Aquecimento Global - Revista o Professor
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Aquecimento Global - Revista o Professor
SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC Aquecimento Global: maio/junho de 2007 edição no 06 Um planeta ameaçado Trabalhadores em luta contra a Emenda 3 Dez anos da morte de Paulo Freire Você conhece a Síndrome de Burnout? Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 1 educação não é mercadoria O setor privado de educação coloca os interesses mercantilistas à frente dos educacionais, considera alunos como clientes, professores e funcionários como empregados a serviço de seus lucros. Um Governo que afirma ser este o momento de uma educação de qualidade, não pode abrir mão do seu papel de controlar e regulamentar o Ensino Privado SINPRO Sindicato dos Professores do ABC C o n f e d e r a ç ã o N a c i o n a l d o s T r a b a l h a d o r e s e m ERevista s t a do b Professor e l e c i- m ento de Ensino 2 SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC ENTREVISTA 5 maio/junho de 2007 edição no 06 Paulo Freire EDUCAÇÃO 20 Síndrome de Burnout Entrevista com Mário Sérgio Cortella e as últimas declarações de Paulo Freire 28 Dez anos da morte do educador Professores sofrem com exaustão e alunos sentem os reflexos em sala de aula Professores rejeitam piso de R$850 CULTURA INTERNACIONAL 12 O governo Lula no contexto da América Latina Por Julio Turra SINDICAL 14 Emenda 3 Trabalhadores na luta contra derrubada dos direitos ESPECIAL 16 22 Aquecimento global Planeta Terra pede socorro e toda humanidade já sente os efeitos das mudanças climáticas Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Clarice Lispector e a exposição no Museu da Língua Portuguesa NACIONAL 24 Lei Maria da Penha Violência contra mulher tem punição mais rigorosa ARTIGO 26 Clima, cinismo e morte 27 Por Luiz Roberto Alves O "eu" sitiado Por José Arbex Jr. AULA DE PORTUGUÊS 29 É como ouvir música Por Rubem Alves 3 editorial Direito à vida! E à qualidade de vida! Viva! Modernidade, globalização, neoliberalismo, tecnologias avançadíssimas, violência manifestada em todas as formas, até as inimagináveis... Esse é o panorama conjuntural que vivemos diariamente. A mídia, infelizmente, a serviço do capital, não informa, antes deforma as realidades factuais, por meio de análises parciais e visando, exclusivamente, aos interesses ideológicos a que se prestam. Dessa forma, cabe-nos a tarefa, não apenas de informar, mas de trazer à tona assuntos polêmicos, que se interpõem em nosso cotidiano, e, mais que isso, alteram os rumos de nossas vidas, ameaçando, também, a própria vida no planeta. Nosso compromisso é trabalhar pela conquista e pela manutenção de direitos adquiridos, por essa razão não podemos nos furtar à discussão de problemas que, diariamente, privam-nos de nosso direito primeiro: a vida. Assim, nesta edição trazemos para a análise da categoria a matéria “Planeta ameaçado” que versa sobre o aquecimento global e as conseqüências para a humanidade. Na mesma linha do direito à vida e ao exercício da cidadania, apresentamos a Lei Maria da Penha, que trata sobre a violência contra mulheres. Depende exclusivamente de nós a solução desses problemas, ou, ao menos, uma séria reflexão que nos leve a ações práticas e urgentes visando seu combate. E, como direitos conquistados não podem ser retaliados, conclamamos a todos os trabalhadores que integrem à luta chamada pelas centrais sindicais contra a Emenda 3 e pela manutenção do veto presidencial. Tal emenda ameaça nossos direitos e, praticamente, extingue os contratos de trabalho regidos pela CLT, e acaba com as Convenções Coletivas do Trabalho, regulamentando o contrato de pessoa jurídica. Informe-se mais a esse respeito e participe ativamente manifestando sua indignação contra mais esse ataque à classe trabalhadora. A Revista do Professor traz, ainda, um presente aos docentes: a última entrevista do educador Paulo Freire e a contribuição de Mário Sérgio Cortela, desnudando alguns aspectos do mestre e do homem que hoje homenageamos, além de lembrar os dez anos de sua passagem. Na seção cultura, sugerimos a visita ao Museu da Língua Portuguesa, no qual Clarice Lispector é homenageada, no ano em que comemoramos os trinta anos de lançamento da obra “A hora da estrela”. Aproveitamos para aprofundar nesta edição, as informações sobre a síndrome de Burnout, ou síndrome da exaustão, como também é conhecida a doença que tem afetado muitos profissionais da Educação. Vale informar-se mais, e estar atento aos sintomas. Para encerrar, a seção “aula de português” traz a crônica do professor Rubem Alves, nos remetendo para o prazeroso mundo da leitura. Desejamos a todos ótima leitura! Até breve! expediente Revista do Professor - Ano II - Número 6 - maio/junho 2007 - SINPRO ABC - Sindicato dos Professores do ABC - Gestão 2004/2007 Diretoria Executiva: Aloisio Alves da Silva, Célia Regina Ferrari, Denise Filomena L. Marques, José Carlos Oliveira Costa, José Jorge Maggio, Paulo Cardoso de Souza, Paulo Ostroski e Paulo Roberto Yamaçake • Presidente: Aloisio Alves da Silva • Diretora de Imprensa: Denise Filomena L. Marques - Edição e reportagem: Mayra Monteiro - Mtb 47135 • Projeto Gráfico: Imprensa SINPRO ABC • Capa: Israel Barbosa • Tiragem: 4.000 exemplares • ISSN 1807-7994. SINPRO ABC - Rua Pirituba, 61/65 - Bairro Casa Branca - Santo André - CEP 09015-540 - São Paulo www.sinpro-abc.org.br • [email protected] 4 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC entrevista Dez anos da morte de Paulo Freire Fotos: Acervo do Instituto Paulo Freire Paulo Freire e dona Elza, primeira esposa, em 1980 "Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade" Paulo Freire A s pessoas às vezes dizem: ‘Olha, nós vamos ter a comemoração de dez anos da morte do Paulo Freire’. Outro dia eu escrevi um texto, no qual falo em comemorar a morte, usando o sentido original da palavra. Comemorar significa memorar junto, lembrar junto. Há vários modos de comemorar. Existe a comemoração festiva e a não-festiva. Não é errado dizer que comemora-se a bomba de Hiroxima e Nagazaki, o 11 de setembro, o holocausto, a morte de alguém, o que não é a mesma coisa de festejar. Portanto, no dia 19 de setembro de 2007, nós vamos festejar os 86 anos que Paulo Freire faria. No dia 2 de maio, quando morre o corpo dele, temos uma comemoração não-festiva, em relação a nossa perda. Comemoração é também celebrar, tornar célebre, inesquecível. Nesse sentido, comemora-se, sim, os dez anos Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC sem a presença cotidiana de Paulo Freire”. Essas palavras são do filósofo Mário Sérgio Cortella, professor da PUC-SP, aluno e amigo muito próximo do educador Paulo Freire, em entrevista à revista Fórum, edição de maio. De que forma a obra de Paulo Freire continua presente? Mário Cortella – Eu recuso muito uma frase – e não é uma questão apenas de linguagem – sobre comemorar dez anos sem Paulo Freire. Existem pessoas, obras e idéias que não saem quando seu autor deixa de ter uma convivência cotidiana conosco ou, quase usando uma expressão religiosa, quando deixa de ter uma convivência material conosco. Paulo 5 Freire teve, em 1997, a morte de seu corpo. Quem tem uma prática religiosa vai supor que ele mesmo não desapareceu. Mas, deixando a questão religiosa de lado, existe uma obra viva e um legado vivo de Paulo Freire. Nesse sentido, não são dez anos sem ele; nunca teremos um ano sem Paulo Freire. Sem ser triunfalista, nessa percepção, o legado dele é o que deixou de vitalidade nas pessoas, nos projetos, nas utopias. É aquilo que chamava de “o inédito viável”. Em 1997, tinha 76 anos e vinha produzindo e escrevendo bastante. Escreveu um texto publicado pela professora Ana Maria Araújo Freire, sua viúva, em um livro da Editora Unesp. É um texto muito forte, sua última produção viva, aqui chamada de “Pedagogia da Indignação”. Foi uma carta. Muita gente não sabe, mas Paulo Freire escrevia à mão, em folha sem pauta, com uma letra que ele e algumas pessoas compreendiam muito bem. O que Chico achou disso? MC – (risos) é o Chico Buarque de Holanda, um dos gênios da música, um homem muito sedutor, com uma capacidade artística muito grande, um homem bonito, encantador. E, claro, ter ciúmes do Chico Buarque era mais do que compreensível, até uma honra naquela situação. Paulo Freire, humano, bastante humano, tinha essas condições de, inclusive, saber o que não sabia, o que é um princípio básico do conhecimento. Aliás, uma das grandes lições que nos deixa é que quando a gente sabe que não sabe, dá um passo significativo na direção do conhecimento. Sócrates já houvera anunciado: “Só sei que nada sei”. Mas uma coisa é anunciar isso, outra coisa é vivenciar. Paulo Freire vivenciava isso com muita força. Ele não tinha a chamada falsa modéstia, que é uma forma de cinismo. Aquele que é ator, quando você elogia, diz “bondade Em reuniões com grupos que aplicavam seu método, sua”. Ao contrário, sabia da importância dele e de sua obra. ele dizia que alfabetização não era sua especialidade e, Ele sabia que sabia com os outros. Que o saber marcado pelo nesses momentos, entrava em ação sua primeira mulher, sabor é algo que se partilha. dona Elza... Isso ele fez, por exemplo, quando secretário, de MC – Exatamente. Porque sua esposa, dona Elza, 1989 até maio de 1991. Era um democrata de altíssimo nível. ela sim era uma professora, uma mestra – como se diz no Nunca esqueço uma vez que precisávamos mesmo virar a Nordeste até hoje. Tinha uma formação especializada nesse noite discutindo um tema, com toda equipe que coordenava a campo. Sempre foi uma docente, tal como sua viúva hoje, Secretaria. Lá pelas duas da manhã, deu fome. Fizemos o óbvio Ana Maria Araújo freire, doutora em História que se faz em São Paulo: encomendamos da Educação. A Anita foi uma aluna dele várias pizzas. E aí, claro, não usamos, Comemoração é também como nunca se fez, dinheiro público para quando estava no antigo ginásio, porque o pai dela era o dono da escola onde Paulo isso, embora tivesse até verba e seria celebrar, tornar célebre, Freire ensinava. Isso lá no Grande recife. admitido porque estávamos trabalhando. inesquecível. Nesse Mais tarde, foi sua orientanda no mestrado, Mas fizemos a famosa “vaquinha”. Ele quando ele era casado com dona Elza e sentido, comemora-se, também colocou lá seu cheque, dividindo ela, com outra pessoa. Aí, um dia, ambos a pizza. Eu, sorrateiramente – um dia sim, os dez anos sem a ficaram viúvos, se casaram e viveram contei isso a ele -, tirei o cheque e pus o presença cotidiana de juntos, de 1988 até 1997. Há um belíssimo dinheiro na mesa. Tenho ele comigo até livro, chamado “Paulo e Anita” (editora hoje. É um material que guardo, uma das Paulo Freire Olho d´Água), em que Anita conta histórias minhas lembranças. E não passarei adiante estupendas. Eu fiz a contracapa. É um o chequinho. livro muito gostoso, em que ela conta histórias da vida a dois. Exceto uma, e quem revelou fui eu, em outra publicação. Qual a contribuição de Paulo Freire para a África e Paulo Freire era um homem que tinha um amor muito outros países subdesenvolvidos? grande por Ana Maria Freire, assim como amou profundamente MC – Paulo Freire era o principal inspirador de Elza Freire e todos os filhos. Era um homem que sabia ser projetos de educação em países do Terceiro Mundo, com repartido. Vi uma única vez ele ter uma demonstração de sua obra publicada em 1968, ”Pedagogia do Oprimido”, uma ciúme, num comício do Lula, em sua primeira candidatura das mais reproduzidas no mundo todo. Esse texto serviu à Presidência. Paulo Freire estava com Anita. Na época, já também de inspiração a países do Terceiro Mundo, tal como estavam, claro, casados. Ela encontrou-se com um grande se dizia na época. Mas serviu também de inspiração para músico da MPB que lhe deu um beijo muito bonito, carinhoso países de Primeiro Mundo. A Obra de Paulo Freire, no que e a abraçou. E Paulo Freire achou que ela tinha abraçado o se refere ao diálogo, foi decisiva nos países nórdicos. Ele é Chico Buarque. Desceu do palanque e foi a pé para casa, o único brasileiro que tem, na Suécia, uma estátua ao lado de subindo, já com a idade que ele tinha, aquela ladeira do outras personalidades. Um homem cuja influência pelo mundo Pacaembu em direção à Igreja Nossa Senhora de Fátima e à afora foi decisiva, em alguns locais como grande mito e, em avenida Dr. Arnaldo, ali na Pompéia, na região onde morava. outros, como uma perspectiva de visão epistemológica. Ele Ficou enciumado naquele dia. Anita contou essa história no é um filósofo da educação. Não foi só alguém que produziu livro, sem contar o santo. E aí, um belo dia, eu disse para ela material no campo da educação em si, mas conseguiu fazer “vou revelar, porque aquilo é uma beleza”. Um homem que tem aquele chamado, ser um andarilho da utopia, caminhar pelo ciúme de quem ele teve é um homem inteligente. mundo afora e trocar correspondências com grandes pessoas 6 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC de todo o planeta. Suas obras influenciaram imensamente científica, o Paulo Afonso Carlos, usou um texto dele que era todo o pensamento pedagógico contemporâneo. Não dá para proibido, “Educação como prática da liberdade”. A gente até pensar na educação do mundo atual sem pensamento de tinha uma cópia na época, mimeografada. Em 1977, já formado, Paulo Freire. lecionando na PUC-SP, comecei a ter aulas no mestrado com E há uma coisa curiosa: muita gente lê Paulo Freire o professor Moacir Gadotti. Até o ano anterior, o Gadotti tinha hoje, obras como “Educação como prática de liberdade” ou trabalhado com o Paulo Freire em Genebra. Então, passei a “Pedagogia da autonomia”, seu último livro lançado, e acham ter um contato mais próximo com o Moacir e mais ainda em que é um pensamento óbvio. Ele escreveu há quarenta anos e, 1979, a partir da fundação do PT. Logo depois, participei da nesse período todo, educadores sérios começaram a trabalhar organização inicial da Fundação Wilson Pinheiro, da qual o essas idéias. Lemos isso em outros autores, que leram Paulo Paulo Freire era um dos próceres. Freire. Então, quando as pessoas voltam ao original, começam Gadotti se tornou meu orientador no mestrado. Então, a achar que é muito óbvio. Ao ler “Pedagogia do Oprimido”, comecei a ter essa convivência com o pensamento e com é preciso levar em conta o universo vivencial da pessoa, o o próprio Paulo Freire. Em 1988, Luiza Erundina foi eleita que ela tem, os temas geradores. Então, essas percepções prefeita de São Paulo e Paulo Freire foi o primeiro secretário circularam há meio século. por ela escolhido. Fui um dos chamados pelo Gadotti para Quando nós passamos a saber e divulgar, a olhar compor essa equipe e passamos a ter uma convivência mais para ele de novo, dá impressão de que aquela visita é uma cotidiana. revisita. É uma obviedade falsa. Não se tem, de fato, aí, uma Montou uma equipe com ele para gerir a Secretaria, condição na qual ele não tenha criado. Ele criou muita coisa embora já tivesse dito que não ficaria os quatro anos porque forte do pensamento do materialismo dialético em Paulo achava que tinha a tarefa de organizar o projeto, coordenar a Freire. Ele mescla e sabe fazer uma síntese, na qual parte para equipe, mas que ficaria apenas a metade do mandato, para o cotidiano das pessoas. A expressão máxima é a idéia que viajar, escrever mais livros e, portanto, preservar a liberdade a leitura da palavra deve ser precedida para sair pelo mundo. pela leitura do mundo. Se você precede a No primeiro ano da gestão dele, em leitura da palavra pela leitura do mundo, 1989, o Gadotti era o chefe de gabinete e Ele mesmo dizia que para alfabetização de adultos, você terá eu era o assessor especial; em 1990, nós “fazer como Paulo Freire invertemos a posição, o Gadotti foi o assessor um processo também de conscientização. Existe uma filosofia do não é fazer o que Paulo especial e passei a ser o chefe de gabinete, conhecimento, uma epistemologia, uma ou seja, secretário adjunto, aquele que o Freire fez” didática e uma pedagogia que compõem substituía. Em maio de 91, quando saiu, a possibilidade de se estruturar o método. continuei como secretário – alias, ele fez a Aliás, essa metodologia não pode ser sugestão à prefeita para que eu coordenasse separada dos seus procedimentos. O Mobral, vez ou outra, a equipe que ele já montara. alegava que usava o método sem a metodologia e sem a Quando deixou de ser secretário, já não orientava ideologia, o que é impossível. Fazer a alfabetização da qual mais trabalho na universidade, exceto eu, que fui o seu último decorre o método está ligado à ideologia freireana. Senão orientado. Aliás, Paulo Freire faleceu duas semanas antes da seria ensinar uma técnica que ensina a desenhar o nome, pois minha defesa. Não consegui remarcar, só em junho, depois alfabetização também é interpretação. de um mês, quando então convidei para compor a banca, em seu lugar, a professora Ana Maria Freire, que participou, para Paulo Freire reavaliou muito do seu próprio minha alegria, do exame. Mas tive o que chamo de melhor pensamento? curso de alfabetização de adultos que existe. Porque, como MC – Quando ele escreve “Pedagogia da Esperança”, chefe de gabinete, todos os dias, quando dava 18h30, tinha é uma revisita da “Pedagogia do Oprimido”, que sai quase trinta que entrar na sala dele com 250, 300, 400 documentos. Ele anos depois. Fez aí uma série de observações em relação assinava a documentação porque a burocracia é grande: ao conteúdo da época. Um homem como ele não perderia a há gente que pede licença, ordem de compra, tudo. Era um possibilidade de se auto-criticar. Aliás, se há uma coisa que gesto automático, que ele fazia em uma hora e meia. Cabia não apreciava, de fato, era a ortodoxia. Ele mesmo dizia que a mim sentar do lado dele, pegar aquela pilha de processos, “fazer como Paulo Freire não é fazer o que Paulo Freire fez”. documentos e deliberações, passava um, ele assinava, eu É fazer o que faria se estivesse aqui. Fazer o que fez Karl tirava, passava outro, ele assinava, eu tirava, Era um processo Marx não é fazer o que ele faria, é fazer o que ele faria se cá automático, tanto dele como meu, porque todo o preparo estivesse. Então, ele tinha essa capacidade, inclusive, de não anterior já tinha sido visto. Nós ficávamos conversando sobre a admitir que houvesse uma mistificação de seu trabalho. vida, trabalho, sexualidade, educação... Sempre foi um homem alegre, ele sempre soube que a alegria e seriedade não são Como foi sua convivência com ele? sinônimos de tristeza. Uma das coisas que ele mais gostava MC –Tive contato com a obra do Paulo Freire, pela era de música. Você chegava na casa dele e sempre tinha primeira vez, em 1973. Eu estava entrando no primeiro ano música ao fundo. de filosofia, na universidade, e meu professor de metodologia Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 7 Eu morreria feliz se visse o Brasil cheio, em seu tempo histórico, fazer? ...para que nós criemos, como de marchas. Marcha dos quem não MC – era um apreciador dizia ele, a capacidade de têm escola, marcha dos reprovados, universal do esporte e, claro, gostava marcha dos que querem amar e não de contar histórias, tinha bom humor. esperançar, já que não aceitava podem, marcha dos que se recusam a Tinha uma que sempre contava e esperança do verbo esperar. Dizia uma obediência servil, marcha dos que ria muito, que era um dos momentos se rebelam, marcha dos que querem que tem que ser esperança do clássicos da vida dele. Quando foi ser e estão proibidos de ser. preso, no golpe militar, em 1964, verbo esperançar. E esperançar é ir Eu acho que, afinal de contas, estava em Brasília e depois foi levado atrás, é juntar, é não desistir. as marchas são andarilhagens para o Recife. Na primeira semana históricas pelo mundo e os sem-terra em que estava preso, o capitão que constituem, para mim, hoje, uma das tomava conta dos recrutas no quartel expressões mais fortes da vida política foi até ele e disse: “Professor, soube e da vida cívica desse país. que o senhor é um grande educador, que tem a capacidade Por isso mesmo, é que se fala contra eles. Até gente de alfabetizar as pessoas... nós temos muitos recrutas que se pensou progressista fala contra eles (sem-terra), como analfabetos aqui, será que o senhor poderia alfabetizá-los?” se fossem uns desabusados, como se fossem destruidores da Ele riu e disse: “Mas menino, é exatamente por isso que eu ordem. Pelo contrário, o que eles estão provando, mais uma estou preso” (risos). vez, são certas afirmações teóricas de analistas políticos, Contava também que, quando foi visitar uma de que é preciso mesmo brigar para obter o mínimo de universidade na África, o reitor foi recebê-lo no estacionamento transformação. e, entre o estacionamento e a entrada da reitoria, tinha um Eu lamento tristemente que Darcy Ribeiro já não gramado. O reitor, um senhor de quase dois metros, cabelos possa saber, já não possa estar vendo, sentindo e vendo brancos, da comunidade Zulu, segurou sua mão e os dois uma marcha como essa. Eu acredito e agradeço a Deus atravessaram o gramado de mãos dadas. Paulo freire pensou: por estar vivo, poder ver e saber que os sem-terra marcham “Meu Deus, se um outro brasileiro me encontra agora...”. contra uma vontade reacionária histórica implantada nesse Quando entraram na reitoria, o reitor disse: “Professor, posso país. Meu apelo, meu desejo, meu sonho é que outras perguntar uma coisa? Quando nós estávamos caminhando, eu marchas se instalem nesse país, por exemplo, a marcha pela segurei sua mão e o senhor parece que reagiu mal”, e ele “sabe decência, a marcha pela superação da sem-vergonhice, que o que é, no meu país os homens não andam de mãos dadas”. se democratizou terrivelmente nesse país. Eu acho que essas E o reitor disse: “Nossa, deve ser um país muito estranho o seu” (risos). Paulo Freire com os filhos e o sociólogo Betinho Paulo Freire é o nosso brasileiro mais ilustre? MC – Acho que ele não aceitaria isso e também que não seria bom se achasse. Acredito que ele acharia que o brasileiro mais ilustre é aquele que não desistiu, seja quem for. Sem ser demagógico nisso, diria que o brasileiro, a brasileira, que forem incansáveis na luta por uma vida humana mais feliz, esses são ilustres. Aquele que achar que a história está aberta para que nós criemos, como dizia ele, a capacidade de esperançar, já que não aceitava esperança do verbo esperar. Dizia que tem que ser esperança do verbo esperançar. E esperançar é ir atrás, é juntar, é não desistir. O que ele mais gostava de Última entrevista No dia 2 de maio de 1997, Freire sofreu um infarto e faleceu. Na última entrevista, concedida à TV PUC, dia 17 de abril, o professor falou sobre temas que, mesmo passados dez anos, ainda são totalmente atuais. Marchas Paulo Freire - Eu estou absolutamente feliz por estar vivo ainda e ter acompanhado essa marcha, que como outras marchas históricas, revelam o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo: essa marcha dos chamados sem-terra. 8 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC marchas nos afirmam como gente, como sociedade querendo democratizar-se. O ser humano em adaptação PF - Indiscutivelmente e do ponto de vista biológico, talvez nenhum outro ser tenha desenvolvido a capacidade de adaptação às circunstâncias maior do que o homem e a mulher. A adaptação no ser humano é um momento apenas para o que eu chamo de “a sua inserção”. Qual é a distinção que faço entre adaptação ao mundo e inserção no mundo? A distinção é a seguinte: na adaptação há uma adequação, há um ajuste do corpo às condições materiais, históricas, sociais, geográficas, climáticas etc. Na inserção, o que há é a tomada de decisão no sentido da intervenção no mundo. Por isso mesmo eu recuso qualquer posição fatalista diante da história e dos fatos. Eu não aceito, por exemplo, expressões como “é uma pena que haja tantos brasileiros e brasileiras morrendo de fome, mas, afinal, a realidade é essa mesma”. Não, eu recuso como falsa, como ideológica essa afirmação. Nenhuma realidade é “assim mesmo”. Toda realidade está aí submetida à possibilidade de nossa intervenção nela. Eu não tenho dúvida nenhuma de que a história da luta pela justiça rural e agrária nesse país, que hoje o MST explicita numa posição crítica de quem se assume como sujeito da história, revela a superação da posição inicial da adequação, inclusive como uma forma de defesa. Uma das minhas preocupações, uma de minhas razões de luta, uma das minhas razões de presença no mundo é, exatamente de que, como educador, eu posso contribuir para uma assunção crítica da possibilidade da passividade para que se vá além dessa passividade no que eu chamo de posturas rebeldes e de posturas criticamente transformadoras do mundo. O ser humano em evolução PF - Eu acho que nós somos, homens e mulheres, seres inacabados, mas com uma diferença radical em face do inacabamento das árvores e dos outros bichos, por exemplo. No momento em que nos tornamos capazes de nos saber inacabados seria uma imensa contradição se ao mesmo tempo não nos inseríssemos num movimento que é permanente e que é um movimento de busca, procura. O processo que nos inserimos de permanente busca, eu venho chamando de “vocação do ser mais”. Na busca ou no processo de busca da completude dessa vocação do ser mais, nos perdemos, também. Estamos a uma indiscutível possibilidade de distorcer o processo de busca do ser mais e a essa distorção eu chamo de desumanização. A desumanização por isso mesmo não é virtuosa, é um acidente trágico a que nós estamos sujeitos no processo de buscar a nossa humanização crescente. O que nós temos pela frente é exatamente essa caminhada em que ser e deixar de ser se embatem. Haverá sempre a possibilidade das trágicas desistências de ser. Nossa grande tarefa de passar pelo mundo é exatamente a da briga constante e permanente pela busca do ser mais. A fé PF - Eu me situo, primeiro, entre os que crêem na Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC transcendentalidade e, segundo, eu me situo entre aqueles que, crendo na transcendentalidade, não dicotomizam a transcendentalidade da mundaneidade. Em primeiro lugar, até mesmo do ponto de vista do senso comum, eu não posso chegar lá a não ser a partir de cá. E se cá, aqui, é exatamente o ponto em que eu me acho para falar de lá, então é daqui que parto e não de lá. Eu respeito o direito que se tem de dicotomizar, mas não aceito a dicotomia. Isso coloca a questão da minha fé e da minha crença, que indiscutivelmente interferem na minha forma de pensar o mundo. Poucos dias antes de Darcy Ribeiro morrer, eu vi uma linda entrevista dele, que deve ter sido uma das últimas, em que ele falava dessa questão, dessa passagem, e ele dizia com muita seriedade, muita amorosidade (...) “se a questão da fé passasse pela razão crítica, eu teria fé”. Ele ainda dizia “eu fiz tudo, mas não deu”. No fundo, ele disse, com palavras que não sei repetir agora, “eu não sou mais do que o meu cadáver”. Quer dizer, quando eu morro, eu sou um monte de coisas que se desfazem. Quando Darcy dizia aquilo, com uma sinceridade enorme, com grande lealdade, eu dizia a mim mesmo que, comigo, o processo foi diferente. Eu nunca precisei - e nisso talvez eu esteja pouco humilde – brigar comigo mesmo para me compreender na fé, por isso mesmo, de vez em quando, eu me lembro de uma frase, de uma das primeiras afirmações que li em um livro – quando tinha uns 19 anos – de Miguel de Una-muno, um célebre filósofo, amoroso, espanhol, em um livro que se chama “Idéias e Crenças”, em que ele começa dizendo “as idéias se têm nas crenças se está”. E comigo o que vem se dando é isso mesmo, quer dizer, eu estou na minha fé. Eu nunca precisei de argumentações de natureza científica e filosófica para me justificar na minha fé. Cristo, meu camarada PF - Quando muito moço, muito jovem, eu fui aos mangues, aos córregos, aos morros do Recife, às zonas rurais de Pernambuco trabalhar com os camponeses e favelados, eu confesso, sem nenhuma choramingas, que fui até lá movido por uma certa lealdade ao Cristo de quem eu era mais ou menos camarada. Mas o que acontece quando eu chego lá, a realidade dura do favelado e do camponês, a negação do seu ser como gente, a tendência àquela adaptação de que falei antes, aquele estado quase inerte diante da negação da liberdade, aquilo tudo me remeteu a Marx. Sempre digo “não foram os camponeses que disseram a mim: Paulo, tu já leste Marx?” Não, de jeito nenhum, eles não liam nem jornal! Foi a realidade deles que me remeteu a Marx. Então que os jornalistas europeus, em 70, não entenderam a minha afirmação. Quanto mais eu li Marx, tanto mais eu encontrei uma certa fundamentação objetiva para continuar camarada de Cristo. As leituras que fiz de Marx, de alongamentos de Marx, não me sugeriram jamais que eu deixasse de encontrar Cristo na esquina das próprias favelas. Eu fiquei com Marx na mundaneidade a procura de Cristo na transcendentalidade. Fontes: Entrevista de Mário Sérgio Cortella, revista Fórum, e de Paulo Freire, reprodução autorizada pela TV PUC. 9 notas Índice de repetência no Brasil só é melhor do que em ilha caribenha “Comparando 41 países da América Latina e Caribe, o número de repetências no Brasil só não é pior do que em Anguila. Alguém sabe onde fica Anguila?”. A constatação e a pergunta são da pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Malta Campos, feitas durante o debate “A qualidade da Educação Básica”, promovido pela Universidade de São Paulo (USP), na cidade de São Paulo. O questionamento sobre a pequena ilha do caribe, que tem 10 mil habitantes, serviu para ressaltar, para a platéia de professores, os graves índices da educação básica brasileira. O dado, que foi apresentado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), poderia ser ainda pior. “Ele é baseado no Pisa - avaliação internacional de desempenho de estudantes - que compara a aprendizagem de jovens de 15 anos de idade em todo o mundo. No caso do Brasil, foi necessário um ajuste, porque quase a metade dos estudantes com essa idade não está no ensino médio. Portanto, eles não entraram na conta. Imagina se entrassem”, disse Campos. Neste contexto, em que 15 milhões de brasileiros, maiores de 15 anos, são analfabetos absolutos - não sabem ao menos assinar o nome -, no qual apenas 23% das escolas de 1ª a 4ª série têm quadra de esporte e 22% têm biblioteca, além da taxa de repetência de 20%, enquanto que no Peru é de 7%, a pesquisadora disse que a qualidade deve ser buscada pela perspectiva dos direitos humanos. “Diante das pressões internacionais por redução dos gastos sociais, o Brasil sempre buscou a qualidade pensando em eficiência. Quer dizer, ampliar o acesso sem gastar mais, o que cria um paradoxo. A sinalização do governo, com o lançamento do Programa de Desenvolvimento da Educação, mostra que a questão da qualidade entrou na agenda e vai receber um pouco mais de recursos, mesmo que ainda não suficiente”, disse. Fonte: Planeta Educação Série conta história de grandes personagens da história para crianças A Publifolha lançou uma série de livros que contam as biografias de figuras-chave da história, ciência, arte e cultura, com linguagem simples para o público infantil. Em “Meu nome é”, personagens como Leonardo da Vinci, Alexandre – o Grande, Albert Einstein, Marco Pólo, Mozart e Picasso narram as principais passagens de suas vidas e detalhes da época que viveram. Os livros podem ser adquiridos pelo telefone 0800-140090 ou no site http://publifolha.folha.br. Fonte: Folha Online 10 Permanência na escola reduz homicídios, diz estudo Jovens nascidos na periferia estão mais sujeitos à violência urbana, à maternidade precoce e à evasão escolar. Segundo a pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) de São Paulo, há uma estreita relação entre a criminalidade e a falta de estudo. Nas áreas pobres, há o dobro de adolescentes entre 15 e 17 anos fora dos bancos escolares do que aqueles que moram em bairros nobres da cidade e que têm acesso a boas escolas. De acordo com a pesquisa, o aumento no número de matrículas, principalmente no Ensino Médio, traduziu-se em menos assassinatos e gravidez de adolescentes. A redução da mortalidade na juventude (de 70%) foi assinalada principalmente nas áreas mais pobres. Na periferia, os casos de adolescentes, entre 14 e 17 anos, que tiveram filho chega ao dobro, se comparado com bairros mais ricos; além disso, os jovens de 15 a 19 anos morreram por homicídio três vezes mais que nos bairros ricos. A evasão escolar em bairros periféricos é o dobro da registrada em localidades mais nobres: 14,9% e 7,6%, respectivamente. Fonte: Jornal O Dia Acordo pode mudar ortografia da Língua Portuguesa A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa deve se reunir para discutir regras do português. A proposta de acordo vai mexer com uma parte das 360 mil palavras existentes hoje, no Brasil. A intenção é que a mudança aproxime a o português escrito no Brasil, em Portugal e em mais seis países: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste e São Tomé e Príncipe. “Vantagens culturais, de ordem política, vantagens de ordem econômica até porque aí a língua portuguesa não terá duas vertentes em matéria de ortografia”, declarou Evanildo Bechara, gramático e membro da Academia Brasileira de Letras. De acordo com a academia, certas regras podem desaparecer das gramáticas. A idéia é economizar acentos. Em palavras como vôo, abençôo e enjôo, o circunflexo sairia de cena. O trema pode ser extinto. Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já ratificaram o acordo, mas Portugal ainda não se pronunciou. Por isso, a mudança ainda não é valida. Fonte: Portal Terra Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC MEC investirá R$ 400 milhões em escolas até 2009 O Ministério da Educação decidiu aumentar em 50% o valor das transferências de recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola. O objetivo é incentivar as escolas públicas rurais e urbanas a melhorar os índices de qualidade. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com os recursos adicionais, o PDDE terá um orçamento de R$ 400 milhões por ano. Fonte: Agência Brasil Marcha da CNTE recebe apoio do parlamento uruguaio A IV Marcha da Educação, realizada em 25 de abril, ultrapassou as fronteiras do Brasil e encontrou eco no parlamento uruguaio, de onde a parlamentar Ivonne Passada enviou correspondência felicitando a CNTE pela organização do evento e pelo empenho na promoção de uma educação pública de qualidade. Veja a íntegra do texto da parlamentar uruguaia enviada à presidenta da CNTE, Juçara Dutra Vieira. Companheira presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) Quero saudar você e a organização sindical que preside pela convocação da IV Marcha Nacional em Defesa da Educação Pública. Entendemos que o projeto dos governos progressistas da região é o de promover uma educação pública de qualidade, na qual nossos povos poderiam integrar-se à sociedade para construir sua cidadania após anos de exclusão social. Receba meu mais afetuoso abraço e meu compromisso de erguer pontes para a construção de um Projeto Nacional que integre nossas nações para que todas as nossas crianças tenham acesso à educação pública como direito inalienável. Ivonne Passada, Representante Nacional Fonte: CNTE CNE faz balanço sobre os dez anos da Lei de Diretrizes e Bases O Conselho Nacional de Educação (CNE) deu início, no dia 13 de junho, ao ciclo de reuniões sobre os dez anos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) — Lei nº 9.394, de dezembro de 1996. “Queremos ver o que foi feito desde a implementação da lei e sugerir possíveis modificações”, explicou a presidente da Câmara de Educação Básica do CNE, Clélia Brandão. A revisão das diretrizes servirá também para a elaboração do plano de carreira dos profissionais do magistério. “A valorização do magistério é um desejo não só dos professores, mas de toda a sociedade”, ressaltou Clélia. Os recursos para garantir melhor remuneração da atividade docente já estão previstos pelo Fundo da Educação Básica (Fundeb). Pelo menos 60% dos recursos anuais totais do Fundeb serão destinados ao pagamento dos profissionais do magistério da educação básica em exercício efetivo na rede pública. O CNE discutirá se a categoria profissionais de magistério engloba os demais funcionários das escolas ou apenas os professores. Uma das modificações discutidas na reunião do dia 13 trata da formação de professores. O artigo 62 da LDB autoriza professores com nível médio a lecionarem na educação infantil. Os especialistas do CNE pretendem estabelecer uma vigência para o artigo. Assim, a partir de determinada data, os professores seriam obrigados a ter uma graduação. Fonte: MEC Filosofia e Sociologia Foi realizado entre os dias 15 e 17 de junho, no Palácio das Convenções do Anhembi, o I Encontro Nacional sobre o Ensino da Sociologia e Filosofia. Organizado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo e outras entidades da educação, o Encontro abordou como tema sociologia e filosofia e as orientações voltadas à construção de uma escola crítica no século XXI. Fonte: Apeoesp Projeto estabelece o diálogo entre as pessoas em ambientes escuros Chegou ao Brasil um dos projetos culturais que tem sucesso garantido em todo o mundo: A novidade tem como maior atração o “Diálogo no Escuro” e foi lançado no final de abril, no Shopping Galleria, em Campinas, interior de São Paulo. Com o objetivo maior de estabelecer o diálogo entre as pessoas, o “Museu do Diálogo” oferece a oportunidade dos visitantes vivenciarem uma experiência inédita e inovadora. O público conhecerá espaços construídos dentro de uma caixa preta: um bar, uma floresta, uma cidade, um supermercado ou um barco, todos no escuro, fazem parte do tour do Museu e os visitantes serão Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC conduzidos por pessoas cegas. O “Museu do Diálogo” do Brasil é o primeiro da América Latina e tem o grande desafio de se tornar referência na inclusão, em especial, pela potencialidade de transformação do sujeito de forma vivencial, lúdica e inovadora, pela empregabilidade de pessoas com deficiência, pela acessibilidade e a não discriminação. O “Museu do Diálogo” de Campinas faz parte do início de uma rede, que será instalada em todas as principais capitais brasileiras. Fonte: Planeta Educação 11 internacional O governo Lula no contexto da América Latina Na América Latina, historicamente "quintal" do imperialismo estadunidense, a postura dos governos diante de Washington é, sem dúvida, um elemento central para indicar o grau de compromisso com a construção de nações soberanas e com as demandas populares de justiça social, mudanças estruturais no regime de propriedade e distribuição de renda S Julio Turra e há um traço comum nas eleições que deram a vitória a Hugo Chávez, na Venezuela, Lula, no Brasil, Evo Morales, na Bolívia, Tabaré Vazquez, no Uruguai e, mais recentemente, a Rafael Correa, no Equador, é que elas expressaram uma vontade profunda dos setores populares de romper com a política de submissão ao imperialismo, percebida em maior ou menor grau como responsável pelas desigualdades sociais, para afirmar a construção de nações soberanas e colocar na ordem do dia a superação da situação de miséria das grandes maiorias. Assim, as relações que esses governos passarão a ter com o governo dos Estados Unidos, em particular com o governo republicano de George W. Bush, são elementos decisivos para determinar se os mesmos se colocam como ponto de apoio ou como obstáculo para transformações favoráveis aos povos. Estreitam-se as relações de Lula com Bush Num único mês, março de 2007, Lula e Bush encontraram-se duas vezes, tendo no centro das conversações uma parceria entre Brasil e Estados Unidos para incentivar a produção de etanol (biocombustível). Em 9 de março, como parte de um giro do presidente dos EUA por países latino-americanos (além do Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México), Bush foi recebido por Lula, em São Paulo, onde os dois governos assinaram um memorando que estabelece uma “parceria Brasil-Estados Unidos para direcionar os recursos de nossos setores público e privado na direção do fortalecimento dos biocombustíveis e tecnologias relacionadas”, a qual seria desenvolvida em três níveis: bilateral, em terceiros países e global. 12 Enquanto Lula recebia Bush numa unidade da Petrobrás, em Guarulhos, e a cidade de São Paulo era praticamente paralisada pelo esquema de segurança montado diretamente pelo Departamento de Estado dos EUA, cerca de 20 mil manifestantes, convocados pelo MST, UNE, CUT e outras organizações, desfilavam pela avenida Paulista, aos gritos de “Fora Bush e sua política do Brasil e da América Latina”, dentre eles muitos militantes do PT. As reações contra o anunciado acordo do etanol foram imediatas. O MST, que já tinha tomado, em 6 de março, uma posição conjunta com outros movimentos integrantes da Via Campesina, divulgava no boletim eletrônico “Letra Viva” (MST Informa nº 129) o abaixo reproduzido: “Eles (o governo Bush e as transnacionais) querem apenas lucro e não se importam com a situação do meio ambiente, o aquecimento global e com a vida dos trabalhadores rurais. Resolveram fazer essa ofensiva na produção de energia renovável, para se livrar da dependência de importar petróleo de países agora com governos nacionalistas, como Venezuela e Irã. (...) Condenamos veementemente a iniciativa do governo de George W. Bush, que nos próximos dias visita os governos do Brasil, Colômbia, Guatemala para cooptá-los e seduzi-los a multiplicarem a produção de álcool para exportarem aos Estados Unidos. Em troca, os capitalistas estadunidenses dos três grandes setores do capital exigem o direito de comprar e/ou instalar dezenas de novas usinas de álcool em todo o continente, sendo que propuseram a construção de 100 novas usinas apenas no Brasil. (...) Um possível sucesso desse plano americano seria uma tragédia para agricultura tropical, transformaria grandes extensões de nossas melhores terras em imensos monocultivos, eliminaria ainda mais a biodiversidade e a produção de alimentos, apenas para abastecer os próprios carros. Expulsaria milhões de trabalhadores do campo em todo mundo, que se amontoariam ainda mais nas favelas das metrópoles.” Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Também a Direção Executiva Nacional da CUT, em 20 de março, posicionou-se sobre essas negociações entre Brasil e Estados Unidos da seguinte forma: “Com a iminência da derrota no Iraque, a vulnerabilidade energética dos EUA se amplia, na medida em que não tem o controle de duas das principais regiões petrolíferas – Irã/Iraque e Venezuela. A redução da dependência do petróleo é bandeira política de Bush. Ganhou fôlego, ainda, o debate sobre a crise ambiental, trazendo para a agenda dos EUA a necessidade de buscar fontes alternativas de energia. O Brasil tem uma matriz energética bastante ampla e o etanol ocupa lugar de destaque. Brasil e EUA são responsáveis por mais de 70% da produção mundial de etanol, sendo que a tecnologia da produção nacional, a partir da cana de açúcar, é mais eficiente, tanto em termos econômicos como ambientais. Mas a produção brasileira do etanol - e uma provável expansão, está envolvida em graves problemas sociais, trabalhistas e ambientais.(...) Caminha em sentido contrário ao crescimento econômico que queremos uma possível expansão indiscriminada da área de cultivo dos latifúndios canavieiros e da produção de álcool, o que poderá ocorrer pelo provável aumento da demanda. Para o trabalhador brasileiro das lavouras canavieiras, o que sobra é a baixíssima remuneração, as péssimas condições de trabalho e a violência sistemática praticada por latifundiários e usineiros. Conforme pesquisa feita pela Fundacentro, o ritmo de trabalho e as péssimas condições nos canaviais causaram, entre mutilações e doenças, a morte por exaustão de pelo menos 17 cortadores de cana, em São Paulo, no ano de 2006. Em que pese haver o benefício ambiental da substituição do consumo de combustível fóssil por fontes alternativas, haverá nas regiões produtoras uma forte expansão do consumo de água, da poluição dos rios e das queimadas, do esgotamento do solo pela monocultura. Também a expansão da cana substitui, principalmente, os cultivos de alimentos voltados para o mercado interno. E essa situação pode ser agravada. Os termos do acordo entre os governos dos dois países, EUA e Brasil conforme memorando divulgado, anunciam a intenção de promover a tecnologia dos biocombustíveis, de cooperação para a expansão do etanol em outros países da América Latina e Caribe, estabelecendo padrões comuns para o combustível. (...) A CUT defende que não seja assinado qualquer acordo dessa magnitude sem ser precedido de um amplo debate na sociedade, que envolva os trabalhadores, os movimentos sociais, a comunidade acadêmica e científica.” Mas Lula, em 31 de março, viajou aos Estados Unidos onde reuniu-se com Bush em Camp David. A “Declaração Conjunta” dos dois presidentes reafirmou os termos do Memorando assinado em São Paulo e agregou, em seu Ponto 2, que os “esforços conjuntos” para a produção de etanol em terceiros países, deverão começar no Haiti, República Dominicana, São Cristóvão e Nevis e El Salvador. Assim, não é sem razão que Hugo Chávez e Fidel Castro criticaram publicamente essa “parceria” de Lula com Bush para a produção de etanol, pois, para além dos efeitos sociais e econômicos denunciados pelo MST e a CUT, em particular da expansão da lavoura canavieira sobre áreas de produção de alimentos (no Brasil e em outros países onde a “cooperação” for implantada), ela tem um marcante aspecto político, o de aprofundar as relações entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil, em detrimento de uma integração entre os governos da região em oposição à política do imperialismo dominante. É preocupante, também, que num momento em que o governo da Venezuela adota medidas como a retomada para o controle da estatal PDVESA sobre as riquíssimas jazidas de petróleo da Faixa do Orinoco e a não renovação da concessão pública que beneficiava a rede privada RCTV (muito ativa, por exemplo, na tentativa frustrada de golpe de Estado contra Chávez, em abril de 2002), no Brasil, além do governo Lula continuar calado quanto à reivindicação levantada por inúmeras organizações populares e sindicais de Anulação do Leilão da Vale do Rio Doce, no caso da RCTV, o presidente brasileiro tenha defendido o Senado, que havia adotado uma moção contra Chávez criticando a decisão do governo vizinho de não renovar a concessão da RCTV, respondida em termos duros pelo mandatário venezuelano. Mas também aqui no Brasil, como nos países vizinhos, se expressa a luta popular pela construção de uma nação soberana, liberta da dominação imperialista. E essa luta que dará a última palavra sobre um posicionamento mais solidário e ativo de nosso país no cenário das lutas que sacodem o continente americano de Norte a Sul. Em que pese haver o benefício ambiental da substituição do consumo de combustível fóssil por fontes alternativas, haverá nas regiões produtoras uma forte expansão do consumo de água, da poluição dos rios e das queimadas, do esgotamento do solo pela monocultura. Também a expansão da cana substitui, principalmente, os cultivos de alimentos voltados para o mercado interno Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 13 sindical É nosso e ninguém tira! Direitos conquistados a base de muita luta não podem ser retaliados. Trabalhadores em luta contra a Emenda 3 Fotos: Paulo Ostroski Trabalhadores protestam contra a emenda 3 V ocê quer deixar de ter direito ao 13º, férias, licençamaternidade, FGTS, auxílio-doença etc? Abrir mão desses benefícios é o mesmo que jogar pelo ralo anos de lutas e vitórias de toda classe trabalhadora brasileira. Mas é isso que a polêmica emenda 3 quer fazer. A emenda foi sugerida pelo ex-senador Ney Suassuna (PMDB), apoiada pelo PSDB e PFL, e pretende impedir que os fiscais do Ministério do Trabalho e Previdência multem as empresas que não assinam a Carteira de Trabalho dos funcionários; obrigam o trabalhador a se tornar Pessoa 14 Jurídica e emitir nota fiscal como empresa prestadora de serviço; não pagam o salário caso o funcionário não emita a nota e demitam o trabalhador que não optar em virar PJ. Sendo assim, o empregado que se tornar PJ deixará de ser um trabalhador para ser uma empresa e, com isso, não terá direito aos benefícios citados no início da matéria. Sem esses direitos, o funcionário pagará do próprio bolso o transporte ao local de trabalho, refeições e INSS. Ainda, para ser PJ, é preciso pagar mensalmente imposto de renda, impostos para a prefeitura e um contador, ou então, fica com nome sujo. “O professor Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC tem que tomar consciência de que ele não é prestador de serviço. Professor não pode ser empresa, não pode abrir mão de direitos para assumir ônus tributários", avalia o professor Aloísio Alves da Silva, presidente do SINPRO ABC. “A emenda 3 estabelece uma situação absurda ao tentar tirar dos fiscais o principal objetivo de verificar as condições de trabalho e a ação de quem não cumpre os deveres trabalhistas. Na prática, é uma proposta para se rasgar a carteira de trabalho”, denunciou Artur Henrique, presidente da CUT, na festa do trabalhador, dia 1º de maio. Por que apoiar o veto? No dia 16 de março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a emenda, recebeu apoio das centrais sindicais e o repúdio do patronato. Essa decisão do presidente será submetida à votação no Congresso Nacional. Conforme já citado anteriormente, a emenda 3 recebe apoio do PSDB e PFL, que já estiveram envolvidos em outra polêmica relacionada aos direitos trabalhistas. Quem não se lembra do projeto de flexibilização do artigo 618 da CLT, proposto pelo ex-presidente FHC, em 2001, que permitia ao patrão negociar o pagamento de direitos com o empregado? Em outras palavras, o funcionário sairia perdendo (mais uma vez) porque se sentiria coagido a aceitar as “ofertas” do patrão, ou então, rua! Com a emenda 3, o que ocorrerá será pior, pois não haverá negociação de benefícios, mas, sim, a extinção de direitos. As grandes empresas serão beneficiadas pela aprovação da emenda, por isso a apóiam. Sem fiscalização, estarão livres para sapatear na cabeça dos funcionários, cientes de que nada será motivo para intimidação. Se é benéfica para os patrões, certamente não será tão positiva aos trabalhadores. É preciso que todos se unam pela defesa do veto presidencial para garantir que as empresas não voltem à era da escravidão e submeta os funcionários a péssimas condições de trabalho, coagindo-os com argumento “ou vira PJ, ou estará demitido”. “Entendo que a derrubada do veto presidencial atingirá todos os trabalhadores, sendo que algumas categorias deverão ser mais atingidas que outras, entre elas, O SINPRO ABC também esteve presente no ato os professores. Em primeiro lugar, é alto o percentual de professores no ensino superior que não têm atividade docente como principal fonte de renda, mas como complemento, ou seja, tem outros empregos e alguns já são, de fato, PJ”, observa Aloísio. “Segundo, porque considerando a maneira como os barões (ou tubarões) da educação já desenvolvem uma política de mercantilização do ensino, essa emenda vai ao encontro de seus interesses, pois reduzirá drasticamente os custos, principalmente no sistema EAD (educação à distância). Assim, digamos não é emenda 3”, finaliza o professor. Conscientização da categoria Por diversas vezes, o Sindicato dos Professores do ABC mobilizou-se para conscientizar a categoria a respeito da realidade que está por trás da emenda. A mais recente atividade, realizada dia 23 de maio, envolveu os professores da base e os diretores explicaram aquilo que a mídia não fala. Professor, não permita que acabem com os seus direitos conquistados historicamente. Sua mobilização trará resultados positivos a você e a todos os trabalhadores do país. Diga não à emenda 3 e à destruição dos direitos. Observe a simulação Com carteira assinada, se o trabalhador é demitido, tem direito a: - Aviso prévio; - Férias vencidas + 1/3; - 13.º salário proporcional - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) - 40% da multa sobre o FGTS de todo o contrato - Seguro Desemprego Se o trabalhador for Pessoa Jurídica, em caso de demissão tem direito a: - R$ 0,00 de indenização! - O empregado ainda é obrigado a pagar para que o contador encerre a empresa que ele abriu Fonte: CUT-SP Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 15 especial Planeta ameaçado Calor forte em época de frio, muita chuva em uns lugares, seca intensa em outros, maremotos, terremotos e muita mudança na natureza. O que é isso? Aquecimento global. Quem provocou isso? O próprio homem. Quem sofre com esse problema? Toda humanidade! Imagem: http://www.ecotourismblog.com/ 16 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC O homem colhe aquilo que ele mesmo planta. Esse ditado se faz totalmente apropriado para explicar o motivo das ações da natureza nos últimos anos. Ações não, reações. Em fevereiro deste ano, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou relatório que creditava 90% de chance de o aquecimento global ter sido causado pelo homem e fez preocupantes estimativas sobre catástrofes ambientais. Em 2001, a porcentagem de responsabilidade era de 66%. “Concentrações de dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso aumentaram notavelmente como resultado das atividades humanas desde 1750, e agora excedem, em muito, os valores anteriores (...) Os aumentos globais na concentração de dióxido de carbono se devem, sobretudo, ao uso de combustíveis fósseis e mudanças no manejo da terra, enquanto o aumento de metano e óxido nitroso se deve primordialmente à agricultura”, diz o documento aprovado por mais de 500 cientistas. Em ‘’Resumo para os Formuladores de Políticas’’, que faz parte do documento “Mudanças Climáticas 2007” do IPCC, foi constatado que a temperatura da Terra pode subir de 1,8ºC a 4ºC até o fim do século, mas essa variação pode ser ainda maior. Mesmo que as mais graves conseqüências estejam previstas para daqui alguns anos, a sociedade já sente os efeitos do aquecimento global. A década de 90 foi tida como a mais quente do século, já que nos anos de 1998, 1997, 1995, 1990, 1999, 1991 e 1994, nessa ordem, foram registradas as mais altas temperaturas, no período desde 1860. O século XX foi considerado o mais quente do milênio. Em longo prazo, os cientistas acreditam que haverá derretimento das camadas polares, o que acarretará no aumento entre 18 e 53 cm nos oceanos, até 2100. Secas, tufões e outras tragédias ambientais podem ser intensificados. Para Paulo Artaxo, cientista brasileiro membro do IPCC, “a humanidade não tem alternativa”. Em entrevista ao site oficial do Ministério de Ciência e Tecnologia, o pesquisador revela que a única forma para amenizar o atual cenário é a redução drástica na emissão de gases, mas da maneira mais rápida e eficiente possível. Na opinião de Artaxo, os países devem ser responsabilizados de acordo com os danos já causados ao meio ambiente e o Brasil, em especial, deve traçar uma estratégia para diminuir os números de queimadas na Amazônia, uma vez que essa é a maior fonte de envio de gases prejudiciais ao meio ambiente. afetada equivale ao estado da Califórnia (EUA). No hemisfério Norte, o inverno deste ano foi considerado o mais quente desde 1880. Segundo o governo americano, entre dezembro de 2006 e fevereiro de 2007, a temperatura foi superior em 0,72ºC à média do século passado. Em 2005, cientistas canadenses constataram que, por conta do aquecimento da Terra, o nível dos oceanos pode subir até sete metros, caso ocorra o derretimento da calota polar da Groenlândia. O aumento dos níveis oceânicos coloca em total alerta as cidades costeiras e algumas ilhas próximas ao local. A publicação France Presse noticiou, no início de maio, que o número de refugiados em conseqüência do aquecimento global poderá passar de um bilhão de pessoas, em 2050. As causas apontadas dão conta do agravamento dos conflitos já existentes e a criação de novas catástrofes ambientais. Com as mudanças climáticas, grandes povos serão obrigados a migrar para outras localidades. Para o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro do IPCC, José Antonio Marengo, “não haverá refúgios climáticos, todos vão sentir”, diz ele ao jornal Estado de São Paulo, em fevereiro deste ano. Ainda, de acordo com Marengo, “os efeitos do aquecimento global no Brasil serão sentidos de Norte a Sul do País. O aumento da temperatura virá acompanhado de uma série de ameaças: prejuízos econômicos; extinção de espécies da fauna e da flora; maior exposição das cidades litorâneas, provocadas pelo aumento do nível do mar”. As preocupantes estimativas indicam que a Amazônia pode virar cerrado, grande parte dos animais e plantas tende a desaparecer, no sudeste brasileiro as chuvas se tornarão mais intensas e a grande circulação de ventos será mais constante. No Brasil, as cidades litorâneas serão as mais atingidas em decorrência do aumento do nível dos oceanos. Para o Ministério do Meio Ambiente, no Brasil, “o maior impacto será na alteração do regime de chuvas e da Imagem: http://www.greenpeace.org/ O que pode vir por aí Há cerca de dois anos, a Antártida Ocidental teve uma grande área derretida pelas altas temperaturas. A extensão Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 17 temperatura, com conseqüências diretas sobre a agricultura e a biodiversidade. A Amazônia poderá perder parte considerável das espécies. A ocorrência de desastres naturais e de quebras de safra também poderá se tornar mais freqüente e intensa. O risco de enxurradas e deslizamentos de terra tenderá a aumentar”. O que provocou o aquecimento global? Desde 1850, o planeta Terra tem visto a temperatura global aumentar gradativamente. Fenômenos naturais, muitas vezes imprevisíveis, podem ser apontados como um dos fatores desse aquecimento. Outro motivo para explicar tais mudanças é o aumento do efeito estufa, dessa vez com grande responsabilidade do homem. A utilização de combustíveis fósseis e outros processos industriais, que causam acúmulo de gases na atmosfera e propiciam o efeito estufa, são considerados por cientistas e estudiosos como grandes causas do aquecimento. Dióxido de carbono, metano, óxido de azoto e os CFCs são exemplos desses gases totalmente nocivos ao planeta. Em especial sobre o CO2, sabe-se da capacidade em reter a radiação infravermelha do Sol na atmosfera, o que estabiliza a temperatura do planeta por meio do efeito estufa. A grande preocupação está acerca da elevação dos níveis desse gás na atmosfera e, conseqüentemente, no aumento da temperatura terrestre, que trará sérias conseqüências ao planeta, colocando em risco a vida de todos. Os veículos automotores e a indústria são os grandes emissores do gás. Protocolo de Quioto A pesquisa publicada pelo IPCC em 2007 foi a quarta já realizada. Com base nos resultados obtidos em pesquisas anteriores, especificamente as realizadas em 1995, foi elaborado o Protocolo de Quioto, no qual é imposta aos países desenvolvidos a meta de reduzir em 5,2% a emissão de gases de efeito estufa até 2012. Para o presidente do Instituto Brasil Pnuma, do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Haroldo Mattos de Lemos, o protocolo não é suficiente para conter o aquecimento global. “Os cientistas sabem que essa redução (na emissão de gases) que foi pedida pelo Protocolo de Quioto é totalmente insuficiente. Vamos precisar aumentar, e muito, o corte das emissões dos gases de efeito estufa se não quisermos passar por problemas bastante sérios no futuro próximo”, disse Lemos ao site Agência Brasil. Assinado em 1997 e em vigor desde 2005, o Protocolo de Quioto é o único no mundo a propor uma ação global para as mudanças climáticas e estipula a redução de gases causadores do efeito estufa. Inicialmente, 139 países ratificaram o tratado e, hoje, mais de dez anos da assinatura, o número subiu para 169 mais a União Européia. Cada participante tem uma meta específica dentro do objetivo global. Os Estados Unidos, país que mais emite dióxido de carbono, ainda está fora do acordo. 18 Os países em desenvolvimento não têm meta imposta, mas são obrigados a calcular os inventários e desenvolver medidas para reduzir a emissão dos gases. Haroldo conta que o Brasil está cumprindo o papel ao utilizar matriz energética limpa e combustível renovável (álcool), mas ainda sofre com os desmatamentos que contribuem para aumentar o aquecimento global. "Seria uma coisa relativamente simples o Brasil reduzir ainda mais a questão do desmatamento e, com algumas providências a mais, estaria contribuindo, e muito, para evitar esse problema. Se outros países fizessem a mesma coisa, teríamos um efeito menor", ressaltou na entrevista. O texto na íntegra do quarto relatório do IPCC deverá ser divulgado até novembro deste ano, terá cerca de 900 páginas e tudo indica que servirá de referência para o “pósQuioto”, ou seja, o tratado dos países após a expiração do atual protocolo, a ocorrer em 2012. Brasil na luta contra o aquecimento À época da entrada em vigor do protocolo de Quioto, o Ministério do Meio Ambiente divulgou algumas ações que o Brasil tem tomado para deter o problema do aquecimento global. A princípio, foi plantado um bosque com cerca de 140 mudas de árvores, representando os países que haviam ratificado o acordo. O espaço fica em Brasília e é formado por diversos tipos de plantas nativas do Cerrado. Mesmo sem metas impostas pelo protocolo, o Brasil assumiu o compromisso voluntário para reduzir a emissão de gases na atmosfera. Como principal desafio, o governo ressaltou o combate ao desmatamento e às queimadas. “O Ministério do Meio Ambiente tem conduzido ações que terão reflexo no modelo de desenvolvimento, na ocupação da terra e no futuro da Amazônia, bioma com importância fundamental na regulação do clima global. Entre as iniciativas governamentais, estão o Plano de Desenvolvimento Sustentável para a Área de Influência da BR-163 e o Plano de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento Ilegal na Amazônia, que integram o Plano Amazônia Sustentável”, descreve o site oficial do órgão. Entre os anos de 2002 e 2004, mais de 475 mil hectares foram plantados pelo Programa Nacional de Florestas. Para o Ministério, “o cultivo de florestas é fundamental para a fixação de carbono, contribuindo para a redução dos efeitos do aquecimento global”. Outros parques ecológicos receberam investimentos para ampliação, sendo eles os parques nacionais Grande Sertão Veredas (MG/BA), da Floresta da Tijuca (RJ) e da Estação Ecológica do Taim (RS). Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC O que você pode fazer para controlar o aquecimento global? A assinatura do Protocolo de Quioto impõe metas aos países. Mas não pense que essa é uma obrigação apenas do governo. Cada um de nós deve ter consciência e realizar, dentro de casa, ações que contribuam com a natureza. Assim, ajudando o meio ambiente, você será beneficiado. * Deixe seu veículo mais tempo na garagem Os carros são grandes emissores de dióxido de carbono. A cada 3,5 km que você deixar de dirigir, cerca de um quilo desse gás deixará de ser enviado para a atmosfera. Se possível, realize o trajeto a pé, de bicicleta ou transporte coletivo, ou então, dê preferência a carros a álcool, que poluem até cinco vezes menos que a gasolina. Outra alternativa é dar carona a pessoas que vão para a mesma direção que você, pois assim, menos carros sairão às ruas. Realize revisões periódicas em seu carro, calibre os pneus para gastar menos gasolina e não queimar o motor de forma desnecessária. No trânsito, não acelere se o veículo estiver parado e não ultrapasse a velocidade de 110 km/h para não haver consumo excessivo de combustível. Sobrecarga de peso e o ar-condicionado também elevam o gasto de gasolina. Cada litro economizado representa redução de 2,5 quilos de dióxido de carbono na atmosfera. * Plante árvores Você sabia que uma única árvore absorve uma tonelada de CO2 durante toda vida? Estatísticas mostram que um cidadão deve plantar 40 árvores por ano para compensar a quantia de gases emitidos. Para contribuir ainda mais com o planeta, regue as plantas no fim da tarde, dê preferência àquelas que necessitam de menos água, reutilize água durante a rega. * Recicle e reutilize Se você reciclar metade do lixo de sua casa, cerca de uma tonelada de dióxido de carbono deixará de ser emitida por ano. Recicle e reutilize os materiais em seu lar. A reutilização de embalagens de papel contribui com a diminuição do corte de árvores, que são responsáveis pela captação do gás metano e da purificação do ar. Opte por vasilhames de vidro ao invés do plástico, tetrapack e alumínio. Não jogue lixo nas ruas e rios. Aproveite a água das lavagens de roupa e louça para limpar pisos, calçadas, garagens, dar descarga etc. Não jogue óleo no ralo da pia ou em vaso sanitário. Procure um local para entregar esse material, assim como as pilhas e baterias diversas. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC * Troque as lâmpadas As lâmpadas fluorescentes são mais econômicas. Substituir a iluminação comum representa 80 quilos de CO2 a menos no ar. * De olho na energia Evite usar de forma desnecessária os equipamentos eletrônicos. Se a televisão estiver ligada, desligue o rádio e o computador, por exemplo. Banhos quentes consomem muita energia, assim como ferro de passar roupa, aquecedor e máquina de lavar. * O que você come também interfere Dê preferência a carnes de frango e evite carne vermelha. Difícil de imaginar, mas a criação de gados, vacas e bois contribui com o aquecimento global. De que forma? Para criação de bovinos, é necessária a devastação do campo para obter os pastos e, com isso, o número de árvores diminui. Esse quadro se agrava quando as pastagens são resultados de queimadas. Além do mais, a produção de um quilo de carne vermelha consome mais água doce do que 360 duchas. Ainda, uma caloria de proteína animal queima 10 vezes mais combustíveis fósseis e emite 10 vezes mais CO2 do que a mesma quantidade de caloria vegetal. A elaboração de produtos enlatados consume muita energia, por isso, opte por alimentos naturais, frutas, verduras e legumes. Animais exóticos também devem ser abolidos do cardápio. * Não fume Mesmo não sendo um grande poluente, o cigarro contribui na poluição do ar. Dois maços de cigarro por dia representam mais de 50 quilos de dióxido de carbono no ano. * Economize água Faça reparos em vazamentos; não esvazie a cisterna desnecessariamente; não tome banhos demorados; não escove os dentes, faça a barba ou lave a louça com a torneira ligada. Não jogue papéis, cigarros ou qualquer outra coisa no vaso sanitário para não gastar mais água do que necessário. Banhos de ducha economizam mais de sete mil litros de água por ano, se comparar com banheiras.Utilize as máquinas de lavar louça e roupa somente quando estiverem totalmente cheias. * Seja consciente e divulgue Passe adiante seus conhecimentos sobre o aquecimento global. Faça a sua parte em proteção à natureza e lembre-se: esse é um problema de toda humanidade. 19 educação Você conhece a Síndrome de Burnout? Edvard Munch “O grito” (1893) Cerca de 30% dos professores sofrem, mas desconhecem a síndrome da exaustão, como também é conhecida N em síndrome do pânico, nem depressão, nem stress. A síndrome de burnout é uma exaustão física e mental muito comum em profissões que exigem o contato direto com as pessoas, especialmente quando a relação é de ajuda, como policiais, enfermeiros, médicos e professores. O termo burnout vem do ingles burn – queimar - e out – externo -, ou simplesmente exaustão. Quem é acometido pela doença tem diminuição do interesse pelo trabalho, da energia, humor, criatividade, idéia, auto-confiança e outros fatores de motivação. No caso dos professores, o desconforto cresce ao passo que a vontade de lecionar diminui. Pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em parceria com o Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), aponta que a síndrome de burnout atinge cerca de 30% dos professores do país. De acordo com essa análise, realizada em 2002, o desenvolvimento da Síndrome da Desistência Simbólica do Educador, como também é chamada, está diretamente ligada com as condições de trabalho, sobrecarga de tarefas, falta de tempo, apoio, assistência e recursos, excesso de reuniões, grande número de alunos por sala de aula, comportamento dos estudantes e até mesmo o relacionamento com os pais e direção das escolas. O profissional que é submetido a um longo período de trabalho, mas pouco intervalo para descanso e recuperação tem grandes chances de desenvolver burnout. Mesmo tendo sido reconhecida em 1999, os afastamentos por conta dessa síndrome são raros no Brasil, apesar de constar nas leis trabalhistas. Para o presidente do SINPRO ABC, professor Aloísio Alves da Silva, “seria importante que o próprio governo, por meio do MEC, criasse mecanismos para regulamentar, fiscalizar e punir as instituições que desrespeitam a legislação trabalhista e que se transformaram em meros vendedores de diplomas”. Sintomas e efeitos O diagnóstico, em muitos casos, é confundido com síndrome do pânico, por apresentar sintomas muito parecidos. O stress também é citado como explicação inicial para os acometidos pela síndrome de burnout. Queda de cabelo, enxaqueca, dor de estomago, taquicardia, sudorese, medo, palpitação, sensação de que não conseguirá realizar o trabalho e angústia são sinais inicialmente detectados. Ao longo do tempo, o profissional Queda de cabelo, enxaqueca, dor de estomago, taquicardia, sudorese, medo, palpitação, sensação de que não conseguirá realizar o trabalho e angústia são sinais inicialmente detectados. Ao longo do tempo, o profissional apresenta quadros de irritação, fica arredio e se distancia dos alunos. 20 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC apresenta quadros de irritação, fica arredio e se distancia dos alunos. Os reflexos também são sentidos no relacionamento familiar e com pessoas próximas. Quando não abandona o emprego, o portador de burnout passa a realizar as atividades de forma apática, morosa e sem perspectivas. Outros sintomas psicossomáticos também podem ser observados como úlcera, insônia, hipertensão, dores de cabeça, e, em muitos casos, consumo exagerado de álcool e medicamentos. Relato Professora há 28 anos, Antônia Cibele Figueiredo Ligório contou a experiência vivida para a revista Mátria, da CNTE. Cibele relata que tinha vergonha dos sintomas e está afastada há dois anos das atividades profissionais. “Eu queria que alguém me compreendesse e não tinha. O meio, por incrível que pareça, reage de forma hostil e minha tendência foi isolarme dos meus colegas de trabalho”, narra. “Dar aulas, trabalhar com educação sempre foi meu sonho, minha vocação. Mas, de um tempo para cá, estava me sentindo cansada, desanimada e, em alguns momentos até angustiada com a perspectiva de entrar em sala de aula, enfrentar os alunos e fazer o que sempre soube fazer: educar”, conta na entrevista. Tratamento Especialistas alertam que nem sempre o afastamento do ambiente profissional é o melhor remédio. A prevenção é tida como melhor caminho para evitar a síndrome de burnout. Algumas estratégias para melhorar o ambiente de trabalho podem ser aplicadas com objetivo de impedir a criação de cenário para o desenvolvimento da doença. O professor Jorge Castellá Sarriera, da PUC-RS, descreve no artigo “A Síndrome A escola também pode ajudar O ambiente profissional reflete no comportamento dos trabalhadores. Nesse caso, as escolas podem (e devem) contribuir para o bem estar dos professores e, conseqüentemente, ajudarão na qualidade de vida dos funcionários. - Promova debate e troca de idéias entre os docentes e demais empregados; - Invista na qualificação, realizando oficinas e workshops; - Facilite a comunicação com os trabalhadores; - Reconheça as qualidades de cada funcionário. - Permita que os empregados tenham intervalos para descanso. É importante o investimento em infra-estrutura nas escolas, mas, acima de tudo, é fundamental que haja investimento e respeito com os profissionais. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC do Burnout : a Saúde em Docentes de Escolas Particulares” algumas medidas a serem tomadas para melhorar a qualidade de vida no âmbito profissional: * Transformar a escola em um contexto saudável * Propiciar o fortalecimento pessoal e coletivo * Desenvolver capacidades de lidar com o stress e controle das situações de conflito * Criar redes de apoio social, como por exemplo, grupos de discussão entre professores * Promover reflexões entre líderes institucionais e professores * Trocar informações, experiências e incentivar debates construtivos com os pais * Enfatizar a promoção dos valores humanos no ambiente de trabalho *Adotar valores mais orientados para a coletividade, em oposição aos valores mais individualistas. Essa situação tem que mudar! “Superlotação de sala de aula, baixos salários, pressão junto aos professores por conta da exaustiva jornada de trabalho, docentes que atuam em várias instituições para conseguir um rendimento que atenda às necessidades, falta de tempo para o lazer... Quem agüenta?”, questiona o professor Aloísio Alves. “Vale ressaltar, ainda, que além das doenças psíquicas temos doenças ocupacionais como LER (lesão por esforços repetitivos), problemas de coluna, agravo de voz e outros”, completa o presidente do SINPRO ABC. “O procedimento correto, então, passa pela valorização dos professores, limitação do número de alunos em sala de aula, redução da pressão por resultados, entre outras ações. Professor não é prestador de serviços”,finaliza. Como se livrar do stress Para ficar de bem com o trabalho, é preciso que você esteja bem consigo mesmo. Sendo assim, lembre de algumas dicas: - Faça atividades físicas e cuide bem da sua alimentação; - Faça algum tipo de relaxamento antes ou após sua jornada; - Organize seus horários e elabore um planejamento para as atividades que pretende realizar; - Resolva seus problemas de forma tranqüila e consciente; - Aproveite os momentos de descanso para se distrair; - Procure não misturar as tarefas profissionais com as pessoais; - Tire pelo menos um dia na semana para fazer coisas que gosta. 21 cultura Clarice Lispector é atração no Museu da Língua Portuguesa Homenagem é realizada no ano em que se completam três décadas da morte da escritora E m comemoração ao primeiro ano do Museu da Língua Portuguesa, o Governo de São Paulo, em parceria com o Instituto Brasil Leitor, inaugurou, em abril, a exposição “Clarice Lispector – A hora da estrela”. O ano de 2007 marca a terceira década do falecimento da autora e da publicação de “A hora da estrela”, obra mais popular de Lispector. A mostra tem curadoria de Júlia Peregrino, cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara e seleção de textos de Ferreira Gullar. Até o dia 2 de setembro, o público poderá apreciar um pouco da vida e do trabalho da autora. Toda exposição foi baseada a partir do texto de Clarice e traduz, em cada ambiente, a característica reservada e introspectiva da escritora. Em uma das salas, duas mil gavetas guardam segredos de Lispector, mas apenas 65 têm chaves e podem ser abertas. O público interage e explora todo espaço para descobrir onde estão guardados os mistérios. Quem consegue abrir se depara com correspondências, manuscritos, cadernos de notas, documentos pessoais e outros materiais inéditos da autora. Todo conteúdo é do Acervo Clarice Lispector, sob a guarda do Arquivo Museu da Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa. Entrar na cabeça de Lispector e observar questões cotidianas, comuns em obras da escritora, também é possível ao público. Uma cama simples, em outro ambiente, retrata o romance “A paixão segundo G.H.”, no qual a história se passa em um quarto de empregada. As frases de Clarice guiam o visitante. Passagens escritas pela autora compõem o rosto da artista, que só é percebido quando olhado à distância. Ao contrário, o efeito também fascina: de longe a silhueta, mas de perto textos da escritora. Recursos audiovisuais também foram adotados para dar vida aos trabalhos de Lispector. No último corredor da exposição, um vídeo exibe os freqüentadores do Parque da Luz lendo passagens de conhecidas obras, como Olímpios e Macabéas. 22 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Lispector Clarice nasceu na Ucrânia, em 1920, mas foi criada no o calor de Pernambuco e Rio de Janeiro. Em 1939, ingressa na faculdade de Direito e, no ano seguinte, lança o primeiro trabalho de ficção, o conto “Triunfo”. A escritora inicia carreira de repórter no jornal “A noite”, em 1942. Aos 23 anos, casa-se com Maury Gurgel Valente, colega de faculdade, e lança o primeiro livro “Perto do coração selvagem”. Sua forma de escrever transforma a linguagem na literatura brasileira, como por exemplo, a relação tempo e espaço. “Há que se libertar da cultura para chegar à verdade. Esse modo de ver se traduz, em termos literários, na ruptura do realismo, da visão descritiva e sensata que, aliás, quase nunca se encontra em sua obra”, observa Ferreira Gullar, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo. “A ruptura tinha de se dar tanto fora como dentro, mesmo porque, nela, a subjetividade prepondera sobre a objetividade, e disso resulta a violentação do discurso, da linguagem, que vai se acentuando de livro para livro”. Casada com diplomata, Lispector vai morar no exterior. Entre idas e vindas ao Brasil, aproveita para lançar outros livros como “O lustre” e “A cidade sitiada”, na década de 40. Em 1952, assume o pseudônimo de Tereza Quadros para escrever na seção “Entre Mulheres”, do jornal Comício. No final dos anos 50, já separada e residindo no Rio de Janeiro, torna-se responsável pela coluna “Correio feminino – Feira de utilidades”, do Correio da Manhã, sob o nome de Helen Palmer. Clarice Lispector sobrevive a uma tragédia, em 1966, quando o quarto em que dormia pegou fogo e a deixou por três dias entre a vida e a morte. Nesse fato, a escritora teve a mão fortemente queimada e quase teve de amputá-la. Um ano depois, torna-se cronista do Jornal do Brasil e lança o primeiro livro para crianças. O conturbado ano de 1968 foi intenso para Lispector. Ela recebe prêmios por livros publicados, inicia uma série de entrevistas para a revista Manchete e participa, na linha de frente com outros intelectuais, da passeata dos Cem Mil, contra a ditadura militar. No dia 9 de dezembro de 1977, a escritora morre de câncer. Mesmo após o falecimento de Clarice, diversas obras foram lançadas e premiadas. Romances, especiais de televisão, peças teatrais, filmes, exposições e tradução das produções para 15 línguas foram algumas das contribuições que Lispector deu ao mundo, de forma simples, misteriosa e única. “Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar, sobretudo, a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade. [...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora? O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal”. Essa é Clarice Lispector. Com informações do site oficial da escritora Biografia Romances Perto do Coração Selvagem (1943); O Lustre (1946); A Cidade Sitiada (1949); A Maçã no Escuro (1961); A Paixão segundo G.H. (1964); Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969); Água Viva (1973); Um Sopro de Vida - Pulsações (1978) Novela A hora da estrela (1977) Conto Alguns contos (1952); Laços de família (1960); A legião estrangeira (1964); Felicidade clandestina (1971); A imitação da rosa (1973); A via crucis do corpo (1974); Onde estivestes de noite? (1974); A bela e a fera (1979) Correspondência Cartas perto do coração (2001); Correspondência - Clarice Lispector (2002) Crônicas Visão do esplendor - Impressões leves (1975); Para não esquecer (1978); A descoberta do mundo (1984) Entrevista De corpo inteiro (1975) Literatura infantil O mistério do coelho pensante (1967); A mulher que matou os peixes (1968); A vida íntima de Laura (1974); Quase de verdade (1978); Como nasceram as estrelas (1987) Antologias Seleta de Clarice Lispector (1975); Clarice Lispector (1981); O primeiro beijo & outros contos, de Clarice Lispector (1991); Os melhores contos de Clarice Lispector (2001); Aprendendo a viver (2004) Obras publicadas no exterior Die Passion nach G.H. (A paixão segundo G. H.); La manzana en la obscuridad (A maçã no escuro); L'heure de l'étoile (A hora da estrela); Osher samuy (Felicidade clandestina); The Foreign Legion (A legião estrangeira); The Stream of Life (Água viva); Dove siete stati di notte (Onde estivestes de noite); Zivá voda (Água viva) Clarice Lispector - A hora da estrela Museu da Língua Portuguesa - Estação da Luz, Praça da Luz, s/nº, São Paulo. Até 2 de setembro, de terças a domingos, das 10h às 17h. Ingressos: R$ 4 e R$ 2; crianças de até 10 anos e adultos a partir de 60 não pagam. Informações: (11) 3326-0775 23 nacional A amiga das mulheres Estatísticas indicam que, no Brasil, a cada 15 segundos, uma mulher é vítima de agressão. Isso representa quatro casos por minuto e atinge o preocupante índice de 2,1 milhões por ano E las apanham, mas têm vergonha e medo de denunciar os agressores. Muitas vezes, o inimigo divide o mesmo teto e dorme na mesma cama. Ciúme, álcool ou qualquer outra banalidade vira motivo para a agressão. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que, a cada 15 segundos, uma mulher é violentada no Brasil. Os registros de ocorrências não retratam a realidade, já que grande parte das vítimas não leva o caso à polícia por medo de sofrer novas repreensões. Casos de estupros cometidos por chefes também aparecem nas estatísticas. Mas agora as brasileiras ganharam uma aliada na luta pela defesa da integridade e contra as agressões. A Lei Maria da Penha (11.340/06), sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 7 de agosto de 2006, cria mecanismos 24 para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher. “Eu acho que é muito importante o passo que se deu para criar essa lei e para ter coragem de enfrentar esse problema do tamanho que ele tem. Eu acho que muito mais do que um problema com conseqüências graves, a violência doméstica é fruto da ignorância. As pessoas não denunciam porque têm medo e, normalmente, o medo é o pior inimigo que se pode ter para reverter esse quadro”, afirma a juíza Andréia Pachá, em entrevista à Agência Brasil. Desde a vigência da lei, o tratamento com o agressor ficou mais rigoroso, podendo este ser preso em flagrante ou ter prisão preventiva decretada, não cabendo penas pecuniárias, como o pagamento de multa ou doações de cestas básicas. Dependendo do caso, o acusado pode ser proibido de se aproximar da residência, mulher e dos filhos,e até mesmo a vítima pode rever os bens e cancelar procurações feitas para o agressor. O tempo de detenção aumentou de um para três anos, os casos passaram a ser acompanhados pelos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e não mais pelos Juizados Especiais Criminais. De agosto de 2006 até março de 2007, 12 estados já criaram os juizados especializados em violência contra a mulher: Amapá, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Realidade que impressiona Levantamento realizado pela Fundação Perseu Abramo, em 2001, revelou que o número de ocorrências contra a mulher chegava a ultrapassar a marca de dois milhões por ano. Desse total, cerca de 20% dos casos eram de agressão física branda, sob a forma de tapas e empurrões; 8% de violência psíquica, como ofensas morais e xingamentos; e 15% de ameaças. Encorajamento Amparadas pela nova lei, as mulheres passaram a denunciar com mais freqüência as agressões sofridas. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, no Rio Grande do Sul, nos primeiros 30 dias de vigência, o aumento nas denúncias chegou a quase 50% nas Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams). Em Pernambuco, estado líder em casos de morte de mulheres por companheiros, em apenas cinco dias foram registrados 13 flagrantes. A Central de Atendimento à Mulher em situação de violência, do Governo Federal, que atende pelo número 180, passou a funcionar 24 horas e a contar com 20 pontos de atendimento, além de 60 atendentes ao invés dos antigos oito. Apesar da condenação, Herredia goza do regime semiaberto. Indignada com o fato, Penha se uniu a movimentos sociais e hoje, com 61 anos, quer reeditar o livro “Sobrevivi. Posso contar”. “Escrever esse livro foi a minha carta de alforria, pois enquanto escrevia me livrava das mágoas. Não penso mais no que passei. Se for preciso lembrar de alguma coisa, recorro ao livro”, comenta. “Atrás de cada olho roxo existe um homem frouxo. Violência contra a mulher é crime. Quando a violência contra a mulher acaba, a vida recomeça”, elucida Penha. Com informações da CNTE. Quem é Maria da Penha? Em 1983, a biofarmacêutica cearense Maria da Penha Maia, na época com 38 anos e três filhas, sofreu duas tentativas de homicídio, uma por arma de fogo e outra por eletrocussão e afogamento. O agressor? O próprio marido, o professor universitário Marco Antônio Herredia. Maria da Penha não morreu, mas as seqüelas ficaram por toda sua vida. No mesmo ano, em junho, as investigações foram iniciadas, mas apenas em setembro do ano seguinte a denúncia foi encaminhada ao Ministério Público Estadual. Com a demora no julgamento, Maria da Penha recorreu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que, em 2001, responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação à violência doméstica, além de recomendar diversas medidas a respeito desse caso. Dezoito anos depois do ocorrido, sob pressão internacional, o processo foi encerrado, o marido de Maria da Penha preso e condenado a oito anos de prisão. “Só me senti recompensada com a condenação. Dela surtiram a mudança da legislação e a implementação da disciplina Direitos Humanos, a partir do ensino fundamental. Esse foi o saldo positivo do meu sofrimento”, conta Penha, na edição de março da revista Mátria, da CNTE. Com um investimento de mais de R$ 30 milhões, entre 2003 e 2006, o Governo Federal trabalhou forte na ampliação do número de serviços de atendimento à mulher vítima de violência. Promoveu a capacitação dos agentes públicos para acolher essas mulheres e estimulou a mudança dos instrumentos jurídicos e formais. Hoje, há Centros de Referência de atendimento à mulher em 90% das capitais brasileiras e em 25% das cidades com mais de 100 mil habitantes, três vezes mais do que há quatro anos. Uma política que, segundo a Ministra Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, permitiu a ampliação do atendimento às mulheres em situação de violência, de 34.994, em 2002, para 80.424, em 2006. Uma das grandes dificuldades das mulheres no enfrentamento à violência, segundo a Secretaria é o acesso à Justiça. “Uma de nossas ações foi o fortalecimento e a criação das Defensorias Públicas de Atendimento à Mulher. Já são 12 integrando a rede de atendimento à mulher” destaca. Fonte: CNTE As agressões em números Confira os principais resultados da pesquisa de opinião “Percepção e reações da sociedade sobre a violência contra a mulher”, realizada pelo Ibope para o Instituto Patrícia Galvão, em maio de 2006 (antes da aprovação da Lei nº 11.340). Foram realizadas 2.002 entrevistas em 142 municípios, com brasileiros de 16 anos de idade ou mais: - O ciúme é o segundo motivo para agressões contra mulheres. Em primeiro lugar, para 83% da população, os homens agridem as mulheres após o consumo de bebidas alcoólicas; - De 2004 a 2006, aumentou o nível de preocupação com a violência doméstica em todas as regiões do País, menos no Norte/Centro-Oeste que já tem o patamar mais alto (62%). Na periferia das grandes cidades, esta preocupação passou de 43% , em 2004, para 56% , em 2006; - 51% relataram conhecer ao menos uma mulher que foi ou é agredida pelo companheiro; - 65% acreditam que atualmente as mulheres denunciam mais quando são agredidas; ou porque estão mais informadas (46%) ou porque são mais independentes (35%); - 64% dos entrevistados defendem prisão para os agressores. Fonte: CNTE Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC 25 artigo Clima, cinismo e morte Ninguém sabe se nos próximos 50 anos os mares subirão centímetros ou metros. Há muitas variáveis. Mas está claro que os governos estão usando dados nãocientíficos e cedendo a interesses econômicos, o que impossibilita uma efetiva mudança ético-ecológica Por Luiz Roberto Alves Q uando a vida humana está em questão, não interessa mais classificar este e aquele de pessimista ou otimista, catastrófico ou moderado. De fato, ninguém sabe se nos próximos 50 anos os mares subirão centímetros ou metros. Há muitas variáveis. Entre elas, o comportamento das instituições e das pessoas. É mais que urgente a saída da pobreza das quase três bilhões de pessoas, pois na elevação do nível de vida avançam a cultura, a educação, a infra-estrutura, e tudo isso ajuda a compreender, prevenir e redirecionar o processo de mudanças da Terra. No entanto, quanto aos governos, hoje os sinais são os piores. Veja-se o caso do G-8. Em 2005, na reunião de Gleneagles, os países ricos prometeram ajudar a África com 50 bilhões de dólares até 2015, com vistas ao cumprimento dos objetivos do milênio. Até agora repassaram 2%, ainda a título de cancelamento de débitos. Jeffrey Sachs, ex-coordenador do Projeto Milênio da ONU, em artigo do jornal Il Sole 24 Ore de 13 de maio, afirma que os Estados Unidos impediram que se construísse uma planilha para o desembolso dos recursos, o que significa promessa vazia. E o que mais dói: Sachs informa que somente as gratificações natalinas de 2006 oferecidas pelas empresas que operam em Wall Street chegaram a 24 bilhões de dólares, metade de toda a promessa não-cumprida do G-8 para com a África. Para ele, o cinismo é a marca do programa de ajuda. Foi interessante observar que no último mês de fevereiro coincidiram os relatórios de Paris sobre o clima da Terra com as comemorações do Darwin Day, que se prolongaram por uma semana em instituições de vários países. Na Itália, a Semana foi aberta pela Sra. Rita Levi Montalcini, Prêmio Nobel de Fisiologia em 1986, e teve a participação de Mario Tozzi, cientista que dirige o famoso programa de televisão Gaia. Eles observaram que a melhor vocação de Darwin seria a Geologia, na qual errou menos. No entanto, a despeito de superadas, suas observações têm sido ponto de partida para pensar a evolução da terra e suas catástrofes. Seu estudo sobre os corais, considerado quase perfeito, se projeta sobre a atual tragédia dessa formação marítima, que também sinaliza a doença do nosso mundo. Na conferência, Tozzi mostrou que o clima da terra não está louco, 26 mas sim o processo político contemporâneo. Pode-se juntar a isso que são loucos os modos de regulação, ou desregulação, do chamado desenvolvimento. Será que a maneira como se fez a revolução industrial - baseada exclusivamente no lucro - não era equivalente a um lento terremoto e uma crescente erupção vulcânica? Por esses e outros fatos, George Monbiot enunciou em seu comentário do The Guardian, no primeiro de maio: “A política do mundo rico sobre o efeito estufa se esclarece: milhões vão morrer”. O primeiro sinal ainda é vivo: os países não estão cumprindo os protocolos assinados e, para não tocarem no sistema produtivo, mentem sobre os modos pelos quais vão contornar o problema. Monbiot cita o estudo do climatologista Malte Meinshausen, segundo o qual somente as concentrações de gases abaixo de 400 partes por um milhão garantem alguma chance de o clima não exceder a 2 graus. Como se sabe, se isso ocorrer, põe-se em xeque as camadas de gelo e a floresta amazônica. Ocorre que, no momento, a concentração está em 459 ppm. O que significa que já há excesso. Ora, a União Européia e o Reino Unido (parece que os Estados Unidos mal começaram a pensar no assunto) estabeleceram que vão "segurar a barra" na marca dos 550ppm. Então, a temperatura poderá ir entre 2 e 5 graus a mais e nossa vida estará ameaçada. Isso para quem pensa de modo coletivo e não somente no seu nariz. Ocorre, pois, que tanto os governos estão usando dados não-científicos como estão cedendo aos interesses econômicos, impossibilitando uma efetiva mudança ético-ecológica do nosso mundo. De fato, deve-se cortar 60% das emissões entre hoje e o ano 2030, e entre 2030 e 2050 um corte mais radical, de 80% no que corresponde a cada pessoa, com ênfase em todo o sistema produtivo. Isso significa a mudança de todo o modo de ser e viver, em todos os países da Terra. Nessa hora, a Ciência deve vencer as mentiras e os interesses. Luiz Roberto Alves, professor do Programa de Mestrado em Administração da Universidade Metodista de São Paulo e do Departamento de Comunicações e Artes da USP, atualmente é pesquisador visitante na Universidade de Florença, com apoio do CNPq. Este artigo foi publicado no site Carta Maior, no mês de maio. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC O "eu" sitiado O alarme foi acionado pelo movimento da contra-cultura, nos anos 60, quando os jovens denunciavam o legado da Guerra Fria. O socialismo, tentado na União Soviética e China, degenerou em monstruosas ditaduras e partido único. O capitalismo provoca cada vez maior desigualdade e gera todo o tipo de iniqüidades cotidianas Por José Arbex Jr. A humanidade convive com uma lista terrível de ameaças, reais ou imaginárias, potencialmente capazes de aniquilar centenas de milhões de seres. Já não há a perspectiva de um futuro tranqüilo para a humanidade como um todo, ao passo que a vida passa a ser sentida e encarada como uma guerra permanente a ser travada por cada indivíduo. Como contrapartida, fracassaram as grandes narrativas que, pelo menos ao longo dos dois últimos séculos, foram capazes de oferecer explicações razoáveis sobre o funcionamento do mundo e apontavam soluções. O alarme foi acionado pelo movimento da contra-cultura, nos anos 60, quando os jovens denunciavam o legado da Guerra Fria. O socialismo, tentado na União Soviética e China, degenerou em monstruosas ditaduras do partido único. O capitalismo provoca cada vez maior desigualdade e gera todo o tipo de iniqüidades cotidianas. Sua face neoliberal leva ao limite a desumanização do ser humano, ao afirmar o indivíduo em detrimento da sociedade. É o mundo do "eu sitiado", sintetizam alguns pensadores do contemporâneo, para descrever sociedades fragmentárias, despedaçadas, em que cada um se cerca das garantias que consegue e pode reunir. A humanidade se divide em castas, estamentos, grupos que se constituem segundo suas possibilidades materiais. Entre os abonados, seres solitários se encerram em fortalezas, blindam carros, freqüentam clubes fechados, contratam forças paramilitares, fazem seguro de todos os tipos (de vida, contra roubo, contra terceiros, contra invalidez e morte, de saúde; a cantora e atriz Jennifer Lopez fez seguro estimado em 60 milhões de dólares de uma parte de seu corpo - os glúteos - considerada vital para a sua carreira). A classe média alimenta sonhos de consumo e tenta, em alguma medida, reproduzir o estilo de vida dos mais ricos. Mas o máximo que consegue é criar o inferno para si própria: milhões vivem vidas sem sentido algum, comprimidos entre o desejo de ter mais e o pânico de perder o pouco que ainda têm (o temor da proletarização, para adotar uma expressão sociológica). Os miseráveis que se amontoam em favelas se organizam em bandos, ou usam o próprio corpo como arma. A imensa maioria vive aterrorizada em barracos, teme a ação dos narcotraficantes, das milícias e da polícia. Submete-se a condições desumanas de trabalho (um imenso contingente é obrigado a despertar no meio da madrugada para chegar ao Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC local do emprego, quando há, no início da manhã, para ganhar um salário mínimo após 30 dias extenuantes), muitos são empurrados à prostituição, à prática de pequenos crimes, à mendicância, ao desespero alcoólatra. Nada disso é rigorosamente novo. Em meados do século XIX, Karl Marx já assinalava o fato de que o capitalismo cria sociedades apenas aparentes, pois, sob o signo da concorrência e da desigualdade, aquilo que une os seres humanos é também aquilo que os separa: a luta pelo emprego, por prestígio, pelo poder, por dinheiro e privilégios. A vocação histórica da sociedade capitalista, nessa perspectiva, é a fragmentação, a alienação, o enfeitiçamento provocado pelo talismã mercadoria. Espera-se que os objetos (roupas, carros, sapatos, móveis, cigarros, refrigerantes, cervejas etc.) garantam, como objetos mágicos, a felicidade que já não se encontra em lugar algum. A arte mundial da passagem do século XIX para o século XX registra prodigamente o "mal estar na civilização", magistral fórmula sintetizada por Sigmund Freud para descrever a inarredável e insolúvel cisão entre pulsão e cultura. Do romance de Fiodor Dostoievski à dramaturgia de Bertolt Brecht, de Franz Kafka a Samuel Becken, as páginas de maravilhosos romances e os palcos de grandes teatros exploraram e encenaram o abismo da solidão. A cidade crua, a grande miragem urbana é o protagonista do século XX, cujas possibilidades são levadas ao limite por James Joyce. Finalmente, após a Segunda Guerra, Theodor Adorno constatou: depois de Auschwitz, já não faz mais sentido fazer poesia. A diferença percebida na época contemporânea em relação ao passado recente não é, portanto, o sentimento em si da catástrofe e da perda do futuro (no máximo, posso me enxergar nas próximas 24 horas), mas sim a fragilidade cada vez maior dos laços sociais. A vida pública encolhe, a privatização da vida se expande. O cidadão cede lugar ao consumidor. Eis tudo. Impossível determinar o limite desse processo insano. Mas ele só será interrompido se uma outra lógica recolocar a necessidade de ampliar o espaço público e afirmar a prioridade dos valores solidários sobre os individualistas. A alternativa será o tsunami social. Jornalista José Arbex Jr. Editor do jornal “Mundo” 27 educação Piso de R$ 850, só em 2010? Não! Em manifestação organizada pelo movimento sindical, professores dizem não ao piso de R$ 850 Já está no Congresso o projeto de lei (619/2007) que sugere o piso de R$ 850 para jornada de 40 horas semanais. Além de esse valor estar aquém do desejado pelos professores, ele seria alcançado somente em 2010. A reivindicação da categoria é antiga, porém a criação do Piso Salarial Nacional Profissional do Magistério Público (PSNP) ainda não atende às necessidades dos educadores no Brasil. A exigência da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE-CUT) é que o piso seja de R$ 1.575 para os professores com licenciatura e de R$1.050 para os habilitados com nível médio. Ambos os valores são relativos à jornada de 30 horas semanais e entrariam em vigor em janeiro de 2008. No final do mês de abril, os professores foram às ruas e disseram não à proposta por acreditar que o valor está abaixo do esperado e que, em 2010, a defasagem será maior já que não consta no projeto a reposição da inflação. De acordo com a proposta do governo, os pisos entre os docentes com ensino médio e nível superior seriam nivelados, o que também serviu como agravante para a recusa. Segundo a CNTE – CUT, “o PSNP é fator essencial para elevar a qualidade da educação e promover a valorização dos educadores brasileiros”. Para tal, a Confederação propõe um piso real que não some outros valores, como gratificações e demais benefícios. No dia 23 de maio, professores voltaram às ruas para lutar não somente por salários, mas, também, pelo respeito à profissão e por investimentos na educação do Brasil. Universidade Plaza Shopping Se propusermos a você que imagine um local com lojas, salões de estética, bancos, lanchonetes, livrarias e academias, o que viria à sua mente? Um centro de compras? É o que deveria ser. Entretanto, hoje em dia, a resposta pode ser outra: uma universidade. O que aparentemente parece ser algo inofensivo tem mudado os valores de alunos dessas instituições. A educação fica com o papel coadjuvante, enquanto o consumo e o lazer viram protagonistas na rotina universitária. Em entrevista ao jornal “Brasil de Fato” (de 26/04 a 02/05), um estudante, que preferiu não se identificar, mostra-se insatisfeito com essa fusão. “A faculdade é uma baderna. A reitoria está mais preocupada com o shopping do que com a estrutura de ensino. Onde já se viu, somente cinco computadores lentos para acesso à internet? Uma biblioteca com vários livros de direito desatualizados? Deveria ser muito melhor”, reclama o aluno. Na mesma reportagem, o coordenador adjunto do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Pablo Gentili, observa que a existência de campi universitários em ambientes de consumo é símbolo do “paradigma da degradação” vivido pela sociedade contemporânea. Há um paradoxo entre a solidariedade e o cooperativismo promovidos pela educação pública, com a competição consumidora vivida nesses centros de compras (e não mais de estudo). E os professores? Para eles resta a difícil missão: concorrer com as mercadorias e disputar com o lazer a preferência dos alunos. No mundo de hoje, essa tarefa não é nada fácil... "Isso ratifica a forma como as universidades pensam, encaram e produzem a educação, ou seja, mercadoria", explica o professor Aloísio Alves da Silva, presidente do SINPRO ABC. "Dessa forma, o ensino virou um produto como outro qualquer. Que diferença faz se o aluno consumidor está consumindo hambúrgueres, corte de cabelo, bijuterias ou educação, se o resultado é o mesmo para a instituição: o lucro”, avalia o professor Aloísio Alves da Silva. 28 Resultados comprovam O resultado da mais recente avaliação do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) foi um tanto quanto decepcionante para as escolas da rede privada e constatou a necessidade de mais investimentos, por parte das instituições, na educação, e não somente em estruturas modernas. Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) retratam que mais de 30% dos cursos das escolas particulares receberam conceitos 1 e 2. Nas faculdades públicas, essas notas foram dadas para quase 17% dos avaliados. Cerca de 1,5% das instituições privadas receberam conceito 5, enquanto essa média foi alcançada por 21,2% dos alunos da rede pública. Em São Paulo, menos de 17% dos cursos obtiveram médias acima de 50, na pontuação que vai até de zero a cem. Áreas como biomedicina, biblioteconomia, ciências contábeis, editoração e secretariado executivo não tiveram notas acima dessa média no Estado. Foram avaliados, em todo país, mais de 386 mil alunos do ensino superior, nas áreas de administração, arquivologia, biblioteconomia, biomedicina, ciências contábeis, ciências econômicas, comunicação social, design, direito, música, formação de professores (normal superior), psicologia, secretariado executivo, teatro e turismo, em mais de 5701 cursos. A região Norte do Brasil apresentou as piores notas (50% dos cursos com conceitos 1 e 2) e o Sul do país conquistou a melhor posição (com 28% de notas 4 e 5). Com informações do jornal “Brasil de Fato” e Folha de São Paulo. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC aula de potuguês Rubem Alves É como ouvir música Se os jovens não gostam de ler é porque nunca ouviram a leitura feita por um possuído E la me olhou e disse: “Encontrei um lindo poema em Fernando Pessoa”. Fiquei contente, gosto muito de Fernando Pessoa. Aí ela começou a ler. Epa! Senti-me mal. As palavras estavam certas, mas ela tropeçava, parava onde não devia, não tinha ritmo nem música. Não, aquilo não era Fernando Pessoa, embora as palavras fossem suas. Senti o mesmo que já sentira em audições de alunos principiantes. Percebi, então, que a arte de ler é exatamente igual à arte de tocar piano – ou qualquer outro instrumento. Como é que se aprende a gostar de piano? O gostar começa pelo ouvir. É preciso ouvir o piano bem tocado. Há pianistas que já nascem com o piano dentro deles. O piano é uma extensão de seus corpos. E há os “pianeiros”, como eu, que me esforcei sem sucesso para ser pianista. Diferentes dos pianistas, os “pianeiros” têm o piano do lado de fora. Esforçamse para pôr o piano do lado de dentro, mas é inútil. As notas se aprendem. Mas isso não é o bastante. Os dedos esbarram, erram, tropeçam – e aquilo que deveria ser uma experiência de prazer se transforma numa experiência de sofrimento para quem ouve e para quem toca. Um pianista, quando toca, não pensa nas notas. A partitura já está dentro dele. Ele se encontra num estado de “possessão”. Nem pensa na técnica, é um problema resolvido. Ele simplesmente “surfa” sobre as teclas seguindo o movimento das ondas. Pois é assim que se aprende o gosto pela leitura: ouvindo-se o artista – o que lê – interpretar o texto. Uso a palavra “interpretar” no sentido artístico, teatral. O “intérprete” é o possuído. É ele que faz viver seja a partitura musical silenciosa, seja o texto teatral ou poético, silencioso na imobilidade da escrita. Disse Shakespeare no 2º ato de Hamlet: “Não é incrível que um ator, por uma simples ficção, um sonho apaixonado, amolde tanto a sua alma à imaginação, que todo se lhe transfigura o semblante, por completo o rosto lhe empalideça, lágrimas vertam dos seus olhos, suas palavras tremam, e inteiro o seu organismo se acomode a essa mesma ficção?”. Se os jovens não gostam de ler é porque não tiveram a experiência de ouvir a leitura feita por um possuído. Há de se dominar a técnica da leitura como se domina a técnica do piano. Acontece que o domínio da técnica é cansativo e freqüentemente aborrecido. Antigamente, o aprendiz de piano tinha que gastar horas nos monótonos Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC gf d c ba exercícios de mecanismo do Hannon. Mas mesmo os grandes pianistas que já dominaram os essenciais da técnica têm que gastar tempo e atenção debulhando as passagens complicadas que não podem ser pensadas ao ser tocadas. Mas só têm paciência para suportar o aborrecido da técnica aqueles que foram fascinados pela beleza da música. Estuda-se a técnica por amor à interpretação, que é o evento orgiástico de possessão. Por isso tenho sugerido a escolas e prefeituras que promovam “Concertos de leitura” para seduzir os ouvintes à beleza da leitura. Não custam nada. Uma única coisa é necessária: o artista, o intérprete... Um concerto de leitura poderia organizar-se assim: Primeira parte: Poemas da Adélia Prado. É impossível não gostar dela... Segunda parte: “O afogado mais lindo do mundo”, conto de Gabriel García Márquez. Terceira parte: Haicais de Bashô. Todo mundo gostaria e sairia decidido a dominar a arte da leitura. Artigo produzido por Rubem Alves, educador e escritor, para a revista Educação (maio 2007) Foto: http://www.ptsem.edu/Publications/inspire2/7.1/images/'68rubem%20alves.jpg 29 30 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Paulo Freire Um educador do povo! "Haverá sempre a possibilidade das trágicas desistências de ser. Nossa grande tarefa de passar pelo mundo é exatamente a da briga constante e Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC permanente pela busca do ser mais.“ 31 Aquecimento Global... ...uma questão para ser pautada! 32 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC