros precisam compreender totalmente o conceito da sustentabilidade. Para se alcançar a sustentabilidade é crucial que hajam fluxos de informação(Parry-Jones et al, 2001). Só quando os parceiros compreenderem suficientemente o conceito, e entenderem o papel e as responsabilidades das comunidades em manter um serviço com o passar do tempo, eles poderão transmiti-los para as próprias comunidades os aprenderem. Isto está relacionado com a necessidade de melhorar o trabalho do PEC, tal como discutido na secção 4.2.4. À semelhança do desenvolvimento da capacidade do governo, A WaterAid deverá ter uma abordagem flexível no trabalho com as ONG locais parceiras. Elas terão todas níveis 36 A study into rural water supply sustainability in Niassa province, Mozambique (August, 2010) Secção 4 – Discussão diferentes de capacidade, com base em experiências diferentes, e é importante reconhecêlas e aproveitar as lições aprendidas dessas experiências ao definir como melhorar a capacidade dos parceiros. Isto está relacionado com a questão das futuras organizações parceiras – não sendo possível garantir a longevidade dessas organizações, serão os esforços melhor utilizados noutras? (ver secção 4.2.3) Com o fim de assegurar serviços duradouros, a WaterAid deve apoiar os esforços dos parceiros de desenvolver capacidade nas seguintes áreas: Desenvolver a compreensão dos parceiros sobre sustentabilidade e sobre a aplicação dos princípios no seu trabalho do PEC, usando o novo Quadro de Sustentabilidade da WaterAid. Assegurar-se que tenham as competências suficientes, tais como de gestão financeira, para trabalharem com orçamentos e planos correctamente. Analisar a capacidade física dos parceiros em termos de recursos humanos, materiais e financeiros, e ajudá-los a melhorar como fôr necessário para que possam desempenhar as suas funções eficazmente. Monitorar o trabalho de todos os parceiros para assegurar que operem constantemente tão eficazmente quanto possível. Rever os actuais MoU com os parceiros, com vista a atingir a sustentabilidade dos serviços. Considerar desenvolver ou rever as estratégias das parcerias para permitir que estas organizações operem independentemente no futuro. Fazer uma análise crítica de todas as parcerias da WaterAid em Moçambique para avaliar que modelos e abordagens de parceria são mais ou menos efectivos em relação a atingir a sustentabilidade dos serviços de abastecimento de água rural. 4.2.3 Melhor capacidade do sector Como discutido anteriormente, para que os programas de água rural sejam sustentáveis, é imperativo que tanto os aspectos de hardware como software sejam implementados simultaneamente (Parry-Jones et al, 2001) e sejam de alta qualidade (Carter, 2011). Os projectos falharão se um destes ocorrer na ausência do outro, ou se, com o passar do tempo, a qualidade de um desses factores fraquejar. A WaterAid deve colocar esforços em hardware tanto como em software, ou seja, desenvolver simultaneamente a capacidade das ONGs locais e do governo local, com base no modelo actual da WaterAid de parceria tripartida para o trabalho no Niassa. A coordenação e a planificação efectiva do sector são de importância vital. No entanto, a WaterAid terá que pensar cuidadosamente sobre qual seja a utilização mais eficaz dos seus recursos. Muitos dos entrevistados questionaram a longevidade das organizações parceiras (ONGs locais). Sentiam que os esforços de capacitação seriam melhor usados para trabalhar com o governo, por serem estas as instituições mais permanentes no país. Isso levanta a questão se as parcerias bilaterais, nomeadamente do governo e WaterAid, ou tripartidas, tal como praticado principalmente na Província do Niassa, são as mais eficazes para se alcançar a sustentabilidade do abastecimento de água rural. No Distrito de Sanga, onde a WaterAid tem a sua única parceria bilateral em Niassa, houve um exemplo bem sucedido de apoio técnico externo (hardware), o que significou que os pontos de abastecimento de água foram reparados rapidamente através do apoio externo. A WaterAid Moçambique deveria usar as suas boas relações com o governo local a nível de distrito no Niassa para fortalecer essas parcerias e aprofundar que tipos de parceria são mais eficazes. As formas como a WaterAid deverá desenvolver a capacidade irão variar, não só entre o governo e as organizações parceiras mas também individualmente, de um interessado para Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 37 Secção 4 – Discussão outro. Para entender onde os esforços devem ser colocados a fim de melhorar a situação da sustentabilidade do abastecimento de água rural, a WaterAid poderia trabalhar com todas as partes interessadas num distrito, com o fim de fazer uma análise crítica das parcerias e da capacidade. Isto poderia ser usado para determinar as acções e a capacitação específicas que cada um dos interessados precisa pôr em prática nos planos para o futuro. 4.2.4 Melhor trabalho do PEC Um melhor PEC dependerá da capacidade efectiva dos parceiros. A evidência das comunidades sugere que elas não vêm sempre aplicando o que aprenderam, e não têm necessariamente a competência suficiente para manter o seu o ponto de abastecimento de água. A falta de contribuições mensais e poupanças das comunidades foi fundamental em demonstrar a ineficiência deste PEC. Na literatura sobre sustentabilidade do abastecimento de água rural (ver Carter et al, 2011 e Jones, 2010), a falta de financiamento para a contribuição regular para a operação e manutenção, como é evidente nas comunidades, é atribuída ou a incapacidade de pagar, ou a falta de vontade de pagar. Nestas constatações, houve modelos alternativos de financiamento para reparações que operavam com sucesso: todas as comunidades que tiveram que pagar para reparar um ponto de abastecimento de água tinham-no feito com sucesso. Este é um “financiamento reactivo “ (Harvey e Reed, 2004), mas não pode suster um ponto de abastecimento de água a longo prazo, pois, sem cobrir os custos recorrentes os sistemas irão deteriorar-se rapidamente (Carter, 2011). A evidência sugere portanto uma falta de vontade de contribuir mensalmente, pois as comunidades tinham e podiam pagar pelas reparações uma vez que os pontos de abastecimento de água estivessem avariados. Este aspecto é confirmado ainda pelo facto de nenhum dos entrevistados ter declarado as finanças como questão chave. A maioria declarou que as comunidades têm dinheiro, simplesmente não dão prioridade a terem um abastecimento de água melhorado. Um dos entrevistados sugeriu que isto se devia à percepção cultural de que a água é gratuita, por isso porque haveriam as comunidades de pagar. O PEC precisa portanto de trabalhar muito mais nas áreas rurais para ultrapassar esta atitude. A falta de confiança entre os comités de água e as comunidades também tem um papel importante, particularmente em termos de finanças para operação e manutenção. Se o trabalho do PEC fosse melhorado e explicasse claramente às comunidades a importância da contribuição financeira para a manutenção das instalações a longo prazo, estes desafios poderiam ser superados. Foi proposto que a visão do PEC seja adaptada e desenvolvida para incorporar princípios de sustentabilidade. Isto tem como finalidade que as comunidades compreendam que, se quiserem que o serviço seja duradouro, o seu papel na operação e manutenção deve continuar a longo prazo. Isto está relacionado também com o facto que os parceiros precisam ter eles próprios esta compreensão, de modo a poderem transmiti-la às comunidades. A WaterAid Moçambique já havia reconhecido a necessidade de adaptar as abordagens ao PEC e deu-lhe prioridade na nova Estratégia para o País (2010). Por isso, foi realizado um workshop no Niassa, em Fevereiro de 2010 com todos os parceiros e governo local, onde foram apontadas áreas de fraqueza que incluíram a falta de monitoramento e do envolvimento das mulheres. Apesar disso, e a partir das constatações deste estudo, não há evidência de grande mudança; o trabalho do PEC continua a ser uma área a melhorar. A WaterAid terá que trabalhar mais arduamente para se assegurar que os compromissos acordados são postos em prática e monitorados. Os nossos entrevistados declararam também que a nossa abordagem se tem que transformar de PEC como actividade, para algo que seja quase permanente; com a intenção de mudar o comportamento a longo prazo. Para incluir princípios de sustentabilidade no PEC, a Unicef fez ‘workshops sobre sustentabilidade’ com os líderes comunitários, para os influenciar sobre a importância da sustentabilidade. Isto foi, em primeiro lugar, para criar a consciência da sua importância; e 38 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 4 – Discussão em segundo lugar para discutir ideias sobre como implementar de forma eficaz uma estrutura de fornecimento, localmente sustentável, para a manutenção e reparação dos pontos de abastecimento de água (Godfrey, 2010). A WaterAid poderia apoiar os parceiros e outras organizações para aprenderem desta abordagem e daí desenvolverem uma abordagem melhorada ao PEC. Em Moçambique, a responsabilidade pela criação e concepção dos manuais do PEC e dos padrões mínimos, e aquilo que é de facto posto em prática, aparenta ser pouco clara e descoordenada. O Ministério da Saúde criou um manual com assistência de ONGIs, como a Unicef, cobrindo tópicos tais como a educação de higiene, a conservação da água, etc. Porém, estes são primeiro adaptados e desenvolvidos por diferentes departamentos governamentais, como o Departamento da Água Rural, baseado nas suas necessidades e exigências, e depois são provavelmente adaptados de novo por ONGs locais, também de acordo com as suas necessidades. A falta de um manual padrão para orientação do trabalho do PEC é uma questão que pode ter tido impacto na eficácia do PEC. A WaterAid deveria aproveitar as suas actuais ligações com órgãos como a Direcção Nacional de Águas (DNA) para garantir que os princípios chave para suster um abastecimento de água rural, por ex., os papéis e as responsabilidades dos comités da água e a necessidade de finanças para operação e manutenção, estejam claramente incluídos como padrões mínimos para o trabalho do PEC e explicados nos manuais do PEC. A WA deveria também trabalhar em estreita colaboração com as organizações parceiras para aproveitar as suas experiências do trabalho do PEC; para investigar os métodos mais apropriados para incorporar os princípios da sustentabilidade. Dado que o Quadro de Sustentabilidade da WaterAid (2011) foi recentemente terminado, a WaterAid deveria considerar de que forma poderá aproveitá-lo para influenciar os governos sobre aquilo que deve ser incluído. Contudo, tal como na questão de capacidade dos parceiros e do governo, os parceiros devem adoptar uma abordagem flexível ao trabalho do PEC com as comunidades. Eles devem reconhecer que não haverá duas comunidades iguais; umas precisarão apoio técnico, outras poderão precisar de compreender melhor a necessidade de contribuírem para a operação e manutenção. Esta flexibilidade ajudá-los-á a responder às necessidades específicas das comunidades e a apoiá-las para manterem as instalações com o passar do tempo. Consequentemente, e tendo em conta todos os factores acima mencionados, a WaterAid terá de pôr os seus esforços em: Trabalhar com os relevantes departamentos governamentais tais como a DNA e o Departamento da Água Rural para assegurar que os princípios chave da sustentabilidade sejam incorporados nos manuais de orientação do PEC como padrões essenciais mínimos. Desenvolver a abordagem do PEC com as organizações parceiras para assegurar que seja regular ou quase permanente, faça o monitoramento das capacidades da comunidade e resolva quaisquer assuntos. Usar o Quadro da Sustentabilidade (2011) para incorporar os princípios de sustentabilidade no trabalho do PEC. Melhorar a visão do PEC para incorporar mensagens de sustentabilidade para permitir às comunidades compreender o seu papel na manutenção das instalações a longo prazo. Apoiar os parceiros para assegurar que usem uma abordagem flexível no trabalho do PEC em cada comunidade, isto é, reconheçam que os contextos locais são diferentes e requerem um tipo de apoio diferente. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 39 Secção 4 – Discussão 4.3 Modelo de gestão comunitária incluindo comités da água A combinação de uma política forte e clara que seja efectivamente implementada a par com uma capacidade dos parceiros e do governo que seja de alta qualidade, irá ajudar o desenvolvimento de modelos de gestão comunitários bem sucedidos. Esta é a razão porque os modelos de gestão comunitária estão colocados no centro do modelo conceptual (Figura dois); a sua forma e sucesso são impulsionados e dependem dos factores chave contidos na política e capacidade. Contudo, como se fez notar das constatações e da análise da literatura, eles devem ser acompanhados com apoio externo, se se quiser que as instalações de água rural durem a longo prazo. 4.3.1 A capacidade dos comités da água É necessário melhorar e reforçar a capacidade dos comités da água e desenvolver os seus conhecimentos e entendimento. A evidência das comunidades visitadas mostrou claras inconsistências na capacidade, competência e prática dos comités da água. O trabalho do PEC deve conter os princípios da sustentabilidade nas comunidades, bem como o conhecimento e entendimento dos comités da água. Assim os comités da água poderão perceber o carácter de longo prazo das suas funções e responsabilidades para a manutenção das instalações com o passar do tempo, e não como uma actividade finita. O trabalho do PEC deve ser continuo, para assegurar que os comités da água tenham sempre as competências e os recursos apropriados para poderem funcionar efectiva e permanentemente. 4.3.2 A formação e perfile dos comités da água A motivação das pessoas para serem parte de um comité de água variava significantemente entre as comunidades visitadas, devido aos desafios da nominação. O membro de um comité da água pediu para sair enquanto lá estávamos; a confiança entre os comités da água e as comunidades era claramente um problema. Os comités da água desempenham as suas funções voluntariamente e sem qualquer obrigação. Isto significa que podem perder o interesse; tal como as tecnologias falham em termos de ‘hardware’, o mesmo acontece aos aspectos de ‘software’ (Carter, 2009). Esta é a razão porque o corrente trabalho do PEC foi identificado como um factor chave para se manter as comunidades revitalizadas, motivadas e com capacidade suficiente para funcionar efectivamente. Esta motivação esteve também fortemente relacionada com o perfile dos membros dos comités de água. Por exemplo, num dado comité, um jovem que tinha sido treinado tecnicamente deixou o comité, e uma senhora idosa faleceu – e nenhum deles havia sido substituído. As funções e responsabilidades devem ser cuidadosamente explicadas àqueles que mostram interesse em ser parte do comité da água; outros membros integrais da comunidade, como os jovens, devem ser encorajados a participarem. Os entrevistados levantaram ainda a questão do desequilíbrio do género nos comités de água como sendo uma questão chave. A participação das mulheres é parte integral da eficácia dos projectos (Narayan, 1995) e até a Política da Água sublinha a necessidade de aumentar o envolvimento das mulheres na provisão do abastecimento de água rural. Contudo, a maioria dos comités visitados eram compostos por mais homens que mulheres. A WaterAid deve endividar esforços para ajudar os parceiros a desenvolverem a sua presente abordagem ao desenvolvimento dos comités de água da seguinte maneira: 40 Apoiar os parceiros a explicarem claramente as funções e responsabilidades dos comités da água ás comunidades. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 4 – Discussão Apoiar os parceiros para trabalharem com as comunidades na escolha das pessoas mais eficientes e adequadas para os seus comités. Apoiar os parceiros para resolverem o desequilíbrio do género nos seus comités da água. Apoiar os parceiros para assegurarem o contínuo monitoramento e apoio às comunidades (ver abaixo). 4.4 O apoio externo A evidência das discussões, a análise da literatura e a própria política nacional sublinham a necessidade de constante apoio externo às comunidades, tanto em termos de hardware como software, para manter as instalações de água rural com o passar do tempo. O apoio a estes tem que ser simultâneo e constante porque, tal como afirmam os entrevistados e a literatura, não é realístico esperar que a comunidade simplesmente mantenha ponto de abastecimento de água com o passar do tempo. Esta é a razão porque o apoio externo aparece no centro do modelo conceptual, a seguir aos modelos de gestão comunitários. Eles têm ambos que operar simultaneamente e a natureza e forma deste apoio será definida pela capacidade dos interessados e pela obrigatoriedade da Política. 4.4.1 Constante apoio externo ao software A inconsistência em termos de capacidade e competência dos comités de água resulta numa natureza delicada e finita, e realça a necessidade de apoio externo constante ao software. No início de um projecto, após a instalação tecnológica e o trabalho PEC inicial, os comités da água estão provavelmente bastante motivados. Contudo, essa motivação parece esmorecer com o passar do tempo. Para superar o mito de que ‘as comunidades são sempre capazes de gerir as suas instalações por si só’ é essencial que as comunidades tenham significante participação, educação e treino antes e depois da construção, e que esteja de acordo com as suas específicas necessidades (RWSN, 2009). Os parceiros devem continuar a monitorar a situação dos comités de água nas comunidades após a construção, e engajar-se constantemente no trabalho do PEC. A WaterAid deve trabalhar mais de perto com as organizações parceiras para preencher a lacuna entre o trabalho inicial do PEC e o momento em que os comités da água tenham as competências necessárias para manter as instalações com o passar do tempo. Isto pode ser feito desenvolvendo estratégias para a nova abordagem do PEC, tal como descrito acima, e assegurando que os parceiros tenham recursos suficientes e uma capacidade efectiva e constante para providenciar apoio contínuo às comunidades e aos seus respectivos comités da água. Poderiam ser explorados outros modelos de provisão de apoio ao software, trabalhando com outros interessados, tais como as administrações distritais e os SDPI. 4.4.2 Constante apoio técnico externo A evidência de certas comunidades mostrou que os comités eram capazes de executar reparações e que, nalgumas comunidades, o atraso das reparações se devia à espera de apoio externo de parceiros ou governo. Tais dificuldades poderiam ser evitadas se existisse uma forma de apoio externo constante. (Ver caixa na página 26.) A maioria dos entrevistados declararam que o apoio externo deveria vir dos mecânicos distritais que poderiam reparar os pontos de abastecimento de água caso as comunidades não fossem capazes, e que poderiam ajudar a capacitar os comités de água. As comunidades teriam que pagar este mecânico e isso teria que lhes ser explicado durante o trabalho do PEC. Todos os entrevistados indicaram que estariam dispostos a trabalhar a par com os comités de água pela sua importância para o sentimento de propriedade da comunidade. Estes mecânicos distritais iriam melhorar a sustentabilidade dos pontos de abastecimento de água, pois eles seriam reparados imediatamente e continuariam a funcionar com o passar do tempo. Houve Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 41 Secção 4 – Discussão no entanto debates sobre o nível em que estes mecânicos deveriam ser colocados – se local ou distrital. O sucesso do mecânico distrital em Sanga e a actual maneira da WaterAid trabalhar através do governo distrital indicam que deveria ser adequado ter o mecânico a nível distrital. A Política da Água também apoia esta ideia, referindo-se ao uso de mecânicos de bombas manuais caso os grupos de manutenção não sejam capazes de executar as reparações (ver Tabela um). Isto é muito importante dada a forte ênfase colocada na implementação da política para o melhoramento da sustentabilidade do abastecimento de água rural. A sustentabilidade deste apoio externo porém deve ser analisada cuidadosamente. O próprio mecânico distrital em Sanga teve dúvidas sobre o seu futuro, por o seu trabalho não corresponder a salário. Ele queria ser registado como associação para poder cobrar pelo serviço e ter um lucro. A WaterAid tem que trabalhar com o governo para desenvolver modelos de apoio técnico externo que sejam eles próprios sustentáveis. Estes modelos têm que ter níveis de custo apropriados e acessíveis, possíveis de monitorar e regulamentar por parte do governo, e operar em estreita ligação com os projectos de abastecimento de água rural. A WaterAid terá que trabalhar com os parceiros e governo local para pilotar tais modelos nas comunidades e assegurar que os seus pontos de abastecimento de água continuem a estar operacionais com o passar do tempo. O modelo existente e bem sucedido em Sanga devia ser monitorado e, onde fosse relevante, a WaterAid poderia trabalhar com outros governos distritais para o replicar. A WaterAid já reconheceu a necessidade do apoio técnico em Moçambique e já está planeado um projecto piloto com mecânicos distritais para o próximo ano fiscal em Maúa e Nipepe. Os pormenores exactos deste projecto ainda não estão finalizados, mas este é já um passo importante na investigação do modelo e estrutura mais eficazes para o apoio técnico externo. É importante que o modelo tenha como base as lições aprendidas com a experiência de sucesso no Distrito de Sanga. Para além disto, e tal como referido na análise da literatura, a Unicef desenvolveu um modelo de estruturas de apoio locais e sustentáveis através de artesãos e mecânicos locais. As comunidades poderiam apelar a estes indivíduos para apoio à manutenção e reparação dos pontos de abastecimento de água no Distrito do Guro, na região central de Moçambique (Godfrey, 2010). A importância de se aprender, partilhar experiências e trabalhar com outros para explorar modelos de apoio externo ao hardware é um método chave que a WaterAid pode pôr em prática para resolver as dificuldades da sustentabilidade do abastecimento de água rural. 4.4.3 A importância do apoio externo ao software tanto como ao hardware Da mesma forma que os componentes de software e hardware de qualquer projecto de abastecimento de água rural têm que estar operacionais simultaneamente e são igualmente imperativos para assegurar a sua sustentabilidade, também o apoio externo ao software e hardware deve operar continuamente a par com ambos. O conceito de ‘gestão-comunitária mais’, que sublinha a necessidade do contínuo apoio por parte das organizações externas (Carter, 2011), é largamente aceite com o fim de garantir que as instalações sejam duradouras, e ficou comprovado pelas constatações feitas neste relatório. Os serviços de abastecimento de água rural só podem ser mantidos e sustentados a longo prazo havendo suficiente apoio externo ao software, para assegurar que os comités a água ou os modelos de gestão comunitária operem tão efectivamente quanto possível. Aliado a isto, o apoio técnico externo deverá estar sempre disponível, por ex., quando as comunidades não puderem reparar os seus pontos de abastecimento de água e precisarem de alguém que as assista imediatamente. Segundo o exemplo da Unicef anteriormente 42 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 4 – Discussão mencionado (Godfrey, 2010), o factor crucial para o sucesso do apoio externo contínuo foi a interacção e o acordo entre todos os interessados envolvidos no projecto, de trabalharem em conjunto. Ao juntarem-se os líderes comunitários, os artesãos locais (mecânicos) e oficiais do governo e administração distrital foi desenvolvido um plano de sustentabilidade local para cada infraestrutura de abastecimento de água rural. A WaterAid poderia usar as lições de experiências como esta para explorar maneiras de facilitar a provisão de ambas estas formas de apoio externo. Isto terá que ser feito trabalhando de perto com as organizações parceiras e o governo local, reflectindo sobre as suas experiências, desenvolvendo, monitorando e regulamentando modelos adequados e duradouros. É imperativo que tais modelos de apoio externo sejam flexíveis para se adaptarem às necessidades sempre diferentes das comunidades e dos seus comités da água. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 43 Section 5 – Conclusion Secção 5 Conclusão Este estudo mostrou que os factores chave para a resolução dos desafios da sustentabilidade do abastecimento de água rural em Moçambique podem ser divididos em quatro áreas principais: política, capacidade, modelos de gestão comunitária e apoio externo. As constatações são delineadas a seguir: Política Melhor implementação da Política da Água: Disseminação da Política da Água Implementação dos princípios da Abordagem da Resposta à Procura Coordenação do sector Planificação eficaz Definição do custo do capital Disponibilidade de peças sobressalentes. Capacidade Melhor capacidade do governo aos níveis adequados Melhor capacidade das organizações parceiras (NGOs locais) Melhor capacidade do sector Melhor trabalho PEC. Modelos de gestão comunitária Melhor capacidade dos comités da água. Melhor formação e perfile dos comités da água. Apoio externo Constante apoio externo ao software Constante apoio externo ao hardware Importância do apoio externo tanto ao software como hardware. O factor chave, sublinhado por todos os entrevistados, foi a necessidade de a WaterAid apoiar a melhor implementação da Política da Água, o que é considerado de importância vital para a sustentabilidade do abastecimento de água rural. Contudo, é imperativo que esta implementação seja acompanhada por uma capacidade efectiva de todos os interessados. A combinação destas áreas resultará em modelos de gestão comunitária que devem ser acompanhados por um forte e contínuo apoio externo para garantir que as instalações sejam duradouras. Foi interessante notar que os entrevistados não colocaram as finanças como questão chave. A evidência sugere que as comunidades tinham suficientes 44 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 5 – Conclusão fundos para pagar pela reparação dos pontos de abastecimento de água, mas não estavam dispostas a contribuir regularmente para a operação e manutenção. Melhorando o trabalho do PEC e a capacidade dos parceiros, espera-se que este desafio possa ser vencido. Recomenda-se maior pesquisa sobre a questão do financiamento dos projectos de água rural, para se entenderem os custos exactos de manter uma instalação a longo prazo em relação à capacidade da comunidade. Como ficou evidente da pesquisa e análise da literatura, a sustentabilidade do abastecimento de água rural depende da interacção de um número de factores diferentes. Ela só poderá ser melhorada se estes factores forem tomados em conta de forma holística, como a soma das partes de uma solução para resolver a sustentabilidade do abastecimento de água rural. A necessidade de melhorar um factor comparado com outro em diferentes projectos de abastecimento de água rural irá variar dependendo do contexto, no entanto será imperativo considerar todos estes factores em conjunto, bem como as ligações entre eles. Embora este projecto de pesquisa focasse a Província do Niassa em Moçambique, espera-se que as conclusões sejam úteis para outros que trabalhem com sustentabilidade do abastecimento de água rural. O Quadro conceptual (Figura dois) discutido neste relatório, pode ser usado de forma mais alargada pelo pessoal da WaterAid Moçambique, pela WaterAid globalmente e pelo sector de água rural, como ponto de entrada para avaliar e melhorar a situação da sustentabilidade do abastecimento de água rural nos seus respectivos programas e projectos. Usando as quatro áreas definidas e combinando-as com os factores chave identificados nesta pesquisa, os interessados poderão avaliar o ponto da situação de cada um deles nas suas respectivas situações. A partir daí podem identificar que áreas necessitam ou não de mais trabalho, com o fim de melhorar a sustentabilidade do abastecimento de água rural. Os esforços da WaterAid em Moçambique devem focar-se na política, no apoio a uma melhor implementação da Política Nacional da Água, no desenvolvimento da capacidade dos interessados, em melhorar estas duas áreas para permitir o bom funcionamento dos modelos de gestão comunitária e, por fim, em garantir que esses modelos tenham apoio externo contínuo. É imperativo também reconhecer a vasta experiência dos interessados chave envolvidos nos projectos e programas de abastecimento de água rural apoiados pela WaterAid, incluindo o governo e os parceiros. Isto deveria merecer reflexão e as lições aprendidas deverão ser aplicadas na solução das dificuldades. O trabalho com todos estes factores e as ligações entre eles e os relevantes interessados resultarão no melhoramento da sustentabilidade do abastecimento de água rural e num serviço duradouro. 5.1 Recomendações Apresentam-se a seguir várias recomendações para acção. É importante que a WaterAid Moçambique reflicta sobre as suas experiências dos últimos 15 anos, nos seus sucessos e fracassos, para justificar as decisões tomadas e o caminho em frente. Ela deverá ainda esforçar-se por ver a sustentabilidade de forma holística, analisando todos os factores em conjunto, como uma só solução para vencer os desafios que enfrenta. Ela poderá então decidir como as suas práticas e as dos interessados necessitam mudar e adaptar-se para melhorar a sustentabilidade do abastecimento de água rural. 5.2.1 A Política A WaterAid deve desenvolver a boa relação de trabalho que tem com o governo a nível distrital (Administrações Distritais e SDPI) na Província do Niassa, para trabalhar com eles na implementação da Política Nacional da Água. Reconhecendo a experiência do governo na Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 45 Secção 5 – Conclusão implementação dos serviços de água rural, poderia usar-se a Tabela um, já apresentada anteriormente, para identificar eventuais lacunas na implementação da política. Um passo inicial seria a WaterAid incentivar e trabalhar com o governo para divulgar a Política da Água. Isso poderia ser feito através de fóruns sobre a água e discussões a nível de distrito e, quando possível, também a nível provincial, onde não o tenham feito já. Estes fóruns deveriam ser utilizados para advocacia e lobby de outros, para que reconheçam a importância da sustentabilidade na Política da Água. A nível nacional, a WaterAid também deve aproveitar a sua forte relação com o governo, para defender a importância de melhorar a sustentabilidade do abastecimento de água rural, utilizando a Política Nacional da Água como base para esse argumento. Paralelamente, deverá ser encorajada a utilização do mapeamento com vista a melhorar o planeamento eficaz e a coordenação do sector. A WaterAid deve continuar a basear-se nas suas experiências do anterior trabalho com o governo para os encorajar a incorporar a técnica de mapeamento nos seus processos de planificação. Por exemplo, se houver um distrito que esteja a usar com sucesso o mapeamento para melhorar a coordenação e planificação do sector, tal poderia ser partilhado como um exemplo para encorajar outros a adoptarem uma prática semelhante. Sobre os custos de capital, se os interessados num distrito não estiverem aderindo às especificações da política nacional, o governo deve assumir a responsabilidade de monitorar suas práticas e impor uma regulamentação mais rigorosa sobre o uso e finalidade dos custos de capital. A WaterAid deve trabalhar com as ONGs locais parceiras para garantir que eles próprios estejam seguindo essas orientações, e apoiar o governo para desenvolver mecanismos de monitoramento do uso dos custos de capital. 5.2.2 A disponibilidade de peças sobressalentes A WaterAid deve repetir ao governo que as abordagens do sector privado e OCBs à provisão de peças sobressalentes não funcionaram. Se se quiser que os serviços se mantenham, é necessário trabalhar e pressionar o governo para assumir a responsabilidade pelo fornecimento de peças sobressalentes, principalmente tendo em conta o ênfase que a Política da Água põe na responsabilidade do governo. A WaterAid deve financiar abordagens piloto inicialmente a nível distrital, por exemplo, financiando um indivíduo para trabalhar em estreita colaboração com as Administrações Distritais e SDPI, para criar um estoque e vender peças sobressalentes por um período de um ano, e monitorar de perto o impacto deste acordo sobre a sustentabilidade dos pontos de abastecimento de água. Dado o actual sucesso do mecânico do distrito de Sanga e o sucesso das boas relação de trabalho entre ele e o governo local (SDPI), a WaterAid deveria considerar se este indivíduo poderia ser financiado para fazer o estoque e vender as peças sobressalentes como responsabilidade adicional. Para explorar outros potenciais acordos sobre peças sobressalentes, a WaterAid deve aproveitar a sua estreita relação com o Ministério da Saúde a nível nacional e, eventualmente, a nível distrital. Eles poderiam investigar de que forma se poderia aprender e ligar a distribuição de peças sobressalentes à distribuição de medicamentos e produtos de saúde. A WaterAid deverá salientar os benefícios para a saúde de um melhor abastecimento de água, para incentivar ainda mais essa ligação na sua política e advocacia a todos os níveis em Moçambique, e mesmo no trabalho global de política da WaterAid. Através disso, pode fazer o lobby dos ministérios do governo para trabalhar mais estreitamente com o fim de encontrar soluções para o problema das peças sobressalentes, dado o interesse comum de um abastecimento de água melhorado e sustentável. 46 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 5 – Conclusão 5.2.3 Apoio externo ao hardware (técnico) A WaterAid deve desenvolver modelos para apoio externo ao hardware, trabalhando inicialmente com o Distrito de Sanga (ver caixa na página 26) para apoiar o actual modelo de apoio técnico que se mostrou eficaz. A falta de fundos pôs em causa a sustentabilidade do trabalho deste mecânico de distrito. A WaterAid pode apoiar o governo (administrações distritais e os SDPI) com financiamento para ele se registar como associação por um ano, e elaborar um Memorando de Entendimento entre ele e o governo. Se a WaterAid decidir pilotar a distribuição de peças sobressalentes através deste mecânico, como acima sugerido, tal deve ser incluído no MoU. O Governo poderia continuar a gerir e monitorar o seu trabalho. Se o modelo fôr bem sucedido, a WaterAid, trabalhando em estreita colaboração com o SDPI noutros distritos, poderia replicar este modelo em qualquer outro lugar. Está planeado um projecto piloto de mecânicos distritais em Maúa e Nipepe. Embora os pormenores exactos ainda não tenham sido finalizados, é importante que este piloto se baseie na experiência no Distrito de Sanga. Se possível, este estudo piloto poderia analisar se seria melhor replicar e testar o modelo existente do Distrito de Sanga, ou investigar uma solução alternativa com o governo local e ONGs locais, para oferecer às comunidades opções de modelos de apoio externo ao hardware. A WaterAid poderia, então, trabalhar com SDPI e outros interessados relevantes, para analisar que modelos de apoio externo ao hardware são mais eficazes na manutenção dos serviços. A WaterAid também deveria explorar e incentivar o governo a aprender com as experiências de outras ONGs que trabalhem com a sustentabilidade do abastecimento de água rural em Moçambique, tal como a Unicef e o seu modelo acima citado de artesãos locais, no Distrito de Guro, Província de Manica (Godfrey, 2010). 5.2.4 As Parcerias A WaterAid deve avaliar criticamente as suas parcerias, incluindo as que estabeleceu com ONGs locais e o governo local, para analisar que modelos de parceria são os mais adequados para melhorar a sustentabilidade do abastecimento de água rural. Esta avaliação deve incluir uma profunda reflexão sobre o trabalho dos últimos 15 anos, dada a riqueza de conhecimentos e experiência dos parceiros da WaterAid. Por exemplo, será a relação bilateral entre a a WaterAid e os SDPI no Distrito de Sanga mais eficaz do que as relações tripartidas mais comuns noutros distritos onde, em certos casos, a falta de comunicação entre as ONGs e o governo tem resultado em atrasos nas reparações? A avaliação deve envolver aspectos como análise dos MoU, considerando-se se seria apropriado ter um Memorando de Entendimento entre as ONGs e os governos locais, regularidade de comunicação entre todos os interessados, planificação conjunta e transparência. Uma possibilidade seria a WaterAid trabalhar com todos os parceiros (governos locais e o ONGs locais), num distrito, para avaliar criticamente as suas parcerias e as maneiras de trabalhar em conjunto em relação à sustentabilidade. A partir daí, os interessados poderiam desenvolver um plano de acção para melhorar a situação de sustentabilidade do abastecimento de água rural no distrito. Poderia ser desenvolvida uma metodologia específica na avaliação inicial que fosse mais tarde utilizada para realizar o mesmo exercício noutros distritos. Isso esclareceria que questões de parceria estão a afectar a sustentabilidade dos serviços de abastecimento de água rural e como elas poderiam ser resolvidas e melhoradas. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 47 Secção 5 – Conclusão 5.2.5 A Capacidade Capacidade, ou seja, o conhecimento e compreensão dos princípios de sustentabilidade, devem ser melhorados sempre que possível através de ONGs e governos locais a níveis adequados. Através da utilização de instrumentos existentes, tais como o Quadro da Sustentabilidade da WaterAid (Carter, 2011) relacionado com a representação efectiva da sustentabilidade da água rural na Política da Água, a WaterAid Moçambique deve considerar a elaboração de directrizes ou de um conjunto de ferramentas para princípios de sustentabilidade que pudesse compartilhar com todos os interessados onde fosse necessário. Este poderia incorporar e desenvolver a Tabela um e o quadro conceptual do Quadro de Sustentabilidade (Carter, 2011) para reforçar a importância da sustentabilidade do abastecimento de água rural. Além disso, o quadro conceptual poderia ser incluído como um ponto de entrada para a avaliação da sustentabilidade de projectos de abastecimento de água rural. Todos iriam destacar os principais factores que afectam a sustentabilidade do abastecimento de água rural e ajudar a melhorar a capacidade do governo e dos parceiros. Dados os conhecimento e vasta experiência de todos os interessados em questões de sustentabilidade, que deve não só ser aproveitada como desenvolvida, recomenda-se uma abordagem flexível a esse exercício de capacitação. Devem realizar-se avaliações físicas das parcerias da WaterAid, com ênfase nas ONGs locais. Por exemplo, poderia ser mapeado o número de activistas em relação ao número de comunidades em que cada parceiro trabalha. A partir daí, a WaterAid pode trabalhar com os parceiros para investigar formas mais eficientes e eficazes de operar, por exemplo, verificando se necessitam de financiamento adicional para transporte e combustível, para que os activistas sejam capazes de chegar a mais comunidades com maior regularidade. 5.2.6 O PEC Desenvolvendo este último ponto, a WaterAid pode também trabalhar com as suas organizações parceiras – ONGs locais e os governos relevantes – para definir os padrões ou princípios mínimos para a sustentabilidade dos recursos existentes que as comunidades precisem entender para garantirem a sustentabilidade dos serviços. Ao trabalhar com essas partes interessadas, a WaterAid deveria apoiar o desenvolvimento de ferramentas que contenham esses princípios. Essas ferramentas poderiam apresentar os princípios num formato semelhante aos materiais do PEC já existentes tais como desenhos e banda desenhada. Após isso, é imperativo que essas ferramentas sejam incorporadas nos manuais PEC de orientação e formação já existentes, e não desenvolvidas como um manual em separado. A WaterAid poderiam trabalhar em estreita colaboração com a DNA e outros departamentos governamentais relevantes, tais como o Ministério da Saúde, fazendo lobby junto deles para que incorporem essas ferramentas nos manuais de orientação e formação do PEC. As organizações parceiras teriam por sua vez a responsabilidade de trabalhar com comunidades para assegurar que elas entendam efectivamente os princípios da sustentabilidade. A WaterAid deve também incentivar e apoiar a aprendizagem a partir de outras experiências de ONGs como a Unicef e as suas ideias sobre o PEC, como o uso de workshops de sustentabilidade a nível da comunidade (Godfrey, 2010). Ligado a isto, parte integrante do trabalho da WaterAid será trabalhar com os parceiros para mudar suas abordagens ao trabalho do PEC e adaptar as suas estratégias para encontrar a maneira mais eficaz de prestar apoio contínuo às comunidades e garantir que ele seja flexível e adaptado às necessidades delas. Um dos aspectos fundamentais que afecta a gestão comunitária dos pontos de abastecimento de água e que requer uma acção urgente é a questão do financiamento para a operação e manutenção. Em todas as comunidades visitadas, foi predominante o 48 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Secção 5 – Conclusão financiamento reactivo. A WaterAid deveria trabalhar com as organizações parceiras e o governo local para estudar os custos reais e o os fundos necessários para manter um serviço a longo prazo numa comunidade, por exemplo, pelo período de um ano, para saber se este financiamento reactivo poderia realmente sustentar um ponto de abastecimento de água ao longo desse tempo ou não. Se não fôr possível, deveria ser posto maior ênfase na importância do financiamento para a operação e manutenção no trabalho do PEC. Alternativamente, devem ser explorados outros métodos para resolver este problema, tais como partilha de custos, etc (Carter et al, 2010), já pilotado e testado em programas existentes de abastecimento de água rural. 5.2.7 Reflectir e avaliar o trabalho da WaterAid Moçambique em relação à sustentabilidade do abastecimento de água rural A WaterAid deve avaliar os seus 15 anos de experiência de projectos de água rural para identificar que formas de trabalho levaram ao sucesso da sustentabilidade do abastecimento de água rural. Os principais factores identificados e o quadro conceptual poderiam ser utilizado para avaliar a experiência de todo o programa de país em termos da sustentabilidade do abastecimento de água rural. A partir daí, as lições poderiam ser extraídas, partilhadas mais amplamente no sector e aplicadas no trabalho da WaterAid. Aliado a isso, é importante que a WaterAid em Moçambique se esforce por aprender e compartilhar as experiências de outros interessados em todo o sector WASH sobre a sustentabilidade da provisão do abastecimento de água rural. A WaterAid Moçambique deve aproveitar oportunidades como o GAS e as ligações com outras ONGs como a Unicef, para partilhar lições as aprendidas e os modelos desenvolvidos para garantir a duração dos serviços com o passar do tempo. Poderiam rever estas abordagens e as experiências dos outros para explorar os aspectos que poderiam ser adaptados e aplicados nos seus próprios projectos e programas para melhorar sustentabilidade do abastecimento de água rural. Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 49 Annex one – Themes and sub-themes used as prompts during semi-structured interviews Anexo 1 Temas e subtemas usados como motivação durante as entrevistas semi-estruturadas Temas para as comunidades Tecnologia (incluindo peças sobressalentes) • Tecnologia apropriada • Acessível • Existência das peças Gestão financeira • Vontade • Suficiente • Compreender a importância Temas para os parceiros Tecnologia (incluindo peças sobressalentes) • Tecnologia apropriada • Formação adequada • Explicação clara sobre a importância das peças sobressalentes Motivação e sentimento de propriedade da comunidade • Prioridade • Procura Apoio externo • Necessidade • Presença • O quê Comité da água e gestão • Representante • Conhecimento • Capacidade • Estrutura Confiança e comunicação • Transparência e abertura • Conhecimento e entendimento • Comunicação regular Motivação e sentimento de propriedade da comunidade • Processo de sensibilizaçã o (PEC) • Procura Apoio externo • Apoio apropriado ao hardware • PEC adequado • Relação de trabalho com o governo local Comité da água e gestão • Apoio adequado à formação • Formação adequada sobre papéis e responsabilidades Gestão financeira • Modelos de poupança • Formação adequada Confiança e comunicação • Comunicação clara • Presença na comunidade • Regularidade da interacção 50 Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Anexo 1 – Temas e subtemas usados como motivação durante as entrevistas semi-estruturadas Temas para o governo Tecnologia (incluindo peças sobressalentes) • Tecnologia apropriada • Rede de peças sobressalentes • Modelo para o apoio Gestão financeira • Nível apropriado da contribuição para capital e tarifa • Financiamento suficiente para o sector Temas para o Pessoal da WaterAid Tecnologia (incluindo peças sobressalentes) • Modelos alternativos para a distribuição das peças sobressalentes • Tecnologia apropriada Motivação e sentimento de propriedade da comunidade • Estabelecer a procura • Trabalhar com a comunidade Apoio externo • Claros MoU, etc, com parceiros e sector privado • Monitorar os parceiros • Coordenação entre os departamentos do governo • Facilitar o apoio ao hardware e software Comité da água e gestão • Apoio • Formação Confiança e comunicação • Presente • Transparente • Regular • Adequada e apropriada Motivação e sentimento de propriedade da comunidade • Compreender a procura • Apoiar a interacção regular e a comunicação • Trabalhar com a comunidade Apoio externo • Criação da capacidade • Importância da sustentabilidade • Processos de planificação • PEC suficiente Comité da água e gestão • Criação da capacidade • Importância Gestão financeira • Tarifas adequadas • Modelos para poupança Confiança e comunicação • Comunicação Transparência e abertura Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 51 Annex two – Schedule of fieldwork and list of respondents Anexo 2 Calendário do trabalho de campo e lista dos entrevistados Data Actividade 19.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o Oficial de Programas da WaterAid 20.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o Oficial de Projectos da WaterAid (Distritos de Maúa e Nipepe) 21.10.2010 Distrito de Maua: Entrevista semi-estruturada com duas comunidades (um a funcionar, um sem funcionar) 22.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI) 23.10.2010 Distrito de Nipepe: Entrevista semi-estruturada com duas comunidades (um a funcionar, um sem funcionar) 23.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI) 23.10.2010 Entrevista semi-estruturada com pessoal do parceiro para os Distritos de Maúa e Nipepe 24.10.2010 Distrito de Metarica: Entrevista semi-estruturada com duas comunidades (um a funcionar, um sem funcionar) 24.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI) Entrevista semi-estruturada com Pessoal do parceiro 25.10.2010 Escrever os dados recolhidos até ao momento e viajar 26.10.2010 Distrito de Mecanhelas: Entrevista semi-estruturada com duas comunidades (um a funcionar, um sem funcionar) 26.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI) Entrevista semi-estruturada com Pessoal do parceiro 27.10.2010 Distrito de Mandimba: Entrevista semi-estruturada com Oficial de Programas da WaterAid (Distritos de Metarica, Mecanhelas, Mandima) 28.10.2010 Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI) Entrevista semi-estruturada com Pessoal do parceiro Entrevista semi-estruturada com duas comunidades (um a funcionar, um sem funcionar) 52 29.10.2010 Distrito de Sanga: Entrevista semi-estruturada com o governo local (SDPI) 30.10.2010 Entrevista semi-estruturada com duas comunidades (um a funcionar, um sem funcionar) 01.11.2010 Distrito de Lichinga: Entrevista semi-estruturada com duas comunidades (um a funcionar, um sem funcionar) 02.11.2010 Entrevista semi-estruturada com PDPWH Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique Anexo 2 – Calendário do trabalho de campo e lista dos entrevistados Nome dos entrevistados Título da função Leovigildo Custodio Oficial de Projectos da WaterAid Benicio Baulo Oficial de Programas da WaterAid Lazaro Cumbe Oficial de Projectos da WaterAid Samuel Sengou Oficial de Programas da WaterAid Armindo dos Santos Almeida Coordenador da Adecco Antonio Cuvir Coordenador da Cahova Francisco Ali Culabo Coordenador da Amiremo Alexandre Camillo Calistro Coordenador da Estamos, Mandimba Joao Mazive Distrito de Maúa – DSDPI Carlos Domingo Zombe Distrito de Nipepe – DSDPI Sergio Rui Meza Distrito de Metarica – DSDPI Mandimba – DSDPI Alima Mandra Sanga – DSDPI Graciano Artur PDPWH Estudo sobre a sustentabilidade do abastecimento de água rural na Província do Niassa, Moçambique 53 Annex three – References Anexo 3 Referências bibliográficas Abrams L, Palmer 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