A armadilha da entrevista por competências
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A armadilha da entrevista por competências
A armadilha da entrevista por competências Na era do conhecimento, na hora onde a única vantagem competitiva reside nas pessoas, todas as empresas estão preocupadas em melhorar a seleção de seus candidatos. Atualmente a técnica de seleção por entrevista estruturada que foca nos comportamentos e as competências parece beneficiar-se de um largo consenso nas organizações como bom indicador de performances futuras (“preditor”). Esta situação está se consolidando desde a década de 80 a partir dos estudos de David McCleland baseados no behaviorismo cognitivista que faz do comportamento observado no passado o melhor “preditor” de um comportamento futuro. Em outras palavras, de forma empírica, os conhecimentos, atitudes e habilidades se concretizam no comportamento expresso, observado e mensurável. Partindo deste pressuposto, a entrevista comportamental com foco em competência (entrevista por competências) investiga aspectos comportamentais, incitando o candidato a descrever situações específicas vividas no passado, onde o entrevistador irá averiguar a existência ou não das competências necessárias para a futura função a través das respostas do candidato. Este último sempre deverá responder seguindo o modelo STAR (Situação, Tarefas, Ações e Resultados) para convencer seu interlocutor. O princípio da entrevista é simples: o entrevistador investiga o comportamento passado do candidato de forma estruturada e planejada a partir do perfil de competências definido pela organização. Todas as demandas de informações, abertas e específicas, comportam verbos do passado e são do tipo: “Fale-me de uma situação em que você assumiu responsabilidade por uma tarefa que não fazia parte de suas atribuições.” “Descreva-me uma situação em que você entrou em conflito com um colega de trabalho e como administrou essa situação?” “Qual foi a maior pressão recebida pela chefia, em que situação e como reagiu?” Etc. Onde situar os limites de confiabilidade de uma seleção por competência? Primeiramente é necessário saber que existem muitas críticas sobre o pensamento behaviorista clássico à origem da entrevista por competências. Sem entrar em controvérsias doutrinárias, vários psicólogos utilizam a metáfora do iceberg para explicar que o behaviorismo clássico se preocupa somente com a parte visível (comportamento observável) omitindo todo o psiquismo. E tem mais: como comparar objetivamente os comportamentos frente a tarefas passadas que nunca mais vão se apresentar? E se tiver dois entrevistadores... as pessoas não utilizam os mesmos critérios para examinar as competências e a importância dos critérios escolhidos varia de um ao outro. Em seguida, a correlação entre o comportamento passado como melhor “preditor” do comportamento futuro não é mais tanto evidente hoje em dia nas organizações de quanto era algumas décadas atrás quando as carreiras eram bem mais previsíveis e lineares. Por outro lado, como se comportar quando a competência investigada nunca foi vivenciada pelo candidato? Por exemplo, se o candidato nunca teve um papel de liderança, será que não poderia gerenciar uma equipe de colaboradores? Se responder a verdade será prejudicado? Se não existir um “preditor” em quais critérios basear uma decisão? Em que nível isto pode prejudicar a empresa? © Moityca Eficiência Empresarial Ltda. 1 Para terminar, os candidatos em sua grande maioria, vão para as entrevistas bem preparados, conhecendo a empresa e a função desejada e em grande parte com as respostas já prontas para as competências imaginadas. O fato é que a entrevista por competências entrou a fazer parte da rotina de recrutamento das empresas: existem até cursinhos para aprender a responder, sem citar documentação e livros que qualquer candidato pode se procurar. Um candidato que realmente quer um emprego é disposto a tudo; se forjar uma falsa competência de liderança, por exemplo, é muito simples partindo dos elementos do próprio currículo. Subestimar este fato ou ignorá-lo, denota pelo selecionador certo menosprezo pelas capacidades do candidato ou uma ingenuidade culposa. É possível perceber, lendo os parágrafos acima, que a seleção por competências não é A Solução para selecionar futuros colaboradores como muitos continuam acreditando, mas uma das possibilidades que, se utilizada inteligentemente para auxiliar outros “preditores”, pode fornecer excelentes previsões de resultados. Nossa experiência de mais de vinte anos na seleção de executivos mostra claramente que a personalidade é sem dúvida nenhuma o melhor “preditor” de desempenho em nível gerencial. Os estudos feitos no mundo, portanto, não apontam os testes de personalidade como indicadores confiáveis do desempenho futuro. A resposta é obvia: os testes de personalidade, fora os de Método Funcional, foram construídos para aconselhar, não para selecionar. Fornecem escores padronizados que não podem ser comparados com resultados absolutos decorrente da análise da função, mas poucos se preocupam com isto. As empresas que querem melhorar significativamente a qualidade das próprias seleções podem começar a utilizar o COMPER ou o Socr@te; em 80% dos casos será suficiente principalmente em níveis intermediários. No restante dos casos poderão pedir a um psicólogo credenciado uma análise mais detalhada a partir do L.A.B.E.L.®. Estas ferramentas auxiliam na preparação das entrevistas e alertam o entrevistador sobre a “manipulação” dos resultados e as imagens forjadas em função da desejabilidade laboral. Finalmente, para terminar, queremos reproduzir a conclusão de um estudo de Schmidt&Hunter (1998), The Validity and Utility of Selection Methods in Personnel Psychology Practical and Theoretical Implications of 85 Years of Research Findings, “In economic terms, the gains from increasing the validity of hiring methods can amount over time to literally millions of dollars. However, this can be viewed from the opposite point of view: by using selection methods with low validity, an organization can lose millions of dollars in reduced production.” publicado no Psychological Bulletin by the American Psychological Association, Setembro de 1998 Vol. 124, No. 2, pág. 272. Interessante, não é? Existem reservas enormes de lucro operacional selecionando melhor os futuros colaboradores; aproveite! R. Oswald 31.03.08, atualizado 2011 © Moityca Eficiência Empresarial Ltda. 2