Artigo - Rede de Estudos do Trabalho
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Artigo - Rede de Estudos do Trabalho
1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS ESCOLAS DAS CIDADES/CAMPO: A CONTRIBUIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES DE MARINGÁ – PR (APP-SINDICATO) Rozenilda Luz Oliveira de Matos 1 Maria Edi da Silva Comilo 2 Resumo É muito comum nos referirmos à formação de professores como um dos maiores problemas da educação brasileira, e é também comum afirmar que tais problemas justificam o discurso que admite que os professores não estejam aptos a exercerem sua profissão, isso também justifica os cursos de formação que lhes são colocados, como meio de “sanar” o problema. Faz parte da metodologia de pesquisa (lógica dialética), retomar o conceito de formação e sobre o papel da APP-Sindicato de Maringá PR, uma vez que isso traz em seu âmago reflexões sobre o trabalho docente. O núcleo desta pesquisa consiste, em analisar a contribuição da APP-Sindicato para a formação continuada do professor, uma vez que esta se expressa na prática pedagógica e quais os avanços em relação à formação dos professores da escola do campo, considerando que 6.190 professores (cidade/campo) foram formados até o momento pelo sindicato. A pesquisa será realizada na sede da APP-Sindicato de Curitiba e na sub-sede de Maringá, tendo como recorte para levantamento bibliográfico os períodos de 1980 a 2010. A APP-Sindicato do Paraná possui uma trajetória veiculada ao processo de formação dos professores. Desde a sua criação (26 de abril de 1947) vem realizando cursos que apresentam objetivos definidos em relação a formação político-pedagógica do professor. Esses cursos de formação possuem conteúdo e metodologias próprias. Estão divididos em 3 etapas, sendo a primeira etapa: as concepções teóricas, ideológicas e pedagógicas da sociedade e da escola e seu impacto na gestão do Estado. Segunda etapa: formação da/o dirigente e gestão democrática, elaborações e concepções teóricas e pedagógicas para a sociedade e escola no campo da tradição marxista. E terceira etapa: o modernismo e o pósmodernismo no contexto do mundo do trabalho e da educação. Dentro dos debates sobre a educação pública do Estado do Paraná está a temática Educação do Campo. Essa temática incentiva um repensar os próprios cursos de formação, pois os cadernos temáticos da APPSindicato desde 1998 abordam sobre a formação humana vinculada a uma concepção de campo. Palavras-chave: Formação de professores; Escola Cidade/Campo; APP- sindicato; 1 Mestranda da Universidade Estadual de Maringá. Telefone (44) 99825321 email: [email protected] ou [email protected] 2 Educadora da Escola Camponesa Municipal Chico Mendes – Assentamento Pontal do Tigre – Querência do Norte – PR. Mestranda da Universidade Estadual de Maringá. Telefone (44) 9994-9282 e-mail: [email protected] ou [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO A formação de professores tem enfrentado grandes desafios devido ao contexto social, político, e econômico do país, principalmente no campo da educação pública e vem propondo, por meio do esforço coletivo de seus profissionais, idéias cuja base está na defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade, sem deixar de procurar compreender como isso acontece e se desvela na prática docente. O homem é antes de tudo um ser vivo, e também possui uma natureza social. Dessa forma ele entra na esfera ontológica que está voltada à realidade sócio-histórica. A realidade objetivada passa, segundo Duarte (2008 p. 25) a ser ela também objeto de apropriação pelo ser humano [...] tal apropriação gera nele necessidades humanas de novo tipo, que exige nova atividade, num processo sem fim. Ainda segundo Duarte (2008 p. 28) até mesmo a criação de um objeto e/ou instrumento não é arbitrária para o homem. Ao transformar a natureza também ocorre uma transformação subjetiva no homem, “e esse é um ponto importante para entender o papel da dialética entre objetivação e apropriação na determinação da historicidade do ser humano.” o caráter contraditoriamente humanizador e alienador com que a objetivação do homem se realiza no interior das relações sociais de dominação, tem implicações importantes no que diz respeito à formação da individualidade. (Duarte 2007 p. 24) Portanto, no que diz respeito à formação de professores, faz-se necessária uma discussão que se volte para a formação do individuo na sua totalidade. Um indivíduo que faça de sua vida uma relação consciente com o gênero humano. Essa formação voltada ao indivíduo é também a formação de um posicionamento sobre o caráter humanizador ou alienador, isso vai depender das atividades objetivadoras e na formação de igual posicionamento em relação aos conteúdos das objetivações das quais ele se apropria e com isso se realiza. A Associação dos Professores do Paraná (APP), por meio de sua trajetória, compreende que a educação tem passado por muitas dificuldades devido ao contexto social, político, e econômico do país, principalmente no campo da educação pública e vem propondo, por intermédio de seu programa de formação continuada, cursos cuja base está na defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade, porém é mister procurar compreender como isso acontece e se desvela na execução dos cursos e prática docente. 3 O núcleo de minha investigação consiste em analisar a contribuição da APP-Sindicato para a formação continuada do professor, uma vez que esta se expressa na prática pedagógica e quais os avanços em relação à formação dos professores da escola do campo. A pesquisa será realizada na sede da APP-Sindicato de Curitiba e na sub-sede de Maringá, tendo como recorte para levantamento bibliográfico os períodos de 1989 a 2011. Embora tenha optado por esse recorte faz-se necessário um levantamento sobre as produções dirigidas aos professores antes desse período. Busquei sistematizar e refletir sobre o projeto de formação continuada, com a finalidade de ter subsídio e suporte teórico capaz de desvelar a relação entre a formação continuada, a prática pedagógica do professor e os avanços em relação às discussões sobre as políticas públicas voltadas também para a escola do campo. Para tanto será elaborado um questionário de dez perguntas relacionadas a formação para serem aplicadas a sete pessoas, entre elas estão o presidente do sindicato e o secretário do projeto de formação e alguns membros da equipe responsáveis pela aplicação dos cursos na sub-sede de Maringá. É na história da formação dos sindicatos brasileiros que podemos encontrar diferentes formas de contribuir com a prática docente, pois segundo Silvia Maria Manfredi (2002) o sindicato dos professores possui práticas educativas sistemáticas, intencionalmente programadas, congressos de trabalhos, cursos, seminários, palestras, etc, com o intuito de formar quadros organizativos, formar o professor tornando-o capaz de despertar a consciência crítica com a finalidade de repensar a sua prática docente e o seu papel em uma sociedade intrinsecamente dinâmica. A APP-Sindicato do Paraná possui uma trajetória veiculada ao processo de formação dos professores. Desde a sua criação (26 de abril de 1947) vem realizando cursos que apresentam-se cada vez mais elaborados e com objetivos definidos em relação a formação político-pedagógica do professor. Esses cursos de formação possuem conteúdo e metodologias próprias. Estão divididos em 3 etapas, sendo a primeira etapa: as concepções teóricas, ideológicas e pedagógicas da sociedade e da escola e seu impacto na gestão do Estado. Segunda etapa: formação da/o dirigente e gestão democrática, elaborações e concepções teóricas e pedagógicas para a sociedade e escola no campo da tradição marxista Abordagens em Gramsci e em Paulo Freire. E terceira etapa: o modernismo e o pósmodernismo no contexto do mundo do trabalho e da educação. Dentro dos debates sobre a educação pública do Estado do Paraná está o tema da Educação do/no Campo. Os cursos tem o intuito de repensar a própria formação, pois os 4 cadernos temáticos da APP- Sindicato desde 1998 abordam sobre a formação humana vinculada a uma concepção de campo. 2 OBJETIVO GERAL - Compreender por meio da história da formação sindical no Brasil, especificamente o caso da APP-Sindicato de Maringá, a contribuição da formação continuada oferecida por meio de seu programa de formação para professores das escolas urbanas e do campo e a contribuição para a prática docente 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Fazer um levantamento histórico sobre o surgimento da APP-Sindicato (ano de 1947) no quadro da educação paranaense; - Descrever sobre o curso de formação oferecido pela APP-Sindicato, metodologias, objetivos e conteúdos. - Analisar a contribuição real do curso de formação oferecida pela APP-Sindicato à prática docente e ao desenvolvimento da criticidade do professor voltados à sua prática pedagógica. - Abordar sobre o avanço das discussões Educação no Campo dos cadernos de formação da APP-Sindicato e nos cadernos temáticos. 3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO A expressão “investigação qualitativa” não foi utilizada nas ciências sociais até o final dos anos sessenta. Na investigação qualitativa, quando falamos acerca de um grupo, numa organização, como foco de estudo, estamos a utilizar a palavra numa perspectiva sociológica, para nos referirmos as pessoas que interagem e que partilham expectativas em relação ao comportamento umas das outras. As propostas relativas de estudos qualitativos diferem, significativamente, umas das outras, mas apresentam pontos comuns . Existem perguntas específicas que todas as boas propostas formulam, como por exemplo: “1.O que pretende fazer? Como o vai fazer ?.Por que o vai fazer?De que forma aquilo que vai fazer se relaciona com o que outros já fizeram? E Qual é o contributo potencial (para a investigação básica e/ou prática ) do trabalho ?” (Bogdan e Taylor 1994) 5 Na investigação qualitativa a fonte direta dos dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal, pois é ele que freqüenta o local onde fará suas observações com uma preocupação do contexto. Na parte central de uma metodologia genuinamente crítica, encontra-se a lógica dialética e a aplicação da lógica dialética permitenos reconhecer a especificidade histórica e a construção social dos fenômenos existentes. A lógica dialética revelada por Marx e Engels permite-nos escolher entre reivindicações de verdade alternativas, sem perder a visão de sua especificidade histórica e sua transitoriedade. Em relação à pesquisa qualitativa e a lógica dialética, podemos destacar como uma de suas principais características a capacidade de ver o mundo em constante de movimento e considerar a desconstrução das formas dos fenômenos existentes e de categorias analíticas que, ao procurar uma análise mais profunda que as aparências disponíveis ao senso comum, ajuda a revelar relações sociais e econômicas essenciais para a existência de um fenômeno, expondo assim uma orientação praxiológica na qual o conhecimento é considerado algo inseparável da atividade prática consciente. Assumir uma posição crítica em relação à pesquisa significa compreender a historicidade dos fatos e fenômenos como sendo agentes de mudanças, não apenas registrar a mudança, mas procurar compreende-la e a aproximação dialética problematiza o que é aparente e o que é essencial na natureza e na sociedade, e propor um estudo por intermédio das lentes do tempo é o mesmo que buscar o desvelamento histórico da aparência para chegar na essência do que é real. Faz parte da pesquisa crítica a “desconstrução” de categorias, porém ela não se resume em uma reconstrução através de uma descrição detalhada dessa mesma categoria, mas que o essencial é compreender que uma determinada categoria existe e depende de uma série de ralações sociais, que faz parte da relação eu x mundo dentro contexto econômico e político, assim as relações sociais assumem papel importante e servem de base para a descrição crítica. O método da lógica dialética proposto para esta pesquisa procura instrumentalizar o pesquisador no conhecimento da realidade e o princípio da contradição presente nessa lógica auxilia a refletir sobre a realidade tal qual ela se apresenta a primeira vista, são as abstrações que auxiliam a chegar ao concreto. Se a lógica dialética exige um movimento do pensamento, a materialidade histórica também tem o pressuposto da transformação e diz respeito as relações sociais que foram construídas pela humanidade e que coloca o trabalho como categoria central nas relações sociais. 6 Resumindo, a pesquisa qualitativa e a lógica dialética permitem uma visão do mundo real, inserido em um estado de constante movimento, coloca as categorias num contexto e revela sua especificidade histórica propondo um estudo mais profundo que ajude a revelar as relações sociais e econômicas existentes. Essa prática consciente se refere a reflexão que será luz norteadora da coleta de dados e da observação crítica do que seja real, pois enquanto que o paradigma da pesquisa quantitativa se refere a hipótese dedutiva, a pesquisa qualitativa busca na interpretação a riqueza de detalhes que estejam fixadas na realidade de um dado momento histórico. 4 REVISÃO DE LITERATURA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A formação de professores tem sido recentemente foco de estudo de muitas investigações e estes estudos, por sua vez, evidenciam um quadro desolador e a imperiosa necessidade de se repensar formas diferentes de compreender, praticar e organizar a formação docente. Desde o início dos anos 1980, conforme alguns estudos realizados no Brasil definiuse uma tendência de que a má formação de professores é o motivo da baixa qualidade do ensino no país, porém sabe-se que o problema é bem mais profundo e complexo. Os profissionais da educação que constituem sua equipe têm como tarefa comum a educação dos seus alunos e vale salientar que esta é uma tarefa compartilhada e não dividida. E esse compromisso assumido coletivamente é que pode impulsionar não só a melhoria da qualidade do ensino como o desenvolvimento profissional docente. No trabalho do professor/educador pode-se perceber, de certa forma, a determinação da percepção de como ele vê o mundo e esta perpassa tanto sua concepção de conhecimento como os caminhos de sua prática, por isso o foco deste estudo tem também como perspectiva perceber qual é a contribuição da formação de professores oferecida pela APP-Sindicato da sub sede de Maringá, dentro de uma visão de mundo e de sociedade determinada por sua constituição histórica de luta e de compromisso intrínseco com a educação. Segundo Antonio Gramsci (2001), os professores devem desenvolver capacidades de análise para compreender a sociedade e o papel da educação neste contexto. O pressuposto desta teoria, é que quanto maior for a consciência de um professor sobre a origem e as conseqüências de suas ações e das realidades que as constrangem, maior é a probabilidade de o professor poder controlar e modificar as suas ações. Nesse sentido, a tarefa fundamental na formação de professores é desenvolver as capacidades de análise crítica sobre a sua prática e o contexto social e educativo vigente. 7 Fazendo justiça a fundamentação teórica que dentro da sua complexidade responde aos anseios da pesquisa a que me proponho é que recorro, entre outros, a Antônio Gramsci, este que com o olhar limitado às grades e paredes de sua cela, conseguiu transpassar o limite físico e lançar seu olhar na história das lutas travadas também dentro das práticas pedagógicas, uma vez que para ele “toda relação hegemônica é necessariamente uma relação pedagógica”. Pretendo utilizar esse mesmo olhar para compreender a questão do trabalho educativo. Segundo José Contreras (2002, p. 23): no contexto educativo, a proletarização, se ela significa alguma coisa, é sobretudo a perda de um sentido ético implícito no trabalho do professor. A falta de controle sobre o próprio trabalho que possa significar a separação entre concepção e execução se traduz no campo educativo numa desorientação ideológica e não só na perda de uma qualidade pessoal para uma categoria profissional. 3 Ainda segundo Contreras (2002, p. 63) a formação de professores existe e esta historicamente ligada ao desenvolvimento institucional do ensino, mas o fato é que os professores ocupam uma posição subordinada na comunidade discursiva da educação. “seu papel em relação ao conhecimento profissional representados pelas disciplinas acadêmicas é o de consumidores, não de criadores”. A classe dos profissionais da educação em específico é dominada por uma ideologia que os atinge por vários canais, sob as mais diversas influências que perpetuam das idéias da classe dominante. Nesse sentido o próprio Gramsci (2001) questiona: onde está a filosofia daquilo que corresponde a realidade? A filosofia da realidade de um indivíduo ou da coletividade deve ser buscada na ação e enquanto existir contradições entre o pensar e o agir, teremos ações fragmentadas e espasmódicas, como rebeliões desesperadas, greve desarticuladas, extremismo e oportunismo. A ação coerente exige a clareza de um a concepção de mundo, de uma visão unitária e crítica dos processos sociais. A supremacia de um grupo social manifesta-se de dois modos: como dominação e como direção intelectual, ou seja, com auxílio efetivo do poder e com aspiração ao poder. Gramsci (2001) explica a afirmação e a difusão da ideologia como um processo guiado pela hegemonia. A classe detentora do poder na sociedade é também detentora do controle cultural e dos aparatos educativos e isso explica o porquê desses aparatos se constituírem no campo de batalha, que consolida o tipo de sociedade que se quer reproduzir e perpetuar. 3 CONTRERAS, José. Autonomia do professor. 2002 8 Para que se desenvolva uma verdadeira reflexão sobre a práxis educativa é necessário ter consciência de que a escola deve ser encarada como possibilidade histórica de potencializar a capacidade de aprendizagem e desenvolvimento crítico das classes populares. É claro que a atual estrutura educacional tem a escola como instituição que controla e seleciona saberes e, conforme Carvalho (2005, p.51): alicerçada no modelo educacional norteado pelo paradigma da razão instrumental protagonista do esvaziamento da qualidade de ensino. A prática de ensino se apresenta sob a égide da neutralidade, desvinculada do mundo e da vida. REFÊRENCIAS DUARTE, Newton. Educação escolar, teoria do cotidiano e a escola de Vigotski. 4. ed. Campinas: Autores Associados, 2007. P.11-41. DUARTE, Newton. Sociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões? 1. ed. Campinas: Autores Associados, 2008. P.17-38. KOSIK, K. Dialética do concreto. 6. ed. Trad. Célia Neves e Alderico Toríbio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. BOGDAN, R. e BIKLEN, S. A investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. CARVALHO, Ademar de Lima. Os caminhos perversos da educação: a luta pela apropriação do conhecimento no cotidiano da sala de aula. EdUFMT. Cuiabá: 2005. CONTRERAS, José. Autonomia do professor. Cortez. São Paulo, 2002 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo. (vol 2) Trad. Carlos Nelson Coutinho. com Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques. Civilização Brasileira (6 vols) 2 ed. RJ, 2001 MANFREDI, Silva Maria. Formação sindical, história de uma prática cultural no Brasil. Escrituras. SP 2002. MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. Martins Fontes, SP, 1986