Arquivo 12 - Laboratório de Física Computacional
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4.4. Relatividade Restrita ou Especial William Thomson (Belfast, Irlanda, 26 de julho de 1824 − Netherall, Escócia, 17 de dezembro de1907). -> 1892, recebe o título de Barão Kelvin of Largs. 1) Lord Kelvin e uma frase que jamais deveria ser dita: “A Física é um livro que já está todo escrito, falta apenas escrever uns três parágrafos na página final. Daqui pra frente temos apenas que aplicar equações, não desperdice o seu talento com isto” Lord Kelvin, a um estudante de graduação que foi lhe perguntar sobre como fazer para seguir a carreira de Físico, ao redor de 1890). 2) Os “três parágrafos” a que Lord Kelvin se referia: ¾ A previsão teórica para o espectro de radiação de um corpo totalmente negro não confere com o resultado experimental. -> a resposta a isto representa uma das bases para a Física Quântica. ¾ A descrição do Efeito Fotoelétrico dada pelo Eletromagnetismo também falha quando confrontada com resultados experimentais. -> a resposta levou à quantização da energia, “pilar” da Física Quântica. [Cristóvão R M Rincoski] p. 86 ¾ As Equações de Maxwell (Eletromagnetismo) dão resultados diferentes quando são utilizados referenciais inerciais diferentes. -> deu origem à Teoria da Relatividade Restrita de Einstein. 3) O Surgimento da Teoria da Relatividade de Einstein: Em 1905, quando publicou o seu 4º artigo na revista alemã “Annalen der Physik”, alguns trabalhos já haviam sido feito por outros físicos na época como Lorentz, FitzGerald, Poincarè, etc. Diferentemente, destes físicos conceituados, Einstein propôs a sua teoria levando em conta apenas 2 postulados, dos quais podiam o trabalho daqueles físicos, ser deduzidos. Provocando assim um fecho consistente, baseado somente nas próprias conclusões de Einstein. “Simplicidade e elegância das leis físicas, era o que o movia.” Gedankenexperiment: é uma experiência mental, imaginária, usada amplamente por Einstein para entender os fenômenos físicos aos quais tentava explicar. Ou ainda, exame mental de como funcionaria uma teoria em condições extremas. [Cristóvão R M Rincoski] p. 87 Ex.: segundo a biografia de Einstein, quando tinha 16 anos, se interessou por um problema (“Gedankenexperiment”) -> “Suponha que você esteja se olhando em um espelho. O que aconteceria com a sua imagem se você e o espelho estivessem viajando à velocidade da luz?” De acordo com a mecânica clássica (com as transformações de Galileu), a luz não alcançaria o espelho e, portanto, a imagem não apareceria. Como vimos, todos os referenciais inerciais são equivalentes. Então, no repouso, não deveríamos ver a nossa imagem no espelho. Por outro lado, sabemos que a luz é um fenômeno ondulatório. Como estaríamos viajando com a onda eletromagnética (luz), no nosso referencial − o observador e a luz − ela perderia o caráter de luz (a luz não se propaga no referencial da luz, os campos eletromagnéticos estão estáticos, etc.). Mas, de acordo com as equações de Maxwell, isto não pode ser, isto é, uma onda eletromagnética é sempre uma onda eletromagnética, em qualquer referencial inercial e viaja sempre com a mesma velocidade c. Então Einstein se deparou com o paradoxo de que: ou a Mecânica Newtoniana estava errada, ou as Equações de Maxwell estavam erradas. [Cristóvão R M Rincoski] p. 88 4) Os Postulados da Teoria da Relatividade Restrita (Especial): Postulado: é um fato ou preceito reconhecido sem prévia demonstração. 1º Postulado Princípio da Relatividade: As leis da Física são as mesmas (tomam a mesma forma) em todos os referenciais inerciais. Não existe nenhum sistema inercial preferencial (ou que seja melhor que outro). 2º Postulado Princípio da Constância da Velocidade da Luz: a velocidade da luz, no vácuo, c, tem o mesmo valor em todos os sistemas inerciais. Isto é, independe da forma como é emitida, se por um corpo em repouso ou em movimento uniforme. Conseqüência do 1º postulado: “Esse postulado de Einstein nos diz que as leis da física observadas por um observador, não acelerado, movendo-se com velocidade v = constante, serão exatamente as mesmas que aquelas observadas por um outro observador que esteja em repouso ou seja, parado, em relação a esse sistema de referência”. [Cristóvão R M Rincoski] p. 89 Com este postulado, Einstein descarta o éter como necessário, e de forma geral, com sistemas de referências absolutos. Pois afirma que não é possível encontrarmos através de qualquer experimento (mecânico, ótico, eletromagnético, etc.) um sistema de referência que esteja absolutamente parado ou absolutamente em movimento. Tal sistema não existe. Tudo que existe é o movimento relativo. Conseqüência do 2º postulado: “Se você estiver se aproximando de um feixe luminoso irá verificar que ele possui uma velocidade c. Se você estiver se afastando do feixe medirá a mesma velocidade c. Seja qual for a sua velocidade e seja qual for a direção em que você se deslocar sempre irá medir a mesma velocidade c para o feixe luminoso”. Não pode existir velocidade maior que a da luz. Este postulado afirma que a velocidade da luz é a mesma em todos os referenciais inerciais. -> de acordo com este postulado, se fosse possível para o observador se mover com o espelho à velocidade da luz, ele continuaria a ver a sua imagem. Como já foi dito, a teoria da relatividade restrita não foi bem aceita, muitos físicos famosos não concordavam muito com ela (ex.: Poincarè, Lorentz, etc.), apesar de terem publicado trabalhos que de certa forma podiam ser previsto por esta teoria. [Cristóvão R M Rincoski] p. 90 Esta teoria passou por um verdadeiro crivo, tanto intelectual quanto experimental (desde o começo do século XX), para finalmente ser aceita. Uma experiência de Comprovação: Uma das experiências mais famosas envolve o “decaimento do píon”, realizada no CERN (“Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire“ − Consórcio Europeu para a Pesquisa Nuclear − posteriormente mudou para: Organisation Européenne pour la Recherche Nucléaire − Organização Européia para a Pesquisa Nuclear, mas o nome CERN foi mantido), Europa, em 1964. Píon: uma partícula elementar que pode ter carga elétrica (π + ou π −) ou ser neutra (π 0), neste experimento foi utilizado o píon π 0 (o sobrescrito “0” − zero − quer dizer que a partícula é neutra − sem carga elétrica). A reação de decaimento ou de desintegração do píon pode ser representado pela reação: π 0 →γ +γ onde o píon se desintegra, ou decai, em duas partículas gama (ondas eletromagnéticas, fótons ou raios gama). Para conservar a energia e a quantidade de movimento, estes “gamas” devem sair em 1800 um do outro, no referencial do píon. [Cristóvão R M Rincoski] p. 91 Píons podem ser produzidos em laboratórios. Neste experimento de 1964, eles foram produzidos com uma velocidade muito próxima da luz: v = 0,99975 c = 99,975% c Quando mediram a velocidade dos gamas emitidos (no referencial do píon se movendo próximo à luz), o resultado foi c. Conclusão: o píon se movendo com velocidade muito próxima da luz, “vê” a onda eletromagnética se propagar com uma velocidade que seria a mesma de um referencial parado (c = 2,9977 × 108 m/s − velocidade da luz no vácuo). 4.5. Transformações de Lorentz Hendrik Antoon Lorentz (Arnhem, Países Baixos−Holanda, 18 de julho de 1853 − Haarlem, Países Baixos−Holanda, 4 de fevereiro de 1928). -> 1892, escreveu um artigo onde descrevia um dos fenômenos mais importantes para a relatividade restrita (a contração do espaço) que só tempo depois, com os trabalhos de FitzGerald e Larmor ficaram conhecidas como Transformações de Lorentz. [Cristóvão R M Rincoski] p. 92 Com o 2º postulado, c invariante para referenciais inerciais, descartamos a transformação de Galileu das velocidades, bem como as transformações de Galileu em geral e assim devemos encontrar outra forma de transformação que resolva o problema. Chegamos, então, às Transformações de Lorentz. As transformações de Lorentz estão para a relatividade restrita, assim como as transformações de Galileu estão para a relatividade de Galileu. Qual deve ser o critério para utilização das transformações de Galileu ou para utilização das transformações de Lorentz? -> A velocidade da luz. Enquanto a velocidade do referencial inercial for muito menor que c (v << c), usamos Transformações de Galileu e a Mecânica Clássica, de Newton e Galileu. Quando esta se torna importante (v ≅ c), devemos utilizar as Transformações de Lorentz e a Mecânica Relativística (de Einstein). 1) Segue um comparativo entre as Transformações de Galileu e Lorentz: -> adotando as transformadas para o referencial móvel, repouso, S S’, e em [Cristóvão R M Rincoski] p. 93 Transformações de Galileu: Transformações de Lorentz: xS − v t S x'+vt ' x ' = xS − v t xS = x ' + v t x '= y ' = yS yS = y ' y ' = yS yS = y ' z ' = zS zS = z ' z ' = zS zS = z ' t ' = tS = t de S→ S’ t '= tS = t ' = t de S’→ S 1− v c 2 xS = 2 t S − v xS c 2 1− v c 2 tS = 2 de S→ S’ 1− v2 c2 t ' + v x ' c2 1− v2 c2 de S’→ S (inversa) (inversa) 2) Dilatação do Tempo Considere o intervalo de tempo de transformado para S: Δt s = t sf − t si t si = ti '+ v xi ' c 2 1− v2 c2 e e S’ (medido em S’) e Δt ' = t f ' − t i ' , t sf = t f '+ v x f ' c 2 . 1− v2 c2 [Cristóvão R M Rincoski] p. 94 Δt S = Δt '+ v c 2 Δx ' O tempo t’ e x’ são medidos em S’, logo, se vamos 1− v c 2 Onde Δt S = considerar o intervalo de tempo em um ponto fixo em S’ (Δx’ = 0 m, x’f = x’i) 2 Δt ' 1− v2 c2 ΔtS = γ Δt ' ou Δt ' = Então, como Δt ' = 1 − v 2 c 2 Δt S . ou ΔtS γ com 1− v2 c2 < 1 γ= 1 1−v c ou γ > 1 2 2 . então Δt S > Δt ' . O observador S’, mede um intervalo de tempo em repouso relativo ao sistema onde os eventos ocorrem (S’, isto é, ele mede x’, t’, etc.), já o observador S, mede um intervalo de tempo relativo ao sistema que está em movimento (S’), então, S diz que o tempo de S’ é maior que o seu tempo. Assim, “quando os processos ocorrem em um corpo em movimento relativo ao observador eles parecem ter uma duração maior do que quando eles ocorrem em um corpo em repouso relativo ao observador”: Tmovimento > Trepouso que é a famosa Dilatação do Tempo. [Cristóvão R M Rincoski] p. 95 Então podemos definir o seguinte Tempo Próprio: todo intervalo de tempo medido pelo observador em S’ no próprio referencial S’. Comprimento Próprio: todo comprimento medido pelo observador em S’ no próprio referencial S’. Onde γ = 1 1 − v 2 c 2 é chamado de Fator de Lorentz. 3) Contração do Comprimento de FitzGerald−Lorentz Considere um comprimento em S’ (medido por um observador em S’) e transformado para um observador em S. Os pontos inicial e final deste comprimento, respectivamente: x f '= xsf ' − v t sf fazendo e 1− v2 c2 Δx ' = x f '− xi ' xi ' = com xsi − v t si , 1− v2 c2 Δx S = x sf − x si . [Cristóvão R M Rincoski] p. 96 Δx ' = Δx S − v Δt S 1− v2 c2 Medimos em S, xS e tS, logo, se vamos considerar o comprimento para um instante fixo em S (ΔtS = 0 s, tsf = tsi ) Δx S Onde Δx ' = 1− v2 c2 ou Δx S = 1 − v 2 c 2 Δx ' , Generalizando: ΔL ' = ΔL S 1− v2 c2 ΔL ' = γ ΔL S ou ΔLS = 1 − v ou ΔLS = Aqui vemos que ΔL ' γ com 2 c 2 ΔL ' . γ = 1 1− v c 2 1 − v 2 c 2 < 1 ou γ > 1 então 2 . ΔL ' > ΔL . Então “o observador S, que vê o objeto em movimento, mede um comprimento menor que o observador em S’, que vê o objeto em repouso”: Lmovimento < Lrepouso que é a famosa Contração do Comprimento de FitzGerald−Lorentz. [Cristóvão R M Rincoski] p. 97
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