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REVISTA N.º 24 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · JUNHO 2016 O DESEMBAR UE Capa.indd 1 01/06/2016 18:08:33 índice ficha técnica Editorial Olhar para o alto... 3 Dia do Fuzileiro Dia do Fuzileiro 2016 – Convite/Programa 4 Corpo de Fuzileiros Companhia Geral CIMIC 5 Juramento de Bandeira – Curso de Formação Básica de Oficiais Fuzileiros (1.ª Edição 2015) Curso de Formação Básica de Praças (3.ª Edição 2015) A Restruturação do Corpo de Fuzileiros – Fazer Certo, Fazer Bem, Fazer Diferente Eventos Dia do Combatente 2016 6 8 12 Notícias Assembleia-Geral Ordinária e Eleitoral (AFZ) Assembleia-Geral do Núcleo da AORN dos Açores Contadores de Histórias 13 17 19 Entrevista Sargento Fuzileiro Ludgero dos Santos Silva – O Piçarra 20 Pensamentos & Reflexões Os Fuzileiros como uma força expedicionária A Pátria não pode esperar Aqui somente encontrarás o que trazes 26 29 30 Cultura & Memória A visita da Rainha Nhakatolo LFG “Lira” – Ataque a um combóio naval no rio Cumbijã 31 33 Poesia Ser Fuzileiro 36 Crónicas Grandes Figuras da História – D. Afonso Henriques 37 Cadetes do Mar Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros 40 Publicação Periódica da Associação de Fuzileiros Revista n.º 24 • Junho 2016 Propriedade Associação de Fuzileiros Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq. 2830-356 Barreiro Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461 email: [email protected] www.associacaofuzileiros.pt Edição e Redacção Direcção da Associação de Fuzileiros Director José Ruivo Directores Adjuntos Leão Seabra e Benjamim Correia Editor Principal Benjamim Correia Colaborações Delegações da AFZ, CM, JR, LS, BC, Ribeiro Ramos, Miranda Neto, José Horta, Paulo Gomes da Silva e Adelino Couto Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro Gonçalves e Mário Manso Capa e Contracapa (Fotografias): MLS Capa (Arranjo): Manuel Lema Santos Divisões Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas 42 Delegações Delegação do Algarve Delegação do Douro Litoral 44 Delegação de Juromenha/Elvas 47 46 Convívios Companhia de Fuzileiros N.º 6 – Angola 1973/75 1.º Curso de Fuzileiros de 2001 – 15.º Aniversário 2.º CFORN FZ de 1990/91 – 25.º Aniversário Incorporação na Armada de Fevereiro de 1991 – 25.º Aniversário Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 13 – Guiné 1968/70 Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 9 – Guiné 1964/66 48 Obituário 55 Diversos 55 49 50 51 53 54 Coordenação e produção gráfica Manuel Lema Santos [email protected] Impressão e acabamento GMT Gráficos, Lda. Rua João de Deus, n.º 5-C 2700-486 Amadora Tel.: 217 613 030 • Telem.: 919 284 062 email: [email protected] Tiragem 2.000 exemplares Depósito legal n.º 376343/14 ISSN 2183-2889 Não reconhecemos qualquer nova forma de ortografia da língua portuguesa mas, no respeito por diferente opção, manteremos os textos de terceiros aqui publicados que configurem outra forma de escrita. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Indice+FichaTecnica.indd 2 02/06/2016 10:51:58 editorial Olhar para o alto… José Ruivo A distância de um olhar para espaços de infinito torna a mente mais aberta e o coração mais livre para saber distinguir o que é importante daquilo que é trivialmente secundário. Os fuzileiros são homens da terra e do mar, que mergulham no lodo e olham o chão como o seu caminho, mas nem por isso devem deixar de olhar em frente e mais alto. E como tal devem saber distinguir o essencial do acessório. Homens duros e corajosos, com capacidades testadas de resistência e abnegação, é possível que se tornem psicologicamente mais frágeis quando a idade avança ou quando as circunstâncias da vida mudam. Esta constatação – que pode ser circunscrita ou até parcialmente injusta – surge a propósito da participação de alguns na vida associativa, a qual deveria ser um factor de união, minimizando eventuais conflitos mesmo quando as opiniões são diversas e, por isso mesmo, mais ricas. A vida da Associação de Fuzileiros, que se pretende que seja um espaço de partilha de ideias e de são convívio, não pode nem deve ser perturbada com desnecessários entraves de natureza gratuita ou por futilidades que nos desviem dos objectivos essenciais da nossa actividade. Mas a realidade é que, por vezes, surgem melindres desnecessários, em resultado de atitudes de pessoas com sensibilidade mais “delicada”, que reagem de forma quiçá exagerada a questões simples, ou de outros que interpretam meras falhas de funcionamento (errar é próprio do homem) como ofensas pessoais ou grandes desilusões. Para esses, parece haver uma desproporção entre o acontecimento e o seu real valor. Olham para o seu chão e vêm lodo, quando seria bem melhor olhar mais alto e ver o sol… Claro que é bom que sejamos exigentes e que saibamos defender o que for mais justo; é bom que todos expressem as suas opiniões, desde que a crítica seja construtiva e as sugestões possam servir a todos (ou pelo menos a uma maioria). É importante e saudável que todos nós, membros desta colectividade, saibamos perguntar não apenas o que a Associação nos pode dar, mas também o que nós podemos dar à Associação. E podemos dar muito, se nos questionarmos sobre isso. Podemos, por exemplo, enriquecer a vida associativa com comentários e sugestões construtivas se olharmos mais alto… em vez de nos rebaixarmos com quezílias inúteis. Podemos participar mais activamente nos eventos e iniciativas da Associação. Pelo seu lado, a Associação também nos dá muito: dá-nos a feliz sensação de pertença a uma família que nos é muito querida; a pertença a um grupo que muitos consideram como o prolongamento da nossa própria família e, por isso mesmo, lhe gostamos de chamar a família dos Fuzileiros. E isso pode ser mais gratificante do que quaisquer benefícios materiais. Por vezes, parece assistir-se a uma espécie de transformação de antigos resilientes em pequenos quezilentos. Gente habituada a resolver situações complexas, a contornar dificuldades, a assumir desafios e a aceitar as consequências dos seus actos, de repente, parece que perdeu alguns desses talentos e não só se mostram impotentes para os resolver como complicam situações banais. Pequenas falhas no protocolo ou em procedimentos administrativos, que podem surgir inadvertidamente e sem intenção de ofender ninguém, viram tempestade e são considerados ofensas pessoais. Dificuldades naturais ou atrasos na resolução de problemas, por vezes complexos e que não dependem apenas da vontade de quem dirige, são consideradas facilmente falta de empenhamento, esquecendo-se muitas vezes que todos andamos cá por carolice e amor à camisola. A resistência à mudança é uma atitude normal em todos os seres humanos mas que importa contrariar. O mundo muda quer nós queiramos quer não e, hoje em dia, ainda muda mais rapidamente. As novas tecnologias e, em especial, a forma mais rápida e mais fluída como se faz a comunicação entre as pessoas e as instituições é muito diferente, muda mais depressa do que a nossa capacidade de apreender o sentido dessa mudança. Por isso, há que ser adaptável e flexível, aberto e cooperante. E se queremos ir em frente, não devemos colocar pedras pelo caminho… atrapalhando o normal fluir das actividades. Alguns melindram-se com pequenos contratempos, são muito sensíveis mas, evidentemente, consideram-se homens de ferro. Fuzileiros são homens de ferro, pois sim, mas vão num bote de borracha, que é um material maleável, flexível e bom para contornar os escolhos do trajecto. É isso que se espera de um fuzileiro, daqueles que se dizem fuzileiros para sempre… A este propósito, é bom lembrar um ditado antigo: É preciso serenidade para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar as que podemos e sabedoria para distinguirmos umas das outras. José Ruivo Presidente da Direcção O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Editorial.indd 3 3 01/06/2016 18:10:06 dia do fuzileiro CONVITE CONVITE 0909 DE DE JULHO DE 2016 JULHO DE 2016 O Corpo de Fuzileiros e a Associação Nacional de Fuzileiros convidam todos os fuzileiros, sócios da AFZ e respetivas famílias, a estarem O Corpo de Fuzileiros e Fuzileiro” a Associação Nacional de Fuzileiros convidam todos os fuzileiros, sócios presentes nas cerimónias do “Dia do que conjuntamente organizam. da AFZ e respetivas famílias, a estarem presentes nas cerimónias do “Dia do Fuzileiro” que, conjuntamente organizam. TEMA “A Cinotecnia no Corpo de Fuzileiros “ DE EVENTOS TEMA “ A PROGRAMA Cinotécnia no Corpo de Fuzileiros “ na EF PROGRAMAConcentração DE EVENTOS 08h30 08h30 – 09h30 0830h – 09h00 –13h00– 0830h/0930h 0900h/1300h 09h30 –10h30– 0930h/1030h 10h00 – 1000h – 1100h – 11h00 1145h 11h45 1245h 12h45 1245h 12h45 1400h/1700h – – – – 14h00 – 17h00 Pista de Lodo Concentração na EF; Abertura Pista de Lodo;do Museu do Fuzileiro e da exposição fotográfica (ginásio polivalente) Abertura do Museu do Fuzileiro e da fotográfica (ginásio polivalente); Passeios (Bote, LARC, LAR)exposição a partir do cais da UMD Passeios (Bote, LARC, LAR) aMissa partir do cais da UMD; na Capela EF Missa na Capela EF; Cerimónia Militar junto ao Monumento do Fuzileiro Cerimónia Militar junto ao Monumento do Fuzileiro; – Homenagem aos Mortos em defesa da Pátria com deposição de coroa de flores - Homenagem aos Mortos em defesa da Pátria com deposição de coroa de flores; – Discursos - Discursos; Demonstração no Campo de Futebol Demonstração Cinotécnica noCinotécnica Campo de Futebol; Encerramento Museu do Fuzileiro exposição fotográfica Encerramento do Museudodo Fuzileiro e dae da exposição fotográfica; Almoço convívio; Almoço convívio Reabertura do Museu do Fuzileiro e da exposição fotográfica (ginásio polivalente). Reabertura do Museu do Fuzileiro e da exposição fotográfica (ginásio polivalente) INSCRIÇÕES INSCRIÇÕES Agradece-se a todos desejem presentes nas comemorações queatéefetuem até Agradece-se a todos quantos quantos desejem estar presentesestar nas comemorações que efetuem a sua inscrição, ao dia 01adesua Julhoinscrição, de 2016, ao dia 01 de Julho de 2016, pelas seguintes formas: pelas seguintes formas: o impresso a indicados seguir se retrata e remetendo-o, pelo correio ou via fax, para a Escola de –- Preenchendo Por telefone para os contactosque abaixo (EF/AFZ). Fuzileiros ou para a Sede da Associação Nacional dedoFuzileiros; – Diretamente nas Cantinas da Escola de Fuzileiros e do Comando Corpo de Fuzileiros, na Sede da Associação Nacional de Fuzileiros - Fazendo a inscrição diretamente nas Cantinas da Escola de Fuzileiros e do Comando do Corpo de Fuzileiros, ou nas suas Delegações; datambém Associação deporFuzileiros ou nas suasrecebendo Delegações; – na Sede Poderão efectuarNacional as inscrições correio eletrónico (Email) na volta do correio um número de inscrição de que se deverão fazer acompanhar assim, apor distribuição de senhas da refeição). - Poderão, também efetuar(facilitando, as inscrições correio eletrónico (E-mail) recebendo na volta do correio um número de inscrição de que deverão fazer-se acompanhar (facilitando-se, assim, a N.º distribuição de etc.), senhas da Agradece-se que, se possível e aplicável, se privilegie a inscrição por grupos (DFE N.º XX do ano YY, Companhia WW do ano ZZ, refeição). podendo fazê-la sempre, no entanto, a título individual/familiar. que de se 10 privilegie inscrição por grupos (DFE XX12do ano YY, Companhia Nº WW do ano ZZ, OAgradece-se almoço vai ter o custo Fuzos paraaadulto e de 5 Fuzos para crianças dosNº 6 aos anos. etc.), podendo-se, obviamente, fazê-la a título individual/familiar. CONTACTOS O almoço vai ter o custo de 10 Fuzos para adulto e de 5 Fuzos para crianças dos 6 aos 12 anos. 4 DiaFuzileiro.indd Escola de Fuzileiros Associação Nacional de Fuzileiros Secção do Protocolo Secretariado Nacional Email: [email protected] Rua Miguel Paes, n.º 25 – 2830-356 Barreiro CONTACTOS Email: [email protected] Telef.: 210 927 288 Fax: 211 938 542 Telef.: 212 060 079 – Telem: 927 979 461 Escola de Fuzileiros Email: [email protected] Telef.: 210927288 (Secção do Protocolo - Escola de Fuzileiros) O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt FAX: 211938542 (Secção do Protocolo - Escola de Fuzileiros) Associação Nacional de Fuzileiros Secretariado Nacional 4 Rua Miguel Paes, n.º25 – 2830-356 Barreiro 01/06/2016 18:13:08 corpo de fuzileiros Companhia Geral CIMIC E m 2004 constituiu-se a Companhia Geral CIMIC1 (CGCIMIC), como consequência dos compromissos assumidos por Portugal, no âmbito da NATO. A CGCIMIC é uma força conjunta com a seguinte estrutura: Comando, 3 células de Estado-Maior e 3 destacamentos, (um de cada ramo). A escolha de militares para a CGERCIMIC, nomeadamente o Destacamento, a Marinha conferiu a responsabilidade de nomeação ao Corpo de Fuzileiros, que por sua vez delegou no Batalhão de Fuzileiros N.º1 (BF1). O comando da Companhia é rotativo pelos ramos a cada dois anos. O CIMIC é composto pelos níveis Estratégico, Operacional e Tático, cuja missão é estabelecer e manter a total cooperação entre um comandante militar, dentro da sua área de operações, e as autoridades civis, organizações governamentais e não-governamentais, agências e população civil. Os destacamentos enquadram-se no nível Tático e são compostos por três equipas. Estas operam em centros CIMIC (estruturas físicas que servem como um ponto de comunicação e coordenação entre os militares e o ambiente civil) e no terreno, como equipas de ligação. Têm como funções examinar o “status” de uma área específica de operação ou área de interesse, identificando as falhas críticas ou lacunas de capacidade no ambiente civil (e.g. falta de água, existência ou não de esgotos, assistência médica, apoio à liberdade de movimentos, outros…), ou seja, deficiências que possam afetar a missão do Comando. No ano de 2015, a CGERCIMIC, esteve envolvida no Exercício de Alta Visibilidade da Nato, TRIDENT JUNCTURE 2015, que decorreu de 03OUT a 06NOV, na zona de Santa Margarida, integrado na Brigada Canadiana. No cenário do exercício, a missão da CGERCIMIC teve como objetivo, cooperar e coordenar com as autoridades locais, Organizações Internacionais (OI), Organizações Governamentais (OG), Organizações não-governamentais (ONG), de forma a garantir o apoio ao fluxo de ajuda humanitária em TYTAN, país fictício no exercício. O exercício consistiu em duas fases, uma inicial CPX e uma fase de Livex com a CGERCIMIC a operar a partir do quartel de Engenharia em Santa Margarida. Ao Destacamento da Marinha foi atribuída a missão de montar e operar um centro CIMIC, na Vila Ribatejana da Golegã, tendo sido disponibilizado para o efeito, pelo município, o Palácio do Pelourinho. A área de Operações do destacamento CIMIC Marinha estendeuse aos concelhos da Golegã e do Entroncamento e à união de Freguesias da Carregueira com o Arrepiado. As suas equipas promoveram um vasto e diverso conjunto de atividades, dos quais se elenca alguns exemplos: – Contactos preliminares com: as Câmaras Municipais, as paróquias, as forças de segurança e as cooperações de bombeiros, do Entroncamento e Golegã, para a divulgação do exercício TRJ15; – Avaliação de risco no Entroncamento, sobre eventuais incidentes sucedidos na área, com os movimentos das colunas militares; – Contactos com a freguesia do Arrepiado, para sensibilização da população, sobre os treinos militares e para a montagem da ponte móvel com viaturas anfíbias alemãs “M3 Amphibious Rig’s”; – Distribuição de folhetos e cartazes entre a população civil para divulgação do exercício TRJ15, bem como, palestras acompanhadas de vídeos, na escola 2/3 da Golegã e de Alpiarça sobre o exercício TRJ15; – Avaliação de risco (máxima tonelagem, máxima largura, máxima altura) da ponte da Golegã, que atravessa o Rio Tejo, para garantir os movimentos das colunas militares em segurança. Paralelamente, o destacamento foi alvo de inúmeras visitas nomeadamente o presidente da Câmara do Concelho da Golegã, do Sr. Vice-Almirante Comandante das Operações Conjuntas do EMGFA, de oficiais, do Civil-Military Cooperation Centre 1 Cooperação Civil Militar (assumindo tradução livre) segundo AJP-9, NATO Civil-Military Cooperation (CIMIC) Doctrine. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Corpo_Fuzileiros_Todos.indd 5 5 02/06/2016 08:46:42 corpo de fuzileiros Of Excellence (CCOE)2, do Multinational Cimic Group (MNCC)3 da Nato, com todos a evidenciarem o bom desempenho e profissionalismo demonstrado. Na fase Livex do exercício, o destacamento operou em H24 na área de Tancos, na freguesia da Carregueira com o Arrepiado e no Castelo de Almourol, com o objetivo de monitorizar quaisquer danos ou incidentes (ambientais, outros…), consequentes dos movimentos militares no terreno ou no espelho de água, e informar de imediato o escalão superior, para que este pudesse tomar as medidas necessárias a minimizar rapidamente esses efeitos. Este exercício serviu para a certificação da CGERCIMIC, estando agora em período de “Stand By” e pronta para ser empenhada em eventuais missões que Portugal entenda dever participar com este desígnio, em conjunto com o MNCC do qual o País faz parte. Corpo de Fuzileiros Destacamento CIMIC Marinha 2 http://www.cimic-coe.org/ 3 http://www.cimicgroup.org/ (do qual Portugal faz parte em conjunto com a Eslovénia, Grécia, Hungria, Itália e Roménia. Juramento de Bandeira Curso de Formação Básica de Oficiais Fuzileiros (1.ª Edição 2015) e Curso de Formação Básica de Praças (3.ª Edição 2015) T endo iniciado a 21 de dezembro de 2015, decorreram até 5 de fevereiro de 2016, a 1.ª edição 2015 do Curso de Formação Básica de Oficiais Fuzileiros e a 3.ª edição de 2015 do Curso de Formação Básica de Praças. Para a frequência dos referidos cursos, apresentaram-se na Escola de Fuzileiros 11 elementos para o curso de Oficiais e 113 elementos para o curso de Praças, destinados a alimentar as 6 Corpo_Fuzileiros_Todos.indd 6 classes de Fuzileiros, Mergulhadores, Técnicos de Armamento, Eletromecânicos, Condutores, Manobras, Taifas e Músicos. Os cursos, que culminaram na data de encerramento com a cerimónia de Juramento de Bandeira que teve lugar a 5 de Fevereiro de 2016 e foi presidida por S. Ex.ª o Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, Vice-almirante Bonifácio Lopes, têm como objetivo principal habilitar os cidadãos com uma preparação militar geral. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 08:46:45 corpo de fuzileiros Na cerimónia, os 7 formandos do curso de oficiais e os 88 do curso de praças que concluíram este período de formação com sucesso, assumiram perante o Estandarte Nacional, como portugueses e como militares, defender a nossa Pátria, mesmo com o sacrifício da própria vida, se tanto for necessário. Atentos às mudanças conjunturais da sociedade civil e decorrente de um processo interno de análise de oportunidades de melhoria contínua, realizou-se em 9 de janeiro de 2016, o “Dia da Família”. Esta iniciativa tem como objetivo mostrar aos familiares e amigos dos formandos a instituição militar e a Escola de Fuzileiros, desmistificando a formação militar, apresentando os objetivos da formação básica de praças e as condições habitacionais, de lazer e didáticas em que esta vai decorrer. Pretende-se assim estabelecer a ponte entre as dimensões familiar e a militar, contribuindo de forma proactiva para colmatar a falta de conhecimento e assim potenciar a construção formativa de cada aluno. Durante o período de formação foram ministradas diversas temáticas, nas vertentes teóricas e práticas, que abrangem as áreas de Organização e Regulamentos, Socorrismo, Infantaria, Comunicações Internas, Armamento e Tiro e Educação Física. Foram ainda efetuadas diversas palestras que abrangeram os temas da formação cívica ou o consumo de drogas, álcool e tabaco. De referir que no final desta formação básica, todos os formandos ficam habilitados com o Curso Básico de Socorrismo. No final do curso pediu-se aos formandos que escolhessem uma frase que caracterizasse o mesmo, sendo que a frase eleita foi a seguinte: “Sozinhos nada somos, mas juntos não quebramos”. No dia 11 de fevereiro destacaram para a Escola de Tecnologias Navais e Escola de Mergulhadores todos os elementos, tendo as classes de Fuzileiros (oficiais e praças), Condutores e Músicos permanecido na Escola de Fuzileiros. Já nas diferentes escolas, iniciaram nessa data os respetivos Cursos de Formação de Praças, os quais os habilitarão com a formação específica tendo em consideração a classe a que pertencem. Escola de Fuzileiros O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Corpo_Fuzileiros_Todos.indd 7 7 02/06/2016 08:46:46 corpo de fuzileiros Projeção Anfíbia A Reestruturação do Corpo de Fuzileiros – Fazer Certo, Fazer Bem, Fazer Diferente – O presente artigo relata um processo de mudança difícil, desafiante e prolongado mas que resultará num ganho significativo de recursos, de capacidade e de eficácia. E, porque a mudança altera rotinas, força-nos para fora das nossas áreas de conforto e introduz novas lógicas e/ou metodologias de funcionamento que requerem aprendizagem e adaptação antes que as consigamos dominar ou explorar na justa medida dos resultados que prosseguimos, é igualmente um artigo que nos pode fazer questionar determinados preconceitos, convidando-nos à reflexão e à discussão de ideias. reflexo na prontidão das unidades ou das forças de fuzileiros. Esta impossibilidade de se estabelecer uma relação entre as deficiências e a capacidade de gerar resultados, constituía uma enorme fragilidade, tornando difícil argumentar contra qualquer observador externo que acusasse o CF de estar sobredimensionado para o produto operacional que oferece, e/ou de querer manter uma estrutura que visa um «nível de ambição» – que muitos associam diretamente à existência genérica de «batalhões» e ao Batalhão Ligeiro de Desembarque (BLD) – insustentável e desajustado da realidade. Pese embora exista a consciência de que até a lógica do «fazer mais com menos» também se esgota, a prioridade na tentativa de encontrar soluções para minimizar os efeitos muito negativos de uma conjuntura extremamente desfavorável, sempre foi a de preservar ao máximo os produtos institucionais. Ora, se houver espaço para ganhos de eficiência, a redução de recursos não tem de ser diretamente refletida na atividade. Mas os «ganhos de eficiência» não são muitas vezes compatíveis com metodologias e/ ou com organizações muito rígidas e com pouca apetência para a mudança. Talvez por isso, a tendência natural dos processos de transformação nas FA se revele muitas vezes contrária à «razão» de preservar resultados, redundando em reduções da atividade e na redefinição dos «níveis de ambição». No caso da Marinha, o Corpo de Fuzileiros (CF) acabou por se tornar vulnerável a este tipo de pressões. E aquelas não eram críticas despiciendas, pois muita coisa mudou desde que ocorreu a última grande reestruturação nos fuzileiros: a natureza das ameaças alterou-se e revelaram-se ameaças que antes não existiam (como é o caso da cyber); os teatros transformaram-se (a designada war amongst people é apenas um exemplo); e a perceção pública passou a condicionar quer os processos de decisão quer as opções de emprego das forças. Ao nível das respostas a transformação das ameaças redundou em diferentes lógicas de utilização das forças; apareceram conceitos inovadores (como o de distributed operations) e desenvolveram-se novas Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP); a tecnologia permitiu explorar novos e mais poderosos «potenciadores de força («conhecimento situacional», blue track systems, etc.); e variáveis como a legitimidade, a responsabilização (accountability), a gestão do risco e a utilização de armamento menos letal passaram a ser críticas para a ação. Em setembro de 2014 os recursos humanos (RH) do CF encontravam-se 25% abaixo dos quadros de lotação aprovados: num total de cerca de 2.000 efetivos, estavam em falta cerca de 500 militares. O investimento nas forças e nas unidades de fuzileiros foi durante muitos anos residual. Parte significativa do material e do equipamento está velho e, em muitos casos, obsoleto. Existiam – e ainda persistem – lacunas ou insuficiências graves, como por exemplo ao nível dos equipamentos de comunicações táticos e de teatro (SATCOM portátil), ou dos rádios individuais, que são em número insuficiente para equipar todas as forças que somos suposto gerar e projetar. Um número muito significativo de viaturas não respeita os requisitos necessários ao seu emprego num contexto anfíbio, e muitas dessas viaturas encontram-se avariadas, algumas com necessidades de reparação nada recomendáveis do ponto de vista do custo-benefício. Apesar de tal quadro, e contrariamente ao que sucede com os navios, nenhuma daquelas insuficiências era apresentada como um 8 Corpo_Fuzileiros_Todos.indd 8 Mesmo reconhecendo que a criação do Destacamento de Ações Especiais (DAE) e do Pelotão de Abordagem (PELBORD) foram passos importantes na evolução das respostas operacionais do CF, é também importante admitir que toda a restante estrutura se manteve fiel à lógica para que fora criada: a interoperabilidade (doutrinária e organizacional) com aliados (em especial o United States Marine Corps (USMC)) no contexto das grandes operações anfíbias desenhadas no contexto da «guerra fria». Não era assim credível insistir que uma lógica organizacional e que um processo de geração de forças que pouco mudaram desde 1979 seriam capazes de responder a tão significativas transformações. Fazer as coisas certas Aceitando que a crítica, mesmo quando baseada em perceções ou leituras próprias, tem sempre um fundamento, a identificação daquilo a que nos referimos como «produto operacional» O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 08:46:47 corpo de fuzileiros tornou-se um requisito essencial para o processo de reestruturação. E ao sustentar essa definição em elementos concretos garantimos que, além de tornar claro o porquê do «nível de ambição», estaremos a «fazer as coisas certas», princípio essencial para a credibilização dos resultados operacionais. Sem querer entrar em grande pormenor sobre o conteúdo do Conceito Estratégico Militar de 2014 (CEM2014), importa ao leitor saber que as componentes (Ramos) contribuem para três tipos de forças de natureza conjunta: a Força de Reação Imediata (FRI), empregue em Operações de Evacuação de Não-combatentes (NEO) e no apoio à Proteção Civil e/ou às Forças e Serviços de Segurança (FSS) em «emergências complexas»; o Conjunto Modular de Forças (CMF), preparada para intervir em conflitos de todo o espectro no âmbito das alianças e parcerias de que Portugal é parte; e as Forças Permanentes em Ação de Soberania (FPAS), que asseguram tarefas de presença, patrulha, vigilância e o contributo das FA no combate a ilícitos no Espaço Estratégico de Interesse Nacional Permanente. Porém, o que releva para estruturação do produto operacional do CF é a prioridade dada a forças de pequeno escalão, e o aumento da capacidade de resposta, o que vem reforçar a ideia/necessidade de gerar e manter «forças de escalão companhia» em alta prontidão. O emprego do BLD não é descartado pelo CEM2014, mas está assumido como uma situação limite, o que nos concede alguma margem de manobra no que respeita à sua categoria de prontidão. Atentas aquelas grandes linhas de orientação, o «dispositivo de forças de referência» do CF passou a ser: três forças modulares, integrando o «reconhecimento», os «morteiros» e o «anticarro» como elementos orgânicos, de escalão companhia (FFZ); três grupos de botes de assalto, que correspondem ao Elemento de Assalto Anfíbio de cada uma das FFZ; uma unidade de Polícia Naval (que no limite gera uma força de escalão companhia); dez equipas de abordagem; e quatro grupos de combate de operações especiais (SOMTU, gerados a partir do DAE), pese embora só estejam edificados ainda dois. Além destes, e porque o CF opera outros meios além dos botes, manteve-se a Unidade de Meios de Desembarque (UMD) como a estrutura que projeta e assegura a permanente disponibilidade das Lanchas Rápidas (LR), das Lanchas de Assalto Rápido (LAR) e da Lancha de Desembarque Média (LDM). Operações Especiais A missão do Comandante do Corpo de Fuzileiros (CCF) passou a ser a de gerar e edificar aquele dispositivo, sendo este o propósito máximo da organização que comanda. Alguns estranharão a referência a uma maior flexibilidade, também temporal, na geração e projeção do BLD, tantos anos tido como a referência na «organização para a ação» do CF. De facto, estamos a respeitar um princípio base do planeamento: prever a situação mais desfavorável e planear para a mais provável. Esta regra é crítica quando os recursos disponíveis não permitem desenvolver as modalidades de ação necessárias para cobrir, em simultâneo, todas as hipóteses assumidas. Está relacionada com a assunção de risco e com a priorização de opções. Fazer as coisas bem Não basta estarmos focados em fazer o que é certo, também há que «fazer as coisas bem», ou seja, assegurar que conseguiremos otimizar a nossa organização de forma a maximizar os resultados. Uma organização que não esteja otimizada, ou dispersa os seus esforços, ou não consegue atingir os objetivos a que se propõe. Fazer as coisas bem é também um passo no sentido da «transparência da gestão», aspeto que estabelecemos como fundamental para promover a ligação entre recursos e resultados, falha que, como já se mencionou, constituía uma enorme vulnerabilidade do CF. «Mexer» numa organização passa invariavelmente por refazer as relações de autoridade, o que equivale a reavaliar competências – «quem é quem» – e a redefinir as dependências – «quem se relaciona com quem», e por redistribuir o trabalho, ou seja, encontrando formas diferentes de dividir tarefas redefinindo «quem faz o quê». Mas ao fazê-lo estaremos também a alterar a forma como a organização funciona, obrigando a refazer processos, sendo muitas vezes esta uma etapa crítica quando se passa dos modelos para a execução. Muitos processos de transformação falham, ou são muito condicionados, porque a cultura organizacional, que em última instância determina «como as coisas se fazem», impede que se explorem novas formas de pensar e/ou de agir. Não se consegue alterar a organização porque «os processos não deixam» (!). No caso da reestruturação do CF ficou desde logo muito claro que haveria que «pensar diferente», e que não existiriam tabus ou dogmas que nos impedissem de enveredar por determinadas soluções, assim se considerassem essas as melhores opções para se atingirem os objetivos a que nos propúnhamos. Para nós, «fazer as coisas bem» significava agilizar a estrutura de funcionamento, reduzindo o seu peso global face aos efetivos que passaram a constituir a componente operacional (dispositivo de forças) do CF. Neste particular, o Corpo revelava-se grande consumidor de RH, principalmente porque existia um número significativo de unidades independentes e autónomas que, além de gerarem muita burocracia, davam origem a sobreposições de responsabilidades, duplicação de tarefas, multiplicação de órgãos e serviços, e até replicação de infraestruturas, tais como paióis, escotarias, oficinas, etc.. Para além disso podia questionar-se o respeito por princípios básicos como a «consonância de propósito» e a «unidade de esforço», uma vez que funções essenciais da gestão, como o planeamento e o controlo, não se encontravam centralizadas. Na verdade, a cultura organizacional, refletida numa organização muito compartimentada onde não existia um verdadeiro órgão integrador e coordenador, tornava o CF virtualmente ingerível. Melhorar os processos de gestão era uma prioridade, ainda que à custa da transferência de algumas das competências dos comandantes, da redefinição das suas esferas de ação e da centralização de serviços. Sintomático desta realidade era o desequilíbrio entre o esforço despendido em tarefas de natureza administrativa e o tempo consumido com a atividade operacional (conhecimento da doutrina, liderança, treino, tutoria, etc.), aspeto reiteradamente referido pelos comandantes durante as visitas do CCF às unidades. A solução não poderia então ser outra que não a de reduzir o número de unidades autónomas, retirar carga administrativa aos O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Corpo_Fuzileiros_Todos.indd 9 9 02/06/2016 08:46:48 corpo de fuzileiros comandantes e recentrar a sua atenção naquilo que deverá ser a prioridade da sua ação: a manutenção de elevados níveis de proficiência e o garante dos padrões de prontidão operacional das forças subordinadas. O primeiro passo foi o de identificar onde se encontravam os desajustamentos organizacionais face à forma como nos propúnhamos gerar e edificar o «novo sistema de forças». Relembrando que as forças (FFZ) passaram a estar constituídas e ativadas em permanência, integrando, como elementos orgânicos, o reconhecimento, o anticarro e os morteiros, depressa resultou óbvio que as Companhias de Fuzileiros 11, 21 e 22, a CAF e a CATT não se adequavam à nova metodologia de geração de forças, pelo que se procedeu à sua desativação e posterior extinção. As CF 12 e 23 já se encontravam desativadas em resultado do défice de RH anteriormente referido. Redefiniu-se também a lógica subjacente à constituição do estado-maior (EM), que deixou de ser parte integrante da estrutura de funcionamento e passou a ser gerado no contexto da «organização para a ação» (crisis establishment (CE)). Isto equivale a dizer que o EM continua a ter um quadro orgânico próprio, mas que, embora esteja permanentemente constituído, só é ativado quando o CCF exerce funções de comando de forças. Concentrar no Comando do Corpo o planeamento, a tomada de decisões e o controlo dos processos, mais que uma necessidade para assegurar a consonância de propósito, foi uma opção importante na promoção da unidade de esforço e da uniformização de processos e de procedimentos. Já na ótica da centralização de serviços e da melhoria dos processos de gestão foram criados quatro departamentos: o Departamento de Operações (DOP), onde se concentraram os processos de desenvolvimento de padrões, planeamento, programação e avaliação do treino, de desenvolvimento de conceitos, análise e experimentação (CD & E), e de acompanhamento das ações de treino e das operações correntes, tal como rondas, segurança a instalações e atividades protocolares; o Departamento de Gestão de Recursos (DGR), que assumiu responsabilidade sobre o planeamento e controlo de todas as atividades relacionadas com o pessoal e com o material; o Departamento de Apoio Geral (DAG), que se constituiu como órgão «prestador de serviços» a todo o universo do CF, agregando todas as atividades de manutenção, oficinas, alimentação, transportes administrativos, paióis, escotarias, etc.; e o Departamento Administrativo e Financeiro (DAF) que assegura o planeamento e controlo de todas as atividades relacionadas com os recursos financeiros. A criação destes quatro departamentos resultou, na prática, na transformação de uma estrutura de natureza hierarquizada e mecanicista numa organização de características marcadamente matriciais. Entender as implicações desta alteração passa por perceber que no primeiro caso os processos se repetem ao longo das unidades e se desenvolvem na vertical, dentro de linhas de comando independentes que confluem no topo e sem interagirem entre si, enquanto no segundo caso têm uma natureza transversal, tornando-se abrangentes e comuns a toda a organização. A lógica matricial é uma realidade estranha à cultura organizacional que perdurou no CF durante muito tempo, e segundo a qual cada comandante tomava as suas decisões e endereçava as suas necessidades sem grande preocupação com a envolvente ou com a necessidade de rastrear/controlar a evolução externa dos seus quesitos. A falta de coordenação fazia com que as solicitações não estivessem subordinadas a um sistema de priorização de necessidades integrado, o que no caso do apoio (lato sensu) era particularmente sensível, pois os conflitos eram dirimidos numa estrutura intermédia (Base de Fuzileiros (BF)) e não de topo. No caso do treino, por exemplo, cada unidade estabelecia o seu programa e prioridades, podendo acontecer que à altura de gerar 10 Corpo_Fuzileiros_Todos.indd 10 uma força para projetar para uma missão, cada um dos elementos (manobra, anticarro, morteiros, etc.) se encontrasse em fases diferentes do seu ciclo de prontidão. A articulação funcional entre os departamentos é agora crítica, pois todo o apoio e serviços passou a estar centralizado, e ocorreu uma migração significativa das responsabilidades subsidiárias e das tarefas de controlo do pessoal, do material e do equipamento, que no anterior se encontravam residentes na BF e nas unidades. Por esse motivo foram atribuídas competências próprias ao segundo-comandante (2CF), tornando-o responsável por toda a estrutura de funcionamento e colocando os Chefes de Departamento, à exceção do CDAF que reporta diretamente ao CCF, na sua dependência direta. Assegura-se deste modo a integração do planeamento e do controlo e promove-se a coordenação interdepartamental. Na perspetiva da gestão o CF funciona agora geograficamente em dois polos, o do Alfeite e o de Vale de Zebro (este identificado com a Escola de Fuzileiros), e o DAG passou a ser o único responsável pela prestação de serviços a todo o universo do CF, concentrando em si as anteriores tarefas e responsabilidades da BF e dos Departamentos de Apoio da Escola Fuzileiros (EF), o que permitiu desativar esses órgãos. Neste contexto promoveu-se ainda à concentração de paióis, escotarias e oficinas, respeitando-se a repartição geográfica que melhor responde às prioridades e requisitos de prontidão das forças e unidades sediadas em cada um dos polos (Alfeite e Vale de Zebro/EF). Toda esta alteração conceptual teve também implicações ao nível dos modelos de treino, que deixaram de ser responsabilidade das unidades para passarem a ser geridos de forma centralizada (DOP). É este quem agora define os planos, faz a programação, estabelece os objetivos e os padrões e conduz as ações de avaliação. Ao fazê-lo pode também introduzir requisitos específicos de experimentação para ensaiar nova doutrina e conceitos, validar a sua utilidade/aplicabilidade através das ações de avaliação, e rapidamente transforma-los em requisitos de formação, o que permite agilizar todo o processo de implementação doutrinária. Devido à sua proximidade às áreas de treino (Mata da Machada, Troia, Carreira de Tiro da Marinha, pistas de lodo e de destreza, etc.), todas as facilidades de treino passaram a ser geridas pela EF. As forças que se encontram em processo de edificação de padrões – fase que sucede imediatamente à sua geração – passaram a estar sediadas em Vale de Zebro, onde se estabeleceu também o Serviço de Experimentação, Treino e Avaliação (SETA/ DOP). Pensar e fazer diferente A opção de gerar e manter «forças constituídas e ativadas em permanência» difere da anterior lógica de configurar respostas operacionais a partir de «elementos de força» que se encontravam dispersos por unidades independentes. Se pensarmos que até agora os elementos «manobra», «morteiros», «anticarro», «reconhecimento» e «mobilidade terrestre» se encontravam dispersos pelo Batalhão de Fuzileiros número dois (BF2), pela Companhia de Apoio de Fogos (CAF) e pela Companhia de Apoio de Transportes Táticos (CATT), funcionando e treinando segundo requisitos próprios, o treino de força resultava incipiente enquanto tal, e era apenas conduzido durante os grandes exercícios sob a égide do COMNAV. O CF assegurava que os elementos de força desenvolviam proficiências básicas, mas o emprego de uma força-tarefa que agregasse diferentes elementos estaria sempre dependente de um treino dedicado (específico para a missão). Na realidade não seria possível assegurar os elevados níveis de prontidão operacional com tal modelo de geração de forças. Aumentar a prontidão implica maior disponibilidade, maior exigência O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 08:46:48 corpo de fuzileiros na manutenção dos padrões de prontidão, e maior estabilidade na constituição temporal das forças. Alterar a configuração das forças significa mudar a forma de gerar efeitos: há que repensar os conceitos de emprego, as modalidades de ação, o pensamento tático, e, em consequência, a forma como treinamos. Na ótica das forças e dos efeitos, as FFZ estão especialmente vocacionadas para a projeção além horizonte a partir dos navios da esquadra, fazendo uso dos botes de assalto e de pequenos contentores para levar equipamento/armamento «pesado». Conduzem prioritariamente incursões anfíbias, limitadas no espaço e no tempo à autonomia que lhes é dada por aquilo que podem levar consigo (rações, água, munições, etc.). Pretendemos explorar modalidades de emprego próprias da especificidade operacional dos fuzileiros – onde naturalmente se incluem as operações em rios e águas interiores e a dispersão/concentração de força –, procurando gerar efeitos de grande letalidade mas reduzir a pegada (footprint) em terra. Afastamo-nos por isso de lógicas de ocupação do terreno, para nos concentrarmos em algo que é específico e credível para forças anfíbias no contexto das limitações que temos. Já na perspetiva da organização, centralizar serviços e concentrar infraestruturas (como paióis, escotarias, etc.) significa retirar responsabilidades aos comandantes e transferi-las para a estrutura de funcionamento. Ao nível das unidades e das forças deixa de fazer sentido a figura de «quartel-mestre», mas houve que criar e implementar todo um novo conjunto de normas e de procedimentos para permitir atribuir e controlar o armamento e o equipamento. Deixando de dispor de material a cargo e de escotarias e paióis para guardar, puderam ser desativados os grupos de serviço nos Batalhões e criado um grupo de serviço único em cada um dos polos, Alfeite e Vale de Zebro (EF). Tal significa, por exemplo, adaptar procedimentos para monitorizar espaços de lazer e alojamentos fora das horas normais de serviço, a fim de garantir a disciplina e o respeito pelos horários de serviço/descanso. A centralização de serviços possibilita ainda gerar mais-valias funcionais importantes que se podem traduzir em ganhos não só de eficiência mas também de eficácia. A centralização das secretarias e a implementação de um «Gabinete de Apoio ao Utente» permite aumentar o controlo e uniformizar procedimentos, mas reflete uma lógica totalmente nova de tratar os assuntos relativos ao pessoal que requer grande capacidade de adaptação dos comandantes. A centralização das oficinas auto e do planeamento das atividades de manutenção reflete-se num, mais que desejável, «achatamento» da organização e permite-nos ambicionar por melhorias significativas ao nível da manutenção programada, mas porque reduz os níveis de decisão e retira autonomia a alguns atores no processo, gera desconforto e resistências. No plano dos RH existe hoje uma muito maior racionalidade no emprego dos militares que fazem parte do universo do CF, quer pela divisão de tarefas entre os BF1, BF2 e DAE, a que já se aludiu, quer por se assegurar um maior aproveitamento das perícias e competências individuais e coletivas, o que traz implicações na gestão das pessoas. Dispondo as FFZ de quatro pelotões que de base são todos gerados e edificados como «pelotões de manobra», dois desses pelotões desenvolvem posteriormente, através de treino dedicado, valências suplementares em anticarro, morteiros e reconhecimento. Estando os FZV, militares fuzileiros habilitados a conduzir viaturas táticas, integrados nos pelotões, eles podem desempenhar funções em qualquer equipa, incluindo, por exemplo, as equipas de morteiros. Atenta a diversidade de sistemas e de configurações operacionais a adotar, e pensando que as Secções desses novos pelotões funcionam com menos uma praça, em que o sargento comandante de Secção se assume como responsável pela primeira equipa, o destacamento de um qualquer elemento torna virtualmente inoperante uma dessas formações, e, no extremo, pode mesmo redundar na perda de uma valência da própria força. Por isso, se o impacte do destacamento de um FZV no encargo operacional do CF era difícil de quantificar quando estas praças se encontravam colocadas na CATT, onde o seu emprego primário era o de condutor, hoje, dando o melhor uso ao conjunto alargado de competências de que dispõem, são sobretudo empenhados como fuzileiros, pelo que qualquer falha é facilmente refletida nos efeitos que são, ou não, gerados pela força a que pertencem. A racionalização dos RH não se traduz assim e apenas na redução de efetivos: tem igual significado num aproveitamento mais polivalente das pessoas, que se reflete no facto de grande parte dos militares passar a ter um encargo operacional: ou direto, porque se encontra atribuído ao dispositivo de forças, ou em CE, para permitir gerar estruturas de estado-maior e de apoio não permanentes (como o Elemento de Apoio de Serviços em Combate (EASC), responsável por parte significativa das funções logísticas em teatro). A consequência é uma muito maior dependência da estabilidade dos quadros de lotação, o que seria de esperar quando se passa de perto de 2.000 efetivos para uma proposta que não chega aos 1.300. Trata-se, além disso, de um enorme esforço que exige muito das pessoas, não só na perspetiva da alteração das suas rotinas, mas principalmente na forma de pensar a organização e o seu funcionamento. Mais do que assumir funções cuja designação se afasta daquelas que tradicionalmente faziam parte da gíria do CF, e com que sempre se habituaram a viver, a maior dificuldade está no compreender e adaptar-se a formas diferentes de pensar e de agir. Estando conscientes do enorme desafio que esta reestruturação representa, sabemos que somos capazes de a concretizar e de elevar o CF e os fuzileiros a novos patamares de excelência. Para isso temos contado com uma enorme prova de confiança do Almirante CEMA e com grande apoio do Vice-almirante Comandante Naval, sem os quais nada do que conseguimos até hoje teria sido possível. É assim importante que se reconheça que o CF não pode mudar sozinho, e que a transformação seja acompanhada pelos órgãos de gestão superior da Marinha, sem os quais qualquer alteração, por muito bem-intencionada que seja, fica votada ao insucesso. Luís Carlos de Sousa Pereira Contra-almirante Proteção de Força O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Corpo_Fuzileiros_Todos.indd 11 Comandante do Corpo de Fuzileiros 11 02/06/2016 08:46:49 eventos Dia do Combatente 2016 baixas e alguns milhares de prisioneiros foram o resultado mais dramático desse dia. Após a batalha, foi ainda possível constituir três batalhões que foram integrados na linha da frente, onde se mantiveram ate à assinatura do Armistício, a 11 de Novembro de 1918. Foi esta enérgica reacção dos militares portugueses que contribuiu para que Portugal pudesse estar presente no Desfile da Vitória em Paris e participar, ao lado das outras potências, na Conferência de Paz. N o passado dia 09 de Abril tiveram lugar no mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, as cerimónias evocativas do Dia do Combatente: 98.º aniversário da Batalha de La Lys e 80.ª romagem ao túmulo do Soldado Desconhecido. Este ano as cerimónias foram presididas por Sua Ex.ª o Presidente da República, Professor Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, acompanhado pelo Ministro e Secretária de Estado da Defesa Nacional e por todos os Chefes Militares. As cerimónias tiveram início pelas 10:30 horas com uma Missa de Sufrágio pelos Combatentes falecidos, celebrada por Sua Ex.ª Reverendíssima D. Manuel Linda na Igreja do Mosteiro. Terminada a Missa seguiu-se a Cerimónia Militar, sendo as Forças em Parada formadas por um Batalhão conjunto a três companhias, uma de cada Ramo das Forças Armadas e Banda do Exército. Seguidamente à cerimónia militar, as entidades dirigiram-se para a Sala do Capítulo onde teve lugar a homenagem ao Soldado Desconhecido, com a deposição de coroas de flores no respectivo túmulo, acto no qual a Associação de Fuzileiros também participou. No final foram prestadas honras militares aos mortos caídos em defesa da Pátria. Túmulo do Soldado Desconhecido é o nome que recebem os monumentos erigidos pelas nações para honrar os soldados que morreram em tempo de guerra sem que os seus corpos tenham sido identificados, evocando todos os habitantes de um país que morreram em determinado conflito sem identidade conhecida, embora alguns contenham os restos mortais de sodados falecidos durante esses acontecimentos. No dia 09 de Abril de 1921, foram conduzidos para o Mosteiro da Batalha, Templo da Pátria, os dois soldados desconhecidos, vindos da Flandres e da África Portuguesa representando os gloriosos mortos das expedições enviadas aos referidos teatros de operações e simbolizando o sacrifício heróico do Povo Português. A rodear as Forças em Parada encontravam-se dispostos os guiões das diversas Associações de Antigos Combatentes presentes. O Guião da Associação de Fuzileiros era transportado pelo nosso sócio Carlos Ribeiro. Discursaram o Presidente da Liga dos Combatentes e o Presidente da República que enalteceu e homenageou os Combatentes no seu esforço de construção da Nação Portuguesa. Seguiu-se o desfile das Forças em Parada e dos guiões. Esta cerimónia evoca o fatídico dia 09 de Abril de 1918 em que, numa única batalha, em La Lys, França, o Corpo Expedicionário Português foi destroçado, apesar dos seus actos de valentia individuais e com uma resistência heróica. Um grande número de 12 Eventos_DiaCombatente.indd 12 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 10:00:42 notícias Assembleia-Geral Ordinária e Eleitoral 2 de Abril de 2016 N o dia 2 de Abril de 2016, na Sede da Associação de Fuzileiros (AFZ) sita na Rua Miguel Paes n.º 25, no Barreiro, reuniu a Assembleia Geral Ordinária e Eleitoral desta Associação, em função da convocatória efectuada pelo seu Presidente, CAlm José Luís Ferreira Leiria Pinto, que presidiu. Na Ordem de Trabalhos (OT) figuravam os seguintes assuntos: • Apresentação e eventual aprovação do Relatório de Actividades e Contas do exercício de 2015 e do Orçamento para 2016. • Eleição dos titulares dos Órgãos Sociais – Assembleia Geral, Direcção Nacional, Conselho Fiscal e Conselho de Veteranos. Ao iniciar a sessão o Presidente da Mesa convidou todos os presentes a efectuarem um minuto de silêncio em memória dos sócios falecidos, após o que deu a palavra ao Presidente da Direcção para este efectuar a apresentação do Relatório de Actividades de 2015. O Comandante José António Ruivo, Presidente da Direcção, começou por dar as boas-vindas aos elementos presentes e chamou a atenção para o conteúdo dos exemplares dactilografados do Relatório e Contas, largamente difundidos por toda a sala. Esclareceu que, devido à saída do Vice Presidente Leão de Seabra para Cabo Verde em missão de Serviço e também pelo falecimento do outro Vice-Presidente o Dr. Carlos Marques Pinto Pereira, houve que efectuar arranjos na composição do elenco Directivo e, desse modo, o Comandante Benjamim Correia passou a exercer as funções de Vice-Presidente durante parte do último semestre de 2015 e até à presente data. De seguida, expressou votos de muito apreço, quer ao Sargento Mário Gonçalves, quer à Senhora D. Ana, Secretária da Direcção, pelo facto de ambos os elementos serem excelentes colaboradores e executores do dia a dia da AFZ e, por isso mesmo, pessoas a quem a AFZ muito deve. Referiu os numerosos convites que são recebidos na AFZ e as imensas situações em que a AFZ se tem de fazer representar, facto que diz bem da importância e do reconhecimento que a Associação tem junto das mais diversas Entidades, Organismos e Instituições. Informou também que o Conselho de Veteranos se tem reunido e enviado à Direcção algumas ideias e sugestões como, por exemplo, a Comemoração do Aniversário da AFZ. Tem estado a ser feito um trabalho de muito mérito pelas Delegações no aumento do Quadro Social e no envolvimento com as comunidades locais e com as autoridades civis com as quais promovem mútuo e profícuo intercâmbio, de que são exemplos alguns protocolos de colaboração entretanto celebrados, visando a utilidade para os sócios da AFZ. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Noticias+Enderecos+AG+Desembarque+OpenSmile.indd 13 13 02/06/2016 18:39:21 notícias A organização do Dia do Fuzileiro, cuja concretização tem ocorrido no primeiro Sábado de Julho na Escola de Fuzileiros, este ano vai ter de se realizar no segundo Sábado ou seja em 9 de Julho, por razões de envolvimento operacional das Unidades do Corpo e Fuzileiros. Houve, durante o mandato que agora termina, visitas importantes à AFZ como foi o caso do Almirante CEMA e do General Carvalho dos Reis, Chefe da Casa Militar do Presidente da República Cavaco Silva, que muito elogiaram a Associação. Pelo falecimento do Dr. Carlos Marques Pinto Pereira, a responsabilidade da revista “O Desembarque” foi assumida pelo Comandante Benjamim Correia. Foi realizado um apelo para o aparecimento de artigos que possam alimentar a nossa Revista. A Divisão de Desporto tem estado agora mais virada para os mais novos e a Divisão de Cultura e de Memória vai reiniciar a rubrica dos “Contadores de Histórias” que esteve suspensa durante algum tempo, a seguir ao falecimento do Dr. Marques Pinto. O Presidente da Direcção informou ainda que eram precisos livros para a constituição de uma Biblioteca na AFZ onde os sócios pudessem ler ou requisitar, para os lerem e posteriormente devolverem. Já há ofertas... No que toca às Delegações da AFZ, há projectos para alargar o seu número sendo Tomar, Guarda e Trás-os-Montes alguns dos locais onde poderão vir a aparecer novas Delegações; todavia, acrescentou, esta tarefa de ampliação tem de ser sempre devidamente ponderada. Ainda sob o tema das Delegações, como já foi referido, as existentes têm estado a funcionar muito bem embora haja que ter mais cuidado com a execução dos respectivos Orçamentos visando conseguir equilíbrios financeiros. Está em fase que poderemos considerar avançada a criação de uma Delegação da AFZ na Polícia Marítima e que, a concretizar-se, congregará fuzileiros ou militares de outras classes da Polícia Marítima, espalhados por todo o País. O Projecto dos Cadetes do Mar-Fuzileiros foi um tema seguidamente abordado pelo Presidente da Direcção e, neste âmbito, a AFZ continuará a apoiá-lo, como tem feito até aqui, com o pagamento de refeições na Escola de Fuzileiros, com os Uniformes e cedendo a carrinha para transporte. De realçar que este Projecto já está a dar frutos sendo que, a última incorporação de pessoal militar na Escola de Fuzileiros, já contou com elementos provenientes dos Cadetes do Mar. Após esta referência, o Presidente da Mesa da AFZ colocou à Assembleia a possibilidade de alguém querer colocar alguma questão. Como ninguém interveio, foi a vez de se passar à apresentação das Contas do exercício de 2015. Em termos gerais houve menos receita na cobrança de quotas e houve menos proventos da venda de merchandising . Apesar de tudo, houve saldo positivo de mais de 3000 €. Posto à votação, foi o Relatório e Contas aprovado por unanimidade. No que respeita ao Orçamento para 2016, e segundo o Presidente da Direcção, foi o mesmo efectuado com base no de 2015, procurando que os ajustes efectuados consigam, em termos finais, produzir um resultado condizente com o que se pretende. 14 Noticias+Enderecos+AG+Desembarque+OpenSmile.indd 14 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 18:39:22 notícias Posto à votação, foi também este Orçamento para 2016 aprovado por unanimidade e aclamação. De seguida, foi pedida autorização ao Presidente da Mesa para a leitura de uma proposta de Louvor com vista a atribuição da qualidade de Sócio Honorário, a título póstumo, ao Dr. Carlos Alberto Marques Pinto Pereira. Posta à votação, esta proposta foi aprovada por unanimidade. Foi então ocasião para o Presidente da Mesa convidar o Presidente do Conselho Fiscal, Comandante Cardoso Moniz, a dar o seu parecer sobre as Contas da AFZ, já entretanto aprovadas pela Assembleia, parecer esse que se traduziu num Louvor ao documento apresentado pelo Presidente da Direcção e à forma como a gestão da AFZ tinha sido feita durante 2015. Passou-se então à eleição dos Órgãos Sociais da AFZ para o biénio 2016-2017, procedendo-se à votação presencial e à abertura dos envelopes dos votos por correspondência. Feita a contagem verificou-se ter sido esta uma das votações mais participadas de sempre, tendo sido então anunciado pelo Presidente da Mesa da Assembleia que a Lista Única, que oportuamente lhe fora apresentada com os candidatos a titulares dos Órgãos Sociais da AFZ, estava eleita para o Biénio 2016-2017. De seguida, foram os membros eleitos presentes chamados um a um para assinarem o Livro de Actas de Tomada de Posse; verificou-se, no entanto, a ausência de alguns. Para a Direcção a lista integrava como primeiros subscritores os Sócios Originários: n.º 836, José António Ruivo (candidato a Presidente da Direcção), n.º 1351, Benjamim Correia (candidato a Vice-Presidente) e n.º 448, António Maria Caldeira Couto (candidato a Vice-Presidente), para além do restante elenco directivo estatutário. A terminar a sessão, o Presidente da Mesa congratulou-se pelo facto da mesma ter decorrido de modo esclarecido e com elevado sentido cívico o que muito motiva a Direcção agora empossada a prosseguir os objectivos a que se propõe. No final, foi tocado o Hino da Associação que foi também entoado por todos os presentes. A Direcção Revista “O Desembarque” Caros Sócios, Camaradas, Amigos e Colaboradores Permanentes, Antes de mais cumpre agradecer a pronta resposta que vem sendo dada pelos nossos colaboradores mais efectivos e a de todos quantos, embora menos regularmete, nos enviam textos para publicação. Só assim se torna possível manter a edição de “O Desembarque” com a regularidade e qualidade que pretendemos. Mais uma vez recomendamos que os textos devem ser remetidos via correio electrónico, em documento “Word” e as fotografias (se possível legendadas) deverão possuir qualidade gráfica e enviadas como anexos e não já integradas nos textos. Os artigos (cartas ao Director, notícias, crónicas, lendas e narrativas, opinião, cultura e memória, pequenas histórias, poesia, etc., etc.) serão publicados se a Direcção da AFZ e a Redacção de “O Desembarque” considerarem que têm qualidade e estiverem de acordo com a sua linha editorial, sem prejuízo de os textos poderem ser revistos, adaptados e reduzidos se os respectivos autores, expressamente, a tal se não opuserem, quando da remessa dos seus artigos. No caso de, na Redacção da revista, se juntar um número de trabalhos que ultrapasse a dimensão de “O Desembarque” (em princípio, 52 páginas) publicar-se-ão os artigos pela ordem de entrada ou dos registos dos acontecimentos, se a qualidade for considerada equivalente, designadamente, no caso de relatos de convívios ou encontros de que disponhamos de textos e fotos, nas condições de qualidade já definidas. Quanto às Delegações, torna-se imprescindível a sua colaboração atempada, enviando fotos (com qualidade gráfica) dos eventos da sua responsabilidade, acompanhadas de um texto simples e sintético mas que permita aos responsáveis pela edição/publicação da Revista perceberem, minimamente, o evento, ou seja: identificação das Entidades e outros convidados presentes; estimativa total de presenças; impacto do evento na Região/Delegação/AFZ; entre outros aspectos que entendam, por bem, deverem ser tornados públicos. Contamos com todos! A Direcção da AFZ e Redacção de “O Desembarque” O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Noticias+Enderecos+AG+Desembarque+OpenSmile.indd 15 15 02/06/2016 18:39:23 notícias Organograma Figurativo Órgãos e Respectivos Titulares da Associação de Fuzileiros Biénio 2016/2017 Mesa da Assembleia Geral Presidente CALM L. Pinto V/Presidente R. Abreu 3º Secretário L. Rodrigues 2º Secretário M. Santos Conceição 1º Secretário P. Carmona Direcção Presidente J. Ruivo 4º Vogal A. Brandão 2V/Presidente A. Couto V/Presidente B. Correia 5º Vogal 6º Vogal F. Fazeres G. Cambalhota 1º Vogal M. Conceição 2º Vogal Supl. J. Parreira 1º Vogal Supl. M. Seabra Secretário J. Gonçalves 3º Vogal Supl. E. Jesus 3º Vogal J. Ferro 4º Vogal Supl. A. Varandas Conselho Fiscal V/Presidente J. Coisinhas ário M. Conceição Presidente J. Moniz 3º Vogal F. Santos 2º Vogal M. Silva 1º Vogal A. Cipriano Conselho de Veteranos Titulares Eleitos (Números 3 e 4 do Artº 14º do Estatuto) J. Alves E. Ribeiro E. Soares 16 Noticias+Enderecos+AG+Desembarque+OpenSmile.indd 16 J. Talhadas A. C. Silva L. Silva J. Carvalho V. Brazão J. Cardetas alhadas A. Martins O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 18:39:23 notícias Assembleia-Geral do Núcleo da AORN dos Açores Ponta Delgada, 5 de Dezembro de 2015 C omo mote para o presente texto, chamo à colação recordações dos meus tempos de Coimbra. Passar por Coimbra e vivê-la, como estudante, constitui um sentimento único e tão visceralmente singular que a memória transportá-lo-á ad aeternum. A malta à volta da minha idade que, como eu, teve oportunidade de estudar – ou fazer que estudava – na Lusa Atenas, por certo que se recordará dos “casinos” clandestinos que proliferavam pela urbe, com especial incidência nas cercanias da Sé Velha. A minha residência da altura era um desses muitos “poisos”, onde, para além da maralha da casa, arribavam “magos do jogo”, vindos de outras paragens. Como se calcula, tratava-se de jogos de cartas. Para entreter, desde a sueca às copas. Mas, a doer, jogava-se lerpa e, fundamentalmente, poker. Confesso que era mais mirone que jogador! Dos participantes, dava-me gozo perscrutar-lhes os esgares de gáudio ou infortúnio, as “bocas”, os tiques, os bluffs, enfim, as estratégias que cada qual decidia gizar em cada momento do jogo. E, já agora, o êxtase esfusiante quando alguém, diga-se que em escassas ocasiões, fazia um royal street flush, a maior jogada no poker. Um amigo daquela data, jogador experimentado, costumava dizer, com certa graça, que o jogo era como a aviação: sobe-se e desce-se. Queria ele significar que, no jogo, há dias de sorte e o astral sobe, mas também os há de azar e o ânimo cai em queda livre. E era bem verdade! Bem este arrazoado a propósito da “vida” das organizações associativas que, também elas, no seu percurso de vivência colectiva, passam por momentos altos e baixos, o mesmo é dizer, de grande e profícua actividade e outros de manifesta letargia funcional. É este precisamente o caso do Núcleo da AORN (Associação dos Oficiais da Reserva Naval) dos Açores! Constituído há cerca de uma vintena de anos, com sede própria há quinze, como já dei conta nas páginas desta Revista, o Núcleo dos Açores, com reuniões mensais à volta da mesa (tradicionalmente a última quinta-feira de cada mês) passou e viveu momentos de elevado significado, nomeadamente através de pequenas conferências e homenagens a figuras açorianas que, de uma forma directa ou indirecta estiveram ligadas às causas do MAR, pugnando pela defesa dum património natural de valor indimensionável, a que, obviamente, a Marinha está umbilicalmente ligada. Na ocasião, entre muitas outras, recordo as figuras de Vítor Hugo Forjaz, vulcanólogo, professor universitário e membro efectivo da Academia de Marinha, Gustavo Moura, antigo director do Açoriano Oriental, o mais antigo jornal português, fundado em 1835, Manuel Ferreira, jornalista e escritor, bem como Genuíno Madruga, velejador solitário que realizou 2 voltas ao mundo. Mas o nosso Núcleo, como é normal, também passou por momentos de alguma acomodação, de escassez de dinâmica, daí que a convocatória para a presente Assembleia Geral tenha surgido como uma espécie de tónico revitalizador, capaz de reaglutinar um grupo de camaradas que, mais do que um sentimento comum de amizade, sentem a Marinha como um desígnio que lhes tocou desde que um dia usaram o botão de âncora. O local do evento não poderia ter sido melhor escolhido – o Alpendre do “Pico do Cavaco”, apêndice da bela moradia do Comte Carlos Teixeira da Silva, que além de secretário-geral, serviu de anfitrião. A paisagem que dali se desfruta – bela fatia da costa norte da ilha de S. Miguel, com a cidade da Ribeira Grande ao fundo – é simplesmente magnífica, daí o nosso hossana à Mãe Natureza pela sua infinita prodigalidade. Como que querendo sinalizar a “solenidade” do evento, como se alcança numa das fotos que ilustra o presente artigo, erguia-se o garboso Mastro de Sinais, que tem uma história curiosa. Com efeito, foi ele o primeiro da Força de Fuzileiros do Continente (FFC), aquando da criação da Unidade e que, pura e simplesmente se aprestava para ser depositado no lixo, destino indigno para tão preclaro símbolo, quando, jazendo em cima duma viatura da FFC, foi descoberto pelo camarada Teixeira da Silva. Provavelmente condoído com a cena, o nosso camarada encetou as indispensáveis diligências com vista ao seu transporte para a ilha de S. Miguel, o que aconteceu a bordo duma LDG, sendo posteriormente restaurado numa empresa local. Iniciativa deveras feliz que, uma vez coroada de êxito, fê-lo útil de novo, não na retoma da sua matriz essencial de transmissão de sinais à navegação, mas como testemunho de um passado que assim se mantém vivo, e concomitantemente na prestação de homenagem simbólica aos que lhe foram próximos e que vão visitando o “território” de que é guarda fiel e agradecido. Deste mastro com história, altivo e imponente, desfraldavam cinco bandeiras, sendo que três delas (a Nacional, a da Região Autónoma dos Açores e a da União Europeia) se deixavam coabitar com duas outras bem significativas: – A que se lobriga ao galope do mastro é o distintivo de capitão-de-fragata ou de capitão-tenente quando comandante de força naval. É o distintivo que o nosso anfitrião costuma usar nestas reuniões da Marinha (a menos que delas conste algum camarada mais antigo), uma vez que, como costuma dizer com piada, sendo capitão-tenente, considera-se comandante da força naval de sua casa. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Noticias+Enderecos+AG+Desembarque+OpenSmile.indd 17 17 02/06/2016 18:39:24 notícias – A outra bandeira içada a bombordo é um “estandarte pessoal” com as cores dos fuzileiros (vermelho e preto com o branco a uni-los), composta por três triângulos, em cujos centros se podem ver a barretina do Colégio Militar, a âncora da Marinha e o distintivo dos Fuzileiros Especiais, emblemas que, para o próprio, representam valores fundamentais adquiridos nas instituições militares. Sabendo que os “grandes combates” se travam à volta da mesa (neste caso, das mesas), a missão inicial passava por degustar uma “feijoada rica” (quiçá, fruto dos tempos que correm, até uma simples feijoada se aburguesou…), com gelado e o tradicional arroz doce como sobremesas, tudo parcimoniosamente regado com tinto do Douro. Consta que a confecção culinária foi do agrado geral que, à míngua de declaração expressa, ficou inequivocamente demonstrado na inexistência das chamadas “sobras”, que os tempos não estão para desperdícios. Bom prenúncio para os “duros” trabalhos que se avizinhavam! Diga-se, em abono da verdade, que na esteira da boa qualidade das vitualhas, as mesas estavam ornamentadas a preceito, com exposição, em jeito de testemunho, de fotografias alusivas a encontros anteriores que, a par do sempre afectivo cheiro a maresia, constituíram elementos geradores de ambiência genuína e propiciadores de amena cavaqueira, incluindo os tradicionais votos de Boas Festas e Bom Ano Novo. De registar a presença do “Decano” do Núcleo João Bernardo Rodrigues, do 7.º CEORN, que, apesar das inevitáveis maleitas próprias da “avançada juventude”, sempre demonstrou um entusiasmo contagiante na dinamização dos mais variados eventos com centralidade na Marinha. A ordem de trabalhos passou por eleger os corpos sociais do Núcleo da AORN dos Açores, fortalecendo (e cito expressamente a convocatória) “os laços de amizade e camaradagem criados no interior das anteparas dos navios, dentro das paredes da Nau da Pedra, ou molhando os “tomates” na lama do Vale de Zebro”. Como convidados, mantendo os apertados vínculos de aproximação e interacção com todas as manifestações ligadas à Marinha, de que fizeram orgulhosamente parte, apresentaram-se com distinção, o Carlos Silva Graça, o João Brito Subtil, o Amílcar São Miguel e o Manuel Martins que, obviamente, com a sua presença deram mais força e brilho ao evento. Como reza a acta, após o repasto e em jeito de conclave procedeu-se à eleição dos Corpos Sociais do Núcleo, tendo o resultado sido o seguinte: – Mesa da Assembleia Geral: Presidente, Adelino Couto; Vice-Presidente, Miguel Mendes Quinto; Secretário, Carlos Teixeira da Silva. – Direcção: Presidente, João Pedro Carreiro; Secretário, João Gois; Tesoureiro, Francisco Cordovil. Por decisão unânime foi recomendado que se deverá retomar a apresentação de cumprimentos do Núcleo da AORN às entidades navais que comecem as suas comissões de serviço nos Açores, bem como dinamizar a realização de convívios gastronómicos entre pares. E as horas foram passando sem disso termos dado conta. Mais uma jornada de grata convivialidade chegava ao termo quando a noite ia nascendo aos poucos. Como ficou a constar dos anais, cerca das 19.00 horas e, após o navio atracado, a guarnição foi de licença, não tendo havido o cuidado do Comandante ter determinado qual a bordada que ficaria de serviço. E assim houve alguém – por coincidência o anfitrião – que por ali ficou, calcula-se com abnegado prazer, a tratar dos despojos da “Câmara”. Adelino Couto Sóc. Orig. n.º 2382 2.º TEN FZ RN RECOMENDAÇÕES/INFORMAÇÕES/PEDIDOS da Direcção Endereços Electrónicos A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam endereços electrónicos (email) o favor de os remeterem ao Secretariado Nacional ([email protected]) para facilitar as comunicações/informações que se pretende assumam a natureza de constantes e permanentes. É também importante que os sócios mantenham actualizados os seus contactos, as suas moradas, telefones e telemóveis. Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, de todas as regalias de que poderão usufruir, bem como das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da Associação ou dos Associados. Documentos de despesa com saúde A Associação de Fuzileiros, através do seu Secretariado Nacional, disponibiliza aos seus associados o serviço de recepção e encaminhamento, para os serviços competentes, dos documentos de despesas com saúde. 18 Noticias+Enderecos+AG+Desembarque+OpenSmile.indd 18 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 18:39:24 notícias Contadores de Histórias 7 de Maio de 2016 F oram necessários alguns meses de luto e reflexão para todos ganharmos ânimo para retomar a série de eventos “OS CONTADORES DE HISTÓRIAS” que, no âmbito das actividades culturais, se vêm realizando na sede da nossa Associação desde Setembro de 2014 e a que agora se deu continuidade com a quarta edição. Assim, no dia 7 de Maio passado, um grande número de associados, acompanhados de familiares e amigos, teve oportunidade de, mais uma vez, assistir a um espectáculo de nível em que os Contadores de Histórias viram as suas histórias devidamente enquadradas e sublinhadas com um fado a condizer com a temática da história por eles contada. O espectáculo com seis histórias e seis fados, foi preparado para durar duas horas e, inteligentemente dirigido pela Dra. Laurinda Rodrigues, correu fluente e não gerou atrasos. O cartaz anexo remete-nos para as informações sobre os contadores e sobre os artistas que tivemos a honra de escutar desta vez. Após o espectáculo foi tempo de jantar e conviver em ambiente onde a camaragem e espírito FZ pontuaram. Cada FUZILEIRO é uma história ... com muitas histórias lá dentro. Vamos partilhar em ambiente cultural e divertido. FUZILEIRO UMA VEZ... A Direcção Para que estes eventos continuem a ter o sucesso que já adquiriram, vimos despertar os mais distraídos para que apareçam e, se possível, partilhem as suas vivências. Os textos (histórias escritas ou guião sucinto) poderão ser enviados ao Secretariado da Associação de Fuzileiros ([email protected]) ou directamente para a Dr.ª Laurinda Rodrigues ([email protected]). O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Noticias+Enderecos+AG+Desembarque+OpenSmile.indd 19 19 02/06/2016 18:39:25 entrevista Sargento Fuzileiro Ludgero dos Santos Silva O Piçarra A alcunha cola-se-lhe à pele como se de verdadeiro nome se tratasse. De tal modo que, certo dia, ao apresentar-se numa das grandes unidades do CCF, alguém informou o Comandante dessa unidade que se estava a apresentar o Sargento Ludgero Silva. – Quem? Espantou-se o oficial (Comandante Alpoim Calvão). Não me lembro de nenhum sargento com esse nome. – Mas ele está aqui, posso mandar entrar? – Claro!... – Mas este é o “Piçarra” pá! Recebeu-o com a atenção e a afabilidade habitual mas foi dando instruções para que se diligenciasse uma placa de identificação onde constasse “SAR FZE Piçarra” que o Sargento Ludgero Silva passou a usar como sua identificação no uniforme de serviço. era para os amigos que cantava. Nesses tempos era vedeta em Portugal o, internacionalmente conceituado artista, Luís Piçarra. Os camaradas da Marinha, reconhecendo-lhe semelhanças na voz e no estilo, alcunharam-no então de “Piçarra”. E assim ficou e assim continua a ser conhecido o Sargento-ajudante (SAJ) Fuzileiro Ludgero dos Santos Silva, um dos primeiros quatro Fuzileiros Especiais Portugueses. Integrou, juntamente com o Tenente Pascoal Rodrigues e os Marinheiros Monitores Mário Claudino e João Santinhos, o grupo dos quatro militares da Marinha que, tendo sido nomeados para o Curso de Especialização “Command Course” no “Royal Marines Centre” em Inglaterra, o frequentaram com aproveitamento e constituíram o núcleo base dos Fuzileiros modernos. Sendo um artista nato, desde muito novo que na sua terra natal cantava, para diversas plateias, temas de grandes cantores como Tony de Matos, Alberto Ribeiro e Francisco José. Volvidos 55 anos, entendeu o SAJ Ludgero Silva ser o momento de doar a sua boina verde que lhe foi imposta no final do curso nos Royal Marines, para que, juntamente com as dos restantes três camaradas, possa figurar no Museu do Fuzileiro. É um desejo que gostaria de ver concretizado. Quando ingressou na Marinha, sempre que a circunstância se proporcionava, À Associação de Fuzileiros cumpre, também, fazer com que se preserve a Mas porquê “Piçarra”? memória e, formulado o desejo do SAJ Ludgero Silva, logo estabeleceu contactos com o comando da Escola de Fuzileiros (EF), Unidade onde se encontra instalado o Museu do Fuzileiro, no sentido de que este acto de doação da boina fosse sublinhado com uma cerimónia que se pretendia simples mas digna. E foi assim que, no dia 2 de Março de 2016, em cerimónia cheia de significado para todos os Fuzileiros e a que emprestou especial brilho a presença de Sua Excelência o Comandante do Corpo de Fuzileiros, CALM Sousa Pereira e de muitas Cerimónia no Salão Nobre da Escola de Fuzileiros 20 Entrevista+Protocolos.indd 20 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:00:10 entrevista outras individualidades do Corpo de Fuzileiros e da Direcção da Associação de Fuzileiros, se cumpriu o desejo deste nosso camarada mais antigo. O Salão Nobre da Escola de Fuzileiros, repleto de Oficiais, Sargentos e Praças, foi o local escolhido para o acto de entrega da boina a que se seguiu um almoço oficial que muito sensibilizou o homenageado e a sua esposa, sempre presente. O “Desembarque” não poderia, assim, ficar alheio a este acontecimento e entendeu ser ocasião de entrevistar o SAJ Ludgero Silva procurando transmitir aos seus leitores aspectos desconhecidos da vida desta personagem multifacetada que, como teremos ocasião de ler, se evidencia como um Fuzileiro de eleição, um artista talentoso e um ser humano extraordinário que adora os seus Fuzileiros e a sua Marinha. Figura singular que alia o fino trato a uma vida cheia de aventuras: Marinheiro da India, Fuzileiro das Áfricas, Instrutor, Combatente na Guiné em duas comissões de serviço e em Moçambique, igualmente em duas comissões. Cantor, poeta, pescador, pai de família... Desemb: Sargento Ludgero Silva (LS), antes de mais “O Desembarque” (Desemb) agradece a oportunidade que nos dá de falar consigo. Agora que decidiu doar a sua boina verde ao Museu do Fuzileiro pensamos que os nossos leitores quererão saber um pouco mais de si. Falemos então um pouco da sua vida mas, fundamentalmente, da sua longa experiência militar. Sendo um alentejano “de gema”, como faz questão de realçar, como aconteceu a sua vinda para a Marinha? LS: Nasci em Odemira, vim para Lisboa com 14 anos e aos 17, depois de ter trabalhado nas oficinas do Arsenal do Alfeite na oficina de ferraria durante 2 anos , regressei à minha terra. Por ali andei, ajudando os meus pais e dedicando-me às canções, outra das minhas grandes paixões. Aos 21 anos, na idade da inspecção, voluntariei-me para a Marinha, fiquei apto e fui incorporado em Janeiro de 1953. Já me tinha ficado “o bichinho” desde os tempos em que com 17 anos, trabalhei como aprendiz na oficina de ferraria do Arsenal do Alfeite. Fiz a recruta em Vila Franca de Xira e, de seguida, o ITE em Torpedeiro Detector e fui para os navios. Desemb: Em que navios embarcou? LS: Embarquei nos NRP “Dão”, “Lima”, “Tejo” e em quase todos os navios da Marinha, à época. De seguida destaquei para o NRP “Afonso de Albuquerque” que estava em aprontamento para ir para a Índia. Chegamos à Índia em Dezembro de 1954 e por lá estive até Dezembro de 1955. Foi uma comissão normal, ainda sem guerra, a fazer patrulhamento sucessivo a Goa, Damão e Diu. Ainda não havia guerra, que se desencadeou 5 anos depois, mas já se notava alguma tensão. Regressei a Lisboa no NRP “Bartolomeu Dias”. Tendo, entretanto, cumprido os 4 anos de Serviço Militar Obrigatório sem ter entrado nos Quadros Permanentes, fiquei na contingência de ir para a rua. Isto porque o Quadro de Torpedeiro Detector era pequeno e com pouca margem de progressão. Morava nessa altura na Travessa da Oliveira, n.º 13, à Estrela... rua onde foi rodado o filme “O Leão da Estrela”. Certa tarde, estava eu na formatura de licença quando um camarada de Leiria me grita: – Ó Piçarra vai abrir concurso para Monitor. Queres ir? – Faz lá uma proposta por mim... Fez a proposta e assinou por mim mas, por ironia do destino, eu fiquei e ele não entrou. O facto de ser bom nadador muito contribuiu para isso. “Este fica”, disse o oficial que estava a controlar as provas quando viu a minha prova de natação. Dos 20 militares que fizeram o curso, fiquei em 7.º lugar. Fiz o curso e passei a desempenhar funções de monitor. Desemb: Consegue lembrar-se do seu percurso operacional até chegar aos Fuzileiros? LS: Além dos embarques nos navios que atrás mencionei e da comissão na Índia, não me ocorre mais nada de verdadeiramente importante. Depois de ter feito o curso de monitor fiquei três anos e meio a dar instrução a recrutas em Vila Franca de Xira. Entretanto, ainda em Vila Franca de Xira, continuei a formação tendo frequentado o curso de Luta e Esgrima em Mafra, tendo depois continuado na instrução. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Entrevista+Protocolos.indd 21 Lourenço Marques,1973 – Num convívio com o Cte Azevedo Soares e outros familiares e amigos 21 02/06/2016 09:00:12 entrevista Em 1960, estava eu na Escola Naval a representar a Escola de Alunos Marinheiros nos campeonatos de natação da Marinha, quando fui chamado de urgência para me apresentar no Corpo de Marinheiros, mais tarde o Grupo N.º 2 de Escolas da Armada (G2 EA). No dia seguinte fui mandado apresentar no Ministério da Marinha, juntamente com o Santinhos e o Claudino. Os três fomos então apresentados a um oficial que não conhecia e que chegou depois de nós, o TEN Pascoal Rodrigues. Chegou e disse: – Venham comigo, vamos lá acima (a uma Repartição.... não me lembro qual) porque vamos para Inglaterra tirar um curso. Não disse que curso era... talvez por ser um aspecto sigiloso. E lá fomos os três monitores, com o TEN Pascoal Rodrigues, para Inglaterra. Fomos para Londres de avião e ali ficamos dois dias. De combóio fomos depois para Sul, para os Royal Marines, onde frequentámos o curso de dez semanas. Lago Niassa, 1962 – Ao centro, com o Gen Kaúlza de Arriaga e o Cte Sérgio Zilhão Os alunos do curso eram inicialmente 32: 27 ingleses, 1 americano e 4 portugueses. Todos tiveram aproveitamento à excepção do americano. Desemb: E como aconteceu o ingresso nos Fuzileiros? LS: Acabado o curso em Inglaterra, regressámos a Lisboa e fomos os quatro colocados no Corpo de Marinheiros, numa velha coberta, que passou a ser o nosso “Quartel General” e pode dizer-se que aí começaram os Fuzileiros. Aí, só os quatro, ministramos o 1.º curso de Fuzileiros Desemb: Na fase inicial dos Fuzileiros, como foi? Com quem trabalhou e que dificuldades lhe foram postas? LS: Como disse atrás, eramos só os quatro e tivemos de ministrar o 1.º Curso de Fuzileiros que se fez em Portugal. A partir da velha caserna convocou-se o pessoal, fizeram-se provas de selecção e iniciou-se o curso. Mas tudo nasceu do nada. Os quatro fazíamos tudo. O TEN Pascoal Rodrigues, com a nossa colaboração, fez a documentação necessária e avançou-se decididamente com o curso. Eu, por exemplo, dava Ordem Unida, o João dava Educação Física, o TEN Pascoal Rodrigues dava as aulas teóricas, etc.... Não havia nada, quase nenhuns apoios, e foi tudo criado por nós. Faziamos tudo inclusivé os exercícios de campo na Arrábida. Este foi o primeiro e único curso de fuzileiros ministrado no Corpo de Marinheiros (mais tarde G2 EA). Com os homens formados neste primeiro curso, cerca de 90, preparou-se o 1.º Destacamento de Fuzileiros (DFE 1) que foi para Angola e escolheram-se os 15 considerados com melhores características para ficarem dados à Instrução. Nós os quatro, mais estes quinze seleccionados, arrancámos depois com o 2.º Curso de Fuzileiros, agora já em Vale de Zebro. O 1.º Destacamento, comandado pelo 1TEN Metzner, que foi aluno no 1.º Curso, avançou para Angola, como já referi. Dei também instrução ao 2.º Curso de Fuzileiros e, praticamente em simultâneo, entrei no curso de Sargentos sendo ao mesmo tempo aluno e instrutor. Certo dia o Comandante Patrício, ao ver-me na Parada da Escola de Fuzileiros, dizia-me com o ar bem disposto que lhe era peculiar: – Olha o meu instrutor e meu aluno! Isto porque eu lhe tinha dado instrução no 1.º curso, de que ele fez parte como aluno, e depois foi ele meu instrutor no Curso de Sargentos. Desemb: Na fase operacional da sua vida como Fuzileiro que Unidades integrou... comandantes, outros camaradas, etc.? A entrega da boina LS: Saí 2.º Sargento, oriundo do 1.º Curso de Sargentos, no dia 1 de Abril de 1962 e logo integrei o DFE 2 para a Guiné com o 1TEN Vasconcelos Caeiro (do 2.º Curso de Fuzileiros). Regressei e, passados 4 meses, integrei outro Destacamento para Moçambique com o 1TEN Maxfredo Ventura Costa Campos. Com o 1TEN Cabedo fui depois para a Guiné numa Companhia, regressei e, passados 3 meses, integrei novamente uma Companhia para Moçambique comandada pelo então 1TEN Azevedo Soares. Chegámos em Janeiro de 1974 e aí acabou a minha vida operacional porque, logo a seguir, se dá o 25 de Abril. 22 Entrevista+Protocolos.indd 22 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:00:12 entrevista Desemb: Após a Guerra, então designada como Guerra do Ultramar, como se desnvolveu a sua carreira militar? LS: Numa primeira fase, não havendo oficiais para os “Botes e Lanchas” fui nomeado para aquele serviço. Estive lá um ano como Chefe de Serviço. Serviço de muita responsabilidade mas correu tudo sem problemas de maior. Passei depois para o Serviço de Educação Física (no Ginásio e Piscina) substituindo o TEN Pedro Barroso. Aí estive também à volta de um ano. Daqui, sendo o Sargento Ajudante mais antigo, passei para responsável da Messe de Sargentos. Em 1976 passei à Reserva porque andava desgostoso com a situação na Escola de Fuzileiros, naquela época. A nosso ver já não era aquilo que tinhamos projectado e construido. Estava tudo muito confuso! Andava muito nervoso porque me lembrava do que tinhamos passado (os 4 irmãos) e não concordava com o caminho que as coisas pareciam querer levar. Saí em em 1976,, com 23 anos de serviço efectivo, a que se juntava o tempo de Ultramar que contava a dobrar. Faltavam então 11 meses e 17 dias para ter a reforma por inteiro. Os camaradas diziam-me: – Ó Piçarra, tu estás a perder dinheiro! Tens de actualizar o tempo de serviço... E assim fiz. Regressei em 1986. Fui colocado na Escola de Fuzileiros tendo ficado como responsável pelo Museu do Fuzileiro e passei definitivamente à Reserva ao fim de 27 meses, agora com a pensão de reforma completa. Regressei aos Fuzileiros para cumprir pouco mais de 11 meses e acabei por ficar 27. Desemb: Durante uma tão longa vida civil e militar haverá certamente episódios marcantes. Quer falar-nos de algum ou de alguns em particular? LS: Em primeiro gostaria de destacar a comissão na Índia, principalmente a viagem de regresso que foi maravilhosa. Visitámos por três vezes Carachi e, no regresso, saímos de Goa, passámos pelo Irão, onde chegamos na véspera de Natal de 1955, se bem me lembro, Iraque, Kuwait, Áden, Líbano, Grécia, Turquia, França, Espanha, Madeira e Lisboa! Foi uma viagem de diplomacia para tentar atenuar os ataques que Portugal ia sofrendo na ONU por causa das suas colónias. Lembro-me de ser o Almirante Sarmento Rodrigues que exercia a funções diplomáticas nessa viagem. As comissões no Ultramar deixaram a todos excelentes recordações, apesar das dificuldades imensas porque passámos mas a, maior de todas, foi o Curso em Inglaterra, porque mudou, não só a minha vida como deu lastro à criação dos nossos queridos Fuzileiros. Desemb: Fez agora entrega da sua boina de “Marine”, julgo podermos dizer assim, ao Museu do Fuzileiro. Que significa isto para si? LS: Quando nascemos, todos nascemos com um dom para qualquer coisa. Uns cantam, outros jogam à bola, etc.. Eu, não sei porquê, tive a honra de ser chamado para aquele curso em Inglaterra e estar na criação dos Fuzileiros Portugueses. E quando se cria algo que é bom para as outras pessoas, temos orgulho nisso. Compara-se quase a ter um filho. Tenho imenso orgulho em ter sido uma das 4 sementes da obra que cresceu depois. Foi apenas a semente e o que somos hoje é o reconhecimento de que o trabalho que então fizemos foi bem feito. No que é hoje a Escola de Fuzileiros, funcionava então a Oficina de Torpedos. O Sr. Almirante Reboredo, com a colaboração do Cte Maxfredo, concluiu que o espaço era o ideal para a Escola de Fuzileiros e decidu por essa via. Isto porque tinha a Ria, a Ribeira de Vale de Zebro e muito Espaço. Mas, quando chegámos não havia nada... comia-se da panela de ferro. Assinatura do termo de entrega da boina no gabinete do Comandante da Escola de Fuzileiros As coisas foram evoluindo com a vinda de pessoal das diferentes especialidades da Marinha. Ou seja: os “quatro carretos” levantaram a cabeça do motor e puseram-no a trabalhar. Outros vieram depois e mantiveram-no a funcionar. O TEN Pascoal Rodrigues foi o responsável pelas publicações. Por isso, a entrega da minha boina verde ao Museu do Fuzileiro, e espero que os restantes façam o mesmo, representa para mim o esforço que foi feito para criar aquela obra e o desejo de que não sejamos esquecidos no futuro, com votos de que se não deixe cair aquilo que tantos sacrifícios custou, a nós os quatro e a todos os que vieram depois. O meu gosto pelos Fuzileiros é de tal ordem que sou agora, com muito gosto, sócio honorário da Associação de Fuzileiros com a qual colaborei desde o seu início. Ainda a sede era numa rua próxima da Polícia e já era eu quem, mesmo não fazendo ainda parte da Associação, ajudava no que era preciso. Abria e fechava as portas todos os dias e fazia o serviço de Secretaria quando andavam por lá o Cte Viegas, o Cte Salgado Soares, o Cte Metelo de Nápoles e muitos mais prestigiados oficiais, Sargentos e Praças dos Fuzileiros. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Entrevista+Protocolos.indd 23 23 02/06/2016 09:00:13 entrevista Quando a AFZ mudou para as actuais instalações, filmei como estava o edifício para depois se poder comparar com o que é hoje. O ainda filme deve andar por aí... E por lá vou aparecendo, felizmente muitas vezes, para me encontrar e almoçar com os muitos amigos que tenho. Desemb: Sargento Ludgero Silva, foi um prazer enorme ter esta conversa consigo. Penso que será lida com muito interesse pelos nossos leitores. Quer deixar uma mesagem para os Fuzileiros, principalmente para os sócios da Associação de Fuzileiros? LS: A Marinha fez de mim um homem e estou-lhe muito reconhecido por isso. Foi uma vida intensa, muitas vezes dura, mas tudo se ultrapassou e posso dizer que fui feliz na Marinha e sou feliz na minha vida pessoal. A minha mensagem para todos Fuzileiros, actuais e para os que hão-de vir a ser, é esta: “Têm de ganhar a boina com dignidade e com sacrificio e depois honrá-la e respeitá-la durante toda a vida, respeitando também o seu semelhante”. Só assim será um bom Fuzileiro. FUZILEIRO UMA VEZ... FUZILEIRO PRA SEMPRE! Desemb: O Desembarque agradece a sua disponibilidade para esta entrevista e deseja-lhe as maiores felicidades para si e para a sua família. Entrevista conduzida por Benjamim Correia Vice-Presidente e Editor de “O Desembarque” Nota Biográfica De seu nome completo Ludgero dos Santos Silva (LS), nasceu a 5 de Fevereiro de 1932, na frequesia de S. Salvador no Concelho de Odemira, onde viveu até aos 14 anos altura em que migra com a família para Lisboa onde viveu até aos 17. Nesse período e durante 2 anos, trabalhou como aprendiz no Arsenal do Alfeite na oficina de ferraria. Voltou para Odemira onde permaneceu até aos 21, idade com que foi chamado para a inspecção militar. Aí, quando perguntaram quem era voluntário para a Marinha, resoluto, deu um passo em frente. Foi a decisão de uma vida, afirma. Diz com graça que, quando foi incorporado “já tinha comido muito pão da Marinha”, referindo-se assim ao período em que trabalhou no Arsenal do Alfeite. Dado como apto na Marinha, foi incorporado em 21 de Janeiro de 1953 e fez o seu Juramento de Bandeira em 28 de Julho do mesmo ano. Iniciou então a Instrução Técnica Elementar na especialidade de Torpedeiro Detector que terminou com a classificação de “Bom”. Embarcou então em vários navios, nomeadamente, na fragata “Diogo Gomes” e nos Contratorpedeiros “Dão” e “Tejo”. No Aviso de 1.ª Classe “Afonso de Albuquerque” navegou pelos mares da Índia desde Dezembro de 1954 e de onde regressou, integrado na guarnição do Aviso de 1.ª Classe “Bartolomeu Dias”, onde esteve embarcado até Dezembro de 1955. Em Junho de 1956, decide concorrer ao curso de monitor (1.º Grau de Monitores) sendo nomeado, e frequenta no 1.º Semestre de 1956/57, entrando depois para o respectivo quadro onde, ainda nesse mesmo ano, será promovido a 1.º Marinheiro. Estabilizada a carreira militar, em Setembro de 1957, pede autorização para actuar em espectáculos públicos e fazer uso de traje civil. Casa-se entretanto e continua a formação militar com o “Estágio de Esgrima e Combate com baioneta e luta individual”. Depois desta movimentada carreira e possuidor dos cursos mencionados, foi seleccionado para prestar provas para o curso em Inglaterra. Para isso, segundo conta, foi preponderante o facto de ser um bom nadador. “Este fica”, disse o oficial que acompanhou as provas de natação depois de ver o seu desempenho. E ficou! Condecorações atribuídas ao nosso entrevistado: – Medalha de Comportamento Exemplar – Medalha Comemorativa da Expedição Militar à India – Duas Medalhas Comemorativas das Campanhas da Guiné – Medalha de Mérito Militar 3.ª Classe – Duas Medalhas Comemorativas das Campanhas de Moçambique – Medalha de Comportamento Exemplar Prata – Distintivo Especial da Ordem Militar de Torre Espada , do Valor, Lealdade e Mérito 24 Entrevista+Protocolos.indd 24 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:00:13 entrevista O Poeta Este artigo não ficaria completo sem um poema da autoria do Ludgero dos Santos Silva que é dedicado aos seus Fuzileiros: “QUATRO FUZOS” Quatro gotas de água caíram Nos mares dos Descobrimentos Se elevaram nos tempos e saíram Nas histórias, nas praias, e nos ventos. Quem te fêz a tua História? E o orgulho de sermos Gentes? Agora, sem mares e História Todos ficámos descrentes. E os ventos viraram a História No “Cestante” se rumou os proventos Ó Pátria da minha Glória! Quantos mares de sofrimento? Hoje pouco vêmos mares dantes navegados Nem folhas no livro da nossa História Fome, mêdos, todos sofremos Mas não perdemos – a Glória! PROTOCOLOS SUBSCRITOS PELA AFZ (Com vantagens para os Sócios) KéroCuidados Open Smile Presta Serviços a idosos e Famílias Clínica Médica – Presta Serviços Médicos, inclui Méd. Dentista Associação Recreativa e Desportiva Bons Amigos (ARDBA) Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas Grupo Desportivo e Recreativo Unidos da Recosta (GDRUR) Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas Editora Náutica Nacional, Lda. (ENN) Editora de Capitais privados – Edita a Revista de Marinha e também livros Manuel J. Monteiro & Cª, Lda (MJM) Especializada na Comercialização de Electrodomésticos, representa as Marcas: Junex, Vaillant, Gorenje, Dito Sama, Gisowatt e Stiebel Eltron Funerária Central Vila Chã Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada ANASP 30% desconto em todos os serviços Formação e Credenciação Ariston Thermo Group ARISTON Painéis solares e Bombas de calor, Termoacumuladores eléctricos, a gás e Esquentadores, Caldeiras a gás Casa de Repouso São João de Deus Acolhimento em regime interno, possui dois estabelecimentos: Lagoa da Palha, Pinhal Novo e Cabeço Verde, Barreiro Casa de Repouso Quinta da Relva Acolhimento de idosos, lar e cuidados continuados MH Wellness Club Motricidade Humana Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Santo André, Barreiro Kangaroo Health Clube Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Quimiparque, Barreiro GAMMA Grupo de Amigos do Museu de Marinha Universidade Lusófona COFAC – Cooperativa de Formação e Animação Cultural – Lisboa e Porto 10% desconto nas propinas Universidade Lusófona ISES – Instituto Superior de Segurança - Conferências Funerária São Marçal 20% – Canha Montijo SITAVA Instituto Médico Dentário do Barreiro (IMDB) Ortopaulos Parque Campismo – Brejo da Zimbreira, Vila Nova de Mil Fontes Medicina dentária e geral Fabrico e comercialização de próteses e de ortóteses Para mais pormenores, podem consultar o Site da AFZ, o Secretariado Nacional (Tel.: 212 060 079 –Telm.: 927 979 461) ou as nossas Delegações O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Entrevista+Protocolos.indd 25 25 02/06/2016 09:00:13 pensamentos&reflexões Os fuzileiros como uma força expedicionária Alexandre Reis Rodrigues O objetivo deste artigo é falar sobre o emprego dos fuzileiros como uma força expedicionária. Escolhi este tema pelas seguintes três razões. Primeiro, porque o conceito de capacidade expedicionária, sendo especialmente apropriado para lidar com os desafios com que o mundo presentemente se debate, tem uma importância reconhecidamente crescente entre todas as forças armadas. Segundo, porque se trata de um modo de emprego operacional que parece precisamente talhado para tirar partido da mais valia que representam algumas características das marinhas e das forças de fuzileiros, no atual tipo de condução das operações militares. Terceiro, porque ao dar ênfase a essas características estamos a realçar um elemento estruturante e distintivo da cultura e identidade dessas forças, portanto, algo que deve ser cultivado e bem interiorizado no pensamento de todos, como caráter único da sua natureza. Veremos adiante que características são essas. Ninguém tem dúvidas que as capacidades militares do tempo da Guerra Fria não respondem minimamente aos desafios do atual ambiente de segurança que, sendo dominado pela incerteza, requer, em primeira instância, forças com uma elevada adaptabilidade a situações sempre em mudança e preparadas para operar a níveis de conflito que exigem um controlo rigoroso do uso da força. Dantes sabíamos quem era, onde estava e como se comportava o inimigo. Hoje temos que nos manter preparados para lidar com o desconhecido e com um leque variado de situações que ameaçam a paz e a estabilidade no mundo, que podemos agrupar em três grupos: a. Desastres ou calamidades, naturais ou provocados pelo homem; b. Ameaças de várias naturezas à capacidade dos governos de manter a lei e a ordem nos territórios sob o seu controlo (terrorismo, crime organizado, etc.); c. Disputas diversas em resultado de conflitos políticos, étnicos ou religiosos, algumas vezes com uma dimensão regional que não reconhece fronteiras. Vivemos presentemente um ambiente de segurança que, ao contrário do que acontecia no passado, deixou de estar dominado pelas duas superpotências, numa lógica de dois blocos antagónicos. Esta nova realidade, juntamente com o processo de globalização, tornou mais remota a possibilidade de guerras entre países, mas veio alimentar uma proliferação de crises e conflitos, para cuja solução as pequenas potências são hoje também chamadas a dar o seu contributo. Fala-se muito hoje de capacidade expedicionária, a propósito de intervenções militares no exterior para ajudar a resolver este tipo de crises e conflitos, porque - como temos visto –, mesmo distantes, acabam sempre por afetar, direta ou indiretamente, a nossa segurança ou ameaçar os nossos interesses. É a forma que tem sido encontrada para lidar com as fontes diárias de insegurança que ameaçam de forma insuportável muitas regiões do mundo, algumas delas bem próximas da nossa área. No entanto, a utilização do termo capacidade expedicionária é frequentemente objeto de interpretações muito diversas. Começo, então, por esclarecer o meu entendimento. Equipa de fuzileiros em actuação na Somália Fuzileiro em missão de segurança na Bósnia 26 Pensamentos&Reflexoes_Todos+StJames+InstDentario.indd 26 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:16:25 pensamentos&reflexões Elas acabariam por se diluir e tornar-se pouco relevantes se não forem cultivadas como um património de experiências que não pode ser perdido e como base de um estilo de operar que deve ser preservado. As principais – as que fazem a diferença – são as seguintes: a.A preparação específica e treino para operar do mar para a terra, a partir de qualquer tipo de plataforma naval, seja um navio anfíbio, uma fragata ou um submarino e independentemente do meio usado para fazer o movimento navio-terra (meio clássico de desembarque – lancha, bote, “hovercraft” –, helicóptero ou veículo apropriado para uma inserção que esconda a identidade dos que a levam a cabo ou permita de forma plausível negá-la (“encoberta”); Moçambique – Cheias no rio Save Vários autores utilizam a expressão capacidade expedicionária para se referirem genericamente a intervenções militares em território estrangeiro. Outros são um pouco mais específicos, limitando a designação a intervenções em terra, iniciadas e apoiadas exclusivamente (ou primariamente) a partir do mar. Comum a todos os autores é a ideia de que este conceito inclui, de forma quase indissociável, a inserção de forças em terra, qualquer que seja a via utilizada para o movimento navio-terra. Na interpretação que adoto, para que uma operação possa receber a designação de expedicionária precisa de observar, para além dos três aspetos atrás referidos, um certo número de condições. A saber: a. Tem que poder ser desencadeada num curto prazo de tempo, o que implica manter as forças num alto nível de prontidão; b. Deve ter um objetivo limitado, estar organizada para chegar por si própria para resolver o problema, ser de curta duração e ter sustentação logística própria; c. Deve ser considerada no âmbito das chamadas operações de uso limitado de força, portanto, sem atingir o nível de conflito aberto, em clima de guerra. São, por estas razões, intervenções militares muito condicionadas por considerações de natureza política. Alguns autores associam este tipo de emprego da força militar ao exercício de diplomacia coerciva, uma espécie de último recurso, depois de esgotadas todas as outras possibilidades de esforço diplomático, envolvendo, portanto, um certo grau de intimidação sobre um outro estado de modo a levá-lo a alterar a sua atitude e aceitar os termos que se lhe pretendem impor. A interpretação que proponho é mais abrangente. Inclui também a diplomacia cooperativa, modalidade que não contendo qualquer ameaça, visa promover um melhor relacionamento com outros países, ou dar apoio, por exemplo, em missões de boa vontade, junto de amigos e aliados. b.Uma cultura de prontidão para intervir com muito curto aviso prévio. Ou seja, como dizem os fuzileiros americanos, mantendo as mochilas sempre prontas para ir para onde quer que seja necessário. c.Disponibilidade para operar sob condições severas e de grande austeridade, quer durante o trânsito para o local de operação, quer na intervenção em terra propriamente dita, sob o propósito de simplificar, o mais possível, o apoio logístico. c.Uma postura operacional de grande flexibilidade que lhes permite adaptarem-se facilmente a um leque alargado de cenários e tipo de missões, desde a essencialmente militar, ao nível de conflito armado, até às de natureza “diplomática” para estreitamento de laços com forças congéneres de países amigos e partilha de experiências, passando pelas de natureza humanitária e de estabilização que exigem preparação específica para interagir com as comunidades locais e mostrar vontade de investir na melhoria da sua situação. d.A especialização em táticas baseadas essencialmente em movimentações ágeis e no emprego de armamento ligeiro, que lhes permitam intervir com sucesso no terreno sem se enredarem em confrontos que possam comprometer a possibilidade de retirar a qualquer momento e partir para outro local. A questão que se põe é saber como se poderá valorizar a participação dos Fuzileiros na linha de orientação definida no Conceito Estratégico de Defesa Nacional, quando diz que «uma das missões prioritárias das Forças Armadas é contribuir como instrumento do Estado para a segurança internacional, designadamente em missões internacionais de paz, que assegurem o reconhecimento externo de Portugal como um Estado coprodutor de segurança internacional». Para esse objetivo proponho relembrar as características que os tornam especialmente apropriados como força expedicionária e discutir como devem ser organizados. As características É importante que os Fuzileiros conheçam bem e tenham sempre bem presentes as características que os distinguem. Patrulha de fuzileiros em Timor A organização das forças A questão de saber como devem as forças estar organizadas é o aspeto final a que me quero referir. Dentro do constrangimento da dimensão máxima da força, tal como definida a nível político-estratégico, o grande desiderato do processo de decisão sobre a estrutura de força que deve ser adotada – na minha perspetiva – é manter em aberto o mais variado número de possíveis configurações, entre a dimensão máxima e a mínima. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Pensamentos&Reflexoes_Todos+StJames+InstDentario.indd 27 27 02/06/2016 09:16:26 pensamentos&reflexões O objetivo é conseguir escolher, caso a caso, a organização de forças que melhor sirva o propósito estabelecido, se enquadre nos moldes previstos da intervenção e nas capacidades de transporte disponível, seja no âmbito exclusivamente nacional, seja no contexto de participação numa força multinacional. Dentro destes parâmetros, deve existir a possibilidade de organizar os meios, quer na forma de um batalhão ligeiro de desembarque – eventualmente, a dimensão máxima –, quer na forma de um pequeno grupo de operações especiais, passando pela solução intermédia de um grupo ao nível de uma companhia ou equivalente. Uma força de fuzileiros em Bissau escalão batalhão. Enquanto este programa não estiver concretizado, a capacidade de embarque, embora continue em aberto, estará mais limitada. Recordo, no entanto, que na intervenção realizada na Guiné-Bissau, junho de 1998, –, uma operação de evacuação de cidadãos nacionais –, estiveram embarcados na força naval cerca de 140 efetivos dos fuzileiros, com diversas valências operacionais que foram essenciais para o sucesso da operação. Alexandre Reis Rodrigues Sócio n.º 587 Posto de controlo com fuzileiros no Afeganistão A ideia chave é a do conceito de força modular, que, de algum modo, sempre esteve presente na organização operacional do Corpo de Fuzileiros. Tentando, talvez, levá-lo um pouco mais longe, para melhor adaptação à atual imprevisibilidade do ambiente de segurança, admito que possa consistir na definição de um tipo de unidade padrão e vários tipos de módulos especializados, no campo do apoio ao combate e no serviço de apoio a combate, que serão adicionados à unidade padrão, consoante as necessidades específicas de cada caso. OTOCOLO 30 DESCONTO* ÇÃ EIROS ATÉ A minha confiança... A minha segurança... O meu médico! *Condições especiais ao abrigo do Protocolo com a Associação de Fuzileiros até 30% do preço de tabela. IL PR A Esta flexibilidade torna-se especialmente importante enquanto não for concretizada a aquisição, prevista nos planos de reequipamento militar, de um navio que permitirá operar uma força de Dr. Pedro Mota A S S O CI Para emprego operacional, as unidades padrão poderão ser subdivididas em unidades mais pequenas ou agrupadas numa unidade maior, pelo que deve haver um módulo de comando superior pronto para essa eventualidade. INSTITUTO MÉDICO & DENTÁRIO DO BARREIRO O DE FU Z Rua Miguel Bombarda nº 215 Alto Seixalinho • 2830-089 Barreiro T 212 141 145 • M 968 734 073 • [email protected] www.facebook.com/imdbarreiro www.imdbarreiro.pt 28 Pensamentos&Reflexoes_Todos+StJames+InstDentario.indd 28 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:16:28 pensamentos&reflexões A Pátria não pode esperar António Carlos Ribeiro Ramos “ Para haver tudo isto em cada um de nós, bastava antigamente ser português, não era necessário ser santo”; diz-nos o nosso querido Padre António Vieira, quando no seu sermão de Santo António, falava da “candura, da sinceridade e da verdade”. Há nestas palavras um profundo respeito por uma alma portuguesa grandiosa e profunda, por ele idealizada e apreendida como verdadeira, apesar de a sentir já declinante no seu tempo (séc. XVII). Numa carta dirigida ao Conde Hermann Keyserling, datada de 20 de Abril de 1930, em defesa de Portugal, Fernando Pessoa referindo-se à “Grande Alma Portuguesa”, diz que: “Há um Portugal triplo”. “Um nasceu com o próprio país: …alma da própria terra, emotiva sem paixão…enérgica sem sinergia…”. “O terceiro Portugal”… “formou esta parte do espírito português moderno que está em contacto com a aparência do mundo… reflexo mal compreendido do estrangeiro;” Mas, “há uma segunda alma portuguesa. Que “outrora descobriu a terra e os mares;… fortificada “na sombra e no abismo” e hoje, “subterrânea”. Pessoa refere que o Conde, que chegou a Lisboa no dia 15 de Abril de 1930 para visitar o país e proferir uma série de conferências, apenas conhecia o “primeiro” e o “terceiro” Portugal. Mas quanto ao “segundo” Portugal, portador da “Grande Alma Portuguesa”, apenas o viu! Mas não conseguiu compreendê-lo. Numerosos seriam os exemplos, se entre os nossos autores consagrados nos detivéssemos em busca de alusões de natureza semelhante. Ora, nenhum país sobrevive como Nação (nem como país) se não existir consciência nacional. E esta, consciente ou inconscientemente, não pode senão alicerçar-se em torno de uma “Grande Alma” pensada e sentida, ainda que liberta de toda a carga idealista que não contemple a realidade objectiva com a qual terá inevitavelmente que conviver no seu tempo. É isso que engrandece uma Nação! A coexistência simultânea de um número suficiente de indivíduos e de sinergias capazes de lhe manterem o rumo, ou de o mudarem no momento certo, orientados por uma visão clara sobre quais são os valores intemporais, e sobre a subtileza das diferenças que existem entre o bem e o mal. o Mundo sem todavia deixar de ser genuinamente portuguesa. Que o digam os nossos Fuzileiros que cumpriram missões no estrangeiro. Porque eles estão entre os testemunhos vivos desta nossa notável capacidade. Mas como para se colher é preciso semear e criar primeiro, e levando em conta que os fenómenos históricos e sociais demoram tempo a surtir efeito, bom ou mau, vem a propósito apresentar uma opinião que subscrevo integralmente, apresentada por um jovem e admirável cientista polar português, o Dr. José Xavier, na sua obra “Experiência Antárctica”: “Em Portugal é necessário estimular algo a que chamamos a cultura do herói não numa perspectiva de idolatrar pessoas mas sim de nos inspirar a sermos melhores na nossa vida e na nossa carreira, a sermos mais exigentes e mais profissionais, connosco próprios e com os outros, e a sermos mais fortes e felizes, a andarmos mais bem-dispostos e a enfrentarmos melhor as dificuldades da vida. Em vários países essa cultura é muito evidente”. E acrescenta referindo a propósito, uma breve troca de palavras simples que teve com um outro cientista, já veterano, que encontrou na base científica britânica de Bird Island (Peter Prince), admirado como exemplo a seguir e profundamente respeitado por todos pelo “seu excelente trabalho ao longo de toda a sua vida…”, concluindo que, aqueles efémeros segundos em que conversaram o terão inspirado a “trabalhar mais e melhor todos os dias…”. Nos dias de hoje mais do que nunca, levando em conta o desenvolvimento dos meios tecnológicos e científicos disponíveis, a vulnerabilidade de qualquer Nação pode ser muito abrangente. E a perda da consciência nacional pela corrupção ideológica, pela superficialidade instituída e pela indisciplina do pensamento, pelo desligamento da História, pela permissividade emergente da confusão valorativa e pelo desnorte para a vida, desemboca na vulnerabilidade total e posterior sujeição aleatória do país, fonte de infelicidade e de sofrimento para quase toda a sua população. É importante recriar a Pátria! Coesa e próspera. Podem esperar os desígnios dos que se lhe opõem. Mas a Pátria… a Pátria não pode esperar! Acresce a isto, que apesar dos seus revezes, os Portugueses conservam ainda intacta toda uma extraordinária vertente humanista que nos honra e que nos valoriza, porque consegue abrir-se para O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Pensamentos&Reflexoes_Todos+StJames+InstDentario.indd 29 António Carlos Ribeiro Ramos Sóc. Efect. n.º 1053 29 02/06/2016 09:16:29 pensamentos&reflexões Aqui sómente encontrarás o que trazes... José Manuel Oliveira Costa H oje o dia estava cinzento com um nevoeiro pesado baixo e persistente acompanhado por descontinuados chuviscos. Era dia de ir ao médico, exame ao coração, cinco ao todo; começaram de manhã e terminaram depois das duas da tarde! Com um trânsito do “arco-da-velha” lá me fui “arrastando” por filas intermináveis, num pára-arranca frustrante e incómodo, deixando-me quantas vezes irritado e sem paciência. Finalmente! Chegámos ao Hospital e a horas… só a partir daí, comecei a acalmar! A Teresa tinha conseguido marcar os exames de forma sequencial e, no mesmo dia. A meio da manhã, num intervalo mais prolongado, resolvemos ir ao Bar do Hospital, no último piso, e ali fazermos horas para o próximo exame aproveitando para tomarmos um café e comermos qualquer coisa. Pelas janelas envidraçadas via-se bem o interminável chapéu de nevoeiro por cima do casario abarcando todo o horizonte. Dei por mim a recordar a nossa estadia nos Açores. Estava de facto um dia que fazia recordar os dias húmidos, chuvosos e pegajosos bem característicos nos Açores! O alvoroço e o desassossego matinal dissiparam-se para dar lugar a uma saborosa serenidade. Também eu, agora e ali, estava caminhando e saboreando, como diz um camarada que muito prezo, incansável peregrino dos Caminhos de Santiago. Sempre que falamos algo me comunica, como que um “recado”, que me deixa a pensar! Embora sentado, no aconchego daquela sala e na companhia da Teresa, apreciando o momento e a vista, fui sendo “encaminhado” para os Açores, de forma especial para a Ilha do Faial, onde vivi, um período sublime da minha vida, na companhia da mulher, dos filhos e, de muitos e bons amigos. O tempo continuava “pegado” e naquela moinha de “molha tolos” sempre presente, acompanhado de forma intermitente, por curtos períodos de chuva fraca. Recordei um primo da Teresa, nado e criado em Moçambique, mais tarde Comandante da TAP e que faleceu, em 1988, devido ao rebentamento de uma bomba que lhe puseram debaixo do carro… dizia ele com graça em dias como este: “Olha lá Zé Manel, choverá t’il ou pingaralhá seulement?” Ainda sorria desta memória quando o médico passou por nós, no Bar, e nos disse que os exames feitos, até ali, estavam bem. Sentia-me confortável na companhia e na estabilidade que a Teresa irradiava e me transmitia. Sempre me tem acompanhado, nesta já longa caminhada plena e cheia de tudo, o que me permite recordar o tempo, que vai passando cada vez mais lentamente… dando-me, mais tempo, para saborear a vida! De novo esse Peregrino de Santiago se juntou aos meus pensamentos. Quando, no fim do ano passado, fazia mais uma peregrinação pelo “Caminho Francês” sofreu um acidente, uma aparatosa e feia queda, que o obrigou a suspender a caminhada esperando agora, já recuperado, terminá-la neste ano de 2016. Nem sempre as linhas são direitas! Antes do aparatoso acidente pernoitou num “Auberge” onde, numa placa colocada na entrada, estava gravada a seguinte frase “Aqui somente encontrarás o que trazes”. Da janela observava o tempo, que continuava na mesma, convidando-me a procurar o que trago comigo para o recordar e melhor saborear. Que possas também continuar com a tua caminhada, partilhando e saboreando, o que contigo levas. Num dia de chuva, 22JAN2016 . CMG Oliveira Costa Sóc. Efect. n.º 2423 30 Pensamentos&Reflexoes_Todos+StJames+InstDentario.indd 30 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:16:31 cultura&memória A visita da Rainha Nhakatolo Chilombo, Leste de Angola – 1974 José Ruivo N hakatolo Tchissengo, acompanhada pelo príncipe consorte Alberto Candembe, alfaiate de profissão, e por Kakengue, soba do quimbo (aldeia) do Chilombo, deslocava-se em direção ao aquartelamento do Destacamento n.º 6 de Fuzileiros Especiais instalado no Chilombo, na margem do rio Zambeze, no designado saliente do Cazombo, Leste de Angola, com a altivez, a simplicidade e a segurança de uma rainha. Vinha em visita oficial, no âmbito da missão habitual de governo do seu povo. Para organizar a visita ao Destacamento e acompanhar a Rainha, foi nomeado oficial do protocolo o STEN FZE Paiva e Pona. Era a meio da manhã, quando o calor já começava a apertar. Educada e simpaticamente terá oferecido à Rainha um chá e uns scones. Mas ela, pequenina e viva, sorrindo com um olhinho maroto, pediu: “Ténénté não pode ser antes uma cérveja?” Claro que rapidamente apareceram cervejas para toda a comitiva. De notar que este bem precioso àquela hora de sol e calor era ainda mais valioso, no nosso caso, porque dispunhamos de geladeira. O certo é que as relações diplomáticas entre o povo Português (aqui representado modestamente pelos fuzileiros do Chilombo) e o povo dos Luenas, na pessoa da sua Rainha, se estreitaram naquela manhã de calor africano e se fortaleceram à custa de uma boa quantidade de cervejas que, só à sua conta, a senhora bebeu. Descendia de uma velha linhagem de matriarcas – em África, o poder tribal assente numa liderança feminina e transmitido pela mesma via, por direito próprio e não por contingência sucessória, foi relativamente frequente e, por isso mesmo, diverso da norma vigente das sociedades ocidentais. Nhakatolo era a rainha dos Luenas, povo também designado por Luvale, tribos residentes no Alto Zambeze, reino cujos contornos geográficos não coincidiam com as fronteiras oficiais do território de Angola, estendia-se por uma vasta região que ia desde uma zona a sul do Congo (de onde provinham os seus antepassados) até à zona da actual Zâmbia, para lá das margens do rio Zambeze. Na sequência das disputas fronteiriças entre os colonizadores europeus, em finais do século XIX, a fronteira de Angola acabou por ser definida por arbitragem do rei de Itália em 1905, deixando os Luenas repartidos por Belgas, Ingleses e Portugueses, em três colónias (hoje Estados) diferentes. A força de união deste povo, mantido geograficamente disperso, mas culturalmente coeso, é o resultado de uma liderança no feminino, em que sobressai a figura da rainha Nhakatolo Ngambo (falecida em 1914 e cujo túmulo, no Lucusse, é hoje monumento nacional), da neta que lhe sucedeu, Nhakatola Kutemba (falecida em 1956) e sua filha Nhakatolo Tchissengo que nos visitou. dos seus súbditos, manter a coesão no seu Reino e estabelecer parcerias com as autoridades civis ou militares que, exercendo outras formas de poder num mesmo espaço territorial, eram essenciais às boas relações, à paz e ao progresso do seu povo. A linhagem de rainhas Nhakatolo tinha por tradição prosseguir uma política de diplomacia inteligente, num equilíbrio que era um misto de aceitação interessada das autoridades dominantes e de defesa dos interesses próprios e dos valores fundamentais das suas gentes. A ligação à terra, o lugar fundamental da mulher que é quem dá de comer aos filhos, a preservação da paz e das boas relações com os poderes dominantes como elemento de protecção filial e de garantia de continuidade, tornaram esta cultura tribal diferente do que seria uma liderança masculina mais beligerante. Talvez tenha sido esta a sua força. O respeito granjeado por estas mulheres educadas para reinar, trazer a paz e prosperidade ao seu povo ao longo dos tempos e em condições políticas inconstantes e adversas, faziam da rainha Nhakatola que conheci, uma personalidade admirável e admirada. Tal como aconteceu com a sua mãe Nhakatolo Kutemba e a sua bisavó Nhakatolo Ngambo. Tal como hoje acontece com a neta que lhe sucedeu – a atual rainha Lurdes Tchilombo NhaKatolo, de 38 anos de idade, criada e educada pela sua avó, que tomou posse em 2004, e que é ouvida com respeito pelas autoridades oficiais. Conta-se uma história que muito diz sobre a personalidade da Rainha Tchissengo, passada em finais dos anos 50 do século passado. O médico português especialista em lepra Eduardo Ricou (pai da Tereza Ricou), radicado em Angola, visitou a região habitada pelos Luenas numa campanha de vacinação. Certo dia em que se deslocou a uma aldeia onde montou uma mesa debaixo de um frondoso embondeiro, com os seus instrumentos médicos e enfermeiros de apoio, só pode começar a tarefa depois de obtida a formal autorização da Rainha. Esta sentou-se majestosamente numa cadeira ao lado da mesa do médico, mandou içar a bandeira nacional e disse: “agora que já foi içada a bandeira portuguesa, Doutor, pode começar a consulta dos meus súbditos”. Ou outra, em que interpelou o Governador Geral em visita ao distrito do Moxico e se queixou: “Governador, os teus elefantes causam muito prejuizo nas minhas colheitas, manda um caçador dar tiro neles”. E os ditos bichos terão sido abatidos. A este mesmo Governador terá pedido um automóvel estando disposta a pagá-lo em notas, e que, posteriormente, após obtida autorização de Lisboa, lhe terá sido mesmo oferecido. Nhakatola Tchissengo era uma rainha que visitava o seu povo – os Luenas – com a dedicação de uma soberana que tem o dever de acompanhar os problemas O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Cultura&Memoria_Todos+Janotas+StJohns.indd 31 Foi esta a “minha” rainha Nhakatolo, a que conheci em 1974, quando veio de visita a uma parte do seu povo, aquele que habitava a zona leste de Angola e que, por via disso, contactou as autoridades militares aí instaladas. Consta que tinha visitado Portugal, durante a presidência de Craveiro Lopes, numa acção de sensibilização 31 02/06/2016 09:34:01 cultura&memória organizada pelo regime, com quem, interesseiramente ou não, pretendia mostrar boas relações. Naquela época residia para lá da fronteira de Angola, território da Rodésia (actual Zâmbia) e deslocava-se entre as aldeias onde os Luenas se encontravam. Tinha autorização especial para visitar os seus súbditos em território angolano ao abrigo de um tratado de protectorado celebrado com a Coroa Portuguesa em finais do séc. XIX e que sempre foi respeitado. Foi uma das rainhas Nhakatolo que mais marcas deixou, talvez por ter tido uma vida longa e por ter passado por períodos conturbados da história de Angola. Chefiou tribos e acompanhou várias aldeias luenas durante toda a sua juventude, exercendo uma aristocracia natural enquanto a mãe reinava – foi nomeada para assumir o sobado de duas localidades autónomas: Lupache e Luvua antes da morte da sua mãe, em 1956. Sucedeu-lhe formalmente, atravessou duas guerras – a guerra do ultramar e Eduardo Ricou a guerra civil – e veio a falecer em Luanda em 22 de junho de 1992, estando sepultada em Cazombo, na província do Moxico. Em sua homenagem foi inaugurado, em 2012, um lar para a terceira idade que recebeu o nome “Rainha Nhakatolo Tchissengo”. A minha estória da rainha Nhakatolo é um simples contributo para retratar uma rainha tradicional que era uma mulher poderosa, ciente das responsabilidades de governante da sua gente, que tinha a particularidade de ser um povo que não corresponde ao conceito linear de “Uma Pátria, uma Nação, um Território”. O território civil do quadrado do Leste de Angola, desenhado a régua e esquadro, não era a pátria dos Luenas, mas apenas um local onde uma parte deles se instalara, em resultado de um processo migratório de tribos de várias etnias, de acordos e protectorados estabelecidos ao longo de séculos com os países colonizadores e com outras tribos e etnias autóctones. Eduardo Ricou dando consulta aos leprosos na presença da rainha Nhakatolo, em 1956 A visita à povoação e a receção à Rainha foi uma festa especial a que o nosso Comandante, 1TEN EMQ (FZE) Correia Graça e restantes oficiais assistiram, mais uma vez, num concílio que debaixo de uma grande árvore reuniu os mais velhos, os mais importantes representantes dos luenas e as autoridades existentes na zona. De pé, frente à assistência, a rainha discursou em português para o seu povo, dando bons conselhos, talvez cautelas para com o colonizador… mas acreditamos que fossem no espírito de manter o bom relacionamento, usufruindo dos bens possíveis (saúde e educação que, sendo escassas, sempre havia). Desse discurso retivemos três notas: “Os caçadores, quando encontrarem pessoas estranhas, nas suas caçadas, devem informar os fuzileiros. Os pescadores, quando também avistarem pessoas estranhas à povoação, devem informar os fuzileiros. E vós p... lembrem-se que os fuzileiros não têm aqui mãe, nem mulher, nem namorada e, por isso, devem tratá-los bem...”. Depois, houve batuque pela noite fora… Este ritual tradicional, festa que une os Luvale (Luenas) e é um marco da preservação da sua cultura, realiza-se actualmente no dia do falecimento da rainha Chissengo. Na era colonial, realizava-se em Chilombo ou em Lumbala, no período da guerra civil passou para a Zâmbia devido às disputas entre o MPLA e a UNITA e, actualmente, regressou ao leste de Angola, saliente do Cazombo, capital Luena. José António Ruivo Sóc. Orig. n.º 836 32 Cultura&Memoria_Todos+Janotas+StJohns.indd 32 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:34:02 cultura&memória LFG “Lira” Ataque a um combóio naval no rio Cumbijã Guiné 4 de Abril de 1967 E Manuel Lema Santos stas linhas são editadas como uma singela homenagem a todos as guarnições das LFG - Lanchas de Fiscalização Grandes, LFP - Lanchas de Fiscalização Pequenas, LDG - Lanchas de Desembarques Grandes, LDM - Lanchas de Desembarque Médias, LDP - Lanchas de Fiscalização Pequenas, DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais e CF - Companhias de Fuzileiros. De 1965 e até meados de 1968, o dispositivo naval no Sul da Guiné incluia o estacionamento permanente de 1 LFG - Lancha de Fiscalização Grande da classe “Argos” que, por um período de cerca de 12 dias, se mantinha em cruzeiro na área, fiscalizando e patrulhando as bacias hidrográficas dos rios Cumbijã e Cacine, no que era coadjuvada por uma LDM. Também a classe de oficiais da Reserva Naval da Marinha de Guerra integrou sempre as guarnições de todas aquelas unidades navais e de fuzileiros estando sempre presente. Decorrido aquele período era rendida por uma unidade naval idêntica, uma de entre 5 estacionadas na altura naquele teatro: LFG “Cassiopeia”, LFG “Hidra”, LFG “Lira”, LFG “Orion” e LFG “Sagitário”. Homenagem obrigatoriamente extensiva aos aquartelamentos de Catió, Bedanda, Cufar, Cabedu, Cacine, Gadamael e muitos outros no território que sempre nos apoiaram e receberam com Camaradagem e Amizade, sem esquecer igualmente a Força Aérea que representou, muitas vezes, a decisiva diferença entre o combóio passar ou não. Durante os anos de conflito, o Comando de Defesa Marítima da Guiné nunca deixou de abastecer os aquartelamentos que disso dependiam, ainda que para isso fosse necessário enfrentar o temível Cantanhês no rio Cumbijã ou o Tancroal no rio Cacheu, dois dos locais da antiga província da Guiné onde a Marinha de Guerra Portuguesa terá sofrido os maiores revezes em combate, fruto de flagelações, emboscadas e ataques às unidades navais ou nas operações havidas em terra. As bacias hidrográficas dos rios da Guiné foram agrupadas em quatro comandos operacionais denominados de TU (Task Unit), cada uma delas da responsabilidade do Comandante do Destacamento de Fuzileiros Especiais atribuído à TU da área, dispondo para as missões operacionais além do pessoal do Destacamento de 2 LDM e 1 LDP. Assim foram criadas 4 TU correspondentes às principais divisões das bacias hidrográficas do território em áreas de responsabilidade: rio Cacheu; rios Mansoa, Geba e Corubal; rios Grande de Buba e Tombali; rios Cumbijã e Cacine. Mais a Norte, uma LFP - Lancha de Fiscalização Pequena da classe “Bellatrix”, em conjunto com uma LDM, efectuava a fiscalização da área nos rios Tombali e Grande de Buba. Aquelas unidades navais, partilhavam e complementavam o dispositivo naval da área garantindo a segurança da navegação, transportes de pessoas, bens e equipamentos, apoio à população civil e forças militares. Também o abastecimento de víveres e o escoamento de produtos agrícolas eram assegurados por aqueles meios. Com a frequência que a estratégia militar do CDM da Guiné demonstrava como necessária, a Marinha constituia TU (Task Units), no caso um conjunto de unidades navais e embarcações civis, essencialmente integradas por várias LDM e batelões que largavam de Bissau, iniciando o percurso para Sul, com escala e horários previamente definidos para várias localidades e aquartelamentos. Para sul, normalmente a frequência era mensal. Bolama, Catió, o ponto CC (na confluência do rio Cobade com o rio Cumbijã), Cabedu, Impungueda (que servia o aquartelamento de Cufar), Bedanda (porto interior) e ainda Cacine e Gadamael eram escalas habituais, embora alguns destes locais fossem aportados pelas LDG - Lanchas de Desembarque Grandes que, pelo seu porte e complexa manobrabilidade, não tinham acesso a todos eles. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Cultura&Memoria_Todos+Janotas+StJohns.indd 33 33 02/06/2016 09:34:03 cultura&memória A LDM da frente informou serem de flagelação inimiga pela amura de BB, sem que fosse possível localizar correctamente a origem. Foram dadas instruções para manter o silêncio de fogo para que, visualmente, fossem melhor localizadas as armas, pela chama à boca, evitando manobras de diversão do inimigo (IN) com o intuito de desviar a atenção do centro de fogo principal, instalado mais a montante. O desenrolar dos acontecimentos veio corroborar a hipótese. Pelas características hidrográficas do rio Cumbijã, na curva frente a Cadique, delimitando um estreito canal de navegação existente, o combóio via-se forçado a navegar a uma distância de 30 a 40 metros da margem. Precisamente nessa zona, numa extensão de cerca de milha e meia, foi desencadeado violento ataque. Para comandar o combóio naquelas missões era nomeado um oficial de uma Companhia de Fuzileiros ou da Esquadrilha de Lanchas, dos QP ou da Reserva Naval, com uma ou duas esquadras de fuzileiros que reforçavam o dispositivo de protecção e defesa do combóio com pessoal e armamento. Em percursos de maior risco de acções hostis, caso do rio Cumbijã, na zona do Cantanhês, a escolta integrava, nessa área de maior perigo de ataques ou flagelações, uma LFG - Lancha de Fiscalização Grande da classe “Argos”, deslocada do habitual cruzeiro na área do rio Cacine que, por norma e como mais antigo, assumia o comando da escolta (CTU), completada pelo apoio da Força Aérea com uma parelha de aviões Harvard T6. Quando a zona provável de origem da flagelação se encontrava no enfiamento do través do navio testa, toda a margem, numa vasta extensão de cerca de 600 metros que abarcava todo o combóio, irrompeu num fogo intenso de armas, com metralhadora pesada e ligeira, pistolas-metralhadoras e bazookas visando, sem distinção, todas as unidades do combóio. Quase de seguida, foi desencadeado ataque de morteiro com salvas contínuas de projécteis, algumas com o tiro bem regulado, outras com enquadramento sistematicamente longo, com as granadas a deflagrar para lá de meio do rio. Naquele dia, 4 de Abril de 1967, cumprida a rota de ida sem incidentes, iniciou-se então a viagem para juzante, em postos de combate, com o apoio da aviação, rumo à confluência dos rios Cumbijã e Cobade, comboiando duas embarcações civis carregadas com arroz proveniente de Bedanda. Tanto embarcações civis como unidades navais navegavam estrategicamente em coluna, com uma LDM na testa e a outra na cauda do combóio, aproveitando a maré na vazante com os batelões encaixados a meio da coluna. Cada uma das embarcações civis levava uma guarda de fuzileiros constituída por 4 elementos. Comunicações em cima. A LFG “Lira”, em cruzeiro na área e vinda do rio Cacine para o Cumbijã para apoio e escolta ao combóio, mantinha-se interposta entre a cauda do combóio e a margem, ligeiramente caída para ré. Com cerca de um quarto de hora de navegação, para juzante, ouviu-se fogo de rajada de metralhadoras ligeiras da margem esquerda. As unidades navais reagiram instantaneamente e, em conjunto, bateram sistematicamente com Bofors, Oerlinkon e MG 42 toda a área de ataque apoiadas pelos aviões T-6 que sobrevoavam a zona, picando em sucessão e metralhando o local de ataque. A LFG, com máquinas a vante toda a força, interpôs-se entre o combóio e o fogo, protegendo a coluna e batendo cadenciadamente a margem com as peças Bofors de 40 mm apoiadas pelas MG 42 montadas nas asas da ponte, pelo fogo das LDM reforçadas pelos fuzileiros. A cadência de fogo de barragem provocava um ruído ensurdecedor e obrigava a arrefecer os canos das anti-aéreas Boffors com as mangueiras de água ligadas. Os invólucros de latão espalhavam-se fragorosamente pelo convés junto ás peças de vante e de ré(1). 1 Desta acção foi publicado um pequeno ficheiro de vídeo em https:// www.facebook.com/classeargos/ a partir de imagens e som obtidas numa dessas escoltas, em 4 de Abril de 1967. O local, meios envolvidos e acções de fogo são reais, com relato recreado e adaptado com excertos de acções semelhantes noutras datas e também com outras unidades navais. Aqui os lembramos a todos, guarnições de unidades navais, fuzileiros aquartelamentos e também populações civis. 34 Cultura&Memoria_Todos+Janotas+StJohns.indd 34 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:34:05 cultura&memória pela diferença de altura das marés. Seria possível vir a enquadrar, no mesmo enfiamento, todas as unidades que navegassem no local, para montante ou para juzante, oferecendo ao inimigo condições quase ideais para interditar a passagem à navegação. Provavelmente posicionado a cerca de 400 metros do combóio, porquanto se ouvia distintamente o disparo, sentia-se o sopro do projécteis passando sobre as unidades para, decorrido tempo sensivelmente igual, rebentarem na margem oposta junto à água, na bolanha. Na foz do rio Macobum, desaguando na margem esquerda, o combóio inflectiu o rumo para a margem contrária continuando a ser batido intensamente do lado de Cadique, sobretudo com metralhadora pesada e armas ligeiras, enquanto de Cafine rompia também fogo com armas automáticas e morteiro. Entretanto a LFG, ao chegar àquela zona inverteu o rumo e manteve-se frente a Cafine, a efectuar a cobertura de protecção do combóio, voltando a fechar a cauda da coluna, batendo sistematicamente as posições do ataque e calando o inimigo pouco depois. Tinha decorrido uma longa hora e um quarto, sem quaisquer baixas mas com diversos impates nas embarcações e nas LDM. Baixas prováveis no inimigo mas carecendo de confirmação(2). Manuel Lema Santos Sócio Efect. n.º 2189 Com alguma certeza e à medida que a navegação prosseguia, puderam contar-se diversas bocas de fogo de LGF (lança-granadas foguete) postadas ao longo do percurso, possivelmente actuados por atiradores colocados em abrigos, bem como atiradores com armamento portátil. A intensidade de fogo e a extensão da frente inimiga permitiu estimar o grupo em mais de uma centena de homens, todos colocados junto à margem, deitados na bolanha ou em abrigos cavados. Observaram-se mesmo movimentação de alguns, dada a curta distância. Quase simultaneamente, da tabanca de Cafal na margem esquerda, foi feito fogo de canhão sem recuo, embora apenas três ou quatro disparos e mal direccionados. O campo de tiro a partir daquela zona, não era tão afectado pela limitação natural provocada Fontes: Fotos e som de arquivo do autor cedidas por Carlos Dias Souto (CMG) e Jorge Calado Marques (2TEN RN), na data da missão respectivamente os comandante e imediato da LFG “Lira”; colaboração de Fernando Oliveira, então Marinheiro Artilheiro apontador da LFG “Lira”; restantes elementos resultantes de pesquisa e recolha de elementos do Arquivo de Marinha, Núcleo 236A/Coloredo, diversa documentação. 2 Numa nota muito pessoal, este artigo reflecte também uma homenagem ao meu Camarada da Reserva Naval 2TEN RN Jorge Calado Marques do mesmo 8.º CEORN da Escola Naval, então o oficial imediato da LFG “Lira”. Já falecido, eram dele os arquivos de som – tenho a fita original (ou uma cópia) gravada através das vigias de vante – que me tinha cedido sem reservas, conjuntamente com o álbum de fotos que tinha. A imprevisibilidade do destino último que lhe tolheu o percurso de vida impediu-me de lho devolver. Cuidarei de que um dia possa encontrar local e mãos correctas. Tínhamos agendado um almoço em Coimbra que apenas veio a ter lugar, em sua memória, com 3 dos 4 oficiais imediatos do mesmo curso e que desempenharam as mesmas funções, no decorrer do mesmo período, 1966/1968 nas LFG “Orion”, LFG “Hidra” e LFG “Cassiopeia”. RIP Calado Marques! O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Cultura&Memoria_Todos+Janotas+StJohns.indd 35 35 02/06/2016 09:34:06 poesia Ser Fuzileiro por Ana Santos U m FUZILEIRO? E o medo? – Sim, um soldado como os outros. – Talvez não, talvez um pouco mais... talvez um pouco menos. – Conhecem-no, por isso não o temem e para o combater e eliminar, são teimosos, tenazes, quando o instinto os contraria, repetem a cada minuto do dia: “FUUUZOS... PRONTOS!!!” Um pouco menos? E a Morte? – Sim, por não querer ser tanto. – Ao pensar nela, a sua companheira habitual, transfiguram o receio e o pavor, tornando quase igual a própria morte e o amor. Como os outros? Um pouco mais? – Talvez por isso mesmo! Mas, quem são os FUZILEIROS? – Quem faz do perigo o seu pão, do sofrimento o seu irmão e da morte a sua companheira, e se habituou a tê-la sempre à sua mesa e à sua cabeceira, noite e dia, sem perder a alegria e o prazer de viver e de sonhar. Que estranha companhia, mas porquê esse gosto, essa busca da morte de quem todos os seres fogem, mesmo os mais valentes? Mas eles não amam, eles não sofrem? Não são humanos afinal? – São humanos demais, embora parecendo de menos e é esse apenas o seu drama, no seu bornal, no seu cantil, na sua cama, vivem o amor e a morte, e uma eterna inquietação. Há quem diga que o amor e a morte são quase a mesma coisa... – Porque são diferentes! – Para eles são, e vivem num mundo diferente... feito de assombro, de sonho e de quebranto... E a fome? E a sede? E o medo? E a morte? Meio demónio e meio santo? – A fome esquecem-na, quando tudo neles a repele e denuncia vão procurar no espírito o único alimento que a sacia. – Sim, é isso sim talvez o que eles são, mas sentem– se felizes com a sua sorte, pois não distinguem o amor da morte e só se sentem bem a viver nos extremos, o meio termo não existe para eles, nem o amar, nem o querer, nem o lutar, nem o sofrer, isso não sabem o que é, está fora do seu mundo, a sua taça, bebem-na até ao fundo! E a sede? – Sede só têm uma, e essa ninguém a mede, a de fazer melhor, a de chegar primeiro, a de mesmo no alento derradeiro, quando o corpo já parece não ser nosso, gritar ainda: EU QUERO! EU POSSO! E acreditam em Deus? – Sim, ou melhor, creio que Deus habite neles, em origem, não em fidelidade, pois são daqueles poucos a quem Deus estende a mão sem que eles Lha peçam, porque só Lhe pedem o que os outros não querem. Mas assim querem ser melhores que os outros, ser os melhores de todos. – Não. Porque não comparam. Só querem ser melhores que eles próprios, por conforto ou benesses nenhum deles lutou, fiéis a esta ideia: Só provará o pão de Deus quem comeu o que o diabo amassou! É belo mas estranho tudo o que me disseste, porém que dizer deste pobre rapaz? Já que deu a vida, que a sua alma descanse em paz. – A paz para ele nunca quis, não é pois na paz que ele há-de ser feliz. Mas que queria ele então…??? – Não sei, mas antes ou depois que a vida de um FUZILEIRO acabe, nem ele próprio, mas só Deus o sabe. Mas é estranho não querer nem desejar para si mesmo a paz. – Medita nisto: O primeiro FUZILEIRO foi Cristo, porque pregando a paz nunca viveu em paz e até morreu por isso. Compreendo então. Querem ser como Cristo? – Não, também não, isso seria muito, querem apenas isto: Ser FUZILEIROS e viver como tal. Quando as armas pararem. Sente-se o chão estremecer... São os fuzileiros em grupo a marchar ou a correr!? Alma destemida, que põe o próximo em primeiro lugar Alma que chora, enquanto ele vai a marchar... Corre ou marcha, o som do fuzileiro é algo que vai longe e faz o teu coração tremer de emoção... Sua vida é cada dia mais audaz Pois o fuzileiro por mim e por ti Ele tudo faz... Por cada dia uma vida ele salva, por cada vida, ele dá a sua alma... Fuzileiro amigo Anjo de honra e leal Que honras com a tua vida e dedicação A nós e a Portugal... Nota: Extraído, com autorização da autora, de textos postados no Facebook 36 Poesia.indd 36 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:36:01 crónicas Grandes Figuras da História D. Afonso Henriques José Horta Inicio, nesta data, esse empreendimento, para mim uma “epopeia” dado que, desde logo, me assumi como não especialista na matéria. Na realidade, nos dias de hoje, o recurso a meios informáticos permite o acesso a fontes históricas que, até há uns tempos atrás, obrigavam a uma pesquisa bibliográfica morosa, mais complexa e nem sempre acessível. A primeira personalidade que vos proponho é uma figura inolvidável da nossa História. Trata-se do nosso primeiro rei que é, sem sombra de dúvidas, o grande responsável pela fundação do reino de Portugal, D. Afonso I, mais conhecido por D. Afonso Henriques, primeiro soberano de Portugal e da I Dinastia, também designada Dinastia Afonsina (séculos XII a XIV), por ser este o nome do seu primeiro rei. Cognominado “O Conquistador” pelas inúmeras terras conquistadas aos mouros, D. Afonso Henriques governou durante 57 anos, sendo desses, 15 anos como infante e 42 anos como rei. Era filho de D. Henrique de Borgonha e da D. Teresa de Aragão, filha bastarda do rei Afonso VI de Leão e Castela. D. Afonso terá nascido em finais de 1108 ou 1109 (hipótese mais plausível), ano da morte de seu avô (D. Afonso VI), não havendo consenso para o local de nascimento. Alguns autores apontam a cidade de Guimarães, outros Viseu, outros ainda Coimbra, tendo ido viver, depois, para Guimarães… Foi seu aio Egas Moniz que teve um papel preponderante na educação do príncipe. Por volta do ano de 1112 morre seu pai, o conde D. Henrique, tendo ficado sua mãe, D. Teresa, à frente dos destinos do Condado Portucalense. Devido à forte influência política, exercida sobre D. Teresa, pelo fidalgo galego Fernão Peres de Trava (seu favorito), governador do Porto e de Coimbra, o infante revolta-se e com o apoio dos cavaleiros de armas de seu pai e do arcebispo de Braga D. Paio, toma uma posição política oposta à de sua mãe. Arma-se a si próprio cavaleiro, em 1125 (há quem aponte 1122), na catedral de Zamora, no dia de Pentecostes. Em 1127, seu primo, Afonso VII, rei de Leão e Castela, que a si próprio se intitulava imperador de toda a Hispania, invade o Condado e cerca o castelo de Guimarães, para que D. Afonso Henriques lhe prestasse vassalagem, tendo este conseguido que seu primo levantasse o cerco, após reafirmar a sua lealdade. Feitas as pazes com o primo, D. Afonso e seus nobres cavaleiros e seguidores, viram-se para D. Teresa e para o conde Peres de Trava. O conflito com a mãe só viria a ser resolvido no dia 24 de Junho de 1128, no campo de S. Mamede, nos arredores de Guimarães, com a vitória das hostes de D. Afonso Henriques que, a partir daí, assume as rédeas do governo do Condado, oferecido a seu pai por Afonso VI. Em 1130, Afonso VII opõe-se a uma tentativa frustrada de ocupação, por D. Afonso Henriques, de algumas regiões fronteiriças, na Galiza, tendo estes assinado tréguas por dois anos. É neste ano que morre D. Teresa. Nesse tempo, eram dois os grandes objectivos de D. Afonso Henriques: a luta contra Afonso VII e a expansão do território, para sul, expulsando os muçulmanos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_Guimarães#/media/File:Estatua_Dom_Afonso_Henriques.JPG N a minha última crónica, publicada pela revista “O Desembarque” do mês de Março de 2016, anunciei uma segunda “série” de pequenas crónicas, dedicadas à vida e obra, de algumas grandes figuras da História Mundial. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Cronicas_GrandesFiguras+Ariston+Quotaspq.indd 37 Em 1131, prossegue a conquista de novas terras, fazendo D. Afonso da cidade de Coimbra, o centro da sua acção. A par com a expansão nos territórios meridionais, inicia-se a construção do mosteiro de Santa Cruz, naquela cidade. Em 1135 manda construir o castelo de Leiria, de importância fundamental em todo o processo de reconquista. Entretanto, a norte (1136), D. Afonso e seus partidários, levam de vencida um confronto com forças galegas, em Cerneja. Em 1137, D. Afonso tenta outros condados, também a norte, a que se opõe, com sucesso, Afonso VII. Em consequência, é celebrado o tratado de Paz em Tui. Em simultâneo com estes acontecimentos, a norte, os muçulmanos atacam a sul, facto de que resultou a tomada do castelo de Leiria. D. Afonso Henriques volta-se, então, para sul e, em 1139, defronta os mouros na batalha de Ourique. A vitória do nosso rei, em Ourique, é retumbante e, a partir daí, D. Afonso passa a intitular-se rei, facto que não foi reconhecido por seu primo Afonso VII, na sua condição de imperador de toda a Espanha. Em 1140, os cavaleiros de D. Afonso Henriques defrontaram e venceram, os cavaleiros de Afonso VII num importante torneio (ou justa), em Arcos de Valdevez, após a invasão da Galiza, que se seguiu ao rompimento, por D. Afonso, do Tratado de Tui. Este, após a vitória naquele torneio e aproveitando as boas graças da igreja, tenta a aproximação à Santa Sé. Assume, nesta causa, particular relevo a acção do arcebispo de Braga, D. João Peculiar, que faz com que o Papa Inocêncio II aceite a vassalagem de D. Afonso, mediante o pagamento de um censo (quantia que os reis pagavam ao Papa). É assim que se inicia, no ano de 1143, uma nova fase na política de aproximação entre Portugal e a igreja de Roma. O monarca português declara-se vassalo do Papa, contudo este, limitou-se a trata-lo por Dux. Nesse mesmo ano, no dia 5 de Outubro, em Zamora, dá-se a assinatura dum tratado de Paz entre D. Afonso Henriques e Afonso VII, na presença dum representante do Papa, o cardeal Guido de Vico. O rei de 37 02/06/2016 09:38:14 crónicas https://muccamargo.files.wordpress.com/2013/03/dsc02198.jpg que viria, no ano seguinte, a receber foral. Também neste ano, Juromenha e Serpa são conquistadas aos mouros também pel’ “O sem Pavor”. Em 1169, Afonso Henriques doa aos Templários 1/3 das terras que conquistou no Alentejo. Entretanto, as conquistas de Geraldo, no Alentejo, causavam apreensão ao rei de Leão, tanto mais que estas inflectiam, cada vez mais, para leste. Tendo D. Afonso Henriques ido em auxílio de Geraldo, em Badajoz, aproveitou Fernando II um acidente em que D. Afonso partiu uma perna para o aprisionar. A li berdade só lhe foi restituída perante a devolução dos territórios tudenses, não sendo contestadas as terras tomadas a oeste de Badajoz. Castelo de Guimarães Leão e Castela reconhece D. Afonso Henriques como rei e Portugal como reino independente, ficando o reino e o monarca, sob a protecção papal. D. Afonso I, Rex, compromete-se, a partir de então como vassalo da Santa Sé e pelos seus descendentes, ao pagamento de um censo anual no valor de 4 onças de ouro (124 g). Estas negociações arrastaram-se por vários anos e, só em 1179, com o envio pelo papa Alexandre III, da “Bula Manifestis Probatum” é que o reconhecimento formal, por parte da Igreja de Roma, é concedida, mediante o envio, ad hoc, de um presente de mil moedas de ouro. Esta Bula, datada de 23 de Maio, conferia a D. Afonso I o direito à conquista de terras aos muçulmanos, sobre as quais outros príncipes cristãos não tivessem direitos anteriores. Foi nesta Bula que, pela primeira vez, D. Afonso Henriques foi designado como rei, já perto do fim do seu reinado. É coroado rei, nesse mesmo ano, no mosteiro de Alcobaça. Em 1153, funda a abadia cisterciense de Alcobaça que viria a ter um papel muito relevante no desenvolvimento da economia, predominantemente, agrária. Em 1159, ocupa Tui e faz a doação do castelo de Tomar à Ordem do Templo. A partir de 1160, procede à doação de povoações a colonos francos, no centro do país. Neste ano, é ainda celebrado o Tratado de Paz de Celanova, com Fernando II de Leão, com a consequente devolução da cidade de Tui. Três anos depois ocupa Salamanca. Em 1165, celebra, com o rei de Leão, a paz em Pontevedra. Neste ano dá-se a conquista definitiva de Évora, por Geraldo Geraldes, “O sem Pavor”, cidade esta Os muçulmanos passam depois à ofensiva e cercam o rei de Portugal, em Santarém, depois de terem tomado quase todo o Alentejo. D. Afonso foi então auxiliado por Fernando II, por solidariedade cristã, vindo a ser assinadas tréguas com os muçulmanos. A carreira militar de D. Afonso Henriques terminou, praticamente, após o incidente de Badajoz. O resto do seu reinado, a partir daí, dedicou-o à administração do território com a co-regência de seu filho D. Sancho. Neste período, procurou fixar as populações, promoveu o municipalismo e concedeu diversos forais. Nestes anos, contou com a ajuda preciosa de diversas ordens religiosas e militares, designadamente dos Templários, dos Hospitalários e de Sant’Iago, que tiveram papel importante na reconquista, ao que o rei retribuiu com avultadas concessões. Em 1145, D. Afonso casa com D. Mafalda (ou Matilde), filha do conde Amadeu II de Moriana e Sabóia e de Mafalda de Albon, com quem teve 7 filhos, um dos quais, o segundo, D. Sancho, veio a herdar o trono. A partir de 1147, intensifica a conquista de terras mais a sul, tomando de assalto Santarém em Março e, de seguida, cerca Lisboa que só em Outubro se rende, desta feita com a ajuda dos Cruzados. Conquista, também, as localidades de Sintra, Almada e Palmela. Em 1151, falha Alcácer do Sal que só em 1158 conseguiria e quase todo o Alentejo, que mais tarde viria a perder. 38 Cronicas_GrandesFiguras+Ariston+Quotaspq.indd 38 Monumento ao Tratado de Zamora (Lamego) O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:38:15 crónicas Em 1170, D. Afonso faz concessão régia de forais aos muçulmanos livres de Lisboa e outras regiões ao sul do Tejo. Em 1172, dá-se o estabelecimento da Ordem Militar de Santiago, em Portugal. e onde uma força naval portuguesa, comandada por D. Fuas Roupinho, alcaide-mor do castelo de Porto de Mós, derrotou e expulsou, das nossas águas, uma frota muçulmana, de Sevilha, que assolava e pilhava, vários pontos da nossa costa. sepultado, juntamente com D. Mafalda, na igreja de Santa Cruz. Sobe ao trono seu filho, D. Sancho I, que já partilhava com seu pai, desde o incidente de Badajoz, os negócios do reino. Em 1175, é fundada a Ordem Militar de Évora. Nos anos seguintes, D. Fuas faz 2 incursões a Ceuta e é, precisamente aí, na segunda incursão que vem a falecer, em 1182. A primeira Bandeira da nação Portuguesa, com fronteiras não definidas a sul, derivava do escudo de armas de D. Afonso Henriques, sendo depois também adoptada, nos primeiros tempos, por seu filho D. Sancho. Em 1179, para além da “Bula Manifestis Probatum”, são concedidos forais a Santarém e Lisboa. Em 1184, uma ofensiva Almóada recupera vários territórios até à linha do Tejo, com excepção de Évora. Constava dum pano rectangular, branco de prata, tendo sobreposta uma cruz potentea, azul. Em 15 de Julho do ano de 1180, dá-se a batalha do Cabo Espichel, ao largo deste No dia 6 de Dezembro de 1185, D Afonso Henriques morre em Coimbra, onde está José Manuel Carrajola Horta Em 1173, celebra um Tratado de tréguas com Iusuf I, imperador Almóada. Bibliografia – Mattoso, José. 2006. D. Afonso Henriques. 1.ª Ed. Círculo de Leitores. Rio de Mouro. – Saraiva, José H. 1988. História Concisa de Portugal. Publ. Europa-América. 12.ª Ed, Mem Martins. – Serrão, Joaquim V. 1978. História de Portugal. 2.ª Ed. Verbo. Lisboa. – Serrão, Joel. 1976. Pequeno Dicionário de História de Portugal – Iniciativas Editoriais, Lisboa. Sóc. Orig. n.º 485 Endereços na internet – http://www.historiadeportugal.com, acedido em 3 de Abril de 2015. – http://www.arqnet.pt, acedido em 3 de Abril de 2015. – http://www.infopedia.pt/$d.-afonso-henriques, acedido em 3 de Abril de 2015. Sócio da AFZ Participa, colabora e mantém as tuas quotas em dia. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Cronicas_GrandesFiguras+Ariston+Quotaspq.indd 39 39 02/06/2016 09:38:16 cadetes do mar Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros José Talhadas 4.ª Actividade 16 de Janeiro de 2016 Sóc. Orig. n.º 95 Comte UCMF / Mestre da UCMF Afonso Brandão Sóc. Orig. n.º 1277 Mestre da UCMF C onforme Calendário de Actividades da UCCMF, realizou-se no sábado, 16 Janeiro, a visita de estudo ao Museu de Marinha, um dos mais fascinantes locais para conhecer a nossa História Marítima. Na sala de entrada, os cadetes começaram por contemplar o majestoso quadro que assinala as navegações portuguesas e toda a nossa grande Epopeia Marítima. Seguiu-se a sala dos Descobrimentos onde, numa aula interativa, tiveram a oportunidade de se debruçarem sobre o estudo do Tratado de Tordesilhas, das Rotas dos Descobrimentos e principalmente do Caminho Marítimo para a Índia. Identificaram, assim, as rotas traçadas pelos navegadores como Vasco da Gama que usou as cartas marítimas até então conhecidas, para estabelecer uma rota marítima para o oriente. Esta descoberta da Índia foi considerada o início do “Século do Ouro” para Portugal e o seu apogeu como uma nova potência europeia. Os cadetes percorreram depois a sala onde se encontram os expositores com os modelos de cada embarcação que os portugueses tiveram a capacidade de construir e utilizar, notando a sua evolução e adaptação às condições dos mares que iam sendo encontradas e, bem assim, às necessidades militares e comerciais do Império assente no poder naval e na capacidade de manter rotas seguras. Estas embarcações foram utilizadas nas diversas viagens que os portugueses realizaram nos séculos XV e XVI. Foi-lhes explicada toda a composição e a utilização destas embarcações (Caravelas, Naus e Galeões) bem como a vida dos tripulantes a bordo, sem esquecer a grande evolução da Caravela Portuguesa (de velas latinas) para a Caravela Redonda que veio a ficar conhecida como “Caravela de Armada”. Tratava-se de um veleiro robusto, com pequeno calado, que lhe permitia navegar em águas pouco profundas e que incorporava as Armadas como auxiliar de outras embarcações de guerra. Mais tarde surge a Nau, uma embarcação com grande capacidade de transporte para trânsito regular de ida e volta à India, na chamada “carreira da India”, e o Galeão construído para a guerra e que só esporadicamente era utilizado no trafego comercial. Era uma embarcação de combate, muito avançada para a época, devido ao seu armamento e artilharia naval. Tinha como missão a protecção da nossa frota nos mares da Ásia e, principalmente, contra a pirataria na carreira da Índia. No final da visita, os cadetes reuniram com os formadores numa sala onde deram a conhecer os esboços dos seus trabalhos individuais que irão desenvolver para apresentar no Dia dos Cadetes do Mar. 5.ª Actividade 13 de Fevereiro de 2016 O s Cadetes foram recebidos na Escola de Fuzileiros pelo Oficial de Dia que apresentou as boas vindas em nome do Comandante da Escola de Fuzileiros. No período da manhã deram-se início às actividades de formação na área de Aptidão Física – Técnicas de Defesa Pessoal. Assim, os Cadetes começaram por efectuar o aquecimento (condição física geral – mobilidade articular), passando depois à técnica de Defesa Pessoal com pegas cruzadas, em cima, em baixo e pegas de controlo/imobilização. 40 CadetesMar.indd 40 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:43:49 cadetes do mar Seguiu-se Strike (Boxe e Muay thay) – Sequências de 2/3 golpes (directos e pontapés frontais) e Middle KicK sofrendo contra-ataque com queda. Finalmente terminaram com o Jiu-jitsu; Baiana (double leg) e Single Leg, variantes de técnicas de queda, terminando esta aula com relaxamento muscular/articular e alongamentos. sub-temas: Cadete Porta-Flâmula, Porta-Guião e Porta-Estandarte Nacional. Esta formação foi complementada com generalidades sobre os Blocos de Estandartes e Guiões, Constituição dos Blocos e das Escoltas e respectivas posições. Os cadetes seguiram depois para a sala de aula atribuída onde foi ministrada a formação de Comportamento Cívico/Comunidade Naval, sob o tema Regras para uso da Bandeira Nacional. Seguiu-se uma sessão de estudo onde foram revistos os procedimentos dos cadetes na sua formação ao longo das actividades do ano e onde foram igualmente esclarecidas algumas questões colocadas sobre os trabalhos a apresentar no Dia dos Cadetes de Portugal. Na parte da tarde, os cadetes iniciaram a sua formação adquirindo conhecimentos na área de Cerimonial Naval e versando os No final das actividades, os alunos foram transportados de regresso à Estação Fluvial do Barreiro. 6.ª Actividade 5 de Março de 2016 C omo é tradição, também para esta actividade os Cadetes foram recebidos na Escola de Fuzileiros pelo Oficial de Dia que apresentou as boas vindas em nome do Comandante da Escola de Fuzileiros. No período da manhã, deram-se início às actividades de Formação na área de Aptidão Física com a travessia da Pista de Lodo. Os cadetes, acompanhados por um formador da Escola de Fuzileiros, iniciaram assim o primeiro contacto com as novas dificuldades em se movimentarem em terreno pantanoso, procurando criar o alento necessário para enfrentar o sacrifício com a vontade de atingir o objectivo, fortalecer o espírito de grupo e de entreajuda, características necessárias para ultrapassar as dificuldades encontradas ao longo do percurso. No final, depois de um duche retemperador de água quente, um luxo que noutras circunstâncias poderão não ter, ficou a sensação de mais uma conquista e, pricipalmente para os cadetes do 1.º ano, o contacto com esta nova experiência! Seguiu-se a continuação da formação na área de Cerimonial Naval constando de uma aula sobre movimentos do militar armado de espada. Assim, os cadetes aprenderam algumas posições e movimentos com a espada embainhada e desembainhada, a pé firme e em marcha. A instrução terminou com o cadete exercendo funções de Comando de uma Escolta ao Bloco de Estandartes e/ou Porta-Guiões. Na parte da tarde, depois da entrega do fardamento (uniforme n.º 9) no Depósito de Fardamento, iniciou-se o treino da Cerimónia do Dia do Cadete de Portugal a realizar no dia 30 Abril. Seguiu-se o programa/guião dessa cerimónia com o treino dos procedimentos na parada bem como nas salas onde irão ser apresentados os diversos trabalhos individuais dos Cadetes. No final das actividades, os alunos foram transportados de regresso para a Estação Fluvial do Barreiro. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt CadetesMar.indd 41 41 02/06/2016 09:43:52 divisões Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas Torneio Dia Olímpico FPT Pistola AC 10 m e Carabina AC 10 m Textos de Espada Pereira Sóc. Orig. n.º 445 Chefe de Divisão do MALD R ealizou-se, na Carreira de Tiro do Complexo Desportivo do Jamor no passado dia 30 e 31 de Janeiro, o Torneio Dia Olímpico FPT 2016. Este torneio, que se realizou nas modalidades de pistola de ar comprimido a 10 metros (P10) e espingarda de ar comprimido a 10 metros (C10), contou com a participação de dois atletas da AFZ, um em cada modalidade. Disputada a prova de qualificação de ambas as modalidades que contou com os melhores atletas nacionais, foram apurados os atletas para disputar a final olímpica! Nesta alta competição, foram qualificados os dois atletas da AFZ para disputar a final onde obtiveram ambos os atletas o 6.º lugar na Final Olímpica! Aos nossos atletas Rui Rodrigues, em P10, e ao Marcelo Cazassa, em C10, os nossos parabéns pelos resultados obtidos e por terem levando o nome da nossa Associação a um nível tão acima! Saudações desportivas… Troféu JSR em Arma Curta de Recreio a 25 m C om o arranque de mais um ano desportivo, a Secção de Tiro da Associação de Fuzileiros participou em mais uma competição que se realizou no dia 2 de Abril na carreira de tiro da JSR-ACN em Corroios. Com um total de 61 atletas inscritos nos diferentes escalões, a AFZ conquistou o 2.º Lugar em Equipas e o 3.º lugar individual no Escalão HS obtido pelo atleta João Pereira! De salientar o facto de ter conseguido classificar cinco dos seus atletas nos primeiros dez da tabela! Parabéns a todos… Machada em Orientação 42 Divisoes+PinhalNovo+QuotasGr+Ortopaulos.indd 42 I nserido na implementação de novas modalidades desportivas, realizou-se no passado dia 24 de Abril na Mata Nacional da Machada o 2.º evento de Orientação Desportiva da AFZ. Este evento que permitiu relembrar os tempos de “Carta na Mão”, permitiu também aos nossos associados a possibilidade de dar a conhecer aos seus convidados as técnicas de Orientação ministradas nos Cursos de Fuzileiro. Num ambiente descontraído e sem carácter competitivo, as Equipas exploraram o percurso de 6 km à procura das balizas que por vezes se mostraram difíceis de localizar. Com um total de 25 participantes, e sem que ninguém se perdesse, no final do percurso a Baliza n.º 8 ficava localizada no agradável Parque de Merendas da Mata da Machada onde o evento prosseguiu em convívio com uma agradável churrascada para finalizar o dia! O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:42:36 divisões Torneio de Tiro Dia da Marinha 2016 I nserido nas comemorações do Dia da Marinha 2016, realizou-se a 14 e 15 de Maio na Carreira de Tiro do Centro de Educação Física da Armada (CEFA), o Torneio de Tiro do Dia da Marinha disputado nas modalidades de Pistola 25 m (P25) e Pistola de Percussão Central (PPC). Este torneio, realizado com organização conjunta dos três clubes desportivos ligados à Marinha e com modalidade de tiro (AFZ, CPA e CNOCA ), teve este ano como coordenador a AFZ! Com um total de 22 atletas masculinos a participar em PPC e 6 atletas femininos a participar em P25, a competição realizou-se num agradável ambiente desportivo da modalidade onde todos mostraram agrado pela excelência da organização conjunta! A entrega de prémios, realizada no domingo, contou com a presença dos mais altos representantes dos clubes envolvidos, bem como das entidades de Marinha que deram o seu apoio incondicional para que a nossa Instituição mais uma vez brilhasse! Classificação Final PPC – Individual (Escalão Único) 1.º Class. – José Marracho (Clube de Praças da Armada) 2.º Class. – José Costa (Guarda Nacional Republicana ) 3.º Class. – António Durães (Clube de Atiradores do Pessoal da PSP) P25 – Individual (Escalão SS ) 1.ª Class. – Ana Batista (Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar) 2.ª Class. – Patricia Girão (JSR Clube de Tiro) 3.ª Class. – Filipa Marracho (Clube Náutico de Oficiais e Cadetes da Armada) P25 – Individual ( Escalão SJ ) 1.ª Class. – Mafalda Serafim (Sporting Clube de Portugal) A VOSSA ASSOCIAÇÃO VIVE DAS VOSSAS QUOTAS LOJA DAS PAIVAS Tel.: 211 818 829 LOJA DO MONTIJO Tel.: 212 312 290 ORTOPEDIA MONTEIRO Fabrico de Próteses e Ortóteses Unipessoal, Lta. LOJA MATOSINHOS Tel.: 224 969 620 LOJA DA AMADORA Tel.: 214 345 576 LOJA VIANA DO CASTELO [email protected] www.ortopaulos.pt [email protected] ortopedia.monteiro Tel.: 258 811 201 Prezados Camaradas: Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa participação. Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que nos propusemos, é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação, se vai juntando. Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas pode ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusermos a resolver o problema. Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros, no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da Associação e a dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas. Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento. Para obstar a que o quantitativo das quotas se acumule aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses. Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês? Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro à Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano. Solicitamos a todos os Sócios que preencham o impresso para autorização de pagamentos das quotas por débito bancário, sistema que é muito mais cómodo e evita o pagamento de quotas acumuladas. NIB da AFZ 0035 0676 0000 8115 8306 9 (CGD) Informem-se junto do Secretariado Nacional (tel.: 212 060 079, telem.: 927 979 461, email: [email protected]) Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não pagam. Cordiais e amigas saudações associativas. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Divisoes+PinhalNovo+QuotasGr+Ortopaulos.indd 43 A Direcção Nacional 43 02/06/2016 09:42:38 delegações Delegação do Algarve III Prova BTT N o dia 24 de Janeiro de 2016, a Delegação de Fuzileiros do Algarve organizou o III Passeio de BTT/Convívio que contou com uma inesperada e forte adesão de vários camaradas do Barlavento Algarvio. Os participantes começaram a juntar-se no largo da Mexilhoeira da Carregação (Lagoa) logo bem cedo pela manhã e arrancaram para o percurso, reconhecido na véspera, e com cerca de 30 km. Durante o percurso aconteceram muitas situações estranhas ao BTT, sendo de salientar uma emboscada levada a cabo por uma equipa de Air-soft “amalhada” no terreno e os inevitáveis banhos no Rio Arade para os mais “acalorados”. O evento terminou num almoço-convívio e contou com 44 elementos. 5.º Aniversário R ealizou-se, no passado dia 5 de Março de 2016 em Portimão, o 5.º Aniversário da Delegação de Fuzileiros do Algarve que contou com a presença de 100 convidados entre entidades, familiares e amigos que aproveitaram o eterno sol e céu azul algarvio para mais um convívio memorável. Os anfitriões Daniel Caetano (Vice do Clube Naval de Portimão) e Paulo Domingues (Presidente da Delegação de Fuzileiros do Algarve) receberam os convidados de uma forma “aligeirada” deixando todos à vontade para um encontro que se destacou pela forte amizade e convívio entre os todos os presentes. Estiveram no evento, entre outras, as seguintes entidades: o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Sr. Joaquim Castelão Rodrigues; o CALM Cortes Picciochi; o Presidente da Associação de Fuzileiros, CMG António Ruivo; CFR Álvaro Relvas; o 2.º CMDT da EF, CFR Fernandes Gil ; o Patrão-mor do Porto de Portimão, Adérito Pereira; o Chefe da Polícia Marítima de Olhão, Vítor Adão; o Presidente da Delegação de Juromenha/Elvas, Licínio Morgado; o Presidente da Delegação do Douro Litoral, Fernando Mendes; o Presidente do Clube Escola Amizade, João Ferreira; o 44 Delegacoes_Todas+QtRelva+ProtocDFA+PovoaTejo.indd 44 ex-Presidente da Associação de Paraquedistas, Ilídio e o Director do “Hercules Séries”, Sr. António Vitorino. O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 04/06/2016 08:36:03 delegações O almoço descontraído, proporcionou aos presentes excelentes momentos de convívio num vaivém entre o interior do restaurante e a enorme varanda do Clube Naval que paira sobre o Rio Arade. Perto do final da tarde, passou-se aos discursos e trocas de lembranças, momento alto do convívio onde todas as entidades e convidados tiveram oportunidade de deixar uma palavra para a posterioridade, aquecendo o ambiente para o “trinchar” do bolo, dignamente acompanhado pelo brinde com Vinho do Porto que “municiou” o mais marreta para o grito do Fuzileiro. Para o ano 2017, a fasquia promete elevar-se ainda mais um pouco e já está marcado o 6.º Aniversário da DFZA para o dia 4, primeiro sábado de Março de 2017. Ainda de referenciar as presenças de Juan Perea Jurado – Grupo de Operaciones Especiales (Boinas Verdes – Espanha); Luis Lopes e José Mário Parreira da “Rádio Filhos da Escola”; e os camaradas Egas Soares e Mário Manso, grandes referências para todos os Fuzileiros. O dia começou com a recepção aos convidados no salão de honra do Clube Naval de Portimão onde os presentes tiveram a oportunidade de conviver, trocando histórias e memórias e conciliando a atividade com a sempre complicada tarefa de ir provando os petiscos e beberetes perfilados para a ocasião ao estilo static dispay. À hora marcada, os convidados subiram para o tradicional almoço tendo-se observado o habitual “minuto de silêncio”, homenageando os camaradas tombados em defesa da Pátria e os que, entretanto, nos deixaram. PROTOCOLOS subscritos pela DFZA 50% desconto (entradas no parque) para sócios e familiares de 1.º grau AquaShow 15% sobre tarifa balcão (Hotel) para sócios e familiares de 1.º grau Quarteira Ginásio do Sul Olhão Passe mensal free acessos: 25%/mês para sócios e familiares de 1.º grau Cerimónia de homenagem aos combatentes em Lagos A convite da Liga de Combatentes de Lagos, a Delegação de Fuzileiros do Algarve esteve presente com dois elementos, no passado dia 9 de Abril de 2016, numa cerimónia de homenagem aos combatentes mortos ao serviço da Pátria. A cerimónia realizou-se com a participação de outras Associações Militares do Algarve e na Praça Luís de Camões, local simbólico da cidade berço dos descobrimentos tendo sido presidida pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lagos. Delegação de Fuzileiros do Algarve Próximas actividades previstas: – 35.ª Concentração Motos em Faro 14 a 17 de Julho de 2016 – Participação na 37.ª FATACIL (Lagoa) 19 a 28 de Agosto de 2016 – VI Descida Rio Arade 11 de Setembro de 2016 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Delegacoes_Todas+QtRelva+ProtocDFA+PovoaTejo.indd 45 A DFZA convida desde já todos os filhos da escola a constituirem equipa. 45 04/06/2016 08:36:06 delegações Delegação do Douro Litoral Passeio em Bicicleta e Visita ao Museu da Indústria Conserveira da Murtosa N o dia 28 de Maio de 2016, a DFZDL promoveu um passeio de bicicleta. O convite da Câmara Municipal da Murtosa para visitar o museu da “Comur”, fábrica de conservas, foi o pretexto e, como não podia deixar de ser, para o piquenique e convívio. Fomos muito bem recebidos no Museu da Indústria Conserveira e queremos deixar aqui um agradecimento especial ao Dr. Oliveira que, detalhadamente, explicou como se produzem as conservas da enguia e de atum. Foi um são e animado convívio entre camaradas, amigos e suas famílias e que correu muito bem. Percorreram-se de bicicleta os passadiços das rias da Murtosa o que, só por si, vale a pena. O Dr. Oliveira lançou-nos o convite para que, numa próxima oportunidade, provamos um passeio nos barcos da apanha do sargaço com piquenique numa ilha da Murtosa. Julgamos que o convite não será esquecido…. Apresentação do livro “O Outro Lado da Guerra Colonial” A Delegação do Douro Litoral esteve também bem representada, a convite da autora, na apresentação do livro “O Outro Lado da Guerra Colonial”, da jornalista e escritora Dora Alexandre e prefaciado pelo ilustre Professor Adriano Moreira. O evento decorreu na FNAC do Norteshopping tendo sido entrevistados vários ex-combatentes, entre eles o nosso vogal da Direcção, Hernâni da Silva Pinto, que fez comissão em Moçambique integrado no DFE 11 e que, na sua brilhante intervenção, muito dignificou a classe a que pertence e a nossa Delegação. “Ninguém fica para trás” foi a frase por ele utilizada para caracterizar os Fuzileiros! Esta obra “mostra que ainda há muito por contar sobre o conflito português no Ultramar”. 46 Delegacoes_Todas+QtRelva+ProtocDFA+PovoaTejo.indd 46 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 04/06/2016 08:36:07 delegações Delegação de Juromenha/Elvas Cerimónia do Dia do Combatente A Delegação, como habitualmente, marcou presença nas celebrações do Dia do Combatente em Elvas. A cerimónia, promovida pelo Núcleo de Elvas da Liga dos Combatentes, realizou-se na manhã de 11 de Abril de 2016, assinalando o Dia do Combatente e o 98.º aniversário da Batalha de “La Lys”. Na cerimónia, que decorreu junto ao Monumento aos Combatentes situado às portas de Olivença, em Elvas, o nosso camarada Barbado assumiu a representação com o garbo que sempre o identifica. Visita do DFE 10 Comemorações do 6.º Aniversário Moçambique 1974/75 C omemorou-se no dia 4 de Junho com muitos convidados e amigos e de acordo com o programa estabelecido onde pontuou o almoço servido no Restaurante Pirâmides de S. Pedro, no Alandroal. N o passado dia 14 de Maio que a DFE – 10 Moçambique 1974/75, comandado pelo VALM Vargas de Matos, conquistou Juromenha. Foi por ocasião do convívio anual daquela Unidade que a Delegação da Associação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas (DFZJE) teve a honra de receber na sua sede os elementos do DFE 10 e suas famílias. O grupo teve assim oportunidade de visitar a Fortaleza de Juromenha (Castelo) e a sede da DFZJE onde pode tomar conhecimento das actividades daquela Delegação e onde lhes foi servido um aperitivo para o almoço que se seguiu no Restaurante “Sentinela do Guadiana”, que fica logo ali ao lado. Na recepção e almoço esteve envolvida grande parte da Direcção, nomeadamente os seus Presidente e Vice-Presidente. Foi um excelente momento de convívio entre camaradas mais modernos e mais antigos! O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Delegacoes_Todas+QtRelva+ProtocDFA+PovoaTejo.indd 47 47 04/06/2016 08:36:08 convívios Companhia de Fuzileiros N.º 6 Angola 1973/75 – 40 anos depois 26 de Setembro de 2015 N JANEIRO 73, a partida para Angola. JANEIRO 75, o regresso a casa. SETEMBRO 2015, o reencontro, 40 anos depois! ão foi fácil voltar a reunir a guarnição da CF 6, Angola 73/75, talvez porque foi uma unidade “sem Comandante”. De tal forma que durante o convívio, se alguns lamentaram que o Comandante não estivesse presente outros referiram que “não o tinham conhecido”! Coisas da guerra, coisas daqueles tempos! Mas o importante foi que, devido à vontade e persistência de uns poucos, mas fundamentalmente devido ao trabalho, à vontade, à disponibilidade dos grumetes Martinho Alves (121071) e Rui Silva (121571), em 26 de Setembro de 2015 o ponto de encontro voltou a ser a “casa mãe dos Fuzileiros”, a Escola de Fuzileiros. colocados à sua disposição, aproveitaram a oportunidade para REVIVER, contar histórias e outras estórias, prometer outros encontros e reencontros, desejar mutuamente saúde, venturas, longos anos de vida, VIVER DE NOVO! E ficou ainda a promessa de voltarem a reencontrar-se, eventualmente em convívios de outras Unidades de Fuzileiros, nomeadamente daquelas que muitos deles também integraram nesta ou noutras comissões. Este foi o desafio que ficou. João Carmona Como não podia deixar de ser e após os abraços do reencontro, a guarnição começou por reunir na Capela da Escola de Fuzileiros onde o Capelão Nazaré, face à indisponibilidade do Capelão Licínio, fez as honras da cerimónia onde recordámos aqueles que já “partiram”. Daí seguimos para junto ao Monumento ao Fuzileiro e ali, com as honras da ordenança, depusemos uma coroa de flores para homenagear os nossos e todos os outros que já nos deixaram. E para que a CF 6, Angola 73/75, passasse a estar PRESENTE para sempre. também no monumento foi descerrada uma lápide onde está inscrito, enquanto os Homens e a História quiserem, Companhia de Fuzileiros n.º 6 – Angola 1973/75 – PRESENTE! Da Escola de Fuzileiros, a guarnição da CF 6 e suas famílias seguiram para a Quinta da Alegria onde, à volta da mesa e dos acepipes 48 Convivios_Todos+MJM+SnackBar.indd 48 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:51:41 convívios 1.º Curso de Fuzileiros de 2001 15.º Aniversário 13 de Fevereiro de 2016 N o passado dia 13 de Fevereiro de 2016, realizou-se no restaurante da Associação de Fuzileiros no Barreiro o Almoço Comemorativo do 15º aniversário do 1.º Curso de Fuzileiros de 2001. Estiveram presentes no evento 19 Filhos da escola, uns no activo e outros que seguiram suas vidas fora da carreira militar. É sempre agradável relembrar algumas peripécias do curso na Escola de Fuzileiros e nas Unidades Operacionais onde prestamos serviço e cumprimos missões. Para o ano haverá outro almoço, organizado por outros filhos da escola e noutra localidade. É sempre um prazer reviver estes momentos uma vez por ano e espero que dure enquanto vivermos. Victor Lage Cab Fz INFORMAÇÃO aos Sócios Salão Polivalente e de Refeições Informamos os nossos Associados que o Snack-Bar da AFZ, da nossa Sede Social, está em pleno funcionamento após obras de conservação e manutenção. O Salão Polivalente e a cozinha do Snack-Bar foram totalmente remodelados incluindo o mobiliário. Daqui exortamos todos os Sócios a que frequentem a nossa/Vossa Sede, o Bar e o Salão Polivalente e de Refeições e a que, os Camaradas organizadores dos habituais Almoços/ Convívios, consultem sempre a AFZ e/ou o respectivo Concessionário do espaço, porque encontrarão, por certo, condições de relação qualidade/preço muito favoráveis, para além de um ambiente agradável e de muito nível, propício à realização de eventos de qualquer natureza, em que as nostálgicas saudades, as alegrias, a amizade, a solidariedade, as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se podem revelar em toda a sua plenitude. Sugerimos que as marcações de pequenos eventos ou os almoços/convívios sejam, em princípio, marcados com a intervenção do Secretariado Nacional da AFZ (Contactos – telefone: 212 060 079; telemóvel: 927 979 461, email: [email protected]) por razões que têm a ver com a programação dos eventos da iniciativa da Direcção. O Concessionário, cujo novo telefone é o 210 853 030, tem instruções para dar conhecimento à Direcção de todos os eventos e/ou convívios que venham a ocorrer na Sede Nacional, antes de se comprometer na sua realização. Saudações a todos os Sócios e suas Famílias. A Direcção Nacional da AFZ O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Convivios_Todos+MJM+SnackBar.indd 49 49 02/06/2016 09:51:42 convívios 2.º CFORN FZ de 1990/91 25.º Aniversário 14 de Fevereiro de 2016 O 2.º Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval da classe de Fuzileiros de 1990/91 comemorou o seu 25º aniversário na Escola de Fuzileiros no dia 14 de Fevereiro de 2016, precisamente 25 anos depois de o ter iniciado. Foi em 14 de Fevereiro de 1991, que 25 jovens oriundos de vários pontos de país, se reuniram na Escola de Fuzileiros para iniciarem o 2.º CFORN/FZ 1990/91, momento que ficou marcado nas mentes de todos nós, e por isso nos quisemos juntar para assinalar essa data. O evento foi alargado à nossa família, que entretanto foi constituída, tendo por isso os festejos, tido um sabor especial, por podermos partilhar alguns dos melhores momentos que vivemos na casa mãe dos Fuzileiros e fora dela, com aqueles que mais gostamos. E, para compor o ramalhete, não nos esquecemos dos nossos instrutores, tendo também feito questão de comparecer o Capitão-de-Fragata Teixeira e os Sargentos Chefe Lopes e Godinho, não podendo estar presentes fisicamente, por nos terem deixado precocemente, tendo no entanto estado sempre nas nossas lembranças, o 2.º Ten Pimenta e o 1.º Sarg Monteiro, que completavam a equipa de instrutores. O programa das festas iniciou-se com a receção de todos os presentes, feita pelo Sr. Capitão-de-Fragata Pinto Conde, que nos recebeu com amabilidade e simpáticas palavras alusivas ao evento. Seguiu-se o momento mais solene da manhã, que se iniciou com a deposição de uma coroa de flores no Monumento ao Fuzileiro, homenageando dessa forma todos os camaradas falecidos, seguido do descerrar de uma placa alusiva ao 25.º aniversário e a habitual visita ao Museu do Fuzileiro, terminando o evento com um excelente almoço na messe de Oficiais, que teve como sobremesa um bolo alusivo à efeméride. A todos os que de algum modo contribuíram para a realização do evento os nossos agradecimentos e bem hajam. “Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre” 50 Convivios_Todos+MJM+SnackBar.indd 50 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:51:44 convívios Incorporação na Armada de Fevereiro de 1991 25.º Aniversário 20 de Fevereiro de 2016 F az 25 anos que um grupo de jovens rapazes deu início ao que viria a ser, o primeiro grande desafio das suas vidas. A sempre difícil integração à vida militar aconteceu, e durante a primeira semana, a Escola de Fuzileiros recebeu mais de meio milhar de jovens oriundos de toda a parte do país, desde a capital até à mais pequena vila ou lugar do interior. À sua espera estavam provas físicas e psicológicas muito duras, ministradas por instrutores que iriam por à prova os limites da resistência de cada um. Os lemas “Alfa, Alfa, Alfa, dureza feita fibra” e “Bravo, Bravo, Bravo, dos outros somos diferentes”, espicaçavam o espirito de competição das várias turmas, sempre dentro de um grande rigor de disciplina, apanágio da Marinha Portuguesa e bem vincado nos Fuzileiros. As inúmeras provas que se seguiram, foram fazendo gradualmente a seleção das capacidades de cada um, eliminando os menos aptos e fortalecendo os mais capazes, muitas delas só eram ultrapassáveis se imperasse um enorme espirito de união, camaradagem e entre ajuda. O dia do juramento de bandeira, marco na vida de quem foi e é militar, deu a oportunidade de mostrar às namoradas, familiares e amigos a casa onde tinham passado os dois últimos meses, esse dia cravou definitivamente o orgulho de pertencer à Marinha, e engrandeceu a vontade de chegar ao fim, o caminho ainda não tinha chegado a meio e as exigências físicas iriam aumentar exponencialmente. A ITB, é provavelmente o período de tempo que mais “histórias” reúne, as várias provas na Mata da Machada, os tempos a cumprir e melhorar nas Pistas de combate e lodo, os 9 Km com passagem pelo lodo, as saídas para a Mata da Machada e para o Marco do Grilo, os treinos no Rio Coina, os desembarques nas praias do Barreiro, os exercícios em Troia, a travessia do açude, a temível descida do sado, entre muitos e muitos outros exercícios, e claro a Fuzitur, que só alguns tiveram o “prazer” de fazer, fruto da sua irreverência. Ao desgaste físico juntava-se a exigência dos instrutores, muitas das vezes a roçar o cómico, que facilmente levavam os grumetes a cumprirem uma pista de lodo às seis da manhã como castigo, os graus de prontidão sempre feitos em horas que o corpo exigia descanso, ainda hoje alguns nomes colocam estes adultos em sentido, Moreira, Rocha, Pinto, Serrano, Costa, Ferreira, Sabino, O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Convivios_Todos+MJM+SnackBar.indd 51 51 02/06/2016 09:51:45 convívios Arrábida, a ultima passagem pelo Rio Coina, local mais conhecido por “Mike Charlie” e a derradeira entrada pelo Portão da Escola de Fuzileiros, agora sim já nada lhes tiraria a boina azul ferrete da cabeça. O dia de imposição de boinas chegou, dia único na vida dos rapazes que ali chegaram, o orgulho transbordava, eram os melhores do mundo com a boina azul ferrete na cabeça, não é mito, foi mesmo conquistada com sangue, suor e lágrimas. Hoje prestam homenagem a tudo aquilo que passaram, prestam homenagem aos homens que lhes transmitiram os valores e os levaram ao objetivo, hoje sabem o verdadeiro significado. Fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre. Fernandes, Silva Batista, Almeida, Lobato, Madeira, Neves, Oliveira, Henriques, Marcial, Caldeira, Flores, Reis, Afonso, é impossível recordar todos, mas todos eles deixaram marca. FUZOS – PRONTOS DO MAR – PRÁ TERRA DESEMBARCAR – AO ASSALTO DESEMBARCAR – AO ASSALTO O final do curso aproximava-se, as exigências estavam no máximo, os 15 dias em Odemira terminavam com a melhor sopa que alguma vez foi comida, o temível Sado voltava a marcar presença e finalmente a marcha final pela harmoniosa Serra da Luís Arada 1º GRT/FZ 015032/91 P ara assinalar os 25 anos da Incorporação na Armada, os camaradas Rodrigues – 015051/91 e Arada – 015032/91 organizaram o convívio da Escola de Fevereiro de 1991. Foram realizadas várias iniciativas, as quais foram solicitadas e devidamente autorizadas pelo Ex.º CMD da CCF e pelo Ex.ª CMD da Escola de Fuzileiros, aos quais desde já agradecemos: – a ida à Pista de lodo; – o passeio de botes no Rio Coina; – a colocação no Mural da Placa alusiva aos 25 anos da incorporação, a visita ao museu e a respectiva homenagem aos Fuzileiros mortos em combate. Um mundo de soluções para o seu lar... Quero destacar também a presença dos nossos Veteranos Mário Manso e José Manuel Parreira, como também do nosso instrutor Luís Costa que ao longo destes anos nos tem sempre acompanhado. Terminando com um almoço no restaurante da nossa Associação, para o ano cá estaremos, todos juntos para assinalar mais um ano na excelente companhia desta família. “Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre” Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt 52 Convivios_Todos+MJM+SnackBar.indd 52 Rodrigues 1º GRT/FZ 015051/91 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:51:47 convívios Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 13 Guiné 1968/70 9 de Abril de 2016 E m 9 Abril passado, os Fuzileiros do DFE13, acompanhados por Familiares e Amigos, desembarcaram em Atouguia da Baleia (Peniche), a fim de comemorarem o 48.º aniversário do início da sua Comissão na Guiné. Após concentração no adro da muito antiga e bela Igreja de N.ª Sr.ª da Conceição, foi aqui celebrada Missa, durante a qual foram evocados os Mortos da Unidade (em combate e posteriormente), os quais depois também foram homenageados em cerimónia com deposição de coroa de flores junto do Monumento aos Militares naturais de Atouguia da Baleia que morreram no Ultramar, tendo estado presente o Presidente da Junta de Freguesia. A confraternização que se seguiu teve lugar no restaurante “A Bateira”, à volta de uma excelente e abundante caldeirada, em ambiente de muita amizade e recordações e com a animação musical do nosso “artista” Antonino (“Peniche”)! Em momento oportuno, o Comandante do DFE, Almirante Vieira Matias, proferiu uma alocução na qual salientou o excelente comportamento de todos, superando exigentes e duras condições com elevado desempenho operacional que mereceu superior reconhecimento. Referiu também o espírito de unidade criado que tem, aliás, motivado a vontade de estar presente nestes reencontros anuais. A organização do Encontro esteve a cargo dos Antonino Pinto (“Peniche”) e Luís Alves (“Guiné”), de forma muito competente e dedicada. Foram obtidos os apoios dos Comandos do Corpo de Fuzileiros, da Base Naval de Lisboa, da Escola de Fuzileiros e da Direcção de Transportes aos quais muito se agradece. Vasco Brazão CMG FZE (Ref) Sócio n.º 277 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Convivios_Todos+MJM+SnackBar.indd 53 53 02/06/2016 09:51:48 convívios Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 9 Guiné 1964/66 Homenagem ao Ericeira 9 de Abril de 2016 N o dia 9 de Abril de 2016, os Fuzileiros do DFE 9 – Guiné 1964/66 reuniram-se na vila da Ericeira para homenagear o seu camarada de armas, grumete fuzileiro n.º 9549, Eduardo Henriques Pereira, “O Ericeira” que ali, muito justificadamente, dá o seu nome a uma das ruas mais importantes daquela vila piscatória. A Associação de Fuzileiros não poderia deixar de estar presente nesta cerimónia e foi representada no evento pelo seu Vice-Presidente Benjamim Correia. O nosso herói foi de facto um filho daquela terra que se notabilizou pelos feitos em combate, de que rezam os muitos louvores que lhe foram atribuídos e cuja recordação permanece viva nas memórias dos que ao seu lado lutaram pela Pátria. “CÔCA HOMENAGEADO HOJE A sua História já foi, em grande medida, divulgada por um dos seus comandantes, o CMG Metelo de Nápoles, mas como diz o autor, ainda muito haverá por dizer. O evento foi noticiado no jornal local “O Ericeira” nestes termos: Este Jagoz que morreu no Ultramar já tem uma rua na Vila da Ericeira com o seu nome Eduardo Henriques Pereira.” Contributos do CMG Metelo de Nápoles Sócio n.º 225 Hoje, sábado dia 9 de Abril, ao meio dia, um grupo de cerca de trinta antigos militares, colegas do “Côca” na Guiné, prestaram-lhe uma homenagem, depositando um ramo de flores junto à placa toponímica com o seu nome, contando com a presença dos primos do homenageado, António e Isidoro! Nota da Redacção Caros leitores, Neste período ocorre a maioria dos convívios FZ que se organizam ao longo de cada ano e, como é natural, a nossa vontade é poder dar nota de todos eles no período abrangido por cada Revista. No entanto, face a limitações de espaço e à necessidade de fazer uma Revista equilibrada em todas as rubricas nela inseridas, nem sempre é possível corresponder ao vosso, e também nosso, desejo de publicar todos os convívios de que nos vai chegando notícia, havendo necessidade de transferir alguns para o Revista seguinte respeitando, contudo, a ordem cronológica da realização dos eventos. Haja sempre alguém que registe estes momentos de convívio (texto e fotografias) e se encarregue de no-los fazer chegar. Bem hajam pelos vossos contributos! 54 Convivios_Todos+MJM+SnackBar.indd 54 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt 02/06/2016 09:51:49 obituário Aqui se presta homenagem aos que nos deixaram Neste período não nos foram comunicados óbitos de entre os nossos Associados. Embora não sendo sócio da AFZ, a pedido de camaradas, comunicamos que faleceu, em Maio deste ano, o MAR FZE 1005/64 Jacinto Venâncio de Assunção, que pertenceu ao DFE 6, Guiné, 1966/67. Companhia n.º 8 de Fuzileiros – Angola 1968/70 Homenagem e Memória – A Pátria Honrai Camaradas, Comemoramos este ano 48 anos da nossa partida para Angola, integrados na Companhia de Fuzileiros n.º 8, e embarcados na Fragata João Belo. Queria prestar homenagem ao nosso Comandante Eurico Fortunato Gusmão Burguete, já falecido, ao Grumete 1257/67 João Brito Augusto Pires que deixou a vida no Rio Zaire e ao Grumete 8424/67 Alberto Manuel Fernandes também falecido durante a missão mas, neste caso, de acidente em Luanda. Queria agradecer a toda aquela guarnição do NRP João Belo a colaboração que nos deu. Grandes camaradas que tornaram a nossa viagem muito mais fácil. Todos nós, juntos, fazemos a “História” do País. Um bem-haja a todos! José Arnaldo Oliveira Pinto 1Grt FZ 865/68 Sócio n.º 1049 diversos Novos Sócios Nome do sócio Novos Sócios N.º Nome do sócio N.º Filipe Jorge Rodrigues Pombinho 2479 José Manuel Santos 2489 Francisco Alves Ribeiro 2480 António de Jesus Evangelista da Silva 2490 Luiz Augusto Rocha do Nascimento 2481 Licínio Afonso Borges Girão 2491 Mª Olinda da Assunção Gomes Mestre 2482 Valmir Ferreira Battu 2492 Adérito Augusto Serralheiro Dias 2483 Vasco Cavaleiro da Cunha Brazão 2493 Manuel Jorge Jesus de Oliveira Cruz 2484 Artur Manuel Rodrigues Simões 2494 Sérgio Tavares de Almeida 2485 José Manuel da Silva Maravilha 2495 Victor Rodrigo Pereira Sério 2486 Júlio Oliveira Tavares Moreira 2496 Leonel Alexandre Tomás Cardoso 2487 António Manuel Sabino 2497 Luís Manuel Bernardes Pereira Carneiro 2488 Rafael João Lanção da Cruz 2498 O DESEMBARQUE • n.º 24 • Junho de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt Obituario_Diversos.indd 55 Donativos à AF Nome do sócio N.º Donativo Adelino Pereira 2476 10,00 € Bento Dias Gonçalves 1683 10,00 € Mª de Fátima Manguinhas 1967 30,00 € Ludgero Dos Santos Silva 167 50,00 € Manuel Francisco Ventura 2333 10,00 € 55 02/06/2016 10:05:13 Contracapa.indd 2 01/06/2016 18:09:33