MPECM_ Dissertação de Mestrado_ Josilene Erlacher Werneck
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MPECM_ Dissertação de Mestrado_ Josilene Erlacher Werneck
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA JOSILENE ERLACHER WERNECK MACHADO FALK A PARCERIA EDUCATIVA ENTRE MUSEU E ESCOLA NA ARTICULAÇÃO DA EDUCAÇÃO CIENTIFÍCA: UMA PROPOSTA PARA DOMINGOS MARTINS/ES Vitória 2014 JOSILENE ERLACHER WERNECK MACHADO FALK A PARCERIA EDUCATIVA ENTRE MUSEU E ESCOLA NA ARTICULAÇÃO DA EDUCAÇÃO CIENTIFÍCA: UMA PROPOSTA PARA DOMINGOS MARTINS/ES Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Educação em Ciências e Matemática do Campus Vitória do Instituto Federal do Espírito Santo como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Matemática. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Augusto Moscon Oliveira Vitória 2014 (Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo) F191p Falk, Josilene Erlacher Werneck Machado. A parceria educativa entre museu e escola na articulação da educação científica: uma proposta para Domingos Martins/ES / Josilene Erlacher Werneck Machado Falk. – 2014. 177 f. : il. ; 30 cm Orientador: Eduardo Augusto Moscon Oliveira. Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática. 1. Métodos de ensino empregados fora da sala de aula. 2. Museu. 3. Educação não-formal. 4. Ciência – Estudo e ensino. 6. Professores. I. Oliveira, Eduardo Augusto Moscon. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título. CDD: 371.38 Ao José da minha vida, o poeta da simplicidade, o carpinteiro do meu quintal, o meu pai amado. AGRADECIMENTOS Tudo conspirou a favor. Tanto os caminhos livres, como os cheios de obstáculos, as tempestades do dia-a-dia ou os momentos de esperança. Os encontros marcados ou os inesperados, os velhos e os novos amigos. As preces atendidas e as esperanças frustradas, toda luz e discernimento. Por isso, sou imensamente grata ao DEUS do Universo que rege a minha vida e que me trouxe pela trajetória que escolhi. Agradeço ao aconchego da minha família. Minha mãe Lenice por ser meu porto seguro e meu esposo Leonardo, pelo apoio constante, por serem pacientes, compreenderem as ausências e me estimularem a cada dia. À minha irmã Jakeline por me auxiliar e dar condições de seguir em frente, e a todos os demais que me apoiaram. Vocês são muito importantes para mim. Aos meus sobrinhos Ana Laura e Luiz Henrique que me motivaram a prosseguir. À Minha amiga Michele que foi minha companhia desde o primeiro momento no mestrado, que me acolheu em sua casa, com quem dividi angústias e alegrias. Você amiga, foi extraordinária! Ao professor Eduardo Moscon, meu orientador, agradeço por me conduzir com sabedoria neste trabalho, por depositar confiança nas minhas escolhas e por ser um professor que liberta. Foi um presente ser acompanhada por uma pessoa altruísta e comprometida com a educação de todos. Você Eduardo, é referência e merece minha admiração e respeito. Obrigada por toda dedicação, motivação, conselhos e sugestões. Ao professor Sidnei Quezada por transformar a educação do nosso estado com competência e dedicação máxima. Você Sidnei, revolucionou a educação científica, por diversas razões, mas em especial por oferecer oportunidades aos professores da educação básica de todos os lugares do estado. À Professora Manuella Amado por ser exemplo de vida e inspiração, por me apresentar a teoria e a prática de forma tão fascinante e me dá a certeza de que poderia continuar sonhando com uma educação mais humana. Ao professor Carlos por ser presença constante. Pela competência, amizade e inúmeras contribuições ao meu trabalho. Suas aulas de campo são fantásticas e me ensinaram muito. Obrigada por despertar em mim o amor pelos espaços educativos não escolares. À professora Roberta, pela identificação imediata (este foi um encontro inesperado), por me acolher e por contribuir de forma tão grandiosa com este trabalho. Aos colegas Elaine, Graça, Patrícia, Kelly, Rivana, Luz Marina, Marcio, Mirian, Michele e Marina por realizarem os seminários da formação com os professores. Meu agradecimento especial por me ajudarem a concretizar essa tarefa. Ao Grupo de Estudos dos Espaços potencialmente educativos, pela parceria e aprendizado, viagens e discussões produtivas. Ao clube da quinta, Emerson, Marciano, Inácio, Mirian, Clóvis, Raphael, Kelly e Michele, por tornarem os momentos de pânico em momentos de alegria. À Prefeitura Municipal de Domingos Martins e seus funcionários por me receberem e me oferecerem condições de desenvolver o projeto. Aos professores que foram pesquisadores coletivos desta investigação, que com muita dedicação construíram uma proposta para buscar promover a parceria museu e escola e realizaram um projeto de exposição científico-cultural. Vocês foram incríveis, demonstraram o quanto são conscientes e zelam pela educação de nosso município. Plantamos a semente!!!.... À FAPES pela bolsa concedida nos últimos 14 meses do mestrado. À SEDU, pela concessão de licença para realização da pesquisa. Quando escolhemos um caminho, também escolhemos a cor da nossa vida! MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA RESUMO Trabalho que discute e propõe a parceria educativa entre museu e escola para a potencialização da educação e cultura científica. Com base nas discussões sobre o potencial educativo de espaços não-escolares, especialmente os museus, procura compreender o papel destes ambientes na formação humana, sua função social e trajetória histórico-política. Destaca a importância de uma relação sinérgica entre museus e escola, numa perspectiva histórico-cultural, visando à formação integral dos indivíduos e acessibilidade ao conhecimento, afim de que se tornem ferramenta de emancipação humana. A investigação está inserida numa perspectiva histórico– cultural tanto do ponto de vista do ensino e aprendizagem como do metodológico. Em uma abordagem qualitativa, os dados foram produzidos em etapas conforme metodologia da pesquisa-ação, onde após o diagnóstico foi dado início a um processo social coletivo que deu origem a uma proposta de constituição de espaço museal. Os protagonistas deste estudo foram professores e técnicos da rede municipal de educação do município de Domingos Martins. As estratégias metodológicas utilizada na pesquisa-ação foram: a aplicação de questionário, o registro em diário dos seminários nos grupos de estudo. Também foram realizadas visitas técnicas a diferentes espaços em diferentes estados, com registro de suas atividades. Ao final, foi elaborada uma proposta, constituída por meio de um processo social coletivo, a partir de dados gerados nas discussões e reflexões dos professores participantes do grupo de estudos e pesquisa. Os resultados apresentaram, em um primeiro momento, que de forma geral, os professores da rede necessitam conhecer melhor o potencial educativo de espaços não-escolares, obter suporte teórico e condições de instrumentalizar atividades nestes lugares. No segundo momento, os resultados apontam que a partir de processos formativos é possível mudar esta realidade e criar um espaço político de discussão e propostas de mudança de realidade local. O grupo desenvolveu uma proposta de atividades museais que foi entregue ao município, com demanda para realização de exposições temporárias, que veio integrar o produto final deste trabalho: a elaboração de um livro eletrônico que trata da elaboração de exposições científicoculturais como um ponto de parceria entre o museu-escola. Palavras-chave: Parceria escola-museu. Educação Científica. Espaços educativos não-formais. Exposição científico-cultural. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA ABSTRACT Work that proposes and discusses the educational partnership between museum and school for the enhancement of education and scientific culture. Based on the discussions about the educational potential of non-school spaces, especially museums, seeks to understand the role of these environments on human development, its social, historical and political trajectory. Highlights the importance of a synergistic relationship between museums and school, a cultural-historical perspective, aiming at the integral formation of individuals and accessibility to knowledge, so that they become human emancipation tool. The research is embedded in a cultural-historical perspective from the point of view of teaching and learning as the methodology. In a qualitative approach, data were produced in steps according to the methodology of action research, where after diagnosis was initiated a collective social process that led to a proposal to set up museum space. The protagonists of this study were teachers and technicians from the municipal education in the municipality of Domingos Martins. The methodological strategies used in action research were: questionnaires, journaling seminars in study groups. Techniques to different areas in different states, with a record of their activities visits were also undertaken. At the end, a proposal was drafted, formed by means of a collective social process, from data generated in the discussions and reflections of teachers participating in the study group and research. The results showed, at first, that in general, teachers need to network better understand the educational potential of non-school spaces, to obtain theoretical support and conditions of exploiting activities in these places. In the second phase, the results indicate that from formative processes is possible to change this situation and create a political space for discussion and proposals for change in local reality. The group developed a proposal for museological activities that was delivered to the municipality, with demand for holding temporary exhibitions, which came integrate the final product of this work: the development of an electronic book that deals with the development of scientific and cultural exhibits as a point of partnership between the museum-school. Keywords: museum-school partnership. Science Education. Non-formal educational settings. Scientific-cultural exposure. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Mapa conceitual da Pesquisa. .................................................................. 29 Figura 2 - Mapa da Divisão Política e Limites de Domingos Martins – ES ................ 30 Figura 3 - Aspectos da natureza e cultura de Domingos Martins/ES ........................ 31 Figura 4 - Espiral da Pesquisa .................................................................................. 33 Figura 5 - Espiral da Cultura Científica ...................................................................... 46 Figura 6 - Modalidades e espaços educativos na produção da Educação ................ 51 Figura 7 - Mapa contendo a quantidade de Museus por unidade da Federação, Brasil 2000. ........................................................................................................ 71 Figura 8 - Mapa contendo a Dispersão Geográfica dos Museus Brasileiros, 2010 ... 72 Figura 9 - Mapa da Dispersão dos Museus do Espírito Santo .................................. 73 Figura 10 - Casa da Cultura de Domingos Martins – ES ........................................... 74 Figura 11 - Exemplo de objetos expostos no museu de Domingos Martins - ES ...... 75 Figura 12 - Objetos e estilo de exposição do museu de Domingos Martins - ES ...... 76 Figura 13 - Frontispício do Musei Wormiani História - Gabinete de Curiosidades ... 82 Figura 14 - Deutsche Museum: vista externa e exposições tecnológicas ................. 83 Figura 15 - Processo de transposição didática nos museus ..................................... 88 Figura 16 - Cadeia operacional de desenvolvimento de Exposição Científico-Cultural -Pré-Produção .......................................................................................... 96 Figura 17 - Mapa de Domingos Martins: Demonstrativo de locais e quantitativo de respondentes por região pesquisada. .................................................... 101 Figura 18 - Auditório Coroa – local de realização da formação com professores ... 117 Figura 19 - Material disponibilizado aos participantes da formação. ....................... 117 Figura 20 - Abertura do processo de formação com a coordenadora do projeto .... 118 Figura 21 - Apresentadora 1 abordando a educação científica na educação básica ............................................................................................................... 119 Figura 22 - Apresentadora 2 expondo os lugares da educação. ............................. 120 Figura 23 - Discussão sobre EENF em Domingos Martins ..................................... 121 Figura 24 - Marcação e localização de EENF no mapa de Domingos Martins........ 121 Figura 25 - Apresentadora 3 no momento da discussão sobre os três momentos pedagógicos das SD. ............................................................................. 122 Figura 26 - Apresentadora 4 introduzindo a pedagogia de projetos ........................ 125 Figura 27 - Grupo de trabalho de práticas investigativas: Estudo da fumaça do cigarro .................................................................................................... 128 Figura 28 - Grupo de práticas investigativas: pH do solo ........................................ 129 Figura 29 - Grupo de práticas investigativas: acidez da chuva ............................... 129 Figura 30 - Apresentadora 8 realizando um breve histórico sobre os museus ........ 132 Figura 31 - Visita técnica à Escola da Ciência Física de Vitória - ES ...................... 135 Figura 32 - Atividades na Escola da Ciência Física de Vitória/ES ........................... 135 Figura 33 - Visita técnica ao Museu Vale ................................................................ 137 Figura 34 - Visita técnica à Escola de História, Biologia e Ciências de Vitória. ....... 138 Figura 35 - Grupos de trabalho em construção da proposta de espaço para atividades museais em Domingos Martins - ES ..................................... 140 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Procedimentos e objetivos da investigação ............................................... 35 Quadro 2 - Aspectos da abordagem de CTS............................................................... 43 Quadro 3 - Especificidades da Escola e do Museu ..................................................... 85 Quadro 4 - Planejamento de visitas escolares ao museu - Parceria educativa museuescola a partir do olhar da escola ............................................................. 92 Quadro 5 - Atributos relacionados à exposições com enfoque CTS .......................... 99 Quadro 6 - Grelha analítica - Por que é importante um museu de ciência em Domingos Martins?................................................................................. 109 Quadro 7- Problematizar e Perguntar........................................................................ 123 Quadro 8 - Guia para análise de exposição em visita técnica a escola da ciência Física de Vitória - ES .............................................................................. 136 Quadro 9 - Questões para análise do Museu Vale. ................................................... 137 Quadro 10 - Questões para subsidiar análise da Escola de Ciência, Biologia e História de Vitória - ES ........................................................................................ 139 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Número de Instituições museais por período no Brasil ............................ 68 Gráfico 2 - Nível de formação do grupo pesquisado ............................................... 102 Gráfico 3 - Atuação nas redes de ensino ................................................................ 102 Gráfico 4- Tempo de experiência no magistério ...................................................... 103 Gráfico 5 – Índice de utilização de temas educacionais segundo a prática do grupo pesquisado ........................................................................................... 104 Gráfico 6 – Índice de estratégias mais utilizadas nas práticas pedagógicas ........... 104 Gráfico 7 - Realização de atividades fora do espaço escolar .................................. 105 Gráfico 8 - Dificuldade em realizar atividades fora do espaço escolar .................... 105 Gráfico 9 - Incidência e obstáculos à práticas nos EENF ........................................ 106 Gráfico 10 - Espaços visitados por meio de atividades escolares ........................... 106 Gráfico 11 - Espaço físico para aulas práticas na escola ........................................ 107 Gráfico 12 - Recursos materiais disponíveis para práticas e pesquisas na escola . 107 LISTA DE SIGLAS ABCMC - Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências C & T - Ciência e Tecnologia CNM - Cadastro Nacional de Museus CTS - Ciência, Tecnologia e Sociedade CTSA - Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente EEF - Espaços educativos formais EENF - Espaços educativos não formais IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBRAM - Instituto Brasileiro de Museu IHBGB - Instituto Histórico Geográfico Brasileiro MinC - Ministério da Cultura PHC - Pedagogia Histórico Crítica SPHA - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico nacional ZDP - Zona de desenvolvimento Proximal SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 17 2 PERCURSO METODOLÓGICO ....................................................................... 27 2.1 A CONCEPÇÃO DA PESQUISA E SUA ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA . 27 2.2 CONTEXTO DA PESQUISA: UM POUCO SOBRE DOMINGOS MARTINS .... 29 2.3 SUJEITOS DA PESQUISA: QUEM É O PESQUISADOR COLETIVO? ........... 32 2.4 ETAPAS DA PESQUISA................................................................................... 33 2.5 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DE PESQUISA ................................ 34 2.6 PRODUTO FINAL ............................................................................................. 35 3 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA E ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL .......... 38 3.1 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA PARA A ATUALIDADE ........................................ 38 3.1.1 Cultura e Cultura Científica .............................................................................. 44 3.1.2 Educação Científica e seus lugares ................................................................. 47 3.2 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL ........ 52 3.2.1 As Contribuições da Teoria Histórico-Cultural ............................................ 53 3.2.2 As contribuições da Pedagogia Histórico-Crítica ....................................... 57 4 MUSEUS: ESPAÇOS SOCIALIZADORES DO CONHECIMENTO ................. 65 4.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DOS MUSEUS NO BRASIL: CONTEXTOS POLÍTICOS ....................................................................................................... 66 5 MUSEU E ESCOLA ARTICULANDO A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL ....................................................... 77 5.1 O SURGIR DA PARCERIA EDUCATIVA MUSEU-ESCOLA ............................ 79 5.2 AS ESPECIFICIDADES PEDAGÓGICAS DOS MUSEUS E ESCOLAS .......... 85 5.3 A RELAÇÃO MUSEU-ESCOLA: ENTRECRUZANDO OS OLHARES ............. 89 5.3.1 A escola e a condução de vivências nos espaços museais ....................... 90 5.3.2 O museu e o público escolar ......................................................................... 93 6 EM BUSCA DA PARCERIA EDUCATIVA MUSEU E ESCOLA : UMA PROPOSTA PARA DOMINGOS MARTINS-ES ............................................. 100 6.1 CONHECENDO O CONTEXTO EDUCACIONAL DE DOMINGOS MARTINS ........................................................................................................................ 100 6.2 PROPOSTA DE AÇÃO: A FORMAÇÃO COM PROFESSORES ................... 114 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 142 APÊNDICE A - Carta de apresentação do projeto de pesquisa à Instituição. ............................................................................................... 155 APÊNDICE B – Solicitação de realização de Pesquisa .............................. 156 APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinado aos professores respondentes do questionário diagnóstico. ........ 157 APÊNDICE D - Questionário aplicado aos professores .............................. 158 APÊNDICE E - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinado aos professores participantes da formação continuada. .............. 160 APÊNDICE F - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinado a equipe de planejamento da exposição científico-cultural....... 161 APÊNDICE G – Organização da formação continuada ............................. 162 APÊNDICE H – Equipe de planejamento da Exposição científico- cultural ............................................................................................... 163 APÊNDICE I – Questões norteadoras para discussão da proposta de Espaço museal para Domingos Martins/ES ....................................... 164 APÊNDIDE J – Proposta de espaços museal para Domingos Martins ....... 165 ANEXO A - Oficio de autorização de pesquisa nas escolas municipais de Domingos Martins – ES ......................................................... 176 ANEXO B – Ofício encaminhado pela PMDM ............................................ 177 17 1 INTRODUÇÃO ''Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. (...)Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos (...).'' Manoel de Barros Um pequeno riacho separando a minha casa e a casa de minha avó. Goiabeiras e jardins, hortas e um velho forno de estuque. Quem um dia poderá dizer que em minha infância não descobri uma forma de experimentar o mundo e sobre ele realizar descobertas? O meu quintal e tudo que dele fazia parte me ensinaram muito, foi um lugar de boas experiências, nele meus pais me motivaram a pensar e fazer. O rancho cheio de coisas, com ferramentas de muitos tipos, era um canto que me atraía. Grande laboratório! Com uma imaginação muito fértil, realizava longas viagens em meus próprios pensamentos, brincava de tudo e com tudo. As ferramentas eram minhas aliadas. Com minha irmã e meus primos construíamos muitas coisas: nossas cabanas, balanços e carrinhos de rolimã. Debaixo da goiabeira, tínhamos um lugar perfeito para construir a nossa casinha. Martelo, serrote, pregos e madeiras, medindo e cortando, errando e concertando. Assim surgia nossa casa. As brincadeiras iam até o sol se pôr dando lugar à luz da lamparina e ao pisca-pisca dos vagalumes. Desta forma, tomávamos, intuitivamente, uma lição de ciências em cada afazer. Para preparar os pães, ao mesmo tempo em que me divertia em ajudar a modelálos, minha avó me dava aulas sobre o fermento e o crescimento da massa. Também me explicava sobre como atingir a temperatura ideal do forno à lenha para assar os pães adequadamente. No terreiro, juntando a brasa incandescente, torrávamos os grãos de café, num ponto de “torra média” como minha avó dizia, para que se preservasse o sabor. Era 18 uma combinação perfeita, entre a fumaça do torrador e a garoinha que caia no fim da tarde, aplacando o calor do braseiro. O sótão da casa guardava muitas histórias, era um lugar que despertava a curiosidade, baús de madeira, moedas antigas, livros em alemão e muitos objetos que contavam a história de vida de meus antepassados. Lá estavam os instrumentos de trabalho de meu avô, que fora um grande sapateiro e trabalhava com selaria, em uma época em que o trabalho artesanal era muito necessário. Sempre, nos fins de tarde, depois de passarmos bons momentos brincando de escolinha, regávamos a horta e fazíamos as sementeiras. Foi assim por toda a infância, sonhava em ser professora de uma escola que construí em meu íntimo, queria ser capaz de dar asas a quem nela estivesse. Cresci em Paraju, interior do Espírito Santo, onde estudei em uma escola pública. Ainda muito jovem, com 16 anos, no ano de 1991, conclui o Curso de Habilitação para o Magistério. Cheia de planos, assumi a minha primeira sala de aula em 1992, a qual se localizava a oito quilômetros de minha casa. Para chegar à escola, percorria essa distancia a pé todos os dias, na ida e na volta. Minha sala de aula guardava características preteridas pela maioria dos professores: era distante, multisseriada e possuía alguns alunos da 1ª série que só falavam em pomerano. Grande desafio! Minha inexperiência não permitia compreender a complexidade da situação. No entanto, me envolvi profundamente com a escola, alunos e família, e, alcançamos juntos, o sucesso, ao final do ano letivo. Talvez esta experiência tenha sido crucial para iniciar a construção do meu olhar sobre o processo de ensino- aprendizagem. O fato de a pequena escola ser multisseriada me exigiu desenvolver práticas que contemplassem a todos sem prejuízo dos conteúdos de aprendizagem. Apesar de não dominar todas as terminologias pedagógicas, eu trabalhava de forma interdisciplinar, com temas geradores, com aspectos da natureza local, aulas de campo e com os problemas sociais. Aprendi um pouco do dialeto pomerano, usava o recurso de monitoria, não tínhamos separações, era uma só sala de aula, mas com muitas trocas de experiências. Após este período, fui trabalhar em uma escola pública de 1º Grau, hoje correspondente ao ensino fundamental, na qual eu estudara toda minha infância. 19 Lecionei várias disciplinas, como geografia, ciências, história e artes. Encontrei uma realidade completamente distinta. Algumas coisas haviam mudado. Cada professor encontrava-se fechado em seu mundo, desenvolvendo somente o que competia à sua disciplina. Não avistava possibilidade de um trabalho em conjunto. Paralelo a isso, iniciei minha licenciatura em Geografia. Pude crescer bastante com o curso. Construí novas perspectivas dentro do contexto da educação. A cada momento, sentia uma necessidade maior de correlacionar os conhecimentos teóricos ao mundo dos estudantes, buscando atentar para a utilidade na vida deles. A esta altura, os conceitos de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade já eram difundidos nos espaços educacionais. Ainda que pouco compreendidos e quase não praticados. A geografia, contudo, me concedeu um olhar social, baseado na crítica, na compreensão das relações humanas e do espaço geográfico. Morin (2003) a aponta como uma ciência “multidimensional”, que abre grande leque de conhecimentos científicos, o que, sem dúvida, atentou em mim, a necessidade de tangenciar, em meu trabalho, as outras áreas de conhecimento. Entretanto, em várias tentativas de trabalho em conjunto não obtive sucesso. Havia sempre obstáculos ligados à falta de tempo, à incompatibilidade de horários, aos processos avaliativos, e até mesmo às questões curriculares. Desta forma, percebi que havia uma necessidade urgente de tornar o conhecimento mais significativo e buscar soluções para um trabalho interdisciplinar dentro da própria disciplina que lecionava. Percebi que o caminho para suprir essa necessidade passava pela qualificação. E ingressar em um programa de mestrado seria o primeiro passo. Durante muito tempo, isso parecia algo muito distante e de difícil realização. Mas quando essa oportunidade criada pelo Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) tornou-se real, direcionei meus esforços para buscar a aprovação no programa, especialmente porque, sua essência é multidisciplinar e correspondia de imediato às minhas metas. Sendo assim, esta inquietação que nasce do modelo da práxis educativa que estamos produzindo, foi o que me moveu a ingressar no programa de mestrado. Com o tempo, fui percebendo que, tal como está, sozinha, a escola não seria capaz de colocar o estudante em contato com todos os saberes e suas complexidades, sem no entanto, minimizar sua importância. É preciso algo mais. A escola precisa avançar para o mundo, atuar em outros âmbitos e abrir espaço para que o mundo 20 adentre em seu espaço. Ela precisa proporcionar o experimentar e valorizar a historicidade dos conhecimentos clássicos e populares. A partir deste ponto comecei a notar a importância dos diversos espaços potencialmente educativos na disseminação do conhecimento e na formação cidadã dos estudantes. Isso de imediato me remeteu ao quintal de minha infância. Um lugar simples, mas ao mesmo tempo complexo por engendrar uma rede de conexões entre saberes que vinham da relação entre as pessoas e destas com os objetos, o lugar e o tempo pretérito e atual. Este quintal, reparando bem, assemelhava-se um pouco aos museus de agora. Assim, ao ter contato com as disciplinas do mestrado, minha percepção foi se ampliando e os museus me atraíram irreversivelmente e tornaram-se o espaço educativo que investigaria numa parceria educativa com a escola com o intuito de buscar uma prática pedagógica capaz de romper com o modelo cartesiano de compartimentação das ciências, dadas suas características especiais que Cury (2010, p.366) salienta: “A cultura material musealizada é um suporte educacional vasto e complexo, não limitado por recortes disciplinares e passível de abordagens transversais, participações interdisciplinares [...]" O fato de os museus atuais serem considerados espaços educativos naturalmente transdisciplinares que podem estimular o engajamento físico, emocional e cognitivo de quem o visita, abre grandes possibilidades de desenvolver uma educação da perspectiva cidadã (MARANDINO, 2005, NASCIMENTO, 2010). Isto também se justifica por possuírem função social definida e trabalharem na perspectiva de produzir e difundir saberes, ampliando a cultura científica ao se relacionarem com questões relacionadas à ciência, política e economia. Como parte do processo de aproximação da realidade dos museus me propus a conhecer alguns. Visitei em Recife, o Espaço Ciência um museu a céu-aberto que proporciona experiências interativas aos visitantes e também realiza um rico trabalho de relação com a educação formal e com outros setores da sociedade. Em São Paulo, visitei o Instituto Butantã e o Catavento Cultural e Educacional, em ambos, realizei análise de exposição. No Rio de Janeiro visitei o Museu da Vida na fundação Fiocruz onde me prendi em aspectos da mediação. Em Vitória, visitei um dos quatro centros de ciência do município a Escola da Ciência e da Física onde busquei 21 analisar a comunicação com o público e a abordagem CTS (ciência, tecnologia e sociedade) nas exposições. Além das visitas que me puseram bem próxima dos museus, também cursei na Universidade de São Paulo (USP), como aluna especial, a disciplina Educação em museus: Pesquisas e Práticas, que me apresentou um referencial teórico mais específico sobre o assunto, no que se refere às especificidades da pedagogia museal, o discurso expositivo, a produção de exposições, e a comunicação no museu. Tendo clara a importância do trabalho educativo do museu para a sociedade, mais uma vez me deparei com situação adversa. Pois, concomitante a essas constatações, ocorreu-me que para elaborar uma proposta de parceria educativa museu-escola na região onde trabalho, a fim de renovar o ensino de ciências, as escolas precisariam, entre outras coisas, contar com museus que preferencialmente tivessem uma abordagem pedagógica condizente com as propostas atuais, e, assim como em muitos lugares do Brasil, em meu município somos necessitados dessa oferta. Neste sentido, surgiram algumas perguntas que foram me conduzindo um conjunto de questões: De que forma os museus podem atuar no desenvolvimento da cultura científica, especialmente com escolares? Como a escola pode explorar as potencialidades educativas de espaços não escolares de modo a proporcionar uma construção crítica do conhecimento? Como é possível desenvolver uma educação científica condizente com as necessidades humanas no contexto político-social que vivemos? Será que os profissionais da educação no município de Domingos Martins compartilham das mesmas angústias e dificuldades? Estas indagações são os pontos de partida deste trabalho. A) Problema Muito se tem abordado a respeito dos espaços em que a educação pode ser desenvolvida e também da abordagem que lhe é conferida. Do mesmo modo, em que medida seu produto pode fazer sentido para a vida dos estudantes, tornando-os capazes de refletir criticamente sobre o mundo, despertando a crítica para a 22 manutenção da vida na Terra. O pleno desenvolvimento do indivíduo, seu preparo para exercer a cidadania e para o trabalho são garantias constitucionais, dispostas no artigo 205 da Constituição Federal, A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 34). É possível contemplar todos esses campos entre os muros escolares? O universo escolar, no âmbito de suas intencionalidades, programas, tempo e currículo, é preparado para dar conta de toda essa atribuição legal? O fato é que a própria legislação já expande a promoção da educação para além da escola, para a família e a sociedade e suas relações com o meio científico e tecnológico. A ciência no mundo contemporâneo, perpassa os campos sociais, envolve as pessoas, e faz-se presente, interferindo na vida de todos. Exercer a cidadania exige, além da noção e prática de direitos e deveres, a aproximação dos conhecimentos científicos. Preparar-se para o trabalho exige qualificação específica e conhecimentos científicos, assim, todo ator social precisa de uma educação humana, ética e científica para se tornar um cidadão atuante. Essas inquietações, junto as minhas experiências de infância, me fazem acreditar em uma educação integradora, e me conduziram à formulação do seguinte problema de pesquisa: Como uma proposta de parceria educativa entre museu e escola pode ser construída tendo como fundamento uma Educação Científica HistóricoCultural, no município de Domingos Martins/ES? B) Elementos norteadores A metodologia da Pesquisa-ação permeia toda nossa investigação, dadas as suas características de articular o investigar e o agir, também por reduzir as distâncias entre o “pesquisador e os tomadores de decisão e atores sociais” como afirmam Toledo e Jacobi (2013), confluindo para a base de uma plausível mudança social. Mesmo diferindo-se em muitos aspectos das pesquisas clássicas, ainda encontramos o campo hipotético presente na pesquisa-ação, porém de maneira 23 distinta do experimentalismo. Para Thiollent (2011, p. 65), dentro do contexto peculiar da pesquisa social, há que se adotar um raciocínio hipotético, formulando suposições, na forma de diretrizes a serem utilizadas “no plano normativo no que toca à orientação da ação, com aspectos estratégicos e táticos”. Desta forma, Thiollent (2011) afirma que o raciocínio hipotético não se limita a uma hipótese, mas adquire um papel norteador na pesquisa no foco de determinados segmentos. Neste caso, os caminhos desta pesquisa foram delineados a partir da hipótese de que o desenvolvimento de uma parceria educativa entre escola e museu, visando a promover uma Educação Científica na perspectiva históricocultural, passa pelo processo coletivo de discussão dos professores da rede de ensino. Isso, porque os professores, conscientes de suas atribuições e das necessidades de renovação do ensino de ciências, poderão transformar suas práticas e ampliar suas relações políticas com os órgãos educacionais e instituições museais. Acreditamos que as diretrizes assumidas na condução das ações deste pensar coletivo podem estimular a transformação da realidade municipal. C) Objetivos propostos Neste contexto, o eixo central da investigação desta pesquisa é a parceria educativa entre o museu e a escola como meio articulador de uma educação científica da perspectiva histórico-cultural. No universo dos espaços educativos, que englobam instituições e não instituições, a pesquisa foca a complementaridade entre os museus de ciências, espaços de ciência e cultura e os espaços escolares, no que tange ao potencial de interatividade, e envolvimento, da comunidade escolar com a cultura científica e os componentes envolvidos nestes ambientes educativos. Pressupõe-se que essa complementaridade, entre outras coisas, contemple elementos organizacionais e especificidades destes ambientes, o que remeterá a estudos de viabilidade sobre organização e uso. Assim, o objetivo geral deste trabalho é: Investigar a constituição de uma parceria educativa entre museu e escola na articulação da educação científica dentro da perspectiva histórico-cultural para o município de Domingos Martins/ES. 24 Para alcançá-lo, foram eleitos objetivos específicos que se constituem em etapas que preveem a possibilidade de partirmos da prática social inicial e avançarmos para uma prática social final, quais sejam: a) Discutir a educação científica a partir de uma perspectiva histórico cultural; b) Resgatar a discussão sobre o museu como espaço de socialização e aprendizagem; c) Relacionar a educação museal com a escola verificando as possibilidades de articulação desses espaços com processo pedagógico; d) Investigar as concepções de Educação científica e Espaços Não Formais de Educação, com professores de Domingos Martins; e)Elaborar, em conjunto com professores e técnicos da educação, uma proposta de organização de espaço1 para atividades museais em Domingos Martins – ES. Diante dos propósitos e necessidades da pesquisa, apresento a organização deste trabalho. No capítulo 2, intitulado “Percurso Metodológico” são delineados os caminhos da investigação, justificativas para o referencial metodológico adotado, a caracterização do recorte espacial da pesquisa, o pesquisador coletivo, as etapas, os procedimentos e instrumentos de coletas de dados. Também é apresentado, em um mapa conceitual, todo o conjunto da pesquisa, possibilitando visualizar as principais ações. O fim do capítulo traz uma síntese do produto final elaborado. O capítulo 3, “Educação Científica e Abordagem Histórico-Cultural”, apresenta primeiramente uma discussão em torno do conceito de cultura e cultura científica como importantes elementos embasadores da educação científica (EC) para os tempos atuais. Para isso, foram utilizados referenciais como Clifford Geertz e Carlos Voght. A alfabetização científica e o movimento CTSA são tangenciados como importantes elementos da EC. Os espaços educativos não-formais também são discutidos na perspectiva da educação científica ser desenvolvida para além da 1 O espaço museal vislumbrado aqui no início do processo de investigação-ação não está necessariamente vinculado ao conceito de espaço físico. Pensamos este espaço em uma perspectiva mais abrangente, fruto de um processo dialético, podendo ser: uma conquista política, uma contemplação orçamentária, um lugar temporário, permanente, físico ou virtual. É conveniente o entendimento de Alves (2005), para a autora espaço ”É o produto das relações entre homens e dos homens com a natureza, e ao mesmo tempo é fator que interfere nas mesmas relações que o constituíram. O espaço é, então, a materialização das relações existentes entre os homens na sociedade”. É o que propomos aqui. 25 escola. Ainda neste capítulo, são apresentadas contribuições da teoria históricocultural e da pedagogia histórico-crítica como fundamentos psicopedagógicos para desenvolvimento de um EC histórico-cultural. No capítulo 4, “Museus: Espaços Socializadores do Conhecimento”, após algumas definições para museus, é apresentado um breve levantamento histórico sobre esse processo no Brasil e no mundo com questões que se referem às políticas desenvolvidas no setor, a distribuição das instituições museais, enfatizando o processo de transformação dos museus em instituições educacionais e de divulgação científica e o surgimento do papel social do museu. O capítulo termina com uma breve caracterização de um museu que existe no município de Domingos Martins/ES. Com o título “Museu e Escola Articulando e Educação Científica da Perspectiva Histórico-Cultural”, o capítulo 5 inicia-se com um breve levantamento de pesquisas que têm como foco o museu articulando a EC em suas atividades. Para evidenciar a função educativa que o museu adquiriu, é apresentado um texto com as especificidades da escola e do museu, diferenciando-os e aproximando-os no propósito educativo. É dada certa ênfase à pedagogia museal, a didática no museu e transposição dos saberes de acordo com Marandino (2010) e também às exposições museais e suas principais características. A condução de vivência nestes espaços, da perspectiva histórico-cultural, é proposta como um elemento de efetivação da parceria educativa museu-escola e adaptada do modelo de Allard et al (1996). O capítulo 6, “Em Busca da Parceria Educativa Museu E Escola : Resultados de um Processo Social Coletivo”, apresenta, logo no início o resultado do questionário diagnóstico aplicado na rede municipal de Domingos Martins/ES e a análise de conteúdo apontando justificativas para o desenvolvimento de atividades museais no município por meio de uma grelha de análise. Em seguida, pautados nas ações anteriores, é descrita de forma sistemática a proposta de ação e sua realização no município, ou seja, um processo de formação continuada realizado com professores da rede que culminou na construção de uma proposta de espaço/atividades museais para o município. 26 Por último, apresentamos algumas considerações sobre o trabalho desenvolvido e os resultados obtidos. Especialmente por ser uma pesquisa que, em grande parte, foi realizada de forma coletiva, visando à transformação de uma realidade, esperamos consciente, e sinceramente, que os propósitos sejam alcançados e que o resultado deste trabalho possa abrir espaço para discussões e planejamento de ações em prol da construção de uma educação de qualidade para todos. 27 2 PERCURSO METODOLÓGICO A fim de retirar-nos da esfera exclusiva das proposições e das teorias e tornar um trabalho de pesquisa aplicável à prática, e possivelmente transformador de uma realidade, é que escolhemos o método da pesquisa-ação para sustentar todo o plano investigativo proposto. Se nos fosse exigido eleger uma palavra para justificar essa escolha, talvez elegêssemos coerência, coerência entre a pesquisa em educação, nos meios acadêmicos, e a prática na sociedade; entre a desejabilidade das teorias e a concretude dos fatos. Por acreditar que as pessoas podem tornar-se atores sociais e mudar sua realidade, é que buscamos, dentro da pesquisa social, essa abordagem qualitativa que tem sido muito empregada na investigação de fenômenos em contextos educacionais. Possui como uma de suas principais características a obtenção de dados por meios descritivos de um sistema complexo de significados. Assim, uma perspectiva qualitativa torna-se adequada para compreender o processo de construção coletiva de uma proposta (RICHARDSON, 2009). 2.1 A CONCEPÇÃO DA PESQUISA E SUA ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA A Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), proposta por Demerval Saviani, fundamenta filosófica e pedagogicamente o trabalho proposto. Os pensamentos de Saviani norteiam o pensar e o agir presentes nas fases do trabalho. Esta teoria pedagógica tem a “emancipação popular” com uma marca que a personaliza e se desenvolve em processos dialéticos (SAVIANI, 2003). Essas características dialogam diretamente com a Pesquisa-ação, tanto por suas bases filosóficas, quanto por sua capacidade de dialogar com esses pressupostos. Dentro do contexto da pesquisa social, esta modalidade configura-se como a melhor aplicável ao projeto de trabalho proposto, dadas as suas características de envolvimento coletivo/cooperativo em processos de resolução de problemas e transformação de realidades, o que a difere da pesquisa tradicional, por seu caráter dinâmico, como sugere Barbier, 28 Na pesquisa-ação, é criada uma situação de dinâmica social radicalmente diferente daquela pesquisa tradicional. O processo desenrola-se frequentemente num tempo relativamente curto e os membros do grupo envolvido tornam-se [...] colaboradores (BARBIER, 2007, p. 56). Esses propósitos também são destacados por Thiollent (2011, p 22) quando afirma que a pesquisa-ação é favorável aos pesquisadores que desejam desenvolver um papel ativo no contexto dos fatos observados e não “limitar suas investigações aos aspectos acadêmicos e burocráticos”. E afirma que é importante a precisão na definição de algumas categorias importantes: “Ação”, ”Agentes”, “objetivos”, “Obstáculos” e “Exigência de conhecimento a ser produzido”. Assim, torna-se importante destacar a categoria do referencial escolhido para esta pesquisa, de acordo com a reflexão de Freitas (2012). Segundo a autora, alguns referenciais vêm comumente orientando muitas pesquisas em educação no Brasil; a autora cita três categorias de pesquisa: a positivista, a interpretativista e a crítico. Observando o que a autora compreende por tais referenciais, este trabalho enquadra-se na categoria “crítico” pois pretende, [...] Não só compreender, mas transformar. No movimento da compreensão, a interpretação como possibilidade de mudança, [...] compromisso com a emancipação humana. [...] No produto final. [...] análises contextualizadas indutivas, qualitativas. São valorizados processos sociais coletivos (FREITAS, 2012, p. 230). Todos estes são elementos que, de uma forma ou de outra, estão presentes nesta investigação, especialmente por se desejar, diante de uma situação problema, compreender a realidade para transformá-la em um processo social coletivo. De modo a proporcionar a visualização do trabalho como um todo, com seus elementos principais, a Figura 1 apresenta um mapa conceitual que evidencia a estrutura da pesquisa e os caminhos percorridos. 29 Figura 1 - Mapa conceitual da Pesquisa. Fonte: Elaborado pela autora, 2014. 2.2 CONTEXTO DA PESQUISA: UM POUCO SOBRE DOMINGOS MARTINS A pesquisa-ação, de acordo com Thiollent (2011), pode ser aplicada em três contextos: o primeiro, ator social homogêneo (Associações), o segundo, em meio aberto e o terceiro, dentro de uma organização. Para efeito deste trabalho, consideramos a rede municipal de educação do município de Domingos Martins – ES (figura 2) como o contexto “organização”. 30 Figura 2 - Mapa da Divisão Política e Limites de Domingos Martins – ES Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves, 2011. O recorte espacial desta pesquisa se justifica pelo fato de ser esta região dotada de grande potencial de desenvolvimento e avanços em práticas educacionais que podem ser pensadas para além da sala de aula, especialmente no trabalho junto a museus. Pois, por um lado, apresenta grandes particularidades culturais, econômicas e ambientais, possui um quadro natural amplamente diverso, característica climática ímpar e grande biodiversidade, contando, também, com uma construção cultural importante, pois configurou-se como epicentro do processo de recepção de imigrantes alemães e italianos. Por outro lado, assim como em todo o país, esta região ainda pode avançar bastante em seu sistema educacional, já que 31 possui algumas fragilidades que merecem ser superadas de forma a contemplar as demandas do mundo contemporâneo. Figura 3 - Aspectos da natureza e cultura de Domingos Martins/ES Fonte: Acervo da Autora, 2014. Desta forma, o trabalho foi desenvolvido no município de Domingos Martins, região serrana do estado do Espírito Santo. Conforme é possível visualizar na Figura 2, o município é privilegiado quanto a sua localização geográfica, pois possui uma grande área territorial, o equivalente a 1.228,353 Km² (IBGE, 2013a). Limita-se com dez municípios e com eles interliga-se por meio de rodovias federal e estadual e também por estradas vicinais. De acordo com o IBGE (2013a), o município possui atualmente uma população estimada de 34.059 habitantes. Seu processo de colonização iniciou-se em 1847 quando, oficialmente, foi criado o primeiro núcleo de colonização do estado, a Colônia de Santa Isabel. Quarenta e sete famílias, oriundas da Prússia Renana se instalaram na região, ocuparam seus vales e desenvolveram o cultivo de cereais e café. Embora tenham encontrado muitas adversidades para realizar as primeiras atividades, estes alemães se adaptaram facilmente ao clima de montanha da região, que hoje compreende a área da Sede do município, e os distritos de Paraju, Ponto Alto, Melgaço, Santa Isabel e Biriricas. O Município também recebeu italianos no mesmo período e estes se organizaram na área, hoje, correspondente ao distrito de Aracê (IBGE, 2013b). 32 Esse processo de ocupação determinou muito do que é hoje o Município de Domingos Martins. Como herança cultural, de colonização europeia, a perpetuação da cultura é algo muito forte e presente em ações políticas locais. Em meio à natureza exuberante, encontram-se fortes elementos culturais que são presença viva nos costumes e tradições e se destacam na arquitetura, na culinária e no modo de cultivar a lavoura (Figura 3). 2.3 SUJEITOS DA PESQUISA: QUEM É O PESQUISADOR COLETIVO? A pesquisa-ação, diz Barbier (2007), obriga o pesquisador a perceber como está envolvido pelo meio social que está inserido e pelos interesses dos outros, também envolve os outros por sua forma de ver o processo e sua ação singular no mundo. O pesquisador, neste tipo de pesquisa, não desenvolve um trabalho apenas sobre os outros, mas, com os outros. Desta forma, foi utilizada, neste trabalho, a pesquisaação integral (PA-I). Esta modalidade visa a que os envolvidos possam planejar, organizar e realizar suas mudanças de um modo consciente, livre, e com o máximo possível de reflexão, pois é uma pesquisa aplicada, A pesquisa-ação integral visa a uma mudança pela transformação recíproca da ação e do discurso, isto é, de uma ação individual em uma prática coletiva eficaz e instigadora, e de um discurso espontâneo em um diálogo esclarecido e até mesmo engajado. Ela exige que haja contrato aberto, formal (de preferência não-estruturado), implicando uma participação cooperativa, podendo levar a uma co-gestão (MORIN, 1992, apud BARBIER, 2007, P. 78). Nestes propósitos, o trabalho foi desenvolvido com professores e técnicos da Secretaria Municipal de Educação do município de Domingos Martins - ES, sendo, estes, os sujeitos da pesquisa. Barbier (2008) denomina “pesquisador profissional” o condutor da pesquisa, “pesquisadores técnicos” aqueles que se envolvem e participam junto ao pesquisador profissional e “pesquisador coletivo”, o conjunto, o grupo, a equipe, envolvida na resolução de um problema. Assim, a investigação proposta, por buscar a transformação de realidade, elide a neutralidade. Como “pesquisador coletivo” foram apontados os professores da rede municipal que participaram de seminários, refletiram sobre os temas e, junto com o pesquisador (“pesquisador profissional”), construíram uma proposta de um espaço para desenvolver a parceria entre museu e escola no município. 33 2.4 ETAPAS DA PESQUISA Uma característica muito peculiar da pesquisa-ação é que a colocação dos problemas, em função da passagem de uma situação inicial para uma situação final, produz um fenômeno importante no percurso metodológico o qual precisa ser evidenciado. O processo transcorre em saltos, há a colocação de um problema e a coleta de dados, que nortearão novas ações; há a colocação de outros problemas, elaboração de planos de ação, divulgação de resultados, e assim por diante. É um processo em que os marcos são os pontos de partida e de chegada, em cujo intervalo, “haverá uma multiplicidade de caminhos a serem escolhidos em função das circunstâncias” (THIOLLENT, 2011). Barbier (2008) também comunga desta característica, afirmando que, cada salto transforma o conjunto do sistema interativo da pesquisa, como em uma espiral (Figura 4), e diz que [...] a dialética do pesquisador profissional e dos pesquisadores técnicos no âmago do pesquisador coletivo e, depois a do pesquisador coletivo com o conjunto do grupo-alvo, estimulam constantemente o movimento da pesquisa-ação (BARBIER, p. 121). Figura 4 - Espiral da Pesquisa Fonte: Elaborado pela autora, 2014. Desta forma, na primeira fase da pesquisa, a fase exploratória, delimitou seu campo, a fim de estabelecer um diagnóstico da situação e realizar um estudo de viabilidade 34 de aplicação do método de pesquisa. Também foram verificadas as condições de colaboração entre pesquisador e grupo envolvido nos trabalhos em aproximação ao objeto de estudo. Concomitantemente, neste estudo qualitativo, houvemos por bem proceder a um levantamento bibliográfico, a partir do que estabelecemos uma relação entre as informações e os dados obtidos com o problema proposto e uma análise a respeito da consistência das informações e dados apresentados pelos autores elencados (GIL 2002). Na segunda etapa, foi aplicado um questionário, visando mapear as concepções, e envolvimento, dos professores da rede municipal de educação de Domingos Martins, quanto à educação científica, EENF e outros temas educacionais. A terceira fase da pesquisa consistiu em visitas a três e Museus de ciências brasileiros, dos quais, optamos por um museu de ciência capixaba, um paulista e um pernambucano. A escolha destes museus se deu especialmente às suas amplas possibilidades de interatividade e atendimento ao público estudantil, sendo característicos de 3ª geração. Nestes espaços, foram realizadas observações de seus aspectos organizacionais, de gestão e uso, com um olhar tanto do espaço físico quantodas atividades pedagógicas desenvolvidas e suas relações com a educação científica. Paralela a esta etapa, foi realizado levantamento bibliográfico a respeito do referencial teórico proposto e das últimas pesquisas sobre EENF, em especial, os Museus de Ciências e suas relações com o Espaço Escolar. Na quarta etapa, foi constituído o grupo de estudos que tratou de temas relacionados à educação científica desenvolvida a partir da parceria entre museus e escolas e a construção de proposta de espaço para esse fim. A quinta etapa consistiu na elaboração do produto final, um livro eletrônico contendo a experiência vivida neste processo: os Seminários, a propostas e as definições em plenária, ou seja, um Plano Expográfico atendendo elementos da pedagogia museal. 2.5 PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS DE PESQUISA Os procedimentos de pesquisa seguiram os pressupostos da pesquisa qualitativa. Suas etapas foram discriminadas em um cronograma de atividades (Apêndice 10). 35 Todo o processo foi realizado por meio de procedimentos diversos, como: revisão de literatura, registro fotográfico, questionário, relatórios, seminários. O que poderíamos discriminar em um quadro: Quadro 1 - Procedimentos e objetivos da investigação PROCEDIMENTO/ INSTRUMENTO OBJETIVOS Pesquisa bibliográfica Discutir a educação científica a partir de uma perspectiva histórico cultural; Resgatar a discussão sobre o museu como espaço de socialização e aprendizagem; Relacionar a educação museal com a escola discutindo as possibilidades de articulação desses espaços com processo educacional; Visitas exploratórias / Observação / registro fotográfico. Questionário/ Grelha de Análise Relacionar a educação museal com a escola discutindo as possibilidades de articulação desses espaços com processo educacional; Investigar as concepções de Educação científica e Espaços Não Formais de Educação, com professores de Domingos Martins; Seminários / observação Elaborar em conjunto com professores uma proposta de organização de espaço para atividades museais em Domingos Martins – ES. Produção de relatório Elaborar em conjunto com professores uma proposta de organização de espaço para atividades museais em Domingos Martins – ES. Fonte: Elaborado pela autora, 2014. 2.6 PRODUTO FINAL A pesquisa desenvolvida deve gerar um produto, que tenha significado para a práxis educativa. Este é um grande objetivo deste processo. Pensando neste significado para um grupo social, os objetivos desta pesquisa foram desenvolvidos considerando o envolvimento dinâmico das pessoas no processo. Thiollent (2011) mostra algumas particularidades na elucidação dos objetivos, ou seja, diferentemente de outros métodos, a pesquisa-ação projeta-se a partir de dois campos: os objetivos de pesquisa relativos ao conhecimento, obtenção de informações; e os objetivos de ação, relativos à prática, considerando-se as propostas de ação transformadora da situação. Assim, na pesquisa-ação são postos 36 problemas de ordem prática, com o intuito de alcançar algum objetivo ou provocar alguma transformação dentro da situação observada, considerando o seguinte: a) Análise e delimitação da situação inicial; b) Delineamento da situação final, em função de critérios de desejabilidade e de factibilidade; c) Identificação de todos os problemas a serem resolvidos para permitir a passagem de (a) a (b): d) Planejamento das ações correspondentes; e) Execução e avaliação das ações (THIOLLENT, 2011, p 62). O autor ainda acrescenta a inter-relação das duas categorias de objetivos, quando se deseja, também, desenvolver a consciência política e cultural do grupo, ou seja, é especificidade da pesquisa-ação estabelecer um diálogo entre estes tipos de objetivos. Desta forma, o caminho delineado, a princípio levou em consideração a elucidação dos objetivos conforme Thiollent (2011) sugere. E todas as etapas e saltos que a pesquisa alcançou convergiram para uma aproximação do conhecimento a respeito de educação científica para os tempos atuais (objetivos de conhecimento) e para a elaboração de um Produto Final (objetivo de ação) que resultou de um agir coletivo que visou a iniciar um processo de transformação de uma realidade. Assim, o produto desta pesquisa se materializou em um livro eletrônico que tem como título “A Escola e o Museu em Parceria: As Exposições Científico-Culturais articulando a educação científica”. O seu conteúdo divide-se em três capítulos. O primeiro capítulo, “Um Diálogo: O Professor, A Escola e o Museu”, aborda aspectos do papel social e educacional do museu e propõe reflexões para a articulação da educação científica junto com a escola. Um pouco da especificidade pedagógica dos museus é apresentada, ao mesmo tempo em que, traz sugestão de estrutura psicopedagógica para planejar vivências nos espaços museais. É um capítulo que pretende aproximar o professor do mundo dos museus ao mesmo tempo sugere caminhos para que ele se torne o elemento-chave nesta parceria educativa. No segundo capítulo, “Construindo uma Exposição Científico – Cultural”, é conferida uma ênfase à exposições no núcleo das atividades museais, ou seja, a exposição como elemento de comunicação do museu. Também se destacam as perspectivas filosóficas que podem ser incorporadas às exposições como o 37 movimento CTSA. Na parte final do capítulo, o processo de produção de exposições é abordado de forma pragmática em consideração aos elementos que compõem um projeto expográfico. O terceiro e último capítulo do livro, cujo título é “Atlântica! Nossa mata, nossa casa: Um exemplo de projeto de exposição científico-cultural”, apresenta um projeto expositivo desenvolvido por uma equipe de educadores e outros profissionais da região. A primeira parte do capitulo se ocupa de apresentar a concepção da exposição, seus conteúdos, seus objetivos e as considerações relacionadas à articulação crítica com a educação científica, assim também, com a cultura do local para onde se pensou a exposição, ou seja, para o município de Domingos Martins/ES. Por fim, o capítulo apresenta plano expográfico contendo objetos e materiais a serem utilizados na exposição, planta baixa da área da exposição, banco de imagens capturadas pela equipe e subsídios para mediação. 38 3 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA E ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL A humanidade vive um momento histórico em que a globalização econômica e das ideias vêm gradativamente suprimindo a diversidade cultural e social de grupos e minorias. A educação neste cenário, mais uma vez, se constitui relevante e imprescindível para que esse movimento percorra caminhos distintos daqueles que vêm sendo traçados. As instituições educacionais têm o seu papel social ampliado e destacado. Um espaço em comum criado entre o museu e a escola pode significar atingir dimensões científicas, sociológicas, históricas, naturais e políticas para o ensino das ciências, e suas implicações na sociedade, para aprender sobre a vida e mantê-la na Terra. Neste enfoque, a educação científica revela-se imensamente importante. Este espaço sinérgico, entre essas instituições, pode colaborar para que a sociedade se torne informada e participativa em um mundo marcado por problemas sociais. Neste capítulo, a educação cientifica será discutida do ponto de vista de sua missão nos processos educacionais, processos esses, pensados especialmente a partir da ótica dos espaços escolares. No entanto, haverá um esforço em salientar esse processo também em ambientes não escolares, como nos museus ou em atividades museais temporária e/ou itinerantes, com o intuito de desenhar um espaço sinérgico museu-escola. Também será dada uma ênfase aos conceitos de cultura, ciência e cultura científica, que com os quais é possível articular uma educação científica que se aproxime de uma abordagem histórico-cultural. 3.1 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA PARA A ATUALIDADE A Educação Científica pode ser vista como uma área de conhecimento que tem muito a contribuir para a formação das pessoas. A sua questão é discutida por Demo (2010) a partir das exigências do mundo pós-moderno. O autor afirma que ela é vista como uma das “habilidades do século XXI” (p.15), século que traz a marca da produção intensiva de conhecimentos, em que o desafio maior é “produzir conhecimento, e não mais apenas transmitir”. O mundo atual exige indivíduos com capacidades diferenciadas que, mais do que acervos de conhecimentos, possam ter 39 habilidades comunicativas, capacidade de trabalhar em grupo, de forma multidisciplinar em uma perspectiva cidadã. Para Carvalho (2004), desde a etapa final do século XX, os objetivos da educação científica vêm sofrendo modificações no Brasil. Iniciativas como os Parâmetros Curriculares Nacionais, introduzidos na década de 90, levantaram discussões sobre o tema e inferiram algumas mudanças nas propostas do ensino, conferindo, ao conteúdo curricular, as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. Desta forma, analisando o mundo em tempos de globalização, é possível verificar, por Krasilchik (2000), que os objetivos buscam atender ao contexto histórico da época. Na década de 1950, por exemplo, período de Guerra Fria, o ensino pretendia formar elite, com programas bastante rígidos, sob concepção de uma ciência neutra. Na década de 1970, já na era do capitalismo informacional e guerra tecnológica, a intenção do ensino de ciência foca-se em formar cidadão-trabalhador. Na década de 1990 até o fim do século, o mundo já vivendo processos intensos de globalização, vê o ensino de ciência voltado para formar o cidadão-trabalhador-estudante, a ciência já é vista como atividade comimplicações sociais. Assim Demo (2010) destaca que, nos dias atuais, a educação científica precisa ser tomada como parte da formação do aluno, em uma dinâmica própria do processo formativo, pois embora a relevância curricular seja quase consenso geral, a forma como é desenvolvida não condiz com isso, quando é pensada em momentos pontuais, como datas, eventos e solenidades. Por isso o autor afirma que, [...] a educação científica não implica dar mais aula de ciências, até porque “dar mais aula” dificilmente aprimora a aprendizagem: apenas intensifica a reprodução de conteúdos. Implica outro modo de formação docente e discente (DEMO, 2010 p. 20). Em face do exposto, a educação cientifica pressupõe posicionamento crítico. A ciência está em toda parte e seu uso pode ser apurado em favor do desenvolvimento social em questões relativas à qualidade de vida (como os indicadores sociais), ao aprimoramento e acessibilidade de conhecimentos científicos e tecnológicos mais densos e às questões ambientais. Tudo deve corroborar para a construção da cidadania, formando os atores sociais aptos a pensar e questionar, pois esta, 40 [...] não só aprecia ciência e tecnologia, mas que principalmente sabe construir e usar ciência e tecnologia para fins sociais, éticos e cidadãos. Em termos práticos, educação cientifica significa saber lidar com a impregnação científica da sociedade para aprimorar as oportunidades de desenvolvimento (DEMO 2010, p. 21). Quanto à questão do desenvolvimento destacada por Demo (2010) , Cachapuz et al. (2011) também justificam a importância da educação científica para os cidadãos. Isto, em razão de ela consistir em um elemento crucial para o desenvolvimento de pessoas, povos e nações. Nesta esteira, em um contexto educacional centrado nas exigências do século XXI, Krasilchik e Marandino (2011) destacam movimentos pedagógicos como o movimento “Ciência, Tecnologia e Sociedade” (CTS) e tendências para a Alfabetização Científica, que se inclinam para a problematização dos impactos da ciência na sociedade e buscam promover a participação efetiva da população na tomada de decisões. Estes movimentos são constituintes do processo de renovação do ensino de ciência, concebem a ciência como um “processo”, uma instituição e não somente um “produto”. Tais preocupações não se restringem aos meios escolares. Há traços destas tendências em diversos espaços físicos e virtuais, como museus, centros de ciências, revistas, jornais em meios eletrônicos ou outras formas de divulgação. Chassot (2011) relaciona a alfabetização científica diretamente com ensino de ciências, em que os conhecimentos teriam a função de facilitar “homens e mulheres a fazer uma leitura do mundo onde vivem”. O autor então busca razões na existência e sobrevivência humana, uma vez que o conhecimento científico é inerente ao homem, construído por ele, em tempos remotos e atuais. O ensino de ciências precisa ter, em seu escopo, a preparação dos estudantes para serem críticos e protagonistas de um mundo em transformação, pois, Entender a ciência nos facilita, também, contribuir para controlar e prever as transformações que ocorrem na natureza. Assim, teremos condições de fazer com que essas transformações sejam propostas, para que conduzam a uma melhor qualidade de vida. Isto é, a intenção é colaborar para que essas transformações que envolvem o nosso cotidiano sejam conduzidas para que tenhamos melhores condições de vida. Isso é muito significativo. Aqueles que se dedicam à educação ambiental têm significativos estudos nessa área (CHASSOT, 2003 p. 91). Neste enfoque, o autor busca olhar a escola de uma forma abrangente, especialmente no que diz respeito às transformações que os fenômenos da 41 globalização vêm imprimindo à educação. Deste ponto de vista, analisa o ambiente de aprendizagem em duas perspectivas: a partir do que lhe é interferido pelo mundo externo e a partir do quanto este ambiente se exterioriza. Assim, apresenta uma inversão do fluxo de conhecimento, apontando que a escola perdeu o status de centro de referência do saber que emanava para comunidade. Hoje o papel se inverte, o mundo exterior é que invade a sala de aula e produz, nela, mudanças, exigindo-lhe uma atuação mais importante na disseminação do conhecimento, com vistas à alfabetização cientifica. Sobre as necessidades da alfabetização científica, Chassot (2003) afirma, A alfabetização científica pode ser considerada como uma das dimensões para potencializar alternativas que privilegiam uma educação mais comprometida. É recomendável enfatizar que essa deve ser uma preocupação muito significativa no ensino fundamental, mesmo que se advogue a necessidade de atenções quase idênticas também para o ensino médio. Sonhadoramente, ampliaria a proposta para incluir também, mesmo que isso possa causar arrepio em alguns, o ensino superior (CHASSOT, p. 91). Em conformidade com Chassot (2003), Krasilchic e Marandino (2007) também conjecturam a alfabetização científica da perspectiva cultural, destacando a necessidade de incentivar políticas de parcerias e acordos entre instituições e pessoas, com o intuito de oferecer oportunidades de acesso e produção de significados a respeito do conhecimento científico pela população. Todo este processo visa a consolidar uma prática de participação de cada cidadão, de forma individual ou coletiva, no âmbito da cultura científica, compreendendo, e expressando, opiniões sempre que oportuno. A esta participação do cidadão, Cachapuz et al. (2011) e Aikenhead (2009) denominam tomada fundamentada de decisão, que a escola, renovando sua forma de ensinar, deve almejar. No entanto, Krasilchic e Marandino (2007) afirmam que a escola, sozinha, não tem condições de acompanhar a evolução de todas as informações científicas necessárias para a compreensão do mundo. O que requer uma ação conjunta de outras instituições, ou seja, afirmam que diferentes espaços educativos vêm sendo propostos direcionados à produção do conhecimento necessário à formação de uma cidadania mais particiativa na sociedade. Assim, no contexto da alfabetização, o movimento CTSA tem colaborado para que a educação científica preconize a formação para a cidadania,. De acordo com Santos 42 e Auler (2001) este movimento surgiu na década de 1970, em função de problemas ambientais suscitados pelo contexto socioeconômico, científico e tecnológico da época, e também, em função da percepção da ciência e sua influência na sociedade. Essa perspectiva surge em função dos impactos na qualidade de vida das pessoas. Auler e Bazzo (2001) afirmam que o século XX iniciava-se com uma sociedade otimista e confiante em relação à ciência até que o período das Guerras Mundiais, especialmente a Segunda Guerra Mundial, começou a destituir aos poucos essa impressão totalmente positiva da ciência. Na década de 60 e 70, o produto do avanço tecnológico era impressionante, e ainda causava certa euforia. No entanto, as consequências destes avanços começaram a impactar de forma negativa a sociedade e a natureza. Basta lembrar o período da Revolução Verde, em que a ciência interferiu na agricultura a fim de aumentar a produção e resolver a fome em países em desenvolvimento. O aumento da produção foi estrondoso. Para isso, melhoramento genético e o uso de defensivos agrícolas foram sistematicamente aplicados. Os efeitos foram percebidos, Rachel Carson denunciou a morte de pássaros em seu livro “Primavera Silenciosa” em função do DDT (dicloro – difenil –tricloroetano) utilizado nas lavouras. Foi bastante criticada pela academia, mas o seu grito conseguiu provocar discussões e tornar a C&T (Ciência e Tecnologia) um motivo de debate no meio político (AULER; BAZZO 2001). Desta forma, Santos e Mortimer (2002) afirmam que o movimento CTSA veio trazer a proposta de alfabetizar os cidadãos em ciência e tecnologia oferecendo subsídios para que eles possam agir, tomar decisões conscientes e serem críticos diante do discurso da ciência e dos cientistas, como também dos impactos destes na sociedade. Mas de que forma isso pode ocorrer na prática? Os autores afirmam que um enfoque CTS no processo educacional implica sérias intervenções nas questões curriculares relacionadas a aspectos da abordagem CTS, como pode ser visualizado no quadro abaixo: 43 Quadro 2 - Aspectos da abordagem de CTS Aspectos de CTS Esclarecimentos 1. Efeito da Ciência sobre a Tecnologia A produção de novos conhecimentos tem estimulado mudanças tecnológicas. 2. Efeito da Tecnologia sobre a Sociedade A tecnologia disponível a um grupo humano influencia sobremaneira o estilo de vida desse grupo. 3. Efeito da Sociedade sobre a Ciência Por meio de investimentos e outras pressões, a sociedade Influencia a direção da pesquisa científica. 4. Efeito da Ciência sobre a Sociedade 6. Efeito da Tecnologia sobre a Ciência O desenvolvimento de teorias científicas podem influenciar a maneira como as pessoas pensam sobre si próprias e sobre Problemas e soluções. A disponibilidade dos recursos tecnológicos limitará ou ampliará os progressos científicos Fonte: Santos e Mortimer (apud McKAVANAGH; MAHER, 1982. p.72.) Diante destas abordagens, é importante destacar o ponto de vista de Auler e Bazzo (2001) em relação à questão do movimento CTS no contexto brasileiro. O Brasil, em relação aos outros países que desenvolvem essa perspectiva, como o Canadá, por exemplo, possui uma história muito peculiar. Possui um passado colonial, que pode ser considerado predatório, que deixou marcas profundas no contexto socioeconômico. Por anos, vivemos um modelo agrário-exportador, com uma indústria que chegou tímida, com praticamente dois séculos de atraso em relação aos países de ponta. Por outro lado, exportamos commodities, importamos tecnologia e não constituímos conhecimentos. Este é um ponto que precisa ser levado em consideração ao se pensar o enfoque CTSA no contexto brasileiro, pois segundo Auler e Bazzo (2001), os condicionantes citados anteriormente, sem pretender impetrar um determinismo histórico, “devem ter deixado marcas no pensar dos professor brasileiro” (p. 12). Por isso questionam: “Historicamente, sob o domínio de um Estado autoritário, num país sem história de participação, é plausível postular algum controle da sociedade sobre C&T?” Há de se ter maior cultura de participação. Assim, Santos e Mortimer (2002) acreditam que é possível desenvolver um currículo com a perspectiva CTS, no entanto afirmam que é necessário investir especialmente na formação dos professores que atuarão no desenvolvimento destes currículos, pois não basta inserir temas sociais no currículo, se não houver uma mudança na prática e nas concepções pedagógicas. 44 Vale lembrar que o enfoque CTS, também, vem sendo desenvolvido em espaços museais, em expografias que apresentam uma preocupação com aspectos relativos à cidadania utilizando temas de interesse social, derivados do cotidiano ao associar aspectos tecnológicos, sociais e econômicos. 3.1.1 Cultura e Cultura Científica Embora tenham sido desenvolvidas no círculo acadêmico muitas discussões sobre o assunto, ainda é possível notar a crença de que a ciência é algo completamente impertinente à atividade humana, fechando a mesma em verdades absolutas e infalíveis. A ciência, sendo considerada uma produção humana, faz parte do processo civilizatório que está presente em todos os campos da sociedade, fazendo parte da cultura (SANCHÉZ; MORA, 2003, apud LORDÊLO; PORTO 2012). O fato é que a ciência constitui-se em um mecanismo muito importante de produção de conhecimento. É a ciência uma prática social muito necessária para resolução de problemas da humanidade, problemas, muitas vezes, gerados por ela própria. E o conhecimento, científico ou popular, são indispensáveis para o desenvolvimento geral da sociedade. A ciência e a técnica produziram grandes transformações no planeta, modificaram o espaço, as paisagens e também as relações entre as pessoas. Por ser a ciência uma produção humana, não há como ignorar sua dimensão cultural (KRASILCHIK; MARANDINO, 2007). Chassot (2011) também compreende a ciência desse prisma, razão pela qual salienta sua variabilidade e falibilidade, vez que se trata de uma linguagem proferida pelos homens, cuja leitura facilita o entendimento do mundo. Dessa perspectiva, ciência e cultura estão intimamente relacionadas, em um devir dinâmico. A cultura como categoria antropológica será defendida neste trabalho a partir das reflexões que desenvolve Clifford Geertz. Baseando-se em Max Weber, Geertz percebe a cultura como “um conjunto de formas simbólicas publicamente acessíveis e compartilhadas em sociedade onde as pessoas, com o decorrer da sua vida cotidiana, passam a experimentar e aceitar” (p.22). Geertz (1989) então defende o conceito de cultura, do ponto de vista semiótico, ou seja, de construções simbólicas, pelos quais ela se constitui, considerando a cultura uma “teia de significados”, como afirma, 45 Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado (GEERTZ, 1989, p. 4). Isso significa que a cultura constrói o homem ao mesmo tempo em que é por ele construída. Dentro da cultura localizamos a ciência como constructo cultural, como linguagem, como uma forma de ler o mundo e como ordenadora das formas de produção de conhecimento. Compreendendo a confluência entre ciência e cultura, e analisando isto a partir do ponto de vista da sociedade da informação, pode-se chegar à cultura científica. De acordo com Vogt (2011) a cultura científica, um tipo particular de cultura do mundo contemporâneo, se desenvolve por meio de um conjunto de fatores produzidos pela ação do homem em processos sociais direcionados para a produção, difusão, ensino e divulgação do conhecimento. É uma expressão ampla que engloba, além de outras coisas, a premissa de que o processo de desenvolvimento científico é um processo cultural. Para Gohn (2011) a cultura é algo que está em plena e constante transformação, é compreendida como resultado da atuação dos homens no decorrer da história, nos lugares de vivência, entre o tempo e o espaço. Um elemento fundamental da cultura são as tradições e valores que perpassam de geração em geração. Lordêlo e Porto (2012) também entendem a cultura como construção social, evidenciando a amplitude e a complexidade do termo. Para Vogt (2011), a cultura científica precisa ser vista por meio de três possibilidades de sentido, quais sejam, a cultura da ciência, a cultura pela ciência e a cultura para ciência. Esta última traria, em si, a cultura voltada para a socialização da ciência, no meio escolar, nos museus, na própria divulgação, entendida como responsável direta, “pela dinâmica cultural da apropriação da ciência e da tecnologia pela sociedade” (p. 9). O autor entende a aquisição da cultura científica em uma espiral, que denomina Espiral da Cultura científica. 46 Figura 5 - Espiral da Cultura Científica Fonte: VOGT, 2011, p. 10. De acordo com Vogt (2003), como pode ser observado na figura 5, o desenvolvimento da espiral perpassa por quatro quadrantes importantes: no primeiro quadrante, da “produção e difusão da ciência”, localizam-se as universidades, os órgãos governamentais, as revistas científicas, órgãos de fomento entre outros. No segundo quadrante da espiral a correspondência é com o “ensino de ciência e formação dos cientistas”, ou seja, o sistema educacional como um todo. O terceiro quadrante tem o “Ensino para a ciência”, representados pelos museus e feiras de ciências. No quarto quadrante a “divulgação científica”, faz-se existir por meio das revistas de divulgação cientifica, jornais, editoriais, programas de televisão, e outros, regressando ao eixo de partida. Importa dizer que não retorna ao mesmo ponto, pois sua dinâmica pelos quadrantes garante-lhe alargamento do conhecimento, por participação cidadã, por meio da dinâmica ciência e sociedade e cultura, não contemplando, porém, uma interrupção do processo, mas o começo de um novo ciclo. Lordêlo e Porto (2012) destacam que a espiral da cultura científica evidencia movimento necessário entre cultura e ciência e também o quanto é importante para a formação da cultura científica na sociedade que os pesquisadores se ocupem em divulgar ao público em geral o que produzem. Vogt (2012) deixa claro que a compreensão pública da ciência é fundamental na consolidação de processos cidadãos e democráticos em busca de bem-estar social, além do que afirma que não há ciência sem comunicação e divulgação. 47 Para Jacobucci (2008) a promoção da divulgação científica é uma responsabilidade social significativa, tanto quanto que, propiciar uma cultura científica sem inclinar-se ao reducionismo, que prepare a sociedade para debater sobre a ciência e suas implicações no seu dia-a-dia de forma crítica, se configura como um grande desafio. Para cujo enfrentamento, Krasilchik e Marandino (2007) afirmam, que uma alternativa criativa é a busca de parcerias para divulgar ciência, entre os diversos profissionais que atuam na produção científica e na sua divulgação, entre as universidades, escolas e os museus, Sobre os museus especificamente, Jacobucci (2008, p. 64) diz que, Esses espaços de Ciência e Cultura serão aliados das escolas e da mídia na formação da cultura científica brasileira. Para tanto, há de se pensar em criar esses novos espaços e recheá-los com a história da Ciência e dos pesquisadores brasileiros, conectando os fatos comuns do dia-a-dia ao conhecimento científico, através de exposições interativas e cativantes, onde a música, a dança, as artes plásticas, o folclore e as inovações digitais possam permear os conteúdos de Ciência e mobilizar o imaginário dos visitantes. A história que a sociedade contemporânea está construindo evidencia a necessidade de se constituir uma cultura científica que consiga suprir carências em áreas técnicas operacionais e pesquisas, sobretudo, que venha a fazer parte do cotidiano dos cidadãos, afim de que estes possam utilizar o conhecimento de modo a atuarem em processos decisivos no campo político-social. Essa construção, passa por uma educação científica histórico-cultural, que não encontre limites em espaços, que seja socializadora do conhecimento que proporcione o acesso da população aos meios e aos resultados da produção científica, cultural e pedagógica. 3.1.2 Educação Científica e seus lugares Após ter claro qual a educação científica desejada, o que a corporifica, também é preciso discutir sobre os seus lugares e de onde ela pode partir. Ancoramo-nos na premissa de que a escola não é a única instituição que a promove nem, tampouco, toda a amplitude do que pode alcançar a educação científica estaria contemplada no ambiente escolar. Assim, é necessário que se discuta sobre o entendimento de educação diante da temática espaço e tempo. Trata-se de um conceito em discussão que possui grande importância. 48 Saviani (2009, p. 18) afirma que a educação é um fenômeno social diretamente ligado ao íntimo do ser humano, razão pela qual não é simples conceituá-la. O autor considera que por ser um fenômeno complexo é importante compreendê-lo de forma profunda e ampla. Considera, pois a educação um “ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada individuo singular, a humanidade que é produzida historicamente e coletivamente pelo conjunto dos homens”. (SAVIANI, 2005, p. 13). Desta forma, a educação seria, antes de tudo, direito de todo o ser humano. Constitui-se como impreterível requisito para que se acesse bens e serviços na sociedade. É fundamento. É prioridade. A Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 205, que trata da educação, torna explícita a obrigação de sua oferta, o direito de recebê-la, e o que necessariamente ela deve desenvolver, ou seja, desenvolvimento pessoal, social, para o trabalho e cidadania (BRASIL, 1988). Gadotti (2005) defende que esse direito não deveria se restringir ao ensino obrigatório e gratuito, mais precisamente no ensino fundamental, deveria sim, se estender ao longo da vida. Estender-se com qualidade e garantias, não somente da matrícula numa unidade escolar, mas de um aprendizado para a vida. Sendo assim, Gadotti (2005) sugere a educação capaz de acontecer em contextos que não se limitam somente à escola. Onde educar então? Antes de elucidar os possíveis lugares da educação, convém que reflitamos sobre seu significado , e o que entendemos por educação. Ao propormos esta análise, podemos afirmar que, por muito tempo, este termo esteve estreitamente associado à escola, revelando uma imprescindibilidade entre ambos. Diferentemente, na atualidade, esta compreensão vem se modificando, quando podemos constatar vários estudos voltados para a prática educacional, fora do ambiente escolar. A própria legislação, como a Lei 9394/96 de diretrizes e bases da educação nacional, apresenta, em seu Artigo 1º, que a “educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” Inclusive o Artigo 3º, inciso X, desta mesma Lei, determina a valorização da experiência extra-escolar. Brandão (2007 p. 09) diz que “ninguém escapa da educação”. Todos nós nos envolvemos de uma forma ou de outra com ela. Aprendemos e ensinamos. A Escola 49 não é o único lugar onde ela se desenvolve, tampouco existe apenas um único modelo de educação, e se sua prática não se limita somente à escola, assim o professor também não é seu único praticante. A educação ultrapassa áreas limítrofes do ensino escolar formal e abrange experiências de vida, aprendizagens não-formais, que promovem a autonomia do estudante (GADOTTI, 2005). Von Simson, Park e Fernandes (2001) também apresentam a educação com um sentido que vai além das edificações escolares, que se ocupam em oferecer aos estudantes o acesso aos conhecimentos acumulados pela humanidade ao longo da história. Cendales e Marinõ (2006) endossam este pensamento, ao defenderem que a educação se faz continuamente, por meio de modalidades e momentos diferentes, que vão se entrelaçando em um só processo social e também pessoal. A escola possui, de fato, uma grande missão, qual seja, instrumentalizar conhecimentos científicos básicos aos estudantes. Porém, Krasilchik e Marandino (2007) afirmam que instituição alguma possui condições de, sozinha, acompanhar todos os avanços, evoluções científicas e seus impactos na sociedade que se constituem elementos-chave para “compreensão do mundo”. Desta forma, amplia-se o palco da práxis educativa. O conhecimento se produz em diferentes ambientes, em diferentes ecossistemas educativos, como destaca Candau (2000). Vale ressaltar que, em conformidade com Saviani (2009) a escola ocupa um lugar central no campo da educação, firmando-se como forma principal para o desenvolvimento da cultura escrita. Ao emergir, como forma elaborada e mais avançada de educação, acabou por concentrar a função educativa. Isso pressupõe que existam outros espaços de educação. E essa prerrogativa, de centralidade, torna ainda maior a responsabilidade da escola dentro de seu compromisso social. Dizer que a escola, sozinha, tal como está, do ponto de vista do espaço e estrutura, não seria capaz de acompanhar todos os avanços e evoluções cientificas não quer dizer que ela estaria fracassando ou perdendo sua amplitude. Saviani (2009, p.22) diz: [...] em lugar de considerarmos a grande variedade de instituições sociais que se ocupam do desenvolvimento de projetos educativos como indicador de que a escola esteja perdendo espaço, creio que cabe pensar o contrário, isto é, essas múltiplas iniciativas sugerem a grande complexificação e diversificação das próprias formas escolares que desenvolvem na atualidade. 50 O termo educação vem se desdobrando em outras terminologias. A educação tornase educação formal, educação não-formal, educação informal, cada qual com alguma especificidade. Embora existam muitos teóricos que vêm debatendo estes conceitos, o entendimento de Gohn (1998) vem de encontro com esta investigação, pois trabalha com uma visão ampla da educação, considerando-a vinculada ao conceito de cultura. A autora entende a educação formal como aquela realizada pelas escolas, com seus tempos e intenções determinados. A educação informal como aquela ocorrida durante o processo de socialização do indivíduo em sua vida familiar, com o grupo social, de forma espontânea. A educação não formal como pertencente ao campo da pedagogia social, como um processo com importantes dimensões, a saber: a) Processo de conscientização dos indivíduos, que tange aprendizagem política e cidadania; b) Capacitação dos indivíduos para o trabalho; c) Educação para civilidade voltada para solução de problemas comunitários; d) Educação desenvolvida na mídia; e) Conteúdos da educação escolar desenvolvidos em espaços diferenciados. A autora, ainda, salienta essas diferenças demarcando os espaços onde transcorre cada tipo de ato educativo, ou seja, a educação formal nas escolas, a informal no seio da família e convívio com o grupo social e a não-formal em espaços educativos distintos das escolas, porém, onde também há uma intencionalidade. Diferentemente, Jacobucci (2008) foca mais na categorização dos espaços educacionais, distinguindo-os em instituições e não instituições. A categoria não instituição, segundo a autora, não dispõe de estrutura institucional, mas permite desenvolver práticas educativas, sendo representados pelos ambientes naturais ou urbanos, como rios, praias, cavernas, praças, teatros, rua e outros. Por outro lado, existem espaços que não realizam uma educação formalizada, com determinações legais padronizadas nacionalmente, como nas escolas, mas são espaços regulamentados, que desenvolvem suas atividades conduzidos por uma equipe técnica responsável, são exemplos: os Museus, Centros de Ciências, Planetários, Parques Ecológicos, Jardins Botânicos, Institutos de Pesquisa, Zoológicos Aquários, dentre outros. Diante do exposto é possível notar que esses conceitos ainda se apresentam de forma dicotômica, o que exige cautela para o entendimento da questão, pois embora 51 modalidade de educação e espaço educativo estejam estreitamente ligados, a presença de um não determinará a do outro. Nesse caso, essa dicotomia poderia deixar de existir e haver um processo colaborativo para uma educação de grande amplitude, como se pode notar no esquema da Figura 6. Além de tudo, é possível constatar atividades escolares (educação formal) sendo realizadas em espaços não formais, e o contrário também pode ocorrer, como por exemplo, atividades museais (educação não formal) sendo desenvolvidas em espaços formais, ou seja, escolares. Figura 6 - Modalidades e espaços educativos na produção da Educação Fonte: Elaborado pela autora, 2004. Portanto, quando ampliamos o conceito de educação, as linhas fronteiriças entre espaços e modalidades educativas tendem a deixar de existir e oferecem lugar à parcerias educativas. Pois, Alguns espaços não- formais de Educação têm se constituído como campo para diversas pesquisas em Educação que buscam compreender principalmente as relações entre os espaços não-formais e a Educação formal no Brasil. Museus de arte têm sido estudados pela recente divulgação cultural, em parceria com escolas, zoológicos, dentre outros, como locais favoráveis à realização de projetos de Educação Ambiental, e os museus e centros de ciências têm recebido grande atenção dos pesquisadores pela potencialidade de envolvimento da comunidade escolar com a cultura científica (JACOBUCCI, 2013 p. 57). Assim é possível inferir que o tipo de educação e o espaço onde pode ser desenvolvida, buscando subsídios em Gohn(1998), e em Jacobucci (2008), constituem-se em circunstâncias que dialogam entre si, em constante movimento, 52 em direção a produzir uma educação em maior amplitude, como um fenômeno social, para a vida e na vida, coexistindo em todas as camadas sociais e culturas, sendo desenvolvida a partir de diferentes lugares, criada e recriada em diferentes tempos e processos, para todas as faixas etárias, por diversas intenções e como prática de liberdade. A escola, como instituição constituída por espaços e temporalidades específicas, amplia seu potencial educativo quando agrega outros espaços em sua prática. Da mesma forma, os outros espaços educativos se nutrem do contexto escolar para dar sentido ao conjunto de atividades desenvolvidas. Ou seja, na organização de uma parceria consciente e planejada, as possibilidades são multiplicadas. Contudo, tendo este olhar sobre o ato educativo e pouco antes de refletir sobre o espaço educativo do museu, suas especificidades e importância na oferta de uma educação de qualidade e desenvolvimento da cultura científica, tomaremos a psicologia histórico-cultural e os pressupostos filosóficos da pedagogia históricocrítica como base psicopedagógica para a parceria educativa museu-escola. 3.2 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL O ato educativo, a despeito do lugar ou do tempo, revela-se como propósito dos mais intricados, exigindo postura teórica e atitude coerente no agir metodológico. São questões sobrepostas que precisam dialogar e ser encontradas por quem ensina, para que este, tomado de consciência daquilo que faz, consiga marcar seu traço distintivo no ato de ensinar. Ensinar é, portanto, um desafio. Especialmente porque fazemos parte de um mundo marcado por desigualdades e injustiças. Podese contabilizar a todo instante os inúmeros problemas sociais que massacram a dignidade humana. e que ampliam os desafios das sociedades vindouras. O processo educativo escolar, ou em instituições não escolares, possibilita a oportunidade de propor reflexões sobre essa temática e promover transformações nas pessoas. Desta forma, é possível colaborar para o despertar da consciência dos indivíduos, a ponto de estes perceberem as formas de alienação a que são submetidos, identificando os espaços da sociedade que estão a serviço do capital e da classe dominante. 53 Um processo educacional necessita ancorar-se em pressupostos tanto psicológicos como pedagógicos. Em termos de coerência e dialogicidade, é desejável que esses pressupostos sejam compatíveis em suas fundamentações e objetivos. Desta forma, um processo educacional em Espaços Educativos Formais (EEF) e Não Formais (EENF) que colabore para a educação científica numa abordagem histórico-cultural, que extrapole o núcleo das áreas das ciências da natureza, que perpasse as ciências humanas, em dimensões política, histórica e cultural, precisa ser pensado a partir de pontos de vista psicológicos, filosóficos e pedagógicos que visem à transformação social. Isto posto, uma educação científica, que trabalhe pela divulgação da ciência, valorizando a historicidade do processo, pode ser pensada a partir de Vygotsky e Saviani, com a teoria histórico-cultural base da pedagogia histórico-crítica. 3.2.1 As Contribuições da Teoria Histórico-Cultural A Teoria Histórico-cultural surge a partir de Vygotsky que viveu em um período marcado pelas ideias do marxismo revolucionário e da Revolução Russa em 1917, o que influenciou grandemente suas ideias. Logo após a revolução, buscando um elo entre o pensamento científico e o regime social instaurado, Vygotsky desenvolveu reflexões e organizou uma teoria psicológica utilizando princípios e também métodos do materialismo histórico dialético, buscando sintetizar elementos da “psicologia como ciência natural” e da “psicologia como ciência mental” que se apresentavam em crise naquele momento histórico. De acordo com Oliveira (2008), Vygotsky agregou ao seu trabalho alguns pressupostos marxistas, como a vida social, política e espiritual condicionadas pelo modo de produção; as constantes, dinâmicas e contraditórias transformações da sociedade humana; o homem como ser histórico e a síntese dialética. Scalcon (2002) ressalta a fundamentação de Vygotsky no materialismo dialético, o qual confere a sua teoria uma perspectiva histórico-cultural por meio da qual, [...] o homem é um ser histórico que se constrói através de suas relações com o mundo natural e social. Mais do que isso, é um homem que se diferencia como espécie pela capacidade de transformar a natureza através de seu trabalho, por meio de instrumentos por ele mesmo criados e 54 aperfeiçoados ao longo do desenvolvimento histórico humano (SCALCON, 2002, p. 51). Vygotsky empenhou-se em estudar e compreender os mecanismos psicológicos típicos do ser humano, ou seja, as funções psicológicas superiores, que envolvem processos de refletir e tomar decisões diante de nova situação. Parte do princípio de que as relações do homem com o mundo ocorrem por intermédio de processo de mediação pautado em dois elementos: os instrumentos e os signos. Assim, utiliza o processo de trabalho e a formação da sociedade humana, para compreender as características do ser humano, pois: O Instrumento é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza. Ele carrega consigo, portanto, a função para o qual foi criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo. É, pois um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo (OLIVEIRA, 2008, p. 29). Quanto aos signos e seu papel na mediação, Vygotsky (2010, p. 52) afirma que estes são para o campo psicológico, o que os instrumentos são para a prática e ações concretas. “O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga a o papel do instrumento de trabalho”. O homem, desde os tempos mais remotos, vem utilizando os signos em tarefas que exigem memória e atenção. Podemos considerá-los “instrumentos psicológicos atuantes em processos psicológicos”. Os signos aqui são compreendidos não apenas como objetos, mas como marcas compartilhadas por conjunto de componentes do grupo social o qual permite a comunicação entre estes e o refinamento da interação social. A interação entre recursos e atividades propostas por espaços educativos funcionam como uma marca externa que se transformará em processos internos de mediação, chamados por Vygotsky de processo de internalização. Os processos de internalização e os sistemas simbólicos são essenciais para o desenvolvimento mental superior, porque e evidenciam a importância das relações sociais entre os indivíduos na construção dos processos psicológicos. Buscando elucidar os processos psicológicos relacionados ao desenvolvimento e aprendizado com base tanto na historia individual ou coletiva da humanidade, Vygotsky enfatiza que as relações sociais e culturais despertam processos internos 55 de aprendizado. Os processos sócio históricos envolvem sempre quem aprende, quem ensina e a relação entre esses indivíduos, ou seja, a interação social. De acordo com Oliveira (2008), quando Vygotsky trata a cultura, reporta-se também, a ambientes estruturados, nos quais todos os elementos são carregados de significados. Assim, quando uma pessoa é exposta a lugares em que é possível aprender de forma interativa, ocorre a possibilidade de ampliar os fatores que influenciarão na vida social a que o indivíduo está inserido e nas formas estruturadas culturalmente por ele. A cultura, entretanto, não é pensada por Vygotsky como algo pronto e arrebatado, mas como uma categoria em constante devir que recria e reinterpreta de informações, conceitos e significados (OLIVEIRA, 2008). Por isso, destaco a importância de espaços que promovam esse movimento, em que o sujeito possa ser ativo e participante da cultura científica. A interatividade torna-se um elemento acionador da construção cultural do ser humano, por meio da relação interpessoal e dos elementos do ambiente. A interação com recursos e atividades propostas por espaços de educação não formal funcionam como uma marca externa que se transformarão em processos internos de mediação, chamados por Vygotsky de processo de internalização. Nasce dessa relação o processo de internalização: a internalização, que ocorre por meio da interação com outros homens, por mediação de instrumentos e objetos concretos, e também por meio da linguagem um elemento fundamental na comunicação dos indivíduos e no compartilhamento das informações. O processo de internalização vem a ser a reconstrução interna de uma operação externa (VYGOTSKY, 1989). Para Vygotsky (1984), os processos de internalização e os sistemas simbólicos são essenciais para o desenvolvimento mental superior e evidenciam a importância das relações sociais entre os indivíduos na construção dos processos psicológicos. Oliveira (2008) afirma que os processos superiores que caracterizam o funcionamento psicológico tipicamente humano e as representações mentais da realidade exterior são, na verdade, os principais mediadores a serem considerados na relação do homem com o mundo. 56 Em uma lógica dialética, a síntese, conforme concebida por Vygotsky, tem também suas raízes no materialismo dialético. De acordo com Oliveira (2008) ele a vê como surgimento de algo novo a partir de elementos presentes numa situação. Quando uma criança parte de um nível de desenvolvimento real e avança para um patamar mais elevado, sintetiza novos conhecimentos e alcança uma posição que se tornará novo ponto de partida, como em uma espiral, retomando aspectos já adquiridos, incorporando novos elementos e avançando para níveis mais elevados. Este processo dialético de desenvolvimento do indivíduo, com ênfase no outro, faz emergir uma especificidade dentro da psicologia histórico-cultural: o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Tal conceito surge a partir dos níveis de desenvolvimento da criança, utilizados como mecanismo de compreensão adequada de suas capacidades, denomina: “nível de desenvolvimento real” que se relaciona com as funções mentais já estabelecidas, com a capacidade de executar tarefas independentemente de outra pessoa, como resultados de processos já consolidados, e “nível de desenvolvimento potencial”, que diz respeito a tarefas que uma criança pode desempenhar se for auxiliada por alguém (VYGOTSKY, 2007). Assim ZDP é a [...] distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 2010, P. 97). A ZDP admite uma noção do “futuro imediato” da criança oferecendo subsídios para compreender e intervir em seu processo dinâmico de desenvolvimento. É um instrumento muito importante para o suporte pedagógico dos espaços de aprendizagem. No entanto, Oliveira (2008) põe em relevo a importância de compreendermos profundamente a posição de Vygotsky quanto aos entendimentos da ZDP e suas aplicações em ambientes de educacionais. A posição de Vygotsky poderia levar a uma atitude intervencionista, ou a uma educação tradicional. A intervenção tem seu lugar, no entanto, há que se considerar que [...] seu objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e das relações entre indivíduos na definição de um percurso de desenvolvimento da pessoa humana, e não propor uma pedagogia diretiva, autoritária. Nem seria possível supor a partir de Vygotsky, um papel de receptor passivo para o educando: Vygotsky trabalha explícita e constantemente com a ideia de 57 reconstrução, de reelaboração, por parte do indivíduo, dos significados que lhe são transmitidos pelo grupo cultural (OLIVEIRA, 2008, p. 63). O conceito de ZDP ganha uma dimensão maior quando a diferença entre um nível de desenvolvimento e outro deixa de ser o mais importante e passa a se destacar o processo pelo qual a criança transitou para desempenhar uma tarefa, ou seja, o seu crescimento intelectual por meio da interação social. Ao se criar em condições para o desenvolvimento de interações sociais, criam-se também condições para o desenvolvimento cognitivo dos atores sociais participantes dessas interações. Neste caso, um espaço educativo onde de fato o aprendizado pode ocorrer, precisa estimular interações sociais. Além das escolas, os Museus de Ciências podem contribuir para essas possibilidades (GASPAR, 1998). 3.2.2 As contribuições da Pedagogia Histórico-Crítica A pedagogia histórico-crítica, que também surgiu em um momento histórico de forte repressão militar à lideranças sociais, intelectuais e políticas, possui orientação socialista e preocupa-se com os problemas na educação resultantes da essência capitalista. Iniciamos esta reflexão a partir da exploração do homem pelo homem e suas consequências. Dermeval Saviani é o precursor desta pedagogia. Ela surgiu no Brasil, na década de 1980 a partir da análise da história construída na educação brasileira pelas teorias pedagógicas vigentes em cada período. Essas análises permitiram que a pedagogia histórico-crítica fosse tomando configuração. Ao compreender o desenrolar dos processos pedagógicos ao longo da história e seus impactos na sociedade, Saviani (2007) destaca que a pedagogia tradicional católica monopolizou a educação brasileira até 1759, momento em que os jesuítas foram expulsos por Marquês de Pombal. Em seguida, a pedagogia tradicional passa a dominar os processos educacionais e, desta forma, Saviani (1984) afirma que o início do século XIX marca a organização dos “sistemas nacionais de ensino” em resposta ao direito de todos pela educação. A escola é constituída com o intuito de superar a ignorância e de tornar os súditos em cidadãos na consolidação da democracia burguesa. O professor é o centro do processo, quem transmite o “acervo cultural” aos alunos. Este ensino, marcado pelo volume de informações e conceitos, 58 a princípio entusiasmou, porém foi gradativamente apresentando desapontamentos e atraindo críticas. Ficou conhecido como Escola Tradicional. Esse momento histórico se estende até o início do século XX, quando a Escola Nova passa a influenciar a educação no país. Para Saviani (2011, p. 76) o escolanovismo inspira-se no que ele chama de “concepção humanista moderna de filosofia da educação”. Ao estudar o movimento, Saviani concluiu e expôs três teses no livro Escola e Democracia, onde em síntese afirmou que este movimento não foi democrático e que significou o estabelecimento da hegemonia da classe dominante, fato que, fez Saviani defender o aprimoramento da escola destinada às camadas populares, pois, tal como proposta, a escola atenderia a esses interesses (SCALCON, 2002). Na década de 60, a pedagogia tecnicista delineia-se como tendência quando a escola nova começa a apresentar sinais de crise. Assim, a escola tradicional, escolanovista e tecnicista, consideradas por Saviani, pertencentes ao grupo da pedagogia liberal, estiveram presentes até a década de 1970 nas práticas pedagógicas. Nos anos 80, Saviani (2011) realça o surgimento de propostas contrahegemônicas, cenário em que se apresenta a pedagogia histórico-crítica, que o próprio Saviani desenvolveu. Esta pedagogia infere, em primeiro lugar, que a educação é percebida como mediação no seio da prática social global, sendo o ponto de partida e de chegada da prática educativa. Nesta orientação, é possível perceber o professor e o aluno inseridos no interior desta prática, cada qual em sua posição relacionando-se de modo a superar contradições, por meio do pensar o clássico dentro da realidade dos estudantes. Segundo Saviani (2007), é neste período, década de 1980, que surgiu a Pedagogia Histórico-Crítica, a partir das reflexões que ele próprio realizou sobre como a educação poderia ser analisada a partir de uma visão crítico-dialética, diferindo-se da tradicional visão crítico-mecanicista. O artigo “Escola e democracia: para além da curvatura da vara”, que alcançou uma maior abrangência quando publicado no livro Escola e Democracia de 1983, marca a difusão dessas ideias, que dizem respeito, à [...] passagem da visão crítico-mecanicista, crítico-histórica, para uma visão crítico-dialética, portanto histórico-crítica, da educação, é o que quero traduzir com a expressão pedagogia histórico-crítica. Essa formulação envolve a necessidade de se compreender a educação no seu 59 desenvolvimento histórico-objetivo e, por consequência, a possibilidade de se articular uma proposta, p. 80). Saviani (2007) afirma que a pedagogia histórico-crítica fundamenta-se no materialismo histórico dialético, pautado principalmente em Marx e Gramsci. Sendo então, o materialismo histórico a base filosófica da teoria para suas reflexões. Procede da necessidade de uma teoria da educação ser tomada pelos educadores de forma critica. Assim sendo, Saviani (2011) procura compreender a Educação no contexto da sociedade humana e como ela está organizada e, por consequência, a possibilidade de se articular uma teoria pedagógica que tenha como compromisso a transformação da sociedade e a emancipação popular. Para Saviani (2009, 2011) as classes dominantes operam sobre a mentalidade popular visando a seus próprios interesses, impondo-lhes uma concepção de mundo que se torna senso comum e impede-lhes de se expressarem, de se organizarem como classe e exprimirem de forma elaborada seus interesses. Assim, vê a Escola como referência para democratização dos conhecimentos, possibilitando às pessoas desenvolvimento da criticidade social. Esta articulação do processo ensinoaprendizagem estaria se dirigindo para um movimento de superação da sociedade em face da exclusão social. Para o autor, os conteúdos de cada disciplina precisam de finalidades sociais mais amplas, em que o saber erudito estaria acessível às classes populares, sendo que, Se o povo tem acesso ao saber erudito, o saber erudito não é mais sinal distintivo de elites, quer dizer, ele torna-se popular. A cultura popular, entendida como aquela cultura que o povo domina, pode ser a cultura erudita, que passou a ser dominada pela população (SAVIANI, 2011, P.69). Ter a pedagogia histórico-crítica como um instrumento importante no processo de emancipação humana, significa ter uma visão crítica da sociedade capitalista, é seguir caminhos distintos daqueles que permitem o avanço das práticas neoliberais, que na educação tem como efeito colateral a desvalorização do conhecimento humano sistematizado. Esta especificidade da pedagogia histórico-crítica, então, está na preocupação com os conteúdos clássicos, aqui considerados elementos culturais. Para Saviani e demais pesquisadores envolvidos com a PHC, como Gasparin(2003), Santos(2012) e Marsiglia e Oliveira (2008), a Escola tem a função primordial de desenvolver, da 60 melhor maneira possível, um processo de transmissão-assimilação, de conhecimentos que a humanidade produziu ao longo tempo. Cabe ressaltar que, como afirma Marsiglia (2005), essa transmissão-assimilação deve ocorrer de forma que não seja conteudista tampouco espontaneísta, para que se superem elementos das escolas tradicional e nova. Além disso, o objetivo de envolver os alunos nesta perspectiva é possibilitar-lhes a compreensão da realidade de exploração a que por ventura estejam submetidos. Pensando desta forma, Saviani (2011) propõe uma educação revolucionária que se inicia na prática social e nela se finda, constituindo-se em um método para a pedagogia histórico-crítica, fornecendo elementos teóricos e estratégicos a fim de posicionar o professor no ato de ensinar. Ele estabelece cinco passos dentro de um processo: a prática social, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final. Para Saviani, estes passos são [...] momentos articulados onde, por exemplo, a capacidade de problematizar vai depender da posse de certos instrumentos; onde, também, o peso e a duração de cada momento deverá variar de acordo com situações específicas da prática pedagógica (SCHEIBE, 1994, p.173, apud, MARSIGLIA; OLIVEIRA, 2008, p.1969). Outro aspecto relevante a respeito destes momentos é posto em relevo por Marsiglia (2005), quando afirma que esses passos não devem ser tomados como uma receita. É fundamental que a todo o tempo ocorra planejamento e replanejamento de ações. Há que coexistir a competência técnica do professor e o caráter político do processo educacional. Logo, a prática social inicial é um momento inicial comum ao aluno e ao professor, é o início do processo dialético. Neste momento os alunos encontram-se em um nível de compreensão, do conteúdo apresentado pelo professor, de certa forma ainda fragmentado, isto é, em síncrese, já o professor encontra-se em “síntese precária” como denomina Saviani (MARSIGLIA e OLIVEIRA, 2008). Por meio da mediação, migra-se da síncrese em direção à síntese e, que de acordo com Gasparin (2003, p. 7), é bastante ampla, se refere ao “modo como os homens se organizam para produzir suas vidas”. A problematização surge da interação, do confronto com a realidade, seria momento de interligar a prática social inicial ao contexto educativo para despertar o interesse 61 pelo conhecimento sistematizado, necessário para resolver as questões levantadas. Gasparin (2003) ressalta que a problematização é um desafio, sendo imprescindível na relação entre a teoria e a prática, e a aprendizagem vai incorporando, a partir daí, um “significado subjetivo e social”. Em seguida, na instrumentalização, o conteúdo sistematizado é direcionado à recriação e incorporação pelos sujeitos aprendentes como forma de construção pessoal e profissional. Essa apropriação de instrumentos teóricos conduz ao equacionamento de problemas identificados na prática social inicial. Tendo alcançado este patamar, caminha-se para a catarse, o quarto momento do processo, que se traduz na síntese que o sujeito foi capaz de alcançar, ou seja, ocorre no momento em que faz a sua síntese mental. A catarse é um momento muito especial deste processo dialético, ela é [...] a síntese do cotidiano e do científico, do teórico e do prático a que o educando chegou, marcando sua nova posição em relação ao conteúdo e à forma de sua construção social e sua reconstrução na escola. É a expressão teórica dessa postura mental do aluno que evidencia a elaboração da totalidade concreta em grau mais elevado de compreensão. [...] É o novo ponto teórico de chegada; a manifestação do novo conceito adquirido (GASPARIN, 2003, p. 124). Tendo alcançado este nível, por meio da mediação, o sujeito aprendente já terá alterado qualitativamente o seu conhecimento, a ponto de demonstrar uma nova compreensão da realidade. Saviani (2005) afirma que a prática social final não é mais a mesma, seria um novo ponto de partida. Desta forma, Quando Saviani propõe que se parta da prática social e que a ela retornemos com uma alteração qualitativa gerada pela instrumentalização e catarse, sugere indiretamente que façamos em cada alteração destas um avanço quantitativo, pois cada aluno que avança criticamente se torna um elemento de peso a forçar as coisas na direção da superação do estado alienado e infeliz do homem (SANTOS, 2012, p.24). Alguns teóricos vêm se dedicando a construir a PHC no cenário educacional embora há ainda muito a ser feito. Como o próprio Saviani (2007) reforça e incentiva, tratase de um processo de construção coletiva e não individual, que precisa prosseguir. Entre os teóricos que buscam uma aplicação da PHC, especialmente na educação básica, destaca-se Gasparin (2003) que contribuiu para a didática ao oferecer fundamentos teóricos e práticos da PHC para desenvolver práticas com ensino Fundamental. E também Santos (2008) que contribuiu trazendo uma proposta de abordagem histórico-crítica ao ensino de ciências propondo meios de ensinar em um 62 contexto dialético, articulado aos interesses das classes dominadas. A educação infantil, igualmente, já é pensada da perspectiva histórico-crítica, Marsiglia (2005) se debruçou sobre o tema e direcionou o seu olhar sobre como transpor a PHC para a prática pedagógica do professor. E ainda se destaca Scalcon (2002) que propõe encontrar uma unidade psicopedagógica entre a PHC e a psicologia histórico cultural, algo que é muito pertinente a esta investigação, visto que para Scalcon (2002, p. 34), há um “grau de identidade filosófico-epistemológica” e um “Nível de articulação ético política entre os pensamentos de Vygotsky e Saviani, de forma que acredita que a base psicológica da Pedagogia Histórico-Crítica é a psicologia histórico cultural. Desta forma a autora busca mensurar em que medida a PHC e a psicologia histórico cultural se relacionam e propõe possíveis bases psicológicas para a PHC, sob a ideia de que estas são imprescindíveis à práxis pedagógica. Todavia alerta para que esta relação esteja além do utilitarismo, que possa fundir a visão psicológica de homem com a metodologia didática, [...] a psicologia é fundamental para a pedagogia na medida em que analisa, explica e descreve como se processa o desenvolvimento cognitivo da criança através da formação das diversas funções psicológicas superiores (consciência, percepção, linguagem, atenção, vontade, sentimentos , etc.).(p. 133) Assim, Scalcon (2002) ao considerar o nível de identidade filosófico-epistemológico e de articulação ético-política que há entre os pensamentos de Saviani e Vygotsky, afirma que a base psicológica da Pedagogia Histórico-Crítica é a psicologia histórico-cultural. E, ao levantar os fundamentos dessas teorias, apresenta em cinco pontos, a convergência entre elas que podem subsidiar as bases psicológicas da Pedagogia Histórico-Crítica, quais sejam: a) Desenvolvimento integral do estudante por um ensino organizado em metodologias coerentes com níveis reais e potenciais de capacidade de intervenção na prática por meio de solução de problemas na prática; b) Prática pedagógica (conteúdos, objetivos, metodologias e avaliação) do professor como atividade capaz de identificar elementos culturais produzidos historicamente pelos homens por meio da mediação efetivada na ZDP mediante a identificação do nível de desenvolvimento real do estudante. 63 c) Planejamento da prática pedagógica ancorado em processo histórico-crítico ao impulsionar o processo “psicológico para frente” (p.138) tendo a ZDP como instrumento para o professor mensurar o desenvolvimento do estudante; d) Substituição de conceitos espontâneos por conhecimentos científicos por meio de evolução de significados, à medida que o saber construído pela humanidade de forma histórica, cultural e científica é tomado como objeto de educação e “psicologicamente aprendido” (p.138) em um processo transformador. e) Elevação do nível de consciência do indivíduo, de si mesmo e da realidade que o cerca, por meio da internalização do saber escolar originário do saber científico, pedagogicamente transformado. Vale ressaltar que há outros pontos de convergência além dos destacados acima, que são considerados importantes para iniciar um processo de construção de uma teoria crítica para a educação brasileira, então, Saviani (2002, p.XII) ainda reafirma diante das conclusões de Suze Scalcon diz que “[...] nas próprias formulações da pedagogia histórico-crítica já se encontravam presentes princípios psicológicos consentâneos com a perspectiva histórico-cultural e, reciprocamente, nas formulações da pscicologia histórico-cultural já se manifestavam exigências pedagógicas que vieram a ser o objeto de sistematização no âmbito da pedagogia histórico-crítica. Diante do exposto, as correlações entre Pedagogia Histórico-Crítica e a Psicologia Histórico-Cultural fundamentadas nos mesmos pressupostos filosóficos- epistemológicos, podem conferir avanços para uma educação que se deseje ser crítica. Todavia, buscando fundamentação em ambas as teorias e na unidade psicopedagógica, desejamos propor, com esta investigação, que esta perspectiva seja incorporada para além da educação escolarizada, ou seja, não somente nas escolas, mas também nos museus de ciências, tendo em vista, claro, as especificidades de cada um. Partindo então, do pressuposto de que com esta articulação podemos obter uma salto em qualidade na educação, em ambientes com intencionalidades educativas formais e não formais, defendemos a ideia de que isto poderá se constituir nas bases de um processo de socialização do saber produzido pela humanidade, tornando-se um instrumento cultural para a transformação e emancipação social. 64 Os pressupostos históricos-culturais que sustentam a Educação Científica que se propõe, entre outras atribuições, sugerem uma formação integral dos indivíduos para que tenham acesso ao conhecimento e compreendam como que estes conhecimentos interferem em suas realidades, afim de que se tornem ferramenta de emancipação humana, conforme Saviani propõe. Com estas aproximações psicopedagógicas e filosóficas do processo educacional, avançamos para o terreno da educação em museus e suas especificidades. 65 4 MUSEUS: ESPAÇOS SOCIALIZADORES DO CONHECIMENTO Os museus são sem dúvida lugares de ensinar e aprender. São capazes colocar a sociedade diante de sua história, de seus conflitos, de sua tradição e cultura. São lugares para refletir, para acessar os saberes clássicos e valorizar os saberes populares. São lugares de prazer e de tensões. Os museus também têm sua história e sua função transformou-se ao longo do tempo. Na tentativa de agrupá-los Almeida (1997), define duas grandes categorias de museus que se diferem pelo acervo que possuem: os museus de arte e os museus de ciências, sendo esta a categoria tratada nesta investigação. Porém, independente do tipo do museu, que são muitos, há algo em comum entre eles: o caráter preservacionista do patrimônio cultural. O que nos dias atuais é realizado de muitas formas. Entretanto, ainda é bastante presente entre as pessoas a percepção tradicional de museus que se aproxima do estereótipo europeu do século XIX, qual seja, uma instituição preocupada em documentar, preservar e expor objetos para mera contemplação e arranjo estético. Para além desta atribuição, o Movimento Internacional para uma nova museologia (MINOM), vem desenvolvendo ações e reflexões que trazem uma nova roupagem para os espaços museais ao pensa-los de forma mais aplicada à sociedade. Para este movimento, as preocupações com o mundo contemporâneo, ações preservacionistas e promoção social estão no cerne das atividades museais e o diferencia das atividades museais tradicionais. A museologia contemporânea se diferencia da museologia tradicional especialmente em três aspectos: o espaço físico, onde o museu pode estar da edificação até o território musealizável; a museografia, onde a exposição é vista como meio de comunicação e engajamento com o público; e modelo de gestão, que inclui a participação comunitária e a valorização da identidade cultural. Desta forma o museu ganha funções políticas e socioeducativas especiais, colabora para o sentimento de pertencimento cultural e natural sendo capaz de promover a inclusão social, formar cidadãos críticos ao mesmo tempo em que, também, é um espaço de entretenimento (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2013a). As definições para museu também vão incorporando estes aspectos. No Brasil, a Lei Federal nº 11.904 de 14 de janeiro de 2009, no art. 1o diz: 66 Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. Para o Conselho Internacional de Museus (ICOM) 2 , museu é uma Instituição sem fins lucrativos, permanente, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, e aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa, divulga e expõe, para fins de estudo, educação e divertimento, testemunhos materiais do povo e seu meio ambiente. Enquadrando-se nessa definição, monumentos, sítios arqueológicos e etnográficos de natureza museal, jardins botânicos e zoológicos, aquários e viveiros, centros científicos e planetários, salas de exposição, arquivos históricos e reservas naturais. Como percebemos, o conceito de museu se ampliou, não se restringe mais a um espaço fixo, físico e permanente. Tampouco o seu acervo precisa ser categoricamente formado por objetos que contam histórias vividas, voltado para o passado. Hoje o museu pode ser também um território da cidade, um ambiente virtual ou outro espaço eleito. Pode ser itinerante ou temporário, pode ter um acervo que dependerá da interatividade com o público para comunicar a sua ideia e estar conectado com o futuro. 4.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DOS MUSEUS NO BRASIL: CONTEXTOS POLÍTICOS É importante compreender como a função social do museu foi se concretizando no Brasil, em especial para entender às políticas que contribuíram ou deixaram de contribuir para o desenvolvimento de projetos de museologia comunitária3. Diante da proposta de desenvolvimento de atividades museais no município de Domingos Martins, é importante conhecer os aspectos históricos e sociais de implementação de museus no país e como se comportam as políticas que subsidiam esses 2 Definição aprovada na 20ª Assembleia Geral ocorrida em Barcelona, Espanha no ano de 2001 (http://icom.museum/). 3 A museologia comunitária tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento social a partir da valorização do patrimônio cultural e natural das comunidades, recuperando a memória coletiva e apropriação da história local (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013). 67 processos, além de servir para embasar a análise e comparações de contextos regionais, estaduais e locais. O Brasil tem sua história museológica bastante influenciada pelo contexto internacional até chegar ao ponto do que é o museu brasileiro hoje. Por meio do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e Cadastro Nacional dos Museus (CNM), vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), é possível obter uma visão clara dos aspectos museais do país. Em 2011, o CNM realizou um levantamento aprofundado do cenário cultural do país, tal medida incorporou, de acordo com o Instituto, referenciais para planejamento de políticas públicas no setor. Buscando subsídios históricos, este cenário começa a ser criado antes no início do século XIX. Instituições como o Museu Nacional do Rio de Janeiro (1818), o Museu Paraense Emílio Goeldi (1866) o Museu paulista (1894), surgiram no século XIX se dedicando amplamente às ciências naturais. De acordo com Cazeli, Marandino, Studart (2003), é possível afirmar que o movimento de criação de museus no Brasil contribuiu ricamente com a educação científica. Até o fim deste século, de acordo com o CNN (2011), o Brasil contava com onze unidades, como apresentado na tabela a seguir. Tabela 1- Museus cadastrados que foram fundados até o ano de 1900, Brasil, 2010. NOME DO MUSEU CIDADE UF ANO DE CRIAÇÃO Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rio de Janeiro RJ 1808 Museu nacional Rio de Janeiro RJ 1818 Museu do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Rio de Janeiro RJ 1838 Museu do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco Recife PE 1862 Museu Paraense Emílio Goeldi Belém PA 1866 Rio de Janeiro RJ 1868 Museu do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas Maceió AL 1869 Museu Paranaense Curitiba PR 1874 Ouro Preto MG 1876 Rio de Janeiro RJ 1889 Manaus AM 1900 Museu Naval Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto Museu Inaldo de Lyra Neves - Manta Museu de Numismática Bernardo Ramos Fonte: CADASTRO NACIONAL DE MUSEU – IBRAM / MINC, 2010. 68 De acordo com Machado (2013), o decreto de criação de Museu que significou o marco inicial da implementação de museus no Brasil, em 1918, definiu como finalidade “propagar os conhecimentos e os estudos das ciências naturais no Reino Do Brasil”, ou seja, tinha-se também o objetivo de identificar elementos particulares desta parte do mundo. Desta forma, o século XIX ficou conhecido como a “era dos museus brasileiros” que foram criados com ideais de preservação da história, valorização de datas importantes, personagens aos moldes de museus europeus. O século XX, em termo de quantidade de instituições, já trouxe uma expressividade maior, menos incisiva entre o período das guerras mundiais, mas mantendo-se ascendente até a década de 1990, assim como mostra a linha temporal no gráfico 1. Gráfico 1 - Número de Instituições museais por período no Brasil Fonte: CNM / IBRAM / MINC, 2010. Os elementos políticos estiveram muito presentes no surgimento das ações em favor da museologia brasileira. Machado (2013) apresenta que o discurso histórico produzido pelos museus brasileiros baseava-se em teorias do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), fundado em 1838, que tinham como meta manter a “homogeneidade do pensamento no interior da nação” construindo uma história e identidade da população brasileira. A autora também afirma que na década de 1920 o historiador Gustavo Dodt Barroso conduziu um projeto de instituição de museus históricos, uma categoria diferente dos museus de história natural. Os propósitos eram claramente de “exaltar as glórias da 69 Pátria” em uma “perspectiva de monumentalidade”, em que onde os visitantes pudessem amá-la e respeitá-la. O pensamento de Gustavo D. Barroso inspirou a organização legislativa de proteção ao patrimônio histórico, e conforme ele intencionava, esses museus foram pensados com essa finalidade, especialmente como forma de atribuir a “elite o papel de fundador da nação brasileira”. Machado (2013) ainda destaca que, somente em 1934, com Gustavo Capanema, é que o Estado efetivamente passa a atuar nas questões de patrimônio e Museus. Foi instituído Serviço de Patrimônio Artístico e Nacional (SPHAN), projeto desenvolvido por modernistas da época, como Carlos Drumond de Andrade e Mario de Andrade. Em seu anteprojeto, Mario de Andrade assume uma postura inovadora para a época. Em contraponto à politica elitista vigente, centrada em grupos de poder, abre prerrogativa para criação de museus nas cidades. Via os museus como “agências educativas” numa nova perspectiva museológica. Chagas (1999) afirma que, da perspectiva de Mario de Andrade, o desejo era que o acervo destes museus surgissem da identidade local, representando a comunidade e valorizando-a, uma vez que a constituição dos museus, sua organização, narrativa e discurso, surgiria a partir do diálogo com a população interessada. Mario de Andrade apoiava museus municipais, do povo, de suas manifestações, no entanto, é Rodrigo Melo Franco de Andrade, que ficou à frente de projetos do SPHAN entre os anos de 1936 e 1967, estimulando a política de museus, porém, ao contrário dos ideais de Mario de Andrade, ele apoiou os museus nacionais destinado à um público mais informado de classe social privilegiada (MACHADO, 2013). Também é possível analisar o surgimento de novos museus no Brasil do ponto de vista da divulgação da ciência. Na década de 1960, Cazelli, Marandino, Studart (2003), afirmam que a comunidade científica brasileira apresentou grande mobilização, especialmente no que se refere ao ensino, e isso, de fato, incentivou a implementação de museus de ciências no Brasil pois se corrobora com os dados do CNM (2011) que mostram exatamente neste período, no gráfico 1, o dobro de instituições sendo fundadas. Na década de 1970, por meio de influências internacionais, Machado (2013) enfatiza que houve uma mudança no foco da museologia nacional. O museu começa a ser pensado na perspectiva do público. Isso vem se concretizar nos anos 80 e 90, 70 quando, após o período militar, os discursos ufanistas foram substituídos por discursos mais condizentes com uma nova expografia. É então, a década mais marcante para a história dos museus no Brasil, segundo as autoras, foi a década de 1980. Neste período, as muitas instituições que surgiram, focavam e desenvolviam suas atividades museográficas pensando no público, sobretudo no público escolar, assim elementos interativos e ações educativas já eram introduzidas na prática. Instituições importantes surgem nesta década, como a o Espaço Ciência Viva e o Museu de Astronomia e Ciências Afins no Rio de Janeiro e a Estação Ciência da USP em São Paulo. Estes esforços já conduziram importantes ações no campo da divulgação cientifica na década de 1990. As políticas públicas vão se tornando mais expressivas e incentivos governamentais financiam instituições em vários estados brasileiros. Neste período foram criados grandes museus e muitos centros de ciências o Espaço Ciência em Recife, o Museu de ciência e Tecnologia da PUC do Rio Grande do Sul (CAZELLI, MARANDINO, STUDART, 2003). Embora alguns estudos como de Navas (2008) apontem que os modelos de comunicação pública da ciência no Brasil apresentam algumas fragilidades, como por exemplo, a noção ultrapassada que se tem do publico, que ainda é por vezes considerado desprovido de conhecimento, já é possível notar o surgimento de algumas ações mais dialógicas na esfera governamental. Talvez ainda timidamente, os aspectos organizacionais do setor começam a se materializar em organismos como a ABCMC – Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências, cujo propósito principal é articular políticas para disseminar o conhecimento científico, disseminar as atividades museais e destacar sua importância para desenvolver a nação, articulando uma Política Nacional de Popularização da Ciência. (ABCMC, 2013). Mais recentemente, no fim da primeira década do século XXI, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da Lei nº 11.906, é criado o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), ressaltando o aumento gradativo da importância que vem sendo dispensada aos museus no Brasil. Esta autarquia vinculada ao MInC se ocupa principalmente com Política Nacional de Museus (PNM) (IBRAM, 2013). 71 Esta política entre outras coisas, visa a ampliar o cenário cultural do país e o ponto de partida é o conhecimento mais profundo de sua atividade museal, a começar por dados estatísticos e suas análises. Desta forma, o IBRAM (2011) por meio do CNM apresenta o quantitativo de museus na atualidade. O Brasil possui 3.025 instituições cadastradas, distribuídas pelo seu território. Mesmo parecendo ser um número expressivo, se considerar o fato de que o Brasil é bastante vasto, e possui grande população e diversidade cultural, pode-se afirmar que são poucos os museus brasileiros e que também são pouco visitados (HAMBURGER 2001, apud JACOBUCCI 2008). Assim, a Figura 7 mostra o número de unidades por estado, fica evidente a desigual distribuição dos museus, e assim também poderia se dizer, o desigual acesso a cultura. Figura 7 - Mapa contendo a quantidade de Museus por unidade da Federação, Brasil 2000. Fonte: CNM / IBRAM / MINC, 2011. O estado Rio Grande do Sul, por exemplo, possui mais museus que os dez estados que compõem as regiões norte e centro-oeste do país. É o que afirma Jacobucci (2008, p. 62), 72 No Brasil, há museus de ciências de última geração que não deixam nada a desejar aos museus do exterior, mas, pelas características regionais, amplidão geográfica e histórico da implantação dos museus de ciências no país, estes núcleos de divulgação científica estão concentrados nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Do ponto de vista da dispersão, conforme Figura 8, é possível perceber a tendência da concentração destas instituições na faixa litorânea, nas capitais e grandes cidades dos estados. Do ponto de vista socioeconômico, pode-se afirmar que a concentração das unidades museais é diretamente proporcional aos níveis econômicos e sociais dos lugares. Outro ponto de análise é a diferença entre os estados de uma mesma região, o Espírito Santo apresenta oito vezes menos museus que São Paulo, este dado reforça ainda mais a questão das diferenças econômicas. Figura 8 - Mapa contendo a Dispersão Geográfica dos Museus Brasileiros, 2010 Fonte: CNM / IBRAM / MINC, 2011. Embora localizado em uma região privilegiada economicamente, o Espírito Santo distingue-se dos outros estados do Sudeste em muitos aspectos da atividade museal. É um estado que pode avançar muito em termos de políticas museais, 73 possui uma história rica, com atividades desde os tempos coloniais, a princípio marcado pela exploração do pau-brasil, depois pela economia açucareira e mais tarde com a produção cafeeira, o que atraiu imigrantes para seu território. Essa mistura de povos, índios, europeus portugueses, alemães, italianos constituíram a base da cultura capixaba expressa na arte, nos costumes, no trabalho, na técnica, na poesia e na arquitetura. A primeira instituição museal do estado é o Museu Solar Monjardim, criado em 1939, situado no município de Vitória. O Espírito Santo possui ao todo 61 museus cadastrados e diferentemente dos outros estados do Sudeste possui a maioria de seus museus em 22 cidades do interior. Apenas dez deles estão na Capital, conforme é possível verificar na Figura 9. Figura 9 - Mapa da Dispersão dos Museus do Espírito Santo Fonte: CNM / IBRAM / MINC, 2011. Pensando do ponto de vista da função social do museu, dentro da museologia contemporânea, pouco se sabe das dinâmicas educacionais desenvolvidas pelas 61 instituições cadastradas no Espírito Santo, ou seja, se há uma organização 74 educacional nas instituições, como se desenvolve, ou se ainda encontram-se com a única finalidade de armazenar a mostrar suas coleções. Entre os municípios do interior doe estado que já possuem alguma instituição museal está Domingos Martins. Local eleito para esta investigação. Seu museu situa-se no centro da cidade e funciona no andar superior do prédio da Casa da Cultura. Em pesquisa nesta instituição, foi constatado que o prédio foi tombado como patrimônio Histórico e Artístico pelo Conselho Estadual de Cultura. Foi inaugurada em 17 de dezembro de 1983. Na Figura 10 é possível visualizar as características externas do prédio e também o ambiente interno que leva ao andar do museu. Figura 10 - Casa da Cultura de Domingos Martins – ES Foto: Acervo da autora, 2014. A Casa da Cultura de Domingos Martins ocupa uma edificação construída em 1915 pelo Sr. Augusto Schwambach para residência de sua família. Posteriormente, foi instalada neste mesmo imóvel, a sede do fórum do município, e, mais tarde a Loja 75 Maçônica. A edificação foi doada ao município pelo Governo do Estado em 1981 e dois anos depois foi inaugurada pelo então prefeito Moacir da Silva Vargas como espaço cultural para a cidade vale lembra que esta foi a primeira casa da cultura do estado do Espírito Santo (PMDM, 2013). O pequeno museu histórico possui um acervo (Figura 11) doado pela comunidade local, relacionado à imigração alemã, pomerana e italiana do local, com documentos, ferramentas, aparelhos, fotografias, bem como também, objetos religiosos. Figura 11 - Exemplo de objetos expostos no museu de Domingos Martins - ES Fonte: Acervo da autora O acervo que se encontra no local é exposto de forma simples, conforme Figura 12, em um espaço relativamente pequeno livre de muitos critérios. Não há reserva técnica, todos os objetos estão em exposição. 76 Figura 12 - Objetos e estilo de exposição do museu de Domingos Martins - ES Fonte: Acervo da autora, 2014. Possui ainda grande potencial de exploração se for levar em consideração a possibilidade de inferir outras técnicas expositivas e textos que possam dialogar com a história da ciência visto que muitos objetos levam a entender os avanços tecnológicos entre os colonos. Assim, também, abrem espaço para questionamentos críticos sobre a história de vida do colono, desde seu êxodo até a construção da nova terra, inclusive podendo dar ao público a condição de se colocar no papel do colono e decidir/opinar sobre fatos da história. Na figura 11 pode-se observar parte do acervo exposto. De acordo com informações cedidas pela Gerencia de Cultura, o museu recebe muitos visitantes turistas que, ao chegarem à cidade, buscam-no como atividade de lazer. O público estudantil ainda é muito pequeno em comparação com o quantitativo de estudantes do município. Assim, o uso deste museu como um espaço de educação, em parceria com a escola, ainda não é um fato concreto. Recentemente vem surgindo algumas mobilizações no sentido de aproximá-lo da comunidade, entre as ações estão de sendo planejadas atividades culturais como exposições diárias, apresentações de recitais, teatros, sessões de filmes e aulas de músicas. A gerência de Cultura informou ainda que existem muitos desafios para tornar o trabalho ideal, entre eles o orçamento interno e a captação de recursos externos para manutenção do prédio e realização de eventos. 77 5 MUSEU E ESCOLA ARTICULANDO A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL Depois de abordarmos brevemente a história política dos museus no Brasil, neste capítulo, será dada uma ênfase aos seus aspectos educacionais, especialmente no que se refere à sua articulação em parceria com a escola. Muitos trabalhos vêm sendo realizados a respeito dos museus, aqui considerados espaços educativos não formais, seja para um público espontâneo ou para o público escolar. No IX Encontro nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC), edição realizada em novembro de 2013, entre simpósios e comunicações orais, pode-se verificar vinte e seis trabalhos que tratavam exclusivamente de temas relacionados à educação em Museus (ABRAPEC, 2013). Entre estes trabalhos destaca-se o de Iszlaji (2012) que realizou sua pesquisa na linha de desenvolvimento de aprendizagem por meio da concepção de exposições museais. Pesquisou sobre como os museus desenvolvem e se desenvolvem algum trabalho considerando as crianças pequenas. Para o estudo, foi escolhida a exposição “Mundo da Criança” do Museu de ciência e Tecnologia da PUC/RS, destinada a crianças com idade entre 3 e 6 anos. Fundamentou-se em Vygotsky por perceber a criança como um sujeito histórico-cultural. Em Vygotsky também se baseou para eleger as categorias de análise, que foram: organização do espaço físico e social, formas de expressão infantil e formação de conceitos. A autora percebeu que são poucos os museus que destinam exposições à crianças. O trabalho de Iszlaji (2012) contribui para a concepção de exposições destinadas às crianças ao apresentar parâmetros para esse fim. O Trabalho de Contier (2009) investigou as “Relações entre a Ciência, Tecnologia e Sociedade nos Museus de Ciências”. A autora utiliza referenciais da educação e analisa como os museus de apropriam dessas ideias e as transpõem às suas exposições. Analisou três exposições de três grandes museus nacionais, o Museu de Ciência e Tecnologia da PUC/RS, Museu da Vida/ FIOCRUZ e Estação Ciência da USP, do ponto de vista dos debates sociais internos e externos da ciência e debates históricos e filosóficos. A pesquisadora encontrou dificuldade de localizar exposições que tivessem abordagens CTS e deixa explícito que sua investigação pode contribuir para constituição de atributos para o desenvolvimento da abordagem CTS nos museus. 78 O desenvolvimento da Educação Científica em EENF, como museus de ciências e especialmente laboratórios, também foi investigada por Watanabe (2012). A pesquisadora trouxe reflexões importantes sobre as contribuições da abordagem CTS e Alfabetização Científica na articulação entre os visitantes e estes espaços. A pesquisa foi realizada no laboratório do Departamento de Física Nuclear da USP e evidenciou que os laboratórios apresentam especificidades, distintas dos espaços museais e possuem necessidades diferentes no que se refere às visitas e mediações, isto é, para se desenvolver uma perspectiva sociológica para as mesmas, há de se apoiar no desenvolvimento da percepção da cultura cientifica, porém, no contexto do processo de produção da ciência. Schwenck (2011) também analisa uma exposição museal, porém de um museu itinerante. Seu objetivo foi analisar a exposição do “Ciência Móvel: vida e saúde para todos”, enfocando o potencial de mediação informacional. Os pontos destacados foram as atividades de itinerância desenvolvidas, a concepção do material exposto e as interações vividas. A autora constata a importância da itinerância na atividade museal, quanto a sua abrangência e divulgação da informação e combate ao analfabetismo científico. Em um outro trabalho bastante criativo, Barcellos (2012) investiga o papel de um museu de ciências construído por alunos de ensino fundamental na divulgação científica. O autor pretendeu compreender se a construção de um museu, dentro do espaço escolar, contribuiria para a Alfabetização Científica e para o despertar da inteligência naturalística. Destacou, neste trabalho, a construção coletiva de um museu, e mais, a construção de um museu onde os curadores foram os próprios estudantes. O autor constatou que os alunos, por meio da mediação do professor, aprenderam a linguagem da ciência, aprenderam a pesquisar e divulgar ciência na prática com muita curiosidade e criatividade. Diante do exposto, é possível perceber que os museus surgem como espaços não formais de educação capazes de socializar o conhecimento, de realizarem divulgação científica. E é neste ponto que convém refletir sobre esta atribuição a partir do que pressupõe a Pedagogia Histórico-Crítica a respeito de socializar conhecimento, democratizá-lo, torná-lo acessível a todos, como mecanismo de emancipação humana, uma vez que, para Saviani (2011), existe uma tendência na 79 sociedade capitalista de tornar o saber, o conhecimento, em sua propriedade exclusiva. Pensando em termos pedagógicos, é preciso compreender a base das ideias, pois a [...] elaboração do saber não é sinônimo de produção do saber. A produção do saber é social, ocorre no interior das relações sociais. A elaboração do saber implica expressar de forma elaborada o saber que surge da prática social. Essa expressão elaborada supõe o domínio dos instrumentos de elaboração e sistematização (SAVIANI, 2011 p.67) Assim os museus surgem em sua função social, com a possibilidade de serem agentes capazes de permitir ao seu público a aproximação aos instrumentos de elaboração e sistematização do saber, em uma parceria educativa com a escola. É possível destacar que há avanços em pesquisas relacionadas à função educativa dos museus, pois estes espaços, de fato, têm incorporado, ao longo do tempo essa importante missão. Entretanto, são caminhos que começam a ser trilhados, há muito ainda a ser detalhado. Conhecer a trajetória histórica do fazer museológico se configura como algo muito importante para delinear o futuro dessas instituições, sejam de grande expressividade nacional sejam pequenos museus locais. 5.1 O SURGIR DA PARCERIA EDUCATIVA MUSEU-ESCOLA Os museus têm se consolidado, nos últimos anos, como um importante espaço que permite a alfabetização e a divulgação científica. São considerados ampliadores de ações educativas e divulgadores da cultura científica (MARANDINO, 2005). Suas características próprias os tornam especiais e atraentes, são locais em que a interação com objetos, imagens, textos, sons, luzes e aromas promovem um estímulo ao ato de ensinar e aprender. Muitos trabalhos descrevem a promoção da aprendizagem com o uso desses espaços (BRASIL,2009). A escola possui uma grande missão, qual seja, a de instrumentalizar conhecimentos científicos básicos aos estudantes e ela pode articular esta necessidade às instituições museais que reúnem especificidades que colaboram para a divulgação científica. Pois, como afirmam Krasilchik, Marandino (2007) e Gohn (2010), uma instituição formal de ensino, dadas as suas especificidades e o conjunto de atribuições, pode não acompanhar todos os avanços científicos e seus impactos na sociedade que se constituem como elementos-chave para “compreensão do 80 mundo”. É preciso buscar em outras fontes, pois é consenso que o conhecimento se produz em diferentes ambientes, em diferentes ecossistemas educativos, como destaca Candau (2000). Quando se trata de espaços educativos não formais, os museus têm um destaque especial. A função educativa dos museus na sociedade ampliou-se a tal ponto que são capazes de apresentar a lógica de correlação entre a ciência, a tecnologia, sociedade e ambiente, e ao mesmo tempo promover divulgação científica e popularizar a ciência por meio de suas exposições (MARANDINO,2005). De acordo com Souza (2009), os museus, ao operarem a divulgação científica, cumprem o objetivo de promover qualidade de vida ao público ao permitir o acesso à compreensão da construção sócio histórica dos saberes. Essa função educativa tem suas raízes no passado histórico que remonta aos séculos XVII e XVIII, porém, é um tanto quanto recente o espaço educacional, com suas devidas especificidades que essas instituições vêm ocupando. Tal percepção de museu como um espaço de educação vem se construindo por meio de uma processo gradativo que Allard e Boucher (1991) discriminam em três etapas: Na primeira etapa, ocorreu a inserção dos museus em ambientes de educação formal, ou seja, nas universidades, em um período que se estende do final do século XVII até o fim do século XVIII, em Oxford, Inglaterra, depois na Europa toda. O acesso era limitado a pessoas que possuíssem conhecimento para compreender as exposições. Neste período de ouro do positivismo, do cientificismo, da teoria evolucionista, do neo colonialismo, do antiquarismo, o museu possuía uma função política e imperialista das nações europeias, sobretudo França e Inglaterra. A exposição Universal de 1857 transformou a Paris Medieval na Paris Cidade Luz, com largas avenidas, com luz elétrica nas ruas, com metrô subterrâneo. A Expo 1857 não mudou só a cidade, mas também, os habitantes que dela faziam parte. Em um segundo momento, já no século XIX, reputado o “século de ouro” para os museus, os ambientes museológicos já são mais acessíveis e passam a receber um público mais variado, oriundo de distintas classes sociais. Ocorre um desenvolvimento do papel educativo dos museus e estes se ampliam por todo o mundo. Nesta época, inclusive, Marandino (2005, 2011) ressalta os surgimentos dos primeiros museus no Brasil. A autora também salienta que neste período foram criados, dentro dos museus, os “serviços educativos” para atender às visitas 81 escolares, no entanto, as dificuldades eram grandes tanto para os curadores como para os professores que não apresentavam preparo para conduzir vivências em um museu. Allard e Boucher (1991) intitulam a terceira etapa como a de estabelecimento do propósito educativo dos museus com uma ampliação do público em quantidade e diversidade. Nesta etapa, não somente expunham suas obras, mas desejava que elas fossem contempladas e compreendidas pelo visitante, o que veio a modificar o pensar museológico. Neste período, os museus começaram a incluir estratégias comunicativas para atingir o público em suas exposições e algumas pesquisas foram realizadas com os visitantes. Exposições passaram a ser pensadas sob certas temáticas e incluíram na apresentação o recurso de Dioramas, ou seja, “aparatos midiáticos de reconstituição de ambientes”, que tornavam as exposições mais compreensíveis (GARCIA BLANCO, 1999, apud MARANDINO 2005). McManus (1992) também analisa o processo histórico dos museus dentro da ótica da educação e propõe que os museus sejam categorizados em gerações, as quais não estão fixas no tempo, porque ainda podem ser encontradas. De acordo com a autora, a primeira geração de museus surgiu em meados do século XVII, derivada dos gabinetes de curiosidades conforme pode se observar na Figura 13. Os museus eram como “santuários de objetos raros” e instrumentos científicos, nele se acumulavam peças curiosas, como moedas e animais empalhados. Somente no fim do século inicia-se uma organização das coleções e surge, então, o Ashmolean Museum da Universidade de Oxford, assim, apresentava-se algum vínculo com a academia, seu foco era a história natural, porém não tinham como meta a educação e a divulgação da ciência para o público em geral, somente um público selecionado o visitava. 82 Figura 13 - Frontispício do Musei Wormiani História - Gabinete de Curiosidades Fonte: Wikipedia4, 2014. A segunda geração consolidou-se na virada do século XVIII para o século XIX, eram os museus de técnica, o objeto era o foco, já com intenções didáticas, as exposições internacionais eram vitrines dos avanços científicos em uma proximidade muito grande com o mundo do trabalho e da indústria numa perspectiva de formação técnica dos trabalhadores. Almeida (1997) acrescenta que neste período foram criados dentro dos museus políticas de acesso a todas as formas de conhecimento com o objetivo de formar cidadãos. Esta geração de museus volta suas exposições a todo o público, tendo em sua museografia alguns elementos manipuláveis e com discussões sobre implicações sociais no desenvolvimento científico na sociedade. De acordo Cazeli, Marandino e Studart (2003), um exemplo de museu de tecnologia que revolucionou a forma de apresentar-se ao público foi o Deutsche Museum (Figura 14) criado em 1903 em Munique. 4 Disponível em: http ://upload.wikimedia.org/wikiped/Musei_Wormiani_Historia.jpg. 83 Figura 14 - Deutsche Museum: vista externa e exposições tecnológicas Fonte: Deutsche Museum5, 2014. McManus (1992) também apresenta os museus de terceira geração, presentes a partir da terceira década do século XX. Estes museus trazem em seu escopo um novo papel social, o da alfabetização científica e tecnológica tendo como foco central os fenômenos e os conceitos científicos, não mais os objetos. Apresentam uma preocupação com a aprendizagem o que exige que as exposições sejam pensadas neste aspecto, tornando-se mais interativas com o surgimento dos Science Centers, nos Estados Unidos. É importante destacar como a história e a sociedade passam a inferir mudanças no modo de pensar a museologia, Beetlestone et al.,1998, (apud CAZELI, MARANDINO, STUDART, 2003), mostram que as mudanças que acontecem nos museus têm relação com fatos históricos. Na década de 1960, um momento da história influenciou indiretamente a criação do primeiro Science Center, o Exploratorium, em São Francisco nos Estados Unidos, trata-se do 5 Disponível em:< http://suitcasestories.com/top-3-museums-munich-germany/> 84 [...] lançamento do Sputnik, em 1957, foi o coroamento do progresso científico soviético e teve enorme impacto social, ao explicitar a distância entre a sociedade, o entendimento do papel da própria ciência e a educação (VALENTE,CAZELI, ALVES, 2005, p. 187) Este fato suscitou a renovação do ensino de ciências, inclusive em instituições museais, pois ficou constatada a necessidade de alfabetização científica para a sociedade. Em plena Guerra Fria, na corrida espacial, os russos saíam na frente com o programa Sputnik e o lançamento do primeiro satélite artificial. A história dos museus também se relaciona com a função que a instituição museal assume, a qual está vinculada à divulgação científica e à compreensão pública da ciência. As funções do museu estão diretamente relacionadas ao seu eixo museal, à sua missão e pretensão. Montpettit (1998, apud, VALENTE; CAZELLI; ALVES, 2005) apresenta uma classificação que trata destes elementos. Para o autor, os museus podem ser entendidos mediante a três abordagens: a Ontológica, histórica e Epistemológica, que serão apresentadas a seguir. O eixo museológico de instituições com uma abordagem Ontológica apoia-se no real. O autor afirma que este tipo de museu objetiva a globalidade do universo, a ciência está presente de forma implícita, privilegia exposições de coleções, os gabinetes de curiosidades podem ser contemplados por visitantes leigos ou ser usados por especialistas como ambiente de pesquisa. Assim também apresenta a abordagem histórica, cujo eixo museológico é o discurso construído acerca da história da ciência e da técnica. Explora a história social nas diferentes culturas, mostra as inovações que afetam o cotidiano, as marcas da passagem da sociedade tradicional para a sociedade industrial. A ciência está presente no discurso. Por fim, o autor apresenta a abordagem epistemológica, tendo como eixo museológico a ação. O foco destes museus é a análise e o desenvolvimento do discurso científico. Suas exposições são organizadas de modo a apresentar como acontecem os fenômenos científicos. Conforme Valente, Cazeli e Alves (2005), os museus de ciências enquadram-se na abordagem epistemológica proposta por Montpettit (1998), vez que neles há o intuito de envolver o visitante ao processo científico a fim de que experimente, de que perceba como funciona, por meio de dispositivos criados para que se veja a ciência 85 em ação. Dentro desta tendência museográfica, numa linha mais popular, a autora destaca o surgimento dos Science Centers (os Centros de Ciências) cujos pioneiros, na década de 1960, foram o Ontário Science Center em Toronto e o já citado Exploratorium em São Francisco, a partir dos quais milhares de outros foram surgindo e se capilarizando por todo o mundo, até os dias atuais. Os Science Centers trazem em seus propósitos pedagógicos a organização de exposições interativas, onde os visitantes tornam-se ativos no processo da visita, deixando de ser apenas contempladores, pois relacionam-se com os aparatos. Como sugere as autoras Valente, Cazelli e Alves (2005), tais museus guardam relação direta dos visitadores com os aparatos, permitindo que estes sejam manipulados, isso permite ao público experimentar e interagir por meio dos sentidos com o fato científico. Vemos, nessa experiência, o que Vygotsky chama de aprendizagem socialmente mediada. Um olha o outro, um aprende com o outro, com ele interage e com o grupo socializa o que aprendeu. 5.2 AS ESPECIFICIDADES PEDAGÓGICAS DOS MUSEUS E ESCOLAS No entendimento de Allard et al (1996), os museus, assim como as escolas, têm em seus pressupostos elementares a intencionalidade de conservar, e transmitir, os conhecimento acumulados pela humanidade. No entanto, adverte para o fato de que ambos guardam suas especificidades que precisam ser levadas em consideração na concretização de processos educativos. De forma sintética destacou algumas características no Quadro 2. Quadro 3 - Especificidades da Escola e do Museu ESCOLA MUSEU Objeto:Instruir e educar Objeto: recolher, conservar, estudar e expor Cliente cativo e estável Cliente livre e passageiro Possui um programa que lhe é imposto, pode fazer diferentes interpretações, mas é fiel a ele. Concebida para atividades em grupos (classe) Possui exposições próprias ou itinerantes e realiza suas atividades pedagógicas em função da sua coleção. Concebido para atividades geralmente individuais ou d pequenos grupos Tempo: 1 ano Tempo: 1 h ou 2 h Atividade fundada no livro Atividade fundada no objeto Fonte: Allard et al, 1996. 86 É importante destacar que entendemos que à escola dos dias atuais poderiam ser conferidas outras características, que não apenas esta citadas pelo autor que parecem representar um escola tradicional. Hoje é possível contar com espaços escolares mais dinâmicos e criativos em constante transformação. Essas especificidades pedagógicas ganham ainda maior destaque quando pensamos na parceria educativa museu-escola. A consolidação dos museus como espaços educativos que podem dialogar com a educação formal desperta questionamentos que Marandino (2005) levanta a respeito dos processos de aprendizagem que neles ocorrem. Para ela, o museu se diferencia da escola quanto ao espaço e as propostas. E destaca as especificidades dos museus no contexto das estratégias educativas, do planejamento das exposições, das intenções e dos elementos que o compõem. Os museus são considerados, por Marandino (2005), espaços educacionais ao criarem programas educativos baseados em modelos sociais e culturais na socialização de saberes acumulados aos visitantes. Projetam-se, portanto, para além do entretenimento. Mas, quais processos educativos ocorrem nos museus? Assim a autora apresenta dois olhares relacionados aos aspectos específicos de processos educacionais em museus: o olhar de Van-Praet e Poucet (1989) e o olhar de Allard et al(1996). Marandino (2005) destaca, em Van-Praet e Poucet, o fato de considerarem as exposições dos museus como uma mídia e considerarem os elementos lugar, tempo e objetos como específicos da pedagogia museal, portanto necessários para subisidiar a educação nesses espaços. Assim, o elemento tempo, diferentemente da escola, no museu é breve, onde teoricamente o visitante concede poucos minutos aos objetos. Sua variação está condicionada à concepção da exposição e ao tratamento dado pela mediação. O elemento lugar, que na escola apresenta-se fechado, no museu apresenta-se aberto, o visitante percorre livremente o recinto sendo atraído pelas exposições, fato que desafia seus pensadores na organização do tempo/espaço e na ambientação dos temas, em um percurso de modo a contemplar inter-relação entre eles. O elemento objeto sustenta o discurso museal, configurando riqueza e interatividade ao passo que podem oferecer ao visitante compreensão das esferas social, histórica, técnica, artística e científica dos saberes, sensibilizando e promovendo discussão. 87 Em Allard et al (1996), a autora busca elementos divergentes nas relações pedagógicas que ocorrem nos museus e na escola partindo do que é comum entre eles: ambos “concorrem para a conservação e para a transmissão do substrato cultural de um povo ou de uma civilização”. Na escola, o objeto tem a função de educar, por tempo determinado, um grupo de pessoas, com determinadas faixas etárias, dentro de um programa. No museu, o cliente é passageiro, de todas as idades, em tempo curto, as atividades pedagógicas se organizam em função do objeto. Diante destas diferenças, os autores apresentam um modelo de Situação Pedagógica no Museu, onde se tem: o museu e, em seu contexto, ao centro, seu programa educativo e uma tríade formada pela temática, o interventor e o visitante/aluno, e seus campos de relação. Deste modelo, Marandino (2005) põe em relevo a “relação de transposição” que é relacionada por Allard et al ao conceito de transposição didática de Chevallard (1991)6 aplicada aos museus, onde a transformação do “saber sábio em saber a ser ensinado” passa pela questão da mediação entre o conhecimento exposto e público na visitas. Assim, a autora avança nesta análise e acrescenta outros elementos (Figura 14) no processo de transposição didática nos museus, ou seja, além da transposição que ocorre ao longo de uma visita, por meio da mediação entre o saber exposto e os visitantes, também há de se levar em conta que a elaboração do saber exposto requer outras transposições que vão originar o discurso expositivo. 6 O conceito de transposição didática de acordo com Yves Chevallard (1991) relaciona-se ao processo de transformação que ocorre com o saber produzido no contexto científico para que ele possa ser ensinado nos meios educacionais, visto que, os objetivos da escola e dos meios científicos são distintos. 88 Figura 15 - Processo de transposição didática nos museus Fonte: Marandino, 2011. Essas transposições são fruto de uma seleção da cultura científica, da história dos museus de ciências, de questões de ordem política, tecnológica e cultural, de poder, capazes de determinar os saberes do discurso expositivo final. Marandino (2005, 2011) elenca os grupos de saberes que estão envolvidos no processo de transposição para constituição do discurso expositivo os quais são: saberes do senso comum, saber sábio, saber museológico, saber da comunicação, saber da educação e outros saberes. E finaliza destacando a importância da participação do educador em uma equipe interdisciplinar na concepção e produção de uma exposição. Marandino (2008) afirma que além da transposição dos saberes, os museus de todo o mundo sofreram e sofrem influência de teorias pedagógicas que acabam por transparecer nos trabalhos realizados nestas instituições. Desta forma, Cazeli, Marandino, Studart (2003) identificaram que os museus de primeira e segunda geração, assim como nomeados por McManus (1992), apresentam uma inclinação para uma “Pedagogia Tradicional”, enquanto que os museus de terceira geração estariam mais próximos de teorias construtivistas, pois as suas características favorecem a interatividade. 89 Almeida (1997), ao tomar o exemplo do Brasil, afirma que as ideias escolanovista em 1920, proposta técnico-pedagógica conduzida por Fernando de Azevedo, teriam determinado a modernização dos museus e aberto as portas para complementar o ensino escolar, quando a UNESCO vem propor aos museus ações complementares ao ensino formal. É verificável, portanto, que não há consenso em um referencial teórico próprio para a aprendizagem em museus e centros de ciências. De acordo com McManus (2013) e Gaspar (1993), a teoria de aprendizagem construtivista de Piaget representa o principal aporte educacional para os centros de ciências, especialmente no que diz respeito aos experimentos interativos ou hands experiments que configuram a aprendizagem sendo produto da interação ativa entre o aprendiz e o objeto. 5.3 A RELAÇÃO MUSEU-ESCOLA: ENTRECRUZANDO OS OLHARES No fim da década de 1990, Almeida (1997) trazia algumas reflexões sobre a relação museu-escola. Preocupou-se em discorrer sobre a importância do museu ter sua própria identidade e não repetir a ação educativa da escola. Em conformidade, Marandino (2001, p.98) enfatiza a relação entre museu e escola sob a premissa de que ambos são “espaços sociais que possuem histórias, linguagens, propostas educativas e pedagógicas próprias. Socialmente são espaços que se interpenetram e se complementam mutuamente [...]”. Deste ponto de vista de vista, não é exagero afirmar que os dois espaços educativos concorrem para a alfabetização científica. O desafio para se efetivar uma parceria entre museu e escola está justamente no esclarecimento dos papéis de cada um. É preciso se dar conta de que existe uma cultura museal e uma cultura escolar e que a peculiaridade de cada uma pode denotar uma rede multidimensional de leitura do mundo. O que é muito enriquecedor (MARANDINO, 2000). Tendo essas constatações, o que poderia ser pensado para considerar em termos práticos as atribuições da escola e do museu neste processo de parceria? Poderiam ser destacados vários pontos neste processo sinérgico, no entanto, pontuaremos a seguir uma ação da escola e uma ação do museu em direção a esta parceria. 90 5.3.1 A escola e a condução de vivências nos espaços museais Ao tomar o museu como um local de educação e potencialização da aprendizagem, a escola precisa estar atenta a certos detalhes, para que esse processo atinja suas finalidades e se torne de fato um ponto de parceria. As pesquisas mostram que o professor é o elemento-chave no estabelecimento da parceria museu-escola (MARANDINO, 2000, 2001; ALMEIDA 1997; CAZELI, 2005). Acreditamos ser ele o elo capaz de articular esses dois espaços educativos, uma vez que dispõe da possibilidade de fazer escolhas em seu planejamento, e organizar visitas nestes lugares. Jacobucci (2010) assegura que o acesso da comunidade escolar ou geral a espaços científico-culturais no Brasil ainda é restrito, tanto por parte de professores como de alunos. Em pesquisa realizada com um grupo de professores na cidade de Uberlândia/MG, constatou que grande parte deles não conhecem um museu de ciências de última geração, ou um aquário interativo ou até mesmo um zoológico moderno, atribuem o fato à insuficiência de tempo. É importante dizer que isto ocorre em uma cidade que possui esses espaços à disposição. E como ficam as inúmeras cidades brasileiras que não possuem e não desenvolvem qualquer atividade museal, o acesso do professor à cultura fica de fato comprometido. Isso é muito relevante, pois a ação educativa do professor passa por seu acesso ao conhecimento, nesse caso, acesso a outras formas elaboradas de conhecimento, pois Quanto mais um professor frequentar espaços não-formais de educação, mais relações poderá estabelecer entre esses espaços e os conteúdos científicos divulgados, uma vez que as características das mostras de divulgação científica englobam elementos similares na maioria dos ambientes não-escolares (JACOBUCCI, 2010, p.432). E, desta forma, o professor poderá desenvolver uma conduta desejável nestes ambientes, evitando situações comuns descritas por Almeida (1997), como: deixar os alunos desorientados no museu ou completamente atarefados, apresentar uma postura passiva ao longo da visita, não consultar bibliografia sugerida pelo museu, organizar a visita dentro do museu a partir do ponto de vista do comportamento a se ter dentro destes lugares ou perder a oportunidade de estabelecer relações entre teoria e prática. 91 Partindo deste ponto de vista, da importância do professor em desenvolver a parceria museu-escola por meio das vivências no museu, convém refletir sobre o modelo pedagógico proposto por Allard e Boucher (1994) para este fim. As vivências no museu podem significar um passo concreto na efetuação parceria educativa e podem se desenvolver de diversas maneiras. Os museus podem oferecer os momentos de vivências de várias formas, podendo ser com mediadores, com áudioguia ou de forma livre. Para todos os casos, é conveniente considerar: Os temas abordados pelo museu em suas exposições; A idade do grupo escolar e o público alvo do museu; Os materiais disponíveis para organização das atividades; Evitar repetir no espaço do museu o que se realiza no espaço escolar Não esperar que o museu venha substituir a escola. Esperar sim, uma relação sinérgica entre ambos. Ver o museu como local de pesquisa incentivando coleta de dados nos museus. Proporcionar momento para alunos explorarem o museu livremente por conta própria; Proporcionar momentos para o deleite e diversão na visita. As visitas podem ser concebidas como parte integrante de um processo maior, que abrange uma fase preparatória e outra de acompanhamento. Allard e Boucher (1994), nesta perspectiva, sugerem que o processo perpasse por três momentos: (antes, durante e depois da visita) em dois lugares (na escola e no museu). Entretanto, para além do tempo e do lugar, acreditamos ser necessário que as visitas sejam também perpassadas por um viés psicopedagógico, conforme referencial discutido nesta investigação, cujos pressupostos poderão instrumentalizar o trabalho do professor e tornar a experiência agradável e produtiva, o que se pode visualizar no Quadro 5. 92 Quadro 4 - Planejamento de visitas escolares ao museu - Parceria educativa museu-escola a partir do olhar da escola 0 PROFESSOR O ALUNO VISITAS ESCOLARES AO MUSEU ANTES DURANTE DEPOIS ESCOLA MUSEU ESCOLA Encontra-se na fase de Instrumentalização. Busca no museu respostas à pergunta ou problema (investigação). Interage/envolve-se com o discurso expositivo. Observa. Analisa. Registra. Tornar-se ator social. Interage com o grupo social, colegas, professor e mediadores. Interage com objetos e aparatos. Inicia processo de síntese/Catarse. Chega ao nível de desenvolvimento potencial. Encontra-se em fase de Síntese mental/Catarse. Analisa e sintetiza. Classifica de dados. Interpreta de dados. Identifica relações entre os dados coletados e o problema. Verifica hipótese. Avança criticamente para prática social final. Chega a novo nível de desenvolvimento real. Surgimento do tema a partir da prática social inicial do aluno que: Encontra-se em estágio de síncrese. Desenvolve perguntas e problematiza. Define um problema ou uma pergunta. Prepara a coleta de dados no museu. Parte do nível de desenvolvimento real. Levanta hipótese para o seu problema ou pergunta. Ao perceber a problemática inicial: Considera a prática social inicial para organizar e planejar a atividade pedagógica. Problematiza junto aos alunos. Antecipa-se em conhecer o museu/exposição e detalhes de visita. Contacta a equipe técnica do museu. Planeja a Visita. Interage com o mediador. Observa o processo que o aluno transitou para desempenhar tarefas (aplicação do conceito de ZDP). Observa interação social dos alunos. Observa interação com objetos. Conduz a vivência. Oferece momento de livre aprendizagem. Registra observações Avalia o momento de interação e aprendizagem Prepara atividades de acompanhamento na classe. Organiza apresentação dos dados. Promove discussão e questionando sobre conteúdos da exposição. Conduz à prática social final. Fonte: Elaborado pela autora com base em Alard e Boucher (1994) Na mesma estrutura proposta por Allard e Boucher (1994), é possível pensar nas fases que compõem um ciclo de trabalho escola-museu-escola na perspectiva histórico-cultural. A partir de um planejamento pedagógico orientado por esta base psicopedagógica, alunos e professores em cada momento terão suas atribuições como descritas no Quadro 5, isto claro, variando em níveis de abrangência e intensidade, de acordo com cada indivíduo. 93 5.3.2 O museu e o público escolar Em outro ponto de vista está o museu, que, ao incorporar esse papel social educacional, em que recebe o público estudantil, adquire preocupações que irão determinar elementos importantes do seu plano museal. Não repetindo o que escola tem feito, especialmente o seu currículo, o museu precisa pensar em encantar o público estudantil para além dos livros didáticos, precisa gerar motivação, ao mesmo tempo em que amplia o seu repertório de conhecimento, abrindo as portas para outros saberes que a escola não contemplará diretamente. Entre as várias atribuições que o museu pode ter no centro desta parceria, como processo de formação para professores, produção e veiculação de materiais informativos e outros, está a elaboração de exposições, o que pretendemos enfatizar. Longe de tender a escolarizar o museu, o que não é desejável, não se pode ignorar o fato de que o público estudantil tem estado presente nos museus, com maior frequência, nos últimos anos (MARANDINO, 2010). E temos que considerar que temos pesquisas que focam o público nos museus, suas percepções, a receptividade dos temas tratados, seu entrosamento com as exposições e com a comunicação museal como um todo (CAZELI, 1999; CAZELLI; MARANDINO; STUDART, 2003; MARANDINO, 2005, 2010; CURY, 2010). Por outro lado, os pesquisadores em museologia já vêm cunhando uma pedagogia própria para os museus, com técnicas específicas que se diferem da didática escolar. E, também, que esta pedagogia museal, no que tange à elaboração de exposição e transposição dos saberes precisa indiscutivelmente levar em consideração o seu público e não ignorá-lo. Assim, é provável inferir que ainda é possível, e necessário, que a pedagogia museal possa se valer de fundamentos psicológicos e filosóficos que a escola também utiliza, para preparar suas exposições e atividades (CAZELLI, S.; MARANDINO, M.; STUDART, D., 2003;.MARANDINO, 2010; CURY, 2010). As exposições são para o museu, a sua voz. Elas comunicam ideias, levantam questões, encantam e despertam a curiosidade. São a síntese de todo um grande trabalho de preparação que concretiza a função educativa do museu, pois, 94 Exposição e educação são linguagens altamente engenhosas que resultam de elaborações cuidadosas e minuciosas, são multissensoriais, dosam inteligibilidade com sentido e conhecimento com significação, unificam espaço e tempo e atingem cinco dimensões (espaço, objeto, interatividade e criatividade) (CURY, 2010). Dentro da tendência atual de organização de museus interativos, a organização de exposições, ao envolver essas dimensões, elencadas por Marilia Xavier Cury, envolve diversos saberes e seguem o raciocínio de [...] fazer a síntese de conhecimentos e discuti-la junto ao público, de forma que este não seja apenas um receptor de conhecimento, mas também um criador de novos saberes e novos conhecimentos, um ator no processo de ampliação da cultura científica [...] (NASCIMENTO, 2010, P. 373). Este é um ponto complexo de se contemplar na elaboração de exposições que a autora aponta. A ampliação da cultura científica, se for pensada com o objetivo de emancipação humana, numa perspectiva histórico-cultural, de formação cidadã, precisará considerar a prática social da sociedade e trabalha-la em um processo dialético que ocorrerá por meio da interação dos visitantes com a exposição. Em uma visita ao museu, o visitante pode se sentir, ali, inserido nas exposições, ter ampliado o seu sentimento de pertencimento, ver seus próprios dilemas, refletir sobre questões éticas, aproximar-se da ciência, tomar decisões e pensar sobre sua atuação na sociedade. Este pode ser um processo dalógico. Entre as dimensões descritas por Cury (2010), destaca-se a interatividade. Sabemos que nas exposições atuais ela é muito presente. A partir de Wagensberg (2005), é possível classificá-la em níveis. O primeiro nível é denominado hands on, e, segundo o autor, compreende a interatividade manual. Assim, parte da ideia que o público se torna o cientista na visita, onde pode tocar, mexer, manipular os objetos, experimentar e fazer, a fim de compreender como ocorrem os processos científicos. Esta é uma estratégia bem presente no surgimento de muitos museus interativos de ciências. O segundo nível de interatividade, minds on, refere-se a interatividade mental. Está presente em exposições que visam a proporcionar a construção de um olhar crítico do visitante, quando o coloca diante de temas e fatos controversos, que estimulam o diálogo, que exigem uma postura ao constituir relações com o cotidiano. 95 O terceiro nível, heart on, pode ser considerado uma interatividade cultural, pois Wagensberg (2005) põe em relevo a universalidade da ciência versus identidade cultural local. Exposições neste nível de interatividade geralmente se fazem por meio de objetos da cultural local, onde a identidade da comunidade é muito priorizada, mas com um olhar para o global, ou seja, abordagem de temáticas globais a partir de temas locais. Uma mesma exposição pode conter os três níveis de interatividade definidos por Wagensberg, e isso é ideal que ocorra. Assim, ele mesmo aconselha que para o sucesso de uma exposição, é conveniente que esteja presente a interatividade manual (hands on); é sempre recomendável a interatividade cultural (heart on) e é imprescindível a interatividade mental (minds on). É também importante lembrar que a interatividade deve preceder de reflexões bastante criteriosas (CAZELLI et al 1999), para que objetivo de aprendizagem seja atingido, para que não provoque somente um engajamento físico, mas também emocional e cognitivo. Pensando então, nas etapas de desenvolvimento de exposições, Maria Ignez Mantovani Franco (2008) apresenta um modelo que ela própria denomina de cadeia operatória de desenvolvimento de exposição museal. Este modelo é composto por três partes: A pré-produção, a produção e a pós-produção e poderá variar um pouco de acordo com o tipo de museu e exposição a ser elaborada. Cada parte possui um série de ações que se sucedem e que são imprescindíveis para o sucesso do fazer museológico. A pré-produção é uma fase de grande importância, pois as demais fases acontecerão em função do que for planejado nesta etapa. É composta pela concepção da exposição, todo o trabalho de curadoria, elaboração do conceito gerador e fundamentação dos conteúdos da exposição. A fase de produção já envolve a expografia em si, a montagem da exposição e fase de pós-produção refere-se à avaliação, produção de relatórios e desmontar a exposição (FRANCO, 2008). Desta forma, é possível inferir que na pré-produção, ao conceber a exposição, elaborar o conceito gerador, escolher os assuntos que serão tratados é o momento adequado para pensar em atividades museais que visem a articular a educação científica condizente com os tempos atuais. Neste momento, é preciso buscar subsídios teóricos que ofereçam condições para desenvolver a didática museal 96 (MARANDINO, 2011) e perspectivas histórico-culturais, para dar uma base filosófica e psicopedagógica ao trabalho (SCALCON, 2002). Assim, na fase de pré-produção, sugerimos incluir a Dimensão Histórico-Cultural para conceber a exposição conforme a Figura 16. Figura 16 - Cadeia operacional de desenvolvimento de Exposição Científico-Cultural -Pré-Produção Fonte: Adaptado de Franco, 2008. É importante que a dimensão Histórico cultural de uma exposição ao ser desenvolvida, na fase de pré-produção, apoie-se três categorias: a organização do espaço educativo; a organização dos saberes/conteúdos e o enfoque CTSA. Onde temos: A) Organização do espaço educativo Tendo em Vygotsky a perspectiva sócio histórica de que o meio social, o lugar de convivência, é elemento crucial no desenvolvimento e aprendizagem dos indivíduos, é possível afirmar que a organização da exposição, do espaço educativo do museu 97 precisa ser pensada de modo a favorecer esse processo, se possível, potencializando-o ao máximo. As exposições museais podem ser pensadas de forma a requerer do público engajamentos físico, emocional e cognitivo, e desta forma, usar de instrumentos e signos para efetivar a interação, visto que, para Vygotsky (2010) a relação entre o individuo e o meio não acontece diretamente mas de forma mediada, indireta. O homem é para a teoria histórico-cultural um ser histórico que aprende por intermédio de suas relações com a natureza e com a sociedade (SCALCON, 2002). Portanto, todo um conjunto de elementos que torne o espaço curioso, motivador, criativo; onde aparatos, jogos, oficinas, jogo de luzes e cores, som, e imagens, possam ser elaborados cuidadosamente, possivelmente, serão ferramentas para a mediação e desenvolvimento da aprendizagem na geração de novas redes de significados (NASCIMENTO, 2010). Assim, o ambiente do museu contextualiza a ação mediada, sendo este ambiente não somente a exposição e o discurso apresentados, mas também a prática de discurso que se estabelece dialogicamente ali (NASCIMENTO, 2010). B) Organização dos saberes/conteúdos As exposições referem-se a algum conhecimento, um tema que se cerca de conteúdos relacionados aos conhecimentos clássicos historicamente acumulados na sociedade, conhecimentos esses, artísticos, filosóficos ou científicos. Ao se ter em vista a função social e educacional dos museus, é importante pensá-lo, também, como uma instituição capaz de oferecer acesso ao saber elaborado, prezando pela substituição de conceitos espontâneos por conhecimentos científicos em um processo transformador. O mecanismo de produção da exposição, neste caso, precisa ser pensado de forma a favorecer a elevação do nível de consciência do indivíduo, de si mesmo e da realidade que o cerca, da cultura e natureza local por meio de processos de internalização do saber apresentado, transposto do saber científico, transformado pela pedagogia museal. 98 Esta característica do museu colabora com a escola no intuito de valorizar o saber científico, conforme afirma Saviani (2011), o qual precisa ser de domínio de todos, para o desenvolvimento do ser humano, e não ficar restrito à classe que domina, favorecendo o processo de alienação, configurando-se como um sinal de distinção entre as classes. Neste caso, os museus também têm um papel de mediador deste processo e o trabalho com esta tendência requer estar bastante próximo das leis que regem a sociedade e o conhecimento do ser humano. C) Enfoque CTS Uma exposição com enfoque CTS tem como meta gerar, no visitante, reflexões que possam contribuir para a formação de cidadãos críticos, que os prepare para definir certas posturas diante de assuntos ligados à ciência e à tecnologia e seus impactos na natureza e na sociedade. Contier (2009) elaborou três atributos que, ao serem encontrados em uma exposição poderão caracterizá-la como CTS. Aqui, em um caminho contrário, esses atributos serão tomados para servir de guia para que se pense uma exposição com enfoque CTS. Eles se complementam e perpassam simultaneamente o discurso expositivo, o que se resumiria no quadro abaixo: 99 Quadro 5 - Atributos relacionados à exposições com enfoque CTS EXPOSIÇÕES COM ENFOQUE CTS (CONTIER, 2009) I- Atributos relacionados a debates sociais externos à ciência Neste atributo, o planejamento expositivo levaria em consideração impactos sociais do desenvolvimento de C&T, resolução de problemas sociais, práticos e cotidianos, questões de cunho ambiental, questões éticas, influências políticas do desenvolvimento de C&T e estímulo à participação do público. Todos estes itens aplicáveis a uma realidade de identidade e pertencimento, com temas locais e globais. II. Atributos relacionados a debates sociais internos à ciência Para contemplar um campo mais distante do público, os desenvolvimento interno da ciência seria contemplado, incluindo: características pessoais dos cientistas, coletivização do trabalho científico, procedimentos de consenso responsabilidade social dos cientistas. III. Atributos relacionados a debates históricos e filosóficos No terceiro e último atributo o debate estaria aberto a um dimensão mais história e filosófica do tema, buscando na história da ciência e da técnica, uma forma de ver o passado, com ele aprender e se preparar para o futuro. Fonte: Contier, 2009. Podemos afirmar que esta Dimensão Historico-Cultural junto às categorias, incorporada ao planejamento das exposições, se constitui em um caminho para o museu pensar e desenvolver o seu trabalho em parceria com a escola. E a escola, por sua vez, diante desta possibilidade, poderá encontrar no museu um caminho para articular uma educação científica histórico-cultural. 100 6 EM BUSCA DA PARCERIA EDUCATIVA MUSEU E ESCOLA : UMA PROPOSTA PARA DOMINGOS MARTINS-ES Alguém pode afirmar que sonhos são apenas sonhos, que não são reais. E transformar uma realidade é algo muito difícil, e requer esforços muito maiores que possamos imaginar. Mas caminhar dialeticamente, também, é isso, é aprender com a história construída e com aquela que estamos construindo. Não é estar alheio à crueldade do sistema que rege a sociedade, é, antes disso, saber que é preciso buscar meios para transformá-lo. É preciso ter coragem, para partir. É preciso caminhar junto. Realizar uma parceria educativa entre escola e museu como um meio de desenvolver a educação científica numa abordagem histórico-cultural é uma tarefa desafiadora, por estar condicionada a várias questões. Como foi apresentado no Capítulo 5, Domingos Martins, embora possua um grande potencial cultural e natural, passível de exploração, consta com uma atividade museal ainda incipiente, o que de ante mão é um complicador para que a escola busque no museu e em suas atividades uma parceria educativa. Por outro lado, o ensino de ciências, nas escolas ou em EENF, requer por parte dos professores fundamentação teórica e prática. Logo, este capítulo destina-se a apresentar o caminho que foi percorrido coletivamente, tanto no levantamento da situação educacional do município quanto na conscientização e construção de propostas de se traçar novos rumos para a educação científica municipal. 6.1 CONHECENDO O CONTEXTO EDUCACIONAL DE DOMINGOS MARTINS Os resultados que serão apresentados a seguir correspondem à terceira etapa da investigação e constituem-se em um mecanismo de análise preliminar do recorte espacial da pesquisa, ou seja, corresponde ao produto da aplicação de um questionário diagnóstico. Por meio do método de contato direto individual, foi aplicado este questionário (APÊNDICE 4) que combina perguntas abertas e fechadas (RICHARDSON, 2009) a 82 professores da rede municipal de Domingos Martins – ES. É importante dizer que os dados foram coletados em oito pontos do município, os quais foram denominados de região. O número de respondentes de cada região também se diferenciou, em função do número de indivíduos e também da condição 101 facultativa em responder ao questionário. O mapa da figura 17 evidencia os locais das amostras e seu quantitativo. É possível perceber que todos os distritos do município, com exceção de Biriricas, tiveram participação no processo. Figura 17 - Mapa de Domingos Martins: Demonstrativo de locais e quantitativo de respondentes por região pesquisada. Fonte: Elab. pela autora, 2013. Atuam no município de Domingos Martins, segundo dados do IBGE, o total de 550 professores, destes, 85 atuam na educação infantil, 360 no ensino fundamental e 105 no ensino médio, sendo este último ofertado apenas pela rede estadual. Estes professores atendem a uma demanda de 6.993 alunos, sendo 765 da educação infantil, 5.080 do Ensino Fundamental e 1.148 do ensino médio (IBGE, 2013). No caso deste diagnóstico, é importante destacar que para responder ao questionário, os professores deveriam estar atuando em algum momento de sua jornada de trabalho na rede municipal em qualquer nível ou área. 102 As questões foram elaboradas visando a diagnosticar o perfil do grupo pesquisado e se aproximar da realidade física e material das escolas, das relações dos respondentes com os EENF e suas aspirações para o futuro da educação municipal. O diagnóstico foi composto, portanto, por três partes: o perfil do grupo, o cotidiano pedagógico e realidade escolar do município e por último uma justificativa para um espaço de ciência e/ou atividades museais para o município. a) O perfil do grupo: Como pode ser constatado no Gráfico 2, em nível de pósgraduação, a maioria dos professores pesquisados são especialistas, enquanto que a presença de mestres e doutores é praticamente inexpressiva. Gráfico 2 - Nível de formação do grupo pesquisado Perfil do grupo pesquisado segundo a formação Gráfico 3 - Atuação nas redes de ensino Atuação nas redes de ensino Atuantes da rede municipal Graduandos Graduados Especialistas Mestres Atuantes da rede municipal e estadual 0% 1% 3% 29% 29% 67% Fonte: Elab. pela autora, 2013 71% Fonte: Elab. pela autora, 2013 Exatamente a metade (50%) do grupo pesquisado pertence ao quadro efetivo na rede municipal, a outra parte possui contratos temporários. E os dados indicam, conforme o Gráfico 3, que os professores em sua maioria atuam somente na rede municipal, no entanto um número expressivo conjuga as atividades com a rede estadual de educação. Outro elemento importante que pudemos inferir, a respeito do perfil dos professores, foi o tempo de exercicio no magistério. Observando o Gráfico 4, é possível constatar que a maioria dos professores da rede apresentam uma experiência considerável no magistério, já que 67 % deles possuem entre 6 e 20 anos de experiência no 103 Magistério. Em contrapartida, 29% dos docentes estão a menos de cinco anos em atividade. Gráfico 4- Tempo de experiência no magistério Fonte: Elab. pela autora, 2013 b) O cotidiano pedagógico e a realidade escolar do município: Alguns temas educacionais lhes foram apresentados após o que solicitamos que marcassem aqueles que eram de seu conhecimento e inerentes a sua prática. Por meio do Gráfico 5, é possível deduzir que o tema interdisciplinaridade é bastante difundido no meio educacional, quase a totalidade dos professores citaram-no. Todavia, a divulgação científica, a alfabetização científica, os EENF, a abordagem CTSA, elementos importantes da Educação Científica, apresentaram uma baixa incidência. Diante disso, tornou-se evidente a necessidade de discutir esses temas nos seminários propostos junto ao grupo de estudos. Da mesma forma, na questão seguinte do questionário, com o intuito de verificar quais recursos e estratégias os professores mais utilizam em suas aulas, foi-lhes solicitado que apontassem com que frequência fazem parte de sua prática. Destacamos entre os vários pontos no Gráfico 6 estratégias que sempre são utilizadas: atividades com o livro didático, leitura, diálogo, aulas expositivas e exercícios. Também se destacaram algumas estratégias que afirmar não utilizar como: Aulas práticas / laboratório e experimentações, excursões/ visitas e aulas de campo. Esses dados revelam que, de forma geral, a correlação entre a teoria e prática, por alguma razão, está comprometida em função de uma prática educativa 104 pautada na transmissão e exposição de conteúdo, a qual culmina na resolução de exercícios. Gráfico 5 – Índice de utilização de temas educacionais segundo a prática do grupo pesquisado Índice de utilização de temas educacionais segundo a prática do grupo pesquisado Educação não formal 6 Espaços não formais de educação 18 Divulgação Científica 2 Práticas Investigativas 28 Alfabetização científica 2 Abordagem CTSA 6 Abordagem temática 27 Transdisciplinaridade 7 Interdisciplinaridade 77 0 20 40 60 80 Fonte: Elab. pela autora, 2013 Gráfico 6 – Índice de estratégias mais utilizadas nas práticas pedagógicas Índice de estratégias mais utilizadas nas práticas pedagógicas Fonte: Elab. pela autora, 2013 100 105 Buscando compreender as relações dos professores com uso pedagógico dos EENF, perguntamos se já haviam realizado atividades fora do espaço escolar. No Gráfico 7, podemos notar que a grande maioria, 67%, afirmou que, às vezes, realizava atividades fora do espaço escolar. Da mesma forma, foram perguntados se encontram dificuldades em realizar essas atividades, e no gráfico 8, verifica-se que 85% dos professores encontram dificuldades nestas atividades. Gráfico 7 - Realização de atividades fora do espaço escolar Gráfico 8 - Dificuldade em realizar atividades fora do espaço escolar Realização de atividades fora do espaço escolar Dificuldades em realizar atividades fora do espaço escolar Sempre As vezes Raramente Sim Não 4% 5% 15% 24% 67% Fonte: Elab. pela autora, 2013 85% Fonte: Elab. pela autora, 2013 Em uma outra questão, foi apresentado aos professores uma lista com alguns possíveis obstáculos que tornam difícil o trabalho em EENF, e foi-lhes solicitado que marcassem a frequência com que se faziam presentes no dia-a-dia. O Gráfico 9, evidencia que item transporte sempre foi um obstáculo às práticas pedagógicas em EENF, fato evidenciado por 67% dos professores. Outro item, de muita importância, é o apoio pedagógico, 18% dos professores o apontam com um obstáculo sempre presente, e 39% deles como um obstáculo às vezes presente. A carga horária da disciplina também merece destaque, 22% dos professores dizem que é sempre um problema, enquanto que 41% a apontam com um problema esporádico. 106 Gráfico 9 - Incidência e obstáculos à práticas nos EENF Fonte: Elab. pela autora, 2013 Gráfico 10 - Espaços visitados por meio de atividades escolares Espaços visitados A nenhum espaço Propriedades agrícolas Praças/Escolas/Espaços de ciências. Planetários Exposições fixas ou itinerantes Bibliotecas públicas Ambientes costeiros/fluviais Parques/Reservas Indústrias Zoológicos Trilhas ecológicas Museus 10 7 8 7 9 26 8 29 6 20 29 22 Fonte: Elab. pela autora, 2013 Conforme o exposto no Gráfico 10, o grupo foi solicitado a indicar quais os tipos de espaços em que realiza atividades pedagógicas quando possível. Os parques, reservas e trilhas ecológicas foram os mais evidenciados. Os museus também foram citados por 22 professores e 12% dos professores não indicaram nenhum espaço. 107 No intuito de conhecer a estrutura e os recursos disponíveis para os professores desenvolverem seu trabalho, o grupo foi indagado quanto à existência de espaços/ laboratórios para aulas práticas e interativas. O Gráfico 11 mostra que apenas 18% dos professores responderam ter um espaço com esse fim, enquanto que a grande maioria, 82% afirmou não possuir. Também foram perguntados se possuíam, à disposição, recursos didáticos para trabalhar nesses ambientes, como equipamentos, instrumentos, vidrarias, reagentes, modelos e outros. No Gráfico 12, observamos que um número muito expressivo, ou seja 88%, não possuem esse suporte material, o que nos permite afirmar que parte dos professores que contam com o espaço físico não possui suporte material para desenvolver atividades no local. Gráfico 11 - Espaço físico para aulas práticas Gráfico 12 - Recursos materiais disponíveis na escola para práticas e pesquisas na escola Presença de espaço para aulas práticas nas escolas Recursos materiais disponíveis Sim Não Sim. Adequadamente Sim. Precariamente Não possuo 2% 18% 10% 82% 88% Fonte: Elab. pela autora, 2013 Fonte: Elab. pela autora, 2013 c) A Justificativa para um espaço de ciência e/ou atividades museais no município: Também foi dirigido aos respondentes um questionamento aberto em que puderam justificar a importância de um espaço coletivo de aprendizagem, como uma estação de ciência, um museu ou um centro de ciência, para o município de Domingos Martins, se assim o concordassem. Todos os oitenta e dois professores 108 afirmaram que consideram importante para suas práticas, e para o município, um espaço como os citados, e justificaram suas afirmações. Todo o material das respostas do grupo pesquisado foi analisado sistematicamente por meio da técnica investigativa de análise de conteúdo segundo Bardin (2009). Em uma abordagem qualitativa, consideramos a frequência com que se evidenciaram certos elementos no corpo das mensagens, ou seja, a presença ou a ausência de determinado aspecto. Pois para a autora, a função, ou o objetivo, da análise de conteúdo é a inferência pautada em indicadores de frequência. Sendo assim, com base em Bardin (2009), a análise do conteúdo das questões abertas foram estruturadas em uma grelha analítica. Esta análise ocorreu em três momentos. No primeiro, o material foi submetido a uma “pré-análise”, quando passou por uma organização, uma leitura atenta e a formulação de hipóteses e objetivos. Em seguida, passou à “exploração do material” onde os procedimentos previamente planejados foram aplicados e, por último, o material foi submetido ao “tratamento dos resultados” quando pusemos em relevo informações significativas. Ao perpassar por todos os momentos foi possível inferir que as justificativas para um espaço de ciência e/ou atividades museais em Domingos Martins enquadravam-se em quatro grandes categorias. Aspectos Cognitivos, Aspectos Emocionais, Aspectos Sociais e Aspectos Políticos, assim separadas na grelha de análise, que se encontra no Quadro 5. Essas categorias abrigaram outras sub-categorias que geraram as ocorrências e subsidiram a análise. As ocorrências foram atribuídas de acordo com a região da pesquisa do município, conforme fica evidente no mapa da figura 29 apresentada no início deste capítulo. 109 Quadro 6 - Grelha analítica - Por que é importante um museu de ciência em Domingos Martins? Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Região 5 Região 6 Região 7 Região 8 1 1 2 0 4 1 3 0 2 0 1 0 4 5 2 5 3 4 4 0 5 13 6 4 0 1 4 2 4 8 0 3 22 0 0 0 0 0 6 4 3 13 1 0 0 0 0 1 0 2 1 1 6 0 5 3 1 2 19 0 1 1 0 0 6 2 2 12 1 0 1 0 1 5 2 1 11 Despertar a curiosidade 0 0 0 0 2 0 1 0 Promover motivação/estímulo 1 0 0 0 3 0 2 0 6 Desenvolver aspectos lúdicos 1 0 0 0 2 1 2 0 6 Favorecer a Percepção 1 0 0 0 0 7 2 0 10 Desenvolver a Criatividade 0 0 0 0 0 2 0 0 2 1 0 1 0 3 2 1 0 0 0 0 0 2 0 1 0 3 0 0 1 0 0 4 0 0 5 1 0 2 0 1 0 2 0 6 14 8 23 2 36 64 31 22 ASPECTOS CONSIDERADOS Aspecto Cognitivo Promover aprendizagem Significativa Ambiente de Pesquisa, investigação e produção. Correlacionar Teoria e Prática Promoção do aprendizado de qualidade Construção de Conhecimento Aspecto Emocional Aspecto Político Criar espaços de discussão Aspecto Social Somas Marginais REGIÕES Criar acesso ao conhecimento científico. Criar subsídios à prática pedagógica do professor. Criar acesso à informação e tecnologia Promover troca de experiência/ relações interpessoais Promover socialização com o meio Criar para valorização da cultura/exposições Promover cidadania 12 19 39 105 4 46 3 27 8 22 200 Somas Marginais 200 Fonte: Elab. pela autora, 2013. Com base em Bardin (2009). 110 a) Categoria, aspecto cognitivo: Foi a categoria que obteve o maior número de ocorrências, ou seja, atingiu 52% delas. Esteve muito presente no conteúdo dos textos dos professores, e a subcategoria “correlacionar teoria e prática” foi amplamente citada por eles, assim como um aprendizado de qualidade. Como nos trechos: [...] Associar a teoria e a prática de ensino da disciplina de matemática, fazendo com que os alunos aprendam de forma significativa, podendo assim aplicar o que aprenderam no seu dia-a-dia, ou seja, no seu ambiente de trabalho e social. (Respondente 5 da região 9). [...] Acredito ser importante estes espaços, na medida em que para a construção dos conhecimentos é necessário a experimentação, a investigação, a pesquisa em sim. (Respondente 4 da região 7). Com este resultado é possível inferir que os professores possivelmente encontram problemas em realizar um trabalho prático com seus alunos, e também, permite supor que valorizam a práxis pedagógica, a pesquisa e promover aprendizado de qualidade. Esse quadro, somado ao retrato da realidade municipal, que ainda apresenta certo distanciamento de elementos primordiais ao ensino de ciências da atualidade, corrobora ainda mais com a necessidade de desenvolvimento de educação científica que leve em consideração a realidade local e global, que tenha como “como uma de suas principais funções a formação do cidadão cientificamente alfabetizado” colaborando para desconstruir a percepção equivocada de ciência, que se detém a termos e definições desprovidas de significados para o estudante e para sua relação com o meio (KRASILCHILK; MARANDINO, 2007). b) Categoria aspectos políticos: Esta categoria gerou 23% das ocorrências. Acesso ao conhecimento científico foi a justificativa mais indicada. Neste caso pode-se inferir que os professores sentem a necessidade de ter acesso a ambientes que possam enriquecer seus conhecimentos e suas práticas, assim como também a de seus alunos. Apontam para a 111 necessidade de espaço para discussão, para exposição, diálogo e acesso à informação. “[...] para que possa contar com espaço adequado para ampliar a discussão” (Respondente 1 da região 1). O aspecto emocional, de forma menos expressiva, também surgiu nos textos dos respondentes, tendo maior ocorrência o item “favorecer a percepção”. Assim como escreveu o respondente: “[...] para desenvolver esse processo (de ensino/aprendizagem) com uma metodologia prática e lúdica, o que confere maior qualidade na percepção dos alunos” (Respondente 1 da região 1). Este posicionamento dos professores reflete a necessidade de alcançar novos patamares na educação. Revela, nas entrelinhas, que a precariedade da escola pública deve ser riscada do perfil educacional do município. Isso passa por um trabalhoso processo político, no interior da prática educacional inclusive. Saviani (2011), ao pensar a pedagogia histórico-crítica, levou em consideração a necessidade de se fazer educação como meio de mobilização coletiva, como meio transformador da sociedade. Também enxerga nos conhecimentos historicamente sistematizados pela humanidade uma forma de emancipação humana, de desvio à alienação imposta pelas classes dominantes. Em outras palavras, um povo culto, certo de seu valor, de seu papel, pode superar o senso comum e as condições de vida atribuídas pelas relações do mundo trabalho. A educação se tomada como prioridade nacional, certamente desencadeará ações que proporcionarão melhores condições de trabalho para o professor e melhores condições de aprendizagem para o aluno. Elementos indispensáveis ao alcance de bons resultados na educação. Não são processos simples de desenvolver, pois demandam grande mobilização para gerar revolução, e esta não [...] é um processo espontâneo movido por forças que dominam os seres humanos. Ela não é obra do capital, mas obra da classe trabalhadora conscientemente organizada. Para se transformar conscientemente a realidade social, é preciso compreendê-la para além do imediato. (SAVIANI; DUARTE, 2012, p. 4). Desta forma, o que desejamos extrair da pedagogia histórico-crítica é que transformar uma realidade, revolucionar uma condição de vida, passa pela 112 consciência plena da conjuntura existente. Este domínio exige novas atitudes por parte dos integrantes da sociedade que levará a superação de velhos entraves relativos à classificação social por meio do trabalho educativo. Assim, estudantes e educadores se apropriam criticamente de ferramentas intelectuais, na socialização dos saberes eruditos, para que se tornem de domínio popular, o que os conduzirá a caminhos de emancipação humana, até o ponto em que este saber não será mais um sinal distintivo entre classes. c) Categoria aspecto emocional: O aspecto emocional também foi considerado em 14% das ocorrências. Isso evidencia uma preocupação dos professores relativa a questões psicológicas no processo ensino-aprendizagem. [...] o contato com um espaço de ciência poderá estimular a curiosidade dos alunos. (respondente 4 da região 5) [...] motivar os alunos a aprender, a pesquisar [...] (respondente 15 da região 5). É possível notar que os professores sentem a necessidade de mais suporte psicopedagógico para desenvolver seus trabalhos quando citam variáveis psicológicas complexas como a motivação e a percepção. A percepção de acordo com Vygotsky (2010, p. 101) é [...] parte de um sistema dinâmico de comportamento, por isso, a relação entre as transformações dos processos perceptivos e as transformações em outras atividades intelectuais, tais como, a consciência, o pensamento e a memória, é de fundamental importância. É um grande desafio atrelar a psicologia à prática pedagógica. Neste caso, pensamento de Vygotsky (2010) pode ir de encontro a essa necessidade, ao entender que o aprendizado do indivíduo decorre de sua relação direta ou indireta com o meio em que vive e que o estimula, transfere aos educadores a preocupação com o cenário de aprendizagem a ser preparado ou oferecido ao estudante, onde interagirá e lidará com os aspectos sócio emocionais e com o mundo. É importante que estes cenários de aprendizagem (EFE ou EENF) favoreçam os processos cognitivos, que se originam na motivação e geram o pensamento influenciado pelos desejos, necessidades e emoções que as pessoas têm, ao passo que quanto melhor nos engajamos com fatos ou objetos, melhor somos estimulados e motivados. 113 d) Categoria aspecto social: Esta categoria representou 11% das ocorrências, sendo a subcategoria promover troca de experiências e relações interpessoais o grande destaque. No entanto, questões relacionadas à cultura e cidadania também foram pontuadas, mostrando relativa preocupação. “[...] para realização de pesquisas, experiências exposições dos trabalhos realizados pelos nossos alunos. Sendo assim, haverá um espaço adequado para eventos culturais” (respondente 2 da região 6). De fato, o âmbito estritamente escolar, tal como se configura, é insuficiente para atender a todas as necessidades educacionais. Assim, ao pensar em atividades museais temporárias, em espaços fixos ou itinerantes, estabelecendo parcerias com a escola, destacamos em Vygotsky (1998), sua percepção sobre o social como sendo o princípio elementar da aprendizagem. Onde a relação do sujeito com o mundo ocorre por meio de instrumentos, técnicas e linguagem, própria da cultura do indivíduo. A própria aprendizagem, como ação social, desenvolve-se quando o pensamento ultrapassa do social para o individual, configurando-se, a partir da interação do sujeito com objetos e com o outro, numa perspectiva dialógica, constante entre sujeito e contexto, entre individual e coletivo. Desta possibilidade é que decorre a importância de espaços que ofereçam aos estudantes o contato com o saber acumulado historicamente, por meio de estratégias diferenciadas, da perspectiva histórico-cultural, que venham somar e se unir ao trabalho da escola, onde todos se tornem atores sociais, se envolvam com a cultura científica e alcançarem emancipação humana. Em um último tópico os professores também foram indagados no questionário sobre a necessidade de formação em serviço. Todos os respondentes destacaram a importância de processos de formação no município, em especial formações relacionadas ao uso de outros espaços educativos no município, como no destaque abaixo: “[...]É importante ressaltar que se valendo destes recursos, o professor precisa ter claro o objetivo que se pretende atingir ao utilizar este espaço, para que não se torne uma ferramenta pedagógica inválida. Nesse momento é que a formação aos profissionais da educação é importante para que a utilização dos recursos disponíveis tenham um destino apropriado” (respondente 4 da região 7). 114 O resultado desta análise significou o primeiro salto desta pesquisa, por meio da qual foi possível aproximar da realidade dos professores e traçar as diretrizes do segundo momento. O município tem grande potencial a ser explorado e alguns pontos importantes que merecem reflexão. Ficou evidente que os professores preocupam-se com a qualidade educacional, que enfrentam muitos desafios para pôr em prática seus projetos. Foi possível perceber que os EENF, especialmente os museus, as atividades museais temporárias ou permanentes, são elementos que podem contribuir para a educação científica municipal, visto que, a possibilidade de articular estes elementos despertou nos professoras justificativas contundentes, como nas falas dos respondentes: “[...] Eu vejo que é importante o trabalho e o estudo com a pesquisa, pois os avanços e aprendizagens que esta proporciona são significantes para a busca do conhecimento científico. O espaço dirigido para a ciência é essencial para a contemplação da nossa prática para a realização de estudos de novos saberes” (Respondente 5 da região 5). 6.2 PROPOSTA DE AÇÃO: A FORMAÇÃO COM PROFESSORES A diretriz assumida na pesquisa de natureza qualitativa atribuiu aos docentes o papel de agentes de mudança no campo delimitado. Assim, diante da necessidade constatada por meio do questionário diagnóstico foi elaborado um ciclo de seminários que veio contemplar importantes conteúdos relacionados ao processo de ensino e aprendizagem e especialmente ao potencial educativo de espaços não formais de educação. Assim, também, foi formado um grupo de estudos e pesquisa que participou deste ciclo de seminários. Concomitante a essa aproximação do conhecimento, ao grupo também foi lançado o desafio de construir propostas para tornar reais algumas iniciativas no campo da educação científica com um enfoque à parceria educativa entre escolas e museus. De um modo geral, foi possível inferir com os dados coletados e o diagnóstico realizado, que o ensino de Ciências Naturais e Humanas em Domingos Martins/ES depara-se com uma série de obstáculos para o desenvolvimento de uma Educação Científica que contemple a formação integral e crítica do estudante, que lhe ofereça 115 subsídios para uma alfabetização científica, por meio da qual tenham a oportunidade de ampliar de seu repertório de conhecimento mediante a construção de sua cultura científica. Os problemas detectados podem ser classificados em Técnicos, Estruturais e Administrativos. Quanto aos problemas técnicos, foi possível inferir sobre a necessidade dos professores conhecerem o potencial da educação em EENF, da divulgação científica e do movimento CTSA em prol da educação científica. Por outro lado, também demostram que as práticas pedagógicas utilizadas, basicamente, apoiam-se em aulas expositivas, livro didático e exercícios, havendo pouco espaço para outras atividades que exigem materiais e espaços próprios. Esses dados reforçaram a necessidade de um embasamento teórico para as questões relativas às práticas pedagógicas, objetivando uma intensa mudança didática para os professores em processos de formação continuada. De ordem administrativa, porém ainda diretamente relacionados à prática do professor, estão problemas como a falta de transporte que impede trabalhos fora do ambiente escolar, falta de apoio pedagógico, falta de opção de locais para visitar, carga horária da disciplina insuficiente, e também, com menos incidência, ainda se constataram entraves provocados pelo currículo que causam alguns desencontros e incertezas, pois não há ainda uma proposta básica formada. De ordem estrutural, também foram detectados alguns problemas. A maioria das escolas apresenta problemas em sua estrutura física no que diz respeito a ambientes para desenvolver alguma atividade prática que exija condições distintas das mesas e cadeiras das salas. Tampouco, essas escolas possuem materiais para realizar práticas, experimentos, para demonstrar fenômenos químicos, físicos ou biológicos. Esses obstáculos estampam a precariedade da escola pública e o desafio que cada administração tem ao assumir o trabalho em uma Secretaria Municipal de Educação, ou seja, o de articular as políticas educacionais e adequálas a realidade municipal em prol de toda a rede. Também ficou evidente e coerentemente justificada a importância de existir em Domingos Martins um espaço dedicado a estreitar as relações entre museus e escola, ou seja, entre os espaços formais e os espaços de educação não formal, firmando uma parceria educativa, em uma atmosfera de complementaridade e sinergismo, onde ambos se potencializam. 116 Todos os elementos citados foram considerados na elaboração da proposta do ciclo de seminários que foi levado à apreciação da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que aprovou e autorizou sua realização . Desta forma, o objetivo geral desta ação foi proporcionar a reflexão sobre a renovação necessária na educação em ciências, buscando a integração das ciências naturais e humanas, dentro de uma perspectiva histórico-cultural, com foco na potencialidade existente nos espaços educativos não formais. Concomitante a esta pretensão, também se objetivou, dentro de um contexto pedagógico, teóricoprático e político, refletir sobre a importância da parceria educativa entre museu e escola, bem como pensar na constituição de um espaço museal para o município de Domingos Martins. Para o desenvolvimento do processo de formação com os professores, criamos seis fases que foram desenvolvidas por meio de uma metodologia teórico-prática em momentos presenciais e não presenciais. Cada fase gerou uma atividade não presencial apresentada sempre na etapa seguinte. As atividades foram conduzidas de forma expositiva dialogada, intercalada com dinâmicas, trabalhos em grupo, exibição de vídeos, leitura de textos em livros e artigos, visitas técnicas e oficinas. Como atividades não presenciais, os participantes construíram um portfólio durante o processo e também produziram algumas atividades específicas que foram solicitadas. É importante destacar que participaram desta ação, o que consideramos pesquisadores técnicos, dez professores de ciências das escolas municipais de Domingos Martins/ES e dez professores mestrandos do Instituto Federal do Espírito Santo em um auditório localizado no centro do município (Figura 18). Cada participante recebeu todo o material utilizado durante o curso (Figura 19) contendo as instruções principais, bibliografia de apoio, textos, entre outros. 117 Figura 18 - Auditório Coroa – local de Figura 19 - Material disponibilizado aos realização da formação com professores participantes da formação. Fonte: Acervo da autora, 2014. Fonte: Acervo da autora, 2014. a) Fase 1: A Educação Científica e seus Lugares Este foi o primeiro seminário vivenciado. Na primeira parte, os participantes foram convidados a entregar suas fichas de inscrições que foram previamente preenchidas. Além dos dados pessoais e profissionais, havia nesta ficha duas perguntas importantes. A primeira questionava se já haviam participado de estudos, seminários, formação pedagógica que tivesse uma preocupação mais específica com o ensino de ciências, para e a segunda pretendia saber o que esperavam dos seminários. Dos dez participantes, apenas dois afirmaram já ter participado de formação específica em área de ciências e todos disseram ser esta a primeira ação específica em ciências na rede municipal. Todos os participantes demonstraram querer conhecer novas práticas pedagógicas para qualificar o processo de ensino e aprendizagem e relacionar a teoria e prática. Esta constatação serviu-nos para repensar algumas abordagens futuras. Ao fazer a abertura, a coordenadora do processo de formação com professores (Figura 20), ressaltou o objetivo geral do projeto, contextualizando-o dentro de um processo de Pesquisa-ação e destacando a importância do trabalho com qual todos os presentes estavam se envolvendo para a educação do município. Apresentou os temas a serem desenvolvidos e falou da importância de se trabalhar conhecimentos teóricos na expectativa de substituir visões simplistas oriundas do senso comum. Ressaltou uma das justificativas para o ciclo de seminários na visão de Carvalho e Gil-Pérez (2011) que afirmam que “é preciso romper com tratamentos ateóricos e defender a formação de professores como aquisição e (re)construção de 118 conhecimentos específicos em torno do processo de ensino/aprendizagem”(pag. 33). Neste momento, também, foi evidenciado o tom crítico e emancipatório que se desejou conferir ao trabalho coletivo ao apresentar referenciais como os de Demerval Saviani (da Pedagogia Histórico-Crítica) e de Vygotsky (da Teoria Histórico-Cultural) na interface entre a escola e os EENF, mais especificamente os Museus na constituição de um espaço iterativo e dialógico entre eles. Figura 20 - Abertura do processo de formação com a coordenadora do projeto Fonte: Acervo da autora, 2014. Com relação ao tema Educação Científica e seus Lugares, a primeira parte do seminário foi proferida pela apresentadora 1 (Figura 21), que, de modo introdutório, em sua fala, relatou o processo de desenvolvimento do ensino de ciências no Brasil, dentro de um contexto sócio-político e destacou alguns marcos históricos importantes. Diferenciou algumas nomenclaturas no ensino de ciências, abordou brevemente a Educação Ambiental Crítica e a Educação para o Desenvolvimento Sustentável. Enfatizou a importância do ensino de Ciências Química e Física em toda a educação básica, bem como a necessidade de estruturar pedagogicamente uma abordagem transdisciplinar para esses conhecimentos em espaços não escolares. Disse: “A química, bem como a física, comparece no cardápio curricular das escolas servidas frias, somente no finalzinho do ensino fundamental”. Finalizou destacando a necessidade de um movimento escolar em busca de potencialidades educativas em outros espaços, reelaborando o processo educativo, de modo a corresponder com as necessidades do mundo atual. 119 Figura 21 - Apresentadora 1 abordando a educação científica na educação básica Fonte: Acervo da autora, 2014. As ideias proferidas pela apresentadora instigaram bastante os participantes o que gerou muitos comentários, estabelecendo-se em um rico debate que sempre retornava a um ponto comum: a realidade vivida por eles, suas dificuldades e desejos. Desta forma, foi apresentado ao grupo o resultado do questionário diagnóstico realizado em fase anterior ao ciclo de seminários e solicitado que os mesmos fizessem uma relação com os pontos que a apresentadora 1 havia levantado. Mais uma vez o diagnóstico traçado se confirmou na fala dos professores e os mesmos foram convidados a expressar por escrito essas angústias e dificuldades nos seus portfólios. Dando continuidade, a apresentadora 2 (Figura 22) trouxe à tona questões sobre a educação científica relacionada aos lugares onde ela poderá ser desenvolvida. Para introduzir o assunto, apresentou conceitos de educação formal, não formal e informal e seus espaços na visão de vários teóricos, a fim de evidenciar o quanto este é um campo em construção e que depende de ações oriundas de instituições públicas e privadas e também do diálogo entre diversos profissionais. Do mesmo modo, trouxe ao debate, o entendimento que se tem por espaços educativos formais e não formais, especialmente, no que tange, as ações escolares (formais) em espaços não escolares, ditos não formais. 120 Figura 22 - Apresentadora 2 expondo os lugares da educação. Fonte: Acervo da autora, 2014. Assim prosseguiu com um pré-levantamento de espaços educativos não formais no município que, de certa forma são conhecidos de uma grande maioria, mas que, nem sempre, tem reconhecido e aproveitado o seu potencial educativo. Para elencar esses espaços, utilizou as categorias de espaços educativos segundo Jacobucci (2008). A cada espaço elencado os participantes interagiram sugerindo formas de explorá-los. Para finalizar, foi solicitado aos participantes que buscassem, em uma atividade não presencial, identificar espaços educativos não formais que existem na região onde está situada sua escola, em seguida que os classificassem em institucionalizados e não-institucionalizados, de acordo com a classificação proposta por Jacobucci (2008), destacando suas características e apontando temas sociais e científicos que poderiam ser desenvolvidos nestes lugares. b) Fase 2: Práticas pedagógicas em Espaço educativos não formais: Sequências didáticas e Pedagogia de Projetos O início de cada módulo foi sempre dedicado a apresentar as atividades não presenciais. Neste dia, os participantes demarcaram em um mapa do município os espaços não formais de educação próximos à sua escola (Figuras 23 e 24). Cada participante justificou a escolha dos espaços e todos puderam perceber lugares que antes não imaginavam existir. O grupo também discutiu quanto aos espaços institucionalizados e relatou a respeito do museu existente no município e o pouco que o mesmo é visitado pelas escolas e seus estudantes. 121 Figura 23 - Discussão sobre EENF em Domingos Martins Figura 24 - Marcação e localização de EENF no mapa de Domingos Martins Fonte: Acervo da autora, 2014. Fonte: Acervo da autora, 2014. Concluíram com a atividade, o quanto o município possui de potencial educativo e que podemos pensar em consolidar a utilização dos espaços não formais em nossa prática pedagógica de forma crítica e responsável. Afirmaram que se tem à disposição uma boa quantidade de espaços com um grande potencial de investigação e descobertas. Uma participante disse: “O nosso lugar é um grande laboratório, que integra elementos sociais, econômicos, tecnológicos e ambientais, que pode ser analisado de um ponto de vista transdisciplinar possibilitando aprendizagens significativas”. Tendo constatado o potencial educativo de muitos lugares de Domingos Martins, o grupo foi levado a refletir sobre como aproveitar esse potencial, sobre quais ferramentas utilizar, quais estratégias empregar. Assim dentro de uma perspectiva sócio-cultural, foram elencadas as principais práticas pedagógicas que as escolas utilizam e como estas podem ser desenvolvidas fora do ambiente escolar. Neste momento, o grupo foi convidado a pensar sobre essas possíveis vivências, como planejá-las e acima de tudo como conduzi-las. Desta forma, a apresentadora 3 (Figura 25), proferiu uma palestra sobre Sequências Didáticas (SD), mais precisamente, sobre as bases teóricas que a sustentam e a sua aplicação em planejamentos onde o intuito é conduzir vivências em espaços não escolares. Esta escolha foi feita pelo fato de que no questionário diagnóstico e com o próprio grupo de estudos foi verificada a necessidade de um embasamento teórico para as ações pedagógicas do dia-a-dia a fim de gerar mais autonomia para o planejamento 122 do professor, uma vez que, por muitas vezes, uma atividade não é realizada em um museu, por exemplo, pois há dificuldade em se planejar uma aula assim. Figura 25 - Apresentadora 3 no momento da discussão sobre os três momentos pedagógicos das SD. Fonte: Acervo da Autora, 2014. A professora iniciou apresentando a experiência com a construção de sua percepção sobre as Sequências Didáticas. Seu testemunho foi muito importante, pois a grande maioria dos participantes foi se identificando com sua fala, nos diversos estágios de seu desenvolvimento, ou seja, até o momento em que percebeu a preparação de uma Sequencia Didática como algo que exige alguns elementos importantes que são fundamentais para contemplar uma abordagem sócio-cultural, evoluindo da visão conteudista para uma visão temática, onde o tema leva aos conteúdos. A partir do conceito que Zabala (1998) confere à SD, um “conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelo professor como pelos alunos” é que foi iniciada a discussão sobre o assunto, que passou pelas necessidades de planejamento de uma SD, onde o professor, ao pensar uma SD, inevitavelmente precisa refletir sobre o que se pretende realizar, de que forma realizar e como avaliar. Assim, foi apresentado aos professores uma estrutura básica para as SD que contemplam uma postura crítica no planejamento, haja vista que partem de uma situação problema, perpassam os conteúdos e conhecimentos e chegam ao cotidiano dos estudantes. Trata-se dos Três Momentos Pedagógicos (3MP), ou seja, a Problematização Inicial (PI), a Organização do Conhecimento (OC) e a Aplicação 123 do Conhecimento (AC), que segundo Muenchen (2010), disseminaram-se na década de 1980 com base na Abordagem Temática freireana. Cada momento pedagógico foi discutido a contento, entretanto, a Problematização, por ser imprescindível em uma sequência com perspectivas sócio-culturais, foi debatida mais detalhadamente, haja vista que, por muitas vezes problematizar se confunde com perguntar. Foi então apresentado o quadro de Muenchen (2010) que distingue o ato de problematizar e perguntar. Para a autora, o problematizar, de forma dialógica, os conceitos são integrados à vida e ao pensamento do educando. Ao invés da memorização de informações [...] ocorre o enfrentamento dos problemas vivenciados. Em síntese, a problematização pode possibilitar que os educandos tornem-se críticos das próprias experiências (MUENCHEN, 2010, p. 160). Desta forma, o grupo entrou em consenso que esta problematização partindo de temas da realidade do aluno, de sua prática social, de problemas que certamente vive em seu cotidiano, é possível alcançar uma aproximação do conhecimento acumulado historicamente pela humanidade, se aproximar do conhecimento científico e retornar ao sua prática social, aplicando o aprendizado, transformando sua realidade para melhor, de forma crítica e consciente. Isso tudo, pode ser possível, se de fato for preparada uma problematização adequada, que foi bastante discutida com base no Quadro 6. Quadro 7- Problematizar e Perguntar PROBLEMATIZAR PERGUNTAR Implica em diálogo. Não implica necessariamente em diálogo. Muitas vezes é um monólogo. Existe um problema a ser resolvido. Não necessita um problema. Em geral, as perguntas giram em torno de conceitos científicos. Implica ou pode mudança/transformação. mudança. implicar Perspectiva na de Não implica em transformação. Sim ou não responde. Considera o “saber de experiência feito” (aquilo que o educando traz para a escola), a partir dele que se alcança o conhecimento científico. Não se preocupa com o “saber de experiência feito”. Gera inquietação (frente ao mundo, aos Provoca adaptação/acomodação (frente ao 124 problemas) mundo, aos problemas). Desafia, pois “o mundo não é, ele está sendo”. Conforma. Estimula a curiosidade ingênua em busca da curiosidade crítica; Provoca a curiosidade, o querer conhecer. Não estimula a curiosidade ingênua, não provoca a curiosidade. Propicia uma leitura crítica de mundo. Propicia uma leitura da palavra sem relação com a leitura do mundo dos educandos. Estimula o gosto de ouvir e o respeito à opinião do outro. Não estimula o gosto do ouvir. O educando ouve, na maioria das vezes, apenas o professor. Desvela/desoculta os conceitos/conteúdos Transmite os conceitos/conteúdos. Dá voz, abre espaço para a expressão, faz com que o educando se sinta sujeito do processo (participação). Não estimula a participação. Satisfaz a educação transformadora. Não necessariamente contribui para a educação crítico-dialógica-transformadora. Estimula a conhecimento. construção crítico-dialógica coletiva do Não estimula a construção coletiva do conhecimento, privilegia o individual. Realiza a “Leitura do texto” articulada à “leitura do contexto” a que o texto se refere. Realiza a “Leitura do texto” sem preocupação alguma com a leitura do contexto do texto. Relaciona explicitamente a realidade vivida pelo educando. Não relaciona explicitamente a realidade vivida pelo educando. Alcança através de problemas abertos, reais. Alcança através de problemas idealizados, desvinculados de contextos sociais/reais. Resposta fechada/exata. Fonte: MUENCHEN, 2010. Após a discussão de cada um dos três momentos pedagógicos, o grupo foi estimulado a pensar em como aplicar esta metodologia em vivências em EENF, especialmente em Museus. Neste momento, houve um breve silêncio, o que permitiu inferir que o grupo estava cauteloso em elaborar sugestões. Logo em seguida houve a manifestação de um dos participantes, que levantou uma questão muito importante: “A meu ver temos que conhecer bastante sobre museus se queremos preparar sequências didáticas para desenvolver nestes lugares!”. O grupo foi acrescentando que isso era realmente necessário, e também pontuaram algumas vantagens que podem existir em vivenciar os momentos pedagógicos em espaços não formais, como a valorização do conhecimento prévio, a valorização dos 125 conteúdos conceituais, atitudinais e procedimentais, a valorização da história da ciência e da interação social. Assim, foi provocada uma discussão sobre a possibilidade de se preparar por meio de uma SD, atividades investigativas em museus, foi solicitado o registro desta discussão nos portfólios. E por fim, a professora também deu um destaque à validação da SD no caso de um trabalho em parceria e possibilidades de avaliação em conjunto do plano antes de sua execução baseou-se no estrutura de Guimarães e Giordan (2011). Na segunda etapa deste Módulo a apresentadora 4 (fig. 26) proferiu sobre a Pedagogia de Projetos. Trouxe também todo um embasamento teórico para esta metodologia didática. Ao iniciar, perguntou aos participantes se já participaram ou desenvolveram algum projeto em suas escolas, todos disseram que sim. A partir deste ponto, dialogou com os participantes a respeito do que é desenvolver um projeto pedagógico e problematizou o contexto de planejamento desta modalidade didática. Figura 26 - Apresentadora 4 introduzindo a pedagogia de projetos Fonte: Acervo da autora, 2014. Com o pensamento de Hernandez (1988), que o recurso projeto não deve ser visto como uma opção meramente metodológica, mas como uma maneira de pensar a escola, alertou para o uso generalizado do nome projeto para várias atividades pedagógicas que por muitas vezes, por não corresponder de fato ao recurso pedagógico, o desvalorizam. 126 Em seguida buscou na história a origem deste recurso pedagógico e os principais teóricos que colaboraram para construção deste conceito. Destacou com essa modalidade a superação da educação por transmissão de conteúdos descontextualizados para o aluno, sem que este possa interagir com o objeto de conhecimento e se envolver com seu processo de aprendizagem. Com base em Hernandez (1998), pontuou sobre o planejamento de trabalho pedagógico em espaços não formais ao utilizar o recurso projetos. Afirmou que utilizar este recurso significa dar um novo sentido ao processo de aprender e de ensinar, onde os marcos de crescimento estão em ações concretas partindo da necessidade do aluno de resolver problemas da sua realidade, para uma prática social que pode ser adaptada ao contexto escolar em consonância às potencialidades de espaços não formais por meio de exposições culturais, científicas e artísticas, por meio da música e da dança, dentre outros. Concluiu destacando alguns aspectos relevantes em um projeto de acordo com Hernandez e Ventura (1998): A escolha do tema a partir da prática social do aluno, o papel do professor o planejador das etapas do projeto, o papel dos alunos como pesquisadores, questionadores, e o aprender como um ato comunicativo. c) Fase 3: Ensino por Investigação, Abordagem CTSA E Alfabetização Científica em espaços educativos não formais. A educação científica foi mais especificamente abordada neste seminário. Após um embasamento teórico para lidar com a estrutura de práticas pedagógicas, o grupo também pôde ter um momento para discutir com quais estratégias didáticas poderiam incluir em uma sequência didática, por exemplo, com qual finalidade, e por qual direcionamento filosófico. Assim, esse dia foi pensado tendo as práticas investigativas como uma estratégia para pensar visitas em espaços não formais de educação, tendo a alfabetização científica como um lugar onde desejamos chegar e tendo a o movimento CTSA como um viés filosófico que norteia as problematizações e reflexões ao longo do processo. A coordenadora, a partir de um artigo de Krasilchik (2000), iniciou uma conversa sobre o ensino de ciências ao longo dos tempos. Os participantes foram 127 caracterizando este ensino ao longo da época, segundo o objetivo e necessidade de cada período exemplificando com fatos históricos. O Contexto do pós-guerra, a revolução verde e personalidades como Raquel Carson foram comentados abrindo espaço para o movimento CTS e ciência para todos. A partir deste ponto, a apresentadora 5 lançou a pergunta: Por que é necessário pensar a Alfabetização Cientifica em nossas ações pedagógicas? A discussão foi conduzida na perspectiva de Chassot (2003), que a vê como um conjunto de conhecimentos que as pessoas podem obter a respeito do mundo, que lhes permitiria não somente compreender o mundo em que vivem, mas transformá-lo para o bem-estar de todos Foi solicitado ao grupo que desse exemplos de situações do mundo atual que justificariam a necessidade de um cidadão ter maior intimidade com os fatos científicos. Questões relativas à saúde, como medicamentos, questões ambientais, produção e destino de resíduos tóxicos, alimentos geneticamente modificados, clonagem e outros. Desta forma, a apresentadora 6 destacou mais detalhadamente o Movimento CTSA. Para discussão em grupos, utilizou subsídios em textos de Aikenhead (2009) para caracterizar o movimento CTS e, quanto ao seu surgimento e desenvolvimento em ações no ensino brasileiro, utilizou texto de Auler e Bazzo (2009). A apresentadora 6 usou o texto de Carvalho (2004) para tratar das questões sobre práticas investigativas no ensino de ciências. Desafiou o grupo a pensar como essas práticas poderiam ser contextualizadas utilizando os espaços não formais. Depois desta aproximação conceitual, os apresentadores iniciaram a parte prática. A proposta foi realizar práticas investigativas em espaços educativos não formais considerando que as problematizações e conclusões contemplariam aspectos da abordagem CTS, ou seja, o efeito da ciência sobre a sociedade e tecnologia, da sociedade sobre a tecnologia e ciência e da tecnologia sobre a ciência e a sociedade. Foram constituídos três grupos. Todos receberam uma apostila com exemplos de experimentos investigativos. Cada qual ficou livre para escolher e organizar uma atividade pedagógica (todos pensaram em uma sequência didática) utilizando a 128 interface da escola com um espaço não formal. A atividade em algum momento deveria contemplar uma prática investigativa. O grupo 1 (Figura 27) apresentou a sugestão de uma sequencia didática articulando o experimento “Estudo da fumaça do cigarro” com uma visita a um museu de ciências ( como o Museu da Vida na UFES) que possuísse peças anatômicas que demonstrassem os efeitos do cigarro no organismo. Ressaltaram o tema transversal saúde e a interdisciplinaridade com geografia e matemática. Figura 27 - Grupo de trabalho de práticas investigativas: Estudo da fumaça do cigarro Fonte: Acervo da autora, 2014. O grupo 2 (Figura 28) trabalhou em uma perspectiva de aula de campo. Relacionou o seu experimento ao cotidiano dos estudantes que vivem da lavoura e tornou significativo o conhecimento sobre pH do solo. A proposta foi partir de uma visita a uma lavoura, em que o solo poderia ser coletado em locais distintos e seria submetido à análise por meio de indicadores produzidos pelos próprios alunos. Os professores realizaram o trabalho com entusiasmo e sugeriram até mesmo outras aplicações da prática 129 Figura 28 - Grupo de práticas investigativas: pH do solo Fonte: Acervo da autora, 2014. O grupo 3 (Figura 29) fez um estudo da acidez da chuva, para tanto produziu a simulação da chuva ácida a partir da queima do enxofre. Este foi um tema de certa forma complicado que apresentou um pouco mais de dificuldade em relacionar com ambientes não escolares próximos a as escolas da região. A justificativa foi para o fato de que o fenômeno da chuva ácida, embora tem se intensificado nas últimas décadas, não se faz visível nos ambientes da região, o que poderia demandar uma visita virtual a monumentos e florestas urbanas. Figura 29 - Grupo de práticas investigativas: acidez da chuva Fonte: Acervo da autora, 2014. Todos os grupos realizaram, e apresentaram, seus experimentos e propostas. Os apresentadores do dia finalizaram destacando a importância de se levantar 130 hipóteses com intenções de ser verificada ou não, e a importância dessas atitudes para tornar concreta a pesquisa na escola. Após ter consideravelmente avançado as discussões relativas aos diversos tipos de espaços educativos, a coordenadora propôs uma reflexão mais específica sobre os museus como articuladores da educação científica junto à escola. Para iniciar, tratou do assunto cultura e cultura científica como elementos imprescindíveis ao fazer e pensar a educação científica, ou seja, afirmou que uma abordagem histórico-cultural na educação científica passa pela compreensão desses conceitos, da ciência como uma linguagem, um constructo cultural. Em Voght (2011), partiu do ponto onde o processo de desenvolvimento cientifico é considerado um processo cultural, e em sua espiral da cultura científica, destacando os museus como elementos importantes no ensino e divulgação de ciências. No entanto, como o entendimento de museu por vezes se limita a alguns estereótipos, a coordenadora realizou uma enquete com o grupo com as seguintes questões: a) Qual o conceito que você tem de Museu? b) Você Já visitou um Museu? Qual ou quais? c) Você já levou seus alunos a algum museu? Sim? Não? Por quê? De um total de oito participantes, dois afirmaram nunca ter ido a um museu. De forma geral, a análise das respostas apontaram para uma visão que toma os museus como instituições providas de muitas informações históricas e culturais, objetos em exposição, abertas à visitação, conforme afirmou um participante: “São grandes arquivos de objetos e informações”. Os museus de ciências quase não foram mencionados. Quanto à experiência pedagógica em museus, somente quatro participantes afirmaram ter levado seus alunos a uma visita, não deixando claro de que maneira esta visita foi preparada. Assim foi solicitado que fizessem uma pesquisa virtual sobre alguns museus de ciências do Brasil e que registrassem a localização, as principais características e missão. 131 d) Fase 4: Espaços de Aprendizagem: Museus e os Centros de Ciência. Dentro do que Marandino (2008, 2010) expõe a respeito da noção da especificidade do museu quanto à transposição didática e a relação deste assunto com as visitas escolares, colocamos em relevo a questão da formação de professores. Neste assunto, a autora condiciona a qualificação das ações dos professores nos planejamentos utilizando os espaços museais em função de conhecimento dos aspectos específicos da educação em museu. Diz que […] entendemos que os museus devem ser mais propositivos nas ações de formação de professores para uso de seus espaços. Tal formação deve considerar, em seus conteúdos, aspectos históricos destas instituições, mas também suas características pedagógicas específicas, mostrando no que se aproximam e no que se afastam das escolas. Esses elementos poderão oferecer subsídios para planejar melhor suas visitas e usufruir das possibilidades educativas que o museu pode oferecer [...] (MARANDINO, 2010). Pensando nisto, e na necessidade verificada junto aos professores, é que nesta fase escolhemos nos aprofundar um pouco na especificidade educacional do museu, para que ele seja entendido como um lugar de educação que vai além de complementar a escola, que seja visto através de sua imprescindível função e intenção socioeducativa. Assim, logo no início desta fase, os participantes foram convidados a relatar suas pesquisas sobre museus no Brasil solicitadas na fase anterior, o que puderam conhecer sobre o espaço pesquisado a nível organizacional e de intenção educativa. Também relataram sobre o tipo de público que recebe, sobre missão do espaço, o potencial educativo e relações com a escola. O grupo trouxe uma série de informações que constituíram um mural o que foi muito importante para a ampliação do conceito de museu, pois houve relatos de professores que disseram anteriormente não gostar de museu por ser “lugar de coisa velha” e não ser atrativo para os alunos, ideias que, com a pesquisa, começaram a ser por eles mesmos questionadas. Para iniciar, a apresentadora 8 falou sobre tipos de museus, centros de ciências, trouxe algumas definições e sugeriu que pensassem se estas definições se aplicariam em todos os momentos da história dos museus. O grupo ficou pensativo e, partindo deste ponto, buscou na história elementos para explicar como o museu foi se desenvolvendo e se modificando, e principalmente como seu papel social e 132 educacional foi sendo construído. Destacou a importância do museu na educação não formal, especialmente, na articulação da educação científica e na sua capacidade de tratar os assuntos de forma interdisciplinar. Figura 30 - Apresentadora 8 realizando um breve histórico sobre os museus Fonte: Acervo da autora, 2014. Da mesma forma caracterizou os museus em primeira, segunda e terceira geração de acordo com McManus (1992). Para cada geração, apresentou fotografias e exemplos. Os gabinetes de curiosidades e os museus interativos foram os elementos que mais geraram discussões O grupo se mostrou muito interessado nos museus interativos. Ao mencionar os elementos da pedagogia museal, baseando-se em Marandino (2008), abordou questões da transposição didática nos museus. Fez uma importante relação com o que a Pedagogia Histórico-Crítica preconiza, quando trata da importância dos conhecimentos socialmente produzidos e acumulados pela humanidade e, de forma especial, quando a emancipação humana pode ocorrer pelo domínio desses saberes pelo povo, à medida que “cultura que o povo domina, pode ser a cultura erudita, que passou a ser dominada pela população” (SAVIANI, 2011, p.69). Continuou explicando sobre a transposição didática nos museus, que segundo Marandino ( 2011), semelhante ao que ocorre nas escolas, possui uma noosfera, e a seleção de saberes obedecem a uma ordem de seleção da cultura científica que produzem o discurso expositivo final. 133 Diferenciando museografia7 e expografia8, a apresentadora 11 continuou o seminário aproximando os professores do universo dos museus. Reforçou o pensamento posto pelo próprio grupo no início do ciclo de seminários a respeito da necessidade de conhecer melhor os museus para com eles poder trabalhar. Iniciou destacando a importância das exposições para o museu, pois podem inspirar o público e conduzilo à reflexão. Sobre os tipos de exposição, apresentou formas de classificar, primeiramente quanto ao tempo: temporárias, permanentes ou itinerantes. Em seguida, quanto a sua concepção no museu, podendo ser históricas, científicas, culturais, comemorativas. De acordo com Dean (1994, apud Marandino 2008), mostrou que as exposições podem ser divididas em temáticas ou educativas ao se basearem no objeto ou em conceitos, cujo foco pode variar entre a mensagem e a estética e coleção. Com este referencial destacou as exposições como um importante elemento da educação em museus e sobre elas fez algumas pontuações. Uma outra característica bastante evidenciada foi a interatividade planejada nas exposições. A apresentadora utilizou o referencial de Wagensberg (2005) que trata os níveis de interatividade hands on (manual), minds on (mental) e heart on (emoção cultural), onde o público pode experimentar o método científico. Cada um foi discutido e exemplificado. Terminou afirmando que o autor recomenda a presença concomitante dos três, no entanto se tiver que se fazer escolhas ao elaborar uma exposição é conveniente a interatividade manual, recomendável a interatividade cultural e imprescindível a interatividade mental. Isso para a exposição alcance o sucesso e o objetivo educativo provocando o engajamento físico, emocional e cognitivo do público. Sobre a elaboração das exposições, a apresentadora salientou a importância do envolvimento de uma equipe formada por várias especialidades e múltiplos segmentos, assim, também, mostrou um exemplo de uma cadeia operatória para o 7 Área do conhecimento que estuda, projeta e define os equipamentos necessários à operação de um museu, englobando componentes expositivos, estruturas de suporte para atividades programáticas e técnicas, além de estruturas e planos de atendimento aos usuários (FRANCO, 2008) 8 Área da museografia que se ocupa da definição da linguagem e do design da exposição Museológica, englobando a criação de circuitos, suportes expositivos, recursos multimeios e projeto gráfico, incluindo programação visual, diagramação de textos explicativos, imagens, legendas, além de outros recursos comunicacionais (FRANCO, 2008). 134 desenvolvimento de uma exposição de acordo com um modelo proposto por Franco (2008), com fases que vão desde a pré-produção até a avaliação do projeto. Depois da aproximação teórica, foi organizada uma dinâmica, em que os participantes foram desafiados a simular uma visita que teriam feito a uma exposição científico-cultural, as regras eram simples: um participante começava contanto uma história da exposição que viu e escolhia um colega para continuar. No entanto, a história deveria considerar uma abordagem histórico-cultural para a exposição e que de forma especial fosse capaz de despertar critica e tomada de decisão. Esta fase foi concluída com recomendações básicas para a visita que seria no próximo módulo. A coordenadora pediu que as impressões desta fase fossem registradas no portfolio. e) Fase 5: Visita técnica a espaços não formais institucionalizados Neste módulo, os professores foram encaminhados para realizar visitas a três diferentes museus localizados na Grande Vitória a fim de destacar o potencial educativo desses ambientes, bem como buscar exemplos em experiências consolidadas para a construção da proposta de atividades museais para Domingos Martins. Os participantes receberam preliminarmente o itinerário das visitas contendo orientações fundamentais para o trabalho e foram divididos em duplas com a incumbência de em cada museu, de uma forma geral, identificar as características principais, a missão da instituição, analisar o espaço físico, as exposições fixas e temporárias e o trabalho dos mediadores. Assim também, além desses elementos, para cada museu foi realizada uma análise específica, que teve como finalidade aproximar os professores da especificidade educacional dos museus. O primeiro Museu visitado foi a Escola de Ciência Física (Figura 31), localizado no Parque Moscoso em Vitória. Ela compõe um dos quatro centros de ciência do município de Vitória-ES . 135 Figura 31 - Visita técnica à Escola da Ciência Física de Vitória - ES Fonte: Acervo da autora, 2014. Neste museu os grupos foram convidados a analisar as exposições, ou seja, a verificar a sua organização, como foram preparados os objetos e aparatos, se os mesmos oferecem possibilidade de interatividade com o público. Também buscaram identificar o público alvo e se as exposições correspondiam a ele. Figura 32 - Atividades na Escola da Ciência Física de Vitória/ES Fonte: Acervo da autora, 2014. Uma parte da visita foi destinada à interação dos professores com o meio observado, e a segunda parte da visita foi destinada ao registro das informações solicitadas no guia (Quadro 7). Este trabalho foi realizado em duplas. 136 Em um espaço do museu, antes de iniciar o trajeto, a apresentadora 9 conversou com os participantes a respeito do guia, sobre a importância de se entender o projeto expositivo. Pediu que fossem bastante atenciosos com os conhecimentos embutidos nos experimentos, na maneira como eram explorados pelos próprios colegas e se o mediador realizava conexões com o cotidiano. Da mesma forma, a coordenadora ressaltou a importância de se observar os níveis de interatividade a partir de Wagensberg (2005), e observar quais engajamentos os aparatos e a medição incentivavam. Quadro 8 - Guia para análise de exposição em visita técnica a escola da ciência Física de Vitória - ES GUIA PARA ANÁLISE DE EXPOSIÇÃO MUSEAL MUSEU: ESCOLA DA CIÊNCIA FÍSICA DE VITÓRIA SEÇÃO: PÚBLICO QUE RECEBE: EXPOSIÇÃO: OBJETOS/APARATOS INTERATIVIDAD E Objeto Características Possibilidade de interação com o público 1- 2- 3- Hands on Minds os Hearts on Interação e percepção pelo público. Despertam interesse do público? TEXTOS Relação entre texto e objeto Intenções presentes no objeto: Categoria dos textos Fonte: Elab. pela autora O segundo museu visitado foi o Museu Vale (Figura 33), localizado em Vila Velha, em uma antiga estação ferroviária. O museu possui um acervo histórico da ferrovia que liga Vitória a Minas Gerais e conta a história do processo de sua construção e 137 uso até os dias atuais. Neste museu os participantes utilizaram um áudio-guia para realizar a visita. Figura 33 - Visita técnica ao Museu Vale Fonte: Acervo da autora, 2014. Durante a visita além de terem seu tempo livre para visitar o museu, também foram convidados a responder algumas questões norteadoras de análise do espaço visitado: Quadro 9 - Questões para análise do Museu Vale. QUESTÕES NORTEADORAS PARA VISITA AO MUSEU VALE Os ambientes do museu permitem relacionar o passado e o presente de forma crítica? ( ) sim ( ) não O museu está preocupado com o engajamento cognitivo de seu público? ( ) sim ( Justifique: )não ( ) sim ( Justifique: ( ) sim ( Justifique: )não Que tipos de objetos compõe essa exposição? Como está sendo sua experiência com o áudio-guia a partir do ponto de vista da mediação? Considere a área externa e interna do museu e analise se existe a possibilidade do professor trabalhar a Educação Científica neste local? O museu está preocupado em tratar questões ambientais de forma crítica em seu projeto expositivo? É possível encontrar dimensões da Pedagogia Histórico-Crítica nas exposições do museu? Quais? Econômica? Histórica? Política? Social? Cultural? O que é mais enfatizado? Existem atividades culturais relacionadas ao museu/exposição? Fonte: Elab. pela autora )não 138 O terceiro museu visitado foi a Escola da Ciência - Biologia e História, este lugar trabalha a natureza e cultura para tratar da identidade capixaba, localizado também em Vitória/ES. Diferentemente dos demais museus, este tem foco nos processos históricos paralelos aos processos biológicos e geográficos da Ilha de Vitória. Figura 34 - Visita técnica à Escola de História, Biologia e Ciências de Vitória. Fonte: Acervo da autora, 2014. Os participantes foram recebidos pela equipe do museu e antes de percorrerem o espaço, foram reunidos em um mini-auditório e receberam de uma pedagoga do museu algumas informações relativas ao percurso que iriam fazer e especialmente sobre a intenção educacional do museu. A apresentadora 10 apresentou ao grupo as questões norteadoras da visita (Quadro 9), dividiu em equipes e acompanhou o percurso junto ao mediador. A coordenadora solicitou aos participantes se seria possível construir um olhar crítico acerca de todo o discurso expositivo do local, levando em consideração elementos do pensamento de Saviani a respeito do ato de educar, ou seja, se o discurso expositivo leva em consideração a prática social das pessoas, se incorpora tensões e conflitos nos campos econômicos e sociocultural, se o conhecimento acumulado é levado em consideração para resolução de problemas da atualidade e se é usado para o bem-estar coletivo futuro. Por fim, pediu para observarem se uma vivência conduzida naquele espaço poderia colaborar para que uma pessoa avançasse para um novo nível de desenvolvimento, para uma nova prática social. 139 Quadro 10 - Questões para subsidiar análise da Escola de Ciência, Biologia e História de Vitória - ES QUESTÕES NORTEADORAS PARA A VISITA A ESCOLA DE CIÊNCIA – BILOGIA E HISTÓRIA Analise: SIM NÃO O professor encontra informações suficientes no site do museu ou em algum departamento para preparar visitas? O museu possui roteiros pré-definidos? Você considera os textos e os objetos da exposição adequados ao contexto da exposição? A exposição atinge seu objetivo, ou seja, retrata os impactos que os ambientes sofreram historicamente e continuam a sofrer? O mediador ressalta os impactos que os ambientes sofreram de forma crítica? Há um quantitativo razoável de dados para serem coletados em pesquisa neste museu? As atividades interativas provocam um engajamento cognitivo? As exposições enfatizam benefícios da ciência e da tecnologia no contexto da urbanização do espaço estudado? Os Impactos sociais causados pela urbanização são manifestados na exposição? Os elementos presentes no museu facilitam a aprendizagem sobre a identidade/cultura capixaba? Considerando que o museu possui animais taxidermizados (empalhados) da restinga e da mata atlântica, aquários, artefatos arqueológicos, maquetes dos patrimônios históricos locais, pense e relacione os conteúdos conceituais que podem ser trabalhados de forma interdisciplinar no local: Que tipo de objetos existem no museu? Exemplifique pelo menos 03 deles e descreva as possibilidades de interatividade com o público: Como se apresentam os textos presentes nas exposições? Fonte: Elab. pela autora, 2014. E ) Fase 6: Espaços de Aprendizagem: Museus e os Centros de Ciência. Esta fase foi destinada a debates, discussões e conclusões. Este momento foi dedicado a rever todo o caminho percorrido nas fases anteriores a fim de tentar materializar todo o esforço empregado. De posse do material produzido nas visitas da fase anterior, a coordenadora iniciou a discussão perguntando qual foi a impressão geral que tiveram da visita que realizaram. De maneira muito espontânea o grupo demonstrou ter sido surpreendido ao longo do processo com o contexto dos museus e todo o seu potencial educativo. Uma das participantes afirmou: “Entendi que museu não é apenas um local de coisas antigas, cheirando a mofo, e sim centros educacionais onde podemos interagir, sentir, ver, aprender e refletir, 140 com painéis interativos, exposições temáticas, maquetes e fotos, experimentos, entre outros. Conseguimos estabelecer uma relação entre homem e natureza” Outra participante completou: “Acredito que mudamos nossa concepção sobre museus. Agora vemos os museus como lugares de prazer, onde podemos completar nossa prática pedagógica, completando o ensino formal dado em nossas escolas. Vejo o museu hoje como um espaço onde podemos ver, tocar, interagir, levando a uma postura crítica [...]” Em seguida, tomando os formulários, cada elemento foi sendo discutido, a ponto de perceber que os participantes puderam relativamente se envolver com a pedagogia museal, apreciar um pouco deste mundo, que a princípio consideraram importante conhecer, para que, efetivamente, pudessem explorá-lo e inseri-lo em suas práticas pedagógicas produzindo vivências de forma consciente. Após este momento, a coordenadora anunciou que os trabalhos do dia terminariam com uma plenária onde todas as sugestões e reflexões seriam registradas e comporiam a proposta de um espaço museal para Domingos Martins. Os participantes foram divididos em grupos e mediante algumas questões norteadoras (Apêndice 9) iniciaram o trabalho. Figura 35 - Grupos de trabalho em construção da proposta de espaço para atividades museais em Domingos Martins - ES Fonte: Acervo da autora, 2014. Ao término deste primeiro momento, o grupo elegeu um relator geral e a coordenadora deu início a plenária. A partir das questões norteadoras, cada grupo verbalizou sua reflexão e, em consenso foi registrado no relatório. Ao término de 141 todos os pontos, o relator concluiu o texto, que se encontra na íntegra no Anexo 2, e fez sua leitura oficial, que foi aprovada e assinada. Esta proposta foi encaminhada à Secretaria de Educação do município. Entre os elementos destaca-se a demanda mais imediata e de possível realização: o Planejamento de uma exposição incluindo a indicação da organização de atividade para estreitar a parceria educativa museuescola na “Semana Cultural de Domingos Martins” um evento anual do município, a qual está descrita no produto final relativo a esta investigação. 142 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS “Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes” Paulo Freire Esta pesquisa tomou como objetivo propor uma parceria educativa entre museu e escola na articulação da educação científica dentro da perspectiva histórico-cultural. Este intuito exigiu-nos, como uma primeira ação da pesquisa, construir uma fundamentação teórica para discutir três pontos elementares do trabalho. O primeiro deles é a educação científica entendida nesta perspectiva. Para tanto, a discussão se desenvolveu a partir de ideias de Vygotsky e Saviani. Foi possível respaldar essa educação que busca uma formação integral dos indivíduos, que como atores sociais, tenham acesso ao conhecimento e compreendam como que estes conhecimentos interferem em suas realidades, afim de que se tornem ferramenta de emancipação humana. O segundo ponto é o museu como espaço de socialização e aprendizagem. Aqui buscamos nos aproximar dos aspectos históricos, políticos e sociais de implementação de museus no país e compreender melhor sua função social no Brasil. ParalelA a essa fundamentação teórica, também fomos visitar museus em alguns estados brasileiros a fim de extrair experiências bem sucedidas e levantar informações sobre a estrutura física e material, gestão e política destes espaços. Esta foi uma experiência enriquecedora. Foi possível notar que existem no Brasil políticas que valorizam iniciativas de criação de museus municipais, que existem recursos que suprem estas demandas. Constatamos, também, que os museus são fonte de conhecimento tanto para os alunos como para os professores, e que dentro de uma museologia contemporânea elaboram exposições científico-culturais que não separam os conhecimentos, ao contrário, incorporam a complexidade. Os museus visitados deixaram transparecer que estão preocupados com o paradoxo 143 em que e se encontra a sociedade: ao mesmo tempo em que é completamente envolvida pela ciência e tecnologia é também tão distante dela, ou seja, consome seus produtos, vive a ciência no seu cotidiano e não se dá conta do processo científico, não sabe a respeito dos impactos da tecnologia para sua via e a vida do planeta. O Outro ponto elementar diz respeito à relação da educação museal com a escola discutindo as possibilidades de articulação desses espaços com processo educacional. Além de propor transformar a educação científica municipal com esta parceria em Domingos Martins, também propomos que tipo de educação cientifica defendemos. Assim, ao entrecruzar os olhares dos dois espaços educativos, na convergência das vivências, levantamos atribuições específicas para a escola, no planejamento pedagógico (especialmente o professor) e para o museu, no planejamento de seus projetos expográfico, com base em referenciais que dão ênfase à uma abordagem histórico-cultural à educação científica. Como ação seguinte da pesquisa, nos propusemos investigar as concepções de Educação científica e Espaços Não Formais de Educação, com professores de Domingos Martins. Os dados coletados em pontos representativos do território municipal produziram resultados que evidenciaram a necessidade de os professores conhecerem um pouco mais o potencial da educação não-formal e das práticas pedagógicas em espaços não-escolares. Ao justificarem a necessidade de um espaço científico para o município, apresentaram argumentos contundentes que expressaram a necessidade de políticas educacionais mais específicas como a valorização da educação municipal e preocupação com o acesso ao conhecimento científico. Estas constatações fizeram-nos acreditar que é fundamental investir em educação científica, e os museus podem colaborar para com a escola neste intuito, em preparar uma educação do futuro como aponta Morin (2005), pois os dois espaços educativos reúnem condições de explorar criticamente o conhecimento construído pela humanidade no passado histórico, perpassado pelas culturas do mundo, como afirma Saviani (2011). Esta apropriação, acreditamos, precisa ocorrer de forma una, pois a fragmentação do saber não constrói um estado de unidade. Assim as ciências humanas e naturais possuem sua importância e especificidade, no entanto se 144 fragmentadas podem anular sua essência, ou seja, respectivamente, a noção de homem e de vida (Morin, 2003). Diante dos resultados apurados e analisados, passamos à elaboração de uma proposta de organização de espaço para atividades museais para o município em conjunto com professores. Esta ação foi preparada a partir do planejamento de uma formação com professores e subsequente apresentação ao município. Para tanto, foram levadas em consideração as necessidades de aproximações teóricas mais específicas do público-alvo e os objetivos de construir propostas educativas para a rede municipal. Dentro deste processo da pesquisa-ação, atribuímos aos professores o papel de pesquisadores técnicos, ou seja, formaram o grupo de estudos e pesquisas. O grupo participou ativamente de cada fase do ciclo de seminários. Estas fases, além de focarem temas do ensino de ciências, também se dedicaram à pedagogia museal. Isto, porque, acreditamos que o professor precisa conhecer e se apropriar, o máximo possível do mundo dos museus para que nele possa se envolver e a partir dele planejar suas ações. Desta forma, este processo formativo, apresentou um aproveitamento muito satisfatório, os professores envolveram-se com novas questões teóricas, e práticas, e refletiram sobre sua realidade. O grupo de estudos e pesquisas, por fim, construiu uma proposta de espaço museal para o município. Acreditamos que esta proposta exibe o nível de envolvimento do grupo no período da formação, e serve como avaliação do processo, como exemplo citamos itens da justificativa para o espaço museal no município: É consenso do grupo que existe a necessidade de se criar um espaço para atividades museais no município sob as seguintes justificativas: a) Pela criação de uma parceria educativa museu-escola; b) Pela oportunidade de complementar a prática pedagógica escolar; c) Por valorizar a cultura local, tanto dos antepassados como a atual; d) Por promover a acessibilidade da comunidade em geral (não só a escolar) à ciência e tecnologia, à inovação, ao conhecimento acumulado pela humanidade; e) Pela valorização de personalidades importantes no município que contribuíram para o desenvolvimento da ciência no município, como o Sr. Roberto Anselmo Kautsky; f) Pela contribuição da imigração alemã e italiana na produção do espaço geográfico martinense; g) Pela diversidade cultural; h) Pela oportunidade de existir um lugar para se praticar ciência; 145 i) Pelo lazer e entretenimento; j) Pelo incremento da atividade turística. Este processo também evidenciou a postura crítica e consciente do grupo diante da realidade vivida e do seu papel dentro no ensino de ciência. [...] percebemos que em nosso município também existe a necessidade de desenvolver algumas ações para ampliar a cultura científica, tonar os cidadãos mais críticos e conscientes de sua importância para a sociedade. [...] acreditamos que poderíamos nos fazer ouvir, pois somos cidadãos preocupados com nossa “casa” e desejamos o bem comum. Refletimos em um grupo de estudos por um longo período e apresentamos algumas sugestões que poderiam ser apreciadas e quem sabe, contempladas. A proposta também tem um destaque especial quanto às sugestões de efetivar atividades museais no município. O grupo sugeriu a curto prazo [...] averiguar o calendário de eventos do município, localizar a semana cultural, que é um evento clássico e anual, e inserir na programação uma exposição científicocultural para receber o público em geral, mas especialmente o público estudantil. Esta exposição poderia ser planejada por profissionais do próprio município sobre temas da natureza e cultura local.” Em atendimento a esta sugestão, foi elaborado um planejamento expográfico com um grupo de profissionais que se tornou parte integrante do produto final desta pesquisa. Assim, podemos corroborar a hipótese de que o desenvolvimento da parceria educativa museu-escola, visando a desenvolver uma Educação Científica da perspectiva histórico-cultural, passa pelo processo coletivo de discussão. Isso, porque os professores, conscientes de suas atribuições e das necessidades de renovação do ensino de ciências, apresentaram sugestões para transformar suas práticas e construíram caminhos para ampliar suas relações políticas com os órgãos educacionais. Em resposta ao problema desta pesquisa, que questionou se uma proposta de parceria educativa entre museu e escola pode ser construída tendo como fundamento uma Educação Científica Histórico-Cultural, no município de Domingos 146 Martins, podemos dizer que existem alguns caminhos para isso se efetuar. Podemos se pensar a partir do ponto de vista econômico, político-administrativo ou educacional-cultural, que, de certa forma, foram pontos tangenciados ao longo do trabalho. No entanto, destacamos um assunto: a questão da visita ou vivências nos museus. Isto, por que, acreditamos que as vivências em espaços museais são um símbolo concreto de parceria educativa museu-escola. Configuram-se como intersecção de dois esforços no sentido do desenvolvimento da cultura científica. O grupo de estudos também destacou a característica naturalmente interdisciplinar dos museus como algo imprescindível para formação cidadã atual pelo fato de que o homem e a sociedade são, ao mesmo tempo, unidades distintas, porém inseparáveis, e que, a educação científica que se diz incentivadora da tomada consciente de decisão, precisa mergulhar em todas dimensões e se constituir em uma educação científica de todas as ciências, que se desenvolva nas escolas e nos EENF. A proposta foi construída, o primeiro (e pequeno) passo foi dado e resultou em dados que podem ser subsídios para o município desenvolver seus projetos relacionados a museu consciente das necessidades de a sociedade ter acesso ao conhecimento e desenvolver sua cultura científica, tornando-se mais critica e participativa. O processo de pesquisa-ação o qual conduziu os caminhos desta pesquisa conferiu legitimidade ao processo quando as ações refletiram decisões coletivas. As etapas se sucederam mediante diagnóstico e avaliação. Avançaram para o nível seguinte depois de tomada de decisão coletiva, sendo este processo iniciado na prática social dos professores, o qual foi problematizado, instrumentalizado com o processo formativo até o ponto em que atingiram, com a proposta construída, uma nova prática social. Assim, os resultados deste estudo, de uma forma geral apontam para o fato de que a mobilização social é um caminho para transformar uma realidade e o enfrentamento político respaldado no conhecimento, na cultural, no bem coletivo, podem abrir caminhos para conquistas maiores do que se pode supor. 147 REFERÊNCIAS ABCMC, Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências. ABCMC: A caminho da popularização da ciência. 2013. 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O OBJETIVO deste trabalho é discutir a elaboração de uma proposta de construção de espaço coletivo de aprendizagem em ciências, interdisciplinar, vinculado a CTSA (ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) no município de Domingos Martins – Espírito Santo para o atendimento da demanda escolar e social da região. A sua participação é muito importante e se daria da seguinte forma: por meio de um QUESTIONÁRIO QUE COMBINAM PERGUNTAS ABERTAS E FECHADAS. Os BENEFÍCIOS esperados poderão subsidiar a prática pedagógica das escolas municipais e estaduais de Domingos Martins e adjacências, trazendo mais qualidade ao ensino e oferecendo condições para os planejamentos de aulas práticas, experimentais e de campo, contextualizadas e significativas vinculando os espaços não formais a prática pedagógica escolar. Esclarecemos que sua participação é totalmente VOLUNTÁRIA e que por intermédio deste Termo são-lhes garantidos os seguintes direitos: (1) solicitar, a qualquer tempo, maiores esclarecimentos sobre esta Pesquisa; (2) sigilo absoluto sobre nomes, apelidos, datas de nascimento, local de trabalho, bem como quaisquer outras informações que possam levar à identificação pessoal; (3) ampla possibilidade de negar-se a responder a quaisquer questões ou a fornecer informações que julguem prejudiciais à sua integridade física, moral e social; (4) opção de solicitar que determinadas falas e/ou declarações não sejam incluídas em nenhum documento oficial, o que será prontamente atendido; (5) desistir, a qualquer tempo, de participar da Pesquisa. DECLARO O MEU CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO NESTA PESQUISA “Eu declaro estar ciente das informações constantes neste ‘Termo de Consentimento Livre e Esclarecido’, e entendo que serei resguardado pelo sigilo absoluto de meus dados pessoais e de minha participação na Pesquisa. Poderei pedir, a qualquer tempo, esclarecimentos sobre esta Pesquisa; recusar a dar informações que julgue prejudiciais a minha pessoa, solicitar a não inclusão em documentos de quaisquer informações que já tenha fornecido e desistir, a qualquer momento, de participar da Pesquisa. Fico ciente também de que uma cópia deste termo permanecerá arquivada com o Pesquisador do Instituto Federal do Espírito Santo responsável por esta Pesquisa.” Domingos Martins, ES , ____ de _____________________ de 2013 ____________________________________________________________ Assinatura do Participante Endereço:____________________________________________________________ Caso você tenha dúvidas ou necessite de maiores esclarecimentos, poderá nos contactar: Pesquisador: JOSILENE ERLACHER WERNECK MACHADO FALK Endereço: Rua Principal, Paraju, Domingos Martins – ES Telefone: (27) 9982 1015 E-mail: [email protected] __________________________________________________ Assinatura do Pesquisador 158 APÊNDICE D - Questionário aplicado aos professores INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO – Campus Vitória Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática 1- Indique sua formação: ( ) Graduação: ( )Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado: 2- Em qual ou quais redes de ensino você atua? ( ) Municipal ( ) Estadual ( ) Federal ( ) Privada 3- Assinale o quadro correspondente a sua categoria funcional: ( ) Efetivo ( ) Designação Temporária ( ) Contratado ( ) outro:_______ 4- Há quanto tempo você leciona? ( ) Menos de 01 ano ( ) 1 a 2 anos ( ) 3 a 5 anos ( ) 6 a 10 ( ) 11 a 15 anos ( ) 16 a 20 anos ( ) acima de 20 anos 5- Em qual nível de escolaridade você atua? ( ) Primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental Fundamental ( ) Primeiro ao Terceiro ano do Ensino Médio ( ) EJA 6-Qual/quais disciplina(s) você leciona? ( ) História ( ) Ensino Religioso ( ) Geografia ( ) Matemática ( ) Sociologia ( ) Física ( ) Filosofia ( ) Química ( ) Base Comum Nacional ( ) Sexto ao nono ano do Ensino ( ) Educação Infantil ( ) Biologia ( ) Ciências ( ) Artes ( ) Língua Portuguesa ( ( ( ( ) Educação Física ) Língua Inglesa ) Pomerano ) Espanhol 7- Frequentemente entramos em contato com novos termos técnicos na Educação. Marque com um x os termos que são comuns em seu cotidiano fazendo parte de sua prática: ( ) Interdisciplinaridade ( ) Abordagem CTSA (Ciência, ( ) Divulgação Científica Tecnologia, Sociedade e Ambiente) ( ) Transdisciplinaridade ( ) Alfabetização científica ( ) Espaços não formais de educação ( ) Abordagem temática ( ) Práticas Investigativas ( ) Educação não formal 8- Quais modalidades didáticas você utiliza em suas aulas? Leve em consideração os números: 1 – sempre, 2 – nunca, 3 às vezes, para indicar a frequência com que são utilizadas em sua prática: ( ) Atividades com Livro didático ( ) Atividades com Jogos pedagógicos. ( ) Aula prática de laboratório ( ) Leitura ( ) Aulas expositivas ( ) Exibição de documentários ( ) Experimentações ( ) Exercícios filmes e ( ) atividades de Resolução de problemas ( ) Prática do Diálogo ( ) Excursões Outras:________ 09-Seu ambiente de trabalho favorece a postura de professor pesquisador? ( ) Sim ( ) Não 10- Sobre a realização de atividades em ambientes fora do contexto escolar, ou seja, em espaços não formais de educação, responda: a) Você realiza atividades em ambiente fora do contexto escolar? ( ) Sempre ( ) As vezes ( ) raramente ( ) Nunca c) Você encontra dificuldades em realizar esta atividade? 159 a) ( ) Sim ( ) Não 11) Indique a presença e incidência de obstáculos que tornam difícil esta prática de acordo com a legenda: Leve em consideração os números: 1 – sempre, 2 – nunca, 3 às vezes: ( ) Transporte para os espaços ( ) Abordagem transdisciplinar ( ) Falta de conexão entre a não formais ( ) Carga horária da disciplina teoria e a prática ( ) Autorização da família ( ) Currículo ( ) Falta de material de ( ) Autorização da Escola ( ) dificuldade de organizar um pesquisa para planejamento da ( ) Parcerias com a Escola Planejamento em coletivo aula ( ) Autonomia no planejamento ( ) Falta de opções de locais ( ) Falta de apoio pedagógico de visita. ( ) Tempo ( ) Considero outras práticas mais adequadas. 12)Você costuma visitar quais espaços? Marque os espaços que você costuma visitar: ( ) Museus ( ) Parques Ecológicos ( ) Exposições fixas ou itinerantes ( ) Trilhas ecológicas ( ) Ambientes costeiros/fluviais ( ) Planetários ( ) Zoológicos/ ( ) bibliotecas públicas ( )Praças/Escolas/Espaços de ciências. ( ) Indústrias ( ) outro: ______________________ 13)- Sua escola possui um espaço/laboratório para aulas práticas/interativas? ( ) Sim ( ) Não 14)- Você possui a sua disposição, recursos materiais para realização de aulas práticas ( tais como: instrumentos, equipamentos, reagentes, vidrarias, modelos e outros)? ( ) Sim. Adequadamente ( ) Sim. Precariamente ( ) Não possuo. 15) Para você, as aulas fora do ambiente são capazes de promover aprendizagens significativas? ( ) Muito ( ) Um pouco ( ) Muito pouco ( ) Não são capazes 16) Para você é importante desenvolver a relação entre a educação produzida na escola e a educação produzida fora dela, com o objetivo de trazer qualidade ao processo educacional? ( ) Há uma grande necessidade ( ) Há uma necessidade regular ( ) Não há necessidade 17) Você sente necessidade de participar de formação continuada em seu contexto de trabalho? ( ) Sim ( ) Não 18) Responda no verso : Por que você considera importante para sua prática como professor a existência de um espaço coletivo de aprendizagem ou uma estação de ciência ( museu de ciência/centro de ciência ou similar) em Domingos Martins? 160 APÊNDICE E - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinado aos professores participantes da formação continuada. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Este documento visa solicitar sua participação, na Pesquisa A CTSA E A SUA APLICAÇÃO EM ESPAÇO COLETIVO DE APRENDIZAGEM: UMA PROPOSTA PARA O MUNICÍPIO DE DOMINGOS MARTINS/ES. O OBJETIVO deste trabalho é discutir a elaboração de uma proposta de construção de espaço coletivo de aprendizagem em ciências, interdisciplinar, vinculado a CTSA (ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) no município de Domingos Martins – Espírito Santo para o atendimento da demanda escolar e social da região. A sua participação é muito importante e se daria da seguinte forma: por meio de PARTICIPAÇÃO EM GRUPO DE DISCUSSÃO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DE ESPAÇO COLETIVO DE APRENDIZAGEM. Os BENEFÍCIOS esperados poderão subsidiar a prática pedagógica das escolas municipais e estaduais de Domingos Martins e adjacências, trazendo mais qualidade ao ensino e oferecendo condições para os planejamentos de aulas práticas, experimentais e de campo, contextualizadas e significativas vinculando os espaços não formais a prática pedagógica escolar. Esclarecemos que sua participação é totalmente VOLUNTÁRIA e que por intermédio deste Termo são-lhes garantidos os seguintes direitos: (1) solicitar, a qualquer tempo, maiores esclarecimentos sobre esta Pesquisa; (2) sigilo absoluto sobre nomes, apelidos, datas de nascimento, local de trabalho, bem como quaisquer outras informações que possam levar à identificação pessoal; (3) ampla possibilidade de negar-se a responder a quaisquer questões ou a fornecer informações que julguem prejudiciais à sua integridade física, moral e social; (4) opção de solicitar que determinadas falas e/ou declarações não sejam incluídas em nenhum documento oficial, o que será prontamente atendido; (5) desistir, a qualquer tempo, de participar da Pesquisa. DECLARO O MEU CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO NESTA PESQUISA “Declaro estar ciente das informações constantes neste ‘Termo de Consentimento Livre e Esclarecido’, e entender que serei resguardado pelo sigilo absoluto de meus dados pessoais e de minha participação na Pesquisa. Poderei pedir, a qualquer tempo, esclarecimentos sobre esta Pesquisa; recusar a dar informações que julgue prejudiciais a minha pessoa, solicitar a não inclusão em documentos de quaisquer informações que já tenha fornecido e desistir, a qualquer momento, de participar da Pesquisa. Fico ciente também de que uma cópia deste termo permanecerá arquivada com o Pesquisador do Instituto Federal do Espírito Santo responsável por esta Pesquisa.” __________________, ____ de _____________________ de 2013. ____________________________________________________________ Assinatura do Participante Endereço:____________________________________________________________ Caso você tenha dúvidas ou necessite de maiores esclarecimentos, poderá nos contactar: Pesquisador: JOSILENE ERLACHER WERNECK MACHADO FALK Endereço: Rua Principal, Paraju, Domingos Martins – ES - Telefone: (27) 9982 1015 E-mail: [email protected] __________________________________________________ assinatura do Pesquisador 161 APÊNDICE F - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido destinado a equipe de planejamento da exposição científico-cultural TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Este documento visa solicitar sua participação, na Pesquisa A CTSA E A SUA APLICAÇÃO EM ESPAÇO COLETIVO DE APRENDIZAGEM: UMA PROPOSTA PARA O MUNICÍPIO DE DOMINGOS MARTINS/ES. O OBJETIVO deste trabalho é discutir a elaboração de uma proposta de construção de espaço coletivo de aprendizagem em ciências, interdisciplinar, vinculado a CTSA (ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) no município de Domingos Martins – Espírito Santo para o atendimento da demanda escolar e social da região. A sua participação é muito importante e se daria da seguinte forma: por meio de PARTICIPAÇÃO EM GRUPO DE PLANEJAMENTO DE EXPOSIÇÃO CIENTÍFICO – CULTURAL COMO ATIVIDADE MUSEAL PARA DOMINGOS MARTINS/ES. Os BENEFÍCIOS esperados poderão subsidiar a prática pedagógica das escolas municipais e estaduais de Domingos Martins e adjacências, trazendo mais qualidade ao ensino e oferecendo condições para os planejamentos de aulas práticas, experimentais e de campo, contextualizadas e significativas vinculando os espaços não formais a prática pedagógica escolar. Esclarecemos que sua participação é totalmente VOLUNTÁRIA e que por intermédio deste Termo são-lhes garantidos os seguintes direitos: (1) solicitar, a qualquer tempo, maiores esclarecimentos sobre esta Pesquisa; (2) sigilo absoluto sobre nomes, apelidos, datas de nascimento, local de trabalho, bem como quaisquer outras informações que possam levar à identificação pessoal; (3) ampla possibilidade de negar-se a responder a quaisquer questões ou a fornecer informações que julguem prejudiciais à sua integridade física, moral e social; (4) opção de solicitar que determinadas falas e/ou declarações não sejam incluídas em nenhum documento oficial, o que será prontamente atendido; (5) desistir, a qualquer tempo, de participar da Pesquisa. DECLARO O MEU CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO NESTA PESQUISA “Declaro estar ciente das informações constantes neste ‘Termo de Consentimento Livre e Esclarecido’, e entender que serei resguardado pelo sigilo absoluto de meus dados pessoais e de minha participação na Pesquisa. Poderei pedir, a qualquer tempo, esclarecimentos sobre esta Pesquisa; recusar a dar informações que julgue prejudiciais a minha pessoa, solicitar a não inclusão em documentos de quaisquer informações que já tenha fornecido e desistir, a qualquer momento, de participar da Pesquisa. Fico ciente também de que uma cópia deste termo permanecerá arquivada com o Pesquisador do Instituto Federal do Espírito Santo responsável por esta Pesquisa.” __________________, ____ de _____________________ de 2013. ____________________________________________________________ Assinatura do Participante Endereço:____________________________________________________________ Caso você tenha dúvidas ou necessite de maiores esclarecimentos, poderá nos contactar: Pesquisador: JOSILENE ERLACHER WERNECK MACHADO FALK Endereço: Rua Principal, Paraju, Domingos Martins – ES - Telefone: (27) 9982 1015 E-mail: [email protected] __________________________________________________ assinatura do Pesquisador . 162 APÊNDICE G – Organização da formação continuada ORGANIZAÇÃO DO CURSO EDUCAÇÃO CIENTÍFICA EM ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO FORMAIS Organização: Programa de Extensão do Instituto Federal do Espírito Santo e Programa EDUCIMAT. Apoio: Secretaria Municipal de Educação e Cultural de Domingos Martins/ES – SECEDU. Fundação de Amparo a Pesquisa do Espírito Santo – FAPES. Coordenação: Josilene Erlacher Werneck Machado Falk e Eduardo Augusto Oliveira Moscon. Apresentadores lseminários: dos Apresentador 1 Maria das Graças Ferreira Lobino Apresentador 2 Elaine Cristina Rossi Apresentador 3 Patricia Otzz Apresentador 4 Kely Araújo Ferreira Krause Apresentador 5 Luz Marina Souza, Apresentador 6 Rivana Souza Apresentador 7 Marcio Alessandro Caniçalli Apresentador 8 Marina Cadete Dias Apresentador 9 Mirian Angeli Apresentador 10 Michele Pires Carvalho Apresentador 11 Josilene E. Werneck Machado Falk Relator: Josilene Erlacher Werneck machado Falk e Michele Pires Carvalho. Secretário: Jaqueline Salles Veltem. Local dos encontros: Centro, Domingos Martins, no Auditório Coroa. Local das visitas técnicas: Escola da Ciência Física, Museu Vale, Escola da Ciência – Biologia e História de Vitória. 12 de setembro e 05 de dezembro de 2013, no horário de 8h as 17h. Período: Carga horária: 80 horas 163 APÊNDICE H – Equipe de planejamento da Exposição científico- cultural PLANEJAMENTO DE EXPOSIÇÃO CIENTÍFICO-CULTURAL PROJETO EXPOGRÁFICO COORDENAÇÃO GESTÃO PEDAGÓGICA: e Josilene Erlacher Werneck Machado Falk PROJETO EDUCACIONAL ELABORAÇÃO EQUIPE INTERDISCIPLINAR Agronomia Cecília Inácia Neves Artes Patricia Stein Neves Biologia Jakeline E. Werneck Machado Agronomia Cecília Inácia Neves Historia Elizabeth A. Christ Uliana Geografia/ Química Josilene E. Werneck Machado Falk PROJETO GRÁFICO Designer gráfico João Henrique Rocha TEXTO: Josilene Erlacher Werneck Machado Falk e Kelly Araújo Ferreira Krause. Fotografia: Josilene Erlacher Werneck Machado Falk 164 APÊNDICE I – Questões norteadoras para discussão da proposta de Espaço museal para Domingos Martins/ES LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO OS ESTUDOS SOBRE OS ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO FORMAIS, APRESENTAMOS ALGUMAS QUESTÕES PARA REFLEXÃO E REGISTRO DO GRUPO: 1- QUANTO A JUSTIFICATIVA 1. É DESEJÁVEL E NECESSÁRIO UM ESPAÇO MUSEAL/ CULTURAL EM DOMINGOS MARTINS? QUAL O TIPO DE ESPAÇO QUE PODERIA SER PENSADO? 2. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DESTE ESPAÇO? 3. JUSTIFIQUE A IMPORTÂNCIA DE UM ESPAÇO MUSEAL EM DOMINGOS MARTINS? 4. COMO A CULTURAL E CIÊNCIA PODERIAM SER CONTEMPLADAS NESTE ESPAÇO? 2- QUANTO À ESTRUTURA PEDAGÓGICA DO ESPAÇO 1. QUAIS SERIAM OS PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS DO LOCAL? 2. QUAIS ATIVIDADES PODERIAM SER DESENVOLVIDAS? O QUE O ESPAÇO PODERIA OFERECER? O QUE PODERIA SER DESENVOLVIDO EM RELAÇAO À CIÊNCIA E A CULTURA? 3. COMO SE DARIA A RELAÇÃO DOS MUSEUS COM A ESCOLA? 4. QUAIS TEMAS PODERIAM SER PENSADOS PARA EXPOSIÇÕES? 5. QUAIS SERIAM OS OBJETIVOS DE ATIVIDADES MUSEAIS EM DOMINGOS MARTINS? 3 QUANTO À LOCALIZAÇÃO 1. ONDE ESTE ESPAÇO PODERIA SE LOCALIZAR? 2. ELE SERIA FIXO? PERMANENTE OU TEMPORÁRIO? 3. EXISTE ALGUM ESPAÇO FÍSICO NO MUNICÍPIO QUE PODERIA SER DAPTADO/APROVEITADO? 5 – QUANTO A 1. É POSSÍVEL DESENVOLVER ALGUMA AÇÃO EM PROL DE UM PROJETO DESSES? 2. O QUE PENSAR SOBRE O FINANCIAMENTO E MANUTENÇÃO DE UM ESPAÇO/ATIVIDADES COMO ESSE? 3. QUAIS ALTERNATIVAS PODEM EXISTIR? 6 - QUANTO AS CARACTERÍSITICAS DO ESPAÇO 1. A - QUAIS CARACTERÍSTICAS SERIAM IMPORTANTES PARA ESTE ESPAÇO? 2. B– COM QUAIS AMBIENTES O MUSEU DEVERIA CONTAR? 3. C – O QUE DEVE SER CONSIDERADO A NIVEL DE ACESSIBILIDADE? 9- CONSIDERAÇÕES FINAIS 1. QUAIS ASPECTOS CONSIDERA IMPORTANTE INCLUIR? 165 APÊNDIDE J – Proposta de espaços museal para Domingos Martins proposta de espaço museal para Domingos Martins/ES 166 O museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens de pronto irradiadas por objetos e referenciais ali reunidos iluminam valores essenciais para o ser humano. Espaço fascinante onde se descobre e se aprende, nele se amplia o conhecimento e se aprofunda a consciência da identidade, da solidariedade e da partilha. Angelo Oswaldo de Araújo Santos (IBRAM) 167 APRESENTAÇÃO O texto que se apresenta é produto de um estudo realizado por um grupo de professores em uma formação pedagógica que buscou pensar em possibilidades de renovar o ensino de ciências no município de Domingos Martins. Para o grupo a renovação passa pela articulação de uma educação científica crítica que busque caminhos para que os estudantes entrem em contato com os fenômenos naturais e sociais e sobre eles teçam suas críticas, extraiam suas conclusões e obtenham uma postura perante a sociedade e vida. Em conformidade, o grupo entendeu que existem alguns caminhos que podem levar a desenvolver uma educação cientifica condizente com as necessidades atuais, porém, neste estudo, se optou por pensá-la no contexto de uma parceria entre a escola e museu, ao estabelecer um espaço para atividades museais no município e sugerir neste documento, alternativas para concretizar esses objetivos. O grupo entende a complexidade das ações e todos os desafios que podem existir em um processo deste tipo. No entanto, acredita que não é impossível de se realizar, pelo menos parte do projeto, pois é preciso lançar a semente, fazer existir a demanda e buscar transformar a realidade para melhor. 168 JUSTIFICATIVA Após a participação em uma formação continuada que em linhas gerais tratou da necessidade de repensarmos o ensino de ciências no contexto da educação brasileira, percebemos que em nosso município também existe a necessidade de desenvolver algumas ações para ampliar a cultura científica, tonar os cidadãos mais críticos e conscientes de sua importância para a sociedade. Assim também, é perceptível, que a ciência nos dias atuais já não é mais assunto exclusivo de cientistas e meios acadêmicos, pois não se limita a esses ambientes. Está em toda parte, no dia-a-dia de cada um, interferindo de forma positiva ou negativa. Esses assuntos então, dizem respeito a cada pessoa, que precisa estar preparada para compreender, tecer as críticas necessárias, ter uma postura diante dos fatos por meio de tomada consciente de decisão. Renovar o ensino de ciências, buscar uma educação científica crítica, não é tarefa fácil. É preciso muita perspicácia do professor e também toda uma estrutura para se desenvolver um bom trabalho. As ciências deveriam ser tratadas com mais zelo desde as séries iniciais, poderiam haver mais tempo disponível para elas nas escolas, contudo, mais investimentos nesta área. Mesmo sabendo do grande esforço da municipalidade em desenvolver uma educação de qualidade, acreditamos que há ainda muito o que se fazer para alcançarmos uma educação científica para os dias atuais. Quando pensamos em igualdade, refletimos sobre o fato de que ela não é aplicada em sua plenitude à educação. Vemos muitas crianças e professores que possuem apenas suas salas de aula e o livro didático para cursarem a educação básica. Sabemos que isso não é tudo, especialmente porque há escolas que possuem a sua disposição todo tipo de suporte educacional, tanto estrutural, como técnico e emocional, que possuem fácil acesso a locais de pesquisa. Todos têm direito a acessar as várias formas de conhecimento, de aprender e ensinar com satisfação. As escolas públicas de nossa região possuem dificuldade de aproximar as crianças ao mundo das ciências, em sua maioria, não possuem nem mesmo um pequeno laboratório onde as crianças possam dar asas a imaginação, onde possam pelo menos “brincar” de cientistas, realizar experimentos e descobertas, e sentir o gosto pela ciência e sua implicação na vida social. Sabemos que muitos encerram sua vida estudantil no ensino médio e que por esta razão talvez a escola básica seja a única oportunidade de ter contato com pesquisas, com esse mundo da ciência que ainda é tão distante da realidade deles. São coisas simples de se organizar, acreditamos que existem políticas orçamentárias para isso. Desta forma, por acreditar que os museus em estado físico/permanentes, ou em atividades temporárias/itinerantes, podem começar a suprir essas demandas, visto que, numa nova roupagem, os museus (e suas atividades contemporâneas) são ambientes de pesquisa, de aprendizado, de se divulgar a ciência, de se questioná-la, de se valorizar a cultura, de se conhecer o passado e se preparar para o futuro. Sabemos que já possuímos uma instituição museal no município, no entanto, quando vemos que o museu passou por grandes transformações, percebemos que a 169 simples contemplação/observação já deu lugar a atividades educativas extraordinárias que despertam a atenção, a curiosidade e motivam o aluno a aprender, e mais, busca fazer o visitante participar do museu. Em outras palavras o museu também evoluiu de uma educação tradicional para uma educação mais progressista. Precisamos renovar! O nosso município é riquíssimo em espaços naturais, já os exploramos com algumas dificuldades é claro. Mas poderíamos fazer muito mais. Poderíamos realizar visitas mais criteriosas a esses ambientes, lançar outros olhares e termos a disposição um lugar equipado, um local de pesquisa, uma estação de ciência, para completarmos o ciclo do trabalho, ao analisar alguma amostra, ao comparar alguma evidencia, ao corroborar alguma hipótese levantada, ao chegar a conclusões. Compreendemos que há muitas possiblidades alternativas de se trabalhar experimentos em sala de aula, com baixo custo, com materiais improvisados, em lugares improvisados. Não condenamos esta ideia. Ela é válida e a usamos. Mas será que precisa ser sempre assim? Que tipo resultados alcançamos com isso? O professor e o aluno da escola pública também são dignos de contar com uma estrutura adequada para seus trabalhos. É uma questão de justiça social. Por outro lado, não estamos falando necessariamente de equipar cada escola de forma impecável. Estamos falando de um local estratégico, um lugar de pesquisas para todas as escolas. Sendo o município de Domingos Martins, um município comprometido com seu povo e possuir grande potencial econômico, natural e cultural, acreditamos que poderíamos nos fazer ouvir, pois somos cidadãos preocupados com nossa “casa” e desejamos o bem comum. Refletimos em um grupo de estudos por um longo período e apresentamos algumas sugestões que poderiam ser apreciadas e quem sabe, contempladas. Temos consciência que queremos ir a um lugar desconhecido para o município. Não há caminhos prontos para este lugar. Contudo acreditamos que à medida que pessoas começarem a transitar por este meio, as trilhas vão gradativamente surgir. 170 PROPOSTA DE CONSTITUIÇÃO DE UM ESPAÇO MUSEAL PARA DOMINGOS MARTINS/ES ATA DE REUNIÃO PLENÁRIA DO CURSO DE FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO CIENTÍFICA EM ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO FORMAIS Às 14 horas do dia cinco de dezembro de 2013, no auditório Coroa, sito a Rua Roberto Carlos Kautsky, 234, Centro - Domingos Martins/ES, reuniram-se professores da educação básica deste município com o objetivo de elaborar uma proposta de constituição de um espaço museal em Domingos Martins/ES. Estavam presentes a coordenadora do projeto, a professora Josilene Erlacher Werneck Machado Falk, os professores Marina Cadete da Penha, Maria Lucelena Martins da Silva, Cléberson Schunk, Suellen Portes Bernardo Majeski, Geórgia Delpuppo Santos, Luciana Gonçalves Ferro Christ, Eliana da Penha Zanoni Waiandt, Jeidson Pereira de Souza e Natalia Antonia Alves Lyra. A coordenadora solicitou que os grupos envolvidos lessem suas propostas preliminares a fim de serem analisadas por todos e acatadas ou não. A relatora registrou todas as resoluções do grupo que seguem especificadas a seguir: 1) Quanto à justificativa de se constituir um espaço museal: É consenso do grupo que existe a necessidade de se criar um espaço para atividades museais no município sob as seguintes justificativas: k) Pela criação de uma parceria educativa museu-escola; l) Pela oportunidade de complementar a prática pedagógica escolar; m) Por valorizar a cultura local, tanto dos antepassados como a atual; n) Por promover a acessibilidade da comunidade em geral (não só a escolar) à ciência e tecnologia, à inovação, ao conhecimento acumulado pela humanidade; o) Pela valorização de personalidades importantes no município que contribuíram para o desenvolvimento da ciência no município, como o Sr. Roberto Anselmo Kautsky; p) Pela contribuição da imigração alemã e italiana na produção do espaço geográfico martinense; q) Pela diversidade cultural; r) Pela oportunidade de existir um lugar para se praticar ciência; s) Pelo lazer e entretenimento; t) Pelo incremento da atividade turística. 2) Quanto ao tipo de espaço: O grupo apresentou possibilidades que podem variar de acordo com algumas condições, podendo ser um espaço itinerante, temporário, virtual, um espaço no orçamento e no planejamento de atividades do município e até, por que não, um belo museu de ciência. O que se destaca é que o grupo sugeriu que políticas municipais se voltem para a temática museus, que comecem a dar voz ao discurso 171 que o museu pode proferir junto com a escola. Apresentou sugestões a curto, médio e longo prazo. A curto prazo: sugeriu averiguar o calendário de eventos do município, localizar a semana cultural, que é um evento clássico e anual, e inserir na programação uma exposição científico-cultural para receber o público em geral, mas especialmente o público estudantil. Esta exposição poderia ser planejada por profissionais do próprio município sobre temas da natureza e cultura local. A médio prazo e longo prazo: sugeriu a elaboração de um plano de ação com o propósito de constituir um museu de ciência para o município. O grupo ressaltou que, embora seja uma proposta grandiosa, ela possui fundamento e condições reais de se tornar realidade, devido ao fato do município possuir uma tradição cultural muito forte, aspectos geográficos e históricos muito ricos e um enorme potencial turístico. Também, é real o quantitativo de políticas de incentivo financeiro e apoio à cultura que estão à disposição das municipalidades necessitando atenção aos editais e seus prazos que muito frequentemente têm sido lançados. Essas políticas destinam-se tanto para projetos mais simples como para os mais ambiciosos, necessitando claro, do plano de ação em mãos. Além do Ministério da Cultura com verbas governamentais, também é possível buscar parcerias com entidades privadas que atuam junto a entidades públicas com a Renúncia Fiscal prevista na lei 8.313/91 (Lei Rouanet). O grupo também ressaltou que espaços físicos não precisam necessariamente ser totalmente construídos, pois é usual neste meio, que espaços que já não possuem a serventia para que foram projetados no passado possam ser adaptados à um museu. Os editais também contemplam esta ação. 3) O espaço a partir do ponto de vista filosófico e pedagógico. É consenso do grupo que independente das atividades desenvolvidas, se serão temporárias ou permanentes, o aspecto pedagógico e filosófico precisa ser levado em consideração. Assim, acreditam que de acordo com o tipo de espaço é necessário verificar algumas necessidades pedagógicas, como a seguir: a)Em ambos os casos, os pressupostos pedagógicos poderiam ser norteados por uma abordagem histórico-crítica, visando a formação integral do ser humano, estimulando o seu potencial critico e decisório na tomada de decisões, como também valorizar o homem com um ser histórico, reacendendo seu compromisso com a sua própria história passada e futura; b)Em ambos os casos, seria priorizada a relação entre as atividades museais e os espaços escolares, estabelecendo uma parceria educativa. Ampliando o acesso ao conhecimento, a pesquisa. Potencializando o trabalho de ambos; c) Em ambos os casos, a comunidade em geral seria valorizada, pelo saber que possuem, que está embutido nos seus costumes, tradições, objetos, fotografias, documentos, e em sua história oral. Assim também, poderia se valorizar os artistas locais gerando exposições de suas obras; d) Em ambos os casos, o conhecimento científico seria valorizado, que de forma contextualizada teria sentido e significado para a sociedade. Estaria a 172 173 CONSIDERAÇÕES FINAIS Queremos deixar o conceito de museu de acordo com a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que instituiu o Estatuto de Museus, onde diz que “Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. E também, queremos oferecer orientações para fomento e financiamento de museus, que sempre nos pareceu como algo mais complexo de se resolver. Assim, para o financiamento a projetos no setor museológico existem atualmente três alternativas principais: apoio direto realizado pelo Ministério da Cultura e suas vinculadas (através do Ibram) com recursos do Orçamento Geral da União (OGU); por meio de Emendas Parlamentares ao próprio Orçamento e por meio de Renúncia Fiscal por meio da Lei 8.313/91. Assim, é importante prestar atenção: 1. O IBRAM, periodicamente publica Editais para fomento ao setor museológico. No site do IBRAM pode se encontrar todos os editais já publicados pelo Instituto. São prêmios e chamamentos públicos para conveniamento. 2. As emendas parlamentares ao Orçamento Geral da União são discutidas geralmente entre 31 de agosto e 22 de dezembro de cada ano, quando o Congresso Nacional analisa a proposta orçamentária para o ano seguinte. Caso o parlamentar consiga incluir o projeto no orçamento, e havendo disponibilidade financeira, poderá ocorrer a celebração de um convênio entre a entidade e a União. 3. A Renúncia Fiscal é prevista na lei 8.313/91 (Lei Rouanet) e consiste na apresentação de projetos a patrocinadores que poderão deduzir os recursos efetivamente aplicados do seu Imposto de Renda. Para tanto, o projeto deverá ser apresentado pela plataforma SalicWeb, que se encontra na página do Ministério da Cultura. Após ser analisado e aprovado, o projeto será autorizado a captar os recursos para sua execução. O projeto deve ser detalhado e possuir uma previsão fundamentada de todos os custos. Recomenda-se uma leitura das informações constantes no site do IBRAM, onde se encontram as informações necessárias para orientar na apresentação de projetos. 4. No site do IBRAM encontram-se publicações que orientam a criação de museus municipais, o que nos faz constatar que não se algo fora de nossa realidade. Existe um intuito do MinC em incentivar a criação de museus no município, estão nos oportunizando, precisamos nos preparar para abraçar essas oportunidades. 5. Todos os anos muitos editais não são aproveitados por falta de projetos. Muitas vezes, as entidades perdem o prazo, pois não conseguem concluir o projeto a tempo. Sugerimos nesse caso, antecipar-se, deixando um projeto preliminar pronto e adequá-lo ao edital vigente do período. 174 6. A construção deste projeto precisa contar com profissionais especializados que compreendem o campo da museologia e da educação, uma vez que é desejável que se estabeleça essa parceria. 7. Sugestões de sites para consultas: https://www.museus.gov.br/os-museus/ http://www.cultura.gov.br/editais 175 APÊNDICE K – Ofício de encaminhamento da proposta de espaço museal à Prefeitura Municipal de Domingos Martins – ES. 176 ANEXO A - Oficio de autorização de pesquisa nas escolas municipais de Domingos Martins – ES 177 ANEXO B – Ofício encaminhado pela PMDM