IVEN NEYLLA FARIAS VALE ASPECTOS CELULARES E
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IVEN NEYLLA FARIAS VALE ASPECTOS CELULARES E
i UNIVERSIDADE CEUMA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA IVEN NEYLLA FARIAS VALE ASPECTOS CELULARES E MOLECULARES DA ADESÃO EM ISOLADOS CLÍNICOS DE Candida spp SÃO LUÍS 2014 ii UNIVERSIDADE CEUMA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA IVEN NEYLLA FARIAS VALE ASPECTOS CELULARES E MOLECULARES DA ADESÃO EM ISOLADOS CLÍNICOS DE Candida spp SÃO LUÍS 2014 iii IVEN NEYLLA FARIAS VALE ASPECTOS CELULARES E MOLECULARES DA ADESÃO EM ISOLADOS CLÍNICOS DE Candida spp Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia Parasitária como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Biologia Parasitária. Orientador: Profa. Dra. Cristina de Andrade Monteiro Co-orientador: Profa. Dra. Patrícia de Maria Silva Figueiredo SÃO LUÍS 2014 iv V149a Vale, Iven Neylla Farias Aspectos celulares e moleculares da adesão em isolados clínicos de Candida spp. / Iven Neylla Farias Vale. - São Luís: Universidade CEUMA, 2014. 94 p.:il. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária. Universidade CEUMA, 2014. 1. Adesão. 2. ALS. 3. Candida. 4. Virulência. I. Monteiro, Cristina de Andrade (Orientador). II. Figueiredo, Patrícia de Maria Silva (Coorientador). III. Título. CDU: 616.934 v IVEN NEYLLA FARIAS VALE Aspectos celulares e moleculares da adesão em isolados clínicos de Candida spp A Comissão julgadora da Defesa do Trabalho Final de Mestrado em Biologia Parasitária, em sessão pública realizada no dia / / , considerou a candidata ( ) APROVADA ( ) REPROVADA 1) Examinador ________________________________________ 2) Examinador ________________________________________ 3) Examinador ________________________________________ 4) Presidente (Orientador)________________________________ vi A Deus, a minha família e aos meus amigos vii AGRADECIMENTOS A Deus, em primeiro lugar, por ter permitido que eu chegasse até aqui, por ter me sustentado nos momentos mais difíceis; e quando muitas vezes pensei em desistir, o Senhor me deu força e vitória. Aos meus pais, Nedival e Ester, que sempre me incentivaram e acreditaram em mim, mesmo quando eu chegava triste por um experimento não ter dado certo. Ao meu marido, André, pelo apoio incondicional, pelo companheirismo e compreensão em todos os momentos. À minha querida orientadora, Cristina Andrade, pela paciência durante todos esses anos, por ter me incentivado e me ensinado tudo o que sei hoje. Por ser pra mim um modelo de profissional, pelo seu compromisso, sua ética e principalmente pela sua competência em tudo o que faz. Sempre serei grata a Deus pela sua vida. A profa Patrícia Figueiredo pela dedicação e por ter me acompanhado desde a graduação com muito carinho sempre ajudando para o melhor desenvolvimento da pesquisa. Ao prof. Silvio Monteiro pela análises estatísticas, pela paciência e pela atenção que sempre dedicou a mim. Aos amigos que sempre torceram por mim, pelo meu sucesso em especial Millena Azevedo, Cássia Alves, Rafaella Souza e Daniella Silveira. À minha querida turma IV, a turma das divas Fernanda, Francyelle, Márcia Machado, Kátia, Jéssica, Claudia, Carol e Lisiane, pelo companheirismo e pela amizade. Aos queridos companheiros de laboratório em especial Márcia, Reinaldo, Laura, Anderson, Monique, Nadine, Enzo, Mariana sempre prontos a ajudar sempre que precisei. Aos meus “pupilos” Vanessa, Fábio e Josivaldo pelo comprometimento que tiveram no decorrer dessa pesquisa e por me aguentar todo esse tempo. A todos os professores do mestrado em biologia parasitária pela dedicação e pelo compromisso com o ensino e a pesquisa. Aos professores do Instituto Federal do Maranhão por terem me dado a base que precisei para chegar até aqui. Aos queridos amigos e líderes da Igreja Presbiteriana Renovada do Maiobão pelas orações e pelo apoio. A FAPEMA pelo apoio financeiro durante dois anos e meio de mestrado. A todos que fazem parte dessa conquista, meu muito obrigada. viii Até aqui nos ajudou o SENHOR. 1 Samuel 7.12 ix RESUMO As diferentes espécies de Candida são capazes de expressar produtos gênicos distintos para adaptação e crescimento em uma variedade de condições fisiológicas extremas, proporcionando infecções. Muitos são os fatores responsáveis pela virulência como as lípases, as proteases, e as adesinas. A adesão é fator crítico inicial no processo de infecção sendo essencial tanto para a colonização e indução da doença mucosa subsequente. Este estudo foi realizado com quatro espécies de Candida (C. albicans, C. glabrata, C. parapsilosis e C. tropicalis) sendo avaliado: 1 – a capacidade hidrofóbica; 2a aderência a materiais inertes (vidro, látex siliconado e aço inox) e a células (HEp-2); 3 – a influência de carboidratos (glicose, manose, rafinose, galactose, e lactose) no processo de aderência ao vidro; 4 – a presença de genes da família ALS e sua correlação com as propriedades adesivas em C. albicans. C. albicans apresentou maior hidrofobicidade entre as espécies testadas apresentando aglutinação desde as menores concentrações de sulfato de amônio. A aderência a lamínulas foi observada em 66,67% dos isolados de C. albicans, número inferior aos obtidos em C. parapsilosis (75%) e C. tropicalis (83,33%). C. parapsilosis apresentou melhor desempenho para aderência ao silicone com maior positividade (90%) e maior número de isolados classificados como aderentes muito fortes (15%). C. albicans e C. glabrata aderiram ao inox em 100% dos isolados testados enquanto que C. parapsilosis e C. tropicalis apresentaram positividade de 95 e 94,44% respectivamente. C. glabrata e C. albicans apresentaram maior capacidade de aderência às células HEp-2 (76,47 e 70,83% respectivamente) seguidas de C. tropicalis (66,67%). Manose inibiu a adesão em C. albicans, C. tropicalis e C. parapsilosis. Já rafinose intensificou o processo em C. tropicalis e mais intensamente em C. glabrata. Galactose também atuou incrementando adesão em C. glabrata e C. albicans. De um modo geral, o gene ALS6 foi o mais predominante (82,51%). Os genes ALS3 e ALS5 foram detectados em 31,82% dos isolados. Os demais genes foram detectados em frequência que não ultrapassou 20%. Foi verificada correlação positiva entre a presença de ALS1 e os padrões de aderência difuso e agregativo. ALS3 e ALS5 apresentaram correlação negativa com a aderência a lamínula. ALS1 ALS3 e ALS5 apresentaram correlação com a hidrofobicidade. Palavras-chave: adesão, ALS, Candida, virulência x ABSTRACT The different Candida species are capable of expressing various gene products for adaptation and growth in a variety of extreme physiological conditions, providing infections. Many are the factors responsible for the virulence as lipases, proteases, and adhesins. This study was performed with four Candida species (C. albicans, C. glabrata, C. parapsilosis and C. tropicalis) being evaluated: 1 – the hydrophobicity; 2 - adherence to inert materials (glass, stainless steel and silicone) and cells (HEp-2); 3 - The influence of carbohydrates (glicone, mannose, raffinose, galactose, and lactose) in glass adhesion process; 4 - the presence of the ALS gene family and its correlation with adhesive properties in C. albicans. C. albicans showed greater hydrophobicity between the species tested showing agglutination since lower concentrations of ammonium sulfate. The adhesion to glass coverslips were observed in 66.67 % of the isolates of C. albicans, the lower the number found in C. parapsilosis (75%) and C tropicalis (83.33%). C. parapsilosis showed better performance for adhesion to silicone with greater positivity (90%) and a higher number of isolates classified as very strong adherent (15%). C. albicans and C. glabrata adhered to stainless in 100% of tested isolates, while C. parapsilosis and C. tropicalis were positive in 95 and 94.44 % respectively. C. glabrata and C. albicans showed greater ability to adhere to HEp - 2 cells (76.47 and 70.83 % respectively) followed by C. tropicalis (66.67%). Mannose inhibited adhesion in C. albicans, C. tropicalis and C. parapsilosis. Have raffinose intensified the process in C. tropicalis and more intensely in C. glabrata. Galactose acted also increasing membership in C. glabrata and C. albicans. In general, the ALS6 gene was most prevalent (82.51%). ALS3 and ALS5 genes were detected in 31.82% of the isolates. The remaining genes were detected in frequency did not exceed 20%. Positive correlation between the presence of ALS1 and patterns of diffuse and aggregative adherence was checked. ALS3 and ALS5 were negatively correlated with the cover slip grip. ALS1 ALS3 and ALS5 correlated with hydrophobicity. Keywords: adhesion, ALS, Candida, virulence xi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1 2. REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................................... 4 2.1 Patogênese de Candida ....................................................................................................... 4 2.2 O processo de aderência em Candida .................................................................................. 6 2.2.1 Parede Celular ................................................................................................................ 6 2.2.2 Aderência ....................................................................................................................... 7 2.3 Adesão a células epiteliais .................................................................................................11 2.4 Adesão a materiais inertes ..................................................................................................13 2.5 Influência de carboidratos no processo de aderência ...........................................................14 2.6 Aspectos moleculares da adesão ........................................................................................15 2.6.1 A família gênica ALS .....................................................................................................18 3. 4 OBJETIVOS .............................................................................................................................21 3.1 Geral 21 3.2 Específicos ....................................................................................................................21 METODOLOGIA .....................................................................................................................22 4.1 Isolamento das Amostras ...............................................................................................22 4.2 Determinação da hidrofobicidade celular........................................................................22 4.3 Ensaio de adesão a material inerte ..................................................................................23 4.3.1 Adesão à lamínula..........................................................................................................23 4.3.2 Classificação da aderência .............................................................................................23 4.3.3 Adesão ao silicone e inox ...............................................................................................24 4.4 Ensaio de adesão a células epiteliais ...............................................................................25 4.4.1 Cultivo e preparo das monocamadas celulares ................................................................25 4.4.2 Preparação do Inóculo e Teste de Adesão .......................................................................25 4.4.3 Classificação da aderência .............................................................................................25 4.5 Influência de carboidratos no processo de aderência .......................................................26 4.5.1 Preparação dos carboidratos ...........................................................................................26 4.5.2 Teste de aderência..........................................................................................................26 4.6 Identificação molecular de genes da família ALS ...........................................................27 4.6.1 Extração de DNA...........................................................................................................27 4.6.2 Amplificação por PCR ...................................................................................................27 4.7 Análise estatística ..........................................................................................................28 xii 5 RESULTADOS e DISCUSSÃO ................................................................................................29 5.1 Determinação da hidrofobicidade celular ...........................................................................29 5.2 Ensaio de adesão a material inerte ......................................................................................31 5.2.1 Aderência à lamínula .....................................................................................................31 5.2.2 Adesão ao silicone e inox ...............................................................................................38 5.3 Ensaio de adesão a células epiteliais...................................................................................45 5.4 Influência de carboidratos no processo de adesão ...............................................................50 5.5 Identificação molecular de genes da família ALS ...............................................................53 6 CONCLUSÕES ........................................................................................................................62 REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................64 APÊNDICE ......................................................................................................................................77 xiii LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Secreção e ancoramento na superfície celular de adesinas fúngicas (VERSTREPEN; KLIS, 2006). .......................................................................................... 8 Figura 2 - Etapas do processo de invasão tecidual por Candida (GOW et al., 2012) ............. 12 Figura 3 - Possível atuação dos genes da família SAP na patogênese de Candida (NAGLIK, J. et al., 2004) ..................................................................................................................... 16 Figura 4 - Desenho esquemático da estrutura dos genes da família ALS (Fonte: Hoyer, 1998) ........................................................................................................................................ 19 Figura 5 - Avaliação da hidrofobicidade de Candida em concentrações crescentes de sulfato de amônio. Até 1,5 M: hidrofobicidade forte; entre 1,5 e 2,5M: moderada; acima de 2,5M: fraca ................................................................................................................................ 30 Figura 6–Frequência de isolados de Candida com capacidade de aderência a lamínula ........ 31 Figura 7 - Frequência da intensidade de aderência à lamínula entre as diferentes espécies de Candida........................................................................................................................... 32 Figura 8 - Frequência dos padrões de aderência a lamínulas observados nas diferentes espécies de Candida ........................................................................................................ 34 Figura 9 - Distribuição dos padrões de aderência entre os isolados de Candida em relação ao sítio de origem ................................................................................................................. 36 Figura 10 - Padrões de aderência a lamínulas evidenciando arranjos celulares distintos encontrados nas amostras de Candida. A) Difuso B) Agregativo C) Localizado D) Pseudohifa. Aumento: 1000x ...................................................................................................... 37 Figura 11–Relação entre a intensidade de aderência e o padrão de aderência apresentado pelos isolados de Candida ........................................................................................................ 38 Figura 12–Frequência de diferentes espécies de Candida positivas e negativas para o teste de adesão ao silicone. ........................................................................................................... 39 Figura 13 – Frequência da intensidade de aderência ao silicone entre as diferentes espécies de Candida. Classificação: Negativo: 0 UFCs; Fraco: entre 1 e 199 UFCs; Moderado: 200 a 499 UFCs; Forte: 500 a 999 UFCs; Muito forte: mais que 1000 UFCs. ............................ 40 xiv Figura 14 -Frequência da intensidade de aderência ao silicone entre os diferentes sítios de origem analisados. Classificação: Negativo: 0 UFCs; Fraco: entre 1 e 199 UFCs; Moderado: 200 a 499 UFCs; Forte: 500 a 999 UFCs; Muito forte: mais que 1000 UFCs.. 41 Figura 15 - Frequência de diferentes espécies de Candida positivas e negativas para o teste de adesão ao inox ................................................................................................................. 42 Figura 16 - Frequência da intensidade de aderência ao inox entre as diferentes espécies de Candida . Classificação: Negativo: 0 UFCs; Fraco: entre 1 e 199 UFCs; Moderado: 200 a 499 UFCs; Forte: 500 a 999 UFCs; Muito forte: mais que 1000 UFCs. ............................ 43 Figura 17 - Frequência da intensidade de aderência ao inox entre os diferentes sítios de origem analisados. Classificação: Negativo: 0UFCs; Fraco: entre 1 e 199 UFCs; Moderado: 200 a 499 UFCs; Forte: 500 a 999 UFCs; Muito forte: mais que 1000 UFCs.. 44 Figura 18 - Frequência de diferentes espécies de Candida positivas e negativas para o teste de adesão às células HEp-2 .................................................................................................. 46 Figura 19 - Padrões distintos de agregação observados em isolados de C. glabrata. Aumento: 1000x ao microscópio ótico. A) Agregativa; B) Localizada; C) Difusa ............................ 48 Figura 20 - Frequência de padrões de aderência distintos observados em isolados de Candida a células HEp-2 ............................................................................................................... 49 Figura 21 – Número de células aderidas na presença de carboidratos ................................... 50 Figura 22 - Influência dos carboidratos no processo de adesão ............................................. 51 Figura 25 - Capacidade de aderência em C. parapsilosis na presença de carboidratos: A) Controle; B) Aderência na presença de galactose; C) Aderência na presença de lactose. Aumento: 1000x .............................................................................................................. 52 Figura 23 - Capacidade de aderência em C. albicans na presença de carboidratos: A) Controle B) Aderência na presença de manose; C) Aderência na presença de galactose. Aumento: 1000x .............................................................................................................................. 52 Figura 24 - Capacidade de aderência em C. glabrata na presença de carboidratos: A) Controle; B) Aderência na presença de galactose; C) Aderência na presença de rafinose. Aumento: 1000x .............................................................................................................. 52 xv Figura 26 - Distribuição dos resultados de PCR para verificar a presença dos genes ALS em isolados de Candida albicans. ......................................................................................... 54 Figura 27 - Distribuição dos resultados de PCR para verificar a presença do gene ALS5 (tandem repeats) em isolados de Candida albicans. ......................................................... 56 Figura 28 - Reação de PCR amostras de C. albicans isoladas de urina. L – DNA ladder de 100 pb; 1 – controle negativo; 2 a 7 – produtos de PCR dos isolados de Candida abicans. .... 57 Figura 29 - Correlação entre a presença do gene ALS1 e os padrões de aderência exibidos por Candida albicans............................................................................................................. 58 Figura 30 - Correlação entre a presença dos genes ALS3 e ALS5 e a aderência à lamínula .... 59 Figura 31 - Correlação entre a presença do gene ALS1 e a hidrofobicidade em concentração de 0,5M em sulfato de amônio ............................................................................................. 60 Figura 32 - Correlação entre a presença do gene ALS3 e a hidrofobicidade em concentração de 0,5M em sulfato de amônio ............................................................................................. 60 Figura 33 - Correlação entre a presença do gene ALS5 e a hidrofobicidade em concentração de 0,5M em sulfato de amônio ............................................................................................. 61 xvi LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Distribuição dos 79 isolados clínicos de Candida entre as diferentes espécies e sítios de origem ............................................................................................................ 22 Tabela 2 - Primers para amplificação por PCR utilizados na pesquisa .................................. 28 Tabela 3 - Frequência de genes da família ALS em isolados clínicos de Candida.................. 55 xvii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS °C – graus Celsius ou graus centígrados ALS – Agglutinin-Like Sequence BHI – Brain Heart Infusion CIA – Clorofórmio Álcool-Isoamílico CLSI – Clinical and Laboratory Standards Institute CNCA – Candida não Candida albicans COF – candidíase orofaríngea CPH1 – Candida Pseudohyphal Regulator CVV – candidíase vulvovaginal DMEM – Dulbecco's modified Eagles's medium DNA – Ácido desoxirribonucleico dNTPs – Desoxirribonucleotídeo trifosfatado EDTA – ácido etileno diamono tetracético EFG1 – Enhanced Filamentous Growth EPA1 – Epithelial adhesin GPI – Glycosyl Phosphatidyl Inositol HEp-2 – Human Epitelioma type 2 HEPES – ácido N-2-hidroxietilpiperazina-N’-2-etanossulfônico HWP – Hyphal Wall Protein MEM – Meio Essencial Mínimo pb – pares de bases xviii PBS – Phosphate buffered saline PCR – Polimerase Chain Reaction PGA – Protein GPI Anchored RHE – Epitélio humano reconstituído SAP – Secreted Aspartic Proteinase SDA – Saboraud Dextrose Agar SDS – Sodium dodecyl sulfate TE – Tris e EDTA TL – Tampão de lise TRIS – tampão TRIS-EDTA UFCs – Unidades formadoras de colônias YNB – Yeast Nitrogen Base μL – microlitros 1 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos tem crescido o número de infecções fúngicas sistêmicas causadas por leveduras do gênero Candida consistindo um perigo potencial principalmente a saúde de pessoas imunocomprometidas como pacientes com AIDS ou doentes a espera de transplantes (COLOMBO et al., 2006; BERGAMASCO et al., 2013; COLOMBO et al., 2013) As leveduras do gênero Candida existem como comensais no organismo, estando presentes na microbiota humana desde o nascimento sem causar infecções durante toda vida. Podem colonizar, principalmente, cavidade oral, vagina, aparelho respiratório, urinário, entre outras localizações (CARDOSO, 2004a; COSTA, 2009). No entanto, em certas condições, podem causar infecções superficiais em diferentes mucosas como candidíase orofaríngea (COF) ou candidíase vulvovaginal (CVV) (FIDEL, 1999; 2011). A alteração destas leveduras comensais para agente infeccioso se dá, principalmente, em razão dos fatores de virulência do micro-organismo e da resposta imunológica do hospedeiro, o que coloca as espécies de Candida entre os principais fungos oportunistas (JAIN, 2010; SALIBA, 2012). Além disso, o uso de dispositivos médicos como, por exemplo, cateteres e o aumento do número de pacientes que recebem terapia com antibióticos e drogas imunossupressores podem aumentar o risco de penetração de fungos através das barreiras mucosas (KLOTZ, S.A.; LIPKE, 2010). Estudos indicam que Candida albicans é a principal causa de infecções sistêmicas com taxa de mortalidade de 40% (WENZEL; GENNINGS, 2005; KAUFMAN et al., 2006). C. albicans é o fungo mais comumente encontrado em laboratórios hospitalares e constitui a quarta causa mais comum de hemoculturas positivas em pacientes hospitalizados na América do Norte (KLOTZ, 2010). Além disso, candidíase é a infecção oportunista mais comum em indivíduos infectados pelo HIV (KLOTZ, S. A. et al., 2007). Embora C. albicans seja a principal espécie isolada de pacientes com fungemia (CHAKRAVARTHI; WEI; NAGARAJA, 2010), relatos recentes indicam uma tendência para o aumento da prevalência de infecções causadas por espécies de 2 Candida não C. albicans (BASSETTI et al., 2006; COLOMBO et al., 2006; HINRICHSEN et al., 2009; FALAGAS; ROUSSOS; VARDAKAS, 2010; DUTTA; PALAZZI, 2011). No Brasil as espécies mais prevalentes são C. albicans, tropicalis, Candida parapsilosis, Candida glabrata, Candida krusei e Candida guillermondii (HINRICHSEN et al., 2009). De maneira semelhante a todas as doenças infecciosas a adesão de um microorganismo ao tecido hospedeiro ou à superfície de um dispositivo médico deve ocorrer antes que a infecção se estabeleça. Assim como muitos micro-organismos, a capacidade de Candida albicans aderir a superfícies é, presumidamente, uma característica importante de sobrevivência e/ou patogenicidade (JAIN et al., 2010). Muitos são os fatores responsáveis pela virulência dos fungos como as lipases, as proteases, e as adesinas. (GHANNOUM, 2000; NAGLIK, J. R.; CHALLACOMBE; HUBE, 2003; TAVANTI et al., 2003; FAVERO et al., 2008). Adesinas são proteínas de superfície celular importantes no processo de infecção, pois fazem a ligação da Candida à superfície da célula hospedeira a ser infectada. C. albicans possui uma família de genes Agglutinin-like sequence (Als) que codifica a principal classe de glicoproteínas de superfície celular relacionadas ao processo de adesão às superfícies das membranas mucosas e ao fenômeno de agregação celular (KLOTZ, 2010). Entretanto, as proteínas Als não foram identificadas em todas as espécies de Candida e, provavelmente, outros polipeptídeos diferentes possam exercer a função de aderência (NASCIMENTO, 2009; KLOTZ, S.A.; LIPKE, 2010). Muitos estudos têm descrito a capacidade de aderência de C. albicans a vários tipos celulares, mas pouco se conhece sobre esta propriedade em outras espécies de Candida e o seu papel no reconhecimento da superfície celular do hospedeiro (LIMA-NETO et al., 2009). Alguns autores sugerem mecanismos distintos para o processo de adesão em outras espécies de Candida (KING; LEE; MORRIS, 1980; BENDEL; HOSTETTER, 1993; GILFILLAN et al., 1998; CORMACK; GHORI; FALKOW, 1999; LIMA-NETO et al., 2009; SILVA, S. et al., 2011). Há também sugestão de que a capacidade de adesão varie entre os isolados de diferentes espécies como o que foi verificado trabalho de Biasoli et al (2002) onde foram apontadas diferenças entre C. albicans, C. glabrata, C. krusei e Candida lusitaniae. (BIASOLI; TOSELLO; MAGARO, 2002) 3 Estes fatos evidenciam que provavelmente haja diferenças inter e intra-específicas com relação à presença, estrutura molecular e a expressão de genes responsáveis por mecanismos de adesão em isolados de Candida clinicamente importantes. A análise in vitro da propriedade de aderência das espécies de Candida pode contribuir para a compreensão do comportamento destes organismos em um processo de infecção específico. 4 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Patogênese de Candida Patogênese é a habilidade de um micro-organismo de causar infecções (KHAN et al., 2010). Os fatores de virulência são características inerentes a esses micro-organismos que facilitam a invasão e a colonização e são conhecidos como determinantes da patogenicidade. A habilidade de C. albicans ser a principal espécie em termos de colonização e patogenicidade no homem está relacionada a seus fatores e propriedades de virulência. Os principais fatores de virulência atribuídos às espécies de gênero Candida são a habilidade de produzir enzimas hidrolíticas extracelulares: proteinases (responsáveis pela hidrolização de ligações peptídicas promovendo adesão, invasão e dano tecidual) e fosfolipases (hidrolisam os fosfoglicerídeos de membrana) (MOHAN DAS; BALLAL, 2008), enzimas funcionam como facilitadoras da interação do fungo às células do hospedeiro (CAFARCHIA et al., 2008; AOKI et al., 2011); a expressão de fatores de adesão e a subsequente formação de biofilme; a capacidade de variação da morfologia celular; a habilidade de responder rapidamente às mudanças do meio e a penetração ao tecido afetado. Todas esses fatores são considerados relevantes na patogênese da candidíase (LIONAKIS; NETEA, 2013). O processo de adesão, propriedade primária de virulência das leveduras, envolve fatores não biológicos, relacionados a forças de van der Walls, interações hidrofóbicas e eletrostáticas; e biológicos que se referem a mecanismos moleculares específicos como a expressão de adesinas, biomoléculas que promovem a aderência (SILVA, S. et al., 2011; STANISZEWSKA et al., 2012). A adesão pode ocorrer a diferentes superfícies como às células e aos polímeros inertes, e muitos fatores do hospedeiro podem alterar a expressão destas adesinas ou sua ligação às células hospedeiras influenciando na patogênese (AL-ZAHARAA et al., 2012). Alterações no hospedeiro são geralmente necessárias para que micro-organismos comensais tornem-se patógenos oportunistas e desencadeiem a infecção (YANG, 2003). Subsequente ao processo de adesão celular ocorre a formação de biofilme, que está diretamente relacionada ao potencial de virulência de Candida. Esta propriedade consiste no surgimento de uma comunidade séssil caracterizada por células que formam 5 micro-colônias aderentes a um substrato, uma interface ou ainda a uma matriz exopolimérica de substâncias extracelulares permitindo, assim, uma proteção ambiental contra agentes externos favorecendo o desenvolvimento de infecções e uma resistência a agentes antimicrobianos (DONLAN; COSTERTON, 2002). C. albicans é bem conhecida no meio clinico pela sua capacidade de aderir a tecido humano danificado seja ele membrana de mucosas, o epitélio da bexiga, da válvula cardíaca ou dos vasos da retina. Além disso, a capacidade de invasão de tecidos e adesão a materiais artificiais tais como sondas, cateteres de látex, e vários tipos de materiais plásticos são responsáveis por causar infecções importantes (TAMURA et al., 2007). Sabe-se que a adesão de C. albicans às superfícies artificiais e às mucosas é intensificado por vários fatores como produção de tubos germinativos, fosfolipases, proteases, outras atividades enzimáticas extracelular, carboidratos, pH e temperatura (GHANNOUM; ABU-ELTEEN, 1990; SITHEEQUE; SAMARANAYAKE, 2003) Carboidratos da dieta como glicose e sacarose comumente consumidos, podem ser de importância na patogênese de C. albicans na cavidade oral, devido o efeito de tais açúcares na aderência da levedura in vitro (OLSEN, 1990; SANTANA et al., 2013). Outros fatores químicos e físicos podem interferir no processo de aderência como presença de ácidos, pepstatina A, concanavalina A, heparina, glutaraldeído, peptídeos sintéticos (OLLERT et al., 1993), favorecendo-a ou impedindo que a mesma aconteça. Da mesma forma, a interação destas leveduras com outros micro-organismos pode proporcionar ou não o mecanismo de aderência ou de formação de biofilme (NOBBS et al., 2010), mas também são poucos os dados sobre estas interações. Proteínas como as aspartil-proteases são enzimas proteolíticas que também possuem um papel essencial na adesão em C. albicans. Isso pode ser demonstrado através de estudos que revelam que isolados clínicos de Candida fortemente proteolíticos apresentaram uma alta capacidade de adesão, comparadas com outras de expressão de protease mais discreta. Isso porque essas proteases são capazes de degradar substratos como colágeno, queratina, albumina, hemoglobina, cadeias pesadas de imunoglobulina e proteínas de matriz extracelular (OLIVEIRA et al., 1998; PICHOVA et al., 2001). A 6 atividade da proteinase está relacionada com a expressão de uma família de genes da família SAP (secreted aspartic proteinase). Apesar de haver estudos complexos destes fatores de virulência com relação à C. albicans, os mesmos não são totalmente compreendidos em outras espécies de Candida. Além disso, as variabilidades inter e intra-específicas existentes dentro do gênero Candida também instigam um crescente e urgente avanço nas pesquisas relacionadas aos fatores de virulência (YANG, 2003). 2.2 O processo de aderência em Candida 2.2.1 Parede Celular A parede celular de C. albicans não apresenta apenas função de conferir rigidez e proteção a célula, mas também é o local inicial das interações hospedeiro-agente patogênico e é um alvo óbvio para o desenvolvimento de vacinas e antifúngicos. Aproximadamente 80 a 90% da parede celular de Candida é constituída por carboidratos havendo três constituintes que representam a maioria dos polissarcarídeos de parede celular: • Polímeros de glicose com ramificações contendo ligações ß-1,6 e ß-1,3; • Polímeros de N-acetil-D-glicosamina (GlcNac) ligados a moléculas de quitina por ligações ß-1,4; • Polímeros de manose ligados covalentemente a manoproteínas. A parede celular contém ainda 6 a 25% de proteínas e 1 a 7% de lipídeos. Os componentes estruturais são: os ß-glucanos e a quitina. Polímeros de manose (manoproteínas) representam 40% dos polissarcarídeos e são os principais constituintes da célula - grupo na qual pertence as adesinas (CARDOSO, 2004b). A maioria das proteínas de parede é ligada covalentemente a β-1,6-glucanos por âncoras glicosil fosfatidilinositol (GPI). O genoma de C. albicans contém 115 prováveis proteínas GPI que podem ser ligadas à parede (RICHARD; PLAINE, 2007). A maior parte destas proteínas são expressas apenas sob condições específicas. Um estudo 7 recente sugere que não há mais do que aproximadamente 20-30 proteínas de parede expressas em qualquer dado momento (KLIS; BRUL; DE GROOT, 2010). Proteínas de parede GPI geralmente mostram uma estrutura modular, com um domínio conservado no N-terminal seguido por uma região altamente glicosilada, o domínio rico em serina e de treonina, que também podem incluir uma região de repetições (KLIS et al., 2009). Em particular, a glicosilação por manose em proteínas de parede é importante para limitar a porosidade da parede (DE GROOT; RAM; KLIS, 2005). Proteínas de parede apresentam uma variedade de funções que vão desde aderência (HOYER; PAYNE; HECHT, 1998; STAAB et al., 1999) e aquisição de ferro (ALMEIDA et al., 2008) até a invasão de tecidos (SCHALLER et al., 2005) e defesa contra a resposta imune (FROHNER et al., 2009). Recentemente, a resposta do proteoma da parede para alterações no pH do ambiente tem sido descrita (SOSINSKA et al., 2011). 2.2.2 Aderência A adesão das células de Candida a vários substratos é um processo complexo influenciado por vários fatores. São várias as proteínas envolvidas, algumas funcionam como fatores de transcrição que interferem na taxa de expressão de adesinas e outras como mantenedoras da estrutura da parede celular. Entre os fatores de transcrição de Candida estão Efg1 e Cph1 que atuam promovendo o crescimento pseudo-hifal em S. cerevisiae. Isolados nulos para efg1 e efg1/cph1 apresentam intensa redução das propriedades adesivas, bem como o perfil transcricional de genes que codificam prováveis proteínas da parede celular gravemente alterado (DIETERICH et al., 2002; SOHN et al., 2003) Outro grupo de proteínas com ação, principalmente indireta, no processo de adesão atua através de alterações da estrutura da parede celular. A ancora GPI ligada à parede celular, quando anulada, possui efeito negativo sobre a filamentação e também na aderência à células de mamíferos (ALBERTI-SEGUI et al., 2004). Algumas proteínas de C. albicans são codificadas por uma família de genes ALS (Agglutinin-like Sequence). São glicoproteínas de superfície celular implicadas no processo de adesão às superfícies das membranas mucosas, as adesinas (KLOTZ, LIPKE, 2010). As adesinas são também responsáveis pelo fenômeno de agregação celular como revelam trabalhos anteriores (KING; LEE; MORRIS, 1980). A adesão 8 seguida de agregação celular tem sido documentada em vários estudos envolvendo uma miríade de alvos biológicos. Quando C. albicans encontra uma proteína ancorada, uma célula, ou tecido, o fungo adere e então agrega (KLOTZ, LIPKE, 2010). Além de promoverem a agregação celular, as adesinas medeiam a adesão a epitélio, a formação de biofilme além de estarem ativamente envolvidas na patogênese de C. albicans. As adesinas codificadas pelos genes da família ALS são proteínas de superfície celular com características estruturais bem semelhantes entre os membros. A primeira proteína identificada foi denominada Als1p e é caracterizada por três domínios. A região N-terminal contém um provável peptídeo sinal e é relativamente conservada entre proteínas da família Als. É uma região caracterizada pela pouca glicosilação (ZHAO, 2003 e HOYER, 2001). A porção central das proteínas consiste de um número variável de repetições em série (aproximadamente 36 aminoácidos de comprimento) e seguida pela região C-terminal rica em aminoácidos serina e treonina que contém uma sequência de âncora de glicosil fosfatidilinositol (ZHAO,2003 E HOYER, 2001) (Figura 1). Figura 1 - Secreção e ancoramento na superfície celular de adesinas fúngicas (VERSTREPEN; KLIS, 2006). Parede Celular Meio Extracelular Parede Celular Experimentos de expressão heteróloga dos genes ALS de C. albicans em S. cerevisiae proporcionaram um fenótipo de aderência a este organismo, confirmando que 9 proteínas Als estão envolvidas diretamente na adesão de C. albicans às superfícies celulares (NOBBS; VICKERMAN; JENKINSON, 2010). As proteínas Als possuem algumas funções diferenciadas. A expressão Als5p em S. cerevisiae confere aderência a vários substratos, incluindo células endoteliais e gelatina, enquanto que a expressão de Als6p resulta apenas na adesão a gelatina (SHEPPARD, 2004). Apesar desta diferença acentuada entre a função de Als5p e de Als6p estas proteínas possuem identidade superior a 80% com relação aos aminoácidos. As repetições in tandem e porções C-terminal destas proteínas são virtualmente idênticas, e a maioria das diferenças de sequência estão concentradas nas porções N-terminais das duas proteínas. Estes dados sugerem que a variabilidade da sequência N-terminal confere especificidade ao substrato (SHEPPARD, 2004). As proteínas Als não foram identificadas em todas as espécies de Candida e provavelmente nestas outros polipeptídeos diferentes possam exercer a função de aderência (NASCIMENTO, 2009; KLOTZ, S.A.; LIPKE, 2010; SILVA, S. et al., 2011). Assim estudos ainda são necessários para revelar as diferenças fenotípicas e moleculares da propriedade de aderência entre as espécies de Candida. Outra importante adesina é encontrada nos tubos germinativos de C. albicans, mas não em formas leveduriformes ou em pseudo-hifas. Hwp1 é uma manoproteína semelhante às proteínas Als e é fortemente expressa também durante a formação de biofilme. Hwp1 desempenha um papel importante na aderência às células epiteliais (STAAB et al., 1999), onde serve como um substrato para a enzima transglutaminase epitelial e pode ser estavelmente ligado à superfície das células epiteliais. Provavelmente a aderência entre as espécies de Candida não obedeça ao mesmo mecanismo gênico. Isso pode ser evidenciado no trabalho de Bendel (1993) onde foi investigado o papel de análogos de integrina na adesão epitelial de C. albicans e C. tropicalis. A integrina1 (Int1) é uma proteína de superfície de C. albicans que apresenta alta similaridade com as integrinas de vertebrados. A expressão do gene INT1 em Saccharomyces cerevisae foi suficiente para torná-lo aderente a células epiteliais humanas apesar de normalmente essa espécie não apresentar tal característica. Além disso, a mutação em INT1 em C. albicans suprime o desenvolvimento das hifas, a 10 adesão a células epiteliais e a virulência das amostras em camundongos (GALE et al., 1998). Experimentos investigando o papel de análogos de integrina na adesão epitelial de C. albicans e C. tropicalis por citometria de fluxo com o anticorpo monoclonal (mAb) OKM1 revelou que a fluorescência de superfície foi maior para C. albicans e apresentou uma redução significativa em C. tropicalis (BENDEL; HOSTETTER, 1993). No entanto, a adesão à célula epitelial humana na linhagem HeLa não diferiu para estas duas espécies de Candida . A disparidade entre a expressão da integrina análoga e a adesão epitelial sugerem mecanismos distintos para este processo em C. albicans versus C. tropicalis. Com relação a C. glabrata, trabalhos recentes identificaram 23 adesinas de parede celular que, provavelmente, estão envolvidas na adesão ao epitélio humano e na formação de biofilme (DE GROOT et al., 2008). O principal grupo de adesinas de C. glabrata, é codificada por genes da família EPA (epithelial adhesin), também identificada em C. albicans. A capacidade de C. glabrata aderir a diferentes biomateriais e a epitélio pode ser um reflexo da expressão da adesina epitelial (Epa) sobre a superfície das células, que é induzida pela presença de ácido nicotínico (DOMERGUE, 2005). Além disso, apesar do grande número de genes EPA, demonstrou-se que a deleção do EPA1 sozinho reduz a adesão in vitro sugerindo que a aderência à células epiteliais humanas é mediada em grande parte por uma adesina única, Epa1p, codificada pelo gene EPA1, uma lecitina dependente de Ca2+ (LI, FANG et al., 2007; IELASI; DECANNIERE; WILLAERT, 2012). Epa1p é membro de uma grande classe de proteína da parede celular ancorada à glicosil fosfatidilinositol (GPI) (GPI-CWPs) encontradas em diversas espécies de fungos (BRUL et al., 1997; KAPTEYN; VAN DEN ENDE; KLIS, 1999; BRUNEAU et al., 2001). Estudos relacionados a genômica comparativa entre as espécies de Candida revelaram que C. parapsilosis revelaram que esta espécie poderia apresentar proteínas Als embora nem todos os membros encontrados em C. albicans sejam encontrados em C. parapsilosis como é o caso de Als3 encontrada apenas em C. albicans e não em 11 outras espécies de Candida (BUTLER et al., 2009) Analisando a expressão gênica durante a formação de biofilme em condições de hipóxia por 24 e 50h, outro experimento identificou cinco membros da família ALS em C. parapsilosis por qRTPCR (ROSSIGNOL et al., 2009). Estudos recentes comparam a atuação de alguns genes relacionados à adesão entre C. albicans e C. parapsilosis (DING et al., 2011). O produto do gene BCR1 (biofilm and wall cell regulator) é um fator de transcrição conservado requerido na formação de biofilme tanto em C. albicans quanto em C. parapsilosis. Alguns dos principais alvos de BCR1 em C. albicans incluem genes que codificam adesinas e proteínas de parede celular (ALS1, ALS3, HWP1 e genes relacionados) sugerindo que BCR1 está envolvido na fase inicial da adesão e desenvolvimento de biofilme. Descrevendo uma análise do papel da BCR1 em C. parapsilosis, Ding et al (2011) mostraram que C. parapsilosis gera biofilmes in vivo em modelo de cateter em ratos, e que BCR1 é necessário para este processo, além disso demonstraram existir pouca sobreposição entre os alvos de BCR1 nas duas espécies. 2.3 Adesão a células epiteliais A adesão de Candida às células epiteliais é fator crítico inicial no processo de infecção sendo essencial tanto para a colonização e indução da doença mucosa subsequente. Além disso, colonização de superfícies mucosas é um fator de risco conhecido para candidíase disseminada (MARR et al., 2000; TAKESUE et al., 2004) porque a adesão é essencial para a Candida persistir na superfície mucosa. Desta forma, não é surpreendente que este organismo expresse múltiplas estruturas distintas de superfície que medeiam a adesão às células epiteliais. (CALDERONE et al., 2000; SUNDSTROM, 2002; YANG, 2003; WHITEWAY; OBERHOLZER, 2004). C. albicans provoca frequentemente infecções superficiais através da invasão e destruição de células epiteliais, mas também pode causar infecções sistêmicas por penetrar através das barreiras epiteliais e pode invadir células epiteliais. A invasão de tecidos por C. albicans passa por várias etapas: adesão ao epitélio; penetração epitelial e invasão pelas hifas; difusão vascular, o qual envolve a penetração de hifas nos vasos sanguíneos e o depósito das células de levedura para a corrente sanguínea, e, finalmente 12 colonização, endotelial e penetração durante doença disseminada (Figura 2) (WACHTLER et al., 2012). Figura 2 - Etapas do processo de invasão tecidual por Candida (GOW et al., 2012) Hifa Célula de levedura Adesão e colonização Penetração das hifas e invasão Disseminação vascular Colonização do endotélio e penetração Células epiteliais da mucosa não só fornecem uma barreira física, mas também podem reconhecer fungos e responder através da produção de citocinas (WEINDL et al., 2007; LI, L.; DONGARI-BAGTZOGLOU, 2009). C. albicans interage estreitamente com estas células, tanto como um comensal como durante as fases ativas de invasão. Superfícies mucosas em indivíduos saudáveis são frequentemente colonizados por C. albicans. Um número relativamente pequeno de células de levedura presentes não induz danos em células epiteliais e, assim, não desencadeia uma resposta de citocinas em células epiteliais das mucosas ou em macrófagos. A doença invasiva ocorre quando C. albicans atravessa a superfícies do tecido. Um mecanismo pelo qual células de leveduras podem atravessar a superfície epitelial é endocitose, em que o fungo é internalizado pelas células epiteliais e pode ocorrer através de dois mecanismos 13 distintos: endocitose induzida, que é análoga ao que ocorre em bactérias enteropatogênicas intracelulares facultativas, e penetração ativa, semelhantes a fungos fitopatogênicos (MORENO-RUIZ et al., 2009; DALLE et al., 2010; MARTIN et al., 2011; WACHTLER et al., 2012). Trabalhos recentes demonstraram que a endocitose induzida contribui consideravelmente para os momentos iniciais da invasão, enquanto que a penetração ativa representa a via dominante de invasão epitelial (WACHTLER et al., 2012). Embora tanto a levedura como as hifas sejam capazes de induzir a endocitose, acredita-se que hifas de C. albicans sejam mais eficazes para estimular o processo. Este ponto de vista é suportado pela observação de que mutantes que não apresentam a capacidade de formar hifas são muito menos eficazes na indução de endocitose em comparação com células do tipo selvagem (PARK et al., 2005). Isso sugere que hifas podem apresentar moléculas em sua parede celular que ligam-se a receptores de células epiteliais conduzindo à indução da endocitose. Uma dessas moléculas pode ser Als3, uma proteína de superfície celular que se liga a E-caderina e N-caderina e induz endocitose. 2.4 Adesão a materiais inertes Espécies de Candida podem aderir a uma grande variedade de superfícies diferentes no corpo humano, o que facilita a colonização em diversos órgãos ou tecidos e até mesmo superfícies abióticas que, eventualmente, pode ser utilizada com finalidade terapêutica tais como metais, silicone, plásticos, entre outras. Tais locais podem fornecer ambientes muito diferentes para crescimento e colonização de Candida e esta tem desenvolvido mecanismos específicos de adaptação às respectivas condições. Consequência disso é o fato de Candida ser capaz de crescer em vários tipos de superfícies, levando a formação de biofilme em cateteres, por exemplo, o que representa um grande problema especialmente em unidades de terapia intensiva (KUMAMOTO, 2002; DOUGLAS, L. J., 2003). Espécies como C. parapsilosis e C. albicans têm sido constantemente identificadas como causadoras de candidemia. A elevada frequência, principalmente de C. parapsilosis pode ser explicada pela alta capacidade desta espécie em aderir a 14 superfícies plásticas tais como o cateter (DAGDEVIREN; CERIKCIOGLU; KARAVUS, 2005). Um estudo recente, avaliando a adesão de espécies de Candida não-Candida albicans (CNCA) isoladas de urina, evidenciou que todas as estirpes de CNCA foram aderentes a silicone, embora tenham sido observadas diferenças de acordo com as espécies e as cepas estudadas. (SILVA, S. et al., 2010). Outro estudo de aderência, dessa vez com C. parapsilosis (KUHN et al., 2004), neste mesmo material, mostrou que essa propriedade também se constituiu como um fator comum entre os isolados testados. Em outro estudo onde foi comparada a capacidade de adesão entre C. parapsilosis e C. albicans, também em cateter de silicone e foi observado que a capacidade de aderência foi a mesma para ambas as espécies (KOJIC; DAROUICHE, 2003). 2.5 Influência de carboidratos no processo de aderência Devido a importância da propriedade de aderência na patogênese de Candida, substâncias que possam interferir nesse processo devem ser cuidadosamente estudadas no intuito de fornecer alvos terapêuticos alternativos novos e menos onerosos. Carboidratos comumente consumidos na dieta como glicose e sacarose, podem ser de importância na patogênese de C. albicans na cavidade oral, devido o efeito de tais açúcares na aderência da levedura in vitro (OLSEN, 1990). C. albicans cresce em meio definido com altas concentrações (500 mM) de carboidratos da dieta exibindo aderência aumentada a superfícies acrílicas (SAMARANAYAKE, L. P.; MCCOURTIE; MACFARLANE, 1980; SAMARANAYAKE, L. P.; MACFARLANE, 1982). Estudos anteriores já haviam demonstrado que a aderência de C. albicans a superfícies de acrílico e às células epiteliais foi intensificada após crescimento das leveduras em meio contendo altas concentrações de vários açúcares como fonte de carbono (DOUGLAS, J.; HOUSTON; MCCOURTIE, 1981). Samaranayake, MacFarlane (1982) mostraram que leveduras incubadas com sacarose e glicose apresentaram melhor aderência a acrílicos que os controles crescidos em meios sem açúcar. Estudo recente demonstrou que os hidratos de carbono na dieta podem modular 15 o desenvolvimento de biofilmes de C. albicans na superfície de dentadura (SANTANA et al., 2013). A aderência de Candida às superfícies epiteliais parece ser similarmente promovida, mas poucas investigações após crescimento em diversas fontes de carbono têm sido feitas (ABU-ELTEEN, 2005). Os efeitos de vários tipos de carboidratos tais como frutose, lactose, maltose e xilitol no mecanismo de aderência, são também pobremente entendidos, e não existem resultados com outras fontes de carbono. Além disso, a maioria dos relatos referem-se a estudos com C. albicans, desse modo há pouca informação em relação à adesão em espécies de CNCA tais como C. tropicalis, C. glabrata e C. parapsilosis. 2.6 Aspectos moleculares da adesão Existem vários genes que medeiam a aderência de Candida a células hospedeiras. Esses genes codificam proteínas genericamente chamadas de adesinas por sua atuação no processo adesão. Algumas dessas proteínas são conhecidas como invasinas, pois atuam no início do processo como as proteínas Sap (aspartil proteases ácidas) e as proteínas Als (sequências semelhantes a aglutininas). Essas proteínas são codificadas pelos genes da família SAP e ALS, respectivamente (HOYER et al, 1998, NAGLIK, 2003). Naglik et al. (2004) demonstraram a participação de genes da família SAP na infecção de mucosas (SAP1, SAP2 e SAP3) e em infecções sistêmicas (SAP4, SAP5 e SAP6). Em formas leveduriformes de C. albicans, a expressão dos genes SAP1 a SAP3 é mais intensa que nas formas filamentosas onde a expressão dos genes SAP4 a SAP6 é mais acentuada (Figura 3). Estudos identificaram genes SAP em outras espécies de Candida incluindo C. dubliniensis, C. tropicalis, C. parapsilosis e C. guilhermondii (MONOD et al., 1994; GILFILLAN et al., 1998). Estudos demonstram que a atuação de proteínas Sap pode facilitar no processo de aderência uma vez que essas enzimas têm a capacidade de degradar proteínas da membrana celular da célula hospedeira permitindo a adesão e invasão da célula fúngica (BORG-VON ZEPELIN et al., 1999). 16 Figura 3 - Possível atuação dos genes da família SAP na patogênese de Candida (NAGLIK, J. et al., 2004) SAP1 – Invasão da pele SAP 1 e 3 – Aderência a epitélio bucal SAP 1, 2 e 3 Invasão/dano tecidual SAP SAP 4, 5 e 6 – Infecção sistêmica SAP 5, 6 e 7 – Biofilme SAP 4, 5 e 6 – Dimorfismo hifal específico SAP 2 Interação sistema imune As aspartil proteases (Sap) de C. albicans são codificadas por 10 genes. A família de genes SAP favorece a atuação de um sistema proteolítico indispensável tanto no comensalismo quanto no desenvolvimento de infecções, pois permitem a aquisição de nutrientes pela proteólise de substratos do hospedeiro (HUBE; NAGLIK, 2001; ZAUGG et al., 2001). Todos os 10 genes da família SAP de C. albicans codificam pro-enzimas contendo cerca de 60 aminoácidos a mais do que a enzima madura que são processadas durante o transporte através da via secretora. As enzimas maduras contêm motivos de sequência típica para todas as aspartil proteases, incluindo dois resíduos de aspartato conservados em local ativo e de resíduos de cisteína conservados envolvidos na manutenção da estrutura tri-dimensional (MONOD et al., 1994; PICHOVA et al., 2001; STANISZEWSKA et al., 2012). C. albicans também possui uma grande família de genes ALS (Agglutinin-like sequences) (HOYER et al., 2001) composta por nove genes (HOYER et al., 1995; HOYER; PAYNE; HECHT, 1998; GAUR; KLOTZ; HENDERSON, 1999; HOYER; HECHT, 2001) responsáveis por codificar proteínas Als como as Als1p (FU et al., 17 1998), Als3p (GAUR; KLOTZ, 1997) e Als5p (HOYER; PAYNE; HECHT, 1998), adesinas envolvidas em vários outros processos além da adesão celular. Muitas adesinas como Eap1 e Als3 foram identificadas e caracterizadas por sua expressão em S. cerevisiae (GAUR; KLOTZ, 1997; LI, F.; PALECEK, 2003). No intuito de entender mais a respeito das novas estratégias de interação patógenohospedeiro, foram identificadas proteínas adicionais com possíveis funções adesivas. Sohn et al (2006) identificaram diversos candidatos pelo perfil transcricional de células de C. albicans. Foram utilizados substratos abióticos como poliestireno além de células epiteliais. A expressão de genes, PGA7, PGA23, PRA1 e AUF8 foi induzida em todos os casos durante a adesão a diferentes substratos, mas não foram expressos sob idênticas condições em cultura em suspensão. De maneira similar ao que ocorre com os membros da família SAP (proteases ácidas de aspartato), os genes ALS são expressos diferencialmente sob uma variedade de condições em C. albicans; (HOYER et al., 1995; HOYER et al., 1998; HOYER; PAYNE; HECHT, 1998). Se essas famílias gênicas desempenham uma função importante na patogênese de C. albicans, é possível que elas também contribuam para a patogenicidade de espécies de CNCA clinicamente relevantes (HOYER et al., 2001). Análises por Southern blot com sondas específicas para detecção de ALS tem sugerido a presença de famílias gênicas ALS em C. dubliniensis e C. tropicalis, sendo que três genes ALS já foram isolados para cada espécie (HOYER et al., 2001). Estes resultados preliminares também sugeriram que há número similar de genes ALS em C. albicans e C. dubliniensis. Estudos a respeito de genes de aderência em espécies de CNCA ainda são poucos, entretanto, a pesquisa em bioinformática por famílias de genes patógeno-específicos de espécies de Candida revelou uma série de genes que codificam proteínas da parede celular em C. parapsilosis. Este estudo incluiu cinco genes ALS e seis genes foram previstos para proteína ancorada glicosil fosfatidilinositol 30 (Pga30). No que diz respeito às proteínas da parede celular de C. tropicalis, pelo menos três genes que codificam proteínas Als foram identificados utilizando primers degenerados 18 (Hoyer, 2001). Entretanto, ao avaliar a presença de ALS3 em C. albicans, C. tropicalis e C. glabrata esse gene só foi encontrado em C. albicans (NASCIMENTO, 2009). Outro estudo também verificou que a amplificação de genes relacionados à adesão como ALS2 e ALS3 foi observada em todos os isolados de C. albicans e em nenhum de C. tropicalis (COSTA, 2009). A nosso conhecimento, nenhum outro trabalho foi realizado nesta área. A integrina1 (Int1) é uma proteína de superfície de C. albicans que apresenta alta similaridade com as integrinas de vertebrados. A expressão do gene INT1 em Saccharomyces cerevisae foi suficiente para torná-lo aderente a células epiteliais humanas apesar de normalmente essa espécie não apresentar tal característica. Além disso, a mutação em INT1 em C. albicans suprime o desenvolvimento das hifas, a adesão a células epiteliais e a virulência das amostras em camundongos (GALE et al., 1998). O gene INT1 de C. albicans foi originalmente clonado devido a sua similaridade com integrinas de leucócitos de vertebrados, adesinas que se ligam a proteínas da matriz extracelular e induzem mudanças morfológicas em resposta a sinais extracelulares (KLOTZ, S. A.; PENDRAK; HEIN, 2001). Outra importante adesina de C. albicans, a Hwp1, é encontrada na superfície dos tubos germinativos e participa da regulação de ligações a células epiteliais (CHAFFIN et al., 1998). Por ser um substrado para transglutaminases, está intimamente relacionada com a patogênese em candidíase sistêmica. Isolados que não apresentam o gene HWP1 não podem aderir de forma eficiente em células epiteliais bucais e tem capacidade reduzida em causar candidíase sistêmica em ratos (STAAB; SUNDSTROM, 1998; PADOVAN et al., 2009). 2.6.1 A família gênica ALS A família de genes ALS (sequências semelhantes à aglutinina) codifica oito glicoproteínas de superfície celular que exibem função de adesão a células hospedeiras (GAUR; KLOTZ, 1997; FU et al., 1998; HOYER et al., 2001; ZHAO et al., 2004). A 19 organização básica desses genes (Figura 4) é semelhante entre os membros da família consistindo em três domínios gerais. Um domínio relativamente conservado existe na região 5’ com cerca de 1300 pb e 50-90% de identidade entre os membros (HOYER; HECHT, 2001), codificando uma região da proteína que compreende 320 a 330 aminoácidos iniciais que é exibida na superfície da célula pelo restante da proteína madura, a qual, devido à sua pesada glicosilação, assume uma conformação alongada (JENTOFT, 1990; KAPTEYN et al., 2000; HOYER et al., 2001). Acredita-se que para alguns genes ALS, a variabilidade de sequência existente dentro do domínio 5’ esteja relacionada ao principal domínio adesivo da proteína Als (HOYER; HECHT, 2000; ZHAO et al., 2003). Figura 4 - Desenho esquemático da estrutura dos genes da família ALS (Fonte: Hoyer, 1998) Domínio 5’ Domínio de tandem repeats Domínio 3’ O domínio central é composto por sequências repetidas in tandem de 108 pb variáveis em tamanho e sequência. Dentro de um gene ALS o tamanho da região varia consideravelmente entre os alelos devido a diferença de números de cópias da sequência de 108 pb presente. O domínio 3’ é relativamente variável em tamanho e sequência (HOYER et al., 2001; ZHAO et al., 2007) e juntamente com a região de tandem repeats codifica uma sequência de aminoácidos (aproximadamente 100) rica em serina e treonina que é altamente glicosilada na proteína madura (ZHANG et al., 2003; ZHAO et al., 2003). Embora as unidades dos tandem repeats em cada gene ALS seja de 108 pb, a sequência básica das unidades repetidas é variável e pode ser usada para classificar os genes ALS em três subfamílias consistindo em: i) ALS1 a ALS4; ii) ALS5 a ALS7; e iii) ALS9 (HOYER et al., 2008). Deleção de genes individuais de ALS e ensaios fenotípicos em linhagens mutantes de C. albicans demonstraram que ALS1, ALS2, ALS3, ALS4 e ALS9 podem contribuir para adesão de C. albicans (FU et al., 2002; ZHAO et al., 2003; 20 ZHAO et al., 2005; ZHAO et al., 2007). A super expressão de genes ALS em S. cerevisiae sugeriu um papel adesivo também para ALS5 e ALS6 (GAUR; KLOTZ, 1997; SHEPPARD et al., 2004) mas ainda há muito a ser esclarecido sobre a presença e o papel desses genes nas demais espécies do gênero Candida . No locus ALS3, C. albicans tende a manter os alelos heterozigotos com relação ao número de cópias da sequência de repetição in tandem presentes no domínio central (OH et al., 2005). Testes fenotípicos em C. albicans mostraram que o alelo ALS3 com 12 cópias repetidas in tandem apresentaram maior contribuição na adesão às superfícies endotelial e epitelial, enquanto que o alelo ALS3 com nove repetições apresentaram uma contribuição significativa, mas muito pequena no processo adesivo (OH et al., 2005). A recombinação homóloga entre as sequências de repetições in tandem presentes em genes ALS poderia explicar as diferentes histórias de genes co-localizados em um organismo predominantemente clonal, como C. albicans. 21 3. OBJETIVOS 3.1 Geral Analisar os aspectos celulares e moleculares da propriedade de aderência in vitro de espécies de Candida a superfícies abióticas e bióticas. 3.2 Específicos Verificar o nível de hidrofobicidade celular de espécies de Candida; Verificar a capacidade de aderência de Candida a materiais inertes (lamínulas de vidro, látex siliconado e inox); Analisar a capacidade de aderência in vitro de Candida às células Hep-2; Comparar a capacidade de aderência às diferentes superfícies entre as espécies analisadas; Correlacionar a capacidade de aderência das espécies com hidrofobicidade celular; Verificar a influência de diferentes carboidratos no processo de aderência de Candida Verificar a presença de genes ALS nos isolados de Candida albicans; Associar a propriedade de aderência dos isolados de C. albicans com a presença dos genes da família ALS. 22 4 METODOLOGIA 4.1 Isolamento das Amostras No presente estudo foram utilizadas 79 amostras clínicas provenientes de diversos sítios (sangue, ponta de cateter, secreção traqueal, secreção vaginal e urina) obtidas de um laboratório particular da cidade de São Luís – MA, gentilmente cedidas e depositadas na micoteca do Laboratório de Micologia do Núcleo de Doenças Endêmicas e Parasitárias do UNICEUMA (Tabela 1). Tabela 1 - Distribuição dos 79 isolados clínicos de Candida entre as diferentes espécies e sítios de origem Espécies Sítios anatômicos de origem da amostra Urina Sangue Secreção Secreção Ponta de Não Total Vaginal Traqueal Cateter definido C. albicans 11 - 2 11 - 0 24 C. parapsilosis 5 10 - - 4 1 20 C. tropicalis 8 3 - 5 - 2 18 C. glabrata 14 - - 3 - - 17 TOTAL 38 13 2 19 4 3 79 Todas as leveduras foram previamente identificadas pelo sistema automatizado VITEK (bioMérieux). As culturas estoque foram mantidas a -20ºC em caldo BHI (Brain Heart Infusion – Acumedia Manufactures). Após recuperação, as linhagens foram mantidas em meio SDA com Cloranfenicol, estocadas a 4ºC durante o período experimental sendo renovadas de 10 em 10 dias para preservação de suas propriedades. 4.2 Determinação da hidrofobicidade celular As amostras de Candida foram crescidas em meio SDA a 37°C por 24h. As culturas foram suspensas em solução PBS (Tampão fosfato salina) (PBS, 0,01 M, pH 7,4) e testadas para evidenciar isolados autoaglutinadores. Em caso de resultado negativo neste teste, os isolados foram então suspensos com concentrações crescentes de sulfato 23 de amônio, de 0,5M, 1,0M, 1,5M, 2,0M, 2,5M e 3,0M. A formação de grumos em até dois minutos após a suspensão indica resultado positivo (SCHMIDT et al., 1998). A formação de grumos em concentrações até 1,5 M de sulfato de amônio indica hidrofobicidade forte, a partir de 1,5 até 2,5M, moderada e acima de 2,5M fraca (LOCATELLI et al., 2004). 4.3 Ensaio de adesão a material inerte 4.3.1 Adesão à lamínula Para a análise da aderência, lamínulas de vidro redondas estéreis (Glasscyto) foram colocadas em placas de microtitulação de 24 poços (TPP Zellkultur Testplatte 24F). Um poço foi utilizado como controle recebendo apenas meio de cultura para garantir a integridade do meio. Os demais poços receberam 40µL de inóculo (106 UFC/mL) + 960 µL de BHI suplementado com 6% de glicose. As placas de microtitulação foram incubadas a 37°C durante 8h. Posteriormente, o meio de incubação foi removido e as microplacas lavadas com água ultrapura para remover as células não aderidas. As lamínulas foram coradas com 1% (v/v) de violeta cristal por cinco minutos, posteriormente lavadas com água ultrapura estéril para remover o excesso de corante, e colocadas sobre lâminas para visualização em microscopia óptica (NIKON Eclipse E100). O experimento foi realizado em triplicata. 4.3.2 Classificação da aderência A classificação da capacidade de aderência à lamínula foi estabelecida baseado no trabalho de Emira et al (2011) de acordo com a quantidade de células aderidas nas lamínulas por campo, em um microscópio óptico, com aumento de 1000 vezes (BIASOLI; TOSELLO; MAGARO, 2002). Foram contadas as leveduras aderidas em cada lamínula, em um máximo de 70 campos, escolhidos aleatoriamente e em sentido unidirecional. Considerou-se negativo quando não foi observada qualquer célula de levedura em 70 campos; fraco (+), quando havia entre 1 e 10 leveduras aderidas por campo em 50 campos analisados; moderada (++) quando havia mais de 10 leveduras aderidas por campo em 30 campos observados; e, forte quando foram contabilizadas 25 ou mais leveduras aderidas por campo em um total de 20 campos analisados. As 24 análises foram realizadas por dois observadores para melhor certificação dos resultados. Não houve diferenças discrepantes dos resultados dos dois observadores. Os padrões de arranjo celular de Candida às lamínulas de vidro são assim classificadas: padrão difuso quando as células de levedura aderem a toda a superfície da lamínula de vidro, sem formar grupos de células; adesão localizada que envolve grupos de leveduras que aderem a regiões localizadas da lamínula; agregativa que é caracterizada por grumos de leveduras que se arranjam como “tijolos empilhados” ou “cachos de uva” que se ligam à superfície da lâmina de vidro. A formação de filamentos ou pseudo-hifas ao longo da superfície da lamínula caracterizou o padrão filamentoso ou pseudo-hifal (MENEZES et al., 2013). 4.3.3 Adesão ao silicone e inox Este protocolo foi utilizado com algumas adaptações para os dois materiais citados. Foram utilizados fragmentos de látex siliconizado (cateter urinário, Solidor®) medindo 0,5 mm de diâmetro e fragmentos de agulha medindo 1 cm. Os fragmentos de silicone, inox foram lavados e esterilizados em tubos contendo 5 mL de meio BHI. Amostras de Candida crescidas em SDA com Cloranfenicol (Acumedia) por 24h foram ressuspendidas em solução salina a 0,85% e padronizadas para aproximadamente 106 UFC/mL de acordo com a turbidez do tubo 0,5 da escala de McFarland. Após a padronização, 0,1 mL do inóculo fúngico foi adicionado ao meio contendo o fragmento estudado por 8h a 37ºC. Após este período, os fragmentos foram lavados com solução salina estéril e cuidadosamente colocados em tubos contendo 5 mL com a mesma solução e, em seguida, agitados em vórtex por 30s. Foram adicionadas alíquotas de 0,1mL desta solução a placas contendo SDA e os inóculos espalhados com auxílio de alça de Drigalski. Após 24h de incubação, foi determinado o número de unidades formadoras de colônia (UFCs) por 0,1 mL de Candida recuperada de cada fragmento avaliado. No presente estudo foi proposta uma classificação da aderência a esses materiais. Foram classificadas como negativas as amostras que não apresentram UFCs ao final do processo. Foram classificadas como aderentes fracas as amostras que apresentaram 25 crescimento entre uma e 199 UFCs, moderada de 200 a 499, fortemente aderentes aquelas com 500 a 1000 UFCs e muito fortes aquelas com mais de 1000 UFCs. 4.4 Ensaio de adesão a células epiteliais 4.4.1 Cultivo e preparo das monocamadas celulares As células humanas (HEp-2, provenientes de carcinoma de laringe) foram cultivadas em frascos de 25 cm2, contendo meio DMEM (Dulbecco's modified Eagles's médium) suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB), a 37ºC. O controle do pH foi garantido pela adição de 3,0 g/L de N-(2-hidroxietil)-piperazina-N-(2-ácido etanosulfônico) (HEPES) e 2,0 g/L de NaHCO3 na composição do meio, como previamente descrito por Freshney (1994). Um inóculo inicial de 5 x 104 células/mL foi utilizado e as culturas mantidas na fase logarítmica de crescimento. As células epiteliais foram cultivadas sobre lamínulas distribuídas em placas de 24 poços. A cada poço contendo 5 x 104 células animais foi adicionada uma suspensão de leveduras preparadas conforme descrito a seguir. 4.4.2 Preparação do Inóculo e Teste de Adesão As leveduras foram cultivadas em meio BHI durante 24 horas e lavadas três vezes em PBS sendo, posteriormente, ressuspendidas no mesmo tampão com o mesmo volume inicial. Um inoculo de 40 µL de Candida foi adicionado às microplacas de 24 poços contendo monocamadas semi confluentes de células em meio MEM e soro fetal bovino a 2%. Após 3h de incubação a 37 °C, as placas foram lavadas em PBS e fixadas com metanol durante um mínimo de 12 horas. A coloração utilizada foi MayGrunwald/Giemsa e posteriormente as lamínulas foram analisadas para a adesão ao microscópio óptico padrão (Nikon) (SCALETSKY; SILVA; TRABULSI, 1984). 4.4.3 Classificação da aderência Para o padrão de aderência, considerou-se adesão do tipo difuso quando as colônias de Candida encontravam-se aderidas de forma isoladas às células animais; localizado quando encontravam-se agrupadas em pequenos grumos em torno da célula; agregativo 26 quando as colônias formavam uma massa ou emaranhado em torno das células; e, pseudo-hifal, quando essas leveduras produziram pseudo-hifas (MENEZES et al., 2013). 4.5 Influência de carboidratos no processo de aderência Para verificar a capacidade de aderência na presença de carboidratos, isolados de quatro espécies de Candida (C. albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis e C. glabrata), foram testados na presença de cinco carboidratos (glicose, manose, rafinose, galactose e lactose) para avaliar a interferência de tais substâncias no processo. 4.5.1 Preparação dos carboidratos Todos os carboidratos foram preparados na concentração de 1% e diluídos diretamente em meio YNB (Yeast Nitrogen Base). Após a adição dos carboidratos as soluções foram esterilizadas em filtros de seringa de 0,22 µM e utilizadas no mesmo dia do preparo. 4.5.2 Teste de aderência Isolados de Candida foram incubados a 37°C por 24h em SDA para obtenção de culturas novas. Colônias isoladas foram transferidas para tubos contendo 3 ml de meio YNB 1x com 50 mM de glicose e incubados por 18 a 20h a 37°C. Após esse período, as amostras foram lavadas duas vezes em PBS 1x e, posteriormente, 3ml de solução de cada carboidrato foram adicionados aos tubos contendo as células de Candida. No tubo utilizado como controle, somente o meio puro foi adicionado. O teste de adesão foi realizado utilizando-se 1 ml da solução de Candida + carboidrato (ou Candida + meio no caso do controle) em uma placa de 24 poços contendo lamínulas redondas estéreis e incubadas por 3h a 37°C. Em seguida a placa foi lavada três vezes com PBS 1x, corada com cristal violeta e após nova lavagem, as lamínulas foram retiradas e observadas ao microscópio ótico (aumento 1000x) para a contagem das células aderidas. Considerou-se a média no número de células contadas em 30 campos para a comparação dos resultados 27 4.6 Identificação molecular de genes da família ALS 4.6.1 Extração de DNA Colônias isoladas foram retiradas diretamente de placas de cultivo (crescidas por 18 horas em placas em SDA) e colocadas em microtubos de 1,5 mL contendo 200 µL de Tampão de Lise (TL). O TL é composto de 200mM TRIS pH 8,0, 25mM de EDTA, 100mM de NaCl e 1% SDS. Posteriormente as células sofreram lise mecânica com auxílio de um agitador de tubos por aproximadamente 3 minutos. Após acrescentar-se mais 400 µL de TL os microtubos foram incubados por 65ºC durante 10 a 20 minutos. A extração de proteínas-gorduras-polissacarídeos foi realizada com acréscimo de 500µL de CIA (24 Clorofórmio: 1 Álcool Isoamílico) aos tubos e centrifugados por 5 minutos a 9.167g em microcentrífuga a temperatura ambiente. Retirado o sobrenadante, acrescentou-se álcool etílico absoluto gelado para precipitação dos ácidos nucléicos. Este foi centrifugado imediatamente para coleta de DNA ou incubado a -20ºC durante 4 horas para que haja maior quantidade de DNA precipitado. O DNA recuperado foi lavado em etanol 70% e ressuspendido em 40 µL de tampão TE (ALVES, 2010). A qualidade e a quantidade de DNA obtido foram avaliadas visualmente em gel de agarose a 0,8% (SAMBROOK; FRTSCH; MANIATIS, 2002). 4.6.2 Amplificação por PCR A PCR amplifica as regiões específicas para cada primer e segue recomendações de Mota (2007). Para uma reação de 25µL foi utilizado 1- 10 ng de DNA, 1x do tampão da reação (fornecido pelo fabricante e contendo de 1,5 mM MgCl2), 0,2mM de dNTPs, 0,4 µM de cada iniciador, 0,2 µL de TaqDNA polimerase (5U/µL) e o restante do volume foi completado com água ultrapura (MOTA, 2007). A visualização dos fragmentos amplificados de DNA foi verificada em gel de agarose a 1,5% ou 2,0% (dependendo do tamanho dos fragmentos amplificados) corado com brometo de etídio (10mg/mL). Um marcador molecular de 100 pb foi utilizado na concentração de 50ng misturado ao tampão de corrida. As amostras foram separadas por eletroforese com voltagem aproximada de 5V/cm de gel (SAMBROOK et al., 2002). 28 Os primers utilizados nessa pesquisa estão relacionados na tabela a seguir. Tabela 2 - Primers para amplificação por PCR utilizados na pesquisa PRIMER SEQUÊNCIA (5’-3’) REFERÊNCIA FRAGMENTO (pb) ALS1 – F ALS1 – R 5’-GACTAGTGAACCAACAAATACCAGA-3’ 5’-CCAGAAGAAACAGCAGGTGA-3’ 318 ALS 2 – F ALS2 – R 5- CCAAGTATTAACAAAGTTTCAATCACTTAT-3′ 5′-TCTCAATCTTAAATTGAACGGCTTAC-3′ ALS3 – F ALS3 – R 5’-CCACTTCACAATCCCCATC-3’ 5’-CAGCAGTAGTAGTAACAGTAGTAGTTTCATC-3’ ALS4 – F ALS4 – R 5’-CCCAGTCTTTCACAAGCAGTAAAT-3’ GTAAATGAGTCATCAACAGAAGCC-3’ ALS5 – F ALS5 – R 5’- TGACTACTTCCAGATTTATGCCGAG-3’ 5’- ATTGATACTGGTTATTATCTGAGGGAGAAA-3’ ALS5t – F ALS5t – R 5’- GGT ACA GTT CCA CTG CCA AA – 3’ 5’ – AAG ACA GTT CTT CCA ATG GAT CA – 3’ ALS6 – F ALS6 – R 5’- GACTCCACAATCATCTAGTAGCTTGGTTT-3’ 5’- CAATTGTCACATCATCTTTTGTTGC-3’ (PANIAGUACONTRERAS et al., 2010) (PANIAGUACONTRERAS et al., 2010) (PANIAGUACONTRERAS et al., 2010) (PANIAGUACONTRERAS et al., 2010) (PANIAGUACONTRERAS et al., 2010) (HOYER; PAYNE; HECHT, 1998) (PANIAGUACONTRERAS et al., 2010) 366 342 356 318 Variável 152 4.7 Análise estatística Os dados foram analisados com o programa estatístico IBM SPSS Statistics 20.0 (2011). Inicialmente foram feitas as tabelas de frequências das variáveis. Posteriormente, nos cruzamentos das variáveis classificatórias foi aplicado o teste do qui-quadrado de independência (χ2). Depois aplicou-se o teste de correlação de Spearman. Foi utilizado o ANOVA dois fatores para relacionar o número de células com a espécie e meio e o teste de Tukey. Em todos os testes o nível de significância (α) aplicado foi de 5%, ou seja, considerou-se significativo quando p < 0,05. 29 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Determinação da hidrofobicidade celular Estudos demonstram que a hidrofobicidade da superfície celular dos microorganismos pode estar relacionada com o mecanismo de adesão a superfícies inanimadas e biológicas (CAPELLO; GUGLIELMINO, 2006) sugerindo que, quanto mais hidrofóbico for a superfície do micro-organismo, mais facilmente ocorrerá o processo de aderência pois, as propriedades físico-químicas da superfície podem exercer uma forte influência sobre a adesão. O micro-organismo pode aderir mais facilmente às superfícies hidrofóbicas (plásticas) do que às hidrofílicas (vidro ou metais). A aglutinação em concentrações menores de sulfato de amônio demonstra maior hidrofobicidade não sendo necessárias altas concentrações de sal para que as células se agrupem. Baseado nisso, C. albicans foi a mais hidrofóbica entre as espécies testadas (55,56%) apresentando aglutinação desde as menores concentrações de sulfato de amônio, entretanto esse resultado não foi estatisticamente significante (p>0,05). As demais espécies também apresentaram predominância de hidrofobicidade forte: 45,71% dos isolados de C. glabrata, 46,67% dos de C. parapsilosis, 44,62% em C. tropicalis. Além disso, isolados com hidrofobicidade moderada e fraca apresentaram proporções bem semelhantes entre as espécies como pode ser observado na figura 5. 30 Figura 5 - Avaliação da hidrofobicidade de Candida em concentrações crescentes de sulfato de amônio. Até 1,5 M: hidrofobicidade forte; entre 1,5 e 2,5M: moderada; acima de 2,5M: fraca Forte Moderado Fraco 45,71 C. glabrata 40 14,29 46,67 C. parapsilosis 31,11 Espécie 22,22 44,62 C. tropicalis 35,38 20 55,56 C. albicans 31,11 13,33 0 10 20 30 40 Hidrofobicidade (%) 50 60 Na literatura há escassez de estudos que avaliem a hidrofobicidade em fungos. Em estudo anterior realizado por Samaranayake (1995) com isolados orais de C. albicans e C. krusei revelou que todos os isolados de C. krusei apresentaram hidrofobicidade significativamente maior que os isolados de C. albicans o que difere dos nossos resultados. Quando hidrofobicidade e aderência a superfícies foram comparados, os autores verificaram uma correlação positiva entre a hidrofobicidade da superfície das células de isolados de C. krusei e adesão a superfícies de células HeLa, mas não às superfícies acrílicas (SAMARANAYAKE, Y. H. et al., 1995). A determinação da hidrofobicidade de superfícies é uma medida importante, pois se duas superfícies forem hidrofóbicas, a adesão pode ser termodinamicamente favorável, visto que será mais fácil remover a água presente entre as duas superfícies para a adesão ocorrer. A adesão de um micro-organismo a uma superfície sólida em solução aquosa só se estabelece se o filme de água que reveste as duas superfícies for removido (ARAÚJO et al., 2009). 31 Em nosso estudo, a capacidade de Candida de aglutinar-se na presença de sulfato de amônio foi maior na concentração de até 1,5 M, hidrofobicidade considerada alta o que poderia influenciar positivamente na capacidade de aderência de seus isolados. 5.2 Ensaio de adesão a material inerte 5.2.1 Aderência à lamínula O teste de adesão à lamínula revelou que das 79 amostras avaliadas, 55 (69,62%) foram positivas. A propriedade de aderência foi observada em 66,67% dos isolados de C. albicans, número inferior aos resultados obtidos com C. parapsilosis (75%) e C. tropicalis (83,33%). Entretanto, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes com relação à capacidade de aderência a lamínulas e as espécies estudadas revelando que a aderência não varia de uma espécie para outra (p>0,05) (Figura 6). Esse fato pode ser explicado pelo tamanho amostral. Se o tamanho amostral fosse maior, essas diferenças, provavelmente, seriam mais acentuadas. Figura 6–Frequência de isolados de Candida com capacidade de aderência a lamínula Positivas Frequência das amostras (%) 90 83,33 80 70 Negativas 75 66,67 60 52,94 47,06 50 40 33,33 30 25 16,67 20 10 0 C. albicans C. tropicalis C. parapsilosis Espécie C. glabrata Quando avaliada a intensidade de adesão entre os isolados verificou-se que 62,5% dos isolados de C. albicans apresentaram aderência fraca, 25% mostraram adesão moderada e 12,5% forte. A maioria dos isolados de C. tropicalis apresentou aderência moderada com uma frequência de 53,33% enquanto 26,67% apresentaram aderência 32 fraca e 20% aderência forte. Nenhum isolado de C. glabrata apresentou aderência forte sendo a maior parte dos resultados positivos classificados como aderentes fracos (55,56%) (Figura 7). Nesta pesquisa, todas as espécies de Candida estudadas foram capazes de aderir, fato este corroborado por outros estudos que relatam a aderência de espécies de Candida a materiais inertes (MORENO et al., 2009; SILVA, S. et al., 2010). Entretanto, é importante notar que os isolados de espécies de Candida não C. albicans (CNCA) foram mais aderentes. C. tropicalis destacou-se entre as espécies de CNCA com 83,33% de amostras aderentes e, dentre estas, 14,55% foram fortemente aderentes (Figura 7). Apesar de não terem sido observadas diferenças estatísticas significantes entre a capacidade de adesão e a espécie, ao avaliar a intensidade de aderência, verificou-se que esta varia de acordo com a espécie (p<0,05). Figura 7 - Frequência da intensidade de aderência à lamínula entre as diferentes espécies de Candida. Fraco Moderado Forte 70 62,5 Frequência das amostras (%) 60 55,56 53,33 46,67 50 44,44 40 30 33,33 26,67 25 20,00 20,00 20 12,50 10 0,00 0 C. albicans C. tropicalis Espécie C. glabrata C. parapsilosis Um estudo recente comparando isolados de Candida provenientes de indivíduos com AIDS e indivíduos imunocompetentes, revelou que 85,7% dos isolados oriundos de pacientes com HIV e 100% dos isolados de Candida de indivíduos normais foram aderentes a lamínulas de vidro (BRANCO, 2012). Embora não tenham sido observadas diferenças significativas na capacidade de aderência entre as espécies, esses resultados 33 corroboram com os desta pesquisa no que se refere à alta capacidade de aderência de isolados de Candida a lamínulas de vidro. O estudo de Moreno et al. (2009), verificando a capacidade de aderência a resina acrílica em isolados de Candida, mostrou que C. tropicalis, dentre as espécies analisadas, apresentou maior capacidade de adesão, seguida de C. dubliniensis e C. albicans. De fato, C. tropicalis tem emergido como o segundo ou terceiro agente mais comum de candidemia, principalmente em pacientes com câncer (WEINBERGER et al., 2005; NUCCI; COLOMBO, 2007). Além disso, uma incidência elevada de C. tropicalis como agente causal de infecções nosocomiais do trato urinário tem sido relatado (RHO et al., 2004). Não houve associação estatística entre a hidrofobicidade das espécies e a capacidade de aderência à lamínula. As amostras também foram classificadas quanto aos padrões de aderência às lamínulas. O padrão mais comum foi o agregativo observado em 34,55% dos isolados, seguido dos padrões localizado (27,27%), difuso (23,64%) e pseudo-hifal (14,55%) (Figura 8). O padrão pseudo-hifal foi o mais comum em C. parapsilosis presente em 40% dos isolados. Somente um isolado de C. albicans apresentou padrão de aderência pseudohifal que também foi observado somente em um isolado de C. tropicalis. Em C. albicans houve predominância de padrão tipo agregativo (62,5%) enquanto os padrões localizado e difuso (44,44%) foram os predominantes em isolados de C. glabrata, e os agregativo e localizado (33,33%) mais presentes nos de C. tropicalis. Houve diferenças estatisticamente significantes entre as espécies de Candida e o padrão de aderência apresentados (p<0,05) sugerindo que o padrão de aderência varia de acordo com a espécie. 34 Figura 8 - Frequência dos padrões de aderência a lamínulas observados nas diferentes espécies de Candida Pseudo-hifal Agregativo Localizado Difuso 14,55 34,55 Total 27,27 23,64 40 20 20 20 Espécie C. parapsilosis 0 11,11 C. glabrata 44,44 44,44 6,67 33,33 33,33 C. tropicalis 26,67 6,65 62,5 C. albicans 18,75 12,5 0 10 20 30 40 50 Frequência das amostras (%) 60 70 A grande quantidade de isolados mostrando um padrão tipo localizado ou agregativo poderia ser explicado devido à presença de adesinas na parede celular de Candida que seriam responsáveis pela capacidade de aderência intercelular mostrada pelas diferentes linhagens. Estes tipos de padrões de aderência também facilitariam a formação de biofilme por estas espécies. Regiões estruturais específicas das proteínas Als em C. albicans parecem estar envolvidas no fenômeno de agregação celular, como a região de repetições em tandem e a região rica em resíduos de treonina (KLOTZ, S.A.; LIPKE, 2010). A região rica em treonina na Als5p, que é composta por 127 aminoácidos, está envolvida na agregação (RAUCEO et al., 2006), entretanto, Als7p e Als9p, com 128 aminoácidos, não proporcionam agregação após a adesão (KLOTZ, 2007; ZHAO, 2007). Da mesma forma, a propriedade de agregação de várias proteínas Als de C. albicans é proporcional ao número de repetições em tandem na molécula (RAUCEO et al., 2006). Por exemplo, 35 Als1p com 20 repetições induz a formação de agregados maiores que aqueles induzidos por Als5p com somente cinco sequências repetidas. Este fato, de certa forma, corrobora com nossos achados onde evidenciamos escassez de um padrão de aderência tipo difuso (23,64%) com a maioria das cepas evidenciando um padrão tipo localizado ou agregativo (61,82%), onde ambos mostram formação de colônias por união de várias células leveduriformes (KLOTZ, S. A. et al., 2007). Somente dois isolados de C. albicans mostraram um padrão filamentoso ou pseudohifal de aderência, o que também foi observado em sete dos isolados das demais espécies de CNCA. A capacidade de diferenciação de formas leveduriformes para formas filamentosas tem sido descrita em muitos estudos e tem relação direta com a invasão tecidual do hospedeiro, favorecendo a patogenicidade de Candida, permitindo a penetração mais fácil ao tecido do hospedeiro (JACOBSEN et al., 2012), contudo não é essencial para a patogênese (GOW, 2002). Provavelmente a forma filamentosa seja mais virulenta devido à maior extensão de contato entre o micro-organismo e a área a ser infectada, mas ambas as formas são frequentemente encontradas tanto em estados comensais quanto em processos infecciosos e mesmo as demais espécies de Candida não albicans que, mesmo não formando hifas verdadeiras, são potencialmente patogênicas e estão envolvidas com a morbimortalidade por estes agentes (RIBEIRO et al., 2004; GOW et al., 2012). A possibilidade de mudar o seu próprio fenótipo tem sido descrita em alguns estudos em relação a C. albicans (HAYNES, 2001; YANG, 2003; ÁLVARES et al., 2007; RIBEIRO et al., 2004) e pode modular alguns fatores de virulência inclusive o dimorfismo celular e a aderência (SOLL, 2002). Entretanto, o conhecimento a respeito dos mecanismos que possibilitam esta mudança fenotípica ainda precisa ser esclarecido (COSTA, 2009b), provavelmente está associado à riqueza de nutrientes e expressão de genes que codificam adesinas. Verificando os padrões de adesão levando em consideração os sítios de origem, a maioria dos isolados de urina e de secreção traqueal apresentou aderência do tipo agregativo (33.33% e 42,86%, respectivamente). O padrão pseudo-hifal foi o mais frequente em isolados de ponta de cateter (50%) podendo ser verificado também nos isolados de urina e sangue. Os dois isolados de secreção vaginal foram positivos para aderência e apresentaram padrão tipo agregativo. Nenhum isolado de ponta de cateter 36 apresentou padrão tipo agregativo (Figura 9). Não houve correlação estatística significante entre o sítio de origem e o padrão de aderência verificado (p>0,05). A figura 10 ilustra os diferentes arranjos celulares encontrados nessa pesquisa. Figura 9 - Distribuição dos padrões de aderência entre os isolados de Candida em relação ao sítio de origem Pseudo-hifa Localizado Difuso Agregativo 50 25 25 Ponta de Catéter 0 27,27 27,27 Sítios de Origem Sangue 18,18 27,27 0 0 0 Sec. Vaginal 100 0 35,71 Sec. Traqueal 21,43 42,86 12,5 29,17 Urina 25 33,33 0 20 40 60 80 Frequência das amostras (%) 100 120 O presente trabalho também avaliou a correlação entre os padrões de adesão apresentados pelos isolados e a intensidade de aderência. Isolados com aderência fraca, apresentaram predominantemente padrão do tipo difuso (34,62%). Na maioria dos isolados com aderência moderada (52,38%) foi encontrado padrão do tipo agregativo. O padrão localizado foi o mais comum em isolados com aderência forte, estando presente em 62,5% dos isolados nessa categoria (Figura 11). É importante destacar que não foram encontrados, dentre os isolados com aderência forte, nenhum que apresentasse padrão do tipo difuso sendo este encontrado exclusivamente em isolados com aderência fraca e moderada. O padrão pseudo-hifal foi mais comum em isolados com aderência forte presente em 25% dos isolados nessa categoria. Estas diferenças observadas foram 37 estatisticamente significantes evidenciando uma variação do padrão de aderência de acordo com a intensidade ou nível de adesão dos isolados (p<0,05). Figura 10 - Padrões de aderência a lamínulas evidenciando arranjos celulares distintos encontrados nas amostras de Candida. A) Difuso B) Agregativo C) Localizado D) Pseudo-hifa. Aumento: 1000x B A C D 38 Figura 11–Relação entre a intensidade de aderência e o padrão de aderência apresentado pelos isolados de Candida Pseudo-hifal Agregativo Difuso Localizado 25,00 Intensidade de aderência Forte 12,50 0,00 62,50 4,76 52,38 Moderado 19,05 23,81 19,23 26,92 Fraco 34,62 19,23 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 Frequência das amostras (%) 80,0 90,0 100,0 5.2.2 Adesão ao silicone e inox O teste de aderência ao látex siliconado revelou que C. parapsilosis apresentou melhor desempenho para essa propriedade com maior positividade (90%) de aderência de seus isolados, seguida de C. glabrata com 88,24% de amostras aderentes positivas. C. albicans foi a espécie com menor frequência de amostras aderentes positivas (33,33%%), seguida de C. tropicalis (66,67%) (Figura 12). A variação da capacidade de aderência ao silicone entre as espécies foi estatísticamente significante (p<0,05), ao contrário do que foi observado na aderência a lamínulas. 39 Figura 12–Frequência de diferentes espécies de Candida positivas e negativas para o teste de adesão ao silicone. Negativo Positivo 100 90 88,24 Frequência das amostras (%) 90 80 70 66,67 66,67 60 50 40 33,33 33,33 30 20 10 11,76 10 0 C. albicans C. tropicalis C. parapsilosis C. glabrata Espécie Quando avaliada a intensidade de aderência ao silicone, constatou-se que amostras aderentes fracas foram as mais comuns em todas as espécies. C. glabrata apresentou a maior frequência de amostras classificadas como aderentes fracas (80%). Em C. tropicalis essa frequência foi 66,67%, seguida de C. albicans (62,5%) e C. parapsilosis (44,44%). C. tropicalis não apresentou isolados de aderência forte ou muito forte enquanto que C. glabrata apresentou apenas um isolado classificado como aderente muito forte (6,67%) e nenhum classificado como aderente forte. Já C. parapsilosis foi a espécie com maior frequência de amostras classificadas como aderentes muito fortes (16,67%) sendo que C. albicans não apresentou nenhum isolado nessa categoria. Apenas C. albicans e C. parapsilosis apresentaram amostras classificadas como aderentes fortes (12,5 e 11,11%, respectivamente) (Figura 13). 40 Figura 13 – Frequência da intensidade de aderência ao silicone entre as diferentes espécies de Candida. Classificação: Negativo: 0 UFCs; Fraco: entre 1 e 199 UFCs; Moderado: 200 a 499 UFCs; Forte: 500 a 999 UFCs; Muito forte: mais que 1000 UFCs. Fraco Moderado Forte Muito forte 90 80 Frequência das amostras (%) 80 70 66,67 62,5 60 50 44,44 40 30 33,33 27,78 25 20 16,67 12,5 11,11 13,33 10 6,67 0 0 0 0 0 C. albicans C. tropicalis C. parapsilosis Espécies C. glabrata Espécies como C. parapsilosis e C. albicans têm sido constantemente relatadas como causadoras de candidemia, acreditando-se que esta elevada frequência, principalmente quando se refere a C. parapsilosis, pode ser explicada pela alta capacidade desta espécie em aderir a superfícies plásticas tais como o cateter (DAGDEVIREN; CERIKCIOGLU; KARAVUS, 2005). C. parapsilosis foi a espécie com maior capacidade de adesão à silicone (90%), onde 100% de isolados provenientes de ponta de cateter foram aderentes (Figura 14). Embora C. parapsilosis seja frequentemente considerada menos virulenta do que C. albicans, é uma das causas mais frequentes de candidemia associada a hiperalimentação parenteral, dispositivos intravasculares e soluções oftálmicas contaminadas (TROFA; GACSER; NOSANCHUK, 2008). Vários fatores dão à C. parapsilosis uma vantagem seletiva, incluindo a capacidade de proliferar-se em altas concentrações de glicose e de aderência a materiais protéticos (TROFA; GACSER; NOSANCHUK, 2008; SILVA, S. et al., 2010). Surtos nosocomiais de C. parapsilosis também têm sido descritos e atribuídos à contaminação exógena, através das mãos de profissionais da saúde (BONASSOLI; BERTOLI; SVIDZINSKI, 2005). 41 Quando avaliada a capacidade de adesão ao silicone em relação ao sítio de origem, verificou-se que amostras aderentes forte foram presentes apenas em isolados de urina (5,23%) e em amostras sem sítio definido (33,33%). A maioria dos isolados de urina foi aderente fraco (42,11%) ou negativo (31,58%). Nenhum isolado de secreção vaginal foi positivo. Isolados de ponta de cateter apresentaram apenas isolados fracos (75%) e moderados (25%) (Figura 14). Há associação significativa entre os sítios e a intensidade de aderência verificada nos isolados mostrando que a intensidade de aderência é influenciada pelo sítio de origem das amostras (p<0,05%). Figura 14 -Frequência da intensidade de aderência ao silicone entre os diferentes sítios de origem analisados. Classificação: Negativo: 0 UFCs; Fraco: entre 1 e 199 UFCs; Moderado: 200 a 499 UFCs; Forte: 500 a 999 UFCs; Muito forte: mais que 1000 UFCs. Muito forte Forte 0 0 Sítio de origem Sec. Traqueal Ponta Cateter Fraco 0 0 0 0 0 0 100,0 5,3 31,6 0 0 63,2 25,0 75,0 0 Sangue Negativo 33,3 33,3 33,3 Indefinido Sec. Vaginal Moderado 0 7,7 38,5 53,8 0 5,3 Urina 7,9 13,2 31,6 0,0 10,0 20,0 42,1 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 Frequência de aderência ao silicone (%) 90,0 100,0 Avaliando-se a aderência dos isolados de Candida ao inox, constatou-se alta afinidade desses micro-organismos a esse material. Praticamente todas as espécies foram aderentes positivas (Figura 15). Isolados de C. albicans e C. glabrata apresentaram aderência em 100% dos isolados testados seguidas de C. prapsilosis e C. tropicalis (95 e 94,44% respectivamente), não havendo, portanto, diferenças significantes com relação à adesão ao inox nas espécies 42 estudadas e não sendo observadas diferenças estatísticas na proporção de positividade entre as espécies (p>0,05). Também não houve correlação estatística entre a hidrofobicidade e a aderência ao silicone, entretanto, houve uma correlação positiva entre a capacidade de aderência a inox e a aglutinação na concentração de 2,5M. Isso sugere que provavelmente isolados com hidrofobicidade fraca podem ser mais aderentes ao inox. Figura 15 - Frequência de diferentes espécies de Candida positivas e negativas para o teste de adesão ao inox Negativo Positivo 120 Frequência de amostras (%) 100 100 100 95 94,44 80 60 40 20 5,56 5 0 0 0 C. albicans C. tropicalis C. parapsilosis Espécies C. glabrata Analisando a intensidade da aderência, C. albicans foi a espécie que apresentou maior frequência de amostras fortemente aderentes ao inox (forte,29,17% e muito forte, 45,83%). C. parapsilosis chama a atenção por apresentar, em sua maioria, isolados fracamente aderentes (78,95%) resultado semelhante ao observado no látex siliconado, onde aderentes fracos também foram a maioria, observados em 44,44% dos isolados. Isolados de C. glabrata foram os mais frequentes (47,06%) com aderência forte entre as quatro espécies de Candida. Os isolados de C. tropicalis tiveram a mesma frequência (35,29%) de amostras com aderência forte e muito forte sendo, essas duas categorias, predominantes na classificação (Figura 16). 43 Figura 16 - Frequência da intensidade de aderência ao inox entre as diferentes espécies de Candida . Classificação: Negativo: 0 UFCs; Fraco: entre 1 e 199 UFCs; Moderado: 200 a 499 UFCs; Forte: 500 a 999 UFCs; Muito forte: mais que 1000 UFCs. Muito forte Forte Moderado Fraco 17,65 47,06 C. glabrata 17,65 17,65 0 10,53 C. parapsilosis Espécie 10,53 78,95 35,29 35,29 C. tropicalis 17,65 11,76 45,83 29,17 C. albicans 16,67 8,33 0 10 20 30 40 50 60 Frequência das amostras (%) 70 80 90 Relacionando-se a intensidade de aderência ao inox e o sítio de origem das amostras estudadas, constatou-se que isolados de secreção traqueal foram os que apresentaram maior frequência de amostras classificadas como aderentes muito fortes (47,37%) enquanto que os isolados classificados como aderentes fortes que apresentaram maior frequência foram os de secreção vaginal (50%), urina (34,21%) e secreção traqueal (31,58%). Isolados de ponta de cateter e sangue predominaram amostras classificadas como fracamente aderentes (75 e 61,54% respectivamente). Contudo, todos os isolados (100%) de secreção vaginal, secreção traqueal, sangue e urina foram aderentes ao inox (Figura 17). Como observado na aderência ao silicone, os resultados da aderência ao inox revelam que a intensidade da aderência varia de acordo com o sítio de origem, pois foram observadas diferenças estatísticas significantes entre os sítios com relação à intensidade da aderência. 44 Figura 17 - Frequência da intensidade de aderência ao inox entre os diferentes sítios de origem analisados. Classificação: Negativo: 0UFCs; Fraco: entre 1 e 199 UFCs; Moderado: 200 a 499 UFCs; Forte: 500 a 999 UFCs; Muito forte: mais que 1000 UFCs. Muito forte Forte Moderado Fraco Negativo 33,33 Indefinido 0,00 0,00 33,33 33,33 0,00 Sec. Vaginal 50,00 0,00 50,00 0,00 Sítio de origem 47,37 31,58 Sec. Traqueal 15,79 5,26 0,00 Ponta Cateter 0,00 0,00 0,00 75,00 25,00 7,69 23,08 Sangue 7,69 61,54 0,00 23,68 34,21 Urina 21,05 21,05 0,00 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 Frequência de aderência ao inox (%) 70,00 80,00 Recentemente muitos estudos estão sendo desenvolvidos no intuito de desvendar os mecanismos utilizados por espécies do gênero Candida para aderir a superfícies abióticas (KANG et al., 2013; SAMARANAYAKE, Y. H. et al., 2013). O estudo de adesão a silicone e inox, materiais constantemente presentes nos ambientes hospitalares, é de suma importância na clínica, pois a aderência de micro-organismos a essas superfícies constitui um perigo potencial a pacientes internos especialmente aos que apresentam algum tipo de redução ou deficiência grave nos mecanismos imunológicos como pacientes com AIDS e os que fazem uso de medicações que afetam o sistema imune (pacientes transplantados ou os que fazem uso de quimioterapia). Até o presente momento não foram encontrados estudos que tratam da aderência de Candida ao aço inox sendo este estudo pioneiro nessa temática. 45 Estudos revelam que o aço inox está entre os principais materiais utilizados em bancadas de ambientes hospitalares especialmente em locais onde são realizados os procedimentos de preparo de medicação pelas equipes de enfermagem (MOREIRA, 2002) bem como em perfuro cortantes. Foi encontrado apenas um trabalho avaliando a capacidade de aderência de micro-organismos a superfícies de aço inox. Os autores verificaram a aderência de Staphylococcus aureus a este material antes e após o uso se substâncias desinfetantes. O estudo não revelou alterações na capacidade de aderência dessa bactéria às superfícies de aço inox mesmo com a utilização de várias soluções desinfetantes (SILVA, F. C. et al., 2008). No presente trabalho contatou-se uma elevada frequência de isolados de Candida aderentes ao inox. Devido a frequente utilização de materiais à base de inox em ambientes hospitalares e o alto índice de infecções hospitalares por Candida (PFALLER et al., 2011; ERDEM et al., 2012) é necessária uma atenção especial na utilização desse material, seja em dispositivos intravenosos (como agulhas) ou mesmo a utilização de próteses, especialmente no que diz respeito a correta manipulação pelos profissionais de saúde. 5.3 Ensaio de adesão a células epiteliais Fungos do gênero Candida podem interagir com células epiteliais do hospedeiro humano, tanto como comensais, sem que isso se caracterize como patologia, como um agente patogênico invasor. Sabe-se que os mecanismos complementares para favorecer a adesão a células epiteliais têm evoluído com o passar do tempo. A adesão de C. albicans às células epiteliais é uma etapa crítica no processo de infecção. É essencial tanto para a colonização quanto na indução de doença da mucosa subsequente. Além disso, colonização de superfícies mucosas é um fator de risco conhecido para a evolução de candidíase disseminada (ZHU; FILLER, 2010). Este trabalho mostrou que C. parapsilosis foi a espécie menos eficiente na aderência a células HEp-2 com 55% de amostras positivas (Figura 18), ao contrário do que foi observado quando testou-se materiais inertes como lamínula, silicone e inox. 46 C. glabrata e C. albicans apresentaram maior capacidade de aderência à célula testada (76,47 e 70,83% respectivamente) seguidas de C. tropicalis (66,67%) (Figura 18). Entretanto, não houve diferenças estatísticas significantes na proporção de adesão a células HEp-2 em relação a espécie, ou seja, a aderência não se constitui como uma característica influenciada pela espécie. Figura 18 - Frequência de diferentes espécies de Candida positivas e negativas para o teste de adesão às células HEp-2 Frequência de adesão a células HEp-2 (%) Negativo Positivo 90 76,47 80 70,83 66,67 70 60 55 50 45 40 30 33,33 29,17 23,53 20 10 0 C. albicans C. tropicalis C. parapsilosis C. glabrata Espécie O estudo de Branco (2012) avaliando amostras de Candida isoladas de pacientes com AIDS e pacientes imunocompetentes com relação à capacidade de aderência a células HEp-2, constatou que as espécies com maior taxa de aderência foram C. albicans, C. glabrata e C. tropicalis tanto isolados de pacientes com AIDS quando os isolados de pacientes imunocompetentes, corroborando com os nossos achados. Nesse estudo, a frequência de aderência foi de 100% nos isolados de C. albicans, C. glabrata e C. tropicalis nos isolados de pessoas imunocompetentes, resultado que se repetiu nos isolados de pacientes com AIDS para as duas últimas espécies enquanto que C. albicans apresentou 96,5% de positividade. Este resultado corrobora com os nossos achados pois C. albicans, C. tropicalis e C. glabrata também foram as mais aderentes, embora o referido trabalho também não tenha observado diferenças estatísticas significantes. 47 A capacidade de adesão de Candida a células epiteliais tem sido frequentemente testada com isolados de C. albicans em células HeLa, células epiteliais de rim de embrião humano, fibroblastos e células HEp-2 (BEKTIC et al., 2001). Além disso, estudos com células bucais (COTTER; KAVANAGH, 2000) relataram que adesão a células epiteliais bucais é uma condição essencial à candidíase oral. Estudos recentes (EMIRA et al., 2011) mostraram que as amostras de C. albicans orais foram capazes de aderir a linhagens de células epiteliais de forma diferente onde mais de 61% das cepas testadas foram aderentes para HEp-2 e 83% para células Caco-2. Esse resultado corrobora com os nossos achados sendo possível encontrar uma frequência de positividade muito semelhante na linhagem HEp-2. Testes feitos com C. tropicalis em células HeLa (OKAWA;MIYAUCHI; KOBAYASHI, 2008), demonstraram que todos os isolados dessa espécie foram aderentes positivos demonstrando, que, a alta positividade dessa característica não se constitui um evento isolado. Outro estudo avaliou a correlação entre a adesão de 20 linhagens de C. albicans e 12 de C. parapsilosis a células epiteliais bucais humanas e a expressão de carboidratos presentes na superfície das células fúngicas. Os resultados mostraram que a adesão foi maior para C. albicans de que C. parapsilosis e que as diferenças individuais entre as cepas estão correlacionadas com quantidade de resíduos α-L-fucose na superfície das células fúngicas (LIMA-NETO et al., 2011). Este resultado também corrobora com nossos achados onde foi observada em C. albicans uma frequência de amostras aderentes superior (70,83%) às encontradas em C. parapsilosis (55%) (Figura18). Foram verificados padrões distintos de aderência a células HEp-2 como pode ser observado na figura 19. A avaliação dos padrões de aderência revelou que o padrão difuso foi o mais comum entre as amostras analisadas estando presente em 90,91% dos isolados de C. parapsilosis, 41,18% dos isolados de C. albicans, 25% dos isolados de C. tropicalis e 23,08% dos de C. glabrata. Observou-se também que o padrão agregativo foi o mais comum em isolados de C. tropicalis (58,33%). O padrão tipo localizado foi o mais comum em amostras de C. glabrata (53,85%) (Figura 20). 48 Apesar da proporção de amostras positivas não ter apresentado variações com relação à espécie, diferenças estatísticas foram observadas ao avaliar os padrões distintos estre as espécies sendo essa característica variável conforme a espécie analisada (p<0,05). Embora tendo sido observado nas amostras, o padrão pseudo-hifal foi desconsiderado nessa análise uma vez que o meio de cultura utilizado no cultivo da linhagem celular apresentava soro fetal bovino, substância que induz a formação de pseudo-hifas em isolados de Candida o que tornaria os resultados tendenciosos. Figura 19 - Padrões distintos de agregação observados em isolados de C. glabrata. Aumento: 1000x ao microscópio ótico. A) Agregativa; B) Localizada; C) Difusa B A C 49 Figura 20 - Frequência de padrões de aderência distintos observados em isolados de Candida a células HEp-2 Agregativo Difuso Localizado 100 90,91 Adesão a células HEp-2 (%) 90 80 70 58,33 60 53,85 50 41,18 40 30 29,41 29,41 25 23,08 23,08 16,67 20 9,09 10 0 0 C. albicans C. tropicalis C. parapsilosis C. glabrata Espécie O estudo de Branco (2012) também avaliou as amostras quanto ao padrão de adesão e o tipo difuso também foi o mais encontrado em ambos os grupos analisados, seguido do agregativo e localizado, corroborando com nossos achados. Estudos acerca da adesão de Candida a células epiteliais ainda são pouco frequentes na literatura, entretanto, um estudo realizado por Holmes et al. (2002), estudando efeito de saliva na adesão de C. albicans a células epiteliais humanas, relataram que C. albicans aderiu a monocamadas de todas as três linhagens de células epiteliais estudadas (A549, HEp-2, e Het-1A) (HOLMES; BANDARA; CANNON, 2002). Estudos confirmam que isolados de Candida, de fato, podem aderir a vários tipos de células, tais como células epiteliais bucais (WILLIS et al., 2000) e linhagens de células epiteliais cultivadas (UETA et al., 2000). A aderência é o passo inicial para o desenvolvimento de infecções. Vários outros fatores de virulência podem ser expressos por Candida para que a infecção seja estabelecida. A maioria dos trabalhos sobre essa temática, especialmente os que se referem à aderência, tratam de C. albicans, e estudos acerca da aderência de espécies CNCA são pouco frequentes. Espécies como C. tropicalis e C. glabrata vem emergindo como espécies com grande variedade de fatores de virulência incluindo aderência a 50 células epiteliais (SILVA, 2011). Nossos estudos revelaram a alta capacidade de aderência dessas espécies não só a células HEp-2 como a materiais inertes (lamínula, silicone e inox). Isso mostra a importância do estudo das CNCA e a relevância desde trabalho. 5.4 Influência de carboidratos no processo de adesão A influência dos carboidratos no processo de adesão demonstrou ser dependente da espécie analisada (p<0,05%), ou seja, alguns carboidratos que exibiram influência negativa em uma espécie exerceu efeito contrário em outra espécie como mostra a figura 21. Observa-se que C. glabrata foi a espécie que mais sofreu influência de carboidratos no processo de aderência (p<0,05%). Figura 21 – Número de células aderidas na presença de carboidratos C. albicans C. tropicalis C. parapsilosis C. glabrata Média de n° de células 140,0 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 20,0 C. glabrata C. parapsilosis C. tropicalis 0,0 C. albicans Meio Os carboidratos que mais interferiram de forma positiva na aderência foram galactose e rafinose enquanto que manose foi o mais eficiente na redução da aderência (p<0,05%) (Figura 22). 51 Figura 22 - Influência dos carboidratos no processo de adesão 60,0 52,5 * p < 0,05 Média do n° de células 50,0 40,5 40,0 29,9 30,0 20,0 17,1 17,0 11,1 10,0 0,0 Controle Glicose Manose Rafinose Meio Galactose Lactose A manose reduziu a aderência em C. tropicalis, C. albicans e C. parapsilosis enquanto que C. glabrata apresentou um aumento de células aderentes na presença desse carboidrato. C. glabrata apresentou aumento na capacidade de aderência na presença de todos os carboidratos, entretanto galactose e rafinose exerceram influência muito maior quando comparados com outros carboidratos. Rafinose também favoreceu a aderência em C. tropicalis e C. albicans. Já em C. parapsilosis todos os carboidratos testados interferiram de forma negativa na aderência, ou seja, o numero de células obtidas após o processo de aderência na presença desses carboidratos foi menor quando comparado com o controle. As figuras a seguir revelam a influência de alguns carboidratos no processo de adesão. 52 Figura 24 - Capacidade de aderência em C. albicans na presença de carboidratos: A) Controle B) Aderência na presença de manose; C) Aderência na presença de galactose. Aumento: 1000x A B C Figura 25 - Capacidade de aderência em C. glabrata na presença de carboidratos: A) Controle; B) Aderência na presença de galactose; C) Aderência na presença de rafinose. Aumento: 1000x A B C Figura 23 - Capacidade de aderência em C. parapsilosis na presença de carboidratos: A) Controle; B) Aderência na presença de galactose; C) Aderência na presença de lactose. Aumento: 1000x A B C Um dos poucos estudos que avaliaram a capacidade de aderência na presença de carboidratos revelou que frutose, galactose, glicose, maltose, sorbitol e sacarose aumentaram significantemente a aderência de Candida spp a células de epitélio bucal sendo que galactose foi o carboidrato mais eficiente entre todos testados (ABUELTEEN, 2005) Esse padrão foi semelhante em C. tropicalis, C. parapsilosis e C. glabrata, diferindo dos nossos estudos onde a amostra de C. parapsilosis testada teve sua aderência diminuída na presença desse carboidrato. Entretanto, no estudo em 53 questão, C. parapsilosis sofreu menor aumento na aderência na presença de galactose. Além disso, o tipo de substrato utilizado na análise pode interferir na influência dos carboidratos na aderência (JAYATILAKE, 2011). Estudos revelam que, na presença de 500 mM de galactose ou glicose, esses hidratos de carbono, adicionados durante a fase de crescimento, melhoram a capacidade de adesão de isolados de Candida a BECso que pode ser explicado pela produção de uma capa fibrilar adicional (ABU-ELTEEN, 2005) A aderência de C. tropicalis e C. glabrata sofreu um aumento na presença de glicose. Este resultado pode ser explicado considerando que quando as células de levedura estão colonizando uma determinada superfície e são expostas a diferentes fontes de carbono, preferencialmente utilizam monossacáridos, tais como glicose, antes de assimilar outras fontes de carbono (JOHNSTON, 1999). Depois de alcançar um estágio mais avançado de organização e metabolismo, provavelmente, células de levedura sejam capazes de hidrolisar fontes de carbono mais complexas, tais como a sacarose, o que pode ser um fator crítico durante a formação de biofilme (ASKEW et al., 2009). O fato de apenas duas espécies de Candida terem apresentado aumento na capacidade de aderência na presença de glicose pode ser explicado pelas diferenças existentes com relação à composição e a organização da parede celular entre as espécies que poderia estar influenciando na assimilação do carboidrato durante o processo (SILVA, S. et al., 2011). Isso porque durante o processo de adesão, várias adesinas são expressas e dentre os fatores determinantes nesse processo estão as condições do meio externo como a oferta de fontes de carbono (ZAVREL, 2010; ENE et al., 2012). Além disso, a expressão de proteínas Sap é de suma importância nesse processo uma vez que a expressão dessas enzimas, através da sua capacidade em degradar proteínas, danifica parte da membrana celular da célula hospedeira facilitando o processo de adesão e invasão (ZAVREL, 2010). 5.5 Identificação molecular de genes da família ALS A família ALS em C. albicans inclui oito genes (ALS1 a ALS7, e ALS9) que codificam glicoproteínas de parede celular envolvidas na adesão e no reconhecimento de receptores de superfície. Neste trabalho avaliou-se a presença de seis genes ALS por 54 PCR convencional (ALS1, ALS2, ALS3, ALS4, ALS5 e ALS6), através de iniciadores específicos, em 24 isolados de C. albicans (11 isolados de urina, 11 de secreção vaginal e dois de secreção traqueal). De um modo geral, o gene ALS6 foi o mais predominante, detectado em 82,61% dos isolados. Os genes ALS3 e ALS5 foram detectados em 31,82% dos isolados. Os demais genes foram detectados em frequência que não ultrapassou 30% (Figura 26) Figura 26 - Distribuição dos resultados de PCR para verificar a presença dos genes ALS em isolados de Candida albicans. Negativas Positivas 17,39 ALS6 82,61 68,18 ALS5 31,82 80,95 ALS4 Gene 19,05 68,18 ALS3 31,82 80,95 ALS2 19,05 71,43 ALS1 28,57 0 10 20 30 40 50 60 Frequência das amostras (%) 70 80 90 As amostras foram classificadas em relação à presença de genes ALS e desta forma foram observados oito genótipos distintos, conforme mostra a tabela 3. 55 Tabela 3 - Frequência de genes da família ALS em isolados clínicos de Candida 1 2 3 4 5 6 7 8 Genótipo ALS1/ALS2/ALS4/ALS6 ALS1/ALS3/ALS5 ALS1/ALS2/ALS6 ALS3/ALS5/ALS6 ALS1/ALS6 ALS3/ALS5 ALS4/ALS6 ALS6 N 3 1 1 3 1 2 1 9 (%) 14.29 4.76 4.76 14.29 4.76 9.52 4.76 42.86 Observou-se que o genótipo mais comum foi o que apresenta apenas o gene ALS6 encontrado em nove isolados (42,86%). Os genes ALS partilham uma organização de base semelhante constituída por uma região relativamente conservada no domínio 5', um domínio central de repetições in tandem e um domínio 3' de comprimento e sequência relativamente variáveis (Hoyer, 2001; Hoyer et al, 2007). Um estudo avaliando a expressão de genes da família ALS em epitélio humano reconstituído (RHE) revelou que ALS1, ALS2, ALS3, ALS4, ALS5 e ALS9 foram expressos com maior frequência durante a infecção e destruição do epitélio (GREEN et al., 2004) mostrando que esses genes tem participação direta no processo de adesão e subsequente invasão. Paniagua-Contreras et al. (2010) avaliaram a presença dos oito genes da família ALS em 50 isolados de C. albicans de dois sítios diferentes por PCR convencional, mucosa oral e vaginal. Os resultados revelaram que os genes ALS6, ALS4, ALS3 e ALS9 foram os mais frequentes em isolados provenientes de mucosa oral e ALS1, ALS2 e ALS3, ALS4 e ALS9 foram encontrados em todos os isolados provenientes de mucosa vaginal. Além disso, isolados de mucosa oral apresentaram 20 genótipos distintos enquanto que amostras vaginais apresentaram apenas quatro. Esse estudo destaca a alta variabilidade nos genótipos de ALS nos isolados de C. albicans o que também pode ser observado no presente estudo. Quando avaliada apenas a presença de ALS1 (İNCİ et al., 2013), pouco mais da metade dos isolados (53,9%) foram positivos revelando que a presença desse gene não é 56 necessária em todos os isolados. Além disso, no estudo de Paniagua-Contreras et al. (2010) os genes ALS1 e ALS2 foram os menos frequentes, identificados em 67,5% e 60% dos isolados analisados, respectivamente. O estudo de Nascimento (2009) avaliou apenas a presença do gene ALS3 em isolados de Candida sp e verificou uma alta frequência desse gene em isolados de C. albicans onde dos 23 isolados dessa espécie testados, 19 foram amplificados em pelo menos um dos primers utilizados o que difere dos nossos resultados uma vez que nas amostras testadas nesse estudo, apenas 31,82% das amostras foram positivas para o gene em questão. Além dos já citados, outro iniciador que amplifica regiões de tandem repeats em ALS5, também foi utilizado nesse estudo no intuito de identificar tais regiões. Os resultados revelam que 66,67% dos isolados não sofreram amplificação pelo primer em questão (Figura 27). Figura 27 - Distribuição dos resultados de PCR para verificar a presença do gene ALS5 (tandem repeats) em isolados de Candida albicans. Positivas Negativas 33,33% 66,67% A figura a seguir, revela o resultado de uma reação de PCR para esse primer. 57 Figura 28 - Reação de PCR amostras de C. albicans isoladas de urina. L – DNA ladder de 100 pb; 1 – controle negativo; 2 a 7 – produtos de PCR dos isolados de Candida abicans. L 1 2 420 pb 3 4 5 6 7 380 pb 280 pb Foi possível notar que os isolados apresentaram produtos de PCR de tamanhos distintos. Isso acontece devido às diferenças de tamanho entre alelos, ocasionadas pelas repetições in tandem que variam de isolado para isolado. Com isso os comprimentos da região gênica delimitada pelo primer são alterados e consequentemente os fragmentos gerados por PCR (HOYER, 2001). Muitos isolados não apresentaram produtos amplificados de PCR para ALS5. Segundo a literatura (ZHAO, OH et al., 2007), algumas cepas não apresentam amplicons do gene dessa família possivelmente por conta do alto polimorfismo no sítio do primer ou ausência do locus. Portanto, no presente estudo, amostras em que não foram verificados produtos gênicos de ALS5 não necessariamente se caracterizam como amostras nulas para esse gene. Além disso, devido à diferença de tamanho entre alelos ALS5, em caso de deleção espontânea desse gene, o comprimento da região eliminada também varia. Entretanto amplificações por PCR usando primers que abrangem a região deletada, produzem produtos do mesmo tamanho em cada amostra negativa de ALS5 independente do sítio 58 sugerindo que a deleção ocorre na mesma localização em todos os isolados negativos de ALS5 (HOYER, et al., 2008) A habilidade de C. albicans em perder espontaneamente o gene ALS5 pode sugerir que a função de Als5p é pelo menos parcialmente redundante, ou seja, o fato de um isolado não apresentar o gene ALS5 não implica em prejuízo na capacidade de aderência uma vez que essa propriedade envolve diversos outros genes não havendo, portanto, consequências importantes. Outro fator importante apontado no estudo de Zhao (2007) é que em 38% das amostras de C. albicans analisadas o gene ALS5 ocorreu em hemizigose, entretanto há uma pressão seletiva para que esse alelo ocorra em pelo menos um dos cromossomos. O presente estudo avaliou também a correlação da presença dos genes com os aspectos celulares da adesão. Não foram observadas relações estatisticamente significantes entre a presença dos genes ALS e a capacidade de aderência a inox e a silicone. Entretanto, a presença do gene ALS1 apresentou correlação positiva com padrão de aderência exibido por Candida albicans em células HEp-2 como mostra a figura a 29. Figura 29 - Correlação entre a presença do gene ALS1 e os padrões de aderência exibidos por Candida albicans. Ausência * p < 0,05 Presença Frequência das amostras (%) 60,0 50,0 50,0 50,0 40,0 37,5 31,3 30,0 25,0 20,0 10,0 6,3 0 0 0,0 Negativo Localizado Difuso Padrão de aderência a células HEp2 Agregativo 59 Foi possível observar que a presença do gene ALS1 foi significantemente maior em isolados que apresentaram padrões de aderência difuso e agregativo em células HEp-2 o que sugere uma participação do produto desse gene no tipo de arranjo celular expresso por Candida albicans durante o processo de aderência. Contudo, foi observada correlação negativa entre a presença dos genes ALS3 e ALS5 e a aderência a lamínula (p<0,05%), onde nesse substrato a capacidade de aderência não foi favorecida pela presença do gene, como mostra a figura 30. Figura 30 - Correlação entre a presença dos genes ALS3 e ALS5 e a aderência à lamínula Frequência das amostras (%) Ausência 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 * p < 0,05 Presença 83,3 56,3 18,8 16,7 12,5 0,0 Negativo Fraco Moderado Padrão de adesão a lamínulas 12,5 0,0 Forte Sabe-se que a proteína Als tem intensa participação no processo de aderência, entretanto, observa-se que o tipo de substrato pode interferir na participação das adesinas. O trabalho de Sheppard (2004) revelou que a expressão Als5p em S. cerevisiae confere aderência a vários substratos, incluindo células endoteliais e gelatina, enquanto que a expressão de Als6p resulta apenas na adesão a gelatina. Isso sugere que as proteínas Als podem apresentar algumas funções diferenciadas. Este fato poderia explicar os resultados aqui obtidos. Correlacionando a presença de genes ALS com a hidrofobicidade celular, os genes ALS1, ALS3 e ALS5 apresentaram correlação com hidrofobicidade, entretanto, ao contrário de ALS1 que apresentou uma correção positiva (Figura 31), ALS3 e ALS5 apresentaram correlação negativa sugerindo que a presença desses genes não estariam favorecendo a capacidade hidrofóbica dos isolados (Figuras 32 e 33) 60 Figura 31 - Correlação entre a presença do gene ALS1 e a hidrofobicidade em concentração de 0,5M em sulfato de amônio Ausência Presença * p < 0,05 120,0 Frequência das amostras (%) 100,0 100,0 80,0 56,3 60,0 43,8 40,0 20,0 0,0 0,0 Negativo Positivo Aglutinação em 0,5 M de sulfato de amônio Figura 32 - Correlação entre a presença do gene ALS3 e a hidrofobicidade em concentração de 0,5M em sulfato de amônio Ausência * p < 0,05 Presença 90,0 81,3 Frequência das amostras (%) 80,0 66,7 70,0 60,0 50,0 40,0 33,3 30,0 20,0 18,8 10,0 0,0 Negativo Positivo Aglutinação em 0,5 M de sulfato de amônio 61 Figura 33 - Correlação entre a presença do gene ALS5 e a hidrofobicidade em concentração de 0,5M em sulfato de amônio Negativo * p < 0,05 Positivo 90,0 81,2 Frequência das amostras (%) 80,0 66,7 70,0 60,0 50,0 40,0 33,3 30,0 20,0 18,8 10,0 0,0 Ausência Presença Aglutinação em 0,5 M de sulfato de amônio O fato que é que a presença de genes da família ALS tem grande importância na capacidade de aderência em isolados de Candida, contudo, não se constitui como um fator determinante, pois, observa-se que mesmo na ausência de alguns desses genes a capacidade de aderir não é prejudicada uma vez que essa propriedade envolve múltiplos fatores além da participação de vários outros genes que não foram avaliados nesse trabalho como os genes da família SAP, HWP1, entre outros. 62 6 CONCLUSÕES C. albicans foi a mais hidrofóbica entre as espécies testadas apresentando aglutinação desde as menores concentrações de sulfato de amônio; C. tropicalis e C. parapsilosis apresentaram melhor capacidade de aderência a lamínulas; C. parapsilosis apresentou melhor desempenho para aderência ao silicone com maior positividade e maior número de isolados classificados como aderentes muito fortes (15%); C. albicans e C. glabrata apresentaram aderência a inox em 100% dos isolados; Não houve correlação estatística entre hidrofobicidade e a propriedade de aderência a lamínulas e ao silicone; Houve uma correlação positiva entre a hidrofobicidade fraca e a capacidade de aderência ao inox; C. glabrata e C. albicans foram as espécies com maior capacidade de aderência às células HEp-2; Na aderência à HEp-2, o padrão tipo difuso foi o mais frequente em C. parapsilosis e C. albicans enquanto que o padrão agregativo predominou em C. tropicalis; C. glabrata foi a espécie que mais sofreu influência de carboidratos no processo de aderência; Galactose e rafinose atuaram favorecendo a adesão enquanto que manose foi o carboidrato mais eficiente na redução da aderência. O gene ALS6 foi o mais frequente, seguido de ALS3 e ALS5 em isolados de C. albicans; A maioria das amostras de C. albicans (66,67%) não apresentou amplificação por PCR do ALS5t; Os tamanhos variáveis dos amplicons obtidos por PCR da região de tandem repeat de ALS5 sugerem polimorfismo para o gene; O gene ALS1 apresentou correlação estatística com os padrões de aderência difuso e agregativo a células HEp-2; ALS3 e ALS5 apresentaram correlação negativa com a aderência a lamínula; 63 ALS1 apresentou correlação positiva com a hidrofobicidade forte ao contrário do que foi verificado com os genes ALS3 e ALS5. 64 REFERÊNCIAS 1. ABU-ELTEEN, K. H. The influence of dietary carbohydrates on in vitro adherence of four Candida species to human buccal epithelial cells Microbial Ecology in Health and Disease, v. 17, n., p. 156 - 162, 2005. 2. AL-ZAHARAA; EL-DIN, K.; AL-BASRI, H. M.; EL-NAGGAR, M. Y. Critical factors affecting the adherence of Candida albicans to the vaginal epithelium. 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