projecto hidroeléctrico de lupata, no rio zambeze
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projecto hidroeléctrico de lupata, no rio zambeze
PROJECTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA, NO RIO ZAMBEZE ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DEFINIÇÃO DE ÂMBITO E TERMOS DE REFERÊNCIA DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL Maputo, Novembro de 2011 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO CONTEÚDO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10 2 PROPONENTE DO PROJECTO ......................................................................................... 12 3 OBJECTIVOS DO EPDA .................................................................................................... 13 4 EQUIPA TÉCNICA DO EIA ................................................................................................. 14 5 EPDA E TERMOS DE REFERÊNCIA PARA O EIA: ABORDAGEM E METODOLOGIA ................................................................................................................. 16 5.1 PARTICIPAÇÃO PÚBLICA ............................................................................................... 19 5.1.1 Identificação e mobilização das Partes Interessadas e Afectadas .................................. 19 5.1.2 Integração das questões, sugestões e comentários do público ...................................... 20 6 QUADRO LEGAL E INSTITUCIONAL ................................................................................ 22 6.1 CONTEXTO NACIONAL ................................................................................................... 22 6.1.1 Sector de Ambiente ........................................................................................................ 22 6.1.2 Sector de Energia .......................................................................................................... 26 6.1.3 Sector de Águas............................................................................................................. 27 6.1.4 Sector de Terras ............................................................................................................ 30 6.2 OUTROS INSTRUMENTOS LEGAIS SECTORIAIS ......................................................... 32 7 DESCRIÇÃO DO PROJECTO ............................................................................................ 35 7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 7.6 7.7 ASPECTOS GERAIS ........................................................................................................ 37 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO ...................................................................................... 39 A BARRAGEM .................................................................................................................. 40 ALBUFEIRA ...................................................................................................................... 42 CENTRAL HIDROELECTRICA ......................................................................................... 42 MÃO-DE-OBRA ................................................................................................................ 42 CRONOGRAMA DAS ACTIVIDADES ............................................................................... 43 8 DEFINIÇÃO DA ÁREA DE INFLUENCIA ........................................................................... 45 9 ANÁLISE DE ALTERNATIVAS........................................................................................... 47 9.1 ALTERNATIVA DE LOCALIZAÇÃO .................................................................................. 47 9.2 ALTERNATIVAS DE TIPO DE BARRAGEM A CONSTRUIR............................................ 48 9.3 ALTERNATIVA DE ARRANJO GERAL DA BARRAGEM .................................................. 49 10 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DE REFERÊNCIA: ASPECTOS BIOFÍSICOS ........................................................................................................................ 51 10.1 CLIMA ............................................................................................................................... 51 10.1.1 Temperatura .................................................................................................................. 52 10.1.2 Precipitação ................................................................................................................... 53 1 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10.1.3 Humidade relativa .......................................................................................................... 54 10.2 GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E GEOHIDROLOGIA ................................................... 55 10.2.1 Geologia e Geomorfologia.............................................................................................. 55 10.2.2 Geohidrologia ................................................................................................................. 58 10.2.3 Hidrologia ....................................................................................................................... 60 10.3 SOLOS ............................................................................................................................. 63 10.4 HABITATS, VEGETAÇÃO E FAUNA: ASPECTOS GERAIS............................................. 67 10.4.1 Vegetação da área do projecto ...................................................................................... 69 10.4.2 Principais formações vegetais na área do projecto ........................................................ 71 10.4.3 Fauna ............................................................................................................................. 77 10.4.4 Áreas e espécies de importância para a conservação.................................................... 81 11 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DE REFERÊNCIA: ASPECTOS SOCIOECONÓMICOS ........................................................................................................ 83 11.1 CONTEXTO GERAL: AS PROVÍNCIAS DE TETE E MANICA .......................................... 84 11.1.1 Organização política e administrativa das províncias ..................................................... 84 11.1.2 A Província de Tete ........................................................................................................ 86 11.1.3 Província de Manica ....................................................................................................... 94 11.2 CARACTERIZAÇÃO DOS DISTRITOS DA ÁREA DE ESTUDO .................................... 103 11.2.1 DISTRITO DE CHANGARA ......................................................................................... 107 11.2.2 DISTRITO DE MOATIZE .............................................................................................. 111 11.2.3 DISTRITO DE MUTARARA.......................................................................................... 115 11.2.4 DISTRITO DE GURO ................................................................................................... 120 11.2.5 DISTRITO DE TAMBARA ............................................................................................ 125 11.3 SITUAÇÃO DE MINAS ANTI-PESSOAIS ....................................................................... 129 12 IDENTIFICAÇÃO DOS POTENCIAIS IMPACTOS AMBIENTAIS ..................................... 131 12.1 MEIO BIOFÍSICO............................................................................................................ 131 12.1.1 Clima e qualidade do ar ............................................................................................... 131 12.1.2 Geologia / Geomorfologia ............................................................................................ 133 12.1.3 Ruído ........................................................................................................................... 136 12.1.4 Recursos hídricos ........................................................................................................ 137 12.1.5 Habitats, Flora e Fauna ................................................................................................ 141 12.1.6 Limnologia.................................................................................................................... 143 12.2 MEIO SOCIO-ECONÓMICO ........................................................................................... 144 12.2.1 Perdas e Danos ........................................................................................................... 144 12.2.2 Movimentos migratórios e problemas sociais relacionados .......................................... 145 12.2.3 Emprego e estratégias de sobrevivência ...................................................................... 148 12.2.4 Desenvolvimento económico........................................................................................ 150 12.2.5 Aspectos socioculturais ................................................................................................ 151 12.2.6 Saúde e segurança ...................................................................................................... 152 2 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 12.2.7 Estudos para o reassentamento ................................................................................... 153 13 ASPECTOS A INVESTIGAR NA FASE DE EIA ............................................................... 155 13.1 MEIO FÍSICO .................................................................................................................. 155 13.2 MEIO BIÓTICO ............................................................................................................... 158 13.3 MEIO SOCIOECONÓMICO ............................................................................................ 160 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 165 15 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 171 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Etapas da AIA ................................................................................................ 17 Figura 2: Localização da Proposta Barragem e da Albufeira de Lupata ........................ 36 Figura 3: Etapas de Construção do AHE de Lupata ...................................................... 38 Figura 4: Arranjo Esquemático do Aproveitamento Hidroeléctrico de Lupata ................ 41 Figura 5:Histograma de mão-de-obra da fase de construção do AH de Lupata............. 43 Figura 6: Cronograma de Actividades para o Projecto do AH de Lupata ....................... 44 Figura 7: Local proposto para o aproveitamento hidroeléctrico de Lupata – Eixo 1 ....... 48 Figura 8: Alternativa seleccionada do arranjo da barragem de Lupata .......................... 50 Figura 9: Temperaturas mensais médias mínimas e máximas (°C) ............................... 52 Figura 10:Precipitação Média Mensal para Tete (mm) .................................................. 53 Figura 11: Precipitação Total Anual para o Período 1961-1999 .................................... 54 Figura 12: Humidade Relativa para Tete (%) ................................................................ 55 Figura 13: Enquadramento geológico regional da área do projecto ............................... 57 Figura 14: Mapa hidrogeológico da área de Lupata ...................................................... 59 Figura 15: Principais rios que desaguam sobre a futura albufeira de Lupata ................. 62 3 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 16: Distribuição de Solos em Lupata .................................................................. 64 Figura 17: Biomas da Bacia do Zambeze, de acordo com Timberlake (2000) ............... 68 Figura 18: Principais tipos de vegetação da área do projecto, segundo o mapeamento em larga escala de Wild e Barbosa (1967) ............................................................. 70 Figura 19: Algumas das formações vegetais identificadas na proposta área de inundação da Barragem de Lupata ........................................................................ 76 Figura 20: Principais formações vegetais identificadas na proposta área de inundação da Barragem de Lupata.......................................................................................... 77 Figura 21: Distritos afectados pela área de inundação da barragem de Lupata ............ 83 Figura 22: Aldeias directamente afectadas pela área de Inundação da proposta barragem de Boroma, nos Distritos de Changara, Moatize, Mutarara, Guro e Tambara............................................................................................................... 104 Figura 23: Posto Administrativo de Chioco (Chipembere), Distrito de Changara e sua localização em relação à área de inundação........................................................ 108 Figura 24: Posto Administrativo de Moatize-Sede, Distrito de Moatize e sua localização em relação à área de inundação .......................................................................... 112 Figura 25: Posto Administrativo de Doa, Distrito de Mutarara e sua localização em relação à área de inundação ................................................................................ 116 Figura 26 Posto Administrativo de Mandie, Distrito de Guro e sua localização em relação à área de inundação ................................................................................ 121 Figura 27: Posto Administrativo de Nhacolo e Nhacafula, Distrito de Tambara e sua localização em relação à área de inundação........................................................ 125 Figura 28: Situação das Minas Anti-pessoais .............................................................. 130 4 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO LISTA DE TABELAS Tabela 1: Equipa Técnica da AIA .................................................................................. 14 Tabela 2: Domínios e grupos de ocorrência de água subterrânea e características para a valorização e aproveitamento na área de Lupata ................................................ 60 Tabela 3: Descrição do tipo de solos na área do projecto ............................................. 65 Tabela 4: Formações vegetais identificadas na zona da proposta área de inundação da Barragem de Lupata .............................................................................................. 71 Tabela 5: Principais indicadores sócio demográficos na Província de Tete ................... 87 Tabela 6: População da Província de Tete com 15 anos ou mais por Ramo de Actividade .............................................................................................................. 90 Tabela 7: Incidência da Pobreza na Província de Tete, comparativamente à região Centro e o País ...................................................................................................... 91 Tabela 8: Principais indicadores sócio demográficos na Província de Manica............... 95 Tabela 9: População da Província de Manica com 15 anos ou mais por Ramo de Actividade .............................................................................................................. 98 Tabela 10: Incidência da Pobreza na Província de Tete, comparativamente à região Centro e o País ...................................................................................................... 99 Tabela 11: Divisão Administrativa do Distrito de Changara por Posto Administrativo e Localidade, segundo o Censo 2007 ..................................................................... 108 Tabela 12: Distribuição da População no Distrito de Changara segundo o Censo 2007 ............................................................................................................................. 109 Tabela 13: População Estimada das Povoações dentro da Área de Inundação – Distrito de Changara ........................................................................................................ 109 Tabela 14: Divisão Administrativa de Moatize ............................................................. 112 5 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Tabela 15: Distribuição da População do Distrito de Moatize por Posto Administrativo e Localidade, segundo o Censo 2007 ..................................................................... 113 Tabela 16: População Estimada das Povoações dentro da Área de Inundação – Distrito de Moatize ........................................................................................................... 114 Tabela 17: Divisão Administrativa de Mutarara ........................................................... 117 Tabela 18: Distribuição da População no Distrito de Changara segundo o Censo 2007 ............................................................................................................................. 118 Tabela 19: Divisão Administrativa de Guro.................................................................. 121 Tabela 20: Distribuição da População no Distrito de Guro segundo o Censo 2007 ..... 122 Tabela 21: População Estimada das Povoações dentro da Área de Inundação – Distrito de Guro ................................................................................................................ 123 Tabela 22: Divisão Administrativa de Tambara ........................................................... 126 Tabela 23: Distribuição da População no Distrito de Tambara segundo o Censo 2007 ............................................................................................................................. 127 6 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS AEA Alfabetização e Educação de Adultos AIA Avaliação de Impacto Ambiental AID Área de Influência Directa AII Área de influência Indirecta ANE Administração Nacional de Estradas anmm Acima do Nível Médio do Mar ARA Administração Regional de Águas ARA-Zambeze Administração Regional de Águas do Zambeze BR Boletim da República CENACARTA Centro Nacional de Cartografia e Teledetecção CESUL Centro Sul CFM Caminhos de Ferro de Moçambique CNELEC Conselho Nacional de Energia Eléctrica DNEAP Direcção Nacional de Estudos e Análise de Políticas DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra EAS Estudo Ambiental Simplificado EDM Electricidade de Moçambique EIA Estudo de Impacto Ambiental EP1 Ensino Primário de Nível 1 EP2 Ensino Primário de Nível 2 EPDA Estudo de Pré-viabilidade e Definição de Âmbito ESG1 Ensino Secundário Geral de Nível 1 ESG2 Ensino Secundário Geral de Nível 2 FAO Food and Agriculture Organization GEE Gases do Efeito de Estufa HIV Vírus de Imunodeficiência Humana IEA International Energy Agency IFC International Finance Corporation INCAM Inquérito Nacional sobre Causas de Mortalidade 7 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO IND Instituto Nacional de Desminagem INE Instituto Nacional de Estatística IPCCs Instituições de Participação e Consulta Comunitária International Organization for ISO Normalização) ITS Infecções de Transmissão Sexual Standardization (Organização Internacional de International Union for Conservation of Nature (União Mundial para a Conservação da IUCN Natureza) LFFB Lei de Florestas e Fauna Bravia LOLE Lei dos Órgãos Locais do Estado MAE Ministério da Administração Estatal MICOA Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental MPD Ministério de Planificação e Desenvolvimento N.A Nível de Armazenamento NPA Nível Pleno de Armazenamento OHSHAS Occupational Health & Safety Advisory Services PAR Plano de Acção para o Reassentamento Plano de Emergência Para o Alívio do HIV/SIDA, do Presidente dos Estados Unidos da PERFAR América PGA Plano de Gestão Ambiental PIAs Partes Interessadas e Afectadas QPR Quadro de Politica de Reassentamento SADC Comunidade de Desenvolvimento da África Austral SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida TDM Telecomunicações de Moçambique TdR Termos de Referencia UHF Ultra High Frequency UM Unidades de Mapeamento UNB Universidade de Brasília United States Agency for International Development (Agência dos Estados Unidos para o USAID Desenvolvimento Internacional) UTIP Unidade Técnica para a Implementação de Projectos Hidroeléctricos % Percentagem 8 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO ha Hectares hab/km hm 3 km km 2 Habitante por kilómetro quadrado Hectómetro cúbico Quilómetro 2 m Quilómetro quadrado Metro m 2 Metro quadrado m 3 Metro cúbico 3 Metro cúbico por hora m /s 3 Metro cúbico por segundo mm Milímetro MW MegaWatt MWh Megawatt hora o Graus Celcius Rpm Rotações por minuto m /h C 9 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 1 INTRODUÇÃO O presente Relatório de Estudo de Pré-viabilidade Ambiental e Definição de Âmbito foi elaborado no âmbito da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do proposto Projecto de Aproveitamento Hidroeléctrico de Lupata, a ser implementado na Província de Tete, Moçambique. O projecto proposto, cujo valor de investimento é estimado em US$ 850,000,000.00 (Oitocentos e Cinquenta Milhões de Dólares Americanos), abarca a construção de uma barragem de terra-enrocamento de 500 metros de comprimento e 40 m de altura e uma central hidroeléctrica com uma potência instalada de 600 MW. A partir do local de implantação da barragem partirá uma linha de transporte de energia eléctrica, para interligar este aproveitamento ao sistema Centro-Norte/Centro através da subestação da Matambo. A zona do aproveitamento de Lupata situa-se na região do Baixo Zambeze, a cerca de 84 km a jusante da Cidade de Tete, entre o Distrito de Mutarara (Província de Tete) e o Distrito de Tambara (Província de Manica), na zona da designada Garganta de Lupata, onde o rio se confina entre altas colinas, a aproximadamente 350 km da sua foz. O Rio nasce na Zâmbia e, após a passagem por extensões territoriais de Angola, Namíbia e Zimbabwe, corre em território moçambicano ao longo de uma extensão de cerca de 820 km (o que corresponde a cerca de 30% do seu percurso total), antes de desaguar no Oceano Índico. A implementação da actividade proposta requer que o seu Proponente cumpra, previamente, todos os procedimentos conducentes ao licenciamento ambiental da actividade. De acordo com a legislação Moçambicana, o processo de licenciamento ambiental, da competência do Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA), é na Avaliação Ambiental e antecede qualquer outra licença legalmente exigida para a actividade. Na sequência da submissão da documentação de Instrução do Processo da proposta actividade de Construção do Aproveitamento Hidroeléctrico de Lupata à Direcção Provincial para a Coordenação da Acção Ambiental (DPCA) de Tete, esta foi classificada como de “Categoria A”. Assim sendo, as etapas a serem cumpridas no processo de AIA são a de Estudo de Pré-viabilidade e Definição de Âmbito (EPDA), 10 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO apresentado no presente documento e a de Estudo de Impacto Ambiental, que será realizado subsequentemente, com base nos Termos de Referência definidos na etapa de EPDA e submetidos à aprovação do Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental. A IMPACTO, Projectos e Estudos Ambientais foi contratada pelo Proponente da actividade (ATP Moçambique, subsidiária da ATP – Engenharia e Consultoria) para conduzir o processo da AIA do projecto. 11 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 2 PROPONENTE DO PROJECTO O Proponente do Projecto é a empresa moçambicana ATP Moçambique, uma empresa coligada à ATP Energia Ltda e à ATP – Engenharia e Consultoria Ltda, estas últimas do Brasil. Trata-se de empresas especializadas de engenharia, que actuam também na área de energia eléctrica e suas interfaces com planeamento urbano, regional e ambiente. A ATP Engenharia Ltda é certificada pela ISO 14001 (Sistema de Gestão Ambiental), ISO 9001:2002 (Sistema de Gestão da Qualidade) e OHSHAS 18001 (Sistema de gestão de Saúde e Segurança Ocupacional desde Maio de 2002). A certificação por estas normas da ISO visa manter procedimentos que assegurem a qualidade dos serviços desenvolvidos pela sua equipa técnica, no quadro da prestação de serviços técnicos especializados de consultoria nas áreas de Engenharia e Arquitectura. Apresentam-se abaixo os detalhes de contacto do Proponente: ATP Moçambique Engenharia e Consultoria Lda. Rua Beijo da Mulata, nº 98, 1º Andar Sommerschield 2 Maputo, Moçambique. Pessoa de contacto: Paulo Murilo Coelho Bandeira de Albuquerque Telefone: +258 84 4075791 E-mail: [email protected] 12 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 3 OBJECTIVOS DO EPDA O EPDA foi produzido em cumprimento das determinações legais vigentes na Legislação Ambiental nacional concernente ao processo de Avaliação de Impacto Ambiental de uma actividade de Categoria A, com os seguintes objectivos principais: Determinar se existem questões fatais de carácter ambiental, ou seja, elementos do projecto que, por afectarem significativamente a qualidade do ambiente na sua área de implementação e/ou área circundante, possam determinar a suspensão da proposta actividade de construção da barragem em Lupata; Determinar de uma forma preliminar os principais impactos ambientais potenciais do projecto proposto e as questões a serem detalhadamente investigadas na fase de EIA do projecto; Formular uma proposta de Termos de Referência do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)1, a ser submetida à aprovação do Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental. 1 Aplicável em caso de inexistência de questões fatais. 13 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 4 EQUIPA TÉCNICA DO EIA Este projecto conta com a participação de uma equipa técnica multidisciplinar com experiência profissional na área de estudos ambientais de projectos de desenvolvimentos hidroeléctricos a nível nacional e regional. Sendo que a tabela abaixo ilustra a constituição desta equipa e respectivo cargo no projecto. Tabela 1: Equipa Técnica da AIA EQUIPA TÉCNICA Gestão / Coordenação do Projecto Gestor do Projecto Coordenador Técnico da Equipa da AIA / Especialista de AIA Estudos Especializados Especialista em Vegetação e Flora Especialista em Sistemas Aquáticos e Limnologia Especialista em Pedologia Especialista em Fauna Especialista em Socioeconomia Especialista em Antropologia Especialista em Reassentamento Especialista em Arqueologia Especialista em Geologia Especialista em Geohidrologia Especialista em Hidrologia Especialista em Planeamento e Uso de Terra Consulta Pública Especialista em Consulta Pública 14 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO EQUIPA TÉCNICA Assistência Assistente do Especialista em Socioeconomia Assistente do Especialista em Vegetação e Flora Assistente de Consulta Pública Especialista em GIS Na fase de EIA, todos os membros da Equipa Técnica receberão do Coordenador Técnico Termos de Referência específicos e detalhados para as tarefas a realizar. Os trabalhos a serem desenvolvidos no EIA envolverão não apenas os técnicos que deverão realizar os Estudos Especializados, mas também aqueles que irão realizar a Consulta Pública e o pessoal de apoio, como se pode verificar na tabela acima. 15 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 5 EPDA E TERMOS DE REFERÊNCIA PARA O EIA: ABORDAGEM E METODOLOGIA O aproveitamento hidroeléctrico proposto é mais um dos vários projectos a serem executados na Bacia do Zambeze que, pela sua importância como um recurso partilhado a nível regional, tem sido objecto de estudos diversos, desde planos de acção e implementação de actividades, a estudos de viabilidade da implantação de aproveitamentos hidroeléctricos, enquadrados num contexto nacional e/ou regional de gestão estratégica dos recursos hídricos partilhados. Assim, a revisão bibliográfica foi um dos instrumentos chave utilizados no presente EPDA, suplementada com base em dados recolhidos no campo, especificamente na área de implementação do projecto. A metodologia utilizada no presente EPDA tem em conta os objectivos principais desta fase do AIA, nomeadamente a avaliação preliminar da viabilidade ambiental do projecto proposto, a determinação da existência de eventuais “questões fatais”2 da actividade e a definição dos principais aspectos a investigar em detalhe na fase de EIA. O EPDA constitui parte de um conjunto de etapas da AIA, que culminam com o licenciamento da actividade proposta, como se ilustra na Figura 1. 2 O termo “questões fatais” dix respeito a questões que, pela sua importância e gravidade em termos ambientais e/ou sociais, podem determinar, à partida, a inviabilização da actividade proposta. 16 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 1: Etapas da AIA A execução do EPDA envolveu quatro fases principais, a saber: Mobilização da equipa técnica e análise da situação de referência; Preparação das versões preliminares do EPDA e dos TdR; Revisão das versões preliminares do EPDA e dos TdR; Submissão do EPDA e dos TdR ao MICOA. A descrição das actividades desenvolvidas em cada uma destas fases é apresentada a seguir. Fase 1: Mobilização da equipa técnica e análise da situação de referência Nesta etapa foram designadas tarefas específicas aos membros da equipa técnica e foi realizada uma visita de campo, para uma avaliação preliminar das condições biofísicas e socioeconómicas da área de implantação do aproveitamento hidroeléctrico. Esta visita serviu para a identificação in loco do ambiente a ser potencialmente afectado pela construção da barragem e instalações associadas, com maior foco na área a inundar no estabelecimento da albufeira. 17 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Fase 2: Preparação das versões preliminares do Relatório do EPDA e dos TdR Esta fase teve como fim a compilação de informação sobre aspectos ambientais e socioeconómicos característicos da zona de implantação do projecto, considerados relevantes para o empreendimento proposto sob o ponto de vista dos possíveis impactos ambientais que se podem esperar do mesmo. Foi nesta fase que foram identificadas as questões e os impactos que necessitam de estudos mais aprofundados na fase de EIA. Uma componente importante desta etapa foi a revisão de estudos anteriormente realizados para a Bacia do Zambeze, com destaque, para o EPDA preparado como parte da AIA para a Hidroeléctrica de Mphanda Nkwa, proposta para uma zona situada a aproximadamente 150 km a montante do local proposto para o aproveitamento hidroeléctrico de Lupata, bem como um estudo precedente realizado por Lahmeyer et al (2001), com o mesmo fim (i.e. o estabelecimento de um aproveitamento hidroeléctrico em Mphanda Nkwa). Estes dois estudos caracterizam de forma exaustiva não apenas o local de implementação do projecto, como também a área envolvente sensu lato, abrangendo uma grande porção da Bacia do Zambeze, com destaque para as regiões do Médio e do Baixo Zambeze, até o Delta. Esta fase antecede a Consulta Pública, sendo que o Relatório Preliminar de EPDA produzido será usado como base para a discussão do projecto com as Partes Interessadas e Afectadas (PIAs). Fase 3: Revisão do Relatório do EPDA e TdR Esta etapa será executada subsequentemente à Consulta Pública. As questões colocadas, bem como as recomendações e sugestões registadas durante o processo de Participação Pública, serão devidamente analisadas pela Equipa Técnica e incorporadas no Relatório de EPDA e nos TdR, para consideração nos Estudos Especializados a realizar na fase de EIA, conforme aplicável. Fase 4: Submissão do Relatório do EPDA e dos TdR ao MICOA Nesta fase os documentos finais do EPDA e TdR são submetidos à avaliação e aprovação do MICOA. As revisões aos documentos submetidos que possam, eventualmente, vir a ser solicitadas pelo MICOA ao Consultor Ambiental enquadram-se nesta fase. 18 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 5.1 PARTICIPAÇÃO PÚBLICA De acordo com a legislação moçambicana (Decreto nº 45/2004 de 29 de Setembro), a Participação Pública é considerada parte integrante do processo de AIA, devendo ser realizada de forma abrangente, de modo a permitir que o estudo possa acomodar e considerar as preocupações das Partes Interessadas e Afectadas (PIAs) a respeito do projecto. A Participação Pública relativa à fase de EPDA irá incorporar uma ronda de reuniões de Consulta Pública, que serão realizadas a nível dos distritos abrangidos pelo projecto, nomeadamente Changara, Moatize e Mutarara (localizados na Província de Tete); e Guro e Tambara (localizados na Província de Manica). Será igualmente realizada uma reunião na Cidade de Tete. Nestas reuniões serão apresentados os rascunhos do EPDA e dos Termos de Referência, a serem discutidos com as PIAs. 5.1.1 Identificação e mobilização das Partes Interessadas e Afectadas A Consulta Pública será antecedida de um processo de identificação das PIAs para o projecto. A identificação das PIAs para a actividade em análise será efectuada com base na larga experiência do Consultor em projectos na Província de Tete (e no país em geral), envolvendo processos de Participação Pública. São consideradas principais PIAs para este projecto as seguintes autoridades/grupos institucionais e da sociedade civil (lista não limitativa): Governo a nível Nacional, Provincial e Distrital; Autoridade ambiental (MICOA / Direcção Provincial para a Coordenação da Acção Ambiental de Tete); Instituições do sector de energia e relacionadas; Instituições do sector de águas e relacionadas; Autoridades das Pescas; Associações e Centros Comunitários de Pesca; 19 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Representantes da indústria pesqueira local; Autoridades do Turismo; ONGs e grupos ambientais orientados para Conservação; Organizações Académicas/de Investigação; Meios de comunicação social; Comunidades locais / Sociedade em geral. Os convites para participação nas reuniões de Consulta Pública serão endereçados conforme abaixo especificado: Nível Provincial (Cidade de Tete): por meio de cartas dirigidas a PIAs seleccionadas e através de meios de comunicação de maior abrangência; Nível distrital (distritos abrangidos pelo projecto): cartas endereçadas aos Conselhos Consultivos Distritais, à atenção dos Administradores dos Distritos abrangidos, com a possibilidade de estes alargarem o convite a outros intervenientes julgados relevantes. 5.1.2 Integração das questões, sugestões e comentários do público As questões/sugestões/comentários serão recolhidos através dos seguintes meios: Reuniões públicas; Reuniões com grupos específicos; Comentários escritos endereçados ao Consultor pelas PIAs; Outras formas de contacto (p.e. chamadas telefónicas, contacto directo). Estas serão documentadas numa Matriz de Perguntas e Respostas (MPR), que será integrada no Relatório de Participação Pública, a ser submetido ao MICOA como parte do Relatório da fase de EPDA. Os contributos das PIAs serão considerados no processo de revisão do EPDA e/ou incorporados na proposta de Termos de Referência para o EIA, conforme se revelar necessário. 20 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Os Temos de referência para o EIA englobam a componente de Consulta Pública, apresentando informação mais detalhada sobre a forma como se propõe que o mesmo seja conduzido na fase de EIA. 21 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 6 QUADRO LEGAL E INSTITUCIONAL Em termos ambientais, a legislação aplicável ao projecto proposto é, primariamente, a da República de Moçambique devendo, no entanto, ser considerado um conjunto de instrumentos legais e normativos nacionais e internacionais relativos à Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) em geral e à actividade de construção de barragens hidroeléctricas, em particular. As secções que se seguem apresentam o quadro legal e institucional aplicável ao projecto proposto, apresentando aspectos institucionais e os diversos instrumentos legais de potencial interesse para o mesmo. 6.1 CONTEXTO NACIONAL Esta secção apresenta os principais elementos do quadro jurídico e regulamentar relevantes para o projecto proposto, considerando as principais áreas de inserção sectorial do mesmo, abaixo especificadas: Sector de Ambiente; Sector de Energia; Sector de Águas; Sector de Terras. São igualmente apresentados nesta secção, outros instrumentos normativos potencialmente relacionados com a actividade de aproveitamento hidroeléctrico. 6.1.1 Sector de Ambiente Lei do Ambiente (Lei nº 20/97, de 7 de Outubro) A Lei-Quadro do Ambiente, aprovada pelo parlamento moçambicano em Julho de 1997, fornece um quadro legal para o uso e a gestão correcta do ambiente e das suas componentes, de forma a assegurar o desenvolvimento sustentável. No artigo 3 desta Lei é definida a sua aplicabilidade, que abarca todas as actividades públicas ou privadas que 22 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO possam, directa ou indirectamente, afectar o ambiente. Os aspectos mais salientes da Lei do Ambiente incluem o seguinte: Aqueles que poluem ou, sob qualquer forma, degradam o ambiente, são responsáveis e obrigados a reabilitar o ambiente, ou a compensar pelos danos daí resultantes; A Lei proíbe a poluição do solo, do subsolo, da água ou atmosfera, por quaisquer substâncias poluentes, ou qualquer outra forma de degradação do ambiente que se enquadre fora dos limites legislados; Os projectos e operações susceptíveis de causar um impacto negativo ao ambiente estão sujeitos a uma avaliação de impacto ambiental, a ser realizada por consultores independentes; É determinada a necessidade de proteger as componentes ambientais que tenham um reconhecido valor ecológico e socioeconómico e onde podem ser criadas zonas de protecção ambiental. A Lei determina a necessidade de obtenção de uma Licença Ambiental por parte do Proponente, antes do início da implementação de qualquer actividade susceptível de causar impactos significativos no ambiente. A emissão de uma licença ambiental está condicionada à realização de uma Avaliação de Impacto Ambiental, sujeita à aprovação do MICOA. Regulamento sobre o Processo de Avaliação do Impacto Ambiental (Decreto nº 45/2004 de 29 de Setembro) Este Regulamento cria normas para a AIA; no que diz respeito especificamente a actividades de Categoria A (como é o caso da actividade em estudo), define os procedimentos e a abrangência da Instrução do Processo, do Estudo de Pré-viabilidade Ambiental e Definição de Âmbito (EPDA) e Termos de Referência; e do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), cuja execução e a subsequente aprovação culminam com a atribuição de uma Licença Ambiental ao Proponente pelo MICOA. O Decreto nº 45/2004 de 29 de Setembro foi parcialmente modificado pelo Decreto nº42/2008 de 04 de Novembro; as alterações incidem sobre os artigos 5, 15, 18, 20, 21, 24, 25 e 28. A categorização dos projectos rege-se pelo Decreto nº 45/2004, 23 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO sendo que o tipo de Avaliação de Impacto Ambiental a que as actividades propostas devem estar sujeitas é determinado com base numa série de condições especificadas nos Anexos I, II e III deste último. Assim, são definidas três categorias de actividades, conforme abaixo especificado: A Categoria A é atribuída às actividades com impacto significativamente adverso sobre o ambiente, estando, por isso, sujeitas a um Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Tais actividades estão especificadas no Anexo I do Regulamento da AIA; A Categoria B é conferida a actividades cujos potenciais impactos ambientais são menos adversos, comparativamente aos dos projectos da Categoria A e, em particular, não afectam significativamente populações humanas, nem áreas ambientalmente sensíveis. Tais actividades estão sujeitas a um Estudo Ambiental Simplificado (EAS). Esta categoria está definida no Anexo II do Regulamento da AIA; A Categoria C corresponde a actividades isentas de AIA, estando sujeitas, no entanto, à observância de boas práticas de gestão ambiental. As actividades desta categoria estão definidas no Anexo III do Regulamento da AIA. Em conformidade com o acima explicado e em cumprimento do Regulamento do EIA, sustentam a atribuição da Categoria A as seguintes determinações do Decreto 45/2004 de 29 de Setembro: Actividades em “Áreas ao longo de cursos de água ou áreas usadas como fontes de abastecimento de água para consumo das comunidades” [alínea e) do Anexo 1]; “Zonas contendo recursos de valor, como por exemplo aquáticos (…)” [alínea f) do Anexo 1] “Todas as actividades que impliquem reassentamento populacional” [alínea a, do número 1 do Anexo 1]; “Barragens e represas com albufeira de área inundável equivalente ou maior que 5 hectares” [alínea o), do número 1 do Anexo 1]; Directiva Geral para Estudos de Impacto Ambiental (Diploma Ministerial nº 129/2006 de 19 de Julho) 24 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Directiva serve como base mínima para a orientação do processo de AIA, apresentando os princípios que devem orientar a execução do processo, definindo os procedimentos para o Licenciamento Ambiental e providenciando indicações para a preparação dos relatórios a submeter ao MICOA. Importa ainda considerar outros instrumentos legais de interesse no domínio da Gestão Ambiental, que prescrevem normas aplicáveis a diferentes aspectos a ter em conta ao longo da AIA e/ou da implementação do projecto, abaixo apresentados. Decreto nº 18/2004, de 2 de Junho – Aprova o Regulamento sobre Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes, que pretende assegurar o controlo efectivo da qualidade do ambiente e dos recursos naturais de Moçambique. Este servirá de referência durante a fase de implantação do projecto, pelo seu papel regulador de emissões atmosféricas e de ruído. Decreto nº 13 /2006, de 15 de Junho - Regulamento sobre a Gestão de Resíduos, que estabelece regras relativas à produção, ao depósito no solo e subsolo, ao lançamento para a água ou atmosfera de toda e qualquer substância tóxica ou poluidora, assim como a prática de actividades poluidoras que acelerem a degradação do ambiente, com vista a prevenir ou minimizar os seus impactos negativos sobre a saúde e o ambiente. Este regulamento classifica os resíduos em perigosos e não perigosos e subdivide-os nas categorias estabelecidas no seu Anexo IV. Decreto nº 11/2006, de 15 de Junho - Aprova o Regulamento sobre a Inspecção Ambiental, que tem por objecto regular a actividade de supervisão, controlo e fiscalização do cumprimento das normas de protecção ambiental a nível nacional. Diploma Ministerial nº 189/2006, de 14 de Dezembro - Aprova as Normas Básicas de Gestão Ambiental para a Actividade Mineira. Para o projecto proposto, são de considerar as actividades de estabelecimento de pedreiras e abertura de câmaras de empréstimo. As normas visam assegurar que actividades desse tipo, baseadas em métodos de mineração considerados relativamente simples, sejam conduzidas de modo 25 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO a evitar a poluição do ar, do solo e das águas; a prevenir danos significativos sobre a flora e a fauna; e a atentar contra a saúde humana. 6.1.2 Sector de Energia Lei da Electricidade (Lei nº 21/97 de 1 de Outubro) A Lei da Electricidade aplica-se à produção, transporte, distribuição e comercialização da energia eléctrica no território Moçambicano, bem como à sua importação e exportação para, ou do território nacional. Esta lei cria no seu artigo 7, o Conselho Nacional de Energia Eléctrica (CNELEC) como uma entidade de direito público, com uma função consultiva, de defesa do interesse público, servindo também de foro de auscultação da opinião pública sobre assuntos relevantes da política nacional de energia e da aplicação da legislação, com funções também de conciliação, mediação e arbitragem entre concessionários e entre estes e consumidores. No seu artigo 34, a Lei apresenta disposições sobre o acesso aos caudais hídricos, sendo que para efeitos de produção de electricidade, garante ao concessionário o seguinte: Usar uma quantidade definida do caudal de um curso de água; Retirar, represar ou armazenar uma quantidade de água definida de um curso hídrico, dentro ou fora do seu leito. Este artigo informa, igualmente, sobre a isenção de pagamento de taxas sobre a utilização de água, aos concessionários a quem for autorizado o acesso aos caudais hídricos para efeitos da produção de hidro-electricidade. Política Nacional de Energia (Resolução nº 5/98, de 3 de Março) A Política Nacional de Energia, aprovada pela Resolução n.º 5/98, de 3 de Março, preconiza a promoção de programas de investimento economicamente viáveis, com vista ao desenvolvimento dos recursos energéticos do país, incluindo os de origem hídrica. Esta política realça, inclusivamente, a necessidade de promoção da construção de novos empreendimentos hidroeléctricos, com prioridade para os situados ao longo do Vale do Zambeze. 26 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Estratégia de Energia (Resolução n° 10/2009 de 4 de Junho) Esta estratégia surge na sequência da Lei da Electricidade e Política de Energia. A Estratégia em vigor tem como visão assegurar a disponibilidade de energia a nível nacional, para responder aos desafios do desenvolvimento socioeconómico sustentável; a missão é a criação de condições para aumentar o acesso a formas de energia diversificadas, de modo sustentável, contribuindo para o bem-estar da população e o desenvolvimento socioeconómico do país. Regulamento das Concessões de Energia Eléctrica (Decreto nº 8/2000 de 20 de Abril) Este regulamento define as competências e os procedimentos relativos à atribuição de Concessões de produção, transporte, distribuição e comercialização de energia eléctrica, bem como a sua importação e exportação. Gestão do Transporte de Energia Eléctrica (Decreto nº 43/2005 de 29 de Novembro) Designa a empresa Electricidade de Moçambique, Empresa Pública, para realizar o serviço público de gestor da rede nacional de transporte de energia eléctrica e do respectivo centro de despacho. 6.1.3 Sector de Águas Lei das Águas (Lei nº 16/91 de 3 de Agosto) A Lei das Águas tem como objectivo, segundo o seu Artigo 2, definir uma série de parâmetros ligados à política e gestão dos recursos hídricos, ao regime jurídico em geral, das diferentes actividades relacionadas com a água como: protecção, conservação, inventário, uso e aproveitamento, controlo e fiscalização, assim como definir as competências atribuídas ao Governo em relação ao domínio público hídrico. No âmbito do presente projecto, importa considerar com particular relevância as seguintes disposições: 27 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Artigo 7, contendo os Princípios de Gestão de Águas, cuja alínea (b) se refere à necessidade de coordenação institucional e participação das populações nas principais decisões relativas à política de gestão de águas; Artigo 7, que define igualmente, como condicionante de aprovação, a necessidade de uma análise prévia dos impactos ambientais e socioeconómicos de uma obra hidráulica; O Artigo 13, que define nas suas alíneas b) e c), dentro do âmbito do esquema geral de aproveitamento dos recursos hídricos, sobre a necessidade de defesa do meio ambiente, de forma a garantir que os usos e aproveitamento de água se realizem sem prejuízo do caudal mínimo e do caudal ecológico, respeitando na medida do possível, o regime natural dos depósitos e cursos de água; determina ainda a necessidade de protecção da qualidade da água; O Artigo 18, que designa as Administrações Regionais de Águas (ARAs) como instituições responsáveis pelos recursos hídricos superficiais e subterrâneos e atribui competências importantes de gestão, controlo, planeamento e domínio dos recursos hídricos e infra-estruturas, assim como aprovação das obras hidráulicas a realizar. No contexto do presente projecto, foi criada a ARAZambeze responsável pela gestão da bacia hidrográfica do Rio Zambeze; Artigo 49, que define as obrigações do concessionário de produção de energia, sendo estas as seguintes: Deixar correr permanentemente a jusante das barragens caudais que, de acordo com o esquema de operação aprovado, forem julgados necessários para salvaguardar o interesse público ou os legítimos interesses de terceiros; Ceder, sem direito a qualquer indemnização, a água necessária para a rega das zonas abrangidas por planos de obras de desenvolvimento hidro-agrícola e para abastecimento dos centros urbanos; Tomar providências de protecção da piscicultura, que forem determinadas superiormente, Organizar diagramas de exploração de central hidroeléctrica e de utilização da água represada na albufeira e fazer as observações hidrometereológicas que forem determinadas pela Direcção Nacional de Águas, a qual poderá manter o funcionamento, à custa do concessionário, 28 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO dos aparelhos e demais instalações que julgar convenientes para esse fim. Política Nacional de Águas A Política Nacional de Águas foi aprovada pelo Conselho de Ministros a 21 de Agosto de 2007, revogando a de 1995. Esta surge na sequência da lei de águas de 1991. Esta política define os seus principais objectivos a médio prazo (2015) e longo prazo (2025), destacando-se para efeitos do presente estudo, a promoção de projectos de hidroeléctricas, conservação ambiental, gestão integrada dos rios internacionais, crescimento do papel das partes interessadas e afectadas e desenvolvimento de actividades de monitoria, planeamento e comunicação. Estratégia Nacional de Gestão de Recursos Hídricos O principal objectivo da Estratégia de Gestão de Recursos Hídricos é a implementação da Política Nacional de Águas de forma a atingir as metas traçadas. A presente estratégia aborda todos aspectos naturais dos recursos hídricos, designadamente: águas superficiais e subterrâneas, qualidade de água, poluição e protecção de ecossistemas, usos da água em todos os sectores da economia nacional, quadro legal e institucional, capacitação institucional e questões ligadas ao desenvolvimento nacional e integração regional. No que respeita ao presente projecto a Estratégia define como principais acções relevantes as seguintes: Reabilitar e construir barragens para assegurar a disponibilidade de água para diferentes fins, incluindo para a produção de energia hidroeléctrica (CurtoPrazo); Implementar, em paralelo com as grandes barragens, um programa de construção de barragens de pequena e média dimensão (Médio a Longo-Prazo); Garantir uma operação e manutenção adequadas, bem como a monitoria da segurança estrutural das obras (Médio e Longo Prazo); No que concerne aos recursos hídricos transfronteiriços, a estratégia estabelece a necessidade de observar os princípios de unidade e coerência da bacia hidrográfica, cooperação, precaução e prevenção; 29 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Ainda nos recursos hídricos partilhados, é definida a necessidade de seguir os procedimentos internacionais e as boas práticas estabelecidas; Rever periodicamente as regras de operação de todas as grandes barragens para melhor operação durante as cheias, incorporando as previsões de cheias, e fazendo ajustamentos no início da época chuvosa, para considerar as previsões meteorológicas de longo-prazo; A Avaliação de Impacto Ambiental em curso enquadra-se na necessidade de assegurar que a implantação do aproveitamento hidroeléctrico de Lupata seja ambientalmente viável e neste contexto, a Estratégia Nacional de Gestão de Recursos Hídricos em vigência estabelece acções estratégicas com vista a garantir uma gestão de recursos hídricos que permita a conservação ambiental e a prevenção e controlo de poluição, sendo estas as seguintes: Desenvolver de capacidades para lidar com questões relativas à qualidade da água, caudais ecológicos, infestações por plantas aquáticas, monitoria da poluição, entre outras que permitam assegurar a preservação do recurso; Lidar com a eutrofização e a presença excessiva de plantas aquáticas nas albufeiras e rios; Assegurar caudais ecológicos de acordo com as necessidades de água a jusante e a gestão de descargas artificiais de cheias; Promover a avaliação do impacto ambiental como uma necessidade obrigatória para quaisquer iniciativas de desenvolvimento dos cursos de água; Reforçar as medidas para a monitoria efectiva da qualidade da água; 6.1.4 Sector de Terras A Constituição da República em vigor, publicada na 1ª Série do Boletim da República, de 22 de Dezembro de 2004, prescreve no Artigo 111, com a epígrafe “Direitos Adquiridos por Herança ou Ocupação da Terra”, que “Na utilização do direito de uso e aproveitamento da terra, o estado reconhece e protege os direitos adquiridos por herança ou ocupação, salvo havendo reserva legal ou se a terra tiver sido legalmente atribuída a outra pessoa ou entidade.” 30 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Lei de Terras (Lei nº 19/97, de 1 de Outubro) A Lei de Terras estabelece como âmbito os termos em que se opera a constituição, exercício, modificação, transmissão e extinção do direito de uso e aproveitamento da terra, e como princípio define que a terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida ou, por qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada. Para efeitos de definição das áreas de influência para o presente estudo ambiental, foi revisitada esta lei no seu artigo 8, que define as zonas de protecção parcial para a implantação de infra-estruturas públicas. Esta estabelece, exclusivamente para barragens, como zona de protecção parcial uma faixa de 250 m de contorno da barragem e albufeira. São igualmente definidos nesta Lei as respectivas restrições e exercícios de actividades nas zonas de protecção estabelecidas. Regulamento da Lei de Terras (Decreto nº 66/98 de 8 de Dezembro) O Regulamento da Lei de Terras apresenta uma série de disposições relacionadas como o domínio público da terra, direito de usos e aproveitamento da terra, processo de titulação, fiscalização e taxas. Destaca-se, para o caso da actividade proposta, entre outros aspectos, o seu artigo 17, que determina a obrigação de indemnização e/ou compensação ao titular do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT) de um terreno pretendido para outro uso por um investidor público ou privado. Política Nacional de Terras A Politica Nacional de Terras de 1995 promove a posse de terra e esclarece as várias formas de utilização das mesmas. No seu Artigo 17, refere como principais fundamentos desta política, o uso sustentável dos recursos naturais como forma de garantir a qualidade de vida para as gerações presentes e futuras, assegurando que as zonas de protecção total e parcial mantenham a qualidade ambiental e os fins especiais para os quais foram constituídas. 31 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 6.2 OUTROS INSTRUMENTOS LEGAIS SECTORIAIS Lei do Trabalho (Lei nº 23/2007, 01 de Agosto) Como já mencionado na Secção 7.6 deste relatório, o presente projecto poderá criar, no pico das actividades da Fase de Construção, cerca de 2.500 postos de trabalho. Torna-se, assim, importante referir à Lei de Trabalho vigente, especialmente no que concerne aos aspectos relacionados com os direitos e deveres dos trabalhadores, assim como as questões de higiene, saúde e segurança no trabalho estabelecidas no capítulo IV da mesma. A Lei estabelece que “as entidades empregadores devem providenciar aos seus trabalhadores boas condições físicas de trabalho (…) e informálos sobre o risco do seu posto de trabalho”; a Lei estabelece ainda que, “sempre que necessário, as entidades empregadoras devem fornecer equipamentos de protecção e roupas de trabalho apropriados”, como forma de minimizar os riscos de Saúde e Segurança. Lei de Pescas (Lei nº 3/90, de 26 de Setembro) A Lei de Pescas é relevante no sentido em que no Artigo 9 responsabiliza o Estado pela promoção da pesca de pequena escala, incluindo a pesca artesanal, actividade que, normalmente, ocupa uma grande parte das comunidades ribeirinhas. O seu Artigo 8, que informa sobre os planos de desenvolvimento pesqueiro, é de particular relevância para o presente estudo. Lei de Florestas e Fauna Bravia (Lei nº 10/99, de 7 de Julho) O Artigo 3 da Lei de Florestas e Fauna Bravia define os princípios da gestão de recursos florestais e faunísticos, sendo de destacar o seguinte: o reconhecimento e valorização das tradições e do saber das comunidades locais (alínea e); o envolvimento do sector privado na gestão, conservação e exploração de recursos florestais e faunísticos (alínea f); a responsabilidade objectiva de todos os que causarem danos em recursos florestais e faunísticos, com a obrigação proceder à respectiva recomposição ou compensar a degradação bem como os prejuízos causados a terceiros, independentemente de outras consequências legais. 32 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO O seu Artigo 13 merece especial consideração para este projecto, pois define e estabelece a necessidade de protecção de zonas de uso e de valor histórico e cultural das comunidades locais. Deve-se ser dada, igualmente, especial atenção ao Decreto n.º 12/2002, de 6 de Junho, alterado pelo Decreto nº 11/2003, de 25 de Março, que regulamenta a Lei de Florestas e Fauna Bravia, assim como o Decreto n.º 25/2008, de 1 de Julho, que aprova o Regulamento para o Controlo de Espécies Exóticas Invasivas. Lei de Protecção Cultural (Lei nº 10/88, de 22 de Dezembro) No Artigo 4 da Lei de Protecção Cultural, sobre a responsabilidade estatal pela protecção e valorização do património cultural, o Estado é incumbido, entre outras responsabilidades, de promover, através dos órgãos locais, a protecção, conservação, valorização e revitalização de bens classificados situados no seu âmbito territorial, integrando as referidas medidas nos seus planos de actividades. Deste modo, o plano de construção de uma barragem com potencial impacto no património cultural deve respeitar esta medida. Regulamento para a Protecção do Património Arqueológico (Decreto-Lei nº 27/97, de 20 de Julho) Este regulamento proíbe no seu artigo 21 a realização de obras de construção, alienações, obras de demolição ou qualquer outra que determine a alteração física nas zonas de protecção de elementos imóveis arqueológicos, ou em áreas que possuam evidências de elementos arqueológicos de inestimável valor científico e que importa preservar para as gerações futuras. Este regulamento determina, entre outros aspectos, que a descoberta de artefactos deve ser comunicada à autoridade local mais próxima (Administração Distrital ou Conselho Municipal) dentro de 48 horas. Lei do Ordenamento do Território A Lei nº 19/2007 de 18 de Julho apresenta, em conformidade com os princípios e objectivos gerais e específicos, o enquadramento jurídico da política de ordenamento do território nacional, para permitir que se alcancem os seus objectivos principais, designadamente: 33 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO O aproveitamento racional e sustentável dos recursos naturais; A promoção da coesão nacional; A preservação do equilíbrio ambiental; A segurança das populações vulneráveis a calamidades naturais ou provocadas; A valorização dos diferentes potenciais de cada região; A promoção da qualidade de vida dos cidadãos. São destacadas no Artigo 4 da Lei do Ordenamento do Território as questões relativas à equidade e igualdade de acesso à terra e a outros recursos, a responsabilidade por danos, a segurança jurídica dos titulares de direitos, entre outros. 34 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 7 DESCRIÇÃO DO PROJECTO O projecto proposto consiste na construção de uma barragem em aterro para fins de produção de energia eléctrica. Esta deverá situar-se no leito do Rio Zambeze, cerca de 84 km a jusante da Cidade de Tete, na zona da Garganta de Lupata, a aproximamadamente 350 km da foz do rio. As coordenadas do eixo Lupata são: Latitude: 160 38’ 22” S; Longitude: 340 08’15” E. A albufeira prevista compreenderá uma área a inundar de cerca de 208 km2 que abrange os Distritos de Changara, Moatize e Mutarara (na Província de Tete) e Tambara e Guro (na Província de Manica) (Figura 2). De montante para jusante, a área a inundar atravessa as confluências de vários afluentes, nomeadamente Muarazi, Luenha, Nhacanóngua, Nhadudezo, Lulera e Fidezo, dos quais o maior é o Rio Luenha. 35 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 2: Localização da Proposta Barragem e da Albufeira de Lupata 36 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO As características gerais do projecto proposto, incluindo uma série de detalhes técnicos, são apresentadas nas secções que se seguem. 7.1 ASPECTOS GERAIS A fase de construção do AH de Lupata consistirá de quatro etapas principais, precedendo a fase de enchimento do reservatório. Estas etapas incluirão as obras de construção da ensecadeira / desvio do curso do rio, bem como a construção da barragem e das infra-estruturas auxiliares, segundo mostra o diagrama das etapas de construção apresentado na Figura 3. A primeira etapa envolverá a construção de uma ensecadeira longitudinal, com a finalidade de proteger as escavações, para permitir a construção das infra-estruturas de betão, neste caso do descarregador e da central hidroeléctrica. Durante esta etapa o rio continuará a correr no seu leito natural. A segunda etapa compreenderá a construção da infra-estrutura do descarregador e o inicio da escavação da casa de força, a localizarem-se na margem direita do rio (margem sul). Na terceira etapa serão construídas as ensecadeiras de montante e de jusante e será removida a ensecadeira longitudinal. Durante esta etapa o fluxo será desviado para o descarregador, permitindo desta forma, as intervenções inerentes à fase seguinte. A quarta etapa, considerada chave, destacável pelo grande volume de obras de intervenção, envolverá a construção da barragem no leito do rio, sistema de adução e da central eléctrica na margem direita do rio. 37 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO ETAPA 1: Construção da Ensecadeira Longitudinal ETAPA 2: Construção do Descarregador ETAPA 3: Construção das Ensecadeiras de Montante e Jusante ETAPA 4: Construção da Barragem, do Canal de Adução e da Central Hidroeléctrica Figura 3: Etapas de Construção do AHE de Lupata A fase de enchimento da albufeira deverá ocorrer logo após o processo de construção acima descrito. A anteceder esta fase, será realizada uma série de actividades preparatórias na área a inundar, que poderão incluir a desmatação e reassentamento das populações residentes na área proposta para o estabelecimento da albufeira. Devido ao 38 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO carácter sensível desta actividade, a mesma deverá ser devidamente planeada, de modo a assegurar que sejam aplicadas todas as medidas de segurança que permitam garantir a prevenção de acidentes que possam afectar trabalhadores ou pessoas não envolvidas nas obras. No que se refere à fase de operação, é proposta uma barragem a “fio-de-água" (run-ofriver). Normalmente este tipo de barragem, apresenta uma albufeira com uma capacidade de armazenamento reduzida, não alterando de forma significativa o regime de escoamento do caudal do rio, pois as afluências são quase instantaneamente lançadas para jusante. O estaleiro e o acampamento da obra serão localizados do lado da margem direita do rio (margem sul), onde haverá uma maior concentração de trabalhos (escavações, descarregador, sistema de adução, central hidroeléctrica) e devido às facilidades de acesso. Prevê-se o estabelecimento de um acampamento com aproximadamente 350 casas. Na margem do rio haverá também necessidade de implantar outras infraestruturas de apoio às actividades de campo, incluindo área administrativa, área de acomodação, sanitários, área social, laboratório, oficinas, entre outros. 7.2 MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO A barragem de Lupata será de terra-enrocamento, implicando assim, grandes terraplenagens (escavações e aterros). Para as obras, foi estimada, de modo preliminar, a necessidade de um volume de aterro na ordem dos 5.000.000 m3. Estão em progresso investigações de materiais de construção em áreas localizadas nas duas margens do local do empreendimento, tendo sido constatadam nos resultados dos ensaios de granulometria realizados, a presença de material de boa qualidade numa área localizada a 13 km de distância na margem direita. No entanto, está a ser verificada uma possibilidade da existência de material adequado a uma distância menor do eixo. A margem esquerda revela, igualmente, a ocorrência de material adequado, mas segundo os relatórios preliminares de engenharia, deverão ser realizadas investigações adicionais, para determinar os locais para o estabelecimento de câmaras de empréstimo. 39 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO As principais matérias-primas a utilizar durante a fase de construção serão o cimento, ferro, areia, argila e pedra. Dados preliminares indicam existir nas proximidades do local do proposto eixo da barragem uma quantidade abundante de areia, adequada para a produção de betão e para a utilização nos filtros da barragem. Serão igualmente aproveitadas as rochas provenientes das escavações a serem realizadas no local do estabelecimento da barragem, para fins de produção de betão e para enrocamentos. Está previsto o uso de maquinaria pesada de vários tipos durante a fase de construção, como por exemplo a draga de areia de grande capacidade, equipamento de densificação de areia por vibro-flotação, camiões basculantes, britadoras, compactadores, escavadoras hidráulicas, guindastes e outras. 7.3 A BARRAGEM A barragem proposta será de terra-enrocamento com face de betão com uma altura máxima de 40 metros. A cota do coroamento, onde será instalada uma via para circulação entre as margens da Barragem de Lupata, será construída a 132 m anmm e apresentará um comprimento de 500 m. A área a inundar no Nível de Pleno Armazenamento de 120 m anmm será de aproximadamente 208 km2. Esta área abrangerá parte dos Distritos de Changara, Moatize, Mutarara (Província de Tete), e Guro e Tambara (Província de Manica). No local do eixo da Barragem os encontros serão constituídos por um maciço rochoso com pequena cobertura de solo. Conjugado ao encontro localizado do lado direito, será instalado o descarregador, que por sua vez estará associado à central hidroeléctrica, constituída pela casa de força, segundo mostra o arranjo esquemático do aproveitamento hidroeléctrico de Lupata na Figura 4. 40 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Ensecadeira de Montante Corpo da Barragem Ensecadeira de jusante Casa de Força Descarregador . Figura 4: Arranjo Esquemático do Aproveitamento Hidroeléctrico de Lupata 41 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 7.4 ALBUFEIRA O Nível de Pleno Armazenamento (NPA) estará situado à cota de 120 m e o Nível Normal de Jusante será situado a uma cota de 95 m, definindo uma queda bruta de 25 m (estes dados carecem de posterior confirmação, após os estudos de remanso). A área da albufeira de Lupata no Nível de Peno Abastecimento (NPA) foi estimada em 207,11 km2, com um volume máximo de armazenamento de 2,9x109 m3. 7.5 CENTRAL HIDROELÉCTRICA O aproveitamento hidroeléctrico de Lupata incluirá uma Central hidroeléctrica com uma potência instalada de 600 MW. Esta Central será do tipo semi-abrigada, ocupará uma área de 64 ha e será equipada com 4 turbinas Kaplan de 150 MW (ou 6 de 100 MW, em estudo) cada e instaladas a uma cota de 95 m anmm. Prevê-se uma potência firme de 313,58 MWmédios, gerando, deste modo, uma energia firme de 2.746.960,8 MWh por ano. A Energia a ser produzida será transportada através de linhas de transporte de energia eléctrica, suportadas por torres metálicas, que partirão da barragem até à subestação de Matambo, onde a partir daí esta será distribuída para dentro e fora do País. O principal órgão hidráulico a constituir, nomeadamente o descarregador de fundo, será descarga livre. Este será instalado na margem direita do rio, conjugado à Central Hidroeléctrica. O descarregador será do tipo ogiva alta, dimensionado para um caudal máximo de 33.000 m3/s e formado por 11 vãos de dimensões de comportas de 19,25 x 18,35 m, com um comprimento da soleira de 248 m e instalados a uma cota de 109,25 m anmm. 7.6 MÃO-DE-OBRA Estima-se que no pico da fase de construção da Barragem de Lupata e das infraestruturas auxiliares, o número de trabalhadores atinja os 2.500. 42 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Figura 5 apresenta o histograma que representa a dinâmica de contratação de pessoal prevista para a fase de construção. Pode-se assim observar que a tendência será de aumento ao longo dos primeiros 20 meses das obras, até se atingir o pico previsto (que poderá manter-se pouco variável por um período de cerca de 8 meses), verificando-se, em seguida, um decréscimo até a conclusão do período de construção, no sexagésimo mês. Figura 5:Histograma de mão-de-obra da fase de construção do AH de Lupata 7.7 CRONOGRAMA DAS ACTIVIDADES 43 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO O cronograma geral de actividades estabelecido pelo proponente do projecto (Figura 6) define o faseamento de todas as actividades desde a fase de planeamento até a fase de operação do empreendimento proposto. Figura 6: Cronograma de Actividades para o Projecto do AH de Lupata O cronograma está sujeito a alterações, que poderão estar relacionadas com o ritmo dos estudos técnicos de engenharia para o projecto, da definição de questões específicas relacionadas com os planos de desenvolvimento do sector de energia ou outros factores. 44 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 8 DEFINIÇÃO DA ÁREA DE INFLUENCIA Foi definida como a Área de Influência Directa (AID) do projecto toda a área que será sujeita às intervenções das fases de construção e operação do projecto, ou seja a área que será alvo dos impactos directos da construção da barragem e das infra-estruturas associadas, e ainda a área de inundação que se será ocupada pela albufeira do aproveitamento proposto. Assim, inclui-se na AID o seguinte: O local onde será construída a estrutura da parede da barragem, a central hidroeléctrica, os órgãos hidráulicos, as ensecadeiras e todas as outras infraestruturas associadas à barragem; Os locais que serão explorados para a construção de vias de acesso de apoio ao projecto; Os locais onde serão construídas infra-estruturas de apoio, como estaleiros e acampamento para os trabalhadores, área de parqueamento e de manobra de viaturas e maquinaria a serem usadas durante a fase de construção, áreas de armazenamento de materiais (armazém ou a céu aberto); As áreas usadas para a extracção de materiais inertes para a construção (câmaras de empréstimo); A área que ficará inundada em resultado do enchimento da albufeira; A área confinante de 250 metros definida como Zona de Protecção Parcial para barragens e para albufeiras (a partir do Nível de Pleno Abastecimento, à cota de 120 metros) medidos em planta na albufeira, nos termos da alínea d) do artigo 5 do Regulamento da Lei de Terras3; Zonas que poderão ser afectadas pelas alterações hidrológicas previstas como resultado dos diferentes caudais turbinados diariamente (como parte do regime de operação normal da barragem), assim como de descargas efectuadas para compensar volumes elevados recebidos de montante. 3 Decreto nº. 66/98 de 8 de Dezembro. 45 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A consideração de critérios socioeconómicos na definição da área de influência directa do projecto permite estabelecer de uma maneira mais específica a abrangência desta. Desta forma, para efeitos do estudo socioeconómico, o principal critério considerado foi o da organização política e administrativa do território, uma vez que os principais indicadores descritores das áreas de influência do Projecto, assim como a discussão dos prováveis efeitos e impactos socioeconómicos do Projecto a serem estudados, ou mesmo as medidas a serem tomadas para os minimizar, se estruturam segundo as linhas de divisão política e administrativa do território. Assim, para efeitos do estudo do meio socioeconómico, são definidos como AID os distritos e os respectivos postos administrativos e localidades cujas áreas serão afectadas do seguinte modo: Construção da parede da barragem e das infra-estruturas associadas a esta, vias de acesso e infra-estruturas de apoio; Extracção de materiais inertes; Submersão da zona onde será formada a albufeira. Considera-se, por sua vez, Área de Influência Indirecta (AII) do projecto, toda a região para além dos limites das zonas sob efeitos directos do projecto, mas dentro da qual os seus impactos indirectos se possam ressentir. Assim, convencionou-se o seguinte: Constituem parte da AII as Províncias de Tete e Manica. A maior parte das actividades indirectamente ligadas ao projecto serão implementadas na Província de Tete, mas a Província de Manica, que terá 2 distritos afectados pela proposta área de inundação (Guro e Tambara), também será, presumivelmente, alvo da influência indirecta do projecto, que poderá manifestar-se de várias formas (p.e. desenvolvimento de pequenas e médias empresas para apoio ao projecto; migrações em busca de oportunidades de emprego); Tendo em conta os potenciais impactos de natureza hidrológica sobre o meio socioeconómico e com base numa abordagem precaucionária, inclui-se na AII toda a zona da Bacia do Zambeze a jusante da barragem, até ao Delta; Na fase de EIA, aquando da realização dos Estudos Especializados, poderá ser determinada a necessidade de revisão/redefinição da AID e da AII, em função de um melhor conhecimento das características de referência da área do projecto e de aspectos específicos do próprio projecto. 46 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 9 ANÁLISE DE ALTERNATIVAS 9.1 ALTERNATIVA DE LOCALIZAÇÃO Foram estudados no âmbito dos estudos prévios de viabilidade para o proposto projecto três alternativas de localização do eixo do aproveitamento hidroeléctrico de Lupata, sendo estas as seguintes: Eixo 3 – P1: 615.936,00mE, 8.162.986,00mN; P2: 615.265,oomE, 8.161.981,00mN; Eixo 2 – P1: 618.524,00mE, 8.162.394,00mN; P2: 618.258,00mE, 8.161.519,00mN; Eixo 1 – P1: 621.720,00mE, 8.160.398,00mN; P2: 620.989,00mE, 8.159.358,00mN. Estes eixos foram definidos durante uma visita ao local, realizada pela equipa de engenharia do projecto em Agosto de 2010, com base em análises de fotografias aéreas. O primeiro deles, de montante para jusante (que se convencionou designar Eixo 3), encontra-se localizado logo abaixo dos 2 picos que se destacam na margem esquerda do rio. Não foi possível aceder a este local durante a visita realizada pela equipa de engenharia do projecto por via fluvial. Logo, esta opção foi descartada, não apenas devido a inacessibilidade, como também porque implicaria uma queda menor. O segundo local é onde existe um limnígrafo desactivado da ARA-Zambeze. Esse local foi visitado e percorrido pela equipa de Engenharia na sua porção mais próxima ao rio, na margem direita. A impressão visual foi a de um local com espaço adequado para a implantação das infra-estruturas (Eixo 2). Posteriormente, verificou-se não existir espaço suficiente na margem direita para a implantação do descarregador e da casa de força. Verificou-se, igualmente, que nesse eixo não seria viável construir-se parte das estruturas na margem esquerda, por esta constituir um paredão rochoso, muito mais alto do que a cota do coroamento da barragem. Por esta razão esta alternativa não foi considerada. 47 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO O terceiro local (Eixo 1), com a porção marginal de acesso relativamente fácil, mostrouse favorável. Este situa-se a montante do povoado de Bandar, que está na margem esquerda (Figura 7). Foi decidido concentrar os estudos nesse eixo de jusante. Figura 7: Local proposto para o aproveitamento hidroeléctrico de Lupata – Eixo 1 O programa de investigações técnicas e de engenharia de Lupata para a determinação da viabilidade do eixo integra sísmica de refracção e de reflexão, bem como sondagens rotativas e poços de pesquisa. Este programa foi iniciado, mas os seus resultados ainda não estão disponíveis. 9.2 ALTERNATIVAS DE TIPO DE BARRAGEM A CONSTRUIR Anteriormente à escolha do tipo de barragem com face de betão, foi estudada uma alternativa de um tipo de barragem homogénea, fundada no próprio aluvião e com barreiras à água constituídas de algum tipo de cortina impermeável sob o núcleo. A alternativa barragem homogenea foi rejeitada; a barragem de terra com face de betão apresenta uma série de vantagens, identificadas como sendo as seguintes: Menos espaço montante-jusante; Menor necessidade de solo argiloso (este que é pouco abundante na área do projecto); 48 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Maior facilidade de conexão do elemento vedante da fundação com a vedação da própria barragem; Possibilidade de construção da base da barragem com aterro hidráulico de areia, por dragagem; No caso, improvável, da necessidade de construção de uma ensecadeira intermediária para dividir a carga no momento do barramento, esta ensecadeira poderia ser incorporada ao aterro da barragem. 9.3 ALTERNATIVA DE ARRANJO GERAL DA BARRAGEM Durante os trabalhos realizados na área do projecto no mês de Agosto de 2010, foram estudadas duas alternativas de arranjo. A primeira seria com o lançamento da casa de força e o descarregador na margem direita, aproveitando um baixio existente nesse local. Neste caso, mostrou-se necessário um grande volume de escavações do lado direito das estruturas, chegando aos 70 m.4 Com intuito de reduzir as escavações, foi estudado outro arranjo com a casa de força na margem esquerda, permanecendo o descarregador na margem direita. Esta alternativa não foi considerada, pois podia resultar também, em grandes volumes de escavações. Posteriormente, durante uma reunião da equipa de engenharia, previamente à visita ao local de Novembro de 2010, foram apresentados 4 arranjos alternativos, preparados pela ATP utilizando como base referências cartográficas (cartas de 1:50.000). A alternativa apresentada na Figura 8 foi considerada a mais adequada, implicando um ajuste, nomeadamente a deslocação das estruturas mais para o interior da margem, para evitar o lançamento de ensecadeira longitudinal sobre o aluvião. Esse arranjo previa a localização de todas as estruturas na margem direita. 4 Baseado em referência topográfica do Google, na qual foram baseados aqueles estudos. 49 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Corpo da Barragem Casa de Força Descarregador Figura 8: Alternativa seleccionada do arranjo da barragem de Lupata Em nova visita ao local, em Novembro de 2010, foi identificada e percorrida uma colina de rocha sã, na margem direita, que se mostra adequada para a localização do eixo de Lupata. Foi constado que a rocha ocorre na forma de um afloramento e que poderá requerer um volume considerável de escavação para a tomada de água e o descarregador mas que a sua condição sã reduziria significativamente a possibilidade de ocorrência de condições inesperadas. 50 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DE REFERÊNCIA: ASPECTOS BIOFÍSICOS No presente capítulo é apresentada uma descrição da situação ambiental de referência da área do projecto, no que se refere a características biofísicas; as características socioeconómicas da área são apresentadas mais adiante, no Capítulo 11). A informação foi compilada a partir de dados obtidos tanto da consulta de referências documentais diversas, como de visitas à área do projecto. As descrições estão predominantemente orientadas para um enquadramento regional do projecto, em que o Baixo Zambeze é referência principal, mas são também apresentados dados relativos ao local onde serão estabelecidos a barragem e a sua albufeira. 10.1 CLIMA A Bacia do Zambeze possui uma localização que propicia uma grande influência de sistemas de ventos dominantes, que incluem os ventos de Sudeste, a Massa de Ar do Congo, os Ventos de Nordeste e a Zona de Convergência Inter-tropical (Chenge et al, 2000). O Clima do Vale Zambeze é influenciado pelo movimento anual da chamada Zona de Convergência Intertropical e, mais especificamente, pela frente Intertropical Sul. No período de Novembro a Abril (com extremos em Janeiro-Fevereiro), esta frente desloca-se para Sul, observando-se nessa altura os maiores valores de temperatura e precipitação, com predomínio de ventos de Nordeste. Entre Maio e Outubro (com extremos em Julho-Agosto), a frente desloca-se para Norte e, nessa altura, observamse então os valores mais baixos de temperatura e precipitação, com predomínio de ventos de Sudoeste. Na região do proposto aproveitamento hidroeléctrico de Lupata (Províncias de Tete e Manica), não se manifesta a acção moderadora do mar, que normalmente se faz sentir ao longo da costa, devido à sua considerável distância em relação a este. A região está, em contrapartida, sob a influência de uma diversidade de factores de potencial influência sobre o clima, tais como a topografia, o tipo de cobertura do solo, o regime de ventos e, em particular, a presença de um corpo de água de grandes proporções, no caso próprio Rio Zambeze; a presença das grandes massas de água (lagos Malawi, Niassa, Kariba e Cahora Bassa) também desempenha um importante papel na modificação das condições do clima ao longo da Bacia, o que se relaciona com a criação de grandes superfícies de evaporação da água, com consequências nos níveis de humidade do ar local. 51 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Na Província de Tete e num contexto regional, o clima é geralmente caracterizado de Intertropical, com uma estação quente e chuvosa (entre Outubro e Março) e uma seca e fresca (entre Abril e Setembro). Pelo facto de o projecto afectar predominantemente a Província de Tete, foi usada como referência principal a informação registada na única estação meteorológica de 1ª Classe existente na Província de Tete, nomeadamente a Estação Meteorológica do Aeroporto de Chingodzi (Cidade de Tete)5. 10.1.1 Temperatura As temperaturas na área do Vale do Zambeze, na Província de Tete são, em geral, consideradas altas, sendo que os valores médios máximos para os meses mais quentes observam-se em Novembro (36,8°C), enquanto para o mês mais fresco (Julho), a temperatura máxima média mensal é de 28,8°C (ver Figura 9). As temperaturas mínimas médias variam entre 24°C em Janeiro e 16,4°C em Julho. O período mais quente ocorre em Outubro/Novembro, antes do início das chuvas. As temperaturas sofrem uma ligeira redução na estação húmida e uma redução relativamente mais acentuada em Junho e Julho. 40 35 Temperatura (ºC) 30 25 20 15 10 5 0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN Tem peratura m áxim a m édia m ens al JUL AGO SET OUT NOV DEZ Tem peratura m ínim a m ens al Figura 9: Temperaturas mensais médias mínimas e máximas (°C) 5 Em Moçambique existem diferentes “classes” de estações meteorológicas. As estações meteorológicas de 1ª classe localizam-se em todas as capitais provinciais e registam dados climáticos (temperatura, precipitação, evaporação, radiação, vento, etc.) a cada três horas. As estações de 2ª classe registam um número mais limitado de variáveis climatéricas três vezes por dia. 52 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10.1.2 Precipitação Como acima mencionado, o Vale do Zambeze situa-se no extremo Sul da Zona de Convergência Intertropical, que transporta ar húmido do mar para o interior. O movimento anual dessa zona em direcção a Norte varia, influenciando fortemente a precipitação no Vale. Os dados de precipitação mostram, assim, diferenças consideráveis entre meses diferentes, bem como entre anos diferentes. A precipitação média anual ronda os 600 mm, sendo as variações anuais e mensais altas. A precipitação mensal mais alta para o período 1961-2000 foi registada em Fevereiro de 1997 (419 mm). A estação seca é caracterizada por seca quase total (ver Figura 10) e o inverno mais seco do Vale do Zambeze observa-se em Tete. 180 Precipitação (mm) 160 140 120 100 80 60 40 DEZ NOV OUT SET AGO JULH O JUN HO MAIO MAR FEV JAN 0 ABR IL 20 Figura 10:Precipitação Média Mensal para Tete (mm) A análise de dados de precipitação correspondentes a um período de 38 anos (1961 a 1999) permite observar uma variação dos valores totais anuais de precipitação, nomeadamente de 352 mm em 1983, a 1.080 mm em 1997. De forma similar, os totais mensais de Janeiro, o mês mais húmido, mostram uma grande variação, nomeadamente de 10 mm (Janeiro 1984) a 365 mm (Janeiro 1990) (ver Figura 11). 53 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 1200.0 1000.0 Precipitação (mm) 800.0 600.0 400.0 200.0 1999 1997 1996 1994 1995 1993 1990 1991 1987 1988 1985 1986 1984 1982 1983 1980 1981 1978 1979 1977 1975 1976 1973 1974 1971 1972 1970 1968 1969 1966 1967 1964 1965 1963 1961 1962 0.0 Figura 11: Precipitação Total Anual para o Período 1961-1999 Note-se que a precipitação apresenta uma enorme variação espacial, que resulta fundamentalmente de uma estreita relação entre precipitação e altitude. Regista-se ainda uma significativa variação temporal, inter-anual e intra-anual, dos valores de precipitação, muito embora no centro-norte do país exista uma distribuição mais uniforme ao longo do ano, em comparação com o sul. Em geral, a precipitação nas províncias do Centro-Norte, por influência do relevo e altitude, tem um carácter mais torrencial. Com base na descrição do clima acima, conclui-se que a zona não é propensa a situações climáticas extremas como ciclones e tempestades. No que concerne a inundações, verificase uma influência significativa das operações das grandes barragens existentes (com destaque para Kariba e Cahora Bassa), como consequência de elevados níveis de precipitação a montante na época chuvosa, que causam a subida dos níveis das águas, conduzindo a volumes de descarga superiores aos normais. 10.1.3 Humidade relativa A humidade relativa torna-se mais baixa quando se aproxima o final da estação seca, nomeadamente em Setembro e Outubro, sendo de 46% e 42% respectivamente. Com o 54 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO início das chuvas em Novembro a humidade relativa aumenta, atingindo o seu máximo em Fevereiro (75%), conforme se pode observar na Figura 12. 80 70 60 50 40 30 20 DE Z NO V OU T T SE O AG JU LH O JU NH O O MA I RI L AB V FE JA N 0 MA R 10 Figura 12: Humidade Relativa para Tete (%) 10.2 GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA E GEOHIDROLOGIA 10.2.1 Geologia e Geomorfologia A informação sobre a geologia e a geomorfologia da área do projecto, que nesta fase de EPDA se apresenta de modo muito resumido é, no geral, tratada a uma escala regional, não podendo, por isso, ser usada para caracterizar com rigor o local de implantação da barragem proposta e da respectiva albufeira. A principal fonte da informação utilizada para apresentar a informação geológica é a Notícia Explicativa da carta geológica de Moçambique 1:2.000.000 (Afonso, 1978). A geologia regional da área é descrita como parte integrante da designada “Província de Niassa”; esta designação corresponde a uma das franjas do vasto complexo originalmente designado por “Mozambique Belt” por Cahen Snelling (Afonso, 1978). A “Província de Niassa” abrange as formações precâmbricas da Província de Tete ao Norte do Rio Zambeze e uma estreita faixa a Leste do Lago Niassa, onde o limite com a “Província de Moçambique” é constituído por uma zona estrutural evidente de direcção N-S. As principais formações que integram a “Província de Niassa” são: (i) Granitos Gnaissicos de Vuzi; (ii) 55 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Série de Fíngoè; (ii) Complexo Granitóide; (iii) Complexo Gnaisso-migmatítico; (iv) Série de Zâmbuè; Complexo de Rochas Básicas e Ultrabásicas o Sienitos. A região de Lupata caracteriza-se por um terreno caracteristicamente vulcânico e desenvolvido ao longo das margens das bacias sedimentares e do Complexo Base. Este é consistido por basaltos, riolitos e rochas alcalinas, a maior parte destes provenientes de fissuras, sendo os riolito a rocha predominante na área do projecto. A sua secção de montante localiza-se numa região de series produtivas provenientes do Complexo Sedimentar de Karoo, constituídas por sedimentos do Karoo, grés, arenitos e margas com veios de carvão; estas formações sobrepõem-se ao gabro anortosítico do complexo de base. Os gabros afloram em redor das formações de Karroo, originando formações de altitude baixa. Um mapa ilustrando as principais formações geológicas da região de Lupata é apresentado na Figura 13. 56 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 13: Enquadramento geológico regional da área do projecto 57 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A geomorfologia da região de Lupata é caracterizada pela presença de afloramentos de riolito fracturado, devido à sua resistência ao intemperismo. A rocha aflora em vários pontos nas margens do rio, formando escarpas através das suas camadas. O relevo é bastante ondulado, modelado pelas rochas de origem vulcânica que dominam a área. Ocorrem picos vulcânicos, colinas fracturas de expansão resultantes do resfriamento. 10.2.2 Geohidrologia A área de Lupata é caracterizada por 3 domínios hidrogeológicos (A, B, e C) (ver Figura 14). O domínio A é representado pelo grupo A1, que é um aquífero predominantemente intergranular (contínuo, geralmente não consolidado), com Caudal médio variável (1050m3/h). O domínio B é representado pelo grupo B3. Os seus aquíferos apresentam-se fissurados ou descontínuos e possuem permeabilidade fraca com caudais que variam entre 3 -10m3/h. O domínio C é representado por dois grupos, C2 e C3, que são os aquíferos mais improdutivos de todas as classes com permeabilidade muito fraca, chegando a ser quase nula (Q <1 m3/h). Estas classes dominam a parte intermédia da área de inundação. 58 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 14: Mapa hidrogeológico da área de Lupata 59 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Tabela 2 abaixo mostra a principais domínios e grupos de aquíferos encontrados em Lupata e suas características. Tabela 2: Domínios e grupos de ocorrência de água subterrânea e características para a valorização e aproveitamento na área de Lupata Tipo de Aquífero Domínios e Grupos de Características para a valorização e ocorrência de água aproveitamento da água subterrânea subterrânea Formações Formações inter- fissuradas granulares Aquíferos Domínio A produtivos A1 Períodos Caudais máximos de Possibilidade de (m3/h) bombagem abastecimento de água (h/dia) Domínio B B1 Domínio A, B >50 A3 24 B3 3-10 24 Objectivo recomendado para os trabalhos Cidades, indústrias e Determinação do projectos de irrigação caudal de grandes segurança Aldeias com 2.000 a 5.000 Determinação do habitantes: indústrias e caudal de projectos de irrigação segurança e pequenos localização dos furos Áreas com água Domínio C subterrânea C2 limitada ou desprovidas dela <3 8 Domínio C Pequenas aldeias com Dimensionamento menos de 1.500 do aquífero e habitantes; explorações localização com menos de 1.500 detalhada dos furos cabeças de gado bovino C3 10.2.3 <1 6 Pequenos povoados com Dimensionamento menos de 250 habitantes; do aquífero e exploração com igual localização muito número de bovinos detalhada dos furos Hidrologia O Rio Zambeze é o quarto maior rio de África. Nasce no extremo Noroeste da Zâmbia, nas montanhas de Kalene, a uma altitude de cerca de 1.600 metros anmm. A sua nascente encontra-se no centro do chamado Planalto Africano, que se estende ao longo de uma considerável área do Continente Africano. O rio entra em Moçambique através de uma zona próxima da Localidade de Zumbo, na região do extremo Oeste de Moçambique, a uma altitude de cerca de 330 metros, seguindo ao longo de uma extensão de cerca de 820 km (que correspondem a aproximadamente 30% do seu percurso total), antes de desaguar no Oceano Índico. 60 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Dos 1.200.000 km2 de extensão ocupados pela Bacia do Zambeze, 140.000 km2 encontram-se em Moçambique. A Bacia do Zambeze está dividida em três grandes subunidades hidrográficas, nomeadamente: o Alto Zambeze, o Médio e o Baixo Zambeze. O Baixo Zambeze, que é a região onde se insere o proposto aproveitamento hidroeléctrico de Lupata, estende-se desde a zona imediatamente a montante da Barragem de Cahora Bassa, i.e. entre a saída da albufeira e a foz do rio, no Oceano Índico. A partir do limite de jusante de Cahora Bassa, o rio segue por um desfiladeiro ao longo de cerca de 30 km, onde se verifica um declínio de altitude de 250 para 170 m, antes de chegar à confluência do Rio Luia, a Norte. A partir desta zona, o Zambeze desce na direcção Sudoeste, até Mphanda Nkwa, onde a altitude ronda os 135 metros. Mais adiante, alcança uma zona onde corre em serpentina até à Garganta de Lupata (local proposto da barragem de Lupata), onde atravessa a sua última zona rochosa, antes de entrar numa zona de planície, através do qual prossegue até sua foz. A zona do Delta do Zambeze inicia em Mopeia, na Província da Zambézia, aproximadamente a 150 km da costa. A rede de drenagem da zona é relativamente complexa. A área de Lupata recebe todas as contribuições de Boroma (contribuições do Rio Luia e da Albufeira de Cahora Bassa, contase ainda o Rio Sanangoé, Rio Chimazé, Rio Mafide e Rio Mavuzi, todos afluentes do Rio Zambeze) e mais do Rio Mufa, Rio Revubue, R. Muarazi, R. Luenha, Rio Nhacanongua, Rio Lulera, Rio Nhadudezo e do Rio Fideze, todos igualmente afluentes do Rio Zambeze (Figura 15). 61 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 15: Principais rios que desaguam sobre a futura albufeira de Lupata 62 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10.3 SOLOS O Eixo Lupata localiza-se numa região de solos de aluviões estratificados de textura grossa. Este tipo de solos é em geral, fértil e intensamente utilizado para a prática da agricultura devido a presença de minerais, sobretudo potássio. Foi observada, durante os trabalhos de campo realizados pela equipa de engenharia, a presença de aluviões recentes de areia que podem conter camadas de cascalho, formando praias e ilhas ao longo de todo o rio até Lupata. Foi igualmente observada a ocorrência de solos colúvio-aluvionares na região de Lupata, constituídos por terraços pouco inclinados nos fundos dos vales próximos às margens do rio Zambeze. Estes solos, localizados juntos às encostas, possuem grande quantidade de fragmentos de rocha provenientes das encostas. Estes fragmentos de rocha predominam na superfície, devido a lavagem pela água das chuvas dos fragmentos mais finos. A região da sua albufeira assenta sofre diferentes tipos de solos, com predominância de solos pouco profundos sobre rocha calcária (ver Figura 16). A tabela abaixo (Tabela 3) apresenta a descrição dos principais parâmetros dos tipos de solos da área do projecto, segundo a classificação da FAO (1988). 63 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA RELATÓRIO DO ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 16: Distribuição de Solos em Lupata 64 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Tabela 3: Descrição do tipo de solos na área do projecto GRUPO DE SÍMBOLO SOLO CARACTERÍSTICAS DOMINANTES DOS SOLOS TOPOGRAFIA/ ENCOSTA (%) CLASSIFICAÇÃO DRENAGEM Solos basálticos castanho-escuro, solo líticos superficial sobre a CONVENIÊNCIA PARA A DA FAO Franco-argilo-arenoso, Bl SALINIDADE AGRICULTURA Não salina Ondulado 1-8 Boa Eutric Leptsols Não conveniente Calcaric cambisols Moderada a ou Eutric Cambisols marginal Eutric Cambisols Boa a moderada 0-2 rocha alterada Solos pouco WK profundos sobre rocha calcária – 01 Não salina Franco-argilo-arenoso castanho, profundidade Ondulado 1-8 moderada, calcário Imperfeita a boa Solos de textura WM Não salina média derivados Franco-argilo-arenoso de rochas castanho, solos sedimentares - 0.1-1 Ondulado 0-8 boa 0-1 profundos 07 Franco-argilo-arenoso, Ondulado 1-8 Não salina castanho-escuro, solo I+BI Solos Líticos + superficial sobre a Solos basálticos rocha alterada + líticos - 02 Franco-arenoso + Montanhoso Boa a >30 Excessiva Eutric Leptsols 0-2 Não conveniente castanho, solo pouco profundo sobre a rocha 65 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO SÍMBOLO GRUPO DE SOLO CARACTERÍSTICAS DOMINANTES DOS SOLOS TOPOGRAFIA/ ENCOSTA (%) CLASSIFICAÇÃO DRENAGEM SALINIDADE CONVENIÊNCIA PARA A DA FAO AGRICULTURA alterada WPl+ Rl BP Solos pouco Argiloso castanho a profundos + amarelado, Imperfeita a solos riolíticos profundidade moderada moderada líticos + franco-argilo-arenoso Solos basálticos pretos - 04 Ondulado 0 < 30 Não salina variáveis + Boa a marginal 0-3 Eutric Leptsols Argiloso preto, pesado com fendas profundas Calcaric cambisols Não salina Plano 0-1 Moderada Calcic vertisols 0-2 Moderada a marginal 66 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10.4 HABITATS, VEGETAÇÃO E FAUNA: ASPECTOS GERAIS Aspectos gerais A Bacia do Zambeze estende-se ao longo de uma vasta área da região tropical sul de África, abarcando parte dos territórios de Zâmbia, Angola, Malawi, Zimbabwe e Moçambique e, em extensão significativamente mais reduzida, parte dos territórios da Namíbia, do Botswana e da Tanzânia (Timberlake, 2000). A superfície ocupada pela Bacia é de aproximadamente 1,33 Km2 (Hughes and Hughes, 1992), para a qual se encontram identificados quatro biomas principais (Timberlake, 2000), a saber: (i) Bioma Zambeziano; (ii) Bioma Congolês; (iii) Bioma Montano; e (iv) Bioma Costeiro. Destes, o Bioma Zambeziano e o Bioma Costeiro são os que estão presentes em Moçambique (Figura 17). O primeiro é claramente predominante, ocorrendo não só em Moçambique, como também em toda a extensão da Bacia do Zambeze. O segundo ocorre junto à costa, na região do Delta do Zambeze. O primeiro é o bioma de especial interesse para o presente projecto, por abarcar a área do projecto proposto. 67 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Legenda: Bioma costeiro Bioma Congolês Bioma Montano Bioma Zambeziano Figura 17: Biomas da Bacia do Zambeze, de acordo com Timberlake (2000) O reconhecimento de existência de uma grande riqueza em diversidade de habitats e espécies de plantas e animais na Bacia do Zambeze é um aspecto que reúne o consenso dos vários autores que já realizaram levantamentos na região. Encontra-se reportado para a Bacia um número considerável de estudos orientados para habitats, a vegetação e a fauna. Na sua maioria, tais estudos cingem-se, porém, a grupos individuais de animais e plantas, e normalmente as áreas estudadas não ultrapassam os limites fronteiriços de determinado país (Timberlake, 2000). O estudo de compilado por Werger (1978) citado por Timberlake (2000), que integra várias espécies de plantas e animais à escala regional (para a região da África Austral, incluindo a Bacia do Zambeze) é, possivelmente, um dos mais detalhados do género aplicável à escala regional. 68 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10.4.1 Vegetação da área do projecto De acordo com o sistema de classificação da vegetação em larga escala utilizado por Wild e Barbosa (1967), baseado Unidades de Mapeamento (UM)6, é possível identificar como tipo de vegetação dominante na área do projecto a Savana Arbórea Decídua Seca7. Este tipo de vegetação é caracterizado pela dominância de Colophospermum mopane, espécie-tipo da genericamente designada vegetação de Mopane. Em Moçambique, a vegetação de Mopane cobre vastas áreas no vale do Rio Zambeze e nos vales dos seus afluentes, de Zumbo até Lupata, a altitudes inferiores a 400 metros, em áreas com precipitação de 500-700 mm por ano. Coexistindo com C.mopane encontram-se outras espécies e, em conjunto, estas formam uma savana típica (com árvores de altitude média) ou então, como acontece no Vale do Zambeze, constituem um tipo de savana de altitude média a alta (árvores com 10-15 metros de altura), por vezes misturada com o embondeiro (Adansonia digitata). Um mapa ilustrando a forma como a unidade de vegetação acima referida está distribuída na área do projecto é apresentado na Figura 18, adiante. 6 As Unidades de Mapeamento de Wild e Barbosa (1967) são definidas com base nas espécies dominantes e em condições ecológicas das áreas, incluindo tipo de solo, topografia, clima e precipitação 7 Em termos de estrutura das espécies lenhosas, a UM 35 difere da UM 51 por formar uma “verdadeira savana”, na qual as copas das árvores são suficientemente próximas umas das outras (Wild e Barbosa, 1967), formando uma cobertura quase contínua. 69 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 18: Principais tipos de vegetação da área do projecto, segundo o mapeamento em larga escala de Wild e Barbosa (1967) 70 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10.4.2 Principais formações vegetais na área do projecto Um levantamento realizado no terreno em Fevereiro de 2011 permitiu identificar 11 formações vegetais principais na área do projecto. Estas estão listadas na Tabela 4, onde se apresenta também a percentagem ocupada por estas na área de inundação, assim como algumas das espécies que podem ser encontradas em cada formação e características gerais seleccionadas. A Savana Árida é, claramente, a formação vegetal dominante na zona da proposta área de inundação, ocupando uma extensão de 468 ha, seguida da Vegetação em Zonas Sazonal ou Temporariamente Inundáveis (326 ha). Em termos de extensão ocupada, a formação menos importante é o Matagal em margens rochosas (3 ha). Tabela 4: Formações vegetais identificadas na zona da proposta área de inundação da Barragem de Lupata Área Algumas das espécies Formação vegetal Observação identificadas 1. Savana árida 468 ha (vegetação primária) Albizia anthelmintica Consiste num Conglomerado de comunidades de vegetação não transformada, associada Albizia brevifolia aos ecossistemas áridos de Lupata. Combretum mossambicense Commiphora mollis Sclerocarya birrea 2. Vegetação dos leitos secos de 57 ha Desprovido de vegetação, apenas com espécies individuais oportunistas (frequentemente ___ pioneiras, efémeras e anuais). pequenos cursos de água 71 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Área Algumas das espécies Formação vegetal Observação identificadas 3. Matagal de Acácia 121 ha em planície de inundação 4. Matagal em ilhas Acacia xanthophloea Formação sujeita a grandes perturbações sazonais (cheias/estiagem). Estrato lenhoso Acacia robusta dominado por Acacia xanthophloea, Acacia robusta e Philenoptera violacea; estrato Philenoptera violacea 39 ha herbáceo dominado por espécies de Cyperaceae e Asteraceae. Abrus precatorius Substrato predominantemente rochoso. Localização a cotas relativamente mais altas, Adansonia digitata comparativamente à linha de cheias sazonais e, consequentemente, menos exposta a Berchemia discolour eventos de inundações sazonais que a formação anterior. Algumas das ilhas são de importância espiritual para a comunidade; este facto explica, possivelmente, a sua Bridelia cathartica condição relativamente conservada. Combretum imberbe 5. Graminal de caniço 68 ha em Ilhas Phragmites mauritianus Em margens arenosas inundáveis, geralmente instáveis, com sinais de erosão. Dominada Phragmites australis pela espécie de caniço Phragmites mauritianus. Phragmites australis Phragmites mauritianus Cucumis hirsutus 6. Graminal de Caniço nas margens do rio 139 ha Amaranthus sp Associada a margens arenosas, formadas por depósitos de materiais arenosos e Clematis brachiata argilosos depositados em eventos de cheias. Coccinia adoensis Cucumis hirsutus Ludwigia erecta 72 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Área Algumas das espécies Formação vegetal Observação identificadas 7. Matagal arbustivo 138 ha semi-natural (vegetação Dalbergia nitidula Conglomerado de matagal perturbado ao redor de zonas com ocupação populacional. A Dalbergia sissoo espécie Ziziphus mauritiana é mantida até ao estágio adulto, para aproveitamento dos Ficus sycomorus frutos. perturbada) Panicum maximum Panicum maximum 8. Matagal em 49 ha afloramentos rochosos Acacia karroo Matagal cobrindo solos esqueléticos de afloramentos rochosos, em declives acentuados. Acacia nigrescens Estrutura densa, com estrato herbáceo disperso. Em zonas sob impacto humano Combretum mossambicense reduzido, possivelmente devido à inacessibilidade. Acacia tortilis Combretum imberbe 9. Vegetação ribeirinha 28 ha (vegetação primária) Acacia nilotica Formação vegetal relativamente bem conservada, com muito poucas evidências de Acacia tortilis transformação humana. Por vezes forma faixas espessas ao longo das margens de Acacia xanthophloea pequenos cursos de água associados ao rio principal. Acacia xanthophloea Combretum imberbe 10. (a) Vegetação em zonas sazonalmente 326 ha Inclui todos os tipos de vegetação convertidos em zonas agrícolas. Cobertura ___ indiferenciada, sem padrão de composição ou distribuição definido, e com culturas inundáveis / (b) agrícolas, ou pioneiras em processo de colonização no caso de machambas Vegetação em abandonadas (espécies não registadas) 73 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Área Algumas das espécies Formação vegetal Observação identificadas zonas temporariamente inundáveis 11. Matagal em margens rochosas 3 ha Ficus capreifolia Formação de vegetação com distribuição muito limitada, em zonas contendo rochas, com Ficus ingens comunidades de plantas dominadas por árvores e arbustos. Inclui palmeiras (Hyphaene Ficus natalensis spp). Ficus sycomorus Hyphaene coriacea As fotografias que se seguem (Figura 19) mostram algumas das formações vegetais identificadas, já referidas acima. 74 75 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Savana árida (vegetação primária) Matagal de Acácia em planície de inundação Graminal de caniço em Ilhas Matagal em ilhas Matagal arbustivo semi-natural (vegetação perturbada) Matagal em afloramentos rochosos Figura 19: Algumas das formações vegetais identificadas na proposta área de inundação da Barragem de Lupata 76 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 20: Principais formações vegetais identificadas na proposta área de inundação da Barragem de Lupata 10.4.3 10.4.3.1 Fauna Mamíferos Historicamente, o Vale do Baixo Zambeze tem sofrido a influência da acção humana ao longo de vários séculos, com reflexos nas populações de mamíferos (e de outros grupos de animais que habitam a região). No Séc. XV procedeu-se à caça ao elefante para a comercialização de marfim com os Árabes e, no período de domínio colonial, entre os Séculos XVI e XIX, foram estabelecidos os “prazos” (concessões de terras) ao longo do Vale do Zambeze. 77 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Num período mais recente (1979-1992), a área foi severamente afectada pelo conflito armado, durante o qual combatentes caçavam para a sua subsistência, bem como para a obtenção de troféus. No Baixo Zambeze, várias espécies de antílopes de médio porte, tais como a piva (Kobus ellipsiprymnus), o chango (Redunca arundinum), o cabrito cinzento (Sylvicapra grimmia) e o cabrito vermelho (Cephalophus natalensis), que se encontravam nas planícies de inundação e nas matas relativamente conservadas, passaram à condição de localmente extintas em diversas áreas de maior ocupação e actividade antropogénica ao longo da bacia. As espécies de mamíferos para as quais foram observadas evidências de ocorrência na área do projecto são o Elefante Africano (Loxodonta africana; identificado do lado da margem Norte do rio, a partir de excrementos); o Rato de Cana (Thryonomys swinderianus; avistado em ilha arenosa com cobertura de caniço); Hipopótamo (Hippopotamus amphibius; várias manadas avistadas na área); e Morcegos (Rhinolophus hildebrandtii, Nycteris thebaica e Hipposoideros caffer). O conhecimento sobre pequenos mamíferos que ocorrem na Bacia do Zambeze é considerado deficiente, o que aplica a todos os grupos (morcegos, insectívoros, roedores) (Timberlake, 2000). Os pequenos mamíferos constituem uma proporção significativa da fauna de mamíferos que podem ser encontrados na Bacia do Zambeze. 10.4.3.2 Avifauna Na área do projecto ocorrem várias espécies de pássaros que dependem de habitats de terras húmidas, pelo menos, por uma parte da sua vida ou das suas actividades (p.e. nidificação, forageamento). Estas incluem as seguintes: Vanellus albiceps (“White-crowned Lapwing”; espécie localmente ameaçada, que nidifica em praias arenosas); Glareola nuchalis (“Rock Pratincole”; espécie rara, sem registos anteriores de ocorrência a jusante de Cahora Bassa, usa habitats rochosos para fins de procriação); Leptoptilos crumeniferus (“Marabou Stork”; espécie necrófaga, localmente comum); Falco fasciinucha (“Falcão de Taita”; ave de rapina que ocorre sazonalmente na Garganta de Lupata, para aonde se desloca para fins de procriação). Outras espécies avistadas na área incluem Haliaeetus vocifer (“African Fish Eagle”; ave de rapina comum na área, com ocorrência dependende da existência de quantidade adequada de peixe); Poicephalus meyeri (espécie comum de papagaio, sujeita à caça, para ser usado como animal de estimação); Bubo lacteus (a 78 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO espécie de coruja de maior tamanho de África; observada em áreas de matagal aberto); Bubo africanus (“Spotted Eagle Owl”; comum em áreas de matagal aberto). As espécies endémicas da Bacia incluem garça Egretta vinaceicula (“Slatty Egret”) e a espécie de papagaio Agapornis nigrigenis (“Black-checked Lovebird”). Algumas das espécies que podem ser encontradas ao longo da bacia, como é o caso de da perdiz e da galinha-do-mato, são caçadas pela população local para consumo doméstico. 10.4.3.3 Herpetofauna (répteis e anfíbios) As espécies que podem, possivelmente, ser encontradas não só na região de Lupata, como também em outras zonas do Baixo Zambeze incluem a tartaruga Cycloderma frenatum; as cobras Poatheris superciliaris e Lycodonomorphus obscuriventris; e os sapos sapos Hemisus guineensis subsp.broadleyi, Leptopelis broadleyi e Afrixalus delicatus. No que diz respeito a répteis, poucas são as espécies consideradas de importância económica (Timberland, 2000). O crocodilo do Nilo que ocorre na área é, porém, considerado particularmente importante, pelo seu potencial para criação em cativeiro, podendo ser usado para o fornecimento de peles e carne, e como meio de atracção turística. Duas espécies de varanos (Varana niloticus e Varana albigularis) foram observadas com frequência na área do estudo, apesar da pressão a que estes estão sujeitos, através da caça, para a alimentação. As tartarugas (e seus ovos) são, muitas vezes, utilizadas como alimento, destacando-se a espécie Cycloderma frenatum que, pelo seu tamanho relativamente grande (comprimento de carapaça da fêmea de quase 60 cm) fornece uma quantidade significativa de carne8 (Loveridge, 1957; citado por Timberlake, 2000). Esta espécie não foi observada na área do projecto, mas foram observadas duas outras, nomeadamente "Serrated Hinged Terrapin” (Pelusios sinuatas) e ”Marsh Terrapin” (Pelomedusa subrufa) que, alegadamente, são caçadas para aproveitamento dos ovos e da carne. 8 Populações Yao que habitam as margens do Lago Malawi consomem os seus ovos. Cada fêmea produz numa ninhada 1520 ovos de casca dura (Loveridge, 1953, citado por Timberlake, 2000a). 79 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10.4.3.4 Ictiofauna Marshall (2001) divide a Bacia do Zambeze em quatro regiões distintas em termos de diversidade de fauna ictiológica, a saber: (a) Sistema do Zambeze-Kafue Superior; (b) Sistema do Médio Zambeze; (c) Sistema do Baixo Zambeze; (d) Sistema do Lago Malawi. Para a actividade proposta, a secção do Baixo Zambeze entre Cahora Bassa e o desfiladeiro de Lupata, é a área de maior interesse dado que, embora se situe na região baixa do Zambeze, esta zona comporta uma diversidade de espécies que também são encontradas na secção inferior do Médio Zambeze, incluindo membros das famílias Gobiidae e Megalopidae e, ocasionalmente, o Tubarão do Zambeze (Carcharhinus leucas, família Carcharhinidae) (COBA e Impacto, 2009). É importante notar, entretanto, que existe uma clara diferença em termos de diversidade específica entre a zona a montante e a zona a jusante da Garganta de Lupata. A zona a jusante tende a apresentar uma maior diversidade específica, o que é atribuído a vários factores (Lahmeyer International, 2001), incluindo os seguintes: A jusante da Garganta de Lupata, o Rio Zambeze entra na Planície de Moçambique, e transforma-se num sistema de terras húmidas, que se estende até à região do Delta do Zambeze; algumas espécies acedem ao rio através do Delta. Estas incluem o Tubarãotouro (Carcharinus leucas), o ” Sea Breamn” (Acanthopagrus berda) e o “Tarpon” (Megalops cyprinoids); Nesta zona ocorrem espécies estuarinas da Costa Oriental, tipicamente encontradas nas planícies de inundação, incluindo o peixe pulmonado da África Oriental Protopterus anphibious, o Barbo (Barbus spp.), o “Killifish” (Nothobranchius orthonotus) o “Eastern Bream” (Astatotilapia calliptera) e a Tilápia Negra (Oreochromis placidus); Na secção do Zambeze entre Cahora Bassa e a garganta de Lupata, Angilla bengalensis (Moreia Malhada Africana) é a espécie migratória mais conhecida. Esta espécie reproduz-se no Oceano Índico, migrando depois para o sistema fluvial, onde pode permanecer por mais de uma década até atingir a maturidade, antes de retornarem ao ambiente marinho. Presume-se que a construção das barragens de Kariba e Cahora Bassa possam ter contribuído para a redução das populações de Angilla bengalensis no Médio Zambeze, embora se acredite que estes organismos possuem grande capacidade de atravessar as barreiras impostas pelas barragens, o que possivelmente ocorre por via das turbinas. 80 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 10.4.3.5 Invertebrados A região do Baixo Zambeze é, possivelmente, aquela sobre a qual existe a menor quantidade de informação publicada sobre invertebrados (Timberlake, 2000). Num estudo sobre os grupos taxonómicos que podem ser encontrados na Bacia do Zambeze, Timberlake, 2000 realça o facto de a maioria dos grupos filogenéticos incluem tanto formas parasitas como formas de vida livre, em alguns casos observando-se o predomínio de formas parasitas, sendo estas responsáveis por várias doenças, tais como bilharziose e malária. 10.4.4 Áreas e espécies de importância para a conservação A informação obtida sobre a flora e a fauna da área do projecto e seus habitats permitem fazer algumas observações gerais sobre a importância da área do projecto para a conservação, incluindo as seguintes: A presença de formações rochosas com características únicas na garganta de Lupata é um aspecto que suscita interesse no que concerne aos habitats e espécies que estas possam possuir. Contudo, com base no conhecimento existente até ao momento, não é possível efectuar quaisquer afirmações fundamentadas sobre a possível presença de zonas de endemismo de flora na zona, embora se saiba que no contexto da Bacia do Zambeze, existem zonas altas que acomodam espécies que não se encontram em quaisquer outros locais da Bacia. No que concerne à fauna e, especificamente, ao grupo dos vertebrados, é mais provável que não existam espécies que ocorrem exclusivamente na área do projecto, embora a área possa albergar algumas espécies de interesse para a conservação, particularmente espécies de avifauna; Estudos realizados (produzidos por Golding 2002; Da Silva et al. 2004) indicam a possível ocorrência em Lupata de espécies vegetais de interesse para conservação (Crossandra pinguior, Eulophia petersii, Hibiscus rupicola, Hibiscus torrei, Mimosa mossambicensis e Sterculia appendiculata). A presença destas espécies na área não foi registada nos estudos do EPDA. Contudo, não está eliminada a possibilidade de estas, assim como outras espécies de importância para a conservação virem a ser identificadas na área; As zonas rochosas, particularmente as encostas rochosas e as falésias localizadas dentro da área de inundação possuem formações vegetais relativamente bem 81 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO conservadas, possivelmente devido ao facto de serem dificilmente acessíveis para a população que habita a área. Estas formações poderão albergar espécies de flora importantes para a conservação. Em contrapartida, existem diversas espécies de plantas observadas na área de estudo que são comuns ao longo de outras secções de território ao longo do Rio Zambeze, como é o caso de Phragmites australis e Phragmites mauritianus (em zonas ribeirinhas e ilhas arenosas); Ziziphus mauritiana e espécies de Acácia (como A.grandicornuta, A.karroo, A.nigrescens, A.tortilis em matas arbóreas e arbustivas, em encostas rochosas ou em zonas de afloramentos rochosos); espécies de Combretum (como C.molle; C.mossambicense, em zonas de matagal); Brachystegia spiciformis (em formações de Miombo) e Colophospermum mopane (em formações de Mopane). 82 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO AMBIENTAL DE REFERÊNCIA: ASPECTOS SOCIOECONÓMICOS A descrição socioeconómica engloba a caracterização geral das Províncias de Tete e Manica (Área de Influência Indirecta) e uma mais detalhada dos Distritos (Área de Influência Directa), que terão algumas zonas afectadas pelas obras de construção e actividades associadas, bem como pelo enchimento da albufeira (Distritos de Changara, Guro, Moatize, Mutarara, e Tambara ver Figura 21) e pela operação do empreendimento. Figura 21: Distritos afectados pela área de inundação da barragem de Lupata 83 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.1 CONTEXTO GERAL: AS PROVÍNCIAS DE TETE E MANICA 11.1.1 Organização política e administrativa das províncias As Províncias de Tete e Manica seguem o modelo de organização que vigora em todo o País baseado na divisão administrativa do país em províncias, autarquias, distritos, postos administrativos, localidades e povoações9. Há também as autarquias como é o caso da Cidade de Tete e os Municípios de Moatize e Ulongué, na Província de Tete, e a Cidade de Chimoio e os municípios de Catandica, Gondola e Manica, na Província de Manica. À excepção dos presidentes das autarquias que são eleitos, os outros órgãos do governo local são nomeados segundo as normas do aparelho de estado. A província é dirigida pelo Governador da Província e Governo Provincial, sendo o primeiro nomeado pelo Presidente da República e seu representante na Província. Os níveis mais baixos da governação são sucessivamente o Administrador do Distrito e respectivo Governo Distrital, o Chefe do Posto Administrativo e o Chefe da Localidade, nomeados pelo Ministro que superintende a área (Ministro da Administração Estatal), por proposta do Governador da Província. O Decreto 11/2005 – Regulamento da Lei dos Órgãos Locais do Estado (LOLE), define a estrutura orgânica e as competências do Governo Provincial, Governo Distrital, Chefe do Posto Administrativo e de Localidade, enquanto o Decreto 06/2006 define a estrutura tipo do Governo Distrital. A composição tipo do Governo Distrital é a seguinte: Administrador do Distrito que representa o Governador e presta contas ao Governo Provincial. O Gabinete do Administrador é a sua estrutura de apoio; Secretário Permanente Distrital, que dirige a Secretaria Distrital, Directores dos Serviços Distritais, que dirigem os respectivos serviços distritais. Estes devem ser pelo menos quatro: (1) Planificação e Infra-estruturas, (2) Actividades Económicas, (3) Educação, Juventude e Tecnologia, (4) Saúde, Mulher e Acção Social. 9 Decreto 11/2005, Regulamento da Lei dos Órgãos Locais do Estado, Artigo 8. 84 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A autoridade formal do Estado termina no nível da Localidade. A Localidade é formada por povoados/povoações e aldeias. O termo “comunidade” é muito utilizado para designar uma aldeia ou, por vezes, grupos de aldeias. A nível das povoações a autoridade é exercida por várias autoridades denominadas “comunitárias” que podem ser o Secretário de Povoação, Secretário de Bairro ou de grupo de casas, o Régulos ou seus representantes, e outros. As autoridades tradicionais são autoridades comunitárias importantes, que têm a sua origem na sociedade costumeira onde prevalece o critério da hereditariedade e pertença a uma determinada linhagem e clã. A autoridade do líder tradicional é-lhe conferida pela ligação de sangue com o grupo que é reconhecido como liderança tradicional porque descende dum líder reconhecido como fundador da linhagem ou do clã. A figura que representa a autoridade tradicional é o Régulo que, na maior parte dos casos, tem seus representantes nas povoações e aldeias. Eles desempenham várias funções como sejam a gestão da terra, a resolução de conflitos entre as famílias e comunidades, organização e mobilização da população, condução de cerimónias tradicionais, para citar as principais10. Podem também ser incluídos nos líderes tradicionais os curandeiros e os médiums, muito ligados à vida espiritual das comunidades, na medida em que tratam assuntos relacionados com a saúde dos membros da família, com o bem-estar e segurança da comunidade, assegurando a comunicação com os espíritos dos mortos e dos antepassados11. O Decreto nº15/2000 (que define a articulação entre os órgãos locais do estado e as autoridades comunitárias), o Diploma Ministerial nº107-A/2000 (que estabelece o respectivo regulamento e o Guião das Instituições de Participação e Consulta Comunitária (IPCCs) de 13 de Outubro de 2003)12, são os três principais instrumentos legais através dos quais o Estado multipartidário pós Acordos de Paz reconhece e integra os líderes tradicionais como autoridades comunitárias. Estes instrumentos reconhecem e integram, ao mesmo tempo, outros actores provenientes da chamada sociedade moderna, como é o caso dos 10 Durante o conflito armado (1979 – 1992) e nos primeiros anos após os Acordos de Paz (1992), a autoridade tradicional é que assegurava a organização da população, em especial aquela residente nas áreas rurais onde a guerra se fez sentir mais fortemente. 11 O culto dos espíritos é a base duma concepção religiosa da vida de cariz animista. Note-se que a religiosidade animista é transversal à grande maioria da população residente nas zonas rurais, convivendo com as outras religiões monoteístas como é o caso da religião católica, protestante e muçulmana. 12 Despacho de 13.10.2003 do Ministro da Administração Estatal e do Plano e Finanças, BR nº42, I Série, 15.10.2033 85 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO “secretários dos bairros e aldeias e outros líderes legitimados, que exercem algum papel económico, social, religioso ou cultural aceites pelos grupos sociais a que pertencem”. Surgem também outros actores de segunda linha, que são o Fórum Local (estrutura da sociedade civil ao nível dos Postos Administrativos), os Conselhos Consultivos da Localidade, Posto Administrativo e do Distrito. Estes são, de forma resumida, os vários actores do Estado e das Autoridades Comunitárias envolvidos nos vários níveis de governação e administração do território da Província de Tete com os quais o investidor tem que lidar, de modo a garantir com sucesso a integração do projecto no contexto administrativo em que este se irá inserir. Estudos detalhados no terreno, a serem realizados na fase de EIA, tornarão possível a identificação das diferentes autoridades comunitárias ao nível dos distritos, dos postos administrativos, das localidades e das povoações considerados mais relevantes para o projecto, assim como os papéis desempenhados por estas e as bases da sua legitimidade. O conhecimento obtido por via de tais estudos possibilitará um melhor entendimento dos diferentes actores, papéis e interacções existentes no seio das estruturas de poder, sendo este necessário para um bom relacionamento entre os gestores do projecto e os líderes/comunidades locais. 11.1.2 11.1.2.1 A Província de Tete Situação geográfica A Província de Tete está situada no extremo Noroeste do país e faz fronteira com a República do Malawi (a Norte e Leste), a República da Zâmbia (a Norte e a Oeste) e a República do Zimbabué (a Oeste e Sul). É ainda delimitada pelas Províncias da Zambézia (a Leste) e Manica e Sofala (a Sul). A Província é composta por 12 Distritos, nomeadamente, Angónia, Cahora Bassa, Changara, Chifunde, Chiuta, Macanga, Magoé, Marávia, Moatize, Mutarara, Tsangano e Zumbo, albergando ainda três autarquias, nomeadamente a Cidade de Tete e os Municípios de Moatize e Ulongué, elevadas a esta categoria através da Lei 2/97. 11.1.2.2 Perfil Sócio Demográfico da Província 86 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Província de Tete ocupa uma superfície de 100,724 km2 e, segundo projecções do Censo de 2007, terá em 2011 uma população total de aproximadamente de 2.137.700 habitantes. A densidade populacional é actualmente de 21,2 habitantes/km2, tratando-se de uma das densidades populacionais mais baixas do País (juntamente com as Províncias de Niassa, Inhambane e Gaza); a densidade populacional média nacional é 28,8 habitantes/km2 (INE, 2007a). Dentro da Província de Tete, as densidades populacionais mais altas é registada na Cidade de Tete, principal centro urbano (487 habitantes/km2). A Tabela 5, abaixo resume os principais indicadores seleccionados para descrever de forma resumida a Província de Tete. Tabela 5: Principais indicadores sócio demográficos na Província de Tete Indicador Medida 1997 2007 2011 População total Nº 1.226.088 1.807.485 2.137.700 População urbana % 14,7 13,7 13,8 População rural % 85,3 86,3 86,4 11,4 17,7 21,2 Densidade populacional por km 2 População masculina % 48,0 48,7 48,8 População feminina % 52,0 51,3 51,2 nº de homens 92,0 94,8 95,4 Índice de masculinidade em 100 mulheres População dos 0 – 14 anos % 48,2 49,7 48,4 População dos 15 – 59 anos % 47,3 46,1 47,4 População dos 60 + % 4,6 4,2 4,2 Taxa de crescimento anual % 1,9 4,2 4,2 Nº filhos/mulher 6,7 6,9 6,8 Taxa Bruta de Natalidade (em 1000) 44,4 46,3 46,3 Taxa Bruta de Mortalidade (em 1000) 21,2 14,0 12,2 Anos 42,3 51,4 54,3 % 65,0 33,1 - Taxa de fecundidade Esperança de Vida Acesso a água potável para 87 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO beber13 Fonte: INE, 3º Recenseamento Geral da População, 2007 De acordo com o Censo de 2007, a população em Tete é predominantemente jovem, com uma pirâmide etária em que 48,4% da população tem idade inferior a 15 anos. Na mesma tendência já verificada no Censo de 1997, existem mais mulheres do que homens com uma proporção de 51,2% de mulheres contra 48,8% de homens em 2011, o que corresponde a um índice de masculinidade de 95,4 (95 homens para 100 mulheres). O crescimento demográfico da Província tem sido substancialmente superior à média nacional registada em Moçambique, tendo a sua população, até ao ano de 2011 crescido a uma taxa anual de 4,2%, contra 2,8% do crescimento nacional. Por esta razão, a Província de Tete passou da 5ª para a 3ª província mais populosa do País, a seguir às Províncias da Nampula e Zambézia, respectivamente. A subida da Esperança de Vida de 42,3 para 54,3 anos entre 1997 e 2007 é um bom indicador do crescimento demográfico. O acesso limitado à água constitui um constrangimento significativo para o bem-estar da população. Em 2007, apenas 33,1% da população da Província tinha acesso a uma fonte de água segura, enquanto 66,5% se abastecia deste recurso em poços sem bomba ou outras fontes não protegidas. A Cidade de Tete é um dos poucos locais da Província que beneficia de uma rede de água canalizada, cujo fornecimento está, no entanto, aquém das necessidades, estando o sistema sujeito a interrupções frequentes. A malária e o HIV/SIDA são as doenças que apresentam maior índice de mortalidade na província sendo que, dos casos de doença existentes na Província, estas representam taxas aproximadas a 31,6% e 22,7% respectivamente (INE, 2009a). Em relação ao nível nacional, a Província de Tete apresenta uma taxa de prevalência de HIV/SIDA, de 13%. Esta percentagem está abaixo da percentagem média nacional que é de 16% (World Bank, 2008). A malária e o HIV/SIDA são as doenças que apresentam maior índice de mortalidade na província sendo que, dos casos de doença existentes na província, estas contribuem com 31,6 e 22,7% dos óbitos, respectivamente (INE, 2009a). Em relação ao nível nacional, a 13 Fontes de água potável : água canalizada dentro e fora de casa fontanário poço ou furo com bomba. , , 88 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO província de Tete apresenta uma taxa de prevalência de HIV/SIDA de 13%. Esta percentagem está abaixo da percentagem média nacional que é de 16% (World Bank, 2008). 11.1.2.3 Ambiente económico e actividades económicas Nos últimos anos, a Província de Tete tem apresentado um dinamismo económico, essencialmente devido à implantação de grandes projectos de prospecção e extracção mineira e à reabilitação de infra-estruturas importantes, como é o caso da Linha Férrea de Sena e da Estrada Nacional N7, facilitando as ligações do Porto da Beira à Província de Tete e aos países do interland (Malawi, Zâmbia e Zimbabwe). Em relação ao desenvolvimento de infra-estruturas de transporte, há ainda a destacar a proposta construção de uma nova ponte rodoviária entre a Cidade de Tete e a Localidade de Benga (Distrito de Moatize). Outra área onde estão previstos grandes investimentos é na área de produção e transporte de energia, sendo de destacar o seguinte: o aproveitamento termoeléctrico do carvão extraído nos projectos da Vale Moçambique e Riversdale; o aproveitamento hidroeléctrico do Rio Zambeze, através das propostas barragens de Mphanda Nkuwa, Boroma e Lupata14; e ainda a construção das linhas de alta tensão Centro Sul (CESUL), para abastecer as zonas Centro e Sul do país, bem como aumentar a capacidade de exportação de energia para a África do Sul e países vizinhos. Este dinamismo é mais visível na Cidade de Tete e no Distrito de Moatize, havendo contudo outras actividades económicas que têm mais impacto no conjunto da província e na economia das famílias, como é o caso do processamento de tabaco pela fábrica Mozambique Leaf Tobbaco e do fomento da produção de tabaco e de algodão por pequenos produtores rurais, apoiados por empresas de fomento. Os empreendimentos turísticos, a pesca, bem como as coutadas de caça existentes em vários distritos, também contribuem para a economia das famílias na província. O desenvolvimento tem, por sua vez, conduzido a uma procura de mão-de-obra qualificada que é escassa e em muitos casos não formada ou deficientemente formada, tornando 14 Os projectos de Mphanda Nkuwa, Boroma e Lupata encontram-se em Avaliação de Impacto Ambiental. 89 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO urgente a realização de programas de formação profissional a vários níveis e em várias áreas profissionais, no sentido de criar um contingente local de trabalhadores qualificados e preparados para dar resposta às crescentes necessidades do mercado. A Província de Tete no seu todo continua a ser eminentemente rural, com cerca de 86% da sua população vivendo em zonas rurais e estando as principais actividades económicas associadas ao sector primário (agricultura, silvicultura, pesca). Estas actividades concentram cerca de 85% da população activa (546.888 pessoas), correspondendo aproximadamente 25% e 90/ ao meio urbano e ao meio rural, respectivamente, como se pode observar abaixo, na Tabela 6 (INE, 2007b). Tabela 6: População da Província de Tete com 15 anos ou mais por Ramo de Actividade População por Ramo de Actividade Agricultura, Silvicultura, pesca Extracao de Minas Industria Manufactureira Energia Construcao Transporte e Comunicacao Comercio e Financas Servicos Administrativos Outros servicos Desconhecidos Total Nº Hab. 546.888 987 13.892 1.137 10.452 2.736 44.514 6.989 17.520 1.044 646.159 % 84,6 0,2 2,1 0,2 1,6 0,4 6,9 1,1 2,7 0,2 100,0 Urbano Nº Hab. % 16.731 388 4.786 1.027 4.452 1.754 19.408 4.544 10.685 191 63.966 26,2 0,6 7,5 1,6 7,0 2,7 30,3 7,1 16,7 0,3 100,0 Rural Nº Hab. % 530.157 599 9.106 110 6.000 982 25.106 2.445 6.835 853 582.193 91,1 0,1 1,6 0,0 1,0 0,2 4,3 0,4 1,2 0,1 100,0 A agricultura tem carácter de subsistência, do tipo itinerante, caracterizada por uma produtividade baixa, mas com a venda de excedentes, quando estes existem. Em alguns casos, são produzidas culturas de rendimento para venda no mercado, como é o caso de tabaco, algodão, hortícolas, gergelim, entre outras. Em 2008/2009, a Terceira Avaliação Nacional da Pobreza realizada pelo INE15 apurou que Tete continuava a ser uma província com uma Taxa de Incidência da Pobreza, com 42% da população da Província vivendo abaixo da linha da pobreza16. 15 Direcção Nacional de Estudos e Análise de Políticas, Ministério da Planificação e Desenvolvimento, Pobreza e Bem-Estar em Moçambique: Terceira Avaliação Nacional, Outubro de 2010. 16 O indicador de pobreza é medido em termos de consumo, isto é, através de várias perguntas que captam informação sobre compras e consumo, estabelecendo-se uma linha de pobreza alimentar baseada na definição duma cesta básica alimentar que reflecte “os padrões de consumo duma família 90 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Tabela 7: Incidência da Pobreza na Província de Tete, comparativamente à região Centro e o País Níveis de Pobreza % Diferença % Zona 1996-1997 2002-2003 2008-2009 1997-2003 2003-2009 Tete 82,3% 59,8% 42,0% -22,5% -17,8% 73,8 45,5 59,7 -28,3 14,2 69,4% 54,1% 54,7% -15,3% 0,6% Centro Nacional Fonte: MPD/DNEAP, 2010 Note-se que, comparando com a avaliação feita em 2003, a incidência da pobreza reduziu 17,8%, o que representa um desenvolvimento positivo. Apesar do ponto de partida ser muito baixo (perto de 60% de pobreza em 2003), esta redução terá a sua explicação em vários factores, incluindo os seguintes: O regresso massivo de famílias às zonas rurais, provenientes dos países vizinhos e das zonas urbanas, após os Acordos de Paz de 1992 e o consequente retomar da produção agrícola e pecuária; O aumento da circulação de pessoas e bens, com a retoma da produção agrícola nas zonas rurais e a reabilitação de infra-estruturas como as estradas e pontes; As actividades das empresas ligadas à prospecção e extracção de carvão já referidas anteriormente e a entrada do investimento inerente na Província. 11.1.2.4 Uso e Ocupação da Terra / Uso de Recursos Naturais Os locais de maior concentração habitacional (que incluem as áreas residenciais em aldeias e povoações) encontram-se predominantemente concentrados ao longo das planícies aluvionares do Rio Zambeze e ao longo de outros cursos de água, nos arredores das sedes distritais ou dos postos administrativos e também nas imediações das principais vias de comunicação, evidenciando como factores determinantes para o seu estabelecimento os seguintes: A disponibilidade de terra agrícola e de outros recursos como a água (dos rios e albufeira de Cahora Bassa); pobre num determinado espaço geográfico, que proporciona um consumo diário mínimo de 2150 Kal por pessoa/dia e que respeite uma série de condições espaciais e temporais …que garantam a comparabilidade entre espaços geográficos e ao longo do tempo”. 91 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A proximidade dos principais serviços sociais e económicos, maioritariamente concentrados ao nível das sedes distritais e de postos administrativos; A facilidade de acesso promovida pelas principais vias de acesso e disponibilidade de transportes públicos de passageiros. Os assentamentos populacionais são do tipo disperso, embora se observem algumas concentrações de habitações próximas às zonas onde estão as principais infra-estruturas sociais como escolas, sedes das aldeias, fontanários e outros17. O tipo de habitação predominante é a construção precária, isto é, casas construídas com material local como as estacas, o adobe, o caniço e/ou a palha (Coba e Impacto, 2009). Para além dos assentamentos populacionais, as principais formas de uso e a ocupação da terra integram as seguintes: Áreas de cultivo e pastagem, na grande parte dos casos em explorações agrícolas de tipo familiar; Áreas naturais e semi-naturais usadas para colecta e produção de biomassa (lenha, carvão), colecta de plantas medicinais, extracção e corte de materiais de construção (argila, estacas, capim), corte de madeira (licenças simples), caça e outras; Concessões de terra para fins diversos (coutadas, fazendas do bravio, exploração florestal, agricultura comercial, produção florestal); Áreas de exploração mineira, por operadores licenciados ou não licenciados. 17 Note-se que na Província de Tete existem algumas povoações de tipo concentrado, que têm a sua origem nos “aldeamentos” criados pelo o exército colonial para forçar a população a viver em locais onde supostamente seria possível conter o avanço da luta de libertação. 92 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.1.2.5 Infra-estruturas No que concerne a infra-estruturas, especificamente de transporte rodoviário e ferroviário, a Província de Tete integra o sistema de transportes do Corredor da Beira, que liga o Porto da Beira às zonas do Alto e do Baixo Zambeze pertencentes às Província de Sofala, Manica e Tete, assim como aos países vizinhos de Zimbabwe, Zâmbia e Malawi. Destacam-se: A Estrada Nacional N7 que, vinda da Província de Manica, se estende para Norte e Leste da Província de Tete, atravessando o Distrito de Moatize e ligando o Porto da Beira e as Cidades de Chimoio e Tete a Blantyre, no Malawi. Nas proximidades da fronteira com o Malawi, esta estrada liga-se à R605, que passa pelos Distritos de Tsangano e Angónia, em direcção à capital do Malawi (Lilongwe); A Estrada Nacional N8, que se estende para Oeste, ligando a Província de Tete ao Zimbabwe, saindo da Vila de Changara e atravessando o Distrito de Changara, até Cuchamano, na fronteira; A Estrada Nacional N9, que se estende para Norte e Oeste da Província, atravessando os Distritos de Chiúta e Chifunde, em direcção a Lusaka, capital da Zâmbia, A Linha Férrea de Sena que, percorrendo as Províncias de Tete e Sofala, tem como principal função o transporte de carvão das minas de Moatize e de outros pontos de Tete para o Porto da Beira, o transporte de mercadorias entre o Porto da Beira e os Distritos das Províncias de Tete, Zambézia e Sofala situados na zona de influência da linha (quase todos eles situados ao longo do Rio Zambeze) e ainda a ligação entre o Porto da Beira e os países do interland como o Malawi, a Zâmbia e o Congo. Em termos de comunicações, a Província de Tete tem beneficiado, nos últimos tempos, de melhorias significativas, como por exemplo no sistema de rádio UHF, de satélite e de telefonia móvel, que ligam os distritos ao resto do país. As duas operadoras de telefonia móvel (Mcel e Vodacom) de Moçambique estão presentes na Província. Todas as sedes de distrito estão ligadas à rede nacional, pelo menos através de uma das operadoras. É na Província de Tete que está situada a Barragem de Cahora Bassa, a principal produtora de energia eléctrica a nível nacional, para consumo nacional e exportação. A energia produzida é transformada na subestação de Matambo e, a partir de diversas linhas de transmissão, esta é transportada para a Cidade de Tete e para as restantes Províncias do 93 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Centro e Norte de Moçambique, bem como para a África do Sul, Malawi e Zimbabwe. A rede nacional de energia eléctrica é propriedade da empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM), que é responsável pela gestão e distribuição deste recurso. Em termos de infra-estruturas de saúde, a Província de Tete contava em 2007 com uma rede sanitária constituída por 102 unidades, sendo 1 Hospital Provincial, localizado na Cidade de Tete, 3 Hospitais Rurais (localizados nos distritos de Angónia, Cahora Bassa e Mutarara), 86 Centros de Saúde (nível I, II e III) e 12 Postos de Saúde (MISAU, 2008). A rede de educação é essencialmente constituída por estabelecimentos do ensino primário, tanto nas zonas rurais como urbanas. Em 2008 havia cerca de 943 escolas do nível EP1 e 166 escolas do nível EP2. Para o ensino secundário, a Província contava apenas com um 42 Escolas do ESG1 e 3 do ESG2. De referir que no ano de 2008 existiam na Província de Tete 6 estabelecimentos de Ensino Técnico-Profissional e Vocacional e 3 Institutos de Formação Profissional (INE, 2007c). De acordo com a Direcção Provincial de Educação de Tete, a província contava em 2008 com 202 escolas que se dedicam à Alfabetização e Educação de Adultos. 11.1.3 11.1.3.1 Província de Manica Situação geográfica A Província de Manica está situada na zona central do país, ocupando uma extensa faixa do interior ocidental da zona centro do País que tem a Leste a Província de Sofala e a Oeste a República do Zimbabué. A Sul, tem como limites as Províncias de Inhambane e Gaza e a Norte a Província de Tete. É composta por 9 Distritos, nomeadamente Báruè, Gondola, Guro, Machaze, Macossa, Manica, Mossurize, Tambara, Sussundenga e quatro municípios, nomeadamente Chimoio, Catandica, Gondola e Manica. Destes, apenas os Distritos de Guro e Tambara têm relevância de estudo para o projecto em questão, uma vez que no seu território existem áreas que serão afectadas pelo projecto. 94 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.1.3.2 Perfil Sociodemográfico da Província A Província de Manica ocupa uma superfície de 61.661 km2 e, segundo projecções do Censo de 2007, terá em 2011 uma população total de 1.672.038 habitantes (INE, 2007a). A Tabela 8, abaixo resume os principais indicadores seleccionados para descrever de forma resumida a Província de Manica, podendo observar-se que, de acordo com o Censo de 2007, a população em Manica é predominantemente jovem, com uma pirâmide etária em que 48,9% da população tem idade inferior a 15 anos. Na mesma tendência já verificada no Censo de 1997, existem mais mulheres que homens com uma proporção de 51,9% de mulheres contra 48,1% de homens em 2011, o que corresponde a um índice de masculinidade de 95,4 (92,6 homens para 100 mulheres). Tabela 8: Principais indicadores sócio demográficos na Província de Manica Indicador Medida 1997 2007 2011 População total Nº 1.039.463 1.438.386 1.672.038 População urbana % 28,2 25,3 24,5 População rural % 71,8 74,7 75,5 15,8 22,9 27,1 Densidade populacional por km 2 População masculina % 47,8 48,0 48,1 População feminina % 52,3 52,0 51,9 nº de homens 92,2 92,2 92,6 Índice de masculinidade em 100 mulheres População dos 0 – 14 anos % 46,7 48,7 48,9 População dos 15 – 59 anos % 49,1 47,1 47,3 População dos 60 + % 4,2 4,1 3,9 Taxa de crescimento anual % 2,5 3,8 3,7 nº filhos/mulher 7,0 6,6 6,5 (em 1000) 48,8 46,5 46,1 Taxa de fecundidade Taxa Bruta de Natalidade 95 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Taxa Bruta de Mortalidade (em 1000) 20,7 15,5 14,1 Anos 42,2 49,1 50,3 % 67,0 29,0 - Esperança de Vida Acesso a água potável para beber18 Fonte: INE, 3º Recenseamento Geral da População, 2007 O crescimento demográfico da Província tem sido ligeiramente superior à média nacional registada em Moçambique, tendo a sua população até ao ano de 2011 crescido a uma taxa anual de 3,7%, contra 2,8% do crescimento nacional. Esta taxa é a 4ª mais alta do País, a seguir à Província de Maputo, Tete e Niassa. A Esperança de Vida subiu de 42,2 em 1997 para 49,1 anos em 2007. Contudo este é um valor relativamente baixo, o que explica o crescimento demográfico menos que outras províncias. Não será alheio a isto, o facto de Manica apresentar uma Taxa de Prevalência de HIV de 16% (World Bank, 2008) e de ser uma província onde os índices de infecção pelo HIV têm sido dos mais altos do país. Num inquérito recente foi apurado que a malária e o HIV SIDA são as doenças mais causadoras de morte na Província de Manica, sendo responsáveis por 28,8 e 30,6% das mortes, respectivamente (INE, 2009a). O acesso limitado à água constitui um constrangimento significativo para o bem-estar da população. Em 2007, apenas 29% da população da Província tinha acesso a uma fonte de água segura, enquanto 70,1% se abastecia com recurso a poços abertos ou rios e lagoas. 11.1.3.3 Ambiente económico e actividades económicas A Província de Manica é uma província que se destaca pela sua riqueza e potencial agropecuário, devido ao bom clima e terrenos propícios para a agricultura, fruticultura, criação de animais e exploração florestal de espécies indígenas e exóticas. Acresce-se a estes aspectos a existência duma indústria de agro-processamento em crescimento, a sua riqueza mineira dada principalmente pela exploração de ouro, o potencial de atractividade turística do Parque Transfronteiriço do Chimamimani, de coutadas de caça, assim como de 18 Fontes de água potável : água canalizada dentro e fora de casa fontanário poço ou furo com bomba. , , 96 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO outras áreas montanhosas, e a sua situação geográfica no centro do país e no Corredor de Transportes do Porto da Beira. Os pequenos produtores familiares que constituem a grande parte da população activa da província (ver Tabela 9, apresentada mais adiante). Eles estão envolvidos principalmente na produção de cereais (de onde se destaca o milho), na produção de culturas de rendimento (tabaco, girassol, gergelim, fruta, de onde se destaca a banana e o caju, e hortícolas) e na criação de animais, em especial gado bovino. A comercialização dos excedentes da produção de cereais (milho principalmente) e da produção das culturas de rendimento do chamado sector familiar desempenha um importante papel no abastecimento às empresas agro-processadoras localizadas na Província de Manica e de Sofala (milho, girassol, tabaco, leite, hortícolas), a empresas e comerciantes que os colocam para exportação (milho, gergelim, feijões, fruta, algodão), assim como a uma ampla rede de pequenos e médios comerciantes e de transportadores que abastecem os mercados consumidores da cidade da Beira e do sul do país (milho, hortícolas, banana, caju). Por outro lado, o potencial agro-pecuário da Província de Manica é dado pela existência dum sector privado local em crescimento ligado à produção e/ou comercialização de culturas de rendimento e de fruta para o mercado interno e exportação e ao agro-processamento. A actividade mineira também está relativamente desenvolvida na Província, apesar de em muitos casos ainda se tratar de licenças de prospecção e pesquisa. Até finais de 2010, as principais actividades de exploração diziam respeito a senhas mineiras de mineradores artesanais (40 senhas), 1 concessão de exploração de bauxite em operação, 4 concessões de exploração de ouro (não operacionais), 3 concessões de exploração de pedra de construção e 3 licenças de exploração de água. Note-se a existência de um grande número de mineradores artesanais não-licenciados, vulgarmente conhecidos como garimpeiros, que se dedicam à exploração de ouro e pedras semipreciosas. Apesar do crescimento dum sector privado ligado ao agro negócio, a Província de Manica continua a ser uma província baseada nos pequenos produtores familiares. Cerca de 76% da sua população vive nas zonas rurais, estando as principais actividades económicas associadas ao sector primário (agricultura, silvicultura, pesca), que é onde se concentra 97 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO cerca de 70% da população activa (342.674 pessoas), como se pode observar na Tabela 9 abaixo (INE 2007b). Tabela 9: População da Província de Manica com 15 anos ou mais por Ramo de Actividade Nº de Hab Agricultura, Urbano Rural % Nº de Hab % Nº de Hab % Silvicultura, 342.674 70,3 31.415 28,9 311.259 82,1 4.668 1,0 1.434 1,3 3.234 0,9 18.368 3,8 7.128 6,6 11.240 3,0 943 0,2 729 0,7 214 0,1 15.078 3,1 7.213 6,6 7.865 2,1 4.390 0,9 3.101 2,9 1.289 0,3 70.345 14,4 37.757 34,7 32.588 8,6 6.865 1,4 4.686 4,3 2.179 0,6 Outros serviços 23.242 4,8 14.861 13,7 8.381 2,2 Desconhecidos 1.036 0,2 381 0,4 655 0,2 487.609 100,0 pesca Extracção de Minas Industria Manufactureira Energia Construção Transporte e Comunicação Comercio e Finanças Serviços Administrativos Total 108.705 100,0 378.904 100,0 A grande parte dos agregados familiares que desenvolve as suas actividades nos sectores da agricultura, silvicultura e pescas fá-lo enquanto agricultor familiar praticando uma agricultura de subsistência e itinerante caracterizada por uma produtividade baixa, prática de culturas alimentares para auto consumo e venda dos excedentes. A prática de culturas de rendimento como é o caso do gergelim, feijões, hortícolas, fruta, algodão e tabaco, assim como a criação de gado bovino, está relativamente bem disseminada no produtor familiar, mas envolve um número ainda baixo de pequenos e médios agricultores comerciais quando comparado com as potencialidades agro-pecuárias da província. Provavelmente devido a estas questões, Manica continua a ser uma Província com uma Taxa de Incidência da Pobreza alta, tendo a Terceira Avaliação Nacional da Pobreza apurado que 55,1% da população da Província vivia abaixo da linha da pobreza (MPD, 2010). 98 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Tabela 10: Incidência da Pobreza na Província de Tete, comparativamente à região Centro e o País Níveis de Pobreza % Diferença % Zona 1996-1997 2002-2003 2008-2009 1997-2003 2003-2009 Tete 62,6 43,6 55,1 -19,0 11,5 Centro 73,8 45,5 59,7 -28,3 14,2 69,4% 54,1% 54,7% -15,3% 0,6% Nacional Comparando com a avaliação feita em 2003, a incidência da pobreza aumentou 11,5% o que significa uma deterioração da situação da pobreza na Província19, após um desenvolvimento positivo de 19% entre 1996-1997 e 2002-2003. No caso de toda a zona centro (Províncias de Sofala, Manica e Zambézia) a pobreza teve um aumento significativo de 14,2%. O aumento da pobreza na Província poderá ter a sua explicação em vários factores como sejam: Um decréscimo real dos níveis de consumo nos agregados familiares da Província entre o período de 2002-2003 e 2007-08, que revela que um maior número de agregados familiares estão mais pobres em 2008-2009 do que em 2002-2003; Falta de resultados das políticas de apoio ao sector familiar no aumento da produtividade agrícola, na intensificação e diversificação da produção agrícola, no acesso aos mercados interno e de exportação e na promoção do sector da agricultura comercial; Poderão também ter tido influência alguns factores ligado às características do inquérito da Terceira Avaliação Nacional da Pobreza assim como outros factores conjunturais ligados ao momento em que decorreu o inquérito. 11.1.3.4 Uso e Ocupação da Terra / Uso de Recursos Naturais O uso e ocupação da terra e dos recursos naturais são influenciados pelo potencial agropecuário da Província, pelas suas características hidrológicas e climáticas, pelos seus recursos naturais e minerais e também pela disponibilidade de infra-estruturas. 19 A Terceira Avaliação Nacional da Pobreza em Moçambique não considerou esta descida como estatisticamente significativa. 99 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Devido ao facto de no tempo colonial ter sido uma zona de forte implantação de agricultores portugueses que ali se instalaram com apoio do governo colonial (o colonato do Sussundenga é um exemplo ilustrativo), a Província de Manica tem uma quantidade assinalável de terras abertas para a prática da agricultura, assim como uma tradição de agricultura comercial e criação de gado. Na Província em geral o uso e ocupação da terra é caracterizado por: Locais de maior concentração urbana de população ao longo do Corredor da Beira, na Estrada EN6 (que liga o Porto da Beira a Machipanda, na fronteira com o Zimbabué) e na EN7 que, passando através da Província de Manica, liga o Porto da Beira à Província de Tete e aos países vizinhos de Malawi e Zâmbia. É o caso da Cidade de Chimoio, dos Municípios de Gondola, Manica e Catandica e ainda das Vilas de Guro e Messica; Maior concentração de assentamentos populacionais dispersos habitados por agricultores e criadores de gado familiares nas zonas planálticas, nos vales, nas encostas não íngremes da cadeia de montanhas que separa a província de Manica do Zimbabué, privilegiando a proximidade das vias de comunicação mais importantes (como é o caso da EN1, EN6, EN7, N260), os terrenos propícios para a agricultura e pecuária e a disponibilidade de água providenciada pelas bacias hidrográficas dos rios Zambeze, Punguè, Revuè e Save; Um número relativamente grande de médias e grandes explorações agrícolas comerciais dedicadas à agricultura, fruticultura, criação de gado e plantio de espécies exóticas, situadas nas áreas com terra aberta na zona planáltica e montanhosa, na proximidade dos rios e barragens e das principais vias de comunicação; Concessões florestais e coutadas de caça, que em alguns casos ocupam grande parte da superfície dum distrito (caso das Coutadas 7, 9 e 13 do Distrito de Tambara, por exemplo); Área de Conservação como o Parque Transfronteiriço do Chimanimani que integra outras áreas protegidas como a Floresta de Moribane e as montanhas de Tsé Tserra; Concessões mineiras atribuídas a empresas mineiras e associações de mineiros artesanais, assim como áreas ocupadas por garimpeiros clandestinos; Na Área de Influência Directa do projecto, isto é nos Distritos do Guro e Tambara e mais concretamente nos Postos Administrativos localizados na margem do Rio Zambeze, o uso e ocupação da terra é influenciado pelo clima seco e pela existência de solos arenosos, 100 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO pouco propensos para a irrigação. Exceptuam-se as terras férteis de aluvião mais próximas do Rio Zambeze. Os assentamentos populacionais são tipo disperso, existindo algumas povoações do tipo aldeamento nas margens de algumas estradas do interior do distrito. O uso e ocupação da terra caracterizam-se por áreas de agricultura e extensas áreas comunitárias usadas para a criação de gado bovino e caprino, estando este último muito disseminado. 11.1.3.5 Infra-estruturas No que concerne a infra-estruturas, especificamente de transporte rodoviário e ferroviário, a Província de Manica está duma posição privilegiada na medida em que se situa em dois eixos. No eixo Norte-Sul ligando, através da EN1, as Províncias do Sul e Centro do País às Províncias do Norte. No eixo Este-Oeste e Este-Noroeste, ligando o Porto da Beira ao Zimbabué, Zâmbia e Republica do Congo, assim como à Província de Tete. De importância para o presente estudo, destacam-se as principais vias de comunicação: A Estrada Nacional N1 que, vinda das Províncias de Maputo, Gaza e Inhambane, atravessa a Província de Manica no Posto Administrativo do Inchope, Distrito de Gondola, continuando para Nordeste atravessando a Província de Sofala até à Ponte do Rio Zambeze em Caia, assegurando a ligação com todo o Norte do país; A Estrada Nacional N6 que liga o Porto da Beira com a Vila de Machipanda, na fronteira com a República do Zimbabué; A Estrada Nacional N7, que inicia no Cruzamento do Vandúzi, atravessando a Província de Manica de Sul para Norte, em direcção à Província de Tete e à Vila de Zobué, na fronteira com o Malawi. Logo depois da cidade de Tete, a N7 cruza-se com a Estrada Nacional N9, que segue em direcção à Zâmbia; A Estrada Nacional Secundária N260, que liga a cidade de Chimoio à Vila de Espungabera, através do Distrito de Sussundenga e Espungabera. Esta estrada tem alguns troços alcatroados no tempo colonial, estado prevista a sua transformação numa estrada alcatroada num futuro próximo; A Estrada Nacional Terciária 529 que partindo do cruzamento da N7 pouco depois da Vila do Guro, atravessa parte do distrito do Guro e de Tambara, em direcção a Nhacolo, Vila Sede do Distrito de Tambara, nas margens do Rio Zambeze, continuando depois ao longo do rio em direcção à Vila Sede de Chemba, na Província de Sofala; 101 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Linha-férrea de Beira-Machipanda que liga o Porto da Beira ao Zimbabué na fronteira de Machipanda / Mutare. Em termos de comunicações, as comunicações telefónicas via satélite e UHF asseguram a comunicação com os municípios de Chimoio, Catandica Gondola, Manica, com as Vilas Sedes de Guro, Mossurize e Sussundenga e ainda com alguns locais importantes como é o caso das Vilas de Messica (perto da Empresa Infloma) e de Machipanda (na fronteira com o Zimbabué. A rede de telefonia móvel também está relativamente desenvolvida na Província, estabelecendo a comunicação de todas as Sedes de Distrito com o resto do País e ainda de vários Postos Administrativos situados ao longo da EN1, EN6 e EN7. A província é também produtora de energia hidroeléctrica, possuindo duas centrais de produção de energia, estando uma situada na Barragem da Chicamba e outra na Central de Mavuzi. As duas centrais produzem energia para abastecer o eixo das cidades de Chimoio, Dondo e Beira, estando por sua vez ligadas à rede de Cahora Bassa20. A proporção de agregados familiares com acesso a energia eléctrica é ainda muito baixa (7,9%), sendo contudo a 5ª mais alta do país a seguir à Cidade e Província de Maputo e às Províncias de Gaza e Sofala (INE, 2007a). Em termos de infra-estruturas de saúde, a Província de Manica contava em 2007 com uma rede sanitária constituída por 83 unidades sanitárias (Ministério da Saúde, 2008) sendo 1 Hospital Provincial, localizado na Cidade de Chimoio, 3 Hospitais Distritais, 1 Hospital Rural, 1 Centro de Saúde Urbano Tipo A, 3 Centro de Saúde Urbano Tipo B, 1 Centro de Saúde Urbano Tipo C, 11 Centro de Saúde Tipo 1, 58 Centro de Saúde Tipo 2, 8 Postos de Saúde. A rede de educação é constituída por estabelecimentos do ensino primário e secundário, tanto nas zonas rurais como urbanas. Em 2008, havia cerca de 625 escolas do nível EP1 e 219 escolas do nível EP2. Para o ensino secundário, a Província contava com um 26 Escolas do ESG1 e 5 do ESG2. De referir que no ano de 2008 existiam na Província de Manica 2 estabelecimentos de Ensino Técnico-Profissional e Vocacional de nível básico e 1 Instituto de nível médio (INE, 2007c). Está em curso na Província de Manica o Projecto de Abastecimento de Água aos 20 A Central da Chicamba está a beneficiar de obras de modernização da central. 102 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Municípios de Manica, Chimoio e Gondola, com base num financiamento do Governo Holandês, sendo a água captada na Barragem da Chicamba e transportada por condutas até aos três municípios. Espera-se que, após a conclusão do projecto, um maior número de população destes municípios tenha acesso a água potável 11.2 CARACTERIZAÇÃO DOS DISTRITOS DA ÁREA DE ESTUDO Para a actividade proposta, os Distritos de Changara, Moatize e Mutarara, na Província de Tete e os Distritos de Guro e Tambara, na Província de Manica, constituem a Área de Influência Directa (AID). Análise baseada nos mapas indica que doze povoações poderão ser afectadas directamente pelo projecto, concretamente na área de inundação da barragem (Figura 22). Estas povoações localizam-se nos Distritos de Changara (povoações de Chivuli, Nhaluca, Dinheiro) e Moatize (povoações de Nhaubalulo, Chiaguedje, Catsanha e Mitsanha), na Província de Tete, e no Distrito de Guro (povoações de Catondo, Massangano-sede, Thinda, Nhacatal e Malula), na Província de Manica. Os Distritos de Tambara e Mutarara não têm povoações que possam ser afectadas pela área de inundação. Tal já poderá acontecer devido à construção e uso das vias de acesso à área de obras, à construção de instalações de apoio às obras ou pelas instalações de carácter definitivo que irão assegurar a operação da barragem. No total, estima-se que estas doze povoações tenham em 2011 cerca de 13.477 habitantes que corresponderão a 3.665 agregados familiares. Note-se ainda que no distrito de Guro um troço da estrada vicinal R960 poderá também estar dentro da área de inundação. O facto de se tratar duma análise baseada em mapas e de algumas povoações serem do tipo disperso, podendo alguns agregados familiares estar dentro da área de inundação e outros não, e alguns serem afectados pela construção de vias de comunicação ou implantação de infra-estruturas e outros não, determina a necessidade de realizar estudos detalhados no terreno para avaliar o número de agregados familiares residentes dentro da área de inundação da Barragem. 103 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Figura 22 abaixo apresentada mostra a área de inundação da barragem com as aldeias que poderão ser directamente afectadas, indicando os distritos à que as mesmas pertencem. Figura 22: Aldeias directamente afectadas pela área de Inundação da proposta barragem de Boroma, nos Distritos de Changara, Moatize, Mutarara, Guro e Tambara Todos os distritos em estudo têm características eminentemente rurais, havendo aspectos comuns que possibilitam uma visão e caracterização geral do perfil económico e social destes distritos21. 21 Apenas o Distrito de Moatize apresenta algumas características específicas, devido a uma maior urbanidade que tem origem mais remota na presença dos Caminhos de Ferro de Moçambique e das minas de carvão e mais recente devido à criação do município de Moatize. 104 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO O sector primário é aquele onde se concentra a grande parte da população dos distritos observando-se que entre 78 a 93% da população activa trabalha no ramo de actividade da Agricultura, Silvicultura e Pescas. O mesmo se verifica nos postos administrativos e localidades que pertencem a estes distritos, onde se localizam as aldeias que poderão estar dentro da área de inundação da barragem. A agricultura é desenvolvida pela maior parte da população destes distritos em explorações familiares que praticam uma agricultura de subsistência de tipo itinerante. As principais culturas praticadas são o milho, a mapira, a meixoeira, o amendoim e o feijão. A mapira e a mexoeira assumem particular importância, por serem culturas tolerantes à seca. As fracas chuvas tornam a agricultura numa actividade de risco nestes distritos, havendo anos de seca em que a segurança alimentar das famílias camponesas é posta em causa. Por outro lado, sendo distritos ribeirinhos do Rio Zambeze, estão sujeitos às inundações provocadas pelo rio, sendo Mutarara, Guro e Tambara os Distritos geralmente mais atingidos nos casos de cheia. Nos anos em que há excedentes, os camponeses comercializam o milho, o feijão e o amendoim como uma forma de terem acesso a rendimentos monetários. Nos últimos anos um número crescente de camponeses tem-se envolvido na produção de culturas de rendimento como o algodão e o tabaco, promovidas por empresas que fornecem os insumos, dão assistência técnica aos camponeses e asseguram a compra do produto. Através deste sistema tem-se conseguido aumentar o número de produtores envolvidos e o seu rendimento, assim como a monetarização da economia rural. No caso do Distrito de Mutarara a cultura do algodão tem já uma tradição, que vem do tempo colonial. A criação de gado bovino e caprino e a pesca são actividades geralmente realizadas como complemento à agricultura, havendo no entanto alguns criadores de gado bovino e caprino e proprietários de efectivos de dimensão média, nos distritos de Changara, Moatize e Mutarara. O Distrito de Tambara será provavelmente onde há um maior efectivo de cabritos. A pesca é geralmente praticada pelos que residem perto dos rios e da albufeira da barragem de Cahora Bassa. O comércio formal e a indústria estão muito pouco desenvolvidos limitando-se, no caso do comércio, a um pequeno número de comerciantes formais com estabelecimentos a funcionar na sede ou em locais estratégicos do distrito e, no caso da indústria, a pequenas 105 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO moagens e outras actividades de pequena indústria como a carpintaria, mecânica-auto, serralharia/soldadura e alfaiataria. Os comerciantes informais são em maior número, tanto na sede como nos vários pontos do distrito. Nos distritos de Changara, Mutarara e Tambara, existe uma forte tradição de comércio informal com o Malawi por parte das populações residentes nas localidades situadas na margem do Rio Zambeze. As infra-estruturas estão pouco desenvolvidas, em especial aquelas que servem a população residente no distrito, como é o caso da saúde, educação, abastecimento de água, energia eléctrica e rede de estradas secundárias, terciárias e vicinais. O acesso à energia eléctrica é extremamente baixo abrangendo menos que 1% dos agregados familiares residentes no distrito, geralmente sendo os que residem na sede do distrito que é abastecida por um grupo gerador22. O acesso a água potável também é baixo, variando entre 30 a 45% de agregados familiares que têm acesso a água canalizada (dentro e fora de casa), a água do fontanário ou de furos/poços com bomba. Devido à sua localização geográfica numa zona do Rio Zambeze onde confluíram e se fixaram vários grupos ao longo da história passada e recente, os distritos em estudo têm pessoas que falam diferentes línguas, nomeadamente Chinhúngué, Chisena, Chichewa e Chitwe. A língua Chinhungué é geralmente a mais falada, mas há distritos onde há muitos falantes da língua Chitwe (Guro), Chichewa (Moatize e Mutarara) ou Chisena (Moatize, Mutarara e Tambara). A estrutura familiar é de tipo patrilinear. O Régulo orienta as cerimónias tradicionais que geralmente estão relacionadas com acontecimentos duma família membro da comunidade ou da comunidade em geral. Algumas cerimónias são orientadas pelos médiums. As cerimónias mais usuais são as ligadas ao pedido de chuva, existindo também cerimónias de pedido de autorização aos espíritos para a realização de obras de construção ou mesmo de transferência dos espíritos de um lugar para o outro, quando há lugar à destruição ou desaparecimento dum determinado local que tem um significado simbólico para a comunidade. Em todas as comunidades existem locais considerados sagrados como é o caso dos cemitérios dos líderes tradicionais, cemitérios familiares, árvores, montanhas, pedras, grutas e pinturas que têm um valor simbólico importante para a comunidade geralmente 22 Exceptua-se o Distrito de Moatize, onde 7% dos agregados familiares têm acesso a energia eléctrica. 106 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO relacionado com a história da comunidade, em alguns casos sendo mesmo acontecimentos mais remotos ligados à fixação dos antepassados na região. Adiante, apresenta-se uma descrição de aspectos socioeconómicos particulares dos distritos integrantes da AID do Projecto. 11.2.1 11.2.1.1 DISTRITO DE CHANGARA Localização O Distrito está localizado na zona Sul da Província de Tete, a Sul do Rio Zambeze. Tem limites a Norte com os Distritos de Cahora-Bassa, Chiúta e a Cidade de Tete, a Oeste com o Zimbabué e os Distritos de Mágoè e Cahora Bassa e a Sul com a Província de Manica através do Rio Luenha. A sede do Distrito, Luenha, situa-se a 96 km, da capital provincial. As povoações de Chivuli, Nhaluca e Dinheiro, todas elas localizadas no Posto Administrativo de Chioco, Localidade de N’chenga, serão directamente afectadas pelo projecto porque estarão localizadas na área de inundação da albufeira (ver Figura 23)23. A povoação de Chivuli está perto dos limites da cidade de Tete. Esta é uma observação baseada nos mapas que deverá ser validada por estudos detalhados no terreno. 23 No caso do Distrito de Changara há uma contradição entre a divisão administrativa fornecida pelo mapa elaborado com base nos dados da CENACARTA e a divisão administrativa com base nos dados dos Censo de 1997 e 2007 do INE. A primeira divide Changara nos Postos Administrativos de Luenha, Chipembere e Cachembe, enquanto dados do INE e do terreno indicam os Postos Administrativos de Luenha, Chioco e Marara. O Consultor optou por utilizar os dados do INE. 107 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 23: Posto Administrativo de Chioco (Chipembere), Distrito de Changara e sua localização em relação à área de inundação 11.2.1.2 Divisão Administrativa O Distrito de Changara conta com três Postos Administrativos, que por sua vez se subdividem em nove localidades, conforme indicado a seguir, na Tabela 11. Tabela 11: Divisão Administrativa do Distrito de Changara por Posto Administrativo e Localidade, segundo o Censo 2007 Posto Administrativo Localidades Luenha-Sede Changara-Sede, Ntemangau, Dzungau Chioco Chipembere; Mazoe; N’chenga Marara Cachembe; Boroma; Mufa-Conde 108 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.2.1.3 Demografia Com uma área aproximada de 6.730 km2, o Distrito de Changara apresentava em 2007 uma população de 156.545 habitantes (dos quais 75.175 homens e 81.370 mulheres) e uma densidade populacional de 23,3 habitantes/km2, representando 9% da população total da Província de Tete. A Tabela 12 ilustra a distribuição da população do Distrito de Changara por Posto Administrativo e Localidade e a respectiva divisão por género (INE, 2009b). Tabela 12: Distribuição da População no Distrito de Changara segundo o Censo 2007 Posto Administrativo Luenha-Sede Chioco Marara Localidade Homens Mulheres Luenha-Sede 7.747 8436 Dzunga 3.570 3.750 Ntemangau 3.762 3.985 Mazoe 10.364 11.311 Chipembere 10.836 11.562 N’chenga 8.249 8.955 Boroma 4.347 4.819 Cachembe 18.766 20.520 Mufa-Conde 7.534 8.033 Total 31.249 61.277 64.019 Fonte: INE, 2009 As povoações de Chivuli, Nhaluca e Dinheiro serão directamente afectadas pelo projecto proposto, contando em 2011 com uma população estimada de 3.409 habitantes24, o que representará cerca de 20% da população da Localidade de N’chenga e 6% da população do Posto Administrativo de Chioco, como se pode observar na Tabela 13 abaixo apresentada. Tabela 13: População Estimada das Povoações dentro da Área de Inundação – Distrito de Changara 24 Dado estimado calculado com base na estatística das aldeias do Censo 97, a uma taxa de crescimento anual de 4,2%. 109 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Distrito Povoações Changara Chivuli Changara Nhaluca Changara Dinheiro Total Changara Pop 1997 745 558 694 1.997 AF's 1997 205 136 164 505 Dimensão Projecção Projecção % Posto % da AF Pop. 2011 AF's 2011 Administrativo Localidade 3,6 1.272 350 2,1 7,4 4,1 953 232 1,6 5,5 4,2 1.185 280 1,9 6,9 4,0 3.409 862 5,6 19,8 Fonte: CENACARTA, 1997 11.2.1.4 Infra-estruturas e serviços O Distrito de Changara é atravessado por várias estradas classificadas sendo duas primárias (uma delas com a totalidade do seu traçado no território do Distrito), uma secundária, uma terciária e duas vicinais. A rede de estradas que assegura a ligação com os vários pontos do Distrito é insuficiente. Do ponto de vista da ligação com os outros Distritos e pontos estratégicos do país e do hinterland, Changara é um importante ponto do Corredor de Transportes do Porto da Beira, através do qual passa um volume relativamente grande de carga e de passageiros provenientes, ou com destino aos países vizinhos e ao Centro e Sul de Moçambique: A Estrada Nacional N7 atravessa o distrito ligando o Porto da Beira e a Província de Manica ao Malawi via Zobué e ainda à Zâmbia e Congo, através da N9; A Estrada Nacional N8 que liga Luenha (capital do distrito) a Cuchamano e Nyamapanda (fronteira com Zimbabué), estabelecendo a ligação deste com o Norte e o Sul de Moçambique, o Malawi e a Zâmbia; A Estrada Secundária N301 (cruzamento no km 18), que estabelece a ligação com Songo, no Distrito de Cahora Bassa; A Estrada Terciária R600, com 73 km de extensão, que liga Mazoe e Chioco; A Estrada Vicinal R1051, com 61 km, que liga Tete à N301, para Songo, junto a Cataxa, passando por Boroma, Marara-Centro e Marara-Cachembe. Em termos de comunicações, há o emissor provincial da Rádio Moçambique que permite captar algumas emissoras estrangeiras. O Governo do Distrito dispõe de rádios transmissores e é possível o acesso à rede de telemóvel, embora não em todo o Distrito. 110 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Relativamente à educação, o Distrito de Changara contava em 2008 com um total de 126 instituições de ensino, de entre as quais 99 do nível EP1, 21 do nível EP2, 4 do nível ESG1, 1 do nível ESG2 e ainda 1 Escola Básica Agrária, designada de Fonte Boa e localizada em Boroma (INE, 2007c), Segundo a Direcção Provincial de Educação existem cerca de 17 unidades de Alfabetização e Educação de Adultos (AEA) em actividade na província. O conjunto de infra-estruturas de saúde é constituído por 13 unidades sanitárias, nomeadamente 1 Centro de Saúde do tipo I e 12 Centros de Saúde do Tipo II (Idem, 2007c). O quadro epidemiológico deste distrito é marcado pela malária, HIV/SIDA, doenças diarreicas, má nutrição, tuberculose e doenças respiratórias. 11.2.2 11.2.2.1 DISTRITO DE MOATIZE Localização O Distrito de Moatize está localizado na parte Oeste da Província de Tete. É limitado a Norte pelos Distritos de Chiúta e Tsangano, a Leste pela República do Malawi, a Sul pelos Distritos de Tambara e Guro (ambos da Província de Manica) e a Oeste pelo Município de Tete e pelo Distrito de Changara. Quatro povoações estarão dentro da área de inundação da Barragem, sendo as povoações de Nhaubalulo, Chiaguedje, Mitsanha e Catsanha, localizadas no Posto Administrativo de Moatize-Sede, pertencendo as três primeiras à Localidade de Benga e a última à de Msungo (Figura 24)25. Estudos detalhados no terreno deverão validar esta observação baseada nos mapas. 25 No caso concreto de Moatize, o sistema de GIS com base nos dados da Cenacarta 97 indicava a povoação de N’panzu como estando dentro da área de inundação. Uma análise mais cuidadosa com base na confrontação com os dados do Censo 97 e 2007 mostra que não se trata duma aldeia mas sim duma localidade, tudo indicando ter-se tratado dum erro de geo referência, pelo que não foi considerada a indicação do sistema de GIS afirmando que M’panzu estaria dentro da área de inundação. Isto só vem reforçar a ideia já afirmada anteriormente de que as observações baseadas nos mapas deverão ser validadas por uma visita de reconhecimento e avaliação no terreno, a ser efectuada na próxima fase de estudos. 111 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 24: Posto Administrativo de Moatize-Sede, Distrito de Moatize e sua localização em relação à área de inundação 11.2.2.2 Divisão Administrativa e Organização Política O Distrito de Moatize está subdividido em quatro Postos Administrativos, conforme indicado na Tabela 14. Note-se que Distrito de Moatize se distingue dos restantes Distritos em estudo por englobar uma área Municipal (Município de Moatize). Tabela 14: Divisão Administrativa de Moatize Posto Administrativo Localidades Kambulatsitsi Kambulatsitsi-Sede; Necungas Moatize Município de Moatize; Moatize-Sede; Benga; Mpanzo;Msungo Zobué Chipiridzanje; Nkodeze; Zobué-Sede; Samoa; Mussacama 112 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.2.2.3 Demografia Moatize conta com aproximadamente 8.428 km2 e uma população de 215.092 habitantes o que se traduz num número aproximado de 26 habitantes/km2. A Tabela 15 apresenta a distribuição da população por Posto Administrativo e Localidade (INE, 2009b). Tabela 15: Distribuição da População do Distrito de Moatize por Posto Administrativo e Localidade, segundo o Censo 2007 Posto Administrativo Moatize Kambulatsitsi Zobue Localidade Homens Mulheres Município de Moatize 19.209 19.715 Moatize-Sede 7.747 8.039 Benga 4.284 4.659 Mpanzo 6.006 6.510 Msungo 1.181 1.284 Kambulatsi-Sede 10.124 10.358 Necungas 5.294 5.537 Zobue-sede 50.932 54.213 Capiridazanje 6.172 6.792 Nkondeze 14.867 15.658 Mussacama 8.837 9.238 Samoa 6.317 6.904 Total 78.634 31.313 105.145 A população representa aproximadamente 12% da população total da Província. No que concerne à distribuição da população por sexo, a percentagem de mulheres é superior à de homens, sendo 51,3% (110,315) e 48,7% (104,777) respectivamente. As povoações de Nhaubalulo, Chiaguedje, Mitsanha e Catsanha estão localizadas na área de inundação da Barragem, estando as três primeiras na Localidade de Benga e a última na Localidade de Msungo. No total, a população estimada destas povoações é de 4.825 pessoas26, representando cerca de 6% da população do Posto Administrativo e 42% das localidades. Note-se que estas povoações estão situadas relativamente perto dos limites das áreas de tipo rural cidade de Tete. 26 Dado estimado calculado com base na estatística das aldeias do Censo 97, a uma taxa de crescimento anual de 4.2%. 113 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Tabela 16: População Estimada das Povoações dentro da Área de Inundação – Distrito de Moatize Distrito Povoações Moatize Nhaubalulo Moatize Chiaguedje Moatize Mitsanha Moatize Catsanha Total Moatize Pop AF's Dimensão Projecção Projecção % do Posto % da 1997 1997 AF Pop. 2011 AF's 2011 Administrativo Localidade 360 3,6 615 171 0,8 6,9 100 472 3,8 806 210 1,0 9,0 123 1.213 4,0 2.071 516 2,6 23,2 302 781 2,6 1.333 509 1,7 54,1 298 2.826 3,4 4.825 1.405 6,1 42,3 823 Fonte: CENACARTA, 1997 11.2.2.4 Actividades Económicas À excepção da Cidade de Tete, o Distrito de Moatize é provavelmente aquele em que a pequena indústria e os serviços estão mais desenvolvidos, concentrando-se nestes sectores de actividade cerca de 20% da população activa do distrito (INE, 2007b). Veja-se, por exemplo, que em 2008 estavam registados no Distrito de Moatize 31 unidades de (pequena) indústria27 e 148 unidades de comércio e serviços (INE, 2007c). Esta é uma realidade que remonta ao período anterior à independência, devido à presença da indústria extractiva do carvão e da actividade dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Estas actividades sofreram um retrocesso durante o período da guerra (1979-1992), mas passaram a ter um novo dinamismo após o término da guerra e a assinatura dos Acordos de Paz, mais concretamente após o início da reabilitação da Linha de Sena e a entrega de concessões e licenças mineiras a várias empresas privadas como a Riversdale e a Vale Moçambique SA. 11.2.2.5 Infra-estruturas e Serviços O Distrito de Moatize tem uma rede viária e ferroviária importante no contexto da Província de Tete. Contudo, a rede viária interna, que dá acesso aos vários pontos do distrito não está plenamente desenvolvida. Assim, destacam-se as seguintes rodovias: 27 Pequenas indústrias alimentares, de vestuário, de fabricação de produtos metálicos e mobiliário. 114 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Estrada Nacional N7, estrada primária asfaltada que atravessa o Distrito em direcção ao Malawi. Esta via faz parte do sistema de transportes do Corredor da Beira, assegurando a circulação de cargas e passageiros entre o Porto da Beira, as Províncias de Sofala e Manica, a Província de Tete e os países do interland como o Malawi, Zâmbia e a Republica do Congo; A Estrada Secundária N322, que liga o Distrito de Moatize (e os restantes Distritos da Província de Tete) ao Distrito de Mutarara, no extremo Sudeste da Província de Tete; A Estrada Secundária N304, que liga o Distrito de Moatize (e os Distritos localizados mais a Sul da Província de Tete) aos Distritos de Tsangano e Angónia; A Linha de Sena, que liga a Vila de Moatize ao Porto da Beira, percorrendo no Distrito uma extensão total de 108 km. A rede escolar do Distrito é formada por um total de 134 estabelecimentos de ensino, dos quais 107 são Escolas do EP1, 22 do EP2 e 5 do ESG2. A infra-estrutura de saúde é formada por 12 estabelecimentos, dos quais 10 Centros e 2 Postos de Saúde. 11.2.3 11.2.3.1 DISTRITO DE MUTARARA Localização O Distrito de Mutarara está localizado na zona Sudeste da Província de Tete, sendo limitado a Norte pela República do Malawi, a Este pelos Distritos de Morrumbala e Mopeia, e a Sul, através do Rio Zambeze, pelos Distritos de Tambara (Província de Manica), e Caia e Chemba (Província de Manica). A Oeste faz fronteira com o Distrito de Moatize. A Vila de Nhamayabué é a Sede do Distrito, estando a 295 km da Cidade de Tete. A Figura 25 mostra o Posto Administrativo de Doa, que é parte do Distrito que será mais afectada pelo projecto. 115 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 25: Posto Administrativo de Doa, Distrito de Mutarara e sua localização em relação à área de inundação O paredão da Barragem será construído no extremo oeste do Posto Administrativo de Doa, a pouca distância do limite com o distrito de Moatize, prevendo-se que a área de inundação seja diminuta. Os impactos mais sentidos serão os relacionados com a abertura de vias de acesso (ou a melhoria das que existirem) para acesso à zona da obra, assim como os relacionados com a construção da barragem e das instalações de apoio, provisórias ou definitivas. Nesta área, os mapas não indicam a presença de assentamentos populacionais. Contudo, estas observações não eliminam a necessidade de Estudos Detalhados no terreno validarem estas observações. 116 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.2.3.2 Divisão Administrativa O Distrito de Mutarara conta com quatro postos administrativos, que por sua vez se subdividem em catorze localidades, conforme indicado na Tabela 17 abaixo. Tabela 17: Divisão Administrativa de Mutarara Posto Administrativo Localidades Nhamayabue Vila de Nhamayabue; Nhamayabue-Sede, Singal, Zambue 11.2.3.3 Charre Chare-Sede; Vila Nova da Fronteira; Nhapahale Doa Doa-Sede; Ancuaze; Chueza; Salima Inhangoma Inhangoma-Sede; Canhungue; Jardim (Kanumua) Demografia Com uma área aproximada de 6.367 km2, o Distrito de Mutarara apresentava em 2007 uma população de 207.010 habitantes sendo, a seguir aos Distritos de Angónia e Moatize, o Distrito mais populoso da Província representando 11,6% da sua população total. A densidade populacional é de 32,51 habitantes/km2, bastante mais alta que a média da Província (18,13). A proporção de mulheres é de 52% contra 48% de homens (INE, 2007c). 117 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Tabela 18 abaixo apresentada ilustra a distribuição da população do Distrito de Mutarara por posto administrativo e localidade e a respectiva divisão por género (INE, 2009b). Tabela 18: Distribuição da População no Distrito de Changara segundo o Censo 2007 Posto Administrativo Nhamayabue Chare Doa Nhangoma 11.2.3.4 Localidade Homens Mulheres Vila de Nhamayabue 4.260 4.425 Nhamayabue-Sede 7.904 8.889 Singal 4.681 5.131 Zambue 2.551 2.652 Chare-Sede 6.394 6.709 Vila Nova Fronteira 6.871 7.402 Nhapahale 3.814 4.082 Doa-Sede 14.672 15.821 Ancuaze 2.945 3.158 Chueza 8.556 9.368 Salima 6.355 6.743 Nhangoma-Sede 8.768 9.639 Canhungue 13.155 14.224 Jardim (Kanumua) 8.527 9.134 Total 49.493 35.272 67.618 63.627 Infra-Estruturas e Serviços A Linha de Sena atravessa o Distrito em direcção ao Porto da Beira. Na Vila Sede de Nhamayabué a linha atravessa o Rio Zambeze na Ponte Dona Ana, tendo do outro lado a Vila de Sena, no Distrito de Caia, de onde parte atravessando os Distritos de Caia, Cheringoma, Muanza e Dondo até atingir o Porto da Beira. A rede de estradas classificadas do Distrito é relativamente pobre e pouco desenvolvida, não existindo nenhuma estrada asfaltada no Distrito, que é atravessado por duas estradas secundárias e três vicinais: A Estrada Secundária N322 atravessa o Distrito no sentido Noroeste-Sudeste, saindo do cruzamento da N7 em Kambulatsitsi no Distrito de Moatize, perto da fronteira com o Malawi, em direcção à Vila de Nahamayabué; 118 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A Estrada Secundária N300, que sai da Vila de Nhamayabué em direcção à Vila Nova da Fronteira, na fronteira com o Malawi, acompanhando o troço da linha férrea que corre no mesmo sentido; A Estrada Vicinal R1053, que sai de Chombe até ao cruzamento com a N322; A Estrada Vicinal R1054, que é um pequeno troço sai de Chicumba até ao cruzamento com a R1053; A Estrada Vicinal R1052, que parte de Soconje, no extremo sudeste do Distrito, até encontrar a R322. Em termos de comunicações, a Vila Sede de Nhamayabué está ligada à rede nacional da TDM. Contudo a rede de celular é a que permite a comunicação telefónica a um maior número de pessoas na Vila e Localidade de Nhamayabué, na Localidade de Inhangoma, através de Mcel, estando a Vodacom a construir antenas para dar cobertura no Posto Administrativo de Doa. A maior parte da população do Distrito tem acesso à emissão da Rádio Moçambique, mas é muito comum a audição das estações do Malawi, uma vez que o Distrito tem uma fronteira extensa com aquele país. Na Vila de Nhamayabué, Sede do Distrito, existe a Rádio Comunitária de Mutarara, montada com apoio do Instituto de Comunicação Social, cuja cobertura é contudo num raio pequeno. Apenas 0,9% da população do Distrito têm acesso a energia eléctrica, tratando-se dos agregados familiares que residem na Vila Sede do Distrito que já beneficia de energia eléctrica da rede nacional (INE, 2007c). Relativamente à educação, o Distrito de Mutarara contava em 2008 com um total de 111 instituições de ensino, de entre as quais 93 do nível EP1, 14 do nível EP2 e 4 do nível ESG1, 1 do nível ESG2 e ainda 1 Escola Básica Agrária, designada de Fonte Boa e localizada em Boroma (Idem, INE 2007). A infra-estrutura de saúde é constituída por 11 unidades sanitárias, nomeadamente 1 Hospital Rural, 9 Centros de Saúde e 1 Posto de Saúde (INE, 2007c). O quadro epidemiológico deste Distrito é marcado pela malária, doenças diarreicas, DTS, HIV e má nutrição. 119 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.2.4 11.2.4.1 DISTRITO DE GURO Localização O Distrito de Guro situa-se na zona Norte da Província de Manica, tendo como limites a Norte os Distritos de Moatize e Changara (através dos rios Zambeze e Luenha), a Oeste o Distrito de Changara, a Este o Distrito de Tambara e a Sul os Distritos de Macossa e Báruè. A Sede do Distrito é a Vila do Guro, situada na EN6 a 221 km de Chimoio, a capital. Prevê-se que as povoações de Catondo, Massangano-sede, Thinda, Nhacatal e Malula, pertencentes ao Posto Administrativo de Mandie, Localidade de Massangano, sejam directamente afectadas pelo projecto porque estarão na área de inundação da barragem, conforme indica a Figura 26)28. Uma parte do troço da estrada vicinal R960 também será afectada pela albufeira, prevendo-se que este troço fique submerso. 28 Como já afirmado anteriormente (Ponto 1.2), esta observação baseada nos mapas deverá ser validada por uma visita de reconhecimento e avaliação no terreno, a ser efectuada na próxima fase de estudos. 120 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Figura 26 Posto Administrativo de Mandie, Distrito de Guro e sua localização em relação à área de inundação 11.2.4.2 Divisão Administrativa e Organização Política O Distrito de Guro conta com 4 postos administrativos, que por sua vez se subdividem em 11 localidades, conforme indicado na Tabela 19 abaixo. Tabela 19: Divisão Administrativa de Guro Posto Administrativo Localidades Guro-Sede Guro Sede (Sanga); Bunga Mandie Demaufe; Nhacatale; Massangano Mungari Mungari Sede; Bamba-Chitondo; Chivuli Nhamassonge Nhamassonge Sede; Nhacaduzuduze; Thanda 121 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.2.4.3 Demografia Com uma área aproximada de 6.925 km2, o Distrito de Guro apresentava em 2007 uma população de 68.347 habitantes (32.116 homens e 36.231 mulheres), uma densidade populacional de 9,87 habitantes/km2, representando 4,8% da população total da Província de Manica (INE, 2007c). A Tabela 20 ilustra a distribuição da população do Distrito de Guro por Posto Administrativo e localidades e a respectiva divisão por género (INE, 2009b). Tabela 20: Distribuição da População no Distrito de Guro segundo o Censo 2007 Posto Administrativo Guro-Sede Mandie Mungari Nhamassonge Localidade Homens Mulheres Guro Sede (Sanga) 10.720 11.252 Bunga 3.049 3.326 Demaufe 3.041 3.565 Nhacatale 1.643 2.008 Massangano 3.132 3.723 Mungari Sede 1.927 2.205 Bamba-Chitondo 1.529 1.777 Chivuli 3.215 3.763 Nhamassonge Sede 1.103 1.213 Nhacaduzuduze Thanda 1.449 1.831 Thanda 1.288 1.568 Total 28.347 17.112 14.436 8.452 As povoações Catando, Massangano-Sede, Thinda, Nhacatal e Malula estão localizadas dentro da área de inundação da Barragem, pertencendo todas elas à Localidade de Massangano. A população estimada destas aldeias em 2011 é de 5244 habitantes29, o que representará cerca de 77% da população da Localidade de Massangano e 31% do Posto Administrativo de Mandie (Tabela 21). 29 Dado estimado calculado com base na estatística das aldeias do Censo 97, a uma taxa de crescimento anual de 3.8%. 122 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Tabela 21: População Estimada das Povoações dentro da Área de Inundação – Distrito de Guro Distrito Povoações Guro Guro Guro Guro Guro Total Guro Catondo Massangano-Sede Thinda Nhacatal Malula Pop 1997 710 236 635 896 752 3.229 AF's 1997 180 60 152 269 200 861 Dimensão AF 3,9 3,9 4,2 3,3 3,8 3,8 Projecção Pop. 2011 1.153 383 1.031 1.455 1.221 5.244 Projecção % do Posto AF's 2011 Administrativo 292 6,7 97 2,2 247 6,0 437 8,5 325 7,1 1.398 30,6 % da Localidade 16,8 5,6 15,0 21,2 17,8 76,5 De notar que a Vila de Massangano tem uma importância particular por ali se localizar a antiga Fortaleza de Massangano, construída no tempo colonial, ao período da chamada Revolta do Báruè, que foi comandada pelo Macombe que liderou os povos da região na resistência à ocupação portuguesa. 11.2.4.4 Infra-Estruturas e Serviços A rede de estradas no Distrito de Guro é relativamente pobre, considerando a dimensão do distrito, sendo atravessado por quatro estradas classificadas sendo uma primária, duas terciárias e uma vicinal: A Estrada Nacional N7, que atravessa o distrito no sentido Norte-Sul proveniente das cidades da Beira, Chimoio e Catandica, em direcção à Província de Tete onde estabelece ligações com o Malawi, Zâmbia e República do Congo; A Estrada Terciária R529 que se inicia no cruzamento da EN7 e atravessa o distrito no sentido Sul-Nordeste em direcção à Vila de Nhacolo, Sede do Distrito de Tambara, continuando depois ao longo do Rio Zambeze em direcção ao distrito de Chemba, na Província de Sofala; A Estrada Terciária R530, que inicia no cruzamento da R529 e segue na direcção Norte para a Sede dos Postos Administrativos de Nhamassonge e Mandie; A Estrada Vicinal R960, que liga a Vila de Mandie a Massangano. Uma parte desta estrada ficará inundada pelas águas da albufeira que será formada após a construção da Barragem. Em termos de comunicações, existe na Sede do Distrito uma cabine telefónica da TDM, mas a forma mais usada de contacto são as redes de celular da Mcel e Vodacom. As zonas localizadas ao longo da EN7 são as mais privilegiadas, sendo possível a comunicação 123 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO praticamente ao longo de toda a via. Os receptores de rádio podem ter acesso à emissão da Rádio Moçambique na maior arte do Distrito, existindo ainda a Rádio Comunitária do Guro, instalada pelo Instituto de Comunicação Social e a funcionar na Sede do Distrito. Nas localidades situadas na margem do Rio Zambeze capta-se a emissão da Rádio Moçambique através da antena de Tete, mas existe uma forte tradição de ouvir as emissões de rádio do Malawi. A energia eléctrica é fornecida através de grupo gerador ou painéis solares beneficiando apenas 0.3% da população do Distrito (INE, 2007c). Esta situação pode ter sofrido uma ligeira alteração a partir do momento em que a Sede do Distrito passou a beneficiar de energia eléctrica da HCB, distribuída pela rede da EDM. Existe um plano da rede nacional de energia também abastecer a Vila de Mungári, sede do Posto Administrativo como o mesmo nome, que actualmente apenas tem energia fornecida por um gerador durante quatro horas por dia. Relativamente à educação, o Distrito de Guro contava em 2008 com um total de 52 instituições de ensino, de entre as quais 38 do nível EP1, 13 do nível EP2 e 1 do nível ESG1 (INE, 2007c). A infra-estrutura de saúde é constituída por 10 unidades sanitárias, nomeadamente 9 Centro de Saúde e 1 Posto de Saúde (INE 2007c). O quadro epidemiológico deste distrito é marcado pela malária, HIV/SIDA, doenças diarreicas, má nutrição, tuberculose e doenças respiratórias. 11.2.4.5 Património Cultural A história do Distrito do Guro está intimamente ligada à história do Macombe, herói da resistência à penetração portuguesa na zona. A história do Macombe está ligada à migração de dois grupos de guerreiros Mbire oriundos do Norte do Zimbabué para a zona do Guro, sendo cada um deles liderado por dois irmãos, um chamado Samapanga e o outro de Macombe. O grupo de guerreiros comandado pelo Macombe liderou a chamada revolta dos Báruès, unindo vários grupos da região que se opuseram à penetração portuguesa na zona desde a zona do Báruè até ao Rio Zambeze. A Fortaleza de Masssangano é o testemunho dessa época, estando classificada como património histórico. 124 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.2.5 11.2.5.1 DISTRITO DE TAMBARA Localização O Distrito de Tambara está situado na zona Nordeste da Província de Manica, tendo como limites a Norte os Distritos de Moatize e Mutarara da Província de Tete (separados pelo rio Zambeze), a Oeste o Distrito de Guro, a Este os Distritos de Chemba e Maringué, da Província de Sofala, e a Sul o Distrito de Macossa. A Vila Sede do Distrito situa-se nas margens do Rio Zambeze a 377 km de Chimoio, a capital da província. A Figura 27 mostra os Postos Administrativos de Nhacolo e Nhacafula, que têm áreas que poderão ser afectadas pela barragem. Figura 27: Posto Administrativo de Nhacolo e Nhacafula, Distrito de Tambara e sua localização em relação à área de inundação 125 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO O paredão da Barragem será construído numa área localizada na parte Noroeste do Posto Administrativo de Nhacolo. A albufeira que será criada no Distrito é relativamente pequena ocupando algumas áreas nos Postos Administrativos de Nhacolo e Nhacafula. A construção da Barragem implicará a abertura de vias de comunicação, a construção de instalações provisórias e definitivas, o que irá certamente ocupar algumas áreas do Posto Administrativo de Nhacolo. 11.2.5.2 Divisão Administrativa e Organização Política O Distrito de Tambara conta com 3 postos administrativos, que por sua vez se subdividem em oito localidades, conforme indicado na Tabela 22 abaixo. Tabela 22: Divisão Administrativa de Tambara Posto Administrativo Localidades Nhacolo Nhacolo-Sede; Mafunda; Sabeta Buzua Buzua-Sede (Madzirue); Marimanao; Regulado de Ntheme Nhacafula Nhacafula-Sede; Nhacalapho 11.2.5.3 Demografia Com uma área aproximada de 4.283 km2, o Distrito de Tambara apresentava em 2007 uma população de 41.775 habitantes (dos quais 19.512 homens e 22.263 mulheres), uma densidade populacional de 9,75 habitantes/km2, representando 6,9% da população total da Província de Manica (INE, 2007c). Na Tabela 23 está ilustrada a distribuição da população do Distrito de Tambara por posto administrativo e localidade e a respectiva divisão por género (INE, 2009b). 126 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Tabela 23: Distribuição da População no Distrito de Tambara segundo o Censo 2007 Posto Administrativo Nhacolo Buzua Nhacafula Localidade Homens Mulheres Nhacolo-Sede 3.614 4.080 Mafunda 1.737 1944 Sabeta 12.970 6.881 Buzua-Sede 1.420 1.711 Marimanao 1.731 2.055 Regulado de Nteme 1.268 1.549 Nhacafula-Sede 2.838 3.083 815 960 Nhacalapho Total 24.346 9.734 7.696 O Posto Administrativo com maior concentração de população é o de Nhacolo, onde está localizada a Sede do Distrito, cuja população representa 58,3% da população do Distrito 11.2.5.4 Infra-Estruturas e Serviços A rede de estradas no Distrito de Tambara é exígua e precária, evidenciando o fraco desenvolvimento do Distrito, que é atravessado por apenas três estradas classificadas sendo duas terciárias e uma vicinal: A Estrada Terciária R529 que inicia no cruzamento da EN7 percorre uma parte do Distrito do Guro e entra no Distrito de Tambara em direcção a Nhacolo e à Sede do Distrito, continuando depois ao longo do Rio Zambeze em direcção ao Distrito de Chemba, Província de Sofala; A Estrada Terciária R531, que liga a Sede dos Postos Administrativos de Nhacafula e Buzua; A Estrada Vicinal R950, que liga a Povoação de Massavala, no Distrito de Guro, à Sede do Posto Administrativo de Buzua. Em termos de comunicações, não existe rede da TDM. A rede de celular é acessível na Vila de Nhacolo, Sede do Distrito, e arredores, mas tal já não acontece na maior parte do Distrito. É possível captar a emissora da Rádio Moçambique em vários pontos do Distrito, existindo também na Sede do Distrito a Rádio Comunitária de Tambara. A população 127 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO residente nas localidades situadas na margem do Rio Zambeze ouve muito as emissoras do Malawi. A maior parte da população do Distrito não tem acesso à energia eléctrica, recorrendo à lenha (74,2%) e petróleo (22,5%) como principal fonte de energia. Apenas 0,4% dos residentes no Distrito têm acesso a energia eléctrica através do gerador ou de placas solares (INE, 2007c). A Sede do Distrito tem um gerador que geralmente funciona até às 23 horas durante a semana, para permitir o funcionamento do turno nocturno da Escola Secundária. Relativamente à educação, o Distrito de Tambara contava em 2008 com um total de 38 instituições de ensino, de entre as quais 30 do nível EP1 e 8 do nível EP2, não havendo na altura nenhuma instituição de Ensino Secundário Geral (Idem, INE 2007). Actualmente já existe uma escola do Ensino Secundário Geral I a funcionar na Sede do Distrito. A infra-estrutura de saúde também ilustra este fraco desenvolvimento, havendo em 2008 apenas 5 Postos de Saúde a funcionar no Distrito (INE, 2007c). O quadro epidemiológico deste Distrito é marcado pela maior incidência da malária, doenças diarreicas e disenteria, DTS e HIV/SIDA. 11.2.5.5 Património Cultural Os guerreiros do reino do Macombe dominaram a zona que vai desde as montanhas do Báruè até ao rio Zambeze, atravessando o território que actualmente ocupado pelos Distritos de Guro e Tambara. Existe na Vila Sede de Tambara um amuralhado que está relacionado com este período, à semelhança da Fortaleza de Massangano, no Distrito de Guro. 128 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 11.3 SITUAÇÃO DE MINAS ANTI-PESSOAIS Dados do Instituto Nacional de Desminagem (IND) (Figura 28) indicam que na Província de Tete a situação de minas anti-pessoais ainda representa um constrangimento ao desenvolvimento económico e social da província. Embora não existam dados estatísticos suficientes sobre a contribuição do processo de desminagem na dinamização da economia local, sobretudo nas Vilas, Localidades e Distritos, presume-se que as acções de desminagem contribuam para o aumento das áreas disponíveis para a produção agrícola e habitação, para a abertura de vias de comunicação e construção de outras infra-estruturas económicas e sociais e em geral para qualquer iniciativa de desenvolvimento e investimento. O processo de desminagem desenvolve-se muito baseado na informação que o sector consegue reunir permanentemente e processar, assim como nos fundos que se conseguem mobilizar para solucionar casos já detectados e processados. Numa perspectiva geral, existem diversas áreas onde a desminagem está em curso, bem como outras onde o processo ainda não teve início. O mapa da (Figura 28) abaixo ilustra o ponto de situação das minas anti-pessoais e do processo de desminagem nos Distritos de Changara, Moatize e Chiúta até ao ano de 2010 (dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Desminagem). De um modo geral, a área de inundação não apresenta qualquer sinal de perigo em relação à situação das minas antipessoais, pois os campos identificados e os de acção das minas anti-pessoais estão distantes desta área. 129 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Fonte: CENACARTA, 1997 Figura 28: Situação das Minas Anti-pessoais 130 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 12 IDENTIFICAÇÃO DOS POTENCIAIS IMPACTOS AMBIENTAIS O presente capítulo apresenta os impactos potências da construção da barragem, enchimento da albufeira e operação do empreendimento, baseados na identificação preliminar efectuada no EPDA. Na fase de EIA, a identificação dos impactos será revista e aprofundada, com base nas constatações dos Estudos especializados a realizar, e ainda com base em subsídios da Consulta Pública. Os impactos encontramse agrupados considerando Meio Biofísico (Secção 12.1) e o Meio Socioeconómico (Secção 12.2). 12.1 MEIO BIOFÍSICO 12.1.1 Clima e qualidade do ar Potencial Impacto: Mudanças climáticas A produção de energia hidroeléctrica é muitas vezes apontada como de impacto ambiental potencialmente positivo, dado que a electricidade é produzida a partir de energias renováveis, sem a queima de combustíveis fósseis. A operação de barragens hidroeléctricas é, assim, considerada uma forma de transformação limpa de um recurso energético natural, com baixo custo da geração de energia, já que o principal insumo energético, a água do rio, está inserido no sistema operacional da barragem. Isto não exclui, no entanto, a possibilidade de causar um impacto na forma de mudanças climáticas. A decomposição da vegetação que fica submersa quando se procede ao Enchimento da Albufeira resulta na emissão de Dióxido de Carbono (CO2) e Metano (CH4), respectivamente por decomposição aeróbica e anaeróbica de matéria orgânica. Isto acontece, principalmente, nos primeiros anos após a formação da albufeira, em teores que dependem, em grande medida, da quantidade de matéria orgânica presente no local na altura do enchimento da albufeira. O CO2 e o CH4, que fazem parte do conjunto 131 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO dos chamados Gases com Efeito de Estufa, são então libertados para a atmosfera através da superfície da água. As taxas de libertação destes gases serão influenciadas por factores tais como o volume de água armazenado na albufeira, a profundidade média da água, a temperatura da água e o tempo de retenção. Potencial Impacto: Alterações micro climáticas na zona da albufeira e imediações Um dos efeitos que se pode esperar na sequência da Fase de Enchimento da Albufeira é o aumento da radiação solar absorvida, associada ao baixo poder de reflexão da água, quando comparado ao da vegetação. Um outro efeito da formação da albufeira pode ser o favorecimento da evaporação na superfície da massa de água criada, com o consequente aumento da humidade relativa do ar nas imediações da albufeira. As altas temperaturas que normalmente se observam na área do projecto, por vezes atingindo valores acima de 40ºC, poderão contribuir para este impacto. Os efeitos das mudanças acima referidas, que tendem a ser maiores em grandes albufeiras, podem observar-se ao nível da frequência e da intensidade de nebulosidade e de nevoeiros na zona da albufeira e nas vizinhanças desta. Potencial impacto: Redução da qualidade do ar devido à emissão de poeiras e de gases de exaustão Este é um impacto que deverá ter maior expressão na Fase de Construção da barragem. Nesta fase, prevê-se que os principais focos de emissão de poeiras estarão relacionados com as operações sobre o terreno usando maquinaria pesada (p.e. preparação do terreno, terraplenagem) e possivelmente, com o uso de explosivos, se e onde estes se revelarem necessários. A quantidade de poeiras em dispersão irá depender de um conjunto de factores, tais como o tipo de solo, a sua humidade, o volume de tráfego, o tipo de veículos/equipamentos em circulação e a velocidade de circulação. A velocidade do vento, a sua direcção e a distância a que as pessoas se encontrem em relação aos focos de emissão, bem como a eficiência de possíveis barreiras naturais ou artificiais que possam atenuar a dispersão das emissões são elementos que terão um papel importante na determinação do nível do incómodo que poderá ser causado no seio dos residentes e/ou usuários de terras na área. 132 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO O período seco é aquele em que o impacto de emissão de poeiras se poderá observar com maior intensidade, se considerar que nessa altura as partículas de poeira tendem a dispersar-se com maior facilidade; este período é aquele em que as obras são, normalmente, intensificadas, para permitir maior segurança, sobretudo na movimentação de maquinaria e equipamentos e em operações que impliquem a movimentação de terras. A degradação da qualidade do ar através da emissão de poeiras será temporária (i.e. irá verificar-se durante as obras) e, possivelmente, restringir-se-á às vizinhanças imediatas das zonas sujeitas a obras e actividades associadas a estas, dado que as obras e as actividades de apoio estarão limitadas a área pré-definidas. A circulação de veículos e equipamentos irá, por outro lado, resultar na emissão de gases de exaustão, considerados poluentes atmosféricos. Os gases poluentes em referência incluem o monóxido de carbono (CO), o dióxido de enxofre (SO 2), óxidos de nitrogénio (NOx), compostos orgânicos voláteis diversos (hidrocarbonetos, aldeídos, cetonas, etc.), compostos contendo Chumbo (Pb), fumos negros, entre outros. É de assumir que este impacto irá observar-se de forma temporária. Não se espera qualquer redução significativa na qualidade do ar em resultado da libertação de gases de exaustão em actividades ligadas às obras. 12.1.2 Geologia / Geomorfologia Potencial impacto: Sismicidade induzida O termo “sismicidade induzida” é utilizado para designar tremores de terra (sismos) que, de alguma forma, se relacionam com a actividade humana. Este tipo de sismos pode ser dividido em duas categoria, a saber: Sismos accionados: causados por tensões tectónicas e, provavelmente, viriam a ocorrer mais cedo ou mais tarde, mas a sua proximidade, no tempo e no espaço, relativamente a actividades humanas indica uma relação com a acção antropogénica; 133 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Sismos verdadeiramente induzidos: sismos desta categoria são considerados puramente antropogénicos, visto que a formação das tensões tectónicas pode ser atribuída directamente a actividades humanas. Neste relatório, o termo “sismicidade induzida” é utilizado para ambos os casos acima indicados e em referência a qualquer evento de sismicidade que possa estar associada ao enchimento da albufeira de Boroma. A construção da barragem, especificamente o Enchimento da Albufeira, irá criar um corpo de água com características “lacustres”, que poderá alterar as condições estáticas das formações rochosas do ponto de vista mecânico (em virtude do próprio peso da massa de água) e do ponto de vista hidráulico (em consequência da infiltração do fluído na subsuperfície, que causa pressões internas nas camadas rochosas profundas). A combinação destas duas acções é tida como um factor que pode, em alguns casos, desencadear distúrbios tectónicos e, eventualmente, gerar sismos, no caso de existirem localmente condições geológicas que propiciem este fenómeno. Grande parte das referências à sismicidade induzida encontradas diz respeito a barragens com a capacidade de armazenamento de mais de 1.000 hm3 e com mais de 100 metros de altura. A altura máxima prevista para a barragem de Lupata é de 40 m e o volume máximo de armazenamento é de 2.900 milhões de m3 (i.e. 2,9 hm3). Mesmo assim, considera-se necessário incluir este impacto no conjunto daqueles que, potencialmente, podem resultar do empreendimento proposto. Potencial impacto: Interferência com ocorrências minerais importantes Ao longo do EPDA não foi encontrada informação fiável sobre a possível existência de ocorrências minerais de valor especial na área do projecto. A determinação deste possível impacto passa, necessariamente, por um conhecimento mais profundo das características geológicas da área de implementação do projecto, que deverá ser adquirido por via do Estudo Especializado de Geologia previsto no âmbito da AIA deste projecto. 134 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Potencial impacto: Mudanças geomorfológicas associadas a câmaras de empréstimo e à construção de infra-estruturas associadas ao projecto É comum observarem-se na natureza mudanças geomorfológicas determinadas pela acção inter-relacionada de factores tais como a precipitação, as características do solo, a topografia, a vegetação, entre outros. Tendo em conta a sensibilidade do meio de inserção da barragem proposta (i.e. ambiente fluvial e imediações), algumas das mudanças susceptíveis de ocorrer de modo natural, podem, de certa forma, ser exacerbadas pela acção antropogénica da construção da barragem. Durante a Fase de Construção, a produção de agregados e de outros materiais para a construção da barragem e das infra-estruturas associadas irá requerer a exploração de pedreiras e de câmaras de empréstimo, com impactos sobre a morfologia do terreno; a exploração de áreas de empréstimo no local da futura albufeira (como, em princípio, irá ocorrer no projecto) pode permitir, em certa medida, minimizar este impacto. Por outro lado, a edificação de infra-estruturas poderá também resultar em mudanças localizadas na configuração topográfica do terreno, como resultado das obras de terraplanagem; exemplos de possíveis efeitos das actividades de construção seriam a desestabilização de áreas sem cobertura vegetal e o desencadeamento de processos erosivos. Alterações geomorfológicas na área poderão levar a uma mudança das condições de drenagem, modificando o sistema de infiltração de água no solo e o escoamento das águas superficiais, podendo também desencadear processos erosivos, sendo que este impacto poderá perdurar na Fase de Operação do projecto. Potencial impacto: Aumento de processos erosivos (margens da albufeira, vizinhanças do local de descarga e a jusante) Os processos erosivos relacionados com a Fase de Operação da barragem são aqui abordados sob três vertentes, conforme se especifica em seguida: 135 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Erosão nas margens da albufeira: a flutuação dos níveis de água na albufeira poderá contribuir para a erosão, particularmente na zona entre o Nível Mínimo de Exploração e o Nível de Pleno Armazenamento; Erosão associada às descargas da barragem: A força mecânica das águas descarregadas através do descarregador causa erosão nos sectores mais próximos do ponto de descarga. A magnitude do impacto estará relacionada com a intensidade das descargas, assim como com as características geomorfológicas do terreno. O efeito erosivo é atenuado nas margens contendo maciços rochosos; Erosão a jusante: esta resulta da busca de um novo equilíbrio da carga de sedimentos do rio retidos na albufeira, em consequência do represamento da água. A erosão no leito do rio (causando aprofundamento deste), bem como nas suas margens (causando o desgaste destas) ocorre, inevitavelmente, como forma de recuperar o abastecimento normal de sedimento. Este impacto deverá ser desencadeado pelo início de operação da barragem, sendo de prever que o mesmo perdure ao longo de toda a Fase de Operação. 12.1.3 Ruído Potencial impacto: Incremento dos níveis locais de ruído Presume-se que durante a Fase de Construção da barragem as fontes potenciais de ruído estarão relacionadas com a operação de maquinaria e equipamento envolvidos nas obras (circulação ao longo das estradas; operações de carregamento e descarregamento de materiais e equipamentos, especialmente no caso de cargas metálicas; trituração de materiais inertes; desbaste de vegetação; entre outras). Na Fase de Operação, a principal fonte potencial de ruído será a própria barragem em operação. Na área onde se pretende construir a barragem as principais fontes de ruído são o movimento das águas do Zambeze e a vocalização de diversas espécies de animais. Assim, não existem na área fontes significativas de ruído associado a actividades 136 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO humanas. Durante a construção e a operação da barragem, os receptores primários do impacto do ruído serão os residentes e/ou usuários das vizinhanças imediatas do local do projecto. Este impacto é de extensão localizada e irá perdurar ao longo do período de operação da barragem. 12.1.4 Recursos hídricos Potencial impacto: Degradação da qualidade da água na albufeira Na Fase de Operação (após o enchimento da albufeira), mudanças na qualidade da água na albufeira podem ter impacto nos usos desta, tanto no local, como a jusante da barragem. A qualidade da água na albufeira é não apenas pela quantidade de nutrientes provenientes da componente vegetal que ficará submersa e se degradará ao longo do tempo, como também pela quantidade de nutrientes proveniente de montante ou de usos na área. A degradação da qualidade da água na albufeira e o consequente desenvolvimento massivo de algas, resultando em eutrofização, é um processo que pode ocorrer principalmente em barragens de armazenamento. No presente caso, a barragem proposta não terá a função de armazenamento; a água recebida de jusante será, logo em seguida, descarregada através da barragem. Este modo de operação permite, à partida, minimizar o impacto de redução da qualidade da água na albufeira. Potencial impacto: Degradação da qualidade da água superficial e/ou subterrânea, associada às actividades de construção A execução das actividades da Fase de Construção poderá, possivelmente, resultar em efeitos sobre a qualidade da água superficial, particularmente associada à gestão de materiais poluentes. Existe uma série de condições características da Fase de Construção que poderão determinar a ocorrência de derrames acidentais de combustíveis, solventes, lubrificantes ou outros poluentes, com a consequente contaminação da água superficial e/ou subterrânea, dentre as quais se citam as seguintes: 137 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Transporte, armazenamento e transferência de potenciais poluentes: as obras serão executadas numa zona distante das fontes destes materiais, pelo que será necessário transportá-los e armazená-los junto às áreas de trabalho; Manutenção de viaturas e máquinas: pequenas avarias (e, por vezes, avarias graves) poderão ocorrer durante a construção de infra-estruturas e por não ser prático transportar máquinas pesadas para oficinas autorizadas, poderá haver necessidade da sua reparação no campo, no local da avaria; A probabilidade de ocorrência deste impacto deverá ser baixa, visto que as obras deverão ser executadas sob medidas de prevenção da poluição da água superficial e subterrânea, em conformidade com padrões internacionais de melhores práticas de engenharia. Potencial impacto: Variação dos níveis freáticos associada ao enchimento da albufeira O estabelecimento da albufeira irá resultar na variação dos níveis freáticos, predominantemente no local onde esta estará situada, mas também, em menor escala, nas suas imediações. Antes do estabelecimento da albufeira, o nível de água do rio é, normalmente, mais baixo que o dos corpos de água vizinhos e o curso de água funciona como um “colector” das descargas dos aquíferos da região. Após o estabelecimento da barreira imposta pela barragem, as águas do rio não represadas passam a ocupar um nível mais elevado, invertendo-se, assim, a situação original, e passando a ocorrer, temporariamente, a alimentação para o aquífero livre adjacente. Isto faz com o lençol freático receptor passe por um processo contínuo de elevação de nível, que é interrompido quando se atinge um novo equilíbrio dinâmico e os fluxos de água subterrânea voltam desenvolver-se no sentido da albufeira. Este impacto deverá começar a manifestar-se assim que se proceder ao enchimento da albufeira. Em função do aumento da distância em relação ao corpo de água criado, é de esperar uma redução deste efeito. A nova condição estabelecida, nomeadamente a elevação do lençol freático na zona da albufeira e imediações, poderá traduzir-se num efeito positivo ou negativo, 138 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO relativamente à condição anteriormente existente, dependendo dos usos ou processos naturais e biológicos afectados (Albuquerque Filho et al, 2010), como se indica nas situações abaixo: Considerando-se o uso da água como recurso pelas comunidades, caso os níveis de água subterrânea anteriores à formação da albufeira sejam profundos, a elevação regional destes níveis pode ser benéfica, possibilitando a captação através de furos a uma profundidade mais próxima da superfície e, consequentemente, a custos mais baixos. Por outro lado, podem ocorrer melhorias nas condições de humidade dos solos superficiais, favorecendo a actividade agrícola. Pelo contrário, tendo em conta os usos da terra na área afectada pelo impacto, caso os níveis de água do aquífero adjacente sejam originalmente rasos, poderá verificarse uma “sobrecarga” destes, propiciando, em alguns casos, a saturação dos solos superficiais (criando zonas húmidas ou expandindo as já existentes), com efeitos sobre a vegetação, reduzindo a aptidão dos solos para a agricultura, causando constrangimentos de ordem geotécnica (reduzindo a capacidade de suporte de fundações), entre outros. Potencial impacto: Redução dos caudais a jusante durante o enchimento da albufeira Precedendo o início da Fase de Exploração, será feito o enchimento da albufeira, por acumulação temporária de água proveniente de jusante, com possíveis efeitos sobre os habitats e a biota. O enchimento da albufeira deverá ocorrer em cerca de 60 dias, e terminará quando for atingido o seu Nível de Pleno Armazenamento (i.e. 2.900 milhões de m3, à cota de 120 metros anmm). O tempo de enchimento da albufeira foi alongado para reduzir o défice de caudal a jusante e consequentemente, reduzir os seus efeitos nos habitats e na biota associada. Potencial impacto: Retenção de sedimentos na albufeira É normalmente aceite no seio da comunidade científica que existe uma correlação positiva entre a construção das barragens e a redução ou inibição do transporte de 139 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO sedimentos para o leito a jusante destas, com o consequente défice de sedimentos que chegam ao litoral, causando um impacto de erosão costeira e recuo da linha de costa. Na Fase de Construção de barragens, é comum observar-se um aumento da quantidade de sedimentos em trânsito no sector do rio a jusante das obras. Em contrapartida, na Fase de Operação, os sedimentos tendem a acumular-se no sector de montante da albufeira. Consequentemente, durante a operação, devido à descarga deficitária de sedimentos de montante para compensar a erosão do equilíbrio dinâmico do sistema fluvial, e por mudança de regime de escoamento, as águas começam a erodir o leito e as margens. Tomando como referência o sector moçambicano da Bacia do Zambeze e tendo em conta a existência da Barragem de Cahora Bassa e a proposta barragem de Mphanda Nkuwa (que irão, ambas, reter sedimentos) a montante de Lupata, pode-se afirmar que o aproveitamento proposto situa-se numa zona crítica no que concerne ao transporte de sedimentos do Baixo Zambeze; Adicionalmente, é necessário considerar a potencial de retenção de sedimentos pela proposta Barragem de Boroma (entre Mphanda Nkwa e Lupata), cujo projecto se encontra ainda em fase precoce de AIA. A confluência do Rio Luenha, referido como um dos principais fornecedores de sedimentos na região do Baixo Zambeze, está a jusante das barragens acima citadas e a montante de Lupata. Este impacto deverá, assim, ocorrer de modo cumulativo com os aproveitamentos de montante, devendo perdurar pelo tempo de vida da barragem. Potencial impacto: Aumento de partículas suspensas e degradação da qualidade da água na zona da albufeira O aumento da quantidade de sólidos em suspensão na zona da albufeira será um impacto da Fase de Construção e da fase de enchimento da albufeira. O aumento da turvação estará relacionado com a acções como a decapagem, a desmatação e escavações que serão efectuadas nos terrenos a serem abrangidos pela albufeira a criar, que irão gerar uma grande quantidade de partículas sólidas nos locais sujeitos a estes tipos de intervenção. A exploração de câmaras de empréstimo, que deverá, em princípio, ser realizada no local da albufeira também contribuirá para um incremento significativo da quantidade de partículas suspensas. Assim, no processo de imersão de novas áreas, ficará misturada com a água uma grande quantidade de partículas sólidas, afectando assim a qualidade da água, bem como algumas formas de vida aquática, que 140 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO requerem águas limpas, onde possa haver uma boa penetração de luz. Prevê-se, entretanto, que este impacto se atenue ao longo do tempo. 12.1.5 Habitats, Flora e Fauna Potencial impacto: Perda de habitats de flora e fauna resultante do enchimento da albufeira A perda definitiva de habitats de plantas e animais que ficarão submersos após o enchimento da albufeira constitui um dos impactos mais notáveis de projectos de construção de barragens no meio biofísico. Em princípio, este impacto torna-se tanto mais importante quanto menos perturbado se encontrar o habitat antes da introdução do factor causador da fragmentação ou perda. Este impacto, cuja probabilidade de ocorrência é definitiva é, frequentemente, considerado de extensão localizada, mas pode, na verdade, estender-se para além dos limites da área directamente afectada, quando os habitats em questão têm continuidade para além de tal área. Por isso, este impacto deve ser analisado numa perspectiva mais abrangente, visto que os habitats não constituem sistemas isolados e independentes, mas sim sistemas integrados na ecologia da região como um todo. Potencial impacto: Fragmentação ou perda de habitats e efeitos sobre a flora e a fauna associados à construção de infra-estruturas A construção da barragem e das infra-estruturas auxiliares (acampamentos, estaleiros, vias de acesso, etc.) poderá causar ter efeito sobre os habitats, através da fragmentação ou mesmo a perda deste. Em consequência da fragmentação de um habitat são criadas áreas de descontinuidade, i.e. o habitat deixa de constituir uma unidade contínua, passando a existir na forma de unidades isoladas entre si. A perda de um habitat ou de parte deste, por sua vez, pode reduzir a área disponível para a biota que dele depende, com possíveis efeitos sobre a abundância e a diversidade de espécies. Teoricamente, este impacto torna-se mais significativo quanto menos perturbado se encontrar o habitat antes da introdução do factor de fragmentação ou perda. 141 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Durante a avaliação deste impacto deverão ser considerados aspectos como a configuração geral da infra-estrutura a construir, isto é, linear (p.e. uma estrada) ou localizada (p.e. um acampamento para trabalhadores), a área ocupada pela infraestrutura (ou por um conjunto de infra-estruturas agrupadas), o(s) tipo(s) de habitat afectado(s), sua distribuição na área (habitats comuns ou raros), ou a vulnerabilidade e importância para conservação. Tal como o impacto anterior, este impacto deve ser analisado numa perspectiva abrangente, a ter em conta o possível efeito sobre outras zonas que, em termos ecológicos, estejam directamente relacionadas com aquelas sob efeito directo do projecto. Potencial impacto: Efeitos da construção da barragem sobre as populações de peixes Os peixes são geralmente considerados um dos grupos de fauna mais afectados pela construção de barragens. Daí a menção à interrupção dos movimentos de espécies migratórias. A construção da barragem e a consequente alteração do fluxo dos rios constitui um obstáculo para o ciclo de espécies migratórias, estas que requerem ambientes diferentes em fases específicas do seu ciclo de vida (reprodução, produção de juvenis, crescimento e maturação sexual), podendo mesmo afectar a sobrevivência de algumas espécies. É importante salientar, que algumas espécies poderão ser prejudicadas, como os peixes reofílicos30. Outras, adaptadas a ambientes de águas mais calmas, podem, em contrapartida, ser beneficiadas, observando-se um aumento das suas populações e favorecendo a pesca. 30 Designam-se Peixes Reofílicos àqueles que necessitam de um ambiente lótico para completarem o seu ciclo de vida, mais especificamente para as funções de amadurecimento sexual e procriação. Estes peixes podem ser ou não migratórios. 142 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Os peixes constituem um produto importante fundamental na economia local, pelo que o impacto sobre os mesmos deve merecer atenção especial, tendo em atenção o possível efeito sobre a actividade pesqueira. Potencial impacto: Efeitos da formação da albufeira sobre a fauna terrestre A magnitude impacto da formação da albufeira sobre a fauna terrestre pode ser diferente para diferentes grupos de animais (p.e. mamíferos, aves, herpetofauna, répteis e anfíbios e invertebrados), em função da sua capacidade de locomoção. A maioria das espécies de mamíferos, aves e cobras, por exemplo, tendem a possuir capacidade de deslocação rápida, podendo afastar-se das áreas afectadas, escapando assim à morte. Por outro lado, pode haver diferenças em termos de chances de sobrevivência para diferentes espécies de um mesmo grupo (p.e. espécies de répteis com locomoção rápida, como as cobras versus espécies de répteis com locomoção lenta, como cágados). Potencial impacto: Intensificação da exploração dos recursos florestais, como um resultado de melhoria do acesso à área do projecto O melhoramento das vias de acesso existentes na área e construção de estradas de serviço facilitará o acesso a determinadas áreas presentemente difíceis de aceder. Isto resultará no aumento da presença humana, com possíveis efeitos negativos sobre a abundância e/ou diversidade de espécies florestais (p.e. através do corte de madeira) e de populações de animais selvagens (através da caça). No caso particular de animais, há que considerar fuga destes, quando confrontados com determinadas actividades relacionadas com a construção do empreendimento (p.e. desmatação, movimentação de máquinas, inundação), que os pode aumentar a possibilidade de estes serem avistados por caçadores e, consequentemente, caçados. Previsivelmente, este impacto terá início na Fase de Construção, assim que se verificarem melhorias nos acessos, e poderá prolongar-se até a Fase de Operação. 12.1.6 Limnologia 143 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Potencial impacto: Transformação de um ecossistema lótico em ecossistema lêntico e efeitos na biota aquática A conversão de um sistema de um ecossistema lótico em ecossistema lêntico (ou, simplesmente, a transformação de um ecossistema fluvial em um ecossistema com características “lacustres”) é um fenómeno tipicamente relacionado com o represamento da água, sendo aplicável ao caso de construção de barragens. Esta transformação tende a resultar em mudanças ao nível das características limnológicas do sistema fluvial afectado. Tais mudanças tendem a observar-se de modo mais expressivo em albufeiras com longos períodos de permanência de água e de modo menos expressivo em albufeiras de barragens que não sejam de armazenamento (como é o caso da albufeira de Lupata). Os efeitos que podem ser esperados da referida transformação incluem os seguintes: a. O desenvolvimento de plantas flutuantes ou submersas no novo ecossistema criado. Estas plantas geralmente não resistem a condições de água corrente; b. A formação de duas zonas com características distintas, designadamente uma zona litoral (de águas rasas) e uma zona limnética (de águas profundas); novas características no habitat lêntico podem conduzir à redistribuição de espécies de fauna aquática, ou à substituição de algumas das espécies adaptadas à dinâmica do ambiente fluvial, por espécies que requerem águas mais paradas; e c. A “floração de algas”, em que se começa a observar um crescimento rápido de determinadas espécies de algas num dado período, subsequente a formação da albufeira. A magnitude deste impacto dependerá do regime de flutuações de água na albufeira. Quando o regime de flutuações de água na albufeira é caracterizado por variações frequentes, há probabilidade de o mesmo impacto não se afirmar a uma escala significativa 12.2 MEIO SOCIO-ECONÓMICO 12.2.1 Perdas e Danos 144 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Potencial Impacto: Perda de Habitação, Culturas, Árvores de Frutos e Terras Produtivas Durante a Fase de construção a ocupação de áreas para a implantação das infraestruturas associadas ao projecto (p.e. vias de acesso, estaleiro das obras, oficinas, armazéns, infra-estruturas residenciais e administrativas) e a criação de áreas operacionais (p.e. áreas para parqueamento e circulação de viaturas/maquinaria) poderá resultar na perda de áreas e bens como infra-estruturas residenciais, culturas no campo, árvores de frutos e terras produtivas. Esta perda far-se-á sentir igualmente durante a Fase de Enchimento da Albufeira, na qual haverá bens que ficarão definitivamente submersos. Isto implicará a necessidade de implementação de medidas de compensação dos agregados familiares afectados pelas perdas e danos. E para os casos específicos de famílias residentes na área de inundação, a compensação deve ser enquadrada no âmbito do processo de reassentamento destas famílias. Assim, será necessário proceder a um trabalho exaustivo de identificação dos bens a serem afectados e das necessidades de reassentamento, em conformidade com a legislação internacional e melhores práticas internacionais (p.e. as directivas do Banco Mundial e do IFC), fazendo igualmente uso da prática e do conhecimento já acumulado nesta área no País. 12.2.2 Movimentos migratórios e problemas sociais relacionados Potencial Impacto: Aumento da incidência de Infecções de Transmissão Sexual, com destaque para o HIV Previsivelmente, este impacto será mais proeminente na Fase de Construção, com tendência a atenuar-se na Fase de Operação. Durante 22 meses (do total de 60 meses previstos de duração das obras) estarão na área do projecto, em média, 1.500 trabalhadores chegando-se a um pico de 2.500 trabalhadores no 20º-27º mês. Grande parte destes trabalhadores será proveniente de zonas de fora da área do projecto; alguns serão de nacionalidade estrangeira, mas a maior parte da força de trabalho será constituída por moçambicanos (qualificados ou não qualificados) proveniente de outros 145 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO pontos das Províncias de Tete e Manica e, eventualmente, de outras províncias do País. A maioria será provavelmente constituída por homens, que poderão não estar acompanhados das suas famílias. A concentração de um grande número de pessoas na área do projecto poderá conduzir a um grande número de contactos sexuais entre os trabalhadores do projecto, destes com as pessoas residentes na área, assim como com outras que visitem a área. Em caso de não implementação de medidas adequadas de protecção, é de prever o aumento do número de casos de doenças de transmissão sexual e de infecção pelo vírus do SIDA na população residente na área do projecto, assim como no contingente de trabalhadores. Potencial Impacto: Surgimento ou aumento da prostituição na área do projecto A existência de um grande número de trabalhadores a auferir salários (alguns deles relativamente altos) concentrado na área do Projecto poderá induzir a um aumento local de trabalhadoras do sexo. Estas poderão ser provenientes de outros Distritos (fora da área de implementação projecto) na expectativa de terem acesso a um maior número de clientes. No seio da comunidade local, este fenómeno poderá provocar sentimentos de descontentamento, desconforto e rejeição no seio da comunidade e dos seus líderes. Do mesmo modo que no caso do impacto anterior, prevê-se que este impacto ocorra de forma mais proeminente na Fase de Construção e que se possa atenuar durante a Fase de Exploração. Potencial Impacto: Interferência no sistema de relações sociais e familiares das comunidades locais A presença de um grande número de trabalhadores de várias nacionalidades e proveniências na área do projecto irá aumentar e diversificar os contactos sociais dos visitantes com as comunidades locais. Estes contactos podem ser relações de sociabilidade, comerciais, de trabalho empregador/empregado, sexuais, ou outras. Este impacto poderá manifestar-se de duas formas distintas, tendo em consideração o seguinte: 146 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO A falta de conhecimento das crenças, hábitos, costumes e valores locais por parte das pessoas que vêm residir numa zona rural remota, como é o caso das povoações que serão afectadas pela área de inundação da barragem, poderão criar situações de tensão, contradição no seio das famílias residentes e entre estas e as pessoas que vêm de fora (p.e. conflitos entre residentes locais e trabalhadores do projecto, conflitos com os líderes locais, entre pais e filhos, marido e mulher, vizinhos e outros); Por outro lado, a presença de pessoas de outras proveniências pode servir para materializar a oportunidade de intercâmbio positivo entre várias vivências e culturas, com benefícios para ambas as partes (i.e. para os imigrantes e para a população local). É de prever que este impacto se verifique principalmente na Fase de Construção, por ser esta a fase em que haverá uma maior concentração de trabalhadores na área. Potencial Impacto: Ocupação territorial desordenada na área do projecto e imediações Normalmente em Moçambique, durante e após a construção de uma infra-estrutura importante, verifica-se um influxo de pessoas na área do projecto, na busca de oportunidades directas de emprego (temporárias ou não), ou de se envolverem em alguma actividade de rendimento formal ou informal que tenha saída no mercado local (produção de bens, prestação de serviços, comércio) ou, simplesmente, para beneficiarem da presença das infra-estruturas sociais e económicas e dos acessos construídos no contexto do projecto. A migração de pessoas é, normalmente, um processo lento. As áreas vizinhas dos projectos são, geralmente, ocupadas de forma espontânea, observando-se a construção de casas de material precário, sem obedecer a qualquer padrão de ordenamento territorial. O aumento da ocupação não ordenada de pessoas ao longo do tempo cria, geralmente, uma situação difícil de controlar e reverter pelos órgãos 147 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO competentes do estado, dificultando a implantação de planos de estabelecimento de infra-estruturas adequadas de educação, saúde, abastecimento de energia, água e saneamento ou outras. Potencial Impacto: Aumento de patologias sociais Por influência do aumento de assalariados e pessoas com outras fontes de rendimento, sejam eles provenientes de fora ou residentes na área do projecto, poderão observar-se mudanças nos modos de vida das pessoas residentes na área do projecto. É provável que surjam novas formas e locais de lazer e diversão, assim como novos hábitos de consumo, prevendo-se que possam aparecer algumas pessoas ou grupos de pessoas consumidoras (por vezes de modo excessivo) de drogas e/ou de álcool. Há igualmente, probabilidade de ser criado um ambiente propício ao aparecimento de elementos marginais, resultando num aumento de casos de assaltos a pessoas e bens. Este impacto está principalmente associado à Fase de Construção, quando houver um grande número de pessoas concentrado na área. 12.2.3 Emprego e estratégias de sobrevivência Potencial Impacto: Criação de postos de trabalho na área Como já foi referido anteriormente neste relatório, durante as obras, na Fase de Construção, existirão cerca de 1.500-2.000 postos de trabalho disponíveis. Residentes das comunidades locais, dos Distritos afectados pela actividade (e, eventualmente, dos Distritos vizinhos) e da Província de Tete estarão, em princípio, entre os maiores beneficiários das oportunidades de emprego a serem criadas. Este impacto será positivo na região, mas é importante notar que a sua intensidade dependerá, para além da capacidade do projecto de satisfazer as expectativas locais, da disponibilidade da força de trabalho local para satisfazer a demanda prevista. 148 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Potencial Impacto: Perda e redução do número de postos de trabalho na região Este impacto manifestar-se-á de modo adverso relativamente ao impacto anterior, que diz respeito a um aumento das oportunidades de emprego. Na Fase de Operação, é de esperar uma redução significativa da oferta de emprego, visto que a maior parte dos trabalhadores anteriormente envolvidos na Fase de Construção, irão perder os seus postos de trabalho. Isso significa que um grande número de pessoas ficará sem a sua principal base de subsistência dos últimos meses. No caso dos residentes locais, se estes não conseguirem encontrar ou criar fontes de trabalho alternativas para manter o nível de vida que tinham, as condições de vida irão, certamente, reduzir de uma forma drástica. Potencial Impacto: Alterações dos modos de vida tradicionais A maioria dos agregados familiares residentes na área do projecto tem a sua economia baseada na agricultura de subsistência. Pratica-se, contudo, uma série de outras actividades de rendimento (p.e. fabrico e venda de bebida, fabrico e venda de esteiras, trabalho na machamba dos vizinhos), para garantir o sustento das suas famílias. Com a presença de um grande número de pessoas na área durante na Fase de Construção, poderão observar-se alterações nas suas formas de subsistência, através do emprego (p.e. nas obras, nas casas do “staff” das empresas, ou em outros locais), ou do envolvimento em actividades de pequeno comércio e indústria abastecedora da demanda criada por tal número de pessoas. Este é considerado um impacto potencial positivo do projecto, na medida em que as novas actividades poderão alterar positivamente as formas de sobrevivência, os modos de vida e os padrões de consumo destas pessoas, por representarem rendimentos monetários diários ou mensais mais altos do que os rendimentos sazonais provenientes da actividade agrícola. Potencial Impacto: Aumento do custo de vida na área do Projecto Na Fase de Construção, a presença de um empreendimento com capacidade para acomodar uma grande quantidade de mão-de-obra assalariada, e impulsionar o desenvolvimento na zona de um sector privado formal e informal, poderá “monetarizar” a economia local; isto significa que haverá um aumento da circulação de dinheiro na 149 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO área do projecto, como consequência do grande aumento da procura de bens de consumo e de alguns serviços por parte do grande número de pessoas e do consequente aumento da oferta de bens e serviços por parte do sector privado. Este pode ser um impacto positivo para o sector privado formal e informal fornecedor de bens de serviços, na medida em que poderão vender a sua produção ou criar pequenas e médias empresas para captar aquela procura. Contudo, pode-se verificar o efeito adverso de aumento do custo de vida no local, tanto em termos dos produtos produzidos localmente, como dos produtos trazidos de fora. O mesmo pode acontecer com os serviços, como é o caso do custo do trabalho assalariado. Os efeitos podem ser sentidos negativamente pelos agregados familiares residentes na área do projecto que não beneficiem directamente do projecto e que irão passar a consumir menos ou a gastar mais dinheiro para manter o mesmo padrão de consumo. Presume-se que este impacto tenderá a atenuar na Fase de Exploração, na qual haverá um número significativamente mais reduzido de pessoas a trabalhar no empreendimento. 12.2.4 Desenvolvimento económico Potencial Impacto: Desenvolvimento de infra-estruturas As zonas que ficarão inundadas no processo de formação da albufeira caracterizam-se, em geral, por um fraco desenvolvimento de infra-estruturas, tais como estradas, escolas, unidades sanitárias, entre outras consideradas essenciais para assegurar a satisfação de necessidades básicas da população. A implementação do projecto poderá conduzir, a partir da sua Fase de Construção e, possivelmente, até à Fase de Operação, à melhoria das actuais vias de acesso, assim como à construção de novas vias. As redes escolar e de saúde terão, também, de ser adaptadas ao facto de que estará concentrado na zona um grande número de pessoas necessitando de cuidados de saúde e de condições para assegurarem a educação dos 150 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO seus filhos. Caso esta melhoria se venha a concretizar, observar-se-ão efeitos positivos nas condições de vida da população local. Potencial Impacto: Estímulo da Economia Nacional, Regional e Local A actividade proposta poderá, na sua Fase de Construção, dinamizar algumas indústrias e empresas fornecedoras (a grosso e a retalho), em especial nas áreas de construção, combustíveis, alimentação e outros. Por outro lado, poderá igualmente verificar-se o crescimento do sector de serviços de apoio, como é o caso de transportes de passageiros e carga, hotelaria e restauração, serviços de manutenção, consultoria técnica, para citar apenas alguns exemplos. Esta dinâmica de desenvolvimento será observada sobretudo a nível regional e provincial, manifestando-se igualmente a nível dos Distritos. A mesma constituirá uma oportunidade de crescimento para as pequenas, médias e micro empresas baseadas na região (principalmente nas províncias vizinhas), nas Províncias de Tete e Manica e nos Distritos abrangidos. 12.2.5 Aspectos socioculturais Potencial Impacto: Perturbação na espiritualidade e interferência com cemitérios e/ou locais sagrados No meio rural em Moçambique, é comum a existência de locais sagrados ou de outros locais de importância espiritual, que se apresentam numa diversidade de formas, tais como: cemitérios, grutas, árvores, montanhas (ou grandes pedras numa colina ou montanha), lagos, nascentes, entre outros. Tais locais estão, normalmente, muito ligados à história dos grupos que ocuparam a região ao longo dos tempos e dos seus chefes, cujos espíritos estão, alegadamente, ali presentes, devendo estes ser respeitados, não só pelos locais, como também por pessoas provenientes de fora. O não respeito por estes locais pode gerar situações de desconfiança, agitação e tensão social no seio da comunidade local. 151 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Situações anormais ou de crise como doenças, más colheitas, ausência de chuvas, acidentes com a natureza ou com animais selvagens, para citar alguns casos mais comuns, tendem a ser interpretadas como um castigo imposto pelos espíritos quando eles não são respeitados. Em situações de crise, a comunidade tende a projectar as suas frustrações e medos nas pessoas que vêm de fora, a quem são atribuídas as culpas pelos acontecimentos “anormais” e indesejados. 12.2.6 Saúde e segurança Potencial Impacto: Acidentes de Trabalho Numa perspectiva geral, acidentes de trabalho são susceptíveis de ocorrer em qualquer uma das fases do projecto, podendo apresentar origem diversificada. Para o caso do presente projecto, acidentes de trabalho na Fase de Construção poderão estar associados a aspectos tais como a operação de veículos e de maquinaria pesada; manuseamento inadequado de líquidos inflamáveis ou de explosivos; trabalhos a grandes alturas; trabalhos com equipamentos eléctricos; trabalhos de soldadura; entre outros. Na Fase de Operação, alguns dos impactos poderão assemelhar-se aos da Fase de Construção, especialmente onde estiverem envolvidos trabalhos de manutenção, (p.e. de órgãos hidráulicos ou de elementos estruturais da barragem, estruturas eléctricas). Potencial Impacto: Doenças ocupacionais Para actividades ligadas à Fase de Construção, as doenças ocupacionais típicas estão principalmente relacionadas com factores tais como sobre-esforço, doenças ou outros problemas ergonómicos (p.e. relacionados movimentos repetitivos, trabalho manual, esforço físico excessivo, entre outros) (IFC, 2007). Para o presente projecto, pode-se incluir também no grupo dos factores causadores de doenças ocupacionais a exposição a níveis elevados de ruídos, poeiras, radiação solar, fumos ou gases, por períodos prolongados, especificamente na Fase de Construção. As formas de prevenção de doenças ocupacionais são largamente conhecidas, sendo baseadas na observância de regras básicas de higiene e segurança no trabalho. 152 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Potencial impacto: Incremento do risco de acidentes, como resultado do aumento da circulação rodoviária na área do Projecto Na Fase de Construção, serão criadas condições para garantir o acesso facilitado aos locais das obras, através da construção/reabilitação das vias de comunicação. Tais vias deverão ser mantidas funcionais na Fase de Operação, para que se possa aceder facilmente às infra-estruturas do projecto. O tráfego intensificado que poderá ser observado principalmente durante a Fase de Construção (em que haverá um número considerável de veículos pesados em circulação) poderá aumentar o risco de acidentes de viação por atropelamento, afectando pessoas, assim como animais. Potencial Impacto: Aumento de conflitos homem/animal É sabido que a zona de inserção do projecto proposto é povoada por crocodilos e hipopótamos. A concentração de um grande número de pessoas para trabalharem no empreendimento e a provável imigração de população para áreas próximas da área do projecto poderão aumentar a probabilidade de encontros e conflito entre o homem e a fauna selvagem, incluindo as espécies citadas acima. É possível que a criação da albufeira e o desmatamento de zonas para uso pelo projecto conduzam, de alguma forma, a uma redistribuição de certas espécies de animais, determinada pela perturbação dos seus habitats preferenciais, podendo aumentar ou reduzir o potencial de conflito em zonas determinadas. 12.2.7 Estudos para o reassentamento Os impactos mais significativos que se podem esperar do projecto proposto estarão relacionados com a deslocação física e económica dos agregados familiares residentes, perda de residências e de outras infra-estruturas edificadas, bem como com a perda dos terrenos que ficarão inundados para dar lugar à albufeira, ou que serão necessários para infra-estruturas do projecto (p.e. acampamento para trabalhadores, estradas de acesso, áreas de parqueamento de viaturas e máquinas, estaleiros de máquinas e materiais, entre outras). A mitigação destes impactos deve ser efectuada na forma de 153 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO compensação por perdas e danos, devendo incluir, em alguns casos, a necessidade de reassentamento de famílias. Neste contexto, a questão do reassentamento será abordada em duas fases distintas: Fase 1 – Quadro de Política de Reassentamento O Quadro de Política de Reassentamento (QPR) será preparado como parte do EIA. O QPR deverá fornecer, de modo não limitativo, a seguinte informação: Descrição geral do projecto e da sua área de inserção; Revisão e análise do quadro legal e institucional para o reassentamento; Descrição das responsabilidades e das actividades necessárias para preparação de um plano de reassentamento mais detalhado; Descrição geral das características socioeconómicas do conjunto de pessoas afectadas pelo projecto; Descrição das acções a serem desenvolvidas para assegurar que as pessoas afectadas pelo projecto e outros intervenientes sejam adequadamente consultadas a respeito das questões relativas ao reassentamento e que disponham de um mecanismo adequado de encaminhamento e tratamento de reclamações; Uma descrição das responsabilidades gerais e das actividades relativas à implementação do Plano de Acção para o Reassentamento (PAR). Fase 2 – Plano de Acção para o Reassentamento O Plano de Acção para o Reassentamento (PAR) será preparado após a finalização do EIA. O processo de preparação do PAR é, assim, distinto do processo de AIA, embora faça uso de uma parte da informação recolhida e tratada ao longo da AIA. Como parte do PAR, serão identificadas, de modo mais preciso, a extensão territorial a ser afectada pelo projecto, a quantidade de agregados familiares/pessoas afectadas, bem como a natureza e a magnitude das perdas esperadas. O processo deverá envolver um processo intenso e participativo de consultas, para assegurar a sua conformidade com as necessidades e condições locais, com os direitos das pessoas afectadas e com as melhores práticas internacionais; adicionalmente, será necessário realizar estudos mais detalhados, para identificar e planear zonas hospedeiras adequadas. 154 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 13 ASPECTOS A INVESTIGAR NA FASE DE EIA Este capítulo lista, de modo não limitativo, os principais aspectos a investigar na fase do EIA do projecto proposto, determinados com base nas constatações da presente fase de EPDA. 13.1 MEIO FÍSICO Clima e qualidade do ar Alterações climáticas podem vir a observar-se como um resultado da criação de uma nova massa de água quando se proceder ao enchimento da albufeira. Tais alterações podem incluir, por exemplo, o aumento localizado da humidade do ar e da temperatura. A magnitude das alterações é determinada, em grande medida, pela dimensão da albufeira em questão, dependendo também, entretanto, de quão propícias as condições climáticas de referência são para que as modificações se verifiquem. No caso da proposta albufeira de Lupata, a importância deste impacto deverá ser determinada tendo em conta a área a ser ocupada pela mesma, bem como o facto de o Projecto ser implementado numa zona com valores médios de temperatura tipicamente elevados. Por seu turno, a qualidade do ar poderá ser afectada pela emissão de poeiras durante as obras, relacionadas com operações sobre o terreno, como por exemplo trabalhos de terraplanagem. As características físicas do solo, o volume de tráfego, o tipo de veículos/equipamentos móveis a utilizar e a velocidade de circulação, bem como factores climáticos (velocidade e direcção predominante dos ventos) versus localização dos assentamentos populacionais em relação aos focos de emissão são alguns dos factores que poderão ser determinantes da intensidade deste impacto; esta é, assim, uma diversidade de factores que no EIA deverão ser analisados de uma forma integrada. Mudanças na qualidade do ar podem também ser causadas por poluentes atmosféricos, em particular por gases de exaustão libertados por equipamentos motorizados. Este 155 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO impacto deve ser estudado tendo em consideração as condições meteorológicas do local (com destaque para os ventos, devido à sua capacidade de dispersão dos gases), as características topográficas, o tipo de veículos/equipamentos a utilizar e seu estado de manutenção, a natureza das operações que utilizem combustíveis e a duração de tais operações. Os efeitos sobre o clima e qualidade do ar ainda não foram analisados em detalhe. Considera-se, no entanto, razoável assumir que tais efeitos far-se-ão sentir de um modo localizado, no sítio da albufeira e imediações. Geologia e geomorfologia A vulnerabilidade da área de implementação do projecto a impactos sobre a geologia apenas poderá ser analisada através de um estudo detalhado das características geológicas de referência da área do projecto. No domínio da geologia, um dos impactos potenciais importantes a considerar é a sismicidade induzida, muitas vezes discutida com preocupação em referência à construção de barragens. Lupata situa-se numa zona de sismicidade baixa, quer em termos de frequência como de magnitude de eventos sísmicos, o que não exclui, no entanto, a necessidade de se estudar este impacto, dadas as consequências negativas caracteristicamente associadas a sismos. Vale a pena mencionar, entretanto, que o potencial impacto de sismicidade induzida se encontra frequentemente reportado para barragens com grande capacidade de armazenamento31 e com altura da parede rondando os 100 metros ou mais. A altura prevista para a parede da barragem de Lupata é de 40 m e o volume máximo de armazenamento é de 2.900 milhões de m3 . Será também importante determinar se o projecto poderá afectar ocorrências mineralógicas importantes na sua área de inserção. No que concerne a possíveis mudanças na geomorfologia determinadas por processos erosivos, os estudos correspondentes devem ser efectuados sob diversas vertentes, como se especifica abaixo: 31 normalmente acima de 1.000 hm3 156 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO No caso da erosão directamente associada à construção da barragem, deve ser analisado o seguinte: (i) erosão nas margens da albufeira; (ii) erosão a jusante; e (iii) erosão associada a descargas da barragem; será necessário tem em conta as características geomorfológicas da zona da albufeira e a zona a jusante potencialmente sujeita aos efeitos erosivos associados às descargas da barragem; Para a erosão potencialmente associada a câmaras de empréstimo, de onde serão extraídos agregados para serem utilizados nas obras, deve ser conhecida a sua localização, para que se possa analisar a vulnerabilidade do local a mudanças induzidas pelo projecto; Para o caso da sedimentação, é importante que o impacto seja analisado tendo em conta a dinâmica natural de transporte de sedimentos do rio, bem como o tipo de descarregador a utilizar na barragem proposta. Recursos hídricos O estudo dos possíveis efeitos do projecto sobre os recursos hídricos é considerado de grande importância no contexto da AIA do projecto, dada a importância do Zambeze do ponto de vista económico, e como recurso do qual dependem as populações locais, e ainda uma grande diversidade de formas de vida animal e vegetal. Os aspectos considerados importantes para a avaliação dos potenciais impactos sobre os recursos hídricos, que deverão ser estudados no EIA, incluem (de modo não limitativo) os seguintes: Retenção de caudais sólidos na albufeira e seus efeitos nos ecossistemas e na biota aquática; Variações diárias de caudal a jusante determinadas pelo regime de exploração da barragem e possíveis impactos a jusante; Localização e características dos aquíferos eventualmente existentes na área do projecto e potencial para a ocorrência de impactos negativos do projecto sobre estes; Possíveis fontes de degradação da qualidade da água no local da albufeira, a jusante e nos aquíferos que possam ocorrer na área. 157 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO O estudo destes aspectos deve ter em conta não apenas as características de referência dos recursos hídricos da área de inserção do projecto, como também a dimensão da albufeira, o regime de operação da barragem e o tipo de descarregador a instalar. 13.2 MEIO BIÓTICO Fragmentação / Perda de habitats e efeitos sobre flora e a fauna Com a inundação da área onde será estabelecida a albufeira, haverá uma perda definitiva de habitats de vegetação e de fauna. No EIA deverá ser feito um estudo detalhado dos vários tipos de habitats que poderão ser afectados pelo projecto em geral e pela área de inundação em particular; as perdas associadas à construção de infraestruturas (p.e. estradas, edifícios) devem ser igualmente estudadas. Deve ser efectuado um levantamento das espécies que ocorrem em tais habitats e, adicionalmente, daquelas consideradas de importância particular para a conservação. Atenção especial deve ser dada à avifauna, dado que, como se sabe, as terras húmidas associadas ao Zambeze são tidas como normalmente ricas em espécies de aves; as zonas de mais difícil acesso, como por exemplo as falésias de Lupata, podem ser estudadas por meio de observações à distância, utilizando binóculos, uma vez que observações in loco apenas deverão ser feitas onde o trabalho não representar perigo de vida para as pessoas envolvidas. Os efeitos directos da fragmentação ou perda de habitats ocorrerão de modo localizado e, com base no estudo preliminar efectuado no EPDA, presume-se que vários dos habitats que ficarão inundados podem ser encontrados em outras zonas do sector moçambicano da Bacia do Zambeze, bem como, pelo menos em alguns casos, em outras zonas do País; esta constatação deve, porém, ser validada por meio de estudos mais detalhados no campo. A perda de habitats deverá ser avaliada de uma forma integrada, i.e. considerando a interrelação entre as diversas funções bióticas na área do projecto. 158 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Transformação de um ecossistema lótico em ecossistema lêntico A transformação de um ecossistema de águas correntes (ecossistema lótico) em um ecossistema de águas mais calmas (ecosssitema lêntico) tende a resultar em modificações ao nível das características limnológicas do sistema fluvial afectado, como já referido na Secção 12.1.6 deste documento. Essa transformação pode ser de significado relativamente reduzido no caso de albufeiras onde o tempo de permanência da água na albufeira é reduzido (aplicável à albufeira de Lupata) ou, pelo contrário, observar-se de modo bastante expressivo em albufeiras com grande capacidade de armazenamento de água. Na análise deste impacto em referência à barragem de Lupata é importante considerar o seguinte: A barragem proposta é a “fio-de-água” sendo, por isso, incapaz de armazenar água por períodos longos. Assim, as flutuações constantes dos níveis de água na albufeira poderão minimizar o efeito da formação do ecossistema lêntico e, consequentemente, reduzir a intensidade do impacto; Está prevista a desmatação da área a inundar antes do enchimento da albufeira, o que contribuirá para reduzir a quantidade de matéria orgânica que se degradará na albufeira e, consequentemente, os seus efeitos negativos sobre a qualidade da água. O estudo dos impactos relacionados com a transformação de um ecossistema lótico em um ecossistema lêntico deve incluir uma revisão exaustiva das experiências reportadas para outras barragens a “fio-de-água” existentes no mundo, tendo em conta as características do ambiente sub-tropical em que a actividade em estudo está enquadrada. 159 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 13.3 MEIO SOCIOECONÓMICO O estudo socioeconómico para a fase de EIA deverá, para além de detalhar os aspectos já considerados no presente EPDA, incluir uma série de outras questões tidas como relevantes para a avaliação dos impactos da actividade proposta no meio socioeconómico onde esta se insere. Deste modo, o estudo deverá ser conduzido de forma a identificar e analisar em pormenor (e de modo não limitativo) os seguintes aspectos: Localização e estrutura dos aglomerados populacionais existentes na área do projecto proposto, com destaque para o tipo de infra-estruturas habitacionais existentes, equipamento social e económico, bem como as possíveis formas como as pessoas poderão ser afectadas pelas acções propostas no âmbito da actividade; Quadro actual da distribuição espacial da população, tendências de crescimento e indicadores sociodemográficos actuais e ainda o quadro relativo à composição dos agregados familiares dos aglomerados populacionais directamente afectados pelo empreendimento; Sistemas de governação e de organização social; principais actores das autoridades do estado e comunitárias e respectivos papéis (aos níveis de Província, Distrito, Posto Administrativo e Localidade); Planos, programas e projectos de desenvolvimento governamentais em curso ou planificados para as áreas de influência do empreendimento, com vista à identificação de possíveis formas de maximização dos benefícios da actividade proposta para a população local; Empreendimentos económicos em curso ou planeados para a área de implementação do projecto e para a área circundante, de forma a identificar e relacionar potenciais sinergias e/ou conflitos com o projecto proposto; Fluxos populacionais (movimentos migratórios), numa perspectiva de análise de potenciais pressões sobre o equipamento social e os recursos económicos disponíveis; problemas sociais relacionados (p.e. interferência no sistema de 160 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO relações sociais e familiares das comunidades locais, ocupação desordenada do território, entre outros); Sectores produtivos e sistemas de sobrevivência da população (p.e. agricultura, pecuária, comércio formal e informal, pesca, pequena indústria) na área de influência directa do projecto (incluindo as fontes de rendimento monetário e não monetário) e formas como estes poderão ser afectados pela actividade proposta; Perfil de educação das comunidades directa e indirectamente afectadas pelo empreendimento, com vista a analisar as perspectivas de enquadramento de mão-de-obra local nas diversas fases do empreendimento; Património cultural; Locais sagrados e históricos e outros locais de importância sociocultural e tradicional. Adicionalmente, deverão ser estudados durante a fase de AIA os potenciais riscos para a saúde da população, resultantes da construção e da exploração das infra-estruturas propostas. Isto deverá ser feito com base nas categorias definidas pela OMS, que englobam (a) doenças transmissíveis; (b) doenças não transmissíveis; (c) acidentes; (d) nutrição; (e) distúrbios psicossociais; e (f) bem-estar social. Em particular, deverá ser identificado e analisado o perfil epidemiológico nas áreas de influência do projecto, e estabelecida a relação entre o perfil epidemiológico acima indicado e o quadro de referência ambiental e socioeconómico. Interferência com o Património Cultural O Património Cultural consta na lista dos aspectos de carácter socioeconómico a estudar no EIA, apresentada acima. Este aspecto é, porém, aqui destacado, pela seguinte razão: Na Localidade de Massangano (Posto Administrativo de Mandie, Distrito do Guro) foi identificada a presença de ruínas de uma estrutura colonial datada do tempo colonial, a Fortaleza de Massangano (antigamente designada Fortim Dona Amélia de Massangano). Esta Fortaleza foi construída no período da chamada Revolta do Báruè, comandada pelo Macombe que liderou os povos da região na resistência à ocupação portuguesa. A Localidade de Massangano faz parte do conjunto de zonas que se encontram abrangidas pela área de inundação de Lupata. 161 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Em contactos com a Direcção Provincial de Educação e Cultura de Manica, apurou-se que a Fortaleza de Massangano não integra o grupo de Bens Classificados do Património Cultural de Moçambique32, embora tenham existido propostas de se efectivar essa classificação; a equipa do EPDA não conseguiu saber o ponto de situação actual do processo conducente à sua possível classificação. Soube-se apenas que há alguns meses, uma organização denominada MICAIA manifestou a intenção de implementar um projeto de restauração da Fortaleza, mas tal não chegou a ser concretizado, por motivos que não foi possível apurar (Fazenda, Director Provincial de Educação e Cultura de Manica, Comunicação Pessoal). No EIA será, assim, necessário apurar junto das autoridades relevantes qual a real condição em termos de protecção legal das ruínas da Fortaleza de Massangano enquanto Patrimínio Cultural e discutir qual o tratamento a ser dado às mesmas, tendo em conta que, em caso de formação da albufeira de Lupata, as mesmas ficarão permanentemente inundadas. Ligação com outros projectos O desenvolvimento harmonioso e sustentável da Província de Tete, da Região Centro e do País em geral requer, necessariamente, uma visão integrada dos objectivos de desenvolvimento, considerando os vários sectores da economia para as quais as áreas propostas para a implementação de projectos possam oferecer oportunidades de crescimento. Tendo em conta este aspecto, considera-se importante abordar, em particular, no contexto da ligação do projecto de Lupata com outros projectos de desenvolvimento, a seguinte questão: encontra-se presentemente em fase final do processo de Avaliação de Impacto Ambiental o Projecto de Transporte Fluvial de Carvão por Barcaças no Rio Zambeze. O projecto, proposto pela Riversdale Moçambique Limitada, tem como objectivo principal mitigar as dificuldades logísticas que afectam a produção da bacia carbonífera de Moatize, propondo-se utilizar o 32 Segundo o previsto na Lei do Património Cultural (Lei nº 10/88 de 22 de Dezembro), que determina a Protecção Legal dos Bens Materiais e Imateriais do Património Cultural Moçambicano, bens classificados do património cultural são considerados de valor excepcional e gozam de protecção especial por parte do Estado. 162 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO Zambeze como uma das vias de escoamento do carvão da área do título mineiro de Benga (localizada no Distrito de Moatize, a montante do eixo da Barragem de Lupata), transportando o produto em comboios de barcaças desde Benga até ao Chinde (Província do Zambézia), local a partir do qual este deverá ser encaminhado para exportação por via marítima. O projecto de transporte de carvão compreende, entre outros, os seguintes elementos: Carregamento de carvão em barcaças para ser transportado rio abaixo utilizando rebocadores (do ponto de carregamento em Benga, até ao Chinde); Dragagem de aprofundamento e de manutenção em determinados locais para obterse um canal navegável por barcaças rio abaixo; Pontos de atracagem nos dois lados da ponte Dona Ana (ponte ferroviária localizada entre Mutarara e Sena, entre os Distritos de Mutatara e Caia, respectivamente), a jusante da Barragem de Lupata); Pontos de atracagem e instalações de apoio no Chinde, a partir das quais se fará o encaminhamento do carvão para uma plataforma de transbordo oceânica, ancorada ao largo. A coexistência do projecto de transporte de carvão e do projecto de construção da barragem de Lupata coloca dois problemas potenciais, nomeadamente (i) a interferência com a rota de transporte de carvão proposta, dado que Lupata se situa a jusante de Benga interrompendo, assim, a rota Benga-Chinde; e (ii) a possível interferência da área de inundação da futura albufeira de Lupata com as instalações de carregamento das barcaças, em Benga. Esta situação, se não devidamente analisada, poderá implicar possível incompatibilidade entre os dois projectos. Do ponto de vista técnico, a coexistência entre barragens e projectos de navegação não é problemática, dado que existem actualmente soluções de engenharia que possibilitam a compatibilização de ambos. Essas soluções, no entanto, implicam custos elevados. A possibilidade de implementação de soluções de engenharia que permitam que a barragem de Lupata não constitua um obstáculo ao transporte de carvão, ou a eventual 163 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO busca de soluções alternativas transcende, no entanto, os domínios da presente AIA. Trata-se de uma questão bastante sensível, que deve ser discutida pelos proponentes dos dois projectos (i.e pela ATP Moçambique, Proponente do projecto da Barragem de Lupata e pela Riversdale Moçambique Limitada, Proponente do projecto de transporte fluvial de carvão), com o devido envolvimento do Governo ao mais alto nível, para que, conjuntamente, possa ser encontrada uma solução viável, compatível com um desenvolvimento sustentável da economia da região da Bacia do Zambeze e do País em geral. Aspectos relativos ao reassentamento Um dos vários aspectos a considerar na abordagem ao processo de reassentamento é a disponibilidade, no local receptor, de terras (para a construção de infra-estruturas habitacionais e com condições para a prática da agricultura/pecuária) e de outras condições (p.e. recursos de água), que permitam dar uma resposta adequada às necessidades das pessoas reassentadas. Será necessário, assim, avaliar se existem áreas disponíveis para onde as pessoas afectadas pela área de inundação possam ser transferidas. No presente caso, é importante ter em conta que vastas extensões de terra da Província de Tete (com destaque para o Distrito de Moatize, um dos distritos parcialmente abrangidos pela área de inundação de Lupata) encontram-se ocupadas por concessões mineiras ou por áreas já designadas para o reassentamento de famílias provenientes de áreas de exploração mineira; isso poderá, à partida, limitar a possibilidade de ocupação de determinadas áreas para efeitos de reassentamento. Como parte do Estudo de Impacto Ambiental, deve ser preparado um Quadro de Política de Reassentamento (QPR). Este definirá, de um modo geral, as directrizes para o reassentamento (a incluir aspectos gerais, tais como o âmbito e a metodologia a utilizar) e será, em grande medida, baseado em levantamentos socioeconómicos realizados no Estudo Especializado de Socioeconomia. A preocupação relativa à disponibilidade de áreas adequadas para o reassentamento deve começar a ser levantada ainda na fase de preparação do QPR, para que a mesma possa ser devidamente abordada subsequentemente à conclusão do EIA, quando estiver sendo preparado o Plano de Acção para o Reassentamento. 164 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS A construção do aproveitamento hidroeléctrico de Lupata é proposta como mais uma possível forma de dar resposta à crescente procura de energia em quantidade e com a qualidade necessárias para fazer face aos desafios de desenvolvimento socioeconómico acelerado e sustentável do País, alinhando-se, deste modo, com a Estratégia de Energia aprovada pelo Governo de Moçambique pela Resolução n°10/2009 de 4 de Junho. O transporte da energia produzida em Lupata deverá ser feito através de uma linha de transmissão de 440 kV (a construir), até à subestação de Matambo (Distrito de Changara, Província de Tete), a partir da qual se interligará ao sistema de transmissão Centro-Norte. Considerando a quantidade de energia a colocar na rede de distribuição nacional, assume- se que o projecto proposto tem potencial para resultar em impactos positivos no desenvolvimento das zonas beneficiárias, reflectindo-se no aumento do produto interno bruto, bem como nas receitas do Governo provenientes de taxa de concessão e impostos. Na região Centro-Norte do País, uma maior disponibilidade de energia deverá ainda desencadear o desenvolvimento acelerado do sector produtivo em geral e industrial, em particular, particularmente se essa energia for de boa qualidade e a preços competitivos. Prevê-se que as obras de construção durem cerca de 60 meses e que durante 20 meses estejam na área do projecto, em média, 1.500 trabalhadores, chegando-se a um pico de 2.000 trabalhadores a partir do 18º mês. A criação do emprego é um dos potenciais impactos positivos mais importantes do projecto, mas é necessário assegurar que os benefícios decorrentes da transição de modos de vida baseados em actividades de subsistência, para modos de vida baseados no emprego formal sejam, de facto, materializados. Essa materialização irá depender, em grande medida, da capacidade do projecto de satisfazer as necessidades locais, bem como da disponibilidade local de força de trabalho para integrar o projecto. A identificação de possíveis formas para 165 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO garantir que os potenciais benefícios do emprego sejam efectivos deverá fazer parte dos objectivos do estudo socioeconómico a ser realizado no EIA. A actividade pode ser vista como uma oportunidades para a implementação de projectos sustentados de Responsabilidade Social, em conformidade com os planos de desenvolvimento locais. Poderão, igualmente, ser estabelecidas sinergias com outros projectos e iniciativas de desenvolvimento, resultando em benefícios para a economia e contribuindo para o bem-estar da população local. O desenvolvimento empresarial (micro, pequenas e médias empresas) poderá, igualmente, ser estimulado, como uma forma de dar resposta à grande procura de bens e serviços por parte do projecto. No EIA deverão ser formuladas medidas para assegurar que a implementação do empreendimento proposto possa contribuir para o desenvolvimento económico e do capital humano a nível local e a nível da sua região de implementação, com reflexos a nível de todo o País. Em particular deverão ser investigadas no EIA possíveis formas de maximização dos benefícios da actividade proposta para a população local, tendo em conta os planos, programas e projectos de desenvolvimento governamentais em curso ou planificados para as áreas de influência do empreendimento. A necessidade de deslocação de pessoas, a perda de acesso à terra e a recursos naturais, a interferência com actividades e estratégias de sobrevivência locais, a interferência com o sistema local de relações sociais, as crenças e a religiosidade da população local, situam-se entre os aspectos que deverão merecer atenção no EIA. Deverão ser analisadas as condições concretas das famílias residentes nas áreas afectadas, assim como as sensibilidades das comunidades e das autoridades locais sobre o projecto, o processo de reassentamento e as mudanças que o mesmo possa induzir, formulando recomendações que visem minimizar os aspectos negativos e potenciar os aspectos positivos. A implementação de projectos hidroeléctricos sobre o Rio Zambeze é um assunto que tem sido visto com algum cepticismo por parte de vários círculos da comunidade científica e da sociedade civil em geral, que manifestam preocupação especial em 166 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO relação às alterações hidrológicas no Rio Zambeze e as suas consequências nos sistemas de terras húmidas, bem como na biota que habita, ou usa os habitats a jusante pelo menos em parte do seu ciclo de vida. Alguns dos factores ambientais apontados como preocupantes são as alterações nos ciclos normais de cheia e na sua magnitude, bem na dinâmica de deposição de sedimentos no sistema estuarino do Delta do Zambeze afectando, alegadamente, o desenvolvimento de populações de camarão, importante produto de exportação de Moçambique. A barragem que se pretende construir em Lupata é do tipo “fio-de-água”. No que concerne à capacidade de regulação de cheias, esta revela-se ineficiente, dada a capacidade relativamente reduzida de armazenamento de água na sua albufeira, que não permite a ocorrência de alterações significativas do regime de escoamento do caudal do rio (o mesmo não acontece em barragens de armazenamento, que podem reter grandes volumes de água por períodos de tempo prolongados). Com respeito à descarga de sedimentos através da barragem, o tipo de descarregador a instalar será um importante determinante dos possíveis efeitos da construção da barragem, mas será igualmente necessário enquadrar a análise no contexto da dinâmica natural e da dinâmica já induzida pelo homem no transporte destes a montante de Lupata. Frequentemente, a produção de energia hidroeléctrica é apontada como uma actividade com impacto ambiental potencialmente positivo, dado que a electricidade é produzida a partir de energias renováveis, sem a necessidade queima de combustíveis fósseis. A produção de energia hidroeléctrica é, assim, considerada uma forma de transformação limpa de um recurso energético natural, com baixo custo da geração de energia, já que o principal insumo energético, i.e. a água do rio, está inserido no sistema operacional da barragem. A produção de energia limpa (que não emite gases poluentes da queima de combustível) e energia renovável (que, em princípio, não impõe preocupações com relação ao seu esgotamento), dois benefícios que poderão ser proporcionados pelo projecto proposto, deverão ser analisadas à luz de um balanço entre as vantagens e a desvantagens da construção da barragem. O EIA deverá identificar os impactos positivos e negativos do projecto e propor medidas de mitigação que permitam garantir que esse balanço seja positivo. 167 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO No presente EPDA não foi identificada qualquer questão fatal, ou seja, qualquer aspecto que, pela sua gravidade em termos de efeitos no meio biofísico ou socioeconómico possa, à partida, ser considerada factor determinante da inviabilização do projecto proposto. Foram, entretanto, identificadas algumas questões com as quais o projecto se relaciona de alguma forma, que o Consultor gostaria de destacar, pela sua natureza sensível e potencial importância no contexto AIA, a saber: a) Estudo de habitats: Os habitats das encostas rochosas e das falésias da Garganta de Lupata não foram estudados na fase de EPDA. Dado o risco de segurança envolvido, não é possível aceder à maioria destes locais. Os estudos devem, no entanto, ser efectuados com base em meios alternativos; o uso de binóculos, por exemplo, poderá possibilitar a identificação de espécies de pássaros que habitam/utilizam os habitats em referência e mesmo na identificação de alguns taxons de plantas (Família, Género e, possivelmente, em alguns casos, Espécie). Isto permitirá fazer observações sobre a potencial importância para a conservação destes habitats e de determinadas espécies que neles podem ser encontradas. b) Ligação com o Projecto de Transporte Fluvial de Carvão por Barcaças no Rio Zambeze: como já referido na secção anterior, está a ser finalizado um EIA relativo a um projecto de transporte de carvão através do Zambeze. Situando-se a proposta zona de carregamento de carvão a montante da proposta barragem de Lupata e a parte final da rota de transporte pelo Zambeze a jusante desta (em Chinde, na foz do rio), cria-se aqui uma situação complexa, nomeadamente a possível coexistência dos dois projectos. Experiências no mundo mostram que existem soluções técnicas que possibilitam que uma barragem possa ser projectada com características tais que permitam a passagem de embarcações, possibilitando, assim, a coexistência da produção de energia hidroeléctrica com a navegação. Tais soluções implicam, porém, custos bastante elevados. A determinação da viabilidade desta solução, ou a eventual busca de soluções alternativas transcende, no entanto, os domínios dos processos de AIA do projecto da barragem ou do projecto de transporte de 168 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO carvão. Assim, a AIA do presente projecto não trará uma solução para esta questão. Cnsidera-se, assim, necessário que esta questão sensível seja discutida pelos Proponentes dos dois projectos (i.e. projecto da barragem de Lupata e projecto de transporte de carvão), com o devido envolvimento do Governo de Moçambique ao mais alto nível à luz do desenvolvimento integrado que se pretende para a Bacia do Zambeze. c) Reassentamento: Estimativas preliminares, efectuadas a partir de dados de base cartográfica, dão indicação de que, com a formação da albufeira de Lupata, poderão ficar submersos pelo menos 12 povoados, onde habitam cerca de 13.500 pessoas, agrupadas em cerca de 3.700 agregados familiares (números por confirmar). A submersão dos povoados em referência implica a necessidade de reassentamento das famílias afectadas, o que requer a existência de áreas de extensão suficiente para o efeito e com condições que permitam garantir que os impactos da transferência possam ser os mínimos possíveis. Considerando a natureza do desenvolvimento significativamente baseado em económico exploração da Província de Tete, de recursos de carvão, e considerando ainda que zonas contendo as jazidas de maior potencial encontram-se a jusante de Tete (i.e. entre Tete e Lupata), é provável que muitas das áreas que poderiam servir para reassentar as pessoas se encontrem dentro de concessões mineiras ou sejam áreas já designadas para o reassentamento de pessoas afectadas por projectos mineiros; note-se que a mais importante das zonas de prospecção e exploração carbonífera, nomeadamente Moatize (onde se encontram estabelecidos os principais projectos de exploração de carvão da Província), possui uma secção territorial que será abrangida pela área de inundação de Lupata. Esta é uma preocupação que deve começar a ser levantada ainda na fase de preparação do QPR, para que a mesma possa ser devidamente abordada subsequentemente à conclusão do EIA, quando estiver sendo preparado o Plano de Acção para o Reassentamento. d) Património cultural: A inundação do povoado de Massangano (Posto Administrativo de Muinde, Distrito de Guro) implicará a submersão das ruínas da Fortaleza de Massangano. No EIA será necessário apurar junto das autoridades 169 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO relevantes qual a real condição em termos de protecção legal das ruínas Fortaleza de Massangano enquanto Património Cultural e discutir qual o tratamento a ser dado às mesmas, tendo em conta que, em caso de formação da albufeira de Lupata, as mesmas ficarão permanentemente inundadas. Todos os aspectos de interesse para a identificação e avaliação dos potenciais impactos do aproveitamento hidroeléctrico abordados no presente Relatório de EPDA, assim como todos aqueles que venham a ser identificados na fase subsequente de EIA, deverão ser alvo investigação detalhada nos Estudos Especializados e apresentados de modo devidamente fundamentado no Relatório do EIA. O Plano de Gestão Ambiental deverá estabelecer medidas de gestão e monitoria ambiental tais que permitam que o balanço entre os potenciais impactos negativos e os benefícios do projecto possa ser considerado positivo. 170 APROVEITAMENTO HIDROELÉCTRICO DE LUPATA ESTUDO DE PRÉ-VIABILIDADE AMBIENTAL E DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO 15 REFERÊNCIAS ATP Engenharia. 2009. Estudo de Atratividade dos Aproveitamentos Hidroeléctricos de Boroma e Lupata. Relatório de Análise Técnica, Económica, Social e Ambiental dos Aproveitamentos Hidroeléctricos de Boroma e Lupata. Beilfuss, R. 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