Análise Interdisciplinar das Oportunidades e Riscos
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Análise Interdisciplinar das Oportunidades e Riscos
Análise Interdisciplinar das Oportunidades e Riscos Associados às Nanociências e Nanotecnologias Mitzi Hass Wakamatsu Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Nanociências e Materiais Avançados da Universidade Federal do ABC para obtenção do título de Mestre em Nanociências e Materiais Avançados Programa de Pós-graduação em Nanociências e Materiais Avançados Orientador: Prof. Dr. Rafael Salomão Santo André, outubro de 2009 Análise Interdisciplinar das Oportunidades e Riscos Associados às Nanociências e Nanotecnologias Este exemplar corresponde à redação final da dissertação devidamente corrigida e defendida por Mitzi Hass Wakamatsu e aprovada pela Comissão Julgadora. Banca Examinadora: • Prof. Dr. Rafael Salomão (orientador) - UFABC. • Prof. Dr. Peter A. B. Schulz - IFI-Unicamp. • Prof. Dr. Ana Keila M. Pinezi - UFABC. Trabalhos Apresentados em Congressos • Artigo: Ceramic nanoparticles: What else do we have to know? International Ceramic Review (Interceram), 59(2010)[1], pp. 28-33 Autores: Wakamatsu, M.H. e Salomão, R. • 53o Congresso Brasileiro de Cerâmica, 2009. Apresentação: Nanopartículas cerâmicas: o que mais precisamos saber? Autores: Wakamatsu, M.H. e Salomão, R. • Workshop Nanotecnologia na América do Sul: Desenvolvimento e Implicações Sociais, 2009. Nanotecnologia: Há riscos? Autores: Wakamatsu, M.H. e Salomão, R. • VII Encontro da SBPMat, 2008. Ethical Aspects of Nanotechnology in Materials Science and Engineering: an Overview. Autores: Wakamatsu, M.H. e Salomão, R. i Agradecimentos Ao Prof. Dr. Rafael Salomão, pela orientação, disposição e paciência. À UFABC, pela infraestrutura e pelo suporte financeiro, bem como à CAPES. À minha família, pela compreensão e apoio incondicional. Aos colegas que se tornaram grandes amigos, Christiane Davi, Aline Schoenhalz e Cleiton Maciel, que contribuíram com muitas discussões técnicas e amenas, além da grande ajuda tecnológica (EndNote e LATEX). A grande vantagem em participar de um programa multidisciplinar, principalmente em um trabalho sobre interdisciplinaridade, foi ter a oportunidade de interagir com pessoas das mais diversas áreas, buscando aprender um pouco sobre assuntos diferentes da minha formação, o que se tornou um prazeroso desafio. Além da grande ajuda dos colegas de outros programas da UFABC que trouxeram contribuições importantes na física, materiais e em áreas da saúde e humanas, durante o trajeto do mestrado pude conhecer pessoas de outras instituições, tanto de dentro como de fora do Brasil, que trouxeram novas perspectivas e ideias. Agradeço particularmente aos colegas das áreas de ciências humanas e sociais pela colaboração em assuntos que eu nem imaginava existir, antes de iniciar o mestrado. ii Dedicatória À minha filha, Isabelle e ao meu marido, Stephan. iii Epígrafe “Muitas pessoas veem a tecnologia como o problema por trás da chamada fronteira digital. Outros a veem como a solução. Tecnologia não é nada disso. Ela deve operar em conjunto com as empresas e os sistemas econômico, político e social.” Carly Fiorina iv Resumo Os termos Nanociências e Nanotecnologias (NC&NT) referem-se às áreas do conhecimento relacionadas aos fenômenos observados em diferentes classes de materiais que ocorrem quando suas geometrias possuem dimensões da ordem nanométrica (utiliza-se como limite prático para esse fim valores da ordem de 100 nm ou 10−9 m). Esses fenômenos são caracterizados por mudanças significativas nas suas propriedades e características de materiais em relação aos mesmos materiais em escala nãonanométrica (micro ou macroscópica), levando a diversas aplicações com base nos conceitos de NC&NT e resultando em desempenhos superiores às tecnologias atuais e em rápido e crescente avanço. No entanto, esse ritmo de desenvolvimento não permite que suas implicações, muitas delas potencialmente nocivas, sejam adequadamente investigadas, gerando diversas questões éticas. Este trabalho propõe uma investigação interdisciplinar para avaliar esses novos desenvolvimentos em diferentes contextos, com base em uma revisão crítica de diversos trabalhos e patentes publicados nas áreas de estudos em NC&NT. Essa análise é fundamentada e aplicada a análises críticas envolvendo nanopartículas de prata (AgNPs) e argila em nanocompósitos poliméricos. Palavras-chave: nanociências, nanotecnologia, interdisciplinaridade, riscos. v Abstract The terms NC&NT refer to areas of knowledge related to phenomena observed in different classes of materials that occur when their geometries have nanometric dimensions (a practical limit for this purpose is represented by 100 nm or 10−9 m). These phenomena are characterized by significant changes in the properties and characteristics for the same materials on a non-nanoscale (micro or macroscale), leading to various applications based on the concepts of NC&NT, often resulting in superior performance compared to current technologies. Futhermore, this novel area represents a fast-growing and promising field. However, this pace of development does not allow its implications, many of them potentially harmful, to be properly investigated, bringing several ethical issues to light. This work proposes an interdisciplinary research to evaluate these new developments in different contexts, based on a critical review of several papers and patents published in the areas of study in NC&NT. This analysis is applied to critical analysis involving silver nanoparticles (AgNPs) and polymer clay nanocomposites. Keywords: nanoscience, nanotechnology, interdisciplinarity, risks. vi Sumário Trabalhos Apresentados em Congressos i Agradecimentos ii Dedicatória iii Epígrafe iv Resumo v Abstract vi Lista de Abreviaturas x Lista de Figuras xi Lista de Tabelas xii 1 Aplicações e perspectivas 1.1 Nanotecnologia em medicina . . . . . . . . 1.2 Nanotecnologia em alimentos e agricultura 1.3 Nanotecnologia em aplicações militares . . 1.4 Nanotecnologia em têxteis . . . . . . . . . 1.5 Células combustíveis . . . . . . . . . . . . 1.6 Células solares . . . . . . . . . . . . . . . . 1.7 Nanotecnologia e meio ambiente . . . . . . 1.8 Nanotecnologia e eletrônica . . . . . . . . 1.9 Considerações gerais . . . . . . . . . . . . 5 5 8 10 11 14 15 17 20 21 vii . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . SUMÁRIO viii 2 Metodologia 23 3 Interdisciplinaridade em NC&NT 3.1 Conceito de Interdisciplinaridade . . . . . . . . . . . . . 3.2 Barreiras à Abordagem Interdisciplinar . . . . . . . . . . 3.3 Interdisciplinaridade: O caso das NC&NT . . . . . . . . 25 25 27 29 4 Implicações éticas e regulamentação 4.1 Conceito de Risco . . . . . . . . . . . . 4.2 Ética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Regulamentação da NT . . . . . . . . . 4.4 Política de NC&NT na América Latina 31 31 32 35 38 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Revisão crítica: Nanopartículas de prata 5.1 Histórico da Toxicidade da Prata . . . . . . . . . . . . . 5.2 Concentrações de prata no mundo . . . . . . . . . . . . . 5.3 Como a prata se combina a outros elementos . . . . . . . 5.4 Destino e efeito da prata no meio ambiente . . . . . . . . 5.5 Potenciais riscos da prata no meio ambiente e na saúde humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.6 Análise interdisciplinar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 Revisão crítica: Uso de nanocompósitos polímero/argila 6.1 Aplicação da nanoargila como agente reforçante em compósitos poliméricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.2 Compatibilização das argilas com polímeros . . . . . . . 6.3 Aplicações de NCs de argila . . . . . . . . . . . . . . . . 6.4 Uso de nanoargila em embalagens alimentícias . . . . . . 6.5 A validade de alimentos embalados . . . . . . . . . . . . 6.6 Migração em embalagens alimentícias . . . . . . . . . . . 6.7 Nanorevestimentos em alimentos . . . . . . . . . . . . . . 6.8 Embalagens inteligentes com nanosensores . . . . . . . . 6.9 Embalagens ativas para proteção de alimentos . . . . . . 6.10 Análise interdisciplinar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 44 46 48 49 50 54 55 55 58 60 64 64 65 70 71 71 73 SUMÁRIO Referências Bibliográficas ix 76 Lista de Abreviaturas AgNP ANVISA CLIO CMOS CNPq COV CTNBio DLFC DMFC EPA EVOH F13-CLIO LDPE MCT MMT NC NC&NT NP NTC OGM oMMT P&D PCL PE PEM PET PL PLA ppb pptr PSB-SP PV RMI TSCA Nanopartículas de prata Agência Nacional de Vigilância Sanitária Dextran-coated caged iron oxide particle Complementary metal-oxide-semiconductor Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Compostos Orgânicos Voláteis Comissão Técnica Nacional de Biossegurança Direct Liquid Fuel Cell Direct Methanol Fuel Cell Environment Protection Agency Etileno vinil álcool FXIIIa-sensitive iron oxide - dextran-coated caged iron oxide particle Polietileno de baixa densidade Ministério da Ciência e Tecnologia Montmorilonita Nanocompósito Nanociências & Nanotecnologia Nanopartículas Nanotubos de Carbono Organismos Geneticamente Modificados Montmorilonita organicamente modificada Pesquisa & Desenvolvimento poli(e-caprolactana) Polietileno Proton-exchange-membrane Polietileno tereftalato Projeto de Lei Ácido polilático Partes por bilhão Partes por trilhão Partido Socialista Brasileiro São Paulo Partido Verde Ressonância Magnética por Imagem Toxic Susbtances Control Act x Lista de Figuras 1.1 4.1 6.1 6.2 6.3 6.4 Esquema da variação da concentração de um fármaco administrado na forma convencional e utilizando entrega controlada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Tendência em publicações NT. Fonte: Análise da Georgia Tech das publicações globais em nanotecnologia (Adaptado de Kay and Shapira, 2009). [1] . . . . . . . . . . . . 40 Representação pictórica de um compósito. . . . . . . . . Adição de surfactante em argila monocatiônica, gerando um maior espaço entre lamelas. . . . . . . . . . . . . . . Individualização das lamelas de argila (necessária para facilitar a exfoliação). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Caminho tortuoso de um permeante em um nanocompósito de argila (Adaptado de Adame & Beall, 2009) [2] . . xi 55 59 59 60 Lista de Tabelas 1.1 1.4 Produtos em nanoescala utilizados comercialmente na indústria têxtil. [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Perspectivas de aplicação de nanotecnologia em tecidos [4] Empresas que comercializam células combustíveis com nanotecnologia aplicada [5] . . . . . . . . . . . . . . . . . . Nanomateriais utilizados em células solares [6] . . . . . . 3.1 3.2 Diferenças entre multi- e interdisciplinaridade. . . . . . . Barreiras à interdisciplinaridade. . . . . . . . . . . . . . . 26 28 4.1 4.2 Exemplos de riscos relacionados a conceitos. . . . . . . . Tendência em patentes em NT. (Adaptado de Kay and Shapira, 2009) [1]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . P&D em Nanotecnologia e aspectos relacionados à economia, população, ciência e tecnologia para Brasil, Argentina, Chile e Uruguai comparados a países de referência (países classificados por rendimento per capita). (Adaptado de Kay and Shapira, 2009) [1]. . . . . . . . . . . . . 32 1.2 1.3 4.3 6.1 6.2 6.3 6.4 Patentes alemãs que fazem uso da nanotecnologia no setor de alimentos (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. . . . . . . Patentes alemãs que utilizam nanotecnologia em embalagens de alimentos (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. . . . Patentes alemãs para revestimentos em máquinas processadoras de alimentos (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. . Patente alemã para outros tipos de revestimentos em contato com alimentos (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. . . xii 12 12 16 17 41 42 66 67 68 69 LISTA DE TABELAS 6.5 Embalagens com nanosensores em desenvolvimento (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii 72 Introdução Os termos Nanociências & Nanotecnologia (NC&NT) referem-se às áreas do conhecimento relacionadas aos fenômenos observados em diferentes classes de materiais que ocorrem quando suas geometrias possuem dimensões da ordem nanométrica (utiliza-se como limite prático para esse fim o valor de 100 nm ou 10−9 m). Esses fenômenos são caracterizados por mudanças significativas em suas propriedades e características em relação aos mesmos materiais em escala macroscópica, causadas pelos chamados efeitos de superfícies. Os efeitos de superfície ocorrem quando um certo material é reduzido (ou produzido) a dimensões sub micrométricas e importantes variações em suas propriedades físico-químicas passam a ser observadas. Essas variações ocorrem principalmente em razão da grande área de superfície que esses materiais apresentam e consequentemente à grande quantidade de átomos com ligações insatisfeitas ou modificadas em relação às existentes no material em sua forma macroscópica. Entre as mudanças de propriedades que podem ser observadas, destacam-se a redução da energia de ativação para a maioria dos processos físico-químicos (menores temperaturas de fusão e reação, por exemplo), variações significativas nas propriedades eletromagnéticas (isolantes elétricos passam a se comportar como semicondutores e semicondutores como isolantes), processos difusivos muito rápidos e pouco dependentes da temperatura, 1 estabilização de fases metaestáveis por meio de barreiras cinéticas e novos hábitos cristalinos, entre outras [8]. Como consequência dessas novas propriedades, diferentes aplicações têm sido produzidas atualmente com base nos conceitos de NC&NT, várias delas com desempenho muitas vezes superior às tecnologias atuais. Comparada às outras revoluções científicas e tecnológicas ocorridas na história da humanidade (principalmente a revolução científica dos séculos XVI e XVII; industrial, no fim do século XIX; e tecnológica, na segunda metade do século XX), os avanços obtidos e o potencial para geração de danos e dilemas éticos produzidos pelo desenvolvimento das NC&NT’s ocorrem em grande velocidade. A geração de conhecimento e produtos de alta tecnologia baseados em NC&NT tem como causa principal, além da grande quantidade de conhecimento acumulada ao longo de gerações anteriores, a perspectiva de manipulação da matéria ao nível atômico e molecular. Devido a isso, criou-se a inédita possibilidade de se prever, projetar e produzir materiais e objetos com propriedades desejadas, sem as limitações normalmente impostas pelas técnicas convencionais. No entanto, os mesmos fatores que contribuem para o desenvolvimento tecnológico também sugerem que, junto com os grandes benefícios introduzidos por esses novos conhecimentos, riscos e dilemas igualmente danosos também possam ser gerados. Nota-se que no caso da NC&NT o desenvolvimento de novos produtos e processos baseia-se principalmente na assimilação de conhecimento prévio amplamente divulgado por meio das publicações científicas, sem necessariamente desenvolvê-lo a partir do início, e com pouca (ou mesmo nenhuma, em alguns casos) necessidade de equipamentos sofisticados ou 2 de matérias-primas controladas por autoridades (é o caso do urânio enriquecido como combustível em reatores nucleares). Dessa forma, é possível que novos produtos sejam criados, patenteados, vendidos, utilizados e descartados sem que as potenciais danosas consequências ao meio ambiente e à saúde humana tenham sido totalmente investigadas. Cita-se como exemplo desse cenário a ampla difusão do uso de nanopartículas de prata em diferentes produtos, como tecidos, embalagens, eletrodomésticos, suportes catalíticos e medicamentos. Produzida em escala nanométrica por vários métodos conhecidos há várias décadas, a prata possui forte atividade superficial podendo agir como poderoso agente catalítico para diferentes reações. Além disso, devido à pequena quantidade de material empregada para revestir uma superfície, suas propriedades bactericidas podem ser empregadas na auto esterilização de diversos objetos como roupas e alimentos a custos bastante competitivos. No entanto, apesar de diversos trabalhos apontarem para o potencial tóxico dessas nanopartículas quando acumuladas no organismo ou meio ambiente, pouca ou nenhuma regulamentação por parte dos órgãos de vigilância sanitária tem sido realizada nesses produtos. No Brasil, o edital MCT/CNPq no 013/2004 foi o único até março de 2007 que apoiou estudos de avaliação dos impactos sociais, ambientais, econômicos, políticos, éticos e legais do desenvolvimento da nanotecnologia no Brasil, e mesmo assim apenas compreendendo os estados de São Paulo, Minas Gerais e o Distrito Federal [9]. Esses pontos e a observação histórica de outros exemplos de uso indevido do conhecimento científico (como bombas atômicas) sugerem que, no caso das NC&NT, ainda há tempo para uma avaliação dos potenciais 3 riscos que envolvem essa área. Para que essa avaliação seja efetiva, deve possuir um caráter intrinsecamente interdisciplinar, isto é, levando em conta aspectos éticos, legais, científicos e técnicos, de forma integrada e colaborativa. A proposição de uma análise interdisciplinar para que essa avaliação possa ser empregada inicialmente no Brasil, considerando-se suas características regionais e culturais, é o objetivo deste trabalho. 4 Capítulo 1 Aplicações e perspectivas As NC&NT podem promover aplicações únicas, com possibilidades que se estendem às mais diversas áreas. A seguir, algumas destas aplicações serão comentadas, bem como as perspectivas de aplicações futuras, para que, desta forma, uma análise das implicações nos mais diversos âmbitos seja traçada. 1.1 Nanotecnologia em medicina As aplicações conhecidas como “drug delivery”, baseadas na liberação controlada de fármacos, envolvem a identificação de alvos precisos para entrega de agentes farmacêuticos, terapêuticos e de diagnóstico a células e receptores, relacionada a condições clínicas específicas e à escolha de nanotransportadores apropriados a fim de se atingir respostas desejadas com um mínimo de efeitos colaterais. Entre alguns dos alvos principais, destacam-se células dendríticas, endoteliais, fagócitos mononucleares e tumorais (cancerígenas) [10]. Nanotransportadores podem superar barreiras relacionadas à solubilidade ou estabilidade de fármacos e minimizar efeitos colaterais, mas, em contrapartida, problemas associ- 5 ados à toxicidade em sistemas biológicos podem surgir. A exposição de queratinócitos humanos a nanotubos de carbono de parede única insolúveis foi associada a estresse oxidativo e apoptose [11]. O uso de pontos quânticos de seleneto de cádmio em diagnósticos por imagem prevê informação insuficiente sobre possíveis efeitos prejudiciais no metabolismo, uma vez que são letais às células sob radiação ultravioleta, que provoca desprendimento de íons cádmio altamente tóxicos [12]. Nanocristais de óxido de ferro (conhecido como F13-CLIO) consistem em partículas de óxido de ferro do tipo CLIO, que são estruturas do tipo gaiola recobertas com dextrano e conjugadas a um fragmento de peptídeo 2AP que pode ser unido por meio de ligação cruzada a um fator XIIIa. Por suas propriedades superparamagnéticas, têm aplicação como agentes de contraste em ressonância magnética por imagem (RMI). Por causar mudanças nos tempos de relaxação spin-spin das moléculas de água das vizinhanças, podem ser utilizados com o objetivo de monitorar a expressão gênica ou detectar patologias como o câncer, inflamação cerebral, artrite ou placas de arteriosclerose [13] [14]. Com contrastes mais sensíveis, estes materiais apresentam maior especificidade em relação ao tecido escolhido, menor toxicidade e são empregados em quantidades significativamente menores. Nanopartículas porosas (ou partículas nanoporosas) podem ser utilizadas na administração de doses controladas de fármacos. O controle da dosagem de uma determinada substância é de grande importância para que seu efeito não seja tóxico (excessiva) ou inócuo (muito baixa). Esta estratégia é convencionalmente usada para ministrar fármacos, como ilustrado na figura 1.1, sendo necessárias várias dosagens para manter 6 a concentração em nível terapêutico. Essas dosagens devem também considerar o tempo que o organismo leva para metabolizar e/ou eliminar o fármaco do sistema, ações estas que podem variar de indivíduo para indivíduo [15]. Idealmente, deseja-se que a dose administrada varie pouco em relação a um limite médio adequado a seus objetivos. A introdução de fármacos nessas partículas pode conduzir a formação de diferentes arquiteturas, como micelas poliméricas, dendrímeros, lipossomas, nanopartículas poliméricas e cerâmicas, permitindo grande controle da dose administrada. Desta maneira, agentes terapêuticos e de diagnóstico podem ser encapsulados, ligados covalentemente ou adsorvidos nestes nanotransportadores. Outras partículas, com alta área superficial, possibilitam uma liberação mais rápida do fármaco [16] [17] [18] [19]. A velocidade de liberação pode ser controlada por meio da velocidade de dissolução do fármaco no sangue [20] [21]. Alguns transportadores são manufaturados de tal forma que possam ser estimulados por mudanças no pH, por estímulo químico, pela rápida aplicação de um campo magnético oscilante ou por aplicação de uma fonte externa de calor. Como vantagem, observa-se que menos fármaco é utilizado em razão da maior concentração, ao mesmo tempo que permite um efeito mais prolongado, gerando uma ação mais rápida. Novos medicamentos baseados na tecnologia de nanoescala devem provocar um impacto global no planejamento e no marketing das indústrias farmacêuticas, exigindo gerenciamento de ciclo de vida e análise de mercado específicos [20] [21]. Como exemplo dessa mudança, pode-se citar a diminuição do número de comprimidos ingeridos durante o tratamento. 7 Figura 1.1: Esquema da variação da concentração de um fármaco administrado na forma convencional e utilizando entrega controlada. 1.2 Nanotecnologia em alimentos e agricultura Nesses dois campos, o uso excessivo de diversos aditivos e implementos (como corantes e agroquímicos, respectivamente) têm despertado forte reação da opinião pública em relação aos efeitos danosos que podem causar à saúde e/ou meio ambiente. O principal apelo do uso de nanomateriais está associado a uma melhor relação efeito desejado / quantidade de aditivo utilizado em inúmeras aplicações, desde a agricultura até a embalagem dos produtos finais. Nanomateriais podem estar presentes com o propósito de agregar nutrientes a alimentos [22], realçar cor e sabor [23] e promover a segurança alimentar [24]. Pesquisas estão sendo conduzidas para desenvolver nanocápsulas contendo nutrientes que seriam liberados quando nanosensores detectassem uma eventual deficiência vitamínica no organismo [22]. Simultaneamente, as embalagens também têm sido modificadas. Nanocom- 8 pósitos de argila / filmes poliméricos têm sido utilizados para modificar as propriedades de permeabilidade e difusão a gases, como por exemplo oxigênio e dióxido de carbono em garrafas e filmes, gerando barreiras altamente seletivas [25]. Embalagens rígidas não-descartáveis, patenteaR podem ser produzidas com nanopartículas de das pela marca Plasútil, R embebidas numa matriz polimérica. Estas nanoparprata (Microban) tículas têm o propósito de eliminar bactérias para minimizar eventuais riscos à saúde e prolongar o tempo de estocagem do alimento [26]. Nanopartículas de óxido de zinco podem ser incorporadas em embalagens plásticas para bloquear raios UV e promover proteção bactericida, enquanto aumenta a tensão de ruptura e a estabilidade de filmes poliméricos [27]. Dessa forma, a combinação desses dois mecanismos permite que menores quantidades de aditivos modificadores sejam incorporadas aos alimentos, já que i) um mesmo efeito é obtido com menos material; ii) com melhores embalagens, menos aditivo é perdido ou deteriorado até o consumo do produto; iii) com o uso de nanosensores para detectar bactérias e outros contaminantes, tais como a salmonela, pode-se reduzir custos com análises laboratoriais e minimizar a venda de alimentos contaminados [24]. Na agricultura, estudos têm sido realizados em pesticidas encapsulados em nanopartículas, que seriam somente liberados no organismo de determinados insetos indesejados, o que minimizaria a contaminação de plantas e reduziria a quantidade de pesticidas utilizada atualmente. Outras possibilidades envolvem o uso de filmes poliméricos modificados com diversos tipos de nanopartículas que permitem a passagem (ou não) de determinado comprimentos de onda da luz vantajosos ao desenvolvimento 9 de mudas [28]. As preocupações relacionadas ao uso da nanotecnologia em agricultura e alimentos são fundamentadas principalmente na larga escala em que operam, no grande contato com os consumidores e no potencial impacto ao meio ambiente, à semelhança dos problemas levantados no debate sobre alimentos geneticamente modificados. Fator agravantes, no caso da nanotecnologia, são a não-obrigação de empresas envolvidas em rotular seus produtos contendo nanopartículas até o momento, na maioria dos países [29] e desafios relacionada à rastreabilidade ao longo da cadeia produtiva. 1.3 Nanotecnologia em aplicações militares Um dos projetos mais relevantes em aplicações militares é do Instituto para Nanotecnologias de Soldados, sediado no Instituto Massachussets de Tecnologia, onde cerca de 150 pessoas realizaram pesquisa básica e aplicada divididas em sete grupos, focados em materiais e sensores para proteção de soldados (contra balas, agentes químicos e biológicos), melhorias no desempenho, monitoramento corporal e intervenção quando houver ferimentos). Uma das principais metas é a diminuição do peso do equipamento de 60 para 20 kg e desenvolvimento de um uniforme de batalha que, de forma dinâmica, forneça proteção, comunicação, melhoria mecânica, gerenciamento da temperatura, tratamento de feridas e administre drogas terapêuticas. As maiores vantagens em relação à nanotecnologia, com capacidade de aumento do potencial bélico, teriam relação com avanços na eletrônica e em computadores mais rápidos. Resultantes da miniaturização de sistemas, novos componentes eletrônicos 10 teriam um menor consumo de energia e, aliados à inteligência artificial, aumentar-se-ia o poder de decisão. Materiais mais leves e inteligentes proporcionariam melhor proteção e mais autonomia nos movimentos [30]. Entre a maioria das aplicações previstas, é possível que algumas não se concretizem ou levem anos para amadurecer. Algumas delas, tais como melhoria em computadores, estarão próximas ao próprio desenvolvimento junto a civis, bem como sensores para detectar agentes biológicos. Por outro lado, é possível que haja ameaças a tratados de controle de armas e legislações internacionais, resultantes das dificuldades de fiscalização referentes a produtos em nanoescala [30]. Tal fato reafirma a necessidade de uma fiscalização específica nos produtos e processos envolvendo a nanotecnologia. 1.4 Nanotecnologia em têxteis Materiais têxteis são compostos principalmente por fibras, e por esta razão, possuem uma grande área de superfície. Grande parte das propriedades desses materiais está associada às características das superfícies das fibras e seu grande potencial de modificação por meio do uso de nanotecnologia tem despertado grande interesse tecnológico. As propriedades de produtos têxteis podem sem melhoradas utilizando-se compósitos particulados ou fibrosos em nanoescala (tabelas 1.1 e 1.2). Entre as possíveis melhorias, destacam-se a diminuição do peso e da espessura dos tecidos, o aumento da resistência, a repulsão/absorção de água e adição de propriedades bactericidas. 11 Tabela 1.1: Produtos em nanoescala utilizados comercialmente na indústria têxtil. [3] Empresa/Produto Nano-tex Aspen Aerogel R BASF(Mincor) NanoHorizons R (SmartSilver) Schoeller Technologies R (NanoSphere) Nano Group Descrição Tecido melhorado com nanowhiskers Tecido melhorado com nanoporos Tecido melhorado com nanopartículas Tecido melhorado com nanopartículas de prata Tecido melhorado com nanopartículas Tecidos melhorados com vários tratamentos Vantagem Apresentada Resistência a água e manchas Isola contra ocalor ou frio Repulsão a sujidades na chuva, similar a propriedade da flor de Lótus Reduz odores Resistência a água e manchas Resistência a água e manchas, proteção UV Tabela 1.2: Perspectivas de aplicação de nanotecnologia em tecidos [4] Aplicação Biofiltros supersensíveis Tecidos inteligentes Fibras para liberação de fármacos Nanopartículas magnéticas em papéis e/ou vestimentas Fibras biodegradáveis saturadas com pesticidas Tecidos utilizados em aviões Finalidade Filtra vírus, bactérias e partículas e partículas perigosas Prática esportiva Liberação controlada de compostos antialérgicos e antibacterianos, tal como a luva que libera medicamento contra artrite ou lençóis em hospitais Criação de uma assinatura única possível de varredura para detectar falsificações, como em passaportes Liberação controlada; podem ser plantadas com as sementes como alternativa na pulverização de pesticidas Absorção contínua de gases, partículas ou outros riscos biológicos Dois produtos onde o efeito da ação de nanomateriais é mais evidente podem ser destacados. O primeiro é o das fibras contendo nanoporos. Fibras convencionais de poliéster podem ser produzidas com dimensões de até 2 micrômetros de diâmetro. O mesmo tipo de fibra pode ser produzido na forma oca, isto é, com um vazio contínuo em seu interior (da ordem de 0,5 micrômetro), utilizando-se equipamentos sofisticados de 12 extrusão e fiação. Esse tipo de fibra é mais flexível que seu equivalente maciço e, devido à porosidade interna, possui excelente capacidade de isolamento térmico. O aprimoramento dessa tecnologia necessitaria de fibras ocas ainda mais finas, que do ponto de vista mecânico seria muito difícil. No entanto, incorporando-se à massa polimérica nanopartículas de sílica nanoporosa (conhecidas como aerogel), poros com dimensões da ordem de 10-20 nanômetros podem ser introduzidos na fibra, reduzindo significativamente sua condutividade térmica, sem perda de elasticidade e flexibilidade [31]. O segundo, diz respeito às fibras têxteis auto-limpantes que podem ser produzidas com nanopartículas de óxido de silício com óxidos metálicos, principalmente óxido de alumínio [32]. A modificação e o ajuste exato das propriedades de superfície dos materiais em geral e em particular em materiais têxteis, tais como fibras, é de grande importância para diversas aplicações. Desta forma, materiais têxteis hidrofóbicos, como fibras de polipropileno, por exemplo, podem se tornar molháveis por hidrofilização, o que leva a uma melhor capacidade de tingimento, redução do acúmulo da carga eletrostática e, com isto, proporcionando um melhor conforto ao vestir. Em produtos médicos, é reconhecido o fato de que materiais hidrofílicos levam a um crescimento celular substancialmente mais rápido do que materiais hidrofóbicos. A hidrofilização também pode ocorrer pela incorporação de grupos hidrofílicos e pela formação de uma estrutura de fios adequada para fiação ou tear. Para o acabamento do fio, existe a possibilidade de grafitização dos grupos hidrofílicos ou a formação de um filme hidrofílico na fibra para formar os chamados acabamentos anti sujidades [32]. 13 Produtos têxteis contendo nanopartículas geram um problema ambiental, uma vez que a alta área superficial das NPs as tornem mais reativas, aumentando a chance de contaminação em águas de despejo provenientes de lavagens ou descartes de processo. Além do mais, as consequências do contato íntimo do tecido com a pele ainda são desconhecidas em relação a potenciais efeitos adversos à saúde humana. O fator econômico favorecido por processos cada vez mais viáveis repercute em um aumento produtivo, ocasionando um maior volume de passivos ambientais. 1.5 Células combustíveis Catalisadores são usados como combustíveis como hidrogênio ou metanol para produzir íons hidrogênio. Diversas empresas (tabela 1.3) têm usado nanopartículas de platina e de outros materiais para reduzir o custo e a quantidade utilizada em processos convencionais. Células combustíveis contêm membranas que permitem a passagem de íons hidrogênio através da célula e ao mesmo tempo bloqueiam a passagem de outros átomos ou íons, como o oxigênio. Equipamentos que utilizem baterias de lítio tais como câmeras, telefones e laptops poderiam operar com maior eficiência com a substituição da fonte de energia convencional por células combustíveis de hidrogênio. Com a nanotecnologia, a eficiência das membranas pode ser aumentada além de se tornarem mais leves. Desta forma, um telefone celular em uso necessitaria menos do que 200 miliwatts de energia elétrica, uma câmera de vídeo menos que 6 W e um laptop ou um tocador de CD portátil utilizaria menos que 20 W e operariam por alguns dias continuamente ao invés de horas. Uma bateria de 14 lítio padrão tem uma capacidade de armazenamento de 750 mAh, sendo que uma bateria de laptop têm a capacidade de armazenar cerca de 3600 mAh. Uma bateria de lítio padrão em uma câmera de vídeo fornece 5 W a 7 V por cerca de 1h, enquanto que para o laptop a 12 V, uma bateria pode fornecer cerca de 10 W por aproximadamente 4h. As células combustíveis diretas de metanol ou DMFC (Direct Methanol Fuel Cell ) foram desenvolvidas para durar mais que baterias convencionais, com a vantagem de utilizar um cartucho de metanol para reposição da carga. A semelhança do metanol (e do etanol) com combustíveis convencionais usados para transporte despertou o interesse em utilizá-lo diretamente como combustível para membrana de célula combustível de troca de prótons, com a vantagem de armazenamento mais simples do metanol em relação ao hidrogênio, principalmente em aplicações veiculares, devido à limitação de espaço para transporte. É possível o uso de metanol em células combustíveis ácidas, embora a pesquisa principal resida em membranas de troca de prótons ou PEM (proton-exchange membranes) devido a maiores densidades de força (pelo menos 10 vezes maior do que com DMFC) [33]. 1.6 Células solares O uso de nanopartículas em células solares pode reduzir os custos de produção devido à menor temperatura exigida no processo de impressão. Na fabricação de células convencionais de materiais cristalinos semicondutores, necessita-se de altas temperaturas (em torno de 800o C) e deposição a vácuo. A substituição dos painéis rígidos semicondutores por rolos flexíveis ou filmes finos semicondutores (tabela 1.4) reduziria 15 Tabela 1.3: Empresas que comercializam células combustíveis com nanotecnologia aplicada [5] Empresa PolyFuel Produto Membranas de hidrocarbonetos QuantumSphere NanoDynamics Catalisadores sem platina Célula combustível de óxido sólido utilizando propano como combustível DMFC MTI Micro Medis UltraCell EDC Ovonics Unidym Células Combustíveis de líquido diretas (DLFC) com estruturas internas simplificadas DMFC com catalisador extra para converter methanol em hidrogênio, antes de atingir o núcleo da célula combustível Tanques de hidrogênio utilizando hidretos metálicos como meio de armazenamento Eletrodos baseados em nanotubos de carbono 16 Vantagens Apresentadas Melhoria do desempenho quando comparada às membranas convencionais Redução de custo Redução de tamanho e peso Minimiza peças móveis, reduz custo, tamanho e peso Redução de custo Aumenta densidade de força e tensão (V) da célula Redução de peso, tamanho e pressão para armazenar hidrogênio Melhora na eficiência de células combustíveis pela redução de perdas na resistividade e na transferência de massa Tabela 1.4: Nanomateriais utilizados em células solares [6] Produtor Konarka Nanosolar Global Photonics Innovalight Bloo Solar Materiais Nanopartículas em materiais fotovoltaicos Tinta semicondutora Fotovoltaicos Orgânicos Tinta nanocristalina Nanocabos crescidos em filmes finos os custos de instalação na cadeia produtiva. As células solares que utilizam a nanotecnologia ainda não são tão eficientes quanto às tradicionais, embora a longo termo tanto a eficiência será maior quanto o custo será menor em relação às células solares convencionais [6]. Assim como as células combustíveis, as células solares lidam com compostos potencialmente tóxicos, como o lítio e o níquel. Informações referentes à vida útil destes equipamentos e destino dos resíduos ainda não estão claramente estabelecidas. 1.7 Nanotecnologia e meio ambiente Em relação à melhoria da qualidade do ar, a nanotecnologia pode melhorar o desempenho de catalisadores usados para transformar gases residuais de carros e indústrias em gases atóxicos. O uso de nanopartículas em catalisadores colaboraria para um desempenho mais efetivo, visto que uma maior área superficial permitiria uma maior interação química. O óxido de cério tem sido estudado para aplicações em células combustíveis, em catálise em reações de oxidação de hidrocarbonetos e remoção de compostos orgânicos de águas poluídas [34]. Estudos com óxido de cério mesoporoso e titânio indicaram alto COV (Compostos Orgânicos Voláteis) com tolueno à temperatura ambiente. A adição de platina permitiu uma maior capacidade de remoção do tolueno (quase o dobro), devido 17 ao efeito sinérgico entre os sítios de platina e óxidos metálicos, com promissoras aplicações em filtros para vapores de tintas, vernizes, fumaça de cigarro, desinfetantes, combustíveis e produtos de uso doméstico [35]. Determinados nanocompósitos têm sido estudados com o propósito de reduzir e/ou eliminar contaminações em águas subterrâneas e potáveis [36] [37] [38], além de serem promissores na remediação de contaminantes tóxicos [39] [40] [41] e no tratamento de efluentes [42] [43] [44]. Nanopartículas de minerais argilosos, oxi-hidróxidos de ferro ou manganês e colóides orgânicos possuem uma alta força de retenção metálica (adsorção e absorção) ocasionados pela alta área superficial, que no caso das argilas pode atingir cerca de 800 m2 g −1 . Desta forma, nanopartículas controlam a mobilidade, o destino e a biodisponibilidade de metais (tais como As, Cu, Ni, Cu, Hg e Zn) no solo, ar e na água. No caso das argilas, tanto o pequeno tamanho da partícula quanto a carga elétrica negativa provocam a retenção metálica. Partículas oxi-hidróxido possuem carga elétrica positiva. Propriedades específicas de argilas, como tamanho nanométrico, aparência lamelar ou fibrosa, a carga elétrica negativa, alta capacidade de absorção e adsorção justificam o seu uso como agentes terapêuticos e ambientais, este último como catalisadores em processos químicos benignos, uma vez que podem controlar efeitos ecológicos, ciclos biogeoquímicos e distribuição de traços metálicos e metalóides em ecossistemas [45]. Em alguns países em desenvolvimento, como o Paquistão e Índia, existe o risco de contaminação por arsênio em água potável, resultante do uso de alguns tipos de pesticidas, herbicidas e aditivos. A contaminação é facilitada por atividades antropogênicas, biológicas e por reações 18 geoquímicas, enfim, sob condições naturais de mobilização do arsênio em leitos de água. Vários países adotaram o limite permitido de arsênio em água entre 10 e 50 µg.L−1 . A concentração de arsênio na maioria das rochas varia de 0,5 a 2,5 mg.Kg −1 , enquanto concentrações maiores são encontradas em sedimentos argilosos mais finos e fosforitos. No meio ambiente, o arsênio apresenta-se geralmente na forma de ácidos, com estados de oxidação -3, 0, +3 e +5. O arsênio (III) se complexa preferencialmente com óxidos e nitrogênio; o arsênio (V) forma complexos com sulfetos. As formas inorgânicas de Arsênio mais tóxicas prevalecem em ambientes aquosos, sendo sensível a mobilização em pH entre 6,5 e 8,5 e sob condições de oxidação e redução entre metalóides pesados [46]. A presença de arsênio só é possível por meio de técnicas analíticas, uma vez que não produz mudanças no sabor ou no odor da água, o que indica um perigo à saúde pública. Embora o envenenamento por altos níveis de arsênio seja menos comum, uma exposição em longo prazo a baixas concentrações em água potável apresenta um perigo considerável [47]. Alguns métodos foram desenvolvidos para remoção/remediação de águas contaminadas por As. Dentre estes métodos, destacam-se o uso de argilas minerais e membranas para filtração, com indicações específicas. O uso de cerâmicas porosas para remoção de arsênio em águas tem sido estudado [48] . A princípio, métodos com membranas foram utilizados para purificação de água salgada. Membranas para nano-filtração pelo sistema de osmose reversa foram capazes de remover arsênio em lençóis aquáticos, embora seja um método com alto custo [49]. Dentre outros materiais, destaca-se o estudo de nanopartículas de ferro para remediação ambiental em águas contaminadas por hexaclorociclohexano, um agente 19 poluente orgânico de alta persistência. Em razão da maior reatividade das nanopartículas de ferro em relação ao seu semelhante micrométrico, uma menor quantidade de material poderia ser utilizada [50]. As NC& NT têm sido utilizadas para criar sensores químicos capazes de detectar poluentes e micróbios no ar e na água de forma rápida. Devido ao tamanho reduzido, a integração de nanosensores em dispositivos e sensores em rede proporcionam a detecção de agentes químicos e biológicos em concentrações muito baixas [51] [52] [53] [54]. Tais sensores químicos teriam menor custo, exigiriam menos energia e proporcionariam um monitoramento remoto contínuo. Nanomateriais têm um forte apelo ambiental, pois teriam como premissa o uso reduzido de energia em sua produção e menor geração de resíduos durante seu ciclo de vida [55]. Por outro lado, o crescente uso de nanomateriais encontrados em produtos e materiais de construção indica que eles provavelmente terminarão no ar, na água ou no solo e entre resíduos onde estes produtos serão descartados [56] [57] [58]. 1.8 Nanotecnologia e eletrônica É na microeletrônica que os nanomateriais com propriedades distintas da sua forma não-nanométrica encontram uma de suas aplicações mais abundantes. A lei de Moore, declarada por Gordon E. Moore, cofundador da Intel, previu que o poder de processamento deve dobrar a cada 18 meses, e vem sendo observada até o presente [59]. Este é um caso de aplicação “top-down” na nanotecnologia, conhecido como “de cima para baixo”, onde, por exemplo, as dimensões de um produto são reduzidas por desgaste ou cominuição . A miniaturização da técnica CMOS (baseada 20 em silício) continuará, embora com limitações físicas em algum estágio. Por outro lado, expectativas em técnicas “bottom-up”, também conhecida como técnica “de baixo para cima”, indica que o produto final é obtido a partir do crescimento de partículas e filmes, por exemplo, utilizando-se técnicas de síntese com uso de técnicas “bottom up”, e incluem aplicações como transistores de junção bipolar, dispositivos eletrônicos quânticos e computação molecular. O custo dos transistores diminuiu cerca de sete vezes nos últimos 40 anos e tende a continuar diminuindo por mais uma década. Assim, a disponibilidade de chips baratos e de micro controladores de alto desempenho possibilitam mais aplicações [60]. A eletrônica molecular, onde nanopartículas e mesmo moléculas são utilizadas como dispositivos eletrônicos, pode proporcionar a miniaturização continuada de dispositivos e circuitos eletrônicos na escala nanométrica [61]. Moléculas individuais de polifenileno podem conduzir pequenas correntes elétricas [62]. Conduzem menos corrente do que nanotubos de carbono (NTC), mas como seus derivados são moléculas muito menores, podem apresentar altas densidades de corrente, semelhantes às densidades do NTC e aproximadamente meio milhão de vezes maiores do que dos fios de cobre. Possuem composição bem definida e alta flexibilidade, sendo conhecidos como fios de Tour [63]. 1.9 Considerações gerais A revisão da literatura em relação à aplicação dos conceitos de NC&NT realizada apontou o surgimento de um grande número de produtos e processos, nas mais variadas áreas. Embora este trabalho tenha como objetivo principal realizar uma análise sistêmica dos benefícios e riscos 21 dessas novas tecnologias, uma abordagem que englobasse todas as áreas apresentadas estaria além de seu escopo. Dessa forma, nas próximas seções, serão apresentados alguns conceitos externos à área de NC&NT, necessários a essa análise. Em seguida, esses conceitos serão utilizados na análise interdisciplinar de casos de duas classes de produtos baseados em NC&NT com grande penetração tecnológica e comercial. 22 Capítulo 2 Metodologia A metodologia consistiu na busca de periódicos no banco de dados da Capes (www.periodicos.capes.gov.br), utilizando ferramentas de busca como Science Direct, ISI Web of Knowledge,Thomson Micromedex, Wilson Web, além de pesquisa em patentes nacionais (principalmente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI) utilizando em todas as buscas palavras-chave como nanopartículas, nanotecnologia e nanociências. Patentes e artigos internacionais seguiram um padrão de busca semelhante nestas mesmas bases e com auxílio de ferramentas como Patent Searching Database and Patent Data Analytics Services, disponíveis no site www.freepatentsonline.com. Informações referentes às NC&NT em contextos interdisciplinares foram obtidas de fontes como: European Nanotechnology Gateway, encontradas no site www.nanoforum.org; National Nanotechnology Initiative, National Science Foundation; European Network on the Health and Environmental Impacts of Nanotechnologies, no site www.nanoimpactnet.eu. Dados referentes à investimentos, demandas e resultados em pesquisa em nanotecnologia no Brasil foram coletados por meio do Programa de Ciência, Tecnologia e Inovação para 23 Nanotecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia, disponíveis em www.mct.gov.br. As revistas científicas eletrônicas foram consultadas na UFABC e na Universidade de São Paulo, bem como os livros disponíveis nas respectivas bibliotecas. Informações relevantes que contribuíram para a formação de um panorama das NC&NT no Brasil foram encontradas em revistas de divulgação científica, como a revista FAPESP, o Boletim Eletrônico dedicado à Inovação Tecnológica da Unicamp, a revista internacional interdisciplinar INTERthesis, da UFSC e a revista Diversa, da Universidade Federal de Minas Gerais. Informações envolvendo aspectos sobre implicações das NC&NT no âmbito social e na saúde humana também foram obtidas por meio de workshops promovidos pela Escola de Verão em Ética em Nanotecnologias, na Universidade de Twente, na Holanda, Escola de Verão em Tecnologias Convergentes, pela Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, e pelo curso sobre Nanotoxicologia e Protocolos de Caracterização de Nanomateriais, pela Universidade de Zurique, na Suíça. 24 Capítulo 3 Interdisciplinaridade em NC&NT 3.1 Conceito de Interdisciplinaridade Embora, muitas vezes, os termos multidisciplinaridade e interdisciplinaridade sejam empregados como sinônimos ou equivalentes, definições mais modernas e precisas mostram que se tratam de abordagens com fundamentos, metodologias e objetivos distintos. Como, neste trabalho, foi utilizada uma abordagem interdisciplinar em relação às NC&NT, é importante que a diferenciação desses conceitos seja apresentada. Considera-se multidisciplinaridade a união de duas ou mais disciplinas sem que estejam totalmente integradas, ou seja, é mantido o conteúdo individual de cada disciplina. Quando se trata de um projeto, com uma equipe multidisciplinar, tendo um objetivo em comum, esta equipe se une para tratar de aspectos diversos intrínsecos àquele objetivo. Para que uma equipe multidisciplinar seja eficiente, é necessário, dentre outros pontos, que barreiras como o não-compartilhamento do mesmo vocabulário deixem de existir. Esses problemas poderiam ser minimizados se os integrantes da equipe também fossem multidisciplinares, no sen- 25 Tabela 3.1: Diferenças entre multi- e interdisciplinaridade. Multidisciplinaridade União de disciplinas Conteúdo individual mantido Atuação mútua e cooperativa Interdisciplinaridade Interação das disciplinas Interação original de novos conhecimentos: organização nova da ciência combina práticas e suposições de cada uma tido de estenderem seus conhecimentos por meio da aquisição de uma ou mais competências fora do âmbito de sua formação principal, embora de extrema importância para permitir uma visão mais ampla do desafio imposto à equipe. Com o passar do tempo, o sucesso da multidisciplinaridade não necessariamente acarretará num aumento de disciplinas, mas talvez numa evolução disciplinar, onde novas abordagens, que não sejam tradicionalmente contempladas em disciplinas específicas, possam ser incluídas [64] [65]. Na interdisciplinaridade, as fronteiras dos conteúdos de diferentes disciplinas são muito menos rígidas, de modo que eles possam interagir para formar novos conhecimentos, de forma integrada e original. Neste caso, é necessário que a equipe possua conhecimento, ao menos multidisciplinar, de modo a minimizar as principais barreiras à sua atuação (tabela 3.1). Sem que haja um consenso definitivo sobre uma definição absoluta de termos como inter- e multidisciplinaridade, a principal diferenciação é sugerida pelo tipo de relação entre disciplinas [66] [65]. No caso da multidisciplinaridade, considera-se que a cooperação entre disciplinas “pode ser mútua e cumulativa, mas não interativa”, enquanto a interdisciplinaridade, além de organizar a ciência de uma maneira nova [67], “pode combinar práticas e suposições de cada disciplina envolvida” [64]. Um termos mais recente, a transdiciplinaridade, sugere a dissolução das bar26 reiras existentes entre as diferentes disciplinas. Tanto a inter- quanto a multidisciplinaridade são termos vinculados à disciplinas, enquanto que a transdisciplinaridade evoca uma tentativa de instauração de uma metodologia unificada, aproximando as disciplinas e os campos de conhecimento. Esta nova visão teria um caráter sistêmico, menos compartimentalizado e menos disciplinar [67]. 3.2 Barreiras à Abordagem Interdisciplinar As principais dificuldades práticas envolvendo pesquisa interdisciplinar podem se destacar das seguintes maneiras [68](tabela 3.2): • Forma de comunicação: Cada disciplina desenvolve seu próprio jargão técnico. Dessa forma, a interdisciplinaridade requer a apropriação e acomodação prévias de linguagens diferentes [69]. A comunicação de resultados de pesquisa interdisciplinar apresenta dificuldades pois requer o uso de termos técnicos adotados de cada disciplina que podem não ser totalmente compreendidos por uma audiência vinda de outras disciplinas relevantes. • Métodos: Diferenças entre métodos de investigação podem levar a conflitos e oposição, como por exemplo, os métodos quantitativos de análise utilizados em ciências exatas e aqueles que buscam uma visão qualitativa, embora não menos técnica, como em contextos sociais. • Limites institucionais: A maioria das instituições é organizada disciplinarmente. Por esta razão, podem atuar como o primeiro impedimento à pesquisa interdisciplinar. Alguns autores têm mostrado 27 Tabela 3.2: Barreiras à interdisciplinaridade. Forma de comunicação Métodos Limites institucionais Limites cognitvos Apropriação/Acomodação de linguagens diferentes Quantitativos(Exatas); Subjetivos (Quali ou qualiquantitativos (Humanas/Sociais) Atuação disciplinar das universidades Conhecimentos mínimos de # disciplinas a necessidade e a importância do papel das instituições em conduzir pesquisas interdisciplinares [70]. • Limites cognitivos: é obviamente difícil tornar-se especialista em duas ou mais disciplinas. Contudo, um conhecimento mínimo de diferentes disciplinas é necessário para que se faça pesquisa interdisciplinar, levantando questões como a real possibilidade em se desenvolver uma metodologia interdisciplinar e sobre o impacto destas dificuldades na educação e na institucionalização de programas de treinamento interdisciplinares [69]. A maioria dos participantes em estudos interdisciplinares tem formação baseada em disciplinas tradicionais, o que faz com que devam aprender a apreciar diferentes perspectivas e métodos. Por exemplo, uma disciplina que enfatize maior rigor quantitativo pode produzir praticantes que pensem que eles mesmos e sua respectiva disciplina sejam “mais científicos” do que outras; por outro lado, colegas de disciplinas, como ciências sociais, podem associar o uso de métodos quantitativos a uma inabilidade em analisar dimensões mais amplas e menos evidentes de um assunto. Um projeto interdisciplinar pode falhar se seus membros permanecerem presos a suas disciplinas e em atitudes ditas disciplinares. De uma perspectiva disciplinar, muitas vezes o trabalho interdisciplinar pode ser visto como fora do âmbito das ciências exatas, deficiente no 28 rigor ou ideologicamente motivado. Estas crenças colocam barreiras nos caminhos daqueles que optam pelo trabalho interdisciplinar e podem dificultar o avanço na pesquisa [71] [68]. 3.3 Interdisciplinaridade: O caso das NC&NT As NC&NT são uma área do conhecimento classificada como multidisciplinar, isto é, conjuga diferentes campos como física, química, biologia e engenharia, permitindo que atuem de forma interdisciplinar para atingir um objetivo comum. A atuação interdisciplinar é necessária para que as deficiências de uma determinada área sejam supridas pelas competências de outra e vice-versa. No entanto, alguns autores apontam um desvio significativo em relação à essa necessidade [72]. Esta observação surgiu por meio da análise da formação dos ganhadores do Prêmio Feynman de Nanotecnologia: dentre os vencedores, mais da metade possui formação em química; aproximadamente 1/3 são cientistas computacionais e somente um grupo bastante pequeno é interdisciplinar, de formações diversas como biofísica, bioquímica, físico-química e assim por diante. O Professor Terry Shinn, diretor de pesquisa no Centre National de la Recherche Scientifique, em Paris, e professor no nível de doutorado em Ciências Sociais em Sorbonne, resumiu o presente cenário da seguinte forma: “A química parece, então, dominar a área, a química e a engenharia química, de modo que parecem existir orientações epistemológicas muito específicas no campo da nanotecnologia. Uma dessas orientações é que a pesquisa está fortemente focada na computação, isto é, no uso de supercomputadores 29 para experimentar aquilo que está baseado no entendimento da natureza, para testar os modelos computacionais desenvolvidos para descrever as leis físicas, para ver o que é factível e o que não é factível em termos dos sistemas de engenharia, nos níveis molecular e atômico. Assim, a maior parte da pesquisa é computacional e origina as possibilidades do que pode eventualmente ser feito materialmente. Portanto, grande parte do trabalho não é material, mas é matemático ou está baseada em modelos” [72]. Quando novos elementos são identificados como potenciais riscos relacionados a nanomateriais, há o surgimento de áreas do conhecimento diferentes das tradicionais física, química, engenharias ou biológicas, tais como engenharia ambiental, geociências e ciências sociais. Além do mais, novas disciplinas têm sido criadas para atender pesquisas diversas em nanotecnologia, como bionanotecnologia, filmes finos, nanoeletrônica, nanotoxicologia e disciplinas voltadas à inovação e gerenciamento de novas tecnologias [70]. 30 Capítulo 4 Implicações éticas e regulamentação 4.1 Conceito de Risco A palavra “risco” pode assumir diferentes significados. Inicialmente, o risco pode ser um evento indesejado que pode ou não ocorrer [73]. Pode-se dizer então que “impacto ambiental” é um dos riscos de alguma tecnologia emergente, ou seja, a tecnologia pode ou não estar ligada a tais impactos, potencialmente negativos. Se a tecnologia tiver algum impacto negativo, este seria chamado mais apropriadamente de consequência da tecnologia, ao invés de risco (já que a incerteza é uma das características do risco). Portanto, sob essa ótica, o impacto deve necessariamente ser negativo para ser considerado como tal. Uma outra definição sugere que o risco possa ser a causa de um evento que pode ou não ocorrer [73]. Se alguma tecnologia traz riscos ambientais, isto significa que pode, tende ou irá causar impactos ambientais negativos. Mais além, análises quantitativas afirmam que: a)o risco é a probabilidade de que um evento indesejado ocorra ou não [74] ou tem o diferencial em relação à terceira concepção no resultado esperado de eventos indesejados [73]. Um exem- 31 Tabela 4.1: Exemplos de riscos relacionados a conceitos. Risco Evento indesejado, pode ou não ocorrer (incerteza) Causa de um evento que pode ou não ocorrer Probabilidade de eventual ocorrência de um efeito indesejado Exemplo Impacto ambiental Tecnologia que traz impactos ambientais: Pode/Tende/Irá causar impactos ambientais Resultado quantitativo, como estimativa de perdas plo hipotético: há 100 peixes em algum rio cuja água será purificada com algum tipo de nanopartículas. Imagina-se que tais nanopartículas sejam tóxicas à população de peixes e que alguns deles morrerão em decorrência do processo de purificação. Não se sabe exatamente quantos serão os peixes que morrerão, mas dado vários estudos epidemiológicos, há uma projeção de 20%. O risco, então, é a morte de 20 peixes ou 20% de perda. Esta quarta concepção é a mais utilizada em análise de risco, utilizando cálculos de probabilidade [74] [73](tabela 4.1). 4.2 Ética Peter Singer [75], na sua explanação sobre o conceito de ética, afirma que a ética pressupõe como se deve viver e envolve um conjunto de regras, princípios ou maneiras de pensar que guiam ações de um grupo. Sendo uma palavra muito utilizada como sinônimo de “moralidade”, ética e moral têm suas raízes em descrições para “costumes”, cuja derivação provém dos termos “ethos” (grego) e “mores” (do latim), utilizadas para descrever costumes [75]. A ética representa um ramo da filosofia que estuda o conhecimento sistemático do embasamento moral da ação correta. Um problema ético surge numa situação em que fatores morais devam ser considerados na 32 seleção de uma ação. Um dilema ético compreende uma situação em que as escolhas oferecem dois lados, o bom e o mau, com efeitos desejáveis ou indesejáveis, sendo oportuno lembrar que a postura ética emerge da percepção de um fenômeno que ocorre em cada ser humano [76]. Dentre as diversas ramificações do estudo da ética, destacam-se a ética normativa, a ética descritiva, a ética aplicada e a metaética. A ética normativa busca definir padrões específicos ou princípios para guiar uma conduta ética nas respostas a questões relacionadas a valores e como as ações são moralmente conduzidas e justificadas. Quando há descrição de crenças, normas e comportamentos éticos de um determinado grupo ou de um indivíduo da maneira como se apresentam sem considerar como deveriam se apresentar, há relação com a ética descritiva. Baseada na ética normativa, a ética aplicada, também conhecida como ética prática, utiliza-se de princípios éticos para analisar assuntos práticos e específicos. Um exemplo disso é a bioética. Já a metaética preocupa-se com a natureza do certo e do errado, de que forma os julgamentos éticos se originam e o que significam em relação à natureza e à conduta humana [77]. As NC&NT trazem questões éticas, como implicações referentes às suas aplicações [78] [79] [80] [81] [82] [83] [77] [84] [85]. O campo da nanomedicina traz inúmeros dilemas, dentre os quais a possibilidade de intervenção da nanotecnologia no diagnóstico de condições genéticas e terapia gênica [81] [86]. Dúvidas surgem, por exemplo, em relação às consequências trazidas pelo implante de neurobiochips em humanos para estimular a função cerebral. Na área sócio-econômica, não foi adequadamente avaliado se os lucros gerados pela nanotecnologia irão sobrepor as desigualdades sociais [87]. Em relação à privacidade de indivíduos, 33 especula-se que o efeito de nanodispositivos terá implicação direta [60], tal como os problemas levantados na engenharia genética. Patrick Lin, em seu discurso “Why nanoethics?” [88], enfatiza a necessidade da ética em nanotecnologia e, para tanto, cunhou o termo “nanoética”. Considera-se “nanoética” a avaliação ou estudo das dimensões éticas e sociais das NC&NT [88]. Apesar da crescente quantidade de estudos sobre os potenciais riscos e benefícios que a nanotecnologia possa gerar, muito ainda é ignorado sobre o fato de que a nanotecnologia de alguma forma possa causar preocupações relativas a questões éticas, vistas em muitos casos como sensacionalistas [89]. Um dos pontos menos explorados é o de que novas descobertas tecnológicas podem gerar resultados inesperados e nãointencionais. Vários casos históricos podem ser citados, como quando o uso do computador pessoal deu origem a crimes cibernéticos e contra a propriedade intelectual; a invenção da pólvora que elevou o potencial bélico; algumas drogas cujos efeitos adversos não foram totalmente previstos geraram dependência e má-formação fetal [88]. Ao se utilizar um planejamento prévio, muitos dos problemas associados a novas tecnologias poderiam ser antecipados e diminuídos. As implicações éticas na decodificação do genoma humano, em relação à privacidade e à discriminação genética, foram estudadas a partir de tais previsões. Na biotecnologia comercial, o progresso foi dificultado e o estoque das empresas se deteriorou pois questões éticas e sociais foram ignoradas, razão do possível prejuízo dos alimentos geneticamente modificados na saúde e no meio ambiente [88]. A incerteza quanto ao desenvolvimento futuro não exime a responsa34 bilidade sobre a obrigação moral na investigação de questões classificadas como possibilidades relevantes, a fim de se minimizar prejuízos e até mesmo maximizar benefícios [88]. 4.3 Regulamentação da NT Um “nanoeticista” pode se perguntar se, em se tratando de assuntos de segurança de nanopartículas, os benefícios dos nanomateriais superariam os eventuais prejuízos, bem como a necessidade (ou não) de regulamentação de todos os nanomateriais [90]. Fernando Galembeck, professor do instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas, afirma: “A falta de uma regulamentação específica para a nanociência pode, a médio e longo prazo, ocasionar graves consequências para o setor, com o uso desordenado dos resultados de pesquisas, ao mesmo tempo que o excesso de normas põe em risco o avanço do conhecimento na área” [91]. Até 2009, a Agência de Proteção Ambiental estadosunidense, conhecida como EPA (Environment Protection Agency), agiu com uma atitude de pouco comprometimento em relação a materiais em nanoescala, resultado da insuficiência de informação sobre que tipo de legislação deveria ser aplicada a materiais em nanoescala [92]. Basicamente, o trabalho do EPA até 2009 envolvendo legislação de produtos que utilizem a nanotecnologia foi oriundo de pesquisas realizadas por programas voluntários e pesquisas subsidiadas por agências de pesquisa. Recentemente, a EPA focou seus esforços na regulamentação de materiais em nanoescala por meio de uma série de ações executadas sob autoridade do Ato de Controle de Substâncias Tóxicas, o TSCA (Toxic Substances Control Act). O TSCA terá autoridade para regulamentar as substâncias químicas an- 35 tes e após serem comercializadas. Pode-se citar, como exemplo, a seção específica para nanotubos de carbono (NTC) com diferenciações entre formas alotrópicas de carbono bem como regras específicas para NTC de parede simples ou múltipla. Informações referentes à toxicologia e restrições devem ser fornecidas pelo fabricante, bem como amostras do material a ser comercializado. Em caso de violação da lei, haverá penalidade na forma de multa e possível ação criminal por conhecimento prévio das exigências [93]. No Brasil, o PL 5076/05 do deputado Edson Duarte (PV-BA) que previa o estabelecimento de normas para as pesquisas em nanotecnologia, a rotulagem e o monitoramento de produtos de origem nanotecnológica bem como a criação de uma comissão técnica nacional e de um fundo de desenvolvimento para o setor, foi rejeitada por razões estratégicas. A relatora sobre o parecer da aprovação, deputada Luiza Erundina (PSBSP), destacou que a lei brasileira já tem importantes avanços na área, como a Lei de Biossegurança (11.105/05). Essa lei estruturou o Conselho Nacional e a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que presta assessoramento técnico necessário à implementação da política nacional do setor e analisa os projetos que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados. Para a relatora, a proteção da saúde e do meio ambiente e eventuais sanções já seriam contempladas em leis como a de Crimes Ambientais (9605/98), a que define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (9782/99) e a própria Lei de Biossegurança. Erundina observou ainda que o Poder Executivo, com base no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/91), já estabeleceu critérios para a rotulagem de alimentos transgênicos, por meio do De36 creto 4680/03. Afirmou que “por analogia, o mesmo princípio deve ser aplicado aos produtos oriundos de intervenções nanotecnológicas” [94]. A deputada ressaltou que a análise governamental prévia de pesquisas nanotecnológicas privadas poderia atrasar o desenvolvimento e a inovação e inclusive que a autorização prévia para todas as pesquisas pressupõe que o Poder Público tenha condições de fiscalizar todas as atividades de pesquisa nas empresas privadas, o que seria pouco provável. Além do mais, por ser uma área estratégica, a deputada concordou com especialistas na área de que os países que mais investirem e dominarem a nanotecnologia terão acesso a melhores produtos e serviços, e possuirão as maiores oportunidades de desenvolvimento econômico e comercial [94]. Ainda sobre rotulagem, é importante citar o caso do uso de NP’s na indústria de cosméticos. Embora a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mencione a necessidade de rotulagem, origem, composição e segurança, além de solicitar aos fabricantes informações sobre fórmula, função, ingredientes, finalidade e o modo de uso dos produtos antes de serem comercializados, ela assinala que a rotulagem é responsabilidade do fabricante, descritos em legislação específica da própria ANVISA para cada aplicação. Como produtos na categoria de cosméticos não podem ultrapassar a epiderme para serem qualificados como tal, os “nanocosméticos” que estão no mercado prometem não apenas fins profiláticos, mas também trazem o prefixo “nano” em suas embalagens como estratégia de marketing. Além disso, o Código de Defesa do Consumidor, regulamentado pela Lei 8078/90, estabelece os direitos básicos do consumidor, como a saúde e a segurança, destacando as dimensões que cabem à vigilância sanitária supervisionar, incluindo, entre outras, a dimensão 37 tecnológica [95]. 4.4 Política de NC&NT na América Latina Entre 1990 e 2006, 70% de todas as publicações sobre NT na América latina correspondiam ao Brasil, Argentina, Chile e Uruguai. Embora este tema como área de pesquisa também tenha se iniciado no fim da década de 1980, apenas recentemente as políticas sobre NT foram implementadas, tendo como marco inicial, em 2001, a criação de quatro redes multidisciplinares institucionais [1]. Entre 2002 e 2005, estas redes envolveram 300 pesquisadores, 77 instituições de pesquisa e educação, 13 empresas, a publicação de mais de 1000 artigos e mais de 90 patentes, envolvendos áreas de pesquisa na física, química, matemática, medicina, biologia, engenharias, ciência dos materiais e ciência computacional [9]. Esta iniciativa representou um investimento importante do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em fundos de pesquisa e recursos humanos. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a comunidade científica e o setor privado foram responsáveis por estabelecer os objetivos desta iniciativa, bem como o desenvolvimento regional, a integração das atividades de pesquisas públicas e privadas e o avanço na tecnologia das empresas brasileiras [96]. O desenvolvimento da nanotecnologia na América Latina possui características econômicas e culturais semelhantes. São países de renda média (de acordo com a classificação do Banco Mundial), com sistemas de pesquisa ativos que recebem de baixo a moderados níveis de investimento em pesquisa e desenvolvimento (tabela 4.2). Apesar de tanto o Brasil quanto a Argentina serem os mais populosos e industrializados, as 38 semelhanças com os outros países da América Latina encontram-se ainda na renda per capita e na entrada e saída de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ajustadas à população (tabela 4.1). Na América Latina, o Brasil é líder na pesquisa em nanotecnologia, embora o número de patentes não tenha evoluído significativamente nos últimos anos (figura 4.3) [1]. Contudo, apenas após a metade da década de 90, os resultados de pesquisas em NC&NT se evidenciaram mais na forma de publicações. O Brasil e o México continuaram a aumentar o número de publicações, enquanto a Argentina, o Chile e o Uruguai mantiveram o crescimento do número de suas publicações relativamente estável em anos mais recentes [1]. 39 Figura 4.1: Tendência em publicações NT. Fonte: Análise da Georgia Tech das publicações globais em nanotecnologia (Adaptado de Kay and Shapira, 2009). [1] 40 Tabela 4.2: Tendência em patentes em NT. (Adaptado de Kay and Shapira, 2009) [1]. Patentes (1990-2006) Brasil 45 México 21 Venezuela 5 Cuba 6 Argentina 5 Bolívia 2 Colômbia 2 Chile 1 Costa Rica 1 Peru 1 Uruguai 1 América Latina 92 41 42 EUA Japão Alemanha Espanha Rússia México Argentina Chile Uruguai Brasil China Índia País Rendimento nacional bruto per capita (US$). Paridade do Poder Aquisitivo em 2006 (milhares) 44.1 32.8 32.7 28.2 12.7 12.0 11.7 11.3 9.9 8.7 4.7 2.5 HIC HIC HIC HIC UMC UMC UMC UMC UMC UMC LMC LMC Rendimento do grupo 299.4 127.8 82.4 44.1 142.5 104.2 39.1 16.4 3.3 189.3 1,311.8 1,109.8 População em 2006 (milhões) Gastos com P&D (% Produto Interno Bruto) 2.68 3.15 2.49 1.11 1.17 0.40 0.41 0.61 0.26 0.98 1.44 0.85 4,605 5.287 3,261 2,195 3,319 268 720 444 366 344 708 119 Pesquisadores em P&D (população por milhão) 692.7 434.0 535.1 422.5 100.7 37.8 79 95.6 58.3 53.1 31.9 13.3 Artigos em Ciências e Engenharias em 2005 244 857 158 53 135 1 4 1 1 1 16 1 Patentes em 2005 1,775 975 505 50 106 12 2 10 27-40 220 106 P&D em NT pelo governo (estimativa) US$, 2006 Tabela 4.3: P&D em Nanotecnologia e aspectos relacionados à economia, população, ciência e tecnologia para Brasil, Argentina, Chile e Uruguai comparados a países de referência (países classificados por rendimento per capita). (Adaptado de Kay and Shapira, 2009) [1]. Capítulo 5 Revisão crítica: Nanopartículas de prata Produtos comerciais que geram íons de prata ou que contenham nanopartículas de prata (AgNPs) são a classe de produtos que mais cresce em relação a outros nanomateriais. A maioria dos produtos emergentes exploram a eficiência da prata em destruir uma larga escala de bactérias (razão do termo “biocida de amplo espectro”), incluindo algumas das variedades resistentes aos antibióticos tradicionais. A novidade é que avanços baseados em NC&NT permitiram novos métodos na manipulação da prata para que possa ser incorporada em polímeros, tecidos e sobre superfícies, com custos competitivos [97]. O aspecto mais importante de sua atuação é que as AgNPs liberam íons de prata em altas doses diretamente nos locais onde possam atacar os micróbios de forma mais eficiente. A nanoprata pode ser encontrada comercialmente nos mais diversos produtos, tais como utensílios de cozinha, eletrodomésticos, produtos de higiene pessoal, roupas, colchões, produtos para bebês, tintas e cosméticos. Sprays de nanoprata podem ser obtidos pela internet com o propósito de desinfetar e desodorizar superfícies em cozinhas, 43 banheiros e roupas de bebê. Os riscos associados a seu uso, sua eficácia ou mesmo a real necessidade de compra não são sempre óbvios para a maioria dos produtos de consumo e seus usuários. Muitos destes produtos trazem a nanoprata em contato direto com o organismo [97]. Outros têm o potencial de dispersar nanoprata no meio ambiente durante e após seu uso. Embora casos de pessoas ou prejuízos ao meio ambiente causados especificamente por AgNPs não tenham sido relatados, essa ausência de casos pode refletir a experiência limitada com nanomateriais ou a falta de conhecimento sobre quais efeitos se esperar. Por esta razão, uma inquietação sobre a pouca compreensão dos riscos potenciais envolvendo a saúde e o meio ambiente vem crescendo, evidenciada pelo número crescente de publicações e editoriais, bem como em relatórios da Royal Society e Royal Academy of Engineering in the United Kingdom [98], a European Commission’s Action Plan for Nanotechnology [99] e a USEPA’s Nanotechnology White Paper [100]. Essas publicações referem-se principalmente à falta de conhecimento sobre riscos de materiais que apresentam propriedades únicas quando reduzidos à nanoescala e enfatizam a importância do balanço entre riscos e benefícios. 5.1 Histórico da Toxicidade da Prata Uma das incertezas importantes sobre as tecnologias da nanoprata é a contradição entre a longa história do uso da prata pelo ser humano e sua classificação como poluente tóxico. A prata (Ag) é um elemento químico com um peso atômico de 47. É raro (ocupa a posição 67 em abundância entre os elementos) e utilizado há muito tempo na forma de 44 joias. Produtos de prata foram por muito tempo associados à alimentação, em cutelaria e recipientes de armazenamento para água e vinho em civilizações datadas do tempo dos fenícios (o chumbo também era usado desta forma pelos romanos). Tais aplicações estavam relacionadas à melhor preservação de alimentos e bebidas. Essa longa história do contato humano com a prata na forma não-nanométrica (micro ou macroscópica) não inclui efeitos colaterias negativos que sejam prontamente identificados (assim como na ocorrência de alergias e queimaduras), um argumento às vezes utilizado para justificar a prata como não-impactante no meio ambiente [101]. O uso da prata como fármaco também tem uma longa história. Por volta de 1884, o obstetra alemão C.S. F. Crede introduzia 1% de uma solução de nitrato de prata como solução oftálmica em bebês recémnascidos de mães com gonorreia [102]. Gotas de nitrato de prata ainda são um requerimento legal para recém-nascidos em algumas jurisdições [103]. Compostos de prata foram extensivamente usados para prevenir infecções em feridas durante a I guerra mundial e a prata podia ser encontrada em cáusticos, germicidas antisépticos e adstringentes, presumivelmente como desinfetante. Com o advento de antibióticos mais seletivos, como penicilinas e cefalosporinas, o uso da prata diminuiu. Uma mistura de prata e sulfa (por exemplo, creme de sulfadiazina de prata) permanece como o tratamento bactericida padrão para queimaduras sérias. Uma análise histórica pouco criteriosa enxerga a prata como um desinfetante benigno. Entretanto, sob um exame mais minucioso, complexidades aparecem em aplicações na medicina. O aumento no uso intencional da prata em preparações farmacêuticas e dispositivos pode trazer efeitos indese45 jados, como o atraso na cicatrização de feridas, a absorção na circulação sistêmica e a toxicidade localizada em células [104]. 5.2 Concentrações de prata no mundo A prata tem origem em depósitos do mineral argentita. A argentita ocorre em minérios de chumbo-zinco e de cobres porfíricos nos Estados Unidos e em depósitos de platina e ouro na África do Sul [102]. No Brasil, o consumo aparente de prata para o ano de 2010 foi projetado em 772 toneladas, que, cotejado com o verificado em 1992, de 242 toneladas, indica a necessidade de suprimento adicional de 530 toneladas para atendimento ao aumento esperado do consumo. Como até o momento não foi possível identificar fontes primárias de prata no Brasil, esse excedente do consumo deverá ser suprido pelo aumento da produção como subproduto do ouro, chumbo e de outros sulfetos e de importação [105]. Embora a geologia do território brasileiro não se tenha mostrado promissora, pelo menos até o momento, para a ocorrência de depósitos de prata, a baixa relação entre as reservas disponíveis e as projeções para a quantidade demandada, somada ao grau de conhecimento da geologia, especialmente na Amazônia, justifica um esforço de pesquisa mineral. A geração de reservas nos níveis exigidos pela projeção acumulada da quantidade demandada exigiria investimentos da ordem de US$ 60 milhões [105]. A prata também é extraída durante o derretimento de minérios de níquel no Canadá. A produção da prata obtida da mineração e derretimento aumentou de forma fixa no século passado. Em 1979, a prata era usada principalmente em fotografias (39%), componentes elétricos e eletrônicos (25%), prata esterlina (12%), eletrodeposição (15%) 46 e soldagem (8%). Em 2007, aproximadamente 20,5 milhões de quilos de prata foram extraídas no mundo [106]. A dispersão de prata no meio ambiente não é necessariamente um risco ecológico. A concentração, o destino ambiental e a resposta ecológica são importantes também. A concentração de metais no solo e na água é determinada, em parte, pela erosão da crosta terrestre. Se o elemento é mais abundante, sua concentração é maior em águas paradas. Como a prata é um metal raro na crosta terrestre, suas concentrações são baixas, o que significa que a adição de apenas uma pequena quantidade de prata em reservas de água consequentes de atividades humanas resultarão em um grande desvio das condições naturais [101]. As concentrações da maioria dos traços metálicos em água são relatadas em partes por bilhão (ppb) ou microgramas por litro. As concentrações de prata são sempre em partes por trilhão (pptr), relatadas por ng.L−1 . As concentrações mais baixas de prata dissolvida são encontradas em oceanos abertos, onde as concentrações variam de 0,03 a 0,1 ng/L [107]. Entretanto, as concentrações de prata mudaram de 0,03 ng.L−1 em 1983 para 1,3 ng.L−1 em 2002 em águas superficiais de oceanos abertos da Ásia. A distribuição da contaminação seguiu um padrão que sugeriu que aerossois oriundos de poluição atmosférica tenham sido carregados ao mar da Ásia pelos ventos oeste prevalentes, indicando que a mudança seria uma consequência da atmosfera do continente asiático, em rápido desenvolvimento, embora as fontes não sejam conhecidas. Surpreendentemente, tais mudanças foram suficientes para aumentar drasticamente as concentrações de prata em 50 vezes, o que demonstra a sensibilidade do meio aquático a mudanças ocasionadas pela adição de 47 prata por atividades humanas e sugere que tais contaminações por prata estão se desenvolvendo no continente asiático [107]. 5.3 Como a prata se combina a outros elementos O íon livre de prata positivamente carregado (Ag + ) tem uma forte tendência em se associar a íons negativamente carregados no meio aquático com o propósito de atingir um estado estável. Os íons carregados negativamente (ou ligantes) podem ocorrer em soluções ou superfície de partículas. Em meio aquático, cinco principais ligantes inorgânicos aniônicos concorrem pela associação com metais catiônicos: fluoreto (F − ), cloreto (Cl− ), sulfato (SO4−2 ), hidróxido (OH − ) e carbonato (CO3−2 ). Os ligantes também ocorrem em matéria orgânica dissolvida. Constantes de equilíbrio, também chamadas de constantes de estabilidade, definem a força de cada complexo metal-ligante. Estas constantes podem ser usadas em modelos para prever a especiação da prata em solução ou a distribuição entre ligantes [101]. A especiação é movida pela combinação dos seguintes fatores: i) Força da associação da prata com o ligante ( se a prata se associar mais fortemente com um ligante do que com outro, é mais provável que ela se associe com o primeiro); e ii) Abundância dos ligantes. Ligantes mais abundantes têm mais predisposição em se associar e se ligar à prata [101]. Estas propriedades trabalham combinadas. Por exemplo, em algum ponto, um ligante bastante abundante mas ligado fracamente pode superar uma ligação mais forte num ligante raro. Os complexos específicos ou precipitados de prata não podem ser diretamente medidos a baixas concentrações em meio aquático, mas pelo fato de serem quimicamente bem 48 conhecidos, a distribuição entre os ligantes inorgânicos pode ser calculada com uma precisão razoável. O resultado da competição entre ligantes é mais difícil de ser calculado se houver matéria orgânica dissolvida, em razão das várias formas assumidas pelos ligantes. A especiação é tipicamente mais variável em água doce do que em água salgada devido à grande variação em concentrações de ligantes. A composição da água do mar é relativamente constante; apenas as concentrações de materiais orgânicos variam bastante. O complexo constituído de prata e cloro sempre será dominante na solução de água salgada, embora possam ocorrer complexos com sulfetos [108] [109]. 5.4 Destino e efeito da prata no meio ambiente Para se quantificar a massa de prata liberada no meio ambiente (ou no organismo) após uso é necessário avaliar o risco associado com aquele uso específico. Reações geoquímicas complexas determinam como estas liberações se traduzem em concentrações de prata em alimentos, água, sedimentos, solo ou aplicações tópicas [101]. • A química ambiental da prata metálica influencia a biodisponibilidade e a toxicidade de formas complexas (onde a biodisponibilidade é definida por processos físicos, geoquímicos e biológicos que determinam a digestão de metais por organismos vivos). A influência da química ambiental na biodisponibilidade da nanoprata é uma questão crucial. • A determinação do potencial para toxicidade é mais complexa do que a determinação conhecida. O tipo de teste pode ter uma forte 49 influência em conclusões sobre o potencial da prata como um risco ambiental. • Uma vez dentro do organismo, a prata pode ou não ser tóxica. Os processos que influenciam a toxicidade interna (ou desintoxicação biológica) pode ser uma das considerações mais importantes na determinação de riscos da nanoprata. • O risco ecológico é influenciado pela toxicidade desde o nível celular até ao organismo completo, mas tal risco será diferente de espécie para espécie. Em discussões sobre como avaliar os riscos das NTs em geral, Owen e Handy [110] referem-se à “fonte-destinoreceptores-impacto” como um princípio unificador para gerenciamento de risco, de modo que uma avaliação sistemática deste caminho levaria a potenciais riscos de uma atividade. 5.5 Potenciais riscos da prata no meio ambiente e na saúde humana A prata, de modo geral, já é classificada como tóxica ao ambiente por ser persistente e bioacumulativa sob algumas circunstâncias. A toxicidade, o potencial bioacumulativo e a persistência de materiais contendo nanoprata estão sendo identificados recentemente (após o início da comercialização). Até setembro de 2007, cerca de um terço dos produtos contendo nanoprata tinham potencial de dispersar prata ou AgNPs no ambiente. O teor de prata nestes materiais pode variar. Relatórios contendo informações sobre tais produtos são inconsistentes e não seguem uma metodologia adequada. A existência de diretrizes indicativas 50 de concentração e formulações com toxicidade reduzida poderia oferecer oportunidades para regulamentação [101]. A quantidade de prata dispersa no ambiente oriunda de novos produtos contendo AgNPs seria significativa se o uso/combinação de um ou mais produtos aumentasse drasticamente, relacionados ao seu uso em massa. Uma consequência possível seria a contaminação na água pelos esgotos, e tais efeitos têm sido estudados [101]. Gerenciamentos de risco serão necessários, pelo menos para alguns produtos contendo AgNPs. Tais gerenciamentos necessitariam de informações referentes a descargas massivas no meio ambiente. Uma vez que tais informações não estão disponíveis ainda, nem requerimentos de relatórios governamentais ou informações sobre produto seriam suficientes para construir estimativas confiáveis de descargas em massa de tecnologias de nanoprata. No entanto, existe o potencial para liberações comparáveis ou maiores do que as utilizadas em consumos diferentes aos com AgNps. A inexistência de metodologias para vigilância ambiental de rotina de nanomateriais constitui um fator agravante, nos quais a nanoprata se inclui. Uma alternativa viável seria o monitoramento da prata na água, em sedimentos ou em biomonitoramento [102]. As concentrações de prata na água, em meio ambiente, mesmo aquelas já contaminadas por atividades humanas, variam de 0,03 a 500 nanogramas/litro (ng.L−1 ). Mesmo uma proliferação substancial de AgNPs seria inviável para produzir concentrações de poluentes em excesso na escala ng.L−1 . Metodologias de vigilância ambiental devem ser capazes de detectar mudanças de concentrações nesta escala. Testes de toxicidade deveriam focar em condições de exposições realísticas, na escala ng.L−1 , 51 e não apenas em toxicidade aguda de curto prazo. Testes sensíveis de toxicidade e estudos de caso ambientais mostraram que a prata metálica é tóxica em concentrações iguais ou maiores do que 50 ng.L−1 . Mesmo que as potenciais concentrações em águas contaminadas pareçam baixas, não se deve ignorar os riscos ambientais [111]. Os riscos ambientais da prata podem ser mitigados pela tendência da prata em formar complexos fortes que possuem, aparentemente, biodisponibilidade e toxicidades muito baixas. Particularmente, complexos com sulfetos reduzem fortemente a biodisponibilidade sob algumas circunstâncias. Ainda não está claro em que extensão tais reações de especiação afetarão a toxicidade da nanoprata. Se a complexação ou revestimentos sulfeto-orgânicos em águas naturais reduzem a biodisponibilidade de AgNPs, os riscos neste meio serão reduzidos. Também é possível que NPs protejam os íons de prata de tais interações, liberando íons livres de prata às membranas dos organismos ou em células. Neste caso, riscos ambientais acentuados deveriam ser esperados [101]. O destino ambiental da AgNP dependerá da natureza da NP. NPs que tendem a se agregar ou se associar a materiais dissolvidos ou particulados na natureza provavelmente se depositam em sedimentos ou solos. A biodisponibilidade destes materiais será determinada quando ingerida por organismos. Alguns tipos de AgNPs são manufaturadas para permanecer em água. A persistência destas partículas, em escala de tempo de relevância ambiental (dias ou anos), ainda não é conhecida. Como a prata é altamente tóxica para bactérias, tal toxicidade parece se acentuar na forma nanométrica. A resposta de dosagem com sistemas diferentes de liberação e em diferentes ambientes ainda não foi estudada sistemati52 camente. Entretanto, quando a forma iônica é biodisponível, a prata é mais tóxica a organismos aquáticos do que qualquer outro metal conhecido até o momento (exceto o mercúrio, embora não haja parâmetros de comparação para AgNPs) [101] [112]. A digestão de nanomateriais por endocitose parece explicar a toxicidade em invertebrados marinhos. Outras portas para digestão através da membrana (por exemplo, transportadores de proteína ou poros) também parecem existir. O risco de toxicidade pode ser acentuado se a endocitose liberar potenciais íons de prata na forma de AgNP, ao interior das células, onde pode liberar íons de prata na proximidade da máquina celular. Um dos sinais de estresse causados pela prata inclui desestabilização lisossomal e geração de espécies com oxigênio reduzido. AgNPs podem também afetar o desenvolvimento de embriões e outros aspectos reprodutivos em concentrações em ambientes reais. Todos estes mecanismos e suas consequências merecem uma investigação mais profunda [110]. A prata não é conhecida como uma toxina sistêmica em humanos, exceto em doses extremas. Ela é normalmente absorvida pelo organismo, mas parece se depositar amplamente em formas inócuas nas membranas basais, longe dos mecanismos intracelulares, onde poderia ser prejudicial. Ainda não se sabe se as AgNPs têm um destino semelhante em tecidos humanos. Um estudo mostrou que uma vez dentro das células, as AgNPs são mais tóxicas do que partículas como ferro, titânio ou molibdênio [101]. Há controvérsia no que diz respeito ao tratamento de feridas com prata, pois, em algumas circunstâncias, haveria uma diminuição do crescimento de células saudáveis. No entanto, efeitos indiretos ainda não foram adequadamente investigados. Exemplos de áreas que necessitam 53 investigações mais profundas incluem toxicidade em relação a bactéria na pele com exposição crônica de prata (tal como em aplicações em produtos têxteis) e outros efeitos no aparelho digestivo na presença de prata coloidal, que contém NPs dispersas. Desta forma, o conhecimento existente proporciona uma importante linha de base para identificar prioridades de pesquisa [101] [112]. 5.6 Análise interdisciplinar A falta de estudos em relação aos sistemas de liberação da prata na forma nanométrica no meio ambiente e as dosagens que a tornam tóxica são os principais problemas a serem solucionados, uma vez que produtos contendo nanoprata são amplamente comercializados. Além do mais, problemas éticos surgem pela falta de fornecimento de informação nestes produtos comercializados em relação ao seu conteúdo e potenciais riscos que possam envolver. 54 Capítulo 6 Revisão crítica: Uso de nanocompósitos polímero/argila 6.1 Aplicação da nanoargila como agente reforçante em compósitos poliméricos Compósitos poliméricos são misturas de polímeros com cargas orgânicas ou inorgânicas que apresentam geometrias diversas, por exemplo, fibras, esferas e partículas (figura 6.1). O uso de cargas, com pelo menos uma dimensão na escala nanométrica (entre 1 e 100 nm), produz nanocompósitos poliméricos [113]. Figura 6.1: Representação pictórica de um compósito. 55 Pode-se distinguir três tipos de cargas, dependendo de quantas dimensões estão na escala nanométrica. Nanopartículas (NPs) isodimensionais, tais como sílica ou nanoclusters semicondutores, tem três dimensões nanométricas. Nanotubos ou whiskers são estruturas alongadas nas quais duas dimensões estão em escala nanométrica e a terceira é maior. Quando apenas uma dimensão está na escala nanométrica, os compósitos são conhecidos como nanocompósitos poliméricos lamelares, obtidos quase exclusivamente pela intercalação do polímero (ou um monômero subsequentemente polimerizado) dentro das galerias de cristais em camadas hospedeiras [113]. Uma dispersão uniforme de NPs leva a uma elevada área interfacial matriz/carga, que muda a mobilidade molecular, o comportamento de relaxação e consequentemente as propriedades térmicas e mecâncias do material. Quando as cargas possuem uma elevada razão de aspecto, um melhor efeito reforçante é atingido [114]. O desenvolvimento inicial de compósitos poliméricos teve como objetivo a adição de um ou mais agentes reforçantes a um determinado polímero para que propriedades térmicas, mecânicas e de barreira fossem melhoradas, embora a maioria destes agentes apresentasse baixa interação na interface de ambos componentes. Quando estes agentes reforçantes, então macro ou microscópicos, foram reduzidos à escala nano, a redução do tamanho das partículas fez com que os defeitos, normalmente presentes em escalas acima da nano, se tornassem menos importantes e ganhos significativos de propriedades foram observados [115]. Os primeiros nanocompósitos poliméricos sistematicamente desenvolvidos foram obtidos em um sistema composto por poliamida termoplástica e argila tipo montmorilonita organofilizada com sais quaternários 56 de amônio [116]. Entre as modificações observadas nas propriedades do polímero destacam-se o aumento significativo e simultâneo de rigidez, tensão de ruptura, resistência ao impacto e temperatura de utilização, com pequena alteração da aparência visual do material. Além do ganho em propriedades termomecânicas, esse sistema recebeu especial atenção pela facilidade com que pode ser produzido, nos mesmos equipamentos utilizados na síntese convencional. Esse desenvolvimento, fez com que várias companhias e produtos especializados na produção das nanocargas surgissem. Em 2000, foi anunciada no mercado a comercialização de um R da Southern Clays Products, uma nanoaditivo promissor, a Cloisite, argila com aplicação para polímeros da indústria automotiva [117]. Este aditivo, também baseado em argilas do tipo montmorilonita (MMT), destaca-se pela sua alta razão de aspecto, que pode variar, aproximadamente, de 200 a 1000, com alta área superficial, atingida pela exfoliação das lamelas de argila. A Southern Clays Products anunciou que vários benefícios seriam atingidos em termos de melhorias de propriedades, utilizando-se uma quantidade bem menor (3-5 %) em relação à quantidade utilizada de agentes reforçantes convencionais, como o caulim, a sílica, o talco e o negro de fumo, cuja adição pode variar de 20 a 60%. Tal vantagem inicial consistiria em um produto final mais leve e com maior transparência (em plásticos não pigmentados), bem como melhor acabamento superficial. A morfologia lamelar das argilas do tipo MMT proporcionaria um aumento em determinadas propriedades físicas, como barreira a gases, solventes e vapores, melhor retardância à chama, reciclabilidade superior e aumento na temperatura de distorção por chama [118]. 57 Embora a elevada razão de aspecto das nanocamadas seja ideal para reforço, há uma dificuldade na dispersão em polímeros devido ao empilhamento face-a-face dos tactoides [119] e a incompatibilidade intrínseca das camadas de silicato hidrofílicas e dos polímeros de engenharia hidrofóbicos. 6.2 Compatibilização das argilas com polímeros A dispersão homogênea da maioria das argilas em polímeros orgânicos não é trivial devido à diferença de hidrofobicidade das superfícies [120]. As organoargilas são produtos das interações entre argilas e compostos orgânicos de cadeia curta (até 18 carbonos) e encontraram importante aplicação em nanocompósitos poliméricos. Uma organofilização apropriada é uma chave fundamental para uma exfoliação bem-sucedida das partículas de argila na maioria das matrizes poliméricas (figura 6.3). A organofilização reduz a energia superficial da argila e melhora sua compatibilidade com polímeros orgânicos [121]. A organomontmorilonita (oMMT) tem sido produzida, por exemplo, pela troca de cátions inorgânicos da MMT com sais orgânicos de amônio, melhorando a compatibilidade da MMT com polímeros orgânicos [122] [122] [123], levando a uma organização mais regular das camadas nas estruturas e diminuindo a absorção de água pelo nanocompósito [124]. Surfactantes também podem ser usados para melhorar a dispersão da argila (figura 6.2). Osman et al [125] utilizou copolímeros de polietileno em bloco anfifílicos e aleatórios como surfactantes para melhorar a dispersão da oMMT numa matriz de polietileno; os surfactantes promoveram o aumento do espaço entre as camadas de argila em 58 diversas escalas, dependendo do número unidades polares na molécula do copolímero, facilitando a exfoliação. Nanocompósitos (NCs) com compatibilizante mostraram estrutura melhor exfoliada e melhores propriedades mecânicas do que NCs sem compatibilizante. Figura 6.2: Adição de surfactante em argila monocatiônica, gerando um maior espaço entre lamelas. Figura 6.3: Individualização das lamelas de argila (necessária para facilitar a exfoliação). 59 6.3 Aplicações de NCs de argila A adição de nanoargilas constituem uma barreira a gases e água pois forçam sua passagem por um caminho tortuoso (figura 6.4). Sendo assim, nanoargilas têm sido introduzidas em bioestruturas poliméricas para aumentar consideravelmente suas propriedades de barreira [2], minimizando uma das principais limitações de filmes biopoliméricos. Muitos estudos relataram a eficiência de nanoargilas na diminuição da passagem de oxigênio [126] [127] [128] [129] [130] [131] [132] [133] e permeabilidade por vapor de água [134] [135] [131] [132]. Figura 6.4: Caminho tortuoso de um permeante em um nanocompósito de argila (Adaptado de Adame & Beall, 2009) [2] As teorias mais conhecidas que explicam as propriedades de barreira de NCs polímero-argila foram desenvolvidas por Nielsen [136], cujo foco baseia-se no caminho tortuoso em torno das placas de argila, forçando o gás permeante percorrer um caminho mais longo para se difundir atra- 60 vés do filme. O aumento do comprimento do caminho é função da alta razão de aspecto da argila como carga e da fração volumétrica da carga no compósito. O modelo de Nielsen prevê a permeabilidade dos sistemas em concentrações de argila de menos de 1%, embora dados experimentais divirjam significantemente dos valores previstos para concentrações maiores e em maior extensão para certos polímeros [137]. Quando se aumenta o comprimento das folhas de silicato, as propriedades de barreira são melhoradas por meio do aumento da tortuosidade do caminho a ser percorrido [134]. Algumas falhas na barreira podem ser explicadas por fatores tais como uma pobre orientação da argila ou exfoliação incompleta. Entretanto, mesmo estes fatores não seriam suficientes para explicar experimentos publicados que relatam permeabilidades muito menores do que as previstas [2]. Em 2000, um novo modelo para se prever o comportamento de permeabilidade de NC poliméricos foi proposto [138], focado na interface polímero-argila como fator preponderante na adição do caminho tortuoso. Este modelo prevê uma correção do fator aplicado ao modelo de Nielsen. Ele define três regiões em torno das placas de argila: a região modificadora da superfície, a região polimérica restrita e a região polimérica irrestrita. A região da superfície modificadora (1-2 nm) liga a argila ao polímero; é considerada pequena o suficiente para ter pouco efeito na permeabilidade do compósito. A região irrestrita do polímero não é afetada significantemente pela argila, apresentando propriedades semelhantes do polímero convencional. A região restrita do polímero, menos definida e confirmada indiretamente, está em contato direto com a superfície modificadora e pode se estender de 50-100 nm da superfície da argila como função dos parâmetros de in61 teração do polímero; considera-se que tenha um volume livre mais baixo e desta forma um coeficiente de difusão inferior em relação ao polímero bulk. Uma vez que o efeito principal da região restrita é diminuir o volume livre e seu efeito não é significativo em regiões cristalinas, a região restrita dos polímeros semicristalinos não afeta significativamente a permeabilidade, a menos que a cristalinidade seja diminuída. A maioria dos desvios que ocorrem no modelo simples do caminho tortuoso envolvem polímeros amorfos [2]. Em biopolímeros, o uso de nanoargilas melhora as propriedades mecânicas, justificando sua produção [139]. Alguns estudos envolvendo termoplásticos a base de amido/NC de argila identificaram uma melhora nas propriedades mecânicas com a diminuição simultânea da permeabilidade a vapor de água com a adição de 5% em peso de argilas [140]. Estudos indicam que existe uma quantidade ótima de plastificante e nanoargila para cada argila com o objetivo de produzir um filme de amido gelatinizado com exfoliação máxima e melhoria nas propriedades mecânicas, sendo que tais níveis ótimos têm alguma dependência na capacidade de troca de cátions da argila [141]. Em um estudo com uma matriz de ácido polilático (PLA), a bentonita foi capaz de melhorar a tensão e o módulo do polímero, embora reduzisse drasticamente o alongamento do material [133]. Resultados semelhantes foram relatados para polietileno de baixa densidade (LDPE) com organoargila [131] e para filmes de quitosana com MMT [142]. Por outro lado, o estudo com poli(e-caprolactana) (PCL) não indicou uma diminuição do alongamento pela adição de MMT [143]. Outros autores observaram melhores propriedades mecânicas de al62 guns polímeros pela adição de nanoargila [144] [145] [146] [135] [132] [147] [148]. Outros benefícios foram relatados em relação ao desempenho de vários polímeros com nanoargila, incluindo aumento na transição vítrea [127] [133] [148] e temperaturas de degradação térmica [149] [127] [146] [123] [148]. A facilidade na incorporação de nanoargilas em nylon 6 deve-se principalmente ao fato da fluidez deste polímero de tal forma que penetre nos pequenos espaços entre camadas. Quando extrudado, a nanoargila se orienta naturalmente paralela à superfície [150]. Tais NCs podem alcançar até quatro vezes menos o grau de transmissão de oxigênio [151]. A Nanocor e a Mitsubishi Gas Chemical (Nova Iorque) desenvolveram o R um NC de nylon 6 com propriedade de barreira que atendem Imperm, ao mercado de filmes e garrafas PET (polietileno-tereftalato) [152] [150]. Este nanocompósito pode ser usado como uma barreira de oxigênio na produção de garrafas para sucos de fruta, laticínios, cerveja e bebidas carbonatadas ou em camadas de nanocompósitos em filmes multicamadas para aumentar o tempo de estocagem de vários alimentos [150] [153]. O US Army Natick Soldier Center em Natick, Massachussets, centro de pesquisas militares, tem procurado alternativas para o papel alumínio para aumentar o tempo de estocagem de alimentos conservados à temperatura ambiente a fim de reduzir resíduos sólidos provenientes de embalagens e permitir aquecimentos por microondas. Para tal, a nanoargila é introduzida em matrizes poliméricas para melhorar as propriedades de barreira, resistência térmica e tensão mecânica. A pesquisa teve como foco formulações de polietileno, polietileno-tereftalato (PET) e etilenovinil-álcool (EVOH) com 1-5% de nanoargila apropriadamente dispersa 63 para maximizar a orientação, um ponto crucial na produção de caminhos tortuosos. Os resultados indicaram um aumento de 80% na resistência térmica e 100% na tensão mecânica. Por outro lado, o EVOH permaneceu sensível ao vapor de água, mesmo combinado à nanoargila [151]. 6.4 Uso de nanoargila em embalagens alimentícias Estudos referentes a aplicações de nanoargilas na indústria alimentícia iniciaram-se no final da década de 1990, aproximadamente 10 anos após a comercialização destes nanocompósitos para a indústria automobilística pela Toyota [154]. A indústria de embalagens escolheu como alvo de aplicações agentes reforçantes baseados em argilas e silicatos, principalmente devido ao baixo custo, disponibilidade, melhoras significativas no produto final e processabilidade relativamente simples [137]. Um dos pré-requisitos mais importantes para a indústria de embalagens alimentícias é a conservação do alimento. Para tanto, é necessário que a embalagem apresente boas propriedades de barreira, de forma a evitar a deterioração do alimento causada pelo oxigênio que eventualmente atravessa a barreira polimérica, com isto acelerando a proliferação de fungos e bactérias inddesejáveis que põem em risco a saúde do consumidor. A presença de nanoargila em nanocompósitos poliméricos aumenta a complexidade de difusão para uma molécula penetrante, promovendo uma propriedade de barreira elevada [155]. 6.5 A validade de alimentos embalados Embalagens para alimentos foram uma das primeiras aplicações da NT no ramo alimentício [156]. Calcula-se que cerca de 400 a 500 tipos 64 de embalagens com nanomateriais já existam no mercado e prevê-se que dentro dos próximos 10 anos, 25% de todas embalagens alimentícias irão conter nanomateriais [157] [158]. Em 2003, a maioria das embalagens que contêm nanomateriais foram produzidas para alimentos, cerveja, refrigerantes e sucos (PIRA International [159]. A função principal das nanoembalagens é prolongar a data de validade do conteúdo alimentício. Para tanto, as propriedades das embalagens são modificadas de tal forma que não haja permeabilidade de gases e líquidos ou sejam atacadas pela a luz UV [160] [130] [161]. Assim, a Du Pont desenvolveu o Light Stabilizer 210, um polímero com nanopartículas de dióxido de titânio que tem o objetivo de reduzir a degradação causada pela luz UV [162]. Com o Durethan KU 2-2601, a Bayer trouxe ao mercado uma embalagem na forma de filme contendo dióxido de silício na forma de nanoplacas que evita a entrada de oxigênio. A tabela 6.1 lista os produtos patenteados ou em desenvolvimento para fins alimentícios; a tabela 6.2 lista algumas patentes alemãs que utilizam nanotecnologia em embalagens de alimentos,enquanto que algumas patentes alemãs para revestimentos em máquinas processadoras de alimentos e para outros tipos de revestimentos em contato com alimentos estão descritas nas tabelas 6.3 e 6.4, respectivamente. 6.6 Migração em embalagens alimentícias A exudação das nanoembalagens pode promover a interação entre embalagem e alimento. Estas embalagens podem liberar substâncias como bactericidas, antioxidantes e flavorizantes no alimento ou bebida [163] [164] [165] [166]. Na maioria dos casos, as nanoembalagens contêm um 65 66 Encapsulamento de condimentos voláteis, aromas, óleos. Encapsulamento de gorduras vegetais, enzimas encapsuladas por fermentação (cerveja, por exemplo), a fim de obter um prolongamento da vida útil de alimentos congelados Melhoria da capacidade e precisão na dosagem de substâncias ativas, como o caroteno, vitaminas, coenzimas, ácidos graxos poliinsaturados, corantes alimentares Aplicação como, por exemplo, substituto de gorduras e óleos em alimentos de baixas calorias. Além disto, uso de metais como o ouro em solução para os licores e chocolates. A incorporação de aditivos em bebidas é possível quando solúveis em água Esta invenção está diretamente relacionada a fármacos, mas é listada pelo Escritório de Patentes na seção de patentes alimentares como ”nutracêuticos”. Será fabricado em comprimidos ou cápsulas e conterá o número de exato de pastilhas a serem llançadas no estômago O objetivo desta invenção é manter pequenas gotículas dispersas e conseguir uma camada interna estável para a liberação controlada de ingredientes ativos, tais como aromatizantes Revestimento de nanopartículas, métodos para a sua preparação e utilização Aplicação possível em alimentos Possui micro e nanopartículas energizadas e magnetizadas para suplementos dietéticos Preparado para profilaxia e tratamento do estresse e suas formas, distúrbios funcionais e orgânicos do sistema nervoso e do metabolismo Processo de preparação de polímeros porosos, que contenham pelo menos um componente líquido em nanoescala, que seja liberado tardiamente Produção de micronutrientes Por meio da redução da insulina à escala nanométrica, há formação de insulina solúvel em água (pode ser usada como edulcorante em alimentos dietéticos) Combinação de riboflavina, magnésio, diversas vitaminas e coenzima Q10 na forma nanoparticulada para profilaxia de enxaqueca Produção de frações de insulina nanométrica Método mecânico para produzir micro e nanoemulsões finamente dispersas com uma distribuição de tamanho de gotas estreito Forma multiparticulada de fármaco para produção de nanopastilhas Suplementos nutricionais e ingredientes alimentícios com uma estrutura multicamadas Processo de preparação de dispersões estáveis por longo período Aplicação Título da Patente Fraunhofer Gesellschaft, Alemanha Weber & Weber GmbH & Co KG, Alemanha Tech, Egon, Alemanha ETHZurique, Instituto de Ciência dos Alimentos, Suíça B.S. Silver, EUA DE 10 2006 011 881 A1 Louis, Pöhlau, Lohrentz, Alemanha Röhm GmbH & Co KG, Alemanha DE 10 2005 016 193 A1 DE 10 2005 027 905 A1 DE 20 2006 010 771 U1 DE 699 07 218 T2 DE 10 2004 040 735 B4 DE 10 2004 059 792 A1 DE 100 42 833 A1 BASF, Alemanha Empresa/País No. da Patente Lyotropic DE 698 16 Therapeu778 T2 tics, EUA Tabela 6.1: Patentes alemãs que fazem uso da nanotecnologia no setor de alimentos (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. 67 Preparação para, entre outras aplicações, embalagens para alimentos com nanopartículas estabilizadoras de raios UV Processo de produção de filme de poliamida com carga nanométrica Filmes multicamadas de selagem a quente, com propriedade de barreira, para embalagem de maturação de queijos Introdução de carga nanométrica com propriedades de barreira Embalagem de alimentos com propriedades de barreira Adesivo com propriedades de barreira Propriedade de barreira melhorada, evitando a exposição do produto ao CO2 Melhoria nas propriedades de barreira Adesivo utilizado no processamento de filmes para embalagens alimentícias. Nanopartículas são adicionadas ao adesivo proporcionando um aumento nas propriedades de barreira Fabricação de filmes e embalagens para alimentos com proteção UV Aplicação Título da Patente Wolff Walsrode AG, Alemanha Wipak Walsrode GmbH, Alemanha Merck GmbH, Alemanha DE 100 62 417 A1 DE 198 47 845 A1 DE 10 2005 007 482 A1 Empresa/País No. da Patente Henkel, Ale- DE 10 2004 manha 038 274 A1 Henkel, Ale- DE 100 48 manha 059 A1 Tabela 6.2: Patentes alemãs que utilizam nanotecnologia em embalagens de alimentos (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. 68 Melhor visualização através de janelas em unidades de produção de alimentos Propriedades bactericidas, antiaderentes e autolimpantes Produção de confeitos e chocolates Revestimento contendo nanocompósito de diamante Compósitos poliméricos com nanopartículas metálicas e minerais (canos e tubos) Superfície de vidro autolimpante Aplicação Título da Patente Schott AG, Alemanha DE 20 2004 021 240 U1 Empresa/País No. da Patente Bekaert NV, DE 698 03 Zwevegem, 365 T2 Bélgica Klaus Kuntz, DE 10 2004 Alemanha 048 790 A1 Tabela 6.3: Patentes alemãs para revestimentos em máquinas processadoras de alimentos (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. 69 Revestimento antiaderente para carrinhos de compras ou transportadores de contêineres Título da Patente Propriedades bactericidas e antifúngicas e superfícies anti-sujidades Aplicação Empresa/País No. da Patente POSDE 20 2004 Technology 002 438 U1 GmbH, Alemanha Tabela 6.4: Patente alemã para outros tipos de revestimentos em contato com alimentos (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. mecanismo de controle em que a liberação de produtos químicos e suas reações ocorrem por meio de um determinado impulso [167]. Ao mesmo tempo, aromas indesejáveis das nanoembalagens podem ser absorvidos. Para melhorar as propriedades de barreira, foram adicionados nanotubos de carbono (NTC) para evitar a permeabilidade de oxigênio e/ou dióxido de carbono, aumentando a vida útil do alimento embalado [168]. 6.7 Nanorevestimentos em alimentos Por meio da NT, revestimentos de 5 nm de espessura puderam ser desenvolvidos para alimentos em geral, com o objetivo de evitar e/ou diminuir a entrada/saída de gases e líquidos ou como transportadores de corantes, flavorizantes, antioxidantes e enzimas. Desta forma, a validade do produto também é prolongada, mesmo após a abertura da embalagem [169] [139]. A empresa Mars Inc. patenteou um “produto com revestimento inorgânico”, à base de TiO2 , (patente estadosunidense número 5741505, 1995) que evitaria a descoloração do chocolate [170]. A patente também traz aplicações em produtos como bolachas, batata frita e barra de cereal. Apesar das aplicações promissoras, a Mars não utilizou a patente em seus produtos e não tem intenção de utilizar tal técnica no momento, e aguarda a expiração da validade da patente em outros países, onde não será renovada [7]. A empresa americana Sono-Tek tornou conhecido, em 2007, o desenvolvimento de um revestimento comestível que pode ser consumido direto de produtos como pães e biscoitos [162]. Algumas patentes alemãs descritas nas tabelas 6.1, 6.2, 6.3 e 6.4 trazem informações referentes à 70 aplicações no setor de alimentos envolvendo a nanotecnologia em toda a cadeia produtiva. 6.8 Embalagens inteligentes com nanosensores Embalagens com nanosensores têm sido desenvolvidas (tabela 6.5) com o propósito de controlar, por exemplo, modificações na estrutura dos alimentos por meio de mudanças na temperatura ou umidade indicadas por uma mudança de cor [171] [167] [172]. Diferentes empresas tais como Nestlé, British Airways, MonoPrix Supermarkets e 3M já produzem embalagens com nanosensores [7]. A NT proporciona novas possibilidades em expandir o número de aplicações [173]. Por exemplo, sistemas de embalagens inteligentes podem ser equipadas com uma identificação por radiofrequência [166] [174]. Neste caso, um pequeno emissor funciona como transmissor de informações simples sobre o produto. Tal aplicação poderia, por exemplo, facilitar a logística em supermercados e evitar falsificações. 6.9 Embalagens ativas para proteção de alimentos Existem poucos alimentos que sejam apropriados para consumo quando envelhecidos (algumas exceções são alguns tipos de queijo e vinhos), pois deterioram-se com o tempo, tornando-se impróprios para consumo. Para tanto, novos tipos de embalagens têm sido desenvolvidas para diminuir o tempo de deterioração e, em alguns casos, a própria embalagem é utilizada como um meio para melhorar a qualidade do alimento. Tanto polímeros flexíveis quanto semi-rígidos estão dividindo cada vez mais sua presença no mercado com o vidro, latas e papelão, cujas tendências na 71 Tabela 6.5: Embalagens com nanosensores em desenvolvimento (Adaptada de Kühling, 2008) [7]. Inventor Universidade de Southampton, GrãBretanha e Instituto Alemão de Polímeros Georgia Tech, EUA Universidade clyde, Escócia Strath- MiniFAB, Austrália Componente em nanoescala Filme “Opal” constituído por negro de fumo de 50 nm Funcionamento Biosensores contendo nanotubos de carbono multicamadas Sensibilidade a microorganismos e proteínas tóxicas em alimentos e bebidas estagnadas [166] O rótulo da embalagem reage com uma mudança de cor quando a embalage vaza [172] Tinta à base de nanopartículas de dióxido de titânio, que reage à presença de oxigênio com uma mudança de cor quando exposto à luz UV Biosensores baseados em Nanotecnologia Mudança de cor quando há estagnação do alimento [162] Detecta impurezas biológicas [175] utilização e mesmo substituição são motivadas pelo baixo custo e funcionalidade. A desvantagem entre o polímero e o vidro é a permeabilidade ao oxigênio, que deteriora os alimentos. As vantagens das embalagens poliméricas residem na redução do peso, quebram com muito mais dificuldade, apresentam facilidade no transporte, além de serem mais seguras em relação ao vidro. Consumidores têm também uma percepção de que alimentos enlatados não têm uma boa aparência, levando-os a concluir, erroneamente, que possuam uma qualidade inferior [176]. A embalagem PET também é vista como mais moderna em relação aos alimentos enlatados [176]. Estas percepções sugerem que o mercado de embalagens alimentícias tende a crescer e se modernizar cada vez mais. 72 6.10 Análise interdisciplinar Em relação aos nanocompósitos de argila, verificou-se uma carência de pesquisa e conhecimentos sobre os reais benefícios das vantagens propagadas destes produtos em relação às suas propriedades superiores em relação a polímeros puros ou com cargas não-nanométricas. A propaganda enganosa é uma consequência direta da falta de informação adequada, com impacto negativo no consumidor e nas empresas, por meio de transferência de tecnologia, levando-os a uma equivocada percepção sobre a relação custo/benefício. 73 Conclusões Considerações Finais O presente trabalho teve como objetivo a apresentação de um panorama das NC& NT, as aplicações presentes e promissoras de produtos que utilizam a NT em seus processos/produtos, as implicações nos âmbitos social, econômico, ambiental e da saúde, tanto internacional quanto nacionalmente. Verificou-se a necessidade de abordagem interdisciplinar para tratar de tais aspectos. Dentre estes aspectos, destaca-se o conflito estabelecido entre os benefícios e lucros associados aos produtos e processos baseados em NC&NT e suas potenciais consequências danosas em relação ao meio ambiente, toxicologia e direito de informação aos consumidores. As principais causas desse conflito residem a) no rápido e inédito desenvolvimento desse setor, b) nas dificuldades de avaliação dos riscos em vista do seu caráter multidisciplinar e c) na falta de engajamento da própria comunidade científica no assunto. Esta análise também serviu de base para situar o Brasil no contexto mundial, a fim de se verificar quais os principais entraves relacionados ao desenvolvimento da NC&NT no Brasil. Em relação aos Estados Unidos e Europa, além da diferença no valor dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no setor, denota-se no Brasil uma preocupação acima de tudo estratégica. Por conseguinte, 74 observa-se que assuntos relacionados a potenciais riscos e reais benefícios inerentes às NC&NT são ignorados. Além do mais, os atuais planos de desenvolvimento para as NC&NT não contemplam uma visão interdisciplinar que englobem também as Ciências Humanas e Sociais, dado observado em quadros de investimento, diferente de outros países onde os investimentos nesses setores são mais acentuados. Finalmente, este trabalho aponta a necessidade que o próprio Programa de Pós-Graduação em Nanociências e Materiais Avançados avalie seus objetivos, métodos de investigação, de divulgação e de formação de pesquisadores de modo a se tornar uma referência internacional em pesquisa interdisciplinar praticada com consciência ética, ambiental e sócio-econômica. 75 Referências Bibliográficas [1] L. Kay and P. Shapira. Nanotechnology in Latin America. Journal of Nanoparticle Research, 11:259–278, 2009. xi, xii, 38, 39, 40, 41, 42 [2] D. Adame and G.W. Beall. Direct measurement of the constrained polymer region in polyamide/clay nanocomposites and the implications for gas diffusion. 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