aon monopol

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aon monopol
ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DO MERCADO SEGURADOR
ANO 90 Nº892 JANEIRO/ FEVEREIRO/ MARÇO DE 2015
O RESSEGURO
NO BRASIL
Grandes
desafios e
oportunidades
ainda maiores
4º Encontro de resseguro vai reunir lideranças para o debate
Em entrevista exclusiva, Inga Beale, CEO do Lloyd’s of London, reconhece o potencial
da indústria brasileira e reafirma o interesse da instituição em investir nesse mercado
sumário
05
Inga Beale, primeira mulher
a liderar o mercado de Londres,
diz que Brasil é foco importante
para o Lloyd’s. Ela estará no Rio
para o encontro de resseguros.
No mundo
Mercado global de resseguros
representa uma força financeira
da ordem de US$ 240 bilhões e
avança em ritmo acelerado. O
Brasil responde por cerca de 1%.
34
08
ENTREVISTA
14
Cenário Brasileiro
Sete anos após a abertura,
o mercado ressegurador vive
um momento de maturidade
e encara desafios, como as
condições econômicas do País.
Regulamentação
Formado por empresas de vários
portes, estratégias e origens, o
mercado brasileiro de resseguros
não consegue chegar ao consenso para promover mudanças.
38
Consumidor
Jovem em comparação às décadas de monopólio, o mercado
livre no Brasil tem ainda muito a
evoluir para garantir o fortalecimento da proteção contra riscos.
32
Novos produtos
O País começa a conhecer algumas modalidades de proteção
inovadoras. Há uma gama de
novos produtos para o risco
tradicional, mas também para os
chamados riscos emergentes.
EXPEDIENTE
REVISTA DE SEGUROS
Órgão de divulgação do mercado segurador
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REVISTA DE SEGUROS • 03
editorial
Cenário
econômico não
inibe otimismo no
resseguro
Por ÂNGELA CUNHA, Editora Executiva
a
s incertezas que deixam
nublado o cenário econômico nacional não reduziram
o interesse dos grandes resseguradores internacionais no Brasil. O
número de resseguroras autorizadas
Resseguro: apoiando
o desenvolvimento
O 4º Encontro de Resseguro do Rio de
Janeiro, que acontecerá nos dias 14 e
15 de abril de 2015, no Hotel Sofitel,
em Copacabana, é fruto de parceria
entre a CNseg, Federação Nacional
das Empresas de Resseguro – Fenaber
e a Escola Nacional de Seguros – ENS.
O encontro reunirá seguradoras,
resseguradoras, corretoras de
resseguro, escritórios de advocacia,
prestadores de serviços e grandes
consumidores, que terão a oportunidade de discutir temas de relevante
importância para o mercado.
Na programação, resseguro paramétrico, novos produtos financeiros,
proteção de portfólio, retrocessão
para seguradoras, necessidade de
capital, perspectivas econômicas do
Brasil, cenário energético brasileiro,
entre outros temas.
04 • REVISTA DE SEGUROS
a operar no País pela Susep - aproximadamente 120, entre admitidas,
eventuais ou locais –, apenas sete
anos após a regulamentação da
abertura, dá a exata dimensão das
perspectivas deste mercado.
O volume de negócios é expressivo. De
abril de 2008, quando o novo modelo
passou a vigorar, a dezembro do ano
passado, a receita anualizada do mercado de resseguros brasileiro cresceu
150%, passando de R$ 3,8 bilhões
para aproximadamente R$ 9,5 bilhões.
Esses números reforçam, entre
especialistas e executivos do setor,
a convicção de que há espaço para
crescer ainda mais nos próximos
anos, embora não devam ser ignorados os obstáculos que inevitavelmente serão enfrentados ao longo dessa
trajetória em função das dificuldades
que o País atravessa.
Não por acaso, portanto, a necessidade de superar tais desafios para
aproveitar em sua plenitude as inúmeras oportunidades que já existem
ou estão para surgir é, inclusive, tema
central do 4º Encontro de Resseguro,
que será realizado no Rio de Janeiro
(veja Destaque).
A relevância desse evento pode ser
medida, entre outros fatores, pela
atualidade das questões pautadas
pelos organizadores. Do imprescindível desenvolvimento do mercado de
energia no Brasil até as perspectivas
para a economia brasileira a curto e
médio prazos, passando pela transferência de riscos através do mercado
de capitais e a necessidade de capital
no resseguro, a programação busca
arquitetar um contexto que facilite o
entendimento do cenário atual e delineie um traçado que pode ser seguido com maiores chances de sucesso.
A CNseg acompanha atentamente o
crescente interesse pelo resseguro no
Brasil e não são poucos os debates
sobre o tema que promove, por meio
da sua Comissão de Resseguro ou de
eventos como o encontro de abril.
Dessa forma, a CNseg cumpre sua
missão de contribuir para o desenvolvimento do mercado de seguro e
de resseguro no Brasil, pilar indispensável na retomada do crescimento
econômico sustentável do País, seja
como suporte para as grandes obras
e projetos de infraestrutura, como gerador de expressiva poupança interna
ou investidor institucional.
E a saudável concorrência entre os
players internacionais de resseguro,
cada dia mais numerosos no Brasil,
onde chegam atraídos pela diversidade
econômica, comercial e industrial, entre
outros fatores, faz desse segmento um
ator importante no processo, por trazer
para o mercado local novos produtos
e serviços, maior qualificação e boas
práticas internacionais.
Boa leitura.
entrevista
O Brasil é um
foco importante
para o Lloyd’s
Por DENISE BUENO
Divulgação Lloyd’s
I
nga Beale se tornou a primeira
mulher a liderar o mercado de
Londres no início de 2014, ao
assumir o cargo de CEO do Lloyd’s
of London, uma instituição com 326
anos. O desafio é comandar uma
organização complexa, que conta
com 94 sindicatos e 57 investidores
responsáveis por assumir os mais
variados riscos. A executiva é especialista em análise de risco, tem
vivência internacional para atender
clientes cada dia mais globalizados
e profundo conhecimento da complexa estrutura do Lloyd’s.
Inga tem dedicado boa parte de
seu tempo à abertura de novos
escritórios e a ampliação do leque
de produtos nos países em que o
Lloyd’s está presente, inclusive o
Brasil. Para isso, ela está de viagem marcada ao País, onde participará do 4º Encontro de Resseguro
do Rio de Janeiro, que será realizado pela CNseg em parceria com
a Federação Nacional de Empresas
de Resseguro – Fenaber e a Escola
Nacional de Seguro – ENS, entre
os dias 14 e 15 de abril. Leia a seguir a entrevista exclusiva que ela
concedeu à Revista de Seguros:
REVISTA DE SEGUROS • 05
entrevista
Como a senhora se sente sendo a
primeira mulher CEO do Lloyd’s?
O Lloyd’s é realmente único no
mundo de seguros, uma instituição
incrível, com uma história que se
estende por 326 anos. Tenho orgulho de ser CEO num mercado que
foi pioneiro em oferecer seguros de
automóveis nos Estados Unidos,
dar cobertura para satélites e para
riscos cibernéticos. Quando recebi
a proposta para o cargo, não hesitei nem um segundo. Estava muito
feliz na Canopius, empresa em que
trabalhava anteriormente, mas vi
o Lloyd’s como um desafio e uma
oportunidade incrível.
O Lloyd’s já é o
segundo maior
ressegurador de
riscos brasileiros
e agora busca
opções mais
amplas de acesso
para apoiar
ainda mais o
crescimento do
Brasil.
Inga Beale
06 • REVISTA DE SEGUROS
Na sua avaliação, a escolha se deu
por ser mulher e representar uma
inovação num mercado de seguros
de mais de três séculos?
Acredito que minha experiência
internacional e o fato de eu conhecer profundamente o formato
de negociação do Lloyd’s me
qualificaram para o cargo. Tenho
consciência de que sou vista
como exemplo e fico contente
com a responsabilidade. É importante ter uma equipe diversificada
na mesa de negócios – não apenas em questão de gênero, mas
também de cultura e idade. Uma
equipe variada pode não ser fácil
de administrar em alguns casos,
mas oferece muito mais benefícios. Especialmente para uma
entidade inovadora, que opera
globalmente, como o Lloyd’s, é
crucial a análise dos acontecimentos a partir de várias perspectivas,
o que nos leva a refletir sobre as
várias facetas dos clientes.
Conte-nos um pouco sobre
sua carreira...
Comecei no mercado de seguros
como subscritora trainee de contratos de resseguro na Prudential de
Londres. Em 2006, me tornei CEO
do grupo Converium, da Suíça (agora parte do grupo SCOR), depois
de passar 14 anos na GE Insurance Solutions em vários cargos de
gerência de subscrição. Em 2008,
fui para o Zurich Insurance Group
como membro do Conselho de Gestão do Grupo e, antes de assumir
a posição de CEO do Lloyd’s em
janeiro de 2014, eu atuava como
CEO na Canopius, um agente gestor proeminente no Lloyd’s.
O que a atraiu no mercado
de seguros?
Eu fiz um estágio no departamento atuarial da Prudential, que me
ajudou a conquistar o posto de
subscritora trainee alguns anos depois. O mercado de Londres era tão
cheio de vida, comparado à cidade
pequena onde cresci, e me parecia
o lugar ideal para alavancar minha
carreira. Essa vibração combinada
com a natureza global do mercado
de resseguros foi o que me atraiu.
O que mais a agrada hoje no
mercado de seguros e na posição
em que se encontra?
O resseguro se encontra por trás
de tudo que acontece no mundo,
ajuda pessoas, negócios e países
a crescer e progredir. Mais do que
qualquer outra coisa, eu gosto do
fato de que as relações entre pessoas estão no centro de tudo o que
fazemos no mercado de seguros –
pessoas são importantes. Estou no
O deslocamento
no equilíbrio da
atividade econômica
global previsto
para as próximas
décadas representa
oportunidades que
o mercado precisa
responder.
Inga Beale
Lloyd’s há pouco mais de um ano
e, sem dúvida, tem sido fantástico.
Está sendo incrivelmente excitante,
um pouco difícil em alguns momentos, mas é mais do que eu poderia
ter sonhado para minha carreira.
Estou muito entusiasmada.
Como foi o ano de 2014 para os
negócios do Lloyd’s?
Orgulho-me em dizer que o mercado do Lloyd’s apresentou um quadro
excelente no resultado semestral
de 2014, o que se deve em grande
parte aos subscritores qualificados
de seus sindicatos. Alinhado com a
expansão de sua presença global, o
Lloyd’s conseguiu uma licença para
oferecer seguros diretos em Pequim. Recebemos aprovação para
abrir um escritório de representação
no México e vamos abrir um novo
escritório em Dubai. No entanto,
as condições são desafiadoras no
momento, existe uma série de pressões afetando o mercado, como
baixas taxas de juros e um influxo
de capital pressionando os preços.
Mas nossa inovação contínua, combinada com uma supervisão robusta
e solidez financeira, permite que
o mercado do Lloyd’s esteja bem
posicionado para enfrentar essas
condições desafiadoras.
atingir novos negócios, à medida que
os mercados de seguros se desenvolvem nessas economias.
Que oportunidades a senhora vê para
o mercado de seguros em 2015?
O crescimento de economias emergentes, como o Brasil, a China e
a Índia, e a revolução digital estão transformando o mercado de
seguros. O Lloyd’s e o mercado de
Londres estão em posição favorável para aproveitar as oportunidades apresentadas por economias
atualmente subseguradas, mas em
alto crescimento ao redor do mundo. Estamos avaliando como usar
a tecnologia para melhorar nossos
processos e tornar a colocação de
negócios no mercado do Lloyd’s tão
eficiente e atraente quanto possível.
Quais são as maiores
oportunidades para o mercado
do Lloyd’s no mundo?
Existem muitas oportunidades para
o Lloyd’s no momento. Sempre estivemos na vanguarda da inovação
e isso vai continuar, pois o cenário mundial de riscos está sempre
em mudança. Estaremos sempre
buscando oferecer novos tipos de
cobertura para os riscos mais intangíveis que os negócios enfrentam.
Estamos continuamente expandindo
nossa presença global e fazendo
jus a nossa marca mundialmente
reconhecida e confiada.
Qual é a sua visão sobre
mercados emergentes?
O crescimento internacional e a
expansão nos mercados em desenvolvimento continuam no centro da
estratégia do Lloyd’s - Visão 2025.
O deslocamento no equilíbrio da
atividade econômica global previsto
para as próximas décadas é uma
das mudanças mais significativas
e representa oportunidades que o
mercado precisa responder. Depender de negócios de resseguro entre
fronteiras fluindo para Londres não
irá atingir, por si só, nossas expectativas de visão para o futuro, que é
ser o centro global de seguros e resseguros especializados. Aumentar a
participação do Lloyd’s em negócios
de seguros nos mercados em desenvolvimento também é necessário. O
papel dos corretores em Londres e
nos mercados locais é a chave para
E no Brasil?
O Brasil é um foco importante para
o Lloyd’s porque oferece um significativo potencial de longo prazo para
o mercado. O Lloyd’s já é o segundo
maior ressegurador de riscos brasileiros, e o maior ressegurador estrangeiro no País, com uma significativa
fatia de 12% no mercado de resseguros, apesar de estar licenciado
apenas como ressegurador admitido.
O Lloyd’s agora busca opções mais
amplas de acesso para apoiar ainda
mais o crescimento do Brasil. O
escritório de representação do Lloyd’s
Brasil no Rio de Janeiro foi estabelecido em 2008 e hoje conta com a
presença permanente de 11 sindicatos: Ace, ANV, Argo, Beazley, Catlin,
Hiscox, Kiln, Liberty, Markel, Navigators e Starr. O Lloyd’s está buscando
aumentar ainda mais seu negócio, à
medida que o mercado de resseguros
brasileiro continua a crescer. n
REVISTA DE SEGUROS • 07
CENÁRIO BRASILEIRO
Desafios
para o futuro
do resseguro
Por CARLOS MONTEIRO
Resseguradoras passam por um período de estabilidade,
mas o cenário econômico, baseado em fatores como alta
de juros e inflação, inspira cuidados.
s
ete anos após sua abertura,
com a entrada em vigor da
Resolução nº 168/07, do
CNSP, o mercado ressegurador brasileiro vive um momento de maturidade
e encara velhos desafios, como as
condições econômicas do País e as
novas características dos riscos.
Há um consenso entre os executivos
do mercado ressegurador brasileiro,
composto por cerca de 120 empresas, distribuídas entre 16 locais, 30
admitidas e a maioria de eventuais, de
que este é um período de estabilidade
para as resseguradoras, mas que inspira cuidados, principalmente devido
ao cenário econômico.
No bojo da abertura, com o incremento da capacidade das seguradoras
para concessão de seguros em âmbito nacional, veio a concorrência, responsável por trazer novos produtos,
maior qualificação, práticas internacionais e geração de empregos. Grandes
transformações resultaram deste
processo, bem como a chegada de
08 • REVISTA DE SEGUROS
dezenas de players internacionais.
O presidente da Federação Nacional
de Empresas de Resseguros - Fenaber, Paulo Pereira, faz um balanço da atuação da entidade para o
amadurecimento do setor e lembra
que a Fenaber contribuiu com a sistematização da legislação adotada
no País. “Nós, associados, juntamos
forças e demos sugestões de forma
uniformizada. A concordância da
Susep com cerca de 80% destas
sugestões mostra que nossa contribuição foi importante”, salienta.
Crescimento real
Os dados da Fenaber indicam que
o setor de fato cresceu em termos
reais. De abril de 2008 a dezembro
de 2014, o mercado de resseguros
brasileiro mais do que dobrou de tamanho, passando de R$ 3,8 bilhões
para R$ 9,5 bilhões. Para Pereira,
a profissionalização do mercado foi
um fator que fez a diferença nesse
período. “Mais importante do que
o crescimento é o fato de termos
profissionais de resseguros com capacidade mais do que suficiente para
atender ao mercado”, acredita.
Segundo o executivo, a chegada de
profissionais do mercado financeiro
contribuiu com a adoção de melhores práticas, pois trouxe uma política
de pessoal diferenciada. Paralela-
Ou as empresas
investem pesado
em treinamento ou
acabam tendo que
trazer profissionais
de fora. Os bons são
sempre disputados
internamente.
Paulo Pereira
mente ao ‘sangue novo’ injetado no
resseguro brasileiro, o treinamento
também contribuiu para os bons
resultados. “Passamos por um
período de muitos problemas com a
falta de pessoal. Hoje o movimento
é bem diferente, pois as empresas
ou investem pesado em treinamento
ou acabam tendo que trazer profissionais de fora. Os bons são sempre
disputados internamente”, analisa.
O presidente da Comissão de Resseguro da CNseg, Wady Cury, avalia
que, nesses sete anos, um dos
maiores avanços ocorreu nas práticas de administração. “Saímos da
gestão de regras para uma gestão
conceitual, de reflexão. Foram anos
de aprendizado, em que cometemos
erros, porém, tivemos muitos acertos
também”, recorda.
Segundo Cury, durante o período
de amadurecimento, as vantagens
competitivas brasileiras foram reveladas. “O mercado não conhecia bem o
Brasil, mas nos descobriu, junto com
nossa qualidade técnica e nossos
riscos. O País atrai o interesse das
maiores empresas mundiais pelas
oportunidades representadas por sua
dimensão e diversidade econômica,
comercial e industrial”.
Rosane Bekierman
Momento delicado
A combinação de fatores como baixo
crescimento econômico, alta de juros
e do dólar, inflação, desemprego e
aumento de impostos e de preços
controlados (luz, água,
gasolina e transportes), prevista para
este ano, tem impacto
sobre o mercado de
resseguros. Para a
Fenaber, o momento
econômico é delicado, mas a situação
não terá o efeito de
paralisar o setor.
“Certos investimentos o governo não
vai deixar de fazer, principalmente
os relacionados à infraestrutura. E
o resseguro será necessário tanto
para grandes projetos de engenharia,
como, e principalmente, para riscos
patrimoniais”, acredita.
O executivo estima em dois anos o
prazo para que a situação encontre um equilíbrio. “Será um tempo
de ajustes, de medidas amargas,
em que talvez não consigamos
crescer tanto como antes”, prevê.
Mesmo com a investigação de emprei-
O Brasil atrai o interesse das maiores
empresas mundiais
pelas oportunidades
representadas por sua
dimensão e diversidade
econômica, comercial
e industrial.
Shutterstock
teiras envolvidas na Operação Lava
Jato, da Polícia Federal, Pereira pondera que haverá soluções para que o
País continue se desenvolvendo. “Temos outras empreiteiras trabalhando,
que podem servir de substitutas, vir a
ocupar um espaço que não ocupavam
antes, e até empresas estrangeiras. O
importante é os investimentos serem
mantidos”, indica.
O presidente do IRB Brasil Re, Leonardo Paixão, que ocupa assento na
vice-presidência da Fenaber, concorda que 2015 será um “ano difícil, de
ajustes”. O executivo avalia, porém,
que nos últimos anos, houve avanços
sociais e econômicos. “O resseguro,
por ser um negócio global, está mais
acostumado aos picos e vales da
economia. O Brasil vai se desenvolver cada vez mais, depois do freio de
arrumação”, acredita.
Rumo necessário
Wady Cury também é otimista em
relação ao futuro, apontando as
Wady Cury
REVISTA DE SEGUROS • 09
CENÁRIO BRASILEIRO
próprias características do mercado ressegurador. “O setor tem uma
natureza de flexibilidade. Estamos
acompanhando o desempenho da
economia mundial na última década,
vencendo desafios, e nos adaptando
às dificuldades e mudanças”.
Cury acredita que já é consensual
que não há resseguro se não há
seguro. “O investimento em obras não
haveria sem resseguro. As grandes
seguradoras estão por todo o mundo.
Basta o Brasil se ajustar e buscar o
rumo necessário”, conclui.
Como solução para tempos de crise,
o executivo aponta o investimento em
nichos que ainda não são explorados,
principalmente os ligados à infraestrutura, além de criação de produtos.
Entre os nichos, Cury destaca os
resseguros financeiros e o risco cibernético ou riscos eletrônicos.
“O Brasil já tem um conhecimento
global no mundo, o que permitiu uma
curva de aprendizado que garante
flexibilidade frente ao cenário atual. De
É preciso revisitar
a legislação para
permitir uma
atuação mais
eficiente das resseguradoras locais na
aceitação de riscos
do exterior.
Marcelo Mansur
10 • REVISTA DE SEGUROS
uns anos para cá, estamos sofrendo com mais frequência catástrofes
naturais, que podem ter impacto, por
exemplo, na agricultura”, completa.
Catástrofes naturais
Em muitos países, a indústria de
seguros e, especificamente, as resseguradoras, vêm se confrontando
com novos cenários de impacto que
não são provocados por catástrofes naturais. Atentados terroristas,
mudanças climáticas antrópicas e
também a crise dos mercados financeiros têm conturbado as sociedades e suas instituições.
A Fenaber defende que a operação
do resseguro, com sua característica
internacional por excelência, permite
que responsabilidades sejam pulverizadas em países diversos, dispersando os prejuízos nas ocorrências de
sinistros, especialmente aqueles de
natureza catastrófica.
O movimento de internacionalização,
aliás, é um dos maiores trunfos do IRB
Brasil Re, sete anos depois de ter deixado de responder pelo monopólio do
resseguro no Brasil e dois anos após
sua privatização. A retomada do crescimento no mercado interno fez com
que o IRB começasse a trilhar sua
expansão internacional, que privilegia,
num primeiro momento, os mercados
da América Latina e da África.
No continente latino-americano, o IRB
inaugurou sua sucursal em Buenos Aires, em setembro de 2011, com uma
equipe composta basicamente por
profissionais locais. Na África, o ressegurador participou de um aumento
de capital promovido pela African
O resseguro é
um negócio global
e está acostumado
aos picos e vales da
economia. O Brasil vai
se desenvolver ainda
mais, depois do freio
de arrumação.
Leonardo Paixão
Reinsurance Corporation – Africa Re,
adquirindo 4,8% do capital da companhia e desenvolvendo uma parceria
de negócios voltada para o continente africano. “A atuação na Ásia está
crescendo, bem como na África. É um
cenário motivador, o que nos leva a
expandir internacionalmente”, afirma
Leonardo Paixão, presidente do IRB.
A partir de 2007, a empresa passou
a vivenciar uma nova fase de sua
história, que vem sendo marcada por
profundas transformações: as políticas internas foram revisadas e os
guidelines e taxas para aceitação de
riscos, atualizados. A estrutura organizacional foi adaptada ao novo tempo
e a área de TI, modernizada. São
mudanças que conferem agilidade e
criatividade às soluções para os desafios do negócio. “O IRB passou de um
problema de ideologia, para mais uma
questão de sobrevivência. O desenho
do monopólio gera grandes custos”,
comenta.
Abertura de capital
Para o futuro, as metas são a abertura de capital do IRB e a intensificação
do investimento internacional. Para
Shutterstock
empreendê-las, o instituto ampara-se em um lucro líquido de R$ 601,5
milhões, registrado em 2014, 72,5%
maior que o do ano anterior; e num
volume de prêmios emitidos de R$
3,2 bilhões (18,6% maior em relação
ao mesmo período). O desempenho
resultou num market share de cerca
de 34%, o que garantiu, segundo o
IRB, a manutenção de sua liderança
no mercado nacional de resseguro.
Ainda na seara da internacionalização, o advogado Marcelo Mansur,
sócio de Seguros, Resseguros e Previdência do Mattos Filho, escritório de
reconhecida atuação na área jurídica
relacionada a resseguro, avalia que
ainda há aspectos na legislação que
podem ser melhorados.
“É preciso revisitar a legislação para
permitir uma atuação mais eficiente
das resseguradoras locais na aceitação de riscos do exterior, facilitando a
atuação destas como hubs regionais
de resseguro. Seria mais importante
uma revisão das regras cambiais e
fiscais aplicáveis, do que efetivamente
das ressecuritárias”, acredita.
O advogado, no entanto, descarta a
necessidade de novas normas. “A regulamentação ressecuritária deve ser
minimalista. O mais importante é se
ter clareza sobre a interpretação que
o regulador tem destas normas e uma
garantia de que a aplicação será feita
de uma forma consistente”, conclui.
Contenção
financeira
O risco de crimes cibernéticos e falhas
de TI também continuam a crescer rapidamente, entrando pela primeira vez
no top 5 do ranking (em 2014, eles
ocuparam a 8ª posição, e em 2013, a
15ª). Apesar desse aumento, muitas
empresas estão subestimando os diferentes impactos, segundo 73% dos
entrevistados – e, em muitos casos,
por motivo de contenção financeira.
A pesquisa foi feita com mais de 500
analistas de risco e especialistas em
seguro corporativo da Allianz e de
outras companhias globais em 47
países. De acordo com o levantamento, a combinação de novos riscos econômicos e regulatórios relacionados
à tecnologia cria uma ameaça sistêmica para as empresas globais. Para
responder a esses desafios, a Allianz
sugere que as companhias façam
controles internos mais fortes e uma
gestão de risco holística dos negócios.
“A crescente interdependência de
indústrias e processos significa que
os negócios estão cada vez mais
sujeitos a cenários desfavoráveis.
Assim, os efeitos negativos podem se
multiplicar rapidamente, com um risco
criando diversos outros. Catástrofes naturais ou ataques cibernéticos
podem interromper os negócios de
setores inteiros ou de infraestrutura
crítica”, afirma Chris Fischer Hirs,
CEO da AGCS, conforme comunicado divulgado pela companhia.
Cenários
desfavoráveis criam
novas dificuldades
Estudo divulgado pela Allianz Global Corporate & Specialty - AGCS
trouxe números sobre a incidência dos maiores riscos para os
negócios em 2015. Segundo o
quarto relatório Barômetro de
Risco da AGCS, o ambiente de
negócios enfrenta novas dificuldades graças ao surgimento de
vários cenários desfavoráveis
num mundo corporativo cada vez
mais integrado.
De acordo com o estudo, os
maiores riscos para as empresas
ao longo do ano serão as interrupções bruscas nos negócios
e falhas na cadeia de suprimentos (46%), catástrofes naturais
(30%) e incêndios e explosões
(27%). Os perigos cibernéticos
(17%) e políticos (11%) foram os
que mais subiram no ranking, e
continuam a preocupar os especialistas. Por sua vez, a perda de
reputação (61%) e a interrupção
nos negócios (49%) após um
incidente são vistas como as
principais causas de prejuízos
para as empresas.
REVISTA DE SEGUROS • 11
CENÁRIO BRASILEIRO
Encontro debaterá
temas importantes
para o setor
Os desafios, temas técnicos e futuro do mercado de resseguros brasileiro serão debatidos no 4º Encontro de Resseguro do Rio de
Janeiro, que acontece nos dias 14 e 15 de
abril, no hotel Sofitel Rio, em Copacabana.
Entre os assuntos tratados, estão o desenvolvimento do mercado de energia no
Brasil, o desenvolvimento sustentável do
agronegócio e os desafios e oportunidades
na América Latina. O evento é realizado
em parceria pela CNseg, Fenaber e Escola
Nacional de Seguros. n
Programação*
Dia 14/04/2015 - Manhã
Dia 15/04/2015 - Manhã
08h às 08h30
Credenciamento
08h30 às 9h
Credenciamento
08h30 às 09h
Cerimônia de Abertura
09h às 10h30
Palestrante: Coord. de Mesa: Debatedor: Plenária I
O Desenvolvimento do Mercado de Energia no Brasil
Rafael Schechtman | CBIE - Centro Brasileiro de
Infra Estrutura
José Carlos Cardoso | IRB Brasil Re
Vinicius Bergamaschi | ACE Seguros Soluções Corporativas S/A
09h às 10h30
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor:
Plenária IV
Perspectivas do século 21
Claudio Contador | Escola Nacional de Seguros
Paulo Vicente | Fundação Dom Cabral
a definir
10h30 às 11h
Coffee Break
10h30 às 11h
Coffee Break
11h às 12h30
Palestrante: Palestrante: Coord. de Mesa: Plenária II
Economia Brasileira a Curto e Médio Prazo
José Júlio Senna | FGV e MCM Consultores Associados
Affonso Celso Pastore | Economista
William Waack | Jornalista
11h às 12h30
Palestrante:
Coord. de Mesa:
Plenária V
Desafios e Oportunidades: a Atração da América Latina
Michel Liès | Swiss Re
Patrick Larragoiti | Sul América
12h30 às 14h
Almoço
12h30 às 14h
Almoço
Dia 14/04/2015 - Tarde Técnica
14h às 16h
Mesa Redonda Agrícola
Coord. de Mesa: Joaquim Francisco Rodrigues César Neto | Porto Seguro
Cia. de Seguros Gerais
Wady José Mourão Cury | Grupo Segurador BBMapfre
Palestrantes: Eduardo Porcel | Trans Re Panamá
Angelo Gemignani | Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável do Agronegócio (IBDAgro)
Bruno Valentim | Austral Re
Debatedor: Dia 15/04/2015 - Tarde Técnica
14h às 16h
Coord. de Mesa: Debatedores: Mesa Redonda Jurídica
Aspectos Jurídicos da Regulação de Sinistros
Sérgio Ruy Barroso de Mello | Pellon & Associados Advocacia
Carlos Velloso | IRB Brasil Re
Marcelo Mansur | Mattos Filho Advogados
Patrícia Godoy | Aon Service Corporation
14h às 15h
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico III
Transferência de Risco através de Mercado de Capitais
André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A
Craig Hupper | Capital Partners
Rodrigo de Souza Lobo Botti | Terra Brasis Resseguros
14h às 15h
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico I
Necessidade de Capital
Alexandre Leal | CNseg
José Alberto Rodrigues Pereira | Susep
Frederico Knapp | Swiss Re
15h às 16h
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico IV
Resseguro Paramétrico
André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A
Florian Kummer | Swiss Re
Rodrigo Protasio | JLT Re Brasil
15h às 16h
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedores:
Painel Técnico II
Retrocessão para Seguradoras
Alexandre Leal | CNseg
Diogo Ornellas Geraldo | Susep
Eduardo Menezes | Bradesco Auto/Re
Rodrigo de Souza Lobo Botti | Terra Brasis Resseguros
16h às 16h30
Coffee Break
16h às 16h30
Coffee Break
16h30 às 18h30
Coord. de Mesa: Palestrantes: Plenária III
Assuntos Correntes de Resseguro no Brasil
Paulo Eduardo de Freitas Botti | Terra Brasis
> Ratings do Mercado Segurador e o Risco País Tina Bukow | A.M. Best
> Presente e Futuro do Resseguro no Brasil João Francisco Silveira Borges da Costa | HDI Seguros S/A
18h30 às 19h30
Coquetel
12 • REVISTA DE SEGUROS
16h30 às 17h30 Painel Técnico V
D&O
Coord. de Mesa: Thabata Najdek | Allianz Seguros
Palestrantes:
Fábio Torres | TM Law Torres, Marcelino & Advogados Associados
Daniel Veiga| IRB Brasil Re
Debatedor:
Gustavo Galrão | Argos Seguros Brasil S/A
16h30 às 17h30
Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico VI
Proteção de Portfólio
André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A
Alexander Gollin | Hannover Re
Nilton Rafael Haiter | Tokio Marine Seguradora S/A
* SUJEITO A ALTERAÇÃO
NO MUNDO
Um gigante em
crescimento
Por LARISSA MORAIS
Shutterstock
Mercado global de resseguros movimenta
US$ 240 bilhões e avança em ritmo acelerado.
Brasil responde por pouco mais de 1%.
Ao assumir riscos
de indivíduos e
empresas, as
resseguradoras
provêm proteção
financeira e,
assim, estabilidade
econômica e social a
um país.
Margo Black
Os percentuais de crescimento, contudo, enchem os olhos dos principais
operadores globais: 26,3%, em 2013,
e 16,6%, no ano passado.
O
mercado internacional de resseguros representa uma força financeira
da ordem de US$ 240 bilhões e
está com o pé no acelerador. O relatório
que no fim do ano passado divulgou resultados consolidados de 2013 apontou
um crescimento de 5,7% em relação ao
ano anterior – praticamente duas vezes o
avanço do PIB mundial no mesmo ano,
que foi de 2,4%.
O Brasil não responde por um volu-
14 • REVISTA DE SEGUROS
me representativo desse montante,
mas vive uma expansão ainda mais
acentuada. Dados da Superintendência de Seguros Privados - Susep,
autarquia governamental que regula
o mercado segurador e ressegurador no País, mostram que em 2013
o volume de prêmios foi de R$ 7,24
bilhões, cerca de US$ 3,1 bilhões pela
cotação do dólar na época – o que
representa 1,3% do volume mundial.
Mercado estratégico
Considerado um mercado estratégico
e com enorme potencial de crescimento e desenvolvimento, o País já
reúne 36 dos 40 maiores grupos de
resseguradoras mundiais. Das dez
maiores, todas estão aqui. Até 2007,
o mercado estava nas mãos de uma
única empresa estatal, o IRB. Com o
fim do monopólio, as resseguradoras internacionais também puderam
disputar o mercado nacional.
Brasil precisa avançar em vários aspectos
O mercado brasileiro de resseguros
vem se desenvolvendo nos últimos
sete anos, mas ainda precisa avançar em vários aspectos. A opinião
é recorrente entre executivos de
companhias internacionais que
atuam no País. Eles mencionam
problemas como baixa lucratividade, dificuldades com a qualificação
da mão de obra e necessidade
de aperfeiçoamento da regulação,
entre outros.
Para Rodrigo Belloube, da Munich Re,
é fundamental que as empresas
consigam melhorar a rentabilidade
de suas operações no País. Segundo ele, embora não exista um
estudo comparativo entre diferentes nações, está claro que o Brasil
tem performance inferior à média
mundial. Na prática, as negociações estão focadas predominantemente na variável ‘preço’.
“O problema é que o valor médio
teve trajetória de queda brusca ao
longo dos últimos anos, e isso vem
achatando as margens de operação”, explica. O executivo conta
que muitas empresas que desembarcaram no País pela primeira vez
após a quebra do monopólio de
resseguro não conseguiram cumprir seus planos de negócios.
Viés litigante
Belloube preocupa-se também
com o viés exageradamente
litigante em alguns nichos e uma
disposição, de alguns operadores, de buscar reformulações no
ordenamento jurídico com nuances
que ele classificou como ‘quase
exóticas’.
“Precisamos manter o mercado
nos trilhos e isso significa pensar
sempre na melhor solução para o
País, e não para atores específicos”, defende. Outro desafio, ainda
na opinião do CEO da Munich Re,
é conseguir atingir, nos resseguros,
a sofisticação que hoje o mercado
de seguros já possui.
Margo Black, da Swiss Re, acredita que as resseguradoras que atuam fora do País, especialmente as
que têm experiência em mercados
mais desenvolvidos, acumulam
muito conhecimento para compartilhar com o mercado brasileiro. Para ela, o que ainda falta é a
expertise em linhas de negócios
mais especializadas.
Ainda existe
espaço para se
chegar a uma operação mais simplificada
das normas legais,
com o devido
controle e reportes
ao órgão regulador,
obviamente.
Werner Stettler
Precisamos
manter o mercado
nos trilhos e isso
significa pensar
sempre na melhor
solução para o
País, e não para
atores específicos.
Rodrigo Belloube
“Verificamos também a falta de
profissionais qualificados em resseguros, especificamente, o que é
compreensível devido ao aumento
da demanda por profissionais com
a entrada de novos players no
mercado”, acrescenta.
O vice-presidente de Corporate de
Zurich Brasil, Werner Stettler, enfatiza que o mercado ressegurador
brasileiro vem se desenvolvendo
desde 2008 e pouco a pouco se
aproxima dos padrões internacionais. Uma das principais ações
nessa linha é o treinamento das
equipes de resseguro, fato que se
deu também com os brokers de
resseguro.
“No entanto, ainda existe espaço
para se chegar a uma operação
mais simplificada em nível de normas legais, com devidos controles
e reportes ao órgão regulador,
obviamente”, opina.
REVISTA DE SEGUROS • 15
NO MUNDO
Para Rodrigo Belloube, CEO da
Munich Re do Brasil, e membro da
diretoria da Federação Nacional das
Empresas de Resseguros – Fenaber,
uma série de fatores contribuem para
o forte crescimento do mercado brasileiro. O mais aparente é a demanda
reprimida, pois a abertura de mercado
ainda é muito recente. Mas há outros.
“Por exemplo, as seguradoras que recentemente optaram por estabelecer
seus próprios resseguradores locais
por conta de sua política de retenção
de riscos e de capital, atendendo
primordialmente às suas demandas internas”, explica o executivo. Maior do
mundo no ranking das resseguradoras, a Munich Re é a sétima no Brasil.
Margo Black, presidente da Swiss Re
Brasil, e também diretora da Fenaber,
e responsável pelas operações de resseguro da Swiss Re na América Latina
Sul, conta que há alguns anos o grupo
selecionou estrategicamente mercados considerados de alto crescimento
para direcionar seus esforços e investimentos, e o Brasil ficou entre eles.
Como parte da estratégia de expansão, eles abriram uma resseguradora
local no País em 2012. A executiva diz
que, desde então, a companhia tem
crescido bastante e atingido as metas
planejadas, tanto operacionais e ad-
Em grandes catástrofes, perdas atenuadas
Estudo da Aon Benfield mostra que impacto financeiro dos desastres
naturais no primeiro semestre de 2014 foi de US$ 54 bilhões, 56%
inferior ao mesmo período de 2013.
O
terremoto seguido de tsunamis que atingiu o Japão em
março de 2011 provocou
perdas financeiras da ordem de
US$ 200 bilhões naquele ano. O
país começava a se recuperar de
uma crise econômica e tinha perspectiva de crescer, mas a economia terminou encolhendo 0,9% em
função dos efeitos da catástrofe.
Podia ter sido muito pior.
Segundo estimativa da Munich Re,
entre US$ 30 milhões e US$ 40
milhões retornaram à sociedade
como indenizações naquele ano.
Se não fosse essa proteção, teria
sido maior o impacto no Produto
Interno Bruto - PIB japonês e na
vida de milhares de pessoas.
16 • REVISTA DE SEGUROS
Mobilizada pelo desastre, a companhia japonesa Tokio Marine extrapolou seu papel de seguradora
e montou uma força-tarefa envolvendo funcionários de diferentes
escalões para atuar no socorro
às vítimas. A seguradora também
contratou serviços de empresa especializada no socorro a desastres
e enviou toneladas de alimentos e
suprimentos aos afetados.
As medidas que ficaram registradas
na publicação “Contribuição Hoje,
Esperança para Amanhã”, lançada
no Japão apenas quatro meses após
a tragédia e no Brasil um pouco depois, registrou ações da empresa e
depoimentos de colaboradores que
atuaram nas áreas atingidas.
Pronto atendimento
A Zurich Re teve atuação semelhante na época do terremoto
do Chile, em fevereiro de 2010.
A empresa desembolsou com
prontidão as indenizações e
atendeu aos clientes não apenas
na questão monetária mas também humana. Foram mobilizados
colaboradores e profissionais para
ajudar a restabelecer a situação.
“Em caso de catástrofes, temos
especialistas que conseguem
agregar, em todo o mundo, com
sua experiência e assim ajudar a
população local atingida”, contou
Werner Stettler, vice-presidente de
Corporate de Zurich Brasil.
Infelizmente, são abundantes os
Papel social
A executiva da Swiss Re enfatiza o
papel social que as resseguradoras
representam para os países em que
atuam e lembra que o resseguro não
está presente apenas nos grandes
negócios. Ao contrário, atende a
todos os níveis de anseios da sociedade. Margo lembra que os contratos
de resseguro são feitos para viabilizar
desde operações de seguros massificados, voltados às classes menos
favorecidas, e produtos direcionados
à classe média, até operações complexas de negócios industriais.
“O resseguro é extremamente importante e necessário para o progresso
social e empresarial. Ao assumir riscos
de indivíduos e empresas, as resseguradoras provêm proteção financeira
e, assim, estabilidade econômica e
social a um país”, afirma.
Werner Stettler, vice-presidente de
Corporate de Zurich Brasil, disse que
vê espaço para a empresa crescer
e ganhar mercado no País. A Zurich
atua em seguros desde 1984, e em
resseguros, desde 2013, ocupando a
17ª posição do ranking. n
Reprodução internet
ministrativas, como financeiras. Vice-líderes mundiais, ocupam no Brasil a
11ª posição entre os maiores.
Tsunami no Japão:
o terremoto seguido
de tsunami, que
atingiu aquele país
em março de 2011,
provocou perdas
financeiras da
ordem de
US$ 200 bilhões.
exemplos de tragédias que explicitam a relevância social da cadeia
seguradora. “Foi inequívoca a importância do mercado ressegurador
na proteção financeira da sociedade
em vários eventos da última década
nos Estados Unidos, Japão, Nova
Zelândia e Austrália, para mencionar
apenas alguns dos países mais afetados”, listou o CEO da Munich Re,
Rodrigo Belloube. O resseguro, na
prática, funciona como uma garantia
para os mercados seguradores mundo afora. “O resseguro empresta
capital a um país para que ele reduza
sua suscetibilidade a vários tipos de
eventos”, resumiu o executivo.
Prejuízos recordes
Só em 2011, 820 grandes desastres
em todo o planeta geraram perdas
de US$ 380 bilhões, segundo levantamento da Munich Re. Outro ano
de prejuízos recordes foi 2005: US$
220 bilhões contabilizados principalmente em função do furacão Katrina, em Nova Orleans, nos Estados
Unidos, e dos tsunamis na Indoné-
sia, em dezembro do ano anterior.
No ano passado, a natureza deu
uma trégua. Estudo da consultoria e
corretora de resseguros Aon Benfield mostra que o impacto financeiro
dos desastres naturais no primeiro
semestre foi de US$ 54 bilhões,
valor 56% inferior ao verificado no
mesmo período de 2013. Em ordem
econômica, os maiores foram o
inverno japonês (US$ 6,5 bilhões), as
inundações na Península Balcânica e
no Reino Unido (US$ 4,5 bilhões) e a
seca no Brasil (US$ 4,3 bilhões).
REVISTA DE SEGUROS • 17
Riscos da economia mundial
Clima provoca
perdas em
efeito dominó
podem afetar o mercado brasileiro
como um todo. E sempre há o temor
de uma catástrofe natural, como o
terremoto no Haiti, um tipo de evento
difícil de se prever.
“As empresas não podem ignorar esse
tipo de risco. Hoje, com o mercado
globalizado, os negócios são muito
interligados. Felizmente, nos últimos
dois anos não tivemos uma catástrofe de grande porte, mas precisamos
estar preparados”, observa a superintendente da Bowring Marsh.
Por LETÍCIA HELENA
Shutterstock
A crise hídrica em São Paulo e as enchentes na
Região Norte podem afetar o mercado brasileiro de
seguros e resseguros e respingar nos negócios.
s
erá que vai chover? A pergunta
que muitos brasileiros repetem
diariamente, preocupados com
a seca que ameaça o abastecimento
de água, também provoca dor de
cabeça no mercado de seguros. É
que as mudanças climáticas estão
entre as principais causas de risco
no mundo – e o setor empresarial
precisa estar preparado para que
esses eventos não respinguem nos
negócios. Um exemplo aconteceu em
2011, quando um tsunami devastou
o Japão, deixando um prejuízo global
para o setor de US$ 35 bilhões, na
avaliação das agências internacionais.
“No Brasil, muitas empresas perderam
dinheiro, porque tinham fornecedores
japoneses e eles não conseguiram
cumprir seus contratos”, explica Paula
Lopes, superintendente da Bowring
18 • REVISTA DE SEGUROS
Reservatórios em
baixa: seca ameaça
abastecimento,
reforçando a tese de
que as mudanças
climáticas estão entre
as principais causas
de risco no mundo.
Marsh, divisão de resseguros da corretora Marsh.
Não é à toa que o setor anda de olho
no clima. Secas, enchentes, nevascas,
temperaturas muito altas ou muito
baixas afetam a produção e têm um
efeito dominó. A crise hídrica em São
Paulo e as enchentes na Região Norte
Política internacional
A situação política internacional
também precisa ser analisada com
cuidado. Em 2001, os atentados do
11 de setembro deixaram uma fatura
de US$ 40 bilhões para o mercado de
seguros. Hoje, a atenção dos especialistas está voltada para a sempre
complicada questão do Oriente Médio
e para a atuação do Estado Islâmico.
Neste caso, também vale a máxima
do efeito dominó. Um eventual ataque
terrorista de grande magnitude refletirá
em cascata pelo mundo todo.
Paula Lopes observa que, a julgar pelos dois primeiros meses, 2015 parece
ser um ano potencialmente difícil para
a economia mundial e, em particular,
para a brasileira. A crescente desvalorização do real perante o dólar já
aponta para uma necessidade de as
empresas prestarem mais atenção
ao gerenciamento do risco em seus
negócios. Ainda mais porque a economia americana está se recuperando,
o euro voltou a se estabilizar – apesar
de uma ou outra crise localizada - e a
China permanece a todo vapor.
“A filosofia das empresas deve ser a
de proteger seus riscos com apólices de seguros e não a de encarar
esta proteção como um custo. Elas
precisam transferir os riscos que
não podem assumir e ter uma ges-
Barômetro do Risco
revela que muitas
empresas ainda
subestimam os
diferentes impactos
que os riscos podem
causar e, em geral,
agem assim parar
conter despesas.
catástrofes naturais (30%), incêndios e
explosões (27%), perigos cibernéticos
(17%) e crises políticas (11%). Em relação às principais causas de prejuízo, o
relatório destaca a perda de reputação
(61%) e a interrupção nos negócios
após um incidente (49%).
Diferentes impactos
O levantamento chegou à sua quarta
edição após pesquisa feita com mais de
500 analistas de risco e especialistas em
seguro corporativo da Allianz e de outras
companhias globais em 47 países. Outra
conclusão é que, para 73% dos entrevistados, muitas empresas ainda subestimam os diferentes impactos que os
riscos podem causar e, em geral, agem
dessa maneira para conter despesas.
O Barômetro de Risco traz um alerta: a combinação de novos riscos
econômicos e regulatórios com uma
tecnologia cada vez mais sofisticada
cria uma ameaça sistêmica para as
empresas que atuam globalmente.
Para ajudar no gerenciamento dessas
situações, a consultoria e corretora de
seguros Aon lançou o Mapa Mundial
de Riscos Políticos, abrangendo 163
países. O documento, feito em parceria com a Roubini Global Economics,
avaliou os riscos legais e regulatórios,
a facilidade ou dificuldade para movimentação de recursos, a interferência
política, a violência e a quebra de cadeia
de suprimentos. O relatório, publicado
desde 1998, ajuda empresas na avaliação de investimentos em outras nações.
Fugindo dos riscos
O cenário nos Brics (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul), segundo o
relatório, tende a piorar. No Brasil, por
exemplo, a causa seria a desaceleração
da economia. Os analistas da empresa acreditam que, para mudar esse
quadro, será preciso que o País volte
a crescer. O relatório também serve de
subsídio para que empresários brasileiros interessados em investir no exterior
saibam onde estão as melhores oportunidades e passem ao largo de riscos.
Para Mike McGavick, CEO do XL Group
e diretor da Associação Internacional
para o Estudo da Economia de Seguros (The Geneva Association), os três
maiores desafios para o mercado são
os perigos cibernéticos, as alterações
climáticas e a longevidade do ser humano. O primeiro fator está relacionado à
velocidade com que a informação muda
e se multiplica – empresas acostumadas
a trabalhar com análises de períodos
mais longos precisarão se adaptar.
Quanto ao clima, há um número gigantesco de sinistros relacionados ao mau
tempo e/ou aos efeitos climáticos. A
questão do aumento da expectativa de
vida, na avaliação do especialista, afeta
diretamente o sistema de pensões e
será necessário encontrar novas formas
de garantir o bem-estar social. n
Divulgação Marsh
tão firme na área”, sugere Paula.
Já um estudo da Allianz Global Corporate & Specialty - AGCS, aponta outros
fatores de risco. O Barômetro de Risco
lista os cinco principais problemas que
as empresas podem enfrentar: interrupções bruscas nos negócios e falhas
na cadeia de suprimentos (46%),
O cenário nos Brics,
segundo o relatório,
tende a piorar. No
Brasil a causa seria
a desaceleração
da economia. Para
mudar esse quadro,
o País deve voltar a
crescer.
A filosofia das
empresas deve ser
a de proteger seus
riscos com apólices
de seguros e não
a de encarar esta
proteção como um
custo.
Paula Lopes
REVISTA DE SEGUROS • 19
Ranking
Ambiente
macroeconômico
desafia as empresas
Por BRUNO UCHÔA
O índice de sinistralidade chegou a 90%, afetando
o desempenho das companhias. No mercado
internacional, este percentual varia de 60% a 70%.
o
mercado ressegurador brasileiro deve continuar vivendo um
cenário desafiador neste ano. O
setor pode ser impactado diretamente
pelo ambiente macroeconômico desfavorável, com perspectiva de baixo crescimento do PIB e da inflação estourando a meta de 6,5%. Por outro lado, tem
mostrado um vigoroso crescimento.
De 2011 a 2014, o volume total de
prêmios de resseguros cresceu 52%,
passando de R$ 5,5 bilhões para R$
8,4 bilhões. Após seguir uma tendência
mundial de queda no valor dos resseguros nos anos seguinte à crise mundial de 2008, o mercado brasileiro está
vivendo uma fase de ajuste de preços.
A competição no mercado elevou o
índice de sinistralidade que chegou
a 90%, afetando o desempenho das
resseguradoras. No mercado internacional, este percentual varia entre
60% e 70%. Estudo elaborado pela
Terra Brasis chegou a apontar que, em
2013, apenas IRB Brasil Re, JMalucelli,
Mapfre, BTG e Austral tiveram lucro.
A Swiss Re, por exemplo, amargou
prejuízo de R$ 20 milhões.
“A sinistralidade foi decorrente da
abertura, que trouxe a concorrência.
Todos os resseguradores ofereceram
20 • REVISTA DE SEGUROS
As opiniões
apontam para um
ano difícil. E isso
tem a ver com o
ambiente econômico
em geral, não só
do mercado de
resseguro.
Francisco Galiza
resseguros para obras de infraestrutura, o que acabou reduzindo o preço.
As companhias baixaram muito o valor.
Mas agora o mercado está se ajustando”, avalia o professor do Ibmec e
da Escola Nacional de Seguros - ENS,
Luiz Antonio Nunes.
Pressão competitiva
Ainda assim, o mercado ainda deve
continuar sofrendo pressão competitiva aliada ao crescimento moderado
do setor primário de seguro, segundo
opinião dos analistas da Fitch. Enquanto o setor de resseguros cresceu
20% no ano passado, o de seguros
avançou 10%, de acordo com a Carta
de Conjuntura do Setor de Seguro.
“As condições de mercado poderão
melhorar em comparação aos últimos
três anos. A melhora nos resultados
técnicos do mercado local de resseguros até setembro de 2014 sugere
que já houve alguns ajustes de preços”, informa o relatório da Fitch.
As companhias classificadas como
locais permanecem dominando o mercado, sendo responsáveis por 68% dos
prêmios recebidos no mercado primário nos últimos dois anos, apesar do
aumento no número de participantes.
No ano passado, até setembro, duas
novas companhias receberam licenças para operar como resseguradoras
locais. Atualmente o mercado brasileiro
conta com 122 companhias, sendo
que apenas 16 são locais, outras 35
são admitidas e 71, eventuais.
Perspectivas 2015
O aumento na quantidade de empresas participantes no mercado de
resseguros deve continuar neste ano,
de acordo com relatório de perspectivas para 2015 para o setor de seguros,
elaborado pelos analistas Esin Celasun
e Rodrigo Salas, da Fitch Ratings.
A Fitch espera novas entradas no
mercado local de resseguros, à medida
que a estrutura regulatória continue
incentivando as companhias de resseguros locais em relação àquelas que
operam por meio de um escritório de
representação no Brasil (resseguradores admitidos) ou diretamente de fora
do País (resseguradores eventuais).
A partir de 2011, as resseguradoras
classificadas como locais começaram a ter preferência em até 40%
dos prêmios cedidos pelas companhias de seguros. Além disto,
seguradoras e resseguradoras
podem ceder somente até 20% dos
prêmios a uma afiliada, exceto para
prêmios de seguro Garantia, Rural,
de Crédito e Risco Nuclear, em que
tal restrição não se aplica.
Regra do jogo
No entanto, o professor Luiz Antonio
Nunes é mais cauteloso ao comentar
um possível crescimento no número de
players locais no mercado de resseguros brasileiro. “Existe um requerimento
de capital enorme para que uma companhia seja aceita como local. É regra
do jogo. Se ela tem interesse, tem que
cumprir as exigências. Não vejo nenhum
problema. Mas isto dependerá muito de
como o mercado vai se adequando”.
O aumento na
quantidade de
empresas participantes
no mercado de
resseguros deve
continuar neste ano, de
acordo com relatório de
perspectivas elaborado
pela Fitch Ratings.
O requerimento de capital para se
tornar uma resseguradora local é de
R$ 60 milhões, mais o valor proporcional ao tamanho da operação, além da
obrigatoriedade de contar com uma
sede no País. Para as resseguradoras
admitidas, o capital mínimo exigido é de R$ 5 milhões. As eventuais
recebem autorização para operar de
acordo com suas necessidades.
O consultor Francisco Galiza, da Rating
de Seguros, destaca que a confiança
no setor está em queda. O Índice de
Confiança e Expectativas das Resseguradoras - ICER, elaborado pela consultoria, caiu para 66,7 em fevereiro, ante
77,5 em janeiro. “As opiniões apontam
para um ano difícil. E isso tem a ver
com o ambiente econômico em geral,
não só do mercado de resseguro.”
Galiza ainda lembra que o mercado
brasileiro é fortemente dominado pelo
IRB Brasil Re, que recebeu mais de R$
3 bilhões em prêmios no ano passado,
segundo a Susep. O volume representa 35,7% dos prêmios de todas as
resseguradoras, que totalizaram R$ 8,4
Ranking dos resseguradores que atuam no País
Ressegurador
IRB BRASIL RESSEGUROS S.A.
(Ano 2014 - Valores em R$)
Prêmios aceitos
3.024.551.975
ZURICH RESSEGURADORA BRASIL S.A.
665.209.139
ALLIANZ GLOBAL CORPORATE & SPECIALTY RESSEGUROS BRASIL S.A.
583.230.214
LLOYD’S389.476.546
AUSTRAL RESSEGURADORA S.A.
384.694.327
MAPFRE RE COMPAÑÍA DE REASEGUROS S.A.
325.601.714
MUNICH RE DO BRASIL RESSEGURADORA S.A.
259.266.056
EVEREST REINSURANCE COMPANY
236.070.294
ACE RESSEGURADORA S/A
223.089.882
HANNOVER RUCK SE (ANTIGA HANNOVER RÜCKVERSICHERUNG AG)
219.969.808
SWISS RE BRASIL RESSEGUROS S.A.
192.444.083
MAPFRE RE DO BRASIL COMPANHIA DE RESSEGUROS
155.477.717
J. MALUCELLI RESSEGURADORA S/A
152.926.622
BTG PACTUAL RESSEGURADORA S.A.
149.226.258
SCOR REINSURANCE COMPANY
134.378.430
AMERICAN HOME ASSURANCE COMPANY
126.625.285
ZURICH INSURANCE COMPANY
102.559.034
OUTRAS1.094.674.636
Total8.419.472.019
O maior desafio
hoje é a qualificação,
pois são poucos
os profissionais
gabaritados a
trabalhar neste
mercado.
Luiz Antonio Nunes
bilhões; e é 4,5 vezes maior do que o
registrado pela segunda do ranking, a
Zurich Re. O panorama é bem distinto do observado no cenário mundial,
onde Munich Re e Swiss Re disputam
o topo do ranking.
Mais eficiência
Luiz Antonio Nunes lembra, no entanto,
que o IRB está competindo no mercado e tem que se tornar cada vez mais
eficiente. “O IRB perdeu espaço num
primeiro momento, mas ainda detém a
memória do mercado, construída anos
a fio. Isso confere a ele uma vantagem
e a possibilidade de se manter numa
posição estratégica.”
Ainda na avaliação do professor do
Ibmec e da ENS, o principal gargalo do
setor de resseguros no País é justamente a falta de profissionalização. Ele
avalia que a abertura do setor deixou
latente o problema da capacitação e
a solução virá apenas quando houver
uma ação forte que envolva todos os
agentes do mercado.
“O maior desafio hoje é a qualificação
do profissional, pois são poucos os
gabaritados a trabalhar neste mercado.
Essa defasagem intelectual chegou
a ser cômoda, pois o mercado era
concentrado e não havia competição.
Mesmo com a abertura, o mercado
não se preparou. Mas vai conseguir
chegar lá”, concluiu. n
REVISTA DE SEGUROS • 21
PERSPECTIVAS
Recessão não vai
tirar resseguros
da rota
Por MARIA LUISA BARROS
Empresas devem compensar eventuais retrações
da economia interna com expansão no mercado
internacional.
à metade o número de funcionários
terceirizados e um terço dos empregados fixos.
Atenções no exterior
Líder no ramo de agronegócios, com
34% de participação no mercado,
e com forte atuação em todos os
ramos, o IRB tem suas atenções voltadas para o exterior, onde atualmente
concentra apenas 10% do total de
prêmios da sua carteira. “Temos um
mercado internacional praticamente
inexplorado. E no momento estamos
sendo favorecidos pela alta do dólar.
Pretendemos nos próximos anos crescer substancialmente lá fora”, diz José
Carlos Cardoso.
Nos planos do IRB está a abertura de
novos escritórios na América Latina e na África até o final do ano. A
instabilidade financeira não assusta a
resseguradora, que até 2007 detinha
o monopólio da atividade no Brasil. Ao
contrário, os números são bastante
animadores. O IRB encerrou 2014
contabilizando um volume de prêmios
emitidos da ordem de R$ 3,2 bilhões
e um lucro de R$ 602 milhões no
Divulgação IRB
a
s turbulências na economia
brasileira, provocadas pela forte
desaceleração do crescimento
do Produto Interno Bruto - PIB, não
devem tirar da rota o mercado de
resseguros nacional. O cenário de
recessão projetado para este ano vai
obrigar as empresas a apertarem o
cinto, porém, o desempenho do setor
tende a manter o fôlego e a se descolar do PIB, registrando desempenho
acima de 10% este ano, alavancado,
sobretudo, pelos ramos do agronegócio, bens patrimoniais e infraestrutura.
Os cálculos são do vice-presidente
do IRB Brasil Re, José Carlos Cardoso. “Considero a projeção altamente
conservadora. Pretendemos compensar eventuais retrações internas com a
expansão do IRB no mercado internacional. Essa combinação pode, sem
dúvida, ultrapassar o índice previsto”,
afirma.
Segundo ele, para alcançar o resultado acima do esperado e enfrentar
a concorrência das mais de 100
empresas estrangeiras que atuam no
Brasil, a resseguradora vem fazendo
a lição de casa, tendo reduzido quase
mesmo período – aumento de 24%
em relação ao ano anterior.
“O nosso lucro hoje é muito maior
do que na época do monopólio”,
informa Cardoso, que aposta na
sua experiência internacional para
ampliar as fronteiras do IRB. Segundo ele, Colômbia e Miami devem
ganhar filiais em breve.
Diante da crise que engavetou novos
investimentos e projetos do governo
O mercado
internacional é praticamente inexplorado
e estamos sendo
favorecidos pela
alta do dólar.
Pretendemos
crescer substancialmente lá fora.
José Carlos Cardoso
22 • REVISTA DE SEGUROS
federal, as resseguradoras apostam
na diversificação das carteiras e
aproveitam a expertise adquirida no
mercado internacional para fornecer
subsídios às empresas brasileiras no
gerenciamento de riscos complexos e
de alto valor em seus negócios. Essa
é uma das estratégias adotadas pela
resseguradora alemã, Munich Re do
Brasil, para se sobressair no mercado
nacional, conforme explica o CEO da
empresa, Rodrigo Belloube.
“Queremos nos posicionar como parceiro estratégico de nossos clientes,
construindo a quatro mãos projetos
e iniciativas relacionadas a inovação,
sofisticação da oferta ao mercado,
agregar valor e serviços a produtos,
de forma a atender demandas cada
vez mais complexas e específicas.
Queremos ser parceiros, em suma, e
ajudar nossos clientes a atingir seus
objetivos estratégicos e operacionais”,
adianta.
Perspectivas otimistas
Para o vice-presidente do IRB, é
consenso entre os concorrentes que
as perspectivas são otimistas e que,
de tempos em tempos, o mercado de
resseguros passa por uma volatilida-
Divulgação Munich RE
Miami: o IRB Brasil
RE quer expandir
suas fronteiras e
chegar à cidade da
Flórida, nos Estados
Unidos, e também à
Colômbia, ampliando
sua atuação na
América do Sul.
de. “É um momento de atenção que
pode ser compensado pelo aumento
dos preços. Mas, independentemente
dos problemas atuais, as concessões
vão continuar sendo feitas e as empresas precisarão contratar seguros.
O setor vai se adaptar”, analisa.
Para Belloube, o Brasil continua a ser
analisado sob uma lógica de longo
prazo e a questão macroeconômica tende a ganhar importância. “O
desempenho do mercado de seguros
vem significativamente superando o
crescimento econômico, com baixa
correlação entre os dois, pois existe
uma demanda não atendida de proporções consideráveis”, diz o CEO da
Munich Re do Brasil.
Na visão do executivo, o investimento
em obras para sediar grandes eventos, como os Jogos Olímpicos de
2016, representa uma fatia pequena
na margem de lucro das resseguradoras. “O trem já passou. A maioria das
obras que demandavam resseguro já
foram negociadas. Os Jogos Olímpicos são pequenos para o mercado
ressegurador. O que conta mais é o
desenvolvimento do País, o investimento contínuo em formação bruta de
capital fixo, em infraestrutura”, afirma
Belloube.
Níveis de investimentos
No entanto, ele acredita, que para os
atores cujas carteiras sejam mais dependentes dos níveis de investimento,
como, por exemplo, as de riscos de
engenharia e de garantias, o cenário
econômico tem outra dimensão. Para
o executivo, o País tem hoje performance inferior à média mundial sob a
Independentemente
dos problemas
atuais, as
concessões vão
continuar sendo
feitas e as empresas
precisarão contratar
seguros. O setor vai
se adaptar.
Rodrigo Belloube
perspectiva de rentabilidade.
“Há uma certa ‘comoditização’ do setor, uma mecanização do processo de
pulverização de risco, com as negociações, via de regra, focadas predominantemente na variável ‘preço’, cujo
valor médio teve trajetória de queda
brusca nos últimos anos”, diz.
Na avaliação de Belloube, em parte
isso se deve ao desequilíbrio entre
oferta e demanda, resultado de quase
70 anos de monopólio estatal exercido pelo IRB. “Precisamos manter
o mercado nos trilhos e isso significa
pensar sempre na melhor solução
para o País, e não para atores específicos”, defende. n
REVISTA DE SEGUROS • 23
BANCO MUNDIAL
Por TATIANA MAIA
Braço financeiro do Banco Mundial, a IFC ajuda a
promover a inovação e a competitividade do setor
seguros e de resseguros.
O
aumento da cobertura de seguros e da disponibilidade de
resseguro são elementos fundamentais para capacitar o desenvolvimento
econômico sustentável e o crescimento do setor privado. O seguro tem
um papel importante na mitigação
de riscos nos mercados emergentes,
ajudando a proteger indivíduos e negócios contra os efeitos adversos de
desastres naturais, incêndios, secas e
outros eventos imprevisíveis.
A abertura do mercado de resseguros no Brasil é recente, mas o
cenário de monopólio do IRB já é
passado distante. De acordo com
dados do Terra Report, Relatório do
Mercado Brasileiro de Resseguros,
produzido pela Terra Brasis, o IRB
encerrou os primeiros nove meses de
2014 com uma participação de mercado de 31%, enquanto as outras
resseguradoras locais detinham 37%
do mercado e as resseguradoras
estrangeiras já somavam 32%.
Dos 40 maiores grupos resseguradores internacionais, 36 operam no Brasil. E, neste cenário, chama a atenção
a participação acionária da
24 • REVISTA DE SEGUROS
International Finance Corporation - IFC,
braço financeiro do Banco Mundial em
duas resseguradoras locais, a Austral
(desde 2014) e a Terra Brasis (desde
2011), cujos dirigentes integram a
diretoria da Federação Nacional das
Empresas de Resseguros – Fenaber.
Impacto da aliança
Para a Terra Brasis ainda é cedo para
avaliar o impacto que uma aliança com
o Banco Mundial traz para uma companhia, pois a empresa está ligada à
instituição desde o início de suas operações. A parceria começou antes de
a resseguradora iniciar sua operação,
o que levou seu desenvolvimento a
ser traçado em conjunto com o Banco
Mundial - e continua sendo assim.
“Temos muito orgulho de ser o primeiro investimento feito pelo Banco
na nossa área de atuação. Fomos
também o projeto mais rapidamente aprovado por eles. Nossa cultura
organizacional, postura de mercado e comportamento profissional
e ético foram moldados de forma
integrada com a participação deles,
de nossos sócios e de colaborado-
Divulgação Terra Brasis
IFC transfere
expertise ao mercado
brasileiro
res”, enfatiza o diretor-presidente
da Terra Brasis, Paulo Botti.
Há regras que devem ser seguidas
para a manutenção da parceria com o
Banco Mundial, e todas elas são encaradas pela Terra Brasis como muito
positivas. São regras quanto à alocação de investimentos, pois há restrições à aceitação de negócios que
podem ser considerados nocivos à
sociedade ou ao meio ambiente. E há
regras de sustentabilidade que devem
ser seguidas, compliance e garantia
de governança nos padrões do Banco
Mundial. “Estamos muito felizes com
isto”, declara Botti.
Além de toda a
reputação que a
instituição nos traz,
aporta também
uma experiência
mundial em seguros
e resseguros que
estamos absorvendo
continuamente.
Paulo Botti
melhores práticas de sustentabilidade”, completa Ariane.
Divulgação Austral RE
Fôlego e expertise
Os executivos foram unânimes em
afirmar que a parceria com o Banco
Mundial é uma oportunidade especial
para as empresas brasileiras ganharem fôlego financeiro e expertise.
Para Paulo Botti, o fomento do
mercado de resseguros brasileiro
é muito importante, não só para
o Brasil mas também para toda a
região da América Latina.
“Além de toda a reputação que eles
nos trazem, aportam também uma
experiência mundial em seguros e
resseguros que estamos absorvendo
continuamente. O conhecimento que
a instituição tem do mercado mundial
A experiência do
IFC, que já participa
do capital de vários
seguradores e
resseguradores
pelo mundo, traz
um ganho adicional
de expertise para a
Austral Re.
Bruno Freire
Divulgação IFC
Reflexo dos aportes
A IFC adquiriu, em setembro de 2014,
19,5% de participação na Austral
Re através de um aporte de R$ 80
milhões, que foi usado para aumentar
o capital da empresa. Segundo Bruno
Freire, diretor-executivo da Austral Re,
como a entrada do IFC aconteceu
recentemente, ainda não deu tempo
para analisar o reflexo do potencial
desse aporte nos resultados.
De qualquer forma, 2014 foi o melhor
ano da companhia, desde o início
das operações, em 2011, segundo
Freire. A Austral Re emitiu R$ 445
milhões em prêmios brutos no ano
passado contra R$ 328 milhões em
2013, com lucro líquido de quase
R$ 19 milhões e índice combinado
de 97%. O retorno sobre o capital
já está em 11%, o que a companhia
considera um ótimo resultado.
Segundo Ariane di Iorio, executiva
responsável pela área de Instituições Financeiras da IFC no Brasil, o
investimento da instituição no mercado de seguros e de resseguros
tem por objetivo ajudar a promover
a inovação e a competitividade no
setor, a elevação da qualidade dos
serviços e produtos, a criação de
oportunidades de mercado para
seus participantes, e a viabilização
do desenvolvimento de setores
vitais para a economia brasileira,
como infraestrutura e agronegócios.
“A IFC, como parte de seu propósito
de ajudar a promover o desenvolvimento socioeconômico e sustentável do País, tem o objetivo de ajudar
a desenvolver também o mercado
de seguros como um todo, criando
oportunidades para seus participantes e estimulando a adoção das
A IFC, como parte
de seu propósito de
promover o desenvolvimento socioeconômico do País, cria
oportunidades e
estimula a adoção das
melhores práticas de
sustentabilidade.
Ariane di Iorio
e de instrumentos novos e modernos
de transferência de riscos tem sido
muito útil para nós”, avalia.
Bruno Freire segue a mesma linha
de raciocínio. Para ele, a entrada
do IFC como parceiro da Austral Re
traz várias vantagens que devem
alavancar o crescimento da empresa. O IFC, por ser uma entidade
internacional, reconhecida globalmente e com rating AAA, confere
mais credibilidade e reconhecimento
para os parceiros internacionais.
“O aumento de capital também ajuda
na viabilização de um crescimento sustentável e conservador. A experiência
do IFC, que já participa do capital de
vários seguradores e resseguradores
pelo mundo, nos traz um ganho adicional de expertise”, estima Freire. n
REVISTA DE SEGUROS • 25
Arquivo CNseg
artigO especial
O resseguro
sob a ótica das
seguradoras
Por Luis Tavares Pereira Filho - Vice-presidente executivo da CNseg
Passados sete anos desde a abertura, pergunta-se:
aquelas promessas foram realizadas?
s
empre que se lamentava o
atraso na abertura do mercado
de resseguros, somente ocorrida a partir de 2007, dizia-se que o
ambiente concorrencial proporcionaria
às seguradoras todo um leque de benefícios. Assim, a disputa por clientes
entre os resseguradores conduziria
a preços menores, inclusive para o
consumidor de seguros, contribuindo
para o concomitante crescimento do
mercado; haveria sensível melhora no
atendimento às cedentes; e seriam
introduzidas coberturas inéditas no
mercado brasileiro, trazidas pelos
grandes players internacionais.
Passados sete anos desde a abertura, pergunta-se: aquelas promessas foram realizadas? Sob a perspectiva das seguradoras cedentes,
a resposta é um vigoroso sim, mas
com temperamentos.
Quanto aos preços, a recente eleva-
26 • REVISTA DE SEGUROS
ção para 90% do índice de sinistralidade médio no setor de resseguro é um
indicador, entre outros sinais, de que
os preços cederam, mercê da forte
concorrência, mais visível em alguns
segmentos de maior competição.
Também o crescimento das operações de resseguro tem correspondido
às expectativas otimistas, pois de
2011 a 2014, o volume total de prêmios cresceu nada menos que 52%.
O incremento deixou muito para trás o
do PIB e, no ano passado, o setor de
resseguros cresceu o dobro do experimentado pelo segmento de seguros
(20% contra 10%).
Reconheça-se que os desafios para
os resseguradores ainda são de
monta, destacando-se a necessidade de formação de novos quadros
técnicos. Também a volatilidade de
mercado é uma preocupação constante, o que pode levar a indesejá-
veis flutuações nos níveis de preço.
Mas o fato é que o setor se desenvolveu e se consolidou. São 16
resseguradores locais, 35 admitidos
e 71 eventuais, oferecendo capacidade e negócios às suas parceiras,
as seguradoras cedentes.
Cenário nacional
O IRB, que sofreu forte perda de
market share, no primeiro momento
da abertura, parece ter-se firmado e
afirmado como empresa competitiva
no cenário nacional, com faturamento de prêmios em 2014 da ordem de
R$ 3,024 bilhões, cogitando agora
penetrar em novos mercados (que
não falte prudência!). Por sua vez,
os outros 16 resseguradores seguintes do ranking obtiveram, no País,
produção de prêmios entre R$ 665
e R$ 102 milhões, configurando um
mercado robusto e diversificado.
E, em termos de atendimento às seguradoras clientes, o que teria mudado? Bem, a primeira alteração deu-se
na postura comercial. Nos tempos do
monopólio, o IRB reinava absoluto,
sequer dispondo de uma diretoria
comercial. Claro, bastava-lhe aguardar
tranquilamente as demandas do mercado e estabelecer as condições de
preço e cobertura (com consulta ao
mercado internacional, reconheça-se).
É fato que a situação anterior teria mesmo que mudar: agora são muitos os
resseguradores a cortejar as cedentes.
Por isso mesmo, nesse novo mundo de
ofertas e afagos, as seguradoras têm
que se cercar de alguns cuidados.
Nesse sentido, são vários os fatores
a serem levados em consideração na
escolha dos parceiros pelas cedentes.
Independentemente da questão do
preço há, em princípio, preferência
pelos grandes resseguradores internacionais, haja vista a exigência
de security constante das normas
internas das seguradoras. Isso cria
dificuldades para algumas pequenas
resseguradoras nacionais, consideradas “butiques”, que ainda precisam
fortalecer seus balanços para concorrer com os grandes ou buscar nichos
especializados de atuação.
Razões de governança
Mas a opção pela melhor security
nem sempre é tranquila: sucede que
a seguradora, por razões de gover-
Agora são muitos
os resseguradores
a cortejar as
cedentes. Por isso
mesmo, nesse
novo mundo de
ofertas e afagos, as
seguradoras têm
que se cercar de
alguns cuidados.
nança, precisa examinar também a
questão da diversificação dos riscos,
ou seja, precisa verificar se o ressegurador com quem pretende operar
tem acúmulo excessivo de responsabilidades considerando outros países
onde atua. É que as seguradoras
que operam fortemente em resseguro, no Brasil, têm capital de origem
estrangeira (infelizmente são poucas
as seguradoras de capital nacional
que operam em grandes riscos), atuando em âmbito mundial. A complicar ainda mais a cessão do resseguro, tem-se o fato de o mercado
internacional passar por processo de
concentração, podendo ocorrer que
o ressegurador escolhido hoje possa
deixar de existir amanhã.
Outro cuidado que a seguradora
precisa tomar diz respeito às cláusulas contratuais, especialmente àquela
que trata da regulação de sinistros.
Se a seguradora deixar de optar pela
cláusula claims cooperation e contratar a claims control, pode-se ver
em maus lençóis, pois o cliente final
é seu, mas o ressegurador é quem
decidirá o pagamento da reclamação.
Aliás, não são raros os casos em que
a judicialização do sinistro deve-se
não a uma decisão da seguradora –
que tem o cliente e a própria imagem
envolvidos – mas a uma recusa do(s)
ressegurador(es).
Finalmente, quanto às inovações:
as esperadas novas coberturas não
vieram, a menos de poucas exceções. Ocorrem, inclusive, casos em
que a inovação decorre da iniciativa
da seguradora em buscar cobertura
para uma determinada necessidade
de proteção de um segurado seu. E
muitas vezes acabam atendidas, o
que demonstra as potencialidades de
uma política de trazer inovações para
o mercado segurador brasileiro.
Em suma, sob a ótica das seguradoras, um longo caminho já foi percorrido em termos de preços, opções de
parcerias e nível de atendimento. Não
se chegou ainda ao ponto de obter o
esperado avanço qualitativo na prestação de certos serviços, o que obriga
as seguradoras a cuidados, notadamente na elaboração dos termos dos
contratos que vão reger suas relações
com os resseguradores. Adicionalmente, a ausência de resseguro para
determinados ramos, como o seguro
saúde, está a indicar um significativo
potencial de crescimento do setor,
com a introdução de novas e específicas modalidades de cobertura. n
REVISTA DE SEGUROS • 27
Internacionalização
América Latina
ainda é foco da
internacionalização
Resseguradoras brasileiras fazem registro em
países vizinhos em busca de presença global.
a
s resseguradoras brasileiras estão
expandindo ainda mais os negócios em outros países da América
Latina. Além da proximidade geográfica, a
forma de empreender dos países vizinhos,
parecida com a dos brasileiros, atrai a procura por registros em locais como Argentina, Colômbia e Chile. Após o pioneirismo
do IRB na internacionalização por países
vizinhos, resseguradoras de grupos como
BTG Pactual e JMalucelli também buscam
seus espaços.
Um dos principais motivos pela procura de
registro em outros países latino-americanos
é experiência oferecida. De acordo com
Leonardo Paixão, presidente do IRB, os
países vizinhos são vistos como uma
escola que prepara as resseguradoras
para uma internacionalizaçao global. “A
proximidade geográfica, a língua e culturas
semelhantes são vantagens numa primeira
etapa. Quem passa por esse desafio está
pronto para outros continentes”, explica.
Países vizinhos
O IRB deu início à internacionalização
pela Argentina, onde tem negócios há
quatro anos, mas também está presente em outros países, como a Espa-
28 • REVISTA DE SEGUROS
nha. Desde então, o faturamento da
resseguradora cresceu 500%. O IRB é
a resseguradora com maior número de
negócios na América Latina, representando 14% do seu faturamento. Pela
legislação, as empresas podem fazer
contratos nos países vizinhos e declarar os ganhos no balanço da operação
brasileira. Paixão conta, ainda, que há
projeto de registrar a resseguradora no
México e na Colômbia neste ano.
Mas, assim como em outros negócios, é necessário tomar cuidado.
Os riscos políticos e econômicos de
alguns países da América Latina se
tornam uma preocupação a mais
para quem planeja investimentos na
região. Na Argentina, por exemplo,
além dos conflitos políticos enfrentados no último ano, a estimativa para
o crescimento econômico desaponta.
A agência de classificação de risco
Moody’s espera uma retração de 1%
no Produto Interno Bruto - PIB do
País, além de uma inflação de 30%.
Mesmo assim, Paixão garante que os
pontos positivos superam os negativos.
“Eu diria que os desafios a serem enfrentados são os mesmos em qualquer
Divulgação IRB
Por ANGÉLICA MARTINS
A proximidade
geográfica, a
língua e culturas
semelhantes são
vantagens numa
primeira etapa.
Quem passa por
esse desafio está
pronto para outros
continentes.
Leonardo Paixão
Divulgação BTG
A América Latina
será um foco
importante para a
BTG neste ano. São
países com avanço
em infraestrutura,
assim como o
México, que também
almejamos.
André Gregori
negócio. Com cautela é possível diminuir
as preocupações”, avalia o executivo.
Grau de investimento
Além do IRB, a BTG Pactual já entrou
com pedido de registro da resseguradora na Colômbia, Chile e Peru.
André Gregori, CEO da BTG Seguros, explica que a companhia estava
aguardando a divulgação do rating
para a entrada dos processos. De
acordo com a última avaliação da
Fitch, a BTG possui nota BBB-. Em
alguns países, como o Chile, o órgão
regulador exige que as resseguradoras tenham classificação grau de
investimento de agências globais.
O rating é importante, pois a resseguradora tem risco de crédito para a
seguradora. Em grandes apólices, a
seguradora mitiga o risco assumido
transferindo parte dele para uma resseguradora. No caso de acionamento
do seguro, cada uma paga a parte
que lhe corresponde na indenização.
Se a resseguradora quebrar ou não
tiver condições de pagar sua parte,
quem arca com o prejuízo é a seguradora. “A América Latina será um foco
importante para a BTG neste ano.
São países com avanço em infraestrutura, assim como México, que também almejamos”, explica Gregori.
Para os próximos cinco anos, o
governo mexicano prevê um investimento em infraestrutura, de iniciativa
pública e privada, com ordem de US$
590 bilhões. Mesmo assim, Gregori
considera que ainda é cedo para falar
sobre números. “Não temos uma
meta de quanto os negócios em países latino-americanos vão impactar
no nosso rendimento”, justifica.
Emissão de apólices
A JMalucelli, por sua vez, adquiriu o
controle da seguradora colombiana
Cardinal, especializada em Seguro
Garantia e de Responsabilidade Civil.
O diretor técnico Eduardo O. Nóbrega
explica que a resseguradora também
auxilia seus clientes que desejam seguro fora do País. “Isso significa que
quando um cliente procura a companhia para apresentar alguma garantia
em um país latino-americano ou nos
Estados Unidos, somos capazes de
auxiliá-los até a emissão da apólice.”
A resseguradora mantém relacionamento há mais de 20 anos com
a maioria das seguradoras latino-americanas por meio da Associação
Panamericana das Seguradoras de
Garantia. Para Nóbrega, este intercâmbio permite conhecer em profundidade a legislação de seguros de
cada um destes países. “Dessa forma,
tanto o conhecimento que temos da
legislação quanto a proximidade com
os executivos destas companhias nos
trazem o conforto necessário para
fazer negócios nestes países”.
Entretanto, a internacionalização da
Austral Re não segue esses padrões.
O diretor executivo da resseguradora,
Bruno Freire, explica que a empresa não
vê a Amércia Latina como uma escola.
“Apostamos de cara em alguns países
europeus, já que a diversificação de
experiência pode ser feita em outros continentes. Mas estamos abertos a oportunidades na América Latina”, acrescenta.
Para Freire, o maior desafio na internacionalização é se tornar conhecido. Por
isso, há três anos, a Austral começou a
atuar em países onde o grupo já tinha
negócios. “Cada país novo traz um
desafio muito grande. É necessário ter
cautela e foi por isso que decidimos
trilhar esse caminho”, conclui. n
REVISTA DE SEGUROS • 29
Mercado aberto
Abertura
Um longo caminho
ainda a percorrer
Por FRANCISCO NOEL
Jovem em comparação às décadas de monopólio,
o mercado livre tem ainda muito a evoluir em apoio
ao fortalecimento da proteção contra riscos.
E
m 15 de janeiro de 2007, a
sanção presidencial da Lei
Complementar 126, aprovada
pelo Congresso Nacional ao fim de
quase dois anos de debate, inaugurou uma nova era para o mercado de
resseguro no País. A atividade tornou-se aberta a companhias privadas
nacionais e estrangeiras credenciadas
pela Susep – uma regra generalizada
em todo o mundo, da qual o Brasil
deixava finalmente de ser exceção.
De lá para cá, o volume de prêmios
cedidos ao resseguro saltou de R$
2,9 bilhões para o patamar dos R$
8 bilhões. O aumento, de 175%,
guarda relação com o crescimento percentual do bolo cedido em
relação ao prêmio total do seguro
– proporção que chegou à faixa dos
9%, em linha com os níveis internacionais. Mercado obrigatório para os
players globais do setor, o País conta atualmente com resseguradores
locais, admitidos, além de eventuais
e de corretoras de resseguro.
Evolução em marcha
Jovem em comparação com os 68
anos de monopólio do Estado, o
mercado livre do resseguro no Brasil
30 • REVISTA DE SEGUROS
tem ainda muito a evoluir em apoio
ao fortalecimento da proteção contra
riscos. A constatação é compartilhada
por profissionais dos vários segmentos – resseguradoras, seguradoras,
corretoras, clientes e formadores de
profissionais especializados. Diferenças de ponto de vista à parte, é
unânime a opinião de que há muito a
fazer para desenvolver ainda mais o
resseguro entre os
brasileiros.
O foco de
sugestões e
expectativas de
aprimoramento
da dinâmica do
mercado está o
marco regulatório do resseguro.
Constituído pela
lei de 2007 e por
várias resoluções
do CNSP, o marco
vem assegurando o incremento e a
sustentabilidade da atividade resseguradora, mas alguns de seus
requisitos são objeto de proposições
nem sempre consensuais entre os
agentes do mercado.
Interesses nacionais
Um ponto de divergências continua sendo, três anos depois de
ganhar força de lei, a obrigatoriedade da colocação de 40% das
cessões de resseguro em companhias atuantes no País. Imposta
pela Resolução CNSP 225, de
2011, a medida é vista por parte
do mercado como fundamental
para a consolidação da abertura
do setor, por proteger os interesses nacionais na atividade. Outra
parte discorda e ainda se ressente
da normativa do CNSP, considerada restritiva às práticas do
resseguro num mundo de finanças
globalizadas.
Aos olhos de empresas com riscos cobertos pelo resseguro e de
corretoras, a confiança no amadurecimento do mercado é acompanhada pela
expectativa
da diversificação da
oferta de
produtos.
Ao mesmo tempo,
para fazer
frente à
esperada
expansão
do resseguro, o Brasil
precisa formar profissionais, pois a oferta de empregos
qualificados superou a demanda –
defasagem que a Escola Nacional
de Seguros – ENS busca sanar
oferecendo MBA para executivos
em seguros e resseguro. n
Aos olhos de
empresas com
riscos cobertos pelo
resseguro, a confiança
no amadurecimento
do mercado é
acompanhada pela
expectativa da
diversificação da oferta
de produtos.
Retrospectiva
Após a resistência à
abertura, a expansão
Por FRANCISCO NOEL
O IRB era obrigado a aceitar pesadas cargas de
risco. Mas, no ambiente competitivo, passou a
exercer o direito de rejeitar os mais graves.
Arquivo CNseg
??????
O
Aconteceu o
que se esperava:
o mercado se
expandiu sob
o ponto de
vista técnico e
operacional, com a
liberdade alcançada
pelos participantes
do processo.
Peón de Sá
s primeiros passos para a abertura
do mercado de resseguro, consumada em 2007, foram dados 15
anos antes. Em 1992, a liberalização
do setor de seguros era tema da Carta
de Brasília, da Fenaseg, acolhida pelo
governo federal no Plano Diretor do Sistema de Seguros, Capitalização e Previdência Complementar. Obra do IRB,
Susep e Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o plano
combinava matiz liberalizante com
tons de moderação. O presidente do
instituto na época, o atuário e especialista em resseguro José Américo Peón
de Sá, recorda os motivos da discrição:
“estávamos preparando a abertura do
IRB, mas havia muita resistência”.
Hoje, passados 23 anos, Peón comemora os benefícios decorrentes do fim
do monopólio estatal exercido pelo
IRB sobre o resseguro e a entrada
de novas resseguradoras em cena,
após a sanção da Lei Complementar
126, em 2007. “Aconteceu o que se
esperava: o mercado se expandiu sob
o ponto de vista técnico e operacional, com a liberdade alcançada pelos
participantes do processo”, assinala.
Antes mesmo da efetivação da abertura, várias resseguradoras estrangeiras
já se faziam presentes no País, traba-
lhando com o IRB. Oito anos após o
fim do monopólio do instituto, as resseguradoras locais e admitidas são mais
de 50 e a elas somam-se cerca de 70
eventuais. A exemplo de outros países,
cerca de 9% dos seguros de danos no
Brasil são cobertos pelo resseguro.
Mercado nacional
Os novos ventos da liberalização sopraram a favor até mesmo do IRB. O
ex-presidente lembra que, no regime
de monopólio, o instituto era obrigado
a aceitar pesadas cargas de risco,
como o de joalherias. No ambiente
competitivo, o IRB passou a exercer
o direito de rejeitar os riscos graves.
“Houve problemas no mercado, mas
depois tudo isso se normalizou”, diz
Peón de Sá, que preside o conselho
da CesceBrasil Seguros de Crédito e
atua há 60 anos no mercado.
A Resolução CNSP 225/2011 consolidou a abertura no resseguro. Em meio
a controvérsias, a edição da medida
obrigou a colocação de 40% das
cessões de resseguro nas empresas
locais. “Seguro é poupança forçada,
que não pode sair do País sem regras.
Antes, havia empresas operando
como meras sucursais das matrizes
no exterior. Hoje, o mercado se mantém protegido até o limite razoável do
interesse nacional”, salienta.
Para Peón de Sá, um desafio a vencer
é a difusão de informações sobre
resseguro. “Quando há necessidade
de cobrir algum risco, muitas vezes os
operadores sequer sabem que existe
o seguro, por exemplo, para riscos
financeiros, responsabilidade civil e
de natureza catastrófica – campos
abertos ao avanço do seguro e do
resseguro no Brasil”. n
REVISTA DE SEGUROS • 31
Mercado aberto
Regulamentação
Obrigatoriedades
impostas dividem
opiniões
Por FRANCISCO NOEL
a
perfeiçoar as normas regulatórias para o funcionamento ainda
melhor do resseguro no Brasil
é o que defendem agentes do setor,
valendo-se da experiência acumulada
em oito anos de abertura, após quase
sete décadas de monopólio estatal.
Nem todas as mudanças reivindicadas
são, no entanto, consensuais – reflexo
da diversidade de um mercado com
empresas de vários portes, estratégias
e origens. Obrigatória desde 2011, a
contratação de 40% das cessões de
resseguro com resseguradoras locais,
por exemplo, ainda divide opiniões.
O advogado Luís Felipe Pellon, do
escritório Pellon & Associados, está
entre os que postulam o fim da obrigatoriedade. “Isso leva a um excessivo
retalhamento da cobertura e a dificuldades operacionais de colocação do
resseguro e retrocessão”, afirma, para
acrescentar que a medida, prescrita
pela Resolução CNSP 225, é aplicada
em meio a conflitos de interpretação,
gerando insegurança no mercado
e tendência de elevação de preços,
em face das dificuldades inerentes à
aceitação parcial de riscos.
Presidente da Comissão de Assuntos
32 • REVISTA DE SEGUROS
Jurídicos da CNseg e diretor da Metropolitan Life Seguros e Previdência
Privada – MetLife, Washington Luis
Bezerra da Silva sai em defesa da
obrigatoriedade. “Embora alguns possam ver aí uma limitação de mercado,
isso resulta da determinação legal de
que, para risco no Brasil, o seguro
deve ser feito aqui. Sendo o resseguro uma decorrência, é natural que
o seguro deva ser efetuado no País,
exceto nos casos de não aceitação
do risco ou de falta de capacidade
para assumir os riscos”, preconiza.
Transferência
de riscos
Quatro anos depois de a Resolução
CNSP 232 ter imposto restrições às
resseguradoras locais para a transferência de riscos a empresas do mesmo grupo no exterior, o mercado ainda
se ressente. Coordenador acadêmico
do MBA em Gestão Jurídica do Seguro e Resseguro da Escola Nacional
de Seguros – ENS, em São Paulo e
Curitiba, o advogado e consultor Walter Polido prega o fim da limitação da
cessão e da retrocessão em 20%.
“As seguradoras internacionais aqui
Divulgação MetLife
Num mercado formado por empresas de vários
portes, estratégias e origens, as mudanças
reivindicadas não encontram consenso.
Sendo o resseguro
uma decorrência,
é natural que o
seguro deva ser
efetuado no País,
exceto nos casos
de não aceitação do
risco ou de falta de
capacidade.
Washington Bezerra
instaladas a partir da abertura do
resseguro tinham começado a trazer
produtos inéditos, praticados em mercados mais desenvolvidos, todos com
o viés legítimo do resseguro embutido
na comercialização. A limitação dos
20% freou de forma abrupta a entrada
de novos produtos”, observa Polido. A
medida, ele acrescenta, acabou também por criar no mercado a chamada
triangulação, encarecendo o seguro.
Quanto às restrições a operações de
resseguro entre companhias locais de
um mesmo grupo, Washington Bezerra
salienta que o tema merece estudo.
Instâncias de governo
Marcelo Mansur, que também é professor da Escola de Administração da
Isso (contratação
de 40% das cessões
com locais) leva a um
excessivo retalhamento da cobertura e
a dificuldades operacionais de colocação
do resseguro e
retrocessão.
Luís Felipe Pellon
André Bueno
Partes envolvidas
Problema recorrente no mercado é
a interpretação de algumas normas.
Entre elas, exemplifica o advogado
Marcelo Mansur, do escritório Mattos
Filho, está a de formalização contratual das operações em até 270
dias, após o começo da cobertura,
sob pena de ela não ser considerada
desde o início. A aplicação da medida
gera controvérsias devido a divergências de entendimento entre as empresas e a Susep, com a punição de
resseguradoras que não apresentam
documentos assinados por todas as
partes envolvidas.
“O grande desafio é estabelecer em
que consiste essa formalização. É
preciso que haja da parte do regulador o reconhecimento de como as
coisas funcionam, pois o que importa
é a substância, não a forma. Deveria, assim, bastar o consentimento,
ainda que ele não venha sob a forma
de uma assinatura no papel”, afirma.
Mansur associa o que considera
exigência excessiva de formalização
à cultura jurídica do Brasil, onde os
pormenores precisam estar esmiuçados nas leis e contratos, ao contrário
do que ocorre em outros países.
Fundação Getulio Vargas - FGV, aponta
outro desafio a ser superado: as barreiras cambiais e fiscais à internacionalização das resseguradoras locais. Embora
a remoção desses obstáculos dependa
de outras instâncias de governo, “o
apoio do regulador é fundamental”,
assinala, para lembrar que uma das
empresas com ambições internacionais
é o IRB Brasil Re, que tem participação societária relevante da União. “Na
Alemanha, por exemplo, as empresas
acompanham seus clientes fora do país.
Nosso regulador deveria buscar formas
de quebrar esses entraves”, defende.
Divulgação Pellon & Associados
“Por serem empresas locais, submetidas às regras nacionais do setor e
da tributação, o fato de pertencer ao
mesmo grupo não geraria risco legal
nem financeiro, tendo em vista os limites técnicos impostos separadamente
a cada empresa. Ao contrário, até
fomentaria a concorrência”, afirma.
As seguradoras
internacionais
tinham começado
a trazer produtos
inéditos. Mas a
limitação dos 20%
freou de forma
abrupta a entrada de
novos produtos.
Walter Polido
Outra questão que demanda solução
envolve o Imposto de Renda sobre
a remessa de prêmios de resseguro
para o exterior, assinala Luís Felipe
Pellon. A Secretaria da Receita Federal adota no setor as regras previstas
para a prestação de serviços.
“Esse entendimento errôneo faz com
que seja aplicada uma alíquota de
25%, quando poderia ser aplicada
uma de 15%, prevista para outros
rendimentos, uma vez que o seguro e
o resseguro se constituem em atividade financeira, não caracterizável como
prestação de serviços”, salienta. n
REVISTA DE SEGUROS • 33
Mercado aberto
Consumidor
Divulgação WEG
Amadurecimento
do mercado inspira
confiança
Por FRANCISCO NOEL
A avaliação positiva vem de clientes que lidam
com empresas atuantes em solo brasileiro e estão
familiarizados com a dinâmica global do resseguro.
A
s atividades de resseguro no
Brasil trilham o rumo certo,
passados oito anos da abertura
do mercado, mas ainda têm um bom
caminho a percorrer até a chegada a
níveis de desempenho alcançados por
países europeus e norte-americanos.
A avaliação positiva, seguida de manifestações de confiança no amadurecimento do mercado brasileiro, vem
do outro lado do balcão. Ela é emitida
por clientes que lidam com as seguradoras e resseguradoras atuantes em
solo brasileiro e estão familiarizados
com a dinâmica global do resseguro.
“Comparado com mercados mais
evoluídos, o brasileiro ainda está bastante tímido. Mas, se formos comparar com o quadro anterior à abertura,
o Brasil evoluiu muito. Isto demonstra
que se trata de um mercado extremamente interessante para todos os
resseguradores mundiais. Prova clara
disso é justamente o número de empresas que têm hoje autorização para
34 • REVISTA DE SEGUROS
operar no nosso mercado”, afirma na
fabricante de equipamentos WEG, o
gerente global de Seguros e Riscos,
Vanderlei Moreira, vice-presidente da
Associação Brasileira de Gerência de
Riscos – ABGR.
Uma das maiores produtoras de
equipamentos eletroeletrônicos do
mundo, a WEG tem fábricas em
nove países, vende em mais de 100
e possui um programa mundial de
seguros alinhado à estratégia de internacionalização. As apólices, emitidas por companhias multinacionais,
cobrem uma gama variada de riscos.
Entre eles, responsabilidade civil
por produtos (US$ 100 milhões de
capital segurado), operacionais (US$
60 milhões), engenharia, instalação
e montagem (US$ 40 milhões) e impacto ambiental (US$ 25 milhões).
Evolução contínua
Na Odebrecht Corretora de Seguros
– OCS, o gerente de Riscos, Eduardo
Se compararmos
com o quadro
anterior à abertura, o
Brasil evoluiu muito.
Isto demonstra
que é um mercado
extremamente
interessante para
resseguradores
mundiais.
Vanderlei Moreira
Felix Damião, concorda com a avaliação sobre a cobertura do resseguro
no País. “A evolução existe e é continua, o que significa que ainda temos
muito a aprender, seja na dinâmica
das operações, seja no desenvolvimento e simplificação de soluções
que possam atender os interesses
do segurado”, observa. “O resultado é positivo e estou certo de que o
mercado local tem toda a capacidade
para atingir o nível mais elevado de
avaliação de seus clientes”.
Braço do grupo Odebrecht no mer-
Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio
Madeira, Rondônia. O grupo fechou
o ano de 2013 com seguros que somavam o valor de US$ 81,6 bilhões,
dos quais US$ 44,7 bilhões para
atividades de engenharia e construção
e US$ 36,9 bilhões para os ativos. Em
garantias, o total chegava a quase
US$ 14,1 bilhões – em engenharia
e construção, US$ 13,7 bilhões; em
ativos, R$ 389 milhões.
Confiança no futuro
Vanderlei Moreira também considera
que a abertura do mercado é mais
vantajosa para as empresas que, no
fim das contas, têm a cobertura de
riscos lastreada no resseguro. O executivo ressalta, porém, que com as
vantagens as empresas precisam ter
bom gerenciamento de risco e planos
de contingência e de continuidade.
“Sem estes pilares, a empresa não
conseguirá taxa atrativa e terá saudade da época em que o mercado
brasileiro era um monopólio”, alerta.
“O mercado brasileiro vai alcançar os
patamares desejados de maturidade”,
confia o dirigente da ABGR, mas ele
acredita que leverá um tempo. “O aperfeiçoamento virá depois que o segurado entender que, para obter uma taxa
de risco melhor do que a média, terá
que realizar o trabalho dentro de sua
casa. E isso nada mais é do que efetuar o correto gerenciamento de risco.
Os resseguradores mais tradicionais e
grandes players do mercado internacio-
Divulgação Holanda Cavalcanti
cado de seguro e resseguro, a OCS
foi criada em 1978 para auxiliar as
empresas do conglomerado na identificação, avaliação e mitigação de
riscos associados aos ativos e obras
no País e no exterior - além de riscos,
transferindo-os a seguradoras e resseguradoras dentro e fora do Brasil. A
corretora busca linhas internacionais
de coberturas de seguros e garantias
e formula soluções integradas para
projetos e negócios. Administra também as apólices de seguro de Vida,
Saúde e planos odontológicos dos
181 mil empregados da organização.
Mesmo tendo chão pela frente para
emparelhar-se com a realidade diversificada do resseguro em outros países,
o mercado brasileiro do presente
proporciona vantagens que eram
impossíveis nos tempos do monopólio
estatal. “A nova dinâmica coloca as
empresas e clientes segurados em
um patamar mais próximo ou igual à
condição global de uma empresa do
mesmo segmento fora do País. Essa
igualdade significa que podemos ter
diversas vantagens, acompanhadas
de algumas exposições, preocupações e cuidados que não experimentávamos antes da abertura”, assinala
o gerente de riscos da OCS.
Para conglomerados como a
Odebrecht, maior construtora do
País e presente em mais 22 países,
o resseguro é vital para a proteção
do patrimônio e dos grandes empreendimentos, como a construção da
O resultado é
positivo e estou certo
de que o mercado
local tem toda a
capacidade para
atingir o nível mais
elevado de avaliação
de seus clientes.
Eduardo Damião
nal já sinalizaram isso há muito tempo”.
O gerente de riscos da OCS também
considera que o mercado brasileiro
de resseguro tem tudo para atingir
a maioridade. Eduardo Felix Damião
sugere às companhias o “contínuo
aperfeiçoamento das soluções e serviços aos segurados, replicando as
práticas e ações exitosas adotadas
em outras regiões do globo”. n
REVISTA DE SEGUROS • 35
Mercado aberto
Formação e capacitação
Por FERNANDA THURLER
Os salários no mercado de resseguros variam
de R$ 8 mil a R$ 25 mil, mas poucos candidatos
preenchem os requisitos para ocupar as vagas.
o
mercado de resseguros no Brasil vive um momento de boom
profissional. Desde a abertura
do setor em 2007 tem sido grande a
procura por profissionais especializados na área e, com o crescimento do
mercado de seguros superior a 8%
em 2014, a necessidade de mão de
obra altamente qualificada aumentou
significativamente, criando no País uma
situação inusitada: a oferta de postos
de trabalho é superior à demanda.
Há vagas para executivos em vários níveis hierárquicos, com salários nas faixas
de R$ 8 mil a R$ 25 mil. O problema é
que poucos profissionais preenchem os
requisitos necessários para ocupar as
vagas. Foi justamente para evitar este
cenário que a Escola Nacional de Seguros vem oferecendo programas educacionais na área de resseguros mesmo
antes da abertura do setor. A oferta é
variada: são cursos, seminários, publicações e treinamentos no exterior.
Aspectos do mercado
Um dos principais produtos é o MBA
Executivo em Seguros e Resseguro.
Direcionado a executivos em cargos de
liderança, o curso visa preparar estes
profissionais para conhecer de forma
abrangente os principais aspectos do
mercado de seguros, resseguro, previdência privada aberta e saúde suplementar, informa o diretor de Ensino Superior
da Escola, Mario Pinto.
“O curso é orientado para propiciar
aos participantes o desenvolvimento
de uma visão ampla dos negócios e
do funcionamento das empresas e das
instituições desse mercado, de modo
a prepará-los para atuar como gestores eficazes e eficientes de negócio
e empreendimentos, com tomada de
decisões consistentes e fundamentadas”, complementa ele. O curso está
com inscrições abertas em Salvador/BA,
onde é oferecido pela primeira vez, no
Rio de Janeiro/RJ e em São Paulo/SP.
A diretora de Ensino Técnico da Escola,
Maria Helena Monteiro, faz coro à avaliação de especialistas que relacionam a
carência de profissionais de resseguros
às décadas de monopólio, período em
que não houve investimentos na formação de novos profissionais. Mas destaca
o incentivo do setor à qualificação dos
executivos.
Estudo em Londres
Ela cita como exemplo o Programa
de Treinamento no Exterior 2015, que
oferece chance de estudar os processos
técnicos do resseguro em Londres, na
Inglaterra. “O curso será ministrado entre
7 e 11 de setembro, por The Chartered
Insurance Institute, tradicional insti­tuição
de ensino do seguro, resseguro e serviços financeiros”, antecipa Maria Helena.
Para participar é necessário domí­nio
da língua inglesa e comprovado
conhecimento básico ou intermediário
em resseguro. O processo seletivo é
feito através de análise de currículos.
A Escola mantém convênio com o instituto há 15 anos, para administração de
exames para certificação internacional.
Desde 2011, as duas instituições vêm
realizando o Programa de Treinamento
no Exterior, em Londres, já tendo capacitado 57 profissionais brasileiros. n
Paulo Rodrigues
Gargalo está
na qualificação
profissional
O curso será
ministrado entre 7 e 11
de setembro, por The
Chartered Insurance
Institute, tradicional
insti­tuição de ensino
do seguro, resseguro e
serviços financeiros.
Maria Helena Monteiro
36 • REVISTA DE SEGUROS
Estudo CNSEG
Números do
resseguro
brasileiro em 2014
Por NÚCLEO DE ESTUDOS E PROJETOS
O resseguro arrecadou R$ 9,11 bilhões em prêmios
cedidos por cerca de 84 seguradoras brasileiras,
10,4% a mais que no ano anterior.
O
mercado segurador brasileiro
atingiu a maior arrecadação da
sua história em 2014 – aproximadamente R$ 325 bilhões – dos
quais pouco menos de 1/3 é passível
de resseguro, já que ainda não existe
para consumo, produtos para títulos de
capitalização, saúde e previdência. O
resseguro arrecadou R$ 9,11 bilhões
em prêmios cedidos por cerca de 84
seguradoras brasileiras, um aumento
de 10,4% se comparado ao ano
anterior e 2,7 pontos percentuais
acima do seu mercado-alvo.
O número de resseguradoras autorizadas a operar como local
aumentou de quatro, no primeiro
ano de abertura, para 16 em 2014.
Somados os resseguradores admitidos, com no mínimo escritório de
representação no Brasil, o total de
companhias chega a 51 e mais 71
autorizadas a operar negócios eventuais, sem sede no País, totalizando
122 empresas atuantes no setor.
As provisões técnicas das resseguradoras locais chegaram a R$ 12
bilhões em 2014, volume pequeno
se comparado ao total do setor, que
foi pouco abaixo de R$ 580 bilhões.
Nos últimos cinco anos, a taxa
média de cessão a resseguro foi de
aproximadamente 9% do total de
prêmio de seguros(1), abaixo do nível
praticado pelos 20 maiores grupos
de cedentes da Europa que, em
2013, alcançaram 12,4% (2).
Nível de cessão
É interessante observar, no entanto,
que este nível de cessão é inclusive
superado quando se adiciona o cosseguro em 2014: 12,8%. Em contrapartida, o percentual de sinistros e
indenizações recuperadas em resseguro perfizeram 12,5% do montante
de sinistros ocorridos em 2014.
Um dos principais objetivos das
seguradoras ao contratar o resseguro é protegerem-se da volatilidade
de seus resultados. Consequentemente, os ramos que operam com
níveis mais elevados de cessão são
aqueles cujos sinistros podem ser
grandes o suficiente para comprometer a solvência e liquidez das
companhias de seguros.
Em 2014 observa-se, por exemplo,
nos grupos denominados “grandes riscos” e “risco de engenharia”
taxas de cessão de 80,4% e 64,5%,
respectivamente. Demais ramos que
dispuseram de mais 30% do prêmio
cedido a resseguradores no último
ano foram os grupos de transportes
e cascos (que inclui coberturas de
seguros marítimos, aeronáuticos e riscos especiais), responsabilidade civil,
crédito e garantia, e rural. Em relação
ao volume de prêmio repasssado a
resseguradores, os grupos de ramos
“grandes riscos” e “transportes e cascos” foram responsáveis por mais da
metade dos negócios. n
1- Prêmio de Seguros como pela definição
da Susep.
2 - Fonte: A.M. Best Company, Inc. Report.
Europe’s Largest Cedants Alter Reinsurance Purchasing Practices. Publicado em
02/02/2015. Acessível por: http://www3.
ambest.com/BestWeek/DisplayBinary.
aspx?TY=P&record_code=233230.
REVISTA DE SEGUROS • 37
NOVOS PRODUTOS
Modalidades de
proteção inovadoras
chegam ao País
Por CARMEN NERY
Há uma gama de novos produtos para o risco
tradicional, mas também para os chamados riscos
emergentes.
A
s resseguradoras poderão ter
papel fundamental para a mitigação de riscos provocados
por desastres naturais – como secas
e inundações – e também riscos de
ordem financeira. Começam a chegar ao País novas modalidades de
proteção como o resseguro paramétrico, resseguros financeiros, proteção
de portfólio e o uso do resseguro
como retrocessão para seguradoras.
O resseguro surge ainda como uma
alternativa de alívio às seguradoras no
tocante a composição de capital mínimo, nos momentos em que é necessário aportar excedentes de capital.
Diretora-adjunta de Relacionamento
com Clientes da Munich Re do Brasil Resseguradora, Adriana Seemann
diz que a empresa tem ampla gama
de produtos para o risco tradicional,
mas também para o que chama de
emergentes. “O resseguro é uma
ferramenta valiosa de otimização e
alívio de capital ainda pouco explorada no mercado brasileiro. No
Brasil contamos com uma equipe
38 • REVISTA DE SEGUROS
multidisciplinar dedicada ao tema
e conectada com nosso centro de
expertise, a Capital Partners”.
Ela destaca que a proposta é ir além
da mera transferência de risco, apontando soluções em função da motivação do cliente, que pode ser o alívio
de capital ou outras necessidades,
como financiamento para crescer,
estabilização de resultados ou manutenção de sua classificação de risco
nas agências de rating.
Gestão de ativos
A empresa oferece ainda a linha de
serviços ALPHA - Asset Liability
Portfolio Hedge Administration, que
visa auxiliar os clientes na gestão de
seus ativos para fazer frente à volatilidade dos passivos assumidos devido
a oscilações de taxas de juros, inflação
etc. “O interessante é que as pessoas
envolvidas em tais projetos são as
mesmas que participam da gestão de
risco do grupo”, ressalta Adriana.
Na avaliação de Margo Black, as mudanças no ambiente econômico e regulatório
estão criando novos desafios para a indústria de seguros no mundo todo. Presidente da Swiss Re Brasil Resseguros
e diretora responsável pelas operações
de resseguros da Swiss Re na América
Latina Sul, ela observa que, seguindo a
tendência global, o Brasil também tem
implementado medidas que aproximam
o mercado local da regulamentação europeia conhecida como “Solvência II”.
As novas exigências de capital para
riscos de subscrição, crédito e operacional vêm sendo implementadas
há quatro anos e, no final de 2014, a
Propusemos uma
cobertura paramétrica
em parceria com
governos, para
subsidiar o seguro
para moradores de
áreas de risco.
Cláudia Melo
Susep definiu os critérios para estabelecer o capital constituído pelas seguradoras, entidades de Previdência
Complementar, empresas de títulos de
Capitalização e resseguradoras locais,
com base no risco de mercado.
“As novas regras podem demandar
cerca de R$ 3,8 bi de capital adicional
às companhias brasileiras, que terão
até o fim de 2017 para se adaptar”,
diz Margo. Neste cenário, o resseguro aparece como uma ferramenta
de gestão de capital e otimização de
recursos para as seguradoras, que
pode ser usada tanto para aumentar
o capital disponível (PLA - Patrimônio
Soluções sob medida
Os principais benefícios da utilização
do resseguro para gestão de capital
são: flexibilidade, eficiência, liquidez e
proteção em cenários adversos, segundo Margo. Ela explica que não existe
um produto de prateleira e a empresa
trabalha em estreita colaboração com
a alta direção dos clientes, incluindo o
CEO e diretoria, para desenvolver soluções sob medida. “As soluções podem
variar desde as mais simples, como
a tradicional quota share, até as mais
complexas estruturas de resseguro, envolvendo diferentes linhas de negócios
e tempo de contrato”, explica.
Wady Cury, diretor de grandes riscos
do Grupo BBMapfre e presidente da
Comissão de Resseguro da
CNseg, alerta que, embora o resseguro possibilite à seguradora acessar
capital de uma forma mais econômica, evitando que recorra ao controlador, é fundamental que a operação
seja feita com cuidado. “É preciso
escolher bem para não adicionar o
risco de crédito, além do que o capital regulatório já exige.”
Ele destaca que o resseguro tem sido
um indutor de lançamento de novos
produtos pelo mercado segurador,
permitindo que as empresas lancem
inovações de forma protegida em
função da transferência do know-how
de resseguradoras internacionais. “O
resseguro é o ápice da cadeia e tem
um olhar mundial que permite trazer
produtos que estão sendo lançados em
outras partes do mundo”, reitera Cury.
Shutterstock
Líquido Ajustado) quanto para reduzir
a exigência de capital (CMR - Capital
Mínimo Requerido).
Enchentes: uma modalidade de resseguro lançada no ano passado tem cobertura para inundações, por meio de ferramenta que permite às seguradoras precificar o risco
O resseguro é
uma ferramenta
valiosa de
otimização e alívio
de capital ainda
pouco explorada
no mercado
brasileiro.
Adriana Seemann
Precificação de risco
Um exemplo é a Swiss Re que lançou
no ano passado uma modalidade
de resseguro com cobertura para
inundações, por meio da oferta de
uma ferramenta que agora permite às
seguradoras precificar o risco. Segundo Cláudia Melo, gerente de clientes
sênior da área de Global Partnerships
da Swiss Re, o produto – que já está
sendo utilizado por duas seguradoras
brasileiras – é voltado para qualquer
seguradora que queira incluir a co-
bertura de alagamentos em seguros
residenciais, industriais, comerciais e
de automóveis.
“A cobertura de inundação é voltada para clientes de classe média
que podem pagar por este tipo de
seguro. Para a população de menor
poder aquisitivo, propusemos uma
cobertura paramétrica em parceria
com os governos, que poderiam
subsidiar o seguro para moradores
de áreas de risco. A proposta já foi
apresentada, mas ainda está em
discussão”, diz Claudia.
O seguro paramétrico é baseado num
evento físico e num parâmetro pré-definido, que funciona como gatilho
para o pagamento do sinistro, como,
por exemplo, a magnitude de um terremoto ou o índice pluviométrico de
enchentes. “A seguradora não precisa
ir ao local para saber o efeito, a partir
do parâmetro alcançado, o pagamento é feito de forma rápida e transparente”, resume a gerente. n
REVISTA DE SEGUROS • 39
RISCOS CATASTRÓFICOS
Perdas são maiores
em países mais
pobres
Divulgação SWISS RE
Por DENISE BUENO
Cláudia Melo
Gerente de clientes sênior da área de
Global Partnerships da Swiss Re
40 • REVISTA DE SEGUROS
Os mercados emergentes são responsáveis por
94% das mortes ocorridas em catástrofes, ficando
apenas 6% com os mercados maduros.
H
aiti, 12 de janeiro de 2010. Um
terremoto ocorrido a 16 km da
cidade de Porto Príncipe, de 7,7
graus na escala Richter, matou mais
de 225 mil pessoas. Segundo o Banco
Mundial, as perdas e danos provocados pelo terremoto chegaram a US$ 8
bilhões, o equivalente a 120% do PIB
do país na época. Seguradoras pagaram US$ 111 milhões em indenizações.
Chile, 27 de fevereiro de 2010. Terremoto a 90 km de Concepción, de 8,8
graus na escala Richter, mata mais de
850 pessoas, danifica 1,5 milhão de
edifícios e deixa 12,5% da população
desabrigadas. Prejuízos para a economia de US$ 30 bilhões, ou 5% do PIB.
Foram 79 hospitais afetados. Apenas
6% das residências tinham seguro.
Milhares de sobreviventes recomeçaram suas vidas do zero. As seguradoras pagaram US$ 8,8 bilhões.
Japão, 11 de março de 2011. Terremoto seguido de tsunami tira a vida
de 15.846 pessoas e mais de 3,3 mil
ficam desaparecidas. Perdas econômicas foram calculadas em quase
No Brasil, segundo
empresas como Munich
Re e Swiss Re, não há
contrato de resseguro
de catástrofe feitos
por governos federal,
estadual ou municipal.
US$ 200 bilhões, com impacto de
4% no PIB. As seguradoras pagaram
indenizações de US$ 37,6 bilhões.
Custo para governos
Nesses três exemplos, a conclusão
é que quanto mais pobre o país,
maior a perda para o governo, pois
a população não tem acesso ao seguro, que tem um papel fundamental
na recuperação das economias. Até
hoje o Haiti enfrenta dificuldades com
epidemias, enquanto a economia do
Japão estava praticamente recuperada em três meses após uma das
piores catástrofes da história do país.
Além das mortes, precisam ser considerados impactos na infraestrutura
de estradas, pontes, aeroportos,
portos, redes elétricas e de telecomunicações, os riscos de epidemias
e os danos a empresas, que, mesmo
situadas longe do local da catástrofe, sofrem com falta de energia e
quebra da cadeia de fornecimento.
Na política fiscal, gasto adicional
para financiar a reconstrução.
De acordo com resseguradores, é
possível um esforço para desenvolver
produtos adequados para os países
em desenvolvimento. No entanto,
sem estruturas econômicas e regulatórias adequadas, os mecanismos
de gestão de riscos de seguros estão
aquém de seu potencial para reduzir o
impacto dos desastres.
“Ao trabalhar em conjunto com as
seguradoras, os governos têm os
meios e a capacidade para aproveitar tal apoio e aumentar a proteção
das pessoas e da economia com a
redução dos impactos dos desastres”, diz Cláudia Melo, gerente de
clientes sênior da área de Global
Partnerships da Swiss Re.
Impacto econômico
A Geneva Association tem em seu
portal o estudo Insurers contributions
to disaster reduction - a series of case
studies, segundo o qual uma maior
cooperação entre as seguradoras e os
governos pode reduzir a escala das
perdas geradas pelas catástrofes, bem
como seu impacto econômico subsequente – especialmente em países em
desenvolvimento, os mais afetados,
que acabam por vivenciar pobreza
e estagnação econômica pela falta
de seguros para a reconstrução e de
medidas preventivas.
Nos países desenvolvidos, as perdas
seguradas chegam a 25% do total
dos prejuízos, enquanto nos emergentes este percentual cai para 7%,
revela estudo da Swiss Re. O Japão,
por exemplo, além de ter um dos
mais elevados índices de consumo
per capita de seguro, conta com um
fundo do governo para perdas catastróficas. Uma Agência Especial de
Reconstrução foi criada pelo governo
japonês para administrar um fundo de
US$ 245 bilhões e tornar mais ágil o
processo para ajudar os municípios,
estabelecer zonas especiais de reconstrução e fornecer subsídios para
as áreas mais afetadas pelo desastre.
Sem estruturas
econômicas e
regulatórias adequadas,
os mecanismos de
gestão de riscos de
seguros estão aquém
de seu potencial para
reduzir o impacto dos
desastres.
O estado da Flórida, nos Estados Unidos, região onde ocorre a maioria dos
mais violentos furacões da história,
também tem um fundo público para
ajudar a economia local a se levantar
após a passagem de um furacão.
Já o Haiti, o Chile e também o Brasil,
com episódios como o deslizamento
de terra na região serrana do Rio de
Janeiro, em janeiro de 2011, e as enchentes que assolaram Santa Catarina
em 2009, contaram com a ajuda de
doações locais e internacionais.
Concentração urbana
Outros fatores que tornam a situação
ainda mais grave nos países emergentes é a concentração da população em grandes centros urbanos e a
qualidade da infraestrutura básica. De
acordo com estudo da Swiss Re, os
mercados emergentes são responsáveis por 94% das mortes ocorridas
em catástrofes, ficando apenas 6%
com os mercados maduros.
Aprender com a terrível experiência e
ajudar governos, empresas e indivíduos a estarem mais preparados para
o próximo evento é o trabalho que
resseguradoras têm desenvolvido em
mercados emergentes. No Brasil, segundo empresas como Munich Re e
Swiss Re, não há contratos de resseguro de catástrofe feitos por governos
federal, estadual ou municipal.
A maior parte dos gastos dos governos de países emergentes é para alívio emergencial, o que acaba saindo
caro para todo mundo, pois o dinheiro que deveria estar sendo investido
para a economia crescer tem de ser
direcionado para aliviar os mais atingidos. As perdas tendem a crescer
com as mudanças climáticas e, por
isso, ou os governos dos emergentes
aderem às medidas já tomadas pelos
países desenvolvidos ou os resultados serão cada vez piores, alertam
os estudos divulgados. n
REVISTA DE SEGUROS • 41
Saúde, Vida E PREVIDÊNCIA
Divulgação SCOR
Resseguro para
esses segmentos tem
potencial
Por JOÃO MAURÍCIO RODRIGUES
Há oportunidades de parcerias com seguradoras
para incrementar produtos inovadores e mais
customizados à real necessidade de cada cliente.
No seguro de
Vida a necessidade
de cada um varia
ao longo dos
anos e a oferta
de produtos com
valores elevados e
de longo prazo ainda
é extremamente
tímida no Brasil.
Francisco Toledo
42 • REVISTA DE SEGUROS
A
pós oito anos da queda do
monopólio de resseguros no
Brasil, o mercado demonstra
um potencial de crescimento cada
vez maior nos segmentos de Saúde Suplementar, Vida e Previdência
Complementar. A abertura aconteceu
por meio da Lei Complementar N°
126/07, de 2007, e das regulamentações posteriores.
Segundo o diretor executivo da Scor
Brasil Resseguros S.A., Francisco de
Toledo, o mercado de resseguro do
ramo de Pessoas fatura em torno de
R$ 300 milhões por ano no Brasil e
apresenta um grande potencial de
crescimento, através do incremento
nas carteiras atuais das seguradoras,
do lançamento de novos produtos e da
possibilidade de surgimento de novas
oportunidades em Saúde e Previdência.
“Ainda estamos em um período de
transição para o mercado totalmente aberto. Durante este período, a
ebulição em termos de concorrência
e de ganho de mercado, tende a se
normalizar”, afirma Toledo, acrescentando que é importante que seja
mantida a segurança jurídica necessária à atração e manutenção de
novos capitais.
Falta de experiência
O executivo explica que o ramo de
Pessoas no Brasil carece de experiência principalmente em precificação,
seleção, distribuição e retenção de
seguros individuais. Observa ainda que
existem oportunidades nas parcerias
com as seguradoras para incrementar
produtos inovadores e mais customizados à real necessidade de cada cliente.
“No seguro de vida, por exemplo, a
necessidade de cada um varia ao longo
dos anos e a oferta de produtos com
valores elevados e de longo prazo ainda
é extremamente tímida no Brasil”, alerta.
Em relação aos critérios de seleção de
Composição de renda
A tendência do mercado de renda é
se desenvolver para que as pessoas
com planos de Previdência ou fundo
de pensão comprem a composição
de renda no mercado segurador. Na
previsão do dirigente, com o passar
do tempo esse mesmo segmento
pode evoluir para outros produtos.
“Esse mercado está sendo desenha-
do. Nosso objetivo é ter uma proposta para apresentar à Susep até o final
de abril deste ano”, adianta.
No segmento de Vida o que demanda resseguro é o seguro de grandes
coberturas, na avaliação do presidente
da FenaPrevi. “Clientes com coberturas elevadas são mais potenciais. Pelo
fato de não termos um mercado muito
grande, os seguros com capital alto é
que são os mais ressegurados. Os extremos das carteiras são ressegurados
para que a empresa possa ter mais
estabilidade na estrutura de capital”,
explica.
Osvaldo do Nascimento revela ainda que a FenaPrevi quer incentivar
uma melhor qualificação dos canais
de distribuição dos corretores,
agências e canais eletrônicos em
que os produtos são procurados.
O objetivo, segundo o dirigente, é
a transparência para que o cliente
tenha informação e discernimento
para comprar os produtos com
segurança.
Mercado Desconhecido
Na avaliação do presidente da FenaSaúde, Marcio Coriolano, os resseguradores ainda não conhecem
suficientemente o mercado de seguros de saúde no Brasil e precisam
tomar a iniciativa de entender melhor
o segmento. No entanto, o executivo
reconhece que o seguro saúde tem
algumas particularidades que dificultam a adoção do resseguro.
Arquivo CNseg
riscos, o representante da Scor avalia
que desde a abertura do mercado as
companhias seguradoras procuram
aperfeiçoar a seleção e precificação
de riscos, atendendo exigências dos
resseguradores, principalmente nos
produtos individuais que passaram a
ficar mais atraentes, oferecendo possibilidade de taxas garantidas e capitais
elevados.
Na visão de Francisco de Toledo,
normalmente as resseguradoras oferecem a capacidade adicional que
as companhias precisam para cobrir
certo capital segurado. No entanto,
no segmento de seguro de Pessoas, as empresas fornecem também
todo o suporte técnico, tanto para o
desenvolvimento do produto como
para a elaboração da nota técnica,
clausulados, underwriting, regulação
de sinistros etc.
“A experiência de outros países muitas vezes pode ser utilizada no Brasil,
principalmente nas classes mais
abastadas, que têm hábitos de vida
mais homogêneos mesmo em países
muito diferentes”, finaliza.
Há espaço para
que o mercado
de seguros de
Saúde seja melhor
conhecido pelo
ressegurador. Dessa
forma, será possível
oferecer produtos
mais adequados às
nossas realidades.
Márcio Coriolano
REVISTA DE SEGUROS • 43
Clientes com
coberturas elevadas
são mais potenciais.
Os extremos
das carteiras são
ressegurados para
que a empresa
possa ter mais
estabilidade na
estrutura de capital.
Osvaldo do Nascimento
44 • REVISTA DE SEGUROS
Marcio Coriolano explica que muitas
operadoras não têm sistema de
informação estruturada, o que
impede que o ressegurador faça
uma análise adequada de riscos. O
resultado, segundo ele, é uma tarifa
defensiva das resseguradoras, muito
elevada, e que dificulta o interesse
das empresas de seguro Saúde.
O presidente da FenaSaúde
demonstra que existe um grande
espaço para que o mercado de
seguros de saúde seja melhor
conhecido pelo ressegurador e indica
duas modalidades de resseguros
para o segmento: uma é a carteira
como um todo e outro é só para
determinados riscos ou contratos.
“O ressegurador sempre prefere a
carteira, pois oferece uma perspectiva
maior de negócio”, avalia.
No entanto, o executivo adverte
que atualmente as grandes
seguradoras e operadoras já têm
uma escala muito grande e não
se interessam pelo resseguro de
carteira. “Vou dar um exemplo: a
Bradesco Saúde tem cerca de 4,5
milhões de clientes segurados e
não precisa de um resseguro para
diminuir os cenários de incerteza.
A seguradora já conhece bem o
seu risco e tem conhecimento bem
razoável da sua carteira”.
Marcio Coriolano sugere que
um caminho mais viável para as
empresas de resseguros está
nos produtos que cubram riscos
para determinados tratamentos e
patologias. “É por isso que reitero
a análise de que existe um grande
espaço para que o mercado de
seguros de saúde seja melhor
conhecido pelo ressegurador.
Dessa forma, será possível oferecer
produtos mais adequados às nossas
realidades”, finaliza, lembrando que o
mercado de seguro saúde é uma fatia
de cerca de 20% de um mercado
maior da Saúde Suplementar, de
cerca de 50 milhões de pessoas.
Novos produtos
O segmento de Vida e Previdência
é o que oferece o maior potencial
de crescimento no Brasil,
principalmente na modalidade de
renda programada, na avaliação de
Osvaldo do Nascimento, presidente
da FenaPrevi. No entanto, ele
adverte que ainda depende muito
da regulamentação que o mercado
venha a adotar para os produtos e
da situação econômica do País.
“O segmento está atrelado ao
crescimento do PIB e renda.
Só depois que conhecermos o
desdobramento do cenário econômico
atual poderemos ter uma ideia do
potencial real desse mercado”.
O presidente da FenaPrevi aponta
também as dificuldades relacionadas
à correção das aposentadorias pela
inflação ou taxa de juros acoplados
nos contratos, composição de
reajuste que não é comum no
exterior. “A partir do momento em
que nós tivermos produtos parecidos
com o existente no exterior, o
resseguro na área de Previdência
será alavancado”, prevê.
No entanto, revela que a
entidade está acompanhando o
desenvolvimento de novos produtos
que atendam às necessidades do
consumidor brasileiro. Um deles é o
seguro de Vida Capitalizado, que já
foi submetido à Superintendência de
Seguros Privados - Susep e deverá
ser lançado ainda neste ano. n
Arquivo CNseg
Arquivo CNseg
Saúde, Vida E PREVIDÊNCIA
artigo jurídico
Proteção a pessoas
e ao ambiente
Gloria Faria, Superintendente Jurídica da CNseg
Arquivo CNseg
Os prejuízos materiais e humanos impactam a
população das cidades e do campo. Os efeitos
podem ser amenizados com a proteção do seguro.
A prevenção e o
monitoramento dos
riscos ambientais são
hoje absolutamente
imprescindíveis,
sobretudo após o
advento da lei que
instituiu a PNRS.
o
Brasil, com suas dimensões continentais e seus
8,5 milhões de quilômetros
quadrados de território, tem como
maiores riscos ambientais as enchentes e inundações. Prova disso
é o 11º lugar que ocupa no ranking
dos países mais afetados por esses
fenômenos. Sem incidências expressivas de abalos sísmicos ou efeitos
de ciclones ou furacões, o País tem
suas atividades produtivas – industriais, comerciais ou rurais – mais
expostas aos efeitos e impactos dos
níveis de água e sua força quando
ocorrem esses fenômenos.
Nas áreas urbanas muitos são os
fatores que agravam os efeitos das
chuvas excessivas e concentradas,
como o assoreamento do leito dos
rios, a impermeabilização das áreas
de infiltração, a rede de condutos e os
escoamentos insuficiente ou ineficiente e, por fim, a ação dos habitantes no
descarte de lixo e dejetos.
Nas áreas ribeirinhas, o assoreamento e
a ocupação do leito maior dos rios, naturalmente inundável a cada dois anos,
agravam os efeitos das inundações que,
na verdade, são consequência de pro-
cesso natural ligado ao ciclo hidrológico.
Os prejuízos materiais e humanos,
como a perda direta do patrimônio ou a interrupção da atividade
econômica ou a grande tragédia da
perda de vidas, impactam a população das cidades e do campo. A
amenização de seus efeitos pode,
entretanto, encontrar uma resposta
no seguro e no resseguro.
Anteriormente a 2011, ano da criação
pela Susep do ramo específico de
Responsabilidade Civil Riscos Ambientais, a contratação de seguros
para este tipo de risco só era possível
para algumas atividades ou ainda
como parte de operação e por meio
de coberturas adicionais nas apólices.
Hoje, guardadas as variações de
produtos de empresa para empresa,
são oferecidas coberturas para danos
ambientais primários, os chamados
danos ecológicos puros, aqueles que
atingem recursos hídricos, solo, flora
ou fauna, e para danos ambientais
secundários. Decorrentes dos danos
ambientais primários, os secundários
afetam indiretamente os indivíduos,
causando prejuízos e demandando
sua reparação e indenização. n
REVISTA DE SEGUROS • 45
opinião
A importância do
resseguro
Arquivo CNseg
Antonio Penteado Mendonça, jornalista e especialista em Seguros e Previdência
n
o final do ano passado, conversando com executivos de resseguradoras, confirmei a informação de que
elas haviam se recuperado das dificuldades de 2013 e que seus balanços
devem apresentar números melhores.
É uma notícia positiva. E não apenas
por uma razão. A primeira é que, com
os balanços no azul, as resseguradoras locais resgataram a credibilidade e
têm cacife para enfrentar a crise brasileira sem risco de comprometer suas
gestões frente aos acionistas.
A segunda é que mais um ano se passou e, ao longo dele, elas aprenderam
mais um pouco sobre as tipicidades do
País e seus reflexos sobre a atividade.
Hoje, as resseguradoras que operam
no Brasil sabem melhor como e o quê
oferecer a suas parceiras nacionais.
Em função da operação no País,
aprimoraram também a capacidade
de negociar e interagir com parceiras e segurados, principalmente no
que diz respeito aos clausulados das
apólices de seguros em português
e inglês. Além disso, continuam
aprendendo como funciona a Justiça
brasileira e assim conseguem precificar melhor seus produtos.
Vale lembrar que apresentar lucro é
46 • REVISTA DE SEGUROS
As resseguradoras que operam hoje no Brasil
sabem melhor como e o quê oferecer a suas
parceiras nacionais.
A crise econômica
pode ser o gatilho
para mudanças que
alterem o quadro
atual, oferecendo
ao País seguros
com garantias mais
amplas e mais
baratas.
sempre bom. Os acionistas recebem
dividendos, a empresa se capitaliza,
os executivos e funcionários recebem bônus e o governo embolsa os
impostos. Ganham todos, mas, acima
de todos, ganha o País, com a possibilidade de ter novos tipos de contratos de resseguros para dar suporte às
seguradoras em operação por aqui.
Este é o ponto fulcral da discussão.
As resseguradoras em operação no
Brasil, até agora, sem entrar no mérito das razões para isso, agem de
forma extremamente conservadora.
Elas dizem que a culpa é das seguradoras, as companhias de seguros
dizem que a culpa é delas, mas o
fato concreto é que o País continua
sem ter uma série de seguros que
são rotineiramente comercializados
em dezenas de outros países.
O exemplo mais fácil é o seguro
para o agronegócio. Neste campo,
o Brasil está patinando, oferecendo
pouca proteção para um setor econômico da maior importância para a
balança comercial.
E o que dizer dos seguros para os
eventos de origem climática? Quando as garantias são comercializadas,
as apólices em vigor oferecem as
mesmas coberturas de 30 anos atrás,
sem qualquer mudança significativa
que aumente o espectro da cobertura
ou reduza o preço do seguro.
Finalmente, até agora não se encontrou
uma solução para o seguro de dezenas
de atividades empresariais consideradas
de alto risco pela possibilidade, principalmente, da ocorrência de incêndios.
Dependendo do olhar sobre este
texto, pode-se ficar com a sensação de que estou pessimista. Mas
é exatamente o oposto. Como tem
muito para ser feito, um ano de crise
econômica e de dificuldades para
vários setores pode ser o gatilho para
mudanças que alterem o quadro atual,
oferecendo ao País seguros com garantias mais amplas e mais baratas. n