posição esquizo
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posição esquizo
INTRODUÇÃO À OBRA DE MELANIE KLEIN Melanie Reizes nasceu em Viena em 1882. Caçula - três irmãos mais velhos (Emilie – a preferida do pai, Emanuel - considerado gênio pela família, Sidonie) Perdeu uma irmã Sidonie de 8 anos - tuberculose quando tinha apenas 4 anos, irmã que lhe ensinou leitura e cálculo perdeu seu pai em 1900, aos dezoito anos Perdeu seu irmão Emmanuel em 1902 quando tinha 20 anos. Estas mortes prematuras teriam deixado à sua personalidade, um traço depressivo. Melanie casou-se em 1903 aos 21 anos com Arthur Klein, amigo do irmão, engenheiro químico Klein teve três filhos: Melitta em 1904, Hans em 1907 e Erich em 1914 Ao invés de cursar medicina, profissão paterna (médico e dentista) como era seu plano, o casamento e o nascimento dos três filhos bloqueou este sonho, o casamento teria atrapalhado sua paixão pelo pensamento passou a frequentar cursos de Arte e História na Universidade de Viena. Em 1910 instalou-se em Budapeste 1914 com 32 anos – leu Interpretação dos Sonhos de Freud - encontro com Psicanálise Análise com Sandor Ferenczi par livrar-se da depressão a qual parece ter durado até 1917. 6/Nov/14 – mãe falece – Melanie Klein: profundo sentimento de culpa acredita ter esgotado sua mãe – ausenta-se para ficar em casa de saúde e sua mãe ficava com os filhos Em julho de 1919 Klein com 38 anos lê em Budapeste na sessão da sociedade de psicanálise seu artigo “O desenvolvimento de uma criança” sobre o “tratamento” de Frits era, na verdade, Erich, filho mais novo de Klein com (identidade não é exposta) - sinais de inibição intelectual e bloqueios de curiosidade (PETOT, 1987) e é eleita membro da Sociedade de Budapeste após esta exposição (ARNOUX, 2003) Em 1920, Ferenczi a apresenta a Karl Abraham que dirige a Sociedade Berlinense de Psicanálise e a convida para ir a Berlim Em 1921 Hungria vive no caos do pós-guerra – Klein troca Budapeste por Berlim em 1921 para praticar a psicanálise de crianças por sugestão de Karl Abraham - trabalhou na policlínica e em 1923 torna-se membro titular da Sociedade de Berlim e fará análise com Abraham em 1924 a qual é interrompida após 14 meses. Abraham morre em 1 de janeiro de 1926. Em 1922 divorcia do marido, de quem já estava separada havia algum tempo. Em 1925 recebe acolhida calorosa em Londres para onde muda em 1926 após a morte de Abraham, primeiro provisoriamente, depois decide instalar-se aceitando as ofertas de Ernest Jones, presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise e que lhe abrira as colunas de sua revista e a convidara para dar uma série de conferências. Segundo Winnicott, Jones teria pedido a Klein para analisar um de seus parentes, provavelmente criança. Freud censura-o por estar fazendo uma campanha contra sua filha Anna Freud e portanto contra ele. Ao redor de Klein havia simpatia e colaboração, a Sociedade Britânica de Psicanálise começa, a partir desta época a ser denominada “Escola britânica de Psicanálise” Entre 27 e 32 – influência kleiniana se estende a toda Sociedade Britânica de psicanálise Após 1932 – oposições declaradas - Glover e Melitta Schmideberg se afastam Melitta concluiu estudos em medicina na Alemanha vem para junto de sua mãe, aguardando seu marido Walter Schmideberg, ele lá se instalou e Melitta faz análise com Edward Glover denunciando a dependência neurótica na qual a mãe a mantinha, surge um conflito e Glover toma abertamente o partido de Melitta. Hans morre em 34, quando sofre uma queda fatal, Melitta lança a tese de suicídio. Klein sentiu-se acusada e abatida e não pôde comparecer ao enterro. Freud instalou-se em Londres em 6 de junho de 38 e morreu em 23 de setembro de 39. A guerra havia sido declarada há 20 dias. Klein mudou-se para Cambrige. Na sociedade britânica acontecia uma guerra de outro tipo: vienenses ficaram em torno de Freud e os britânicos em torno de Klein Trabalho com psicose na década de 30 despertou interesse dentro da psiquiatria infantil e de adultos, diversos médicos buscaram formação com Klein: Bowlby, Winnicott entre outros Disputas na década de 40, após a chegada de Ana Freud em Londres Hermine Von Hug-Hellmut - suas ideias seriam retomadas por Anna Freud. Esta autora considerava que o psicanalista de crianças devia exercer uma função pedagógica e provê-la de valores morais e estéticos. Para Klein trata-se de destruir o trabalho da repressão e restituir à criança a capacidade de fantasia, base de todo o desenvolvimento. Tratase de formação, não de educação Década de 50 pessoas da América do Sul e Itália para fazer “formação kleiniana” e após Bion estar nos EUA - pequeno grupo de analistas de orientação kleiniana desenvolveu-se na América do Norte (HINSHELWOOD , 1992) POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE Esquizo : defesas esquizóides - cisão splitting ego e objetos Paranóide: ansiedade dominante CISÃO Seio mau Seio bom PROJEÇÃO Atribuir a outro sentimentos, impulsos que recusa e não reconhece em si próprio CISÃO Pulsão de morte Projetado: SEIO MAU. Sentimento de perseguição. Ansiedade de aniquilação Conservação no eu: agressividade, ódio, inveja Pulsão de vida Projeção: seio bom, objeto ideal Conservação no ego: amor, libido CISÃO (SPLITTING) Seio bom Seio mau Idealização crescente do objeto ideal Impermeável ao mau Objetos perseguidores ← AFASTAR → objetos ideais MECANISMOS DE DEFESA Cisão : divisão do ego Divisão do objeto Projeção partes boas e más no objeto Mau fora: SENTIMENTO DE AMEAÇA EXTERNA Introjeção partes boas e más do objeto Ego esforça-se para introjetar bom e projetar mau MECANISMOS DE DEFESA Desintegração “splitting” fragmentação do ego em pedaços: Mais desesperada tentativa do ego de se livrar da ansiedade É como se o ego tentasse não existir Expressão da pulsão de morte (Ferenczi, 1930 apud Klein, 1946) MECANISMOS DE DEFESA Negação mágica onipotente: Quando perseguição é muito intensa, pode ser completamente negada Fantasia de total aniquilação dos perseguidores Identificação projetiva: Partes do eu e objetos internos são expelidos e projetados no objeto externo, o qual então se torna possuído e controlado pelas partes projetadas, identificando-se com elas. Um dos objetivos pode ser livrar-se das partes más projetadas Fantasia: objeto ideal Fantasia de perseguição Funde-se com experiências gratificantes de amor e alimentação Funde-se com experiências reais de privação e sofrimento Encurrala a perseguição terrificante Ameaça de aniquilação Nenhuma experiência no desenvolvimento humano jamais é posta de lado No mais normal indivíduo haverá situações que despertarão as mais primitivas ansiedades e que colocarão em funcionamento os mais primitivos mecanismos de defesa INVEJA FATORES EXTERNOS E INTERNOS Condição para entrar na posição depressiva? Experiências boas predomine sobre as más. Experiência verdadeira do bebê depende de fatores externos e internos “A privação externa, física ou mental, impede a gratificação; mas ainda que o ambiente seja propício a experiências gratificantes, estas podem ser modificadas ou mesmo impedidas por fatores internos” p. 51 INVEJA X Inveja CIÚME Ciúme Uma das emoções mais primitivas e fundamentais Período da vida em que objetos são claramente reconhecidos e diferenciados uns dos outros Relação de duas partes Relação triangular Sujeito inveja o objeto por alguma posse ou qualidade Baseia-se no amor Visa à posse do objeto amado e à remoção do rival Experimentada essencialmente em termos de objetos parciais Relação de objeto total voracidade inveja Visa à posse de toda a bondade que possa ser extraída do objeto sem consideração das consequências Visa a que se seja tão bom quanto o objeto Pode resultar na destruição do objeto e na danificação de sua bondade, mas destruição é incidental à aquisição desapiedada. Mas quando isso é sentido como impossível, visa a danificar a bondade do objeto, para remover a fonte de sentimentos invejosos. DANIFICAÇÃO Objetivo da inveja Objeto danificado não suscita inveja ASPECTO DANIFICADOR DA INVEJA Destrutivo para desenvolvimento: própria fonte da bondade da qual bebê depende é tornada má, portanto introjeções boas não podem ser alcançadas. Surge do amor e admiração primitivos, mas voracidade e pulsão de morte. Surge quando bebê se dá conta do seio como fonte de vida e experiência boa. INVEJA Seio como fonte de todos os confortos, físicos e mentais, reservatório inesgotável de alimento e calor, amor, compreensão e sabedoria. Satisfação que esse maravilhoso objeto pode dar: aumento do amor, do desejo de possuí-lo, preservá-lo, protegê-lo. Inveja: desejo no bebê de ser ele próprio fonte de tal perfeição – desejo de danificar qualidades do objeto que lhe pode dar esses sentimentos penosos. INVEJA FUNDIDA À VORACIDADE desejo de esgotar objeto: Não apenas a fim de possuir toda a sua bondade, mas para esvaziar intencionalmente objeto de modo a não ter nada de invejável. Confusão entre bom e mau interferindo na cisão Objeto ideal dá origem à inveja – é atacado e danificado Objeto ideal não pode ser mantido, interferência na introjeção do objeto ideal e na identificação com este. DESESPERO: Objeto ideal não pode ser encontrado, não há esperança de amor e qualquer ajuda. Objetos destruídos - fonte de perseguição Falta de introjeção boa priva ego de crescimento Inveja – impede introjeção boa – aumenta inveja INVEJA MAIS INTEGRADA Gratificação experimentada no seio: estimula admiração, amor, gratidão ao mesmo tempo que inveja Gratidão supera inveja (se essa não é tão avassaladora) e a modifica INVEJA E GRATIDÃO Seio ideal introjetado com amor, gratificação e gratidão se torna parte do ego Num círculo benevolente inveja diminui à medida que aumenta gratificação. Diminuição da inveja permite maior gratificação que incrementa diminuição da inveja. PSICOPATOLOGIA Inveja excessiva afeta fundamentalmente o curso da posição esquizo-paranóide e contribui para sua psicopatologia. POSIÇÃO DEPRESSIVA CONDIÇÃO BÁSICA PARA ENTRAR NA POSIÇÃO DEPRESSIVA objeto bom e amor mais fortes que objeto mau e ódio POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE: relação de objeto parcial e este está dividido POSIÇÃO DEPRESSIVA BOM / MAU BEBÊ RECONHECE UM OBJETO TOTAL E SE RELACIONA COM ESSE OBJETO Presente ou ausente Pode ser amada ou odiada MESMA MÃE É FONTE DO QUE É BOM E DO QUE É MAU POSIÇÃO DEPRESSIVA Ego do bebê se torna um ego total Diminuição da projeção RESULTADO: Percepção dos objetos é menos deformada Objetos maus e ideais se aproximam INTEGRAÇÃO Maturação do SNC - percepção e memória Mãe percebida como objeto total Condições de lembrar-se de gratificações anteriores quando ela o está privando e de privações quando ela o está gratificando (ambivalência) INTROJEÇÃO Introjeção é intensificada: Descoberta de dependência em relação a objeto (independente e que pode se afastar) -aumenta necessidade de possuir objeto, mantê-lo dentro. Introjeção de um objeto cada vez mais total promove integração do ego. Bom objeto introjetado forma o núcleo do ego. INTEGRAÇÃO Ele próprio ama e odeia Ama e odeia a mesma pessoa – mãe Uma vez que o indivíduo esteja ciente de que o objeto que ama é também contra o qual sente raiva, a culpa é inevitável. ANSIEDADE posição Esquizoparanóide Posição depressiva Ego será destruído pelo objeto ou pelos objetos maus Surgem da ambivalência Ansiedade de que seus próprios impulsos destrutivos destruam ou tenham destruído o objeto que ama e do qual depende. NOVOS SENTIMENTOS: Culpa: experiência depressiva característica que surge do sentimento de ter perdido o objeto bom através da própria destrutividade. Auge de sua ambivalência: desespero depressivo – lembra que amou e ainda ama mãe Mas sente que a devorou e a destruiu e não está mais disponível no mundo externo Sente que também a destruiu como objeto interno EXPERIÊNCIA DE DEPRESSÃO Desejo de reparar objetos destruídos Acredita que amor e cuidado podem desfazer os efeitos de sua agressividade Começa a distinguir fantasia e realidade externa Testa poder de impulsos: condições favoráveis – reaparecimento da mãe após ausência modificam crença do bebê na onipotência de seus impulsos destrutivos. Descobre limites de seu ódio e de seu amor. Preocupação por objeto: modifica objetivos pulsionais – inibição de pulsões Mecanismos neuróticos: Inibição, repressão, deslocamento. FORMAÇÃO SIMBÓLICA renúncia pulsional a um objeto é bem sucedida se o objeto a que se renuncia puder ser assimilado no ego Perda e restauração interna Esse objeto se torna símbolo dentro do ego do objeto externo. Ego é enriquecido por objetos que teve de recriar dentro de si e que se tornam parte dele. Pensar do ego maduro À MEDIDA QUE POSIÇÃO DEPRESSIVA É GRADUALMENTE ELABORADA Altera-se toda a relação de objeto Bebê adquire capacidade de amar e respeitar pessoas como indivíduos separados, diferenciados Capaz de reconhecer seus impulsos, sentir responsabilidade por eles e tolerar culpa. Nova capacidade: preocupação por objetos – ajuda a aprender a controlar seus impulsos Se a posição depressiva foi alcançada e, pelo menos, parcialmente elaborada, as dificuldades encontradas no desenvolvimento posterior do indivíduo não são de natureza psicótica, mas de natureza neurótica. REPARAÇÃO O QUE DESPERTA DESEJO DE REPARAÇÃO? Sentimento de ter destruído a mãe Culpa e desespero por tê-la perdido Despertam desejo de restaurá-la, recriá-la para recuperá-la interna e externamente REPARAÇÃO Impulsos reparadores ocasionam maior avanço na integração. Amor em conflito com ódio: controle da destrutividade e reparação do dano causado Reparação e restauração do dano causado ao objeto bom (interno e externo) Base para atividade criativa: desejo de restaurar felicidade, objetos internos perdidos e harmonia do mundo interno. REPARAÇÃO Ódio torna-se menos assustador, na medida em que aumenta a crença de que seu amor pode restaurar aquilo que seu ódio destruiu. Experiências de perda e recuperação: sentidas parcialmente como destruição pelo ódio e recriação pelo amor. Na medida em que o ego restaura e recria o objeto internamente, este se torna cada vez mais propriedade do ego, podendo ser assimilado por ele e contribuir para seu crescimento. REPARAÇÃO REPARAÇÃO MANÍACA Sofrimento e adoção de medidas para aliviá-lo na fantasia e na realidade Reparar o objeto de modo que culpa e perda nunca sejam experimentadas. Crescimento do ego Objeto não é reconhecido como tendo sido danificado pela própria pessoa Objeto não pode ser amado (inferior, desprezível) –amá-lo ameaçaria retorno de sentimentos depressivos verdadeiros Renúncia à onipotência e à mágica Redução da cisão (splitting) Remoção da identificação projetiva Aceitação da ideia de separação entre o próprio eu e os pais Faltam todos esses elementos ou maioria deles REFERÊNCIAS ARNOUX, D. J. Melanie Klein - Col. Psicanalistas de Hoje . São Paulo: Via Lettera, 2003. HINSHELWOOD, R. D. Dicionário do pensamento kleiniano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992 KLEIN (1946) Notas sobre alguns mecanismos esquizóides In: Inveja e gratidão e outros trabalhos 1946-1963. Rio de janeiro: Imago, 2006. PETOT, Jean-Michel. Melanie Klein I. (Primeiras Descobertas e Primeiro Sistema 1914-1932). São Paulo: Perspectiva, 1987. SEGAL, Hanna. Introdução a obra de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago, 1975. 147p