antevisão III - Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes
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antevisão III - Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes
antevisão III AT museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes promotores câmara municipal de abrantes textos Filomena Gaspar Fernando António Baptista Pereira Luiz Oosterbeek Presidente Davide Delfino Maria do Céu Albuquerque Gustavo Portocarrero fundação estrada catálogo Presidente Paulo Passos João Lourenço Sigalho Estrada Edgar Rei coordenação geral do projecto Isilda Jana museologia e história da arte Ana Torrado Gabinete de Comunicação / CMA fotografia Fernando Sá Baio Fernando António Baptista Pereira Gabinete de Comunicação / CMA arqueologia montagem museográfica de peças Luiz Oosterbeek José Manuel Frazão (coordenação) Davide Delfino construção Gustavo Portocarrero Construções António Martins Sampaio, Lda Filomena Gaspar produção de lettering Gabinete de Comunicação / CMA impressão Tipografia Central do Entroncamento, Lda isbn 978-972-9133-41-1 depósito legal 311943/10 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes antevisão do museu ibérico de arqueologia e arte Há projectos que marcam. Naturalmente não são consensuais. Por uma razão ou por outra geram polémica. Criam discussão. Mobilizam vontades. Produzem correntes de opinião. Induzem à reflexão. Fomentam a participação. Nenhum projecto, independentemente da sua dimensão, é fruto de um desígnio individual. São fruto de muitas horas de trabalho e de inúmeras reuniões de equipas multidisciplinares. Vão crescendo ao sabor de criação de consensos e de compromissos. Vão sendo construídos pelas doações daqueles que acreditaram que Abrantes é merecedor dos seus espólios e da sua confiança. São os projectos estruturantes. Inspiradores. Ambiciosos. Mexem com as pessoas. Não deixam ninguém indiferente. Têm impacto nas comunidades e nos territórios. Funcionam como âncoras para o desenvolvimento equilibrado e integrado do concelho. Condicionam a forma de estar. Geram mais valias. Obrigam a levantar o olhar para ver mais longe. O MIAA é assim. Um desafio e uma oportunidade. E, como tal, deve ser encarado sem medo e com confiança. Porque todos temos a capacidade de imaginar um futuro maior para o nosso concelho. Basta acreditar! Afinal, há valores que todos partilhamos. E, em última análise, há um legado que, mesmo na diferença, nos une em prol de uma causa: Abrantes. Ultrapassa as fronteiras do Centro Histórico. E tem a virtude de tocar as pessoas naquilo que elas têm de melhor, os seus corações e os seus afectos! Passados três anos, e muitas polémicas, desde a primeira exposição de antevisão do MIAA, espero que Abrantes e os Abrantinos saibam reconhecer o potencial deste projecto. Temos nas nossas mãos o que pode ser uma das marcas mais diferenciadoras de Abrantes: o nosso património. Para nós é uma forma de prestar serviço à comunidade. Conservar os espólios. Investigar. Saber mais sobre a nossa história e as nossas origens. Expor. Mostrar o que aprendemos. E disponibilizar a informação. É esta a nossa forma de trabalhar. No MIAA e em Abrantes. M a ria d o C é u A l bu qu e rqu e P re si de n t e da C â m a r a Mu n i c i pa l de A b r a n t e s museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes antevisão 3 A terceira Exposição de Antevisão do MIAA é atravessada por diversos fios condutores. Em primeiro lugar, quer na grande vitrina da nave, quer na do corredor que dá acesso ao Coro-Alto, dá-se um relevo especial aos materiais em bronze da Colecção Estrada, particularmente rica nesse domínio, apresentando um largo conjunto de figuras votivas realizadas nessa liga metálica que documentam a evolução na representação da figura humana e de elementos da Natureza, na Península Ibérica, desde a Proto-História ao final da Antiguidade Clássica. A partir do tema da figura humana, mostram-se também diversos adereços de vestuário, militar e civil, que abrangem igualmente as civilizações do Mediterrâneo Oriental, em particular a Grega, documentando com grande interesse a transformação das técnicas de combate no contexto de uma civilização constituída por cidades-estado, assim como ornamentos utilizados na «última viagem», parao o Além, numa larga duração histórica. Dentro da categoria dos adereços e dos ornamentos, merecem particular destaque as fíbulas e fivelas, sobretudo as de origem visigótica, pela enorme representatividade que possuem entre as colecções ibéricas, bem como a comparação realizada entre a joalharia neoclássica (em que avultam duas belíssimas chatelaines) e as suas fontes de inspiração no mundo romano. Estabelecendo um acentuado contraste com os bronzes antigos, apresentam-se, no centro da capela-mor do Panteão dos Almeidas, em diálogo perfeito com os magníficos túmulos quatrocentistas e com o remanescente do Retábulo manuelino, três magníficos bronzes da fase inicial da obra de Charters de Almeida, recentemente doados ao MIAA, em conjunto com outras importantes obras do artista, que irão permitir reconstituir o seu itinerrário criativo completo no seio do futuro museu. Um outro fio condutor que, desta feita, de forma explícita, se documenta na exposição, com um interessante espólio local diversificado no tempo e nos materiais que preenche a grande vitrina que ocupa o fundo de uma dependência que se abre no lado do evangelho, é a relação com os estudos e prospecções que têm sido realizados, ao longo dos anos, no território do concelho de Abrantes, possibilitando que o MIAA venha a ser, também, como se prevê, um importante museu da história da ocupação humana na região, ao lado da contextualização ibérica e internacional que vai possibilitar, graças às suas notáveis e diversificadas colecções. Este catálogo segue um esquema idêntico aos anteriores (Antevisões 1 e 2), com textos iniciais a que se seguem abordagens aprofundadas de cada sub-tema, antes das tabelas e fotos dos objectos respectivos, e a que se acrescenta, no final, um artigo científico sobre novas abordagens das sociedades da Idade do Bronze no Sudoeste Peninsular. M a i o de 2 0 1 1 . Fe rna n d o A n tón i o Ba p t i sta P e re i r a Na nave da igreja, alargando os materiais à pedra, à madeira e à terracota e ainda dentro dessa dimensão de diálogo entre o local/regional e o nacional/internacional, apresentam-se, além da estatuária romana que tem integrado todas estas mostras, várias importantes e em alguns casos inéditas esculturas das colecções municipais e da colecção Estrada que documentam as transformações simbólicas, de gosto e de formas entre o final da Idade Média (século XV), o Renascimento e, finalmente, o Barroco. Finalmente, no espaço do Coro-Alto da igreja, dá-se relevo à pintura, quer a duas peças do Naturalismo Português pertencentes à Colecção Estrada, uma Natureza-Morta de Malhoa e uma bandeira de porta pintada por António Ramalho, quer a importantes fases da obra de Maria Lucília Moita, a da chamada «reacção» à formação naturalista inicial da autora, de acentuada geometrização, e as seguintes, em que a sua pintura tendeu para um certo grau de abstracção, períodos que se documentam através dos géneros paisagem e retrato que, a seu modo, respondem aos fios condutores temáticos centrados na representação da figura humana e da Natureza que esta exposição e o futuro MIAA valorizam especialmente. museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes as colecções do museu d. lopo de almeida O Museu D. Lopo de Almeida criado em 1922, albergou, desde a sua fundação em 1922, uma variedade de elementos representativos da história de Abrantes e da Região. Assim, entre o seu espólio encontrava-se arte sacra, documentação escrita, peças de cariz etnográfico, peças arqueológicas, elementos arquitectónicos de inegável valor histórico e artístico. No que diz respeito à colecção de arqueologia poderemos dizer que era constituída essencialmente por elementos avulsos, resultado da recolha ocasional e superficial, sobretudo oriundos da área do castelo de Abrantes e zonas limítrofes do morro onde este se implanta. Nesta altura a arqueologia limitava-se a uma recolha apaixonada, mais ou menos rigorosa, de vestígios exumados por pessoas sem formação específica, embora muito interessadas. É assim que nos surgem alguns elementos oriundos de “explorações arqueológicas “ (termo da época) levadas a cabo em Alcolobre (Constância) – elementos de coluna em cerâmica, um bastão de mando, por exemplo. Neste contexto integraram-se também os resultados da prospecção feita por Afonso do Paço, na área da Ribeira de Coalhos, com a recolha de belíssimos bifaces. A partir dos anos 80 do século xx, iniciou-se uma nova fase de trabalhos arqueológicos no Concelho, tanto patrocinados pelo Estado e, sobretudo ligados a minimizações de impacto de trabalhos públicos, como incentivados pela autarquia Abrantina que criaria, em finais de 1994, um gabinete de arqueologia. O trabalho do Gabinete teve sempre como propósito, salvaguardar o maior número possível de informação, num período especialmente perigoso para o património histórico e arqueológico, por via do grande incremento aos trabalhos públicos de grande fôlego que então se fizeram. Assim, foram intervencionados inúmeros sítios, quer directamente pelo gabinete, quer por diligência do mesmo. Destes trabalhos, resultou um enorme manancial de informação que foi registada na Carta Arqueológica do Concelho da Abrantes (2009) mas também grande recolha de vestígios arqueológicos que, fazendo parte do acervo do Museu D. Lopo de Almeida, ajudam a construir o puzzle da nossa história e materializam o nosso passado comum. O material que hoje expomos ilustra estes trabalhos de escavação, recolha superficial ocasional ou prospecção sistemática, realizados quer pelo Gabinete de Arqueologia, quer por outros investigadores que têm compreendido a importância do nosso território. Fi l o m e na Gaspa r museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes abrantes, o sudoeste, e o mundo mediterrânico o tempo, o espaço e os intercâmbios nas colecções do miaa O MIAA, com a colecção do Sr. João Estrada, constrói diversas reflexões, como sobre as relações entre arte e arqueologia ou sobre as relações entre o Sudoeste da Península Ibérica, o seu contexto Mediterrânico e as relações deste com outras regiões, em especial nos períodos que designamos por “Proto-História” e “Antiguidade Clássica”. É nesse sentido que se têm organizado sucessivas mostras da colecção (de que esta é a terceira), e é esse o sentido do texto que neste volume se publica sobre as origens do urbanismo no Sudoeste peninsular. É importante sublinhar, contudo, que o MIAA se constrói e afirma em Abrantes porque a referida colecção tem aqui a possibilidade de se confrontar com o acervo arqueológico da região, que o Museu também integra. As peças da colecção Estrada, ainda que sem contextos precisos, permitem compreender os acervos de Abrantes e desta região no quadro mais vasto que foi o dos intercâmbios a grande distância nesses períodos: por isso a preservação do património arqueológico local e a continuação da investigação vão ser da máxima importância e serão umas das funções do MIAA quando funcionar. Do mesmo modo, as peças do acervo municipal, ainda que mais limitadas na sua complexidade, oferecem não apenas a possibilidade de compreender contextos detalhados, mas também a de percorrer um espaço concreto (esta região) sem interrupções no tempo, desta forma ajudando à compreensão global das dinâmicas humanas no tempo e no espaço, desde os primeiros caçadores aos nossos dias. Abrantes ocupa, por isso, um lugar nuclear na presente exposição. A mostra de materiais provenientes de escavações no Concelho está estruturada em seis “momentos”: I. Caçadores do vale do Tejo. Alguns bifaces ilustram as primeiras ocupações humanas do vale do Tejo, pelo menos há 300.000 anos (como foi documentado na escavação da Ribeira da Ponte da Pedra, em Vila Nova da Barquinha). Alguns outros objectos em quartzito, provenientes do Povoado da Amoreira (Abrantes), testemunham a actividade dos últimos caçadores-recolectores do vale, já num momento de transição para o agro-pastoralismo. II. Pastores e Agricultores do Tejo. Uma placa de xisto e algumas lâminas de S.Facundo, e um vaso cerâmico da necrópole da Pedra da Encavalada (Jogada), testemunham as primeiras comunidades pastoris e agrícolas da região. Também de S. Facundo são um vaso carenado e alguns punhais em sílex (imitando formas metálicas), que correspondem aos primórdios da metalurgia do cobre. Deste mesmo período será o “ídolo de cornos” de Constância. III. Metalurgistas e Incineradores. Grande parte do acervo da colecção Estrada exposto nesta ante-visão encontra ecos em peças de Abrantes como a foice e o machado em bronze de Rio de Moinhos, ou a cerâmica da Mamoa do Souto ou do próprio Castelo (que foi ocupado na Idade do Bronze muito antes de nele se erguerem as actuais muralhas, e de onde também provém um machado sub-circular). Um pouco mais recentes, mas também com paralelos nas peças “proto-históricas” tardias da Colecção Estrada, são uma conta de colar púnica ou o bastão gravado que se podem observar. Esta é a época em que, também em Abrantes, se consolida a metalurgia e se generalizam os rituais de incineração dos mortos. IV. Romanização. Cerâmicas, vidros e metais ilustram um momento decisivo para a estruturação do território abrantino e tagano em geral: a romanização e, com ela, a organização territorial, incluindo das redes de comunicação, que em grande medida ainda está na raiz das actuais redes de intercâmbio. V. Abrantes medieval. Abrantes consolida-se no período paleo-cristão, assumindo depois uma dinâmica de crescimento económico associada às reformas da produção agrícola no contexto da consolidação do Estado Português, e disso são testemunhas as peças expostas. VI. Abrantes pós-medieval. Entre inúmeros outros testemunhos, as escavações de terrenos do antigo Convento de S. Domingos propiciadas pelo projecto do MIAA ilustram a continuidade e a importância crescente da ocupação de Abrantes nas épocas moderna e contemporânea. Os momentos I, II e VI são ilustrados a cinzento, pois enquadram cronologicamente os períodos não destacados na presente exposição. Os momentos III, IV e V são ilustrados a cores, que o visitante irá reencontrar na exposição de peças do acervo da Colecção Estrada, desta forma podendo, de forma simples, compreender as coincidências cronológicas. P.S. Agradecemos a Filomena Gaspar, Álvaro Baptista e Ana Rosa Cruz a sugestão de algumas das peças seleccionadas para a presente mostra. Lu i z O o st e rb e e k Biface Biface Paleolítico Pedra Dimensões: altura (27 cm) comprimento (6 cm) Proveniência – Pego Paleolítico Pedra Dimensões: altura (16 cm) comprimento (10,5 cm) Proveniência – Pego Paleolithic Stone Dimensions: length (27 cm) width (6 cm) Provenance - Pego Paleolithic Stone Dimensions: length (16 cm) width (10,5 cm) Provenance - Pego Biface Biface 12 13 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Alabarda Alabarda Calcolítico Sílex Dimensões: comprimento (15,4 cm) largura (14 cm) Proveniência – S. Facundo Calcolítico Sílex Dimensões: comprimento (15,4 cm) largura (14 cm) Proveniência – S. Facundo Chalcolithic Silex Dimensions: length (15,4 cm) width (14 cm) Provenance – S. Facundo Chalcolithic Silex Dimensions: length (15,2 cm) width (11,9 cm) Provenance – S. Facundo Halberd Halberd Placa Neolítico Xisto Dimensões: comprimento (17,6 cm) largura (12 cm) Proveniência – S. Facundo Tablet Neolithic Schist Dimensions: length (17,6 cm) width (12 cm) Provenance – S. Facundo 3 Punhais Calcolítico Sílex Dimensões máximas: comprimento (10,8 cm) largura (3,2 cm) Proveniência – S. Facundo 3 Poignards Chalcolithic Silex Maximum dimensions: length (10,8 cm) width (3,2 cm) Provenance – S. Facundo 14 15 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes 6 Lâminas Neolítico Sílex Dimensões máximas: comprimento (19,5 cm) largura (2,2 cm) Proveniência – S. Facundo Copo 6 Blades Calcolítico Cerâmica Dimensões: altura (7,1 cm) comprimento (12,1 cm) Proveniência – S. Facundo Neolithic Silex Maximum dimensions: length (19,5 cm) width (2,2 cm) Provenance – S. Facundo Cup Chalcolithic Ceramic Dimensions: height (7,1 cm) length (12,1 cm) Provenance – S. Facundo 16 17 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Urna cinerária Idade do Bronze Cerâmica Dimensões: altura (8 cm) comprimento (12 cm) Proveniência – Souto Cinerary Urn Bronze Age Ceramic Dimensions: length (8 cm) width (12 cm) Provenance – Souto Taça Púcaro Neolítica Cerâmica Dimensões: altura (8 cm) comprimento (13 cm) Proveniência – Fontes Idade do Bronze Cerâmica Dimensões: altura (33 cm) comprimento (31 cm) Proveniência – Souto Neolithic Ceramic Dimensions: length (8 cm) width (13 cm) Provenance – Fontes Bronze Age Ceramic Dimensions: length (33 cm) width (31 cm) Provenance – Souto Cup Jar 18 19 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Polidor Idade do Bronze Pedra Dimensões: altura (26 cm) comprimento (5 cm) Proveniência – Castelo de Abrantes Polisher Bronze Age Stone Dimensions: length (26 cm) width 51 cm) Provenance – Castle of Abrantes Tacinha Idade do Bronze Cerâmica Dimensões: altura (6,5 cm) comprimento (11 cm) Proveniência – Castelo de Abrantes Cup Bronze Age Ceramica Dimensions: length ( 6,5 cm) width (11 cm) Provenance – Castle of Abrantes Machado de calaíte verde Idade do Bronze Pedra Dimensões: altura (3 cm) comprimento (11 cm) Proveniência – Castelo de Abrantes Axe Bronze Age Stone Dimensions: length (3 cm) width (11 cm) Provenance - Castle of Abrantes 20 21 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Cossoiros Idade do Ferro Cerâmica Dimensões: altura (2 cm) comprimento (3 cm) Proveniência – Rio de Moinhos Elements of spindles Iron Age Cerâmica Dimensions: length (2 cm) width (3 cm) Provenance – Rio de Moinhos Machado Idade do Bronze Bronze Dimensões: altura (7 cm) comprimento (6 cm) Proveniência – Rio de Moinhos Axe Bronze Age Bronze Dimensions: length (7 cm) width (6 cm) Provenance – Rio de Moinhos Foice Idade do Bronze Bronze Dimensões: altura (12,5 cm) comprimento (4,5 cm) Proveniência – Rio de Moinhos Sickle Bronze Age Bronze Dimensions: length (12,5 cm) width (4,5 cm) Provenance – Rio de Moinhos Conta de vidro oculada Orientalizante, séculos VIII- VI a.C. Pasta vítrea Dimensões: altura (2 cm) comprimento (1,5 cm) Proveniência – Rio de Moinhos Bead Orientalizing Period, 8th-6th centuries BC Glass Dimensions: length (2 cm) width (1,5 cm) Provenance – Rio de Moinhos 22 23 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Ídolo de cornos Urna cinerária Calcolítico Cerâmica Dimensões: altura (12,5 cm) comprimento (10,5 cm) Proveniência – Constância Idade do Ferro Cerâmica Dimensões: altura (16 cm) comprimento (15 cm) Proveniência – Alvega Idol of horns Cinerary Urn Chalcolithic Ceramic Dimensions: length (12,5 cm) width (10,5 cm) Provenance – Constância Iron Age Ceramic Dimensions: length (16 cm) width (15 cm) Provenance – Alvega Bastão de comando Idade do Bronze Pedra Dimensões: altura (19,5 cm) comprimento (6 cm) Proveniência – Constância Baton of command Bronze Age Stone Dimensions: length (19,5 cm) width (6 cm) Provenance - Constância 24 25 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Unguentário Romano, séculos I-II d.C Vidro Dimensões: altura (10,5 cm) comprimento (7 cm) Proveniência – Alferrarede Toilet bottle Garrafa circular Roman, 1st-2nd centuries AD Glass Dimensions: length (10,5 cm), width (7 cm) Provenance – Alferrarede Romano, século I-II d.C Vidro Dimensões: altura (22 cm) comprimento (14 cm) Proveniência – Alferrarede Unguentário Circular bottle Romano, séculos I-II d.C Vidro Dimensões: altura (12 cm) comprimento (7,5 cm) Proveniência – Alferrarede Roman, 1st-2nd centuries AD Glass Dimensions: length (22 cm) width (14 cm) Provenance – Alferrarede Toilet bottle Roman, 1st-2nd centuries AD Glass Dimensions: length (12 cm) width (7,5 cm) Provenance – Alferrarede Unguentário Romano, séculos I-II d.C Vidro Dimensões: altura (10 cm) comprimento (6 cm) Proveniência – Alferrarede Toilet bottle Roman, 1st-2nd centuries AD Glass Dimensions: length (10 cm), width (6 cm) Provenance – Alferrarede Unguentário Romano, séculos I-II d.C Vidro Dimensões: altura (10 cm) comprimento (3 cm) Proveniência – Alferrarede Toilet bottle Roman, 1st-2nd centuries AD Glass Dimensions: length (10 cm) width (3 cm) Provenance – Alferrarede Tacinha Romano, séculos I-II d.C Vidro Dimensões: altura (2,5 cm) comprimento (9 cm) Proveniência – Alferrarede Unguentário Romano, séculos I-II d.C Vidro Dimensões: altura (9,5 cm) comprimento (5 cm) Proveniência – Alferrarede Cup Roman, 1st-2nd centuries AD Glass Dimensions: length (2,5 cm) width (9 cm) Provenance – Alferrarede Toilet bottle Roman, 1st-2nd centuries AD Glass Dimensions: length (9,5 cm) width (5 cm) Provenance – Alferrarede Garrafa rectangular Romano, séculos I-II d.C Vidro Dimensões: altura (22 cm) comprimento (6 cm) Proveniência – Alferrarede Rectangular bottle Roman, 1st-2nd centuries AD Glass Dimensions: length (22 cm) width (6 cm) Provenance – Alferrarede 26 27 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Pote Tardo-romano Cerâmica Dimensões: altura (53 cm) comprimento (52 cm) Proveniência – Pego Pot Late Roman Ceramic Dimensions: length (53 cm) width (52 cm) Provenance – Pego Anel com leão gravado Romano, séculos I-II d.C Ouro Dimensões: altura (1 cm) comprimento (2 cm) Proveniência – Alferrarede Ring with engraving of lion Roman, 1st-2nd centuries AD Gold Dimensions: length (1 cm) width (2 cm) Provenance – Alferrarede Anel com pedra verde Romano, séculos I-II d.C Ouro Dimensões: altura (1 cm) comprimento (2 cm) Proveniência – Alferrarede Ring with green stone Roman, 1st-2nd centuries AD Gold Dimensions: length (1 cm) width (2 cm) Provenance – Alferrarede 28 29 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Estela funerária Medieval Xisto Dimensões: altura (28,5cm) largura (6 cm) Proveniência – Abrantes Adereços de cinturão Época visigótica, século VI-VII d.C Bronze Dimensões do conjunto: comprimento (11,5 cm) largura máxima (3,3 cm) Proveniência: Alvega Funerary stele Middle Ages Schist Dimensions: length (28,5 cm) width (6 cm) Provenance – Abrantes Elements of belt Visigothic, 6th-7th centuries AD Bronze Dimensions: length (11,5 cm) width (3,3 cm) Provenance – Alvega Pulseira Época visigótica, séc.VI-VII d.C Bronze Dimensões: comprimento (7 cm), largura (6,5 cm) Proveniência – Alvega Bracelet Visigothic, 6th-7th centuries AD Bronze Dimensions: length (7 cm) width (6,5 cm) Provenance – Alvega 30 31 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes ornamentos para a última viagem: pulseiras da idade do bronze e idade do ferro A Europa do segundo e do primeiro milénio a.C. conhece uma extraordinária variedade de culturas humanas, caracterizadas por diferentes manifestações sociais, artísticas, tecnológicas e rituais. Em meados deste período de dois mil anos, no final do segundo milénio a.C., intensificou-se também o uso do ritual funerário da incineração, que, no final da Idade do Bronze, chega quase a substituir a inumação, para depois voltarem a co-existir ambos os rituais na Idade do Ferro na maioria do continente. À frente desta admirável variabilidade cultural, alguns elementos da cultura material permaneceram imutáveis nas manifestações culturais humanas, quer na dimensão quotidiana quer na dimensão ritual. Alguns destes elementos são as pulseiras, ornamentos pessoais, existentes desde o Calcolitico: trata-se de um ornamento de cor atraente e facilmente obtido forjando a frio ou a quente um fio de ouro ou de cobre, em formas simples ou mais complexas formando mais círculos em espiral. Para este período conhecemos pulseiras usadas como adereços funerários, mas certamente que também eram usadas no quotidiano. Na Idade do Bronze as pulseiras encontram-se em povoados, depósitos e, sobretudo, em contextos sepulcrais. Na Idade do Bronze Antigo, conservam a mesma forma que no Calcolitico, com um fio bastante fino e enroladas formando espirais, e sem decoração (CE04648). Com a Idade do Ferro, para além das mudanças no campo da tecnologia, das estruturas sociais e das manifestações do sagrado, as culturas da Europa continental entram em contacto com as civilizações do mundo mediterrânico; as pulseiras permanecem nos adereços funerários, sobretudo na área cultural de Hallstatt, sendo caracterizadas quer pela sobreposição dos cabos simples (CE04628, CE04654) ou maciços e decorados (CE04629), quer pela recorrente decoração a de pequenos globos, típicas sobretudo dos grupos da Europa Centro-Oriental (CE04634), onde algumas produções hallstatticas sofreram influências da Cultura Cita, produzindo pulseiras com motivos zoomorfos (CE04658). Ao longo dos séculos, nas Idades dos Metais, as pulseiras eram adornos pessoais quer para mulheres, quer para homens, sendo achadas sobretudo nas sepulturas de incineração do final da Idade do Bronze, com outros elementos de adereços como fusos e adornos (mulheres) ou armas (homens). Adornos que acompanham na vida de todos os dias bem como no além, provavelmente significando uma conceptualização da continuidade de modo e estilo de vida depois da morte, bem como a conservação da condição social. mas iniciando a ter algumas decorações incisas, como os exemplares da Cultura de Unetice (CE04622, CE04627), na maioria ainda feitas só com cobre. Quando, na Idade do Bronze Final, a tecnologia e a produção de bronze atingem o seu cume, também entre as pulseiras aparecem exemplares de excelente qualidade, maciças, de formas mais variadas e ricamente decoradas como na França alpina e atlântica (CE01792, CE01873, CE04625), quer em sepulturas, quer em depósitos. Na Europa Ocidental, pela mesma altura, na Cultura dos Campos de Urnas, as pulseiras que faziam parte dos adereços, principalmente de túmulos com incineração, eram mais simples, sendo muitas delas constituídas por poucas voltas em bronze (CE04631) ou, na maioria, só uma volta, não maciça e decorada só com alguns motivos incisos nos cabos (CE04633, CE04651, CE04652, CE04653, CE04660), mas a forma e a consistência das pulseiras varia apesar da região e do gosto. Com o Bronze Final e a difusão dos Campos de Urnas pela Europa, algumas pulseiras da Europa Ocidental eram extremamente simples sendo muito finas e não decoradas (CE04662, CE04663, CE04664, CE04665, CE04666) ou simplesmente não decoradas (CE04635, CE04661) no caso das da Europa Central. No complexo âmbito territorial dos Campos de Urnas, também na Europa Oriental não faltam nos túmulos pulseiras mais maciças Bi b l i o g r a f ia Brun, P. e C. Mordant (eds.) (1988) Kobal, J.V. 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(1970) au Premier Age du Fer, actes du XXI Colloque Der arm- und Beinschmuck der Bronze- und International de l’Association Française Urnerfelderzeit in Hessen und Rheinhessen, pour l’Etude de l’ Age du Fer-Conques et Prahistorishe Bronzefunde, abt. X, band 1, Montpellier, Paris : Centre National des Munique: C.H. Beck’sche verlagsbuchhandlung Recherches Scientifiques Wels-Weyrauch, U. (1978) Gaucher, G. (1981) Sudwestdeutschland und Nordbayern, Bassin Parisien, Paris : Éditions du CNRS Prahistorishe Bronzefunde, abt. XI, band 1, Munique: C.H. Beck’sche verlagsbuchhandlung Gimbutas, M. (1965) Bronze Age Cultures in Central and Eaestern Europe, Paris-Londres: Mouton & Co. Kemenczei, T. e M. Szabó (1998) Budapeste: Centre Archéologique Européen 32 33 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Die Anhanger und Halsringe in Sites et Cultures de l’Age du Bronze dans le À la frontière entre l’ est et l’ouest, Dav i de D e l f i n o Estugarda : Franz Steiner Verlag M. Py e M. Schwaller (eds.) (2000) du Mont Beuvray Inv. CE04661 Inv. CE04664 Pulseira Pulseira Europa Central, Cultura dos Campos de Urnas, sécs. XII-XI a.C. Bronze Dimensões: altura (6,4 cm) comprimento (0,5 cm) Europa Central-Ocidental, Cultura dos Campos de Urnas, sécs. XI- X a.C. Bronze Dimensões: altura (6,4 cm) comprimento (0,5 cm) Bracelet Bracelet Central-Western Europe, Urnfield Culture, 11th-10th centuries BC Bronze Dimensions: height (6,4 cm) length (0,5 cm) Central Europe, Urnfield Culture, 12th-11th centuries BC Bronze Dimensions: height (6,4 cm) length (0,5 cm) Inv. CE04665 Pulseira Inv. CE04662 Pulseira Europa Centro-Ocidental, Cultura dos Campos de Urnas, sécs. XI- X a.C. Bronze Dimensões: altura (6,4 cm) comprimento (0,4 cm) Europa Central-Ocidental, Cultura dos Campos de Urnas, sécs. XI- X a.C. Bronze Dimensões: altura (6,4 cm) comprimento (0,5 cm) Bracelet Central-Western Europe, Urnfield Culture, 11th-10th centuries BC Bronze Dimensions: height (6,4 cm) length (0,4 cm) Bracelet Central-Western Europe, Urnfield Culture, 11th-10th centuries BC Bronze Dimensions: height (6,4 cm) length (0,5 cm) Inv. CE04666 Pulseira Inv. CE04663 Europa Centro-Ocidental, Cultura dos Campos de Urnas, Sécs. XI- X a.C. Bronze Dimensões: altura (6,1 cm) comprimento (0,4 cm) Bracelet Central-Western Europe, Urnfield Culture, 11th-10th centuries BC Bronze Dimensions: height (6,4 cm) length (0,5 cm) Pulseira Europa Central-Ocidental, Cultura dos Campos de Urnas, sécs. XI- X a.C. Bronze Dimensões: altura (6,4 cm) comprimento (0,5 cm) Bracelet Central-Western Europe, Urnfield Culture, 12th-11th centuries BC Bronze Dimensions: height (6,4 cm) length (0,5 cm) 34 35 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE01792 Inv. CE01873 Norte de França, séc. XIII a.C. Bronze Dimensões: altura (12,5 cm) comprimento (13,2 cm) largura (1,4 cm) França, sécs. XII-XI a.C. Bronze Dimensões: altura (8,2 cm) comprimento (10,3 cm) largura (1,9 cm) Northern France, 13th century BC Bronze Dimensions: height (12,5 cm) length (13,2 cm) width (1,4 cm) France, 12th-11th centuries BC Bronze Dimensions: height (8,2 cm) length (10,3 cm) width (1,9 cm) Pulseira Pulseira Bracelet Bracelet Inv. CE04648 Pulseira Inv. CE04625 Europa Oriental, sécs. XI- IX a.C. Bronze Dimensões: altura (8,6 cm) comprimento (10,2 cm) Pulseira Eastern Europe, 11th-9th centuries BC Bronze Dimensions: height (8,6 cm) length (10,2 cm) Bracelet Europa Central-Ocidental, séc. XIII a.C. Bronze Dimensões: altura (6,5 cm) comprimento (2,2 cm) Bracelet Central-Western Europe, 13th century BC Bronze Dimensions: height (6,5 cm) length (2,2 cm) 36 37 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE04631 Pulseira Europa Central-Ocidental, Cultura dos Campos de Urnas, sécs. XII a.C. Bronze Dimensões: altura (7,2 cm) comprimento (1,8 cm) Bracelet Central-Western Europe, Urnfield Culture, 12th century BC Bronze Dimensions: height (7,2 cm) length (1,8 cm) Inv. CE04627 Inv. CE04622 Europa Central, Culturas de Unetice ou Straubing, sécs. XVIII-XVII a.C. Bronze Dimensões: altura (8,4 cm) comprimento (9,5 cm) Europa Central, Cultura de Unetice, sécs. XIX- XIV a.C. Bronze Dimensões: altura (7 cm) comprimento (7,7 cm) Central Europe, Cultures of Unetice or Straubing, 18th-17th centuries BC Bronze Dimensions: height (8,4 cm) length (9,5 cm) Central Europe, Culture of Unetice, 19th-14th centuries BC Bronze Dimensions: height (7 cm) length (7,7 cm) Pulseira Pulseira Bracelet Bracelet 38 39 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE04658 Pulseira Inv. CE04634 Europa Central-Oriental, séc. V a.C. Bronze Dimensões: altura (4 cm) comprimento (6 cm) largura (1,6 cm) Pulseira Europa Central-Oriental, sécs. VII-VI a.C. Bronze Dimensões: altura (6 cm) comprimento (5,7 cm) Bracelet Bracelet Central-Eastern Europe, 5th century BC Bronze Dimensions: height (4 cm) length (6 cm) width (1,6 cm) Central-Eastern Europe, 7th-6th centuries BC Bronze Dimensions: height (6 cm) length (5,7 cm) Inv. CE04628 Inv. CE04635 Pulseira Pulseira Europa Central, séc. VI a.C. Bronze Dimensões: altura (1,1 cm) comprimento (1,1 cm) Europa Central, Cultura dos Campos de Urnas, séc. XII a.C. Bronze Dimensões: altura (5,5 cm) comprimento (5,8 cm) Bracelet Central Europe, 6th century BC Bronze Dimensions: height (1,1 cm) length (1,1 cm) Bracelet Central Europe, Urnfield Culture, 12th century BC Bronze Dimensions: height (5,5 cm) length (5,8 cm) 40 41 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE04629 Pulseira Europa Central e Península Balcânica, séc. VI a.C. Bronze Dimensões: altura (8,9 cm) comprimento (2,7 cm) Bracelet Central Europe and Balkans, 6th century BC Bronze Dimensions: height (8,9 cm) length (2,7 cm) Inv. CE04651 Pulseira Alemanha, Cultura dos Campos de Urnas, séc. XIII a.C. Bronze Dimensões: altura (6,1 cm) comprimento (6,4 cm) Bracelet Germany, Urnfield Culture, 13th century BC Bronze Dimensions: height (6,1 cm) length (6,4 cm) Inv. CE04652 Pulseira Alemanha, Cultura dos Campos de Urnas, séc. XIII a.C. Bronze Dimensões: altura (7 cm) Inv. CE04633 Pulseira Europa Central-Ocidental, Cultura dos Campos de Urnas, sécs. XII a.C. Bronze Dimensões: altura (7 cm) comprimento (0,6 cm) comprimento (7,6 cm) Bracelet Germany, Urnfield Culture, 13th century BC Bronze Dimensions: height (7 cm) length (7,6 cm) Bracelet Central-Western Europe, Urnfield Culture, 12th century BC Bronze Dimensions: height (7 cm) length (0,6 cm) Inv. CE04653 Pulseira Alemanha, Cultura dos Campos de Urnas, séc. XIII a.C. Bronze Dimensões: altura (6,8 cm) comprimento (7,4 cm) Bracelet Germany, Urnfield Culture, 13th century BC Bronze Dimensions: height (6,8 cm) length (7,4 cm) 42 43 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes mais que um elemento funcional: fibulas da peninsula ibérica desde a proto-história à alta idade média A fíbula resulta, basicamente, da evolução dos alfinetes em liga metálica da Idade do Bronze, destinados a fixar ou prender duas ou mais peças de vestuário. A sua técnica de fabricação é semelhante à dos alfinetes, resultando da fundição em moldes de uma peça rectilínea e depois dobrando-a a frio ou a quente até formar, então, uma fíbula. Inventada no final do ii milénio a.C. na área Mediterrânea, conheceu uma ampla difusão geográfica, estando presente igualmente na Península Ibérica. A palavra fíbula é latina e significa “gancho”ou “fecho”. Nesta exposição, são apresentados exemplares de fíbulas que podem ser encontradas na Península Ibérica durante um largo período de tempo, começando pela Idade do Ferro, passando pela época Romana e terminando já em pleno domínio Visigodo. Em comum, todas estas fíbulas têm a sua característica técnica básica, mas convém notar que o seu uso podia ser bastante diversificado, que não somente funcional. Assim, beneficiando da sua posição privilegiada no corpo humano, ou seja, no peito e como tal visível para toda a gente, a fíbula podia igualmente ser uma insígnia militar, religiosa, sócio-económica, profilática e simbólica. Uma mais correcta interpretação do seu uso está dependente de elementos como o contexto do seu achamento, o seu tamanho, a decoração que assume, entre outros. Desde os primeiros exemplares da Idade do Bronze Final, muito simples e de influência mediterrânica (CE00186), com a Primeira Idade do Ferro (período Orientalizante) aparecem fíbulas mais elaboradas, formadas por mais peças soldadas não só em bronze (CE03741) mas também em ouro (CE01289) e prata (CE01451, CE02595), aparecendo também elementos zoomorfos com significado simbólico. Na Segunda Idade do Ferro, a Península Ibérica foi a vários níveis sujeita a influências da cultura céltica de La Téne, sobretudo na sua parte oriental, estando sempre presentes nas sepulturas quer masculinas, quer femininas. Juntamente com as fíbulas de estrutura complexa, mas de sintaxe artística “abstracta” (CE03080, CE03089), assumem um particular significado simbólico as zoomorfas, representando animais simbolicamente significativos (CE00226, CE00255), em particular o cavalo (CE00241, CE00242, CE00243), que era um animal ligado ao poder e aos níveis sociais elevados: combater com o auxílio dos cavalos ou criar estes animais para a elite guerreira contribuiu o nascimento duma ideologia equestre que as elites ostentavam quer na vida quotidiana, quer no além. O cavalo estava também ligado na mitologia celta a deuses duma certa relevância como Epona, deusa da fertilidade agrícola, e Taranis, deus guerreiro e fulminador. Em áreas da Península Ibérica menos influenciadas pela arte céltica do La Téne, aparecem fíbulas menos elaboradas estética e simbolicamente, mais com uma estrutura evidentemente mais desenvolvida e completamente diferente relativamente aos exemplares mais antigos. Nestas novas fíbulas (CE00211, CE03104), o aro forma um círculo completo e a agulha sobrepõe-se-lhe, passando a ser esta e não aro, como nas fíbulas antecedentes, o elemento a ser decorado. No final da Idade do Ferro, as fíbulas passaram a ser ainda mais elaboradas, chegando a haver exemplares nos quais a fíbula é tão-somente um suporte para uma decoração com um significado simbólico particular: como exemplo, veja-se uma fíbula celtibérica (CE03635) representando um guerreiro a cavalo, provável distintivo dum grupo social ou duma classe de guerreiros. Inv. CE00186 Fíbula Península Ibérica, sécs. IX- VIII a. C. Bronze Dimensões: altura (5 cm) comprimento (10,7 cm) largura (0,3 cm) Fibula Iberian Peninsula, 9th-8th centuries BC Bronze Dimensions: height (5 cm) length (10,7 cm) width (0,3 cm) Já da época romana, encontram-se nesta exposição seis fíbulas. Cinco delas (CE03079, CE03080, CE03081, CE03087 e CE03116) são de origem itálica e podem ser encontradas um pouco por todo o império romano. Já a fíbula com 4 espirais (CE03109) pertenceu a um membro das tribos bárbaras da Europa Oriental que serviu provavelmente como mercenário no exército romano. O seu uso, com uma forma diferente daquelas que eram habituais no mundo romano, indica um desejo de afirmar uma identidade autónoma. De notar ainda que as fíbulas CE03079 e CE03080 foram limpas recentemente, pelo que o seu brilho dourado original pode ser visto, em contraste com a cor castanho-esverdeado que os antigos objectos de bronze têm actualmente. Por último, há ainda nove fíbulas da época visigótica, datáveis do séculos v-vi d.C. Dois tipos de tecnologia diferente podem ser aqui identificados. Um, feito segundo a técnica de cloisoneé, é composta por duas peças (CE00561 e CE00562) em forma de ave, provavelmente águias. Já o outro grupo, foi feito mediante fundição, com decoração de tipo geométrico realizado a cinzel e com várias das peças a apresentar prótumos de aves, sendo provável que também sejam águias (CE03229, CE03231, CE03244, CE03252, CE03257, CE03262 e CE03267). Ambas são peças de origem germânica e foram utilizadas pelos Visigodos depois da sua conquista da Península Ibérica e antes de se converterem ao catolicismo, funcionando assim, como claros marcadores identitários. Note-se também que estas fíbulas são geralmente encontradas em cemitérios, pelo que neste contexto a águia significava para os Visigodos (cristãos, mas arianos e não católicos) a contemplação de Cristo. Biblio grafia A.A.V.V. (1993) L’ Arte dei Popoli Italici dal 3000 al 300 a.C., Nápoles: Elekta AA. VV. (2006) La Investigación Arqueológica de la Época Visigoda en la Comunidad de Madrid, Alcalá de Henares: Museo Arqueológico Regional Almagro Gorbea, M. e M. Torres M (1999) Las fíbulas de jinete y de caballito. Aproximación a las elites ecuestres y su expansión en la Hispania céltica, Saragoça: Institución Fernando el Católico Formigli, E. (ed.) (2003) Fibulae: dall’etá del Bronzo all’Alto Medioevo. Tecnica e tipologia, Firenze: edizioni Polistampa Gambari, F.M. e U. Tecchiati (2004) Il cane e il cavallo come elementi di regalitá nella preistoria e nella protostoria, in Marzatico, F. e P. Gleischer (eds.) Guerrireri, Principi ed Eroi fra il Danubio eil Po’ dalla Preistoria all’ Alto Medioevo, Trento: Castello del Buonconsiglio Gu stavo Porto c a rre ro e Dav i de D e l f i n o López, Gisela Ripoll (1998) Toréutica de la Bética, Barcelona: Real Acadèmia de Bones Lletres Mohen, J.P. (1980) L’ Age du Fer en Aquitaine, Memoires de la Scieté Prehistorique Française, tome 14, Paris: S.P.F. Moscati, S. et al.(eds.) (1991) I Celti, catalogo da exposição de Veneza, Palazzo Grassi, Milão: Gruppo editoriale Bompiani Ponte, Salete da (2006) Corpus Signorum das Fíbulas Proto-Históricas e Romanas de Portugal, Casal de Cambra: Caleidoscópio 44 45 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE01289 Fíbula Península Ibérica e Itália , séc. VII a. C. Ouro Dimensões: altura (5,9 cm) comprimento (6,9 cm) largura (2 cm) Fibula Iberian Peninsula and Italy, 7th century BC Gold Dimensions: height (5,9 cm) length (6,9 cm) width (2 cm) Inv. CE01451 Fíbula com aplicação ornitomorfa Península Ibérica, séc. VII a.C. Prata Dimensões: altura (3 cm) comprimento (7,9 cm) largura (0,4 cm) Fíbula with application of bird Iberian Peninsula, 7th century BC Silver Dimensions: height (3 cm) length (7,9 cm) width (0,4 cm) Inv. CE02595 Fíbula Península Ibérica, séc. VII a.C. Prata Dimensões: altura (3,6 cm) comprimento (10 cm) largura (1,5 cm) Inv. CE03741 Fíbula Mediterrâneo Centro-Ocidental, séc. VII a.C. Bronze Dimensões: Fíbula Iberian Peninsula, 7th century BC Silver Dimensions: height (3,6 cm) length (10 cm) width (1,5 cm) altura (2,2 cm) comprimento (6,4 cm) largura (0,4 cm) Fibula Central-Western Mediterranean, 7th century BC Bronze Dimensions: height (2,2 cm) length (6,4 cm) width (0,4 cm) 46 47 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00243 Inv. CE00242 Fíbula com extremidade em forma de cabeça de cavalo Fíbula zoomorfa com aro em forma de cavalo Península Ibérica e Europa Céltica, sécs. IV-III a. C. Bronze Dimensões: altura (3,2 cm) comprimento (12 cm) largura (0,5 cm) Península Ibérica, sécs. V-III a. C. Bronze Dimensões: altura (2,1 cm) comprimento (3,9 cm) largura (0,7 cm) Zoomophic fibula with ring-shaped horse Fibula with horse-head shape extremity Iberian Peninsula, 6th century BC Bronze Dimensions: height (2,1 cm) length (3,9 cm) width (0,7 cm) Iberian Peninsula and Celtic Europe, 4th-3rd centuries BC Bronze Dimensions: height (3,2 cm) length (12 cm) width (0,5 cm) Inv. CE00241 Fíbula zoomorfa com aro em forma de cavalo Península Ibérica, sécs. V-III a. C. Bronze Dimensões: altura (2,8 cm) comprimento (4 cm) largura (0,5 cm) Zoomorphic fibula with ring-shaped horse Iberian Peninsula, 5th-3rd centuries BC Bronze Dimensions: height (2,8 cm) length (4 cm) width (0,5 cm) 48 49 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE03104 Fíbula Península Ibérica, séc. VI a. C. Bronze Dimensões: altura (1,8 cm.) comprimento (3,4 cm.) Fibula Iberian Peninsula, 6th century BC Bronze Dimensions: height (1,8 cm) length (3,4 cm) Inv. CE03089 Inv. CE00211 Fíbula Fíbula de tipo anelar Europa Centro-Ocidental, sécs. V- IV a.C. Bronze Dimensões: altura (2,6 cm) comprimento (5,6 cm) largura (2,6 cm) Península Ibérica, séc. VI a. C. Bronze Dimensões: altura (2,4 cm) comprimento (5,2 cm) largura (0,7 cm) Central-Western Europe, 5th-4th centuries BC Bronze Dimensions: height (2,6 cm) length (5,6 cm) width (2,6 cm) Iberian Peninsula, 6th century BC Bronze Dimensions: height (2,4 cm) length (5,2 cm) width (0,7 cm) Fibula Inv. CE03084 Ring fibula Fíbula Centro-Leste da Península Ibérica e Europa Céltica, sécs. V-III a.C. Bronze Dimensões: altura (2,8 cm) comprimento (6,3 cm) largura (8,4 cm) Fibula Central-Eastern Iberian Peninsula and Celtic Europe, 5th-3rd centuries BC Bronze Dimensions: height (2,8 cm) length (6,3 cm) width (8,4 cm) Inv. CE00255 Fíbula tipo La Téne B Península Ibérica e França, séc. V a. C. Bronze Dimensões: altura (3,5 cm) comprimento (3,9 cm) largura (0,4 cm) Fibula of type La Téne B Iberian Peninsula and France, 5th century BC Bronze Dimensions: height (3,5 cm), length (3,9 cm), width (0,4 cm) 50 51 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE03635 Fíbula zoomorfa, em forma de cavaleiro, Centro-Leste da Península Ibérica Bronze, sécs. IV-III a.C. Bronze Dimensões: altura (5,8 cm) comprimento (6 cm) largura (0,8 cm) Inv. CE03109 Fíbula bárbara em forma de espiral Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,5 cm) comprimento (3,2 cm) largura (0,2 cm) Fibula with knight shape Central-Eastern Iberian Peninsula, 4th3rd centuries BC Bronze Dimensions: height (5,8 cm) length (6 cm) width (0,8 cm) Barbarian fibula with spiral shape Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,5 cm) length (3,2 cm) width (0,2 cm) Inv. CE03087 Fíbula romana em forma de ómega Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,5 cm) comprimento (0,3 cm) Roman fibula with omega shape Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,5 cm) length (0,3 cm) Inv. CE03116 Fíbula romana Império Romano Bronze Dimensões: altura (2,8 cm) comprimento (5,8 cm) largura (2,2 cm) Roman fibula Roman Empire Bronze Dimensions: height (2,8 cm) length (5,8 cm) width (2,2 cm) 52 53 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE03081 Fíbula romana Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,5 cm) comprimento (5,7 cm) largura (1,7 cm) Inv. CE03079 Fíbula romana Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,7 cm) comprimento (10,1 cm) largura (6,6 cm) Roman fibula Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,5 cm) length (5,7 cm) width (1,7 cm) Roman fibula Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,7 cm) length (10,1 cm) width (6,6 cm) Inv. CE03080 Fíbula romana Inv. CE00562 Inv. CE00561 Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze, rubi e pasta vítrea Dimensões: altura (9,2 cm) comprimento (4 cm) largura (0,7 cm) Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze, rubi e pasta vítrea Dimensões: altura (7,6 cm) comprimento (3,7 cm) largura (0,7 cm) Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze, rubi and glass Dimensions: height (9,2 cm) length (4 cm) width (0,7 cm) Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze, rubi and glass Dimensions: height (7,6 cm) length (3,7 cm) width (0,7 cm) Fíbula visigótica em forma de ave Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,5 cm) comprimento (9 cm) largura (7,1 cm) Roman fibula Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,5 cm) length (9 cm) width (7,1 cm) Visigothic fibula with bird’s shape 54 55 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Fíbula visigótica em forma de ave Visigothic fibula with bird’s shape Inv. CE03252 Fíbula visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e ferro Dimensões: altura (2,1 cm) comprimento (5,8 cm) largura (0,4 cm) Inv. CE03257 Fíbula visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e ferro Dimensões: altura (3,6 cm) comprimento (13,7 cm) largura (0,3 cm) Visigothic fibula Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and iron Dimensions: height (2,1 cm) length (5,8 cm) width (0,4 cm) Visigothic fibula Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and iron Dimensions: height (3,6 cm) length (13,7 cm) width (0,3 cm) Inv. CE03231 Fíbula visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pedra dura Dimensões: altura (5,2 cm) comprimento (14,2 cm) largura (0,4 cm) Visigothic fibula Inv. CE03229 Inv. CE03244 Fíbula visigótica Fíbula visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pedra dura Dimensões: altura (6,2 cm) comprimento (15,6 cm) largura (0,2 cm) Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e ferro Dimensões: altura (3,9 cm) comprimento (10,3 cm) largura (0,3 cm) Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and hard stone Dimensions: height (6,2 cm) length (15,6 cm) width (0,2 cm) Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and iron Dimensions: height (3,9 cm) length (10,3 cm) width (0,3 cm) Visigothic fibula Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and hard stone Dimensions: height (5,2 cm) length (14,2 cm) width (0,4 cm) Visigothic fibula Inv. CE03667 Fíbula visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze Dimensões: altura (3,4 cm) comprimento (7,7 cm) largura (1,7 cm) Visigothic fibula Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze Dimensions: height (3,4 cm) length (7,7 cm) width (1,7 cm) 56 57 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes a figura humana nos ex-votos de bronze iberos Os Iberos constituem a expressão máxima da cultura arqueológica da Península Ibérica entre os sécs. vi e i a.C., sobretudo deviso à sua refinada produção artística. Vivendo sobretudo no Levante da Espanha, sofreram influências púnicas e gregas na organização social e na expressão da arte. Na produção escultórica revestiu particular importância a reprodução da figura humana, quer na escultura em pedra, quer na torêutica. Esta última expressão artística, que consistiu na realização de estátuas em bronze, estava particularmente ligada aos cultos religiosos, sendo os vários santuários da cultura Ibera ricos em depósitos votivos de estatuetas em bronze de figuras humanas, animais e, em menor número, partes do corpo humano. Estas pequenas obras de arte são também conhecidas como “ex votos”, que na segunda Idade do Ferro também são características de várias culturas do Mediterrâneo em contacto com as maiores civilizações da época (gregos, púnicos e etruscos): trata-se de depósitos votivos com finalidades de agradecimento ou pedido as divindades dos santuários. Da Cultura Ibera são conhecidas várias centenas de peças provenientes de santuários, fruto, na sua maioria, da recolha de coleccionistas desde os séculos xvii ao xx, sendo em menor número aqueles obtidos em escavações arqueológicas. O estudo dos “ex votos” dum ponto de vista cronológico e artístico é bastante problemático, não tendo uniformidade estilística e temática nem tido sido obtidos na sua maioria em contexto arqueológico. De facto, a principal característica dos ex-votos iberos é não ter uma peça perfeitamente igual a uma outra, aspecto igualmente visível no conjunto de peças da Colecção Estrada, que conta com cerca oitenta exemplares, trinta e cinco dos quais, ligados a figura humana, são aqui apresentados. Sendo muito problemático datar as figuras numa base estilística, é mais fiável individuar três grandes categorias, produzidas entre o séc. vi e o séc. i a.C.: figuras masculinas, figuras femininas e figuras sem atributos sexuais. Entre as primeiras distinguem-se figuras desnudas (CE00234, CE01653, CE03628), desnudas com mãos recolhidas no peito (CE02747), com túnica comprida (CE01675, CE01686, CE01725), com túnica curta (CE01704, CE03619, CE03622), com túnica curta a cavalo (CE01710), armados com caetra (CE01726), com túnica e em posição de oferente (CE01727) e armadas de punhal e túnica curta (CE03623). Nas figuras femininas, destacam-se mulheres desnudas ligeiramente esquemáticas (CE01668) ou mais naturalísticas com órgãos sexuais evidenciados (CE01705), com mãos recolhidas sobre o órgão sexual, quer com túnica comprida (CE00235, CE01661) quer com capuz (CE00237), com túnica comprida, véu e braços ao longo do corpo (CE0238, CE01662) ou com tiara (CE00236) com braços escondidos por baixo do manto (CE01718, CE01666, CE01717), em aptidão de oferente com véu (CE01688) ou com túnica comprida oferecendo um pão (CE03615) ou com túnica comprida oferecendo uma coroa (CE03626) ou com túnica comprida em acto de deitar um líquido de um rython (CE03618), em acto de rezar com túnica comprida e véu (CE03616). Pelas figuras sem sexo definido evidenciam-se aquelas completamente esquemáticas com um braço dobrado sobre o ventre (CE01720, CE01722), a cavalo (CE01709), só com a cabeça representada (CE01656), ou, finalmente, mais naturalísticas mas sem indicação do sexo (CE01724). Em geral as figuras mais naturalísticas eram fruto duma técnica mais sofisticada e custosa, sendo fundidas com o método da cera perdida, sendo as figuras esquemáticas obtidas só batendo uma barrinha de bronze até formar a figura: em geral os ex-votos são portanto expressão de diferentes ateliês artesanais e/ou de fiéis com diferentes possibilidades económicas; na produção, a figura humana ganha importância: às vezes são evidenciadas certas partes do corpo, especialmente órgão sexuais, outras vezes certos movimentos do corpo ou aptidões do sujeito representado. A figura humana começa então a ganhar importância não na sua totalidade, mas nas suas expressões que eram achadas fundamentais para transmitir uma mensagem do fiel a divindade. Dav i de D e l f i n o Inv. CE02747 Estatueta votiva masculina Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (5,6 cm) comprimento (13,3 cm) largura (2 cm) Male votive statuette Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (5,6cm) length (13,3 cm) width (2 cm) 58 59 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Biblio grafia Nicolini, G. (1969) Les bronzes figurés des sanctuaires Ibériques, Paris Nicolini, G. (1973) Les Ibères : art et civilisation, Paris: Fayard Editions Prados Torreira, L. (1992) Exvotos Ibericos de Bronce del Museo Arqueologico Nacional, Madrid: Ministerio de Cultura Ruta Serafini, A. (ed.) (2002) Este preromana: una cittá e I suoi santuari, Treviso: Canova Inv. CE01725 Inv. CE03628 Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (7,7 cm) comprimento (2 cm) largura (1,2 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (7,9 cm) comprimento (2 cm) largura (0,7 cm) Male votive statuette Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (8,3 cm) comprimento (1,3 cm) largura (2,7 cm) Male votive statuette Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (11,2 cm) length (2,8 cm) width (1,3 cm) Dimensions: height (8,3 cm) length (1,3 cm) width (2,7 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (7,7 cm) length (2 cm) width (1,2 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (7,9 cm) length (2 cm) width (0,7 cm) Inv. CE01704 Inv. CE01653 Estatueta votiva masculina Estatueta votiva masculina Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (11,2 cm) comprimento (2,8 cm) largura (1,3 cm) Estatueta votiva masculina Male votive statuette 60 61 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Estatueta votiva masculina Male votive statuette Inv. CE01710 Estatueta votiva de cavaleiro Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (7,5 cm) comprimento (6,4 cm) largura (2,7cm) Votive statuette of knight Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (7,5 cm) length (6,4 cm) width (2,7 cm) Inv. CE01709 Estatueta votiva de cavaleiro Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (7,3 cm) comprimento (7,4 cm) largura (1 cm) Votive statuette of knight Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (7,3 cm) length (7,4 cm) width (1 cm) 62 63 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE03619 Estatueta votiva masculina Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (5,7cm) comprimento (3 cm) largura (0,8 cm) Male votive statuette Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (5,7 cm) length (3 cm) width (0,8 cm) Inv. CE03622 Estatueta votiva masculina Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (4,6 cm) comprimento (2,1 cm) largura (0,8 cm) Inv. CE03623 Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (4,6 cm) length (2,1 cm) width (0,8 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (6,8 cm) comprimento (2,3 cm) largura (1,2 cm) Male votive statuette Estatueta votiva de guerreiro Votive statuette of warrior Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (6,8 cm) length (2,3 cm) width (1,2 cm) Inv. CE01726 Estatueta votiva de guerreiro Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (7,7 cm) comprimento (3,7 cm) largura (1,1 cm) Inv. CE01724 Estatueta votiva de figura humana estilizada Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (7,1 cm) comprimento (1,9 cm) largura (1,4 cm) Votive statuette of warrior Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (7,7 cm) length (3,7 cm) width (1,1 cm) Votive statuette of stylized human figure Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (7,1 cm) length (1,9 cm) width (1,4 cm) 64 65 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE01705 Estatueta votiva feminina Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (9,9 cm) comprimento (3 cm) largura (1,4 cm) Inv. CE03616 Female votive statuette Estatueta votiva feminina Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (9,9 cm) length (3 cm) width (1,4 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (8 cm) comprimento (4,3 cm) largura (3,6 cm) Female votive statuette Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (8 cm) length (4,3 cm) width (3,6 cm) 66 67 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE03618 Estatueta votiva feminina com rython Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (9,3 cm) comprimento (3,9 cm) largura (3,6 cm) Votive statuette of female with rython Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (9,3 cm) length (3,9 cm) width (3,6 cm) Inv. CE03615 Estatueta votiva de oferente Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (6,6 cm) comprimento (2,5 cm) largura (3,2 cm) Votive statuette of offerer Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (6,6 cm) length (2,5 cm) width (3,2 cm) Inv. CE01668 Inv. CE01661 Estatueta votiva feminina Estatueta votiva feminina Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (7,1 cm) comprimento (1,6 cm) largura (0,9 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (6,5 cm) comprimento (2 cm) largura (1,3 cm) Female votive statuette Female votive statuette Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (7,1 cm) length (1,6 cm) width (0,9 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (6,5 cm) length (2 cm) width (1,3 cm) 68 69 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE01688 Estatueta votiva feminina Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (5,7 cm) comprimento (1,5 cm) largura (2,3 cm) Female votive statuette Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (5,7 cm) length (1,5 cm) width (2,3 cm) Inv. CE00235 Estatueta votiva de túnica comprida com mãos sobre vulva Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (4,1 cm) comprimento (1,1 cm) largura (0,6 cm) Female votive statuette Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (4,1 cm) length (1,1 cm) width (0,6 cm) Inv. CE00238 Inv. CE00237 Inv. CE00236 Península Ibérica, Península Ibérica, Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (6,1 cm) comprimento (3,1 cm) largura (0,5 cm) sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (5 cm) comprimento (1,5 cm) largura (0,5 cm) sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (4,8 cm) comprimento (0,7 cm) largura (0,3 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (6,1 cm) length (3,1 cm) width (0,5 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (5 cm) length (1,5 cm) width (0,5 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (4,8 cm) length (0,7 cm) width (0,3 cm) Estatueta votiva feminina Female votive statuette Estatueta votiva feminina Female votive statuette Estatueta votiva humana Inv. CE01662 Inv. CE01718 Inv. CE01717 Península Ibérica, sés. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (6,1 cm) comprimento (1,1 cm) largura (1,3 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (5 cm) comprimento (1,2 cm) largura (0,7 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (4,9 cm) comprimento (1,3 cm) largura (0,9 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (6,1 cm) length (1,1 cm) width (1,3 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (5 cm) length (1,2 cm) width (0,7 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (4,9 cm) length (1,3 cm) width (0,9 cm) Estatueta votiva feminina Male votive statuette Female votive statuette 70 71 Estatueta votiva feminina Female votive statuette museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Estatueta votiva feminina Female votive statuette Inv. CE01720 Inv. CE01722 Estatueta votiva de figura humana estilizada Estatueta votiva de figura humana estilizada Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (10,2 cm) comprimento (3,2 cm) largura (0,8 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (10,8 cm) comprimento (4,3 cm) largura (0,9 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (10,2 cm) length (3,2 cm) width (0,8 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (10,8 cm) length (4,3 cm) width (0,9 cm) Votive statuette of stylized human figure Votive statuette of stylized human figure 72 73 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE01727 Inv. CE01675 Estatueta votiva masculina de oferente Estatueta votiva de figura humana estilizada Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (6,5 cm) comprimento (1,7 cm) largura (0,8 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (5,9 cm) comprimento (1,3 cm) largura (0,5 cm) Votive statuette of offerer Votive statuette of stylized human figure Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (6,5 cm) length (1,7 cm) width (0,8 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (5,9 cm) length (1,3 cm) width (0,5 cm) Inv. CE03626 Estatueta votiva de oferente Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (5,7 cm) comprimento (1,1 cm) largura (1,9 cm) Votive statuette of offerer Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions height (5,7 cm) length (1,1 cm) width (1,9 cm) 74 75 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE01666 Inv. CE00234 Estatueta votiva feminina Estatueta votiva masculina Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (7 cm) comprimento (1,7 cm) largura (0,6 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (5,9 cm) comprimento (1 cm) largura (0,5 cm) Male votive statuette Male votive statuette Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (7 cm) length (1,7 cm) width (0,6 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (5,9 cm) length (1 cm) width (0,5 cm Inv. CE01686 Inv. CE01656 Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (6,8 cm) comprimento (1 cm) largura (0,2 cm) Península Ibérica, sécs. VI-I a.C. Bronze Dimensões: altura (9 cm) comprimento (0,7 cm) largura (0,4 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (6,8 cm) length (1 cm) width (0,2 cm) Iberian Peninsula, 6th-1st centuries BC Bronze Dimensions: height (9 cm) length (0,7 cm) width (0,4 cm) Estatueta votiva de figura humana estilizada Votive statuette of stylized human figure 76 77 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Estatueta votiva de figura humana estilizada Votive statuette of stylized human figure estatuetas figuradas romanas em bronze da col. estrada A Col. Estrada tem um abundante conjunto de estatuetas romanas feitas em bronze, representando deuses, humanos e animais, apresentando-se várias delas nesta exposição. Eram vários os usos que estas estatuetas podiam ter: como piedade, fidelidade, protecção, agradecimento, constituindo assim um componente importante da vivência romana. A escultura romana apresentada nesta exposição, divide-se, estilisticamente, em dois grandes grupos: num, as peças seguem as normas naturalistas da arte grega; já no outro, as peças são menos naturalista, destacando-se geralmente certos atributos das personagens representadas, continuando, assim, uma tradição mais antiga. O primeiro destes grupos (de que são bons exemplos os Martes CE00746 e CE02342) era consumido sobretudo pelas elites locais que procuravam imitar as peças de luxo da capital romana e ostentar cultura greco-romana, acabando estas peças por ter um papel importante na romanização das populações conquistadas. Já o segundo grupo (de que são bons exemplos o Júpiter CE02738 e o Mercúrio CE02745) podia ser usado por qualquer grupo social, tendo conhecido uma produção maciça. O que se pretendia era sobretudo usar a estatueta para um dos muitos usos indicados no início do texto e os atributos essenciais das personagens representadas eram suficientes para tal. As peças deste segundo grupo, embora fossem mais numerosas no quotidiano romano, são menos divulgadas nos museus de arte e arqueologia, onde a preferência vai para aquelas do primeiro grupo. o seu principal atributo, a cornucópia; um Príapo (CEO1582), deus da fecundidade, mostrando o seu falo; uma personagem de rituais mitraicos, Cronos ou Mitra (CE02744); e, finalmente, um dançarino (CE01037). Bi b l i o g r a f ia AA. VV. (1978) Bronzes Romains de Suisse, Lausanne: Musée Cantonal d’Archéologie et d’Histoire AA. VV. (1990) Por último, destaque-se ainda algumas estatuetas de animais que tinham um valor sobretudo simbólico. Assim, temos um rato (CE00645), criatura quase infernal, cujo papel destruidor podia ter duas diferentes aplicações: a utilização deste papel para vingança ou a sua supressão para realizar uma benfeitoria. Note-se também uma lebre (CE00649), animal lunar, associada à renovação perpétua da vida à semelhança da lua que morre para renascer. Outro animal presente é o javali (CE02343), alimento sacrificial dos deuses de tradição celta, muitos dos quais se mantiveram durante o domínio romano. Os dois últimos animais presentes são um bode (CE00628), símbolo da força genésica e vital; e um golfinho (CE03609), que teria um papel psicopompo, de condução das almas dos mortos para a Ilha dos Bem-Aventurados. Relativamente às peças de figuras divinas e humanas representadas, as mais numerosas são cinco representações de Vénus (CE00518, CE0727, CE00741, CE03680 e CE04669), deusa do amor, e outras três de Marte (CE00746, CE02342 e CE03076), deus da guerra. Neste confronto entre amor e guerra, Vénus é apoiada pelo seu filho Cúpido, o espírito do amor, o qual está presente em duas estatuetas (CE02729 e CE02748). Também com duas estatuetas encontra-se representado Mercúrio (CE02731 e CE02745), mensageiro dos deuses e deus do comércio, eloquência, viajantes e ladrões, sendo visíveis alguns dos seus atributos como a bolsa e o caduceu. Com duas estátuas, temos Júpiter, rei dos deuses e avô de Rómulo e Remo, fundadores de Roma, estando representado com dois dos seus principais atributos (o relâmpago e a águia) (CE02738) e em posição de lançamento de um relâmpago (CE02746). Outras estatuetas incluem uma de Apolo (CE00402), um dos deuses mais influentes, destacando-se entre as suas múltiplas funções as artes e oráculos; uma Fortuna (CE03728), deusa da sorte (boa ou má), estando representada com Gu stavo Porto c a rre ro 78 79 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Los Bronces Romanos en España, Ministerio de Cultura, p. 238, fig. 141 Boucher, S. (1976) Recherches sur les bronzes figurés de Gaule Pré-Romaine et Romaine, École Française de Rome Oggiano-Bitar, H. (1984) Bronzes Figurés Antiques des Bouches-du-Rhône, Paris: CNRS Rolland, H. (1965) Bronzes Antiques de Haute Provence, XVIII supplément à “GAULLIA” Inv. CE02738 Inv. CE02746 Estatueta de Júpiter Estatueta de Júpiter Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,5 cm) comprimento (4,1 cm) largura (1,4 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (6,7 cm) comprimento (3,2 cm) largura (2,6 cm) Statuette of Júpiter Statuette of Jupiter Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,5 cm) length (4,1 cm) width (1,4 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (6,7 cm) length (3,2 cm) width (2,6 cm) 80 81 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE04669 Inv. CE03680 Inv. CE00518 Estatueta de Vénus Estatueta de Vénus Estatueta de Vénus Império Romano Bronze Dimensões: altura (15,2 cm) comprimento (2,8 cm) largura (2,2 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (6,5 cm) comprimento (3,3 cm) largura (1,1 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (17,5 cm) comprimento (6,5 cm) largura (2,5 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (15,2 cm) length (2,8 cm) width (2,2 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (6,5 cm), length (3,3 cm) width (1,1 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (7,2 cm) length (3 cm), width (1,2 cm) Statuette of Venus Statuette of Venus Inv. CE00741 Inv. CE00727 Império Romano Bronze Dimensões: altura (11,3 cm) comprimento (5,2 cm) largura (1,2 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (18,6 cm) comprimento (7,5 cm) largura (2,2 cm) Roman Empire Bronze Dimensions height (11,3 cm) length (5,2 cm) width (1,2 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (18,6 cm) length (7,5 cm) width (2,2 cm) Estatueta de Vénus Statuette of Venus Statuette of Venus 82 83 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Estatueta de Vénus Statuette of Venus Inv. CE02729 Estatueta de Cúpido Império Romano Bronze Dimensões: altura (5,4 cm) comprimento (5,2 cm) largura (3,2 cm) Statuette of Cupid Roman Empire Bronze Dimensions: height (5,4 cm) length (5,2 cm) width (3,2 cm) Inv. CE02748 Estatueta de Cúpido Império Romano Bronze Dimensões: altura (7,6 cm) comprimento (3,2 cm) largura (2,6 cm) Statuette of Cupid Roman Empire Bronze Dimensions: height (7,6 cm) length (3,2 cm), width (2,6 cm) 84 85 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE03076 Estatueta de Marte Império Romano Bronze Dimensões: altura (6,7 cm) comprimento (3,5 cm) largura (0,9 cm) Statuette of Mars Inv. CE00746 Estatueta de Marte Roman Empire Bronze Dimensions: height (6,7 cm) length (3,5 cm) width (0,9 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (11,4 cm) comprimento (6,5 cm) largura (1,5 cm) Statuette of Mars Roman Empire Bronze Dimensions: height (11,4 cm) length (6,5 cm) width (1,5 cm) Inv. CE02342 Estatueta de Marte Império Romano Bronze Dimensões: altura (9,8 cm) comprimento (4 cm) largura (2,1 cm) Statuette of Mars Roman Empire Bronze Dimensions: height (9,8 cm) length (4 cm) width (2,1 cm) 86 87 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE02731 Inv. CE02745 Estatueta de Mercúrio Estatueta de Mercúrio Império Romano Bronze Dimensões: altura (8 cm) comprimento (3,5 cm) largura (5,1 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (6,7 cm) comprimento (3,2 cm) largura (1,3 cm) Statuette of Mercury Statuette of Mercury Roman Empire Bronze Dimensions: height (8 cm) length (3,5 cm) width (5,1 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (6,7 cm) length (3,2 cm) width (1,3 cm) Inv. CE01582 Estatueta de Príapo Império Romano Bronze Dimensões: altura (9,3 cm) comprimento (3,6 cm) largura (3,2 cm) Statuette of Priapus Roman Empire Bronze Dimensions: height (9,3 cm) length (3,6 cm) width (3,2 cm) 88 89 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE02744 Estatueta de Cronos ou Mitra Império Romano Bronze Dimensões: altura (9 cm) comprimento (2,6 cm) largura (1,4 cm) Statuette of Cronos or Mitra Roman Empire Bronze Dimensions: height (9 cm) length (2,6 cm) width (1,4 cm) Inv. CE03728 Estatueta de Fortuna Império Romano Bronze Dimensões: altura (8,4 cm) comprimento (2,7 cm) largura (1,4 cm) Statuette of Fortuna Roman Empire Bronze Dimensions: height (8.4 cm) length (2,7 cm) width (1,4 cm) Inv. CE01037 Inv. CE00402 Estatueta de dançarino Estatueta de Apolo Império Romano Bronze Dimensões: altura (18,3 cm) comprimento (4,7 cm) largura (3,8 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (17,5 cm) comprimento (6,5 cm) largura (2,5 cm) Statuette of dancer Statuette of Apollo Roman Empire Bronze Dimensions: height (18,3 cm) length (4,7 cm) width (3,8 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (17,5 cm) length (6,5 cm) width (2,5 cm) 90 91 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00649 Inv. CE02343 Império Romano Bronze Dimensões: altura (8,1 cm) comprimento (9,5 cm) largura (3,5 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,2 cm) comprimento (6,3 cm) largura (1,6 cm) Estatueta de lebre Estatueta de javali Statuette of hare Statuette of boar Roman Empire Bronze Dimensions: height (8,1 cm) length (9,5 cm) width (3,5 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,2 cm) length (6,3 cm) width (1,6 cm) Inv. CE00645 Estatueta de rato Império Romano Bronze Dimensões: altura (5,1 cm) comprimento (5,4 cm) largura (2 cm) Statuette of mouse Roman Empire Bronze Dimensions: height (5,1 cm) length (5,4 cm) width (2 cm) Inv. CE03609 Estatueta de golfinho Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,2 cm) comprimento (14,7 cm) largura (2,8 cm) Statuette of dolphin Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,2 cm) length (14,7 cm) width (2,8 cm) Inv. CE00628 Estatueta de bode Império Romano Bronze Dimensões: altura (6,6 cm) comprimento (6,5 cm) largura (2,1 cm) Statuette of goat Roman Empire Bronze Dimensions: height (6,6 cm) length (6,5 cm) width (2,1 cm) 92 93 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Οι Ηλλενoι ευχαλκοι. os gregos do belo bronze: protecções corporais na grécia da idade clássica Na Grécia do inicio da Idade Clássica, a partir do séc. vii a.C., as tácticas de guerra passaram a basear-se na formação hoplita: formações fechadas compostas por cidadãos livres e com alguma riqueza – os oplites (soldados de infantaria com armamento pesado) –, os quais, em caso de conflito, serviram no exército de cidadãos. Trate-se de uma inovação na táctica militar, mas também directamente ligada à evolução da sociedade: por um lado, os combates baseavam-se no choque corpo a corpo entre formações pesadas, em ordem fechada e combate colectivo, de modo que as batalhas eram decididas pela derrota duma das formações, quer por causa das baixas, quer por causa da perda de moral; por outro lado, a classe média, comerciantes e proprietários agrícolas, representavam a polis (cidade) em armas, sendo aqueles que realmente eram considerados cidadãos tendo só eles plenos direitos civis. O armamento do oplita, era composto por elementos ofensivos como uma lança longa de três metros (δορυ/dory) usada como arma principal e uma espada curta (ξιφος/xiphos) usada como arma de emergência; mas eram as armas defensivas aquelas que melhor caracterizavam a infantaria que combatia em formação fechada: um grande escudo em forma de prato convexo (ασπις/aspis), protecções em bronze para as pernas (grevas), uma couraça de linho reforçada com placas de bronze, ou toda em bronze, e um capacete de bronze: a Colecção Estrada tem vários destes dois últimos elementos. Os capacetes, também tinham conotações psicológicas, pois além de ser simples protecção, ocultavam também a cara, dando, dessa forma, aspecto mais inumano ao hoplita. O capacete que melhor representa esta dimensão é o de tipo Coríntio, sendo o mais representado nas pinturas vasculares áticas, tendo conhecido diversas variantes. Na Colecção Estrada, estão presentes o tipo Coríntio evolucionado (CE02953), onde se observam melhorias na forma anatómica relativamente aos anteriores, e o tipo Ápulo-Coríntio (CE02954) que foi desenvolvido nas colónias gregas da Itália do Sul (Magna Grécia) e permitia posicionar melhor o capacete sobre a cabeça antes e depois do combate. Os capacetes do tipo Coríntio, se bem que limitassem a visão lateral, dado que no combate em formação fechada era suficiente ter apenas uma visão frontal, garantiam dessa forma uma excelente protecção para a cabeça contra os golpes de corte, bem como contra as armas lançadas. Um outro tipo de capacete, o Calcidico (CE01785) permitia uma melhor adaptação à fisionomia da cara do hoplita, contando com elementos móveis para a protecção das bochechas e uma melhor visão lateral. Relativamente às couraças, era fundamental que não limitassem o movimento do hoplita, bem como que fossem bastante robustas; também o seu aspecto brilhantes, conjuntamente com os capacetes de bronze, constituía um importante factor psicológico para aterrorizar e cegar os inimigos. Na Colecção Estrada há vários tipos de couraças, desde uma simples placa compósita formada para três círculos de bronze e originariamente fixada sobre uma couraça de linho endurecido (CE01786), até se chegar a uma verdadeira couraça completa e anatómica (CE03024), também feita para ser fixada sobre um corpete de linho. Desde o séc. iv a.C., com o aparecimento de infantaria mais ligeira, sobretudo no âmbito da abertura da infantaria a classes sociais inferiores e da difusão de mercenários, os pesados capacetes Coríntios e Calcídicos furam substituídos por capacetes mais ligeiros e práticos. Nos soldados itálicos da Magna Grécia, que até aos sécs. iii-ii a.C. combateram como auxiliares do exército romano como tropas ligeiras, sobretudo na campanha de Numância, permaneceu a estrutura dos capacetes calcídicos mas com modificações na sua estrutura que os tornaram mais leves e práticos (CE01740), além de incorporarem alguns elementos de capacetes não gregos, como os celtas. Dav i de D e l f i n o 94 95 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Bi b l i o g r a f ia Bottini, A., M. Egg, F. W. Von Hase, H. Pflug, U. Schaaf, P. Schauer e G. Waurick (1988) Antike Helme; Sammlung Lipperheideund Andere Bestande des Antikenmuseums Berlin, Mainz: Verlag der Romisch-Germanischen Zentralmueseums Lorrio, A.J. (2009) Las Guerras Celtibéricas, In Almagro Gorbea, M. (ed.) Prehistoria y Antigüedad, Historia Militar de España, Madrid: Ediciones del Labirinto y Ministerio de la Defesa, 205-223 Quesada Sanz, F. (2008) Armas de Grecia y Roma; forjaron la historia de la antigüedad clásica, Madrid: La esfera de los libros Quesada Sanz, F. (2010) Armas de la Antigua Iberia; de Tartessos a Numancia, Madrid: La esfera de los libros Inv. CE01786 Inv. CE02953 Couraça de tipo Itálico-Samnita Capacete de tipo Corintio Itália do Sul, final sécs. V a.C.-IV a.C. Bronze Dimensões: altura (27 cm) comprimento (25 cm) largura (0,2 cm) Grécia e Itália do Sul, séc. V a. C. Bronze Dimensões: altura (39 cm) comprimento (29 cm) largura (34,7 cm) Breastplate of the Italic-Samnite type Helmet of Corithian type Greece and Southern Italy, 5th century BC Bronze Dimensions: height (39 cm) length (29 cm) width (34,7 cm) Southern Italy. Late 5th century-4th century Bronze Dimensions: height (27 cm) length (25 cm) width (0,2 cm) 96 97 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE03024 Inv. CE02954 Couraça Capacete de tipo Ápulo-Coríntio Grécia e Itália do Sul, séc. V a. C. Bronze Dimensões: altura (31,2 cm) comprimento (28,5 cm) largura (0,4 cm) Grécia e Itália do Sul, séc. V a. C. Bronze Dimensões: altura (26,5 cm) comprimento (23 cm) largura (31,2 cm) Breastplate Helmet of Appulian-Corithian type Greece and Southern Italy, 5th century BC Bronze Dimensions: height (31,2 cm) length (28,5 cm) width (0,4 cm) Greece and Southern Italy, 5th century BC Bronze Dimensions: height (26,5 cm) length (23 cm) width (31,2 cm) 98 99 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE01785 Inv. CE01740 Grécia e Itália do Sul, sécs. V-IV a.C. Bronze e prata Dimensões: altura (35 cm) comprimento (24,7 cm) largura (18 cm) Península Ibérica, séc. III a.C. Bronze Dimensões: altura (34,6 cm) comprimento (18,5 cm) largura (20 cm) Greece and Southern Italy, 5th-4th centuries BC Bronze and silver Dimensions: height (35 cm) length (24,7 cm) width (18 cm) Iberian Peninsula, 3rd century BC Bronze Dimensions: height (34,6 cm) length (18,5 cm) width (20 cm) Capacete Capacete Helmet Helmet 100 101 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes bronzes etrusco-romanos [vária] O bronze, na Antiguidade, tinha uma multiplicidade de usos, sendo este fenómeno ligado ao extraordinário desenvolvimento da metalurgia do bronze, que permitiu uma enorme variabilidade de laboração, quer com novos métodos de fundição, quer com novas misturas de metais na liga de bronze. Nesta antevisão da Col. Estrada dedicada sobretudo ao bronze, apresenta-se aqui também um variado lote de peças de bronze etruscoromanas. Ao contrário de outras peças apresentadas, em que se optou por apresentar várias peças de uma mesma temática, como escultura, pulseiras, fíbulas e fivelas, aqui a escolha incidiu na mostra conjunta de diferentes tipos de peças, que são representativas dos diferentes âmbito de uso do bronze, desde a maquilhagem pessoal (como os espelhos) até o simpósio aristocrático (como o olpe, a pátera ou as asas de sítula), o ornamento de carros de parada ou corrida e o equipamento doméstico. Os temas iconográficos são representativos da koiné (comunidade cultural) que formou no Mediterrâneo desde o v séc. a.C., a qual era caracterizada por elementos gregos e orientais que se difundiram no mundo antigo, sobretudo por meio da circulação de figuras e temáticas presentes nas pinturas em cerâmicas áticas. Inv. CE00751 Passador de arreios de veículo Império Romano Bronze Dimensões: altura (14,5 cm) comprimento (4,3 cm) largura (0,9 cm) Rein ring Roman Empire Bronze Dimensions: height (14,5 cm) length (4,3 cm) width (0,9 cm) 102 103 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Assim, comecemos com 3 espelhos etruscos, datáveis do século iv a.C., representando num dos lados personagens ou cenas mitológicas (CE00414, CE00571 e CE02528). Também presentes estão dois espelhos romanos, embora estes não apresentem decoração (CE2720 e CE03052). Uma outra peça, de origem etrusca ou romana, é um olpe ou jarrinho (CE01510). Já exclusivamente romanas, estão expostas as seguintes peças: uma lucerna de dois bicos (CE00425); duas asas decoradas, uma com putti (CE00749) e outra com Mitra (CE00750); um passador de arreios (CE00751); duas páteras (CE00684 e CE00999), as quais eram usadas em rituais de libação; uma situla (CE01020); um prótomo de leão usado como elemento decorativo de uma outra peça (CE03070); e uma aldraba em forma de cabeça de leão (CE04638). Biblio grafia AA. VV. (1990) Los Bronces Romanos en España, Ministerio de Cultura Boube-Piccot, C. (1980) Les Bronzes Antiques du Maroc, Rabat: Musee Des Antiquites Boucher, S. (1970) Bronzes grecs, hellénistiques et étrusques des Musées de Lyon, Lyon: Editions du Boccard Feugére, M. (2002) Militaria de Gaule Méridionale, 19. Le Mobilier Militaire Romain dans le Dètatement de L’Hérault, in Gladius, vol. XXII Nazarena, V. (1981) Catalogo delle lucerne in bronze del Museo Archeologico Nazionale di Napoli, Istituto Poligrafico Dav i de D e l f i n o e Gu stavo Porto c a rre ro Inv. CE04638 Inv. CE03070 Aldraba Prótomo de leão Império Romano Bronze Dimensões: altura (16,5 cm) comprimento (12,2 cm) largura (4 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (7 cm) comprimento (10,1 cm) largura (7,2 cm) Knocker Head of lion Roman Empire Bronze Dimensions: height (16,5 cm) length (12,2 cm) width (4 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (7 cm) length (10,1 cm) width (7,2 cm) 104 105 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00414 Espelho Etrusco, século IV a.C: Bronze Dimensões: altura (17,3 cm) comprimento (7,5 cm) largura (0,3 cm) Inv. CE00571 Espelho Etrusco, século IV a.C: Bronze Dimensões: altura (22 cm) comprimento (11,4 cm) largura (0,9 cm) Mirror Etruscan, 4th century BC Bronze Dimensions: height (17,3 cm) length (7,5 cm) width (0,3 cm) Mirror Etruscan, 4th century BC Bronze Dimensions: height (22 cm) length (11,4 cm) width (0,9 cm) Inv. CE02528 Espelho Etrusco, séc. IV a.C. Bronze Dimensões: altura (27,7 cm) comprimento (3,5 cm) largura (0,3 cm) Mirror Etruscan, 4th century BC Bronze Dimensions: height (27,7 cm) length (3,5 cm) width (0,3 cm) Inv. CE02720 Espelho Inv. CE03052 Império Romano Bronze Dimensões: altura (20 cm) comprimento (11,9 cm) largura (0,2 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (16 cm) comprimento (9,5 cm) largura (0,2 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (20 cm) length (11,9 cm) width (0,2 cm) Espelho Mirror Mirror Roman Empire Bronze Dimensions: height (16 cm) length (9,5 cm) width (0,2 cm) 106 107 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00999 Inv. CE01020 Império Romano Bronze Dimensões: altura (1,8 cm) comprimento (25,4 cm) largura (15 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (20,1 cm) comprimento (26,5 cm), Pátera Situla Situla Patera Roman Empire Bronze Dimensions: height (20,1 cm) length (26,5 cm) Roman Empire Bronze Dimensions: height (1,8 cm) length (25,4 cm) width (15 cm) Inv. CE00684 Pátera Império Romano Bronze Dimensões: altura (2,4 cm) comprimento (29,6 cm) largura (15,8 cm) Patera Roman Empire Bronze Dimensions: height (2,4 cm) length (29,6 cm) width (15,8 cm) 108 109 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE01510 Olpe Etrusco ou Romano Bronze Dimensões: altura (15,2 cm) comprimento (5,8 cm), Inv. CE00749 Olpe Asa Etruscan or Roman Bronze Dimensions: height (15,2 cm) length (5,8 cm) Império Romano Bronze Dimensões: altura (14,5 cm), comprimento (4,6 cm) largura (1,4 cm) Handle Roman Empire Bronze Dimensions: height (14,5 cm) length (4,6 cm) width (1,4 cm) Inv. CE00750 Asa Império Romano Bronze Dimensões: altura (14,5 cm) comprimento (4,3 cm) largura (0,9 cm) Handle Império Romano Bronze Dimensions: height (14,5 cm) length (4,3 cm) width (0,9 cm) 110 111 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00425 Lucerna Império Romano Bronze Dimensões: altura (3,4 cm) comprimento (15,2 cm) largura (9,6 cm) Oil lamp Roman Empire Bronze Dimensions: height (3,4 cm) length (15,2 cm) width (9,6 cm) 112 113 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes fivelas visigóticas da col. estrada A Col. Estrada possui um numeroso grupo de fivelas de cinturão visigóticas datáveis dos séculos v e vi d.C, sendo uma das mais importantes colecções que existe sobre este género de peças. São 23 as que estão aqui apresentadas, todas elas feitas em bronze e constituídas por um aro e uma placa rectangular com decoração constituída por vidros ou pedras preciosas feita com cabuchões isolados (CE02324, CE03657 e CE03658) ou em cloisoneé (todas as outras). O uso destas fivelas de cinturão era, simultaneamente, identitário, sócio-económico e funerário. Identitário porque era usado somente pelos Visigodos, como forma de se distinguirem da população católica (os Visigodos eram cristãos, mas arianos). No final do século vi d.C., com a conversão dos Visigodos ao catolicismo, o uso destas placas é abandonado e modelos usados pelas populações católicas são adoptados. Inv. CE03657 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (5,7 cm) comprimento (11,7 cm) largura (0,8 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (5,7 cm) length (11,7 cm) width (0,8 cm) Mas também estas fivelas demonstravam estatuto sócio-económico. Note-se que nem toda as pessoas enterradas em cemitérios visigóticos tinham estas fivelas. Por outro lado, estas fivelas pertenciam sobretudo a um estrato social intermédio, dado que imitavam as de personagens ainda mais ricas e poderosas, as quais eram exclusivamente de ouro e pedras preciosas. As fivelas aqui expostas são de bronze, cuja cor dourada imita o ouro, e têm muitas vezes vidro e pasta vítrea que imitam pedras preciosas como se pode, por exemplo, ver nas peças CE03657 e CE03658 que têm vidro vermelho a imitar uma das pedras preciosas mais populares desta época, as granadas. Finalmente, também tinham um uso funerário. Note-se que várias destas fivelas apresentam na sua placa decoração em forma de cruz, algo que, pode ser interpretado como tendo valor apotropaico. Note-se também no simbolismo do cinturão propriamente dito, cujo objectivo é abraçar o falecido num círculo contínuo, impedindo a sua desintegração, funcionando, assim, como talismã protector. Gu stavo Porto c a rre ro 114 115 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Biblio grafia Chevalier, Jean e Alain Gheerbrant (1994) Dicionário dos Símbolos, Lisboa: Teorema Ripoll, Gisela (1998) Toréutica de la Bética, Barcelona: Reial Acadèmia de Bones Lletres Tait, Hugh (2008) 7000 Years of Jewelry, Firefly Books Inv. CE02324 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (8,5 cm) comprimento (5,6 cm) largura (1 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (8,5 cm) length (5,6 cm) width (1 cm) Inv. CE00560 Fivela Visigótica Inv. CE00570 Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12,4 cm) comprimento (5,8 cm) largura (0,7 cm) Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (8,5 cm) comprimento (5,6 cm) largura (1 cm) Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (12,4 cm) length (5,8 cm) width (0,7 cm) Fivela Visigótica Visigothic Buckle Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (8,5 cm) length (5,6 cm) width (1 cm) Inv. CE00544 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (8,9 cm) comprimento (5,5 cm) largura (1,2 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (8,9 cm) length (5,5 cm) width (1,2 cm) Inv. CE03658 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (6,2 cm) comprimento (12,6 cm) largura (2,8 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (6,2 cm) length (12,6 cm) width (2,8 cm) 116 117 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00563 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (11,2 cm) comprimento (6 cm) largura (0,6 cm) Inv. CE00569 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12,8 cm) comprimento (6,9 cm) largura (1 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (11,2 cm) length (6 cm) width (0,6 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (12,8 cm) length (6,9 cm) width (1 cm) Inv. CE00548 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze, madrepérola e pasta vítrea Dimensões: altura (10,1 cm) comprimento (5,1 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze, nacre and glass Dimensions: height (10,1 cm) length (5,1 cm) width (0,7 cm) Inv. CE00559 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze, madrepérola e pasta vítrea Dimensões: altura (13,6 cm) comprimento (6,9 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze, nacre and glass Dimensions: height (13,6 cm) length (6,9 cm) width (0,7 cm) Inv. CE00567 Fivela Visigótica Inv. CE00564 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12,3 cm) comprimento (6,8 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (12,3 cm) length (6,8 cm) width (0,7 cm) Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (13 cm) comprimento (6,8 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (13 cm) length (6,8 cm) width (0,7 cm) 118 119 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00555 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12,5 cm) comprimento (6,6 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (12,5 cm) length (6,6 cm) width (0,7 cm) Inv. CE00565 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (13,6 cm) comprimento (7 cm) largura (1 cm) Inv. CE00553 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12,2 cm) comprimento (6,4 cm) largura (1,1 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (13,6 cm) length (7 cm) width (1 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (12,2 cm) length (6,4 cm) width (1,1 cm) Inv. CE00549 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (11,3 cm) comprimento (5,5 cm) largura (0,5 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (11,3 cm) length (5,5 cm) width (0,5 cm) Inv. CE00545 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (11 cm) comprimento (6,5 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (11 cm) length (6,5 cm) width (0,7 cm) Inv. CE00546 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12 cm) comprimento (6 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (12 cm) length (6 cm) width (0,7 cm) 120 121 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00552 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12,4 cm) comprimento (6,6 cm) largura (1,1 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (12,4 cm) length (6,6 cm) width (1,1 cm) Inv. CE03659 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (6,4 cm) comprimento (11,5 cm) largura (1,4 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (6,4 cm) length (11,5 cm) width (1,4 cm) Inv. CE03656 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (6,7 cm) comprimento (12 cm) largura (0,9 cm) Inv. CE00542 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (12 cm) comprimento (6,5 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (6,7 cm) length (12 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (12 cm) length (6,5 cm) width (0,7 cm) width (0,9 cm) Inv. CE00543 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (11,4 cm) comprimento (6 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (11,4 cm) length (6 cm) width (0,7 cm) Inv. CE00556 Fivela Visigótica Península Ibérica, sécs. V - VI d.C. Bronze e pasta vítrea Dimensões: altura (5,6 cm) comprimento (8,4 cm) largura (0,7 cm) Visigothic Buckle Iberian Peninsula, 5th - 6th centuries AD Bronze and glass Dimensions: height (5,6 cm) length (8,4 cm) width (0,7 cm) 122 123 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes joalharia clássica e neoclássica da col. estrada: diferenças e semelhanças Nesta exposição pretende-se apresentar um conjunto de jóias presentes na Col. Estrada mas que, até agora, tem estado ausente nas anteriores antevisões: joalharia neoclássica. São seis as peças aqui apresentadas: duas chatelaines (CE04611 e CE04615), ou seja, um fecho ornamental que se fixava na cintura ou bolsos para suspender o relógio, frequentemente acompanhado de pequenos objectos utilitários; dois relógios (CE04612 e CE04616), um dos quais suspenso na chatelaine; dois brincos (CE04614) e um colar (CE04613). O período neoclássico tem lugar em finais do século xviii e inícios do século xix, verificando-se um renovado interesse na arte clássica (o início das escavações em Pompeia, na Itália, e em Tróia, em Portugal, datam desta altura) por razões de vária ordem: política, cultural e estética. Em contraste com a joalharia anterior (barroca e rococó), assimétrica e sobre-ornamentada, a neoclássica é assumidamente simétrica e despojada, mais próxima, assim, de modelos clássicos. No entanto, este auto-proclamado renovar da arte clássica, se bem que apresentando algumas semelhanças, também apresentava várias diferenças. Para melhor contrastá-las, apresentam-se também nesta exposição algumas peças da Antiguidade. Assim, temos um disco etrusco, baseado em iconografia de origem grega, que representa Hércules a raptar Mlacuch (CE02447); duas aplicações com a cabeça de Cúpido (CE00589 e CE02621), uma aplicação com uma cabeça de Júpiter (CE01461) e duas aplicações com cabeças femininas (CE00588 e CE01462), provavelmente deusas ou semi-deusas. Além disso estão presentes diversos pares de brincos (CE01391 e CE01392; CE01420 e CE01421; CE04688 e CE04689), um colar (CE01465) e dois anéis com gemas (CE02989 e CE02990). Algumas diferenças são evidentes: novas peças de joalharia, inexistentes no mundo clássico, como as chatelaines e relógios. Outra diferença é o abundante uso de decoração esmaltada na joalharia neoclássica, algo muito pouco usado na joalharia clássica. Finalmente, uma outra diferença relevante é o abundante uso de camafeus na joalharia neoclássica em diversos tipos de jóias (sendo de destacar aqui a influência do inglês Josiah Wedgwood); já na clássica o uso de camafeus reduzia-se aos anéis. Gustavo Porto carrero Inv. CE02447 Disco Etrusco, séc. V a.C. Ouro Dimensões: altura (13,9 cm) comprimento (0,1 cm), Disc Etruscan, 5h century BC Gold Dimensions: height (13,9 cm) length (0,1 cm) 124 125 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00588 Inv. CE01462 Império Romano Ouro Dimensões: altura (3,2 cm) comprimento (3,2 cm) largura (0,3 cm) Império Romano Ouro Dimensões: altura (2,6 cm) comprimento (2,2 cm) largura (0,1 cm) Aplique com cabeça feminina Aplique com cabeça feminina Appliqué with female head Appliqué with female head Roman Empire Gold Dimensions: height (3,2 cm) length (3,2 cm) width (0,3 cm) Roman Empire Gold Dimensions: height (2,6 cm) length (2,2 cm) width (0,1 cm) Inv. CE01461 Aplique com cabeça de Júpiter Império Romano Ouro Dimensões: altura (3,7 cm) comprimento (3,5 cm) largura (0,7 cm) Inv. CE02621 Aplique com cabeça de Cúpido Appliqué with Jupiter’s head Império Romano Ouro Dimensões: altura (3,6 cm) comprimento (3,7 cm) largura (0,1 cm) Roman Empire Gold Dimensions: height (3,7 cm) length (3,5 cm) width (0,7 cm) Appliqué with Cupid head Roman Empire Gold Dimensions height (3,6 cm) length (3,7 cm) width (0,1 cm) 126 127 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE00589 Aplique com cabeça de Cúpido Império Romano Ouro Dimensões: altura (3,7 cm) comprimento (3,5 cm) largura (0,7 cm) Appliqué with Cupid’s head Roman Empire Gold Dimensions: height (3,7 cm) length (3,5 cm) width (0,7 cm) Inv. CE01465 Colar Império Romano Ouro e pedra dura Dimensões: altura (39,5 cm) comprimento (2,3 cm) largura (0,9 cm) Necklace Roman Empire Gold and hard stone Dimensions: height (39,5 cm) length (2,3 cm) width (0,9 cm) Inv. CE04613 Colar Inv. CE01420/21 Inv. CE01391/92 Império Romano Ouro Dimensões: altura (7,2 cm) comprimento (2,3 cm) largura (0,2 cm) Império Romano Ouro Dimensões: altura (3,2 cm) comprimento (3,2 cm) largura (0,3 cm) Roman Empire Gold Dimensions: height (3,7 cm) Roman Empire Gold Dimensions: height (7,2 cm) length (3,5 cm) width (0,7 cm) length (2,3 cm) width (0,2 cm) Brincos Earrings Brincos Earrings Inv. CE04688/89 Brincos Império Romano Ouro Dimensões: altura (4,2 cm) comprimento (1,7 cm) Earrings Roman Empire Gold Dimensions: height (4,2 cm) length (1,7 cm) Europa (final século XVIII – início século XIX) Prata e camafeu Dimensões: altura (22,8 cm) comprimento (0,5 cm) largura (11,3 cm) Necklace Europe (late 18th century – beginning 19th century) Silver and cameo Dimensions: height (22,8 cm) length (0,5 cm) width (11,3 cm) Inv. CE04614 Brincos Europa (final século XVIII – início século XIX) Prata e camafeu Dimensões: altura (4 cm) comprimento (0,5 cm) largura (2,1 cm) Earrings Europe (late 18th century – beginning 19th century) Silver and cameo Dimensions: height (4 cm) length (0,5 cm) width (2,1 cm) 128 129 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Inv. CE02989 Anel Império Romano Ouro e gema Dimensões: altura (2,1 cm) comprimento (2,1 cm) largura (1,8 cm) Ring Inv. CE04611 Inv. CE04615 Europa (final século XVIII - início século XIX) Ouro e esmalte Dimensões: altura (11 cm) comprimento (1,8 cm) largura (5,5 cm) Europa (final século XVIII - início século XIX) Ouro e esmalte Dimensões: altura (12,5 cm) comprimento (0,7 cm) largura (5 cm) Europe (late 18th century - beginning 19th century) Gold and enamel Dimensions: height (11 cm) length (1,8 cm) width (5,5 cm) Europe (late 18th century - beginning 19th century) Gold and enamel Dimensions: height (12,5 cm) length (0,7 cm) width (5 cm) Chatelaine Roman Empire Gold and gemstone Dimensions: height (2,1 cm) length (2,1 cm) width (1,8 cm) Inv. CE02990 Anel Chatelaine Império Romano Ouro e gema Dimensões: altura (2,6 cm) comprimento (2,7 cm) largura (1,2 cm) Ring Roman Empire Gold and gemstone Dimensions: height (2,6 cm), length (2,7 cm) width (1,2 cm) Chatelaine Chatelaine Inv. CE04616 Relógio Europa (final século XVIII – início século XIX) Ouro, vidro e esmalte Dimensões: altura (5,8 cm) comprimento (1,6 cm) largura (4 cm) Inv. CE04612 Relógio Europa (final século XVIII – início século XIX) Ouro, vidro e esmalte Dimensões: altura (7,2 cm) comprimento (3 cm) largura (4,8 cm) Clock Europe (late 18th century – beginning 19th century) Gold, glass and enamel Dimensions: Clock Europe (late 18th century – beginning 19th century) Gold, glass and enamel Dimensions: height (7,2 cm) length (3 cm) width (4,8 cm) height (5,8 cm) length (1,6 cm) width (4 cm) 130 131 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes escultura sacra do gótico ao barroco A igreja de Nossa Senhora do Castelo de Abrantes é, hoje, um edifício relativamente bem conservado, dos séculos XV e XVI, de nave única, com coro-alto e capela-mor, que integra um valioso património artístico aplicado, constituído por escultura monumental (portas, arcos, púlpito), excepcionais exemplares de tumulária dos séculos XV e XVI, vestígios de frescos quatrocentistas ou dos inícios de quinhentos e revestimentos azulejares, na capela-mor, de raras tipologias arcaicas («corda seca»). No altar-mor pode ver-se um exemplar quase único de moldura góticomanuelina, em madeira, de um retábulo quinhentista, ainda in situ, subsistindo, exposta ao lado, uma das pinturas que o integrou, uma belíssima Adoração dos Magos que noutro local filiámos na oficina de Francisco Henriques, pintor luso-flamengo com actividade documentada entre 1509 e 1518. No nicho central da armação retabular encontra-se o orago da igreja, Santa Maria do Castelo, eventualmente uma imagem anterior reutilizada ou talvez mesmo coeva da armação retabular. Aproxima-se da obra atribuída ao escultor de Coimbra Diogo Pires-o-Velho, documentado de 1473 a 1514. Esta estátua parece ser, iconografica e plasticamente, uma versão, em menor escala, da principal obra documentada do mestre, a Virgem com o Menino de Leça da Palmeira, encomendada por D. Afonso V em 1478 e concluída em 1481. Com a colecção que foi recolhida na igreja desde 1922, o Museu D. Lopo de Almeida, aí instalado, podia apresentar, entre outras peças de interesse, uma evolução da Escultura Portuguesa, do século XV ao século XVIII, com base em peças oriundas das igrejas da cidade. Estas colecções serão, como já foi dito nas exposições anteriores, integradas no MIAA, pelo que, para esta exposição, seleccionámos, um conjunto de estatuária e escultura retabular em pedra dos séculos XV e XVI, a que acrescentámos alguns exemplares barrocos em madeira, em alabastro e em terracota, tanto da colecção Estrada como das colecções municipais, que trataremos na secção seguinte. As duas imagens quatrocentistas em pedra calcária que se expõem na nave são a Virgem do Leite, proveniente da igreja de S. Vicente, que apresenta considerável dimensão e excelente qualidade plástica, aproximando-se da obra atribuída ao escultor de Coimbra João Afonso, formado nos canteiros do Mosteiro da Batalha e autor de tumulária, retábulos e imaginária avulsa, nomeadamente de várias Virgens com o Menino, activo nas décadas centrais de Quatrocentos (cerca de 1436 a cerca de 1470) e a notável Cabeça de Cristo, de proveniência desconhecida, porventura um fragmento de uma imagem de um Ecce Homo ou de um Senhor da Cana Verde, em que a intensidade da expressão dolorosa é traduzida com acentuada impassibilidade, que se pode atribuir à mesma oficina coimbrã, pelo tratamento plástico dos cabelos.No Museu Grão Vasco, em Viseu, existe um Cristo Ressuscitado, talvez anterior, que apresenta algumas afinidades com esta escultura. Da época do Renascimento, destacamos a excepcional escultura em Pedra de Ançã representando S. Bartolomeu que terá pertencido, com outras esculturas subsistentes (um outro Apóstolo – talvez S. Pedro – e um Profeta ou Rei Mago), a um mesmo conjunto, eventualmente um Apostolado de um portal ou de um retábulo, e documenta, no seu rigor plástico, na pose «serpentinata» e na ousada anatomia de «esfolado», a plena assimilação do Renascimento pelas oficinas de Coimbra, resultante da actividade de escultores franceses na cidade, nomeadamente Nicolau Chanterene, de 1518 a 1528. Ainda no mesmo material e da mesma época seleccionámos um S. João Evangelista que deveria ter pertencido a um mesmo conjunto com outros dois Evangelistas existentes na colecção. Ainda que as alegadas proveniências destas peças não sejam coincidentes, as suas características materiais e iconográficas parecem indicar que pertenceram ao mesmo conjunto, de que falta um quarto evangelista, S. Lucas, que faria par com o S. Marcos, constituindo o S. Mateus e o S. João o outro par, definindo possivelmente registos sobrepostos de um portal ou de um retábulo. A estátua seleccionada desta feita reflecte, sobretudo na caracterização individualizada e expressiva do rosto, a disseminação do gosto renascentista pelas oficinas de Coimbra que resultou da permanência nessa cidade do já citado escultor francês Nicolau Chanterene, de 1518 a 1528. Inv. CE03783 Calvário, com Jesus, Maria e João Portugal, final do século XVII Madeira Dimensões: altura (58 cm) comprimento (56 cm) Calvary, with Jesus, Mary and John Portugal, late 17th century Wood Dimensions: height (58 cm) length (56 cm) 132 133 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes A exposição dedicada à escultura devocional da Idade Moderna termina com um sector, exposto na nave, junto ao púlpito, dedicado à imaginária em madeira, em alabastro e em terracota, pertencente tanto à colecção Estrada como às colecções municipais. Da primeira seleccionámos uma peça de pequeno formato, em alabastro, provavelmente espanhola, do final do século XVII, representando uma figura feminina que deverá representar uma das Santas Mulheres no Calvário, provavelmente Maria Madalena. Talvez da mesma época, mas de origem portuguesa e em madeira policromada, é a representação cenografada do Calvário, com Maria e S. João sobre uma base de sugestão rochosa. Já do século XVIII e de origem indo-portuguesa, em madeira policromada com mãos e rosto em marfim, é uma imagem da Imaculada Conceição. Completam a selecção oriunda da Colecção Estrada duas imagens portuguesas setecentistas de cunho algo popular, uma representanto Santo António e o Meninoe outra uma Santa Ana ensinando a Virgem a ler, em que a matriarca está sentada num aparatoso cadeirão D. José. Dentre as peças provenientes das colecções municipais avulta o grupo de imagens em terracota policromada, dos séculos XVII e XVIII, pela sua relativa raridade, com destaque para uma Virgem do Leite e para uma possível Nossa Senhora do Carmo. No grupo das imagens em madeira, destacam-se uma excepcional Virgem com o Menino do século XVIII, estofada, dourada e policromada, recentemente restaurada, e duas representações seiscentistas do tema da Imaculada Conceição, uma delas acéfala e sem policromia, o que faz pensar em imagem que terá sofrido ataques em época iconoclasta ou de perseguição religiosa. Fernando António Baptista Pereira Biblio grafia AA. VV. Catálogos das Exposições de Antevisão do MIAA, Abrantes, CMA, 2009 e 2010. PEREIR A, José Fernandes P ereira (c o ord.) Dicionário de Escultura Portuguesa, Lisboa, Caminho, 2005, (artigos sobre escultores da Idade Média e do Renascimento assinados por FABP). BAPTISTA PEREIR A, Fernand o António «O gosto artístico dos Almeidas» in Actas do Colóquio comemorativo dos 500 Anos do Estado Português da Índia, Abrantes, CMA, 2009. Virgem do Leite Inv. CE02422 Portugal, século XVII Terracota Dimensões: comprimento (55 cm) largura (30 cm) Maria Madalena Espanha, final do século XVII Alabastro Dimensões: altura (25 cm) comprimento (10,2 cm) Virgin of Milk Portugal, 17th century Terracota Dimensions: height (55 cm) length (30 cm) Mary Magdalene Spain, late 17th century Alabaster Dimensions: height (25 cm) length (10,2 cm) Nossa Senhora do Carmo Portugal, século XVIII Terracota Dimensões: comprimento (51,5 cm) largura (22 cm) Virgin of Milk Portugal, 18th century Terracota Dimensions: height (51,5 cm) length (22 cm) Inv. CE03756 Imaculada Conceição Indo-Portuguesa, século XVIII Madeira e marfim Dimensões: altura (43,4 cm) comprimento (18 cm) Immaculated Conception Indo-Portuguese, 18th century Wood and ivory Dimensions: height (43,4 cm) length (18 cm) Virgem com o Menino Portugal, século XVIII Madeira Dimensões: comprimento (126,5 cm) largura (47 cm) Virgin with Child Portugal, 18th century Wood Dimensions: height (126,5 cm) length (47 cm) Inv. CE03784 Santa Ana ensinando a Virgem a ler Portugal, século XVIII Madeira Dimensões: altura (38,5 cm) comprimento (19 cm) Saint Ann teaching the Virgin to read Portugal, 18th century Wood Dimensions: height (38,5 cm) length (19 cm) Inv. CE04073 Santo António e o Menino Portugal, século XVIII Madeira Dimensões: altura (85 cm) comprimento (26,5 cm) Saint Anthony with the Child Portugal, 18th century Wood Dimensions: height (85 cm) length (26,5 cm) Imaculada Conceição Portugal, século XVII Madeira Dimensões: comprimento (92 cm) largura (42 cm) Immaculated Conception Portugal, 17th century Wood Dimensions: height (92 cm) length (42 cm) 134 135 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes duas pinturas do naturalismo português Inv. CE04128 A. Ramalho Da multímoda e inevitavelmente desigual colecção de Pintura do Sr. João Estrada, ainda em estudo, decidimos trazer a esta Antevisão 3 do MIAA duas interessantes peças do Naturalismo Português, uma Natureza-Morta de José Malhoa (1855-1933) e uma bandeira de porta pintada com uma composição mitológica (Cupido) por António Ramalho (1858-1916), que, à sua maneira, acompanham um dos fios condutores da exposição – as representações da Natureza e da Figura Humana – e constituem uma bela introdução às transformações operadas nesse paradigma de representação pela pintura de Maria Lucília Moita, que se apresenta na sequência. Ambas as pinturas constituem, de algum modo, casos senão excepcionais pelo menos raros nas obras desses mestres, embora claramente expectáveis, atendendo à pratica de atelier e ao gosto da época, sobretudo das clientelas. Os dois pintores foram retratados pelo seu companheiro de geração Columbano Bordalo Pinheiro no famoso quadro «O Grupo do Leão», em que se encontram sentados, com outros artistas e intelectuais, a uma mesa da cervejaria Leão d’Ouro, ao Rossio, em Lisboa, tendo ao centro a figura tutelar de Silva Porto e, em pé, ao canto, a figura do autor. Inv. CE04750 José malhoa José Malhoa tornar-se-ia um dos pintores mais apreciados dos finais de oitocentos e primeiras décadas de novecentos, graças a inúmeras telas em que procurou retratar, de forma realista, situações e atitudes do povo português, o que lhe valeria o epíteto, algo exagerado, de pintor da portugalidade ou, mais apropriadamente, de «historiador da vida rústica de Portugal» (Diogo de Macedo). Com efeito, quadros como «A Severa» (em honra do qual foi composto um fado que o descreve, à maneira de uma ekphrasis, como «o mais português dos quadros a óleo»), o «Festejando o S. Martinho» ou «As Promessas» surpreendem, de forma magistral, situações da cultura das classes populares de então que facilmente se 136 137 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes tornariam clichés de uma certa visão das manifestações culturais indiossincráticas do Povo Português. Apesar de muitos autores o considerarem alheado da evolução da pintura moderna, uma leitura mais recente mostra-o atento ao ambiente internacional ao longo da sua vida. Malhoa cultivou com igual brilhantismo técnico e compositivo a Paisagem, o Retrato, a Pintura de História, as Cenas de Género, a Pintura Decorativa e, ocasionalmente, a Natureza-Morta, de que o quadro que se apresenta, assinado, é excelente exemplo, no inusitado recorte compositivo, a lembrar um «close up» fotográfico, e no inacabado do tratamento plástico não apenas dos caules das flores mas sobretudo do fundo, deixando a imagem pairar como se fosse uma visão «macro» de um fragmento da Natureza. A pintura de António Ramalho revelou cedo uma particular atenção à síntese plástica e à sobreposição de tons próximos que foram reveladas de forma pioneira por Édouard Manet, como acontece no belíssimo «Senhora de preto» (1884) da Casa-Museu Anastácio Gonçalves, assim como aos ambientes rurais e marítimos ou às cenas do quotidiano burguês e popular, tratados quase sempre de modo realista. Cultivou o retrato e realizou também importante obra de Pintura Decorativa na Figueira da Foz, em Évora e no Porto, género em que se insere a presente composição da colecção Estrada, assinada, num formato que revela a sua função de bandeira de porta de um salão burguês, onde se representa, nos tons suaves do fim-de-século que evocam a arte nova, um Cupido agarrando o seu arco e flechas num ambiente paradisíaco dominado por conjuntos florais. Fernando António Baptista Pereira pintura de maria lucília moita Como já foi afirmado nos Catálogos anteriores, no futuro MIAA, a secção dedicada à Arte Contemporânea contemplará principalmente duas galerias dedicadas às colecções legadas ao Município de Abrantes pela Pintora Maria Lucília Moita e pelo Escultor João Charters de Almeida. Na exposição Antevisão 1, apresentou-se, no coro-alto da igreja de Nossa Senhora do Castelo, uma curta selecção de obras dos dois artistas. Na mesma ocasião, foi inaugurada a impressionante Cidade Imaginária Mar de Abrantes concebida por Chartes de Almeida na beira-Tejo, que, doravante, marcará a silhueta da cidade vista do rio. Na Antevisão 2, e no mesmo local da igreja do Castelo, privilegiou-se a pintura mais recente de Maria Lucília Moita, já realizada no século XXI e então ainda inédita, relacionando-a com segmentos do seu percurso anterior, sobretudo com a fase mais abstracta, dita «orgânica», dos anos setenta. Nesta Antevisão 3, escolhemos, para o mesmo local, outras importantes fases da obra de Maria Lucília Moita, a da chamada «reacção» à formação naturalista inicial da autora, de acentuada geometrização, e as imediatamente seguintes, em que a sua pintura enveredou pela experimentação e tendeu para um certo grau de abstracção, períodos que se documentam através da paisagem e, sobretudo, do retrato que, a seu modo, respondem aos fios condutores temáticos centrados na representação da figura humana e da Natureza que esta exposição e o futuro MIAA valorizam de sobremaneira. Ao longo da sua formação, realizada durante os já longínquos anos quarenta do século XX, Maria Lucília Moita absorveu as referências naturalistas, que impunham um certo primado da visão exterior, quer dos grandes mestres que se habituara a admirar nas paredes da casa do seu primo, o médico e fino coleccionador Anastácio Gonçalves, cuja Casa é hoje Museu, quer dos discípulos deles com que organizara a sua aprendizagem. Todavia, logo no seu percurso inicial, a emergência de uma visão interiorizada do mundo visível dava os primeiros passos, pautando-se por uma busca da síntese espacial que se resolvia em grandes planos de cor-luz. Mas, manifestamente, tais realizações não satisfizeram a jovem artista e Maria Lucília Moita, depois de aprender os rudimentos do fazer pictórico e de se adestrar na representação naturalista da paisagem, vivendo também ela um século de incessante experimentação de processualidades, sentiu a necessidade de percorrer novos caminhos, que, por vezes, passaram pelo abandono temporário da pintura, em favor da poesia. Mas mesmo esse abandono se revelaria profícuo numa futura redescoberta da dimensão poética da pintura, tão cara à tradição oriental e a certos procedimentos ocidentais, topos que viria a informar a sua obra a partir da década de oitenta. os radicalismos modernistas não reconheceram a aproximação. A própria acabou por achar que entrara numa «fase de dureza» em que não se reconhecia. A segunda fase experimentalista que se seguiu, no imediato regresso à pintura, a partir de 1962, conduziu a pintora à exploração do quadro como superfície, no trabalho sobre as texturas, exaltando o matérico da própria execução pictural. Ficou célebre o seu quadro O Portão Azul, de 1962, feito à espátula e usando massa de vidraceiro com anilinas, que associa largos planos de cor à vibratilidade da superfície agitadamente texturada. Na mesma linha, embora não utilizando os mesmos materiais, mas sim o óleo, encontramos as Casas em amarelo, de 1964, ainda à espátula, ou, já de 1970, combinando a espátula com o pincel duro, a Azenha de Alferrarede, e Pedras e Água, esta anunciando uma visão cada vez mais analítica e quase microscópica da paisagem que irá desembocar na fase seguinte, habitualmente designada por «orgânica». A reacção à herança naturalista da sua formação culminou na exposição realizada em 1960 na Galeria do Diário de Notícias. Nela apresentou uma série de óleos marcados por uma acentuada geometrização da forma (que definiu como uma «procura de estrutura, de síntese») reforçada por pinceladas incisivas dadas paralelamente e por opções cromáticas de tons puros e mais lisos (como nas Casas de Trás-os Montes e no Retrato de Homem I, ambos de 1959). Entre as pinturas apresentadas em 1960 destacamos o Retrato de Rapariga, de 1959, no seu contraste entre a mancha vermelha da camisola e o rectângulo de luz na janela do fundo, ou a belíssima Árvore despojada, do mesmo ano, paisagem decantada em que os troncos retorcidos se tornam personagens, pinturas que, com as anteriormente mencionadas, mostram bem os caminhos de renovação que Maria Lucília tentava percorrer. Contudo, ninguém pareceu entender essa busca de uma via própria: os antigos «compagnons de route» sentiram a deserção do campo naturalista, enquanto A mudança de processo para a pintura à espátula, usada preferencialmente nos muros e nas pedras, combinada depois com o pincel quase gasto e duro («como que escrevendo»...) na definição dos troncos (e dos rostos, no retrato), não só introduzira a ruptura definitiva com todo o legado anterior, como abria o vasto campo do espaço pictural à invenção processual. Todavia, em vez de se precipitar em perplexidades puramente formalistas, Maria Lucília Moita foi, assim, contribuindo para a lenta gestação de uma visão cada vez mais interiorizada não apenas do mundo e dos seres como do próprio fazer. O definitivo abandono da espátula e o regresso ao pincel operaram um efeito de síntese entre a experiência de geometrização da fase de revolta contra a pintura «aprendida» e a exploração matérica da escrita pictural que acabava de conquistar: em vários quadros dos inícios da década de setenta surge uma pintura vigorosa de pinceladas largas, verticais ou horizontais, 138 139 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes que prolonga e aprofunda uma visão cada vez mais analítica e quase microscópica da paisagem que vinha de trás e antecede a fase de desintegração figural que emergiria a partir de 1974 e representa o momento de maior aproximação à abstracção no itinerário da pintora. Se em Casas espectrais, de 1972, cujo título tem origem no verso de uma poesia publicada no ano anterior («casas espectrais em cal / desapossada / tempos temporais»), na Natureza Morta em vermelho, de 1973, ou no magnífico Tronco derrubado, nas Formas vegetais e nos Troncos em fundo amarelo, todos do mesmo ano, a referência é, ainda, inteiramente perceptivel, embora em acentuada diluição, em Reflexos e em Dissolução em vermelho, ambos também de 1973, o caminho para a abstracção parece querer instalar-se. No termo de uma lenta reaprendizagem dos valores expressivos da própria matéria pictural, que se verifica nos inícios da década de setenta, a experiência de regresso ao pincel fê-la, como acabamos de ver, desembocar num tratamento cada vez mais abstractizante da forma pictural. O passo final conscientemente dado nesse sentido ocorreria ao longo do ano de 1974, que assistiu ao 25 de Abril. A mulher culta e sensível que é Maria Lucília Moita, profundamente atenta aos outros, como se prova no seu livro A segurar o tempo, publicado um mês antes daquela data histórica, não poderia ficar alheia ao momento de libertação generalizada e de esperança colectiva vividas pela sociedade portuguesa. Julgamos que o belíssimo quadro Nuvem vermelha, precisamente de 1974, alude, nessa nova linguagem abstracta recémconquistada, à experiência de construção, por vezes dolorosamente vivida na incerteza do futuro, da Liberdade por todos tão festejada. Em sucessivas composições que se estenderam por um pouco mais de dois anos e definem uma abordagem que o saudoso Lima de Freitas viria a baptizar de «orgânica», devido às sugestões de «órgãos» e de «tecidos celulares» que se desprendem dos motivos, resultantes, na realidade, de uma visão cada vez mais próxima, de tipo microscópico, do próprio real, que, assim, se «desmaterializa», a pintora explora o “vazio” aparente da tela enquanto espaço de “achamento” da própria forma, que se torna assim fragmentária, imprecisa, fugidia, porque viva e quase incapturável pela cristalização do gesto pictórico, des-figurando ou mesmo pretendendo abolir a própria referência. Contudo, quer nesses anos, quer mesmo posteriormente, nunca Maria Lucília Moita seria considerada ou se consideraria a si própria uma pintora verdadeira ou exclusivamente abstracta, tendo, por sinal, participado tanto na exposição Abstracção Hoje como na que se intitulou Figuração Hoje, ambas organizadas na Sociedade Nacional de Belas Artes, a primeira em 1975 e a segunda uns meses antes, em finais de 74. Por outro lado, em diversos textos poéticos que escrevera e reunira, em 1971, na colectânea Apertado mundo de dentro, essa desmaterialização da referência ou a própria fragmentação do gesto, fazendo emergir o suporte, fora já anunciada, encontrando o seu equivalente ao nível da poesia numa certa desintegração da frase pela exploração expressiva do símbolo mínimo que é cada palavra-conceito, o que levou certos críticos a falarem numa aproximação (que não era senão intuitiva) ao «concretismo» minimalista e conceptual que impregnava a melhor poesia portuguesa de então. Ao fim de algo mais de dois anos de deriva abstractizante e tendo sentido uma certa saturação, Maria Lucília Moita, sempre insatisfeita com o adquirido, reencontrou, no início da década de oitenta, a sua identidade a dois níveis, na estabilização da sua própria «escrita pictural», depois de sucessivas experimentações, voltando a ocupar todo o espaço plástico do suporte, e no «regresso» aos seus «temas» de sempre, em perfeita sintonia com o intenso lirismo que a Natureza sempre despertou na sua apurada sensibilidade. Com efeito, ao sair do momento abstracto «orgânico», Maria Lucília regressou a um novo tipo de paisagismo, cada vez mais interior, apenas tornado possível por essa incontornável experiência de ascese formal que definira o seu percurso imediatamente anterior. A reinvenção da paisagem na última fase da obra de Maria Lucília Moita foi acompanhada de uma renovação do retrato, que a pintora sempre considerou como uma forma de cartografar rostos e sentimentos, do mesmo modo que as suas paisagens são retratos de sentimentos perante a Natureza e o Mundo. Em ambos os casos, Maria Lucília reinscreve, num discurso actual e ocidental, a visão poética da pintura oriental. Retrato e paisagem tornam-se, assim, as duas faces mais visíveis de um modo pictórico que enlaça a sabedoria inerente às suas processualidades com os afectos e as emoções que funcionam como detonadores das próprias escolhas processuais, visando a expressão de um sentimento poético e místico sobre o Mundo. São poucos os pintores ocidentais que se têm mostrado sensíveis à interioridade poética da tradição do paisagismo oriental, toda ela procura da perfeição, não do que vemos ou queremos objectivamente representar da paisagem exterior, mas do efeito que esta produz no que será a paisagem interior da alma. Os estudiosos da arte do Extremo Oriente já por várias vezes sublinharam que o modo chinês de pintar a paisagem é equivalente ao acto de retratar um sentimento de elevação. Através das múltiplas paisagens e dos muitos retratos que desenha ou pinta, como os que seleccionámos para esta Antevisão 3, Maria Lucília Moita coloca-nos perante uma paisagem interior que é feita da sua comunhão multifacetada com o Mundo, um mundo que a pintora insiste em querer ver e ler como um poema. O portão azul (1962) 32X46 Do Outono 1969 60X46 Do Inverno (Alentejo) 1969 60X46 A Pulquéria (1) 1974 60X46 A Pulquéria (2) 1977 64X70 Retrato 1993 30X40 Rosto Máscara 2003 30X40 Rosto de Rapariga 1959 50X50 O Homem que vê de dentro Rosto de Homem 1959 45X35 Rosto de Homem 1964 30X35 Rosto de Velho 2003-2011 Fernando António Baptista Pereira Procurámos demonstrar que a pintura «de dentro» que Maria Lucília Moita sempre realizou mas principalmente aquela que nos últimos vinte e poucos anos vem apresentando responde, de um modo faseado e na típica inquietude do seu modo de «estar no mundo», a esse grandioso desiderato comum ao Oriente e ao Ocidente: pintar a inesgotável riqueza da paisagem interior. 140 141 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes 1950 30X22 142 143 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes três bronzes de charters de almeida O longo percurso escultórico de Charters de Almeida que, numa curta Antologia, se mostra, quase em simultâneo com esta Antevisão 3, na Galeria Municipal de Abrantes, a partir da generosa doação de dezenas de peças feita pelo autor à Cidade de Abrantes, para exposição no futuro Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, apresenta diferentes tempos e formulações, assim como distintos materiais, através dos quais se foi desenhando um diálogo criativo profundamente original entre a inteligência e a emoção do fazer e do acto de projectar face às inquietações suscitadas pela incessante mudança das circunstâncias do ser e do estar na nossa época. É interessante começar por lembrar que, no início da sua formação artística, Charters de Almeida queria ser arquitecto e chegou mesmo a inscrever-se, em meados dos anos 50, no respectivo curso na Escola Superior de Belas Artes do Porto, ao tempo dirigida pelo Prof. Arquitecto Carlos Ramos com uma extraordinária visão de abertura e experimentação, que marcaria todas as gerações aí formadas. Todavia, em parte por influência do Prof. Escultor Barata Feyo, figura incontornável na renovação da escultura pública em Portugal, nas décadas de 50 e 60, acabaria por se transferir para o Curso Superior de Escultura, que terminaria em 1962, com uma tese classificada com vinte valores. Seleccionámos para esta Antevisão 3 três peças da primeira fase da obra de João Charters de Almeida, a que se convencionou chamar «dos bronzes», em virtude da predominância dessa matéria como material definitivo, exactamente porque um dos fios condutores da presente mostra é a riqueza e diversidade de objectos realizados nessa liga metálica ao longo dos séculos. É importante assinalar que, desde o final dos anos setenta, os «bronzes» de Charters de Almeida não eram expostos em conjunto, pelo que a A Grande Viagem 1968 Bronze Altura. 72 cm Doação de Charters de Almeida à CMA, em 2011 144 145 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes Antologia na Galeria Municipal de Abrantes e esta Antevisão 3 se revestem de particular significado na revisitação dessa fase inicial da sua obra, em que o escultor estava interessado na fluidez das formas e dos contornos, a que não era estranho um certo organicismo prevalecente durante a sua formação, que ecoaria na sua obra ainda durante muito tempo. Ao longo dos anos sessenta e setenta, em que o seu trabalho foi extremamente apreciado por uma emergente clientela privada, o autor procurava uma certa dissolução do motivo, não ainda pelo recurso à abstracção geométrica ou à depuração formal, que viriam mais tarde na sua carreira, mas mediante uma muito própria vibratilidade das superfícies aliada a uma acentuada deformação/ redefinição figurativas que se não esgotavam num formalismo esteticista ou numa mera projecção gestual antes traduziam uma vasta gama de temas e problemas em soluções compositivas e formais ousadas que se singularizaram no panorama da escultura portuguesa de então. A escolha dos «bronzes» de Charters de Almeida, entre um conjunto de cerca de treze doados, recaiu sobre A Nave das Almas, de 1970, e sobre as Memórias e A Grande Viagem, ambas de 1980, que, pela sua temática de clara evocação existencial, estabelecem um profícuo diálogo com o espaço devocional e funerário da capela-mor da igreja de Santa Maria do Castelo e em particular com os dois túmulos quatrocentistas dos Almeidas, longínquos antepassados do escultor. Fernando António Baptista Pereira Nave das Almas As Memórias 1968 Bronze Altura. 20 cm Doação de Charters de Almeida à CMA, em 2011 1970 Bronze Altura. 77 cm Doação de Charters de Almeida à CMA, em 2011 146 147 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes objectos, economia e sociedade nas origens da urbanização no sudoeste peninsular A região Podem-se identificar três grandes unidades geomorfológicas no Sudoeste da Península Ibérica: a leste, onde se situa a maior parte do território, prevalece o chamado maciço antigo, composto por xistos, granitos, gneiss e quartzitos, fornecendo importantes minérios (nomeadamente cobre, estanho e chumbo, mas também ouro); este complexo é separado do Atlântico pelas formações calcárias que emergiram na Era Secundária, em particular o maciço calcário Estremenho a Oeste e as formações montanhosas do Algarve a sul; no Terciário e Quaternário, o sistema hidrológico iniciou o processo de formação dos vales da região. O Rio Tejo é o maior do Sudoeste da Península Ibérica. Na composição da parte ocidental do território, a primeira divisão morfológica a ter em conta situa-se entre o território a norte do Rio Tejo (mais montanhoso, húmido e actualmente com solos férteis) e outro a sul desse rio (plano, seco, mais “mediterrânico”), que se prolonga pelas planícies das bacias do Guadiana e Guadalquivir. Outro contraste importante é aquele entre a região costeira (com um clima mais temperado) e a que lhe fica imediatamente a seguir, para o interior (onde uma cordilheira de montanhas de diferentes idades minimiza a influência moderadora do Atlântico no clima, permitindo um regime de clima continental). Uma terceira divisão é a grande micro-variabilidade dentro do território com a formação de várias sub-regiões ecológicas, por vezes extremamente pequenas, uma característica que é relevante para a ocupação humana, dado que, por um lado, aumenta a variabilidade de recursos num espaço reduzido, e por outro, favorece o isolamento de grupos humanos e o desenvolvimento de características culturais próprias. Uma economia mista baseada, primeiro, na pastorícia e, mais tarde, na agricultura, começou estruturar-se no 6º milénio a.C., consolidando-se no 4º milénio a.C. com uma rede de povoados agrícolas, partilhando uma paisagem estruturada por monumentos megalíticos e ligada por viajantes que asseguravam contactos de longa distância para trocas de alguns recursos e bens de prestígio (rochas verdes, sílex, placas de xisto, contas, arte móvel e, mais tarde, também o cobre). Ao longo de todo o 3º milénio a.C., esta rede de agricultores dá lugar a uma rede metalúrgica, principalmente no Alentejo, Huelva e Algarve Oriental, com povoados fortificados cada vez mais complexos (castros), uma dinâmica que parece entrar em colapso depois da “rede campaniforme”, no início do 2º milénio a.C., na transição para a Idade do Bronze. Parece paradoxal que tal complexo desenvolvimento, que sugere um aumento não só da riqueza mas também da guerra, não tenha originado, à semelhança do que aconteceu na Europa Central, um primeiro período de “sociedades 148 149 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes guerreiras”. Tal tem sido interpretado como um sinal de “fissão social”, isto é, como uma decisão das sociedades de se segmentarem, evitando o aumento da complexidade administrativa e social que poderia gerar hierarquização social. Apesar disso, pelo início do 2º milénio a.C. começam a surgir sinais de hierarquização social, sobretudo enterramentos individuais e, com eles, status individual, sugerindo que não era tanto o processo social que poderia ser comprometido pela fissão social, mas, ao invés, o processo de urbanização (um requerimento para um posterior desenvolvimento na direcção dos proto-estados). Esta possibilidade é, talvez, mais lógica, uma vez que não há sinais que a troca de matérias-primas tenha sido interrompida, mantendo-se o SO da Península Ibérica uma parte, ainda que marginal, das distantes redes da Europa e do Mediterrâneo. Acompanhando a decadência da superstrutura dominante no 4º e 3º milénio a.C. (incluindo a arquitectura e itens portáteis), a rede básica de agricultores, pastores e metalúrgicos parece ter continuidade, e com eles provavelmente o corpus de memórias (mitos, mas também as memórias do território e dos seus recursos, nomeadamente líticos e metálicos que já eram explorados no Calcolítico) e o conhecimento técnico que era transmitido por via oral e prática. É esta rede que domina no 2ºmilénio a.C., sem grandes alterações, até á Idade do Bronze Final. O Sudoeste em transição: os principais indicadores arqueológicos Os principais indicadores arqueológicos para a periodização (cronologia relativa), caracterização e interpretação do Bronze Final do Sudoeste são a cerâmica, os metais e as estelas. Para os dois rimeiros, é de particular importância uma abordagem tipológica juntamente com uma abordagem tecnológica, tendo em conta a importância cultural da tradição artesanal, a qual resulta quer de inovações quer da herança do “saber fazer” (Mannoni, Giannichedda 1996). Um exemplo na utilização dos dados tecnológicos para complementar os tipológicos, são os estudos de J.C. Senna Martinez sobre a metalurgia do bronze no Centro de Portugal (Senna Martinez, Pedro 2000; Figueredo, Araujo, Silva, Fernees, Senna-Martinez & Vaz 2006; Senna Martinez 2007; Figueredo, Silva, Araujo, Senna Martinez 2010). A cronologia da Idade do Bronze do SO da Península Ibérica permanece incerta, com divergências entre os investigadores que, em todo caso, têm tendência para reconhecer maiores descontinuidades nos séculos XI a.C. (os mais antigos contactos pré-coloniais Cipriotas quadro i Séculos H. Schubart 1975 Almagro Gorbea 1977 xiv xiii xii xi x Bronze do SO I [fase da Atalaia – 1800…] Bronze do SO II [fase de Sta. Vitoria] Bronze I M.V. Gomes 1995, N. Bicho 2006 [Algarve] SO Bronze II Silva & Soares 1995 Castromartinez, Lull, Micó 1996 Bronze I SO Bronze III Bronze II Bronze III Centrado na Baixa Bronze II Estremadura Fase da Ria de Huelva (1050-950) Crescentes inputs Mediterrânicos Fase de BaiõesPlaza de las Monjas (950-825) Fase Colonial (post 825) ix viii vii vi Torres Ortiz 2008 Orientalizante e Fenícios), IX a.C. (intensificação dos contactos com o Mediterrâneo e primeiras colónias fenícias) e VI a.C (integração definitiva nos circuitos comerciais mediterrânicos). De acordo com alguns autores (e.g. M.V.Gomes ou M. E. Aubet), o século XI a.C. teria sido marcado pela emergência de chefados, enquanto outros (e.g. L. Garcia Sanjuan ou M. Soares) continuam a ver nele uma sociedade baseada em parentescos tribais. (quadro i) Após a descoberta do tesouro de Carambolo em 1958, Maluquer de Motes (1960) tornou-se o primeiro a concentrar-se nos vestígios arqueológicos, em vez das fontes escritas, em relação á discussão da real dimensão de Tartessos. Se bem que alguns autores não admitam a emergência de um Tartessos Pré-Fenício, i.e. anterior ao século VIII a.C. (Garrido 1979, Schubart 1982, Ruiz Mata 2000), a possibilidade de uma sociedade estatal ou para-estatal complexa, antes da chegada dos Fenícios a Cádis, tem sido defendida por outros investigadores, os quais designaram essa fase de diferentes maneiras: Fase ProtoOrientalizante (Almagro Gorbea 1977), Horizonte Pré-Colonial (Escacena e Frutos 1985) ou Horizonte Proto-Histórico (Aubet 1986). Estes autores, entre outros, datam as origens de Tartessos para os horizontes pré-coloniais com cerâmica de ornatos brunidos e pintada (tipo Carambolo). Torres Ortiz, nesta linha de pensamento, vê o Bronze do SO como um processo de transformação de uma sociedade baseada em laços tribais numa urbana e estratificada através de contactos contínuos com o Mediterrâneo Central e Oriental e com a Idade do Bronze Final Atlântico. A aceitação de uma tão antiga emergência de um complexo urbano de uma sociedade indígena não diminui a dificuldades cronológicas, uma vez que não é claro quando este teve início. No entanto, certos elementos, nomeadamente depois do estudo de Torres Ortiz (2002), dão algumas indicações. Orientalizante No Médio e Baixo Guadalquivir, a Idade do Bronze desenvolvese em continuidade com o Calcolítico local, ao qual se adicionam algumas inovações (cerâmica carenada) em sítios como El Berruceco de Medina Sidonia, Huerto Pimentel de Lebija, Monturque ou Settefilla. Este estádio parece perdurar entre o século XVII e XIV a.C. (quando emerge a cerâmica Cogotas, juntamente com a cerâmica micénica do Heládico Final IIIa/IIIb). Os povoados são pouco conhecidos, mas parece que se localizavam em locais altos e fortificados. Sendo a agricultura a principal actividade e os enterramentos ainda colectivos, alguns autores (Ramos Muñoz et al. 1973) interpretam esta situação como sendo característica de uma sociedade do tipo chefado, com o centro em El Berrueco de Medina Sidonia. A este período inicial sucede o Bronze Final com elementos de Cogotas, até ao século X a.C. (quando são reconhecidos os contactos com o Bronze do Atlântico – e.g. espadas pistiliformes). O Bronze Final não parece ter chegado ao interflúvio entre o Guadalquivir e o Guadiana antes da segunda metade do século XI a.C.. Nas terras altas apenas são conhecidos alguns acampamentos temporários e necrópoles (El Trastejon, La Papua), sendo a extracção mineira a principal actividade (simultaneamente com a agricultura, sendo esta praticada nas terras baixas) e uma fonte de conflitos. A falta de indicadores de urbanização e de necrópoles individuais, leva alguns autores a considerar que se está perante uma sociedade hierarquizada mas não estratificada (Garcia Sanjuan 1999). A transição, no século XI a.C., passa directamente para o Bronze Final de Tartessos, sem haver propriamente um Bronze Pleno. Na Estremadura espanhola, a passagem de enterramentos colectivos para individuais ocorre dentro de uma sociedade onde a agricultura e a exploração de estanho (superior à do cobre) são praticados. Na Idade do Bronze Final, os indicadores de acumulação de riqueza são importantes (e.g. o ouro de Sagrajas), reforçando a noção de uma sociedade estratificada (em continuidade com o período anterior, com enterramentos individuais). O Bronze Final, com contactos com o Bronze Atlântico II (espadas pistiliformes, associadas às mais antigas estelas) que sugerem a emergência de sociedades guerreiras, parece ter tido inicio no século XII a.C. No sul de Portugal, enterramentos em cistas individuais têm início na viragem do 2º milénio a.C. (embora os monumentos megalíticos continuem a ser utilizados no norte e centro alentejano) e até ao século XVII a.C. parece já existir uma especialização regional com uma economia baseada na metalurgia e na pastorícia em áreas como Ourique, enquanto que a agricultura permanece predominante em Beja (embora haja poucas evidências de povoados, para além das necrópoles). Uma segunda fase, até ao século XII a.C., mantém as cistas funerárias, mas também inclui estelas com incisões de guerreiros e a progressiva introdução de cerâmica de ornatos brunidos e vários indicadores de relações de longa distância entre o Mediterrâneo e o Bronze Atlântico Final (espadas pistiliformes, machados de talão). É nesta fase que os cabeços dos montes são reocupados (depois do Calcolítico) e fortificados (e.g. Mangacha, Giraldo, Coroa do Frade ou S. Brás I). Ocorrem variações neste contexto: por exemplo, embora todos os enterramentos sejam individuais (em decúbito lateral e posição contraída), alguns são em túmulos cercados por muros (e.g. Atalaia) enquanto outros não o são (e.g. Vinha do Casão, Casas Velhas); também, uma evolução das estelas (baseada no armamento representado – Gomes 1995) pode ser notada; estelas decoradas com representações de espadas de influência do Mediterrâneo oriental e cerâmica com decoração geométrica, como também povoados fortificados (como Castro Marim) aparecem pela primeira vez no Algarve. Pequenos povoados associados a uma metalurgia do cobre em pequena escala sugerem uma sociedade baseada em famílias extensas, sendo que alguns autores (e.g. Garcia Sanjuan 1999) interpretam estes vestígios como sinal de uma sociedade tribal baseada em redes de parentesco, enquanto outros (e.g. J. Soares e C.T. Silva 2006) interpretam-nos como evidência de chefados (baseados na riqueza dos depósitos, nas estelas e na complexidade de alguns túmulos). Tendo em conta estes vestígios, e seguindo as mais actualizadas cronologias de Torres Ortiz (2008), reconhece-se, na transição do século XI a.C., uma primeira fase de interacções de longa distância, nomeadamente com o mundo Atlântico, caracterizada pela presença de espadas do tipo Huelva, pontas de lança, contos de lança, punhais, fíbulas, passadores de arreios e até fragmentos de um capacete de crista atlântico (Ruiz-Galvez 1995), mas também cerâmica de ornatos brunidos e ocasionalmente facas de ferro. O acervo de Huelva incluía exemplares de ligações de longa distância; uma espada do tipo Huelva foi encontrado no acervo de Santa Marinella (Itália), datado da segunda metade do século X a.C. (Giardino 1995); uma fíbula do tipo de Huelva foi encontrada em Chipre (necrópole de Amathus, com uma cronologia similar - Torres Ortiz 2008). Da mesma fase, seriam os enterramentos de Roça do Casal do Meio (com uma fíbula ad occhio de origem siciliana) e a camada 3 do Monte do Frade com cerâmica de ornatos brunidos e uma faca de ferro (Vilaça 1995). De acordo com Torres Ortiz (2008), um estádio da Idade do Bronze Final seria reconhecido em sítios como Nossa Senhora da Guia em Baiões, datado entre 950 e 825 a.C.), onde a cerâmica mantêm semelhanças com a do Sudoeste, mas os objectos de bronze 150 151 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes apresentam uma relação estreita com o acervo de Vénat. A maioria dos sítios característicos desta fase está localizada na parte mais ocidental da Península Ibérica, particularmente no Centro e Norte de Portugal (S. Julião, Baiões, Moreirinha, Quinta do Marcelo), sendo que a este período corresponderiam ainda os primeiros contactos fenícios na costa, confirmado pela ocorrência de cerâmica grega Geométrica, nurágica e da península italiana em Huelva (González de Canales, Serrano & Llompart 2004) e por vários objectos fenícios em Peña Negra (Alicante), incluindo facas de ferro, prata e contas de vidro. A Idade do Ferro Plena teve início depois de 825 a.C., com os primeiros povoados fenícios (na sequência da fundação de Cartago, ligeiramente mais antiga), como Morro de Mezquitilla e Cerro de la Mora, ambos no sul da Península Ibérica, e, possivelmente, Cádis. Os Fenícios terão chegado ao Atlântico no final do século VIII-início do século VII a.C. (Alcáçova de Santarém – Arruda 2002, 2005). O Sudoeste em transição: estruturas sociais e ligações de longa distância A dimensão deste cenário, que sugere uma complexidade decrescente a oeste do Guadalquivir, levou Torres Ortiz a concluir que não se encontram sociedades estratificadas para além desse vale, embora os contactos com o Mediterrâneo e Atlântico precedam o horizonte de cerâmica de ornatos brunidos (embora esses contactos sejam esporádicos e maioritariamente com as ilhas do Mediterrâneo Central – Sardenha e Sicília), intensificando-se esses contactos depois de 1050 a.C. (quando a Península Ibérica se torna um importante intermediário entre ambas as áreas). É neste contexto que tem de ser discutido o problema de Tartessos. Presume-se que a localização de Tartessos seja no Guadalquivir (Schulten 1941, 1950) e também em Huelva (Luzon 1962, Blasquez 1975). A localização específica perto de Huelva tem sido sugerida por Blazquez tendo em conta a localização no Vale do Rio Tinto de dois terços de toda a escória de metal encontrado do SO Ibérico, juntamente com um número incontável de fragmentos de metal que, possivelmente, foram transportados pelo Gualdalquivir para serem refundidos e depois exportados – a riqueza de Tartessos resulta desta função. Os seus principais indicadores culturais são os vasos pintados do Carambolo e a cerâmica de ornatos brunidos. A cerâmica de ornatos brunidos parece ter tido uma grande longevidade, com uma origem antiga (datada da Idade do Bronze Final, com os tipos Alpiarça e Baiões no Centro de Portugal, e persistindo até ao século VI a.C.), mantendo assim um forte carácter indígena (que possivelmente está ligado a Tartessos), associada com um significado regional baseado nas variações regionais dentro do tipo B (sub-tipo B1 na Estremadura portuguesa com achados esporádicos no Baixo Alentejo e Algarve, ou B2 no Sudoeste espanhol – M. Maia 2003), embora não possa funcionar como indicador cronológico de detalhe precisamente por essa razão. Frequentemente, juntamente com elementos plásticos alongados (mamilos e linguetas), constitui o melhor indicador para os contextos do Bronze Final/ Tartessos (Soares 2005). As suas origens remontam pelo menos ao século XI a.C., associado às espadas em “língua de carpa” do quadro ii Séculos SO Ibéria xiv xiii xii Bronze I xi x Fase Ria de Huelva Bronze Final I - II (1050-950) Bronze Final III a/b Fase Baiões-Plaza Bologna IA de las Monja (950-825) Fase Colonial (pós 825) ix viii Italia Europa Central Grécia Tiro Global Bronze Final Bronze Final I Ha A1/2 LH IIIC-avancado Ha B1a Ha B1b Sub-Micénico PG Inicial/Médio Ha B2 PG Final Ha B3a tipo Huelva, sendo usada continuamente até ao aparecimento da cerâmica a torno, nos séculos VI e V a.C. A sua área de dispersão inclui as regiões de Guadalquivir e de Huelva, com extensões para a Estremadura espanhola. Este tipo de decoração era aplicado principalmente em pratos com o rebordo extravasado, carenados, troncocónicos e vasos ovóides. Quanto às cerâmicas de Carambolo, alguns autores (Aubet, Barcelo & Delgado 1996) consideram que estas possam ter sido restritas a um uso cerimonial. A cerâmica de Carambolo dispersa-se ao longo do Baixo Guadalquivir (as origens da sua produção, de acordo com os estudos petrográficos), Huelva e Baixo Alentejo (Ourique), sendo a decoração geométrica aplicada a vasos de uso diário (taças largas, vasos carenados) de uma provável elite. Almagro Gorbea sugeriu que poderia ser restrita a acontecimentos religiosos ou cerimoniais, mas tal não tem uma base arqueológica. Este tipo de cerâmica (Castro Martinez 1996) parece pré-datar o horizonte fenício, sendo assim supostamente a típica produção tartéssica dos séculos XI e, pelo menos, X a.C. (com uma possível ligação à cerâmica Proto-Geométrica grega), evoluindo no século IX e principalmente no VIII a.C. (já com contactos com os fenícios) para a cerâmica tipo Castulo (Ruiz Mata 1985). A cerâmica pintada Carambolo tem sido relacionada com diversas influências mediterrânicas, a maioria no início do século VIII a.C. com a excepção de uma possível cerâmica Geométrica grega (embora a colonização grega pré-fenícia seja um tema com grandes reservas – mesmo que os recentes achados de cerâmica Heládica IIIa e IIIb no Llanete de los Moros, do século IX a.C., possam sugerir algo diferente). Assim, pelo menos na bacia do Baixo Gualdalquivir, parece estar presente uma rede centralizada deste tipo de bens de prestígio, provavelmente associados a sociedades de tipo chefado. As estelas funerárias do Alentejo poderiam, no entanto, assinalar um núcleo alternativo. Não são conhecidas produções centralizadas, até agora, para outras regiões ou períodos (onde a cerâmica de ornatos brunidos não tem essas características), mesmo existindo outros indicadores que podem sugerir uma dinâmica de deslocação dos centros. Esta deslocação já foi notada anteriormente e tem sido associada sobretudo às características do ecossistema (vd. Mathers 1994), embora também se possam considerar mudanças estratégicas no sistema de intercâmbios relacionadas com as vias naturais do território (como se refere adiante). EG / MG I Bronze Final Bronze Final Ferro Inicial Tiro XII-XI Ferro Médio Tiro X-VI Ferro final Tiro V-II Ferro Inicial/Médio Ferro Deve-se ter em conta que o século XII a.C. é o período de maior crise não só das principais sociedades estatais (hititas, micénicos), mas também de outras desenvolvidas embora menos estatizadas (préurbanas mas mais complexas que chefados) do Mediterrâneo Central (e.g. Terramare). Poder-se-ia colocar a hipótese do mesmo processo ter ocorrido na Península Ibérica; no entanto, ao contrário das outras regiões, não parece ter existido nenhuma ruptura na rede cultural. De facto, a crise mediterrânica/europeia do século XII a.C. está sobretudo associada a um estado de rotura do modo de exploração territorial dos estados e chefados face ao crescimento demográfico (cf. Bernabo Brea, Cardarelli e Cremaschi 1997). As trocas de longa distância tornam-se confinadas a pequenos territórios, ao mesmo tempo que emergem produções independentes de bronze, só vindo a ser retomadas a partir do século X a.C. quando o comércio fenício aumenta. Para além da evidência arqueológica, isto talvez possa também corresponder à descrição da Bíblia de relações entre Tarshish (Tartessos?) e rei Hiram I de Tiro (Nijboer & van der Plicht 2008). Parece ocorrer uma décalage entre a sequência ibérica e a evolução oriental. (quadro ii) A discussão sobre a fundação de Cádis tem um papel fundamental na compreensão das dinâmicas do Bronze SO nas suas relações com o Mediterrâneo. Embora Velleio Patercolo afirme que Cádis foi fundada 80 anos depois da destruição de Tróia, i.e. no século XII a.C., não existem indicadores de uma fundação portuária a 1100 a.C., embora ocorram indicadores de uma fase pré-colonial grega e também de contactos pré-fenícios (Giardino 1995): • Um selo cilíndrico proveniente do túmulo de Velez, em Málaga, encontrada com lápis-lazúli, reproduzindo cenas iconográficas atribuído a ambientes sírios e cipriotas da primeira metade do século XIV (Blázquez 1973); • Uma figura de bronze proveniente das proximidades de Cádis, com paralelos em objectos de Ugarit dos séculos XIV-XIII a.C. Levantando a hipótese de uma origem pré-fenícia de Tartessos, Schulten sugeriu uma possível migração micénica no século XII a.C. (1924) ou uma migração dos Povos do Mar (1940), parcialmente retomada por M. Bendala Galán (1997). Estes antigos vestígios levaram S. Moscati (1985) a sugerir uma pré-colonização de origem síria-palestina, uma hipótese actualmente rejeitada. Mas elas sugerem que, mesmo que a uma certa distância, a Península Ibérica fazia parte das redes mediterrânicas de bronze que entraram em decadência depois do século XII a.C. Todavia, as primeiras importações fenícias que não deixam dúvidas são de Paza de las Monjas, i.e., do século IX a.C. Uma ruptura do género da observada no Mediterrâneo não é tão perceptível no SO Ibérico, sendo que tal pode dever-se a três possíveis cenários: a tensão entre os modos de exploração dos recursos e as estruturas de gestão social não ocorreu porque o processo de crescimento ainda estava por realizar, chegando apenas a esse ponto de viragem numa época mais tardia (possivelmente no século IX a.C.); ou porque a estrutura social de Tartessos era mais complexa que a de um chefado antes do século XI a.C.; ou a tensão não ocorreu porque uma sociedade mais complexa que um chefado teria resolvido a questão atempadamente. Uma sociedade proto-urbana com um núcleo pouco estável? Deve-se entender que, numa perspectiva morfológica, as bacias do Guadalquivir-Guadiana-Tejo formam uma unidade invulgar de planícies, como foi referido anteriormente. Dentro dela, não existem grandes barreiras naturais, e a base económica era semelhante, à excepção de alguns recursos minerais. Este aspecto já ocorria em épocas mais antigas, primeiro com o sílex e a anfibolite, no Neolítico, a mais tarde nas fontes metalúrgicas do cobre, estanho e, também, ouro. Neste cenário, os lugares centrais teriam tendência para emergir em áreas associadas a grandes produtividades e capacidade de distribuição destes recursos mais restritos. Neste cenário, os vestígios de uma metalurgia precoce no SO são também um indicador de complexidade da estrutura social indígena. Uma estrutura social complexa e provavelmente estratificada teria tendência para ser necessária para a gestão das redes e mecanismos que possibilitavam a difusão e desenvolvimento da metalurgia. Numa época mais antiga (desde o século XII a.C.), dominada pela presença de cerâmica de ornatos brunidos e uma forte continuidade local, existiria um grande centro no Guadalquivir (Settefilla) possivelmente relacionado com o comércio ligado às cerâmicas Cogotas, como também uma região secundária e menos central no Alentejo, caracterizada pela presença de estelas incisas. Após os séculos X-IX a.C., temos um período com Carambolo e cerâmica de ornatos brunidos, centrada em Huelva (associado à capacidade de produção de metal, num momento em que a produção do metal é ainda nativa, mas em que as trocas começam a fugir ao controlo local, afastando-se os lugares de trocas – portos dos vales dos rios – para locais mais interiores). A cerâmica de ornatos brunidos deve ser considerada a partir daqui o principal indicador do complexo tartéssico. Quando um grupo humano procura elevar-se a si próprio imitando os “items da moda” de outro grupo, tende-se a encontrar sinais deste último (é o caso da cerâmica grega nos contextos da Idade do Ferro italiana – Cuozzo 2000). Quando se considera a distribuição da cerâmica do Carambolo, que se julga ser de grande prestígio, não se encontra grande difusão, ao contrário do que ocorre com a cerâmica de ornatos brunidos. Por um outro lado, permanecem bastante fortes as ligações com a área atlântica, sobretudo na metalurgia do bronze, 152 153 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes como evidenciam alguns tipos de objectos significativos para este período (espadas pistilliformes, primeiras espadas em língua de carpa, machados de argolas); também no centro de Portugal, nomeadamente nas Beiras, o tipo de metalurgia parece muito próximo do tipo atlântico e similar aquele da cultura de Cogotas, mas ao mesmo tempo com fortes influências mediterrânicas, como é o caso do grupo Baiões/St. Luzia (Senna Martinez, Pedro 2000; Senna Martinez 2010). Depois do século VIII a.C., com a presença directa dos fenícios (na sequência da expansão forçada pelas campanhas assírias de Tiglath-Pileser III), é provável que as elites indígenas tendessem a afastar-se dos potenciais colonos, possivelmente mais para o interior para locais ainda acessíveis, mas de maior protecção, mostrando um menor interesse para com os mercadores fenícios (Alentejo e Vale do Guadiana?). Isto seria coerente com uma expansão posterior, desde a bacia Guadiana para as do Tejo e Sado, nos finais do século VII, que alguns autores interpretam como fenícia, mas outros sugerem que possa ser tartéssica, usando tanto os vestígios arqueológicos como a toponímia – os locais com nomes que terminam em “-ipo”, que podem ser considerados como um traço da língua turdetana, a qual se baseia na tartéssica (Torres Ortiz 2005). Ainda não se sabe até que ponto os modelos tartéssicos de economia, complexidade social ou capacidades metalúrgicas foram preservadas ou entraram num período de decadência. Neste modelo, assume-se as profundas redes de ligação entre a Península Ibérica, o Mediterrâneo e o Atlântico, mas também a sua relativa autonomia das sequências do Mediterrâneo Central e Oriental. A partir de uma perspectiva estratégica, o SO Ibérico (onde os depósitos de metal são mais importantes) e grande parte da sua fachada atlântica eram de difícil acesso pelo mar (devido aos problemas de navegação no Atlântico) ou por terra tanto pelos Pirenéus como pela Meseta (no caso de um primeiro contacto de navegação com o Levante Espanhol), quando comparado com outras regiões no Mediterrâneo. Isto favorecia a autonomia mencionada, para ser apenas contrariada pela pressão das trocas do metal1. Luiz Oosterbeek Davide Delfino Fernando António Baptista Pereira Gustavo Portocarrero 1 Uma primeira versão deste artigo foi apresentada numa comunicação no Congresso da European Association of Archaeologists em Malta, em Setembro de 2008, por Davide Delfino. Biblio grafia ALMAGRO GORBEA, M., (1977) El Bronce Final y el periodo Orientalizante en Extremadura, Madrid ARRUDA, A.M., (2002) Los Fenícios en Portugal. Fenicios e indigenas en el centro y sur de Portugal (siglos VIII-VI a.C.), Barcelona, Cuadernos de A. Mediterranea 5/6 ARRUDA, A.M., (2005) O 1º milénio a.n.e. no Centro e no Sul de Portugal. Leituras possíveis no início de um novo século, in: O Arquéologo Português 23, série IV, 9-156 AUBET, M. E., (1986) Horizonte cultural protohistorico, Tartessos, Revista de Arqueologia extra n.°1, 58-73 AUBET, M. E, BARCELO J.A., DELGADO A. (1996) Kinship, gender and exchange: the origin of tartessian aristocracy., in: BIETTI SESTIERI, A. M., KRUTA, V. 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