Estratégias para Gestão de Capacidade e Demanda em
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Estratégias para Gestão de Capacidade e Demanda em
ESTRATÉGIAS PARA GESTÃO DE CAPACIDADE E DEMANDA EM OPERAÇÕES DE SERVIÇOS Liziane Menezes; Miriam Borchardt Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS O desenvolvimento dos últimos anos vem reafirmando a importância do setor de serviços na economia mundial, redundando em uma maior conscientização acerca da relevância do ato de servir nas organizações (ZEITHAML et al., 1993; ZEITHAML; BITNER, 2003; GRÖNROOS, 2009). Com efeito, questões como gestão da capacidade produtiva e análise da demanda passaram a ocupar um espaço relevante em tais operações, pois, para que a qualidade do serviço atenda às metas pré-estabelecidas com a melhor relação custo/benefício, a operação deve estar planejada de acordo com o processo ou conceito do serviço, de modo a entregar o que o cliente espera (GRÖNROOS, 2009; JOHNSTON; CLARK, 2002). No entanto, observa-se que tal desafio nem sempre é algo fácil ou simples de ser executado pelos gestores. Quando a demanda por um serviço é menor do que a capacidade disponível, têm-se instalações e equipes de trabalho ociosas. Por outro lado, quando a demanda é maior que a capacidade, geram-se filas e esperas, que causam insatisfações aos clientes (TÉBOUL, 1999; JOHNSTON; CLARK, 2002; HAYES et al., 2008). Para garantir um melhor gerenciamento do processo em ambientes altamente dinâmicos, é útil conhecer práticas e estratégias adotadas por organizações que enfrentam ou que já enfrentaram tal desafio, ainda que fora da área de serviços (JOHNSTON; CLARK, 2002). Tal movimento permitirá que o gestor analise e compreenda as possibilidades de melhorar o processo a partir de diferentes pontos de vista ou de ações de melhoria/projetos realizados, obtendo insumos para planejar suas atividades, reduzindo eventuais insatisfações com quedas na qualidade do serviço prestado (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2000; ZEITHAML; BITNER, 2003; JOHNSTON; CLARK, 2002). Diante desse contexto, o presente estudo se propôs a investigar que estratégias podem ser utilizadas por uma organização de serviços para adequar a capacidade à demanda? Visando responder tal questão, o trabalho objetivou desenvolver um quadro de referência sobre o tema, identificando estratégias que pudessem ser utilizadas por diferentes organizações de serviços, sob a ótica de diferentes pesquisadores, visando proporcionar um arcabouço teórico para apoiar a tomada de decisão dos gestores de serviços no momento do planejamento de tais operações. Ressalta-se que as proposições expostas no quadro devem ser aplicadas de acordo com o tipo de serviço oferecido, ou seja, é necessário que primeiramente o gestor classifique o mesmo em termos de volume/variedade antes de escolher a estratégia a ser adotada. O método de pesquisa foi qualitativo e exploratório. Os resultados do estudo são apresentados no Quadro 1. Os dados apresentados indicam que a literatura sobre o tema apresenta diferentes mecanismos que foram sendo utilizados nas organizações nos últimos anos, tanto nos períodos em que a oferta supera a demanda, como naqueles em que a demanda supera a capacidade (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2000; POWERS; JACK; 2008). Algumas apresentam uma visão mais conservadora, baseada na interpretação de eficiência da produção; outras apresentam uma visão mais moderna, defendendo que os tempos de processamento e os níveis de armazenagem crescem continuamente com a maior utilização dos recursos (HOPP; SPEARMAN, 2000). Tais abordagens podem ser utilizadas de modo individual, simultâneo ou combinadas ao longo da execução das atividades executadas. Caberá ao gestor definir ou combinar as estratégias disponíveis, a fim de reduzir impactos indesejados nas operações (JOHNSTON; CLARK, 2002; ANTUNES et al., 2008; BOBB; VERAL, 2008; ANTUNES; BARRETO, 2009; ADENSO-DIAZ et al., 2002). QUADRO 1 – Resumo de estratégias possíveis para gestão da capacidade e demanda. GESTÃO DA CAPACIDADE Autores Téboul (1999); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Hopp e Spearman (2000); Powers e Jack (2008); Antunes e Barreto (2009) Desenvolver flexibilidade nas instalações (ex. compartilhando capacidade, Téboul (1999); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Hopp e terceirizando certas atividades, alugando ou adquirindo equipamentos). Spearman (2000); Klassen e Rohleder (2002); Zeithaml e Bitner (2003); Antunes et al. (2008); Antunes e Barreto (2009) Desenvolver flexibilidade na mão de obra (ex. contratar equipes temporárias, Téboul (1999); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Hopp e compartilhar equipe com outras áreas, preparar colaboradores Spearman (2000); Johnston e Clark (2002); Klassen e multifuncionais, utilizar jornada parcial ou extra de trabalho, conceder folgas Rohleder (2002); Zeithaml e Bitner (2003); Antunes et al. ou férias, dispensar funcionários). (2008); Powers e Jack (2008) Analisar internamente o sistema de entrega a fim de encontrar melhorias Téboul (1999); Hopp e Spearman (2000); Powers e Jack para mudanças nos processos. (2008) Restringir a oferta de serviço nos períodos de pico (em termos de tempo, Téboul (1999); Johnston e Clark (2002) atividade ou duração). Construir e manter capacidade extra ou colchão de capacidade (capacity Hayes et al. (2008); Antunes et al. (2008); Powers e Jack cushion). (2008) Planejar a infraestrutura de capacidade de acordo com a demanda antecipada Hayes et al. (2008); Powers e Jack (2008); Sintetos et al. (utilização máxima da capacidade). (2009); Antunes e Barreto (2009) Reduzir o tempo de ciclo/ processamento dos produtos ou serviços, através Antunes et al. (2008); Antunes e Barreto (2009) da adoção de técnicas para melhorias de métodos e processos. Manter a capacidade abaixo da taxa média de utilização (colchão negativo). Hayes et al. (2008) Identificar e administrar os gargalos do processo (teoria das restrições), Johnston e Clark (2002); Antunes et al. (2008) reduzindo tempos de setup e de paradas desnecessárias. GESTÃO DA DEMANDA Estratégias Autores Desenvolver serviços complementares, substitutos ou novos. Gianesi e Corrêa (1996); Téboul (1999); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Hopp e Spearman (2000); Klassen e Rohleder (2002) Escalonar ou segmentar a demanda. Téboul (1999); Gianesi e Corrêa (1996); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Bobb e Veral (2008); Powers e Jack (2008) Ofertar preços diferenciados. Gianesi e Corrêa (1996); Téboul (1999); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Johnston e Clark (2002); Klassen e Rohleder (2002) Categorizar os produtos/serviços de acordo com o grau de criticidade do Sintetos et al. (2009) mesmo para o cliente, estabelecendo níveis de serviço diferenciados. Estratégias Planejar e organizar os turnos de trabalho. Desenvolver sistemas de reservas. Realizar parcerias ou promoções de preços para os períodos de baixa demanda. Permitir a formação de filas, gerenciado-as a fim de reduzir as esperas (armazenamento da demanda). Gerenciar por rendimentos ou pela rentabilidade (yield management), prática que consiste em cobrar preços mais altos quando a demanda está aquecida e oferecer descontos nos horários de baixa demanda. Informar ao cliente sobre a carga de trabalho, indicando melhores dias/ horários. Desenvolver sistema de previsão de demanda baseado em variáveis que envolvam o comportamento de compra do cliente. Gianesi e Corrêa (1996); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Johnston e Clark (2002); Klassen e Rohleder (2002); Bobb e Veral (2008); Bain (2008); Powers e Jack (2008) Téboul (1999); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Johnston e Clark (2002); Zeithaml e Bitner (2003); Bobb e Veral (2008); Powers e Jack (2008) Gianesi e Corrêa (1996); Téboul (1999); Johnston e Clark (2002); Zeithaml e Bitner (2003) Gianesi e Corrêa (1996); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Johnston e Clark (2002); Klassen e Rohleder (2002); Zeithaml e Bitner (2003) Gianesi e Corrêa (1996); Klassen e Rohleder (2002); Zeithaml e Bitner (2003) Bobb e Veral (2008) Estabelecer políticas de serviços não ligadas a preços (ex. tratamento Gianesi e Corrêa (1996); Klassen e Rohleder (2002); diferenciado para clientes fiéis). Zeithaml e Bitner (2003) ESTRATÉGIAS MISTAS (GESTÃO DA CAPACIDADE OU DA DEMANDA) Estratégias Modificar o horário ou os dias trabalhados. Usar automação em alguma etapa do processo. Prover acesso aos clientes por meio de canais de serviço alternativos ou especializados. Mudar o nível de participação do cliente no processo. Autores Klassen e Rohleder (2002); Zeithaml e Bitner (2003); Antunes e Barreto (2009); Powers e Jack (2008) Klassen e Rohleder (2002) Johnston e Clark (2002); Klassen e Rohleder (2002); Zeithaml e Bitner (2003); Bain (2008) Téboul (1999); Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000); Johnston e Clark (2002); Klassen e Rohleder (2002) Como limitações do trabalho, citam-se a pouca variedade de estudos sobre gestão da capacidade produtiva em serviços. Por outro lado, o mesmo pode estimular novas pesquisas, a partir da abordagem apresentada nessa pesquisa acadêmica. Referências ADENSO-DÍAZ, B.; GONZÁLEZ-TORRE, P.; GARCÍA, V. A capacity management model in service industries. International Journal of Service Industry Management, vol. 13, n. 3, p. 286-302, 2002. ANTUNES, J. et al. Sistemas de produção: conceitos e práticas para projeto e gestão da produção enxuta. Porto Alegre: Bookman, 2008. ANTUNES, J.; BARRETO, R. Ferramenta de análise capacidade versus demanda - um estudo de caso. In: XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. 2009, Salvador. Anais eletrônicos do XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Disponível em: <http://publicacoes.abepro.org.br/>. Acesso em: 8/8/2010. BAIN, J. Future of revenue management — From the plane to the shelf. Journal of Revenue and Pricing Management, vol. 7, n. 3, p. 302–306, 2008. BOBB, L; VERAL, E. Open issues and future directions in revenue management. Journal of Revenue and Pricing Management, vol. 7, n. 3, p. 291–301, 2008. FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Administração de serviços: operações, estratégias e tecnologia de informação. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2000. GIANESI, I., CORRÊA, H. Administração estratégica de serviços: operações para a satisfação do cliente. São Paulo: Atlas, 1996. GRÖNROOS, C. Marketing gerenciamento e serviços. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. HAYES, R. H.; PISANO, G. P.; UPTON, D. M.; WHEELWRIGHT, S. C. Produção, estratégia e tecnologia: em busca da vantagem competitiva. Porto Alegre: Bookman, 2008. HOPP, W. J.; SPEARMAN, M. L. Factory physics: foundations of manufacturing management. 2. ed. Boston: McGraw-Hill, 2000. JOHNSTON, R.; CLARK, G. Administração de operações de serviço. São Paulo: Atlas, 2002. KLASSEN, K. J.; ROHLEDER, T. R. Demand and capacity management decisions in services: how they impact on one another. International Journal of Operations e Production Management, vol. 22, nº 5, p. 527-548, 2002. POWERS, T. L.; JACK, E. P. Using volume flexible strategies to improve customer satisfaction and performance in health care services. Journal of Services Marketing, vol. 22, nº 3, p. 188–197, 2008. SYNTETOS, A.; KEYES, M.; BABAI, M. Demand categorization in a European spare parts logistics network. 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