N - Arautos em Portugal
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N - Arautos em Portugal
Número 79 Dezembro 2009 Deus mais próximo dos homens Guimarães – Dia 17 de Dezembro, na Igreja de S. Francisco às 19h00 Porto – Dia 18 de Dezembro, na Igreja da Trindade às 21h00 Braga – Dia 19 de Dezembro, na Igreja do Pópulo às 16h00 Seia – Dia 21 de Dezembro, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário às 18h00 Castelo Branco – Dia 22 de Dezembro, na Igreja de S. Miguel da Sé (lgo. da Sé) às 18h30 Lisboa – Dia 26 de Dezembro, na Basílica dos Mártires às 16h00 Évora – Dia 27 de Dezembro, na Igreja Paroquial Nossa Senhora de Fátima às 11h00 Anadia – Dia 28 de Dezembro, na Igreja de Vila Nova de Monsarros (a 5 Km do Luso) às 19h30 SumáriO Flashes de Fátima Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Ano XI nº 79 - Dezembro 2009 Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira Editor: Associação dos Custódios de Maria R. Dr. António Cândido, 16 1050-076 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Deus mais próximo dos homens (Editorial) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 A voz do Papa – A fé fortalece a razão ........................ Comentário ao Evangelho – Como encontrar Jesus na aridez? ...................... Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício 10 Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. ...................... 18 Ardor, símbolo e conceito ...................... 38 Aconteceu na Igreja e no mundo 40 ...................... História para crianças... O menino do tambor ...................... 46 Os santos de cada dia Através da beleza chega-se a Deus ...................... 26 Arautos no mundo ...................... Tiragem: 40.000 exemplares ...................... 22 48 O orvalho, o mar e as virtudes Membro da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã 34 A palavra dos Pastores – Irradiante e convincente beleza espiritual de Maria ...................... Arautos do Evangelho Impressão e acabamento: Pozzoni - Istituto Veneto de Arti Grafiche S.p.A. Via L. Einaudi, 12 36040 Brendola (VI) ...................... O verdadeiro significado do Natal www.arautos.pt / www.arautos.org.br E-mail: [email protected] Assinatura anual: 24 euros 6 Mártir da fidelidade ao Papado 28 ...................... 50 E screvem os leitores de Deus, e ir conhecendo os tesouros de nossa Igreja, pois é assim que podemos amar a Religião Católica. Luz Myriam Mendoza Vesga Bucaramanga – Colômbia Sigam em frente com fé e entusiasmo Manifesto-lhes meu mais sincero agradecimento por enviar-me a revista Arautos do Evangelho, e faço extensivos meus cumprimentos às novas Sociedades de Vida Apostólica: Virgo Flos Carmeli, clerical, e Regina Virginum, feminina. Felicito também Sua Eminência, Cardeal Franc Rodé, por dirigir tão excelentemente a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. E aproveito a oportunidade para expressar minhas saudações, por seu aniversário, ao Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador da Associação Arautos do Evangelho. Sem dúvida, todos estes eventos constituíram motivo de celebração e de felicitações, em meu nome e no da Diocese de Tulcán. Acompanhoos sempre com minhas orações e apoio constante, e desejo que sigam em frente, com fé e entusiasmo, nesse compromisso. Dom Luis Antonio Sánchez, SDB Bispo de Tulcán – Equador Conhecer a beleza, verdade e bondade de Deus A revista me encanta! Nela encontro discernimento e mais vida interior, nos comentários feitos por Mons. João Scognamiglio Clá Dias. É um instrumento de apostolado que enche nossa alma e nos prepara para correspondermos às graças que Deus nos concede a cada dia. Gosto muito de compartilhar a revista e fazer bem às almas, por meio dos conselhos apostólicos que ela transmite. É fenomenal instruir-se, nesta revista, sobre a beleza, verdade e bondade 4 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 A pulcritude aproxima do Sumo Bem A capa da edição de setembro de 2009 excedeu todas as anteriores em beleza! Como é linda nossa Religião Católica! Como é lindo ver com que cuidado a Casa de Deus se reveste de beleza, como nesta festa da Assunção da Virgem Maria! Não apenas nas vestes, mas também na afabilidade no trato, no porte digno, no grande amor e respeito ao Santo Sacrifício da Missa! A pulcritude nos aproxima do Sumo Bem e nos leva a perseguir a graça santificante. Margarida Guimarães G. Santos Recife – PE Convites à santidade Nunca em minha vida li uma revista católica que convidasse tanto à santidade quanto a revista Arautos do Evangelho. A vida dos santos nos dá forças para praticarmos a virtude. Os comentários sobre o Evangelho, feitos pelo Mons. João Scognamiglio Clá Dias, nos abrem os horizontes e nos guiam nos caminhos de nossa Fé. Este homem é assistido pelo Espírito Santo para escrever maravilhas com tanta sabedoria. Oxalá cada lar católico, ou melhor, cada lar, ainda que não católico, possa ser agraciado mensalmente com a chegada da revista. Maria Inês Pinheiro São Paulo – SP Autêntico aperitivo para o espírito Fiquei impressionado pela qualidade da revista, tanto na apresentação como, sobretudo, em seu conteúdo. E nele se destaca, em minha opinião, a seção Comentário ao Evangelho. É um autêntico aperitivo para o espírito, já que abre o apetite para reler e meditar a Palavra de Deus. E quanto necessitamos desse alimento, especialmente nos tempos atuais! Devo reconhecer que os Arautos do Evangelho fazem honra a seu nome, e peço ao Senhor que os ilumine para seguir sempre nessa mesma linha. José E. Martí Barios Las Palmas de Gran Canaria – Espanha Provoca uma conversa animada A revista é maravilhosa! Assim que a recebo, busco a seção Comentário ao Evangelho, do Mons. João Scognamiglio Clá Dias. O deleite que esta seção causa em minha alma é muito bom, sem falar nos ensinamentos nela contidos. Outra seção convidativa é a Histórias para crianças.... Na minha casa ela é lida em família e depois da leitura a história sempre provoca entre nós uma conversa animada. Que Nossa Senhora continue abençoando todas as pessoas que estão na raiz da edição desta maravilhosa revista! Maria Lúcia Alves Moreira Vieira Marques Porciúncula – RJ Belíssima da capa à contracapa Gosto muito da revista. Ela é um oásis no deserto da vida, onde podemos beber da água viva dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aprecio imensamente os comentários sobre o Evangelho, de Mons. João, e as Histórias para crianças.... Mas gosto também das ilustrações, das fotos de Nossa Senhora e suas diversas invocações, da Voz do Papa e da vida dos santos. A revista é belíssima, da capa à contracapa. Que Nossa Senhora ajude sempre sua divulgação, para que ela seja conhecida por todos. Henrique Leite Joinville – SC Editorial Deus mais próximo dos homens N 79 Número ro 2009 Dezemb Deus ximo mais pró ens m o h dos “Sagrada Família” Igreja da Santa Cruz, Grijota (Espanha) (Foto: Carlos Henrique Dias Bueno) o supremo mirante da História — a eternidade —, muitas verdades desconhecidas na Terra serão entendidas, com maravilhamento, pelos Bem - aventurados, os quais não se cansarão de entoar loas por elas à Santíssima Trindade. Entretanto, várias outras continuarão ocultas, por serem de exclusivo domínio divino. Dentre estas, talvez esteja algo que transcende nossa capacidade de compreensão: o gratuito e incomensurável amor de Deus pelas criaturas, sobretudo por aquelas que mais foram amadas e aquinhoadas, os Anjos e os homens. Quanto a estes, criados com alma racional, em estado de santidade e justiça, à imagem e semelhança divina, destinavam-se à mais elevada intimidade com Deus, participando inclusive da vida divina (CIC, n. 375). Mais não poderia o Criador fazer pela humanidade, pensaríamos nós. Entretanto, Ele, por assim dizer, superou-Se a Si mesmo. Uma parcela dos Anjos revoltou-se e “não houve mais lugar para eles no Céu” (Ap 12, 8). E o primeiro homem, desejando ser como Deus, transgrediu a única proibição que lhe fora imposta. Em consequência, perdeu o estado de graça e foi expulso do Paraíso. Doravante, as portas do Céu lhe estavam fechadas. Privado do dom de integridade, estava sujeito a padecer dores, fome e morte. Sobretudo, não gozava mais daquela intimidade com Deus, o qual vinha às tardes passear com ele no Éden... Fracassava, assim, o projeto de amor do Altíssimo para a humanidade, de fazê-la partícipe de Sua vida e natureza. Qual a resposta divina a essa imensa ingratidão? Uma superação de amor. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Se faz homem, para resgatar o pecado de Adão e Eva. Nasce de uma Virgem, criatura perfeita que, por sua insuperável correspondência à graça, compensa o orgulho de Eva. E escolhe como pai adotivo um santo varão, José. Na Sagrada Família realiza-se o plano primeiro de amor de Deus, numa inimaginável intimidade entre Criador e criaturas. De fato, dentro das quatro paredes da pequena casa de Nazaré, vivia-se numa atmosfera mais elevada que a do Éden, pois lá estavam presentes Deus feito homem e Maria Santíssima, o Paraíso do Novo Adão (cf. São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 18). Aí viveu Nosso Senhor trinta anos em sublime convívio com Nossa Senhora e São José, santificandoos. E com isso deu mais glória a Deus do que se tivesse, nesse período, percorrido a terra inteira, operando os maiores milagres (Idem, ibidem). Sua dolorosa Paixão e Morte na Cruz constitui o ápice de Sua dedicação aos homens. Inacessível mistério de amor! Tendo subido de volta ao Pai, deixou-nos a Santa Igreja Católica Apostólica Romana para, através dos Sacramentos, prolongar o convívio que teve com os homens na Terra, fazendo chegar a toda a humanidade os frutos do Seu Sangue redentor. Nesse sentido, cada graça concedida por Deus ao longo da história das almas visa, no fundo, incrementar ou reatar esse relacionamento, essa união, essa intimidade do Criador com a criatura. E, como não poderia deixar de ser, Deus sempre vence. Vence na pessoa de cada justo que, ao cruzar os umbrais da eternidade, contemplando-O face a face, se une definitivamente a Ele, num divino amplexo, realizando o plano primeiro da criação. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 5 A voz do Papa A fé fortalece a razão Quando o amor vivifica a dimensão orante da teologia, o conhecimento, adquirido através da razão, se dilata. A verdade é procurada com humildade, acolhida com enlevo e gratidão: numa palavra, o conhecimento cresce somente quando se ama a verdade. T ratarei hoje de uma interessante página da História, relativa ao florescimento da teologia latina no século XII, que se efetuou por uma série de coincidências providenciais. Nos países da Europa Ocidental reinava nessa época uma relativa paz, que garantia à sociedade o desenvolvimento econômico e a consolidação das estruturas políticas, e favorecia uma vigorosa atividade cultural, graças também aos contatos com o Oriente. Na Igreja, notavam-se os benefícios do amplo movimento conhecido como “reforma gregoriana”, a qual, promovida vigorosamente no século precedente, acarretara uma maior pureza evangélica à vida da comunidade eclesial, sobretudo no clero, e restituíra à Igreja e ao Papado uma autêntica liberdade de ação. Por outro lado, propagava-se uma vasta renovação espiritual, sustentada pelo exuberante incremento da vida consagrada: nasciam e se expandiam novas Ordens religiosas, enquanto as já existentes experimentavam um promissor reflorescimento. Teologia monástica e teologia escolástica Também a teologia refloresceu, adquirindo maior consciência de sua pró6 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 pria natureza: aprimorou o método, enfrentou novos problemas, progrediu na contemplação do Mistério de Deus, produziu obras fundamentais, inspirou importantes iniciativas da cultura — da arte à literatura — e preparou as obras primas do século subsequente, o século de Tomás de Aquino e de Boaventura de Bagnoregio. Essa fervente atividade teológica desenvolveu-se em dois ambientes: os mosteiros e as escolas urbanas — as scholæ — algumas das quais logo deram origem às Universidades, que constituem uma das típicas “invenções” da Idade Média cristã. Precisamente a partir desses dois ambientes — os mosteiros e as scholæ — podese falar de dois modelos diferentes de teologia: a “teologia monástica” e a “teologia escolástica”. Os representantes da teologia monástica eram monges, em geral abades, dotados de sabedoria e de fervor evangélico, empenhados essencialmente em suscitar e alimentar o desejo amoroso de Deus. Os representantes da teologia escolástica eram homens cultos, apaixonados pela pesquisa; mestres desejosos de demonstrar a racionalidade e os fundamentos dos Mistérios de Deus e do homem, não só cridos pela fé, mas também compreendidos por meio da ra- zão. A diferença de finalidade explica a diversidade do método e da maneira de fazer teologia. A teologia monástica: uma ininterrupta exegese bíblica Nos mosteiros do século XII, o método teológico ligava-se principalmente à explicação da Sagrada Escritura, da página sagrada, para nos exprimirmos como os autores desse período; praticava-se especialmente a teologia bíblica. Quer dizer, os monges eram todos devotos ouvintes e leitores das Sagradas Escrituras, e uma de suas principais ocupações consistia na lectio divina, isto é, na leitura meditada da Bíblia. Para eles, uma simples leitura do Texto Sagrado não bastava para perceber nele o significado profundo, a unidade interior e a mensagem transcendente. Era-lhes, pois, necessário fazer uma “leitura espiritual”, com docilidade à voz do Espírito Santo. Na escola dos Padres, a Bíblia era assim interpretada alegoricamente, visando descobrir em cada página, do Antigo e do Novo Testamento, o que ela diz de Cristo e de sua obra de Salvação. O Sínodo dos Bispos — realizado no ano passado, sobre A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja — recordou a importância de uma abor- L’Osservatore Romano O Papa durante a catequese da Audiência Geral de 28 de outubro de 2009, realizada na Praça de São Pedro dagem espiritual das Sagradas Escrituras. Para esse fim, é útil tirar proveito da teologia monástica, uma ininterrupta exegese bíblica, como também das obras compostas por seus representantes, preciosos comentários ascéticos dos livros da Bíblia. À preparação literária, a teologia monástica unia, portanto, a espiritual. Ou seja, estava consciente de que não basta uma leitura apenas teórica e profana: para penetrar no cerne da Sagrada Escritura, deve-se lê-la no mesmo espírito em que ela foi escrita e criada. Preparação literária e íntima atitude de oração A preparação literária era necessária para conhecer o significado exato das palavras e facilitar a compreensão do texto, aperfeiçoando a sensibilidade gramatical e filológica. O pesquisador beneditino do século passado, Jean Leclercq, intitulou assim o tratado no qual apresenta as características da teologia monástica: L’amour des lettres et le désir de Dieu (O amor das palavras e o desejo de Deus). Com efeito, o desejo de conhecer e amar a Deus, o qual vem ao nosso encontro através da sua Palavra que deve ser acolhida, meditada e praticada, conduz ao esforço para aprofundar os textos bíblicos em todas as suas dimensões. Há uma outra atitude sobre a qual insistem aqueles que praticam a teologia monástica: uma íntima atitude de oração, que deve preceder, acompanhar e completar o estudo da Escritura Sagrada. Já que, em última análise, a teologia monástica é uma escuta da Palavra de Deus, não se pode deixar de purificar o coração para acolhê-la e, sobretudo, acender nele o fervor para encontrar-se com o Senhor. A teologia torna-se, portanto, meditação, prece, canto de louvor, e incita a uma sincera conversão. Não poucos representantes da teologia monástica alçaram-se, por essa via, aos mais altos patamares da experiência mística, e constituem um convite também para nós, a nutrirmos nossa existência da Palavra de Deus, por exemplo, mediante uma escuta mais atenta das leituras e do Evangelho, especialmente na Missa domini- cal. É importante, ademais, reservar todo dia um certo tempo para a meditação da Bíblia, para que a Palavra de Deus seja a lâmpada que ilumina nosso caminhar cotidiano na terra. A teologia escolástica, à procura de uma síntese entre fé e razão A teologia escolástica, ao contrário — como eu dizia —, praticavase nas scholæ, surgidas ao lado das grandes catedrais da época, para a preparação do clero, ou em torno de um mestre de teologia e seus discípulos, para formar profissionais da cultura, numa época em que o saber era cada vez mais apreciado. No método dos escolásticos, ocupava lugar central a quæstio, ou seja, o problema que se apresenta ao leitor ao abordar as palavras da Escritura e da Tradição. Ante o problema suscitado por esses textos dignos de acatamento, levantam-se as questões e nasce o debate entre o mestre e os alunos. Nesse debate aparecem, de um lado, os argumentos de autoridade, de outro, os da razão, e o debate se desdobra com o objetivo de encontrar, no fiDezembro 2009 · Flashes de Fátima 7 nal, uma síntese entre a autoridade e a razão para chegar a uma mais profunda compreensão da Palavra de Deus. Diz São Boaventura, a esse respeito, que a teologia é “per additionem” (cf. Commentaria in quatuor libros sententiarum, I, proem., q. 1, concl.), ou seja, a teologia acrescenta a dimensão da razão à Palavra de Deus, criando assim uma fé mais profunda, mais pessoal e, portanto, também mais concreta na vida do homem. Nesse sentido, encontravam-se diversas soluções e tiravam-se conclusões que começavam a construir um sistema de teologia. A organização das quæstiones conduzia à compilação de sínteses cada vez mais extensas, isto é, combinavam-se as diversas quæstiones com as respostas delas resultantes, criando assim uma síntese: as chamadas summæ, que eram, na realidade, amplos tratados teológico-dogmáticos nascidos da confrontação da razão humana com a Palavra de Deus. A teologia escolástica visava apresentar a unidade e a harmonia da Revelação cristã com um método — chamado precisamente “escolástico”, da escola — que confia na razão humana: a gramática e a filologia estão a servi- ço do saber teológico; mais, porém, está a lógica, ou seja, a disciplina que estuda o “funcionamento” do raciocínio humano, de modo a tornar evidente a verdade de uma proposição. Ainda hoje, lendo as summæ escolásticas, fica-se admirado ao constatar a ordem, a clareza, a concatenação lógica dos argumentos e a profundidade de algumas intuições. Por meio da linguagem técnica, atribui-se a cada palavra um significado preciso e, entre o crer e o compreender, se estabelece um recíproco movimento de clarificação. O conhecimento cresce somente quando se ama a verdade Caros irmãos e irmãs, fazendo eco ao convite da Primeira Epístola de Pedro, a teologia escolástica nos estimula a estarmos sempre prontos a responder a qualquer um que nos pergunte a razão de nossa esperança (cf. I Pd 3, 15); a ouvirmos as perguntas como sendo nossas e sermos assim capazes também de dar resposta. Ela nos lembra que há entre a fé e a razão uma amizade natural, fundada na própria ordem da criação. O Servo de Deus João Paulo II escreve no início da encíclica Fides et ra- tio: “A fé e a razão são como as duas asas com as quais o espírito humano alça voo para a contemplação da verdade”. A fé abre-se ao esforço de compreensão por parte da razão; esta, por sua vez, reconhece que a fé não a oprime mas, ao contrário, a impele para horizontes mais amplos e elevados. Insere-se aqui a perene lição da teologia monástica. Fé e razão, em diálogo recíproco, vibram de alegria quando estão ambas animadas pela procura da íntima união com Deus. Quando o amor vivifica a dimensão orante da teologia, o conhecimento, adquirido através da razão, se dilata. A verdade é procurada com humildade, acolhida com enlevo e gratidão: numa palavra, o conhecimento cresce somente quando se ama a verdade. O amor se torna inteligência e a teologia se torna autêntica sabedoria do coração, que orienta e sustenta a fé e a vida dos fiéis. Rezemos, pois, para que o caminho do conhecimento e do aprofundamento dos Mistérios de Deus seja sempre iluminado pelo amor divino. (Discurso na Audiência Geral de 28/10/2009 – Tradução: Arautos do Evangelho) A Igreja no mundo das comunicações Os meios de comunicação devem ser usados para a eficiente difusão da mensagem evangélica, mas, por outro lado, a eficácia do anúncio do Evangelho depende em primeiro lugar da ação do Espírito Santo. A o longo destes dias, detivestes-vos a refletir sobre as novas tecnologias da comunicação. Mesmo um observador pouco atento pode facilmente constatar que no nosso tempo, graças precisamente às mais modernas tecnologias, está em curso uma autên- 8 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 tica revolução no âmbito das comunicações sociais, da qual a Igreja vai tomando consciência cada vez mais responsável. Com efeito, essas tecnologias possibilitam uma comunicação veloz e penetrante, com ampla participação nas ideias e opiniões, e facilitam a aquisição de infor- mações e de notícias de maneira minuciosa e acessível a todos. [...] O Evangelho, única Palavra que pode salvar o homem Na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, deste ano, ao acentuar a importância da qual se L’Osservatore Romano Os participantes da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais foram recebidos em audiência por Bento XVI, na Sala do Consistório revestem as novas tecnologias, incentivei os responsáveis pelos processos comunicativos, em todos os níveis, a promover uma cultura de respeito à dignidade e aos valores da pessoa humana, um diálogo fundamentado na procura sincera da verdade, da amizade não voltada para si mesma, mas capaz de desenvolver os dons de cada um para pô-los a serviço da comunidade humana. A Igreja pratica, assim, aquilo que poderíamos definir como uma “diaconia da cultura” no hodierno “continente digital”, percorrendo seus caminhos para anunciar o Evangelho, a única Palavra que pode salvar o homem. A cultura moderna traz um desafio para a Igreja As grandes mudanças sociais ocorridas nos últimos vinte anos solicitaram e continuam a solicitar uma atenta análise da presença e da ação da Igreja nesse campo. Na encíclica Redemptoris missio (1990), o Servo de Deus João Paulo II recordava que “o uso dos mass media, no entanto, não tem somente a finalidade de multiplicar o anúncio do Evangelho: trata-se de um fato muito mais profundo, porque a própria evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua influência”. E acrescentava: “Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta ‘nova cultura’, criada pelas modernas comunicações” (n. 37 c). Com efeito, a cultura moderna surge, mais que dos conteúdos, do próprio fato da existência de novos modos de comunicação que utilizam linguagens novas, servem-se de novas técnicas e criam novas atitudes psicológicas. Tudo isso constitui um desafio para a Igreja chamada a anunciar o Evangelho aos homens do terceiro milênio, mantendo inalterado o seu conteúdo, mas tornando-o compreensível também por meio dos instrumentos e modalidades próprios à mentalidade e às culturas hodiernas. [...] Importância da comunicação em todo plano pastoral Ao Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais cabe aprofundar cada elemento da nova cultura da mídia, começando pelos aspectos éticos, e executar um serviço de orientação e de guia para ajudar as Igrejas particulares a compreender a importância da comunicação, que já representa um ponto estável e irrenunciável de todo plano pastoral. Por outro lado, precisamente as características dos novos meios tornam possível, também em larga escala e na dimensão globalizada que ela assumiu, uma ação de consulta, de partilha e de coordenação que, além de incrementar uma eficaz difusão da mensagem evangélica, evita por vezes uma inútil dispersão de forças e de recursos. Para os fiéis, porém, a necessária valorização das novas tecnologias midiáticas deve estar sempre sustentada por uma constante visão de Fé, conscientes de que, para além dos meios utilizados, a eficácia do anúncio do Evangelho depende em primeiro lugar da ação do Espírito Santo, que guia a Igreja e o caminho da humanidade. (Excertos do discurso aos participantes da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, 29/10/2009 – Tradução: Arautos do Evangelho) Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 9 Timothy Ring Comentário ao Evangelho Domingo da Sagrada Família Como encontrar Jesus na aridez? Há momentos de nossa vida espiritual em que também nós “perdemos o Menino Jesus”. Ou seja, com ou sem culpa, a graça sensível pode desaparecer. Para reencontrá-Lo, devemos procuráLo por meio da oração e dos seus ensinamentos. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP I – O paradoxo da Sagrada Família Uma bela metáfora oriental, relatada pelo presbítero Hesíquio de Jerusalém (séc. V), narra que a Santíssima Trindade estaria num verdadeiro impasse, por serem as três Pessoas totalmente iguais. E seria preciso haver algum acontecimento pelo qual o Pai pudesse ser louvado enquanto pai, o Filho ser inteiramente filho, e o Espírito Santo dar mais ainda do que já havia dado. Nessa dificuldade, a solução teria surgido no momento em que 10 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 “Encontro do Menino Jesus no Templo” - Santuário do Sagrado Coração de Jesus, São Paulo Nossa Senhora aceitou a encarnação do Verbo em seu virginal corpo, tornando-Se, deste modo, o “complemento da Santíssima Trindade”.1 Para a realização de tão grande mistério, “Deus Pai transmitiu a Maria sua fecundidade, na medida em que a podia receber uma simples criatura, para que Ela pudesse produzir o seu Filho e todos os membros de seu Corpo Místico”, afirma o grande São Luís Grignion de Montfort.2 E o “Espírito Santo, que era estéril em Deus, isto é, não produzia ou- a Evangelho A “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 Quando Ele completou doze anos, subiram para a festa, como de costume. 43 Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem de volta, mas o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44 Pensando que Ele estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-Lo entre os parentes e conhecidos. 45 Não 41 O tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à sua procura. 46 Três dias depois, O encontraram no Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas. 47 Todos os que ouviam o Menino estavam maravilhados com sua inteligência e respostas. 48 Ao vê-Lo, seus pais ficaram muito admirados e sua mãe Lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e Eu estávamos angustia- dos, à tua procura’. 49 Jesus respondeu: ‘Por que Me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’. 50 Eles, porém, não compreenderam as palavras que Lhes dissera. 51 Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e era-Lhes obediente. Sua Mãe, porém, conservava no coração todas essas coisas. 52 E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens (Lc 2, 41-52). Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 11 Na Sagrada Família, o que de si tem menos poder, exerce a autoridade sobre Nossa Senhora, a qual tem a ciência infusa e a plenitude da graça, e sobre o Menino, que é o Autor da graça tra pessoa divina, tornou-Se fecundo em Maria. É com Ela, nEla e dEla que Ele produziu sua obra prima, um Deus feito homem, e que produz todos os dias, até o fim do mundo, os predestinados e os membros do corpo deste Chefe adorável”.3 Assim, o Filho Se teria feito Homem não só para nos redimir, mas também para, com toda propriedade, poder chamar de pai a Primeira Pessoa Divina. Pois faria isto de dentro da natureza humana, inteiramente como filho e devedor, porque, como homem, deveria a Ele sua existência e, portanto, teria obrigação de restituir-Lhe o que dEle recebeu. Eis o motivo pelo qual, segundo Hesíquio, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade aniquilouSe a Si mesma, fazendo-Se semelhante aos homens (cf. Fl 2, 7), e operou, de dentro da natureza humana, a nossa Redenção. Qual novo Adão no Paraíso Terrestre, “encontrou sua liberdade em Se ver aprisionado no seio da Virgem Mãe”.4 Quem é mais, manda menos À primeira vista, a constituição da Sagrada Família é um mistério. Pois nela quem tem mais autoridade é São José, como patriarca e pai, com direito sobre a esposa e sobre o fruto de suas puríssimas entranhas. A esposa é Mãe de Deus, Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Sendo Mãe, tem Ela poder sobre um Deus que Se encarnou em Seu seio virginal e Se fez seu filho. Nosso Senhor Jesus Cristo, como filho, deve obediência a esse pai adotivo, aceitando em tudo a orientação e a formação dada por José; e também à sua Mãe, criatura Sua. Que imenso, insondável e sublime paradoxo! Assim, na ordem natural, José é o chefe; Maria, a esposa e mãe; e Jesus, a criança. Porém, na ordem sobrenatural, o Menino é o Criador e Redentor; Ela, a Medianeira de todas as graças, Rainha do Céu e da Terra; e José, o Patriarca da Igreja. José, o que de si tem menos poder, exerce a autoridade sobre Nossa Senhora, a qual tem a ciência infusa e a plenitude da graça, e sobre o Menino, que é o Autor da graça. Deus ama a hierarquia Por que dispôs Deus essa inversão de papéis? Assim fez para nos dar uma grande lição: Ele ama a hierarquia e deseja que a sociedade humana seja governada por este princípio, do qual o próprio Verbo Encarnado quis dar exemplo. 12 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 Bem podemos imaginar, na pequena Nazaré, a prestatividade, a sacralidade e a calma de Jesus, auxiliando José na carpintaria: serrando madeira, pregando as peças de uma cadeira, quando bastaria um simples ato de vontade Seu, para serem imediatamente produzidos, sem necessidade sequer de matéria prima, os mais esplêndidos móveis, jamais vistos na História. Entretanto, afirma São Basílio, “obedecendo desde sua infância a seus pais, Se submeteu Jesus humilde e respeitosamente a todo trabalho braçal”.5 Assim, logo que São José mandasse — e com que veneração! — o Filho fazer um trabalho, Este Se punha a executá-lo! Pois agindo dessa maneira — honrando o pai que estava na terra e aceitando, por exemplo, fazer um móvel de acordo com as regras da natureza — dava Jesus mais glória a Deus Pai, que O havia enviado. Afirma São Luís Grignion, a propósito de sua obediência a Nossa Senhora: “Jesus Cristo deu mais glória a Deus submetendo-Se a Maria durante trinta anos, do que se tivesse convertido toda a terra pela realização dos mais estupendos milagres”.6 Assim, temos dentro da própria Sagrada Família um impressionante princípio de amor à hierarquia, porque, uma vez que Jesus havia desejado nascer e viver numa família, Ele honrava pai e mãe, mesmo sendo onipotente e o Criador de ambos. Uma vida de aparência normal Não devemos supor que na Sagrada Família tudo era absolutamente místico, sobrenatural e pleno de consolações. Do Menino Jesus não se pode dizer que vivia de fé porque sua alma estava na visão beatífica. Entretanto, quis que seu corpo tivesse o desenvolvimento normal de um ser humano. Assim, por exemplo, não nasceu falando, embora pudesse falar todas as línguas do mundo. Nossa Senhora e São José levavam também uma vida inteiramente comum na aparência e, como todos os homens, sofreram perplexidades e angústias. Disto nos dá um exemplo o Evangelho deste domingo: “Teu pai e Eu estávamos, angustiados, à tua procura”. II – Verdadeiro Deus e verdadeiro homem A descrição de São Lucas é a mais minuciosa apresentada pelos Evangelhos a respeito dos trinta anos de vida oculta de Nosso Senhor, junto aos pais, o que leva a supor que o episódio lhe tenha sido relatado pela própria Nossa Senhora. A Sagrada Família cumpre o preceito “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 Quando Ele completou doze anos, subiram para a festa, como de costume”. Três eram as festas — Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos — nas quais os varões judeus tinham o dever de comparecer ao Templo.7 Tendo Jesus completado os doze anos, era obrigado também a fazêlo, pois, como lembra Fillion, ao atingir essa idade todo jovem israelita se tornava “‘filho do preceito’ ou ‘filho da Lei’, quer dizer, sujeito a todas as prescrições da Lei mosaica, mesmo as mais onerosas, como o jejum e as peregrinações ao Templo”.8 De Nazaré a Jerusalém são vários dias de viagem, feita em comitiva, em caravanas, com as estradas apinhadas pelos que iam cumprir o preceito nessas datas. Era costume os peregrinos passarem uma semana em Jerusalém. Assim, segundo descrições feitas por autores da época, como Flávio Josefo, a cidade se tornava intransitável, superlotada de gente por todos os cantos.9 Dirigiu-Se Jesus à Casa de Deus para prestar culto ao Pai. Que magnífica manifestação de amor à hierarquia, que sublime relacionamento entre as Pessoas da Santíssima Trindade! Quanta alegria teria sentido o Filho do Homem ao cumprir esse preceito da Lei mosaica, por ocasião da festa da Páscoa! E vendo o cordeiro, símbolo de Si mesmo, sendo oferecido ao Pai no Templo, deve ter considerado como, ao redimir o gênero humano pelo sacrifício cruento na Cruz, Ele tornaria realidade essa imolação simbólica. Muito provavelmente caminhou por Jerusalém e fitou com olhos humanos os lugares nos quais Ele iria padecer, e teve um arroubo de amor semelhante àquele “desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco” (Lc 22, 15) que mais tarde manifestaria na Santa Ceia. E Nossa Senhora não O terá acompanhado nesse percurso? Terão discorrido sobre a Paixão? Ignorados pelos homens, eram, contudo, espetáculo para os Anjos do Céu. Sergio Hollmann 41 “Obedecendo desde Sua infância a Seus pais, Se submeteu Jesus humilde e respeitosamente a todo trabalho braçal” (São Basílio) “Jesus carpinteiro” Basílica de Saint Laurent-sur-Sèvre (França) Jesus não lhes deu nenhuma explicação “Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem de volta, mas o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem”. 43 Costumavam os judeus, durante essas viagens, formar duas comitivas, uma de mulheres e outra de homens, e as crianças caminhavam ora com o pai, ora com a mãe. E à noite, pai, mãe e filhos se juntavam para o jantar e algum tempo de convívio antes de cada qual ir descansar. Assim deve ter sido a vinda para Jerusalém e seria também a viagem de retorno, com a inevitável confusão própria à partida de uma caravana que sai de uma cidade superlotada. Isso explica o fato de que somente no final do primeiro dia, Dezembro 2009 · Flashes Não devemos supor que na Sagrada Família tudo era absolutamente místico, sobrenatural e pleno de consolações de Fátima 13 ao se encontrar com São José, Nossa Senhora deu-Se conta do desaparecimento do Menino. Começaram, então, aflitos, a buscá-Lo entre os parentes e conhecidos. Em vão! Aflição de Maria e José “Pensando que Ele estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procuráLo entre os parentes e conhecidos. 45 Não O tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à sua procura”. 44 Absortos pelo sofrimento, nem se deram conta Maria e José da admiração causada por Jesus aos doutores Podemos bem calcular a grande dor de Maria e José, atônitos diante desse fato, para o qual não encontravam explicação. Sabiam que o Messias deveria ensinar toda a Sua doutrina e depois seria condenado à morte. Isto os deixava receosos, como afirma a Glosa, de que “aquilo que Herodes tentara levar a cabo em sua primeira infância, agora, encontrando uma ocasião oportuna, o fizessem outros, matando-O nessa idade”.10 Procuravam-No, então, pelo caminho — com que angústia! —, temendo achá-Lo morto. Ao sofrimento da dúvida sobre a causa do desaparecimento de Jesus, somava-se o da incerteza sobre a ocasião. Como fora acontecer agora? Transida de dor, Nossa Senhora certamente Se lembrava da profecia de Simeão: “Uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2, 35). Preocupação, aflição e angústia, sim, mas numa superior paz de alma. Maria Santíssima talvez Se poria o problema de ser Ela a culpada pelo acontecido, por alguma falta de amor a Deus. A separação do Seu adorável Filho seria, nesse caso, uma divina repreensão. Daí estar Ela na aflição das aflições e sentir no cora- 14 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 ção a espada de dor! Ela e José talvez julgassem não terem sido dignos da guarda daquele Tesouro, de não terem correspondido à missão que receberam. E isso os deixava em grande desolação. Nosso Senhor é ávido por dar testemunho “Três dias depois, O encontraram no Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas. 47 Todos os que ouviam o Menino estavam maravilhados com sua inteligência e respostas”. 46 Constatada a perda de Jesus, Nossa Senhora e São José tiveram de aguardar até o amanhecer para empreender a viagem de volta. Quando chegaram a Jerusalém, anoitecera já novamente; e, assim, só no terceiro dia puderam ir ao Templo. Bem sabia Ela que era esse o lugar mais provável onde achar o Filho. Quando afinal O encontraram, a Virgem Mãe e São José, absortos pelo sofrimento, nem se deram conta da admiração causada pelo Menino Jesus aos doutores — “maravilhados com sua inteligência e respostas” —, como ressalta o grande exegeta Lagrange: “A aprovação dos doutores seria de molde a lisonjear os pais, e sobretudo teria dado ocasião à doce complacência de uma mãe; mas Maria estava assumida pela dor e tomada de surpresa”.11 Diante dos mestres da Lei, o Menino Jesus estava dando testemunho de Sua missão, dezoito anos antes de iniciar Sua vida pública, conforme comenta São Beda: “Para provar que era Deus, respondia-lhes de uma maneira sublime quando O interrogavam”.12 Agindo assim, estava ajudando aquelas pessoas a se aperceberem de que chegara a hora do Messias e da libertação do povo judeu. Libertação, não do domínio romano, mas espiritual, em ordem à salvação eterna: as portas do Céu iriam ser abertas! Maria pergunta com admiração “Ao vê-Lo, seus pais ficaram muito admirados e sua Mãe Lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e Eu estávamos, angustiados, à tua procura’”. 48 A admiração de que nos fala este versículo pode ser entendida em dois sentidos. Primeiro no sentido explicitado por São Tomás de Aquino: estavam eles, em meio aos efeitos, à procura da causa, da razão.13 Segundo, ficaram admirados ao encontrar o Menino cumprindo Sua missão em tão tenra idade e presenciar a manifestação que Ele dava de Si mesmo. Maria e José dão-nos aqui exemplo de como devemos nos comportar quando a graça sensível se afastar de nós. Antes de tudo, evitar qualquer atitude de revolta; se aconteceu, foi porque Deus quis. São os percalços da vida, os dramas, as dificuldades que a Providência permite para unir-nos mais a Ela. Aceitemos tudo com o mesmo estado de espírito dos pais de Jesus. E quando revirmos Nosso Senhor, teremos também admiração. Na pergunta feita por Nossa Senhora, não se nota uma manifestação de queixa. Com sua retíssima consciência, Ela demonstra aflição e perplexidade, desejando uma explicação para, assim, melhor servir a Deus. Essa deve ser também nossa atitude, resignada e amorosa, face aos problemas que se nos deparam ao longo da vida. Resposta segundo a natureza divina “Jesus respondeu: ‘Por que Me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’”. 49 Em sua pergunta, na qual transparece bem a preocupação de mãe em relação ao filho, a Virgem Maria toma em consideração a natureza humana de Jesus. E Ele, respondendo por meio de outra pergunta chama a atenção para a Sua natureza divina. Por essa resposta — a qual, segundo Fillion, constituía “o programa de todo o seu ministério”14 —, podemos conjecturar ter o Menino Jesus instruído Nossa Senhora a respeito de como Ele deveria cumprir a vontade do Pai. E de como esse chamado divino superava qualquer laço de sangue. Ele quis dizer a seus pais terrenos que Sua missão divina estava acima dos vínculos familiares. Mas, com isso, estaria Ele reprovando Maria e José porque se colocaram como seus pais? São Beda faz um inspirado comentário: “Não os repreende porque O buscam como filho, mas os faz levantar os olhos da alma para verem o que Ele deve Àquele de quem é Filho eterno”.15 Jesus Cristo tinha uma missão a cumprir e queria que seus pais terrenos compreendessem que tudo devia se subordinar ao Pai Celeste. O exemplo de Maria diante do não entender “Eles, porém, não compreenderam as palavras que lhes dissera”. 50 Por que Nossa Senhora e São José não entenderam? Deus não lhes deu luzes para isso naquele momento, a fim de que pudessem ter maior mérito, compreendendo só mais tarde as razões do comportamento do Menino Jesus. Maria não entendeu as palavras de seu Filho, mas, como se vê no versículo seguinte, conservava no seu coração “todas essas coisas”, com amor, sabendo que havia uma lição por do desse episódio. Essa deve ser nossa atitude em relação a tudo quanto nos transcende e que porventura não consigamos entender em nossa vida espiritual: com paz e confiança, guardar os acontecimentos no coração e refletir sobre eles ao longo do tempo, lembrando-nos da promessa de Nosso Senhor: “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai vos enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos lembrará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26). Mais cedo ou mais tarde, o Espírito Santo nos fará compreender, na medida que isso for útil para nossa santificação e o cumprimento de nossa missão. Neste episódio, ensina-nos também o Divino Mestre que, por vezes, até nossos parentes podem não entender alguma atitude nossa, de firme decisão de cumprir um dever moral ou religioso. Portanto, se isso acontecer, não nos surpreendamos. Na pergunta feita por Nossa Senhora, Ela demonstra aflição e perplexidade, desejando uma explicação para, assim, melhor servir a Deus O imenso valor do recolhimento “Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e era-lhes obediente. Sua mãe, porém, conservava no coração todas essas coisas”. 51 Visando provavelmente evitar a interpretação errônea de que, para obedecer ao Pai Eterno, é preciso desobedecer aos pais terrenos, São Lucas, com muita delicadeza, lembra logo a seguir que Nosso Senhor passou o resto da vida submisso a Maria e José. Pois, como afirma São Beda: “O que haveria de fazer o Mestre da virtude, seDezembro 2009 · Flashes de Fátima 15 não cumprir esse dever de piedade? O que haveria de fazer entre nós senão aquilo mesmo que desejava que fizéssemos?”.16 Portanto, Ele aceitou que O levassem novamente para Nazaré e continuou a ser-lhes obediente até o início de Sua vida pública, quase duas décadas depois. O que significaria esse longo período de vida oculta? Bem pode exprimir ele o imenso valor do recolhimento. Jesus, evidentemente, já estava preparado para cumprir a vontade do Pai. Entretanto, depois de afirmar que veio cumprir essa vontade, Ele segue Nossa Senhora e São José, e fica mais dezoito anos na vida oculta e recolhida. Não esqueçamos, também nós, que o recolhimento, a contemplação e o isolamento são excelentes meios de nos prepararmos para executar bem nossas ações. Nunca houve uma comunidade contemplativa excelsa como a de Nazaré: Jesus, Maria e José! Impossível imaginar algo supe- Recolhimento, contemplação e isolamento são excelentes meios de nos prepararmos para executar bem nossas ações rior. É por isso que, como lembra o grande teólogo padre Antonio Royo Marín, “alguns Santos Padres se comprazem em dizer que a principal ocupação de Jesus em Nazaré foi a doce tarefa de santificar cada vez mais sua queridíssima Mãe, Maria, e seu pai adotivo, São José. Nada mais sublime, e mais lógico e natural”.17 Crescimento em sabedoria, estatura e graça “E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens”. 52 Santo Agostinho, São Tomás e a generalidade dos teólogos afirmam que Jesus possuía em grau supremo, desde o primeiro instante de sua concepção, a graça, a sabedoria e a santidade.18 E não só as possuía, mas era em substância a Graça, a Sabedoria e a própria Santidade. No entanto, Ele crescia fisicamente, de ano em ano, tomando configuração de adulto, “mas sem exceder exteriormente as leis gerais do desenvolvimento humano”, sublinha Fillion.19 De acordo com a idade, ia Ele manifestando mais a Graça e a Sabedoria. Não Se tornava maior em substância, mas sim em manifestação. Isso, segundo o Doutor Angélico, porque “à medida que avançava em idade, fazia obras mais perfeitas para demonstrar que era verdadeiro homem, tanto no referente a Deus como no tocante aos homens”.20 François Boulay Nunca houve uma comunidade contemplativa excelsa como a de Nazaré: Jesus, Maria e José! Impossível imaginar algo superior. 16 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 "Jesus entre os Doutores" - Oratório São José, Montreal (Canadá) 1 Cf. JOURDAIN, Pe. Z. C. Somme des grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer Ed., 1900, t. I, p. 56. 2 MONTFORT, São Luís G. de. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Petrópolis: Vozes, 1994, n. 17. 3 Idem, n. 20. 4 Idem, n. 18. 5 SAN BASILIO MAGNO. In lib. relig. apud AQUINO, Santo Tomás de. Catena Áurea. Buenos Aires: Cursos de Cultura Católica, s.d., p. 73. 6 MONTFORT. Op. cit., n. 18. 7 Cf. Ex 23, 14; 24, 23; Dt 16, 16. Paulo Mikio III – Oração e doutrina Que aplicação tem esta passagem do Evangelho para nossa vida espiritual? Há momentos de nossa existência nos quais temos a sensação de ter “perdido o Menino Jesus”, isto é, com ou sem culpa nossa, a consolação espiritual desaparece e nos sentimos desamparados. O que fazer quando percebemos que estamos sem graças sensíveis, sem aquilo que nos dava ânimo e sustentação para praticar a virtude? Esta passagem do Evangelho ensina-nos a imitar Maria e José: ir atrás do Menino Jesus, isto é, pôr-se à procura da graça sensível, quando ela se retirar. Quando estivermos aflitos, na aridez, devemos procurar Jesus no Santíssimo Sacramento. Não há nada, absolutamente nada do necessário para nossa santificação que, se pedirmos a Jesus Eucarístico, não acabemos por obter. Contudo, não nos esqueçamos de que, no Templo, Nosso Senhor estava entre os mestres da Lei, o que bem pode significar a importância da doutrina para nos sustentar na hora da provação. Daí decorre para nós a necessidade de uma boa e sólida formação doutrinária. Como quem vai fazer uma longa viagem providencia com antecedência documentos, roupas apropriadas e tudo o mais, assim precisamos fazer nós: rezar muito e conhecer bem a doutrina, a fim de estarmos preparados para atravessar os períodos de aridez. Se tivermos os princípios bem vincados na alma, quando bater o vento da provação, as folhas estarão firmes na árvore da Fé. Quando estivermos aflitos, na aridez, devemos procurar Jesus no Santíssimo Sacramento 8 Cf. apud TUYA, OP, Pe. Manuel de. Biblia Comentada – V Evangelios. Madrid: BAC, 1954, p. 781. 9 Cf. Idem, ibidem. 10 11 12 BEDA, San. Apud AQUINO, Santo Tomás de. Op. cit., p. 70. 13 AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica, I-II, q. 32, a. 8, Resp.: “A admiração é um certo desejo de saber, que surge no homem porque vê o efeito e ignora a causa”. 14 Apud AQUINO, Santo Tomás de. Op. cit., p. 71. LAGRANGE, OP, Pe. Joseph M. Vida de Jesucristo según los Evangelios. Madrid: Edibesa, 1999, p. 52. FILLION, Louis-Claude. Nuestro Señor Jesucristo según los Evangelios. Madrid: Edibesa, 2000, p. 88. 15 BEDA, San. Apud AQUINO, Santo Tomás de. Op. cit., p. 71. 16 Idem, p. 72. 17 ROYO MARÍN, OP, Pe. Antonio. Jesucristo y la vida cristiana. Madrid: BAC, 1961, p. 274. 18 Cf. por exemplo: SANTO AGOSTINHO, In Sermone LVII, de diversis; Tract. 108 in Ioan., n. 5; De trinitate, I, 15, c. 26, n. 4; AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q. 7, a. 12. 19 FILLION. Op. cit., p. 86. 20 AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q.7, a.12, ad 3. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 17 O verdadeiro sig Difícil é, num mundo marcado pelo laicismo, ter bem presentes o autêntico significado do Santo Natal e o benefício incomensurável que representou para os homens a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Desse modo singelo resumiu o Discípulo Amado o maior acontecimento da História. Suas despretensiosas palavras sintetizam o rico e insondável conteúdo do grandioso mistério comemorado a cada 25 de dezembro: na obscuridade das trevas do paganismo, raiou a aurora de nossa salvação. Fez-Se homem o Esperado das nações, Aquele que tinha sido anunciado pelos profetas. Gustavo Kralj Cenário tomado pelo sobrenatural Na noite em que Jesus veio ao mundo, pairava sobre Belém uma atmosfera de paz e alegria. A natureza parecia estar em júbilo enquanto, dentro de uma gruta inóspita, um santo casal contemplava seu Filho recém-nascido. Ela é a Mãe das mães, concebida sem pecado original, criatura perfeita, na qual o Criador depositou toda a graça. Ao seu lado encontra-se São José, esposo castíssimo, varão justo cujo amor a Deus, integridade e sabedoria o tornam digno de tão augusta Esposa. E a Criança que ambos contemplam é o próprio Deus, que assume nossa natureza para dar a maior prova possível de seu amor à humanidade. 18 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 Quão sublime atmosfera envolvia aquele cenário paupérrimo! O ambiente no qual nasceu o Menino Deus devia estar tão tomado pelo sobrenatural que, se alguém tivesse a dita de entrar naquela gruta, ficaria imediatamente arrebatado por toda sorte de graças. Foi o que ocorreu com os pastores. Após o aviso dos Anjos, correram em direção à gruta e lá encontraram o Rei do Universo deitado sobre palhas. Abismados pela grandeza dessa cena, que contemplavam também com os olhos da Fé, não tiveram outra atitude senão a da adoração. Que extraordinária dádiva receberam, sendo os primeiros a contemplar o Criador do Céu e da Terra feito homem, envolto em faixas, numa manjedoura! Deus quis apresentar-Se de forma exemplarmente humilde Considerando as imponentes manifestações da natureza que acompanhavam as intervenções de Deus no Antigo Testamento — o mar se abre, o monte fumega, o fogo cai do céu e reduz cidades a cinzas —, resulta surpreendente constatar a humildade e discrição com que Cristo veio ao mundo. Não teria sido mais condizente com a grandeza divina que, na noite Diác. Leandro Cesar Ribeiro, EP de Natal, sinais magníficos marcassem o acontecimento no Céu e na Terra? Não poderia, ao menos, ter nascido Jesus num magnífico palácio e convocado os maiores potentados da Terra para prestar-Lhe homenagens? Bastar-Lhe-ia um simples ato de vontade para que isso acontecesse... Mas, não! O Verbo preferiu a gruta a um palácio; quis ser adorado por pobres pastores, ao invés de grandes senhores; aqueceu-Se com o bafo dos animais e a rudeza das palhas, em lugar de usar ricas vestes e dourados braseiros. Nem mesmo quis dar ordem ao frio para que não O atingisse. Num sublime paradoxo, desejava a Majestade infinita apresentar-Se de forma exemplarmente humilde. Pois, apesar das pobres aparências, Aquele Menino era a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. NEle dava-se a união hipostática da natureza divina com a humana, conforme explica o renomado padre Boulenger: “União é o estado de duas coisas que se acham juntas. Ela pode realizar-se ora nas naturezas, por exemplo, quando o corpo e a alma unemse para formar uma só natureza humana; e ora na pessoa, quando se unem duas naturezas na mesma pes- soa. Esta última união chama-se hipostática, porque, em grego, os dois termos, hipóstase (suporte) e pessoa, têm igual significação teológica”.1 E, depois da união, essas duas naturezas permaneceram perfeitamente íntegras e inconfundíveis na Pessoa de Cristo, que não é humana, mas divina. Por esse motivo é Ele chamado Homem-Deus. Abismo intransponível Mas, por que quis a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnarSe em uma tão inferior natureza? Os nossos primeiros pais foram criados no Paraíso Terrestre em estado de inocência original, portanto em justiça e santidade.2 Além disso, na sua infinita bondade, Deus conferiu a Adão dons de três qualidades: naturais, estando todas as propriedades do corpo e da alma perfeitamente ordenadas para alcançar o seu fim natural; sobrenaturais, a graça santificante, ou seja, a participação na própria vida de Deus, e a predestinação à visão de Deus na eterna bem-aventurança; e preternaturais, tais como a ciência infusa, o domínio das paixões e a imortalidade, que constituem o dom de integridade. Dezembro 2009 · Flashes Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana nificado do Natal “Madonna delle Ombre” (detalhe), por Fra Angélico – Museu de São Marcos – Florença (Itália) Não poderia ter nascido Jesus num magnífico palácio e convocado os maiores potentados da Terra para prestar-Lhe homenagens? de Fátima 19 de integridade; mas não está provado que seja mais fraca do que teria sido no estado de natureza”.3 O Pecado Original abriu entre Deus e os homens um abismo intransponível. As portas do Céu se fecharam e o homem contingente só podia oferecer a Deus uma reparação imperfeita da ofensa cometida. E o Filho ofereceu-Se ao Pai para, “fazendo-Se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 8), restituir ao homem a graça perdida com o pecado. O próprio Criador fazia-Se criatura para, com uma generosidade inefável, saldar nossa dívida. O caminho da glória passa pela Cruz Entretanto, por que quis Jesus sofrer o desprezo dos seus coetâneos e os tormentos da Paixão? Estando hipostaticamente unido à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, qualquer gesto da Sua natureza humana poderia ter redimido a humanidade inteira. Um simples ato de vontade de Cristo teria bastado para obter de Deus o perdão de todos os nossos pecados. Mais uma vez, deparamo-nos com um sublime paradoxo. Com o exemplo de Sua Vida e Paixão, queria Jesus ensinar-nos que, neste vale de lá- Timothy Ring Como contrapartida a esses imensos benefícios, foi apresentada ao homem uma prova. Devia ele cumprir de modo exímio a lei divina, guiando-se pelas exigências da lei natural gravada no seu coração, e respeitar uma única norma concreta que Deus lhe dera: a proibição de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, plantada no centro do Jardim do Éden (cf. Gn 2, 9-17). Narra-nos a Sagrada Escritura como a serpente tentou Eva, como caíram nossos primeiros pais e como foram expulsos do Paraíso (cf. Gn 3, 1-23). Em consequência do pecado, boa parte desses privilégios lhes foram retirados. Mas Deus, em sua infinita misericórdia, manteve-lhes os privilégios naturais, como descreve o douto padre Tanquerey: “Contentou-Se de os despojar dos privilégios especiais que lhes tinha conferido, isto é, do dom de integridade e da graça habitual: conservam pois, a natureza e os seus privilégios naturais. É certo que a vontade ficou enfraquecida, se a compararmos ao que era com o dom grimas, a verdadeira glória só vem da dor. E como o Pai desejava para Seu Filho o máximo grau de glória, permitiu que Ele passasse pelo extremo limite do sofrimento. “O Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos” (Mt 20, 28). Já na manjedoura em Belém, nosso Salvador estava ciente de ter vindo ao mundo para expiar nossos pecados. É esse o motivo pelo qual em muitos presépios o Menino Deus nos é apresentado com os braços abertos em cruz. Durante toda a sua vida, de Belém ao Gólgota, Jesus não fez outra coisa senão avançar ao encontro do Sacrifício Supremo que Lhe acarretaria o fastígio da glória. A Terra toda foi renovada Pode haver ser humano mais frágil do que uma criança, habitação mais simples do que uma gruta e berço mais precário do que uma manjedoura? Entretanto, a Criança que contemplamos deitada sobre palhas na gruta de Belém haveria de alterar completamente o rumo dos acontecimentos terrenos. Afirma o historiador austríaco João Batista Weiss: “Cristo é o centro dos acontecimentos da História. O mundo antigo O esperou; o mundo moderno e Com o exemplo de Sua Vida e Paixão, queria Jesus ensinar-nos que, neste vale de lágrimas, a verdadeira glória só vem da dor. "Menino Jesus de Pichincha" Quito, Equador 20 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 Gustavo Kralj A vinda de Jesus ao mundo não só abriu-nos as portas do Céu e nos trouxe a Salvação, mas também renovou toda a Terra Vitral da igreja de Saint Mary, Waltham MA (Estados Unidos) todo o porvir descansam sobre Ele. A Redenção da humanidade por Cristo é a maior façanha da História universal; sua Vida, a memória mais alta e bela que possui a humanidade; sua doutrina, a medida com que se há de apreciar todas as coisas”.4 Difícil é, num mundo marcado pelo relativismo e pelo laicismo — quando não pelo ateísmo —, ter bem presentes o verdadeiro significado do Santo Natal e o benefício incomensurável que representou para os homens a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Cristo era o varão prometido a Adão logo depois de sua queda, o Messias anunciado durante séculos pelos profetas. Mas a realidade transcendeu qualquer imaginação humana: quem poderia excogitar que Ele seria o próprio Deus encarnado? A vinda de Jesus ao mundo não só abriu-nos as portas do Céu e nos trouxe a Salvação, mas também renovou toda a Terra. Diz São Tomás que Nosso Senhor quis ser batizado, entre outras razões, para santificar as águas.5 E o mesmo aconteceu com todos os outros elementos: a terra foi 1 BOULENGER, A. Manual de instrução religiosa. São Paulo: Ed. Paulo de Azevedo, 1927, v. 1, p. 130. 3 TANQUEREY, Adolphe. Compêndio de teologia ascética e mística. 6. ed. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1961, p. 35. 2 Cf. AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica I, q. 95, a. 3. 4 WEISS, Juan B. Historia Universal. 5. ed. Barcelona: Tipografía La Educación, 1927, vol. 1, p. 29. santificada porque seus divinos pés a pisaram; o ar, porque Ele o respirou; o fogo ardeu com maior vigor e pureza. Podemos sem dúvida dizer que este nosso mundo nunca mais foi o mesmo depois de nele ter vivido, feito homem, o próprio Criador. Não é por acaso que se contam os anos a partir do nascimento de Cristo, pois Ele, realmente, divide a História em duas vertentes. Antes dEle a humanidade era uma, e depois passou a ser diametralmente outra. São duas histórias. Quase poderíamos afirmar serem dois universos! “Era conveniente que Cristo fosse batizado; 1º porque, como diz Ambrósio: ‘O Senhor foi batizado não porque quisesse ser purificado, mas querendo purificar as águas, para que limpas pela carne de Cristo, que não co- 5 nheceu o pecado, tivessem a força do batismo’. E Crisóstomo acrescenta: ‘Para deixá-las santificadas para os que haveriam de ser batizados depois’” (Suma Teológica III, q. 39, a.1, Resp.). Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 21 Entrevista com o Prof. Gonzalo Soto Posada Ardor, símbolo e conceito Tomando por base Dionísio Areopagita e São Tomás de Aquino, o Professor Gonzalo Soto, catedrático de Filosofia Antiga e Medieval na Universidade Pontifícia Bolivariana, de Medellín, analisa a profunda inter-relação entre teologia mística, conceitual e simbólica, ressaltando a importância dessa união para o pensamento e a cultura atuais. Pe. Fernando Néstor Gioia Otero, EP Como nasceu no senhor o desejo de se dedicar ao estudo da Filosofia Antiga e Medieval? Fiquei muito impressionado ao ouvir dizer, no curso universitário, que a Idade Média foi uma época de obscurantismo e de trevas, e que as produções científicas, filosóficas e teológicas medievais eram uma barbárie. Pus-me então a estudar essa era histórica, em suas expressões filosóficas e teológicas, bem como em suas manifestações literárias e culturais, sobretudo o românico e o gótico. E fui encontrando um mundo maravilhoso e deslumbrante, um mundo provocante e incitante, um mundo que de modo algum se parecia com o que eu ouvia dizer a respeito da Idade Média, ou seja, que só se devia estudá-la para melhor desprezá-la. Era tudo ao contrário! Comecei a apreciá-la e dar-lhe valor. Houve sem dúvida problemas no mundo medieval, como em qualquer época histórica. Isso, porém, não me impediu de apaixonar-me por esse mundo até o ponto de, em meus estudos, falar de uma segunda natureza medieval. Minha tese de doutorado, eu a fiz sobre um autor medieval: Isidoro de Sevilha e sua obra Etimologias. Estudei especialmente três místicos do mundo medieval: Santo Agostinho, Dionísio Areopagita e o mestre Eckhart, na transição do século XIII para o XIV. E como não se pode entender o mundo medieval sem o mundo antigo, fui levado a estudar a cultura e a filosofia gregas, porque, em última instância, foi no diálogo entre o helenismo e o Cristianismo que a cultura medieval se tornou grandiosa em filosofia, em teologia, em arte e em literatura. De onde veio seu interesse pela obra de Dionísio? No final de sua vida, Tomás de Aquino teve uma experiência mística após a qual não voltou a escrever. Conforme revelou a um assistente, ele considerava ut palea (como palha), néscio e rude tudo quanto havia escrito. Portanto, depois dessa experiência mística, Tomás julgou ser uma 22 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 tolice a Suma Teológica e toda a sua produção intelectual... “Então, o que é a mística?” — eis a pergunta que me ocorreu. E para obter resposta, o único meio era recorrer aos místicos. Já me tinha dado conta de que na obra de Tomás não só há um belo comentário ao livro Dos Nomes Divinos, de Dionísio, mas também que Tomás o cita muitas vezes em sua obra. Assim, a experiência mística de Tomás levoume a Dionísio, que considero um dos grandes místicos do Cristianismo, tanto oriental como ocidental. Em Dionísio aprendi que, em última análise, a experiência mística é uma experiência do inefável, do incognoscível, do inominável, na qual subsiste apenas a nuvem do não-saber; ou seja, a alma precisa pôr entre parênteses tanto os símbolos quanto os conceitos, para, a partir de uma teologia do silêncio, entrar em união gozosa com Deus. Isso é o que encontrei lendo Dionísio, e isso levou-me a Santo Agostinho e depois ao mestre Eckhart. Iván Tefel “Ao estudar a Idade Média fui encontrando um mundo maravilhoso e deslumbrante, um mundo que de modo algum se parecia com o que eu ouvia dizer” Nota-se a presença de Dionísio em todos os místicos. Não estudei São João da Cruz nem Santa Teresa a partir de Dionísio, mas em seu livro Glória, o Prof. Urs von Balthasar remete o leitor para um artigo do Dictionnaire de Espiritualité, dizendo que pela primeira vez nós, católicos, havíamos elaborado um bom trabalho sobre Dionísio. Nesse artigo estuda-se a presença de Dionísio na mística cristã, desde a era medieval até a contemporânea, mostrando sua influência em toda a mística cristã, não só do mundo oriental — grego, russo —, mas também do mundo ocidental. Felizmente, porém, Dionísio afirma que deve-se fazer também teologia simbólica e conceitual. Ou seja, além da experiência mística, o teólogo deve recorrer a símbolos e a conceitos, porque, seguindo o inefável e o inexprimível, há uma teologia que se chama positiva — a teologia simbólica e conceitual — na qual, através dos nomes, dos conceitos e dos símbolos, alguma coisa se pode vislumbrar, se pode saber, de Deus. Pode-se fazer hoje teologia abstraindo-se do passado? Sempre sustentei que, embora o presente seja irredutível ao passado, é inexplicável sem o passado, assim como o filho, sendo embora irredutível ao pai, é inexplicável sem ele. Por esse motivo, sustento que o mun- do moderno é irredutível ao medieval, mas é, ao mesmo tempo, inexplicável sem o mundo medieval. Em outros termos, o mundo moderno faz-se com a Idade Média ou contra a Idade Média, mas não sem a Idade Média. Friedrich Nietzsche, pensador crítico com o Cristianismo, reconhece que o mundo ocidental é contra Platão ou com Platão, não porém sem Platão, incluindo aí o platonismo de Agostinho. Poderíamos dizer que para Nietzsche mesmo toda a modernidade é contra Santo Agostinho ou com Santo Agostinho, mas nunca sem Santo Agostinho. Por isso não compartilho da tese das descontinuidades, ou daquilo que tem sido chamado de rupturas históricas, ou do estabelecimento de paradigmas que rompem com uma época anterior. Isso porque toda época, embora seja irredutível à época anterior, é inexplicável sem ela. Então, há uma descontinuidade contínua, não uma ruptura. O mundo moderno não pode explicarse sem o mundo medieval, embora não seja redutível ao mundo medieval. Nesse sentido, creio que a partir da encíclica Æterni Patris, de Leão XIII, houve uma renovação do tomismo que, de um modo ou de outro, havia sido lançado à cesta de lixo pelo racionalismo esclarecido e inclusive por aqueles cristãos para os quais o mundo medieval era obscurantista... Para mim, a Æterni Patris tem uma dimensão muito fecunda, que é de pôr Tomás em diálogo com as exigências do mundo naquele momento do século XIX. Isso dá origem ao célebre neotomismo, ou à chamada neoescolástica, que volta a Tomás. Mas a um Tomás que, sendo embora da Idade Média, põe-se em relação com a fenomenologia, ou com o positivismo, ou com o estruturalismo, ou com o existencialismo. A Æterni Patris estabelece um diálogo muito fecundo e aberto entre o moderno e o medieval. Qual é o principal contributo da Idade Média à Filosofia do século XXI? Uma das vias mais fecundas, creio eu, não só em termos filosóficos, mas sobretudo teológicos, é que em Tomás, e dialogando com Dionísio, encontramos os três tipos de teologia: simbólica, conceitual e mística. A teologia deve trabalhar em torno dos símbolos porque, em última análise, o pensamento do homem passa por uma hermenêutica do simbólico: somos animais simbólicos; as mediações simbólicas são o que nos permite habitar o mundo. Em outras palavras, a cultura é o conjunto de mediações simbólicas que nós, homens, inventamos para fazer do mundo nossa morada, em termos de cultura. Entretanto, Dionísio e São Tomás falam também de uma cultura conceitual, ou seja, deve-se elaborar logos e conceitos, produções conceituais a res- Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 23 “Não tenham medo de filosofar, não tenham medo de teologizar através de símbolos e conceitos, porque isso conduz ao amor a Deus” André Velozo peito de Deus. Em termos de Dionísio, “Nomes Divinos”. Além disso, porém, há uma teologia mística. Ela não suprime as outras duas: a simbólica e a conceitual. Para falar da teologia mística, costumo exemplificar com o episódio dos discípulos de Emaús, narrado por São Lucas. Quando iam caminhando, os discípulos encontraram-se com o personagem desconhecido e este começou a fazer teologia simbólica e conceitual com eles. Eu diria que atua como um exegeta, como um intérprete: vale-se de símbolos e conceitos para explicar-lhes as Sagradas Escrituras. Mas o relato termina assim: “Não se nos abrasava o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 32). Esse abrasar é o que eu chamo de teologia mística: inflamar os corações através do estudo dos símbolos e dos conceitos, acerca de Deus. Então, o bonito de Dionísio e de Tomás de Aquino — e creio ser esta a grande mensagem para todos os tempos, inclusive hoje — é que quem trabalha sobre símbolos, e quem trabalha sobre conceitos, deve terminar ardendo na fruição, no gozo, na teologia do silêncio. É preciso, portanto, que esses três tipos de teologia constituam um só corpo... Sim, a mística é teologia, é um logos a respeito de Deus. Depois de produzir esse logos, é preciso explicálo em símbolos e conceitos. Aparece então a luz, a luz radiosa que ofusca, aparece o significado do perfume que se difunde, aparece o sentido de bemestar. Dirá Santo Agostinho: “Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por Ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de Ti. Tu me tocas- las conceitos e possibilidades de experiência mística. Quase que nos abre uma via para a santidade... te, e agora estou ardendo no desejo de tua paz” (Confissões, l. 10, c. 27). Nesse sentido, a mensagem que vejo tanto em Tomás de Aquino quanto em Dionísio é que deve-se fazer teologia simbólica, teologia conceitual e teologia mística, numa unidade na diversidade. Quando se estabelecem abismos entre uma e outra — ou seja, entre os símbolos, os conceitos e o místico — creio que se começa por esses abismos a atentar contra a totalidade do homem. Se alguém a divide em compartimentos, atenta contra a unidade na variedade. E recordemos, era o grande lema deste grande neotomista que foi Maritain, ao escrever seu belo texto: Distinguir para unir – Os graus do saber. Julgo ser esta a grande mensagem de Tomás: distinguir para unir, unidade na diversidade. Quem se detém na teologia mística, separa o místico do conceitual e do simbólico. Quem fica só no símbolo, só no conceito ou só no ardor, passa — digamos assim — a coxear. Então, parece-me que o episódio de Emaús, Dionísio e Tomás de Aquino o realizam plenamente. Aí se encontra a genialidade desses autores e a grande aplicação que vejo para sua obra num mundo marcado por símbolos. Ninguém duvida de estarmos na época da imagem; é preciso tomar essas imagens e torná- 24 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 Quando uma magnífica construção conceitual filosófica ou teológica, como forma de saber, não se transforma em forma de viver... Eu às vezes lanço duas expressões: podemos ser excelentes teólogos, mas muito maus cristãos; ou podemos ser ótimos filósofos, mas péssimas pessoas. Não! É preciso ser excelente teólogo e muito bom cristão; e deve-se ser ótimo filósofo e ao mesmo tempo ótima pessoa. E essa é a dimensão do humanismo cristão de Dionísio e de São Tomás. A meu ver, neste ponto, São Tomás e Dionísio nos legaram uma mensagem tão fundamental que isto não é um patrimônio só do Cristianismo, mas de toda a humanidade. É preciso continuar construindo teologia simbólica, teologia conceitual e teologia do ardor — ou, na linguagem de Dionísio, teologia afirmativa e teologia negativa — em diálogo com todas as exigências. Dionísio dialogou com Proclo e Plotino. Tomás dialogou com Aristóteles, Averróis e Avicena. Hoje deve-se pôr em diálogo o símbolo, o conceito e o ardor do coração, com os Proclos, os Plotinos e os Aristóteles atuais, num desafio para o exercício filosófico e teológico do cristão. É o que fizeram Dionísio e São Tomás de Aquino. Nesses sinais dos tempos, é preciso inculturar o Evangelho e evangelizar as culturas. E julgo que essa é a grande mensagem de Dionísio: inculturou o Evangelho e evan- Como situaria aqui o diálogo entre Fé e razão? Quando alguém põe a Fé de um lado e a razão de outro ou, por assim dizer, põe os símbolos de um lado, os conceitos de outro e o ardor do coração de outro, esse já não é homem. Diz Kant que as intuições sem os conceitos são cegas, e os conceitos sem as intuições são vazios. Às vezes atrevo-me a dizer — embora não no sentido kantiano — que a cultura sem Fé é cega, mas esta sem a cultura é vazia. O mesmo se poderia dizer para efeitos de Fé e razão: a razão sem a Fé é cega, mas a Fé sem a razão é vazia. Então, é o mesmo: os conceitos e os símbolos sem o ardor místico, isso com certeza será cegueira; mas o ardor místico sem os conceitos e os símbolos, será vazio. Não se pode afirmar, então, que Fra Angélico traduziu em pinturas os escritos de São Tomás? Em Dionísio, um dos nomes fundamentais de Deus — ao lado N ascido em 1949, na cidade de Caldas (Antioquia – Colômbia), Prof. Gonzalo Soto herdou de seu pai a paixão pela literatura, pela história e pelas línguas grega e latina. Após fazer seus primeiros estudos no seminário menor de Medellín, graduou-se em Filosofia pela Universidade Pontifícia Bolivariana. Aos 22 anos, foi nomeado vice-decano da Faculdade de Filosofia e Letras dessa instituição e, aos 23, decano da mesma. de amor, de luz, de bondade — é o pulchrum latino. Isidoro e Dionísio faziam uma etimologia muito bonita. Calor vem de caleo, e o verbo caleo significa incitar, provocar, chamar, convocar, atrair, entusiasmar. Nesse sentido, os símbolos nos quais o pulchrum se manifesta, incitam, provocam a que o coração se inflame, se abrase. Santo Agostinho diz: “fulguraste e brilhaste [...] e agora estou ardendo no desejo de tua paz”. Parece-me extraordinária essa comparação de como Fra Angélico pintou aquilo que São Tomás escreveu, porque — pelo que conheço de Fra Angélico — a pulcritude de Fra Angélico, em termos do pulchrum, para efeitos da beleza, está ligada à luminosidade das cores. Até mesmo as cores “opacas” estão brilhantemente iluminadas. Na minha opinião, isso é tomista e dionisiano. Deus é luz, Deus é fulgor, Deus é esplendor, Deus é fogo e por isso incita, chama, entusiasma, atrai. Fra Angélico deveria ser exposto na internet, nos jornais e revistas, nas igrejas. É preciso difundilo! Porque a luminosidade de Fra Angélico estimula o ardor e incita, por seu esplendor, à elevação mística. Contudo, o bonito em Fra Angélico é que, não só leva ao ardor, mas combina o símbolo e o conceito. Então, em Fra Angélico encon- Em 1979, obteve o doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, após um longo e frutífero período de estudos na Cidade Eterna. Nos últimos anos têm se dedicado exclusivamente à docência e à investigação. É professor catedrático de Filosofia Antiga e Medieval na UPB, pertence à Sociedade Colombiana de Filosofia e faz parte de diversos grupos de investigação acadêmica. Entre as suas pu- tra-se também a mensagem símbolo, conceito e ardor. É este o carisma dos Arautos do Evangelho: a beleza, porta do místico. Li há pouco a muito bonita tese de mestrado de uma irmã arauto, que desenvolve essa ideia, “o belo, porta da mística”. Mais que porta, eu diria “entrada do místico”, e que seja bem grande essa entrada! A meu ver, os arautos precisam criar aqui um instituto de estética, um grupo de investigação de estética. Porque o pulchrum, o kalós, atrai, o kalós eleva, e através do símbolo vem o conceito, vem o ardor. Que conselho o senhor daria para os jovens que vão começar o curso de filosofia ou de teologia? Primeiro: não tenham medo de filosofar, não tenham medo de teologizar através de símbolos e conceitos, porque isso conduz ao amor a Deus. Segundo: que a filosofia e a teologia, além de uma forma de saber, convertam-se também em uma forma de viver. Terceiro: que a vida esteja de acordo com a doutrina; ou seja, que o símbolo, o conceito e o ardor façam essa junção entre a vida e a doutrina. Por último, algo muito pessoal: enamorem-se de Dionísio e sintam em Dionísio o kalós. Deixem-se atrair por Dionísio, leiam Dionísio. E creio que isso vai produzir muito bons frutos em todos os sentidos. Hector Matos gelizou a cultura, servindo-se de Proclo e de Plotino. E Tomás de Aquino, utilizando-se de Platão, e também de Aristóteles, que era o grande signo dos tempos, e nesse diálogo fecundo simbolizou, conceituou e, afinal, seu coração ardeu muito... A tal ponto que deixou de escrever! blicações destacam-se Diez aproximaciones al medioevo e Filosofía Medieval. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 25 Entrevista com o Pe. Carlos Arboleda Mora Através da beleza chega-se a Deus Retornar à contemplação estética da beleza e, a partir dessa contemplação, dar testemunho da verdade e da bondade, sem separá-las, é a proposta que faz nesta entrevista o Pe. Carlos Arboleda Mora, Coordenador Administrativo de Pós-Graduação em Teologia na Universidade Pontifícia Bolivariana. Pe. Fernando Néstor Gioia Otero, EP Quais são as funções do senhor hoje na Universidade Pontifícia Bolivariana? Neste momento, meus trabalhos se concentram todos na administração dos cursos de pós-graduação. Temos mestrado e doutorado em Filosofia e em Teologia, ambos com títulos canônicos e civis. Cabe-me toda a parte administrativa, ou seja: abertura de cursos, professores, currículos, programas e convênios. Temos convênio atualmente com a Conferência Episcopal Latinoamericana – CELAM, para oferecer licenciaturas canônicas em nível latinoamericano. E também com o Instituto Teológico Pastoral para América Latina – INTEPAL, ao qual proporcionamos doutorado canônico em Teologia para toda a América Latina. Neste momento, temos cerca de vinte doutorandos em Teologia. Nos nossos cursos de pós-graduação há hoje mais de 180 alunos, entre os quais 24 arautos que obtiveram recentemente o mestrado em Filosofia e outros que se encontram preparando a licenciatura canônica em Filosofia ou Teologia. O senhor tem orientado vários desses arautos na preparação das respectivas teses. Poderia dizer algo sobre essa experiência? Desde o início, quando começamos a conhecer o carisma dos arautos, nos demos conta de sua preocupação com a beleza, o pulchrum, a via pulchritudinis. Essa é uma via que não só tem suas raízes na Idade Média, mas que hoje deve ser redescoberta. E esse redescobrimento é fundamental para o mundo contemporâneo, porque o mundo contemporâneo é estético, mas de uma estética recortada, reduzida, posta muito no sensorial, no biológico. Por isso, criar algo como um instituto de Estética Teológica seria prestar um grande serviço ao mundo de hoje. Mostrar como através da beleza chega-se a Deus, “vive-se” Deus, e isso se traduz numa vida bela. Se podemos dizer que Cristo é o Homem belo por excelência, nós cristãos temos obrigação de ser belos por testemunho. Eis aí uma importante tarefa para os Arautos do Evangelho. Nesse hipotético Instituto de Estética Teológica, dever-se-ia considerar 26 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 não só a reflexão filosófica e teológica sobre o pulchrum, mas também a aplicação prática do pulchrum. Por exemplo, fazer ali um estudo sobre a Liturgia, os lugares litúrgicos, a música litúrgica, os gestos, tudo isso a serviço da Igreja. E expandir-se para outras expressões artísticas, como a arquitetura. Vê-se que é uma tarefa importante. A “proposta estética” seria, então, não apenas um elemento a mais na Teologia, mas também um instrumento de evangelização? Procedemos de uma época de muito racionalismo. Nós que vivemos nas décadas de 60 e 70, fomos testemunhas de uma visão por demais racionalista — e racionalista em sentido muito liberal — e fomos, em certa medida, contagiados por ela, pondo excessiva ênfase na autonomia do espiritual e do temporal. Fomos também marcados pelos anelos da libertação dos povos, que conduziram à Teologia da Libertação, a qual logo se tornou muito sociológica, e esqueceu-se do verdadeiro fundamento da Teologia. “Nas teses de Filosofia dos arautos nota-se essa preocupação de fundo, e alguns trabalhos tratam especificamente disso” Talvez por querer-se pôr uma excessiva ênfase na verdade como conceito, ou na bondade como mero imperativo, a verdade e a bondade como que perderam força. Trata-se agora então de, pela beleza, visar a recuperação da verdade e da bondade. São três elementos, três transcendentais que estão unidos. Mas pondo ênfase no aspecto da beleza, creio que podemos recuperar a verdade e a bondade. Observando os arautos, temos visto como há em seus trabalhos essa linha constante: o pulchrum como porta da mística, o pulchrum em relação ao bem, a Liturgia como experiência mística. São temas que não são novos, mas haviam sido relegados ao olvido e agora é preciso recuperá-los. Nas teses de Filosofia dos arautos nota-se essa preocupação de fundo, e alguns trabalhos tratam especificamente disso: como a Igreja precisa retornar à mística, à contemplação estética da beleza e, a partir dessa contemplação, dar testemunho da N beleza, dar testemunho da verdade e da bondade. Sem separá-las. Quais as principais mudanças em relação às décadas de 60 e 70? De um excessivo racionalismo, talvez tenhamos passado para um exagerado esteticismo, ou seja, nada de conceitos, mas simplesmente experiências sensoriais. De um violento compromisso social, passou-se para um indiferentismo social que é também muito grave, pois tão censurável é querer valer-se da violência para mudar o mundo, quanto desinteressar-se de mudar o mundo. E creio ter havido na Igreja uma transformação muito perigosa. De um excessivo compromisso social — há 40 anos se dizia: “O dever de todo cristão é ser revolucionário” — passou-se para o extremo de uns sacerdotes ou de uns leigos demasiadamente desinteressados. E isso é também muito perigoso. Daí vem a necessidade de uma renovação mística da Igreja, que leve ascido em 1949, Pe. Carlos Arboleda Mora era ainda diácono quando deu suas primeiras aulas, no Seminário Maior de Medellín, Colômbia. Após ser ordenado sacerdote, passou oito anos em missões na região do Madalena Médio, então perigosamente afetada pela violência dos guerrilheiros e dos grupos paramilitares. Regressando a Medellín, em 1992, acumulou as funções de pároco e de professor na Pontifícia Universidade Bolivariana, onde lecionou Doutrina Social da Igreja, Sociologia da Religião, Ecumenismo e Metodologia da Investigação (para as teses de mestrado e doutorado). Atualmente, é Coordenador Administrativo de Pós-Graduação da Escola de Teología, Filosofía y Humanidades, Poder-se-ia dizer que no século XX a universidade identificou-se como uma fonte de conhecimentos, não como uma escola também de formação integral do estudante. Seria este um desafio para as universidades em nossos dias? É um desafio, e isso é o que a Bolivariana trata de fazer. Um modelo pedagógico que comporte não só a formação de profissionais muito competentes na respectiva área, mas que, além da competência profissional, sejam muito competentes no relativo ao aspecto humano. Ou seja, uma formação integral que leve a pessoa a comprometer-se com a transformação da sociedade, comprometer-se com os mais pobres, com uma sociedade justa, com uma sociedade pacífica. A universidade precisa assumir esta tarefa: não só formar muito bons profissionais, mas formar também muito boas pessoas. Nisso consiste uma formação integral. na mesma universidade e dirige o grupo de investigação Religión y Cultura. Além de doutor em Filosofia pela UPB, Pe. Arboleda é licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Gregoriana e mestre em História pela Universidade Nacional de Colômbia. Entre suas publicações mais recentes se encontram: El politeísmo católico; Guerra y Religión en Colombia; Diablo y posesión diabólica; Profundidad y cultura. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 27 Hector Matos Iván Tefel a ter santos que deem testemunho daquilo que eles próprios experimentaram. Erigida a Paróquia Nos No último dia 18 de outubro, em solene cerimônia presidida por Dom José Maria Pinheiro, Administrador Apostólico de Bragança Paulista, os Arautos receberam o cuidado pastoral da recém-criada Paróquia Nossa Senhora das Graças. E m carta datada de 5 de agosto de 2009 dirigida ao seu Bispo diocesano, os padres Wagner da Silva Navarro e Pio José Braga da Silva, Párocos de Santa Rita de Cássia, Caieiras, e de Nossa Senhora do Desterro, Mairiporã, propuseram a criação de uma nova paróquia, a ser desmembrada de seus respectivos territórios. Explicaram eles que essa ideia era há muito debatida, dada a impossibilidade de atender adequadamente todas as comunidades das duas extensas paróquias. Tendo os Arautos várias de suas casas instaladas nessa região, e dada a disponibilidade de presbíteros Arautos, propunham os dois sacerdotes que a nova paróquia, abrangendo uma parte da Serra da Cantareira, ficasse sob os cuidados da Socie- Fiéis de todas as comunidades encheram a igreja de Nossa Senhora do Rosário, sede provisória da Paróquia Nossa Senhora das Graças. 28 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 ssa Senhora das Graças À esquerda, Dom José Maria Pinheiro, acompanhado pelo Pe. Caio Newton de Assis Fonseca, EP, incensa uma imagem da padroeira da paróquia. À direita, o novo pároco emite a profissão de Fé antes de assumir o cargo. dade Clerical de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli. Pois os sacerdotes dessa Associação, ajudados pelos Arautos do Evangelho e pelas irmãs da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum poderiam dar um atendimento pastoral mais adequado àquela porção do Povo de Deus. Tomada de posse do pároco Dom José Maria recebeu esse pedido de coração aberto e zelo apostólico, e, com a aprovação unânime do Conselho Presbiteral, determinou a criação da paróquia de Nossa Senhora das Graças. Esse ato de louvor a Maria foi o último de seu governo como Bispo diocesano. Simbólico fecho de ouro de tantas graças de que foi veículo para a feliz Diocese de Bragança. Durante a homilia, Dom José Maria Pinheiro fez menção especial ao novo Pároco, Pe. Caio Newton de Assis Fonseca, e aos cinco Vigários Paroquiais — Pe. Pedro Rafael Morazzani Arráiz, EP, Pe. Santiago Ignacio Morazzani Arráiz, EP, Pe. Hamilton José Naville, EP, Pe. Lourenço Isidoro Ferronatto, EP e o Pe. Rodrigo Alonso Solera Lacayo, EP. Na celebração, o Revmo. Pe. Caio Newton de Assis Fonseca, EP, foi oficialmente empossado como pároco por Dom José Maria. A cerimônia teve lugar na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que ficará provisoriamente como sede paroquial até ser construída a nova Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora das Graças. Conhecendo a paróquia e os paroquianos Por iniciativa do Superior Geral dos Arautos, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, foi feita, nos dias 10, 11 e 12, Festa de Nossa Senhora Aparecida, uma grande Missão Mariana pelo território da nova paróquia. Quarenta grupos de Arautos, conduzindo uma Imagem de Nossa Senhora, percorreram casa por casa, com o intuito de tomar contato com o povo. Nos três dias em que foi realizada a missão visitaram 1.929 famílias. Em cada residência ou estabelecimento comercial foi preenchida uma ficha onde constavam dados da situação, anseios e necessidades sacramentais de cada paroquiano. 18% (347 famílias) declararam cumprir o preceito dominical. 25 % (482 famílias) vão uma vez por mês à Missa. Esporadicamente, 49 % (946 famílias). Não católicos, apenas 8 %. Pediram cursos de preparação para a recepção de Sacramentos: 605 batismos, 914 primeiras comunhões, 1.014 crismas e 355 matrimônios, além de 61 pedidos de unção dos enfermos. 700 pessoas se dispuseram a ser dizimistas da Paróquia e 918 desejam integrar-se no Apostolado do Oratório Maria Rainha dos Corações promovido pelos Arautos. 376 fiéis se dispuseram a cooperar com as pastorais da catequese, visitas aos enfermos, música, limpeza e manutenção das capelas, e outras mais. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 29 Nas ruas – Os paroquianos eram convidados a participar da Missa em suas respectivas comunidades. Residências – Famílias inteiras se reuniam para receber a celestial visita e fazer juntos uma oração. Os mais necessitados – Doentes e idosos eram consolados sob o maternal olhar de Maria. Censo paroquial – Arautos tomaram nota das necessidades sacramentais e anseios de cada paroquiano. 30 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 Bênção dos lares – Arautos diáconos abençoaram as casas visitadas pela Imagem do Imaculado Coração de Maria, e seus respectivos moradores. Atendimento às capelas 2 1 4 3 N o vasto território da Paróquia Nossa Senhora das Graças há espalhadas doze capelas, nas quais a Santa Missa era celebrada apenas esporadicamente. No momento, os arautos sacerdotes se responsabilizam pela celebração de, ao menos, uma Eucaristia semanal em cada uma das capelas (foto 1), reservan- do também horários adequados para bênçãos especiais (foto 2), o Sacramento da Reconciliação (foto 3), atendimento a doentes, etc. Em resposta a pedidos feitos pelos paroquianos, estão sendo ministradas regularmente aulas de catequese, música e preparação para os Sacramentos (foto 4). Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 31 Procissão em Valongo P ara iniciar o mês do Rosário, a Comunidade de Valongo, realizou uma procissão pelas ruas da cidade com a imagem do Imaculado Coração de Maria. Na Capela de Nossa Senhora da Luz, a Imagem Peregrina foi coroada, e de lá partiu em procissão até à Igreja Matriz, seguida por numerosos devotos que rezavam e cantavam com muito entusiasmo. Seguiu-se a celebração da Eucaristia que foi presidida pelo pároco, Pe. José Alfredo Ferreira da Costa e concelebrada pelo Pe. Luiz Henrique Alves de Oliveira, EP, superior dos Arautos do Evangelho em Portugal. A missa, foi animada pelos jovens do coro e banda dos Arautos do Evangelho, fervorosamente acompanhados por todo o público. À saída, um mar de lenços eram agitados ao ar, em despedida da Imagem Peregrina. Estive doente, e fostes visitar-me J ovens do Sector Feminino e Terciários dos Arautos do Evangelho visitaram o lar da Santa Casa de Misericórdia de S. Félix da Marinha, levando consigo a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria. Idosos e enfermos reuniram-se em torno dela para recitar o terço, intercalado com cânticos marianos. Pe. Joaquim Paiva presidiu à Eucaristia animada pelas jovens arautos e participada alegremente por todos os utentes, que receberam como lembrança um escapulário de Nossa Senhora do Carmo. “Este piedoso objecto é um sinal visível e efectivo da maternal protecção de Nossa Senhora a todos aqueles que o portarem com devoção” disse o Pe. Joaquim, encerrando o encontro. 32 Arautos do Evangelho · Dezembro 2009 Peregrinação de madeirenses e retiro em Fátima N a primeira semana de outubro, foi com alegria que os Arautos do Evangelho acolheram e acompanharam durante vários dias os 49 peregrinos oriundos da Ilha da Madeira. O percurso iniciou-se em Almada, no significativo Santuário a Cristo Rei, que este ano comemora o cinquentenário da sua inauguração. Em seguida, os peregrinos foram rezar ao convento das Irmãs Clarissas, em Lisboa, onde Nossa Senhora apareceu à Beata Jacinta Marto. No mesmo dia, ainda tiveram oportunidade de conhecer a multi-secular Sé Patriarcal e, do outro lado da rua, rezar no pequeno quarto onde nasceu Santo António. Já em Fátima, juntaram-se a este grupo 61 coordenadores do oratório Maria Rainha do Terceiro Milênio para participarem num retiro espiritual subordinado ao tema: “Os novíssimos do Homem”, orientado pelo Pe. Roberto Jose Polimeni, EP. Durante esses dois dias de recolhimento houve espaço para uma intensa vida de piedade e uma profunda reflexão sobre a finalidade da vida do Homem. Os retirantes rezaram fervorosamente o terço, bem como participaram diariamente das adorações ao Santíssimo Sacramento. A Missa de encerramento, contou com a presença do coro e orquestra da Instituição, constituídos por jovens estudantes. Depois de terem assistido por duas vezes à procissão das velas, os peregrinos madeirenses ainda puderam adorar o milagroso Corpo e Sangue de Jesus Eucarístico que se encontra na Igreja do Santíssimo Milagre, em Santarém. Dezembro 2009 · Arautos do Evangelho 33 © Sa nt ie be at i.i t Santo Edmundo Campion Mártir da fidelidade ao Papado Homem inteligente, cordial e corajoso, com um futuro brilhante diante de si, renunciou a tudo para afervorar as almas que cambaleavam na Fé numa época de sangrentas perseguições. Irmã Hilary Loretta-Ann Bonyun, EP O s séculos XVI e XVII foram tempos difíceis para a Igreja na Inglaterra. A outrora cognominada Ilha dos Santos encontrava-se imersa em problemas de índole política que logo transcenderam para a esfera eclesiástica, com as mais graves repercussões. Em 1534, Henrique VIII se autonomeou Chefe Supremo da Igreja na Inglaterra e declarou réu de morte a quem não reconhecer essa autoridade. Ao ano seguinte, foram decapitados dois dos mais proeminentes opositores ao Ato de Supremacia: São John Fisher e São Thomas More. Os mosteiros, conventos e confrarias foram dissolvidos. Uma implacável perseguição se desatou contra os que permaneciam fiéis ao Papa. Foi nessas circunstâncias históricas que nasceu em Londres, no dia 25 de janeiro de 1540, Edmundo Campion. Aluno brilhante, orador eloquente, professor estimado Filho de pais abastados, o pequeno Edmundo era dotado de inteli- gência ímpar e de grande facilidade para o estudo das letras, o que fazia abrir-se diante dele um futuro brilhante. Teve um tal progresso no colégio que, com apenas 13 anos, foi o estudante escolhido para fazer, em latim, o discurso de boas-vindas à Rainha Maria I, quando esta entrou solenemente em Londres, em 1553. O donaire e a vivacidade do menino cativaram os presentes. Entre estes estava Sir Thomas White, fundador do Colégio São João de Oxford, que o tomou sob sua proteção e levou para essa instituição, a fim de educá-lo e formá-lo. Edmundo não defraudou seu benfeitor. Coroou seus estudos com brilho, correspondendo às esperanças do mestre. Por sua privilegiada inteligência e grande eloquência, era sempre o orador escolhido para discursar nas ocasiões importantes. Como professor, destacou-se de tal forma que alunos de outros cursos vinham assistir às suas aulas como simples ouvintes. Foi nomeado proctor (chefe dos inspetores de 34 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 disciplina da Universidade). Em pouco tempo tornou-se estimado e popular entre os estudantes a ponto de “fazer escola”: formou-se em Oxford um grupo de estudantes denominados “os campionistas”, porque o imitavam na maneira de falar, nos gestos, nos modo de ser e até de vestir-se. Encontro com a rainha Isabel I Algum tempo depois de sua coroação como rainha, Isabel I visitou Oxford com uma grande comitiva, para passar alguns dias entre os estudantes da célebre Universidade. Tinha por objetivo arregimentar para a sua causa jovens universitários ou professores de grande talento. A visita durou seis dias e constou de vários atos acadêmicos, entre os quais uma homenagem do corpo docente. O orador escolhido foi Edmundo Campion, então com 27 anos de idade. A rainha escutou-o com muita satisfação, fez-lhe os mais lisonjeiros oferecimentos e colocou-o sob a tutela de seu chanceler, William Cecil, que mais Wikipedia Em sua primeira visita a Oxford, Isabel I escutou Edmundo Campion com muita satisfação, fez-lhe os mais lisonjeiros oferecimentos e colocou-o sob a tutela de seu chanceler Wikipedia “Elizabeth I Darnley Portrait” - National Portrait Gallery, Londres. Ao fundo, vista do Magdalen College, Oxford tarde referiu-se a ele como sendo “um dos diamantes da Inglaterra”.1 Começa a batalha pela fidelidade Quase que por instinto, Campion rejeitava as reformas implantadas na esfera espiritual por Henrique VIII e seus sucessores. Inebriado, porém, pelas possibilidades de uma brilhante carreira, deixou-se levar pelos acontecimentos e prestou o Juramento de Supremacia em 1564, reconhecendo a rainha como governadora suprema da Igreja na Inglaterra. Quatro anos mais tarde, recebeu das mãos do bispo anglicano de Gloucester a ordenação diaconal. Entrementes, o futuro mártir dedicara-se aos estudos de filosofia aristotélica, de teologia natural e dos Santos Padres, e não tardou a tomar consciência de sua falta. Profundamente perturbado pelos remorsos, procurou um sacerdote católico, fez uma boa confissão e assumiu publicamente sua condição de filho da Igreja. Tinha ele clara noção de que sua atitude o obrigaria a abandonar a carreira acadêmica, mas não hesitou em fa- zer esse sacrifício. Também não ignorava que, se permanecesse na Inglaterra nessas circunstâncias, estaria exposto a grandes riscos. Por isso deixou Oxford e mudou-se em 1569 para Dublin. Um novo porvir: o sacerdócio e o martírio No ano seguinte, o Papa São Pio V promulgou a bula Regnans in Excelsis, excomungando a rainha Isabel I. Após esse ato pontifício, os ânimos se acirraram, e a situação de Edmundo tornouse especialmente delicada. Os irlandeses o viam com maus olhos, por ter se dedicado a escrever uma História desse país sob o ponto de vista inglês; os católicos o olhavam com suspeitas, pelo fato de ele ter sido ordenado diácono anglicano; e os anglicanos e luteranos o detestavam por ser um “papista”. Não teve outra alternativa senão voltar à Inglaterra, com o nome de Mr. Patrick e disfarçado de lacaio. Chegou a Londres a tempo de testemunhar o juízo de um dos primeiros mártires oxfordianos: São João Storey, jurista, executado em 1571 por sua fidelidade ao Romano Pontífice. Percebeu, então, o quanto a Santa Igreja em sua nação necessitava de almas dispostas a uma doação total, para sustentar na Fé os católicos e manter o estandarte da catolicidade erguido naquela terra outrora conhecida como a Ilha dos Santos. Este fato despertou em sua alma a vocação ao sacerdócio, com a disposição de sacrificar tudo, inclusive a vida, se preciso fosse, em defesa da Igreja de Cristo. O martírio passou a fazer parte de suas cogitações e de seu futuro. No seminário em Douai Decidido a corresponder sem tardança ao chamado do Divino Mestre, empreendeu uma viagem para Flandres, num momento crítico em que todos os viajantes eram suspeitos. Após muitas peripécias, conseguiu chegar ao seminário de Douai, fundado e dirigido pelo padre William Allen, o futuro Cardeal, também oxfordiano. Neste seminário, que foi ponto de partida para muitos santos e mártires, ele estudou Teologia, Exegese e Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 35 Divindade. A cópia da Suma Teológica usada por Campion em seus estudos existe até hoje, mostrando as anotações por ele feitas à margem do argumento de São Tomás sobre o “batismo de sangue”, isto é, o martírio. Martírio parecia ser o único tema de conversa no seminário de Douai, naquela época. Todos se julgavam indignos de tão grande privilégio, mas contavam com o auxílio da graça. Convictos da realidade expressa na famosa frase de Tertuliano: “O sangue dos mártires é semente de cristãos”,2 estavam realmente dispostos a tudo. Santo Edmundo permaneceu aí nove anos e recebeu as ordens menores e o subdiaconato. Mas tinha o coração sempre atormentado por ter prestado o Juramento de Supremacia. Desconfiando de suas próprias forças, colocava sua confiança “nAquele que conforta” (Fl 4, 13), e empenhava-se, ao mesmo tempo, em preparar sua alma na humildade. Almejava, para isso, uma vida de austera disciplina e obediência. Acreditava que assim talvez se tornasse “digno do verdugo e da forca por seu Deus”.3 Sacerdote jesuíta Partiu então para Roma, como peregrino, e solicitou ingresso na Companhia de Jesus. O Superior Geral, padre Everardo Mercuriano, o recebeu como noviço e o designou para Brunn, na Província da Áustria. Mais tarde foi transferido para Praga, onde estudou por mais cinco anos e recebeu a ordenação sacerdotal em 1578. Começou para Santo Edmundo uma fase de intensas atividades de apostolado. Era constantemente chamado para pregar e atender Confissões nas cidades próximas, e não deixava de dar assistência aos fiéis nos hospitais e nas prisões. Um dia, recebeu uma carta do Cardeal Allen, comunicando-lhe que havia organizado uma incursão de missionários na Inglaterra e que ele, padre Edmundo, fazia parte do grupo. “O Geral acedeu às nossas súplicas; o Papa, verdadeiro pai de nosso país, consentiu; e Deus nos permitiu que nosso querido Campion, com seus dotes extraordinários de sabedoria e graça, nos fosse afinal restituído”.4 Aproximava-se o almejado martírio... Seus companheiros do Colégio de Praga deram-lhe um pergaminho com a profética inscrição: “Padre Edmundo Campion, mártir”. Cem mil conversões em um ano! Em 18 de abril de 1580, partiu de Roma, com a bênção do Papa Gregório XIII, uma pequena caravana de missionários, entre eles três jesuítas: padre Robert Persons, superior, padre Edmundo Campion e o irmão Ralph Emerson. Receberam estes, também, a bênção de São Felipe Neri, no Orató- Apostolado Maria Rainha rio, e os incentivos de São Carlos Borromeu em Milão, por onde passaram. Sua missão era puramente espiritual: procurar as ovelhas perdidas, recuperar os católicos que vacilavam ou contemporizavam sob o regime persecutório, afervorar as almas fiéis. Jamais poderiam imiscuir-se em problemas políticos, menos ainda participar de confabulações, ou mesmo simples conversas, contrárias à rainha. Não foi sem grandes riscos e dificuldades que conseguiram cruzar o Canal da Mancha e entrar disfarçados em Dover, pois espiões ingleses em Roma haviam enviado notícias da sua partida, e em toda a Inglaterra a força policial estava mobilizada para impedir a entrada desses “fora da lei” em seu território. Os católicos ingleses, animados pela chegada dos sacerdotes, encarregaram-se de hospedá-los e dar-lhes condições de exercer seu ministério apostólico. Puderam eles, assim, durante mais de um ano, desempenhar suas funções sacerdotais, sempre em situação de risco. Disfarces, nomes falsos, precários esconderijos, apreensões nos momentos de buscas policiais, tudo isso fazia parte da rotina dos heroicos missionários. Campion pregava com frequência sobre o primado de Pedro. Celebrava a Santa Missa, atendia Confissões, dava conselhos, alentava os fra- do Oratório dos Corações Receba o oratório do Imaculado Coração de Maria em sua casa, um dia por mês. Seja também um coordenador deste apostolado e organize a sua peregrinação pelas casas da sua vizinhança. É muito fácil. Entre em contacto connosco por: Tel.: 212 389 596 - Fax.: 212 362 299 Rua Dr. António Cándido, 16 - 1050-076 - Lisboa E-mail: [email protected] 36 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 Wikipedia cos, “tudo como nas catacumbas”,5 diz um de seus biógrafos. Mais ainda, trazia de volta ao Rebanho de Cristo inúmeras ovelhas desgarradas. “Cem mil conversões em um ano!”, exclama o mesmo autor.6 O “jesuíta sedicioso” Refugiado em York, padre Campion escreveu, em latim, sua mais famosa obra: Decem Rationes (As dez razões para ser católico), logo divulgada por todo o país. No dia 29 de junho de 1581, apareceram sobre os bancos da igreja de Santa Maria de Oxford 400 exemplares dessa obra, lá deixados por uma mão desconhecida... Em resposta a essa audaciosa iniciativa dos missionários, a rainha ofereceu grande soma pela captura deles, sobretudo do padre Campion. Em 16 de julho, festa da Virgem do Carmo, ele e o irmão Emerson estavam em uma casa de Lyford Grange, para ministrarem os Sacramentos. Disfarçado entre os fiéis, entrou lá um espião, chamado George Eliot. Tal qual Judas o Infame, saiu logo depois de receber a Sagrada Comunhão, para denunciar os missionários a quem lhe pagava o salário de seu vil ofício. Não tardaram a chegar os agentes do governo, que vasculharam a casa e prenderam os ministros de Deus. Amarrados aos cavalos e cavalgando de costas, foram conduzidos a Londres, onde entraram sob manifestações de escárnio de um pequeno populacho. No chapéu do padre Edmundo estava afixada uma inscrição: “Campion, o jesuíta sedicioso”. Julgamento e condenação Na Torre de Londres, iniciou-se processo do padre Campion. A rainha quis falar pessoalmente com ele. Ofereceu-lhe a vida, a liberdade, honrarias e até mesmo a Diocese de Cambridge, com a condição de que ele reconhecesse sua supremacia espiritual no Reino da Inglaterra. O destemido varão recusou todas essas ofertas. Deu-se, então, prosseguimento ao in- Santo Edmundo Campion pediu aos católicos presentes que rezassem o credo durante sua execução Gravura de Johann Martin Lerch, Alemanha, 1671-1680 quérito. Embora submetido a terríveis torturas, o padre Campion defendeuse com tanto acerto que os acusadores não encontravam meios de incriminálo. Foi preciso recorrer ao depoimento de falsas testemunhas. Num ridículo julgamento realizado em Westminster, no dia 20 de novembro, é decretada a sentença de morte na forca, seguida de estripação e esquartejamento. Santo Edmundo e seus companheiros condenados, o padre Sherwin e o também jesuíta Briant, acolheram-na com o cântico jubiloso do Te Deum laudamus e de um versículo do salmo 117: “Este é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e felicidade” (v. 24). George Eliot, o delator, procurou o santo missionário no calabouço para pedir-lhe perdão. E foi perdoado imediatamente. erguer a cabeça o suficiente para saudar uma imagem de Nossa Senhora que ali se encontrava em seu nicho. Chegando a Tyburn, onde estavam levantadas as forcas, Campion subiu com toda a firmeza que lhe permitiam seus membros deslocados pelas torturas. Ouviu-se um murmúrio de admiração entre espectadores, seguido de um longo silêncio. Começou ali uma nova colheita de conversões, entre as quais a de um jovem que se fez jesuíta e sofreu, 14 anos depois, idêntico martírio: Santo Henrique Walpole. Já com a corda colocada no pescoço, o padre Campion foi pela última vez interrogado por um conselheiro da rainha, que lhe exigiu uma confissão pública de suas “traições”. A História registra suas derradeiras palavras: “Se ser católico é ser traidor, me confesso como tal. Mas se não, tomo a Deus — ante cujo Tribunal vou agora apresentar-me — como testemunha de que em nada ofendi a rainha, nem a Pátria, nem qualquer pessoa, para merecer o título ou a morte como traidor”.7 Rezou por fim o Pai-Nosso e a Ave Maria, e pediu aos católicos presentes que rezassem o Credo enquanto ele expirava. Entregou, assim, sua alma ao Criador, como mártir da fidelidade à Cátedra de Pedro. 1 WAUGH, Evelyn. Edmundo Campion. San Francisco: Ignatius Press, 2005, p. 68. 2 TERTULLIANO. Apologget., 50; PL 1, 534. 3 BRICEÑO J., SJ, Pe. Manuel. San Edmundo Campion. In: ECHEVERRÍA, L., LLORCA, B., REPETTO BETES, J.L. (Org.). Año Cristiano. Madrid: BAC, 2006, vol. 12, p.19. 4 WAUGH, Op. cit., p. 87. 5 BRICEÑO J., SJ, Op. cit., p. 21. 6 Idem, ibidem. 7 Idem, p. 23. O martírio Caía uma chuva fina e fria sobre Londres, na manhã de 1º de dezembro de 1581. Os três condenados foram conduzidos ao patíbulo amarrados numa esteira de vime arrastada por cavalos. Ao passar o arco de Newgate, Santo Edmundo conseguiu Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 37 A Palavra dos Pastores Irradiante e convincente beleza espiritual de Maria Com uma brilhante homilia, D. Carlos Azevedo, no dia 13 de setembro, se dirigiu aos fiéis presentes na peregrinação internacional aniversária de Setembro, no Santuário de Fátima, onde estiveram presentes cerca de 90 mil peregrinos. Dom Carlos Azevedo Bispo Auxiliar de Lisboa A sede de maravilha, de admiração, é uma constante dos corações, constitui um peregrinar incessante da alma humana. Na arte, na poesia, na ternura da relação humana buscamos saciar esta sede de encanto. A Igreja vai ao encontro desta busca ao convidar-nos, nesta liturgia, a contemplar, com íntima alegria, a beleza espiritual de Maria, a candura de Maria Imaculada. Para nós, a beleza consiste na santidade, em ser imagem da bondade e da fidelidade de Cristo, o mais santo e, por isso, “o mais belo entre os filhos dos homens” (Sl 44,3). Depois de Cristo, todo o esplendor das criaturas, plasmadas pelo Espírito criador de Deus, se reflecte no fulgor espiritual de Santa Maria. Ela é “espelho inefável de um pensamento de divina perfeição”, como disse Paulo VI, que, como poucos, delineou com vigor o vibrar da beleza espiritual de Maria. Nesta criatura vemos a luz irradiante do Espírito, graças à obra do artífice divino, do Supremo artista do universo. Em Maria, nós, Povo de Deus, reconhecemos o modelo realizado da verdade original a que os crentes são chamados, por puro dom de Deus. Esta celebração canta e transpõe para Maria a sapiência divina. Na sua boca, como sede da Sabedoria incarnada, colocamos expressões sublimes como a de hoje: “Eu sou a mãe do amor formoso”. “Em mim está toda a graça do caminho e da verdade, em mim está toda a esperança da vida e da virtude”. Estes deliciosos textos da Sagrada Escritura tratam da sapiência divina, poeticamente personificada, como base das coisas criadas. A singular beleza de Maria decorre de ser expressão corpórea da beleza invisível. Nela brilha o Hóspede que a habita, porque traz no seio e esplendor do Novo Adão. Nela começam a manifestar-se as maravilhas de Deus que o Espírito Santo realizará em Cristo e na sua Igreja. Para reconstruir o paraíso perdido, a primeira célula desse mundo novo será Maria, admirável mãe de Jesus. Porque lhe chamamos Formosa? Santa Maria é formosa, antes de mais, por ser “cheia de graça”, “adornada com os dons do Espírito Santo” (Col 3), plena da harmonia dos bens encantadores de Deus. “Alegra-te, 38 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 cheia de graça”, é a saudação de inefável e exultante júbilo do mensageiro Gabriel. É significativo que a primeira expressão dirigida à Graciosíssima, no Novo Testamento, seja um convite à alegria, à formosura vibrante da graça de Deus. Como não há-de gozar de trepidante alegria aquela da qual nascerá Jesus, a alegria de todos os povos, o mais engraçado, o mais belo na plenitude de humanidade, imagem perfeita da santidade do Altíssimo. A beleza das coisas terrenas é pálida diante do fulgor da superabundante vida de Deus que habita Maria. A sua vocação única implica uma vontade de amor singular da parte de Deus-amor, que lhe oferece gratuitamente as primícias da plenitude da graça. Inaugurou-se um novo regime de beleza. Se Moisés, os patriarcas e profetas tiveram graça aos olhos de Deus, quanto mais a alma de Maria, cheiinha, envolvida e plasmada pela beleza encantadora de Deus. Porque, agora, era a raiz da sua existência, o núcleo profundo da sua realidade que acolhia o Senhor, dava morada à Palavra. Santa Maria é também formosa por amar com amor formoso a Deus, a Cristo e a toda a humanidade. Deus primou nesta criatura toda a eficácia da sua graça. Em Maria tem início a maior das obras de Deus, na história humana e na vida do mundo. Mas não se reduz a uma perfeição pessoal, antes ordena-se a outros e atrai. A missão nova da cheia de graça, da mãe formosa corresponde a uma vasta e plena qualidade excepcional do seu amor, do seu programa de vida, dos traços admiráveis da sua maternidade virginal. Porque a beleza cristã não se separa da bondade, o cristão é chamado a fazer resplandecer Deus na própria vida. Ora a mais luminosa e irradiante realização é Maria, que atinge o auge, acima de qualquer ser humano. A Mãe de Cristo é, ainda, formosa por aderir e participar de modo admirável no mistério do seu nascimento, vida, morte e ressurreição, aderindo “com fortaleza e suavidade, com harmonia e fidelidade ao plano salvador de Deus”. (IGREJA CATÓLICA. Liturgia - Missas da Virgem Santa Maria: Missal. Coimbra: CEP, 1997, p.173). Esta plena adesão mostra a integridade da sua sublime beleza. Em todas as estruturas e dinamismos do seu ser é imagem da pureza absoluta, é luz brilhante, harmonia plena, integridade total. Esta beleza fora de série é densa e convincente. Realmente, uma obraprima assim tem força de convicção irresistível e conquista os corações, mesmo rebeldes. Até incrédulos reconhecem em Maria uma beleza inatacável. Maria Purifica o nosso olhar Não é uma doçura descobrir em Maria como a transparência divina é uma possibilidade em nós? De facto, diz a Palavra hoje proclamada: “Quem trabalha comigo não pecará” porque o pecado é feio. “A vontade de Deus é que evite a impureza”. Deus não nos chamou para a impureza mas para a santidade. Este Santuário, ao escolher como tema deste mês: “o pudor protege o mistério da pessoa e do seu amor”, integrado no tema do ano: “os puros de coração verão a Deus”, está a indicar-nos um caminho, uma via Fiés lotam o Santuário de Fátima de beleza para que quem escuta a Palavra: “Saiba possuir o seu corpo em santidade e honra, sem se deixar levar pelas paixões desregradas”. Encontrar a harmonia no corpo é uma graça que evita muitas desgraças, estragos da dignidade humana, deturpação do projecto belo e bom do nosso Deus. A ausência de pudor conduz à provocação sedutora. A busca de excitação sensual no modo de vestir não condiz com a autêntica atracção, conduz a perder o verdadeiro fascínio que existe em cada criatura humana, banaliza a dignidade do corpo. Há tanta diferença entre o fascínio de um olhar sorridente e puro, que aprecia a beleza humana e se eleva, e a sensualidade possessiva, que perturba, agita e desregula os comportamentos! Há tanta diferença entre o encanto da beleza inocente que suaviza a vida e a malícia do olhar, produto de mente obscurecida! Quando projectos políticos apenas ratificam a decadência humana, em lugar de dignificar a qualidade de vida e elevar o nível das relações e dos vínculos entre as pessoas, contribuem para tornar a vida feia e confundir as mentes. Nós aqui estamos a contemplar Maria para purificar o nosso olhar. Como modelo inspirador e esperança consoladora, na beleza que nela resplandece, lavamos as seduções que nos arrastam e prendem, as atracções que nos desviam da fidelidade, as ten- tações que conduzem à perda da bela harmonia do corpo. Pelas lágrimas da penitência recuperamos a visão da beleza divina, falseada ou perdida nos desvarios contemporâneos. Temos necessidade de fixar a beleza de Maria porque os nossos olhos são ofendidos por imagens enganadoras de caducos e ilusórios impulsos. Precisamos de restaurar, nas nossas mentes e nos costumes à nossa volta, a experiência feliz do que é verdadeiramente belo. A Senhora de Fátima irradia para nós atitudes puras, grandes, fortes. Oração final Perante esta criatura tão estupenda, tenho que terminar louvando a glória de Deus. Te louvamos, Deus de infinita beleza, por esta “Senhora mais brilhante que o sol”. É luz inspiradora para redimirmos o nosso olhar de qualquer marca de falsa e inferior beleza. Seduz homens e mulheres para a santidade, como atrai artistas e poetas para a Beleza incontaminada. Motiva, qual Mãe do amor formoso, as comunidades cristãs a caminhar na perfeição, como concede aos doentes sentido e serenidade. Liberta a nossa consciência política para nos batermos, com determinação, por um Portugal e um mundo orientados por ideais dignos e nobres, mobilizadores da responsabilidade de todos, na alegria de unir vontades para ser mais belo viver. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 39 Fátima acolheu, nos dias 30 e 31 de Outubro, o VI Fórum Nacional das Vocações subordinado ao tema “Ide e anunciai o Evangelho da Vocação”. A mudança cultural é marcante na vida da sociedade, mas “a Igreja está atenta e consciente desta realidade” — disse D. António Francisco Santos, Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios (CEVC), no encerramento do VI Fórum Nacional das Vocações. “Os jovens são os grandes protagonistas e intervenientes nesta mudança” — realçou o prelado de Aveiro. E acentuou: “no campo da vocação, os jovens devem ser os primeiros a serem ouvidos e acolhidos”. Congresso de médicos católicos latino-americanos Com uma Missa de ação de graças no Santuário de Nossa Senhora de Luján, encerrou-se o V Congresso da Federação das Associações Médicas Católicas Latino-Americanas, realizado em Buenos Aires de 16 a 18 de outubro. O ato inaugural contou com a presença do Núncio Apostólico na Argentina, Dom Adriano Bernardini e de representantes diplomáticos do Brasil, Chile, Colômbia, Indonésia, México, Paraguai, Peru e Porto Rico. Em torno do tema central Ciência, tecnologia e Fé, 400 congressistas debateram em quarenta painéis importantes questões, tais como: Aspectos éticos da manipulação embrioná- gutemberg.org VI Fórum Nacional sobre Vocações, em Fátima ria; Aids: fatores de risco de transmissão vertical; Silêncio na síndrome pósaborto, e outros. Durante o evento foi prestada uma homenagem ao famoso geneticista francês Jérôme Lejeune (19261994), descobridor da causa da síndrome de Down, cujo processo de beatificação iniciou-se há dois anos. O Dr. Alejandro Nolazco, presidente do Consórcio de Médicos Católicos de Buenos Aires, incentivou os participantes a orar pelo bom êxito desse processo para que, assim, seu exemplo possa ser proposto publicamente a todos os médicos. Hino Pontifício completa 60 anos Em 16 de outubro, completou 60 anos o hino oficial do Vaticano, música do compositor católico francês Charles Gounod e letra (em italiano) de Antonio Allegra, organista da Basílica de São Pedro. Composta em 1869, por ocasião do 23º aniversário de coroação do Beato Pio IX, a “Marcha Pontifical” de Gounod foi adotada como Hino Pontifício 80 anos depois, pelo Papa Pio XII, em 1949. Charles Gounod (1818-1893) começou a manifestar seus talentos musicais aos 21 anos e tornou-se célebre pelas suas nove óperas e pela “Ave Maria”, universalmente conhecida. Nos últimos anos de sua vida, dedicou-se à composição de músicas sacras, entre as quais se destacam três missas: Missa de Réquiem, 40 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 Missa de Santa Cecília e Missa Joana d’Arc. Novo portal dos meios de comunicação católicos Está em funcionamento desde outubro o novo diretório on-line dos meios de comunicação católicos (www.intermirifica.net), uma iniciativa do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, do CELAM e da Associação Católica Mundial para a Comunicação – Signis. O novo portal católico tem a estrutura do sistema wiki e apresentase como um diretório que os próprios usuários podem completar ou atualizar. Funciona também como um pesquisador de rádios, televisões ou produtoras, em diferentes idiomas e países. Seu principal objetivo é proporcionar a todos os meios de comunicação católicos a possibilidade de se comunicarem entre si, trocando ideias e projetos comuns. Atualmente, intermirifica.net está à disposição em espanhol, mas em breve se apresentará também em inglês, francês e português. Aumenta o número de católicos no Vietnã Um levantamento realizado pela diocese de Kontum, Vietnã, indica um crescimento significativo no número de católicos nos planaltos vietnamitas. No ano passado, 30 mil montagnard (habitantes dessa região) se converteram à Religião Católica, e outros 20 mil estão em fase de preparação para o Batismo. Estes dados — informa a agência AsiaNews — foram fornecidos pelo Bispo de Kontum, Dom Michael Hoang Duc Oanh, por ocasião da Jornada Missionária Mundial. Os católicos vietnamitas celebram neste ano o 350º aniversário da chegada dos missionários ao país. E os Padres Redentoristas comemoram quarenta anos do início de suas missões nos planaltos do país. Atual- mente há no Vietnã cerca de 6 milhões de católicos, ou seja, 8% do total da população. Legião de Maria celebrou 60 anos de apostolado em Portugal Neste ano em que se comemora o 60º aniversário da fundação da Legião de Maria em Portugal, milhares de membros, vindos de todas as Dioceses do País, reuniram-se em Fátima. A peregrinação foi presidida pelo Bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, e teve como lema “Com Maria, seguimos em missão” (Bento XVI). A Peregrinação teve o seu início com um encontro no Centro Paulo VI, onde, para além de momentos de oração, de canto e de testemunhos legionários, teve um tempo de formação pelo Senhor D. Albino e uma re- presentação cénica, por jovens legionários, sobre a memória dos primeiros tempos da Legião de Maria em Portugal, lembrando em particular o Padre Francisco Lopes, fundador em Portugal, em 31 de Maio de 1949. Obras de Bento XVI conquistam o grande público Uma mesa redonda organizada em 15 de outubro pela Libreria Editrice Vaticana na 61ª Feira Internacional do Livro (Frankfurt, Alemanha) pôs em evidência o êxito editorial das obras do Papa Bento XVI entre o grande público. Segundo notícia a agência Zenit, o Prof. Pierluca Azzaro, da Universidade Católica de Milão afirmou que os títulos da autoria do Cardeal Ratzinger atualmente disponíveis na Itália, através de 27 casas editoras, se eleva a 178. Dessas obras, 22 foram publicadas entre 1971 e 2004, portanto, antes da ascensão ao Sólio Pontifício. O professor Azzaro lembrou também que os 1.200.000 exemplares da primeira tiragem da encíclica Spes salvi, de 30/11/2007, foram vendidos em apenas dois meses. E esgotaramse rapidamente os 600.000 exemplares da tiragem inicial da Caritas in veritate, de 29/6/2009, que conquistou em fins de julho o primeiro lugar na classificação dos livros mais vendidos na Itália, ultrapassando bestseller italianos e internacionais. Para o Prof. Azzaro, estes números ilustram a ampla difusão do pensamento de Bento XVI na Itália, não só entre o público estritamente cató- D. Odilo Scherer em Portugal O Arcebispo de S. Paulo, Cardeal D. Odilo Pedro Scherer, juntamente com dois dos seus bispos auxiliares, D. Joaquim Carreira e D. João Mamede Filho, estiveram em peregrinação em Portugal e Espanha durante 5 dias, a caminho de Roma, para a visita ad limina. No Santuário de Fátima, celebraram a Eucaristia na Capelinha das Aparições, juntamente com D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, e o bispo emérito D. Serafim Ferreira (foto da esquerda). A caminho de Santiago de Compostela, estiveram a rezar no Santuário de Santa Luzia, em Viana do Cas- telo, onde também puderam encontrar-se com D. José Pedrosa, bispo da diocese. Retornando a Portugal visitaram ainda a Casa dos Arautos do Evangelho, no Santuário do Sameiro (foto da direita), em Braga, onde participaram num agradável convívio e foram objecto de uma homenagem musical. Visitaram o Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, de onde seguiram para Coimbra e puderam conhecer a histórica biblioteca da universidade e encontrar-se com D. Albino Cleto. Em Lisboa, além de visitar alguns lugares históricos, estiveram com o Cardeal Patriarca e seus bispos auxiliares, num jantar no Seminário dos Olivais. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 41 70 mil jovens chilenos em peregrinação Mais de 70 mil jovens católicos procedentes de todo o Chile participaram da 19ª peregrinação De Chacabuco ao Carmelo – Um caminho de Santidade, que percorreu a pé, no dia 17 de outubro, 27 quilômetros até chegar ao Santuário de Auco, onde se veneram os restos mortais de Santa Teresa de los Andes. Na esplanada do Santuário, o Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, Arcebispo de Santiago, celebrou a Eucaristia que encerrou a peregrinação. Em sua homilia, incentivou as dezenas de milhares de jovens presentes a confirmarem sua vocação de ser luz de Cristo para o mundo. “Queremos ser luz do mundo por nosso espírito de serviço, e porque queremos semear esperança e alegria”, acentuou. A popular peregrinação, que se realiza anualmente desde 1989, foi organizada pela Arquidiocese de Santiago do Chile, através do Vicariato da Esperança Jovem, em conjunto com o Santuário de Santa Teresa de los Andes. Pontifício Conselho Justiça e Paz tem novo presidente O Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, Arcebispo de Cape Coast (Gana), foi nomeado em 24 de outubro presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Durante o Sínodo dos Bispos para a África, encerrado em 25 de outubro, Sua Eminência desempenho o papel de relator principal. Nascido em 1948, o Cardeal Turkson fez seu curso de teologia em Nova York e cursos de pós-graduação em Roma, doutorando-se em Sagradas Escrituras. Fala inglês, francês, italiano, alemão e hebreu. Recebeu a ordenação episcopal em 1993 e foi elevado ao Colégio Cardinalício em 2003. É membro de vários dicastérios da Cúria Romana, entre os quais a Congregação para a Evangelização dos Povos e a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. cattoliciromani.com lico, mas também o secular. “Vivemos numa época em que o homem, talvez como nunca antes, manifesta sua necessidade vital de entrar em relação com o Transcendente, o Eterno”, comentou ele. “O Papa responde a esse desafio o mais naturalmente, e portanto o mais eficazmente possível: no centro do seu Magistério, ele põe o amor do Criador por sua criatura, o desmesurado amor de Jesus Cristo pelo homem”. Cardeal Cláudio Hummes visita Colégio Sacerdotal Tiberino Na inauguração do ano acadêmico do Colégio Sacerdotal Tiberino de Roma, em 28 de outubro, o prefeito da Congregação para o Clero, Cardeal Cláudio Hummes, recordou que é preciso rezar pelo clero, especialmente neste Ano Sacerdotal. “Todas as comunidades deveriam rezar e agradecer ao Senhor por seus sacerdotes”, afirmou. Lembrou também aos estudantes que “todos nós temos necessidade da luz de Cristo” e recomendou, aos alunos que procurem voltar-se para o amor a Jesus Cristo, pela celebração da Eucaristia e pela meditação da Palavra do Senhor. O Colégio Sacerdotal Tiberino serve de residência para sacerdotes diocesanos provenientes de todo o mundo que estudam nas quatro faculdades da Universidade da Santa Cruz, ateneu de estudos superiores confiado à Prelatura da Santa Cruz e ao Opus Dei. Graças recebidas por intercessão da Irmã Lúcia Novo secretário do Colégio Cardinalício O Núncio Apostólico emérito na Espanha e atual secretário da Congregação para os Bispos, Dom Manuel Monteiro de Castro, foi nomeado em 21 de outubro Secretário do Colégio dos Cardeais. A principal função desse alto Colegiado é a eleição de um novo Papa. Compete-lhe também — segundo o Código de Direito Canônico, cân. 349 — assistir ao Romano Pontífice, quando os Cardeais são convocados para tratar em conjunto as questões de maior importância. Dom Monteiro de Castro nasceu em Santa Eufêmia, Portugal, em 1938 e recebeu a ordenação episcopal em 1985. É doutor em Direito Canônico e destaca-se por sua longa experiência diplomática a serviço da Santa Sé. 42 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 As religiosas do Carmelo de Coimbra, Portugal, colocaram à disposição dos fiéis do mundo inteiro um endereço eletrônico ([email protected]) destinado especificamente a receber testemunhos de graças obtidas por intercessão da Irmã Lúcia. A iniciativa visa auxiliar na obtenção de dados e informações que possam ser úteis no processo de beatificação da vidente de Fátima, em curso na diocese de Coimbra. Segundo informação do Diário de Notícias, de Lisboa, também de outros países, notadamente dos Estados Unidos e da Espanha, têm chegado relatos de favores recebidos. Padres Combonianos têm novo Superior Geral O 17° Capítulo Geral dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus, realizado em Roma, elegeu Aprovado o Acordo entre o Brasil e o Vaticano em 21 de outubro seu novo Superior Geral: Pe. Enrique Sánchez Gonzáles. Nascido no México em 1958 e ordenado sacerdote em 1984, exerceu ele o ministério no seu país até 1998 e na República Democrática do Congo até 2004. No momento da nomeação era o Superior da Delegação da América Central, na Guatemala. A congregação, fundada em 1867 por são Daniel Comboni, conta hoje com 1.702 membros: 18 Bispos, 1.252 sacerdotes, 266 irmãos e 173 estudantes na última fase de formação. L’Osservatore Romano A ssinado em Roma, em novembro de 2008, e aprovado pela Câmara Federal brasileira, em agosto p.p., o Acordo entre o Brasil e o Vaticano sobre o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil foi sancionado pelo Senado no último dia 7 de outubro, tendo como relator do projeto o Senador Fernando Collor (PTB-AL). Esse Acordo reafirma a personalidade jurídica da Igreja Católica e de suas instituições, como a Conferência Episcopal, as dioceses, as paróquias e os institutos religiosos. Dividido em 20 artigos, o convênio contém também dispositivos sobre o ensino religioso católico nas instituições públicas de ensino fundamental, bem como a prestação de assistência religiosa nos hospitais e presídios. Em relação ao Sacramento do Matrimônio, o artigo 12 dispõe: “O casamento celebrado em conformidade com as leis canônicas, que atender também às exigências estabelecidas pelo direito brasileiro para contrair o casamento, produz os efeitos civis, desde que registrado no registro próprio”. Na homilia da Missa de ação de graças celebrada em 21 de outubro na capela da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Núncio Apostólico Dom Lorenzo Baldisseri, ressaltou que esse Acordo “é um instrumento de sumo valor para a sociedade e representa um marco histórico para o Brasil”. Na mesma ocasião, o secretário geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, declarou que, com essa O Acordo foi assinado em novembro de 2008 durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao Papa Bento XVI aprovação, o Congresso Nacional manifesta seu reconhecimento da “importância da Igreja Católica na História e na formação da cultura do povo brasileiro”. Segundo Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB, a aprovação do acordo representa o coroamento do esforço diplomático da Nunciatura Apostólica, em nome da Santa Sé, junto ao governo brasileiro. Salientou também que o acordo não compromete o laicismo do Brasil porque, na verdade, a questão religiosa se volta para a sociedade, e não para o Estado. Sua atuação se estende a 182 dioceses de 42 países. Rezar as Bem-Aventuranças No dia 4 de Outubro, na Igreja do Calvário, em Évora, foi apresentado o livro “Rezar as Bem-Aventuranças”, que o Pe. Senra Coelho com a colaboração do Pe. Ricardo Lameira acaba de publicar através da Paulus Editora. O livro insere-se na Colecção Sabedoria e apresenta 9 reflexões seguindo as Bem-aventuranças, completados com uma proposta de ora- ção a partir dos Salmos e de textos patrísticos para cada Bem-Aventurança. O livro conta com uma apresentação de D. Manuel Madureira Dias, Bispo Emérito do Algarve, que diz: “As bem-aventuranças são interpelações divinas, apelos de Deus, conselhos, propostas de vida para todos os que se quiserem sintonizar com a mensagem de Jesus Cristo. Vale a pena ler, meditar, rezar esse texto, e, através dele, entrar na contemplação d’Aquele que as pronunciou e nos fez tal proposta de vida, dinamizada pelo amor. Que es- Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 43 N este ano, no dia 12 de outubro, festa de Nossa Senhora Aparecida, o Santuário do Cristo Redentor que coroa o Morro do Corcovado, no Rio de Janeiro, tornou-se irmão do Santuário de Cristo Rei, de Almada, cuja imagem se ergue a 113 metros acima do nível do mar, dominando a embocadura do Tejo. O “acordo de geminação” foi assinado pelo Arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, pelo Bispo de Setúbal, Portugal, Dom Gilberto Reis, e pelos reitores dos Santuários. “Este acordo ajuda na evangelização das pessoas que visitam ambos os locais”, afirmou Dom Orani. E Dom Gilberto, após lembrar a forte ligação dessas duas nações, explicou: “Portugal apresentou Jesus Cristo ao Brasil, que construiu este maravilhoso monumento. E o Brasil deu à Igreja, em Portugal, a inspiração de edificar um monumento ao Cristo Rei”. diocese-setubal.pt Carlos Henrique Portugal e Brasil têm santuários irmãos ta edição possa contribuir para ajudar as pessoas, que vierem a compulsar as presentes páginas, a decifrar e penetrar ainda mais o significado profundo do texto evangélico que elas reflectem. Estou certo que, dentro da modéstia das palavras humanas, pretensamente expressivas de conteúdos divinos, o Espírito Santo dará luz e fecundidade a todos os leitores”. ca da Lectio Divina, preconizado no seu anterior e actual Programa Pastoral, o Sector da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve, procurando ir ao encontro desse objectivo, promoveu no passado dia 7 de Novembro um Encontro Formativo para Animadores Juvenis precisamente sobre aquele modo de oração a partir da Bíblia. Ajudar os jovens a dialogar com a Bíblia Congresso missionário da Igreja indiana Quando se tem falado tanto ultimamente sobre a Bíblia, da necessidade de fazer um leitura contextualizada e aprofundada dos textos sagrados e numa altura em que a diocese algarvia vive um tempo de particular de aprofundamento da práti- Encerrou-se no dia 18 de outubro, em Mumbai, o primeiro Congresso Missionário da Igreja indiana, realizado sob o lema Deixe resplandecer a sua luz. Dele participaram 1.500 delegados de 160 dioceses de todo o país, entre os quais 100 Bispos. 44 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 Cristo Redentor, Rio de Janeiro Santuário a Cristo Rei, Almada No seu discurso de início dos trabalhos o Núncio Apostólico na Índia, Dom Pedro Lopez Quintana lembrou que “os cristãos têm o dever e a responsabilidade de serem anunciadores da luz de Cristo que dissipa a escuridão”, segundo informa Rádio Vaticano. Da sua parte, o Pe. Sebastian Kizhakkeyil, docente de Sagrada Escritura no seminário maior de Ruhalaya, recordou aos presentes “o exemplo de luminosidade espiritual e de ação caritativa oferecido pela bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá e por tantos outros fiéis indianos perseguidos por causa da sua fidelidade à Palavra de Cristo, como ocorreu recentemente em Orissa”. História para crianças... ou adultos cheios de fé? O menino do tambor Dias depois, quando a estrela estava já muito próxima, o menino divisou no horizonte uma longa fila de homens e cavalgaduras. Foi correndo pegar seu tambor, tocou-o e cantou em honra daqueles admiráveis viajantes, que pareciam reis. Irmã Michelle Viccola, EP H á mais de dois mil anos, nos imensos e longínquos arenais da Arábia, onde as montanhas não têm nome, pois o vento as faz e desfaz por sua força mutável e dominadora, vivia um menino muito pobre. Órfão de mãe desde muito pequeno, seu pai era o guardião de um oásis, afastado das rotas mais frequentadas, mas famoso entre os viajantes por sua água abundante e cristalina. Muitas vezes pensou o zeloso pai em aliviar a solidão de seu filho dando-lhe de presente algum brinquedo. Mas, nunca teve coragem de perguntar aos mercadores o preço, certamente maior do que podia pagar com as poucas moedas que possuía. Decidiu então confeccionar para o menino um pequeno tambor. Tomou um velho barrilzinho, retirou-lhe as tampas, envernizou-o com óleo de palma e estendeu cuidadosamente sobre seus extremos duas peles de cabra fortemente esticadas por tendões de carneiro. A preparação do instrumento levou-lhe semanas de trabalho. Teve de fazê-lo e refazê-lo várias vezes, até que ficou bom. Mas o es- forço valeu a pena: o menino recebeu o tamborzinho com essa capacidade de alma que têm os inocentes de alegrar-se com um único presente, o que vale mais que receber outros mil! Tocava-o constantemente, acompanhando músicas que ele mesmo compunha. Ah... e como eram belas! Tão belas que em todo o deserto, do mar às montanhas, era ele conhecido sob o nome de “o menino do tambor”. Numa fria noite de inverno, a monótona rotina daquele oásis foi quebrada “Não haverá abrigo em tua casa para uma caravana que chega fatigada de uma longa jornada?” 46 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 por um fenômeno surpreendente: aparecera no céu, ao oriente, uma estrela que brilhava mais do que todas as outras e parecia se deslocar lentamente em direção ao ocidente. Tão luminosa era que permanecia visível dia e noite, aproximando-se deles sempre mais. Perante tão extraordinário prodígio, o pai chegou a sentir algum receio, mas seu filho logo o tranquilizara: aquele astro era belo demais para ser um mau presságio. Parecia, pelo contrário, anunciar um acontecimento grandioso e feliz. Dias depois, quando a estrela estava já muito próxima, o menino divisou no horizonte uma longa fila de homens e cavalgaduras. Não se tratava de uma caravana comum. O número de bestas de carga era incontável. Portavam fardos magníficos! E até o menor dos servos que ali estava, vestia e se comportava com a dignidade de um fidalgo. No fim do longo cortejo, sentados no alto de vigorosos dromedários, vinham três nobres senhores, vestidos com trajes coloridos e turbantes de seda. Um deles era um ancião de longa barba, outro um homem maduro de vivos olhos e ruivos cabelos, o terceiro um vigo- Edith Petitclerc Agradado com a candura dessa alma inocente, o rosto de Jesus iluminou-se com um belo sorriso roso árabe de pele escura. Dir-se-ia que os três eram reis. O menino foi correndo pegar seu tambor, tocou-o e cantou em honra daqueles admiráveis viajantes. Quando terminou, o venerável ancião da barba longa inclinou-se em direção a ele, dizendo-lhe comprazido: — Meu bom menino, que bela é tua música! Não haverá abrigo em tua casa para uma caravana que chega fatigada de uma longa jornada? Fazendo uma profunda reverência, respondeu-lhe: — Sim, senhor! Meu pai é guardião deste poço, e sempre dá pousada para homens de bem. Pai e filho aplicaram-se em receber aqueles senhores com a mais esmerada hospitalidade. Serviram-lhes suas melhores tâmaras e leite de cabra recém ordenhado. Deram de beber aos camelos, encheram os odres com água e hospedaram-nos o melhor que puderam na choupana de taipa e folhas de palmeira que haviam construído a modo de pousada. À noite, quando todos já se recolhiam, o menino aproximou-se curioso do ancião que tão bondosamente o tratara e perguntou-lhe singelamente: — Senhor, perdoe meu atrevimento, mas a que se deve a presença de tão ilustres pessoas nestas desoladas paragens? O bom homem sorriu e explicou-lhe que vinham de muito longe. Lá em suas distantes terras souberam, por sonhos, que uma estrela haveria de guiálos até o local onde nasceria o Messias, o enviado de Deus, anunciado pelos profetas. Ao ver aparecer aquele astro desconhecido, tomaram ouro, incenso e mirra e puseram-se a caminho. Há meses o vinham seguindo e uma especial alegria de coração dizia-lhes estarem perto de seu destino. O “menino do tambor” nunca ouvira falar de coisas semelhantes. Ele, que não era um sábio como os ilustres viajantes, ficou emocionado ao ouvir falar do Messias, do “anunciado pelos profetas”. Sentiu um irresistível desejo de ir conhecê-Lo. No dia seguinte, acordou bem cedo. Despediu-se do velho pai e juntouse à caravana. Tinha procurado no oásis com afinco algum presente que levar para o Messias, mas nada encontrou digno dele. E pensou: “irei com meu tambor, e quando estiver frente a ele lhe direi: Senhor, sou pobre e não tenho nada para oferecer-vos. Mas di- zem que a minha música é bela e traz alegria. Vim tocar para vós a mais linda das minhas canções!”. Alguns dias depois, após contornar o Mar Morto e remontar as íngremes encostas que dele conduzem à Judeia, a caravana fazia sua entrada em Belém de Judá. Bem em cima de uma humilde casa, a estrela se detivera e os três nobres senhores ali entraram. Como se já estivesse à espera, encontrava-se um resplandecente Menino sentado majestosamente, como num trono, no colo de uma bela senhora. Logo compreenderam ser aquele o Messias anunciado pelos profetas. Prosternaram-se, adorarando-O, e Lhe ofereceram os valiosos presentes que traziam: ouro, incenso e mirra. Mas eis que, de repente, ouve-se o rufar de um tamborzinho e uma harmoniosa voz infantil, quebrando a solenidade da cena. Era o “menino do tambor” que cantava para o Salvador a mais bela de suas melodias. Ao ouvi-lo, o rosto do Menino Jesus iluminou-se com um belo sorriso, agradado com a candura dessa alma inocente. Talvez tenha sido ele, antes mesmo de São João Batista, o primeiro amigo do Menino Jesus! Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 47 ________ Os Santos de cada dia 1. São Naum, profeta do Antigo Testamento que, em suas exortações, mostrou Deus como regente da História e justo Juiz das nações. 2. Beato Rafael Chyliński, presbítero (†1741). Religioso franciscano polonês de nobre origem. Exerceu seu apostolado como pregador e confessor em Lagiewniki e Cracóvia. 3. Francisco Xavier, presbítero (†1552). São Birino, Bispo (†650). Enviado como missionário junto aos anglos pelo Papa Honório I, logrou a conversão do rei Cynegils e fixou sua sede episcopal em Dorchester. 4. São João Damasceno, presbítero e Doutor da Igreja (†749). Santa Bárbara, virgem e mártir (†séc. III). Oriunda da Nicomédia, atual Izmit (Turquia), seu pai enfureceu-se quando ela se tornou cristã e entregou-a aos juízes. 5. Beato Nicolau Stensen, Bispo (†1683). Nascido na Dinamarca num lar luterano, converteu-se após assistir a uma procissão de Corpus Christi. Estudou Teologia e tornou-se sacerdote. O Beato Inocêncio XI o nomeou Vigário apostólico das cidades nórdicas da Europa. 6. II Domingo do Advento. São Nicolau, Bispo (†sec. IV). Santo Obício, penitente (†1204). Estando próximo de perder a vida numa batalha, uma visão do inferno mostrou-lhe que se morresse naquela ocasião teria se condenado. Abandonou a carreira militar e fez-se oblato beneditino no mosteiro de Santa Júlia, na Bréscia. Sergio Hollmann 7. Santo Ambrósio, Bispo e Doutor da Igreja (†397). Santo Atenodoro, mártir (†cerca de 304). Após suportar inúmeros suplícios por não renegar a Fé, foi condenado à pena capital durante as perseguições de Diocleciano na Síria. 8. Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria. Beato José Maria Zabal Blasco, mártir (†1936). Pai de família fuzilado em Valência durante a Guerra Civil Espanhola. 9. Santa Leucádia, virgem e mártir (†304). Condenada à masmorra, em Toledo, por re"São João da Cruz" Paróquia de São João da Cruz, Alba de Tormes (Espanha) cusar as ofertas de apostasia do governador Daciano. 10. Beato Marcos Antonio Durando, presbítero (†1880). Sacerdote vicentino. Favoreceu o crescimento das Filhas da Caridade na Itália e fundou as Irmãs Nazarenas, dedicadas ao serviço dos que sofrem. 11. São Dâmaso I, Papa (†384). São João Diego de Cuauhtlatoatzin, vidente de Guadalupe (†1548). Beato Franco Lippi, religioso (†1292). Jovem militar senense de péssimos costumes, foi castigado pela cegueira. Arrependido, peregrinou a Santiago de Compostela e lá recuperou as vistas. Regressou à Itália, onde viveu o resto da vida como eremita. 12. Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina. São Finiano, abade (†549). Fundou diversos mosteiros na Irlanda, entre os quais o de Clonard, do qual foi abade e onde incentivou os estudos bíblicos. 13. III Domingo do Advento. Santa Luzia, virgem e mártir (†304). Beato João Marinoni, presbítero (†1562). Com São Caetano de Thiene, dedicou-se à reforma do clero e assistência aos necessitados. 14. São João da Cruz, presbítero e Doutor da Igreja (†1591). São Venâncio Fortunato, Bispo (†séc. VII). Famoso bardo de sua época. Atraído pelas virtudes de rainha Santa Radegunda, tornou-se sacerdote e passou a viver em Poitiers, de onde foi Bispo. A ele são atribuídos diversos hinos litúrgicos. 15. Beato Marino, abade (†1170). Na abadia de Cava, Itália, promoveu o esplendor da Liturgia e foi admirável na fidelidade ao Papa. ___________________ Dezembro 17. São Modesto, Bispo (†634). Patriarca de Jerusalém, restaurou a Cidade Santa devastada pelos persas, reconstruiu e encheu de monges os mosteiros. 18. Bispo São Flannano, (†séc. VII). Filho do rei Toirdelbaig. Abraçando a vida religiosa, foi eleito Bispo de Killaloe, Irlanda. 19. São Francisco Xavier Hà Trong Mâu, mártir (†1838). Terciário dominicano e catequista no Vietnã. Foi encarcerado, torturado e, por fim, estrangulado, por negar-se a pisotear a Cruz. 20. IV Domingo do Advento. Beato Vicente Romano, presbítero (†1831). Pároco de Torre del Greco, Itália, dedicou-se com todo empenho à instrução dos meninos e à assistência aos operários e pescadores. 21. São Pedro Canísio, presbítero e Doutor da Igreja (†1597). São Miqueias, profeta. Durante os reinados de Joatão, Acaz e Ezequias, condenou a idolatria e as injustiças, e anunciou ao povo eleito Aquele que nasceria em Belém e apascentaria Israel com a força do Senhor. 22. Santa Francisca Xavier Cabrini, virgem (†1917). Fundou o Instituto das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus e dedicou-se de modo especial a socorrer os imigrantes necessitados. 23. São João Câncio, presbítero (†1473). Santo Ivo, Bispo (†1116). Na diocese de Chartres, França, reprimiu a conduta do rei Filipe I que vivia em adultério. Exerceu importante papel em defesa do Papa na questão das investiduras. Sergio Hollmann 16. Beata Maria dos Anjos Fontanella, virgem (†1717). Aos 15 anos ingressou no Carmelo de Turim, Itália, do qual foi priora. Deixou muitos escritos de vida espiritual. 24. Santa Irmina, abadessa (†710). Tendo ficado viúva, consagrou-se a Deus e tornou-se grande benfeitora de São Wilibrordo. Fundou e dirigiu o mosteiro de Öhren, Alemanha. 25. Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Alberto Chmielowski, religioso (†1916). Tendo estudado pintura em Paris, abandonou o ambiente aristocrático em que vivia e fundou a Congregação dos Irmãos da Terceira Ordem de São Francisco, Servos dos Pobres. 26. Santo Estêvão, diácono e protomártir. São Dionísio, Papa (†268). Subiu ao Sólio Pontifício após a terrível perseguição de Valeriano. Desde o início procurou consolar os cristãos, resgatar os que haviam perdido a liberdade e reconduzir os transviados. 27. Festa da Sagrada Família, Jesus, Maria e José. São João, Apóstolo e Evangelista. Beato José Maria Corbín Ferrer, mártir (†1936). Encontrava-se estudando em Santander quando iniciou a Guerra Civil Espanhola. Por sua Fé foi levado ao “Alfonso Pérez”, um navio de carga transformado em prisão, e lá martirizado. 28. Santos Inocentes, mártires. Beato Gregório Khomyšyn, Bispo e mártir (†1945). Bispo de Ivano-Frankivsk, Ucrânia, morto no cárcere em decorrência das torturas e pancadas recebidas durante os interrogatórios. 29. São Tomás Becket, Bispo e mártir (†1170). “Santa Bárbara” - Catedral de Colônia (Alemanha) Santa Benedita Hyŏn Kiŏng-nyŏn, mártir (†1839). Jovem viúva dedicada à catequese na Coreia. Recusouse a apostatar e foi decapitada após sofrer muitos suplícios. 30. Beato João Maria Boccardo, presbítero (†1913). Pároco de Pancalieri, Itália. Fundou a Congregação das Pobres Filhas de São Caetano de Thiene, para auxiliar os órfãos, doentes e anciãos, e dar educação cristã à juventude. 31. São Silvestre I, Papa (†337). Santa Columba, virgem e mártir (†séc. IV). Presa aos 16 anos em Sens, França, resistiu-se a abandonar a Fé e foi decapitada por ordem do imperador Aureliano. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 49 O orvalho, o mar e as virtudes Se soubermos, não só admirar as maravilhas opostas e harmônicas da natureza, mas também praticar as virtudes representadas por elas, nossas almas terão incomparavelmente mais encantos do que todas as gotas de orvalho somadas e mais grandeza do que todos os mares reunidos. Q uão pouco atraente seria uma música que, do início ao fim, tivesse a mesma intensidade de volume, quase sem variação de tons, sem as doçuras dos sons agudos e a imponência dos graves! Soaria quase tão monótona quanto o canto da cigarra... Para ser deleitável, uma peça musical deve ter ora maior intensidade de volume, os fortíssimos, ora tender para o suave, os pianíssimos, e percorrer harmonicamente toda a escala cromática. Comporta, pois, desde o som delicado do violino até os acordes vibrantes do contrabaixo, formando um conjunto melodioso e variado. No mesmo sentido, se analisarmos a sinfonia apresentada pela natureza, veremos que ela nos encanta justamente por estar pervadida desses extremos harmônicos. De fato, quanta maravilha pode haver numa singela gota de orvalho! Ela dá-nos a impressão de concentrar um oceano de doçura, de candura e de inocência. De tal modo essa minúscula e frágil gotinha parece conter em si um universo de encan- Renan Freitas tos e esplendores, que seríamos levados a passar horas contemplando-a. Por outro lado, quem poderia ser insensível às grandiosas, misteriosas e sublimes belezas do mar aberto? Ostentando majestade e força, parece ele guardar em suas profundidades indecifráveis enigmas. E apesar de representar o oposto da fragilidade da gota de orvalho, o mar também nos atrai. Verifica-se o mesmo em outros campos: apraz ao homem, de um lado, ouvir o doce canto de um passarinho, e de outro, o rugido avassalador de um leão; admirar uma minúscula pedra preciosa e contemplar enlevado essa imensa joia crivada de estrelas cintilantes, chamada firmamento; acariciar uma aveludada e frágil pétala de rosa, e apalpar o áspero e forte bloco de granito de uma muralha de fortaleza ou parede de catedral. O que leva os homens a serem atraídos por realidades tão opostas? É que elas são opostas, sim, mas complementares, de maneira tal que se lhes faltasse um dos polos, o panorama ficaria defectivo, não refletiria toda a gama de virtudes que de- 50 Flashes de Fátima · Dezembro 2009 vemos admirar no Divino Mestre, o qual nos exortou: “Sede astutos como as serpentes, e inocentes como as pombas” (Mt 10, 16)! Disso, porém, mais do que nos legar palavras, Ele nos deu exemplo: nasceu pobre numa gruta e teve por berço uma manjedoura, mas quis entrar gloriosamente em Jerusalém, aclamado pela multidão que atapetava com ramos de oliveira e com seus mantos a estrada por onde Ele iria passar; com indomável fortaleza expulsou os vendilhões do Templo, mas com irresistível ternura atraiu a Si as criancinhas; invectivou os fariseus, mas perdoou a mulher pecadora e curou os enfermos. Deixou-nos, pois, o Divino Mestre, por palavras e pelo exemplo de Sua vida, a lição de que devemos não só admirar as maravilhas opostas e harmônicas da natureza, mas também praticar as virtudes representadas por elas. Se assim fizermos, nossas almas terão incomparavelmente mais encantos do que todas as gotas de orvalho somadas e mais grandeza do que todos os mares reunidos. Dezembro 2009 · Flashes de Fátima 51 Tito Alarcón Nivaldo Bueno Gustavo Kralj Gustavo Kralj Gustavo Kralj Sérgio Hollmann D eus Pai não deu ao mundo o Seu Unigênito senão por Maria. Por mais ardentes que fossem os suspiros dos patriarcas e as súplicas que durante quatro mil anos Lhe fizeram os profetas e os santos da Antiga Lei para obterem esse tesouro, só Maria o mereceu. Só Ela encontrou graça diante de Deus pela força das suas orações e pela grandeza das Suas virtudes. (São Luís Maria Grignion de Montfort) "Virgen de la pera" - Museu do Prado, Madri