IFSP- FT1 Fragmentos sobre a história do turismo
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IFSP- FT1 Fragmentos sobre a história do turismo
IFSP – FT1 – Profa. Rafaela Malerba Ficha 1: Fragmentos sobre a história do turismo IFSP- FT1 Fragmentos sobre a história do turismo Para uma melhor compreensão da história do turismo, é essencial retornar à diferença entre o conceito de viagem, que implica apenas deslocamento, e o conceito de turismo, que implica a existência também de recursos, infraestrutura e superestrutura jurídico-administrativa. Também é preciso diferencial viagem de outro tipo de deslocamento. O homem primitivo migrava, procurando melhores condições para seu sustento, caça, árvores frutíferas. Isso não é o mesmo que viajar. Viajar implica voltar, e o homem primitivo ficava no novo lugar desde que este lhe garantisse o sustento; ele não tencionava retornar. Muitos povos vivjaram, durante séculos, de forma nômade, o que tampouco tem a ver com viagens ou turismo. BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas, SP: Papirus, 1995, p. 43-44. Pode-se observar que no decorrer da história as viagens sempre acompanharam o homem. No início, em busca da própria sobrevivência: alimentação e vestimenta. Houve viagens longas e árduas, de peregrinos atraídos pela fé; não se falava ainda em viagens de lazer como nos dias de hoje. Os grupos, na Idade Antiga, viajavam em busca de conhecimento. As viagens constituíram uma atividade enriquecedora, propiciando trocas culturais entre os diferentes povos. Os gregos, por exemplo, em contato com os chineses, desenvolveram a dialética; com os egípcios aperfeiçoaram a matemática. Os romanos, da mesma forma, incorporaram técnicas de engenharia dos etruscos e as empregaram na construção de aquedutos, pontes e estradas. Marco Polo é conhecido por ter levado para a Itália a pizza e o macarrão. O nosso calendário veio da Babilônia, os números arábicos vieram da Índia, trazidos pelos árabes, que andavam pelo mundo fazendo escambo. Os exemplos do enriquecimento das viagens são numerosos. No Gran Tour, os jovens, após o término do curso superior, faziam um estágio nas principais cidades da Europa, que tinham muita história, visitavam museus, apreciavam a gastronomia e as artes. No Oriente, eram feitas viagens culturais, semelhantes às viagens dos jovens europeus, talvez um Grand Tour do Islã. No entanto, tem-se um outro momento das viagens com a intuição visionária de um jovem inglês, Thomas Cook. Importa ressaltar que, em Portugal, no mesmo ano da primeira viagem de grupo de Cook, surge uma agência - a Abreu -, que atravessou o tempo e se tornou uma das mais importantes operadoras da Europa, ainda hoje. A partir desse momento, as viagens passam a ter um aspecto voltado basicamente para o lucro, o turismo passa a ser uma atividade articulada ao capital. Começa uma nova era para os deslocamentos humanos, a etapa da exploração comercial dos sonhos, da emoção e do status. Essa experiência paga coloca as viagens na ótica do mercado. O conhecimento e o aspecto cultural das viagens entra na "indústria cultural", o turista é um viajante acomodado, busca o conforto e as viagens vão ficando iguais para lugares cada vez mais parecidos. Atualmente, podemos falar do turismo como um grande shopping center. O turista está sempre cercado de produtos para comprar, basta olhar os parques temáticos - da entrada a cada atração somos estimulados a consumir. Nos resorts não é diferente, até uma simples toalha com a logomarca do estabelecimento toma-se produto de consumo para os hóspedes. Aliás, com os preços muito mais altos. Na realidade, o que está sendo vendido não é o produto em si, mas o nome gravado nele, a grife, nesse caso o nome do hotel. Mais uma vez a commodização das atividades turísticas: compra-se o status de um lugar famoso. Mais um exemplo de commodities comercializado em ambientes de lazer. No fundo tudo é vendido, desde a paisagem até os produtos com a marca do hotel; é a Disneyzação. Num mundo globalizado, onde o sentido de valor vem se modificando - processo denominado por alguns "nova economia" vários fatores passam a se destacar na elaboração da mercadoria, desde atraentes fetiches nas embalagens até o cheiro do produto, entrando num espetáculo orquestrado pelo marketing para atrair o consumidor. IFSP – FT1 – Profa. Rafaela Malerba Ficha 1: Fragmentos sobre a história do turismo Depois de falarmos das viagens e dos seres humanos desde a pré-história, chegando à exploração das viagens como negócios, a indústria dos sonhos chega a vender a viagem virtual; já é possível, num parque temático, escolher a montanha russa de sua preferência, e não precisar se deslocar fisicamente, a viagem será virtual. Entra-se numa cápsula semelhante a um simulador de vôo, aparelho de treinar pilotos, e sentir-se a emoção sem sair do lugar. Não podíamos esquecer da última e ousada experiência, o turismo na órbita do planeta. O milionário americano Dennis Tito entrou para a história em 2001, quando voltou para a Terra como o primeiro turista a visitar o espaço. Chegou a desembolsar a quantia de 20 milhões de dólares aos russos para passar seis dias na Estação Espacial Internacional. Fica aí a grande experiência paga da virada do milênio, o turismo sideral. BARBOSA, Ycarim Melgaço. História das viagens e do turismo. São Paulo: Aleph, 2002. O turismo é um fenômeno dos tempos modernos, uma invenção do capitalismo, portanto, é relativamente recente. Surgiu quando o homem descobriu o prazer de viajar, não apenas por necessidade e obrigação, mas por ser algo prazeroso, forma de gozo, até se transformar em uma mercadoria como objeto de desejo e de felicidade. Durante o Renascimento, surgiu a primeira referência ao nome turismo através do grand tour, dos guias e demais serviços turísticos. O turismo do século XIX serviu para educar os viajantes das classes privilegiadas, que realizavam as viagens conhecidas como Grand Tour, por motivos culturais e educacionais e posteriormente agregando as práticas de lazer voltadas ao termalismo, balneários, cassinos e montanhismo. O conceito de turismo, embora tenha sido sistematizado no século XVII, na Inglaterra, somente no século XIX se instaurou como ideia moderna, com suas principais teorias datadas do pós Segunda Guerra Mundial. As invenções de Thomas Cook, em 1841, inseriram o turismo no mundo dos negócios, beneficiado cada vez mais pelas evoluções dos transportes, do comércio e dos serviços. O roteiro turístico, o “pacote”, o guia, a operadora, a reserva de hotéis, o voucher, o tour – antecedente do cheque de viagem – foram elementos do turismo instituídos a partir daquele ano. O turismo teve sua expansão nas sociedades industriais, na Modernidade do século XIX e XX. Ao contrário a viagem existiu desde o início da existência humana e ocorria por variados motivos: necessidade de suprir a sobrevivência, as guerras, os ritos sagrados, a busca da saúde. Evidentemente que, na Antiguidade, esses deslocamentos não tinham a conotação da viagem turística moderna. Alguns autores ufanistas falam do turismo na Antiguidade, mas não se nota razão para que aquelas viagens tivessem sido turismo, nem para se ampliar tanto o sentido e o significado da atividade. Entende-se, como Barreto (1995, p.44), que esses deslocamentos humanos somente possam ser vistos como uma pré ou proto-história do turismo. Na Antiguidade, as viagens eram vistas como um imperativo do destino; eram realizadas como uma provação ou sofrimento, às vezes uma aventura, consideradas como determinação da vontade divina. Foi na Modernidade que a viagem se liberou dessa carga de sofrimento e tornou-se excitação e prazer, diz Ortiz (s/d, p.25). A dança, o canto, os jogos, e o lúdico eram atividades referentes ao dever religioso e não ao divertimento, prazer e gozo. A dança ao fogo, por exemplo, consistia ao mesmo tempo em um culto, uma adoração, um ritual, uma diversão e complemento do trabalho. Os jogos olímpicos que hoje desencadeiam grandes fluxos turísticos, na Antiguidade Clássica, eram um ato cívico, religioso, esportivo, de lazer e de preparação para a cidadania. Ali eram escolhidos os atletas, de corpo e mente sãos, e só esses é que podiam exercer cargos de governança. A viagem turística tem um objetivo especial, de sair do cotidiano e possibilitar o encontro como o novo, o diferente, o desconhecido, a satisfação sutil que proporciona o consumo e o luxo. Na vida moderna tanto a sensação de que o trabalho é estressante, quanto o frequente corre-corre citadino fez priorizar a necessidade de lazer e da busca da felicidade, fora deste cotidiano. Na representação de muitos indivíduos, encontrá-la implica sair do mundo real, do trabalho, viabilizado pela viagem turística. Muitos acreditam que a felicidade é facilmente encontrada fora do cotidiano. CORIOLANO, Luzia Neide Menezes Teixeira. O turismo nos discursos, nas políticas e no combate à pobreza. São Paulo: Annablume, 2006. p.21-23.