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L’attitude ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 Imagem Original da Capa by George Hodan People In The Park A Revista L’attitude é uma publicação do Instituto Cenorpsi, através de sua extensão, o Núcleo de Estudos e Pesquisas que é constituído por seus membros pesquisadores e colaboradores de diversas áreas do conhecimento. Seu conteúdo privilegia o saber e práticas humanas que promovam a atitude nos diversos campos de trabalho e em distintas latitudes geográficas. www.cenorpsi.com [email protected] Os artigos publicados são de integral responsabilidade dos autores. Esta obra pode ser reproduzida, desde que citada devidamente a fonte. Ficha Catalográfica L’attitude / Instituto Cenorpsi (Núcleo de Estudos e Pesquisas) – v. 3, n. 3, Online, jan./dez. 2013. 2011 – CDD 050 r e v ist a l’ att itu d e Sumário 3 Editorial In memoriam Joaquim Marciano Ribeiro Filho ........................................................... 5 Personalidade [Entrevista] Um idoso cidadão... Lourdes de Fátima Santos Pinto ........................................................... 7 Artigo O espaço da velhice na sociedade brasileira e seus sujeitos Lourdes de Fátima Santos Pinto ........................................................... 12 Resenha Anjos sem asas: análise crítica do filme Anjos do Sol Vinícius Schumaher de Almeida ........................................................... 18 Ensaio Capitalismo e educação Flávio Roberto Chaddad .................................................................... 21 Artigo Reflexões sobre a prática pedagógica no ensino virtual Marcos Matozinhos Munhós ................................................................ 23 Ensaio A experiência de um professor com as dificuldades da escola pública brasileira Flávio Roberto Chaddad .................................................................... 36 Artigo Gestão democrática na escola pública: desafios e resistências Amanda de Almeida Soares Barbosa ...................................................... 38 ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e Resenha A comunicação científica e seus desdobramentos éticos Leandro de Freitas Pantoja ................................................................ 52 Post-scriptum Sementes no abismo Joaquim Marciano Ribeiro Filho ........................................................... 55 Obras cinematográficas sugeridas ............................................................ 58 ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 4 r e v ist a l’ att itu d e Editorial 5 In memoriam Torna-se um caminhar obscuro quando não se consegue perceber o que ou quem está ao seu redor, onde ações ou falas se tornam turvas e complexas aos processos de convivência. Ao se ofertar espaços para o discurso se abrem oportunidades que iluminam, esclarecem, explicam, ilustram e evidenciam com clarividência o diálogo entre pares. Aqueles que hoje são idosos – outrora jovens, crianças e bebês –, sejam àqueles que se convive no lar, na rua, na escola, no trabalho... sejam os de tantos outros lugares, não se cansam de contar histórias de experiências, pois as narram como testemunhas, utilizando-se suas diversas e particulares linguagens. Pode-se dizer que a locução Era uma vez... é de uma herança intergeracional. Com ela, relembram-se fatos de um tempo, geralmente distante, no entanto, a cada descrição, o ocorrido ainda está presente podendo ser refilmado na imaginação de cada novo ouvinte... de tempos em tempos... e como se diz: de geração em geração. Pensando assim, não apenas se lê e/ou se ouve em passividade... a humanidade é a sílaba, o grifo, o contorno e o rabisco... são as anotações! As pessoas se (re)constroem ativamente em um processo intergeracional. Em cada Era uma vez..., em tese, veste-se também a armadura e o humor para driblar a dor dos lugares vulneráveis, sensíveis da percepção humana; em cada história você não precisa ser o personagem para entender... e sim, recebê-lo e sintetizá-lo à sua própria trajetória. Quando compreendidas as pessoas tendem a bordar as histórias que encontram nos sorrisos e nas lágrimas daquele que está próximo. Em diferentes idades as pessoas expressam inúmeras recomendações. Estas estão à disposição nas memoráveis experiências daqueles que se dedicaram a preparar a terra para que os próximos semeassem e juntos partilhassem os frutos de uma árvore que por infinitas ações foi cultivada. Esse é o momento de agir, ao invés de esperar. Atitudes se iniciam pelas teias de histórias, gerando uma infinitência de saberes, advindo das memórias que com seus nomes organizam alfabeticamente enciclopédias humanas. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e O Homem é infinito também com sua diversidade de assuntos. As construções que se seguem não versam apenas sobre seus temas, mas in memoriam; são pensamentos, práticas, encontros entre pessoas, a partir de sua identidade, que tendem a promover o ato mnemônico, mesmo que indiretamente, de que as gerações podem o saber ampliar e que a longevidade aponta oportunidades. Por isso, para conhecer algo é preciso entender seu oposto – aquele que é colocado a nós como contrários e admirar seu potencial expresso em suas poeticidades. Joaquim Marciano Ribeiro Filho Editor ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 6 r e v ist a l’ att itu d e Personalidade 7 Um idoso cidadão... O estabelecimento de uma política social em prol da pessoa idosa leva à plena efetivação dos direitos e deveres. LOURDES DE FÁTIMA SANTOS PINTO Bacharela em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Salvador – UCSAL; Especialista em Direito Processual Trabalhista pelo JusPodivm Instituto de Ensino Jurídico e da Múltipla Difusão do Conhecimento – Salvador/BA; Especialista em Direito Privado pela Universidade Cândido Mendes – Rio de Janeiro/RJ; Licenciada em Letras Vernáculas pelo Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia – UFBA; e, Mestre em Literatura pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e L’attitude - Iniciando nosso diálogo gostaríamos de sugerir uma reflexão sobre a sociedade na qual estamos inseridos, pois vivemos em um período em que somos ensinados a respeitar e amar, mas castigar e evitar. Na sua prática, o que as palavras idoso e velho significam nesse contexto? Lourdes – A sociedade brasileira vive uma espécie de diapasão de sua própria identidade, há um retrato construído de um país com um arcabouço legal primoroso, entretanto a realidade que se apresenta é de barbárie, apesar de sermos uma das dez maiores economias do mundo. Quanto às palavras velho e idoso, entendo que a linguagem é reveladora por si só: velho é o que está em desuso, sem serventia, aquilo que deve ser descartado, jogado fora; já a palavra idoso possui no étimo o conceito de idade, logo a expressa é mais universal e humana. Ao classificar como velhos pessoas idosas, talvez, inconscientemente, estejamos a revelar o incômodo que a presença desse contingente humano provoca, neste caso estamos a considerá-lo como um ônus que paira sobre um Brasil que se vê eternamente jovem. L’attitude - Simone de Beauvoir retrata em seu livro “The Coming of Age” (A Idade Madura) a marginalização da velhice, buscando uma maior compreensão da percepção das pessoas sobre os idosos. Em seu dia a dia você visualiza o posicionamento de Beauvoir? Penso que o livro de Simone de Beauvoir é de uma atualidade surpreendente, já que centrado numa análise da percepção da pessoa idosa por outras gerações. Acredito que há muitos caminhos a serem percorridos, sendo o principal, a conscientização das pessoas como um todo sobre o fenômeno do envelhecimento que envolve o respeito à existência plena das pessoas idosas nos espaços da cidade. Hoje, acredito que, antes de qualquer ação, é importante lembrar aos governantes que a pessoa idosa é um contribuinte, portanto o estado tem obrigação – dever de proteger os direitos dessa população e prestar os serviços a que está adstrito constitucionalmente. L’attitude - Em nosso processo natural de envelhecimento, passamos a ser frágeis e dependentes de pessoas e instituições. Como os idosos vêm identificando a própria velhice? Antes de responder, é necessário externar que o fenômeno envelhecimento não é uniforme e possui muitas variantes, sendo assim a velhice para aos mais aquinhoados não constitui o peso que é para os desfavorecidos. Pensando no considerável contingente de pessoas idosas em situação de pobreza em sentido lato, a velhice representa a perda da autonomia, o Há muitos caminhos a serem percorridos, sendo o principal, a conscientização das pessoas como um todo sobre o fenômeno do envelhecimento. desrespeito a sua vontade, a necessidade de permanecer num ambiente familiar hostil, por não ter alternativas. É notória a ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 8 r e v ist a l’ att itu d e quase inexistência de Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas (ILPIS), públicas no Brasil; para sermos mais precisos, o país possui apenas 218 asilos públicos para atender a uma população de mais de 20 milhões de idosos. Enfim, a população idosa vê o avançar dos anos como uma nuvem sombria... L’attitude - A humanidade é cobrada a viver intensamente, sendo que estudos demonstram um culto à juventude, onde idosos são incentivados a se comportarem socialmente como adolescentes, assim, rompendo as relações intergeracionais. Como é esse fenômeno para você? É fato que é impossível a invisibilidade da idade, as marcas do tempo vão se manifestado por mais que se pretendam ocultá-las. Entendo que os “tiozões”, - uso essa expressão para ambos os gêneros -, são a manifestação mais explícita da rejeição social da condição de idoso. Naturalmente, hoje se vende a eterna juventude, a eterna adolescência, a não assunção de responsabilidades; por que o idoso, teimosamente, deveria se comportar em sentido contrário? Ser “tiozão” ou ser uma pessoa idosa significa a aceitação de um papel na sociedade. O que se observa, claramente, é que o país se identifica como nação jovem e bonita, nação do futuro, da sensualidade... ora, neste pacote, não cabem os idosos. A melhor maneira de envelhecer é aceitar viver. L’attitude - Essa cobrança no atual século compromete a proposta de envelhecimento saudável? A busca desenfreada por uma eterna juventude deve conduzir a uma permanente insatisfação, já que, enquanto seres pertencentes à natureza animal carregamos o destino do envelhecimento, fugir desse fato pode levar a um estado depressivo ou até mesmo doentio, quer do ponto psíquico, quer físico. Seminário: O Espaço da Velhice na Sociedade Brasileira (Jul./2013) L’attitude - Pensando ainda nesse culto à juventude, identificamos na história diferenças entre a antiguidade e a contemporaneidade. Antes, mais idade era sinônimo de intenso conhecimento e como consequência respeito social; atualmente o envelhecimento é visto como decadência, entretanto muitas vezes o idoso é quem possui o papel de principal provedor no ambiente familiar. Vemos então uma relação contrastante de valorização e des- ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 9 r e v ist a l’ att itu d e valorização. O que seria essencial para levar as pessoas a refletirem sobre o ato de envelhecer? Dentro do senso comum, podemos considerar que aos idosos estão destinados, atualmente, a ser o provedor principal da família. Esse discurso de maior ou único provedor do núcleo familiar é decorrente de estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da própria Seguridade Social do Brasil - o Beneficio de Prestação Continuada (BPC) que mantém a economia de muitas cidades do país. Ao invés de atender a população idosa de baixíssima renda, o BPC passou a ser e a atender o núcleo familiar do idoso, logo esse idoso, em suas necessidades pertinentes à condição etária, continua desassistido. Olhando para o país mais bem resolvido socialmente, não vejo esse apagamento das contribuições culturais, cientificas, tecnológicas, artísticas das pessoas idosas, basta para tanto olhar para os espaços mais proeminentes da sociedade brasileira para atestar que eles são ocupados, significativamente, por pessoas idosas. L’attitude - Com a redução da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida, pesquisas sugerem o crescimento de um olhar diferenciado para o público idoso. Nos próximos anos, a sociedade tende a avançar para uma conscientização? Em 1996, o Plano Nacional de Saúde já previa uma série de medidas a ser implementadas visando ao atendimento das demandas decorrente do envelhecimento da população do Brasil, infelizmente, a política ali traçada não foi seguida e hoje o país se encontra despreparado para atender sua população idosa. Entendo que, atualmente, não há como desconsiderar a população de idosos do país, logo a própria realidade impõe essa tomada de consciência; querendo ou não o país envelheceu. O que se impõe, hoje, é a necessidade de implantação de serviços públicos, principalmente, na área educacional que atendam às necessidades dos idosos. L’attitude - No que se refere ao seu país, o Brasil é considerado como um país emergente. No que se refere aos direitos dos idosos houve importantes conquistas legais, porém poucos conhecem o Estatuto do Idoso e outra minoria tem consciência de seus direitos e deveres. Quais suas ações para contribuir na alteração dessa realidade? Palestra: A Importância da Participação do Idoso no Processo de Democratização do Acesso à Leitura (Nov./2013) 1) Nos dois últimos anos realizamos várias palestras e também concedemos entrevistas focando a situação da pessoas idosa ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 10 r e v ist a l’ att itu d e sendo a mais expressiva a dada a Rede Brasil – Canal 9, em que tratamos da violência contra a pessoa idosa e outros assuntos.1 2) Seções Eleitorais em centros de abrigamento de idosos nas eleições de 2014.2 3) Quebra de barreira etária para inscrição nos cursos do PRONATEC.3 4) Realização pelo Conselho Municipal do Idoso do “Seminário de Políticas Públicas e as Normas Assecuratórias dos Direitos da Pessoa Idosa”, no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador em 15 de outubro de 2013. 5) Realização pelo Conselho Municipal do Idoso do Seminário “O Espaço da Velhice na Sociedade Brasileira”, no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador, em 29 de julho de 2013. 6) Projeto “Centro de Convivência da Pessoa Idosa” apresentado à Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (SEMPS) do Município de Salvador. 7) Projeto apresentado à Secretaria de Educação do Município de Salvador intitulado “Ensino Regular na Modalidade Educação de Jovens e Adultos em Instituições de Longa Permanência”. Entrevista: Rádio Cruzeiro L’attitude - Até 2025 a população tende a aumentar no mundo, estimando-se 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos somente no Brasil, além de uma expectativa de vida cada vez maior. Utilizando-se a Constituição Federal Brasileira de 1988 que instituiu um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social, quais as ações se pode realizar para favorecer o desenvolvimento da sociedade? O estabelecimento de uma política social em prol da pessoa idosa leva à plena efetivação dos direitos e deveres elencados na Constituição Federal e no Estatuto do Idoso. É necessário demandar esforços, principalmente, na área educacional a fim de possibilitar que o envelhecimento da nossa população não constitua um ônus impossível de ser suportado, apostar no envelhecimento funcional, isto é, no envelhecimento em atividade é a atitude mais sábia. 1 Cf. <http://www.youtube.com/watch?v=DLrkOrMsIyM>. Consultar: <www.cnj.jus.br>, disponível em 13 de maio de 2013 e no Diário Oficial do Município de Salvador em 10 de abril de 2013. 3 Cf. <http://www.politicalivre.com.br/2013/03/cursos-para-beneficiarios-bolsa-familia-nao-tem -limite-etario>. 2 ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 11 r e v ist a l’ att itu d e Artigo 12 O espaço da velhice na sociedade brasileira e seus sujeitos Lourdes de Fátima Santos Pinto4 As maiores conquistas da humanidade que incidem diretamente sobre a vida do homem se situam no âmbito da medicina, por isso já não causa espanto a longevidade dos brasileiros. Mesmos diante de fatos incontestáveis como a melhoria da qualidade de vida, avanços na medicina, aumento da expectativa de vida e outros, no Brasil, não se observa o estabelecimento de relações sociais amáveis para com os idosos. A visibilidade dessa população de idosos não é uma realidade. A sociedade brasileira ainda se apresenta pouco hospitaleira à população idosa; grassa a violência contra as pessoas idosas em todos os aspectos. Não tem sido suficiente a criação de normas legais de proteção à população maior de sessenta anos. Urge a criação de espaços urbanos mais favoráveis a este segmento populacional e um amplo processo educativo no qual o cerne seja a tolerância e o reconhecimento da contribuição efetiva do idoso quer no passado, quer no presente para a sociedade brasileira. O país como um todo procura escamotear a velhice que se avulta; procura fugir desta discussão incômoda – as condições que a sociedade brasileira disponibiliza para a vida na maturidade. As dificuldades enfrentadas pelos idosos são reflexos das precárias condições de vida a que se submeteram e das condições em que se encontram. Entre o passado e o 4 Bacharela em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Salvador – UCSAL; Especialista em Direito Processual Trabalhista pelo JusPodivm - Instituto de Ensino Jurídico e da Múltipla-Difusão do Conhecimento – Salvador/BA; Especialista em Direito Privado pela Universidade Cândido Mendes – Rio de Janeiro/RJ; Licenciada em Letras Vernáculas pelo Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia – UFBA; e, Mestre em Literatura pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e presente do idoso, em especial o idoso de baixa renda, identificam-se as causas desse grande mal-estar social. Apesar da presença crescente desse contingente populacional de maiores de sessenta anos no Brasil, ele ainda não se fez ouvir em muitos de seus pleitos pela classe dirigente e política da nação. Do ponto de vista da manifestação da real vontade política, o voto da população maior de setenta anos se coaduna com a verdadeira democracia – soberania da vontade de um povo. A expressão política dos maiores de setenta anos é, constitucionalmente, facultativa; logo este voto termina por refletir opções políticas de um contingente populacional que tem urgência em suas demandas, pois o tempo de vida é curto e o futuro se dilui em cada instante que se vai. Art. 14 - A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (BRASIL, 2013a). O comparecimento em peso às urnas da população maior de sessenta anos pode vir a se constituir uma imposição saída das urnas para as agendas dos representantes políticos do país. Distribuição percentual da população, por grupos de idade – Brasil – 1940/2000 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 (IBGE, 2012). Observando o gráfico de 2000 de Distribuição Percentual da População por Grupo de Idade, percebe-se que estes números só tendem a crescer, principalmente, considerando que em 2000, o contingente populacional de 15 a 59 anos corresponde a 61,8% da população; até dezembro de 2012, muitos desta faixa alcançarão os sessenta ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 13 r e v ist a l’ att itu d e anos, observando a tábua de mortalidade e expectativa de vida de 2009 (73,5 anos) calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a população de idosos só tende a crescer e deve ser preponderante na definição das políticas públicas do Estado Brasileiro. Proporção de idosos de 60 anos ou mais e de 65 anos ou mais de idade – Brasil – 1999/2009 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1999/2009 (IBGE, 2012). O gráfico acima do IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1999/2009 – produz um impacto ainda maior, já que em 1999, a população com sessenta anos de idade ou mais representava 9,1% da população geral e, em 2009, passou a representar 11,3% da população do Brasil. No Brasil, o ritmo de crescimento da população idosa tem sido sistemático e consistente. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD 2009, o País contava com uma população de cerca de 21 milhões de pessoas de 60 anos ou mais de idade. Com uma taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição populacional, combinada ainda com outros fatores, tais como os avanços da tecnologia, especialmente na área da saúde, atualmente o grupo de idosos ocupa um espaço significativo na sociedade brasileira. No período de 1999 a 2009, o peso relativo dos idosos (60 anos ou mais de idade) no conjunto da população passou de 9,1% para 11,3% (IBGE, 2012). ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 14 r e v ist a l’ att itu d e Em face desse crescente peso eleitoral, advoga-se que os idosos não devem renunciar ao seu direito de votar. Ao contrário, devem sim continuar tendo interesse pelos rumos da administração da sua cidade, Estado e país. As pessoas idosas devem, sim, fazer valer o peso da sua representatividade política, da força do seu conhecimento e amadurecimento político para impor mudanças significativas na qualidade de vida da população de idosos. A Lei 10.741/2003, in verbis: Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis. § 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos: VI – participação na vida política, na forma da lei; VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação. § 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais (BRASIL, 2013b). Ressalte-se que muitos idosos não votam por dificuldades de locomoção próprias da idade. É esta a realidade fática de muitos centros de longa permanência, onde idosos, apesar do gozo pleno das faculdades mentais, não possuem vigor físico necessário para vencer a empreitada peculiar de um dia de votação nas cidades brasileiras. Considera-se justo que o Estado Democrático de Direito do Brasil garan- ta as condições necessárias para a expressão política dos idosos em situação de convivência em centro de longa permanência. Em face do crescente peso eleitoral desse contingente populacional de idosos, deve o Estado promover as condições de efetivação da manifestação política mediante o voto para assim fazer valer a real expressão política desta parcela da população. Note-se que, desde 2010, através da Resolução do Tribunal Superior Eleitoral n. 23.219, há disposição de instalação de seções eleitorais especiais em estabelecimentos penais e em unidades de internação de adolescentes. As eleições de 2012 para Prefeito e Vereadores já refletem também a expressão política do contingente populacional de apenados e de adolescentes internados na Fundação Casa. Frente aos fatos expostos, o Conselho Municipal do Idoso de Salvador peticionou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da Bahia no sentido da colocação de urnas eletrônicas nos centro de convivência dos idosos de forma a permitir a plena expressão política destes idosos. Ambas as instâncias do poder judiciário responderam de modo favorável ao pleito. Despacho da Presidente do TRE/Bahia, Desembargadora Sara Silva Brito: Expediente nº 50.037/2012 REQUERENTE: Lourdes de Fátima Santos Pinto (Adva.: Bela. Lourdes de Fátima Santos Pinto). Tendo em vista o fechamento do Cadastro Nacional de Eleitores, o que ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 15 r e v ist a l’ att itu d e impossibilita a criação de novas seções eleitorais, bem como a transferência de eleitores, informe-se à Requerente que após o transcurso das Eleições 2012 será expedida orientação aos juízes eleitorais para que os mesmos avaliem a possibilidade de criação de seções em abrigos ou casas de repouso onde residam idosos. Intime-se (TRE-BA, 2012, p. 2). do Conselho Municipal do Idoso de Salvador, sugerindo aos juízes eleitorais da Bahia, por meio de ofício, a prestação dos serviços da Justiça Eleitoral. A orientação é que os magistrados avaliem a possibilidade da criação de seções eleitorais em abrigos ou casas de repouso onde residam idosos para garantir o direito do voto de todos no dia das eleições (CNJ, 2013). Os idosos hoje representam parcela significativa da população do Brasil que precisa ser ouvida e atendida. A democracia só existe quando o direito à expressão é garantido pelo Estado. Só mediante o voto é possível forçar a adoção de políticas públicas de saúde, moradia, seguridade social e lazer que atendam às reais necessidades dos mais velhos. O que se impõe, hoje, é a necessidade de uma extensa cobrança por políticas públicas específicas para a saúde, previdência e habitação, que atendam as necessidades dos idosos. Essa cobrança pode até ser tímida e de pouca expressão, mas é inevitável. Diante o exposto, não há como afastar as questões referentes ao envelhecimento das pautas dos gestores públicos e das discussões das entidades comunitárias e demais segmentos organizados da sociedade civil. Em caráter excepcional, cerca de 100 idosos da Casa de Repouso de Idoso Bom Jesus, localizado no bairro de Paripe, em Salvador (BA), vão receber atendimento especializado para a regularização da situação eleitoral nesta segunda-feira (13/5). Além do atendimento, que inclui serviços como emissão do título, transferência e revisão cadastral, servidores do TER-BA promoverão uma ação social levando alimentos não perecíveis para auxiliar a manutenção do lar. Interessados em contribuir com a campanha de doação podem entrar em contato com a 4ª Zona Eleitoral, através dos telefones (71) 3373-7000 ou 33737234. Os funcionários estarão arrecadando as doações até a sextafeira, dia 17. O atendimento foi determinado pelo Juiz da 4ª Zona Eleitoral, após uma solicitação da própria Casa de Repouso ao TRE. Outras entidades interessadas em receber atendimento da Justiça Eleitoral devem fazer o requerimento ao TRE, procurando o Protocolo dos Cartórios de Salvador, na Central de Atendimento ao Público do Tribunal, no prédio anexo à sede. A entidade deve indicar na petição a justificativa do pedido. Orientação - Preocupada em assegurar acessibilidade de todos à Justiça Eleitoral, a presidente do TRE baiano, desembargadora Sara Brito, atendeu, no mês passado, a solicitação de membro ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 16 r e v ist a l’ att itu d e 17 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 /constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 26 maio 2013a. BRASIL. Lei n. 10.741, de 1 de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis /2003/l10.741.htm>. Acesso em 26 maio 2013b. CNJ. Conselho Nacional de Justiça. TRE-BA faz atendimento em casa de repouso de idosos em Salvador. Disponível em: <www.cnj.jus.br>. Acesso em: 26 maio 2013. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 1940/ 2000. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 1999/2009. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 jun. 2012. TRE-BA. Diário da Justiça Eletrônico do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia, ano 2012, n. 155, de 08 de agosto de 2012. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com. br/diarios/39344153/tre-ba-08-08-2012-pg2>. Acesso em: 08 ago. 2012. TSE. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n. 23.219 de 02 de março de 2010. Dispõe sobre a instalação de seções eleitorais especiais em estabelecimentos penais e em unidades de internação de adolescentes e dá outras providências. Disponível em: <http://www.tse.jus.br>. Acesso em: 26 maio 2013. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e resenha 18 Anjos sem asas: análise crítica do filme Anjos do Sol Vinícius Schumaher de Almeida5 A obra cinematográfica do diretor e produtor brasileiro Rudi Lagemann, Anjos do Sol (2006), apresenta, em seu roteiro um dos mais antigos e sempre atuais problemas da sociedade brasileira: a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes. Com os pés nesta realidade atordoante que nos permeia e aflige, Lagemann aborda e ilustra esta problemática social acometida às crianças e aos adolescentes com veracidade, audácia e sensibilidade. O fio condutor da narrativa é Maria, uma menina de doze anos, do interior do nordeste brasileiro, que é vendida no verão por seus pais a um mediador de prostitutas. Ao deixar seu sofrido núcleo familiar marcado pela miséria, ela se desvincula de uma só vez do chão nordestino. Maria é comprada por um fazendeiro num leilão de meninas virgens. Desde então, a menina franzina, que caminhava na maciez das areias nordestinas se vê obrigada a caminhar sobre o chão duro de uma bruta e atroz realidade, a partir deste momento toda a sua dimensão biológica, psicológica e social passa a ser usurpada por um contexto extremamente ameaçador, que dizima todo seu desenvolvimento maturacional e negligencia todos os seus direitos como ser humano e cidadã. Neste temerário chão da exploração e do abuso sexual, de acordo com os recentes dados apresentados pela organização não governamental Childhood Brasil e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, entre os anos 2003 a 2011, o disque denuncia recebeu mais de 53.379 mil ligações relatando casos de abuso sexual envolvendo crianças e adolescentes. 5 Graduando em Psicologia no Centro Universitário de Votuporanga – UNIFEV, Votuporanga/SP. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e Temos ainda, de acordo com os dados do plano plurianual do Governo Federal, entre os anos de 2008 a 2011 dos 59,5 milhões de crianças e adolescentes brasileiros, quase metade, ou seja, 45,9% residem em domicílios onde a renda per capita é de, no máximo, meio salário mínimo, fazendo com que estes menores sejam expostos a uma situação de extrema vulnerabilidade. Diante destes dados, emerge a certeza de que o abuso e a exploração sexual infantil não são apenas obras de ficção, mas sim, de uma realidade social mutiladora. Encontramo-nos imersos numa sociedade propagadora das ideias capitalistas e de ideologias elitizadas, os indivíduos, que a compõem, na sua maioria são regidos pelo senso do ter e do poder. O cineasta ao relacionar o mundo capitalista com os casos de exploração infantil, apresentou de forma clara a força que o contexto mercadológico exerce na formação da subjetividade do indivíduo, chegando ao ponto de fazer de um ser da sua própria espécie um objeto de venda e troca. Ambos se misturam de forma tão homogênea que dificultam a diferenciação entre aquilo que é considerado objeto e aquilo que pode ser considerado pessoa. Todos os dias crianças e adolescentes se tornam mercadoria dos caprichos de um mundo capitalista. Têm sua infância, seus sonhos, seus corpos e seus direitos vendidos em troca da elevação financeira de alguns pseudocidadãos, promovendo aos menores, à deterioração da sua infância e adolescência, a destruição dos seus sonhos, a corrupção dos seus corpos e a extirpação dos seus direitos, acarretando-lhes diversos males físicos, psíquicos e sociais. É interessante perceber o quanto é difícil para a sociedade contemporânea se desvincular da ideia imagética de criança, pregada no final do século XIX e começo do século XX, em que a mesma era vista como um ser angelical, desprovida de qualquer espécie de desejos ou fantasias sexuais. Vários teóricos, assim como Freud (1905/ 1996), com o passar da história refutam esta ideia e afirmam, com convicção, que a criança por se tratar de um ser humano em processo de desenvolvimento, possui todos os mecanismos necessários para sua evolução enquanto indivíduo, não descartando, portanto, sua inerente sexualidade. Ao refutar a ideia da criança como um ser angelical, torna-se muito mais fácil olhar para a mesma como um ser humano e não como um ser divino, logo, todo humano que é considerado um ser biopsicossocial, necessita de devida atenção e cuidado, para que sua evolução seja saudável e profícua em todos os seus aspectos. Salientar a humanidade da criança e deixar de lado a ideia de um ser possuidor de asas pode ser um pequeno, mas considerável passo, para que a sociedade passe a enxergar a criança, desde seu nascimento, como uma pessoa que é resguardada pela Declaração Universal dos Diretos Humanos (DUDH) e, no Brasil, por um estatuto somente a ela dedicado – o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em que se encontram todos os seus direitos e deveres. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 19 r e v ist a l’ att itu d e É importante notar, que a personagem Maria, no decorrer de toda obra, não se apresenta em nenhuma das cenas com asas e nem mesmo nossas crianças e adolescentes abusados e explorados as possuem, as únicas asas inerentes aos mesmos são as da imaginação infantil, que são esmagadas ou cortadas nas primeiras relações de negligência, portanto, Lagemann pode ter se equivocado somente ao intitular sua obra como Anjos do Sol, pois o título poético, entendido de forma pouco crítica por um leigo, colabora para a ideia anteriormente discutida. Anjos não sofrem não se machucam e não possuem seus direitos violados, ao contrário de nossos menores que todos os dias são queimados e marcados pelo tórrido sol do capitalismo, da exploração e do abuso sexual. BIBLIOGRAFIA ANJOS DO SOL. Diretor Rudi Lagemann. Produção de Juarez Precioso; Luiz Leitão; Rudi Lagemann. Brasil: Downtown Filmes, 2006. 1 DVD (92 min.), son., color. BOCK, A. M. B. A perspectiva histórica da subjetividade: uma exigência para la psicologia atual. Psicologia para América Latina, México, n. 1, fev. 2004. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1870-350X20040001 00002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 set. 2013. BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e dá outras providências. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 15 set. 2013. CHILDHOOD Brasil. Entenda a questão. Disponível em: <http://www.childhood.org .br/entenda-a-questao>. Acesso em: 15 set. 2013. DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Humanos – DUDH. Disponível em: <http:// www.dudh.org.br>. Acesso em: 15 set. 2013. FREUD, S. Três ensaios sobre as teorias da sexualidade (1905). Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 119-209. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. VII). KODAMA, K. M. R. O. A representação imagética da criança nos vários processos históricos sociais e sua identidade ameaçada pela cultura globalizada. In: CARDOSO, C. M. (Org.). Diversidade e igualdade na comunicação. Coletânea de textos do Fórum da Diversidade e Igualdade: cultura, educação e mídia. Bauru: FAAC/Unesp, SESC, SMC, 2007. Disponível em: <http://www4.faac.unesp. br/publicacoes/anais-comunicacao/textos/ 15.pdf>. Acesso em 15 set. 2013. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 20 r e v ist a l’ att itu d e Ensaio 21 Capitalismo e educação Flávio Roberto Chaddad6 Muito se discute hoje o papel que deve desempenhar o professor na educação de seus alunos. Fala-se muito na utilização de tecnologias, em professores criativos e inovadores, que chamem a atenção do aluno com seus malabarismos educativos e façam com que o processo de ensino e aprendizagem realmente aconteça. Isto, sem falar, é claro, nas dificuldades que são inerentes ao processo de ensino e aprendizagem – que são muitos e aqui, este trabalho tem outro objetivo, que é apontar onde se situam as raízes destas falas ou ideologias. Em primeiro lugar temos que nos ater no processo capitalista e na força que ele tem de criar necessidades a todo o momento. Neste sentido, o capitalismo para se perpetuar continuamente – sem passar por grandes crises – precisa vender, precisa que o consumo se realize a todo o momento. Para tanto, ele utiliza como meio, para que as pessoas consumam, a propaganda, o sistema midiático. Assim, através da internet, televisão, rádio, ele executa o que Marx veio a criticar em seus postulados: o fetiche da mercadoria, que nada mais é do que a humanização da mercadoria e a instrumentalização de quem a produz e de quem a consome, pois ambos são apenas peças para o jogo das grandes corporações econômicas. Isto tudo é feito com uma velocidade estonteante, tudo tem que ser vendido rapidamente para que a máquina do capital se mantenha, não passe por crises e o sistema desabe. No entanto esta criação do capital – as mercadorias – a todo o momento se tornam obsoletas, isto é o que quer o capital, sempre ultrapassadas por uma nova 6 Graduado em Engenharia Agronômica pela UNESP/Botucatu; Graduado em Ciências Biológicas pela UNIP/Bauru; Graduando em Filosofia pela UNIFRAN/Polo Bauru; Especialista em Formação de Educadores Ambientais pela UNESP/Botucatu; Especialista em Gestão da Educação Básica pela UNIARA/Araraquara; Especialista em Gestão Ambiental pela UNIARA/Araraquara; Mestre em Educação pela PUC-Campinas (Ensino Superior); e, Mestrando em Educação Escolar pela UNESP/Araraquara. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e tecnologia, que em sua essência significa apenas mais do mesmo. É aí que podemos falar da educação e sua relação com o capital. Não se pode negar que a propaganda maciça executa um hipnotismo sem igual nas cabeças das pessoas, a criação constante de necessidades não afeta apenas os adultos, mas também os adolescentes e as crianças, que sentem e escutam ao chamado do consumo. A educação destes jovens, porém, não está preparada e nem deve estar voltada para este mundo fragmentado, em que tudo se desfaz a todo instante. Pelo contrário, educação não é consumo e espetáculo, apesar de muitos governantes pensarem diferentemente. Educação é um processo, muito doloroso em que o conhecimento vai aos poucos se constituindo e adquirindo sentido. Não é rápido, não é fragmentado e não é espetáculo, como queiram muitos governantes e pessoas que trabalham na educação. Os alunos inebriados pelas benesses do capitalismo são bombardeados a todo instante pela mídia ou meios de comunicação, aos quais passam ligados quase o dia inteiro. Tudo se desfaz e se faz em um pequeno intervalo de tempo. Neste processo de criação e dissolução se encontra a educação. Uma educação, que traz em seu bojo um processo de constituição destes jovens que não consegue competir com a máquina da inovação, do consumo e do capitalismo. O discurso aí passa a ser que os jovens não têm interesse, não aprendem, são indisciplinados, etc. Para os detentores do poder, aqueles que ocupam seus postos de trabalho nas secretarias e diretorias de ensino e para os arautos da educação, os professores são os culpados por não acompanhar a grande mudança da sociedade, a grande mudança tecnológica que ocorreu entre as últimas gerações de estudantes. Os professores devem ser inovadores a todo o momento. Este é o discurso que mais se houve. Deve trabalhar mais com a tecnologia, com lousas digitais, computadores, notebooks, pois estão de acordo com a linguagem dos estudantes. Pelo contrário, isto não faz parte da linguagem dos estudantes, muitos ou a grande maioria nem mesmo sabem fazer uma pesquisa na internet sobre um determinado tema, porque não entendem o que está escrito ou não sabem interpretar o que se pede. Disto se conclui que nenhum professor ou outro ser humano conseguirá dar conta da educação com esta concorrência desleal. Enquanto o apelo pelo consumo, pela produção (criação cada vez maior de desejos) e sua dissolução, encontrar respaldo nas cabeças de nossos jovens e em suas casas (pais e mães), a educação será uma educação que não impedirá a barbárie que estamos vivendo e que nos acomete a passos largos. Será uma educação fragmentada e descontextualizada. Alguns professores conseguirão ainda ensinar alguma coisa. Alguns nichos de alunos que conseguem separar conhecimento de espetáculo conseguirão seguir uma carreira e se transformar em uma minoria criativa, mas serão poucos perto do caos que está se instalando no mundo. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 22 r e v ist a l’ att itu d e Artigo 23 Reflexões sobre a prática pedagógica no ensino virtual Marcos Matozinhos Munhós7 RESUMO O presente estudo busca analisar as práticas pedagógicas no ensino virtual, na perspectiva do fazer do professor em sala de aula. São apresentadas algumas reflexões que adornam ideias como: reutilização dos espaços e ambientes de aprendizagem virtual, utilização das redes sociais como ciberespaços, ensino-aprendizagem alicerçado numa sociedade da aprendizagem e o cotidiano docente espelhado de forma pragmática de se ensinar e, sobretudo, de se conceber os conteúdos acadêmicos, tudo isso vinculado às novas Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs. Palavras-chave: Aprendizagem Virtual; Prática Pedagógica; Ambientes; Sociedade da Aprendizagem. ABSTRACT This study assesses pedagogical practices in virtual education in the perspective of doing the teacher in the classroom. Are some reflections that adorn ideas such as: reuse of spaces and virtual learning environments, use of cyberspace as social networking, teaching and learning grounded in a learning society and daily life in a pragmatic 7 Professor do Instituto Superior de Educação de Ibituruna – ISEIB/Belo Horizonte; Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG; Especialista em Docência do Ensino Superior pelas Faculdades Integradas Jacarepaguá; e, Graduado em Pedagogia: Docência e Gestão Educacional pela Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais – FAE/UEMG. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e teaching mirrored in the way we teach and especially to conceive academic content, all linked to new Information and Communication Technologies - ICTs. Keywords: Virtual Learning; Teaching Practice; Environments; Learning Society. 24 Este artigo tem como objetivo refletir sobre a realidade das relações pedagógicas virtuais8, mais especificamente, apresentar um desdobramento sobre o pensar e o agir neste ensino. O educador Paulo Freire (1978, p. 97) já chamou a atenção para o problema da transmissão. Em suas palavras, “a educação autêntica, repitamos não se faz de ‘A’ para ‘B’ ou de ‘A’ sobre ‘B’, mas de ‘A’ com ‘B’, mediatizados pelo mundo”. Sobre isso, será que já se pensou ou se refletiu verdadeiramente se, tem-se avançado no campo prático sobre a dinâmica de utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no ensino virtual? Com efeito, tais recursos possibilitam a ampliação das capacidades humanas em processar, disponibilizar e assimilar novos conhecimentos? Parafraseando Paulo Freire, as relações pedagógicas virtuais de ensino, em especial do professor para com o aluno, encontra-se na condição de “A” para “B”, de “A” sobre “B” ou de “A” com “B”? Ao responder a essas perguntas, é importante pensar que no espaço tradicional da sala de aula, de uma forma ou de outra, o ambiente virtual de ensino toma forma. Pode-se citar como exemplo, o crescente e assustador número de uso de celulares nas salas de aula, isso significa que tal aparelho – antes com a função exclusiva de emitir e receber informação –, hoje é mais que um aparelho, é uma ferramenta de novas linguagens, códigos escritos, signos, recursos de pesquisas (textos, hipertextos, imagens, vídeos, sites, etc.) e interatividade simultânea ocorrida no ciberespaço, mediado, sobretudo pela conectividade nas redes virtuais. Morin (1997) acrescenta a isso a ideia de epistemologia da complexidade, ou seja, trata-se de uma lógica de pensamento embasado na crítica da velha mídia de massa e, ao mesmo tempo, possibilita uma alternativa para o tratamento teórico da mídia evolutiva gerada pela interatividade e a conectividade no ambiente virtual de atualmente. Portanto, sabendo que a informação se torna matéria-prima no contexto virtual de ensino, pode-se concluir que muita informação se produz, aumentaram-se as profissões cujo trabalho é informar, logo, na contemporaneidade, as pessoas dependem cada vez mais da informação e comunicação para trabalhar e viver. Porém, sobre a perspectiva da escola, percebe-se que os ambientes virtuais de ensino se tornaram, antes de tudo, redes interativas, afetivas, cognitivas e intelectuais no universo das aprendizagens. Não obstante, é fato verificar que a aprendizagem vir8 O termo virtual nessa discussão busca designar: sistema de colaboração em rede, ambientes virtuais de aprendizagem e relacionamento mediado por redes de computador. Nas palavras de Lévy (1999), trata-se de um produto da externalização de construções mentais em espaços de interação cibernéticos. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e tual se torna desde então uma prática que vai além da instrução, ou seja, torna-se também social com nuance científica, técnica, cultural, artística e educacional, baseado no fazer, no agir e no pensar contemporâneo. Esse pensar retrata uma sociedade que envolve formas complexas de processamento e circulação de informação, capacidade de gerar conhecimento através da interatividade, mobilizar-se nos ambientes virtuais e, por fim, aproximar-se de forma dinâmica, veloz e eficaz através da comunicação virtual, de pessoas e culturas. Sobre essa perspectiva, Lévy (1999) ressalta: [...] o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar, que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano (p. 11). Como bem lembra o autor em seu livro Cibercultura, a sociedade contemporânea vivencia um processo de arbitrariedade da informação, da comunicação e consequentemente, do conhecimento. Nesse processo, Lévy (1999) ressalta que a arbitrariedade sinaliza para uma sociedade em transformação e autocriação, onde a informação e o conhecimento se tornaram flexíveis e fluidos, e em processo de expansão e mudança. Portanto, diante desta realidade, a aprendizagem no ensino virtual, princi- palmente para a economia do conhecimento, segundo Hargreaves (2004), tornou-se bastante dinâmico, eficaz e com baixo recurso financeiro aplicável na forma de processá-lo, expandi-lo e viabilizá-lo. A partir desta análise, entende-se que as relações pedagógicas virtuais de ensino exigem dos profissionais da educação, especialmente os professores – devido à dinâmica das relações interpessoais –, ações pontuais que podem ser assim compreendidas: a) novos códigos de linguagens para uma proposta coerente de ensino tecnológico-virtual; b) projetos políticos pedagógicos arrojados e que atendam as discussões e o fazer com as TICs no ambiente educacional; c) gestão participativa e democrática que possibilite a autocriação de novas competências e habilidades para o trato com os conteúdos viabilizados através do ensino tecnológico-virtual; e, d) um pensamento filosófico político coerente com o que se pleiteia em termos de emancipação humana e midiática. Principalmente para o contexto transdisciplinar de ensino que se pretende. Tudo isso, intermediado por ciberespaços de aprendizagens e ciberculturas organizadas para os fins educacionais. Após compreendermos a importância de se perceber a prática pedagógica virtual de ensino como estratégia desafiadora para a ação e o fazer do professor, faz-se necessário pontuar ainda outros desafios sobre essa prática pedagógica que ainda se encontra em adaptação, isto é, o que diferencia uma prática pedagógica de ensino virtual de uma prática de ensino considerada tra- ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 25 r e v ist a l’ att itu d e dicional? Que possibilidades de conhecimento são fomentadas no ambiente de aprendizagem virtual? Que modelos ou formas de avaliação são consideradas importantes para verificar a qualidade da aprendizagem no ambiente virtual de ensino? E, por fim, que profissionais (professores/tutores) são requisitados para trabalhar com as TICs nos ambientes virtuais de ensino? Partindo destes questionamentos, duas linhas de discussões (imbricadas) se formalizam, são elas: 1) informação e comunicação em ambientes virtuais de ensino; e, 2) avaliação da aprendizagem no contexto virtual de ensino, este se desdobrando em: a) aprendizagem; e, b) avaliação da aprendizagem. 1 Informação e comunicação ambientes virtuais de ensino em Ao se falar de sistemas de informação e comunicação, especificamente onde elas se processam, que no caso seriam os ambientes virtuais de ensino, é oportuno destacar nesta conjectura propositiva, conforme mencionado em linhas anteriores, o que Lévy (1999) chamou de ciberespaço e cibercultura. No primeiro – ciberespaço –, ou como o autor prefere chamar de rede, tratase de um novo meio de comunicação que surge a partir da interconexão mundial de computadores, circunscritos através de um rol de recursos tecnológicos e midiáticos que não estão apenas imersos numa infraestrutura material de comunicação digital, mas também no universo de informações que ela abriga. Sobre isso, Lévy (1999) ressalta que as pessoas no ciberespaço navegam em busca de informação, comunicação e consequentemente conhecimento, e ao mesmo tempo se alimentam destas para uso pessoal ou coletivo, gerando, assim, como relembra Hargreaves (2004), dinamicidade, rapidez e eficácia no trato da informação como fonte de economia do conhecimento. Por outro lado, e de forma concomitante, a ideia de cibercultura busca especificar, nas palavras do autor, o conjunto de técnicas, tanto materiais como intelectuais, de práticas, atitudes e de modos de pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o ciberespaço. Nessa correlação existente entre: ciberespaço e cibercultura, informação e comunicação e relações entre sujeitos nos ambientes virtuais de ensino, afirma-se que as mudanças ocorridas no processo de ensinoaprendizagem com a utilização das TICs se materializam a partir da simbiose no uso das novas tecnologias virtuais de ensino como sendo de domínio social; e das práticas operadas por cada indivíduo através desse novo instrumento denominado redes. Tudo isso atrelado ao uso dos recursos e objetos técnicos e tecnológicos, concomitante com as novas linguagens de comunicação e interação, interligadas a partir de novas fronteiras entre o domínio e a habilidade cognitiva e intelectual, e o domínio nas relações coletivas e sociais proporcionado pelas redes. Assim, é importante ressaltar que neste intermédio os papéis das instituições de ensino em Educação à Distância (EAD) mudam, pois, a lógica ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 26 r e v ist a l’ att itu d e das discussões com o ensino virtual se volta para uma sociedade da aprendizagem, como bem lembra Hargreaves (2004), onde os sucessos do conhecimento e do saber nessa nova visão estão direcionados para uma cultura de inovação e autocriação contínua. Tal como se observa no processo de informação, e principalmente, na capacidade dos indivíduos de se manterem aprendendo acerca de si próprios, uns com os outros e de navegar pelos diversos ambientes virtuais de ensino através da interatividade e da conectividade, é importante saber que a expansão do conhecimento, como bem lembra Hargreaves (2004), não funciona somente a partir das TICs, possibilitados pelas máquinas e chips, mas sim, a partir da força do cérebro, do poder de pensar, aprender, fazer e fundamentalmente, inovar. Não obstante, o relatório da Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD, 2000) intitulado Gestão do conhecimento na sociedade da aprendizagem vincula a gestão do conhecimento aos desafios criados pela aceleração das transformações na educação, prevendo que: Estamos avançando para uma economia de aprendizagem em que o sucesso de indivíduos, empresas, regiões e países irão refletir mais do que qualquer outra coisa na sua capacidade de aprender. [...] A educação torna-se a principal qualidade do trabalho; e os novos produtores do capitalismo informacional são aqueles geradores de conhecimento e processadores de informações, cuja contribuição é mais valiosa para si mes- mo, para a empresa, para a região e para a economia nacional (p. 29). Ao falar de práticas pedagógicas neste contexto, é importante acrescentar a ideia de Homer-Dixon (2000 apud Hargreaves, 2004), que ressalta a ideia de lacuna de inventividade. Este termo, em resumo, afirma que as ideias devem ser aplicadas para resolver problemas práticos, técnicos e sociais, e que a inventividade, no contexto das práticas pedagógicas no ensino tecnológico-virtual, inclui não apenas ideias verdadeiramente novas, muitas vezes chamadas de inovações, mas também aquelas que, não sendo fundamentalmente novas são úteis e práticas; portanto, suprindo, qualquer espaço que por ventura surja no processo de inventividade. A partir desta reflexão, pode-se afirmar, mesmo que algumas instituições de ensino não estejam previamente preparadas ou adaptadas com as TICs, de uma forma ou de outra, elas podem promover situações práticas de inovação pedagógica virtual, utilizando-se da criatividade e da inventividade nas formas de entender e criar esses ambientes de aprendizagem. Ao reportarmos ao assunto proposto por Homer-Dixon (2000 apud Hargreaves, 2004), lacuna de inventividade, mesmo tendo aspecto positivo como apresentado anteriormente, em antítese, verifica-se também situações atípicas no universo da prática pedagógica, mais especificamente, no processo de ensino-aprendizagem. Isto é, como as informações dos conteúdos das disciplinas funcionam e viajam em ritmo acelerado nas redes, por outro lado, gera outro problema: o processo ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 27 r e v ist a l’ att itu d e de hibridação imediata dos conteúdos. Em outras palavras, o professor, inscrito nesse contexto de aprendizagem virtual deverá acompanhar em ritmo acelerado as transformações e as readaptações de seus conteúdos, convertendo-os de forma dinâmica em conhecimentos transdisciplinares. Isso se deve ao processo de resignificação e de valorização desses conteúdos a partir de sua reconstrução coletiva e socialmente aceita. Portanto, verifica-se que caso isso não seja alvo de reavaliação da prática do professor, o risco do fazer pedagógico poderá se diluir em uma prática de ensino tradicional com consequências: um conhecimento ultrapassado, informações desatualizadas, comunicação insipiente (inexistência sobre o viés da interatividade e conectividade) e com saberes descontextualizados da realidade do ensino virtual que se apresenta. 2 Avaliação da aprendizagem contexto virtual de ensino 2.1 no A aprendizagem Observada a prática pedagógica virtual de ensino, a ideia de aprendizagem neste contexto também se torna de fundamental importância. Ao enfatizar que a aprendizagem é um meio multiforme e com variáveis complexas de se avaliá-la, ela também possibilita interconexões que facilitam o processo de ensino-aprendizagem na relação entre sujeito e objeto. Isso pode ser verificado, por exemplo, no livro Computador na educação: guia para o ensino com as novas tecnologias, de Gasparetti (2001), onde o autor apresenta uma pequena narrativa que diz o seguinte: Valentina, oito anos, participou de uma excursão com um grupo de escoteiros. No dia seguinte, a professora lhe pediu para escrever uma redação sobre o passeio. Assim, Valentina foi para casa, decidida a fazer o texto. Meia hora depois de começar, concluiu a tarefa e chamou o pai para mostrar o que havia feito. E foi um trabalho muito especial. Para a sua redação, Valentina empregou um papel de desenho, que dividiu em partes. Na parte esquerda, escreveu a redação tradicional. Na direita, colocou algumas folhas secas e imagens da natureza recortadas de algumas revistas. Um pouco abaixo, colou com fita adesiva umas pedrinhas brancas e, no meio da página, desenhou uma televisão com a tela preta. Ao pai, curioso, a menina explicou que havia colado as folhas secas pra que se ouvissem os sons das folhas e as pedrinhas para mostrar a textura do chão. As imagens, segundo Valentina, “Akela, o chefe dos escoteiros, levou uma filmadora naquele dia e eu gostaria de colar aqui um filme, que como você faz no seu computador” (GASPARETTI, 2001, p. 32). Assim, ao tentar elucidar os meios pelos quais Valentina criou, elaborou e executou seus pensamentos, que por sinal, de forma criativa, pode-se pensar que a condição de uma representação mental, no qual ela se submeteu, mostrou que o sujeito constrói um esquema figurativo que ao contrário da teoria que se reconhece como modelo de abstração de inteligibilidade do real, assume, a partir dessa narrativa, ou melhor, dessa atividade prática, ser a própria realidade advinda de um processo de inteligibilidade abstrata. Então, ao pensarmos que a teoria se ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 28 r e v ist a l’ att itu d e diz distanciada da prática, seria melhor repensarmos isso, pois, a representação dada pela criança no contexto da narrativa assumiu uma tradução imediata do real, portanto, modificando-a. Assim, quando se diz que aprender significa estar atento, ler, escutar e configurar novos conhecimentos acredita-se que podemos através de processos mentais descrevêlas ao ponto de materializá-las. Isso significa que a aprendizagem se manifesta, por vezes, através de atividades instigantes e complexas modificando estruturas mentais antigas. Sobre isso, Meirieu (1998) ressalta: [...] que da mesma forma, quando dizemos que aprendemos por repetição ou por imitação, estamos apenas descrevendo comportamentos, nada estamos dizendo sobre as operações mentais que são efetuadas, sobre a maneira precisa como um elemento novo é integrado em uma estrutura antiga modificando-a (p. 51). Portanto, para que a aprendizagem seja verdadeiramente significativa devemos levar em conta alguns aspectos: a) dar importância para a motivação, pois, uma aprendizagem que não se inscreve dentro de um projeto real e da qual o sujeito não percebe os efeitos positivos, se desestabiliza; b) é preciso associar a aprendizagem a um conjunto experimental (vivências e convivências) complexo que permita transferir progressivamente os efeitos de um estímulo finalizado (que oferece um prazer ou uma satisfação) para um estímulo neutro, ideia essa concebida por Pavlov; e, c) reportando-se a Skinner, ainda que conhecido pelo seu gosto pe- las máquinas de ensinar, jamais considerou que a simples execução mecânica de tarefas podia permitir a aquisição de todos os saberes e competências. Afirma ele: “como um bom professor, a máquina só apresenta a matéria que o aluno está preparado para abordar [...]” (apud RATHS et al., 1977, p. 393), presumindo-se, portanto, que se faz necessária uma troca contínua entre o programa de ensino e o aluno, ou seja, sujeito e objeto se interfaciando e se reconhecendo mutuamente. Ao levantar essas hipóteses para o processo de aprendizagem ocorrida com Valentina, acredita-se que esta ideia esteja ligada a uma racionalidade progressiva com diferentes níveis de aprendizagem, cuja metáfora poderia ser: as bonecas russas. Haveria, portanto, em escala progressiva três fases concomitantes observadas nessa aprendizagem: a) a de identificação ao longo da qual o sujeito realiza as atividades perceptivas apoiadas em capacidades sensoriais; b) a centrada na significação na qual o sujeito integraria a novidade, como a alternativa midiática na atividade criada por Valentina, percebendo o seu interesse e o uso que dela pode fazer, ou o sentido que pode dar a ela; e c) a de utilização em que o sujeito (no caso, Valentina) reinvestiria, por diversas formas de aprimoramento técnico e tecnológico, o conhecimento e a informação, e os utilizariam como o fez, para fins pessoais, etc. A partir dessas perspectivas, pode-se entender a aprendizagem de Valentina da seguinte forma: a) ela identificou, localizou e reconheceu o local visitado; ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 29 r e v ist a l’ att itu d e b) deu sentido, percepção, nas formas, objetos e coisas observadas, evidentemente impulsionadas pelo prazer e satisfação de estar ali; e c) materializou esses sentimentos e aprendizados num papel através de diferentes técnicas e tecnologias. Expressando, assim, o envolvimento dos diversos conhecimentos abstraídos. Portanto, em relação ao processo de aprendizagem aqui observado, e oportunamente, associando esses processos as TICs interativas, verificase a elaboração de novas estruturas e recepções cognitivas e interativas elaboradas pela criança. Com efeito, tais elaborações permitem a ela participação, intervenção, bidirecionalidade e multiplicidade de conexões que geram novas formas de aprendizado, consequentemente, gerando, ainda, a ampliação do seu potencial de sensorialidade e ao mesmo tempo rompendo com a linearidade da condição tradicional de ensino. 2.2 A avaliação da aprendizagem Sobre o aspecto da avaliação dos conhecimentos gerados pela aprendizagem multidirecional aqui verificada, considera-se que isso só é possível a partir do momento que se imprime formas diferenciadas de comprová-la. Isso porque a aprendizagem, como alerta Castanheira (2004), tem como finalidade subsidiar o desenvolvimento do ser humano que se configuram por definições cognitivas e intelectuais, filosóficas, políticas, sociais e pedagógicas. Em outras palavras, isso quer dizer que, para atuar com a avaliação no acompanhamento da aprendizagem em um contexto de aprendizagem virtual, tem-se a necessidade de um projeto que delimite o que se deseja com nossa ação, e consequentemente, a oriente na sua consecução. Nos dias de hoje, por exemplo, a linguagem mais comum nos ambientes educacionais são as linguagens tecnológico-virtuais, subsidiadas pela interconectividade e mobilidade da comunicação e informação. Trata-se de uma linguagem de acesso mundial, e ao mesmo tempo, dinâmica e efêmera, cujo método de trabalho realizado pelos professores, através da linguagem tradicional, fora subitamente alterado, devido à revolução das TICs, bem como pelo impacto que tal estrutura gerou nos novos processos de avaliação do ensino-aprendizagem no universo virtual de ensino. Nesse sentido, qual será então o papel da avaliação da aprendizagem na perspectiva da prática pedagógica virtual de ensino? Para que se possa trabalhar na busca e na construção de algumas respostas satisfatórias, necessita-se de clareza quanto às finalidades e os resultados que se deseja em relação a esse tipo avaliação. Isso significa que, o professor, como gestor da sala de aula e que opera com a avaliação da aprendizagem é quem, previamente, precisa fazer a escolha e ter a posse das finalidades filosóficas, políticas e técnico-pedagógicas que darão rumo a sua ação. De forma geral, entende-se que não há prática de acompanhamento da aprendizagem do aluno mediante a avaliação que não esteja comprometida com determinada concepção pedagógi- ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 30 r e v ist a l’ att itu d e ca, a qual estabelece uma direção para o agir pedagógico. Sobre isso, Luckesi (2011) ressalta: [...] a prática do acompanhamento reflete, consciente ou inconscientemente, a compreensão que guia nossas ações, não há como fugir a essa estrutura, pois a prática pedagógica, da qual faz parte a avaliação, é dirigida por um projeto, isto é, desejos claros do que queremos com a ação que estamos realizando ou pretendemos realizar (p. 23). Portanto, ao analisar o processo de avaliação da aprendizagem, pode-se tomar como exemplo a história de Valentina. Nota-se que a imagem que esta criança criou em termos de atividade didático-pedagógica, apresenta-se como uma totalidade absoluta em relação aos seus esforços e empreendimentos sensório-motor e intelectual. Pode-se avaliar esse procedimento de ensino-aprendizagem (ou didático) como uma representação e mobilidade dialógica que o usuário, no caso Valentina, pode modelar, mudar, armazenar, visualizar, enfim, multiplicar ao infinito seus pontos de vista tanto internos como externos sobre o que aprendeu naquela atividade. Na mesma intensidade com que ocorreu esse aprendizado, entende-se a avaliação da aprendizagem no contexto virtual como um ingresso daquela criança em seu interior, utilizando capacidades cognitivas e intelectuais dentro de um universo virtual ou imaginário, resgatando, assim, suas intenções e percepções sobre a dinâmica na relação entre sujeito e objeto. Não obstante, a avaliação da aprendizagem, no contexto que se submeteu a atividade de Valentina, estaria materializada naquilo que Freire (1978) alertou para a transmissão; ou seja, está se avaliando numa relação “A” com “B”, e não de “A” para “B” ou “A” sobre “B”. Nesse olhar dinâmico que se apresenta a avaliação, verifica-se que o processo de ensino-aprendizagem, sendo inteligível e ativo, necessita ainda de mais um recurso para que se processe de modo eficiente, isto é, do passo a passo no processo de aprender. Luckesi (2011) afirma: Os passos seguem na direção da busca da autonomia por parte do educando. Afinal quem aprende é ele; necessita tomar posse de si e tornar-se autônomo, senhor de si. Para isso, a prática pedagógica e consequentemente a avaliação desta, deve servir-se de recursos que lhe garantam a possibilidade de trilhar essa experiência. Não basta termos desejo; importa servimo-nos de meios que nos conduzam à sua realização [...] compreensão e ação (p. 109-10). Partindo dessa assertiva, na era digital, a concepção de autoria do aluno se torna agora fluida e interconectada, a começar pela própria produção intelectual entendida como campo de possibilidades dialógicas no sentido de imersão, navegação, modificação e conversação. Em alusão a atividade didático-pedagógica de Valentina, por exemplo, antes de tudo, torna-se um aporte hipertextual, pois, carrega em si imagens, textos, objetos e recursos audiovisuais. Portanto, dispõe-se daí, da atividade produzida, a materialidade comunicacional e de avaliação que lhe impõe uma condição ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 31 r e v ist a l’ att itu d e de não ser mais estático, e sim instável, inseridos nos ambientes tecnológico-virtuais e ciberespaços de ensino. Sobre isso, Lévy (1999, p. 45) ressalta que uma obra, no universo digital, encontra-se em estado potencial e traz consigo “certos dispositivos que não se contentam em declinar uma combinatória, mas suscitam, no decorrer das interações, a emergência de formas absolutamente imprevisíveis”. Ou seja, o autor, no caso, o aluno, supõe necessariamente a coautoria e concebe em sua obra – na atividade pedagógica – disposições que permitam a ele e quem mais o conheça, modificá-la, aumentá-la e até mesmo reconstruí-la. Nesse sentido, como alerta Passarelli (1993), o professor propõe o conhecimento, não o transmite, não o oferece a distância para recepção audiovisual, na verdade, ele propõe o conhecimento mediado pelo mundo, como já havia alertado Freire (1978). Isso significa que o professor irá modelar o domínio do conhecimento como espaços conceituais, onde os alunos poderão construir suas ideias, seus próprios mapas conceituais e conduzir suas explorações considerando os conteúdos como ponto de partida e não como ponto de chagada no processo de avaliação do conhecimento. Ao partir desta premissa, cria-se uma disposição arquitetônica da avaliação levando em consideração os domínios dos conteúdos estruturados sobre esse novo olhar avaliativo, como caminhos e espaços a percorrer, disponibilizados pela conectividade vir- tual, como dados modificáveis que exigem a participação do aluno na construção do conhecimento. Ao levar em conta essa perspectiva, a aprendizagem não será apenas valorizada pelo professor como a construção do conhecimento por parte do aluno, mas também será alvo de avaliação numa proposição de conhecimentos construídos de forma significativa, dentro da coletividade (como coautor) e interligados (aluno e professor) por redes de informações infinitas. Deste modo, o professor, levará em consideração no processo de avaliação, a disponibilidade de estados potenciais do conhecimento, de modo que o aluno só conhecerá se atuar e dialogar no sentido de imersão, navegação, exploração, modificação e conversação no ambiente de ensino virtual. Sobre a forma tradicional de se avaliar, o aluno não será mais reduzido ao simples fato de olhar, ouvir, copiar e prestar atenção. Ele, nessa nova prática pedagógica de ensino, modificará, construirá, ampliará e, assim, tornar-se-á coautor dos conhecimentos fixados, já que o professor, sobre esse olhar, configurará ou mobilizará o conhecimento em estados potenciais de ensino como dito anteriormente. Ao transformar essa reflexão em prática, observa-se, como exemplo, o conteúdo da aprendizagem de uma classe que estudará o tema Meio Ambiente. Em vez de transmitir ou fornecer o conhecimento sobre o tema, o professor disponibilizará, como foi o caso da história de Valentina, uma sala de aula ambientada com diversidade de dados e informações, isto é, fatos, his- ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 32 r e v ist a l’ att itu d e tórias, fotos, imagens, filmes, música, revistas, jornais, livros, CD-ROM, Internet, TV/Vídeo, depoimentos, explicações, encenação e todo aparato técnico e tecnológico, de tal modo que se defina caminhos de entendimentos (interpretações e significações) que possibilite ao aluno gerar potenciais cognitivos, intelectuais e afetivos sobre o aprendizado formal da disciplina. Caso isso seja recorrente na forma de se ensinar pelo professor, a avaliação deixará de ser exclusivamente técnica para se transformar em avaliação contextualizada, ou seja, abarcada de um conjunto de conhecimentos de mundo e de práxis que levará o aluno a uma interpretação mais clara e objetiva do conteúdo. A avaliação nesse contexto passa a ser então a ferramenta principal do professor para estabelecer uma aprendizagem significativa. Para que a avaliação da aprendizagem possa cumprir verdadeiramente o seu papel como componente do ato pedagógico, ela atuará a serviço de uma concepção desenvolvimentista do ser humano, apoiada, sobretudo, por um aparato tecnológico-virtual pronto para a interconectividade e para uma sociedade da informação e da aprendizagem como nos alerta Hargreaves (2004). Considerações finais Nesse sentido, questionar a realidade é algo que faz parte do processo educativo em qualquer situação, seja ela no ambiente virtual de ensino ou na prática pedagógica em sala de aula com o uso das novas tecnologias. Contudo, a preocupação que se apresenta é com a forma de engendrar e socializar o sujeito na sociedade da aprendizagem. Como prepará-lo para ocupar o velho e o novo espaço nas salas de aula? Como aprontá-lo para utilizar os conteúdos e consequentemente o conhecimento? Enfim, como dominar as ferramentas da comunicação e da informação? Certamente esses fatores conduzirão a confrontação coletiva sobre o faça você mesmo, num ambiente de comunicação e conhecimento baseado na liberdade, na pluralidade e na cooperação. Verifica-se a partir disso que o professor agora imerso nesse contexto tecnológico-virtual de ensino, não apenas transmitirá o conteúdo, mas, irá propor o conhecimento como o artista propõe sua obra potencial ao público. Em outras palavras, isso significa que este profissional (professor) modelará os domínios do conhecimento como espaços conceituais, onde os alunos poderão construir seus próprios mapas e conduzir suas explorações, considerando, os conteúdos, como ponto de chegada e não mais como ponto de partida na construção do conhecimento. É importante lembrar ainda que essa construção do conhecimento, observada como prática pedagógica diferenciada será mediada pelo professor junto ao aluno em constante sintonia com a construção coletiva de saberes e de estados potenciais de conhecimento. Assim, o pensamento coletivo que se materializa com essa nova visão de prática pedagógica e de processos de ensino-aprendizagem no ambiente virtual de ensino, se descortinará numa visão didática composta de basicamen- ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 33 r e v ist a l’ att itu d e te dois horizontes entrelaçados: um que é a competência de construir a competência, e outro, pelo desafio emancipatório de construir conhecimento a partir das relações entre as pessoas, e consequentemente, no mundo virtual. BIBLIOGRAFIA ANTUNES, C. Se eu fosse você: o que esperar de um mundo mais veloz que a luz. Pinhais: Melo, 2011. CASTANHEIRA, M. L. Aprendizagem contextualizada: discurso e inclusão na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. DOMINGUES, I. 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Gestão do conhecimento na sociedade da aprendizagem. Paris: [s. n.], 2000. PASSARELLI, B. Hipermídia na aprendizagem - construção de um protótipo interativo: a escravidão no Brasil. São Paulo: Escola de Comunicações e Artes; Universidade de São Paulo, 1993. (Tese de Doutorado). ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 34 r e v ist a l’ att itu d e RATHS, L.; JONAS, A.; ROTHSTEIN, A. M.; WASSERMANN, S. Ensinar a pensar. 2. ed. São Paulo: EPU, 1977. SILVA, M. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000. 35 ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e Ensaio 36 A experiência de um professor com as dificuldades da escola pública brasileira Flávio Roberto Chaddad9 A escola pública brasileira está há muito tempo em crise, não há dúvidas. Hoje muitos educandos passam de um ano para o outro sem saber ler, interpretar um texto e fazer cálculos simples de matemática. Isto é o reflexo da política governamental implantada em quase todas as escolas do Brasil, via uma má interpretação da progressão continuada. O que ocorre de fato é a aprovação automática, sem mérito. Neste contexto, os alunos percebem que não mais precisam estudar porque são aprovados. Fazem o que querem no espaço escolar: brigas, badernas, conversas, ou seja, tudo menos prestar atenção na aula. Outro problema que o professor encontra é a inclusão. Falar de inclusão é bonito, quando ela não se refere aos filhos de quem está no poder. O que se percebe neste processo de inclusão é que estes alunos estão sendo incluídos sem nenhum aprendizado – os professores não conseguem e não possuem conhecimento de como trabalhar com estes alunos com deficiência, que não são poucos e as deficiências são diversificadas. Mas, porque ocorre isto? Isto faz parte da política educacional imposta pelos governantes em virtude da falta de dinheiro. Ou seja, os alunos fingem que aprendem (a maioria não quer aprender realmente) e os professores tentam, mas são poucos que conseguem ensinar algo a alguém. Com estas problemáticas surgem várias propostas metodológicas pós-modernas, onde 9 Graduado em Engenharia Agronômica pela UNESP/Botucatu; Graduado em Ciências Biológicas pela UNIP/Bauru; Graduando em Filosofia pela UNIFRAN/Polo Bauru; Especialista em Formação de Educadores Ambientais pela UNESP/Botucatu; Especialista em Gestão da Educação Básica pela UNIARA/Araraquara; Especialista em Gestão Ambiental pela UNIARA/Araraquara; Mestre em Educação pela PUC-Campinas (Ensino Superior); e, Mestrando em Educação Escolar pela UNESP/Araraquara. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e se tentam aplicar as questões epistemológicas da física, química e biologia ao sócius, como se isto fosse possível. De acordo com estas propostas tudo é correto, mesmo não saber nada, pois o terceiro excluído de Aristóteles agora – com esta chuva de teorias – passa a fazer sentido. A, neste caso, é igual a B. Ou seja, tudo é válido e o professor tem que aceitar com a mordaça a este caos no sistema. São poucos os professores que entendem esta situação e tentam lutar contra este estado de coisas. Por outro lado, as Universidades que deveriam dizer algo também estão caladas, parecendo não entender esta situação. E como formam seus alunos? Será que estes alunos estão preparados – conforme o projeto pedagógico de uma dada faculdade – para trabalhar com este caos? Não estão preparados. Esta é a questão central. A universidade apenas reproduz as práticas dominantes, que não oferecem um caminho para que os professores possam trabalhar com todos os seus alunos. São poucas as fórmulas que temos a disposição dos professores, mas o que realmente ainda funciona – se queremos realizar uma educação com qualidade – é o que se pode denominar como realismo conservador. Mas, para que ele funcione, em todas as suas dimensões, é necessária a participação efetiva da administração escolar. E ainda existem administrações sérias que entendem o posicionamento dos professores e estão ao seu lado. Assim, há um maior controle dos alunos e consequentemente alguns conseguem aprender, a maioria – prejudicadas pelo processo de ensino e aprendizagem que foi lhes dado e muitos com grandes deficiências e falta de maturidade – não conseguem acompanhar, mas se calam ou dormem na carteira. Esta é a síntese da escola pública brasileira. Aos trancos e barrancos os professores tentam ensinar a minoria em sala de aula, enquanto os grandes problemas da escola pública não são desvelados, permanecem encobertos pela ideologia do sistema. Como professor, acredito que esta receita pós-moderna nunca dará resultados. Pelo contrário. Irá formar cada vez mais analfabetos e analfabetos funcionais, como quer o sistema. Em minha experiência, a formação dos professores além de ser continuada deve se basear em aspectos filosóficos, políticos e econômicos, para que o professor possa ter condições de estudar e se rebelar contra este estado de coisas, mas é um cenário complexo e de difícil solução em curto prazo. No meu ponto de vista, um projeto pedagógico revolucionário de uma determinada Universidade, atualmente, deve contar com todos estes fatores, mostrar aos professores a realidade da educação brasileira e prepará-los para o combate. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 37 r e v ist a l’ att itu d e Artigo 38 Gestão democrática na escola pública: desafios e resistências Amanda de Almeida Soares Barbosa10 RESUMO A gestão democrática da escola pública tem sido um tema bastante debatido, porém pouco se tem avançado em direção a real efetivação de suas possibilidades. A verdadeira democracia e autonomia do cidadão perpassam pelo interior da escola que para cumprir seu papel de trabalhar para a constituição da identidade e cidadania de seus alunos precisa repensar suas relações interpessoais e sua forma de gerir o poder de decisão, para que se possa instituir uma cultura democrática. Por meio de uma pesquisa bibliográfica, revisitamos este tema no intuito de trazer à análise suas proposições, que contrastadas com as resistências à sua implementação, mostram-nos possibilidades e experiências de sucesso. Palavras-chave: Gestão Democrática; Escola Pública; Gestor Escolar. ABSTRACT The democratic management of public schools has been a subject widely discussed, but little progress has been made towards the actual realization of its possibilities. True democracy and autonomy of the citizen permeate from inside the school to fulfill its role of working to make up the identity and citizenship of its students need to rethink their interpersonal relationships and their way of managing the power of decision, so that you can establish a democratic culture. Through a literature search, we revisit this 10 Licenciada em Pedagogia pela Faculdade Pitágoras - Campus Guarapari/ES; Formada no Curso Superior Sequencial na Área de Deficiência Visual pelo Instituto Benjamin Constant - IBC/RJ; Professora Municipal de Guarapari/ES; e, Assessora Pedagógica da APAE de Guarapari/ES. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e issue in order to bring their proposals to the analysis, which contrasted with the resistance to its implementation, show us the possibilities and experiences of success. Keywords: Democratic Management; Public School; School Manager. 39 1 Introdução O ensino público brasileiro tem passado, ao longo de décadas por transformações em todos os seus níveis, de atuação e gestão, rumo a metas de ampliação da oferta de ensino gratuito e de qualidade. Um dos meios encontrados por Governo e estudiosos, interessados no tema, para este avanço é a gestão democrática das escolas estatais. Ao se pensar em gestão democrática, faz-se necessário definir os conceitos de democracia, autonomia e participação, pois certamente são embasamentos desta forma de governo. O conceito de democracia trazido pela Grécia antiga, diz respeito ao governo partilhado entre todos os cidadãos de direito, ou seja, os compatriotas. Porém desde a sua concepção este conceito vem sendo remodelado, a exemplo da ideia aristotélica de que “a melhor maneira de organizar a vida coletiva seria misturando democracia, enquanto governo da maioria, e aristocracia, enquanto governo dos melhores, dos mais bem preparados para gerir os negócios da coletividade” (ARAÚJO, 2002, p. 29), o que parece influenciar a compreensão deste conceito até a atualidade. Como referência para definir este conceito, utilizaremos o Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira: “1. governo do povo; soberania popular. 2. Doutrina ou regime política baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição equitativa do poder, ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão dos poderes e pelo controle da autoridade” (FERREIRA, 1983, p. 136). A democracia tem sido o sistema de governo brasileiro, ainda não vivenciado por completo se considerarmos a definição de Paro (2002, p. 25): “A democracia enquanto valor universal e prática de colaboração recíproca entre grupos e pessoas, é um processo globalizante que, tendencialmente, deve envolver cada indivíduo, na plenitude de sua personalidade”, e ainda os princípios que a fundamentam: igualdade, justiça, equidade e participação coletiva na vida pública e política, de acordo com os valores da Declaração Universal de Direitos Humanos. Porém as iniciativas de busca por uma sociedade mais justa e democrática tem florescido, entre elas, a democratização do ensino público. Outro conceito a ser considerado é o de autonomia, que pode ser definido como “faculdade de se governar por si mesmo, direito ou faculdade de se reger por leis próprias, emancipação, independência [...]” (FERREIRA, 1983, p. 57). A autonomia é pressuposto da ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e democracia, pois somente um indivíduo autônomo pode usufruir plenamente de seus direitos e participar ativamente da sociedade, considerando-se como autônomo a pessoa ou instituição que é capaz de estabelecer suas próprias normas de conduta, sendo o conceito apresentado por Silva (2005). A conquista da autonomia, por parte do indivíduo ou de uma instituição, traz consigo a liberdade de expressar suas opiniões, planejar e decidir sobre os rumos de sua existência. Ao se considerar o espaço da escola pública estatal, compreende-se que esta será autônoma “quando for capaz de fixar as regras de seu próprio existir e agir, levando em conta seus limites e potencialidades” (SILVA, 2005, p. 14). Como citado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, a participação coletiva também compõe e fundamenta a democracia. Uma de suas facetas é exatamente a participação em âmbito social. A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados [...] (LÜCK,1996 apud LÜCK et al., 2001, p. 17). A participação de cada cidadão em sua comunidade, não apenas em atividades cotidianas ou de lazer, mas em decisões políticas e de cunho estrutural, perante os gestores municipais e estaduais, sejam por representatividade, por meio de reivindicações a seus candidatos eleitos, seja pela participação direta em Conselhos e Associações Comunitárias, é parte decisiva na democracia, pois sem tal atuação não há possibilidades de existir um Governo para a maioria. Ainda outra consideração importante para a compreensão do tema proposto neste artigo, é a definição do termo Escola Pública, que no Brasil nomeia a escola estatal. No entendimento do Governo e povo brasileiro, “o ser escola pública ou privada tem a ver com o agente mantenedor” o que segundo o autor, “pode influenciar sua caracterização em termos de política adotada, significando isso a escolha de objetivos, de clientela, de métodos, de filosofia, etc.” (SILVA, 2005, p. 47). Porém o termo Escola Pública se refere a uma Instituição voltada para seu público, regida pela comunidade que a usufrui, mesmo que não seja mantida por esta. Paro (2002, p. 17) considera que “a escola estatal só será verdadeiramente pública no momento em que a população escolarizável tiver acesso geral e indiferenciado a uma boa educação [...]”. Por estar ainda em busca desta realidade, e por ser regida a escola pública brasileira, em sua maioria, por seus governantes, direta ou indiretamente, utilizaremos o termo escola pública estatal. 2 A escola e a democracia formação do cidadão na A Escola, instituição criada para substituir espaços domésticos e comunitários de ensino, está sempre se reinventando pela necessidade de atender as demandas da sociedade a que pertence. Na visão de Araújo ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 40 r e v ist a l’ att itu d e (2002), o papel das escolas, na sociedade atual, é o de preparar os estudantes para a convivência democrática da sociedade adulta, pelo respeito aos princípios e valores da democracia e promovendo a participação ativa em suas dinâmicas. Para tanto, a escola precisa instaurar um ambiente cooperativo, o que abre espaço para uma convivência democrática. Todo espaço social precisa de regras e normas que organize suas ações e as relações interpessoais entre seus membros, para que se alcance o benefício de todos. Esta organização denominada de ordem democrática por Dallari (1998 apud ARAÚJO, 2002), surge da necessidade humana de conviver, mas ele considera que: Não basta, porém, a simples existência de regras, as quais teoricamente, poderiam ser fixadas por uma pessoa ou um grupo social e impostas à obediência de todos. É necessário que tais regras sejam justas, levando em conta as características e os direitos fundamentais de todos os seres humanos (DALLARI, 1998 apud ARAÚJO, 2002, p. 31). De modo geral as escolas públicas estatais, no Brasil, ainda trazem consigo uma cultura de autoritarismo e rígidas hierarquias, herança de séculos de ensino tradicional e unilateral, situação que não favorece a construção de uma convivência democrática. No espaço escolar, em que as relações interpessoais são baseadas no medo e ameaças, onde não há espaço para a escuta e participação de suas comunidades interna e externa, tampouco haverá um ambiente demo- crático. Para que se ensine os jovens membros da sociedade os valores da democracia, há que se vivenciá-los. Segundo Araújo (2002, p. 35), “ao mesmo tempo que a igualdade de direitos e deveres deve ser objetivada nas instituições sociais, não se devem perder de vista o direito e o respeito à diversidade, ao pensamento divergente”, e valores como respeito mútuo, cooperação e reciprocidade devem ser cultivados, para que sejam aprendidos. Encontra-se no documento de referência da Conferência Nacional de Educação (CONAE, 2010), uma declaração que traduz uma necessidade atual da sociedade, com relação às escolas: [...] a formação, na sua integralidade, dentre outras intenções, deve: contribuir para o desenvolvimento humano, primando por relações pautadas por uma postura ética; ampliar o universo sociocultural dos sujeitos da educação; fortalecer relações de não violência e o reconhecimento das diferenças com aquilo que nos torna iguais [...] (CONAE, 2010, p. 41). Sendo assim, para que a escola possa cumprir tais exigências, não se pode deixar de pensar em uma reforma escolar, que inicie por sua gestão, transcenda as salas de aula, por meio dos professores, e demonstre aos alunos que a luta pela cidadania se inicia na escola. Tal desafio precisa ser assumido por todos os membros da escola, sendo considerado por Gadotti e Romão (2004) como o maior desafio aos educadores não transgredir no campo dos valores e no âmbito da leitura crítica da realidade. A luta pela cidadania é o processo pelo qual se ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 41 r e v ist a l’ att itu d e conquista a emancipação, podendo a escola contribuir para que ocorra por meio de um processo de superação do autoritarismo e do individualismo, o que por consequência poderá contribuir com a diminuição das desigualdades socioeconômicas. 3 A gestão democrática nos documentos oficiais A Constituição Federal de 1988 estabeleceu princípios para a educação brasileira, dentre eles: obrigatoriedade, gratuidade, liberdade, igualdade e gestão democrática. Sendo este documento considerado como principal fundamento para a gestão democrática do ensino público, além de prevê-la expressamente no artigo 206, institui a democracia participativa e possibilita o exercício direto do poder (artigo 1º), e o regime de colaboração entre os Governos Federal, Estadual e Municipal (BRASIL, 2013a). A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) confirmando esse princípio, no caso da educação básica, repassou aos sistemas de ensino a definição das normas da gestão democrática, de acordo com o inciso VIII do artigo 3º, e definindo em seu artigo 15 os princípios desta gestão: Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em Conselhos de escola ou equivalentes (BRASIL, 2013b). Ainda, no texto do Plano Nacional de Educação (PNE) está previsto que se concretize, por meio de políticas públicas educacionais, a gestão democrática e participativa, especialmente quanto à organização e fortalecimento de colegiados em todos os níveis da gestão educacional (BRASIL, 2013c). A preocupação em se regulamentar e prever tal tipo de gestão está presente em todos os documentos oficiais que se ocupam em tratar da educação no Brasil, o que possibilita a democratização do ensino de se tornar realidade. 4 A gestão escolar democrática A gestão democrática, em se tratando de empresas pode ser denominada como gestão participativa, geralmente é entendida como uma forma de gerenciamento que envolve a participação de todos os interessados em processos decisórios. Este tipo de gestão, em escolas, “envolve além dos professores, os pais, os alunos e qualquer outro representante da comunidade que esteja interessado na escola e na melhoria do processo pedagógico” (LÜCK et al., 2001, p. 15). Neste modelo de gestão, a comunidade escolar e seus usuários atuam como seus dirigentes e gestores, não apenas fiscalizadores ou público alvo dos serviços educacionais. Há pelo menos duas razões que justificam a implantação de um processo de gestão democrática na escola de ensino público: a) a escola deve formar para a cidadania; e, b) a gestão democrática pode melhorar o seu ensino (GADOTTI; ROMÃO, 2004). ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 42 r e v ist a l’ att itu d e Por abrir um espaço para o aprendizado da participação coletiva, pautada pelo dissenso, pela convivência e pelo respeito às diferenças, em prol do estabelecimento de momentos de discussão e deliberação coletivos, este estilo de gestão fomenta a formação cidadã pela vivencia democrática oportunizada aos seus usuários e funcionários. Nas orientações contidas na cartilha, que trata sobre a Gestão da educação pública, do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, o Governo brasileiro demonstra a compreensão que além de se tratar de uma maneira de organizar o funcionamento dos aspectos políticos, administrativos e financeiros, a gestão democrática da escola pública estatal precisa se preocupar com aspectos tecnológicos, culturais, artísticos e pedagógicos, com a finalidade de dar transparência às suas ações e possibilitar à comunidade escolar e local a aquisição de conhecimentos, saberes, ideias e sonhos, num processo de aprender, inventar, criar, dialogar, construir, transformar e ensinar (BRASIL, 2004). Nesse sentido, a gestão democrática da educação requer mais do que simples mudanças nas estruturas organizacionais, sendo necessário, portanto, mudança de paradigmas que fundamentem a construção de uma proposta educacional verdadeiramente democrática, voltada para a cidadania. 4.1 Pressupostos O principal fundamento para se instituir um processo de gestão democrática é a autonomia escolar para estabelecer o seu projeto, executá-lo e avaliá-lo, buscando a constituição de um espaço público de direito, que deve promover condições de igualdade. Veiga (1998 apud OLIVEIRA; DOURADO; MORAES, 2013, p. 9) destaca quatro dimensões da autonomia escolar, consideradas básicas para o bom funcionamento de uma instituição educativa, que devem ser relacionadas e articuladas entre si: autonomia administrativa, que consiste na possibilidade de elaborar e gerir seus planos, programas e projetos; autonomia jurídica, que diz respeito à possibilidade de a escola elaborar suas normas e orientações escolares em consonância com as legislações educacionais; autonomia financeira, que se refere à disponibilidade de recursos financeiros capazes de dar à instituição educativa condições de funcionamento efetivo; e, autonomia pedagógica, que consiste na liberdade de propor modalidades de ensino e pesquisa. A construção do processo de gestão democrática passa pela efetiva participação de todos os membros da comunidade escolar, interna e externa na definição das regras que regularão os espaços de convivência coletiva e na elaboração de projetos pedagógicos e administrativos, podendo-se destacar algumas características específicas, deste processo: compartilhamento de autoridade, delegação de poder, responsabilidades assumidas em conjunto, valorização e mobilização da sinergia de equipe, canalização de talentos e iniciativas em todos os segmentos da organização e o compartilhamento constante e aberto de informações (LÜCK et al., 2001). ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 43 r e v ist a l’ att itu d e Além disto, para que haja sucesso na instituição de processos democráticos no interior das escolas de ensino público, segundo Gadotti e Romão (2004) se faz necessário: 1) capacitar todos os segmentos (comunidade interna e externa da escola); 2) consultar a comunidade escolar (participação da população, por seminários, debates, etc., na definição das políticas educacionais e na vivência delas); 3) institucionalizar a gestão democrática (pois, pela participação da comunidade, o governo pode tentar, por meio de projetos de lei, atender as reais necessidades da população); 4) demonstrar lisura nos processos de definição da gestão (escolha dos dirigentes com transparência e ética); e, 5) agilização das informações e transparência nas negociações (entre o Estado e a população por meio das decisões deliberadas na escola). Por se tratar de uma Instituição pública, ainda alguns princípios administrativos devem ser observados como o da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência dos serviços prestados. 4.2 A escolha do gestor escolar A escolha e designação de dirigentes escolares, predominante no sistema escolar brasileiro, tem sido a de designação para cargos de confiança de responsabilidade do governo (municipal/estadual), sendo que o processo de escolha democrática de diretores teve início na década de 1960, em colégios estaduais no Rio Grande do Sul. Desde a década de 1980, tem havido grande preocupação em relação aos processos de escolha de diretores, que por muitas vezes se torna um veículo para a manipulação política de governantes. Apesar de predominar a nomeação de diretores por parte do governante, no sistema escolar brasileiro também são utilizados outros três tipos de escolhas: Concurso, realizado através de provas (e títulos), com critérios considerados técnicos e objetivos, o diretor escolhe a escola; Eleição, baseada na manifestação da vontade da comunidade escolar, pode ser por diversas formas: voto direto, representativo e por escolhas por meio de listas tríplices ou plurinominais, com mandato por tempo limitado; Esquema misto, que prevê na maioria das vezes duas ou mais fases no processo, com a participação da comunidade em uma ou mais fases. As eleições escolares, tanto para os cargos de dirigentes como para compor os colegiados, são canais de participação e de aprendizado político da gestão democrática, compreendida como construção de cidadania, de luta política, que não se circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra a transformação das relações sociais autoritárias da sociedade (OLIVEIRA; DOURADO; MORAES, 2013, p. 7). Portanto, dentre as formas de escolha dos gestores escolares praticadas, a que mais favorece o processo de gestão democrática é a eleição por se tratar de uma vivência democrática, exatamente por refletir, no resultado, a escolha da maioria. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 44 r e v ist a l’ att itu d e 4.3 O gestor escolar democrática na escola O atual sistema de gestão escolar praticado no Brasil delega ao diretor o papel de autoridade máxima dentro da escola e único responsável por esta, perante a sociedade, o sistema de educação e o governo. Tal prática inviabiliza a democracia e torna o trabalho deste profissional extremamente administrativo, não havendo tempo para se dedicar às questões pedagógicas. A eleição do gestor, na gestão democrática, exige deste o equilíbrio entre competência técnico-acadêmica e a sensibilidade política. Assumindo assim uma função primordialmente social e pedagógica, sendo necessário atuar como um articulador dos diferentes segmentos escolares em torno do projeto político-pedagógico, cumprindo sua responsabilidade social diante da escola (GADOTTI; ROMÃO, 2004). Outra função do gestor é a de “colaborador, com compromisso e responsabilidade diante do governo, mas não atrelado ao seu poder” (PARO, 2002, p. 112), visto como fundamental para que se institucionalize um processo de gestão democrática legítimo. Além destas atribuições, o diretor continua a exercer o papel de autoridade, pois mesmo que compartilhando o poder de decisão com todos os segmentos da comunidade escolar, ele não perde sua função de líder. O que precisa ocorrer, no entanto, é a mudança de postura e a compreensão da forma de autoridade que constitui sua prática. Araújo (2002) distingue entre duas formas de exercício da autoridade, a autoritária e a por competência. A primeira forma de se atuar como autoridade, está ligada à utilização da violência e da força para impor suas decisões e vontade, a segunda está vinculada a admiração obtida nas relações interpessoais, no prestígio recebido e na competência demonstrada. Certamente a autoridade imposta não pode estabelecer um processo democrático e colaborativo. A busca pela legitimação de uma liderança, por meio da autoridade pautada pela competência demonstrada, compromete o gestor com a equipe de trabalho, que pelo respeito mútuo construído entre os profissionais pode garantir a harmonia das relações interpessoais na escola, permitindo a democratização do processo de ensino. 5 Os desafios da implantação de uma gestão democrática Quando se inicia um processo de gestão democrática em uma unidade de ensino, os desafios a se enfrentar são variados e provém de fontes diferentes. Os obstáculos encontrados são citados de forma generalizada por Gadotti e Romão (2004): a pouca experiência democrática do brasileiro; o ideário de que apenas os técnicos têm capacidade para planejar e governar, considerando o povo como incapaz de participar de um planejamento coletivo, ou mesmo exercer o governo; a estrutura do sistema educacional; o autoritarismo impregnado na prática pedagógica; e, o tipo de liderança que tradicionalmente exercem os diretores. A construção da gestão democrática ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 45 r e v ist a l’ att itu d e sugere a garantia da autonomia da escola de ensino público, sendo que “a unidade escolar será autônoma quando tiver este poder de criar e∕ou escolher livremente suas normas de conduta” (SILVA, 2005, p. 59), e para que isto ocorra, “as escolas tem que adquirir uma grande mobilidade e flexibilidade, incompatível com a inércia burocrática e administrativa que as tem caracterizado” (NÓVOA, 1992 apud SILVA, 2005, p. 40). Alguns entraves para que se conquiste a autonomia pedagógica e financeira da escola estão relacionados à dificuldade em se construir e implementar um Projeto Político-Pedagógico compatível com as possibilidades e necessidades da escola. Alguns destes entraves são identificados por Oliveira, Dourado e Moraes (2013): centralização das decisões; dificuldades no estabelecimento de princípios de organização colegiada da gestão e do trabalho pedagógico; Projeto Político-Pedagógico restrito ao atendimento das determinações das secretarias de educação, não acarretando mudanças significativas na cultura autoritária escolar; e, escolha para os cargos de dirigentes dissociados da comunidade local e escolar. Ainda outros obstáculos se relacionam com a pouca, ou inexistente, participação da comunidade nos processos decisórios e no cotidiano escolar. Além da pouca experiência democrática do povo brasileiro, identifica-se: “a ausência de programas sérios, consistentes e permanentes, que possibilitem a capacitação dos segmentos escolares” (GADOTTI; ROMÃO, 2004, p. 91); o “pouco estímulo que a escola oferece à participação e do escasso conhecimento que os integrantes da escola possuem sobre os reais interesses da comunidade” (PARO, 2002, p. 26); e, ainda, fatores estruturais ligados as condições de trabalho e de vida da população, são identificados como fatores que dificultam ou inibem a participação efetiva da comunidade. Um último desafio a se considerar está na resistência dos profissionais, no interior da escola e os entraves relacionados à estrutura escolar atual. 5.1 As resistências no interior da escola A construção da gestão democrática se dá em um processo dinâmico, com muitos atores, toda esta dinâmica precisa promover crescimento pessoal e institucional pela transformação de uma cultura autoritária, em uma cultura democrática, uma cultura, porém, não se transforma apenas pelo desejo de uma comunidade. O autoritarismo vivido e reproduzido no interior da escola traz como consequência a dificuldade em se promover relações interpessoais mais cooperativas e solidárias, tanto entre os profissionais, quanto entre os alunos e entre estes e seus professores. Os discursos de professores em reuniões pedagógicas, registrados por Sassi (2012), demonstram grande resistência quanto à cooperação para que haja um processo de gestão democrática, principalmente com relação à participação de seus alunos e ao relacionamento com estes, assumindo práticas excludentes que por meio do discurso da impossibilidade e da ne- ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 46 r e v ist a l’ att itu d e gação, os professores sentenciam os destinos de seus alunos, o que é compreendido por Araújo (2002) como resistência em abrir mão de parte do seu poder, usualmente exercido de forma autoritária. Existe ainda, segundo Paro (2002) a resistência escolar quanto à participação dos pais dos alunos e da comunidade local nos processos de decisão e contexto escolar, o que se tem pautado na percepção, equivocada, de que apenas os técnicos podem opinar e decidir neste espaço. Outra forma de resistência se percebe em aspectos inerentes a estrutura escolar: “os conteúdos escolares; a metodologia das aulas; o tipo e natureza das relações interpessoais; os valores, a autoestima e o autoconhecimento dos membros da comunidade escolar; e, os processos de gestão da escola”, conforme análise de Araújo (2000, p. 98), e, ainda: a organização curricular; a estrutura didática e o calendário escolar, pelas considerações de Silva (2005). Todos estes aspectos são citados por fazerem parte da dinâmica de reprodução do poder autoritário e da possibilidade de mudança rumo à autonomia escolar. 5.2 Possibilidades de sucesso Ao se analisarem tantas questões relevantes, pode-se supor que a gestão democrática traz benefícios e reais transformações nos âmbitos escolar e social, porém alternativas para que se concretizem tais ações e experiências bem-sucedidas são pouco divulgadas. Todos os autores pesquisados para compor este artigo opinam sobre ações possíveis, para que ocorram transformações na estrutura da escola ou relatam experiências de sucesso na concretização da gestão escolar democrática em escolas de ensino público, brasileiras ou estrangeiras. Parte destas considerações e estudos de casos está aqui explicitado, como forma de contribuir para novas tentativas de democratização em escolas públicas estatais. Lück et al. (2001) traça considerações sobre um formato de gestão escolar (proposto e executado na cidade de Redwood City – EUA) denominado como escola eficaz, realizado por um estilo de liderança que enfatiza a participação, a distribuição de responsabilidades, a comunicação, o assumir riscos e a confiança. Nesta perspectiva, algumas estratégias, para que se garanta uma efetiva participação do grupo, são relacionadas: Identificar as oportunidades apropriadas para a ação e decisão compartilhada; Estimular a participação dos membros da comunidade escolar; Estabelecer normas de trabalho em equipe e orientar sua efetivação; Transformar boas ideias individuais em ideias coletivas; Garantir os recursos necessários para apoiar os esforços participativos; Prover reconhecimento coletivo pela participação e pela conclusão da tarefa (LÜCK et al., 2001, p. 37). No entendimento de Araújo (2002, p. 73) a construção de uma gestão democrática “passa pela efetiva participação de todos os membros da comunidade escolar na definição das políticas que regulam os espaços de ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 47 r e v ist a l’ att itu d e convivência coletiva e na elaboração de projetos pedagógicos e administrativos”, para que haja então uma democratização da estrutura escolar. Este autor sugere como forma de se instituir e organizar esta participação, a constituição de assembleias escolares, em dois níveis: um que conta com a participação de representantes de cada segmento escolar junto com o gestor, chamada de assembleia de escola; e outro apenas com a participação dos docentes e gestores, chamada assembleia docente. No primeiro nível de participação, os representantes se responsabilizariam por regular e regulamentar as relações interpessoais e a convivência nos espaços coletivos, com assuntos relativos, por exemplo, aos horários, espaços físicos, alimentação e problemas de relacionamento entre alunos (quando houver). No segundo, docentes e gestores se responsabilizariam por temáticas relacionadas ao convívio entre os docentes, e entre estes e a gestão, ao projeto políticopedagógico e a vida funcional e administrativa da escola. Ambas ocorreriam mensalmente, com pautas eleitas com antecedência, por todos os participantes, e tem suas decisões comunicadas a todos os outros membros escolares. Para o autor, esta forma de participação coletiva nos processos de decisão pode promover a construção da cidadania, por meio da vivência de uma democracia participativa. Em formato parecido se pode encontrar a proposta de instituição de Conselhos Escolares, contida no artigo 15 na LDB e defendido pelo CONAE (2010). Estes conselhos são constituídos pela participação de membros da comunidade escolar e da comunidade a que pertence, tendo caráter deliberativo e consultivo. A configuração do conselho escolar varia entre os estados, municípios e entre as escolas, assim, a quantidade de representantes eleitos, na maioria das vezes, depende do tamanho da escola, do número de classes e de estudantes que ela possui. Para os autores Gadotti e Romão (2004, p. 29) a instituição de conselhos nas escolas “apresenta-se dialeticamente, como uma instância mediadora que é, ao mesmo tempo, um mecanismo de absorção das tensões e dos conflitos de interesses e um instrumento potencial de inovação e transformação [...]”. Entre os mecanismos de participação que podem ser criados na escola, além dos Conselhos Escolares, destacam-se: o Conselho de Classe, a Associação de Pais e Mestres e o Grêmio Escolar. Uma estrutura gestionária diferenciada é sugerida por Paro (2002), na qual a escola seria dirigida não por um diretor, mas por um Conselho Diretivo. Nesta proposta comporiam o Conselho: um Coordenador Geral, responsável pelas questões relativas aos recursos humanos e integração dos vários setores da escola; um Coordenador Pedagógico, responsável pelo ensino e sua viabilização; um Coordenador Financeiro, responsável pela aplicação dos recursos disponíveis e pela parte escritural da escola; e, um Coordenador Comunitário, responsável pela promoção da participação da comunidade na vida escolar. Os coordenadores, dentro desta proposta, seriam escolhidos den- ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 48 r e v ist a l’ att itu d e tre os professores da própria escola e eleitos pela comunidade escolar interna e externa, teriam um mandato com prazo determinado e se responsabilizariam por sua área de atuação, porém participando da tomada de decisões em conjunto, sendo proposto que a existência do Conselho Diretivo não anule a existência do Conselho de Escola, que funcionaria como um órgão de assessoria e fiscalização. Para Silva (2005), ainda se faz necessário rever e modificar a estrutura de ensino da escola, para que esta possa cumprir seu papel de ensinar uma verdadeira democracia. Por meio de processos participativos, como que o autor denomina de planejamento participativo, elementos estruturais como a organização curricular, a estrutura didática e administrativa, e o calendário escolar, seriam revistos e organizados segundo a necessidade e especificidade de cada escola. Esta proposta, que também envolve decisões próprias dos dirigentes municipais ou estaduais de educação, traria maior autonomia às escolas, que poderiam planejar a melhor estratégia curricular, dentro de um núcleo comum proposto a todo sistema, para: atender seus estudantes e anseios da comunidade a que pertence; estruturar suas propostas didáticas de acordo com as especificidades de seu público; organizar-se administrativamente de forma autônoma; e, modificar o calendário de acordo com as características da escola, compatibilizando-o com o proposto pelo sistema geral de educação responsável. Apesar das diferentes ideias e experiências, todos os autores pesqui- sados concordam que a gestão democrática, da escola pública estatal brasileira, pode não resolver todos os seus problemas, porém é uma das possibilidades de melhoria de sua qualidade e crescimento da própria sociedade rumo à democracia plena e a formação cidadã. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 49 r e v ist a l’ att itu d e BIBLIOGRAFIA ARAÚJO, U. F. A construção de escolas democráticas: histórias sobre complexidade, mudanças e resistências. São Paulo: Moderna, 2002. _____. Escola, democracia e a construção de personalidades morais. Educação e Pesquisa, 2000, v. 26, n. 2, p. 91-107. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 /constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 01 ago. 2013a. _____. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Lei s/L9394.htm>. Acesso em: 01 ago. 2013b. _____. Lei n. 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis /leis_2001/l10172.htm>. Acesso em: 01 ago. 2013c. _____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Conselhos escolares: democratização da escola e construção da cidadania, v. 1, Brasília: MEC, 2004. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/p df/Consescol/ce_cad1.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2013d. CONAE. Conferência Nacional de Educação. Construindo o sistema nacional articulado de educação: o plano nacional de educação, diretrizes e estratégias de ação. Documento-referência, 2010. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ arquivos/pdf/conae/documento_referencia .pdf >. Acesso em: 01 ago. 2013. FERREIRA, A. B. H. Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. GADOTTI, M.; ROMÃO, J. E. (Orgs.). Autonomia da escola: Princípios e propostas.6 ed., v. 1, São Paulo: Cortez, 2004. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 50 r e v ist a l’ att itu d e LÜCK, H.; FREITAS, K. S.; CIRLING, R.; KEITH, S. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. OLIVEIRA, J. F.; DOURADO, L. F.; MORAES, K. N. Gestão escolar democrática: definições, princípios e mecanismos de implementação. Disponível em: <http://w ww.letraviva.net/arquivos/2012/anexo-1-G estao-escolar-democratica-definicoes,-prin cipios-e-mecanismos-de-implementacao.pd f>. Acesso em: 01 ago. 2013. 51 PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2002. SASSI, L. C. R. G. Gestão de professores na escola pública. Presença Pedagógica, Belo Horizonte, n. 108, nov./dez., 2012, p. 2226. SILVA, J. M. A autonomia da escola pública: a reumanização da escola. 8. ed. São Paulo: Papirus, 2005. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e resenha 52 A comunicação científica e seus desdobramentos éticos Leandro de Freitas Pantoja11 Débora Diniz é antropóloga, pesquisadora e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília e atua também frente ao Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. O artigo da professora Diniz (2005) compõe a coletânea de textos organizados por influentes pesquisadores cujo problema irradiador se centra na questão da ética em pesquisa e comunicação científica. Seguindo a lógica temática, a autora elabora seus argumentos no trabalho intitulado: A ética e o ethos da comunicação científica. O objetivo da autora é discutir (ainda que brevemente) as regras fundamentais da comunicação científica com enfoque em duas delas: o reconhecimento da autoria e o registro das fontes. Para ela toda produção científica deve estar compulsoriamente regida por estes princípios (o ethos da comunicação científica) e a sua inobservância constitui-se em plágio e falsidade argumentativa. No decorrer dos argumentos afirma que a comunição científica é um fato notório e fundamental no seio da comunidade de pesquisadores em geral mundo afora, e que o conhecimento e observação dos elementos éticos e normativos da pesquisa e comunicabilidade do contexto científico é um fator decisivo e impactante na ciência e na sociedade. Considerando o próprio caráter comum de mudanças e rupturas no meio científico e sua consequente implicação para o sistema de regras, Diniz (2005, p. 172) observa e defende a tese acerca da importância e manutenção de algumas normas para a “garan11 Licenciado em Pedagogia pela Universidade do Estado do Amapá – UEAP; Pedagogo da Secretaria de Estado da Educação do Amapá – SEED/AP; Graduando em História pela Universidade Federal do Amapá – UNIFAP; e, Pós-graduando em História e Historiografia da Amazônia pela Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e tia da eficácia e legitimidade da comunicação”. Centra seus argumentos nas duas regras sobreditas que para ela fazem parte do que chama de interditos da comunicação científica. A autora considera a existência de vários interditos científicos, porém reforça que o reconhecimento da autoria e o registro das fontes são basilares e inerentes a todos os campos do conhecimento e que jamais devem ser violados; todo trabalho de pesquisa deve reconhecer e creditar as fontes e ideias alheias, bem como “utilizar e citar somente o que de fato foi analisado” (DINIZ, 2005, p. 172, grifo da autora). Outro aspecto destacado e de íntima conexão com suas reflexões se assenta no ato das publicações científicas. “É em torno da publicação escrita que o respeito aos interditos será mais rigoroso” (DINIZ, 2005, p. 173). O fato de as publicações exporem ideias ou novas concepções e a promoção de novos conhecimentos, que terão desdobramentos diversos na sociedade, é que o seu uso e aplicabilidade deve ser respeitado. Ainda afirma: “Conhecê-las é relativamente fácil, o desafio é incorporá-las como fundamento ético de nossa expressão no mundo acadêmico” (DINIZ, 2005, p. 173-174). Na mesma medida o ethos científico é um fundamento categórico no discurso científico e ratifica seriamente sua relevância: “[...] ele tem suas próprias regras, é preciso conhecê-las e utilizá-las com rigor para ser aceito como um pesquisador sério” (DINIZ, 2005, p. 175). Este princípio, consideramos ser primordial na vida acadêmica que se inicia. A apropriação do conjun- to normativo se processa gradativamente até o momento em que se torna natural sua observância. Sistematicamente o ethos científico proposto na discussão da autoria visa reconhecer que toda pesquisa ou produção científica deve respeitar o que outrora se construiu ou se constituiu cientificamente. É “[...] reconhecer a anterioridade e a autoria das ideias” (DINIZ, 2005, p.177). Neste âmbito e como consequência de negligenciação dos elementos éticos e normativos na pesquisa científica se tem o plágio. Segundo a autora é preciso dar conta de um crime (a prática de citar fontes que não foram lidas ou analisadas, isto é falsidade de argumentos) que apesar de muito comum pouca atenção lhe conferem. O texto da professora Diniz (2005) apesar de breve abre um leque enorme de reflexão em relação ao ofício do pesquisador, sua conduta, condição e viabilidade em termos científicos atualmente. Sua intenção está concretamente direcionada as perplexidades científicas atuais onde a ambição por prestígio e status acadêmicos e outros interesses se mesclam. A sua leitura é clara e objetiva sem arrojos tautológicos dando condições de comunicação a diferentes níveis cognitivos para compreendê-la. Para além do exposto, sente-se a necessidade de casos concretos ou exemplificações que possam realçar ainda mais a defesa dos argumentos propostos. Nota-se a ausência de uma problematização ou crítica mesmo que parcial sobre os meios comunicativos de massa (internet, principalmente) sobre o qual se difundem ideias aos montes sem um ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 53 r e v ist a l’ att itu d e “controle” autoral. Como presunção pessoal o acesso às notas no final do texto se torna comprometedor em razão do retorno ao fim do artigo. No mais fica a sua indicação a todos que compõem o universo acadêmico, principalmente aos iniciantes. 54 REFERÊNCIA DINIZ, D. A ética e o ethos da comunicação científica. In: Diniz D.; SUGAI, A.; Guilhem D.; SCHÜKLENK, U. (Orgs.). Ética em pesquisa: experiência de treinamento em países sul-africanos. 2. ed. Brasília: Letras Livres; Editora UnB, 2005, p. 170-178. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e Post-scriptum 55 Sementes no abismo Joaquim Marciano Ribeiro Filho12 A voz do personagem inglês Logan Mountstuart, um idoso ao narrar suas memórias, em Any Human Heart (2010), tornou-se inesquecível. Ele se expressa: “Tenho esta imagem na minha cabeça. É uma espécie de sonho recorrente que não consigo explicar. Um barco, num rio do Uruguai, com um garotinho pescando. Sou o garoto do barco? Ou sou os observadores da margem do rio? É uma visão de uma vida particular que viaja no tempo? Qual vida é verdadeiramente a minha? Sou todas essas pessoas diferentes!”. Em certa idade algumas pessoas passam a se indagar sobre seus percursos e diante de tanto dinamismo em seus estágios de desenvolvimento, olham para um espelho e se sentem imobilizadas. Seu atual estado físico não obedece às ordens do interesse de continuar a experienciar como outrora. Com suas íntimas e diversas memórias, encontram-se num abismo; em uma linha reta, que representa a distância entre dois pontos: a lucidez e a dependência. Mountstuart, indagou-se recorrentemente encontrando uma resposta, mas a contemporaneidade ain12 da possui muitas perguntas que na ordem do processo geracional, tentariam ser respondidas por seus descendentes. Na mitologia grega, o Titã Prometeu furtou o fogo divino, com o qual presenteou a humanidade, concedendo ao ser humano o poder de pensar, transmitindo-lhes suas habilidades. Prometeu prezava a companhia dos mortais. Ensinou ao homem todas as artes necessárias ao seu desenvolvimento e de suas gerações. Com a atitude de Prometeu, destaca-se o reconhecimento da anterioridade. Utili- Graduado em Psicologia; Especialista em Psicopedagogia e em Gestão Empresarial com Ênfase em Marketing e Recursos Humanos; Presidente e Diretor do Instituto Cenorpsi; Consultor de Desenvolvimento Humano e Empresarial, Psicólogo, Psicopedagogo e Coordenador de Projetos e Programas Institucionais e Sociais do Cenorpsi Cellardoor; Editor da Revista L’attitude; e, Coordenador, Professor, Escritor, Conferencista e Membro-pesquisador do NEP. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e zando-se do mito, a humanidade não sobreviveria sem os ensinamentos e ações. A dinâmica intergeracional oportuniza novos espaços: inicialmente para aprendizagens individuais, em prol do bem comum – o coletivo, tornando os seres infinitos. No estudo O Fogo de Prometeu (2001, p. 138), Ana Paula Quintela Sottomayor explica: “Note-se, antes de mais, que os primeiros homens viviam em cavernas subterrâneas e escuras. A luz do fogo veio iluminar o mundo e os espíritos, retirando-os das trevas e da ignorância. De pueris passaram a seres dotados de razão e eles, que, ao princípio, não tinham discernimento, começaram a saber distinguir as estações do ano e também o nascer e o ocaso dos astros”. O desenvolvimento pessoal, social e científico ocorre através do conjunto de atitudes intelectuais e práticas dos seres humanos, intergeracionalmente, sendo centrais as indagações de provocações, como as de Mountstuart. Enquanto adulto, na articulação de pessoas e profissões, os humanos demonstram em diferentes períodos vitais suas compreensões sobre o ser, o estar e o saber. Por isso, com destaque, qual seria o papel da pessoa idosa? O sociólogo Joffre Dumazedier em Criação e Transmissão de Saberes (1992, p. 9) responde: “As velhas gerações continuam a ter uma função de transmissão de conhecimentos às novas gerações. Há uma atitude seletiva com respeito aos ensinamentos da tradição e às lições da experiência, seja no trabalho, seja nas relações sociais, na vida familiar, no lazer, etc. [...] Assim, existe uma coeducação das gerações, pois, se quisermos transmitir saberes, seja num sentido, seja no outro, muitas vezes teremos de negociar as difíceis fronteiras entre os saberes de ontem e de hoje, entre as habilidades de ontem e as de hoje”. Em cada um dos assuntos que compõem um escrito, advindo das memórias e experiências – no mito, gerados pelas faíscas do fogo ofertado por Prometeu –, emergidos pela inspiração da intergeracionalidade, aos poucos se transformam em narrativas pessoais e/ou científicas, e mesmo com as diferentes idades de seus autores eles tendem a possuir um vínculo, uma complementaridade, mas também um abismo, entendendo este como uma fenda oportuna para se semear. Ver-se no abismo, em tese, há uma indicação de até onde se pode chegar, oferecendo ao outro a continuidade, marcando o espaço com novos e antigos passos. Em outros termos, ao ter a ideia de uma missão completada, ocorre o recrutamento de algum jovem talentoso que se encontra disposto a doar ditoso talento a serviços da humanidade que afirma: “Nossa história, nosso legado! A sua história é o nosso existir!”. Tudo o que brotar, será o sinal de que ele e seu antecessor permanecem. Não há razão para não se afirmar que as pessoas são infinitas. Nos abismos, lá no fundo, hoje se pode ver o que Janie Rhyne em Arte e Gestalt: Padrões que Convergem (2000, passim) destacou: “Gosto de pensar no processo de vida de cada pessoa como um riacho que começa em algum lugar secreto e serpenteia até algum mar ainda descoberto [...] Sim, é assim que a nossa vida flui. Nossos riachos de vida ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 56 r e v ist a l’ att itu d e estão levando cada um de nós por um canal formado pelas nossas naturezas humanas movendo-se em nosso meio ambiente. [...] Da Pré-história até hoje, temos feito coisas que não existiam antes; temos unido coisas e ideias, apresentando uma síntese; temos criado símbolos e comunicado significados”. Nossas ações e reações são infinitas, constantemente sendo semeadas, e como os de outrora afirmam: à beira do abismo se crescem asas, e como é bom voar, sobre os muros de preconceitos e discriminações e Ser como um passarinho-velhomenino. 57 REFERÊNCIAS ANY HUMAN HEART. Diretor Michael Samuel. Produção de United Kingdom & Spain. U.K.: Universal, 2010. 2 DVDs (360 min.), son., color. SOTTOMAYOR, A. P. Q. O fogo de Prometeu. Humanitas, Coimbra, n. 53, 2001, p. 133-140. DUMAZEDIER, J. Création et transmission des savoirs. Gerontologie et Société, Paris, n. 61, jul./1992, p. 7-17. RHYNE, J. Arte e gestalt: padrões que convergem. São Paulo: Summus, 2000. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e Vivências: comédia, drama e tragédia OBRAS CINEMATOGRÁFICAS SUGERIDAS 58 THE VILLAGE - SÉRIE (2013) Sinopse: The Village, produção da BBC1, acompanha a trajetória de uma família, e suas gerações, tendo como cenário as transformações socioculturais e políticas do Século XX. É narrada por Bert Middleton (David Ryall), um homem com mais de 100 anos de idade que testemunhou as transformações pelas quais uma aldeia na região de Derbyshire e seus moradores passaram. Ao ser entrevistado para um documentário, ele narra sua história e a da aldeia, iniciando com sua infância e chegando à velhice, como se fosse um livro de memórias. VICIOUS - SÉRIE (2013) Sinopse: Na história, Freddy (Ian McKellen) e Stuart (Derek Jacobi) estão juntos há quase 50 anos. Freddy era um ator iniciante e Stuart um barman quando se conheceram. Agora, aposentados, eles passam o dia lendo ou passeando com o cão no bairro boêmio de Covent Garden, onde moram. A rotina do casal muda quando Ash (Iwan Rheon), um novo vizinho, se muda para o apartamento do andar de cima, despertando a curiosidade do casal. A melhor amiga de Freddy e Stuart é Violet (Frances De La Tour), a única que consegue aplacar as brigas que surgem entre os dois, o que é uma constante. UM DIVÃ PARA DOIS [HOPE SPRINGS] (2012) Sinopse: Kay (Meryl Streep) e Arnold Soames (Tommy Lee Jones) estão casados há 30 anos. O relacionamento entre eles caiu na rotina e há tempos não tem algum tipo de romantismo. Querendo mudar a situação, Kay agenda para ambos um fim de semana de aconselhamento com o Dr. Feld (Steve Carell), que passa a lhes dar conselhos sobre como reavivar a chama da paixão. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 r e v ist a l’ att itu d e O QUARTETO [QUARTET] (2012) Sinopse: Cissy (Pauline Collins), Reggie (Tom Courtenay) e Wilfred (Billy Connolly) vivem em um lar para músicos aposentados. Diversas personalidades famosas, hoje aposentadas, convivem juntas, treinando seus dotes musicais e relembrando os tempos de sucesso. Todos os anos a casa realiza um concerto para recolher fundos que permitem a sobrevivência da instituição. A celebração, é claro, é feita com apresentações musicais. Porém, quando Jean (Maggie Smith), ex-esposa de Reggie, integra a casa de repouso, a harmonia do local é quebrada. Enquanto os organizadores da festa veem na presença de Jean uma oportunidade única de refazer o famoso quarteto que interpretou Rigoletto, com Cissy, Reggie e Wilfred, a nova habitante se recusa a cantar. As amizades e os amores de antigamente são questionados na tentativa de convencê-la. AMOR [AMOUR] (2012) Sinopse: Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) formam um casal de aposentados, e costumavam lecionar música. Eles têm uma filha musicista que vive com a família em um país estrangeiro. Certo dia, Anne sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado. O casal de idosos passa por graves obstáculos, que colocarão o seu amor em teste. ROBÔ E FRANK [ROBOT & FRANK] (2012) Sinopse: O filme é passado em um futuro próximo. Frank (Frank Langella) é um assaltante aposentado que possui dois filhos adultos. Eles estão preocupados com o fato do pai não conseguir mais viver sozinho. Acabam decidindo interná-lo em um asilo, mas mudam de ideia ao descobrirem uma nova alternativa: um robô que anda, fala e é programado especialmente para ajudar no desenvolvimento da saúde mental e física do paciente. ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 59 r e v ist a l’ att itu d e MINHAS TARDES COM MARGUERITTE [LA TÊTE EN FRICHE] (2011) Sinopse: Este filme trata da história de Germain (Gérard Depardieu), quase analfabeto, e Margueritte (Gisèle Casadesus), velhinha apaixonada por livros. Um dia, por acaso, Germain senta ao lado dela em um banco no parque. Ela recita versos em voz alta, dando a ele a chance de descobrir a magia dos livros, que nunca fizeram parte de sua vida. Margueritte está perdendo a visão e, pelo carinho e afeto que foram criados nessa relação, Germain buscará mostrar que poderá ler para ela. E SE VIVÊSSEMOS TODOS JUNTOS? [ET SI ON VIVAIT TOUS ENSEMBLE?] (2011) Sinopse: Annie (Geraldine Chaplin), Jean (Guy Bedos), Claude (Claude Rich), Albert (Pierre Richard) e Jeanne (Jane Fonda) são melhores amigos há mais de quatro décadas. Enquanto os dois primeiros e os dois últimos são casados, o do meio é um tremendo solteirão convicto, que não se cansa de aproveitar a vida. Quando a saúde deles começa a piorar e o asilo se apresenta como solução para um deles, surge a ideia de todos morarem juntos. Mas a novidade acaba trazendo a reboque algumas antigas experiências, que irão provocar novas consequências na vida de cada um. AS FILHAS DE MARVIN [MARVIN’S ROOM] (1996) Sinopse: Quando Marvin (Hume Cronyn) sofre um derrame e fica incapacitado, sua filha Bessie (Diane Keaton) assume a tarefa de cuidar dele. Ela é também a responsável pela tia Ruth (Gwen Verdon), que sofre de uma doença na coluna desde criança e é viciada em novelas. Lee (Meryl Streep), a irmã mais nova de Bessie, não dá atenção para a família e vive em outro estado há anos. Ao descobrir que sofre de leucemia e necessita de um transplante de medula óssea, Bessie entra em contato com a irmã em busca de ajuda. Lee vai então visitá-la, levando consigo seus filhos Hank (Leonardo DiCaprio) e Charlie (Hal Scardino). www.cenorpsi.com ano 3, n. 3, jan./dez. 2013 60 ALGUNS TRABALHOS DESENVOLVIDOS POR MEMBROS DO CENORPSI www.cenorpsi.com EVENTOS I Campanha da Acessibilidade Psicológica: Funcionalidades da Mediação em Organizações. I Mostra da Atitude: Uma Psicologia Para o Ser Humano. I Fórum de Psicologia e Diversidade Humana: Revelando as Faces Profissionais. II Campanha da Acessibilidade Psicológica: Pigmentar os Espaços e Promover a Resignificação de Conflitos. II Mostra da Atitude: A Importância das Legislações Para as Profissões. Campanha de Desenvolvimento Psicológico em Instituições: O Degustar do Psicológico. PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO Acompanhamento Funcional: Um Trabalho Psicológico Dirigido aos Cargos Profissionais. Processo Avaliativo em Instituições: Contribuições Psicológicas e Psicopedagógicas. Atuação em Psicologia Organizacional: Uma Formação Criativa aos Profissionais no Século XXI. Docência e Discência: Uma Relação Criativa de Múltiplas Faces. A Utilização da Orientação Psicológica na Multiprofissionalidade: Uma Possibilidade de Resolução de Conflitos nos Processos de Ensino. Tutoria Psicológica e Psicopedagógica Oportunizando o Desenvolvimento. nos Contextos Institucionais: Criando Práticas e A Psicologia Organizacional e o Desenvolvimento da Gestão do Conhecimento em Estratégias Projetáveis. Renove suas ideias. Participe desta história! [email protected] NORMAS GERAIS PARA PUBLICAÇÃO – Revista L’attitude A L’attitude é uma revista de cunho científico e cultural, voltada para a ampliação de conhecimentos e divulgação de ações humanas sob o interesse de todas as pessoas. I - REGRAS GERAIS: a) os trabalhos serão submetidos à apreciação da Comissão Editorial, garantindo sigilo e anonimato dos autores e dos pareceristas, que decidirão sobre a conveniência ou não da publicação, indicando, quando necessário, as alterações a serem feitas; b) fica subentendida o consentimento autorizado para a publicação do trabalho encaminhado e que o mesmo é inédito e original, atendendo a todo o procedimento técnico e ético, não sendo permitida a sua apresentação simultânea em outro periódico; c) a Revista reserva-se os direitos autorais do trabalho publicado por ela, inclusive traduzidos para outras línguas, permitindo, entretanto, a sua posterior reprodução com a devida citação da fonte; d) os originais e as ilustrações publicados não serão devolvidos ao(s) autor(es); e) as opiniões e os conceitos emitidos serão de interira responsabilidade do(s) autor(es); f) os trabalhos não publicados serão devolvidos ao(s) seu(s) respectivo(s) autor(es) com a devida justificativa pela não utilização. Na impossibilidade da devolução, os trabalhos ficarão a disposição do(s) autor(es) pelo prazo de um (1) ano; g) os trabalhos devem ser enviados para o e-mail: [email protected], com o Assunto: “Publicação Revista L’attitude”; e h) para publicar, o(s) autor(es) deverá(ão) ser associado(s) ao Instituto Cenorpsi, salvo relevância e autorização do editor responsável. Para se associar é necessário requisitar informações pelo e-mail, indicado na alínea anterior, com o Assunto: Associação ao Instituto Cenorpsi. II - TIPOS DE TRABALHOS - Assuntos Temáticos (sobre Saúde, Comportamento, Educação, Trabalho, Direito ou outra referência temática); - Ensaios; - Resenhas; - Artigos; - Artigos Científicos; - Atividades Diversas (ações praticadas pelo profissional na comunidade); - Relato de Experiência; - Relato de Pesquisa; e - Outro tipo relevante, sob a autorização do editor. III - APRESENTAÇÃO DO TRABALHO Os trabalhos deverão ser enviados em arquivo elaborado preferencialmente em programa Microsoft Word for Windows, em papel A4, fonte Arial, tamanho onze (11), com espaço simples e margens dois e meio centímetros (2,5 cm) de cada lado, não numeradas, sem cabeçalhos e rodapés, sendo que a estrutura do trabalho já deverá estar organizada. As legendas (para fotografias, desenhos, tabelas e gráficos, quadros, etc.), se houver, deverão ser claras e concisas, localizadas abaixo das figuras (e precedidas da numeração correspondente, também identificadas no corpo do trabalho). Tais imagens deverão ser apresentadas ordenada e sequencialmente ao disposto no manuscrito. a) Assuntos Temáticos, Ensaios e Atividades Diversas deverão possuir, exatamente, duas (2) laudas; b) Resenhas e Artigos deverão possuir, exatamente, uma (1) lauda; c) Artigos Científicos deverão possuir entre dez (10) a quinze (15) laudas; e d) Relato de Experiência e Relato de Pesquisa deverão possuir entre cinco (5) a sete (7) laudas. IV - ESTRUTURA DO TRABALHO a) título do trabalho, em português; b) nome(s) do(s) autor(es) em ordem alfabética, especialidades, qualificações profissionais e instituição a que pertence(m); c) Resumo e Palavras-chave em português e em inglês, espanhol ou francês, não devendo exceder duzentas (200) palavras em cada língua. O Resumo deve conter sucintamente o que foi feito, os resultados e as conclusões; d) Introdução; e) Fundamentação Teórica; f) Metodologia; g) Resultados; h) Discussão; i) Considerações finais; e j) Referências ou Bibliografia, quando utilizada, no máximo de quinze (15), seguindo orientações das normas da ABNT, em vigor. Os itens “c” ao “i”, devem ser apresentados obrigatoriamente em Relato de Experiência, Relato de Pesquisa e Artigos Científicos com dados in loco. O item “g” se exclui em Artigos Científicos de cunho bibliográfico, permanecendo os demais. Os itens “c” ao “i”, excluem-se em Assuntos Temáticos, Atividades Diversas, Ensaios, Artigos e Resenhas. O item “j” será condicionado ao seu uso em: Assuntos Temáticos, Atividades Diversas, Ensaios e Artigos. www.cenorpsi.com
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