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ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DO MERCADO SEGURADOR ANO 90 Nº892 JANEIRO/ FEVEREIRO/ MARÇO DE 2015 O RESSEGURO NO BRASIL Grandes desafios e oportunidades ainda maiores 4º Encontro de resseguro vai reunir lideranças para o debate Em entrevista exclusiva, Inga Beale, CEO do Lloyd’s of London, reconhece o potencial da indústria brasileira e reafirma o interesse da instituição em investir nesse mercado sumário 05 Inga Beale, primeira mulher a liderar o mercado de Londres, diz que Brasil é foco importante para o Lloyd’s. Ela estará no Rio para o encontro de resseguros. No mundo Mercado global de resseguros representa uma força financeira da ordem de US$ 240 bilhões e avança em ritmo acelerado. O Brasil responde por cerca de 1%. 34 08 ENTREVISTA 14 Cenário Brasileiro Sete anos após a abertura, o mercado ressegurador vive um momento de maturidade e encara desafios, como as condições econômicas do País. Regulamentação Formado por empresas de vários portes, estratégias e origens, o mercado brasileiro de resseguros não consegue chegar ao consenso para promover mudanças. 38 Consumidor Jovem em comparação às décadas de monopólio, o mercado livre no Brasil tem ainda muito a evoluir para garantir o fortalecimento da proteção contra riscos. 32 Novos produtos O País começa a conhecer algumas modalidades de proteção inovadoras. Há uma gama de novos produtos para o risco tradicional, mas também para os chamados riscos emergentes. EXPEDIENTE REVISTA DE SEGUROS Órgão de divulgação do mercado segurador CONSELHO EDITORIAL Ângela Cunha, Luiz Peregrino Fernandes Vieira da Cunha, José Cechin, José Ismar Alves Tôrres, Neival Rodrigues Freitas, Solange Beatriz Palheiro Mendes. VICE-PRESIDENTES Mário José Gonzaga Petrelli Patrick Antônio Claude de Larragoiti Lucas DIRETORES Acacio Rosa de Queiroz Filho, Alexandre Corrêa Abreu, Alexandre Malucelli, Alfredo Lália Neto, Antonio Cássio dos Santos, Antonio Eduardo Márquez de Figueiredo Trindade, Francisco Alves de Souza, João Francisco Silveira Borges da Costa, Jorge Hilário Gouvêa Vieira, Nilton Molina, Pedro Cláudio de Medeiros B. Bulcão, Pedro Pereira de Freitas, Thierry Marc Claude Claudon, William Alan Yates e Wilson Toneto. DIRETOR NATO Luiz Tavares Pereira Filho DIRETORA EXECUTIVA Solange Beatriz Palheiro Mendes PRESIDENTE Marco Antonio Rossi 1º VICE-PRESIDENTE Jayme Brasil Garfinkel VICE-PRESIDENTES NATOS Marcio Serôa de Araujo Coriolano, Marco Antônio da Silva Barros, Osvaldo do Nascimento e Paulo Miguel Marraccini Editora-chefe Ângela Cunha (MTb/RJ12.555) Coordenação Editorial VIA TEXTO AG. DE COMUNICAÇÃO [email protected] 21 - 2262.5215 Jornalista Responsável Vania Mezzonato – MTb 14.850 Assistente de produção Patricia Stanzione Revisão Cláudia Mara Colaboradores Angelica Martins, Bruno Uchôa, Carlos Monteiro, Carmen Nery, Denise Bueno, Dil Mota, Fernanda Thurler, Francisco Noel, João Maurício Rodrigues, Larissa Morais, Letícia Helena, Maria Luisa Barros, Tatiana Maia Lins Fotografia Arquivo CNseg, André Bueno, Holanda Cavalcanti, Paulo Rodrigues, Rosane Bekierman, reprodução da internet, Shutterstock e divulgação das empresas Projeto Gráfico Tapioca Comunicação Redação e Correspondência Superintendência de Comunicação – CNseg Adriana Beltrão, Cláudia Mara, Rodolfo Campos e Vagner Ricardo. Rua Senador Dantas, 74/12º andar, Centro - Rio de Janeiro/RJ CEP. 20031-205 Tel. (21) 2510.7777 www.cnseg.org.br E-mail: [email protected] Escritório CNseg/Brasília SCN/Quadra1/Bloco C Ed. Brasília Trade Center – sala 1607 Gráfica: Walprint Distribuição: Serviços Gerais/CNseg Periodicidade: Trimestral Circulação: 5 mil exemplares Distribuição Gratuita REVISTA DE SEGUROS • 03 editorial Cenário econômico não inibe otimismo no resseguro Por ÂNGELA CUNHA, Editora Executiva a s incertezas que deixam nublado o cenário econômico nacional não reduziram o interesse dos grandes resseguradores internacionais no Brasil. O número de resseguroras autorizadas Resseguro: apoiando o desenvolvimento O 4º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, que acontecerá nos dias 14 e 15 de abril de 2015, no Hotel Sofitel, em Copacabana, é fruto de parceria entre a CNseg, Federação Nacional das Empresas de Resseguro – Fenaber e a Escola Nacional de Seguros – ENS. O encontro reunirá seguradoras, resseguradoras, corretoras de resseguro, escritórios de advocacia, prestadores de serviços e grandes consumidores, que terão a oportunidade de discutir temas de relevante importância para o mercado. Na programação, resseguro paramétrico, novos produtos financeiros, proteção de portfólio, retrocessão para seguradoras, necessidade de capital, perspectivas econômicas do Brasil, cenário energético brasileiro, entre outros temas. 04 • REVISTA DE SEGUROS a operar no País pela Susep - aproximadamente 120, entre admitidas, eventuais ou locais –, apenas sete anos após a regulamentação da abertura, dá a exata dimensão das perspectivas deste mercado. O volume de negócios é expressivo. De abril de 2008, quando o novo modelo passou a vigorar, a dezembro do ano passado, a receita anualizada do mercado de resseguros brasileiro cresceu 150%, passando de R$ 3,8 bilhões para aproximadamente R$ 9,5 bilhões. Esses números reforçam, entre especialistas e executivos do setor, a convicção de que há espaço para crescer ainda mais nos próximos anos, embora não devam ser ignorados os obstáculos que inevitavelmente serão enfrentados ao longo dessa trajetória em função das dificuldades que o País atravessa. Não por acaso, portanto, a necessidade de superar tais desafios para aproveitar em sua plenitude as inúmeras oportunidades que já existem ou estão para surgir é, inclusive, tema central do 4º Encontro de Resseguro, que será realizado no Rio de Janeiro (veja Destaque). A relevância desse evento pode ser medida, entre outros fatores, pela atualidade das questões pautadas pelos organizadores. Do imprescindível desenvolvimento do mercado de energia no Brasil até as perspectivas para a economia brasileira a curto e médio prazos, passando pela transferência de riscos através do mercado de capitais e a necessidade de capital no resseguro, a programação busca arquitetar um contexto que facilite o entendimento do cenário atual e delineie um traçado que pode ser seguido com maiores chances de sucesso. A CNseg acompanha atentamente o crescente interesse pelo resseguro no Brasil e não são poucos os debates sobre o tema que promove, por meio da sua Comissão de Resseguro ou de eventos como o encontro de abril. Dessa forma, a CNseg cumpre sua missão de contribuir para o desenvolvimento do mercado de seguro e de resseguro no Brasil, pilar indispensável na retomada do crescimento econômico sustentável do País, seja como suporte para as grandes obras e projetos de infraestrutura, como gerador de expressiva poupança interna ou investidor institucional. E a saudável concorrência entre os players internacionais de resseguro, cada dia mais numerosos no Brasil, onde chegam atraídos pela diversidade econômica, comercial e industrial, entre outros fatores, faz desse segmento um ator importante no processo, por trazer para o mercado local novos produtos e serviços, maior qualificação e boas práticas internacionais. Boa leitura. entrevista O Brasil é um foco importante para o Lloyd’s Por DENISE BUENO Divulgação Lloyd’s I nga Beale se tornou a primeira mulher a liderar o mercado de Londres no início de 2014, ao assumir o cargo de CEO do Lloyd’s of London, uma instituição com 326 anos. O desafio é comandar uma organização complexa, que conta com 94 sindicatos e 57 investidores responsáveis por assumir os mais variados riscos. A executiva é especialista em análise de risco, tem vivência internacional para atender clientes cada dia mais globalizados e profundo conhecimento da complexa estrutura do Lloyd’s. Inga tem dedicado boa parte de seu tempo à abertura de novos escritórios e a ampliação do leque de produtos nos países em que o Lloyd’s está presente, inclusive o Brasil. Para isso, ela está de viagem marcada ao País, onde participará do 4º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, que será realizado pela CNseg em parceria com a Federação Nacional de Empresas de Resseguro – Fenaber e a Escola Nacional de Seguro – ENS, entre os dias 14 e 15 de abril. Leia a seguir a entrevista exclusiva que ela concedeu à Revista de Seguros: REVISTA DE SEGUROS • 05 entrevista Como a senhora se sente sendo a primeira mulher CEO do Lloyd’s? O Lloyd’s é realmente único no mundo de seguros, uma instituição incrível, com uma história que se estende por 326 anos. Tenho orgulho de ser CEO num mercado que foi pioneiro em oferecer seguros de automóveis nos Estados Unidos, dar cobertura para satélites e para riscos cibernéticos. Quando recebi a proposta para o cargo, não hesitei nem um segundo. Estava muito feliz na Canopius, empresa em que trabalhava anteriormente, mas vi o Lloyd’s como um desafio e uma oportunidade incrível. O Lloyd’s já é o segundo maior ressegurador de riscos brasileiros e agora busca opções mais amplas de acesso para apoiar ainda mais o crescimento do Brasil. Inga Beale 06 • REVISTA DE SEGUROS Na sua avaliação, a escolha se deu por ser mulher e representar uma inovação num mercado de seguros de mais de três séculos? Acredito que minha experiência internacional e o fato de eu conhecer profundamente o formato de negociação do Lloyd’s me qualificaram para o cargo. Tenho consciência de que sou vista como exemplo e fico contente com a responsabilidade. É importante ter uma equipe diversificada na mesa de negócios – não apenas em questão de gênero, mas também de cultura e idade. Uma equipe variada pode não ser fácil de administrar em alguns casos, mas oferece muito mais benefícios. Especialmente para uma entidade inovadora, que opera globalmente, como o Lloyd’s, é crucial a análise dos acontecimentos a partir de várias perspectivas, o que nos leva a refletir sobre as várias facetas dos clientes. Conte-nos um pouco sobre sua carreira... Comecei no mercado de seguros como subscritora trainee de contratos de resseguro na Prudential de Londres. Em 2006, me tornei CEO do grupo Converium, da Suíça (agora parte do grupo SCOR), depois de passar 14 anos na GE Insurance Solutions em vários cargos de gerência de subscrição. Em 2008, fui para o Zurich Insurance Group como membro do Conselho de Gestão do Grupo e, antes de assumir a posição de CEO do Lloyd’s em janeiro de 2014, eu atuava como CEO na Canopius, um agente gestor proeminente no Lloyd’s. O que a atraiu no mercado de seguros? Eu fiz um estágio no departamento atuarial da Prudential, que me ajudou a conquistar o posto de subscritora trainee alguns anos depois. O mercado de Londres era tão cheio de vida, comparado à cidade pequena onde cresci, e me parecia o lugar ideal para alavancar minha carreira. Essa vibração combinada com a natureza global do mercado de resseguros foi o que me atraiu. O que mais a agrada hoje no mercado de seguros e na posição em que se encontra? O resseguro se encontra por trás de tudo que acontece no mundo, ajuda pessoas, negócios e países a crescer e progredir. Mais do que qualquer outra coisa, eu gosto do fato de que as relações entre pessoas estão no centro de tudo o que fazemos no mercado de seguros – pessoas são importantes. Estou no O deslocamento no equilíbrio da atividade econômica global previsto para as próximas décadas representa oportunidades que o mercado precisa responder. Inga Beale Lloyd’s há pouco mais de um ano e, sem dúvida, tem sido fantástico. Está sendo incrivelmente excitante, um pouco difícil em alguns momentos, mas é mais do que eu poderia ter sonhado para minha carreira. Estou muito entusiasmada. Como foi o ano de 2014 para os negócios do Lloyd’s? Orgulho-me em dizer que o mercado do Lloyd’s apresentou um quadro excelente no resultado semestral de 2014, o que se deve em grande parte aos subscritores qualificados de seus sindicatos. Alinhado com a expansão de sua presença global, o Lloyd’s conseguiu uma licença para oferecer seguros diretos em Pequim. Recebemos aprovação para abrir um escritório de representação no México e vamos abrir um novo escritório em Dubai. No entanto, as condições são desafiadoras no momento, existe uma série de pressões afetando o mercado, como baixas taxas de juros e um influxo de capital pressionando os preços. Mas nossa inovação contínua, combinada com uma supervisão robusta e solidez financeira, permite que o mercado do Lloyd’s esteja bem posicionado para enfrentar essas condições desafiadoras. atingir novos negócios, à medida que os mercados de seguros se desenvolvem nessas economias. Que oportunidades a senhora vê para o mercado de seguros em 2015? O crescimento de economias emergentes, como o Brasil, a China e a Índia, e a revolução digital estão transformando o mercado de seguros. O Lloyd’s e o mercado de Londres estão em posição favorável para aproveitar as oportunidades apresentadas por economias atualmente subseguradas, mas em alto crescimento ao redor do mundo. Estamos avaliando como usar a tecnologia para melhorar nossos processos e tornar a colocação de negócios no mercado do Lloyd’s tão eficiente e atraente quanto possível. Quais são as maiores oportunidades para o mercado do Lloyd’s no mundo? Existem muitas oportunidades para o Lloyd’s no momento. Sempre estivemos na vanguarda da inovação e isso vai continuar, pois o cenário mundial de riscos está sempre em mudança. Estaremos sempre buscando oferecer novos tipos de cobertura para os riscos mais intangíveis que os negócios enfrentam. Estamos continuamente expandindo nossa presença global e fazendo jus a nossa marca mundialmente reconhecida e confiada. Qual é a sua visão sobre mercados emergentes? O crescimento internacional e a expansão nos mercados em desenvolvimento continuam no centro da estratégia do Lloyd’s - Visão 2025. O deslocamento no equilíbrio da atividade econômica global previsto para as próximas décadas é uma das mudanças mais significativas e representa oportunidades que o mercado precisa responder. Depender de negócios de resseguro entre fronteiras fluindo para Londres não irá atingir, por si só, nossas expectativas de visão para o futuro, que é ser o centro global de seguros e resseguros especializados. Aumentar a participação do Lloyd’s em negócios de seguros nos mercados em desenvolvimento também é necessário. O papel dos corretores em Londres e nos mercados locais é a chave para E no Brasil? O Brasil é um foco importante para o Lloyd’s porque oferece um significativo potencial de longo prazo para o mercado. O Lloyd’s já é o segundo maior ressegurador de riscos brasileiros, e o maior ressegurador estrangeiro no País, com uma significativa fatia de 12% no mercado de resseguros, apesar de estar licenciado apenas como ressegurador admitido. O Lloyd’s agora busca opções mais amplas de acesso para apoiar ainda mais o crescimento do Brasil. O escritório de representação do Lloyd’s Brasil no Rio de Janeiro foi estabelecido em 2008 e hoje conta com a presença permanente de 11 sindicatos: Ace, ANV, Argo, Beazley, Catlin, Hiscox, Kiln, Liberty, Markel, Navigators e Starr. O Lloyd’s está buscando aumentar ainda mais seu negócio, à medida que o mercado de resseguros brasileiro continua a crescer. n REVISTA DE SEGUROS • 07 CENÁRIO BRASILEIRO Desafios para o futuro do resseguro Por CARLOS MONTEIRO Resseguradoras passam por um período de estabilidade, mas o cenário econômico, baseado em fatores como alta de juros e inflação, inspira cuidados. s ete anos após sua abertura, com a entrada em vigor da Resolução nº 168/07, do CNSP, o mercado ressegurador brasileiro vive um momento de maturidade e encara velhos desafios, como as condições econômicas do País e as novas características dos riscos. Há um consenso entre os executivos do mercado ressegurador brasileiro, composto por cerca de 120 empresas, distribuídas entre 16 locais, 30 admitidas e a maioria de eventuais, de que este é um período de estabilidade para as resseguradoras, mas que inspira cuidados, principalmente devido ao cenário econômico. No bojo da abertura, com o incremento da capacidade das seguradoras para concessão de seguros em âmbito nacional, veio a concorrência, responsável por trazer novos produtos, maior qualificação, práticas internacionais e geração de empregos. Grandes transformações resultaram deste processo, bem como a chegada de 08 • REVISTA DE SEGUROS dezenas de players internacionais. O presidente da Federação Nacional de Empresas de Resseguros - Fenaber, Paulo Pereira, faz um balanço da atuação da entidade para o amadurecimento do setor e lembra que a Fenaber contribuiu com a sistematização da legislação adotada no País. “Nós, associados, juntamos forças e demos sugestões de forma uniformizada. A concordância da Susep com cerca de 80% destas sugestões mostra que nossa contribuição foi importante”, salienta. Crescimento real Os dados da Fenaber indicam que o setor de fato cresceu em termos reais. De abril de 2008 a dezembro de 2014, o mercado de resseguros brasileiro mais do que dobrou de tamanho, passando de R$ 3,8 bilhões para R$ 9,5 bilhões. Para Pereira, a profissionalização do mercado foi um fator que fez a diferença nesse período. “Mais importante do que o crescimento é o fato de termos profissionais de resseguros com capacidade mais do que suficiente para atender ao mercado”, acredita. Segundo o executivo, a chegada de profissionais do mercado financeiro contribuiu com a adoção de melhores práticas, pois trouxe uma política de pessoal diferenciada. Paralela- Ou as empresas investem pesado em treinamento ou acabam tendo que trazer profissionais de fora. Os bons são sempre disputados internamente. Paulo Pereira mente ao ‘sangue novo’ injetado no resseguro brasileiro, o treinamento também contribuiu para os bons resultados. “Passamos por um período de muitos problemas com a falta de pessoal. Hoje o movimento é bem diferente, pois as empresas ou investem pesado em treinamento ou acabam tendo que trazer profissionais de fora. Os bons são sempre disputados internamente”, analisa. O presidente da Comissão de Resseguro da CNseg, Wady Cury, avalia que, nesses sete anos, um dos maiores avanços ocorreu nas práticas de administração. “Saímos da gestão de regras para uma gestão conceitual, de reflexão. Foram anos de aprendizado, em que cometemos erros, porém, tivemos muitos acertos também”, recorda. Segundo Cury, durante o período de amadurecimento, as vantagens competitivas brasileiras foram reveladas. “O mercado não conhecia bem o Brasil, mas nos descobriu, junto com nossa qualidade técnica e nossos riscos. O País atrai o interesse das maiores empresas mundiais pelas oportunidades representadas por sua dimensão e diversidade econômica, comercial e industrial”. Rosane Bekierman Momento delicado A combinação de fatores como baixo crescimento econômico, alta de juros e do dólar, inflação, desemprego e aumento de impostos e de preços controlados (luz, água, gasolina e transportes), prevista para este ano, tem impacto sobre o mercado de resseguros. Para a Fenaber, o momento econômico é delicado, mas a situação não terá o efeito de paralisar o setor. “Certos investimentos o governo não vai deixar de fazer, principalmente os relacionados à infraestrutura. E o resseguro será necessário tanto para grandes projetos de engenharia, como, e principalmente, para riscos patrimoniais”, acredita. O executivo estima em dois anos o prazo para que a situação encontre um equilíbrio. “Será um tempo de ajustes, de medidas amargas, em que talvez não consigamos crescer tanto como antes”, prevê. Mesmo com a investigação de emprei- O Brasil atrai o interesse das maiores empresas mundiais pelas oportunidades representadas por sua dimensão e diversidade econômica, comercial e industrial. Shutterstock teiras envolvidas na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, Pereira pondera que haverá soluções para que o País continue se desenvolvendo. “Temos outras empreiteiras trabalhando, que podem servir de substitutas, vir a ocupar um espaço que não ocupavam antes, e até empresas estrangeiras. O importante é os investimentos serem mantidos”, indica. O presidente do IRB Brasil Re, Leonardo Paixão, que ocupa assento na vice-presidência da Fenaber, concorda que 2015 será um “ano difícil, de ajustes”. O executivo avalia, porém, que nos últimos anos, houve avanços sociais e econômicos. “O resseguro, por ser um negócio global, está mais acostumado aos picos e vales da economia. O Brasil vai se desenvolver cada vez mais, depois do freio de arrumação”, acredita. Rumo necessário Wady Cury também é otimista em relação ao futuro, apontando as Wady Cury REVISTA DE SEGUROS • 09 CENÁRIO BRASILEIRO próprias características do mercado ressegurador. “O setor tem uma natureza de flexibilidade. Estamos acompanhando o desempenho da economia mundial na última década, vencendo desafios, e nos adaptando às dificuldades e mudanças”. Cury acredita que já é consensual que não há resseguro se não há seguro. “O investimento em obras não haveria sem resseguro. As grandes seguradoras estão por todo o mundo. Basta o Brasil se ajustar e buscar o rumo necessário”, conclui. Como solução para tempos de crise, o executivo aponta o investimento em nichos que ainda não são explorados, principalmente os ligados à infraestrutura, além de criação de produtos. Entre os nichos, Cury destaca os resseguros financeiros e o risco cibernético ou riscos eletrônicos. “O Brasil já tem um conhecimento global no mundo, o que permitiu uma curva de aprendizado que garante flexibilidade frente ao cenário atual. De É preciso revisitar a legislação para permitir uma atuação mais eficiente das resseguradoras locais na aceitação de riscos do exterior. Marcelo Mansur 10 • REVISTA DE SEGUROS uns anos para cá, estamos sofrendo com mais frequência catástrofes naturais, que podem ter impacto, por exemplo, na agricultura”, completa. Catástrofes naturais Em muitos países, a indústria de seguros e, especificamente, as resseguradoras, vêm se confrontando com novos cenários de impacto que não são provocados por catástrofes naturais. Atentados terroristas, mudanças climáticas antrópicas e também a crise dos mercados financeiros têm conturbado as sociedades e suas instituições. A Fenaber defende que a operação do resseguro, com sua característica internacional por excelência, permite que responsabilidades sejam pulverizadas em países diversos, dispersando os prejuízos nas ocorrências de sinistros, especialmente aqueles de natureza catastrófica. O movimento de internacionalização, aliás, é um dos maiores trunfos do IRB Brasil Re, sete anos depois de ter deixado de responder pelo monopólio do resseguro no Brasil e dois anos após sua privatização. A retomada do crescimento no mercado interno fez com que o IRB começasse a trilhar sua expansão internacional, que privilegia, num primeiro momento, os mercados da América Latina e da África. No continente latino-americano, o IRB inaugurou sua sucursal em Buenos Aires, em setembro de 2011, com uma equipe composta basicamente por profissionais locais. Na África, o ressegurador participou de um aumento de capital promovido pela African O resseguro é um negócio global e está acostumado aos picos e vales da economia. O Brasil vai se desenvolver ainda mais, depois do freio de arrumação. Leonardo Paixão Reinsurance Corporation – Africa Re, adquirindo 4,8% do capital da companhia e desenvolvendo uma parceria de negócios voltada para o continente africano. “A atuação na Ásia está crescendo, bem como na África. É um cenário motivador, o que nos leva a expandir internacionalmente”, afirma Leonardo Paixão, presidente do IRB. A partir de 2007, a empresa passou a vivenciar uma nova fase de sua história, que vem sendo marcada por profundas transformações: as políticas internas foram revisadas e os guidelines e taxas para aceitação de riscos, atualizados. A estrutura organizacional foi adaptada ao novo tempo e a área de TI, modernizada. São mudanças que conferem agilidade e criatividade às soluções para os desafios do negócio. “O IRB passou de um problema de ideologia, para mais uma questão de sobrevivência. O desenho do monopólio gera grandes custos”, comenta. Abertura de capital Para o futuro, as metas são a abertura de capital do IRB e a intensificação do investimento internacional. Para Shutterstock empreendê-las, o instituto ampara-se em um lucro líquido de R$ 601,5 milhões, registrado em 2014, 72,5% maior que o do ano anterior; e num volume de prêmios emitidos de R$ 3,2 bilhões (18,6% maior em relação ao mesmo período). O desempenho resultou num market share de cerca de 34%, o que garantiu, segundo o IRB, a manutenção de sua liderança no mercado nacional de resseguro. Ainda na seara da internacionalização, o advogado Marcelo Mansur, sócio de Seguros, Resseguros e Previdência do Mattos Filho, escritório de reconhecida atuação na área jurídica relacionada a resseguro, avalia que ainda há aspectos na legislação que podem ser melhorados. “É preciso revisitar a legislação para permitir uma atuação mais eficiente das resseguradoras locais na aceitação de riscos do exterior, facilitando a atuação destas como hubs regionais de resseguro. Seria mais importante uma revisão das regras cambiais e fiscais aplicáveis, do que efetivamente das ressecuritárias”, acredita. O advogado, no entanto, descarta a necessidade de novas normas. “A regulamentação ressecuritária deve ser minimalista. O mais importante é se ter clareza sobre a interpretação que o regulador tem destas normas e uma garantia de que a aplicação será feita de uma forma consistente”, conclui. Contenção financeira O risco de crimes cibernéticos e falhas de TI também continuam a crescer rapidamente, entrando pela primeira vez no top 5 do ranking (em 2014, eles ocuparam a 8ª posição, e em 2013, a 15ª). Apesar desse aumento, muitas empresas estão subestimando os diferentes impactos, segundo 73% dos entrevistados – e, em muitos casos, por motivo de contenção financeira. A pesquisa foi feita com mais de 500 analistas de risco e especialistas em seguro corporativo da Allianz e de outras companhias globais em 47 países. De acordo com o levantamento, a combinação de novos riscos econômicos e regulatórios relacionados à tecnologia cria uma ameaça sistêmica para as empresas globais. Para responder a esses desafios, a Allianz sugere que as companhias façam controles internos mais fortes e uma gestão de risco holística dos negócios. “A crescente interdependência de indústrias e processos significa que os negócios estão cada vez mais sujeitos a cenários desfavoráveis. Assim, os efeitos negativos podem se multiplicar rapidamente, com um risco criando diversos outros. Catástrofes naturais ou ataques cibernéticos podem interromper os negócios de setores inteiros ou de infraestrutura crítica”, afirma Chris Fischer Hirs, CEO da AGCS, conforme comunicado divulgado pela companhia. Cenários desfavoráveis criam novas dificuldades Estudo divulgado pela Allianz Global Corporate & Specialty - AGCS trouxe números sobre a incidência dos maiores riscos para os negócios em 2015. Segundo o quarto relatório Barômetro de Risco da AGCS, o ambiente de negócios enfrenta novas dificuldades graças ao surgimento de vários cenários desfavoráveis num mundo corporativo cada vez mais integrado. De acordo com o estudo, os maiores riscos para as empresas ao longo do ano serão as interrupções bruscas nos negócios e falhas na cadeia de suprimentos (46%), catástrofes naturais (30%) e incêndios e explosões (27%). Os perigos cibernéticos (17%) e políticos (11%) foram os que mais subiram no ranking, e continuam a preocupar os especialistas. Por sua vez, a perda de reputação (61%) e a interrupção nos negócios (49%) após um incidente são vistas como as principais causas de prejuízos para as empresas. REVISTA DE SEGUROS • 11 CENÁRIO BRASILEIRO Encontro debaterá temas importantes para o setor Os desafios, temas técnicos e futuro do mercado de resseguros brasileiro serão debatidos no 4º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, que acontece nos dias 14 e 15 de abril, no hotel Sofitel Rio, em Copacabana. Entre os assuntos tratados, estão o desenvolvimento do mercado de energia no Brasil, o desenvolvimento sustentável do agronegócio e os desafios e oportunidades na América Latina. O evento é realizado em parceria pela CNseg, Fenaber e Escola Nacional de Seguros. n Programação* Dia 14/04/2015 - Manhã Dia 15/04/2015 - Manhã 08h às 08h30 Credenciamento 08h30 às 9h Credenciamento 08h30 às 09h Cerimônia de Abertura 09h às 10h30 Palestrante: Coord. de Mesa: Debatedor: Plenária I O Desenvolvimento do Mercado de Energia no Brasil Rafael Schechtman | CBIE - Centro Brasileiro de Infra Estrutura José Carlos Cardoso | IRB Brasil Re Vinicius Bergamaschi | ACE Seguros Soluções Corporativas S/A 09h às 10h30 Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Plenária IV Perspectivas do século 21 Claudio Contador | Escola Nacional de Seguros Paulo Vicente | Fundação Dom Cabral a definir 10h30 às 11h Coffee Break 10h30 às 11h Coffee Break 11h às 12h30 Palestrante: Palestrante: Coord. de Mesa: Plenária II Economia Brasileira a Curto e Médio Prazo José Júlio Senna | FGV e MCM Consultores Associados Affonso Celso Pastore | Economista William Waack | Jornalista 11h às 12h30 Palestrante: Coord. de Mesa: Plenária V Desafios e Oportunidades: a Atração da América Latina Michel Liès | Swiss Re Patrick Larragoiti | Sul América 12h30 às 14h Almoço 12h30 às 14h Almoço Dia 14/04/2015 - Tarde Técnica 14h às 16h Mesa Redonda Agrícola Coord. de Mesa: Joaquim Francisco Rodrigues César Neto | Porto Seguro Cia. de Seguros Gerais Wady José Mourão Cury | Grupo Segurador BBMapfre Palestrantes: Eduardo Porcel | Trans Re Panamá Angelo Gemignani | Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável do Agronegócio (IBDAgro) Bruno Valentim | Austral Re Debatedor: Dia 15/04/2015 - Tarde Técnica 14h às 16h Coord. de Mesa: Debatedores: Mesa Redonda Jurídica Aspectos Jurídicos da Regulação de Sinistros Sérgio Ruy Barroso de Mello | Pellon & Associados Advocacia Carlos Velloso | IRB Brasil Re Marcelo Mansur | Mattos Filho Advogados Patrícia Godoy | Aon Service Corporation 14h às 15h Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico III Transferência de Risco através de Mercado de Capitais André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A Craig Hupper | Capital Partners Rodrigo de Souza Lobo Botti | Terra Brasis Resseguros 14h às 15h Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico I Necessidade de Capital Alexandre Leal | CNseg José Alberto Rodrigues Pereira | Susep Frederico Knapp | Swiss Re 15h às 16h Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico IV Resseguro Paramétrico André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A Florian Kummer | Swiss Re Rodrigo Protasio | JLT Re Brasil 15h às 16h Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedores: Painel Técnico II Retrocessão para Seguradoras Alexandre Leal | CNseg Diogo Ornellas Geraldo | Susep Eduardo Menezes | Bradesco Auto/Re Rodrigo de Souza Lobo Botti | Terra Brasis Resseguros 16h às 16h30 Coffee Break 16h às 16h30 Coffee Break 16h30 às 18h30 Coord. de Mesa: Palestrantes: Plenária III Assuntos Correntes de Resseguro no Brasil Paulo Eduardo de Freitas Botti | Terra Brasis > Ratings do Mercado Segurador e o Risco País Tina Bukow | A.M. Best > Presente e Futuro do Resseguro no Brasil João Francisco Silveira Borges da Costa | HDI Seguros S/A 18h30 às 19h30 Coquetel 12 • REVISTA DE SEGUROS 16h30 às 17h30 Painel Técnico V D&O Coord. de Mesa: Thabata Najdek | Allianz Seguros Palestrantes: Fábio Torres | TM Law Torres, Marcelino & Advogados Associados Daniel Veiga| IRB Brasil Re Debatedor: Gustavo Galrão | Argos Seguros Brasil S/A 16h30 às 17h30 Coord. de Mesa: Palestrante: Debatedor: Painel Técnico VI Proteção de Portfólio André Marino Gregório | BTG Pactual Seguradora S/A Alexander Gollin | Hannover Re Nilton Rafael Haiter | Tokio Marine Seguradora S/A * SUJEITO A ALTERAÇÃO NO MUNDO Um gigante em crescimento Por LARISSA MORAIS Shutterstock Mercado global de resseguros movimenta US$ 240 bilhões e avança em ritmo acelerado. Brasil responde por pouco mais de 1%. Ao assumir riscos de indivíduos e empresas, as resseguradoras provêm proteção financeira e, assim, estabilidade econômica e social a um país. Margo Black Os percentuais de crescimento, contudo, enchem os olhos dos principais operadores globais: 26,3%, em 2013, e 16,6%, no ano passado. O mercado internacional de resseguros representa uma força financeira da ordem de US$ 240 bilhões e está com o pé no acelerador. O relatório que no fim do ano passado divulgou resultados consolidados de 2013 apontou um crescimento de 5,7% em relação ao ano anterior – praticamente duas vezes o avanço do PIB mundial no mesmo ano, que foi de 2,4%. O Brasil não responde por um volu- 14 • REVISTA DE SEGUROS me representativo desse montante, mas vive uma expansão ainda mais acentuada. Dados da Superintendência de Seguros Privados - Susep, autarquia governamental que regula o mercado segurador e ressegurador no País, mostram que em 2013 o volume de prêmios foi de R$ 7,24 bilhões, cerca de US$ 3,1 bilhões pela cotação do dólar na época – o que representa 1,3% do volume mundial. Mercado estratégico Considerado um mercado estratégico e com enorme potencial de crescimento e desenvolvimento, o País já reúne 36 dos 40 maiores grupos de resseguradoras mundiais. Das dez maiores, todas estão aqui. Até 2007, o mercado estava nas mãos de uma única empresa estatal, o IRB. Com o fim do monopólio, as resseguradoras internacionais também puderam disputar o mercado nacional. Brasil precisa avançar em vários aspectos O mercado brasileiro de resseguros vem se desenvolvendo nos últimos sete anos, mas ainda precisa avançar em vários aspectos. A opinião é recorrente entre executivos de companhias internacionais que atuam no País. Eles mencionam problemas como baixa lucratividade, dificuldades com a qualificação da mão de obra e necessidade de aperfeiçoamento da regulação, entre outros. Para Rodrigo Belloube, da Munich Re, é fundamental que as empresas consigam melhorar a rentabilidade de suas operações no País. Segundo ele, embora não exista um estudo comparativo entre diferentes nações, está claro que o Brasil tem performance inferior à média mundial. Na prática, as negociações estão focadas predominantemente na variável ‘preço’. “O problema é que o valor médio teve trajetória de queda brusca ao longo dos últimos anos, e isso vem achatando as margens de operação”, explica. O executivo conta que muitas empresas que desembarcaram no País pela primeira vez após a quebra do monopólio de resseguro não conseguiram cumprir seus planos de negócios. Viés litigante Belloube preocupa-se também com o viés exageradamente litigante em alguns nichos e uma disposição, de alguns operadores, de buscar reformulações no ordenamento jurídico com nuances que ele classificou como ‘quase exóticas’. “Precisamos manter o mercado nos trilhos e isso significa pensar sempre na melhor solução para o País, e não para atores específicos”, defende. Outro desafio, ainda na opinião do CEO da Munich Re, é conseguir atingir, nos resseguros, a sofisticação que hoje o mercado de seguros já possui. Margo Black, da Swiss Re, acredita que as resseguradoras que atuam fora do País, especialmente as que têm experiência em mercados mais desenvolvidos, acumulam muito conhecimento para compartilhar com o mercado brasileiro. Para ela, o que ainda falta é a expertise em linhas de negócios mais especializadas. Ainda existe espaço para se chegar a uma operação mais simplificada das normas legais, com o devido controle e reportes ao órgão regulador, obviamente. Werner Stettler Precisamos manter o mercado nos trilhos e isso significa pensar sempre na melhor solução para o País, e não para atores específicos. Rodrigo Belloube “Verificamos também a falta de profissionais qualificados em resseguros, especificamente, o que é compreensível devido ao aumento da demanda por profissionais com a entrada de novos players no mercado”, acrescenta. O vice-presidente de Corporate de Zurich Brasil, Werner Stettler, enfatiza que o mercado ressegurador brasileiro vem se desenvolvendo desde 2008 e pouco a pouco se aproxima dos padrões internacionais. Uma das principais ações nessa linha é o treinamento das equipes de resseguro, fato que se deu também com os brokers de resseguro. “No entanto, ainda existe espaço para se chegar a uma operação mais simplificada em nível de normas legais, com devidos controles e reportes ao órgão regulador, obviamente”, opina. REVISTA DE SEGUROS • 15 NO MUNDO Para Rodrigo Belloube, CEO da Munich Re do Brasil, e membro da diretoria da Federação Nacional das Empresas de Resseguros – Fenaber, uma série de fatores contribuem para o forte crescimento do mercado brasileiro. O mais aparente é a demanda reprimida, pois a abertura de mercado ainda é muito recente. Mas há outros. “Por exemplo, as seguradoras que recentemente optaram por estabelecer seus próprios resseguradores locais por conta de sua política de retenção de riscos e de capital, atendendo primordialmente às suas demandas internas”, explica o executivo. Maior do mundo no ranking das resseguradoras, a Munich Re é a sétima no Brasil. Margo Black, presidente da Swiss Re Brasil, e também diretora da Fenaber, e responsável pelas operações de resseguro da Swiss Re na América Latina Sul, conta que há alguns anos o grupo selecionou estrategicamente mercados considerados de alto crescimento para direcionar seus esforços e investimentos, e o Brasil ficou entre eles. Como parte da estratégia de expansão, eles abriram uma resseguradora local no País em 2012. A executiva diz que, desde então, a companhia tem crescido bastante e atingido as metas planejadas, tanto operacionais e ad- Em grandes catástrofes, perdas atenuadas Estudo da Aon Benfield mostra que impacto financeiro dos desastres naturais no primeiro semestre de 2014 foi de US$ 54 bilhões, 56% inferior ao mesmo período de 2013. O terremoto seguido de tsunamis que atingiu o Japão em março de 2011 provocou perdas financeiras da ordem de US$ 200 bilhões naquele ano. O país começava a se recuperar de uma crise econômica e tinha perspectiva de crescer, mas a economia terminou encolhendo 0,9% em função dos efeitos da catástrofe. Podia ter sido muito pior. Segundo estimativa da Munich Re, entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões retornaram à sociedade como indenizações naquele ano. Se não fosse essa proteção, teria sido maior o impacto no Produto Interno Bruto - PIB japonês e na vida de milhares de pessoas. 16 • REVISTA DE SEGUROS Mobilizada pelo desastre, a companhia japonesa Tokio Marine extrapolou seu papel de seguradora e montou uma força-tarefa envolvendo funcionários de diferentes escalões para atuar no socorro às vítimas. A seguradora também contratou serviços de empresa especializada no socorro a desastres e enviou toneladas de alimentos e suprimentos aos afetados. As medidas que ficaram registradas na publicação “Contribuição Hoje, Esperança para Amanhã”, lançada no Japão apenas quatro meses após a tragédia e no Brasil um pouco depois, registrou ações da empresa e depoimentos de colaboradores que atuaram nas áreas atingidas. Pronto atendimento A Zurich Re teve atuação semelhante na época do terremoto do Chile, em fevereiro de 2010. A empresa desembolsou com prontidão as indenizações e atendeu aos clientes não apenas na questão monetária mas também humana. Foram mobilizados colaboradores e profissionais para ajudar a restabelecer a situação. “Em caso de catástrofes, temos especialistas que conseguem agregar, em todo o mundo, com sua experiência e assim ajudar a população local atingida”, contou Werner Stettler, vice-presidente de Corporate de Zurich Brasil. Infelizmente, são abundantes os Papel social A executiva da Swiss Re enfatiza o papel social que as resseguradoras representam para os países em que atuam e lembra que o resseguro não está presente apenas nos grandes negócios. Ao contrário, atende a todos os níveis de anseios da sociedade. Margo lembra que os contratos de resseguro são feitos para viabilizar desde operações de seguros massificados, voltados às classes menos favorecidas, e produtos direcionados à classe média, até operações complexas de negócios industriais. “O resseguro é extremamente importante e necessário para o progresso social e empresarial. Ao assumir riscos de indivíduos e empresas, as resseguradoras provêm proteção financeira e, assim, estabilidade econômica e social a um país”, afirma. Werner Stettler, vice-presidente de Corporate de Zurich Brasil, disse que vê espaço para a empresa crescer e ganhar mercado no País. A Zurich atua em seguros desde 1984, e em resseguros, desde 2013, ocupando a 17ª posição do ranking. n Reprodução internet ministrativas, como financeiras. Vice-líderes mundiais, ocupam no Brasil a 11ª posição entre os maiores. Tsunami no Japão: o terremoto seguido de tsunami, que atingiu aquele país em março de 2011, provocou perdas financeiras da ordem de US$ 200 bilhões. exemplos de tragédias que explicitam a relevância social da cadeia seguradora. “Foi inequívoca a importância do mercado ressegurador na proteção financeira da sociedade em vários eventos da última década nos Estados Unidos, Japão, Nova Zelândia e Austrália, para mencionar apenas alguns dos países mais afetados”, listou o CEO da Munich Re, Rodrigo Belloube. O resseguro, na prática, funciona como uma garantia para os mercados seguradores mundo afora. “O resseguro empresta capital a um país para que ele reduza sua suscetibilidade a vários tipos de eventos”, resumiu o executivo. Prejuízos recordes Só em 2011, 820 grandes desastres em todo o planeta geraram perdas de US$ 380 bilhões, segundo levantamento da Munich Re. Outro ano de prejuízos recordes foi 2005: US$ 220 bilhões contabilizados principalmente em função do furacão Katrina, em Nova Orleans, nos Estados Unidos, e dos tsunamis na Indoné- sia, em dezembro do ano anterior. No ano passado, a natureza deu uma trégua. Estudo da consultoria e corretora de resseguros Aon Benfield mostra que o impacto financeiro dos desastres naturais no primeiro semestre foi de US$ 54 bilhões, valor 56% inferior ao verificado no mesmo período de 2013. Em ordem econômica, os maiores foram o inverno japonês (US$ 6,5 bilhões), as inundações na Península Balcânica e no Reino Unido (US$ 4,5 bilhões) e a seca no Brasil (US$ 4,3 bilhões). REVISTA DE SEGUROS • 17 Riscos da economia mundial Clima provoca perdas em efeito dominó podem afetar o mercado brasileiro como um todo. E sempre há o temor de uma catástrofe natural, como o terremoto no Haiti, um tipo de evento difícil de se prever. “As empresas não podem ignorar esse tipo de risco. Hoje, com o mercado globalizado, os negócios são muito interligados. Felizmente, nos últimos dois anos não tivemos uma catástrofe de grande porte, mas precisamos estar preparados”, observa a superintendente da Bowring Marsh. Por LETÍCIA HELENA Shutterstock A crise hídrica em São Paulo e as enchentes na Região Norte podem afetar o mercado brasileiro de seguros e resseguros e respingar nos negócios. s erá que vai chover? A pergunta que muitos brasileiros repetem diariamente, preocupados com a seca que ameaça o abastecimento de água, também provoca dor de cabeça no mercado de seguros. É que as mudanças climáticas estão entre as principais causas de risco no mundo – e o setor empresarial precisa estar preparado para que esses eventos não respinguem nos negócios. Um exemplo aconteceu em 2011, quando um tsunami devastou o Japão, deixando um prejuízo global para o setor de US$ 35 bilhões, na avaliação das agências internacionais. “No Brasil, muitas empresas perderam dinheiro, porque tinham fornecedores japoneses e eles não conseguiram cumprir seus contratos”, explica Paula Lopes, superintendente da Bowring 18 • REVISTA DE SEGUROS Reservatórios em baixa: seca ameaça abastecimento, reforçando a tese de que as mudanças climáticas estão entre as principais causas de risco no mundo. Marsh, divisão de resseguros da corretora Marsh. Não é à toa que o setor anda de olho no clima. Secas, enchentes, nevascas, temperaturas muito altas ou muito baixas afetam a produção e têm um efeito dominó. A crise hídrica em São Paulo e as enchentes na Região Norte Política internacional A situação política internacional também precisa ser analisada com cuidado. Em 2001, os atentados do 11 de setembro deixaram uma fatura de US$ 40 bilhões para o mercado de seguros. Hoje, a atenção dos especialistas está voltada para a sempre complicada questão do Oriente Médio e para a atuação do Estado Islâmico. Neste caso, também vale a máxima do efeito dominó. Um eventual ataque terrorista de grande magnitude refletirá em cascata pelo mundo todo. Paula Lopes observa que, a julgar pelos dois primeiros meses, 2015 parece ser um ano potencialmente difícil para a economia mundial e, em particular, para a brasileira. A crescente desvalorização do real perante o dólar já aponta para uma necessidade de as empresas prestarem mais atenção ao gerenciamento do risco em seus negócios. Ainda mais porque a economia americana está se recuperando, o euro voltou a se estabilizar – apesar de uma ou outra crise localizada - e a China permanece a todo vapor. “A filosofia das empresas deve ser a de proteger seus riscos com apólices de seguros e não a de encarar esta proteção como um custo. Elas precisam transferir os riscos que não podem assumir e ter uma ges- Barômetro do Risco revela que muitas empresas ainda subestimam os diferentes impactos que os riscos podem causar e, em geral, agem assim parar conter despesas. catástrofes naturais (30%), incêndios e explosões (27%), perigos cibernéticos (17%) e crises políticas (11%). Em relação às principais causas de prejuízo, o relatório destaca a perda de reputação (61%) e a interrupção nos negócios após um incidente (49%). Diferentes impactos O levantamento chegou à sua quarta edição após pesquisa feita com mais de 500 analistas de risco e especialistas em seguro corporativo da Allianz e de outras companhias globais em 47 países. Outra conclusão é que, para 73% dos entrevistados, muitas empresas ainda subestimam os diferentes impactos que os riscos podem causar e, em geral, agem dessa maneira para conter despesas. O Barômetro de Risco traz um alerta: a combinação de novos riscos econômicos e regulatórios com uma tecnologia cada vez mais sofisticada cria uma ameaça sistêmica para as empresas que atuam globalmente. Para ajudar no gerenciamento dessas situações, a consultoria e corretora de seguros Aon lançou o Mapa Mundial de Riscos Políticos, abrangendo 163 países. O documento, feito em parceria com a Roubini Global Economics, avaliou os riscos legais e regulatórios, a facilidade ou dificuldade para movimentação de recursos, a interferência política, a violência e a quebra de cadeia de suprimentos. O relatório, publicado desde 1998, ajuda empresas na avaliação de investimentos em outras nações. Fugindo dos riscos O cenário nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), segundo o relatório, tende a piorar. No Brasil, por exemplo, a causa seria a desaceleração da economia. Os analistas da empresa acreditam que, para mudar esse quadro, será preciso que o País volte a crescer. O relatório também serve de subsídio para que empresários brasileiros interessados em investir no exterior saibam onde estão as melhores oportunidades e passem ao largo de riscos. Para Mike McGavick, CEO do XL Group e diretor da Associação Internacional para o Estudo da Economia de Seguros (The Geneva Association), os três maiores desafios para o mercado são os perigos cibernéticos, as alterações climáticas e a longevidade do ser humano. O primeiro fator está relacionado à velocidade com que a informação muda e se multiplica – empresas acostumadas a trabalhar com análises de períodos mais longos precisarão se adaptar. Quanto ao clima, há um número gigantesco de sinistros relacionados ao mau tempo e/ou aos efeitos climáticos. A questão do aumento da expectativa de vida, na avaliação do especialista, afeta diretamente o sistema de pensões e será necessário encontrar novas formas de garantir o bem-estar social. n Divulgação Marsh tão firme na área”, sugere Paula. Já um estudo da Allianz Global Corporate & Specialty - AGCS, aponta outros fatores de risco. O Barômetro de Risco lista os cinco principais problemas que as empresas podem enfrentar: interrupções bruscas nos negócios e falhas na cadeia de suprimentos (46%), O cenário nos Brics, segundo o relatório, tende a piorar. No Brasil a causa seria a desaceleração da economia. Para mudar esse quadro, o País deve voltar a crescer. A filosofia das empresas deve ser a de proteger seus riscos com apólices de seguros e não a de encarar esta proteção como um custo. Paula Lopes REVISTA DE SEGUROS • 19 Ranking Ambiente macroeconômico desafia as empresas Por BRUNO UCHÔA O índice de sinistralidade chegou a 90%, afetando o desempenho das companhias. No mercado internacional, este percentual varia de 60% a 70%. o mercado ressegurador brasileiro deve continuar vivendo um cenário desafiador neste ano. O setor pode ser impactado diretamente pelo ambiente macroeconômico desfavorável, com perspectiva de baixo crescimento do PIB e da inflação estourando a meta de 6,5%. Por outro lado, tem mostrado um vigoroso crescimento. De 2011 a 2014, o volume total de prêmios de resseguros cresceu 52%, passando de R$ 5,5 bilhões para R$ 8,4 bilhões. Após seguir uma tendência mundial de queda no valor dos resseguros nos anos seguinte à crise mundial de 2008, o mercado brasileiro está vivendo uma fase de ajuste de preços. A competição no mercado elevou o índice de sinistralidade que chegou a 90%, afetando o desempenho das resseguradoras. No mercado internacional, este percentual varia entre 60% e 70%. Estudo elaborado pela Terra Brasis chegou a apontar que, em 2013, apenas IRB Brasil Re, JMalucelli, Mapfre, BTG e Austral tiveram lucro. A Swiss Re, por exemplo, amargou prejuízo de R$ 20 milhões. “A sinistralidade foi decorrente da abertura, que trouxe a concorrência. Todos os resseguradores ofereceram 20 • REVISTA DE SEGUROS As opiniões apontam para um ano difícil. E isso tem a ver com o ambiente econômico em geral, não só do mercado de resseguro. Francisco Galiza resseguros para obras de infraestrutura, o que acabou reduzindo o preço. As companhias baixaram muito o valor. Mas agora o mercado está se ajustando”, avalia o professor do Ibmec e da Escola Nacional de Seguros - ENS, Luiz Antonio Nunes. Pressão competitiva Ainda assim, o mercado ainda deve continuar sofrendo pressão competitiva aliada ao crescimento moderado do setor primário de seguro, segundo opinião dos analistas da Fitch. Enquanto o setor de resseguros cresceu 20% no ano passado, o de seguros avançou 10%, de acordo com a Carta de Conjuntura do Setor de Seguro. “As condições de mercado poderão melhorar em comparação aos últimos três anos. A melhora nos resultados técnicos do mercado local de resseguros até setembro de 2014 sugere que já houve alguns ajustes de preços”, informa o relatório da Fitch. As companhias classificadas como locais permanecem dominando o mercado, sendo responsáveis por 68% dos prêmios recebidos no mercado primário nos últimos dois anos, apesar do aumento no número de participantes. No ano passado, até setembro, duas novas companhias receberam licenças para operar como resseguradoras locais. Atualmente o mercado brasileiro conta com 122 companhias, sendo que apenas 16 são locais, outras 35 são admitidas e 71, eventuais. Perspectivas 2015 O aumento na quantidade de empresas participantes no mercado de resseguros deve continuar neste ano, de acordo com relatório de perspectivas para 2015 para o setor de seguros, elaborado pelos analistas Esin Celasun e Rodrigo Salas, da Fitch Ratings. A Fitch espera novas entradas no mercado local de resseguros, à medida que a estrutura regulatória continue incentivando as companhias de resseguros locais em relação àquelas que operam por meio de um escritório de representação no Brasil (resseguradores admitidos) ou diretamente de fora do País (resseguradores eventuais). A partir de 2011, as resseguradoras classificadas como locais começaram a ter preferência em até 40% dos prêmios cedidos pelas companhias de seguros. Além disto, seguradoras e resseguradoras podem ceder somente até 20% dos prêmios a uma afiliada, exceto para prêmios de seguro Garantia, Rural, de Crédito e Risco Nuclear, em que tal restrição não se aplica. Regra do jogo No entanto, o professor Luiz Antonio Nunes é mais cauteloso ao comentar um possível crescimento no número de players locais no mercado de resseguros brasileiro. “Existe um requerimento de capital enorme para que uma companhia seja aceita como local. É regra do jogo. Se ela tem interesse, tem que cumprir as exigências. Não vejo nenhum problema. Mas isto dependerá muito de como o mercado vai se adequando”. O aumento na quantidade de empresas participantes no mercado de resseguros deve continuar neste ano, de acordo com relatório de perspectivas elaborado pela Fitch Ratings. O requerimento de capital para se tornar uma resseguradora local é de R$ 60 milhões, mais o valor proporcional ao tamanho da operação, além da obrigatoriedade de contar com uma sede no País. Para as resseguradoras admitidas, o capital mínimo exigido é de R$ 5 milhões. As eventuais recebem autorização para operar de acordo com suas necessidades. O consultor Francisco Galiza, da Rating de Seguros, destaca que a confiança no setor está em queda. O Índice de Confiança e Expectativas das Resseguradoras - ICER, elaborado pela consultoria, caiu para 66,7 em fevereiro, ante 77,5 em janeiro. “As opiniões apontam para um ano difícil. E isso tem a ver com o ambiente econômico em geral, não só do mercado de resseguro.” Galiza ainda lembra que o mercado brasileiro é fortemente dominado pelo IRB Brasil Re, que recebeu mais de R$ 3 bilhões em prêmios no ano passado, segundo a Susep. O volume representa 35,7% dos prêmios de todas as resseguradoras, que totalizaram R$ 8,4 Ranking dos resseguradores que atuam no País Ressegurador IRB BRASIL RESSEGUROS S.A. (Ano 2014 - Valores em R$) Prêmios aceitos 3.024.551.975 ZURICH RESSEGURADORA BRASIL S.A. 665.209.139 ALLIANZ GLOBAL CORPORATE & SPECIALTY RESSEGUROS BRASIL S.A. 583.230.214 LLOYD’S389.476.546 AUSTRAL RESSEGURADORA S.A. 384.694.327 MAPFRE RE COMPAÑÍA DE REASEGUROS S.A. 325.601.714 MUNICH RE DO BRASIL RESSEGURADORA S.A. 259.266.056 EVEREST REINSURANCE COMPANY 236.070.294 ACE RESSEGURADORA S/A 223.089.882 HANNOVER RUCK SE (ANTIGA HANNOVER RÜCKVERSICHERUNG AG) 219.969.808 SWISS RE BRASIL RESSEGUROS S.A. 192.444.083 MAPFRE RE DO BRASIL COMPANHIA DE RESSEGUROS 155.477.717 J. MALUCELLI RESSEGURADORA S/A 152.926.622 BTG PACTUAL RESSEGURADORA S.A. 149.226.258 SCOR REINSURANCE COMPANY 134.378.430 AMERICAN HOME ASSURANCE COMPANY 126.625.285 ZURICH INSURANCE COMPANY 102.559.034 OUTRAS1.094.674.636 Total8.419.472.019 O maior desafio hoje é a qualificação, pois são poucos os profissionais gabaritados a trabalhar neste mercado. Luiz Antonio Nunes bilhões; e é 4,5 vezes maior do que o registrado pela segunda do ranking, a Zurich Re. O panorama é bem distinto do observado no cenário mundial, onde Munich Re e Swiss Re disputam o topo do ranking. Mais eficiência Luiz Antonio Nunes lembra, no entanto, que o IRB está competindo no mercado e tem que se tornar cada vez mais eficiente. “O IRB perdeu espaço num primeiro momento, mas ainda detém a memória do mercado, construída anos a fio. Isso confere a ele uma vantagem e a possibilidade de se manter numa posição estratégica.” Ainda na avaliação do professor do Ibmec e da ENS, o principal gargalo do setor de resseguros no País é justamente a falta de profissionalização. Ele avalia que a abertura do setor deixou latente o problema da capacitação e a solução virá apenas quando houver uma ação forte que envolva todos os agentes do mercado. “O maior desafio hoje é a qualificação do profissional, pois são poucos os gabaritados a trabalhar neste mercado. Essa defasagem intelectual chegou a ser cômoda, pois o mercado era concentrado e não havia competição. Mesmo com a abertura, o mercado não se preparou. Mas vai conseguir chegar lá”, concluiu. n REVISTA DE SEGUROS • 21 PERSPECTIVAS Recessão não vai tirar resseguros da rota Por MARIA LUISA BARROS Empresas devem compensar eventuais retrações da economia interna com expansão no mercado internacional. à metade o número de funcionários terceirizados e um terço dos empregados fixos. Atenções no exterior Líder no ramo de agronegócios, com 34% de participação no mercado, e com forte atuação em todos os ramos, o IRB tem suas atenções voltadas para o exterior, onde atualmente concentra apenas 10% do total de prêmios da sua carteira. “Temos um mercado internacional praticamente inexplorado. E no momento estamos sendo favorecidos pela alta do dólar. Pretendemos nos próximos anos crescer substancialmente lá fora”, diz José Carlos Cardoso. Nos planos do IRB está a abertura de novos escritórios na América Latina e na África até o final do ano. A instabilidade financeira não assusta a resseguradora, que até 2007 detinha o monopólio da atividade no Brasil. Ao contrário, os números são bastante animadores. O IRB encerrou 2014 contabilizando um volume de prêmios emitidos da ordem de R$ 3,2 bilhões e um lucro de R$ 602 milhões no Divulgação IRB a s turbulências na economia brasileira, provocadas pela forte desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto - PIB, não devem tirar da rota o mercado de resseguros nacional. O cenário de recessão projetado para este ano vai obrigar as empresas a apertarem o cinto, porém, o desempenho do setor tende a manter o fôlego e a se descolar do PIB, registrando desempenho acima de 10% este ano, alavancado, sobretudo, pelos ramos do agronegócio, bens patrimoniais e infraestrutura. Os cálculos são do vice-presidente do IRB Brasil Re, José Carlos Cardoso. “Considero a projeção altamente conservadora. Pretendemos compensar eventuais retrações internas com a expansão do IRB no mercado internacional. Essa combinação pode, sem dúvida, ultrapassar o índice previsto”, afirma. Segundo ele, para alcançar o resultado acima do esperado e enfrentar a concorrência das mais de 100 empresas estrangeiras que atuam no Brasil, a resseguradora vem fazendo a lição de casa, tendo reduzido quase mesmo período – aumento de 24% em relação ao ano anterior. “O nosso lucro hoje é muito maior do que na época do monopólio”, informa Cardoso, que aposta na sua experiência internacional para ampliar as fronteiras do IRB. Segundo ele, Colômbia e Miami devem ganhar filiais em breve. Diante da crise que engavetou novos investimentos e projetos do governo O mercado internacional é praticamente inexplorado e estamos sendo favorecidos pela alta do dólar. Pretendemos crescer substancialmente lá fora. José Carlos Cardoso 22 • REVISTA DE SEGUROS federal, as resseguradoras apostam na diversificação das carteiras e aproveitam a expertise adquirida no mercado internacional para fornecer subsídios às empresas brasileiras no gerenciamento de riscos complexos e de alto valor em seus negócios. Essa é uma das estratégias adotadas pela resseguradora alemã, Munich Re do Brasil, para se sobressair no mercado nacional, conforme explica o CEO da empresa, Rodrigo Belloube. “Queremos nos posicionar como parceiro estratégico de nossos clientes, construindo a quatro mãos projetos e iniciativas relacionadas a inovação, sofisticação da oferta ao mercado, agregar valor e serviços a produtos, de forma a atender demandas cada vez mais complexas e específicas. Queremos ser parceiros, em suma, e ajudar nossos clientes a atingir seus objetivos estratégicos e operacionais”, adianta. Perspectivas otimistas Para o vice-presidente do IRB, é consenso entre os concorrentes que as perspectivas são otimistas e que, de tempos em tempos, o mercado de resseguros passa por uma volatilida- Divulgação Munich RE Miami: o IRB Brasil RE quer expandir suas fronteiras e chegar à cidade da Flórida, nos Estados Unidos, e também à Colômbia, ampliando sua atuação na América do Sul. de. “É um momento de atenção que pode ser compensado pelo aumento dos preços. Mas, independentemente dos problemas atuais, as concessões vão continuar sendo feitas e as empresas precisarão contratar seguros. O setor vai se adaptar”, analisa. Para Belloube, o Brasil continua a ser analisado sob uma lógica de longo prazo e a questão macroeconômica tende a ganhar importância. “O desempenho do mercado de seguros vem significativamente superando o crescimento econômico, com baixa correlação entre os dois, pois existe uma demanda não atendida de proporções consideráveis”, diz o CEO da Munich Re do Brasil. Na visão do executivo, o investimento em obras para sediar grandes eventos, como os Jogos Olímpicos de 2016, representa uma fatia pequena na margem de lucro das resseguradoras. “O trem já passou. A maioria das obras que demandavam resseguro já foram negociadas. Os Jogos Olímpicos são pequenos para o mercado ressegurador. O que conta mais é o desenvolvimento do País, o investimento contínuo em formação bruta de capital fixo, em infraestrutura”, afirma Belloube. Níveis de investimentos No entanto, ele acredita, que para os atores cujas carteiras sejam mais dependentes dos níveis de investimento, como, por exemplo, as de riscos de engenharia e de garantias, o cenário econômico tem outra dimensão. Para o executivo, o País tem hoje performance inferior à média mundial sob a Independentemente dos problemas atuais, as concessões vão continuar sendo feitas e as empresas precisarão contratar seguros. O setor vai se adaptar. Rodrigo Belloube perspectiva de rentabilidade. “Há uma certa ‘comoditização’ do setor, uma mecanização do processo de pulverização de risco, com as negociações, via de regra, focadas predominantemente na variável ‘preço’, cujo valor médio teve trajetória de queda brusca nos últimos anos”, diz. Na avaliação de Belloube, em parte isso se deve ao desequilíbrio entre oferta e demanda, resultado de quase 70 anos de monopólio estatal exercido pelo IRB. “Precisamos manter o mercado nos trilhos e isso significa pensar sempre na melhor solução para o País, e não para atores específicos”, defende. n REVISTA DE SEGUROS • 23 BANCO MUNDIAL Por TATIANA MAIA Braço financeiro do Banco Mundial, a IFC ajuda a promover a inovação e a competitividade do setor seguros e de resseguros. O aumento da cobertura de seguros e da disponibilidade de resseguro são elementos fundamentais para capacitar o desenvolvimento econômico sustentável e o crescimento do setor privado. O seguro tem um papel importante na mitigação de riscos nos mercados emergentes, ajudando a proteger indivíduos e negócios contra os efeitos adversos de desastres naturais, incêndios, secas e outros eventos imprevisíveis. A abertura do mercado de resseguros no Brasil é recente, mas o cenário de monopólio do IRB já é passado distante. De acordo com dados do Terra Report, Relatório do Mercado Brasileiro de Resseguros, produzido pela Terra Brasis, o IRB encerrou os primeiros nove meses de 2014 com uma participação de mercado de 31%, enquanto as outras resseguradoras locais detinham 37% do mercado e as resseguradoras estrangeiras já somavam 32%. Dos 40 maiores grupos resseguradores internacionais, 36 operam no Brasil. E, neste cenário, chama a atenção a participação acionária da 24 • REVISTA DE SEGUROS International Finance Corporation - IFC, braço financeiro do Banco Mundial em duas resseguradoras locais, a Austral (desde 2014) e a Terra Brasis (desde 2011), cujos dirigentes integram a diretoria da Federação Nacional das Empresas de Resseguros – Fenaber. Impacto da aliança Para a Terra Brasis ainda é cedo para avaliar o impacto que uma aliança com o Banco Mundial traz para uma companhia, pois a empresa está ligada à instituição desde o início de suas operações. A parceria começou antes de a resseguradora iniciar sua operação, o que levou seu desenvolvimento a ser traçado em conjunto com o Banco Mundial - e continua sendo assim. “Temos muito orgulho de ser o primeiro investimento feito pelo Banco na nossa área de atuação. Fomos também o projeto mais rapidamente aprovado por eles. Nossa cultura organizacional, postura de mercado e comportamento profissional e ético foram moldados de forma integrada com a participação deles, de nossos sócios e de colaborado- Divulgação Terra Brasis IFC transfere expertise ao mercado brasileiro res”, enfatiza o diretor-presidente da Terra Brasis, Paulo Botti. Há regras que devem ser seguidas para a manutenção da parceria com o Banco Mundial, e todas elas são encaradas pela Terra Brasis como muito positivas. São regras quanto à alocação de investimentos, pois há restrições à aceitação de negócios que podem ser considerados nocivos à sociedade ou ao meio ambiente. E há regras de sustentabilidade que devem ser seguidas, compliance e garantia de governança nos padrões do Banco Mundial. “Estamos muito felizes com isto”, declara Botti. Além de toda a reputação que a instituição nos traz, aporta também uma experiência mundial em seguros e resseguros que estamos absorvendo continuamente. Paulo Botti melhores práticas de sustentabilidade”, completa Ariane. Divulgação Austral RE Fôlego e expertise Os executivos foram unânimes em afirmar que a parceria com o Banco Mundial é uma oportunidade especial para as empresas brasileiras ganharem fôlego financeiro e expertise. Para Paulo Botti, o fomento do mercado de resseguros brasileiro é muito importante, não só para o Brasil mas também para toda a região da América Latina. “Além de toda a reputação que eles nos trazem, aportam também uma experiência mundial em seguros e resseguros que estamos absorvendo continuamente. O conhecimento que a instituição tem do mercado mundial A experiência do IFC, que já participa do capital de vários seguradores e resseguradores pelo mundo, traz um ganho adicional de expertise para a Austral Re. Bruno Freire Divulgação IFC Reflexo dos aportes A IFC adquiriu, em setembro de 2014, 19,5% de participação na Austral Re através de um aporte de R$ 80 milhões, que foi usado para aumentar o capital da empresa. Segundo Bruno Freire, diretor-executivo da Austral Re, como a entrada do IFC aconteceu recentemente, ainda não deu tempo para analisar o reflexo do potencial desse aporte nos resultados. De qualquer forma, 2014 foi o melhor ano da companhia, desde o início das operações, em 2011, segundo Freire. A Austral Re emitiu R$ 445 milhões em prêmios brutos no ano passado contra R$ 328 milhões em 2013, com lucro líquido de quase R$ 19 milhões e índice combinado de 97%. O retorno sobre o capital já está em 11%, o que a companhia considera um ótimo resultado. Segundo Ariane di Iorio, executiva responsável pela área de Instituições Financeiras da IFC no Brasil, o investimento da instituição no mercado de seguros e de resseguros tem por objetivo ajudar a promover a inovação e a competitividade no setor, a elevação da qualidade dos serviços e produtos, a criação de oportunidades de mercado para seus participantes, e a viabilização do desenvolvimento de setores vitais para a economia brasileira, como infraestrutura e agronegócios. “A IFC, como parte de seu propósito de ajudar a promover o desenvolvimento socioeconômico e sustentável do País, tem o objetivo de ajudar a desenvolver também o mercado de seguros como um todo, criando oportunidades para seus participantes e estimulando a adoção das A IFC, como parte de seu propósito de promover o desenvolvimento socioeconômico do País, cria oportunidades e estimula a adoção das melhores práticas de sustentabilidade. Ariane di Iorio e de instrumentos novos e modernos de transferência de riscos tem sido muito útil para nós”, avalia. Bruno Freire segue a mesma linha de raciocínio. Para ele, a entrada do IFC como parceiro da Austral Re traz várias vantagens que devem alavancar o crescimento da empresa. O IFC, por ser uma entidade internacional, reconhecida globalmente e com rating AAA, confere mais credibilidade e reconhecimento para os parceiros internacionais. “O aumento de capital também ajuda na viabilização de um crescimento sustentável e conservador. A experiência do IFC, que já participa do capital de vários seguradores e resseguradores pelo mundo, nos traz um ganho adicional de expertise”, estima Freire. n REVISTA DE SEGUROS • 25 Arquivo CNseg artigO especial O resseguro sob a ótica das seguradoras Por Luis Tavares Pereira Filho - Vice-presidente executivo da CNseg Passados sete anos desde a abertura, pergunta-se: aquelas promessas foram realizadas? s empre que se lamentava o atraso na abertura do mercado de resseguros, somente ocorrida a partir de 2007, dizia-se que o ambiente concorrencial proporcionaria às seguradoras todo um leque de benefícios. Assim, a disputa por clientes entre os resseguradores conduziria a preços menores, inclusive para o consumidor de seguros, contribuindo para o concomitante crescimento do mercado; haveria sensível melhora no atendimento às cedentes; e seriam introduzidas coberturas inéditas no mercado brasileiro, trazidas pelos grandes players internacionais. Passados sete anos desde a abertura, pergunta-se: aquelas promessas foram realizadas? Sob a perspectiva das seguradoras cedentes, a resposta é um vigoroso sim, mas com temperamentos. Quanto aos preços, a recente eleva- 26 • REVISTA DE SEGUROS ção para 90% do índice de sinistralidade médio no setor de resseguro é um indicador, entre outros sinais, de que os preços cederam, mercê da forte concorrência, mais visível em alguns segmentos de maior competição. Também o crescimento das operações de resseguro tem correspondido às expectativas otimistas, pois de 2011 a 2014, o volume total de prêmios cresceu nada menos que 52%. O incremento deixou muito para trás o do PIB e, no ano passado, o setor de resseguros cresceu o dobro do experimentado pelo segmento de seguros (20% contra 10%). Reconheça-se que os desafios para os resseguradores ainda são de monta, destacando-se a necessidade de formação de novos quadros técnicos. Também a volatilidade de mercado é uma preocupação constante, o que pode levar a indesejá- veis flutuações nos níveis de preço. Mas o fato é que o setor se desenvolveu e se consolidou. São 16 resseguradores locais, 35 admitidos e 71 eventuais, oferecendo capacidade e negócios às suas parceiras, as seguradoras cedentes. Cenário nacional O IRB, que sofreu forte perda de market share, no primeiro momento da abertura, parece ter-se firmado e afirmado como empresa competitiva no cenário nacional, com faturamento de prêmios em 2014 da ordem de R$ 3,024 bilhões, cogitando agora penetrar em novos mercados (que não falte prudência!). Por sua vez, os outros 16 resseguradores seguintes do ranking obtiveram, no País, produção de prêmios entre R$ 665 e R$ 102 milhões, configurando um mercado robusto e diversificado. E, em termos de atendimento às seguradoras clientes, o que teria mudado? Bem, a primeira alteração deu-se na postura comercial. Nos tempos do monopólio, o IRB reinava absoluto, sequer dispondo de uma diretoria comercial. Claro, bastava-lhe aguardar tranquilamente as demandas do mercado e estabelecer as condições de preço e cobertura (com consulta ao mercado internacional, reconheça-se). É fato que a situação anterior teria mesmo que mudar: agora são muitos os resseguradores a cortejar as cedentes. Por isso mesmo, nesse novo mundo de ofertas e afagos, as seguradoras têm que se cercar de alguns cuidados. Nesse sentido, são vários os fatores a serem levados em consideração na escolha dos parceiros pelas cedentes. Independentemente da questão do preço há, em princípio, preferência pelos grandes resseguradores internacionais, haja vista a exigência de security constante das normas internas das seguradoras. Isso cria dificuldades para algumas pequenas resseguradoras nacionais, consideradas “butiques”, que ainda precisam fortalecer seus balanços para concorrer com os grandes ou buscar nichos especializados de atuação. Razões de governança Mas a opção pela melhor security nem sempre é tranquila: sucede que a seguradora, por razões de gover- Agora são muitos os resseguradores a cortejar as cedentes. Por isso mesmo, nesse novo mundo de ofertas e afagos, as seguradoras têm que se cercar de alguns cuidados. nança, precisa examinar também a questão da diversificação dos riscos, ou seja, precisa verificar se o ressegurador com quem pretende operar tem acúmulo excessivo de responsabilidades considerando outros países onde atua. É que as seguradoras que operam fortemente em resseguro, no Brasil, têm capital de origem estrangeira (infelizmente são poucas as seguradoras de capital nacional que operam em grandes riscos), atuando em âmbito mundial. A complicar ainda mais a cessão do resseguro, tem-se o fato de o mercado internacional passar por processo de concentração, podendo ocorrer que o ressegurador escolhido hoje possa deixar de existir amanhã. Outro cuidado que a seguradora precisa tomar diz respeito às cláusulas contratuais, especialmente àquela que trata da regulação de sinistros. Se a seguradora deixar de optar pela cláusula claims cooperation e contratar a claims control, pode-se ver em maus lençóis, pois o cliente final é seu, mas o ressegurador é quem decidirá o pagamento da reclamação. Aliás, não são raros os casos em que a judicialização do sinistro deve-se não a uma decisão da seguradora – que tem o cliente e a própria imagem envolvidos – mas a uma recusa do(s) ressegurador(es). Finalmente, quanto às inovações: as esperadas novas coberturas não vieram, a menos de poucas exceções. Ocorrem, inclusive, casos em que a inovação decorre da iniciativa da seguradora em buscar cobertura para uma determinada necessidade de proteção de um segurado seu. E muitas vezes acabam atendidas, o que demonstra as potencialidades de uma política de trazer inovações para o mercado segurador brasileiro. Em suma, sob a ótica das seguradoras, um longo caminho já foi percorrido em termos de preços, opções de parcerias e nível de atendimento. Não se chegou ainda ao ponto de obter o esperado avanço qualitativo na prestação de certos serviços, o que obriga as seguradoras a cuidados, notadamente na elaboração dos termos dos contratos que vão reger suas relações com os resseguradores. Adicionalmente, a ausência de resseguro para determinados ramos, como o seguro saúde, está a indicar um significativo potencial de crescimento do setor, com a introdução de novas e específicas modalidades de cobertura. n REVISTA DE SEGUROS • 27 Internacionalização América Latina ainda é foco da internacionalização Resseguradoras brasileiras fazem registro em países vizinhos em busca de presença global. a s resseguradoras brasileiras estão expandindo ainda mais os negócios em outros países da América Latina. Além da proximidade geográfica, a forma de empreender dos países vizinhos, parecida com a dos brasileiros, atrai a procura por registros em locais como Argentina, Colômbia e Chile. Após o pioneirismo do IRB na internacionalização por países vizinhos, resseguradoras de grupos como BTG Pactual e JMalucelli também buscam seus espaços. Um dos principais motivos pela procura de registro em outros países latino-americanos é experiência oferecida. De acordo com Leonardo Paixão, presidente do IRB, os países vizinhos são vistos como uma escola que prepara as resseguradoras para uma internacionalizaçao global. “A proximidade geográfica, a língua e culturas semelhantes são vantagens numa primeira etapa. Quem passa por esse desafio está pronto para outros continentes”, explica. Países vizinhos O IRB deu início à internacionalização pela Argentina, onde tem negócios há quatro anos, mas também está presente em outros países, como a Espa- 28 • REVISTA DE SEGUROS nha. Desde então, o faturamento da resseguradora cresceu 500%. O IRB é a resseguradora com maior número de negócios na América Latina, representando 14% do seu faturamento. Pela legislação, as empresas podem fazer contratos nos países vizinhos e declarar os ganhos no balanço da operação brasileira. Paixão conta, ainda, que há projeto de registrar a resseguradora no México e na Colômbia neste ano. Mas, assim como em outros negócios, é necessário tomar cuidado. Os riscos políticos e econômicos de alguns países da América Latina se tornam uma preocupação a mais para quem planeja investimentos na região. Na Argentina, por exemplo, além dos conflitos políticos enfrentados no último ano, a estimativa para o crescimento econômico desaponta. A agência de classificação de risco Moody’s espera uma retração de 1% no Produto Interno Bruto - PIB do País, além de uma inflação de 30%. Mesmo assim, Paixão garante que os pontos positivos superam os negativos. “Eu diria que os desafios a serem enfrentados são os mesmos em qualquer Divulgação IRB Por ANGÉLICA MARTINS A proximidade geográfica, a língua e culturas semelhantes são vantagens numa primeira etapa. Quem passa por esse desafio está pronto para outros continentes. Leonardo Paixão Divulgação BTG A América Latina será um foco importante para a BTG neste ano. São países com avanço em infraestrutura, assim como o México, que também almejamos. André Gregori negócio. Com cautela é possível diminuir as preocupações”, avalia o executivo. Grau de investimento Além do IRB, a BTG Pactual já entrou com pedido de registro da resseguradora na Colômbia, Chile e Peru. André Gregori, CEO da BTG Seguros, explica que a companhia estava aguardando a divulgação do rating para a entrada dos processos. De acordo com a última avaliação da Fitch, a BTG possui nota BBB-. Em alguns países, como o Chile, o órgão regulador exige que as resseguradoras tenham classificação grau de investimento de agências globais. O rating é importante, pois a resseguradora tem risco de crédito para a seguradora. Em grandes apólices, a seguradora mitiga o risco assumido transferindo parte dele para uma resseguradora. No caso de acionamento do seguro, cada uma paga a parte que lhe corresponde na indenização. Se a resseguradora quebrar ou não tiver condições de pagar sua parte, quem arca com o prejuízo é a seguradora. “A América Latina será um foco importante para a BTG neste ano. São países com avanço em infraestrutura, assim como México, que também almejamos”, explica Gregori. Para os próximos cinco anos, o governo mexicano prevê um investimento em infraestrutura, de iniciativa pública e privada, com ordem de US$ 590 bilhões. Mesmo assim, Gregori considera que ainda é cedo para falar sobre números. “Não temos uma meta de quanto os negócios em países latino-americanos vão impactar no nosso rendimento”, justifica. Emissão de apólices A JMalucelli, por sua vez, adquiriu o controle da seguradora colombiana Cardinal, especializada em Seguro Garantia e de Responsabilidade Civil. O diretor técnico Eduardo O. Nóbrega explica que a resseguradora também auxilia seus clientes que desejam seguro fora do País. “Isso significa que quando um cliente procura a companhia para apresentar alguma garantia em um país latino-americano ou nos Estados Unidos, somos capazes de auxiliá-los até a emissão da apólice.” A resseguradora mantém relacionamento há mais de 20 anos com a maioria das seguradoras latino-americanas por meio da Associação Panamericana das Seguradoras de Garantia. Para Nóbrega, este intercâmbio permite conhecer em profundidade a legislação de seguros de cada um destes países. “Dessa forma, tanto o conhecimento que temos da legislação quanto a proximidade com os executivos destas companhias nos trazem o conforto necessário para fazer negócios nestes países”. Entretanto, a internacionalização da Austral Re não segue esses padrões. O diretor executivo da resseguradora, Bruno Freire, explica que a empresa não vê a Amércia Latina como uma escola. “Apostamos de cara em alguns países europeus, já que a diversificação de experiência pode ser feita em outros continentes. Mas estamos abertos a oportunidades na América Latina”, acrescenta. Para Freire, o maior desafio na internacionalização é se tornar conhecido. Por isso, há três anos, a Austral começou a atuar em países onde o grupo já tinha negócios. “Cada país novo traz um desafio muito grande. É necessário ter cautela e foi por isso que decidimos trilhar esse caminho”, conclui. n REVISTA DE SEGUROS • 29 Mercado aberto Abertura Um longo caminho ainda a percorrer Por FRANCISCO NOEL Jovem em comparação às décadas de monopólio, o mercado livre tem ainda muito a evoluir em apoio ao fortalecimento da proteção contra riscos. E m 15 de janeiro de 2007, a sanção presidencial da Lei Complementar 126, aprovada pelo Congresso Nacional ao fim de quase dois anos de debate, inaugurou uma nova era para o mercado de resseguro no País. A atividade tornou-se aberta a companhias privadas nacionais e estrangeiras credenciadas pela Susep – uma regra generalizada em todo o mundo, da qual o Brasil deixava finalmente de ser exceção. De lá para cá, o volume de prêmios cedidos ao resseguro saltou de R$ 2,9 bilhões para o patamar dos R$ 8 bilhões. O aumento, de 175%, guarda relação com o crescimento percentual do bolo cedido em relação ao prêmio total do seguro – proporção que chegou à faixa dos 9%, em linha com os níveis internacionais. Mercado obrigatório para os players globais do setor, o País conta atualmente com resseguradores locais, admitidos, além de eventuais e de corretoras de resseguro. Evolução em marcha Jovem em comparação com os 68 anos de monopólio do Estado, o mercado livre do resseguro no Brasil 30 • REVISTA DE SEGUROS tem ainda muito a evoluir em apoio ao fortalecimento da proteção contra riscos. A constatação é compartilhada por profissionais dos vários segmentos – resseguradoras, seguradoras, corretoras, clientes e formadores de profissionais especializados. Diferenças de ponto de vista à parte, é unânime a opinião de que há muito a fazer para desenvolver ainda mais o resseguro entre os brasileiros. O foco de sugestões e expectativas de aprimoramento da dinâmica do mercado está o marco regulatório do resseguro. Constituído pela lei de 2007 e por várias resoluções do CNSP, o marco vem assegurando o incremento e a sustentabilidade da atividade resseguradora, mas alguns de seus requisitos são objeto de proposições nem sempre consensuais entre os agentes do mercado. Interesses nacionais Um ponto de divergências continua sendo, três anos depois de ganhar força de lei, a obrigatoriedade da colocação de 40% das cessões de resseguro em companhias atuantes no País. Imposta pela Resolução CNSP 225, de 2011, a medida é vista por parte do mercado como fundamental para a consolidação da abertura do setor, por proteger os interesses nacionais na atividade. Outra parte discorda e ainda se ressente da normativa do CNSP, considerada restritiva às práticas do resseguro num mundo de finanças globalizadas. Aos olhos de empresas com riscos cobertos pelo resseguro e de corretoras, a confiança no amadurecimento do mercado é acompanhada pela expectativa da diversificação da oferta de produtos. Ao mesmo tempo, para fazer frente à esperada expansão do resseguro, o Brasil precisa formar profissionais, pois a oferta de empregos qualificados superou a demanda – defasagem que a Escola Nacional de Seguros – ENS busca sanar oferecendo MBA para executivos em seguros e resseguro. n Aos olhos de empresas com riscos cobertos pelo resseguro, a confiança no amadurecimento do mercado é acompanhada pela expectativa da diversificação da oferta de produtos. Retrospectiva Após a resistência à abertura, a expansão Por FRANCISCO NOEL O IRB era obrigado a aceitar pesadas cargas de risco. Mas, no ambiente competitivo, passou a exercer o direito de rejeitar os mais graves. Arquivo CNseg ?????? O Aconteceu o que se esperava: o mercado se expandiu sob o ponto de vista técnico e operacional, com a liberdade alcançada pelos participantes do processo. Peón de Sá s primeiros passos para a abertura do mercado de resseguro, consumada em 2007, foram dados 15 anos antes. Em 1992, a liberalização do setor de seguros era tema da Carta de Brasília, da Fenaseg, acolhida pelo governo federal no Plano Diretor do Sistema de Seguros, Capitalização e Previdência Complementar. Obra do IRB, Susep e Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o plano combinava matiz liberalizante com tons de moderação. O presidente do instituto na época, o atuário e especialista em resseguro José Américo Peón de Sá, recorda os motivos da discrição: “estávamos preparando a abertura do IRB, mas havia muita resistência”. Hoje, passados 23 anos, Peón comemora os benefícios decorrentes do fim do monopólio estatal exercido pelo IRB sobre o resseguro e a entrada de novas resseguradoras em cena, após a sanção da Lei Complementar 126, em 2007. “Aconteceu o que se esperava: o mercado se expandiu sob o ponto de vista técnico e operacional, com a liberdade alcançada pelos participantes do processo”, assinala. Antes mesmo da efetivação da abertura, várias resseguradoras estrangeiras já se faziam presentes no País, traba- lhando com o IRB. Oito anos após o fim do monopólio do instituto, as resseguradoras locais e admitidas são mais de 50 e a elas somam-se cerca de 70 eventuais. A exemplo de outros países, cerca de 9% dos seguros de danos no Brasil são cobertos pelo resseguro. Mercado nacional Os novos ventos da liberalização sopraram a favor até mesmo do IRB. O ex-presidente lembra que, no regime de monopólio, o instituto era obrigado a aceitar pesadas cargas de risco, como o de joalherias. No ambiente competitivo, o IRB passou a exercer o direito de rejeitar os riscos graves. “Houve problemas no mercado, mas depois tudo isso se normalizou”, diz Peón de Sá, que preside o conselho da CesceBrasil Seguros de Crédito e atua há 60 anos no mercado. A Resolução CNSP 225/2011 consolidou a abertura no resseguro. Em meio a controvérsias, a edição da medida obrigou a colocação de 40% das cessões de resseguro nas empresas locais. “Seguro é poupança forçada, que não pode sair do País sem regras. Antes, havia empresas operando como meras sucursais das matrizes no exterior. Hoje, o mercado se mantém protegido até o limite razoável do interesse nacional”, salienta. Para Peón de Sá, um desafio a vencer é a difusão de informações sobre resseguro. “Quando há necessidade de cobrir algum risco, muitas vezes os operadores sequer sabem que existe o seguro, por exemplo, para riscos financeiros, responsabilidade civil e de natureza catastrófica – campos abertos ao avanço do seguro e do resseguro no Brasil”. n REVISTA DE SEGUROS • 31 Mercado aberto Regulamentação Obrigatoriedades impostas dividem opiniões Por FRANCISCO NOEL a perfeiçoar as normas regulatórias para o funcionamento ainda melhor do resseguro no Brasil é o que defendem agentes do setor, valendo-se da experiência acumulada em oito anos de abertura, após quase sete décadas de monopólio estatal. Nem todas as mudanças reivindicadas são, no entanto, consensuais – reflexo da diversidade de um mercado com empresas de vários portes, estratégias e origens. Obrigatória desde 2011, a contratação de 40% das cessões de resseguro com resseguradoras locais, por exemplo, ainda divide opiniões. O advogado Luís Felipe Pellon, do escritório Pellon & Associados, está entre os que postulam o fim da obrigatoriedade. “Isso leva a um excessivo retalhamento da cobertura e a dificuldades operacionais de colocação do resseguro e retrocessão”, afirma, para acrescentar que a medida, prescrita pela Resolução CNSP 225, é aplicada em meio a conflitos de interpretação, gerando insegurança no mercado e tendência de elevação de preços, em face das dificuldades inerentes à aceitação parcial de riscos. Presidente da Comissão de Assuntos 32 • REVISTA DE SEGUROS Jurídicos da CNseg e diretor da Metropolitan Life Seguros e Previdência Privada – MetLife, Washington Luis Bezerra da Silva sai em defesa da obrigatoriedade. “Embora alguns possam ver aí uma limitação de mercado, isso resulta da determinação legal de que, para risco no Brasil, o seguro deve ser feito aqui. Sendo o resseguro uma decorrência, é natural que o seguro deva ser efetuado no País, exceto nos casos de não aceitação do risco ou de falta de capacidade para assumir os riscos”, preconiza. Transferência de riscos Quatro anos depois de a Resolução CNSP 232 ter imposto restrições às resseguradoras locais para a transferência de riscos a empresas do mesmo grupo no exterior, o mercado ainda se ressente. Coordenador acadêmico do MBA em Gestão Jurídica do Seguro e Resseguro da Escola Nacional de Seguros – ENS, em São Paulo e Curitiba, o advogado e consultor Walter Polido prega o fim da limitação da cessão e da retrocessão em 20%. “As seguradoras internacionais aqui Divulgação MetLife Num mercado formado por empresas de vários portes, estratégias e origens, as mudanças reivindicadas não encontram consenso. Sendo o resseguro uma decorrência, é natural que o seguro deva ser efetuado no País, exceto nos casos de não aceitação do risco ou de falta de capacidade. Washington Bezerra instaladas a partir da abertura do resseguro tinham começado a trazer produtos inéditos, praticados em mercados mais desenvolvidos, todos com o viés legítimo do resseguro embutido na comercialização. A limitação dos 20% freou de forma abrupta a entrada de novos produtos”, observa Polido. A medida, ele acrescenta, acabou também por criar no mercado a chamada triangulação, encarecendo o seguro. Quanto às restrições a operações de resseguro entre companhias locais de um mesmo grupo, Washington Bezerra salienta que o tema merece estudo. Instâncias de governo Marcelo Mansur, que também é professor da Escola de Administração da Isso (contratação de 40% das cessões com locais) leva a um excessivo retalhamento da cobertura e a dificuldades operacionais de colocação do resseguro e retrocessão. Luís Felipe Pellon André Bueno Partes envolvidas Problema recorrente no mercado é a interpretação de algumas normas. Entre elas, exemplifica o advogado Marcelo Mansur, do escritório Mattos Filho, está a de formalização contratual das operações em até 270 dias, após o começo da cobertura, sob pena de ela não ser considerada desde o início. A aplicação da medida gera controvérsias devido a divergências de entendimento entre as empresas e a Susep, com a punição de resseguradoras que não apresentam documentos assinados por todas as partes envolvidas. “O grande desafio é estabelecer em que consiste essa formalização. É preciso que haja da parte do regulador o reconhecimento de como as coisas funcionam, pois o que importa é a substância, não a forma. Deveria, assim, bastar o consentimento, ainda que ele não venha sob a forma de uma assinatura no papel”, afirma. Mansur associa o que considera exigência excessiva de formalização à cultura jurídica do Brasil, onde os pormenores precisam estar esmiuçados nas leis e contratos, ao contrário do que ocorre em outros países. Fundação Getulio Vargas - FGV, aponta outro desafio a ser superado: as barreiras cambiais e fiscais à internacionalização das resseguradoras locais. Embora a remoção desses obstáculos dependa de outras instâncias de governo, “o apoio do regulador é fundamental”, assinala, para lembrar que uma das empresas com ambições internacionais é o IRB Brasil Re, que tem participação societária relevante da União. “Na Alemanha, por exemplo, as empresas acompanham seus clientes fora do país. Nosso regulador deveria buscar formas de quebrar esses entraves”, defende. Divulgação Pellon & Associados “Por serem empresas locais, submetidas às regras nacionais do setor e da tributação, o fato de pertencer ao mesmo grupo não geraria risco legal nem financeiro, tendo em vista os limites técnicos impostos separadamente a cada empresa. Ao contrário, até fomentaria a concorrência”, afirma. As seguradoras internacionais tinham começado a trazer produtos inéditos. Mas a limitação dos 20% freou de forma abrupta a entrada de novos produtos. Walter Polido Outra questão que demanda solução envolve o Imposto de Renda sobre a remessa de prêmios de resseguro para o exterior, assinala Luís Felipe Pellon. A Secretaria da Receita Federal adota no setor as regras previstas para a prestação de serviços. “Esse entendimento errôneo faz com que seja aplicada uma alíquota de 25%, quando poderia ser aplicada uma de 15%, prevista para outros rendimentos, uma vez que o seguro e o resseguro se constituem em atividade financeira, não caracterizável como prestação de serviços”, salienta. n REVISTA DE SEGUROS • 33 Mercado aberto Consumidor Divulgação WEG Amadurecimento do mercado inspira confiança Por FRANCISCO NOEL A avaliação positiva vem de clientes que lidam com empresas atuantes em solo brasileiro e estão familiarizados com a dinâmica global do resseguro. A s atividades de resseguro no Brasil trilham o rumo certo, passados oito anos da abertura do mercado, mas ainda têm um bom caminho a percorrer até a chegada a níveis de desempenho alcançados por países europeus e norte-americanos. A avaliação positiva, seguida de manifestações de confiança no amadurecimento do mercado brasileiro, vem do outro lado do balcão. Ela é emitida por clientes que lidam com as seguradoras e resseguradoras atuantes em solo brasileiro e estão familiarizados com a dinâmica global do resseguro. “Comparado com mercados mais evoluídos, o brasileiro ainda está bastante tímido. Mas, se formos comparar com o quadro anterior à abertura, o Brasil evoluiu muito. Isto demonstra que se trata de um mercado extremamente interessante para todos os resseguradores mundiais. Prova clara disso é justamente o número de empresas que têm hoje autorização para 34 • REVISTA DE SEGUROS operar no nosso mercado”, afirma na fabricante de equipamentos WEG, o gerente global de Seguros e Riscos, Vanderlei Moreira, vice-presidente da Associação Brasileira de Gerência de Riscos – ABGR. Uma das maiores produtoras de equipamentos eletroeletrônicos do mundo, a WEG tem fábricas em nove países, vende em mais de 100 e possui um programa mundial de seguros alinhado à estratégia de internacionalização. As apólices, emitidas por companhias multinacionais, cobrem uma gama variada de riscos. Entre eles, responsabilidade civil por produtos (US$ 100 milhões de capital segurado), operacionais (US$ 60 milhões), engenharia, instalação e montagem (US$ 40 milhões) e impacto ambiental (US$ 25 milhões). Evolução contínua Na Odebrecht Corretora de Seguros – OCS, o gerente de Riscos, Eduardo Se compararmos com o quadro anterior à abertura, o Brasil evoluiu muito. Isto demonstra que é um mercado extremamente interessante para resseguradores mundiais. Vanderlei Moreira Felix Damião, concorda com a avaliação sobre a cobertura do resseguro no País. “A evolução existe e é continua, o que significa que ainda temos muito a aprender, seja na dinâmica das operações, seja no desenvolvimento e simplificação de soluções que possam atender os interesses do segurado”, observa. “O resultado é positivo e estou certo de que o mercado local tem toda a capacidade para atingir o nível mais elevado de avaliação de seus clientes”. Braço do grupo Odebrecht no mer- Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, Rondônia. O grupo fechou o ano de 2013 com seguros que somavam o valor de US$ 81,6 bilhões, dos quais US$ 44,7 bilhões para atividades de engenharia e construção e US$ 36,9 bilhões para os ativos. Em garantias, o total chegava a quase US$ 14,1 bilhões – em engenharia e construção, US$ 13,7 bilhões; em ativos, R$ 389 milhões. Confiança no futuro Vanderlei Moreira também considera que a abertura do mercado é mais vantajosa para as empresas que, no fim das contas, têm a cobertura de riscos lastreada no resseguro. O executivo ressalta, porém, que com as vantagens as empresas precisam ter bom gerenciamento de risco e planos de contingência e de continuidade. “Sem estes pilares, a empresa não conseguirá taxa atrativa e terá saudade da época em que o mercado brasileiro era um monopólio”, alerta. “O mercado brasileiro vai alcançar os patamares desejados de maturidade”, confia o dirigente da ABGR, mas ele acredita que leverá um tempo. “O aperfeiçoamento virá depois que o segurado entender que, para obter uma taxa de risco melhor do que a média, terá que realizar o trabalho dentro de sua casa. E isso nada mais é do que efetuar o correto gerenciamento de risco. Os resseguradores mais tradicionais e grandes players do mercado internacio- Divulgação Holanda Cavalcanti cado de seguro e resseguro, a OCS foi criada em 1978 para auxiliar as empresas do conglomerado na identificação, avaliação e mitigação de riscos associados aos ativos e obras no País e no exterior - além de riscos, transferindo-os a seguradoras e resseguradoras dentro e fora do Brasil. A corretora busca linhas internacionais de coberturas de seguros e garantias e formula soluções integradas para projetos e negócios. Administra também as apólices de seguro de Vida, Saúde e planos odontológicos dos 181 mil empregados da organização. Mesmo tendo chão pela frente para emparelhar-se com a realidade diversificada do resseguro em outros países, o mercado brasileiro do presente proporciona vantagens que eram impossíveis nos tempos do monopólio estatal. “A nova dinâmica coloca as empresas e clientes segurados em um patamar mais próximo ou igual à condição global de uma empresa do mesmo segmento fora do País. Essa igualdade significa que podemos ter diversas vantagens, acompanhadas de algumas exposições, preocupações e cuidados que não experimentávamos antes da abertura”, assinala o gerente de riscos da OCS. Para conglomerados como a Odebrecht, maior construtora do País e presente em mais 22 países, o resseguro é vital para a proteção do patrimônio e dos grandes empreendimentos, como a construção da O resultado é positivo e estou certo de que o mercado local tem toda a capacidade para atingir o nível mais elevado de avaliação de seus clientes. Eduardo Damião nal já sinalizaram isso há muito tempo”. O gerente de riscos da OCS também considera que o mercado brasileiro de resseguro tem tudo para atingir a maioridade. Eduardo Felix Damião sugere às companhias o “contínuo aperfeiçoamento das soluções e serviços aos segurados, replicando as práticas e ações exitosas adotadas em outras regiões do globo”. n REVISTA DE SEGUROS • 35 Mercado aberto Formação e capacitação Por FERNANDA THURLER Os salários no mercado de resseguros variam de R$ 8 mil a R$ 25 mil, mas poucos candidatos preenchem os requisitos para ocupar as vagas. o mercado de resseguros no Brasil vive um momento de boom profissional. Desde a abertura do setor em 2007 tem sido grande a procura por profissionais especializados na área e, com o crescimento do mercado de seguros superior a 8% em 2014, a necessidade de mão de obra altamente qualificada aumentou significativamente, criando no País uma situação inusitada: a oferta de postos de trabalho é superior à demanda. Há vagas para executivos em vários níveis hierárquicos, com salários nas faixas de R$ 8 mil a R$ 25 mil. O problema é que poucos profissionais preenchem os requisitos necessários para ocupar as vagas. Foi justamente para evitar este cenário que a Escola Nacional de Seguros vem oferecendo programas educacionais na área de resseguros mesmo antes da abertura do setor. A oferta é variada: são cursos, seminários, publicações e treinamentos no exterior. Aspectos do mercado Um dos principais produtos é o MBA Executivo em Seguros e Resseguro. Direcionado a executivos em cargos de liderança, o curso visa preparar estes profissionais para conhecer de forma abrangente os principais aspectos do mercado de seguros, resseguro, previdência privada aberta e saúde suplementar, informa o diretor de Ensino Superior da Escola, Mario Pinto. “O curso é orientado para propiciar aos participantes o desenvolvimento de uma visão ampla dos negócios e do funcionamento das empresas e das instituições desse mercado, de modo a prepará-los para atuar como gestores eficazes e eficientes de negócio e empreendimentos, com tomada de decisões consistentes e fundamentadas”, complementa ele. O curso está com inscrições abertas em Salvador/BA, onde é oferecido pela primeira vez, no Rio de Janeiro/RJ e em São Paulo/SP. A diretora de Ensino Técnico da Escola, Maria Helena Monteiro, faz coro à avaliação de especialistas que relacionam a carência de profissionais de resseguros às décadas de monopólio, período em que não houve investimentos na formação de novos profissionais. Mas destaca o incentivo do setor à qualificação dos executivos. Estudo em Londres Ela cita como exemplo o Programa de Treinamento no Exterior 2015, que oferece chance de estudar os processos técnicos do resseguro em Londres, na Inglaterra. “O curso será ministrado entre 7 e 11 de setembro, por The Chartered Insurance Institute, tradicional instituição de ensino do seguro, resseguro e serviços financeiros”, antecipa Maria Helena. Para participar é necessário domínio da língua inglesa e comprovado conhecimento básico ou intermediário em resseguro. O processo seletivo é feito através de análise de currículos. A Escola mantém convênio com o instituto há 15 anos, para administração de exames para certificação internacional. Desde 2011, as duas instituições vêm realizando o Programa de Treinamento no Exterior, em Londres, já tendo capacitado 57 profissionais brasileiros. n Paulo Rodrigues Gargalo está na qualificação profissional O curso será ministrado entre 7 e 11 de setembro, por The Chartered Insurance Institute, tradicional instituição de ensino do seguro, resseguro e serviços financeiros. Maria Helena Monteiro 36 • REVISTA DE SEGUROS Estudo CNSEG Números do resseguro brasileiro em 2014 Por NÚCLEO DE ESTUDOS E PROJETOS O resseguro arrecadou R$ 9,11 bilhões em prêmios cedidos por cerca de 84 seguradoras brasileiras, 10,4% a mais que no ano anterior. O mercado segurador brasileiro atingiu a maior arrecadação da sua história em 2014 – aproximadamente R$ 325 bilhões – dos quais pouco menos de 1/3 é passível de resseguro, já que ainda não existe para consumo, produtos para títulos de capitalização, saúde e previdência. O resseguro arrecadou R$ 9,11 bilhões em prêmios cedidos por cerca de 84 seguradoras brasileiras, um aumento de 10,4% se comparado ao ano anterior e 2,7 pontos percentuais acima do seu mercado-alvo. O número de resseguradoras autorizadas a operar como local aumentou de quatro, no primeiro ano de abertura, para 16 em 2014. Somados os resseguradores admitidos, com no mínimo escritório de representação no Brasil, o total de companhias chega a 51 e mais 71 autorizadas a operar negócios eventuais, sem sede no País, totalizando 122 empresas atuantes no setor. As provisões técnicas das resseguradoras locais chegaram a R$ 12 bilhões em 2014, volume pequeno se comparado ao total do setor, que foi pouco abaixo de R$ 580 bilhões. Nos últimos cinco anos, a taxa média de cessão a resseguro foi de aproximadamente 9% do total de prêmio de seguros(1), abaixo do nível praticado pelos 20 maiores grupos de cedentes da Europa que, em 2013, alcançaram 12,4% (2). Nível de cessão É interessante observar, no entanto, que este nível de cessão é inclusive superado quando se adiciona o cosseguro em 2014: 12,8%. Em contrapartida, o percentual de sinistros e indenizações recuperadas em resseguro perfizeram 12,5% do montante de sinistros ocorridos em 2014. Um dos principais objetivos das seguradoras ao contratar o resseguro é protegerem-se da volatilidade de seus resultados. Consequentemente, os ramos que operam com níveis mais elevados de cessão são aqueles cujos sinistros podem ser grandes o suficiente para comprometer a solvência e liquidez das companhias de seguros. Em 2014 observa-se, por exemplo, nos grupos denominados “grandes riscos” e “risco de engenharia” taxas de cessão de 80,4% e 64,5%, respectivamente. Demais ramos que dispuseram de mais 30% do prêmio cedido a resseguradores no último ano foram os grupos de transportes e cascos (que inclui coberturas de seguros marítimos, aeronáuticos e riscos especiais), responsabilidade civil, crédito e garantia, e rural. Em relação ao volume de prêmio repasssado a resseguradores, os grupos de ramos “grandes riscos” e “transportes e cascos” foram responsáveis por mais da metade dos negócios. n 1- Prêmio de Seguros como pela definição da Susep. 2 - Fonte: A.M. Best Company, Inc. Report. Europe’s Largest Cedants Alter Reinsurance Purchasing Practices. Publicado em 02/02/2015. Acessível por: http://www3. ambest.com/BestWeek/DisplayBinary. aspx?TY=P&record_code=233230. REVISTA DE SEGUROS • 37 NOVOS PRODUTOS Modalidades de proteção inovadoras chegam ao País Por CARMEN NERY Há uma gama de novos produtos para o risco tradicional, mas também para os chamados riscos emergentes. A s resseguradoras poderão ter papel fundamental para a mitigação de riscos provocados por desastres naturais – como secas e inundações – e também riscos de ordem financeira. Começam a chegar ao País novas modalidades de proteção como o resseguro paramétrico, resseguros financeiros, proteção de portfólio e o uso do resseguro como retrocessão para seguradoras. O resseguro surge ainda como uma alternativa de alívio às seguradoras no tocante a composição de capital mínimo, nos momentos em que é necessário aportar excedentes de capital. Diretora-adjunta de Relacionamento com Clientes da Munich Re do Brasil Resseguradora, Adriana Seemann diz que a empresa tem ampla gama de produtos para o risco tradicional, mas também para o que chama de emergentes. “O resseguro é uma ferramenta valiosa de otimização e alívio de capital ainda pouco explorada no mercado brasileiro. No Brasil contamos com uma equipe 38 • REVISTA DE SEGUROS multidisciplinar dedicada ao tema e conectada com nosso centro de expertise, a Capital Partners”. Ela destaca que a proposta é ir além da mera transferência de risco, apontando soluções em função da motivação do cliente, que pode ser o alívio de capital ou outras necessidades, como financiamento para crescer, estabilização de resultados ou manutenção de sua classificação de risco nas agências de rating. Gestão de ativos A empresa oferece ainda a linha de serviços ALPHA - Asset Liability Portfolio Hedge Administration, que visa auxiliar os clientes na gestão de seus ativos para fazer frente à volatilidade dos passivos assumidos devido a oscilações de taxas de juros, inflação etc. “O interessante é que as pessoas envolvidas em tais projetos são as mesmas que participam da gestão de risco do grupo”, ressalta Adriana. Na avaliação de Margo Black, as mudanças no ambiente econômico e regulatório estão criando novos desafios para a indústria de seguros no mundo todo. Presidente da Swiss Re Brasil Resseguros e diretora responsável pelas operações de resseguros da Swiss Re na América Latina Sul, ela observa que, seguindo a tendência global, o Brasil também tem implementado medidas que aproximam o mercado local da regulamentação europeia conhecida como “Solvência II”. As novas exigências de capital para riscos de subscrição, crédito e operacional vêm sendo implementadas há quatro anos e, no final de 2014, a Propusemos uma cobertura paramétrica em parceria com governos, para subsidiar o seguro para moradores de áreas de risco. Cláudia Melo Susep definiu os critérios para estabelecer o capital constituído pelas seguradoras, entidades de Previdência Complementar, empresas de títulos de Capitalização e resseguradoras locais, com base no risco de mercado. “As novas regras podem demandar cerca de R$ 3,8 bi de capital adicional às companhias brasileiras, que terão até o fim de 2017 para se adaptar”, diz Margo. Neste cenário, o resseguro aparece como uma ferramenta de gestão de capital e otimização de recursos para as seguradoras, que pode ser usada tanto para aumentar o capital disponível (PLA - Patrimônio Soluções sob medida Os principais benefícios da utilização do resseguro para gestão de capital são: flexibilidade, eficiência, liquidez e proteção em cenários adversos, segundo Margo. Ela explica que não existe um produto de prateleira e a empresa trabalha em estreita colaboração com a alta direção dos clientes, incluindo o CEO e diretoria, para desenvolver soluções sob medida. “As soluções podem variar desde as mais simples, como a tradicional quota share, até as mais complexas estruturas de resseguro, envolvendo diferentes linhas de negócios e tempo de contrato”, explica. Wady Cury, diretor de grandes riscos do Grupo BBMapfre e presidente da Comissão de Resseguro da CNseg, alerta que, embora o resseguro possibilite à seguradora acessar capital de uma forma mais econômica, evitando que recorra ao controlador, é fundamental que a operação seja feita com cuidado. “É preciso escolher bem para não adicionar o risco de crédito, além do que o capital regulatório já exige.” Ele destaca que o resseguro tem sido um indutor de lançamento de novos produtos pelo mercado segurador, permitindo que as empresas lancem inovações de forma protegida em função da transferência do know-how de resseguradoras internacionais. “O resseguro é o ápice da cadeia e tem um olhar mundial que permite trazer produtos que estão sendo lançados em outras partes do mundo”, reitera Cury. Shutterstock Líquido Ajustado) quanto para reduzir a exigência de capital (CMR - Capital Mínimo Requerido). Enchentes: uma modalidade de resseguro lançada no ano passado tem cobertura para inundações, por meio de ferramenta que permite às seguradoras precificar o risco O resseguro é uma ferramenta valiosa de otimização e alívio de capital ainda pouco explorada no mercado brasileiro. Adriana Seemann Precificação de risco Um exemplo é a Swiss Re que lançou no ano passado uma modalidade de resseguro com cobertura para inundações, por meio da oferta de uma ferramenta que agora permite às seguradoras precificar o risco. Segundo Cláudia Melo, gerente de clientes sênior da área de Global Partnerships da Swiss Re, o produto – que já está sendo utilizado por duas seguradoras brasileiras – é voltado para qualquer seguradora que queira incluir a co- bertura de alagamentos em seguros residenciais, industriais, comerciais e de automóveis. “A cobertura de inundação é voltada para clientes de classe média que podem pagar por este tipo de seguro. Para a população de menor poder aquisitivo, propusemos uma cobertura paramétrica em parceria com os governos, que poderiam subsidiar o seguro para moradores de áreas de risco. A proposta já foi apresentada, mas ainda está em discussão”, diz Claudia. O seguro paramétrico é baseado num evento físico e num parâmetro pré-definido, que funciona como gatilho para o pagamento do sinistro, como, por exemplo, a magnitude de um terremoto ou o índice pluviométrico de enchentes. “A seguradora não precisa ir ao local para saber o efeito, a partir do parâmetro alcançado, o pagamento é feito de forma rápida e transparente”, resume a gerente. n REVISTA DE SEGUROS • 39 RISCOS CATASTRÓFICOS Perdas são maiores em países mais pobres Divulgação SWISS RE Por DENISE BUENO Cláudia Melo Gerente de clientes sênior da área de Global Partnerships da Swiss Re 40 • REVISTA DE SEGUROS Os mercados emergentes são responsáveis por 94% das mortes ocorridas em catástrofes, ficando apenas 6% com os mercados maduros. H aiti, 12 de janeiro de 2010. Um terremoto ocorrido a 16 km da cidade de Porto Príncipe, de 7,7 graus na escala Richter, matou mais de 225 mil pessoas. Segundo o Banco Mundial, as perdas e danos provocados pelo terremoto chegaram a US$ 8 bilhões, o equivalente a 120% do PIB do país na época. Seguradoras pagaram US$ 111 milhões em indenizações. Chile, 27 de fevereiro de 2010. Terremoto a 90 km de Concepción, de 8,8 graus na escala Richter, mata mais de 850 pessoas, danifica 1,5 milhão de edifícios e deixa 12,5% da população desabrigadas. Prejuízos para a economia de US$ 30 bilhões, ou 5% do PIB. Foram 79 hospitais afetados. Apenas 6% das residências tinham seguro. Milhares de sobreviventes recomeçaram suas vidas do zero. As seguradoras pagaram US$ 8,8 bilhões. Japão, 11 de março de 2011. Terremoto seguido de tsunami tira a vida de 15.846 pessoas e mais de 3,3 mil ficam desaparecidas. Perdas econômicas foram calculadas em quase No Brasil, segundo empresas como Munich Re e Swiss Re, não há contrato de resseguro de catástrofe feitos por governos federal, estadual ou municipal. US$ 200 bilhões, com impacto de 4% no PIB. As seguradoras pagaram indenizações de US$ 37,6 bilhões. Custo para governos Nesses três exemplos, a conclusão é que quanto mais pobre o país, maior a perda para o governo, pois a população não tem acesso ao seguro, que tem um papel fundamental na recuperação das economias. Até hoje o Haiti enfrenta dificuldades com epidemias, enquanto a economia do Japão estava praticamente recuperada em três meses após uma das piores catástrofes da história do país. Além das mortes, precisam ser considerados impactos na infraestrutura de estradas, pontes, aeroportos, portos, redes elétricas e de telecomunicações, os riscos de epidemias e os danos a empresas, que, mesmo situadas longe do local da catástrofe, sofrem com falta de energia e quebra da cadeia de fornecimento. Na política fiscal, gasto adicional para financiar a reconstrução. De acordo com resseguradores, é possível um esforço para desenvolver produtos adequados para os países em desenvolvimento. No entanto, sem estruturas econômicas e regulatórias adequadas, os mecanismos de gestão de riscos de seguros estão aquém de seu potencial para reduzir o impacto dos desastres. “Ao trabalhar em conjunto com as seguradoras, os governos têm os meios e a capacidade para aproveitar tal apoio e aumentar a proteção das pessoas e da economia com a redução dos impactos dos desastres”, diz Cláudia Melo, gerente de clientes sênior da área de Global Partnerships da Swiss Re. Impacto econômico A Geneva Association tem em seu portal o estudo Insurers contributions to disaster reduction - a series of case studies, segundo o qual uma maior cooperação entre as seguradoras e os governos pode reduzir a escala das perdas geradas pelas catástrofes, bem como seu impacto econômico subsequente – especialmente em países em desenvolvimento, os mais afetados, que acabam por vivenciar pobreza e estagnação econômica pela falta de seguros para a reconstrução e de medidas preventivas. Nos países desenvolvidos, as perdas seguradas chegam a 25% do total dos prejuízos, enquanto nos emergentes este percentual cai para 7%, revela estudo da Swiss Re. O Japão, por exemplo, além de ter um dos mais elevados índices de consumo per capita de seguro, conta com um fundo do governo para perdas catastróficas. Uma Agência Especial de Reconstrução foi criada pelo governo japonês para administrar um fundo de US$ 245 bilhões e tornar mais ágil o processo para ajudar os municípios, estabelecer zonas especiais de reconstrução e fornecer subsídios para as áreas mais afetadas pelo desastre. Sem estruturas econômicas e regulatórias adequadas, os mecanismos de gestão de riscos de seguros estão aquém de seu potencial para reduzir o impacto dos desastres. O estado da Flórida, nos Estados Unidos, região onde ocorre a maioria dos mais violentos furacões da história, também tem um fundo público para ajudar a economia local a se levantar após a passagem de um furacão. Já o Haiti, o Chile e também o Brasil, com episódios como o deslizamento de terra na região serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, e as enchentes que assolaram Santa Catarina em 2009, contaram com a ajuda de doações locais e internacionais. Concentração urbana Outros fatores que tornam a situação ainda mais grave nos países emergentes é a concentração da população em grandes centros urbanos e a qualidade da infraestrutura básica. De acordo com estudo da Swiss Re, os mercados emergentes são responsáveis por 94% das mortes ocorridas em catástrofes, ficando apenas 6% com os mercados maduros. Aprender com a terrível experiência e ajudar governos, empresas e indivíduos a estarem mais preparados para o próximo evento é o trabalho que resseguradoras têm desenvolvido em mercados emergentes. No Brasil, segundo empresas como Munich Re e Swiss Re, não há contratos de resseguro de catástrofe feitos por governos federal, estadual ou municipal. A maior parte dos gastos dos governos de países emergentes é para alívio emergencial, o que acaba saindo caro para todo mundo, pois o dinheiro que deveria estar sendo investido para a economia crescer tem de ser direcionado para aliviar os mais atingidos. As perdas tendem a crescer com as mudanças climáticas e, por isso, ou os governos dos emergentes aderem às medidas já tomadas pelos países desenvolvidos ou os resultados serão cada vez piores, alertam os estudos divulgados. n REVISTA DE SEGUROS • 41 Saúde, Vida E PREVIDÊNCIA Divulgação SCOR Resseguro para esses segmentos tem potencial Por JOÃO MAURÍCIO RODRIGUES Há oportunidades de parcerias com seguradoras para incrementar produtos inovadores e mais customizados à real necessidade de cada cliente. No seguro de Vida a necessidade de cada um varia ao longo dos anos e a oferta de produtos com valores elevados e de longo prazo ainda é extremamente tímida no Brasil. Francisco Toledo 42 • REVISTA DE SEGUROS A pós oito anos da queda do monopólio de resseguros no Brasil, o mercado demonstra um potencial de crescimento cada vez maior nos segmentos de Saúde Suplementar, Vida e Previdência Complementar. A abertura aconteceu por meio da Lei Complementar N° 126/07, de 2007, e das regulamentações posteriores. Segundo o diretor executivo da Scor Brasil Resseguros S.A., Francisco de Toledo, o mercado de resseguro do ramo de Pessoas fatura em torno de R$ 300 milhões por ano no Brasil e apresenta um grande potencial de crescimento, através do incremento nas carteiras atuais das seguradoras, do lançamento de novos produtos e da possibilidade de surgimento de novas oportunidades em Saúde e Previdência. “Ainda estamos em um período de transição para o mercado totalmente aberto. Durante este período, a ebulição em termos de concorrência e de ganho de mercado, tende a se normalizar”, afirma Toledo, acrescentando que é importante que seja mantida a segurança jurídica necessária à atração e manutenção de novos capitais. Falta de experiência O executivo explica que o ramo de Pessoas no Brasil carece de experiência principalmente em precificação, seleção, distribuição e retenção de seguros individuais. Observa ainda que existem oportunidades nas parcerias com as seguradoras para incrementar produtos inovadores e mais customizados à real necessidade de cada cliente. “No seguro de vida, por exemplo, a necessidade de cada um varia ao longo dos anos e a oferta de produtos com valores elevados e de longo prazo ainda é extremamente tímida no Brasil”, alerta. Em relação aos critérios de seleção de Composição de renda A tendência do mercado de renda é se desenvolver para que as pessoas com planos de Previdência ou fundo de pensão comprem a composição de renda no mercado segurador. Na previsão do dirigente, com o passar do tempo esse mesmo segmento pode evoluir para outros produtos. “Esse mercado está sendo desenha- do. Nosso objetivo é ter uma proposta para apresentar à Susep até o final de abril deste ano”, adianta. No segmento de Vida o que demanda resseguro é o seguro de grandes coberturas, na avaliação do presidente da FenaPrevi. “Clientes com coberturas elevadas são mais potenciais. Pelo fato de não termos um mercado muito grande, os seguros com capital alto é que são os mais ressegurados. Os extremos das carteiras são ressegurados para que a empresa possa ter mais estabilidade na estrutura de capital”, explica. Osvaldo do Nascimento revela ainda que a FenaPrevi quer incentivar uma melhor qualificação dos canais de distribuição dos corretores, agências e canais eletrônicos em que os produtos são procurados. O objetivo, segundo o dirigente, é a transparência para que o cliente tenha informação e discernimento para comprar os produtos com segurança. Mercado Desconhecido Na avaliação do presidente da FenaSaúde, Marcio Coriolano, os resseguradores ainda não conhecem suficientemente o mercado de seguros de saúde no Brasil e precisam tomar a iniciativa de entender melhor o segmento. No entanto, o executivo reconhece que o seguro saúde tem algumas particularidades que dificultam a adoção do resseguro. Arquivo CNseg riscos, o representante da Scor avalia que desde a abertura do mercado as companhias seguradoras procuram aperfeiçoar a seleção e precificação de riscos, atendendo exigências dos resseguradores, principalmente nos produtos individuais que passaram a ficar mais atraentes, oferecendo possibilidade de taxas garantidas e capitais elevados. Na visão de Francisco de Toledo, normalmente as resseguradoras oferecem a capacidade adicional que as companhias precisam para cobrir certo capital segurado. No entanto, no segmento de seguro de Pessoas, as empresas fornecem também todo o suporte técnico, tanto para o desenvolvimento do produto como para a elaboração da nota técnica, clausulados, underwriting, regulação de sinistros etc. “A experiência de outros países muitas vezes pode ser utilizada no Brasil, principalmente nas classes mais abastadas, que têm hábitos de vida mais homogêneos mesmo em países muito diferentes”, finaliza. Há espaço para que o mercado de seguros de Saúde seja melhor conhecido pelo ressegurador. Dessa forma, será possível oferecer produtos mais adequados às nossas realidades. Márcio Coriolano REVISTA DE SEGUROS • 43 Clientes com coberturas elevadas são mais potenciais. Os extremos das carteiras são ressegurados para que a empresa possa ter mais estabilidade na estrutura de capital. Osvaldo do Nascimento 44 • REVISTA DE SEGUROS Marcio Coriolano explica que muitas operadoras não têm sistema de informação estruturada, o que impede que o ressegurador faça uma análise adequada de riscos. O resultado, segundo ele, é uma tarifa defensiva das resseguradoras, muito elevada, e que dificulta o interesse das empresas de seguro Saúde. O presidente da FenaSaúde demonstra que existe um grande espaço para que o mercado de seguros de saúde seja melhor conhecido pelo ressegurador e indica duas modalidades de resseguros para o segmento: uma é a carteira como um todo e outro é só para determinados riscos ou contratos. “O ressegurador sempre prefere a carteira, pois oferece uma perspectiva maior de negócio”, avalia. No entanto, o executivo adverte que atualmente as grandes seguradoras e operadoras já têm uma escala muito grande e não se interessam pelo resseguro de carteira. “Vou dar um exemplo: a Bradesco Saúde tem cerca de 4,5 milhões de clientes segurados e não precisa de um resseguro para diminuir os cenários de incerteza. A seguradora já conhece bem o seu risco e tem conhecimento bem razoável da sua carteira”. Marcio Coriolano sugere que um caminho mais viável para as empresas de resseguros está nos produtos que cubram riscos para determinados tratamentos e patologias. “É por isso que reitero a análise de que existe um grande espaço para que o mercado de seguros de saúde seja melhor conhecido pelo ressegurador. Dessa forma, será possível oferecer produtos mais adequados às nossas realidades”, finaliza, lembrando que o mercado de seguro saúde é uma fatia de cerca de 20% de um mercado maior da Saúde Suplementar, de cerca de 50 milhões de pessoas. Novos produtos O segmento de Vida e Previdência é o que oferece o maior potencial de crescimento no Brasil, principalmente na modalidade de renda programada, na avaliação de Osvaldo do Nascimento, presidente da FenaPrevi. No entanto, ele adverte que ainda depende muito da regulamentação que o mercado venha a adotar para os produtos e da situação econômica do País. “O segmento está atrelado ao crescimento do PIB e renda. Só depois que conhecermos o desdobramento do cenário econômico atual poderemos ter uma ideia do potencial real desse mercado”. O presidente da FenaPrevi aponta também as dificuldades relacionadas à correção das aposentadorias pela inflação ou taxa de juros acoplados nos contratos, composição de reajuste que não é comum no exterior. “A partir do momento em que nós tivermos produtos parecidos com o existente no exterior, o resseguro na área de Previdência será alavancado”, prevê. No entanto, revela que a entidade está acompanhando o desenvolvimento de novos produtos que atendam às necessidades do consumidor brasileiro. Um deles é o seguro de Vida Capitalizado, que já foi submetido à Superintendência de Seguros Privados - Susep e deverá ser lançado ainda neste ano. n Arquivo CNseg Arquivo CNseg Saúde, Vida E PREVIDÊNCIA artigo jurídico Proteção a pessoas e ao ambiente Gloria Faria, Superintendente Jurídica da CNseg Arquivo CNseg Os prejuízos materiais e humanos impactam a população das cidades e do campo. Os efeitos podem ser amenizados com a proteção do seguro. A prevenção e o monitoramento dos riscos ambientais são hoje absolutamente imprescindíveis, sobretudo após o advento da lei que instituiu a PNRS. o Brasil, com suas dimensões continentais e seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados de território, tem como maiores riscos ambientais as enchentes e inundações. Prova disso é o 11º lugar que ocupa no ranking dos países mais afetados por esses fenômenos. Sem incidências expressivas de abalos sísmicos ou efeitos de ciclones ou furacões, o País tem suas atividades produtivas – industriais, comerciais ou rurais – mais expostas aos efeitos e impactos dos níveis de água e sua força quando ocorrem esses fenômenos. Nas áreas urbanas muitos são os fatores que agravam os efeitos das chuvas excessivas e concentradas, como o assoreamento do leito dos rios, a impermeabilização das áreas de infiltração, a rede de condutos e os escoamentos insuficiente ou ineficiente e, por fim, a ação dos habitantes no descarte de lixo e dejetos. Nas áreas ribeirinhas, o assoreamento e a ocupação do leito maior dos rios, naturalmente inundável a cada dois anos, agravam os efeitos das inundações que, na verdade, são consequência de pro- cesso natural ligado ao ciclo hidrológico. Os prejuízos materiais e humanos, como a perda direta do patrimônio ou a interrupção da atividade econômica ou a grande tragédia da perda de vidas, impactam a população das cidades e do campo. A amenização de seus efeitos pode, entretanto, encontrar uma resposta no seguro e no resseguro. Anteriormente a 2011, ano da criação pela Susep do ramo específico de Responsabilidade Civil Riscos Ambientais, a contratação de seguros para este tipo de risco só era possível para algumas atividades ou ainda como parte de operação e por meio de coberturas adicionais nas apólices. Hoje, guardadas as variações de produtos de empresa para empresa, são oferecidas coberturas para danos ambientais primários, os chamados danos ecológicos puros, aqueles que atingem recursos hídricos, solo, flora ou fauna, e para danos ambientais secundários. Decorrentes dos danos ambientais primários, os secundários afetam indiretamente os indivíduos, causando prejuízos e demandando sua reparação e indenização. n REVISTA DE SEGUROS • 45 opinião A importância do resseguro Arquivo CNseg Antonio Penteado Mendonça, jornalista e especialista em Seguros e Previdência n o final do ano passado, conversando com executivos de resseguradoras, confirmei a informação de que elas haviam se recuperado das dificuldades de 2013 e que seus balanços devem apresentar números melhores. É uma notícia positiva. E não apenas por uma razão. A primeira é que, com os balanços no azul, as resseguradoras locais resgataram a credibilidade e têm cacife para enfrentar a crise brasileira sem risco de comprometer suas gestões frente aos acionistas. A segunda é que mais um ano se passou e, ao longo dele, elas aprenderam mais um pouco sobre as tipicidades do País e seus reflexos sobre a atividade. Hoje, as resseguradoras que operam no Brasil sabem melhor como e o quê oferecer a suas parceiras nacionais. Em função da operação no País, aprimoraram também a capacidade de negociar e interagir com parceiras e segurados, principalmente no que diz respeito aos clausulados das apólices de seguros em português e inglês. Além disso, continuam aprendendo como funciona a Justiça brasileira e assim conseguem precificar melhor seus produtos. Vale lembrar que apresentar lucro é 46 • REVISTA DE SEGUROS As resseguradoras que operam hoje no Brasil sabem melhor como e o quê oferecer a suas parceiras nacionais. A crise econômica pode ser o gatilho para mudanças que alterem o quadro atual, oferecendo ao País seguros com garantias mais amplas e mais baratas. sempre bom. Os acionistas recebem dividendos, a empresa se capitaliza, os executivos e funcionários recebem bônus e o governo embolsa os impostos. Ganham todos, mas, acima de todos, ganha o País, com a possibilidade de ter novos tipos de contratos de resseguros para dar suporte às seguradoras em operação por aqui. Este é o ponto fulcral da discussão. As resseguradoras em operação no Brasil, até agora, sem entrar no mérito das razões para isso, agem de forma extremamente conservadora. Elas dizem que a culpa é das seguradoras, as companhias de seguros dizem que a culpa é delas, mas o fato concreto é que o País continua sem ter uma série de seguros que são rotineiramente comercializados em dezenas de outros países. O exemplo mais fácil é o seguro para o agronegócio. Neste campo, o Brasil está patinando, oferecendo pouca proteção para um setor econômico da maior importância para a balança comercial. E o que dizer dos seguros para os eventos de origem climática? Quando as garantias são comercializadas, as apólices em vigor oferecem as mesmas coberturas de 30 anos atrás, sem qualquer mudança significativa que aumente o espectro da cobertura ou reduza o preço do seguro. Finalmente, até agora não se encontrou uma solução para o seguro de dezenas de atividades empresariais consideradas de alto risco pela possibilidade, principalmente, da ocorrência de incêndios. Dependendo do olhar sobre este texto, pode-se ficar com a sensação de que estou pessimista. Mas é exatamente o oposto. Como tem muito para ser feito, um ano de crise econômica e de dificuldades para vários setores pode ser o gatilho para mudanças que alterem o quadro atual, oferecendo ao País seguros com garantias mais amplas e mais baratas. n