Autores latino-americanos de dicionários de sociologia
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Autores latino-americanos de dicionários de sociologia
Autores latino-americanos de dicionários de sociologia: uma análise de gênero. Latin American authors of sociology dictionaries: a gender analysis Lino Trevisan Doutorando em Sociologia IFCH / UNICAMP. Bolsista CAPES. Professor de Sociologia do Departamento Acadêmico de Estudos Sociais, Campus Curitiba, da UTFPR. Endereço eletrônico: [email protected]. Leila da Costa Ferreira Professora Titular de Sociologia da Unicamp. Docente no mestrado e doutorado em sociologia e no doutorado em ambiente e sociedade, na mesma universidade. Pesquisadora do NEPAM. Endereço eletrônico: [email protected]. RESUMO. A partir do pressuposto de Aroux (1992) de que o dicionário é uma tecnologia, se considera os dicionários de sociologia objetos históricos, instrumentos pedagógicos e testemunhos valiosos para a compreensão de interpretações sociológicas. Investiga-se o gênero dos responsáveis e autores de 16 dicionários de sociologia e ciências sociais publicados por autores latino-americanos, entre os anos de 1939 e 2002. A identificação do gênero dos responsáveis e dos autores(as) das obras permite concluir que há um predomínio masculino na responsabilidade e na autoria das obras. PALAVRAS-CHAVE: Gênero – autores latino-americanos – dicionários de sociologia ABSTRACT. Assuming Aroux’s (1992) presupposition that the dictionary is a technology, sociology dictionaries are considered historical objects, pedagogic tools and valuable evidence for understanding the sociological interpretations. The gender of responsibles and authors of the 16 dictionaries of sociology and social sciences published by Latin American authors, between 1939 and 2002, were investigated. The gender identification of both the responsibles and the authors of the works shows that there is male predominance on the responsibility and on the authorship of the works. KEYWORDS: Gender – Latin American authors - dictionaries of sociology Introdução Neste trabalho pretende-se investigar o gênero dos responsáveis e dos autores (as) dos dicionários de sociologia e ciências sociais publicados por autores latino-americanos. Denomina-se responsável quem consta como autor, editor ou organizador da obra, tendo seu nome identificado na capa ou na ficha catalográfica. Define-se como autores (as) a todos os profissionais que colaboraram na elaboração de termos, tendo seu nome identificado como autor ou colaborador. Estão excluídos, portanto, os profissionais que desempenharam funções de revisão e editoração, entre outras. Inicia-se com uma reflexão sobre o papel dos dicionários de sociologia em contraponto com os dicionários de língua. Em segundo lugar apresentam-se as obras pesquisadas. Num terceiro momento identifica-se e analisa o gênero dos responsáveis e dos autores(as) dos dicionários. Por fim apresentam-se algumas considerações. 1 Dicionários de sociologia: uma tecnologia pedagógica? Se a prática comum nas ciências sociais, e na sociologia em particular, é a utilização de obras de autores que abordam os assuntos que se deseja pesquisar ou discutir e não o uso de dicionários, por que utilizá-los como fonte de pesquisa? Parte-se do pressuposto que a partir do momento que são redigidos e publicados, os dicionários específicos, como os de sociologia e ciências sociais, passam a constar como uma referência. Mais do que isso, são instrumentos – científicos, acadêmicos, pedagógicos – através dos quais, seus autores pretendem dar legitimidade a conhecimentos, como conceitos e termos, visto que o dicionário possui um estatuto de autoridade. Para Seabra e Welker (2001, p. 32) o “dicionário informa de que maneira (por exemplo, com que significado) as palavras são usadas”. AUROUX (1992, p. 65) em sua obra A revolução tecnológica da gramatização considera que a gramática e o dicionário são os pilares do saber metalinguístico. Embora sua análise esteja centrada no processo da gramatização e em dicionários monolíngues, o autor considera o dicionário como uma das duas tecnologias bases do saber metalinguístico. Os dicionários disciplinares têm um caráter distinto dos dicionários de língua, que estão associados à sistematização e legitimação de um idioma, que é definido como uma língua nacional, estando, portanto, associados à questão da identidade nacional. Os dicionários de áreas do conhecimento, “registram acepções que o termo possui dentro do domínio da especialidade” (BARROS, 2011, p. 144); identificam “as palavras que referem conceitos de um dado domínio temático” (MACIEL, 2011, p. 145). Para Krieger (2011, p. 74) as obras de caráter terminológico, por reunirem termos e conceitos de um campo de saber científico, técnico, tecnológico, jurídico, entre outros, do conhecimento especializado, tornam-se representativas de um universo de dizer e de conceituar, próprio das distintas categorias profissionais. Pode-se considerar que os dicionários de sociologia enquanto específicos de uma ciência, de uma área do conhecimento, possuem sua importância pedagógica, através da qual pode ocorrer a transferência de um saber, isto é, o mesmo pode dispor de informações que acessadas pelo consulente, podem ser assimiladas, ampliando o seu conhecimento. ORLANDI (2002, p. 114) afirma que os “exemplos estruturam discursivamente o dicionário”, pois ao serem dicionarizados são representados como usos legítimos. Os exemplos desempenham um papel privilegiado para expor o discurso presente no dicionário, 2 pois, através dos exemplos, o autor da obra reforça os sentidos que quer atribuir a determinado léxico, podendo utilizar para isso definições ou referências de autores consagrados para legitimar seu discurso. BIDERMAN (1996, p. 27) defende que “a informação veiculada pela mensagem fazse, sobretudo, por meio do léxico, das palavras lexicais que integram os enunciados. (...) o léxico é o lugar da estocagem da significação e dos conteúdos significantes da linguagem humana”. Logo, o significado que é atribuído a um léxico num dicionário representa uma definição, uma conceituação, estando associado, portanto, ao conhecimento humano. Tem-se consciência de que os termos dicionarizados são opções feitas, pelos sujeitos autores, com o objetivo de fixar e estabilizar sentidos e, por consequência, tornar os mesmos legitimados, através da construção de uma memória institucionalizada nos dicionários. Os termos não dicionarizados, podem não adquirir visibilidade dentro de um campo de saber. No caso dos dicionários de sociologia, como ocorre com os dicionários em geral, às vezes um léxico pode ficar invisível num dicionário, mesmo que seja utilizado de forma frequente. O que significa um termo, ou um dicionário de sociologia na voz dos autores de algumas dessas obras? Archêro Júnior e Conte (1939, p.6) escrevem no prefácio de seu dicionário que no mesmo constariam “todos os termos ou pelo menos o grosso dos termos mais nucleares usados na referida ciência”. Emilio Willems (1950, p. ix/x) afirma que “ao lado de um vocabulário aceito por quase todos os autores, existe bom número de termos usados por alguns e rejeitados por outros; (...) o presente dicionário contém termos já sancionados pelo uso contínuo”. Como não poderia ser de outro modo, os autores ou organizadores, inclusive de outros dicionários, escrevem no início de suas obras, que nelas objetivam apresentar ao menos o grosso dos termos mais nucleares usados na referida ciência; termos já sancionados pelo uso contínuo; conceitos-chave os quais têm importância inconteste; termos considerados essenciais ou fundamentais com uso consagrado, entre outras justificativas. Isso reforça o argumento de que o fato de um termo não constar num dicionário, significa que para o autor(s) deste, o termo não é considerado como um tema importante, nuclear, de uso corrente ou contínuo pela área. De outro lado, pode-se considerar que as obras que dicionarizam o termo o consideram como de uso frequente e importante. Além de divulgar interpretações sociológicas a respeito dos termos, aos dicionarizá-los, há o objetivo de dar legitimidade científica às acepções registradas, podendo indicar, em alguns casos, a disputa pela 3 hegemonia discursiva dentro do campo.1 Por isso entender quais os sentidos que são atribuídos aos léxicos em questão, pode revelar interpretações de diversos autores e de momentos históricos diferentes no processo de institucionalização da sociologia. Este procedimento será realizado em outra etapa da pesquisa. Este trabalho, como dito anteriormente, limita-se à identificação e análise do gênero dos responsáveis e autores latinoamericanos de dicionários de sociologia e ciências sociais, que serão apresentados a seguir. 2 O corpus da pesquisa. Para facilitar a visualização do corpus deste trabalho, ele será apresentado no Quadro 1, que contém as obras identificadas no decorrer da pesquisa. É possível que outras obras tenham sido publicadas. Nº ANO Autor / Organizador Título Local 1 2 1939 Archêro Jr e A. Conte Dicionário de sociologia 1939 H. Baldus e E. Willems Dicionário de etnologia e sociologia São Paulo São Paulo 3 1944 C. A. Echánove Trujillo Diccionario de sociología Havana2 4 1950 Emílio Willems Dicionário de sociologia Porto Alegre 5 1955 Joaquim Pimenta 6 1961 Editora Globo Enciclopédia de cultura (sociologia e ciências correlatas) Dicionário de sociologia Rio de Janeiro e São Paulo Porto Alegre 7 1976 CLACSO Buenos Aires 8 1976 Alfredo Poviña Terminos latino-americanos para el diccionario de ciencias sociales Diccionario de sociología a traves de los sociólogos 9 1977 Ferreira, Luiz L. P. Dicionário de sociologia São Paulo 10 1978 Costa e Silva, L. E. T. Dicionário básico de sociologia Rio de Janeiro 11 1978 Santos, W. dos Vocabulário de sociologia Rio de Janeiro 12 1986 Benedicto Silva Dicionário de ciências sociais Rio de Janeiro 13 1997 A. D. Cattani (org) Trabalho e tecnologia: dicionário critico Petrópolis, RJ 14 1998 Pansani, Clóvis Pequeno dicionário de sociologia Campinas, SP 15 2001 Acebo Ibañez; R. Brie Diccionario de sociología Buenos Aires 16 2002 Greco, Orlando Diccionario de sociología Buenos Aires Buenos Aires QUADRO 1 – RELAÇÃO DE OBRAS IDENTIFICADAS NA PESQUISA Além das obras constantes no quadro 1, autores latino-americanos contribuíram com a publicação do Diccionario de Ciencias Sociales, publicado pelo Instituto de Estudos Políticos de Madri, Espanha, em dois volumes, 1975 e 1976. A publicação dos Terminos latinoamericanos para el Diccionario de Ciencias Sociales, em 1976, é resultado deste trabalho, 1 Esta possibilidade não será objeto desta investigação. Aponta-se uma possível hipótese para outras pesquisas. 2 Neste trabalho utilizou-se a edição publicada no México em 1957, revisada e aumentada. 4 que como o próprio título indica, contem os termos elaborados pelo grupo de trabalho latinoamericano para o Dicionnario de ciencias sociales. Identificou-se ainda a colaboração de Emílio Willems na obra de René König, publicada na Alemanha em 1963. Tendo sido apresentado o conjunto das obras identificadas na pesquisa, passa-se a seguir a identificar e analisar o gênero dos responsáveis e autores. 3 Identificando o gênero dos responsáveis e autores(as) das obras. Para facilitar a identificação e visualização do gênero dos responsáveis e autores(as), serão apresentadas no Quadro 2, as obras com o total de responsáveis, quantos do sexo masculino e quantos do sexo feminino, repetindo-se o procedimento para os autores(as). Nº ANO Autor / Organizador Título Respons. 1 1939 Archêro Jr e A. Conte Dicionário de sociologia 2 M F Autores M F ? 2 2 2 2 2 2 2 2 3 1939 H. Baldus e E. Willems Dicionário de etnologia e sociologia 1944 C. A. Echánove Trujillo Diccionaro de sociología 1 1 1 1 4 1950 Emílio Willems Dicionário de sociologia 1 1 1 1 5 1955 Joaquim Pimenta 1 1 6 1961 Globo (Vários) Enciclopédia de cultura 1 1 (sociologia e ciências correlatas) Dicionário de sociologia Ed. Globo 84 62 10 12 7 1976 Grupo de Trabajo de Desarollo Cultural CLACSO Terminos latinoamericanos para el diccionario de ciencias sociales CLACSO 64 45 17 2 8 1976 Alfredo Poviña 1 1 1 1 9 1977 Ferreira, Luiz L. P. Diccionario de sociología a través de los sociólogos. Tomo 1 e2 Dicionário de sociologia 1 1 1 1 10 1978 Costa e Silva, L. E. T. Dicionário básico de sociologia 1 1 1 1 11 1978 Santos, W. dos Vocabulário de sociologia 1 1 1 1 12 1986 Benedicto Silva Dicionário de ciências sociais 7 3 80 63 17 13 1997 A. D. Cattani (org) 1 1 21 11 10 1 1 1 1 15 2001 Acebo Ibañez; R. Brie Trabalho e tecnologia: dicionário critico Pequeno dicionário de sociologia Diccionario de sociología 2 2 2 2 16 2002 Greco, Orlando Diccionario de sociología 1 1 1 1 23 19 4 14 1998 Pansani, Clóvis Totais 4 264 196 54 14 QUADRO 2 - GÊNERO DOS RESPONSÁVEIS E AUTORES DAS OBRAS. ? = Não foi possível identificar o gênero; a maioria dos nomes está grafada apenas com as iniciais e o sobrenome. 5 3.1 Gênero dos responsáveis pelas obras Das 16 obras analisadas, 2 possuem responsabilidade institucional, por isso, o número total de responsáveis, bem como a participação masculina e feminina neste quesito será analisada excluindo-se as obras de número 6 e 7. Com isso será considerado o número de 14 obras neste primeiro momento, as quais possuem 23 responsáveis. Nesta categoria destaca-se o Dicionário de Ciências Sociais, publicado pela FGV. Por ser uma obra que foi elaborada a partir das edições inglesa e espanhola sob os auspícios da UNESCO, para abranger as diversas áreas das ciências sociais, a mesma contou com uma equipe editorial composta por 7 pessoas, sendo 4 mulheres (57,14%) e 3 homens (42,86%), sendo um deles o coordenador da equipe editorial. A presença de 4 mulheres na equipe editorial é um fato relevante, pois além de terem uma participação maior é a única das obras objetos desta pesquisa que possui mulheres como responsáveis. Dito de outra forma, das 14 obras apenas 1, o que corresponde a 7,14%, possui presença feminina entre os responsáveis pela obra, enquanto outras 13, correspondendo a 92,86% das obras possuem apenas homens como responsáveis. Destas, 3 obras possuem 2 responsáveis, enquanto 10 obras possuem apenas 1 responsável. Olhando apenas para o número de responsáveis pelas obras (23), as mulheres correspondem a 17,39% enquanto os homens representam 82,61%. Diante destes números que evidenciam a predominância do gênero masculino na responsabilidade das obras, passa-se a identificar o gênero dos autores(as). 3.2 Gênero dos autores(as) A autoria dos 16 dicionários analisados é resultado do empreendimento de 264 profissionais. Adverte-se o leitor que nas obras consta o nome dos autores sem a identificação do gênero. Como alguns nomes podem ser usados tanto para o gênero masculino quanto para o feminino, é possível que se tenha cometido alguma imprecisão. Contudo, realizaram-se esforços para buscar informações complementares, sempre que possível, para realizar a identificação de gênero dos autores(as). A primeira observação a ser registrada é que das 16 obras, apenas 4 são produtos de trabalho coletivo, que contaram com 249 profissionais no corpo de autores. Deste total, não foi possível identificar o gênero de 14 profissionais, que atuaram em 2 obras (da Editora Globo e o Teminos latino-americanos para el diccionario de ciencias sociales), pois seus nomes estavam grafados apenas com as iniciais e o sobrenome. Caso tivesse sido possível identificar o sexo destes 14 profissionais, talvez os percentuais a seguir não fossem os 6 mesmos. Contudo não seriam muito diferentes, uma vez que os autores(as) não identificados quanto ao gênero correspondem a cerca de 5% do total. Diminuindo-se estes 14, tem-se a identificação de 235 profissionais, sendo 181 (77,02%) do sexo masculino e 54 (22,98%) do sexo feminino. Desmembrando os dados, verifica-se que o dicionário publicado pela Editora Globo, apresenta uma participação feminina de 13,89% enquanto a participação masculina é de 86,11. Na obra Terminos latino-americanos para el diccionario de ciencias sociales, a participação feminina é de 27,42%, e a masculina de 72,58%. Por sua vez o Dicionário de ciências sociais, publicado pela FGV possui 21,25% de participação feminina e 78,75% masculina. Nestas 3 obras, embora com percentuais variados, a participação masculina é predominante, ficando em torno de 80% na média (79,44% para ser exato). A obra Trabalho e tecnologia: dicionário crítico, também com maior participação masculina (52,38%) é a que possui participação feminina mais elevada com 47,62%. Coincidentemente a obra que apresenta a menor participação feminina (13,89%) é a publicação mais antiga das quatro (Globo, 1961). Além disso, foi baseada em outras seis obras publicadas na década de 1950, entre elas os dicionários de sociologia de autoria de Emílio Willems e de Henry Pratt Fairchild. É deste último os nomes cujo gênero não foi possível identificar. Os terminos... de 1976 com 27,42% e a obra publicada pela FGV uma década depois com 21,25% possuem uma participação feminina com relativa equivalência. Por sua vez, a obra organizada por Cattani (1997) que possui a maior participação feminina com 47,62%, é a de publicação mais recente. Possivelmente esta diferença significativa na participação feminina de 1961 (13,89%) para 1997 (47,62%) esteja refletindo mudanças ocorridas no período, como um incremento mais significativo da participação feminina em diversas atividades profissionais remuneradas, incluindo a produção acadêmico-científica. Outras 3 obras são resultado de autoria dupla, enquanto 9 obras são resultado de trabalho de autoria individual. Em ambos os casos todos os profissionais, em número de 15, são do sexo masculino. Somando-se estes 15 com os 249 autores das 4 obras coletivas, tem-se um total de 264 profissionais envolvidos no trabalho de autoria. Diminuindo-se novamente os 14 não identificados quanto ao gênero, são 250 profissionais identificados, dos quais 196 (78,4%) do sexo masculino e 54 (21,6%) do sexo feminino. Embora com um índice um pouco inferior, cerca de quatro pontos percentuais a menos do que na responsabilidade das obras, a predominância do gênero masculino se repete quando a variável autoria é analisada. 7 4 Considerações O dicionário terminológico não representa a disciplina de sua área de abrangência, mas ao mesmo tempo pretende ser portador de definições e explicações de termos de uma determinada área do conhecimento. Neste aspecto ele possui uma importância pedagógica, na medida em que coloca à disposição dos consulentes informações que podem ser acessadas e assimiladas. Em outras palavras, este tipo de obra torna-se portadora de um discurso com caráter de legitimidade em função do estatuto de autoridade que o dicionário possui. Embora, particularmente nas ciências sociais, sejam passíveis de questionamentos e críticas, na medida em que normalmente não são utilizados por quem pratica pesquisa nestas áreas, os dicionários são produtos do trabalho intelectual de autores(as), sejam pesquisadores, professores ou outros profissionais da área. Dito de outro modo, também são resultado da produção acadêmica e, como tal, possuem seu papel e sua importância dentro da área do conhecimento. Neste sentido, identificar o gênero dos responsáveis e autores(as) dos dicionários é uma possiblidade de leitura, que não diz respeito às definições e explicações dos termos constantes nas obras, mas do perfil dos profissionais envolvidos na sua produção escrita. Esta chave de leitura, possivelmente não prevista no momento da elaboração dos dicionários, permitiu algumas interpretações, que se julga interessantes. A primeira destas interpretações nega um argumento, inclusive utilizado por alguns autores e/ou apresentadores das obras, de que o dicionário normalmente é uma obra coletiva. Os dados evidenciaram que apenas 4 (25%) das obras possuem este caráter, enquanto 3 (18,75%) são resultado de empreendimento em dupla, e 9 (56,25%) são fruto de trabalho individual. Em segundo lugar evidenciou-se o predomínio masculino na responsabilidade dos dicionários. Apenas uma das quatro obras coletivas teve participação feminina na responsabilidade. Todas as outras, coletivas, em dupla ou individual, foram de responsabilidade exclusivamente masculina. Quanto à autoria, só nas 4 obras coletivas teve participação feminina, com cerca de 23%. Este índice cai 2 pontos, para 21%, quando comparado com o total de autores das 16 obras analisadas. Neste quesito a participação feminina apresentou índice um pouco mais elevado do que na responsabilidade das obras. Mesmo assim manteve-se predominante a participação masculina. Conclui-se, com base nos dados analisados, que tanto na variável responsabilidade pelas obras, como na autoria, que a participação feminina é significativamente menor que a masculina, sendo em média, de 1 mulher para cada 4 homens. 8 5 – REFERÊNCIAS ACEBO IBAÑEZ, Enrique del. Diccionario de sociologia. Enrique del Acebo Ibañez y Roberto J. Brie. 2ª Ed. Buenos Aires: Claridad, 2006. ARCHÊRO JÚNIOR, Achiles; CONTE, Alberto. Dicionário de sociologia. São Paulo: Edições e Publicações Brasil, 1939. AUROUX, Sylvain. A revolução tecnológica da gramatização. Tradução: Eni Puccinelli Orlandi. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1992. BALDUS, Herbert; WILLEMS, Emílio. Dicionário de etnologia e sociologia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939. BARROS, Lidia A.; MACIEL, Anna Maria B. Quais aspectos diferenciam a elaboração de uma obra terminológica de uma lexicográfica? 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