observatório do empreendedorismo

Transcrição

observatório do empreendedorismo
OBSERVATÓRIO DO
EMPREENDEDORISMO
_
NOVEMBRO, 2013
Realização:
Oferecimento:
Apoio:
OBSERVATÓRIO DO
EMPREENDEDORISMO
_
NOVEMBRO, 2013
Autores
João Melhado
Pamella Gonçalves
Agradecimentos especiais
Gostaríamos de agradecer especialmente à Nicolette
VanExel, Cris Brito e Diego Dzodan, da SAP;
Fiorina Mugione e Fulvia Farinelli, da UNCTAD;
Rhett Morris e Michael Goodwin, da Endeavor Global;
Juliano Seabra, Clarisse Monteiro, Pui Shen Yoong,
Amisha Miller, Sara Pais, Lucas Macedo,
Maisa Diniz, Horacio Villen Neto e todo o time da
Endeavor Brasil; Caio Bonatto, Darci Schneid,
Edivan Costa, Luiz Eduardo Rezende, Ivan Barchese,
Ivan Oliveira, Joaquim Caracas, Rafael Duton,
Valério Dornelles e todos os Empreendedores
Endeavor; Alexandre Ribenboin, Antonio Vellasco,
Donato Ramos, Eduardo Rath Fingerl, Gilberto Mifano,
José Carlos Wahle, Marcelo Nakagawa,
Marco Perlman, Marcos Vinícius de Souza,
Ronald Dauscha, Vinicius Licks e todos os mentores
da Endeavor Brasil.
OBSERVATÓRIO DO
EMPREENDEDORISMO
_
SUMÁRIO
1.
Carta de Intenções – Endeavor Brasil
4
2.
Sumário Executivo
5
3.
Estrutura do Relatório
7
4. Analisando o ambiente do empreendedorismo
9
4.1 10
4.1.1. O sistema tributário
12
4.1.2. Abertura de empresas
16
4.1.3. Legislação trabalhista
18
4.1.4. Cumprimento e aplicação de contratos
19
Capital Humano
20
4.2.1. A mão de obra técnica e qualificada
21
4.2.2. A formação de executivos
23
4.2.3. A capacitação para empreender
24
P&D e Tecnologia
27
4.3.1. O baixo nível de inovação nas empresas
28
4.3.2. As patentes e a segurança jurídica para inovar
31
4.4.
Acesso a Capital
32
4.5.
Cultura Empreendedora
36
4.6.
Mercado
38
5.
Continuando o Diálogo
40
6.
Realização
41
4.2.
4.3.
Ambiente Regulatório
4
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
1. CARTA
DE INTENÇÕES
_
ENDEAVOR BRASIL
Acreditamos que o empreendedorismo
pode transformar o país e o mundo. Por
isso, há 13 anos, a Endeavor desembarcou no Brasil com a missão de encontrar
empreendedores que sonham grande e
promover seus exemplos para toda a sociedade.
Falar de empreendedorismo, naquela
época, era missão impossível: a palavra
não existia nem no dicionário e nem na
agenda das empresas, além de ser raro
encontrar um empreendedor preparado
para construir um negócio de alto crescimento.
Ao longo da última década, a Endeavor, com o auxílio de uma rede de grandes
mentores e parceiros, apoiou empreendedores espalhados pelo Brasil, que movimentam anualmente cerca de 3 bilhões
de reais. Trabalhamos para disseminar
suas histórias inspiradoras e seus aprendizados para mais de 1,5 milhão de pessoas em nosso portal de conteúdo. Com
a Semana Global do Empreendedorismo,
construímos o principal case mundial de
celebração do espírito empreendedor e
transformamos o Rio de Janeiro na capital global do empreendedorismo por cinco
dias, como anfitriões do Congresso Global
do Empreendedorismo. E ficamos felizes
em poder dizer que contribuímos para o
início da mudança de cenário, conforme
pode ser visto neste relatório.
Nosso desafio, agora, é olhar para
frente e realizar um sonho ainda maior:
triplicar o número de empresas de alto
impacto no país. Hoje, elas são apenas
1,5% do total e são responsáveis pela criação de metade dos novos empregos no
Brasil. Para chegar lá, precisamos revolucionar o ambiente de negócios, para que
empreendedores não encontrem barreiras
para o crescimento das suas empresas e
consigam fazê-las prosperar.
Foi por isso que a Endeavor, em parceria com a SAP, resolveu lançar o Observatório do Empreendedorismo, uma
iniciativa de reunir dados, conhecimento
e melhores práticas de empreendedorismo no Brasil. Com isso, queremos auxiliar
aqueles que estudam ou se interessam
pelo tema, assim como organizações associadas ao fomento de empreendedorismo, a entender melhor os desafios que se
apresentam e divulgar os casos de sucesso que estão melhorando o ecossistema.
As iniciativas divulgadas ajudam a realizar esta missão, mas caso você conheça
outras ações que estejam transformando
o país, escreva para pesquisa@endeavor.
org.br e teremos prazer em entrar em
contato para conhecer mais. Acreditamos
na importância de compartilhar os casos
de sucesso, reforçando o nosso compromisso com o desenvolvimento do empreendedorismo no Brasil.
5
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
2. SUMÁRIO
EXECUTIVO
Entre 2008 e 2011, 1,5% das empresas brasileiras criaram 48,5% dos novos
postos de trabalho e geraram, em média,
uma produção dez vezes superior à média
das empresas brasileiras (IBGE/Endeavor
2013). Mas como o Brasil pode contribuir
para aumentar a representatividade e o
impacto dessas empresas?
Este relatório analisa alguns dos indicadores apresentados no Observatório
do Empreendedorismo, uma iniciativa da
Endeavor Brasil em parceria com a SAP, e
se propõe a identificar alguns dos principais desafios do ambiente empreendedor
brasileiro, trazendo casos de melhores
práticas que podem auxiliar na busca de
soluções para esses desafios.
MUITA VONTADE,
POUCA CAPACITAÇÃO
A cultura empreendedora brasileira é,
hoje, referência mundial. Entre empreender ou ser funcionário de terceiros, 76%
dos brasileiros prefeririam a primeira
opção – a segunda maior taxa do mundo
(Endeavor, 2013). Ainda assim, apenas 9%
dos brasileiros adultos receberam algum
tipo de capacitação sobre como abrir seu
negócio, taxa muito menor do que a encontrada em outros países da América
Latina (no Chile, essa taxa é de 43%). Há,
portanto, uma grande oportunidade para o
país no que diz respeito à capacitação de
empreendedores.
AMBIENTE REGULATÓRIO: O MAIOR
EMPECILHO PARA O CRESCIMENTO
DAS EMPRESAS BRASILEIRAS
Os indicadores associados ao ambien-
te regulatório são os que apresentam os
piores resultados para o Brasil. Os executivos brasileiros têm uma péssima percepção sobre a carga da regulamentação
governamental, e os dados revelam alguns dos motivos para tal: os empreendedores levam, em média, 4 meses para
abrir uma empresa; depois, ainda gastam
2.600 horas (ou 3,6 meses) por ano para
declarar e pagar os impostos, de longe a taxa mais alta do mundo. As regras
também sofrem alterações constantes,
tornando o sistema tributário complexo:
são mais de mil novas normas tributárias
criadas todos os meses, desde 1988. E,
apesar de todas as alterações, os empresários continuam achando algumas
regras rígidas para o dinamismo exigido
pelo mercado. Em especial, as regulações do mercado de trabalho receberam
uma das piores avaliações dos executivos
em todo mundo, com nota igual a 4,5 (o
máximo é 10).
FALTA GENTE BOA PARA SUSTENTAR
O CRESCIMENTO DAS EMPRESAS
Há um grande déficit a suprir em relação à educação nacional: hoje, só 17,8% da
população jovem (entre 18 e 24 anos) está
matriculada nas universidades – a meta
do Plano Nacional da Educação é alcançar
33% até 2020. Empreendedores também
precisam de gestores e executivos melhores. Hoje, o Brasil tem apenas uma instituição de ensino superior listada no ranking
dos 100 melhores cursos de MBA do mundo, criado pelo jornal britânico Financial Times, enquanto a China tem 7 e os Estados
Unidos, 49.
6
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
AS EMPRESAS
DE ALTO IMPACTO
(QUE CRESCEM
AO MENOS 20%
AO ANO) SÃO
APENAS1,5%
DAS EMPRESAS
EMPREGADORAS
BRASILEIRAS
MAS GERAM
QUASE 50%
DOS NOVOS
EMPREGOS
NO PAÍS
O BAIXO NÍVEL DE INOVAÇÃO
NACIONAL E O DISTANCIAMENTO
ENTRE EMPRESAS E ACADEMIA
Os empreendedores brasileiros têm a
pior taxa de inovação empresarial no mundo (11%), ao lado de Trinidad e Tobago e
Bangladesh. Há oportunidades para aproximar as universidades às empresas, aumentando a disponibilidade de cientistas
e pesquisadores, ainda considerada baixa
pelos empreendedores. Aumentar a proteção à propriedade intelectual e simplificar o
processo de obtenção de patentes também
podem contribuir: a proteção jurídica é avaliada por executivos com uma nota igual a 3,8
(o máximo é 10) e, hoje, o empreendedor leva,
em média, 5,4 anos para obter a concessão
de uma patente.
A DIFICULDADE DE ACESSO AO
CRÉDITO CONTINUA SENDO UM
GRANDE GARGALO
Ainda que conte com uma boa disponibilidade, o acesso ao crédito por parte dos
E SÃO
RESPONSÁVEIS
POR MAIS DE
10% DO VALOR
ADICIONADO
BRUTO (OU
R$200 BILHÕES)
empreendedores brasileiros ainda esbarra
em problemas como as altas taxas de juros, a exigência de garantias reais e o tempo
que, em geral, leva-se para acessar o capital. Como consequência, executivos classificaram a facilidade de acesso a empréstimos
em um nível igual a 2,9 (o máximo é 7). Estados Unidos e Chile, mesmo sofrendo um
impacto maior que o Brasil em função da
crise econômica mundial, ainda apresentam
condições melhores.
O CRESCIMENTO ECONÔMICO
E OS DESAFIOS ESTRUTURAIS
NO LONGO PRAZO
O Brasil tem o sétimo maior mercado doméstico em todo o mundo e, recentemente,
cerca de 40 milhões de brasileiros atingiram
a classe média, movimentando, através do
consumo, cerca de um trilhão de reais. No
entanto, a qualidade geral da infraestrutura
recebeu nota igual a 3,4 (o máximo é 7), o
que representa um risco para o desenvolvimento nacional no médio e longo prazos.
7
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
3. ESTRUTURA
DO RELATÓRIO
Como parte do Observatório do Empreendedorismo1. , este relatório analisa mais
de 40 indicadores e reúne alguns exemplos
de melhores práticas, nacionais e internacionais, a fim de auxiliar na criação de políticas públicas direcionadas ao empreendedorismo de alto crescimento.
Os dados aqui contidos provêm de fontes como o Banco Mundial, o Global Entrepreneurship Monitor, o Fórum Econômico
Mundial e a Organização das Nações Unidas
(ONU), entre outros, e estão organizados em
seis principais frentes: ambiente regulatório, mercado, acesso a capital, P&D e tecnologia, capital humano e cultura.
Esta estrutura tem como base o Programa de Indicadores de Empreendedorismo
(EIP, na sigla em inglês), da Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Eco-
nômico (OCDE), que, como mostra a figura
abaixo, sugere seis pilares determinantes,
que contribuiriam para a formação de um
país empreendedor.
Para efeitos de comparação, foram selecionados nove países com níveis similares de desenvolvimento ao Brasil: Rússia,
Índia, China e África do Sul (representando
os BRICS), somados a Chile, Argentina e
México (da América Latina), além de Turquia e Estados Unidos – este por ser uma
referência quando o assunto é empreendedorismo.
Os casos de melhores práticas internacionais apresentados no relatório foram criados e cedidos pela Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(UNCTAD, na sigla em inglês). Os casos brasileiros foram criados pela Endeavor Brasil.
DETERMINANTES »
Ambiente
Regulatório
Mercado
Acesso
a capital
P&D
e Tecnologia
Capital
Humano
Cultura
Acesse em:
http://migre.me/gIMC8
1.
PERFORMANCE »
IMPACTO
Criação de
empresas
Geração
de empregos
Barreiras
administrativas
de entrada
Leis antitruste
Financiamento
por dívida
Investimento
em P&D
Treinamento e
capacitação de
empreendedores
Sensibilidade
ao risco da
população
Crescimento
de negócios
Desenvolvimento
econômico
Barreiras
administrativas
de crescimento
Competição do
mercado
Investimento
-anjo
Relação
Universidades
-Empresas
Educação
empreendedora
Atitude
empreendedora
Geração de riqueza
Redução
da pobreza
Regulações
de falência
Acesso ao
mercado
interno
Acesso a
Venture Capital
Cooperação
entre firmas
Capacitação de
executivos
Intenção de
empreender
Regulações do
mercado de
trabalho
Nível de
envolvimento
público
Mercado de
capitais
Difusão
tecnológica
Empreendedorismo nos
ensinos médio
e fundamental
Atenção
da mídia
Estruturas
legais
Impostos
e taxas
Sistema de
patentes
Formalização do setor
informal
8
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
AMBIENTE REGULATÓRIO
Revela como a burocracia,
as leis e o governo afetam
os negócios. São levados
em conta, por exemplo,
o processo (tempo,
custo etc.) de abertura e
fechamento de negócios
em um país e os órgãos e
as legislações envolvidas.
MERCADO
Corresponde às
características
macroeconômicas de um
país. Indica o nível de
confiança internacional,
as características
do comércio interno e
externo, a qualidade da
infraestrutura,
entre outros.
P&D E TECNOLOGIA
Indica características da
exploração de novos mercados
– por meio do apoio à pesquisa
e ao desenvolvimento em
empresas, colaboração e
parcerias com universidades
e pesquisadores – e do uso
de tecnologias.
DETERMINANTES
DO AMBIENTE
EMPREENDEDOR
CULTURA
Revela a percepção
sobre empreendedorismo
da população:
se e como o
empreendedorismo
é visto como oportunidade
de carreira, os riscos
associados e a intenção
de empreender.
CAPITAL HUMANO
Representa a capacitação
de empreendedores
e funcionários,
o acesso à educação
e a qualificação da mão
de obra.
ACESSO A CAPITAL
Refere-se aos aspectos
relacionados ao crédito
no ecossistema do
empreendedorismo, como
investidores-anjo, venture
capital, private equity,
bancos etc. Considera
também a proteção
a investidores e o acesso
a capital estrangeiro.
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4. ANALISANDO O AMBIENTE
DO EMPREENDEDORISMO
9
10
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.1
AMBIENTE REGULATÓRIO
O ambiente regulatório, que revela
como a burocracia e o governo afetam o
empreendedorismo, se destaca como um
dos principais gargalos para o desenvolvimento de negócios no Brasil. O indicador
sobre a carga da regulamentação governamental, do Relatório de Competitividade
Global2., produzido pelo Fórum Econômico Mundial, revela que o Brasil é um país
onde a percepção do peso da burocracia é
extremamente alta. A partir de entrevistas
com executivos, este indicador classifica
a opinião deles sobre o quão oneroso é
cumprir os requisitos legais (autorizações,
regulações, licenças etc.) exigidos pelo
governo de um país. O Brasil apresenta
o segundo pior índice em todo o mundo,
tendo recebido nota 2,0 em 2013 (em uma
escala que varia de 1 a 7), ficando à frente
apenas da Venezuela.
Além dos problemas com o ambiente
regulatório de modo geral, no Brasil se encontra um alto nível de descrença nos governantes e na eficiência do setor público.
É o que evidencia, também, o Fórum Econômico Mundial: “no Brasil, (...) a eficiência do Governo (124º lugar em um ranking
com 148 países), a percepção da corrupção
(114º) e baixa confiança nos políticos (136º)
persistem como fonte de preocupação.”
O BRASIL APRESENTA O SEGUNDO
PIOR ÍNDICE DE PERCEPÇÃO SOBRE
O PESO DA BUROCRACIA, SOMENTE
À FRENTE DA VENEZUELA.
_
CARGA DA REGULAMENTAÇÃO GOVERNAMENTAL
fonte: Fórum Econômico mundial, 2013
(max)7
média mundial 3.5
6
5
4.1
4.3
4
3
2
3.4
2.9
3.1
3.5
3
2.9
2.3
2
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1
Fórum Econômico
Mundial (FEM), 2013
– Global Competitiveness Report
2.
11
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
Entre os fatores que contribuem para
estas percepções, abordaremos a seguir
quatro principais aspectos: a complexidade
do sistema tributário brasileiro, a dificuldade em se obter e renovar licenças, a falta
de flexibilidade das leis trabalhistas e um
sistema jurídico pouco eficiente.
Ademais, cabe ressaltar também que a
falta de clareza e transparência nas ações
do Governo pode aumentar a percepção sobre o peso burocrático existente em um país
e, por isso, é recomendável que se criem
programas que facilitem a comunicação e
aumentem a compreensão dos processos e
leis relacionadas ao ambiente de negócios.
Pensando nisso, a UNCTAD criou uma ferramenta (exposta no quadro a seguir) que
pode ser adotada por governos para facilitar
a comunicação, aumentar a transparência e
esclarecer procedimentos legais. Batizada
de E-Regulation System, já foi implementada em 12 países e poderia, da mesma forma, ser aplicada no Brasil.
MELHORES PRÁTICAS:
SISTEMA DE E-REGULAÇÃO (E-REGULATION SYSTEM) – UNCTAD
O Sistema de E-regulação
(E-regulation System, em
inglês), iniciado e lançado
pela Conferência das Nações
Unidas para Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD,
na sigla em inglês), em 2007,
é um sistema governamental
baseado na internet para ajudar
países em desenvolvimento ou
em transição para facilitar a
transparência, simplificando
e automatizando regras e
procedimentos relacionados
à abertura e operação de
empresas.
O sistema permite a governos
apresentar todas as etapas
online, de maneira detalhada e
precisa, aumentando assim a
eficiência e a rapidez. Processos
como os necessários para a
abertura de empresas são
detalhados passo a passo
e contam, também, com a
perspectiva dos usuários. Para
cada etapa dos processos, o
sistema apresenta o resultado
final esperado, quem são os
responsáveis legais, quais os
formulários e documentos
necessários, os custos envolvidos
(se existentes), o tempo mínimo,
as justificações legais da etapa e
os recursos disponíveis em caso
de pedido negado. Ao final de
cada etapa, as informações são
certificadas pelos responsáveis.
O processo de implementação do
Sistema de E-regulação tem duas
fases. Na primeira, feita online,
são coletadas, organizadas,
verificadas e apresentadas
as informações sobre como
registrar uma empresa, adquirir
um imóvel e outros assuntos
administrativos. Durante essa
fase, os consultores da UNCTAD,
em cooperação com os parceiros
locais, são responsáveis por
todas as atividades.
A segunda fase capacita os
governos locais a administrar o
sistema autonomamente, além
de atualizar, expandir e promover
a informação entre os negócios
locais, usando o sistema como
uma ferramenta de simplificação
de processos.
O Sistema de E-Regulação
é implantado pela UNCTAD
conforme interesse e demanda
dos países. Desde a sua
concepção, o programa já ajudou
a preparar um guia com o passo
a passo de processos em 12
países e em uma cidade (Benin,
Burkina Faso, Cabo Verde,
Camarões, Colômbia, Comores,
Costa Rica, Guatemala, Mali,
Nicarágua, Vietnã, Ruanda e
Moscou).
_
Mais informações
estão disponíveis em:
www.eregulations.org.
Caso de melhores
práticas criado em parceria
com a UNCTAD:
http://unctad.org/en/Pages/DIAE/
Entrepreneurship/Inventory.aspx
12
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.1.1
O SISTEMA TRIBUTÁRIO
O sistema de cobrança de impostos é
complexo e oneroso para o empreendedor.
De acordo com o Doing Business 20133.,
uma empresa brasileira média gasta 2.600
horas (ou 108 dias) por ano para declarar e
pagar impostos, de longe a taxa mais alta
do mundo. Para efeito de comparação, a
média da América Latina é 367 horas por
ano (sete vezes menos que o Brasil) e, entre os países membros da OCDE, 176 horas por ano (14 vezes menos).
Cerca de metade do tempo dispendido
no Brasil (1.374 horas) é de responsabilidade apenas do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Prestação de Serviços
(ICMS). O restante do tempo é gasto no pagamento para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS, 490 horas) e o Imposto de
Renda – Pessoa Jurídica (IRPJ, 736 horas).
Por ser um imposto estadual, o ICMS tem,
em cada um dos 26 estados e mais o Distrito
Federal, diferentes alíquotas, normas, protocolos etc. Ou seja, empresas com atuação
nacional acabam investindo tempo e dinheiro consideráveis em escritórios ou áreas
contábeis internas apenas para compreender as diferenças e, muitas vezes, negociar
o que é realmente devido em cada estado.
O Doing Business,
um estudo do Banco
Mundial, tem dados
relativos à cidade de
São Paulo, que é a
base de referência
para todo o Brasil.
3.
UMA EMPRESA BRASILEIRA MÉDIA
GASTA 2.600 HORAS (OU 108 DIAS)
POR ANO PARA DECLARAR
E PAGAR IMPOSTOS, DE LONGE
A TAXA MAIS ALTA DO MUNDO
13
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
_
TEMPO PARA PAGAR IMPOSTOS (HORAS)
fonte: Banco Mundial, 2013
3000
2600
média mundial 248h
2500
2000
1500
1000
500
200
405
318
291
175
334
243
177
226
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Ainda, as constantes mudanças na legislação tributária nacional contribuem
para a complexidade: desde 1988, data da
última Constituição Federal, foram criadas
mais de 300.000 novas normas tributárias,
de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação4.. Com tantas novas
normas sendo criadas todos os dias, muitos empreendedores dizem que, ainda que
queiram cumprir todas as regras, muitas
vezes nem sabem como o fazer.
A simplificação proposta pelo regime
tributário batizado de Simples Nacional
(exposto no quadro a seguir) é um bom
exemplo de iniciativa criada pelo Governo
para facilitar o cumprimento dos processos
por parte do empreendedor e empresário,
ainda que com ressalvas.
Apesar da unificação permitida, uma das
principais críticas ao Simples é que, por
ser focado em micro e pequenas empresas,
muitas vezes acaba desencorajando o crescimento das empresas para além do teto do
sistema, de R$ 3.600.000,00, pois aquelas
que ultrapassam o teto não possuem um
mecanismo de saída gradual e passam a
ser tributadas como se fossem empresas de
grande porte.
https://www.ibpt.org.
br/noticia/1266/Normastributarias-em-vigorequivalem-a-livro-de-112milhoes-de-paginas
4.
DESDE 1988, FORAM CRIADAS MAIS DE
300.000 NOVAS NORMAS TRIBUTÁRIAS
A VISÃO DO EMPREENDEDOR
“O sistema tributário brasileiro é
tão complexo, travado e arcaico
que, além da perda óbvia de
competitividade que acarreta
à nossa indústria, faz com que
negócios inovadores andem por um
caminho nebuloso o tempo todo. O
cenário chega a ser ridículo. Você
inventa um produto novo e ninguém
sabe te dizer qual é o imposto a ser
pago sobre o mesmo. Você inventa
um modelo de negócios novo, opera
como acha correto, pagando todos
os impostos, e de repente vem
alguém e “bum”, te autua e te deixa
com um baita passivo tributário
por uma coisa que ninguém sabe
explicar o porquê. Na tentativa
de ser objetivo, o governo acabou
tornando o sistema completamente
subjetivo e ineficiente. Sem dúvida
nenhuma, é um dos grandes,
gigantes, gargalos do nosso país.”
Caio Bonatto, sócio
e co-fundador da TecVerde
14
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
MELHORES PRÁTICAS:
O SIMPLES NACIONAL
O Simples Nacional (também
conhecido como Supersimples),
implantado pelo Governo Federal
em Julho de 2007, é um regime
de tributação diferenciado,
simplificado e favorecido,
que consolida, em um único
recolhimento, diversos tributos
federais (IRPJ, CSL, PIS, COFINS,
IPI e contribuição previdenciária
patronal), estaduais (ICMS) e
municipais (ISS), focado em
microempresas e empresas de
pequeno porte. O sistema foi
criado como uma alternativa
para acabar com a informalidade
do mercado brasileiro, através
de uma redução significativa
da carga tributária e de uma
simplificação no recolhimento
dos tributos e nas práticas
contábeis dessas empresas.
Considera-se uma microempresa
a empresa cuja receita bruta
anual é de até R$ 360 mil anuais
e empresa de pequeno porte
aquelas que possuem receita
bruta anual de até R$ 3,6
milhões.
Em 2007, cerca de 1,3 milhão
de micro e pequenas empresas
aderiram ao Simples. Em
Junho de 2012, o sistema já
contava com 6,4 milhões de
micro e pequenos negócios,
incluindo mais de 2,5 milhões de
empreendedores individuais e
trabalhadores por conta própria,
que ganham no máximo R$ 60
mil ao ano. Em Setembro de
2013, o número de inscritos no
Simples Nacional aumentou para
7,7 milhões.
Em entrevista para o jornal Folha de S.
Paulo5., a economista argentina Ana Corbacho, autora de um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) focado
em tributação na América Latina6., analisa
o Simples Nacional brasileiro: “há um impacto na produtividade, porque incentiva
o microempresário a não crescer, quando
sabemos que empresas maiores têm economia de escala, podem compartilhar custos de contabilidade, recursos humanos,
acesso ao crédito, que essas empresas minúsculas não obtêm”.
Outros países também têm buscado alternativas no sentido de reduzir a comple-
Desde a sua criação, o sistema
especial de tributação para
micro e pequenos negócios já
arrecadou mais de R$ 151,7
bilhões. O balanço da Receita
Federal mostra que é crescente
a arrecadação com o Simples
Nacional: no primeiro ano de
vigência, foram R$ 8,3 bilhões.
Em 2008, o sistema recolheu
R$ 24,1 bilhões, passando para
R$ 26,8 bilhões, em 2009.
No ano seguinte, o valor saltou
para mais de R$ 35 bilhões e
para R$ 42,2 bilhões, em 2011.
Do total arrecadado no período,
R$ 113,2 bilhões ficaram com
a União. Aos estados foram
repassados R$ 27,4 bilhões
e aos municípios, R$ 11 bilhões.
xidade dos impostos: a China, por exemplo,
aprovou a reforma da lei sobre o imposto de
renda corporativo (Corporate Income Law,
em inglês), entre outros programas que diminuem o ônus estatal sobre as empresas.
Instituída no início de 2008, a reforma da lei
sobre o imposto de renda corporativo reduziu a tarifa base para 25% – ante 33% – e
unificou os tributos para empresas locais
e estrangeiras. O impacto da mudança foi
significativo: além da melhora na percepção sobre a carga da regulamentação governamental, o tempo para pagar impostos
na China passou de 832 horas, em 2008,
para 318 horas, em 2013.
Entrevista para Folha
de S. Paulo: http://migre.
me/gLYBr
5.
Recaudar no basta, BID,
2013: http://migre.me/
gNb9v
6.
15
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
MELHORES PRÁTICAS:
PROMULGAÇÃO DA LEI CHINESA SOBRE IMPOSTO DE RENDA
CORPORATIVO (CORPORATE INCOME LAW)
Em 1980, a China implantou suas
primeiras zonas econômicas
especiais, áreas com práticas de
livre comércio que contrastavam
com o restante do território
chinês, marcado pelo sistema
socialista então vigente. Com
isso, entre 1980 e 2006, cerca
de 700 bilhões de dólares foram
investidos na China por empresas
estrangeiras, dos quais 180
bilhões somente nos três últimos
anos do período. Esse nível
de investimento era apoiado
pelo fato, principalmente, de
empresas chinesas pagarem em
média 33% de seu lucro como
imposto de renda, enquanto
empresas estrangeiras, apenas
15%. A política macroeconômica
do governo chinês, de apoiar
o crescimento econômico
baseando-se em Investimento
Estrangeiro Direto (IED), vinha
sendo eficaz.
Em meados de 2007, o
Parlamento Chinês aprovou a lei
do imposto de renda corporativo
quase por unanimidade. Tal
lei demonstrou o intento do
governo chinês de modificar
a base de seu crescimento
econômico, que nas últimas
décadas baseara-se no IED para
fomentar sua indústria. Entre
outras ações, a promulgação
desta lei tão aguardada sinalizou
a priorização do consumo da
população chinesa como fonte
de crescimento e a procura por
nivelar as condições tributárias
entre empresas chinesas e
estrangeiras.
Na prática, esta lei teve diversos
benefícios para o ambiente de
negócios chinês. Ela previa
que tanto empresas chinesas
quanto internacionais seriam
taxadas em 25% de sua renda,
sem distinção. Antes disso, a
vantagem competitiva era tanta
que, por muitas vezes, empresas
chinesas se faziam passar por
estrangeiras. Além disso, a lei
simplificava o pagamento de
impostos, ao passo que unificava
métodos contábeis e critérios
para isenções e deduções fiscais
(por exemplo, o tempo de vida útil
a ser considerado na depreciação
de diferentes classes de ativos).
Aprovada em março de 2007, a lei
entrou em vigor apenas no início
do ano seguinte.
Além da simplificação das regras
para o pagamento do imposto de
renda corporativo, uma maior
parte do empresariado adotou o
preenchimento de impostos via
internet, o que também ajudou
na redução das horas gastas
para o pagamento de impostos.
Em 2008, 832 horas eram gastas
para o pagamento de impostos,
que somavam 81,2% do lucro
médio das empresas. Já em
2011, com a plena adoção da
nova lei, 358 horas eram gastas
para o pagamento de 63,5% do
lucro médio em impostos.
Tornar o pagamento de
impostos uma barreira menor
ao empresariado continua sendo
uma questão que o governo
chinês busca solucionar. A partir
de agosto de 2013, empresas
com faturamento anual menor
que US$ 39 mil serão isentas
do pagamento de impostos
sobre a operação e sobre o valor
adicionado, o que deverá apoiar
sua sobrevivência e crescimento.
16
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.1.2
ABERTURA DE EMPRESAS
As dificuldades para iniciar (e também fechar) empresas no Brasil, reclamações constantes de muitos empreendedores, também
são notórias. Os processos lentos e morosos
de abertura de empresas não só afastam potenciais empreendedores e contribuem para
uma maior informalidade, mas também prejudicam todo o mercado, afetando sua imagem e gerando uma concorrência desleal:
“empresas não registradas muitas vezes têm
dificuldades de acesso a financiamento e a
serviços básicos de infraestrutura (como eletricidade) e operam em um ambiente de insegurança, onde contratos nem sempre podem
ser assegurados” (UNCTAD, 2012).
De acordo com o relatório Doing Business 20137., do Banco Mundial, o Brasil é o
4º pior país, entre 189 estudados, em relação ao tempo necessário para abrir uma
empresa: em 2013, foram necessários 107,5
dias (quase 4 meses) para cadastrar um negócio, prazo inferior somente ao encontrado
na Guiné Equatorial, Venezuela e Suriname.
O processo que mais tempo toma de futuros
empreendedores é a emissão do Auto de Licença de Funcionamento, necessário para
toda abertura de empresa e que requer, em
média, 90 dias para ser obtido – ou seja, mais
75% do tempo total. Independente do tamanho ou ramo de atuação, toda nova empresa (exceto aquelas em que o empreendedor
trabalha em sua residência, com, no máximo,
um funcionário ou auxiliar) deve obter esse
documento, emitido junto à prefeitura municipal e que garante a segurança e permite o
uso do espaço físico da nova empresa. Como
é uma regra absoluta, a prefeitura deve enviar fiscais (em alguns casos, a responsabilidade é do corpo de bombeiros) para realizar
as vistorias, algo não tão simples para grandes cidades, como São Paulo.
Entre os dez países analisados neste relatório, vale ressaltar a notável evolução do México: em 2006, eram necessários 58 dias para
abrir uma empresa, e, em 2013, foram necessários 6 dias – igual ao encontrado nos países
mais avançados nesse quesito, como é o caso
de Estados Unidos e Turquia.
O relatório Doing Business en México 20128.
apresenta duas principais ações promovidas
pelo país latino: no nível municipal e estadual, a criação do Sistema de Abertura Rápida
de Empresas (SARE), em 2003; e, principalmente, a fundação, em 2010, do portal online
http://www.tuempresa.gob.mx/, que reúne
virtualmente todos os procedimentos federais
necessários para se abrir uma empresa.
As medidas adotadas pelo México estão
em linha com as recomendações da UNCTAD,
que priorizou três ações iniciais para a redução no tempo de abertura de empresas: “(1)
revisão e cortes em relação ao número de
licenças, procedimentos e taxas administrativas, (2) criação de espaços onde seja possível
_
TEMPO PARA ABRIR UM NEGÓCIO (DIAS)
fonte: Banco Mundial, 2013
120
107.5
média mundial 24.8
100
80
60
40
20
33
25
19
27
5.5
6
5
15
6
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Br
as
il
0
O Doing Business,
um estudo do Banco
Mundial, tem dados
relativos à cidade
de São Paulo, que
é a base de referência
para todo o Brasil.
7.
Para ler o relatório
completo, em espanhol,
acesse: http://espanol.
doingbusiness.org/
reports/subnationalreports/mexico
8.
17
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
152
160
140
realizar, no mesmo local, todos os processos
120
para abertura de empresas (as chamadas
100
“janelas de serviços” ou “one-stop-shops”)
e (3) a introdução de mecanismos 80
virtuais,58
baseados em tecnologias para registro
de
60
empresas e elaboração de relatórios”. Nes40
se sentido, no Brasil, também há casos interessantes de políticas públicas focadas
em facilitar a abertura de empresas, como
o criado em São José dos Campos, que reduziu o tempo médio para o equivalente ao
encontrado em países-referência.
107.5
6
20
_
0
TEMPO PARA PAGAR IMPOSTOS (DIAS) COMPARAÇÃO COM MÉXICO
2006
2007
fonte: Banco Mundial
160
2008
2009
2010
Brasil
152
2011
2012
México
140
107.5
120
100
80
60
58
40
6
20
0
2006
2007
2008
2009
Brasil
2010
2011
2012
2013
México
MELHORES PRÁTICAS:
A SALA DO EMPREENDEDOR – SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, BRASIL
Criado em 1998, o projeto Sala do
Empreendedor tem como principal
objetivo atender a carência de São
José dos Campos em relação a
complexidade e demora para abrir
uma empresa. O prazo de abertura
de uma empresa, antes de o projeto
se consolidar, era de dois a três
meses. Detectada essa dificuldade,
foi criada uma lei municipal que
obrigava a prefeitura a emitir a
inscrição municipal da empresa
no prazo de apenas cinco dias,
com os devidos documentos. Para
alcançar a meta imposta, todos os
órgãos responsáveis e envolvidos
na abertura de empresas foram
reunidos em um único local.
A Sala do Empreendedor gerou
um grande impacto no ambiente
graças à integração entre as
secretarias do município e,
principalmente, a Junta Comercial
e a Secretaria da Fazenda. No início
do programa, havia resistência para
a inovação, mas o surgimento da
lei especificando o tempo para a
abertura de uma empresa promoveu
a união entre as esferas municipal e
estadual para que, juntas, pudessem
cumprir o dever descrito.
Atualmente, o projeto está
consolidado, realizando até 4.500
atendimentos (presenciais ou
remotos) por mês, tendo registrado,
durante 2012, 4.122 novas
empresas, além de 2.596 novos
profissionais autônomos. Porém,
o grande desafio é ampliar ainda
mais a capacidade do programa,
unindo as esferas municipais,
estaduais e federais através da
informatização dos processos,
garantindo maior amplitude da Sala
do Empreendedor.
Segundo Sebastião Cavali,
Secretário do Desenvolvimento
da Ciência e Tecnologia do
município em 2013, o grande
desafio atual é transformar a
Sala do Empreendedor na porta
de atendimento e acolhimento ao
empreendedor, como facilitadora
na implantação e instalação de
empreendimentos no município,
bem como na análise de incentivos
fiscais
2013
18
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.1.3
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA
A legislação trabalhista é um dos temas
mais polêmicos do ambiente empreendedor brasileiro. A Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), criada há pouco mais de 70
anos, é constantemente alvo de alterações
e adaptações. No entanto, avanços e novos
ajustes são necessários, a fim de conciliar
os interesses muitas vezes opostos de empregados e empregadores.
O Fórum Econômico Mundial entrevistou
milhares de executivos, em mais de 140 países, onde foram perguntadas opiniões sobre
o sistema e a legislação trabalhista vigente. Um dos indicadores está ligado às percepções sobre as práticas de contratação e
demissão, fruto da avaliação dos executivos
sobre a flexibilidade encontrada na gestão
dos funcionários. O Brasil, em 2013, apresentou um valor para o índice igual a 3,2 (o
máximo é 7).
Uma consequência da complexidade da
burocracia trabalhista no Brasil pode ser
observada sob a própria aplicação da legislação. Muitos dos direitos a priori garantidos pela legislação trabalhista, por exemplo, nem sempre são aplicados: de acordo
com o IBGE9., quase 20% dos empregados
do setor privado no Brasil não tem a carteira de trabalho assinada, o direito mais
básico previsto pela CLT.
Ainda assim, deve-se ponderar também
as diversas fases pelas quais uma empresa
passa, para que a legislação tampouco seja
um empecilho ao desenvolvimento dos negócios. Esse é um ponto considerado pela
UNCTAD: “leis trabalhistas destinadas a
assegurar o direito dos trabalhadores em
grandes empresas podem ser consideradas muito rígidas para startups”.
_
PRÁTICAS DE CONTRATAÇÃO E DEMISSÃO
fonte: Fórum Econômico Mundial, 2013
7
média mundial 3.9
6
5
4.4
4
4
4.9
4.1
3.9
3.4
3.2
4.1
2.7
3
1.9
2
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Br
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il
1
Fonte: Pesquisa
Mensal do Emprego,
IBGE. Acesso: http://
www.ibge.gov.br/home/
estatistica/indicadores/
trabalhoerendimento/
pme_nova/
9,
19
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.1.4
CUMPRIMENTO E APLICAÇÃO DE CONTRATOS
A garantia de cumprimento dos contratos
é essencial para o desenvolvimento de negócios em um país. Antes de investir e firmar
contratos, empresas esperam que o acordo
previamente estabelecido seja de fato respeitado e esteja protegido legalmente. Quando
não há tais garantias, tanto para empreendedores quanto para consumidores, relações
comerciais dificilmente acontecerão.
Um aspecto com importante influência
no ambiente empreendedor é ilustrado pelo
índice de direitos legais, criado pelo Banco
Mundial, que mede o grau em que as leis de
garantias e falências protegem os direitos dos
envolvidos e facilitam a concessão de empréstimos. Na escala que varia entre 0 e 10, o
Brasil apresenta, ao lado da Rússia, um índice
igual a 3, em 2013, entre os 20 piores países
estudados no relatório Doing Business. Entre
os dez países aqui estudados, aparecem como
melhores exemplos Estados Unidos e Índia,
com índices iguais a 9 e 8, respectivamente.
Quando contratos não são cumpridos, além
de haver mecanismos legais que possam ser
acionados, a eficiência com que esses mecanismos funcionam é fundamental. Criado pelo
Instituto Fraser, o indicador de proteção jurídica aos contratos se propõe a analisar os países
neste quesito. Para isso, são considerados os
indicadores de tempo e custo para se recolher
um débito jurídico, criados pelo Banco Mundial.
Entre os dez países analisados neste relatório,
o Brasil aparece com nota igual a 4 (em uma
escala entre 0 e 10), à frente da Índia e da África
do Sul, em 2011 (último ano com dados disponíveis). Mais preocupante, no entanto, é o fato
de o país ter regredido ao longo dos anos, atingindo, entre 2004 e 2009, o índice de 4,8.
_
ÍNDICE DE DIREITOS LEGAIS
fonte: Banco Mundial, 2013
9
7
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média mundial 5.8
8
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4
2
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_
PROTEÇÃO JURÍDICA AOS CONTRATOS
fonte: instituto fraser, 2011
7.6
5.5
5.8
ia
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3.9
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4
6.7
5.1
5
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6
4
2
0
média mundial 4.5
20
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.2
CAPITAL HUMANO
Uma empresa depende de gente boa
para crescer. Mas, de acordo com a pesquisa Empreendedores Brasileiros 2013,
da Endeavor Brasil, a gestão de pessoas
foi considerada o principal problema enfrentado no cotidiano das empresas brasileiras, citada por 28% dos empreende-
Sala de aula da Escola
Técnica Eletrônica,
a primeira da América
Latina no setor
dores formais, à frente de dificuldades
financeiras e da falta de investimentos,
entre outros. A falta de mão de obra técnica e qualificada, assim como a baixa preparação do próprio empreendedor, são os
principais desafios no que diz respeito ao
capital humano nacional.
21
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.2.1
A MÃO DE OBRA TÉCNICA E QUALIFICADA
A falta de mão de obra técnica e qualificada é constantemente mencionada pelos
empreendedores como um grande gargalo.
O Brasil tem avançado no campo da educação e formação de capital humano, com
investimentos, principalmente, no ensino
superior, conforme revelam os dados da
OCDE10.: em 2010, foram investidos cerca
de US$ 14 mil por aluno universitário, valor
próximo à média dos países da OCDE. Mas,
apesar do avanço, o déficit ainda é grande e,
de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011, apenas
17,8% da população brasileira entre 18 e 24
anos estava inscrita ou já havia concluído o
ensino superior – em 2004, era 12,2%. O Plano Nacional da Educação tem como meta
elevar este número para 33% até 2020.
Uma alternativa interessante para a falta de mão de obra qualificada e técnica no
país tem sido o crescimento no número de
cursos técnicos, que, em 2011, alcançaram
quase um milhão de alunos, de acordo com
o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). Um bom exemplo
de sucesso é a Escola Técnica Eletrônica
(ETE), de Santa Rita do Sapucaí, a primeira
da América Latina no setor.
Education at a Glance,
2013, Organização
para Cooperação
e Desenvolvimento
Econômico
10.
EM 2011, APENAS 17,8% DA POPULAÇÃO
BRASILEIRA ENTRE 18 E 24 ANOS ESTAVA INSCRITA
OU JÁ HAVIA CONCLUÍDO O ENSINO SUPERIOR
_
INVESTIMENTO POR ALUNO NO ENSINO SUPERIOR (EM US$)
fonte: OCDE, 2010
*Dados não disponíveis para África do Sul, China, Índia, Rússia, Turquia.
30,000.00
25,575.89
25,000.00
20,000.00
15,000.00
média dos países membros da OCDE US$ 13.528,18
13,136.85
10,000.00
7,872.39
7,100.58
4,679.98
5,000.00
0.00
Brasil
Argentina
Chile
EUA
México
22
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
A VISÃO DO EMPREENDEDOR
“Nos últimos anos, em função
da demanda e da exigência de
uma melhor qualificação e nível
de escolaridade dos profissionais
do setor elétrico, passamos a ter
muita dificuldade para encontrar no
mercado profissionais eletricistas
que atendessem ao perfil desejado.
O que a Sirtec fez foi criar a sua
própria Escola Corporativa, não
voltada apenas ao público interno,
mas também oferecendo cursos
de formação de eletricistas de
redes de distribuição. Essas
turmas são formadas em parcerias
com instituições locais, como
prefeituras, sindicatos etc. No
processo de recrutamento, as
vagas são preenchidas com
pessoas que atendem o perfil
básico (escolaridade e perfil
comportamental), e a Sirtec oferece
gratuitamente o curso de formação
e qualificação técnica.
Nos últimos dois anos, já formamos
mais de 500 pessoas, com
investimento superior a 1 milhão de
reais. Infelizmente, não há nenhum
incentivo, nem apoio do estado, pois
de certa forma estamos fazendo o
papel do estado.”
Darci Schneid – fundador
e diretor-geral da Sirtec
MELHORES PRÁTICAS:
ESCOLA TÉCNICA ELETRÔNICA – SANTA RITA DO SAPUCAÍ, BRASIL
A Escola Técnica Eletrônica de
Santa Rita do Sapucaí, ETE, foi
fundada em 1959, sendo a primeira
escola de ensino técnico em
eletrônica da América Latina, a
sexta do mundo.
A ETE oferece cursos de segundo
e grau em tecnologia e conta, hoje,
com a Associação de Jesuítas,
principais colaboradores da
escola, além de parcerias com a
Prefeitura de Santa Rita do Sapucaí
e com o Governo de Minas Gerais,
que juntos desenvolvem cursos
gratuitos para a população carente
através do Centro Vocacional
Tecnológico.
O impacto da ETE é surpreendente.
Após 50 anos de experiência,
pesquisas revelam que 86% dos
alunos do ensino médio entram
imediatamente para a faculdade,
sendo cerca de 40% entre os dez
primeiros lugares. A inserção dos
alunos do mercado de trabalho
também é alta: dos 203 alunos que
concluíram os cursos em 2012, 195
estão, em 2013, estagiando ou já
concluíram o estágio.
O sucesso da escola se deu
graças à necessidade de mão de
obra qualificada no mercado e ao
ciclo de capacitação constante
dos professores, em âmbito
técnico e pedagógico. Os cursos
são divididos em ensino médio
e técnico, e a parte pedagógica
dividida em ensino médio, técnico e
profissionalizante.
A disseminação da cultura
empreendedora na região criou
um terreno fértil para a tecnologia
e inovação. Hoje, essa cultura
já está muito bem consolidada
e o grande desafio da escola é
continuar entregando ao mercado
profissionais de alta qualidade,
suprindo as necessidades técnicas
e comportamentais na área
eletrônica. Esse raciocínio é a
base para quem gostaria de abrir
uma escola como a ETE: entender
as necessidades do mercado
e garantir uma capacitação e
treinamento de alta qualidade para
os professores e para todos os
colaboradores envolvidos.
23
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.2.2
A FORMAÇÃO DE EXECUTIVOS
Além da falta de mão de obra básica, a
dificuldade em encontrar pessoas em níveis
gerenciais e executivos é um desafio no Brasil. É o que mostra o indicador de qualidade
das escolas de negócios, medido pelo Fórum
Econômico Mundial (FEM) e criado com base
na opinião de executivos e empreendedores do
país. Na escala do FEM, que varia entre 1 e 7,
o Brasil apresenta um índice igual a 4,5 neste
quesito, enquanto Chile e Estados Unidos, os
mais desenvolvidos, atingem 5,3 e 5,5, respectivamente.
A situação de escolas brasileiras em
rankings internacionais de programas de MBA
tampouco é animadora. Criado pelo jornal britânico Financial Times11., o ranking da qualidade dos cursos de MBA revela que o Brasil
teve, em 2013, apenas 1 instituição entre as
100 melhores do mundo – a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na 66ª colocação. Enquanto isso, a Índia possui 2 instituições e a China, 7 (em 2008 eram apenas 3). Os
Estados Unidos, líderes disparados, possuem
49 instituições entre as 100 melhores.
Para mais
informações, acesse:
http://rankings.ft.com/
businessschoolrankings/
global-mba-ranking-2013
11.
_
QUALIDADE DAS ESCOLAS DE NEGÓCIOS
fonte: fórum econômico mundial, 2013
média mundial 4.2
7.0
6.0
5.2
4.5
5.0
4.9
5.5
5.4
5.0
4.3
4.1
3.6
4.0
3.8
3.0
2.0
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il
1.0
A VISÃO DO EMPREENDEDOR
“Trabalhar na seleção e formação de
novos líderes tem sido um desafio
que tem tomado muito o meu
tempo. Recentemente, passamos
por um processo de remontagem
da equipe de gestores e sentimos a
dificuldade que é encontrar gente
boa. Por outro lado, o exercício tem
mostrado que com dedicação e um
projeto desafiador é possível atrair
pessoas talentosas.
Os bons profissionais já estão bem
colocados em grandes companhias.
Muitos não têm interesse em sair
para uma empresa menor, pois
não abrem mão das regalias e da
segurança. Já outros que gostariam
de mudar não têm a energia que
quero para minha empresa.
Para acelerar, contratei uma
consultoria focada em selecionar
executivos. As estratégias que
têm dado certo no nosso caso
tem sido buscar profissionais
de alto potencial que trabalham
em grande empresas e querem
novos desafios, procurar pessoas
em outros mercados que tenham
sido formados por uma excelente
“escola” – experiência profissional
– e apostar em jovens com
boa formacão, com atitude de
empreendedor e que têm vontade
de crescer rápido”.
Valério Dornelles –
fundador e CEO da Tecno Logys
24
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.2.3
A CAPACITAÇÃO PARA EMPREENDER
A VISÃO DO EMPREENDEDOR
“Todo empreendedor precisa
exercer três funções diferentes:
técnico, administrador e
empreendedor. Tem um momento
em que essas funções se
confundem, então é preciso se
capacitar para entender a diferença
entre gestão e propriedade,
principalmente entender o que
cobrar dentro da organização. No
meu caso específico, o processo
de seleção da Endeavor foi o
grande momento de buscar
mais capacitação. Então, tomei a
Empreendedores capacitados são fundamentais para liderar bons funcionários e
empresas em crescimento. Mas, de acordo
com o relatório especial sobre educação do
Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em
2010, apenas 9% da população adulta brasileira havia recebido treinamento sobre como
iniciar um negócio, refletindo uma das piores
taxas do mundo. No Chile, por exemplo, essa
proporção é de 43% e, na Argentina, 20%.
A pesquisa Empreendedores Brasileiros
decisão de estudar em uma escola
de negócios na Universidade de
Navarra (Espanha)”.
Edivan Costa – fundador
e CEO da SEDI
2013, da Endeavor, mostra ainda que, apesar de 98% dos empreendedores formais
no Brasil conhecerem o Sebrae, apenas
46% deles tiveram algum tipo de relacionamento com a instituição.
Neste sentido, dada a necessidade de os
empreendedores se capacitarem, uma boa
alternativa seria proporcionar iniciativas
que aliassem à capacitação benefícios diretos para as empresas, como faz o Banco
do Empreendedor, de Curitiba.
APENAS 9% DA POPULAÇÃO
ADULTA BRASILEIRA RECEBEU
TREINAMENTO SOBRE COMO
INICIAR UM NEGÓCIO
25
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
MELHORES PRÁTICAS:
BANCO DO EMPREENDEDOR DO PARANÁ – CURITIBA, BRASIL
Em fevereiro de 2012, o governo
estadual paranaense criou o Banco
do Empreendedor, para alavancar
o desenvolvimento econômico do
estado, focado no apoio às micro
e pequenas empresas. Submetido
à Agência de Fomento do Paraná,
o Banco do Empreendedor foi o
meio encontrado para expandir
o programa Bom Negócio, que
visa a capacitação técnica de
empreendedores, e que vinha
obtendo bons resultados na capital
do estado. Com a iniciativa, o
governo estadual passou a ofertar
crédito junto à capacitação técnica.
O Banco do Empreendedor
trabalha com 3 tipos de clientes:
microcrédito, micro e pequenas
empresas. O microcrédito destinase a empreendedores, formais
ou informais, que possuam
um faturamento, nos últimos
12 meses, de até R$360 mil. O
financiamento para esse grupo
pode ser de até R$30 mil. Micro e
pequenas empresas devem ter um
faturamento anual limitado a R$360
mil para o primeiro caso e R$3,6
milhões para o segundo, sendo que
os valores de financiamento vão até
R$100 mil para as microempresas
e R$300 mil para as pequenas,
para financiamento de capital de
giro e investimentos fixos. O capital
do banco origina-se do próprio
estado paranaense e também do
BNDES e a liberação do crédito
ao empresariado ocorre em cerca
de 15 dias, caso os credores
apresentem todos os documentos
necessários com correção e
prontidão.
Diferentemente de instituições
financeiras tradicionais, o Banco
do Empreendedor não cobra
taxas adicionais e não visa lucro,
apenas o desenvolvimento de novos
negócios na região – os juros da
operação visam apenas cobrir os
custos da operação. As taxas de
juros mensais variam de 0,55%
a 1,07%. Além da classificação
de risco de cada empresa, outro
motivo que justifica a amplitude
da taxa de juros é a subvenção
de 5% ao ano paga pelo Governo
do Estado do Paraná. Para obter
o desconto, uma empresa deve
atestar que é uma boa credora,
com pagamentos em dia, e
participar de cursos de capacitação
Sendo a universidade o principal centro
de inovação e aprendizado, é importante reverter, no longo prazo, o cenário do ensino
de empreendedorismo nas universidades.
A pesquisa Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras 201212., realizada pela
promovidos por parceiros da
Fomento Paraná, além de manter
ou aumentar a quantidade de
empregados no decorrer do
prazo do financiamento, o que
demonstra a intenção do programa
em incentivar o crescimento dos
beneficiados. O Programa Bom
Negócio, que atualmente possui
55 turmas em todo o estado
do Paraná, é também um dos
parceiros de capacitação, entre
outros.
Desde seu início, o Banco do
Empreendedor tem obtido
uma grande evolução em suas
operações. O volume de crédito
entre janeiro e agosto de 2013 foi de
26,5 milhões de reais, um aumento
de cerca de 66% em relação ao
mesmo período em 2012. O nível
de inadimplência da operação é
bastante baixo, menos de 0,5%,
sendo que o número de aprovações
de crédito dobrou em relação à
média do primeiro semestre do ano
anterior. Para fins de comparação,
no 2º trimestre de 2013, a
inadimplência do Itaú, maior banco
privado do país, foi de 4,2%.
Endeavor, mostrou que, apesar de 60% dos
universitários brasileiros pensar em empreender no futuro, apenas 38,1% deles investe tempo aprendendo a iniciar um negócio.
Além disso, somente 44,2% dos potenciais
empreendedores (que disseram ser muito
Disponível em: http://www.
endeavor.org.br/artigos/
estrategia-crescimento/
cenarios-e-tendencias/oempreendedorismo-nasuniversidades
12.
APESAR DE 60% DOS UNIVERSITÁRIOS
BRASILEIROS PENSAR EM EMPREENDER NO
FUTURO, APENAS 38,1% DELES INVESTE
TEMPO APRENDENDO A INICIAR UM NEGÓCIO
26
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
provável abrir uma empresa no futuro) já
cursou uma disciplina ligada a empreendedorismo. Essa falta de preparação se reflete
diretamente na confiança dos universitários:
somente 34,4% deles acredita saber planejar uma campanha de marketing e 44,8%
tem segurança ao estimar o valor de capital
inicial e de giro para abrir um negócio.
A mesma pesquisa sugere, entre outras
coisas, que as universidades devem propor
experiências mais práticas aos alunos, que
não sejam somente dentro da sala de aula
(necessariamente). Entre os universitários
que já tiveram empregos remunerados em
startups (empresas iniciantes), 70% relatou aumentou no nível de confiança para
empreender. O mesmo ocorre para estudantes que participaram de entidades estudantis, como empresas juniores: a confiança é cerca de 10% maior.
Um bom exemplo de como a experiência
prática pode ser estimulada nas universidades é o Desafio Universitário Empreendedor, organizado pelo Sebrae.
MELHORES PRÁTICAS:
DESAFIO UNIVERSITÁRIO EMPREENDEDOR – SEBRAE NACIONAL, BRASIL
O Desafio Universitário
Empreendedor, criado pelo
SEBRAE em 2013, substituiu o
Desafio SEBRAE, fundado em
2000, como um jogo simulador
de negócios que durante 13
anos teve a participação de mais
de um milhão de estudantes,
com abrangência nacional e
internacional. Este novo desafio
contempla não só a vertente
de jogos de negócios que
simulam o dia a dia da gestão
de uma empresa, mas também
a vertente de capacitação com
cursos de empreendedorismo e
bate-papos com especialistas,
nas áreas de marketing, fluxo
de caixa, recursos humanos
e liderança, em formato
online e presencial. É uma
competição nacional para jovens
universitários de graduação,
de caráter educacional, que
integra diferentes soluções com
o objetivo de desenvolver as
capacidades empreendedoras
dos alunos inscritos. Este
registro é gratuito no site online,
dando acesso aos diversos jogos
virtuais e às outras atividades.
Cada uma dessas atividades
tem uma pontuação específica
e ganha quem acumular mais
pontos entre as etapas Nacionais
e Estaduais (com duração de 5 a
6 meses).
Na edição de 2013, que começou
em 15 de agosto, a competição
foi composta por duas etapas:
1) Etapa Estadual Classificatória
Virtual e Presencial, composta
por opções de jogos empresariais
online e diversas atividades
educacionais oferecidas pelo
SEBRAE e Instituições de
Ensino Superior (IES); 2) Etapa
Nacional Presencial (Final
Nacional), presencial, onde são
oferecidas aos participantes
atividades lúdicas que geram
pontos e definem os campeões
da competição de 2013. Somente
os três primeiros colocados no
Ranking Geral de cada Estado
se classificam automaticamente
para esta etapa. Em 2014, novos
jogos e novas atividades serão
incluídos, tornando o desafio
mais envolvente.
O principal parceiro do Desafio
Universitário Empreendedor
são as Instituições de Ensino
Superior (IES) que adotam o
programa, levando por meio
de seus professores a ideia
do desafio e a importância de
despertar nos alunos novas
formas de aprender e pensar.
O apoio das IES é essencial
para garantir maior impacto do
programa. Por isso, o Desafio
Universitário Empreendedor
prevê que a instituição de
ensino e os professores
ganhem prêmios pelo número
de indicações que receberem
online dos alunos. Em meados de
setembro de 2013, mais de 7 mil
estudantes já estavam inscritos
no Desafio.
27
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.3
P&D E TECNOLOGIA
A inovação é uma das grandes responsáveis pela geração de riqueza nos países
e nas empresas: transforma produtos, serviços e processos, gera novos conhecimentos e aumenta a competitividade.
Vista do Porto Digital, que
concentra investimentos
públicos, a iniciativa privada
e universidades
No entanto, conforme diz a UNCTAD,
“promover sistemas de inovação e tecnologia em um país envolve um conjunto complexo de relações entre os diferentes atores
envolvidos”, como governo, universidades,
financiadores e setor privado.
28
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.3.1
O BAIXO NÍVEL DE INOVAÇÃO
NAS EMPRESAS
Os dados mostram que as empresas
brasileiras não estão preocupadas em
inovar: apenas 11% dos empreendedores
brasileiros iniciantes diz que o produto ou
serviço que oferecem é novo para ao menos parte do mercado consumidor (Global
Entrepreneurship Monitor, 2011). A porcentagem é a pior em todo o mundo, com níveis iguais aos encontrados em Trinidad e
Tobago e Bangladesh.
A falta de investimento em pesquisa e
desenvolvimento (P&D), no entanto, não
parece ser o principal problema. De acordo com a UNESCO, em 2010, o Brasil investiu 1,16% do seu Produto Interno Bruto
(PIB) em P&D, o mesmo que a Rússia, por
exemplo. Entre os países analisados neste
relatório, apenas China e Estados Unidos
investiram mais: 1,76% e 2,83% dos respectivos PIB’s.
Por outro lado, mais delicado que o investimento em inovação, algo constantemente relatado por empreendedores é a dificuldade em se conectar às universidades.
APENAS 11% DOS EMPREENDEDORES
BRASILEIROS INICIANTES DIZ QUE O PRODUTO
OU SERVIÇO QUE OFERECEM É NOVO PARA
AO MENOS PARTE DO MERCADO CONSUMIDOR
A VISÃO DO EMPREENDEDOR
“As universidades têm uma
competência muito grande em
um determinado assunto, mas
não têm a estrutura para fazer
parcerias com empresas. Como
os professores concursados nas
universidades federais não podem
receber um pagamento direto da
empresa para prestar um serviço,
eles não têm incentivos para fazer
esse tipo de trabalho. Muitas vezes,
essas universidades públicas não
têm a estrutura para formatar
parcerias dentro de uma coisa que
flua naturalmente; somente mega
corporações, como Petrobras
e Vale, ou grandes projetos
financiados pelo FINEP conseguem
vencer essas barreiras lançando
mão de contratos complexos e
mega projetos.
nunca trabalharam com uma
empresa do tamanho da Prática.
Conseguimos fazer as parcerias
somente porque encontramos
professores e pesquisadores que
têm uma disposição muito grande
para fazê-la funcionar. Não existe
outro estímulo para que ele possa
trabalhar com empresas.”
Os parceiros da Prática (Unifei,
UFSC e UFOP), por exemplo,
são instituições grandes que
Luiz Eduardo Rezende – sóciofundador e diretor da Prática
29
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
_
DISPONIBILIDADE DE CIENTISTAS E PESQUISADORES
fonte: Fórum Econômico Mundial, 2013
6.0
5.4
4.7
5.0
4.0
4.5
4.4
4.0
3.9
3.5
3.4
média mundial 4.0
5.0
3.8
3.0
2.0
1.0
ia
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Br
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Su
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il
0.0
Essa falta de estímulo às parcerias com
empresas influencia diretamente a percepção de empreendedores sobre a disponibilidade de cientistas e pesquisadores.
Em 2013, o indicador do Fórum Econômico
Mundial colocou o Brasil na 112ª colocação, entre 148 países analisados. Considerados apenas os 10 países abordados neste
relatório, o Brasil, com índice igual a 3,4, é
o último colocado, também abaixo da média mundial, de 4 (em uma escala que varia
entre 1 e 7).
Outra explicação para a baixa disponibilidade de cientistas e pesquisadores está
ligada à formação universitária na área das
ciências exatas. Como já é notório, o Bra-
sil forma, proporcionalmente, poucos engenheiros. Dados da UNESCO evidenciam
isso: entre os universitários formados em
2010, 11,26% era da área de engenharia;
entre 100 países analisados neste quesito, o Brasil está na 94ª posição, atrás de
países como Angola (11,94%) e Honduras
(11,92%). Coreia do Sul e Estados Unidos,
referências em inovação, formam cerca de
30% e 15%, respectivamente.
O Porto Digital tem apresentado um impacto expressivo na geração de inovação no
Recife, ao reunir diversos empreendedores,
cientistas, pesquisadores e diversos outros
atores do ecossistema do empreendedorismo em uma mesma região.
30
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
MELHORES PRÁTICAS:
PORTO DIGITAL - RECIFE
Em julho de 2000, o Bairro
do Recife Antigo, na capital
pernambucana, abrigou o
nascimento de uma iniciativa
ímpar no território brasileiro,
o Porto Digital - um projeto de
desenvolvimento econômico que
agrega investimentos públicos,
iniciativa privada e universidades,
compondo um sistema local de
inovação que, desde seu início,
pretendia gerar grande impacto
na economia local. Mais que a
revitalização urbana da região
que ocupa, a qual estava à
época em estado de decadência
após a desativação do Porto de
Recife, a iniciativa gerou grandes
mudanças sociais e econômicas
em sua região.
O histórico de fundação do Porto
Digital remete a três objetivos
distintos, que encontraram uma
solução comum. A UFPE possuía,
já na década de 1990, cursos
de mestrado e doutorado na
área de ciências tecnológicas.
Entretanto, os alunos formados
nesses cursos eram atraídos
para outras regiões, uma
vez que o mercado local de
tecnologia era muito incipiente,
e, por isso, não levavam seu
conhecimento à economia do
Recife e arredores. Este contexto
levou à criação, em 1996, do
Centro de Estudos e Sistemas
Avançados do Recife (C.E.S.A.R.),
que visava desenvolver o
mercado local de Tecnologias
da Informação e Comunicação
(TIC). Paralelamente a isso,
a iniciativa privada da região
criou em 1994, o SoftexRecife
– Centro de Tecnologia de
Software para Exportação
do Recife, que incentivava
projetos de desenvolvimento
de softwares para exportação.
Por fim, a Secretaria de Ciência
e Tecnologia de Pernambuco,
representada então por Cláudio
Marinho, idealizou o Porto Digital
como uma das ações definidas
na Política Estadual de Ciência e
Tecnologia.
Com a cooperação dessas três
entidades, o recurso advindo
da secretaria foi aplicado, em
um primeiro momento, na
revitalização de uma grande
área no Bairro do Recife Antigo,
estabelecendo assim o parque
tecnológico urbano. Desde então,
o Porto Digital vem sendo um
hub regional que congrega de
micros a grandes empresas
multinacionais (principalmente
do setor da tecnologia da
informação), incubadoras,
escritórios de advocacia e
contabilidade, instituições
bancárias, entre outras que
constituam um ambiente
favorável ao empreendedorismo
e à inovação. Além disso, o
Porto Digital oferece cursos de
capacitação técnica e gerencial
aos empreendedores e redução
na carga tributária, por meio das
alíquotas de IPTU e ISS.
Atualmente, o Porto Digital é
administrado por um Núcleo
de Gestão, organização social
composta por integrantes dos
públicos interessados no Porto
Digital. A iniciativa é financiada
em grande parte (55%) por
recursos federais (Ministério
de Ciência e Tecnologia, FINEP,
BNDES e SEBRAE). O único custo
repassado às empresas do Porto
é referente à locação do espaço
físico.
O Porto Digital conta com
cerca de 500 empreendedores,
empregando mais de
7 mil funcionários de
aproximadamente 230
empresas (das quais, 45% são
microempresas e 44% são
empresas de pequeno porte),
que faturam, juntas, um bilhão
de reais por ano. Como indício
do crescimento das operações
atuais, 48% das empresas têm
atualmente (2013) vagas para
contratação de funcionários
abertas. A preocupação inicial
do C.E.S.A.R., de reter talentos
no estado, mostra-se efetiva
no quadro de funcionários
atual, uma vez que 7% dos
colaboradores das empresas
possuem mestrado ou doutorado.
31
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.3.2
AS PATENTES E A SEGURANÇA
JURÍDICA PARA INOVAR
A quantidade de patentes requisitadas no
Brasil é um reflexo do pouco viés à inovação
nas empresas brasileiras e, também, da falta
de engenheiros e pesquisadores no país. Além
disso, a demora em se efetuar o registro de patentes no país tampouco incentiva as empresas
a inovarem: o Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI), responsável pela concessão de
patentes, mostra que o processo demora, em
média, 5,4 anos para pedidos feitos em 2011.
Como consequência, de acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI), em 2011, foram feitos 6.363 pedidos
de patentes por parte de brasileiros em todo
o mundo, quantidade próxima ao requisitado
por cidadãos da Turquia (5.283). Estados Uni-
dos e China são líderes disparados, cada um
com cerca de 440 mil patentes pedidas.
Outro fator que explica a baixa demanda
por patentes no país é a má percepção sobre
a proteção à propriedade intelectual, medida
pelo Fórum Econômico Mundial e com influência direta no baixo número de patentes pedidas no Brasil. O índice, além de classificar
com base em entrevistas com executivos o
nível de proteção intelectual, avalia também
medidas antifalsificação. Entre os dez países
analisados neste relatório, o Brasil aparece,
em 2013, com índice igual a 3,5 (em uma escala que varia entre 1 e 7), somente à frente
de Rússia (2,9) e Argentina (2,3), e um pouco
abaixo da média mundial, de 3,8.
_
PROTEÇÃO À PROPRIEDADE INTELECTUAL
fonte: Fórum Econômico Mundial, 2013
5.5
5.2
3.7
3.6
2.9
ss
ia
Rú
co
M
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2.3
3.6
ia
3.9
3.8
3.5
Tu
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6.0
5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
0.0
DE ACORDO
COM O
INPI, UMA
PATENTE
DEMORA,
EM MÉDIA,
5,4 ANOS
PARA SER
CONCEDIDA
NO BRASIL.
A VISÃO DO EMPREENDEDOR
“O principal entrave na obtenção das
patentes é o tempo (morosidade). O
Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI) demora de 8 a 10
anos para analisar um pedido, o
que traz prejuízos à economia e à
inovação. Para acelerar o registro de
patentes no INPI seria fundamental
a ampliação do quadro de
examinadores e da informatização.”
Joaquim Caracas - Fundador
e CEO da ImpactoProtensão
32
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.4
ACESSO A CAPITAL
O montante de capital disponível para
empreendedores no Brasil tem apresentado evoluções nos últimos anos. Ainda
assim, a falta de recursos financeiros para
investir no negócio é considerada por 39%
dos empreendedores formais o maior entrave para crescer, segundo a pesquisa
Empreendedores Brasileiros, da Endeavor.
Mas, ainda que a crise mundial iniciada
em 2008 tenha limitado o desenvolvimento
do setor financeiro, o Brasil vem expandindo o acesso a capital nos últimos anos.
É o que mostra, por exemplo, o indicador
de facilidade de acesso a empréstimos,
criado pelo Fórum Econômico Mundial,
que compara a percepção do empreendedor e do executivo brasileiro em relação ao
restante do mundo. No ano da crise mundial, em 2008, o Brasil apresentou um va-
lor igual a 3,2 (em uma escala que varia de
1 a 7). Sob o impacto da crise, em 2010, a
facilidade de acesso ao crédito teve uma
redução significativa, regressando a 2,8,
e manteve-se instável desde então – em
2013, alcançou 2,9.
O mesmo efeito de queda pós-crise é
percebido nos Estados Unidos, mas em proporções ainda maiores. Em 2007, os Estados Unidos apresentavam uma das melhores médias mundiais, com um valor igual a
5 (em que o máximo é 7). Em seu pior momento financeiro, em 2010, o valor atingiu
3,4, o menor desde que o indicador começou
a ser medido. Em 2013, cinco anos após o
pior momento da economia estadunidense
e com sinais de recuperação, o índice alcançou 3,9, ainda bastante longe do máximo
histórico, mas com tendência positiva.
A FALTA DE RECURSOS FINANCEIROS
PARA INVESTIR NO NEGÓCIO É CONSIDERADA
POR 39% DOS EMPREENDEDORES FORMAIS
O MAIOR ENTRAVE PARA CRESCER
_
FACILIDADE DE ACESSO A EMPRÉSTIMOS
fonte: Fórum Econômico Mundial, 2013
3.6
3.6
3.4
2.9
média mundial 2.8
3.9
3.3
2.5
2.9
3.1
ia
Tu
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1.7
Br
as
4.5
4.0
3.5
3.0
2.5
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
33
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
Uma das causas para a dificuldade relatada por empreendedores é a alta taxa
básica de juros brasileira. Segundo dados
do Banco Mundial, em 2012, somente Madagascar (51,2% ao ano) teve taxas reais de
juros mais altas que o Brasil (29,7% ao ano),
o que desincentiva bancos, empresas e pessoas a investirem em alternativas de maior
risco, como empresas inovadoras e em fase
de crescimento. No entanto, a importância
dada à taxa de juros como fator determinante deve ser relativizada, já que países
com taxas menores, como México, Rússia
e Argentina, por exemplo, têm relatado dificuldades maiores. Duas outras críticas
frequentes são os níveis de garantias exigidas pelos bancos e a demora no tempo de
avaliação dos empréstimos, que, em muitos
casos, prejudica o fluxo de investimento do
empreendedor.
EM 2012, HAVIA CERCA DE R$ 83 BILHÕES
EM CAPITAL COMPROMETIDO EM FUNDOS
DE INVESTIMENTO, UM CRESCIMENTO DE 31%
EM RELAÇÃO A 2011
_
FACILIDADE DE ACESSO A EMPRÉSTIMOS
fonte: Fórum Econômico Mundial, 2013
7.0
6.0
Brasil
5.0
5.0
EUA
3.9
4.0
3.0
2.0
2.9
2.9
1.0
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
A VISÃO DO EMPREENDEDOR
“Existem linhas de financiamento no
Brasil, mas o empreendedor precisa
saber muito bem qual é a melhor
para a empresa dele. No caso da
Mextra, uma empresa mundial no
setor de metalurgia, precisávamos
importar matéria prima da China
no início, que só aceitava negócio à
vista. Então, buscamos operações
chamadas Finimp (financiamento de
importação) e ACC (adiantamento
de contrato de câmbio). No caso do
Finimp, a vantagem é a carência de
180 a 360 dias e juros internacionais
baseados na Libor. Para crescer,
precisávamos comprar máquinas,
e fomos atrás de um financiamento
de compra de maquinas via BNDES,
que se chama Finame. Na mesma
linha que Finimp e ACC, a vantagem
do Finame é o juros baixo, de 6 a
10% ao ano, e carência, de 6 meses
a 2 anos. Assim, conseguimos
colocar o equipamento em marcha e
iniciar a faturar antes de começar a
pagar a dívida, pois as parcelas e os
juros eram pagos semestralmente.
A desvantagem dessa linha (para
algumas empresas, que não foi o
caso para a Mextra) é a burocracia
e o tempo de aprovação. A empresa
precisa estar com todos os
pagamentos de impostos em dia e
certidões negativas.
Nos últimos anos, a Mextra também
se alavancou ou se endividou
com outras linhas bancárias
(leasing, desconto de duplicatas,
empréstimos bancários, etc),
mas como essas são mais caras,
são recomendáveis apenas se o
projeto for muito bom e com risco
calculado, ou se não tiver nenhuma
outra opção de financiamento.”
Ivan Barchese – Fundador
e CEO da Mextra
34
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
Apesar de o México apresentar resultados
inferiores ao Brasil no indicador de acesso a
empréstimos, o país desenvolveu um projeto interessante com o objetivo de facilitar o
acesso ao crédito por parte de pequenos fornecedores locais.
Tão importante quanto o acesso a empréstimos para o desenvolvimento do empreendedorismo é o nível de capital de risco disponível em
um país. Recentemente, pode-se perceber, por
exemplo, o aumento no número de fundos de
venture capital e private equity que operam no
Brasil, bem como o início da formação de uma
rede de investidores-anjo (que aportam recursos em empresas iniciantes). Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Private
Equity e Venture Capital (ABVCAP), em parceria
com a KPMG, mostrou que, em 2012, havia cerca de R$ 83 bilhões em capital comprometido
em fundos de investimento, um crescimento
de 31% em relação a 2011. Por outro lado, o
mesmo relatório ressalta o potencial de desenvolvimento da indústria: enquanto, no Brasil, os
investimentos representaram, em 2012, 0,34%
do PIB nacional, nos Estados Unidos essa proporção atingiu 0,86% do PIB.
Seguindo um padrão semelhante ao
acesso a empréstimos, a tendência de crescimento foi em parte limitada pela crise mundial: em 2006, o índice de percepção sobre a
disponibilidade de capital de risco no Brasil,
criado pelo Fórum Econômico Mundial, estava em 2,5 pontos (em uma escala que varia
entre 1 e 7), atingindo, em 2008, 2,9 e oscilando ligeiramente desde então.
Uma das possíveis causas – e também
consequências – da disponibilidade de capital de risco no país ser considerada baixa é a
falta de opções de desinvestimentos no Brasil, como IPO’s (oferta pública inicial, na sigla
em inglês). No ano de 2012, a BMF&Bovespa,
bolsa de valores brasileira, realizou apenas 3
IPO’s; nos Estados Unidos, foram 146. Ainda,
de acordo com o Banco Mundial, a BMF&Bovespa registrou, em 2012, apenas 353 empresas listadas. A Índia, com 5.191 empresas, lidera; Estados Unidos (4.102 empresas), China
(2.494) e Turquia (405) também estão à frente
do Brasil13.. Assim, iniciativas para facilitar o
acesso à bolsa por empresas menores, podem ser benéficas para o crescimento de empresas no Brasil.
NO ANO
DE 2012,
A BMF&
BOVESPA,
BOLSA
DE VALORES
BRASILEIRA,
REALIZOU
APENAS
3 IPO’S
Se considerados
os 10 países analisados
neste relatório.
13.
MELHORES PRÁTICAS:
O BANCO NACIONAL FINANCIERA (NAFIN) – MÉXICO
O Nacional Financiera (Nafin) foi criado
em 1934 pelo Governo mexicano
como um banco de desenvolvimento
nacional. Os objetivos do Nafin são:
promover o desenvolvimento e a
modernização dos setores industriais
com focos regionais, estimular a
expansão do mercado financeiro e
agir como agente do Governo federal
em contratações e administração de
empréstimos.
Desde 2000, o Nafin vem passando
por um importante processo de
mudança em seu modelo de negócios
e operações. A partir do século 21, as
operações do Banco passaram a ser,
pela primeira vez, direcionadas ao
principal cliente: empresas de pequeno
e médio porte (PMEs) mexicanas.
Para atender a esse público, em 2001,
o Nafin criou um programa chamado
“Cadeias produtivas” (Productive
Chains, em inglês), que opera
criando relações entre as compras
e integrando a produção de grandes
corporações, governo e pequenos
fornecedores. Para cada “Cadeia
produtiva”, então, é criado um website
que funciona como um marketplace
online, onde trocas de informações,
produtos e serviços são realizados.
As empresas filiadas ao programa
também têm acesso a outros serviços
financeiros e não-financeiros do Banco
Nacional Financiera.
Financeiramente, o programa permite
que pequenos fornecedores usem o
crédito de grandes compradores para
obter capital de giro disponibilizado
pelo Nafin, transferindo assim o risco
de crédito, aumentando o volume de
empréstimos e reduzindo os custos
de financiamento. Treinamentos
técnico e financeiro também são
oferecidos pelo programa, para que os
empreendedores possam se capacitar.
Até meados de 2009, o programa de
“Cadeias produtivas” compreendia
455 grandes compradores (cerca
de 50% do setor privado) e mais de
80.000 PME’s, tendo atingido US$ 60
bilhões em financiamento. Cerca de 20
instituições bancárias participam do
programa, incluindo bancos e outras
instituições financeiras independentes.
Caso de melhores práticas criado
em parceria com a UNCTAD:
(http://unctad.org/en/Pages/DIAE/
Entrepreneurship/Inventory.aspx)
35
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
MELHORES PRÁTICAS:
ALTERNATIVE INVESTMENT MARKET (AIM) – LONDRES, INGLATERRA
O AIM foi criado, em 1995, como
um sub-mercado internacional
pertencente à Bolsa de Valores
de Londres (London Stock
Exchange), mas destinado a
pequenas e médias empresas
que procuram expandir o
negócio. Um amplo tipo de
empresa - incluindo aquelas em
estágio inicial, capital de risco,
bem como as empresas mais
estabelecidas - procuram o AIM
para terem acesso a capital que
permita o crescimento da sua
empresa.
Desde o seu lançamento, em
1995, o AIM cresceu de 10
empresas, em 6 setores no Reino
Unido, com um valor total de
82 milhões de libras, para mais
de 1.200 empresas, com um
valor de mais de 60 bilhões de
libras, presentes em 28 países
e 40 setores. As empresas
que mais procuram o AIM são,
principalmente, das áreas com
alto potencial de crescimento,
como tecnologia, energia e de
biotecnologia.
Três pontos caracterizam o AIM
como um caso de sucesso . Em
primeiro lugar a sua abordagem
equilibrada à regulação do
mercado. Quando a Bolsa de
Valores de Londres criou o
AIM, o objetivo principal era
oferecer às pequenas e médias
empresas - de qualquer país e
qualquer setor da indústria - a
oportunidade de aumentar o seu
capital em um mercado com um
ambiente regulatório flexível.
Por isso, as empresas que se
unem ao AIM não são obrigadas
a ter um histórico financeiro
específico, tampouco um
histórico de transações em bolsa,
nem um nível de ações que
devem ser emitidas. Esse regime
é projetado especificamente para
pequenas e medias empresas
em crescimento, oferecendo
oportunidades únicas a essas
empresas e investidores,
facilitando uma transição suave
para se tornarem empresas
públicas.
Em segundo lugar, o AIM possui
uma grande, diversificada
e comprometida rede de
especialistas que ajudam as
empresas a ingressar no AIM
e aproveitar ao máximo a sua
cotação nesse mercado, como
consultores especializados,
conselheiros, advogados,
contadores, corretores, relações
públicas e agências de relações
com investidores.
Por fim, o AIM possui uma rede
internacional de investidores,
como a BlackRock Merrill Lynch
Investment, Invesco, Lloyds
Banking Group, entre outros,
com confiança no ambiente
regulatório e conhecimento
necessários para oferecer
o capital que as empresas
necessitam para crescer.
36
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.5
CULTURA EMPREENDEDORA
Ainda existem grandes gargalos a serem
resolvidos no Brasil, mas a cultura empreendedora no país é um destaque positivo.
O Global Entrepreneurship Monitor (GEM)
traz dados que reforçam este ponto de vista.
Ao analisar o empreendedorismo como opção
de carreira desejável, o Brasil teve, em 2012,
a maior taxa do mundo (ao lado da Colômbia),
com 89% da população adulta querendo ter seu
próprio negócio, refletindo uma trajetória ascendente, uma vez que em 2008 o índice era de 65%.
Essa tendência de aumento é comum a outros
países da América do Sul, onde Argentina e Chile
também apresentam números expressivos.
A mídia e as organizações de apoio têm
influência significativa na sensibilização e no
estímulo à cultura empreendedora em um
país. A importância de políticas públicas destinadas à promoção dos valores empreendedores é exposta pela UNCTAD como fator
determinante para o sucesso de uma política
nacional de empreendedorismo. A explicação
é simples: “o impacto de reformas regulatórias para apoiar startups ou facilitar o acesso
ao financiamento para empreendedores será
inferior ao ideal se uma grande parte da população não considerar o empreendedorismo como uma opção viável e gratificante”.
E a mídia brasileira tem executado importante papel, apoiando iniciativas em
âmbito nacional, como a Semana Global do
Empreendedorismo, por exemplo. Entre as
69 economias analisadas pelo Global Entrepreneurship Monitor em 2012, o Brasil é o
país onde mais se retratam histórias de sucesso de empreendedores – 86% da população brasileira diz frequentemente ver casos
na mídia aberta.
A intenção de empreender do brasileiro, igualmente medida pelo GEM, também
é destaque mundial. Com um histórico de
ascensão recente, na comparação com os
dez países analisados neste relatório, o brasileiro só tem intenção menor que o vizinho
chileno, nos quais 36,5% e 43,1% da população adulta planeja empreender dentro de
três anos, respectivamente (dados de 2012).
Apesar de uma alta intenção de empreender, nota-se um baixo interesse em desenvolver e expandir negócios: o Brasil é
um dos países onde novos empreendedores
menos ambicionam crescer suas empresas,
com 14% deles prevendo contratar ao menos
cinco funcionários nos primeiros cinco anos
de empresa (GEM, 2011) – a 8ª pior taxa entre os países analisados pelo GEM. Na Turquia e no Chile, por exemplo, essa média é
de 44% e 40%, respectivamente.
Além da falta de ambição, a pesquisa
Empreendedores Brasileiros 2013, da Endeavor, revela também a falta, no Brasil, de
uma cultura em que se tolere o fracasso e
_
EMPREENDEDORISMO COMO ESCOLHA DE CARREIRA DESEJÁVEL
fonte: Global Entrepreneurship Monitor, 2013
média mundial 65%
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67%
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60%
56%
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74%
74%
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89%
Br
100%
80%
60%
40%
20%
0%
O BRASIL
TEVE,
EM 2012,
89% DA
POPULAÇÃO
ADULTA
QUERENDO
EMPREENDER
_
A MAIOR
TAXA
DO MUNDO!
37
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
que o considere como importante fator de
aprendizagem. A pesquisa revela que 26%
dos empreendedores brasileiros teme a
possibilidade de falência, uma das maiores
preocupações cotidianas. Além da questão
cultural citada, é importante ressaltar a in-
fluência das dificuldades burocráticas e legais enfrentadas por aqueles que quebram:
no Brasil, em média, são necessários quatro anos para se fechar uma empresa (Banco Mundial, 2013), um dos piores prazos do
mundo.
O BRASIL É UM DOS PAÍSES ONDE NOVOS EMPREENDEDORES
MENOS AMBICIONAM CRESCER SUAS EMPRESAS,
COM 14% DELES PREVENDO CONTRATAR AO MENOS CINCO
FUNCIONÁRIOS NOS PRIMEIROS CINCO ANOS DE EMPRESA
_
INTENÇÃO DE EMPREENDER
fonte: Global Entrepreneurship Monitor, 2013
média mundial 23%
43%
37%
29%
20%
12%
18%
13%
15%
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2%
Br
50%
40%
30%
20%
10%
0%
MELHORES PRÁTICAS:
SEMANA GLOBAL DO EMPREENDEDORISMO – BRASIL
Em 2007, a Inglaterra, junto
com outros 40 países, organizou
a primeira Semana Global
do Empreendedorismo, um
movimento de mobilização aberto
a todos, que promove atividades
para inspirar, capacitar e conectar
empreendedores, autoridades,
ideias inovadoras, e promover
uma intersecção cultural.
No ano seguinte, a Endeavor
Brasil enxergou um grande
potencial de o país fazer parte
do projeto e, em 2008, promoveu
a primeira Semana Global do
Empreendedorismo no Brasil.
O Conselho Nacional da Semana
Global do Empreendedorismo
é composto por instituições
com alto poder de articulação
e representatividade nacional
e se reúne com o objetivo de
definir questões estratégicas
e as diretrizes do movimento.
Além do conselho, existem mais
553 instituições parceiras que
desenvolvem iniciativas das mais
variadas formas – como eventos,
feiras, workshops etc. – para
difundir o empreendedorismo em
todos os estados do Brasil.
Alguns exemplos de iniciativas
estão na cidade de Minas Novas,
que colocou faixas com frases
inspiradoras nos caminhões de
lixo, e na Marinha, que realizou
a abertura da Semana Global no
encontro das águas do Rio Negro,
em Manaus.
Em 2012, a Semana aconteceu
em 131 países. No Brasil, os
participantes chegaram a 1,7
milhões, com 3.861 atividades
desenvolvidas. Além da mídia
espontânea (espaços em mídia
sem que tenha havido compra/
pagamento), que atingiu valor
próximo a R$ 13 milhões em
2012, a resposta muito positiva
do ambiente e a inspiração dos
participantes são fortes indícios
de que o projeto é um grande
sucesso.
38
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
4.6
MERCADO
O Brasil possui dimensões continentais:
é o 5º maior país do mundo em extensão
territorial e população, com pouco mais
de 200 milhões de habitantes. Ainda, nos
últimos anos, o país apresentou um rápido crescimento econômico, acompanhado
de uma redução significativa da população
pobre e miserável, refletindo diretamente
na expansão da classe média brasileira. De
acordo com a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República,
na última década, 39 milhões de brasileiros ingressaram na classe média, que atingiu 53% da população total. Este desenvolvimento, naturalmente, tem impacto direto
na economia e afeta as empresas brasileiras: em 2012, a classe média movimentou,
através do consumo, cerca R$ 1 trilhão, de
acordo com o mesmo estudo.
Estes dados demonstram o quanto o
mercado interno brasileiro é extenso e reforçam o indicador do Fórum Econômico
Mundial, que investiga a dimensão do mercado doméstico de 148 países. Em 2013, o
Brasil alcançou a 7ª colocação mundial no
ranking neste quesito. Entre os dez países
aqui analisados, o Brasil (com índice igual
a 5,7 – o máximo é 7) apresenta níveis inferiores apenas se comparado a Estados
Unidos, China e Índia.
O BRASIL ALCANÇOU A 7ª COLOCAÇÃO
MUNDIAL NO RANKING SOBRE A DIMENSÃO
DO MERCADO DOMÉSTICO
_
DIMENSÃO DO MERCADO DOMÉSTICO
fonte: Fórum Econômico Mundial, 2013
6.8
7.0
7.0
6.2
5.7
6.0
5.7
5.5
4.9
4.8
5.0
5.2
4.3
4.0
3.0
2.0
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Ch
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do
Br
as
Su
l
il
1.0
39
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
Por outro lado, grande parte dessa produção e riqueza está concentrada na região
Sudeste: em 2010, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais representaram, respectivamente, 33,1%, 10,8% e 9,3%, totalizando
mais de 50% do PIB brasileiro.
Além disso, em função desse grande
mercado, há um desafio cultural a superar:
de acordo com o Global Entrepreneurship
Monitor, praticamente nenhum (0%) dos
empreendedores iniciantes brasileiros diz
ter orientação ao mercado externo; o mesmo acontece na China e no México, também grandes mercados. Entre os países
estudados neste relatório, destacam-se os
empreendedores da África do Sul (25%) e
do Chile (14%), países com mercados domésticos muito menores.
O Brasil também apresenta problemas
sérios em relação à infraestrutura: de
acordo com o Fórum Econômico Mundial,
o país apresenta um dos piores níveis de
qualidade geral, muito abaixo da média
mundial (4,3), com índice igual a 3,4 (em
uma escala que varia entre 1 e 7). Nos
rankings específicos, o resultado também
é ruim: entre os 148 países analisados, em
2013, o Brasil obteve a 120º colocação no
quesito infraestrutura rodoviária, 103ª em
infraestrutura ferroviária, a 131ª em infraestrutura portuária e a 123ª posição sobre
a qualidade do transporte aéreo.
A baixa qualidade afeta diretamente os
negócios: atraso em projetos e perda de
competitividade são algumas reclamações
feitas pelos empreendedores.
_
QUALIDADE GERAL DA INFRAESTRUTURA
fonte: Fórum Econômico Mundial, 2013
5.7
ia
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3.8
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3.8
3.4
4.3
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5.0
EU
7.0
6.0
5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
A VISÃO DO EMPREENDEDOR
“Para uma empresa de
varejo online, como a nossa, a
infraestrutura de transporte é
um dos gargalos mais difíceis de
superar no Brasil. Por exemplo,
para transportar nossos produtos
para um cliente em Roraima,
os produtos vão de caminhão de
Florianópolis (sede da empresa)
até Belém, onde ele pega balsa até
Manaus, e, depois, chega a Roraima
por rodovia. No final das contas,
o produto leva, em média, 40 dias
para chegar – o que é quase o dobro
do tempo que leva para uma carga
nossa vir da China para o Brasil
de navio. Em função disso, hoje
arcamos com o custo do frete de
entrega; se o cliente em Roraima
pagasse o frete, o transporte
custaria mais de 20% do valor final
da encomenda.
Além do custo e da dificuldade, a
qualidade da infraestrutura também
afeta nosso comprometimento com
os clientes. Ultimamente, todas as
nossas cargas que chegam da China
estão caindo em canal vermelho de
inspeção [uma espécie de “malha
fina portuária”], e o porto não tem
funcionários suficientes para suprir
a demanda. Como resultado, uma
carga que normalmente levaria três
ou quatro dias na inspeção está
levando 30.”
Ivan Oliveira – Sócio-fundador
e diretor da Uatt?
40
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
5. CONTINUANDO
O DIÁLOGO
Este relatório expõe alguns dos maiores
desafios e oportunidades do Brasil para se
criar um ambiente mais favorável para o
crescimento de negócios: há gargalos, especialmente, no ambiente regulatório, na
educação e na inovação. Também, são aqui
apresentados casos de melhores práticas
nacionais e internacionais que poderiam ser
replicados no país, com objetivo final de contornar essas dificuldades. Este é o primeiro
passo do Observatório do Empreendedorismo, criado pela Endeavor Brasil, para auxiliar o país a se transformar, de fato, em um
dos mais empreendedores do mundo.
Além de avanços na ferramenta de visualização de dados, com a adição de outros
países à análise, novos casos de melhores
práticas serão publicados constantemente.
Será criado, ainda, um portal online que
deve reunir os diversos atores do ecossistema – governo, setor privado, entidades
de apoio etc. – para que troquem conhecimento e informações entre si, com a possibilidade de escreverem artigos e disponibilizarem relatórios, em uma espécie de
comunidade baseada em crowdsourcing.
Por isso, a participação de cada um é desde
já esperada: caso você tenha comentários,
artigos ou observações a fazer, envie um
e-mail para [email protected].
Enquanto isso, existem diversas outras
fontes de referências para dar continuidade
aos estudos e ao diálogo sobre o ambiente do empreendedorismo no Brasil e no
mundo. Além dos relatórios de organismos
internacionais citados ao longo deste relatório, como o Entrepreneurship Policy Framework and Implementation Guidence, da
UNCTAD (2012), e o Entrepreneurship at a
Glance, da OCDE (2013), os estudos Paths
to Prosperity (Monitor Group, 2009) e The
Entrepreneurship Barometer (EY, 2013) são
exemplos de estudos que exploram com
precisão os impactos e as bases para o desenvolvimento do empreendedorismo em
diversos países. Livros como Bouleavard of
Broken Dreams (Josh Lerner, 2012), Nação
Empreendedora (Dan Senor e Saul Singer,
2011) e Startup Communities (Brad Feld,
2012) podem ser leituras inspiradoras.
OBSERVATÓRIO DO EMPREENDEDORISMO
6. REALIZAÇÃO
REALIZAÇÃO
A Endeavor é uma organização internacional, presente em 17 países, fundada em 1997
para promover a cultura do empreendedorismo de alto impacto como uma alternativa
concreta para a promoção do desenvolvimento nos mercados emergentes. Desde sua
fundação, identificou-se a falta de uma cultura de incentivo ao desenvolvimento de novos
negócios e de programas que efetivamente apoiassem empreendedores a irem mais longe.
O Instituto baseia-se na crença de que a mentalidade empreendedora que tanto beneficiou
países desenvolvidos deve ser replicada com sucesso nos países em desenvolvimento.
OFERECIMENTO
Como líder do mercado mundial de aplicações de software empresarial, a SAP (NYSE: SAP)
ajuda empresas de todos os tamanhos e setores do mercado a funcionarem melhor.
Ao abranger da operação à análise executiva e dos desktops aos dispositivos móveis, a SAP
capacita pessoas e organizações para trabalharem juntas e explorarem os negócios com
mais eficiência a fim de se manterem à frente da concorrência. Os serviços e aplicativos
da SAP dão a mais de 248.500 clientes no mundo (incluindo aqueles provenientes
da aquisição da SuccessFactors) condições para operar, decidir, adaptar e colaborar melhor
e crescer com sustentabilidade. Para mais informações, acesse www.sap.com.br, a sala
de imprensa http://brasil.news-sap.com/ e siga no Twitter @SAPNotíciasBR.
APOIO
Fundada em 1964, a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento
(UNCTAD, na sigla em inglês) promove a integração dos países em desenvolvimento
na economia mundial. A UNCTAD tem evoluído progressivamente, tornando-se uma
instituição baseada em conhecimento, cujo trabalho tem como objetivo ajudar a moldar
os debates políticos e o pensamento sobre o desenvolvimento, com um foco particular
em assegurar que as políticas nacionais e internacionais garantam um desenvolvimento
sustentável.
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