Ciência, Tecnologia e Sociedade Aula 8 2015.II
Transcrição
Ciência, Tecnologia e Sociedade Aula 8 2015.II
Ciência, Tecnologia e Sociedade BC0603 (3-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo - BRI UFABC, 2015.II [email protected] Aula 8 4ª-feira, 24 de junho Módulo II: Aula 8 Blog da disciplina: https://cienciatecnologiaesociedadeufabc.wordpress.com/ ou Google: cienciatecnologiaesociedadeufabc No blog você encontrará todos os materiais do curso: • Programa • Textos obrigatórios e complementares • ppt das aulas • Links para sites, blogs, vídeos, podcasts, artigos e outros materiais de interesse 2 Módulo II: Aula 8 • Módulo II: Ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento econômico O lugar da tecnologia na reprodução econômica das sociedades humanas; bases tecnológicas da emergência do capitalismo industrial; ciência e tecnologia no pós-guerra. 3 Módulo II: Aula 8 Texto obrigatório: STOKES, D. (2005) “Enunciando o problema”, p. 15-49. : 34 p. Leituras complementares: BUSH, V. (1945; 2014) Science: The Endless Frontier, in: Revista Brasileira de Inovação, 13 (2), julho/dezembro (2014). BRITO CRUZ, C. H. (2014) “’Ciência: a fronteira sem fim’, uma apresentação”, in: Revista Brasileira de Inovação, 13 (2), julho/dezembro (2014). 4 Módulo II: Aula 8 Donald Elkinton Stokes (1927-1997) e a crítica do modelo linear de CTI 5 Módulo II: Aula 8 6 Donald E. Stokes • O cientista político Donald E. Stokes, autor de O quadrante de Pasteur, passou a maior parte de sua carreira acadêmica pesquisando comportamento eleitoral e liderando importantes centros de ensino e pesquisa, entre os quais o Woodrow Wilson School of Public and International Affairs, da Universidade Princeton. • Seu interesse pela política científica surgiu a partir de sua atuação como gestor acadêmico e de políticas de ciência e tecnologia • Não obstante seu envolvimento “tardio” com o tema de CTS, sua contribuição ao campo é bastante relevante 7 O quadrante de Pasteur • Em O quadrante de Pasteur, Stokes faz a crítica do modelo linear de CTI, que consolidou-se como paradigma da política de CTI após a II Grande Guerra • Stokes traça a história intelectual e institucional das noções de ciência pura e ciência aplicada para mostrar as origens do modelo linear e as razões de seu triunfo a partir da segunda metade do século XX 8 O quadrante de Pasteur • Em lugar do modelo linear, Stokes propõe um outro paradigma para entender a relação entre ciência básica e ciência aplicada, ciência pura e tecnologia, entendimento e uso: o quadrante de Pasteur 9 “Enunciando o problema” • “Meio século atrás, as principais potências científicas, lideradas pelos Estados Unidos, emergiram da Segunda Guerra Mundial com políticas baseadas em uma visão amplamente aceita do papel da ciência básica na inovação tecnológica, e essas políticas apresentaram, ao longo de várias décadas, uma notável estabilidade. Mas essa estrutura do pós-guerra tem sido submetida a intensa pressão durante os últimos anos (…)” (Stokes 2005: 15) 10 “Enunciando o problema” • “Precisamos de uma visão mais realista do relacionamento entre a ciência básica e a inovação tecnológica para podermos estruturar políticas científicas e tecnológicas para um novo século” (Stokes 2005: 16) 11 “Enunciando o problema” • Science, the Endless Frontier, relatório de Vannever Bush, diretor do Office of Scientific Research and Development (OSRD), solicitado pelo presidente Franklin Delano Roosevelt em 1944 e publicado em 1945 (depois da morte de FDR) • FDR pediu que Bush “tentasse prever o papel da ciência em tempo de paz” (Stokes 2005: 16) 12 “Enunciando o problema” • Questão central que Science, the Endless Frontier deveria responder: “como os Estados Unidos poderiam manter seu investimento em pesquisa científica quando a guerra tivesse acabado” (Stokes 2005: 17) 13 “Enunciando o problema” • “As razões para a profunda influência desse relatório estão menos em seu detalhado projeto de política científica do que no seu esquema conceitual para pensar a ciência e a tecnologia, visto que Bush e seus colegas procuraram estender o apoio governamental à ciência básica até os tempos de paz e, ao mesmo tempo, reduzir drasticamente controle do governo sobre a realização das pesquisas” (Stokes 2005: 17) 14 “Enunciando o problema” • As duas máximas de Bush: 1. “A pesquisa básica é realizada sem se pensar em fins práticos” (Stokes 2005: 17) – versão estática 2. “A pesquisa básica é precursora do progresso tecnológico” (Stokes 2005: 18) – versão dinâmica 15 “Enunciando o problema” • “A característica definidora da pesquisa básica [termo criado por Bush] reside na sua contribuição ‘ao conhecimento em geral e ao entendimento da natureza e de suas leis’” (Stokes 2005: 17-18) • “Bush via uma tensão inerente entre o entendimento e o uso como metas da pesquisa e, por extensão, uma separação natural entre as categorias da pesquisa básica e da pesquisa aplicada” (Stokes 2005: 18) 16 “Enunciando o problema” • “Com isso, [Bush] expressou a crença de que, se a pesquisa básica por apropriadamente isolada de curto-circuitos decorrentes de considerações prematuras sobre sua utilidade, ela provará ser uma remota, tecnológico, à porém medida poderosa, que a geradora pesquisa de progresso aplicada e o desenvolvimento forem convertendo as descobertas da ciência básica em inovações tecnológicas capazes de satisfazer toda a fama de necessidades da sociedade: econômicas, de defesa, de saúde e outras” (Stokes 2005: 18) 17 “Enunciando o problema” • “A imagem (...) que veio a representar essa versão dinâmica da visão do pós-guerra é a do conhecido modelo linear, com a pesquisa básica levando à pesquisa aplicada e ao desenvolvimento, e em seguida à produção ou operações, segunda a inovação seja de produto ou processo” (Stokes 2005: 18-19) 18 “Enunciando o problema” • “A visão de Bush do relacionamento entre a ciência fundamental e a inovação tecnológica continha um elemento adicional, estreitamente ligado a seu segundo cânone da pesquisa básica – o de que aqueles que investirem em ciência básica obterão seu retorno em tecnologia à medida que os avanços da ciência forem convertidos em inovações tecnológicas pelos processos de transferência de tecnologia” (Stokes 2005: 19) 19 “Enunciando o problema” • A forma estática do paradigma: Básica Aplicada 20 “Enunciando o problema” • A forma dinâmica do paradigma – o “modelo linear”: Pesquisa básica Pesquisa aplicada Desenvolvimento Produção e operações 21 “Enunciando o problema” • “Mas a influência desse paradigma teve um custo, na medida em que ele tanto oculta quanto revela. O cânone de Bush sobre o objetivo essencial da pesquisa básica fornece uma visão demasiado restrita dos motivos que inspiraram essa atividade. E seu cânone a respeito da importância da pesquisa básica para os avanços tecnológicos também dá uma visão estreita das reais fontes da inovação tecnológica. Como consequência, esse paradigma tornou mais difícil solucionar uma série de questões de política que requerem uma clara visão dos objetivos da pesquisa científica e da relação entre as descobertas científicas e a melhoria tecnológica” (Stokes 2005: 20) 22 “Enunciando o problema” • [Stokes concorda] “Os diferentes objetivos da pesquisa básica e da pesquisa aplicada tornam esses tipos de pesquisa conceitualmente distintos” : – “A qualidade definidora da pesquisa básica é que ela procura ampliar a compreensão dos fenômenos de um campo da ciência” – “A pesquisa aplicada volta-se para alguma necessidade ou aplicação por parte de um indivíduo, de um grupo ou da sociedade” (Stokes 2005: 22-24) 23 “Enunciando o problema” • [Stokes discorda]“Presume-se que uma tensão inerente entre os objetivos de entendimento geral e de utilização aplicada mantém as categorias da pesquisa básica e da pesquisa aplicada empiricamente separadas” : – “De acordo com essa visão, uma determinada atividade de pesquisa pertencerá a uma ou outra dessas categorias, mas não a ambas” (Stokes 2005: 25) 24 “Enunciando o problema” • [Stokes conclui] “É possível formar uma visão muito diferente desses relacionamentos a partir dos anais da pesquisa (...)”: – “A crença de que as metas do entendimento e do uso estão inerentemente em conflito e de que as categorias da pesquisa básica e da pesquisa aplicada são necessariamente separadas encontra-se ela própria sob tensão com a experiência real da ciência” (Stokes 2005: 30) 25 “Enunciando o problema” • “Alguns estudos de grande importância têm mostrado que as sucessivas escolhas da pesquisa são influenciadas por ambas essas metas” (Stokes 2005: 30) • “À medida que os estudos de Pasteur tornavam-se progressivamente mais fundamentais, os problemas escolhidos por ele e as linhas de investigação adotadas tornavam-se progressivamente mais aplicados” (Stokes 2005: 31) 26 “Enunciando o problema” • “No século que se seguiu a Pasteur, todos os ramos da ciência registraram progressos que eram parcialmente inspirados por considerações de uso” (Stokes 2005: 33) • “Se a pesquisa fundamental pode ser diretamente influenciada por objetivos aplicados, então a ciência básica não pode mais ser vista apenas como uma remota geradora de descobertas científicas (...) a serem posteriormente convertidas em novos produtos e processos pela pesquisa aplicada e pelo desenvolvimento (...)” (Stokes 2005: 39)27 “Enunciando o problema” • “O modelo linear tem sido um alvo tão fácil que conseguiu atrair fogo originário de duas outras concepções, menos simplistas mas igualmente errôneas” (Stokes 2005: 40) • Uma delas era a suposição de que, em última análise, toda ou quase toda inovação tecnológica tem suas raízes na ciência (...) Em todos os séculos anteriores a este [XX], a ideia de que a tecnologia tem por base a ciência seria simplesmente falsa” (Stokes 2005: 41) 28 “Enunciando o problema” • “Durante a maior parte da história da humanidade, as atividades práticas têm sido aperfeiçoadas por ‘melhoradores de tecnologia’ (...), os quais não conheciam nenhuma ciência (...) Essa situação somente se modificou com a ‘Segunda Revolução Industrial’ no final do século XIX (...). Contudo, até os dias atuais, uma grande quantidade de inovação tecnológica tem sido produzida sem o estímulo de avanços da ciência” (Stokes 2005: 41) 29 “Enunciando o problema” • “Mas a falha mais grave na forma dinâmica do paradigma do pós-guerra é sua premissa de que fluxos como os que soem ocorrer entre a ciência e a tecnologia se dão sempre num mesmo e único sentido, da descoberta científica para a inovação tecnológica. Ou seja, que a ciência é exógena à tecnologia, pouco importando quão múltiplos e indiretos possam ser os caminhos que as ligam” (Stokes 2005: 42) 30 “Enunciando o problema” • “A experiência também mostra ser problemático o terceiro elemento que identificamos no sistema conceitual de Bush, a ideia de que um país pode esperar capturar um retorno em tecnologia de seu investimento em ciência básica (...) Os japoneses haviam mostrado que os maiores saltos da tecnologia produtiva podiam ser dados por um país bastante atrasado em pesquisa básica (...)” (Stokes 2005: 46-47) 31 “Enunciando o problema” • “Esse quadro da experiência da ciência coloca-nos diante de um notável quebra-cabeça da história intelectual. Os anais da pesquisa registram com tanta frequência progressos científicos decorrentes simultaneamente da busca de entendimento e de considerações de uso que somos cada vez mais levados a perguntar como chegou a ser tão amplamente aceito que tais metas encontram-se inevitavelmente sob tensão, e que as categorias da ciência básica e da ciência aplicada são radicalmente separadas” (Stokes 2005: 47) 32 Cenas dos próximos capítulos... 33 Capítulo 3 “Transformando o paradigma” 34 Para falar com o professor • São Bernardo, sala 322, Bloco Delta, 4as-feiras, das 17-19h (é só chegar) • Santo André, quinzenalmente, mesas de estudos, primeiro andar, Bloco A, 2as-feiras, das 12-13h (é só chegar) • Atendimentos fora desses horários, combinar por email com o professor: [email protected] 35
Documentos relacionados
O Quadrante de Pasteur: em busca de um modelo de
quanto ao desenvolvimento industrial e tecnológico com base em capital e tecnologia próprias. A hipótese da associação da não-busca de entendimento fundamental, que pressupõe o saber da ciência já ...
Leia mais