RTC PIRnaUSP 111
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RTC PIRnaUSP 111
Projeto de Pesquisa Dentro do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas da FAPESP “NOVOS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO ENERGÉTICO REGIONAL VISANDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL” Processo 03/06441-7 RTC/PIRnaUSP- Nº111 Relatório Técnico Científico Relatório de Caracterização e Levantamento dos Potenciais Energéticos de Oferta da Região Coordenação Geral: Prof.Dr. Miguel Edgar Morales Udaeta São Paulo, setembro de 2006 Equipe: Alexandre Ruiz Picchi Bernardette Mendonça Bruno Keiti Kuada Shimanoe Bruno Madeira Cruz Bruno Pirilo Conicelli Daniel Nunes Danielly Ordanini Marcelino de Melo Décio Cicone Junior Eduardo dos Santos Fiedler Fatuma Catherine Atieno Odongo Geraldo Francisco Burani Giselle Teles João Paulo de Campos Maia Thomé João Victor Jonathas Luiz de Oliveira Bernal José Aquiles Baesso Grimoni Júlia Marques Bellacosa Luiz Cláudio Ribeiro Galvão Mário Fernandes Biague Maurício Guimarães Sabbag Paulo Hélio Kanayama Ricardo Junqueira Fujii Ricardo Lacerda Baitelo Thiago Hiroshi de Oliveira Vanessa Meloni Massara 3 Índice de Tabelas Tabela 1: Resumo dos Resultados do Cálculo do Potencial solar ................................. 36 Tabela 2: Tecnologias Solares ....................................................................................... 37 Tabela 3: Classificação das PCH´s quanto a potência e quanto à queda de Projeto...... 45 Tabela 4: Sub-bacias do Baixo Tietê ............................................................................. 53 Tabela 5: Parâmetros Fisiográficos e Hidrológicos do Baixo Tiete .............................. 57 Tabela 6: Vazões Médias de longo Período e Q7,10 ....................................................... 58 Tabela 7: Vazões Médias e Mínimas no curso principal ............................................... 59 Tabela 8: Síntese das Características Hidrogeológicas dos Aqüíferos .......................... 60 Tabela 9: Resumo do Balanço Hídrico da Bacia do Baixo Tietê .................................. 61 Tabela 10: Disponibilidade das Águas Subterrâneas na Bacia do Baixo Tietê ............. 61 Tabela 11: Índices de Comprometimento da Disponibilidade das Águas Subterrâneas na Bacia do Baixo Tietê.............................................................................................................. 62 Tabela 12: Tabela resumo dos recursos hídricos ........................................................... 63 Tabela 13: Para auxiliar na escolha do equipamento hidráulico.................................... 64 Tabela 14: Pico-geradores hidráulicos........................................................................... 64 Tabela 15: Alguns Preços dos Óleos Vegetais .............................................................. 80 Tabela 16: Culturas Perenes na Região Administrativa de Araçatuba .......................... 83 Tabela 17: Culturas Semiperenes................................................................................... 83 Tabela 18: Culturas Anuais e Olerícolas ....................................................................... 84 Tabela 19: Pastagens...................................................................................................... 84 Tabela 20: Capineiras/Silagens...................................................................................... 85 Tabela 21: Ocupação do Solo ........................................................................................ 85 Tabela 22: Atividades Agropecuárias da Região Administrativa de Araçatuba............ 86 Tabela 23: Resumo do potencial teórico agrícola.......................................................... 87 Tabela 24: Resumo do potencial teórico de resíduos animais ....................................... 89 Tabela 25: Custos das Atividades Florestais ................................................................. 92 Tabela 26: Preços de gaseificadores com as potências indicadas.................................. 95 Tabela 27: Sistemas de gaseificação com 20 kW de potência ....................................... 97 Tabela 28: Especificações e custos dos geradores Diesel/Biodiesel.............................. 97 Tabela 29: Dados das células combustíveis................................................................. 114 Tabela 30: Turbinas eólicas ......................................................................................... 132 Tabela 31: Preços de pequenos grupos de geradores a gás.......................................... 138 Tabela 32: Comparação das Usinas Térmicas e Geotérmicas na Geração de Empregos150 4 Tabela 33: Resultados da Estimativa de Potenciais Teóricos dos Recursos Energéticos da Região de Araçatuba ......................................................................................................... 152 5 Índice de Figuras Figura 1: Região Administrativa de Araçatuba, Oeste Paulista. ................................... 15 Figura 2: Fluxograma do Resumo dos Procedimentos do Levantamento das Tecnologias Existentes e Novas na Região Administrativa de Araçatuba. .................................................. 18 Figura 3: Fluxograma para Caracterização dos Recursos de Oferta, [Elaboração: Fujii, R.J.] 19 Figura 4: Coletor Solar .................................................................................................. 22 Figura 5: Esquema de aquecimento de água utilizando coletores solares. .................... 23 Figura 6: Exemplo comercial de aproveitamento térmico da energia solar na cidade de Belo Horizonte – MG. O sistema possui área total de 804 m2 de coletores solares e capacidade de armazenamento de água de 60.000 litros. ............................................................... 24 Figura 7: Princípio de Funcionamento do Concentrador Solar. .................................... 25 Figura 8: Foto do sistema concentrador solar localizado na Califórnia – EEUU.......... 25 Figura 9: Esquema do sistema fotovoltaico................................................................... 26 Figura 10: Sistema de bombeamento fotovoltaico - Santa Cruz I (Mirante do Paranapanema - SP). ................................................................................................................................. 26 Figura 11: Sistema fotovoltaico de bombeamento de água para irrigação (Capim Grosso - BA). 27 Figura 12: Sistema de eletrificação fotovoltaica do Núcleo Perequê (Vale do Ribeira - SP) 27 Figura 13: Sistema fotovoltaico para atendimento domiciliar - Projeto Ribeirinhas .... 28 Figura 14: Consumo energético residencial brasileiro discretizado. ............................. 29 Figura 15: Relação entre a Latitude terrestre e a Energia efetivamente aproveitada pela localidade. ................................................................................................................................. 31 Figura 16: O efeito da inclinação terrestre na duração do dia e suas conseqüências nas estações do ano e na radiação solar incidente numa região. ...................................................... 32 Figura 17: Média anual de insolação diária no Brasil (horas). ...................................... 33 Figura 18: Radiação solar global diária - média anual típica (MJ/m2.dia) ................... 34 Figura 19: Radiação solar global diária - média anual típica (Wh/m2.dia)................... 35 Figura 20: Mapa Hidrológico da Região Administrativa de Araçatuba ........................ 42 Figura 21: Esquema de Aproveitamento do Potencial Hidráulico. ............................... 44 Figura 22: Turbina Kaplan de simples (à direita) e dupla regulagem (à esquerda)....... 46 Figura 23: Turbina Francis ............................................................................................ 47 Figura 24: Rotores da Turbina Francis lento, normal e rápido (de esquerda à direita). 47 Figura 25: Esquema de Turbina do Tipo Bulbo. ........................................................... 48 Figura 26: Representação de Turbina Straflo de pás fixas. ........................................... 49 Figura 27: Turbina Tubular tipo “S” ............................................................................. 50 Figura 28: Turbina Pelton.............................................................................................. 51 Figura 29: Conjunto Turbina-Bomba para Coogeração. ............................................... 52 Figura 30: Precipitação média mensal histórica folha 01/05......................................... 54 6 Figura 31: Precipitação média mensal histórica folha 02/05......................................... 55 Figura 32: Precipitação média mensal histórica folha 03/05......................................... 55 Figura 33: Precipitação média mensal histórica folha 04/05......................................... 56 Figura 34: Precipitação média mensal histórica folha 05/05......................................... 56 Figura 35: Descargas médias, mínimas e máximas mensais do Rio Baguaçu em Araçatuba 58 Figura 36: Vazões ao longo do Rio Tiete- UGRHI-19.................................................. 60 Figura 37: Esquema do aproveitamento da biomassa.................................................... 71 Figura 38: Representação Esquemática do Ciclo Rankine ............................................ 73 Figura 39: Esquema de uma Usina a Ciclo Combinado ................................................ 74 Figura 40: Configuração Típica de um Gaseificador .................................................... 75 Figura 41: Esquema simplificado de instalação IGCC.................................................. 75 Figura 42: Dendê ........................................................................................................... 77 Figura 43: Palmeira........................................................................................................ 78 Figura 44: Representação Esquemática do Processo Anaeróbico ................................. 81 Figura 45: Ilustração do esquema de um biodigestor .................................................... 82 Figura 46: Amostra da madeira Cortada em pequenos pedaços.................................... 96 Figura 47: Esquema de Produção de Energia Elétrica na Célula a Combustível ........ 102 Figura 48: Esquema do Sistema HEXIS da Empresa Sulzer....................................... 104 Figura 49: Representação Esquemática da Célula do Tipo PEMFC ........................... 105 Figura 50: Representação Esquemática da Célula do Tipo AFC ................................ 106 Figura 51: Representação da Célula Tipo PAFC......................................................... 107 Figura 52: Representação Esquemática da Célula Tipo MCFC .................................. 108 Figura 53: Representação Esquemática da Célula Tipo SOFC ................................... 110 Figura 54: Comparação dos Energéticos Convencionais com Urânio ........................ 118 Figura 55: Varetas de Combustível ............................................................................. 119 Figura 56: Varetas de Controle dentro do Vaso de Pressão ........................................ 119 Figura 57: A Contenção da Angra I e Angra II ........................................................... 120 Figura 58: Esquema de Usina Térmica Nuclear .......................................................... 121 Figura 59: Estrutura do Núcleo.................................................................................... 122 Figura 60: Impacto do nêutron no núcleo “pesado” .................................................... 122 Figura 61: Reação em Cadeia ...................................................................................... 123 Figura 62: Turbina eixo vertical .................................................................................. 128 Figura 63: Turbina eixo horizontal .............................................................................. 129 Figura 64: Potencial Eólico do Sudeste (CRESESB) .................................................. 130 Figura 65: Mapa de ventos do Brasil - CBEE ............................................................. 132 Figura 66: Ilustração Esquemática de uma Usina Geotérmica .................................... 142 7 Figura 67: Permutador de Calor nas Usinas Geotérmicas ........................................... 142 Figura 68: Produção de Rosas com a Utilização de Energia Geotérmica ................... 149 Figura 69: Criação dos crocodilos usando a água das fontes geotérmicas .................. 149 Figura 70: Coletor de calor numa escola primária....................................................... 150 Figura 71: Armazenamento do calor e Refrigeração ................................................... 150 8 Índice 1 Introdução __________________________________________________________ 10 2 Justificativa _________________________________________________________ 11 3 Objetivos Principais __________________________________________________ 12 4 Metodologia _________________________________________________________ 12 5 Caracterização das Tecnologias de Oferta_________________________________ 15 5.1 Tecnologias Solares ____________________________________________________ 20 5.2 Introdução____________________________________________________________ 20 5.3 Principais Características Construtivas das Tecnologias de Aproveitamento Solar 21 5.3.1 5.3.2 5.4 5.4.1 5.4.2 5.4.3 5.4.4 5.5 5.5.1 5.5.2 5.5.3 5.6 5.6.1 5.6.2 5.6.3 5.6.4 6 Aproveitamentos térmicos ____________________________________________________ 22 Escolha do Tipo de Tecnologia a ser Analisado Neste Trabalho _______________________ 28 Caracterização dos Recursos Solares na Região Administrativa de Araçatuba ___ 31 Radiação Solar _____________________________________________________________ O Efeito da Latitude _________________________________________________________ O Efeito da Inclinação do Eixo Terrestre _________________________________________ O efeito das condições atmosféricas locais________________________________________ 31 31 32 32 Estimativa do Potencial Teórico __________________________________________ 36 Fototérmico________________________________________________________________ 36 Fotovoltáico _______________________________________________________________ 36 Tabela Resumo do Potencial Solar ______________________________________________ 36 Caracterização das Dimensões e Atributos das Tecnologias Solares ____________ 36 Aspectos Técnico-Econômicos das Tecnologias Solares _____________________________ Aspectos Sociais das Tecnologias Solares ________________________________________ Aspectos Ambientais das Tecnologias Solares_____________________________________ Aspectos Políticos das Tecnologias solares _______________________________________ 37 39 40 41 Tecnologias Hidráulicas _______________________________________________ 41 6.1 Introdução____________________________________________________________ 42 6.2 Principais Características Construtivas das Tecnologias Hidráulicas ___________ 43 6.2.1 6.2.2 6.3 6.3.1 6.3.2 6.3.3 Classificação das centrais _____________________________________________________ 44 Turbinas Hidráulicas_________________________________________________________ 45 Caracterização dos Recursos Hidricos da Região Administrativa de Araçatuba __ 52 Disponibilidade Hídrica da Região______________________________________________ 52 Dados Pluviométricos da região ________________________________________________ 53 Dados Fluviométricos________________________________________________________ 56 6.4 Araçatuba Estimativa do Potencial Teórico dos Recursos Hídricos da Região Administrativa de 62 1.1. Tabela resumo dos cálculos ______________________________________________ 63 6.5 Caracterização das Dimensões das Tecnologias Hidráulicas___________________ 63 6.5.1 6.5.2 6.5.3 6.5.4 7 Aspectos Técnico-Econômicos das Tecnologias Hidráulicas__________________________ Aspectos Sociais das Tecnologias Hidráulicas _____________________________________ Aspectos Ambientais das Tecnologias Hidráulicas _________________________________ Aspectos Políticos das Tecnologias Hidráulicas e Recursos Hídricos ___________________ 63 65 66 67 Tecnologias à Biomassa _______________________________________________ 70 7.1 Introdução____________________________________________________________ 71 7.2 Principais Características Construtivas____________________________________ 72 7.2.1 7.2.2 Queima Direta _____________________________________________________________ 72 Gaseificação _______________________________________________________________ 74 9 7.2.3 7.2.4 7.3 7.4 Araçatuba Transesterificação ___________________________________________________________ 76 Digestão Anaeróbia _________________________________________________________ 80 Caracterização dos Recursos de Bimassa na Região Administrativa de Araçatuba. 82 Estimativa do Potencial Teórico da Biomassa da Região Administrativa de 87 7.4.1 7.4.2 7.5 Cálculo do Potencial Teórico dos Resíduos Agrícolas. ______________________________ 87 Cálculo do Potencial dos Resíduos Animais. ______________________________________ 89 Caracterização das Dimensões das Tecnologias e dos Recursos da Biomassa _____ 91 7.5.1 7.5.2 7.5.3 7.5.4 8 Aspectos Técnico-Econômicos das Tecnologias e dos Recursos de Biomassa ____________ 91 Aspectos Sociais das Tecnologias e Recursos de Biomassa___________________________ 98 Aspectos Ambientais das Tecnologias e Recursos da Biomassa _______________________ 99 Aspectos Políticos das Tecnologias e Recursos de Biomassa ________________________ 100 Tecnologias Células-Combustíveis______________________________________ 101 8.1 Introdução___________________________________________________________ 102 8.2 Principais Características Construtivas___________________________________ 102 8.2.1 8.2.2 8.2.3 8.2.4 8.2.5 8.3 Célula Combustível com Membrana Polimérica (PEMFC) __________________________ Célula Combustível Alcalina (AFC)____________________________________________ Célula Combustível de Acido Fosfórico (PAFC) __________________________________ Célula Combustível de Carbonato Fundido (MCFC) _______________________________ Célula Combustível de Óxido Sódio (SOFC)_____________________________________ 104 105 106 107 108 Caracterização dos Recursos Utilizados pelas Tecnologias de Células Combustíveis 110 8.4 Estimativa do Potencial Teórico dos Recursos Utilizados pelas Tecnologias das Células Combustíveis _______________________________________________________________ 111 8.5 Caracterização das Dimensões das Tecnologias e dos Recursos de Células Combustíveis 114 8.5.1 8.5.2 8.5.3 8.5.4 9 Aspectos Técnico-Econômicos das Células Combustíveis. __________________________ Aspectos Sociais das Tecnologias e dos Recursos de Células Combustíveis _____________ Aspectos Ambientais das Tecnologias e dos Recursos das Células Combustíveis_________ Aspectos Políticos das Tecnologias e dos Recursos das Células Combustíveis ___________ Tecnologias Nucleares _______________________________________________ 116 9.1 Introdução___________________________________________________________ 117 9.2 Principais Características Construtivas___________________________________ 117 9.3 Caracterização dos Recursos de Energia Nuclear __________________________ 122 9.3.1 9.3.2 9.3.3 9.3.4 9.3.5 9.3.6 10 114 115 115 115 Estimava do Potencial dos Recursos Nucleares ___________________________________ Caracterização das Dimensões das Tecnologias e Recursos Nucleares._________________ Aspectos Técnico-Econômicos das Tecnologias e Recursos Nucleares_________________ Aspectos Sociais das Tecnologias e Recursos Nucleares ____________________________ Aspectos Ambientais das Tecnologias e Recursos Nucleares ________________________ Aspectos Políticos das Tecnologias e Recursos Nucleares___________________________ 124 125 125 125 125 126 Tecnologias e Recursos Eólicos ________________________________________ 127 10.1 Introdução___________________________________________________________ 127 10.2 Principais Características Construtivas___________________________________ 128 10.3 Caracterização dos Recursos Eólicos da Região Administrativa de Araçatuba __ 129 10.4 Araçatuba 10.5 Estimativa do Potencial Teórico dos Recursos Eólicos da Região Administrativa de 130 Caracterização das Dimensões dos Recursos Eólicos ________________________ 131 10.5.1 10.5.2 Caracterização da Dimensão Técnico-Econômica _________________________________ 131 Aspectos Políticos das Tecnologias Eólicas ______________________________________ 134 10 11 Tecnologias de Gás Natural ___________________________________________ 135 11.1 Introdução___________________________________________________________ 135 11.2 Principais Características Construtivas___________________________________ 136 11.3 Caracterização do Gás Natural para Região Administrativa de Araçatuba _____ 137 11.4 Araçatuba 11.5 Estimativa do Potencial Teórico do Gás Natural para Região Administrativa de 137 Caracterização das Dimensões do Gás Natural_____________________________ 138 11.5.1 11.5.2 11.5.3 11.5.4 12 Aspectos Técnico-Econômicos do Gás Natural ___________________________________ Aspectos Sociais do Gás Natural ______________________________________________ Aspectos Ambientais do Gás Natural ___________________________________________ Aspectos Políticos do Gás Natural _____________________________________________ 138 139 139 140 Tecnologias de Energia Geotérmica ____________________________________ 140 12.1 Introdução___________________________________________________________ 140 12.2 Principais Características Construtivas das Tecnologias Geotérmicas _________ 141 12.2.1 12.2.2 12.3 Estrutura dos Sistemas Geotérmicos ___________________________________________ 142 Tipos de Sistemas Geotérmicos _______________________________________________ 143 Caracterização dos Recursos Geotérmicos na Região Administrativa de Araçatuba 144 12.4 Estimativa do Potencial Teórico dos Recursos Geotérmicos na Região Administrativa de Araçatuba ________________________________________________________ 145 12.5 Caracterização das Dimensões dos Recursos e Tecnologias Geotérmicas _______ 145 12.5.1 12.5.2 12.5.3 12.5.4 Aspectos Técnico-Econômicos dos Recursos e das Tecnologias Geotérmicas ___________ Aspectos Ambientais dos Recursos e das Tecnologias Geotérmicas ___________________ Aspectos Sociais dos Recursos e Tecnologias Geotérmicas__________________________ Aspectos Políticos dos Recursos e das Tecnologias Geotérmicas _____________________ 145 146 148 151 13 Análise dos Resultados _______________________________________________ 151 14 Conclusões_________________________________________________________ 153 15 Referências Bibliográficas ____________________________________________ 156 11 PARTE I – LEVANTAMENTO DAS TECNOLOGIAS E RECURSOS DE OFERTA 12 Resumo No âmbito do Projeto “Novos Instrumentos de Planejamento Energético Regional Visando o Desenvolvimento Sustentável” das políticas públicas da FAPESP, neste relatório serão relatados os aspectos relacionados à caracterização dos recursos energéticos de oferta e levantados aspectos tecnológicos para a sua utilização na produção de energia elétrica na Região Administrativa de Araçatuba. A demanda crescente por novas formas de geração elétrica para atender as necessidades especificas de um maior número de consumidores tem acarretado grandes mudanças no mercado de equipamentos de geração. O grande desenvolvimento tecnológico que vem apresentando este setor tem resultado no aparecimento de diversos tipos de soluções, principalmente no que se refere à geração em média e pequena escala, que neste projeto não podem ser ignoradas. Para isso, fez-se um levantamento detalhado das características técnicas, ambientais, sociais e políticas das tecnologias de possível utilização na Região Administrativa de Araçatuba. Por outro lado, fez-se caracterização dos recursos disponíveis na Região. Finalmente, foram feitas as estimativas dos potenciais teóricos para cada recurso existente na Região, analisando os seus atributos sociais, políticos, técnico-econômicos e ambientais, assim respeitando às exigências do PIR (Planejamento Integrado dos Recursos Energéticos). Posteriormente, serão avaliados os potenciais realizáveis e do mercado na base dos potenciais teóricos estimados, associando-os aos atributos levantados na região em estudo. 1 Introdução A energia elétrica tem importância fundamental para o desenvolvimento, inclusive o sustentável, possibilitando a elaboração e acompanhamento de projetos biotecnológicos que dependem de sua existência para a realização. O desenvolvimento econômico dos países está estreitamente associado à satisfação da demanda energética, sendo que a transformação e disponibilização de energia atende a uma necessidade crescente de consumo, alcançando números cada vez maiores. Além disso, empreendimentos energéticos de qualquer natureza, em maior ou menor grau, causam interferências ao meio ambiente. Devemos considerar que as fontes tradicionais de energia (como petróleo e carvão), além de potencialmente poluidoras, não são renováveis. Por isso, principalmente após a segunda guerra mundial, onde houve um grande aumento na demanda, os países desenvolvidos têm procurado diversificar suas fontes de energia de forma a minimizar alguns problemas potenciais ao seu crescimento: a dependência de fornecedores de petróleo, o esgotamento destas fontes e sua capacidade poluidora. Os estudos de outras fontes energéticas se voltaram para a hidroeletricidade, 13 os combustíveis biológicos (álcool, metano) e a energia nuclear. Em seguida, passaram a estudar também fontes relativamente mais novas, como eólica, geotérmica, solar e a hidrogênio. No Brasil, a regulamentação da exploração de madeira pelo extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF (obrigando os grandes consumidores a executar programas de reflorestamento), a implementação do Proálcool (programa de apoio ao desenvolvimento do álcool combustível), o choque dos preços do petróleo, em 1979 (impactando o consumo deste produto), e o pesado investimento em grandes usinas hidrelétricas, determinaram uma mudança estrutural na matriz energética nacional no início da década de 80. O país passou então a não mais pensar somente em importar recursos, mas também em produzir o seu próprio combustível, considerando os impactos sociais e ambientais que estes trariam. Estudar e levantar as tecnologias existentes atualmente é de extrema importância para qualquer projeto, uma vez que sem elas fica impossível efetuar um planejamento de forma a se obter as melhores opções de geração e investimento. Considerar as quatro dimensões de forma equivalente é uma das características do PIR, e com um “leque” de informações em todas elas, podemos analisar os impactos relacionados à implantação de determinada ferramenta, conseguindo prever cenários futuros, e evitar falta de abastecimento, ou o desperdício por falta de consumidores. Além disso, na medida em que a utilização da energia (lado da demanda) se dá de forma racional e eficiente, diminuem-se as pressões sobre a necessidade de expansão da oferta de energia (lado da oferta) e, portanto, são esperadas menores interferências sobre o meio ambiente oriundas da construção das usinas, seja ela hidrelétrica térmica ou nuclear. Por outro lado, as prospecções dos recursos para operação destas usinas são adiadas, que também causam danos ao meio ambiente. Hoje é reconhecido que os custos incrementais da energia do lado da oferta são várias vezes superiores aos mesmos custos em ações de eficiência energética do lado da demanda. Daí ser válido todo esforço na identificação e na adoção de medidas que visem à eficiência. Vale lembrar, no entanto, que medidas de eficiência só são estimuladas se precedidas de estudos adequados e se justificadas do ponto de vista econômico. Neste trabalho, será feito o levantamento do potencial de oferta de energia, para diversas formas de produção. Serão analisados os aspectos econômicos, sociais, ambientais e políticos de cada uma delas, descrevendo seu funcionamento e limitando suas aplicações para, posteriormente, verificar qual se adequaria melhor às condições da Região Administrativa de Araçatuba localizada no Oeste Paulista [Figura 1]. 14 Figura 1: Região Administrativa de Araçatuba, Oeste Paulista. Neste trabalho, não se pretende apenas caracterizar as tecnologias existentes no mercado nacional, mas também todas as tecnologias produzidas mundialmente para geração de energia. Portanto, o trabalho visa ainda analisar as tecnologias aplicadas de produção de energia utilizando os recursos energéticos locais da Região Administrativa de Araçatuba, tais como: recursos hídricos, solar, biomassa, eólicos, etc. 2 Justificativa Assegurar acesso a fontes de energia amplas, acessíveis, limpas e sustentáveis é, sem duvida, um dos grandes desafios enfrentados pelo mundo moderno. E a Região Administrativa de Araçatuba não está fora do contexto desta problemática, a saber, é uma das regiões do estado de São Paulo com uma grande contribuição em termo agropecuária, [1]. Portanto, a proposta deste projeto é tentar identificar as lacunas deixadas ao longo deste caminho do seu desenvolvimento e propor soluções mais eficientes a médio e longo prazo, com a implementação do PIR na Região, usando de forma adequada os seus recursos naturais, principalmente energéticos, não esquecendo as questões ambientais, sociais e políticas, que são primordiais hoje um dia para qualquer projeto de engenharia ou para qualquer indústria. Este relatório busca realçar os aspectos tecnológicos para indústria de energia que possam apontar para o uso adequado destas, permitir a atingir as metas integradas da segurança energética e ao mesmo possibilitar a criação das medidas de redução da poluição de forma geral e resolver o 15 problema da mudança climática. Por esta razão, inicialmente procurou-se fazer a caracterização completa das tecnologias existentes na região, no mercado nacional e internacional, levantar as suas características técnicas e com isso fazer uma avaliação sucinta das quatro dimensões contempladas pelo PIR (técnico-econômica, social, ambiental e política). Estando os atributos relacionados a essas dimensões bem definidos e avaliados, pode-se afirmar que os problemas ligados aos danos ambientais, sociais e conflitos políticos entre os interessados e envolvidos durante a elaboração dos projetos para o desenvolvimento da região serão minimizados. Essa visão de análise também pode apoiar na seleção dos projetos mais eficazes na região. Essa é a motivação principal para o desenvolvimento deste trabalho. 3 Objetivos Principais O objetivo principal deste trabalho é apresentar todas as opções dos recursos de oferta da energia existentes na região e não existentes, que no futuro podem vir compor a carteira dentro do processo do PIR. Também apresentar as características das possíveis tecnologias para sua exploração na Região Administrativa de Araçatuba, sem esquecer os aspectos técnicos, econômicos, sociais, ambientais e políticos. Sendo definidos os recursos de oferta e selecionadas as tecnologias para sua utilização, será feita a integração dos recursos e, finalmente, será definida a carteira dos Recursos e Plano Preferencial para Região, seguindo a metodologia apresentada do PIR (Planejamento Integrado dos Recursos), [2]. 4 Metodologia A metodologia aplicada para o trabalho foi dividida em duas partes: A primeira parte mostra os passos seguidos para a caracterização e a escolha das tecnologias, que serão utilizadas para exploração do potencial estimado. Para isso, foram levantadas todas as tecnologias existentes na região, novas tecnologias no mercado nacional e no mercado internacional, que possam vir ser aplicadas. Os procedimentos adotados para a realização destas tarefas estão resumidos no fluxograma abaixo [Figura 2]. O diagrama mostra no primeiro bloco o local de estudo, que é a Região Administrativa de Araçatuba. Para esta região, foram feitos os seguintes trabalhos, seguindo o diagrama: • Levantamento das tecnologias existentes ou já em operação, levantadas as novas tecnologias com maior eficiência no aproveitamento dos recursos de oferta que possam ser 16 utilizadas para produção de energia elétrica e ou que possam servir como de substituição das tecnologias existentes, mas menos eficientes; • O levantamento foi feito detalhadamente tanto no mercado nacional como no mercado internacional, como mostra o terceiro nível dos blocos do fluxograma; • Para cada determinada tecnologia, foi feita análise sucinta das dimensões técnico- econômico, ambiental, social e política, tanto para tecnologias levantadas no mercado nacional como no mercado internacional; • Uma vez levantadas as tecnologias e analisadas as dimensões, fez-se uma avaliação mais profunda dos atributos relacionados a cada dimensão em questão; • Só após esta avaliação que será proposta a seleção das tecnologias apropriadas para o aproveitamento dos recursos caracterizados na Região Administrativa de Araçatuba, como mostra o ultimo bloco do fluxograma. Para que sejam cumpridos os passos apresentados no fluxograma apresentado na Figura 2, foi necessário o deslocamento da equipe dos pesquisadores para o local do estudo, com objetivo de levantar junto às empresas atuantes na região todas informações relacionadas as tecnologias utilizadas para produção de energia elétrica, efetuando visitas às usinas hidrelétricas de Jupia, Avanhandava, Promissão, Ilha Solteira e outras. Também foram feitas visitas às indústrias já com equipamentos da cogeração. Além destas visitas, foram realizados encontros com as concessionárias atuantes na Região Administrativa de Araçatuba, principalmente a CESP. Com o apoio da Cooperhidro, foram realizados dois treinamentos, uma série de encontros de trabalhos e palestras com objetivos de esclarecer as comunidades e os interessados sobre a importância do Projeto para Região. Os resultados destes trabalhos estão nos relatórios específicos ao relatório executivo. A segunda parte desta metodologia se relacionada à caracterização dos recursos de oferta, como mostra o fluxograma apresentado na Figura 3, [3]. No primeiro bloco do fluxograma, foi definido o universo do estudo, ou seja, o local de interesse, que é a Região Administrativa de Araçatuba. Em seguida, foi feita a seleção dos recursos: hídricos, eólicos, solares, biomassa, geotérmicos, nucleares, energia de oceânica, etc. Após a seleção dos recursos, foram avaliadas as dimensões técnico-econômica, social, ambiental e política através dos atributos selecionados para cada dimensão do determinado recurso em análise. 17 Em seguida, fez-se uma análise global dos recursos envolvidos no estudo na região. Uma vez feita esta análise, efetuou-se os cálculos dos potenciais teóricos, cujos resultados serão apresentados nos próximos itens do relatório. Figura 2: Fluxograma do Resumo dos Procedimentos do Levantamento das Tecnologias Existentes e Novas na Região Administrativa de Araçatuba. 18 Figura 3: Fluxograma para Caracterização dos Recursos de Oferta, [Elaboração: Fujii, R.J.] 19 5 Caracterização das Tecnologias de Oferta A caracterização das tecnologias de oferta envolve todas as possíveis tecnologias para produção de energia elétrica ou para o aproveitamento dos recursos existentes na região em estudo. Tais tecnologias podem ser utilizadas para o aproveitamento dos recursos hídricos, solares, de biomassa, nucleares, geotérmicos, de energia oceânica, etc. Portanto, serão analisadas todas as opções das tecnologias existentes na região, no mercado nacional e internacional, as suas características construtivas e os atributos relacionados (eficiência, custos por kW, custos de manutenção, se são tecnologias limpas, visando os problemas ambientais, custos de importação se não for nacional, os benefícios sociais no uso destas tecnologias, etc.). Portanto, o levantamento envolve as tecnologias convencionais e alternativas. 5.1 Tecnologias Solares A Região Administrativa de Araçatuba, pelas suas características geográficas, apresenta um grande potencial solar. Por esta razão, além das exigências do PIR de que todas as opções da oferta devem ser avaliadas, no estudo presente faz-se o levantamento detalhado das tecnologias para a utilização deste recurso na Região como um dos componentes importante para ser inserido na matriz energética regional. Já nos tempos mais antigos, a energia solar veio tendo a sua aplicação, e com o recente desenvolvimento tecnológico se tornou uma das formas de energia mais visadas, devido a sua ausência de impactos no meio ambiente quando produzida. Portanto, será dada neste trabalho uma merecida atenção, pelo fato de a Região em estudo apresentar condições climáticas favoráveis para a utilização desta forma de energia. 5.2 Introdução A energia proveniente do sol serve de base para muitas das outras formas aproveitadas pelo homem atualmente. Ela sustenta o ciclo da água (hidráulica), possibilita a fotossíntese (biomassa), aquece as massas de ar, ocasionando ventos (eólica), aquece parte do oceano, influenciando nas marés (maremotriz), além de também ser aproveitada diretamente, aquecendo água ou sendo transformada em energia elétrica. Os geradores solares fotovoltaicos encontrados estão na faixa de 5 a 160 Watts (picogeradores), com preços variando de R$312,00 a R$2920,00, [4]. Geradores como esses não podem 20 ser utilizados para suprir a total necessidade de uma residência, ou edifícios residenciais/comerciais. São úteis apenas para abastecer pequenas máquinas isoladas dos grandes fornecedores, que necessitam de baixa tensão e corrente para bom funcionamento (como instrumentos de coleta de dados, bombas d’água, etc), ou sistemas de iluminação rural, que é a característica predominante na Região Administrativa de Araçatuba. Para este último, seria necessário um sistema de armazenamento de energia, que já existe atualmente, mas ainda está sendo aprimorado. Existe também o sistema fototérmico, muito utilizado em residências como forma alternativa (e mais barata) de aquecer a água do chuveiro. É uma forma de reduzir os gastos de energia, uma vez que a energia usada no aquecimento de água corresponde a aproximadamente 1820% da energia total gasta em uma residência, [5] e [6]. Na região de Araçatuba, existem muitas famílias que não tem acesso à energia elétrica, pois não são abastecidas pelas grandes fornecedoras. A energia solar é uma solução que deve ser considerada para resolver este problema, apesar do seu alto custo, mas vale a pena uma vez comparada com a construção de uma linha de transmissão até estes consumidores e a melhoria nas suas condições sociais devidas ao uso de energia. No item seguinte, faz-se um levantamento das tecnologias para utilização deste recurso, sejam elas nacionais ou importadas. 5.3 Principais Características Construtivas das Tecnologias de Aproveitamento Solar A Energia Solar Fotovoltaica é a energia obtida através da conversão direta da luz em eletricidade (Efeito Fotovoltaico). O efeito fotovoltaico, relatado por Edmond Becquerel, em 1839, é o aparecimento de uma diferença de potencial nos extremos de uma estrutura de material semicondutor, produzida pela absorção da luz, [7]. A célula fotovoltaica é a unidade fundamental do processo de conversão. Para o sistema fototérmico, são utilizados os coletores solares. Estes são aquecedores de fluidos (líquidos ou gasosos), e são classificados em coletores concentradores e coletores planos, em função da existência ou não de dispositivos de concentração da radiação solar. O fluido aquecido é mantido em reservatórios termicamente isolados até o seu uso final (água aquecida para banho, ar quente para secagem de grãos, gases para acionamento de turbinas, etc.) [Figura 4], [8]. 21 Figura 4: Coletor Solar 5.3.1 Aproveitamentos térmicos 5.3.1.1 Coletor solar Esse sistema de aproveitamento, também denominado aquecimento solar ativo, envolve o uso de um coletor solar discreto. A radiação é absorvida para aquecimento de água a temperaturas inferiores a 100 °C. O coletor é instalado normalmente no teto das residências e edificações. Devido à baixa densidade da energia solar que incide sobre a superfície terrestre, o atendimento de uma única residência pode requerer a instalação de vários metros quadrados de coletores (para uma residência típica de três ou quatro moradores, são necessários cerca de 4 m² de coletor). Um sistema básico de aquecimento de água por energia solar é composto de coletores solares (placas) e reservatório térmico (Boiler) [Figura 5], [8]. As placas coletoras são responsáveis pela absorção da radiação solar. O calor do sol, captado pelas placas do aquecedor solar, é transferido para a água que circula no interior de suas tubulações de cobre. O reservatório térmico, também conhecido por Boiler, é um recipiente para armazenamento da água aquecida com revestimento para conservar o calor para consumo posterior. A caixa de água fria alimenta o reservatório térmico do aquecedor solar, mantendo-o sempre cheio. Em sistemas convencionais, a água circula entre os coletores e o reservatório térmico através de um sistema natural chamado termossifão. Nesse sistema, a água dos coletores fica mais quente e, portanto, menos densa que a água no reservatório. Assim a água fria “empurra” a água quente gerando a circulação. Esses sistemas são chamados da circulação natural, ou termossifão. 22 A circulação da água também pode ser feita através de motobombas em um processo chamado de circulação forçada ou bombeado, e são normalmente utilizados em piscinas e sistemas de grandes volumes (hotéis e hospitais, principalmente). Para garantir que nunca haverá falta de água quente, todo aquecedor solar traz um sistema auxiliar de aquecimento, para quando o tempo ficar muito nublado ou chuvoso por vários dias, ou quando a casa recebe visitas e o número de banhos fica acima do dimensionamento inicial. O sistema auxiliar pode ser elétrico ou a gás, ou mesmo um chuveiro elétrico normal. Mas a verdade é que, no caso do Brasil, devido ao alto nível de insolação, o sistema auxiliar de aquecimento é acionado apenas poucos dias por ano. Figura 5: Esquema de aquecimento de água utilizando coletores solares. Alguns fatores que têm contribuído para o crescimento do mercado são: a divulgação dos benefícios do uso da energia solar; a isenção de impostos que o setor obteve; financiamentos, como o da Caixa Econômica Federal, aos interessados em implantar o sistema; e a necessidade de reduzir os gastos com energia elétrica durante o racionamento em 2001, [10]. Também são crescentes as aplicações em conjuntos habitacionais e casas populares, como nos projetos Ilha do Mel, Projeto Cingapura, Projeto Sapucaias em Contagem, Conjuntos Habitacionais SIR e Maria Eugênia (COHAB) em Governador Valadares, [10]. Outro elemento propulsor dessa tecnologia é a Lei n° 10.295, de 17 de outubro de 2001, que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e a promoção da eficiência nas edificações construídas no País, [9]. 23 Um dos principais entraves à difusão da tecnologia de aquecimento solar de água é o custo de aquisição dos equipamentos, particularmente para residências de baixa renda. Mas a tendência ao longo dos anos é a redução dos custos, em função da escala de produção, dos avanços tecnológicos, do aumento da concorrência e dos incentivos governamentais. Não se pode esquecer-se de citar também a concorrência com outros sistemas de aquecimento de água mais difundidos, como o chuveiro elétrico e o aquecedor a gás natural. No ítem 5.3.2, tem-se um comparativo entre os três métodos. Figura 6: Exemplo comercial de aproveitamento térmico da energia solar na cidade de Belo Horizonte – MG. O sistema possui área total de 804 m2 de coletores solares e capacidade de armazenamento de água de 60.000 litros, [10]. 5.3.1.2 Concentrador solar Utilizado em sistemas que necessitem temperaturas mais elevadas. O princípio de funcionamento é similar ao de um espelho côncavo: capta-se a energia solar incidente numa área relativamente grande de forma esférica ou parabólica e a direciona para um ponto determinado (o ponto focal), de modo que a temperatura deste último aumente substancialmente. Os sistemas parabólicos de alta concentração atingem temperaturas bastante elevadas (chegando a 3800 °C no espelho parabólico de Odeillo, na França) e seus índices de eficiência variam de 14 a 22 %. Toda essa energia pode ser utilizada para a geração de vapor e, conseqüentemente, energia elétrica, [10]. Este sistema, todavia, deve operar em conjunto com outras possibilidades de geração de energia (como o gás natural) de modo a atender a demanda em horários de baixa incidência solar. 24 Além disso, há a necessidade de um dispositivo de orientação dos painéis refletores, para maximizar a eficiência da focalização dos raios solares. Figura 7: Princípio de Funcionamento do Concentrador Solar. Figura 8: Foto do sistema concentrador solar localizado na Califórnia – EEUU. 5.3.1.3 Sistemas fotovoltaicos É um método de conversão direta da radiação solar em energia elétrica. Na presença da luz, ocorre a excitação dos elétrons das placas fotovoltaicas semicondutoras, as quais são feitas de silício. A eficiência de conversão das células solares é medida pela proporção da radiação solar incidente sobre a superfície da célula que é convertida em energia elétrica. Atualmente, as melhores células apresentam um índice de eficiência de 25 %, [11]. Na Figura 9, pode ser observado um esquema do sistema fotovoltaico. 25 Figura 9: Esquema do sistema fotovoltaico. A energia coletada pelos painéis pode ser empregada de diversas formas, sendo as mais usuais: 1- Bombeamento de água para o abastecimento doméstico, irrigação, e piscicultura; Figura 10: Sistema de bombeamento fotovoltaico - Santa Cruz I (Mirante do Paranapanema - SP). Fonte: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP. Instituto de Eletrotécnica e Energia - IEE. Formação técnica. São Paulo: 2000. 26 Figura 11: Sistema fotovoltaico de bombeamento de água para irrigação (Capim Grosso - BA). Fonte: CENTRO DE REFERÊNCIA PARA A ENERGIA SOLAR E EÓLICA SÉRGIO DE SALVO BRITO - CRESESB. 2000. Disponível em: www.cresesb.cepel.br/cresesb.htm. 2- Iluminação pública; 3- Sistemas de uso coletivo (eletrificação de escolas, postos de saúde e centros comunitários), e Figura 12: Sistema de eletrificação fotovoltaica do Núcleo Perequê (Vale do Ribeira - SP) Fonte: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP. Instituto de Eletrotécnica e Energia - IEE. Formação técnica. São Paulo: 2000 4- Atendimento domiciliar. 27 Figura 13: Sistema fotovoltaico para atendimento domiciliar - Projeto Ribeirinhas, [12] e [13]. Fonte: CENTRO DE REFERÊNCIA PARA A ENERGIA SOLAR E EÓLICA SÉRGIO DE SALVO BRITO - CRESESB. 2000. Informe Técnico, Rio de Janeiro, v. 7, n. 7, maio 2002. Disponível em: www.cresesb.cepel.br/Publicacoes/download/Info7_pag1-20.PDF. O principal entrave ao aproveitamento desse recurso energético é o alto custo da tecnologia utilizada. Porém, essa desvantagem será superada com o tempo, pois a indústria ainda precisa se desenvolver. (Observação: a energia a carvão também era muito cara nos primeiros cinqüenta anos de uso e depois de décadas se tornou barata). Com relação a evoluções recentes na indústria de painéis fotovoltaicos, é interessante destacar o desenvolvimento de um processo mais barato de geração de eletricidade: o material conhecido por filme fino, que se baseia no uso de películas muito finas de materiais, como silício amorfo, cujos painéis são mais leves e ocupam menos espaço que os painéis atuais. Além disso, seu processo fabril é infinitamente mais simples que os das tradicionais tecnologias de silício cristalino (mono e policristalino). O setor de energia solar tem conseguido reduções de custos anuais da ordem de 10%, mas há escassez de silício. A energia solar é uma fonte confiável e está em expansão no mundo, graças às demandas de países como Japão, Itália e Alemanha. 5.3.2 Escolha do Tipo de Tecnologia a ser Analisado Neste Trabalho O concentrador solar é uma tecnologia ainda em pesquisa, portanto, sua viabilidade e seu uso são muito restritos. • Painel fotovoltaico X coletor solar 28 Segundo os dados do setor elétrico nacional, o setor residencial é responsável por 25,2 % do consumo total de energia do Brasil e, conforme dados da Agência de Aplicação de Energia (1996) e do Procel, o consumo de energia residencial brasileiro se distribui da seguinte forma: Figura 14: Consumo energético residencial brasileiro discretizado. Fonte: Agencia de Aplicação de Energia – 1996. Além do gráfico da Figura 14, é importante ressaltar como as três principais cargas são distribuídas ao longo do dia: A energia consumida com refrigeração apresenta um consumo constante, enquanto que a iluminação e o aquecimento são cargas que agem apenas num breve intervalo de tempo (entre as 17 e 21 horas). A questão do alto consumo da iluminação residencial pode ser encarada da seguinte forma: devido ao risco de apagão em 2001, grande parte dos consumidores substituiu as lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes compactas (cerca de 4 vezes mais econômicas). No horizonte de estudo de trinta anos, há grande possibilidade (devido à rapidez do avanço tecnológico) de haver uma nova substituição de fontes luminosas residenciais nos próximos dez anos (uso de leds em substituição às lâmpadas atuais, os quais são muito mais econômicos e menos agressivos ao meio ambiente). Comparando-se o preço do sistema fotovoltaico, com todos os seus componentes, com o preço da substituição do tipo de iluminação, conclui-se que este último será muito mais viável. Com relação ao aquecimento, entre as 17 e 21 horas, que é justamente o horário de ponta do sistema, este representa metade do consumo residencial. O sistema interligado nacional registrou em 7 de abril de 2005 um recorde de demanda máxima instantânea de energia elétrica no valor de 60.918 MW, sendo o chuveiro elétrico responsável por 10.382 MW (12 % do total), [14]. 29 A instalação de sistemas de aquecimento solar permite a intensa redução da demanda máxima instantânea de energia elétrica, reduzindo as pressões de investimentos do setor elétrico em capacidade de geração adicional somente para o atendimento ao hábito de banho atrelado ao uso do chuveiro elétrico. É importante ressaltar que os aquecedores solares emitem menos de 60 % do CO2 e do CH4 emitidos pelos chuveiros, assim sendo, recursos adicionais obtidos por meio de pagamento de serviços ambientais da tecnologia seriam uma importante ferramenta na promoção de aquecedores solares no país e na Região. Com relação à geração de empregos, a tecnologia termossolar segue a mesma lógica da geração de empregos da indústria solar fotovoltaica, e segundo estudo realizado pela ABRAVA (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), o setor gera aproximadamente 55 empregos por MW térmico implantado. Na Região Administrativa de Araçatuba encontram-se dois fabricantes de coletores solar: a Soletrol – Aquecedores Solares de Água, e a Transen Indústria e Comércio Ltda., ou seja, com a aplicação em larga escala deste recurso e o aumento registrado das exportações destes sistemas (com média de crescimento anual de 157%, entre os anos de 2001 e 2005), a região passa a ter uma maior oferta de emprego direto para seus habitantes, [15]. Diante de tais fatos, o objeto de estudo mais viável é a tecnologia de coletores solares. Nota importante: A partir das características das tecnologias de aproveitamento da energia solar e do consumo residencial da Região Administrativa de Araçatuba (extrapolado do consumo residencial nacional), considerou-se o uso do coletor solar como o meio mais viável (econômica e tecnicamente) para a população local. Todavia, é importante ressaltar que não estamos desprezando os outros meios (fotovoltaico e concentrador solar), os quais possuem boas possibilidades de aproveitamento para aquela localidade em médio prazo, visto a grande quantidade de insolação anual (em ambos os casos) e a possibilidade de utilização em sistemas híbridos com o gás natural (no caso do concentrador). 30 5.4 Caracterização dos Recursos Solares na Região Administrativa de Araçatuba A Região Administrativa de Araçatuba apresenta uma grande quantidade de horas de insolação, portanto, isso faz com o interesse por este recurso seja iminente. Pois, neste estudo será caracterizado e avaliado o seu potencial teórico. 5.4.1 Radiação Solar Para o melhor aproveitamento da energia solar que incide numa região, é necessário numa primeira análise, recordar algumas informações geográficas básicas: latitude, a inclinação do eixo terrestre (estas duas informações estão diretamente relacionadas com as estações do ano) e o número de horas de radiação solar. A seguir, as condições atmosféricas da área sob análise devem ser avaliadas (nebulosidade, umidade relativa do ar, etc.), pois influem significativamente nos valores sob estudo. 5.4.2 O Efeito da Latitude Como se sabe, quanto maior a latitude, menor será a quantidade de radiação direta recebida pela localidade, pois os raios solares atingem o solo de modo oblíquo (fazendo um ângulo com relação a uma reta perpendicular ao chão). A Figura 15 ilustra tal fato: As setas negras indicam a energia total proveniente do sol, enquanto que os riscos vermelhos, mais grossos, indicam qual a parcela de energia pode ser aproveitada diretamente na região. Figura 15: Relação entre a Latitude terrestre e a Energia efetivamente aproveitada pela localidade. Numa aproximação matemática bem simples, podemos dizer que: Energia Efetiva = Energia solar total ⋅ cos φ, Onde φ, é o ângulo formado entre os raios solares (setas negras) e a reta perpendicular ao solo terrestre na latitude da região sob estudo (retas que partem do centro da Terra). 31 5.4.3 O Efeito da Inclinação do Eixo Terrestre A inclinação do eixo terrestre é a responsável pelas quatro estações do ano (primavera, verão, outono e inverno) [Figura 16], e estas estão relacionadas com a variação do ângulo φ, descrito anteriormente. Além da variação na incidência de radiação solar, há também a variação da duração do dia: na região da Linha do Equador, um dia possui 12 horas (com variações mínimas). Todavia, quanto mais nos afastamos em direção aos pólos, a variação da duração do dia tende a aumentar: nas regiões polares, o ano é dividido em seis meses com iluminação solar e seis meses na mais completa escuridão. Figura 16: O efeito da inclinação terrestre na duração do dia e suas conseqüências nas estações do ano e na radiação solar incidente numa região. Fonte: MAGNOLI, D.; SCALZARETTO. R. – Geografia, espaço, cultura e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. v. 1. (Adaptado) Em Porto Alegre, capital brasileira mais ao sul, a duração do dia varia de 13 horas e 47 minutos no solstício de verão (dia 21 de dezembro) para 10 horas e 13 minutos, [16]. 5.4.4 O efeito das condições atmosféricas locais Não é só a localização da região do planeta com relação à Linha do Equador que influencia a radiação solar que efetivamente atinge a superfície terrestre. Não se deve esquecer que antes de chegar ao solo a energia proveniente do astro rei tem que atravessar a atmosfera. Dependendo das características climáticas locais (muitos dias chuvosos ou com céu encoberto), o número de horas de insolação diária chega a variar em até quatro horas para localidades posicionadas numa mesma latitude [Figura 17]. Conseqüentemente, a energia que atinge a superfície terrestre nesses pontos 32 pode variar em até 1000 Wh/m² dia, o que pode ser determinante para a escolha do recurso energético solar. As Figura 17e Figura 18, que indicam essa variação da radiação solar global diária, são estudos realizados por duas instituições distintas: Figura 17 - Atlas Solarimétrico do Brasil, iniciativa da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE e da Companhia Hidroelétrica do São Francisco - CHESF, em parceria com o Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito – CRESESB; Figura 18 - Atlas de Irradiação Solar no Brasil, elaborado pelo Instituto Nacional de Meteorologia - INMET e pelo Laboratório de Energia Solar - LABSOLAR, da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Figura 17: Média anual de insolação diária no Brasil (horas), [17]. Fonte: ATLAS Solarímétrico do Brasil. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2000. (Adaptado) Como lembrado por pesquisadores do Centro de Pesquisas de Eletricidade - CEPEL, ambos os modelos apresentam falhas e limites e não devem ser vistos como concorrentes. Ao contrário, 33 devem ser complementares, na medida em que reúnem o máximo possível de dados e podem, dessa forma, melhorar as estimativas e avaliações da disponibilidade de radiação solar no Brasil (CRESESB, 1999). Figura 18: Radiação solar global diária - média anual típica (MJ/m2.dia) Fonte: ATLAS Solarímétrico do Brasil. Recife : Editora Universitária da UFPE, 2000. (Adaptado) 34 Figura 19: Radiação solar global diária - média anual típica (Wh/m2.dia), [18] Fonte: ATLAS de Irradiação Solar no Brasil. 1998. (Adaptado) Como o intuito deste trabalho é avaliar a Região Administrativa de Araçatuba, pelas figuras anteriores obtemos que: Figura 17 – a insolação diária média da referida área é de 7 horas. Figura 18 – a radiação solar diária é de 18 MJ/ m² dia. Sabendo que: 1W = 1 J/s, e que 1 hora = 3.600 s, então a energia fornecida pela radiação solar será:(18.000.000 / 3600) = 5.000 Wh/m² dia Figura 19 - a radiação solar diária está entre 5500 e 5700 Wh/m² dia. Ao comparar os dois resultados de radiação solar, verificamos que para a referida localidade, podemos considerar uma radiação média de 5300 Wh/m² dia, ou, ao fazer uma analogia com um equipamento popular, podemos dizer que a radiação incidente em um metro quadrado por dia naquela localidade é equivalente à energia necessária para alimentar um chuveiro elétrico de 5400 W por uma hora. 35 5.5 Estimativa do Potencial Teórico A Região Administrativa de Araçatuba apresenta condições climáticas favoráveis para exploração deste recurso. A insolação na região, na maioria dos municípios, é boa e tem duração de quase 18 horas por dia. 5.5.1 Fototérmico Com relação à energia solar, pudemos perceber a importância que tem a utilização dessa tecnologia para o aquecimento de água. De acordo com informações fornecidas pela Transen, fabricante de coletores solares na região, um sistema residencial, se bem dimensionado, pode suprir cerca de 80% das necessidades da mesma para aquecimento de água. Sabendo-se que o consumo elétrico residencial de Araçatuba é da ordem de 362 GWh (Seade, 2002), e estimando-se que 20% dessa energia seja usada para aquecimento de água, teremos um potencial de 72 GWh/ano = 6.190,59 tEP/ano apenas em aquecimento de água residencial, [19]. 5.5.2 Fotovoltáico Existe também o potencial de geração fotovoltaica. Como este depende da área disponível para implantação, o cálculo foi feito em função da disponibilidade de locais viáveis para sua utilização. A radiação média incidente no oeste paulista é de aproximadamente 5,5kWh/m²dia = 2MWh/m2ano. Com base nos produtos levantados neste relatório, temos um aproveitamento de 12,3% dessa energia. Assim, teremos um equivalente de 246kWh/m2ano = 0,02 tEP/m2ano, [19]. 5.5.3 Tabela Resumo do Potencial Solar Tabela 1: Resumo dos Resultados do Cálculo do Potencial solar Potencial Potencial Solar Insolação (tEP/ano) Fotovoltaico 5500Wh/m2dia 0,02/m2 Fototérmico 5500Wh/m2dia 6.190,59 5.6 Caracterização das Dimensões e Atributos das Tecnologias Solares Dada caracterização das dimensões e seleção dos atributos relacionados a cada uma delas permite uma visão mais clara na escolha da tecnologia a ser utilizada para o aproveitamento do recurso em estudo. 36 5.6.1 Aspectos Técnico-Econômicos das Tecnologias Solares Foram encontrados diversos painéis solares fotovoltaicos, de pico-geração. O custo desse tipo de tecnologia ainda está relativamente alto, se comparado ao custo de formas mais convencionais de geração elétrica. Sua eficiência é de aproximadamente 12,3%, sendo esta a razão entre a energia absorvida pelos painéis e da energia produzida pelo mesmo, [20]. As células solares continuam a operar com o mesmo rendimento sob céu nublado, como sob a luz direta do sol. Na Tabela 2 são apresentados os seus atributos técnico-econômicos tais como: Potência de Pico: Mostra a Potência máxima gerada pelo componente mostrado. Custo por Watt: Dividindo-se o custo unitário pela potência nominal, temos o custo por watt. Este é importante porque possibilita uma rápida comparação entre os custos de diferentes formas de geração de energia. Vale lembrar que os custos de instalação e manutenção desta tecnologia não estão inclusos no custo por Watt. Vida Útil (anos): Indica o período médio em que o sistema funciona normalmente, em condições nominais de uso. 5.6.1.1 Tabela Resumo Dos Atributos Técnico-Econômicos Nesta tabela a seguir, são apresentadas algumas informações adicionais, tais como os dados do fabricante e os modelos atualmente produzidos nos mercados nacionais e internacionais. Tabela 2: Tecnologias Solares Potência de Pico (W) 5 10 Custo Modelos Fabricante Preço (R$) KS-5A Kyocera 325 65,00 ST 5 Shell Solar 320 64,00 I-05 Isofoton 312 62,40 KS-10A Kyocera 430 43,00 ST10 Shell Solar 458 45,80 S10 Shell Solar 443 44,30 SX 10U BP Solar 476 47,60 I-10 Isofoton 480 48,00 S25 Shell Solar 625 31,25 por Watt 37 20 30 40 50 60 70 80 ST20 Shell Solar 895 44,75 KS-20A Kyocera 725 36,25 SX 20M BP Solar 700 35,00 I-22 Isofoton 754 37,70 SX 30U BP Solar 698 23,27 KC35 Kyocera 780 26,00 S36 Shell Solar 850 28,33 SM 46 Shell Solar 979 24,48 SX 40 U BP Solar 930 23,25 KC 45 Kyocera 1060 26,50 I-47 Isofoton 1073 26,83 KC 50 Kyocera 1110 22,20 SM50H Shell Solar 1011 20,22 SX 50U BP Solar 1160 23,20 SX 55U BP Solar 1278 25,56 I-50 Isofoton 1050 21,00 I-55 Isofoton 1359 27,18 SX 60U BP Solar 1290 21,50 SP 65 Shell Solar 1349 22,48 SQ 70 Shell Solar 1416 20,23 SP70 Shell Solar 1100 15,71 SQ 75 Shell Solar 1484 21,20 SQ 80 Shell Solar 1550 19,38 KC 80 Kyocera 1580 19,75 PW750/80 Photowatt 1270 15,88 38 90 I-94 Isofoton 1963 21,81 100 SM 100 Shell Solar 2293 22,93 110 SM 110 Shell Solar 2293 20,85 120 SX 120U BP Solar 2845 23,71 160 SQ Shell Solar 2920 18,25 (24V) 160 Fonte: www.energia-alternativa.com.br 5.6.2 Aspectos Sociais das Tecnologias Solares Os projetos modernos do setor energético passaram a exigir uma visão não só do aproveitamento dos recursos energéticos, ou seja, uma visão puramente econômica, mas também considerando os fatores sociais. Por esta razão, para cada recurso tornou-se indispensável uma análise da dimensão social como um dos pilares do PIR (Planejamento Integrado dos Recursos). Pode-se dizer que a utilização de geradores solares está relacionada ao desenvolvimento da agricultura local, pois passa a abastecer regiões onde antes não havia energia elétrica. Também pode reduzir gastos significativos com aquecimento de água em regiões rurais ou urbanas. Além disso, a tecnologia termossolar apresenta aspectos positivos no âmbito social advindos da modularidade de suas aplicações, da descentralização da sua produção, com a possibilidade de ser desenvolvida por pequenas e médias empresas, e de geração de mais empregos por unidade de energia transformada. Por outro lado, possibilita a criação de empregos no processo de fabricação de seus equipamentos, bem como no de instalação e manutenção dos mesmos. Desta forma, a utilização de energia solar no Brasil cria 29.580-107.000 empregos por Terawatt-hora, [5]. Um possível revés está relacionado ao fato da energia solar não ser economicamente acessível à maior parte da população, pois possui um alto custo de instalação. Este fator também afastaria boa parte da população rural sem acesso as grandes concessionárias, que são os que mais se beneficiariam com sua utilização. É interessante realçar algumas vantagens e benefícios das tecnologias para sociedade, principalmente para aquelas comunidades com restritas possibilidades de acesso a energia e das condições financeiras limitadas, que são: • Economia na conta de energia com a redução do consumo: cerca de 35% menos para quem paga a conta de luz. É a certeza de redução do consumo de energia elétrica quando utilizadas 39 as tecnologias solares para suprir algumas necessidades em energia como aquecimento de água, iluminação residencial, etc; • Energia limpa, gratuita e inesgotável: com uso das tecnologias solares para o suprimento das necessidades energéticas, os imóveis ficam muito mais adequados ecologicamente e contribuem para a preservação do meio ambiente; • A satisfação garantida: garantia do prazer de um banho sempre quente, por exemplo, e muita economia de energia; • Retorno do investimento garantido; • A instalação destas tecnologias em residências prontas não depende de reformas e outras. 5.6.3 Aspectos Ambientais das Tecnologias Solares Atualmente, em todos os projetos energéticos é necessária análise dos impactos ambientais como uma das condições do PIR. Por isso, neste trabalho estão sendo analisados todos os possíveis impactos que uma determinada tecnologia pode causar durante a sua utilização na produção de energia, usando um recurso especifico. Esses impactos são variáveis, dependendo do recurso e tecnologia a ser escolhida para o seu aproveitamento. Segundo Tolmasquim (2004), de uma forma geral o sistema fotovoltaico apresenta os seguintes impactos ambientais negativos: • Emissões e outros impactos associados à produção de energia necessária para os processos de fabricação, transporte, instalação, operação, manutenção e descomissionamento dos sistemas; • Emissões de produtos tóxicos durante o processo da matéria-prima para a produção dos módulos e componentes periféricos, tais como ácidos e produtos cancerígenos, além de CO2, SO2, NOx, e particulados; • Ocupação de área para implementação do projeto e possível perda de habitat (crítico apenas em áreas especiais) – no entanto, sistemas fotovoltaicos podem utilizar-se de áreas e estruturas já existentes como telhados, fachadas, etc; • Impactos visuais, que podem ser minimizados em função da escolha de áreas não- sensíveis; • Riscos associados aos materiais tóxicos utilizados nos módulos fotovoltaicos (arsênico, gálio e cádmio) e outros componentes, ácido sulfúrico das baterias (incêndio, derramamento de ácido, contato com partes sensíveis do corpo); 40 • Necessidade de se dispor e reciclar corretamente as baterias (geralmente do tipo chumbo ácido, e com vida media de quatro a cinco anos) e outros materiais tóxicos contidos nos módulos fotovoltaicos e demais componentes elétricos e eletrônicos, sendo a vida útil média dos componentes estimada entre 20 e 30 anos. 5.6.4 Aspectos Políticos das Tecnologias solares A análise da dimensão política é importante no estudo do PIR por se relacionar com a tomada de decisões e os possíveis meios de promoção de um determinado recurso e da penetração das novas tecnologias. Um objetivo fundamental da política energética de qualquer estado, região ou comunidade é garantir que o suprimento de energia seja suficiente, confiável e a preços acessíveis, em termos e condições que assegurem crescimento econômico e prosperidade deste ou de um determinado local. Portanto, para região de Araçatuba, que apresenta uma abundância em energia solar, não é de ignorar os aspectos políticos que podem propiciar a utilização destas tecnologias em maior escala, e com isso proporcionar o desenvolvimento e melhoria da condição de vida das comunidades menos beneficiados em energia da região. Para isso, é necessário que a política de penetração destas tecnologias seja apoiada nos aspectos que permitam o uso mais amplo deste recurso, que são: • As políticas regionais ou municipais devem ser direcionadas de forma a eliminar as barreiras tais como: barreira de investimento- buscar uma alternativa financeiramente mais viável para aquisição e uso das tecnologias solares; • Criação de artifícios políticos que incentivem o uso das tecnologias solares; • Os órgãos municipais ou regionais deveriam criar parcerias com os fabricantes destas tecnologias; • Incorporar algumas exigências aos arquitetos, os técnicos do gênio civil que sejam consideradas as possibilidades das instalações dos aquecedores solares em edificações desde a fase de implementação dos projetos; • Difundir as informações e sensibilizar por parte dos técnicos e tomadores de decisões municipais e do setor de construção civil sobre os benefícios do uso das tecnologias solares; • Torna os códigos de obras municipais mais amigáveis aos sistemas termossolares. 6 Tecnologias Hidráulicas O levantamento das tecnologias para os pequenos aproveitamentos na Região Administrativa de Araçatuba é extremamente importante, tendo em vista a densidade da rede fluvial da região, que sem duvida, através de um estudo minucioso podem ser mapeados locais de interesse 41 para implantação de PCH´s. Desta forma, fez-se caracterização destas tecnologias e dos recursos para incorporá-los no contexto do PIR da Região. 6.1 Introdução A Região Administrativa de Araçatuba apresenta uma rede fluvial densa, que sem duvida mostra o quanto a região é rica em recursos hídricos [Figura 20]. Pela região passam dois principais rios: Paraná e Tietê. Além destes, na região existem uma grande quantidade de mananciais, que podem ser aproveitados para os fins energéticos, principalmente para exploração do potencial de PCH´s e micro-centrais hidrelétricas. Portanto, torna-se necessário levantar todas as tecnologias que possam servir para o aproveitamento deste potencial na região, além do potencial para as usinas de grande porte já existentes. Figura 20: Mapa Hidrológico da Região Administrativa de Araçatuba Fonte: Apresentação Felipe H. N. Soares PEA 5730 – PIR Na região de Araçatuba encontram-se as hidrelétricas de Jupiá, Ilha Solteira, Três Irmãos (CESP) e Promissão (AES Tietê), totalizando cerca de 5831 MW de potência. Apesar disso, ainda existem regiões que não são abastecidas pelas grandes concessionárias, pois a maior parte da 42 energia gerada é transmitida para os grandes centros urbanos. Essas linhas de transmissão estão na ordem de kiloVolts, o que tornaria inviável a transformação em tensão utilizável pela população, pois estes transformadores possuem um preço extremamente alto, [21]. Existem também diversas pequenas quedas-d’água, que podem ser utilizadas para geração de energia através de pico-geradores. Tais formas de aplicação seriam de grande importância, pois ajudariam a suprir a necessidade da população rural sem depender dos grandes fornecedores. 6.2 Principais Características Construtivas das Tecnologias Hidráulicas Apesar do processo de geração ser bastante simples, é necessário conhecer algumas características geológicas dos cursos de água para melhor escolha da tecnologia. Para todos os cursos o principio é o mesmo. A diferença se verifica em configuração, dependendo da vazão, da queda e das características naturais do curso de água (se é um rio numa planície, se é um rio montanhoso, etc). O principio se baseia no seguinte aspecto: a água move as pás das turbinas, que são acopladas mecanicamente ao gerador. Este último se move junto com o eixo das pás, e transforma a energia cinética da água em energia elétrica [Figura 21]. Para cada determinada característica natural, após estudos geológicos e hidrológicos, faz-se a escolha da tecnologia que se adapta melhor as condições do rio levantadas. As principais tecnologias mais utilizadas hoje para exploração do potencial dos recursos hídricos são: turbinas Kaplan, Pelton, Francis e Bulbo (para médias e grandes quedas). Existem outras tecnologias tipo turbina Banki e outras, que são mais utilizadas para pequenas quedas e penas vazões. Essas tecnologias serão descritas mais adiante. Foram encontrados diversos pico-geradores, com potências que variam de 72 a 16.000 Watts, podendo ser utilizados em correnteza ou em pequenas quedas-d’água (altura da queda varia entre 1,5 m e 34 m). Geradores como esses são úteis para abastecer alguns postes para iluminação de áreas rurais, ou mesmo fornecer energia elétrica para uma pequena casa rural. Grandes geradores hidráulicos, como os encontrados em usinas de grande porte, não foram levantados neste trabalho, uma vez que seria inviável obter um estudo completo de uma possível implantação de grandes hidrelétricas na região. 43 Figura 21: Esquema de Aproveitamento do Potencial Hidráulico. Como mostra a Figura 21, os principais componentes de aproveitamento hidráulico ou de usina hidrelétrica são: reservatório, barragem, canal de fuga, dutos, turbinas, casa de força, gerador, transformador e linhas de transmissão. 6.2.1 Classificação das centrais Neste trabalho, foi dada mais atenção às tecnologias eletromecânicas, nomeadamente às turbinas hidráulicas de pequeno porte para instalações de PCH´s e micro-centrais hidrelétricas. Mas antes do levantamento das tecnologias apropriadas para um determinado aproveitamento hidráulico, é importante conhecer as características locais e os tipos de usinas consoantes a classificação feita pela Eletrobrás. 6.2.1.1 Centrais quanto à capacidade de regulação Os tipos de PCH´s, quanto a capacidade de regulação do reservatório, podem ser: a fio de água (dispensa estudos de regularização de vazões, dispensa estudos de sazonalidade da carga elétrica do consumidor e facilita os estudos e a concepção da tomada de água); de acumulação com regularização diária do reservatório (são empregadas quando as vazões de estiagem do rio são inferiores à necessária para fornecer a potencia para suprir a demanda máxima do mercado 44 consumidor e ocorrem com risco superior ao adotado no projeto); de acumulação com regularização mensal (quando o projeto de uma PCH considera dados de vazões médias mensais no seu dimensionamento energético, analisando as vazões de estiagem médias mensais). 6.2.1.2 Centrais quanto ao sistema de adução - Adução em baixa pressão com escoamento livre em canal (alta pressão em conduto forçado); - Adução em baixa pressão por meio de tubulação (alta pressão em conduto forçado). 6.2.1.3 Centrais quanto à potência instalada e quanto à queda de projeto: Dada classificação é mostrada na Tabela 3. Tabela 3: Classificação das PCH´s quanto a potência e quanto à queda de Projeto, [23]. Classifi cação Potência - P das (kW) Centrais Que da Do Projeto- H (m) Baix Média a Micro Mini 100< <15 P > 1000 Pequena s H P< 100 H < 1000 < P > 30000 H> 50 20 < H < 100 H < 25 a 15 < H < 50 20 Alt H> 100 25 < H < 130 H> 130 Fonte: Diretrizes para projetos de PCH da Eletrobrás. 6.2.2 Turbinas Hidráulicas Outras características importantes são das maquinarias a serem utilizadas para geração de energia nas usinas hidrelétricas, que são as turbinas hidráulicas. As turbinas hidráulicas utilizadas nas PCH´s, que é o maior interesse neste trabalho, devem ser escolhidas de modo a se obter facilidade de operação e de manutenção, dando-se grande importância à sua robustez e confiabilidade, tendo em vista também que a tendência é de que a usina seja operada no modo não assistido. Portanto, este trabalho não deixou de dar algumas informações sobre estes equipamentos, que são elementos de base para o aproveitamento hidráulico de pequenas potências. 45 6.2.2.1 Turbinas do Tipo Kaplan São turbinas adequadas para operar entre 20 á 50 metros, pode ser com rotor axial de simples regulagem (Figura 22, foto à direita) e de dupla regulagem (Figura 22, foto à esquerda). Estas se assemelham a um propulsor de navio (similar a uma hélice) com duas a seis as pás moveis. Têm um sistema de êmbolo e manivelas montado dentro do cubo do rotor, é responsável pela variação do ângulo de inclinação das pás. O óleo é injetado por um sistema de bombeamento localizado fora da turbina, e conduzido até o rotor por um conjunto de tubulações rotativas por dentro do eixo. O acionamento das pás é acoplado ao das palhetas do distribuidor, de modo que para uma determinada abertura do distribuidor, corresponde um valor de inclinação das pás do rotor. As turbinas Kaplan também apresentam uma curva de rendimento plana garantindo com isso bom rendimento em uma ampla faixa de operação, [22] e [24]. Figura 22: Turbina Kaplan de simples (à direita) e dupla regulagem (à esquerda). 6.2.2.2 Turbina Francis São adequadas para operar entre quedas de 40 até 400 metros. Para PCH´s, a turbina tem a faixa de aplicação bem mais abrangente. Ela atende as quedas de 15 até 250 metros e potencias de 500 a 15000 kW possuindo ótimas características de desempenho sob cargas parciais de até 70 %, (Eletrobrás, Diretrizes para Projetos de PCH) da carga nominal, funcionando ainda adequadamente entre 70 e 50 % de carga, embora com perda progressiva do rendimento. Na Figura 23 é 46 apresentada a turbina Francis com caixa espiral e na Figura 24 as suas diversas formas construtivas do rotor, [24]. Figura 23: Turbina Francis Figura 24: Rotores da Turbina Francis lento, normal e rápido (de esquerda à direita). 6.2.2.3 Turbinas Tipo Bulbo Operam em quedas abaixo de 20 m. Foram inventadas inicialmente, na decada de 1960, na França, para a usina maremotriz de La Rance e depois desenvolvidas para outras 47 finalidades. Com o desenvolvimento das caracteristicas construtivas desta turbinas agora existem variantes, tipo turbina Bulbo com multiplicador, que podem operar em quedas entre 4 a 12 m e potencia até 1.700 kW. São usadas como alternativa à turbina tubular “S”, incluindo um multiplicador de velocidade com engrenagens cônicas, permitindo que o gerador fique com o eixo a 90 graus do eixo da turbina, normalmente em posição vertival. É própria para operação com grandes variações de vazão, trabalhando satisfatoriamente sob cargas de até 10% a 20 % da carga nominal. A limitação na sua potência está mais ligada ao multiplicador de velocidade do que à turbina. A turbina Bulbo está apresentada esquematicamente na Figura 25, [25]. Figura 25: Esquema de Turbina do Tipo Bulbo. 6.2.2.4 Turbinas Straflo As turbinas Straflo são turbinas do tipo axial, caracterizadas pelo escoamento retilíneo, que em inglês significa “straight flow”, cuja contração dos vocábulos originou o nome Strafalo. Na realidade, as trajetorias das partículas líquidas nestas turbinas são hélices cilíndricas, que em projeção meridiana são retas paralelas ao eixo. Neste tipo de turbina, o indutor do alternador é colocado na periferia do rotor da turbina formando um anel articulado nas pontas das pás da helice, as quais podem ser de passo variável, analogas às da turbina Kaplan. As juntas hidrostáticas montadas entre a carcaça girante, funcionam como um agente de pressão e vedação. A grande vantagem desta turbina é de não haver a necessiadade de colocar o gerador no interior de um bulbo, 48 o que cria mais problemas de limitação das dimensões do gerador e de resfriamento. A colocação do alternador na própria periferia do rotor da turbina possibilita uma instalação compacta e a obtenção de fator de potência maior que o conseguido com outros tipos em igualdade de condições de queda, descarga e custo de obras civis. As turbinas Straflo são adequadas para usinas de baixa queda, de 3 até 40 metros e diâmetro de rotor de até cerca de 10 m. Do mesmo modo que as turbinas de bulbo e tubulares, as turbinas Straflo podem ser instaladas com eixo horizontal ou inclinado [Figura 26], [25]. Figura 26: Representação de Turbina Straflo de pás fixas. 6.2.2.5 Turbinas do Tipo “S” A turbina tubular “S” atende a quedas de 4 a 25 m e potências de 500 a 5000 kW para vazões de até 22,5 m3/s. Possui ótimas características de operação, mesmo a cargas parciais, desde que utilizado o rotor Kaplan de pás reguláveis. Se, adicionalmente, o distribuidor também for regulável, caracterizando uma turbina de dupla regulação, a faixa de operação irá de 100 % até 20 % da carga nominal. Caso o distribuidor seja fixo, o limite inferior de operação se limita a 40 % da carga nominal. A utilização de rotor de pás fixas só é considerada se a variação de carga for pequena (entre 100 % e 80 % da carga nominal). A turbina tubular “S”, assim chamada por ter o tubo de sucção em forma de “S”, pode ser colocada na posição de eixo horizontal ou na posição inclinada, menos frequente. Ligado ao rotor Kaplan, existe um eixo que se prolonga através da 49 blindagem metálica, permitindo que o gerador e eventual multiplicador de velocidade se situem fora da passagem hidráulica, normalmente mais a jusante [Figura 27]. A extensão do eixo de ligação entre rotor e gerador, colocado diretamente no fluxo de água, é uma razão para diminuição do rendimento da unidade. A disposição do conjunto de geração leva ao arranjo de uma casa de força com vão grande, com influência direta no peso e preço da ponte rolante, [24]. Figura 27: Turbina Tubular tipo “S” 6.2.2.6 Turbina do Tipo Pelton Na faixa das PCH´s, a turbina Pelton atende a quedas de 100 a 500 m e potências de 500 a 12.500 kW. Em casos excepcionais, a queda pode ir até 1000 m. Possui ótimas caracteristicas de desempenho sob cargas parciais, funcionando sem cavitação em até 20 % da carga nominal, e mesmo abaixo desse valor, quando utilizado um maior número de jatos. Em geral, é escolhido o arranjo com eixo horizontal, com um ou dois jatos. Para maiores vazões, para conseguir velocidades 50 de rotação maiores, o arranjo poderá ser feito com três jatos (menos utilizado) ou quatro jatos e o eixo na disposição vertical. Na sua escolha é aconselhavel fazer uma comparação entre os custos do conjunto turbina-gerador para as diversas opções, [22], [24]. Figura 28: Turbina Pelton. 6.2.2.7 Outros Tipos de Turbinas Turbina Michel-Banki: de fluxo transversal, produzido por fabricante nacional de pequeno porte em potência, no Brasil; Turbina Dériaz: tem o nome de um engenheiro suiço que as inventou. Elas se assemelham às turbinas Kaplan e Francis rápida. Porém, as pás do rotor são articuladas e, pela atuação de um mecanismo apropriado, podem variar o ângulo de inclinação. Este tipo de turbina é muito utilizado em instalações onde a água do reservatório de montante precisa ser reposta quando a máquina não está produzindo potência. Sendo, quando for o caso, denominada de turbina-bomba. Na Figura 29 está mostrada uma destas turbinas-bombas. 51 Figura 29: Conjunto Turbina-Bomba para Coogeração. Conhecendo as características construtivas e características naturais dos cursos de água, procede-se com a escolha da tecnologia adequada para local de definição do arranjo para o aproveitamento hidráulico, [Tabela 13]. 6.3 Caracterização dos Recursos Hidricos da Região Administrativa de Araçatuba Os recursos são de utilização mais ampla de todos os recursos: o uso para abastecimento de água potavel aos centros urbanos, o uso na irrigação, na produção de energia eletrica através dos aproveitamentos hidreletricos, etc. Portanto, a sua caracterização de fundamental para ter uma visão clara e global sobre a sua reserva na região tanto das comtibuições pluviometricas, dos lençõis freáticos e das aguas superficiais (rios). 6.3.1 Disponibilidade Hídrica da Região Temos como dado um estudo apresentado pela UGRHI-19, cuja área é de aproximadamente 15.481 km2, sendo o seu perímetro avaliado em 580 km, [26]. Dada área é limitada pelas coordenadas 200 30´ e 210 37´ latitude sul e 490 37´e 510 40´longitude oeste. Encontra-se inserida no Estado de São Paulo, limitando-se ainda ao sul com a UGRHI do Rio Aguapei, ao norte com a UGHRI do Rio São José dos Dourados, a leste com a UGHRI dos rios Tiete/Batalha e a oeste com o rio Paraná, sendo esse o limite da divisa dos Estados de São Paulo com o Mato Grosso do Sul. Para a caracterização dos recursos hídricos, consideraram-se os dados coletados pela UGRHI-19, que em sua vez, fez uma divisão da sua área em 33 sub-bacias, conforme mostra a 52 Tabela 4. Tabela 4: Sub-bacias do Baixo Tietê Fonte: Relatório Zero da UGRHI-19 AD- Área de Drenagem 6.3.2 Dados Pluviométricos da região Pelas informações coletadas pela equipe, foram identificados os municípios integrantes da UGRHI-19 (Baixo Tietê) para poder computar os postos pluviométricos situados nos mesmos, sabendo-se que nem todos os municípios estão localizados inteiramente dentro desta UGRHI. A unidade de gerenciamento dos Recursos Hídricos 19 (UGRHI-19) é composta por 42 municípios sendo que 8 não possuem postos do DAEE-SP. São eles: Lourdes, Macaúba, Monções, Nova Lusitania, Poloni, Santo Antonio do Aracangua, União Paulista e Zacarias. Os dados da Região pertencem aos 81 postos pluviométricos de observação do DAEE-SP. Atualmente destes 81 postos 53 pluviométricos 25 são extintos. A Companhia Energética de São Paulo possui 5 postos na região em operação, com no máximo 20 anos de observações. O DNAEE, atual ANEEL tinha um único posto pluviométrico, que também foi extinto em 1981 com 35 anos de observações. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) possui um posto com 39 anos de observações, já extinto, e outro com 22 anos aproximadamente. Os postos pluviométricos instalados na região obedeceram ao critério da World Meteorological Organization-WMO, que estabelece o seguinte: a densidade mínima de um posto é de um a cada 150 a 250 km2 em regiões montanhosas, e 600 a 900 km2 em regiões planas com as mesmas condições climáticas, que é o caso da bacia gerenciada pela UGRHI-19. A UGRHI19 apresenta um posto a cada 247 km2, estando no limite mínimo recomendado. Através destes postos, os dados coletados levaram a adotar como a chuva média na bacia da UGRHI-19 o valor de 1200 mm/ano, [26]. Os dados que levaram a adoção do valor médio da precipitação na região são desatualizados, sendo necessárias atualizações destes dados. Os dados coletados e que a equipe teve acesso são dados obtidos entre 1973 e 1997. As informações coletadas estão apresentadas nas figuras Figura 30, Figura 31, Figura 32, Figura 33 e Figura 34. Figura 30: Precipitação média mensal histórica folha 01/05 54 Figura 31: Precipitação média mensal histórica folha 02/05 Figura 32: Precipitação média mensal histórica folha 03/05 55 Figura 33: Precipitação média mensal histórica folha 04/05 Figura 34: Precipitação média mensal histórica folha 05/05 6.3.3 Dados Fluviométricos Pelas informações coletadas na direção da UGRHI-19, ficou notificado que esta faz de principal um trecho do Rio Tietê, desde a UHE de Promissão até a confluência com o Rio Paraná. Sua extensão é de aproximadamente 221 km, e seus principais afluentes da margem direita são: Ribeirão Lambari, Ribeirão Mato grosso, Ribeirão Santa Bárbara e Ribeirão das Oficinas; os da margem esquerda são: Ribeirão Azul, Ribeirão Baguaçu, Ribeirão Lajeado e Ribeirão dos Patos. 56 Também foram levantados junto a Unidade os índices fisiográficos da UGRHI-19, que estão apresentados no Tabela 5. Tabela 5: Parâmetros Fisiográficos e Hidrológicos do Baixo Tiete Fonte: Relatório Zero da UGRHI-19. Pelos dados apresentados, nota-se que a Bacia do Baixo Tietê apresenta baixa tendência à ocorrência de enchentes e à eficiência da drenagem, caracterizando uma rápida vazão do curso da água e permanência do escoamento superficial durante todo o ano. Na UGRHI-19 do Baixo Tiete, até a confluência com o Rio Paraná, tem-se 23 postos fluviométricos nos quais foram realizadas medições de descarga. Essa quantidade totaliza um posto, em média, para cada 801 km2, o que constituiria uma área aceitável se houvesse continuidade e uniformidade. No entanto, pelas informações obtidas pela equipe, a distribuição desses postos, embora cubra praticamente toda UGRHI-19, e a operação de alguns postos foi efêmera, resultando em pouca disponibilidade de informações. Verifica-se a inexistência de medições e linimetria em alguns postos, principalmente no curso de água principal, onde estão instaladas as usinas hidrelétricas. Portanto, qualquer avaliação de vazões nessas localidades só pode ser feita com dados extrapolados dos postos disponíveis, o que pode ser razoável, porém não o ideal, apesar do comportamento linear dos escoamentos na UGRHI-19 ser todo regularizado, principalmente no curso de água principal. O resumo dos resultados obtidos das vazões através das medições nos postos mencionados está apresentado na Figura 35, [26]. 57 Figura 35: Descargas médias, mínimas e máximas mensais do Rio Baguaçu em Araçatuba Também foram levantadas informações sobre as vazões médias e Q7,10 nas sub-bacias do Baixo Tiete. Os resultados deste levantamento estão resumidos na Tabela 6. Tabela 6: Vazões Médias de longo Período e Q7,10 Nas sub-bacias, as vazões médias e Q7,10 foram calculados baseando-se na área de drenagem e na precipitação pluviométrica, através do método proposto pelo DAEE, para a Regionalização Hidrológica no Estado de São Paulo, que estabelece uma relação linear entre a descarga especifica e a precipitação média em uma bacia hidrográfica, expressa pela seguinte equação: Qesp. = a+ b.P Onde: Qesp. = descarga especifica média (l/s/km); a e b = parâmetros regionais, e P = precipitação média anual (mm/ano) A vazão média de longo período é calculada através da seguinte relação: QLP = Qesp.x AD Em que: 58 QLP = descarga média de longo período (l/s); Qesp. = Vazão especifica média plurianual (l/s/km2), e AD = área de drenagem (km2). Para o calculo da vazão mínima de 7 dias consecutivos para o período de retorno de 10 anos, através da seguinte expressão: Q7,10 = C. X10. (A+B). QLP Onde: Q7,10 = Vazão mínima de 7 dias consecutivos para o período de retorno de 10 anos (l/s); A, B, C = parâmetros regionais; X10 = valor relativo à probabilidade de sucesso para 10 anos; QLP = vazão média de longo período (l/s). Para o curso principal de água as vazões foram calculadas através dos dados fluviométricos das estações disponíveis do DNAEE e DAEE, cujos resultados estão apresentados na Tabela 7. Tabela 7: Vazões Médias e Mínimas no curso principal Fonte: Relatório Zero da UGRHI-19 Também para o mesmo curso foram calculadas as vazões mínimas de 7 dias, cujos resultados estão apresentados na Figura 36. 59 Figura 36: Vazões ao longo do Rio Tiete- UGRHI-19 Fonte: Elaboração do CTH – Centro Tecnológico de Hidráulica da USP. Nesta caracterização dos recursos hídricos também foram levantadas as informações sobre as águas subterrâneas (características dos aqüíferos). Neste levantamento identificou-se o seguinte: o estudo de águas subterrâneas das Regiões Administrativas 7 (Bauru), 8 (São José do Rio Preto) e 9 (Araçatuba), desenvolvido pelo DAEE em 1976, classifica as unidades lito-estratigráficas que ocorrem na área da Bacia do Baixo Tietê em três grandes sistemas aqüíferos: • Aqüífero Bauru (Formação Adamantina e Santo Anastácio); • Aqüífero Serra Geral e • Aqüífero Botucatu. Conforme o levantamento feito os resultados dos estudos feitos pelo DAEE mostra o seguinte: A Tabela 8 apresenta a síntese das características hidrogeológicas dos aqüíferos. Tabela 8: Síntese das Características Hidrogeológicas dos Aqüíferos 60 Fonte: Relatório Zero da UGRHI-19 Na Tabela 9 estão apresentados os resultados do balanço hídrico da Bacia do Baixo Tietê. Tabela 9: Resumo do Balanço Hídrico da Bacia do Baixo Tietê Na Tabela 10 são apresentados os resultados da disponibilidade das águas subterrâneas na Bacia do Baixo Tietê. Tabela 10: Disponibilidade das Águas Subterrâneas na Bacia do Baixo Tietê Na Tabela 11 apresentam-se os resultados dos índices do comprometimento da disponibilidade das águas subterrâneas. 61 Tabela 11: Índices de Comprometimento da Disponibilidade das Águas Subterrâneas na Bacia do Baixo Tietê 6.4 Estimativa do Potencial Teórico dos Recursos Hídricos da Região Administrativa de Araçatuba Na região de estudo, existem as usinas hidrelétricas de Jupiá, Ilha Solteira, Três Irmãos (CESP) e Promissão (AES Tietê), totalizando cerca de 5830 MW instalados. Atualmente, não existem inventários com possíveis locais para implantação de usinas hidrelétricas de grande e médio porte, e esta não seria uma solução interessante para auxiliar na matriz energética devido aos seus grandes impactos ambientais. O potencial nas pequenas quedas de água será calculado através da metodologia adotada pelo PIR. Com o auxílio da tabela de micro/pico geradores levantados, será possível estimar o potencial utilizando-se PCH’s e pequenas turbinas. A metodologia utilizada para a estimativa do potencial acima se baseia em algumas premissas. Basicamente, ela leva em conta a vazão medida nas grandes usinas presentes no oeste paulista e proximidades, e através da diferença entre uma montante e uma jusante adjacentes, é possível se obter a vazão destinada a outros rios e córregos da região. Não são levadas em contas perdas como evaporação de água, ou relativas ao processo de geração de energia nas usinas. Tomou-se uma queda-unitária padrão de 1 m, sendo esta uma estimativa para um cenário de baixa oferta. O estudo do relevo detalhado poderá resultar numa melhor estimativa aproveitando a média das vazões aqui obtidas. Para o rio Tietê, tomou-se a vazão da usina de Promissão e Três Irmãos. Já para o rio Paraná, temos as usinas de Jupiá e Ilha Solteira. Considerando estes resultados, e aplicando na fórmula: Pb = γ x H x Q Onde: Pb – Potência Bruta ou Potência Hidráulica [kW] γ - 1000 kgf/m3 = g x ρ 62 Q – vazão [m3/s] H – altura da queda d’água [m] Temos um potencial estimado em 1.209 MW, para os rios que derivam do Paraná e Tietê, [27]. 1.1. Tabela resumo dos cálculos Tabela 12: Tabela resumo dos recursos hídricos Recursos Potencial Potencial Estimado Existente Grandes 5.831 MW N.d. Reservatórios Pequenos N.d. 1.209 MW Reservatórios (PCH’s) 6.5 Caracterização das Dimensões das Tecnologias Hidráulicas Para escolha mais eficaz da tecnologia a ser utilizada, é necessária uma análise das dimensões técnico-econômica, social, ambiental e política relacionadas às tecnologias a serem utilizadas, assim selecionando os atributos mais relevantes de cada tecnologia para futura avaliação. 6.5.1 Aspectos Técnico-Econômicos das Tecnologias Hidráulicas Estes pico-geradores necessitam de uma altura mínima da queda-d’água para que possam funcionar corretamente. O fabricante não especificou qual a vazão mínima de água, mas forneceu uma tabela contendo o gerador mais apropriado, de acordo com a altura e vazão da queda. 63 Tabela 13: Para auxiliar na escolha do equipamento hidráulico 6.5.1.1 Tabela Resumo dos Atributos técnico-economicos Tabela 14: Pico-geradores hidráulicos. Tecnologia Potencia(W) Preço Custo por Altura da Watt Queda (m) (US$/Watt) 12,3 Aquair 100 72 £ Aquair UW 96 728,50 £ 10,32 Correnteza 200 712,05 US$ 0,84 1,5 US$ 0,63 1,5 US$ 0,58 1,5 US$ 0,95 6 US$ 0,63 11 Powerpal Low Head Powerpal High Head 500 1.000 200 520 175 315 580 190 Correnteza 330 64 T1 Powerpal 1.000 Powerpal 2.000 T2 2.000 Powerpal T5 3.000 4.000 4.500 4.700 5.300 Powerpal T8 5.900 6.600 7.200 8.000 9.400 10.600 Powerpal T16 11.800 13.100 14.400 16.000 850 1.250 1.250 1.725 2.300 2.600 2.665 2.970 3.330 3.690 4.050 4.500 5.310 5.940 6.660 7.380 8.100 US$ 0,85 11 US$ 0,63 17 US$ 0,63 11,5 US$ 0,58 15 US$ 0,58 18 US$ 0,58 21 US$ 0,58 24 US$ 0,56 26 US$ 0,56 28 US$ 0,56 30 US$ 0,56 32 US$ 0,56 34 US$ 0,56 24 US$ 0,56 26 US$ 0,56 28 US$ 0,56 30 US$ 0,56 32 US$ 0,56 34 Fonte: PowerPal Distributor, [28] 9.000 6.5.2 Aspectos Sociais das Tecnologias Hidráulicas Os efeitos sociais relacionados à energia hidráulica devem ser divididos de acordo com o tipo de geração. PCH’s ou grandes centros geradores impactam de forma muito mais intensa do que micro ou pico geradores. Vamos primeiramente considerar os impactos sociais de PCH’s e grandes centros geradores. Vale destacar que ambas possuem as mesmas características, tomadas as devidas proporções. São as principais delas: 65 • Comissão Mundial de Barragens (CMB): as grandes barragens são responsáveis pelo desalojamento de 40 a 80 milhões de pessoas; • Muitos dos deslocados recebem nenhuma ou inadequada compensação; milhões de pessoas perdem suas terras e modos de vida, e têm sofrido por causa dos efeitos à jusante e de outros impactos indiretos das grandes barragens; • Introdução de novas doenças nas regiões, devido ao aumento da migração populacional induzida e favorecida pela hidrovia; • Grandes áreas com potenciais agrícolas ocupadas pela represa; • Aumento na oferta de eletricidade; • Criação de empregos tanto na construção quanto na operação da usina; • Muitos trabalhadores morrem durante o processo de construção da usina; Com relação aos micro e pico geradores, podemos destacar: • Possibilidade de abastecimento elétrico de regiões isoladas e afastadas dos grandes distribuidores de energia; • Desenvolvimento da agricultura local; • Melhora na qualidade de vida de famílias que antes não possuíam energia elétrica; • Criação de empregos em fábricas de aparelhos de micro e pico geração hidráulica, bem como de pessoas com função de instalação e manutenção dos equipamentos utilizados. 6.5.3 Aspectos Ambientais das Tecnologias Hidráulicas Os impactos ambientais não são relevantes quando se instala um pico-gerador hidráulico. Entretanto, na instalação de uma hidrelétrica de grande porte, ou mesmo uma PCH (Pequena Central Hidrelétrica), temos uma mudança acentuada na geografia da região, mesmo que em menor escala, bem como do ar e da ecologia existentes nas proximidades daquele local. Podemos listar, como principais delas: • Impactos da alteração do fluxo, do reservatório e de locais de empréstimos e despejos de resíduos de rochas e materiais de construção, sobre a agricultura e outras atividades do setor primário; • Impactos da construção de acessos, de locais de empréstimos e despejos de resíduos de rochas e materiais de construção, do reservatório, e da construção de linhas de transmissão, sobre as florestas; • Impactos da alteração do fluxo pela sedimentação e assoreamento do reservatório sobre os múltiplos usos do recurso hídrico (abastecimento, irrigação, controle de cheias e geração); • Impactos da alteração do fluxo sobre a navegação; 66 • Impactos pela alteração do fluxo com efeitos à saúde pela criação de condições propícias a vetores de doenças de veiculação hídrica (diarréia, mosquitos, malária); • Impactos das fases de construção e operação sobre os recursos minerais; • Impactos das emissões de gases de estufa sobre a mudança do clima; • Impactos das fases de construção e operação sobre as atividades recreacionais; • Impactos das fases de construção e operação sobre os recursos culturais (incluindo e estética) e arqueológicos; • Impactos das fases de construção e operação sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos, e sobre a biodiversidade; • Impactos das fases de construção e operação sobre a saúde ocupacional (acidentes). 6.5.4 Aspectos Políticos das Tecnologias Hidráulicas e Recursos Hídricos O termo “tecnologias hidráulicas” compreende neste relatório todas as tecnologias usadas para o aproveitamento dos recursos hídricos em diversas atividades da economia, tais como: geração de energia de grande, médio, pequeno porte; para abastecimento de água e o saneamento básico nos centros urbanos, para pesca e navegação, para irrigação, etc. Cada uma desta tecnologia tem os seus aspectos políticos na forma de fabricação, aplicação e outras. Neste relatório, a preocupação é de analisar os aspectos políticos relacionados às tecnologias hidráulicas utilizadas para geração de energia elétrica, tais como as turbinas hidráulicas acima caracterizadas. Portanto, os aspectos políticos mais relevantes das tecnologias hidráulicas de geração de energia elétrica podem ser considerados os seguintes: • A capacidade de um determinado país, Estado ou Região de produzir essa tecnologia e não depender da boa vontade do fabricante, ou a não submissão das condições políticas e comerciais do país produtores da tecnologia (esse aspecto é verificado nas encomendas das turbinas de grandes potenciais, que são produzidas por poucos paises), caso essa deva ser importada; • O aspecto anterior pode condicionar a dependência política ou comercial de um determinado país, Estado ou Região na manutenção do seu parque de produção de energia elétrica, usando a tecnologia hidráulica importada; • Os conflitos políticos ou comerciais podem prejudicar a produção de energia do lado dependente; • As taxas de importação da tecnologia podem inviabilizar o custo por kw do dependente; 67 • As políticas de importação e implantação destas tecnologias devem ser regulamentadas através de legislações comerciais e ambientais do lado dependente; • Analisado o grau de domínio da tecnologia a ser importada; Seja ao nível nacional ou regional, os aspectos acima mencionados já foram superados. No Brasil, essas tecnologias são totalmente dominadas em termo de implantação e exploração. Para certos níveis de potenciais essas tecnologias são produzidas nacionalmente. Portanto, para a Região Administrativa de Araçatuba deixou de ser o problema central no aproveitamento dos recursos hídricos e se torna mais evidente esta afirmação com a existência de grandes usinas na Região (usina da Ilha Solteira, Promissão, Jupiá, etc). Analisando as políticas do desenvolvimento da região a médio e longo prazo, verificou-se que não há mais pretensão em construir as grandes usinas na região. Mas nos relatórios da UGRHI 19, [26], que é responsável pelo gerenciamento dos recursos hídricos nas bacias que envolvem os municípios da Região, tem-se mencionado possibilidades de desenvolvimento dos estudos sobre PCH´s e micro usinas hidrelétricas para geração distribuída. Os aspectos políticos destas tecnologias apresentam menores conflitos. Os conflitos são mais relevantes na geografia da utilização do recurso. Portanto, se torna mais importante realçar os aspectos políticos dos recursos hídricos na Região Administrativa de Araçatuba. A área total da bacia hidrográfica onde é situada a Região Administrativa de Araçatuba é de 15.471 km2, tendo sido dividida em 33 sub-bacias para melhor monitoramento e gerenciamento dos recursos hídricos. A unidade de gerenciamento de recursos hídricos responsável pela região é a UGRHI-19, que no depoimento do chefe da divisão e através do “Relatório Zero” consultado, [26], vê-se que ainda há uma série de situações complexas ligadas às questões puramente político-administrativas no gerenciamento deste recurso na região. Durante as visitas realizadas pela equipe do projeto na região para levantar as questões relacionadas aos recursos hídricos, conclui-se pelos depoimentos dos órgãos responsáveis e entrevistados que na região ainda se enfrentam grandes dificuldades no que diz respeito a empregabilidade das legislações vigentes no país, e há pouca participação da sociedade como um todo nas discussões sobre os aspectos do gerenciamento deste recurso. Por outro lado, houve muitas queixas em relação à insuficiência de postos de medição, dados desatualizados e inconsistentes, dos cadastros incompletos, sobre a falta de estruturas jurídico-institucionais, que permitam aos municípios participar de forma competente do processo de gestão das águas. Com isso, torna-se importante considerar as seguintes sugestões: 68 • Aprimoramento dos levantamentos sobre a disponibilidade e a demanda por recursos hídricos e situações especiais de planejamento; • Avaliação mais profunda do atual contexto na região dos aspectos políticos, legais e institucionais da gestão integrada dos recursos hídricos na região; • Fazer análise integrada dos desafios e oportunidades para a gestão dos recursos hídricos; • Avaliar os aspectos que condicionam a demanda por recursos hídricos: macroeconômicos, ambientais e sócio-culturais; • Criação dos instrumentos políticos para aproximação dos interessados e envolvidos (as concessionárias de geração elétrica, os departamentos de abastecimento e tratamento de esgoto, os departamentos de agricultura, que são usuários do recurso para irrigação, a sociedade civil, ONG´s, etc.); • Elaboração das macro-diretrizes com apoio da UGRHI-19 da Região para médio e longo prazo; • Articulação de arranjo regional com função técnica e política para apoiar regionalmente o desenvolvimento dos planos municipais do gerenciamento dos recursos hídricos; • Criação dos instrumentos políticos para ampliação do debate para a sociedade no que se refere o uso múltiplo dos recursos hídricos na região; • Aprimoramento dos instrumentos políticos, as infra-estruturas administrativas que permitam a melhoria das disponibilidades hídricas, superficiais e subterrâneas, em qualidade e em quantidade; a redução dos conflitos reais e potenciais de uso da água, como também, a mitigação de efeitos hidrológicos críticos; que aumentem no meio da sociedade a percepção da conservação da água como valor sócio-ambiental relevante; • Criação dos instrumentos que promovam a gestão conjunta, com outras regiões vizinhas, das bacias e sub-bacias fronteiriças e de aqüíferos estratégicos e que permitam identificar interesses geopolíticos da Região no que concerne à gestão dos recursos hídricos; • Estabelecer uma agenda de cooperação cientifica e tecnológica entre os municípios, com as outras regiões fronteiriças e o estado; • Identificar tendências, incorporando uma avaliação dinâmica ao diagnóstico, considerando a formulação de uma estratégia que aproveite oportunidades e reduza ameaças. • Desenvolver programas de articulação inter-setorial, inter-institucional e intra- institucional da gestão de recursos hídricos na região; • Criação de um caderno com a formulação das metas que devem traduzir a efetividade das ações propostas e ser estabelecidas de forma realísticas, considerando as cinco 69 variáveis principais na gestão dos recursos hídricos: especificidade, mensurabilidade, exeqüibilidade, relevância e tempo; • Criação dos instrumentos para incentivos fiscais e flexibilização das legislações ambientais na incorporação das tecnologias de PCH´s na região, considerando bem o potencial para o uso destas tecnologias. 7 Tecnologias à Biomassa A biomassa sempre foi a forma mais primitiva de utilização de energia pelo homem. Atualmente, representa mais de 14 % da energia utilizada no mundo (em alguns países em desenvolvimento chega até 35 % ou mais), [29]. A evolução dos processos de conversão tradicionais para sistemas modernos altamente eficientes, levando a vetores energéticos modernos (combustíveis líquidos, gasosos e eletricidade), trouxe uma mudança importante no perfil de utilização e nos volumes de biomassa para energia nos últimos anos. O uso de biomassa para geração de energia tornou-se ótima ferramenta para servir como nova base para o desenvolvimento rural e criação de emprego. A partir da crise do petróleo de 1973, passou-se a prestar maior atenção à biomassa como fonte energética e no mundo todo, vários programas nacionais começaram a ser desenvolvidos, visando o incremento da eficiência de sistemas para combustão, gasificação e pirólise da biomassa. Naquele período, os programas nacionais considerados mais bem sucedidos foram: • PROALCOOL no Brasil; • Aproveitamento do Biogás na China Continental; • Coque Vegetal no Brasil; • Florestas Energéticas nos EUA; • Aproveitamento de Madeira para fins Energéticos na Suécia; • Aproveitamento dos Resíduos Agrícolas na Grã-Bretanha; • Plantação de Eucaliptos na Etiópia; • Aproveitamento do bagaço de cana nas Ilhas Maurício. Esses programas fizeram necessário um grande esforço em pesquisa e incentivaram o desenvolvimento e introdução pratica de tecnologias modernas de conversão energética. Pelo levantamento feito na Região Administrativa de Araçatuba, tendo em vista a sua característica peculiar das atividades econômicas, que fundamentalmente estão assentadas na agricultura, notou-se a abundância deste recurso. Por esta razão, neste projeto, será um dos recursos a merecer uma especial atenção, apesar de que o principio do PIR sempre é de avaliar todos os 70 recursos com o mesmo peso. Por outro lado, buscou-se neste trabalho fazer uma caracterização sucinta das tecnologias modernas que possam ser utilizadas para exploração eficiente deste recurso na Região. 7.1 Introdução Existem atualmente diversas maneiras de se obter energia através da biomassa, bem como uma ampla variedade de produtos que podem servir de matéria prima. Resíduos vegetais podem ser utilizados in natura, através da queima direta, ou serem processados e transformados em carvão, óleos, alcoóis, ésteres ou hidrogênio, para posterior aproveitamento. Resíduos orgânicos podem ser utilizados em, por exemplo, biodigestores, para gerar gases utilizados nos fogões, geladeiras e motores de ciclo Otto. Figura 37: Esquema do aproveitamento da biomassa A região de Araçatuba possui grande parte de sua área destinada à plantação de cana-deaçúcar. Este recurso é utilizado principalmente por usinas sucro-alcooleiras para produção de açúcar e álcool, em processos que geram muitos resíduos ainda subaproveitados. Para o segmento sucro-alcooleiro, os resíduos que podem ser utilizados na produção de eletricidade são o bagaço, as pontas e folhas, e o vinhoto. Alternativamente à co-geração dentro das próprias usinas e destilarias, o bagaço pode ter uso energético fora das mesmas: insumo para volumoso de ração animal; fabricação de papel de bagaço; fabricação de elementos estruturais; e hidrólise para produção de álcool. Tecnologias de produção de etanol a partir da hidrólise do bagaço estão em desenvolvimento e poderão atingir estágio comercial em 10-15 anos. Com viabilização da tecnologia, passa a ser muito importante o custo de 71 oportunidade de aproveitamento do bagaço, pelas múltiplas alternativas para seu aproveitamento econômico. Pontas e folhas da cana-de-açúcar costumam ser deixadas no campo e podem representar até 30% da biomassa total. Seu poder calorífico superior é da ordem de 15 GJ/t, com umidade de 50%. O poder calorífico inferior é em 13 GJ/t. Já o vinhoto é resíduo da produção de álcool, sendo gerado somente nas destilarias. O seu aproveitamento energético é possível através da biodigestão anaeróbica, com obtenção de biogás. Mas atualmente, o principal destino do vinhoto é a fertirrigação na lavoura de cana-de-açúcar. O poder calorífico do biogás foi estimado em 21,32 MJ/ m3. 7.2 Principais Características Construtivas Consideraremos aqui as formas de aproveitamento mais usualmente utilizadas em sistemas de geração à biomassa. 7.2.1 Queima Direta A utilização da biomassa através da queima direta pode ter diversos usos. Aquecimento, cocção, e aproveitamento do calor produzido com a queima são os mais comuns. Autores como Wylen e Sonntag (1976), Oddone (2001), Coelho (1999) e Walter (1994) estudaram os aspectos termodinâmicos da obtenção de eletricidade por co-geração na cadeia sucroalcooleira, em especial o ciclo Rankine [Figura 38] e o ciclo combinado [Figura 39]. No ciclo Rankine, utiliza-se uma caldeira, em que uma fonte de energia (bagaço ou a palhada da cana) é queimada, gerando vapor em alta pressão, com temperatura superior ao ponto de ebulição da água. A liberação do vapor ocorre através de sistemas mecânicos, movimentando máquinas, transferindo calor para processos industriais, ou movimentando turbinas para gerar energia elétrica. O ciclo se completa com o retorno do vapor condensado à caldeira, para ser novamente aquecido. Já no ciclo combinado, uma turbina a gás em alta temperatura movimenta um gerador, sendo transferido o calor do gás para água, que é vaporizada e aciona um segundo gerador, em que ambos produzem energia elétrica. 72 Figura 38: Representação Esquemática do Ciclo Rankine Uma característica comum desses ciclos é o contato direto da combustão com o gás de operação (ar). Isso demanda o emprego de combustíveis nobres, no estado líquido ou gasoso, como gasolina, álcool, óleo diesel, querosene, gás natural. Para esses casos, o vapor d'água é a alternativa padrão: o combustível é queimado numa caldeira que produz vapor que, por sua vez, produz trabalho utilizável. Inicialmente, o bagaço de cana, que significa 25% a 30% do peso da cana processada com 50% de umidade, foi utilizado nas usinas para geração de calor, substituindo a lenha. Apenas recentemente o bagaço vem sendo utilizado para gerar vapor, com grande flexibilidade para ser transformado em formas de energia como calor, eletricidade ou tração. O aumento do custo da energia, seja elétrica ou de petróleo, tornou mais atraente a utilização do bagaço para co-geração de energia. Como ainda estamos no alvorecer do processo, existe um grande espaço de melhoria tecnológica para maximizar a eficiência da co-geração na cadeia da cana-de-açúcar. 73 Figura 39: Esquema de uma Usina a Ciclo Combinado 7.2.2 Gaseificação A gaseificação da biomassa consiste na sua combustão parcial, em condições controladas. Nos processos mais simples, o gás produzido apresenta baixo poder calorífico (por volta de 4 – 6 MJ/Nm3, comparado a 39 MJ/Nm3 para o gás natural) e uma composição volumétrica típica de 1020%CO; 15-20%H2; 2-5%CH4; 10-14%CO2; 5-8%H2O (vapor); resto: N2. A gaseificação do carvão vegetal é mais simples do que a gaseificação da madeira porque são evitadas as dificuldades associadas à formação de alcatrão. No entanto, a eficiência e a economia global do processo é desfavorável devido às perdas e gastos com mão-de-obra na etapa adicional de transformação de madeira em carvão. Gastam-se cerca de 3kg de madeira seca para se produzir 1kg de carvão vegetal, mas na geração elétrica com gaseificação o consumo específico de carvão (em kg/kWh) é apenas 25% menor que o consumo específico de madeira. Por isto, busca-se preferivelmente gaseificar diretamente a madeira. Na gaseificação da madeira, produz-se uma quantidade residual de alcatrão que prejudica o funcionamento de motores de combustão interna. Gaseificadores para a produção de gás destinado ao acionamento de motores exigem maior sofisticação tecnológica, na medida em que devem incorporar mecanismos e detalhes de projeto que permitam eliminar ou reduzir ao máximo o alcatrão [Figura 40]. 74 Figura 40: Configuração Típica de um Gaseificador Na escolha do motor para funcionamento com gás de gaseificador, abrem-se duas alternativas: usar motores do ciclo Otto, com ignição por centelhamento, ou motores a diesel adaptados. Esta segunda opção é a mais empregada nas instalações existentes de pequenos sistemas de geração com gaseificadores, porque os motores a diesel são mais duráveis e mais comumente disponíveis do que os motores a gás. Por outro lado, os motores a diesel adaptados não podem funcionar apenas com o gás do gaseificador. O gás substitui no máximo 85% do diesel. Na prática, deve-se contar com um percentual típico de substituição por volta de 70%. O consumo de madeira seca, nestas condições, é de aproximadamente 1,2kg/kWh, e consumo médio de diesel é estimado em 0,1litros/kWh. Figura 41: Esquema simplificado de instalação IGCC 75 7.2.3 Transesterificação Transesterificação é um processo químico que consiste na reação de óleos vegetais com um produto intermediário ativo (metóxido ou etóxido), oriundo da reação entre alcoóis (metanol ou etanol) e uma base (hidróxido de sódio ou de potássio). Os produtos dessa reação química são a glicerina e uma mistura de ésteres etílicos ou metílicos (biodiesel). Este combustível tem características muito próximas às do diesel e substitui este combustível praticamente sem qualquer modificação no motor. Pode ser necessário trocar algumas vedações e conexões de borracha que são degradadas pelo biodiesel, embora a maioria dos motores mais modernos já esteja saindo de fábrica com os materiais adequados instalados. Cada litro de óleo vegetal permite obter aproximadamente um litro de biodiesel e certa quantidade residual de glicerina. O uso do biodiesel vem sendo incentivado na Europa através de subsídios e é disponível em vários postos de abastecimento de combustível. No Brasil, a Petrobrás já começa a produzir biodiesel em escala comercial, e o mesmo pode ser encontrado em alguns postos de gasolina. 7.2.3.1 Óleos Vegetais Como se sabe, os óleos vegetais no estado bruto ou com pouco refino, em principio, podem ser utilizados como combustível em motores diesel adaptados. Esta possibilidade costuma ser cogitada para o suprimento de eletricidade em localidades isoladas, pressupondo-se que, em certas circunstancias, óleo vegetal pode ser mais barato do que diesel por dois motivos: primeiro, a possibilidade de ser produzido localmente é real; segundo, nos locais isolados sempre há dificuldades de transporte do diesel. Nessas condições, às vezes, é mais viável a utilização do óleo vegetal em substituição ao diesel. Pois, neste trabalho procura-se levantar esta possibilidade para a Região Administrativa de Araçatuba, mas precisa ainda de um estudo de campo mais detalhado sobre o uso desta forma de combustível. Após um levantamento será estimado o seu potencial teórico. Dentre os óleos vegetais que se pretende avaliar neste estudo estão os óleos de dendê [Figura 42] e óleo de soja, que se apresentam como mais viáveis para esta aplicação no Brasil e são os únicos regularmente comercializados a preços competitivos com o diesel, [31]. 76 Figura 42: Dendê A palma é um cultivo perene. Começa a produzir frutos a partir de 3 anos. Depois de semeada, tem uma vida econômica entre 20 a 30 anos. Anualmente, cada hectare de palma pode render até 5 toneladas de óleo, ou seja 10 a 12 cachos de frutos, cada um pesando entre 20 a 30 kg e cada cacho produz de 1000 a 3000 frutos, o que representa de 5 a 10 vezes mais que qualquer outro cultivo comercial de óleo vegetal. A palma produz um rendimento em óleo de aproximadamente 3700 quilogramas/hectare, anualmente. Em comparação com os rendimentos do óleo de soja 389 kg/hectare e do óleo de amendoim 857 kg/hectare, estes dois últimos são muito baixos quando comparados com o óleo de palma, [31]. Óleo de Babaçu 77 Figura 43: Palmeira Características da planta: Palmeira elegante que pode atingir até 20 m de altura. Estipe característico por apresentar restos das folhas velhas que já caíram em seu ápice. Folhas com até 8 m de comprimento, arqueadas. Flores creme - amareladas, aglomeradas em longos cachos. Cada palmeira pode apresentar até seis cachos, contendo até 300 cocos por cacho, [31]. Fruto: Frutos ovais alongados, de coloração castanha, em cachos pêndulos. A polpa é dura como cerne, envolvendo de 3 a 6 sementes oleaginosas. Cultivo: Cresce espontaneamente nas matas da região amazônica, sem cultivo, multiplica-se por sementes. Cada palmeira pode produzir até 2.000 frutos anualmente, preferindo clima quente. Óleo de Tungue Óleo - É secativo, de padrão superior ao de linhaça. Presta-se como revestimento e acabamento de trabalhos de esmalte e vernizes, nas construções, mobílias, acessórios, decorações, indústrias de automóvel, de eletricidade, têxteis, litografia, tintas especializadas, aplicações domésticas, roupas, linóleos, lonas isolantes, fios elétricos, revestimento de paredes, sacos, cartuchos para pólvora, papéis, madeiras, cabos submarinos, tubos para cosméticos, pastas dentifrícias, vernizes de assoalhos, cascos de navios, chapéus de chuva, couros, calafetagem de barcos, lacres, sabão. O óleo é usado desde o século XVI como preservativo da madeira. 78 O óleo de tungue é inferior ao de linhaça na fabricação de vernizes. Os ácidos graxos do óleo de tungue servem como ácidos graxos do óleo de linhaça para substituir a goma-laca, na manufatura de vernizes, [31]. Óleo de soja A soja é uma leguminosa domesticada pelos chineses a cerca de cinco mil anos. Sua espécie mais antiga, a soja selvagem, crescia principalmente nas terras baixas e úmidas, junto aos juncos nas proximidades dos lagos e rios da China Central. Há três mil anos a soja se espalhou pela Ásia, onde começou a ser utilizado como alimento. Foi no início do século XX que passou a ser cultivada comercialmente nos Estados Unidos. A partir de então, houve um rápido crescimento na produção, com o desenvolvimento dos primeiros cultivadores comerciais. No Brasil, o grão chegou com os primeiros imigrantes japoneses em 1908, mas foi introduzida oficialmente no Rio Grande do Sul em 1914. Porém, a expansão da soja no Brasil aconteceu nos anos 70, com o interesse crescente da indústria de óleo e demanda do mercado internacional. Sebo Animal Genericamente o termo sebo é utilizado para denominar gordura animal. Entretanto, podemos destacar dentro desta categoria o sebo propriamente dito e as graxas. Basicamente as diferenças entre os dois são o ponto de fusão, ou título dos ácidos graxos derivados das triglicérides das gorduras animais. Quarenta graus centígrados é o ponto de equilíbrio, para gorduras com título acima de 40ºC é usado o termo graxa. As gorduras dos animais vivos usualmente são brancas ou sem cor e são quimicamente formadas de triglicerídeos. Isto é, os ácidos graxos são combinações com glicerina e as quantidades de ácidos graxos livres são extremamente baixas ou praticamente não existem. Portanto, um sebo de qualidade. A partir do momento do abate, naturalmente tem início a decomposição. Com a morte, a ação de enzimas e bactérias inicia mudanças nos dois tanto na cor como no teor de Ácidos Graxos Livres. Deste modo, o controle enzimático e bacteriológico antes do abate é fator essencial para obtenção de um sebo de qualidade. Seleção das matérias primas para o abate e o controle natural da tendência de degradação é importante para qualidade. O próximo passo mais importante para a preservação da qualidade do sebo seria o uso dos melhores e mais modernos processos para abate, separando a gordura da proteína sólida e a água 79 contida no material cru. Também com grande importância, a necessidade de utilização de boas práticas no carregamento, estocagem e manuseio para minimizar ou eliminar a degradação da qualidade antes da utilização da gordura. Resumindo, a seleção e controle de qualidade das matérias primas, o uso de modernos processos de abate juntamente com uma boa estocagem e processo de manuseio são as premissas para produzir e manter a qualidade do produto. Neste projeto este tipo de combustível despertou o interesse devido a grande quantidade de produção do gado de abate na Região Administrativa de Araçatuba. Também é importante salientar que na Região já há iniciativa de alguns frigoríficos em utilizar o sebo animal para produção de biosiesel, por exemplo, a usina Pioneira, apesar de que ainda não se sabe qual é o potencial explorado devido à falta de informação, pelo fato de que as próprias empresas não repassem esses dados devido à concorrência. Mas todo esforço da equipe está orientada na obtenção dos dados concretos para estimativa de todos os potenciais dos recursos que possam incorporar a matriz energética da região, que é o objetivo principal do PIR. Os preços de óleos vegetais podem ser obtidos, por exemplo, na Gazeta Mercantil ou junto à Empresa Aboissa Óleos Vegetais S.A. Esta empresa mantém um site (www.aboissa.com.br), onde se apresentam as informações sobre cotações diárias de alguns óleos vegetais. A titulo ilustrativo seguem alguns dados sobre os preços obtidos da Empresa Aboissa S.A. destes óleos acima comentados, que hoje o empenho maior é de utilizá-los como possíveis substitutos do óleo diesel, principalmente, nos locais isolados. Tabela 15: Alguns Preços dos Óleos Vegetais Tipo de Óleo Preço de Venda no Mercado Nacional (R$/t.) Óleo de Palma Bruto 1.620,00/t. (Integral) Óleo Bruto de 2.600,00/t Soja 1.510,00/t Babaçu Óleo de Degomado Fonte: www.aboissa.com.br, [31] 7.2.4 Digestão Anaeróbia A digestão anaeróbia, assim como a pirólise, ocorre na ausência de ar; mas, nesse caso, o processo consiste na decomposição do material pela ação de bactérias (microrganismos 80 acidogênicos e metanogênicos). Trata-se de um processo simples, que ocorre naturalmente com quase todos os compostos orgânicos [Figura 44]. Figura 44: Representação Esquemática do Processo Anaeróbico O tratamento e o aproveitamento energético de dejetos orgânicos (esterco animal, resíduos industriais, etc.) podem ser feitos através da digestão anaeróbia em biodigestores, onde o processo é favorecido pela umidade e aquecimento. O aquecimento é provocado pela própria ação das bactérias, mas, em regiões ou épocas de frio, pode ser necessário calor adicional, visto que a temperatura deve ser de pelo menos 35ºC. Em termos energéticos, o produto final é o biogás, composto essencialmente por metano (50% a 75%) e dióxido de carbono. Seu conteúdo energético gira em torno de 5.500 kcal por metro cúbico. O efluente gerado pelo processo pode ser usado como fertilizante. O gás produzido tem suas aplicações na iluminação, uso em fogões, geladeiras e motores de ciclo-otto. No Brasil, a primeira aplicação foi na Granja do Torto em Brasília em 1976, de um biodigestor modelo chinês e que vem funcionando contento. Não é justificativa que um país rico em biomassa, um dos maiores produtores de gado e aves do mundo, grande produtor de resíduos 81 vegetais (cereais), maior produtor de vinhaça do mundo, ainda encontre regiões iluminadas a custo de querosene caro. Lembramos que a Índia tinha a capacidade energética gerada por 4,5 milhões de biodigestores (superior a capacidade energética do Brasil em 1980), e que teria falido por poluição e falta de fertilizante se não fosse os biodigestores. Figura 45: Ilustração do esquema de um biodigestor 7.3 Caracterização dos Recursos de Bimassa na Região Administrativa de Araçatuba. Na Região Administrativa de Araçatuba, pelo levantamento feito durante as visitas, fez-se a classificação de resíduos em seguintes elementos: a) Resíduos sólidos urbanos: os resíduos sólidos urbanos podem ser utilizados como combustível por queima direita, após a separação dos compostos metálicos e trituração da matéria orgânica. b) Resíduos animais: a capacidade de produção de excrementos das criações mais importantes. A região é rica neste tipo de biomassa por ser uma região predominante agropecuária. c) Resíduos vegetais: os resíduos vegetais, ou agrícolas, são compostos fundamentalmente de celulose e podem ser preparados de forma relativamente fácil para a obtenção de energia devido a pouca umidade e à facilidade em serem pré-preparados. Os resíduos vegetais podem ser classificados nas seguintes subcategorias: matéria prima para a obtenção de papel, fertilizante, aglomerados para compensados, complemento para ração animais. d) Resíduos Industriais: os resíduos industriais, fundamentalmente da indústria de alimentos, apresentam alto teor de umidade, o qual limita a sua utilização para a combustão direta ou a gaseificação. e) Resíduos Florestais: os resíduos florestais, constituídos por todo aquele material que é deixado para trás na coleta da madeira, tanto em florestas e bosques naturais como em reflorestamento, e pela serragem e aparas produzidas no processamento da madeira. 82 Pelo levantamento efetuado pela equipe, e apesar de carecer dos dados estatísticos sobre esses recursos, conclui-se que a região é promissora em oferecer um grande potencial deste tipo. Portanto, nesta primeira versão do trabalho, os resultados obtidos são baseados em estimativas, onde foram considerados os valores bem inferiores aos recomendados pelos estudos já consolidados neste assunto, e mesmo assim o potencial teórico avaliado é bem atraente, como se pode observar nas tabelas a seguir o potencial da produção agrícola, conseqüente o potencial dos recursos vegetais, agrícolas e dos dejetos animais, [32]: Tabela 16: Culturas Perenes na Região Administrativa de Araçatuba ESPÉCIES N0 DE PÉS Abacate 68.200 Acerola 4.658 Café 11.555.056 Goiaba 121.345 Laranja 2.011.215 Limão 142.452 Macadâmia 3.790 Manga 381.044 Pinha 52.400 Poncã 20.813 Seringueira 1.696.970 Tangerina 35.232 Uva 32.838 Urucum 116.400 Tabela 17: Culturas Semi-perenes ESPÉCIES Abacaxi ÁREA HÁ % 1.157,23 1,05 83 Banana 99,59 0,09 Cana-de Açúcar 107.830,87 97,59 Mamão 236,47 0,21 Mandioca 324,35 0,29 Maracujá 844,44 0,76 Total 110.492,95 6,37 Tabela 18: Culturas Anuais e Olerícolas ESPECIES ÁREA HA % Algodão 31.058,81 17,66 Amendoim 3.214,79 1,83 Arroz 8.905,91 5,07 Abóbora 346,46 0,20 Batata-doce 299,50 0,17 Feijão 1.842,64 1,05 Melancia 1.433,08 0,82 Milho 122.442,93 69,64 Olerícolas diversas 333,27 0,19 Quiabo 561,53 0,32 Soja 4.430,72 2,52 Sorgo granífero 262,52 0,15 Outras 699,81 0,40 Total 175.831,97 100,00 Tabela 19: Pastagens ESPÉCIES ÁREA HÁ % 84 Braquiária 917.034,89 72,79 Colonião 294.967,82 23,38 Outros 49.496,69 3,92 Total 1.261.499,40 100,00 Tabela 20: Capineiras/Silagens ESPÉCIES ÁREA HA % Alfafa 171,21 1,17 Cana Forrageira 3.174,75 21,66 Coast Cross 174,29 1,19 Guandu 16,94 0,21 Leucena 2,42 0,02 Mandioca 49,72 0,34 Milho (silagem) 6.035,62 41,18 Napier 3.406,59 23,24 Sorgo Forrageiro 1.625,20 11,09 Total 14.656,74 100,00 Tabela 21: Ocupação do Solo ESPECIFICAÇÃO ÁREA HÁ % Capineira/Silagem 14.656,74 0,85 Pastagem 1.261.499,40 72,73 Culturas 175.831,97 10,14 Culturas Semiperenes 110.492,95 6,37 Culturas Perenes 31.713,38 1,83 Anuais/Olerícolas 85 Mata Natal 54.455,35 3,14 Reflorestamento 3.462,45 0,20 Reflorestamento (Pinus) 243,83 0,01 Capoeira/Cerrado 12.433,31 0,72 Várzea/Brejo 45.420,24 2,62 Inaproveitáveis 5.102,52 0,29 Complementares 19.111,76 1,10 Total 1.734.423,45 100,00 (Eucalipto) Tabela 22: Atividades Agropecuárias da Região Administrativa de Araçatuba ATIVIDADE EFETIVO DE ANIMAIS Avicultura (corte) 349.645 Avicultura (postura) 4.527.032 Apicultura 789 Bubalinocultura 1.944 Caprinocultura 2.272 Equideocultura (Eqüinos) 53.228 Equideocultura (muares) 3.919 Ovinocultura 27.709 Piscicultura 1.126.999 Suinocultura 34.487 Bovinos 1.625.522,00 Coelhos 625,00 Fonte: Divisão Agrícola de Araçatuba, Doc. Tec. 93, ISSN 0101-0344, [30] . As informações apresentadas nas tabelas acima permitiram efetuar os cálculos para avaliação do potencial teórico da biomassa da Região Administrativa de Araçatuba. Pois, conhecendo as áreas de plantio de uma determinada cultura ou conhecendo a sua produção em toneladas, torna-se possível estimar a quantidade de resíduos produzidos. Conseqüentemente, 86 através do seu poder calorífico superior e inferior, pode-se estimar o seu potencial energético [29]. Os procedimentos utilizados para os cálculos serão apresentados nos memoriais de cálculos. 7.4 Estimativa do Potencial Teórico da Biomassa da Região Administrativa de Araçatuba Nas estimativas feitas consideraram-se os recursos de biomassa, tais como os resíduos vegetais, resíduos agrícolas através das informações obtidas sobre a produção agrícola da Região e dos de dejetos animais também através das informações obtidas junto a Secretaria de Agricultura. 7.4.1 Cálculo do Potencial Teórico dos Resíduos Agrícolas. Os resíduos vegetais da Região Administrativa de Araçatuba ainda precisam ser levantados com maior detalhe, sobretudo as características da mata existente na região. Portanto, a falta de informações nos leva a fazer a estimativa nesta fase do potencial através da produção agrícola, cujas informações são mais ou menos conhecidas. Os resultados apresentados foram estimados a partir dos estudos da SCET (op. Cit) em 1978 e do trabalho do Cortez (Tecnologias de Conversão Energética da Biomassa), [29]. As estimativas do potencial de geração a partir do bagaço para o estado são variadas, dependendo das hipóteses admitidas. Com a produção de cana da região, é possível estimar o potencial bruto de cogeração. Sabe-se que a cana in natura produz cerca de 40% de seu peso em bagaço e este possui 440 kcal/kg. A produção de cana-de-açúcar na região é de 18.553.993 toneladas, de acordo com dados do IBGE para 2006. Obtém-se assim o potencial energético de 11,96.1015 J/ano, ou 285731,49 tEP/ano. Com relação às pontas, folhas e vinhaça, não temos como estimar o potencial no momento, pois este depende de informações próprias das usinas. Também temos que considerar que a maior parte dos processos de coleta é feita através das queimas, eliminando a maior parte desses resíduos. Poderia ser feita uma estimativa através da fórmula de Mendeliev, [29], desde que conhecida a área de cultivo. 7.4.1.1 Tabela Resumo dos Cálculos dos Potenciais Teóricos de Resíduos Agrícolas Tabela 23: Resumo do potencial teórico agrícola Quantidade Produto produzida Cr Cd PCS Potencial (1012J/ano) Potencial (tEP/ano) 87 Algodão herbáceo (em 21.077 2,45 60,00 18,26 565,75 13.512,13 0,00 0,00 caroço) Alho 66 Amendoim (em casca) 9.467 1,29 95,00 17,80 206,51 4.932,22 1.402 1,43 90,00 16,14 29,12 695,55 0 1,30 100,00 0,00 0,00 360 0,90 90,00 0,00 0,00 0 0,90 90,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Arroz (em casca) Aveia (em grão) Batata - doce Batata - inglesa Cebola 0 Centeio (em grão) 0 1,60 100,00 0,00 0,00 0 1,20 100,00 0,00 0,00 0 1,50 80,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 Cevada (em grão) Ervilha (em grão) Fava (em 0 grão) Feijão (em 19.055 grão) 2,10 80,00 Fumo (em folha) Girassol (semente oleaginosa) Juta (fibra) 88 Linho (semente) 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 541 0,00 0,00 0,00 0,00 Malva (fibra) Mamona (baga) Mandioca 37.363 Melancia 12.842 0,00 0,00 Melão 0 0,00 0,00 5.377,01 128.421,50 0,00 0,00 0,00 0,00 35.953 0,00 0,00 195.130 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,90 90,00 Milho (em 318.298 grão) 1,00 90,00 18,77 Rami 0 (fibra) Soja (em 126.964 grão) 2,12 80,00 Sorgo granífero (em grão) Tomate Trigo (em 0 grão) 1,30 90,00 Triticale 0 (em grão) TOTAL 147.561,40 7.4.2 Cálculo do Potencial dos Resíduos Animais. A Região Administrativa de Araçatuba é uma das regiões desenvolvida em pecuária, portanto, considera-se de grande importância fazer uma avaliação da produção de biogás através dos dejetos animais, cuja parcela pode ser incorporada na matriz energética local. 7.4.2.1 Tabela Resumo dos Potenciais Teóricos dos Resíduos Animais Tabela 24: Resumo do potencial teórico de resíduos animais Qua Coefi Re Co Bi Quan Potenc Potenc 89 ntidade ciente eficiente ogás (103 tidade de síduos produção produzid de (m^3 x m3) de ial gás natural (MWh/ano) de resíduos os em um biogás)/(k equivalente (kg/dia) (103 x m3) ano (t) g ial (tEP/ano) de resíduos) 5.522,00 nos 5,00 Aves 9.027,00 AL 00 0,0 6 32 0,18 1.209 00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 3. 715 0,0 1 2.194, 2.229 25.525 72 963 11.033 948,67 0,00 0,00 0,00 135.2 1.548. 133.16 1. 606 0, 0,18 41 6.66 5.415,00 0,00 0, 625, Coel TOT 00 2,25 420 0,00 0, 58. 4.88 hos 00 2,00 808 36,00 os 1,72 0, 21. 71.1 Suín 00 0 74,00 os 224 130.02 0, 0,0 29.8 Ovin 00 0 3,00 rinos 1.512. 0, 0,0 1.21 Cap 72 00 0 2.48 132.0 0, 0,0 2,00 res 0.120 10,00 7.012 344, Mua 22 15 00 inos 4 15,00 908 17,00 Asin 0,0 11. 43.0 Eqüi nos 10,00 33.155 2.17 Bub alinos 5.9 1.62 Bovi 00 6.5 03.554 22 5.441 64 784 5,10 90 7.5 Caracterização das Dimensões das Tecnologias e dos Recursos da Biomassa As dimensões definidas no processo do PIR são os pilares centrais para avaliação de qualquer recurso que vai fazer parte uma carteira. Portanto, no estudo do potencial teórico dos recursos provenientes da biomassa não será diferente. Neste projeto pretende-se analisar cada dimensão de uma forma sucinta, levantar os seus atributos que permitem concluir se dado recurso pode fazer parte integrante da carteira a se propor no projeto ou não. Sendo viável o recurso, após avaliação do potencial realizável e do mercado, este será incorporado na carteira. Por esta razão, segue-se a analise de cada dimensão para os recursos de biomassa para Região Administrativa de Araçatuba nos itens abaixo. 7.5.1 Aspectos Técnico-Econômicos das Tecnologias e dos Recursos de Biomassa Aspectos técnico-econômicos serão analisados de forma separada para cada tecnologia de biomassa: queima direta, gaseificação, etc. 7.5.1.1 Queima Direta Para melhor avaliação da dimensão técnico-econômica, tanto do lado da tecnologia a ser utilizada como do lado dos resíduos a serem usados para geração de energia, torna-se importante analisar as atividades envolvidas no processo até a produção dos resíduos necessários para gerar a energia. Para isso, é interessante analisar as atividades que envolvem a produção dos resíduos agrícolas e vegetais. Para estas atividades, os custos envolvidos estão ligados aos seguintes aspectos: Implantação: aquisição de terra, infra-estrutura, preparo do solo, adubação, plantio, administração e mão-de-obra. No caso das propriedades agrícolas, alguns destes elementos podem ser eliminados e considerar somente os resíduos abandonados pelos agricultores no campo e que podem ser aproveitados. Devem ser rigorosamente considerados no caso do aproveitamento dos resíduos florestais provenientes do processo de reflorestamento. Manutenção: Conservação de aceiros, roçada mista, combate às pragas, desbrota, administração e mão-de-obra. Também considerar no caso de reflorestamento. Exploração: mão-de-obra, hora de maquina, transporte e administração. Segundo o estudo [CHESF,”Biomassa Florestal- Uma Alternativa para Geração de Eletricidade na Região Nordeste do Brasil”], [33], as médias dos valores dos custos atuais de um 91 empreendimento florestal, compreendendo as atividades acima descritas, podem ser sintetizadas como mostra a Tabela 25. Tabela 25: Custos das Atividades Florestais ATIVIDADE CUSTO, US$ Aquisição de terra 100 a 300 US$/há Produção de mudas 90,2 US$/há Implantação florestal 367 a 811 US$/há Manutenção 336,2 US$/há Administração 52,6 US$/há Pesquisa e desenvolvimento 125,8 US$/há Colheitas/corte 3,3 US$ m3 sol Transporte até 65 km 3,06 US$ m3 sol Para aproveitamento deste tipo de potencial através da tecnologia de queima direta na Região Administrativa de Araçatuba, torna-se interessante pensar na geração distribuída de pequeno porte, por ser a região exportadora de energia proveniente da geração hidráulica, que sem duvida é mais barata. A combustão direta oferece as vantagens, em comparação com a gaseificação, de depender muito menos do tipo, umidade e tamanho da biomassa. Além disso, essa tecnologia está muito bem dominada no Brasil. Durante muito tempo, a empresa Mernak, de Cachoeira do Sul/RS, já veio fabricando os chamados “locomóveis”, que são maquinas alternativas a vapor, muito disseminadas no país e também exportadas para vários países em desenvolvimento. Locomoveis são equipamentos pesados de baixa eficiência e apresentam problemas de contaminação da água pelo óleo lubrificante, [CEPEL, 29 e 30]. O consumo dos resíduos sólidos se situa tipicamente por volta de 4 a 6 kg/kWh. Por uma série de razões, a empresa Mernak encerou as suas atividades, e a continuidade foi dada pela empresa Engetherm, também da Cachoeira do Sul/RS [Cepel,31]. Esta vem tentando retomar a comercialização de locomoveis no Brasil, embora ainda não tenha fabricado ou vendido nenhum destes equipamentos, segundo [Cepel, 31]. Recentemente (Outubro 2001), a Engetherm apresentou cotações informais para um locomóvel de 70 CV e um conjunto de motor a vapor+caldeira de 200 CV, com capacidade de gerar 40 kW. A principal diferença construtiva entre locomóvel e motor a vapor é que o locomóvel incorpora motor e caldeira em uma 92 única unidade. A cotação dada pela empresa é de R$ 100.000 e o conjunto motor a vapor+caldeira é de R$ 165.000, ambos sem qualquer instalação auxiliar. Estes equipamentos pesam de 10 a 14 toneladas, o que torna as despesas com frete consideráveis até o local de instalação. As instalações destes equipamentos incluem a construção de abrigo, eventualmente dotado de parte subterrânea, suprimento de água e sistema de carregamento de biomassa. Por se tratar de equipamentos relativamente pouco familiares, seria também necessário prover o treinamento dos operadores locais. De um modo grosseiro, as estimativas feitas das despesas com instalação, com frete e comissionamento acarretam um acréscimo de 50 % sobre os preços dos equipamentos, ficando assim: locomóvel de 40 kW a R$ 150.000, ou seja, 1.440 US$/kW. Quanto ao motor a vapor mais caldeira separada, de 120 kW, fica em torno de R$247.500, ou seja, 790 US$/kW. Atualmente, alguns centros de pesquisa e empresas no Brasil se dispõem das informações sobre estes equipamentos, por exemplo, a Empresa PTZ Fontes Alternativas de Energia (SC), engenheiros da Escola Federal de Engenharia-EFEI, de Itajubá/MG, e a empresa Biochamm Caldeiras, em Agrolândia/SC. Durante este levantamento notou-se que os motores Spilling, fabricados na Alemanha, são máquinas alternativas a vapor mais modernas e eficientes que os locomoveis, segundo técnicos da empresa Biochamm Caldeiras, que vêm estudando a possibilidade de comercializar ou mesmo fabricar motores Spilling no Brasil, sob licença, para serem utilizados em conjunto com as caldeiras de sua fabricação. No entanto, o preço de um motor Spilling de 100 kW está por volta de US$ 225.000 na Alemanha. Somando-se os impostos de importação, o preço de uma caldeira pequena mais os diversos custos envolvidos no projeto e instalação em um local remoto, chega-se a um valor considerado inviável. De acordo com informações da Empresa PTZ Fontes Alternativas, nas atuais condições no Brasil, a opção mais econômica para geração elétrica com queima direta de biomassa, em escala relativamente pequena, é pela utilização do sistema de caldeira+turbina a vapor. Diversos projetos têm sido instalados com estes sistemas, principalmente na Região Sul, para geração a partir de madeira ou de resíduos agrícolas, sendo que as caldeiras são fornecidas pela Biochamm e as turbinas a vapor pela empresa TGM Turbinas, de Sertãozinho/SP. Segundo a empresa PTZ Fontes Alternativas, a disponibilização de pequenas turbinas a vapor no mercado nacional a preços mais acessíveis é relativamente recente, e praticamente tirou o mercado potencial dos locomoveis. A menor turbina a vapor disponível é projetada para até 500 kW. Ela pode trabalhar gerando 50 kW, mas o consumo de biomassa, o custo da caldeira necessária, bem como dos equipamentos auxiliares e instalações, não decresceriam na mesma proporção. Um sistema completo, instalado em local remoto, sairia por cerca de US$ 350.000. Segundo a PTZ, com este equipamento operando com 50 kW, o consumo de madeira seria de aproximadamente 10 kg/kWh ou maior. De acordo com a 93 mesma empresa, os sistemas de geração elétrica com biomassa baseados em caldeira e turbina a vapor só se tornam viáveis para potencias acima de 250 kW. Este é um número para orientação. O valor real pode variar significativamente em função do local de instalação. Os motores Spilling têm como uma das principais vantagens o fato da combustão ser dada em uma câmara externa ao motor, de tal forma que o processo fica bastante tolerante a variações de propriedades da biomassa e não há problemas com umidade ou formação de alcatrão. No entanto, um motor Spilling custa cerca de 6.000 US$/kW a 10.000 US$/kW na faixa de potencia de 10 a 25 KW [CEPEL, 32]. Se considerar o valor de 6.000 US$/kW na origem, o preço colocado no Brasil sairia por aproximadamente 9.600 US$/kW, e a parcela de custos de geração correspondente ao investimento seria de 374 US$/MWh. Este valor apenas supera de longe os custos totais da geração diesel para faixa de potencia considerada, não se justificando uma analise mais completa de todos os custos envolvidos na geração com motores Spilling, [33]. 7.5.1.2 Gaseificação O processo da gaseificação de biomassa consiste na sua combustão interna parcial, em condições controladas. Nos processos mais simples, o gás apresenta baixo poder calorífico (por volta de 4-6 MJ/Nm3, comparado a 39 MJ/Nm3 para o gás natural) e uma composição volumétrica típica de 10-20 %CO, 15-20%H2, 2-5%CH4, 10-14%CO2, 5-8%H20 (vapor), resto é N2, [35]. A gaseificação do carvão vegetal é mais simples do que a gaseificação da madeira porque são evitadas as dificuldades associadas à formação de alcatrão. No entanto, a eficiência global do processo é desfavorável devido às perdas e gastos com mão-de-obra na etapa adicional de transformação de madeira em carvão. Gastam-se cerca de 3kg de madeira seca para se produzir 1 kg de carvão vegetal, [CEPEL, 2001], mas na geração elétrica com gaseificação o consumo especifico de carvão (em kg/kWh) é apenas 25 % menor que o consumo especifico de madeira. Por isto, busca-se preferencialmente gaseificar diretamente a madeira. Na gaseificação da madeira, produz-se uma quantidade residual de alcatrão que prejudica o funcionamento de motores de combustão interna. Gaseificadores para a produção de gás destinado ao acionamento de motores exigem maior sofisticação tecnológica na medida em que devem incorporar os mecanismos e os detalhes do projeto que permitam eliminar ou reduzir ao máximo o alcatrão, figura.... 94 Figura 40: Configuração Típica de um Gaseificador. Na escolha do motor para funcionamento com gás de gaseificador abrem-se duas alternativas: usar motores do ciclo Otto, com ignição por centelhamento, ou motores dieseis adaptados. Esta segunda opção é mais empregada nas instalações de pequenos sistemas de geração com gaseificadores porque os motores dieseis são mais duráveis e mais comumente disponíveis do que os motores a gás. Por outro lado, os motores dieseis adaptados não podem funcionar apenas com o gás do gaseificador. O gás substitui no máximo 85 % do diesel. Na pratica, deve-se contar com um percentual típico de substituição por volta de 70 %. O consumo de madeira seca, nestas condições, é de aproximadamente 1,2 kg/kWh. O consumo médio de diesel é estimado em 0,1 litros/kWh, [36]. Além da caracterização da tecnologia [7.2.2], na Tabela 26 são apresentados alguns preços de gaseificadores para alimentação dos geradores com as potências indicadas. Tabela 26: Preços de gaseificadores com as potências indicadas Empresas Potencias (kW) CGPL 4-5 20 40 80-100 kW kW kW kW US$1.810 US$10.920 US$10.110 US$12.340 200-250 kW US$31.920 95 AEW US$2.130 US$4.260 - US$19.150 US$34.050 Fonte: CEPEL Na Tabela 27 temos os custos de um sistema de geração à biomassa (principalmente madeira, cortada em pequenos pedaços [Figura 46]) de um estudo realizado em dezembro de 2001, para um sistema à gaseificação de 20kW. Figura 46: Amostra da madeira Cortada em pequenos pedaços Um estudo de 2002, [37], mostra que, para um processo de gaseificação e utilização de ciclo combinado (Rankine + Brayton), nas condições BIG/GT, temos um rendimento total de 51%, com relação à energia total da matéria. 7.5.1.3 Transesterificação O custo da transesterificação do óleo vegetal “in natura” é estimado em US$0,13/litro a US$0,20/litro, ou seja, R$0,34/litro a R$0,52/litro. Este custo é adicionado ao preço do óleo vegetal para se obter o custo do biodiesel. Tomando-se o preço médio do óleo de palma virgem a US$0,32/litro, o biodiesel produzido a partir desta matéria prima teria um custo mínimo de ~US$0,52/litro. Além disto, deve-se contar com um acréscimo de 10% no consumo específico de biodiesel, comparado ao diesel. Na Tabela 28 temos alguns geradores a Diesel, que também podem ser utilizados com o biodiesel. Nela não está incluso o custo do processo de transesterificação da biomassa. 96 7.5.1.4 Digestão Anaeróbia A utilização de biodigestor rural é viável, desde que haja demanda para utilização global de seus produtos, biogás e biofertilizante. As considerações de aspectos locais no projeto devem ser minuciosas. Disponibilidade de água, regime de criação em confinamento, proximidade entre o curral e o biodigestor são fatores essenciais. O retorno do investimento vai depender muito dessas condições que, se não forem favoráveis, inviabilizam o empreendimento, principalmente pelo custo da mão de obra necessária. O biodigestor deve se pagar em mais de um ano, por volta de três anos de uso. Mas, se a demanda energética for grande, esse tempo pode ser de dois anos aproximadamente. Quanto ao custo de implantação, calcula-se que a preços de hoje deve ficar em torno de oitenta mil reais (para uma equivalência energética de 325 Kg de GLP por semana). 7.5.1.5 Tabela Resumo dos Atributos Tabela 27: Sistemas de gaseificação com 20 kW de potência Firma/Instituição Gaseificador Grupo Cortador de Biomassa gerador Total de Equipamento Treinamento instalação, comissionamento A (India) 22.000,00 10.000,00 1.000,00 33.000,00 51.000,00 B (India) NA NA NA 16.000,00 9.000,00 C (Holanda) NA NA NA 74.440,00 20.600,00 D (India) NA NA NA 18.000,00 NA E (India) 6.826,00 6.516,00 233,00 13.575,00 450,00 F (Brasil) 27.660,00 NA 1.250,00 28.910,00 NA Tabela 28: Especificações e custos dos geradores Diesel/Biodiesel Fornecedor Agrale, (54)2388055 Flumiserra, (24)3346-2074 Agrale kVA kW US$ 4 3,2 2.770 4 3,2 2.730 6 4,8 3.115 Custo por Watt(US$/kW) 865,63 853,13 973,44 97 Agrale 7,5* 6 3.230 538,33 Flumiserra 7,5 6 3.885 647,5 Flumiserra 10 8 4.115 514,38 11 8,8 4.962 11 8,8 4.308 12,5 10 4.385 Leon Heimer 18 14,4 4.810 334,03 Stemac 23 18,4 6.154 334,46 Leon Heimer 25 20 5.580 279,00 Leon Heimer 36 29 6.385 220,17 Stemac 36 29 6.846 236,07 Leon Heimer 50 40 7.190 179,75 Stemac 50 40 7.173 179,33 Leon Heimer 75 60 9.190 153,17 Stemac 75 60 8.623 143,72 Leon Heimer 103 83 10.770 129,76 Leon Heimer 135 108 12.000 111,11 Leon Heimer 165 132 12.650 95,83 Leon Heimer 180 144 15.500 107,64 Stemac, (21)2590-6636 Agrale Leon Heimer, (21)2203-0174 563,86 489,55 438,50 7.5.2 Aspectos Sociais das Tecnologias e Recursos de Biomassa Com relação aos impactos específicos causados pela plantação da cana-de-açúcar (matériaprima utilizada em vários processos de utilização da biomassa), temos como principais: • Péssimas condições de trabalho para cortadores de cana, chegando a ocasionar a morte dos mesmos; 98 • Araraquara, 1995: o aumento de partículas de fuligem (provenientes da queima da cana) era diretamente proporcional ao crescimento das internações realizadas no Hospital São Paulo de Araraquara; • População paga pelo gasto maior de água e produtos de limpeza da fuligem nas cidades; • Abastecimento de água das cidades afetado no período de safra, pois justamente na estiagem onde os recursos hídricos são limitados, o consumo de água chega a duplicar, em função das queimadas; Com relação ao biodiesel: • Para cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar, podem ser gerados cerca de 50 mil empregos no campo, com uma renda média anual de aproximadamente R$ 4.900,00 por emprego (estudos desenvolvidos pelos Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Integração Nacional e Ministério das Cidade); • Para 1 emprego no campo são gerados 3 empregos na cidade; seriam criados, então, 180 mil empregos; • Numa hipótese otimista de 6% de participação da agricultura familiar no mercado de biodiesel, seriam gerados mais de 1 milhão de empregos. Com relação à produção do biogás, os impactos sociais estão ligados ao fato de existir uma diminuição no resíduo rural e urbano, uma vez que estes são utilizados quase que em sua totalidade na produção de energia, e o que não puder ser utilizado nesse processo, pode ser reciclado. Com isso, necessitamos de uma menor ocupação de área destinada a aterros sanitários, lixões, etc. Um problema a ser considerado é o fato de existir certo mau cheiro nas regiões próximas às dependências geradoras de biogás. 7.5.3 Aspectos Ambientais das Tecnologias e Recursos da Biomassa Como qualquer outra atividade humana, a utilização de biomassa florestal na produção de energia elétrica em larga escala certamente interferirá no meio ambiente. Contudo, a determinação dos possíveis impactos demandará estudos mais detalhados, que deverão ser feitos quando da analise de projetos específicos na parte florestal, agrícola e na de conversão de energia. Apesar disso, algumas previsões já podem ser feitas levando-se em consideração as informações e a experiência obtidas por empresas que atuam neste setor de produção de energia através da utilização de biomassa. 99 Na área florestal, os possíveis impactos negativos durante as fases de implantação, crescimento e exploração são: • Uso excessivo de produtos químicos (fertilizantes pesticidas); • Erosão do solo; • Modificações das condições do habitat natural; • Compactação do solo através do uso intensivo de tratores e caminhões. Dentre os aspectos positivos ambientais, destacam-se: • Absorção do carbono da atmosfera, ajudando a regular a quantidade de CO2 existente e, consequentemente, contribuindo para reduzir o efeito estufa; • O controle da erosão do solo e das funções hidrológicas; • Restauração de ecossistemas degradados; • Redução dos níveis de assoreamento dos rios e reservatórios. É bastante relevante o fato de que a biomassa produzida de modo sustentável possa servir como um atenuador da emissão de carbono, sobretudo quando se discute internacionalmente a penalização dos combustíveis fósseis com taxas crescentes de sua emissão especifica de carbono. Portanto, pelas visitas efetuadas pela equipe do PIR, identificaram-se áreas com devastações florestais, necessitando de reflorestamento intensivo na região. O uso de biomassa para fins energéticos só viria contribuir do modo significante para a recuperação destas áreas, além dos benefícios sociais que isso poderia trazer. 7.5.4 Aspectos Políticos das Tecnologias e Recursos de Biomassa Para avaliar o interesse da região na geração de eletricidade a partir de biomassa, deve ser considerada a extensão de seus recursos florestais e de resíduos de biomassa (já disponíveis ou potenciais), o desenvolvimento da silvicultura local, as necessidades de expansão do seu parque de geração de eletricidade, as dificuldades de manutenção do atual modelo hidráulico e o atual estado do desenvolvimento tecnológico dos sistemas térmicos de potência de base dendroenergética. Todos estes fatores convergem para reforçar as vantagens desta forma de suprimento de eletricidade, que traz outros benefícios importantes, tais como a geração de empregos de baixa qualificação e a possibilidade de ocupação produtiva de terras marginais. Embora não seja muito difícil apontar boas oportunidades para a geração de eletricidade a partir de biomassa na região Administrativa de Araçatuba, a inexistência de uma política mais ativa e orientada à utilização deste recurso no momento inibe as condições favoráveis para expansão da tecnologia de biomassa, que é a pretensão principal deste estudo, tendo em vista o grande volume 100 de resíduos agrícolas na Região. Portanto, o Governo regional e dos municípios devem exercer os seus poderes no âmbito da utilização deste recurso e da penetração da tecnologia de biomassa, coordenando a sua expansão, definindo as metas estratégicas e orientando o processo econômico, já que as forças de mercado somente são reconhecidamente míopes e incapazes de perceber todas as dimensões do processo econômico, em particular seus componentes sociais e que extrapolam o curto prazo. Deve haver condições favoráveis para o estímulo à penetração da geração de eletricidade a partir de biomassa na região, não excluindo a necessidade de serem desenvolvidas ações complementares de estímulo, tais como: • Levantamento criterioso e difusão de dados relativos aos fluxos e potenciais naturais de biomassa florestal nativa e plantada na região, bem como dos resíduos gerados em agroindústrias; • Analise da formação de preços de lenha para região. Por se constituírem em um dos poucos energéticos cujos preços não são controlados pelos governos, os preços da lenha e dos seus derivados apresentam significativa variação regional e sazonal, que cabe acompanhar, compreender e divulgar, inclusive considerando possibilidades de suavização dos ciclos e gradual formação do mercado estável para estes produtos na região; • Apoio à capacitação de pessoal e ao desenvolvimento tecnológico em temas de biomassa; • Apoio à geração termelétrica em unidades de pequeno e médio porte, e em sistemas de cogeração com a utilização de biomassa como recurso; • Reforço e aplicação ampla da legislação florestal, em particular coibindo o uso de lenha de desmatamento; • Fazer um adequado ordenamento político normativo para sua consecução na região em relação à utilização de biomassa, que possa proporcionar uma política racional e sustentável, que atenda às necessidades de crescimento e desenvolvimento das comunidades locais. 8 Tecnologias Células-Combustíveis A utilização das células combustíveis cada vez mais está ganhando espaço no mercado das inovações tecnológicas de energias renováveis. Portanto, neste trabalho não se pode desprezar a parcela da energia que pode ser produzida pelo uso desta tecnologia. Pois, para a Região Administrativa de Araçatuba, buscam-se todas as opções possíveis de tecnologias para que sejam incorporadas na matriz energética da região, uma vez que apresentem características de sustentabilidade. Portanto, este recurso é uma das tecnologias que precisa ser dada uma merecida 101 atenção. Assim, serão analisadas todas as suas características, todos os seus aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais, que possam determinar o seu uso ou não na região. 8.1 Introdução Célula Combustível (Fuel Cells) é uma tecnologia que utiliza o hidrogênio e o oxigênio para gerar eletricidade com alta eficiência, e também vapor d’água quente resultante do processo químico. A importância da célula está na sua alta eficiência e na ausência de emissão de poluentes quando se utiliza o hidrogênio puro, além de ser silenciosa. O seu principal combustível, o hidrogênio, pode ser obtido a partir de diversas fontes renováveis e também a partir de recursos fósseis, mas com muito menor impacto ambiental. Infelizmente a célula combustível ainda possui preços elevados, quando comparada a formas de geração de energia convencionais. 8.2 Principais Características Construtivas As diferentes tecnologias de célula a combustível têm basicamente o mesmo princípio. São compostas por dois eletrodos porosos: o ânodo (terminal negativo) e o cátodo (terminal positivo), cada um revestido num dos lados por uma camada de catalisador de platina ou níquel, e separados por um eletrólito (material impermeável que permite movimento aos íons positivos – prótons - entre os eletrodos) [Figura 47]. Figura 47: Esquema de Produção de Energia Elétrica na Célula a Combustível Na maioria das células a combustível, o ânodo é alimentado com hidrogênio - combustível -, onde ocorre a ionização deste, por reação catalítica na platina, convertendo o hidrogênio H2 em 102 prótons H+ e elétrons H-. O cátodo é alimentado pelo oxigênio - o oxidante - retirado do ar. Os elétrons circulam por um circuito externo gerando uma corrente elétrica no sentido do cátodo, o terminal positivo. Os prótons atravessam o eletrólito - que pode ser líquido ou sólido - no sentido do cátodo também. No cátodo, o elétron e o próton reagem com o oxigênio, este retirado do ar, formando moléculas de água e liberando calor devido à reação exotérmica. Tem-se então, vapor d’água. O vapor quente pode ser utilizado para aquecimento, ou ser integrado a uma turbina a vapor para gerar mais eletricidade. Pode também ser utilizado para gerar hidrogênio novamente através da eletrólise (quebra da molécula de água em hidrogênio e oxigênio) utilizando-se um painel solar, por exemplo, (CaCs Regenerativas). Muitas vezes o hidrogênio utilizado pela célula a combustível não está na sua forma mais pura, H2. Ele está misturado a outros elementos presentes num combustível, tal como o gás natural, a gasolina e o álcool (etanol), e tem que ser retirado. Para extrair o hidrogênio é utilizado um reformador. Pois, pode-se dizer, fisicamente, que uma planta de célula combustível é divida em três partes: • Um reformador de combustível, que através de um processo termoquímico retira o hidrogênio do hidrocarboneto, removendo as impurezas do combustível resultante (necessário apenas quando o combustível não é o hidrogênio puro); • A célula combustível propriamente dita, que consiste em um conjunto de pilhas contendo eletrodos catalíticos que geram a eletricidade; • Um inversor, que converte a corrente continua produzida na célula combustível em corrente alternada. Em algumas tecnologias de células a combustível, devido à alta temperatura de operação (entre 600°C e 1000°C), a reforma do combustível é feita internamente. Já em outras tecnologias, que atuam em temperaturas mais baixas, é necessário um reformador, o que implica em custos adicionais. 103 Figura 48: Esquema do Sistema HEXIS da Empresa Sulzer Pelo levantamento feito pela equipe, identificaram-se as seguintes modalidades de tecnologias deste tipo: 8.2.1 Célula Combustível com Membrana Polimérica (PEMFC) As PEMFC atuais têm uma eficiência inferior a 40% e operam próximas à temperatura de ebulição da água à pressão atmosférica (850 C), usando uma membrana de troca de íon (por exemplo, ácido sulfônico fluoretado) como eletrólito. Catalisadores a base de platina são usados no catodo e anodo. Devido à sua temperatura operacional baixa, a reforma interna não é possível alem de não serem tolerantes a presença do monóxido de carbono, um dos subprodutos da reforma do combustível. No entanto, possuem excelente capacidade de carga e partida rápida entre 1 a 3 segundos, desde que utilizadas com hidrogênio puro. As células combustíveis PEMFC ainda não são viáveis para aplicações de geração em larga escala devido ao elevado custo das membranas. Porém, apresentam modularidade para pequenas potências sendo, portanto, passiveis de serem utilizadas individualmente em residências ou localidades remotas com baixa demanda. Um dos estudos econômicos conhecidos de avaliação de células combustíveis estacionárias empregando tecnologia do tipo PEMFC foi realizado por Barbir e Gómez, [38]. Seus estudos basearem-se em um protótipo com capacidade de 10 kW e eficiência de 40%, e custo específico de investimento de US$ 3.000/kW. Estima-se que o custo de investimento poderia ser reduzido para US$ 1.150 /kW em função de uma produção em escala comercial. 104 Figura 49: Representação Esquemática da Célula do Tipo PEMFC 8.2.2 Célula Combustível Alcalina (AFC) As AFC usam como eletrólito alcalino de sódio (NaOH) ou hidróxido de potássio. Elas operam à pressão atmosférica e várias temperaturas, entre 700 C e 2500 C. Atualmente, os sistemas de AFC são usados em aplicações submarinas e espaciais. 105 Figura 50: Representação Esquemática da Célula do Tipo AFC 8.2.3 Célula Combustível de Acido Fosfórico (PAFC) As PAFC já se encontram comercialmente disponíveis para aplicações estacionárias. Células com capacidade de 200 kW já estão fornecidas pela UTC (United Technologies Company). Já foram vendidos ao preço de US$3.000/kW cerca de 100 unidades. Mas ainda há incertezas quanto ao custo de instalação como um todo. As estimavas feitas apontam para o custo total de instalação de uma célula destas, com todos os acessórios incluídos, em torno de US$5.000/kW. Entre as células combustíveis para aplicação em geração distribuída, são as de tecnologia mais madura. 106 Figura 51: Representação da Célula Tipo PAFC 8.2.4 Célula Combustível de Carbonato Fundido (MCFC) Trata-se de uma tecnologia que ainda não é considerada viável para aplicação comercial, embora em desenvolvimento há mais de 21 anos. A MCFC usa uma mistura alcalina (sódio e potássio) de carbonato como eletrólito, contida em uma matriz cerâmica. Níquel e oxido de níquel são usados como anodo e catodo, respectivamente. Operam a uma temperatura entre 6000 C e 7000 C, sendo que a reforma interna é possível com a adição de um catalisador. Outra vantagem da temperatura alta é o potencial para o uso do calor para geração de vapor. Embora o CO produzido na reforma do combustível não seja um problema, o enxofre presente na forma de H2S, também resultante do processo, é prejudicial em níveis de ppm. Uma das desvantagens deste tipo de célula é a corrosão no eletrólito de carbonato fundido e a necessidade de aquecimento preliminar para sua partida. A maior parte das avaliações econômicas feitas para sistemas MCFC foi realizada utilizando gás natural como combustível de reforma. Nos estudos de Mugerwa e Blomen, [39], foram avaliados os impactos de produção em escala comercial e o custo dos protótipos atuais. Para 107 produção em escala, os cálculos efetuados apontam que o custo específico dos sistemas MCFC baseados em gás natural se situaria em US$ 1.355/kW para células com capacidade de 25 kW; US$ 1.740/kW para 250 kW; US$ 1.330/kW para 3,25 MW e US$ 600/kW para 100 MW. Para as unidades pequenas admitiu-se que a fabricação é mais barata em função da tecnologia robótica disponível. Outros estudos realizados por Bohme, [40], avaliando três MCFC (reforma externa, reforma interna com vapor e reforma interna com combustível reciclado), apontam aos seguintes custos, respectivamente: US$ 2.900/kW, US$2.000/kW e US$ 1.700/kW. Figura 52: Representação Esquemática da Célula Tipo MCFC 8.2.5 Célula Combustível de Óxido Sódio (SOFC) A tecnologia de célula de óxido de sódio atualmente é considerada a mais adequada para geração de eletricidade a partir de combustíveis derivados do petróleo. As SOCF usam tecnologia de sistemas em estado sólido operando a altas temperaturas, que está em torno de 10000 C. Essas células possuem características bem mais simples, em termos da configuração, do que outros tipos de células combustíveis já descritos acima, pois funcionam em dois estados (sólido e gasoso), e são tolerantes a impurezas. Além dessa vantagem, ainda apresentam um elevado rendimento e 108 produzem uma grande quantidade de energia capaz de ser aproveitada em processos de cogeração ou associados a ciclos combinados com turbinas a gás para gerar energia. Elas apresentam ausência de eletrocatálise do metal nobre, o que faz com que o CO produzido não seja danoso e possa ser oxidado diretamente. Durante o processo de reforma do combustível, libera uma grande quantidade do calor, que permite o seu aproveitamento na geração de vapor ou outras aplicações. A realização da reforma de hidrocarbonetos ocorre no seu interior devido a sua operação em altas temperaturas, sem necessidade do uso de um catalisador. Mas como elas só produzem energia a partir de 6500 C, torna-se necessário a realização da combustão do combustível no processo de partida, que normalmente leva alguns minutos. Devido a estas elevadas temperaturas, não se pode esperar o uso residencial isolado deste tipo de célula, ficando deste modo restrito às aplicações industriais. Apesar destas células terem a configuração mais simples e serem mais tolerantes a impurezas, que são vantagens relevantes, ainda não se encontram disponíveis comercialmente, embora companhias estejam avançadas nas pesquisas deste tipo de tecnologias. No momento existem poucas informações sobre os seus custos nas literaturas. Alguns dos estudos mais importantes neste aspecto são do Ippommatsu, [41], que indicam um custo do sistema completo deste tipo de célula em torno de US$ 2.000 /kW. Para chegarem neste custo consideraram uma produção em escala comercial de 1milhão de células/planta e incluíram também custos com matérias-primas, depreciação, mão-de-obra e manutenção. Outro passo importante dado neste sentido foi de formação de um consorcio com a participação da Empresa GRI (Gás Research Institute) e a Empresa EPRI para comercialização de células planares do tipo SOFCs. Pela informação levantada o consorcio usará tecnologia de SOFC desenvolvida pela Universidade de Utah e Material and Systems Research Inc. (MSRI) e com isso espera alcançar custos menores que US$700/kW, [42]. 109 Figura 53: Representação Esquemática da Célula Tipo SOFC 8.3 Caracterização dos Recursos Utilizados pelas Tecnologias de Células Combustíveis Os recursos utilizados pelas células combustíveis para produção de energia elétrica são encontrados em abundância na natureza. Os combustíveis mais utilizados pelas células combustíveis são: hidrogênio, metanol, metano, etano, etanol e gás natural. Com exceção da célula direta a metanol, todas as outras têm hidrogênio como combustível. Entretanto, não se utiliza hidrogênio puro, mas sim uma mistura gasosa, que contém além de hidrogênio, um pouco de vapor de água, CO2 e CO. Este gás é chamado de gás de reforma e provém da transformação catalítica heterogênea (reforma) de gás natural, hidrocarbonetos ou também de metanol, com vapor de água, de acordo com reações totais. Estas reações requerem uma grande quantidade de energia térmica. Em seguida, apresenta-se como são feitas estas reformas através das reações químicas. • Reforma do Gás Natural: CH4 + H2O → CO + 3H2 110 • Reforma de Hidrocarbonetos: CnH2n + 2nH2O → nCO2 + (2n + n)H2 • Reforma do Metanol: CH3OH + H2O → CO2 + 3H2 Pelas características dos combustíveis utilizados pelas células a combustíveis pode-se afirmar que na Região Administrativa de Araçatuba a aplicação destas tecnologias tem futuro. O hidrogênio pode ser encontrado na água e outros elementos químicos. As tecnologias para obtenção do hidrogênio já estão disseminadas, apesar do processo ainda apresentar custos altos. Portanto, no contexto do PIR - Araçatuba esta tecnologia será avaliada com todo mérito. 8.4 Estimativa do Potencial Teórico dos Recursos Utilizados pelas Tecnologias das Células Combustíveis Pela caracterização feita acima das tecnologias de células combustíveis, observou-se que todas elas têm a participação do hidrogênio como combustível. Hoje este elemento é considerado como vetor energético viável, apesar de não se encontrar disponível na natureza, o que faz necessário encontrar os métodos da sua produção a baixo custo. Os atuais métodos baseiam-se na reforma do metano e de outros hidrocarbonetos, na oxidação parcial e não catalítica de combustíveis fosseis e combinações dos dois. No entanto, estes métodos processam-se em altas temperaturas, requerendo energia. Outros métodos incluem o uso de membranas, a oxidação seletiva de metano e a desidrogenação oxidativa, [Armor, J.N., 1999]. O hidrogênio pode também ser obtido a partir de fontes renováveis tais como biomassa e água. A eletrólise da água é talvez o processo mais limpo para a produção de hidrogênio, mas a sua aplicação será certamente restrita a zonas onde o custo da energia elétrica é baixo, uma vez que este representa cerca de 80 % do custo de produção. Outra alternativa promissora de produção do hidrogênio é a produção biológica de hidrogênio, que provavelmente se tornará alternativa mais viável em relação aos métodos acima apresentados. O hidrogênio produzido a partir de biomassa e/ou da fração biodegradável de resíduos, para utilização como biocombustível, que é também denominado de bio-hidrogênio. A produção de bio-hidrogênio combinada com o tratamento de resíduos orgânicos integra os princípios do desenvolvimento sustentado e da minimização e tratamento dos resíduos, numa clara aproximação às chamadas “Tecnologias Verdes”. Pois, a produção de hidrogênio através deste método é feita dos processos anaeróbicos, aeróbicos, das bactérias fotossintéticas e cianobacterias. A discrição acima feita mostra que o potencial do hidrogênio é inesgotável, a capacidade da sua produção e da armazenagem vai depender só do desenvolvimento tecnológico. Portanto, para o PIR da Região Administrativa de Araçatuba, se vê a possibilidade deste recurso fazer parte da 111 matriz energética da região. No futuro da economia energética da Região o hidrogênio pode vir ter um papel preponderante como fonte de energia limpa, para utilização em pilhas de combustível que podem ser utilizadas na indústria automotiva e na produção descentralizada de energia. O hidrogênio tem um elevado poder energético (122 kJ/g), que é cerca de 2 vezes superior ao dos hidrocarbonetos. Tabela 29 a seguir. 112 Tecnolo Preço Potência gia Nominal (kW) (US$/kW) (US$) Custo/Watt Corrente Tensão de saída Eficiência Eficiência (potência (20% de Combustível nominal) carga) Hidrogênio I-1000 1kW fuelcell 9.995,00 1,00 9.995,00 40A, 20A 24, 48, or ou 8A 125 VDC NA padrão NA industrial system (99.95%) S-500 FuelCell 29.300,00 0,50 58.600,00 0-50 A 46.700,00 0-50 A 32.000,00 0-50 A 10 1.150,00 NA 7* 1.215,00 4.025,00 7** 56.250,00 25 hidrogênio 45% 52% 45% 52% 45% 52% NA NA NA NA NA NA NA NA NA 575,00 NA NA NA NA NA 2.250,00 NA NA NA NA NA 3.000,00 NA NA NA NA NA 600.000,00 200,00 (venda) 3.000,00 NA NA NA NA NA 33.875,00 25,00 1.355,00 NA NA NA 435.000,00 250,00 1.740,00 NA NA NA 1.330,00 NA NA NA NA NA 600,00 NA NA NA NA NA 2.900,00 NA NA NA NA NA 2.000,00 NA NA NA NA NA 170.000.00 c/ combustível 1.700,00 NA NA NA NA NA 113 System S-1000 FuelCell 46.700,00 1,00 System S-2000 FuelCell 64.000,00 2,00 System 11.150 PEMFC 8.505,00 PAFC 12-18 30.000.000 100.000,00 4.322.500, 00 3.250,00 MCFC 60.000.000 100.000,00 VDC 24-36 VDC 48-72 VDC industrial hidrogênio industrial hidrogênio industrial NA NA NA NA 100.000,00 290.000.00 c/reforma externa 100.000,00 200.000.00 c/reforma interna 100.000,00 reciclado 8.5 Caracterização das Dimensões das Tecnologias e dos Recursos de Células Combustíveis As tecnologias de células combustíveis, apesar de terem baixas emissões de gases do efeito estufa, e não produzirem ruído (graças à inexistência de peças moveis na sua estrutura), ainda apresentam custos muito elevados. Por isso, antes de pensar em sua utilização em larga escala no contexto do PIR, é necessário fazer uma avaliação profunda como para qualquer outra tecnologia. Portanto, nos itens seguintes são levantados os aspectos técnico-econômicos, ambientais, sociais e políticas destas tecnologias para sua futura penetração na matriz energética da Região Administrativa de Araçatuba. 8.5.1 Aspectos Técnico-Econômicos das Células Combustíveis. As células combustíveis listadas a seguir possuem potências que variam de 500 W a 100 MW, e utilizam diversos tipos de combustível. Nem todos os fabricantes forneceram todos os dados importantes, como rendimento e tensão de saída, e os preços foram adquiridos ao longo do tempo, o que pode levar a uma pequena variação atualmente. A célula combustível mais usual e madura no momento, a de ácido fosfórico (PAFC) e as que utilizam metanol (DMFC), têm eficiência de 40%. Entretanto, quando são utilizadas num sistema de cogeração (onde se aproveita o calor rejeitado para gerar mais energia), as células de ácido fosfórico podem obter eficiência de 85%. Outras tecnologias de CaCs têm suas eficiências variando desde 40% até 85%. 8.5.1.1 Tabela Resumo dos Atributos Tabela 29: Dados das células combustíveis * Dados adquiridos em 2001 ** Dados adquiridos em 2003 114 8.5.2 Aspectos Sociais das Tecnologias e dos Recursos de Células Combustíveis A utilização em massa das células a combustível resulta em oportunidade de desenvolvimento econômico e social. A adoção desta tecnologia abre novos mercados para as indústrias de alta qualificação, fabricantes de componentes, integradores de sistemas, fornecedores, comerciantes, empresas de manutenção e criação de empregos em diversas áreas. Um fator que impede sua ampla utilização é o elevado custo. Setores com pouco poder aquisitivo são incapazes de instalar sistemas como esses, e regiões agrícolas, que poderiam utilizálo para suprir as deficiências das grandes distribuidoras, também necessitam de subsídios para poder implantá-lo. 8.5.3 Aspectos Ambientais das Tecnologias e dos Recursos das Células Combustíveis Pelo fato de produzirem energia sem combustão e sem partes móveis, as Células Combustíveis são, em média, até 25% mais eficientes que os motores a combustão interna, reduzindo a emissão de poluentes causadores do efeito estufa em até 50%. Mesmo quando o hidrogênio é obtido a partir de fontes fósseis como o petróleo e o gás natural, a emissão de dióxido de carbono (CO2) cai de 25 a 50%, e a fumaça produzida quando comparada com equipamentos tradicionais como os geradores a diesel, diminui em 99%. As micro-células a combustível são potenciais substitutos das baterias e pilhas usadas em muitos tipos de equipamentos eletrônicos. Além da melhor performance que as células já oferecem, elas podem reduzir a quantidade de baterias jogadas no lixo e que contaminam os aterros sanitários e lençóis freáticos. Redução da poluição sonora, pois as células a combustível operam silenciosamente. Abre a possibilidade de geração de energia em casa, tal como já ocorre com os painéis solares fotovoltaicos, além de diminuir a poluição sonora no trânsito, e a substituição de geradores a diesel – tradicionalmente muito barulhentos, além de poluentes. O hidrogênio não é um combustível tóxico, por isso, se ocorrer um vazamento, não irá contaminar o meio-ambiente. 8.5.4 Aspectos Políticos das Tecnologias e dos Recursos das Células Combustíveis O fato de se utilizar as células combustíveis para geração distribuída e em transportes ocasiona um aumento da segurança nacional de energia, devido a diminuição da probabilidade de 115 ocorrer racionamentos, “apagões”, instabilidades políticas e econômicas por causa da “guerra” pelo petróleo. Isso nos proporciona uma maior independência com relação à variação do preço do barril de petróleo e seus derivados. Para tanto, os governos e municípios devem criar mecanismos de incentivos para estimulo à pesquisa em prol do desenvolvimento destas tecnologias e meios para sua maior penetração no mercado da região. 9 Tecnologias Nucleares Indo a sentido contrário do que se demanda hoje por energia e necessidade de limitar as emissões de CO2, a energia nuclear tem tido uma tendência declinante no seu desenvolvimento. As principais razões deste processo são: • Maior resistência do público contra energia nuclear em muitos países, particularmente com relação a grandes acidentes nucleares, a disposição dos resíduos radioativos, o transporte do material nuclear e os problemas de proliferação e terrorismo; • Os problemas econômicos enfrentados pelas usinas nucleares depois da liberalização dos mercados de energia elétrica em alguns países da OCDE, inclusive o problema de financiar a desativação das usinas e a disposição dos resíduos; • Maior rigor nas exigências de segurança para usinas nucleares novas e existentes; • O preço relativamente baixo dos combustíveis fósseis e os grandes avanços em tecnologias concorrentes amparam a produção de energia elétrica. Apesar dos pontos acima citados, sendo os fatores principais que levaram a declinação do desenvolvimento da energia, hoje se torna notável um pequeno crescimento, que deve continuar até 2010 conforme as projeções a serem feitas. A renovação da energia nuclear promete revigorar a geração de eletricidade no mundo todo e aplacar as preocupações a respeito de emissões de gases de efeito estufa, apesar dos desafios ainda existentes. No longo prazo, a energia nuclear pode se tornar mais segura, mais econômica, resistente à proliferação e sustentável. Tudo isso devido às crescentes preocupações com segurança energética e com os custos elevados dos combustíveis importados, principalmente pelos paises que mais consomem energia. Para que isso se torne realidade, as pesquisas indicam os seguintes desafios para que a energia nuclear possa atender às mais ambiciosas expectativas da atualidade: • A energia nuclear deve continuar economicamente competitiva no mercado mundial, em especial, as empresas de energia devem controlar melhor os custos de capital; • A fim de tender às expectativas do público com relação a um desempenho excepcional no aspecto da segurança, as usinas atuais precisam continuar operando de forma 116 segura, e as futuras devem melhorar continuamente a segurança nos mercados mundiais em expansão; • A energia nuclear e seu ciclo de combustível devem ser vistos pelo público e pelos líderes nacionais como sustentáveis; em especial, o combustível nuclear usado deve ser gerenciado de modo seguro e eficaz quanto ao custo durante o período prolongado em que se mantém altamente radioativo, e o fornecimento de combustível nuclear deve se estender por séculos em face da redução dos combustíveis fósseis; • Os materiais nucleares do ciclo do combustível devem ser protegidos contra a proliferação e o mau uso para fins não pacíficos. Conseguindo atingir estas metas ambiciosas, sem dúvida, a energia nuclear voltará a retomar o seu crescimento e contribuir para o suprimento da demanda em energia. 9.1 Introdução A energia nuclear tem amplas aplicações no campo da medicina, agricultura, proteção ao meio ambiente e indústria em geral. Na medicina ela propicia utilização de técnicas avançadas de diagnóstico e de tratamento de inúmeras doenças. Na agricultura, ela é utilizada na irradiação de alimentos, permitindo que os alimentos durem por mais tempo e produção de sementes. Na indústria são utilizadas técnicas de verificação da qualidade de equipamentos, esterilização de materiais médicos e cirúrgicos. Na área do meio ambiente, técnicas nucleares são utilizadas para monitorar poluentes e identificar recursos aqüíferos. Além, é claro, da sua ampla utilização na produção de energia elétrica. Esta tecnologia deve ser considerada devido a algumas de suas vantagens. A principal dela é a geração de grande quantidade de energia por área instalada. É a fonte de maior custo por causa dos sistemas de emergência, de contenção, de resíduo radiativo e de estocagem. O grande problema é que ela gera resíduos extremamente tóxicos, e em todo o mundo se busca uma forma segura e economicamente viável de armazená-lo. 9.2 Principais Características Construtivas Os prótons têm a tendência de se repelirem, porque têm a mesma carga (positiva). Como eles estão juntos no núcleo, comprova-se a realização de um trabalho para manter essa estrutura, implicando, em conseqüência, na existência de energia no núcleo dos átomos com mais de uma partícula. Pois, a energia que mantém os prótons e nêutrons juntos no núcleo é a energia nuclear. Portanto, o aproveitamento desta energia é feita através das usinas térmicas nucleares, cujo esquema está representado na figura 54. 117 A usina térmica nuclear é composta de seguintes elementos: Reator Nuclear: equipamento onde se processa uma reação de fissão nuclear, assim como um reator químico. É onde a fonte de calor é o urânio-235, em vez de óleo combustível ou de carvão. A grande vantagem de uma Central Térmica Nuclear é a enorme quantidade de energia que pode ser gerada, ou seja, a potência gerada, para pouco material usado (o urânio), Figura 54. Figura 54: Comparação dos Energéticos Convencionais com Urânio Um reator nuclear, para gerar energia elétrica, é construído de forma a ser impossível explodir como uma bomba atômica. Primeiro, a concentração de urânio-235 é baixa (cerca de 3,2 %), não permitindo que a reação em cadeia se processe com rapidez suficiente para se transformar em explosão. Segundo, porque dentro do Reator Nuclear existem materiais absorventes de nêutrons, que controlam e até acabam com reação em cadeia, como, por exemplo, na parada do Reator. O tipo de reator nuclear mais utilizado é o do tipo PWR (Pressurized Water Reator, ou seja, reator a água pressurizada), porque contém água sob alta pressão. O urânio, enriquecido a 3,2 % em urânio-235, é colocado em forma de pastilhas de 1 cm de diâmetro, dentro de tubos chamadas “varetas” de 4 m de comprimento, feitos de uma liga especial de zircônio, denominada “Zircalloy”, [43]. Varetas de Combustível: as varetas contendo o urânio, conhecidas como varetas de combustível, são montadas em feixes, numa estrutura denominada de “Elemento Combustível”, Figura 55. A Vareta combustível é a primeira barreira que serve para impedir a saída de material radioativo para o meio ambiente. 118 Figura 55: Varetas de Combustível Barras de Controle: São feitas de cádmio, material que absorve nêutrons, com o objetivo de controlar a reação de fissão nuclear em cadeia. Quando as barras de controle estão totalmente para fora, o reator está trabalhando no máximo de sua capacidade de gerar energia térmica. Quando elas estão totalmente dentro da estrutura do Elemento Combustível, o Reator está parado (não há reação de fissão em cadeia), Figura 56. Figura 56: Varetas de Controle dentro do Vaso de Pressão Vaso de Pressão: Os elementos combustíveis são colocados dentro de um grande vaso de aço, como a Figura 56, com paredes, no caso de Angra 1, de cerca de 33 cm e, no caso de Angra 2, 119 de 23,5 cm. O vaso é montado sobre uma estrutura de concreto, com cerca de 5 m de espessura na base. Ele contém a água de refrigeração do núcleo do reator. Essa água fica circulando quente pelo gerador de Vapor, isto é, não sai desse sistema, chamado de Circuito Primário, Figura 58. A água que circula no Circuito Primário é usada para aquecer outra corrente de água, que passa pelo Gerador de Vapor. A outra corrente de água, que passa pelo Gerador de Vapor para ser aquecida e transformada em vapor, passa pela turbina, em forma de vapor, acionando-a. É, a seguir, condensada e bombeada de volta para o Gerador de Vapor, constituindo outro sistema de refrigeração, independente do primeiro chamado de Circuito Secundário. Independência entre os sistemas de refrigeração: a independência entre o Circuito Primário e o Circuito Secundário tem como objetivo de evitar que, danificando-se uma ou mais vareta, o material radioativo (urânio e produtos de fissão) passe para o Circuito Secundário. É importante mencionar que a própria água do circuito primário é radioativa. A Contenção: É a terceira barreira que serve para impedir a saída de material radioativo para o meio ambiente, ela tem forma de um tubo (cilindro). Na Angra 1 a contenção tem uma espessura de 3,8 cm, Figura 57. Figura 57: A Contenção da Angra I e Angra II Edifício do Reator: O edifício do reator constitui um ultimo envoltório, de concreto, revestido a Contenção. Tem cerca de 1 m de espessura em Angra 1, Figura 57. 120 O edifício do Reator, construído em concreto e envolvendo a Contenção de aço, é a quarta barreira física que serve para impedir a saída de material radioativo para o meio ambiente e, além disso, protege contra impactos externos (queda de aviões e explosões). Figura 58: Esquema de Usina Térmica Nuclear As usinas de energia nuclear e as instalações de ciclo do combustível não precisam de grandes áreas. Assim, o impacto ambiental da energia nuclear sobre a terra, as florestas e as águas é mínimo e não requer o remanejamento de grandes populações. No caso brasileiro, as vantagens da utilização da nucleoeletricidade são as seguintes: • Oferta de grandes blocos de energia firme, pois as centrais nucleares independem do regime dos rios e apresentam fator de disponibilidade da ordem de 80%; • Independência energética, já que o País dispõe de reservas de urânio, matéria prima do combustível nuclear, num total de 300.000 toneladas, equivalente a 6% das reservas mundiais, o que permite suprir a demanda de 30 unidades de 1.300 MW de potência por 40 anos, e domina quase que todo o ciclo do combustível nuclear; • O balanço ambiental das usinas nuclelétricas é positivo, pois elas não emitem gases poluentes para a atmosfera tal como as usinas térmicas convencionais; • Quase esgotamento das fontes hidráulicas reais de geração na região de maior consumo (Sul/Sudeste/Centro-Oeste ); • Disponibilidade de tecnologia nacional para grande parte das necessidades na construção de centrais nucleares e do ciclo do combustível nuclear 121 9.3 Caracterização dos Recursos de Energia Nuclear Para caracterização deste recurso é interessante buscar entender de onde se retira a energia nuclear. Já foi comentado anteriormente que os núcleos dos átomos dos elementos químicos possuem uma grande quantidade de energia. Ele é constituído de partículas de carga positiva, chamadas de prótons e de partículas de mesmo tamanho, mas sem carga, denominados nêutrons. Prótons e nêutrons são mantidos juntos no núcleo por forças, até o momento, não totalmente identificadas, Figura 59. Figura 59: Estrutura do Núcleo A utilização da energia do núcleo de átomos é feita através da divisão do núcleo “pesado”, isto é, com muitos prótons e nêutrons, em dois núcleos menores, através do impacto de um nêutron. A energia que mantinha juntos esses núcleos menores, antes constituindo um só núcleo maior, seria liberada, a maior parte em forma de calor (energia térmica), Figura 60. Figura 60: Impacto do nêutron no núcleo “pesado” Fonte: www.cnen.gov.br 122 Essa divisão pode ser feita de duas maneiras: Fissão Nuclear: a divisão do núcleo de um átomo pesado, por exemplo, do urânio-235, em dois menores, quando atingido por um nêutron. Reação em Cadeia: na realidade, em cada reação de fissão nuclear resultam, além dos núcleos menores, dois a três nêutrons, como conseqüência da absorção do nêutron que causou a fissão, tornando-se assim possível que esses nêutrons atinjam outros núcleos de urânio-235, sucessivamente, liberando muito calor. Tal processo é denominado de Reação em Cadeia como ilustra a Figura 61. Figura 61: Reação em Cadeia Urânio-235 e Urânio-238: São basicamente os recursos ou combustíveis utilizados para geração de energia nuclear. O urânio-235 é um elemento químico que possui 92 prótons e 143 nêutrons no núcleo, a sua massa é, portanto, 92+143 = 235. Além deste, existem na natureza, em maior quantidade, átomos com 92 prótons e 146 nêutrons (massa igual a 238), portanto chamados urânio-238, que só tem possibilidade de sofrer fissão por nêutrons de elevada energia cinética, ou seja, os chamados nêutrons “rápidos”. O urânio-235 pode fissionado por nêutrons de qualquer energia cinética, preferencialmente os de baixa energia, ou chamados de nêutrons térmicos (“lentos”). Isótopos: São átomos de um mesmo elemento químico que possuem massas diferentes. Pois, os elementos como urânio-235 e urânio-238 são isótopos de urânio. O hidrogênio também 123 apresenta essas características, apesar de não ser um combustível utilizado para geração nuclear devido as suas características peculiares, que não serão comentadas aqui neste item. Além destes isótopos, podem ser utilizados combustíveis provenientes do enriquecimento do urânio. Urânio Enriquecido: Sabe-se que na natureza a quantidade de urânio-235 é muito pequena (para cada 1000 átomos de urânio, 7 são de urânio-235 e 993 são de urânio-238, e a quantidade dos demais isótopos é desprezível). Para ser possível a ocorrência de uma reação de fissão nuclear em cadeia, é necessário haver quantidade suficiente de urânio-235, que é fissionado por nêutrons de qualquer energia. Nos reatores nucleares do tipo PWR, é necessário haver a proporção de 32 átomos de urânio-235 para 968 átomos de urânio-238, em cada grupo de 1000 átomos de urânio, ou seja, 3,2% de urânio-235. Devido o fato de que o urânio encontrado na natureza precisa ser tratado industrialmente, com o objetivo de elevar a proporção (ou a concentração) de urânio-235 para urânio-238, de 0,7 % para 3,2 %, torna-se necessário, primeiramente, ser purificado e convertido em gás. Tal processo é chamado do processo de enriquecimento do urânio, [43]. Atualmente são conhecidas três técnicas para o enriquecimento urânio: • Difusão Gasosa; • Ultracentrifugação (em escala industrial); • Jato Centrifugo (escala de demonstração industrial); Existe ainda uma quarta opção, ainda em fase de pesquisa, denominada Laser. Por se tratarem de tecnologias sofisticadas, os países que as detêm oferecem empecilhos para que outras nações tenham acesso a elas. O uso destas tecnologias para o enriquecimento do urânio se baseia no processo físico de retirada do urânio natural, aumentando urânio-238, em conseqüência, a concentração de urânio-235. 9.3.1 Estimava do Potencial dos Recursos Nucleares A contribuição do potencial nuclear não foi considerada neste trabalho devido a atual forte oposição em relação a esta fonte de energia. Talvez a longo poderá vir a fazer parte da matriz energética da Região. No momento, limitou-se a caracterizar as suas tecnologias com objetivo de mostrar que a dada forma de produção de energia não deve ser descarta, quando se pensa em longo prazo, nas formas de energias limpas. Apesar das implicações da energia nuclear devido aos acidentes já conhecidos, ainda continua a ser a energia do futuro, exigindo somente a maior segurança no uso destas tecnologias e eliminações dos riscos provenientes da sua má utilização, pelos grupos terroristas. 124 Não por caso, os estudos anteriores e atuais indicam o possível crescimento desta forma de energia, e o constante investimento nas pesquisas para o aprimoramento da segurança. 9.3.2 Caracterização das Dimensões das Tecnologias e Recursos Nucleares. Apesar de não ser estimado o potencial deste recurso energético, serão analisadas as suas dimensões, para uma futura incorporação na matriz energética da região ou para futuro estudo das possibilidades da sua inserção no processo do PIR. Portanto, nos itens seguintes serão descritas as dimensões técnico-econômica, ambiental, social e política, bem como os aspectos inerentes ao recurso nuclear. 9.3.3 Aspectos Técnico-Econômicos das Tecnologias e Recursos Nucleares Em termos de custo, usinas nucleares podem ter despesas operacionais compatíveis com outras tecnologias à medida que se aumenta a potência instalada (economia de escala). Porém, a vida útil de uma usina nuclear é menor do que de uma usina térmica convencional. Os custos de descomissionamento dos reatores quando atingem o final de suas vidas úteis é enorme. Na Alemanha, o preço a ser pago para essa desativação e isolamento de cada reator nuclear está estimado em algo entre U$ 10 e U$ 20 bilhões, [44]. Levantamentos mais detalhados de custos de instalação e manutenção na região de Araçatuba exigiriam um estudo aprofundado e específico para isso, pois este depende de diversos fatores como disponibilidade de matéria-prima, local de instalação, disponibilidade de água (para resfriamento), demanda de energia local, etc. Estudos como este não são objetivos deste relatório. 9.3.4 Aspectos Sociais das Tecnologias e Recursos Nucleares Muitos empregos são gerados na construção e operação de usinas nucleares. Ela também possibilita um grande desenvolvimento da sociedade por ela abastecida, produzindo energia limpa e confiável. O grande problema social é a rejeição e medo de muitas pessoas que ainda não conhecem o funcionamento de uma usina nuclear. Além disso, existe o fato de ter que existir um depósito para o lixo radioativo, necessitando-se de um lugar seguro e isolado dos centros urbanos, para diminuir os riscos de graves acidentes. 9.3.5 Aspectos Ambientais das Tecnologias e Recursos Nucleares A energia nuclear não emite gases de efeito estufa (dióxido de carbono, metano, hidrofluorcarbonos, dentre outros) nem qualquer gás que provoca chuva ácida (anidrido sulfuroso, óxidos de nitrogênio). Não emite nenhum metal carcinogênico, teratogênico e mutagênico (As, Hg, Pb, Cd, etc.) como o fazem as opções que utilizam combustíveis fósseis. Também não emite gases ou partículas que provocam smog nas cidades ou a destruição da camada de ozônio, mas produz 125 plutônio, um veneno quase eterno. Até hoje, países do mundo inteiro buscam uma forma de armazenar este lixo radioativo de forma segura e duradoura, para que no futuro possamos tratá-lo e liberá-lo para o ambiente sem maiores danos, ou que consigamos uma forma de contornar este problema. 9.3.6 Aspectos Políticos das Tecnologias e Recursos Nucleares Os aspectos políticos relacionados aos combustíveis nucleares já vêm sendo debatidos desde que surgiu a idéia de controlar a energia nuclear para gerar eletricidade, apesar da clara consciência de existir a possibilidade de abusar da mesma tecnologia com propósitos militares. Isso não é segredo para ninguém. Afinal, as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em Agosto de 1945 criaram um trauma humano que repercutiu no mundo inteiro. A partir desta data começou-se a discutir as formas como deve ser usa a energia nuclear, sendo a primeira proposta lançada pelo presidente norte americano, Dwight D. Eisenhover, em 1953, intitulada “Átomos para Paz”. Nesta proposta discutiram-se as formas de uso dos combustíveis nucleares para fins pacíficos. Mas na realidade, essa iniciativa nasceu da necessidade e de uma preocupação. A idéia de fundo dessa iniciativa era impedir que outros países desenvolvessem seus próprios programas de armas nucleares. Pois, os EUA tinham a bomba atômica como suprema demonstração do status de superpotência, e qualquer outro país interessado poderia se beneficiar do uso pacífico da energia nuclear, desde que abrisse mão de qualquer ambição de fabricar suas próprias armas nucleares. Por outro lado, a intenção era parar o progresso que daria armas nucleares para a antiga União Soviética, o Reino Unido, a França e a China, dentro de poucos anos após o fim da segunda Guerra Mundial. Neste mesmo período, até os países amantes de paz como a Suécia e Suíça também começaram a trabalhar clandestinamente no desenvolvimento da arma suprema. A República Federal da Alemanha, que a partir do final da Segunda Guerra Mundial até 1955 não era a rigor um estado soberano, desenvolveu ambições no mesmo sentido. Outro acontecimento político em torno da energia nuclear de relevante importância foi o tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), que entrou em vigor em 1970. Este surgiu da iniciativa do Eisenhover, assim como a Agência Internacional de Energia Atômica com sede em Viena, fundada em 1957, cuja função era promover a tecnologia nuclear para a geração de eletricidade no mundo todo e prevenir, ao mesmo tempo, que um número crescente de países desenvolvesse bombas atômicas. Apesar destes esforços a AIEA não conseguiu barrar a proliferação. Até o final da Guerra Fria, três estados adquiriram armas nucleares: Israel, Índia e África do Sul (este destruiu suas armas nucleares, com o fim do sistema de apartheid no inicio dos anos 90), além das cinco 126 potências nucleares oficiais. Por outro lado, depois da Guerra do Golfo de 1991, os inspetores descobriram um programa nuclear secreto no Iraque, que estava bastante avançado. Em 1998, a Índia e Paquistão, que como Israel se negaram a assinar o TNP, mantiveram os testes das armas nucleares, o que chocou o mundo. Em seguida, a Coréia do Norte comunista renegou seu compromisso para com o TNP e se declarou de posse de armas nucleares. Este último se transformou no maior potencial para estimular outros regimes autoritários, [45]. Todos estes processos derivam de um problema intrínseco associado à tecnologia nuclear: mesmo com a maior boa vontade política e o recurso com sistemas de ponta no monitoramento, os trabalhos civis e militares neste campo não podem ser claramente diferenciados, pois os ciclos de combustível ou de fissão para aplicações pacíficas ou não pacíficas, em particular, correm por caminhos paralelos. As tecnologias e conhecimentos se prestam para uso duplo, com resultados fatais. A questão que se coloca é que cada país que possui a tecnologia nuclear promovida pela AIEA e pela Comunidade Européia de Energia Atômica (Euratom), mais cedo ou mais tarde será capaz de fabricar sua própria bomba. Nos últimos 50 anos muitos chefes de estados ambiciosos e sem escrúpulos criaram programas militares paralelos aos programas civis. Portando, são aspectos políticos que envolvem energia nuclear e que ainda são de difícil resolução, porque envolvem duplos interesses políticos: o de segurança energética e ao mesmo tempo o militar. 10 Tecnologias e Recursos Eólicos Uma das formas de energias alternativas mais atraentes atualmente é a energia eólica. Sendo assim, não poderá ficar de fora deste estudo, merecendo a devida atenção. Com o desenvolvimento das tecnologias para a utilização em grande escala ou em escala comercial, tornou-se possível o aproveitamento deste recurso, uma vez que as velocidades do vento permitam. A Região Administrativa de Araçatuba ainda se carece dos estudos convincentes sobre a viabilidade do aproveitamento de energia eólica. Por esta razão, nos levamos a colocar esta questão no centro da discussão do trabalho, com o objetivo de buscar mecanismos que estimulem o desenvolvimento deste recurso dentro do processo do PIR na região. Por isso, fez-se questão, na base das poucas informações existentes, de avaliar e caracterizar este recurso e levantar todos os aspectos relacionados às tecnologias eólicas. 10.1 Introdução A energia dos ventos é uma abundante fonte de energia renovável, limpa e disponível em muitos lugares. A utilização desta fonte energética para a geração de eletricidade, em escala 127 comercial, teve início há pouco mais de 30 anos e através de conhecimentos da indústria aeronáutica os equipamentos para geração eólica evoluíram rapidamente, em termos de idéias e conceitos preliminares para produtos de alta tecnologia. No início da década de 70, com a crise mundial do petróleo, houve um grande interesse de países europeus e dos Estados Unidos em desenvolver equipamentos para produção de eletricidade que ajudassem a diminuir a dependência do petróleo e carvão. Mais de 50.000 novos empregos foram criados e uma sólida indústria de componentes e equipamentos foi desenvolvida. Atualmente, a indústria de turbinas eólicas vem acumulando crescimentos anuais acima de 30% e movimentando cerca de 2 bilhões de dólares em vendas por ano (1999). O PIR da Região Administrativa de Araçatuba prevê a introdução desta tecnologia para aproveitamento do recurso eólico disponível na região. Por isso é de suma importância levantar alguns dos elementos (custos, eficiência, domínio da tecnologia, as condições da sua penetração na região, etc) relacionados a esta tecnologia neste estudo, [3]. 10.2 Principais Características Construtivas O mecanismo de funcionamento é bem simples. O vento atinge uma hélice, que ao movimentar-se gira um eixo, que impulsiona um gerador de eletricidade. Este eixo pode ser vertical ou horizontal. Os aerogeradores de eixo vertical aproveitam o vento que vem de qualquer direção, e são mais indicados para moagem de grãos, irrigação (aproveitamento não-elétrico), recarga de baterias. Já os de eixo horizontal dependem da direção do vento, e podem ter uma, duas, três ou quatro pás. Figura 62: Turbina eixo vertical 128 Figura 63: Turbina eixo horizontal A geração eólica pode ser utilizada em um sistema isolado (para abastecer regiões onde a concessionária não age), híbrido (em conjunto com outras formas de geração de energia), ou interligado à rede. 10.3 Caracterização dos Recursos Eólicos da Região Administrativa de Araçatuba A Região Administrativa de Araçatuba carece das informações sobre o comportamento dos ventos e suas velocidades. Para estimativas preliminares do potencial teórico do recurso eólico na região, limitamo-nos a considerar os valores mínimos na base dos mapas sobre os ventos no Brasil. Não se sabe ainda as informações precisas sobre as variações das direções dos ventos e os períodos em que esses apresentam maiores velocidades. Atualmente, foi instalada uma torre que servirá como início de um estudo mais aprofundado sobre este recurso. A torre ainda não entrou em funcionamento pleno devido à falta de sensores, que estão para chegar. Portanto, neste relatório não serão apresentadas as características detalhas sobre os ventos na região, mas somente serão feitas as estimativas preliminares conforme apresentadas no item a seguir. 129 Figura 64: Potencial Eólico do Sudeste (CRESESB) A Figura 64, [45], mostra os levantamentos feitos sobre o potencial eólico na região sudeste do país. Na região Administrativa de Araçatuba os levantamentos anemométricos existentes indicam ventos com velocidades menores que 5 m/s na sua maior parte, porém, em algumas áreas estimam-se ventos com velocidades em torno de 6 m/s. 10.4 Estimativa do Potencial Teórico dos Recursos Eólicos da Região Administrativa de Araçatuba Para a determinação de um valor numérico do potencial eólico, seria necessário um estudo aprofundado do relevo, direção e freqüência do vento, e de possíveis mudanças climáticas na região (como vem acontecendo atualmente no Brasil, tanto em relação à periodicidade das chuvas como do vento). Também seria preciso avaliar as diferentes disposições das hélices, que seriam espalhadas em uma área pré-determinada, de modo a alcançar o maior rendimento. Existem várias possíveis configurações, e cada uma se adequa melhor a dadas condições. 130 Neste relatório, faremos uma análise simplificada, apenas para se ter uma idéia do potencial da região. No mapa eólico [Figura 64], pode-se notar que a velocidade média na região de Araçatuba está na faixa de 5 a 6m/s, insuficiente para um aproveitamento econômico em larga escala. De qualquer modo, com o advento de novas tecnologias, esta situação pode se inverter. Assumiremos a densidade do ar como sendo 1,2 kg/m³. Excluindo-se áreas onde é impossível instalar aerogeradores, temos uma área teórica total de 15.249,66 km². Para uma estimativa realista, são considerados apenas 60% como aproveitáveis, ou seja 9.149,80 km². Em média, a área ocupada por um aerogerador equivale a um círculo de diâmetro igual a 4 vezes o diâmetro da turbina eólica correspondente, implicando numa área 16 vezes maior que a área envolvida pelas pás. Ventos a 50 m de altura uma velocidade média regional de 5,0 m/s. Considerase, para efeito de cálculo, o modelo de aerogerador disponível comercialmente no mercado brasileiro com a altura de eixo em 50 m, com área varrida pelas pás de 1.385 m². A potência total existente no vento (Pd) que passa pela área A em questão é representada por: Pd= 0,5. 1,2. (9149,8/16).106. 53 = 42 GW Dois fatores de rendimento atuam na conversão da energia eólica em aerogeradores. O primeiro, conhecido como rendimento de Betz, relacionado com a velocidade do vento na entrada e na saída do rotor, assume valor máximo de 16/27, implicando em um rendimento de 59%. O segundo, associado ao rendimento do gerador, pode ser assumido como 20% para o nível tecnológico atual: P = 42 . 0,2 . 0,59 = 5 GW ou 8.760 GWh/ano = (para um fator de capacidade de 20%) 10.5 Caracterização das Dimensões dos Recursos Eólicos Sendo hoje uma das formas das energias alternativas mais atraentes, limpas, e cotada para o atual cenário do desenvolvimento sustentável, neste trabalho não deixará de merecer a devida atenção. Para isso serão caracterizadas todas as dimensões para sua melhor avaliação dentro do processo do PIR. Portanto, no item abaixo serão levantados todos os atributos relacionados às dimensões técnico-econômica, ambiental, social e política dos recursos eólicos. Caracterização da Dimensão Técnico-Econômica O sistema eólico necessita de uma velocidade mínima do vento (velocidade do vento de partida), para que possa haver movimentação das pás. A velocidade também não pode ultrapassar um valor denominado velocidade do vento de corte, pois o gerador possui um limite máximo para 131 atuar corretamente. Alguns aerogeradores são equipados com sistemas que fecham as pás quando é detectada uma velocidade acima da permitida, interrompendo a produção e protegendo o gerador. A altura do eixo do rotor deve ser maior do que o dobro do comprimento das pás, para garantir um bom funcionamento. Um cálculo bem aproximado do potencial eólico da região de Araçatuba se daria com estudos de relevo, velocidade do vento média, disponibilidade de áreas para implantação desse sistema, e de custos detalhados de instalação e manutenção das turbinas. Além disso, o posicionamento das hélices deve seguir um esquema baseado no relevo e direção do vento, variando de lugar para lugar. Como uma primeira análise, vamos levar em conta apenas a velocidade média do vento local, baseado na Figura 65. Figura 65: Mapa de ventos do Brasil – CBEE Da figura, temos que a velocidade média no oeste paulista não atinge nem os 5 m/s, sendo então inviável utilizar grandes geradores. Apesar disso, está sendo instalado na região um aparelho que será capaz de medir a velocidade do vento de forma mais precisa, para então se realizar novos estudos mais aprofundados. Na Tabela 30 temos alguns dos geradores encontrados, com suas respectivas especificações. Tabela 30: Turbinas eólicas Tecnologia Potência Velocidade nominal do vento de do vento de eixo partida Turbina Eólica 300 3.5 Velocidade Altura do Gerador corte do rotor 25 31 Assíncrono, 6 132 OWW-300 kW Turbina Eólica OHM30 m/s 30 kW Turbina Eólica BWC 1500 3,5 m/s m 25 m/s 3.6 1500 W m/s 20 m Não possui m/s pólos, 380 V 6 pólos, 380 V 24 m Assíncrono, Síncrono (ímã permanente), tensão e freqüência variáveis Turbina Eólica 90 W Rutland WG910 1.8 Não possui m/s 3 m Corrente contínua (ímã permanente) 10.5.1.1 Aspectos Sociais das Tecnologias Eólicas A tecnologia eólica possibilita a geração distribuída, permitindo o abastecimento de regiões antes sem energia elétrica. Com isso, pode haver um grande desenvolvimento da agricultura e sociedade local, criação de empregos relacionados à instalação e manutenção dos equipamentos, bem como uma melhora nas condições de vida da população residente nesta área. O desconforto proporcionado por ruídos pode ser um grande problema para aqueles que moram próximo ao local onde foram instalados os geradores. O barulho produzido pelos geradores pode incomodar de forma significativa aos habitantes das proximidades da área ocupada, havendo a necessidade de janelas anti-ruídos, ou mesmo impossibilitando o empreendimento. Também deve ser considerado o efeito visual muitas vezes negativo, pois os grandes geradores ocupam o espaço antes preenchido por paisagens consideradas por muitas pessoas mais agradáveis. Montanhas cheias de árvores e ambientes rurais podem ser substituídos por grandes e espaçosas hélices de metal, alterando o ambiente e sua beleza natural. 10.5.1.2 Aspectos Ambientais das Tecnologias Eólicas A energia eólica não polui a atmosfera durante sua operação, portanto é vista como uma contribuição para a redução de emissão de gases de efeito estufa e na redução da concentração de CO2. 133 Os impactos ambientais gerados pela energia eólica estão relacionados principalmente a ruídos, ao impacto visual e ao impacto sobre a fauna. Segundo Tolmasquim (2004), [46] e [47], a tecnologia atual mostra que é possível a construção de turbinas eólicas com níveis de ruído bem menores, visto que as engrenagens utilizadas para multiplicar a rotação do gerador podem ser eliminadas caso seja empregado um gerador elétrico que funciona em baixas rotações (sistema multipolo de geração de energia elétrica). Como exemplo de impacto por ruído, tem-se uma fazenda eólica na Carolina do Norte, onde as máquinas das turbinas emitiam vibrações que adoeciam pessoas, balançavam janelas, e fizeram com que as vacas parassem de dar leite, [48]. As turbinas eólicas geram um impacto visual de difícil quantificação, mas por possuírem corpos com aproximadamente 40 metros de altura e hélices de 20 metros, com certeza impactam a paisagem. Outro aspecto do impacto visual são as movimentações das sombras provocadas pelas hélices, que deve ser considerado quando há implantação próxima a áreas habitadas. Planejamentos devem maximizar a potencialidade do uso de terras, [49]. Também existe o impacto sobre a fauna, visto a colisão de pássaros com as estruturas. Entretanto, estudos comprovam que a mortalidade de pássaros em função de turbinas eólicas é pequena e isolada, como na Espanha, onde de as turbinas foram instaladas numa rota de migração de pássaros. Entretanto, distúrbios na proliferação e descanso de pássaros podem ser um problema em regiões costeiras, [50]. As turbinas eólicas em algumas áreas podem refletir as ondas eletromagnéticas, interferindo em sistemas de comunicação que utilizam este tipo de tecnologia, por exemplo, transmissões televisivas. A circulação padrão do ar é modificada pela operação das turbinas, o que pode afetar o clima local e gerar micro-climas. Atualmente, a geração de energia eólica de forma dispersa ou individualizada (como em edificações) é possível através de pequenos geradores eólicos que podem ser instalados em locais onde a velocidade do vento atinja no mínimo 4 metros por segundo. 10.5.2 Aspectos Políticos das Tecnologias Eólicas A dimensão política do uso do recurso eólico está relacionada aos fatos que interpretam os anseios nacionais em favor do desenvolvimento sustentável, e o cumprimento das condições do Protocolo de Kyoto. Também existe a necessidade de diversificação do parque gerador de energia elétrica, além do domino das tecnologias da geração de energia através do vento. Somando estes 134 fatos, começou-se a direcionar os esforços em pesquisa para implementação das políticas para o desenvolvimento das energias alternativas, inclusive a energia eólica, cujos projetos de grande porte estão em andamento no Estado do Ceará. Devido a estas políticas o Brasil já começou a fabricar as turbinas eólicas, o que pode contribuir imensamente para o crescimento da economia de larga escala, sem provocar grandes impactos ambientais. Outro aspecto político que deve ser dada atenção está relacionado à escolha do local de instalação da usina. Dependendo do tipo de posse do local, se tornarão necessárias certas articulações políticas para definição e exploração do local adequado para instalação deste tipo de empreendimento. Além destes aspectos apresentados, a energia ainda apresenta os seguintes problemas, que na definição da política da expansão dos sistemas eólicos no parque de geração devem ser bem estudos e analisados: • A energia eólica não pode ser garantida constantemente na maior parte das regiões. Esta desvantagem pode, porém, ser reduzida através de uma gestão da carga associada a outras fontes de energias renováveis como a biomassa, o biogás, centrais hidrelétricas e solares, assim como outros sistemas de armazenamento. Essa gestão precisará ser avaliada dentro das políticas regulatórias e das concessões. • As políticas econômicas nacionais ou regionais devem incorporar dentro dos seus planos de desenvolvimento econômico os sistemas de apoio aos sistemas eólicos, uma vez que a produção de eletricidade está fortemente dependente das condições de vento e da escolha do local adequado. 11 Tecnologias de Gás Natural As tecnologias aplicadas ao uso do gás natural englobam as tecnologias utilizadas desde a fase de exploração e desenvolvimento, as tecnologias para produção, processamento, transporte e distribuição. Neste trabalho as tecnologias a serem comentadas serão as tecnologias para geração de energia, utilizando o gás natural. 11.1 Introdução O gás natural, depois de tratado e processado, é largamente utilizado em indústrias, no comércio, em residências e em veículos. Na indústria, o gás natural é utilizado como combustível para fornecimento de calor, como matéria-prima em vários setores tais como: químicos, petroquímico, metalúrgico, plástico, cerâmico, vidros, farmacêutico, têxtil, borracha e pneus, papel e celulose, fertilizantes, como redutor siderúrgico, na geração de força motriz e eletricidade, e mais 135 recentemente em projetos de co-geração de alta eficiência energética. No comércio e serviços, é utilizado em restaurantes, bares, hotéis, hospitais, shoppings e supermercados, substituindo com vantagens o GLP, óleo diesel e a lenha. Em residências, o gás natural substitui também o GLP. Sendo distribuído de forma canalizada, elimina o uso de botijões, aumentando a segurança das instalações. Também vem sendo utilizado em veículos há várias décadas em diversos países como a Argentina, Itália, USA, entre outros, em substituição ao uso da gasolina e álcool com grandes vantagens. No Brasil, já se pode quase atravessar o país indo de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Fortaleza, no Ceará, utilizando o Gás Natural como combustível. 11.2 Principais Características Construtivas A geração de eletricidade é feita através da queima do gás natural nas turbinas que acionam os geradores de energia. Podem operar em dois ciclos básicos: • Ciclo aberto: os gases quentes gerados na queima do gás na turbina são liberados na atmosfera, alcançando rendimentos em torno de 35%; • Ciclo combinado: os gases quentes gerados são aproveitados para gerar vapor a alta pressão que é utilizada em turbinas a vapor para gerar mais energia elétrica; estes sistemas alcançam rendimentos na ordem de 55%, [51]. As principais vantagens de características do gás natural seco em relação a outros combustíveis são: o baixo teor de enxofre para mesmo conteúdo energético (1.000 vezes menor que o carvão e os óleos combustíveis pesados e 300 vezes menor que óleos comestíveis domésticos); a alta pureza do gás e dos produtos da combustão (baixíssimos níveis de poluição em relação a outros combustíveis, não dão origem a depósitos de resíduos que causem dano ou afetem a eficiência das instalações); o seu estado gasoso (permite diversidade de queimadores, ampla faixa de potências caloríficas, alta octanagem (125 octanos) e queima mais completa); o fato do usuário não precisar de área e instalação para estocagem de combustível. Já as desvantagens são: menor poder calorífico por unidade de volume (importante para o transporte e a construção civil, onde é necessária a estocagem em móveis com reservatórios de 40 a 60 l, a 200 bar); sistema de transporte e distribuição mais difícil, caro e menos flexível; o fato da radiação luminosa emitida (maior parte da energia calórica liberada) pelo GN ser menor que a do carvão e a dos óleos combustíveis (logo capacidade de transmissão de calor por radiação também 136 menor), o que leva a necessidade de equipamentos com maiores superfícies (mais volumosos e onerosas) para uma mesma capacidade de calor transmitido em fornos, caldeiras, etc. 11.3 Caracterização do Gás Natural para Região Administrativa de Araçatuba O gás natural é um combustível fóssil, encontrado em rochas porosas no subsolo, podendo estar associado ou não ao petróleo. O gás natural é uma mistura de hidrocarbonetos leves, que sob temperatura ambiente e pressão atmosférica permanecem no estado gasoso. Ele é composto basicamente por metano, etano, propano e, em proporções menores, de outros hidrocarbonetos de peso molecular maior. Geralmente apresenta baixos teores de contaminantes como o nitrogênio, dióxido de carbono, água e compostos de enxofre. Sua composição pode variar dependendo do fato do gás estar associado ou não ao óleo, ou de ter sido ou não processado em unidades industriais. Sua formação resulta do acúmulo de energia solar sobre matérias orgânicas soterradas em grandes profundidades, do tempo pré-histórico, devido ao processo de acomodação da crosta terrestre. Mais leve que o ar, o gás natural dissipa-se facilmente na atmosfera em caso de vazamento. Para que se inflame, é preciso que seja submetido a uma temperatura superior a 620°C. A título de comparação, vale lembrar que o álcool se inflama a 200°C e a gasolina a 300°C. Além disso, é incolor e inodoro, queimando com uma chama quase imperceptível. Por questões de segurança, o GN comercializado é odorizado com enxofre. A principal vantagem do uso do gás natural é a preservação do meio ambiente. Além dos benefícios econômicos, o GN é um combustível não-poluente. Sua combustão é limpa, razão pela qual dispensa tratamento dos produtos lançados na atmosfera. É um ótimo substituto para as usinas a lenha e nucleares, diminuindo os níveis de poluição, de desmatamento e de acidentes ambientais. Foi inaugurado o ramal de Araçatuba do Gasbol trazendo gás natural do “city-gate” de Bilac. O volume de gás comercializado é de 1,7 milhões m³/mês, na indústria e com o GNV. O 3 limite técnico é da ordem de 4 milhões de m /mês, [52]. 11.4 Estimativa do Potencial Teórico do Gás Natural para Região Administrativa de Araçatuba O gasoduto Brasil-Bolívia passa pela região de Araçatuba, cuja capacidade de transporte é de 30 milhões de m3 ao dia. Considerando que todo o gás dele proveniente possa ser utilizado, 137 teremos um abastecimento de 10,95 x 109 m3/ano. Sabendo-se que para 1 m3 de gás temos 11,45kWh, então teremos um potencial teórico de 125.377,5 GWh/ano = 10.780.009,55 tEP/ano. 11.5 Caracterização das Dimensões do Gás Natural O intuito de diversificar a matriz energética nacional faz com o gás natural torne-se um dos importantes energéticos hoje no Brasil. Para a Região de Araçatuba, onde passa o Gasoduto Bolívia-Brasil, é ainda mais relevante a consideração deste energético na matriz regional. Por esta razão, serão levantados e avaliados os atributos ligados às quatro dimensões do PIR na Região para o Gás Natural. 11.5.1 Aspectos Técnico-Econômicos do Gás Natural Atualmente, os ciclos combinados são comercializados em uma ampla faixa de capacidades, módulos de 2 MW até 800 MW, e apresentam rendimentos térmicos próximos de 60%. Estudos prospectivos indicam rendimentos de até 70%, num período relativamente curto, [53]. Susta e Luby (1997) afirmam que eficiências dessa ordem podem ser alcançadas em ciclos de potência que utilizem turbinas a gás operando com temperaturas máximas mais elevadas – da ordem de 1.600°C (atualmente, a temperatura máxima das turbinas atinge 1.450°C), [54]. Uma alternativa é o uso da chamada combustão seqüencial, em que há reaquecimento dos gases de exaustão. As maiores turbinas a gás chegam a 330 MW de potência e os rendimentos térmicos atingem 42%, [55]. O custo específico é calculado dividindo-se o custo do gerador pela potência nominal do mesmo, e da uma idéia do custo-benefício de cada um deles. Na Tabela 31 temos alguns pequenos grupos geradores a gás. Tabela 31: Preços de pequenos grupos de geradores a gás Modelo Potência contínua (kW) Preço Preço específico (US$) (US$/kW) Kohler 12RZ 9 15.153 1.684 Kohler 20RZ 17 17.403 1.024 Kohler 30RZG 32 18.458 577 Kohler 35RZG 36 19.089 530 Kohler 50RZG 50 21.789 436 Kohler 80RZG 74 28.273 382 138 Kohler 100RZG 81 29.404 363 Kohler 135RZG 125 67.778 542 Kohler 150RZG 135 70.071 519 Kohler 180RZG 160 73.898 461 Stemac/Waukesha 80 129.290 1.616 VSG11G 11.5.2 Aspectos Sociais do Gás Natural O sistema de produção de energia a gás natural é relativamente mais seguro, quando comparado à produção com outros tipos de combustíveis, uma vez que o gás natura se dispersa facilmente, diminuindo os riscos de explosões por vazamento. O gasoduto Brasil-Bolívia facilita muito o abastecimento da região em estudo. Há um estímulo à instalação de novas indústrias, um aumento da oferta de empregos, aumento da demanda por Bens e Serviços, maior produtividade e menores custos para os usuários, e aumento da disponibilidade de energéticos. 11.5.3 Aspectos Ambientais do Gás Natural Não é apenas na fase final do processo de geração de energia (combustão, no caso do gás natural) que há impacto ambiental. Temos que considerar desde o momento em que este o combustível é obtido. Podemos listar como principais impactos: • Impactos das fases de construção e operação sobre a saúde ocupacional (acidentes); • Impactos das emissões de gases de estufa (CO2, CH4 e N2O) das fases de extração/operação da plataforma de gás e da geração de energia sobre os homens, ecossistemas terrestres e aquáticos, e os sistemas não vivos; • Impactos das emissões atmosféricas da fase de geração de energia sobre os homens e os ecossistemas terrestres; • Elevação da temperatura da água onde termelétricas próximas a leitos de rios ou mar são instaladas, pois a água é devolvida mais quente, o que pode comprometer a fauna e a flora da região, além de aumentar também a temperatura média local; • O efeito acumulativo da chuva ácida impacta ambientes, colheitas, e materiais florestais e aquáticos. Por exemplo, lagos ácidos possuem dificuldade para manter a pesca; a acidez pode retardar o crescimento de árvores e causar danos ao solo; reduzem campos rurais, e prejudicam as plantas; o ácido ataca materiais de edifícios expostos (Ottinger, 1991). 139 11.5.4 Aspectos Políticos do Gás Natural Ainda não é obstante acreditar que caberá ao gás natural o papel principal de transformar-se em energia alternativa para muitos consumidores. A decisão governamental de encorajar a geração de eletricidade a gás pode não estar em sintonia com a decisão dos consumidores de utilização direta do gás para resolver os seus problemas energéticos, [55]. Portanto, é necessário propor uma estratégia que permita o avanço na utilização do gás natural, sendo este uma energia limpa, apesar da complexidade tecnologia para o seu uso. Para isso, precisa-se desenvolver políticas que permitam atingir as seguintes metas: • Políticas orientadas ao incentivo do uso das tecnologias para autogeração de eletricidade; • As políticas que incentivem a expansão da utilização descentralizada do gás; • Ao melhoramento das infra-estruturas existentes e implementação das novas com maior eficiência; • Criação das políticas que favoreçam o gás natural devido a razões ambientais; • Fazer com que essas diretrizes entrem na agenda energética e tecnológica brasileira e regional. • 12 Tecnologias de Energia Geotérmica As tecnologias das usinas geotérmicas são as mesmas utilizadas nas usinas a gás. Neste trabalho será dada atenção a sua concepção arquitetônica e às formas de aproveitamento dos recursos geotérmicos. As descrições das características técnicas das tecnologias podem ser vistas no item das tecnologias do aproveitamento do gás natural e da biomassa. 12.1 Introdução A energia geotérmica é conhecida há muito tempo. Desde os tempos antigos as fontes geotérmicas eram utilizadas para os banhos, especialmente pelos seus efeitos medicinais. Alguns povos têm utilizado as fontes térmicas para obtenção de água potável, condensando o vapor, e para cocção dos alimentos. Outra razão que acelerou o uso das fontes térmicas é a extração de forma tradicional dos mineiros associados às atividades hidrotérmicas. Sem dúvida, o descobrimento do sal de Boro em manifestações térmicas de Larderello na Itália, no final do século XVIII, marcou o inicio da utilização industrial dos recursos geotérmicos. A indústria do ácido bórico que se iniciou em 1812 só deu passo pela primeira vez em 1904 para geração de eletricidade a partir do vapor geotérmico. Em 1913 entra em funcionamento uma usina 140 de 250 kW na Itália. Desde então, a Itália foi aumentando a sua capacidade de geração com o uso deste recurso, que em 1995, atingiu os seus 632 MW, [57]. Por volta de 1920 foram descobertos poços exploratórios em: Beppu (Japão) onde em 1924 foi construída uma usina experimental de 1kW; em The Geysers e Niland (Califórnia), onde se iniciou um projeto para instalação da usina geotérmica, mas que foi abandonado por falta do mercado para eletricidade; em Tatio (Chile) foram perfurados dois poços de 60 m de profundidade cada um, que também foi abandonado pelas dificuldades financeiras. Esse período foi o período de expansão da exploração das fontes geotérmicas. Mas, o maior desenvolvimento deste recurso e sua tecnologia se deram a partir dos anos 60, o período em que iniciam, em diversas partes do mundo, as intensas atividades de pesquisa e de exploração dos recursos geotérmicos, com objetivo de utilizá-los como energia de calor para geração de eletricidade. A intensidade de pesquisas destes recursos proporcionou o rápido desenvolvimento das tecnologias geotérmicas, fazendo com que, em 1995, a capacidade instalada das usinas geotermoelétricas atingisse cerca de 6.790 MW, projetandose esse valor para 9.960 em 2000, [58]. Neste mesmo período o uso direto da energia geotérmica para calefação, nos processos industriais ou agropecuários, continha uma capacidade perto de 8.300 MWh, [59]. Pelos relatos acima se conclui que as tecnologias geotérmicas continuarão a ter um crescimento no seu desenvolvimento devido à abundância deste recurso, cujas limitações foram os altos custos de perfuração. O PIR da Região Administrativa de Araçatuba deve considerar esses recursos, apesar de não se dispor dos estudos neste momento. Por esta razão, também serão caracterizadas as tecnologias geotérmicas e os recursos utilizados para este tipo de geração. 12.2 Principais Características Construtivas das Tecnologias Geotérmicas As principais características construtivas das tecnologias das usinas geotérmicas não se diferem muito das tecnologias utilizadas em usinas térmicas. A diferença se verifica mais nas suas peculiaridades arquitetônicas e formas de captação do vapor para geração de energia geotérmica em função do tipo da fonte. Portanto, a caracterização das tecnologias feita no item 7 também serve para estas tecnologias, exceto alguns equipamentos adicionais para o aproveitamento deste recurso tais como permutadores de calor e outros como mostram as figuras Figura 66 e Figura 67, [59]. 141 Figura 66: Ilustração Esquemática de uma Usina Geotérmica Figura 67: Permutador de Calor nas Usinas Geotérmicas 12.2.1 Estrutura dos Sistemas Geotérmicos Os antecedentes até então relatados nas pesquisas geológicas, geofísicas e geoquímicas de uma grande quantidade de sistemas geotérmicos permitem construir um modelo básico da estrutura destes sistemas. Cada sistema se difere de certa forma dos outros, e essa diferença está condicionada aos seguintes fatores básicos: 142 Fonte de Calor (Fontes Hidrotérmicas): corresponde geralmente a um corpo de magma a temperaturas entre 600 a 9000C, localizado a 10 km de profundidade, de lá é transmitido o calor para as rochas circundantes. Fontes de Recarga de Água: são fontes cuja água meteórica ou a água superficial tem a possibilidade de infiltrar-se em subsolo através das fraturas ou rochas permeáveis até alcançar a profundidade necessária para ser aquecida. Reservatórios: É um volume das rochas permeáveis a uma profundidade acessível mediante as perfurações, onde é armazenada a água quente ou vapor, que pode ser utilizado. Coberturas Impermeáveis: São coberturas que impedem a saída dos fluxos até a superfície do sistema, normalmente são rochas argilosas ou a precipitação dos sais das mesmas fontes térmicas. A estrutura das fontes geotérmicas leva a uma caracterização de diversos tipos de sistemas geotérmicos como se segue no próximo item. 12.2.2 Tipos de Sistemas Geotérmicos De acordo principalmente com a recarga da água e com a estrutura geológica do sistema, os sistemas geotérmicos podem ser divididos nos seguintes tipos: Sistemas de Água Quente: Os reservatórios contêm água a temperaturas entre 30 a 1000 C. Estes sistemas são utilizados atualmente para calefação e na agroindústria principalmente. Sistemas de Água – Vapor: Denominados também de vapor úmido, contêm água com pressão baixa a temperaturas superiores a 1000 C. Este tipo de sistemas geotérmicos é mais comum e de maior utilização atualmente, a temperatura do vapor pode chegar a temperatura de até 3500 C. Sistemas de Vapor Seco: Ou chamados de vapor dominante, produzem vapor superaquecido, a separação fase gasosa ocorre dentro do reservatório. O grau de superaquecimento pode chegar a 500 C. Este tipo de sistemas é pouco comum. Como exemplos deste tipo pode-se citar os sistemas de Larderello (Itália), The Geysers (Califórnia) e Matsukawa (Japão). Sistemas de Rochas Secas Quentes: É um tipo encontrado nas chamadas zonas de alto fluxo calorífico. Entretanto são impermeáveis de tal modo que não há circulação dos fluxos que podem transportar o calor. A exploração deste tipo de sistemas ainda está na fase de estudos. Nos Estados Unidos está sendo desenvolvido um projeto cujo objetivo é criar artificialmente um reservatório, no qual será injetada água fria e recuperada água quente ou o vapor (Los Alamos, Novo México). 143 12.3 Caracterização dos Recursos Geotérmicos na Região Administrativa de Araçatuba Na Região Administrativa de Araçatuba, em geral, os estudos sobre o aproveitamento dos recursos geotérmicos ainda estão na sua fase preliminar. Mas é um recurso que merece atenção neste projeto devido às exigências do PIR e também apontando para um futuro longo as possibilidades de este recurso vir-se a integrar a matriz energética regional. Hoje não é considerado viável, mas no futuro não se sabe. Por esta razão, serão caracterizados os recursos e feita as estimativas do seu potencial teórico. No centro da terra existem temperaturas superiores a mil graus centígrados, suficientes para criar uma corrente de calor que sai à superfície. A saída destas correntes de calor ocorre em regiões determinadas do planeta, que são as que apresentam maior interesse para exploração desta forma de energia. Para que se possa obter um bom aproveitamento é necessário que haja um fluido receptor da energia calorífica (água, vapor ou ambos). Existem dois tipos dos receptores: • Hidrotérmicas: Contém água armazenada em uma rocha permeável cercada de uma fonte de calor. • Sistemas de rochas quentes: formados por camadas de rochas impermeáveis que cubram um foco calorífico. Para o seu aproveitamento é necessário fazer uma perfuração até alcançar o reservatório para injetar água fria, e aproveitar o calor desta água aquecida. A caracterização dos recursos geotérmicos pode ser feita da seguinte forma, conforme mostram as pesquisas geológicas: • A energia geotérmica de altas temperaturas: as suas temperaturas estão entre 150 a 4000 C. O vapor é produzido na superfície, enviando-o para as turbinas gera eletricidade. • A energia geotérmica de médias temperaturas: aquela em que os fluxos dos aqüíferos estão a temperaturas entre 70 a 1500 C. Neste caso, a conversão calor-eletricidade é realizada a um menor rendimento. Para melhor o rendimento no aproveitamento desta forma devese utilizar um fluido volátil intermediário. O aproveitamento deste recurso é feito através das pequenas centrais termelétricas. • A energia geotérmica de baixa temperatura: O aproveitamento deste recurso é mais amplo que os anteriores. Pode ser aproveitado em todas as bacias sedimentares. É devido ao gradiente térmico. As temperaturas dos fluidos estão entre 60 a 800 C. 144 • A energia geotérmica de muita baixa temperatura: quando as temperaturas estão compreendidas entre 20 a 60 graus. Esta energia é utilizada para as necessidades domésticas urbanas e agrícolas. O valor médio do gradiente térmico ao nível mundial é de 300 C/km. Considerando este gradiente e uma profundidade até 2000 metros, obteríamos uma temperatura entre 60 a 700 C, [57]. Para a Região Administrativa de Araçatuba pode-se tomar este valor como valor de base para avaliação do potencial geotérmico teórico que será feita no próximo item. 12.4 Estimativa do Potencial Teórico dos Recursos Geotérmicos na Região Administrativa de Araçatuba Por falta dos levantamentos e estudos detalhados sobre este recurso energético ao nível nacional considerou-se nesta estimativa um valor na base das médias mundiais estimadas. Para a região Administrativa de Araçatuba tomou-se como valores para estimativas os seguintes dados: temperaturas entre 60 a 700 C e, para uma profundidade de mais ou menos 2000 metros, um gradiente médio de 300C/km. Considerando estes valores médios mundias para Região Administrativa de Araçatuba, pode-se obter um potencial teórico de 99 MW/m2 para uma exploração deste recurso no fundo do mar ou oceano e de 57 MW/m2 para zona continental, fazendo a perfuração até 2000 m, [57]. 12.5 Caracterização das Dimensões dos Recursos e Tecnologias Geotérmicas O uso das tecnologias para produção de energia, ou seja, para o aproveitamento de qualquer recurso energético, sempre vai ser acompanhado por alguns impactos ambientais, sejam eles positivos ou negativos. Também vai envolver alguns interesses do nível político ou social. Finalmente, será necessária uma avaliação da viabilidade técnico-econômica dos projetos em concepção. Por isso, para os recursos e tecnologias geotérmicas também se propôs fazer a caracterização das dimensões inerentes ao processo do PIR neste trabalho, que são: aspectos técnico-econômicos, ambientais, sociais e políticos. 12.5.1 Aspectos Técnico-Econômicos dos Recursos e das Tecnologias Geotérmicas A energia geotérmica tem sido utilizada mundialmente há tempos para aquecimento, enquanto a geração de eletricidade é limitada a poucos locais com condições geológicas específicas. Extensas pesquisas adicionais de desenvolvimentos são necessários para acelerar o progresso dessa tecnologia. Em particular, a criação de vastas superfícies de troca de calor subterrâneas (tecnologia 145 HDR) e o aperfeiçoamento de geradoras de calor e energia com o Ciclo Orgânico Rankine (ORC, em inglês). Como uma grande parte dos custos das usinas geotérmicas são decorrentes da perfuração profunda, as informações já disponíveis do setor petrolífero podem ser usadas, com fatores de aprendizagem observados de menos de 0,80. Considerando um crescimento médio global do mercado de energia geotérmica de 9% ao ano até 2020, reduzido para 4% depois de 2030, o resultado seria uma potencial redução de custos em 50% até 2050. Além disso, apesar dos altos valores atuais (cerca de 20 centavos/kWh), os custos da produção de eletricidade – dependendo dos custos de fornecimento de calor – estão previstos para baixar para cerca de 6-10 centavos/kWh no longo prazo. Devido à sua oferta não flutuante, a energia geotérmica é considerada um elementochave na infra-estrutura futura de oferta de energia baseada em fontes renováveis, [60]. 12.5.2 Aspectos Ambientais dos Recursos e das Tecnologias Geotérmicas As considerações ambientais que se podem apontar no uso destas tecnologias são: Poluição do ar: quase todos os fluxos geotérmicos contêm gases dissolvidos neles. Estes gases são liberados à atmosfera de alguma maneira. Os estudos indicam que, apesar tudo, uma usina deste tipo produz 1/6 das emissões de CO2 por kW gerado em comparação às usinas térmicas convencionais. A descarga de vapor de água e do dióxido de carbono não é relevante neste tipo de sistema. Por outro lado, o odor desagradável e as características corrosivas de H2S são causas de preocupação nas usinas geotérmicas. Nas fontes com alta concentração do H2S os odores chegam a causar náuseas nas pessoas, e podem provocar sérios problemas de saúde. Para o organismo humano a concentração até 667 ppm deste gás pode causar em alguns minutos a morte. O valor permitido da concentração deste gás que o ser humano pode suportar é 0,030 ppm (o limite normal). Em algumas usinas a concentração do H2S chega a 1 ppm. Por esta razão, na maioria das usinas são construídas cercas ao redor da fonte quente, que naturalmente são caracterizadas pelos odores sulfurosos. Também são feitas instalações adicionais para o tratamento dos gases não condensados antes de serem liberados para atmosfera. Mesmo o vapor condensado, caso haja uma concentração considerável do H2S deve ser tratado num condensador. Poluição de Água: Devido à natureza mineralizada dos fluidos geotérmicos e à exigência de disposição dos fluidos utilizados, há possibilidade de contaminação das águas próximas a usina. É comum encontrar arsênico, mercúrio ou boro em pequenas quantidades, mas ambientalmente impactantes. A descarga livre dos líquidos pode resultar em contaminação dos rios, lagos, etc. A contaminação das primeiras camadas das águas subterrâneas pode resultar dos seguintes fatores: • Líquidos utilizados na etapa de perfuração; 146 • Infiltrações por orifícios nas paredes do poço na etapa de reinjeção; • Falhas da impermeabilidade do sistema de evaporação, e as suas conseqüentes infiltrações. Para mitigação destes danos ambientais é possível o tratamento dos fluidos antes da descarga, evitando a entrada dos metais nocivos ao meio natural. Todas estas situações podem ser evitadas através de plantas apropriadas e com monitoramento periódico das camadas das águas subterrâneas. É importante trabalhar com controle de qualidade principalmente na etapa de perfuração e construção. A Depressão dos Aqüíferos: os níveis das águas subterrâneas podem diminuir principalmente em plantas do aproveitamento de energia geotérmica que trabalham com altas temperaturas. Essas situações podem ser evitadas controlando e monitorando a pressão das reservas de água. Além deste fator, a diminuição dos níveis de água pode ocorrer devido às rupturas das paredes dos poços em desuso, que também pode ser evitada monitorando o estado destes poços e reparando-os antes de qualquer problema. Tombamento ou Subsidência do Terreno: Nos empreendimentos geotérmicos os fluidos são retirados em taxas maiores do que das entradas naturais do liquido. Isso pode compactar as formações rochosas no local, causando subsidência do terreno. Poluição Sonora: os testes de perfuração das fontes são operações ruidosas. Se essas operações puderem ser ouvidas pela população nas vizinhanças, então os métodos para mitigação devem ser aplicados, usando os silenciadores. Em geral as áreas geotérmicas são normalmente distantes dos centros urbanos, mas mesmo assim devem ser tomadas essas medidas para que a poluição sonora não prejudique a fauna local. Contaminação Térmica: Praticamente não existe a contaminação térmica como no caso das outras usinas de combustíveis fosseis ou nucleares. A perda de calor ocorre na atmosfera, uma vez que as torres de resfriamento são meios de reinjeção do calor utilizado na usina. Uso do Solo: devido à construção das usinas geotérmicas, podem haver danos ao local do alto valor do paisagismo, causando impacto visual. Por outro lado, o aproveitamento geotérmico pode permitir o uso do solo local, desenvolvendo outras atividades econômicas que antes não existiam (impacto positivo). Impacto Visual: Às vezes os impactos visuais são significativos nos locais de alto valor geotérmico, sobrepondo-se ao alto valor natural e paisagístico. Por outro lado, podem ser atrações turísticas, como no caso dos géisers. 147 Impactos devidos às catástrofes: as principais catástrofes que podem ocorrer são: • Altas atividades tectônicas: a reinjeção dos fluidos em terreno durante a exploração das reservas pode aumentar a freqüência de pequenos terremotos no local. Estes efeitos podem ser minimizados, reduzindo as pressões de reinjeção ao mínimo e assegurando que os possíveis edifícios afetados pelos movimentos sísmicos estejam preparados para suportar a intensidade destes terremotos. Uma atividade sísmica de maior intensidade poderia causar filtrações de fluidos nas partes indesejadas do sistema; • A explosão dos poços: eram comuns nas primeiras etapas de perfuração em profundidade, mas atualmente é pouco provável ocorrência deste tipo de problema. Mesmo assim devem ser tomadas medidas para mitigação deste impacto através da prevenção e utilização correta dos procedimentos de perfuração; • Erupção hidrotérmicas: ocorrem quando a pressão de vapor nos aqüíferos se intensifica e sobe até a parte superior da terra que os cobre, criando uma cratera. Manter pressões reduzidas pode ajudar na redução da freqüência de ocorrência das erupções. Também devem ser evitadas as escavações em terrenos com atividades térmicas. • Deslizamento do solo: Muitos dos aproveitamentos geotérmicos se encontram em terrenos acidentados e é por isso são susceptíveis a ocorrências deste tipo. O deslizamento pode causar graves danos ao poço ou às tubulações da usina, o que pode resultar em escape de vapores e líquidos a alta temperatura. A mitigação deste impacto deve ser feita aumentando a estabilidade de todas as partes susceptíveis a sofrer deslizamentos de terra, mesmo que com isso aumente-se o impacto visual do empreendimento. 12.5.3 Aspectos Sociais dos Recursos e Tecnologias Geotérmicas A exploração dos recursos geotérmicos estimula a criação adicional dos postos de trabalhos, além dos empregos diretos, o crescimento das atividades econômicas no local do empreendimento, e o aumento da renda da população das comunidades locais. No setor industrial, o aumento da produção nas indústrias fabricantes dos equipamentos mecânicos e eletromecânicos, dos equipamentos de refrigeração e dos serviços de manutenção, assim gerando novos postos de trabalho no local, ajudando a economia regional. Estudos nos Estados Unidos apontam para os seguintes números: Em 1996 a indústria de produção de energia geotérmica adicionou ao faturamento das indústrias um bilhão de dólares. Nesse mesmo período ajudou a criar 27.700 empregos indiretos e 12.300 empregos diretos. Os serviços adicionais criados nos locais foram produção de flores através de estufas usando energia geotérmica e criação de peixes [figuras Figura 68 e Figura 69]. 148 Figura 68: Produção de Rosas com a Utilização de Energia Geotérmica Figura 69: Criação dos crocodilos usando a água das fontes geotérmicas Outro beneficio social que essa energia apresenta é o aquecimento do ambiente nas regiões frias, como mostra a Figura 70. 149 Figura 70: Coletor de calor numa escola primária Figura 71: Armazenamento do calor e Refrigeração Em caráter ilustrativo, é apresenta a tabela abaixo, que faz a comparação da quantidade de empregos gerados pela indústria de energia geotérmica e do gás natural, [61]. Tabela 32: Comparação das Usinas Térmicas e Geotérmicas na Geração de Empregos Tipo Usina de Fase Construção, Emprego/MW de Operação Manutenção, e Total para Usina de 500 MW, Emprego/MW Pessoas/ano 150 Geotérmica 4,0 1,7 27.050,0 Gás Natural 1,0 0,1 2.460,0 12.5.4 Aspectos Políticos dos Recursos e das Tecnologias Geotérmicas Os aspectos políticos para exploração destes recursos e a utilização das tecnologias devemse relacionar ao valor econômico e social de distintas aplicações da energia geotérmica, a disponibilidade local das outras fontes energéticas alternativas e, principalmente, ao tipo da política energética nacional. De acordo com os estudos realizados em outros países, efetivamente existem recursos geotérmicos susceptíveis a serem utilizados seja para geração de eletricidade ou para serem aproveitados em forma direta para diversos tipos de aplicações. Sem duvida, para promover um desenvolvimento e aplicação destes recursos é necessário elaboração dos programas de pesquisas para a sua localização, caracterização e avaliação. O desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de equilíbrio, mas é dinâmico enquanto ao acesso aos recursos e a sua distribuição de custos/benefícios. É por isso um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção das pesquisas, a orientação do seu desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional harmonizam e reforçam o potencial presente e o futuro, a fim de atender as necessidades e as inspirações da sociedade ou da nação. Portanto, com adequação do planejamento energético e criação de novas tecnologias, junto com incentivos governamentais, é possível obter todas as características para exploração desta energia alternativa na região, visando à segurança energética em longo prazo e a diversificação dos recursos. 13 Análise dos Resultados Nessa primeira versão do trabalho de caracterização das tecnologias dos recursos energéticos para Região Administrativa de Araçatuba os resultados obtidos ainda são preliminares. Serão necessários mais levantamentos de campo e algumas estimativas mais apuradas para atingir objetivos específicos do projeto. Mas os resultados agora alcançados já fornecem idéias claras sobre o imenso potencial da geração de energia na região diversificando a matriz energética com introdução das novas tecnologias e novos recursos. Pelos resultados da Tabela 33 do resumo dos cálculos dos potenciais teóricos vê-se a predominância do potencial da biomassa, especificamente o da cana-de-açúcar e solar. Se desenvolvidos esses recursos, se tornarão elementos importantes para 151 cogeração na Região. O gás natural apresenta (Tabela 33) um grande potencial teórico, mas ainda não se sabe das condições das futuras políticas sobre este recurso, que podem inviabilizar a utilização do todo potencial deste gás na região. Conforme o critério utilizado para os cálculos, partiu-se da hipótese que o gás, que passa atualmente através do gasoduto Bolívia-Brasil venha ser consumido na Região na integra. O potencial dos PCH´s também é interessante, mas precisa dos estudos do campo, dos levantamentos das secções dos rios que possam ser aproveitados para pequena geração de energia. Outros potenciais que se mostram bastantes atraentes nestas primeiras estimativas são os dos resíduos animais e agrícolas. Esses potenciais podem ser aproveitados para cogeração, assim estimulando o desenvolvimento limpo na região. Na segunda fase, com informações mais precisas sobre os recursos em termo quantitativo, serão refeitos os cálculos, fornecendo os potenciais reais existentes na Região. Contudo, os resultados obtidos nesta fase dos cálculos preliminares são animadores em relação à existência de um grande potencial energético dos recursos renováveis, que possam proporcionar um desenvolvimento sustentável e limpo na Região Administrativa de Araçatuba. Nesta etapa ainda não foram feitos os cálculos sobre a quantidade do CO2 resultante da utilização destes potenciais na geração de energia elétrica. Pretende-se aguardar as informações, que estão sendo coletadas no campo para poder precisar estes valores nos futuros cálculos a serem realizados. Tabela 33: Resultados da Estimativa de Potenciais Teóricos dos Recursos Energéticos da Região de Araçatuba Recurso Hídricos Potencial Produtos (tEP/ano) PCH's Grandes Geradoras Teór 910.604,82 Potencial Instalado Biomassa 4.391.837,15 Bagaço 285.731,49 Pontas e Folhas n.d. Vinhoto n.d. TOTAL 285.731,49 Cana-de-açúcar Resíduos Agrícolas Outras plantações 147.561,33 152 Resíduos Animais 133.165,00 Lixo Urbano 5.390,00 Esgoto 1.530,11 Biodiesel 13.240,98 Álcool 311.974,78 Eólico 745.450,20 Solar Fototérmico 6.190,59 Fotovoltaico 0,02 por m² Célula-Combustível n.d. Nuclear n.d. Pscicultura n.d. Gás Natural 10.780.009,55 14 Conclusões Este documento é o resultado das discussões sobre o PIR – Planejamento Integrado dos Recursos nas pesquisas desenvolvidas no GEPEA – Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da EPUSP. Nele tenta-se sintetizar as idéias sobre a caracterização das tecnologias para melhor avaliação dos atributos relacionados a cada uma delas para a sua analise no processo do PIR. Portanto, durante estes levantamentos das tecnologias e dos seus atributos conclui-se que, realmente, para se atingir sobre o desenvolvimento sustentável, é necessária uma permanente avaliação destes elementos ao longo do processo de elaboração do projeto sobre o PIR. Várias pesquisas mostram que nem sempre as melhores opções são consideradas durante a fase de implementação devido às implicações políticas e sociais. Isso pode inviabilizar o processo. Nesse caso, tornam-se indispensável constante monitoramento do processo e constantes discussões sobre aspectos inerentes a essas implicações. 153 Ao longo deste processo de caracterização das tecnologias e dos recursos para a Região Administrativa de Araçatuba, defrontamo-nos com uma series de dificuldades, que se podem se resumir nos seguintes pontos: • As dificuldades relacionadas à resistência das concessionárias em fornecer informações técnicas sobre os seus desenvolvimentos para geração de energia pelo receio de que estas vão ser passadas aos seus concorrentes; • São as mesmas dificuldades enfrentadas em relação ao fornecimento de informações sobre os custos das tecnologias; • Outras dificuldades encontradas são relacionadas principalmente com a coleta das informações sobre as tecnologias não produzidas nacionalmente, mas importadas. Isso devido aos elevados custos para os contatos com os fabricantes internacionais; • Grande parte dos fabricantes, mesmo nacionais, não mostra devida vontade em liberar os catálogos para consultas técnicas que podem proporcionar uma boa orientação técnica nas pesquisas. Os dados são mantidos em total segredo, o que impede o seu acesso e, consequentemente, avaliação precisa de alguns parâmetros relacionados, assim prejudicando obtenção dos resultados mais precisos; • Para contornar essa situação e beneficiar os grupos de pesquisa é necessária criação dos meios ou instrumentos de parceria com as empresas fabricantes das tecnologias e permitir consultas às informações técnicas. Só assim se que tornará possível uma avaliação precisa dos atributos específicos relacionados a cada tecnologia; • Algumas tecnologias têm os seus atributos bem explorados pelo grupo do PIR do GEPEA, mas falta conhecimento suficiente de algumas, principalmente as que estão sendo desenvolvidas para utilização dos combustíveis do tipo biosiesel. A concepção geral é conhecida, mas novos parâmetros introduzidos para o aprimoramento destas tecnologias ainda são mantidos em segredo pelas empresas fabricantes com medo de serem repassadas as informações para os seus concorrentes; • Pelas mesmas razões são enfrentadas dificuldades em relação às informações técnicas e sobre as características das tecnologias que se encontram na Região de Araçatuba. O acesso às informações ainda é limitado nas empresas de produção de energia e de outros equipamentos que consomem a energia. A caracterização dos recursos energéticos também se defronta com algumas dificuldades, mas de outro caráter. As dificuldades enfrentadas neste aspecto estão relacionadas não a falta dos dados na região, mas em certo modo, a má organização das informações existentes sobre os recursos da Região. 154 Apesar do desenvolvimento da agricultura local, as informações precisas sobre a quantidade dos resíduos produzidos durante os processos de coleta até a manufatura dos produtos agrícolas ainda são desconhecidas. Por isso, foram adotados métodos de engenharia para quantificá-los. Para quantificação dos recursos solares também foram adotados os mesmos métodos, uma vez que não existem medições concretas na Região sobre insolação. Foram usados os mapas de insolação do Brasil, e dele extraído o valor médio para estas estimativas. Nesta fase, o potencial de PCH´s foi subestimado devido a falta de medições e levantamentos sobre os locais apropriados para sua implementação. Para isso, criou-se uma metodologia para avaliação deste potencial, (ver o item sobre avaliação do potencial teórico de pch´s do Relatório). Contudo, pelas estimativas feitas do potencial teórico dos recursos energéticos da região de Araçatuba, vê-se claramente que a região ainda dispõe de um grande potencial energético para geração distribuída, que pode ser aproveitada com as tecnologias caracterizadas neste Relatório. Por outro lado, mesmo agora sendo uma região exportadora de energia, gerada através de recursos hídricos pelas usinas de grande porte, tem ainda capacidade (pela avaliação feita na Tabela 33) de incorporar outros recursos na sua matriz energética, principalmente os recursos de biomassa e recursos hídricos para geração de pequeno porte. Apesar de a avaliação feita apresentar um grande potencial, esta ainda não corresponde ao potencial total da região, devido à limitação das informações de alguns resíduos, sobretudo florestais e agrícolas. Também não é conhecida a quantidade de resíduos oriundos do processamento de indústrias de piscicultura, que pode vir a contribuir notavelmente no aumento do atual potencial avaliado. Mas para isso, seria necessário um levantamento mais detalhado junto ao ministério da agricultura e das indústrias do ramo. Para alguns resíduos agrícolas, apesar de ser conhecida a quantidade de produção destes produtos, não foi possível avaliar o seu potencial devido à falta de conhecimento dos parâmetros técnicos tais como os seus coeficientes de resíduo, coeficiente de disponibilidade, e poder calorífico. Quanto ao gás natural, a estimativa feita considera um cenário onde o gás natural possa ser totalmente consumido na região. Outras possibilidades não consideradas nesta avaliação são as possíveis prospecções deste recurso na região, sendo que em nenhum estudo são mencionadas tais possibilidades. Outro motivo de não considerar isso é devido às informações limitadas sobre as condições geológicas, se a região é sedimentar ou não. 155 Não foi avaliado o potencial nuclear partindo-se da hipótese de que a região é exportadora de energia gerada através dos recursos renováveis e menos impactantes no meio ambiente. Portanto, é pouco provável no futuro próximo ter a necessidade de inserção desses recursos na matriz energética regional. Quanto à energia geotérmica, este estudo não considerou necessária a avaliação deste potencial, até porque os estudos recentes ao nível nacional apontam à inviabilidade deste recurso no Brasil. A exploração deste recurso no país seria possível através da sua captação em grandes profundidades do solo. Mas mesmos assim fez-se estimado usando os valores médios internacionais, obtendo os resultados apresentados no item 12 da avaliação do potencial teórico da energia geotérmica. 15 Referências Bibliográficas [1] Secretaria de Economia e Planejamento – Governo do Estado de São Paulo: Uma Proposta de Agenda 2020, Araçatuba, 2001. [2] Udaeta, M. E. M. Tese de Doutorado. Planejamento Integrado dos Recursos Energéticos Visando Um Desenvolvimento Sustentável. São Paulo, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1998. [3] Fujii, R. J. Dissertação de Mestrado. Modelo de Caracterização Sistêmica das Opções de Oferta Energética para o PIR. São Paulo, Escola Politécnica da USP, 2007. [4] Fraidenraich, N. Análise Prospectiva da Introdução de Tecnologias Alternativas de Energia no Brasil. Centro de Tecnologias e Geociências http://www.asades.org.ar/~averma/conferenciasasades06/fv.pdf. [5] Matajs, D.R.R. 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