ÍNDICE DA QUALIDADE DE ATERROS DE - GETRES
Transcrição
ÍNDICE DA QUALIDADE DE ATERROS DE - GETRES
ÍNDICE DA QUALIDADE DE ATERROS DE RESÍDUOS URBANOS Flávia dos Santos Faria TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: __________________________________ Prof. Claudio Fernando Mahler, D.Sc. __________________________________ Prof. Maurício Ehrlich, D.Sc. __________________________________ Prof. Emilio Lebre La Rovere, D.Sc. __________________________________ Dr. Edwin Alvaro Zuleta Iturri, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL MARÇO DE 2002 FARIA, FLÁVIA DOS SANTOS Índice da Qualidade de Aterros de Resíduos Urbanos [Rio de Janeiro] 2002 XII, 355 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.SC., Engenharia Civil, 2002) Tese – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE 1. Disposição Final de Resíduos Sólidos 2. Aterro Sanitário Urbano I. COPPE/UFRJ II. Título (série) 2 AGRADECIMENTOS Ao Prof. Claudio Fernando Mahler pela orientação. Ao Prof. Maurício Ehrlich pelas críticas construtivas. À FAPERJ pela bolsa de mestrado concedida. Aos profissionais, Eng. Vitor Carvalho Faria, SENAI; Prof. Evaristo, Laboratório de Hidrologia da COPPE/UFRJ; Eng. Marco França, COMLURB; Eng. Renato Vasconcellos, Galvão/EBMA; INSPECTOR/Cantagalo; Técnico José Lima, Eng. Gerson Prefeitura de Mortari Piraí; Júnior, Queiroz Técnico William, VEGA/Resende; Eng. José Ricardo Ferreira, LIMPATECH/Macaé; Prof. João Alberto Ferreira, UERJ; Eng. Francisco Alves; Eng. Antonios Mavropoulos; Engª Neide Pessin, Universidade de Caxias do Sul; entre outros não citados, entretanto não menos importantes, pelas valiosas informações transmitidas para a realização desse trabalho. Aos colegas da COPPE, Kátia Nunis, Julio Cesar Andrade, Adriana Schueler, pela tradução de artigos em alemão e pelo incentivo. À minha mãe, Luci Faria, pelo apoio incondicional nas horas mais difíceis. Ao meu pai, Vitor, aos meus irmãos, Renato e Marcos, ao meu namorado, Felipe, e à minha prima, Aline, pelo estímulo constante. Às forças transcendentes que nunca me desampararam. 3 Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.) ÍNDICE DA QUALIDADE DE ATERROS DE RESÍDUOS URBANOS Flávia dos Santos Faria Março/2002 Orientador: Claudio Fernando Mahler Programa: Engenharia Civil O presente trabalho propõe-se a efetuar uma análise crítica do sistema de classificação de área de disposição final, introduzida pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB, através do Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares do Estado de São Paulo. A classificação está baseada no Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos – IQR, o qual avalia as localidades em três condições: inadequadas, controladas e adequadas, conforme a pontuação alcançada dentro de um limite de 0 a 10 pontos. O IQR, ao longo dessa dissertação, é alterado com o auxílio da metodologia Análise do Valor transformando-se no IQA, ambos aplicados em dezesseis municípios do estado do Rio de Janeiro. Essa amostra estudada permite identificar a situação da disposição final e caracteriza um levantamento prévio para a implantação futura do Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos no Estado do Rio de Janeiro. 4 Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M. Sc.) QUALITY LEVEL OF URBAN RESIDUES LANDFILLS Flávia dos Santos Faria March/2002 Advisor: Claudio Fernando Mahler Department: Civil Engineering The present assay intends to develop a critical analysis of the final disposition classification system, introduced by Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB, on the State Inventory of Domestic Solid Residues of the São Paulo State. The classification is based on the Quality Level of Residues Landfills - IQR, which evaluates the places under three conditions: improper, controlled and proper, according the level limits from 0 until 10. The IQR shall be changed throughout the Value Analysis transforming itself into IQA, looking forward practical application on sixteen municipal districts of Rio de Janeiro state. The sample studied will make possible to identify the real situation of final disposition, turning into a previous gathering bases for future implantation of the state Inventory of Urban Solid Residues of the Rio de Janeiro State. 5 ÍNDICE CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................01 CAPÍTULO 2 HISTÓRICO....................................................................................................................03 2.1 Breve descrição do lixo na sociedade ..................................................................03 2.2 Breve descrição do lixo na cidade do Rio de Janeiro........................................05 CAPÍTULO 3 RESÍDUOS SÓLIDOS....................................................................................................08 3.1 Conceito.................................................................................................................08 3.2 Classificação.........................................................................................................09 3.2.1 Quanto à fonte geradora.....................................................................................09 3.2.2 Quanto à degradabilidade...................................................................................12 3.2.3 CONAMA.............................................................................................................12 3.2.4 ABNT...................................................................................................................13 3.3 Outros resíduos....................................................................................................15 3.4 Fatores influentes na geração..............................................................................16 3.5 Caracterização dos resíduos................................................................................20 3.5.1 Quantificação......................................................................................................21 3.5.2 Propriedades físicas e geotécnicas.....................................................................22 3.5.3 Propriedades químicas........................................................................................30 3.5.4 Aspectos epidemiológicos....................................................................................31 6 CAPÍTULO 4 LEGISLAÇÃO................................................................................................................33 4.1 Noções gerais sobre o direito ambiental...............................................................33 4.2 Competência legislativa em matéria ambiental...................................................35 4.2.1 Competência Federal..........................................................................................35 4.2.2 Competência Estadual.........................................................................................37 4.2.3 Competência Municipal.......................................................................................37 4.3 Atuação da União, dos Estados e dos Municípios................................................38 4.4 Normas administrativas sobre coleta, transporte e disposição de resíduos sólidos.......................................................................................................................39 4.5 Cobrança de serviços de coleta e disposição dos resíduos sólidos......................43 4.6 Responsabilidade ambiental..................................................................................44 4.7 Crime de contaminação e degradação do solo por resíduos sólidos..................45 4.7.1 Punição administrativa dos atos poluidores.......................................................45 4.7.2 Punição penal dos atos poluidores......................................................................46 CAPÍTULO 5 MÉTODOS DE TRATAMENTOS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS.................................49 5.1 Tratamentos e disposição final..............................................................................50 5.1.1 Compostagem......................................................................................................51 5.1.2 Reciclagem...........................................................................................................52 5.1.3 Incineração..........................................................................................................53 5.1.4 Aterro sanitário...................................................................................................54 5.2 Gerenciamento dos resíduos sólidos.....................................................................54 5.3 Custos do sistema de limpeza pública...................................................................56 5.4 Instrumentos de gestão dos resíduos sólidos........................................................58 7 CAPÍTULO 6 ATERROS SANITÁRIOS..............................................................................................62 6.1 Disposição final no solo..........................................................................................62 6.1.1 Lixão ou lançamento à céu aberto ou vazadouro................................................62 6.1.2 Aterro controlado................................................................................................63 6.1.3 Aterro sanitário...................................................................................................63 6.2 Definições.................................................................................................................64 6.3 Vantagens e desvantagens do aterro sanitário.....................................................65 6.4 Características do local destinado ao aterro sanitário........................................66 6.5 O ecossistema aterro sanitário...............................................................................70 6.5.1 Tratamento por digestão anaeróbia....................................................................72 6.5.2 Tratamento por digestão aeróbia........................................................................74 6.5.3 Tratamento biológico..........................................................................................74 6.5.4 Tratamento por digestão semi-aeróbia...............................................................75 6.6 Métodos de disposição em aterros sanitários.......................................................75 6.6.1 Método da trincheira ou vala..............................................................................75 6.6.2 Método da área ou aterro tipo superficial..........................................................77 6.6.3 Método da rampa ou método da escavação progressiva ou método da meia encosta.................................................................................................................78 6.7 Descrição do desenvolvimento ao preparo de um aterro sanitário....................79 6.7.1 Sistema de coleta e gerenciamento do percolado...............................................82 6.7.1.1 Composição.........................................................................................................82 6.7.1.2 Balanço hídrico....................................................................................................84 6.7.1.3 Controle e coleta..................................................................................................85 6.7.1.4 Opções de gerenciamento....................................................................................87 6.7.2 Sistema de coleta e tratamento do biogás...........................................................89 6.7.2.1 Drenagem de biogás............................................................................................89 8 6.7.2.2 Tratamento do gases............................................................................................90 6.7.3 Sistema de drenagem de águas pluviais..............................................................91 6.7.4 Cobertura dos resíduos.......................................................................................93 6.7.5 Sistema de monitoramento..................................................................................94 6.8 Fechamento do aterro............................................................................................96 CAPÍTULO 7 INVENTÁRIO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DO ESTADO DE SÃO PAULO............................................................................................................................97 7.1 Histórico..................................................................................................................98 7.2 Objetivo.................................................................................................................100 7.3 Fundamento teórico..............................................................................................101 7.4 Síntese dos inventários de resíduos sólidos urbanos..........................................102 CAPÍTULO 8 ALTERAÇÃO DO ÍNDICE DA QUALIDADE DE ATERROS DE RESÍDUOS IQR................................................................................................................................105 8.1 Análise do IQR......................................................................................................105 8.2 Exemplos de classificações...................................................................................106 8.3 Alteração do IQR..................................................................................................109 8.4 Análise do Valor....................................................................................................111 8.4.1 Definições..........................................................................................................111 8.4.2 Metodologia.......................................................................................................114 8.4.3 Aplicação da Análise do Valor no IQA.............................................................116 8.5 Índices Internacionais da Qualidade de Aterros de Resíduos..........................116 8.5.1 Avaliação internacional....................................................................................117 8.5.2 Avaliação alemã................................................................................................117 9 CAPÍTULO 9 ANÁLISE DO ÍNDICE DA QUALIDADE DE ATERROS DE RESÍDUOS IQA................................................................................................................................122 9.1 Características do local........................................................................................122 9.1.1 Capacidade de suporte do solo.........................................................................123 9.1.2 Permeabilidade do solo.....................................................................................124 9.1.3 Proximidade de núcleos habitacionais..............................................................126 9.1.4 Proximidade de corpos de água........................................................................126 9.1.5 Profundidade do lençol freático........................................................................126 9.1.6 Disponibilidade de material para recobrimento...............................................127 9.1.7 Qualidade do material para recobrimento........................................................127 9.1.8 Condições de sistema viário-trânsito-acesso....................................................128 9.1.9 Isolamento visual da vizinhança........................................................................128 9.1.10 Legalidade de localização.................................................................................128 9.2 Infra-estrutura implantada.................................................................................129 9.2.1 Cercamento da área..........................................................................................129 9.2.2 Portaria/guarita.................................................................................................129 9.2.3 Controle de recebimento de cargas...................................................................130 9.2.4 Acesso à frente de trabalho...............................................................................132 9.2.5 Trator de esteira ou compatível.........................................................................132 9.2.6 Outros equipamentos.........................................................................................133 9.2.7 Impermeabilização da base do aterro...............................................................133 9.2.8 Drenagem de chorume.......................................................................................134 9.2.9 Drenagem de águas pluviais definitivas............................................................136 9.2.10 Drenagem de águas pluviais provisórias..........................................................137 9.2.11 Drenagem de gases............................................................................................137 9.2.12 Sistema de tratamento de chorume....................................................................139 10 9.2.13 Monitoramento de águas subterrâneas.............................................................139 9.2.14 Monitoramento das águas superficiais, lixiviados e gases...............................140 9.2.15 Monitoramento da estabilidade dos maciços de solo e de lixo.........................141 9.2.16 Atendimento a estipulações de projeto..............................................................142 9.3 Condições operacionais........................................................................................143 9.3.1 Presença de elementos dispersos pelo vento.....................................................143 9.3.2 Recobrimento diário do lixo..............................................................................143 9.3.3 Compactação do lixo.........................................................................................144 9.3.4 Presença de urubus-gaivotas.............................................................................145 9.3.5 Presença de moscas em grande quantidade......................................................145 9.3.6 Presença de queimadas.....................................................................................145 9.3.7 Presença de catadores.......................................................................................146 9.3.8 Criação de animais............................................................................................146 9.3.9 Descarga de resíduos de serviços de saúde......................................................147 9.3.10 Descarga de resíduos industriais......................................................................148 9.3.11 Funcionamento da drenagem de chorume........................................................148 9.3.12 Funcionamento da drenagem pluvial definitiva................................................149 9.3.13 Funcionamento da drenagem pluvial provisória..............................................149 9.3.14 Funcionamento da drenagem de gases.............................................................149 9.3.15 Funcionamento do sistema de tratamento de chorume.....................................150 9.3.16 Funcionamento do sistema de monitoramento das águas subterrâneas...........150 9.3.17 Funcionamento do sistema de monitoramento das águas superficiais, lixiviados e gases................................................................................................................151 9.3.18 Funcionamento do monitoramento da estabilidade dos maciços de terra e lixo.....................................................................................................................151 9.3.19 Medidas corretivas............................................................................................152 9.3.20 Dados gerais sobre o aterro..............................................................................152 11 9.3.21 Manutenção dos acessos internos.....................................................................153 9.3.22 Plano de fechamento do aterro.........................................................................153 CAPÍTULO 10 APLICAÇÃO DO IQA E DO IQR EM CASOS CONCRETOS..................................154 10.1 Barra do Piraí.....................................................................................................160 10.1.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................161 10.1.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................162 10.1.2.1 Características do local....................................................................................163 10.1.2.2 Infra-estrutura implantada...............................................................................166 10.1.2.3 Condições operacionais...................................................................................166 10.1.3 Soluções para a destinação final......................................................................166 10.2 Barra Mansa.......................................................................................................168 10.2.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................168 10.2.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................168 10.2.2.1 Características do local....................................................................................169 10.2.2.2 Infra-estrutura implantada...............................................................................171 10.2.2.3 Condições operacionais...................................................................................172 10.2.3 Soluções para a destinação final.......................................................................172 10.3 Cantagalo.............................................................................................................174 10.3.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................174 10.3.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................175 10.3.2.1 Usina de reciclagem e compostagem..............................................................176 10.3.3 Soluções para a destinação final.......................................................................182 10.4 Cordeiro...............................................................................................................183 10.4.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................183 10.4.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................183 12 10.4.2.1 Características do local....................................................................................185 10.4.2.2 Infra-estrutura implantada...............................................................................186 10.4.2.3 Condições operacionais...................................................................................186 10.4.3 Soluções para a destinação final.......................................................................187 10.5 Itatiaia..................................................................................................................188 10.5.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................188 10.5.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................189 10.5.2.1 Características do local....................................................................................190 10.5.2.2 Infra-estrutura implantada...............................................................................193 10.5.2.3 Condições operacionais...................................................................................194 10.5.3 Soluções para a destinação final.......................................................................194 10.6 Macaé...................................................................................................................195 10.6.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................195 10.6.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................196 10.6.2.1 Características do local....................................................................................196 10.6.2.2 Infra-estrutura implantada...............................................................................198 10.6.2.3 Condições operacionais...................................................................................199 10.6.3 Soluções para a destinação final.......................................................................201 10.7 Mendes.................................................................................................................202 10.7.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................202 10.7.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................203 10.7.2.1 Características do local....................................................................................204 10.7.2.2 Infra-estrutura implantada...............................................................................206 10.7.2.3 Condições operacionais...................................................................................206 10.7.3 Soluções para a destinação final.......................................................................207 10.8 Nova Friburgo.....................................................................................................208 13 10.8.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................208 10.8.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................209 10.8.2.1 Características do local....................................................................................211 10.8.2.2 Infra-estrutura implantada...............................................................................214 10.8.2.3 Condições operacionais...................................................................................217 10.8.3 Soluções para a destinação final.......................................................................218 10.9 Petrópolis.............................................................................................................219 10.9.1 Serviços de limpeza urbana...............................................................................219 10.9.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.........................................220 10.9.2.1 Características do local....................................................................................221 10.9.2.2 Infra-estrutura implantada...............................................................................222 10.9.2.3 Condições operacionais...................................................................................223 10.9.3 Soluções para a destinação final.......................................................................223 10.10 Piraí...................................................................................................................224 10.10.1 Serviços de limpeza urbana.............................................................................224 10.10.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.......................................225 10.10.2.1 Características do local.................................................................................226 10.10.2.2 Infra-estrutura implantada.............................................................................231 10.10.2.3 Condições operacionais.................................................................................236 10.10.3 Soluções para a destinação final.....................................................................240 10.11 Quatis................................................................................................................242 10.11.1 Serviços de limpeza urbana.............................................................................242 10.11.2 Caracterização física dos resíduos sólidos.....................................................243 10.11.3 Destinação final dos resíduos sólidos do município.......................................245 10.11.3.1 Características do local.................................................................................245 10.11.3.2 Infra-estrutura implantada.............................................................................247 14 10.11.3.3 Condições operacionais.................................................................................247 10.11.4 Soluções para a destinação final.....................................................................247 10.12 Resende .............................................................................................................248 10.12.1 Serviços de limpeza urbana.............................................................................248 10.12.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.......................................249 10.12.2.1 Características do local.................................................................................250 10.12.2.2 Infra-estrutura implantada.............................................................................251 10.12.2.3 Condições operacionais.................................................................................255 10.12.3 Soluções para a destinação final.....................................................................256 10.13 Teresópolis........................................................................................................257 10.13.1 Serviços de limpeza urbana.............................................................................257 10.13.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.......................................257 10.13.2.1 Características do local.................................................................................259 10.13.2.2 Infra-estrutura implantada.............................................................................260 10.13.2.3 Condições operacionais.................................................................................261 10.13.3 Soluções para a destinação final.....................................................................261 10.14 Valença..............................................................................................................262 10.14.1 Serviços de limpeza urbana.............................................................................262 10.14.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.......................................263 10.14.2.1 Características do local.................................................................................264 10.14.2.2 Infra-estrutura implantada.............................................................................265 10.14.2.3 Condições operacionais.................................................................................265 10.14.3 Soluções para a destinação final.....................................................................267 10.15 Vassouras..........................................................................................................268 10.15.1 Serviços de limpeza urbana.............................................................................268 10.15.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.......................................268 15 10.15.2.1 Características do local.................................................................................269 10.15.2.2 Infra-estrutura implantada.............................................................................272 10.15.2.3 Condições operacionais.................................................................................272 10.15.3 Soluções para a destinação final.....................................................................272 10.16 Volta Redonda..................................................................................................273 10.16.1 Serviços de limpeza urbana.............................................................................273 10.16.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município.......................................274 10.16.2.1 Características do local.................................................................................275 10.16.2.2 Infra-estrutura implantada.............................................................................277 10.16.2.3 Condições operacionais.................................................................................278 10.16.3 Soluções para a destinação final.....................................................................278 CAPÍTULO 11 CONCLUSÕES.............................................................................................................279 11.1 Propostas de estudos...........................................................................................284 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................285 ANEXO 1......................................................................................................................297 ANEXO 2......................................................................................................................299 ANEXO 3......................................................................................................................301 ANEXO 4......................................................................................................................304 ANEXO 5......................................................................................................................307 16 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO O crescimento da população e a forte industrialização, ocorrida ao longo do século XX, contribuíram para o crescimento vertiginoso de resíduos, acelerando um processo contínuo de deterioração ambiental com sérias implicações na qualidade de vida do homem. O destino dos resíduos sólidos representa um sério problema ecológico, envolvendo aspectos sanitários e de saúde pública. Essa questão tornou-se um grande desafio a ser solucionado pelos vários planos hierárquicos do poder público, em busca da sustentabilidade. Atualmente, os resíduos sólidos urbanos são dispostos em aterros ou, normalmente, em lixões, conforme exposto adiante, que na maioria das vezes, constituídos de forma espontânea, desprovidos de planejamento e adequação às normas técnicas pertinentes, implicam na contaminação do ar, do solo e das águas subterrâneas. Essa forma de disposição constitui verdadeiras bombas químicas de efeito retardado. Pesquisa realizada em janeiro de 1997 pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB, junto a 450 prefeituras municipais do Estado de São Paulo, demostrou que o tratamento final dos resíduos sólidos era o principal problema ambiental urbano para 74% dos municípios entrevistados. O Estado de São Paulo com o objetivo de resolver essa questão latente desenvolveu, de forma pioneira no Brasil, um levantamento, ou seja, um inventário da situação estadual dos serviços de limpeza urbana e destinação final dos resíduos. O Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares introduziu, de forma inovadora, uma metodologia de classificação de áreas de disposição final. Tal classificação baseia-se no Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos – IQR (CETESB, 2000), que permite o enquadramento dos sistemas analisados em três condições: inadequadas, controladas e adequadas, conforme a pontuação alcançada dentro de um limite de 0 a 10 pontos. A presente dissertação teve como proposta realizar uma análise crítica do sistema de classificação do Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares do 17 Estado de São Paulo, visando desenvolver uma nova planilha de classificação, utilizando como instrumento a metodologia de Análise do Valor. O capítulo 2 compreende uma revisão histórica e o capítulo 3 apresenta a conceituação técnica, a classificação e a caracterização física e geotécnica dos resíduos sólidos. O capítulo 4 discorre sobre a legislação ambiental atinente aos resíduos. O capítulo 5 aponta as principais formas de destinação final dos resíduos sólidos urbanos e o seu gerenciamento integrado. No capítulo 6 estão relacionados os aspectos técnicos e operacionais de um aterro sanitário. O IQR, instrumento criado pelo Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares do Estado de São Paulo, é examinado no capítulo 7. A análise crítica do IQR e as modificações propostas mediante a metodologia de Análise do Valor deram ensejo a uma nova planilha de classificação, denominada de IQA e desenvolvida ao longo do capítulo 8. Nessa mesma seção, encontram-se avaliações internacionais de qualidade de aterros sanitários. Os aspectos técnicos e a determinação dos critérios de avaliação, relacionados com a planilha do IQA, são contemplados no capítulo 9. No capítulo seguinte, o IQR e o IQA foram aplicados em dezesseis depósitos de lixo no Estado do Rio de Janeiro, possibilitando a classificação das áreas em condições inadequadas, controladas e adequadas. Esse estudo permitiu analisar e tecer recomendações sobre a melhor solução para a disposição dos resíduos em cada município. Esse diagnóstico das localidades de disposição de lixo municipal é um primeiro passo que poderá conduzir à instituição do Inventário Estadual de Resíduos Sólidos do Estado do Rio de Janeiro. O capítulo 11 conclui e comenta os resultados obtidos no capítulo 10, sugerindose alternativas para destinação final dos resíduos sólidos urbanos de pequenos e médios municípios. 18 CAPÍTULO 2 HISTÓRICO Um estudo sucinto sobre a evolução histórica do lixo no mundo demonstra a transformação da matéria e a produção de resíduos integrando a vida no planeta. Inicialmente, o homem foi submetido às leis da natureza, posteriormente, tentou entendê-las e modificá-las. A seguir são relatados os principais fatos históricos da humanidade e da cidade do Rio de Janeiro associados aos resíduos. As informações estão alicerçadas numa coletânea bibliográfica, em dados fornecidos pessoalmente pela Diretoria Técnica e Industrial (DTI) da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB) e dados obtidos no site da COMLURB. 2.1 Breve descrição do lixo na sociedade O ecossistema apresenta um equilíbrio biológico, no entanto toda a alteração introduzida neste sistema resulta em deslocamento do ponto de equilíbrio (Golley,1999). A própria natureza tem condições de suplantar esses efeitos, mas, no decorrer da história, restabelecer o equilíbrio torna-se uma tarefa muito complexa, demorada e, em alguns casos, impossível. O homem primitivo apresentou uma relação simbiótica com o meio ambiente. Retirou da natureza o necessário para as suas funções vitais, devolvendo os resíduos de seu metabolismo interno. No decorrer dos tempos, o desenvolvimento da capacidade humana de exercer domínio sobre a natureza, permitiu alterar o meio ambiente natural por tempo indefinido. As populações nômades da Antigüidade evitaram o confronto com os danos ecológicos de sua própria lavra, abandonaram a terra exaurida em busca de regiões não habitadas, que mantinham ainda a exuberância da fauna, da flora e do solo original. É provável que o principal motivo das migrações tenha sido a destruição causada pelo próprio homem na luta pela sobrevivência. Desde a época pré-cristã até o fim da Idade 19 Média, o número de habitantes do mundo era pequeno, havendo espaço suficiente para a migração. Com o aparecimento das aglomerações urbanas permanentes começaram a surgir os primeiros sintomas do hiato existente entre a atividade humana versus o ecossistema, manifestado através da exploração intensiva dos recursos naturais, inclusive do solo para plantio e da quantidade excessiva de resíduos acumulados. Na Antigüidade, as cidades eram cercadas por muralhas, as quais serviam de proteção contra o inimigo imprevisível e separavam a população dos resíduos gerados. Apenas, dentro dos muros da cidade existia lugar para a regulamentação higiênica. Os detritos lançados fora dos muros da cidade, acumulando-se nas redondezas. O lodo putrefato dos esgotos era jogado nos rios e conduzidos a estuários e baías, criando ali condições favoráveis à proliferação do mosquito da malária e de outros vetores de epidemias. Naquela época, os povos desconheciam a ameaça latente do lodo putrefato acumulado nos arredores. Na decadência do Império Romano surgem as epidemias provocadas pela falta de higiene. Com a proliferação dos ratos criaram-se as condições básicas para o alastramento da peste bubônica. A varíola e o cólera abalaram a Idade Média numa amplidão desconhecida na Antigüidade. Entre as epidemias em que a humanidade se tornou vítima, a peste foi a mais freqüente, a de mais longa duração e a mais difícil de ser erradicada, causando 43 milhões de vítimas (Laubisch, 1990). A prática de aterrar resíduos como forma de destinação final é oriunda da Mesopotâmia, há 4.500 anos atrás (Bidone, 1999). Os nabateus, nessa época, enterravam seus resíduos domésticos e agrícolas em trincheiras escavadas no solo. Passado algum tempo, as trincheiras eram abertas e, a matéria orgânica já decomposta, removida e utilizada como fertilizante orgânico na produção de cereais. O povo romano em 150 d.C., assustado com a grande quantidade de roedores e insetos que apareciam em torno dos locais onde o lixo era disposto, resolveu abrir valas e aterrar todos os resíduos, eliminando os inconvenientes causados pelos vetores. Na Ásia o método “night-soil” (Laubisch, 1990), muito antigo, mas ainda usual na periferia de muitas cidades do leste asiático, consiste em dispor o material proveniente das fossas secas, em montes de composto semelhante às “leiras” e a seguir o resíduo é espalhado em camadas finas, intensivamente, sob o sol. 20 Curiosamente, é possível observar cuidados ecológicos e sanitários em vários momentos da história antiga. Em Jerusalém, os esgotos urbanos eram conduzidos por uma canalização para dentro de um açude. A matéria que se depositava no fundo do açude era utilizada como fertilizante e a água sobrenadante, servia para a irrigação dos jardins. A cidade de Roma, fundada em 753 a.C., era dotada de uma série de exigências, como, por exemplo, evitar formação de poças d’água, eliminar as ervas daninhas, manter limpas as ruas e sarjetas. Pelo código municipal de César, todo o proprietário de casa estaria obrigado a manter em ordem e limpo o trecho de rua em frente à residência. Algumas obras refletem a luta dos homens contra a violação das condições de higiene ambiental. Johann Struppius (1530 – 1606), médico municipal da cidade alemã de Frankfurt, escreveu em sua obra “A útil reforma para a saúde e a ordem cristã” sobre a necessidade de limpeza urbana duas a três vezes por semana de todas as praças e ruas, assim como regulamentar a remoção do lixo em horas noturnas e a limpeza dos estabelecimentos de venda de gêneros alimentícios, oficinas de curtidores, peleteiros, entre outros, para evitar o acúmulo de imundície putrefata (Laubisch, 1990). O médico tirolês Hyppolyt Guarinonius (1571 – 1674) defendeu, com respeito à higiene doméstica, muitos pontos de vista que já haviam sido abordados por Hipócrates na Grécia Antiga (Laubisch, 1990). Passo a passo, com a evolução da medicina, foi sendo construída uma ideologia de higiene pessoal, doméstica e municipal, apregoando cuidados na erradicação de epidemias. 2.2 Breve descrição do lixo na cidade do Rio de Janeiro Nos primeiros anos de colonização da cidade, grande parte dos resíduos urbanos era locado próximo aos locais de pastagem dos animais, dando origem mais tarde às praças públicas (COMLURB, 2001). Em fins do século XIX, o lixo urbano era entulhado em mangues e alagadiços, em terrenos de marinha ao longo da Baía de Guanabara. Em 1931, originou-se o aterro do Caju, junto às águas da Baía de Guanabara, o lixo recolhido era espalhado pelo terreno pantanoso e coberto por uma camada de barro 21 e areia extraídos do cemitério de São Francisco Xavier. O local foi utilizado durante 40 anos e chegou a cobrir 800.000 m2 (COMLURB, 2001). Houve necessidade de abandoná-lo em virtude do assoreamento da foz de rios que ali desembocavam. Um convênio com o Ministério da Marinha foi formalizado em 1971, originando a execução de um aterro em terreno do Quartel dos Marinheiros(COMLURB, 2001). Na mesma ocasião outro aterro foi constituído na área do Ministério do Exército com 40.000 m2 , que posteriormente, deu origem a uma praça de esportes. Em 1975, o Estado da Guanabara uniu-se ao antigo Estado do Rio de Janeiro. Esta fusão transformou a cidade do Rio de Janeiro em Município, capital do novo Estado. O antigo DLU (Departamento de Limpeza Urbana) vinculada à SURSAN (Secretaria de Saneamento do antigo estado da Guanabara), tinha como atribuições quase exclusivamente a coleta e limpeza, não havendo preocupação maior com o destino final do lixo. Após a fusão o DLU passou pelo nome de Celurb até chamar-se COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), agora uma empresa da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. A COMLURB foi criada em 1975 com a pretensão de planejamento a médio e longo prazo da disposição final do lixo urbano, integrado ao sistema de coleta e limpeza. Em 1976, foi criado o aterro Metropolitano de Gramacho, em uma área de 1.300.000 m2 . Para lá são levadas em média 7.500 toneladas de lixo por dia (DTI, 2001). A recuperação e operação do aterro estão a cargo da empresa Queiroz Galvão que assumiu a execução das obras em dezembro de 1995, através de concorrência pública. Atualmente, o aterro metropolitano recebe resíduos das prefeituras do Rio de Janeiro, Nilópolis, Duque de Caxias, São João de Meriti (DTI, 2001). No âmbito da Cidade do Rio de Janeiro, o setor de tratamento de lixo urbano está estruturada sobre as seguintes unidades operacionais (DTI, 2001): − Usina de Reciclagem de Irajá, construída em 1977, com sistema prévio de trituração e posterior compostagem natural em leiras, com uma capacidade de processamento de 350 toneladas/dia. Atualmente, encontra-se em funcionamento apenas o setor de separação. Custo: US$ 1.5 milhões (Lua, 1999); 22 − A Usina de Jacarepaguá, funcionou de 1992 a 1997, com uma capacidade de 560 toneladas/dia, porém está desde 1997 desativada por exalar forte odor. Custo: US$ 13 milhões (Lua, 1999); − A usina do Caju, inaugurada em 1992, com capacidade de projeto de 70 toneladas/hora, só funcionou por dois anos. Um dos motivos para a desativação foi o forte odor produzido no processo. Hoje, as instalações viraram uma estação de transferência. Custo: US$ 23 milhões (Lua, 1999). 23 CAPÍTULO 3 RESÍDUOS SÓLIDOS Toda atividade humana origina materiais diversos chamados no nosso cotidiano de lixo. O presente capítulo discorre sobre a conceituação técnica, classificação e caracterização do lixo. 3.1 Conceito No Brasil o lixo é denominado de resíduos sólidos segundo a NBR-10.004, Resíduos Sólidos – Classificação, de 1987, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). A definição oficial de resíduos sólidos de acordo com a NBR-10.004/87 da ABNT é: aqueles resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos que resultam da atividade da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nessa definição os lodos provenientes de sistemas tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviáveis seu lançamento na rede pública de esgoto ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face de melhor tecnologia disponível. Esta definição, segundo Teixeira et al., 1997, é muito ampla e equivoca-se ao incluir líquidos como resíduos sólidos. Alguns autores definem como lixo todo e qualquer resíduo resultante das atividades diárias do homem na sociedade. Estes resíduos são, basicamente, sobras de alimentos, papéis, papelões, plásticos, trapos, couros, madeiras, latas, vidros, lamas, gases, vapores, poeiras, sabões, detergentes e outras substâncias descartáveis de forma consciente. Os resíduos sólidos são, ainda, definidos como os restos das atividades humanas, consideradas pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis (IPT/CEMPRE,1995). 24 3.2 Classificação A classificação dos resíduos sólidos é um importante instrumento para o posterior gerenciamento dos mesmos. A vasta gama de classificações decorre, basicamente, da variedade de constituintes que fazem parte da composição física do lixo. Nos próximos subitens são expostas algumas classificações que abordam uma ou mais caraterísticas dos resíduos. 3.2.1 Quanto à fonte geradora De acordo com sua origem os resíduos sólidos podem ser classificados em: • Domiciliar Resíduos gerados em domicílios residenciais. É composto por material orgânico, material reciclável e itens diversos. Até bem poucos anos, os resíduos domiciliares eram considerados como de pequeno risco para o meio ambiente. Hoje em dia, seja pela introdução de novos produtos na vida moderna seja pelo maior conhecimento dos impactos de determinados materiais no ambiente, considera-se que os resíduos domiciliares são uma ameaça à integridade do meio ambiente e do homem. Embora em pequena quantidade são encontradas no lixo doméstico pilhas e baterias, óleos de motor, tintas, pesticidas, embalagens de inseticidas, solventes e produtos de limpeza, termômetros, lâmpadas, tais resíduos têm efeitos potenciais deletérios à saúde e ao meio ambiente. Outro aspecto da caracterização dos resíduos domiciliares refere-se à presença de microrganismos, o que favorece a transmissão de doenças infecto-contagiosas estabelecidas pela presença de seringas e fraldas descartáveis, lenços de papel, papel higiênico, curativos, preservativos etc. • Comercial Resíduos gerados em estabelecimento comerciais e de prestação de serviços. Possuem composição variável de acordo com o tipo de atividade desenvolvida pela unidade geradora. 25 • Industriais Resíduos cuja composição depende da atividade desenvolvida pela indústria. Porém, dentro de uma indústria existem resíduos sólidos tipicamente urbanos, que devem ser separados dos resíduos industrias e dispostos à coleta regular. • Atividades públicas Resíduos compostos por sobras ou descartes de atividades desenvolvidas pela administração pública municipal, estadual e federal, tais como, poda de árvores e gramados, resíduos de construção ou demolição de obras públicas e outros. • Vias públicas Resíduos gerados por transeuntes que se deslocam em vias públicas, quando da realização de seu trabalho, lazer, descanso, esporte etc. Normalmente, a limpeza é realizada através de varrição, capina e outros procedimentos. • Portos, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários São aqueles que contêm ou potencialmente podem conter germes patogênicos. Basicamente, o lixo gerado destes estabelecimentos assemelha-se ao resíduo domiciliar, contudo podem veicular doenças provenientes de outras cidades, estados e países. • Serviços de saúde Abrangem os resíduos sólidos de hospitais, de clínicas médicas e veterinárias, de centros de saúde, de consultórios odontológicos e de farmácia. Nesses locais existem uma forma diferenciada de separação e coleta dos materiais. A Resolução CONAMA nº 005/93 determina a classificação dos resíduos de acordo com seu estado físico e a separação dos materiais que entraram em contato, daqueles que não entraram em contato com o paciente. Os resíduos que não tiveram contato com o paciente, que são da ordem de 70% (IPT/CEMPRE, 2001) em peso dos resíduos gerados num estabelecimento de saúde, serão tratados como resíduos comuns e poderão inclusive ser encaminhados à reciclagem. A Norma NBR 12.808 da ABNT – Resíduos de Serviços de Saúde divide em classes: 26 − Classe A: resíduos infectados, tais como culturas, vacinas vencidas, sangue, tecidos, órgãos, materiais perfucortantes, fluidos orgânicos. Resíduos séptico; − Classe B: resíduos especiais, que incluem rejeitos radioativos, resíduos farmacêuticos e resíduos químicos. Resíduos séptico; − Classe C: resíduos comuns, oriundos das áreas administrativas, das limpezas de jardins etc. Resíduos asséptico. Esse tipo de lixo não pode ser depositado em aterros sem prévio tratamento, seja por microondas, sistema que consegue eliminar os microrganismos, tornando o material não contaminado, ou por incineração. Segundo as normas da CETESB, os resíduos hospitalares devem ser depositados sobre mantas de polietileno de alta densidade e uma camada de 50cm de argila para evitar o risco existente no caso de haver rompimento da manta plástica isolante causado por objetos cortantes. Sobre o lixo deve ser lançada uma camada de cal hidratada, a área receptora do lixo deve ser cercada e identificada com placas alertando para os riscos de contaminação. As principais tecnologias disponíveis para tratamento dos resíduos hospitalares são: − Autoclave/esterilização: são processos em que há total eliminação de todas as formas de vida microbiana; − Desinfecção: é o processo de eliminação dos microrganismos patogênicos; − Incineração: é um processo de oxidação a alta temperatura, que transforma materiais, reduz volumes e destrói microrganismos. • Urbano A definição de resíduo urbano depende de cada município, pois é função do serviço de coleta de cada região. Em geral, o resíduo urbano é composto pelo lixo: domiciliar, comercial, de atividade pública, de vias públicas e de serviços de saúde. • Radioativos São os resíduos de origem atômica, cujo controle/gerenciamento está, de acordo com a legislação brasileira, sob a tutela do Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN). • Agrícolas 27 Aqueles resultantes dos processos de produção de defensivos agrícolas e suas embalagens. 3.2.2 Quanto à degradabilidade De acordo com o seu grau de degradabilidade os resíduos sólidos podem ser classificados em (Pessin, 1998): − Facilmente degradáveis: é o caso da matéria orgânica presente nos resíduos sólidos de origem urbana, que apresentam degradação biológica através de bactérias e fungos; − Moderadamente degradáveis: são os papéis, papelão e material celulósico, cuja decomposição por via biológica ocorre em um período de duas a quatro semanas; − Dificilmente degradáveis: são os pedaços de pano, retalhos, aparas e serragens de couro, borracha e madeira, os quais possuem degradação biológica desprezível; − Não-degráveis: resíduos resistentes à biodegradação, incluem-se aqui os vidros, metais, plásticos, pedras, terra, entre outros. 3.2.3 CONAMA De acordo com o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), Resolução nº 005/93, os resíduos sólidos podem ser classificados nos seguintes grupos: − Grupo A: resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido a presença de agentes biológicos. Esse grupo é composto, principalmente, pelos resíduos de serviços de saúde; − Grupo B: resíduos que apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente proveniente das características químicas. Como exemplos desse grupo são encontrados os resíduos farmacêuticos, as drogas quimioterápicas e, os demais produtos perigosos, classificados pela NBR 10.004 da ABNT; − Grupo C: resíduos radiativos; − Grupo D: resíduos comuns, que não se enquadram nos grupos supracitados. 28 3.2.4 ABNT A ABNT, por meio da NBR-10.004 – Resíduos Sólidos – Classificação fornece procedimentos que viabilizam a identificação dos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, em termos da periculosidade dos resíduos sólidos. Conforme a referida Norma, um resíduo é considerado perigoso quando suas propriedades físicas, químicas e infectocontagiosas representam: − Risco à saúde pública: caracterizado pelo aumento de mortalidade ou incidência de doenças; − Risco ao meio ambiente: quando manuseados de forma inadequada; − Dose Letal50 (oral, ratos), que representa a dose letal para 50% de uma população de ratos, quando administrada por via oral; − Concentração Letal50 (concentração letal 50), que representa a concentração de uma substância que, quando administrada por via respiratória, acarreta a morte de 50% da população exposta; − Dose Letal50 (dérmica, coelhos), que representa a dose letal para 50% da população de coelhos testados, quando administrada em contato com a pele. Os resíduos perigosos são aqueles que podem causar, ou contribuir de forma significativa, para a mortalidade ou incidência de doenças irreversíveis ou impedir a reversibilidade das demais, ou apresentar perigo imediato ou potencial à saúde pública ou ao ambiente quando transportados, armazenados, tratados ou dispostos de forma inadequada. Deverão, por isso, sofrer tratamento ou acondicionamento adequado, no próprio local de produção, e nas condições estabelecidas pelo órgão estadual de controle da poluição e de preservação ambiental. A NBR-10.004 estabelece que a classificação dos resíduos deve desenvolver-se com base em cinco critérios de periculosidade: − Inflamabilidade; − Corrosividade; − Reatividade; − Toxicidade; 29 − Patogenicidade: excluídos os resíduos sólidos domiciliares e aqueles gerados em estações de tratamento de esgotos sanitários. Não sendo possível o enquadramento dos resíduos em pelo menos um dos critérios supracitados, a NBR-10.004 estabelece a necessidade de que amostras dos mesmos sejam submetidas a ensaios tecnológicos, para avaliar as concentrações de elementos que conferem periculosidade, a partir de listas organizadas pela Norma em estudo. Outras Normas foram criadas para auxiliar a NBR-10.004: − NBR-10.005 – Lixiviação de resíduos – Procedimento – estabelece os critérios para a realização do Ensaio de Lixiviação, que consiste na separação de certas substâncias contidas nos resíduos industriais por meio de lavagem ou percolação; − NBR-10.006 – Solubilização de resíduos – Procedimento – estabelece os critérios para a realização do Ensaio de Solubilização, visando tornar uma amostra de um resíduo solúvel em água e avaliar a concentração dos elementos ou materiais contidos no extrato; − NBR-10.007 – Amostragem de resíduos – Procedimento – estabelece os critérios de coleta e seleção de uma amostra, que será analisada como representativa de um todo; A partir desses critérios e ensaios, os resíduos sólidos são classificados e podem ser enquadrados em uma das classes a seguir: • Resíduos classe I – perigosos A amostra do resíduo sendo enquadrada em pelo menos um dos critérios de periculosidade será classificada como tal. Excluída a periculosidade, será realizado o ensaio de lixiviação. São considerados classe I, os resíduos submetidos ao teste de lixiviação e apresentarem concentrações superiores às previstas na Listagem 7, Anexos G, da NBR-10.004. Se as concentrações forem inferiores às da Listagem 7, será realizado o ensaio de solubilização, a fim de avaliar se o resíduo é classe III; • Resíduos classe II – não-inertes São os resíduos que não se enquadram como resíduos classe I ou classe III, podendo apresentar propriedades como combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. Nesta classe estão incluídos os papéis, papelão, matéria vegetal e outros; 30 • Resíduos classe III – inertes São aqueles que, submetidos ao teste de solubilização, não tiveram nenhum dos seus constituintes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, Listagem 8, Anexo H, da NBR-10.004. Exemplo dessa categoria são: as rochas, tijolos, vidros e certos plásticos e borrachas que não são decompostos facilmente. Se as concentrações forem superiores às da Listagem 8, os resíduos são considerados classe II. 3.3 Outros resíduos Os resíduos encontrados normalmente no descarte domiciliar, podem configurar um risco potencial ao meio ambiente e à saúde humana. • Pilhas e baterias As pilhas e baterias são utilizadas em diversos aparelhos eletroeletrônicos, contendo em suas composições metais pesados, os quais liberados na natureza, através do vazamento das embalagens, contaminam o solo e os recursos hídricos subterrâneos e superficiais. Quando atingem a cadeia alimentar, contaminam os seres humanos, o que pode causar, entre outros efeitos, danos ao organismo, distúrbios renais e neurológicos. A disposição final de pilhas e baterias é regulamentada por leis específicas, como a resolução Conama nº 257/99, que dispõe sobre a reciclagem e a reutilização e disposição final de pilhas e baterias. • Lâmpadas fluorescentes As lâmpadas fluorescentes possuem em sua constituição substâncias químicas nocivas ao meio ambiente, como metais pesados, entre os quais sobressai o mercúrio metálico. Quando descartadas em grandes quantidades, o mercúrio liberado passa a evaporar e em épocas chuvosas pode contaminar o solo e corpos d’água. Se ingerido pelo ser humano, o mercúrio atinge o sistema nervoso, podendo causar desde lesões leves até a morte. No Brasil, o consumo de lâmpadas fluorescentes aumentou vertiginosamente, tanto em estabelecimentos industriais, comerciais, como em residências. O consumo desenfreado foi desencadeado pelo racionamento de energia elétrica, ocorrido ao longo do ano de 2001. O poder público, visando poupar energia e novamente tentando 31 resolver o problema imediato sem prever as conseqüências futuras, incentivou a substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, através de propaganda maciça. Agora, paira no ar a incerteza da disposição final desse resíduo, considerando a falta de legislação federal que regulamente e estabeleça critérios. • Pneus O pneu possui em sua estrutura materiais como borracha, aço, tecido de náilon ou poliéster, tornando-os de difícil separação. Após o uso, ele pode ser descartado, ser destinado ao reuso ou à reciclagem. Porém, o seu descarte constitui um grave problema ambiental, causando assoreamento de rios e lagoas, ocupando grandes espaços nos aterros sanitários, ou quando amontoados em terrenos baldios, favorecem a proliferação de insetos e de incêndio. Quando queimado, produz uma fumaça preta e, como subproduto, um material oleoso, que contamina as águas subterrâneas. Quando reutilizado, ele é recauchutado e sua carcaça reaproveitada pelo menos duas vezes. 3.4 Fatores influentes na geração A geração de resíduos depende de fatores culturais, hábito de consumo, poder aquisitivo, fatores climáticos, nível educacional (Lima, 1995) e das características de sexo e idade dos grupos populacionais. Os fatores influentes encontram-se explicados abaixo: • Poder aquisitivo A quantidade per capita de lixo produzido por determinada família é diretamente proporcional à sua renda. As classes sociais mais altas possuem um maior poder de compra, acarretando mais desperdícios e maior geração de plásticos, papéis e vidros. De acordo com Acurrio (1998) existe uma correlação entre a produção de resíduos sólidos e a venda per capita, que pode ser determinada pelo poder aquisitivo de cada consumidor. Conforme o autor, em Buenos Aires a quantidade de resíduos coletados em 1989, que foi um ano de recessão econômica, sofreu redução se comparado com o período de 1980 a 1985. A recessão venezuelana, que ocorreu entre 1987 e 1989, reduziu em 14% a quantidade de lixo coletado em Caracas. Em Lima, 32 houve uma diminuição na geração de resíduo no período de 1987 a 1991, em função da forte recessão. • Industrialização de alimentos O aumento da industrialização dos alimentos implica em produtos prontos para o consumo, que aumentam a quantidade de embalagens no lixo e reduz os restos de alimentos. • Evolução das embalagens Os processos tecnológicos contribuíram de forma decisiva para a redução do peso específico do lixo urbano. A utilização praticamente irrestrita de embalagens plásticas em substituição às embalagens de vidro e metal, contribuiu para tornar o lixo mais leve, requerendo, portanto, maiores volumes para seu manuseio e destinação final. Um exemplo da substituição das embalagens é apreciado no gráfico 3.1, onde o descarte de plástico foi crescente durante os anos de 1995 até 1999. O inverso ocorreu com o vidro e o metal no mesmo período. Gráfico 3.1 - Média diária (%) de lixo por tipo na cidade do Rio de Janeiro (Banco de dados da Diretoria Técnica e Industrial (DTI) da COMLURB) 60 50 1995 1996 (%) 40 1997 30 1998 1999 20 2000 10 0 papel plástico vidro mat.org. metal inerte outros Tipo de lixo No ano de 2000, observa-se uma pequena redução do consumo de plástico, decréscimo do vidro e uma, relativa, constância do consumo de metal. Esse resultado 33 além de demostrar o desenvolvimento das embalagens transparece a ação dos catadores diretamente no local de geração do resíduo, encaminhando para reciclagem, quase 80% das latas de alumínio, mais de um terço do vidro, cerca de 20% do aço e outros 20% de plástico (VEGA, 2001). Esses heróis do mercado informal, que, hoje, estabelecem um importante nicho de mercado, desviam de aterros uma quantidade significativa de resíduos sólidos. • Hábitos da população Um exemplo, muito claro, é o hábito de aquisição de alimentos em feiras livres, o qual aumenta a quantidade de matéria orgânica no lixo, quando comparado com o hábito de aquisição de produtos embalados, tendendo a aumentar a quantidade de plástico, latas e papelões no lixo. Nos estados do sul do Brasil a quantidade de cinzas no lixo é maior que em outros estados, isto ocorre devido a maior utilização de lareiras nos meses de inverno. Também na região Sul, a quantidade de garrafas de vinho é maior, se comparada a região Sudeste, que tem a cerveja como bebida preferencial. • Fatores econômicos A economia de um país interfere diretamente na geração de resíduos; em períodos de recessão econômica, a quantidade de resíduos coletados diminui devido ao aumento da reutilização, da reciclagem e decréscimo no consumo. Uma rápida retrospectiva econômica esclarece a evolução do resíduo domiciliar (gráfico 3.2). Em 1994, com a implantação do Plano Real, a inflação foi controlada, houve um aumento no poder de compra da população, que permaneceu atuante e crescente nos anos de 1995 até 1998. Durante o ano de 1999, mesmo com a inflação sobre controle, a estagnação no desenvolvimento econômico provocou uma redução da geração de resíduos domésticos. Já o ano de 2000 foi marcado por uma certa recuperação do desenvolvimento econômico do país e da geração de resíduos. 34 Gráfico 3.2 - Média diária (%) de recebimento de lixo da cidade do Rio de Janeiro (Banco de dados da Diretoria Técnica e Industrial (DTI) da COMLURB) 60 50 1995 1996 1997 1998 1999 2000 % 40 30 20 10 0 domiciliar público hospitalar G.geradores outros Tipo de lixo • Fatores sazonais As épocas do ano de grandes festividades alteram o consumo e, consequentemente, o lixo gerado, tanto na qualidade como na quantidade. Como ilustração da influência destes fatores, citados acima, na composição dos resíduos sólidos a tabela 3.1 compara os resíduos produzidos por países de diferentes graus de industrialização e renda per capita. É interessante salientar que nos países do Primeiro Mundo, com maior nível de industrialização dos alimentos, a geração de resíduos passíveis de reciclagem é maior que nos países mais pobres e o desperdício é o menor possível. Isso se evidencia, também, no gráfico 3.3, o qual apresenta 51,27% de matéria orgânica encontrada nos resíduos sólidos urbanos da cidade do Rio de Janeiro no ano de 2000, ao passo que no Japão o valor é aproximadamente de 20 % (Bidone,1999). 35 Tabela 3.1 – Distribuição típica dos componentes dos resíduos sólidos urbanos em países de baixa, média e alta industrialização (Tchobanoglous, 1993) Componentes Baixa industrialização Faixas de % em peso Média industrialização Alta industrialização 40 – 85 1 – 10 1– 5 1– 5 1– 5 1– 5 20 - 65 8 – 30 2– 6 2 – 10 1– 4 1 – 10 6 – 30 20 – 45 2– 6 0– 2 10 – 20 1– 4 1 - 10 1– 5 1– 5 1 - 40 1 – 10 1– 5 1– 5 1 - 30 4 – 12 0– 1 1– 4 0 - 10 Orgânico Restos de alimentos Papéis e papelão Plástico Tecidos Couro e borracha Madeira Inorgânico Vidros Latas Alumínio Outros metais Gráfico 3.3 – Composição média do lixo na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2000 (Banco de dados da Diretoria Técnica e Industrial (DTI) da COMLURB) 0,94% 2,66% 4,53% 19,77% papel/papelão plástico vidro mat. orgânica 17,61% 51,27% metal inerte outros 3,22% A complexidade dos resíduos e a evolução constante dos hábitos de vida sugerem que as propostas de solução para o problema devem ser maleáveis, sempre respaldadas em princípios de educação ambiental da população, o que a integrará responsavelmente à construção de medidas técnicas e ambientalmente corretas. 3.5 Caracterização dos resíduos sólidos A caracterização é de fundamental importância para auxiliar no gerenciamento dos resíduos sólidos de um município. A partir dela é possível identificar sua 36 potencialidade econômica, isto é, a viabilidade da reciclagem e o reaproveitamento do material orgânico bruto após seu processamento. A análise das propriedades físicas e químicas do lixo permite obter informações para a escolha do melhor e mais adequado sistema de coleta, transporte, tratamento e disposição final, bem como compatibilizar os equipamentos com o tipo de resíduo estudado. 3.5.1 Quantificação A quantificação da geração de resíduos sólidos urbanos é baseada em índices relacionados ao número de habitantes atendidos pelo sistema de coleta e ao volume de resíduos gerados, materializando a denominada produção per capita de lixo. Representa a quantidade de resíduos sólidos gerada por habitantes em um período de tempo específico, pode ser expressa em hg/hab.dia ou g/hab.dia ou l/hab.dia. O gráfico 3.4, a seguir, permite acompanhar a evolução da média diária per capita de recebimento de lixo por tipo da cidade do Rio de Janeiro, ao longo dos anos 1995 até 2000. As influências sofridas por este parâmetro, já foram explicadas no item 3.4. Gráfico 3.4 - Média diária per capita de recebimento de lixo da cidade do Rio de Janeiro (Banco de dados da Diretoria Técnica e Industrial (DTI) da COMLURB) 800 700 g/hab.dia 600 1995 1996 1997 500 400 1998 1999 300 200 2000 100 0 domiciliar público hospitalar G.geradores outros Tipo de lixo 37 3.5.2 Propriedades físicas e geotécnicas A investigação geotécnica dos resíduos sólidos apresenta-se como um verdadeiro desafio aos engenheiros, proveniente da heterogeneidade dos resíduos, da influência do meio social que o produziu e da crescente escassez de áreas para disposição final nas grandes cidades, obrigando à busca de novas técnicas de procedimentos e até a verticalização dos aterros sanitários. Os resíduos sólidos urbanos podem ser encarados como uma nova unidade geotécnica, à qual aplicam-se os conceitos existentes, incorporando-se as peculiaridades deste novo material (Simões et al., 1996). Entretanto, na aplicação desses conceitos deve-se considerar que os resíduos possuem características distintas dos solos e que influem diretamente na quantificação de suas propriedades geomecânicas. Como por exemplo, (Abreu, 2000): a variabilidade de composição, aspectos como estabilidade e compressibilidade, alteração drástica de algumas propriedades com o tempo e a dificuldade de obter amostras representativas do todo. • Composição em peso A composição em peso é uma das características dos resíduos sólidos urbanos que mais influem em suas propriedades geotécnicas. Uma vez que esta característica varia de região para região, em função dos hábitos alimentares, culturais e econômicos, como já apreciado no subitem 3.4. Dados de uma região não devem ser simplesmente extrapolados para uma outra, sem uma análise prévia. O teor de material orgânico, encontrado no lixo de países subdesenvolvidos (tabela 3.1), influencia principalmente nas taxas de geração de chorume e gás, no desenvolvimento das pressões neutras no interior do maciço sanitário, no teor de umidade, na resistência ao cisalhamento e na compressibilidade dos resíduos (Abreu, 2000). A quantidade de matéria orgânica contida na massa de lixo, também, é importante para definir a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), requerida durante a estabilização da matéria orgânica oxidável pela ação biológica e para indicar a relação carbono/nitrogênio, que representa a capacidade dos resíduos em decomposição se constituírem em compostos orgânicos bioestabilizados, mais resistentes às espécies consumidoras. 38 • Peso específico O peso específico é definido como o peso do material por unidade de volume (kg/m3 ). É um dado muito importante para o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, pois sua determinação implica na correta estimativa do volume e do peso dos resíduos que serão gerenciados. O gráfico 3.5 apresenta o peso específico antes da compactação do lixo da cidade do Rio de Janeiro. Gráfico 3.5 – Peso específico médio antes da compactação do lixo da cidade do Rio de Janeiro (Banco de dados da Diretoria Técnica e Industrial (DTI) da COMLURB) 300 253,18 251,65 250 176,05 kg/m³ 203,58 209,16 200 194,79 208,92 150 186,10 198,47 168,15 163,98 100 50 0 81 86 89 91 93 95 96 97 98 99 0 Ano Inúmeros valores de peso específico de resíduos sólidos urbanos são apontados pelos diversos autores que estudaram essa grandeza. Algumas das razões para esta variação são a heterogeneidade, a variabilidade da composição dos maciços sanitários e o teor de umidade, além da metodologia utilizada para a determinação do peso específico (Abreu, 2000). O peso específico geralmente aumenta com a profundidade em conseqüência da compressão e consolidação da massa de lixo, devido a sobrecarga das camadas superiores. Quanto ao método executivo do aterro, a variação do peso específico é fortemente influenciada pela espessura da camada do lixo e pelo equipamento utilizado na sua compactação. O grau de compactação igualmente é fator preponderante no valor 39 do peso específico, podendo-se afirmar que, de uma maneira geral, os valores encontrados podem variar de 3 a 7 kN/m3 para aterros com o material simplesmente espalhado, até valores de 9 a 13 kN/m3 quando aplicado uma compactação controlada, utilizando-se tratores de esteira ou rolos compactadores apropriados (Lamare Neto, 1999). Para os aterros sanitários brasileiros com elevada taxa de matéria orgânica, pode-se estimar valores entre 5 e 7 kN/m3 para resíduos novos, não decompostos e pouco compactados, e entre 9 e 13 kN/m3 após compactação com tratores e após a ocorrência de recalques no maciço (Kaimoto & Cepollina, 1996). Valores típicos dentro dessa faixa de variação são apontados por Santos & Presa (1995), admitindo-se 7 kN/m3 para resíduos recém lançados e 10 kN/m3 após a ocorrência de recalques. Mahler e Iturri (1998) utilizam um valor de peso específico médio igual a 10,5 kN/m3 na análise de uma seção do aterro sanitário São João/São Paulo, enquanto Benvenuto & Cunha (1991) consideram um valor de peso específico igual a 10 kN/m3 em condição drenada e 13 kN/m3 em condição saturada. • Teor de umidade O teor de umidade é a relação entre o peso da água e o peso dos sólidos, representando a quantidade de água contida no lixo. Sua determinação influencia no planejamento dos sistemas que visam gerar energia, assim como processos biológicos. Um exemplo, do teor médio de umidade do lixo da cidade do Rio de Janeiro encontra-se no gráfico 3.6. O teor de umidade de um maciço sanitário é uma das grandezas mais difíceis de serem obtidas, uma vez que varia conforme a pluviometria (Blight et al., 1992), condições de drenagem interna e superficial do maciço, composição dos resíduos e profundidade. Landva & Clark, (1990) observaram que percentuais elevados de material orgânico no lixo correspondem a teores de umidade mais elevados. Não existe um consenso quanto à variação da umidade com a profundidade dos maciços. Alguns autores apresentam valores de teor de umidade crescente com a profundidade, enquanto outros apresentam o inverso (Manassero et al., 1996). É possível notar que o teor de umidade influencia a velocidade de degradação dos materiais putrescíveis e, conseqüentemente, nos recalques dos maciços de resíduos sólidos urbanos. 40 Gráfico 3.6 – Teor médio de umidade (%) do lixo da cidade do Rio de Janeiro (Banco de dados da Diretoria Técnica e Industrial (DTI) da COMLURB) Teor de umidade (%) 80 70,20 70 63,61 63,67 64,54 50 63,10 67,02 60 45,36 53,22 61,91 57,20 54,48 40 30 20 10 0 81 86 89 91 93 95 96 97 98 99 0 Ano • Permeabilidade dos resíduos compactados A condutibilidade hidráulica dos resíduos compactados é uma propriedade física de grande relevância, pois é esta que governa o movimento dos líquidos e gases dentro de um aterro sanitário. Os valores de referência nacionais (Cepollina et al., 1994; Mariano & Jucá,1998; Carvalho, 1999; Aguiar, 2001) para o coeficiente de permeabilidade dos resíduos sólidos urbanos situam-se entre 10-8 a 10-6 m/s. Essa faixa é inferior aos valores verificados na bibliografia internacional que varia, na grande maioria, de 10-6 a 10-4 m/s (Carvalho, 1999). Contudo, medições realizadas no aterro de Gramacho determinaram um coeficiente de permeabilidade de 10-5 m/s (Ehrlich et al., 1994), valor compreendido no intervalo de referência internacional, porém esse coeficiente foi extraído de uma seção do aterro com doze anos de utilização, o qual apresentava entulho como material de recobrimento e a análise do chorume identificou características de um aterro com mais de trinta anos, sendo assim, a alta permeabilidade está justificada por essas peculiaridades. Alguns autores nacionais, levando em consideração os dados da bibliografia internacional, configuram os resíduos sólidos como livre drenantes e que não desenvolveriam excessos de pressão neutra (Santos & Presa, 1995). Isto pode ser 41 questionado considerando-se os dados de permeabilidade dos autores nacionais e os dados de pressão neutra em maciços sanitários brasileiros, que acusam valores de pressão de gás de até 170 kPa (Kaimoto & Cepollina, 1996). Estes valores de pressão neutra e permeabilidade, distintos da bibliografia internacional, podem ser explicados pela composição dos resíduos nacionais que, conforme subitem 3.4, possuem alto valor de material orgânico. É importante salientar que o coeficiente de permeabilidade dos resíduos sólidos deve estar relacionado ao fluido, isto é, ao chorume ou à água, o que nem sempre é claro na bibliografia. Entretanto, na dissertação de mestrado de Aguiar (2001) foi analisada a permeabilidade da massa de lixo, utilizando os seguintes fluido: água destilada, água e sulfato de cálcio. Os resultados alcançados para os três líquidos estão compreendidos no intervalo de valores de referência nacional. • Resistência ao cisalhamento Da mesma forma que na clássica mecânica dos solos, a resistência ao cisalhamento de maciços de resíduos sólidos urbanos é normalmente associada a um ângulo interno de atrito e a uma “coesão”, definidos a partir da envoltória de resistência de Mohr-Coulomb. Apesar de os resíduos sólidos urbanos não apresentarem “coesão” intrínseca, por serem granulares e soltos, pelo menos em sua fase inicial, vários autores os assemelham aos solos coesivos, no sentido de apresentarem uma coesão aparente além do atrito, o que para certos autores como Manassero et al. (1996) pode ser considerado como solo granular reforçado por fibras orientadas aleatoriamente. Assim, tomando-se como base os trabalhos de Landva e Clark (1990), Singh e Murphy (1990), Richardson e Reynolds (1991), Withiam e outros (1994), Gabr e Valcro (1995) e Kockel (1995), verificam-se valores para o ângulo de atrito entre 10º e 53º e coesão entre 0 e 67 kPa. Em função desta dispersão de valores, uma estimativa confiável da resistência ao cisalhamento do lixo é difícil e, muitas vezes, conduz a resultados contraditórios em relação às reais condições de estabilidade de taludes observado no campo. O comportamento dos resíduos quanto à resistência ao cisalhamento ainda apresenta outras diferenças para os solos. Os resíduos sólidos podem alcançar elevadas deformações sem atingir um estado de ruptura; também é conhecido que os parâmetros 42 de resistência se alteram com o tempo, embora não exista uma lei válida para todos os tipos de resíduos. Sabe-se que para aterros com elevado percentual de matéria orgânica e deficiência ou mesmo inexistência de sistemas de drenagem interna para os efluentes líquidos (chorume) e gasosos, o que é o caso típico do Brasil, existe uma tendência de redução desses valores (Kockel, 1995). No Brasil estudos desenvolvidos por Kaimoto e Cepollina (1996), considerando retroanálises efetuadas em deslizamento ocorrido no sub-aterro AS-1 do Aterro Sanitário Bandeirantes em 1991, mediante condições de elevadas pressões neutras nas células superficiais, resultaram na obtenção dos seguintes parâmetros de resistência: coesão de 13,5 kPa e ângulo de atrito de 22º. • Compressibilidade O termo adensamento, utilizado para solos, está ligado ao fenômeno de diminuição do índice de vazios, devido à dissipação das poro-pressões, como conseqüência do aumento da tensão efetiva, conforme descrito por Terzaghi. Existem diferenças entre os mecanismos que governam os recalques nos maciços sanitários e os mecanismos observados em solos (Abreu, 2000). O recalque é a deformação vertical positiva de uma superfície qualquer delimitada no terreno (Vargas, 1977). Já a compressibilidade é a propriedade que têm os corpos de se reduzirem a menor volume por efeito da ação exercida por uma força (Ferreira, 1986). Então, é possível concluir que a compressibilidade é a propriedade que o material possui e o recalque é o efeito medido unidimensionalmente (Abreu, 2000). A determinação e o acompanhamento dos recalques nos aterros sanitários são importantes para: estimar a vida útil do aterro (Edil et al., 1990), reaproveitamento das áreas após encerramento da disposição, projeto e implantação dos sistemas de drenagem superficial e de drenagem de efluentes, desempenho de sistema de cobertura final e monitoramento geotécnico. O acompanhamento dos recalques e das velocidades de recalque fornece subsídios para monitoramento da estabilidade geotécnica dos taludes. A compressão de maciços sanitários é o resultado dos processos de carregamento e alterações das características e propriedades dos materiais componentes do maciço de resíduos sólidos urbanos, correspondentes à solicitação mecânica imposta por camadas superiores, ravinamento interno, alterações físico-químicas, biodegradação 43 e atividade microbiológica (Van Meerten et al., 1995). Além desses componentes, podese citar ainda a dissipação da pressão de líquidos e gases, que, apesar de ignorada por diversos autores de outros países, é citada por Carvalho (1999). Abaixo é descrito cada um dos mecanismos de recalques (Sowers, 1973): − Solicitação mecânica: distorção, dobra, esmagamento, quebra e rearranjo dos materiais, similar ao adensamento de solos orgânicos; − Ravinamento interno: erosão e migração dos materiais finos para os vazios entre partículas maiores; − Alterações físico-químicas: corrosão, oxidação e combustão dos materiais; − Biodegradação: degradação biológica, correspondente à fermentação e degradação dos materiais, causando transferência de massa da fase sólida para as fases líquida e gasosa; − Interação: interação entre os diversos mecanismos. Por exemplo: a combustão espontânea do metano gerado a partir das reações de biodegradação, devido ao calor liberado nessas ou em outras reações; ácidos orgânicos gerados a partir da biodegradação que podem corroer outros materiais; alteração do volume devido ao mecanismo de solicitação mecânica que pode desencadear o mecanismo de ravinamento interno; − Dissipação das pressões neutras de líquidos e gases: semelhante ao que ocorre no adensamento de solos, representa a deformação obtida com a expulsão de líquidos e gases do interior do maciço devido a um carregamento e que demanda certo tempo. Desses mecanismos, somente o primeiro e o último (solicitação mecânica e dissipação das pressões neutras) estão relacionados ao carregamento imposto, os demais se relacionam com o ambiente em que se encontram os resíduos no interior do aterro e estão ligados às transformações bioquímicas do interior do aterro. Em relação à dissipação das pressões neutras, pode-se especular que apesar deste mecanismo não ser o que mais influencia os recalques dos resíduos sólidos urbanos, ele deve ser mais prolongado para os resíduos sólidos nacionais, cuja composição apresenta mais material degradável e cuja permeabilidade é ligeiramente menor quando comparadas às dos países mais desenvolvidos, conforme explicado no item permeabilidade dos resíduos compactados. 44 De acordo com a maioria dos autores, o recalque de maciços sanitários, independente de seus mecanismos, pode ser dividido em 3 fases ao longo do tempo, à semelhança de solos: compressão inicial, compressão primária e compressão secundária (Wall & Zeiss, 1995): − Compressão inicial: corresponde ao recalque que ocorre quando uma carga externa é aplicada ao aterro sanitário, geralmente associado à redução dos vazios entre partículas e dos tamanhos das partículas devido a uma carga imposta. Este tipo de recalque é análogo à compressão elástica que ocorre em solos e é instantâneo, geralmente se completando logo após a disposição; − Compressão primária: corresponde ao recalque devido a dissipação de poropressões e gás dos vazios, ocorrendo rapidamente, com finalização geralmente dentro de 30 dias após a aplicação de carga (Sowers, 1973). Terzaghi definiu como compressão primária (ou adensamento primário) o recalque ocorrido pela dissipação da água entre partículas de um material saturado sobre a aplicação de uma carga externa. Entretanto, este fenômeno não se aplica totalmente para os maciços de resíduos sólidos urbanos, devido aos mesmos estarem totalmente saturados; − Compressão secundária: deformação lenta dos componentes dos resíduos sólidos urbanos e degradação biológica. A compressão secundária é a responsável pela maior parcela dos recalques dos aterros sanitários. Manassero et al. (1996) observaram que o comportamento dos recalques de maciços sanitários é bastante semelhante ao dos solos turfosos, para os quais ocorrem recalques imediatos, acompanhados por recalques adicionais elevados com pouca ou nenhuma dissipação de pressões neutras. Entretanto, a compressão secundária dos resíduos sólidos apresenta um componente significativo devido à decomposição biológica. Coduto & Huitric (1990) apresentam uma divisão dos mecanismos de recalque, que na verdade se confundem com as fases de desenvolvimento dos recalques. Estas fases correspondem a: − Adensamento: corresponde ao mecanismo de dissipação das pressões neutras; − Compactação: corresponde ao mecanismo de solicitação mecânica; 45 − Contração: correspondem aos mecanismos de “perda de sólidos”, biodegradação e alterações físico-químicas. De forma geral, os recalques atingem 30% da espessura total inicial dos aterros sanitários (Sowers, 1973). Entretanto, valores entre 25% e 50% são citados por Wall & Zeiss (1995); valores entre 10% e 25% são citados por Van Meerten et al. (1995) e valores entre 20% e 25% são citados por Coumoulos & Koryalos (1998). • Poder Calorífico Demostra a maior ou menor capacidade de uma matéria gerar energia. Essa informação é essencial na implantação de usinas de incineração. • Combustibilidade É a qualidade ou caráter combustível, demonstra a maior ou menor capacidade de uma matéria pegar fogo. • Tamanho da partícula e distribuição granulométrica A importância deste parâmetro está na forma com que será manejado o resíduo, coletado, separado e tratado, definindo assim o tamanho e as características dos equipamentos utilizados para estes fins. 3.5.3 Propriedades químicas • pH Representa a concentração dos íons de hidrogênio em solução que caracteriza sua acidez ou alcalinidade. • Teor de carbono Representa a quantidade em peso de carbono presente na massa de resíduos. • Teor de hidrogênio Representa a quantidade em peso de hidrogênio presente na massa de resíduos. • Teor de nitrogênio Representa a quantidade em peso de nitrogênio presente na massa de resíduos. • Concentração de cálcio, sódio, potássio e elementos metálicos 46 Representa a quantidade de cada um desses elementos na massa de resíduos. • Relação carbono/nitrogênio Indica a capacidade dos resíduos em decomposição se constituírem em compostos bioestabilizados, tendo em vista que os microrganismos responsáveis pela decomposição da matéria orgânica necessitam de carbono para seu desenvolvimento e de nitrogênio para síntese de proteínas. 3.5.4 Aspectos epidemiológicos Os problemas de saúde pública decorrentes do contato das populações com os resíduos sólidos urbanos são pouco comuns, ocorrendo a penas em comunidades que residem sobre vazadouros. Na atualidade, são incorporados aos resíduos encaminhados aos aterros e às usinas de triagem, reciclagem e compostagem material fecal humana, absorventes higiênicos, fraldas descartáveis e lodos frescos, provenientes de processos anaeróbios e aeróbios de tratamento de esgotos. Os resíduos enumerados são dotados de grandes concentrações de organismos patogênicos (de animais de sangue quente). No entanto, os processos de estabilização da matéria orgânico codispostos com esses materiais supracitados, atenuam e diminuem os aspectos nocivos que podem, em se tratando de matéria fecal de origem humana, ser provenientes de algum organismo doente. O processo aeróbio propicia a elevação da temperatura, já o anaeróbio implica na variação significativa de pH. A existência nas massas de resíduos de organismos saprófitos, que se alimentam de animais ou vegetais em decomposição, praticamente elimina a possibilidade da existência de organismos patogênicos no lixo. Com isso, fica improvável a ocorrência de problemas de saúde pública. É importante salientar que resíduos sólidos de origem industrial, potencialmente tóxicos, são dispostos com resíduos urbanos. É o caso de lodos de estações de tratamento de esgotos industrias, com grandes concentrações de metais pesados, de efeitos cumulativo e irreversível na biota de fundos de rios e lagoas. Durante a degradação anaeróbia que ocorre nos aterros, o baixo pH favorece a solubilização desses metais, que podem chegar ao ambiente em grandes concentrações. Um 47 gerenciamento efetivo, com controle rigoroso do material que chega às usinas e aos aterros supera problemas dessa natureza. Os efeitos indesejáveis que decorrem do contato do homem com os resíduos sólidos urbanos são muito mais indiretos do que diretos. É primordial, o controle adequado da disposição final dos resíduos e dos vetores que venham a proliferar nas usinas e aterros, que são os efetivos veiculadores de moléstias. 48 CAPÍTULO 4 LEGISLAÇÃO O presente capítulo se atém às questões dos resíduos sólidos urbanos concernentes ao direito ambiental brasileiro. A relação do lixo com o meio ambiente é de substância poluente do mesmo, o qual atinge grandes proporções, alcançando todos os tentáculos de valores ambientais tuteláveis pelo caput do art. 225 da Constituição Federal: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Com relação ao meio ambiente artificial, é notório que o lixo urbano agride de forma imediata e mediata os valores relacionados com a saúde, habitação, lazer, segurança e outros. No que diz respeito ao meio ambiente cultural, os lixões têm o poder de poluir os valores estéticos do espaço urbano, desvalorizando-os. 4.1 Noções gerais sobre o direito ambiental O direito ambiental está alicerçado no Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), lei nº 6.938/81. O objetivo do SISNAMA é a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, com a finalidade de assegurar, no país, as condições adequadas ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da pessoa humana. Os princípios do SISNAMA para orientação prática à ação governamental estão no art. 2º da lei nº 6.938/81: “III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação das áreas representativas; V – controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI – incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; 49 VIII – recuperação de áreas degradadas; IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação; X – educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente.” Os instrumento disponíveis ao SISNAMA encontram-se no art. 9º da lei nº 6.938/81: “II – o zoneamento ambiental; III – a avaliação de impactos ambientais; IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal, tais com Áreas de Proteção Ambiental (APA), de Relevante Interesse Ecológico (RIE) e Reservas Extrativistas (RE); VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; XII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais.” Os órgãos integrantes do SISNAMA estão no organograma da figura 4.1. 50 Órgão Superior Conselho de Governo Órgão Central Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal Órgão Consultivo e Deliberativo Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA Órgãos Setoriais Ministérios Órgão Executor Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA Órgãos Seccionais Órgãos Locais - Comissão Estadual de Controle Ambiental - CECA - Fundação Estadual de Engenhaira e do Meio Ambiente - FEEMA - Fundação Instituto Estadual de Florestas - IEF Fundação Parques e Jardins Figura 4.1 – Organograma dos órgãos integrantes do SISNAMA 4.2 Competência legislativa em matéria ambiental As competências legislativas em matéria ambiental estão repartidas pela Constituição Federal, sendo que tanto a União, os estados membros e os municípios possuem-na. A repartição das competências legislativas, feita com o claro intuito de descentralizar a proteção ambiental, implica na existência de um sistema legislativo complexo e que, nem sempre, funciona de modo integrado, como seria de se esperar. 4.2.1 Competência Federal A Constituição Federal, em seu artigo 22, inciso IV, determina que compete privativamente à União legislar sobre: águas, energia, jazidas, minas e outros recursos minerais, populações indígenas, atividades nucleares de qualquer natureza. A União, na forma do artigo 23 da Constituição Federal, tem competência comum com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios para: proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; preservar as florestas, a flora e a fauna; registrar, acompanhar e fiscalizar a concessão de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios. 51 O artigo 24 da Constituição Federal determina competir à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: florestas, caça, pesca, fauna, conservação, defesa do meio e dos recursos naturais, proteção ao meio ambiente e controle da poluição; proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico. Esta notória superposição legislativa e de competências ainda não foi esclarecida, pois não existe uma lei que delimite claramente o conteúdo da competência de cada uma das entidades políticas que constituem a Federação Brasileira. Diante do quadro normativo , o papel desempenhado pela União se avulta, pois dado que à União compete estabelecer os princípios gerais da legislação ambiental, as suas normas servem de referencial para Estados e Municípios. A competência estabelecida no artigo 22 da Constituição da República Federativa do Brasil, ou seja a competência privativa, somente pode ser exercida pela própria União, a menos que esta, mediante lei complementar, autorize aos estadosmembros a legislar sobre questões específicas incluídas nas matérias contempladas no parágrafo único. Já a competência tratada no artigo 23, isto é, a competência comum, não é competência legislativa, trata-se, de fato, de uma cooperação administrativa. A competência comum, portanto, é uma imposição constitucional para que os diversos integrantes da Federação atuem em cooperação administrativa recíproca visando a resguardar os bens ambientais. O artigo 24 define a competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal. No interior desta modalidade de competência legislativa encontra-se toda uma gama de matérias ambientais, aqui a competência não é puramente administrativa mas, indica a capacidade de legislar sobre determinadas matérias. Esta competência estabelecida pelo artigo 24 determina um eixo, ao redor da qual se construirá a legislação dos diversos Estados-membros. A legislação estadual deverá, no entanto, adotar os princípios e os fundamentos genéricos estabelecidos pela legislação federal. A competência concorrente implica que a União deve estabelecer os parâmetros gerias a serem observador pelos demais integrantes da Federação. 52 4.2.2 Competência Estadual A competência dos Estados-membros da Federação para atuar em matéria ambiental está prevista nos artigos 23 e 24 da Lei Fundamental Brasileira. No artigo 23 existe uma atribuição de cooperação administrativa entre os diversos componentes da Federação. Já o artigo 24 afirma uma competência legislativa própria para os Estados, não trata do meio ambiente como um bem unitário, mas, ao contrário, subdivide-o em diversos “setores” que, integrando-o, estão tutelados por normas legais estaduais. Assim, os Estados podem legislar concorrentemente sobre: florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente, controle da poluição; proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; responsabilidades por danos ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. A União, nos casos acima referidos, somente pode estabelecer normas gerias, cabendo aos Estados minudenciar os aspectos da proteção ambiental em concreto. Os Estados podem suplementar a legislação federal. Observe-se que, se inexistente a norma federal, os Estados exercerão a competência legislativa plenamente, de molde a atender às suas peculiaridades. No momento em que passe a existir legislação federal sobre normas gerais, a legislação estadual, naquilo que contrariar a norma federal, perde eficácia (Antunes, 1998). 4.2.3 Competência Municipal Os Municípios, pela Constituição de 1988, foram elevados à condição de integrantes da Federação. Na forma do artigo 23 da Lei Fundamental, os Municípios têm competência administrativa para defender o meio ambiente e combater à poluição. Contudo, os Municípios não estão arrolados entre as pessoas jurídicas de direito público interno encarregados de legislar sobre meio ambiente. No entanto, seria incorreto e insensato dizer-se que os Municípios não têm competência legislativa em matéria ambiental. O artigo 30 da Constituição Federal atribui aos Municípios competência para legislar sobre: assuntos de interesse local; suplementar a legislação federal e estadual no que couber; promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; 53 promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Está claro que o meio ambiente está incluído dentre o conjunto de atribuições legislativas e administrativas municipais e, em realidade, os Municípios formam um elo fundamental na complexa cadeia de proteção ambiental. A importância dos Municípios é evidente por si mesma, pois as populações e as autoridades locais reúnem amplas condições de bem conhecer os problemas e mazelas ambientais de cada localidade, sendo certo que são as primeiras a localizar e identificar o problema. É através dos Municípios que se pode implementar o princípio ecológico de agir localmente, pensar globalmente. 4.3 Atuação da União, dos Estados e dos Municípios A solução dos problemas criados pela urbanização dá-se com intervenção do Poder Público nos diversos setores da sociedade, com a finalidade de transformar o meio urbano e criar novas formas. O problema relacionado com o lixo urbano, está, em suma, respaldado pelos seguintes dispositivos: − Art. 182 da CF: trata da política urbana; − Art. 24, I da CF: trata da competência concorrente para legislar sobre o direito urbanístico; − Art. 24, VI da CF: trata da competência concorrente para legislar sobre a proteção do meio ambiente e controle da poluição; − Art. 30, I, II e VIII: trata da competência residual do Município, como também a sua função de organizar e parcelar o uso urbano. A limpeza pública e a coleta, transporte e disposição dos resíduos sólidos dizem respeito à saúde pública e ao meio ambiente. De acordo com a Constituição Federal de 1988 (art. 24, inciso XII), compete concorrentemente à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar sobre a defesa e a proteção da saúde, porém compete aos Municípios suplementar a legislação federal e estadual, de forma compatível e restritiva, no que couber (art. 30, inciso II). Não é de se confundir a possibilidade federal de fixar diretrizes gerais, com a execução dessa tarefa sanitária. A estrutura constitucional do Município brasileiro 54 assegura-lhe autonomia para organizar os serviços públicos de interesse local (CF/88, art. 30). O município tem peculiar interesse na organização dos serviços de limpeza pública e coleta, transporte e depósito dos resíduos sólidos. Seu interesse predomina sobre os da União e dos Estados na matéria. Contudo, dada a necessidade de experiência técnica mais avançada para certos tipos de tratamento dos resíduos e o investimento de largas somas para implantar usinas de tratamento, decorre que a União e os Estados, além de estabelecerem normas, precisam intervir, auxiliando financeiramente. O auxílio financeiro, legalmente possível, não é sob forma de financiamento ou de empréstimo, o que pressupõe pagamento posterior pelo Município , ainda que parcelado. Para que houvesse financiamento, seria necessário o aumento excessivo das taxas de coleta do lixo e de limpeza pública. A tabela 4.1 apresenta de forma esquemática a responsabilidade do gerenciamento do lixo. Entretanto, é pertinente ressaltar que em pequenos municípios do estado do Rio de Janeiro a prefeitura torna-se responsável por praticamente todo o resíduos sólidos produzido na localidade, ficando apenas o entulho à cargo do gerador. Tabela 4.1 – Responsabilidade pelo gerenciamento do lixo (IPT/CEMPRE,2001) Origem do lixo Domiciliar Comercial Público Serviços de saúde Industrial Portos, aeroportos e terminais ferroviários e rodoviários Agrícola Entulho 4.4 Responsabilidade Prefeitura Prefeitura < 50kg / Gerador > 50kg Prefeitura Gerador (hospital) Gerador (indústrias) Gerador (portos) Gerador (agricultor) Gerador Normas administrativas sobre coleta, transporte e disposição de resíduos sólidos O Decreto 49.974-A, de 21/01/1961, com a denominação de Código Nacional de Saúde, regulamentando a Lei 2.312, de 03/09/1954, Normas Gerais sobre Defesa e proteção da Saúde, dispôs, no art. 40, sobre as condições da coleta, transporte e destino do lixo, que devem processar-se sem causar danos à saúde, ao bem-estar público e à 55 estética. Nenhuma outra lei cuidou do tema. Como de hábito em matéria ambiental, portarias e resoluções é que têm estabelecido diretrizes na matéria. Nesse sentido é a Portaria 53, de 01/03/1979, do Ministério do Interior, que estabelece normas aos projetos específicos de tratamento e disposição de resíduos sólidos, bem como a fiscalização de sua implantação, operação e manutenção, que ficam sujeitos à aprovação do órgão estadual de controle da poluição e de preservação ambiental. Tem como orientação básica que, no interesse da qualidade da vida, os lixões, vazadouros ou depósitos de lixo a céu aberto deverão ser extintos no menor prazo possível. Não devem os resíduos sólidos ou semi-sólidos de qualquer natureza ser incinerados a céu aberto, salvo situação de emergência sanitária; nem lançados em cursos d’água, lagos e lagoas, salvo na hipótese de necessidade de aterro de lagoas artificiais, autorizado pelo órgão estadual de controle da poluição e de preservação do meio ambiente. Seu lançamento no mar dependerá de prévia autorização das autoridades federais competentes. Os provenientes de portos e aeroportos deverão ser incinerados nos próprios locais de produção. Enfim, é necessário buscar soluções conjuntas para grupos de Municípios e que importem em reciclagem e reaproveitamento racional desses resíduos. A legislação dos Estados, que se adiantou muito à federal, é que tem contribuído para disciplinar a matéria de maneira mais sistemática. Assim a Lei 997, de 31/05/1976, do Estado de São Paulo, que proíbe o lançamento ou liberação de poluente no solo, e especialmente o seu regulamento, Decreto 8.468, de 08/09/1976, que traz as seguintes disposições visando resguardar a qualidade do solo, quando proíbe depositar, dispor, descarregar, enterrar, infiltrar ou acumular no solo resíduos, em qualquer estado da matéria, desde que poluentes, pois o solo só poderá ser utilizado para destino final de resíduos, se sua disposição for feita de forma adequada, estabelecida em projetos específicos de transporte e destino final, vedada a simples descarga ou depósito em propriedade pública ou particular; quando a disposição final exigir a execução de aterros sanitários, deverão ser tomadas medidas adequadas para proteção das águas superficiais e subterrâneas, de acordo com normas expedidas pela CETESB; os resíduos portadores de patogênicos, ou de alta toxicidade, bem como inflamáveis, explosivos, radiativos e outros prejudiciais, a critério da CETESB, deverão sofrer, antes de sua disposição final no solo, tratamento e/ou condicionamento adequado, fixados em projetos específicos, que atendem aos requisitos de proteção ambiental, somente será tolerada a acumulação 56 temporária de resíduos de qualquer natureza na fonte de poluição ou em outros locais, desde que não ofereça risco de poluição ambiental; o tratamento, quando for o caso, o transporte e a disposição de resíduos de qualquer natureza, de estabelecimentos industriais, comerciais e de prestação de serviços, quando não forem de responsabilidade do Município, deverão ser feitos pela própria fonte de poluição; os mencionados projetos específicos, a fiscalização de sua implantação, operação e manutenção ficam sujeitos à aprovação da CETESB. A legislação dos Municípios se ocupa de forma especial com os dispositivos operacionais dos serviços de limpeza pública. O ilxo proveniente de limpeza domiciliar ou assim equiparado, como varredura de residências, casas comerciais, escritórios etc., é acondicionado pelas fontes, na forma disciplinada pela Municipalidade, e recolhido, transportado e encaminhado ao destino final, assim também o lixo proveniente de varrição dos logradouros públicos. Trata-se de uma função do Poder Público municipal, mediante serviços de limpeza e coleta de lixo, que os mesmos não podem recusar, pelo que são obrigados a oferecer os resíduos e os meios de sua coleta e transporte. O lixo grosso, proveniente da atividade industrial, comercial ou de serviços deve ser recolhido, transportado e encaminhado ao destino final pelas fontes produtoras, com observância das normas municipais e das estaduais, salvo se normas específicas dispuserem sobre outro modo de disposição dos resíduos dessas atividades. O destino final dos resíduos sólidos domésticos é de atribuição municipal. Não há um regime jurídico unívoco, no que se refere ao gerenciamento dos resíduos sólidos. As diferenças surgem de acordo com a localidade em que são gerados e de seu conteúdo. Assim dispõe a Resolução CONAMA nº 05 de 1993, no seu artigo 2º: “aos resíduos sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários e estabelecimentos prestadores de serviços de saúde. Para fins de aplicação desse tratamento, utiliza-se a classificação utilizada no parágrafo anterior. Mas, em se tratando de resíduos sólidos gerados nestas localidades, há de aplicar-se o seguinte conceito...” A regra estabelecida nessa Resolução (art. 4º) é que os resíduos gerados naquelas localidades mencionadas, deverão ser gerenciados pelos referidos estabelecimentos, incluindo esse gerenciamento desde a geração do resíduo até a disposição final do mesmo de modo a atender os requisitos ambientais e de saúde pública. 57 Com relação ao acondicionamento dos resíduos sólidos, são exigidas a aplicação das normas da ABNT. Entretanto, em se tratando de resíduos hospitalares, por exigência do princípio da informação ambiental, deve ser colocado na embalagem uma simbologia de substância infectante. Se nos resíduos hospitalares existirem objetos perfurocortantes, é necessário que sejam antes de embalados nos sacos plásticos, insertos em recipientes rígidos, também devidamente identificados com o respectivo selo, para impedir a lesão daqueles que irão manuseá-lo. Para que se faça o tratamento propriamente dito do resíduo, ou seja, via aterro sanitário, reciclagem, aproveitamento energético direto, etc., é necessária a respectiva licença de tratamento concedida pelo órgão ambiental competente. No caso de tratamento de resíduo sólido por utilização de aterro sanitário, é necessário um estudo prévio de impacto ambiental, como determina o artigo 2º da Resolução CONAMA 01/86: “Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:(...) X – Aterros sanitários, processamento e destinação final de resíduos tóxicos ou perigosos”. Dessa forma, com relação aos resíduos hospitalares, químicos e radioativos, há necessidade da elaboração do estudo prévio de impacto ambiental, sob pena de não ser dada a licença ambiental. Mas ainda, o tratamento desses resíduos só poderá ser feito se for seguro a disposição no meio ambiente: estejam eliminadas as características de periculosidade do resíduo; preservação dos recursos naturais; e atendimento aos padrões de qualidade ambiental e de saúde pública (art. 10, CONAMA 05/93). Há também uma recomendação na forma de tratamento, que deve ser a esterilização a vapor ou a incineração. Não é permitida a reciclagem em qualquer hipótese e, uma vez tratados, os resíduos hospitalares assumem a natureza de resíduos comuns para fins de disposição final. Os denominados resíduos comuns receberão tratamento semelhante aos resíduos domiciliares, desde que resguardadas as condições de proteção ao meio ambiente e à saúde pública. 58 Há que se considerar que, muitas vezes, o resíduo encontra-se misturado, não sendo possível a separação de um material de outro. Nestes casos, o resíduo será tratado como hospitalar, salvo se contiver resíduos químicos e radioativos, quando, necessariamente, deverá ser isolado e separado dos demais. 4.5 Cobrança de serviços de coleta e disposição dos resíduos sólidos Na segunda metade do século XIX, os serviços de limpeza urbana, coleta e disposição final do lixo passaram a ser executados e cobrados de forma sistemática pelo Poder Público nos grandes centros urbanos tanto da Europa quanto da América. O art. 145, II, da Constituição Federal autoriza os entes públicos instituir taxas em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou posto a sua disposição. A taxa é decretada em lei e autorizada num ano para cobrança no exercício imediato. No Brasil, o serviço de limpeza pública é cobrado da população através de um tributo denominado taxa, que é paga pelo contribuinte em função de um serviço posto a sua disposição, sendo devida mesmo que ele, contribuinte, não o utilize diretamente. Ou seja, a potencialidade do serviço é que gera a obrigatoriedade de seu pagamento. A taxa de lixo na cidade do Rio de Janeiro é cobrada anualmente junto com a taxa de iluminação pública e com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). O valor da taxa refere-se ao valor presumido dos custos do serviço de limpeza pública prestado. A taxa tem como base de cálculo o IPTU, isto é, cada imóvel tem o seu cálculo baseado na área construída do imóvel, na região urbana onde ele se situa, no seu valor venal e, ainda, em um fator de ponderação decorrente do seu tipo de uso (domicílio, mercado, comércio, banco etc) e sobre esse somatório de fatores de um imóvel incide uma alíquota. Atualmente, a taxa de limpeza pública não perfaz receita suficiente para sustentar o serviço. Assim, o tratamento dos resíduos sólidos de quase todos os município são custeados pelo Tesouro Municipal, cujos recursos provêm dos impostos municipais (IPTU, ISS e ITBI, art. 156 da CF), da taxa específica do serviço de limpeza pública e, ainda, do Fundo de Participação dos Municípios. 59 A tendência no mundo moderno é fazer com que cada cidadão "pague pelo que joga fora", ou seja, a cobrança seria feita a cada contribuinte pela real quantidade de resíduos, em peso ou volume, por ele gerado. Esse sistema, embora já implementado com sucesso em algumas cidades tanto da Europa (Viena, por exemplo) quanto dos Estados Unidos (Boston, Seatle, Passadena, Berkeley e outras) implica a aplicação de uma série de medidas, tanto por parte do operador do serviço como da comunidade atendida, o que ainda suscita algum temor quanto à sua aplicação no Brasil. De fato, um sistema desse tipo só pode ser implementado quando acompanhado de intensa e extensa campanha comunitária de sensibilização e educação ambiental e de rigoroso programa de prevenção de disposição ilegal do lixo. Caso contrário, fracassaria. 4.6 Responsabilidade ambiental A responsabilização dos causadores de danos ambientais é matéria prevista na própria Lei Fundamental Brasileira. O artigo 225, em seu parágrafo terceiro determina que: “Art. 225, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos”. Merece ser ressaltado que, no caso brasileiro, a responsabilidade ambiental é objetiva e, cronologicamente, antecede à própria Constituição de 1988. O sistema vigente no Brasil foi introduzido em nosso ordenamento jurídico pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que em seu artigo 14, parágrafo primeiro determina: “Art. 14, § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente”. O reconhecimento do risco como fundamento da culpa é a negação da teoria do acidente, do acaso. A partir do momento em que a legislação reconhece o risco como 60 fundamento da indenização está, concomitantemente, reconhecendo a existência de uma previsibilidade na ocorrência de sinistros, de uma inviabilidade dos mesmos, de uma rotina de acidentes. Este fato tem evidentes conseqüências econômicas decorrentes do aumento dos custos das atividades perigosas em face da necessidade de pagamento das indenizações às vitimas (Antunes, 1998). 4.7 Crime de contaminação por resíduos sólidos O parágrafo 3º do artigo 225 descreve as sanções cabíveis para a prática de crimes ambientais. Como é possível observar estão previstas medidas coercitivas contra as condutas agressivas ao meio ambiente. 4.7.1 Punição administrativa dos atos poluidores As campanhas educativas são de alto valor social, formando a consciência da necessidade da limpeza pública. Entretanto, não basta a elaboração de normas éticas. É preciso revestir tais normas de coercibilidade. No Estado de São Paulo, no caso de serem contrariadas as normas legais pertinentes a controle da poluição do solo poderá ser cominada a pena de multa de quatro vezes a seis vezes o maior salário mínimo vigente no Estado e interdição temporária ou definitiva do estabelecimento ou intervenção, conforme o caso (art. 601, VI, b, do Decreto 52.497, de 21/07/1970). No mesmo sentido a regulamentação vigente no Estado do Rio Grande do Sul, onde a multa é de sete a dez vezes o maior salário mínimo no País (art. 818, VII, b, do Decreto 24.430, de 24/10/1974). Pela Lei 6.205, de 29/04/1975, em substituição à correção pelo salário mínimo, o Poder Executivo Federal estabeleceu sistema especial de atualização monetária. As infrações previstas pelas legislações estaduais e federais não inibem as Prefeituras municipais de também legislarem sobre a matéria, desde que não invadam as normas já estatuídas, dispondo em contrário. As posturas municipais, portanto, poderão ampliar as situações infracionais, a elas cominando penalidades adequadas. 61 4.7.2 Punição penal dos atos poluidores De acordo com o sistema administrativo brasileiro, o particular (prejudicado ou não) não tem meios legais de exigir ou de reivindicar que a Administração Pública imponha a penalidade prevista, mesmo ocorrendo a infração. O direito de representação não passa de comunicação. Dada a limitação dos crimes de prevaricação e de condescendência criminosa, o primeiro exigindo a satisfação de interesse ou sentimento pessoal e o segundo ser o funcionário motivado por indulgência na sua omissão, vemos que a apenação do ilícito administrativo cai no campo discricionário da Administração Pública. Por situações de conjuntura, a Administração Pública deixa de punir o infrator que tenha poluído o ambiente pelo lançamento de resíduo sólido. Considerando-se que o Poder Judiciário deve se conduzir de acordo com o princípio da legalidade na tramitação da ação penal, é que surge a inegável vantagem de, além de punir administrativa, ser prevista em lei a punição penal. O princípio da legalidade não haverá de permitir que o juiz, o ministério público ou o delegado de polícia ao terem notícia da infração fiquem inertes e omissos. Independentemente do resultado final, importa que a infração será apurada judicialmente. A pena não só age como determinante sobre a consciência dos prováveis e possíveis infratores, como exerce sua maior eficácia na consolidação contínua e lenta do senso moral. Muitos indivíduos, agindo com intolerável egoísmo, multiplicam os refugos, lançam-nos inadequadamente, como se só à Administração Pública coubesse toda a exclusiva carga da limpeza pública. Esquecem-se esses cidadãos que a eles também compete colaborar para a sanidade do meio ambiente. Os problemas causados pelo lixo são marginalizados, pois é muito cômodo esperar a remoção periódica dos resíduos domésticos e industriais. Basta ocorrer a paralisação temporária desse serviço para, então, se mensurar o valor dessa atividade pública. A Lei 9.605/98, em seu art. 54, define a figura do crime de poluição. 62 “Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortalidade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - Se o crime é culposo. Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º - Se o crime: I – tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II – causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III – causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV – dificultar ou impedir o uso público das praias; V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos; Pena – reclusão, de um a cinco anos. § 3º - Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medias de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.” O caput, que descreve a forma dolosa do crime, menciona a conduta consistente em causar poluição de qualquer natureza, contemplando, dessa forma, qualquer forma de contaminação ou degradação do solo. No mesmo artigo, o § 2º e seus incisos prevêem hipóteses em que o crime é qualificado pelo resultado. O inciso I trata da hipótese consistente em tornar área imprópria para a ocupação humana. O inciso II trata de lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosos, que podem causar danos ao ambiente. O crime abrange “poluição de qualquer natureza”: a poluição das águas interiores e do mar; da atmosfera; do solo; através dos resíduos domésticos, dos resíduos 63 perigosos; a poluição sonora; a poluição mineral. Não é excessiva a locução “qualquer natureza”, pois para a consumação do delito é preciso mais do que poluir; é necessário poluir perigosamente ou causando dano. Já legislação japonesa pune com pena de prisão não superior a 6 meses ou multa de até 50 mil ienes simplesmente a desobediência à determinação de aperfeiçoar ou modificar o sistema de tratamento dos resíduos domésticos ou o desrespeito à ordem de interdição da usina (art. 8º, § 3º, c/c art. 26, da Lei 137/70). Uma resposta eficaz ao desafio da poluição não dependerá somente de um quadro jurídico fixo, mas do entendimento franco e contínuo entre administradores e juristas, com o fim de realizarem conjuntamente os programas de interesse comum de preservação e melhoria da qualidade de vida. 64 CAPÍTULO 5 DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS Os resíduos produzidos inicialmente eram basicamente excrementos. Com o início da atividade agrícola e da produção de ferramentas de trabalho e de armas, surgiram os restos da produção e os próprios objetos, após sua utilização. Como os materiais utilizados eram em grande parte de origem natural, o crescimento demográfico e a densidade populacional não tinham a importância atual, a disposição inadvertida dos resíduos não causavam grandes impactos ao meio ambiente. Os impactos ao meio ambiente, apenas, começam a ser observados paralelamente com o surgimento do fenômeno da concentração urbana. Uma sociedade reputa-se urbanizada quando a população urbana ultrapassa em 50%. É possível dizer que a Revolução Industrial foi o grande marco impulsionador do fenômeno da urbanização, chegando ao ponto de ser considerada por alguns cientistas como a transformação social mais importante do nosso século (Fiorillo et al., 1996). A troca do meio rural pelo meio urbano leva os migrantes a substituírem o trabalho nas atividades primárias, agropecuária e extrativismo, pelas ocupações nas atividades secundárias, industriais, e terciárias, serviços. O fenômeno da urbanização no Brasil intensificou-se na década de 60, sendo tal período conhecido como de migração do meio rural para o meio urbano. Já na década de 70, o crescimento da população urbana superou o da população total, e na década de 80, cresceu mais de 40%, enquanto que o aumento da população brasileira total foi de 27% (Fiorillo et al., 1996). Esse movimento migratório para os grandes centros foi ocasionado por uma série de fatores, dentre os quais pode-se citar não só o abandono do meio rural, onde não há oferta de empregos, as técnicas agrícolas arcaicas, falta de uma política de incentivo agrícola e a mão-de-obra, quase escravagista, mas também, pela ilusão de que nas grandes cidades serão encontradas todas as soluções para os problemas da população rural (ABES, 1999). Além disso, motivam-se pelas ofertas de emprego fixo, salário, garantias trabalhistas, benefícios sociais, acesso à saúde e à educação, etc. Entretanto, 65 como tais migrantes não possuem grau mínimo de instrução, que permite sucesso profissional e, por conseguinte, uma boa remuneração, acabam por ocupar empregos cuja mão-de-obra é barata, sem qualificação, e com baixa remuneração. Desenvolvemse nos grandes centros os fenômenos do subemprego. Neste contexto, outro não é o resultado, senão o aumento das favelas, a pobreza e a criminalidade. A má distribuição do parcelamento e da ocupação do solo urbano, constitui-se em fator de depreciação da qualidade de vida, que, apesar de serem, bem mais acentuado nos países de Terceiro Mundo, não constituem um privilégio destes. Em face do exposto, é possível verificar que o somatório dessas questões supracitadas agrava as condições de vida nos grandes centros. A degradação do meio ambiente urbano acarreta implicações na saúde da população, na deterioração dos serviços de transportes, educação, segurança, saneamento básico, habitação e porque não dizer, no adequado tratamento dos resíduos sólidos. 5.1 Tratamentos e disposição final A destinação final dos resíduos sólidos no Brasil está dividida da seguinte maneira: 76% a céu aberto, 13% aterro controlado, 10% aterro sanitário, 0,9% usina de compostagem e 0,1% usina de incineração, consoante gráfico 5.1. Gráfico 5.1 – Destinação final do lixo no Brasil (IPT/CEMPRE, 2000) Céu aberto - 76% Aterro controlado - 13% Aterro sanitário - 10% Usina de compostagem - 0,9% Usina de incineração - 0,1% 66 O gráfico acima demostra a situação caótica da disposição dos resíduos sólidos no país, mas é ignorada a urgência pelas administrações municipais, que sempre renegadam a segundo plano os investimentos nessa área. A seguir são descritos de maneira sucinta as principais técnicas de destinação final dos resíduos, que incluem: compostagem, reciclagem, incineração e aterro sanitário. 5.1.1 Compostagem A compostagem é definida como o ato ou ação de transformar a fração orgânica dos resíduos, através de processos físicos, químicos e biológicos, em uma matéria orgânica mais estável e resistente à ação das espécies consumidoras (Lima, 1991). A matéria orgânica presente no lixo sofre decomposição aeróbia e anaeróbia pela ação de microrganismos. Esse processo possibilita uma enorme redução da qualidade de material a ser encaminhado para os aterros sanitários. Apesar de ser considerado um método de tratamento, o composto também pode ser entendido como um produto de reciclagem da matéria orgânica (Pereira Neto & Lelis, 1999). Existem vários sistemas de compostagem, que se utilizam dos princípios físicos e biológicos, diferençando-se quanto aos equipamentos, forma de disposição, entre outras características. Mesmo havendo vários sistemas, todos eles apresentam duas fases distintas: o tratamento físico e o tratamento biológico. O tratamento físico destina-se ao preparo dos resíduos, favorecendo a ação biológica. Nesta etapa, os resíduos sofrem processo de separação manual e/ou mecânica, onde a fração inorgânica é retirada da massa. A seguir, os resíduos restantes são gradualmente triturados, homogeneizados e enviados para leiras que permanecem de 90 a 120 dias. Pode-se adicionar lodo de estações de tratamento de esgotos a fim de acelerar o processo. No Brasil um país de origem agrícola, há pouca tradição na produção de compostos orgânicos, existindo um número reduzido destes sistemas em operação. No Estado do Rio de Janeiro são inúmeras as usinas de reciclagem e compostagem 67 construídas pelas prefeituras e, atualmente, desativadas. As prefeituras justificam o fracasso por diversas razões: − Falta de caracterização dos resíduos processados, causando uma avaliação equivocada do sistema; − Ausência de recursos financeiras para manutenção do sistema; − Inexistência de capacitação técnica para operar adequadamente; − Falta de tradição no uso do composto oriundo do lixo. Na verdade, o sistema de tratamento dos resíduos sólidos urbanos através da compostagem é carente de estudos precisos para sua implantação e otimização do processo. 5.1.2 Reciclagem É o processo pelo qual um material é separado do lixo e reintroduzido no ciclo produtivo como matéria-prima e transformado em novo produto, seja igual ou semelhante ao anterior e podendo assumir características distintas das iniciais. A reciclagem de materiais tem uma aceitação em todo o mundo, dadas as suas vantagens econômicas, sociais e sanitárias. O processo de reciclagem envolve, em princípio, a etapa de coleta de lixo que quando é precedida de separação realizada nos domicílios, é chamada de coleta seletiva e, em caso contrário, é chamada coleta usual. A próxima etapa é a triagem, que consiste numa nova etapa de separação, só que de maneira mais detalhada que a anterior. Isso acontece principalmente com os plásticos e os papéis, que apresentam grande diversidade e devem ser classificados. Após esta etapa, os materiais são beneficiados e acondicionados. Os metais e papéis são prensados e enfardados, os vidros são triturados, os plásticos são lavados e transformados em pequeninas pelotas (Nahas et al., 1996). Tanto a triagem como o beneficiamento e o acondicionamento são realizados em locais especificamente destinados a estas finalidades, sendo chamados de Centros de Reciclagem (ou de Triagem). 68 Em seguida, os materiais são armazenados para distribuição às indústrias recicladoras. A última etapa acontece no próprio processo industrial, através do aproveitamento dos materiais para produção de bens, tanto os dirigidos para o consumidor final quanto os destinados ao processamento industrial intermediário. O processo de reciclagem é de grande importância nos dias atuais. Através dele, pode-se diminuir consideravelmente o peso e o volume dos resíduos que são encaminhados aos aterros. O retorno financeiro do processo pode viabilizar as soluções para gerenciamento dos resíduos sólidos, tendo em vista, que as taxas são insuficientes para pagar o dispêndio do serviço. A reciclagem poupa os recursos naturais e, ainda, propicia uma recuperação energética. Devido à má distribuição de renda no país e à exclusão social de um contingente cada vez maior de pessoas, a reciclagem torna-se uma alternativa de renda para muitos desempregados. O catador ambulante é um personagem importante, que contribui informalmente com a coleta seletiva, reduzindo os gastos com a limpeza pública. Tem-se registro dessa atividade no Brasil há pelo menos 100 anos. No início do século XX, os garrafeiros já recolhiam de porta em porta vasilhames e garrafas para o reaproveitamento e/ou reciclagem do vidro. A partir dos anos 50 anos, a atividade de catação começa a se diversificar com a reciclagem de outros materiais. 5.1.3 Incineração A incineração é definida como o processo de redução de peso e de volume dos resíduos através da combustão controlada (IPT/CEMPRE, 2000). O material remanescente da incineração dos resíduos é em geral composto por gases como dióxido de carbono (CO2 ), dióxido de enxofre (SO2 ), nitrogênio (N2 ), gás inerte proveniente do ar utilizado como fonte de oxigênio e do próprio lixo, oxigênio (O2 ) proveniente do ar em excesso que não consegue ser completamente queimado, água (H2 O), cinza e escórias constituídas de metais ferrosos e inertes (Lima, 1995). Quando a combustão é incompleta, podem aparecer monóxido de carbono (CO) e particulados que consistem de carbono finamente dividido lançado na atmosfera como fuligem. 69 De uma maneira geral, são adotados dois tipos básicos de incineração: convencional e incineração com recuperação de energia. Neste último caso, utiliza-se um gerador de vapor colocado no caminho dos gases da combustão, com objetivo de aproveitar considerável parcela de energia térmica neles contida, através do esfriamento dos gases. Assim como na compostagem, o processo de incineração apresenta vários sistemas com algumas diferenças de equipamentos, processamento, entre outras, mas que se baseiam no mesmo processo químico, sendo que vários desses sistemas são patenteados. A incineração é um processo que vem caindo gradativamente em desuso, devido às conseqüências ambientais do lançamento de gases e partículas na atmosfera, necessitando-se de filtros especiais para o tratamento desses efluentes da combustão, que encarecem bastante o processo. 5.1.4 Aterro sanitário Neste processo procura-se compactar e impedir a exposição dos resíduos ao ar livre, mediante cobertura com uma camada de solo. A compactação visa reduzir o volume de resíduo sólido, aumentar a estabilidade do maciço de lixo e prolongar a vida útil do aterro. O recobrimento minimiza os odores emanados dos resíduos em decomposição, evita incêndios e impede a proliferação de ratos, insetos e outros animais nocivos do ponto de vista sanitário. Maior detalhamento sobre aterro sanitário é analisado no capítulo 6. 5.2 Gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos Segundo o Manual de Gerenciamento Integrado do IPT/CEMPRE, 2000 o gerenciamento do lixo municipal de forma integrada “compreende um conjunto de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento que uma administração municipal desenvolve, baseado em critérios sanitários, ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor o lixo da sua cidade”. 70 O gerenciamento de resíduos sólidos domiciliares, mais conhecido como limpeza urbana, constitui-se de quatro fases, desde a produção até o seu destino final: o acondicionamento, a coleta, o transporte e sua disposição final ou tratamento. O acondicionamento deve ser adequado ao manuseio, ao tratamento submetido e aos aspectos sanitários com acondicionado em locais estanques e/ou recipientes herméticos. O mais usual é a utilização de sacos plásticos ou latões, que devem ser colocados nas calçadas, em frente às residências no dia marcado próximo ao horário da coleta. A coleta dos resíduos é considerada uma das fases mais importante do gerenciamento dos resíduos, ao lado da disposição final. A ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, na NBR 12.980 de 1993, define coleta domiciliar como: “coleta regular de resíduos domiciliares, formados por resíduos produzidos em residências, estabelecimentos comerciais, industriais, públicos e de prestações de serviços, cujos volumes e características sejam compatíveis com a legislação municipal vigente”. Normalmente, a coleta de lixo urbano é feita de porta em porta com freqüências que variam desde diária até semanal, de acordo com a necessidade, sendo que o usual e a coleta em dias alternados, com folga ao domingos. Em regiões de difícil acesso ou que não permitem a circulação de veículos, a coleta é feita por trabalhadores residentes no local ou coletados com micro tratores ou outras técnicas. O serviço de coleta deve ser eficiente e ter regularidade. A restrição econômica é um dos fatores determinantes da freqüência da coleta de lixo urbano, pois quanto maior a freqüência maior o custo total do serviço. A definição do sistema de coleta depende do lixo que será coletado, da quantidade e da região que será percorrida. O transporte do resíduo desde a coleta até o seu destino final, deve considerar todos os fatores de racionalização e de economia do sistema, nunca esquecendo da qualidade do serviço prestado à coletividade. No caso de grandes quantidades diárias de resíduos, bem como distâncias consideráveis, pode ser necessária a instalação de Estações de Transferências, cuja função é acumular o lixo para transporta-lo, em caminhões de maior capacidade até seu destino final, o que representa economia de combustível, manutenção e tempo de equipe de guarnição dos caminhões coletores. 71 De modo geral um sistema de gerenciamento de resíduos deve considerar: − A caracterização dos resíduos produzidos, previsão da viabilidade econômica do sistema e formas de redução da produção dos resíduos; − As normas que estabelecem as responsabilidades na gestão e disposição final dos resíduos, para garantir que os resíduos serão dispostos de forma segura sem gerar riscos para a saúde e impactos ambientais. No entanto, alguns fatores acabam dificultando o destino ambiental e sanitariamente correto do lixo, tais como: − Inexistência de uma Política Brasileira de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos; − Limitação financeira municipal: orçamento inadequado, fluxo de caixa desequilibrado, taxas desatualizadas ou inexistentes, arrecadação insuficientes, inexistência de linhas de crédito e escoamento obscuro do dinheiro público; − Falta de capacitação técnica e profissional; − Falta de controle ambiental: os órgãos públicos se abstraem de exercer o poder de polícia, isto é, a fiscalização. Esse descaso, muitas vezes, é decorrente da falta de capacitação técnica, recursos financeiras e interesse político; − Descontinuidade política e administrativa: os políticos não têm compromisso com o eleitorado e o bem público, mas sim, e unicamente com o mandato e a promoção individual. O conjunto de ações para o gerenciamento do lixo não se trata de definir se a recuperação de recicláveis, compostagem, incineração ou aterro sanitário é a melhor técnica. Ao contrário, é necessário determinar em que proporção é mais apropriado conjugar estas técnicas e como é melhor articulá-las (Relis & Dominski, 1990). 5.3 Custos do sistema de limpeza pública Os custos para destinação final dos resíduos sólidos urbanos são muito elevados (tabela 5.1). Uma estratégia utilizada para se minimizar o problema é a recuperação de parte do material reciclável que faz parte da composição física do lixo domiciliar urbano. 72 Tabela 5.1- Custo da disposição do lixo em países em desenvolvimento (Fricke et al., 2001) Países Baixa renda - Ásia Média renda - Ásia Alta renda - Ásia Brasil – média Buenos Aires - Argentina África do Sul Lixão US$/t 0,5-2 1-3 5-10 0-5 - Aterro cont./sant. US$/t 3-10 8-15 20-50 9-20 10 5-12 Compostagem US$/t 5-20 10-40 20-60 20-35 - Incineração US$/t 40-60 30-80 20-100 60-1.500 - A seguir são apresentados dados de custo do sistema de limpeza pública de alguns municípios nos seguintes Estados: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e Alagoas. A comparação das tabelas 5.1 e 5.2 demostra uma certa discrepância, pois a exatidão dessas grandezas é muito difícil de ser apurada, haja vista que em vários municípios o serviço de limpeza urbana não é de responsabilidade de apenas uma Secretaria, então o custo desse serviço se entrelaça com outros. Tabela 5.2 - Custos relativos ao gerenciamento de sistema de limpeza urbana (SLU) (Baptista, 2001) Município Niterói- RJ Porto Alegre- RS Florianópolis - SC Belo Horizonte- MG Campinas- SP Embu- SP Pitanguinha- AL Ribeirão Preto- SP São Sebastião – SP Parcela do orçamento gasto com SLU (%) 14,0 9,5 16,0 10,0 8,0 17,0 5,0 6,1 Parcela do orçamento gasto com coleta seletiva (%) 0,2 0,8 Custo da coleta regular (R$/t) 35,10 37,62 46,00 42,00 42,00 Custo de aterramento (R$/t) 4,32 5,35 21,00 Estudos realizados pelo Ministério do Planejamento e Orçamento- Secretarias de Políticas Urbanas (MPO-SEPURB, 1998) estimam que a coleta e disposição de cada tonelada de lixo urbano custam à sociedade brasileira algo entre R$ 117,00 e R$ 391,00, dependendo da natureza do centro urbano e do serviço assegurado. No município de Vitória-ES, de acordo com a Secretaria Municipal de Serviços (PMV- SEMURB), este custo é de R$80,00/t de lixo domiciliar urbano recolhido pelo serviço regular de coleta para o ano de 2000. O município do Rio de Janeiro-RJ com uma coleta anual de 2.677.680 toneladas, informação obtida junto à Diretoria Técnica e Industrial (DTI) da 73 COMLURB e um orçamento conforme demostra tabela 5.3, totaliza um gasto de R$ 123,27/t pela coleta e disposição dos resíduos sólidos, correspondendo a um valor 35% superior ao município de Vitória-ES. Tabela 5.3 - Orçamento anual, sem aditivos, da companhia de limpeza urbana COMLURB (COMLURB, 2001) Descrição Folha de pagamento e encargos Tercerização Projeto favela limpa Custeio Investimentos Convênios Total 5.4 Dispêndio (R$) 179.462.811,00 95.193.000,00 12.608.000,00 26.537.000,00 1.800.000,00 14.480.000,00 330.080.811,00 Instrumentos de gestão dos resíduos sólidos A tabela 5.4 apresenta instrumentos de gestão dos resíduos sólidos aplicados em alguns países. Os impostos sobre produtos inserem na sua filosofia de concepção o princípio do poluidor pagador. Esse princípio se inspira na teoria econômica de que os custos sociais externos que acompanham o processo produtivo, isto é, os custos resultantes dos danos ambientais, devem ser internalizados, os agentes econômicos devem levá-los em conta ao elaborar os custos de produção, assim assumi-los. Este princípio visa imputar ao poluidor o custo social da poluição por ele gerada, criando um mecanismo de responsabilidade por dano ecológico abrangente dos efeitos da poluição não somente sobre bens e pessoas, mas sobre toda a natureza. Em termos econômicos, é a internalização dos custos externos. São chamadas externalidades porque, embora resultantes da produção, são recebidas pela coletividade, ao contrário do lucro, que é percebido pelo produtor privado. Daí a expressão privatização de lucros e socialização de perdas. 74 Tabela 5.4- Instrumentos de gestão de resíduos em alguns países (MPO/SEPURB, 1998) Países Critérios para reciclagem Alemanha - Bélgica - Tributação sobre a disposição de lixo tóxico Canadá - Tributo especial para controle dos resíduos sólidos Coréia - - Dinamarca - Cobrança de tributos sobre resíduos aterrados Concessão de créditos, deduções de impostos e concessão de empréstimos ligados à atividade recicladora - Tributo sobra a disposição de lixo tóxico EUA França Holanda - Itália - Cobrança pela Cobrança sobre disposição em geração de lixo aterro Tributação sobre Por quantidade lixo doméstico de lixo gerado (proposta) Impostos sobre produtos Sistemas depósito-retorno - Empresas recompram suas embalagens utilizadas - Por quantidade de lixo gerado Vasilhames de bebidas, lâminas de barbear e máquinas fotográficas descartáveis não recicláveis Sobre vasilhames Jornais e não reutilizáveis materiais ou não promocionais recicláveis Sobre itens Para garrafas de classificados bebidas como danosos ao alcoólicas meio ambiente Sobre Consumo de Para vasilhame embalagens de água, bolsas de de bebidas plástico ou papel plástico ou papel, embalagens de pesticidas e bebidas Por quantidade Para vasilhame de lixo gerado de bebidas (proposta) Tributação Por quantidade específica sobre o de lixo gerado lixo doméstico (proposta) Tributação Por quantidade específica sobre o de lixo gerado e lixo doméstico número de pessoas em cada residência Tributo especial para controle dos resíduos sólidos - - Produto de embalagem Para produto de alumínio (proposta) Sacolas de plástico não recicláveis - 75 Países Reino Unido Suécia Critérios para reciclagem Cobrança pela Cobrança sobre Impostos sobre Sistemas disposição em geração de lixo produtos depósito-retorno aterro Pagamento, por Sobre resíduos Para vasilhames parte das sólidos (proposta) de bebidas autoridades de (proposta) gerenciamento de lixo, aos agentes diretamente envolvidos. Garantia de demanda por produtos reciclados, por parte do governo Instrumento Sobre produtos Para latas de econômico como retornáveis de alumínio forma de alumínio ou incentivar a vidro, vasilhames separação do lixo descartáveis, fertilizantes, pesticidas, sobre baterias Com a aplicação do princípio do poluidor pagador, procura-se corrigir este custo adicionado à sociedade, impondo-se sua internalização. Por isso, este princípio é também conhecido como o princípio da responsabilidade. O princípio não objetiva, por certo, tolerar a poluição mediante um preço, nem se limita apenas a compensar os danos causados, mas sim, evitar o dano ao ambiente. A cobrança só pode ser efetuada mediante respaldo na lei, pena de se admitir o direito de poluir. Trata-se do princípio poluidor pagador e não pagador poluidor. A Declaração do Rio, de 1992, em seu Princípio 16, dispôs que “as autoridades nacionais deveriam procurar fomentar a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em conta o critério de que o contaminador deveria, em princípio, arcar com os custos da contaminação, tendo devidamente em conta o interesse público e sem distorcer o comércio nem as inversões internacionais”. No Brasil a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, acolheu o princípio do poluidor pagador, estabelecendo, como um de seus fins, “a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar aos danos causados”. Os demais instrumentos da tabela 5.5 carregam o princípio do desenvolvimento sustentável que é definido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento como “aquele que atende às necessidades do presente sem 76 comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Esse princípio também é acolhido no caput do art. 225 da CF: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” O Brasil para instituir os instrumentos de gestão ambiental existentes em vários países, precisa estabelecer, primeiramente, uma Política de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos, que alicerce uma ampla reforma tributária. 77 CAPÍTULO 6 ATERROS SANITÁRIOS O aterro sanitário é uma forma de disposição final de resíduos sólidos urbanos no solo. É, sem dúvida, uma interessante alternativa para ao países em desenvolvimento. Atualmente, cerca de 10% das comunidades brasileiras solucionaram seu problema de disposição final adotando essa técnica e 13% das comunidades tentam implantar o mesmo sistema (gráfico 5.1). Historicamente, o aterro sanitário tem sido a técnica mais econômica e mais aceitável ambientalmente em todo o mundo, em virtude de sua relativa simplicidade de execução e de seu baixo custo de implantação e operação. Como o foque principal dessa dissertação é a determinação do Índice da Qualidade de Aterros de Resíduos (IQR), será dedicado o presente capítulo ao estudo das orientações técnicas para a disposição final do lixo urbano, mediante a técnica de aterro sanitário. 6.1 Disposição final no solo A disposição final no solo classifica-se através dos riscos causados à saúde pública e ao meio ambiente, conforme será exposto a seguir. No cotidiano, existe uma certa resistência para o uso adequado dessa classificação. Normalmente, o termo aterro está vinculado à disposição dos resíduos sólidos no solo, independente da qualidade de operação percebida. 6.1.1 Lixão ou lançamento à céu aberto ou vazadouro É uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos municipais. As principais caraterísticas são: − Simples descarga sobre o solo; − Ausência de proteção ao meio ambiente e à saúde pública; − Proliferação de vetores; 78 − Geração de maus odores; − Poluição do solo, das águas subterrâneas e superficiais; − Descontrole dos tipos de resíduos recebidos; − Presença de catadores. 6.1.2 Aterro controlado Essa técnica de disposição dos resíduos sólidos urbanos utiliza alguns princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos. As principais caraterísticas são: − Cobrimento do resíduo com material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho; − Não causa danos à saúde pública; − Os impactos ambientais são minimizados; − Produz poluição localizada; − Não apresenta impermeabilização de base; − Comprometimento da qualidade das águas subterrâneas; − Ausência de tratamento de percolado e do biogás gerado. 6.1.3 Aterro sanitário Aterro sanitário é um processo utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo, particularmente lixo domiciliar, dentro de critérios de engenharia e normas operacionais específicas. A técnica proporciona o confinamento seguro dos resíduos, evitando danos ou risco à saúde pública e minimizando os impactos ambientais. Esses critérios de engenharia materializam-se no projeto de impermeabilização da base do aterro, nos sistemas de drenagem periférica e superficial para afastamento de águas de chuva, na drenagem de fundo para a coleta do lixiviado, no sistema de tratamento para o lixiviado drenado, na drenagem e queima dos gases gerados durante o processo de bioestabilização da matéria orgânica. 79 Os demais itens desse capítulo têm o propósito de descrever os critérios de engenharia e normas operacionais empregados nessa forma de disposição. 6.2 Definições Aterro sanitário pode ser definido segundo: • ABNT, NBR-8419/84 O aterro sanitário é uma técnica de disposição dos resíduos sólidos no solo, sem causar danos à saúde e à segurança pública, minimizando os impactos ambientais; método este que utiliza princípios de engenharia para confinar resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-lo ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou em intervalos menores, se necessário. • ASCE (Sociedade Americana de Engenheiros Civis) Aterro sanitário é uma técnica para a disposição do lixo no solo sem causar prejuízo ao meio ambiente e sem causar dano ou perigo à saúde e à segurança pública, técnica esta que utiliza princípios de Engenharia para acumular o lixo na menor área possível, reduzindo seu volume ao mínimo e cobrindo-o com uma camada de terra com a freqüência necessária, pelo menos ao fim de cada dia. • IPT/CEMPRE, 2000 Aterro sanitário é o local onde o lixo deve ser purificado, tratado, minimizando o impacto negativo ao meio ambiente A seguir são listadas definições de termos atinentes a um aterro sanitário: − Célula: termo usado para descrever o volume de material depositado no aterro sanitário durante um período de operação, usualmente de um dia. Uma célula inclui os resíduos sólidos depositados e a camada de terra de cobertura; − Camada de cobertura: é a camada de solo ou outro material utilizado para cobrir os resíduos ao final de cada período de operação. A função da camada de cobertura é controlar o espalhamento dos resíduos pela ação do vento, evitar mal cheiro, prevenir contra vetores de doenças como ratos e moscas e principalmente controlar a entrada de água no corpo do aterro durante a operação; 80 − Chorume: é o líqüido de cor preta, mau cheiroso e de elevado potencial poluidor, produzido pela decomposição da matéria orgânica contida no lixo (ABNT, NBR-8419/84); − Percolado: mistura entre o chorume, produzido na decomposição do lixo, e a água de chuva que percola o aterro; − Gás de aterro: é a mistura de gases encontrada dentro do aterro. A maior parte é formada por metano (CH4 ) e dióxido de carbono (CO2 ), principais produtos da decomposição anaeróbia da fração orgânica dos resíduos. Outros componentes incluem oxigênio e nitrogênio atmosférico, amônia e traços de compostos orgânicos. 6.3 Vantagens e desvantagens do aterro sanitário As principais vantagens: − Baixos custos de implantação e de operação, adequado para países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil; − Possibilidade de utilização de mão-de-obra não especializada; − Recuperação de áreas inundáveis para a formação de locais de recreação; − Aceitação de qualquer tipo de resíduo, até industriais, desde que projetados e construídos para tal; − Possibilidade de recuperação de gás; − Não exige equipamentos especiais que não sejam unidades componentes de qualquer administração municipal; − Permite o controle de vetores; − A transformação do material degradável em estabilizado ocorre natural e biologicamente; − Solução para qualquer volume de resíduo. As principais desvantagens: − Dificuldade em encontrar áreas de bom tamanho e adequadas, próximas aos centros de produção dos resíduos; 81 − Custo de transporte para áreas disponíveis; − Dificuldade de obtenção de materiais para a cobertura das células; − Necessidade de controle contínuo para que se evite a deterioração do aterro, transformando-o em vazadouro; − Necessidade de encontrar outra área após o esgotamento do aterro; − Produção de chorume; − Possibilidade de poluição das águas superficiais e lençóis subterrâneos pela ação do chorume; − Formação de gases nocivos e de odor desagradável. 6.4 Características do local destinado ao aterro sanitário Uma área adequada, na implantação de um aterro sanitário, implica em menores riscos ao meio ambiente, à saúde e redução de gastos com preparo, operação e encerramento do aterro. Para tanto, é indispensável a observância das características dos meios físico, biótico e socioeconômico para instalação de um aterro. Antes de analisar os itens relacionados aos aspectos técnicos, listados a seguir, os quais envolvem a implantação de um aterro sanitário, existe uma fase anterior de levantamento de dados gerais, que são: − Dados populacionais do município e suas projeções; − Características do lixo, determinar a contribuição de cada fonte de produção, isto é, quantificar o lixo municipal em: domiciliar, entulho, especial e comercial; − Dados da coleta e transporte atual do lixo. As informações citadas, anteriormente, propiciam desenvolver o cálculo da produção de lixo gerado diariamente, que é função da estimativa de crescimento populacional e da eficiência do sistema de coleta. A partir do volume de lixo do município e do tipo do resíduo calcula-se a célula diária de lixo, que permite determinar a área necessária para o aterro ao longo de sua vida útil, o tipo de operação a ser adotada no aterro e a quantidade de área de empréstimo. 82 As dimensões da célula de lixo podem ser estimada pela fórmula (IPT/CEMPRE, 2000): h = (v / p2 )1/3 (Eq. 6.1) I = b = (v / h) 1/2 = (pv)1/3 (Eq. 6.2) A = b2 + 2bhp (Eq. 6.3) Sendo: h = altura da célula (m); v = volume de resíduos da célula (m3 ), igual à geração de lixo (t/dia) dividida pela densidade do lixo compactado (valor médio de γ é 0,7 t/m3 ); p = talude da rampa de trabalho (p = 3); I = profundidade da célula (m); b = frente de operação (m); A = área a ser coberta com terra (m2 ). • Distância em relação à área urbana Um aterro sanitário não pode localizar-se muito próximo a povoados, para evitar possíveis incômodos tais como odores, fumaça, poeira, barulho de manobras de caminhões, presença de vetores etc. • Distância dos centros geradores Os centros geradores são considerados os locais de transbordo ou centro atendido. O local escolhido deve situar-se o mais próximo possível do centro de geração, reduzindo, assim, as despesas com transporte e aumentando a produtividade da coleta. A distância de uma viagem de ida e volta não deve ser superior a 30 km. Distância superior a essa, anteriormente citada, torna-se antieconômico o transporte direto com os caminhões coletores até o aterro, sendo necessário estações de transferência. • Dados topográficos São informações que compreendem a compartimentação geomorfológica, as características das unidades que compõem o relevo, a declividade dos terrenos e os principais processos atuantes na região, como: erosão, escorregamento, inundação etc. 83 Esse aspecto técnico deve ser muito bem analisado, pois existe uma forte relação entre o relevo e a ampliação dos problemas ambientais. É recomendável a escolha de áreas com baixa declividade, porém com um desnível natural ou uma elevação, para minimizar o escoamento das águas superficiais para o aterro e facilitar a construção de células de lixo. • Dados geológico-geotécnicos São informações sobre as características, distribuições e ocorrência de materiais que compõem o substrato dos terrenos. Os principais aspectos relevantes nesse estudo são: tipos de rocha existentes na região, as preferíveis são as menos permeáveis, distribuição das unidades geológico-geotécnicos, avaliação da capacidade de carga e deformabilidade do terreno de fundação, análise das condições de estabilidade do maciço e suscetibilidade de erosão, determinação das feições estruturais (foliação, falhas e fraturas), incluindo a posição das fronteiras geológicas. • Dados pedológicos São informações sobre as características e distribuição dos solos na região em questão, visando a identificação de solo mais apropriado para material de empréstimo. Recomenda-se solo com textura argilosa para impermeabilização da base do aterro e para a cobertura final. Já, para a utilização na cobertura diária e intermediária o solo mais apropriado é o silto-argiloso, o qual, além de apresentar uma fácil escavabilidade, conjuga baixa capacidade de infiltração e boa resistência de carga. A mineralogia tipo 2:1 é considerada favorável. • Dados hidrogeológicos Conjunto de informações sobre o comportamento natural da dinâmica e química das águas subterrâneas e superficiais de interesse para abastecimento público. É importante conhecer a profundidade do lençol freático, o padrão de fluxo subterrâneo, a amplitude da variação regional do lençol freático, de acordo com as estações do ano, a qualidade das águas subterrâneas e risco de contaminação do aqüífero. O nível do lençol freático é função da freqüência e intensidade das chuvas, da evaporação, da evapotranspiração, da permeabilidade do solo e da topografia. Assim, é possível concluir que, o nível do lençol freático está situado a maior profundidade em regiões áridas, a situação inversa ocorre em terrenos depressivos. 84 Em geral quanto mais profundo for o nível d’água, teoricamente mais protegido estará o aqüífero, uma vez que ter-se-á maiores espessuras não saturadas para que se processem as depurações físicas, químicas e biológicas dos fluídos que infiltram verticalmente e, ainda, maior será a zona aeróbia do solo, a qual é importante para a atenuação de poluentes (Consoni, 1993). • Dados hidrológicos Conjunto de informações sobre os principais mananciais, bacias e corpos d’água de interesse ao abastecimento público. • Condições climáticas As condições climáticas devem ser consideradas, tais como: o regime de chuvas, precipitação pluviométrica, incidência solar, evaporação, evapotranspiração, umidade do ar e a intensidade e direção predominante dos ventos, que devem ser em sentido contrário à aglomeração urbana. Áreas muito chuvosas podem prejudicar o acesso ao local escolhido. O vento pode espalhar os resíduos ainda não aterrados, além de levar possível odores para fora do aterro. • Restrições impostas pela legislação vigente As restrições podem ser de âmbito federal, estadual ou municipal, as quais referem-se aos locais onde não podem ser implantados aterros sanitários, como por exemplo, áreas de proximidade de aeroportos, áreas de proteção ambiental, área de proteção de mananciais, parques, reservas, áreas tombadas etc. Neste item, a análise detalhada da lei de uso e ocupação do solo da região, é de fundamental importância. • Capacidade volumétrica Em locais com potencial para implantação do aterro sanitário, deve-se garantir área suficiente para o tempo de operação determinado. Embora não exista uma regra fixa, é desejável que a área destinada ao aterro, incluindo área de trabalho interna, seja suficiente para um período de 10 anos. Menos que isso, o empreendimento passa a tornar-se inviável economicamente, devido aos altos custos de implantação principalmente das instalações auxiliares. Não se pode esquecer de considerar a significativa capacidade volumétrica adicional gerada pelo recalques. 85 • Jazidas O estudo da disponibilidade de material de cobertura diária e para impermeabilização da base do aterro é de fundamental importância. O material de cobertura indicado é aquele cuja composição apresente 50% a 60% de areia e o restante uma mistura equilibrada entre silte e argila. Atualmente, o lodo de drenagem e de esgoto têm sido empregados como material de cobertura. • Dados socioeconômicos São informações sobre o uso e ocupação dos terrenos, isto é, distinguir e delimitar, claramente, a vocação econômica de uma localidade, determinando o valor da terra, a integração da localidade à malha viária e infra-estrutura e aceitabilidade da população. • Vias de acesso Para uma correta operação do aterro, é necessário que as vias de acesso estejam em perfeitas condições durante todo o período de operação, evitando-se assim que os trabalhos sejam prejudicados por um eventual impedimento dos caminhões chegarem ao seu destino final que é o aterro sanitário. • Meio biótico O local destinado ao aterro sanitário não deve causar danos à ecologia. Os impactos causados sobre a flora e a fauna devem ser minimizados. Devem ser avaliadas as principais formações vegetais presentes e seu estágio atual e as espécies animais associadas. 6.5 O ecossistema aterro sanitário A partir da disposição, e independentemente da composição dos resíduos, as populações de microrganismos existentes nos mesmos passam, em condições ambientais favoráveis, a multiplicar-se no ambiente do aterro, operando como um verdadeiro reator, estabelecendo-se assim um meio ambiente, no sentido ecológico da palavra. Os aspectos externos que influenciam o desempenho dos aterros são: o nível de compactação conferido à massa de resíduos, a precipitação pluviométrica na área do 86 aterro, da variação sazonal de temperatura na região onde o mesmo está implantado entre outros. O controle desses fatores internos e externos que interferem no processamento do material disposto em aterros, é extremamente difícil, seja pela complexidade das reações que ocorrem no ambiente dos mesmos, seja pelos seus aspectos dimensionais. Embora o caminho da biotransformação dos resíduos sólidos dentro dos aterros sanitários seja o mesmo, a heterogeneidade dos resíduos sólidos de cada comunidade e a técnica executiva do aterro estabelecendo determinadas condições de contorno são aspectos que sugerem que cada aterro conduz um ecossistema particular. A figura 6.1 a seguir mostra uma representação esquemática de um ecossistema aterro sanitário, apresentando os fatores mais influentes. O ecossistema de um aterro, considerado como um local de tratamento, pode apresentar quatro tipos de tratamentos: digestão anaeróbia, digestão aeróbia, tratamento biológico e digestão semi-anaeróbia. Figura 6.1 – Representação esquemática de um ecossistema aterro sanitário (Schalch, 1992) 87 6.5.1 Tratamento por digestão anaeróbia Os maiores adeptos desse tratamento são os Estados Unidos e o Brasil. A digestão anaeróbia consiste numa inertização do lixo de modo muito prolongada, isto significa, que o término das reações orgânicas alcançando, assim, a mineralização é dado de forma muito retardada, quando comparado com demais tratamentos. A transformação anaeróbia do material orgânico bruto em bioestabilizado nos aterros sanitários apresenta cinco fases (Christensen e Kjeldsen, 1989): • 1ª fase: aeróbia − Disposição dos resíduos, acúmulo de umidade, fase de curta duração, aproximadamente uma semana (Carvalho, 1999); − O oxigênio presente na massa de lixo é consumido, juntamente com os nitratos na decomposição da matéria orgânica, produzindo CO2 , calor e alguns produtos da decomposição; − O chorume apresenta elevadas concentrações de cloretos e sulfatos e a DQO é da ordem de 10.000 a 100.000 mg/l. • 2ª fase: anaeróbia não-metanogênica ou ácida − Transição da fase aeróbia para anaeróbia, que pode durar de uma semana a seis meses (Carvalho, 1999); − Microrganismos anaeróbios facultativos, principalmente bactérias fermentativas e acetogênicas, decompõem a matérias orgânica em CO2 e outros produtos de decomposição, inclusive ácidos orgânicos e algum hidrogênio; − O gás metano é detectado em pouquíssima quantidade, N2 diminui, devido à geração crescente de CO2 e H2 ; − DQO aumenta e o pH diminui no chorume, acarretando a mobilização das espécies metálicas; • 3ª fase: anaeróbia metanogênica instável ou acelerada − Lento crescimento das bactérias metanogênicas, porém depois de um certo tempo o aumento é acelerado, refletindo-se no crescimento da concentração de gás metano e redução drástica de CO2 e H2 ; 88 − Ácidos orgânicos são consumidos causando o aumento do pH; − Redução da DQO, a medida que o metano é produzido; − Essa fase pode durar de três meses a três anos (Carvalho, 1999). • 4ª fase: anaeróbia metanogênica estável − Produção constante do gás metano, variando entre 50% e 70% do total produzido; − Duração de oito a quarenta anos (Carvalho, 1999). • 5ª fase: metanogênica em declínio ou desacelerada − O carbono mais resistente à decomposição permanece no aterro; − Escassez de nutrientes, a produção de gás metano torna-se tão baixa que o N2 volta a aparecer na composição do gás; − Predominância de condições ambientais naturais; − Essa última fase pode durar de um a oitenta anos (Carvalho, 1999). As fases simplificadas de transformação da matéria orgânica estão apresentadas nos gráficos 6.1 e 6.2. Gráfico 6.1 – Variação na composição do gás de aterros sanitários (Cotrim, 1997) 89 Gráfico 6.2 – Variação na composição do chorume de aterros sanitários (Cotrim, 1997) 6.5.2 Tratamento por digestão aeróbia Consiste na necessidade de injetar ar no lixo, mediante sistema de bombeamento, o qual eleva demasiadamente os custos diretos e indiretos. Em contrapartida, o percolado apresenta menores níveis de DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e DQO (demanda química de oxigênio), não existe a formação do metano, a estabilização da matéria orgânica é mais rápida, quando comparado com o sistema anaeróbio. Esse tratamento, também, propicia maior estabilidade do aterro, pela melhor condição de drenagem. 6.5.3 Tratamento biológico Essa técnica, de tratamento acelerado do lixo, tem sido aplicada na América do Norte e em alguns países da Europa. A decomposição biológica ocorre em células reatoras, transformando a fração orgânica sólida do material em líqüidos e gases que devem ser coletados e tratados. No final do processo, é possível, a reabertura da célula para segregação do composto orgânico e do inerte. 90 6.5.4 Tratamento por digestão semi-aeróbia Esse tratamento procura excluir a desvantagem da implantação de sistemas de injeção de ar no lixo, mas sem perder os seus benefícios, que são alcançados através dos sistemas de drenagem de biogás e de percolados e a aeração natural por convecção. Existem precauções de implantação dessa técnica no Brasil. Esta alternativa de digestão é utilizada no Japão, onde os resíduos enterrados, em sua maioria, são cinzas de incineração. Porém, no Brasil a matéria orgânica é enterrada, diretamente, sem tratamento prévio, gerando um percolado com alto nível de DBO (demanda bioquímica de oxigênio). As condições de DBO ensejam a coltamatação dos sistemas de drenagem submetidos a entrada de ar, isto é, ocorre o entupimento dos drenos por deposição de materiais. Situação que não pode ficar no esquecimento. 6.6 Métodos de disposição em aterros sanitários Existem fatores que influenciam na escolha do método mais apropriado para disposição dos resíduos sólidos, tais como, a topografia/geologia local, o nível do lençol freático, a existência de área de empréstimo em locais próximos à área destinada ao aterro sanitário e da quantidade de lixo a dispor. No aterro, é conveniente que seja mantida preparada uma área operacional mínima, suficiente para os próximos 1 a 2 meses, dependendo da estação do ano. Os principais métodos de disposição em aterros sanitários são: método da trincheira, método da área e método da rampa. 6.6.1 Método da trincheira ou vala O método é indicado quando existe uma profundidade adequada de material de cobertura disponível na área a ser escavada, onde o lençol freático não está próximo à superfície, o local do aterro for plano ou levemente inclinado, e quando a produção diária de lixo não ultrapassar de preferência 10 t. É um método adequado para pequenas comunidades, de escassos recursos financeiros e sem equipamentos adequados à operação de um aterro convencional. No 91 entanto, em função da morfologia do local do aterro e da forma de operação, é uma solução que também pode ser adotada para grandes comunidades geradoras de lixo. No caso de pequenas comunidades as trincheiras são abertas com equipamentos de uso corrente em escavação, como uma retroescavadeira. Normalmente, o operador delimita a vala e executa a escavação, acumulando o solo removido sobre uma das laterais da vala. Os resíduos são descarregados no lado livre das trincheiras, sem o ingresso do caminhão coletor em seu interior, iniciando-se por uma das extremidades da vala. O material proveniente da escavação é utilizado no recobrimento dos resíduos, o que é feito, preferencialmente, a cada dia, com tolerância para freqüências menores somente em circunstâncias especiais. Figura 6.2 – Desenho esquemático do método da trincheira (LIMPATECH) É recomendado que os resíduos sejam descarregados em um único trecho, até que este esteja totalmente preenchido. Assim que o primeiro trecho da vala estiver totalmente preenchido, passa-se para outro, repetindo-se as mesmas operações. O 92 nivelamento final da vala deverá ficar em cota superior à do terreno, prevendo-se prováveis recalques. Após o completo aterramento da vala, se o município dispuser de equipamentos, poderá, ainda, promover uma melhor compactação dos resíduos. Quando não houver esta possibilidade, a abertura da vala seguinte deverá ser realizada de tal forma que o solo de escavação seja acumulado sobre as valas já enterradas, acelerando-se os recalques e impondo certa compactação aos resíduos. 6.6.2 Método da área ou aterro tipo superficial A técnica de execução de aterro em área é utilizada quando a topografia local permite o recebimento dos resíduos sólidos, sem a alteração de sua configuração natural. Este método é recomendado para uma área que não apresente boas condições de escavação, geralmente, locais planos em que o lençol freático é muito superficial. A formação da célula por este método exige que haja um transporte de material de cobertura de alguma área adjacentes. Assim, caso não haja áreas próximas ao aterro, este método pode ser inviável economicamente. Em alguns casos é necessário a construção de diques de contenção ou valas de retenção de águas pluviais. Os resíduos são descarregados e compactados, formando uma elevação troncopiramidada, que recebe o recobrimento com solo ao final da operação de um dia. A primeira elevação constitui o parâmetro necessário para o prosseguimento da célula, em qualquer sentido. Esse procedimento não é correto e caiu em desuso, pois requer cuidados especiais, como rebaixamento constante do lençol freático, construção de diques ao longo da linha costeira ou dos rios, com a finalidade de evitar a contaminação das águas pelo chorume, além do bombeamento de toda a água do local antes do início da construção do aterro. 93 Figura 6.3 – Desenho esquemático do método da área (LIMPATECH) 6.6.3 Método da rampa ou método da escavação progressiva ou método da meia encosta É o método de disposição de resíduos aproveitando a topografia local como rampas, depressões, áreas secas e de encostas, onde o solo natural ofereça boas condições para ser escavado e aproveitado no próprio local, como cobertura do lixo. O aterro é executado depositando-se o resíduo sólido municipal no solo, o qual é compactado por um trator de esteira em várias camadas, até 3,0 m ou 4,0 m de altura, a seguir é compactado o material para a cobertura do lixo, formando, assim, as células sanitárias. Após a conclusão do aterro a área pode ser utilizada em atividades menos restritivas do ponto de vista ambiental. Uma desvantagem desse método é o depósito dos resíduos ao longo do caminho natural das águas, então torna-se muito importante o controle da drenagem superficial das águas. Já, uma vantagem do método é o aproveitamento do material de cobertura, que não precisa vir de áreas de empréstimo. 94 Dentre os três métodos, é o que geralmente apresenta-se mais vantajoso em termos econômicos. Figura 6.4 – Desenho esquemático do método da rampa (LIMPATECH) 6.7 Descrição do desenvolvimento ao preparo de um aterro sanitário O primeiro passo no processo envolve a preparação da área para implantação do aterro. Qualquer sistema de drenagem existente, mesmo natural, deve ser redirecionado de forma a evitar qualquer escoamento superficial sobre a área de aterro. O redirecionamento da drenagem é importante principalmente em aterros sobre encostas onde pode haver grande escoamento de águas de chuva. Outros trabalhos de preparação da área incluem a construção das vias de acesso, das instalações para pesagem de caminhões e das cercas. O próximo passo é a escavação e preparação do fundo do aterro e das laterais. Os aterros modernos são construídos, em geral, por seções. Trabalhar por seções permite que apenas uma pequena parte da superfície já preparada do aterro esteja exposta a precipitações a qualquer tempo. Desta forma, as escavações são feitas ao longo do tempo, ao invés de se preparar o aterro imediatamente. O material escavado pode ser estocado sobre solo não escavado próximo à área de trabalho, minimizando assim os problemas com drenagem, pois este material pode servir para reter as águas de chuva. Se o aterro é todo preparado de uma só vez, deve ser prevista drenagem para toda a área, mesmo que não esteja sendo usada totalmente. 95 A fim de minimizar os investimentos, é desejável obter áreas de empréstimo dentro da própria área do aterro ou em lugares próximos, diminuindo assim os custos com transporte. Os primeiros trabalhos de escavação devem ser feitos até atingir a profundidade de projeto, sendo que este material escavado deve ser estocado para algum uso posterior. Atingindo a profundidade de projeto, instala-se os equipamentos para monitoramento das águas subterrâneas, antes de ser colocada a camada de material impermeável. O fundo do aterro é então amoldado a fim de permitir a drenagem do chorume. Devem ser instaladas trincheiras horizontais para recolhimento de gases no fundo do aterro, principalmente se emissões de compostos orgânicos voláteis de resíduos recém dispostos no aterro, puderem ser considerados problemáticos. O gás coletado pode ser queimado sob condições controladas a fim de eliminar os compostos orgânicos voláteis. Antes do início da operação do aterro deve ser construída uma berma de proteção contra o vento, a fim de evitar que resíduos sejam levados pelo vento para fora da área do aterro, prejudicando assim os trabalhos diários. Uma vez que a área do aterro está preparada, o próximo passo do processo é o início da operação, com a disposição dos resíduos em células ao longo da superfície de compactação. Uma camada de cobertura é aplicada sobre o aterro quando este atinge sua cota final. Esta camada final de cobertura é projetada para minimizar a infiltração das precipitações, além de direcionar as águas de drenagem para fora do corpo do aterro. A seguir serão descritos detalhadamente cada elemento constituinte de um aterro sanitário (IPT/CEMPRE, 2000; Bolton, 1995). 6.7.1 Estruturas de controle Para que um aterro sanitário mantenha um bom padrão de funcionamento, é necessária a existência de estruturas que controlem e protejam o aterro: 96 • Cercas É, geralmente, construída em arame farpado ou tela rudimentar para impedir a entrada no aterro de transeuntes, catadores, animais de grande porte, como também servir para conter papéis, plásticos e outros detritos carregados pela ação do vento. • Portaria Tem a função de controlar a entrada e saída de veículos na área do aterro, bem como de observar o tipo de material que está sendo aterrado, evitando que resíduos que devam sofrer tratamento prévio (lodo tóxico, materiais graxos, líquidos em geral, pesticidas) coloquem em risco a saúde dos operadores ou prejudiquem o andamento das obras. • Balança A capacidade mínima para uma balança é 30 t para controlar e registrar a entrada de resíduos e outros materiais no aterro. Balanças automáticas são indicadas para locais, onde a prefeitura terceirizou a operação do aterro sanitário e o pagamento é proporcional à tonelada tratada. Esse equipamento evita erros grosseiros, corrupção e a presença de um funcionário da prefeitura para fiscalizar a entrada do resíduo no aterro. • Instalação de apoio Escritório, refeitório, vestiários e sanitários. • Almoxarifado É necessário apenas em aterros que operam com grandes quantidades de lixo. • Pátio para estocagem de material Área onde fica armazenado todo o material indispensável para a operação do aterro (terra, pedras, tubos, etc.). • Galpões para abrigo de veículos Têm a finalidade de preservar as máquinas nos períodos em que não estiverem operando; nesse local podem ser feitos pequenos reparos nos equipamentos. • Acesso externo e interno Todas as vias de acesso ao aterro devem ser mantidas em condições de tráfego, mesmo em épocas chuvosas. 97 • Iluminação Esse sistema deve ser mantido nos aterros, principalmente quando houver regime de coleta noturna. 6.7.2 Sistema de coleta e gerenciamento do percolado O chorume é o líquido proveniente da decomposição da matéria orgânica contida no lixo, o qual percolando ao longo do corpo do aterro sofre contribuições externas, resultante das precipitações e do runoff não controlado. Esse líqüido é formado, também, pela água contida, inicialmente, nos resíduos, além de poder receber infiltração do subsolo (Schalch, 1992). Por ser um líquido altamente poluente, o correto gerenciamento do percolado é de suma importância no processo de aterro sanitário, devendo-se evitar que este alcance o subsolo, contaminando os lençóis de água subterrâneos que porventura existirem sob a área destinada ao aterro. Pode-se dizer seguramente que, em aterros sanitários, a produção exclusiva de chorume é normalmente reduzida. O problema maior reside nas águas pluviais não desviadas da área de disposição, como também da precipitação sobre o aterro nos períodos de chuva prolongada. Essas águas podem infiltrar-se no aterro e, após atingirem o ponto de saturação da massa de lixo, arrastam o chorume e outros elementos prejudiciais tanto para o lençol subterrâneo como para as águas superficiais próximas ao aterro. Neste subitem são apresentados: composição, formação, controle e gerenciamento do percolado. 6.7.2.1 Composição Quando há a percolação da água através de resíduos sólidos sob condições de decomposição, tanto o material biológico quanto o químico presente nos resíduos entram em solução com a água. A composição típica do chorume em aterros sanitários pode ser apreciada na tabela 6.1, a seguir. Vale a pena ressaltar que estes valores podem oscilar muito de acordo com as características dos resíduos coletados. 98 Tabela 6.1 - Composição típica do percolado em aterros recentes e maduros (Tchobanoglous et al., 1993) Componentes DBO Carbono Orgânico Total - COT DQO Sólidos Suspensos Totais - SST Nitrogênio orgânico Nitrogênio amoniacal Nitratos Fósforo total Ortofosfato pH Dureza (CaCO3 ) Cálcio Magnésio Potássio Sódio Cloro Sulfatos Ferro total Concentração (mg/l) Aterros recentes (< 2 anos) Variação Típico 2.000 – 30.000 10.000 1.500 – 20.000 6.000 3.000 – 60.000 18.000 200 – 2.000 500 10 - 800 200 10 - 800 200 5 – 40 25 5 - 100 30 4 - 80 20 4,5 – 7,5 6 300 – 10.000 3.500 200 – 3000 1.000 50 – 1.500 250 200 – 1.000 300 200 – 2.500 500 200 – 3.000 500 50 – 1.000 300 50 – 1.200 60 Aterros maduros (> 10 anos) 100 – 200 80 - 160 100 – 500 100 – 400 80 - 120 20 - 40 5 – 10 5 - 10 4-8 6,6 – 7,5 200 - 500 100 – 400 50 – 200 50 – 400 100 – 200 100 – 400 20 – 50 20 - 200 Como pode ser observado na tabela 6.1, as características químicas do percolado podem variar muito, assim com a biodegradabilidade medida pela DBO e DQO. Como resultado desta grande variabilidade das características do chorume, o projeto de seus sistemas de tratamento é extremamente complicado. Por exemplo, uma estação de tratamento de percolado projetada para atender aterros recentes pode ser bastante diferente de uma projetada para atender aterros maduros. Além do mais, dependendo do porte do aterro, é mais provável que o percolado coletado seja provenientes de resíduos de diferentes idades. A DBO do percolado é muito elevada maior que a do esgoto doméstico, cujo valor oscila entre 200 mg/l a 300 mg/l (Bidone, 1999). Além disso, esses efluentes apresentam grandes concentrações de nitrogênio amoniacal, solúvel em água e tóxico a partir de determinadas concentrações. Assim, após serem coletados pelos drenos horizontais de fundo, devem passar por um processo de tratamento para que a DBO e o NH4 + sejam reduzidos a níveis satisfatórios, para, posteriormente, serem lançados em cursos d’água ou dispostos no solo. Caso o percolado seja despejado num curso d’água é observado que o ar dissolvido na água, necessário às formas de vida aquáticas, passa a ser consumido pelos 99 microrganismos durante a decomposição da matéria orgânica, tornando, assim, o ambiente impróprio para a sobrevivência de peixes e outros organismos que necessitam de oxigênio para desenvolverem suas atividades básicas. Essa situação ocasiona grandes problemas ambientais. 6.7.2.2 Balanço hídrico O potencial de formação de percolado pode ser avaliado através do balanço hídrico do aterro sanitário. O balanço hídrico envolve a adição das quantidades de água que penetram no corpo do aterro e a subtração das quantidades de água consumidas em reações químicas e as que deixam o aterro em forma de vapor. A quantidade de percolado gerada no aterro será então determinada pela diferença destas parcelas. Os principais componentes do balanço hídrico em uma célula são: − A água da chuva que penetra no corpo do aterro, no caso de células no topo corresponde à água que percolou através da camada de cobertura e no caso de células inferiores corresponde à água que percolou pelos resíduos da camada em questão; − A umidade dos resíduos, que absorvem da atmosfera antes de serem aterrados ou que adquirem umidade por terem sido previamente armazenados em locais descobertos, sujeitos a precipitações; − Umidade da camada de cobertura e a do lodo, caso este seja permitido no aterro, que são dependentes das fontes destes materiais; − A água é consumida no processo de decomposição anaeróbia dos componentes orgânicos dos resíduos, gerando gases; − Vapor saturado de água no gás de aterro; − O chorume, que é a parcela que deixa o aterro por baixo, onde então deve ser coletado. Desta forma, pode-se apresentar o balanço hídrico de um aterro através da seguinte fórmula: ∆SSW = WSW + WTS + WA(R) – WLG – WWV – WE + WB(L) (Eq.6.4) Sendo: 100 ∆SSW = variação da quantidade de água armazenada no aterro; WSW = umidade dos resíduos; WTS = umidade do lodo(se houver); WA(R) = água das precipitações WLG = água consumida na formação de gases; WWV = água perdida como vapor saturado de água; WE = água perdida por evaporação superficial; WB(L) = chorume. A capacidade de campo dos resíduos sólidos é definida como a umidade total que pode ser retida numa amostra de resíduos sujeita apenas à ação da gravidade. Esta umidade deve ser comparada com a quantidade de chorume formada no aterro. Quando a capacidade de campo é menor do que a quantidade de água existente no aterro, o chorume é formado e a diferença entre os dois indica sua quantidade. 6.7.2.3 Controle e coleta O sistema de drenagem deve coletar e conduzir o líqüido percolado, reduzindo as pressões destes sobre a massa de lixo e, também, minimizando o potencial de migração para o subsolo. Outro motivo para drenar o percolado é impedir o ataque das estruturas do aterro, como a camada de impermeabilização de base. Figura 6.5 – Ilustração esquemática de impermeabilização de base (Cepollina, 1999) 101 A fim de evitar a penetração do chorume no terreno natural, é construída uma camada de impermeabilização na base do aterro, normalmente, uma camada de argila ou mantas sintéticas (geomembranas) ou as duas técnicas conjugadas (figura 6.5). A argila tem como características, além da baixíssima permeabilidade, a capacidade de absorver e reter muitos dos componentes químicos encontrados no chorume. Com este material é possível impermeabilizar o terreno e, ao mesmo tempo, filtrar o chorume que porventura venha penetrar (Chu et al., 1994). Atualmente, a geomembrana tem uma função secundária de evitar a mistura da camada de argila com o material contido no aterro. A seleção dos sistema de controle vai depender da extensão e geologia local, além da regulamentação ambiental em vigor. Em locais, onde a presença de águas subterrâneas é muito profunda, uma simples camada de argila compactada pode ser suficiente. Em locais em que o chorume e a emissão de gases deva ser controlada, tornase necessário um sistema de controle combinando argila compactada e geomembrana, associados a um sistema de drenagem apropriada. Para os sistemas de coleta de chorume, muitos estudos e métodos têm sido empregados, sendo os mais utilizados o de planos inclinados e o de tubos de coleta. Pelo sistema de planos inclinados, o fundo do aterro é constituído de vários planos inclinados, que vão direcionar a drenagem do chorume para os canais de coleta. Em cada canal de coleta são instalados tubos perfurados que vão levar o chorume para fora do corpo do aterro, de onde seguirão para sua destinação final. A inclinação dos planos é usualmente de 1% a 5%, enquanto a inclinação dos canais varia entre 0,5% e 1%. No sistema de tubos de coleta no fundo do aterro, divide-se o fundo em série de faixas retangulares, com barreiras de argila da largura das células. Dentro dessas barreiras, no sentido das tiras, são colocados os tubos para coleta do chorume, diretamente sobre a camada de geomembrana. Estes tubos tem declividade de cerca de 1,2% a 1,8%, sendo que por este método, efetua-se uma coleta muito mais rápida do chorume. Para o dimensionamento desse sistema de drenagem é fundamental o conhecimento da vazão a ser drenada e das condicionantes geométricas da massa de 102 lixo. Sua concepção dependerá da alternativa de tratamento adotada para o aterro sanitário, podendo inclusive estar associado ao sistema de drenagem de gases. Após a retirada do chorume do corpo do aterro, este pode ser removido para uma estação de tratamento, ou mesmo ser armazenado em tanques para que, no período de estiagem, sejam recirculados no aterro, aumentando assim a velocidade das reações biológicas dentro do corpo do aterro. 6.7.2.4 Opções de gerenciamento Os esforços inicias tem seu foco voltado para evitar a formação de líqüidos percolados, desde a escolha da área e concepção do projeto até a própria operação do aterro. Entretanto, em função de fatores externos, a formação desses líqüidos tende a ser inevitável. Deste modo, deverá sempre ser previsto um sistema de coleta e tratamento dos líqüidos percolados, não sendo admissível sua descarga em cursos d’água fora dos padrões normalizados. O correto gerenciamento do chorume é a chave para a eliminação do potencial poluente de um aterro sanitário sobre as águas subterrâneas. As principais alternativas para o gerenciamento do chorume coletado em aterros sanitários são a recirculação, a evaporação, tratamento seguido de disposição final e descarga no sistema de coleta de esgotos do município. Um método eficaz no tratamento do chorume é coletá-lo e recirculá-lo através do aterro sanitário. Durante os primeiros estágios da operação do aterro, o chorume contém concentrações significantes de sólidos totais, DBO, DQO, nutrientes e metais pesados. Quando o chorume é recirculado, estes componentes são atenuados pela atividade biológica e também por outras reações físicas e químicas que se desenvolvem no aterro sanitário, atenuando o poder de contaminação pelos organismos presentes na massa de lixo. É a forma mais simples de gerenciamento. O chorume é armazenado em lagoas que ficam expostas ao tempo e sofrem evaporação. O que não for evaporado é lançado em forma de spray sobre o corpo do aterro já completo. Em climas chuvosos, a lagoa de chorume é coberto com geomembranas a fim de evitar a incidência da chuva. Uma preocupação a ser considerada neste método é a geração de odores, devendo a superfície estar bem ventilada a fim de minimizar o problema. 103 O tratamento do chorume ocorre onde a recirculação e/ou evaporação do chorume não pode ser adotada e a disposição direta do chorume na rede de esgotos não é possível, algum pré-tratamento ou tratamento completo torna-se necessário. Como as características do chorume coletado pode variar sensivelmente, um grande número de opções para o seu tratamento tem sido estudada. Os principais processos de tratamento em utilização são: • Tratamento em lagoas de estabilização São grandes reservatórios, de pequena profundidade, delimitados por diques de terra, nos quais o material orgânicos, presente nas águas residuárias, é estabilizado por processos biológicos, portanto naturais, envolvendo principalmente algas e bactérias. Além de apresentarem custo muito baixo e empregarem tecnologia muito simples, possuem uma eficiência elevada (Costa, 1992); • Tratamento por ataques químicos Os líqüidos de aterros podem ser tratados por processos envolvendo reações químicas como: neutralização, precipitação e oxidação. Muitas vezes é utilizado o ácido sulfúrico para decompor resíduos orgânicos; • Tratamento por filtros biológicos Pode ocorrer por forma aeróbia ou anaeróbia, isto é, meio biológico ativado. Os filtros aeróbios são providos de uma série de camadas de pedras de granulometria específica e de um suprimento contínuo de ar mantido artificialmente. Os líquidos ao manterem contato com esse meio sofrem oxiredução. No caso de filtros anaeróbios, são utilizadas bactérias mesofílicas. Os filtros anaeróbios são menos eficientes que os aeróbios, entretanto produzem gases combustíveis, que podem ser utilizados como fonte de calor e energia; • Tratamento por processos fotossintéticos Consiste na utilização de plantas que absorvem os nutrientes, metais e traços orgânicos presentes no chorume. O aguapé (Eichhomia crassipes) é uma espécie com grande poder de tratamento; 104 • Tratamento em estações de tratamento de esgoto Os líquidos percolados são encaminhados para tratamento juntamente com os esgotos domésticos. Deve ser cuidadosamente avaliada a capacidade da ETE envolvida, pois a DBO do percolado é muito mais elevada quando comparada ao esgoto doméstico; • Tratamentos mistos Constituem da associação de dois ou mais métodos de tratamento, de forma a conseguir um efluente dentro dos padrões de tratabilidade desejado. 6.7.3 Sistema de coleta e tratamento do Biogás O lixo, ao sofrer decomposição biológica, dá origem a efluentes líquidos e gasosos. Esta atividade biológica dentro do corpo do aterro segue uma seqüência definida: − Inicialmente, grande parte da matéria orgânica é metabolizada aerobicamente, acarretando uma elevação da temperatura, produção de gás carbônico, nitritos e nitratos; − À medida em que o oxigênio existente vai se esgotando, organismos facultativos e anaeróbios começam a predominar e continuam com a decomposição da matéria orgânica. Nesta fase, porém, numa velocidade mais lenta que na fase inicial, com temperaturas mais baixas e com geração de ácidos orgânicos; − Após sucessivas reações bioquímicas, estes ácidos são convertidos em dióxido de carbono (CO2 ) e metano (CH4 ) e traços de oxigênio (O 2 ), cuja mistura é o chamado biogás. Neste processo de decomposição biológica, um dos principais fatores de aceleração do processo anaeróbio é o teor de umidade do lixo, pois a água é o elemento fundamental na atividade enzimática e para transportar os nutrientes dentro da massa de lixo. 6.7.3.1 Drenagem de biogás O sistema de drenagem de biogás tem a função de drenar os gases provenientes da decomposição da matéria orgânica, reduzindo as pressões neutras existentes no interior do maciço. A drenagem evita a migração de gases através dos meios porosos 105 que constituem o subsolo, podendo acumular em redes de esgoto, fossas, poços e sob edificações. Sendo o metano inflamável e passível de explosão espontânea, quando em concentração de 5% a 15% no ar, o controle da geração e movimentação desses gases deve ser feito por meio de um sistema de drenagem vertical. A migração do biogás deve ser controlada pela execução de rede de drenagem adequada, colocados em pontos determinados do aterro. Esses drenos atravessam todo o aterro no sentido vertical, desde o sistema de impermeabilização de base até acima do topo da camada. Associados aos drenos verticais, projetam-se drenos horizontais e subverticais que facilitem a drenagem mais eficiente da massa de lixo. Esses drenos podem ser interligados ao sistema de drenagem de percolados, dependendo da alternativa de solução de tratamento adotado para o aterro sanitário (figura 6.6). Figura 6.6 – Ilustração dos elementos componentes da estrutura de um aterro sanitário(Cepollina, 1999) O dimensionamento desses drenos depende da vazão de biogás a ser drenada; porém, como não existem modelos de cálculos comprovados, normalmente os drenos são constituídos de forma empírica, prevalecendo o bom senso do projetista. 6.7.3.2 Tratamento dos gases O sistema de tratamento mais usual é a queima do biogás proveniente do aterro nos próprios drenos coletores de gases. Contudo, esse é um sistema que ainda requer 106 futuro apoio tecnológico para sanar os problemas ambientais que gera, sobretudo em aterros sanitários de médio e grande porte. A queima do biogás, originando o gás carbônico (CO2 ) ou o seu lançamento direto (CO2 e CH4 ), agravam o efeito estufa, que é o aumento da temperatura da Terra causado pelo acúmulo de gás carbônico (CO2 ) e de gás metano (CH4 ) na atmosfera. Esses gases têm a propriedade de “aprisionar” o calor do sol que incide sobre a Terra, impedindo-o de retornar ao espaço cósmico. Estima-se que seja despejada na atmosfera por anos uma quantidade de CO2 que excede a capacidade de absorção natural da Terra. Atualmente, esse excesso de CO2 é produzido por: processos industriais, consumo de combustíveis fósseis, incêndio e queimadas. O gás metano é emitido para atmosfera através de processos biológicos, que ocorrem principalmente nas plantações de arroz, nas pastagens (gado) e nos lixões. O calor excessivo aprisionado na atmosfera por esses gases está elevando gradativamente a temperatura do planeta, podendo derreter o gelo das calotas polares e elevar o nível da água dos mares, causando inundações. Muitos projetos visam resolver essa questão mundial que assola o mundo, a partir da exploração do metano de aterros sanitários. Os principais problemas nessa área estão relacionados à real capacidade de produção contínua e recuperação, à impossibilidade de um perfeito controle de parâmetros como umidade, pH, potencial redox, temperatura, teor de sólidos voláteis e à presença de substâncias inibidoras do processo biológico na massa de lixo, além de outros de menor importância. Outros aspectos importante é a necessidade de eliminação das impurezas corrosivas presentes no biogás, o que, muitas vezes, torna o processo economicamente inviável. 6.7.4 Sistema de drenagem de águas pluviais Para assegurar uma operação eficiente do aterro, as águas da chuva, que se precipitam nas vizinhanças do aterro, não devem alcançar a área de serviço. Isso pode ser conseguido por meio da construção de canaletas ao redor do aterro ou valetas à meia encosta. 107 Esse sistema tem a finalidade de interceptar e desviar o escoamento superficial, durante e após a vida útil do aterro, evitando sua infiltração na massa de resíduos. O dimensionamento da rede de drenagem depende, principalmente, da vazão a ser drenada. A metodologia utilizada segue a prática usual de drenagem urbana. Em se tratando em bacias de pequena área de contribuição (geralmente inferiores a 500.000m2 ), pode ser utilizado o Método Racional, espesso pela equação: Q=CxixA (Eq. 6.5) Sendo: Q = vazão a ser drenada na seção considerada (m3 /s) C = coeficiente de escoamento superficial (tabelado; função do tipo de cobertura do solo e declividade) (dimensional); A = área da bacia contribuinte (m2 ) I = intensidade da chuva crítica (m/s); Nos aterros, em geral, o sistema de drenagem de águas pluviais é constituído por estruturas drenantes de meias canas de concreto associadas à escadas d’água e tubos de concreto. Entretanto, estes componentes rompem-se com facilidade em virtude dos grandes recalques (subitem 3.5.2), daí a preferência de substituir tais componentes por elementos flexíveis, que podem ser compostos por gabiões ou colchões tipo “reno” (figura 6.7). Figura 6.7 – Exemplo de drenagem de águas pluviais (Cepollina, 1999) 108 É conveniente enfatizar que a água pluvial coletada poderá seguir diretamente para o corpo d’água receptor, apenas mantendo os cuidados necessários para reduzir o material em suspensão e evitar erosões no ponto de lançamento. Em contrapartida, o líqüido percolado do aterro, antes de ser lançado à drenagem natural, é obrigado à passar por um tratamento mais complexo. As águas precipitadas nas imediações dos aterros sofrem captação e desvio por canaletas escavadas no terreno original acompanhando as cotas, de forma a conferir declividade conveniente ao dreno. São chamadas de drenagem provisória as canaletas que serão destruídas pela própria evolução do aterro, as quais, em função de sua curta duração, não necessitam de revestimentos especiais, porém, são refeitas sempre que necessário. As drenagem definitivas são constituídas pelas canaletas que permanecerão ativas mesmo após o encerramento das atividades do aterro, devendo protege-lo durante o tempo suficiente para que a obra seja reincorporada ao ambiente local. As águas de nascentes devem ser canalizadas para assegurar que não sejam contaminadas pelo chorume ou gases produzidos na decomposição do lixo. Recomendase a captação e canalização dessas águas e, em seguida, sua proteção com uma camada de 3,0 m de espessura de argila. 6.7.5 Cobertura dos resíduos Todos os métodos de construção de aterros sanitários diferem na forma de execução. Entretanto, a sistemática de acondicionamento do lixo é a mesma, ou seja, consiste na construção de células sanitárias, que devem ser cobertas por solo diariamente. O sistema de cobertura, seja ele diário, intermediário ou final tem a função de proteger a superfície das células do lixo, eliminar a proliferação de vetores, diminuir a taxa de formação de percolados, reduzir a exalação de odores, impedir a catação, permitir o tráfego de veículos coletores sobre o aterro, eliminar a queima de resíduos, controlar a saída do biogás, ser resistente à processos erosivos e adequado à futura utilização da área. 109 Após o término de cada jornada, a cobertura diária ou intermitente deve ser realizada com uma camada entorno de 20 cm de solo. A cobertura intermediária é imprescindível em locais, onde a superfície de disposição ficará inativa por períodos mais prolongados, cerca de um mês aguardando, por exemplo, a conclusão de um patamar para início do seguinte. No término da vida útil de um aterro ou no encerramento de uma célula, a cobertura final deve apresentar uma espessura de 40cm a 60cm de argila bem compactada, que servirá de “selo”. Na cobertura final é aconselhável o uso de proteção vegetal, objetivando a integração do empreendimento ao meio ambiente local. A camada vegetação tem a função de aumentar a evapotranspiração, diminuindo a quantidade de chuva que se infiltra e, consequentemente, a quantidade de percolado gerada. Os componentes de uma camada de cobertura final em aterro sanitário são (IPT/CEMPRE, 2001): − Camada superficial: solo; camada geossintética de controle de erosão; blocos rochosos; − Camada de proteção: solo; material residual recuperado ou reciclado; blocos rochosos; − Camada drenante: areia ou cascalho; georrede ou geocompósitos; − Camada impermeável: argila compactada; geomembrana; argila geossintética; rejeitos − Camada coletora de gás e/ou camada de fundação areia ou cascalho; solo; georrede ou geotêxtil; material residual recuperado ou reciclado 6.7.6 Sistema de monitoramento O monitoramento acompanha o desenvolvimento de alguns parâmetro, representativos da evolução do sistema, com o objetivo de detectar, em estágio inicial, os impactos ambientais negativos causados pelo empreendimento, permitindo a implantação de medidas mitigadoras antes que este assuma grandes proporções e, dessa forma, torne-se mais difícil sua correção. 110 O principal sistema de controle ambiental é o de rastreamento dos líqüidos percolados, sendo monitorados os mananciais de águas superficiais e subterrâneas. A retirada de amostra a montante e a jusante da obra, permite avaliar as alterações sofridas. A monitorização deverá ser efetuada com a instalação de: − Poços; − Piezômetros e pluviômetros; − Medidores de deslocamentos horizontais e verticais; − Medidores de vazão; − Análises físico-químicas e biológicas; − Inspeções diversas. A freqüência da coleta das amostras e das medições in situ, a escolha dos parâmetros a analisar e a medir, as técnicas e os métodos a utilizar, a freqüência de apresentação dos resultados devem ser ponderado junto ao Órgão Estadual de Controle da Poluição Ambiental e constar no projeto, no estado do Rio de Janeiro o órgão competente é a FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia e do Meio Ambiente). De modo geral, a monitorização do aterro sanitário envolverá aspectos geotécnicos e ambientais O sistema de monitorização geotécnica consiste em: − Controle de deslocamento vertical e horizontal por meio de marcos superficiais, perfilômetros e placas de recalques; − Controle do nível do percolado e pressão de biogás no corpo do aterro através de medidores de nível d’água e piezômetros; − Controle da descarga de percolado através dos drenos através de medidores de vazão; − Inspeções periódicas, buscando-se indícios de erosão e trincas. O sistema de monitorização ambiental consiste em: − Controle da qualidade das águas subterrâneas; 111 − Controle da qualidade das águas superficiais; − Controle da qualidade do ar; − Controle da poluição do solo; − Controle de insetos e vetores de doenças; − Controle de ruído e vibração; − Controle de poeira e material esvoaçante; − Controle de impactos visuais negativos. 6.8 Fechamento do aterro O sistema de fechamento do aterro consiste num plano de encerramento das atividades de recepção de lixo e controle da área até encontrar-se em condições de ser preparado para sua utilização futura. O dimensionamento do sistema de fechamento do aterro sanitário é função do tratamento dos resíduos durante sua vida útil. Durante todo o tempo em que os líquidos e o biogás apresentarem potencial poluidor, isto é, até a estabilização da massa de resíduos as drenagens das águas pluviais, as vias de acesso e os sistemas de monitorização deverão ser mantidos em funcionamento do aterro. A sinalização informando sobre o fechamento do aterro e o endereço da atual localidade de disposição deve ser mantida até que a área esteja liberada para nova utilização. De uma maneira geral, é recomendado que as áreas de aterros sejam transformadas em jardins, parques, praças esportivas e áreas de lazer. Caso ocorra a intenção de construir edificações nestas áreas, precauções especiais devem ser tomadas, pois os recalques diferenciais que a área do aterro sofre devido à compressão das camadas superiores e da decomposição do lixo, são inevitáveis e variam de aterro para aterro. Para efeito de cálculo de fundação, a tendência é admitir que o lixo compactado tenha a mesma taxa de suporte da turfa. Outro problema que deve ser levado em conta é a drenagem dos gases produzidos no aterro, dado o alto poder combustível e explosivo do metano. 112 CAPÍTULO 7 INVENTÁRIO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DO ESTADO DE SÃO PAULO O foco de convergência deste trabalho é analisar o Índice da Qualidade de Aterros de Resíduos (IQR), instrumento criado pelo Inventário de Resíduos Sólidos Urbanos do Estado de São Paulo. Então , se faz indispensável analisar, primeiramente, a constituição desse inventário e seus resultados. A questão dos resíduos sólidos urbanos é um dos maiores desafios a serem solucionados nos diversos Estados da federação brasileira, pelas diversas esferas administrativas, e pela sociedade de forma geral, na busca da sustentabilidade ambiental. O problema, em questão, envolve aspectos sanitários, ambientais e de saúde pública, principalmente quando considerada a constante presença de catadores em lixões, que com muita freqüência tem sido desconsiderado ou relegado a um segundo plano pelos administradores públicos e privados. Esse quadro se agrava com a constatação de uma evidente tendência de crescimento da geração de lixo, não apenas em termos absolutos (t/dia), mas também em termos relativos (Kg/hab./dia). Além do crescimento populacional, que evidentemente contribui para uma maior produção de lixo, a evolução dos padrões de produção e consumo também tem contribuído significativamente, questões, já, abordadas no subitem 3.5. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), no Estado de São Paulo, promoveu ao longo de sua história diversos levantamentos da situação estadual dos serviços de limpeza urbana e destinação final de resíduos. No momento, o Inventário de Resíduos Sólidos Urbanos tem abrangência estadual, objetivando o planejamento do controle da poluição ambiental. 113 7.1 Histórico O Inventário de Resíduos Sólidos Urbanos do Estado de São Paulo foi criado a partir da Resolução SMA 13 (Secretaria do Meio Ambiente) de 27 de fevereiro de 1998, que resolveu: Artigo 1º - Publicar, nos termos da Resolução SMA 66, de 17 de dezembro de 1996, o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos. Artigo 2º - A CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental através de sua diretoria de Controle de Poluição Ambiental, deverá publicar anualmente a atualização do Inventário referido no artigo anterior. Artigo 3º - O Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos deverá considerar o Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos (IQR), para efeito de classificação da destinação final e das usinas de compostagem. Artigo 4º - As condições da destinação final serão consideradas inadequadas, controladas ou adequadas, em conformidade com o IQR, de acordo com a pontuação e o enquadramento previstos no quadro abaixo: Tabela 7.1 – Quadro (CETESB, 1997) IQR/IQC Igual ou menor que 6,0 pontos Maior que 6,0 pontos e inferior a 8,0 pontos Igual ou superior a 8,0 pontos Enquadramento Condições Inadequadas Condições Controladas Condições Adequadas A Resolução, em estudo, foi fundada nas seguintes considerações: − Nas diretrizes da Agenda 21 sobre o tratamento sustentável dos resíduos, sugerindo inicialmente mudanças nos padrões de consumo com vista à proteção e promoção da melhoria das condições da saúde humana; − No Programa Estadual de Resíduos Sólidos, implantado através da Resolução SMA – 28, de 8-6-95, que objetiva equacionar os problemas relativos aos resíduos sólidos no Estado de São Paulo, através de propostas de solução integrada; − Na falta de Políticas Públicas integradas e de critérios no gerenciamento dos resíduos, o que tem gerado impactos ambientais de grande monta, especialmente o assoreamento dos corpos d’água, devido ao lançamento de detritos, a contaminação do solo e de lençóis subterrâneos, a poluição atmosférica, pelo desprendimento dos gases, e 114 a disseminação de doenças, pela proliferação de transmissores, como insetos e roedores, entre outros; − Nos resultados da pesquisa realizada em janeiro de 97 pela SMA, junto a 450 prefeituras municipais do Estado de São Paulo, que demostrou ser a disposição final e o tratamento dos resíduos sólidos um dos principais problemas ambientais urbanos para 74% dos municípios entrevistados; (CETESB, 1997) − Na urgência em prover a integração, articulação e cooperação entre Estados, municípios, setores produtivos, empresariais e demais segmentos as sociedade civil, com vistas a soluções conjuntas, mediante planos da ação integradas; − Na necessidade de direcionar a gestão dos resíduos para a prevenção e a minimização da geração dos resíduos na fonte, através de novas tecnologias que utilizem uma quantidade cada vez menor de matéria-prima, energia e recursos naturais; − Na grande quantidade de resíduos domiciliares produzidos no Estado de São Paulo, superando 20 mil t/dia, sendo que, entre os seus 645 municípios, 494 fazem destinação final de seu lixo a céu aberto, 143 possuem aterros sanitários e apenas 23 possuem usinas de compostagem (CETESB, 1997); − Na fundamentabilidade da reutilização, da reparação e do redesenho de produtos, bem como da redução e da reciclagem de resíduos, para uma Política de Resíduos Sustentável, que envolva também práticas industriais voltadas à prevenção e minimização da geração de resíduos; − Na essencialidade da seletividade, regularidade, continuidade, permanência e integração dos sistemas de coleta e transporte de resíduos para a saúde da população e para a qualidade ambiental; − Na necessidade de tratamento adequado dos resíduos, sendo a compostagem e a incineração soluções possíveis de adoção, consideradas as garantias necessárias à sua implantação; − Na exigência da disposição final ambientalmente segura dos resíduos remanescentes das demais fases do processo produtivo e do consumo; − No dever do Estado em difundir as informações e orientações técnicas, como instrumento para defesa e preservação do meio ambiente para as presentes e futuras 115 gerações, como determina o artigo 225, caput e inciso VI da Constituição da República Federativa do Brasil e o artigo 193, inciso VI da Constituição do Estado de São Paulo; 7.2 Objetivo O Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos, conseguido como parte integrante do Plano Estadual de Resíduos Sólidos, é um instrumento fundamental para o enfrentamento do problema no Estado, que visa: − Constituir no amplo diagnóstico da situação da disposição final e do tratamento do lixo domiciliar; − Permitir o planejamento, implementação e avaliação das políticas públicas correlatas; − Colaborar com o importante papel de vetor de informação e conscientização da sociedade sobre o assunto. Mediante os resultados obtidos com o Inventário, foi possível desenvolver um trabalho de indicação das medidas corretivas para solução dos problemas atualmente existentes em cada localidade. Conforme previsto em 1997, no Programa Estadual de Resíduos Sólidos, para todos os municípios que apresentam irregularidade na destinação final de resíduos sólidos, é proposta a assinatura de um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC). Os TACs são títulos executivos extrajudiciais que são estabelecidos em comum acordo com as administrações municipais, definindo prazos e atividades a serem realizadas por cada município, para a regularização ambiental das instalações de destinação de lixo em operação. De forma resumida, os TACs propõem às administrações municipais procedimentos para os aterros e lixões, visando sua regularização ou encerramento, com a implantação de uma nova solução de caráter definitivo. Em todos os casos, as ações propostas devem possibilitar a adequação técnica e ambiental das instalações seguidas do seu conseqüente licenciamento ambiental. 116 Desde o início do Programa Estadual de Resíduos Sólidos, até 31/12/1999, em todo o Estado de são Paulo, foram assinados TACs com 422 dos 645 municípios, conforme detalhamento na tabela 7.2. Tabela 7.2 – Número de municípios que assinaram o TAC (CETESB, 1999) TAC Munic. Sim Não Total 422 223 645 % em relação ao Estado 65,4 34,6 100,0 População (hab.) 10.642.488 21.188.411 31.830.899 % em relação ao Estado 33,4 66,6 100 t/dia 5.349,6 12.882,4 18.232,0 % em relação ao Estado 29,3 70,7 100,0 Os Termos de Ajustamento de Conduta foram propostos como uma alternativa inovadora, que tem como objetivos conscientizar, comprometer e estabelecer parcerias entre o Estado e as administrações municipais, na busca de soluções para a desatinação final de resíduos. A imposição de penalidades aos municípios, embora utilizadas como recurso último, isoladamente não tem resultado em significativas melhorias ambientais no Estado. Assim, o estabelecimento de um termo que tem força de contrato extrajudicial, além do benéfico comprometimento dos prefeitos, ainda firma as responsabilidades das partes envolvidas, em cumprimento à Lei de Crimes Ambientais. 7.3 Fundamentação teórica O lixo é definido no Inventário como: “todo o material sólido proveniente das atividades diárias do homem em sociedade que, por ser considerado sem utilidade ou valor, é descartado”, podendo provocar a contaminação do solo é da água, gerar odores, ou ainda, atrair e propiciar a proliferação de patógenos e vetores caso não seja coletado, tratado e disposto de maneira adequada. Os dados contidos no Inventário, pertinentes às quantidades de lixo gerado e aos dados demográfico, têm por base os valores publicados pela Fundação IBGE, no Censo Demográfico de 1996. As quantidades de resíduos geradas nos municípios, foram calculadas considerando-se índices de produção per capita, obtidos pela CETESB em pesagens realizadas em inúmeros municípios do Estado, aplicados à população urbana de cada cidade (Tabela 7.3). 117 Tabela 7.3 – Valores da produção de resíduos sólidos em função da população (CETESB, 1999) População (mil hab.) Até 100 100 a 200 200 a 500 Maior que 500 Produção de lixo (kg/hab.dia) 0,4 0,5 0,6 0,7 Além das informações tradicionalmente contidas em levantamentos dessa natureza, o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos inova ao introduzir uma metodologia de classificação de áreas de disposição final. Tal classificação baseia-se no Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos (IQR) (anexo 1), que permite o enquadramento do sistema analisado em três condições: inadequadas, controladas e adequadas, conforme a pontuação alcançada dentro de um limite de 0 a 10 pontos (Tabela 7.1). Na definição dessa pontuação são consideradas 41 variáveis que abarcam três aspectos básicos: localização, infra-estrutura e condições operacionais. Tais informações são obtidas em vistorias, nas quais são utilizadas planilhas específicas para avaliação do IQR, a partir das quais pode-se identificar quais são os principais problemas existentes em cada caso. 7.4 Síntese dos Inventários de Resíduos Sólidos Urbanos O primeiro Inventário Estadual realizado foi em 1997, considerado pioneiro devido ao instrumento de avaliação utilizado. E dando continuidade às metas estabelecidas pela Diretoria de Controle de Poluição Ambiental, conforme Resolução SMA 13 de 27/02/1998, foram realizados os Inventário dos anos seguintes. O gráfico 7.1 e 7.2 apresentam um resumo dos Inventários de Resíduos Sólidos Urbanos do Estado de São Paulo dos anos de 1997, 1998 e 1999. 118 Gráfico 7.1 – Quantidade de resíduos (CETESB, 1999) 70 59,3 58,4 60 50 % 50 1997 40 30,7 27 30 2 3 22,7 17,9 1998 1999 20 10,9 10 0 adequada controlada inadequada Situação Gráfico 7.2 – Número de municípios (CETESB, 1999) 90 77,8 80 70 56,4 60 50,4 % 50 40 1999 28,4 30 18,2 20 10 1997 1998 25,4 18 21,2 4,2 0 adequada controlada inadequada Situação Da análise do gráfico 7.2, conclui-se que o número de municípios em condições inadequadas em 1999 continua pouco maior que o somatório daqueles que se encontram 119 em condições controladas e condições adequadas, contido, de 1998 para 1999, observase uma redução de 6% nos municípios em situação inadequada, e aumento superior a 10% naqueles em condições adequadas, fato extremamente positivo. Em termo de quantidade de lixo destinadas, observa-se a manutenção do mesmo índice em situação inadequada e aumento de 9% para o grupo em situação adequada, no período de 1998 e 1999. Ainda, a maioria dos municípios em condições irregular (359 municípios) é constituída pelos de pequeno porte, isto é, 276 municípios geram menos que 10 toneladas de lixo por dia, 77 municípios apresentam geração entre 10 t/dia e 100 t/dia e apenas 6 municípios geram mais que 100 t/dia. É importante frisar que a pontuação obtida pelos dois aterros da cidade de São Paulo, classificados em condições adequadas, por operarem grandes quantidades de lixo, deslocam a média do Estado mascarando os resultados para uma condição melhor. Enquanto 50,4% dos municípios encontram-se em situação inadequada, pode-se dizer que 77% em peso dos resíduos, como no Inventário de 1998, são destinados de forma controlada ou adequada. Embora o percentual de redução dos municípios em situação inadequada tenha diminuído de 1998 para 1999, em relação ao período de 1997 a 1998, observa-se que há continuidade na evolução da situação. Evidentemente, à medida que diminui o número de municípios em situação inadequada, maiores as dificuldades de melhoria, porque persistem os caos de maior complexidade e de mais difícil equacionamento. 120 CAPÍTULO 8 ALTERAÇÃO DO ÍNDICE DA QUALIDADE DE ATERROS DE RESÍDUOS - IQR Este capítulo tem como objetivo abordar o Índice da Qualidade de Aterros de Resíduos (IQR), propondo modificações. Como muito bem expresso, no Manual de Gerenciamento Integrado, IPT/CEMPRE,2000, o IQR é apenas exemplificativo. Também, nesta seção serão apresentados outros índices de qualidade de aterros utilizados no mundo. 8.1 Análise do IQR O Inventário de Resíduos Sólidos Urbanos do Estado de São Paulo incluiu a classificação de disposição dos resíduos, o IQR, composto por quarenta e uma variáveis, divididas em três macroconjuntos que são: características do local, infra-estrutura implantada e condições operacionais (anexo 1). O preenchimento do formulário do IQR permite alcançar uma nota, que enquadra as instalações de destinação final do lixo em: condições inadequadas, condições controladas e condições adequadas (anexo 1). Esse formulário foi criado para ser implantado em locais de disposição de resíduos de sólidos urbanos de qualquer porte, permitindo estabelecer um critério único de apreciação em todo o estado. O IQR alicerçado no conhecimento técnico dos funcionário da CETESB afastou, parcialmente, o empirismo da avaliação, pois os requisitos enumerados ao longo do formulário são representativos. Outro ponto relevante é a correlação de cada avaliação com um peso, isto é, com uma nota específica, que não aceita valores intermediários. A incerteza no resultado do IQR reside no seu preenchimento. A quantidade exacerbada de municípios a serem inspecionados num estado e as distâncias consideráveis entre eles demandam a participação de inúmeros técnicos do Órgão Estadual do Controle da Poluição Ambiental. E, tendo em vista o critério de avaliação pouco preciso, pode ocasionar avaliações distintas de um operador para outro, dando 121 origem à pequenas distorções nos resultados. Uma questão que não pode ser desprezada é que o IQR está baseado numa inspeção expedita, a qual não requer ensaios, podendo, também, contribuir para o desvio da situação real. A avaliação do IQR propicia a similitude de correlação entre as condições inadequadas, controladas e adequadas com a classificação de lixão, aterro controlado e aterro sanitário, como já foi visto no subitem 6.1. A classificação alcançada pelo IQR é de suma importância, pois criou uma padronização nas avaliações das condições ambientais das instalações, diminuindo o nível de subjetividade e possibilitando o estabelecimento de comparações de maior significância. O IQR analisa a disposição atual do lixo do município e se tornou um poderoso instrumento para decidir a continuidade de operação ou a necessidade de fechamento de um local de disposição de resíduos sólidos. Auxilia, ainda, no estabelecimento das medidas corretivas, visando a evolução da área para galgar uma avaliação satisfatória e a licença de operação (LO). O IQR é um instrumento bem sucedido no Estado de São Paulo, pois contou com o apoio jurídico do Termo de Ajuste de Conduta (TAC), criando um comprometimento entre os prefeitos e o Estado. 8.2 Exemplos de classificações Classificar é agrupar, formar grupos, obedecendo a determinados critérios, isto significa que um grande conjunto é dividido em conjuntos menores obedecendo a critérios de semelhanças e diferenças entre os vários componentes do conjunto original. A classificação é um importante instrumento de estudo, que permite reunir os elementos de tal forma que é possível prever várias de suas propriedades, mesmo sem os conhecer. Inúmeros exemplos de importantes classificações, que revolucionaram o mundo científico, podem ser citadas. É impossível saber a quantidade de seres vivos e conhecê-los em toda a sua variedade. Para solucionar essa questão, eles foram classificados. Os seres vivos estão classificados nos seguintes grupos: espécie, gênero, família, ordem, classe, filo e reino (Barros, 1987). Seguindo esse método os vegetais também podem ser classificados. 122 Após os trabalhos de Lavoisier, Dalton e outros, o estudo dos elementos químicos desenvolveu-se de tal forma que se tornou necessário organizar os elementos, classificando-os de acordo com suas propriedades (Sardella, 1998). A observação experimental tornou evidente que certos elementos têm propriedades muito semelhantes. Em 1869, surgiram dois interessantes trabalhos, que levaram à atual classificação periódica dos elementos. O cientista alemão Julius Lothar Meyer (18301895) e o russo Dmitri Ivanovitch Mendeleev (1834-1907), trabalhando independentemente e sem que um conhecesse o que o outro fazia, chegaram praticamente à mesma conclusão (Sardella, 1998). O trabalho de Mendeleev, no entanto, foi mais detalhado, o qual se tornou a base da classificação atual. Ordenando os elementos em fileiras horizontais na ordem da massa atômica crescente, Mendeleev obtinha colunas com elementos de propriedades semelhantes. Cada fileira horizontal é um período; como as propriedades se repetem de período em período e têm uma determinada variação ao longo de cada um deles, são chamadas de propriedades periódicas. A classificação, também, foi um meio prático que os estudiosos descobriram para a identificação dos solos. Alguns sistemas de classificações são (Pinto, 2000): • Classificação unificada Este sistema foi elaborado originalmente pelo prof. Casagrande para obras de aeroportos, porém o seu emprego foi generalizado para outras área da engenharia. Nesta classificação os solos são identificados pelo conjunto de duas letras. A primeira letra indica o solo principal e a secunda corresponde a dados complementares. • Sistema rodoviário de classificação O sistema é de origem americana, mas empregado na engenharia rodoviária em todo o mundo. Essa classificação está baseada na granulometria e nos limites de Atterberg, como a classificação unificada; • Classificações regionais As discrepâncias entre as classificações clássicas e o comportamento observado de alguns solos nacionais se deve ao fato destes serem freqüentemente solos residuais 123 ou lateríticos, para os quais os índices de consistência não podem ser interpretados da mesma maneira como o são para os solos transportados de clima temperado. Solos residuais sofrem grande influência da rocha mater e apresentam aglomerações de partículas envoltas por deposição de sais de ferro ou alumínio. Os ensaios de limites de Atterberg são realizados com a amostra previamente seca ao ar, destorroada e amassada energicamente com uma espátula durante a incorporação de água. Esse procedimento altera a estrutura original do solo. Assim, é de se esperar que as correlações estabelecidas com base em comportamento de solos transportados não se apliquem adequadamente a solos saprolíticos e lateríticos, que ocorrem em regiões tropicais. Uma proposta de sistema de classificação dos solos tropicais, voltada para a prática rodoviária, vem sendo desenvolvida pelo prof. Nogami da escola Politécnica da USP (Pinto, 2000). Os solos são classificados inicialmente em areias, siltes e argilas, a seguir em lateríticos e saprolíticos. Na presente classificação, não são empregados os índices de consistência, mas parâmetros obtidos em ensaios de compactação com energias diferenciadas. • Classificação dos solos pela sua origem Os solos podem ser classificados em dois grupos: residuais e transportados (Pinto, 2000). Solos residuais são oriundos da decomposição das rochas que se encontram no próprio local em que se formaram. A velocidade de decomposição está relacionada com a temperatura, regime de chuvas, vegetação, dentre outros fatores (Lambe & Whitman, 1970), que aceleram a degradação, principalmente, nas regiões tropicais. Nesse tipo de solo a velocidade de decomposição da rocha é superior à velocidade de remoção por agentes externos. Os solos residuais se apresentam em horizontes com grau de intemperização decrescente. Vargas (1981) identifica as seguintes camadas: − Solo residual maduro: solo que perdeu toda a estrutura original da rocha-mãe e tornou-se relativamente homogêneo; − Solo saprolítico ou solo residual jovem ou solo de alteração de rocha: solo que mantém a estrutura original da rocha-mãe, mas perdeu a consistência de rocha; 124 − Rocha alterada: horizonte em que a alteração progrediu ao longo das zonas de menor resistência, encontrando-se grandes blocos intactos de rocha original; − Rocha sã ou fissura Os solos transportados são aqueles levados ao seu local presente por algum agente de transporte. As características dos solos estão relacionadas com o agente transportador, que são: − Solos coluvionares: formados por ação da gravidade; − Solos aluvionares: resultantes do carregamento pela água. A constituição desse tipo de solo depende da velocidade da água no momento da deposição; − Depósitos eólicos: formados pelo transporte do vento. O transporte eólico causa o arredondamento das partículas. • Solos lateríticos Na engenharia civil, as classificações pedológicas são utilizadas pelos engenheiros rodoviários. A pedologia é o estudo das transformações da superfície dos depósitos geológicos, ocorrendo nos solos residuais e nos transportados. Os fatores que determinam as propriedades dos solos considerados na pedologia são: a rocha-mãe, o clima, a vegetação, os organismos vivos, a topografia e o tempo de exposição a estes fatores. Em regiões tropicais, como no Brasil, é importante o estudo dos solos lateríticos dentro da classificação pedológica. Os solos lateríticos tem sua fração argilosa composta de minerais cauliníticos e apresentam alta concentração de ferro e alumínio, dando origem à coloração avermelhada. Naturalmente, os solos encontram-se não-saturados, com índices de vazios elevados e com uma pequena capacidade de suporte. Porém, após compactação, o solo laterítico apresenta capacidade de suporte elevada, contração se o teor de umidade diminuir, mas não expande na presença de água. 8.3 Alteração do IQR Como o IQR é apenas exemplificativo, aceita alterações. A idéia de mudança partiu do princípio de acrescentar alguns itens não contemplados, suprimir outros e 125 organizá-los. Essa nova tabela foi batizada com a abreviação de IQA (anexo 2) em substituição ao IQR. O primeiro conjunto, contendo dez parâmetros, agrupados no item características do local não foi modificado, todavia sofreu alteração da disposição dos requisitos. Os primeiros subitens consideram as características do solo, que são: a capacidade de suporte e a permeabilidade. A seguir é analisada a proximidade de núcleos habitacionais. Os próximos requisitos abordam a presença de água no entorno. A quantidade e a qualidade do material para recobrimento são verificados. Por último, são estudados as condições de trânsito, isolamento visual e a legalidade do local. O segundo conjunto, inicialmente de quinze parâmetros, passou a dezesseis, dentro do item infra-estrutura implantada. O subitem vigilantes foi suprimido, já que a existência de outras características, como o cercamento da área e presença de guarita, supera definitivamente essa questão. O monitoramento dos efluentes do aterro e da estabilidade do maciço de solo e lixo foram incluídos na análise. Esse conjunto sofreu uma organização, seguindo a lógica do procedimento de ingresso e disposição de resíduos sólidos urbanos no aterro; iniciando com análise do cercamento e portaria, passando ao controle de recebimento de carga e acesso à frente de trabalho, verificação dos equipamentos para manejo dos resíduos e das diversas drenagens dos efluentes. A seguir o sistema de tratamento do chorume é observado. Por fim, são considerados as estruturas de monitoramento e o atendimento a estipulações de projeto. O terceiro conjunto, inicialmente com dezesseis parâmetros passou a vinte e dois, dentro do item condições operacionais. O subitem aspecto geral, por guardar um peso de subjetividade, foi subtraído. Os subitens ocorrência de lixo descoberto e recobrimento do lixo sofreram uma substituição por presença de elementos dispersos pelo vento, recobrimento diário e compactação do lixo. Os novos requisitos incluídos foram: presença de queimadas, funcionamento do sistema de monitoramento dos efluentes do aterro e da estabilidade dos maciços, medidas corretivas, dados gerais do aterro e plano de fechamento do aterro. A organização desse conjunto manteve a disposição original, implementada, de forma coerente com o item anterior de infraestrutura implantada. Cada requisito descrito acima da tabela do IQA será, detalhadamente, estudado no capítulo 9. 126 Outra modificação ocorreu nos intervalos da avaliação. As condições controladas sofreram alteração de 6,0 a 8,0 para 6,01 a 8,0 e as condições adequada passaram de 8,0 a 10 para 8,01 a 10, evitando, assim, que uma nota apresentasse dupla classificação. O surgimento de novos subitens no formulário criou um problema, a inexistência de peso, isto é, a falta de nota para os novos parâmetros. O instrumento multicriterial utilizado para resolver esse impasse foi a Análise do Valor, desenvolvida no próximo item. A avaliação multicriterial é amplamente difundida no estudo da seleção de áreas para implantação de aterros sanitários (Valentini, 1997; Lolos et al.,2001; Houtain, et al.,2001), com a proposta de estabelecer critérios e procedimentos para sistematizar esse tipo de decisão. Já, especificamente, a metodologia Análise do Valor foi aplicada para a seleção de área de aterros sanitários por Mahler e Leite (1998). 8.4 Análise do Valor Em 1947, durante a 2ª Guerra Mundial, a metodologia Análise de Valor foi desenvolvida pelo engenheiro Lawrence D. Miles (Miles, 1961). Com o advento da guerra esforços foram concentrados para pesquisa de novos materiais de custo mais baixo e de grande disponibilidade, que pudessem substituir outros mais raros e de custo mais elevado. Miles, na época, trabalhando na General Electric buscou contornar o problema da escassez durante a guerra, através da busca de um potente instrumento de redução de custos. Uma série de técnicas foi criada em torno dessa idéia, que, no conjunto, chamouse de Análise do Valor (AV). A Análise do Valor foi elaborada para agir sobre inúmeras funções desempenhadas por um produto, visando a redução de custos, entretanto sem prejudicar o nível de satisfação do consumidor. 8.4.1 Definições Em 1975, a Análise do Valor foi definida pela Society of Value Engineers (SAVE) como: “ um esforço organizado, dirigido à analise das funções de sistemas, 127 produtos, especificações, padrões, técnicas, práticas e procedimentos, com a finalidade de satisfazer as funções requeridas ao menor custo”. Como se trata de uma metodologia que pode ser aplicada a qualquer atividade, foi escolhida para ser empregada na avaliação de aterros de resíduos. Para análise de um objeto, produto, processo, serviço ou sistema, os conceitos básicos se resumem em apenas três: função, valor e desempenho (Mahler & Leite, 1998). • Função O conceito de função é fundamental dentro da Análise do Valor. Wilcock definiu função como: “a característica a ser obtida do desempenho de um item, se o item realizar sua finalidade, objetivo ou meta. É a finalidade ou motivo da existência de um item ou parte de um item”. Função é o objetivo de um produto ou sistema operando em sua maneira normalmente prescrita, portanto função é “qualquer coisa” que faz o item ou sistema funcionar ou vender. Assim é “aquilo que deve ser desempenhado”. Uma função é descrita através de um verbo de ação, seguido de um substantivo. Por exemplo, um aterro de resíduo deve apresentar um solo com característica argilosa ou argilo-arenosa, então sua função é de “ser impermeável” para evitar a contaminação do solo e do lençol freático, sendo esta apenas uma das funções necessárias de uma área para aterro sanitário. Há dois tipos de classificações para as funções, quanto à sua necessidade e quanto ao tipo de aplicação(Csillag, 1995). Quanto à sua necessidade: − Funções básicas ou primárias: são aquelas para qual o objeto é adquirido ou projetado, pode-se dizer que é a própria razão da existência do objeto. Exemplo: o aterro tem o objetivo de receber e confinar o lixo diariamente; − Funções secundárias ou auxiliares: são as funções que acrescentam utilidade ao objeto, complementam funções básicas. Tais como: evitar odores e proliferação de vetores. Quanto ao tipo de aplicação: 128 − Funções de uso: são sempre expressas por um verbo e um substantivo mensurável. São vinculadas à utilidade que a função tem em satisfazer necessidades de natureza operacional; − Funções de estima ou estética: são sempre expressas por um verbo e um substantivo não mensurável. Estão relacionadas às necessidades comportamentais e efetivas do usuário. • Valor O dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira define valor: “equivalente justo em dinheiro, mercadoria etc., especialmente de coisa que pode ser comprada ou vendida”. Existem quatro tipos de valor econômico: − Valor de custo: total de recurso medido em dinheiro, necessário para produzir/obter um item; − Valor de uso: medida monetária das propriedades ou qualidades que possibilitam o desempenho de uso, trabalho ou serviço; − Valor de estima: como a medida monetária das propriedades, características ou atratividades que tornam desejável sua posse; − Valor de troca: medida monetária das propriedades ou qualidades de um item que possibilitam sua troca por outra coisa. • Desempenho Pode ser definido como o conjunto específico de habilidades funcionais e propriedades que o fazem adequável para uma finalidade específica. Ou ainda, é o conjunto da medição ou apreciação que se faz do item, quanto ao cumprimento ou adequação de suas funções necessárias. Quanto mais essencial a função, mais importante que as demais, maiores serão os seus requisitos de desempenho. O desempenho do objeto é avaliado, também, como somatório do desempenho de suas funções. 129 8.4.2 Metodologia Análise do Valor orienta para a análise e solução de problemas, constituindo-se num esforço deliberado para identificar e selecionar o método de menor custo. Todos os planos de trabalho seguem os clássicos passos do processo decisório: − Definir o problema, analisá-lo e definir o objetivo; − Estabelecer alternativas; − Avaliar as conseqüências de cada alternativa (abordagem funcional); − Escolher a melhor alternativa − Implementação. A abordagem funcional pode ser definida como a determinação da natureza essencial de uma finalidade, considerando que todo objeto ou ação para existir, tem uma finalidade. A abordagem funcional reduz o projeto a requisitos chamados funções. A avaliação funcional de um produto constitui um bloco compactado de perguntas e respostas, como segue: − Quais são as funções básicas e secundárias? − Qual o custo de cada uma delas? − Qual o valor da função básica? − De quantas outras formas alternativas pode ser desempenhada a função básica? − Quanto custarão essas formas alternativas? A dificuldade começa na terceira pergunta, que pede o valor. Como todos os valores são relativos, uma das técnicas mais diretas é a de avaliar por comparação. A técnica empregada para simular a avaliação das funções foi a da Matriz de Avaliação Funcional, introduzida por Mudge. Esta técnica implica na comparação de cada função com as demais, determinando a cada momento sua necessidade/importância, com a ponderação adequada, variável de zero a três (Csillag, 1995): − 3 pontos: função muito mais importante ou necessária que a outra; 130 − 2 pontos: função significativamente mais importante ou necessária que a outra; − 1 ponto: função pouco mais importante ou necessária que a outra; − 0 pontos: função de igual importância ou necessidade que a outra. Quando essa comparação e avaliação estiverem terminadas, somam-se os pesos atribuídos de cada função e determina-se o percentual deles em relação ao total dos pesos de todas as funções. Em uma tomada de decisão é fundamental o estabelecimento de prioridades, isto é, ao se analisarem as funções ou atributos considerados mais importante em relação aos demais, atacam-se os problemas mais críticos e aproveitam-se as melhores oportunidades para a obtenção de resultados, além de se adotar um procedimento ordenado e sistematizado de estudo do assunto. A metodologia Análise do Valor procura determinar o valor relativo de cada função exigida, que inclui o custo ou percentual de custo, avaliando as funções que merecem maior atenção ou estudo, no sentido de aumentar o desempenho funcional esperado do projeto. Diferentemente de outras metodologias, que identificam o custo das partes ou componentes do objeto, a Análise do Valor se preocupa com o custo das funções. Para tal, considera-se o custo total do objeto como 100% e as parcelas do custo de suas funções que são posteriormente associadas aos componentes como percentuais do total do custo do objeto. Em seguida, monta-se a Matriz de Custeio de Funções, onde analisa-se cada componente procurando atribuir quanto de seu custo é utilizado para cumprir a função, variando de zero, parte que não cumpre função até 100%, toda parte cumpre apenas uma função. Determina-se então a percentagem do custo total correspondente a cada parte, e soma-se o percentual da função no custo total do objeto. Esta técnica não indica os custos desnecessários, mas mostra claramente onde estão os altos custos ou onde ocorrem os maiores gastos de cada função desempenhada. A relação desempenho/custo é o indicador que sinaliza quais são as funções críticas. O desempenho funcional é aquele atribuído a cada função na Matriz de Avaliação Funcional e o custo funcional é a resultante da Matriz de Custeio de Funções. 131 Valores dessa relação inferiores a um, destacam funções que requerem maior atenção e estudo durante o trabalho de desenvolvimento do projeto de implantação de um aterro. A equipe multidisciplinar, envolvida no projeto, deve buscar soluções eficientes que minimizem o custo das funções críticas, sem prejudicar o seu desempenho. 8.4.3 Aplicação da Análise do Valor no IQA O IQA foi desmembrado em três grupos, consoante aos itens: características do local, infra-estrutura implantada e condições operacionais. O primeiro grupo como não sofreu inclusão nem exclusão de parâmetros, a Análise da Valor não se aplicou. No segundo e no terceiro grupo houve aplicação da Análise do Valor para atribuir pesos às avaliações. As funções utilizadas são os próprios subitens de cada bloco, onde se aplicou a Matriz de Avaliação Funcional (anexo 3). Essa técnica, permite comparar cada função com as demais, determinando a cada momento sua importância, através da ponderação adequada, variando de zero a três. Ao final da comparação, os pesos atribuídos a cada função foram somados e determinou-se, assim, o percentual deles em relação ao total dos pesos de todas as funções. Seguindo o critério de pontuação máxima do IQR, equivalente a cinco pontos, as funções de maior importância receberam essa pontuação e as demais perceberam uma contemplação proporcional. Com o desenvolvimento da técnica, descrita anteriormente e presente no anexo 3, a pontuação dos parâmetros introduzidos no IQA foi alcança com êxito. A Matriz de Custeio de Funções não teve finalidade para completar o IQA, mas a explicação supracitada, objetivou contemplar em suma todo o estuda da Análise do Valor. 8.5 Índices Internacionais da Qualidade de Aterros de Resíduos Ao longo de várias pesquisas e através de contatos com profissionais, que atuam na área de aterro sanitário, não se encontrou nenhum estudo ou aplicação nos moldes do 132 IQR. A seguir estão descritas duas formas de avaliação, com concepções bem distintas da utilizada no Brasil. 8.5.1 Avaliação internacional Avaliação internacional da evolução de aterros apresentada no anexo 4 é uma coletânea bibliografia recebida do engenheiro espanhol Antonios Mavropoulos, estudioso sobre o assunto. A análise classifica os locais de disposição dos resíduos sólidos, conforme o grau de proteção da área; considerando os critério de boa proteção, os parâmetros são muito rigorosos quando comparados com a nossa normalização. A NBR 13896 (ABNT, 1997b) estabelece que o local onde será implantado um aterro sanitário deve apresentar solo homogêneo de 3m de espessura, já avaliação em pauta determina maior que 5m. A mesma Norma determina distância mínima, entre a base do aterro e a cota máxima do aqüífero, superior a 3m, a avaliação internacional considera maior que 10m. Existem requisitos contemplados na avaliação em estudo, que as normas brasileiras sobre aterro sanitário são omissas, como: o uso das águas subterrâneas, a especificação de monitoramento de gases nas área vizinhas e a segurança dos trabalhadores. 8.5.2 Avaliação alemã Avaliação alemã estabelece critério para aterros antigos, que está alicerçada na experiência da Comissão Regional de Avaliação (CRA) em grandes municípios como: Harburg, Rotenburg/Wümme e para a cidade de Hannover. A partir de indicadores de análise de risco são criadas listas de prioridades para solução dos problemas locais. A avaliação de antigos aterros consiste em duas etapas. A primeira fase refere-se à coleta de dados sobre cada aterro e a segunda fase de verificação inicial, que se refere ao emprego de matrizes de análise de risco de contaminação do meio ambiente e segurança da população. O somatório das diversas matrizes permite alcançar uma pontuação de risco, possibilitando concluir que o aterro com maior valor terá uma 133 prioridade de solução. Depois de finalizada a análise os dados serão disponibilizados para o Estado e para a população. A base para a formação das prioridades é a análise dos resultados da avaliação inicial pela CRA. Caso não exista nenhum conhecimento sobre as condições do aterro deverá a avaliação inicial basear-se no princípio da avaliação pessimista, para que seja visto o lado mais seguro para a formação de prioridades. Isto significa que quando não existirem informações ou quando o estado de conhecimento for muito pouco a situação menos otimista será considerada, dando-lhe, assim, o máximo de pontuação. Caso, seja possível, as diferenciações através da CRA, o valor aceito será reduzido. A verificação inicial divide-se em cinco passos: − Avaliação diferenciada dos volumes de antigos aterro e da classe do resíduo (M1); − Avaliação diferenciada da espessura da camada de base e o grau de permeabilidade (M2); − Avaliação diferenciada do lugar para estação de tratamento de água (ETA) (A 1-4); − Avaliação diferenciada para a distância de instalações do aterro (B 1-3); − avaliação diferenciada do local percolado (C 1-3). Tabela 8.1 – Matriz para avaliação inicial (Heitefuss et al., 1994) Volume x Classe < 1.000 m³ 1.000 - 5.000 m³ 5.000 - 10.000 m³ 10.000 - 20.000 m³ 20.000 - 50.000 m³ 50.000 - 100.000 m³ 100.000 - 500.000 m³ > 500.000 m³ Matriz: volume de antigos aterros x classe do resíduo terra entulho lixo domiciliar lixo domiciliar lixo lixo > 30 anos < 30 anos especial I especial II 0 5 10 15 35 45 1 7 14 19 37 47 2 10 18 23 39 49 3 13 22 27 41 51 4 15 26 31 43 53 5 17 29 34 45 54 5 19 32 37 47 55 5 20 35 40 49 55 Matriz: espessura da base impermeabilizada x permeabilidade da base Espessura x k k < 10-6 10 -4 > k > 10-6 k > 10-4 > 10 m sobre o lençol freático 0 4 8 2 - 10 m sobre o lençol freático 1 5 10 0 - 2 m sobre o lençol freático 3 8 13 Embaixo do lençol freático 9 12 15 M1 M2 134 Matriz: instalações x distância do aterro Instalação x Distância > 1.000m até 1.000m até 500m ETA 0 15 25 Água protegida 0 0 12 Região abundante em água 0 0 0 Estação de águas minerais 0 0 12 Dist. x Uso Sobre o aterro Até 20 m Até 100 m de distância até 100m 25 25 10 25 Matriz: tipos de uso x distância do aterro casas/jardins/parcomércio/ locais com trânsito ques/agricultura indústria 25 20 10 20 10 5 10 5 0 Regiões x Distância Região inundável Região possivelmente inundável Parque protegido Matriz: regiões x distância do aterro > 1.000m até 1.000m até 500m 0 0 0 0 0 2 0 0 0 até 100m 5 5 4 A1 A2 A3 A4 B1 B2 B3 C1 C2 C3 O valor da avaliação de risco de um aterro será = M1 + M2 + valor máximo de A + B + valor máximo de C Cada passo sobre a matriz será explicado a seguir. • Avaliação diferenciada dos volumes de antigos aterro e da classe do resíduo (M1) Como está apresentado na tabela 8.1 pode-se ver a classificação de diferentes riscos dos antigos aterros, oriundos da formação de gases em especial em áreas com menos de 30 anos. Através da diferenciação da idade os aterros mais antigos que 30 anos receberão uma pontuação menor, isto é, apresentam menor risco. Na matriz está a lista das diferentes classes de resíduos sólidos. Caso o lixo especial tenha sido colocado junto com outro tipo de resíduo ou apenas existe uma suspeita, todo o volume do lixo será classificado como lixo especial I ou II. Este procedimento serve para uma avaliação comparativa mais segura do potencial de risco do aterro. Em primeiro lugar o tipo de lixo principal será determinado em uma das seis classes de risco, procedimento análogo acontece, também, em relação ao volume de lixo depositado. Tem-se como resultado um valor de risco. 135 Dependendo de cada localidade, também da composição provável do lixo depositado, pode ocorrer que numa região potencialmente industrializada exista uma área crítica em relação ao tipo de lixo. O conhecimento ou a estimativa do tipo do lixo especial pode ser feita através da aceitação de número entre 5 e 15, conforme a classe: − Lixo especial I = 5 pontos; − Lixo especial II = 10 pontos; − Alto risco = 15 pontos. Existe para aterros antigos um risco de perigo maior para a região, quando presume-se que uma porcentagem do lixo especial foi depositado junto com outra classe lixo. Através da estimativa do lixo especial enterrado pode-se fazer uma diminuição ou um aumento do item M1. Deve-se observar que através do lixo especial a diminuição das pontuações não se deve ficar abaixo do valor de avaliação. Exemplo A - Cálculo do adicional de um aterro antigo, localizado numa região com grande suspeita de risco. O aterro de lixo urbano é de 30.000 m³, ao lado desse lixo existe 100 barris com ácido cianídrico (lixo especial II), dispostos ilegalmente. O local foi fechado há 22 anos. Baseando-se na classe de risco do lixo orgânico, chega-se a pontuação de 31, considerando um adicional de 15 pontos, o total de risco é de 46 pontos. Exemplo B - Cálculo dos descontos de um aterro antigo que localiza-se numa região com pouco potencial de risco em relação ao tipo de resíduo que foi depositado que é de 500.000 m³, fechado há 15 anos. Esse aterro apresenta além de resíduo urbano 20 barris de óleo (lixo especial I). Como a quantidade de lixo domiciliar em comparação com os barris é muito superior, deve-se fazer um desconto do máximo do valor de 49 para 40. Neste caso se fixará em 45 pontos. • Avaliação diferenciada da espessura da camada de base e o grau de permeabilidade (M2) A avaliação da distância do aterro até o lençol freático e a permeabilidade do subsolo acontece como indica a análise inicial. • Avaliação diferenciada do lugar para estação de tratamento de água (ETA) (A 1-4) 136 Dentro das condições do programa de aterros está sendo feito juridicamente uma ampliação da utilização do termo local com proteção aos mananciais. Legalmente esse termo local com manancial de água protegido não será somente restrito a lugares aonde se faz a tomada de água como também para regiões de bacia. • Avaliação diferenciada para a distância de instalações do aterro (B 1-3) A matriz de avaliação inicial analisa um aterro sobre o qual existe algum tipo de utilização. Caso a localidade tenha algum uso será considerado um risco máximo de 25 pontos, quanto mais antigo o aterro e o tipo de construção existente não será considerado o risco. • avaliação diferenciada do local percolado (C 1-3) A análise da distância do aterro para áreas inundadas acontece através da avaliação inicial. 137 CAPÍTULO 9 ANÁLISE DO ÍNDICE DA QUALIDADE DE ATERROS DE RESÍDUOS - IQA A prática da engenharia recomenda uma série de estudos técnicos, os quais precedem a implantação de um aterro sanitário e que se desenvolvem desde levantamentos básicos para a escolha do local mais adequado até a elaboração do projeto, com planos de execução, operação e fechamento do aterro. A seguir são apresentados aspectos técnicos e a determinação dos critérios de avaliação relacionados com a planilha do Índice da Qualidade de Aterros de Resíduos (IQA). A bibliografia, aqui, reunida é fruto de levantamento de informações em diversos artigos, notas de aulas, normas, livros e entrevistas com profissionais do ramo. A figura 9.1 representa todos os aspectos contemplados num aterro sanitário que são abordados neste capítulo. Figura 9.1 – Perfil esquemático de aterro sanitário em rampa (IPT/CEMPRE,2000) 138 9.1 Características do local Um aterro sanitário deve localizar-se numa área conveniente, isto é, onde os riscos à saúde humana e ao meio ambiente sejam minimizados. Assim, o estudo de algumas características locais, tornam-se fundamentais para garantir, também, a redução dos custos com preparo, operação e encerramento do aterro. Na dificuldade de execução de ensaios de campo para melhor conhecimento da área, recomenda-se além da inspeção visual, da observação de obras, do tráfego e de construções no entorno, o levantamento de mapas pedológicos e geológicos da região. 9.1.1 Capacidade de suporte do solo A disposição dos resíduos no aterro deve realizar-se de modo que a estabilidade do substrato geológico esteja assegurada, juntamente com a estabilidade da própria massa de resíduos e das estruturas associadas, no sentido de evitar desabamentos. Para tanto, é importante conhecer as características do substrato e a capacidade de carga do solo de fundação. A capacidade de carga de um solo é a pressão que aplicada ao mesmo causa o colapso ou o seu escorregamento (Alonso, 1991). Se a esta pressão for acrescentado um coeficiente de segurança, da ordem de 2 a 3, obtém-se a pressão admissível, a qual deverá ser admissível não só à ruptura como às deformações excessivas do solo. Para a estimativa da capacidade de carga usam-se os perfis geotécnicos, geralmente fornecidos pelas sondagens à percussão, eventualmente complementados por outros ensaios geotécnicos. Nesses perfis são indicados os horizontes dos diversos tipos de solo que compõem o terreno, suas resistências e a posição do nível d’água. Como o perfil geotécnicos é obtido através de sondagens realizadas em alguns pontos do terreno, torna-se necessário aferir, durante a execução, se as profundidades e a capacidade de carga estão satisfazendo aquelas adotadas no projeto. Esse subitem em questão, capacidade de suporte do solo, apresenta nota cinco para uma avaliação considerada adequada. Nesta dissertação de mestrado aceita-se como adequado o solo que apresentar capacidade de solo compatível com o peso da massa de lixo depositada, com a velocidade de disposição dos resíduos sólidos e com o tráfego de máquinas pesadas. 139 Tabela 9.1 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Capacidade de suporte do solo 9.1.2 Avaliação Adequada Inadequada Peso 5 0 Permeabilidade do solo Os coeficientes de permeabilidade são tanto menores quanto menores os vazios nos solos, dependendo do tipo e estado do solo, do grau de saturação, da estrutura e anisotropia e da temperatura. Casagrande & Fadum (1944) propuseram a tabela 9.2 associando os diferentes tipos de solos com a permeabilidade (K). Lambe & Whitman (1970) classificaram o solo de acordo com seu coeficiente de permeabilidade (tabela 9.3). Tabela 9.2 – Intervalo de variação de K para os diferentes tipos de solos (Casagrande & Fadum, 1944) Tipo de solo Pedregulho Areia Silte argiloso Argila Impermeável para fins de engenharia K (cm/s) K>1 10-3 < K < 1 10-7 < K < 10-3 K < 10-7 K < 10-8 Tabela 9.3 – Classificação dos solos de acordo com o coeficiente de permeabilidade (Lambe & Whitman, 1970) Grau de permeabilidade Alta Média Baixa Muito baixa Praticamente impermeável para fins de engenharia K (cm/s) K > 10-1 -1 10 < K < 10-3 10-3 < K < 10-5 10-5 < K < 10-7 K < 10-7 É importante notar que os solos residuais e solos evoluídos pedologicamente, típicos de clima tropical, apresentam estrutura com macroporos, pelos quais a água percola com maior facilidade. Nestes solos, ainda que as partículas sejam pequenas, os vazios entre as aglomerações das partículas são grandes e é por eles que a água flui. Assim, a permeabilidade natural desse tipo de solo pode ser superior aos valores da tabela 9.2. O coeficiente de permeabilidade depende do tipo de solo, de sua estrutura e da compacidade ou consistência. A influência da estrutura é notada nos solos compactados 140 geralmente, quando compactado mais seco, a disposição das partículas (estrutura floculada) permite maior passagem de água do que quando compactado mais úmido (estrutura dispersa), ainda que com o mesmo índice de vazios. A norma NBR 13896 (ABNT, 1997b) estabelece como condição ideal para a instalação de um aterro, o local que possui camada de solo homogêneo de 3,0m de espessura com coeficiente de permeabilidade de K = 1,0 x 10-6 cm/s. É considerado aceitável pela norma NBR 13896 (ABNT, 1997b) uma distância mínima, entre a base do aterro e a cota máxima do aqüífero freático, igual a 1,5m, para um coeficiente de permeabilidade K = 5,0 x 10-5 cm/s. Nesse caso, a critério do Órgão Estadual de Controle da Poluição Ambiental, poderá ser exigida uma impermeabilização suplementar, visando maior proteção ao aqüífero freático. A norma NBR 13896 (ABNT, 1997b) não recomenda a construção de aterros em áreas com predominância de solos com coeficiente de permeabilidade maiores ou iguais a K = 5,0 x 10-4 cm/s, mesmo utilizando-se impermeabilizações complementares. A Diretriz 1999/31/CE do Conselho da União Européia, de 26 de Abril de 1999, relativa à deposição de resíduos em aterros, determina que a base e os taludes do aterro devem consistir numa camada mineral que satisfaça as condições de permeabilidade e espessura de efeito combinado em termos de proteção do solo e das águas subterrâneas e de superfície, pelo menos equivalente à que resulta das seguintes condições: − Aterros para resíduos perigosos: K < 1,0 x 10-7 cm/s – espessura > 5m; − Aterros para resíduos não perigosos: K < 1,0 x 10-7 cm/s – espessura > 1m; − Aterros para resíduos inertes: K < 1,0 x 10-5 cm/s – espessura > 1m. Sempre que a barreira geológica não ofereça de modo natural as condições acima descritas, poderá ser complementada e reforçada artificialmente por outros meios dos quais resulte uma proteção equivalente. As barreiras geológicas artificialmente criadas não poderão ser de espessura inferior a 0,5m. Para definir a baixa permeabilidade do solo que apresenta peso cinco na avaliação do IQR, considerou-se as normas brasileiras, pois impõem limites técnicos no território nacional. Para baixa permeabilidade adotou-se um K < 1,0 x 10-6 cm/s, já a média permeabilidade de um solo estará compreendida no intervalo de 1,0 x 10-6 cm/s < 141 K < 5,0 x 10-4 cm/s, para uma espessura de 1,5 m e a alta permeabilidade é para K > 5,0 x 10-4 cm/s. Tabela 9.4 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Permeabilidade do solo 9.1.3 Avaliação Baixa – K < 10-6 Média - 10-6 < K < 5 x 10-4 Alta - K > 5 x 10-4 Peso 5 2 0 Proximidade de núcleos habitacionais Um aterro sanitário deve estar afastado de núcleos habitacionais uma distância mínima de 500m para reduzir os incômodos provocados aos moradores, tais como, odores, fumaça, poeira, barulho de manobras de caminhões, presença de vetores etc. Tabela 9.5 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Proximidade de núcleos habitacionais 9.1.4 Avaliação Longe > 500m Próximo Peso 5 0 Proximidade de corpos de água Um aterro sanitário deve afastar-se de corpos de água uma distância mínima de 200m para impedir a contaminação pelo chorume, logo uma distância menor pode comprometer o uso público do recurso natural. Tabela 9.6 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Proximidade de corpos de água 9.1.5 Avaliação Longe > 200m Próximo Peso 3 0 Profundidade do lençol freático Como já foi visto, no subitem 9.1.2 permeabilidade do solo, a norma NBR 13896 (ABNT, 1997b) determina que a área onde será implantado o aterro sanitário deve apresentar solo homogêneo de 3,0m de espessura entre a base do aterro e o nível do lençol freático mais alto, com coeficiente de permeabilidade de K = 1,0 x 10-6 cm/s. 142 Porém, é aceitável uma distância mínima, entre a base do aterro e a cota máxima do aqüífero freático igual a 1,5m, para um coeficiente de permeabilidade K = 5 x 10-5 cm/s. A profundidade do lençol freático terá um peso máximo de quatro pontos quando a distância mínima entre a base do aterro e a cota máxima do aqüífero for superior a 3m. No entanto, seguindo as especificações técnicas da norma NBR 13896 (ABNT, 1997b) aceita-se a distância de 1,5m para um K = 5 x 10-5 cm/s. O intervalo a ser julgado com avaliação média é de 1 a 3m, com peso dois, afastamento mínimo recomendado para proteger o lençol freático e evitar danos ambientais e riscos à saúde e à segurança humana. Tabela 9.7 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Profundidade do lençol freático 9.1.6 Avaliação Maior que 3m De 1 a 3m De 0 a 1m Peso 4 2 0 Disponibilidade de material para recobrimento A disponibilidade de material para recobrimento diário é de suma importância, visto que o empréstimo de solo, para o fim citado, encarece o custo de operação de um aterro sanitário. A avaliação adotada para esse subitem, com peso de quatro, significa que no próprio local do aterro sanitário existe material, em quantidade satisfatória, para atender à demanda diária. É considerado insuficiente, com peso de dois pontos, quando existir empréstimo parcial de material. Tabela 9.8 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Disponibilidade de material para para recobrimento 9.1.7 O Avaliação Suficiente – sem empréstimo Insuficiente – empréstimo parcial Nenhum – empréstimo total Peso 4 2 0 Qualidade do material para recobrimento material para recobrimento, mais adequado, deve apresentar fácil escavabilidade e textura argilo-arenosa de composição variando de 50% a 60% de areia e o restante uma mistura equilibrada entre silte e argila. 143 O subitem em estudo, com avaliação boa, correspondendo a dois, é o material com aproximadamente 50% de areia, 25% de silte e 25% de argila. Os solos que não se encontrarem dentro dessa especificação são avaliados como ruins para a utilização como recobrimento. Tabela 9.9 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Qualidade do mat. para recobrimento 9.1.8 Avaliação Boa – 50% areia; 25% silte; 25% argila Ruim Peso 2 0 Condições de sistema viário-trânsito-acesso Um aterro sanitário deve localizar-se o mais próximo possível do centro de geração e apresentar um acesso livre de trânsito intenso, por conseguinte as despesas com transporte são reduzidas e a produtividade com a coleta é maximizada. A malha viária deve sofrer, constantemente, conservação pelo desgaste proveniente do tráfego ininterrupto de veículos pesados. A avaliação boa, de aquilatação três, é para os casos em que a área reuna as três condições favoráveis, isto é, sistema viário-trânsito-acesso. Se uma, e apenas uma, das condições supracitadas não atenderem as recomendações descritas a pontuação cairá para dois pontos. Tabela 9.10 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Condições de Sistema viáriotrânsito-acesso 9.1.9 Avaliação Boas Regulares Ruins Peso 3 2 0 Isolamento visual da vizinhança É aconselhável o isolamento do local escolhido para implantação de um aterro sanitário da vizinhança, evitando, assim, a poluição visual e a depreciação patrimonial excessiva da redondeza. Descrição da pontuação da tabela 9.11. Tabela 9.11 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Isolamento visual da vizinhança Avaliação Bom Ruim Peso 4 0 144 9.1.10 Legalidade de localização A legislação vigente impõe restrições de âmbito federal, estadual e municipal, à implantação de um aterro sanitário. Caso a área de disposição de resíduos sólidos não seja vedada por lei, a localidade é permitida. A tabela 9.12 correlaciona a localidade da área de uma aterro com a devida pontuação. Tabela 9.12 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Legalidade de localização Avaliação Localidade permitida Localidade proibida Peso 5 0 9.2 Infra-estrutura implantada Depois de vencida a etapa de análise da localidade de um aterro, o próximo passo é o de verificação das obras de engenharia, ali instaladas, que visam a plena operação da área, com o devido manejo dos resíduos sólidos. 9.2.1 Cercamento da área Um cercamento adequado deve impedir o livre acesso de catadores e animais de grande porte ao local de disposição de resíduos sólidos, como servir, também, para reter material disperso pelo vento. Os portões devem permanecer fechados fora das horas de funcionamento. A existência de cercamento da área garante uma pontuação de dois pontos. Tabela 9.13 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Cercamento da área 9.2.2 Avaliação Sim Não Peso 2 0 Portaria/guarita A portaria ou guarita é o único acesso à instalação e tem como função o controle de entrada e saída de veículos do aterro. É neste ponto onde ocorre a inspeção do tipo de material a ser aterrado. 145 Na portaria deve ocorrer a identificação e anotação dos funcionários, visitantes e veículos que ingressem no aterro, preenchimento do formulário padrão de controle de caminhões com as seguintes informações: placa do veículo, hora de entrada e origem da rota de coleta, peso carregado e peso descarregado. A portaria cumprindo a sua função permite uma avaliação consoante tabela 9.14. Tabela 9.14 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Portaria / guarita 9.2.3 Avaliação Sim Não Peso 1 0 Controle de recebimento de cargas A disposição em aterro deve ser controlada e gerida de forma adequada, a fim de evitar ou reduzir os potenciais efeitos negativos sobre o ambiente e os riscos para a saúde humana, sendo assim, tanto a quantidade como a periculosidade dos resíduos deverão ser reduzidos. Para garantir essas condições o Conselho da União Européia estabeleceu, na Diretriz 1999/31/CE, que até 2001 os Estados-membros apresentaram uma estratégia nacional para a redução dos resíduos biodegradáveis destinados aos aterros. A estratégia deve assegurar o seguinte: − Até abril de 2004, os resíduos urbanos biodegradáveis destinados a aterros devem ser reduzidos para 75% da quantidade total (por peso) de resíduos urbanos biodegradáveis produzidos em 1995 ou ano anterior para o qual existam dados normalizados do Eurostat; − Até abril de 2007 os resíduos urbanos biodegradáveis destinados a aterros devem ser reduzidos para 50% da quantidade total (por peso) de resíduos urbanos biodegradáveis produzidos em 1995 ou ano anterior para o qual existam dados normalizados do Eurostat; − Até abril de 2014 os resíduos urbanos biodegradáveis destinados a aterros devem ser reduzidos para 35% da quantidade total (por peso) de resíduos urbanos biodegradáveis produzidos em 1995 ou ano anterior para o qual existam dados normalizados do Eurostat; 146 Os Estados-membros que, em 1995 ou ano anterior para o qual existam dados normalizados do Eurostat;, depositem em aterros mais de 80% dos resíduos municipais recolhidos, poderão adiar por um período inferior a quatro anos a realização da estratégia acima. Os Estados-membros tomarão medidas para que não sejam aceitas em aterros os seguintes resíduos: − Resíduos líqüidos; − Resíduos que, nas condições de aterro, sejam explosivos, corrosivos, oxidantes ou inflamáveis; − Resíduos provenientes de estabelecimentos hospitalares, médicos ou veterinários que sejam infecciosos; − A partir de abril de 2001, pneus usados inteiros e a partir de abril de 2004, pneus usados fragmentados. É proibida a diluição ou mistura de resíduos que tenham por único objetivo torná-los conformes com os critérios de admissão. É importante ressaltar que os únicos resíduos a ingressarem num aterro municipal são de origem, predominantemente, domiciliar e/ou rejeitos oriundos de tratamento de usina de triagem/compostagem. A verificação e admissão de resíduos consiste numa simples inspeção visual de um carregamento de resíduos antes e depois da descarga no local do aterro. Com vista a confirmar que os resíduos foram admitidos para depósito em conformidade com os critérios estabelecidos para a categoria de aterro em questão. A fiscalização das características dos resíduos sólidos tem por objetivo indireto controlar a eficiência do sistema de coleta por roteiro, tipo de equipamento e por equipe, não esquecendo, contudo, do controle da composição predominante de cada fonte/região geradora de resíduos sólidos. Outra verificação e admissão, ocorrida no ingresso do caminhão, é a análise do transporte dos resíduos, isto é, caminhões abertos ou carros com caçamba devem estar protegidos com uma lona, impedindo a dispersão de resíduos ao longo da via de acesso ao local destinado. 147 As pesagens periódicas são a melhor forma de se conhecer as quantidades de lixo gerado, bem como as suas flutuações decorrentes das características específicas de cada comunidade. A utilização de balanças, de capacidade mínima de 30t, é de suma importância, também, para o controle da prefeitura sobre firmas terceirizadas que realizam os serviços de coleta e operação dos resíduos no município, neste caso, recomenda-se, até, uma balança automática para evitar erros e fraudes. Para o controle de recebimento de cargas através de balança atribui-se um peso dois, o controle sem balança o peso é um e a inexistência de controle requer avaliação nula (tabela 8.15). Tabela 9.15 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Controle de recebimento de cargas 9.2.4 Avaliação Sim, com balança Sim, sem balança Não Peso 2 1 0 Acesso à frente de trabalho É recomendado o acesso livre à frente de trabalho, isto é, sem nenhum tipo de obstrução durante todas as estações do ano. Em épocas de chuvas torrenciais, a conservação do acesso, deve ser uma preocupação constante. O comprimento da superfície de trabalho vai variar com as condições locais. A superfície de trabalho é o local do aterro onde os resíduos estão sendo descarregados, depositados e compactados durante um determinado período de trabalho. A menor frente de trabalho possível, evita a proliferação de vetores e a dispersão de material pelo vento. A tabela 9.16 expõe, claramente, a avaliação desse subitem. Tabela 9.16 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Acesso à frente de trabalho 9.2.5 Avaliação Bom Ruim Peso 2 0 Trator de esteira ou compatível O equipamento recomendado para compactação do lixo e da camada de cobertura é o trator de esteira, o qual alcança maior eficiência. 148 A experiência de alguns profissionais no ramo de disposição de resíduos sólidos comprova que o trator de esteira tipo D4, apesar de mais usual, não é adequado; o seu peso não permite boa compactação à massa de resíduo. Já o trator de esteira tipo D8 é um veículo muito pesado, que expulsa, quase totalmente, o oxigênio contido nos vazios do lixo, então o processo de decomposição da matéria orgânica não se inicia pela fase aeróbia e sim na fase anaeróbia, mais lenta e menos eficiente. O trator de esteira mais aconselhável é o tipo D6, de modo que apresenta melhor compactação, num menor número de passadas. A permanência constante de um trator de esteira no aterro requer avaliação máxima de cinco. A permanência periódica solicita peso dois, porque não é garantido o cobrimento diário e a compactação. Tabela 9.17 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Trator de esteira ou compatível 9.2.6 Avaliação Permanente Periodicamente Inexistente Peso 5 2 0 Outros equipamentos Outros equipamentos auxiliares na escavação e transporte do material para recobrimento e no espalhamento dos resíduos sólidos são: pá-mecânica, retroescavadeira e caminhão basculante. Análise do subitem encontra-se abaixo. Tabela 9.18 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Outros equipamentos 9.2.7 Avaliação Sim Não Peso 1 0 Impermeabilização da base do aterro O sistema de tratamento da base tem a função de proteger a fundação do aterro, evitando-se a contaminação do subsolo e aqüíferos subjacentes, pela migração de percolados e/ou do biogás. Um sistema de tratamento de base deve apresentar as seguintes características: estanqueidade, durabilidade, resistência mecânica, resistência às intempéries, 149 compatibilidade físico-química-biológica com os resíduos a serem aterrados e seus percolados. Dentre os materiais comumente empregados em tratamento de base de aterros, destacam-se os solos argilosos e argilas compactadas e as geomembranas sintéticas. As camadas impermeabilizantes devem ser executadas com controle tecnológico e atender a características tecnológicas de permeabilidade e espessura mínima especificadas em norma, de modo a representar barreiras à migração de poluentes contidos no percolado. Pela experiência obtida em países como Estados Unidos e Alemanha, e também no Brasil, o tipo de geomembrana que tem se mostrado mais adequado para a impermeabilização de base de aterros sanitários é a de polietileno de alta densidade (PAD) de 2mm, devido às suas características de resistência mecânica, durabilidade e compatibilidade com uma grande variedade de resíduos. É importante enfatizar que nos processos de impermeabilização, a garantia de qualidade não fica atestada apenas pela definição de materiais, mas sim com adequado projeto de aplicação e controle tecnológico de execução. A pontuação máxima dispensada a esse subitem considera, para o presente trabalho, a norma NBR 13896 (ABNT, 1997b), que estabelece manto de solo homogêneo de 3,0m de espessura com coeficiente de permeabilidade de K = 1,0 x 10-6 cm/s. Quando a barreira geológica não ofereça de modo natural as condições supracitadas ou a critério do Órgão Estadual de Controle da Poluição Ambiental, a mesma pode ser complementada com geomembranas sintéticas, resultando proteção equivalente. O juízo de valor acerca da impermeabilização da base do aterro é de cinco pontos. Tabela 9.19 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Impermeabilização da base do aterro 9.2.8 Avaliação Sim/desnecessária Não Peso 5 0 Drenagem de chorume A Diretriz 1999/31/CE do Conselho da União Européia, de 26 de Abril de 1999, relativa à deposição de resíduos em aterros, determina que o aterro deve ser provido de 150 um sistema de impermeabilização e de recolha de lixiviados, o qual obedeça aos seguintes princípios, de modo a garantir que a acumulação de lixiviados no fundo do aterro se mantenha a um nível mínimo (tabela 9.20). Tabela 9.20 – Recolhimento de lixiviados e impermeabilização do fundo (Diretriz 1999/31/CE) Categoria de aterro Forro de impermeabilização artificial Camada de drenagem > 0,5m Não perigoso necessário necessário Perigoso necessário necessário Os critérios acima descritos podem ser alterados quando se tratar de um aterro destinado a resíduos inertes. Se, com base numa avaliação dos riscos para o ambiente, as autoridades competentes não considerarem necessária a captação dos lixiviados, ou o aterro tiver sido classificado como não oferecendo potenciais riscos para o solo e águas subterrâneas, os requisitos supra podem ser reduzidos em conformidade. A Diretriz 1999/31/CE orienta que um aterro para resíduos não perigosos, com recolhimento de lixiviado, apesar da permeabilidade de fundo menor ou igual a 10-7 cm/s e espessura maior ou igual a 1m, faz-se necessária impermeabilização artificial, consoante tabela 9.20. No Brasil, os sistemas de coleta de chorume mais utilizados são: planos inclinados e tubos de coleta. Pelo sistema de planos inclinados, o fundo do aterro é constituído de vários planos inclinados, que vão direcionar a drenagem do chorume para os canais de coleta. Em cada canal de coleta são instalados tubos perfurados que vão levar o chorume para fora do corpo do aterro, de onde seguirão para sua destinação final. A inclinação dos planos são usualmente de 1% a 5%, enquanto a inclinação dos canais varia entre 0,5% e 1%. No sistema de tubos de coleta no fundo do aterro, divide-se o fundo em séries de faixas retangulares, com barreiras de argila da largura das células. Dentro dessas barreiras, no sentido das tiras, são colocados os tubos perfurados para coleta do chorume, diretamente sobre a camada de geomembrana. Estes tubos tem declividade de 151 cerca de 1,2% a 1,8%, sendo que por este método, efetua-se uma coleta muito mais rápida do chorume. Esses drenos, também, poderão ser preenchidos com brita nº 3 e pedra-de-mão, com diâmetro entorno de 0,5m. Para evitar a colmatação do dreno, recomenda-se colocar sobre as britas material sintético, ou simplesmente capim seco. O sistema de drenagem horizontal, dividido em faixas retangulares na base do aterro, é chamado de espinha de peixe, composto de “espinhas dorsais” ou drenos primários para onde convergirão os drenos secundários. O espaçamento dos ramos secundários são de 30m, que devem formar um ângulo interno de 45º a 60º com o dreno principal. Os drenos principais convergirão para um único ponto, de onde será dirigido ao sistema de tratamento. É aconselhável inclinação de mais ou menos 2% da tubulação transversal, já a inclinação longitudinal mais adequada é de 1,5%. Uma drenagem de chorume para ser contemplada com o peso cinco deve estar em conformidade com as especificações acima. Caso esse subitem seja mal projetado ou executado, aumenta o risco de contaminação do lençol freático, esse modo um sistema de drenagem insuficiente requer nota 1. Tabela 9.21 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Drenagem de chorume 9.2.9 Avaliação Suficiente Insuficiente Inexistente Peso 5 1 0 Drenagem de águas pluviais definitiva A precipitação é a parcela mais importante no balanço hídrico, no que refere à produção de chorume, o desvio das águas antes da entrada no corpo do aterro, diminui, consideravelmente, a produção de chorume. A drenagem de águas pluviais definitiva permanecerão ativas após o fechamento do aterro. As águas precipitadas, provenientes da micro-bacia, nas adjacências da área de disposição dos resíduos sólidos devem ser captadas por canaletas, escavadas no próprio terreno e acompanhar as curvas de nível, porém garantindo a declividade do dreno. A pontuação dessa subitem está abaixo. Tabela 9.22 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Avaliação Peso 152 Drenagem de águas pluviais definitivas Suficiente Insuficiente Inexistente 4 2 0 9.2.10 Drenagem de águas pluviais provisória O sistema de drenagem superficial temporário visa drenar o escoamento superficial proveniente de precipitação direta sobre a área prevista para o aterro, mas que ainda não foi aterrada. À medida que o aterro avançar o deslocamento da drenagem deve ocorrer para uma posição mais a montante da bacia. Essa drenagem deve interligase ao sistema permanente de drenagem. A drenagem provisória ou dinâmica é composta de canaletas sem revestimento especial, as quais avançam junto com a evolução do aterro, isto significa, que ao longo do tempo de operação da área canaletas são destruídas e outras são construídas. A avaliação da drenagem de águas pluviais provisórias encontra-se na tabela 9.23. Tabela 9.23 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Drenagem águas pluviais provisória Avaliação Suficiente Insuficiente Inexistente Peso 2 1 0 9.2.11 Drenagem de gases Esses drenos são construídos com a superposição de tubos perfurados, revestidos de brita nº 4, perfazendo ao todo um diâmetro de 1,0 m. O dimensionamento desses drenos depende da vazão de gás a ser drenada; porém, como não existem modelos de geração comprovados, normalmente esses drenos são construídos de forma intuitiva, prevalecendo o bom senso do projetista. Na prática, os diâmetros dos tubos variam de 0,20 m a 1,00 m, em função da altura do aterro. Assim, nos aterros de pequena altura até 15 m e grande área superficial, são utilizados tubos de até 0,40 m; nos aterros de alturas maiores são utilizados tubos armados de até 1,0 m de diâmetro, visando dar vazão aos gases gerados e suportar os recalques diferenciais e a movimentação sofrida pelos resíduos aterrados. Os drenos podem ser interligados ao sistema de drenagem de percolados. 153 Quando são utilizados tubos de até 0,40 m de diâmetro, costuma-se também preenchê-los com pedras britadas, de forma a conferir maior resistência à estrutura. A tubulação de drenagem de gases pode ser substituídas por uma outra estrutura que tenha idênticas funções. Por exemplo, podem ser utilizados fardos de tela metálica de formato cilíndrico, preenchidos com pedra, sem tubo condutor. Nesse, caso, mesmo que ocorra oxidação e conseqüente rompimento da tela, devido à ação corrosiva dos líquidos percolados, as pedras continuarão formando um canal drenante eficiente. Pode-se também utilizar uma camisa metálica, constituída por um segmento de tudo metálico com alças em uma das extremidades. Essa camisa é preenchida com pedras e, à medida que as camadas de resíduos se sobrepõem, é puxada pelas alças e novamente preenchida com pedras, repetindo-se a operação até a superfície final do aterro, formando um cilindro de pedras com funções idênticas aos drenos convencionais. No caso do uso de fardos de tela ou de camisas deslizantes, recomenda-se que nos últimos metros de dreno seja colocado um tubo condutor, permitindo assim que os gases saiam de forma controlada rente ao solo, e não de forma dispersa. Uma boa alternativa é a utilização de queimadores especiais na terminação dos drenos de gases. Além de mais baratos, são mais resistentes, possibilitam a queima dos gases a uma altura segura, facilitam a tomada de amostras para análises e impedem a formação de escavações profundas caso seja destruído, porque sob a superfície os drenos foram construídos sem a utilização do tubo condutor. Para o espaçamento entre os drenos, também não há um critério definido. Baseando-se em observações de campo, recomenda-se que entre um dreno e outro sejam deixadas distâncias que variem entre 30 m e 50 m. De qualquer forma, é comum observar a saída de gases pela superfície final dos aterros, mesmo no caso daqueles bem drenados. Essa observação é muito importante, principalmente quando se estuda uma utilização futura para o aterro encerrado. Conhecendo-se esse problema, recomenda-se que seja preparada, sob a cobertura final do aterro, uma malha de drenos horizontais, convergentes para os verticais, sempre que se pretenda um uso futuro de maior responsabilidade ao aterro, como estacionamento para veículos ou instalações que utilizem equipamentos elétricos. 154 Os sistemas de drenagem de gases, verticais, e líquidos, horizontais, devem estar interligados, garantindo assim maior eficiência da drenagem do biogás. A drenagem de gases é considerada suficiente quando os drenos estiverem construídos dentro das recomendações técnicas acima e espaçados de 30m a 50m. O espaçamento inferior a 50m e a construção fora das especificações, a drenagem é qualificada como insuficiente. Tabela 9.24 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Drenagem de gases Avaliação Suficiente Insuficiente Inexistente Peso 3 1 0 9.2.12 Sistema de tratamento de chorume O correto tratamento do chorume permite reduzir, consideravelmente, o potencial poluente de um aterro sanitário sobre as águas subterrâneas. Sendo assim, neste subitem deve-se analisar a conveniência do método escolhido, mediante o volume e a carga poluidora a ser tratada. Tabela 9.25 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Sistema de tratamento de chorume Avaliação Suficiente Insuficiente / inexistente Peso 5 0 9.2.13 Monitorização de águas subterrâneas O objetivo do monitoramento de águas subterrâneas nas imediações dos aterro é para controlar e manter a qualidade destas, pelo menos nos mesmos patamares em que se encontravam antes da implantação dos aterros. As medições devem fornecer informações sobre as águas subterrâneas susceptíveis de ser afetadas por descargas do aterro. A Diretriz 1999/31/CE determina que devem existir no mínimo três pontos de monitoramento, sendo pelo menos um ponto de medição localizado na região de infiltração e dois na região de escoamento. Este número pode ser aumentado com base em controles hidrogeológicos específicos e em caso de necessidade de uma identificação o mais rápida possível de uma descarga acidental de lixiviado nas águas subterrâneas. 155 A Diretriz 1999/31/CE recomenda que a amostragem deverá ser realizada, no mínimo em três locais distintos, antes das operações do aterro, de forma a estabelecer valores de referência para futuras amostragens. A monitorização das águas subterrâneas realiza-se por meio de métodos diretos e/ou indiretos. O método direto constitui-se basicamente na perfuração de poços em pontos estratégicos do terreno, permitindo a coleta de amostras para a realização de análise em laboratório ou leitura direta contínua do nível do lençol e características de possível contaminação. A norma NBR 13895 (ABNT, 1997a) recomenda o número mínimo de quatro poços a ser instalado, sendo um a montante e três a jusante do aterro, em relação ao fluxo subterrâneo. O poço de montantes tem a função de verificar a qualidade do aqüífero antes de sua passagem sob o aterro e os poços de jusante, de avaliar a ocorrência de alterações das características inicias e em que grau ocorreram. O controle qualitativo é realizado por meio da execução de poços piezométricos que permitem a tomada de água em várias profundidades e possibilitam a materialização das plumas de poluição. Como método indireto é possível citar o método elétrico que visa identificar a resistência do subsolo em diferentes profundidades. O conhecimento do subsolo da região permite identificar alterações causadas por elementos estranhos como os poluentes. O monitoramento de águas subterrâneas requer peso três, quando atender a norma NBR 13895 (ABNT, 1997a). O peso um, caracteriza o monitoramento fora das especificações acima descritas. Tabela 9.26 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Monitoramento de águas subterrâneas Avaliação Suficiente Insuficiente Inexistente Peso 3 1 0 9.2.14 Monitorização das águas superficiais, lixiviados e gases No caso de águas superficiais vizinhas aos aterros, amostragens sistemáticas permitem a perfeita avaliação ambiental das alterações nos cursos d’água da região por 156 migração lateral de chorume ou pela contaminação das águas pluviais drenadas da superfície. O controle das águas de superfície, se presentes, deverá ser efetuado em, pelo menos, dois pontos, um a montante e outro a jusante do curso d’água ou através da acumulação de água drenada em tanques ou lagoas. Com base nas características da instalação do aterro, as autoridades competentes poderão determinar que estas medições não são necessárias. A Diretriz 1999/31/CE recomenda que amostragem, medição de volume e composição dos lixiviados devem ser efetuados separadamente em cada ponto em que surjam. Os parâmetros a medir e as substâncias a analisar variam de acordo com a composição dos resíduos depositados. Alguns gases como o metano, o gás carbônico e o oxigênio devem ter monitoramento constante, os demais gases segundo as necessidades, de acordo com a composição dos resíduos depositados, com vista a refletir as suas propriedades lixiviantes. O monitoramento da qualidade do ar envolve, também, análise do ar no local do aterro e nas proximidades. Devem ser tomadas medidas adequadas para controlar a acumulação e dispersão dos gases de aterro. Os gases de aterro produzidos por todos os aterros que recebem resíduos biodegradáveis devem ser captados, tratados e utilizados. Casos os gases captados não possam ser utilizados para a produção de energia, deverão ser queimados. A captação, tratamento e utilização dos gases de aterro devem reduzir ao mínimo os efeitos negativos ou a deterioração do ambiente e os perigos para a saúde humana. Caso o monitoramento atenda às recomendações acima a pontuação é máxima. Se apenas uma das condições analisadas não se encontrar em conformidade, a avaliação decairá para um. Tabela 9.27 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Monitoramento das águas superficiais, lixiviados e gases Avaliação Suficiente Insuficiente Inexistente Peso 3 1 0 157 9.2.15 Monitoramento da estabilidade dos maciços de solo e de lixo A análise de estabilidade dos maciços de solo e da massa de lixo disposta no aterro deve ser efetuada a partir de parâmetros específicos, utilizando-se métodos de análise adequados ao tipo e às condições do local em consideração. A finalidade dessa análise é a obtenção do modelo de ruptura desses maciços para se definir a geometria estável do aterro e de seus entornos, adotando-se critérios de segurança adequados para obras civis. São considerados os seguintes aspectos: − Resistência ao cisalhamento; − Compressibilidade do solo de fundação local; − Comportamento geomecânico do maciço de lixo (coesão, ângulo de atrito interno e peso específico, determinando a resistência e a compressibilidade do lixo; − Altura de lixo e inclinação dos taludes; − Estado de saturação, nível de percolado; − Flutuação do percolado dentro da massa de lixo (pressão neutra e condições de drenagem de biogás e percolado). Análises de estabilidade podem ser efetuadas utilizando-se métodos convencionais. Entretanto, é necessário conceber um projeto conservador, tendo em conta o intervalo de variação das propriedades do lixo municipal. Os riscos diretos de ruptura dos taludes de lixo do aterro sanitário podem vitimar operários e afetar máquinas e equipamentos. Os riscos ambientais associados referem-se à exposição dos resíduos, com conseqüências sanitárias e de poluição localizada. O monitoramento da estabilidade dos aterros sanitários envolve o controle de deformações verticais e horizontais do maciço, através de marcos superficiais, com vistas a avaliar a estabilidade dos taludes, prever recalques futuros, bem como, rever a potencialidade de aumento de vida útil do aterro. Tabela 9.28 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Monitoramento da estabilidade dos maciços de solo e de lixo Avaliação Suficiente Insuficiente Inexistente Peso 3 1 0 158 9.2.16 Atendimento a estipulações de projeto As vezes o aterro não está atendendo as condições estabelecidas, mas está em conformidade com o projeto, que atende uma condição especial da área, ao caso concreto (tabela 9.29). Tabela 9.29 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Atendimento a estipulações de projeto Avaliação Sim Parcialmente Não Peso 2 1 0 9.3 Condições operacionais Alguns indicadores permitem caracterizar as condições de operação de um aterro, a seguir encontram-se listados os principais. 9.3.1 Presença de elementos dispersos pelo vento Em locais desfavorecidos com a presença de vento intenso, a presença de elementos dispersos é evitada com a colocação de uma tela móvel, posicionada na frente de trabalho e por uma eficiente operação de cobrimento. Esse indicador apresenta pontuação máxima de um. Tabela 9.30 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Presença de elementos dispersos pelo vento 9.3.2 Avaliação Não Sim Peso 1 0 Recobrimento diário do lixo O lixo deve ser disposto no solo previamente preparado, e em média a cada três viagens de descarregamento, de acordo com a capacidade do veículo coletor, um trator de esteira deve empurrar o lixo em camadas de trinta a sessenta centímetros para a compactação de uma rampa de aproximadamente 1:2 ou 1:3 e a altura da célula deve variar de dois a quatro metros. No final do dia, ou quando a coleta estiver terminada, esse monte de lixo deverá receber uma cobertura de terra, de 15cm a 30cm, com a finalidade de evitar a 159 propagação de moscas, baratas, ratos urubus, etc., ficando assim constituída a célula sanitária ou célula individual. A largura da célula vai depender das condições de operação e da capacidade do aterro e geralmente variam entre 3,0 m e 9,0 m O empoçamento de água sobre o aterro também deve ser evitado. Para tanto, recomenda-se assegurar um bom caimento à cobertura diária. Atingida a altura máxima das células, inclusive com a sobreposição de camadas, essas são “seladas” com uma cobertura de 60 cm a 1,0 m de espessura. Atendidas as recomendações supra o recobrimento diário é julgado com peso 4, consoante tabela 9.31. Tabela 9.31 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Recobrimento diário do lixo 9.3.3 Avaliação Sim Não Peso 4 0 Compactação do lixo O lixo espalhado pelo talude deverá ser compactado pelo trator de baixo para cima, proporcionando assim maior uniformidade de compactação. O trator deverá subir e descer a rampa de 3 a 5 vezes, a fim de que o lixo seja reduzido a seu volume mínimo (geralmente, um terço do volume inicial). A figura 9.2 demonstra a compactação realizada de baixa para cima e de cima para baixo sobre a massa de lixo. É visível que a resultante das forças do movimento de compactação do trator de baixo para cima proporciona melhor eficiência. Figura 9.2 – Desenho esquemático de compactação 160 Em trincheiras de grande porte, os resíduos são descarregados no interior da mesma e um trator de esteira empurra o lixo de baixo para cima, passando de três a cinco vezes sobre o mesmo para a compactação de uma rampa de aproximadamente 1:3. Ao fim do trabalho de um dia, o lixo compactado recebe uma cobertura de argila e/ou saibro de 10 a 15 cm, confeccionando-se dessa forma as células sanitárias. Atingida a altura máxima das células, inclusive com a sobreposição de camadas, essas são “seladas” com uma cobertura de 60 cm a 1,0 m de espessura. Tabela 9.32 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Atendimento a estipulações de projeto 9.3.4 Avaliação Sim Parcialmente Não Peso 2 1 0 Presença de urubus-gaivotas A presença de urubus-gaivotas é um indicador da permanência de lixo exposto ao tempo, propiciando a proliferação de vetores, maus odores, mistura do chorume com a água de chuva e, consequentemente, riscos à saúde humana. Tabela 9.33 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Presença de urubus-gaivotas 9.3.5 Avaliação Não Sim Peso 1 0 Presença de moscas em grande quantidade Durante todas as estações de climas quentes, o aparecimento de moscas é um fato preponderante no manejo dos resíduos. As moscas podem desenvolver-se em menos de duas semanas após a colocação dos ovos. Por isso, é importante o correto recobrimento diário de um aterro, a fim de evitar a procriação destes animais, que são uma ameaça à manutenção da saúde humana. Tabela 9.34 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Presença de moscas em grande quantidade Avaliação Não Sim Peso 2 0 161 9.3.6 Presença de queimadas A decomposição da matéria orgânica gera o biogás, que pode infiltrar-se no subsolo, na falta de um sistema de drenagem de gases. O metano presente em maior concentração no biogás é inflamável e passível de explosão espontânea, então o controle da geração e migração desse gás é muito relevante, para evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os efeitos ambientais tal como, o efeito estufa. A existência de queimadas dispersar pela massa de lixo de forma desgovernada é valorada consoante tabela 9.35. Tabela 9.35 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Presença de queimadas 9.3.7 Avaliação Não Sim Peso 1 0 Presença de catadores Os catadores não são mendigos, e sim, vitimados por uma crise econômica. Todavia, mesmo marginalizados pela sociedade, encontram na catação informal dentro dos vazadouros uma fonte de renda acima da média brasileira e uma flexibilidade de horário de trabalho e comportamento. A catação nos locais de lançamento de resíduos sólidos à céu aberto, implica em vantagens significativas ao reduzir o volume aterrado e os custos com operação do aterro. Os materiais recicláveis são encaminhados à indústria, gerando empregos e poupando recursos naturais. Em contrapartida, as condições de trabalho, hoje, dos catadores é desordenada e insalubre, onerando o sistema de saúde do município. E como a vida e a saúde humana são bens juridicamente tutelados, o Estado tem o dever de protege-las, coibindo essa prática desordenada e alterando a forma de trabalho. O serviço da separação pode ocorrer em galpões próximos ao aterro, onde os catadores, munidos de equipamento de proteção individual (EPI), retirariam do lixo o material reciclável. A existência de catadores permite uma redução de três pontos na avaliação. Tabela 9.36 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) 162 Subitem Presença de catadores 9.3.8 Avaliação Não Sim Peso 3 0 Criação de animais (bois etc) É comum encontrar animais de grande porte que são abatidos na própria lixeira e sua carne vendida para o comércio local. Essa prática representa um grave risco à saúde pública, pela ingestão de alimentos contaminados. O juízo de valor acerca desse subitem é de três pontos pela inexistência de criação de animais num aterro. Tabela 9.37 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Criação de animais (bois etc) 9.3.9 Avaliação Não Sim/proximidade Peso 3 0 Descarga de resíduos de serviços de saúde Os resíduos dos serviços de saúde devem ser incinerados ou tratados por outro processo tecnológico aprovado pelo Órgão Estadual de Controle da Poluição Ambiental. Segundo informações disponibilizadas por Morosino, 1999 indicou que apenas 5% em peso refere-se a resíduos infectados, que realmente demandam tratamento especial. O restante, 95% em peso, corresponde a resíduos semelhantes aos gerados em ambientes domésticos. As normas NBR 12807, 12808 e 12809 (ABNT, 1993 e, f, g) apresentam toda a descrição detalhada sobre a gestão dos resíduos dos serviços de saúde. A coleta desses resíduos deve ser separada dos demais e em veículo com carroceria metálica fechada, de fácil operação de carga e descarga e com mínima compactação para evitar que os sacos se rompam. No acondicionamentos dos resíduos infectados deve-se utilizar sacos plásticos brancos e identificados com a simbologia de material infectado, o material perfurocortante a embalagem adequada é a rígida de plástico, papelão ou metal e no caso do resíduo especial a embalagem depende das suas características físico- químicas e perigosas. Já o resíduo comum não-contaminado deve ser embalado em sacos plásticos pretos. 163 Neste trabalho de dissertação é adotada avaliação máxima para o aterro que não receber a descarga de resíduo de serviço de saúde contaminado biologicamente, isto é, o descarte de material que entrou em contato com o paciente (5% em peso). O material sem contato com o paciente pode ser disposto como lixo domiciliar nos aterros. É aceitável, mediante prévia avaliação do Órgão Estadual de Controle da Poluição Ambiental, alternativa de disposição em valas especialmente projetadas para acondicionar essa classe de resíduo. Caso as condições supra de tratamento especial não sejam alcançadas, as valas devem estar instaladas em porção restrita da área de domínio do aterro sanitário, a sua base compactada e impermeabilizada artificialmente com polietileno de alta densidade (PAD) de 2mm. Tabela 9.38 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Descarga de resíduo de serviço de saúde Avaliação Não Sim Peso 3 0 9.3.10 Descarga de resíduos industriais Uma área de disposição de resíduos sólidos urbanos é projetado para receber material dessa natureza, tanto que a camada impermeabilizante é compatível com a classe do aterro, como já foi visto nos itens anteriores. Aterros urbanos não devem receber resíduos industriais, a não ser que o acondicionamento seja adequado, não oferecendo maiores risco à saúde e segurança humana e ao meio ambiente. A ponderação adotada para descarga de resíduos industriais, encontra-se abaixo. Tabela 9.39 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Descarga de resíduos industriais Avaliação Não/adequada Sim/inadequada Peso 4 0 9.3.11 Funcionamento da drenagem de chorume As condições de drenagem do chorume podem ser avaliadas pelo monitoramento dos níveis piezométricos no interior do maciço, permitindo, assim, identificar a colmatação dos drenos e a eficiência do sistema de drenagem.. 164 Ao aquilatar o funcionamento da drenagem de chorume foi atribuído peso três para o bom funcionamento da drenagem de chorume e peso dois para o funcionamento regular. Tabela 9.40 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Funcionamento da drenagem de chorume Avaliação Bom Regular Inexistente Peso 3 2 0 9.3.12 Funcionamento da drenagem pluvial definitiva As condições de funcionamento da drenagem pluvial definitiva podem ser avaliadas pelo monitoramento mensal dos níveis piezométricos no interior do maciço e pelo volume de chorume gerado. Acerca desta análise, o aterro identificado como de bom funcionamento recebe peso dois (tabela 9.41). Tabela 9.41 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Funcionamento da drenagem pluvial definitiva Avaliação Bom Regular Inexistente Peso 2 1 0 9.3.13 Funcionamento da drenagem pluvial provisória As condições de funcionamento da drenagem pluvial provisória podem ser avaliadas pelo monitoramento mensal dos níveis piezométricos no interior do maciço e pelo volume de chorume gerado. A caracterização do funcionamento da drenagem pluvial provisória está a seguir. Tabela 9.42 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Funcionamento da drenagem pluvial provisória Avaliação Bom Regular Inexistente Peso 2 1 0 9.3.14 Funcionamento da drenagem de gases As condições de drenagem dos gases podem ser avaliadas pelo monitoramento dos níveis piezométricos no interior do maciço. 165 A pontuação deste subitem encontra-se abaixo descrito. Tabela 9.43 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Funcionamento da drenagem de gases Avaliação Bom Regular Inexistente Peso 2 1 0 9.3.15 Funcionamento do sistema de tratamento de chorume O funcionamento do sistema de tratamento de chorume tem a sua eficiência estudada a partir da análise da composição do chorume que deve ser realizada trimestralmente, consoante tabela 9.47. Tabela 9.44 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Funcionamento do sistema de tratamento de chorume Avaliação Bom Regular Inexistente Peso 5 2 0 9.3.16 Funcionamento do sistema de monitoramento das águas subterrâneas A Diretriz 1999/31/CE do Conselho da União Européia, de 26 de Abril de 1999, relativa à deposição de resíduos em aterros, recomenda que os parâmetros a analisar nas amostras colhidas devem ser determinados a partir da composição prevista do lixiviado e da qualidade das águas subterrâneas da zona. A tabela 9.45 abaixo estabelece a freqüência da amostragem: Tabela 9.45 – Freqüência da amostragem (Diretiva 1999/31/CE) Amostragem Níveis das águas subterrâneas Composição das águas subterrâneas Freqüência de 6 em 6 meses Específica do local É notório na Diretriz 1999/31/CE que dentro da Comunidade Européia não há parâmetros rígidos de composição das águas subterrâneas e sim de cada localidade dependendo das características específicas. A pontuação do funcionamento do sistema de monitoramento das águas subterrâneas seguindo as recomendações acima. Tabela 9.46 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Avaliação Peso 166 Funcionamento do sistema de monit. das águas subt. Bom Regular Inexistente 2 1 0 9.3.17 Funcionamento do sistema monitoramento das águas superficiais, lixiviados e gases As amostras das águas superficiais, lixiviados e gases devem ser recolhidas em pontos representativos, a amostra a recolher deve ser representativa da composição média conforme a Diretriz 1999/31/CE estabelece: Tabela 9.47 – Freqüência da amostragem (Diretriz 1999/31/CE) Amostragem Volume dos lixiviados Composição dos lixiviados Volume e composição das águas de superfície Emissões potenciais de gases e pressão atmosférica Freqüência Mensalmente Trimestralmente Trimestralmente Mensalmente Se a avaliação dos dados indicar que intervalos mais longos são igualmente eficazes, poderá proceder-se a uma adaptação das medições e análises. Se a regularidade dos monitoramentos forem cumpridas conforme indicação da Diretiva a nota dispensada será de dois, entretanto se um, e apenas um, dos monitoramentos estiverem fora das especificações técnicas sem justificativa plausível, a pontuação decairá para um. Tabela 9.48 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Funcionamento do sist. de monitor. das águas sup., lix. e gas. Avaliação Bom Regular Inexistente Peso 2 1 0 9.3.18 Funcionamento do monitoramento da estabilidade dos maciços de terra e lixo A regularidade de monitoramento mensal dos marcos superficiais é suficiente, porém a freqüência pode ser modificada em casos de perigo iminente de deslizamento. A tabela 9.49 expõe o critério de pontuação. Tabela 9.49 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Avaliação Peso 167 Funcionamento do mo nitor. da estab. maciços de terra e lixo Bom Regular Inexistente 2 1 0 9.3.19 Medidas corretivas Com base nos resultados verificados dos monitoramentos ambientais é aconselhável a elaboração de análises conclusivas e recomendações quanto aos desvios detectados. Para tanto são realizados os seguintes procedimentos: − Análises e posteriores recomendações quanto a operação; − Sugestão de futuras investigações em pontos específicos; − Elaboração de relatórios analíticos, interpretativos e conclusivos, destinados aos órgãos competentes quanto a superposição do aterro e o controle ambiental do local. Todo monitoramento deve acompanhar uma análise dos resultados e sua medida corretiva ou de implementação. Tabela 9.50 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Medidas corretivas Avaliação Sim/desnecessária Não Peso 2 0 9.3.20 Dados gerais sobre o aterro Dados importante, que devem ser levantado anualmente, para avaliar o estado do aterro são: − Superfície ocupada pelos resíduos; − Volume e composição dos resíduos; − Métodos de deposição; − Início e duração da disposição; − Cálculo da capacidade de disposição ainda disponível no aterro. Tabela 9.51 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Dados gerais sobre o aterro Avaliação Sim Não/incompleto Peso 1 0 168 9.3.21 Manutenção dos acesos internos As vias internas são aquelas para circulação de caminhões de lixo, carros de passeio e máquinas no interior do aterro. Os acessos internos são, propriamente, os trechos no entorno do aterro e que servem como via para os caminhões descarregarem o lixo, devem ser construídos mecanicamente durante o período de implantação de cada etapa. A rampa máxima de encontrar-se entorno de 8%, permitindo o tráfego dos caminhões por todo o aterro. Como os acessos são implantados sobre o próprio aterro, sofrem forte influência das chuvas internas, que se dão durante a estação do verão nos países tropicais, como é o caso do Brasil. Então, nessas épocas, a preocupação com a manutenção deve ser aumentada, possibilitando a continuidade de disposição dos resíduos ao longo de todas as estações do ano. Esse subitem está avaliado abaixo. Tabela 9.52 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Manutenção dos acessos internos Avaliação Boas Regulares Péssimas Peso 2 1 0 9.3.22 Plano de fechamento do aterro O plano de fechamento e encerramento do aterro visa à minimização de manutenção futura e evita a liberação de eventuais poluentes para o ambiente. A existência de um plano favorece ao somatória de mais um ponto na nota total do IQR (tabela 9.53). Tabela 9.53 – Subitem do IQR (CETESB, 1998 – modificado) Subitem Plano de fechamento do aterro Avaliação Sim Não Peso 1 0 169 CAPÍTULO 10 APLICAÇÃO DO IQA E DO IQR EM CASOS CONCRETOS No atual capítulo o IQA e o IQR são aplicados em dezesseis municípios dos noventa e dois que integram o estado do Rio de Janeiro, referindo-se a 17,39% dos municípios. A área principal de estudo corresponde ao trecho médio da bacia do rio Paraíba do Sul (figura 10.1). Figura 10.1 – Bacia do rio Paraíba do Sul (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) Essa região foi eleita para aplicação da técnica já discutida anteriormente, por abranger uma das mais desenvolvidas áreas industriais do país, refletindo um processo histórico de ocupação caracterizado pela descontinuidade dos ciclos econômicos, desníveis sócio-econômicos regionais e degradação ambiental. Nessa bacia vivem cerca de 5 milhões de habitantes distribuídos em uma área de 56.600 km2 que se estende pelos Estados de São Paulo, com 13.500 km2 , Rio de Janeiro, com 22.600 km2 e Minas Gerais, com 20.500 km2 . Os municípios, objeto de estudo da presente dissertação, abarcam uma área de 8.683,9 km2 , correspondente a 38,42% do trecho fluminense da bacia. No estado do Rio de Janeiro, além da população de 2,5 milhões de habitantes, dependem das águas da bacia cerca de 700 indústrias, diversas usinas hidrelétricas, a 170 agricultura irrigada e outros usuários. Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro aproximadamente 8 milhões de habitantes se abastecem da captação de 44 m3 /s no rio Guandu e 5,5 m3 /s no reservatório de Lajes, derivados de duas transposições da bacia do rio Paraíba do Sul. Cerca de 160 m3 /s são retirados diretamente do rio Paraíba do Sul pela estação elevatória de Santa Cecília e 20 m3 /s da bacia do rio Piraí. O rio Paraíba do Sul e seus afluentes nascem no Estado de Minas Gerais e chegam ao Estado do Rio de Janeiro com a qualidade das águas já comprometida pelos lançamentos de esgotos domésticos, efluentes industriais e grande carga de sólidos em suspensão. Na porção fluminense da bacia inúmeras cargas de poluentes contribuem para a degradação da qualidade ambiental. As principais causas são: − Lixões; − Contribuições de esgotos sanitários in natura; − Despejos industriais; − Desmatamento e da conseqüente erosão; − Retirada de recursos minerais para a construção civil sem a devida recuperação ambiental; − Acidentes com o transporte de cargas tóxicas; − Devastação da mata nativa; − Pesca predatória; − Uso indevido e não controlado de agrotóxicos; − Falta de consciência ambiental. A poluição causada pelos lixões é o tema central deste trabalho. Com a análise da disposição dos resíduos sólidos no estado do Rio de Janeiro, conclui-se que existem apenas dois aterros sanitários, localizados nos municípios de Piraí e Macaé. Esse último aterro mesmo excluído do horizonte amostral da bacia do rio Paraíba do Sul é contemplado na presente dissertação. Teoricamente, esses dois aterros devem calcar uma pontuação compreendida no intervalo das condições adequadas, servindo desta 171 forma de parâmetro comparativo para os demais locais de disposição de resíduos do Estado. A figura 10.2 lista os municípios base de aplicação desta dissertação. 3 14 13 12 11 15 5 16 8 6 9 1 2 7 10 1 Barra do Piraí 2 Barra Mansa 3 Cantagalo 4 Cordeiro 5 Itatiaia 6 Macaé 7 Mendes 8 Nova Friburgo 9 Petrópolis 10 Piraí 11 Quatis 12 Resende 13 Teresópolis 14 Valença 15 Vassouras 16 Volta Redonda Figura 10.2 – Municípios estudados (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) A tabela 10.1 apresenta a distribuição populacional do estado do Rio de Janeiro e dos municípios pesquisados, os quais correspondem a 10,76% da população total do estado, a 11,82% das populações presentes nas sedes dos municípios e a 22,60% referente a parte territorial do Estado. Tabela 10.1 – Distribuição da população (Censo 2000/IBGE) Unidade da Federação Estado - RJ Município - RJ Área de estudado População (hab.) Total Sede municipal 14.367.083 11.647.363 5.851.914 5.851.914 1.545.742 1.377.684 População (%) Área total (km2 ) Sede municipal 81,07 43.797,4 100 1.261,1 89,13 9.898,9 Densidade demográfica (hab./km2 ) 328,04 4.640,33 156,15 A classificação dos municípios está descrita em ordem alfabética, para uma melhor compressão dos próximos itens, e as tabelas correspondestes ao IQA e IQR estão, na mesma ordem, relacionadas no anexo 5. O preenchimento do IQA e IQR realizou-se com visitas aos aterros e as informações descritas a seguir foram adquiridas através de inspeções visuais do local, dados das prefeituras, dos operadores de resíduos sólidos de cada município, do 172 Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul (1999) e de profissionais do ramo de resíduos sólidos. Os parâmetro técnicos utilizados no decorrer dessa seção estão fundamentados no capítulo 9. Nos casos em que o conhecimento sobre as condições de aterramento foram inexistentes ou duvidosas a pontuação do IQA e IQR baseou-se no princípio da avaliação pessimista, isto é, na pontuação mais conservadora e segura. As características do solo e do relevo estão enumeradas a partir de mapas de pedologia e geologia, pois os locais eleitos para a disposição dos resíduos são carentes de todos os tipos de estudos principalmente de sondagens. O mapa pedológico apresenta a distribuição do solo predominante no município. Entretanto, essa análise pode ser contestada pela falta de precisão, porque o solo existente na área de disposição do lixo pode não corresponder ao solo da região. Sendo assim, os requisitos do IQA e IQR relacionados com o solo foram preenchidos utilizando-se o princípio da avaliação pessimista. A partir do mapa pedológico estima-se que o principal tipo de solo encontrado na maioria dos municípios em tela foi o latossolo. Esse solo tem sua fração argilosa composta de minerais cauliníticos e com alta concentração de ferro e alumínio. Naturalmente, o latossolo encontra-se não saturado, com elevado índice de vazios e uma pequena capacidade de campo, mas após compactação o solo apresenta capacidade de suporte elevada e baixa permeabilidade. Essas características reunidas fazem do latossolo um material adequado para o recobrimento diário do aterro e para a camada de base e impermeabilização do mesmo. A quantidade estimada de lixo domiciliar baseia-se na utilização do valor médio de produção de resíduos de 0,872 kg por habitante/dia obtidos para a cidade do Rio de Janeiro, conforme nos estudos feitos pela Divisão de Microbiologia da Gerência de Pesquisa Aplicada da COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana do município do Rio de Janeiro). O quadro a seguir apresenta a produção per capita diária de resíduos sólidos obtidas para quatro cidades, incluindo o município do Rio de Janeiro, onde pode ser observado que os valores médios per capita de produção de resíduos são bastantes próximos. Tabela 10.2 – Valores médios per capita de produção de resíduos (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) 173 Baixo kg/per capita 0,695 0,750 0,790 0,710 Fonte Rio de Janeiro (COMLURB) São Paulo (CETESB) Madri Salvador Médio kg/per capita 0,872 0,890 0,840 0,770 Alto kg/per capita 0,950 1.120 0,970 1.080 Nos municípios onde foram colhidas informações precisas sobre o número de viagens dos veículos de coleta e o volume da frota a quantidade estimada de lixo domiciliar foi baseada no volume dos caminhões de coleta e no peso específico aparente, adotado segundo bibliografias brasileiras e dados da CEPIS/OPS (1992) que são: − 250kg/m3 para resíduo in natura, sem compactação; − 450kg/m3 para resíduo recém compactados no corpo do aterro sanitário; − 600kg/m3 para resíduo estabilizado, após um ano de sua disposição final. Na análise da coleta dos resíduos sólidos de serviços de saúde observa-se a existência de coleta segregada desse material. Como o IQA e IQR permitem diagnosticar a situação da disposição de lixo do município, a figura 10.3 auxilia no tratamento da área após a classificação. Avaliação do atual local de disposição de lixo O local poderá continuar funcionando? Não Existe projeto e encerramento do local? Sim A vida útil do local se encerra em menos de 3 anos? Projeto de encerramento e remediação Não Projeto de aterro sanitário Sim Sim Não Prosseguir operação Sim O local pode ser considerado um aterro sanitário? Sim Há possibilidade de obter novo local no município? Identificou-se área adequada? Não Não Não Projeto de adequação Negociar com outros municípios ou investir em outras soluções Figura 10.3 – Fluxograma de decisões sobre a disposição de resíduos do município (IPT/CEMPRE, 2000) 174 10.1 Barra do Piraí Barra do Piraí é um município localizado a 122km da capital do Rio de Janeiro, a 363m de altitude e dividido em cinco distritos: Barra do Piraí, Dorândia, Ipiabas, São José do Turvo e Vargem Alegre. A sede do município localiza-se a 22º28`de latitude sul e 43º50` de longitude oeste. Faz divisa com os município de Valença, Vassouras, Mendes, Piraí, Volta Redonda e Barra Mansa. O município é cortado pelo rio Paraíba do Sul no seu trecho médio, situando-se em seu território a barragem de Santa Cecília, onde ocorre a tomada d’água do rio, a fim de integrar o sistema Guandu. Outro rio de suma importância para a região é o Piraí, que tem suas águas barradas pelo rio Paraíba do Sul, fato este, que deu origem ao nome da cidade. A principal via que corta a cidade é a BR-393, que liga a rodovia Presidente Dutra, na altura de Barra Mansa, à BR-040, na altura de Três Rios. O município é servido também pela RJ-145, que liga Piraí a Rio das Flores, passando por Valença. Por se tratar de um importante entroncamento rodoferroviário (Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo) as atividades de comércio e serviços assumem uma posição de destaque. As principais indústrias da região são: metalúrgica integrada à Siderúrgica de Volta Redonda, extrativa mineral de argila, caulim e bauxita e alimentos, com beneficiamento da produção agropecuária. A agricultura produz para o consumo local o café, milho e cana para forragem e para o mercado estadual o tomate. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Barra do Piraí é um município com uma população, basicamente, urbana (tabela 10.3). Tabela 10.3 – Distribuição da população de Barra do Piraí (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 88.475 66.900 População (%) Sede municipal 75,61 Área total (km2 ) 578,40 Densidade demográfica (hab./km2 ) 152,97 Segundo a FEEMA, os principais problemas ambientais encontrados em Barra de Piraí são: 175 − Críticos: inundações e enchentes; − Semicríticos: deficiência de sistemas de esgotamento sanitário, erosão do solo, deficiência de cobertura arbórea, vetores e poluição das águas; − Estado de alerta: degradação das áreas preservadas, precárias condições de vida, favelização, ocupação de encostas, disposição inadequada dos resíduos sólidos, deslizamentos e mineração. 10.1.1 Serviços de limpeza urbana O poder público municipal presta serviços de varrição em todos os distritos, em dois turnos, realiza a coleta domiciliar, coleta hospitalar e a destinação final dos resíduos. Esses serviços são subsidiados pela cobrança da taxa de limpeza pública, que adota como base de cálculo o IPTU (Imposto Territorial Urbano) e alíquota de 5%. A prefeitura utiliza cinco caminhões basculantes com capacidade entre 6 e 8m3 . Estes caminhões possuem uma grade de ferro localizada no final da caçamba, prolongando-se até o meio da mesma. Esta configuração, de acordo com técnicos locais, aumenta a capacidade de carga, elevando para até 14m3 . A utilização de caminhões basculantes para a coleta domiciliar, sem lona não é tecnicamente recomendável devido a problemas de acondicionamento durante o transporte, além do risco de queda de parte do material durante o serviço. A coleta domiciliar é realizada em dois turnos de serviço, no entanto os caminhões realizam dez viagens por turno, totalizando após um dia de serviço vinte viagens ao local de disposição final. A partir da capacidade volumétrica de cada caminhão, do número de viagens e admitindo um peso específico de 250 kg/m3 para resíduos in natura, é alcançada à produção total diária de 70t. O sistema de coleta diferenciada para resíduo hospitalar foi instalado, contudo a destinação é a mesma do lixo domiciliar. 176 10.1.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município Os resíduos sólidos são dispostos em um lixão no bairro do Cantão, no loteamento Mansão Celestial (figura 10.4), na mesma estrada que conduz à estação de tratamento de água Nelson Carneiro e à indústria Thyssen Fundições Ltda. Figura 10.4 – Mapa de localização do vazadouro (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) A área do vazadouro encontra-se entre dois morros, onde já se deu um desmoronamento. A área é dividida em três taludes, os quais variam entre 10 a 15m, sendo que um encontra-se parcialmente coberto e os outros dois descobertos e mal compactados (figura 10.5). Nos próximos subitens serão avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. 177 Figura 10.5 – Vista do lixão 10.1.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: PVa15 = podzólico vermelho-amarelo álico, argila de atividade baixa, textura arenosa/argilosa, relevo forte ondulado e montanhoso. Solo residual jovem. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto a caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados ao solo. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. 178 Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. A declividade acentuada do terreno possibilita um maior escoamento de águas superficiais para o lixão. Contudo, a região apresenta drenagem superficial ainda remanescente da extinta estrada de ferro, que cortava a localidade. O relevo colinoso propicia grande quantidade de material para recobrimento. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.300mm. • Proximidade de corpos de água O lixão está localizado a 6km do rio Paraíba do Sul e a menos de 200m de vários filetes d’água, que deságuam no córrego Nora. Além disso, encontram-se nas proximidades do vazadouro animais que se utilizam das águas provenientes desses pequenos córregos e do percolado do lixo (figura 10.6). Não há informações sobre a profundidade do lençol freático, todavia pela presença de água superficial nas redondezas do lixão, é possível supor que o lençol freático esteja alto na região do vazadouro. 179 Figura 10.6 – Terrenos alagados no entorno do lixão com a presença de um boi • Proximidade de núcleos habitacionais Pequenos sítios estão localizados a uma distância inferior a 500m do lixão, um fato agravante é a inexistência de água canalizada na região, obrigando os moradores a utilizarem o manancial local, que deve encontrar-se contaminado para o consumo (figura 10.7). Figura 10.7 – Pequeno sítio localizado no entorno do lixão 180 • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O terreno está afastado do centro urbano 6km. A estrada de acesso ao vazadouro tem 3km, porém, apenas, 1km é de estrada asfaltada e o restante encontra-se sem pavimentação. A estrada de terra é um verdadeiro obstáculo a ser vencido em épocas de chuvas. A via de acesso apresenta tráfego desimpedido. • Outras observações O isolamento visual da lixeira é inexistente e o local destinado ao depósito não é legalizado. 10.1.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece praticamente nenhuma infra-estrutura de implantação, a não ser a delimitação da localidade estudada por uma cerca de arame farpado e o acesso através de uma porteira. 10.1.2.3 Condições operacionais A condição geral do lixão é muito ruim pela inexistência de recobrimento e compactação do lixo, presença de urubus e moscas, descarga de resíduos de serviço de saúde e queimadas. No local constatou-se a presença de catadores residentes no local, além da criação de suínos e bovinos, que são abatidos na própria lixeira e vendidos para o comércio da proximidade. Carroças de madeira puxadas a cavalo são um meio de transporte para os catadores deslocarem o material separado para ser vendido. O resíduo é transportado por caminhões basculantes até o vazadouro, sem a devida lona de vedação, permitindo a dispersão de elementos pelo vento ao longo das vias. 10.1.3 Soluções para a destinação final Diante do exposto, faz-se necessária uma ação mais eficiente da administração municipal para coibir a moradia de catadores e a criação de animais na área destinada a disposição dos resíduos sólidos. 181 Seguindo o fluxograma da figura 10.3 o local não deve continuar recebendo os resíduos sólidos do município. Então, é primordial a elaboração do projeto de encerramento do local e remediação. O devido monitoramento da qualidade da água nos corpos hídricos, pois existem fortes indícios de que estão contaminados pelo percolado drenado do lixão. O local destinado à instalação de um novo aterro sanitário em Barra do Piraí, proposto por Carlos Motta Nunes, em seu projeto de final de curso, do Departamento de Hidráulica e Saneamento da UFRJ em 1999, localiza-se na rodovia que liga o município à Thyssen Fundições Ltda, mesma estrada que conduz ao atual lixão, porém é uma área rural, pertencente à Fazenda Aliança, com 15ha. O acesso ao futuro local de disposição é asfaltado em todo o trecho, distando do centro gerador de lixo 3,2km. O núcleo habitacional mais próximo localiza-se a 1km da área. A rodovia que conduz ao aterro é livre de tráfego intenso, significando que o movimento dos caminhões não prejudicará o acesso. O corpo d’água mais próximo está situado a mais de 600m da região escolhida. O seu relevo é composto de um aclive no sentido estrada – aterro, favorecendo à adoção do método da rampa para disposição final dos resíduos. Como Barra do Piraí detém uma das maiores jazidas de argila do Estado do Rio de Janeiro, grandes áreas em volta do aterro, podem servir como material de impermeabilização da base e de cobertura. O solo da região em estudo é um solo residual maduro, predominantemente argiloso, com coeficiente de permeabilidade de 10-6 cm/s. A camada de argila tem espessura de 10m até encontrar com a camada impermeável. O lençol encontra-se a 4,0m de profundidade, com uma variação média é de + 1,00m e sem aproveitamento das águas subterrâneas. O terreno é suscetível a erosão devido a topografia em vale, sendo assim, é importante salientar esse fato para que as devidas precauções sejam tomadas no projeto de drenagem pluvial. 182 10.2 Barra Mansa Barra Mansa, município localizado a 118km da capital do Rio de Janeiro, a 381m de altitude e é dividido em três distritos: Barra Mansa, Floriano e Nossa Senhora do Amparo. O município é cortado pelo rio Paraíba do Sul em seu trecho médio. A principal via que corta a cidade é a BR-116. Barra Mansa e Volta Redonda fazem um importante pólo industrial no Estado do Rio de Janeiro. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Barra Mansa é um município com uma população, basicamente, urbana (tabela 10.4). Tabela 10.4 – Distribuição da população de Barra Mansa (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 170.593 162.629 População (%) Sede municipal 95,33 Área total (km2 ) 547,60 Densidade demográfica (hab./km2 ) 311,55 10.2.1 Serviços de limpeza urbana O poder público municipal presta serviços de varrição, coleta domiciliar, coleta hospitalar, além da destinação final dos resíduos. Atualmente, existem estudos da administração pública para implantação de coleta seletiva domiciliar, tendo como base alguns projetos bem sucedidos que estão sendo implementados pela comunidade junto à ação pastoral. Todavia, não há nenhum projeto em relação à melhoria da infra-estrutura geral dos serviços de limpeza e destinação final dos resíduos coletados. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 149t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade exata de resíduos sólidos coletados no município. 10.2.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município Os resíduos sólidos são dispostos em um lixão próximo à RJ-157, sentido Bananal (figura 10.8). A altura do talude já atinge aproximadamente 8m de lixo. 183 Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. Figura 10.8 – Mapa de localização do vazadouro (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) 10.2.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: LVa36 = latossolo vermelho-amarelo álico, textura argilosa. Solo residual maduro. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto a caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados ao solo. 184 • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. O terreno colinoso propicia vasta quantidade de material para recobrimento. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.400mm • Proximidade de corpos de água A situação atual do depósito de lixo municipal é extremamente precária. Além de estar localizado a menos de 200m do córrego Cotiara e praticamente sobre vários outros córregos, tributários diretos do rio Paraíba do Sul, observou-se manobras do tratorista empurrando o lixo para cima dos córregos numa tentativa de ampliar o espaço para a disposição do lixo. Não há informações sobre a profundidade do lençol freático, entretanto pela presença de água superficial, é possível supor que o mesmo esteja alto na região do vazadouro. A comunidade que sobrevive da catação obtém água potável de um lençol freático situado cerca de 500m do lixão. • Proximidade de núcleos habitacionais O vazadouro está afastado de núcleos habitacionais, contudo os catadores que trabalham no local residem sobre o lixão (figura 10.11). 185 • Condições do sistema viário-trânsito-acesso Da BR-116 até o lixão o percurso é de 8km, sendo 7km em estrada asfaltada, percorridos na RJ-157 e 1km de estrada de terra. • Outras observações Não existe isolamento visual da lixeira e o local destinado ao depósito não é legalizado. 10.2.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece infra-estrutura satisfatória de implantação, somente alguma maquinaria, como: duas pás-mecânicas, um trator de esteira tipo D4 e uma retro-escavadeira. Entorno do talude de lixo uma pá mecânica abre valas para onde confluem o chorume e as águas superficiais, que empoçam, exalando um odor insuportável (figura 10.9). Figura 10.9 – Vala aberta ao redor do vazadouro 186 10.2.2.3 Condições operacionais A condição geral do lixão é muito ruim pela inexistência de recobrimento e compactação do lixo, presença de urubus e moscas, além da descarga de resíduos de serviço de saúde. No local constatou-se a presença de catadores residentes (figura 10.10 e 10.11). Figura 10.10 – Catação sobre o vazadouro 10.2.3 Soluções para a destinação final O lixão carece de medidas emergenciais para que a prefeitura possa dispor os resíduos produzidos no município sem oferecer riscos e danos a população e ao meio ambiente. No caso específico dos catadores é necessário que sejam criadas outras alternativas de sustento para essas pessoas. No caso da realização de investimentos na destinação final dos resíduos sólidos do município, uma opção seria a utilização dessa mão-de-obra em uma usina de reciclagem de lixo. O governo municipal deve tomar medidas para selar a atual área do lixão por sua total inadequação técnica e ambiental. Para isso, torna-se imprescindível elaborar um 187 projeto de encerramento e remediação da área (figura 10.3), bem como, encontrar um local para a disposição do lixo urbano que seja adequado ambientalmente. Figura 10.11 – Moradia sobre o vazadouro 188 10.3 Cantagalo Cantagalo, município localizado a 190km da capital do Rio de Janeiro, a 376m de altitude e dividido em cinco distritos. O norte do município é cortado pelo rio Paraíba do Sul no seu trecho médio, fazendo a divisa entre o estado do Rio de Janeiro e o estado de Minas gerais. A indústria mais expressiva da região é a cimenteira. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demonstra um equilíbrio entre a população urbana e agrícola do município de Cantagalo (tabela 10.5). Tabela 10.5 – Distribuição da população de Cantagalo (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 19.809 10.193 População (%) Sede municipal 51,46 Área total (km2 ) 717,40 Densidade demográfica (hab./km2 ) 27,61 10.3.1 Serviços de limpeza urbana O serviço de varrição no distrito sede é realizado pela prefeitura, já a coleta domiciliar, a coleta hospitalar e a destinação final dos resíduos são de responsabilidade de uma firma terceirizada. Esses serviços são subsidiados, em parte, pela taxa de limpeza pública cobrada, juntamente com o IPTU (Imposto Territorial Urbano), correspondendo a 0,4% da unidade fiscal municipal por metro quadrado do terreno, que representa um valor de R$ 0,20/m2 . O lixo domiciliar é coletado, em todo os distritos, por dois caminhões basculantes, com capacidade de 6m3 , dotados de lona. Em média cada caminhão executa cinco viagens por dia, totalizando dez viagens. A partir da capacidade volumétrica de cada caminhão, do número de viagens e admitindo um peso específico de 250 kg/m3 para resíduos in natura, é alcançada à produção total diária de 15t de lixo, correspondendo a uma geração per capita de 0,76kg/dia. A coleta hospitalar é diferenciada e realizada através da remoção de caixa estacionária colocada nos fundos do complexo hospitalar do município, que congrega o Hospital de Cantagalo, o Ambulatório Municipal e o Posto de Saúde. 189 10.3.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município Os resíduos sólidos coletados são encaminhados à usina de reciclagem e compostagem, situada a 1km da RJ-170, no sentido de Santa Rita da Floresta. A usina está afastada do centro de Cantagalo 9km, localizando-se numa região pouco habitada. Essa forma de destinação de resíduos sólidos é muito apropriada para o nosso estágio de desenvolvimento, pois atende alguns requisitos essenciais: − Baixo custo de investimento inicial; − Criação de empregos diretos e indiretos para a classe carente; − Redução do passivo ambiental disposto em aterro sanitário; − Preservação dos recursos naturais; − Baixo custo do sistema de manutenção; − Adequado para cidades de pequeno e médio porte. No estado do Rio de Janeiro, além de Cantagalo, existem os seguintes municípios com usinas de reciclagem e compostagem: Bom Jardim, Duas Barras e Tanguá. Outras usinas estão em fase de construção que são: Itaguaí, Magé, São Gonçalo, São João da Barra. Entretanto, a única que funciona adequadamente é a de Cantagalo. Em 1998, a Prefeitura de Cantagalo licitou por US$ 180 mil a construção e instalação da usina de reciclagem e compostagem. O local destinado à usina foi de 10.000m2 , porém só foram utilizados 1.000m2 para construção, totalizando US$ 180/m2 . No término da execução da usina, nova licitação foi realizada pela Prefeitura para a operação da mesma. O contrato de operação de sessenta meses (cinco anos), no valor de R$ 41.000,00/mês reajustáveis, iniciado em 1999, incluiu a coleta e o tratamento dos resíduos. O dispêndio da Prefeitura com a coleta e a disposição do lixo é de R$ 91,11/ t /mês. Em Cantagalo, quem construiu e opera o tratamento dos resíduos sólidos é a empresa Inspector Engenharia Ltda. Atualmente, a usina ainda não conseguiu a Licença de Operação. 190 10.3.2.1 Usina de reciclagem e compostagem A usina construída no município de Cantagalo é um modelo simplificado, justificado pelo porte da cidade e pela limitação de recursos financeiros. As etapas presentes dentro da usina são descritas a seguir: • Coleta O lixo, exclusivamente urbano, é recolhido por caminhões basculantes, munidos de lonas para evitar a dispersão de material pelo vento. O resíduo não sofre compactação para facilitar a separação manual da matéria orgânica do material reciclável. Uma peculiaridade na coleta é o recolhimento do vidro uma vez por mês, evitando, assim, o contato com os demais componentes do lixo. • Recepção e triagem O resíduo que chega à usina é despejado no edifício de recepção/triagem (figura 10.14). Os materiais recicláveis são separados manualmente por doze funcionários posicionados ao longo de uma esteira de catação (figura 10.12). Figura 10.12 – Esteira de catação 191 Parte do material recebido como vidro, plástico duro, trapos são armazenados a granel em baias especiais, ao lado da esteira de catação (figura 10.13); o restante como plástico filme, papelão, latas são prensados em fardos (figura 10.14). Os rejeitos inaproveitáveis como pneus, pilhas, colchões também são separados nessa área para futura destinação. A separação dos metais ferrosos e não-ferrosos também são realizados manualmente. Figura 10.13 – Recepção dos resíduos e baias para armazenamento do material reciclável Em média, do lixo recebido, 50% é material orgânico, 40% material possivelmente reciclável e 10% rejeito destinado ao aterro. Da parcela reciclável, mensalmente, 40 toneladas são vendidas por um valor médio de R$ 110,00/tonelada, gerando um valor de R$ 4.400,00/mês, pertencente à empresa que opera a usina. Esses números fornecido pela empresa são duvidosos, já que inicialmente a quantidade esperada de material reciclável deveria ser muito maior e consequentemente a receita acompanharia o crescimento, a qual reverteria para a empresa. 192 Figura 10.14 – Prensa de fardos • Resíduos hospitalares Os resíduos de serviços de saúde apresentam tratamento térmico de alta temperatura, entorno de 800ºC (figura 10.15). O incinerador, que emprega o ar como agente oxidante, funciona 6h/dia incinerando 250kg de lixo hospitalar, correspondendo a 1,67% da geração total. Esse processo permite destruir ou remover a fração orgânica, reduzindo, aproximadamente, a massa em 70%, o volume em 90% e alcançando a assepsia. O incinerador apresenta Licença de Operação dada pela Feema. 193 Figura 10.15 – Vista do incinerador • Compostagem Após a passagem do resíduo pela esteira de catação, resta apenas a matéria orgânica, que a partir desse momento é distribuída em cinco silos (figura 10.16) de dimensões (4 x 15)m, podendo alcançar uma altura de aproximadamente 1,50m. Em cada silo existem três canaletas no piso, que insuflam ar de baixo para cima na massa de lixo, em média uma hora por dia. O chorume, gerado pela decomposição da matéria orgânica, é canalizado para uma fossa cimentada de 0,80m de diâmetro e 4m de profundidade, que recircula pela massa de lixo duas vezes por semana. Na estação do verão, por ser época de chuva, o resíduo mais úmido requer maior recirculação, pois a fossa de dimensões limitada não comporta grande quantidade de chorume. O resíduo permanece de 60 a 70 dias nos silos até gerar o húmus e ser peneirado (figura 10.17). Dessa forma, a matéria orgânica presente no lixo é transformada em adubo através da compostagem e distribuída gratuitamente para os agricultores locais. Atualmente, esse adubo é muito bem aceito pela comunidade, e a usina não consegue atender a demanda. 194 Figura 10.16 – Vista dos silos de compostagem Figura 10.17 – Vista da peneira manual e do material peneirado 195 A compostagem é um processo biológico aeróbio que transforma resíduos orgânicos em resíduos estabilizados, com propriedades e características completamente diferentes do material que lhe deu origem. Os componentes da matéria orgânica, durante o processo, são utilizados pelos próprios microrganismos para formação de seus tecidos, outros são volatilizados e outros são transformados biologicamente em uma substância escura, uniforme denominada húmus. A velocidade de decomposição depende da estrutura molecular de cada material. Os microrganismos que participam mais ativamente do processo são os aeróbios e os facultativos. Esses microrganismos, exotérmicos, liberam energia na forma de calor; isto justifica a importância do controle térmico do processo. Com este controle, evita-se que temperaturas muito elevadas, acima de 65ºC, venham a eliminar a massa biológica responsável pela estabilização do material em processamento. A temperatura preferencial é entorno de 55o C que ocorre a quase completa erradicação do meio de ervas daninhas e dos microrganismos patogênicos, o que garante a qualidade sanitária do composto (Bidone). Os principais microrganismos responsáveis pela compostagem são: as bactérias que decompõem açúcares, amidos proteínas e outros compostos orgânicos de fácil digestão. Já os fungos e actinomicetos degradam o material celulósico. Para um adequado processo de compostagem é necessário um teor de umidade da ordem de 55%. Umidades superiores a 60% propiciam a anaerobiose e umidades inferiores a 40% reduzem significativamente a atividade biológica. (Bidone, 1999). O controle da umidade pode ser atingido com revolvimentos sistemáticos e periódicos, manuais ou mecânicos, possibilitando o contato da massa de resíduo interna à pilha com o ar atmosférico; se a umidade for insuficiente, durante o revolvimento pode ocorrer a irrigação com chuveiros. A compostagem deve ser realizada em ambiente aeróbio. Além de mais rápida, não produz mau-cheiro, nem proliferação de insetos. A aeração pode ocorrer por revolvimento manual ou por meios mecânicos, com insuflamento de ar. A primeira fase da compostagem, de aproximadamente 12 a 24 horas, é caracterizada pela elevação da temperatura até o limite ótimo. A segunda fase, onde ocorre a degradação ativa do material orgânico, pode demorar entre 60 e 90 dias, o 196 período é reduzido para 30 dias, quando aerado. A terceira, é aquela em que inicia-se o resfriamento do material e em condições normais leva de 3 a 5 dias. A quarta fase, de maturação ou cura do material compostado, resultando na formação de ácidos húmicos, leva de 30 a 60 dias. • Rejeitos O material destinado ao aterro não é completamente inerte, pois recebe dejetos não recicláveis como fralda plástica, papel higiênico, além do material retido na peneira após a compostagem e as cinzas da incineração. O aterro de rejeitos com 150.000m², operado pela prefeitura, fica na RJ-170 a 10km depois da usina. O local fica afastado de núcleos habitacionais e de corpos hídricos, no entanto, a via de acesso que liga a RJ-170 ao aterro é uma estrada de terra de mais 2km em péssima conservação. Como já foi discorrido neste texto só 10% do resíduo total coletado é encaminhado ao aterro, que é operado com trincheiras de dimensões de 2m de largura, 3m de profundidade e 20m de comprimento. Os rejeitos são encaminhados ao aterro duas vezes por semana e a retro-escavadeira faz o cobrimento uma vez por semana. A prefeitura está estudando novas áreas para a disposição dos resíduos municipais e o fechamento do presente aterro. No momento, existem duas alternativas, uma área mais distante que o aterro atual e uma segunda muito melhor em frente à usina. As planilhas do IQA e IQR estão preenchidas no anexo 5. 10.3.3 Soluções para a destinação final A solução desenvolvida para o gerenciamento dos resíduos neste município além de resolver o problema da disposição do lixo municipal, criou empregos diretos e indiretos, amenizando os problemas sociais, reduziu o volume de lixo destinado ao aterro e o risco de contaminação provenientes dos lixões. O atual aterro do município que recebe material parcialmente inerte deve ser lacrado, considerando a avaliação do IQA e IQR. 197 10.4 Cordeiro Cordeiro, município localizado a 170km da capital do Rio de Janeiro, a 485m de altitude e dividido em dois distritos: Cordeiro e Macuco. A sede do município localizase a 22º02`de latitude sul e 42º22` de longitude oeste. Faz divisa com os município de Cantagalo, São Sebastião do Alto, Trajano de Morais, Bom Jardim e duas Barras. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Cordeiro é um município com uma população urbana (tabela 10.6). Tabela 10.6 – Distribuição da população de Cordeiro (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 18.594 17.749 População (%) Sede municipal 95,46 Área total (km2 ) 116,00 Densidade demográfica (hab./km2 ) 160,25 10.4.1 Serviços de limpeza urbana O poder público municipal presta serviços de varrição, realiza a coleta domiciliar, coleta hospitalar, destinação final dos resíduos e poda de árvores e remoção de entulho. O município não dispõe de legislação específica, nem prevê tributação para a cobertura de tais serviços. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 16t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. O lixo hospitalar é depositado em caixas estacionárias de 3m3 , porém a coleta é realizada juntamente com o resíduo domiciliar. 10.4.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município Os resíduos sólidos municipais são dispostos num terreno denominado Fazenda da Torre. O lixão está situado próximo à estrada que liga o município de Cordeiro a Nova Friburgo (figura 10.18) e a menos de 200m da margem de um córrego. O vazadouro, hoje, é constituído por um talude de aproximadamente 7m (figura 10.19). 198 Figura 10.18 – Mapa de localização do vazadouro (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) Figura 10.19 – Vista do lixão 199 Nos próximos subitens são avaliação as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. 10.4.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: PEe15 = podzólico vermelho-escuro eutrófico, textura muito argilosa, relevo montanhoso. Solo residual jovem. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto a caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados ao solo. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: MFo5 = abrangem modelados estruturais representados por cristas de topos aguçados, morros e patamares escalonados com inclinação de drenagem de 212 a 312m e declividades de encostas varando de 24 a 34º. Precipitações entre 800 e 1.750mm anuais, concentradas no verão. Predominam os processos de escoamento difuso e concentrados, assim como diversos tipos de movimento de massa. Ocorrência freqüente de desmoronamentos de blocos de rochas e escoamentos de terra, agravados nos períodos de maior concentração de chuvas. O terreno montanhoso propicia áreas de empréstimo para o recobrimento diário. • Precipitação Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.300mm 200 • Proximidade de corpos de água O lixão está localizado a menos de 200m do córrego Parimá. • Proximidade de núcleos habitacionais O lixão apresenta como vizinhos em um raio de 1km uma churrascaria e um motel. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O terreno está afastado do centro urbano 3km, mas a distância do vazadouro até a estrada que liga o município de Cordeiro ao de Nova Friburgo é 500m de estrada de terra. • Outras observações O isolamento visual da lixeira é inexistente e o local destinado ao depósito não é legalizado. 10.4.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece nenhuma infra-estrutura de implantação, a não ser a presença de um trator de esteira tipo D4. 10.4.2.3 Condições operacionais A condição geral do lixão é muito ruim pela inexistência de recobrimento, presença de urubus, moscas e catadores. Sobre o próprio lixão existe uma escavação para a colocação de material patogênico, oriundo do serviço de saúde, que é incendiado a céu aberto com gasolina ou outro produto inflamável (figura 10.20). Constatou-se a presença de catadores residentes no local, além de pequenos animais, criados sobre o aterro e, também, observou-se nas proximidades a existência de animais de grande porte. O resíduo é transportado por caminhões basculantes até o vazadouro, sem a devida lona de vedação, permitindo a dispersão de elementos pelo vento. 201 Figura 10.20 – Vista da moradia dos catadores e da queima do material patogênico 10.4.3 Soluções para a destinação final A destinação final dos resíduos sólidos no município é totalmente incorreta e prejudicial ao meio ambiente, tendo em vista a proximidade do local do lixão com o córrego Parimá. Seguindo o fluxograma proposto na figura 10.3 o local não deve continuar funcionando e a próxima providência a ser adotada é a elaboração de um projeto de encerramento e remediação do local. 202 10.5 Itatiaia Itatiaia, município localizado a 172km da capital do Rio de Janeiro, a 390m de altitude e dividido em três distritos: Itatiaia, Maromba e Penedo. O município é cortado pelo rio Paraíba do Sul no seu trecho médio, situando em seu território a barragem de Funil. O município é servido pelas rodovias BR-116 e BR-485. Por ter em seu território uma das maiores reservas florestais da região, o Parque Nacional de Itatiaia, o turismo tornou-se a principal fonte de renda do município. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Itatiaia é um município com uma população rural (tabela 10.7). Tabela 10.7 – Distribuição da população de Itatiaia (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 24.729 11.731 População (%) Sede municipal 47,44 Área total (km2 ) 225,0 Densidade demográfica (hab./km2 ) 109,91 Sua população urbana corresponde a menos da metade de sua população total, sem levar em consideração a população flutuante que aumenta nos finais de semana e feriados. 10.5.1 Serviços de limpeza urbana O poder público municipal presta serviços de varrição parcial, realiza a coleta domiciliar, coleta hospitalar e a destinação final dos resíduos. Esses serviços não apresentam subsídios mediante cobrança de taxa de limpeza pública, os proventos são oriundos dos impostos que compõem o orçamento geral da prefeitura, que normalmente são insuficientes para o custeio das despesas. O serviço de coleta é realizado pela empresa Locanty, mediante a utilização de quatro caminhões equipados com compactadores de 6m³ e dois caminhões de carroceria basculante de 06/08 m³, sendo um para a coleta no distrito de Maromba e o outro para o distrito de Penedo; além de mais três caminhões de carroceria basculante de 06/08 m³, alugados, para a coleta de entulho de obra e material de poda. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 22t/dia. Por não 203 dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. 10.5.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município No município a disposição dos resíduos sólidos se dividem em dois pontos. O primeiro vazadouro, de pequeno volume, localiza-se na rua Expedicionários, via principal da cidade, local de empréstimo de material de construção e à margem do rio Paraíba do Sul. Figura 10.21 – Desenho esquemático da localização do vazadouro (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) O segundo foco de disposição, esse com dimensões consideráveis, fica próximo a entrada de acesso a barragem de Funil, pertencente a Furnas Centrais Elétricas S.A (figura 10.23). Além da localização inadequada, o aterro só recebe cobertura em intervalos de dois dias, favorecendo a ocorrência de vetores e urubus. A compactação do material disposto neste local é feita de forma incorreta, com baixa eficiência, acarretando uma perda significativa em máquinas-hora de serviço. Nota-se também a presença de um pequeno grupo de catadores, o que demonstra a vulnerabilidade do sistema de vigilância da área. 204 Figura 10.22 – Mapa de localização do vazadouro (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. 10.5.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: LAa2 = latossolo amarelo álico, textura argilosa. Solo residual maduro. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto a caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados ao solo. 205 Figura 10.23 – Vista do vazadouro • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. O terreno montanhoso propicia área de empréstimo para o cobrimento diário. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.500mm 206 • Proximidade de corpos de água O primeiro lixão localiza-se ao lado do rio Paraíba do Sul, já o segundo situa-se próximo a entrada de acesso a barragem de Funil, cerca de 700m do vertedouro da margem esquerda. Figura 10.24 – Crianças brincando em lagos Ao longo da estrada de acesso ao maior lixão e afastado 1km do mesmo, existem dois lagos chamados pela comunidade de piscinões, no qual crianças utilizam-no como área de lazer (figura 10.24). Um fato alarmante é a presença de línguas negras e odor intolerável que ocorrem nessa estrada paralela aos lagos, significando que o chorume neste ponto é visível e, consequentemente, o percolado deve atingir os piscinões. Não há informações sobre a profundidade do lençol freático, todavia constatouse o afloramento de água, aparentemente limpa, dentro do vazadouro, sendo possível supor que o lençol freático esteja alto na região (figura 10.25). 207 Figura 10.25 – Afloramento de água dentro do vazadouro • Proximidade de núcleos habitacionais Um conjunto habitacional está instalado a 2km do lixão, entretanto uma pequena família reside sobre o lixão. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O primeiro vazadouro fica ao longo da via principal da cidade. Já o acesso do segundo lixão é muito precário, pois a estrada de terra de 3km está em péssima conservação. • Outras observações A lixeira localiza-se em local isolado visualmente, mas o local destinado ao depósito não é legalizado. 10.5.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece, praticamente, nenhuma infra-estrutura de implantação, a não ser a delimitação da localidade estudada por uma cerca de arame farpado e um trator de esteira. 208 10.5.2.3 Condições operacionais A condição geral do lixão é muito ruim pela inexistência de recobrimento regular e compactação do lixo, presença de urubus e moscas. Constatou-se a presença de catadores residentes no local, além da criação de aves, que são abatidos na própria lixeira, servindo de alimento. A partir de 1997 o lixo hospitalar passou a ser incinerado no sanatório na área da AMAN. 10.5.3 Soluções para a destinação final É aconselhável a desativação, o encerramento e a remediação do atual lixão (figura 10.3), sobretudo devido a sua proximidade com o reservatório de Funil. Como o município de Itatiaia não dispõe de áreas adequadas para a correta disposição de resíduos sólidos, recomenda-se que sejam feitas negociações com o município de Resende para a busca de uma solução comum para a destinação final de seus resíduos sólidos. 209 10.6 Macaé Macaé localiza-se a 193 km ao norte da capital do Rio de Janeiro, seu clima é quente e úmido na maior parte do ano, com temperaturas que variam entre 18ºC e 30ºC. O município de Macaé faz divisa ao norte com os municípios de Quissamã e Conceição de Macabu, ao sul com Casimiro de Abreu e Rio das Ostras, a Oeste com Trajano de Moraes e Nova Friburgo e a Leste com o Oceano Atlântico. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demonstra quase a totalidade da população concentrada na área urbano (tabela 10.8). Tabela 10.8 – Distribuição da população de Macaé (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 131.550 125.118 População (%) Sede municipal 95,11 Área total (km2 ) 1.215,0 Densidade demográfica (hab./km2 ) 108,28 A extração de petróleo, a fruticultura, a agroindústria do açúcar e a pesca são as principais atividades econômicas da região. A descoberta de petróleo pela Petrobrás na plataforma continental provocou um "boom" na economia local. Enorme contigente de mão-de-obra especializada, vindo de todas as partes do Brasil e do exterior mudaram radicalmente a estrutura da cidade. O município atraiu investimentos nas atividades de hotelaria, comércio, transporte alimentação e lazer. Como conseqüência houve um aumento substancial na qualidade de vida da população. 10.6.1 Serviços de limpeza urbana Os serviços de limpeza urbana oferecidos à população abrangem a coleta de lixo domiciliar, a destinação final dos resíduos, a coleta segregada do material patogênico e as atividades de conservação da cidade. Os serviços de coleta e operação do aterro são executados por uma firma terceirizada chamada Limpatech. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos produzido no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg obtém-se uma produção de 115t/dia. Como o aterro recebe o lixo das plataformas, a estimativa fornecida pela Limpatech é de 150t/dia. 210 10.6.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município O local destinado à disposição do lixo situa-se dentro do perímetro urbano, porém afastado do centro 12km. A implantação do aterro foi precedida por uma escolha de área, que apontou como região adequada uma propriedade da prefeitura. O início da operação do aterro sanitário se deu em 1996, com uma vida útil de dez anos, porém o crescimento econômico da região ocasionou um aumento populacional que reduziu a expectativa de funcionamento do local até 2002. O entulho da cidade é encaminhado para uma usina de reciclagem da prefeitura, operada pela Limpatech. O entulho recebido passa por uma triagem, moeção, peneiramento e prensa, gerando blocos de pavimentação, blocos para meio-fio e blocos de concreto para a prefeitura de Macaé. O rejeito do processo de reciclagem é encaminhado ao aterro. Nos próximos subitens são avaliadas as características do aterro sanitário baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificou a área dentro de condições adequadas. 10.6.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: LVa37 = latossolo. Solo residual maduro. O tipo de solo informado pela Limpatech foi argila siltosa e permeabilidade 105 cm/s. Considerou-se, então, que este solo é adequado para as operações de um aterro. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: EFo5 = englobam feições morfológicas com forte controle estrutural com escarpas, com incisões de drenagem entre 344 a 446m e 211 declividades superiores a 37º. Precipitações entre 1.200 e 2.500mm. Os processos morfogenéticos atuam principalmente nas encostas desprotegidas, forte atuação da decomposição química, estimulando constantes movimentos de massa, com deslizamentos e quedas de blocos. Grande disponibilidade de material para recobrimento nas proximidades do local de disposição dos resíduos sólidos. • Dados climatológicos Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 800mm O balanço hídrico é negativo em todos os meses do ano, isto significa, que o valor da evapotranspiração supera a precipitação. Essa condição é muito favorável para a operação de um aterro sanitário. • Proximidade de corpos de água Não existe corpo hídrico na proximidade, o que se encontra no horizonte é o oceano Atlântico. A informação obtida através da Limpatech sobre a profundidade do lençol freático no ponto mais alto é de 4m abaixo da base do aterro. • Proximidade de núcleos habitacionais Não existe proximidade de núcleos habitacionais residindo próximo ao aterro, todavia estabelecimentos industriais localizam-se ao seu redor como, por exemplo, um núcleo operacional da Petrobrás. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O aterro está afastado do centro urbano 12km, porém a via de acesso é totalmente asfaltada e de boa conservação. 212 • Outras observações O aterro não apresenta isolamento visual, entretanto o aspecto geral observado da entrada não causa repugnância. O local do aterro foi legalmente constituído e incrivelmente chega ao fim de usa vida útil sem adquirir a licença de operação. 10.6.2.2 Infra-estrutura implantada A localidade de estudo é delimitada por um cercamento e o acesso se dá através de uma guarita, não existindo inspeção dos resíduos transportados pelos caminhões, nem controle das rotas nem do volume. No momento, o aterro está recebendo juntamente com o lixo domiciliar resíduos semi-sólidos. O acesso à frente de trabalho permite a circulação de pequenos veículos, sem nenhum atropelo. A base do aterro foi impermeabilizada, com a compactação de uma camada de 1m do próprio solo. A drenagem de fundo é do tipo espinha de peixe, interligada aos drenos de gás. Na extremidade da drenagem principal existe uma manilha de diâmetro de 1m para armazenar o chorume coletado (figura 10.26). O balaço hídrico negativo propiciou o uso da recirculação para o tratamento do chorume. Quando o nível do chorume aumenta em épocas de chuvas, uma bomba portátil recircular o chorume, reduzindo o seu volume em 25%. A figura 10.26 apresenta um desenho esquemático da coleta do chorume. 1 2 3 Figura 10.26 – Desenho esquemático do sistema de coleta do chorume Os drenos de gás (figura 10.27) são constituídos a partir do sistema de camisas deslizantes, isto é, no local dos drenos são colocados canos de ferro fundido, de diâmetro de 0,2m e preenchimento de brita nº 3. À medida que ocorre o alteamento do aterro a tubulação é puxada para cima e a brita permanece, constituindo os drenos. A 213 geração de gás é insuficiente para queima-lo, esse fato decorre da baixa umidade da região. Para uma área de 100.000m2 como é o caso da área em estudo deve existir no mínimo três poços de monitoramento do lençol freático, um a montante e dois a jusante. Entretanto no aterro só existem dois poços de monitoramento, um a montante e outro a jusante. No início da operação do aterro a freqüência de monitoramento das águas subterrâneas era mensal, agora só é realizada trimestralmente, justificado pelo não comprometimento do lençol freático. Figura 10.27 – Vista do dreno de gás e do poço de armazenamento do chorume 10.6.2.3 Condições operacionais A operação do aterro sanitário ocorre através de células alteadas de 3 a 4 m. Hoje, já totalizam 20m de altura, com 6 células fechadas. Cada célula aberta corresponde a uma drenagem secundária. O lixo que chega ao aterro é continuamente compactado e coberto (figura 10.28) por uma camada mínima de 5cm de solo. A camada intermediária, de fechamento da célula, recebe um recobrimento de 10 a 15cm. O resíduo recebido durante à noite é compactado e recoberto pela manhã. Essa prática evita urubus e moscas na frente de 214 trabalho. Os pneus são enterrados na posição horizontal e preenchidos seus interiores, evitando, assim, o afloramento através do acúmulo de gás no interior dos mesmos. Figura 10.28 – Operação de recobrimento A frente de trabalho, mínima possível, é entorno de 10m, considerando o tempo de 5min. para o descarregamento de um caminhão, o qual requer três funcionários trabalhando constantemente, sendo eles: um operador do trator de esteira, um motorista do caminhão basculante de material para recobrimento e um encarregado do aterro. O trator tipo D-6 faz a compactação com 4 a 5 passadas de baixo para cima sobre o lixo. O caminhão basculante trabalha no topo do talude despejando o material de cobrimento. O lixo hospitalar é enterrado em trincheiras (figura 10.29), abertas sobre antigos locais de depósito de lixo, revestidas com manta de PAD de 2mm (polietileno de alta densidade). Atualmente, já existem duas células fechadas de altura de 3m cada. Nas trincheiras não ocorre compactação para evitar qualquer espalhamento de contaminação, recebem somente uma pequena camada de solo. Apenas a última camada de cobertura sobre compactação, mas não há o envelopamento com a manta. 215 Figura 10.29 – Vista da trincheira de resíduos de serviços de saúde A empresa que opera o aterro conhece a superfície ocupada pela operação de disposição dos resíduos e a capacidade ainda disponível, porém desconhecem a caracterização do resíduo que trabalham e o volume exato enterrado. 10.6.3 Soluções para a destinação final Seguindo o fluxograma da figura 10.3 o aterro pode continuar funcionando e se enquadra dentro de condições adequadas, contudo a vida útil está praticamente esgotada, devendo a área ser fechada a partir de um projeto de encerramento. A área que será liberada para o novo aterro sanitário é na RJ-168, saída da BR101 e entrada para Macaé, com uma vida útil estimada de 15 anos e uma distância ao centro de 8km. 216 10.7 Mendes Mendes, município localizado a 99km da capital do Rio de Janeiro, a 410m de altitude. Faz divisa com os município de Barra do Piraí, Eng. Paulo de Frontin, Paracambi e Piraí. As principais indústrias da região são: metalúrgica integrada à Siderúrgica de Volta Redonda, extrativa mineral de argila, caulim e bauxita e alimentos, com beneficiamento da produção agropecuária. A agricultura produz para o consumo local o café, milho e cana para forragem e para o mercado estadual o tomate. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Mendes é um município com uma população urbana (tabela 10.9). Tabela 10.9 – Distribuição da população de Mendes (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 17.306 17.140 População (%) Sede municipal 99,04 Área total (km2 ) 77,03 Densidade demográfica (hab./km2 ) 223,88 10.7.1 Serviços de limpeza urbana A municipalidade dispõe de serviços de varrição, apenas no centro da sede, coleta domiciliar, coleta hospitalar, remoção de entulho, além da destinação final dos resíduos sólidos operados diretamente pela administração municipal. O sistema tributário do município não prevê taxa para financiamento e custeio da limpeza urbana. Os recursos destinados à cobertura desses serviços são oriundos do IPTU arrecadado no município. A freqüência irregular da coleta e a insatisfatória distribuição dos tambores de lixo ocasionam pontos de acúmulo de resíduos pela cidade. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 15t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. A coleta de material de origem hospitalar é realizada separadamente do lixo doméstico, por uma pick-up e uma Kombi, que também transportam passageiros. Não 217 há o acondicionamento do material em sacos plásticos, ficando o mesmo em contato com o passageiro e exposto na carroceira da pick-up ou no chão da Kombi. 10.7.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município A administração municipal deposita os resíduos sólidos domiciliares num terreno cedido à prefeitura, localizado na estrada que liga Mendes a Engº Morsing, na RJ-133, aproximadamente 3,6km da antiga estação ferroviária de Mendes (figura 10.30). O proprietário do terreno iniciou, na administração anterior, obras civis para a construção de uma pequena usina de reciclagem (figura10.31); hoje, as obras estão paralisadas e o local serve como depósito para o material coletado pelos catadores. Figura 10.30 – Desenho esquemático de localização do vazadouro (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) Os resíduos patogênicos são incinerados em uma clínica particular, Sanatório Psiquiátrico de Mendes, localizado na Estr. de Palmas. A incineração é realizada através de um forno a lenha onde os resíduos são colocados para a queima. Como o forno não possui uma câmara estanque uma parte do material não é calcinado acumulando-se no forno. Os gases e cinzas resultantes dessa queima parcial são lançados na atmosfera. 218 Figura 10.31 – Vista da usina de reciclagem desativada Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. 10.7.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: PVAa34 = podzólico vermelho-amarelo álico, textura argilosa. Solo residual jovem. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto a caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados ao solo. 219 • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. Dentro da área delimitada para a disposição dos resíduos sólidos existe a disponibilidade de material de empréstimo para o recobrimento do lixo. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.400mm • Proximidade de corpos de água No fundo da área do lixão localiza-se um córrego, observa-se deslizamentos sofridos pelos taludes circunvizinhos que se depositam nas áreas mais baixas, na direção do filete d’água. Não há informações sobre a profundidade do lençol freático, todavia pela presença de água superficial, é possível supor que o lençol freático seja alto na região do vazadouro. • Proximidade de núcleos habitacionais O lixão encontra-se em área isolada, onde pequenos sítios só existem num raio superior a 1km. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O terreno está afastado do centro urbano 5km. A estrada de acesso é toda asfaltada, em boa conservação e de pouco tráfego. 220 • Outras observações A lixeira não tem isolamento visual, pois encontra-se às margens da RJ-133 e o local destinado a disposição não foi autorizado pelo Órgão fiscalizador Estadual. 10.7.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece, praticamente, nenhuma infra-estrutura de implantação, a não ser a delimitação da localidade estudada por uma grade. E a permanência constante de um vigia para impedir o livre acesso (figura 10.32). Figura 10.32 – Vista do vazadouro 10.7.2.3 Condições operacionais A área em análise tem uma conformação plana (figura 10.32). Uma pá-mecânica espalha o material de recobrimento sobre o lixo diariamente, mas sem compacta-lo. Essa prática mesmo inadequada repele moscas e urubus. No local constatou-se a presença de três catadores. Os resíduos de serviços de saúde não são encaminhados ao lixão. 221 10.7.3 Soluções para a destinação final A destinação final dos resíduos produzidos no município é crítica. Como não existe nenhuma forma de controle ambiental na área do vazadouro, seria inviável técnica e economicamente sua recuperação. A melhor solução é a desativação do lixão, com o posterior selamento e recuperação da área (figura 10.3). 222 10.8 Nova Friburgo Nova Friburgo, município localizado a 141km da capital do Rio de Janeiro, a 846m de altitude e dividido em quatro distritos, além do distrito-sede; faz divisa com os município de Bom Jardim, Trajano de Morais, Macaé, Casimiro de Abrel, Silva Jardim, Cachoeiras de Macabu, Teresópolis, Sumidouro e Duas Barras. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Nova Friburgo é um município com uma população urbana (tabela 10.10). Tabela 10.10 – Distribuição da população de Nova Friburgo (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 173.321 151.820 População (%) Sede municipal 87,59 Área total (km2 ) 932,60 Densidade demográfica (hab./km2 ) 185,84 10.8.1 Serviços de limpeza urbana Os serviços de limpeza urbana oferecidos à população abrangem a coleta de lixo domiciliar, a varrição apenas no distrito-sede em dois turnos (7:30 e às 10:00h), a destinação final do resíduos coletados e as atividades de conservação como a capina dos logradouros públicos e a poda de árvores. Os serviços de limpeza urbana são de responsabilidade da Secretaria Municipal de Serviços Públicos que gerencia estes serviços com base nos recursos provenientes do orçamento global da Secretaria. Vale destacar que apesar de existir a cobrança da taxa de limpeza pública, juntamente com o IPTU (Imposto Territorial Urbano), alíquota de 3%, o número de inadimplentes é muito elevado o grande gerador está isento da tributação. Os serviços de coleta e operação da disposição do lixo são terceirizados à EBMA firma do grupo Queiroz Galvão. O valor mensal do contrato é aproximadamente de R$ 360.000,00, isso eqüivale a R$ 79,47 t/mês de resíduos coletados e tratados. O material patogênico tem coleta segregada em veículo especial e disposição também separada dos demais resíduos. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 151t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em 223 serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. 10.8.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município O local destinado à disposição do lixo situa-se na RJ-130, a 1.600m de distância do entroncamento com a RJ-116 (figura 10.33). Figura 10.33 – Diagrama de localização do aterro (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) O aterro apresenta, atualmente, 6 taludes (1:3) de 5m cada, já totalizando 30m de altura (figura 10.33). Antes da terceirização dos serviços de disposição do lixo do município a área em estudo era um vazadouro e o catador era uma figura integrante do quadro nefasto. O problema social foi solucionado com a recuperação da usina de separação existente dentro da circunscrição delimitada pelo aterro. A responsabilidade de manutenção dos equipamentos da usina é da concessionária, obrigação firmada através do contrato administrativo entre a prefeitura e a EBMA. 224 Figura 10.34 – Vista do aterro Figura 10.35 – Vista da esteira de catação Os antigos catadores constituíram uma cooperativa para organizar o trabalho de catação. Hoje, a separação só ocorre no lixo de dois bairros da cidade, que são considerados bairros nobres. Do material total coletado somente 15% do resíduo é 225 conduzido à separação e desse valor 53,33% é reciclado, eqüivalendo a 8% do lixo da cidade (figura 10.35). Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas na planilha do IQA e IQR contempladas no anexo 5. 10.8.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: Ca11 = cambissolo álico, textura argilosa, relevo montanhoso. Solo coluvionar. Tipo de solo, informado pelo engenheiro responsável pelo contrato da EBMA, é argila siltosa, que permite boa capacidade de suporte e de recobrimento. A permeabilidade do terreno é de 10-5 cm/s. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: EFo5 = englobam feições morfológicas com forte controle estrutural com escarpas, com incisões de drenagem entre 344 a 446m e declividades superiores a 37º. Precipitações entre 1.200 e 2.500mm. Os processos morfogenéticos atuam principalmente nas encostas desprotegidas, forte atuação da decomposição química, estimulando constantes movimentos de massa, com deslizamentos e quedas de blocos. A área de empréstimo localiza-se dentro da delimitação do local de operação do aterro. • Dados climatológicos Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. 226 Precipitação = 1.300mm A seguir são apresentadas médias mensais de precipitação e evapotranspiração obtidos do livro Normais Climatológicas, publicado pelo DNMET (Departamento Nacional de Meteorologia) em 1992 da Estação nº 83745 – Nova Friburgo. O sistema de drenagem do chorume é dimensionado a partir do balanço hídrico nas células do aterro. Em termos práticos as parcelas com maior contribuição no balanço hídrico são a precipitação e a evaporação, podendo as outras parcelas serem desprezadas devido à pequena influência que exercem. O Balanço hídrico tem a seguinte fórmula simplificada: ∆V = P – E (Eq. 10.1) Onde: P = precipitação média mensal histórica; E = evaporação média mensal histórica. Os dados de entrada são precipitação e evaporação. A capacidade de campo (CC) ou de acumulação do solo, também, foi considerada. Assim sendo, para o caso de argila siltosa, pode-se considerar o valor desta capacidade de campo de 375mm H2 O/m (informações de profissionais projetistas de aterros) de solo. Para uma célula com altura total de 5,00m e uma parcela de solo de cobertura corresponde a 0,60m a capacidade de campo é dada por 375 x 0,60m = 225mm H2 O. Para cada mês é determinado o termo ∆V. Quando ∆V for menor que a capacidade de campo do solo, não há formação de chorume e no caso de ser maior, a diferença corresponde ao chorume gerado. Cabe ressaltar que a capacidade de campo significa a quantidade máxima de água que pode ser retida no solo de cobertura. Dessa forma, uma vez iniciada a produção de chorume, significa que o solo atingiu sua capacidade máxima de armazenamento de água e que todo o excedente irá formar o chorume. Em conseqüência disto, quando se efetuar o Balanço Hídrico para o mês posterior, a quantidade de chorume gerada corresponderá ao termo ∆V. Caso ∆V for menor que zero, significa que houve mais evaporação do que precipitação e, com isso, o solo terá quantidade de água armazenada menor que a capacidade de campo, implicando em uma não formação do 227 chorume. O balanço foi desenvolvido para uma duração de 3 anos suficiente para que o sistema entre em regime. A tabela 10.11 apresenta o resultado do balanço hídrico para uma área de 100m2 , sendo que para se obter o valor para cada nova etapa de ampliação basta dividir a área total por 100m2 e multiplicar os dados de saída do balanço hídrico por este resultado. Tabela 10.11 – Balanço hídrico (DNMET, 1992) Mês Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro P (mm) 208,6 167,2 151,0 72,3 45,6 26,6 19,7 22,9 41,3 83,4 169,2 238,7 208,6 167,2 151,0 72,3 45,6 26,6 19,7 22,9 41,3 83,4 169,2 238,7 208,6 167,2 151,0 72,3 45,6 26,6 19,7 22,9 41,3 83,4 169,2 238,7 E (mm) 61,3 57,7 57,9 45,7 44,0 38,0 42,2 50,1 50,4 50,1 51,1 56,7 61,3 57,7 57,9 45,7 44,0 38,0 42,2 50,1 50,4 50,1 51,1 56,7 61,3 57,7 57,9 45,7 44,0 38,0 42,2 50,1 50,4 50,1 51,1 56,7 P (m3 ) 20,86 16,72 15,10 7,23 4,56 2,66 1,97 2,29 4,13 8,34 16,92 23,87 20,86 16,72 15,10 7,23 4,56 2,66 1,97 2,29 4,13 8,34 16,92 23,87 20,86 16,72 15,10 7,23 4,56 2,66 1,97 2,29 4,13 8,34 16,92 23,87 E (m3 ) 6,13 5,77 5,79 4,57 4,40 3,80 4,22 5,01 5,04 5,01 5,11 5,67 6,13 5,77 5,79 4,57 4,40 3,80 4,22 5,01 5,04 5,01 5,11 5,67 6,13 5,77 5,79 4,57 4,40 3,80 4,22 5,01 5,04 5,01 5,11 5,67 ∆V (m3 ) 14,73 10,95 9,31 2,66 0,16 (1,14) (2,25) (2,72) (0,91) 3,33 11,81 18,20 14,73 10,95 9,31 2,66 0,16 (1,14) (2,25) (2,72) (0,91) 3,33 11,81 18,20 14,73 10,95 9,31 2,66 0,16 (1,14) (2,25) (2,72) (0,91) 3,33 11,81 18,20 CC (m3 ) 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 H2 O no Chorume solo(m3 ) (m3 ) 14,73 0 22,50 3,18 22,50 9,31 22,50 2,66 22,50 0,16 21,36 0 19,11 0 16,39 0 15,48 0 18,81 0 22,50 8,12 22,50 18,20 22,50 14,73 22,50 10,95 22,50 9,31 22,50 2,66 22,50 0,16 21,36 0 19,11 0 16,39 0 15,48 0 18,81 0 22,50 8,12 22,50 18,20 22,50 14,73 22,50 10,95 22,50 9,31 22,50 2,66 22,50 0,16 21,36 0 19,11 0 16,39 0 15,48 0 18,81 0 22,50 8,12 22,50 18,20 • Proximidade de corpos de água 228 O curso do córrego Dantas era no interior da área de disposição dos resíduos sólidos. Com a terceirização do manejo dos resíduos o córrego foi canalizado a partir da nascente e conduzido à lateral do aterro. A informação obtida com o engenheiro responsável pela EBMA sobre a profundidade do lençol freático é 1,5m a 7m. • Proximidade de núcleos habitacionais Não existe na proximidade núcleos habitacionais, todavia estabelecimentos comercias localizam-se, estrategicamente, muito próximo, como por exemplo uma fábrica de reciclagem de plástico. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O terreno está afastado do centro urbano aproximadamente 2km. A estrada de acesso é totalmente asfaltada e encontra-se em boa conservação. A via de acesso apresenta tráfego sempre desimpedido. • Outras observações Existe isolamento visual do aterro e o local destinado ao depósito de lixo não é legalizado pelo órgão fiscalizador estadual. 10.8.2.2 Infra-estrutura implantada A localidade de disposição dos resíduos sofreu inúmeras adequações técnicas para continuar funcionando. O terreno estudado é delimitado por um cercamento e o acesso se dá através de uma porteira, onde são documentados todos veículos e transeuntes que ingressam na área, inclusive todos os funcionários e cooperados. Na edificação de controle os caminhões carregados são pesado por uma balança de 30t e os resíduos são inspecionados para verificar sua conformidade. Não existe controle por rota nem fiscalização da prefeitura, além disso resíduos semi-sólidos são recebidos no aterro. Dois tratores de esteira executam o trabalho de compactação dos resíduos. A drenagem de chorume no formato espinha de peixe foi executada no quinto patamar de alteamento. Esses drenos foram executado com pedra-de-mão envolta em Bidin. Já no primeiro patamar drenos horizontais foram perfurados na massa de lixo. Os 229 drenos de gases também foram abertos até a profundidade de 15m para coletar e queimar o biogás. O único monitoramento realizado é da água subterrânea, mas, mesmo assim, não existe periodicidade nessas análises. No início do ano 2001, foram colhidas duas amostras do lençol freático, uma a montante e outra a jusante. Os resultados das amostras demostraram o comprometimento das águas subterrâneas. Medidas corretivas foram adotadas como a ampliação do sistema de tratamento do chorume, no entanto não houve a preocupação de criar um monitoramento constante, em virtude do caráter emergencial da contaminação já detectada. A solução de ampliar o sistema de tratamento do chorume não é de grande valia se o monitoramento do mesmo não comprovar a eficiência do sistema. Como é inexistente esse tipo de análise o subitem, sistema de tratamento de chorume, é preenchido com nota zero. • Sistema de tratamento do chorume O primeiro sistema de tratamento do chorume implantado está descrito na figura 10.37. Figura 10. 36 – Vista da ampliação do sistema de tratamento do chorume 230 1 2 Recebimento do chorume 3 Recirculação do chorume Recebimento do chorume 4 7 6 5 Legenda: 1 - Local para o caminhão de semi-sólidos descarregar; 2 - Local para recebimento de semi-sólidos 3 baias – material sólidos é enterrado, líquido vais para a lagoa de estabilização – será coberto; 3 - Lagoa de estabilização fundo compactado e revestido com manta PAD 2mm – (6x6x3,5)m – será coberta para não receber água de chuva; 4 - Filtro de areia com brita nº 3 e areia; 5 - Caixa de recebimento do chorume; 6 - Filtro biológico de aeração; 7 - Tanque de aeração. Figura 10.37 – Desenho esquemático do sistema de tratamento de chorume O recebimento do chorume ocorria na caixa n º 5, passava pela filtro biológico de aeração nº 6 e pelo tanque de aeração nº 7. Um automático de bóia acionava uma bomba de recirculação do chorume, quando o mesmo atingia um certo nível dentro do 231 tanque nº7. A recirculação além de aumentar a velocidade de decomposição, reduz o volume de chorume acumulado no reservatório. A ampliação do sistema de tratamento do chorume é composta pelos elementos da figura 10.36. Parte do chorume coletado para a caixa nº 5 foi conduzido para a lagoa de estabilização nº 3 por bombeamento, o restante do chorume sofreu desvio direto para a lagoa nº3. Também são encaminhados à lagoa de estabilização os resíduos semisólidos, recebidos nos tanque nº 2. A próxima etapa do efluente da lagoa de estabilização é o filtro de areia nº 4, o filtro biológico de aeração (nº 6), o tanque de aeração (nº 7) e por último a recirculação. A drenagem das águas pluviais definitivas e provisórias desviam as águas do corpo do aterro. Os taludes gramados reduzem a possibilidade de coltamatação dos drenos e auxiliam no controle da percolação das águas superficiais. 10.8.2.3 Condições operacionais O lixo é compactado o dia todo por um trator de esteira que espraia o lixo por toda a área do aterro, criando um enorme frente de trabalho. Isso é um erro, pois o índice pluviométrico é alto na região e ao chover toda a área fica comprometida, impedindo a operação. Em épocas de chuvas torrenciais e constantes uma área sem drenagem de chorume é operada. O trator de esteira trabalha de cima para baixa no intuito de reduzir o gasto com combustível, mas perde na eficiência de compactação. O recobrimento ocorre no final do dia, contudo pela manhã o material de cobertura é retirado para iniciar a colocação do lixo. Presença de urubus e moscas são constantes. Os resíduos do serviço de saúde são descartados em trincheiras escavadas sobre antigos depósitos de lixo, revestidas com manta de PAD (polietileno de alta densidade) de 2mm (figura 10.38). Tela móvel na frente de trabalho impede o espalhamento de material mais leve e facilmente carregado pelo vento. A manutenção dos acessos internos fica comprometida devido o espraiamento da frente de trabalho 232 Figura 10.38 – Vista da trincheira de resíduos de serviços de saúde 10.8.3 Soluções para a destinação final A vida útil do aterro se encerra dentro de cinco anos, assim seguindo o fluxograma da figura 10.3 como o local não pode ser considera aterro sanitário, projetos de adequação devem ser implementados. Algumas recomendações sobre a área: − Implantação do controle da entrada dos caminhões por rota para permitir a analise da eficiência do sistema de coleta. Caracterização dos resíduos para identificar o potencial de material passível de reciclagem. Esse estudo poderia aumentar a renda dos catadores, reduzir a operação de aterramento e aumentar a vida útil do aterro; − Operação do aterro por seção, isto significa, dividir a área em partes e iniciar os trabalhos da esquerda para a direita e do fundo para frente. Essa metodologia reduziria a frente de trabalho a quantidade de urubus e moscas, a problemática das chuvas e a delimitação dos acessos internos; − Operação do trator de esteira de baixo para cima; − Monitoramento constante do lençol freático, do córrego canalizado, do chorume, do solo e da estabilidade do talude de lixo. 233 234 10.9 Petrópolis Petrópolis está localizada na Serra do Mar, a 809 m de altitude, distando da capital 66Km, cercada por 70% de Mata Atlântica o que lhe confere um clima moderado com temperatura média de 22ºC. O Município está distribuído em cinco distritos: Petrópolis, Cascatinha, Itaipava, Pedro do Rio e Posse. Faz divisa com os município de Duque de Caxias, Miguel Pereira, Paty do Alferes, Paraíba do Sul, Areal, São José do Vale do Rio Preto, Teresópolis, Guapimirim e Magé. O município apresenta como principais atividades econômicas o desenvolvimento dos setores de tecnologia de ponta, turismo e têxtil, vocações reconhecidas recentemente em pesquisa publicada pela FIRJAN e pela Fundação Getúlio Vargas. O quadro a seguir, tabela 10.12, demostra a situação econômica do Município comparada com a região serrana. Tabela 10.12 – Situação econômica do município de Petrópolis (Prefeitura de Petrópolis,2001) Localidade Petrópolis Região Serrana Renda per capita 6.371,00 7.588,15 PIB 2.172.851,79 4.787.350,07 % do PIB 45,39 100 O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Petrópolis é um município com uma população urbana (tabela 10.13). Tabela 10.13 – Distribuição da população de Petrópolis (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 286.348 270.489 População (%) Sede municipal 94,46 Área total (km2 ) 774,60 Densidade demográfica (hab./km2 ) 369,67 10.9.1 Serviços de limpeza urbana A disposição e o gerenciamento dos resíduos sólidos do município ficam a encargo de uma autarquia municipal chamada de COMDEP (Companhia de Desenvolvimento de Petrópolis). Em abril de 1997, a COMDEP delegou parte de suas atribuições a uma empresa privada que passou a executar os serviços de coleta de resíduos domiciliares e a coleta diferenciada para os resíduos patogênicos. A receita, regulamentada em lei, para a manutenção dos serviços de limpeza urbana, provém de uma taxa, a qual tem como base de cálculo o imposto territorial 235 urbano (IPTU) e a alíquota é de 3%. Dos hospitais são cobrados uma taxa para manutenção do incinerador e do sistema de transporte dos resíduos patogênicos. O município apresenta duas usinas de reciclagem e compostagem, que não se encontram em funcionamento devido ao custo de manutenção, e a capacidade das usinas não atendem à demanda. A produção de resíduos sólidos estimada pela administração é de 200t/dia, além de 4t/dia em média de material patogênico que são destinadas ao incinerador pirolítico que tem capacidade para incinerar 7t/dia. Se for adotada a produção per capita de 0,872 kg obtém-se uma produção maior, da ordem de 224 t/dia. 10.9.2 Destinação final dos resíduos sólidos do município O aterro municipal localiza-se num vale de aproximadamente 15m, no Distrito de Pedro do Rio, na BR-040, distando do centro urbano 30Km. Como essa distância é considerável, a cidade dispõe de uma estação de transbordo dentro do perímetro urbano. O aterro está ligado à rodovia BR-040 por uma via asfaltada de mais ou menos 200m, onde encontra-se uma guarita com um funcionário, o qual controla o acesso ao aterro. A visita de campo foi acompanhada pelo gerente do aterro, Sr. Hamilton, o qual relatou de forma sucinta o histórico do terreno. O aterro está instalado num vale, em local muito próximo à remanescentes da mata atlântica e ao Rio Piabanha. Hoje, encontra-se com 10m de altura, dividido em dois taludes. Essa área, mesmo inadequada para disposição de resíduos sólidos, iniciou sua operação de forma clandestina, recebendo resíduos provenientes do distrito de Pedro do Rio e posteriormente de todo o município. Porém, há mais ou menos um ano esse aterro passou a ser operado pela COMDEP. Hoje, a situação é inadequada, mas há um ano atrás a região era um verdadeiro lixão, isto é, um lançamento a céu aberto. Antes da utilização da área de Pedro do Rio para disposição dos resíduos era utilizado o vazadouro de Duarte da Silveira, localiza-se na BR-040. O advento do fechamento se deu proveniente à pressões do Ministério Público. 236 Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas na planilha do IQA e IQR contemplados no anexo 5, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. 10.9.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: Ca27 = cambissolo álico, textura média, argilosa com fase rochosa e não rochosa. Solo coluvionar. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto à caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados ao solo. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: EFo5 = englobam feições morfológicas com forte controle estrutural com escarpas, com incisões de drenagem entre 344 a 446m e declividades superiores a 37º. Precipitações entre 1.200 e 2.500mm. Os processos morfogenéticos atuam principalmente nas encostas desprotegidas, forte atuação da decomposição química, estimulando constantes movimentos de massa, com deslizamentos e quedas de blocos. O recobrimento da área recebe material de áreas de empréstimos fora da área de disposição dos resíduos. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.900mm 237 • Proximidade de corpos de água O aterro está afastado do rio Piabanha cerca de 200m. Não há informação sobre a profundidade do lençol freático, todavia pela topografia local de região montanhosa e pela diferença de cota entre o aterro e o leito do rio, é possível supor que o lençol freático seja profundo na região do aterro. • Proximidade de núcleos habitacionais O aterro está afastado de núcleos habitacionais. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O terreno está afastado do centro urbano 30km, em estrada asfaltada, com boa conservação. A via de acesso apresenta tráfego intenso por se tratar de uma rodovia, a BR-040, mas o tráfego gerado pelo transporte dos resíduos não trouxe grandes transtornos. • Outras observações O isolamento visual da lixeira é completo, todavia o local por estar cercado por remanescentes da Mata Atlântica não é legalizado. 10.9.2.2 Infra-estrutura implantada A área é cercada, com acesso impedido por uma guarita, que apenas controla a entrada dos veículos e de pessoas. O resíduo que chega através de caminhões basculante lonados de 8m3 não passam por nenhuma inspeção, seja de volume ou de classe do resíduo. Na frente de trabalho existem quatro pessoas trabalhando, que são elas: uma operando o trator de esteira, outra operando a pá-mecânica, uma encarregada do aterro e uma loneira. Os equipamentos disponíveis são: uma pá-mecânica e dois tratores de esteira D6. O aterro é desprovido de qualquer sistema de impermeabilização, pois é um área recuperada e não projetada para um aterro sanitário. O sistema de drenagem do chorume deságua diretamente sobre o solo e à céu aberto (figura10.39), com um odor insuportável. 238 Figura 10.39 – Chorume desaguando diretamente sobre o solo O terreno dispõe de drenagem definitiva precária, ligada à rede pluvial da rodovia BR-040, que deságua no Rio Piabanha. A drenagem provisória e de gases inexistem. Atualmente, o chorume não passa por nenhum tratamento, mas projetos de construção da lagoa de decantação e recirculação do chorume estão sendo estudados. 10.9.2.3 Condições operacionais Como a entrada é restrita não há catadores. O cobrimento e a compactação são serviços constante, mas existem em grande quantidade de urubus e moscas. 10.9.3 Soluções para a destinação final A administração municipal está buscando outro local para disposição dos resíduos, pois a vida útil do aterro está comprometida e a localização é inadequada pela proximidade com remanescentes da Mata Atlântica. Projeto de encerramento e remediação devem ser elaborados. 239 10.10 Piraí Piraí, município localizado a 120km da capital do Rio de Janeiro, a 388m de altitude e dividido nos seguintes distritos, além da sede municipal: Vila Monumental, Arrozal e Santanésia. A sede no município localiza-se a 22º38’ de latitude sul e 43º54’ de longitude oeste. Faz divisa com os município de Itaguai, Rio Claro, Barra Mansa, Volta Redonda, Barra do Piraí, Mendes e Paracambi. O rio Paraíba do Sul, no seu trecho médio, atravessa o norte do município, outro expressivo rio para a região é o Piraí. A principal via que corta a cidade é a BR-116, a qual sofre, na sede do município, um entroncamento com a RJ-145. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demonstra que Piraí é um município com uma população urbana (tabela 10.14). Tabela 10.14 – Distribuição da população de Piraí (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 22.079 18.035 População (% ) Sede municipal 81,68 Área total (km2 ) 505,50 Densidade demográfica (hab./km2 ) 43,68 10.10.1Serviços de limpeza urbana Os serviços de limpeza urbana prestados à população pela administração municipal são: coleta, varrição de logradouros, apenas na sede municipal e destinação final dos resíduos sólidos. Os serviços são realizados pela Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos, através da Divisão de Limpeza Urbana. Não há legislação específica que regulamente os serviços de limpeza urbana, contudo existe uma taxa separada de limpeza urbana cobrada juntamente com o Imposto Territorial Urbano (IPTU). O sistema de coleta atende todo o município, com quatro caminhões compactadores de 6m3 e um caminhão basculante para recolher o entulho. O recolhimento do lixo ocorre diariamente de 6h às 16h, entretanto em alguns pontos da cidade como o centro o caminhão passa duas vezes ao dia às 7h e às 10h. Não há coleta segregada do material patogênico, cujo recolhimento se faz juntamente com os resíduos domiciliares. 240 A produção estimada de resíduos sólidos domésticos produzido no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg obtém-se uma produção de 20t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. 10.10.2Destinação final dos resíduos sólidos do município Os resíduos sólidos do município de Piraí eram depositados no lixão de Barra do Piraí e no lixão de Volta Redonda. A decisão das autoridades locais de adquirem uma área para a construção de um aterro sanitário, ultrapassou os limites do município, contribuindo para a melhoria da bacia do rio Paraíba do Sul, iniciativa ímpar na região. O aterro sanitário de Piraí, ocupando uma área de 2,5ha (25.000m2 ), localiza-se no quilômetro 249 da BR-116-Sul, o qual iniciou sua operação em maio de 2000, com uma vida útil estimada de aproximadamente 30 anos. O Departamento de Engenharia Sanitária e ambiental da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) foi contratado para projetar, acompanhar a execução e operação do aterro sanitário. O aterro foi um empreendimento de sucesso decorrente da seleção de área, da elaboração do projeto e da capacidade econômica do município. A adequada solução para ao resíduos sólidos tornou-se um referencial para a região. O projeto utilizou tecnologia de engenharia incluindo o controle das águas superficiais, previsão de uma camada impermeabilizante na base do aterro, sistema coletores de chorume e gases, além do tratamento do chorume. O processo de aterramento do lixo é executado sob o método da área, inicialmente foi construída uma berma de apoio de 2m de altura. A primeira elevação da área teve uma ocupação entorno de 3.500 m2 (135 x 35)m, a qual eqüivaleu a 7 meses de produção de lixo. A primeira célula foi fechada com uma altura de 2m a segunda com 3m e no momento está sendo operada a terceira com 2m. O sistema de tratamento de chorume, relativamente simples de operação, foi criado para tratar o chorume nos dois primeiros anos, enquanto a produção é baixa. Isso compreende um filtro biológico, uma caixa de capim, seguida por uma lagoa de estabilização. Esse sistema de tratamento foi monitorado, porém alguns fatores 241 intervenientes frustaram em parte os resultado. A excepcional seca na estação chuvosa, a mais seca dos últimos 20 anos, associada a pequena área de contribuição, geraram um pequeno volume de chorume, não permitindo estimar o fluxo contínuo do mesmo. A ausência do fluxo contínuo do chorume impossibilitou avaliar o desempenho de cada passo do sistema de tratamento, somente uma performance global foi atingida. O monitoramento da primeira fase de tratamento do chorume, também, serviu de suporte de informações para a decisão da construção de outro sistema similar ou para trocar o sistema de tratamento existente, objetivando o tratamento do chorume depois dos dois anos de operação do aterro, quando o fluxo estiver contínuo e de maior vazão. Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificaram a área no intervalo de condições adequadas. 10.10.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: PVa19 = podzólico vermelho-amarelo álico, textura argilosa. Solo residual jovem. O solo da área de construção do aterro é composto de argila micácia arenosa, com material orgânico compreendido no horizonte de 2,0m a 9,0m. Acima deste material residual encontra-se uma camada de cobertura (Ferreira, v.III, 2001). A caracterização do solo apresentou (Ferreira, v.III, 2001): − Limite de liquidez = 47,6% − Limite de plasticidade = 23,2% − Densidade dos grãos = 26,3KN/m2 − Teor de umidade = 15,05% − Peso específico natural = 19,54KN/m2 242 O gráfico 10.1 mostra a curva de distribuição do tamanho dos grãos, como se pode observar o solo é composto de aproximadamente 48% de areia, 34% de argila e 18% de silte. O índice de plasticidade é de 24,40%. Esse solo é classificado como CL, argila de baixa compressibilidade, isto é, mais de 50% do material passou pela peneira nº 200 (0,075mm), o limite de liquidez inferior a 50% e o índice de plasticidade de 24,40%. Gráfico 10.1 – Curva granulométrica (Ferreira,v.III, 2001 Tamanho dos grãos (mm) O solo existente ao redor do aterro apresenta a mesma composição do gráfico 10.1, então permite boa escavabilidade e compactação. • Permeabilidade do solo A permeabilidade pode variar de acordo com a estrutura do solo. Particularmente, em solos compactados a permeabilidade depende do grau de saturação e do índice de vazios. O líquido percolante através do solo influencia, também, no valor da permeabilidade. 243 O chorume produzido nos aterro sanitário contendo lixo urbano terá variação e complexidade de composição química, contendo componentes orgânicos e inorgânicos e microrganismos. Dessa forma, existe a possibilidade de interação entre o solo e os vários contaminantes do chorume. A variação encontrada para a permeabilidade do solo da área do aterro foi de 4,60x10-5 cm/s a 3,60x10-6 cm/s. Este resultado mostrou que é possível utilizar este material para construir uma barreira protetora de 1,00m de espessura. A Norma Brasileira (NBR-13896/97) estabelece a deposição de material homogêneo com coeficiente de permeabilidade menor que 10-6 cm/s numa zona nãosaturada de mais de 3m de espessura. Porém, é admissível uma distância mínima de 1,5m entre a fundação e o nível máximo de variação do lençol. Gráfico 10.2 – Curva de compactação (Ferreira, v.III, 2001) Umidade (%) A área destinada ao aterro sanitário de Piraí atende a recomendação de permeabilidade, contudo não satisfazia a distância mínima entre a fundação e o nível máximo do lençol freático, que varia de 0,5m a 1,5m. Desse modo, foi especificado em projeto a espessura de 1,00m de solo compactado para servir de barreira protetora e uma rede de drenos abaixo da camada de argila para atender as recomendações da norma. 244 A curva de compactação de Proctor Normal é mostrada na figura 10.42 A umidade ótima e a peso específico aparente máximo são respectivamente 17,1% e 16,9KN/m2 . A tabela 10.15 mostra a permeabilidade do solo com água e chorume. A umidade, o peso específico seco e o índice de vazios estão presentes. Tabela 10.15 – Valor da permeabilidade Parâmetros Umidade (%) Peso específico (KN/m2 ) Índice de vazios Coeficiente de permeabilidade (cm/s) Fonte: Ferrreira et al, v. III, 2001 Água 17,51 16,77 0,55 8,11 x 10-4 Chorume 17,74 16,7 0,55 2,23 x 10-5 Chorume 17,98 16,64 0,56 3,6 x 10-5 A permeabilidade do chorume diminui entorno de 30% o que está de acordo com a literatura. Uma análise do cloreto (Cl-) e do amônio (NH4 -) no chorume antes e depois da percolação através da amostra durante o teste de permeabilidade, demostrou os seguintes resultados, respectivamente: − Cl- = 1057mg/l e 826mg/l; − NH4 - = 64mg/l e 279mg/l. A concentração do cloreto diminui e do amônio aumentou. Esse resultado pode ser explicado a partir da utilização inicial da área do aterro sanitário em pastagem. Provavelmente, a alta concentração do amônio depois da percolação através do solo é originado de excrementos do gado. Entretanto, a composição mineralógica da argila e a composição química do chorume devem ser continuamente investigados. O teste de permeabilidade do solo do aterro sanitário de Piraí indica diferenças na permeabilidade da água e do chorume. Os dados da literatura sobre a permeabilidade do chorume são menores do que a permeabilidade da água. Os valores do chorume estão dentro do limite permitido para as condições locais. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a 245 influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. • Dados climatológicos Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.300mm A seguir são apresentadas médias mensais de precipitação e evapotranspiração obtidos do livro Normais Climatológicas, publicado pelo DNMET (Departamento Nacional de Meteorologia) em 1992 da Estação nº 83759 – Piraí. O desenvolvimento da tabela 10.16 seguirá o mesmo encaminhamento do item 10.8.2.1. Tabela 10.16 – Balanço hídrico (DNMET, 1992) Mês Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro P (mm) 222,70 173,40 148,50 100,70 52,80 31,60 28,80 37,30 57,70 99,70 152,80 216,20 222,70 173,40 148,50 100,70 52,80 31,60 28,80 37,30 57,70 99,70 152,80 216,20 222,70 E (mm) 91,90 86,10 89,10 72,20 61,80 59,80 74,70 90,20 95,90 95,60 92,10 89,40 91,90 86,10 89,10 72,20 61,80 59,80 74,70 90,20 95,90 95,60 92,10 89,40 91,90 P (m3 ) 22,27 17,34 14,85 10,07 5,28 3,16 2,88 3,73 5,77 9,97 15,28 21,62 22,27 17,34 14,85 10,07 5,28 3,16 2,88 3,73 5,77 9,97 15,28 21,62 22,27 E (m3 ) 9,19 8,61 8,91 7,22 6,18 5,98 7,47 9,02 9,59 9,56 9,21 8,94 9,19 8,61 8,91 7,22 6,18 5,98 7,47 9,02 9,59 9,56 9,21 8,94 9,19 ∆V (m3 ) 13,08 8,73 5,94 2,85 (0,90) (2,82) (4,59) (5,29) (3,82) 0,41 6,07 12,68 13,08 8,73 5,94 2,85 (0,90) (2,82) (4,59) (5,29) (3,82) 0,41 6,07 12,68 13,08 CC (m3 ) 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 H2 O no solo(m3 ) 13,08 21,81 22,50 22,50 21,60 18,78 14,19 8,90 5,08 5,49 11,56 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 21,60 18,78 14,19 8,90 5,08 5,49 11,56 22,50 22,50 chorume (m3 ) 0 0 5,25 2,85 0 0 0 0 0 0 0 1,74 13,08 8,73 5,94 2,85 0 0 0 0 0 0 0 1,74 13,08 246 Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro 173,40 148,50 100,70 52,80 31,60 28,80 37,30 57,70 99,70 152,80 216,20 86,10 89,10 72,20 61,80 59,80 74,70 90,20 95,90 95,60 92,10 89,40 17,34 14,85 10,07 5,28 3,16 2,88 3,73 5,77 9,97 15,28 21,62 8,61 8,91 7,22 6,18 5,98 7,47 9,02 9,59 9,56 9,21 8,94 8,73 5,94 2,85 (0,90) (2,82) (4,59) (5,29) (3,82) 0,41 6,07 12,68 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 21,60 18,78 14,19 8,90 5,08 5,49 11,56 22,50 8,73 5,94 2,85 0 0 0 0 0 0 0 1,74 • Proximidade de corpos de água O aterro está afastado do córrego Cachimbal menos de 200m, o qual corre durante 13km até alcançar o rio Paraíba do Sul. A variação do nível de água na área do aterro é de 0,5m a 1,5m de profundidade. No aterro não há água encanada, mas o bastecimento se faz por pipas d’água, evitando, assim o uso do lençol freático. • Proximidade de núcleos habitacionais Não há proximidade com núcleos habitacionais. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso Como o aterro localiza-se às margens da BR-116-Sul o acesso é muito bom, afastado do centro de Piraí 11km. • Outras observações O aterro encontra-se com isolamento visual. O local está legalmente constituído, porém ainda sem licença de operação. Essa negatória está alicerçada na profundidade do lençol freático, na distância do córrego ao aterro e na disposição do material hospitalar juntamente com o lixo domiciliar. Curiosamente, esses requisitos impedem a licença de operação, mas não foram determinantes para aquisição das licenças prévia e de operação. 10.10.2.2 Infra-estrutura implantada A área é cercada, com acesso impedido por uma guarita, que controla a entrada dos veículos e de pessoas. Os resíduos que chegam através de caminhões compactadores passam por uma inspeção visual para assegurar a classe do resíduo e são 247 documentado (hora de entrada do caminhão e sua origem de coleta). A seguir o motorista é encaminhado ao local exato do despejo, o qual tem um tempo máximo de permanência na frente de trabalho de 5min. O entulho, também, é recebido no aterro, porém é exigido o formulário de manifesto fornecido pela Feema, em três vias, uma via do receptor, outra do transportador e outra do gerador. Na frente de trabalho existem 4 pessoas trabalhando, que são elas: uma operando o trator de esteira D5, outra operando um caminhão basculante de material para recobrimento, uma encarregada do aterro e outra no caminhão compactador. Os equipamentos disponíveis são: uma pá-mecânica, um caminhão basculante e um trator de esteira D5. A drenagem das águas pluviais definitivas é constituída de valas laterais de largura de 1,00m e profundidade de 0,60m que deságua no córrego. Figura 10.40 – Vista da frente de trabalho e dos drenos de gás A drenagem de gás é constituída de 11 drenos de profundidade de 6m e diâmetro de 0,5 preenchidos com brita nº3 envoltos numa tubulação de ferro fundido perfurado de 2mm de espessura que trabalha como uma camisa deslizante, só começará a queimar 248 a partir de 5 anos. Essa drenagem tem sinalização para impedir que as máquinas passem por cima (figura 10.40). • Sistema de tratamento do chorume A primeira fase de tratamento do chorume (figura 10.41 e 10.42), projetada para atender uma pequena demanda, é composta por um filtro biológico com diâmetro de 1,70m e altura de 1,40m e uma caixa de cultura de capim com as dimensões 4,00m x 2,00m x 0,60m. O filtro foi preenchido com brita nº 4 e a caixa de capim apresenta uma camada de 0,25m de pedra e uma coberta com 0,15m de terra. A caixa contem plantas obtidas nas margens do córrego próximo ao aterro. O efluente da caixa de capim é coletado na lagoa com uma capacidade de 500m3 de chorume, com as dimensões 23,00m x 17,00m x 1,30m. 60º Figura 10.41 – Corte do sistema de tratamento do chorume A caixa de cultura de capim é um método de fitoremediação do solo. Essa tecnologia possibilita remover ou reduzir a periculosidade de poluentes, valendo-se do uso de vegetais, que atuam na degradação, no isolamento ou na imobilização dos contaminantes. A fitoremediação do solo pode ser utilizada, com restrições, nos casos de contaminações por metais, pesticidas, solventes, explosivos, óleo cru, hidocarbonetos poliaromáticos e chorume de aterros ( EPA, 1998). As plantas aquáticas são amplamente conhecidas no tratamento de efluentes, entretanto plantas terrestres são recente empregadas na remediação do solo. Esta metodologia é pouco explorada em nosso país, apesar do baixo custo de instalação e operação, do clima favorável e do vasto número de espécies passíveis de estudos. 249 1,5% - espaçamento de 30m – inclinação 45 a 60º D = 0,5m – 0,2m brita nº 3 e 0,3 pedra-de-mão 2% PVC 500l Tubulação de brita nº4 D=1,5m Filtro biológico 1500l D=0,3 Poço de visita de PVC – recirculação do chorume – bomba de 2 ½” HP Caixa de cultura de capim (4x2x0,3)m Lagoa – gramada nas encostas para evitar erosão nas encostas Figura 10.46 – Desenho esquemático do sistema de coleta e tratamento do chorume As desvantagens verificadas pela remediação do solo por plantas encontram-se no tempo de resposta do tratamento, que pode ser longo, quando comparado com outros métodos e com o risco envolvido. O tempo de resposta dependerá do ciclo vital da planta e da concentração do poluente, que deve encontrar-se com valores inferiores aos limites de tolerância da planta (Pletsch et al, 2000). Outra desvantagem é a possibilidade da planta disponibilizar o poluente através da cadeia alimentar, propiciando o espraiamento dos danos ambientais. Os vegetais podem ter atuação direta e indireta na remediação ambiental (Dias, 2000). Na atuação direta o vegetal absorve os contaminantes permitindo que os compostos sejam acumulados ou metabolizados em seu tecido. Esse metabolismo pode envolver a transformação ou mineralização do composto. Já na atuação indireta a planta estabelece condições que favorecem a atividade microbiana do solo na degradação de contaminantes. As plantas também podem atuar transportando compostos voláteis presentes do lençol freático para a superfície, sendo estes posteriormente evapotranspirados, reduzindo a possível contaminação das águas subterrâneas. 250 Figura 10.43 – Vista do sistema de tratamento de chorume O aterro iniciou sua operação em maio de 2000 (mês seco) e até novembro não houve produção do chorume. O monitoramento iniciou em dezembro de 2000 e continuou por 2001. Dentro do cenário, anteriormente supracitado, de excepcional seca na região o filtro biológico opera num sistema de aeração (figura 10.41). A lagoa, até o presente momento, não foi abastecida por chorume que deve ter sido perdido para o meio ambiente. Em condições normais, com o desenvolvimento das bactérias é esperada a remoção de parte da matéria biodegradável pelo filtro biológico. O efluente do filtro biológico é direcionado para a caixa de cultura de capim, onde qualquer constituinte orgânico e outros contaminastes são quebrados. O resultado do efluente seria acumulado na lagoa, onde ocorreria tratamento biológico e evaporação. Dependendo do resultado do monitoramento o chorume seria recirculado e/ou usado para a irrigação dentro da área do aterro. Num país tropical, a recirculação concilia os efeitos da atenuação dos constituintes do chorume e a aceleração da biodegradação, facilitando a evaporação e talvez seria uma importante alternativa para o manejo do chorume (Tchobanoglous et al,1993; McBean et al,1995). 251 O tratamento do chorume em biofiltros, tal como em áreas confinadas de plantação é uma excelente tecnologia para países tropicais (Bramryd, 1998). 10.10.2.3 Condições operacionais Quando o caminhão despeja o lixo os sacos plásticos são rasgados para homogeneizar o lixo e dar melhor compactação. Para resolver a dispersão de materiais mais leves está sendo construído uma cerca móvel para ser colocada na frente de trabalho. O lixo hospitalar infectado é recebido em sacos brancos e os cortantes dentro de caixas de papelão que são compactados juntamente com o resíduo domiciliar. Já foram comprados dois esterilizadores, instalados dentro do hospital, mas só estão funcionando parcialmente. Outra exigência que a Feema está fazendo é a coleta separado do resíduo hospitalar. O trator de esteira trabalha de baixo para cima, com o caminhão basculante espraiando o material de recobrimento de cima para baixo. A sistemática de operação ocorre com a divisão da área de 135m x 35m em três área de trabalho, isto é, em três parte de 135m x 11,50m, operando da esquerda para a direita e do fundo para frente (figura 10.44). 35m cobertura 135m 1 3 2 lixo e trator 1 3 Figura 9.44 – Desenho esquemático de operação do aterro A ordem de preenchimento ocorre consoante figura acima (figura 10.44), primeiro a de nº 1, depois a de nº 2 e por último a de nº 3. Essa metodologia evita o alagamento da área em épocas de chuva. O trator de esteira compacta camadas de 0,5m, passando em média seis vezes sobre o lixo em caminhos alternados, formando um talude de 1:3. 252 O recobrimento ocorre ao final de cada dia com uma espessura de 0,15m, já a camada intermediário é de 0,30m. • Funcionamento do sistema de monitoramento Antes do início da operação do aterro sanitário foram retiradas duas amostras da qualidade da água do córrego mais próximo, para servir de referência da evolução do impacto ambiental, tabela 10.17. A análise da qualidade da água do córrego mostra que não houve impacto ambiental causado pela implantação do aterro. Os resultados provenientes de outubro de 1999 e maio de 2001 apresenta uma ligeira alteração que pode ser explicada pelo uso inicial da área para pastagem. Abaixo da camada impermeabilizante no fundo do aterro foram construídos drenos para permitir uma avaliação da permeabilidade da camada de argila, isto é, verificar se ocorreu percolação do chorume através da argila compactada. Uma amostra dessa água foi analisada (tabela 10.18). Tabela 10.17 – Análise da qualidade da água do córrego (Ferreira et al, v. II, 2001) Constituintes Nitrogênio amoniacal (mg/l) Cádmio (mg/l) Cloreto (mg/l) Cobre (mg/l) Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) (mg/l) Surfactantes aniônicos (mg/l) Demanda química de oxigênio (DQO) (mg/l) Fósforo total (mg/l) Nitrogênio kjeldahl (mg/l) pH Sólidos dissolvidos totais (SDT) (mg /l) Sólidos suspensos totais (SST) (mg/l) Sulfato (mg/l) Zinco (mg/l) Coliformes fecais (mpn/100ml) Coliformes totais (mpn/100ml) Córrego Outubro/1999 Maio/2001 0,96 0,37 0,004 < 0,001 4 8 0,016 0,010 10 1 0,30 < 0,2 41 30 < 0,02 < 0,01 < 0,02 < 0,01 7,4 7,8 150 130 20 1 0,30 < 0,01 0,029 0,01 170 170 1.600 1.600 A tabela 10.18 apresenta os resultados das análises coletadas dos drenos localizados abaixo da camada impermeabilizante (figura 10.45). Em março de 2001 não foi detectada interferência negativa na qualidade da água. 253 Tabela 10.18 – Análise da qualidade da água dos drenos (Ferreira et al, v. II, 2001) Constituintes Alcalinidade total (mg/l) Nitrogênio amoniacal (mg/l) Cádmio (mg/l) Cloreto (mg/l) Cobre (mg/l) Condutibilidade (Umhos/cm) Coloração (mg/l) Carbono orgânico total (COT) (mg/l) DBO (mg/l) Surfactantes aniônicos (mg/l) DQO (mg/l) Nitrogênio (mg/l) PH (mg/l) SDT (mg/l) SST (mg/l) Sulfato (mg/l) Zinco (mg/l) Coliformes fecais (mpn/100ml) Coliformes totais (mpn/100ml) Maio/2000 3,5 0,001 8 0,01 5 < 0,2 51 3,74 6,3 158 50 0,60 Dezembro/2000 163 2,38 0,001 11 < 0,01 1 0,2 20 9 6,2 247 96 0,50 Março/2001 112 0,92 0,002 14 < 0,01 310 < 2,5 2,78 4 0,3 22 4 6,5 187 129 0,30 0,12 0 0 0,04 0 0 0,03 - Figura 10.45 – Caixa coletora do efluente dos drenos localizados abaixo da camada impermeabilizante do aterro Como já mencionado, somente uma avaliação global do sistema de tratamento do chorume foi possível. O monitoramento começou em dezembro de 2000, sete meses após o início das operações no aterro, momento em que detectou-se a geração do 254 chorume e amostras foram colhidas do chorume e da água do dreno, abaixo da camada de argila. Em março e abril de 2001 novas amostras foram coletadas do chorume e do interior da lagoa. Os resultados da tabela 10.19 comparam a qualidade do chorume e da qualidade do conteúdo da lagoa, obtidos nos três pontos de análise. Tabela 10.19 – Análise do chorume e da qualidade da água do córrego (Ferreira et al, v. II, 2001) Dezembro/2000 chorume lagoa 1746 162 0,010 434 0,03 5535 3000 3411 2292 0,9 4587 170 6,1 6090 560 584 1,3 0,06 - Constituintes Alcalinidade total (mg/l) Nitrogênio amôniacal (mg/l) Cádmio (mg/l) Cloreto (mg/l) Cobre (mg/l) Condutibilidade (Umhos/cm) Coloração (mg/l) COT (mg/l) DBO (mg/l) Surfactantes aniônicos (mg/l) DQO (mg/l) Nitrogênio (mg/l) pH (mg/l) SDT (mg/l) SST (mg/l) Sódio (mg/l) Sulfato (mg/l) Zinco (mpn/100ml) Março/2001 chorume lagoa 390 56 6,0 0,53 0,005 0,001 182 18 < 0,01 0,02 1360 181 60 20 20,95 6,44 27 1 0,3 0,4 168 12 19 1,3 6,9 6,6 930 130 207 30 399 110 0,40 0,30 0,04 0,03 Abril/2001 chorume lagoa 2660 100 64,16 0,60 0,004 < 0,001 1057 24 0,01 < 0,001 7030 266 1250 30 58,3 244 4 0,6 < 0,2 554 79 403 2,95 7,3 6,7 4430 140 400 4 2237 109 0,4 0,3 0,10 < 0,01 A composição química do chorume obtido da amostra coletada em dezembro de 2000 está dentro dos valores indicados pela literatura para novos aterros (Tchobanoglous et al, 1993, Curi et al, 1999). Os resultados de março e abril de 2001 mostram uma composição química do chorume próxima a valores obtidos para velhos aterros. A mais provável explicação deste efeito de diluição foi causado pela precipitação nos dias anteriores a coleta da amostra. Outro possível fator contribuinte foi a redução do grau de decomposição biológica do aterro proveniente da composição do lixo da primeira elevação, resultando numa boa compactação da camada de lixo (Armstrong & Rowe, 1999), aliado ao baixo índice de precipitação na região. O aterro de Piraí começo a operar durante a estação seca (abril até outubro) e a precipitação na estação chuvosa foi muito baixa, não permitindo que o chorume 255 alcançasse os drenos coletores, ficando retidos pela capacidade de campo da primeira elevação. A tabela 10.20 compara os resultados de coliformes fecais e totais encontrados nas amostras do chorume e da lagoa, nos meses de outubro de 2000 e de abril de 2001. Tabela 10.20 – Resultado de coliformes fecais e totais (Ferreira et al, v. II, 2001) Constituintes Coliformes fecais (mpn/100ml) Coliformes totais (mpn/100ml) Outubro/2000 Chorume 90.000 240.000 Abril/2001 Chorume 200 24.000 Lagoa 2 50 Os dados atuais não são suficientes para concluir a eficiência do sistema de tratamento. Neste estágio, é possível dizer que no primeiro ano de operação o aterro sanitário não impactou o meio ambiente. Espera-se que seja possível avaliar o efeito do tratamento do chorume a cada passo. Apesar do início de operação do aterro em maio de 2000, o chorume só foi gerado em outubro do mesmo ano, isto é, alcançou a saída dos drenos em outubro, combinado com o período excepcional, o monitoramento não consegui alcançar a periodicidade estabelecida no projeto, que são amostras mensais da água do córrego, da água da lagoa, do lençol freático, coletado nos drenos localizados abaixo da camada impermeabilizante, e do solo. 10.10.3Soluções para a destinação final O aterro sanitário de Piraí pode prosseguir com a operação, porém a periodicidade do monitoramento das águas subterrâneas e da lagoa não devem ser relaxadas ao longo dos anos. A avaliação do sistema de tratamento do chorume só será caracterizada a partir do acompanhamento das amostragens em cada ponto do sistema. O monitoramento da estabilidade dos maciços de solo e de lixo deve ser implantado juntamente com o alteamento do aterro. A prefeitura está tentando formar uma cooperativa para implantar a coleta seletiva. Atualmente, parte do papelão é coletado, nos estabelecimentos comerciais por um funcionário da prefeitura munido de uma carroça, esta atividade está conseguindo uma receita de R$ 500,00. Além do papelão, existem projetos de coleta seletiva do vidro, plástico, PET e lata de alumínio. 256 O centro de reciclagem ao lado da garagem da prefeitura está equipado de uma prensa, um triturador de lixo e um triturador de galhos. O material separado do lixo é vendido para uma empresa de Paraíba do Sul. 257 10.11 Quatis O Município de Quatis criado em 1993, a partir da emancipação de Barra Mansa, está localizado a 145km da capital do Rio de Janeiro, a 415m de altitude e dividida em três distritos: Quatis, Falcão e São Joaquim. Quatis encontra-se no eixo Rio de Janeiro/São Paulo, inserida na bacia do rio Paraíba do Sul e no Macro Pólo de Resende/RJ, atravessada pela Ferrovia do Aço e pelo Gasoduto, que atende os Pólos Industriais de Resende e de Porto Real. A receita do Município baseia-se na atividade agropecuária, sendo que a única industria é do setor de laticínios, porém sem grande representatividade quanto ao recolhimento de impostos e taxas. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Quatis é um município com uma população urbana (tabela 10.21). Tabela 10.21 – Distribuição da população de Quatis (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 10.699 9.388 População (%) Sede municipal 87,75 Área total (km2 ) 286,20 Densidade demográfica (hab./km2 ) 37,38 10.11.1Serviços de limpeza urbana A coleta domiciliar realizada no município é regular, distribuída conforme tabela 20.22 e 10.23. Essa função é desempenhada por um único caminhão compactador. Tabela 10.22 – Coleta de lixo nos bairros (Prefeitura de Quatis) Bairro Bondarovsky Lavapés Centro Pilotos Barrinha Mirandópolis Jardim Pollsatri Biquinha Est. Quatis x Amparo Horário da coleta de lixo nos bairros – 2ª, 4ª, 6ª e dom. Horário 7:00h às 8:00h 8:00h às 8:15h 8:15h às 8:45h – 12:30 às 13:00h 8:45h às 9:30h 9:30h às 10:00h 10:00h às 11:00h 11:00h às 12:00h 12:00h às 12:30h 13:00h às 13:30h 258 Tabela 10.23 – Coleta de lixo nos bairros (Prefeitura de Quatis) Bairro Centro Jardim independência Santa Bárbara Santo Antônio Boa Vista Nossa Sra. do Rosário Alto do Paraíso São Benedito Est. Quatis x Amparo Horário da coleta de lixo nos bairros – 3ª, 5ª e sáb. Horário 8:00h às 8:30h – 11:30h às 12:00h 8:30h às 9:00h 9:00 às 9:30h 9:30h às 10:00h 10:00h às 10:20h 10:20h às 11:00h 11:00h às 11:10h 11:10h às 11:30h 12:00h A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 9t/dia. Não existe coleta diferenciada para o lixo hospitalar. 10.11.2Caraterização física dos resíduos sólidos A coleta de amostras para a caracterização física baseou-se na metodologia apresentada no Manual de Gerenciamento Integrado (IPT, CEMPRE, 2000), detalhada a seguir. A composição física dos resíduos sólidos urbanos indica as porcentagens dos diferentes materiais encontrados no lixo. É o ponto de partida para estudos sobre o gerenciamento e aproveitamento das diversas frações do lixo. Procedimentos para coleta de amostras para análise da composição física: − Descarga do material em pátio coberto e pavimentado ou sobre lona; − Rompimento dos sacos e recipientes fechados; − Homogeneização; − Coleta do resíduo no topo da pilha – tambor 1 (100l); − Coleta do resíduo na base da pilha - tambor 2 (100l); − Coleta do resíduo na base da pilha - tambor 3 (100l); − Coleta do resíduo na base da pilha - tambor 4 (100l); − Pesar os resíduos coletados no tambor 1; 259 − Pesar os resíduos coletados no tambor 2; − Pesar os resíduos coletados no tambor 3; − Pesar os resíduos coletados no tambor 4; − Formação da amostra (tambores 1 + 2 + 3 + 4) sem juntá-los; − Separação dos resíduos do tambor 1; − Separação dos resíduos do tambor 2; − Separação dos resíduos do tambor 3; − Separação dos resíduos do tambor 4. Tabela 10.24 – Caracterização física da amostra Componentes Borracha Couro Madeira Matéria orgânica Metais ferrosos Metais não fer. Papel/papelão Plástico - filme Plástico – duro Trapos Vidro Outros Total Peso (kg) 0,50 0,51 0,01 63,70 3,10 0,10 7,10 12,00 4,80 0,91 0,30 7,30 107,13 % 0,47 0,48 0,01 59,46 2,89 0,09 6,63 11,20 4,48 0,85 0,28 6,81 100,00 Putrescível x x x x Reciclável x Combustível x x x x x x x x x x x x x x x Gráfico 10.3 – Caracterização física do lixo Papel e papelão Trapo e couro Plástico Vidro Metal Matéria orgânica Outros 260 10.11.3Destinação final dos resíduos sólidos do município A destinação final dos resíduos sólidos é realizada num lixão de 4.200m2 , localizado dentro de uma fazenda, cedida através de um contrato de comodato. A área está afastada do centro urbano 8km, sendo, apenas, 1km de estrada asfaltada. A disposição e o gerenciamento dos resíduos sólidos do município ficam a encargo da própria prefeitura, que executa os serviços de coleta dos resíduos domiciliares e patogênicos. A prefeitura, atualmente, não apresenta receita direta para a manutenção dos serviços de limpeza urbana, destinação e transporte dos resíduos sólidos, isto é, não é cobrada uma taxa em razão do serviço público prestado. A 1km, aproximadamente, da atual lixeira localiza-se um passivo ambiental, uma antiga lixeira que já foi fechada. A vegetação recobre de forma harmônica o antigo depósito de resíduos sólidos, tornando-o incorporado à paisagem e dificultando a avaliação expedita da área. O fechamento ocorreu pela proximidade do lixão com um córrego, o qual deságua no rio Turvo, afluente do rio Paraíba do Sul. Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. 10.11.3.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo – LVa-36 = Latossolo vermelho–amarelo, argila de atividade média, textura argilosa, relevo forte ondulado e montanhoso. Solo residual maduro. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto a caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados ao solo. 261 • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.700mm • Proximidade de corpos de água O lixão está localizado a mais de 300m de um riacho, que deságua no rio Turvo, pertencente à bacia do rio Paraíba do Sul. A profundidade do lençol freático é superior a 6m, de acordo com as informações adquiridas junto à prefeitura de Quatis. • Proximidade de núcleos habitacionais O lixão está completamente afastado de núcleos habitacionais. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O terreno está afastado do centro urbano 8km, sendo, apenas, 1km de estrada asfaltada e o restante de estrada de terra. A via de acesso apresenta tráfego quase exclusivo ao lixão, pois não existe nenhum núcleo habitacional naquela vizinhança. • Outras observações A área está isolada visualmente, porém não há legalidade de localização do lixão. 262 10.11.3.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece, praticamente, nenhuma infra-estrutura de implantação, a não ser a delimitação da localidade estudada por uma cerca de arame farpado. O acesso ao descarte dos resíduos sólidos é restrito já que a localidade é um enclave numa propriedade privada. 10.11.3.3 Condições operacionais A condição geral do lixão é muito ruim pela inexistência de recobrimento do lixo, presença de urubus e moscas e descarga de resíduos de serviço de saúde. Apesar do acesso restrito existem 4 catadores que, habitualmente, trabalham para uma pessoa da cidade catando material reciclável no lixo. 10.11.4Soluções para a destinação final O local não deve continuar funcionando e a elaboração de um projeto de encerramento e remediação é fundamental para a região. 263 10.12 Resende Resende, município localizado a 161km da capital do Rio de Janeiro, a 407m de altitude. Faz divisa com os município de Quatis, Barra Mansa, Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro e com outros município do estado de São Paulo. Além do distrito-sede, o município de Resende tem mais quatro distritos, com destaque para Agulhas Negras onde está situada a Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN). O município é cortado pelo rio Paraíba do Sul no seu trecho médio e pelo rio Preto. A principal via que corta a cidade é a BR-116. O seu perfil industrial está sendo incrementado por industrias automotivas e metalúrgicas. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demonstra que a população urbana corresponde a maioria residente no distrito-sede (tabela 10.25). Tabela 10.25 – Distribuição da população de Resende (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 104.482 95.893 População (%) Sede municipal 91,78 Área total (km2 ) 1.113,4 Densidade demográfica (hab./km2 ) 93,84 10.12.1Serviços de limpeza urbana A administração da municipalidade de Resende presta à população os serviços básicos de limpeza urbana, ou seja, varrição, apenas no centro da cidade, coleta em todo o município e destinação final dos resíduos sólidos. Os serviços de limpeza urbana do município foram terceirizados há 3 anos e a empresa Vega que opera na região. A COMHUR (Companhia Municipal de Habitação e Urbanismo), vinculada à Superintendência de Obras, órgão da Secretaria Municipal de Infra-estrutura realiza a fiscalização dos serviços de limpeza urbana. Não existe uma taxa de limpeza urbana nem legislação específica sobre o assunto. Os recursos municipais arrecadados são repassados para o órgão gestor dos serviços de limpeza urbana, mas seu montante é considerado insuficiente pelos técnicos da Companhia. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 90t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em 264 serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. A empresa Vega afirma que apenas 42t de lixo são enterradas diariamente, sendo assim a produção per capita de Resende é muito inferior a média ou a coleta é ineficiente. 10.12.2Destinação final dos resíduos sólidos do município O aterro localiza-se no distrito-sede, dentro de uma propriedade da prefeitura, porém envolta em área militar nas proximidades do ribeirão Taquaral e de um pequeno córrego. Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR, a quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. Figura 10.46 – Diagrama de localização do vazadouro (Programa de investimento para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) 265 10.12.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: LAa2 = latossolo amarelo álico, textura argilosa. Solo residual maduro. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.800mm • Proximidade de corpos de água Pequenos córregos, que correm entre pastagens, estão afastados do aterro menos de 200m (figura 10.47). 266 Figura 10.47 – Vista do córrego cruzando a pastagem Ao lado da guarita foi aberto um poço para abastecer o aterro, com uma profundidade de 2,5m, então essa distância foi considerada da base do aterro até o lençol freático. • Proximidade de núcleos habitacionais O vazadouro está afastado do bairro Vicentina, o mais próximo, 4km. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O terreno está afastado do centro urbano 4km, sendo 1km percorrido em estrada asfaltada e 3km de estrada de terra. O acesso apresenta tráfego sempre desimpedido. • Outras observações A localidade apresenta isolamento visual, contudo a área não é legalizada. 10.12.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão é cercada por arame farpado e a guarita funciona com dois funcionário, um da Vega e o outro fiscal da prefeitura, que registram os caminhões que chegam ao aterro, sua rota e inspecionam os resíduos a serem enterrados. No recebimento da carga é controlada a pesagem dos veículos na entrada e na saída, através de uma balança de 30t. 267 No momento, o aterro está recebendo resíduos domiciliares, hospitalares e lodo de esgoto, despejado diretamente na primeira lagoa de estabilização. Os resíduos rejeitas são: industriais e pneus. Os equipamentos disponíveis para a operação do aterro são: uma retroescavadeira, um trator de esteira e um caminhão basculante. O chorume é drenado, por valas à céu aberto (figura 10.48), para uma caixa de passagem (figura 10.49) e direcionado para uma lagoa de estabilização (figura 10.50 e 51), a qual se comunica com mais duas. As lagoas não apresentam um tratamento especial de impermeabilização. O local de disposição de lixo de Resende sofreu diversas adequações técnicas, mesmo assim, não há impermeabilização da base do aterro. Vários drenos para a coleta do chorume e de gás foram perfurado na massa de resíduo. O biogás ainda não está queimando, porque a Feema ainda não liberou. Figura 10.48 – Vista das valas de coleta do chorume 268 Figura 10.49 – Vista da Caixa de passagem do chorume Figura 10.50 – Vista da chorume ingressando na lagoa 269 Figura 10.51 – Vista das lagoas de estabilização O monitoramento das águas subterrâneas é realizado de três em três meses através de dois poços, um à montante e outro à jusante e as análises indicam o comprometimento das águas (figura 10.52). Figura 10.52 – Vista do poço de monitoramento das águas subterrâneas 270 10.12.2.3 Condições operacionais O material patogênico é misturado com cal e enterrado em valas junto às encostas, abertas por uma retro-escavadeira. A cal é um dos produtos alcalinos mais baratos e utilizada no tratamento de lodo de esgoto. O processo é denominado de estabilização, que pode usar a cal virgem, CaO, ou a cal Hidratada Ca(OH)2 . A cal virgem é mais utilizada a granel e para grandes quantidades, enquanto a cal hidratada é manipulada com maior facilidade. Quimicamente, além da fixação dos metais pesados, pode haver insolubilização do fósforo. A elevação do pH é também eficiente na eliminação de patógenos e indicadores. As Salmonellas são facilmente destruídas com qualquer dosagem, assim como cistos de protozoários. Os estreptococos são geralmente mais resistentes, mas são eliminados com o tratamento de cal. As larvas de helmintos também são relativamente de fácil eliminação, enquanto os ovos são mais resistentes devido a sua proteção natural. (Bettiol, et al, 2000). O vento constante na região determina a freqüência intermitente do serviço de recobrimento do lixo. A compactação adequada é alcançada com cinco passadas do trator de esteira sobre o resíduo. Presença de urubus e moscas no aterro (figura10.53). Figura 10.53 – Vista da frente de trabalho 271 10.12.3Soluções para a destinação final Como a área não tem sua vida útil comprometida, medidas de adequação técnica devem ser introduzidas, tendo em vista o comprometimento das águas subterrâneas. Essas medidas são: a intensificação da freqüência de monitoramento das águas subterrâneas, implantação do monitoramento do chorume, gases, águas superficiais e da estabilidade dos maciços de lixo. 272 10.13 Teresópolis Teresópolis é um município localizado a 92km da capital do Rio de Janeiro, a 871m de altitude. Faz divisa com os município de Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto e Sumidouro. As duas principais rodovias que servem a cidade são: BR-116 e RJ-130. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que Teresópolis é um município com uma população urbana (tabela 10.26). Tabela 10.26 – Distribuição da população de Teresópolis (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 138.019 109.733 População (%) Sede municipal 79,51 Área total (km2 ) 770,50 Densidade demográfica (hab./km2 ) 179,13 10.13.1Serviços de limpeza urbana O poder público municipal presta serviços de varrição apenas na distrito sede, remoção de entulho, a poda de árvores, coleta domiciliar, coleta hospitalar e a destinação final dos resíduos. Esses serviços têm o suporte financeiro proveniente da cobrança da taxa de limpeza pública, que adota como base de cálculo o IPTU (Imposto Territorial Urbano) e alíquota de 2%. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 120t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. O material patogênico é recolhido separadamente do lixo doméstico. Nos quatro hospitais os resíduos são coletados através de caixas estacionárias de 1,5m³ e nos vinte e cinco postos de atendimento da rede de saúde municipal são coletados sem caixa estacionária, por meio de sacos plásticos, dispostos em locais não apropriados. 10.13.2Destinação final dos resíduos sólidos do município O depósito de lixo de Teresópolis está localizado próximo ao bairro da Prata, na rodovia RJ-130, que liga Teresópolis a Nova Friburgo (figura 10.54). 273 Figura 10.54 – Diagrama de localização do vazadouro (Programa de investimento para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) Dentro da circunscrição do terreno destinado ao vazadouro, constatou-se a presença de uma fábrica de piche, estabelecida sobre uma célula de lixo, já fechada. Os resíduos que chegam ao local são despejados sem o mínimo critério e uma vez por semana uma pá-mecânica empurra-os para uma fenda existente entre a praça de recebimento do lixo e uma formação rochosa (figura 10.55 e 10.56). Quanto ao material de origem hospitalar uma parte é incinerada no Hospital São José e o restante é depositado na lixeira sem qualquer controle sanitário. Fábrica de piche 5m Praça de recebimento Resídu os 10m Figura 10.55 – Desenho esquemático do vazadouro 274 Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. Figura 10.56 – Vista do lixão 10.13.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: LVHa8 = latossolo vermelho-amarelo húmico álico, textura argilosa. Solo residual maduro. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: EFo5 = englobam feições morfológicas com forte controle estrutural com escarpas, com incisões de drenagem entre 344 a 446m e 275 declividades superiores a 37º. Precipitações entre 1.200 e 2.500mm. Os processos morfogenéticos atuam principalmente nas encostas desprotegidas, forte atuação da decomposição química, estimulando constantes movimentos de massa, com deslizamentos e quedas de blocos. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.900mm • Proximidade de corpos de água O riacho da Prata localiza-se a mais ou menos 200m da área de disposição do resíduo. É possível que o lençol freático na região em questão esteja a 3m de profundidade do fundo do aterro, pois a comunidade no entorno era abastecida por um lençol freático a essa profundidade. Agora, essa região já apresenta água encanada. • Proximidade de núcleos habitacionais Próximo ao vazadouro, mais ou menos 500m, existe o bairro da Prata. Porém no entorno da área de disposição dos resíduos sólidos uma comunidade se desenvolve atraída pelo nicho de mercado da catação. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O caminho é todo asfaltado distando do centro mais ou menos 25km. O tráfego tem um comportamento constante, porém o movimento de caminhões não altera o fluxo. • Outras observações O isolamento visual da lixeira é inexistente, pois localiza-se à margem da estrada. 10.13.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece nenhuma infra-estrutura de implantação. O acesso é completamente desimpedido. 276 10.13.2.3 Condições operacionais A condição geral do lixão é muito ruim pela inexistência de recobrimento e compactação do lixo, presença de urubus e moscas, descarga de resíduos de serviço de saúde e presença de catadores, que moram no entorno. O resíduo é transportado por caminhões basculantes, carroceria baú e caminhão basculante até o vazadouro, sem a devida lona de vedação, permitindo a dispersão de elementos pelo vento. 10.13.3Soluções para a destinação final A área onde está situado o depósito de lixo é totalmente inadequada para este fim. Projetos de encerramento e remediação devem ser providenciados. 277 10.14 Valença Valença, município localizado a 159km da capital do Rio de Janeiro, a 560m de altitude e dividido em cinco distritos: Barão de Juparanã, Conservatória, Santa Izabel do Rio Preto, Pentangna e Parapeúna. A região de Valença situa-se entre dois grandes rios: o rio Paraíba do Sul e o Rio Preto, que são os limites ao norte e ao sul, com outros municípios. A rede hidrográfica interna irriga toda esta região, com milhares de nascentes, riachos e açudes, que vão aos poucos compondo os rios que cortam o município. Os principais são: Rio Paraíba do Sul, Rio Preto, Rio das Flores, Rio Bonito, Rio São Fernando, Rio Boa Vista e Rio Barroso. Ainda restam no Município de Valença algumas áreas de mata Atlântica, mata natural da região que cedeu lugar, em meados do século XIX, ao cultivo do café, à agricultura e à pecuária. As principais atividades econômicas da região são: indústria, agropecuária e artesanato em geral. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demonstra que Valença é um município com uma população urbana (tabela 10.27). Tabela 10.27 – Distribuição da população de Valença (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 66.290 50.483 População (%) Sede municipal 76,15 Área total (km2 ) 1.304,70 Densidade demográfica (hab./km2 ) 50,81 Valença apresenta estações climáticas bem definidas uma de maior precipitação pluviométrica, e outra de estiagem. A estação das águas ocorre nos meses mais quentes, de dezembro a fevereiro, quando a temperatura média é de 26ºC. Nos meses mais frios, de junho a agosto, época da estiagem, a temperatura é de 15ºC. 10.14.1Serviços de limpeza urbana A administração municipal presta à população os serviços de coleta domiciliar, coleta hospitalar, varrição e destinação final dos resíduos. Os serviços de limpeza urbana são custeados por uma taxa, cobrada juntamente como o Imposto Territorial Urbano (IPTU), que utiliza esse imposto como base de cálculo para uma alíquota de 3%. 278 O serviço de varrição é implementado apenas na sede municipal, em turno único, de 08:00 às 17:20 horas, de segunda à sábado. A coleta domiciliar é realizada em todo o município, com a utilização de seis caminhões basculantes e dois compactadores. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 58t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. O serviço de coleta de lixo hospitalar é realizado de forma irregular e perigosa, infringindo as normas de saúde relativas ao seu manuseio, transporte e guarda. As embalagens de medicamentos, gases, seringas, curativos, entre outros materiais, são expostos às intempéries e aos transeuntes, ao longo das vias públicas. 10.14.2Destinação final dos resíduos sólidos do município O vazadouro de lixo do município de Valença localiza-se em uma via secundária antes do Distrito de Barão de Juparanã, numa localidade conhecida como Quirino. Figura 10.57 – Mapa de localização do vazadouro (Programa de investimento para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) 279 Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. 10.14.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: LVd6 = latossolo vermelho-amarelo distrófico, textura média argilosa, relevo ondulado. Solo residual maduro. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto a caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados ao solo. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fo5 = compreende um conjunto de serras alongadas com incisões de drenagem na ordem de 158 a 201m e declives das encostas de 11º a 24º. Precipitações entre 800 a 2.500mm e formações superficiais delgadas de textura argilosa e areno-argilosa. Além dos efeitos da erosão diferencial, sofre processos morfológicos intensos como escoamento difusos e concentrados. Presença de movimentos de massa tais como deslizamentos. A região apresenta a possibilidade de área de empréstimo para o recobrimento diário do vazadouro. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.300mm 280 • Proximidade de corpos de água O lixão está afastado de corpos hídricos, porém não há informações sobre a profundidade do lençol freático, entretanto, mediante conversa com a comunidade residente a mais ou menor 300m do vazadouro foi identificado que o lençol freático está a 6m de profundidade. Dessa forma, considerou-se essa mesma profundidade na região do lixão. • Proximidade de núcleos habitacionais Um pequeno núcleo habitacional reside a uma distância superior a 300m do lixão, um fato agravante é a inexistência de abastecimento d’água, levando os moradores a utilizarem o lençol freático, que deve encontrar-se contaminado. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso A estrada de acesso é muito boa, praticamente toda asfaltada até o lixão, apenas o último trecho de 500m encontra-se não asfaltada, que pode ser considerado um obstáculo em épocas de chuvas intensas. A via de acesso apresenta pouco tráfego. • Outras observações O isolamento visual da lixeira é inexistente e o local destinado ao depósito não é legalizado. 10.14.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece nenhuma infra-estrutura de implantação e o transporte de resíduo é inadequado, os caminhões basculantes não são cobertos com lona para evitar a dispersão de elementos pelo vento. 10.14.2.3 Condições operacionais A situação realmente no local é muito séria. Ao longe quase não é possível ver nada, pois a fumaça, oriunda das queimadas, encobre a lixeira, visualiza-se apenas urubus que sobrevoam o local. Sem nenhum isolamento físico, nem visual o acesso é livre (figura 10.58 e 10.59). 281 Figura 10.58 – Vista do acesso interno do vazadouro Figura 10.59 – Vista sobre o lixão Uma operação constante é a presença de um trator, modelo MF-400, que sobe a montanha de lixo e descarta o carregamento na encosta do talude de aproximadamente 15 m de altura. A região não exalava mau cheiro, mas as moscas dominavam o local. 282 O total abandono permite a presença de catadores, os quais construíram pequenos barracos sobre o vazadouro para abriga-los do sol e para guardar os amarrados de material separado na catação. Os resíduos provenientes do sistema de saúde são coletados em separado dos demais resíduos produzidos no município, entretanto são dispostos juntamente com os demais resíduos no lixão. 10.14.3Soluções para a destinação final Por sua total inadequação aos critérios de segurança sanitária e ambiental, é aconselhável a desativação e lacramento do lixão, com o devido plano de remediação (figura 10.3). 283 10.15 Vassouras Vassouras, município localizado a 139km da capital do Rio de Janeiro, a 434m de altitude e dividido em quatro distritos: Vassouras, Andrade Pinto, São Sebastião dos Ferreiros e Sebastião Lacerda. Faz divisa com os município de Valença, Rio das Flores, Paraíba do Sul, Paty do alferes, Miguel Pereira, Eng. Paulo de Frontin, Mendes e Barra do Piraí. O município é cortado pelo rio Paraíba do Sul no seu trecho médio, fazendo a divisa com os município de Valença e Rio das Flores. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demostra que a população está distribuída de forma equilibrada entre a zona agrícola e a rural (tabela 10.28). Tabela 10.28 – Distribuição da população de Vassouras (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 31.402 18.403 População (%) Sede municipal 58,6 Área total (km2 ) 552,40 Densidade demográfica (hab./km2 ) 56,85 10.15.1Serviços de limpeza urbana O poder público municipal presta serviços de varrição, apenas na distrito sede, coleta domiciliar, coleta hospitalar e a destinação final dos resíduos. Esses serviços têm o suporte financeiro proveniente da cobrança da taxa de limpeza pública, que adota como base de cálculo o IPTU (Imposto Territorial Urbano) e alíquota de 4%. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 27t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. 10.15.2Destinação final dos resíduos sólidos do município O depósito de lixo de Vassouras fica localizado em área da Fazenda Cachoeira, no final da estrada do Triunfo, via de serviço que liga uma pedreira e outros pequenos sítios à rodovia RJ-127, figura 10.60. 284 Quanto ao material de origem hospitalar é depositado na lixeira sem qualquer controle sanitário. Figura 10.60 – Diagrama de localização do vazadouro (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR contempladas no anexo 5, as quais classificam a área no intervalo de condições inadequadas. 10.15.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: PVa20 = podzólico vermelho-amarelo álico, textura argilosa. Solo residual jovem. A inexistência de sondagem da área do lixão, acarreta a falta de precisão quanto a caracterização do solo. Assim, uma avaliação mais conservadora aconselha o 285 preenchimento do IQA e IQR com pontuação zero para os itens relacionados com o solo. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. • Dados climatológicos Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.300mm A seguir são apresentadas médias mensais de precipitação e evapotranspiração obtidos do livro Normais Climatológicas, publicado pelo DNMET (Departamento Nacional de Meteorologia) em 1992 da Estação nº 83745 – Vassouras. O desenvolvimento da tabela 10.29 seguirá o mesmo encaminhamento do item 10.8.2.1. 286 Tabela 10.29 – Balanço hídrico (DNMET, 1992) Mês Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro P (mm) 232,40 170,40 146,70 72,40 40,50 27,70 21,60 30,40 57,80 104,60 153,60 225,70 232,40 170,40 146,70 72,40 40,50 27,70 21,60 30,40 57,80 104,60 153,60 225,70 232,40 170,40 146,70 72,40 40,50 27,70 21,60 30,40 57,80 104,60 153,60 225,70 E (mm) 72,30 69,20 67,80 56,70 57,60 58,30 71,30 89,40 91,90 82,30 74,60 71,00 72,30 69,20 67,80 56,70 57,60 58,30 71,30 89,40 91,90 82,30 74,60 71,00 72,30 69,20 67,80 56,70 57,60 58,30 71,30 89,40 91,90 82,30 74,60 71,00 P (m3 ) 23,24 17,04 14,67 7,24 4,05 2,77 2,16 3,04 5,78 10,46 15,36 22,57 23,24 17,04 14,67 7,24 4,05 2,77 2,16 3,04 5,78 10,46 15,36 22,57 23,24 17,04 14,67 7,24 4,05 2,77 2,16 3,04 5,78 10,46 15,36 22,57 E (m3 ) 7,23 6,92 6,78 5,67 5,76 5,83 7,13 8,94 9,19 8,23 7,46 7,10 7,23 6,92 6,78 5,67 5,76 5,83 7,13 8,94 9,19 8,23 7,46 7,10 7,23 6,92 6,78 5,67 5,76 5,83 7,13 8,94 9,19 8,23 7,46 7,10 ∆V (m3 ) 16,01 10,12 7,89 1,57 (1,71) (3,06) (4,97) (5,90) (3,41) 2,23 7,90 15,47 16,01 10,12 7,89 1,57 (1,71) (3,06) (4,97) (5,90) (3,41) 2,23 7,90 15,47 16,01 10,12 7,89 1,57 (1,71) (3,06) (4,97) (5,90) (3,41) 2,23 7,90 15,47 CC (m3 ) 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 22,50 H2 O no Chorume solo(m3 ) (m3 ) 16,01 0 22,50 3,63 22,50 7,89 22,50 1,57 20,79 0 17,73 0 12,76 0 6,86 0 3,45 0 5,68 0 13,58 0 22,50 6,55 22,50 16,01 22,50 10,12 22,50 7,89 22,50 1,57 20,79 0 17,73 0 12,76 0 6,86 0 3,45 0 5,68 0 13,58 0 22,50 6,55 22,50 16,01 22,50 10,12 22,50 7,89 22,50 1,57 20,79 0 17,73 0 12,76 0 6,86 0 3,45 0 5,68 0 13,58 0 22,50 6,55 • Proximidade de corpos de água O material destinado à lixeira é empurrado em direção a um talude, onde ao fundo encontra-se um manancial que se comunica com o córrego Passa Quatro. Como a área não é objeto de cobertura ou de drenagem, o chorume percolado escoa para o fundo do vale em direção ao córrego. • Proximidade de núcleos habitacionais Um pequeno núcleo habitacional reside a uma distância de 10km do lixão, porém o abastecimento de água dessa comunidade é através do lençol freático. 287 • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O caminho é íngreme, cheio de atoleiros, com ribanceiras e muito estreito, onde o caminhão basculante passa com muita dificuldade. Um ponto que agrava ainda mais o acesso é a estrada de terra com cerca de 12km, tornando-se um verdadeiro obstáculo para os veículos. Como a estrada até o lixão é muito longa, verifica-se vários focos de pequenas lixeiras que se disseminam ao longo da via. • Outras observações O isolamento visual da lixeira é inexistente e o local destinado ao depósito não é legalizado. 10.15.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão não oferece nenhuma infra-estrutura de implantação. O acesso é livre e os catadores controlam a área. 10.15.2.3 Condições operacionais A condição geral do lixão é muito ruim pela inexistência de recobrimento e compactação do lixo, presença de urubus e moscas, descarga de resíduos de serviço de saúde e presença de catadores. O resíduo é transportado por caminhões basculantes, carroceria baú e carroceria de madeira até o vazadouro, sem a devida lona de vedação, permitindo a dispersão de elementos pelo vento. 10.15.3Soluções para a destinação final A área onde está situado o depósito de lixo é totalmente inadequada para este fim. Um projeto de encerramento e remediação deve ser implementado na localidade. 288 10.16 Volta Redonda Volta Redonda é um município localizado a 125km da capital do Rio de Janeiro, a 390m de altitude e constituído apenas de um distrito. Faz divisa com os município: Barra do Piraí, Piraí e Barra Mansa. O município é cortado pelo rio Paraíba do Sul no seu trecho médio. A principal via que corta a cidade é a BR-116. O seu perfil industrial deve-se à Companhia Siderúrgica Nacional, que durante cinqüenta anos gerou a maioria dos empregos na região. O censo de 2000, realizado pelo IBGE, demonstra que é uma população exclusivamente urbana (tabela 10.30). Tabela 10.30 – Distribuição da população de Volta Redonda (Censo 2000/IBGE) População (hab.) Total Sede municipal 242.046 241.980 População (%) Sede municipal 99,97 Área total (km2 ) 182,30 Densidade demográfica (hab./km2 ) 1.327,73 10.16.1Serviços de limpeza urbana A administração municipal de Volta Redonda atende a sua população com os serviços de coleta domiciliar, coleta hospitalar, varrição e destinação final dos resíduos sólidos. Há que se destacar, porém, que os serviços de coleta de resíduos domiciliares, coleta de resíduos hospitalares e de varrição estão terceirizados, sendo executado pela mepresa Vega Engenharia Ambiental. O gerenciamento dos serviços de limpeza urbana cabe à Secretaria Municipal de Serviços Públicos. A municipalidade possui a Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente (COORDEMA), que, em conjunto com a Secretaria Municipal cuidam dos resíduos sólidos. Para a realização dos serviços de coleta domiciliar, a empreiteira utiliza sete caminhões compactadores de 15m³ e um caminhão compactador de 7m³ para áreas de difícil manobra ou com aclives acentuados. Para a coleta hospitalar é utilizado um furgão. A prefeitura implantou um projeto-piloto de coleta seletiva executado diretamente pela Secretaria Municipal de Serviços Públicos e pelo COORDEMA. Este projeto foi realizado durante um ano nos bairros de Rústico, Volta Grande, Sessenta e 289 Casa de Pedra, com ampliação projetada para os bairros de Jardim Esperança e Tangerinal, onde vinha sendo desenvolvido em nível experimental. Os resultados obtidos com este sistema de coleta foram considerados satisfatórios, gerando uma receita aproximada de R$10.000,00/mês com a venda dos materiais passíveis de reciclagem. Todavia, pela falta de recursos financeiros o projeto de reciclagem foi temporariamente suspenso. A produção estimada de resíduos sólidos domésticos no município, com base na população do ano de 2000 e na produção per capita de 0,872 kg, é de 211t/dia. Por não dispor de dados exatos sobre o número de viagens realizadas pelos caminhões em serviço, não foi possível estimar a quantidade de resíduos sólidos coletados no município. 10.16.2Destinação final dos resíduos sólidos do município O vazadouro localiza-se a 5km da BR-116 (km 258), na primeira via de acesso à Volta Redonda (figura 10.61). A área, já de grande extensão, expandiu-se ainda mais com os cortes realizados nos morros adjacentes e está com sua capacidade comprometida. A localidade de disposição dos resíduos é uma propriedade privada do Sr. Galvão, que detém dentro da circunscrição de operação do lixão uma empresa de reciclagem de plástico denominada Incomil. Dentro da área existem catadores, que são cadastrados pela prefeitura, todavia são obrigados a venderem o que catam para a empresa Incomil. Nos próximos subitens são avaliadas as características do lixão baseadas nas planilhas do IQA e IQR, a quais classificaram a área no intervalo de condições inadequadas. 290 Figura 10.61 – Diagrama de localização do vazadouro (Programa de investimento para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999) 10.16.2.1 Características do local • Características do solo Esta caracterização está baseada no Mapa exploratório de solos do Projeto Radambrasil de 1983 – Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos– Ministério da Agricultura – escala 1:250.000. Solo predominante no município: PVd10 = podzólico vermelho-amarelo distrófico, textura argilosa. Solo residual jovem. • Características do relevo Essa caracterização está baseada no Mapa de Avaliação do Relevo do Projeto Radambrasil de 1983 – Ministério das Minas e Energias – escala 1:250.000. Relevo predominante no município: Fa6 = Abrangem relevos colinosos com vertentes convexas e topos convexizados ou tabulares, intercalados por alvéolos, com incisões de drenagem entre 44m e 92m e declives que variam de 5º a 24º. Sob a influência das precipitações entre 800mm e 1.750mm concentradas no verão. A 291 declividade de drenagem leva a existência de maior concentração dos processos erosivos, proliferações de sulcos, ravinas e voçorocas generalizadas, em função de culturas cíclicas e da criação extensiva em áreas de colinas com vertentes convexas e de maiores declives. • Precipitação média anual Precipitação média anual baseada no Projeto Rio de Janeiro – Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro – Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais de 1999. Precipitação = 1.200mm • Proximidade de corpos de água Ao longo da área podem ser observados pequenos afloramentos d’água. O córrego Brandão atravessava o depósito à céu aberto, há poucos meses foi manilhado com tubulação de 1800mm, apenas dentro do limite da lixeira. As margens do córrego Brandão, que correm paralelas à estrada de acesso vazadouro, estão comprometidas por vários pontos de descarga clandestina de entulho de obra. Não há informações sobre a profundidade do lençol freático, todavia pela presença de água superficial, é possível supor que o lençol freático seja alto na região. Contudo as pessoas que ali trabalham utilizam água do lençol freático a 1,5m de profundidade e afirmam que a mesma é de excelente qualidade e a prefeitura realiza análises anuais que comprovam a potabilidade. • Proximidade de núcleos habitacionais O vazadouro está afastado de núcleos habitacionais. • Condições do sistema viário-trânsito-acesso O terreno está afastado do centro urbano 15km. O vazadouro localiza-se a 5km da BR-116, sendo mais ou menos 1,5km de estrada de chão, mas coberta por uma camada de brita nº 3. A via de acesso apresenta tráfego moderado, a circulação de caminhões não causa transtornos. 292 • Outras observações A escolha do local para servir de depósito para os resíduos sólidos produzidos no município não foi precedida de uma avaliação técnica que considerasse adequado o local de natureza ambiental. O isolamento visual é total da área. 10.16.2.2 Infra-estrutura implantada A área do lixão é cercada e a portaria funciona para impedir apenas o livre acesso. No recebimento da carga só é controlada a pesagem na entrada e na saída e o horário de ingresso dos caminhões. A drenagem das águas pluviais e do percolado confluem para uma lagoa de estabilização ligada a mais três lagoas, situadas aproximadamente 20m abaixo do local de descarga. As lagoas de dimensão (25x10)m não apresentam nenhum tipo de impermeabilização e ainda recebem um tratamento de 40kg de sulfato de alumínio uma vez por mês. O sulfato de alumínio é usado no tratamento primário de efluentes, com a finalidade de remover o material sólido em suspensão. Isto é possível através da ação da desestabilização de partículas coloidais, que se agregam formando partículas maiores, facilmente removíveis (Bila, 2000). Esse tratamento não convencional está contribuindo para o assoreado das lagoas e a contaminação do córrego Brandão. No momento da descarga do lixo, os catadores separam o material que será reciclado e uma pá-mecânica empurra o resíduo restante, até o mesmo rolar pela encosta (figura 10.62). Manobras sucessivas, dessa natureza, causam o aterramento da lagoa mais próxima ao maciço de lixo e ampliam a localidade de destinação dos resíduos. Quando uma lagoa é submersa nova lagoa é escava em terreno longínquo. Descarga 20m Lagoa Figura 10.62 – Desenho esquemático do vazadouro 293 10.16.2.3 Condições operacionais A condição geral do lixão é muito ruim pela prática do recobrimento apenas semanalmente por um trator de esteira, presença constante de urubus, moscas e cachorros e descarga de resíduos de serviço de saúde. O material patogênico é enterrado em trincheiras escavas sobre antigos depósitos de resíduos domiciliares, que recebem como cobertura uma fina camada de terra deixando a mostra o material depositado. No local constatou-se a presença de catadores em situação insalubre e semiescrava, ainda mais agravante, pois não são livres para comercializar o material catado. 10.16.3Soluções para a destinação final Essa área deve ser desapropriada pela prefeitura e isolada para o devido encerramento e remediação. 294 CAPÍTULO 11 CONCLUSÃO A ação predatória do homem sobre a terra é tão antiga quanto a sua existência. Até mesmo a grandeza e a harmonia da obra da criação não escapou da destruição do homem, que parece ter interpretado mal o comando bíblico, traduzido: “Submetei a terra; dominai sobre os peixes, as aves e os animais...”. Decerto o sentido dos verbos submeter e dominar foi identificado com as concepções de subjugar, espoliar, degradar, ao invés de convergir para a idéia de usufruir naturalmente, auferir harmonioso proveito (Oliveira, 1991). O que se viu, em decorrência, foi a substituição do equilíbrio do meio ambiente por uma crescente destruição, marcada pelo imediatismo egocêntrico, como comprovada, no capítulo 10, a partir de uma pequena amostragem que avaliou as condições de disposição dos resíduos sólidos em dezesseis municípios no estado do Rio de Janeiro. O Índice da Qualidade de Aterros de Resíduos – IQR (anexo 1), baseado no conhecimento técnico dos funcionário da CETESB, afastou, parcialmente, o empirismo da avaliação de aterros, ao classificar as áreas de destinação final dos resíduos sólidos urbanos em três condições: inadequadas, controladas e adequadas, conforme a pontuação compreendida no intervalo de 0 a 10 pontos. Esse formulário foi criado para ser implantado em locais de disposição de resíduos sólidos urbanos de qualquer porte, permitindo estabelecer um critério único de apreciação em todo o estado. Como o IQR é apenas um instrumento exemplificativo, a presente dissertação teve como proposta acrescentar alguns itens não contemplados, suprimir outros e organizá-los de uma forma lógica. Essa nova tabela desenvolvida foi batizada com a abreviação de IQA (anexo 2). O procedimento elaborado para a criação do IQA utilizou a avaliação multicriterial, que no caso em estudo foi a Análise do Valor, a qual alcançou uma configuração simplificada e que pode ser estendida para outras unidades de tratamento de resíduos sólidos. Um impasse existente no formulário do IQR reside no seu preenchimento, que está alicerçado numa inspeção expedita. A falta de critérios bem definidos para a 295 utilização do IQR pode ocasionar avaliações distintas de um operador para outro, proporcionando distorções nos resultados. A observação desta questão inspirou a elaboração do capítulo 9, o qual apresenta os aspectos técnicos e a determinação dos critérios de avaliação relacionados com a planilha do IQA. A metodologia, desenvolvida nesse trabalho, buscou sistematizar o processo de análise dos locais de disposição dos resíduos sólidos urbanos, tornando-se um instrumento destinado tanto aos governos municipais, servindo de ferramenta decisória, quanto aos órgãos públicos fiscalizadores. Em segundo plano, o Índice da Qualidade de Aterros visa orientar as atividades de aperfeiçoamento progressivo da área de disposição do lixo, habilitando-a à condição mais próxima de um aterro sanitário adequado. As planilhas do IQR e IQA tiveram uma aplicação prática em dezesseis municípios do estado do Rio de janeiro e os resultados encontram-se listados na tabela11.1. Apenas dois municípios, Macaé e Piraí, conseguiram alcançar uma pontuação compreendida no intervalo de condições adequadas. Tabela 11.1 – Resumo da avaliação das planilhas do IQR e IQA Município Barra do Piraí Barra Mansa Cantagalo Cordeiro Itatiaia Macaé Mendes Nova Friburgo Petrópolis Piraí Quatis Resende Teresópolis Valença Vassouras Volta Redonda IQR 0,92 1,46 2,00 1,23 1,69 9,15 2,31 5,92 4,46 9,62 2,31 5,54 0,77 1,54 1,23 1,92 IQA 0,86 1,43 1,79 1,14 1,64 8,29 2,29 5,29 4,07 8,71 2,00 5,07 0,71 1,43 1,14 1,64 Diferença (%) 6,52 2,05 10,50 7,32 2,96 9,40 0,87 10,64 8,74 9,46 13,42 8,48 7,79 7,14 7,32 14,58 Condição Inadequada Inadequada Inadequada Inadequada Inadequada Adequada Inadequada Inadequada Inadequada Adequada Inadequada Inadequada Inadequada Inadequada Inadequada Inadequada A diferença entre as duas avaliações, isto é, IQR e IQA, também, está contemplada na tabela 11.1, demostrando que o IQA é uma avaliação mais rigorosa e detalhada, por analisar alguns itens desprezados no IQR. Os municípios de Nova Friburgo, Petrópolis e Resende, mesmo com uma classificação de condição inadequada, obtiveram pontuações do IQR e do IQA próximas 296 de condições controladas. Como essas áreas ainda não apresentam comprometimento da sua vida útil e já houve deslocamento de recursos financeiros para esses locais, um projeto de adequação é o mais recomendável. Tabela 11.2 – Avaliação das planilhas Condição Inadequada Controlada Adequada Total População (hab.) 1.392.113 0 153.629 1.545.742 População (%) 90,06 0 9,94 100,00 Área (km2 ) 8.178,40 0 1.720,50 9.898,90 Área (%) 82,62 0 17,38 100,00 Os municípios, que correspondem a 82,62% (tabela 11.2) do espaço amostral analisado, encontram-se definitivamente classificados em condições inadequadas. É desnecessário construir uma hierarquia entre esses vazadouros, determinando uma prioridade de ação do Estado, quando todos clamam por mudanças urgentes no tratamento dos serviços de limpeza pública, conforme identifica o gráfico 11.1. Gráfico 11.1 – Número de municípios 100 87,5 90 80 70 % 60 municípios 50 40 30 20 12,5 10 0 0 inadequada controlada adequada Situação Neste cenário, estão identificadas as condições ideais para a implantação de um Plano de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos que deve contemplar todas as atividades necessárias para a solução do problema que é responsabilidade de toda a sociedade, e cujo ônus recai sobre a administração municipal. 297 Um estudo da otimização da estrutura existente e a implantação de ações que levem à redução do volume de lixo gerado pela cidade, permitiria a redução da área necessária para sua disposição, do volume de recursos para seu manejo e tratamento, economia de combustível na coleta, valoração dos materiais recicláveis e conduz a uma solução sócio-econômica. O plano de gerenciamento compreende ações em todas as fases do processo. O diagnóstico do sistema é fundamental para a determinação de todas as etapas que se fazem necessárias. Um Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos do Estado do Rio de Janeiro, como parte integrante de uma Política Estadual de Resíduos Sólidos, cumpre a função de identificar a real situação municipal. Contudo, em fevereiro de 2000 foi proposta uma Política Estadual de Resíduos Sólidos pela FIRJAN, mas esse tema não foi considerado, falha esta que deve ser reparada antes da promulgação da lei. Feito o diagnóstico, será possível estabelecer as diretrizes para abordagem do problema, que são: melhores opções para a coleta, inclusive a coleta seletiva, campanhas para a conscientização e envolvimento da sociedade na questão ambiental, definição do tratamento a ser adotado, escolha da área para disposição final, incluindo a explicitação das melhores técnicas de manejo do aterro, em conformidade com o tratamento adotado. Para a destinação final dos resíduos sólidos, duas alternativas podem ser propostas para pequenos e médios municípios: implantação de centros de resíduos no município ou implantação de centros de resíduos compartilhados por mais de um município. A estrutura básica para as duas alternativas deve ser composta por: aterro sanitário, usina de reciclagem e compostagem simplificada, incinerador para resíduos patogênicos e balança de 30 toneladas. A estrutura básica listada acima segue as diretrizes dos países desenvolvidos, a tendência de disposição somente o que se chama “ resíduo último”, ou seja, para os aterros sanitários só deverão seguir aqueles resíduos que já tiveram esgotada sua possibilidade de tratamento, aproveitamento e reciclagem. Estas idéias afastam-se da tradicional digestão anaeróbia, eventualmente secular, constituindo-se fonte contínua de poluição. Do lixo deseja-se retirar algum proveito, acelerando sua inertização, minimizando e recuperando as áreas de disposição. Assim, 298 busca-se quebrar o ciclo unicamente acumulativo do lixo, que polui o solo, a água e o ar e impede o uso futuro, mais nobre das áreas dos aterros sanitários. A implantação de centros de resíduos municipais pode ser demonstrada no estado do Rio de Janeiro, através do município de Cantagalo (item 10.3). E a experiência de centros de resíduos para atender a mais de um município foi adotada recentemente, com sucesso, na região metropolitana da cidade de Salvador (Programa de investimentos para recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, 1999). O objetivo destes centros é destinar corretamente os resíduos sólidos urbanos, permitindo um maior controle ambiental e uma minimização de custos operacionais. A administração plurimunicipal de resíduos é uma proposta polêmica visto que nem sempre as municipalidades em envolvidas são filiadas ao mesmo partido. Porém a preservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida são metas a serem alcançadas e não podem ou não deveriam se ater a ambições e conflitos localizados. Atualmente, o país carece de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, que defina normas relativas à prevenção de geração, minimização, reutilização, manejo, acondicionamento, coleta, reciclagem, transporte, tratamento, reaproveitamento e disposição final dos resíduos sólidos. Os incentivos econômicos e tributários, como descritos no item 5.4, são um forte instrumento para induzir mudanças de comportamento e para motivar os municípios a priorizarem o tema em suas agendas de trabalho e administração. Já para a reciclagem são recomendados os instrumentos sociais da comunicação, educação, capacitação e da informação. Numa iniciativa inédita no país, o Tocantins aprovou a Lei nº1.095/99, que isenta 100% do pagamento do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), às operações internas de saída e aparas de papel, papelão, sucatas de materiais ferrosos ou não ferrosos, plásticos, resíduos plásticos, vidros, caco de vidros e aparas de vidros destinados à reciclagem. O benefício fiscal também foi concedido àqueles que instalaram, no Tocantins, negócios voltados para a reciclagem dos materiais referidos ou montaram usinas de compostagem de resíduos orgânicos. Iniciativas como esta deveriam ser implantadas no restante da unidade federativa. 299 Antes de solucionar a questão dos resíduos sólidos, faz-se necessário transpor alguns obstáculos, quais sejam: a ignorância, a desigualdade e as instituições ultrapassadas. A ignorância implica na inexistência de metas, uma vez que é ignorado o objetivo e o meio para atingi-lo; a desigualdade implica em grupos sociais predatórios, onde poucos consomem muito e muitos consomem pouco e, finalmente, as instituições não sabem a direção para onde desejam ir, encontram-se inadequadas para assumir a liderança do processo de definição de rumos econômicos e socialmente sustentáveis. Não se deve tentar resolver o problema dos resíduos sólidos urbanos a partir do ataque às suas conseqüências, e sim às causas dos problemas que ligam-se aos aspectos econômicos, sociais e políticos. 11.1Propostas de estudos − Investigação geoambiental de um dos lixões contemplados nessa dissertação, com o objetivo de determinar as características geológicas e geotécnicas do substrato, o regime hidrológico e as características químicas das águas subterâneas, detectando, assim, o impacto ambiental; − Continuação da aplicação do IQA nos demais municípios do estado do Rio de Janeiro; − Proposta de nova forma de classificação da disposição final dos resíduos sólidos e aplicação em outros municípios no estado do Rio de Janeiro. 300 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA ABREU, R. C. (2000). Compressibilidade de maciços sanitários. Dissertação de M. Sc., Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, SP; ACURRIO,G., JARAMILLO, J. & ZEPEDA, F. (1998) .Diagnostico de la situacion del manejo de residuos solidos municipales em America Latina y el Caribe. BID/OPS. 2ª ed., p 150; AFONSO DA SILVA, J. (1998). Direito Ambiental Constitucional. 2ª ed. Rio de Janeiro: Malheiros; AGENDA 21: resumo (1992). Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Rio de Janeiro- RJ; AGUIAR, A. B. (2001). O emprego do permeâmetro de Guelph na determinação da permeabilidade do solo, de camadas de lixo e sua cobertura. Dissertação de M. Sc, Programa de Engenharia Civil / COPPE / UFRJ, Rio de Janeiro; ALONSO, U. R. (1983). Exercícios de Fundações. São Paulo: Edgard Blücher; ALONSO, U. R. (1984). Rebaixamento Temporário de Aqüíferos. São Paulo: Edgard Blücher; ALONSO, U. R. (1991). Previsão e controle das fundações. São Paulo: Ed. Edgard Blücher Ltda; ANTUNES, P. B. (1998). Direito Ambiental. 2a ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris; ARMSTRONG, M. D. & ROWE, R. K. (1999). Effect os landfill operations the quality of municipal solid waste leachate. Sardinia, Italy, pp. 81-88; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL – ABES (1999). Programa de pesquisa em saneamento básico. Metodologias e Técnicas de Minimização, reciclagem e reutilização de resíduos sólidos urbanos. RJ. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (1984), Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos – Procedimento. Rio de Janeiro. (NBR-8419); ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (1993e), Resíduos de serviços de saúde – Terminologia.. Rio de Janeiro. (NBR-12807); 301 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (1993f), Resíduos de serviços de saúde – Classificação. Rio de Janeiro. (NBR-12808); ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (1993g), Manuseio de resíduos de serviços de saúde – Procedimento. Rio de Janeiro. (NBR-12809); ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (1997a), Construção de poços de monitoramento e amostragem – Procedimento. Rio de Janeiro. (NBR-13895); ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT (1997b), Aterros de resíduos não-perigosos – Critérios para projetos, implantação e operação Procedimento. Rio de Janeiro. (NBR-13896); BAPTISTA, F. R. M. (2001). Caraterização física e comercial do lixo urbano de Vitória, em função da classe social da população geradora. Dissertação de M. Sc., Programa de Engenharia Ambiental/UFES, Vitória, ES; BARBOSA, M. C. (1994). Investigação geoambiental do depósito de argila sob o aterro de Gramacho. Tese de D. Sc., Programa de Engenharia Civil/COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ; BARROS, C. (1987). Programas de saúde e ecologia. 30ª ed. São Paulo: Ed. Ática; BENVENUTO, C. & CUNHA, M. A. (1991). Escorregamento em massa de lixo no aterro sanitário Bandeirantes em São Paulo, S.P. Anais, Simpósio sobre barragens de rejeitos e disposição de resíduos – Regeo’ 91, Rio de Janeiro, pp. 55-61; BETTIOL, W. & CAMARGO O. A. (2000). Impacto ambiental do uso agrícola do lodo de esgoto. Jaguariúna, SP, EMBRAPA-MA. BIDONE, F. R. A. & POVINELLI, J. (1999). Conceitos básicos de resíduos sólidos. São Carlos, SP: Publicação EECS - USP; BILA, D. M. (2000) Aplicação de processos combinados no tratamento de chorume. Dissertação M. Sc., Eng. Química/UFRJ; BLIGHT, G.E., BALL, J.M. & BLIGHT, J.J. (1992) – Moiture and suction in sanitary landfills in semiadid areas. Journal of Environmental Engineering, ASCE, pp. 116 121; BOLTON, N. (1995). The handbook od landfill operations. Blue kidge solid waste consulting; 302 BRAMRYD, T. (1998). Biologic waste treatment techniques from na ecological viewpoint. International directory of solid waste management. The ISWA Yearbook, James, Copenhagen, p. 68-75; CALDERONI, S. (1997). Os bilhões perdidos no lixo. São Paulo: Humanitas Editora – USP; CARVALHO, M. F. (1999). Comportamento mecânico de resíduos sólidos urbanos. Tese de D. Sc., Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, SP; CASAGRANDE, A. & FADUN, R. E. (1944). Application of soil mechanics in designing building foundations. ASCE, v. 109; CEMPRE, Folheto informativo, nº 52 – ano VIII – Julho / Agosto / 00; CEPIS/OPS (1992). Cantidad y contenidos de lixiviados de rellenos de desechos domesticos. Traduccion interna del proyecto CEPIS/GTZ; CEPOLLINA, M., KAIMOTO, L. S. A. & LUDEMANN, S. M. (1994). Investigação de condicionantes geotécnicos de maciços sanitários. Anais, Décimo congresso brasileiro de mecânica dos solos e fundações, v. III, Foz do Iguaçu, pp. 979-986; CEPOLLINA ENGENHEIROS CONSULTORES (1999). Relatórios internos; CHRISTENSEN, T. H. e KJELDSEN, P (1989). Basic biochemical processes in landfills – sanitary landfilling: process, technology and environmental impact. Editores: T. H. Christensen, R. Cossu e R. Stegman; CHU, L. M., CHEUNG, K. C. & WONG, M. H. (1994) Variations in the chemical properties of landfill leachate. Environmental management, pp. 105-117; CODUTO, D. P. & HUITRIC, R. (1990). Monitoring landfill movements using precise instruments. Geotechnics of waste fills – Theory and practice, STP 1070, Landva and Knowless (eds), ASTM, West Conshohocken, Pa., pp. 358-369; COMPANHIA DE LIMPEZA URBANA – COMLURB (2001). Gestão financeira. http://www.rio.rj.gov.br/comlurb/ http://www2.rio.rj.gov.br/comlurb/gestao_financeira.htm COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL - CETESB (1997b), Aterros sanitários em valas. São Paulo; 303 COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL - CETESB (1998), Inventário Estadual de resíduos sólidos domiciliares. São Paulo; COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL - CETESB (1999), Inventário Estadual de resíduos sólidos domiciliares. São Paulo; COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL – CETESB (2000), Inventário Estadual de resíduos sólidos domiciliares. São Paulo; COMPANHIA VALE DO RIO DOCE – CVRD - (1998). Projeto educar: responsabilidade de cada um. Novembro; CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Promulgada em 5 de outubro de 1988. 18º ed. São Paulo: Saraiva, 1998; CONSELHO DA UNIÃO EUROPÉIA, de 26 de abril de 1999, relativa à deposição de resíduos em aterros, Diretriz 1999/31/CE; CONSONI, A. J. (1993). Seleção de áreas para disposição de resíduos sólidos urbanos e proposta de aterro sanitário no município de Iguape, SP. São Paulo: IPT; COSTA, E. J. M. P. (1999). Estudo de tratamento de água residuária sintética simulando despejo líquido de coqueria. São Paulo. Tese de D. Sc., Escola Politécnica, Universidade de São Paulo; COUMOULOS, D. G. & KORYALOS, T. P. (1998). Prediction of attenuation of landfill settlement rates with time. Proceedings, Fourteenth International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering, Hamburg, v. 3, pp. 1807-1811; CSILLAG, J. M. (1995). Análise do valor: metodologia do valor: engenharia do valor, gerenciamento do valor, redução de custos, racionalização administrativa. 4º ed. São Paulo: Atlas, pp. 58-73; CURI, K., SENSOY, O., KOCASOY, G. (1999). Determination of the best chemical treatment method for young leachate. Proceedings, Sardinia, 8th International Landfill Symposium, Italy, p.172-134; DEPARTAMENTO NACIONAL DE METEOROLOGIA - DNMET (1992). Normais climatológicas. Brasília; 304 DIAS, A.E. X. O. (2000). Biorremediação de áreas afetadas por resíduos sólidos tóxicos. In Sissinno, C. L. S., Oliveira R. M. (eds), resíduos sólidos, ambientais e saúde: uma visão multidisciplinar, 1ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz; DIRETORIA TÉCNICA E INDUSTRIAL DA COMLURB – DTI (2001). Comunicação pessoal; EDIL, T. B., RANGUETTE,V. S. & WUELLNER, W.W. (1990). Settlement of municipal refuse. Geotechnics of wast fills – Theory and pratice, STP 1070, Landva and knowless, ASTM, West Conshohocken, Pa., pp. 225-239; EHRLICH, M., ALMEIDA, M. S. S. & BARBOSA, M. C. (1994). Pollution control of Gramacho municipal landfill. 1st International Congress on Environmental Geotechnics, Edmonton, Canada, pp. 657-663; EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA (1994). Atlas do meio ambiente do Brasil. Editora Terra Viva; FEDERAÇÃO DAS INDUSTRIAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – FIRJAN (2000). Proposta de Política Estadual de Resíduos Sólidos. Fevereiro; FERREIRA, A. B. H. (1986). Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2º ed. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro; FERREIRA, J. A., RITTER, E., ROSSO, T. C., GIORDANO, G. & CAMPOS. J. C. (2001). Treatment of landfill leachate using biological filter and reed bed systems. Proceedings, Sardinia, 8th International Landfill Symposium, Italy, v. II, p. 241-247; FERREIRA, J. A., RITTER, E., ROSSO & DIAS A. P. (2001). Leachate permeability study of compacted soil barrier for Piraí’s sanitary landfill. Proceedings, Sardinia, 8th International Landfill Symposium, Italy, v. III, p. 143-148; FIORILLO, PACHECO, C. A. & RODRIGUES, M. A. (1996). Manual de direito ambiental e legislação aplicável. São Paulo: Max Linaned; FRICKE, K., SANTEN, H., BIDLINGMAIER, W. (2001). Biotechnological processes for solving waste management problems in economically less developed countries. Proceedings, Sardinia, 8th International Landfill Symposium, Italy, v. V, p. 181-194; GABR, M.A. & VALERO, S.N. (1995). Geotechnical properties of municipal solid waste. Geotechnical Testing Journal, pp.18-20; 305 GOLLEY, F. B. (1999). Considering theoretical and pratical needs of ecology. Ecological enginnering. New York, v. 12, pp.181-187; HEITEFUSS, S. & KEUFFEL- TÜRK, A. (1994). ALTLASTENFAKTEN 4: Erstbewertung von bearbeitungshinweise altablagerungen zur aufstellung bei beweisniveau Regionaler 1. Prioritätenlisten Ergänzende und Regionaler Wartelisten durch die Regionalen Bewertungs-kommissionen – 8S., 7 Abb; Houtain, A., LOX, A. (2001). Landfill sites selection in the wallon region (southern Belgium). Proceedings, Sardinia, 8th International Landfill Symposium, Italy, v. IV, pp. 5-10; INTITULO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE (2000). Censo demográfico. População residente em cada Unidade da Federação; <http://www.ibge.gov.br/ibge/estatistica/população/censo2000/consulta.htm>(02/08/01) INTITULO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA (2001). <http://www.ibama.gov.br>(17/08/01) IPT/CEMPRE (2000). Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado. 1ª ed. São Paulo: Instituto de Pesquisa Tecnológicas/IPT; KAIMOTO, L. S. A. & CEPOLLINA, M. (1996). Considerações sobre alguns condicionantes e critérios geotécnicos de projetos executivos de aterros sanitários. Anais, Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental, Porto Alegre, pp. 51-54; KOCKEL, R. (1995). Scherfestigkeit von Mischabfallen in Hinblick auf die Standsicherheit von Deponien. Schriftenreihe des Institute fur Greendbau, Ruhr. Universitat Bochum, Heft 24; KOCKEL, R., KÖNIG, D. & SYLLWASSCHY, O. (1997). Three basic topics on waste mechanics. Proceedings, Fourteenth international conference on soil mecanics and fondation engineering, Hamburg, v. 3, pp.1831-1837; LAMARE NETO, A. (1999). Análise da estabilidade do aterro sanitário da rua Duarte da Silveira em Petrópolis. Monografia para exame de qualificação para candidatura ao doutorado, Programa de Engenharia Civil / COPPE / UFRJ, Rio de Janeiro; 306 LAMBE, T. W. & WHITMAN, R. V. (1970). Soil mechanics. New York: John Wiley & Sons; LANDVA, A . O. & CLARK, J. I. (1990). Geotechnics of Waste Fills. Theory and Practice. Philadelphia, ASTM STP nº 1070; LAUBISCH, T. N. F. (1990). Resíduos sólidos: uma possível solução ecológica, Tese de M. Sc, Programa de Engenharia de produção / COPPE / UFRJ, Rio de Janeiro, RJ; LIMA, G. S. (1999). Seleção de áreas para implantação de aterros sanitários: uma proposta baseada na Análise do Valor e Lógica Fuzzy. Dissertação de M. Sc, Programa de Engenharia Civil / COPPE / UFRJ, Rio de Janeiro; LIMA, L .M .Q. (1991). Tratamento de lixo. São Paulo: Ed. Hemus; LIMA, L .M .Q. (1995). Tratamento e biorremediação. São Paulo: Ed. Hemus; LOLOS, G., TSOMBANIDIS, C, LOLOS, T. A. & PASCHALI, K. (2001). A new approach to multi-criteria decision making for the land fill site selection. Proceedings, Sardinia, 8th International Landfill Symposium, Italy, v. IV, pp. 14-15; LUA, D. (1999). US$ 50 milhões jogados no lixo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12 de dezembro; MACHADO, P. A. L. (2000). Direito Ambiental Brasileiro. 8a ed. Rio de Janeiro: Malheiros; MAGALHÃES, J. P. (1998). A evolução do direito ambiental no Brasil. São Paulo: Oliveira Mendes; MAHLER, C. F. & OLIVEIRA, F. J. P. (1997). Proposta de monitoramento ambiental para operação de aterros sanitários. I Congreso paraguayo de ingenieria geotécnica, Asunción, Paraguay, pp. 453-465; MAHLER, C. F. & ITURRI, E. A. Z. (1998). The finite element method applied to the study of solid waste landfills. Proceedings, third international congress on environmental geotechnics, Lisboa, Portugal, pp. 89-94; MAHLER. C. F. & LEITE, L. E. H. B. C. (1998). Metodologia de seleção de áreas para implantação de aterros sanitários. Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental. Vol. 3 – nº 3 – jul./set. e nº4 out./dez., pp. 155-160; 307 MANASSERO, M., VAN IMPE, W. F. & BOUAZZA. A. (1996). Waste disposal and conteinment. Proceedings, Second International Congress on Environmental Geotechnics, Osaka, Japan, v. 3, pp.1425-1474; MARIANO, M. O. H. & JUCÁ, S. F. T. (1998). Monitoramento de recalques no aterro de resíduos sólidos da Muribeca. Anais, Décimo-primeiro congresso brasileiro de mecânica dos solos e engenharia geotécnica, v. 3, pp. 1671-1678; MCBEAN, E. A., ROVERS, F. A., FARQUHAR, G. J., (1995). Solid waste landfill engineering and design. Prentice Hall PTR, USA; MILARÉ, E. (2000). Direito do Ambiente – Doutrina – Prática – Jurisprudência – Glossário. Rio de Janeiro: Ed. RT; MILES, L. D. (1961). Techniques of Value Analysis and engineering. New York: McGraw-Hill, p.267; MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (1983). Mapa exploratório de solos do projeto RADAMBRASIL. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Escala 1:250.000; MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIAS (1983). Mapa de avaliação do relevo do projeto RADAMBRASIL. Escala 1:250.000; MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA – DNAEE (1996). Inventário das estações pluviométricas. Brasília; MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (1999). Secretaria de Minas e Metalurgia e Companhia de Pesquisa de recursos Minerais. Precipitação média anual baseada no projeto Rio de Janeiro. Estudo de chuvas intensas no estado do Rio de Janeiro; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. <http://www.mma.gov.br> (11/09/01) MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO / SECRETARIAS DE POLÍTICAS URBANAS - MPO/SEPURB (1998), Propostas para atuação do governo federal na área de instrumentos econômicos ambientais para redução, a reutilização e a reciclagem do lixo urbano no Brasil. FINATEC; MOROSINO, J. J. (2001). Lixo hospitalar. <http://www.vidaconsultores.com.br/lixo.htm> (23/09/01) 308 MUKAI, T. (1992). Direito Ambiental Sistematizado. 1ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária; NAHAS, C. M., FRANÇOSO, N. S. T. & FOLLONI, R. (1996). Novas tecnologias para otimização de disposição de resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários e de inertes. Anais, Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental, Porto Alegre, pp. 222226; NUNES, C. M. (1999). Aterro sanitário Fazenda Aliança – Memorial descritivo. Projeto final de curso, Escola de Engenharia / Departamento de hidráulica e saneamento/UFRJ, Rio de Janeiro; OLIVEIRA, J. M. D. (1991). Meio ambiente – Tributação e vinculação de impostos. Revista de Direito Tributário, São Paulo, nº 56, p. 84; PEREIRA NETO, J. T. & LELIS, M. P. N. (1999). Variação da composição gravimétrica e potencial de reintegração ambiental dos resíduos sólidos urbanos por região fisiográfica do estado de Minas Gerais. 20º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Rio de Janeiro; PESSIN, N., SILVA, A. R (1999). Determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos da cidade de Caxias do Sul – RS. II Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental, pp. 437-422; PINTO, C. S. (2000). Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 aulas. São Paulo: Oficina de Textos, pp. 35-45; PLETSCH, M., CHARLWOOD, B. V., ARAÚJO, B. S. (2000). Fitoremediação de águas e solos poluídos. Revista de biotecnologia, nº 11, maio/junho; PREFEITURA DE PETRÓPOLIS (2001). Comunicação pessoal; PREFEITURA DE QUATIS (2001). Comunicação pessoal; PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA (2001). Nem tudo que é lixo é lixo: Noções de Saneamento Ambiental. Vitória; PROGRAMA DE INVESTIMENTOS PARA RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL (1999). Convênios entre a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), o Laboratório de Hidrologia da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro 309 (COPPE/UFRJ), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e interveniência da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores; <http://www.hidro.ufrj.br/pqarj.htm> (11/09/01) RABELLO FILHO, W./ BERNARDO, C. (1999). Direito Ambiental. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumens Juris; RELIS, P. & DOMINSKI, A. (1990). Beyond the crisis; integrated waste management. Santa Barbara: Gildea Resource Center/Community Environmental Council. p. 48; RICHARDSON, G. & REYNOLDS, D. (1991). Geosynthetics Consideration in a Landfill on Compressible Clays. Proc. Geosynthetics 91, Atlanta, GA (prepint). SANTOS, L. A.O. & PRESA, E. P. (1995). Compressibilidade de aterros sanitários controlados. Anais, Terceiro simpósio sobre barragens de rejeitos e disposição de resíduos – Regeo’ 95, Ouro Preto, v.II, pp. 577-591; SARDELLA, A. (1998). Curso completo de química, volume único. São Paulo, Ática; SCARLATO, F. C. & PONTIN, J. A. (1992). Do nicho ao lixo – ambiente, sociedade e educação. São Paulo: Atual; SCHALCH, V. (1992). Análise comparativa de dois aterros sanitários semelhantes e correlações dos parâmetros do processo de digestão anaeróbia. São Carlos. Tese de D. Sc., Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo; SIMÕES, G. F., CAMPOS, T. M. P., GALVÃO, T. C. B. & VARGAS JR., E. A. (1996). Considerações sobre o fenômeno de adensamento em aterros sanitários. Anais, Simpósio Internacional de Qualidade ambiental, Porto Alegre, pp. 131-135; SINGH, S. & MURPHY, B. (1990). Evaluation of the Stability of Sanitary Landfills. Geotechnics of Waste Fills. Theory and Practice. Philadelphia, ASTM STP. nº 1070; SOWERS, G. F.(1973). Settlement of waste disposal fills. Proceedings, Eighth International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering, Moscou, pp. 207-210 TEIXEIRA, E. N., CASTRO, V. L. F. L. (1997). Potencial de minimização de resíduos sólidos domésticos em termos de matéria orgânica e embalagens. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 19º Foz do Iguaçu: ABES, 14 a 19 set; 310 TCHOBANOGLOUS, G., THEISEN, H. & VIGIL, S. (1993). Integrated solid waste management. Engineering principles and management issues. McGraw-Hill Series in Water Resources and Environmental Engineering; UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTETION AGENCY (EPA/600/R-99/107) (2000). Introduction to phyremediation. EPA, Cincinnati – Ohio; VALENTINI, E. (1997). Environmental impact assessment in the site selection process: a case study. Proceedings, Sardinia 97, 6th International Landfill Symposium, Italy, pp. 77-88; VAN MEERTEN, J. J., SELLMEIJER, J. B., & PEREBOOM, D. (1995). Predictions of landfill settlements. Proceedings, Sardinia 95, 5th International Landfill Symposium, Italy, v. 2, pp. 823-831; VARGAS, M. (1981). Introdução à mecânica dos solos. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, pp. 245-247; VEGA ENGENHARIA AMBIENTAL (2001). Informativo. Ano VII, nº 29, agosto; WALL, D. K. & ZEISS, C. (1995). Municipal landfill biodegradation and settlement. Journal of Environmental Engineering, ASCE, v. 121, n.º 3, pp. 214-224; 311 312