Unifolha VivÛncia Museus EdiþÒo 83
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Unifolha VivÛncia Museus EdiþÒo 83
U nifolha J o r n a l -L a b o rat ó r i o d o c u r s o d e J o r n a l i s m o da U n i d e r p projeto especial CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO - 2009 | EDIÇÃO 83 | ANO XII | ESPECIAL MUSEUS E SUAS HISTÓRIAS... "A primeira impressão que tivemos ao chegar ao Museu da Televisão foi a de ter voltado ao passado" "Um museu é o melhor lugar para recordações. Elementos que fizeram parte do passado estão ali, diante de nós..." O "transplante" das culturas... 02 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL Investimento na dança: Cia de Artes da Universidade completa nove anos Ascom Uniderp Com o objetivo de promover o desenvolvimento da arte e da dança, oferecer condições de trabalho aos bailarinos e proporcionar a população o acesso à cultura, em setembro de 2000 foi criada a Cia de Artes da Universidade Anhanguera-Uniderp. A primeira apresentação aconteceu em outubro de 2000, em um evento promovido pelo Rotary. “Nesse ano completamos nove anos de atividades”, lembra Maria Helena Pettengill, uma das coordenadoras da Cia. A frente do projeto com Maria Helena, está a professora Sonia Rolon. A companhia é composta por bailarinos profissionais e acadêmicos da instituição. “Hoje estamos com acadêmicos de Direito e Educação Física. Já tivemos estudantes de outros cursos como Arquitetura e Urbanismo, por exemplo. Temos um corpo de bailarinos permanente. Por ano saem no máximo três pessoas, mais por problemas pessoais, pelo fato de não conseguir mais conciliar os ensaios com o trabalho”, pontua Maria Helena. Atualmente a companhia conta com dez bailarinos. Segundo a professora Maria Helena já passaram pela história da companhia aproximadamente 25 bailarinos. “Para ser bailarino da companhia tem que ter compromisso. Ensaiamos três vezes na semana e excepcionalmente, quando temos apresentações nos finais de semana também”, conta Maria Helena sobre a rotina das atividades da Cia. “A Universidade entende que as manifestações artísticas e culturais estão intimamente ligadas ao bem-estar e desenvolvimento do ser humano, por isso, procuramos sempre incentivar projetos nessa área”, destaca o professor Ivo Busato, pró-reitor de Extensão da Instituição. Para o professor, nesse período a companhia contribuiu para enriquecer e divulgar a dança sul-mato-grossense. Um pouco de nós é o nome do espetáculo que a Cia de Artes está preparando para mostrar cinco trabalhos diferentes do grupo. “A apresentação deve acontecer no teatro Aracy Balabanian no final de novembro”, diz Maria Helena. Trajetória - Por ano a Companhia de Artes faz, em média, 30 apresentações e nesses nove anos de história, algumas se destacam como as mais marcantes. “Em janeiro de 2003, a companhia se apresentou ao lado do grupo Chalana de Prata na cerimônia de posse do atual presidente da República. Fomos o grupo que representou o Estado de Mato Grosso do Sul e essa apresentação foi muito importante”, pontua Pettengil. No ano de 2006 a Cia de Artes participou da 3ª Mostra de Dança, em Cuiabá, Mato Grosso. Na oca- sião foram apresentados três trabalhos: Idas e Vindas; Cunhataiporã e Nossos Campos têm Mais flores... Escolhida pelos sul-mato-grossenses, a Cia de Artes da Universidade foi um dos representantes de MS no Salão de Turismo. O evento nacional aconteceu de 18 a 22 de junho de 2008 em São Paulo. Além da Cia, também participou o duo Filho dos Livres e a dupla Tostão e Guarany. wagner guimarães Expediente Unifolha – Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Anhanguera/Uniderp Ano XII - Nº 83 - outubro de 2009 - Tiragem 5 mil exemplares. Obs.: As matérias publicadas neste veículo de comunicação foram produzidas pelos acadêmicos do 4º semestre do curso de Jornalismo da Anhanguera/Uniderp (N 40) Chanceler: Professora Ana Maria Costa de Souza Reitor: Professor Guilherme Marback Neto Vice-Reitora: Professora Heloísa Gianotti Pereira Pró-Reitor Administrativo: Antonio Fonseca de Carvalho Pró-Reitor de Graduação: Professor Eduardo de Oliveira Elias Pró-Reitor de Extensão: Professor Ivo Arcângelo V. Busato Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Professora Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini Diretor de Controle Acadêmico: Professor Eduardo de Oliveira Elias Coordenador do curso de Jornalismo: Professor Marcos Rezende Morandi DRT/MS 067 Jornalista responsável: Professor Alexandre Maciel (DRT/MS 162). Revisão: Professor Mário Márcio Cabrera (DRT/MS 109) Edição de fotos: Professora Elis Regina Nogueira (DRT/MS 090) Projeto Interdisciplinar "Vivências" - 4º semestre de Jornalismo - Professores envolvidos: Alexandre Maciel, Carlos Kuntzel, Elis Regina Nogueira e Mário Márcio Cabreira. Projeto Gráfico, Diagramação: Acadêmicos do 4º semestre, com supervisão do Professor Carlos Kuntzel DRT/MS 041 Impressão: Gráfica "A Crítica" Unifolha - Rua Ceará, 333, bairro Miguel Couto, Campo Grande-MS. Cep: 79.003-010 – Tel:(0**67) 3348-8096. www.unifolha.com.br - E-mail: [email protected] 03 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL A política da cultura Caio Possari Danielly Azevedo Sue Lizzie Viana 4º semestre A partir de abril de 2009 foi criado o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), um sonho de todos que trabalham na área museológica. A entidade é a mais nova instituição federal vinculada à estrutura administrativa do Ministério da Cultura e será responsável pela coordenação das ações da política nacional específica para a área. Além de capacitar profissionais para atuar neste setor, que está, por enquanto, deficitário. Há menos de cinco cursos de graduação em museologia no Brasil. danielly azevedo A instituição também pede que todos os estados criem um sistema estadual de museus para haver uma maior interação em nível nacional. A finalidade é melhorar os serviços do setor, aumentar a visitação e arrecadação dos museus, além de fomentar políticas de aquisição e preservação dos acervos. Mato Grosso do Sul conta com 31 museus e um sistema estadual já foi criado, composto por todas as instituições que tem relação ao tema, sejam estaduais, oficiais, públicas ou privadas, comunitárias, ecomuseus, entre outras. Vários municípios pretendem criar ou revitalizar seu centro de memória. O mais novo projeto em andamento é o da cidade de Três Lagoas. danielly azevedo Livros sobre as políticas públicas dos museus ajudam a consolidar novo modelo de interação Neusa Arashiro, gerente de Patrimônio Histórico, diz que ainda resistem conceitos equivocados Do início do ano até hoje, houve grande valorização dos museus perante a sociedade nacional e, de acordo com as estatísticas, haverá um aumento por conta da percepção que a população começa a ter de que estes são patrimônios públicos de grande importância para a cultura de um cidadão. “As pessoas em geral ainda tem um conceito errado de museus, não pensam muito em cultura brasileira e ainda confundem a utilidade dos acervos”, confirma a gerente de Patrimônio Histórico da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Neusa Arashiro. Um museu, segundo o Ibram, tem que ter acervo próprio e que seja disponibilizado para consulta pública. Acima de tudo, deve desenvolver uma ação educativa. Essa última característica se remete a ser um ambiente vivo, aberto para questionamentos e novas informações. É exatamente isso que a sociedade tem que entender e buscar. Apesar do pouco investimento destinado a essas instituições, Mato Grosso do Sul vai receber um recurso da ordem de 205 mil reais do Ibram e a contrapartida do Estado varia entre 10% a 20% do valor. Os responsáveis pelos museus procuram maximizar e aproveitar de todo o jeito essa quantia para melhorias gradativas. “Em Mato Grosso do Sul, ganhamos no mês passado o Museu da Cultura Dom Bosco, com acervo fantástico de culturas indígenas, com alta tecnologia de nível internacional”, lembra Neusa. O Conselho Internacional de Museus (Icom) define que um espaço como este “é uma instituição permanente sem finalidade lucrativa, aberta ao público, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento; que realiza pesquisa sobre a evidência material do homem e do seu ambiente, conserva, investiga, comunica e exibe com finalidade de estudo, educação e fruição”. 04 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL "Transplante" das culturas Dom Bosco Juliana Nogueira Nando Mendes 4º semestre rachid waqued E m uma manhã cinzenta de setembro, adentramos o Parque das Nações Indígenas para conhecer a nova sede do Museu da Cultura Dom Bosco, ou do Índio. São mil metros quadrados destinados ao prédio de tijolinho à vista, bem diferente daquele que ficava na Missão Salesiana, no centro da cidade. Originalmente, o museu foi criado em 1951 pelos padres salesianos e ficava no colégio de mesmo nome. Ele está aberto para visitação desde o dia 24 de agosto, quando aconteceu a reinauguração oficial, com coquetel de abertura da exposição. Ao entrarmos no hall sentimos o frescor do ambiente ainda com cheiro de construção. Uma arquitetura moderna e arejada, com recepção ao fundo e pessoas descarregando um caminhão de bichos empalhados transitando ao meio. Somos recepcionados pelo curador arqueológico, Dirceu Lonkhuijzen, calvo, de olhos claros e barba loira, que nos conta um pouco sobre a mostra. “Temos apenas 50% da exposição pronta. Já é toda a parte arqueológica e etnográfica, trazida do museu antigo e adaptada à nova estrutura. A maior atração, que é a coleção zoológica, ainda não está disponível”. Antes de entrar no museu, o visitante tem uma aula de educação patrimonial no auditório que fica do lado esquerdo da entrada principal. “Esperamos que essas aulas de boas maneiras não durem muito tempo, pois as pessoas tem que se acostumar com visitas deste tipo”. Os ingressos custam 10 reais e estudantes e idosos pagam meia-entrada. Dirceu nos leva à sala principal, e nos deparamos com um grande portal de vidro sensível à nossa presença, que se abre e dá passagem para uma sur- Acervo é apresentado de forma interativa para o público, com peças de cerâmica, urnas funerárias e até uma sala que representa as "almas" dos indígenas exposição”. presa: Um museu de nível inAvistamos, então, um índio ternacional, equipado com alta deslocado, porém orgulhoso de tecnologia. seu rastro étnico. De passagem Projeções no chão enchem por Campo Grande, o cacique nossos olhos com imagens do do Xingu Faremá Kalapalo famuseu antigo e de como o acerlou sobre sua contribuição para vo era disposto ao publico, sem o museu e explicou um pouco muito cuidado. No primeiro da sua cultura. “Eu ambiente, podemos trouxe machado ter acesso ao acervo "Uma tigela que meu avô fazê”. de forma interativa, tosca de pedra Faremá também com muitas peças e um soquete. doou totens feitos que contam suas Imaginamos na sua tribo para histórias, formando uma garota representar uma uma sequência de tirando uma festividade fúnebre bom gosto. dessas da feita sempre que O ambiente foi bolsa, hoje em um cacique morre. projetado para o dia, para se “Quando eu moríndio. Ele tem que maquiar dentro rer, meu filho fazê reconhecer sua hisda sala de aula. Quarup”, comenta tória aqui dentro. Seria no mínimo o índio olhando As paredes, assoaengraçado." com um sorrisinho lho, iluminação e ingênuo. o clima nascem de Quanto ao conuma visão futurista traste da vida na aldeia com as das formas e conceitos indígeexperiências na cidade, ele se nas, para que a atual posterimostra incomodado. “É difícil. dade possa ser degustada com O dinheiro lá é diferente. Aqui muita veracidade. “Os próprios como você vai comer? Lá tem indígenas ajudaram a montar a peixe, tem água pra beber. Aqui compra tudo”. No entanto, Faremá ressalta que hoje dependem de utensílios do homem branco. “A gente usa fósforo, machado, panela. Sempre que eu vou, levo coisa do homem branco”. E o passeio pelo mundo indígena continua. Agora estamos diante de peças de cerâmica que representam o sepultamento. Projetadas em uma superfície côncava que nos remete a uma caverna, pinturas da pré-colonização parecem estar ali naquele lugar. Vemos também materiais usados na fabricação de tintas para uso na pele. Uma tigela tosca de pedra e um soquete. Imaginamos uma garota tirando uma dessas da bolsa, hoje em dia, para se maquiar dentro da sala de aula. Seria no mínimo engraçado. Vasos, brinquedos, cocares e tantos outros ornamentos que sobreviveram ao longo dos séculos estão à disposição dos visitantes do museu. Há também passarelas com piso de vidro, para que possamos sentir a cultura indígena mais de perto, e ter a sensação de viver aquilo tudo. No final da exposição, que pode ser vista sem um roteiro, há uma área circular cheia de bonecos muito antigos que representam as almas dos indígenas. “Este é um espaço para contemplação muito interessante, em que as pessoas às vezes têm a sensação de que estão sendo observadas”, comenta Dirceu antes de nos conduzir a um local repleto de computadores, onde os visitantes podem ter acesso às imagens das peças e saber o máximo de informações possível sobre elas. Deixamos o museu com muita vontade de dividir a experiência com tantas pessoas que nunca viram algo tão especial na cidade. Surpresos e encantados, só queremos ver o museu cheio de gente, bebendo nessa fonte cultural tão importante e acessível, que acaba de tomar o primeiro fôlego pós parto. 05 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL Gritos dayane reis no silêncio das cores O peão sela o seu cavalo, enquanto a bailarina dança ao lado. E, nas costas da magia, peixes nadam... Dayane reis Dayene paz mílton júnior tamara mendonça 4º semestre C ompras, eletrônicos, gritos, promoções e muitas pessoas. Quarta-feira, duas e meia da tarde, no Centro Comercial Popular de Campo Grande, o Camelódromo. Em meio a anúncios de ofertas e milhares de produtos, encontramos algo a mais, ao longe, em um canto quase que despercebido, seguindo uma longa e sinuosa entrada. Caminho que nos leva ao silêncio, vazio e floral. Rosas, tulipas, orquídeas, formando um jardim de telas em meio ao concreto e às armações. Logo na entrada, senhoras e crianças reunidas cercadas de papéis. Era uma oficina de mosaicos. A concentração de todas elas nos inibia de fazer perguntas. Porém, a felicidade e a disposição estampadas em seus olhares nos mostravam a grande realização que era aquele momento. Andando pelo espaço, em um segundo ato, casas, estradas e até Paris surgem nas telas. O abstrato invade nossos olhos enquanto a música toca. A média de preços dos quadros varia de 100 a 1,5 mil reais. Mas há também os menores, a valores populares de 30 a 70 reais. Relações Públicas do espaço, Lucila de Araújo diz que as obras são “vendidas bem”. “Normalmente, são turistas que compram, para levar de recordação. Procuram na maioria das vezes ‘onças’, ‘jacarés’ e coisas relacionadas ao Pantanal”. O peão sela o seu cavalo, enquanto a bailarina dança ao lado. E, nas costas da magia, peixes nadam. O “Espaço de Arte Criação e Mostra” foi inaugurado em dezembro de 2005. Sua função sempre foi expor arte nas mais variadas formas. Hoje, podemos encontrar telas pintadas por artistas como Nato Magalhães, Lenir Marques, Vanda Flores, Em meio a gritos de anúncios e promoções, encontra-se o Espaço de Arte Criação e Mostra Clélia Caramori. Uma exposição de origamis invadirá o local em breve. Coordenadora do local, Gisele Pacheco Mendes fala sobre as mudanças de objetivos no espaço. “No começo, fazíamos exposições com artistas consagrados da terra, e, agora, estamos fazendo com novos talentos”. Isso tudo para difundir a arte no estado. Com as exposições, são ministrados cursos dos mais variados. Mosaico, cerâmi- “No começo, fazíamos exposições com artistas consagrados da terra, e, agora, estamos fazendo com novos talentos”. tamara mendonça Além da exposição de quadros, o espaço oferece cursos de mosaico, pintura, violão, entre outros, estimulando a formação de futuros talentos ca, violão, entre outros, com duração de dois meses cada. O público é, em sua maioria, composto por mulheres acima dos 30 anos. Em um curso de desenho, mulheres viajavam entre os rostos que surgiam no papel. Os lápis desenhavam formas desajeitadas. Olhos redondos, puxados, bocas grandes e tortas de artistas iniciantes. Por ser gratuito, os cursos oferecidos têm como objetivo aproximar a arte da população. Uma vez que o ser humano se depara com ela, ele pode se transformar. A exposição e os cursos ministrados no local são uma parceria entre a Fundação de Cultura de MS (Fundac) e a Prefeitura Municipal de Campo Grande. Cursos de Inglês e teatro também são oferecidos, mas estes apenas para filhos dos comerciantes do Camelódromo. O lugar não somente expõe, mas, também, forma novos talentos. A maneira de expressão não importa, seja na musica, nas telas ou na cerâmica. O Espaço de Arte Criação e Mostra representa o reconhecimento da cultura regional pela sociedade, pois preza pela promoção da arte de Mato Grosso do Sul. Além de expor obras no local, os artistas podem comercializá-las. Os interessados em expor suas obras devem entrar em contato com a Fundac, na rua Brasil, 464. É necessário levar um portifólio com criações desenvolvidas pelo artista. Cada mostra tem a duração de quatro meses. E os cursos oferecidos são iniciados a cada bimestre. O Espaço de Arte fica no segundo piso do Camelódromo, na avenida Afonso Pena. O horário de funcionamento é de 8h a 18h. Instalado em meio a um comércio popular, o lugar tem o objetivo de levar a arte, para quem tem mais dificuldade de acesso. 06 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL Marco traz panorama histórico e social Além da escola contemporânea, são expostas obras de vários momentos das artes plásticas de MS Adeline Fernanda Adriana Queiroz Élida Monteiro Joana Moroni Lane Nakasone Leonardo Brandão 4º semestre O Museu de Arte Contemporânea (Marco), localizado no Parque das Nações Indígenas, completa 17 anos de existência, em dezembro de 2009. Segundo a gestora de Arte e Cultura do local, Cristina Moura, são quatro exposições temporárias por ano. No acervo permanente, estão expostas obras que compõem um panorama histórico e social de Mato Grosso do Sul. “As obras estão organizadas, levando em consideração os momentos históricos das artes plásticas do estado e, também, contemplam as nacionalmente premiadas. Em decorrência disso, nem todas as telas são da escola contemporânea”. Na sala onde fica o acervo permanente, a primeira artista que reconhecemos é Conceição dos Bugres. Três esculturas de bugrinhos estão dispostas uma em cima da outra. Logo atrás, outros sete estão enfileirados, com tamanhos e diferentes tons de amarelo e de marrom, na arte que é ícone no estado. Os quadros apresentam diversas linguagens. Alguns são totalmente abstratos. Outros têm figuras humanas em destaque. Temas como o Pantanal, os índios, a natureza, a divisão do estado são comuns. Ícones regionais, valores humanos e símbolos capitalistas, como um quadro que reinterpreta o logotipo da Coca-Cola, estão presentes também. Cores fortes e suaves; telas coloridas ou quase monocromáticas; quadros dinâmicos, outros reflexivos, alguns alegres e uns dramáticos. Diferentes técnicas de pintura: xilogravura, ponta seca sobre papel, acrílico sobre linho ou tela, óleo, encáustica sobre náilon, guache sobre tela, pastel seco sobre papel. Cristina Moura aponta uma contradição. “Aqui (Marco), temos uma sala específica para restauração, mas não tem o profissional”. Não há, em MS, um grupo permanente de restauradores. Se uma peça sofrer dano, a mão de obra para o reparo tem que vir de outras partes do Brasil. Segundo a gestora, para os funcionários do museu, cada obra “é como se fosse um filho único”. Os cuidados se devem ao reconhecimento do trabalho que os autores tiveram. “São meses de produção pelo artista, sem contar o processo de criação e concepção, que exige muita dedicação deles”. O economista carioca Fernando dos Santos do Nascimento, 33 anos, diz que é primeira vez que ele vem ao Marco. Ele admite que não tem muito costume de visitar museus, mas acredita que o local é importante para transmitir a história e a cultura da região. Para a visitante Sandra Guimarães, 36 anos, é necessário observar a arte regional. Ela conta que sempre traz os filhos para mostrar que o estado tem cultura. “Desde cedo, eles precisam se familiarizar com esse tipo de arte”. A estudante Patrícia de Souza Brandão, 19 anos, afirma que, no final de semana “é melhor ver a cultura do estado do que ficar em casa”. Ela gosta do museu porque tem acesso às manifestações de outras épocas. “Às vezes, a gente estuda nos livros, mas podemos aprender no museu, também. Tem gente que reclama que não tem acesso à cultura, mas tem opções em Campo Grande, como museu, mostra de filmes, tudo de graça”. Cristina Moura destaca que muitos pensam que visitar um espaço como esse é somente o ato de admirar as obras expostas. “Hoje, passamos por um processo de formação de público e um ponto importante para isso são os oferecimentos de outras atrações pelo museu”. Existe uma parceria com as escolas públicas, que podem levar seus alunos para conhecer o espaço. “Antes de começar a visitação, contamos um pouco da história do museu”. São várias oficinas de arte e projetos educativos. joana moroni “É melhor ver a cultura do estado do que ficar em casa”, afirma visitante adeline fernanda Arte em movimento Projeto de parceria entre escolas e a instituição favorece a formação de público qualificado O Projeto Cinemarco acontece no segundo e último domingo do mês. Filmes do acervo da Programadora Brasil são exibidos gratuitamente, no auditório. O Projeto Fazendo Arte no Marco envolve crianças de 7 a 12 anos. No último domingo do mês, promove-se releitura de obras do acervo ou de fora, oficinas de pintura, desenho, modelagem, expressão corporal, dramatização e música. O Projeto Paralelos promove debates e discussões relacionadas à diversidade artística, além de palestras e cursos. Nas férias, o museu oferece cursos de mosaicos, mangás e outros. No primeiro domingo do mês, acontece o Bazar de Artesanato. Já a oficina de fusão de vidro é permanente. Há, ainda, uma biblioteca especializada em arte contemporânea. Livros, revistas e catálogos, nacionais e internacionais, além de vídeos sobre a história da arte, do cinema, da fotografia e da arquitetura. Para participar das atividades e obter mais informações, ligue para o telefone 3326-7449 ou acesse o site www.marcovirtual.com.br. 07 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL A história por trás das telas Aryana Lobo Luciana Ábrego Roberta Cáceres 4° semestre Se fossem várias crianças, certamente ficariam fascinadas, querendo pegar logo cada um daqueles “brinquedos”. Realmente, são deslumbrantes as imagens que vimos. A primeira impressão que tivemos ao chegar ao Museu da Televisão foi a de ter voltado ao passado. O local que abriga o museu em Campo Grande foi uma das primeiras residências da família Zahran. Logo na entrada, nos deparamos com portões de ferro e as paredes feitas de tijolos pintados de branco, maiores que o comum, sustentados por enormes toras de madeira, em formato quadrangular. O chão também é feito do mesmo material, bem lustrado, tudo muito bem conservado. As portas e janelas estão sempre trancadas, para a conservação do local. O museu é iluminado por pequenas lâmpadas, proporcionando um ambiente agradável pela discreta iluminação. Ao entrarmos em uma sala que logo daria acesso a outras, deparamo-nos com objetos muito valiosos. De início, fomos levadas ao ano de 1968, em contato com a primeira autorização da TV Morena para a transmissão da programação. Foi como se estivéssemos exatamente naquela época, naquele dia. Encontramos os materiais que foram usados no começo da televisão, como câmeras antigas e pesadas, de fabricação inglesa, os primeiros aparelhos televisivos e as máquinas que faziam as edições de imagem. Todas as relíquias e os documentos protegidos por uma caixa de vidro, bem reforçada. Há uma câmera enorme, com tripé, a primeira usada na cidade. Além de quadros espalhados por todo o museu contando a história da televisão, com fotos e informações da época, como um retrato em preto e branco envelhecido dos pioneiros da televisão na região, Eduardo e Ueze Elias Zahran. aryana lobo Diretor de marketing, Eddie Gutemberg, mostra os primeiros equipamentos usados na TV roberta cáceres No local, os visitantes podem ver os aparelhos antigos e a réplica da torre da TV Morena seus conhecimentos. Na seqüência, entramos em outra Quando perguntamos por que se sala. O gerente de marketing da TV chama Museu da Televisão e não da Morena, Eddie Gutemberg nos mosTV Morena, ele explica que os arquitrou a fotografia de uma televisão, a vos pertencem à emissora. Porém, primeira que veio para a cidade. Reacredita que é melhor ficar com essa latou que as pessoas não tinham acesdenominação, pois, caso seja preciso so aos aparelhos televisivos. Por esse agregar outras informações, não ficamotivo, os irmãos Zahran trouxeram riam presos ao nome. cerca de mil televisores e distribuíMais adiante Eddie seguiu em direram gratuitamente, em vários pontos ção a uma porta enigmática, trancada da cidade, como praças e centros cocom cadeados e reforçada merciais. Eles acreditavam Há uma câmera por um ferro que a cruzaque, assim, as pessoas iriam se interessar e comenorme, com va. Era como se fosse antigamente, um baú no qual prar, o que aumentaria a tripé, a primeira as pessoas guardavam lemaudiência dos programas usada na branças importantes que hoexibidos pela emissora. Eddie explica o porquê cidade. Além je se tornaram símbolos ou amuleto de prosperidade. do museu ter pouca divulde quadros Ao terminar de abrir as gação. “Muito disso daqui espalhados por portas, toda aquela claridaé nosso arquivo”, reforça, de tomou conta do lugar. A todo o museu... dizendo que é aberto ao luz refletia nos preciosos obpúblico. Apenas é necesjetos da história da televisão. sário o agendamento. E, Então estava ali a réplica da maior torainda, conta que o Museu da Televisão re de transmissão do estado, cercada é mais direcionado aos estudantes de de pedras brancas como em um jardim Comunicação. É um público específico de inverno. As visitas podem ser feitas que procura o local, o que gera certo de segunda à sexta, das 8 às 11 horas receio. “Se você deixa muito aberto as e das 14 às 18 h, mediante agendapessoas podem depredar e queremos mento, nas dependências da Fundação preservar”. Eddie explica que alguUeze Zahran, situada na rua Pedro mas reportagens são feitas lá, como Celestino, 1433, centro. Telefone para em dias de visitação, quando escolas informações: (67) 3325-7050. lavam seus alunos para enriquecer os 08 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL Um lugar para reviver Aníbal Placêncio Flávia Andrade Marcus Antônio Rafael Paniago 4º semestre Heróis no que fazem e, sempre, a serviço da população. Vão aos lugares de mais difícil acesso, com um objetivo claro: salvar vidas. Para eles, as chamas da esperança estarão sempre acesas, assim como acontece com as famílias envolvidas na situação. Os personagens em questão são os militares do 2º/10º Grupo de Aviação Esquadrão Pelicano, criado pela Força Aérea Brasileira (FAB), em 6 de dezembro de 1957. Um museu é o melhor lugar para recordações. Elementos que fizeram parte do passado estão ali, diante de nós. A sensação é de estar frente a frente com a história que só conhecemos pelos livros. Ao entrarmos no Museu da Aviação da Busca e Salvamento, a recepção é amigável. O tenente Taffarel, responsável pelo atendimento, explica tudo sobre o Esquadrão Pelicano e o museu. Logo na entrada, a exposição de um avião que já foi utilizado pelo grupo fornece uma idéia do que está por vir. Dentro do museu, inúmeros equipamentos que deixam todos fascinados. O tenente Taffarel explica que, antiga- rafael paniago Saguão de manutenção dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB): "A certeza do resgate vem dos céus" nos 40 anos do Esquadrão Pelicano mente, muitos deles não eram patenteados. “Demorou para os brasileiros perceberem a importância de patentear as criações. Há muitas coisas que foram idealizadas aqui, mas que povos, como os ingleses, copiaram e registraram no nome deles”. marcus antônio Tenente Taffarel relata fatos históricos do museu e se sente honrado em fazer parte da FAB Por causa disso, no ano de 1944, foi criada uma Organização Internacional de Aviação Civil (OACI), para que as invenções fossem registradas oficialmente. As cordas em exposição no museu, embora simples, são elogiáveis. “Muitas pessoas já foram salvas com a utilização dessas cordas. Nos dias atuais, os cabos de aviões e helicópteros de resgate são mais finos”. Os capacetes utilizados pelos militares, ao longo dos anos, não foram fabricados casualmente, mas, sim, feitos sob medida, para as missões realizadas. Assim como os capacetes, os uniformes usados pelos militares são destaque nas estantes de exposição. Há muitos detalhes que só se percebem ao observar de perto, como a gola das camisas e, logo abaixo, o bolso com o símbolo maior do grupo, o pelicano. Existem uniformes de cores diferentes: laranja, verde e azul-marinho. Há armamentos de todo tipo no museu, metralhadoras principalmente. “As armas só são utilizadas em casos especiais, quando se sobrevoam áreas de risco ou países com ambiente hostil, para prevenir”. Tenente Tafarel trabalha há 8 anos na área, e sua vida é “ralada”, como a de todos os pelicanos. “Não é raro termos que trabalhar em finais de semana, feriados, até no Natal. Mas, eu sou feliz aqui”. Ao final da visita, ele mostrou aviões e helicópteros do Esquadrão Pelicano, além de nos presentear com livro e DVD, com a história do grupo. Desde o ano de 1981, a sede oficial fica na cidade de Campo GrandeMS. O lema deles está claro neste trecho do hino “Juramos a todos salvar, sempre salvar, por uma vida a nossa ordem é lutar”. A partir do ano de 1968, com a desativação do SB-176, o Esquadrão Pelicano se tornou a única unidade aérea dedicada exclusivamente à missão de Serviço de Busca e Salvamento Aeronáutico (SAR), na FAB. As atividades de busca e salvamento foram se desenvolvendo muito no Brasil, com o passar dos anos, acompanhando o crescimento do tráfego aéreo no país. Quando o Esquadrão completou 50 anos de existência, os militares receberam um presente à altura da data: aeronaves mais modernas, que trouxeram agilidade para as missões. O Esquadrão Pelicano é conhecido pelos resgates em acidentes aéreos. Mas a missão deles é bem ampla, e inclui tarefas como ajudar em campanhas de vacinação nas áreas de difícil acesso. Atualmente, a unidade é composta de 30 pilotos, 50 mecânicos e 30 militares. 09 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL denis augusto "A cobra vai fumar" Denis Augusto Gustavo Nunes Michael Grance Rafael Hiane 4º Semestre No calor sul-mato-grossense, o traje utilizado pelos pracinhas da FEB no rigoroso frio europeu, fica só no museu E mbalados pelo slogan doado pelo coronel José Alves “A cobra vai fumar”, Marcondes ao Comando Militar símbolo da FEB, nosdo Oeste (CMO) e integrado ao sos soldados desembarcaram museu. Dentre eles, os objetos nas frias terras italianas para que melhor retratam a atuação defender as Forças Aliadas na e o espírito da FEB são os de Segunda Guerra Mundial (1939suplementação e primeiros so1945). Histórias como essa atracorros, mostrando o importante em visitantes como o estudante valor de suporte técnico e opePablo Araújo, de 17 anos. “Vim racional que os pracinhas brasiapenas duas vezes aqui, mas leiros desempenharam em solos sempre que preciso pesquisar italianos. algo mais sobre o Por um instante, Na sala, que trabalho da FEB e a os mapas estratégiSegunda Guerra, é o simula um front cos e fotos da monde batalha primeiro lugar que tanhosa região de e no quadro me vem à cabeça”. combate por onde de armas, Entre fotos, quaos soldados passaencontramos dros e objetos utiliram, nos leva a um um verdadeiro zados em combate, cenário paradisíaco arsenal de as conquistas e trae ao mesmo tempo guerra gédias se revelam hostil, retratando as inúmeras nas três várias faces da guersalas do museu. ra. “Deve ter sido “Eu falei!”, comemorou Pablo, horrível para os soldados passar como se acabasse de fazer um dias em campanas entre essas gol, quando viu um panfleto da montanhas”, diz Pablo admiranSegunda Guerra que confirmou do as fotos. sua tese sobre o conflito psicolóOs apetrechos de combate e gico, que possuia um conteúdo de reconhecimento dos soldados extremamente idealista. “Coisas tinham uma particularidade para assim não se encontra na Interenfrentar o rigoroso inverno eunet”. ropeu. É o que mostram as rouO valor material e represenpas e o fardamento militar, comtativo das peças é inestimável. posto por um espesso casaco de Todo o acervo foi adquirido por lona que também era utilizado meio de doações que são feitas como “traia” para o acampamenprincipalmente por militares to, reduzindo, assim, o material e reservistas que atuaram na levado em campanas. expedição. O acervo inicial foi O manequim utilizado para a exposição da vestimenta no museu, que enfrenta de segunda a sexta o calor local, diferentemente do clima da Itália, não parece nada confortável. As glórias e conquistas transbordam do quadro de medalhas e condecorações, como a Cruz de Combate e a medalha de guerra, forjadas em metais nobres e atribuídas aos heróis e aqueles que deram a vida pelo Brasil na Segunda Guerra Mundial e também nas publicações dos jornais da época, otimizando as ações militares. O material bélico exposto no museu é raro e repleto de armas de grosso calibre. Muitas delas são de fabricação alemã e foram abandonadas durante os com- No coração de Campo Grande, entre a avenida Afonso Pena e Rui Barbosa, está localizado o museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB) o “guardião da historia”, que nos convida a voltar a um dos períodos mais patrióticos vividos pelo Exército Brasileiro bates. Há até uma granada de morteiro 60 milímetros, capaz de destruir um automóvel. Na sala, que simula um front de batalha e no quadro de armas, encontramos um verdadeiro arsenal de guerra. As submetralhadoras MP-18; MP-40; a impressionante metralhadora MG-34, utilizada para abater veículos grandes; o rifle carabina K-48; pistola 9mm e também a Luger 08, semelhante a que o ditador nazista Adolf Hitler utilizou em maio de 1945 para se matar, formam essa artilharia pesada. A todo o momento, a história e as nuances da Segunda Guerra se mostram a qualquer olhar, e não se resumem em apenas documentos concretos. No acervo de fotos, o museu nos traz algumas peculiaridades para serem contempladas, como a reprodução da morte do ditador italiano Benedito Mussolini, capturado e executado pelas forças aliadas em 1945. “Isso é muito importante para o resgate, eu não sabia que ele tinha morrido exatamente assim”, afirmou Pablo rumo aos canteiros da avenida Afonso Pena, com a sua pesquisa concluída e após ter vivido uma experiência que poucas pessoas que visitam o museu da FEB encontram. Muitas delas são estudantes em excursões e militares, que se vêem bravamente retratados em cada canto do museu. denis augusto Explosões nem pensar: Por medida de segurança, armas e munições utilizadas na Segunda Guerra foram desativadas 10 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL Imagens e sons da nossa história Anny Malagolini Flavia Silveira Joice Vieira Suzy Figueiras 4º semestre joice vieira O Museu da Imagem e do Som (MIS), de Mato Grosso do Sul, foi fundado em dezembro de 1997, e, mesmo assim, poucos o conhecem ou sabem da sua importância para o resgate da cultura do estado, que é novo e ainda está criando sua identidade cultural. Em seu acervo, guarda cerca de cinco mil peças como CDs, fitas VHS, fotografias, livros, documentários, filmes 16 milímetros e mostras de arte digital interativa. O museu já esteve em vários endereços e está passando por uma reestruturação, seguindo as normas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Será construída uma sala de projeção maior para conservar melhor o arquivo, agora deslizante e climatizado, informa o gestor de Produção Cultural do museu, Rodolfo Ikeda. João, ator e estudante de artes cênicas, diz não conhecer o novo espaço do MIS em Campo Grande. Ele, que já participou de um curso de cinema, no antigo endereço, na avenida Afonso Pena em frente à Praça do Rádio Clube, ressaltou a importância do fomento à produção. O novo espaço do MIS vai preservar melhor o acervo, diz o ator Mário Filho . Para ele, o que falta para o museu ser freqüentado como nos grandes centros é divulgação. “É aquela velha história, a população nunca vai freqüentar o MIS se não souber da existência dele e do que se trata. Muita gente nem conhece o que tem lá dentro. Fotos do inicio da cidade, filmes de Glauce Rocha, do José Otavio Guizzo. Eles fazem mostras, mas uma vez fui em uma e tinha três pessoas assistindo o filme. Acho um absurdo isso". O MIS recebeu no dia 1º de junho de 2009, o prêmio Darcy Ribeiro, pelo projeto “Preservar a memória, educar para o futuro”, que foi publicado na revista Instituto Brasileiro de Museus. “Falta conscientização da população quanto à importância da cultura e da construção de uma identidade local. A conscientização dessa identidade. Todos os eventos são divulgados na mídia”, defende Rodolfo Ikeda. Enquanto isso, o acervo está guardado, esperando a nova infra-estrutura. Na programação, exibições de filmes, exposições de fotos, instalações e cursos de fotografia e cinema. O novo espaço do MIS não tem previsão para ser inaugurado, mas, mesmo assim, o museu continua aberto de segunda à sexta-feira, das 12h às 18h. A entrada é gratuita e a classificação é livre. Com o intuito de fomentar a produção no estado e o conhecimento profissional nas áreas voltadas para a imagem e som, acontece até dezembro o programa Ciclo de Formação em Cultura Audiovisual. Elementos significativos da linguagem cinematográfica por meio da análise de trechos de filmes e curtas-metragens selecionados anny malagolini Iniciação à fotografia, com análise dessa linguagem na publicidade e na imprensa, com o objetivo de capacitar novos profissionais 11 ESPECIAL CAMPO GRANDE OUTUBRO DE 2009 Biotério é espaço de visitas e pesquisas Elizângela Lemes Larissa Munhoz 4º semestre Biotério é uma área específica, autorizada e equipada para acomodar animais, como roedores, serpentes, marsupiais, cães e aves, para utilização em pesquisas, extração de venenos e estudos de comportamento. Universidade da capital abriga um serpentário com uma média de 300 cobras. A bióloga e médica veterinária, Paula Helena Santa Rita, explica que eles extraem o veneno das serpentes e mandam para São Paulo e, de lá, é em- barcado para a China. “Aqui é o biotério onde se faz toda reprodução de camundongos para pesquisas científicas e também alimentação das serpentes.” Um forte odor de urina de rato impregna o lugar. “Já nem sinto mais o cheiro, acostumei”, brinca a bióloga elizângela lemes larissa munhoz Bióloga explica sobre os cuidados que se deve tomar ao segurar as cobras Alunos de Biologia visitam ala das serpentes e aprendem sobre a fisiologia de cada uma das espécies ali presentes da equipe de apoio, Larissa Calif. O biotério possui dois corredores amplos, compostos por duas alas específicas. A dos roedores, com cinco salas de reprodução, dois estoques e uma de quarentena. Estes espaços são cheios de furos nas extremidades, para a circulação do ar. A população estimada de roedores que o biotério tem está em torno de quatro mil. “Nossa capacidade mensal de reprodução é de cinco mil roedores, por sala”, informa Paula. A outra ala é onde ficam as serpentes, composta por duas salas de criação, uma para triagem e atendimento veterinário, onde se faz a biometria e sexagem. Outra é de necropsia, fixação e material, uma sala de estoque e de produção. Na parte de fora do biotério, existe o tanque da sucuri, uma espécie de piscina, com diversas plantas, parecendo um pântano. São três cobras da espécie, duas fêmeas e um macho. “Pesamos, tiramos 20% do peso e as alimentamos com dois ratinhos”, explica Larissa. Os alunos do curso de Biologia da Universidade Federal que estão no biotério, manuseiam as serpentes mortas e todos passam no teste de segurar uma jibóia viva. A bióloga Larissa explica como se deve segurar a cabeça e o corpo do animal, para não ser atacado por ele. Estas repórteres, também passam pelo mesmo teste e constatam que a serpente, além de pesada, é fria e escamosa. Mas é um belo animal. 12 ESPECIAL CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 Fazenda Bálsamo, morada dos pioneiros Bruna Lourenço Carlos Pereira 4° semestre “No final do século XIX, o carro de boi transportava a esperança dos pioneiros”. Este é um trecho de uma mensagem que recepciona os visitantes do museu José Antônio Pereira. Hoje, ao contemplar o veículo, exposto na cocheira, ao lado da antiga sede da fazenda Bálsamo, o visitante é transportado ao passado. A construção em pau-a-pique é coberta com telhas de barro originais da época, “feitas nas coxas dos escravos”, segundo Luciano Almeida Lima, 23 anos, estagiário do museu e estudante do 3º ano do curso de História, da UFMS. Por este motivo, a temperatura mantém-se agradável no interior da casa, mesmo nos dias de sol intenso. A sala é o maior cômodo e o único com piso de tábuas corridas, que, quase soltas, movem-se conforme os passos do visitante. Nas demais peças da residência, o piso é revestido com ladrilhos de fabricação caseira. Mesmo com poucos móveis e utensílios, pode-se ter uma pequena noção de como era morar naquela casa. Os quartos ainda exalam o cheiro do couro utilizado para confeccionar os estrados das camas, “cheiros de uma época”. Alguns baús, uma velha máquina de costura e, em um canto, a imagem de Santo Antônio. Na parede, uma mala de couro, uma camisa e um terno nos contam a história da família que ali vivia. Ao passarmos pela baixíssima porta que dá acesso aos fundos da construção, a incrível sensação de sermos transportados ao passado é quebrada pela contrastante arquitetura moderna da sala da administração, com cores fortes e vibrantes e equipamentos modernos ali instalados. Ao lado, separada da casa principal, fica a cozinha. Esta era construída separada, para evitar riscos de incêndio, uma bruna lourenço Visitantes do museu observam o engenho de cana-de-açucar, usado pelo fundador da cidade, José Antônio Pereira vez que a lenha queimava durante todo o dia e, também, à noite, e por lá ser um local onde ficavam os funcionários. As panelas de ferro sobre o fogão a lenha relembram aquela comida caseira dos tempos da vovó. A aparente tranqüilidade do museu é quebrada pelo som do movimento furioso dos veículos, que trafegam pelas ruas e avenidas, as quais, hoje, cortam o que foi a fazenda Bálsamo. Aos poucos, ouve-se o barulho das árvores movendo com o vento. Um grande pé de caju chama atenção entre o abacateiro, a goiabeira e, também, uma frondosa mangueira, que tem aproximadamente 140 anos. Uma doce mistura de cores e sabores. Os visitantes são recebidos por Anna Luiza, Antônio Luiz Pereira e a pequena Carlinda, que sobrevivem ali sob a forma de estátuas. "Hoje me veio à lembrança o casarão da Fazenda Bálsamo – A casa onde nasci", diz Alda Garcia de Oliveira, trineta de José Antônio Pereira. Do refúgio do senhor José, nasce Campo Grande Dayana Jesus Samuel Ota 4°semestre Em busca de terras ricas, espaçosas, melhores condições para desenvolver junto à família, “a nova Canaã”, um grupo de sonhadores iniciou uma viagem. Saíram de suas terras e encontraram outras, dando origem aquela que viria a ser, anos depois, uma das mais belas e novas capitais do Brasil. Em homenagem ao desbravador e fundador da região, José Antônio Pereira, em 1983, a casa que havia dado a seu filho Antônio Luiz, é tombada como patrimônio histórico e batizada de museu com o seu nome. Instalado na fazenda Bálsamo, o museu é preservado com características da época. O lugar, que “era também o refúgio do senhor José”, torna- se parte da história de Campo Grande. Foi doado ao município em 1966, pela neta de José Antônio. Desde então, o museu recebe visitantes de todos os bairros da cidade, turistas, estudantes, pais, filhos e acadêmicos. “O público varia, vem mais famílias”, diz o guarda municipal Lourival Soares da Silva, que há três anos trabalha no local. Para ele, o museu é antigo e tem que ser conservado. “Alunos que chegam aqui curiosos querem saber cada detalhe dos objetos”. Seu Lourival responde com muito orgulho, porque ele teve uma oportunidade. A empresa ofereceu o curso de museologia, pela prefeitura, para os três guardas que trabalham ali. Mas, apenas seu Lourival se interessou. “Quando tem uma oportunidade, tem que aproveitar. Sempre gosto de atender o pessoal. Temos que estar preparados. Desde o faxineiro ao guarda, tem que saber, para poder ajudar quando precisar. O que eu posso fazer, eu faço pelo museu”. Para recepcionar os visitantes, estão de prontidão três estagiários de História, da UFMS. Uma das estagiárias, Tatiane de Oliveira, acompanha os visitantes no museu, mostrando os objetos, explicando cada um deles, contando a história, as curiosidades e o modo de vida da época. Mas, infelizmente, a maioria dos visitantes vem aqui “mais pra conhecer os objetos e não a história”, diz Tatiane, frustrada. Sábado de manhã, Joel Tito, de 47 anos, foi acompanhar seus filhos no museu. Chegando, foram logo tirar foto do carro de boi. “Eu vinha carlos pereira Público observa uma das peças, cama típica da época dos pioneiros aqui, quando guri, era rústico”, afirma Joel, relembrando do passado. Sua filha, Vivian Gonçalves Tito, de 17 anos, que estuda no colégio ABC, veio ao museu para fazer um trabalho sobre a historia de Campo Grande. 13 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL História contada de um jeito diferente Daliane Ramires Karina Brito Gabriel Maymone 4º semestre “Achei as conchinhas na praia, durante minha lua-de-mel”, lembra João Sâmper, professor de história e responsável pelo museu Latino Americano, localizado na chácara do Latino. Ele acredita que os objetos que fazem parte da História devem ser mostrados para todo mundo. Resolveu, então, exibir suas coleções no museu e foi juntando mais itens para complementar o acervo. Sâmper conta que ministra aulas de História no local, que é voltado para os alunos do colégio. “Os alunos têm dificuldade na aula e a ideia é estimular a pessoa”. Quem visita o museu presencia uma verdadeira aula. O professor faz questão de explicar a origem de cada objeto. O local só funciona hoje graças ao empenho e esforço do docente, que ganhou a maioria das peças. “Alguns pais doam objetos para o museu, e a gente dá um desconto na mensalidade”. O passeio é recheado de curiosidades. Os alunos encontram desde minerais originais, até maquetes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), História do Brasil e do mundo. Alguns objetos raros, como bonecos de porcelana va- liosos, do século XIX, também podem ser apreciados. A principal “engenhoca” é uma grande maquete da Segunda Guerra Mundial. Trata-se de um cenário muito real de como foi a guerra. O professor ministra uma aula inteira sobre o acontecimento aos alunos, no museu. Muitas miniaturas foram adaptadas para se movimentar, tornando-as mais reais ainda. Outra grande atração é o ferrorama. O professor João conta que ele explica a evolução do trem, desde o modelo movido a carvão até o elétrico. “O projeto começou na sala de aula, na feira de ciências, há dez anos”. O cenário da ferrovia é de acordo com a época. O trem à base de carvão passa por um castelo medieval, e o elétrico atravessa o cenário de uma cidade moderna. Outra paixão do professor são as miniaturas de aviões da Segunda Guerra. Ele conta que demora cerca de dois meses para montar uma. Sâmper mostra com orgulho sua coleção de selos, inclusive, o primeiro do Brasil, o “Olho de Boi”. “Comecei quando era guri”. Documentos do ex-presidente Juscelino Kubitschek também são excelentes para dar aula. “Principalmente, para pré-vestibulandos”. O museu Latino Americano tem a forma de um castelo romano, com grama ao seu redor e tocos de árvores que constroem o caminho que leva o visitante para dentro do espaço. Há telefones antigos, pedras, moedas, bengalas e bibelôs, artesanato indígena, rádios, vasos de barro, fotos de monumentos e bancos, um violão utilizado na Grécia antiga, cartões postais, cartas de pessoas importantes, como uma ao imperador, réplicas de carros, armaduras, armas de fogo e muito mais. O passeio é repleto de surpresas, curiosidades e aprendizado. Para marcar um horário, basta entrar em contato com o professor João Samper na daliane ramires A cada explicação, os visitantes conhecem novos objetos que fazem parte de outras culturas Quer saber sobre as origens indígenas? Adeline Fernanda Marcus Almeida 4º semestre Voltar ao passado é importante para compreender o presente e resgatar a cultura. Como conhecer o antes que não presenciamos? A arqueologia estuda antigas sociedades, por meio de escavações e monumentos. E este estudo tem seu espaço garantido em Mato Grosso do Sul. Existe um lugar onde se preservam as origens culturais que vão se perdendo ao longo das gerações. A UFMS, por meio do Laboratório de Pesquisas Arqueológicas (LPA), montou um belo acervo, exposto desde 1987. Segundo um dos técnicos do museu, Éder Janeo da Silva, o centro, que se localizava no Morenão, ficou pequeno para acomodar tantas peças. Demorou, mas a aprovação para criar o museu saiu em 2003. Depois de mais um tempo de espera de um espaço adequado, no dia 19 de maio de 2008, o MuArq foi inaugurado no Memorial da Cultura e Cidadania. Os funcionários do museu, em sua maioria, são estagiários de História ou Artes. Laura Roseli Pael Duarte, futura historiadora, que trabalha no local, conta que o público é bem específico, composto por grupos de escolas e uniadeline fernanda Nossas origens descobertas pela Arqueologia versitários. “O museu ainda não está bem divulgado. Ano passado, vieram 140 professores em um evento; mas, tirando isso são mais estudantes.” Mais conhecido como Antigo Fórum, com escadaria larga e comprida que nos leva a uma instigante e maravilhosa viagem no tempo. Em seu interior, observa-se que nossa cultura é bela; porém, desvalorizada. Sentada em sua bancada, está uma mocinha simpática, que nos remete ao contrário do arquétipo de um museu tradicional. Logo na entrada, surge o convite para assistir a um vídeo, em uma sala que mais parece um cinema. Ar condicionado, poltronas macias, paredes pretas e som ambiente, tudo muito moderno. Somos transportados a um tempo quando as pessoas que aqui viviam eram muito diferentes das de hoje. Essa espetacular máquina é pilotada pelo arqueólogo e professor da UFMS, Gilson Rodolfo Martins, que, com seu conhecimento, nos guia rumo ao passado. A viagem não se restringe apenas à minissala de cinema. Ao entrar de fato, no museu da Arqueologia, começamos a entender a importância de termos História. Silêncio, paz, tranqüilidade... sentimos tudo isso ao passear pelo conhecimento. Obras feitas antes de estarmos aqui. Bem a nossa frente, urnas funerárias, até guampa de tereré que era utilizada antes dos descobridores, cerâmicas ricamente decoradas, armas, pratos e copos. A cada passo, uma descoberta, uma deliciosa emoção de estar diretamente dentro da historia do Mato Grosso do Sul. Saímos com a impressão de que não sabemos nada sobre nós mesmos, muito menos sobre o local onde vivemos. E com muito mais conhecimento que antes, após sensações e imagens inesquecíveis. 14 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL Entre oficinas e exposições, uma nova arte Natália Chaves Nathalia Albuquerque 4º semestre G rande espaço que possui teatro, local para exposições plásticas, salas para cursos e oficinas. Rodeado por um terreno com um gramado e bancos ao ar livre. É assim o Centro Cultural José Octavio Guizzo, localizado na rua 26 de agosto na área central de Campo Grande. Fundado em 11 de outubro de 1984, vem a ser o primeiro espaço destinado exclusivamente à cultura em Mato Grosso do Sul. Atualmente, recém passado por modificações o espaço ficou mais definido e com cara própria. Coordenadora do local, Fabíola Marques conta que medidas foram adotadas para melhorá-lo. “Houve uma repaginação na parte da frente, nos muros fizemos um trabalho de grafitagem. Porém ainda são munatália chaves Painel de CDs com cenário musical do estado danças pequenas". Mais obras de reparos acontecerão em 2010, com verba do Ministério da Cultura. Ainda na frente do prédio é possível observar algumas esculturas. Ao adentrar no Centro Cultural nos deparamos com um grande salão revestido por paredes de vidro. Lá podem ser localizadas a recepção, uma das entradas para o teatro, e a galeria principal Wega Nery. Fabíola conta que foi uma forma de homenagear a artista plástica sul-mato-grossense, pouco reconhecida no estado. Nesta galeria ficam expostos os seus principais trabalhos. Seguindo por um corredor, se vê um painel que retrata o cenário musical do estado. O diferente do quadro? O formato do mapa de Mato Grosso do Sul é composto por CDs de diferentes músicos e bandas regionais. Logo adiante, a segunda galeria, Ignêz Corrêa da Costa, outra importante artista do estado. Esse local traz pequenas exposições do Museu de Arte Contemporânea (Marco). “Nossa tentativa é aproximar o público, já que nem todas as pessoas podem ir até o Parque das Nações”. Ainda nesse corredor estão localizadas as salas para palestras, cursos temporários e ensaios dos grupos de teatro e dança. Aliado ao Centro Cultural, fica o seu complemento, o teatro Aracy Balabanian sendo que muitos pensam o contrário. O espaço teatral conta com capacidade para 297 pessoas. Sendo bastante utilizado para peças, eventos de música e danças. Projeto bem conhecido é o Cena Som, que ocorre toda quinta-feira. Trata-se de uma integração e uma tentativa de mostrar ao público talentos do cenário regional. O Centro Cultural possibilita aos artistas elaborarem seus espetáculos e em troca, fornece material, equipamento e iluminação para a sua realização. O Centro Cultural tenta, por meio de parcerias e projetos inovadores resgatar a população para os valores e ideias culturais. Fabíola conta que as barreiras são gigantescas. Durante muito tempo as pessoas, primeiro, associavam o te- natália chaves Oficina de cerâmica do Centro Cultural é um dos exemplos da pluralidade de eventos no local atro e nem se lembravam que existia um Centro Cultural ali do lado. Hoje, as coisas estão mudando: o Centro Cultural ganhou mais notoriedade e o próximo passo é fazer com que as pessoas se conscientizem do espaço e, no tempo livre, façam dele uma opção de lazer. Maneiras para se passar o tempo não faltam no Centro Cultural. Existem opções para os diversos gostos. O projeto Cine Brasil traz exibições de longas e curtas nacionais. na última semana de todo mês. As exibições ocorrem sempre às 18h30. O Projeto Cinema de Horror, no mesmo horário, proporciona exibições de filmes do gênero seguidas de debate. Já na primeira terça-feira do mês acontece o Sarau do Centro Cultural, das 19h às 21h no qual é promovido o encontro de manifestações culturais. Existem também oficinas que ocorrem tanto de forma permanente como temporárias. Estas são de capoeira, dança, teatro, musicalização para bebes. Pintura e história da arte, teatro infantil, juvenil e adulto e dança de salão. O Centro Cultural fica aberto todos os dias e o telefone para contato é (67) 3317-1792. CENA SOM toda quinta-feira 19h CINE BRASIL última semana do mês 18h30 CINEMA DE HORROR duas exibiçoes mensais 18h30 SARAU Primeira terça-feira do mês 19h QUARTA ERUDITA primeira quarta-feira do mês 19h 15 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL Força operariana de muitas glórias Torcida organizada faz homenagem ao Operário, uns dos maiores times do estado de MS mazzio nantes Calma de Maria de Lourdes esconde a indignação com o descaso em relação ao futebol regional Adriana Queiroz Mazzio Nantes 4º Semestre Decoração preta e branca. Quadros, fotos, camisetas, bonés, caneta, copo. O acervo do Memorial do Operário Futebol Clube foi montado com doações de torcedores. O local foi inaugurado no dia 21 de agosto deste ano, quando o time completou 71 anos de existência. As fotos mostram o estádio Pedro Pedrossian, o Morenão, lotado e com faixas enormes da Garra Operariana. Retratam momentos importantes, como o título de 1976, quando o Operário foi campeão estadual invicto, com o técnico Carlos Castilho. “O Operário Futebol Clube é a equipe que possui mais títulos entre as profissionais de Mato Grosso do Sul”, diz um texto do quadro com a história do time. Presidente da torcida organizada Garra Operariana, Américo Ferreira conta que o memorial é uma homenagem ao time. “O torcedor pode reviver o passado e pensar no presente também”. O prédio é alugado, mantido pela Associação da Garra Operariana. São 360 filiados. Alguns possuem a carteirinha da entidade e ajudam nas despesas. A torcida sempre acompanha o time. “Quando tem jogo, a torcida faz caravana. Chapadão, Corumbá... já fomos a muitas cidades para assistir os jogos". A intenção é mudar o acervo a cada quatro meses, para as pessoas visitarem sempre. “Fazer acervos temáticos, por exemplo, pegar o ano de 1974 e fa- lar quais eram os jogadores, relembrar momentos do Comerário, que é o clássico Comercial e Operário. Queremos passar o lado positivo do time, atraindo empresários, para que as pessoas ajudem a fortalecer a equipe”. Américo conta que o Operário está há 12 anos sem ganhar título. Por isso, é difícil conseguir torcedores. Para ele, o lugar serve para manter a história da equipe, resgatar e formar admiradores. “Hoje, os jovens veem os jogos mais pela televisão. Os pais precisam incentivar os filhos a torcer pelos times do estado. Ensinar o filho a ser torcedor de arquibancada, aquele que grita, que pode influenciar o jogador, o time, o jogo”. Mesmo com a situação difícil, o ambiente é alegre. É também um ponto de encontro dos torcedores. Nas sextasfeiras e aos sábados, a torcida se reúne para jogar sinuca e ver jogos do Operário. “Temos oito DVDs com jogos do time”. E, ainda, tem música ao vivo. Torcedores Luciano Nascimento é radialista e torce pelo Operário desde criança. “Achei muito lindo o Memorial. É minha segunda casa. E é uma forma de reerguer nosso futebol. Não torço para time de fora do estado”. Um dos fundadores da Garra Operariana, Edivaldo Moraes, enfatiza o fato de que a torcida é a única que transmite os jogos do time. “Temos a TV Galo, transmitimos os jogos ao vivo pela internet, com um link da Holanda. Somos a única tor- cida do Brasil que tem televisão”. Ele tem 41 anos e é analista judiciário. Fica chateado com a imagem que algumas pessoas têm da torcida. “Tem gente que acha que somos um bando de desocupados, baderneiros. Muito pelo contrário, nossa torcida não é baderna, é tudo organizado, somos casados, temos família, profissão”. Uma das mais antigas torcedoras do Operário, Maria de Lourdes Oruê, não sabe dizer exatamente desde quando tem paixão pelo time. Aos 72 anos, ela conta que morava em Aquidauana e, quando veio para Campo Grande, conheceu a sede do Operário. “Eu mora- va ali perto, mas deixaram desmanchar a sede”. Indignada com o descaso com os times do estado, ela se acalma quando olha as fotos no acervo, relembrando o nome de cada jogador e contando histórias da época. Sílvio Eduardo relata que a maioria dos torcedores do Operário tem acima de 30 anos, porque as pessoas não passam nossa cultura para frente, não valorizam. “Temos que honrar a cultura, os valores regionais. A divisão do Estado aconteceu pela luta de identidade, então vamos honrar. Nós e a mídia temos a missão de passar nossas culturas para nossos filhos”. Trajetória do Galo Tudo começou no dia 21 de agosto de 1938, com os trabalhadores e produtores rurais que interrompiam seu trabalho diário para se reunir aos finais de semana, com o intuito de se divertir com os amigos e com a família. Com o passar dos anos, a brincadeira começou a surtir efeito entre os empregados, empresários e amigos, hoje torcedores. Na década de 1970, o time decidiu se profissionalizar. O Operário Futebol Clube, com suas vitórias e garra, conquistava a torcida e o mundo. O ponto alto da equipe foi em 1977, na disputa do campeonato brasileiro de futebol, quando enfrentou um dos mais fortes times brasileiros, o Palmeiras. O Operário conseguiu se classificar para a semifinal do campeonato e enfrentou o São Paulo, vencendo, no Morenão, por 1 a 0. Mas, não teve a grande felicidade no jogo de volta, no Morumbi, perdendo por 3x0. Assim, o Operário conquistava o terceiro lugar do Campeonato Brasileiro. Alguns atletas desse feito histórico começaram a escrever sua trajetória. Entre eles, estava o já consagrado goleiro Manga, um dos maiores ídolos operarianos. O clube, conhecido nacionalmente, queria muito mais. Em 1982, o Operário foi disputar o campeonato Presidente Cup (na Coréia do Sul). mazzio nantes Ídolo operaniano: grafite do goleiro Manga Com uma vitória em cima do “poderoso Bayern de Munique”, o time saiu vitorioso do campeonato, em uma de suas maiores conquistas. Mas, com o passar do tempo, a equipe começava a entrar em crise. Em 1999, com dívidas, a direção decide vender parte de algumas ações, criando, assim, o “futebol empresa”. No dia 29 de novembro de 1999, formava-se o Operário Sociedade Anônima. Mas, na realidade, poucas coisas mudaram e isto se arrastou até 2006. Hoje, o clube não vive um grande momento no futebol nacional, está rebaixado no campeonato estadual, mas luta e busca retomar as vitórias. 16 CAMPO GRANDE-MS | OUTUBRO DE 2009 ESPECIAL andreia lorenzoni Nas paredes do museu, a história de uma mulher franzina, que não se intimidou com críticas e revolucionou a arte, com suas pinturas singulares Solar abre suas portas para o passado Andréia Lorenzoni Maria Francisca Pagnozzi Marcos Ribeiro Taísa Rodrigues 4º semestre Descendo a rua Calógeras, no sentido da avenida Afonso Pena, o velho casarão de telhas francesas e esquadrias italianas, trazidas pela mesma linha do trem que tirou a vida de seu fundador, Bernardo, abre as portas do passado para que possamos descobrir, ou ao menos imaginar, o mundo secreto da artista plástica Lídia. O museu Lídia Baís foi o primeiro prédio de alvenaria de Campo Grande, construído em 1918. Conservam-se ali objetos pessoais da família Baís, assim como o quarto, que pertenceu à artista, onde é possível ver suas telas e seus painéis. Andando pela sala de entrada, é notável a inquietação e perspicácia aguda que as obras de Lídia nos mostram. Imtaisa rodrigues Guia ajuda a desvendar os mistérios da artista pressiona a fase modernista, com o surrealismo do quadro em que a artista aparece em cima do planeta Terra, cercada de nuvens e anjos. Ou, a ousada “Última Ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo”, em que se põe como o apóstolo preferido de Cristo. Os olhos expressos nas fotografias ao longo da escada principal nos acompanham durante o percurso, envoltos em um clima místico, exprimindo a forte personalidade da artista. Levada pela imaginação e inspiração artística, Lídia pintou os painéis nas paredes da Morada, sob os olhares complacentes do pai e críticas das pessoas, pela ousadia de três figuras nuas, em face dos preconceitos da época. Tempos depois, já com outros moradores, essas pinturas no sobrado foram encobertas por tinta, à base de cal. A Morada foi transformada na Pensão Pimentel, até 1979, e, depois, deu lugar a vários tipos de comércio, sendo revitalizada em 1995, quando foram restaurados três painéis feitos por Lídia, nos anos 1930. A coordenadora da Morada dos Baís, Janine Tortorelli, explica que as obras de Lídia foram doadas para o Museu de Arte Contemporânea (Marco). Hoje, quem entra no Museu Lídia Baís pode conferir um lugar reservado à artista. Seu quarto original, montado com objetos pessoais, cadeira de balanço, chapéus, fotos, materiais de pintura, o violão e a harpa da compositora autoditada. A delicada cama, feita sob medida para seus 1,45cm. Pode-se ver um dos quadros mais importantes: o “Retrato da Família Baís”, que organiza uma espécie de árvore genealógica. Lídia era a caçula de nove irmãos. No ano de 1901, nasce uma figura pequenina, carente e de conduta voluntariosa, filha de Bernardo Franco Baís. A menina de jeito franzino destacouse cedo pelo comportamento rebelde aos padrões da época. Lídia Baís profetizava entre seus familiares: “Por minha causa, vocês vão ficar na história”. Transparecendo sua constante insatisfação com o mundo ao redor, vez por outra, simulava situações para chamar a atenção. Na sua infância, estudou em colégios em Assunção, no Rio Grande do Sul e em várias outras instituições, onde aprendeu pintura e piano. Ainda pequena, morou na Itália, por mais de ano, com sua família. Seus primeiros quadros a óleo foram pintados por volta de 1915. No mundo das cores, telas, tintas e dos pincéis, encontrou sentido na vida. Mergulhou no sonho, para justificar sua liberdade incompreendida. Nunca se intimidou nem se submeteu às lições domésticas dos colégios por onde passou. Também, nunca se interessou por divertimentos próprios da idade. Após dez anos de esforços dos pais, já adolescente, Lídia voltou para casa. No ano de 1926, convenceu o pai a deixá-la ir ao Rio de Janeiro, estudar pintura com Henrique Bernadelli. Fez uma viagem à Europa, interessada em aperfeiçoar sua técnica e seu estilo de pintura, recebendo forte influência do expressionismo e do surrealismo, rompendo com o estilo acadêmico adotado nas fases anteriores. Lídia retornou ao Brasil e, estimulada pelo mestre Bernadelli, realizou no Rio de Janeiro uma exposição de pinturas a óleo, de pouca duração. No Rio de Janeiro, quando fugiu para estudar Belas Artes, envolveu-se com pessoas que diziam ser espíritas. Praticou o jejum e outros atos mirabolantes, desembocando em um quadro de fragilidade mental. Devido a isso, Lídia foi internada várias vezes, para cuidados médicos. Em 1930, a família a obriga a retornar a Campo Grande. Sentindo-se deslocada, ela dizia: "Vou fazer o que nessa aldeia?". Com a perda do pai, que foi atropelado pelo trem que passava em frente à sua casa, mudou-se para um sobrado na rua XV de Novembro. A artista tentou abrir o próprio espaço, o Museu Baís. Como não conseguiu, mandou recolher a obra e se dedicou cada vez mais à clausura religiosa. A velhice chegou e, cercada de muitos animais de sua estimação, Lídia se isolou, recebendo raras visitas, enfraquecida e apresentando sintomas de esclerose. Acamada, foi definhando em silêncio, recusando tratamento médico. Assim, deixou esse mundo aos 85 anos de idade. taisa rodrigues Com os móveis originais preservados, o museu reproduz como era o quarto de Lídia Baís