Lesões SLAP no ombro

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Lesões SLAP no ombro
LESÕES SLAP NO OMBRO
Lesões SLAP no ombro*
GLAYDSON GOMES GODINHO1, JOSÉ MÁRCIO ALVES FREITAS2,
LUIZ MARCELO B. LEITE3, EDUARDO R.M. PINA4
RESUMO
SUMMARY
No período compreendido entre março de 1991 e março de 1998, 662 ombros, correspondendo a 657 pacientes,
foram submetidos ao tratamento cirúrgico de desarranjos da articulação do ombro, por via artroscópica, nos
Hospitais Ortopédico-AMR e Belo Horizonte. Foram identificadas 44 lesões SLAP (44 pacientes), isoladas ou associadas a outras patologias, correspondendo a um percentual de 6,6%. A associação mais freqüente foi com a instabilidade anterior (50%). Comparativamente, Stetson et
al. identificaram 140 dessas patologias em uma revisão
de 2.375 pacientes submetidos à artroscopia, portanto, com
percentual de 5,9%. Os autores discutem a dificuldade do
diagnóstico clínico, devido à forma de apresentação muito vaga dos sintomas, sugerindo, às vezes, a síndrome do
pinçamento subacromial e, às vezes, um quadro de ombro doloroso por instabilidade oculta. O diagnóstico por
imagens também é impreciso e tem variação muito grande no índice de acertos e de preferências entre os vários
autores. A certeza diagnóstica só pode ser obtida com a
artroscopia do ombro, através da qual os autores realizaram a reparação das lesões, utilizando apenas o desbridamento da lesão em 22 pacientes (55%), sutura translabral
transglenóide em 1 (2,5%), miniparafusos e sutura labral
em 9 (22,5%), ressecção da alça labral em 6 (15%) e nenhum procedimento em 2 (5%). Os resultados do tratamento, avaliados em 27 pacientes, de acordo com os critérios da UCLA, foram de 66,7% de excelentes e 33,3%
de bons e o tempo médio de retorno ao esporte foi de 3,5
meses.
SLAP lesions in the shoulder
During the period between March 1991 and March 1998,
662 shoulders, corresponding to 657 patients, were submitted to a surgical treatment for shoulder articulation disorders through arthroscopy at the Hospital Ortopédico-AMR
and Hospital Belo Horizonte. Forty-four SLAP lesions (44
patients) were identified, which were isolated or associated
to other pathologies, corresponding to a percentage of 6.6%.
The most frequent association was made with the anterior
instability (50%). Comparably, Stetson et al. have identified
140 of these pathologies in a review of 2,375 patients submitted to arthroscopy, a percentage of 5.9%. The authors discuss the difficulty of clinical diagnosis due to the vague form
of presentation of the symptoms, sometimes suggesting subacromial impingement syndrome or diagnosis of painful
shoulder by occult instability. The image diagnosis is also
imprecise and has great variation of accuracy rate and preference among many authors. The diagnostic certainty can
only be obtained with the shoulder arthroscopy, through which
the authors repaired lesions using lesion debridement in 22
patients (55%), trans-labrum trans-glenoid in 1 (2.5%), fixation labrum using mini-screw and labral suture in 9 (22.5%),
labrum bucket-handle resection in 6 (15%), and absence of
any other procedure in 2 (5%). The treatment results of 27
patients, according to the UCLA score rate, were 66.7% excellent and 33.3% good, and there was an average time of
3.5 months to resume sports activities.
* Trab. realiz. nos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo Horizonte, em Belo Horizonte, MG.
1. Cirurg.-chefe do Grupo de Cir. do Ombro dos Hosp. Ortopédico-AMR e
Belo Horizonte – Belo Horizonte, MG.
2. Cirurg. do Grupo de Cir. do Ombro dos Hosp. Ortopédico-AMR e Belo
Horizonte.
3. Residente R4 em Cirurgia do Ombro.
4. Estagiário do Grupo de Cirurgia do Ombro.
A investigação das lesões labrais esteve sempre presente
nas observações de todos os estudiosos que tentaram compreender, especialmente, os aspectos anatômicos e fisiopatológicos da instabilidade do ombro. Se, por um lado, importantes relatos de lesões localizadas na porção ântero-inferior
labral puderam ser feitas e correlacionadas com a clínica,
graças a estudos anatômicos e achados cirúrgicos, o mesmo
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INTRODUÇÃO
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não aconteceu com a metade superior do labrum e a inserção
do tendão longo do músculo bíceps devido à dificuldade de
abordar aquela região através dos acessos cirúrgicos clássicos. Também a dificuldade na obtenção de imagens bem definidas, mesmo com métodos modernos, como a ressonância
nuclear magnética, fez com que se reservasse à artroscopia
do ombro o grande mérito de estender o campo visual do
cirurgião até espaços ainda pouco conhecidos, permitindolhe diagnosticar, estudar estática e dinamicamente e corrigir
lesões que se apresentaram como “novas” dentro do conhecimento ortopédico.
Dentro desse grupo de patologias, destacam-se as lesões
que estão localizadas na parte ântero-superior, superior e póstero-superior do labrum, tomando-se como referência central a zona de inserção do tendão longo do bíceps que, exatamente devido a essa correlação anatômica, assume grande
importância, por sua função estabilizadora dinâmica e, conseqüentemente, as lesões aí localizadas constituem fontes de
sintomas e incapacidades para o paciente, especialmente o
atleta jovem.
Snyder et al. classificaram tais lesões em quatro tipos distintos e denominaram-nas SLAP lesions (superior labrum anterior and posterior)(22).
Na clínica de artroscopia e cirurgia do ombro dos Hospitais Ortopédico e Belo Horizonte, temos desenvolvido uma
linha de pesquisa médico-cirúrgica voltada para o estudo das
lesões labrais superiores(11).
O objetivo deste trabalho é mostrar a incidência das lesões SLAP, os métodos de diagnóstico, com ênfase para a
artroscopia, as possibilidades cirúrgicas e a importante correlação com o trauma no ombro do esportista jovem.
MATERIAL E MÉTODOS
No período compreendido entre março de 1991 e março
de 1998, 662 ombros, correspondendo a 657 pacientes, foram submetidos a cirurgia por via artroscópica, no Hospital
Ortopédico-AMR e Hospital Belo Horizonte, para tratamento de desarranjos de sua articulação. Foram identificadas 44
lesões SLAP, presentes em 44 pacientes, isoladamente ou
associadas a outras patologias, o que corresponde a um percentual de 6,6% dos ombros operados. Do total, excluímos
os pacientes com menos de 6 meses de seguimento pós-cirúrgico, o que nos permitiu o estudo em um universo de 40
ombros em 40 pacientes.
Vinte e sete pacientes foram submetidos a exame físico e
exame radiográfico nas incidências em ântero-posterior em
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Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes segundo os tipos da lesão (I, II, III e
IV), com destaque para a participação dos desportistas
rotações neutra, externa e interna, perfil de Bernageau(5) e
outlet view. Utilizamos a artrotomografia computadorizada
(artro-CT) em 4 pacientes e a artrorressonância nuclear magnética (artro-RMN) em 6 outros. Não lançamos mão da artrografia simples ou da ecografia como métodos auxiliares
para o diagnóstico.
Esse mesmo grupo de 27 pacientes foi avaliado segundo
os critérios clínicos da UCLA e serviram como base para a
análise dos resultados cirúrgicos. Os demais pacientes foram
entrevistados por telefone e acrescidos os dados contidos em
seus prontuários e em fitas de vídeo contendo o documentário cirúrgico deles. Esse grupo, adicionado aos 27 anteriores, constitui nossa base do estudo epidemiológico.
O seguimento mínimo foi de 6 meses e o máximo de 84,
com média de 42,9 meses. A faixa etária variou de 18 a 46
anos, média de 30,6 anos. A incidência no sexo masculino
foi de 33 ombros (82,5%) e, no feminino, de 7 ombros (17,5%).
O lado dominante foi acometido 27 vezes (67,5%) e o nãodominante, 13 vezes (32,5%). Trinta e oito pacientes (95%)
eram destros e 2 sinistros (5%). Vinte e seis pacientes eram
desportistas (65%) (gráfico 1), 3 deles profissionais (7,5%),
sendo 2 nadadores e 1 atleta de vôlei. Os restantes eram atletas de lazer ou ocasionais. Quatorze pacientes (35%) não praticavam esportes.
As lesões foram classificadas segundo os critérios de Snyder(22), em tipo I quando existia apenas a fragmentação labral
(fig. 1); tipo II, quando existia a desinserção labrum-glenoidal (figs. 2, 3 e 4); tipo III, caracterizada pela alça de balde
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Fig. 3 – Desenho
esquemático do
tipo II de lesão
SLAP. Observar a
desinserção labral
superior.
Fig. 1 – Desenho
esquemático da
lesão SLAP
do tipo I
Fig. 4
Diagnóstico
artroscópico de
uma lesão do tipo
II. Setas indicando
a zona de
desinserção e
fragmentação
labral.
G – glenóide,
L – labrum,
B – tendão longo
do bíceps.
Fig. 2 – RMN com
diagnóstico do tipo
II de lesão SLAP.
Setas indicando a
zona labral
superior lesada.
RESULTADOS
labral (figs. 7 e 8); e tipo IV, com alça de balde estendendose ao tendão bicipital (fig. 9).
A técnica cirúrgica empregada constou de inspeção articular e tratamento das lesões articulares associadas, desbridamento e regularização labrum-glenoidal apenas, sem fixação, em 22 pacientes (55%), sutura translabral-transglenóide
em 1 (2,5%), sutura com uso de miniparafusos de 2,7mm em
9 (22,5%) (figs. 4, 5 e 6), ressecção da alça labral em 6 (15%)
(figs. 7, 8 e 9) e, nada foi feito em 2 (5%), tratando-se apenas
a lesão associada. Recentemente, tivemos a oportunidade de
realizar a sutura da alça, em vez de sua ressecção simples,
em 2 pacientes com lesão do tipo IV, ambos não fazendo
parte desta série por terem menos de 6 meses pós-cirúrgicos.
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Em 9 pacientes (22,5%), a suspeita diagnóstica foi feita
em bases clínicas, em 6 (15%) foi realizado estudo por ressonância nuclear magnética e destes, apenas 2 (33,3%) evidenciavam a imagem da lesão (fig. 2).
Em apenas 1 paciente o diagnóstico foi feito através de
artrotomografia computadorizada, enquanto em outros 3 o
exame foi negativo.
O tipo I foi identificado em 6 pacientes (15%), tipo II em
23 (57,5%), tipo III em 9 (22,5%) e tipo IV em 2 (5%) (gráfico 2).
A lesão SLAP apresentou-se isoladamente em 7 pacientes
e em associação com outras patologias nos 33 restantes. Entre as patologias associadas, a tendinite calcária esteve presente em 5 ombros (12,5%), luxação recidivante anterior em
20 (50,0%), subluxação recidivante em 1 (2,5%), síndrome
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Fig. 5 – Imagem
artroscópica do
labrum superior
reinserido com
sutura anterior e
posterior à
inserção do tendão
bicipital.
G – glenóide,
U – cabeça do
úmero,
BL – tendão
longo do bíceps.
Fig. 8 – Imagem
artroscópica de
uma lesão do tipo
III. Setas indicando
a separação da
alça labral.
L – labrum.
Fig. 6 – Controle
radiológico
pós-cirúrgico da
fixação labral
observada nas figs.
2, 4 e 5. Setas
indicando os
miniparafusos
inseridos no pólo
superior da
glenóide.
Fig. 9 – Imagem artroscópica de uma lesão do tipo IV à esquerda e desenho
esquemático (N. Walch), no alto à direita. U – cabeça do úmero, B – tendão
longo do bíceps, G – glenóide. Setas indicando a separação da alça.
Fig. 7 – Desenho
esquemático de
uma lesão
do tipo III
do impacto na fase II em 6 (15%) e ruptura do manguito
rotador em 1 (2,5%).
Em 28 pacientes (70%) houve associação com história de
trauma, 20 dos quais com luxação glenumeral anterior e 1
subluxação.
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A distribuição dos tipos da lesão dentro do grupo de portadores de instabilidade glenumeral anterior traumática (luxação e subluxação) mostrou a seguinte freqüência: tipo I com
1 paciente (4,8%), tipo II com 11 (52,4%), tipo III com 8
(38,0%) e tipo IV com 1 (4,8%) (gráfico 3).
Os resultados, segundo os critérios da UCLA, utilizados
na avaliação de 27 pacientes, foram 18 (66,7%) excelentes e
9 (33,3%) bons. Um paciente apresentou recidiva pós-cirúrgica da luxação, mas a artroscopia evidenciou completa cicatrização labrum-glenoidal.
Nos ombros que apresentaram lesão SLAP isoladamente,
o tempo médio decorrido entre o início dos sintomas e a cirurgia foi de 16,3 meses, com mínimo de 6 e máximo de 36
meses.
O tempo médio de retorno ao esporte foi de 3,5 meses,
mínimo de 1 mês e máximo de 10 meses.
DISCUSSÃO
A discussão quanto ao grau de participação das lesões labrais nas patologias do ombro, especialmente no que concerRev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998
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Gráfico 2 – Freqüência dos diferentes tipos da lesão
Gráfico 3 – Relação percentual entre portadores de instabilidade anterior
do ombro (luxação e subluxação) e tipos da lesão
ne à importância do labrum para a estabilidade do ombro,
faz parte das inquietações daqueles que ao longo do tempo
vêm-se ocupando do estudo desta articulação(1,3,8,9,13,20). Com
o advento da artroscopia, novos horizontes foram abertos e o
conhecimento de novas patologias e suas correlações com
sintomas e perdas funcionais do ombro passou a ser um novo
desafio.
Andrews & Carson(1) relataram a ocorrência de lesões labrais ântero-superiores, mas sem a extensão ao labrum posterior e com incidência de 9,7% de rupturas parciais do bíceps. Os autores acreditavam que tal lesão fosse causada por
tração repetitiva no bíceps, como conseqüência de movimentos de arremesso.
Reeves(18) e Perry(16) demonstraram que em jovens com menos de 25 anos a fixação do labrum ao osso é mais frágil do
que aquela da cápsula e tendão subescapular. Concluem, assim, que luxações nessa faixa etária tendem a romper a ligação labrum-glenoidal, raciocínio que podemos estender às
lesões labrais superiores.
Burkhead(6) estudou a vascularização labral e demonstrou
que o aporte vascular ao labrum é muito rico, exceto no labrum superior, o que pode explicar a evolução da lesão SLAP
pela dificuldade de cicatrização após um trauma maior ou
pela repetição de microtraumas locais.
Rodosky et al.(19), Hunter et al.(12) e Snyder et al.(22) demonstraram que o mecanismo de desaceleração realizado pelo
bíceps do atleta arremessador causa tração excessiva no la-
brum superior. Demonstrou-se, em laboratório de biomecânica, a importância da ação normal do bíceps, agindo principalmente durante a abdução e rotação externa como protetor
do mecanismo labrum-ligamentar glenumeral inferior, mecanismo este que entra em falência progressiva quando se
estabelece a lesão na inserção do tendão bicipital no labrum
superior (lesão SLAP), como demonstrado experimentalmente(19).
As lesões que acometem as porções ântero-súpero-posteriores do labrum glenoidal, SLAP lesions, como descritas por
Snyder et al.(22) e Stetson et al.(23), constituem um grupo de
lesões de origem traumática, freqüentemente associadas com
outras patologias intra e extra-articulares, traumáticas ou não,
com incidência na população mais jovem e ativa. São de
diagnóstico extremamente difícil, pois apenas a dor, sem precisão topográfica, é um achado constante, enquanto sua presença localizada no tendão longo do músculo bíceps é infreqüente. Infreqüentes também são os estalidos intra-articulares que, quando associados à dor, história de trauma com
apoio no membro superior com extensão do cotovelo, e ombro em flexão de 70 graus e abdução de 30 graus(22), ou em
atletas arremessadores(19,22), assumem importância na pesquisa clínica. Lembrar, contudo, que estalidos articulares são
muito freqüentes em ombros normais.
O teste clínico realizado com o cotovelo estendido, antebraço pronado e em adução passando da linha média do tórax (cross chest adduction test) tem sido advogado por al-
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G.G. GODINHO, J.M.A. FREITAS, L.M.B. LEITE & E.R.M. PINA
guns autores(4). Nesse teste, há manifestação de dor profunda, localizada no sulco intertubercular, a qual desaparece com
o antebraço supinado. Esse sinal é de utilidade também para
o diagnóstico diferencial com patologias acromioclaviculares.
O teste de compressão-rotação, realizado em posição supina, com o membro superior em 90 graus de abdução, 90
graus de flexão do cotovelo, fazendo-se compressão articular com movimentos de rotação, objetiva capturar a alça labral, provocando um ressalto articular.
A realização do teste de tensão do bíceps (palm up test) é
de utilidade e evidencia o grau de participação desse músculo na patologia.
Wright & Hawkins(25) descreveram o teste do deslizamento anterior (AST) realizado com as mãos posicionadas nos
quadris, polegar para trás e o examinador estabilizando a escápula com uma das mãos, enquanto a outra é colocada no
cotovelo, resistindo à força de impulsão realizada para cima
e para trás pelo paciente. A suspeita diagnóstica é baseada
na presença da dor ou clique durante o esforço. O teste mostrou sensibilidade de 78,4% e especificidade de 91,5%, mas
não confirma o diagnóstico.
A presença como patologia associada deve ser sempre lembrada nos portadores de instabilidade anterior traumática. Enfim, o quadro clínico, muito impreciso, assume aspectos que
confundem, ora com o diagnóstico de tendinite do supraespinhoso, ora com o ombro instável doloroso “oculto”, como
atestam Cordasco et al.(8) e até mesmo com as patologias
acromioclaviculares(4).
Como métodos auxiliares de diagnóstico por imagem, a
radiografia simples ou contrastada não é eficaz. A ecografia
também não tem valor(14). Para LaBan et al.(14), a artroscopia
do ombro, tomografia computadorizada, artrografia e RMN
têm sensibilidade e especificidade relativamente iguais na
visibilização da lesão labral. Para alguns autores(5,12,15), a artrotomografia computadorizada é freqüentemente a técnica
mais indicada devido à definição e secção fina que podem
ser obtidas.
Utilizamos a artrotomografia computadorizada em 4 pacientes, com apenas uma confirmação diagnóstica.
Bernageau(5) assegura que a artro-RMN é mais eficaz e
deve constituir a técnica do futuro, afirmando ainda que a
demonstração e interpretação da lesão SLAP é difícil, particularmente nos tipos I e II, e que a análise do labrum glenoidal é limitada. Cartland et al.(7), baseados em estudo realizado em 10 pacientes nos quais a RMN não permitiu o diagnóstico em nenhum deles, concluem que esse é um exame
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sem especificidade e sensibilidade. Smith et al.(21) realizaram estudo por RMN em 6 pacientes que também foram submetidos a artroscopia do ombro. Encontraram 4 lesões SLAP,
mas somente 1 apresentou suspeita baseada em dados clínicos pré-operatórios. Field & Savoie(10) detectaram a lesão por
intermédio da RMN em 4 de 13 pacientes examinados. Para
Snyder et al.(22), a RMN e a artrotomografia ajudam no diagnóstico, mas não têm definição acurada.
Utilizamos a artro-RMN para pesquisa diagnóstica em 6
pacientes, com confirmação em 2 (33,3%).
A definição diagnóstica foi feita sempre através da artroscopia, como recomendado por vários autores(7,22,25).
Stetson et al.(23) identificaram 140 lesões SLAP em uma
revisão de 2.375 pacientes submetidos a artroscopia do ombro (5,9%). Curiosamente, nossos índices se aproximam
muito disso, já que identificamos 44 lesões SLAP em 662
ombros, ou seja, 6,6%. A proporção semelhante pode ser um
indicador de que a capacidade de diagnóstico do grupo de
trabalho condiz com um nível de experiência bastante satisfatório. O diagnóstico não é fácil e pode passar despercebido, ou confundir-se com aspectos que são variáveis da anatomia normal, como a inserção regular, porém frouxa, do
labrum, a forma labral meniscóide, ou a fragmentação labral
comumente vista em pacientes na faixa etária acima de 50
anos de idade e que constitui lesão degenerativa e não lesão
SLAP. Por esses motivos, os tipos I e II são os de diagnóstico
diferencial mais difícil, especialmente nas faixas etárias mais
altas, como ocorre no ombro doloroso do atleta sênior.
Em nossa revisão, lesões SLAP apresentaram-se isoladamente em 7 pacientes e em associação com outras patologias
nos 33 restantes, o que demonstra a importância do reconhecimento e abordagem concomitante dessa lesão.
As patologias associadas são de etiologias as mais variadas: traumáticas, inflamatórias e degenerativas. Contudo, é
freqüente a correlação com a instabilidade anterior de origem traumática (21 ombros, ou 52,5%) (gráfico 3). Warner
et al.(24) encontraram 9 lesões SLAP em 585 artroscopias
(1,5%) e dessas, 7 (77,8%) estavam associadas com lesão de
Bankart e luxação recidivante.
Muita ênfase tem sido dada à importância do tratamento
da lesão SLAP concomitante com o tratamento artroscópico
da instabilidade anterior do ombro, como um dos fatores que
têm levado a redução nos índices de recidivas pós-cirúrgicas(23).
Quando analisamos a freqüência dos tipos da lesão associados com luxação e subluxação, observamos que o tipo II
foi o mais freqüente (52,4%) (gráfico 3). Contudo, em análiRev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998
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se individualizada dos tipos, observamos que, dos 9 casos do
tipo III, 8 (88,9%) apresentaram essa correlação e 1 dos 2
portadores do tipo IV, também (50%).
Quanto ao tratamento, Snyder et al.(22) e Stetson et al.(23)
recomendam a realização apenas do desbridamento do tecido degenerado no tipo I, desbridamento e sutura com fixação labrum-glenoidal no tipo II, desbridamento com fixação
labral na glenóide e sutura da alça de balde no tipo III, alternativamente podendo apenas ressecar-se a alça (figs. 7, 8 e
9). Procedimento semelhante é realizado para o tipo IV. Para
a fixação e sutura, esses autores utilizam miniparafusos de
2,7mm fixados em fios inabsorvíveis nº 2. O tratamento da
lesão de Bankart, quando presente, é feito da mesma maneira, fixando-se o labrum ântero-inferior com 3 ou 4 miniparafusos e sutura.
Temos realizado os mesmos procedimentos recomendados por Snyder(22) (figs. 4, 5, 6, 7, 8 e 9), inclusive com sutura da alça nos tipos III e IV. Não temos experiência com o
uso de âncoras absorvíveis, usadas por alguns autores(2).
Stetson et al.(23) encontraram 77% de bons ou excelentes
resultados, 19% de razoáveis e 4% de pobres, enquanto os
nossos situaram-se apenas nas faixas de excelentes e bons
(66,7 e 33,3%, respectivamente), mas com um contingente
muito menor de pacientes avaliados.
O tempo médio de retorno ao esporte foi de 3,5 meses,
mas, dos 3 atletas profissionais (2 nadadores e 1 atleta de
vôlei), apenas 1 (nadador) voltou ao nível anterior. Um dos
atletas de vôlei abandonou o esporte, devido a uma lesão
ligamentar no joelho e não ao resultado cirúrgico do ombro,
que está assintomático.
CONCLUSÃO
As lesões SLAP têm origem traumática, são causadas por
mecanismo de queda com apoio do membro superior em abdução do ombro de 30 graus e flexão de 70 graus, podem ser
conseqüência de tração exercida pelo tendão bicipital no labrum no esforço do arremesso, ou podem ser conseqüência
de outros mecanismos de trauma ainda não conhecidos ou
reproduzidos em laboratórios.
Caracteristicamente, ocorrem na população de faixa etária mais jovem e desportista e têm importante correlação com
a instabilidade anterior do ombro, devendo ser sempre identificadas e tratadas simultaneamente com a correção da instabilidade.
O diagnóstico clínico é extremamente difícil e as queixas
de dor e incapacidade progressiva são muito vagas. A tendinite do tendão longo do bíceps, associada a ressaltos articuRev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 5 – Maio, 1998
lares, pode sugerir o diagnóstico. Muito embora a artrotomografia computadorizada seja advogada por alguns autores, a artrorressonância nuclear magnética deve vir a ser o
método de diagnóstico por imagens com maior índice de acerto. O único método seguro de confirmação diagnóstica é pela
artroscopia, através da qual pode-se também realizar a regularização labral e/ou sutura com fixação labrum-glenoidal,
com a qual se obtém alto índice de excelentes e bons resultados quanto ao alívio da dor e para a completa recuperação
funcional para os esportes.
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