MA14 - Aritmética eserved@d = *@let@token Unidade 23
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MA14 - Aritmética Unidade 23 Resumo Introdução à Criptografia Abramo Hefez PROFMAT - SBM Aviso Este material é apenas um resumo de parte do conteúdo da disciplina e o seu estudo não garante o domı́nio do assunto. O material completo a ser estudado encontra-se no Capı́tulo 13 - Seção 13.1 do livro texto da disciplina: Aritmética, A. Hefez, Coleção PROFMAT. Colaborou na elaboração desses resumos Maria Lúcia T. Villela. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 2/15 Introdução Introduziremos nesta Unidade e na próxima as noções básicas da criptografia moderna, teoria que se estabelece em meados dos anos 70 do Século 20, envolvendo de modo efetivo alguns resultados estudados neste livro. Até então, a Teoria dos Números, da qual a Aritmética é a parte mais elementar, era considerada uma das áreas mais puras e abstratas da Matemática, desprovida de aplicações práticas. Esse panorama muda completamente a partir do desenvolvimento da Teoria da Informação, que compreende a Criptografia entre outros assuntos, motivado pela evolução e popularização dos computadores e a facilidade de conexão com as grandes redes mundiais. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 3/15 Noções de Criptografia A palavra criptografia origina-se do grego, onde Kriptos significa oculto e, portanto, a palavra criptografia significa “escrita oculta”. Tem-se notı́cia de que persas, gregos e chineses utilizavam vários métodos para ocultar mensagens, dentre os quais o recurso a tinta invisı́vel. A evolução da criptografia foi no sentido de não mais ocultar fisicamente as mensagens, mas usar estratagemas para ocultar o seu significado às pessoas que não fossem as legı́timas destinatárias das mesmas, de modo que pudessem ser veiculadas através de um canal público de comunicação. Um dos métodos mais famosos de sistemas criptográficos da antiguidade foi um sistema utilizado na Roma antiga por Júlio César, denominado cifra de César. O sistema consiste em substituir cada letra do alfabeto na mensagem original por uma outra letra do alfabeto, seguindo um padrão bem determinado. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 4/15 Cifra de Cesar Por exemplo, consta que César, para cifrar as suas mensagens, teria utilizado a substituição de cada letra da primeira linha pela letra correspondente da segunda linha das tabelas a seguir: alfabeto cifra alfabeto cifra a b c d e f g h i j k l m D E F G H I J K LM N O P n o p q r s t u v w x y z Q R S T U V W X Y Z A B C Exemplo Vejamos como uma hipotética mensagem de César aos seus generais, na primeira linha abaixo, seria cifrada na segunda linha: aut DXW PROFMAT - SBM vincere YLQFHUH aut DXW mori PRUL Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 5/15 Este tipo de sistema criptográfico é chamado de cifra por substituição simples, onde as letras de um alfabeto são substituı́das por outras. O código de César possui pelo menos vinte e cinco variantes, que correspondem a iniciar a segunda linha por qualquer outra letra do alfabeto ao invés de D, excluindo a letra A. A principal fraqueza dos sistemas criptográficos por substituição simples é que em um texto de uma determinada lı́ngua as letras do alfabeto ocorrem com frequências distintas, além de haver certas regras rı́gidas de contato entre letras, como por exemplo, em português, a letra q vem sempre seguida pela letra u, o que dá pistas valiosas para os criptoanalistas, nome dado aos que se dedicam à tarefa de quebrar as cifras alheias. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 6/15 A fragilidade desse método custou literalmente o pescoço à rainha da Escócia Maria Stuart (1542-1587) que tramava o assassinato de sua prima a rainha Elizabeth I da Inglaterra, através de mensagens cifradas, onde as letras e algumas palavras muito recorrentes eram substituı́das por outros sı́mbolos. A interceptação das mensagens e a análise de frequência permitiu a quebra do seu sigilo e forneceu provas contra Maria que foi condenada à morte por decapitação. Para evitar a quebra de um código por análise de frequência, há uma outra vertente de sistemas criptográficos que se baseia na transposição, ou seja, na formação de anagramas da mensagem original. Por exemplo, uma mensagem com 100 letras dá origem a 100! permutações distintas das letras, o que a torna praticamente impossı́vel de ser decifrada se não possuirmos a chave para tal. O problema dessa modalidade de cifragem é que a troca de chaves entre os usuários do sistema torna-se difı́cil se há muitos deles. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 7/15 A combinação dos dois métodos: substituição de letras e transposição, pode dar origem a sistemas criptográficos mais robustos. Em 1466, em pleno renascimento, o arquiteto italiano Leone Battista Alberti, uma das mentes luminosas do perı́odo e considerado o pai da criptologia ocidental, propôs uma variante bem mais robusta da cifra de César com o uso de um sistema de substituição polialfabética. Tratava-se do uso de um artefato, chamado de disco de Alberti consistindo de dois discos concêntricos de diâmetros distintos, presos por um pino central, o menor sobre o maior, podendo o disco menor girar. Esses discos eram divididos em 24 setores iguais, onde na borda do disco maior estavam inscritos, no sentido horário, as 20 letras A, B, C, D, E, F, G, I, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, V, X, Z e os numerais 1, 2, 3, 4, um em cada setor. Na borda do disco menor, estavam inscritos, em ordem aleatória, as letras minúsculas do alfabeto, exceto as letras j, u e w, além da palavra do latim et. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 8/15 Descrição do sistema Cada correspondente possuı́a uma cópia do disco idêntica à do outro. A mensagem a ser enviada era cifrada da seguinte forma: Iniciava-se, mediante combinação prévia, com o disco rotatório em uma determinada posição, por exemplo o k alinhado com o A em seguida, cada letra da mensagem a ser cifrada era localizada no disco maior e substituı́da pela letra correspondente no disco menor. Os numerais serviam para formar os números de 11 a 4444, com os quatro algarismos, os quais codificavam 336 palavras ou frases constantes em um pequeno livro de códigos previamente produzido em duas cópias. A grande inovação do Alberti foi o uso de cifras polialfabéticas, como segue: a cada grupo de algumas palavras (quatro ou cinco), o pegueno disco é girado aleatoriamente e a nova letra do disco menor correspondente à letra A no disco maior é inserida na mensagem original, indicando que a partir daquele momento é essa a nova posição do disco rotativo (o menor) com relação ao disco fixo (o maior). PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 9/15 Tabula Recta O importante passo seguinte foi dado pelo grande intelectual de sua época, o alemão Johannes Trithemius, no livro intitulado Poligrafia, publicado postumamente em 1518. Nesse livro, Trithemius propõe o sistema criptográfico a seguir. Forma-se uma tabela, chamada por ele de tabula recta com o mesmo número de linhas e de colunas, com na primeira linha, o alfabeto na ordem normal e, em cada uma das linhas seguintes, uma permutação circular da linha anterior (veja uma versão com o alfabeto completo na Tabela 1). A cifragem procedia da seguinte forma: a primeira letra da mensagem a ser cifrada é transformada na letra correspondente da segunda linha, a segunda letra é transformada na letra correspondente da terceira linha e assim sucessivamente até esgotar todas as linhas quando se volta para a segunda linha novamente. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 10/15 a B C D .. . b C D E c D E F d E F G e F G H f G H I ··· ··· ··· ··· .. . v W X Y w X Y Z x Y Z A y Z A B z A B C Y Z A Z A B A B C B C D C D E D E F ··· ··· ··· T U V U V W V W X W X Y X Y Z Tabela 1 Exemplo A frase mensagem para o rei é transformada em NGQWFMLU YKCM B FTY. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 11/15 Mais um passo é dado em 1553, quando da publicação de um pequeno livro da autoria do italiano Giovanni Battista Bellaso, intitulado La cifra del Sig Giovan Batista Belaso, onde é introduzida a ideia de chave para cifrar e decifrar uma mensagem. O sistema utiliza a tabula recta e o compartilhamento de uma chave que pode ser uma palavra, uma sequência de letras, ou uma frase. De posse da chave, escrevem-se numa linha o texto a ser cifrado e na linha acima as letras da chave sobre as letras do texto repetidas o quanto for necessário. A cifragem ocorre do seguinte modo: Se sobre uma dada letra do texto se encontra uma determinada letra da palavra chave, então se substitui essa por aquela que lhe corresponde na sua coluna e na linha que começa com a letra da palavra chave. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 12/15 Exemplo Suponhamos que a palavra chave seja “segredo” e que Maria Stuart tenha usado esse código para enviar a seguinte mensagem para seus aliados: matem elizabeth ao meio dia. A cifragem ocorreria do seguinte modo: s m E e a E g t Z s a S r e V e o S e m Q g m S d e H o l Z r e V e i M s i A d o R e z D g a G r b S e e I o d R s i A e a E d t W o h V A mesma chave utilizada para cifrar uma mensagem é utilizada para decifrá-la, realizando o procedimento inverso. Essa cifragem era tida difı́cil de ser quebrada, pois é imune à análise de frequência. Muito provavelmente, Maria Stuart não teria “perdido a cabeça” se tivesse utilizado este método criptográfico. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 13/15 O método de Bellaso foi amplamente divulgado através do livro Traicté des Chiffres de autoria do diplomata francês Blaise de Vigenère, publicado em 1586. Nesse livro, Vigenère descreve o método de Bellaso, impropriamente chamado posteriormente de sistema de Vigenère, e acrescenta mais um método de cifragem. Esses métodos de cifragem eram pouco utilizados, pois, como a cifragem é feita letra por letra, eles são muito trabalhosos. Finalmente, após ter sido considerada inquebrável por mais de 300 anos, a cifra de Bellaso foi quebrada em meados do Século 19. Em todo método criptográfico é necessário haver uma troca de chaves para que cada parte possa decifrar a mensagem que lhe é destinada e o maior desafio consiste em que apenas o legı́timo destinatário da mensagem possa fazê-lo. Fica o problema de além da cifragem ter que ser robusta, ainda ser necessário fazer chegar ao destinatário, de modo seguro, a chave da cifra. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 14/15 As cifras polialfabéticas voltaram a ser utilizadas quando do advento das máquinas cifradoras, duas das quais se tornaram célebres pelo seu protagonismo durante a Segunda Guerra Mundial, a japonesa Purple e a alemã Enigma. A Enigma era uma máquina eletromecânica inventada pelo engenheiro alemão Arthur Scherbius no inı́cio do Século 20 e inspirada no disco de Alberti e a Purple era uma adaptação dessa. O sistema de cifragem dos alemães custou a ser quebrado pelos britânicos que contaram para isso com uma das grandes mentes do século 20, Alan Turing, considerado um dos pais da computação. Todos esses sistemas criptográficos se caracterizam pelo uso de chaves simétricas, ou seja, a mesma chave é usada para cifrar e decifrar uma dada mensagem. PROFMAT - SBM Aritmética - Unidade 23 - Resumo - Introdução à Criptografia slide 15/15