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CÂM MU ARA NIC IPA L CAM FUT PO DE EBO L SANTIAGO CENTRO 1 LEGUA LEGUA DE EMERGENCIA PAR RIQ QUE IS UEL A ME BEL 1 CAR ABI NER OS SANTIAGO DO CHILE IGR EJA IGR EJA INST I DE S TUTO AÚD E 4 CAM PO CO 2 CO LÉ GI O LÉG IO JAR INF DIM AN TIL 1 CO LÉG IO 3 2 CEN SO TRO CIA L IG RE JA 3 COLÉGIO 5 BOMBEIROS 4 LÉGUA DE EMERGENCIA 3000 hab 31 ha 12 ha espaço público (38%) JARDIM INFANTIL LÉGUA DE EMERGÊNCIA CENTRO DESPORTIVO RUA SEM SAÍDA EQUIPAMENTOS LA LÉGUA 14000 hab RUA SEM FACHADA HABITADA PANO INDUSTRIAL 160 ha 50 ha espaço público (30%) ZONAS DE MAIOR INCIDÊNCIA CRIMINAL 5 (SEGUNDO MINISTERIO DO INTERIOR) n 0 20 100 m DIAGRAMA DE DIAGNÓSTICO PARTICIPAÇÃO PÚBLICA | DECISÃO PÚBLICA AGENTE EXTERNO PARTICIPAÇÃO COMITÉ URBANO FINANCIAMENTO E REGULAÇÃO GOVERNAMENTAL CONTEXTO MODIFICADO (MOBIL ARQUITECTOS) CONTEXTO ACTUAL Malha social degradada Degradação constante das habitações e do espaço público do bairro Violência evidente e tráfico de droga REACÇÃO POPULAR Organizações Comunitárias (ex: Furia Leguina) INTERVENÇÃO Equipa de arquitectos, sociólogos (ekhos), engenheiros e um consultor externo (Jorge Jaurégui - arq. do favela bairro) Comité eleito pelos habitantes para discutir e propor alterações nos projectos propostos para o Bairro Projecto de requalificação de espaço público segundo necessidades da população Presença de MINVU e Municipalidade Expropriaçãos de indústrias limitrofes e desenho de novas residências segundo indicação de comité urbano PROCESSO DE REACÇÃO GOVERNAMENTAL NORMAL CONTEXTO MODIFICADO MINVU Actuação segundo planos e Projectos generalistas Edificios de habitação social normalizados e obsoletos Manifestações pela paz no bairro n LÉGUA DE EMERGÊNCIA EQUIPAMENTOS EXISTENTES PANO INDUSTRIAL INTERVENÇÃO INICIAL Carta do Padre Gerardo Ouisse ao Ministério do Interior LOCALIZAÇÃO NOVOS EQUIPAMENTOS PARTICIPAÇÃO PÚBLICA | DECISÃO GOVERNAMENTAL NOVAS CONEXÕES PRAÇAS / PRACETAS PROCESSO DE INTERVENÇÃO DIAGRAMA DE PREMISSAS METODOLÓGICAS ARQUITECTURA DA PARTICIPAÇÃO Lições urbanas de territórios emergentes: o debate Chileno sobre a Légua de Emergência VITÓRIO VASCONCELOS LEITE Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto - Mobil Arquitectos ([email protected]) CONTEXTO O bairro da “Legua”, que se estabeleceu em 1931, com a chegada de obreiros provenientes das salitreiras do norte do Chile, foi o resultado de um processo natural de ocupação de solos agrícolas, que se transformavam em zonas habitacionais. No entanto, o segmento “Legua de Emergência”, só é ocupado em 1951, através de um loteamento da “Caja de Habitación” chilena que se previa provisório, mas que no entanto se transformou em definitivo, devido à falta de habitação que então se fazia sentir por todo a cidade. Nesta etapa de povoação chegaram dois grupos com identidades muito distintas: um de um antigo bairro obreiro formado por “conventillos” (cortiços) muito degradados, da zona oeste de Santiago, e o segundo de “poblaciones callampa” (ocupações informais) da zona norte. Uma organização que ainda hoje se percebe nas disputas pelo domínio territorial, entre as famílias que habitam o bairro. Mais tarde, durante os anos 70, a comunidade “leguina” transformou-se politicamente numa força de esquerda, que durante o golpe militar de 1973 fez frente às forças de segurança pública, tornando a Légua uma das povoações mais reprimidas durante o regime militar da década de 1970 e 1980. Segundo o sociólogo Rodrigo Ganter, esta situação contextual transformou o bairro num enclave isolado, mas com uma vasta e potente rede de organizações sociais, culturais, económicas, politicas e religiosas, que permitiram o bairro sobreviver à fome, ao desemprego e à opressão do estado. Paralelamente a este desenvolvimento social interno, a história oral e testemunhal, também identifica a Légua como um bairro que se inscreve numa contracultura urbana, ligada ao campo da criminalidade de escala urbana e internacional, uma prática consequente da marginalização e estigmatização do tecido comunitário do bairro. Hoje, a Légua é um bairro com perto de 14000 habitantes e, a Légua de Emergência com cerca de 3000 habitantes, é o seu segmento mais marcado pelo deterioro das redes associativas, tanto de sobrevivência, como de acção politica, o que transformou o bairro numa comunidade fragmentada e debilitada nas suas capacidades para produzir novas sociabilidades. Apesar de se encontrar a apenas a uma Légua ao Sul do centro de Santiago, a Légua tem uma qualidade de vida muito distinta da maior parte dos outros bairros que se encontram à mesma distância. OBJECTIVOS / METODOLOGIA Como colaborador de uma empresa de arquitetura em Santiago do Chile, que se propôs ajudar o governo chileno na resposta a uma reação popular que se vem intensificando no bairro da Légua, formalizada no pedido de ajuda do pároco Gerado Ouisse, tive a oportunidade de conhecer uma postura disciplinar e um método de atuação mais pró-ativo, politizado e participado, do que habitualmente se observou em Portugal nos últimos anos. Partindo desta experiência prática que vivi, e apoiado no legado ideológico e teórico da década de 60 na América Latina, profícuo em novas teorias e formas de intervir, singulares e participativas, como o trabalho teórico do arquiteto John F. C. Turner ou as intervenções urbanas de Carlos Nelson dos Santos, tento identificar os principais problemas da Légua de Emergência, procurando ainda perceber como se consolidou este bairro, de natureza espontânea, na malha santiaguina, e como se tornou um dos principais problemas da urbe chilena. Partindo deste diagnóstico, tento elaborar algumas premissas metodológicas, que poderiam auxiliar na resolução do problema específico da Légua de Emergência, e tirar algumas lições e conceções que poderiam ajudar a superar as adversidades das cidades portuguesas, que são hoje enfatizadas pela crise e pelo contínuo crescimento das cidades. A Légua de Emergência tem uma morfologia urbana muito particular caracterizada por um perímetro fortemente delimitado, resultado de uma situação geográfica marcada por grandes avenidas e uma preponderância da malha industrial, que conforma o alçado dessas avenidas, isolando a malha habitável e provocando zonas urbanas muito complicadas e perigosas, como becos sem saída e ruas não habitadas. Para lá deste problema do isolamento físico, existe a estigmatização provocada dos antecedentes sociais e pelos mais recentes incidentes entre as diferentes fações que lutam pela hegemonia do tráfico de droga, o que tem transformado o espaço público da Légua num espaço de disputa quase militar, onde se observa uma luta constante entre moradores, estado e policia. Esta disputa, pela hegemonia cultural e urbana, contribui para a degradação de todo o espaço público do bairro, o que por sua vez colabora para a degradação das relações sociais e para a crescente dificuldade de apropriação espacial por parte dos habitantes. Como consequência, deixam-se as ruas ao abandono, mesmo quando estas poderiam ser o ponto de encontro fundamental para dar força aos movimentos de reação e superação das dificuldades inerentes a todos os habitantes. PROJECTO LIÇÕES E CONCLUSÕES Hoje, integrar a Légua na cidade de Santiago é um projeto urgente. Apesar do contexto complicado, deverá apostar-se numa negociação territorial inteligente entre habitantes, indústrias envolvidas e autoridades. É, por isso, fundamental integrar o habitante na decisão e coprodução do projeto e ganhar a sua confiança. Como defende Carlos Nelson dos Santos, existem alguns aspetos vitais para que isso aconteça: ter bons informadores, visitar recorrentemente o local de intervenção, apresentar as propostas de forma clara, propor a participação e trabalho dos habitantes na obra e ajudar na manutenção e no pós-obra. Só considerando estes aspetos se poderão conhecer as principais necessidades da população e traduzi-las num desenho coerente, que ajude a criar uma maior relação entre especialista, objeto de estudo e o produto final. Segundo Jorge Jáuregui, este desenho deverá iniciar-se por obras de confiança: o melhoramento dos principais espaços públicos e a reabilitação das zonas mais perigosas, para que seja percetível, tanto para os habitantes, como para o exterior. Na Légua, ao contrário do que acontece noutras zonas problemáticas de Santiago do Chile, parece já existir uma reação contra o estabelecido e uma vontade de mudar o rumo do bairro, condição fundamental para a integração urbana e social. No entanto, parece escassear a participação da população nas principais obras e estratégias que são propostas pelas autoridades. Por isso, é fundamental um plano que consiga reunir todos os agentes, na decisão e execução democrática de um projeto, que melhore a relação dos habitantes com os espaços públicos e consiga materializar-se numa obra que permita mudar a imagem negativa do bairro. No caso da Légua, o eixo Jorge Canning/Comandante Riesle e a praça S. Allende são os espaços mais visitados que podem, mais rapidamente, enriquecer o standard de espaço público. Mais tarde, poderá pensar-se uma proposta de “expropriação cirúrgica” das indústrias envolventes, que permita a permanência destas e que possibilite ao mesmo tempo a conexão do bairro com as ruas importantes e avenidas próximas, através de ruas de “fachadas habitadas”, da inserção da rede de transportes públicos e a construção de equipamentos culturais ou produtivos importantes que contribuam para o desenvolvimento de economias locais. Nestes contextos, onde o espaço público é uma extensão da própria casa, é por isso fundamental pensar num plano para uma rede de espaços públicos bem articulados, que partilhem uma mesma linguagem demonstrando um carácter confortável, e que se adaptem aos antigos costumes dos habitantes, e às mais específicas manifestações artísticas ou culturais. Uma estratégia que englobe todas estas premissas poderá não alterar de um dia para o outro sociabilidades e realidades demasiado enraizadas no bairro, no entanto, tal como acreditava John Turner, a participação e a responsabilização do habitante numa estratégia deste tipo poderão criar dinâmicas produtivas e racionais, que provoquem ensinamento para outras liberações ou emancipações, não relacionados com a melhoria do espaço habitável. Tal como aparenta ter sucedido durante a elaboração do plano da Légua de Emergência, as instituições governativas deveriam deixar de lado de vez as propostas “top down” de conjuntos habitacionais obsoletos, ainda usadas pelo MINVU (Ministério de Vivienda y Urbanismo), e os planos reguladores, que, segundo o urbanista chileno Ivan Poduje, parecem apenas funcionar como meros gestores de edificação. Devendo estar abertas a opções bottom-up, de maior complexidade e adaptação contextual. Só assim se criarão intervenções menos incipientes e se poderá criar uma consciência urbana coletiva que ajude as cidades a crescer sustentadamente. A arquitectura e o urbanismo poderá não ser, nem oferecer, a solução para o problema da Légua de Emergência, mas hoje, não considerar estas disciplinas de uma forma válida é um dos motivos para este problema. Este bairro em particular, por não ter sido pensado, nem tratado como parte da cidade, levou a que se agravassem todos os problemas que já lhe seriam inerentes. A existência de uma estratégia forte e pensada segundo um desenho conjunto entre habitantes, projetistas e autoridades, poderá levar a uma possível mudança da imagem do bairro e alterar drasticamente a qualidade das ruas, praças, etc. E, consequentemente a vida das pessoas. Considerando a incerteza dos tempos atuais, pretendo demonstrar a importância de um postura mais pró-ativa e política do arquitecto, enquanto mediador e ator urbano, que procura um espaço público fluido e de qualidade, como fator fundamental para perseguir alguma equidade social. Realço ainda a importância de um método participativo como a única forma de conseguir alcançar novos limites para os processos arquitectónicos e urbanísticos e, quem sabe, criar quotidianos mais humanistas e coletivos.
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