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X, Y E Z: PORTFÓLIOS, DISCURSOS E SABERES SUBALTERNOS Lucas Álvaro Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, UNESP/Bauru [email protected] Profa. Dra. Larissa Pelúcio Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, UNESP/Bauru [email protected] 1. INTRODUÇÃO Esta pesquisa estuda as fotografias que compõem o portifólio X, Y e Z do artista Robert Mapplethorpe1 a partir da lente dos saberes subalternos (Teoria Queer e Estudos Pós-coloniais) em sua relação com os saberes-poderes correntes em sua época, incluindo aqueles que estruturam e orientam o universo das artes, a conferir à imagem seu poder estético-discursivo. Criado em 1978 para a mostra Contact na Miller Gallery junto com outras fotografias S&M2 as fotosgrafias que compõem o ‘Portifólio X’3 foram penduradas nas paredes com passe-partouts de seda, espelhos e plástico coloridos, intercalados com fotografias de flores e retratos, emoldurados no mesmo estilo decorativo (Morrisroe, 1996). Este apresenta o “período S&M” de Mapplethorpe e coloca em cena suas “intimidades”, desejos e práticas, principalmente, ao expor junto, seu Self portrait, 1978 (Figura 01): um álbum composto por fotografias sob placas forradas de tecido, “encadernado em couro preto” (Morrisroe, 1996, p. 243).O mesmo contou com a introdução do escritor Paul Shmidt, tradutor de Rimbaud para o inglês. Escreve o tradutor: “Numa era secular, estas imagens são tudo o que nos resta. Aqui estão com Espinhos, nossas Crucificações” (Ibidem). São flores e retratos, os novos personagens/temas dos seguintes portifólios: o ‘Y’ (também criado em 1978), um álbum com fotografias de flores e composições em natureza morta acompanhado por uma poesia de Patti Smith em folhas de cor rosada4. Além do ‘Z’, criado em 1 Robert Mapplethorpe (1946-1989), foi escultor, colagista e é considerado um dos artistas mais importantes da Arte Contemporânea. Nas décadas de 1970 e 1980, notabiliza-se, ao contribuir para o reconhecimento e significação da fotografia (e do fotógrafo) enquanto arte (e artista).Mais sobre o artista em: MORRISROE, P. (1996). Mapplethorpe: uma biografia. Tradução Flávia Villas Boas. Rio de. Janeiro: Record.; SMITH, P. Só garotos; tradução Alexandre B. de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 2 S & M, é a sigla utilizada para as práticas sadomasoquistas, relacionadas ao universo do sexo como lazer. 3 Portfifóilio X: Helmut, N.Y.C., 1978; Dick, N.Y.C., 1978; Lou, N.Y.C.,1978; Jim, Sausalito, N.Y.C., 1977; Patrice, N.Y.C., 1977; John, N.Y.C., 1978; Ken, N.Y.C., 1978; Joe, N.Y.C., 1978; Helmut and Brooks, N.Y.C., 1978; Scott, N.Y.C., 1977; Self-Portrait, N.Y.C., 1978; Cedric, N.Y.C., 1978; Jim and Tom, Sausalito, 1977. Ver portifólio em: <http://collectionsonline.lacma.org/mwebcgi/mweb.exe?request=record;id=217477;type=101>. Acesso em:12/Jul/2012. 4 Portifólio Y: Tulips, N.Y.C., 1977; Rose, N.Y.C., 1977; Irises, N.Y.C.,1977; Carnation, N.Y.C.,1978; Gardenia, N.Y.C., 1978; Tuberose, N.Y.C., 1977; Orchid, N.Y.C., 1977; Amaryllis, Paris, 1977; Lily, N.Y.C., 1977; Kale, N.Y.C., 1978; Chrysanthemum, N.Y.C., 1977; Baby's Breath, N.Y.C., 1978; Buds(Lily), N.Y.C., 1977. Ver portifólio em: <http://collectionsonline.lacma.org/mwebcgi/mweb.exe?request=record;id=217491;type=101>. Acesso em: 12/Jul/2012. VIII Encontro de Arte e Cultura - 15 a 19 de outubro de 2012 - FAAC - UNESP 1981, composto por retratos e nus artísticos de homens afroamericanos acompanhado por um ensaio de Edmund White5. As mesmas fotografias são encontradas também, no livro The Black Book lançado em 1986 de Robert Mapplethorpe com prefácio de Ntozake Shange. Em 1988, os três portifólios, como documenta Morrisroe (1996), foram expostos lado a lado numa mesma vitrine junto com a mostra de objetos e outras 150 fotografias de Mapplethorpe na exposição ‘O momento perfeito’, no Instituto de Arte Contemporânea, Filadélfia. A partir de então, os portifólios com apenas 13 fotografias cada, passaram a ser expostos juntos (Ibidem). Não sabemos, ao certo, se o objetivo de Mapplethorpe em cria-los, era o de criar e expor “objetos unicos” ou se justificariam também, por questões mercadológicas. No momento, podemos dizer que os portifólios representam as temáticas-chave de sua vida (vide biografia), os quais foram e serão postos em diálogos novamente em Outubro deste ano (2012) pelo Los Angeles County Museum of Art (LACMA)6. Consequentemente, colocamos como hipótese, que esta exposição levantará consigo novos debates conforme os anseios socioculturais destes ‘novos’ espectadores, pautados por novas questões estéticas, éticas e políticas, distintas, mas ao mesmo tempo, ainda referendadas pelos discursos e “polêmicas” que atravessaram a produção do artista nas décadas de 1980 e 90. Naquele momento as fotografias de Mapplethorpe ainda eram alvo de censura, como ilustra uma carta assinada por trinta e seis senadores norteamericanos, na qual seu trabalho era descrito como uma “arte escandalosa, repugnante e completamente imerecida de receber dinheiro” (Morrisroe, 1996, p. 402). Para essa pesquisa, foram selecionados três fotografias, “Ken, 1978; Orchid, 1977 e Dennis Speight, 1981” respectivamente dos portifólios X, Y e Z. As quais serão analisadas e pensadas a partir da lente dos saberes subalternos. Saberes que incluem os Estudos Culturais: a Teoria Queer e os estudos Pós Coloniais. Pretendemos assim, enfatizar a importância da leitura visual na vida contemporânea ao trazer discussões acerca dos discursos da imagem, pensando no poder de expressão e transformação que a Arte possibilita nas suas relações interdisciplinares. Afinal, como é uma Arte estudada/analisada sob a lente desses saberes? Porque o uso dessa lente nas fotografias de Mapplethorpe? Nestas constelações transversais inserimos a importância da imagem, principalmente dentro do universo da Arte, como um meio da “construção da subjetividade política”, como um articulardor do saber subalterno diante a cultura e a sociedade heteronormativa e eurocêntrica que as envolvem. Isto inclui, dentro de nossas hipóteses, as fotografias de Mapplethorpe como exemplos e representações discursivas desta crítica aos saberes hegêmonicos. 5 Portifólio Z: Alistair Butler, NYC, 1980; Philip Prioleau, NYC, 1979; Charles Edward Bowman, NYC, 1980; Dennis Speight, NYC, 1981; Dennis Speight, NYC, 1981; Untitled or Man in Polyester Suit, NYC, 1981; Leigh Lee, San Francisco, 1980; Bruce Thompson, NYC, 1980; Untitled, NYC, 1980; Untitled, NYC, 1979; Untitled, NYC, 1981; Daniel, NYC, 1981; Bob Love, NYC, 1981. Ver portifólio em: <http://collectionsonline.lacma.org/mwebcgi/mweb.exe?request=record;id=217505;type=101>. Acesso em: 12/Jul/2012. 6 Mais sobre a exposição em: <http://www.lacma.org/art/exhibition/robert-mapplethorpe-xyz>. Acesso em: 12/Jul/2012. VIII Encontro de Arte e Cultura - 15 a 19 de outubro de 2012 - FAAC - UNESP 3. DISCUSSÕES Entre as já citadas, nossas discussões são norteadas também, por questionamentos como “por que essa arte [as fotografias de Mapplethorpe] foi considerada “escandalosa e repugnante”? Por que não aceitaram determinadas estéticas/discursos presentes em suas fotografias ao ponto de abjeta-las? Por tanto, quais diálogos podemos intuir e, assim, discutir entre as fotografias que compõem os portifólios X, Y e Z? Quais discursos podem ser extraídos das leituras deste conjunto? Este trabalho encontra-se em andamento, logo, temos resultados parciais como o artigo publicado na Revista Artémis, 2012: Flores Carnais: Mapplethorpe e a sociopolítica da pornografia. 2. METODOLOGIA Iniciaremos com a análise específica de cada imagem, para, posteriormente, “intercruzálas”. Para tanto, faremos o uso das contribuições metodológicas de Javier Marzal Felici (2004) para realizarmos as leituras e análises desses objetos de estudo. “Proposta de modelo de análise da imagem fotográfica”, trata-se de uma proposta nova (contemporânea) de análise da fotografia, com ênfase em fotografia artística. Esta é uma pesquisa teórica, bibliográfica e qualitativa, pautada nos diálogos e análises estético-discursivas da imagem, implicamo-nos em um olhar que busca por em descoberto os binarismos rígidos que estruturam olhares canônicos, para tanto estamos pensando em efetuar análises desconstrutivas. Assim, buscamos escapar dos reducionismos diante das oposições binárias (branco/negro; masculino/feminino; heterossexualidade/homossexualidade), para empreender um processo de questionamento, de decomposição e de re-organização destas prédicas que estruturam o discurso pictórico/estético do artista em foco. AGRADECIMENTOS À FAPESP pela bolsa de iniciação científica. E ao grupo de estudos ‘Transgressões – Gêneros, Sexualidade, Corpos e Mídias Contemporâneas’ pelos diálogos e contribuições possíveis para o desenvolvimento dessa pesquisa. REFERÊNCIAS Felici, J. M. Propuesta de modelo de análisis de la imagen fotográfica - descripción de conceptos contemplados. Disponível em: <http://www.analisisfotografia.uji.es/root2/meto.html>. Acesso em: 13/maio/2012. Foucault, M. História da Sexualidade I: A vontade de saber. São Paulo: Graal, 2005. Miskolci, R. A Teoria Queer e a Sociologia: o desafio de uma analítica da normalização. Sociologias, Porto Alegre, ano 11, nº 21, jan./jun. 2009, p. 150-182. Young, R. J. C. Qué es la crítica poscolonial? 18 Jan 2006. <http://robertjcyoung.com/críticaposcolonial.pdf>. Acesso em: 15/Ago/2011 Disponível em: