MEMÓRIA DAS ATIVIDADES FÍSICAS EM JUIZ DE FORA

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MEMÓRIA DAS ATIVIDADES FÍSICAS EM JUIZ DE FORA
“MEMÒRIA DAS ATIVIDADES FÌSICAS EM JUIZ DE FORA/MG: RESGATE A
PARTIR DA HISTÓRIA DO CLUBE GINÁSTICO
LISBOA, Jakeline Duque de Moraes
Colégio de Aplicação João XXIII/UFJF
Este trabalho refere - se a tentativa de resgatar a história do Primeiro Clube de
Ginástica de Minas Gerais, o “Turnerschaft” , e investigar sua contribuição para a
cultura das atividades físicas na cidade de Juiz de Fora/MG. Metodologicamente foi
realizado um levantamento de pesquisa e análise do material relativo ao período de
existência do clube, ou seja, 1909 a 1979. Ao
longo
da
trajetória
do
clube,
percebemos sua inserção no meio cultural da cidade e sua influência no
desenvolvimento das atividades físicas, principalmente a ginástica e o esporte.
Introdução
A evolução da cidade de Juiz de Fora teve como fator importante a presença
de imigrantes germânicos que chegaram nos anos de 1856 e 1858, contratados pela
Companhia União e Indústria para a contratação da estrada que deveria ligar a
província de Minas Gerais, especialmente a chamada Zona da Mata, ao Rio de
Janeiro.
Estes primeiros e pioneiros imigrantes alemães foram responsáveis pelo
desenvolvimento e progresso desta então pequena aldeia do interior do Brasil,
projetando-a a nível estadual, nacional e internacional, pelo surgimento de vários
estabelecimentos industriais e comerciais, além de acumular uma série de melhorias
no espaço urbano da cidade.
OLIVEIRA (1967), descreve a importância da colônia germânica, segundo ele:
“Se Mariano Procópio, ao iniciar as obras da Rodovia União e Industria, não
tivesse estabelecido em Juiz de Fora uma colônia de imigrantes é certo que à
cidade não teria se beneficiado tão rapidamente do surto do progresso que a
nova estrada lhe deu, transformando uma simples aldeia como tantas outras
existentes na província, num empório para o qual convergiam logo as
atenções da metrópole e dos estrangeiros que a visitavam.”
No ano de 1856 chegaram os primeiros alemães, engenheiros, técnicos e
operários especializados, para a construção das obras de infra-estrutura da estrada.
Após 2 anos da chegada destes imigrantes, de acordo com STHELING (1979), Juiz de
Fora já tinha uma população de aproximadamente 1200 alemães, constituindo a
“Colônia D.Pedro II”. Juiz de Fora, que nesta época possuída uma população de
aproximadamente 600 habitantes urbanos, teve seu número triplicado com a chegada
dos imigrantes germânicos, fator de grande importância para o progresso da cidade.
A ginástica na Alemanha
Na Alemanha, a ginástica surge por volta da segunda metade do século XIX
sobre a forma de métodos ginásticos e com algumas finalidades como a de regenerar
a raça, promover a saúde, desenvolver a coragem, vontade, a força, energia, a moral
e particularmente a defesa da pátria (SOARES, 2001).
Como idealizadores da ginástica na Alemanha, têm-se Guts Muths, Adolph
Spiess e Friederich Ludwig Janh, cada qual com direções diferenciadas da prática da
ginástica, sendo um dos mais representativos Jahn pelo seu caráter militarista e pela
criação dos aparelhos ginásticos.
AZEVEDO (1920) destaca em sua obra:
“a ginástica alemã professa que não se podem adestrar facilmente as
ginastas sem se exercitarem no manejo de múltiplos aparelhos, que ela
emprega, concebendo assim mais à destreza do que à higiene, mais à força
do que à estética, mais ao músculo do que à sua saúde.”
Através deste caráter militarista adotado pela ginástica alemã, de teor
patriótico, que Jahn reforçou a possibilidade de afirmação de seu movimento de
ginástica denominado “Turnen”.
Primórdios do Turnerschaft
Os imigrantes alemães trouxeram para a cidade de Juiz de Fora uma grande
riqueza cultural, principalmente a prática de atividades físicas.
Com a consolidação econômica e conseqüentemente a formação de uma a
“elite” alemã representativa na cidade, deu-se início a uma intensa vida social, com
destaque aos encontros semanais nos parques das cervejarias existentes em Juiz de
Fora, com o objetivo de promover o lazer e o encontro das famílias.
A freqüente adesão a estes encontros que aconteciam em especial no Parque
da Cervejaria “Dois Leões”, situado à Avenida 7 de Setembro em Juiz de Fora,
encorajou o então proprietário Sr. Carlos Stiebler a instalar, por sugestão do Sr. Hans
Happel, assíduo freqüentador e entusiasmado com a juventude presente, alguns
aparelhos para a prática de ginástica, tais como: argola, barras paralelas e um
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trapézio. Esta iniciativa deu início ao que viria a ser o Primeiro Clube Ginástico do
Estado de Minas Gerais, em 1909.
O fato da maioria dos praticantes ser de origem alemã, recebeu o Clube a
denominação de “Turnerschaft”, em referência ao “Turnen” alemão. Inicialmente, o
“Turnerschaft” foi anexado a então existente Sociedade Teutônia que tinha por objetivo
a congregação dos interesses culturais dos alemães.
Com o desenvolvimento das atividades, a sociedade juizforana passou a
participar destes encontros na cervejaria. Assim, no ano de 1910, foi eleita a primeira
diretoria, que passou a divulgar as atividades tornando o clube uma instituição cada
vez mais freqüentada pela sociedade. A diretoria era formada pelos seguintes sócios:
Mateus Kascher, Gustavo Nietzsch, Joaquim Ferreira Pinto, Carlos Stiebler e Hans
Happel. Os primeiros instrutores de ginástica foram Gustavo Nietzsch e Hans Happel.
As primeiras atividades (1908 a 1914)
Inicialmente, as atividades do “Turnerschaft” eram realizadas no Parque da
cervejaria Stiebler com a instrução do alemão Hans Happel, campeão de ginástica
Mundial (Jornal Correio de Minas, 1920). Como instrutor, ele desenvolveu atividades
que tinham como base, os ideais da Escola Alemã. Foi através de suas práticas, que
esta atividade se difundiu para a sociedade juizforana, aumentando assim o número
de adeptos.
Durante a 1ª diretoria, foram realizados vários eventos sociais com os objetivos
de divulgar o “Turnerschaft” e ao mesmo tempo arrecadar dinheiro. Durante estes
eventos, eram realizadas exibições de exercícios ginásticos e concursos entre os
alunos.
Adotou o “Turnerschaft” o lema “Os exercícios fortalecem o corpo” e por
escudo os quatro efes alemães dispostos a formar uma cruz, com o significado: Frisch
( jovial), Fromm (devotado), Frolich (alegre) e Frei (livre) ou apenas franco, firme, forte
e fiel.
No ano de 1913, o então Presidente da Liga Mineira Contra Tuberculose, Sr.
Dr. Eduardo de Menezes, reuniu a diretoria do clube para uma reunião com o intuito
de instalar um estabelecimento modelar de cultura física.
Aceito o projeto pelos diretores, o “Turnerschaft” se instalou no prédio da Liga
Mineira contra Tuberculose, hoje onde está instalado em Juiz de Fora o Hemominas e
o Palácio da Saúde, dando início à uma fase de grande desenvolvimento, com a
participação em eventos sociais, cívicos e religiosos em Juiz de Fora.
Com o início da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), os diretores do Clube e
instrutores ginásticos foram obrigados a se afastarem do comando das atividades em
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decorrência de suas nacionalidades, modificando o nome de “Turneschaft” para Clube
Ginástico de Juiz de Fora, assumindo a instrução de ginástica o então aluno de Hans
Happel: Caetano Evangelista.
A consolidação das atividades do Clube Ginástico (1916 a 1961)
O período em que o instrutor de ginástica Caetano Evangelista esteve a frente
do Clube Ginástico, foi uma época de grande desenvolvimento e difusão do esporte
na cidade. Como atleta, Caetano destacou-se no cenário esportivo como ViceCampeão Sul – Americano e Campeão Brasileiro de Ginástica, contribuindo desta
forma ainda mais para o reconhecimento desta instituição.
Além da ginástica, o clube passou a oferecer à sociedade juizforana outros
esportes, os quais ao longo de sua prática, possibilitou grandes resultados nos mais
diversas competições no país. Dentre eles: voleibol, basquetebol, futebol, atletismo e
tênis que eram proporcionadas a todas as faixas etárias, sexo e etnia.
Eurico Surerus, ex-aluno do Clube Ginástico, em entrevista rememora algumas
de suas vivências como atleta:
“eu iniciei no Clube Ginástico fazendo ginástica e aprendendo a jogar
basquete... o clube me influenciou muito, tanto que em 1940 fui para o Rio de
Janeiro com 4 jogadores do Sport Clube, daqui de Juiz de Fora e fui jogar
durante 10 anos no 1º time de basquete e vôlei no flamengo.”
O Clube teve também durante este período influência direta na fundação de
várias instituições esportivas existentes na cidade de Juiz de Fora como o Tupinambás
Futebol Clube, Tupi Futebol Clube, Sport Clube Juiz de Fora, Esporte Clube Mariano
Procópio e o Clube de Tênis Dom Pedro II, além da fundação de Ligas esportivas
como a Liga de Futebol de Juiz de Fora.
No âmbito educacional, teve papel significativo no desenvolvimento da prática
de atividade física em diversas instituições de ensino, através do professor Caetano
Evangelista e de alguns de seus atletas que foram professores de instituições de
ensino como a Escola Normal, Colégio Stella Matutina, Instituto Granbery e Colégio
Santa Catarina.
No ano de 1961, falece Caetano Evangelista, atleta e professor que esteve à
frente do Clube por 45 anos ininterruptos, assumindo o seu aluno Ítalo Paschoal Luiz.
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As ultimas realizações do Clube (1961 a 1979)
Ao assumir o Clube Ginástico de Juiz de Fora, o professor Ítalo procurou dar
continuidade ao trabalho já desenvolvido pelo seu professor Caetano.Incrementou
atividades como a capoeira, então realizada pelo Grupo Meia Lua, e ainda exercícios
de força combinada com a formação de grupos que faziam exibições e apresentações
em acontecimentos públicos.
Neste período passaram pelo Clube grandes atletas que posteriormente
seguiram a profissão de professores de Educação Física, chegando a ocupar cadeiras
na Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG, como
os professores Paulo Bassoli e Hommel Jaenick.
Com o passar dos anos e o surgimento de outros lugares para prática de
exercícios, o Clube começou a trabalhar com dificuldade. O número de alunos diminui
e o Clube foi obrigado a ceder seu espaço a outras instituições.
Infelizmente, no ano de 1979, em decorrência de uma obra viária, no que
resultou o chamado “Mergulhão”, o Clube teve suas atividades encerradas. Vários
foram os protestos judiciais para evitar o fechamento, mas nenhum deles foram
acatados.
Assim, em 1979 termina a história de um Clube que ao longo de seus 70 anos
de atividades, foi um dos principais responsáveis pela inserção de uma cultura
esportiva na cidade de Juiz de Fora.
Conclusão
A cidade de Juiz de Fora, através da imigração alemã, construiu uma
importante riqueza cultural e esportiva, que foi proporcionada em especial pela criação
do Primeiro Clube Ginástico de Minas Gerais, destacando-se através dele, para o
Brasil e para o mundo.
Referências Bibliográficas
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SURERUS, E. Comunicação pessoal, 2004.
Revista comemorativa do 7º Aniversário do Turnerschaft, 1916.
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