Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
Re v i st a Re v i s t a B r a s i l e i r a d e ISSN 16778510 Br asi l e i r a Fisiologia do de exercício F i s i o l o g i a Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício d o e x e rc í c i o 13 anos CARDIOLOGIA • Fatores de risco cardiovascular em idosos ESPORTE gRanDes nomes nacionais e inteRnacionais com conteúDos inovaDoRes PaRa atualização De PRofissionais musculação e personal training, bem-estar, treinamento funcional, FITNESS E gINáSTIca, acqua FITNESS, ESporTES, FB ScIENcE, NuTrIção, FISIoTErapIa, carrEIra E NEgócIoS, EScolar E rEcrEação, laZEr E ENTrETENIMENTo exPo fitness bRasil: mais De 100 exPositoRes fitness e beacH wear, tênis e artigos esportivos, equipamentos, acESSórIoS, SuplEMENToS NuTrIcIoNaIS E MuITo MaIS e mais: PalestRas gRatuitas, aPResentações De stReet Dance e outRas atRações fitnessbrasil.com.br • (11) 5095-2699 twitter.com/fitnessbrasil facebook.com/fitnessbrasil maRcas oficiais Marca esportiva Realização equipaMento nutrição esportiva prograMa de fitness v o lu me 1 1 - nú m er o 01 • Ja n eir o /Ma r ç o 2 01 2 94 cuRsos com os maioRes PalestRantes Do meRcaDo • • • • • Alongamento e força muscular Intervalo entre séries e treinamento de força Alterações agudas induzidas por uma prova de triathlon Qualidade de vida de funcionários após ginástica laboral Caso do atleta paraolímpico Oscar Pistorius NUTRIÇÃO • Suplementação em atletas de natação FISIOLOGIA • Cicloergometria e lesão medular • Mobilização neural na hipotrofia muscular SAÚDE DA MULHER • Qualidade de vida em pacientes mastectomizadas www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 1 - n ú m e r o 0 1 • J an eiro/ M arç o 2012 Re v i s t a B r a s i l e i r a d e F i s i olog i a do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 11 número 1 - janeiro/março 2012 Editorial Pesquisas e resultados, Paulo Farinatti ..................................................................................................................................3 OPINIÃO Citius, Altius e Fortius: o caso do atleta paraolímpico Óscar Pistorius que disputou o Campeonato Mundial de Atletismo de 2011, Flávia Porto, Jonas Gurgel...........................................................................4 ARTIGOS ORIGINAIS Alterações agudas induzidas por uma prova de triathlon longo em diferentes biomarcadores enzimáticos e da função imune, Faber Sérgio Bastos Martins, José Augusto Rodrigues dos Santos..........................................................................................................................................7 Prevenção de hipotrofia muscular pelo uso da mobilização neural em modelo experimental de ciatalgia, Juliana Schmatz Mallmann, Juliana Moesch, Flávia Tomé, Rogério Fonseca Vituri, Alberito Rodrigo de Carvalho, Gladson Ricardo Flor Bertolini........................................................13 Percepção subjetiva da qualidade de vida de usuários de computadores após 15 sessões de ginástica laboral, Thiago Medeiros da Costa Daniele, George Lacerda de Souza, Pedro Bezerra Souza Neto.............................................................................................................17 Avaliação dos fatores de risco cardiovascular de idosos participantes de grupo de convivência da terceira idade do município de São Miguel do Oeste, SC, Nelí Maziero, Everton Boff, Sandro Claro Pedrozo................................................................................................................21 Efeitos da suplementação de carboidrato em gel sobre o desempenho físico e a resposta glicêmica em teste de natação de 12 minutos, Jadson Pereira Alves, André Luís Macalossi, Ramiro Barcos Nunes, Francisco Navarro...........................................................................................26 Treinamento aeróbico em cicloergômetro adaptado para pacientes lesados medulares, Simone Suzuki Woellner, Antonio Vinicius Soares, Anna Maria Engel, Paulo Guilherme Lenz, Bruna Zimmermann.........................................................................................................................30 Efeito de diferentes intervalos entre séries, determinados pela relação esforço-recuperação, no desempenho da força, Diego de Almeida, Lenifran Santos, Renato Massaferri, Tainah Lima, Walace Monteiro................................................................................................................36 RELATO DE CASO Avaliação da qualidade de vida em pacientes mastectomizadas pré e pós-reabilitação fisioterapêutica, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rosani Mostowski, Karla Jakeline Uller............................................42 REVISões Atividade cerebral relacionada ao apetite e exercício físico: implicações para a ingestão alimentar e controle do peso corporal, Rafael Ayres Montenegro, Alexandre Hideki Okano.......................................................................................................................................................48 Influência de variáveis relacionadas ao protocolo experimental no déficit de força muscular mediado pelo alongamento, Raquel Gonçalves, André Luiz Demantova Gurjão, José Cláudio Jambassi-Filho, Luiza Hermínia Gallo, Alexandre Konig Garcia Prado, Sebastião Gobbi..................................55 NORMAS DE PUBLICAÇÃO................................................................................................................................ 60 EVENTOS.................................................................................................................................................................. 62 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 2 Re v i s t a B r a s i l e i r a d e F i s i olog i a do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Robert Robergs (EUA) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Rosane Rosendo (SC) Douglas S. Brooks (EUA) Sebastião Gobbi (SP) Emerson Silami Garcia (MG) Francisco Martins (PB) Steven Fleck (EUA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Navarro (SP) Vilmar Baldissera (SP) Luiz Carnevali (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. 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A quantidade e qualidade de artigos aumentam paulatina e consistentemente, bem como o número de instituições que se fazem representar através de seus pesquisadores. Desse modo, nesta edição encontramos artigos de quatro regiões do Brasil e um de Portugal, tratando de assuntos variados, que vão desde biomarcardores em prova de triátlon até treinamento para lesionados medulares. A revista abre com trabalho produzido da Universidade do Porto, descrevendo alterações em marcadores enzimáticos e função imune em triatletas. Em seguida, contribuição da Universidade Estadual do Oeste do Paraná discute modelos de prevenção de perda de massa muscular através de mobilização neural. Na área das relações entre saúde e exercício, temos dois artigos interessantes – grupo da Universidade Federal do Ceará avalia a percepção subjetiva da qualidade de vida em pessoas que fazem uso prolongado de computadores após intervenção com ginástica laboral, enquanto da Universidade do Oeste de Santa Catarina chegam-nos dados sobre fatores de risco cardiovascular em idosos que frequentam centro de convivência da terceira idade. No tocante à prescrição do exercício visando desempenho, três estudos foram selecionados. Um deles, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, investigou os efeitos da suplementação de carboidrato sob a forma de gel no desempenho em teste de natação, enquanto pesquisadores da Faculdade Guilherme Guimbala apresentam dados sobre treinamento aeróbio para lesionados medulares. Enfim, grupo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro examinou o efeito de estratégias diferentes de determinação do intervalo de recuperação no desempenho em exercício de força. A revista apresenta, nesta edição, além das tradicionais revisões, um relato de caso e um artigo de opinião. As revisões se voltam para problemas relacionados à avaliação da força em idosos, especialmente o déficit de força após alongamento (Universidade Estadual Paulista) e para as relações entre atividade cerebral, apetite e exercício físico (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). O interessante relato de caso selecionado para a presente edição discute aspectos da qualidade de vida em pacientes mastectomizadas que participam de programa de intervenção fisioterápica. Enfim, artigo de opinião discute com profundidade o caso do atleta paraolímpico Óscar Pistorius, que, com ambas as pernas amputadas, vem disputando campeonatos internacionais de atletismo e pleiteia o direito de disputar vaga nos Jogos Olímpicos de Londres. Em suma, uma grande variedade de assuntos e abordagens, que bem reflete a riqueza de nossa área do conhecimento! Bom proveito a todos! Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 4 Opinião Citius, Altius e Fortius: o caso do atleta paraolímpico Óscar Pistorius que disputou o Campeonato Mundial de Atletismo de 2011 Flávia Porto*, Jonas Gurgel** *Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Exercício e do Esporte Universidade Gama Filho (PPGEF/UGF), Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/ IEFD/ UERJ), Grupo de Pesquisa em Biomecânica, Instituto de Educação Física, Universidade Federal Fluminense (GPBIO/IEF/UFF), **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/ IEFD/ UERJ), Grupo de Pesquisa em Biomecânica, Instituto de Educação Física, Universidade Federal Fluminense (GPBIO/IEF/UFF), Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS/UFF) Introdução O sul-africano Óscar Pistorius nasceu em Joanesburgo, em 22 de novembro de 1986. Devido a uma má formação, nasceu sem as fíbulas, o que fez com que fosse amputado bilateralmente aos 11 meses de idade. Com uma vida dedicada aos esportes, foi no Atletismo que Pistorius se destacou e vem se destacando, quebrando recordes e... Regras! Campeão paraolímpico dos 400 m, Pistorius lutava, desde 2007, para disputar provas olímpicas. Baseado nos seus próprios recordes e conquistas, via-se em igual condição de disputar corridas com indivíduos normais (Usou-se o termo “normais” para se referir a indivíduos não portadores de necessidades especiais, sem teor pejorativo aos indivíduos amputados. Refere-se, apenas, a uma questão de normalidade, de ser mais comum). Assim, após longo processo, em 2011, o Comitê Técnico da International Amateur Athletic Federation (IAAF) decidiu por permitir a participação de Pistorius no 13° Campeonato Mundial de Atletismo, ocorrido na Coréia do Sul, com a condição de que ele fosse o primeiro atleta na equipe de revezamento, sob a alegação de que suas próteses poderiam ocasionar acidentes com os outros competidores. A equipe de Pistorius alcançou o 8° lugar nessa disputa. Entretanto, é evidente o marco na história do Atletismo, na qual um atleta paraolímpico participou junto com atletas olímpicos na competição. Seria essa disputa realizada com igualdade entre todos os competidores? Óscar Pistorius fez história no esporte ao se tornar o primeiro atleta amputado a competir com corredores normais em um Campeonato Mundial de Atletismo. Mas, essa participação gerou polêmica, principalmente por sua suposta vantagem mecânica sobre os demais competidores gerada pelo uso de suas próteses ultraleves. Com base nesse episódio, este artigo propõe discutir alguns aspectos biomecânicos sobre as vantagens e desvantagens que Pistorius apresentaria ao participar de uma competição, inicialmente, voltada para indivíduos não-amputados. Sobre as próteses usadas por Pistorius Regras da IAAF proíbem o “uso de qualquer dispositivo técnico que incorpore molas, rodas ou qualquer outro ele- Recebido em 10 de novembro de 2011; aceito em 16 de janeiro de 2012. Endereço de correspondência: Flávia Porto, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, 8º andar, sala 8121, bloco F, 20550-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 mento que forneça ao usuário uma vantagem sobre outro atleta que não utiliza tal dispositivo” e o “uso de qualquer aparelho que tenha o efeito de aumentar a dimensão de uma peça de equipamento para além do máximo permitido nas regras ou que forneça ao usuário uma vantagem que ele não teria obtido usando os equipamentos especificados no regulamento”. Com base nisso, o pedido de Pistorius para participar de competições voltadas a indivíduos normais teve de ser minuciosamente analisado, uma vez que a permissão poderia ser uma anuência ao ‘favorecimento’ do atleta perante os demais competidores. Brüggemann et al. [1], então, conduziram um estudo encomendado pela IAAF para investigar se as próteses Cheetah poderiam ser consideradas uma espécie de doping mecânico usado por Pistorius, o que lhe traria vantagens sobre seus pares. De acordo com a empresa fabricante das próteses usadas por Pistorius e que tem nele seu garoto-propaganda, a Össur® [2], o modelo Cheetah Flex-Foot Feet é feito sob medida para o usuário e desenhado, especificamente, para a prática de corrida. Indicadas para amputados transtibial e transfemoral, as próteses têm a forma de J e são projetadas para simular a ação da junção tornozelo/ pé, permitindo, inclusive, leves movimentos de rotação e torção, protegendo o coto de possíveis lesões ocasionadas pela rigidez do equipamento. As próteses são leves (possuem 512g) e feitas de fibras de carbono, o que permite uma maior flexibilidade e otimização da transferência de energia entre solo e corpo durante a marcha e corrida. Aspectos biomecânicos e fisiológicos da corrida com próteses Primeiramente, é importante que seja considerado que qualquer padrão de movimento adotado para a realização da corrida influirá na fisiologia do indivíduo, seja amputado ou não, em variáveis como gasto de energia metabólica, processo de fadiga e risco de lesão [3]. Nessa ocasião, Brüggeman et al. [1] avaliaram e compararam a biomecânica da corrida de Pistorius com a de cinco corredores normais, cujas características antropométricas e de desempenho na corrida eram similares. As propriedades mecânicas das próteses também foram investigadas. Considerando-se a massa reduzida da prótese Cheetah, que resulta em uma menor massa corporal do segmento quando comparado ao membro natural de um indivíduo sadio (cerca de 50% menor) [1], tal fato representa vantagens biomecânicas, principalmente, relacionadas ao momento de inércia, ao trabalho mecânico e, consequentemente, à transferência de energia, pois são variáveis influenciadas por características inerciais. Assim, o fato de a distribuição de massa da prótese ser diferente daquela de um membro natural, apresentando o centro de gravidade mais próximo à articulação do joelho, pode ser considerado uma vantagem mecânica, porque isso faz com que haja uma redução no momento de inércia. Se fossem mantidas as outras variáveis biomecânicas iguais, do 5 ponto de vista cinemático, esse menor momento de inércia aumentaria a velocidade e a aceleração angulares das articulações do joelho e do quadril durante a fase de balanço da corrida. No estudo de Brüggemann et al. [1], realmente, foi verificado um menor momento de inércia de Pistorius na fase de balanço (swing) da corrida. Essa constatação influenciou em um menor trabalho muscular durante esta fase. Ao analisarmos a transferência de energia que ocorre durante a corrida de um indivíduo amputado e protetizado, é importante, inicialmente, ser considerada a perda natural de energia que ocorre pela articulação metatarsofalangeal, durante a corrida realizada por indivíduos normais, conforme descrito no estudo de Stefanyshyn e Nigg [4]. Mesmo considerando o uso de sapatilhas de corrida, que avançaram em relação ao aumento da rigidez do solado médio no terço anterior do pé, ainda assim, existe uma perda significativa de energia por essa articulação [5]. Por outro lado, com o uso de uma prótese do tipo Cheetah, o indivíduo não apresenta essa perda, o que pode ser considerado vantajoso, tendo-se em vista que existe uma perda de energia de 19% a 8% na fase de apoio da corrida. Essa é uma perda significativamente menor que qualquer indivíduo não-protetizado teria, que é de aproximadamente 40% [1]. Ao analisar os dados de Pistorius com corredores saudáveis, Brüggemann et al. [1] constataram que o atleta paraolímpico realizou quase 100% de trabalho a mais que seus pares não-amputados, sendo que a maioria desse trabalho foi realizado pela lâmina da prótese, não havendo, portanto, participação muscular. Quanto a isso, dados do fabricante apontam que, durante a corrida, a prótese Cheetah é comprimida no momento do impacto, armazenando energia e absorvendo altos impactos que poderiam ser absorvidos pelas demais articulações do corredor, como tornozelos, joelhos, quadril e região lombar [2]. Ao investigarem a histerese da prótese de Pistorius, Brüggemann et al. [1], verificaram que cerca de 5% de energia eram dissipados, o que significa que o atleta teria um retorno de quase 95% da energia. É obvio pensar que isso seria uma vantagem, inclusive, no que se refere à fadiga muscular. Destaca-se que o tempo de contato no solo de Pistorius e os outros corredores foi similar [1]. Entretanto, Pistorius não apresenta torque ativo na articulação do tornozelo, diferentemente de atletas normais, que possuem as musculaturas dessa região, o que pode ser considerado uma desvantagem mecânica significativa. A duração similar da fase de apoio pode ser explicada por uma maior deformação da prótese, o que representa para Pistorius um menor impulso durante essa fase. Do ponto de vista fisiológico, a relação entre as variáveis mecânicas de trabalho, potência e energia refletem no gasto energético do indivíduo durante a corrida [3]. No caso de Pistorius, ainda que tenha havido dúvida se o atleta estava, de fato, na sua melhor forma física e, portanto, os resultados obtidos quanto ao consumo de oxigênio durante os testes não terem sido fidedignos [6] (Pistorius apresentou VO2máx 25% menor que dos demais atletas [1]), somente o fato de 6 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 ser protetizado já explicaria esse gasto energético menor pela alteração na biomecânica da sua corrida. Do ponto de vista cinético, o estudo de Brüggemann et al. [1] verificou que as forças de reação do solo (FRSs) foram significativamente menores que nos indivíduos saudáveis. Essas medidas também são influenciadas pela massa corporal total e segmentar de Pistorius, mas também podem estar relacionadas ao menor risco de lesões musculoesqueléticas. Porém, nos testes aos quais Pistorius foi submetido essa questão não foi investigada com profundidade. Nesse caso, o uso de acelerômetros triaxiais em determinadas regiões do corpo (como quadril e coluna) poderia complementar as avaliações realizadas pelo grupo de Brüggermann, fornecendo medidas de impacto (pico de aceleração) e vibração (movimentos oscilatórios), além da relação entre eles (crest factor). Esses transdutores são bastante úteis na investigação sobre mecanismos de lesões osteomioarticulares. Outros parâmetros não investigados na pesquisa conduzida por Brüggemann et al. [1] referem-se ao controle postural de Pistorius. Nesse sentido, é sabido que o controle postural e o padrão de deambulação são comprometidos em sujeitos biamputados [7], exigindo-se uma reorganização do sistema locomotor do indivíduo para cumprir normalmente tais funções. Então, será que essa ‘desvantagem biomecânica’ permaneceria durante a corrida de velocidade? Se considerarmos que as próteses usadas por Pistorius são desenhadas especificamente para a prática da corrida, o equilíbrio é restabelecido com o aumento da velocidade na corrida. Ou seja, com um momento de inércia menor, mas com uma velocidade angular maior proporcionada pela corrida faz com que seu momentum angular também seja maior e ajude a estabilizar o corpo. Conclusão Neste artigo de opinião, comparamos o caso de um indivíduo protetizado com outros indivíduos atletas normais, porém o que pode ser considerado como vantagem ou desvantagem na biomecânica da corrida de Pistorius, não pode ser inferido para demais atletas protetizados. Espera-se, contudo, que este artigo possa servir para enriquecer a discussão do caso do atleta Pistorius, servindo de estímulo para o continuo aprimoramen- to de próteses atléticas e não atléticas, melhorando a qualidade de vida de indivíduos portadores de necessidades especiais. O lema olímpico Citius, Altius e Fortius (o mais rápido, o mais alto e o mais forte), proposto pelo Barão Pierre de Coubertin, usado no título do presente artigo de opinião, será também usado para o seu encerramento. Durante décadas, o uso de próteses foi considerado desvantajoso e as pessoas que necessitavam de tais aparatos eram vistas como indivíduos deficientes. Os atletas sempre buscaram maneiras de melhorar a performance, seja através de meios lícitos ou ilícitos. O caso de um atleta protetizado ter competido no Mundial de Atletismo com atletas não amputados, propiciou uma reflexão e uma mudança de paradigma do que venha a ser um atleta deficiente, tendo em vista que um considerável número de pessoas aponta como uma potencial vantagem o uso dessas próteses. Tal fato gera para a população um dilema: as próteses poderão vir a ser melhores que nossas pernas? Até onde iria um atleta em busca do melhor desempenho? Referências 1. Brüggemann G-P, Arampatzis A, Emrich F, Potthast W. Biomechanics of double transtibial amputee sprinting using dedicated sprinting prostheses. Sports Technol 2008;1(4-5):220-7. 2. Össur. Life without limitations. 2011. [citado 2011 Out 20]. Disponível em URL: http://www.ossur.com/ 3. Williams KR. A dinâmica da corrida. In: Zatsiorsky VM, ed. Biomecânica no esporte: performance do desempenho e prevenção de lesão. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004:125-42. 4. Stefanyshyn DJ, Nigg BM. Mechanical energy contribution of the metatarsophalangeal joint to running and sprinting. J Biomech 1997;30(11-12):1081-5. 5. Nigg BM, Stefanyshyn D, Cole G, Stergiou P, Miller J. The effect of material characteristics of shoe soles on muscle activation and energy aspects during running. J Biomech 2003;36(4):569-75. 6. Zettler PJ. Is it cheating to use cheetahs? The implications of technologically innovative prostheses for sports values and rules. BU ILJ 2009;27:367-409. 7. Su PF, Gard SA, Lipschutz RD, Kuiken TA. Gait characteristics of persons with bilateral transtibial amputations. J Rehabil Res Dev 2007;44(4):491-501. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 7 Artigo original Alterações agudas induzidas por uma prova de triathlon longo em diferentes biomarcadores enzimáticos e da função imune Acute changes induced by a long triathlon in different enzymatic and immune function biomarkers Faber Sérgio Bastos Martins, D.Sc.*, José Augusto Rodrigues dos Santos, D.Sc.* *Faculdade de Desporto – Universidade do Porto Resumo Objectivo: Analisar as alterações hematológicas agudas induzidas por uma prova de triathlon longo. Avaliou-se o comportamento de diversos biomarcadores enzimáticos e da função imune em atletas portugueses masculinos de triathlon. Material e métodos: 10 atletas seniores masculinos (31,5 ± 1,2 anos; 69,3 ± 1,9 kg; 177,7 ± 1,4 cm; 22,0 ± 0,8 de IMC e 10,1 ± 2,2 % GC) divididos em grupos elite e não-elite. Foram recolhidas amostras de sangue venoso periférico antes e imediatamente após as provas. Utilizou-se estatística descritiva, testes não-paramétricos de Wilcoxon e Mann-Whitney e coeficiente de correlação de Spearman. Resultados: Verificou-se o aumento da actividade das enzimas CK e AST (p < 0,05) em ambos os grupos. O aumento da actividade da enzima GGT (p < 0,05) ocorreu somente no grupo elite. Foi constatado, em ambos os grupos, um aumento da contagem leucocitária, fundamentalmente expressa pelo aumento da contagem de neutrófilos (p < 0,05). Após a prova, registou-se a diminuição da relação CD4/CD8 e aumento das concentrações dos linfócitos T CD3+CD8+, T CD4+reg e T CD4+CD69+ nos atletas dos grupos não-elite. Conclusão: Os resultados encontrados sugerem que a intensidade e a duração da prova de triathlon condicionam as respostas dos diversos biomarcadores analisados em função do nível de treino dos atletas. Abstract Objective: To assess acute hematological changes induced by a long triathlon. We evaluated the behavior of various enzymatic and of immune function biomarkers in male Portuguese triathlon athletes. Methods: 10 male senior athletes (31.5 ± 1.2 years, 69.3 ± 1.9 kg, 177.7 ± 1.4 cm, BMI 22.0 ± 0.8 and BF 10.1 ± 2.2%) were divided into groups elite and non-elite. Samples were taken from peripheral venous blood before and immediately after the events. We used descriptive statistics, nonparametric tests of Wilcoxon and Mann-Whitney and Spearman correlation coefficient. Results: There was increased activity of CK and AST (p < 0.05) in both groups. The increased activity of the enzyme GGT (p < 0.05) occurred only in the elite group. It was found in both groups, an increase in leukocyte count, mainly expressed as an increase in neutrophil count (p < 0.05). After the race, there was a decrease in the CD4/ CD8 ratio and increased concentrations of T lymphocytes CD3+ CD8+, CD4+ T reg and CD4+ CD69+ for athletes from non-elite groups. Conclusion: The results suggest that the intensity and duration of triathlon affect the responses of several biomarkers analyzed according to the level of training of athletes. Key-words: triathlon, training, enzymatic activity, immune system, lymphocytes. Palavras-chave: triathlon, treino, actividade enzimática, sistema imune, linfócitos. Recebido 10 de novembro de 2011; aceito 16 de novembro de 2011. Endereço de correspondência: Faber Sérgio Bastos Martins, Instituto de Estudos Superiores de Fafe, Rua Universitária, Apartado 178, 4824-909 Medelo Portugal, E-mail: [email protected] 8 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução Os sistemas biológicos respondem aos diferentes estímulos provenientes do exercício físico levando a adaptações que se traduzem num incremento da capacidade funcional do atleta. Dentro desta perspectiva, a problemática traduz-se no nível da agressão sofrida pelo organismo, que embora possa apresentar-se transitória, é tanto mais expressiva quanto mais severa for a intensidade do exercício, considerada esta como intensidade propriamente dita ou como duração de uma dada intensidade. A prática do triathlon implica a realização de três diferentes desportos desenvolvidos em regime aeróbio (natação, ciclismo e corrida), podendo por vezes, prolongar-se por mais de 10 horas e com intensidades superiores a 65% VO2max [1,2]. Estudos têm demonstrado que atletas de esforços prolongados evidenciam um aumento da actividade de determinadas proteínas como a creatina-quinase (CK), aspartato-aminotransferase (AST), mioglobina (Mb) e a presença de fragmentos de cadeia de miosina pesada em resposta a alteração na permeabilidade da membrana celular, o que permite, ainda que indirectamente, determinar o grau de agressão imposto pelo exercício [3-5]. Adicionalmente, o aumento do volume mitocondrial, a activação lisossómica, a disrupção e vacuolização sarcoplasmática constituem importantes alterações histológicas musculares induzidas pelos esforços intensos e prolongados, principalmente aqueles nos quais se verifica uma elevada incidência de contracções excêntricas [6-8]. Actualmente, as provas de triathlon têm merecido atenção relevante no que concerne ao estudo da performance em função das alterações de diversos biomarcadores, principalmente nas provas do triathlon Ironman (3,8 km/180 km/42,2 km), de forma a possibilitar uma melhor compreensão da relação destes indicadores com importantes variações na função neuromuscular, actividades enzimáticas e respostas hematológicas [9-11]. Diversos estudos têm sugerido uma relação entre a susceptibilidade aumentada às infecções e a prática regular de exercícios intensos ou competições exaustivas, resultando em alterações significativas nos sistemas endócrino, nervoso e imunológico dos atletas [12-14]. Estudos realizados com nadadores de elite verificaram um aumento da incidência de infecções nas vias aéreas superiores (IVAS), tendo sido evidenciados, após as provas, aumentos expressivos da concentração leucocitária, expressos principalmente pelo aumento de neutrófilos, acompanhados da redução da concentração de imunoglobulina A (Ig A), para além de alterações na actividade citotóxica das células natural killer (NK) [15,16]. Contudo, o comportamento dos indicadores bioquímicos e imunológicos parece apresentar uma elevada variabilidade inter-individual em função do nível de treino dos atletas, estando directamente relacionado a especificidade da intensidade e duração do esforço realizado. Perante os pressupostos apresentados, o propósito central deste estudo foi verificar, em atletas portugueses masculinos de triathlon de elevado nível competitivo (elite) e praticantes regulares (não-elite), o efeito de uma prova de triathlon longo composta por 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1 km de corrida, na modulação da resposta aguda de diversos biomarcadores enzimáticos e da função imune, de modo a proporcionar uma melhor compreensão dos distúrbios homeostáticos induzidos pelo exercício físico prolongado e intenso e suas respectivas repercussões sistémicas. Material e métodos Amostragem A amostra foi constituída por 10 atletas masculinos da Federação Portuguesa de Triathlon, com idade média de 31,5 ± 1,2 anos, massa corporal de 69,3 ± 1,9 kg, estatura corporal de 177,7 ± 1,4 cm, índice de massa corporal de 22,0 ± 0,8 e percentagem de gordura corporal 10,1 ± 2,2, participantes das provas nacionais e internacionais na referida distância. Os atletas foram divididos em 2 grupos (elite e não-elite) de acordo com as respectivas posições no ranking nacional e categoria de inscrição em competições internacionais pela International Triathlon Union (ITU). Procedimentos Para a avaliação da estatura corporal dos atletas foi utilizado o estadiômetro (marca Rudolf Martin) e para a determinação da massa corporal (kg) e percentagem de gordura corporal (%GC) dos atletas foi realizada a pesagem em balança digital de bioimpedância (marca Tanita TBF 305). Todos os atletas integrantes da amostra foram submetidos a duas colheitas sanguíneas, a primeira nos instantes precedentes a cada uma das provas e a segunda, imediatamente após o seu término, sendo estas realizadas através da punção venosa na região cutânea antecubital anterior, com álcool a 95%, totalizando 60 amostras. Todas as amostras foram colhidas em tubos ETDA-K3 de 4,5ml (BD Vacutainer) para a determinação dos parâmetros bioquímicos e imunológicos. Análise bioquímica: Para análise dos parâmetros bioquímicos efectuados no soro, foi utilizada a centrifugação a 3000 rpm (centrífuga JOUAN CR3). Foram analisados através do método turbidimétrico a 340 nm, as actividades séricas das enzimas creatina-quinase (CK), aspartato-aminotransferase (AST), alanina-aminotransferase (ALT) e gama-glutamiltransferase (GGT). Análise imunológica: Os tubos de ensaio de polipropileno de 5 ml para citómetro de fluxo (IZASA) foram identificados e os anticorpos com diferentes especificidades, conjugados com diferentes fluorocromos foram pipetados (pipetas automáticas de 10 µL) para os respectivos tubos, em conformidade com o apresentado na Tabela I Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 9 Tabela I - Identificação dos anticorpos monoclonais utilizados na determinação da imunomarcação. Tubos/ Anticorpos monoclonais FL1-FITC CD8 (IOT; B9.11) HLA-DR (IOT; Immu-357) Caracterização dos Linfócitos T FL2-PE FL3-ECD CD 69 CD45RO (IOT; TP1.55.3 ) (IOT; UCHL1 ) CD 127 CD4 (IOT;R34.34 ) (IOT; SFCI12T4D11) FL4-PC5 CD28 (IOT; CD28,2 ) CD25 (IOT;B1,49,9 ) FL5-PC7 CD3 (IOT;UCHT1) FIT C - Isotiocianato de fluresceina; PE - Ficoeritrina; ECD - Energy Coupled Dye; PC5 – Ficoeritrina-Cy5- Tandem; PC7 – Ficoeritrina Cianina 7. A cada tubo foram adicionados 100 µL (pipetas automáticas) de sangue periférico e as amostras foram incubadas durante o período de 15 minutos, no escuro e a temperatura ambiente. No final do período de incubação, procedeu-se a líse dos eritrócitos e a fixação dos leucócitos, utilizando o Lisador automático TQ-Prep (BC) e os reagentes Immunopre Reagent System (BC). Em seguida, os tubos foram colocados no frigorífico durante 15 minutos, procedendo-se, logo após, à aquisição das amostras no citómetro de fluxo ( Cytomicas FC500 da Beckman Coulter), utilizando o programa “CXP Versão 2.0” (Beckman Coulter). Uma combinação de anticorpos monoclonais conjugados com isotiocianato de fluresceina (FITC) e ficoeritrina (PE) foram utilizados para enumerar as subpopulações de linfócitos. A calibragem do citómetro foi realizada utilizando o FACScomp software (Immunocytometry system). Do sangue venoso periférico heparinizado, 3 ml foram misturados com o mesmo volume da solução de fosfato tampão (PBS pH 7.4) nivelado por 4ml de gradiente Ficoll-Paque (Amersham Pharmacia Biotech, Uppsala, Sweden) a 400g durante 30 minutos a temperatura ambiente. As respectivas camadas de células mononucleares foram recolhidas e lavadas duas vezes com solução PBS (10 ml), sendo posteriormente suspensas em solução FCS-RPMI-1640. As amostras contendo 1x106 células mononucleares em solução FCS-RPMI-1640 foram tratadas com 10ml de anticorpos mo- noclonais conjugados com isotiocianato de fluresceina (FITC) e ficoeritrina (PE), sendo as seguintes combinações: anti-CD3 (FITC) \ anti-CD4 (PE), anti-CD3 (FITC)\anti-CD8 (PE), lavadas duas vezes com solução PBS+, e novamente suspensas em 1 ml de solução 0.5% de paraformaldeido-PBS+, sendo posteriormente analisadas pelo programa Infinicyt Versão 1.1.1. Foi utilizado o teste de Wilcoxon para medidas repetidas, e o teste de Mann-Whitney para amostras independentes. Para verificar os níveis de associação entre as variáveis investigadas no estudo, recorreu-se ao coeficiente de correlação de Spearman. Os níveis de significância foram mantidos em 5% (p < 0.05). Os procedimentos estatísticos foram analisados nos programas Excel™2000 e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS™. Versão 16.0). Resultados De acordo com os dados expostos na Tabela II, constata-se, nos atletas de elite, o aumento das actividades das enzimas CK (109,3%, p = 0,011), AST (21,1%, p = 0,016) e GGT (17,3%,p = 0,014). Este comportamento, embora mais pronunciado nos atletas do grupo não-elite, foi somente verificado na actividade das enzimas CK (307,6%, p = 0,043) e AST (55,7%, p = 0,014). Tabela II - Efeito da prova de triathlon longo nas diferentes actividades enzimáticas dos triatletas. Triatletas elite (n = 5) Enzimas CK (U.L-1) AST (U.L-1) ALT (U.L-1) GGT (U.L-1) Pré-Prova 268,6±135,4 39,8 ± 9,1 25,4 ± 7,3 18,4 ± 2,1 Pós-Prova 562,4 ± 194,7* 48,2 ± 11,0* 27,2 ± 7,8 21,6 ± 1,2* Triatletas não-elite (n = 5) Pré-Prova Pós-Prova 190,4 ± 30,0 776,2 ± 458,7* 26,2 ± 2,1 40,8 ± 8,8* 17,4 ± 5,5 20,6 ± 6,1 21,0 ± 6,0 23,6 ± 7,2 Nota: Valores expressos pela média ± desvio-padrão. * p < 0,05, vs Pré-Prova. Tabela III - Efeito da prova de triathlon longo nas diferentes subpopulações leucocitárias dos tritletas. Parâmetros Imunológicos Monócitos (103/µL) Linfócitos (103/µL) Neutrófilos(103/µL) Leucócitos (103/µL) Triatletas Elite (n = 5) Pré-Prova 0,4 ± 0,3 2,2 ± 1,0 3,4 ± 1,7 6,3 ± 1,5 Pós-Prova 0,5 ± 0,2* 1,2 ± 0,6* 14,4 ± 4,7* 16,3 ± 5,0* Valores expressos pela média ± desvio-padrão. * p < 0.05, vs Pré-Prova. Triatletas não-Elite (n = 5) Pré-Prova Pós-Prova 0,6 ± 0,4 0,8 ± 0,4* 2,3 ± 1,0 1,3 ± 0,5* 4,0 ± 1,0 15,0 ± 3,6* 6,7 ± 1,4 17,5 ± 4,1* Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 10 O comportamento dos indicadores da função imune após a prova pode ser observado na Tabela III. Uma análise dos dados permite-nos verificar um aumento significativo dos leucócitos totais, em ambos os grupos de atletas, sendo observado acréscimos de 158,7% (p = 0,003) e 161% (p = 0,001) nos grupos elite e não-elite, respectivamente. Esta leucocitose reflecte principalmente um aumento dos neutrófilos (neutrofilia) pós-esforço, sendo este mais acentuado nos atletas do grupo elite (323,5%, p = 0,002) comparativamente ao grupo não-elite (275%, p = 0,003). De forma a analisar o efeito crónico das sucessivas cargas de treino na resposta imune dos atletas presentes neste estudo, foram comparadas as concentrações leucocitárias intergrupos nos momentos pré e pós-prova, conforme apresentado na Figura 1, não tendo sido constatadas diferenças significativas. Contudo, importa reter que os atletas do grupo não elite, apresentaram valores basais de leucócitos totais ligeiramente mais elevados quando comparados com atletas de elite (6,7 ± 1,4 vs 6,3 ± 1,5 x 103/µL, p = 0,834). Figura 2 - Análise comparativa dos grupos de triatletas relativamente ao efeito da prova de triathlon longo na relação dos linfócitos T CD4+/ T CD8+. Figura 1 - Análise comparativa dos grupos experimentais de triatletas relativamente a concentração dos leucócitos totais nos momentos pré e pós-prova de triathlon longo. O exercício físico intenso e prolongado provoca múltiplas alterações bioquímicas cuja interpretação pode, por vezes, conduzir a resultados conflituais, principalmente em atletas com elevado nível de treino. O aumento da actividade das enzimas séricas indicia alterações na permeabilidade da membrana celular, e está normalmente correlacionado com lesão celular consequente ao exercício [5,17]. Os indicadores bioquímicos CK e AST utilizados no presente estudo constituem marcadores de lesão muscular, dado o facto de serem proteínas que, quando libertadas para o espaço extracelular, em resposta ao exercício físico, permitem determinar, ainda que de forma indirecta, a existência de lesões [3,5]. As enzimas ALT e GGT encontram-se em maior concentração no fígado e epitélios dos ductos biliares e renais, respectivamente [18], o que pode sugerir a possibilidade de lesão hepática, quando observado um aumento significativo dos níveis séricos destas enzimas em resposta ao exercício físico [19]. A elevada variabilidade inter-individual pós-prova observada no comportamento da enzima CK, expressa pelos acentuados desvios-padrão, corrobora estudos anteriores realizados com diferentes atletas de provas de resistência [4,17,20,21]. Esta variabilidade pode ser, em parte, justificada pelo nível de treino do atleta, uma vez que quanto mais elevado o estado de treino, maior a possibilidade da realização de esforços intensos, com melhor tolerância às elevações enzimáticas relacionadas com focos de lesão muscular [4,22,23]. Neste contexto, a atenuação da expressão da actividade da enzima CK pós-prova, evidenciada pelos atletas de elite, reforça o denominado efeito protector da carga repetida [24], promovendo nestes atletas importantes adaptações metabólicas ao esforço prolongado exaustivo, reduzindo o nível de agressão muscular induzida pelo exercício. Esta resposta da actividade enzimática menos pronunciada por parte dos atletas de elite lhes confere a classificação de low CK responders [17], na Leucócitos Totais (10^3/µl) 25 * 20 * 15 10 5 0 Pos-prova Pré-prova elite não elite * p < 0,05, vs Pré-prova; • p<0.05, vs Elite. A relação dos linfócitos T CD4+/CD8+, utilizada como indicador de imussupressão, foi alterada ao término da prova, sendo a diminuição observada (1,9 ± 0,8 vs 1,6 ± 0,5; p = 0,042) somente no grupo dos atletas não-elite, de acordo com o exposto na Figura 2. Foi encontrada uma diferença intergrupos de 26,3% referente aos valores basais (2,4 ± 0,8 vs 1,9 ± 0,8; p = 0,036) da relação, sendo também constatada uma diferença de 37,5% nos valores pós-prova dos grupos de atletas analisados (2,2 ± 0,7 vs 1,6 ± 0,5; p = 0.018). Ambos os grupos de atletas evidenciaram alterações nos indicadores de activação do fenótipo linfocitário T CD4+ (Tabela IV), em particular nas células T CD4+ reguladoras, as quais assumem relevante importância na homeostase da tolerância periférica. T CD4+ / CD8+ 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 * * Pos-prova Pré-prova elite não elite * p < 0,05, vs Pré-prova; • p<0.05, vs elite. Discussão Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 qual se observa uma curva individual dos valores absolutos pouco acentuada e que pode, de acordo com alguns autores, ser justificada por diferentes mecanismos, dentre os quais, a incapacidade de drenagem da enzima CK do interstício para a circulação sanguínea, através do sistema linfático, em resposta ao possível aumento da pressão dos fluidos intersticiais [25]. Relativamente aos elevados valores da actividade da enzima CK apresentados pelos atletas do grupo não-elite, uma justificativa plausível parece convergir para o efeito modulador da duração do esforço, facto que corrobora estudos anteriores com atletas de ultra-maratonas e triathlons longos, onde a dilatação do tempo de esforço é sugerida como factor determinante na libertação desta proteína para a circulação [3,26,27]. A semelhança do observado na actividade da CK, o aumento da actividade da enzima AST, apresentada por ambos os grupos de atletas, consubstancia no diagnóstico da ocorrência de lesão no tecido muscular esquelético [21,28]. Contudo, a sua menor expressão pós-prova pode ser justificada pelas suas elevadas dimensões moleculares, o que resulta numa dificuldade acrescida da sua remoção, via sistema linfático [3,27,29]. O aumento significativo da actividade da enzima GGT, constatada nos atletas de elite, constitui um indicador sensível de distúrbios hepáticos [30], possuindo também um importante papel modulador na velocidade das vias glicolítica e oxidativa [31]. Este aumento da actividade parece estar relacionado, segundo alguns autores, com a redistribuição do fluxo sanguíneo e o aumento da temperatura corporal induzidos pelo exercício físico intenso e prolongado, facto que poderia resultar em danos hepatocelulares provocados por uma isquemia [32,33]. O aumento do número de leucócitos circulantes após a realização de exercícios físicos constitui uma resposta aguda natural, e está dependente de factores como a intensidade, a duração e tipo de esforço realizado [14,34,35]. Esta leucocitose pós-esforço é normalmente expressa pelo aumento de neutrófilos [12-14,36,37], e se mostra mais pronunciada em esforços prolongados [36,38]. O aumento do número de leucócitos, evidenciada por ambos os grupos, após a realização da prova corrobora os resultados de estudos anteriores, e terá resultado da desmarginação dos neutrófilos, a partir das paredes do endotélio, induzida pelo aumento do débito cardíaco e alterações dos níveis de cortisol e catecolaminas [31,39,40]. Efectivamente, níveis elevados de adrenalina, induzidos pelo exercício físico, reduzem a afinidade dos neutrófilos pela parede do endotélio, potenciando um fluxo aumentado destas células para a circulação sanguínea [41]. Adicionalmente, o aumento transitório do número monócitos pós-prova, embora menos acentuado, está relacionado ao processo inicial da activação dos macrófagos no mecanismo de resposta inflamatória [42]. Relativamente a activação dos linfócitos T CD4+ e T CD8+, Pizza et al. [43] referem que o tipo de exercício parece exercer uma influência significativa na magnitude do comportamento dos parâmetros da imunidade celular e humoral. A diminuição significativa da relação dos linfócitos T 11 CD4+/CD8+ no grupo não-elite reflecte, principalmente, um acréscimo dos linfócitos T CD8+, o qual pode estar associado a uma situação de imunossupressão evidenciada pela realização de esforços intensos e prolongados [44,45]. Esta modulação do sistema imune, caracterizada pelo aumento dos linfócitos T CD8+ para o compartimento vascular, em resposta ao exercício físico agudo, parece estar relacionada com a expressão dos β-receptores presentes nestas células [46]. Contrariamente ao aumento observado no grupo não-elite, os atletas de elite evidenciaram uma diminuição do fenótipo T CD4+CD69+, que pode se prender, em parte, aos níveis aumentados de cortisol em resposta a realização de esforços prolongados e intensos [47], os quais poderiam provocar a inibição da produção de interleucina-1 (IL-1) pelos monócitos e, consequentemente, reduzir a estimulação dos linfócitos T CD4+, com menor produção de interleucina-2 (IL-2), o que resultaria na inibição da proliferação dos linfócitos T e diminuição de mediadores de inflamação e actividade citotóxica [48]. Conclusão A análise e interpretação dos resultados obtidos neste estudo permitem-nos extrair as seguintes conclusões: a duração do esforço parece constituir o factor determinante na expressão da resposta das proteínas musculares CK e AST, enquanto a intensidade do esforço exerce um importante efeito modulador da actividade da enzima hepática GGT. De forma similar aos indicadores bioquímicos, a resposta dos biomarcadores da função imune parece estar condicionada pela duração e intensidade do esforço. Assim, verificamos que a intensidade e a duração das provas de triathlon condicionam as respostas dos diferentes biomarcadores em função do nível de treino dos atletas. Referências 1. Laursen PB, Rhodes C. Factors affecting performance in ultraendurance triathlon. Sports Med 2001;31(3):195-209. 2. Laursen, PB, Rhodes EC, Langill, RH, McKenzie DC, Taunton JE. Relationship of exercise test variable to cycling performance in an ironman triathlon. Eur J Appl Physiol 2002;87:392-5. 3. Skenderi P, Kavouras S, Anastasiou C, Yiannakouris N, Matalas A. Exertional rhabdomyolisis during a 246km continuous running race. Med Sci Sports Exerc 2006;38(6):1054-7. 4. Mougios V. Reference intervals for serum creatine kinase in athletes. Br J Sports Med 2007;41:674-8. 5. Brancaccio P, Limongelli F, Maffulli N. Monitoring of serum enzymes in sports. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 13 Artigo original Prevenção de hipotrofia muscular pelo uso da mobilização neural em modelo experimental de ciatalgia Muscular hypotrophy prevention by using neural mobilization in experimental sciatica model Juliana Schmatz Mallmann*, Juliana Moesch*, Flávia Tomé*, Rogério Fonseca Vituri**, Alberito Rodrigo de Carvalho***, Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.**** *Graduados em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel/PR, **Especialista, docente do curso de medicina da Unioeste, ***Especialista, docente do curso de fisioterapia da Unioeste, ****Docente do curso de fisioterapia da Unioeste Resumo Introdução: O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia da mobilização neural na manutenção do trofismo muscular de sóleos em ratos submetidos a modelo experimental de ciatalgia por neuropraxia. Métodos: Ratos Wistar (n = 10 / 13 ± 2 semanas / 356,80 ± 27,76 g) foram divididos aleatoriamente em dois grupos, o GS, (n = 5) submetido à ciatalgia e tratamento simulacro, e o GMN, (n = 5) submetido à ciatalgia e tratado com mobilização neural. O protocolo experimental de ciática por neuropraxia seguiu o modelo de Bennett e Xie. Os tratamentos por mobilização neural (GMN) e simulacro (GS) foram realizados nas patas traseiras direitas. O trofismo muscular foi avaliado histomorfometricamente pelo menor diâmetro das fibras musculares (MDFM). Para análise estatística usou-se o teste t pareado (α = 0,05). Resultados: No GS houve diminuição significativa do MDFM à direita em relação à esquerda (p = 0,0051) e no GMN não foram observadas diferenças. Conclusão: A mobilização neural foi eficaz na redução da hipotrofia proveniente de uma neuropraxia nos animais. Abstract Introduction: The aim of this study was to assess the effectiveness of neural mobilization, in the soleus muscle tropism maintenance in rats with sciatica experimental model by neuropraxia. Methods: Wistar rats (n = 10 / 13 ± 2 weeks / 356.80 ± 27.76 g) were randomly divided into two groups, the SG (n = 5) subjected to sham treatment and sciatica, and NMG, (n = 5) submitted to sciatica and treated with neural mobilization. The experimental protocol of sciatica by neuropraxia followed the model of Bennett and Xie. The treatments for neural mobilization (NMG) and sham (GS) were performed on right hind limb. The muscle tropism was assessed by histomorphometric of muscle fibers diameter smaller (MFDS). Statistical analysis used the paired t test (α = 0.05). Results: In SG significant decrease of MFDS right than left (p = 0.0051) and the NMG no differences were observed. Conclusion: The neural mobilization was effective in reducing hypotrophy from a neuropraxia in animals. Key-words: sciatica, physical therapy modalities, neuralgia. Palavras-chave: ciática, modalidades de fisioterapia, neuralgia. Recebido em 18 de novembro de 2011; aceito em 3 de janeiro de 2012. Endereço de correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069, Jd. Universitário, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Biológicas e da Saúde/Laboratório de Estudo das Lesões e Recursos Fisioterapêuticos, Caixa Postal 711, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3157, E-mail: [email protected] 14 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução A incidência de dor lombar é de aproximadamente 80% da população mundial, e 35% destes desenvolvem um quadro de lombociatalgia, que é uma irritação do nervo isquiático, causando distúrbios sensitivos no trajeto do mesmo. A lombociatalgia constitui um problema de saúde, em todos os países, com certo grau de desenvolvimento, sendo que a perda da capacidade laboral e a aposentadoria são consequências importantes para a sociedade e economia [1]. A causa mais comum da lombociatalgia é a hérnia de disco, porém, existem outras, como: processos degenerativos, infecções, luxações traumáticas do quadril, anomalias congênitas [2], síndrome do piriforme [3] e estenose do canal lombar. Os sintomas incluem a dor lombar, dor ao longo do trajeto do nervo, distúrbios sensoriais e fraqueza dos músculos do membro inferior inervados pelo isquiático [4]. Os testes de provocação neural são realizados com objetivo de auxiliar no diagnóstico de síndromes compressivas nervosas [5,6], sendo que os mesmos são adaptados para tratamento destas síndromes, com resultados diversos [7-9]. O princípio da técnica de mobilização neural, que é um comprometimento da mecânica e ou fisiologia do sistema nervoso, pode resultar em outras disfunções do sistema nervoso, ou em estruturas musculoesqueléticas que recebam sua inervação. A mobilização neural é utilizada para restaurar o movimento e a elasticidade do sistema nervoso, com objetivo de melhorar a neurodinâmica e restabelecer o fluxo axoplasmático, restabelecendo a homeostasia dos tecidos nervosos [9]. Para Butler [10], a mobilização do sistema nervoso afeta a dinâmica vascular, os sistemas de transporte axonal e a restauração da mecânica das fibras nervosas e tecidos conjuntivos. Alteração das pressões no sistema nervoso, durante o movimento, podem auxiliar na dispersão de um edema intraneural, com melhora do suprimento sanguíneo às fibras nervosas em hipóxia. Além disso, um tratamento vigoroso poderia causar uma pequena lesão no nervo e estimular a liberação de fatores de crescimento. Pelo modelo de compressão isquiática, criado por Bennett e Xie [11], há a reprodução da sintomatologia visualizada em humanos, com isto, confere-se a possibilidade de avaliar técnicas de tratamento, como a mobilização neural, verificando-se a evolução do reparo nervoso pelo trofismo de músculos inervados pelo isquiático. O objetivo deste estudo foi verificar a eficácia da mobilização neural, na manutenção do trofismo muscular de sóleos em ratos submetidos a modelo experimental de ciatalgia por neuropraxia. 356,80 ± 27,76 g. Os ratos foram alojados em caixas de polipropileno, submetidos a ciclo claro/escuro regulado em 12 horas, e receberam água e ração ad libitum durante o período experimental. Os animais foram divididos aleatoriamente em 2 grupos: GS (n = 5) – submetido à ciatalgia e tratamento placebo (simulacro); GMN (n = 5) – submetido à ciatalgia e tratado com mobilização neural. O projeto foi conduzido segundo as normas internacionais de ética em experimentação animal [12], sendo aprovado pelo Comitê de Ética na Experimentação Animal e Aulas Práticas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Protocolo de lesão experimental Os animais foram anestesiados com ketamina (95 mg/ kg) e xilazina (12 mg/kg) intramuscular. Depois de feita a tricotomia, realizou-se uma incisão paralela às fibras do músculo bíceps femoral, da coxa direita do animal, expondo o nervo isquiático. Seguindo o modelo de Bennett e Xie [11], foi efetuada a compressão ao redor do nervo isquiático em quatro regiões distintas, com distância aproximada de 1 mm, sendo utilizado fio catgut 4.0 cromado, reproduzindo dor crônica no trajeto do mesmo, em seguida a sutura foi realizada por planos. Protocolos de tratamento Materiais e métodos Para a realização do protocolo de tratamento, os animais eram sedados com éter etílico, e o tratamento procedido no membro posterior direito, nos dois grupos. No protocolo utilizado para o GMN, o animal era posicionado em decúbito dorsal, quadril flexionado a aproximadamente 70º, extensão máxima possível de joelho e dorsiflexão de tornozelo até a sensação de resistência ao movimento, então o tornozelo era passivamente movimentado em planti e dorsiflexão, com aproximadamente 30 movimentos, durante um minuto [13]. No GS o animal também era sedado e posicionado em decúbito dorsal, porém apenas o quadril era mantido em flexão de cerca de 70º, sendo deixados livres o joelho e tornozelo dos animais. O tratamento iniciou no terceiro dia pós-compressão, sendo realizadas cinco sessões seguidas, sempre no mesmo horário, em dias subsequentes. No sexto dia, após o início do tratamento, os animais sofreram eutanásia por meio de decapitação em guilhotina. Então foi realizada a dissecação dos músculos sóleos, de forma bilateral, para posterior análise histomorfométrica. Grupos experimentais Análise histomorfométrica Foram utilizados 10 ratos (Rattus norvergicus), da linhagem Wistar, machos, com idade de 13 ± 2 semanas, com Após a dissecação e fixação dos sóleos, em formalina 10%, os mesmos foram emblocados em parafina e realizado Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 procedimento para confecção de lâminas histológicas, com cortes transversais no ventre muscular. Para realizar a análise dos músculos sóleos, optou-se por verificar o diâmetro das fibras em sua menor porção, visto que segundo Brito et al. [14] esta juntamente com a análise de secção transversa e diâmetro médio são formas adequadas de avaliar o grau de trofismo muscular. Para tal fim, foram analisadas 100 fibras por músculo, utilizando-se o programa Image-Pro-Plus 3.0. Análise dos resultados Os resultados foram expressos por meio da estatística descritiva (média e desvio-padrão) e analisados pela estatística inferencial, por meio do teste t de Student pareado, sendo aceito o nível de significância de α = 0,05. Resultados Os resultados mostraram que para o grupo simulacro havia diminuição significativa do menor diâmetro das fibras musculares dos sóleos direitos comparados aos esquerdos (p = 0,0051), com hipotrofia à direita (figura 1). Para o GMN não houve diferença significativa ao comparar os grupos (p = 0,3433). Figura 1 - Avaliação das fibras musculares dos sóleos em seu menor diâmetro, de acordo com os grupos (GS – grupo simulacro; GMN – grupo mobilização neural) e o lado de análise (D – direito; E – esquerdo). 40 * * 30 20 10 0 GC D GCE GMNL GMNL E * Diferença significativa entre os lados direito e esquerdo. Discussão A dor lombar é frequentemente acompanhada de lesões mielínicas, axonais ou axomielínicas, produzindo bloqueio parcial na condução em nível radicular como consequência da reação inflamatória [15]. Segundo Lihong et al. [16], a dor neuropática, relacionada à lesão nervosa periférica, é uma questão formidável para tratamento clínico, a qual é frequentemente acompanhada por regeneração das fibras 15 nervosas lesadas. Além disso, a lesão nervosa periférica produz degeneração das fibras nervosas, produzindo hipotrofia muscular [17]. Desta forma, no presente estudo objetivou-se avaliar uma característica de regeneração nervosa do isquiático, que é a atrofia muscular de fibras de sóleo. Esta síndrome, que além de ter alta incidência e prevalência, produz alterações álgicas e funcionais importantes que podem ser combatidas com o tratamento conservador, numa técnica de mobilização neural, que tem se mostrado vantajosa para a dor, advinda da compressão nervosa [18,19]. Oliverira Junior et al. [9] relatam que o número de artigos e publicações a respeito da mobilização neural, ainda é consideravelmente escasso. Porém, a ideia de aplicar um tratamento mecânico para o tecido neural não é nova, pois princípios e métodos de “alongamento nervoso” existiam desde 1800 e com o tempo se tornaram mais refinados tanto na teoria quanto na aplicação clínica [20]. Avaliar a técnica de mobilização neural, em um modelo experimental de ciatalgia, que pela lesão produzida (neuropraxia) gera hipotrofia muscular, apresentou-se como uma questão de interesse, pois existem para a técnica, na literatura, indícios de êxito e falhas sobre processos lesivos de nervos periféricos [7-9]. Segundo Hall et al. [21], como forma terapêutica para lesões nervosas, indicam-se movimentos oscilatórios gentis nas estruturas anatômicas envolvidas ao redor dos tecidos nervosos afetados. Kobayashi et al. [22] avaliando alterações no fluxo sanguíneo com o teste de elevação da perna retificada, em 12 pacientes, antes e após microdiscectomia, observaram que durante o teste havia redução do fluxo. Citam que as adesões causadas por reações inflamatórias entre a lesão e a raiz nervosa, poderiam reduzir a mobilidade do nervo durante o movimento dos membros, direcionando a alterações no fluxo com subsequente hipóxia, edema e desmielinização. O que acarretariam em alterações tanto sensitivas quanto tróficas musculares e do Sistema Nervoso Autônomo. Alterações tróficas musculares foram observadas no modelo de lesão aqui utilizado, visto que para o grupo controle, havia diminuição significativa do diâmetro das fibras musculares, quando comparado com o lado sadio. Kikukawa et al. [23] investigaram as alterações agudas no citoesqueleto axonal após alongamento moderado (2 N), por 1 hora, em nervos do plexo braquial de ratos. Relatam que os microtúbulos eram despolimerizados pelo alongamento, o que pode levar a implicações no transporte axonal do nervo. Sendo assim, com o fluxo axonal normalizado, a função nervosa poderia também sê-lo, e sequelas musculares, como a hipotrofia, poderiam ser debeladas. No presente estudo, para o grupo mobilização neural, havia melhora do trofismo muscular, indicado pela comparação entre o membro lesado e o não lesado, quanto ao menor diâmetro analisado, que é, segundo Brito et al. [14], uma medida adequada para avaliar trofismo muscular. Para o 16 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 grupo simulacro havia diferença significativa nos diâmetros, indicando que o modelo de lesão produziu alteração no trofismo muscular ao comparar com o lado sem lesão. Para Elvey [24], qualquer processo inflamatório, afetando uma raiz nervosa, pode conduzir ao desenvolvimento de um tecido fibroso, causando adesões, que resultam em disfunção de sua mobilidade relativa, além de torná-la intensamente sensível e dolorida ao movimento. Portanto, este seria o motivo do nervo ser tratado com movimento passivo, contudo, o efeito terapêutico é explicado apenas em termos de generalizações, como a prevenção na formação de adesões ao redor do nervo, na redução de edema e direcionamento a uma resposta de variações de pressão fisiológica benéfica. Segundo Cleland et al. [25], especula-se que se a etiologia dos sintomas forem originados de edema intraneural, as alterações na pressão intraneural, que acompanham a mobilização neural, podem ser suficientes para dispersar o edema, então aliviando a hipóxia e reduzindo os sintomas associados. Salienta-se que os resultados obtidos limitam-se pela falta de observação de efeitos diretos no ciático e pelo modelo utilizado no estudo (ratos). Porém, visto que o modelo de lesão utilizado reproduz a sintomatologia de uma neuropraxia [11], o modelo de avaliação é útil para predizer alterações provindas de lesão nervosa periférica. Conclusão Visto que a terapêutica adaptada para os membros posteriores dos animais foi viável, conclui-se que a mobilização neural, como forma de terapia, foi eficaz na redução da hipotrofia, provinda de uma neuropraxia nos animais. Agradecimentos Ao Hospital Universitário do Oeste (HUOP) do Paraná e à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), pelo financiamento parcial do projeto. Referências 1. Morán AF. Criterios científicos actuales en el tratamiento del paciente con hernia discal lumbar. Rev Cubana Med Milit 2001;30(1):27-35. 2. Dosani A, Giannoudis PV, Waseem M, Hinsche A, Smith RM. Unusual presentation of sciatica in a 14-year-old-girl. Injury 2004;35:1071-2. 3. Rossi P, Cardinalli P, Serrao M, Parisi L, Bianco F. Magnetic resonance imaging findings in piriformis syndrome: a case report. Arch Phys Med Rehabil 2001;82:519-21. 4. Kobayashi S, Yoshizawa H, Yamada S. Pathology of lumbar nerve root compression. Part 2: morphological and immunohistochemical changes of dorsal root ganglion. J Orthop Res 2004;22:180-8. 5. Coppieters MW, Stappaerts KH, Wouters LL, Janssens K. Aberrant protective force generation during neural provocation testing and the effect of treatment in patients with neurogenic cervicobrachial pain. J Manipulative Physiol Ther 2003;26:99106. 6. Shacklock M, Donoso CG, López MOL. Hacia un enfoque clínico-científico en el diagnóstico con test neurodinámicos (tensión neural). Fisioterapia 2007;29(6):288-97. 7. Cleland JA, Childs JD, Palmer JA, Eberhart S. Slump stretching in the management of non-radicular low back pain: A pilot clinical trial. Man Ther 2006;11:279-86. 8. Scrimshaw SV, Maher CG. Randomized controlled trial of neural mobilization after spinal surgery. Spine 2001;26(24):264752. 9. Oliverira Junior HF, Teixeira AH. Mobilização do sistema nervoso: avaliação e tratamento. Fisioter Mov 2007;20(3):41-53. 10. Butler DS. Mobilização do sistema nervoso. Barueri: Manole; 2003. 11. Bennett GJ, Xie YKA. A peripheral mononeuropathy in rat that procedures disorders of pain sensation like those seen in man. Pain 1988;33:87-107. 12. Andersen ML, D’Almeida V, Ko GM, Kawakami R, Martins PJF, Magalhães LE et al. Princípios éticos e práticos do uso de animais de experimentação. São Paulo: UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo; 2004. 13. Makofsky HW. Coluna vertebral: terapia manual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. 14. Brito MKM, Camargo Filho JCS, Vanderlei LCM, Tarumoto MH, Pai VD, Giacometti JA. Dimensões geométricas das fibras do músculo sóleo de ratos exercitados em esteira rolante: a importância da análise por meio de imagens digitalizadas. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 17 Artigo original Percepção subjetiva da qualidade de vida de usuários de computadores após 12 sessões de ginástica laboral Subjective perception of quality of life of computer users after 15 sessions of labor gymnastics Thiago Medeiros da Costa Daniele*, George Lacerda de Souza**, Pedro Bezerra Souza Neto*** *Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará e mestrando em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), **Graduado em Educação física pela Universidade Estadual do Ceará e especialista em nutrição esportiva pela Universidade Estadual do Ceará (UECE),***Graduado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) Resumo Objetivo: Avaliar a evolução da percepção da qualidade de vida geral após a aplicação de 12 sessões de ginástica laboral. Material e métodos: Foram aplicadas quatro sessões de ginástica laboral, duas vezes por semana, com o intuito de mobilizar os funcionários de uma empresa em Fortaleza/CE e adaptá-los aos horários. Na quinta sessão foi aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36 em todos os participantes. Resultados: Foram analisados 16 voluntários, 12 do sexo feminino e 4 do sexo masculino. A idade média dos funcionários era de 24,8 anos ± 3,4. O tempo médio de trabalho foi de 14,13 ± 14,65 meses. A capacidade funcional se mostrou melhor estatisticamente significante após a intervenção (p < 0,05). Os outros subitens apresentaram tendências positivas, com exceção da percepção à dor, que houve uma aparente piora comparada com o início do treino. Conclusão: Podemos comprovar que duas sessões por semana trouxeram bons resultados aos envolvidos com a prática regular desses exercícios. Abstract Objective: To evaluate the perception of overall quality of life after 12 sessions of labor gymnastics. Methods: The study was conducted in a computer company in Fortaleza, Ceara. Four sessions of labor gymnastics, twice a week, were performed aiming to mobilize the employees and to adequate the schedule. On the fifth session, we applied the quality of life questionnaire SF-36 in all participants. Results: We studied 16 volunteers, 12 females and 4 males. The average age of employees was 24.8 years ± 3.4. The women were 25 ± 1.0 years old and men were 24.25 ± 1.3 years old. The average working hours was 14.1 ± 14.6 months. Functional capacity showed statistically significant increase after intervention (P < 0.05). The other sub-items showed positive trends, except perception of pain, which there was an apparent worsening compared with the beginning of training. Conclusion: We noticed that participants achieve good results with two sessions of regular exercises. Key-words: Ergonomics, labor gymnastics, quality of life. Palavras-chave: Ergonomia, ginástica laboral, qualidade de vida. Recebido em 17 de outubro de 2011; aceito em 03 de janeiro de 2012. Endereço de correspondência: Thiago Medeiros da Costa Daniele, Departamento de Medicina, Universidade Federal do Ceará, Rua Prof. Costa Mendes, 1608, 4º Andar, 60430-040 Fortaleza CE, E-mail: [email protected] 18 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução As tecnologias de informação trouxeram com o processo industrial complicações em nível físico e psicológico. Esse efeito negativo, aliado ao sedentarismo, criou um termo capaz de expressar o quadro atual das pessoas que sofrem com a modernização: o tecnoestresse, termo primeiramente utilizado, em 1984, pelo psicoterapeuta e psiquiatra norte americano Craig Brod. Ele o define como uma enfermidade resultante da falta de habilidade para trabalhar com as novas tecnologias de uma forma saudável [1], levando ao estresse ocupacional que pode estar relacionado com a carga de trabalho [2]. Segundo Santos e Martendal apud Jex [2], este problema é entendido através de três aspectos. O primeiro é relativo ao estresse ocupacional, sendo o contexto organizacional o responsável pelas exigências adaptativas do trabalhador, chamado assim de estressor organizacional. O segundo se relaciona com as respostas psicológicas, comportamentais e fisiológicas dos trabalhadores ao estresse organizacional. Por fim, há a resposta ao estímulo estressor, ou seja, o impacto nos trabalhadores causado pelo estresse organizacional. Diversas estratégias estão sendo criadas a fim de levar um maior bem-estar aos trabalhadores, mudando consistentemente seus maus hábitos de vida como: inatividade física, tabagismo e alimentação inadequada. Segundo a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a ginástica laboral é realizada por meio de exercícios físicos que, aliados a técnicas de respiração e relaxamento, são capazes de levar a uma melhora do estado psicológico e fisiológico dos funcionários que utilizam computadores [7]. Apesar disso, as prevalências de problemas de saúde como dores músculo-articulares, característicos da profissão, podem remeter a uma maior vulnerabilidade dessa população a problemas de saúde geral. Um estudo colombiano [8] mostrou que a inatividade física aumenta a frequência e a duração de absentismo que tem implicações negativas para o trabalhador, para a empresa e para a sociedade, e afirma que programas de promoção da atividade física no trabalho são propostos como uma opção estratégica em saúde ocupacional. A partir dessas considerações, realizou-se um estudo exploratório e prospectivo com um grupo de funcionários que utilizam prioritariamente o computador como meio de trabalho, buscando identificar a frequência das variáveis da percepção da qualidade de vida em geral. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo e prospectivo contendo, a princípio, 20 voluntários. Deste total, quatro foram excluídos por permanecerem afastados por três sessões consecutivas, resultando em um conjunto final de 16 funcionários. O estudo foi realizado em uma empresa localizada na cidade de Fortaleza, Ceará. Foram incluídos voluntários de ambos os sexos com idades entre 20 e 40 anos que permanecem sentados por pelo menos seis horas por dia e que utilizavam o computador como instrumento de trabalho. Foram excluídos aqueles que não realizaram cinco sessões consecutivas e que estavam fora da faixa etária de inclusão. O procedimento foi realizado em 10 semanas. Na primeira semana, os funcionários foram instruídos com explicações sobre lesões por esforços repetitivos, sedentarismo e sobre a ginástica laboral. Na segunda semana, foram ministradas sessões de ginástica laboral com o intuito de mobilizar os funcionários e adaptá-los aos horários. Na terceira, foi aplicado um questionário de qualidade de vida em 20 funcionários, treze do sexo feminino e sete do sexo masculino. E na décima, após 12 sessões de ginástica laboral, o mesmo questionário foi reaplicado. As sessões duraram 20 minutos e foram realizadas duas vezes por semana Para análise da percepção de qualidade de vida dos funcionários, utilizou-se o Questionário de Qualidade de Vida SF-36, por ser de fácil administração e compreensão do tipo autoaplicável. O SF-36 é uma versão em português do Medical Outcomes Study 36 – Item Short Form Health Survey, traduzido e validado por Ciconelli et al. [3]. Estudos realizados no Brasil mostraram a viabilidade e a confiabilidade desse questionário [4,5]. Os participantes assinaram um termo de consentimento para a autorização da utilização dos dados de forma sigilosa com finalidade de pesquisa científica. Este projeto foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (CEP 031-04-09). Análise estatística A eficiência do treinamento foi avaliada pelo teste T de Student para amostras emparelhadas. O valor de P < 0,05 foi aceito como significante. Os dados foram apresentados como média ± desvio padrão e número de participantes com sua respectiva percentagem. Os dados foram submetidos a um pacote do programa de estatística SPSS for Windows. Resultados Foram analisados 16 voluntários, 12 do sexo feminino (75%) e 4 do sexo masculino (25%). A idade média dos funcionários era de 24,81 anos ± 3,43. A idade das mulheres foi de 25 ± 1.0 e dos homens foi de 24,25 ± 1,3. O tempo médio de trabalho foi de 14,13 ± 14,65 meses. Quatro participantes foram excluídos do estudo, dois funcionários tiveram férias e dois deixaram de realizar 3 sessões consecutivas. O tempo de trabalho variou de três meses, valor mínimo, e 48 meses, valor máximo. A média foi de 14 meses ± 14,65 executando a atual função. Os resultados dos subitens do SF-36 estão apresentados na Tabela I. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Tabela I - Percepção subjetiva dos subitens do SF-36. Variáveis Capacidade funcional Limitações físicas Dor Estado geral de saúde Vitalidade Aspectos socias Limitações por aspectos emocionais Saúde mental Início 76,56 84,38 67,44 58,71 63,75 72,65 73,24 Final 84,69 82,.81 64,25 63,71 69,37 79,17 72,91 70,00 74,25 P value < 0,05* 0,73 0,07 0,6 0,3 0,1 0,2 0,4 *P < 0,05. A Figura I expõe as médias de cada um dos subitens do SF-36. Todos os itens analisados apresentaram melhoras, com exceção da percepção à dor, que houve uma aparente piora comparada com o início do treino. A capacidade funcional se mostrou melhor estatisticamente significante após a intervenção (P < 0,05). Os outros subitens apresentaram tendências positivas. As médias variaram entre 63 e 85 pontos, mostrando que todos os participantes possuíam bons índices para os subitens da qualidade de vida analisados. Figura I - Relação entre as médias dos participantes antes e após a intervenção. 90.00 80.00 70.00 60.00 50.00 40.00 30.00 20.00 10.00 0.00 presente estudo não se preocupou com a intensidade dos exercícios, visto que o objetivo foi o de realizar uma compensação funcional como a melhora da circulação e do alongamento nos grandes grupamentos musculares. A qualidade de vida dos sujeitos melhorou principalmente a capacidade funcional, que é a capacidade do indivíduo em realizar as atividades da vida diária [11], mostrando que o dia a dia pode ser melhorado com a prática regular da ginástica laboral. A sociabilização entre os funcionários, analisado pelo subitem aspectos sociais, mostrou uma tendência positiva (p = 0,1). Já no que diz respeito aos aspectos emocionais não foi observada relevância com a ginástica laboral no presente estudo. Podemos concluir assim que os funcionários puderam melhor se relacionar após o início das intervenções. Com relação à saúde mental houve ganho significativo. Segundo Heloani et al. [12] o trabalho na atualidade e suas exigências geram pressões que afetam o corpo físico e o campo mental. Em nosso estudo a população apresentou melhoras, porém o resultado não foi estatisticamente significante. A percepção à dor foi o único item que houve redução no final da intervenção, talvez devido ao número reduzido de sessões, que foram de duas vezes por semana, em comparação com a carga horária dos funcionários, que é de oito horas por dia, seis vezes por semana. ad e Lim fun cio ita na çõ l es fís Es ica ta s do ge Do ra r ld e sa úd Vi ta e As lid pe As cto ade pe cto s so cia se is m oc i o Sa na úd is e m en ta l Conclusão id ac ap C 19 Início Final Discussão A literatura cientifica mostra os benefícios dos exercícios físicos compensatórios no ambiente de trabalho [9], teoria esta que foi comprovada pelo nosso trabalho. A incorporação dos exercícios no dia a dia dos funcionários foi o principal valor do estudo, pois a grande maioria era sedentária e, a pesar de todos serem jovens (idade média de 24 anos), a falta de disponibilidade de tempo para a prática de exercícios fora da empresa foi de 65% da população. A pesar de a intensidade ser proporcional aos efeitos tanto metabólicos como cardiovasculares, como frequência cardíaca e modulação de quimiorreceptores, a alteração da liberação de catecolaminas afeta todo o sistema nervoso simpático [10]. O Os dados deste estudo demonstraram que as sessões de ginástica laboral aplicada em funcionários com uma carga horária de 8 horas por dia, 6 vezes na semana, mostrou-se eficiente na melhora da capacidade funcional. Demonstrou-se que com a implantação de um programa de exercícios em empresas os funcionários conseguem melhor se socializar (aspectos sociais positivos) e têm percepção benéfica de sua saúde geral. No que diz respeito à saúde mental e à vitalidade, as pontuações dos subitens analisados apresentaram-se benéficas na população estudada. Podemos comprovar que duas sessões por semana trouxeram bons resultados aos envolvidos com a prática regular desses exercícios, porém sugere-se que mais estudos sejam realizados envolvendo funcionários que realizam pouca ou nenhuma atividade física no seu trabalho e os seus aspectos associados. Referências 1. Pocinho, MD, Garcia, JC. Impacto Psicossocial de la tecnologia de informacion y comunicacion (TIC): tecnoestrés, y daños físicos de satisfacción laboral. Acta Colom Psicol 2008;11(2):127-39. 2. Santos K, Martendal L. Coping e adoecimento cardíaco em um trabalhador da saúde. Psicol Argum 2008;26(55):281-92. 20 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 3. Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de qualidade de vida SF-36. Rev Bras Reumatol 1999;39(3):143-50. 4. Severo M, Santos AC, Lopes C, Barros H. Fiabilidade e validade dos conceitos teóricos das dimensões de saúde física e mental da versão portuguesa do SF- 36. Acta Med Port 2006;19:281-88. 5. Lemos MCD, Miyamoto S, Tatiyama V, Natour J. Qualidade de vida em pacientes com osteoporose: Correlações entre OPAQ e SF- 36. Rev Bras Reumatol 2006;46(5):323-28. 6. Ferrer RL, Mody-Bailey P, Jaén CR, Gott S, Araujo S. A medical assistant- based program to promote helthy behaviors in primary care. Ann Fam Med 2009;7(6):504-12. 7. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Qualidade de Vida: Exercícios de ginástica laboral. Brasília: Ministério da Saúde; 2003. 8. Martínez-López E, Saldarriaga- Franco JF. Inactividad física y ausentismo en el ámbito laboral. Rev Salud Pública 2008;10(2):227-38. 9. Leite N, Mendes R. Ginástica laboral: Princípios e aplicações práticas, editora. São Paulo: Manole; 2004. p.17-35. 10. Assunção WD, Marcelo D, Simão R, Polito M, Monteiro W. Respostas cardiovasculares agudas no treinamento de força conduzido em exercicios para grandes e pequenos grupos musculares. Rev Bras Med Esporte 2007; 13(2):118-22. 11. Neri AL. Palavras-chave em gerontologia. Campinas: Alínea; 2005 p. 29-32. 12. Heloani JR, Capitão CG. Saúde mental e psicologia no trabalho. São Paulo em Perspectiva 2003;17(2):102-8. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 21 Artigo original Avaliação dos fatores de risco cardiovascular de idosos participantes de grupo de convivência da terceira idade do município de São Miguel do Oeste/SC Evaluation of cardiovascular risk factors in participants of an elderly association in São Miguel do Oeste/SC Nelí Maziero*, Everton Boff, M.Sc.**, Sandro Claro Pedrozo*** *Acadêmica de Biomedicina da Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC, **Professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC, ***Professor do curso de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC, Especialista em Educação Física com área de concentração em Treinamento desportivo pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC Resumo O objetivo deste estudo foi investigar os fatores de risco para doenças cardiovasculares, relacionados ou não com dislipidemias e características antropométricas de uma população de idosos do município de São Miguel do Oeste/SC. A amostra foi composta por 57 indivíduos (≥ 60 anos) de ambos os gêneros. Foram realizadas avaliações para identificar indicadores de gordura corporal (IMC, RCQ, CC), verificar o perfil lipídico (colesterol total e triglicerídeos), pressão arterial (PA) e risco coronariano. Para a análise dos dados, utilizou-se a estatística descritiva e o teste t de student para amostras independentes. O programa utilizado foi SPSS 13.0 e o nível de significância foi de P ≤ 0,05. Em relação aos fatores de risco cardiovascular prevaleceram: sedentarismo (82,4%), seguido por RCQ altos (64,9%), CC aumentada (56,1%) e hipertensão arterial sistêmica (49,1%). As mulheres apresentaram maior prevalência de obesidade (75,0%), RCQ alto (72,9%) e CC aumentada (71,8%). Também foram identificados, para as mulheres ≥ 70 anos, valores médios acima dos recomendados nas variáveis IMC (29,37 ± 7,65), CC (98,50 ± 16,44) e RCQ (0,93 ± 0,08). Ao comparar os gêneros, foram constatadas diferenças significativas nas variáveis RCQ (P = 0,049) e PA diastólica (70 anos ou mais: P = 0,016). Ao comparar as idades de < 70 anos e ≥70 anos, os valores médios do perfil lipídico não extrapolaram os valores de referência, apesar de serem observadas diferenças significativas (P = 0,008) nos triglicerídeos dos homens. Conclui-se então, que idosos do sexo feminino estão mais vulneráveis ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. O controle de fatores de risco contribui para diminuir a morbimortalidade em idosos e, consequentemente, melhorar a sua qualidade de vida. Abstract The objective of this study was to investigate the risk factors for cardiovascular disease, related or not with dyslipidemia and anthropometric characteristics of an elderly population in São Miguel do Oeste/SC. The sample included 57 individuals (≥ 60 years) of both genders. Evaluations were carried out to identify indicators of body fat (BMI, WHR, WC), the lipid profile (total cholesterol and triglycerides), blood pressure (BP) and coronary risk. For data analysis, we used descriptive statistics and Student’s t test for independent samples. The software used was SPSS 13.0 and significance level was P ≤ 0.05. In relation to cardiovascular risk factors prevailed: sedentary (82.4%), followed by high WHR (64.9%), CC increased (56.1%) and hypertension (49.1%). Women had a higher prevalence of obesity (75.0%), high WHR (72.9%) and CC increased (71.8%). Were also identified, for women ≥ 70 years, average values f or the variables above the recommended BMI (29.37 ± 7.65), CC (98.50 ± 16.44) and WHR (0.93 ± 0.08). When comparing genders, significant differences were found in variables WHR (P = 0.049) and diastolic BP (70 years or more: P = 0.016). By comparing the ages of < 70 and ≥ 70 years, the mean values of lipid profile is not extrapolated reference values, although significant differences (P = 0.008) in triglycerides of men. Was concluded that older women are more vulnerable to the development of cardiovascular disease. The control of risk factors contributes to reduce morbidity and mortality in elderly patients and thereby improve their quality of life. Key-words: risk factors, cardiovascular disease, elderly, anthropometric characteristics. Palavras-chave: fatores de risco, doenças cardiovasculares, idosos, características antropométricas. Recebido em 24 de novembro de 2011; aceito em 12 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Nelí Maziero, Linha Santo Expedito, BR 282, SN - 89910-000 Descanso SC, E-mail: nelimaziero@ hotmail.com 22 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução Com o fenômeno de envelhecimento populacional observado neste último século, aumenta, cada vez mais, a necessidade de conhecimento dos fatores que incidem sobre a prevalência das doenças crônico-degenerativas associadas à idade [1]. Segundo Pereira et al. [2], o envelhecimento reforça a importância de manter a saúde e autonomia. O avançar da idade, por si só, aumenta o risco de doenças crônicas, com destaque para as cardiovasculares. Entretanto, o desenvolvimento dessas doenças acomete diferencialmente os indivíduos, com menor frequência e gravidade naqueles com trajetória e cotidiano mais saudáveis [2]. Estudos delineados para avaliar a importância de fatores de risco (FR) para doença coronariana demonstraram que nove FR corresponderam a mais de 90% do risco atribuível para infarto do miocárdio. De modo surpreendente, tabagismo e dislipidemia compreenderam mais de dois terços deste risco e, obesidade central, diabetes mellitus (DM) e hipertensão arterial (HAS) estavam significativamente associados, mesmo com diferenças relativas nas diferentes regiões estudadas [3]. É necessário conhecer a prevalência desses fatores de risco, isolados ou combinados, pois é através de sua redução, com programas de prevenção primária e secundária, que objetivaremos a efetividade de qualquer programa de saúde [4]. Em função do aumento da população idosa, da necessidade de estudos com essa população e da possibilidade de intervenção nos fatores de risco, optou-se pela realização deste trabalho, que tem por objetivo avaliar os fatores de risco para doenças cardiovasculares relacionados ou não com dislipidemias, em uma população de idosos do município de São Miguel do Oeste, Santa Catarina. Material e métodos A população foi constituída por 57 idosos, com idade ≥ 60 anos, de ambos os gêneros, participantes do Grupo de Terceira idade do Bairro Agostini, residentes em São Miguel do Oeste - Santa Catarina, selecionada de forma intencional e voluntária. Este estudo foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa de Joaçaba e aprovado pelo parecer 066/2011 e CAAE: 0067.0.151.000-11, sendo respeitadas as diretrizes regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. Foram analisados os seguintes fatores de risco: HAS, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, obesidade, tabagismo, sedentarismo, história familiar, circunferência de cintura (CC), razão cintura-quadril (RCQ), gênero e idade. As medidas antropométricas foram realizadas no Laboratório de Fisiologia do Esforço e as coletas sanguíneas no Laboratório de Hematologia Clínica, ambos na UNOESC, campus de São Miguel do Oeste. A obesidade foi verificada pelo IMC. De acordo com a OMS [5], valores de IMC entre 18,5 e 24,9 são considerados normais, entre 25,0 e 29,9 indicam sobrepeso e valores ≥30 kg/ m2 apontam presença de obesidade. O sedentarismo foi identificado por meio daqueles que não praticavam atividade física ou praticavam menos que 3X por semana, durante, pelo menos, 30 minutos por dia de forma contínua ou acumulada [6]. A pressão arterial foi verificada três vezes em cada participante, por meio de um esfigmomanômetro aneróide e um estetoscópio, com intervalos mínimos de três minutos, sendo que as médias individuais das pressões aferidas foram utilizadas [6]. Valores de PA ≥ 140/90 mmHg foram considerados positivos para HAS e pessoas com valores de pressão abaixo desses níveis, mas que referiam uso de drogas anti-hipertensivas, também foram consideradas hipertensas [6]. Para o procedimento de coleta de sangue os idosos foram orientados a estar em jejum de 8 a 12 horas. A coleta de sangue foi realizada por punção venosa na veia mediana cubital em seringas de 10 ml da marca BD® e a agulha utilizada foi 25X7 também da marca BD® e distribuído em um tubo sem anticoagulante. Lembrando que cada tubo foi identificado com o nome do paciente e número geral de identificação. Utilizaram-se kits da marca Labtest Diagnóstica® em protocolos específicos para sua determinação em equipamento semi-automatizado da marca Bioplus®. As análises de colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG) foram realizadas pelo método colorimétrico enzimático. O HDL-C foi separado pela precipitação de LDL-C, utilizando o método de precipitação de dextrano e cloreto de magnésio. O LDL foi estimado pela fórmula de Friedewald (LDL-C = CT – VLDL – HDL). A classificação dos valores de referência para CT, TG, LDL-C e HDL-C correspondeu aos critérios das IV Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias (7): CT ≥ 240mg/dl ou HDL-c ≤ 40 mg/dl ou LDL-C ≥ 160 mg/dl ou TG ≥ 200 mg/dl. A avaliação do risco cardiovascular foi realizada com base no Escore de Framingham [7], baseado em valores numéricos de acordo com o risco atribuível aos valores da idade, PA, colesterol total, HDL-colesterol, tabagismo e diabetes mellitus [8]. Cada escore obtido corresponde a um percentual da probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular nos próximos dez anos. Assim, indivíduos de baixo risco teriam uma probabilidade menor que 10%; médio risco, entre 10% e 20% e alto risco, igual ou maior que 20% [9]. Para a análise dos dados utilizou-se o programa estatístico computacional (SPSS) versão 13.0. O procedimento estatístico utilizado foi estatística descritiva (média, desvio padrão e análise de frequência) e o teste t de student para amostra independente, no intuito de caracterizar a amostra e comparar gênero e idade. Resultados A população constituinte deste estudo apresentou idade média de 69,83 ± 5,88 anos, faixa etária predominante de 70-79 anos (48,28%) e do sexo feminino (59,6%). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 O fator de risco mais prevalente foi o sedentarismo (82,4%), seguido pelas características antropométricas: RCQ (64,9%) e CC (56,1%) aumentados e HAS (49,1%). A prevalência dos fatores de risco pode ser visualizada na Figura 1. Figura 1 - Fatores de risco mais prevalentes na amostra estudada. 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 82,4% 64,9% 56,1% Nosso estudo ainda apresenta resultados estatisticamente significativos quando comparada PAD de idosos com ≥70 anos em relação ao gênero (p = 0,016). Sendo que para a variável de PAS não ocorreu significância, embora se notasse um aumento nos valores das mulheres quando se comparam os gêneros – Tabela I. Tabela II - Comparação da média e desvio padrão dos grupos com idade abaixo de 70 anos e com 70 anos ou mais do gênero masculino. 49,1% Gênero Masculino < 70 anos (n 70 anos ou + = 15) (n = 09) Média ± DP Média ± DP 26,90 ± 4,14 26,54 ± 4,34 28,1% 10,5% Sedentarismo RCQ CC 23 HAS Obesidade Dislipidemia Os resultados apontam que houve maior percentual de risco em idosos do sexo feminino com 70-79 anos. Em relação à classificação de CC observou-se índice de alto risco entre idosos de 70-79 anos (57,1%). Quanto à classificação de IMC, constatou-se prevalência de obesidade nos idosos com 60-69 anos (37,0%). Tabela I - Comparação da média e desvio padrão dos grupos do gênero masculino com 70 anos ou mais. Grupo 70 anos ou + Masculino Feminino (n = 9) (n = 18) Média ± DP Média ± DP 26,54 ± 4,34 29,37 ± 7,65 P 0,316 IMC (kg/m2) RCQ (cintura/ 0,91 ± 0,06 0,93 ± 0,08 0,049* quadril) CC (cm) 94,00 ± 10,02 98,50 ± 16,44 0,169 PAS (mmHg) 138,89 ± 11,67 143,89 ± 19,74 0,492 PAD (mmHg) 74,44 ± 5,27 84,45 ± 10,97 0,016* Colesterol 180,56 ± 29,67 191,62 ± 30,06 0,374 (mg/dl) Triglicerídeos 141,22 ± 46,56 127,83 ± 67,65 0,600 (mg/dl) *P ≤ 0,05 No que concerne à comparação entre os sexos, evidenciou-se que as mulheres apresentaram maior prevalência de obesidade (75,0%), RCQ (72,9%) e de CC (71,8%) com risco alto, do que os homens. Na Tabela I podemos observar uma prevalência de sobrepeso no gênero feminino com ≥ 70 anos (29,37 ± 7,65). Para a CC e RCQ foram identificados valores médios acima dos recomendados para o gênero feminino, principalmente para as idosas com ≥70 anos (98,50 ± 16,44 e 0,93 ± 0,08), enquanto que nos homens os valores médios não extrapolaram os recomendados (94,00 ± 10,02 e 0,91 ± 0,06), com diferença estatisticamente significativa entre os gêneros para a variável de RCQ (p = 0,049). P 0,839 IMC (kg/m2) RCQ (cintura/ 0,92 ± 0,05 0,91 ± 0,06 0,116 quadril) CC (cm) 95,33 ± 10,29 94,00 ± 10,02 0,228 PAS (mmHg) 127,33 ± 18,69 138,89 ± 11,67 0,111 PAD (mmHg) 76,67 ± 8,99 74,44 ± 5,27 0,509 Colesterol 179,80 ± 38,53 180,56 ± 29,67 0,960 (mg/dl) Triglicerídeos 94,73 ± 31,72 141,22 ± 46,56 0,008* (mg/dl) *P ≤ 0,05 Na avaliação dos parâmetros laboratoriais, os valores médios do perfil lipídico – CT e TG – não apresentaram alterações em relação aos referenciais, observando-se, porém, que para TG houve significância estatística para idosos do gênero masculino quando comparados em relação à idade < 70 anos e ≥ 70 anos (p = 0,008) (Tabela II). No que se refere ao questionário de risco coronariano, houve maior proporção de risco moderado tanto entre as mulheres (70,5%) quanto entre os homens (65,2%). Em uma análise sobre o número de FR por idoso, observou-se que a maioria possuía quatro FR, seguida daqueles que possuíam dois. Dos 57 idosos, 71,9% apresentavam de dois a quatro. Esses dados estão demonstrados na figura 2. Figura 2 - Número de fatores de risco (FR) por idoso participante. 30,0% 26,3% 24,5% 25,0% 21,0% 20,0% 14,0% 15,0% 12,2% 10,0% 5,0% 0,0% 1,7% 0,0% 1 FR 2 FR 3 FR 4 FR 5 FR 6 FR 7 FR Em relação ao gênero, observou-se prevalência de homens, com até um fator de risco, e de mulheres entre os idosos, com três ou mais fatores de risco (Figura 3). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 24 Figura 3 - Distribuição dos casos segundo o número de fator de risco e gênero. 24 25 18 20 14 15 10 5 0 5 7 7 7 2 12 5 7 6 1 FR 2 FR 3 FR 4 FR ou mais Feminino Total Masculino Em relação à avaliação de risco cardiovascular em dez anos através do Escore de Framingham, pôde-se observar uma baixa prevalência DAC nos 57 indivíduos analisados, já que 60,34% encontravam-se em grupos de baixo risco, 29,31% em médio risco e apenas 8,62% em alto risco. Entretanto, esse quadro inicialmente favorável não se confirmou quando relacionado ao questionário de Avaliação do Risco Coronariano, pois neste cálculo 29,31% e 67,24% dos pacientes apresentaram risco médio e moderado para doença cardíaca, respectivamente. Figura 4 - Percentual de risco para DAC segundo o Escore de Framingham. 45,6% 38,6% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 7,0% 35,1% 19,3% 15,8% 17,5% 19,3% 1,8% Risco baixo Masculino Risco médio Feminino Risco alto Total Discussão O aumento no número de idosos instiga o desenvolvimento de estratégias que possam minimizar os efeitos negativos do avanço da idade cronológica no organismo. Demonstrou-se com este estudo que o fator de risco mais prevalente foi o sedentarismo, seguido de RCQ e CC aumentados, HAS e obesidade. Apesar de o critério para se considerar o idoso como sedentário ter sido bastante complacente, este foi o mais prevalente dos fatores de risco cardiovascular (82,4%) nessa população de gerontes. Sendo esse um fator de risco para doença coronária comparável a hipertensão, hipercolesterolemia, e tabagismo [10]. De forma similar, Gus et al. [4] encontraram resultados aproximados apontando índice de sedentarismo de 71,3% na população estudada. Corroborando, Feijó et al. [11] averiguaram que o sedentarismo também foi o fator de risco mais prevalente (75%) em estudo com pacientes admitidos em unidade de hemodinâmica, objetivando rastrear os fatores de risco para DAC nesses indivíduos. Quanto aos níveis pressóricos, 49,1% dos idosos (47,8% masculino e 29,8% feminino) apresentavam PA ≥ 140 x 90 mmHg. Resultado que se assemelha ao encontrado por Taddei et al. [12], apresentando PA elevada em 53% dos casos, confirmando que a prevalência de hipertensão entre os idosos é preocupante. De forma similar, pesquisa realizada por Mendonça et al. [13] avaliou idosos de um parque de São Paulo, descrevendo o risco cardiovascular e a condição física, identificando a presença de hipertensão arterial em 52% da população idosa estudada, valor condizente com o encontrado em nosso estudo. Estima-se que a explicação para o número expressivo de hipertensos encontrado deve-se a uma média de idade mais elevada. A isso se soma o elevado percentual de sedentários, o que contribui substancialmente para o controle inadequado da PA. Quando analisamos os dados antropométricos, notamos uma nítida prevalência de sobrepeso, 38,6% (17,5% masculino e 21,1% feminino) e de obesidade, 28,1% (7,0% masculino e 21,1% feminino), de acordo com a classificação da OMS [5] para IMC, conferindo ao grupo feminino uma maior prevalência deste fator de risco. Essa mesma tendência foi observada para CC, parâmetro relativo à gordura visceral, sendo que 40,4% das mulheres e 15,8% dos homens apresentavam CC ≥ 88 e ≥102 cm e, sobretudo, para o RCQ, em que notamos que 64,9% de todo o grupo apresentava RCQ alterada e de alto risco, 17,5% dos homens e 47,4% das mulheres. Santos et al. [14] também observaram maior proporção de sobrepeso e de inadequação da distribuição de gordura entre as mulheres. RCQ e CC das idosas apresentaram aproximadamente o dobro dos escores encontrados entre os homens. Analisando fatores de risco coronarianos em idosas, Guimarães et al. [15] observaram que 12,5% da amostra apresentou sobrepeso e 29,2% obesidade, resultados semelhantes aos encontrados em nosso estudo. Nesse mesmo trabalho foi verificado RCQ de alto risco em 54,2% das idosas indicando risco muito alto para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O risco cardiovascular, conforme a CC, esteve presente em 70,8% das idosas, as quais apresentaram risco muito aumentado, resultados condizentes com o da amostra atual deste estudo. Estudo realizado por Pitanga et al. [16] afirma que os homens com CC elevado e IMC baixo representam um grupo de maior risco propenso ao desenvolvimento patologias cardiovasculares. Ficando aparente que quanto menor a massa corporal maior a chance de acúmulo central de gordura na população estudada. A prevalência de obesidade encontrada justifica-se pela relação direta entre obesidade e inatividade física, acarretando maiores riscos para o desenvolvimento e a progressão das doenças cardiovasculares. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Quanto ao perfil lipídico, na determinação do CT, 3,5% e 7,0% apresentavam níveis elevados (≥ 240 mg/dl); na dosagem do HDL-C, 12,3% e 5,3% apresentavam níveis abaixo do recomendado (< 40 mg/dl); na determinação do LDL-C, apenas 5,3% das mulheres apresentavam dosagens aumentadas (≥ 160 mg/dl); nos valores de TG, também 5,3% das mulheres apresentavam níveis aumentados (> 200 mg/dl), todos os dados acima para homens e mulheres, respectivamente [7]. Estudo realizado recentemente sobre a população do Rio Grande do Sul obteve os achados de que a dislipidemia representava 5,6% entre os fatores analisados [4]. Na presente investigação, a avaliação dessa variável foi equivalente, possivelmente em função da obtenção de informações quanto ao perfil lipídico, através das dosagens de CT e TG por meio de análise laboratorial, método bastante confiável. Rosini et al. [3], investigando a prevalência e multiplicidade de fatores de risco em hipertensos e tabagistas de meia idade, apresentaram em seu estudo os níveis médios de CT acima do desejável, 230,3 ± 46,8, 223 ± 49,2 e 234,4 ± 45 mg/ dl, respectivamente, para amostra total, homens e mulheres, com diferença significativa entre os gêneros (p = 0,0407). Os níveis médios de TG, nesta mesma pesquisa, apresentaram-se discretamente elevados, a despeito da grande variabilidade observada, na média total, para homens e mulheres, 159,3 ± 83,9, 168,3 ± 87,3 e 154,5 ± 82,1 mg/dl, respectivamente. Em uma análise sobre o número de fatores de risco por idoso, Feijó et al. [11] observaram que a maioria dos participantes possuía três e quatro fatores de risco, respectivamente; no total 75% apresentavam de três a cinco. O baixo risco, resultante da avaliação dos pacientes baseada apenas nos critérios de Framingham, não significa que os mesmos estão isentos de risco cardiovascular, pois podem apresentar outros fatores não incluídos neste escore de predição clínica. A abordagem de maior respaldo na análise das evidências disponíveis consiste em estimar o risco cardiovascular não pela elevação de fatores isolados, e sim pela soma de risco decorrente de múltiplos fatores, estimada pelo risco absoluto global em cada indivíduo. Conclusão Consideramos através desta pesquisa que os idosos do sexo feminino estão mais vulneráveis ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. O controle de fatores de risco contribui para diminuir a morbimortalidade em idosos e, consequentemente, melhorar a sua qualidade de vida. Esses dados são importantes dentro do contexto de saúde pública, pois caracteriza uma população em constante crescimento nos últimos anos, a população idosa, fornecendo, assim, subsídios para uma melhor intervenção nesses indivíduos. Apoiada na literatura preexistente e baseada nos resultados produzidos por este estudo pode-se concluir que a melhor maneira de quantificar o risco cardiovascular é considerar todos os fatores envolvidos. 25 Referências 1. Cruz IBM, Almeida MSC, Schwanke CHA, Moriguchi EH. Prevalência de obesidade em idosos longevos e sua associação com fatores de risco e morbidades cardiovasculares. Rev Assoc Med Bras 2004;50(2):172-7. 2. Pereira JC, Barreto SM, Passos VMA. O perfil de saúde cardiovascular dos idosos brasileiros precisa melhorar: estudo de base populacional. Arq Bras Cardiol 2008;91(1):1-10. 3. Rosini N, Machado MJ, Xavier HT. Estudo de prevalência e multiplicidade de fatores de risco cardiovascular em hipertensos do município de Brusque/SC. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 26 Artigo original Efeitos da suplementação de carboidrato em gel sobre o desempenho físico e a resposta glicêmica em teste de natação de 12 minutos Physical performance and glycemic responses in 12-minutes swimming test: effects of carbohydrate gel supplementation Jadson Pereira Alves*, André Luís Macalossi**, Ramiro Barcos Nunes***, Francisco Navarro**** *Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA, **Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho – UGF, ***Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFCSPA, ****Universidade Federal do Maranhao – UFMA, Departamento de Educação Física Resumo Abstract Palavras-chave: carboidrato em gel, glicose, natação, desempenho. Key-words: carbohydrate gel, glucose, swimming, performance. Introdução competitivo e o desejo de obter bons resultados [1]. A dieta tem influencia direta na demanda energética em situações específicas como, por exemplo, durante a prática de exercício físico. Dieta e desempenho físico é um tema que tem sido objeto pesquisa na área do treinamento desportivo [2]. As intervenções dietéticas para aumentar o desempenho físico são práticas comuns entre atletas. O objetivo deste estudo foi avaliar a resposta do uso de carboidrato em gel como estratégia ergogênica no desempenho físico de nadadores. Foram avaliados 9 atletas, saudáveis, do sexo masculino, com idade entre 25 e 35 anos praticantes de natação competitiva, cada atleta recebeu um suplemento ou placebo 20 min antes do teste de natação de 12 min. Medidas de glicose sanguínea foram registradas em 4 momentos, 1° glicemia em jejum, 2° normalização glicêmica, 3° pré-teste e 4° pós-teste. Não houve diferença significativa na distância final do teste quando comparado o uso de suplemento com o placebo, os níveis de glicemia elevaram-se significativamente pós-consumo do suplemento e a glicemia final não se alterou significativamente. O uso de carboidrato em gel não foi capaz de melhorar o desempenho dos atletas quando comparado com o placebo, entretanto, mostrou-se eficiente em elevar a glicose sanguínea pré-teste. Dessa forma, a suplementação parece não ser necessária em provas de curta duração, uma vez que o organismo lança mão de recursos próprios para a manutenção da glicemia. O uso de intervenções dietéticas e de consumo de nutrientes para aumentar o desempenho de atletas são práticas antigas, o que não surpreende, considerando o meio altamente The dietary interventions to performance increases are a common praxis among competitive athletes. The aim of this study was to evaluate the response of the use of carbohydrate gel as an ergogenic way in swimming test. We evaluated 9 male healthy athletes, aged 25 to 35 years, practitioners of competitive swimming. The athlete received a carbohydrate gel supplementation or placebo 20 min before the test. The 12-minutes Cooper test was performed to physical performance and glucose responses evaluates. Blood glucose measurements were obtained in 4 moments: 1) fasting glucose, 2) glucose normalization, 3) pre-test and 4) post-test. There was no significant difference between carbohydrate supplemented or placebo groups distances. Blood glucose levels increase significantly after carbohydrate intake, however, after test, the blood glucose levels was not different between groups. The high level of athletes and short term of test may be a possible response to our results. The use of carbohydrate gel was unable to improve the performance of athletes. In this way, this strategy is not necessary to short duration tests, because there is an endogen mechanism to blood glucose maintenance. Recebido em 24 de novembro de 2011; aceito em 05 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Jadson Pereira Alves, Av. Carlos Gomes, 1999/01, 90480-005 Porto Alegre RS, E-mail: alvesjpf@ yahoo.com.br Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 O uso de suplementos nutricionais por atletas, objetivando maior rendimento, é um fenômeno que cresce a cada dia [3]. Esta prática se faz necessária, uma vez que o treinamento de alta intensidade, com um período de recuperação limitado, pode resultar em uma redução dos níveis de glicogênio, prejudicando o desempenho e levando a fadiga [4]. O processo da fadiga envolve vários fatores que acabam reduzindo o desempenho durante o exercício [5]. A fadiga é definida como uma falha ou incapacidade de gerar força, estando associada à depleção de substratos energéticos ou acúmulo de metabólitos [6]. No entanto, o rendimento no esporte não está apenas associado à adaptação da dieta, mas também ao uso de suplemento [7]. O suplemento de carboidrato em forma de gel fornece ajuda nutricional eficaz tornando-se mais uma opção para minimizar problemas como portabilidade e digestibilidade, comumente enfrentados durante o treinamento aeróbio de longa distância e na própria competição [8]. O suplemento de carboidrato pode ser benéfico visto que a ingestão desse suplemento durante a prova evita a queda da glicemia, mantendo assim a intensidade do exercício [9]. Para um melhor desempenho físico é indispensável que se mantenham concentrações ótimas de glicose sanguínea, garantindo os processos de produção de energia durante o esforço, evitando a fadiga durante a competição [10]. O monitoramento da resposta glicêmica durante o exercício pode contribuir para uma melhor organização das variáveis intensidade e duração do exercício, auxiliando o treinador ou técnico desportivo, no entendimento das respostas fisiológicas de seus atletas em relação ao volume e intensidade dos treinamentos [11,12]. O objetivo do presente estudo foi avaliar o uso de suplemento de carboidrato em gel sobre a resposta glicêmica de nadadores da categoria máster, durante teste de esforço de natação. Material e métodos Amostra A amostra (n = 9) foi composta por atletas saudáveis, do sexo masculino, com idade entre 25 e 35 anos, praticantes de natação competitiva há pelo menos um ano e que treinavam cinco dias por semana, uma vez por dia. Todos os indivíduos tinham uma boa regularidade nos treinamentos e experiência em competições em nível estadual. Os atletas foram informados detalhadamente sobre os procedimentos do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Medida de glicose sanguínea, suplementação e teste de 12 minutos Os atletas foram orientados a realizar jejum de 8h para o dia do teste. O instrumento para coleta dos valores da glicose sanguínea utilizado no presente estudo foi um aparelho glicosi- 27 mêtro (Glucotrend 2 Accu-Chek; Roche) com leitura dos valores em um tempo de 15 segundos e expressos na unidade de mg/ dL. Foram utilizadas lancetas descartáveis para cada coleta. Após assepsia do dedo indicador direito com álcool 96%, foi utilizada lanceta para obter a amostra de sangue necessária para preencher a tira de teste do glicosímetro. O procedimento para a medida da glicose sanguínea ocorreu em um tempo máximo de 30 segundos. A glicose sanguínea de jejum foi mensurada inicialmente para verificar os valores de base e a homogeneidade da amostra (glicose 1). Em seguida foi entregue o lanche padrão aos atletas (2 bananas) e após 30 min, foi verificada a segunda glicose sanguínea (glicose 2). Foi oferecido aos atletas o suplemento de carboidrato em gel (GU Energy gel, 32g) ou placebo (gelatina diet) 20 minutos antes do teste. Tanto o suplemento de carboidrato em gel quanto o placebo foram diluídos em 250 ml de água e colocados em frascos iguais e sem rótulos. A terceira medida de glicose sanguínea foi realizada imediatamente antes do teste (glicose 3) e imediatamente após o teste (glicose 4). Na semana anterior ao teste, o treinamento foi de caráter regenerativo, de forma que o volume e a intensidade do treino não sofreram modificações na sobrecarga. O estudo foi realizado em piscina semi-olímpica (25 x 12 metros), com temperatura de 27,5 ± 0,5 °C e temperatura ambiente de 15°C. Foi realizado o teste de 12 minutos de natação descrito por Cooper K [13], que consistiu em deslocar-se à máxima distância em 12 minutos em ritmo intenso no estilo crawl. Os atletas foram cegados e randomizados para grupo placebo ou suplemento de gel. Uma semana após o teste, os mesmos atletas participaram novamente do teste, entretanto, aqueles que haviam recebido o placebo, receberam o suplemento de carboidrato em gel, sem o conhecimento de qual substância estava sendo ingerida. Análise estatística Os valores das variáveis estudadas em cada grupo foram expressos em media ± DP. Para a medida de distância de nado entre os grupos foi utilizado o teste t. Para as medidas de glicemia foi utilizada ANOVA de uma via, seguido de teste Post-hoc de Student-Newman-keuls. As diferenças foram consideradas significativas quando apresentavam valores de P < 0,05. O programa GraphPad Prism 4 (GraphPad Software, San Diego, Califórnia, EUA) para Windows, foi utilizado como ferramenta computacional para análise estatística dos dados Resultados Tabela I - Características da amostra. Características Sexo Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) (n = 9 ) M 30 ± 5,8 75 ± 8,9 1,77 Valores expressos em media ± desvio padrão; M, masculino. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 40 20 Discussão Este foi o primeiro estudo a avaliar o desempenho físico e a resposta glicêmica, em atletas de natação da categoria máster, submetidos ao teste de 12 minutos adaptado para natação, utilizando suplementação de carboidrato em gel. Figura 2 - Distâncias obtidas no teste de 12 minutos. Distância (metros) 1000 800 600 400 200 0 Suplemento Placebo Valores expressos em media ± DP; Teste t para comparação das médias em relação a distância percorrida durante o teste de 12 minutos. 4P lic 4S G lic G lic 3S G lic lic G lic G do teste de 12 minutos, entre o grupo placebo e o grupo suplemento (Figura 2). Os valores de glicose sanguínea, medida após jejum de 8h (glicose 1; Figura 3), foi similar entre os grupos. No entanto, a glicemia medida 30 minutos pós-lanche (glicose 2), aumentou significativamente quando comparada a glicemia de jejum, em ambos os grupos (p < 0,05) (figura 3). Após 20 minutos da ingestão do suplemento de carboidrato em gel ou placebo, foi observado aumento na glicemia (glicose 3) do grupo suplemento, mas não no grupo placebo (figura 3). Esse aumento foi significativo inclusive em relação à medida de glicose 2 de ambos os grupos (p < 0,01). Ao final do teste de 12 minutos não houve diferença nos valores de glicose sanguínea (glicose 4) entre os grupos placebo e suplemento. Entretanto, quando comparados os valores de glicose pré-teste (glicose 3) e pós-teste (glicose 4) do grupo placebo, foi observado um aumento significativo e bastante expressivo na glicemia ao final do teste (p < 0,001) (Figura 3). 3P 0 2P T4 60 G T3 80 lic T2 Teste 12 minutos * 100 1S T1 20 minutos * 120 2S 30 minutos = 140 G 8h/Glicêmia 8:30/Glicêmia 8:50/Glicêmia 9:12/Glicêmia /Lanche Gel ou Placebo # lic Não houve diferença entre as distâncias obtidas ao final 160 1P Figura 1 - Coletas e intervenções dietéticas. Figura 3 - Valores de glicose sanguínea dos grupos placebo e suplemento. G Os testes foram aplicados com a diferença de uma semana, não havendo intercorrências durante o período entre testes, nem durante a execução do experimento. Os testes foram realizados de maneira idêntica, respeitando os tempos de coleta de sangue e intervenções dietéticas, como apresentado abaixo na Figura 1. Glicemia (mg/dL) 28 Valores expressos em media ± DP. Grupo suplemento tempos 1, 2, 3 e 4; Grupo placebo tempos 1, 2, 3 e 4. * p<0,05 vs glic 1 S e glic 1 P. # p < 0,01 vs glic 2 S; glic 2 P e glic 3 P. = p < 0,001 vs glic 3 P. ANOVA de uma via. Na literatura podem ser encontrados dados que sugerem a ingestão de suplemento à base de carboidrato, como bebidas esportivas, géis ou outras formas de alimento. Esta prática é utilizada no intuito de evitar a queda da glicemia durante o esforço, mantendo a intensidade e duração do exercício, preservando, assim o glicogênio hepático. Esta estratégia parece ser interessante, uma vez que, o treinamento de alta intensidade e longa duração pode resultar na redução dos níveis das reservas de glicogênio, prejudicando o desempenho e, consequentemente, levando a um quadro de fadiga [9,10]. Os achados do presente estudo revelam que o consumo prévio de carboidrato em gel, 20 minutos antes do teste físico de alta intensidade e curta duração (12 minutos), não melhora o desempenho dos atletas quando comparado com o uso da substância placebo. Este resultado pode ter uma relação direta com o nível de treinamento dos atletas e tempo de duração do teste, uma vez que os mesmos estão adaptados a treinamentos de alta intensidade e maior duração. Tais fatores podem ter levado a uma menor utilização do carboidrato ingerido, uma vez que a captação de glicose pelos músculos e a glicogenólise aumentam proporcionalmente com a intensidade e duração do esforço [14,15]. A glicose sanguínea, após os 20 minutos do consumo de carboidrato gel, elevou-se significativamente quando comparado com o placebo (figura 3), evidenciando assim, a eficiência do produto para este fim. O mesmo também foi verificado no estudo de Febbraio et al. [16], no qual foi encontrado um aumento na glicose plasmática após consumo da bebida de carboidrato nos 10, 20 e 30 minutos após ingestão, concordando também com o estudo de Sapata, Fahy e Oliveira [17], que também observou um aumento da glicemia pós consumo da bebida com carboidrato quando comparado com a bebida placebo. Os níveis de glicose sanguínea pós-teste não sofreram alterações significativas com o uso do carboidrato gel quando Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 comparado com o placebo. Uma possível explicação para este resultado pode estar relacionada ao tempo de duração do teste (12 minutos), que pareceu não ter sido suficientemente longo a ponto de se fazer necessária a utilização de suplemento de carboidrato. O estudo realizado por Peake et al. [18] mostrou concentrações de glicose plasmática mais alta ao final do teste, com o uso do carboidrato, quando comparado à substância placebo. Estes resultados foram encontrados na modalidade de ciclismo e com tempo superior a 12 min de duração, o que nos leva a pensar que a duração da atividade proposta em nosso estudo talvez não tenha sido suficiente para alterar significativamente a resposta glicêmica. Assim, testes, com um período de tempo maior, parecem ser mais adequados para mostrar a eficiência do uso do suplemento de carboidrato em nadadores. Esta observação parece ser relevante, uma vez que estudos com o uso de suplemento em forma de gel, em nadadores, são escassos na literatura até o presente momento. O efeito do uso de carboidrato em gel, em relação à melhora do desempenho não está bem claro na literatura [8]. Menos ainda se sabe em relação à natação, pois a grande maioria dos estudos usa suplementação de carboidratos na forma de bebidas esportivas utilizando outros ergômetros. Entre os poucos estudos que utilizaram o carboidrato em gel para avaliar sua contribuição no desempenho físico, está o estudo de Kern, Helsin e Rezende [19], que comparou o uso de gel vs uva passa em indivíduos submetidos a teste em cicloergômetro. Ainda, o estudo de Patterson e Gray [20] comparou o efeito do consumo de carboidrato em gel ou substância placebo em um protocolo usando corrida intermitente. Um achado interessante neste estudo foi a comparação da glicose 3 do grupo placebo com a glicose 4 do mesmo grupo, em que os níveis elevaram-se significativamente no final do teste de 12 min. Esta reposta pode ser explicada por um possível mecanismo do sistema endócrino, uma vez que, para evitar a hipoglicemia durante o exercício físico, em um primeiro momento, ocorre um ajuste mediado pela diminuição da insulina e paralelamente um aumento dos hormônios hiperglicemiantes, glucagon, catecolaminas, hormônio do crescimento e cortisol. Este mecanismo pode contribuir de forma positiva para a manutenção do exercício, entretanto por um período limitado [21-23]. Conclusão O presente estudo demonstrou que o consumo de carboidrato na forma de gel 20 minutos, antes da prática do teste de 12 min de natação, não melhorou o desempenho dos atletas, embora tenha sido efetivo no aumento da glicemia. Este tipo de suplementação parece não se fazer necessário para a realização de testes de curta duração em atletas bem treinados. Referências 1. Meti RSG. Impact of nutrition intervention programme on performance of High School Kabaddi Players. J Hum Ecol 2007;22(4):337-44. 29 2. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 30 Artigo original Treinamento aeróbico em cicloergômetro adaptado para pacientes lesados medulares Aerobic training on adapted cycle ergometer for paraplegic patients by spinal cord injury Simone Suzuki Woellner*, Antonio Vinicius Soares, M.Sc.**, Anna Maria Engel***, Paulo Guilherme Lenz****, Bruna Zimmermann***** *Especialista em Fisioterapia Neurológica e Supervisora do Estágio de Neurologia Adulto da Faculdade Guilherme Guimbala, **Especialista em Cinesioterapia Neuro-sensório-motora, Professor de Anatomia, Neuroanatomia, Cinesiologia e Neurologia da Faculdade Guilherme Guimbala e IELUSC, ***Graduando em Fisioterapia, ****Graduando em Fisioterapia e Educação Física, *****Graduando em Fisioterapia Resumo Introdução: A inatividade pós-traumatismo raquimedular (TRM) reduz consideravelmente a massa muscular e a capacidade aeróbica dos indivíduos, resultando em fadiga e aumento da prevalência de doenças associadas. Objetivo: Avaliar os efeitos da cicloergometria em lesados medulares por TRM. Métodos: Pesquisa quase-experimental, tipo séries de tempo, com 3 pré e 3 pós-testes em dias alternados. Participaram do estudo dois indivíduos, um paraplégico, nível neurológico T11, e outro paraparético, nível neurológico T6. Foram utilizados o protocolo da ASIA, Dinamômetro de Preensão Manual (DPM), Manovacuometro Digital (MVD) com medidas de pressão inspiratória máxima e pressão expiratória máxima, e o Perfil de Saúde de Nottingham (PSN). Para o treinamento aeróbio foi utilizado um cicloergômetro para os quatro membros (Ciclomaster Embreex®). O programa de treinamento teve frequência de 2 vezes por semana durante 10 semanas (± 15 sessões). Resultados: Dos resultados encontrados neste estudo, houve uma significativa melhora nas medidas de PEmáx, no sujeito 1 foi de 43,7% (p < 0,01) e 12,6% (p < 0,05) no sujeito 2, e na análise do Teste do Pêndulo do sujeito 2 também observou-se redução significativa da espasticidade. Conclusão: Estes resultados iniciais devem estimular novas pesquisas com amostras maiores e grupo controle para ampliar o conhecimento dos potenciais benefícios deste recurso terapêutico. Abstract Introduction: The inactivity in spinal cord injury (SCI) significantly reduces the muscle mass and aerobic capacity, resulting in fatigue and increased prevalence of associated diseases. Objective: To evaluate the effects of cycle ergometer for SCI patients. Methods: Quasi-experimental research, time series design, with 3 pre and post test in alternate days. The study was composed of 2 individuals, a paraplegic, neurological level T11, and another paraparetic, neurological level T6. The ASIA protocol, the Dynamometer handgrip, the Digital Manometer with measures of maximal inspiratory pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP), and the Nottingham Health Profile were used. For aerobic training cycle was used for the four members (Ciclomaster Embreex®). The training program was 2 times per week during 10 weeks (± 15 sessions). Results: The results showed significant improvement in measures of MEP, in subject 1 was 43.7% (p < 0.01) and 12.6% (p < 0.05) in subject 2, the analysis of the Pendulum Test Subject 2 also showed reducing in spasticity. There were no significant changes in other measures assessed. Conclusion: These initial results should stimulate further research with larger samples and control group to broaden the knowledge of the potential benefits of this therapeutic resource. Key-words: spinal cord injury, paraplegia, aerobic training. Palavras-chave: traumatismo raqui medular, paraplegia, treino aeróbico. Recebido 1 de novembro de 2011; aceito em 12 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Simone Suzuki Woellner, Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação, Faculdade de Fisioterapia da Associação Catarinense de Ensino – ACE, Rua São José, 490, Anita Garibaldi, 89202-010 Joinville SC, E-mail: simones.woellner@ gmail.com Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O traumatismo raquimedular (TRM) é caracterizado como injúria à rede neural medular, danificando a condução de impulsos nervosos sensório-motores e a regulação orgânica autônoma. Está entre as síndromes que acarretam as mais graves incapacidades ao ser humano, causando de forma abrupta déficits de locomoção, sensibilidade e funções autonômicas. As lesões traumáticas da medula espinhal (ME) vêm aumentando a cada ano, e prevalecem sobre população jovem, hígida e ativa, trazendo transtornos em diversos aspectos para o indivíduo e sua família [1,2]. As lesões traumáticas da ME causam uma lesão primária, que ocorre por destruição mecânica do tecido neural e hemorragia intramedular, e uma lesão secundária, a qual leva a alterações químicas intracelulares e apoptose. Entre 30 a 60 minutos após o trauma o indivíduo entra em fase de choque medular, caracterizado por paralisia flácida, portanto toda atividade reflexa abaixo do nível da lesão permanece ausente [1,3,4]. O TRM pode gerar uma lesão completa ou incompleta na ME. Nas lesões completas as funções motoras e sensitivas estão completamente extintas abaixo do nível neurológico da lesão, nos níveis sacrais inferiores S4 e S5. Em lesões incompletas é possível obter funções motoras e sensitivas nos segmentos sacrais, abaixo do nível da lesão [1-3]. Após o trauma a inatividade leva a redução da massa muscular e da capacidade de realização de atividades aeróbicas, resultando em fadiga, aumentando a prevalência de Diabetes Mellitus, doenças cardiovasculares, disfunções renais, osteopenia e posteriormente osteoporose, acarretando em considerável redução da expectativa de vida dos indivíduos [1,5-8]. Durante o treinamento aeróbico quanto maior a massa muscular trabalhada maiores os benefícios como melhora da força muscular e resistência à fadiga, independência nas atividades de vida diária (AVD’s), diminuição da depressão e do isolamento social. As adaptações fisiológicas ao treinamento aeróbico podem ser tanto centrais incluindo aspectos respiratórios, cardíacos e hemodinâmicos, quanto periféricos como melhora do aporte sanguíneo local e aumento da extração de oxigênio [1,9-11]. O treinamento aeróbico com exercícios resistidos causa aumento no consumo máximo de oxigênio, induzindo a bradicardia e aumentando a capacidade física ao esforço. Influencia também na melhora da FC, débito cardíaco, volume sistólico, e aumento da capacidade respiratória, resultando em melhor distribuição de oxigênio a musculatura [12]. A prescrição de treinamentos aeróbicos eficazes e seguros baseia-se em 3 princípios, tanto para portadores de deficiências quanto para não portadores, sendo eles: frequência, duração e intensidade do treino. O ideal fica entre 2 e 3 sessões semanais já que o treino com membros superiores gera maior acúmulo de toxinas necessitando de 24h para serem absorvidas e indivíduos paraplégicos têm maior facilidade para fadigarem [1,13-16]. 31 Na lesão medular torácica baixa os indivíduos apresentam comprometimento respiratório pela redução da reserva expiratória [1], devido ao déficit muscular abdominal, sendo as complicações respiratórias uma das maiores causas de morte e morbidade no TRM [17]. Músculos fortes e bem condicionados necessitam menor quantidade de oxigênio para realização de trabalho, sendo mais eficazes quando comparados à musculatura mal condicionada [18]. Sabe-se que paraplégicos não obtêm, somente com a propulsão da cadeira de rodas e AVD’s, atividade física suficiente para prevenir a perda de força muscular dos membros superiores (MMSS), resultando em rápida fadiga localizada [19], e não incrementa índices de taxa cardíaca em extensão apropriada [7]. O treinamento de MMSS é capaz de reverter o descondicionamento muscular, mas traz apenas benefícios periféricos para a musculatura envolvida, ao contrário da ergometria que envolve MMSS e MMII, capaz de produzir efeitos cardiopulmonares centrais [9]. Atualmente é escassa a pesquisa na área da saúde com relação a atividades aeróbicas na paraplegia, visto que a maioria dos treinos aeróbicos utiliza enfaticamente membros inferiores, o que impossibilita indivíduos que sofreram TRM de se beneficiarem dos resultados obtidos com o treinamento aeróbico. Portanto a presente pesquisa visa avaliar resultados obtidos através do treino aeróbico em cicloergômetro adaptado para pacientes paraplégicos por TRM. Material e métodos A presente pesquisa caracteriza-se como quase experimental tipo séries de tempo, composta por 15 sessões de treinamento, com 2 sessões semanais. A amostra foi composta por 2 sujeitos do sexo masculino, sendo o sujeito 1 com lesão completa, paraplégico nível neurológico T11, e o sujeito 2, com lesão incompleta, paraparético nível neurológico T6, sem restrição de idade. Como parâmetro de análise os sujeitos foram submetidos a 3 pré e 3 pós-testes na semana anterior e posterior aos treinos, em dias alternados. Para os testes foram utilizados os seguintes instrumentos: ASIA (exame neurológico que consiste em exames sensoriais e motores, utilizados para determinar os níveis neurológicos, assim como a extensão da lesão medular), Dinamômetro de preensão manual (teste que avalia a força de preensão manual que consiste em um dinamômetro no qual é exercida uma força isométrica de preensão através da mão), Manovacuômetro digital (MVD 300, Global Med®, que permite a mensuração da PEmáx, PImax, realizando 3 medidas com intervalo de 30 segundos), Perfil de Saúde de Nottingham (PSN, fornece uma medida simples da saúde física, social e emocional do indivíduo) e Teste do Pêndulo (utilizado para mensurar o tônus do músculo quadríceps), mensuração da pressão arterial (PA), frequência cardíaca (FC) e saturação de oxigênio, e cálculo da frequência cardíaca máxima (FCmáx) [1,20-24]. A frequência cardíaca máxima é utilizada como determinante da intensidade do exercício, mensurada através do Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 32 cálculo: 220 menos a idade do indivíduo em anos. Sabendo que a FCmáx é consideravelmente mais baixa em exercícios realizados com membros superiores recomenda-se subtrair 13 bpm da FCmáx prevista para a idade, tendo assim maior precisão do limiar da FCmáx [12]. Para o treinamento foi utilizado um cicloergômetro adaptado para membros superiores e membros inferiores (Ciclomaster, modelo 603, fabricante Embreex®), que possui um sistema de transmissão entre as manivelas e os pedais e possibilita mobilização simultânea para os quatro membros. Baseado em Greve et al. [1], e Balady [14], os treinamentos no cicloergômetro adaptado iniciaram com 5 minutos de aquecimento, sem carga, com velocidade de 55 rpm, seguindo para o início do treino aeróbico no qual a cada 5 minutos foram feitos incrementos de carga, com velocidade mantida constantemente a 55 rpm. Monitorando durante todo o treinamento a FC e a Escala de Esforço Percebido de Borg, conforme recomenda Borg [11]. Os critérios de interrupção do treino foram frequência cardíaca correspondente a 90% da frequência cardíaca máxima do paciente, se esforço percebido pela escala de Borg fosse maior ou igual a 6, náuseas, tonturas, alteração súbita da frequência cardíaca, palidez, cianose, dor ou a pedido do paciente. Após a interrupção do treino aeróbico, inicia-se a volta a calma com duração de 5 minutos sem carga e com velocidade decrescente, segundo sugerido por Greve et al. [1]. As mensurações de PA, FC e saturação de oxigênio foram feitas em repouso ao início e ao término dos treinos [1,11,14,15,24]. Após a coleta final, os dados foram analisados pela estatística descritiva e submetidos à média, desvio padrão, diferença percentual e para estabelecer o nível de significância foi utilizado o teste “t” Student (p ≤ 0,05). Resultados e discussão Nos gráficos abaixo estão expressos os resultados obtidos nos pré e pós-testes relativos à pressão expiratória de pico e teste do pêndulo. A partir da análise estatística dos dados submetidos à média, desvio padrão, diferença percentual e teste “t” Student foi possível verificar que não houve alteração significativa na PImax; na PEmáx houve melhora significativa de 43,7% (p < 0,01) no sujeito 1 e 12,6% (p < 0,05) no sujeito 2, conforme Gráficos 1 e 2. Gráfico 1 - Manovacuometria PEmáx, Sujeito 1. Manovacuometria (PEmax) Teste 1 75 81 73 86 80 80 1º dia 2º dia Teste 2 133 152 121 92 91 3º dia Teste 3 153 1º dia Pré-teste (PE max) 114 112 128 2º dia 111 95 121 3º dia Pós-teste (PE max) Sujeito 1 Gráfico 2 - Manovacuometria PEmáx, Sujeito 2. Manovacuometria (PEmax) Teste 1 Teste 2 70 69 60 78 77 62 91 1º dia 2º dia 3º dia Teste 3 90 77 89 90 75 77 85 75 82 1º dia 2º dia 3º dia 77 73 Pré-teste (PE max) Pós-teste (PE max) Sujeito 2 A melhora das pressões inspiratória e expiratória está relacionada com um aumento da capacidade respiratória. Van Der Ersch [25], em um estudo com pacientes com espondilite anquilosante, ressalta que as pressões expiratória e inspiratória estão significativamente relacionadas com aptidão física. Diversos estudos têm demonstrado os efeitos positivos do treinamento físico de MMSS na melhora da aptidão cardiorrespiratória. Através do treinamento aeróbio de MMSS, Silva et al. [26] encontraram incrementos de resistência à fadiga da musculatura respiratória em indivíduos com lesão medular torácica. Já Liaw et al. [27] obtiveram melhora significativa da PEmáx e PImax após 6 semanas de treinamento específico da musculatura respiratórias em pacientes com TRM cervical completo. Soares et al. [24], em um estudo com 1 paciente paraplégico treinado no cicloergômetro adaptado durante 6 semanas, com 3 sessões semanais, verificaram que a pressão inspiratória apresentou um aumento estatisticamente significativo, enquanto a PEmáx também apresentou aumento, porém não foi significativo. A endurance da PImax e PEmáx também apresentaram aumento, indicando um incremento da resistência à fadiga da musculatura respiratória. De acordo com Mateus et al. [28], indivíduos paraplégicos podem apresentar comprometimentos das pressões inspiratória e expiratória, principalmente os indivíduos com lesões mais altas, podendo ser normal em indivíduos com lesões baixas, causando um comprometimento adicional da aptidão física. No presente estudo, os sujeitos 1 e 2, com lesão medular torácica, obtiveram expressiva melhora da capacidade respiratória, representada pelo incremento da PEmáx. Resultado obtido pelo treinamento aeróbio de MMSS e MMII, comprovando os benefícios cardiorrespiratórios provenientes da cicloergometria. Os sujeitos participantes do presente estudo, porém, não apresentaram alterações na pressão inspiratória máxima. Da mesma forma, Godoy et al. [29] não encontraram alterações estatisticamente significativas na pressão inspiratória máxima de indivíduos após 3 meses de prática de ioga ou exercícios aeróbicos, com 2 sessões semanais, porém os praticantes de ioga obtiveram aumentos mais expressivos na Pimax quando comparados aos praticantes de ginástica aeróbica, o que pode- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 ria ser explicado pelo treinamento específico da musculatura inspiratória durante as sessões de ioga. Kunikoshita et al. [30] observaram alterações relevantes nas Pimax e PEmáx em um grupo de pacientes com DPOC que foram submetidos a sessões de treinamento de força da musculatura respiratória, em comparação com pacientes com DPOC submetidos a treinamento físico em esteira móvel, sugerindo que o treinamento específico da musculatura respiratória traz mais benefícios relacionados a estas variáveis. Em um estudo realizado por Moro et al. [31], 6 sujeitos paraplégicos realizaram um programa de treino com ergômetro de cadeira de rodas durante 6 semanas, 3 vezes por semana durante 30 minutos com carga do aumentando em 5W a cada dois minutos até à exaustão. Após o treino, verificou-se um aumento do volume pulmonar com diminuição do consumo de oxigênio o que traduz um aumento de eficácia ventilatória. Dicarlo apud Nascimento [7] realizou estudos com cicloergômetro de MMSS para treinos resistidos e observou aumento do consumo de volume de oxigênio máximo, induzindo a bradicardia, e a resistência à fadiga durante a propulsão da cadeira de rodas e AVD’s. Cardoso et al. [32] compararam parâmetros cardiovasculares e da capacidade entre um indivíduo paraplégico e outro tetraplégico praticantes de atividade aeróbica. Após duas semanas de treinamento foi observado melhora do lactato em repouso, o que demonstra melhora da endurance, no paraplégico houve diminuição da FC e da estimativa de trabalho do miocárdio em repouso, indicando incremento da capacidade cardiovascular central. Em concordância com este estudo Devillard et al. [33] reportaram melhorias na ventilação por minuto e na capacidade respiratória em sujeitos com lesões cervicais incompletas após implementação de programa de exercícios, demonstrando assim redução da fadiga durante AVD’s. Lonsdorfer et al. apud Bougenot et al. [34] afirmam que é possível observar hipertrofia das fibras lentas com um aumento do número de capilares ao redor das fibras, bem como o aumento do número e tamanho das mitocôndrias, com a realização de exercício. Segundo Miles [35], estudos feitos com indivíduos com limitação motora de MMII demonstraram que treinamento físico aeróbico de MMSS realizado por várias semanas aumenta a potência muscular. Haddad [36] ressalta ainda que a melhora qualitativa e quantitativa da capacidade cardiorrespiratória que ocorre através do treino com MMSS é a mesma obtida através do treino com MMII, encorajando o uso esta terapêutica em indivíduos que apresentam limitações de MMII. Ao analisar o Teste do Pêndulo o sujeito 1 apresentou diminuição no número de oscilações, no sujeito 2 foi verificada melhora em 30,3% em membro inferior direito e 40,3% em membro inferior esquerdo, demonstrado pelo aumento do número de oscilações da perna resultante da diminuição da espasticidade [22], conforme os Gráficos 3 e 4. 33 Gráfico 3 - Teste do Pêndulo, Sujeito 1. Teste do Pêndulo Teste 1 10 11 Teste 2 10 9 9 8 8 8 Teste 3 9 6 Pré-teste (MIE) Pós-teste (MIE) Pré-teste (MID) 6 6 Pós-teste (MID) Gráfico 4 - Teste do Pêndulo, Sujeito 2. Teste do Pêndulo Teste 1 Teste 2 Teste 3 6 5 4 3 3 2 0 0 0 Pré-teste (MIE) 0 0 Pós-teste (MIE) 0 Pré-teste (MID) Pós-teste (MID) Conforme Pandyan et al. [37], a espasticidade é uma desordem no controle sensório-motor, resultante de uma lesão do neurônio motor superior, apresentando ativação muscular involuntária intermitente ou sustentada. Segundo Haas [38], a quantificação do grau de espasticidade continua sendo um problema de difícil solução, pelo fato de ser influenciada por fatores como ansiedade, depressão, fadiga e/ou temperatura ambiental. Em estudo comparativo Teixeira-Salmela [22], constatou que resultados obtidos entre 6 e 7 oscilações observadas durante o Teste do Pêndulo caracterizam normotonia. Apesar de a diminuição do número de oscilações verificado no Teste do Pêndulo do sujeito 1, provavelmente não se deve pelo treinamento no cicloergômetro, levando em conta as alterações psicológicas e climáticas ocorridas durante a pesquisa. Além disso, os valores obtidos no pós-teste correspondem à normalidade segundo Teixeira-Salmela [22]. Segundo Vodovnik et al. apud Minutoli [39], um teste de movimento passivo acima de 7 repetições em sujeitos com lesão medular apresentando hipertonia espástica, pode induzir o aparecimento de uma condição hipotônica, denominada acomodação, o que sugere que os indivíduos espásticos menos severos apresentem diferenças no comportamento da espasticidade. Franzoi et al. [40] relataram que o reflexo de estiramento é afetado no movimento passivo e na repetição. Para este autor, a provável redução do reflexo de estiramento é devido à fadiga por inúmeras repetições. As repetições e velocidade provocam acomodação nos músculos espásticos, ou seja, resulta na alteração da resistência ao estiramento, e 34 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 uma esperada menor capacidade de produzir tensão muscular com a estimulação repetida. Em estudo dos efeitos da mobilização passiva cíclica sobre a espasticidade, por Soares et al. [41] com um paciente paraplégico por TRM, foi notável o aumento do número de oscilações no teste do pêndulo, o que representa uma redução na espasticidade dos membros inferiores. O aumento no número de oscilações foi de 81,9% no direito e de 80,0% no esquerdo. Porém os efeitos da mobilização passiva cíclica foram somente agudos, enquanto no presente estudo observou-se aumento do número de oscilações após vários dias a partir do fim do treinamento. O sujeito 2, que apresentava lesão incompleta, apresentou melhor resultado em comparação com o sujeito 1, sugerindo um melhor benefício em pacientes paraparéticos, em relação a espasticidade. Schmidt et al. [42] ressaltam que a redução da espasticidade durante o movimento repetitivo pode ser devido a 3 fatores: mudanças mecânicas nos tecidos (modificação das propriedades de diversos tecidos, tanto musculares quanto articulares), adaptação do reflexo de estiramento e mecanismos centrais neurais (habituação do reflexo de estiramento). Ao concluir esta pesquisa não houve alteração significativa na percepção da qualidade de vida, avaliada através do PSN. Em contrapartida Antonietti et al. [43] observaram maiores resultados dos desportistas comparados aos sedentários com lesão medular, nos aspectos físicos, psicológicos e de relações pessoais, traduzindo em melhor qualidade de vida no grupo desportista. Salvador e Tarnhovi [44] fizeram estudo comparativo entre pacientes TRM praticantes e não praticantes de atividade física, demonstrando que os praticantes apresentam capacidade funcional média de 85% comparado aos sedentários, em atividades físicas diárias apresentam média de 100% melhor, e 88% a mais de atividades sociais comparados a 45% dos não praticantes. Em relação à força de preensão manual, não foram observadas alterações significativas. Uma das limitações do estudo foi a ausência de um dinamômetro para verificação de outros grupos musculares. Conclusão Os resultados obtidos na pesquisa salientam que houve benefícios na amostra estudada, devido ao aumento da PEmáx, diminuição da espasticidade, além dos benefícios cardiorrespiratórios, e incremento na musculatura respiratória, verificados pela PEmáx. A espasticidade em MMII também apresentou melhora de acordo com o teste do Pêndulo, evidenciando benefícios principalmente ao sujeito 2, o qual relatou diminuição da rigidez dos MMII e suspensão do uso de medicamentos para espasticidade. A partir destes resultados, evidencia-se a importância da manutenção da técnica terapêutica através do treinamento aeróbico no TRM, visto que a interrupção das atividades poderá acarretar, em longo prazo, a perda dos benefícios obtidos com os treinamentos em cicloergometria. Sem dúvidas é interessante a participação contínua e aperfeiçoada das atividades aeróbicas para MMSS e MMII. Sugerimos a aplicação em amostra maior, e também maior número de pacientes com TRM incompleto, uma vez que ocorreu grande diminuição da espasticidade de MMII do sujeito 2. O uso da dinamometria em MMII seria outro fator importante para observar resultados mais concretos, e também em outros grandes grupos musculares também de MMSS, para verificar a extensão da melhora da força. Sugere-se ainda verificar nos pacientes com TRM incompleto outras variáveis, já que estes pacientes apresentam diferentes aspectos físicos e sensório-motores quando comparados ao TRM completo, podendo utilizar parâmetros de análise como a velocidade da marcha, mobilidade funcional e força de MMII. Referências 1. Greve JMD, Casalis MEP, Barros Filho TEP. Diagnóstico e tratamento da lesão da medula espinhal. São Paulo: Roca; 2001. 2. Umphred DA. Reabilitação neurológica. 4ª ed. São Paulo: Manole; 2004. 3. Lundy-Ekman L. Neurociência: fundamentos para reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 4. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 36 Artigo original Efeito de diferentes intervalos entre séries, determinados pela relação esforço-recuperação, no desempenho da força Effect of different intervals between sets, determined by the effortrecovery relationship, on the strength performance Diego de Almeida*, Lenifran Santos**, Renato Massaferri**, Tainah Lima*, Walace Monteiro** *Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Programa de Pós-graduação em Ciências da Atividade Física. Universidade Salgado de Oliveira (PPGCAF/UNIVERSO) Resumo O objetivo do presente estudo foi investigar o efeito de diferentes intervalos determinados pelas relações esforço-recuperação no desempenho da força de homens treinados. A amostra foi composta por 15 homens (23,2 ± 2,9 anos) experientes no treinamento de força. Os indivíduos realizaram 4 séries no exercício supino reto, até a fadiga e a 80% de 1 RM, nas relações esforço-recuperação: 1:4, 1:4 (S1); 1:4:6:8; 1:8, conduzidos em dias separados. Isoladamente, todos os intervalos denotaram diferenças significativas nos volumes de treinamento da primeira para as demais séries. Intervalos baseados na relação esforço-recuperação 1:4 mostraram-se menos eficientes na recuperação entre séries múltiplas no treinamento de força, quando comparados aos intervalos progressivo e de relação 1:8. Por fim, os intervalos progressivo e 1:8 exibiram volumes semelhantes de trabalho, contudo, maior que os demais. Concluindo, o intervalo progressivo deve ser preferido aos demais por proporcionar maior volume de treinamento, considerando o somatório em todas as séries. Abstract The aim of this study was to investigate the effect of different relations effort-recovery performance of the force of trained men. The sample consisted of 15 men (23.2 ± 2.9 years) experienced in strength training. The subjects performed four sets in the bench press exercise, until fatigue and 80% of 1RM, in relations effort-recovery: 1:4, 1:4 (S1), 1:4:6:8, 1:8, conducted in separate days. In isolation, all intervals denote significant differences in the volumes of the first training for the other series. Intervals based on the ratio 1:4 effort-recovery were less efficient in recovery between multiple sets in strength training, intervals when compared to the progressive ratio 1:8. Finally, the progressive and 1:8 intervals exhibited similar volumes of work, however, greater than the others. In conclusion, the progressive interval should be preferred to others by providing greater training volume, considering the sum of all sets. Key-words: effort-recovery ratio, intervals between sets, strength training, multiple sets. Palavras-chave: relação esforço-recuperação, intervalo entre séries, treinamento de força, séries múltiplas. Recebido 13 de dezembro de 2011; aceito em 13 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Walace Monteiro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, 8º andar, sala 8121, bloco F, 0550-900 Rio de Janeiro, RJ, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O treinamento de força tem sido recomendado como parte integrante de um programa de exercícios direcionado à promoção da saúde [1-3]. Para que seja eficaz, as diferentes variáveis de prescrição do treinamento devem ser trabalhadas de forma adequada. Partindo dessa ideia, é possível que a adoção da relação esforço-recuperação seja uma estratégia interessante para determinar os intervalos entre as séries. Com relação a esse aspecto, geralmente são adotados intervalos fixos entre séries e exercícios [4,5]. Todavia, dois indivíduos podem realizar o mesmo número de repetições máximas com uma mesma carga relativa (% 1RM) em esforços com distintas durações. Nesse caso, o sistema energético e o acúmulo de metabólitos pode se diferenciar, afetando de forma distinta a sustentabilidade das repetições no exercício ao se considerar o número total de séries [4,6-8]. Para evitar à fadiga, os intervalos devem propiciar uma recuperação ótima, na qual haja restauração de ATP, CP, bem como a remoção de metabólitos suficientes à realização de um novo estímulo, semelhante ou até de maior magnitude ao anterior [4]. Nesse sentido, estratégias que individualizam o treinamento podem ser eficazes quando o objetivo da prescrição recai na sustentabilidade das repetições com o decorrer das séries. Logo, a adoção de intervalos proporcionais ao tempo de execução entre séries poderiam favorecer um menor decréscimo das repetições, sustentando um maior volume de treinamento [9]. Muito embora intervalos de recuperação curtos imponham maior estresse metabólico à atividade, intervalos de longa duração também podem provocar adaptações, ainda que não significativas [10]. O problema na determinação dos intervalos entre séries reside na aplicação do tempo ótimo de intervalo para que a maior sobrecarga seja aplicada com o maior rendimento em todas as séries. Stone e Conley [11] sugerem a relação de 1:3 a 1:5 para esforços com duração entre 20 e 30 segundos. Isso implica dizer que o período de descanso seria 3 a 5 vezes maior que o período de esforço. Em termos absolutos, essa relação determina um tempo de recuperação, compreendido de 1 a 2 minutos. Tais valores condizem com a literatura, pois diversos autores recomendam essa faixa de intervalo de recuperação a ser adotado entre as séries, quando a prescrição recai, por exemplo, nos ganhos de força e hipertrofia [3,5,7]. Apesar disso, deve-se atentar para o efeito cumulativo das séries sobre a fadiga, principalmente ao considerarmos o número de exercícios por grupamento muscular e, especialmente, o número total de séries por exercício [12]. Geralmente observamos maior dificuldade ao realizar a última série de um exercício, quando comparada às anteriores, já que, gradativamente, os substratos energéticos são depletados, assim como há maior acúmulo de subprodutos com o decorrer das séries [6,10]. De fato, a literatura tem apontado diversas faixas de intervalo de recuperação entre séries e exercícios [2,3,5,13], sem, 37 no entanto, considerar aspectos como o efeito cumulativo da fadiga ao longo das séries e os diferentes tempos de tensão muscular adotados para realização de diferentes exercícios. É possível que em exercícios com tempos de execução diferenciados, o intervalo de recuperação entre as séries possa diferenciar-se. Com base nesse princípio, hipotetizamos que a aplicação de intervalos entre séries, determinados em função da relação esforço recuperação, possa minimizar a fadiga durante a realização de séries múltiplas no treinamento de força. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo investigar o efeito de diferentes relações esforço-recuperação no desempenho da força de homens treinados, no exercício supino reto realizado com séries múltiplas. Material e métodos Amostra Participaram do estudo 15 homens com idades entre 20 e 29 anos (23,2 ± 2,9 anos), massa corporal entre 70 e 91 kg (80,8 ± 5,6 kg) e estatura entre 171 e 184 cm (178,06 ± 3,57 cm), com experiência mínima de um ano em treinamento de força. Todos praticavam treinamento de força no mínimo três vezes por semana. Antes da coleta de dados, os voluntários responderam ao questionário PAR-Q e assinaram um termo de consentimento pós-informado, conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Com isso, foram determinados os seguintes critérios de exclusão: a) ocorrência de problemas osteomioarticulares, os quais pudessem influenciar a realização dos exercícios propostos; b) realização de atividade física extenuante nas últimas 24 horas antecedentes às intervenções; c) utilização de substâncias ergogênicas atuantes sobre o sistema muscular e cardiovascular; d) apresentação de PAR-Q negativo. Coleta de dados A coleta de dados foi efetuada em seis dias com intervalo de no mínimo 48 horas. No primeiro dia foi aplicada uma anamnese, destinada à identificação das atividades físicas realizadas pelos indivíduos, além de um teste de carga máxima (1 RM). No segundo dia, repetiu-se o teste de 1 RM a fim de verificar a reprodutibilidade da carga no exercício proposto. Nos quatro dias restantes, foram aplicadas sessões de treinamento, com intervalos entre séries adotando-se diferentes relações esforço-recuperação. Teste de 1 RM Anteriormente à realização dos testes de repetição máxima, foi aplicado um aquecimento que obedeceu a seguinte metodologia: inicialmente, foram realizados movimentos articulares sem adição de carga. Para tanto, executaram-se 15 movimentos de flexão e extensão vertical do ombro, 15 38 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 movimentos de flexão e extensão horizontal do ombro, 15 movimentos de circundução do ombro. Na sequência, foi conduzida uma parte específica no exercício selecionado. Para tanto, realizaram-se 15 repetições submáximas com cargas estabelecidas pelos praticantes. Após o aquecimento, foi dado intervalo de 3 minutos antes do início do teste. O teste de 1 RM foi realizado no exercício supino reto no Smith Machine. Visando reduzir a margem de erro, tanto nos testes de 1 RM, quanto nos testes de repetições máximas, foram adotadas as estratégias propostas por Monteiro et al. [14]: a) instruções padronizadas foram fornecidas antes do teste, de modo que o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a coleta de dados; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução do exercício; c) estímulos verbais foram realizados a fim de manter alto o nível de estimulação; d) os pesos adicionais utilizados no estudo foram previamente aferidos em balança de precisão. Os intervalos entre as tentativas do teste de 1 RM foram fixados em 3 minutos. No exercício proposto, foram definidas as seguintes etapas de execução: posição inicial e desenvolvimento. Com o avaliado em decúbito dorsal, a posição inicial consistiu em manter os braços elevados, sustentando a barra, com os joelhos e os quadris semiflexionados, e os pés apoiados sobre o próprio aparelho (Figura 1). A etapa de desenvolvimento foi caracterizada a partir da fase excêntrica (90° entre braço e antebraço), seguida da extensão completa dos cotovelos e flexão horizontal dos ombros (Figura 2). Figura 1 - Posição inicial no exercício Supino Reto, no Smith. Após a obtenção da carga máxima (1 RM), os indivíduos descansaram 48 horas e foram reavaliados para obtenção da reprodutibilidade do teste. Considerou-se 1 RM a maior carga estabelecida entre os dois dias, com diferença menor que 5 %. No caso de diferença maior, os sujeitos deveriam realizar um novo teste e o cálculo da diferença seria refeito. Em cada série, além do registro do número de repetições máximas, foram cronometrados os tempos de execução e de recuperação. Ademais, o volume de treinamento em cada série, nos diferentes intervalos, foi determinado pelo produto resultante da carga pelo número de repetições alcançadas. Sessão de treinamento e relação esforço-recuperação adotadas Antes da realização das sessões experimentais, cada voluntário realizou um aquecimento composto por uma série de 15 repetições com carga correspondente a 40% de 1 RM. Após o aquecimento, foi obedecido um intervalo de 3 minutos antes do início do teste. As sessões de treinamento consistiram em quatro séries no exercício supino reto até a fadiga, com a utilização de cargas referentes a 80% de 1RM. Conforme o escopo do presente estudo, formulamos uma relação entre intervalos visando promover diferentes relações de esforço-recuperação. Foram adotadas quatro formas de intervalo. A primeira e segunda formas foram fixadas nas relações de 1:4 e 1:8, respectivamente. Já a terceira forma de intervalo foi progressiva, utilizando as relações 1:4 – 1:6 – 1:8 entre as séries consecutivas. Somente na quarta forma adotou-se um tempo fixo de recuperação, baseado na relação 1:4 do primeiro intervalo (entre a primeira e a segunda série), independentemente dos tempos de execução nas séries subsequentes. O intervalo de recuperação entre séries foi determinado individualmente e em cada uma das relações propostas. Com exceção da quarta forma de intervalo, cujo tempo de recuperação entre séries foi fixo, as demais formas se basearam na duração do esforço obtido em cada série precedente. Por fim, a aplicação das diferentes estratégias de intervalo respeitou a técnica do quadrado latino. Tratamento estatístico Figura 2 - Desenvolvimento do exercício Supino Reto, no Smith. O tratamento dos dados foi realizado através da ANOVA de dupla entrada (número de séries x estratégia de intervalo) para medidas repetidas no primeiro fator, acompanhada de teste post-hoc de Tuckey. O nível de significância adotado foi de 5% e os dados foram tratados no software Statistica versão 7.0 (Statsoft, Tulsa, USA). Resultados O Gráfico 1 ilustra os dados referentes aos volumes de treinamento obtidos mediante aplicação das diferentes estratégias de intervalo. Quando consideradas isoladamente, em todas as formas de intervalo foram constatadas diferenças significativas Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 nos volumes de treinamento da primeira para as demais séries. Também foram verificadas diferenças entre a 2ª, 3ª e 4ª séries em todas as formas de execução, com exceção do intervalo progressivo, no qual foram constatadas diferenças apenas entre a 2ª e a 4ª séries. Quando comparados os volumes obtidos nas diferentes estratégias de intervalo, em cada série, foram detectadas diferenças significativas entre a 3ª e 4ª séries nos intervalos 1:4 e 1:4 (S1). Na 3ª série, foi constatada diferença nos volumes entre as estratégias de intervalo 1:4 e 1:8. Por fim, diferenças significativas foram encontradas nos volumes da 4ª série entre as estratégias de intervalo 1:4 e 1:8 (Gráfico). Gráfico 1 - Volume de treinamento em cada série realizada para as diferentes estratégias de intervalos. Volume (repetições x carga) 1400 * # 1200 @ 1000 & @ 800 600 $ & $ 400 200 0 S1 S2 S3 Séries 1:4 (S1) 1:8 1:4 S4 1:4:6:8 *Diferença de p < 0,001 entre a 1ª série e todas as outras em cada forma de intervalo; # diferença de p < 0,001 entre a 2ª, 3ª e 4ª series, em todas as formas de intervalo, exceto na execução com intervalos progressivos (1:4:6:8), que exibiu diferença de p < 0,001 somente entre a 2ª e a 4ª séries; & diferença de p < 0,05 entre a 3ª e 4ª series nas estratégias de intervalo 1:4 e 1:4 (S1); @ diferença de p < 0,05 na 3ª série entre as estratégias de intervalos 1:4 e 1:8; $ diferença de p < 0,05 na 4ª série entre as estratégias de intervalos 1:4 e 1:8. Volume (repetições x carga) Gráfico 2 - Somatório do volume de treinamento em todas as séries realizadas para as diferentes estratégias de intervalos. 4400 3900 3400 # * 2900 2400 1:4 1:8 1:4:6:8 1:4 (S1) Estratégia de intervalo *Diferença de p < 0,05 entre os volumes nas estratégias de intervalo 1:4 e 1:4:6:8 ; # diferença de p < 0,01 entre os volumes nas estratégias de intervalos 1:4 e 1:4(S1) para 1:8. 39 Discussão O treinamento de força realizado com séries múltiplas tem demonstrado ser mais efetivo para o desenvolvimento da força muscular, quando comparado ao trabalho de série simples, em indivíduos treinados, principalmente em longo prazo [12,13]. Nesse contexto, uma adequada recuperação entre os estímulos apresenta-se como aspecto fundamental no exercício realizado com séries múltiplas. O objetivo do presente estudo foi investigar o efeito de diferentes estratégias de intervalo de recuperação, determinados a partir da relação esforço-recuperação, no desempenho da força em séries múltiplas. Os principais achados do estudo revelaram influência da estratégia de intervalo no volume de treinamento. No que concerne aos dados apresentados isoladamente nas séries, até a segunda série a estratégia de intervalo não exerceu influência significativa no volume de trabalho. A partir da terceira série, as estratégias de intervalo 1:8 e progressiva diferenciaram-se das demais. No que diz respeito ao somatório das quatro séries nas diferentes estratégias de intervalo, as relações 1:8 e progressiva não apresentaram diferenças estatísticas. Nesse caso, a relação progressiva pode oferecer maior sobrecarga do trabalho por favorecer a sustentação de um mesmo volume de trabalho com menores intervalos entre séries. Os intervalos de esforço-recuperação 1:4 e 1:4(S1), apresentaram os menores volumes de trabalho, em comparação aos intervalos 1:8 e progressivo. Willardson e Burkett [15] apresentaram resultados similares aos do presente estudo, ao investigar os exercícios agachamento e supino, com intervalos de 1, 2 e 5 minutos, resultando em maior volume total de trabalho no protocolo de 5 minutos. Em outra pesquisa, os mesmos autores compararam os efeitos de três diferentes intervalos (1, 2 e 3 minutos) ao longo de 5 séries no supino, com protocolos envolvendo 80% de 1RM e 50% de 1RM, o que demonstrou, para ambas as cargas, maior sustentabilidade das repetições quando aplicado o intervalo de 3 minutos [16]. No presente estudo, foram comparados diferentes intervalos, determinados a partir da relação esforço-recuperação individual, para verificar se as estratégias de menores intervalos poderiam se equivaler as demais, oferecendo maiores ou os mesmos volumes de trabalho, o que resultaria em uma maior sobrecarga na sessão. Poucos estudos relatam vantagens para treinamentos com menor intervalo entre séries. Takarada et al. [20] compararam os efeitos de treinos a 80% e 50% de 1 RM, nos músculos bíceps braquial e braquial. Todos os protocolos envolviam três séries, com 1 minuto de intervalo entre elas. Assim, observou-se maior incremento da secção transversa no grupo cujo treinamento (incluindo oclusão vascular) adotou carga mais baixa (50% de 1 RM), com resultado mais expressivo para o bíceps braquial. Contudo, é importante destacar que este estudo centrou suas atenções nos efeitos 40 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 crônicos do treinamento. Além disso, uma possível limitação dos resultados obtidos recai no tempo de intervalo, estabelecido em 1 minuto para ambas as cargas. No protocolo que envolvia 50% de 1 RM combinada com oclusão vascular, este período de descanso pode ter sido suficiente, considerando o baixo percentual de carga utilizado. Essa seria uma forma de intensificar o treino, buscando compensar a baixa carga com um curto intervalo. Todavia, quando aplicado no protocolo envolvendo 80% de 1 RM, pode ter significado um tempo demasiadamente curto para restaurar, de forma suficiente, as condições metabólicas locais para executar uma nova série. Logo, para se estabelecer qualquer inferência de vantagem para o primeiro protocolo citado, seria necessário compará-lo também a um terceiro protocolo, que envolvesse, por exemplo, a realização das séries a 80% de 1 RM, mas entremeadas com maiores intervalos. Os dados do presente estudo mostraram que no somatório do volume em todas as séries, valores significativamente maiores foram observados na estratégia de recuperação progressiva (1:4:6:8), quando comparada a relação esforço-recuperação 1:4. Essa informação ratifica possíveis suposições a favor do intervalo progressivo, já que apenas no primeiro intervalo entre séries a relação esforço-recuperação foi igual. Com base nisso, a estratégia de intervalo progressivo fornece vantagem na recuperação devido aos maiores tempos de descanso. Na análise isolada das séries, foram constatadas diferenças significativas nos volumes de treinamento da primeira em relação às demais séries, em todas as formas de intervalo. Assim como no presente estudo, Willardson e Burkett [16] também verificaram reduções significativas no volume de treinamento da primeira para as demais séries. Isso implica dizer que, independentemente do intervalo, o volume de trabalho tende a ser reduzido com a evolução do número de séries. Muito embora os resultados para cada série tenham proporcionado uma queda significativa no volume de treinamento, cabe ressaltar que da primeira para a segunda série, todas as estratégias de intervalos apresentaram resultados similares. Contudo, a partir da segunda série a escolha do intervalo desempenha papel decisivo na sustentabilidade das repetições nas séries subsequentes. Também é importante destacar que, a partir da segunda série, o volume observado no intervalo progressivo manteve-se mais próximo de uma estabilização. É possível que essa estratégia de intervalo tenha sofrido menores consequências da fadiga por aumentar progressivamente o tempo de recuperação. Apesar de a relação esforço-recuperação ter sido considerada para delinear a estratégia de intervalo, desde que o mesmo seja progressivo, tal escolha pode ser interessante no trabalho direcionado a manutenção da sustentabilidade ao longo das séries. Contudo, a comparação dos dados aqui obtidos com os de outros estudos torna-se difícil, pois até o momento não foram encontradas investigações cujo objetivo recaiu na análise de estratégias progressivas de intervalo nos volumes de treinamento. O presente estudo apresenta algumas limitações. Apesar da experiência da amostra, não se pode garantir uma total segurança nas cargas obtidas no teste de 1 RM. Por outro lado, os voluntários estavam habituados a realizar os exercícios com as mesmas repetições no equipamento usado na pesquisa, o que pode ter reduzido a margem de erro nas cargas obtidas. Em adição, apesar de solicitado aos voluntários para que não realizassem exercícios entre as sessões de treinamento, não foi controlado nível habitual de atividade física dos mesmos. Conclusão Em função dos dados obtidos e frente às limitações do estudo, pode-se concluir que, quando o objetivo recair na manutenção da sustentabilidade ao longo das séries, os intervalos progressivo e de relação 1:8 devem ser utilizados por manterem maior volume de trabalho, considerando o somatório das séries. Intervalos entre séries determinados a partir da relação esforço-recuperação podem ser uma opção útil no controle do descanso entre séries múltiplas no treinamento de força, quando comparado a intervalos fixos. Contudo, estudos futuros são necessários para melhor aplicação de intervalos baseados em relações de esforço-recuperação. Referências 1. 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O objetivo foi avaliar a qualidade de vida em pacientes que realizaram cirurgia de câncer de mama pré e pós-reabilitação fisioterapêutica. A pesquisa foi descritiva – estudo de caso em 4 pacientes sendo que as avaliações foram realizadas no período de maio a junho de 2011 no Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas da FGG. Como instrumentos foram elaborados uma ficha de avaliação e o questionário FACT-B (TOI), os quais se realizaram pré e pós-avaliação através de autoadministração do questionário em um tempo de 10 minutos. Os resultados demonstraram melhora da qualidade de vida das pacientes atendidas, tanto para a relação de porcentagem como para o índice de desempenho. As melhores variações foram apresentadas na resposta 0 (35,29%) para o domínio físico, 4 (23,81%) para o domínio funcional e 0 (114,29%) e 1 (200%) para a subescala da mama. Conclui-se assim que as pacientes apresentaram melhora da qualidade de vida após a realização do tratamento proposto para os domínios estudados. Abstract The aim of the physical therapy in rehabilitation of patients post mastectomy is to prevent further complications which may limit range of movement; therefore, it improves their quality of life. The goal was to assess the quality of life in patients who have undergone breast cancer surgery pre and post physical therapy in rehabilitation. The research was descriptive – case study in four patients from May to June 2011 at Outpatient Musculo-Skeletal Disorders of Faculdade Guilherme Guimbala–FGG. An evaluation form and the FACT-B (TOI) questionnaire were used pre and post assessment through self administration questionnaire in a time of 10 minutes. The results showed an improvement in the quality of life of the patients, both the percentage and performance index. The best changes were made in the responses 0 (35.29%) for the physical domain, 4 (23.81%) for the operational and 0 (114.29%) and 1 (200%) for the subscale of the breast. Therefore, it is concluded that the patients improved quality of life after the treatment proposed for the areas that were studied. Key-words: domain, breast neoplasms, quality of life, FACT-B questionnaire. Palavras-chave: domínios, neoplasias da mama, qualidade de vida, questionário FACT-B. Recebido em 15 de agosto de 2011; aceito em 9 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rua Paulo Henk, 96, 89216-55 Joinville SC, E-mail: alisson. [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O câncer de mama é a neoplasia mais temida pelas mulheres [1]. Segundo dados do ano de 2010 no Brasil foram diagnosticados 49.240 novos casos de câncer de mama [2,3], sendo esta a segunda neoplasia de maior incidência nas mulheres, pois a cada ano 22% de novos casos são descobertos [4]. Na região Sul do Brasil sua incidência e mortalidade são altas, chegando ao primeiro lugar no país em mortalidade, principalmente em mulheres com idade entre 40 e 69 anos [1]. Com o avanço da prevenção das taxas de detecção precoce e a melhora no tratamento, 50% das mulheres acometidas sobreviverão pelo menos 15 anos ou mais após diagnosticado [5]. Se a cirurgia for muito extensa as chances de morbidade serão consideradas mais altas [6]. Os fatores de risco podem ser considerados tais como histórico familiar, obesidade e gravidez após os 35 anos. Em contrapartida os fatores de proteção seriam menarca tardia, gravidez entre 20 e 28 anos, amamentação entre 3 e 12 meses e menopausa precoce [7]. Já os vários tipos de cirurgia da mama podem acarretar diversos fatores prejudiciais à qualidade de vida da paciente incidindo sobre sua autoestima. Esses fatores podem ser alterações funcionais, sociais e psicológicas [8-10]. Essa patologia acaba provocando muitas alterações na vida da paciente causando grande impacto psicológico, pois, além das alterações fisiológicas, surge também uma série de transformações, tanto da paciente quanto dos familiares. Além do medo da morte, existe o preconceito, a ameaça da mutilação da mama, já que sua função principal é nutrir, alimentar ou, em outras palavras, proporcionar vida sendo um símbolo importante da maternidade, feminilidade, sexualidade, estética e afeto [1]. Em decorrência do tratamento, a paciente passa a ter uma nova realidade do esquema corporal, pois ocorrem inúmeras complicações como linfedema, fibrose, aderência cicatricial entre outras que acabam alterando sua maneira de sentir e vivenciar o corpo. A cirurgia está ligada a essas alterações, sequelas e complicações em até 70% das pacientes, afetando assim a qualidade de vida e apresentando dificuldades na realização de suas atividades de vida diária [1]. O tratamento fisioterapêutico desempenha um importante papel na qualidade de vida dessas pacientes consequentemente melhorando as atividades de vida diária [7], pois as complicações físicas associadas ao tratamento reduzem a qualidade de vida das mesmas [11]. Estudos em relação à qualidade de vida têm sido extensamente valorizados nos estudos oncológicos [11,12]. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” [8,13]. Outra definição também aceita de qualidade de vida seria a relação com a “satisfação geral do indivíduo com a vida e sua percepção pessoal de bem estar” [12,14]. 43 Vários questionários podem ser utilizados para avaliar a qualidade de vida das mulheres após cirurgia de câncer de mama, e podem ser divididos em genéricos (avaliam de forma global aspectos relacionados à qualidade de vida que tem como domínios aspectos físicos, sociais, psicológicos, emocional e sexual tendo como exemplos o Medical Outcomes Study 36 item Short-Form Health Survey (SF 36) e o World Health Organization Quality of Life (WHOQOL)). Os específicos (avaliam de forma específica aspectos da qualidade de vida entre eles o European Organization for Research and Treatment of Breast Cancer Specific Quality of Life Questionnaire (EORTC QLQ BR 23) e o Functional Assessment of Cancer Therapy-Breast (FACT-B)) [8,14]. Portanto o uso de questionários que avaliam a qualidade de vida seria a maneira mais fácil de mensurar o problema da paciente ajudando assim os profissionais da saúde a conhecerem as necessidades funcionais, psicológicas e sociais do paciente. Além disso, os escores dos questionários avaliam de maneira paralela a progressão da doença e sua resposta ao tratamento proposto, sendo ferramenta essencial na escolha de diferentes condutas permitindo assim melhor sobrevida para as pacientes [15]. Com o exposto acima através das informações obtidas em estudos relacionados com o tema câncer de mama e qualidade de vida, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar a qualidade de vida em pacientes que realizaram cirurgia de câncer de mama pré e pós-reabilitação fisioterapêutica. Material e métodos A presente pesquisa foi classificada como do tipo descritiva – estudo de caso. O levantamento de dados foi realizado no Hospital Municipal São José em Joinville/SC nas pacientes submetidas à cirurgia de câncer de mama pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no período junho de 2007 a junho de 2010, onde foram coletados os dados através de prontuários e logo após entrando-se em contato com as pacientes para a realização da avaliação da qualidade de vida e tratamento fisioterapêutico. Os critérios utilizados para a inclusão das pacientes localizadas foram que as mesmas apresentassem limitação na amplitude de movimento do ombro homolateral a cirurgia ou alguma outra alteração como encurtamento muscular, aderência cicatricial entre outros. Para tal, das 10 pacientes que apresentaram as limitações descritas acima somente 4 aceitaram participar da pesquisa, pois as outras 6 pacientes não apresentaram condições financeiras para se deslocarem até o local de atendimento. As pacientes participantes apresentaram uma faixa etária entre 50 e 66 anos, com média de idade de 59,00 (± 6,12) anos, sendo que a profissão das participantes eram 3 do lar e 1 aposentada. Antes do início das avaliações, que foram realizadas no período de maio a junho de 2011 no Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas da Faculdade Guilherme Guimbala – 44 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 FGG, cada participante assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aceitando assim participar voluntariamente da presente pesquisa. A pesquisa foi submetida e teve aprovação do Comitê de Ética do Hospital Municipal São José (11020) conforme as resoluções nacionais 196/96 e 251/97 relacionadas à pesquisa envolvendo seres humanos. Como instrumento, foi elaborada uma ficha de avaliação para a coleta da identificação da paciente a qual continha o nome da paciente, data da avaliação, idade, data de nascimento, telefone e profissão. Anexou-se à ficha o “Questionário Functional Assessment of Cancer Therapy-Breast (FACT-B)” um questionário específico para pacientes com câncer de mama, apropriado para o uso em ensaios clínicos em oncologia, assim como na prática clínica, sendo de fácil administração, confiabilidade, validez e sensibilidade. O questionário é composto por 36 perguntas divididas em cinco domínios: bem estar físico (sete questões), bem estar social da família (sete questões), bem estar emocional (seis questões), bem estar funcional (sete questões) e subescala de mama (nove questões). Para responder, as pacientes deveriam optar por um dos cinco níveis para cada questão: 0 (não), 1 (muito pouco), 2 (pouco), 3 (muito) e 4 (bastante). Porém para se observar a diferença na qualidade de vida relacionada especificamente aos aspectos de saúde utilizou-se o FACT-B Trial Outcome Index (TOI), que se dá pela soma dos domínios: bem estar físico, funcional e subescala da mama, gerando assim 23 perguntas. Realizou-se uma pré e pós-avaliação cujo questionário era autoadministrado pela paciente, porém se a paciente necessitasse de alguma ajuda durante as respostas era auxiliada pelos pesquisadores. Após realizada a pré-avaliação pelo questionário, a paciente foi avaliada funcionalmente e tratada durante 10 sessões com cinesioterapia para a melhora da amplitude de movimento, sendo novamente avaliada pós tratamento com o mesmo questionário. Cada avaliação do questionário teve um tempo médio de 10 minutos entre coleta dos dados e preenchimento do questionário entre outras orientações. Após a aplicação dos questionários, a tabulação e levantamento estatístico da pesquisa foram realizados, e os resultados foram digitados em uma planilha eletrônica do programa Microsoft Office Excel® 2003. Foi utilizada análise descritiva, na qual se calculou a média, desvio padrão, percentual e índice de desempenho. Resultados O Gráfico I demonstra a porcentagem de resposta pré e pós-aplicação do questionário das 4 pacientes que participaram da pesquisa. Evidencia-se com isso que em relação ao seu bem estar físico, as pacientes tanto no pré como no pós apresentaram-se bem devido as porcentagens serem maiores nas respostas 0 e 1. Observa-se também uma melhora deste domínio após o tratamento realizado pela elevação da porcentagem na resposta 0. Gráfico I - Porcentagem do domínio Físico pré e pós-aplicação do questionário. 100% 80% 60% 82% Pré Pós 61% 40% 18%14% 20% 0% 0 1 11% 4% 2 4% 0% 3 7% 0% 4 Fonte: Dados da pesquisa O Gráfico II esclarece as respostas selecionadas pelas 4 pacientes no pré e pós-aplicação do questionário para o domínio bem estar funcional. Pode-se demonstrar que há melhora da qualidade de vida tanto no pré como no pós pela maior concentração de respostas em 3 e 4. Verificou-se também melhora da qualidade de vida pelo tratamento proposto pela elevação da porcentagem na resposta 4. Gráfico II - Porcentagem do domínio Funcional pré e pós-aplicação do questionário. 100% 93% Pré 80% Pós 75% 60% 40% 20% 0% 14% 0% 0% 0 4% 0% 1 0% 2 7% 7% 3 0% 4 Fonte: Dados da pesquisa O Gráfico III evidencia as respostas no pré e pós-aplicação do questionário para a subescala da mama das 4 pacientes. O que se observa no gráfico é um equilíbrio nas respostas tanto no pré como no pós. Porém o que se pode afirmar após a análise é que em relação ao pré quanto mais respostas fossem dadas nas respostas 3 e 4 pior seria o aspecto mama para a paciente, o que prova que elas não estavam contentes. Após o tratamento observou-se melhora, pois houve uma inversão de porcentagem da resposta 3 e 4 para a 0 e 1 melhorando a aceitação da paciente. A Tabela I demonstra o índice de desempenho do pré e pós-questionário nos domínios físico, funcional e subescala de mama. Os desempenhos demonstrados na tabela corroboram os resultados apresentados nos gráficos, pois as variações positivas foram expressas na resposta 0 (35,29%) para o domínio físico, 4 (23,81%) para o domínio funcional e 0 (114,29%) e 1 (200%) para a subescala da mama, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 evidenciando assim a melhora da qualidade de vida após a realização do tratamento. Gráfico III - Porcentagem da subescala da mama pré e pós-aplicação do questionário. 100% Pré 80% Pós 60% 40% 20% 0% 51% 42% 33% 20% 8% 3% 0 1 6% 11% 2 20% 6% 3 0% 4 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela I - Índice de desempenho do pré e pós-aplicação do questionário para os domínios físico, funcional e subescala da mama. Fís Func Mam 0 1 2 3 4 35,29% -20,00% -66,67% -100,00% -100,00% 0,00% -100,00% -100,00% 0,00% 23,81% 114,29% 200,00% 100,00% -71,43% -33,33% Legenda: Fís – físico; Func - funcional; Mam - adicional Fonte: Dados da pesquisa Discussão Após a apresentação dos resultados, pode-se observar melhora da qualidade de vida das pacientes que realizaram a reabilitação. Estudos comentam que o efeito do câncer de mama e de seu tratamento, seja radioterápico, quimioterápico, cirúrgico ou mesmo de reabilitação sobre a qualidade de vida das pacientes tem sido bem descrito pela literatura [16,17]. Em relação à técnica cirúrgica utilizada, que pode ser radical ou conservadora, a disseção axilar tem sido um tratamento padrão. Esse procedimento, quando isolado ou em conjunto com a radioterapia, pode causar morbidade no membro superior homolateral [18] e problemas como linfedema, dor, diminuição de força e amplitude de movimento entre outros [14,18] que se tornam frequentes nas pacientes, merecendo assim atenção especial na reabilitação, pois podem interferir na qualidade de vida [18]. Outro fator importante a ser verificado é o estado psicológico da paciente, pois quadros de depressão, ansiedade, medo (abandono familiar e amigos), recidiva e morte estão relacionados com a doença e contribuem para uma percepção negativa da qualidade de vida [14]. O medo pode ser considerado o mais ameaçador em relação à piora da qualidade de vida, pois pode provocar reações emocionais, que provocarão mudanças no âmbito biológico, mental e social [19]. Exemplos podem ser considerados, tais como dificuldade econômica, presença de ondas de calor levando a dificuldade 45 na duração do sono, piorando a fadiga e levando a sintomas depressivos [14]. Velloso et al. [6] esclarecem que não existe homogeneidade em relação aos instrumentos e métodos utilizados para se avaliar a qualidade de vida nas pesquisas. Em um estudo que determinou o efeito do exercício na qualidade de vida em pacientes com câncer de mama foram avaliadas mulheres com diagnóstico recente e tardio que realizaram um programa de exercício durante 6 meses. Os resultados demonstraram que o exercício proposto melhorou a funcionalidade das pacientes e consequentemente sua qualidade de vida nos dois grupos estudados [16]. Outro estudo procurou identificar o exercício físico como a melhor intervenção para a qualidade de vida em mulheres com câncer de mama. Os resultados comprovaram a melhora através do questionário utilizado FACT-B concluindo que o exercício é efetivo melhorando a função e o físico das pacientes [20]. Um terceiro estudo avaliou a aceitabilidade de exercícios moderados no tratamento do câncer de mama e seu impacto na presença de linfedema, qualidade de vida entre outros em dez mulheres. A qualidade de vida foi avaliada pelo FACT-B antes a após um programa de 6 semanas, e os resultados demonstraram potencial melhora da qualidade de vida [21]. Na pesquisa que determinou os benefícios funcionais e psicológicos de um programa de 12 semanas de exercício supervisionados no estágio inicial e após seis meses de acompanhamento em 203 pacientes de câncer de mama, somente 177 completaram os seis meses de acompanhamento. Na avaliação de qualidade de vida o instrumento utilizado foi o FACT-B, e também foram avaliados outros aspectos como a avaliação da mobilidade do ombro, não sendo observado efeito significativo da melhora da qualidade de vida [22]. No estudo de revisão que examinou o efeito do exercício na qualidade de vida em mulheres com câncer de mama, foram selecionados nove trabalhos. Os resultados evidenciaram que os exercícios podem ser uma estratégia eficaz para a melhora da qualidade de vida [23]. Diversos questionários podem ser utilizados para a avaliação da qualidade de vida em pacientes com câncer de mama. O FACT-B é um deles como foram demonstrados nos estudos relacionados acima e corroborando o que foi utilizado na presente pesquisa. Porém, outros questionários serão relatados, como na pesquisa que relacionou a qualidade de vida à morbidade do membro superior homolateral a cirurgia, e que demonstrou em seus resultados a relação de semelhança entre a qualidade de vida com a menor morbidade através da aplicação de questionários específicos para câncer de mama (QLQ-C30 e BR23). Considerou-se no estudo que com o tratamento da doença as pacientes não apresentaram ansiedade nem declínio em sua qualidade de vida mantendo a atividade normal do membro homolateral à cirurgia [24]. Leites et al. avaliaram a influência da intervenção fisioterapêutica na qualidade de vida e na evolução clínico funcional 46 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 das pacientes. O estudo foi do tipo quase-experimental (pré e pós) composto por cinesioterapia (treino de força e flexibilidade) em 10 pacientes com uma duração de oito semanas. Na avaliação da qualidade de vida o instrumento utilizado foi o questionário WHOQOL-bref. Observou-se que a aplicação dos exercícios auxiliou para a melhora dos parâmetros funcionais e também que não houve um declínio na qualidade de vida das pacientes [11]. A fisioterapia tem sido observada clinicamente para a melhora do tratamento das pacientes com câncer de mama. Na pesquisa que investigou a eficácia do tratamento de fisioterapia na função do ombro, dor e qualidade de vida em trinta pacientes após cirurgia com esvaziamento axilar, foram realizadas avaliações no início e após três e seis meses. As pacientes foram divididas em dois grupos: grupo de tratamento, que recebeu tratamento de fisioterapia durante três meses; e grupo controle que recebeu um folheto com conselhos e exercícios. Conclui-se que a fisioterapia reduziu a dor e melhorou a função do ombro homolateral à cirurgia melhorando, assim a qualidade de vida [25]. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que a avaliação da qualidade de vida deve ser orientada com a finalidade de observar o impacto de fatores que acontecem no universo psicológico, social, espiritual e físico da paciente com câncer de mama. Com isso constituindo parâmetros nas pesquisas realizadas para a melhora de custo/benefício, otimizando os recursos disponíveis para o sistema de saúde [26]. Conclusão Após a realização do presente estudo, pode-se observar que as pacientes avaliadas através do FACT-B (TOI) apresentaram melhora da qualidade de vida pela reabilitação proposta para os domínios relacionados à melhora do bem estar funcional, físico e aspectos da mama. Porém o estudo apresentou limitações, como o baixo número de mulheres avaliadas que pode ser explicada pela dificuldade de encontrar voluntárias dispostas a participar da pesquisa ou por não dispuserem de condições financeiras para o transporte não se podendo generalizar os dados encontrados. Salienta-se, no entanto, que se pode observar a correlação a qual foi procurada no objetivo do estudo de avaliar a melhora da qualidade de vida pré e pós-reabilitação fisioterapêutica. O estudo contribuiu para dar suporte à evidência de que se deve ter uma preocupação maior em relação às pacientes pós-operadas de mama tanto no pós-cirúrgico imediato quanto no tardio, pois, se a paciente não realizar uma boa reabilitação, poderá apresentar limitações em suas atividades de vida diária acarretando assim piora na qualidade de vida. Referências 1. Teodoro A, Torres R, Roeder I, Araujo AGS. Avaliação fisioterápica em pacientes pós cirurgia de câncer de mama em Joinville/ SC. Cinergis 2010;11(1):60-8. 2. Lahoz MA, Nyssen SM, Correia GN, Garcia APU, Driusso P. Capacidade funcional e qualidade de vida em mulheres pós-mastectomizadas. Rev Bras Cancerol 2010;56(4):423-30. 3. Veiga DF, Campos FSM, Ribeiro LM, Archangelo Junior I, Veiga Filho J, Juliano Y, et al. 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Componentes tanto homeostáticos quanto hedônicos, responsáveis pela sensação de prazer e atração pelo alimento controlam sinais de fome e saciedade em vias periféricas e centrais. Os sinais advindos da periferia fornecem informação sobre o estado nutricional corporal ao sistema nervoso central. Este último media e integra os sinais de fome e saciedade e após isto, formula uma resposta fisiológica que regula o comportamento alimentar do indivíduo. Pessoas obesas têm demonstrado diminuição expressiva da variabilidade da frequência cardíaca, aumento da atividade do nervo simpático, alteração do metabolismo hormonal e estimulação gástrica. Além disso, uma anormal atividade hipocampal foi identificada em resposta aos sinais de saciedade, comprometendo assim, todo controle da ingestão alimentar de obesos. Esta anormal atividade neuronal persiste em indivíduos que já foram obesos, fazendo com que altos riscos ao reganho de peso possa ocorrer. A prática de exercício físico gera manutenção e perda do peso corporal, repercutindo tanto para melhorias no balanço energético quanto para o sistema de regulação do apetite. Estes benefícios parecem ser influenciados pela intensidade e duração do exercício. Abstract Knowledge about physical activity and appetite are important for athletes who aspire to increase exercise performance and for those interested in maintaining healthy body weight. Both homeostatic and hedonic components, responsible for the sensation of pleasure and attraction to the food, control signals of hunger and satiety in peripheral and central pathways. The periphery signals provide information to central nervous system on the nutritional body status. The nervous system latter integrates signals of hunger and satiety, and sends a physiological response that regulates the feeding behavior. Obese people have shown significant reduction of heart rate variability due to increased sympathetic nerve activity, changes in hormone metabolism and gastric stimulation. In addition, an abnormal hippocampal activity was identified in response to satiety signals, thereby undermining the whole control of food intake of obese. This abnormal neuronal activity persists in subject with obesity, causing high risks of weight regain. The exercise generates maintenance and loss of the body weight, reflecting both improvements in energy balance and for the appetite regulation system. These benefits appear to be influenced by the intensity and duration of exercise. Key-words: exercise-induced anorexia, ghrelin, hunger, satiety, leptin. Palavras-chave: anorexia induzida pelo exercício, grelina, fome, saciedade, leptina. Recebido em 19 de outubro de 2011; aceito em 18 de novembro de 2011. Endereço para correspondência: Alexandre Hideki Okano, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Centro de Ciências da Saúde – CCS, Departamento de Educação Física - DEF, Campus Universitário BR 101, Lagoa Nova, 59072-970 Natal RN, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O processo de regulação da ingestão alimentar tanto de sujeitos normoponderais quanto de obesos, tem suscitado curiosidade da comunidade científica, em busca da compreensão dos componentes tanto homeostáticos quanto hedônicos, responsáveis pela sensação de prazer e atração pelo alimento [1]. Estes componentes controlam sinais de fome e saciedade em vias periféricas e centrais. Basicamente, os sinais aferentes, advindos da periferia, fornecem informação sobre o estado nutricional corporal ao sistema nervoso central. Este último media e integra os sinais de fome e saciedade e, após isto, formula uma resposta fisiológica que regula o comportamento alimentar do indivíduo [2]. Atualmente, outro fator bastante abordado na literatura é o efeito da prática de exercício físico sobre o processo de regulação do apetite. Vários são os estudos que se preocuparam em verificar o efeito do exercício físico sobre a manutenção e perda do peso corporal total, obtendo resultados positivos tanto para melhorias no balanço energético [3,4] quanto para o sistema de regulação do apetite [5,6]. Porém, existem fortes correntes científicas que acreditam que o exercício físico promove um gasto energético negativo acompanhado por um aumento, contrabalanceado da ingestão alimentar, além de aumentar a sensação de fome no estado de jejum [7]. Em adição aos efeitos atrelados à prática de exercício físico, sabe-se que o mesmo é responsável pela melhoria e manutenção da plasticidade cerebral, além de melhorar a oxigenação e vascularização cerebral, processo este denominado de neurogênese. Todos estes efeitos benéficos ocorrem, mais especificamente, no hipocampo (região central responsável pelo controle do apetite, aprendizado e memória), que está intimamente interligado ao córtex pré-frontal [8]. Estudos também demonstram que o exercício físico é capaz de promover melhorias no processo de neuroplasticidade, aumentando a velocidade das transmissões sinápticas, fazendo com que o cérebro esteja mais bem preparado para codificar informações importantes, a respeito do estado nutricional do corpo, fornecidas pela periferia corporal e ambiente externo [9]. Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivo revisar o atual conhecimento científico produzido sobre os processos e mecanismos fisiológicos e centrais, bem como a influência da prática do exercício físico na regulação da ingestão alimentar na obesidade. Aspectos fisiológicos e centrais da obesidade A obesidade é considerada uma síndrome mundial envolvendo fatores sociais, psicológicos e socioeconômicos em indivíduos de todas as idades e grupos. O contínuo aumento nas taxas de incidência de pessoas com excesso de peso nas últimas décadas fez com que a obesidade atingisse proporções epidêmicas, a ponto de a Organização Mundial de Saúde [10] considerar a obesidade uma epidemia global. 49 Neste aspecto, o Brasil tem seguido a mesma tendência mundial alarmante de índices crescentes de obesidade. Em 2008, de acordo com a mais recente pesquisa realizada pelo IBGE [11], 33,5% das crianças de 5 a 9 anos estavam acima do peso, sendo que 16,6% do total de meninos eram obesos e 11,8% das meninas estavam com sobrepeso. Em adultos jovens de 20 aos 24 anos do sexo masculino, o sobrepeso saltou de 18,5% em 1974-1975 para 50,1% em 2008-2009. No sexo feminino, o aumento foi menor: de 28,7% para 48%. Por causa desta alta prevalência de excesso de peso corporal na população mundial, muitas investigações foram conduzidas levando em consideração aspectos como o balanço energético e peso corporal deste público. O balanço energético é determinado pela ingestão de macronutrientes, gasto energético e termogênese dos alimentos. Assim, o balanço energético positivo, em longo prazo, resulta em ganho de massa corporal na forma de gordura, enquanto que o balanço energético negativo resulta em perda de peso corporal [12]. Porém, cientistas comprovaram que além do cuidado com o balanço energético positivo, outros fatores comprometem o quadro patológico de pessoas com obesidade, fazendo com que o mesmo não se reverta. Entre estes fatores podem ser listados: a sociedade e/ou cultura, ambiente, limitada disponibilidade de alimentos naturais, palatabilidade dos alimentos industrializados, composição dos nutrientes, entre outros fatores [13,14]. Pesquisas utilizando como amostra sujeitos obesos têm demonstrado a relação entre diminuição expressiva da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), aumento da atividade do nervo simpático, alteração do metabolismo hormonal e estimulação gástrica, tendo efeito sobre a ingestão alimentar e distensão estomacal. Além disso, indivíduos obesos possuem, em suas particularidades, uma anormal atividade do hipocampo em resposta aos sinais de saciedade, comprometendo, assim, toda contribuição na regulação e controle da ingestão alimentar. Este padrão de atividade neuronal persiste em indivíduos que já foram obesos, fazendo com pessoas que se enquadram neste aspecto possam correr altos riscos em relação ao reganho de peso excessivo [15,16]. Anormalidades metabólicas e hemodinâmicas também são encontradas em indivíduos com excesso de peso corporal [17]. Atribuí-se a isto, a existência de um descontrole no sistema nervoso central, mais especificamente, do ramo simpático que parece ser mais ativado em indivíduos obesos do que em magros [18]. Porém, há controvérsias na literatura na qual é sustentada a existência de uma diminuição da atividade simpática [19]. Com isso, Young e Macdonald [20] realizaram extensa revisão de 40 estudos com humanos conduzidos antes de 1991 na tentativa de clarificar se a obesidade estava associada à elevada ou reduzida atividade do sistema nervoso simpático (SNS). As publicações científicas suportaram ambas as hipóteses, bem como a possibilidade de não haver diferença na atividade do SNS entre indivíduos normoponderais e obesos [21]. Entretanto, os autores evidenciam várias limitações 50 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 entre os estudos revisados, principalmente na fragilidade do método utilizado para avaliação da atividade simpática. Por outro lado, tem-se observado, em obesos, uma relação inversamente proporcional entre a VFC e mortalidade por doenças cardiovasculares, ou seja, uma diminuição da VFC, que pode ser gerada tanto pela diminuição da atividade parassimpática quanto pelo aumento da atividade simpática, tem resultado numa alta taxa de mortalidade [22]. Em nível cerebral, estudos utilizando a técnica de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) demonstram que, após o consumo de alimentos líquidos até a saciedade, indivíduos obesos exibiram diminuição do fluxo sanguíneo na região do hipocampo comparado a indivíduos magros [16]. Em decorrência do exposto, tem-se especulado que o córtex pré-frontal e a região hipocampal, para além de desempenharem importante papel nos processos de memória e aprendizagem, estão intimamente relacionados à regulação da ingestão alimentar, controle da alimentação e regulação do apetite [23,24]. Regulação central do apetite: sensações de fome e saciedade, tamanho da refeição e frequência alimentar Importantes fatores envolvidos no controle do apetite geram distúrbios que acometem a homeostase energética. Esta última é controlada por dois conjuntos de sinais, os sinais tônicos e episódicos. O conjunto de sinais que surge a partir dos estoques dos tecidos, especialmente do tecido adiposo, e reflete o que é frequentemente referido como sinalização em longo prazo ou, um termo alternativo, sinalização tônica [25], é responsável pela regulação de todo o balanço energético e massa corporal de gordura sobre dias ou até semanas [26]. Os sinais químicos provenientes deste processo incluem a leptina, insulina e certas adipocinas (amilina, visfatina e adiponectina). Em animais, altas concentrações destes hormônios, principalmente a leptina (adipocitocina responsável pela produção da sensação de saciedade), diminuem a ingestão alimentar e estimulam o dispêndio energético [27]. Em contraste, indivíduos obesos, geralmente, possuem altas concentrações de leptina e insulina, o que sugere uma possível resistência dos organismos de obesos aos efeitos destes hormônios, fazendo com que o efeito de supressão na ingestão alimentar não ocorra [28]. A partir de recentes especulações demonstrando que baixas concentrações de leptina e insulina podem tanto aumentar a ingestão alimentar quanto suprimir o dispêndio energético [29], Hagobian e Braun [26] sugerem que exista uma relação entre as concentrações de leptina/insulina e ingestão alimentar, assemelhando-se ao “U invertido”, em que tanto baixas quanto muito altas concentrações de leptina/insulina estimulam a ingestão alimentar, porém níveis moderados circulantes destes hormônios tenham efeito supressor. No entanto, os sinais denominados “episódicos” surgem largamente do trato gastrointestinal e são gerados periodicamente em ritmos sincronizados a partir do ato de se alimentar [30]. Os componentes químicos envolvidos neste processo incluem a colecistocinina, peptídeo ligado ao glucagon (GLP-1), oxintomodulina, grelina, peptídeo YY (PYY), mais especificamente o PYY3-36, e possivelmente por outros peptídeos liberados por células localizadas ao redor do trato gastrointestinal [31], sendo a grelina acilada considerada o mais importante componente de estimulação da ingestão energética, tanto em homens quanto em animais [32,33]. Porém o PYY3-36 vem ganhando atenção, pois ao infundi-lo, perifericamente, notaram-se supressões na ingestão alimentar tanto de animais [34] quanto em humanos [35]. Em suma, toda esta gama de sinais regula o início e o término da alimentação, consequentemente, também regula a frequência e tamanho da refeição [26]. A integração dos sinais tônicos e episódicos gera informações ao cérebro quanto ao estado dinâmico atual dos estoques de energia e os fluxos oscilatórios de nutrientes derivados da alimentação, quando estes últimos são detectados pela sinalização episódica. Esta integração é instanciada em um conjunto de vias e receptores neurais que se estendem pelo núcleo do trato solitário e área postrema do mesencéfalo através de um discreto núcleo hipotalâmico no prosencéfalo basal [2]. Os sinais episódicos surgem e desaparecem em harmonia com o padrão alimentar. Um grande grupo destes peptídeos citados acima fornece sinais responsáveis pela sensação de saciação, que se constitui no ato do término da refeição, e saciedade, que se caracteriza pela ação de inibição do ato de se alimentar após a refeição [30]. Em adição, muitos comportamentos alimentares distinguíveis são controlados por várias regiões cerebrais e sistemas neuroquímicos que impactam sobre aspectos da alimentação, incluindo o início, quantidade e frequência da ingestão alimentar. Os fatores que contribuem para o início da ingestão alimentar são considerados não homeostáticos, pois não se constituem em um processo dependente do déficit energético, porém, ainda não são claramente definidos na literatura mecanismos fisiológicos atrelados à sinalização em cascata, circuitos neuronais e neuroquímicos que mediam suas influências biológicas sobre o processo de alimentação [36]. Em contraste, os fundamentos fisiológicos dos fatores que controlam o término da refeição, assim como os fatores que controlam a quantidade de alimento ingerido durante a refeição, têm sido mais extensamente estudados. De acordo com Smith [37] existem duas categorias de sinais (diretos e indiretos) que contribuem para o controle da quantidade de alimentos ingeridos. Os sinais diretos são aqueles fornecidos pelo canal alimentar em resposta ao contato do alimento ingerido ou digestão do mesmo. Esta mesma categoria de sinais diretos é denominada por Grill [36] como sinais de saciação, que são definidos por sinais sensórios gerados pela interação do alimento ingerido com o trato gastrointestinal e incluem Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 distensão estomacal e hormônios liberados pelo intestino em resposta ao transporte de nutrientes [38]. Além dos sinais diretos, a quantidade de alimento ingerido em uma refeição é influenciada por outros tipos de sinais, incluindo sinais metabólicos ou disponibilidade de energia, tais como os níveis de circulatórios de nutrientes, como, por exemplo, os níveis de glicose, ácidos graxos livres e aminoácidos. Já, sinais originados pela adiposidade como a leptina ou fornecidos pela temperatura ambiente entre outros, interferem no controle da quantidade de alimentos ingeridos em uma refeição [37,39]. Os sinais indiretos são definidos por inter-relações entre os mecanismos gerados pelos sinais diretos e os mecanismos neurais, construindo, assim, os sinais de saciação, portanto, o impacto inibitório na ingestão alimentar é considerado como sinais indiretos. A fome e a saciedade são sentimentos que são governados por muitos processos e moléculas em que o cérebro, mais especificamente o hipotálamo, exerce um importante papel [40]. De fato, o sentimento de fome leva a um aumento de ingestão alimentar e, como consequência disto, o sentimento de saciedade deve ser gerado. Porém, a influência destas sensações, fome e saciedade, sobre a quantidade e frequência de refeições está intimamente relacionada ao fator hereditariedade [41]. Sabendo que todos estes processos de formação das sensações de fome e saciedade são controlados através de hormônios, peptídeos e neurônios, de Krom et al. [42] acreditam que existe uma suscetibilidade genética para o controle da ingestão alimentar nos genes que codificam os mesmos hormônios, peptídeos e neurônios envolvidos na formação destas sensações. Porém o conhecimento da genética sobre os aspectos do comportamento alimentar ainda é muito limitado. Muitos dos estudos que analisaram os genes envolvidos nas sensações de fome e saciedade não se preocuparam em aprofundar as investigações em relação as suas influências genéticas na formação destas sensações e, sim, objetivaram analisar os resultados finais de distúrbios relacionados à fome e saciedade, tais como a obesidade, diabetes do tipo II e composição corporal [42]. Sabe-se que este processo é regulado por ações integradas de vários feedbacks e outros sinais internos e externos que finalmente controlam a quantidade de alimento ingerido e a frequência de cada refeição [39]. Além disso, é sugerido que, em nível central, o hipocampo é uma importante região envolvida no processo de regulação energética, que possuem receptores, especialmente no núcleo arqueado, responsáveis pela detecção de vários neurohormônios com funções de sinalização da fome, saciedade e sinais de adiposidade [43]. Somando, ainda, a responsabilidade pelas funções de aprendizagem e memória, que, de acordo com vários autores, as funções de aprendizagem e memória possuem importantes papéis no controle da alimentação e do comportamento alimentar [23,24]. 51 Todavia, alocado no tronco encefálico, o núcleo do trato solitário (NTS) vem sendo destacado por ser um nodo crucial que recebe inputs diretos dos receptores gustativos e de muitos sinais de saciedade, geralmente advindos do contato direto dos nutrientes com o tracto gastrointestinal. Com isso, soluções foram designadas com o intuito de responder onde e como informações, fornecidas pelo tronco encefálico e hipotálamo, estão integradas no controle da ingestão alimentar, particularmente no término da refeição e sensação de saciedade [39]. Como exemplo destas soluções, recentes evidências sugerem que uma parte desta integração toma lugar nos neurônios do NTS, que recebem não somente informações do intestino, mas informações através do sistema melanocortinérgico e outras projeções do hipotálamo [36]. Influência do exercício físico sobre o controle do apetite Os benefícios da prática de atividade física ou engajamento em programas de exercício físico que acarretam mudanças no estilo de vida sedentário estão bem documentados, como, por exemplo, a diminuição dos riscos associados ao desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas ou mortes súbitas, se constituindo em uma importante intervenção no tratamento da obesidade [44]. Todavia, a modificação dos padrões ou hábitos alimentares parece ser consenso na literatura, como medida essencial para diminuição dos percentuais de gordura corporal. Portanto, dietas hipocalóricas parece ser a melhor medida adotada para quem deseja perder peso, no entanto, associação de ingestão alimentar balanceada a um aumento relevante do dispêndio energético diário total parece ser ainda mais benéfica [6]. Como consequência disto, verificou-se que a atividade física tem estreita relação com a ingestão alimentar, pois o trabalho corporal requer energia fornecida pelos nutrientes para que haja restauração dos estoques de combustível, com o propósito da continuidade do funcionamento das funções corporais. Neste sentido, Mayer et al. [5] executaram estudos com animais e homens, examinando o efeito do exercício sobre a massa corporal e ingestão alimentar. Para fornecer um melhor entendimento entre a relação destas variáveis, os mesmos autores confeccionaram gráficos que são apresentados na Figura 1. Estes autores dividiram o nível de atividade física em cinco zonas, onde a zona 1 ilustra o comportamento da ingestão alimentar e massa corporal de um indivíduo com baixo nível de atividade física. Em repercussão deste estilo de vida, é encontrado um aumentado tempo ocioso, tornando-o mais sedentário. Este tipo de ação não induz a uma redução compensatória na ingestão alimentar do mesmo, levando-o ao aumento da massa corporal total. Já na zona 2, é ilustrado a introdução da atividade física no cotidiano do sujeito, tendo como consequência, uma redução, mesmo que pequena, na ingestão alimentar, devido à mobilização dos estoques de energia, levando a diminuição da massa corporal total. Na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 52 zona 3, denominada de zona sensível, ilustra-se um indivíduo que agora é praticante regular de atividade física de moderada à vigorosa intensidade. Este tipo de atitude tem consequências que se diferem se o sujeito for magro, ou seja, a ingestão alimentar dele é aumentada, porém sua massa corporal total é mantida. Já, se o indivíduo for obeso não é demonstrado significantes mudanças na ingestão alimentar, devido ao excesso de energia estocado. Figura 1 - Modelo demonstrativo da relação entre nível de atividade física (NAT), massa corporal e ingestão alimentar. Massa corporal Zona de responsividade 1 Ingestão energética 0 2 1.7-1.8 3 4 2.2-2.5 5 4.0-5.0 NAT Zona de responsividade 1 0 2 1.7-1.8 3 2.2-2.5 4 5 4.0-5.0 NAT Fonte: Adaptada de Mayer et al. [5]. O nível de atividade física da população em geral possui um limite em torno de 2.2-2.5 (zona 4), e em indivíduos altamente treinados em torno de 4.0-5.0 (zona 5). Acima destes valores, o corpo humano não é capaz de compensar o dispêndio energético e, como consequência disto, perde-se massa corporal total, inclusive massa magra. Com base neste modelo, Mayer et al. [5] defendem a hipótese de que, imediatamente após a um significativo aumento no dispêndio energético, um balanço energético negativo é gerado. De acordo com este modelo, vários autores corroboram a idéia de que há um efeito supressor da ingestão alimentar como resposta reativa às séries agudas de atividades físicas [45,46]. Por outro lado, em uma vasta revisão da literatura, foi demonstrado que, em consequência da prática de exercício, em protocolos de curto a moderado tempo de intervenção (2-5 dias), 19% dos estudos reportaram aumento, 65% não demonstraram mudanças e 16% demonstraram diminuição da ingestão alimentar após a sessão de exercício [47,48]. Neste sentido, Whybrow et al. [49] analisaram o efeito de exercícios em diferentes intensidades: nenhum exercício (grupo controle), exercício moderado e intenso, sobre o apetite, ingestão alimentar, dispêndio e balanço energético em homens e mulheres magros. Constataram que o dispêndio energético gerado pela prática de exercício começa a ser compensado ou contrabalanceado pela ingestão alimentar, num curso de uma a duas semanas em homens e mulheres magras. Já, mais recentemente, King et al. [50] relataram que o efeito do exercício sobre a regulação do apetite, envolve, pelo menos, dois processos: I) aumento em todos os sinais orexígenos e II) um concomitante aumento na eficiência de sinais de saciedade em refeições fixas. No entanto, os mesmos autores alegam que estes processos não operam com a mesma força e eficácia em todos os indivíduos praticantes de exercícios. Juntas, as forças destes dois processos podem determinar se indivíduos perderão peso com a prática de exercício, ou se o peso corporal será mantido através do efeito compensatório do aumento da ingestão alimentar após a sessão de exercício. Em relação às respostas compensatórias ao déficit energético gerado pelo exercício, King et al. [7] relataram a importante influência das respostas compensatórias metabólicas (respostas automáticas ou obrigatórias, como, por exemplo, a taxa metabólica de repouso e o dispêndio energético gerado por outras atividades fisiológicas) e comportamentais (respostas voluntárias ou facultativas, como, por exemplo, ingestão alimentar), como pontos-chave, no tocante à barreira para perda de peso induzida pela prática de atividade física. As respostas compensatórias comportamentais possuem maior poder influenciador sobre as perturbações feitas ao balanço energético do que as respostas metabólicas. Portanto, as contribuições para estas perturbações ao balanço energético da atividade física são menos expressivas do que as contribuições dadas por meio da ingestão alimentar [14]. Em suma, parece que o efeito de sessões agudas de atividades físicas depende extremamente da intensidade empregada na atividade. Exercícios com intensidades de moderada a extenuantes (>60%VO2MAX) parecem ser mais eficazes no tocante ao efeito supressor do exercício físico em relação à ingestão alimentar. Isto se deve a uma redistribuição do fluxo sanguíneo, em específico da circulação esplênica em direção a musculatura [48]. Nesta mesma ótica, vários estudos especularam que exercício de baixa intensidade e curta duração parece não induzir efeito supressor sobre a fome. Somente exercícios de alta intensidade e longa duração possuem um forte efeito sobre a ingestão alimentar comparado a exercícios de curta duração, assim, exercícios extenuantes parecem suprimir o apetite e induzir a um efeito denominado anorexia induzida pelo exercício [50]. Conclusão Em suma, vários estudos sustentam a importância da região hipocampal sobre o gerenciamento da ingestão alimentar através da decodificação de citocinas que traduzem as sensações de fome e saciedade. Entretanto, o córtex pré-frontal, cingulado anterior e o núcleo do trato solitário parecem estar estreitamente interligados para o desempenho destas funções. Todavia, estudos com o intuito do melhor entendimento dos mecanismos, reações fisiológicas e hedônicas, que envolvem o controle central do apetite, ainda não conseguiram, por com- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 pleto, definir a totalidade de variáveis intervenientes que estão inter-relacionadas no processo da alimentação e do apetite. Além disso, a regulação do apetite é modulada pela prática de exercício físico. Porém, as repercussões atenuadoras do apetite geradas por meio do exercício físico parecem sofrer dependência da intensidade e duração do estímulo. Entretanto, estudos com um maior cuidado metodológico em relação à padronização da ingestão alimentar entre grupos e cuidado na escolha e utilização de variáveis bioquímicas que sejam mais sensíveis à regulação do apetite devem ser estimulados. Por exemplo, o peptídeo PYY3-36 parece possuir uma maior sensibilidade às alterações na regulação do apetite do que o PYY1-36. A grelina, na forma acilada, é outro ótimo exemplo, pois somente nesta forma, a mesma consegue ultrapassar a barreira hematoencefálica. Referências 1. Woods SC. The eating paradox: how we tolerate food. Psychol Rev 1991;98(4):488-505. 2. Schwartz MW, Woods SC, Porte D, Jr., Seeley RJ, Baskin DG. Central nervous system control of food intake. Nature 2000;404(6778):661-71. 3. Schoeller DA, Shay K, Kushner RF. How much physical activity is needed to minimize weight gain in previously obese women? Am J Clin Nutr 1997;66(3):551-6. 4. Saris WH. The role of exercise in the dietary treatment of obesity. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 55 Revisão Influência de variáveis relacionadas ao protocolo experimental no déficit de força muscular mediado pelo alongamento Influence of variables related to the experimental protocol in muscle strength deficit mediated by stretching Raquel Gonçalves*, André Luiz Demantova Gurjão*, José Cláudio Jambassi-Filho*, Luiza Hermínia Gallo*, Alexandre Konig Garcia Prado*, Sebastião Gobbi, D.Sc.* *Universidade Estadual Paulista, IB, DEF, Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento (LAFE), Rio Claro, São Paulo Resumo Um grande número de estudos tem demonstrado que exercícios de alongamento podem diminuir o desempenho de força muscular, fenômeno descrito como déficit de força muscular mediado pelo alongamento. De qualquer forma, nenhuma conclusão pode ser realizada com relação a esse fenômeno, uma vez que variáveis relacionadas ao protocolo experimental utilizado nos estudos podem influenciar sua magnitude. O presente estudo apresenta uma revisão sistemática de artigos cujo objetivo foi analisar a influência de variáveis relacionadas às rotinas de alongamento e ao método de avaliação da força muscular na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Foi realizada uma busca nos bancos de dados: Medline; Pubmed; Lilacs e Sport Discus. Após a busca, foram analisados 15 estudos relacionados ao tema. Com base nos estudos encontrados, a presente revisão demonstra que variáveis relacionadas ao protocolo experimental podem ter uma forte influência na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Abstract A large number of studies have shown that stretching exercises may decrease the performance of muscle strength, a phenomenon described as muscle strength deficits mediated by stretching. However, no conclusions can be made with respect to this phenomenon, since variables related to the experimental protocol used in the studies may influence its magnitude. This study presents a systematic review of articles whose aim was to analyze the influence of variables related to the stretching routines and to muscle strength evaluation method in the muscle strength deficits mediated by stretching. A search was conducted in the databases: Medline; Pubmed; Lilacs e Sport Discus. After the search, 15 studies related to the topic were analyzed. Based on the studies found, this review demonstrates that variables related to the experimental protocol may have influence on the magnitude of the muscle strength deficits mediated by stretching. Key-words: stretching, muscular strength, experimental protocol. Palavras-chave: alongamento, força muscular, protocolo experimental. Recebido em 31 de outubro de 2012; aceito em 10 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Sebastião Gobbi, Avenida 24A, 1515, 13506-900 Rio Claro SP, E-mail: [email protected] 56 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O déficit de força muscular induzido por rotinas de alongamento é o termo empregado para descrever a redução transitória no desempenho do sistema neuromuscular observada após a realização de exercícios de alongamento. Este fenômeno tem sido sistematicamente demonstrado após o emprego de diferentes métodos de alongamento e pode apresentar magnitude e duração de respostas bastante variadas [1-3]. A existência de evidências que apontam para o efeito deletério dos exercícios de alongamento sobre desempenho neuromuscular levou alguns pesquisadores a sugerir sua retirada das rotinas de aquecimento que precedem a prática de exercícios físicos [4,5]. Entretanto, alguns trabalhos não têm demonstrado o efeito negativo dos exercícios de alongamento sobre as respostas da força muscular [6,7]. Parte dessas contradições observadas pode estar associada não apenas às variáveis relacionadas às rotinas de alongamento, como exemplo o volume ou método de alongamento empregado, mas também às variáveis envolvidas no protocolo de avaliação da força muscular. Considerando as informações acima, é importante determinar qual a influência das variáveis associadas ao protocolo experimental utilizados em estudos que buscaram investigar o déficit de força muscular mediado pelo alongamento na magnitude desse fenômeno. Dessa forma, conclusões mais concretas poderão ser realizadas com relação ao emprego de rotinas de alongamento que precedem a prática de atividade física. O objetivo do presente estudo foi: a) revisar a influência das principais variáveis associadas às rotinas de alongamento na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento; b) revisar a influência das principais variáveis associadas ao método de avaliação da força muscular na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Métodos A busca eletrônica para a realização deste trabalho foi efetuada nas seguintes bases de dados: Medline; Pubmed; Lilacs e Sport Discus. Quando possível, limites de datas foram acrescentados. Para pesquisa dos estudos, foram utilizadas as seguintes palavras-chaves de forma combinada e/ ou individualmente: flexibility, stretching, dynamic stretching, static stretching, warm-up, strength, force, vertical jump, power, performance, joint angle. Para a base de dados Lilacs os termos citados acima foram utilizados em português. Em adição, a lista de referências de todas as publicações inclusas na revisão foi utilizada para busca manual de possíveis estudos relevantes que não foram encontrados durante a busca eletrônica. Os seguintes critérios de inclusão foram adotados: a) estudos experimentais cujo objetivo envolvia analisar o déficit de força muscular mediado pelo alongamento; b) estudos experimentais cujo objetivo envolvia comparar variáveis relacionadas às rotinas de alongamento na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento; c) estudos experimentais cujo objetivo envolvia comparar variáveis relacionadas ao método de avaliação da força muscular na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento; d) estudos que incluíam diferentes condições experimentais realizadas de forma aleatória. Primeiramente os artigos foram selecionados pelo título, quando continham palavras relacionadas ao tema. Posteriormente fez-se a leitura do resumo e texto completo dos artigos. A partir desse ponto os estudos foram selecionados quando englobavam os critérios de inclusão adotados. Resultados e discussão As Tabelas I, II, III e IV apresentam as características dos 15 estudos selecionados para análise. As próximas sessões analisam, separadamente, o efeito de cada uma das variáveis associadas às rotinas de alongamento (duração e método de alongamento) e ao protocolo de avaliação da força muscular (ângulo articular e tipo de exercício) no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Duração do alongamento Estudos que relataram efeitos negativos do alongamento no desempenho de força muscular utilizaram protocolos com durações de até 30 minutos para o mesmo grupo muscular [8,9]. Embora seja possível observar que o déficit de força muscular apresente um comportamento dependente do tempo de alongamento e do grupo muscular alongado, grande parte dos estudos adotou em seus protocolos experimentais rotinas com tempos de alongamento não condizentes com aqueles das rotinas empregadas na prática. Uma possível relação dose – resposta poderia explicar por que alguns estudos têm reportado que o desempenho de força muscular não é afetado pelo alongamento. Tem sido sugerido que a ausência desse efeito pode ser causada pela utilização de um protocolo de alongamento com menor volume. Neste sentido, a partir do ano de 2005, é possível verificar um crescente número de publicações que buscou comparar o efeito de menores volumes de alongamento sobre o desempenho agudo do sistema neuromuscular. Ogura et al. [10] compararam o efeito de dois volumes de alongamento estático (1 x 30 e 1 x 60 segundos) na contração voluntária máxima (CVM) dos posteriores de coxa. Os autores reportaram que a CVM foi significativamente menor após a rotina com duração de 60 segundos quando comparada com o protocolo de 30 segundos e a condição controle (sem alongamento). De forma similar, Siatras et al. [11] observaram maior diminuição do pico de torque (PT) após uma rotina de 60 segundos de alongamento estático, quando comparada a 30, 20 e 10 segundos de alongamento. Em contrapartida, Winchester Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 57 Tabela I - Estudos que investigaram a influência da duração do alongamento no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referência Ogura et al. [10] Siatras et al. [11] Ryan et al. [13] Winchester et al. [12] Rotina de Alongamento 30 ou 60 segundos de alongamento estático 10, 20, 30 ou 60 segundos de alongamento estático 120, 240 e 480 segundos de alongamento estático 30, 60, 90, 120, 150 e 180 segundos de alongamento estático Tipo de Ação Muscular Isométrica Isométrica Isométrica Isométrica Resultado >↓ CVM após 60 segundos >↓ PT após 60 segundos ↓ CVM após 120, 240 e 480 segundos ↓ TDF após 240 e 480 segundos ↓ CVM após 30, 60, 90, 120, 150 e 180 segundos > = Aumento; ↓ = Diminuição; CVM = Contração Voluntária Máxima; PT = Pico de Torque; TDF = Taxa de Desenvolvimento de Força. Tabela II - Estudos que investigaram a influência do método de alongamento no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referência Rotina de Alongamento Herda et al. [27] 540 segundos estático ou dinâmico Bacurau et al. [26] 1200 segundos de alongamento estático ou dinâmico 480 segundos de alongamento estático ou dinâmico 600 segundos de alongamento estático ou dinâmico 45 segundos de alongamento estático ou dinâmico 90 segundos de alongamento estático ou dinâmico 600 segundos de alongamento estático ou dinâmico 45 segundos de alongamento estático ou dinâmico Dalrymple et al. [21] Curry et al. [22] Beedle et al. [23] Samuel et al. [24] McMilian et al. [28] Unick et al. [25] Tipo de Ação Muscular Isométrica Resultado ↓ CVM após estático quando comparada ao método dinâmico 1RM ↓ 1RM após estático quando comparada ao método dinâmico SV Nenhuma alteração no SV após estático e dinâmico SV Nenhuma alteração no SV após estático e dinâmico 1RM Nenhuma alteração em 1RM após estático e dinâmico SV Nenhuma alteração no SV após estático e dinâmico 5 - step jump ↑ Potência muscular após alongamento dinâmico quando comparada ao estático SV Nenhuma alteração no SV após estático e dinâmico ↑ = Aumento; ↓ = Diminuição; SV = Salto Vertical; CVM = Contração Voluntária Máxima; 1RM = 1 Repetição Máxima. Tabela III - Estudos que investigaram a influência do ângulo articular de avaliação da força muscular no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referência Herda et al. [27] McHug et al. [30] Graus Avaliados 41, 61, 81 e 101 graus 80, 65, 50 e 35 graus Tipo de Ação Muscular Isométrica Isométrica Resultado >↓ PT em 81 e 101 graus >↓ Ângulo-torque em 65 e 80 graus > = Maior; ↓ = Diminuição; PT = Pico de Torque. Tabela IV - Estudos que investigaram a influência do tipo de exercício utilizado na avaliação da força muscular no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referência McBride et al. [31] Exercícios Tipo de Ação Muscular Monoarticular (Extensão de Joelho) e Multiarti- Isométrica cular (Agachamento) ↓ = Diminuição; CVM = Contração Voluntária Máxima; TDF = Taxa de Desenvolvimento de Força. Resultado ↓ CVM durante exercício monoarticular ↓ TDF durante exercício multiarticuar 58 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 et al. [12] observaram que 30 segundos de alongamento estático foram suficientes para reduzir a força muscular máxima dos posteriores de coxa. Em grupos musculares menores (flexores plantares), Ryan et al. [13] analisaram o comportamento da curva força-tempo (Cf-t) isométrica após 120, 240 e 480 segundos de alongamento estático. Os autores encontraram que a CVM diminuiu significativamente após todos os protocolos de alongamento empregados. Para a taxa de desenvolvimento de força (TDF) foram observadas reduções significativas após 240 e 480 segundos de alongamento. O tempo total que um músculo é submetido ao alongamento é uma importante variável a ser considerada, uma vez que estímulos com maiores volumes podem aumentar a magnitude de decréscimo da força muscular. Nesse sentido, os estudos citados acima sugerem que pode haver um limiar mínimo de alongamento, entre 20 e 60 segundos, para que possa ocorrer o déficit de força muscular. Métodos de alongamento (dinâmico vs. estático) Diferentes métodos de alongamento têm sido utilizados na prática durante sessões de aquecimento e durante programas de atividade física que visam o desenvolvimento da flexibilidade. Dentre eles, o método estático e o dinâmico são os mais conhecidos e investigados na literatura. Especificamente para a potência muscular, estudos têm demonstrado que o método dinâmico pode não afetar o desempenho de força, podendo, inclusive, melhorar a capacidade muscular em desenvolver força rapidamente [14-16]. Por outro lado, um número grande de evidências tem mostrado que rotinas de alongamento estático podem causar efeitos negativos na capacidade de força explosiva [17-20]. Estudos que procuraram comparar o efeito do método dinâmico e estático de alongamento no desempenho de força muscular têm encontrado resultados controversos. Alguns autores não observaram diferença significativa entre os métodos, sendo que tanto o método dinâmico quanto o método estático não causaram alterações no desempenho do salto vertical (SV), tempo do pico de força e uma repetição máxima (1 RM) de membros superiores e inferiores [21-25]. Em contrapartida, dois estudos demonstraram que o alongamento estático diminui significativamente o desempenho da PT e 1 RM quando comparado ao método dinâmico [26-27]. Apesar dos estudos demonstrarem redução na força muscular apenas após o emprego do método estático, ainda não há um consenso com relação à influência do método de alongamento empregado na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Ângulo articular de avaliação da força muscular O déficit de força mediado pelo alongamento parece ser mais aparente em amplitudes de movimento nas quais o comprimento da fibra muscular ou do sarcômero corresponda ao plateau máximo da curva força-comprimento [29]. Com base nessa observação, alguns autores buscaram analisar o comportamento do déficit de força mediado pelo alongamento em diversos ângulos de avaliação. Herda et al. [27] analisaram o efeito agudo do alongamento estático no PT isométrico durante flexão do joelho em quatro ângulos articulares diferentes (41, 61, 81 e 101 graus abaixo da extensão total do joelho). Os autores observaram que o alongamento estático diminuiu significativamente o PT isométrico dos posteriores de coxa, durante flexão de joelho, nos ângulos de 101 e 81 graus. Em ângulos menores de avaliação (41 e 61 graus), o alongamento não alterou o desempenho de força muscular. Em adição, McHug et al. [30] avaliaram a relação ângulo-torque durante flexão isométrica de joelho em seis valores diferentes de ângulo (80, 65, 50, 35, 20 e 5 graus). Assim como Herda et al. [27], os autores encontraram que o déficit de força mediado pelo alongamento é mais proeminente em comprimentos mais curtos da musculatura avaliada (80 e 65 graus), ou seja, durante avaliação da força muscular em ângulos maiores. Avaliação da força muscular – tipo de exercício O déficit de força mediado pelo alongamento tem sido demonstrado em exercícios monoarticulares, tanto em ações isométricas quanto dinâmicas. Em contrapartida, a influência do alongamento durante o desempenho de força muscular em exercícios multiarticulares tem sido demonstrada, em sua grande maioria, para o desempenho dinâmico de força. McBride et al. [31] procuraram comparar o efeito agudo do alongamento estático durante esforço muscular isométrico em exercício monoarticular (extensão de joelho) e multiarticular (agachamento). O protocolo de alongamento consistiu em três séries de 30 segundos para o quadríceps. Os resultados mostraram que o comportamento da força muscular isométrica pode sofrer influência do tipo de exercício utilizado durante avaliação da força. Durante esforço monoarticular apenas a CVM reduziu significativamente. Já para o esforço multiarticular houve redução da TDF. Conclusão A retirada de rotinas de alongamento que precedem a prática de atividade física tem sido sugerida por diversos autores. Porém, nenhuma conclusão concreta com relação ao déficit de força muscular mediado pelo alongamento pode ser realizada, uma vez que são observadas diferenças entre os protocolos experimentais utilizados nos estudos que buscaram analisar esse fenômeno. Foi observado que protocolos com maior volume de alongamento podem causar maiores efeitos deletérios agudos na produção de força, sendo que menores volumes de alongamento não causam nenhuma alteração no Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 desempenho de força muscular. Ainda com relação à rotina de alongamento, não há uma conclusão concreta sobre a influência do método utilizado (dinâmico ou estático) no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. O ângulo articular de avaliação da força muscular é outra importante variável a ser considerada na análise do efeito do alongamento no desempenho físico. Aparentemente, o déficit de força muscular mediado pelo alongamento é mais observado quando a força muscular é avaliada em ângulos articulares acima de 60 graus. Poucos estudos procuraram comparar o comportamento do déficit de força muscular mediado pelo alongamento em diferentes exercícios, sendo que parece ocorrer uma relação exercício-dependência nesse fenômeno. A presente revisão mostra uma forte evidência sugerindo que variáveis associadas às rotinas de alongamento e ao método de avaliação da força muscular podem influenciar a magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referências 1. Behm DG, Button DC, Butt JC. Factors affecting force loss with prolonged stretching. Can J Appl Physiol 2001;26:261-72. 2. Power K, Behm DG, Cahill F, Carrol M, Young W. An acute bout of static stretching: effects on force and jumping performance. Med Sci Sports Exerc 2004;36:1389-96. 3. Ryan ED, Beck TW, Herda TJ, Hull HR, Hartman MJ, Stout JR, Cramer JT. Do pratical durations of stretching alter muscle strength? A dose-response study. Med Sci Sports Exerc 2008;40:1529-37. 4. Church JB, Wiggins MS, Moode FM, Crist R. Effect of warm up and flexibility treatments on vertical jump performance. J Strength Cond Res 2001;15:332-36. 5. Cornwell A, Nelson AG, Sidaway B. Acute effects of stretching on the neuromechanical properties of the triceps surae muscle complex. Eur J Appl Physiol 2002;86:428-34. 6. Alpkaya U, Koceja D. The effects of acute static stretching on reaction time and force. J Sports Med Phys Fitness 2007;47:147-50. 7. Cramer JT, Beck TW, Housh TJ, Massey LL, Marek SM, Danglemeier S et al. Acute effects of static stretching on characteristics of the isokinetic angle-torque relationship, surface electromyography, and mechanomyography. J Sports Sci 2007;25:687-98. 8. Fowles JR, Sale DG, MacDougall JD. Reduced strength after passive stretch of the human plantarflexors. J Appl Physiol 2000;89:1179-88. 9. Weir DE, Tingley J, Elder GC. Acute passive stretching alters the mechanical properties of human plantar flexors and the optimal angle for maximal voluntary contraction. Eur J Appl Physiol 2005;93:614-23. 10. Ogura Y, Miyahara Y, Naito H, Katamoto S, Aoki J. Duration of static stretching influences muscle force production in hamstring muscles. J Strength Cond Res 2007;21:88-92. 11. Siatras TA, Mittas VP, Mameletzi DN, Vamvakoudis EA. The duration of the inhibitory effects with static stretching on quadriceps peak torque production. J Strength Cond Res 2008;22:40-6. 12. Winchester JB, Nelson AG, Kokkonen J. A single 30-s stretch is sufficient to inhibit maximal voluntary strength. Res Q Exerc Sport 2009;80:257-61. 13. Ryan ED, Beck TW, Herda TJ, Hull HR, Hartman MJ, Stout JR et al. Do practical durations of stretching alter mus- 59 cle strength? A dose-response study. Med Sci Sports Exerc 2008;40:1529-37. 14. Young WB, Elliot, S. Acute effects of static stretching, proprioceptive neuromuscular facilitation stretching and maximum voluntary contractions on explosive force production and jumping performance. Res Q Exerc Sport 2001; 72:273-9. 15. Jaggers JR, Swank AM, Frost KL, Lee CD. The acute effects of dynamic and ballistic stretching on vertical jump height, force, and power. J Strength Cond Res 2008;22:1844-9. 16. Yamaguchi T, Ishii K, Yamanaka M, Yasuda K. Acute effects of dynamic stretching exercise on power output during concentric dynamic constant external resistance leg extension. J Strength Cond Res 2007;21:1238-44. 17. Holt BW, Lambourne K. The impact of different warm-up protocols on vertical jump performance in male collegiate athletes. J Strength Cond Res 2008;22:226-9. 18. Thompsen AG, Kackley T, Palumbo MA, Faigenbaum AD. Acute effects of different warm up protocols with and without a weighted vest on jump performance in athletic women. J Strength Cond Res 2007;21:52-6. 19. Vetter RE. Effects of six warm-up protocols on sprint and jump performance. J Strength Cond Res 2007;21:819-23. 20. Wallmann HW, Mercer JA, McWhorter JW. Surface eletromyographic assessment of the effect of static stretching of the gastrocnemius on vertical jump performance. J Strength Cond Res 2005;19:684-8. 21. Dalrymple KJ, Davis SE, Dwyer GB, Moir GL. Effect of static and dynamic stretching on vertical jump performance in collegiate women volleyball players. J Strength Cond Res 2010;24:149-55. 22. Curry BS, Chengkalath D, Crouch GJ, Romance M, Manns PJ. Acute effects of dynamic stretching, static stretching, and light aerobic activity on muscular performance in women. J Strength Cond Res 2009;23:1811-9. 23. Beedle B, Rytter SJ, Healy RC, Ward TR. Pretesting static and dynamic stretching does not affect maximal strength. J Strength Cond Res 2008;22:1838-43. 24. Samuel MN, Holcomb WR, Guadagnoli MA, Rubley MD, Wallmann H. Acute effects of static and ballistic stretching on measures of strength and power. J Strength Cond Res 2008;22:1422-8. 25. Unick J, Kieffer HS, Cheesman W, Feeney A. The acute effects of static and ballistic stretching on vertical jump performance in trained women. J Strength Cond Res 2005;19:206-12. 26. Bacurau RFP, Monteiro GA, Ugrinowitsch C, Tricoli V, Cabral LF, Aoki MS. Acute effect of a ballistic and a static stretching exercise bout on flexibility and maximal strength. J Strength Cond Res 2009;23:304-8. 27. Herda TJ, Cramer JT, Ryan ED, McHugh MP, Stout JR. 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Scand J Med Sci Sports 2007;17:54-60. 60 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. 61 O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 62 Calendário de eventos 2012 Junho Março 29 de março a 1 de abril Goiânia Capital Fitness Centro de Convenções Goiânia, GO Informações: www.bsbfitness.com.br 2 a 5 de abril XIV Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa Belo Horizonte, MG Informações: www.casaef.org.br/palops VII Musculação e Treinamento Informações: (11) 2714-5678/2714-5695 e-mail: [email protected] site: www.institutophorte.com.br 14 de abril I Certificação em Avaliação Funcional, Treinamento Funcional & Core e Pilates MET Informações: (11) 2714-5678/2714-5695 e-mail: [email protected] site: www.institutophorte.com.br 28 de abril a 1 de maio 22º Fitness Brasil Internacional Santos, SP Informações: www.fitnessbrasil.com.br 26º JOPEF Brasil Centro de Convenções, Curitiba, PR Informações: www.korppus.com.br 26 a 29 de junho Abril 13 a 15 de abril 7 a 9 de junho 4th International Congress on Cell Membranes and Oxidative Stress: Focus on Calcium Signaling and TRP Channels Isparta, Turkey Informações: www.cmos.org.tr/2012/ Julho 26 a 28 de julho 14º Rio Sports Show Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ Informações: www.riosportshow.com.br Agosto 30 de agosto a 1 de setembro 13th IHRSA Fitness Latin American Conference Trade Show São Paulo, SP Informações: www.fitnessbrasil.com.br Novembro 9 a 11 de novembro 12º Fitness Brasil Bahia Salvador, BA Informações: www.fitnessbrasil.com.br