Raízes no.012

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Raízes no.012
14 ‫ מתוך‬1 ‫עמוד‬
Shavei Israel
‫נשלח‬:
‫נושא‬:
11:22 2009 ‫ ינואר‬07 ‫יום רביעי‬
Raizes 012
Raízes
Edição n°. 12
Novembro - 2008
Heshvan - 5769
O Crescimento
da Al-Quaida é
uma Ameaça a
Israel
A Relação
Misteriosa
entre o Povo
Judeu e a Terra
de Israel
Por: Michael Freund
Por: Rabino Eliahu
Birnbaum
A Diáspora
Sefaradita na
Itália
Sodoma
Fonte: Morashá Edição 51
Você já
visitou o
nosso Site?
Por: Anna Rosa
Campagnano
O Shemá
Don Isaac
Aboab - Último
Rabi-mor de
Castela
Por: Aryeh Carmell
Por: Barros Basto
O Crescimento da Al-Quaida é uma Ameaça a Israel
Por: Michael Freund - Tradução: David Salgado
De qualquer modo, a organização terrorista mais
famosa, conhecida como Al-Quaida, agora se
encontra em verdadeira fuga.
Em lugares relativamente longe como Iraque,
Somália e Yemen, a rede de terror Islâmica sofreu
dolorosos recuos em sua campanha mortal para a
hegemonia do mundo. Seus redutos estão sob
ataque, sua ideologia está desacreditada cada vez
mais, e pouco tem para mostrar além de uma fuga,
assassinatos horríveis e uma grande desordem.
Mas aqui no coração do Oriente Médio, bem abaixo
do nosso nariz, os adeptos de Osama bin Laden
estão ocupados em abrir estabelecimentos
comerciais “virtuais” em Gaza, ou melhor, de
fachada, para não serem incomodados. Certamente, a presença crescente de ramos
da al-Quaida ao longo da fronteira sul de Israel é completamente possível e sinistro,
contudo tais ameaças ainda não são discutidas pelo Estado Judaico, é chegada a
hora de começarmos a levar em conta, este perigo, mais seriamente.
07/01/2009
Organização
Shavei Israel
King George 58,
4°. andar
Heichal Shlomo
14 ‫ מתוך‬2 ‫עמוד‬
Jerusalém 94262,
No início de outubro, precisamente no dia 6, um grupo sombrio que se intitula
"Brigadas do Hizbollah na Palestina" tentou disparar um foguete (Kassame) e atingir
Sderot, mas não alcançou seu alvo. Esse grupo, até então desconhecido, é agora
relatado como sendo uma das muitas facções islâmicas radicais da al-Quaida
inspiradas em uma dúzia de terroristas extremos que surgiram em Gaza nos dois
últimos anos (Yediot Aharonot, outubro 17).
Israel
Tel: +972-2-625-6230.
Fax: +972-2-625-6233.
Estes grupos, com nomes tais como "a espada do Islã", "o exército de Islã" e
"soldados de Allah", rejeitaram as decisões táticas ocasionais do Hamas que
forjaram o acordo de cessar-fogo com Israel e proclamam, preferivelmente, pelo
confronto acirrado com os sionistas.
Nos quatro últimos meses, estas filiais da al-Quaida lançaram 21 foguetes
(Kassamim) e 18 morteiros (Scuds) de Gaza para Israel, e implantaram dispositivos
explosivos perto da cerca de segurança na tentativa de matar ou mutilar soldados
israelenses.
Estão longe da expectativa de desistir de atingir alvos ocidentais, também.
Visite nosso site
www.shavei.org
Em janeiro deste ano, durante a visita do presidente George W. Bush dos Estados
Unidos a Israel, "o exército dos crentes - al-Quaida na Palestina" atacou a escola
internacional americana em Gaza duas vezes em um período de três dias (Reuters,
janeiro 12).
E em julho, a polícia anunciou que tinha prendido seis pessoas, incluindo dois árabes
israelenses com ligações com a al-Quaida que tinham tentado, no começo do ano,
assassinar Bush durante sua visita para participar das celebrações do 60°.
aniversário de Israel (Associated Press, julho 18).
Claramente, os terroristas de Osama em Gaza estão intensificando suas atividades
como parte de um plano ambicioso para livrar o Oriente Médio de toda a presença
ocidental ou judaica. Mas como exatamente pretendem controlar e dominar a região
e plantar uma nova rede de terror?
A presença crescente da al-Quaida em Gaza é uma conseqüência direta da retirada
de Israel em agosto 2005 e da insegurança que isso criou. Apenas algumas
semanas depois da retira das Forças de Defesa de Israel ter sido completada, o
General Aharon (Zeevi) Farkash, chefe da inteligência militar do FDI, disse em uma
audiência na Universidade de Tel Aviv que a al-Quaida tinha explodido vários
lugares ao longo da fronteira Egípcio-Gaza para possibilitar operações na região. "A
al-Quaida está em Gaza", disse Farkash (Yediot Aharonot, Sept. 29, 2005).
Em uma entrevista vários meses mais tarde, o presidente Mahmoud Abbas da
autoridade palestina, admitiu dizendo ao jornal “Al-Hayat” sediado em Londres:
"Nós temos sinais da presença da al-Quaida em Gaza e em Judéia e Samária”.
Nos três anos de intervenção, os simpatizantes da al-Quaida em Gaza lograram
obter um apoio básico, forjar alianças com radicais locais e começar a espalhar sua
ideologia venenosa de ódio em todo a região, enquanto constroem uma infraestrutura propícia para atacar Israel.
Todavia, Israel fez, inexplicavelmente, muito pouco ou quase nada, para impedir
este desenvolvimento perigoso, apesar da ameaça crescente que isso significa.
Mesmo quando pelo menos um dos grupos da al-Quaida baseado em Gaza, se
desentende com o Hamas, seria um erro pensar que Hamas resolverá o problema
para nós.
No mês passado, mesmo após os conflitos armados entre Hamas e o "Exército do
Islã" em Gaza, terem deixado nove palestinos inoperantes, os líderes de Hamas
fizeram uma declaração, afirmando que não tiveram nenhuma intenção de impedir
que o grupo islã atinja o Estado Judaico.
"É permitido ao exército do Islã atuar contra a ocupação israelense mas deve
permanecer longe dos assuntos internos e do trabalho do serviço de segurança do
Hamas". O porta-voz Sami Abu Zuhri do Hamas disse isso a repórteres (Reuters,
setembro 26). Portanto, se alguém tem que carimbar a extradição da al-Quaida de
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Não tenha dúvida
em contatar-nos:
[email protected]
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Gaza, terá que ser Israel, e para isso deve se mexer rapidamente para enfrentar
esta ameaça.
O fato da al-Quaida estar trabalhando ativamente para estabelecer as bases futuras
para mais adiante nos atacar, mostra apenas o quanto Israel está nas linhas de
frente da guerra mundial contra o terror - e o quanto é essencial que estejamos
preparados para o confronto.
Assim, nós precisamos deixar bastante claro aos amigos e aos aliados do oeste que
não esperem de Israel realizar recuos adicionais quando a ameaça levantada pelo
fundamentalismo Islâmico ao longo de nossas fronteiras continua a se estruturar. A
retirada de territórios cria, somente, um espaço para que os grupos radicais tais
como Hamas e al-Quaida continuem a rápida investida em direção ao ataque final.
Mais importante ainda é que embora tenha Israel que levar em conta o perigo de
um ataque possível da al-Quaida, deve adotar uma postura preventiva mais
agressiva para eliminar sua infra-estrutura nos lugares tais como Gaza. Falhando
nesse ponto, permitirá somente que esta ameaça insurgente continue a crescer. E
se a experiência anterior serve de lição, tal inércia nos retornará a nos assombrará
nos meses e nos anos que virão.
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A Relação Misteriosa entre o Povo Judeu e a Terra de
Israel - Parashat Lech Lechá
Por: Rabino Eliahu Birnbaum - Tradução: David Salgado
“E o Eterno disse a Abraham... ‘Alça agora teus
olhos e olha desde o lugar onde tu estás, para o
norte e para o sul, oriente e ocidente; porque toda
a terra que tu vês, a ti darei e à tua descendência
para sempre. E farei a tua descendência ser tão
numerosa como o pó da terra... Levanta-te,
passeia pela terra, por seu comprimento e por sua
largura, pois da-la-ei a ti’”.
(Gênesis 13, 14-17)
A história do Povo de Israel, desde seu começo,
passando pelas suas numerosas vicissitudes até chegar aos dias de hoje, está
relacionada de forma estranha com Eretz Israel (a Terra de Israel).
O processo de nascimento do povo está ligado à partida de Abraham de sua terra
natal, Ur Casdim, em direção a Canaã, aonde aconteceu o pacto com D-us, e a
conseqüente promessa Divina: “toda a terra que tu vês, a ti darei e à tua
descendência para sempre”, promessa que voltou a reiterar outras vezes aos
demais patriarcas aprofundando-a na consciência dos filhos de Israel ainda antes de
se converterem em Povo de Israel.
Eretz Israel é a terra destinada ao Povo de Israel. O Povo Judeu não nasceu como
povo em Eretz Israel, senão que a terra lhe foi prometida aos seus patriarcas antes
da consolidação como povo, e a promessa foi repetida diante do povo quando de
sua saída do Egito. Quer dizer, o Povo Judeu nasceu no caminho a sua terra e não
dentro dela. Mais ainda, o conceito da terra prometida não apenas existiu enquanto
o povo se encaminhava para ela, senão que se manteve vigente quando o povo
habitou sua terra e durante seu exílio.
Com o objetivo de compreender de forma cabal a relação entre o Povo de Israel e
Eretz Israel, devemos analisar o conceito de “Terra Prometida”.
A relação especial entre o povo e sua terra provém do fato desta terra lhe ter sido
destinada, adquirindo um destaco lugar na ideologia e no sentimento nacional do
povo. Eretz Israel é a pátria do Povo Judeu.
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Que significa “pátria”? No linguajar cotidiano, esta palavra é usada para denominar
o lugar no qual o indivíduo nasceu. Entretanto, esta definição é insuficiente e
imprópria. O fato de alguém ter nascido em certo lugar, em uma casa, em uma
cidade ou em um país, não determina que esse lugar constitua sua pátria. Os judeus
nasceram fora de Eretz Israel, porém nem por isso consideraram, em todas as
ocasiões, que esses países por onde passaram, fossem suas pátrias. Por outro lado,
apesar de não ter nascido em Eretz Israel, a consideram sua pátria. A relação com a
pátria se baseia na conexão com o povo e com a cultura. A pátria é a terra que
serve de base à existência do povo.
A essência da relação entre o Povo de Israel e sua terra é distinta da dos demais
povos com seu território, e não podemos comparar o laço que existe entre as
demais nações do mundo com seus territórios, com o laço que existe entre o Povo
de Israel e sua terra.
As demais nações carecem de um antigo documento que certifique a promessa da
terra que lhe fora destinada. A relação de todos os demais povos com sua terra é
puramente material, sem estar sustentada em uma relação espiritual nem possuir
um valor de santidade. A relação de todos os demais povos se sustenta no fato de
que seus antepassados conquistaram um território determinado e seus
descendentes o herdaram, considerando-a sua pátria. Se a casualidade leva um
povo a descobrir outra região, ou se uma família se traslada a outro país e adquire a
cidadania no novo país, em pouco tempo se rompe toda relação com a pátria
original.
Não ocorre o mesmo com o Povo Judeu em relação a Eretz Israel, que possui um
documento antigo, escrito em diversos textos sagrados no “Livro dos Livros”.
E assim se estabelece em diversos textos bíblicos que Eretz Israel está destinada
apenas ao Povo de Israel: esta terra foi prometida a Abraham Avinu: “e te darei a ti
e a tua semente depois de ti a terra de tuas peregrinações: toda a terra de
Canaã” (Gênesis 17:8; a Torá repete cinco vezes a promessa que D-us fez a
Abraham de entregar a seus herdeiros a Terra de Israel). E também a Itzchak:
“porque a ti e a tua semente entregarei todos estes países” (Gênesis 26:3). E
também a Yaakov: “a terra onde estás pisando te darei a ti e a tua
semente” (Gênesis 28:13). “E a terra que dei a Abraham e Itzchak te darei a ti e a
tua semente depois de ti” (Gênesis 35:12). Ao outorgar a Terra a Israel, D-us está
estabelecendo o Pacto eterno com o Povo Judeu.
D-us decidiu que cada povo da terra deveria possuir um território que constituísse
sua pátria. Eretz Israel é a terra destinada ao Povo de Israel.
Porque justamente Eretz Israel?
Esta pergunta não existe quando se trata de outros povos. A relação especial de Dus com o Povo de Israel é que origina a pergunta, já que esta relação determina que
o lugar elegido possui também características especiais. O princípio da santidade
deriva por acaso do reconhecimento do ser humano e sua conduta, ou talvez a Torá
atribui a Eretz Israel uma qualidade especial?
Por acaso Eretz Israel possui uma santidade própria, ou esta santidade provêm de
razões religiosas e morais que lhe são exteriores?
Como podemos explicar o caráter especial de Eretz Israel e o fato de ter sido
destinada ao Povo de Israel?
A relação criada entre o Povo Judeu e a Terra de Israel é uma das mais intrigantes e
interessantes que se tem produzido na história humana. Esta relação nunca foi
baseada exclusivamente nas conquistas de uma tribo que buscava uma terra
adequada. A relação entre o Povo Judeu e a Terra de Israel se baseia, em mudança,
na eleição e na promessa de D-us. Não é o Povo Judeu quem elegeu esta terra,
senão que esta lhe foi destinada por D-us mesmo antes da consolidação como
povo.
Parece impossível explicar a relação do Povo Judeu com a Terra de Israel baseandose apenas nas características físicas da terra. Eretz Israel não é grande, nem possui
abundantes riquezas, nem rios caudalosos e tão pouco elevados picos.
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A relação com a terra foi o fio condutor que passou de geração em geração, mesmo
quando o povo estava longe da terra, perambulando entre muitas nações. A relação
com a terra constitui a raiz do povo e são numerosas as fontes que fazem referência
a ela.
É possível explicar que a relação com a terra está baseada na eleição e decisão de
D-us (relação religiosa, teológica); pode-se justificar nossa relação com a terra
através dos versículos bíblicos: e do amor profundo que se estabeleceu entre o povo
e a terra através das gerações (relação histórica). Podemos explicar a relação entre
o povo e a terra baseando-se em conceitos místicos (relação mística). A relação
entre os judeus e a Terra de Israel não expressa a relação entre o indivíduo e sua
pátria, e sim proclama pertinência da coletividade do Povo de Israel à sua terra.
É possível explicar a correspondência entre o povo e a Terra de Israel baseando-se
nas considerações religiosas, práticas e místicas ou outras, porém ainda assim a
verdadeira relação entre o povo e sua terra seguirá sendo um eterno mistério.
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A Diáspora Sefaradita na Itália
Por: Anna Rosa Campagnano
O Edito de Expulsão dos judues da
Espanha de 1492 atingiu também os
judeus que viviam em algumas regiões
italianas. É preciso lembrar que, até o
fim do século XVII, o ducado de Milão, o
Estado dos Presídios (território formado
por algumas possessões no litoral
tirrênico), os reinos de Nápole, da Sicília
e da Sardenha estavam sob a dominação
espanhola.
Em seus vastos domínios,
territorialmente não contíguos, embora
constituíssem cerca da metade da
Península Itálica, a Espanha não obteve
uma uniformidade jurídica de governo:
cada território conservava as suas
magistraturas locais e era governado
separadamente por um delegado do
poder régio.
A dominação espanhola na Itália representou um atraso no plano
socioeconômico e cultural. Corroída pela miséria, espremida na mão de
ferro do absolutismo espanhol e perseguida pelo terror da Inquisição, a
Itália perdeu o contato com os outros países da Europa e nas primeiras
décadas do século XVII, exatamente em 1627, eclodiram revoltas populares
em Nápoles e na Sicília.
Na realidade, a Itália não foi o alvo escolhido pela diáspora sefaradita, mas
serviu, na maioria das vezes, como ponte para outras localidades do
Mediterrâneo. Citamos, por exemplo, a cidade de Gênova que, no fim do
século XV, era ainda um importante centro de trânsito entre o Ocidente e o
Oriente, tornando-se também um dos portos de chegada dos refugiados em
trânsito para outros destinos ou na expectativa de obter permissão para
desembarcar. Gênova concedeu aos fugitivos o desembarque somente por
três dias, mas, em janeiro de 1493, essa concessão foi cancelada com a
desculpa de que os judeus traziam a peste.
Assim os fugitivos foram obrigados a prosseguir para outros portos. Quando
Afonso V de Aragon conquistou, em 1442, o reino de Nápole, este e o reino
da Sicília foram unificados. Sob seu reinado e de seu filho Fernando I, os
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judeus gozaram de proteção e privilégios idênticos aos de seus súditos
residentes.
Dentre os que aportaram em Nápoles, em 1492, estava dom Isaac
Abravanel (Lisboa, 1473 – Veneza, 1508) e sua família. Seus filhos Judah
“Leone Ebreo Abravanel” (Lisboa, 1460 – Itália, 1535), o médico Joseph
Abravanel (Lisboa, 1471 – Ferrara, 1552) e Samuel Abravanel (Lisboa,
1473 – Ferrara, 1547) foram personagens importantes no cenário religioso
e político italiano.
Em 5 de janeiro de 1533, o novo vice-rei de Nápoles, dom Pietro de Toledo,
emanou um edito obrigando os judeus a se converterem ou a deixarem o
reino no prazo de seis meses. O prazo foi prorrogado até julho de 1534 e
depois suspenso até fevereiro de 1535, quando foi estipulado um acordo,
concedido seja pela insistência do povo cristão do lugar, seja pelo empenho
apaixonado de Samuel Abravanel filho caçula de dom Isaac, representante
do povo judeu, e de sua mulher Benvenida.
Embora hostil aos judeus, o vice-rei, dom Pietro, recorreu aos serviços de
Samuel Abravanel como especialista financeiro, bem como aos dotes
intelectuais e culturais de sua mulher, Benvenida, que se tornou educadora
de Eleonora, filha do vice-rei.
Em virtude do acordo patrocinado por Samuel e Benvenida Abravanel, os
judeus poderiam ficar mais dez anos ainda no reino de Nápoles, pagando
um tributo de vinte mil ducados. Mas, em 10 de novembro de 1539, o
acordo foi desrespeitado, sem nenhum pretexto, e os judeus foram
expulsos do reino. Após novas tentativas de acordos, petições e súplicas,
enfim em 31 de outubro de 1541, os judeus foram expulsos
definitivamente, abandonaram o sul da Itália.
Concluiu-se assim, o ciclo de residência das poucas centenas de famílias
judaicas que tinham resistido por mais de trinta anos no reino de Nápoles.
Os membros da família Abravanel dispersaram-se em várias regiões da
Itália, como Ferrara, Roma e outras cidades pontifícias.
Em Ferrara, em 1492, o duque Hércules I, percebendo as vantagens
econômico-culturais que poderiam advir da presença judaica em seu
território, convidou vinte e uma famílias de judeus que haviam
desembarcado em Gênova a residirem na cidade. Seu sucessor Hércules II,
em 1541, convidou também os judeus expulsos do Reino de Nápoles. Essa
orientação foi mantida no século XVI, sendo estendida também aos
cristãos-novos.
Dentre as novas famílias que foram para Ferrara, encontravam-se
novamente Samuel e Benvenida Abravanel e a destacada família de Gracia
Mendes e também Samuel Usque que definiu Ferrara como “o refúgio mais
seguro da Itália” para os judeus naquele período. Os muros da cidade
ofereciam proteção e tranquilidade contra todas as adversidades,
permitindo assim o retorno ao judaísmo a centenas de marranos.
No entanto, em 1581, o rei Afonso II submeteu-se às imposições da
Inquisição, aprisionou um grande número de marranos e enviou três deles
para serem supliciados em Roma. Com a extinção da dinastia da família
dominante de Ferrara, em 1597, a Igreja reivindicou para si o ducado de
Ferrara, ocupando-o no ano seguinte, limitando o governo ao ducado de
Moderia e de Reggio. Nessa época, muitos judeus acabaram indo para
essas duas cidades, seguindo os seus antigos patrões. Ferrara perdeu um
quarto de seus habitantes no prazo de três anos.
Em Roma, como em outras cidades da Itália, a notícia da expulsão dos
judeus da Península Ibérica causou um certo temor. Receava-se que uma
onda de fugitivos provocaria não apenas concorrência econômica, mas
também agitação sociocultural. Procurou-se dificultar a entrada dos
refugiados, mas, por intercessão do próprio para espanhol, Alexandre VI e
de seus sucessores, eles acabaram sendo aceitos.
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Assim, chegaram a Roma, no curso de um quarto de séculos, judeus da
Espanha, Portugal, Sicília, Calábria, Líbia e Provença. Os cristão-novos que
procuraram se estabelecer em Roma foram relativamente poucos.
A integração dos sefaraditas na comunidade judaico-romana foi difícil.
Podemos dizer que houve um embate entre duas correntes judaicas da
diáspora italiana: de um lado, os judeus romanos, conscientes de seu
antigo domicílio, queriam manter a própria supremacia na administração da
comunidade; de outro, os judeus sefaraditas, orgulhosos da própria cultura
e experiência no campo econômico, social, literário e político, tendiam a
conquistar uma posição de superioridade. Isso levou à criação de sinagogas
separadas, tais como a catalã, a castelhana, a aragonense, a siciliana e,
naturalmente, a italiana.
Em 23 de janeiro de 1544, o papa Paulo III concedeu uma carta de
privilégios aos judeus safaraditas que haviam se estabelecido em Ancona.
Nessa carta se afirmava que, caso esses privilégios fossem eventualmente
revogados, os judeus portugueses teriam permissão para deixar os Estados
da Igreja levando consigo os próprios bens, no período de quatro meses
após a revogação. Seu sucessor Julio III confirmou todos os privilégios
concedidos por Paulo III. Nessa época muitos judeus sefaraditas tornaramse médicos de papas, e alguns conversos puderam voltar ao judaísmo.
A Contra-Reforma provocou um grande retrocesso na Igreja Católica. Uma
de suas consequências foi a criação de guetos, em 1555, pelo Paulo IV. Os
judeus sefaraditas, que residiam no Estado da Igreja, sofreram a penúria e
a decadência como todos os outros. Foram quebradas, sem qualquer
reserva, todas as promessas feitas aos cristão-novos. A Inquisição
recomeçou a perseguir os apóstatas em Ancona, alguns judeus foram
queimados e outros condenados perpetuamente às galés da Ordem de
Malta. Dessa forma, extinguiu-se a comunidade portuguesa de Ancona.
Poucas são as informações relativas ao número de cristão-novos que se
transferiram para as terras da Sereníssima, como era chamada a República
de Veneza, mas a presença deles acabou gerando um clima de hostilidade
por parte dos venezianos. Nos diários do cronista Marin Sanudo o Jovem,
autor de cinquenta e seis volumes sobre Veneza, há muitos testemunhos
desse período. Certamente, o número de judeus nunca chegou às dez mil
almas, que o bispo Beccadelli denunciou em uma carta ao cardeal Gerolamo
Dandini.
A presença dos judeus em Veneza devia ter uma certa relevância, pois a
República terminou por ceder às pressões da Santa Sé e da Espanha,
renovando, em 8 de julho de 1550, o decreto de expulsão dos cristão-novos
de seu Estado. O decreto foi renovado para agradar ao imperador Carlos V,
que havia se surpreendido com o fato de que a República vêneta, cristã,
tolerasse a presença de judeus em seu território.
Apesar desse edito de expulsão, a presença de núcleos de conversos
ibéricos é constatada através de toda a segunda metado do século XV.
De 1555 a 1585, muitos conversos passaram pelo assim chamado Tribunal
do Santo Ofício veneziano, que demonstrou, todavia, uma relativa brandura
ao não emitir nenhuma pena capital contra os judeus e judaizantes durante
toda a sua existência.
Em Veneza, muitos judeus eram banqueiros ou comerciantes. Algumas
sinagogas foram edificadas, tais como a Scola Grande (1522-1529), a Scola
Tedesca (1531-1532), a Scola Canton e a Scola Levantina (1538), dos
judeus mercadores marítimos, a Scola Espanhola e a Scola Italiana. Scola
era um temo popular usado, a partir da Idade Média, para designar a
sinagoga.
Na reública veneziana, portanto, conviveram os judeus (italianos e
alemães) preexistentes e os sefaraditas, ou seja, os levantinos (judeus de
origem espanhola, nascidos ou vividos no Levante turco) e os ponentinos
(cristão-novos portugueses que haviam retornado ao judaísmo). Dentre os
próprios judeus antigos, nem todos viam com bons olhos a integração
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desses cristão-novos às estruturas comunitárias.
Continua no próximo número – Os judeus sefaraditas na Toscana, em
particular em Pisa e Livorno.
Extraído da obra “Judeus de Livorno – Sua Língua, Memória e História” de
Anna Rosa Campagnano
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Sodoma
Fonte: Revista Morashá - Edição 51
Destruída há quatro mil anos,
Sodoma se tornou símbolo de
perversão e decadência
moral. E seu destino vem
suscitando temor e
curiosidade.
Antes de ser destruída, a
cidade bíblica estava
localizada na planície da
Jordânia, área em forma de
semicírculo, extremamente
fértil, na fronteira sudeste do
território canaanita. As
referências bíblicas à Sodoma
(Sdom, em hebraico) estão
principalmente no livro
Gênese e sua queda é
relatada nos capítulos 18-19.
Mas, é também citada em Deuteronômio, no Livro de Jó e no Talmud, assim
como por nossos profetas. O controvertido historiador Flávio Josefo (37-100
desta Era), a menciona em sua obra. Sdom aparece pela primeira vez no
capítulo Lech Lecha, quando Lot, sobrinho de Abraão, estabeleceu-se no
vale do Jordão, escolhendo a cidade para lá estabelecer sua família. Assim a
Torá a define: "E os homens de Sodoma eram maus e pecadores contra o
Eterno" (Gênese 13-13).
Desde a primeira menção, é identificada como o epítome da crueldade e
perversão. Sodoma era a antítese de tudo o que Abraão acreditava e
simbolizava. A hospitalidade, virtude das mais praticadas por nosso
patriarca, lá era proibida. Os sodomitas odiavam os forasteiros, aos quais
não ofereciam hospitalidade, submetendo-os a abusos sexuais. A caridade
era considerada crime grave, sendo executado quem a praticasse. Conta o
Midrash que a lei determinava que quem alimentasse um pobre morreria na
fogueira. Mas Plotit, filha de Lot, teve destino ainda pior. Certa vez, viu na
rua um mendigo e decidiu alimentá-lo. Quando os habitantes da cidade
perceberam o que Plotit fazia, prenderam-na, tiraram suas roupas,
lambuzaram seu corpo com mel e puseram-na sobre a muralha da cidade,
para que morresse picada pelas abelhas (Sanhedrin 109).
Relata a Torá que D'us ouviu o "clamor" das vítimas das iniqüidades
cometidas pelos habitantes de Sodoma e da vizinha Gomorra. O Eterno
revela, então, a Abraão, a Sua intenção de destruir completamente as duas
cidades. O patriarca tenta intervir junto ao Senhor, para as salvar. Pede ao
Todo Poderoso que tenha consideração com os Justos que lá residiam. D'us
lhe promete que, se houvesse ao menos dez Justos em Sodoma, salvaria
toda a cidade. Porém, na cidade não havia um Justo sequer...
E, embora o Todo Poderoso não tenha salvo a cidade, poupou Lot e sua
família. E isto ocorreu em grande medida pelos méritos de seu tio, Abraão,
mas também porque, mesmo após morar entre sodomitas, Lot ainda
guardava em si o espírito da hospitalidade que aprendera com nosso
patriarca. Quando os habitantes da cidade descobrem que ele acolhera dois
"forasteiros" em sua casa, enfurecidos exigem que os entregue. Mas Lot sai
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em defesa de seus hóspedes.
Os estrangeiros, que, na realidade, eram anjos enviados por D'us para
destruir a cidade, ordenaram a Lot que, com toda a sua família, deixasse
imediatamente aquele lugar condenado. E, ao amanhecer, levam-no, com a
mulher e duas filhas solteiras, para fora da cidade, alertando: "Sequer
olhem para trás".
Assim que Lot e seus familiares partem, D'us faz chover enxofre e fogo
sobre Sodoma e Gomorra. Não obedecendo às ordens dos anjos, a mulher
de Lot se virou para olhar o que acontecia na cidade condenada. A punição
veio como um raio: foi transformada em estátua de sal. De acordo com o
Talmud, este sal chama-se Melach Sedomit, sal sodômico. Josefo, em sua
obra, afirma que durante sua vida, o pilar de sal ainda podia ser visto.
De manhã, quando Abraão voltou ao lugar onde D'us lhe aparecera, viu a
destruição que se abatera sobre Sodoma e demais cidades vizinhas. Densa
fumaça ocultava o vale e, as chamas rapidamente consumiam a terra. Uma
chuva de sal completava a catástrofe (Deut.29:22 ). Na planície queimada
por enxofre e sal, a terra tornara-se estéril, sendo que lá "nada podia ser
plantado e nenhuma vida brotaria". (Deut. 29:22). Quando a devastação se
completou, um enorme lago de sal e betume espalhava-se a leste do
deserto de Judá, em hebraico conhecido como o Yam Hamelach, o mar de
sal. Na antigüidade, foi também chamado de Hayam Hacadmoni, o antigo
mar;Yamá shel Sdom, mar de Sodoma; e, ainda, Yam Ha'aravá, mar do
vale do Aravá. O nome Mar Morto somente surgiu após o advento do
Cristianismo, atribuído pelos monges cristãos, pelo espanto causado pela
aparente ausência de qualquer forma de vida em suas águas.
Hoje, o Mar Morto, cujas águas contêm 33% de sal, quantidade dez vezes
superior à encontrada no Mar Mediterrâneo, é considerado uma das
maravilhas do mundo. É um grande lago represado entre colinas, com
76km de comprimento por 18km de largura, e tem, em sua parte mais
funda, 400m de profundidade. Suas margens, a 396m abaixo do nível do
mar, são o ponto seco mais baixo do mundo. Em seu redor, espalham-se
montanhas de sal naturalmente esculpidas em forma de chaminés e
cavernas. Entre estas, pode-se distinguir perfeitamente uma escultura em
forma de cogumelo, que, segundo antigas tradições, seria a estátua da
mulher de Lot.
A região
A exploração econômica da região já se iniciara desde o tempo dos
nabateus, que vendiam betume. (o depósito de lama que se acumulava no
fundo do lago) aos egípcios, que o utilizavam para embalsamar seus
mortos. Este comércio que se estendeu até a era romana.
Flávio Josefo, na História da Guerra Judaica, escreve: "... região de
Sodoma, território outrora próspero por suas colheitas e pela riqueza de
suas diversas cidades, mas, atualmente, inteiramente queimado. Diz-se que
a impiedade de seus habitantes lhes valeu serem abrasados pelo raio...
ainda lá existem traços do Fogo Divino e se podem ver vestígios de cinco
cidades... A narração lendária sobre a região de Sodoma é, pois,
plenamente confirmada por aquilo que se vê".
Sobre o Mar Morto, que Josefo chama de "lago de asfalto", ele escreve:
"Salgado e estéril.... sua água faz boiar os objetos, por mais pesados que
sejam...". Os gregos falavam com insistência em gases venenosos que se
desprendiam por toda a parte nesse mar, enquanto os árabes diziam que,
há muito, nenhuma ave conseguia sobrevoar de uma margem a outra.
Diziam que, ao tentar cruzá-las, as aves se precipitavam subitamente
n'água, já sem vida.
Mas, onde realmente se localizava Sodoma? Com base em informações
contidas na Torá e nas várias formações de sal da região, os arqueólogos
têm tentado, em vão, definir sua localização exata. Apesar de alguns terem
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centrado suas buscas ao norte do Mar Morto, a maioria acredita que as
antigas Sodoma e Gomorra se situassem ao sul do lago, em uma área de
formação geológica mais recente do que o restante da região. A tese da
posição geográfica ao sul parece ser sustentada também por uma tradição
local, como mostra o nome árabe da montanha de sal, Jebel Usdum, ou
seja, Montanha de Sodoma, no extremo sudeste do mar Morto. A montanha
tem 10km de comprimento, 5km de largura e 30m de espessura. Embora
esteja coberta por uma camada de terra de alguns metros de espessura, o
restante de sua composição é sal sólido.
História moderna
No século XX, o nome Sodoma foi dado a um sítio industrial a sudeste do
Mar Morto. Desde o início do século, engenheiros que visitavam o local e,
até mesmo, Theodor Herzl, logo percebem o enorme potencial do Mar Morto
para a extração mineral, mediante o uso da energia solar. A atual cidade de
Sdom foi fundada em 1937. Logo depois, construiu-se em Kalia, no extremo
norte do Mar Morto, plantas de potassa para constituir uma filial da
Palestine Potash Co. À época, não havia estradas que ligassem o local à
cidade; a comunicação era feita através de pequenos barcos, que
atravessavam o Mar Morto.
Em 1947, o plano de Partilha da Palestina elaborado pelas Nações Unidas
incluía Sodoma, ou Sdom, dentro das fronteiras do futuro Estado de Israel.
No início da Guerra da Independência, em 1948, Kalia passou para o
controle da Legião Árabe, ficando Sdom totalmente isolada de Israel. A
única maneira de enviar suprimentos à cidade era por via marítima ou
aérea. Durante seis meses, de agosto a dezembro de 1948, víveres foram
enviados em pequenos aviões, até que a área foi libertada por uma unidade
das Forças de Defesa de Israel.
A estrada que finalmente uniu Beersheva a Sodoma foi terminada em 1952
e, dois anos mais tarde, a empresa estatal Dead Sea Works Ltd., de
produtos químicos, pôde iniciar atividades. Na época, a região era uma das
poucas fontes de fertilizantes à base de potassa para a África e Ásia.
Atualmente constitui o quarto produtor mundial e fornecedor de produtos
derivados do mineral.
A região abriga atualmente outras indústrias do setor de potassa, fosfato e
sal. Em 1955 foi inaugurada a companhia Dead Sea Bromine, que figura
entre as maiores produtoras mundiais de brometo. Em 1996, a empresa
alemã Volkswagen AG e a israelense Dead Sea Works Ltd. anunciaram um
investimento conjunto de US$ 600 milhões, em um projeto de instalação de
uma usina para extração de magnésio, no Mar Morto.
Apesar da aridez que castiga a paisagem local, o Keren Kayemet LeIsrael
(KKL), valendo-se de tecnologia de ultimíssima geração, está implantando,
na região em torno de Sodoma, uma atividade econômica altamente
rentável e nova para o local: a piscicultura.
Bibliografia:
Sarna, Nahum M, Understanding Genesis, cap.: Sodom and Gemorrah,
cities of the Salt Pillars, Schocken Publishing House
http://www.jafi.org.il/
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O Shemá
Por: Aryeh Carmell
07/01/2009
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O Versículo de Abertura
As palavras de abertura do Shemá formam um universo à parte. São as primeiras
palavras de prece murmuradas por uma criança e as últimas que dirá em seu leito
de morte. Através dos séculos tornaram-se a desafiadora reafirmação de fé dos
judeus prestes a serem assassinados pelo fato de serem judeus. As vozes ouvidas
às portas das câmaras de gás, há apenas pouco mais de meio século, comprovam
isto.
Longe de serem uma afirmação fria e teórica, as palavras do Shemá são um clamor
unificado do inquebrantável espírito judeu. Não só afirmam que Deus é Um como
declaram: “Deus, Ele é o nosso Deus, momentaneamente reconhecido apenas por
nós, o mesmo Deus que um dia será reconhecido como Deus único por toda a
humanidade”. Esta declaração reflete a missão do povo de Israel.
Reverenciemos o saber Divino, que escolheu este versículo entre os 5845 que
compõem a Torá para torná-lo o estandarte da vitória do povo judeu. A Unicidade
Divina por ele expressa é o fundamento de muitos ideais grandiosos e poderosos. A
declaração da Unicidade é um protesto contra todas as formas de politeísmo,
qualquer que seja a sua aparência. É também o símbolo da abrangente dedicação
dos nossos corações, das nossas vidas e dos nossos meios para realizarmos o
serviço Divino com amor e dignidade, como expressa o versículo seguinte. Isto
equivale dizer: “Um Deus – um compromisso”.
A Unicidade Divina implica a fraternidade humana, a unidade do Cosmo
(fundamento da ciência moderna) e a unidade da História em seu propósito
messiânico. Para sublinhar este último ponto, nossos rabinos decretaram que o
primeiro versículo do Shemá fosse seguido das palavras (ditas em voz baixa):
“Bendito seja o Nome daquele cujo Glorioso Reino é eterno” – uma manifestação do
triunfo final da justiça na Terra. A voz baixa expressa nosso embaraço ao
compararmos nosso objetivo final à dolorosa realidade que vivemos.
Dar a estas palavras de abertura do Shemá um papel tão preponderante na vida e
no pensamento de Israel assegura que as sagradas verdades que elas eternizam
tornem-se um legado para toda a Casa de Israel.
As Três Seções
1 – Shemá
É a passagem que encabeça este capítulo. Inclui, como vimos, a Unicidade de Deus
e nosso total compromisso afetuoso com Ele. Indica que o aprendizado e o ensino
da Torá são os meios pelos quais isto pode ser realizado e se refere também à
simbologia das Mitsvót do Tefilin e Mezuzá, que dedicam o nosso corpo e nossos
lares a este fim.
2 – Vehaiá im Shamôa (Deuteronômio 11:13-21)
Ensina que nossa prosperidade na Terra de Israel estará garantida somente sob a
condição de cumprirmos a Torá. Caso contrário, estaremos fadados ao exílio.
Termina falando do nosso dever de transmitir a Torá à próxima geração e das
MItsvót de Tefilin e Mezuzá.
3 – Vaiômer (Números 15:37-41)
Nos apresenta a Mitsvá do Tsitsit e a dedicação de nossas vidas a tudo o que isto
simboliza. Termina com a menção da lembrança do Êxodo do Egito, que devemos
guardar em nossas mentes todos os dias de nossas vidas.
Momento Solene
O recitar do Shemá fazia parte do serviço do Templo e foi levado pelos rabinos para
o serviço da sinagoga. Haja visto que a Torá nos ordena “falar sobre elas... ao
deitar-se e ao levantar-se”, os rabinos ordenaram a leitura do Shemá nos serviços
da noite e da manhã. Ao Shemá foi dado um lugar de proeminência e sua recitação
é precedida de bênçãos de agradecimento a Deus pelos presentes materiais do dia a
da noite e pela dádiva espiritual da Torá, seguido de um reconhecimento da
poderosa ação redentora de Deus, como no Êxodo e ao longo de toda nossa história.
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Fonte: Judaísmo para o Século 21 – Editora Sefer e Or Israel College - 2003
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Don Isaac Aboab - Último Rabi-mor de Castela
Por: Barros Basto
Don Isaac Aboab – Último Rabi-mor de Castela
Por: Barros Basto
Don Isaac Aboab nasceu em Toledo em 1433.
Foi discípulo do Rabbi D. Isaac Campaton,
Rabi-mor de Castela, e sucessor do seu mestre
no alto cargo de chefe supremo dos judeus
castelhanos. D. Isaac Aboab foi um comentador
bíblico espanhol muito notável, tendo deixado
várias obras suas, escritas em hebreu, cujo
assunto consta de sermões e comentários
teológicos. Foi cognominado, por vários
escritores israelitas, “o último Gaon de
Castela”.
Depois que os reis católicos Fernando e Isabel
decretaram a expulsão dos judeus, em 1492,
ele com trinta outros dos mais respeitáveis
judeus da sua terra, chegou a Lisboa com
ordens de negociar com o rei D. João II de
Portugal para a recepção dos seus correligionários banidos.
Ele e os seus companheiros foram habitar em condições favoráveis no Porto.
Morreu, poucos meses depois da expulsão, em janeiro de 1493. O seu discípulo, o
cronista e matemático Rabi Abraham Zacuto, dirigiu o seu funeral.
Muitos dos discípulos de Aboab atingiram grandes distinções. Seu filho, Jacob BenIsaac Aboab, editou em 1538, em Constantinopla a sua obra Nahar Pishon (Rio
Caudaloso) que é uma coleção de sermões.
Um seu parente, Imanuel Aboab, nascido no Porto, no seu livro Nomologia narra
estes acontecimentos da seguinte forma:
“É dever saber o curioso leitor, que em Castela foi mui estimado este senhor dos
Reis Fernando e Isabel; e logo que em março do ano mil quatrocentos e noventa e
dois, fizeram em Granada a pragmática dita contra os judeus, se foi o venerável
sábio, com outras trinta casas de nobres israelitas, a Portugal, a concertar com ElRei, que era então João, segundo daquele nome, a quem sucedeu Emanuel. Foram
bem recebidos de El-Rei, e acordaram, que pudessem entrar no Reino, seiscentas
casas de judeus, com pagar-lhe oito escudos de ouro cada um (como escreve
Osório, apesar que o Usque diz somente dois escudos) e ao cabo de seis anos, lhes
mandaria dar navios acomodados, e por moderados preços, para poderem sair de
seus reinos, para partes de África ou Levante, como mais quisessem. A estas trinta
famílias mandou El-Rei acomodar na cidade do porto; e fez que a cidade desse a
cada uma delas uma casa; como deram mui cômodas, na rua que chamam de S.
Miguel, e em meio de todas elas estava a Sinagoga, que eu me recordo haver visto
ainda na minha meninice sem estar derrocada”.
“Tinham as ditas trinta casas um "P" por armas (adornar), que mostrava o nome da
cidade”.
“Pagavam de pensão, cinqüenta reis, ou maravedis (antiga moeda portuguesa e
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espanhola com o valor de 27 reis) cada uma a cidade, e ela lhes fazia empedrar a
rua; uma destas trinta casas era a de meu avô o senhor Abraham Aboab, a quem o
senhor perdoe. Sucedeu então aquela crueldade enormíssima, de mandar El-Rei Don
João levar muitos meninos dos hebreus as ilhas que chamam dos Lagartos; por
causa de haverem passado a Portugal mais número de gente que as seiscentas
casas capituladas. A todos os que foram de mais, condenou El-Rei e tomou por seus
escravos e aos filhos inocentes mandou levar as ditas ilhas dos Lagartos”.
“Antes de ver este lastimoso espetáculo e os outros que lhe sucederam nos anos
seguintes passou a gozar a vida eterna o bendito Rab; e entendo que está sepultado
na cidade do Porto. De todos os seus discípulos, que foram muitos e mui excelentes,
não acho que haja passado algum a Portugal, além do Rabi Abraham Zacuto,
astrônomo de El-rei Don Manuel: o qual conta a morte do seu honrado mestre, e
como ele darsou, ou fez sermão nos seus funerais”.
Deste relato de Imanuel Aboab vemos que as trinta famílias de judeus castelhanos,
que vieram refugiar-se no Porto se instalaram na rua de S. Miguel, na parte hoje
chamada de S. Bento da Vitória, em casa que em grande parte foram demolidas
para a construção do convento de S. Bento e da Cadeia da Ralação; e em meio de
todas elas estava a Sinagoga, diz Aboab, e eu informo o leitor que a Sinagoga, ou
Esnoga, como diz o povo, era local da atual Igreja de S. Bento da Vitória.
A Sinagoga da Judaria de Olival tinha o mesmo comprimento que a Igreja de S.
Bento da Vitória, não incluindo a capela-mor. Ainda existe a cornija da antiga
Esnoga, a qual se pode ver, entre o teto e o telhado da ala norte do convento
beneditino; começando ela junto à fachada oriental da Igreja, percorre toda a
fachada lateral sul e dobrando em ângulo reto segue a fachada ocidental até ao
edifício da capela-mor onde é interrompida. Por isso se verifica que a Sinagoga tinha
o mesmo cumprimento que a Igreja e é de presumir que a largura, atendendo-se as
proporções estéticas, fosse sensivelmente a mesma.
Comemorando a transformação da Esnoga em edifício cristão, ainda hoje existe
gravada na padieira da porta lateral do átrio, na parede mestra, ao lado esquerdo de
quem entra na Igreja de S. Bento, a seguinte legenda:
“Quoe Fuerat Sedes Tenebrarum
Est Regia Solis
Expulsis Tenebris Sol Benedictus Ovat”
Cuja tradução seja isto dito para o leitor desconhecedor da língua latina é:
“Aqui, que foi a sede das trevas, é sede real do Sol; expulsas as trevas o sol
beneditino está triunfante”.
Imanuel Aboab, que nos informa ter o último Rabi-mor de Castela findado os seus
dias na cidade do Porto e ter sido sepultado no cemitério desta cidade, ter vindo
dirigir o funeral e ter discursado nele o célebre astrônomo Rabi Abraham Zacuto,
nasceu nesta cidade nortenha, não se sabendo quando saiu de cá. Sabemos que ele
residiu muitos anos em Veneza, onde morreu em 1628.
Após a sua morte, os seus parentes e herdeiros fizeram imprimir em 1629 a sua
obra, já terminada em 1625. Esta obra, chamada Nomologia, é uma história e
apologia da tradição judaica, contendo também várias notícias sobre a história dos
judeus em geral e sobretudo dos judeus espanhóis e portugueses.
Temos falado em cemitério judaico no Porto e ainda não dissemos onde estava
situado e por isso agora o vamos fazer.
O cemitério israelita do Porto era na encosta do Monte das Virtudes, no terreno que
ficava limitado pelas muralhas da cidade. Calçada das Virtudes para Miragaia, Rio
Frio, atual capela do Espírito Santo e Pedra Escorregadia. Esta pedra ou rocha ficava
próximo do postigo das Virtudes e de uma parte da atual rua da Cordoaria Velha,
voltada para S. Pedro de Miragaia.
No Arquivo Municipal do Porto vários documentos existem referindo-se ao cemitério
israelita desta cidade...
Ben-Rosh
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NOTAS
Gaon – Palavra hebraica que significa – majestade, sublimidade.
Darsou – Palavra aportuguesada do hebraico Darash – discursar.
Darush - Discurso, sermão.
Rab – Mestre em teologia, equivalente a doutor em teologia hebraica.
Artigo publicado no Ha-Lapid números 99, 100, 101 de maio a outubro de 1940
e no número 114 de novembro / dezembro de 1942.
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